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     Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício • Vol. 2 • nº 3 • Set / Dez 2003

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    Alterações nos valores de consumo máximo de oxigênio (vo 

    2 máx) na 

    aplicação de dois programas de exercícios com pesos em indivíduos do sexo masculino Gilberto Candido Laurentino1 e Ídico Luiz Pellegrinotti2

    1 - Faculdade de Educação Física de Guarulhos2 - Faculdade de Educação Física – UNIMEP/ UNICAMP

     Endereço para correspondência:

     Rua Campos Salles, 923. Cidade JardimPiracicaba – SP 13.400.200e-mail: [email protected]

     ARTIGO ORIGINAL

    Resumo:

    O objetivo deste estudo foi verificar as alterações nos valores de VO2máx com a aplicação

    de dois programas de exercícios com pesos. A amostra foi composta por (27) vinte e seteindivíduos do sexo masculino, com idade entre 18-22 anos, alunos do curso de especializa-ção de soldados da Força Aérea Brasileira e foram divididos em três (03) grupos da seguinteforma: grupo G1 (controle) n=7, não realizou o programa de exercícios; grupo G2 (resistên-cia muscular) n= 10, utilizou carga de 40%-50% de 1RM e o grupo G3 (hipertrofia muscular)n=10, utilizou carga de 70%-80% de 1RM. Foi utilizado o teste de carga máxima (1RM) paradeterminação das cargas de treinamento e para avaliar o consumo máximo de oxigênio

    (VO2máx) foi utilizado o teste de 2.400 m em pista. As cargas de treinamento para os gruposforam igualadas para realização dos treinamentos. Os treinamentos foram realizados durantedez (10) semanas, com freqüência de quatro vezes por semana com duração de aproximada-mente 40 minutos. Os exercícios utilizados foram: supino barra, pulley-costas, rosca direta,pulley-extensor, leg press, mesa romana flexora, mesa romana extensora, panturrilha e abdo-minal. Foi feito um processo de reconhecimento dos exercícios nas semanas antes de iniciaros treinamentos. Os resultados apresentados mostraram que não houve diferença significati-va nos níveis de VO

    2máx entre os grupos G1, G2 e G3 (p> 0,05) com a aplicação de treina-

    mento com pesos.

    Palavras-chaves: Consumo máximo de oxigênio (VO2máx), Força muscular; Treinamen-

    to musculação.

    Submetido em: 08/01/2004Versão final: 02/20/2004

    Aceito em: 21/02/2004

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    1) Introdução

    O consumo máximo de oxigênio(VO

    2máx) é um índice que pode refletir a

    perfeita integração que deve existir entre ossistemas cardiovascular, respiratório e mus-cular, para fazer frente ao aumento da de-manda energética durante o exercício. Em-bora o VO

    2máx, em repouso, seja muito si-

    milar entre os indivíduos sedentários e trei-nados, durante o esforço máximo os indiví-duos treinados possuem em média os valo-res de VO

    2máx maior do que aqueles apre-

    sentados pelos indivíduos sedentários. É umíndice que tem grande validade de aplica-ção e prescrição nas áreas da atividade físi-ca e saúde, nas modalidades esportivas, nareabilitação e no crescimento e desenvolvi-mento, representando a mais alta captaçãode oxigênio alcançada durante um esforçomáximo1-3.

    No entanto, o treinamento com pesos poderepresentar um elemento importante na ele-vação do consumo máximo de oxigênio

    VO2máx, que é um dos componentes da ap-tidão física geral. O treinamento com pesosé muito utilizado entre atletas e no públicoem geral (4, 5). É um método efetivo paradesenvolvimento da força muscular e nosúltimos anos tem sido bem aplicado em pes-soas idosas, pacientes com doençascardiovasculares, bem como em sedentáriossaudáveis e adultos fisicamente ativos6, 7.

    Katch, Mcardle8 e Leite9 encontraram em

    seus estudos exploratórios trabalhos de-monstrando a elevação de 4 a 10% dos va-lores de VO

    2máx em indivíduos submetidos

    a programas de treinamento com pesos, vi-sando a resistência muscular e hipertrofia.Para Tesch10  e Mccall et al.11, esse tipo detreinamento, no entanto, não resultaria noaumento da densidade capilar, podendo in-clusive, haver uma redução no número decapilares por fibra e também diminuição da

    densidade mitocondrial que dificultaria os

    processos metabólicos oxidativos, não alte-rando de forma significativa os valores deVO

    2máx. Nessa direção Fleck 12 aponta que

    o consumo pico de oxigênio e afetado mini-

    mamente pelo treinamento de resistênciacom sobrecarga, ficando condicionado quepara haver respostas positivas no sistemacardiovascular e no consumo de oxigêniodepende fortemente o tipo de programa mi-nistrado. Caso o programa seja direcionandopara melhoria dessas capacidades o mesmopode influenciar pouco o sistema orgânico.A busca para entender os efeitos do treina-mento com sobrecarga no consumo de oxi-

    gênio e melhoria da capilarização do siste-ma muscular ainda desperta interesse comoos trabalhos de13-15.

    Portanto, o objetivo deste estudo foi veri-ficar por meio de sobrecarga, a existência dealterações nos valores de consumo máximode oxigênio com a aplicação de dois tiposprogramas sendo: a) com cargas 40 a 50%de 1RM(repetição máxima) para resistênciade força; e b) com cargas de 70 a 80% de1RM, para hipertrofia.

    2) Materiais e Métodos

     2.1 – População do estudo

    Participaram deste estudo, 27 alunos dosexo masculino, do curso de especializaçãode soldados da Força Aérea de São Paulo,com idade entre 18 e 22 anos, sem experiên-

    cia em programas de exercícios com pesosou que estivessem fora destes programas noprazo mínimo de 01 ano. Tratou-se de umgrupo de pessoas que foram escolhidas in-tencionalmente em função da relevância queelas representavam em relação à pesquisa epelo fato de estarem sendo submetidos a umregime de residência no quartel com o mes-mo tipo de instrução para todos do grupo.

    O regime de residência destes soldados fezcom que os hábitos diários se tornassem si-

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    milares, facilitando o controle das variáveisem estudo, bem como, obedecendo os crité-rios de cientificidade da pesquisa. Para apesquisa, a participação foi voluntária dos

    indivíduos que, após explicações prévias arespeito dos procedimentos da mesma, assi-naram um termo de consentimento livre eesclarecido e uma ficha de anamnese geral,contendo informações sobre participação emprogramas de atividades físicas, vivênciasanteriores em esporte, atividades físicas etambém sobre lesões que pudessem impedira sua participação no presente estudo. Osvoluntários passaram por avaliação médica

    do quartel e foram autorizados pelas instân-cias superiores. Na tabela 1 encontramos ascaracterísticas dos grupos do estudo.

    O Curso de Especialização de Soldadosda Base Aérea de São Paulo, teve duração de6 (seis) meses. Durante os 3 (três) primeirosmeses iniciais de curso, os alunos obtive-ram instruções predominantemente teóricassobre a formação militar, com pequena ênfa-

    se à trabalhos físicos neste período. Isto sig-nifica dizer que as atividades físicas se resu-miam em instruções de marcha, ordem uni-da e corridas com duração máxima de 20minutos. Esta instrução foi realizada no IVCOMAR (Comando AéreoRegional) em São Paulo.

     A segunda fase do curso,também com duração de 3(três) meses, tinha como ob-

     je tivo a manipulação de

    materiais específicos da Força Aérea Brasi-leira e treinamento militar. As atividades fí-sicas deste período foram divididas em duasfases: a primeira fase correspondeu à aplica-

    ção de exercícios de aquecimento, alonga-mento, exercícios de marcha e corrida. Ascorridas, geralmente, duravam em torno de20 a 30 minutos realizadas em terrenos pla-nos e acidentados. A segunda fase da instru-ção militar, era composta por exercícios demanipulação de armas de vários calibres;instruções de tiros, defesa pessoal; treina-mento para bombeiros e instruções para si-tuações de guerras e conflitos. Os três gru-

    pos de voluntários da pesquisa participaramde todas as fases de instruções.

     2.2 – Procedimentos experimentais

    A divisão dos grupos foi realizada atravésde sorteio aleatório, sem levar em conside-ração o biotipo de cada indivíduo. Este sor-teio foi realizado para formar os grupos (G1,n=7) correspondente ao grupo controle (não

    realizou treinamento); (G2, n=10) correspon-dente ao grupo que realizou trabalho de re-sistência de força (40%-50% 1RM) e o (G3,n=10) correspondente ao grupo de trabalhoda hipertrofia muscular (70%-80% 1RM)representados na Tabela 2. Após a coleta dedados antropométricos, todos os participan-tes passaram por um processo de reconheci-mento dos testes e dos programas de exercí-cios do referido estudo.

    Para determinação das cargas de trabalhofoi realizado o teste de carga máxima de umarepetição (1RM) protocolo McArdle, Katch,

    Tabela 1- Média e desvio-padrão das características

     dos grupos 1, 2 e 3.

    Tabela 2  - Programas de exercícios com pesos

    realizados pelos grupos G2 e G3

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    Katch16. O teste de 1RM foi realizado so-mente uma vez em cada fase das avaliações,designando percentuais de carga à cada pro-grama de exercícios com pesos. Após reali-

    zado o teste de 1RM, foi igualado os valoresde carga final a ser trabalhada em cada gru-po de acordo com o programa de exercícios.Ou seja, os números de repetições com cadapercentual trabalhado nas séries e nos exer-cícios prescritos foram controlados, tanto noG2 de resistência quanto no de G3 hipertrofia,para somar carga de trabalho final similaresentre os grupos, Tabela 3.

    A pesquisa foi realizada durante dez se-manas, totalizando quarenta sessões de trei-namento. Deste total, utilizou-se de quatrosessões de treinamento para avaliação e de-terminação das cargas de trabalho, sendo: a)duas sessões de treinamento para avaliaçãode exercícios para membros superiores e in-feriores ao final da quarta semana (2ª avalia-ção); b) e duas sessões na décima semana detreinamento (3ª avaliação). A 1ª avaliaçãofoi realizada em estado pré-treinamento an-tes do início da fase experimental da pes-quisa. A tabela 3 descreve a caracterizaçãodas cargas dos exercícios no decorrer dassemanas de treinamento da pesquisa.

    vio aquecimento geral e específico. Ao finalde cada semana foi registrada a freqüênciade treinamento individualizada para contro-le. O programa de exercícios foi determina-

    do com nove exercícios: supino com barra;pulley-costas; rosca direta; pulley-extensor;leg press; mesa romana extensora; mesa ro-mana flexora; panturrilha e abdominal 45º.

    Para avaliar o consumo máximo de oxigê-nio (VO

    2  máx.), foi aplicado o teste de

    Cooper de 2.400 m em pista de 400 m reali-zado no CEPEUSP- São Paulo, que consis-tiu em cronometrar o tempo gasto pelo ava-liado para percorrer 2.400 m. no menor tem-po possível.

    Os valores de VO2máx foram obtidos atra-

    vés da equação proposta pelo (ACSM)American Colleg Of Sport Medicine17 (Co-légio Americano de Medicina Esportiva).

    VO2máx ml.kg-1.min-1 = (2400 x 60 x 0,2) + 3,5 ml.kg -1.min-1

    Duração em segundos

     2.3 - Tratamento estatísticoNo tratamento estatístico foram analisa-

    dos as médias e os desvios-padrão, a apre-sentados em tabelas e figura. Para os cálcu-los dos dados estatísticos foi utilizada a aná-lise de variância (ANOVA), baseado numnível de significância, usualmente adotadoem 95% (p< 0,05).

    3) Resultados

    A caracterização dos resultados da análi-se estatística referente aos dados deste estu-do com relação ao programa de exercícioscom pesos sobre os níveis de consumo má-ximo de oxigênio (VO

    2máx) são apresenta-

    dos nas tabelas e figuras abaixo descritas.

    Analisando a tabela acima, podemos ob-servar que não houve elevação nos valoresdas médias no decorrer das avaliações do

    grupo 1.

    Tabela 3  - Cargas correspondentes às semanas de

    treinamento dos grupos G2 e G3

    Os treinamentos foram realizados quatrovezes por semana, trabalhando-se os gruposmusculares de acordo com os programas deexercícios com pesos convencionais. A ses-são de treino tinha duração de aproximada-

    mente 40 minutos sempre seguida de um pré-

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    O grupo 2 apresenta aumento da média doVO

    2máx. da avaliação 1 para 2 e praticamente

    se mantendo na avaliação 3.

    Analisando a figura 1, no grupo 1 não hou-ve alteração na variável em estudo em todasas avaliações. O grupo 2 apresenta a avalia-ção 2 com valores mais elevados em relação

    às avaliações 1 e 3. No grupo 3, obtivemosum aumento nos valores de VO

    2 máx. nas

    avaliações e nota-se que houve diminuiçãoconsiderável da dispersão de resultados daavaliação 1 para 2 e 3, porém verificamosuma similaridade entre os níveis de VO

    2máx

    dos grupos.

    A tabela a seguir apresenta os p-valor re-sultantes da análise de variância de VO

    2máx.

    Tabela 4 -  Médias e desvios padrão da variável 

    VO2máx. (ml/kg/min.) do grupo 1 nas avaliações 1

    (inicial); 2 (2ª avaliação) e 3 (avaliação final)

    Tabela 5 -  Médias e desvios padrão da variável 

    VO2máx. (ml/kg/min.) do grupo 2 nas avaliações 1

    (inicial), 2 (2ª avaliação) e 3 (avaliação final)

    O grupo 3 apresenta aumento da média daavaliação 1 para 2, mantendo-se praticamen-te inalterado entre as avaliações 2 e 3.

    A seguir na figura 1 tipo Box Plot a variá-vel VO

    2máx. para os grupos 1, 2 e 3.

    Tabela 6 - Médias e desvios padrão da variável 

    VO2máx. (ml/kg/min.) do grupo 3 nas avaliações 1

    (inicial), 2 (2ª avaliação) e 3 (avaliação final)

     Figura 1-  Box Plot da variável VO2máx. (ml/kg/min.)

    entre os grupos

    Tabela 7 - P-valor da variável VO2 máx.(ml/kg/min.)

     por grupo e avaliação

    Como podemos observar, não houve in-fluência dos fatores avaliação e grupo navariável em estudo. A análise de variânciaverificou, no caso do fator avaliação, se hou-ve influência conjunta (nos três grupos si-multaneamente). Porém para confirmar osdados apresentados, fez-se necessário testara diferença entre as médias das avaliações,dentro de cada grupo (tabela 7) e que confir-mou não haver diferença significativa de

    evolução nos níveis de VO2máx dentro decada grupo.

    Tabela 8- P-valores da variável VO2máx. (ml/kg/min.)

     dos grupos 1, 2 e 3

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    4) Discussão

    Os resultados das médias apresentadas pe-los grupos deste estudo indicam que os au-

    mentos dos valores de VO2máx no G2 e G3 daavaliação inicial para a segunda não foram sig-nificativos estatisticamente, o mesmo para oresultado do G3 na terceira avaliação, pois empercentual a melhora foi aproximadamente de1% nas dois grupos. Esses resultados são simi-lares com os apresentados por Hunter,Demment, Miller18 que estudaram em quatrogrupos a interferência do treinamento de forçae de resistência no VO

    2máx, encontrando au-

    mento em torno de 1% no grupo que executousomente treinamento de força, já nos gruposque associaram força e resistência, os aumen-tos foram maiores, chegando próximos de10%. Nessa direção, podemos entender que amanutenção do VO

    2 máx ligeiramente maior

    no G3 da segunda para a terceira avaliaçãotenha sido pela atividade física geral exigidanas instruções militares dos voluntários. Ou-tro estudo que reforça a posição anterior e, tam-

    bém, a do presente estudo é o de Campos etal.15, que encontrou um aumento de 2,8% noVO2 máx. em indivíduos que treinarammusculação com carga de 90% de 1RM, du-rante oito semanas, este possui umametodologia bem próxima da que utilizamos.As revisões de Katch, Mcardle8 e Leite9  ex-põem que o VO

    2máx não aumenta além de 10%

    de sua capacidade inicial com treinamento depesos duas vezes por semana. Contudo, o me-

    lhor método para desenvolver força é a utiliza-ção de resistência máxima, permitindo umnúmero baixo de repetições, sendo que dessaforma a musculação poderia contribuir materi-almente para o desenvolvimento da resistên-cia cardiorrespiratória em virtude de maior so-licitação de unidades motoras.

    Hickson, et al.7 afirmam que após dez sema-nas de treinamento com pesos, o VO

    2máx so-

    mente alterou 4% do seu estado inicial, com

    os sujeitos que realizaram um treinamento de

    alta intensidade, primariamente designado paraforça do músculo quadríceps e posteriormen-te um teste em cicloergômetro. Porém o tempode endurance no cicloergômetro aumentou em

    47%, subentendendo que para o aumento doVO

    2máx outros fatores podem estar envolvi-

    dos. Nesse sentido, pode-se explicar a ocor-rência do baixo percentual de melhoria doconsumo de oxigênio do presente estudo, quefoi de apenas 1% (um) porcento durante asavaliações após a intervenção dos dois tiposde trabalhos com peso.

    Outros fatores são responsáveis por respos-tas orgânicas à atividade física, Klissouras18

    que verificou grande variabilidade do VO2máxem uma população homogênea, mantida sobo controle de fatores extrínsecos, como o trei-namento e a altitude, e intrínsecos, como aidade e o sexo, propondo que o fator genéticoseria o principal responsável pela variabilida-de do VO

    2máx. Além disso, o autor verificou

    que gêmeos monozigóticos apresentam valo-res de VO

    2máx muito próximos, enquanto os

    gêmeos dizigóticos, apresentam variabilida-de muito maior, concluindo que os fatores ge-néticos são responsáveis por 67% da variabi-lidade observada no VO

    2máx.

    Tesch10 e McCall et al.11 relatam que o trei-namento visando hipertrofia muscular não re-sultaria no aumento da densidade capilar, po-dendo inclusive, haver uma redução no nú-mero de capilares por fibra, dificultando osprocessos oxidativos. Por outro lado, Green et

    al.14

     contrariam a afirmação anterior, pois de-monstraram haver melhoria na capilarizaçãopor mm2 após 7 semanas de treinamento comalta sobrecarga, o mesmo ocorrendo na rela-ção capilar por fibra. Para Lambert19 o aumen-to do volume muscular pode perturbar a circu-lação local do sangue, permitindo a formaçãode um sistema vascular bem adaptado, sendoque o esforço do tipo usado pelos culturista,reduz seriamente as capacidades de contração

    dinâmica do músculo e de captação de oxigê-

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    nio, provocando alterações metabólicas. Cor-roborando com tal afirmação, encontramos oestudo de Goreham et al.20 que analisou o pro-cesso bioquímico e metabólico de indivíduos

    submetidos a 12 semanas de treinamento comaltas cargas, encontrando baixa alteração noconsumo de oxigênio, porém altas alteraçõesno processo bioquímico.

    No entanto, Alway21 descreve que o regimede treinamento visando a resistência muscularlocalizada com cargas moderadas e grandenúmero de repetições, poderia, no entanto, in-duzir a uma certa neoformação capilar, poden-do desenvolver a manutenção da densidadecapilar adquirida. Nessa perspectiva, no pre-sente estudo, com um período de dez semanasde realização de treinamento, esperava-se queos valores de VO

    2máx do grupo G2 (resistên-

    cia muscular) fossem maiores do que os valo-res apresentados no G3 (hipertrofia muscular)o que não ocorreu. Pois em valores de varia-ções percentuais, o G3 teve um pequeno au-mento quando se relaciona os resultados ini-ciais e as duas outras avaliações, tal resultadopoderia ser atribuído a melhoria da força mus-cular em conseqüência da coordenação da uti-lização das unidades motoras, tendo em vistaque a avaliação de consumo de oxigênio foifeita de forma indireta e por meio de teste decorrida. O estudo de Millet et al.22 aponta nes-sa direção, tendo em vista que a avaliação deconsumo de oxigênio de seu trabalho, tam-bém se utilizou da corrida.

    A explicação para o resultado apresentado eque no treinamento de resistência de força comcargas elevadas (superiores a 60% da forçamáxima individual), o nível máximo de forçacondiciona por um lado e o número das repe-tições possíveis como efeito, por ocasião dequalquer trabalho muscular de alta intensida-de, a mobilização anaeróbia de energia parti-cipa, pois ocorre oclusão dos vasos arteriais e,portanto, diminuição da entrada de oxigênio

    e de substratos, isto pode ser um indutor derespostas melhorada de oxigenação do mús-

    culo, tendo em vista que o período dessa ocor-rência é curtíssima. Os estudos apontam quetrabalhos de resistências inferiores a 25% daforça máxima e número elevado de repetições,

    o fornecimento de energia pelo processoaeróbio e os fatores de uma capilarização me-lhorada serão decisivos no desempenho4,11,15,23.

    Portanto, na literatura da área do treinamen-to, programa com carga em forma circuito podedestinar-se a aumentar a força muscular, a fle-xibilidade e, tratando-se de corrida, nataçãoou ciclismo, contribuir para aprimorar tambéma resistência cardiorrespiratória24, 25. Corrobo-rando com esta afirmação, Weineck26,Goreham, et al.20 e Staron, Hikida27 descrevemque no trabalho de desenvolvimento da resis-tência de força, quando se utiliza alternânciasde treinamento, tendo como objetivo uma to-talidade funcional, especialmente a muscular,ocorrem melhorias nas condições de resistên-cia aeróbia, anaeróbia e resistência de forçamuscular, o que poderiam contribuir com oaumento do consumo máximo de oxigênio(VO

    2

    máx). Princípio este que deve ter levado apequena melhora do G3 deste estudo na ter-ceira avaliação. Getmann, Hagman28 destacam,quando o treinamento em circuito for realiza-do com corrida de 1-2 minutos, ocorrem umaumento de 15% nos valores de VO

    2máx.

    No presente estudo os valores de VO2máx

    não se diferenciaram significativamente nosgrupos durante o período de intervenção. Tal-vez, tal ocorrência, seja em conseqüência das

    cargas de treinamento estarem equiparadasentre os grupos de resistência de força (G2) e ode hipertrofia (G3) e, também, em virtude deambos grupos participarem de atividades físi-cas gerais como corridas e instrução militar.Mesmo observando o grupo que realizou otrabalho com o objetivo de resistência nãoapresentou melhora significativa no VO

    2máx.

    Os resultados deste trabalho estão de acordocom os de Debusk29 e Jakicic30 que encontra-

    ram similares melhoras na aptidão física paraatividades realizadas de baixa intensidade e

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    longa duração comparada com exercício dealta intensidade e curta duração, em conseqü-ência do custo total de energia das atividadesestarem bem próximas. Isto sugere que o exer-cício anaeróbio, por causa da alta intensidadeenvolvida requer mais energia por gerar altodébito de oxigênio que deve ser recuperadopós-exercício por meio da aerobiose4.

    O estudo dos dois programas de treina-mento com sobrecarga evidenciou, emboranão significativa, melhora do consumo deoxigênio no G3 nas duas avaliações finais,vindo ao encontro de afirmações da litera-

    tura que a sobrecarga melhora as respostasneuromusculares. Fleck & Kraemer31 em es-tudo relativo à adaptação neural do múscu-lo, demonstraram aumento da força sem mo-dificações no tamanho do músculo, emboraoutros fatores, como o aumento do volumede densidade miofibrilar, poderia desenvol-ver a produção de força sem aumento nasecção transversal do músculo. Estes meca-nismos neurais, que podem causar grandeprodução de força, incluindo o aumento nainibição dos antagonistas e melhor coorde-nação dos sinergistas, poderiam ser os res-ponsáveis pela diminuição do consumo deoxigênio no G2 na avaliação final. O au-mento da força após treinamento de alta re-sistência de acordo com Higbie et al.32 é de-vido à hipertrofia e/ou aumento da ativida-de neural do músculo. Tal ocorrência justi-ficaria a tendência da manutenção do con-sumo de oxigênio acima do nível inicial doprograma no grupo G3.

    O programa de treinamento com sobrecar-ga é de grande utilidade, pois amplia os be-nefícios da capacidade física no âmbito daatividade física para saúde e da prática es-portiva. Pollock & Wilmore33  preconizamque os aumentos de força ocorrem devido àintegração de diversos fatoresneuromusculares que incidem diretamente

    na capacidade do músculo produzir tensão

    e na habilidade do sistema nervoso em ativá-lo. Tal prerrogativa é aceita por Mcardle,Katch, Katch16, Linnamo et al.34. Por isso, acapacidade de produzir tensão muscular es-

    capa à esfera puramente químico-fisiológi-ca, estando também associada a aspectoscoordenativos e fisicamente treináveis35.

    O progressivo treinamento de hipertrofiamuscular leva à um aumento da massa mus-cular magra. Está hipertrofia pode ser obser-vada em dois meses de treinamento, sendoque a síntese de proteínas contráteis ocor-rem em ambas as fibras musculares tipo I(aeróbia) e II (anaeróbia) tendo seu maiordesenvolvimento nas fibras do tipo II10. Asfibras do tipo II são mais adequadas aos tra-balhos anaeróbios; desempenhos de ativi-dades de alta intensidade e curta duração,solicita maior desempenho das característi-cas bioquímicas e físicas31. Isto pode justifi-car os valores de VO

    2máx um pouco mais

    elevado no G3 em comparação com o grupoG2, embora não significativos do ponto devista estatístico, a explicação mais evidenteé que houve melhoras na coordenaçãointramuscular, intermuscular e na utilizaçãode oxigênio, propiciando maior eficiênciana corrida no momento do teste e apresen-tando maior consumo de oxigênio.

    Para Mitra, Mogos36  o número de fibrasmusculares implicadas na contração constituium elemento decisivo para o valor da forçaque um músculo pode desenvolver. Monteiro37

    afirma, quanto maior é o número de fibras deum músculo solicitada na ação, tanto mais pró-xima do valor máximo está a força com que seexecuta o respectivo movimento. Portanto, ograu de força produzido por um músculo éobtido através de uma combinação dos pro-cessos do aumento do número de unidadesmotoras ativadas e aumento do sincronismodo estímulo desencadeador da unidademotora. Nessa direção poderia justificar a ten-

    dência de um maior VO2máx no G3 na avalia-

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    ção final quando comparado com as duas an-teriores do programa de treinamento com so-brecarga deste estudo.

    5) Conclusão e Perspectivasde Aplicação

    Os resultados indicaram que o treinamentocom pesos (resistência de força e hipertrofia)não provocaram um aumento significativo nosvalores de consumo máximo de oxigênio(VO

    2máx) no período de dez semanas, vindo

    ao encontro com os dados da literatura. Con-tudo, os resultados numéricos apontam para

    uma maior sensibilidade no consumo de oxi-gênio quando há trabalhos com cargas acimade 75% da máxima (1RM) e atividades físicasgerais. Pois a tendência de melhora só foi noG3, embora o G2 tenha participado, também,das atividades gerais e só houve melhora nasegunda avaliação, já na terceira estava umpouco abaixo. Reforçando a tendência damelhoria do consumo de oxigênio quandohouver trabalhos com sobrecarga e atividades

    gerais juntos, observa-se que o G1(controle)que não participou do trabalho com sobrecar-ga, mas, somente das atividades gerais, nãoapresentou nenhuma modificação no consu-mo de oxigênio. Assim sendo, o treinamentocom sobrecarga poderá auxiliar os indivíduosque praticam modalidades esportivas em quea força muscular e o consumo de oxigênio sãopredominantes. Porém é importante que hajamais estudos com períodos mais prolongados

    para analisar a interferência deste tipo de trei-namento no consumo de oxigênio e nos resul-tados técnicos de modalidades esportivas.

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