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58 - Nova Perfil e Fama E ste tema não é puramente cardioló- gico, mas achei pertinente escrever este artigo para chamar a atenção do leitor sobre o desgaste causado pela profissão e seu potencial para abrir cami- nhos para doenças graves. Numa época de crise econômi- ca, o desemprego é um grande temor para a maioria dos trabalhadores. Por outro lado, ter uma ocupação também pode ser sinônimo de angústia. É isso mesmo. A necessidade de manter sua posição, tra- balhando em condições estressantes, num mercado cada vez mais exigente e com- petitivo, tem levado muitos profissionais ao esgotamento físico e mental, também conhecido como síndrome de burnout – traduzindo do inglês, burnout significa Corpo e mente esgotados ESPORTE E BEM-ESTAR Dr. Luiz Felipe Wili - Cardiologista CRM 115.317 aparecimento da síndrome de burnout. De acordo com uma pesquisa feita pela Associação Internacional de Gerenciamento do Estresse, no Brasil 30% dos trabalhadores desenvolvem a doença. Eu particularmente achei muito prevalente e me recordando das últimas queixas dos pacientes no consultório (vá- rios deles reclamando do excesso de tra- balho, que o dia deveria ter 36 horas, etc) posso confirmar que realmente é uma afecção muito comum e que está intima- mente relacionada com o aparecimento de doenças cardiovasculares, entre elas a hipertensão arterial. A síndrome de burnout não surge do dia para a noite. Ela pode progredir por anos, com diferentes fases, levando o profissio- nal à exaustão. Destacam-se cinco fases: algo que “queimou, esgotou, parou de funcionar por falta de energia”. Excesso de tarefas – impossí- veis de serem cumpridas nos prazos - , salários desiguais e exposição à violência compõem um ambiente de trabalho hos- til, favorecendo o surgimento da doença. Em geral, esse distúrbio manifes- ta-se com mais frequência em pessoas que sofrem assédio moral e têm contato com o público. Motoristas de ônibus, sub- metidos ao trânsito caótico das grandes cidades; professores que lecionam para turmas superlotadas e enfrentam desa- cato e até agressões dos alunos; médicos e enfermeiras que lutam contra o tempo para salvar vidas, muitas vezes com uma infraestrutura precária são alguns exem- plos de profissões mais vulneráveis ao A SÍNDROME DE BURNOUT, CAUSADA PELO STRESS NO TRABALHO, PODE TRAZER DANOS QUE IMPACTAM NA QUALIDADE DE VIDA. SAIBA COMO EVITÁ-LA Por: Dr. Luiz Felipe Wili | Fotos: Samantha Wunsch

Corpo e mente esgotados - Vitta Cardiologia · CRM 115.317 aparecimento da síndrome de burnout. ... timentos de solidão e até ideias suicidas. ... mo reduz a produção de hormônios

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58 - Nova Perfil e Fama

Este tema não é puramente cardioló-gico, mas achei pertinente escrever este artigo para chamar a atenção

do leitor sobre o desgaste causado pela profissão e seu potencial para abrir cami-nhos para doenças graves. Numa época de crise econômi-ca, o desemprego é um grande temor para a maioria dos trabalhadores. Por outro lado, ter uma ocupação também pode ser sinônimo de angústia. É isso mesmo. A necessidade de manter sua posição, tra-balhando em condições estressantes, num mercado cada vez mais exigente e com-petitivo, tem levado muitos profissionais ao esgotamento físico e mental, também conhecido como síndrome de burnout – traduzindo do inglês, burnout significa

Corpo e mente esgotados

ESPORTE E BEM-ESTAR

Dr. Luiz Felipe Wili - CardiologistaCRM 115.317

aparecimento da síndrome de burnout. De acordo com uma pesquisa feita pela Associação Internacional de Gerenciamento do Estresse, no Brasil 30% dos trabalhadores desenvolvem a doença. Eu particularmente achei muito prevalente e me recordando das últimas queixas dos pacientes no consultório (vá-rios deles reclamando do excesso de tra-balho, que o dia deveria ter 36 horas, etc) posso confirmar que realmente é uma afecção muito comum e que está intima-mente relacionada com o aparecimento de doenças cardiovasculares, entre elas a hipertensão arterial.A síndrome de burnout não surge do dia para a noite. Ela pode progredir por anos, com diferentes fases, levando o profissio-nal à exaustão. Destacam-se cinco fases:

algo que “queimou, esgotou, parou de funcionar por falta de energia”. Excesso de tarefas – impossí-veis de serem cumpridas nos prazos - , salários desiguais e exposição à violência compõem um ambiente de trabalho hos-til, favorecendo o surgimento da doença. Em geral, esse distúrbio manifes-ta-se com mais frequência em pessoas que sofrem assédio moral e têm contato com o público. Motoristas de ônibus, sub-metidos ao trânsito caótico das grandes cidades; professores que lecionam para turmas superlotadas e enfrentam desa-cato e até agressões dos alunos; médicos e enfermeiras que lutam contra o tempo para salvar vidas, muitas vezes com uma infraestrutura precária são alguns exem-plos de profissões mais vulneráveis ao

A SÍNDROME DE BURNOUT, CAUSADA PELO STRESS NO TRABALHO, PODE TRAZER DANOS QUE IMPACTAM NA QUALIDADE DE VIDA. SAIBA COMO EVITÁ-LA

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seu tratamento. Embora em alguns casos só a psicoterapia seja recomendada, sua combinação com antidepressivos costu-ma ser bem eficiente no tratamento. É preciso cuidar ainda das doenças que sur-giram a partir da síndrome como hiper-tensão arterial, alcoolismo e distúrbio do sono. Como entusiasta do esporte, concluo enfatizando a importância da prática de atividade física para auxilio no

1) Estresse positivo: motiva o profissional e o torna ágil para executar suas tarefas.2) Cansaço: surgem dores em diferentes partes do corpo, cansaço físico, mudança na pressão arterial, insônia. O profissio-nal começa a perder o ânimo para traba-lhar.3) Sensação de ameaça: a sobrecarga de trabalho e a sensação de uma suposta perseguição distancia o profissional dos colegas de trabalho.4) Desempenho comprometido: o racio-cínio e a memória são afetados, acarre-tando erros frequentes.5) Exaustão: surgem doenças graves, sen-timentos de solidão e até ideias suicidas. Debilitado, o profissional se afasta do trabalho. Pelo fato de poder ser confun-dida com estresse e ansiedade, uma ava-liação com psicólogo, de preferência es-pecialista no transtorno, é fundamental para o diagnóstico adequado assim como

tratamento. Ao ativar o corpo, o organis-mo reduz a produção de hormônios es-tressantes como a adrenalina e o cortisol. Na mesma proporção, libera endorfina (conhecida como hormônio da alegria) e dopamina que tem efeito tranquilizante e analgésico. Além disso, desenvolve novas amizades, promovendo encontros sociais. O resultado final é o aumento da auto-estima e a diminuição da insatisfação, da depressão e da ansiedade.