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EFICIÊNCIA DOS RECURSOSConsumir menos, viver melhor
Revista da Direcção-Geral do Ambiente
SUPLEMENTO SEMANA VERDE 2011
MEIO AMBIENTE EM LINHAQuer saber o que é que a União Europeia está a fazer para proteger o meio ambiente, o que são políticas integradas de produtos ou como obter o «rótulo ecológico»?Descubra isto e muito mais na página Internet da DG Ambiente:ec.europa.eu/environment/index_pt.htm
ADVERTÊNCIAA Comissão Europeia, ou qualquer pessoa agindo em seu nome, não pode ser responsabilizada pela utilização das informações contidas nesta publicação ou por quaisquer erros que, não obstante os cuidados na sua preparação e a sua constante verificação, possam ter ocorrido.
Impresso em papel reciclado certificado com o «rótulo ecológico» para papel gráfico(ec.europa.eu/environment/ecolabel)
Luxemburgo: Serviço das Publicações da União Europeia, 2011ISSN 1831-5798ISBN 978-92-79-18538-0doi:10.2779/91021© União Europeia, 2011A reprodução de texto é permitida mediante a indicação da fonte.Interdita a reprodução de imagens.Printed in Belgium
Ambiente para os Europeus ec.europa.eu/environment/news/efe/index.htm
INFORMAÇÃO EDITORIAL
Ambiente para os Europeus é uma revista trimestral
publicada pela Direcção-Geral do Ambiente da Comissão
Europeia. Está disponível em alemão, búlgaro, checo,
espanhol, estónio, francês, grego, inglês, italiano, lituano,
polaco, português e romeno.
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endereço: http://ec.europa.eu/environment/
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Chefe de redacção: Róbert Konrád
Coordenador: Jonathan Murphy
Para mais informações, contacte a Unidade de Comunicação:
http://ec.europa.eu/environment/env-informa/
Informação e documentos:
http://ec.europa.eu/environment/env-informa/
Página Internet da revista Meio Ambiente
para os Europeus:
http://ec.europa.eu/environment/news/efe/index.htm
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Índice03 Eficiência dos recursos: consumir menos,
viver melhor
05 Formas inteligentes de melhorar a biodiversidade
06 Bioeconomia: aproveitar o novo potencial
07 Mudar a forma como encaramos os resíduos
08 Reduzir o desperdício de alimentos na Europa
09 Tornar os padrões de consumo e os métodos de produção europeus mais verdes
10 Restabelecer a saúde dos nossos solos
11 Para uma introdução de práticas agrícolas mais ecológicas
12 Crescimento azul: o uso sustentável dos recursos marinhos
13 Um apelo a uma gestão da água mais eficiente
14 Contrariar o efeito de repercussão negativa da eficiência
15 O monstro de sacos de plástico
16 Solar Impulse
A eficiência dos recursos foi o tema que deu o mote a todos os
eventos organizados no âmbito da Semana Verde deste ano. Esteve
no centro do debate em cerca de 40 sessões, que juntaram um extra-
ordinário leque de prestigiados oradores e que contaram com a maior
participação, até à data, de membros da Comissão.
Duas mensagens claras se destacaram face às crescentes pressões actu-
almente exercidas sobre os recursos do planeta. Para Janez Potočnik,
comissário responsável pelo Ambiente, a questão da eficiência dos
recursos é «uma questão básica de senso comum» – no fundo,
ninguém deseja ser «ineficiente na utilização dos recursos». Connie
Hedegaard, comissária europeia responsável pela Acção Climática,
realçou que manter a situação actual deixou de ser uma opção.
O tema foi abordado sob diversas perspectivas por um vasto leque
de participantes. Entre eles incluíam se a comunidade empresarial
e o sector privado, várias organizações internacionais, organizações
não governamentais, assim como peritos e funcionários de instituições
nacionais e europeias.
Além da conferência em Bruxelas para as principais partes interessa-
das, a Semana Verde contou com 30 eventos paralelos realizados
em 16 Estados Membros, com mais de 7 500 participantes. Cerca de
6 500 pessoas também assistiram à conferência através da transmissão
na Internet.
Os resultados de todos estes debates estão a ajudar a Comissão
a finalizar o seu roteiro para a eficiência energética até 2020 e poste-
riormente até 2050. Esse roteiro deverá ser aprovado ainda durante
o corrente ano.
A Semana Verde contou com outro evento estimulante, nomeada-
mente a exposição dinâmica e informativa que contou este ano com
cerca de 50 expositores que deram a conhecer as acções levadas a cabo
por empresas, autoridades locais e regionais, ONG e outras entidades
para melhorar o nosso ambiente.
Os participantes tiveram ainda a oportunidade de ter um vislumbre
do futuro e observar o Solar Impulse, o primeiro avião que funciona
exclusivamente com energia solar, quando este aterrou em Bruxelas,
num voo proveniente da Suíça.
Graças às transmissões arquivadas na Internet, poderá visualizar
a maioria das sessões integrais realizadas: basta clicar no separador
«Green Week live», no seguinte endereço
http://ec.europa.eu/environment/greenweek/index.html
Editorial
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3 EE FFF I CC I ÊÊ NN CCC I AAA D O SS R EE CCC UUU RR SSS OOO S
O comissário europeu responsável pelo
Ambiente, Janez Potočnik, lançou o mote
para a jornada de quatro dias de debates, ao
afirmar na sessão de abertura que a eficiência
dos recursos é «uma questão básica de senso
comum», tendo apelado para que a Semana
Verde fosse o «início da verdadeira revolução
do senso comum».
Apesar das crescentes pressões exercidas
sobre os recursos não renováveis (todos dias,
nascem 140 000 pessoas que necessitam de
se alimentar e de suprir as suas necessidades,
prevendo se que a população mundial
atingirá 9 mil milhões de pessoas até 2050),
a ineficiência e o desperdício são um fenó-
meno generalizado.
«Somos reféns de sistemas, infra-estruturas
e hábitos que foram criados e desenvolvidos
numa era em que os recursos e os ecossiste-
mas não estavam sob a ameaça que conhece-
mos hoje. Em muitos casos, comportamo-nos
de forma não eficiente e esse comportamento
tornou se norma. É difícil eliminar os velhos
hábitos», afirmou Janez Potočnik, ao mesmo
tempo que apelava para uma grande mudança
no nosso comportamento.
Na sua opinião, a eficiência dos recursos, que
constitui um dos pilares da estratégia global
da União Europeia para 2020, não significa
apenas assegurar a continuidade dos recursos
existentes. Implica tornar a utilização dos
recursos sustentável.
Processo de dissociação
O professor Dr. Ernst von Weizsäcker, co-presi-
dente do Painel Internacional para a Utilização
dos Recursos (PIUR), do PNUA, observou que
encontrar formas de dissociar a riqueza da
utilização dos recursos constitui o principal
desafio para o futuro e um dos principais
temas de trabalho do painel. Frisou que pro-
ceder a essa dissociação nos domínios da
energia, dos minerais, da água e dos solos
é tecnicamente viável e pode ser vantajoso
do ponto de vista político.
Esta abordagem é, além disso, amplamente
apoiada pelo público. Segundo um estudo
recente do Eurobarómetro, 87 % dos inquiri-
dos consideram que a Europa pode ser mais
eficiente na utilização dos seus recursos,
contra 5 % que manifestaram uma opinião
contrária e 8 % que não responderam.
Existem diferentes aspectos num processo de
dissociação: a dissociação entre o bem estar
e o PIB, a dissociação entre o PIB e a utilização
dos recursos e a dissociação entre os recursos
e o impacto ambiental. O relatório do PIUR
de 2010, relativo ao impacto ambiental do
consumo e da produção, revela no entanto
que o processo de dissociação tem sido
limitado até à data. O consumo de água, por
exemplo, continua a crescer de forma propor-
cional ao crescimento do PIB e no caso dos
metais especiais, as taxas de reciclagem
situam se em apenas 1 %.
O professor von Weizsäcker apelou à adopção
de um novo modelo de produtividade. No
passado, o modelo de produtividade centrava-
se no aumento do produto do trabalho. Este
modelo deve agora ser substituído por um
modelo que privilegie o aumento da produtivi-
dade dos recursos. Sugeriu que, à semelhança
do aumento da produtividade do trabalho
associado aos custos laborais, o preço da
energia e de outros recursos deveria aumentar
em função dos ganhos comprovados de pro-
dutividade dos recursos. Os elevados preços
da energia não deverão necessariamente
A eficiência dos recursos foi o tema dominante da Semana Verde deste ano. Num momento em que aumenta a pressão exercida sobre os recursos naturais, como a água, os solos, os minerais e a biodiversidade, torna-se imperativo encontrar formas sustentáveis de utilizar estes recursos. A forma de enfrentar este desafio foi abordada em cerca de 40 sessões.
Eficiência dos recursos: consumir menos, viver melhor
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«Somos reféns de sistemas, infra-estruturas e hábitos que foram criados e desenvolvidos numa era em que os recursos e os ecossistemas não estavam sob a ameaça que conhe-
cemos hoje.»Janez Potočnik,
comissário europeu
responsável pelo Ambiente
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prejudicar a economia, defendeu, apontando
como exemplo o Japão, que num período de
15 anos registou um crescimento neste tipo
de situação.
Apoio político
Jo Leinen, presidente da Comissão do
Ambiente, Saúde Pública e Segurança
Alimentar do Parlamento Europeu, saudou
os objectivos da Semana Verde deste ano,
sugerindo que o novo quadro financeiro
plurianual pós-2013, que deverá ser
negociado nos próximos meses, será um
instrumento útil para tornar a economia
mais verde.
A Europa inventou a revolução industrial,
afirmou aos participantes. É tempo agora
de assumir a liderança numa nova revolução
industrial para limpar o ambiente. As metas
de eficiência energética estabelecidas para
o ano de 2020 demonstraram que a União
poderá assumir uma posição de liderança,
a nível internacional.
O eurodeputado alemão salientou no entanto
que as metas do pacote energético que são
vinculativas produzem resultados, ao contrário
daquelas que são apenas voluntárias.
«O pacote de medidas sobre eficiência
energética oferece lições úteis em matéria
de eficiência dos recursos», afirmou.
O apoio político também foi manifestado por
Mercedes Bresso, presidente do Comité das
Regiões, que se assumiu como «economista
ambiental por profissão e ecologista por con-
vicção». Mercedes Bresso referiu que as cidades
e regiões têm uma grande responsabilidade na
aplicação da legislação comunitária e nacional
no terreno.
Defendendo a definição de indicadores que
vão além do PIB, afirmou que a UE deveria
começar a medir o impacto do seu financia-
mento de acções destinadas a alcançar as
metas ambientais.
O fim do statu quo
Na sessão final, a comissária europeia
responsável pela Acção Climática, Connie
Hedegaard, realçou a mensagem que marcou
de forma recorrente a Semana Verde: mudar
os comportamentos e os padrões de consumo
é uma necessidade fundamental que deveria
fazer parte da estratégia da UE.
«Manter a situação actual não nos proporcio-
nará as oportunidades de que necessitamos.
Normalmente, quando não alteramos uma
situação, acabamos por ficar na mesma
condição que já conhecemos. Mas este não
é o caso. Não alterar a situação significará
menos bem estar, mais insegurança e mais
custos», avisou.
A comissária considerou que, no âmbito da
preparação do Roteiro para a Energia até
2050 que a Comissão apresentará no Outono,
poderiam ser estabelecidos metas de mais
longo prazo para as energias renováveis, de
modo a alinhá-las com a agenda para uma
sociedade de baixo carbono até 2050. Reco-
mendou ainda a adopção de mais instrumen-
tos de mercado e incentivos económicos
para melhorar a fixação dos preços relativos
aos recursos. Combater as alterações climáti-
cas e assegurar a eficiência dos recursos são
formas de contribuir para melhorar o cresci-
mento, a inovação e o emprego, rematou.
Os participantes ouviram outra mensagem
clara antes de ir para casa. Os países compe-
tem entre si numa «corrida verde» para
serem os mais eficientes do ponto de vista
ambiental e os menos poluentes. Para ganhar
essa corrida, afirmou Björn Stigson, presidente
do Conselho Empresarial Mundial para
o Desenvolvimento Sustentável, os países
deverão transformar o seu mercado interno
para criar procura.
A China está a ganhar graças aos seus
enormes investimentos nas energias limpas,
ocupando já uma posição de liderança no
domínio da energia eólica e solar. A Coreia
pretende ser uma das cinco centrais de
produção de energia limpa, ao passo que
a Índia procura fornecer soluções de baixo
custo para a sua população nacional. Esta
é a concorrência que a UE enfrenta. T
«Manter a situação actual não nos proporcionará as oportunidades de que
necessitamos.»Connie Hedegaard,
comissária europeia responsável
pela Acção Climática
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Existem na Europa 6 800 campos de golfe.
Estes campos de golfe perfazem cerca de
400 000 hectares – uma área 25 vezes supe-
rior à área de Bruxelas. Mas apenas metade
dessa área é relvada e regularmente aparada,
deixando vastas zonas de terra disponíveis
para fomentar a protecção e o desenvolvi-
mento da flora e da fauna.
Numa sessão dedicada ao tema «Interagir de
forma mais inteligente com a natureza para
proteger a biodiversidade», Steve Isaac, da
Associação Europeia de Golfe (AEG), falou
sobre as formas como o desporto coopera
com as autoridades europeias para proteger,
melhorar e restabelecer a biodiversidade,
assim como para reduzir a aplicação de pro-
dutos químicos na agricultura e promover
o uso eficiente da água.
A AEG encoraja os seus membros a assegurar
que todos os campos de golfe são sustentáveis
e a integrar na sua actividade as orientações
relativas à biodiversidade elaboradas por esta
associação. Na sua intervenção, Steve Isaac
também apresentou exemplos de campos de
golfe construídos em antigos aterros e pedrei-
ras que servem actualmente de habitat para
muitas aves, animais e plantas.
Avaliação económica
dos ecossistemas
James Griffiths, do World Business Council
for Sustainable Development (WBCSD), uma
organização que conta com 200 empresas
globais entre os seus membros e assume
o papel de porta-voz no desenvolvimento
global, estabeleceu um modelo económico
para os serviços dos ecossistemas. Esse
modelo contempla riscos e oportunidades.
Qualquer comportamento que não respeite
o ambiente, referiu, pode prejudicar as opera-
ções de uma empresa, ferir a sua reputação
e causar problemas regulamentares e jurídi-
cos. Por outro lado, a aplicação de boas
práticas pode contribuir para gerar novos
mercados e desenvolver novos produtos.
O WBCSD elaborou um guia sobre a avalia-
ção económica dos ecossistemas, destinado
a melhorar o processo decisório das empre-
sas através da avaliação dos serviços dos
ecossistemas. O guia refere que a avaliação
dos ecossistemas será integrada de forma
mais consistente nas decisões que contem-
plam políticas públicas e que o sector finan-
ceiro e os clientes interempresas avaliarão
cada vez mais os riscos relacionados com
a biodiversidade e os ecossistemas, na
hora de ponderarem os seus potenciais
investimentos e definirem a sua cadeia
de fornecimento.
O guia presta conselhos às empresas sobre
formas de medir, gerir e mitigar a sua depen-
dência dos serviços dos ecossistemas, bem
como sobre formas de quantificar os riscos
e oportunidades da actividade empresarial.
O guia destaca ainda que as empresas depen-
dem da biodiversidade e dos serviços dos
ecossistemas e têm impacto sobre estes.
Griffiths referiu que ao aplicar estas técnicas,
as empresas podem reduzir custos, gerar
novos rendimentos e melhorar a avaliação
das suas responsabilidades e riscos de paga-
mento de indemnizações.
O guia sobre avaliação económica dos
ecossistemas pode ser descarregado a partir
do seguinte endereço:
http://www.wbcsd.org/DocRoot/
VSaiYK6enw6XqphqqkTT/WBCSD_Guide_
CEV_April_2011.pdf T
Existem milhões de pessoas que jogam golfe com fins de lazer e bem-estar e um número ainda superior de pessoas que acompanham as estrelas profissionais que praticam este desporto. O que muita gente desconhece é que os inúmeros campos de golfe existentes contribuem para melhorar a biodiversidade na Europa.
Formas inteligentes de melhorar a biodiversidade
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e que a segurança alimentar e os recursos
nos países desenvolvidos poderão ser
sujeitos a pressões cada vez maiores por
parte da produção agrícola destinada
a fins não alimentares.
A Comissão está a elaborar uma estratégia
europeia e um plano de acção para a bioe-
conomia sustentável até 2020. Esses docu-
mentos deverão estar concluídos no final
de 2011 e abordarão, entre outras questões,
dois grandes obstáculos: a ausência de liga-
ções apropriadas entre as diferentes políticas
que afectam a bioeconomia e entre os deci-
sores políticos e os intervenientes no sector.
A estratégia realçará a necessidade de
desenvolver um quadro político coerente,
uma actividade de investigação apropriada,
mercados baseados na bioeconomia e infor-
mações claras para o público sobre as impli-
cações desta nova tecnologia. O plano de
acção contemplará também outras questões
relevantes, como a governação, a formação
e a dimensão internacional.
A bioeconomia na prática
O Dr. Rolf Stratmann, do Ministério Federal
alemão da Educação e da Investigação, apre-
sentou uma análise sobre a bioeconomia na
Alemanha. A estratégia nacional adoptada em
2010 confere à segurança alimentar a máxima
prioridade, a par do objectivo de melhorar
a sustentabilidade da produção agrícola.
Existem na Alemanha 531 empresas dedicadas
à biotecnologia. Trabalham também nesta
área 114 outras entidades, 89 universidades
e 104 institutos de investigação.
O professor Fabio Fava, da Universidade de
Bolonha, falou sobre o projecto Namaste, uma
iniciativa lançada há 15 meses que explora
inovações na gestão integrada de resíduos do
processamento de alimentos na Índia e na
Europa, recorrendo a tecnologias sustentáveis
para a exploração de subprodutos.
O princípio básico envolve a recolha de
subprodutos na cadeia de processamento
de alimentos, como citrinos e romãs. Estes
subprodutos são estabilizados e tratados
antes de serem usados como ingredientes
para novos géneros alimentícios, os quais são
sujeitos, antes de serem utilizados, a rigorosos
testes de qualidade e segurança. T
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A bioeconomia gera actualmente 2 biliões de euros e emprega mais de 20 milhões de pessoas na Europa. É um elemento fundamental da estratégia europeia para 2020 e representa um contributo valioso para a segurança alimentar, a eficiência energética, o estilo de vida saudável e o combate às alterações climáticas. A Comissão está a elaborar uma estratégia para ajudar a bioeconomia a alcançar o seu pleno potencial.
Bioeconomia: aproveitar o novo potencial
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Existe entre os europeus uma forte convicção
de que a bioeconomia pode gerar benefícios
significativos para a nossa sociedade. Um vasto
processo de consulta lançado pela Comissão
Europeia revelou que mais de 90 % dos inqui-
ridos estão optimistas ou confiantes nas suas
potenciais vantagens. A curto prazo, essas
vantagens incluem uma redução da poluição
e da produção de resíduos e um aumento
do volume de bens e serviços agrícolas.
Tal como referiu um chefe de unidade da
DG Investigação e Inovação numa sessão
dedicada à segurança alimentar e à gestão
sustentável dos recursos biológicos, existem
contudo algumas preocupações. Antonio
Di Giulio observou que a bioeconomia pode
contribuir para a perda de biodiversidade
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listas na matéria. «Existem muitos modelos de
negócio inovadores que encontraram formas
de utilizar os recursos de forma eficiente»,
declarou aos participantes. «A simbiose
industrial, os sistemas integrados de produtos
e serviços e as abordagens "da origem para
a origem” são soluções que necessitam de ser
disseminados.» T
Substituir a abordagem tradicionalmente apli-
cada na utilização dos recursos pode contribuir
para reduzir custos associados à eliminação
dos resíduos, poupar recursos primários
e reduzir as emissões, foi dito na Semana
Verde. «O conceito de resíduo deverá deixar
de existir no futuro», afirmou Monika Griefahn,
antiga deputada alemã que dirige um orga-
nismo de consultoria ambiental.
«A longo prazo, não necessitaremos de ser
eficientes ou de poupar seja o que for, porque
tudo voltará a ser introduzido no ciclo de vida.
Tudo tem uma utilidade.»
Griefahn trabalha com empresas europeias
na implementação de uma abordagem «da
origem para a origem» que visa reproduzir os
processos cíclicos da natureza. Na prática, esta
abordagem pode consistir em compostar uma
t-shirt para fertilizar plantações de algodão ou
num processo mais industrial, explica. As cadei-
ras de escritório Herman Miller, amplamente
utilizadas nas instituições comunitárias, por
exemplo, são fáceis de desmontar e as suas
peças podem ser reutilizadas ou recondicio-
nadas para fabricar novas cadeiras.
Simbiose industrial
Peter Laybourn, da agência de consultoria
britânica International Synergies, apresentou
o conceito de «simbiose industrial», segundo
o qual várias empresas se juntam para aprovei-
tar da melhor forma os subprodutos e resíduos
de cada empresa. Entre os exemplos, podemos
citar as emissões térmicas produzidas por uma
fábrica de produtos químicos, usadas para
aquecer estufas de produção de tomate todo
o ano, ou um projecto lançado na Roménia, que
junta 20 PME para fornecer resíduos de madeira
para uma fábrica de painéis aglomerados,
permitindo assim poupar florestas e contri-
buindo para preservar postos de trabalho
a nível local.
Segundo dados comprovados do Programa
Nacional de Simbiose do Reino Unido, as
empresas que se juntaram para desenvolver
acções conjuntas neste domínio permitiram
poupar, em seis anos, 35 milhões de tonela-
das de CO2 e mil milhões de euros, afirmou
Peter Laybourn. O projecto proporcionou ao
governo um retorno de 9 euros por cada euro
investido. Markus Andersen, da Kalundborg,
o mais antigo projecto de simbiose industrial,
apresentou resultados similares.
A sessão contou ainda com uma apresentação
de Markus Bjerre sobre modelos de negócio
ecológicos. O projecto «Green Business Models
in the Nordic Region», lançado pelo Conselho
de Ministros dos Países Nórdicos, reúne com-
petências na área da economia e do ambiente
sobre estes modelos, envolvendo muitas vezes
«Sistemas de Produtos e Serviços» que dispo-
nibilizam aos clientes uma oferta combinada de
produtos e serviços concebida à medida das
suas necessidades. Markus Bjerre mostrou que
mudar de um modelo de venda de produtos
para um sistema de venda de serviços que
inclui produtos pode alterar as relações entre
fornecedores e clientes, encorajando os for-
necedores a inovar e a tornarem-se mais
sustentáveis.
Incrementar a disseminação destes modelos
de negócio ecológicos exigirá uma maior
compreensão, apoio e coordenação das
políticas dos governos, assim como uma
mudança de atitude por parte das empresas
e do sector público, afirmou.
O comissário europeu do Ambiente, Janez
Potočnik, partilhou o entusiasmo dos especia-
As empresas europeias estão cada vez mais a redefinir a sua abordagem aos resíduos, transformando os materiais que outrora seriam depositados em aterro ou incinerados em recursos reutilizáveis. O desafio consiste em expandir essa tendência para criar uma verdadeira «economia circular».
Mudar a forma como encaramos os resíduos
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«A longo prazo, não necessitaremos de ser eficientes ou de poupar seja o que for, porque tudo voltará a ser introduzido
no ciclo de vida.»Monika Griefahn, Environmental Protection
and Encouragement Agency (EPEA),
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Na Europa, as empresas e os consumidores
desperdiçam cerca de 90 milhões de tonela-
das de alimentos por ano e uma parte signifi-
cativa deste desperdício pode ser evitada.
Os estudos mostram, no entanto, que existe
uma falta de consciencialização relativamente
a este problema. No Reino Unido, por exem-
plo, 89 % das pessoas consideram que não
desperdiçam alimentos, de acordo com
o Programa de Acção sobre Resíduos
e Recursos (WRAP – Waste & Resources
Action Programme).
Os alimentos são desperdiçados em todos os
níveis da cadeia alimentar, pelos produtores,
fabricantes, comerciantes, restaurantes
e consumidores. As principais causas deste
desperdício são o excesso de produção,
a danificação de produtos e embalagens,
a deficiente gestão de existências, a falta de
conhecimento sobre a utilização eficiente
dos alimentos (por exemplo, através da utili-
zação de restos), o incorrecto planeamento
de compras e a falta de clareza dos rótulos.
Isto significa que os esforços para reduzir
o desperdício de alimentos devem incidir
sobre todos os níveis da cadeia alimentar
e ser dirigidos às diferentes causas.
Falta de clareza dos rótulos
De acordo com Paola Testori Coggi, directora
geral da Direcção Geral da Saúde e Consumi-
dores, 60 % dos desperdícios de alimentos
domésticos registados na Europa poderiam
ser evitados. «20 % destes alimentos são dei-
tados fora devido a confusões relativamente
à data de validade indicada no rótulo», afir-
mou. O Parlamento Europeu e o Conselho já
clarificaram a definição de data-limite de
consumo («consumir antes de…») numa
proposta de informação sobre géneros ali-
mentícios prestada aos consumidores. Essa
proposta irá ajudar os operadores da indústria
alimentar a determinar os casos em que os
rótulos deverão apresentar a data-limite de
consumo («consumir antes de…») ou a data
de durabilidade mínima («a consumir de
preferência antes de…»).
Depois de apresentar um excerto do seu
documentário «Taste the Waste», o realizador
Valentin Thurn afirmou que os fabricantes
e comerciantes criam rótulos deliberada-
mente confusos para levar os consumidores
a deitar fora alimentos em perfeito estado
de conservação e comprar mais. Vários lojistas
informaram-no de que as datas de durabili-
dade mínima («a consumir de preferência
antes de…») têm vindo a ser cada vez mais
reduzidas, ao longo dos últimos dez anos.
A concepção da embalagem pode ajudar
os consumidores a comprar a quantidade
de alimentos mais apropriada. David Bellamy,
da confederação do sector das bebidas e pro-
dutos alimentares, apresentou o exemplo das
embalagens separadas: as doses de alimentos
separadas podem contribuir para evitar que
os consumidores comprem mais do que
a quantidade de que necessitam.
As empresas do sector alimentar também
desperdiçam alimentos. A maioria deste
desperdício ocorre na fase de processamento
e comercialização e, no actual contexto de
crise económica, essas empresas estão
dispostas a tomar medidas para poupar.
Denis Knoops, da cadeia retalhista belga
Delhaize, afirmou que a sua empresa toma
todas as medidas necessárias para evitar
o desperdício de alimentos. «Quase todo
o desperdício ocorre dentro da loja», revelou.
«As pequenas lojas encomendam em grandes
quantidades, mas podem não conseguir
vender todos os seus produtos. A Delhaize
possui um sistema sofisticado nos seus arma-
zéns, permitindo que as lojas mais pequenas
comprem apenas as quantidades de que
necessitam. T
Cada família europeia deita fora, em média, entre 20 % e 30 % dos alimentos que compra. Este fenómeno representa um desperdício não só dos alimentos em si, mas também do carbono, da água e da energia utilizados na sua produção e eliminação. O desperdício de alimentos também representa custos. O que pode ser feito para acabar com este desperdício?
Reduzir o desperdício de alimentos na Europa
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Na próxima revisão do plano de acção para
um consumo e uma produção sustentáveis
(PCP), será consagrada especial atenção ao
consumo, informou Pavel Misiga, da Comis-
são Europeia, durante a Semana Verde.
Embora o plano de acção tenha proposto
uma série de medidas ambiciosas que já
foram postas em prática, o capítulo respei-
tante ao consumo não foi devidamente
aprofundado quando o plano foi adoptado
em 2008, referiu.
«A questão que se coloca é a de saber até
que ponto poderão os organismos públicos
influenciar o comportamento das pessoas.
Teremos nós esse direito e dispomos dos
instrumentos necessários?», interrogou-se.
Pavel Misiga referiu que a Comissão tencio-
nava consolidar a sua política integrada
relativa aos produtos através da revisão
do PCP, que deverá ser adoptada no pró-
ximo ano. Planeia em particular reforçar
as regras relativas à rotulagem dos produ-
tos e resolver a questão das declarações
ambientais enganosas. A UE pretende ainda
combater um fenómeno praticado por
algumas empresas, conhecido por «obso-
lência planeada», que consiste em fazer
com que um produto necessite de ser
substituído com frequência.
Durante várias discussões mantidas com
as partes interessadas no início do ano,
a Comissão afirmou que tencionava tornar
os contratos públicos ecológicos um
requisito obrigatório. O actual PCP prevê
que todos os concursos públicos lançados
na UE devem reger se por critérios ambien-
tais até 2010. Contudo, este objectivo não
é vinculativo.
Maior envolvimento
do sector empresarial
O desempenho ambiental das empresas será
uma matéria abordada na próxima revisão.
«No que diz respeito à produção sustentá-
vel, gostaríamos de encorajar as empresas
a analisar o seu desempenho», referiu o fun-
cionário da Comissão.
Pascal Gréverath, da empresa suíça de
produtos alimentares Nestlé, disse que as
empresas precisavam de orientações sobre
como medir o seu desempenho. «É [impossí-
vel] melhorar uma coisa se não a pudermos
medir», afirmou, acrescentando que seria
importante existir uma entidade reguladora
que «assegurasse a veracidade de todas as
alegações de uma empresa».
Doreen Fedrigo, do Instituto de Política
Ambiental Europeia (IEEP), afirmou que
a revisão do PCP deverá abordar a questão
da fixação dos preços dos recursos. «Iremos
tomar medidas no sentido de inviabilizar
a existência de produtos de reduzida durabili-
dade que os consumidores tenham de deitar
fora após um curtíssimo prazo», afirmou.
Pascal Gréverath reconheceu que é neces-
sário estabelecer preços mais apropriados
para alguns recursos. «Não há dúvida de que
o preço da água é demasiado baixo.» A África
do Sul fornece um bom exemplo de política
de preços, referiu. O Estado fornece gratuita-
mente aos cidadãos um determinado volume
de água, equivalente às suas necessidades
básicas. A partir desse volume, começa
a cobrar a água consumida. T
O plano de acção da UE para um consumo e uma produção sustentáveis será revisto em 2012. A Comissão Europeia pondera adoptar várias medidas para reforçar esse plano em vários domínios, como a rotulagem de produtos e o desempenho ambiental das empresas.
Tornar os padrões de consumo e os métodos de produção europeus mais verdes
T
«No que diz respeito à produção sustentável, gostaríamos de encorajar as empresas a analisar
o seu desempenho.»Pavel Misiga, chefe da unidade
Produção e Consumo Sustentáveis,
DG Ambiente
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Todos os anos, são ocupados mais 1 000 metros
quadrados na UE para a construção de habita-
ção, estradas ou outros tipos de infra-estruturas.
A maioria dessa área é pavimentada de forma
definitiva. Esta impermeabilização dos solos
pode engendrar uma perda de fertilidade dos
solos para a produção de alimentos ou a manu-
tenção de habitats naturais, bem como uma
redução das fontes de abastecimento de água
subterrânea. É necessário adoptar medidas
concertadas a todos os níveis para travar
a ocupação dos solos pela expansão urbana,
conforme refere um relatório apresentado
na Semana Verde.
Elaborado pela Agência do Ambiente austrí-
aca, esse relatório mostra que a expansão
urbana pode também aumentar os riscos
de inundações. Recomenda uma abordagem
tripartida, com vista a limitar a progressão da
impermeabilização dos solos, mitigar os seus
efeitos e compensar as perdas inevitáveis
noutras áreas. Estes objectivos poderão ser
alcançados através do pagamento de taxas
revertidas na conservação, a exemplo do que
acontece na República Checa e na Eslováquia.
Gundula Prokop, co-autor deste relatório,
considera que é também necessário introduzir
incentivos para estimular um desenvolvimento
urbano mais ecológico. Os urbanizadores
deveriam assegurar que as funções básicos
dos solos, como a permeabilidade, são
preservadas, referiu.
Investir na sustentabilidade pode ser compen-
sador a longo prazo. Nicola Filippi, especialista
na área dos solos da região de Emilia Romagna,
em Itália, afirmou que minimizar o impacto da
expansão urbana sobre os solos poderá ajudar
a reduzir os custos de gestão das inundações.
Providenciar áreas de retenção de águas em
caso de inundação custa normalmente mais
de 100 000 euros/ha, acrescentou.
Outro exemplo das consequências económi-
cas da impermeabilização dos solos foi apre-
sentado pela Silke Hoeke, uma empresa de
consultoria sobre planeamento dos solos,
que observou a influência dos solos abertos
no clima no centro das cidades. Com a imper-
meabilização de um hectare de solo, a perda
do efeito de arrefecimento induzido pelos
solos é equivalente ao consumo de energia
necessária para refrigerar uma área de escritó-
rio de 20 000 m2, num valor de 500 000 euros,
ao preço da energia por kWh.
Tomar medidas a todos os níveis
O relatório austríaco recomenda a adopção
de medidas ao nível comunitário, nacional
e regional, integrando o princípio da «limita-
ção, mitigação e compensação» nos objecti-
vos de financiamento comunitário. Os fundos
estruturais, normalmente destinados a apoiar
projectos de desenvolvimento que envolvem
a utilização de vastas áreas de solo, deveriam
prestar mais atenção à degradação dos solos,
recomendam os autores.
Contudo, as medidas comunitárias têm as
suas limitações. A Comissão Europeia já
tentou avançar soluções para o problema
da impermeabilização dos solos através de
uma directiva quadro relativa aos solos, mas
a proposta suscitou a oposição de alguns
Estados Membros.
O relatório defende que, a nível nacional, os
governos deveriam monitorizar as perdas de
terra e obrigar as autoridades regionais ou
locais a estabelecer metas para redução
dessas perdas.
As conclusões do relatório serão tomadas em
consideração nas directrizes da UE relativas
à impermeabilização dos solos, destinadas às
autoridades nacionais, regionais e locais, e que
serão publicadas no próximo ano, informa
a Comissão. T
A expansão urbana exerce pressão sobre os solos na Europa, contribuindo para a degradação das terras e outros impactos negativos, como a perda de biodiversidade. São poucos os países com políticas específicas para combater este problema, embora exista uma cada vez maior consciência da necessidade de reduzir a ocupação dos solos.
T Restabelecer a saúde dos nossos solos
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11 PPP RRRRR AAAAAA GGGGG AAAAAAA SSSS
«Não seremos eficientes na utilização dos
recursos, enquanto necessitarmos de usar
pesticidas químicos», referiu Daniel Lesinsky,
da ONG PAN Europe. O uso de pesticidas,
que ainda constitui a principal forma de
combater as pragas e doenças que afectam
as culturas, só será significativamente reduzido
se os seus custos indirectos forem tomados
em consideração, afirmou aos participantes
na Semana Verde.
Citando números estimados avançados
por um livro publicado em 2005 e intitulado
The Pesticide Detox, Lesinsky referiu que
o uso de pesticidas na Alemanha e no Reino
Unido representa um custo total anual de
195 milhões e 302 milhões de dólares, respec-
tivamente. O custo relativo ao tratamento de
água potável é, de longe, o mais elevado.
Os outros custos, em termos de impacto sobre
a saúde, a biodiversidade e o clima, tendem
a ser menos significativos.
Lesinsky defendeu a aplicação de uma gestão
integradas de pragas, uma prática que visa
reduzir os danos causados às culturas pelas
pragas da forma mais economicamente viável
e com o mínimo de risco possível para a saúde
humana e o ambiente. De acordo com uma
directiva comunitária de 2009 relativa à utili-
zação sustentável dos pesticidas, os Estados
Membros da UE deverão assegurar que os
princípios gerais da protecção integrada de
pragas são aplicados por todos os utilizadores
profissionais até 2014.
Mais apoio necessário
Peter Hall, produtor agrícola britânico, referiu
que é possível obter um grande nível de ren-
dimentos através de uma gestão integrada
de pragas. Apelou a uma maior colaboração
entre os produtores, retalhistas e distribuidores
na divulgação e aplicação de boas práticas.
Muitos agricultores não conhecem métodos
alternativos de controlo de pragas, afirmou.
Lars Jorgensen, um agricultor dinamarquês,
referiu que os agricultores necessitam de
incentivos económicos para usar menos
pesticidas. Referiu que desde que a Dinamarca
tomou medidas de acção, na década de 1980,
o país utiliza menos 60 % de pesticidas que
a França ou o Reino Unido. Este progresso foi
alcançado graças essencialmente à criação de
um serviço de consultoria local independente.
Os longos prazos e os enormes custos neces-
sários para introduzir novas tecnologias no
mercado constituem, segundo Peter Hall, outro
obstáculo. «O registo de produtos continua
a ser um dos maiores obstáculos ao pro-
gresso», rematou.
Friedhelm Schmider, da Associação Europeia
de Protecção das Culturas, afirmou que o sec-
tor já estava empenhado na sustentabilidade.
Os pesticidas são actualmente «muito mais
direccionados, testados, regulados e ambien-
talmente seguros e eficientes», revelou aos
participantes, acrescentando que os pesticidas
podem proporcionar níveis de rendimento
mais elevados com menos áreas agrícolas.
Os pesticidas são utilizados em combinação
com medidas de conservação, como a cria-
ção de habitats em áreas de pousio, referiu
Friedhelm Schmider. Graças a um maior
rendimento obtido com a mesma área de
terreno agrícola, é efectivamente possível
criar habitats para várias espécies. O uso
apropriado de herbicidas também reduz
a erosão dos solos, ao permitir atenuar
o trabalho do solo, acrescentou. T
A gestão integrada de pragas é um dos pilares da estratégia da UE destinada a reduzir o uso de pesticidas. O seu objectivo é mudar a forma como os agricultores lidam com a protecção das culturas. Contudo, o sector insiste que os pesticidas ainda desempenham um papel essencial.
T Para uma introdução de práticas agrícolas mais ecológicas
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A Directiva Quadro «Estratégia Marinha»
(DQEM) da UE, adoptada em 2008, visa garan-
tir o bom estado ecológico do meio marinho
até 2020, tendo em conta a pressão colectiva
exercida pela actividade humana. Se este
quadro legislativo for aplicado com êxito,
garantirá uma exploração sustentável dos
produtos e serviços marinhos pelas actuais
e futuras gerações.
Na sessão dedicada ao tema do «Crescimento
Azul», Ernesto Peñas Lado, director na Direcção
Geral dos Assuntos Marítimos e das Pescas da
Comissão Europeia, apresentou um estudo
sobre os principais problemas que afectam os
mares da Europa e falou sobre a necessidade
de desenvolver o potencial do sector marítimo
e das regiões costeiras. O estudo visa assegurar
o crescimento económico e do emprego
com base nos recursos marinhos, nas activi-
dades científicas e económicas desenvolvidas
nos sectores marítimos e nas regiões costei-
ras e servirá de base para a comunicação da
Comissão sobre o crescimento azul em 2012.
O professor Michael Scoullos (MIO-ECSDE)
observou que existe uma tendência de
mudança de uma abordagem sectorial na
exploração de um recurso (como a extracção
de areia, petróleo, sal ou água) para uma abor-
dagem mais holística e integrada. Observou
também que o meio marinho alberga fontes
importantes de energias renováveis, como
a energia eólica, a energia das ondas e das
marés, a par da energia térmica dos oceanos,
que constitui uma fonte promissora. A impor-
tância da biotecnologia «azul» também foi
abordada: existem inúmeros produtos far-
macêuticos que podem ser obtidos a partir
de produtos naturais marinhos bioactivos.
O Dr. Joel Querellou (Ifremer) realçou a sua
importância e a necessidade de desenvolver
a investigação neste domínio.
Paul Holthus, do Conselho Mundial de Ocea-
nos, que representou o sector empresarial na
sessão, revelou a forma como várias empresas
líder de diversos sectores marítimos colaboram
entre si, numa aliança para encontrar soluções
em diferentes mares e regiões.
Gustaaf Borchardt, da DG Ambiente, encerrou
a sessão realçando o papel da DQEM na cria-
ção de um quadro de integração. Falou da
forma como o carácter transfronteiriço do
impacto ambiental revela a importância da
extensa colaboração entre vizinhos que parti-
lham um recurso, encorajando os a enfrentar
os desafios e colher os benefícios mútuos.
A actual crise económica e a escassez de
recursos naturais demonstram que existem
claras vantagens em usar recursos marinhos
de forma optimizada, criar o máximo valor
económico possível e minimizar os impactos
para o ambiente. A eficiência dos recursos,
referiu, não consiste apenas em produzir
menos, mas em produzir melhor. Concluiu
fazendo um apelo à inovação e à sustentabili-
dade nas abordagens científicas e tecnológicas
e nas políticas da UE. T
Os oceanos e mares da Europa são uma enorme fonte de riquezas, incluindo alimentos, energia e produtos farmacêuticos, que necessita de ser explorada de forma sustentável. A directiva comunitária sobre a estratégia para o meio marinho visa alcançar este objectivo através de uma abordagem ecossistémica à gestão das actividades humanas, com vista a assegurar um bom estado ambiental de todas as águas comunitárias até 2020. A Comissão Europeia está a conduzir um estudo aprofundado sobre as diversas oportunidades disponíveis.
T Crescimento azul: o uso sustentável dos recursos marinhos
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13 GG EEEE SSS TTT ÃÃÃÃ OOOO DD AAAA ÁÁÁ GGGG UUU AA
O consumo de água a nível mundial eleva-se
a 4 500 mil milhões de metros cúbicos por
ano. Se a tendência se mantiver, o consumo
atingirá 6 900 mil milhões de metros cúbicos
até 2030. A crescente procura é alimentada por
factores como o crescimento da população,
a alteração dos hábitos alimentares e uma
maior procura de culturas fora de época.
Parte do aumento dessa procura pode ser
colmatada através de uma melhoria na
eficiência e de reforço das infra-estruturas,
como as barragens ou os reservatórios.
Todavia, como referiu Giulio Boccaletti, da
McKinsey & Company, a procura acabará ainda
assim por exceder a oferta em 40 % e este
excesso poderá ser superior a 50 % para um
terço da população mundial. Boccaletti iden-
tificou vários elementos para uma possível
solução. Entre estes inclui se uma revolução
no consumo eficiente de energia e água, uma
melhoria na produtividade no sector da agri-
cultura e uma política de direitos e fixação de
preços no domínio da água.
Este último ponto foi corroborado pelo pro-
fessor Enrique Cabrera Marcet, da Universidade
Politécnica de Valência, que salientou a neces-
sidade de melhorar a eficiência e aumentar os
preços. Os custos variáveis e essencialmente
ambientais, referiu, deveriam ser obrigatoria-
mente suportados por todos e os preços
deveriam ser aumentados na medida do
necessário para promover essa eficiência. As
fugas de água nas canalizações não represen-
tam apenas um desperdício de água, implicam
também custos energéticos desnecessários
associados ao bombeamento da água. Com
base na sua experiência, quanto mais eleva-
dos forem os preços, menor será o número
de fugas e o contrário também se verifica.
Sabine von Wirén-Lehr, coordenadora do
Programa de Gestão da Água (PGA), falou
dos benefícios desta iniciativa que define
estratégias de gestão eficiente e sustentável
da água. Esta iniciativa estabelece normas,
incluindo um sistema de inspecção e certifi-
cação, e irá brevemente fornecer orientações
sobre comunicação.
O PGA pode ser aplicado quer no sector
público quer no sector privado e destina se
a ajudar as empresas e organizações de ambos
os sectores a aplicar a Directiva Quadro da
Água, inovar e desenvolver novas oportuni-
dades de mercado, assim como fomentar
actividades e marcas empresariais. A Coca-
Cola, que vende 1,6 mil milhões de garrafas
por dia, é uma das empresas que participam
neste sistema. Para cumprir o seu objectivo
de devolver ao ambiente a quantidade de
água quase idêntica à utilizada nos seus pro-
dutos, esta companhia efectua uma avaliação
da vulnerabilidade hídrica de cada uma das
suas fábricas em todo o mundo. Este processo
procura encontrar formas de proteger, reduzir,
reciclar e repor a água utilizada.
Eva Hernández Herrero, coordenadora do
projecto Doñana, no sudoeste de Espanha,
descreveu o êxito alcançado na resolução
do problema do uso indevido de água por
parte dos produtores de morango nesta
região. Trabalhando com agricultores e reta-
lhistas, a WWF Espanha está a convencer os
produtores a introduzir técnicas de irrigação
mais eficientes e que permitem uma maior
poupança de água. T
A água é um recurso não renovável. Numa altura em que a indústria, a agricultura e as famílias demonstram uma sede constante deste recurso, torna-se essencial tomar medidas para assegurar uma gestão mais eficaz e uma maior sensibilização pública relativamente a este bem tão precioso quanto precário. Se não houver mudanças de práticas e comportamentos, a procura não tardará a suplantar a oferta.
T Um apelo a uma gestão da água mais eficiente
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Embora seja difícil medi-la, a percentagem
dos benefícios da eficiência de recursos
perdida com o chamado efeito de repercus-
são negativa não é tão insignificante quanto
alguns têm afirmado, segundo o relatório
de consultoria da UE apresentado durante
a Semana Verde.
Esse efeito de repercussão ocorre quando,
por exemplo, um condutor compra um
veículo que consome menos combustível
e tira partido da poupança de custos reali-
zada, utilizando o seu veículo mais frequente-
mente. Alguns especialistas consideram, no
entanto, que não existe um efeito de reper-
cussão negativa. Mesmo que possa ser
comprovado, trata-se de um efeito muito
marginal, acreditam.
Os estudos encontram se numa fase muito
precoce, afirmou a Dra. Dorothy Maxwell.
O relatório incidiu essencialmente nos efeitos
directos, em que uma redução de custos em
recursos como a energia ou a água originam
um consumo acrescido. Mas também existem
efeitos indirectos, quando os consumidores
canalizam as poupanças realizadas para acti-
vidades mais nocivas para o ambiente, como
é o caso das viagens aéreas de longo curso.
Não existem coincidências
Segundo o relatório realizado pelo Bio
Intelligence Service, as estimativas sobre
o potencial efeito de repercussão negativa
das medidas de eficiência adoptadas na área
dos transportes rodoviários comerciais variam
entre 30 e 80 %. Estes números revelam que
as repercussões negativas existem efectiva-
mente. «Isto não significa que os esforços
realizados em matéria de eficiência não são
importantes», realçou a Dra. Dorothy Maxwell.
O professor Steve Sorrell, da Universidade de
Sussex, no Reino Unido, apresentou outros
estudos. A maioria dos estudos incide sobre
os transportes e os equipamentos de aqueci-
mento e refrigeração. Embora as estimativas
variem consideravelmente, estes estudos
também revelam sinais de repercussões
negativas.
«Não podemos assumir que o efeito de reper-
cussão negativa é nulo, como é afirmado na
revista Stern [2006] [sobre os aspectos eco-
nómicos das alterações climáticas]», referiu.
A aplicação de normas sobre eficiência ou um
aumento do preço do carbono são algumas
das medidas que poderiam ser introduzidas
para combater esse efeito.
As opiniões divergem quanto à questão de
saber quais são as melhores políticas para
abordar o problema. Um dos participantes na
Semana Verde observou que um excesso de
discussão acerca do efeito de repercussão
negativa poderia levar os consumidores
a considerar que não vale a pena melhorar
a nossa eficiência.
A Dra. Maxwell referiu que a educação é uma
das principais medidas mencionadas no seu
relatório. Os consumidores que procuram
ser mais eficientes no consumo de energia
podem não se aperceber de que o resultado
das poupanças realizadas nesse consumo
pode ser comprometido pelo seu compor-
tamento noutras actividades, referiu. T
A eficiência dos recursos já permitiu realizar poupanças significativas, tendo contri-buído para reduzir as emissões em sectores como o da construção e dos transportes. Mas poderá produzir efeitos perversos. A Comissão Europeia está a analisar este problema para determinar que medidas poderão ser tomadas neste domínio.
T Contrariar o efeito de repercussão negativa da eficiência
«Não podemos assumir que o efeito de repercussão
negativa é nulo.»Steve Sorrell, director de investigação,
Sussex Energy Group, SPRU
(Estudos sobre política de investigação
em ciência e tecnologia)
Dorothy Maxwell, directora
técnica, Global View Sustainability
Services Ltd. (GVSS)
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T O monstro de sacos de plástico
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de todos nós. Reproduz-se a um ritmo
surpreendente e não tem contemplações.
Alimenta se da preguiça e irresponsabilidade
das pessoas», alertam as organizações que
lançaram esta iniciativa, a Ekologi Brez
Meja, a Lukatarina e a Eco Vitae.
No primeiro dia da Semana Verde foi criada
uma aldeia da reciclagem em frente ao edi-
fício Berlaymont. Foram distribuídas infor-
mações aos transeuntes sobre a eliminação
de telemóveis, a compostagem e o papel
do Instituto do Ambiente de Bruxelas
(IBGE/BIM).
Depois de no ano passado estender os seus
tentáculos pelas ruas de Liubliana, capital
da Eslovénia, o monstro de sacos de plástico
instalou se no início da Semana Verde deste
ano em frente do edifício Berlaymont, sede
da Comissão Europeia. Construído com
40 000 sacos de plástico e 7 500 copos usa-
dos por alunos de escolas na Eslovénia, este
monstro simboliza o alastramento do con-
sumismo e da produção de resíduos.
«O monstro adaptou se ao nosso meio
e sobreviveu. Está a ganhar nos terreno na
cadeia alimentar. O seu sucesso depende
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O Solar Impulse, um avião movido exclusiva-
mente a energia solar, foi uma das atracções
da Semana Verde. Após um voo proveniente
da Suíça que durou quase 13 horas, o avião
aterrou no aeroporto de Bruxelas, onde
foi acolhido e admirado por milhares de
pessoas durante vários dias, antes da sua
partida para o Salão Internacional da
Aeronáutica e do Espaço de Le Bourget,
em Paris.
Após a aterragem, André Borschberg,
piloto e co-fundador deste projecto inova-
dor desenvolvido ao longo de dez anos
com Bertrand Piccard, afirmava: «Voar sem
combustível, ruído ou poluição, sem produ-
zir praticamente nenhum impacto negativo,
constitui um grande motivo de satisfação.»
No final desta viagem épica, as baterias
do avião ainda estavam com plena carga,
levando André Borschberg a sugerir que
a energia poderia ser vendida a uma
rede eléctrica.
O Solar Impulse proporcionou apenas um
dos inúmeros eventos paralelos realizados
na Semana Verde. No total, várias institui-
ções e agências comunitárias, organismos
públicos, empresas privadas, organizações
não governamentais e outras entidades
apresentaram as suas actividades em
50 expositores. Foram também realizadas
três exposições de fotografia sobre desper-
dício de alimentos, terrenos industriais
abandonados e os 10 anos de Tom & Lila,
uma banda desenhada de carácter infor-
mativo e recreativo para crianças, sobre
temas relacionados com o ambiente. Foram
exibidos três filmes durante a semana: Il suolo
minacciato, de Nicola Dall’Olio, The Lightbulb
Conspiracy, de Cosima Dannoritzer, e excer-
tos de Amazon Alive, de Christian Baumeister.
Solar impulse
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