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RENÉ A. CORDEIRO (Economista)
[email protected] Tlm 919855907 www.strategypi.com
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A CRISE
— FINANCEIRA, RESULTANTE DA PARANÓIA DA ECONOMIA EM GERAR PROVEITOS INCOBRÁVEIS —
A propósito da crise— independentemente de, segundo a perspectiva, uns
considerarem que há, outros que não—, e recordando o significado dos
caracteres chineses que compõem a palavra (risco e oportunidade), lembro
mensagens, comentários, opiniões que vimos expressando desde 1993: todas
as empresas vão tendo estratégias instrumentais. Mas poucas, muito poucas,
têm estratégia global.
Os colapsos que vamos conhecendo de empresas da área financeira não nos
podem distrair do que acontece a outras, de outras áreas (vg as companhias
aéreas, de que são exemplo a Swissair e, actualmente, a Alitália).
Muitas empresas sofrem claros efeitos— ainda não controlados— resultantes da
globalização da economia* e agravados pelo disparo dos preços do petróleo (em
parte ele também resultado da globalização) e de tudo o que lhe está a jusante.
Outras, ou as economias ocidentais em geral, sofrem de falta de liquidez por
muitos recursos financeiros gerados pelas economias produtoras de matérias-
primas, vg petróleo, serem crescentemente investidas domesticamente (ou em
África, ou no Sudeste Asiático) em vez de serem encaminhadas para o ocidente,
como aconteceu durante décadas.
Mas outras empresas sofrem dificuldades que só têm que ver com a paranóia de
exuberância irracional no âmbito da qual os executivos “têm de fazer” coisas que
fazem aparentemente sentido lógico, mas nenhum sentido do negócio (que
também tem de ter lógica!).
E porquê?
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Porque, de acordo com a nossa abordagem à estratégia global (que enquadra e
orienta as estratégias instrumentais) das organizações, o seu objectivo é,
sempre e apenas, o âmbito (estabelecido no presente) dos produtos, dos
clientes e dos mercados futuros. E este âmbito, definido pela natureza dos
produtos, é estabelecido, apenas, por dez forças condutoras (que definem o que
vulgar e genericamente, e frequentemente mal, se designa por core business).
Assim, as organizações nossas clientes optam por uma daquelas forças para
estabelecerem, em consequência, a sua estratégia global.
Ora, do que conhecemos por experiência e pelos casos que vamos registando,
as decisões que ferem o sentido do (s) negócio (s) das organizações — o bom
senso que os negócios/a economia também têm (devem ter) — conduzem a
inovações que são desperdício, a investimentos que não alavancam (os activos
que se vão vendendo….é porque não ajudam os tais core business), à sede de
“puxar” o consumo das pessoas para níveis insustentáveis.
Nenhuma destas características tem que ver com a globalização da economia.
Têm sobretudo que ver com a importância da criação de valor (que não é tido
em conta) e com as expectativas dos investidores— expectativas amiúde
artificialmente alimentadas, em alta, pelas expectativas dos gestores e analistas.
Vamos apresentar nos quadros seguintes a fundamentação (que decorre do
trabalho que realizamos com os nossos associados EnValue) desta opinião,
desculpando-nos por começar por aspectos básicos.
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Ora, libertamos valor quando corrigimos (as causas de) problemas: libertamos
as situações de constrangimentos.
Optimizamos valor quando simplificamos as situações.
Criamos valor quando inovamos ou (re)inventamos.
Para o que as empresas têm, em nossa opinião, de possuir uma estratégia
global sem a qual os mecanismos de criação de valor perdem referência.
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Os cinco quadros seguintes exemplificam resumidamente a ligação da estratégia
global com a inovação de produtos.
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Se nos explicámos bem, o desvio de valor referido só pode ser preenchido
sustentavelmente ─ minimizando riscos: prevenindo causas de problemas
potenciais, protegendo de efeitos de problemas potenciais, controlando
operações ─ se a empresa, seja qual for o seu sector de actividade, for
conduzida por uma estratégia global que, prosseguindo o propósito de
perpetuidade, dê sentido à prossecução do seu objectivo: o âmbito dos produtos
(cuja natureza dá coerência à prossecução), dos clientes (que assim vêem neles
consistentemente mantido o foco), dos mercados (onde residem os clientes e
em que se têm de estabelecer fundamentos de credibilidade) futuros.
Parece ao leitor que isto é teórico? Olhe que não! Mas se insiste em pensar
assim, paciência: vamos continuando a assistir ao que vem acontecendo e a
produzir explicações sobre o que acontece e nada fazendo para que não
aconteça….
Apenas para exemplificar, atente-se a alguns títulos da Business Week de 29
de Setembro último: “Will we never learn?”, What brought down the markets?
Bad choices, Greed ─ and never learning from past mistakes”, “More pain
ahead”, “Where AIG went wrong”.
Somos de opinião que a democracia ─ berço político da liberdade individual ─ é
o regime político que mais carece de autoridade e de disciplina.
Pela mesma razão, a economia de (livre) mercado ─ particularmente na área
financeira pelo directo impacte que as suas actividades têm no ambiente
macroeconómico ─ deve ser tão regulada quanto necessário para sua própria
salvaguarda. No fundo, trata-se de regular (conter) a actividade financeira no
que concerne à qualidade e à segurança dos seus produtos ─ critérios
igualmente aplicáveis à produção e oferta de bens industriais. Mas temos
também que entender que a eliminação de toda e qualquer especulação ─ e,
portanto, dos seus efeitos ─ se possível, também terá como consequência
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alguma redução da actividade económica com a consequente diminuição do
nível de vida. Porque, já agora, não esqueçamos que especulação, no contexto
que tratamos, tanto pode ser a operação comercial com obtenção de lucros
exagerados e pouco legítimos, como comprar em mais ou menos larga escala
activos ou mercadorias com o objectivo de as revender mais tarde com lucro
resultante da variação das cotações.
Dito de outro modo, podemos e devemos gerir o risco, mas não podemos
eliminá-lo: porque geri-lo significa precisamente que a sua existência é
incontornável.
Em resumo: o que vivemos é consequência da moda da facilidade, do virtual (e
nem tudo pode sê-lo, mesmo quando a tecnologia a isso convida). O que não é
específico à actividade financeira, mas à sociedade em geral. Logo ao Estado
também. Pelo que os responsáveis somos todos nós: os fornecedores ─
geradores dos proveitos ─ e os clientes ─ geradores das dívidas. Por isso, e
apenas por isso, é correcto que o Estado ─ a sociedade politicamente
organizada ─ intervenha para restabelecer a ordem, o sentido que se perdeu
pela ausência de estratégia global.
(E este Estado daria um bom exemplo de regulação se, como já expressamos
desde 1996, regularizasse as dívidas que contraiu, contrai e contrairá junto aos
seus fornecedores.)
É que a “saúde do negócio” ─ que implica gestão estratégica ─ é condição
necessária para garantir a “saúde dos accionistas”. Mas se esta for colocada à
frente daquela, a “saúde do negócio” estará irremediavelmente prejudicada.
* Ver em www.strategypi.com/Eventos/ - A Globalização e a Produtividade