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Críticas à doutrina da Trindade Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. Este artigo ou se(c)ção cita fontes confiáveis e independentes, mas que não cobremtodo o conteúdo (desde maio de 2012). Por favor, adicione mais referências e insira-as corretamente no texto ou no rodapé. Material sem fontes poderá ser removido. Encontre fontes: Google (notícias, livros e acadêmico) A neutralidade desse artigo (ou seção) foi questionada, conforme razões apontadas na página de discussão. Justifique o uso dessa marca na página de discussão e tente torná-lo mais imparcial. Críticas à doutrina da Trindade são formuladas por várias denominações cristãs e religiões monoteísta, como o Islamismoe o Judaísmo. Elas discordam da doutrina da Trindade, isto é, da afirmação de que um único Deus revela-se em três pessoas divinas distintas, ou simplesmente, do conceito de um Deus formado por três pessoas distintas: o Pai (Deus), Filho (Jesus Cristo) e o Espírito Santo. Entre as denominações de igrejas cristãs não-trinitárias que rejeitam esta doutrina incluem-se os unicistas ou sabelianismo, os Unitaristas Bíblicos (arianismo), 1 os Unitaristas Universalistas (arianismo), 2 os Cristadelfianos; as Testemunhas de Jeová; alguns membros da Adventista do Sétimo Dia e vários movimentos que não são protestantes, mas se originaram de tais grupos. Índice [esconder] 1 Conceitos cristãos antitrinitários 2 Conceitos das Testemunhas de Jeová 3 Conceito judaico 4 Conceito islâmico 5 Conceito bahá'í 6 Conceitos da Doutrina Espírita 7 Conceito dos movimentos gnósticos 8 Conceito dos pioneiros Adventistas o 8.1 A Criação - Segundo Ellen G. White 9 Comma Johanneum 10 Ver também 11 Referências

Críticas à Doutrina Da Trindade

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respostas dos anti-trinitarianos à existência da mesma.

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Críticas à doutrina da TrindadeOrigem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Este artigo ou se(c)ção cita fontes confiáveis e independentes, mas que não cobremtodo o conteúdo (desde maio de 2012). Por favor, adicione mais referências e insira-as corretamente no texto ou no rodapé. Material sem fontes poderá ser removido.—Encontre fontes: Google (notícias, livros e acadêmico)

A neutralidade desse artigo (ou seção) foi questionada, conforme razões apontadas na página de discussão.Justifique o uso dessa marca na página de discussão e tente torná-lo mais imparcial.

Críticas à doutrina da Trindade são formuladas por várias denominações cristãs e religiões monoteísta, como o Islamismoe o Judaísmo. Elas discordam da doutrina da Trindade, isto é, da afirmação de que um único Deus revela-se em três pessoas divinas distintas, ou simplesmente, do conceito de um Deus formado por três pessoas distintas: o Pai (Deus), Filho (Jesus Cristo) e o Espírito Santo.

Entre as denominações de igrejas cristãs não-trinitárias que rejeitam esta doutrina incluem-se os unicistas ou sabelianismo, os Unitaristas Bíblicos (arianismo),1 os Unitaristas Universalistas (arianismo),2 os Cristadelfianos; as Testemunhas de Jeová; alguns membros da Adventista do Sétimo Dia e vários movimentos que não são protestantes, mas se originaram de tais grupos.

Índice

  [esconder] 

1   Conceitos cristãos antitrinitários

2   Conceitos das Testemunhas de Jeová

3   Conceito judaico

4   Conceito islâmico

5   Conceito bahá'í

6   Conceitos da Doutrina Espírita

7   Conceito dos movimentos gnósticos

8   Conceito dos pioneiros Adventistas

o 8.1   A Criação - Segundo Ellen G. White

9   Comma Johanneum

10   Ver também

11   Referências

Conceitos cristãos antitrinitários[editar | editar código-fonte]

A visão unicista de Deus entende haver apenas "Um Único Deus", a pessoa Divina de Jesus Cristo, que se teria manifestado como "Deus Pai" na Criação, "Deus Filho" na Redenção e o Divino Espírito Santo nos dias atuais. Ou seja, um Deus Único em três distintas manifestações temporais.

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Outro ramo entende haver "um Deus e um Senhor", nas figuras de Jesus Cristo como "Senhor dos Exércitos" e de "Deus", o Pai Criador e sustentador do Universo. Segundo os defensores desta ideia, há vários textos bíblicos indicando a existência de apenas um único Deus, tais como Êxodo 20:2-3, I Coríntios 8:6 e João 4:21, 23. Este ramo defende ainda que os textos bíblicos referidos pelos trinitarianos, não tratam diretamente da adoração a uma Trindade ou a "um Deus triúno", pelo que esta deveria ser dirigida somente a um Deus único.

Para os Cristadelfianos nem a palavra "Trindade" e nem o conceito da Trindade aparecem na Bíblia. Os cristadelfianos ensinam que Deus é uma só pessoa (o Pai), Deus é maior do que o Filho, e que o Filho é subordinado ao Pai.

Conceitos das Testemunhas de Jeová[editar | editar código-fonte]

As Testemunhas de Jeová rejeitam o dogma da Trindade. Argumentam que existe apenas um só Deus verdadeiro que se chama Jeová. Ele é considerado o Deus Todo-poderoso. Segundo as Testemunhas de Jeová o trecho em Deuteronómio 6:4 (NM) reafirma claramente o monoteísmo e a ideia de unicidade da pessoa de Deus. "Jeová [YHVH], nosso Deus [em língua hebraica "Elohím"], é um só Jeová [YHVH]." As Testemunhas de Jeová argumentam que a nação de Israel, a quem isto foi dito, não acreditava na Trindade. Os babilônios e os egípcios adoravam tríades de deuses, mas se esclareceu a Israel que Jeová é diferente.

Para as Testemunhas de Jeová, o plural aqui do nome em hebraico "Elohím" é o plural majestático ou de excelência. Não dá a ideia de pluralidade de pessoas numa deidade. Afirmam que, quando em Juízes 16:23 se faz referência ao deus Dagom, emprega-se uma forma do título ’elo·hím; o verbo acompanhante está no singular, o que indica que se refere a apenas um deus. Citam também Gênesis 42:30, que diz que José é "senhor" (’adho·néh, o plural majestático) do Egito.3 4

As Testemunhas explicam que a língua grega antiga não possui "plural majestático ou de excelência". Portanto, em Gênesis 1:1, os tradutores da versão Septuaginta, uma tradução do hebraico para o grego, teriam empregado "ho The·ós" (Deus, no singular) como equivalente a ’Elo·hím. Afirmam que, em Marcos 12:29, onde se reproduz uma resposta de Jesus em que ele citou Deuteronômio 6:4, emprega-se similarmente o singular ho The·ós, em grego.

O Filho de Deus é encarado como "[um] ser Divino" poderoso ou "[um] Deus". Não o consideram como sendo o Deus Todo-poderoso, mas uma pessoa distinta Dele. (João 1:1,14,18 NM) Foi o "Primogênito de toda a Criação" (Colossenses 1:15).

Aquele que mais tarde se tornou verdadeiramente homem, Jesus de Nazaré, chamado de Cristo (Messias), teria uma existência pré-humana como filho Unigénito [por ter sido único criado directamente] de Jeová Deus e o Seu porta-voz. Na sua existência pré-humana, crêem que ele era o Arcanjo Miguel, o principal ou líder dos anjos de Deus. Crêem que ele teve um papel importante na Criação, como Mestre-de-obras de Deus. (Provérbios 8:30) Enquanto humano, nunca deu consideração à ideia de ser igual a Seu pai, o Deus Todo-poderoso. O próprio Jesus Cristo terá deixado bem claro a ideia de que "o Pai é maior do que eu" (João 14:28). Após a sua ressurreição e ascensão ao Céu, continuou lealmente sujeito a Seu Pai e Deus Todo-poderoso, pois "a cabeça de todo homem é o Cristo; por sua vez, a cabeça da mulher é o homem; por sua vez, a cabeça do Cristo é Deus" (I Coríntios 11:3). No fins dos tempos, ele seria designado juíz e o governante do Reino Messiânico. E, no término do seu reinado, "quando todas as coisas lhe tiverem sido sujeitas, então o próprio Filho também se sujeitará Àquele que lhe sujeitou todas as coisas, para que Deus seja todas as coisas para com todos." (I Coríntios 15:25-28)

Entendem que o Espírito Santo não é uma pessoa Divina. É apenas a força ativa que procede de Deus. Crêem que a personificação do Espírito Santo, encontrada em alguns

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versículos bíblicos, não provam que seja uma divindade, mas apenas figuras de linguagem. Argumentam que em parte alguma das Escrituras se dá um nome pessoal ao espírito santo; dá-se tão-somente ao nome pessoal do Pai — Jeová, e ao do Filho - Jesus Cristo. Citam Atos 7:55, 56, que relata que Estêvão recebeu uma visão do céu, onde viu "Jesus em pé à direita de Deus", mas não diz ter visto o Espírito Santo (Apocalipse 7:10; 22:1, 3.).

Entendem também que a doutrina da trindade, historicamente provém de crenças pagãs.

A obra "Deve-se crer na trindade?", publicada e distribuída pelas Testemunhas de Jeová, afirma:

"Por muitos anos havia muita oposição, por motivos bíblicos, contra a emergente ideia de

que Jesus era Deus. Para tentar resolver a disputa, o imperador romano Constantino

convocou todos os bispos a Nicéia. Cerca de 300, uma fração do total, realmente

compareceram.

Constantino não era cristão. Supostamente, mais tarde na vida ele se converteu, mas só

foi batizado quando estava para morrer. Sobre ele, Henry Chadwick diz em The Early

Church (A Igreja Primitiva): “Constantino, como seu pai, adorava o Sol Invicto;… a sua

conversão não deve ser interpretada como tendo sido uma íntima experiência de graça…

Era uma questão militar. A sua compreensão da doutrina cristã nunca foi muito clara, mas

ele estava certo de que a vitória nas batalhas dependia da dádiva do Deus dos cristãos.”

Que papel desempenhou esse imperador não batizado no Concílio de Nicéia? A

Enciclopédia Britânica diz: “O próprio Constantino presidiu, ativamente orientando as

discussões, e pessoalmente propôs… o preceito crucial, que expressa a relação de Cristo

para com Deus no credo instituído pelo concílio, ‘de uma só substância com o Pai’

Intimidados diante do imperador, os bispos, com apenas duas exceções, assinaram o

credo, muitos dos quais bem contra à sua inclinação pessoal.”

Assim, o papel de Constantino foi decisivo. Depois de dois meses de furiosos debates

religiosos, esse político pagão interveio e decidiu em favor dos que diziam que Jesus era

Deus. Mas, por quê? Certamente não por causa de alguma convicção bíblica. “Constantino

basicamente não tinha entendimento algum das perguntas que se faziam em teologia

grega”, diz Breve História da Doutrina Cristã. Mas, o que ele deveras entendia era que a

divisão religiosa representava uma ameaça ao seu império, e o seu desejo era solidificar o

seu domínio.

Nenhum dos bispos em Nicéia promoveu uma Trindade, porém. Eles decidiram apenas a

natureza de Jesus, mas não o papel do espírito santo. Se a Trindade fosse uma clara

verdade bíblica, não a teriam proposto naquele tempo?

Depois de Nicéia, os debates sobre o assunto continuaram por décadas. Os que criam que Jesus não era igual a Deus até mesmo recuperaram temporariamente o favor. Mais tarde, porém, o Imperador Teodósio decidiu contra eles. Ele estabeleceu o credo do Concílio de Nicéia como padrão para o seu domínio e convocou o Concílio de Constantinopla, em 381 EC, para esclarecer os preceitos.[carece de fontes]

Esse concílio concordou em colocar o Espírito Santo no mesmo nível que Deus e Cristo. Pela primeira vez, a Trindade da cristandade passou a ser enfocada.[carece de fontes]

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Todavia, mesmo após o Concílio de Constantinopla, a Trindade não se tornou um credo amplamente aceito. Muitos se lhe opuseram e, assim, trouxeram sobre si violenta perseguição.[carece de fontes] Foi apenas em séculos posteriores que a Trindade foi formulada em credos específicos. A Enciclopédia Americana diz: "O pleno desenvolvimento do trinitarismo ocorreu no Ocidente, no escolasticismo da Idade Média, quando se adotou uma explicação em termos de filosofia e psicologia."[carece de fontes]

Para as Testemunhas de Jeová, as suas crenças devem basear-se somente na Bíblia, portanto, visto que o desenvolvimento Trinitariano só se deu dois séculos após a escrita da Bíblia não pode ser aceito como verdade.[carece de fontes]

As Testemunhas de Jeová, utilizam-se ainda de outros textos e argumentos na sua refutação desta doutrina, por exemplo:

Jesus é submisso a Deus

“Não pode o Filho fazer nada por si mesmo se não vir o Pai fazê-lo.; porque tudo o que ele

fizer, o faz também semelhantemente o Filho.” (João 5:19, Missionários Capuchinhos

[MC])

“Desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou.”

(João 6:38)

“O que eu ensino não é meu, mas pertence àquele que me enviou.” (João 7:16)

O Conhecimento de Jesus Era Limitado

Ao proferir a sua profecia a respeito do fim deste sistema de coisas, Jesus declarou: "Quanto ao dia e à hora, ninguém sabe, nem os anjos do céu nem o Filho mas somente o Pai." (Marcos 13:32, BV) Tivesse Jesus sido a parte igual do Filho numa Divindade, teria sabido o que o Pai sabia. Mas Jesus não sabia, pois não era igual a Deus.

Similarmente, em Hebreus 5:8 lemos que Jesus “aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu”. Podemos imaginar Deus precisar aprender algo? Não, mas Jesus precisava, pois ele não sabia tudo o que Deus sabia.[carece de fontes] E ele tinha de aprender algo que Deus jamais precisaria aprender — a obediência. Deus jamais precisa obedecer a alguém.[carece de

fontes]

Uma diferença entre o que Deus sabe e o que Cristo sabe também existia quando Jesus foi ressuscitado para o céu a fim de estar com Deus. Note as primeiras palavras no último livro da Bíblia: “Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu.” (Apocalipse 1:1) Se o próprio Jesus fosse parte duma Divindade, teria sido necessário dar-lhe uma revelação oriunda de outra parte da Divindade — Deus? Por certo ele teria sabido tudo a respeito dessa revelação, pois Deus sabia. Mas Jesus não sabia, pois não era Deus.[carece de fontes]

Conceito judaico[editar | editar código-fonte]

YHWH é o único Deus, tendo manifestado seu poder, Shekinah como forma de poder não segunda pessoa.

Conceito islâmico[editar | editar código-fonte]

Também os muçulmanos (o Islão) criticam com grande vigor a Trindade que segundo o profeta Maomé seria concebida pelos cristãos como sendo constituída por Deus-Pai, Jesus e Maria.5 Segundo a sua leitura do dogma da Trindade, consideram que se trata de uma clara e inequívoca afirmação politeísta que atenta contra a unicidade de Alá. (Al Corão 5:73)

Conceito bahá'í[editar | editar código-fonte]

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Para os bahá'ís, as sagradas escrituras registram abundantes referências à Unidade e Unicidade de Deus, ou seja, queDeus-Pai é Uno e Único. Os bahá'ís compreendem que Deus é incognoscível em Sua Essência: "O que imaginamos não é a Realidade de Deus; Ele, o Incognoscível, o Inconcebível, está muito além da mais avançada concepção do homem."

São muito comuns na literatura sagrada bahá'í expressões sobre Alá no qual está "santificado acima de toda especulação humana', "acima das noções e imaginações do homem","acima de todas as suas descrições", "santificado das concepções dos seus servos", que "Sua essência está santificada acima de todos os nomes e elevado além dos mais excelsos atributos", está "santificado além de qualquer semelhança com Tuas criaturas", "acima da criação inteira', "santificado acima de qualquer semelhança, similitude ou comparação", etc.

Bahá'u'lláh, profeta-fundador da Fé Bahá'í, em sua Epístola ao Filho do Lobo, diz:

"...sabe tu que damos testemunho daquilo de que Deus Mesmo deu testemunho antes da

criação dos céus e da terra, a saber que não há outro Deus senão Ele, o Onipotente, o

Todo-Generoso. Testificamos que Ele é Uno em Seus atributos. Nenhum igual tem Ele no

universo inteiro, nem associado em toda a criação. Ele tem enviado Seus Mensageiros e

feito descerem Seus Livros, a fim de que anunciassem às Suas criaturas o Caminho

reto." 6 .

‘Abdu’l-Bahá filho primogênito de Bahá'u'lláh e líder da Fé Bahá'í após a ascensão deste, discursou algumas vezes sobre o tema, durante as suas viagens para ensino da Fé no ocidente. Em outras ocasiões realizou palestras, compiladas na época, das quais algumas fez referência a questão de trindade.

Ao público cristão, como uma ilustração, costumava dizer que em cada era ou ciclo em que Deus-Pai se revela por meio de Seu Manifestante "há necessariamente três coisas, o doador da graça, a graça e o destinatário da Graça; A fonte do esplendor, o esplendor e o destinatário da refulgência; o Iluminador, a Iluminação, e o Iluminado."

Outra referência mais relevante está num dos seus livros "Esplendor da Verdade", do qual faz a seguinte explanação:

"Pergunta – Que significa a Trindade – as Três Pessoas em Uma?

Resposta – A Realidade Divina, pura e santificada, está muito além da compreensão dos

seres humanos, e jamais poderá ser imaginada, nem pelos mais inteligentes e sábios;

ultrapassa qualquer conceito. Esta Realidade Sublime não admite a divisão, pois a divisão

e a multiplicidade são propriedades das criaturas, que são existências contingentes; tais

acidentes não podem atingir Àquele que existe por si próprio.

A Realidade Divina está isenta da singularidade e, muito mais ainda, da pluralidade. A

descida desta Realidade Divina para condições e graus outros, seria contrária à perfeição

– seria absoluta imperfeição e, portanto, inteiramente impossível. Sempre esteve essa

Realidade, como ainda está, no mais elevado grau da santidade. Tudo o que se diz das

Alvoradas – os Manifestantes de Deus – refere-se ao reflexo divino, e não a uma descida

às condições terrenas.

Deus é pura perfeição, e as criaturas simples imperfeições. Para Ele, o descer às

condições terrenas constituiria a maior das imperfeições; Sua manifestação, Seu

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aparecimento, ou Sua alvorada, é como o reflexo do sol num espelho cristalino, puro e

polido. Todas as criaturas são sinais evidentes de Deus, semelhantes às coisas terrestres

sobre as quais brilham os raios do sol, mas sobre as planícies, as montanhas, as árvores e

os frutos brilha apenas uma parte da luz, pela qual todas estas coisas se tornam visíveis e

se desenvolvem, atingindo assim o objetivo de sua existência, ao passo que o Homem

Perfeito (1) é semelhante a um espelho puro no qual o Sol da Realidade se reflete plena e

visivelmente, manifestando-se em todas as suas qualidades e perfeições. A Realidade de

Cristo era um espelho límpido e polido, sumamente puro e fino, e assim o Sol da

Realidade, a Essência Divina, refletiu-se nesse espelho, nele manifestou luz e calor. Não

desceu, porém, de Seu elevado grau de santidade, de Seu sagrado céu, para entrar no

espelho e nele habitar; ao contrário, continua a subsistir em Sua glória e sublimidade,

enquanto se reflete no espelho e nele manifesta Sua beleza e Sua perfeição.

Se dissermos, pois, que vimos o sol em dois espelhos, sendo um destes espelhos Cristo, e

o outro o Espírito Santo, isto é, que vimos três sóis, estando um no céu e os outros dois na

terra, diremos a verdade. E se dissermos que há somente um sol, que é único, sem

companheiro ou igual, estaremos ainda dizendo a verdade.

Em resumo: a Realidade de Cristo foi um espelho puro, e o Sol da Realidade, ou seja a

Essência da Unidade, com Seus infinitos atributos e perfeições, tornou-se visível no

espelho. Não queremos dizer com isso que o sol, a Divina Essência, se tivesse dividido ou

multiplicado, pois o sol é um e único; apenas se reflete no espelho. Eis porque disse

Cristo: “O Pai está no Filho”, isto é: o sol está visível, manifesto, neste espelho.

O Espírito Santo significa as Graças de Deus, as quais se tornam visíveis e evidentes na

Realidade de Cristo. A condição de Filho é o coração de Cristo, e o Espírito Santo é a

condição do espírito de Cristo. Assim provamos, fora da menor dúvida, ser a Divina

Essência absolutamente única, sem igual ou semelhante.

Eis o que se entende por Três Pessoas da Santíssima Trindade. De outro modo, a

Religião de Deus basear-se-ia numa proposição ilógica, inconcebível – podemos acreditar

numa coisa que nem nos é possível conceber? Nada se pode abranger com a inteligência

que não seja apresentado de forma inteligível, pois seria apenas fantasia.

Está claro agora, pela exposição acima, o sentido de Três Pessoas da Santíssima

Trindade. A Unidade de Deus também está provada." 7 .

Conceitos da Doutrina Espírita[editar | editar código-fonte]

A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, também não aceita o dogma da Trindade, haja visto que, segundo O Livro dos Espíritos, Deus "é a inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas" (Livro dos Espíritos, questão 1) e que sua essência é insondável para os humanos nesse estágio de progresso moral. Allan Kardec propõe, então, atributos não-reducionistas a Deus como: eterno, imutável, imaterial, único, onipotente e soberanamente justo e bom (Livro dos Espíritos, questão 13). Quanto a Jesus, (Livro dos Espíritos, questão 625), os Espíritos dizem que ele é o tipo mais perfeito

Page 7: Críticas à Doutrina Da Trindade

que Deus ofereceu à humanidade para lhe servir de modelo e guia. Jesus é um Espírito como qualquer outro (criado simples e ignorante) mas que já sublimou-se, tornando-se um Espírito puro, segundo a classificação de Kardec, através das sucessivasreencarnações nos diversos mundos do universo (a pluralidade dos mundos habitados também é um dos princípios da Doutrina Espírita).8 .

Conceito dos movimentos gnósticos[editar | editar código-fonte]

Movimentos neo-gnósticos contemporâneos que se auto-denominam cristãos afirmam, por sua vez, que Jesus Cristo não é Deus como o é YHVH, pois YHVH surge ao longo do Antigo Testamento como sendo um Deus "vingativo", "cruel" e "sedento de sangue" e Jesus como rosto de um "falso Deus" que é "amor", "misericórdia" e "perdão". Entendem que o Espírito Santo é na realidade o "Verdadeiro Deus" que salvou a Humanidade ao ser entregue por Jesus a YHVH aquando da sua morte.9

Conceito dos pioneiros Adventistas[editar | editar código-fonte]

Eles escreveram a esse respeito em um dos principais veículos adventistas da época a The Review and Herald:10 .

J. N. Loughborough disse que a doutrina da Trindade foi trazida para a Igreja Católica ao

mesmo tempo que a adoração de imagens, e que a celebração da guarda do Domingo não

é mais do que a doutrina dos persas remodelada. 11

J. B. Frisbie seguiu o mesmo pensamento de Lougborough dizendo que a Trindade era um

louvor à guarda do domingo.12

James White disse que a doutrina da Trindade acaba com a personalidade de Deus e de

seu Filho, Jesus Cristo. (The Advent Review de 11 de dezembro de 1855) Disse ainda que

os grandes reformadores, se tivessem continuado, não teriam deixado nenhum vestígio

das falsas doutrinas, inclusive a Trindade. 13

J. N. Andrews incluiu a crença na Trindade entre as doutrinas espúrias que compunham o

vinho de Babilônia. (Adventist Review de 6 março de 1855)

D. W. Hull disse que essa doutrina foi invenção do "homem do pecado" em referência a II

Tessalonicenses Capítulo 2. 14

Uriah Smith, outro pioneiro que atuou na presidência da Conferência Geral dos

Adventistas do Sétimo Dia e também como editor chefe da Review and Herald por mais de

cinquenta anos disse: "O Espírito Santo é o Espírito de Deus e o Espírito de Cristo, sendo

o Espírito o mesmo quando se fala de Deus ou de Cristo. Mas com relação a este Espírito,

a Bíblia emprega expressões que não podem harmonizar-se com a idéia de que seja uma

pessoa, tal como o Pai e o Filho."15

Page 8: Críticas à Doutrina Da Trindade

William White, filho de Ellen Gould White, era contrário a essa doutrina e dizia que muitas

pessoas se utilizavam dos escritos de sua mãe com interpretações errôneas.16 .

A Criação - Segundo Ellen G. White[editar | editar código-fonte]

"Pai e Filho empenharam-Se na grandiosa, poderosa obra que tinham planejado - a criação do mundo. A Terra saiu das mãos de seu Criador extraordinariamente bela. Depois que a Terra foi criada, com sua vida animal, o Pai e o Filho levaram a cabo Seu propósito, planejado antes da queda de Satanás, de fazer o Homem à Sua própria imagem. Eles tinham operado juntos na criação da Terra e de cada ser vivente sobre ela. E agora, disse Deus a Seu Filho: "Façamos o Homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança. (Gênesis 1:26)" 17

Comma Johanneum[editar | editar código-fonte]

Em algumas versões da Bíblia (KJV, AV, Almeida Revista e Corrigida, Tradução brasileira, etc.), encontra-se a seguinte passagem acrescentada a 1 João 5:7,8: …"no céu: o Pai, a Palavra e o Espírito Santo, e esses três são um. E três são os que dão testemunho na terra". Alguns estudiosos e estudantes bíblicos sustentam que a antemencionada passagem, oComma Johanneum, não aparecia (nem o faz em cópias posteriores até o século XII A.D.) nos manuscritos originais da Bíblia. É a razão de muitas versões modernas da Bíblia não incluírem essas palavras no contexto entre os v.v. 7-8 de 1 João; pode se tratar duma interpolação ao texto original.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Trindade (cristianismo)

Unitarismo

Referências

Ir para cima↑ Inicial Unitarismo Bíblico.

Ir para cima↑ Our Unitarian Universalist Principles (em inglês) Unitarian Universalist Association

of Congregations.

Ir para cima↑ Dicionário Bíblico da NAB, Edição de St. Joseph, p. 330, em inglês

Ir para cima↑ New Catholic Encyclopedia, de 1967, Vol. V, p. 287.

Ir para cima↑ "História das Religiões", Chantepie de la Saussaye, Vol. 2, 1979

Ir para cima↑ Respostas a Algumas Perguntas EBB.

Ir para cima↑ Respostas a Algumas Perguntas EBB.

Ir para cima↑ O que é? FEB.

Page 9: Críticas à Doutrina Da Trindade

Ir para cima↑ The Gnostic Religion, Hans Jonas, 2001

Ir para cima↑ Advent Review adventistas.ws.

Ir para cima↑ Adventist Review de 5 de novembro de 1861

Ir para cima↑ The Advent Review de 4 abril de 1854

Ir para cima↑ Advent Review 7 de Fevereiro 1856

Ir para cima↑ Adventist Review de 10 de novembro de 1859

Ir para cima↑ Review and Herald, 1890

Ir para cima↑ Carta de Willian em 1935 adventistas.ws.

Ir para cima↑ História da Redenção, Ellen G. White, pág. 20

Doutrina da Trindade

1. DOUTRINA DA TRINDADE

“Não posso pensar em um e único, sem que me veja imediatamente envolvido pelo

fulgor dos três; nem posso distinguir os três, sem que me veja imediatamente voltado

para um e único.” (NAZIANZO, Gregório de. Sermão sobre o santo batismo).

“Eis que me aparece, como num enigma, a Trindade. Sois vós, meu Deus, pois Vós, Pai,

criastes o céu e a terra no princípio de nossa Sabedoria, que é a vossa Sabedoria, que

de Vós nasceu, igual e co-eterna convosco, isto é, no vosso Filho.

(…) No vocábulo “Deus”, eu entendia já o Pai que criou todas as coisas; e pela palavra

“princípio” significava oFilho, no qual tudo foi criado pelo Pai. E, como eu acreditasse

que o meu Deus é Trino, procurava a Trindade nas vossas Escrituras e via que o

vosso Espírito “pairava sobre as águas”. Eis a vossa Trindade, meu Deus: Pai, Filho e

Espírito Santo. Eis o Criador de toda criatura.” (AGOSTINHO, Aurélio. Confissões. São

Paulo: Nova Cultural, 1999. p. 379-380).

 

1.1 INTRODUÇÃO

Page 10: Críticas à Doutrina Da Trindade

O presente estudo tratará de um dos temas mais complexos e debatidos de toda a teologia e

do pensamento cristão: A Doutrina da Trindade. Tal assunto possui a capacidade de gerar

inúmeras dúvidas em nossa mente, tais como: como Deus é único e ao mesmo tempo três?

Serão três Deuses diferentes? Será apenas um Deus, que se manifesta de três formas

diferentes? Ou ainda: Um único Deus, com três subsistências distintas?

O primeiro cuidado a se tomar, em um estudo pormenorizado da Trindade, é que ela é possível

de ser entendida, contudo, não sem a devida reverência e fé. O tema aborda uma realidade

que é totalmente desconhecida a nós e, além disso, sem parâmetro em toda a criação. Não há

um só exemplo sequer nas existências que se compare a subsistência perfeita de Pai, Filho e

Espírito Santo.

O termo Trindade (lat. Trinitas), foi cunhado pelo bispo Tertuliano (160-230), para ser o

designativo da doutrina de que Deus é a coabitação eterna e perfeita de três pessoas que

partilham da mesma Deidade.

Para se alcançar um entendimento sóbrio e isento de heresias acerca da Trindade é

necessário analisar os dados bíblicos, dos quais naturalmente emerge essa doutrina, ao invés

de se criar modelos e tentar encaixar a Bíblia a eles. O melhor modelo que podemos utilizar

para a explicação da Trindade deve ser o reflexo direto dos dados escriturísticos.

A Trindade é, portanto, uma doutrina que emerge da Bíblia, e não algo que foi moldado para se

encaixar com a Bíblia; é uma doutrina que as próprias Escrituras ensinam, não apoiada apenas

em um texto, mas em toda a extensão e revelação da Palavra de Deus.

 

1.2 EVIDÊNCIAS BÍBLICAS DA DOUTRINA DA TRINDADE

 

1.2.1 A TRINDADE NO ANTIGO TESTAMENTO

 

O AT apresenta Deus como sendo um só Deus, que se torna conhecido pelos Seus nomes,

atos e atributos, entretanto, é conveniente atentar que, apesar da postura centralizadora da

Deidade – com vistas a formar um povo que se mantivesse fiel ao monoteísmo – há inúmeras

passagens que denotam a pluralidade de pessoas na Deidade vétero-testamentária.

Utilizando o texto bíblico de Gn. 1.1-2, podemos concluir, como Agostinho, a existência, desde

os primeiros versículos da Bíblia, de um Deus Trino, conforme abaixo:

“No princípio criou Deus os céus e a terra. E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas

sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas”

Page 11: Críticas à Doutrina Da Trindade

Analisando o texto em hebraico temos:

“Deus (hb. elohiym, plural de ‘elowahh, designação do supremo Deus), no princípio (hb.

re’shiyth, o primeiro em lugar, tempo, ordem ou ranking) (re)criou (hb. bara’, criar, fazer e ‘eth,

propriamente, por si só, ou seja ‘criou sem qualquer auxílio) os céus e a terra. E a

terra era (hayah, vir a ser, tornar-se) sem forma e vazia (hb. tohuw, desolação, deserta, sem

coisa alguma, bohuw, estar vazia, vacuidade, ruína indistinguível); e havia trevas sobre a face

do abismo; e o Espírito de Deus (hb. ruwach elohiym, semelhante ao fôlego, exalação

violenta, aplicável apenas a um Ser racional)   se movia sobre a face das águas.

Do exame acima, pode-se concluir que: Deus foi o responsável pela criação (e recriação) de

todas as coisas, através do Seu princípio (Jesus, cf. Ap. 3.14) e Seu Espírito Santo já

encontrava-se em operação no mundo.

A criação do homem reflete o consenso da Deidade, ao utilizar “façamos (hb. ‘asah, fazer no

sentindo mais amplo e extensivo possível)… à nossa imagem e semelhança (hb. tselem, uma

sombra, figura representativa,dmuwth, similitude, forma, modelo)” em Gn.1.26-27. 

O episódio da confusão das línguas em Babel aponta para um plural e concordância volitiva

da Deidade, cf. Gn. 11.7, o mesmo ocorre em Is. 6.8, sendo que em ambos Deus usa para si

mesmo pronomes plurais.

Em Gn. 20.13 e 35.7 há o emprego do substantivo e do verbo hebraico no plural, isto é,

“Deuses fizeram” e “Deuses se lhe revelaram”.

Sl. 45.6-7 (confrontar com Hb.1.8-9) revela Deus (Pai), falando de ‘outro’ Deus (Jesus), que

ungiu um de forma diferente aos seus companheiros (distinção da essência de Jesus e dos

‘companheiros’, i.e. anjos Hb.1.1-4).

O Sl. 2.7 apresenta o Filho (hb. ben, filho, procedente de um antecessor genealógico, no caso,

esse Filho, é gerado, mas não criado, Ele é co-eterno) do Senhor (hb. Yaweh ou Yehova, o

auto-existente, eterno, ‘eu sou’) como sendo gerado.

Pv. 30.4 apresenta perguntas de sabedoria sobre questões variadas, finalizando com a

inquirição de qual é o nome (pelo nome, no hebraico, sabia-se a natureza e derivação da

pessoa) de Deus e de seu Filho.

Em Nm. 6.24-26, Is. 6.3 e Ap. 4.8, é utilizado o Triságio (gr. tris-agion, três vezes Santo), que é

o nome utilizado para referir-se à aclamação da Deidade como Santo, Santo, Santo, referência

à Trindade.

O Verbo de Deus como a Sabedoria, em Pv. 8.1, 22, 30-31, comparado com Hb. 1.1-2. Pv.

3.19 é digno de nota em “O Senhor (hb. Yaweh ou Yehova), com sabedoria (hb. chokmaw,

sabedoria, capacidade, inteligentemente, provém da raiz chakam, sobre excedente sabedoria,

sabedoria primeira) …”

Page 12: Críticas à Doutrina Da Trindade

O Anjo do Senhor (hb. mal’ak, embaixador, rei, enviado, sempre de Deus, Yaweh ou Yehova)

como o próprio Deus (Teofania), nas passagens de Gn. 22.11, 16 e 31.11,13. Deus

aparecendo em forma corpórea a Abraão (Cristofania) em Gn. 18.1, 13-14. Deus se

manifestando a Moisés no monte Sinai, em Ex. 3.2-5. Deus se revelando aos pais de Sansão,

Jz. 13.18-22. O quarto homem na fornalha ardente com Sadraque, Mesaque e Abede-Nego,

Dn. 3.25, 28, chamado por Nabucodonosor de “Filho de Deus” (ara. bar, filho

e ‘elahh de ‘elowahh, designação do supremo Deus).

Por fim, a passagem de Zc. 12.10 ensina, ainda que para um completo entendimento é

necessário o NT – sobre as três pessoas da Divindade: o Pai (a quem olhariam), O Filho

(traspassado) e o Espírito Santo (que daria a entender a obra do Filho).

 

1.2.2 A TRINDADE NO NOVO TESTAMENTO

O NT principia seus escritos, através dos Evangelhos, apresentando uma radical mudança de

foco do Deus do AT – até então centralizador – para a “nova” (apesar de não ser “nova” no

sentido de algo recentemente criado, mas “nova” no sentido de só àquela época revelada)

manifestação da Deidade, que abre a porta para o conhecimento claro de Jesus Cristo e do

Espírito Santo.

 

1.2.2.1 A PESSOA DO PAI É DEUS

Há um tão grande número de passagens bíblicas que revelam o Pai como Deus, que seria

desnecessário prolongar muitas explicações acerca de Sua Deidade. A título de exemplo

observe-se Jo. 6.27 e 1Pe. 1.2.

 

1.2.2.2 A PESSOA DE JESUS CRISTO É DEUS

Jesus Cristo é expressamente chamado de Deus, e isto se prova através da passagem de

João 1.1-2:

“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no

princípio com Deus.”

Nesses versículos o apóstolo João apresenta uma maneira de escrita que relembra a

introdução do Gênesis, intencionando com isso revelar que Aquele do qual ele tratava (Jesus)

é um ser co-eterno com o Deus da criação do AT.

Page 13: Críticas à Doutrina Da Trindade

A palavra “no princípio”, em grego (en archei) é semelhante ao hebraico (berêshith), presente

em Gn. 1.1, logo, vemos João apontando que Jesus e Deus não tiveram início, mas que

relacionam-se desde a eternidade, ainda antes da Criação.

João se refere a Jesus como o “Verbo” (gr. Logos). A utilização dessa palavra foi

extremamente criteriosa, pois:

“É relevante que João opta por identificar Cristo no seu estado pré-encarnado com o Logos e

não como Sophia(sabedoria). João evita as contaminações dos ensinos pré-gnósticos que

negavam a humanidade do Cristo ou separavam o Cristo do homem Jesus. O Logos, que é

eterno, “tornou-se carne.”

O apóstolo prossegue dizendo que o “Verbo estava com Deus” (gr. Logos pros ton theon), o

que significa dizer que Eles tinham um relacionamento “face a face”, ou seja, desde a

eternidade já estavam juntos. Na continuação do versículo João fecha o raciocínio ao dizer

claramente que o Verbo, desde a eternidade, já era Deus.

O último versículo (v. 2) serve como uma ênfase que essa pessoa (Jesus Cristo), realmente

estava em interação contínua com Deus desde antes da Criação.

Em João 1.14, o Verbo entra na História (se fazendo carne), como Jesus de Nazaré, sendo Ele

o único capaz de revelar quem o Pai é, conforme João 1.17-18.

Pelo fato de Jesus ter compartilhado a glória de Deus desde toda eternidade (Jo. 17.15), Ele é

objeto da adoração reservada somente a Deus, pois Ele é Deus (Jo. 5.23 e Fp. 2.10-11).

Jesus possui os mesmos atributos de Deus

Vida, Jo. 1.4, 14.6 – Existência própria, Jo. 5.26, Hb. 7.16 – Imutabilidade, Hb. 13.8 – Verdade,

Jo. 14.6, Ap. 3.7 – Amor, I Jo. 3.16 – Santidade, Lc. 1.35, Jo. 6.69, Hb. 7.26 – Onipresença, Mt.

28.20 – Onisciência, Mt. 9:4, Jo. 2.24-25, 1Co. 4.5, Cl. 2:3 – Onipotência, Mt. 28.18, Ap. 1.8.

Finalmente, tudo que se pode dizer com relação ao Pai, pode-se dizer com referência ao Filho,

conforme Cl. 2:9, Rm. 9:5 e Jo. 14:9-11. Assim, Jesus é Deus, da mesma forma que o Pai o é.

 

1.2.2.2 A PESSOA DO ESPÍRITO SANTO É DEUS

O Espírito Santo, além de ser uma pessoa, é Deus, e habita desde a eternidade com o Pai e o

Filho, de acordo com Hb. 9.14, mas que fora “dado” com a vinda de Jesus Cristo (Jo. 7.39).

O Espírito Santo é referido na Bíblia como sendo o próprio Deus, segundo At. 5.2-4, 1Co. 3.16,

12.4-6.

O Espírito Santo possui os mesmos atributos de Deus

Page 14: Críticas à Doutrina Da Trindade

Vida, Rm. 8.2 – Verdade, Jo. 16.13 – Amor, Rm. 15.30 – Onipresença, Sl. 139.7 – Onisciência

e Onipotência, 1Co. 12.11.

Por fim, o Espírito Santo é digno da mesma honra e adoração do Pai, conforme 1Co. 3.16.

Logo, o Espírito Santo é Deus, da mesma forma que o Pai e o Filho são.

 

1.3 ALGUNS ESCLARECIMENTOS

Deus é Trino, ou seja, de uma mesma essência ou substância (gr. homoousios, lat. substantia),

entretanto possui três subsistências distintas (gr. prosopa, lat. persona), isto é, são realidades

pessoais individuais, de tal forma que o Pai é o Pai, o Filho é o Filho e o Espírito é o Espírito,

sem se misturarem, mas com perfeita concordância entre si.

Enfim: de uma mesma natureza em três pessoas distinguíveis.

Quanto a Jesus ter sido “gerado” pelo Pai (Hb. 1.5), ou ser o “unigênito” do Pai (Jo. 1.14) não

significa que Ele foi, em algum momento “criado”, pois a palavra original é (gr. monogenês),

que significa “incomparável”, “especial”, “único do seu tipo”, e “é aplicada a Jesus para enfatizar

que Ele é, pela sua natureza, o Filho de Deus num sentido incomparável e especial, como

nenhum outro pode ser.”

 

1.4 A ATUAÇÃO CONJUNTA DO PAI, DO FILHO E DO ESPÍRITO SANTO

Claramente se percebe o ensino da Trindade e da igualdade de Divindade entre as três

pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo, nas passagens de Mt. 28.19 e 2Co 13:13.

 

1.5 RESUMO DA TRINDADE PARA JOÃO CALVINO

A distinção das pessoas na Trindade:

“Por isso, também, não devemos deixar-nos levar a imaginá-la como uma trindade de pessoas

que detenha o pensamento cindido em relação às partes e não o reconduza, imediatamente, a

essa unidade. Por certo que os termos Pai, Filho e Espírito assinalam distinção real, de sorte

que não pense alguém serem meros epítetos [vocativos, nomes], com quê, em função de suas

obras, Deus seja diversificadamente designado; entretanto se fala de distinção, não divisão.

Que o Filho tem sua propriedade distinta do Pai no-lo mostram as referências que já citamos,

pois a Palavra não haveria estado com o Pai se não fosse outra distinta do Pai; nem haveria

tido sua glória junto ao Pai, a não ser que dele se distinguisse. De igual modo, ele distingue de

si o Pai, quando diz que há outro que dá testemunho a seu respeito [Jo 5.32; 8.16, 18]. E a isto

importa o que se diz em outro lugar: que o Pai a tudo criou mediante o Verbo [Jo 1.3; Hb 11.3],

o que não seria possível, a não ser que, de alguma forma, seja distinto dele. Além disso, o Pai

Page 15: Críticas à Doutrina Da Trindade

não desceu à terra, contudo desceu aquele que procedeu do Pai; o Pai não morreu, nem

ressuscitou, e, sim, aquele que fora por ele enviado. Tampouco esta distinção teve início a

partir de quando a carne foi assumida; ao contrário, é manifesto que também antes disso ele foi

o Unigênito no seio do Pai [Jo 1.18]. Pois, quem ousa afirmar que o Filho ingressou no seio do

Pai quando, finalmente, então desceu do céu para assumir a natureza humana? Portanto, ele

estava no seio do Pai e mantinha sua glória junto ao Pai antes disso [Jo 17.5].

Cristo assinala a distinção do Espírito Santo em relação ao Pai quando diz que ele, o Espírito,

procede do Pai; além disso, a distinção do Espírito em relação a si mesmo a evidencia sempre

que o chama outro, como quando anuncia que outro Consolador haveria de ser por ele

enviado; e freqüentemente em outras passagens [Jo 14.16; 15.26]”.

Funções diferentes na Trindade:

“(…) a distinção que observamos expressa nas Escrituras, consiste em que ao Pai se atribui o

princípio de ação, a fonte e manancial de todas as coisas; ao Filho, a sabedoria, o conselho e a

própria dispensação na operação das coisas; mas ao Espírito se assinala o poder e a eficácia

da

ação. Com efeito, ainda que a eternidade do Pai seja também a eternidade do Filho e do

Espírito, posto que Deus jamais pôde existir sem sua sabedoria e poder, nem se deve buscar

na eternidade antes ou depois, todavia não é vã ou supérflua a observância de uma ordem, a

saber: enquanto o Pai é tido como sendo o primeiro, então se diz que o Filho procede dele;

finalmente, o Espírito procede de ambos. Ora, até mesmo o mero entendimento de cada um,

de seu próprio arbítrio, o inclina a considerar a Deus em primeiro plano; em seguida, emergindo

dele, a Sabedoria; então, por fim, o Poder pelo qual executa os decretos. Diz-se que o Espírito

procede, ao mesmo tempo, do Pai e do Filho. Isto, na realidade, em muitas passagens,

contudo em parte alguma está mais explícito do que no capítulo 8 da Epístola aos Romanos [v.

9], onde, na verdade, o mesmo Espírito é indiferentemente designado ora Espírito de Cristo,

ora Espírito daquele que dos mortos ressuscitou a Cristo [v. 11], e não sem razão plausível.”

 

1.6 O CREDO DE ATANÁSIO

1. Todo aquele que quiser ser salvo, é necessário acima de tudo, que sustente a fé universal.

2. A qual, a menos que cada um preserve perfeita e inviolável, certamente perecerá para

sempre.

3. Mas a fé universal é esta, que adoremos um único Deus em Trindade, e a Trindade em

unidade.

4. Não confundindo as pessoas, nem dividindo a substância.

5. Porque a pessoa do Pai é uma, a do Filho é outra, e a do Espírito Santo outra.

Page 16: Críticas à Doutrina Da Trindade

6. Mas no Pai, no Filho e no Espírito Santo há uma mesma divindade, igual em glória e co-

eterna majestade.

7. O que o Pai é, o mesmo é o Filho, e o Espírito Santo.

8. O Pai é não criado, o Filho é não criado, o Espírito Santo é não criado.

9. O Pai é ilimitado, o Filho é ilimitado, o Espírito Santo é ilimitado.

10. O Pai é eterno, o Filho é eterno, o Espírito Santo é eterno.

11. Contudo, não há três eternos, mas um eterno.

12. Portanto não há três (seres) não criados, nem três ilimitados, mas um não criado e um

ilimitado.

13. Do mesmo modo, o Pai é onipotente, o Filho é onipotente, o Espírito Santo é onipotente.

14. Contudo, não há três onipotentes, mas um só onipotente.

15. Assim, o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus.

16. Contudo, não há três Deuses, mas um só Deus.

17. Portanto o Pai é Senhor, o Filho é Senhor, e o Espírito Santo é Senhor.

18. Contudo, não há três Senhores, mas um só Senhor.

19. Porque, assim como compelidos pela verdade cristã a confessar cada pessoa

separadamente como Deus e Senhor; assim também somos proibidos pela religião universal

de dizer que há três Deuses ou Senhores.

20. O Pai não foi feito de ninguém, nem criado, nem gerado.

21. O Filho procede do Pai somente, nem feito, nem criado, mas gerado.

22. O Espírito Santo procede do Pai e do Filho, não feito, nem criado, nem gerado, mas

procedente.

23. Portanto, há um só Pai, não três Pais, um Filho, não três Filhos, um Espírito Santo, não três

Espíritos Santos.

24. E nessa Trindade nenhum é primeiro ou último, nenhum é maior ou menor.

25. Mas todas as três pessoas co-eternas são co-iguais entre si; de modo que em tudo o que

foi dito acima, tanto a unidade em trindade, como a trindade em unidade deve ser cultuada.

Page 17: Críticas à Doutrina Da Trindade

26. Logo, todo aquele que quiser ser salvo deve pensar desse modo com relação à Trindade.

27. Mas também é necessário para a salvação eterna, que se creia fielmente na encarnação do

nosso Senhor Jesus Cristo.

28. É, portanto, fé verdadeira, que creiamos e confessemos que nosso Senhor e Salvador

Jesus Cristo é tanto Deus como homem.

29. Ele é Deus eternamente gerado da substância do Pai; homem nascido no tempo da

substância da sua mãe.

30. Perfeito Deus, perfeito homem, subsistindo de uma alma racional e carne humana.

31. Igual ao Pai com relação à sua divindade, menor do que o Pai com relação à sua

humanidade.

32. O qual, embora seja Deus e homem, não é dois mas um só Cristo.

33. Mas um, não pela conversão da sua divindade em carne, mas por sua divindade haver

assumido sua humanidade.

34. Um, não, de modo algum, pela confusão de substância, mas pela unidade de pessoa.

35. Pois assim como uma alma racional e carne constituem um só homem, assim Deus e

homem constituem um só Cristo.

36. O qual sofreu por nossa salvação, desceu ao Hades, ressuscitou dos mortos ao terceiro

dia.

37. Ascendeu ao céu, sentou à direita de Deus Pai onipotente, de onde virá para julgar os vivos

e os mortos.

38. Em cuja vinda, todo homem ressuscitará com seus corpos, e prestarão conta de sua obras.

39. E aqueles que houverem feito o bem irão para a vida eterna; aqueles que houverem feito o

mal, para o fogo eterno.

40. Esta é a fé Universal, a qual a não ser que um homem creia firmemente nela, não pode ser

salvo.

 

1.7 CONCLUSÃO

Page 18: Críticas à Doutrina Da Trindade

O assunto da Trindade, apesar de todas as explicações acima e das outras existentes, poderá

ser compreendido até certo ponto, após o qual torna-se o “mistério tremendo” (lat. misterium

tremendum), nome pelo qual Agostinho lhe chama.

Assim cumpre a nós, juntamente com todos os cristãos fiéis de todas as épocas, honrar, servir,

adorar e anunciar a graça de Deus, revelada por Cristo, debaixo do poder do Espírito Santo.

 

A Trindade na Bíblia 

“Há um só Deus: Pai, Filho e Espírito Santo, uma unidade de três Pessoas coeternas” – Crença Fundamental nº 2

Gerhard PfandlPh.D., diretor associado do Instituto de Pesquisa

Bíblica da Associação Geral da IASD A doutrina da Trindade (do latim trinitas = “triunidade” ou “três-em-

unidade”) é uma das mais importantes doutrinas da fé cristã. Mas ultimamente alguns têm questionado sua validade. Por exemplo, em uma monografia, Fred Allaback argumenta que “a Igreja Adventista do Sétimo Dia não cria na doutrina da Trindade até muito tempo depois da morte de Ellen G. White”.1 “Os pioneiros adventistas”, escreveu ele, “acreditavam que em um ponto longínquo da eternidade somente um Ser divino existia. Então esse Ser divino teve um Filho.”2 Dessa forma, Cristo teve um começo. Com respeito ao Espírito Santo, Allaback crê que Ele é o Espírito de Deus e de Cristo; não um outro Ser divino.3

A mesma visão é adotada por Bill Stringfellow,4 Rachel Cory-Kuehl5 e Allen Stump.6 Todos esses ensinam que em um ponto no tempo Jesus não existia; e que o Espírito Santo é apenas uma força. Stringfellow diz: “Houve um certo e específico dia quando Deus deu à luz Seu Filho … Houve um tempo (embora seja impossível identificá-lo precisamente no passado) quando Cristo não existia.”7

O MISTÉRIO

Embora a palavra Trindade não seja encontrada na Bíblia (nem a palavra encarnação), o ensinamento que ela descreve é encontrado ali. A doutrina da Trindade estabelece o conceito de que há três Seres plenamente divinos: Pai, Filho e Espírito Santo, que formam um Deus.8 Por sua vez, Ellen White usa o termo “Divindade” que é encontrado em Romanos 1:20 e Colossenses 2:9. Através dessa palavra ela transmite a mesma idéia contida no termo Trindade, ou seja, há três Seres viventes na Divindade. Segundo uma de suas declarações, “há três pessoas vivas pertencentes ao Trio celeste; em nome destes três

Page 19: Críticas à Doutrina Da Trindade

grandes poderes – o Pai, o Filho e o Espírito Santo – os que recebem a Cristo por fé viva são batizados, e esses poderes cooperarão com os súditos obedientes do Céu em seus esforços para viver a nova vida em Cristo”.9

O próprio Deus é um mistério,10 quanto mais a encarnação ou a Trindade. Entretanto, isso não deveria nos embaraçar, já que os diferentes aspectos desses mistérios são ensinados nas Escrituras. Embora não possamos compreender tudo sobre a Trindade, necessitamos tentar entender, tanto quanto possamos, o ensino bíblico a seu respeito. Todas as tentativas para explicá-la serão insuficientes, “especialmente quando refletimos sobre a relação das três pessoas com essência divina … todas as analogias são limitadas e nós nos tornamos profundamente conscientes de que a Trindade é um mistério muito além da nossa compreensão. É a incompreensível glória da Divindade”.11

Portanto, é sábio admitir que o homem “não pode compreendê-la nem torná-la compreensível. É compreensível em algumas de suas relações e modos de se manifestar, mas ininteligível em sua natureza essencial”.12 Certos elementos se tornarão claros, e outros permanecerão um mistério, pois “as coisas encobertas pertencem ao Senhor nosso Deus; porém as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei” (Deut. 29:29). Onde não temos uma palavra clara das Escrituras o silêncio é ouro.13

NO ANTIGO TESTAMENTO

Algumas passagens do Antigo Testamento sugerem, ou implicam a existência de Deus em mais de uma pessoa. Quando não necessariamente em uma Trindade, pelo menos em duas pessoas.

Gênesis 1. No relato da criação em Gênesis 1, a palavra traduzida como Deus é ’Elohim, a forma plural de ’Eloha. Geralmente essa forma é interpretada como um plural de majestade ao invés da idéia de pluralidade. Entretanto, G. A. F. Knight argumenta que essa interpretação corresponde a ler um conceito moderno no texto hebraico antigo, desde que os reis de Israel e Judá são tratados na forma singular, no relato bíblico.14 Knight aponta que as palavras hebraicas para água e céu também são plurais. Os gramáticos nomeiam esse fenômeno como plural quantitativo. A água pode aparecer em forma de pequenas gotas ou grandes oceanos. Essa diversidade quantitativa em unidade, segundo Knight, é uma forma adequada de compreender o plural ’Elohim. E também explica por que o substantivo singular ’Adonai é escrito como plural.15

Em Gênesis 1:26, lemos: “Também disse Deus [singular]: Façamos [plural] o homem à nossa [plural] imagem, conforme a nossa [plural] semelhança…” O que é significativo aqui é a mudança do singular para o plural. Moisés não está usando o verbo no plural com ’Elohim, mas Deus

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está usando um verbo e um pronome no plural, em referência a Si mesmo. Alguns intérpretes acreditam que Deus está falando aqui de anjos. Mas, de acordo com as Escrituras, os anjos não participaram da criação. A melhor explicação é que, já no primeiro capítulo de Gênesis, há uma indicação de pluralidade de pessoas em Deus.

Deuteronômio 6:4. De acordo com Gênesis 2:24, “deixa o homem pai e mãe, e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só [’echad] carne”. É uma união de duas pessoas distintas. Em Deuteronômio 6:4, é usada a mesma palavra em relação a Deus: “Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único [’echad] Senhor.” Segundo Millard J. Erickson, “aparentemente alguma coisa está sendo afirmada aqui sobre a natureza de Deus – Ele é um organismo, isto é, uma unidade de partes distintas”.16 Moisés bem poderia ter usado a palavra yachid (“um”; “único”), mas o Espírito Santo escolheu não fazê-lo.

Outros textos. Após a queda do homem, Deus disse: “Eis que o homem se tornou como um de nós” (Gên. 3:22). E algum tempo depois, quando o homem começou a construir a torre de Babel, o Senhor ordenou: “Vinde, desçamos e confundamos ali a sua linguagem” (Gên. 1:7). Em cada caso, a pluralidade da Divindade é enfatizada.

Em sua visão do trono de Deus, Isaías ouviu o Senhor perguntando: “A quem enviarei, e quem há de ir por nós?” (Isa. 6:8). Aqui encontramos Deus usando o singular e o plural na mesma sentença. Muitos eruditos modernos tomam isso como uma referência ao Concílio Celestial. Mas, pediria Deus algum conselho às Suas criaturas? Em Isaías 40:13 e 14, Ele parece refutar essa noção. Deus não necessita aconselhar-Se nem mesmo com criaturas celestiais. Portanto, o uso do plural em Isaías 6:8, embora não especifique a Trindade, sugere que há uma pluralidade de seres no Orador.

O anjo do Senhor. A frase “anjo do Senhor” aparece 58 vezes no Antigo Testamento. “O anjo de Deus” aparece onze vezes. A palavra hebraica para “anjo” – mal’ak – significa mensageiro. Se o “anjo do Senhor” é Seu mensageiro, então deve ser distinto do Senhor. Todavia, em alguns textos, o “anjo do Senhor” também é chamado “Deus” ou “Senhor” (Gên. 16:7-13; Núm. 22:31-38; Juí. 2:1-4; 6:22). Os pais da Igreja identificavam esse anjo com o Logos pré-encarnado. Eruditos modernos vêem-nO como um Ser que representa Deus, como o próprio Deus, ou como algum poder externo de Deus. Por sua vez, eruditos conservadores geralmente aceitam que “este ‘mensageiro’ deve ter sido como uma manifestação especial do Ser do próprio Deus”.17 Se isso é correto, temos aqui outra indicação da pluralidade de pessoas na Divindade.NO NOVO TESTAMENTO 

A verdade, na Bíblia, é progressiva. Por isso, é no Novo Testamento que encontramos um quadro mais explícito da natureza trinitária de Deus. A declaração de que Ele é amor (I João 4:8) implica que deve

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haver uma pluralidade dentro da Divindade, considerando-se que o amor só pode revelar-se em um relacionamento pluralístico.

Por ocasião do batismo de Jesus, encontramos os três membros da Divindade em ação ao mesmo tempo: “Batizado Jesus, saiu logo da água, e eis que se Lhe abriram os Céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba, vindo sobre Ele. E eis uma voz dos Céus que dizia: Este é o Meu Filho amado, em quem Me comprazo” (Mat. 3:16).

Eis uma notável manifestação da doutrina da Trindade. Ali estava Cristo em forma humana, visível a todos; o Espírito Santo desceu sobre Ele na forma de uma pomba; e a voz do Pai foi ouvida dos Céus: “Este é o Meu Filho amado, em quem me comprazo”. Em João 10:30 Cristo fala de Sua igualdade com o Pai, e em Atos 5:3 e 4, o Espírito Santo é identificado como Deus. É impossível explicar a cena do batismo de Jesus por qualquer outra maneira senão assumindo que há três pessoas, iguais em natureza ou essência divina.

No batismo, o Pai referiu-Se a Jesus como “Meu Filho amado”. Essa filiação, entretanto, não é ontológica, mas funcional. No plano da salvação, cada membro da Trindade aceitou um papel específico, com o propósito de cumprir um alvo particular. Não se trata de mudança de essência oustatus. Millard J. Erickson o explica desta maneira:

“O Filho não Se tornou inferior ao Pai durante a encarnação, mas subordinou-Se funcionalmente à vontade do Pai. Semelhantemente, o Espírito Santo agora está subordinado ao ministério do Filho (ver João 14-16) bem como à vontade do Pai, mas isso não implica inferioridade em relação a Eles.”18No pensamento ocidental, os termos “Pai” e “Filho” contêm a idéia de origem, dependência e subordinação. Na mente oriental ou semítica, entretanto, eles enfatizam igualdade de natureza. Assim, quando as Escrituras falam de “Filho” de Deus, estão afirmando a divindade de Cristo.

Ao terminar Seu ministério terrestre, Jesus ordenou aos discípulos: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Mat. 28:19). Nessa comissão, nota-se claramente a Trindade. Primeiramente, notamos que a frase “em nome” [eis to onoma] é singular, não plural (nos nomes). Ser batizado em nome de três pessoas da Trindade significa identificar-se com tudo o que Ela representa; comprometer-se com o Pai, Filho e Espírito Santo.19 Em segundo lugar, a união desses três nomes indica que o Filho e o Espírito Santo são iguais ao Pai. Seria estranho, para não dizer blasfemo, unir o nome do Deus eterno com um “ser criado” e uma “força” ou “energia” na fórmula batismal.

“Quando o Espírito Santo é colocado na mesma expressão e no mesmo nível das outras duas pessoas, é difícil evitar a conclusão de que Ele também é visto como sendo igual ao Pai e ao Filho.”20

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Paulo e outros escritores do Novo Testamento geralmente usam a palavra “Deus” para se referir ao Pai; “Senhor”, em referência ao Filho, e “Espírito”, em referência ao Espírito Santo. Em I Coríntios 12:4-6, o apóstolo fala dos três no mesmo texto: “Ora, os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo. E também há diversidade nos serviços, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade nas realizações, mas o mesmo Deus é quem opera tudo em todos.” Da mesma forma, em II Coríntios 13:13, ele enumera as três pessoas da Trindade, ao mencionar “a graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo”.

Embora não possamos dizer que esses textos sejam uma enunciação formal da Trindade, eles e outros como, por exemplo, Efésios 4:4-6, são trinitarianos em caráter. E embora a Igreja tenha elaborado os detalhes dessa doutrina em tempos posteriores, ela o fez sobre o fundamento dos escritores bíblicos.

DIVINDADE DE CRISTO

Um elemento crucial na doutrina da Trindade é a divindade de Cristo. Diante do ensinamento de que há um Deus em três pessoas, e que cada uma dessas pessoas é plenamente divina, é importante verificarmos o que as Escrituras ensinam sobre a divindade de Cristo. Existem passagens no Novo Testamento que confirmam a plena deidade de Cristo.

João 1:1-3;14. “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.” A frase introdutória “no princípio” nos leva de volta ao começo do tempo. Se o Verbo estava “no princípio”, então Ele não teve princípio, que é outra forma de dizer que era eterno.

“O Verbo estava com Deus” nos diz que o Verbo era uma pessoa ou personalidade separada. O Verbo não estava em (en) Deus, mas com (pros) Deus. Desde que o Pai e o Espírito Santo são Deus, a palavra “Deus” muito provavelmente inclui esses dois outros membros da Trindade.

“E o Verbo era Deus”. O Verbo não era uma emanação de Deus, mas Deus mesmo. Embora o verso 1 não diga quem é o Verbo, o verso 14 claramente O identifica: “E o Verbo Se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a Sua glória, glória como do unigênito do Pai.” Como disse Arthur W. Pink, “é impossível conceber uma afirmação mais enfática e inequívoca da deidade absoluta do Senhor Jesus Cristo”.21

João 20:28. “Respondeu-Lhe Tomé: Senhor meu e Deus meu.” Essa é a única vez, nos evangelhos, em que alguém se dirige a Cristo, chamando-O de “meu Deus” (ho Theos mou). É significativo que nem Cristo nem João desaprovaram a declaração de Tomé; pelo contrário,

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esse episódio constituiu um ponto alto da narração do evangelista, que imediatamente fala a seus leitores: “Na verdade fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em Seu nome” (vs. 30 e 31). Este evangelho, diz João, foi escrito para persuadir outros indivíduos a imitarem Tomé no reconhecimento de Cristo como “Senhor meu e Deus meu”.

Filipenses 2:5-7. Essa passagem foi escrita para ilustrar a humildade. Mas é um dos textos de apoio à divindade de Cristo. “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois Ele, subsistindo em forma [morphé] de Deus não julgou como usurpação [harpagmos] o ser igual a Deus; antes a Si mesmo Se esvaziou, assumindo a forma [morphé] de servo, tornando-Se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana…”

Morphé, que significa “forma” ou “aparência visível’, é uma palavra descritiva da natureza genuína, a essência, de uma coisa. “Não se refere a qualquer forma mutável, mas uma forma específica da qual dependem a identidade e o status.”22 Morphé contrasta com schema (2:8), que também significa “forma” porém no sentido de aparência superficial, ao invés de essência. O substantivo harpagmosaparece apenas nesse texto, no Novo Testamento, e o verbo correspondente significa “roubar, tirar à força”. No grego secular, o substantivo significa “roubo”.

O contexto deixa claro que Jesus não cobiçou, não tentou roubar “o ser igual a Deus”; não tentou agarrar-Se à igualdade com Deus a qual Ele possuía intrinsecamente. Em outras palavras, não tentou reter Sua igualdade com Deus pela força. Em vez disso, “tratou-a como uma oportunidade para renunciar qualquer vantagem ou privilégio decorrentes; como uma oportunidade para auto-empobrecimento e sacrifício próprio sem reserva”.23 Esse é o significado da expressão “antes a Si mesmo Se esvaziou”. Sua igualdade com Deus era algo que Ele possuía intrinsecamente; e alguém igual a Deus deve ser Deus. Assim, essa “é uma passagem que demanda a compreensão de que  Jesus era divino no mais pleno sentido”.24

Colossenses 2:9. “Porquanto nEle habita corporalmente [somatikos] toda a plenitude [pleroma] da Divindade.” O termo grego pleroma tem o significado básico de “plenitude”, “plenamente”. No Antigo Testamento ele é aplicado à plenitude da Terra ou do mar (Sal. 24:1; cf. 50:12; 89:11; 96:11; 98:7), que é citada em I Coríntios 10:26. No grego secular, pleroma referia-se à totalidade da tripulação de um navio, ou à quantia necessária para completar uma transação financeira. Em Colossenses 1:19 e 2:9, Paulo usa a palavra para descrever a soma total de cada função da divindade.25

Essa plenitude habita corporalmente em Cristo, mesmo durante Sua encarnação, Ele reteve todos os atributos essenciais da divindade, embora não os empregasse em benefício próprio. “… Foi claramente

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visto que a divindade habitava na humanidade, pois através do invólucro terrestre, vez após vez cintilavam lampejos de Sua glória.”26

Tito 2:13. Paulo descreve os santos como “aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus”. Notemos que: 1) De acordo com uma regra da gramática grega, o artigo o antes de “Deus” e “Salvador” une esses dois substantivos como designações do mesmo objeto. Assim, Jesus Cristo é “o grande Deus e Salvador”. 2) Todo o Novo Testamento aguarda a segunda vinda de Cristo. 3) O contexto do verso 14 fala apenas de Cristo. 4) Essa interpretação está em harmonia com outras passagens, tais como João 20:28; Rom. 9:5; Heb. 1:8; II Ped. 1:1, de modo que esse texto é mais uma afirmação da divindade de Cristo.

Mateus 3:3. “… Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor.” De acordo com o verso 1, esse texto de Isaías refere-se a João Batista que era o precursor do Messias. Em Isaías 40:3, a palavra traduzida como “Senhor” é Yahweh. Assim, o Senhor cujo caminho João prepararia não era outro senão o próprio Jeová.

Romanos 10:13. “Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.” O contexto (vs. 6-12) deixa claro que, ao se referir ao “nome do Senhor”, Paulo está pensando em Cristo. O texto é uma citação de Joel 2:32, onde novamente a palavra Senhor é tradução do hebraico Yahweh.

Hebreus 1:8 e 9. “O Teu trono, ó Deus, é para todo o sempre… por isso Deus, o Teu Deus Te ungiu…” Neste capítulo, são usados sete textos do Antigo Testamento para apoiar o argumento de que Cristo é superior aos anjos. O quinto texto, citado nos versos 8 e 9, é Sal. 45:6 e 7, onde um rei da casa de Davi é mencionado como “Deus”. Seria isto uma hipérbole poética, como algumas vezes é encontrada em cortes orientais, ou está o texto apontando para outra pessoa além do Antigo Testamento, príncipe da casa de Davi? Para os poetas e profetas hebreus, um príncipe da casa de Davi era o vice-regente do Deus de Israel; pertencente à dinastia à qual Deus fizera promessas especiais ligadas ao cumprimento de Seu propósito no mundo. Ao lado disso, o que era apenas parcialmente verdadeiro na linhagem e no governo histórico de Davi, ou mesmo em sua pessoa, deveria ser compreendido plenamente quando aparecesse o filho de Davi, no qual todas as promessas e ideais associados com a dinastia deveriam ser incorporados. Agora, finalmente, o Messias aparecera. Em sentido pleno, era possível para Davi, ou qualquer dos seus sucessores, que este Messias pudesse ser referido não apenas como Filho de Deus (v. 5), mas como realmente Deus, pois Ele é o Messias da linhagem de Davi, a refulgente glória de Deus e a própria imagem de Sua substância.27 Todas essas passagens indicam que Cristo e Yahweh são um.

AUTOCONSCIÊNCIA DE JESUS

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Cristo nunca afirmou diretamente Sua divindade, mas dizia ser o Filho de Deus (Mat. 24:36; Luc. 10:22; João 11:4). E, de acordo com a idéia hebraica de filiação, tudo o que o pai é o filho também é. Os judeus entenderam que assim Ele estava reivindicando igualdade com o Pai: “Por isso, os judeus ainda mais procuravam matá-Lo, porque não somente violava o sábado, mas também dizia que Deus era Seu próprio Pai, fazendo-Se igual a Deus” (João 5:18; cf. 10:33).

Repetidas vezes Cristo disse possuir o que só pertence a Deus. “Ele falou dos anjos de Deus (Luc.12: 8 e 9; 15:10) como Seus anjos (Mat. 13:41). Referiu-Se ao reino de Deus (Mat. 12:28; 19:14 e 24; 21:31 e 34) e aos eleitos de Deus (Mar. 13:20) como Suas propriedades.”28 Em Lucas 5:20 Jesus perdoou os pecados do paralítico, e os judeus, com base em Isaías 43:25, argumentaram: “Quem pode perdoar pecados senão Deus?” Dessa forma, a ação perdoadora de Jesus O identificava como Deus.

A divindade de Cristo também é indicada no uso que fez do tempo presente em Sua resposta aos judeus: “Antes que Abraão existisse [genesthai] Eu sou [ego eimi]” (João 8:58). Ao usar o termogenesthai – “nascesse” ou “se tornasse” – e ego eimi – “Eu sou” –, Jesus contrasta Sua existência eterna com o início histórico da existência de Abraão. Pelo menos os judeus compreenderam dessa maneira, ou seja, que Jesus reivindicava ser Yahweh, o “Eu sou” da sarça ardente (Êxo. 3:14); por isso, apanharam pedras para matá-Lo (João 8:59).

Finalmente, o fato de que Jesus aceitou adoração evidencia que Ele próprio reconhecia Sua divindade. Depois que Jesus apareceu aos discípulos andando sobre as águas, “eles O adoraram” (Mat. 14:33). O cego que teve a visão restaurada, depois de lavar-se no tanque de Siloé, “O adorou” (João 9:38). Após a ressurreição, os discípulos foram para a Galiléia onde Cristo lhes apareceu. E eles “O adoraram” (Mat. 28:17).

E Ellen White assegura: “Em Cristo há vida original, não emprestada, não derivada. ‘Quem tem o Filho tem a vida.’ I João 5:12. A divindade de Cristo é a certeza de vida eterna para o crente.“29

“Falando de Sua preexistência, Cristo conduz a mente através de séculos incontáveis. Afirma-nos que nunca houve tempo em que Ele não estivesse em íntima comunhão com o eterno Deus.”30

TEXTOS DIFÍCEIS

Os antitrinitarianos usam alguns textos para apoiar a idéia de que Jesus, em algum tempo na eternidade, foi gerado, isto é, que Ele teve um começo e que não é absolutamente igual a Deus.

Apocalipse 3:14. Aqui, Jesus, “a Testemunha fiel e verdadeira”, é mencionado como “o princípio da criação de Deus”, o que leva alguns a

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interpretarem que Ele foi criado em algum ponto no passado, sendo assim a primeira obra de Deus.

Mas a palavra grega traduzida como “princípio” é arché. Além de “princípio”, ela também significa “causa primeira ou principal”, “soberano”, “regente”. O próprio Pai também é chamado “princípio”, em Apoc. 21:6.

O mesmo título é novamente aplicado a Cristo em Apoc. 22:13. Embora a palavra arché possa ter um sentido passivo, o que poderia fazer de Jesus o primeiro ser criado, o sentido ativo do termo O torna a “causa principal” o “criador”. Que Jesus não é o primeiro ser criado, mas o próprio criador, é o testemunho de outras passagens do Novo Testamento (João 1:3; Col. 1:16; Heb. 1:2).

Provérbios 8:22-31. “Eu nasci…” (v. 24). Argumenta-se que esse verso se refere a Jesus, ensinando que Ele foi nascido ou criado. Mas o contexto da passagem fala da sabedoria, não sobre Jesus. A personificação da sabedoria é uma figura literária que ocorre também em outras partes das Escrituras. Em Salmo 85:10-13, temos “misericórdia e verdade” encontrando-se, “justiça e paz” se beijando. Em Salmo 96:12, “os campos” se alegram, e “todas as árvores dos bosques regozijarão diante do Senhor”. (Ver também I Crôn. 16:33; Isa. 52:9; Apoc. 20:13 e 14). Esse tipo de alegoria não deve ser interpretada literalmente. “A personificação é uma figura literária e poética que serve para criar atmosfera e para avivar idéias abstratas e objetos inanimados, ao representá-los como se  fossem seres humanos.”31

A personificação do divino atributo da sabedoria começa no capítulo 1: “Grita na rua a sabedoria, nas praças levanta a sua voz” (v. 20). No capítulo 3, é-nos dito que ela “mais preciosa é do que pérolas” e “os seus caminhos são… paz” (vs. 15 e 17). No capítulo 7 ela é chamada “irmã” (7:4); e no capítulo 8, a sabedoria mora junto com a prudência (8:12). Sabedoria personificada também é o tema de Provérbios 9:1-5. Aplicar tais passagens a Cristo exige um modelo alegórico de interpretação que nos leva a métodos incompatíveis com outras passagens. Foi justamente esse tipo de hermenêutica que suscitou a rejeição do método alegórico de interpretação pelos reformadores. É importante notar que nenhum verso dessa passagem é citado no Novo Testamento.

Provérbios 8:22-31 contém imagens poéticas que necessitam ser bem interpretadas. A primeira frase no verso 22 pode ser traduzida como “o Senhor me possuiu”, “o Senhor me criou”, ou “o Senhor me gerou”. O significado básico do verbo qanah é “comprar”, “adquirir” e “possuir”. Mas as outras duas traduções são também possíveis. Além de qanah, duas outras palavras referem-se à sabedoria nesse texto: nasak = “estabelecer” (v. 23) e chil = “nascer” (vs. 24 e 25). O pensamento básico é sempre o mesmo, isto é, a sabedoria estava com Deus antes do início da criação. Se Deus a criou, se foi gerada ou simplesmente possuída, não é o foco. O que é central não é o modo de sua origem, mas sua antiguidade e precedência dentro da criação de Deus. Considerando a

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linguagem poética e metafórica da passagem, ela não deve ser usada para estabelecimento de qualquer doutrina sobre uma suposta origem de Cristo.

Ellen White, às vezes, aplicou homileticamente Provérbios 8 a Cristo; mas ela usou o texto para apoiar Sua preexistência eterna. Antes de usar Provérbios 8, ela disse que “Cristo era, essencialmente e no mais alto sentido, Deus. Estava Ele com Deus desde toda a eternidade, Deus sobre todos, bendito para todo o sempre”.32

Colossenses 1:15. Cristo é “o primogênito de toda a criação”. Considerando que Ele é chamado primogênito (prototokos), argumenta-se que deve ter tido um começo. Mas o termo “primogênito”, nesse texto, é um título e não a definição de uma condição biológica. Segundo 1:16, tudo foi criado por Jesus. Portanto, Ele não poderia criar a Si mesmo.

A palavra “primogênito” tem um significado especial para os hebreus. Em geral, o primogênito era o líder de um grupo de pessoas ou uma tribo, o sacerdote na família, e o único que recebia a herança duas vezes mais que seus irmãos. Ele tinha certos privilégios e responsabilidades. Algumas vezes, entretanto, o fato de que alguém fosse o primogênito não importava aos olhos de Deus. Por exemplo, embora Davi fosse o filho mais novo, Deus o chamou de “Meu primogênito” (Sal. 89:20 e 27). A segunda linha do paralelismo no verso 27 nos diz que isso significava que Davi devia se tornar o rei mais exaltado. Vejamos também as experiências de Jacó (Gên. 25:25 e 26; Êxo. 4:22) e Efraim (Gên. 41:50-22; Jer. 31:9). Nesses casos, “primeiro”, no sentido de tempo, foi desconsiderado. O importante era apenas a distinção e a dignidade de quem era chamado primogênito. No caso de Jesus, esse termo também se refere à Sua posição exaltada e não a um ponto no tempo no qual Ele tenha sido criado.

Em Colossenses 1:18, Cristo é chamado “o primogênito de entre os mortos”, embora não o tenha sido cronologicamente. Sabemos que Moisés e outros O precederam. O sentido é que Ele é o preeminente.

João 1:1-3. “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus.” Alguns dizem que aqui há uma distinção entre Deus o Pai, que é o Deus, e Jesus, que é apenas um deus. O termo grego para Deus (theos) é encontrado com artigo (ho), “o Deus”, ou sem artigo, “deus” ou “Deus”. Em João 1:1-3, o Pai é chamado ho theos ao passo que o Filho é chamado theos. Será que isso justifica a argumentação de que o Pai é Deus Todo-poderoso, enquanto o Filho é apenas um deus menor?

O termo theos sem artigo freqüentemente também é usado para o Pai, inclusive no mesmo capítulo (João 1:6, 13 e 18; Luc. 2:14; Atos 5:39; I Tess. 2:5; I João 4:12; II João 9).

Jesus também é chamado o Deus (Heb. 1:8 e 9; João 20:28). Em outras palavras, o uso do termo Deus, com ou sem artigo, não pode ser

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argumento para se fazer distinção entre Deus o Pai e Deus o Filho. Deus o Pai é theos e ho theos, assim como o Filho.

Muitas vezes, a ausência do artigo, no idioma grego, denota qualidade especial. Nesse caso, o substantivo não deveria ser traduzido com o artigo indefinido “um”.

Se João tivesse usado o artigo definido cada vez em que aparece theos, ele estaria indicando a existência de apenas uma pessoa divina. Mas João 1:1 diz: “No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus, e o verbo era theos.” Caso tivesse usado apenas ho theos, deveríamos ler: “No princípio era o Verbo e o Verbo estava com ho theos, e o Verbo era ho theos.” Segundo João 1:14, o Verbo é Jesus. Portanto, substituindo “Verbo” por “Jesus” temos a sentença “no princípio era Jesus e Jesus estava com ho theos, e Jesus era ho theos.” Ho theos refere-se claramente ao Pai. O texto modificado seria: “No princípio era o Verbo e o Verbo estava com o Pai, e o Verbo era o Pai.” Isso é teologicamente errado. Falando de duas pessoas da Divindade, João não teve escolha senão usar ho theos uma vez e, na seguinte vez, usar theos. A ausência de artigo no segundo caso não pode ser usada como argumento contra a igualdade entre Pai e Filho.

João 1:14 e 18; 3:16 e 18; I João 4:9. Esses versos falam de Jesus como o Filho unigênito (monogenes) do Pai. Em razão disso, algumas pessoas sugerem que a palavra grega monogenesindica que Jesus foi gerado literalmente.

A palavra monogenes significa “único de uma espécie”. Seu uso ocorre nove vezes no Novo Testamento. Três vezes em Lucas (7:12; 8:42; 9:38) sempre se referindo a um único filho. Nos escritos de João, ela aparece cinco vezes (1:14 e 18; 3:16 e 18; I João 4:9), como uma designação do relacionamento de Cristo com o Pai. Em Hebreus 11:17, ela se refere a Isaque como o filho unigênito de Abraão. Sabemos, entretanto, que Isaque não era o único filho do patriarca. Era o único filho da promessa. A ênfase aqui não é sobre o nascimento, mas sobre a unicidade do filho.

O termo normalmente traduzido como “gerado” é gennao. Ele aparece em Hebreus 1:5 e pode estar se referindo à ressurreição ou à encarnação de Cristo. Na versão Septuaginta, a palavramonogenes é a tradução da palavra hebraica yachid, cujo significado é “único” ou “amado” (cf. Mar. 1:11, em conexão com o batismo de Jesus).

Não é claro se monogenes se refere apenas ao Senhor ressuscitado, histórico, ou também ao Senhor preexistente. Mas é interessante notar que nem João 1:1-14, nem 8:58 e nem o capítulo 17 usam o termo Filho para o Senhor preexistente.

Mateus 14:33. “És Filho de Deus!”. Esse é um título messiânico (Sal. 2:7; Atos 13:33; Heb. 1:5), que enfatiza a deidade de Jesus. Embora seja um dos muitos títulos que possuía, Ele o usava muito raramente para referir-Se a Si mesmo (João 11:4). Na tentativa de compreender quem

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era Cristo, todos esses títulos necessitam ser investigados para termos um quadro coerente. Que o título “Filho de Deus” salienta a divindade de Jesus é evidente em João 10:29-36. Isso é apoiado posteriormente pelo fato de que o Filho é a exata imagem de Deus, sendo igual ao Pai (Col. 1:15; Heb. 1:3; Filip. 2:6)

A palavra “Filho” tem um amplo significado na linguagem original. Portanto, não é possível reduzi-la aos limites de idiomas modernos, dando-lhe um significado literal. A filiação de Jesus é atestada em conexão com o Seu nascimento (Luc. 1:35), batismo (Luc. 3:22), transfiguração (Luc. 9:35) e ressurreição (Atos 13:32 e 33). A Bíblia silencia quanto a se esses títulos descrevem o eterno relacionamento entre Pai e Filho. Em qualquer caso, as Escrituras atribuem existência eterna a Jesus (Isa. 9:6; Apoc. 1:17 e 18). Durante a encarnação, Jesus subordinou-Se voluntariamente ao Pai, sendo o Filho de Deus. Isso incluiu a entrega de prerrogativas, mas não a natureza da deidade. O Senhor ressuscitado, ao ser entronizado como Rei e Sacerdote, também aceitou voluntariamente a prioridade do Pai, mas Ele e o Pai são, conforme a Escritura, personalidades iguais e coeternas da Divindade.

O ESPÍRITO SANTO

Que o Espírito Santo é uma pessoa divina, igual em substância, poder e glória com o Pai e o Filho, podemos observar nas Escrituras.

É um Ser pessoal. Alguns crêem que o Espírito Santo é um “poder” ou uma “energia” de Deus. Mas há muitos versos onde o Ele é mencionado junto com o Pai e o Filho (Mat. 28:19; I Cor. 12:4-6; II Cor. 13:14). Isso indica que o Pai e o Filho são pessoas; portanto, o Espírito Santo deve também ser uma pessoa. Freqüentemente, o pronome masculino “Ele” é usado em referência ao Espírito Santo (João 14:26; 15:26; 16:13 e 14), embora a palavra grega para Espírito (pneuma) seja neutra e não masculina. A palavra “consolador” ou “confortador” (parakletos) refere-se a uma pessoa, não a uma força.

O Espírito Santo fala (Atos 8:29), ensina (João 14:26), dá testemunho (João 15:26), intercede por outros (Rom. 8:26 e 27), distribui dons (I Cor. 12:11) e proíbe ou permite certas coisas (Atos 16:6 e 7). De acordo com Efés. 4:30, o Espírito Santo pode também ser entristecido. Essas atividades são características de uma pessoa, não de uma força.

É Deus. As Escrituras vêem o Espírito Santo como Deus. Desde a eternidade de Deus o Espírito Santo participa da Divindade como Seu terceiro componente. Em Mat. 28:19, os discípulos foram ordenados a batizar “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. Esse verso coloca o Espírito Santo em igualdade com o Pai e o Filho. Ao repreender Ananias, Pedro lhe disse que mentindo ao Espírito Santo, ele tinha mentido “não a homens mas a Deus” (Atos 5:3 e 4).

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“O Espírito Santo é onipotente. Ele distribui dons espirituais ‘como Lhe apraz, a cada um individualmente’ (I Cor. 12:11). Ele é onipresente; habitará com Seu povo para sempre (João 14:16). Ninguém pode fugir à Sua influência (Sal. 139:7-10). Ele também é onisciente, porque ‘a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus’ e ‘as coisas de Deus ninguém conhece, senão o Espírito de Deus’ (I Cor. 2:10 e 11).”33

Ellen White acreditava na personalidade do Espírito Santo: “Precisamos reconhecer que o Espírito Santo, que é tanto uma pessoa como o próprio Deus, está andando por esses terrenos.”34

Vimos então que a Divindade existe em uma pluralidade; que Jesus é Deus, coexistente desde a eternidade com o Pai, e que o Espírito Santo é a terceira pessoa da Divindade. Há muitos outros detalhes sobre o tema, os quais somente no Céu entenderemos plenamente.

Textos difíceis da Bíblia são melhor compreendidos em harmonia com o restante da Escritura. Embora o mistério da Trindade nunca possa ser completamente entendido pelo homem finito, é uma doutrina bíblica, apoiada por escritos de Ellen White e é uma das 27 crenças fundamentais da Igreja.

 Fonte: Revista Ministério – março/abril de 2005, pp. 15-22PDF: A Trindade na Bíblia

Referências:

1. Fred Allaback, No Leaders … No New Gods (Creal Spring, Ill, 1966), pág. 11.

2. Ibidem, pág. 15.3. Ibidem, pág. 30.4. Bill Stringfellow, Tue Red Flag Is Waving (Spencer, TN: Concerned

Publications, s/d).5. Rachel Cory-Kuehl, The Persons of God (Aggelia Publications,

1966).6. Allen Stump, The Foundation of Our Faith (Smyma Gospel Ministry,

s/d).7. Bill Stringfellow, Op. Cit., pág. 15.8. W. Grudem, Systematic Theology (Zondervan, 1994), pág. 226.9. Ellen G. White, Evangelismo, pág. 615.10. ___________, Testimonies For the Church, vol. 8, pág. 295.11. Louis Berkhof, Systematic Theology (Eerdmans, 1941), pág. 88.12. Ibidem, pág. 89.13. Escreveu Ellen White: “Há muitos mistérios que não busco

compreender nem explicar; eles são muito elevados para mim e para vocês. Em alguns desses pontos, o silêncio é ouro” (Manuscrito 14, pág. 179).

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14. G. A. F. Knight, A Biblical Approach to the Doctrine of the Trinity (Edimburgo, 1953), pág. 20.

15. Ibidem.16. Millard J. Erickson, Christian Theology (Baker, 1983), vol. 1, pág.

329.17. G. Ch. Aalders, Genesis (Zondervan, 1981), pág. 300.18. Millard J. Erickson, Op. Cit., pág. 338.19. Alguns comentaristas acreditam que atrás desta fórmula está a

linguagem utilizada para transferência de dinheiro, na era helenista. Desse modo, a fórmula expressa figuradamente que a pessoa batizada é “transferida” para a conta do Senhor e se torna Sua possessão. Outros interpretam “nome” como “autoridade”. Nesse caso, a pessoa é batizada pela autoridade do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

20. W. Grudem, Op. Cit., pág. 320.21. Arthur W. Pink, Exposition of the Gospel of John (Zondervan,

1945), pág. 22.22. W. Poehlmann, Exegetical Dictionary of the New

Testament (Eerdmans, 1981), vol. 2, pág. 443.23. F. F. Bruce, Philippians, Hendrickson, 1989), pág. 69.24. Leon Morris, The Lord from Heaven: A Study of the New

Testament Teaching in the Deity and Humanity of Jesus (Eerdmans, 1958), pág. 74.

25. Alguns comentaristas definem pleroma em termos do pensamento gnóstico, segundo o qual essa palavra significa uma nova emanação que se tem encarnado no Redentor.

26. John Eadie, Colossians, Classic Commentary Library (Zondervan, 1957), pág. 145.

27. F. F. Bruce, Hebrews (Eerdmans, 1964), págs. 19 e 20.28. Millard J. Erickson, Op. Cit., pág. 326.29. Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, pág. 530.30. ___________, Evangelismo, pág. 615.31. Kenneth T. Aitken, Proverbs (Westminster Press, 1986), pág. 85.32. Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, vol. 1, pág. 247.33. Seventh-day Adventists Believe (Hagerstown, 1988), pág. 60.34. Ellen G. White, Evangelismo, pág. 616.

Page 32: Críticas à Doutrina Da Trindade

A Trindade e a vida cristãPOR FELIPE SABINO | 23 de abril de 2014

A Trindade, embora uma doutrina cardinal do cristianismo, às

vezes não recebe a devida atenção. Isso se dá mesmo por

parte daqueles que reconhecem a importância e a necessidade

de sermos trinitarianos, de abraçarmos a fé num Deus que é

um em substância e essência, mas três em Pessoa: Pai, Filho

e Espírito Santo. A experiência de Sam Alberry, infelizmente,

não é coisa rara:

Quando jovem cristão, eu tinha um entendimento básico que,

oficialmente, Deus era uma Trindade. Mas não oficialmente,

isso quase não fazia diferença na minha vida cristã. Eu orava a

Deus. Sabia que Jesus tinha morrido por meus pecados. Eu lia

a Bíblia e tentava viver a vida de uma maneira que agradasse

ao meu Pai celestial. Nunca me ocorreu ir além disso. A

doutrina da Trindade estava cuidadosamente arquivada na

gaveta de “Coisas que todos os bons cristãos creem” e, então,

nunca mais revista.[1]

Gostamos de enfatizar a importância da justificação pela fé.

Alegamos, seguindo Lutero e tantos outros, que ela é a

doutrina pela qual a Igreja cai ou fica de pé. Embora

reconheçamos a importância da bendita verdade de que somos

Page 33: Críticas à Doutrina Da Trindade

justificados unicamente por causa de Cristo, por termos fé nele,

como nosso Salvador e Substituto, há algo ainda mais

fundamental. É a doutrina de Deus.

Se não conhecermos o Deus verdadeiro, que se revela na sua

Palavra de maneira infalível, qualquer outro conhecimento será

deturpado e carente de significado. Antes de conhecermos a

obra da salvação, devemos conhecer o Deus que nos salva.

Assim, creio que Bavinck coloca a questão de uma forma mais

bíblica:

A doutrina da Trindade é de importância incalculável para a

religião cristã. Todo o sistema cristão de crença, toda a

revelação especial fica de pé ou cai com a confissão da

doutrina da Trindade. Ela é o núcleo da fé cristã, a raiz de

todos os seus dogmas, o conteúdo básico da nova aliança.[2]

Sim, devemos conhecer o Deus que se revela. E ele, ao se

autorrevelar, nos informa que é uma Trindade. A partir do que

encontramos na Bíblia, a autorrevelação de Deus, podemos

dizer que o ensino bíblico sobre a Trindade abrange quatro

afirmações essenciais:

1. Há um e somente um Deus vivo e verdadeiro;

2. Este único Deus existe eternamente em três pessoas — Deus o Pai,

Deus o Filho e Deus o Espírito Santo;

3. Essas três pessoas são completamente iguais em atributos, cada uma

com a mesma natureza divina;

4. Embora cada pessoa seja plena e completamente Deus, as pessoas não

são idênticas.

As diferenças entre Pai, Filho e Espírito Santo estão

fundamentadas na forma como eles se relacionam um com o

Page 34: Críticas à Doutrina Da Trindade

outro e o papel que cada um desempenha ao realizar o

propósito divino.

A unidade da natureza e a distinção de pessoas da Trindade

podem ser ilustradas nas seguintes afirmações adicionais:

O Pai é Deus;

O Pai não é o Filho;

O Pai não é o Espírito Santo;

O Filho é Deus;

O Filho não é o Pai;

O Filho não é o Espírito Santo;

O Espírito Santo é Deus;

O Espírito Santo não é o Pai;

O Espírito Santo não é o Filho.

Ao longo da história da Igreja cristã, diversos credos,

confissões e catecismos tentaram resumir e apresentar as

principais doutrinas do cristianismo. Como era de se esperar,

os documentos que se mantiveram fieis à Escritura apresentam

a doutrina da Trindade de maneira clara. Aqui, vale citar as três

perguntas e respostas do Breve Catecismo de Westminster:

Pergunta 4. O que Deus é?

Resposta: Deus é espírito, infinito, eterno e imutável em seu

ser, sabedoria, poder, santidade, justiça, bondade e verdade.

Pergunta 5. Há mais de um Deus?

Resposta: Há um só Deus, o Deus vivo e verdadeiro.

Page 35: Críticas à Doutrina Da Trindade

Pergunta 6. Quantas pessoas há na Divindade?

Resposta: Há três pessoas na Divindade: O Pai, o Filho e o

Espírito Santo, e estas três pessoas são um Deus, da mesma

substância, iguais em poder e glória.

Devemos deixar claro que o ensino sobre a Trindade não é

uma verdade descoberta pelo homem, mas revelada por Deus.

E trata-se de uma revelação especial, disponível apenas na

Escritura Sagrada. Deus se revela na criação também, mas

inúmeras verdades só são encontradas na Bíblia. A Trindade é

uma delas, ao lado das duas naturezas de Cristo e tantas

outras doutrinas gloriosas. Contemplar o céu e as demais obras

da criação podem me apontar para a existência de um Criador,

de um Deus, mas não para a existência de um Deus que

subsiste em três Pessoas. É por isso que o Evangelho deve ser

pregado, pois somente nele temos a revelação plena e salvífica

de Deus. Sim, ninguém será salvo sem conhecer a Trindade.

O objetivo deste artigo é analisar como a doutrina da Trindade

se relaciona com a vida cristã. Antes disso, veremos alguns

erros a se evitar.

A Trindade e alguns erros comuns

Durante toda a história da Igreja, muitos tentaram simplificar a

doutrina da Trindade, torná-la mais “palatável”, mais fácil de

crer. Mas ao fazê-lo, eles acabaram não representando o que a

Escritura ensina verdadeiramente, e terminaram com uma

doutrina da Trindade bem diferente da doutrina bíblica.

Page 36: Críticas à Doutrina Da Trindade

Os erros mais comuns, que ainda persistem em nossos dias,

são os seguintes: triteísmo, monarquismo e modalismo.

O triteísmo ignora a afirmação bíblica recorrente de que Deus é

um. Essa heresia afirma que há três deuses, que são do

mesmo tipo e, todavia, distintos e separados um do outro.

Devemos cuidar para que não sejamos triteístas quando

pensamos sobre Deus, mesmo que não verbalizemos isso. O

alerta é oportuno, pois alguns cristãos tendem a pensar em

“Deus mais em trindade do que unidade.[3] Eles pensam nele

mais facilmente como Três do que como Um-em-Três ou Três-

em-Um”.[4] Note que o triteísmo é uma forma de politeísmo.

O monarquismo é o erro daqueles que não reconhecem a

igualdade das Pessoas da Trindade. Alguns pensam que o

Filho é menos Deus que o Pai, e o Espírito Santo menos Deus

que o Filho. Ou pensam que há uma subordinação ontológica

das Pessoas. É verdade que na economia da salvação há uma

subordinação do Filho ao Pai, e do Espírito ao Filho e ao Pai.

Mas isso não está ligado à essência das Pessoas, pois os três

são Deus. Trata-se do cumprimento do Pacto, do Acordo feito

entre as três Pessoas. O Filho deliberadamente aceitou ser

subordinado ao Pai para resgatar o seu povo, e o Espírito

aceitou ser subordinado ao Filho e ao Pai para aplicar a

salvação adquirida pelo Filho.

Por último, o modalismo é a heresia de que não existem três

Pessoas na Trindade. Há um Deus, que é apenas uma Pessoa,

mas que se revela de diversos modos (daí o nome modalismo).

Portanto, existem vários modos, diversas maneiras de Deus se

Page 37: Críticas à Doutrina Da Trindade

revelar à humanidade. Em tempos diferentes, ele se revela

como Pai, como Filho e então como Espírito Santo.[5]

Tendo visto rapidamente alguns erros comuns sobre a doutrina

da Trindade, vejamos a relevância dessa verdade para a vida

cristã.

A Trindade e o Fim Principal do Homem

Nenhum cristão verdadeiro ousaria dizer que o ensino sobre

Deus é irrelevante, ou de pouca praticidade. Longe disso!

Aquele que foi salvo deseja conhecer mais e mais o Deus que

o salvou.

Para o cristão reformado[6], a primazia do conhecimento de

Deus é ainda mais nítida. Afinal, oBreve Catecismo de

Westminster, um dos belos e antigos símbolos de fé da

tradição reformada, começa com a seguinte pergunta: Qual é o

fim principal do homem?

A resposta, que mesmo as crianças da família da aliança

conhecem,[7] não poderia ser mais bela e bíblica:

O fim principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para

sempre.[8]

Embora a necessidade e obrigação de conhecermos e

prosseguirmos em conhecer a Deus (Oseias 6.3) seja uma

verdade abraçada e afirmada com vigor pelos cristãos, o

mesmo não acontece com a Trindade. Muitos consideram a

Trindade uma doutrina obscura, estranha, difícil demais para

Page 38: Críticas à Doutrina Da Trindade

merecer a nossa atenção. Uma doutrina que não pode ser

negada, mas que deve ser deixada de lado; afinal, é mais

seguro, a fim de evitarmos alguma heresia ao lidar com tão

“perigosa” doutrina.

Além disso, não poucos lutam e não conseguem encontrar

alguma praticidade na doutrina de que Deus existe em três

Pessoas distintas e igualmente gloriosas.

A ideia subjacente a esse pensamento é que ensinar sobre a

Trindade não é diferente de ensinar sobre Deus. Contudo, o

Deus que existe é uma Trindade. Se em nosso forço diário para

conhecermos a Deus não buscarmos conhecer o Deus que é

uma Trindade, estaremos atrás de um falso deus, um deus

criado pela nossa imaginação pecaminosa.

Em outras palavras, se haveremos de cumprir o nosso fim

principal, devemos necessariamente aprender sobre a

Trindade. Nada pode ter mais relevância prática do que a

doutrina sobre Deus, e o Deus que existe é uma Trindade.

Conhecer a Deus, conhecer como ele realmente é, conhecê-lo

como revelado na Bíblia, é conhecê-lo como o Pai, o Filho e o

Espírito Santo.

A Trindade e a Salvação

Quando as pessoas são salvas, geralmente elas não percebem

que algo trinitariano lhes aconteceu. Mas “algo trinitariano” é

precisamente o que aconteceu na salvação: todo aquele que é

salvo foi trazido pelo Pai (Jo 6.44) e levado pelo Espírito a

confessar que Jesus é Senhor (1Co 12.3).

Page 39: Críticas à Doutrina Da Trindade

O Evangelho nos dá tremendo discernimento sobre a Trindade,

pois no Evangelho vemos o Pai enviando o Filho, revestido de

poder pelo Espírito Santo, para receber a ira do Pai e nos

colocar em eterna comunhão com Deus.

Voltando à alegação, por parte de alguns, que a Trindade é

irrelevante, ou no mínimo uma doutrina “opcional”. Ora,

nenhum cristão argumentaria que o Evangelho é opcional.

Afinal, o Evangelho é o poder de Deus, para salvação de todo

aquele que crê (Rm 1.16). Todavia, o Evangelho é uma

realidade trinitariana. O Evangelho torna-se ininteligível sem

um conceito das Pessoas distintas de Deus.

Em 1 João 4.14, por exemplo, lemos que “o Pai enviou o seu

Filho como Salvador do mundo”. Este simples versículo abre os

nossos olhos para as pessoas da Trindade trabalhando em prol

da nossa salvação.

A Trindade é indispensável para entendermos o Evangelho.

Sem ela, “todo o plano da redenção fica em pedaços”[9].

A Trindade e a Oração

A falta do entendimento da Trindade é muitas vezes revelada

na forma como oramos. Não poucas vezes as pessoas da

Trindade são confundidas nas orações do povo de Deus.

― Ó Pai, Deus de amor, te agradecemos por ter morrido em

nosso lugar.

Essa é, infelizmente, uma oração comum, mas revela um erro

grosseiro por não distinguir as Pessoas da Trindade. Somente

Page 40: Críticas à Doutrina Da Trindade

o Filho encarnou e somente o Filho morreu em favor do seu

povo. O Pai, nem o Espírito fez isso.[10]

A nossa oração é, ou ao menos deveria ser trinitariana. O

nosso Senhor ensinou claramente que devemos orar ao Pai

(Lucas 11.2), em nome de Jesus (isto é, por causa dos seus

méritos), e no poder do Espírito Santo.

“Orando no Espírito Santo” (Judas 20), é o que devemos fazer.

É ele, a Terceira Pessoa da Trindade, quem desperta em nós o

desejo de orar, e quem intercede por nós, pois não sabemos

orar como convém. É Paulo quem nos ensina isso claramente:

Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa

fraqueza; porque não sabemos orar como convém, mas o

mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira, com gemidos

inexprimíveis. (Romanos 8.26)

Todas as três pessoas da Trindade estão presentes na

verdadeira oração. Dirigimo-nos ao Pai, o Filho conseguiu esse

livre acesso, e o Espírito nos capacita e nos auxilia neste santo

dever.

 A Trindade e a Adoração

O verdadeiro culto cristão é trinitariano. É algo inescapável.

Deixe-me explicar.

Gosto como Tim Chester coloca isso:

Nossa adoração é inevitavelmente trinitariana. O Pai e o Filho

se deleitam um no outro, na alegria do Espírito e juntos

Page 41: Críticas à Doutrina Da Trindade

participamos desse deleite (Lucas 10.21-22).[11]Mas

frequentemente perdemos a percepção disso quando não é

algo explícito na forma como moldamos a nossa adoração. Mas

a Trindade impacta nossa adoração (quer percebamos ou não)!

Mesmo quando nossa adoração é fraca e desfigurada pelo

pecado, o Espírito nos conecta a Cristo nosso Sacerdote, que

nos representa diante do Pai na congregação celestial (Hb

2.11-13).[12]

Em outras palavras, a verdade da Trindade deveria estar

explícita em nosso culto comunitário: nas orações, nos hinos e,

sobretudo, na pregação. Contudo, mesmo quando isso não

acontece, o culto ainda é trinitariano. O motivo é belo e enche o

coração de alegria: a Trindade está trabalhando para nos

perdoar e tornar o nosso culto aceitável.

Todavia, isso não é escusa para não trabalharmos em busca

de um culto cada vez mais trinitariano. A nossa liturgia deve ser

evidentemente triúna, e não apenas os ministros do Evangelho,

mas toda a congregação deve ser capaz de explicar o motivo

de ser assim.

A Trindade e “Deus como Amor”

Em 1 João 4.8, lemos que “Deus é amor”. Mesmo crianças

podem entender que o amor exige a existência de mais de uma

pessoa. Assim, se Deus é amor, entendemos que Deus é tanto

o amante como o amado.

Mas se Deus não fosse uma Trindade, ele não poderia ser

amor. Ele existiria durante uma eternidade “passada”,[13] isto

é, antes de ter criado, sozinho, sem amar e sem ser amado.

Page 42: Críticas à Doutrina Da Trindade

A ideia de que Deus precisa de nós, de que ele precisava criar,

é uma ideia de quem não entendeu a Trindade. Deus não

estava sozinho, não estava em busca de alguém para amar ou

por quem ser amado. Ele já amava e era amado antes da

fundação do mundo. Vejamos:

Portanto, a criação não é Deus em busca de amor, mas Deus

derramando o seu amor, jorrando o seu amor. O fato de ele nos

criar, mesmo sem precisar, nos revela o seu amor. Se ele não

estava carente de companhia (e de fato não estava!), se não

necessitava da criação (longe disso!), e mesmo assim decidiu ir

adiante e criar, só podemos exclamar: quão grande é esse

amor!

Uma Palavra de Cautela

Não precisamos e não devemos simplificar o conceito da

Trindade. Mas permitir que a explicação da Trindade seja

complexa não significa entrar em todos os detalhes da

Trindade econômica, muito menos nas noções especulativas a

partir dos debates acadêmicos.

A Trindade não é um mistério, pois está revelada na Escritura.

[14] Trata-se de uma verdade que Deus nos apresentou em

sua Palavra inspirada, inerrante e infalível. Por outro lado, ela é

um mistério[15] no sentido de não sabermos diversas coisas;

na Escritura, não nos foi revelado tudo acerca da existência de

Deus como uma Trindade. Não há uma descrição detalhada e

exaustiva de como a Trindade “funciona”.

Portanto, devemos lidar apenas com aquilo que a Escritura nos

revela acerca do Deus que existe, do Deus que é uma

Page 43: Críticas à Doutrina Da Trindade

Trindade. Não nos é lícito especular sobre inúmeras verdades,

muito menos a verdade sobre Deus. E mais: não apenas não

sabemos tudo sobre Deus, mas não podemos, e nunca

poderemos saber! Eu explico:

As Pessoas da Trindade são plenamente conhecidas apenas

uma pelas outras. Deus é um ser Infinito e nós, seres finitos,

não podemos saber tudo o que é possível saber sobre ele.

Digo possível, pois, como já dissemos, trata-se de algo

possível e factual entre as Pessoas da Trindade. Jesus diz em

Mateus 11.27:

Ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o

Pai, senão o Filho…

É verdade que ao final Jesus diz: “e aquele a quem o Filho o

quiser revelar”. Mas não se trata de uma revelação completa.

Esta não é uma interpretação forçada, pois é corroborada por

outras passagens, dentre elas 1 Coríntios 2.11:

Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o

seu próprio espírito, que nele está? Assim, também as coisas

de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus.

O Pai conhece o Filho, o Filho conhece o Pai e ambos

conhecem e são conhecidos pelo Espírito de uma forma que

nunca estará acessível a nós, criaturas. A distinção Criador-

criatura é instransponível. Alguns reconhecem isso, mas acham

que a distinção e a limitação de conhecimento serão

eliminadas no céu, após sermos glorificados. É claro que

teremos um conhecimento mais claro e abrangente de quem

Deus é, mas ainda será um conhecimento muitíssimo limitado.

Page 44: Críticas à Doutrina Da Trindade

Afinal, seremos glorificados, mas não deixaremos de ser

criaturas.

Este é o nosso Deus. Prostremo-nos diante dele.

[1] Sam Allberry, Connected: Living in the light of the

Trinity (Nottingham: IVP, 2012), p. 13.

[2] Herman Bavinck, Dogmática Reformada — Deus e a

Criação, Volume 2 (São Paulo: Cultura Cristã, 2012), p. 341.

Ênfase adicionada.

[3] Ou seja, embora usemos o termo Trindade, devemos

pensar em Deus como triunidade, como um Deus triúno. Há

unidade na pluralidade!

[4] Stuart Olyott, What the Bible Teaches about The

Trinity (Darlington, England: EP Books, 2011), 88.

[5] A tentativa de explicar a Trindade como a água em seus três

estados (líquido, gasoso e sólido) é claramente uma visão

modalista. Vale lembrar que qualquer analogia para a Trindade

é inapropriada, pois não se trata de uma realidade presente e

descoberta na criação. Conhecemos a Trindade somente

mediante revelação proposicional do Criador, em sua Palavra.

Page 45: Críticas à Doutrina Da Trindade

[6] Ou seja, que creem naquilo que é comumente chamado de

Teologia Reformada. Para os não familiarizados com a

Teologia Reformada, recomendo as seguintes leituras: O que é

teologia reformada, de R. C. Sproul; Calvinismo, de Abraham

Kuyper; Vivendo para a glória de Deus, de Joel Beeke.

[7] Na verdade, o Breve Catecismo de Westminster, embora

usado em nossos dias para instrução de adultos, foi criado

para o ensino das crianças.

[8] Ou, como sugerem alguns amigos, “deleitar-se nele para

sempre”.

[9] Stuart Olyott, What the Bible Teaches about The

Trinity (Darlington, England: EP Books, 2011), 98.

[10] É claro, muitos dos que oram assim o fazem por

ignorância, sem perceberem o que estão fazendo. Aliás, não

poucos soltam essas “pérolas” devido ao nervosismo quando

oram em público. A despeito da não intencionalidade desses

cristãos, orar dessa maneira é afirmar a heresia do modalismo.

[11] Naquela hora, exultou Jesus no Espírito Santo e exclamou:

Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque

ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste

aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado.

Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém sabe quem é o

Filho, senão o Pai; e também ninguém sabe quem é o Pai,

senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar. (Lucas

10.21-22)

[12] Credo Magazine, Abril 2013, p. 18.

Page 46: Críticas à Doutrina Da Trindade

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Por que cristãos precisam de confissões

[13] Como Deus criou o próprio tempo, não existe uma

eternidade passada.

[14] Diferente do uso popular do termo, mesmo por grandes

teólogos, mistério não é algo desconhecido, algo nebuloso,

muito menos um conhecimento místico. Antes, é um

conhecimento que estava oculto, que era desconhecido, mas

foi posteriormente revelado por Deus. O termo é muito usado

pelo apóstolo Paulo e pode ser visto em diversas passagens,

das quais citamos três: “Mas falamos a sabedoria de Deus em

mistério, outrora oculta, a qual Deus preordenou desde a

eternidade para a nossa glória” (1 Coríntios 2.7);   “Eis que vos

digo um mistério: nem todos dormiremos, mas transformados

seremos todos” (1 Coríntios 15.51); “O mistério que estivera

oculto dos séculos e das gerações; agora, todavia, se

manifestou aos seus santos” (Colossenses 1.26).

[15] Não há contradição aqui. Estou simplesmente dizendo que

sabemos alguma coisa, mas não tudo (longe disso!).

Doutrina da Trindade- Fundação da Fé CristãO que é a doutrina da Trindade? Em resumo, há um só Deus eternamente existente em três pessoas: Pai, Filho (Jesus Cristo) e Espírito Santo. As três pessoas da Trindade são co-iguais e co-eternas (Gênesis 1:26, Isaías 9:6, Mateus 3:16-17; 28:19, Lucas 1:35, Hebreus 3:7-11 e 1 João 5:7).

Page 47: Críticas à Doutrina Da Trindade

Doutrina da Trindade- Como podemos compreendê-la?A coisa mais difícil sobre a doutrina da Trindade é que não há uma maneira de explicá-la adequadamente. É impossível que qualquer ser humano consiga compreender o conceito da Trindade, muito menos explicá-lo. Deus é infinitamente mais elevado que nós, portanto, não devemos esperar que poderemos compreendê-lo totalmente. A Bíblia ensina que o Pai é Deus (Êxodo 3:14), que Jesus é Deus (João 8:58) e que o Espírito Santo é Deus (Atos 5:3-4). A Bíblia também ensina que há um só Deus (Deuteronômio 6:4; Tiago 2:19). Como essas duas afirmações da doutrina podem ser ambas verdadeiras é incompreensível à mente humana. No entanto, isso não significa que ambas não sejam verdadeiras.

Doutrina da Trindade- Nenhuma ilustração é totalmente precisaCom relação à doutrina da Trindade, nenhuma das ilustrações populares é uma descrição completamente precisa. O ovo falha porque a casca, a clara e a gema são partes do ovo, não o ovo em si. O Pai, Filho e Espírito Santo não são partes de Deus, cada um deles é Deus. A ilustração da água é um pouco melhor, mas ainda não é adequada para descrever a Trindade. Líquido, vapor e gelo são formas de água. O Pai, Filho e Espírito Santo não são formas de Deus, cada um deles é Deus. Assim, embora estas ilustrações possam nos dar uma imagem da Trindade, o quadro não é totalmente exato ou completo. Um Deus infinito não pode ser totalmente descrito por uma ilustração finita. 

Em vez de se focalizar na Trindade, tente se concentrar no fato da grandeza de Deus e Sua natureza infinitamente maior que a nossa. "Ó profundidade da riqueza da sabedoria e do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e inescrutáveis os seus caminhos! Quem conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro?" (Romanos 11:33-34) 

O Deus Jeová é Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo - três Pessoas, um Deus. Tertuliano (160-215 dC) explicou: "Definimos que há dois, o Pai e o Filho, e três com o Espírito Santo, e este número é constituído pelo padrão de salvação... Eles são três, não em dignidade, mas em grau, não em substância, mas na forma, não no poder, mas em espécie. Eles são da mesma substância e poder, porque há um só Deus do qual estes graus, formas e tipos se tornam no nome do Pai, Filho e Espírito Santo espírito" (Adv. Prax 23;. 2,156-7 PL).

Doutrina da Trindade - Deus vai muito além da compreensão!O núcleo da doutrina da Trindade é a realidade de um Deus trino - Deus vive em comunhão e relacionamento consigo mesmo. Este é um conceito difícil de apreender. Mas vamos colocar uma doutrina do tamanho de Deus na perspectiva correta- Deus vai muito além da nossa compreensão. "’Pois os meus pensamentos não são os pensamentos de vocês, nem os seus caminhos são os meus caminhos’, declara o Senhor. ‘Assim como os céus são mais altos do que a terra, também os meus caminhos são mais altos do que os seus caminhos e os meus pensamentos mais altos do que os seus pensamentos’" (Isaías 55:8-9). Não devemos nos incomodar com o fato de que não podemos compreender completamente a "tri-unidade". Não podemos compreender o infinito, a eternidade ou sequer a eletricidade, mas a realidade é real quer possamos compreendê-la ou não. 

Tudo o que realmente precisamos saber sobre a doutrina da Trindade: "Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo…" (Mateus 28:19)

Espírito Santo

Espírito Santo: Uma das três pessoas de DeusO Espírito Santo é uma das três pessoas de Deus: Pai, Filho e Espírito Santo. Para muitos de nós, este é um conceito difícil de entender. A Bíbliadeclara que há apenas um Deus vivo, mas ao mesmo tempo ensina que Ele é composto por três personagens distintos. Uma maneira de parcialmente visualizar este conceito é examinar a natureza da água (H2O). A água é um composto único que pode existir em três estados - gelo, líquido e vapor. Um ovo é uma outra

Page 48: Críticas à Doutrina Da Trindade

imagem. Ele é composto pela clara, a gema e a casca, mas ainda é um ovo. É claro que estes exemplos não pintam uma imagem completa do nosso Deus, mas são ilustrativos do fato de que as Suas três "pessoas" de forma alguma invalidam a Sua unicidade.

Espírito Santo: Muito mais do que uma etérea força da vidaO Espírito Santo não é uma força vaga e etérea da vida. Ele não é impessoal ou sem pensamento. O Espírito Santo é uma "pessoa" igual em todos os sentidos com Deus, o Pai, e Deus, o Filho. A Bíblia nos diz que todas as características de Deus pertencentes ao Pai e ao Filho são igualmente evidentes no Espírito Santo.

O Espírito possui intelecto, emoções e vontade. Em 1 Coríntios 2:11, vemos um exemplo da inteligência e vontade do Espírito Santo: "Pois, quem dentre os homens conhece as coisas do homem, a não ser o espírito do homem que nele está? Da mesma forma, ninguém conhece as coisas de Deus, a não ser o Espírito de Deus".

Em Romanos 15:30, vemos que o Espírito Santo tem emoção, assim como representado pela capacidade de amar: "Recomendo-lhes, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e pelo amor do Espírito, que se unam a mim em minha luta, orando a Deus em meu favor."

Embora o Espírito Santo tenha todas as características de Deus, Ele tem papéis e funções específicas em nossas vidas. Em João 16:13, vemos o Espírito da Verdade como o nosso guia: "Mas quando o Espírito da verdade vier, ele os guiará a toda a verdade. Não falará de si mesmo; falará apenas o que ouvir, e lhes anunciará o que está por vir."

Em João 14:26, aprendemos que o Espírito Santo é o nosso Consolador e Mestre: "Mas o Conselheiro, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, lhes ensinará todas as coisas e lhes fará lembrar tudo o que eu lhes disse."

Em 1 Coríntios 3:16, vemos que o Espírito Santo vive dentro de nós:"Vocês não sabem que são santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vocês?" 

Em Atos 1:8, entendemos de onde vem o nosso poder: "Mas receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês..."

Em Romanos 8:14, entendemos de onde vem a nossa direção: "...porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus."

Em Romanos 8:26, aprendemos que o Espírito Santo está sempre conosco nos momentos de fraqueza e de oração: "Da mesma forma o Espírito nos ajuda em nossa fraqueza, pois não sabemos como orar, mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis."

Em Hebreus 9:14, vemos que o Espírito Santo é eterno. Em 1 Coríntios 2:11, vemos que o Espírito Santo é onisciente. No Salmo 139, vemos que o Espírito Santo está em toda parte.

Espírito Santo: Atributos de DeusO Espírito Santo, Pai e Filho compõem todos uma divindade unificada conhecida no Cristianismo como a "Trindade". Um equívoco comum é achar que os cristãos creem em três deuses diferentes. Isso não é correto. Embora cada "personagem" seja distinto em função, cada pessoa desfruta da mesma divindade e reflete os atributos divinos do único Deus vivo.

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TRINDADEPortanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em

nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Mateus 28:19.

No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era

Deus. João 1:1.

Disse-lhes, pois, Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que o Filho

de si mesmo nada pode fazer, senão o que vir o Pai fazer; porque

tudo quanto ele faz, o Filho o faz igualmente. Porque o Pai ama ao

Filho, e mostra-lhe tudo o que ele mesmo faz; e maiores obras do que

estas lhe mostrará, para que vos maravilheis. João 5:19-20.

Todavia para nós há um só Deus, o Pai, de quem são todas as coisas

e para quem nós vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual

existem todas as coisas, e por ele nós também. 1 Coríntios 8:6.

Quero porém, que saibais que Cristo é a cabeça de todo homem, o

homem a cabeça da mulher, e Deus a cabeça de Cristo. 1 Coríntios

11:3.

E o Espírito é o que dá testemunho, porque o Espírito é a verdade. 1

João 5:7.

Não temos um só Deus e um Cristo e um Espírito de graça que foi

derramado sobre nós? Clemente de Roma (30-100 d.C.)

“E disse Deus: Tenho aqui o homem é como um de nós sabendo o

bem e o mal.” Depois, ao dizer “como um de nós,” indica de certo

número dos que entre si conversam, e que pelo menos são dois…

Senão que este surto (Cristo), emitido realmente do Pai, estava com

Ele antes de todas as criaturas e com esse conversa o Pai. Justino

Mártir (160 d.C.)

Aqui se nos acusa de loucura, dizendo que depois de ter afirmado a

Deus imutável, sempiterno e Pai de todos, conferimos um segundo

posto a um homem que foi crucificado. Justino Mártir (160 d.C.)

À verdade, o mesmo Espírito Santo, que faz nos que falam

profeticamente, dizemos que é uma emanação de Deus, emanando e

voltando, como um raio do sol. Atenágoras (175 d.C.)

E estando o Filho no Pai e o Pai no Filho, em unidade e potência de

espírito, o Filho de Deus é inteligência e Verbo do Pai… Realmente

alguém não pode não se maravilhar ao ouvir chamar ateus aos que

admitem a um Deus Pai, e a um Deus Filho e a um Espírito Santo,

mostrando sua potência na unidade e sua distinção no ordem… nos

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movemos pelo só desejo de chegar a conhecer ao Deus verdadeiro e

ao Verbo que está nele, qual é a comunhão que há entre o Pai e o

Filho, que coisa seja o Espírito, qual seja a unidade de tão grandes

realidades e a distinção entre os assim unidos, o Espírito, o Filho e o

Pai. Atenágoras (175 d.C.)

Pois sempre lhe estão presentes o Verbo e a Sabedoria, o Filho e o

Espírito, por meio dos quais e nos quais livre e espontaneamente faz

todas as coisas, aos quais fala dizendo: “Façamos ao homem a nossa

imagem e semelhança”; tomada de si mesmo a substância das

criaturas, o modelo das coisas feitas e a forma do ornamento do

mundo. Irineu (180 d.C.)

Por isso, como a meninos, aquele que era o pão perfeito do Pai se nos

deu a si mesmo como leite, quando veio a nós como um homem; a

fim de que, nutrindo nossa carne como de seu peito, mediante essa

nos acostumássemos a comer e beber ao Verbo de Deus, até que

fôssemos capazes de receber dentro de nós o Pão da imortalidade,

que é o Espírito do Pai. Irineu (180 d.C.)

Os presbíteros, discípulos dos Apostolos, ensinam que este será o

ordem e providência para os que se salvam, bem como quais são os

degraus pelos quais se ascende: pelo Espírito subimos ao Filho e por

este ao Pai, e o Filho ao final entregará sua obra ao Pai. Irineu (180

d.C.)

Tenho aqui a regra de nossa fé, o fundamento do edifício e a base de

nossa conduta: Deus Pai, não criado , ilimitado, invisível, único Deus,

criador do universo. Este é o primeiro e principal artigo. O segundo é:

o Verbo de Deus, Filho de Deus, Jesus Cristo nosso Senhor, que se

apareceu aos profetas segundo o desígnio de sua profecia e segundo

a economia disposta pelo Pai; por meio dele foi criado o universo.

Ademais ao fim dos tempos para recapitular todas as coisas se fez

homem entre os homens, visível e tangível, para destruir a morte,

para manifestar a vida e restabelecer a comunhão entre Deus e o

homem. E como terceiro artigo: o Espírito Santo por cujo poder os

profetas profetizaram e os pais foram instruídos no que diz respeito a

Deus, e os justos foram guiados pelo caminho da justiça, e que ao fim

dos tempos foi difundido de um modo novo sobre a humanidade, por

toda a terra, renovando ao homem para Deus. Irineu (180 d.C.)

Nós oramos pelo menos três vezes ao dia, porque somos devedores

de três: O Pai, o Filho e o Espírito Santo. Tertuliano (195 d.C.)

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Nós conhecemos ao Pai por meio da Palavra encarnada. Também

acreditamos no Filho e adoramos ao Espírito Santo. Hipólito (200 d.C.)

A igreja mesma é o Espírito mesmo, dentro da qual está a trindade da

única divindade: o Pai, o Filho, e o Espírito Santo. Tertuliano (212 d.C.)

O Salvador e o Espírito Santo foram enviados pelo Pai para a salvação

dos homens. Orígenes (245 d.C.)

O Senhor diz: “Eu e o Pai somos um.” E outra vez está escrito

referente ao Pai, o Filho e o Espírito Santo: “E estes três são um.”

Cipriano (250 d.C.)