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Marina Fernanda Simes Pereira da Costa
CULTURA DE SEGURANA DO DOENTE NUM HOSPITAL DA
REGIO CENTRO, PERCEO DOS PROFISSIONAIS
Dissertao de Mestrado em Gesto e Economia da Sade, apresentada Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra
Orientadora: Prof. Doutora Maria Manuela Frederico Ferreira
Agosto de 2014
Marina Fernanda Simes Pereira da Costa
CULTURA DE SEGURANA DO DOENTE NUM
HOSPITAL DA REGIO CENTRO, PERCEO DOS
PROFISSIONAIS
Dissertao de Mestrado em Gesto e Economia da Sade, apresentada Faculdade de
Economia da Universidade de Coimbra para obteno do grau de Mestre
Orientadora: Prof. Doutora Maria Manuela Frederico Ferreira
Coimbra, 2014
Imagem da capa: cultura de segurana
Autora: Ana Rute Costa
iii
AGRADECIMENTOS
A realizao deste trabalho de investigao, apesar de ser um processo solitrio,
tambm resultado de um longo caminho percorrido com inmeras pessoas, que
acreditam em mim e que de algum modo foram importantes.
Agradeo a todos os que direta ou indiretamente contriburam para a realizao deste
trabalho e em especial ao meu marido Jorge e aos meus filhos Filipa e Miguel, por toda a
fora que me do e por me apoiarem sempre nas minhas escolhas.
iv
v
Aqueles que passam por ns, no vo ss, no nos deixam ss.
Deixam um pouco de si, levam um pouco de ns
Antoine de Saint-Exupry
vi
vii
RESUMO
Cultura de segurana o produto dos valores individuais e de grupo, atitudes,
capacidades de perceo, competncias e padres de comportamento, que determinam
o empenho na gesto e segurana de uma organizao. A avaliao da perceo dos
profissionais sobre a cultura de segurana do doente essencial para a introduo de
medidas de melhoria decorrentes dos resultados e alcanar melhores nveis de segurana
e de qualidade nos cuidados prestados aos doentes. Assim, com a finalidade de produzir
os primeiros indicadores da avaliao da cultura de segurana do doente na organizao
e propor sugestes de melhoria, este estudo, descritivo, transversal, correlacional, tem
como principais objetivos identificar pontos fortes e fracos da cultura de segurana do
doente no sentido de promover oportunidades de melhoria e caracterizar a perceo dos
profissionais do hospital acerca da cultura de segurana do doente. A amostra (n=303)
constituda por Enfermeiros (44,2%), Assistentes operacionais (15,2%), Tcnicos de
diagnstico e teraputica (11,2%), Mdicos (8,9%), Administrativos (8,9%) e Tcnicos
superiores (8,2%). Dos resultados obtidos evidencia-se que o trabalho em equipa dentro
das unidades constitui uma fora de segurana da organizao. Dimenses com
avaliao positiva, so a aprendizagem organizacional - melhoria contnua, percees
gerais sobre a segurana do doente, abertura na comunicao e trabalho em equipa
entre unidades. Dimenses consideradas oportunidades de melhoria franca so a
resposta no punitiva ao erro, dotao de profissionais, frequncia de notificao e
apoio segurana do doente pela gesto. A cultura de segurana difere, para a maioria
das dimenses, em funo da profisso, da interao com os doentes, da certificao dos
servios e da formao efetuada em segurana do doente. Quanto ao tempo de
experincia, a cultura de segurana difere s no nmero de ocorrncias e dotao de
profissionais. As oportunidades de melhoria esto identificadas, necessrio estabelecer
um plano de melhoria no sentido de perceber quais as medidas de maior impacto na
organizao e aproveitar as dimenses com melhores resultados, nomeadamente o
trabalho em equipa dentro das unidades e a Aprendizagem organizacional-melhoria
contnua para operacionalizar com sucesso essas mesmas medidas.
Palavras Chave: Cultura de segurana, qualidade, doente, perceo, profissionais
viii
ABSTRACT
Safety culture is the product of the values of groups and individuals, their attitudes,
perception skills, competencies and patterns of behaviour that determine the
commitment in the management and security of an organization. The evaluation of the
perception of professionals about the culture of patient safety is essential for introducing
improvement measures resulting from the results and to achieve the highest levels of
safety and quality in patient care. Thus, this study aims to produce the first indicators of
the evaluation of the the patient safety culture in the organization and propose
suggestions for improvement based on its results. This descriptive and cross-correlational
study has the objective of identifying strengths and weaknesses of the patient safety
culture in order to promote opportunities of improvement and characterize the
perception of hospital staff about the culture of patient safety. The sample of this study
(n = 303) consists of nurses (44.2%), operating assistants (15.2%), therapeutics and
diagnosis technicians (11.2%), medicine doctors (8.9%) administrative staff (8 9%), and
qualified technicians (8.2%). The results obtained show that "teamwork within units"
constitutes a driving force of patient safety in the organization. "Organizational learning -
continuous improvement", "general perceptions about patient safety", "open
communication" and "teamwork across Units" are also dimensions with a positive
assessment. We have also identified opportunities of improvement in non-punitive
response to errors", "staffing", "frequency of notification" and "management support for
patient safety". The safety culture presents important variations for the most of the
dimensions. It depends on the profession, on the interaction with patients, the
certification of services and training in patient safety. As for the professional experience
of individuals, the security culture varies only with the number of incidents and the
endowment of professionals. The opportunities of improvement are clearly identified: it
seems necessary to establish a plan of improvement in order to understand which
measures may have a greater impact in the organization and to use the dimensions with
better results, notably teamwork within units and the organizational learning -
continuous improvement to successfully apply these same measures
ix
The opportunities for improvement are identified, it is necessary to establish an
improvement plan in order to understand which measures greater impact on the
organization and enjoy the dimensions with better results, namely the "teamwork within
units" and " Organizational learning - continuous improvement " to successfully
operationalize.
Key words: Safety culture, quality, patient, perception, professionals
x
xi
LISTA DE SIGLAS
AHRQ - Agency for Healthcare Research and Quality
AO Assistente operacional
DGS - Direo Geral de Sade
HDFF,E.P.E. Hospital Distrital da Figueira da Foz, E.P.E.
HSOPSC - Hospital Survey on Patient Safety Culture
IOM - Institute of Medicine
OMS - Organizao Mundial de Sade
SD - Segurana do Doente
SNNIEA - Sistema Nacional de Notificao de Incidentes e Eventos Adversos
TDT Tcnico de Diagnstico e Teraputica
TS Tcnico Superior
WHO - World Health Organization
xii
xiii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Distribuio da amostra segundo o sexo ............................................................ 52
Tabela 2 - Distribuio da amostra segundo a idade .......................................................... 53
Tabela 3 - Distribuio da amostra segundo profisso ....................................................... 53
Tabela 4 - Distribuio da amostra segundo o servio onde trabalha ................................ 54
Tabela 5 - Distribuio da amostra segundo a interao ou contacto direto com os
doentes no mbito das tarefas e funes inerentes sua profisso .................................. 54
Tabela 6 - Distribuio da amostra segundo o tempo de experincia na organizao....... 54
Tabela 7 - Distribuio da amostra segundo o tempo de experincia no servio .............. 55
Tabela 8 - Distribuio da amostra na resposta questo o hospital onde trabalha
acreditado .......................................................................................................................... 55
Tabela 9 - Distribuio da amostra segundo a certificao do servio onde trabalha ....... 56
Tabela 10 - Distribuio da amostra segundo a formao que fez sobre segurana do
doente .................................................................................................................................. 56
Tabela 11 - Distribuio dos indivduos que referiram ter realizado formao sobre
segurana do doente em funo da formao ter sido fornecida pelo hospital ou no .... 56
Tabela 12 - Distribuio dos indivduos que referiram ter realizado formao sobre
segurana do doente, segundo a durao da formao sobre segurana do doente, nos
ltimos 2 anos ...................................................................................................................... 57
Tabela 13 - Distribuio da amostra em relao avaliao geral sobre a segurana do
doente .................................................................................................................................. 58
Tabela 14 - Distribuio da amostra em funo do nmero de ocorrncias notificadas ... 59
Tabela 15 - Distribuio da amostra segundo a frequncia da notificao ........................ 60
Tabela 16 - Distribuio da amostra segundo a perceo geral sobre segurana do doente
............................................................................................................................................. 61
Tabela 17 - Distribuio da amostra quanto ao trabalho em equipa dentro das unidades 62
Tabela 18 - Distribuio da amostra quanto s expetativas e aes do gestor na promoo
de segurana do doente ...................................................................................................... 64
Tabela 19 - Distribuio da amostra quanto dimenso Aprendizagem organizacional
Melhoria contnua ............................................................................................................... 65
xiv
Tabela 20 - Distribuio da amostra quanto ao Feedback e comunicao sobre o erro .... 66
Tabela 21 - Distribuio da amostra quanto abertura na comunicao .......................... 67
Tabela 22 - Distribuio da amostra quanto dotao de profissionais ............................ 68
Tabela 23 - Distribuio da amostra quanto resposta no punitiva ao erro .................... 69
Tabela 24 - Distribuio da amostra quanto ao apoio segurana do doente pela gesto
.............................................................................................................................................. 70
Tabela 25 - Distribuio da amostra quanto ao trabalho em equipa entre unidades ........ 71
Tabela 26 - Distribuio da amostra quanto a transferncias e transies hospitalares .... 72
xv
LISTA DE GRFICOS
Grfico 1 - Distribuio da amostra em relao avaliao geral sobre a segurana do
doente .................................................................................................................................. 59
Grfico 2 - Distribuio da amostra em funo do nmero de ocorrncias notificadas .... 60
Grfico 3 - Distribuio da amostra segundo a frequncia da notificao ......................... 61
Grfico 4 - Distribuio da amostra segundo a perceo geral sobre segurana do doente
............................................................................................................................................. 62
Grfico 5 - Trabalho em equipa dentro das unidades ......................................................... 63
Grfico 6 - Expetativas e aes do gestor na promoo de segurana do doente ............. 64
Grfico 7 - Aprendizagem organizacional Melhoria contnua .......................................... 65
Grfico 8 - Feedback e comunicao sobre o erro .............................................................. 66
Grfico 9 - Abertura na comunicao .................................................................................. 68
Grfico 10 - Dotao de profissionais .................................................................................. 69
Grfico 11 - Resposta no punitiva ao erro ......................................................................... 70
Grfico 12 - Apoio segurana do doente pela gesto ....................................................... 71
Grfico 13 - Trabalho em equipa entre unidades ................................................................ 72
Grfico 14 - Transferncias e transies hospitalares ......................................................... 73
Grfico 15 - Resultados da avaliao da cultura de segurana por dimenso .................... 75
xvi
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Critrios de incluso e excluso dos estudos em reviso ................................. 29
Quadro 2 - Caraterizao dos estudos em reviso .............................................................. 30
Quadro 3 - Resultados dos estudos em reviso sobre avaliao da cultura de segurana do
doente .................................................................................................................................. 31
Quadro 4 - Recodificao da escala e interpretao dos resultados................................... 43
Quadro 5 - Dimenses do HSOPSC ...................................................................................... 44
Quadro 6 - Estatstica descritiva referente durao da formao sobre segurana do
doente nos ltimos 2 anos ................................................................................................... 57
Quadro 7 - Resultado da aplicao do teste de Kruskal-Wallis, para verificar a significncia
da diferena entre a profisso e a cultura de segurana do doente ................................... 79
Quadro 8 - Resultado da aplicao do teste de Mann-Whitney, interao direta com os
doentes e a cultura de segurana do doente ...................................................................... 82
Quadro 9 - Resultado da aplicao do teste de Kruskal-Wallis, para verificar a significncia
da diferena entre o tempo de experincia na organizao e a cultura de segurana do
doente .................................................................................................................................. 84
Quadro 10 - Resultado da aplicao do teste de Mann-Whitney, para verificar a
significncia da diferena entre certificao do servio e a cultura de segurana do
doente .................................................................................................................................. 86
Quadro 11 - Resultado da aplicao do teste de Mann-Whitney, para verificar a
significncia da diferena entre formao em segurana do doente e a cultura de
segurana do doente ........................................................................................................... 88
xvii
SUMRIO
INTRODUO................................................................................................................ 1
PARTE I ......................................................................................................................... 5
1 - QUALIDADE EM SADE ............................................................................................ 5
2 - SEGURANA DO DOENTE .......................................................................................... 9
3 - CULTURA DE SEGURANA DO DOENTE ................................................................... 15
4 GESTO DO RISCO ................................................................................................. 21
5 ESTUDOS DE SEGURANA DO DOENTE ................................................................... 27
PARTE II ...................................................................................................................... 33
1 - JUSTIFICAO DO ESTUDO ..................................................................................... 33
2 - DA CONCEPTUALIZAO TERICA AO OBJETO DE ESTUDO ..................................... 35
2.1 - QUESTO DE INVESTIGAO E OBJETIVOS ......................................................................... 35
2.2 - TIPO DE ESTUDO .................................................................................................................. 35
2.3 VARIVEIS ............................................................................................................................ 38
2.4 HIPTESES ........................................................................................................................... 39
2.5 POPULAO E AMOSTRA .................................................................................................... 41
2.6 CONSIDERAES TICAS ...................................................................................................... 41
2.7 INSTRUMENTO DE COLHEITA DE DADOS ............................................................................ 42
2.8 COLHEITA DE DADOS ........................................................................................................... 48
3 PROCESSAMENTO E ANLISE DE DADOS ................................................................ 51
3.1 - CARACTERSTICAS SOCIOPROFISSIONAIS DA AMOSTRA ..................................................... 52
3.2 PERCEO DOS PROFISSIONAIS SOBRE A CULTURA DE SEGURANA DO DOENTE ............ 57
3.3 - ANLISE GLOBAL DAS DIMENSES DE CULTURA DE SEGURANA DO DOENTE ................. 74
3.4 TESTES DE HIPOTESES ......................................................................................................... 77
4 DISCUSSO DOS RESULTADOS ............................................................................... 89
5 CONCLUSO ........................................................................................................ 101
LISTA DE REFERNCIAS BIBLIOGRAFICAS .................................................................... 105
ANEXOS:
ANEXO I - Autorizao para a realizao do estudo
ANEXO II - Questionrio
ANEXO III - Respostas questo aberta
xviii
1
IINNTTRROODDUUOO
A segurana do doente constitui um dos grandes desafios dos cuidados de sade
do sculo XXI. Atualmente a qualidade de cuidados e a segurana do doente tm sido
amplamente discutidas na literatura internacional e nacional, assumindo um papel
relevante no desenvolvimento de medidas promotoras de cuidados de sade seguros.
A preocupao com a qualidade dos cuidados tem atravessado toda a histria da
medicina. J Florence Nightingale em 1850 manifestava preocupaes com a garantia da
qualidade procurando atravs dos registos das suas observaes, aferir o nvel de
cuidados prestados e melhorar os servios nas reas mais deficitrias. Atualmente esta
inquietao tem vindo a assumir uma importncia crescente face aos importantes
avanos tecnolgicos e cientficos no setor da sade.
A complexidade dos cuidados em sade atravs dos meios auxiliares de
diagnstico e teraputica e uma marcada capacidade interventiva sobre o corpo e sobre a
doena, favoreceram a eficcia dos cuidados. No entanto, quanto maior a invaso, maior
ser o risco de produo de danos colaterais, sendo este o preo a pagar pela enorme
eficcia da medicina moderna e ser tambm esta a dimenso do risco que lhe est
associado (Fragata, 2011).
Como referido no relatrio Governao dos Hospitais: nos 30 anos do SNS, a
prestao de cuidados de sade uma atividade complexa, incerta no resultado e com
potencial de causar danos colaterais nos doentes. considerada uma atividade de risco,
estimando-se que em cada 100 internamentos hospitalares 10 se compliquem por um
qualquer erro, com dano para os doentes (Ministrio da Sade, 2009).
Foi em 1999 com o relatrio do Institute of Medicine (IOM) (1999) To error is
human: building a safer health system, ao revelar que nos Estados Unidos da Amrica
poderiam morrer anualmente entre 44.000 e 98.000 doentes em consequncia de erros
clnicos, que o tema da segurana seria lanado no centro da poltica dos sistemas de
sade nas diversas partes do mundo. Este documento desencadeou o interesse pelo tema
um pouco por todo o mundo e vrios estudos foram realizados com o propsito de
conhecer mais em pormenor a dimenso desta problemtica. O Conselho da Unio
Europeia na sua recomendao em 2009 refere que a insuficiente segurana dos doentes
2
constitui um grave problema de sade pblica e representa um enorme nus nos
recursos de sade limitados. Os eventos adversos ocorrem em qualquer local onde se
prestam cuidados de sade, podem ser prevenidos e na sua maioria devem-se a fatores
sistmicos.
A segurana do doente (SD) um problema global que afeta pases em todos os
nveis de desenvolvimento. Embora seja difcil quantificar o problema, estima-se que, por
ano, milhes de doentes em todo o mundo sofrem danos, leses ou morte devido
prestao cuidados de sade inseguros. Em 2009 a World Health Organization (WHO),
atravs do relatrio Global Priorities for Patient Safety Research, estabelece quais as
reas mais deficitrias de investigao constando, entre outras, a deficiente
implementao da cultura de segurana nos servios de sade e a existncia de uma
abordagem culpabilizante nos processos constituindo assim a reduo de atos e
ambientes no seguros um dos pilares basilares da cultura de segurana (World Health
Organization, 2009).
Nas ltimas dcadas o avano das tecnologias e do conhecimento favoreceu a
crescente complexidade dos sistemas de sade, onde interagem fatores pessoais,
profissionais, organizacionais, clnicos e tecnolgicos potencialmente perigosos, ainda
que eficazes, fazem da SD, um imperativo global. Esta apresenta-se como uma
componente estruturante e uma varivel incontornvel da qualidade em sade. Ter a
segurana como principal aspeto da qualidade, combinando as suas tcnicas, integrando-
as numa s cultura, deve ser uma estratgia global das organizaes de sade (National
Patient Safety Agency, 2004; Reis, et al., 2013; Campos, et al., 2010)
A avaliao e monitorizao da cultura de segurana da organizao so essenciais
para identificar reas de melhoria e introduzir mudanas de comportamento dos
profissionais, para que haja valores partilhados sobre segurana, antecipao de eventos
e cultura de no infabilidade (cultura de reportar eventos, cultura de aprender com as
trajetrias de erro, cultura de responsabilizao sem culpa). A Organizao Mundial de
Sade (OMS) e o Conselho da Unio Europeia recomendam aos Estados Membros a
avaliao da perceo dos profissionais sobre a cultura de segurana do doente, como
condio essencial para a introduo de mudanas nos comportamentos dos profissionais
3
e organizaes prestadoras de cuidados de sade, e alcanar melhores nveis de
segurana e de qualidade nos cuidados prestados aos doentes. O ponto de partida para o
desenvolvimento de uma cultura de segurana do doente passa pela avaliao dessa
mesma cultura, para que aps introduo de medidas decorrentes dos resultados possa
ser novamente avaliado e comparado com as avaliaes iniciais. So exemplo disso vrios
estudos (apresentados no ponto 5 deste trabalho) um pouco realizados por todo o
mundo, nomeadamente, o de Sorra e Nieva em 2004 e 2012 nos EUA, Saturno em 2009 e
Zenewton et al em 2012 em Espanha, Mats Hedskold em 2012 na Sucia, o de Eiras et al
em 2011 em Portugal, o de Bodur e Filiz em 2010 na Turquia, entre outros. (Eiras, et al.,
2011; Gama, et al., 2013; Hedskld1, et al., 2013; Saturno, et al., 2009; Bodur & Filiz,
2010; Sorra & Nieva, 2004).
Em Portugal, regulamentado pela Norma n 025/2013 de 24/12/2013 publicada
pela Direo Geral de Sade (DGS) sob proposta do Departamento da Qualidade na
Sade, em 2014 vai ser aplicado em todos os hospitais do sistema de sade o
questionrio "Avaliao da Cultura de Segurana do Doente nos Hospitais Portugueses,
estando a repetio da aplicao do mencionado questionrio prevista para ocorrer de 2
em 2 anos (Direo Geral de Sade, 2013). Tendo por base a importncia e necessidade
de conhecer a perceo dos profissionais sobre a cultura de segurana do doente, de
forma a poder diagnosticar a cultura de segurana para identificar as reas de melhoria e
aumentar a conscientizao sobre a segurana do doente, entendeu-se pertinente
investigar estas questes no Hospital Distrital da Figueira da Foz, E.P.E..
Assim o presente estudo tem como finalidades produzir os primeiros indicadores
da avaliao da cultura de segurana do doente na organizao e propor sugestes de
melhoria na rea da cultura de segurana do doente com base nos resultados obtidos.
Neste contexto formulou-se a seguinte questo de investigao que esteve na base da
pesquisa: A perceo dos profissionais sobre cultura de segurana do doente varia em
funo de variveis socio profissionais (grupo profissional, tempo na organizao, ter ou
no contacto direto com os doentes) e de variveis organizacionais (trabalhar num
servio certificado ou no)?
Deste modo, so objetivos deste estudo:
4
- Identificar pontos fortes e fracos da cultura de segurana do doente no sentido de
promover oportunidades de melhoria;
- Caracterizar a perceo dos profissionais do hospital acerca da cultura de segurana do
doente.
Considerando a temtica desta investigao, optou-se por um estudo descritivo,
transversal, correlacional, e que utiliza o mtodo quantitativo, tendo como pblico alvo
todos os profissionais que trabalham no hospital. O instrumento de colheita de dados
utilizado neste estudo o questionrio Hospital Survey on Patient Safety Culture
(HSOPSC). Este questionrio um instrumento da Agency for Healthcare Research and
Quality (AHRQ), difundido um pouco por todo o mundo, tendo sido traduzido e validado
para a populao portuguesa por Eiras (2008) e posteriormente adotado pela DGS.
O trabalho estruturado em duas partes: Na primeira parte feita uma reviso de
literatura, de forma a permitir o estabelecimento de um quadro referencial, a segunda
parte dedicada metodologia utilizada, onde apresentado o desenho do estudo,
efetuada a descrio e anlise dos dados obtidos, a interpretao e discusso dos
mesmos, e por fim as concluses do trabalho e sugestes de melhoria decorrentes do
mesmo. No final so apresentados a lista de referncias bibliogrficas e os anexos.
5
PPAARRTTEE II
11 -- QQUUAALLIIDDAADDEE EEMM SSAADDEE
Hoje qualquer interveno na rea da sade tece consideraes, questiona ou
manifesta preocupaes sobre a qualidade, seja numa perspetiva global e genrica, seja
nas suas dimenses e atributos. Esta perspetiva muito clara na Carta de Tallinn
intitulada Os Sistemas de Sade pela Sade e Prosperidade aprovada em 27 de Junho de
2008 pelos Estados Membros da regio europeia da Organizao Mundial de Sade e
refere que: Os doentes querem ter acesso a cuidados de qualidade, e a que lhes
garantam que os prestadores utilizam nas suas decises a melhor informao factual
disponvel que a cincia mdica pode oferecer e a tecnologia mais apropriada para
assegurar a eficincia e a segurana clnica aumentada (Silva & Domingos, 2008).
A preocupao com a qualidade remonta a tempos longnquos, tornando-se
tambm uma prioridade no setor da sade. J no final do sculo XIX, Florence Nightingale
implantou rgidos padres sanitrios, durante a Guerra da Crimeia, reduzindo a taxa de
mortalidade e estabelecendo, assim, o primeiro modelo de melhoria contnua da
qualidade em sade. Ernest Codman, no incio do sculo XX desempenhou um papel
fundamental ao reconhecer ser necessrio examinar os resultados dos seus trabalhos
cirrgicos, desafiando assim mdicos e as organizaes de sade a assumir a
responsabilidade pelos seus doentes. Codman props o primeiro mtodo de
monitorizao dos resultados dos cuidados com o argumento de que fundamental
verificar se o cuidado prestado foi efetivo (Fragata, 2006; Travassos & Caldas, 2013).
Na dcada de 60 Donabedian contribuiu de forma significativa para a definio e
entendimento da qualidade ao estabelecer bases estruturadas de avaliao da qualidade
em sade, considerando trs vertentes: estrutura, processo e resultado, afirmando que a
qualidade o tipo de prestao de cuidados no qual se espera a maximizao do bem-
estar do doente, depois de tomar em considerao o balano entre os ganhos e as perdas
esperadas nas vrias fases do processo de prestao de cuidados (Donabedian, 2003
apud Bruno, 2010:26).
Nos anos 80/90 houve uma contribuio dada pela indstria para a melhoria da
qualidade na sade. Nomes como Crosby, Juran e Deming, realaram aspetos
6
fundamentais tais como o controlo dos procedimentos, envolvimento dos trabalhadores,
aposta na formao e liderana, que posteriormente foram inseridos na sade
permitindo a formao e treino de lderes a partir desses ensinamentos.
Nas ltimas dcadas, o conceito de qualidade tem-se vindo a transformar
incorporando novos parmetros, assim, vai alterando o seu significado conforme a
evoluo das necessidades e expetativas do cliente. Os utilizadores esto cada vez mais
informados e participativos exigindo qualidade, os profissionais preocupam-se com a
qualidade devido ao compromisso tico intrnseco a esta rea, ou seja cuidar da sua
sade, e os gestores preocupam-se com a otimizao de recursos e diminuio de custos
(Gama & Saturno, 2013). O enfoque da produo hospitalar, com a definio de produtos,
com o incentivo ao aumento da produo e apelo eficincia obriga a um olhar para a
qualidade tcnica da prestao de cuidados e noo de servio ao cliente (Delgado,
2009). Assim a melhoria da qualidade tem sido uma prioridade e integra o Plano Nacional
de Sade 2011-2016 (Campos, et al., 2010).
O conceito de qualidade est dependente da perspetiva e valores de quem a
define, podendo tornar-se uma meta subjetiva, o que seria indesejvel. Considerando que
a subjetividade est naquilo que no definimos, torna-se necessrio uma definio clara
do conceito de qualidade antes de qualquer atividade de gesto nos servios de sade
(Gama & Saturno, 2013).
Em 1990 o Institute of Medicine(IOM) define qualidade em sade, como o grau
com que os servios de sade para os indivduos e populaes aumentam a probabilidade
de se atingirem os resultados de sade desejados, de acordo com o conhecimento
profissional corrente. Orientado por esta definio, identificou trs categorias que, de
modo geral, englobam os problemas de qualidade nos servios de sade: (i) sobre
utilizao, (ii) utilizao inadequada e (iii) subutilizao (Campos, et al., 2010; Travassos &
Caldas, 2013). Um aspeto importante desta definio a compreenso de qua a
qualidade no depende de um s fator mas sim de vrias dimenses ou atributos, logo,
cada organizao deve escolher os seus atributos alvo que definiro a qualidade (Gama &
Saturno, 2013; Fragata, 2006; Institute of medicine, 1999; Wachter, 2012).
7
A prestao de cuidados de sade incorpora sempre trs vertentes indissociveis:
a tcnico-cientfica, a relao interpessoal profissional/utente e as amenidades. Assim, o
desenvolvimento da qualidade tem que abordar e promover de forma integrada e
sistemtica estas vertentes, considerando que s com a atuao concertada nas trs
vertentes se potencia melhores resultados e mais qualidade (Delgado, 2009).
A qualidade de cuidados de sade um processo que tem que ser medido,
permanentemente acompanhado e sistematicamente melhorado. Por isso pressupe
critrios claros e transparentes, indicadores facilmente operveis e padres de exigncia
que credibilizem as avaliaes e deem sinais claros para os Stakholders, para os doentes,
para o mercado e para a sociedade em geral. A qualidade dos cuidados de sade deve
acompanhar todo o processo do doente, desde o acesso e acolhimento, passando pelo
processo de diagnstico e teraputico, bem como por todas as questes que se prendem
com o conforto, informao e relacionamento com doentes e familiares (Delgado, 2009).
Como refere o autor a situao em Portugal ainda est longe de atingir este patamar pois
a prtica clnica vive fechada sobre si prpria e pouco disponvel para a reviso inter
pares, sendo neste cenrio muito difcil verificar com objetividade as boas e ms prticas.
Cuidados de sade raramente so realizados por uma s pessoa e o atendimento
seguro e eficaz depende no s dos conhecimentos, habilidades e comportamentos dos
prestadores de cuidados da linha da frente mas tambm da forma como cooperam e
comunicam integrados na organizao. Por outras palavras os doentes dependem que
muitas pessoas faam o trabalho certo no tempo certo. Ser um profissional eficiente
requer compreenso das interaes complexas que um sistema de cuidados integra
(World Health Organization, 2011).
Pelo exposto torna-se clara a necessidade de cada organizao definir quais os
seus atributos alvo que definiro a qualidade. Como refere Wachter (2012), j em 2001 o
IOM deu um forte contributo para esta questo ao apresentar um grupo de dimenses
que serviu de base para a construo de indicadores de qualidade em diversas partes do
mundo, sendo estas:
-Segurana: evitar leses aos pacientes do cuidado que se destina a ajud-los;
8
-Efetividade: prestao de servios baseados no conhecimento cientfico a todos os que
podem beneficiar destes e abstendo-se da prestao de servios queles que no
beneficiaro;
-Centrado no doente: envolve o respeito pelo doente, considerando as suas preferncias
individuais, necessidades e valores, assegurando que a tomada de deciso clnica se
guiar por estes valores;
-Oportunidade/Acesso: reduo da espera e atrasos, por vezes prejudiciais, tanto para os
que recebem como para os que prestam cuidados de sade;
-Eficincia: evitando desperdcios de equipamentos, suprimentos, ideias e energia;
-Equidade: prestao de cuidados que no variam em qualidade em funo de
caractersticas como gnero, etnia, localizao geogrfica e nvel socioeconmico.
Um sistema de sade que atinge maiores ganhos nestas seis reas seria muito
melhor para atender s necessidades dos doentes. Os doentes experimentariam cuidados
mais seguros, mais confiveis, mais sensveis s suas necessidades, mais integrados, e
mais disponveis. Os profissionais de sade tambm beneficiariam de uma maior
satisfao em ser mais capaz de fazer o seu trabalho e assim, trazer a melhoria da maior
longevidade, menos dor e sofrimento, e aumento de produtividade pessoal para aqueles
que recebem seus cuidados. A segurana tem sido assim considerada um atributo
prioritrio da qualidade em sade em todo o mundo e como tal, alvo de grande ateno.
9
22 -- SSEEGGUURRAANNAA DDOO DDOOEENNTTEE
Para a OMS a segurana do doente corresponde reduo ao mnimo aceitvel do
risco de dano desnecessrio associado ao cuidado de sade. Diferente das dimenses
tradicionais da qualidade centradas em fazer o certo na hora certa, para conseguir nveis
mximos de benefcio e satisfao para o doente, a segurana caracteriza-se pelo
enfoque na ausncia de dano produzido pelos cuidados de sade, mais do que o foco no
seu benefcio. Assim, importante salientar que a rea de estudo da segurana no inclui
somente os incidentes que causam dano, mas tambm as falhas da ateno que no
causaram dano, mas que poderiam ter causado (Gama & Saturno, 2013).
O problema da qualidade em sade e, dentro desta, da segurana do doente
uma rea relativamente recente da gesto em sade, investigao e prticas clnicas, j
que apenas nas ltimas 2-3 dcadas que este tema se tornou uma preocupao formal
dos diversos sistemas de sade e seus responsveis (Carneiro, 2010). Como refere o
autor, o desenvolvimento e implementao prtica de um sistema que garanta a
segurana do doente uma tarefa complexa e cheia de incertezas. preciso melhores
tecnologias da informao e garantia da qualidade da prpria informao, de grupos de
trabalho coesos e disciplinados, compostos por profissionais competentes e dedicados,
seguindo regulamentos e manuais de boas prticas, que assegurem os melhores
resultados possveis. As solues tero de ser globais, com todos os nveis de staff
envolvidos, atravs de solues fluindo de baixo para cima e de cima para abaixo (down-
top e top-down), com recursos especificamente alocados a estas tarefas e com processos
de notificao e de feedback permanentes.
Em Maio de 2002 a 55 Assembleia Mundial de Sade apelou aos Estados
Membros para considerar a segurana como um princpio fundamental dos cuidados ao
doente e uma componente da gesto da qualidade. Para alm de a segurana ser
considerada uma dimenso da qualidade, importa salientar que esta tem intercees com
quase todas as outras dimenses da qualidade. A sua melhoria exige um esforo de todo
o sistema envolvendo uma ampla gama de aes de melhoria de desempenho, e requer
uma abordagem multifacetada para identificar e gerir os riscos reais e potenciais
segurana do doente, bem como encontrar solues a longo prazo para o sistema como
10
um todo (World Health Organization, 2002). Deste modo o papel da segurana do doente
na rea da qualidade constitui uma prioridade em todos os sistemas de sade
preocupados com melhoria da qualidade dos cuidados prestados.
Falhas ao nvel da segurana do doente, podem ter implicaes nas organizaes
de sade, nos seus profissionais e, principalmente, nos doentes/utentes. As mesmas
refletem-se em trs dimenses: - Perda de confiana dos doentes nas organizaes de
sade e seus profissionais, degradando-se as relaes entre estes e os utentes/doentes; -
Aumento dos custos, sociais e econmicos, e consequente aumento dos danos causados
e da casustica dos mesmos; - Reduo da possibilidade de alcanar os resultados
esperados/desejados, com consequncias diretas na qualidade dos cuidados prestados
(Sousa, et al., 2010).
Em Outubro de 2004 a OMS criou a World Alliance for Patient Safety para liderar
no mbito internacional os programas de segurana o que constituiu um importante
passo na melhoria da segurana dos cuidados de sade em todos os Estados-Membros. O
programa de ao publicado em 2005 constitudo pelos seguintes desafios (World
Health Organization, 2004):
- Envolvimento dos doentes. Por definio estes esto no centro da melhoria pois quando
algo est errado eles so as vtimas do dano produzido;
- Desenvolvimento de taxonomia. No sentido de introduzir clareza, consistncia e algum
grau de padronizao fundamental a criao de taxonomia internacional de segurana
do doente, no s para potenciar e facilitar a monitorizao global e relatrios de erros
como tambm para contribuir para a compreenso destes incidentes;
- Investigao na rea de segurana do doente. Grande parte do impulso para uma ao
coordenada nesta rea veio da realizao de estudos sobre o erro, por isso esta uma
arma poderosa para a melhoria;
- Solues para reduzir o risco nos cuidados de sade e melhorar a segurana. O
conhecimento mais importante no campo da segurana do doente como evitar danos;
- Elaborao de relatrios e desenvolvimento de aprendizagens. Um elemento
importante dos programas para melhorar a segurana do doente a capacidade de obter
11
informao completa sobre eventos adversos, erro ou quase erro e com eles aprender
como base preventiva para o futuro.
Um pouco por todo o mundo foram sendo criadas vrias agncias especializadas
na melhoria da segurana do doente, como por exemplo a Nacional Patient Safety
Agency, no Reino Unido; a Danish Society For Patient Safety, na Dinamarca; a Australian
Patient Safety, na Austrlia; Joint Commission on Accreditation of Healthcare
Organizations nos Estados Unidos da Amrica; Agency for Healthcare Researt and Quality;
Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria, no Brasil.
A agncia do Reino Unido National Patient Safety Agency, no mbito desta
temtica, elaborou um documento intitulado Seven steps to patient safety , the full
reference guide, onde define sete passos que considera essenciais para garantir a
segurana do doente (National Patient Safety Agency, 2004):
1 - Criar uma cultura de segurana, aberta e justa;
2 Obter liderana forte e apoio das equipas de sade um torno da segurana do doente,
estabelecendo um foco claro e forte em toda a organizao;
3 - Integrar as atividades de gesto de risco, desenvolvendo sistemas e processos de
gesto do risco e identificar coisas que poderiam originar erros;
4 - Promover o reporte de eventos adversos, assegurando aos profissionais de sade que
podem relatar incidentes a nvel local e nacional e sem repercusses;
5 - Envolver e comunicar com os doentes e com a sociedade em geral, desenvolvendo
uma comunicao aberta e ouvindo os doentes;
6 - Aprender a partilhar experincias de segurana, encorajando os profissionais a usar a
anlise de causas para aprender como os incidentes acontecem;
7 Implementar solues para prevenir dano no doente, incorporando aprendizagens
atravs de mudanas na prtica, processos ou sistemas.
As publicaes na rea de segurana do doente proliferaram a cada ano. Porm, a
compreenso desses trabalhos revelou-se comprometida pelo uso de diferente
linguagem adotada. Este fato justificou a criao pela OMS, atravs da World Alliance for
Patient Safety, de uma classificao sobre segurana do doente. Surgiu assim a
Conceptual framework for the international Classification for patient safety, atravs do
12
Final Technical Report, em Janeiro de 2009, onde so definidos 48 conceitos chave e
atribuda uma terminologia prpria para facilitar o entendimento e informao relevante
nesta rea. A traduo para o portugus foi realizada pela DGS em 2011 (Direo-Geral da
Sade, 2011).
Em 2009 o Conselho da Unio Europeia considerando a insuficiente segurana do
doente como grave problema de sade pblica, e tendo por base os trabalhos da OMS
atravs da World Allience for Patient Safety, o Conselho da Europa e a Organizao de
Cooperao e Desenvolvimento Econmicos (OCDE), emana recomendaes sobre a
segurana dos doentes incluindo a preveno e controlo de infees associadas aos
cuidados de sade (Conselho da Unio Europeia, 2009).
Embora muitas organizaes de sade tenham j implementado vrias medidas
para garantirem a segurana do doente, o que facto que h ainda muito a fazer face a
outros setores que introduziram procedimentos de segurana sistemticos aplicando a
gesto de equipas de alto desempenho. As companhias de aviao aplicam este conceito
desde h dcadas e entendem que a segurana mantida se as suas tripulaes
trabalharem em equipa, de modo seguro e eficiente. Empresas multinacionais como a
Toyota, a Volvo e General Motors, por estarem sediadas nos diferentes continentes
introduziram na organizao do trabalho e processo de produo este conceito de
equipa. Na sade os resultados dependem principalmente dos fatores humanos e do
resultado final do trabalho em equipa, da a importncia em organizar a sua fora de
trabalho, no em torno do indivduo como antigamente, mas na sinergia do trabalho em
equipa (Santos, 2011).
As medidas de promoo da segurana do doente colhem hoje inspirao nas
polticas de gesto do risco das organizaes de alta fiabilidade e incluem medidas
reativas, medidas proativas, redesenho dos sistemas e promoo de uma cultura de
segurana. Organizao de alta fiabilidade aquela que no tem acidentes, num registo
longo de tempo, num ambiente onde estes acidentes seriam possveis, dadas as
condies de complexidade e de risco em que opera (Fragata, 2011). A caracterstica mais
importante de organizaes de alta fiabilidade a sua preocupao coletiva com a
possibilidade de errar. Eles esperam que o erro acontea, aprendem com ele e treinam
13
para o reorganizar e evitar que acontea no futuro. Em vez de atuar em falhas isoladas
eles generalizam-nas, ou seja, fazem reformas em todo o sistema. Eles antecipam o pior e
preparam-se para lidar com isso em todos os nveis da organizao (Reason, 2000).
14
15
33 -- CCUULLTTUURRAA DDEE SSEEGGUURRAANNAA DDOO DDOOEENNTTEE
O conceito de cultura associada segurana apareceu aps o desastre de
Chernobyl em 1986, onde o acidente aconteceu por uma sequncia de falhas internas em
que no havia qualquer cultura de segurana, e a partir da permitiu s organizaes
fiveis aprender e pensar as questes da segurana.
Cultura representa um conjunto de percees e de comportamentos de um grupo
ou organizao e traduz a forma como esta exerce a sua atividade. Desta forma a cultura
tem uma dimenso de grupo na organizao mas implica uma interiorizao em cada um
dos profissionais.
Cultura de segurana definida pela OMS como o produto dos valores individuais
e de grupo, atitudes, capacidades de perceo, competncias e padres de
comportamento, que determinam o empenho, estilo e proficincia, na gesto e
segurana de uma organizao (World Health Organization, 2009).
A mesma organizao enumera como dimenses da cultura de segurana:
- Compromisso de gesto com a segurana;
- Prticas de trabalho de segurana;
- Priorizao relativa segurana;
- Adeso a regras de segurana;
- Gesto do risco, reporte de erros e incidentes.
A cultura de segurana estimula os profissionais a serem responsveis pelos seus
atos atravs de uma liderana proativa, na qual se potencializa o entendimento e se
explicitam os benefcios, assegurando a imparcialidade no tratamento dos eventos
adversos, sem tomar medidas de punio frente ocorrncia dos mesmos, mas quando
se procura modificar a cultura de uma organizao neste sentido so muitas as barreiras
que se encontram. A forma como h resistncia nas organizaes foi tipificada por
Parker-Hudson, (referido por Fragata, 2011) nos seguintes estdios:
- Cultura patolgica, em que os acidentes so vistos como inevitveis e as medidas de
segurana como perturbadoras, sendo o comprometimento com as medidas de
segurana escasso;
16
- Cultura reativa, nos casos em que a poltica de segurana se limita em reagir ao evento,
normalmente procurando identificar o culpado;
- Cultura calculista, havendo j uma gesto estruturada de segurana, os riscos so
anotados caso a caso e de forma muito burocrtica. Os profissionais sabem que h uma
gesto do risco mas um assunto exclusivo de um grupo da organizao;
- Cultura proativa, em que j existe uma cultura instalada em que se encaram as medidas
de segurana de forma integrante na rotina diria e a atribuio da responsabilidade por
falhas de segurana no so encaradas de forma individual;
- Cultura geradora uma forma avanada de cultura de segurana, com proatividade e
procura de melhoria, em que os indicadores de segurana continuam a ser colhidos
mesmo no existindo acidentes, num ambiente livre de culpa.
preciso promover uma cultura de segurana em todos os mbitos de servios de
sade, que reflita uma conscincia coletiva relacionada com os valores, atitudes,
competncias e comportamentos que determinam o comprometimento com a gesto da
sade e da segurana, e olhar os incidentes de segurana no simplesmente como
problemas, evitando culpabilizar aqueles profissionais que cometem erros no
intencionais, mas encarar a situao como uma oportunidade de melhorar os cuidados de
sade.
So vrios os autores a abordar os vrios pilares/reas/subculturas da cultura de
segurana, que ajuda, sem sombra de dvida a entender a abrangncia do tema.
Podemos ento considerar que concorrem para uma cultura de segurana os seguintes
aspetos: ambiente livre de culpa para o erro humano com uma cultura aberta e justa,
liderana forte e trabalho de equipa em torno da segurana do doente, ambiente de
relato de incidentes de forma no punitiva e com a finalidade de aprendizagem e
implementao de medidas de melhoria, comunicao estruturada com hierarquias
flexveis de cooperao e aprendizagem de retorno (top-down e down-top), com
transparncia em termos de segurana gesto do risco e implementar solues para
prevenir a ocorrncia de situaes, que possam provocar dano no doente, atravs de
mudana de prticas (Harada & Pedreira, 2013; National Patient Safety Agency, 2004;
Wachter, 2012).
17
James Reason reala para a cultura de segurana nas organizaes trs
componentes: cultura justa, onde no haja punio para os erros mas sim para condutas
imprprias, cultura voltada para o relato dos eventos num ambiente seguro, e uma
cultura de aprendizagem em torno das falhas ocorridas, anlise das situaes com
identificao dos pontos frgeis para que possam ser corrigidos (Reason, 1998).
Neste contexto de cultura de segurana os profissionais dentro de uma
organizao tm uma conscincia constante e ativa do potencial do erro. Tanto a equipa
como a organizao so capazes de reconhecer os erros, aprender com eles, e tomar
medidas para melhorar. Ser abertos e justos significa compartilhar informaes de forma
aberta e livremente, e um tratamento justo para o pessoal quando um incidente
acontece. Isso vital tanto para a segurana dos doentes e para o bem-estar daqueles
que prestam cuidados. Nesta abordagem reconhece-se que as causas de um incidente de
segurana do doente no podem ser simplesmente associados s aes da equipa de
cuidados, mas tambm ligadas ao sistema em que os indivduos estavam a funcionar.
Olhando para o que havia de errado no sistema ajuda as organizaes a aprender lies
que podem impedir o incidente de voltar a acontecer.
A liderana ento um aspeto fundamental a ter em conta na cultura de
segurana. Os lderes dirigem valores, os valores dirigem os comportamentos, e os
comportamentos coletivos dos indivduos de uma organizao definem a sua cultura.
Considera-se que os lderes devem estar envolvidos no processo de criar e transformar a
cultura de segurana do doente, sendo que as estruturas de liderana devem ser
estabelecidas com a inteno de sensibilizar, responsabilizar, habilitar e agir em favor da
segurana de cada um dos doentes atendidos (Gama & Saturno, 2013).
As organizaes conseguem melhorar a segurana do paciente, quando os lderes
esto visivelmente comprometidos com a mudana. Ouvir e apoiar a equipa quando eles
relatam incidentes de segurana do doente e demonstrar a importncia da segurana
fundamental. importante que todos os elementos da equipa compreendam a sua
contribuio para a segurana e possam identificar oportunidades de melhorias (National
Patient Safety Agency, 2004).
18
Promover a segurana do doente requer motivao e compromisso a partir do
topo de cada organizao e dos lderes de cada servio. Os profissionais devem-se sentir
capazes de dizer se eles no sentem que o cuidado que fornecem seguro,
independentemente da sua posio. Para mostrar que a segurana uma prioridade e
que a gesto da organizao est comprometida com a melhoria, a equipa executiva deve
ser visvel e ativa na conduo de melhorias na segurana do paciente. Lderes
envolvidos/empenhados conduzem assim a esta cultura atravs da conceo de
estratgias e da construo de estruturas que orientam processos seguros e resultados
(National Patient Safety Agency, 2004).
No possvel falar em qualidade em sade sem referir a qualidade da interao e
da comunicao entre os profissionais responsveis pelos cuidados, e por isso, pela
segurana do doente. considerada por um lado a comunicao no momento especfico
de handover (passagem de turno) e por outro lado a comunicao mais alargada intra e
inter equipas de sade. A comunicao entre os membros da equipa fundamental para
fomentar a partilha do mesmo modelo mental, ou seja, ideias comuns, modo de
funcionamento, papeis e funes individuais, e valores da equipa. A integrao de uma
atitude positiva em relao cultura de segurana fundamental para a reduo do erro
(Santos, et al., 2010).
As autoras referem ainda que um dos obstculos qualidade da comunicao a
falta de formao e treino dos profissionais de sade nesta rea. As competncias
comunicacionais devero ser consideradas como parte integrante da formao, e como
outras competncias de ordem tcnica devero ser sistematicamente atualizadas.
Promover o trabalho em equipa implica reconhecer os erros como causas de dano e
bito, por isso recomenda-se estabelecer um enfoque proativo, sistemtico e
organizacional de formao em trabalho em equipa, com construo de habilidades e
melhoria dos desempenhos das equipas para diminuir os danos prevenveis.
Promover a cultura da segurana no sistema de sade um fenmeno complexo.
Reconhecer sua importncia e o impacto da cultura de segurana nas organizaes
imperativo para desenvolver qualquer tipo de programa de segurana. O entendimento
das subculturas facilita o entendimento do processo de implementao de uma cultura
19
de segurana nas instituies e direciona profissionais para um possvel caminho de sua
implantao (Harada & Pedreira, 2013).
A avaliao da cultura de segurana vista como ponto de partida para iniciar um
planeamento de aes que promovam mudanas para reduzir a incidncia de eventos
adversos e consequentemente garantir cuidados seguros. A partir dessa avaliao tem-se
acesso a informaes dos profissionais de sade da organizao no que refere s suas
percees e comportamentos relacionados com a segurana permitindo identificar reas
problemticas que permitam implementar intervenes.
20
21
44 GGEESSTTOO DDOO RRIISSCCOO
J Florence Nightingale dizia que o primeiro requisito num hospital que no
deveria haver nenhum dano para o doente. O conceito de segurana do doente envolve
as aes empreendidas por indivduos e organizaes para impedir que os utilizadores
dos cuidados de sade sejam prejudicados pelos efeitos dos seus servios. Assim garantir
a segurana do doente implica o estabelecimento de sistemas operacionais e processos
que minimizam a probabilidade de erros (Direo-Geral da Sade, 2011).
Erro a falha na execuo planeada de uma ao, uso errado, imprprio ou
incorreto de um plano para atingir um objetivo. Pode ento considerar-se como uma ao
que se afasta do standard dos cuidados e origina danos, denominados de eventos
adversos (dano causado no decurso da prestao de cuidados e no pela doena
subjacente) e que pode ter como consequncia o prolongamento do internamento,
incapacidades, entre outros (Direo-Geral da Sade, 2011). O conhecimento e
compreenso dos eventos adversos (frequncia, causas e o seu impacto) constituem uma
parte fundamental do processo, mais amplo, de avaliao e melhoria contnua da
segurana do doente e da qualidade em sade (Sousa, et al., 2011).
O problema do erro humano pode ser visto sob duas formas de abordagem, na
pessoa e no sistema. A abordagem na pessoa teve um grande impacto no passado e
incide sobre atos inseguros devido a processos de esquecimento, desateno, falta de
ateno e imprudncia, o foco a culpabilizao. A premissa bsica na abordagem do
sistema que os seres humanos so falveis e erros so esperados, mesmo na melhor
organizao, o foco so as condies em que as pessoas trabalham. Os erros so vistos
como consequncias, em vez de causas, com origem em fatores sistmicos a montante.
No podemos mudar a condio humana, podemos mudar as condies sob as quais os
seres humanos trabalham. A ideia central a de que o sistema deve ter defesas, e
quando um evento adverso ocorre, a questo importante no saber quem errou, mas
sim como e porque as defesas falharam (Reason, 2000).
James Reason ilustra esta ideia com a imagem do queijo suo com camadas de
defesas, barreiras e salvaguardas que desempenham um papel chave na abordagem do
sistema (Exemplo: alarmes, protees, estrutura) e num mundo ideal cada camada de
22
defesa estaria intacta. Mas na realidade elas so parecidas com um queijo suo, com
muitos buracos, continuamente a abrir e fechar mudando de localizao. A presena de
buracos numa fatia no causa dano, mas quando os buracos momentaneamente se
encontram em fila permitem a trajetria do acidente originando perigos prejudiciais para
os doentes. James Reason atribui os buracos das defesas a duas causas: falhas ativas e
falhas latentes, e assim quase todos os eventos adversos envolvem uma combinao
destes dois conjuntos de fatores (Reason, 2000).
Falhas ativas so atos perigosos cometidos por pessoas que esto em contacto
direto com o doente (na linha da frente) e falhas latentes so as que decorrem das
decises dos rgos de gesto de nvel superior (os efeitos adversos podem ficar ocultos
durante muito tempo). As falhas latentes podem ter dois tipos de efeitos adversos,
podem proporcionar condies de erro no local de trabalho (como por exemplo a presso
de tempo, falta de pessoal, m preparao da equipa) ou podem originar deficincias
duradouras (alarmes no confiveis, procedimentos impraticveis, mau desenho de
construo). A combinao destes dois tipos de falhas podem gerar a oportunidade do
acidente (Reason, 2000; Reason, et al., 2001). Com esta teoria ele trouxe a premncia de
tentar obstruir esses buracos e criar camadas sobrepostas a fim de impedir o
realinhamento e assim ratifica que preciso no ceder ao desejo veemente de concentrar
a ateno na ponta e convergir s causas-raiz (Wachter, 2012).
No existe uma causa nica para o acidente, ele acontece por fatores humanos
(individuais e de equipa), fatores sistmicos (organizao e equipamento), e um pouco
tambm devido ao acaso. No entanto, a natureza da tarefa ou a sua complexidade, bem
como as condies ambientais do trabalho podem condicionar os resultados em matria
de segurana (Wachter, 2012; World Health Organization, 2011; Fragata, 2011). A causa
dos eventos adversos assim multifatorial, mas a componente humana e de equipa a
que mais contribui. O sistema ou organizao tem um papel facilitador ou dificultador em
relao s falhas cometidas pelos colaboradores. A Joint Comission on the Accreditation of
Healthcare Organizations (JCAHO) refere que a maior parte dos eventos sentinela tem
origem no insuficiente treino das pessoas em equipa e quebras na comunicao (Fragata,
2011).
23
Entender como os erros acontecem e quais so as suas implicaes ticas e legais,
no uma tarefa fcil. Para implementar uma anlise sistmica, necessria uma
estratgia conjunta com aprofundamento das questes conceituais e necessariamente
participao dos profissionais de sade, gestores, doentes e familiares no processo
(Harada & Pedreira, 2013).
exemplo disso o escndalo no Hospital de Stafford, no Reino Unido, referente a
atendimento deficiente e altas taxas de mortalidade em que foi aberto inqurito pblico
no final do ano de 2000. No relatrio recentemente divulgado so apresentados vrios
problemas que estiveram na base do incidente: assumida uma perda parcial de foco na
qualidade e segurana como principais objetivos, prioridades incorretas, competncias
insuficientes em segurana do doente e aperfeioamento de prticas, sinais de alerta
abundavam mas no foram atendidos, e referido que os profissionais no foram
culpados, na maioria dos casos as falhas devem-se a sistemas, procedimentos, condies,
ambiente e restries que levaram a problemas de segurana do doente. Ainda no
referido relatrio so apresentadas inmeras sugestes, entre as quais: Colocar a
qualidade e assistncia do doente acima de todos os objetivos do sistema nacional de
sade, envolver os profissionais e cuidadores em todos os momentos, promover o
crescimento e desenvolvimento dos profissionais na capacidade de melhorar os
processos de cuidados, insistir num modelo de trabalho com transparncia inequvoca,
garantir dotaes seguras, e recorrer a sanses penais s em casos extremos que devem
funcionar como um impedimento negligncia (Berwick, et al., 2013).
Impe-se assim a operacionalizao de uma cultura de segurana eficaz
promovendo o relato dos eventos adversos num ambiente seguro e com aprendizagem
em torno das falhas ocorridas como recomendado por James Reason (1998).
Paula Bruno, no seu estudo sobre registo de incidentes e eventos adversos
constata que em Portugal a frequncia dos registos ainda muito baixa, sendo o
esquecimento em virtude da carga de trabalho a principal razo apontada pelos
inquiridos (Bruno, 2010).
Para alm da escassez de registo de erros e respetiva anlise pelos profissionais de
sade, quando um sistema de relatos de incidentes comea a funcionar gera uma enorme
24
quantidade de informao, que por si s insuficiente. A informao de retorno dos
relatos de incidentes deve incluir e assegurar aes corretivas de modo a evitar falhas
recorrentes. O primeiro passo para integrar prticas mais seguras na rotina garantir a
maior visibilidade do erro e das suas implicaes. Isto pode ser conseguido atravs de
relatos, auditorias, listas, reviso de processos, participaes de doentes, entre outros
(Lage, 2010).
fundamental que a anlise de causas no esteja centrada no profissional que
erra mas sim no mecanismo dos erros, de modo a identificar os fatores contributivos e
falhas suscetveis de melhoria. Num sistema de sade que se pretende centrado no
doente, a notificao de incidentes imperativo. A monitorizao sistemtica do erro e
das barreiras que protegem os doentes o pilar de qualquer sistema de sade que se
pretende seguro (Lage, 2010).
A DGS com a orientao n 011/2012, de 30/07/2012 vai ao encontro dessa ideia
recomendando a aprendizagem sobre as respetivas causas do evento adverso e prevenir
a sua recorrncia, bem como identificar as causas raiz do evento e procurar atuar sobre
elas. Torna-se ento importante promover a mudana de comportamentos por parte dos
profissionais de sade no sentido de aumentar o nmero de registos de incidentes e
eventos adversos, para isso deve existir um sistema de registos que garanta a
confidencialidade.
No nosso pas a DGS em 2013 disponibilizou aos profissionais de sade e cidados
o Sistema Nacional de Notificao de Incidentes e Eventos Adversos (SNNIEA). O SNNIEA
uma plataforma annima, confidencial e no punitiva, de gesto de incidentes e
eventos adversos, ocorridos nas unidades prestadoras de cuidados de sade. A Norma n
008/2013 de 15/05/2013 determina como deve ser feita a notificao de um incidente ou
evento adverso, ocorrida numa instituio prestadora de cuidados de sade, e torna
obrigatria a decorrente implementao de medidas corretoras sistmicas por parte da
administrao da instituio (Direo Geral de Sade, 2013).
Nenhuma das ferramentas criadas para promover a segurana do doente, tais
como relatos de incidentes, auditorias, reviso de processos, etc, deve ser considerada
como suprflua ou dispensvel prtica clnica. Assim a promoo da segurana do
25
doente no pode por isso ser uma atividade paralela do gabinete de gesto do risco da
organizao, mas sim uma base de trabalho para toda a prtica clnica (Lage, 2010).
26
27
55 EESSTTUUDDOOSS DDEE SSEEGGUURRAANNAA DDOO DDOOEENNTTEE
O estudo desenvolvido pelo IOM em 1999, intitulado To err is human: building a
safer health system, em que se estimou que, entre 44 000 e 98 000 pessoas nos Estados
Unidos da Amrica, morriam anualmente em consequncia de erros mdicos que
poderiam ter sido prevenidos, introduziu o conceito de que o erro acontecia, no por
responsabilidade direta de um profissional, que trabalhou mal, mas sim pelo contexto
sistmico em que trabalhava, e foi determinante para o desenvolvimento de inmeras
estratgias nesta rea (Institute of medicine, 1999).
Com a publicao deste estudo o tema assumiu um grande interesse mundial,
proliferando estudos e investigaes. Foram realizados estudos em diversos pases
desenvolvidos como os EUA, Austrlia, Canad, Reino Unido, Nova Zelndia, Dinamarca e
Espanha. Os resultados obtidos nesses estudos, aliados a problemas de m prtica
mdica obrigaram a que se caminhasse num sentido de maior responsabilizao na
reduo e preveno de eventos adversos na prestao de cuidados de sade,
nomeadamente atravs da definio de estratgias de gesto do risco clnico (Bruno,
2010).
As taxas de incidncia de eventos adversos em hospitais atingem valores que
variam entre os 3,7 % e os 16,6 % (com consequente impacto clinico, econmico e social),
sendo que desses a maior fatia (40 % a 70 %) so considerados prevenveis ou evitveis.
Em Portugal foi realizado um estudo em 2009 em trs hospitais pblicos da regio
de Lisboa, teve por base a anlise a processos clnicos de uma amostra de 1.669 doentes
internados e os resultados identificam uma realidade, no muito diferente da que foi
descrita em estudos similares, realizados em vrios pases. A taxa de incidncia de
eventos adversos foi de 11,1%, na maioria dos casos, no resultou em dano ou causou
dano mnimo para o doente. Cerca de 53,2% de eventos adversos eram considerados
evitveis, e o envolvimento do doente e/ou dos seus familiares, aquando da ocorrncia
de eventos adversos diminuto (0,8%) (Sousa, et al., 2010).
Paula Bruno desenvolveu um estudo em 2009 sobre Registo de incidentes e
eventos adversos: implicaes jurdicas da implementao em Portugal no sentido de
melhor compreender o fenmeno. O estudo foi realizado em quatro hospitais do Servio
28
Nacional de Sade acreditados ou em processo de acreditao, com uma amostra de 200
indivduos (mdicos e enfermeiros), obtendo-se as seguintes concluses: observou-se que
a frequncia da notificao de incidentes e eventos adversos muito baixa, confirmando
os estudos internacionais, sendo que os enfermeiros notificaram mais do que os mdicos;
em relao ao tipo de incidentes/eventos registados, registam mais os eventos adversos
graves, sendo o esquecimento em virtude da carga de trabalho e o receio de processo
judicial as principais razes para no registarem (Bruno, 2010).
Foi neste contexto que a Agencia Norte Americana Agency for Healthcare
Research and Quality (AHRQ), criou um questionrio para ser aplicado nos hospitais, o
Hospital Survey on Patient Safety Culture (HSOPSC) tendo sido aplicado neste pas pela
primeira vez em 2004 por Sorra e Nieva (Sorra & Nieva, 2004). Este instrumento tem sido
validado em vrios pases um pouco por todo o mundo, onde Portugal se inclui num
estudo efetuado por Margarida Eiras em 2008. O questionrio est traduzido em pelo
menos 23 lnguas e est a ser utilizado em cerca de 41 pases (Direo Geral de Saude,
2013).
Comtemplando as vrias componentes da cultura de segurana do doente este
questionrio considera 12 dimenses, nomeadamente: o trabalho em equipa dentro das
unidades, expectativas do supervisor/gestor e aes que promovam a segurana do
doente, apoio segurana do doente pela gesto, aprendizagem organizacional -
Melhoria Contnua, percees gerais sobre segurana do doente, feedback e
comunicao acerca do erro, abertura na comunicao, frequncia de notificao,
trabalho entre unidades, dotao de profissionais, transferncias e transies
hospitalares, e resposta no punitiva ao erro. Este instrumento foi aplicado em
Portugal num estudo piloto em 7 hospitais em 2011 e os resultados obtidos no so
muito diferentes dos apresentados nos estudos dos estados Unidos da Amrica, em 2004,
em Espanha, em 2008 e Reino Unido em 2010 (Eiras, et al., 2011).
A nvel internacional so inmeros os estudos realizados com a aplicao do
questionrio Hospital Survey on Patient Safety Culture (HSOPSC) em variados contextos,
alguns deles com grandes especificidades. No sentido de sistematizar o estado do
conhecimento sobre a avaliao da cultura de segurana do doente, levou-se a efeito um
http://translate.googleusercontent.com/translate_c?depth=1&hl=pt-PT&prev=/search%3Fq%3Dhttp://www.ahrq.gov/professionals/quality-patient-safety/patientsafetyculture/hospital/resourcelist/hospimpptsaf.html%26hl%3Dpt-PT%26noj%3D1&rurl=translate.google.pt&sl=en&u=http://www.ahrq.gov/professionals/quality-patient-safety/patientsafetyculture/hospital/resourcelist/hospimpptsaf.pdf&usg=ALkJrhgkVHAXeuieeJA7mLIZWpLzC6a30g#13http://translate.googleusercontent.com/translate_c?depth=1&hl=pt-PT&prev=/search%3Fq%3Dhttp://www.ahrq.gov/professionals/quality-patient-safety/patientsafetyculture/hospital/resourcelist/hospimpptsaf.html%26hl%3Dpt-PT%26noj%3D1&rurl=translate.google.pt&sl=en&u=http://www.ahrq.gov/professionals/quality-patient-safety/patientsafetyculture/hospital/resourcelist/hospimpptsaf.pdf&usg=ALkJrhgkVHAXeuieeJA7mLIZWpLzC6a30g#13http://translate.googleusercontent.com/translate_c?depth=1&hl=pt-PT&prev=/search%3Fq%3Dhttp://www.ahrq.gov/professionals/quality-patient-safety/patientsafetyculture/hospital/resourcelist/hospimpptsaf.html%26hl%3Dpt-PT%26noj%3D1&rurl=translate.google.pt&sl=en&u=http://www.ahrq.gov/professionals/quality-patient-safety/patientsafetyculture/hospital/resourcelist/hospimpptsaf.pdf&usg=ALkJrhgkVHAXeuieeJA7mLIZWpLzC6a30g#13http://translate.googleusercontent.com/translate_c?depth=1&hl=pt-PT&prev=/search%3Fq%3Dhttp://www.ahrq.gov/professionals/quality-patient-safety/patientsafetyculture/hospital/resourcelist/hospimpptsaf.html%26hl%3Dpt-PT%26noj%3D1&rurl=translate.google.pt&sl=en&u=http://www.ahrq.gov/professionals/quality-patient-safety/patientsafetyculture/hospital/resourcelist/hospimpptsaf.pdf&usg=ALkJrhgkVHAXeuieeJA7mLIZWpLzC6a30g#15http://translate.googleusercontent.com/translate_c?depth=1&hl=pt-PT&prev=/search%3Fq%3Dhttp://www.ahrq.gov/professionals/quality-patient-safety/patientsafetyculture/hospital/resourcelist/hospimpptsaf.html%26hl%3Dpt-PT%26noj%3D1&rurl=translate.google.pt&sl=en&u=http://www.ahrq.gov/professionals/quality-patient-safety/patientsafetyculture/hospital/resourcelist/hospimpptsaf.pdf&usg=ALkJrhgkVHAXeuieeJA7mLIZWpLzC6a30g#15http://translate.googleusercontent.com/translate_c?depth=1&hl=pt-PT&prev=/search%3Fq%3Dhttp://www.ahrq.gov/professionals/quality-patient-safety/patientsafetyculture/hospital/resourcelist/hospimpptsaf.html%26hl%3Dpt-PT%26noj%3D1&rurl=translate.google.pt&sl=en&u=http://www.ahrq.gov/professionals/quality-patient-safety/patientsafetyculture/hospital/resourcelist/hospimpptsaf.pdf&usg=ALkJrhgkVHAXeuieeJA7mLIZWpLzC6a30g#17http://translate.googleusercontent.com/translate_c?depth=1&hl=pt-PT&prev=/search%3Fq%3Dhttp://www.ahrq.gov/professionals/quality-patient-safety/patientsafetyculture/hospital/resourcelist/hospimpptsaf.html%26hl%3Dpt-PT%26noj%3D1&rurl=translate.google.pt&sl=en&u=http://www.ahrq.gov/professionals/quality-patient-safety/patientsafetyculture/hospital/resourcelist/hospimpptsaf.pdf&usg=ALkJrhgkVHAXeuieeJA7mLIZWpLzC6a30g#19http://translate.googleusercontent.com/translate_c?depth=1&hl=pt-PT&prev=/search%3Fq%3Dhttp://www.ahrq.gov/professionals/quality-patient-safety/patientsafetyculture/hospital/resourcelist/hospimpptsaf.html%26hl%3Dpt-PT%26noj%3D1&rurl=translate.google.pt&sl=en&u=http://www.ahrq.gov/professionals/quality-patient-safety/patientsafetyculture/hospital/resourcelist/hospimpptsaf.pdf&usg=ALkJrhgkVHAXeuieeJA7mLIZWpLzC6a30g#19http://translate.googleusercontent.com/translate_c?depth=1&hl=pt-PT&prev=/search%3Fq%3Dhttp://www.ahrq.gov/professionals/quality-patient-safety/patientsafetyculture/hospital/resourcelist/hospimpptsaf.html%26hl%3Dpt-PT%26noj%3D1&rurl=translate.google.pt&sl=en&u=http://www.ahrq.gov/professionals/quality-patient-safety/patientsafetyculture/hospital/resourcelist/hospimpptsaf.pdf&usg=ALkJrhgkVHAXeuieeJA7mLIZWpLzC6a30g#19http://translate.googleusercontent.com/translate_c?depth=1&hl=pt-PT&prev=/search%3Fq%3Dhttp://www.ahrq.gov/professionals/quality-patient-safety/patientsafetyculture/hospital/resourcelist/hospimpptsaf.html%26hl%3Dpt-PT%26noj%3D1&rurl=translate.google.pt&sl=en&u=http://www.ahrq.gov/professionals/quality-patient-safety/patientsafetyculture/hospital/resourcelist/hospimpptsaf.pdf&usg=ALkJrhgkVHAXeuieeJA7mLIZWpLzC6a30g#20http://translate.googleusercontent.com/translate_c?depth=1&hl=pt-PT&prev=/search%3Fq%3Dhttp://www.ahrq.gov/professionals/quality-patient-safety/patientsafetyculture/hospital/resourcelist/hospimpptsaf.html%26hl%3Dpt-PT%26noj%3D1&rurl=translate.google.pt&sl=en&u=http://www.ahrq.gov/professionals/quality-patient-safety/patientsafetyculture/hospital/resourcelist/hospimpptsaf.pdf&usg=ALkJrhgkVHAXeuieeJA7mLIZWpLzC6a30g#21http://translate.googleusercontent.com/translate_c?depth=1&hl=pt-PT&prev=/search%3Fq%3Dhttp://www.ahrq.gov/professionals/quality-patient-safety/patientsafetyculture/hospital/resourcelist/hospimpptsaf.html%26hl%3Dpt-PT%26noj%3D1&rurl=translate.google.pt&sl=en&u=http://www.ahrq.gov/professionals/quality-patient-safety/patientsafetyculture/hospital/resourcelist/hospimpptsaf.pdf&usg=ALkJrhgkVHAXeuieeJA7mLIZWpLzC6a30g#21http://translate.googleusercontent.com/translate_c?depth=1&hl=pt-PT&prev=/search%3Fq%3Dhttp://www.ahrq.gov/professionals/quality-patient-safety/patientsafetyculture/hospital/resourcelist/hospimpptsaf.html%26hl%3Dpt-PT%26noj%3D1&rurl=translate.google.pt&sl=en&u=http://www.ahrq.gov/professionals/quality-patient-safety/patientsafetyculture/hospital/resourcelist/hospimpptsaf.pdf&usg=ALkJrhgkVHAXeuieeJA7mLIZWpLzC6a30g#21
29
trabalho de aproximao aos princpios metodolgicos de uma reviso e literatura, tendo
por base as recomendaes de Galvo, et al.(2004) e Nobre, et al.(2004). Desta forma
formulou-se uma questo que se constituiria como ncleo de desenvolvimento de toda a
reviso, desde a organizao da estratgia de pesquisa at discusso dos resultados:
Que resultados se obtm sobre a avaliao da cultura de segurana do doente, fazendo
uso do HSOPSC? Assim, partindo da pergunta foram definidos critrios para
incluso/excluso de estudos na reviso.
Quadro 1 Critrios de incluso e excluso dos estudos em reviso
Elementos
Critrios Incluso Critrios Excluso
P (Participantes) Profissionais de sade Estudos onde no foi possvel isolar os sujeitos definidos nos critrios de incluso
I (Intervenes) Qualquer interveno com interferncia na avaliao da cultura de segurana do doente
Intervenes sem interferncia no grau de ajustamento das caratersticas individuais/situacionais implicadas na cultura de segurana
O (Resultados) Caraterizao do nvel percecionado de cultura de segurana do doente
No orientados para alteraes no nvel percecionado
D (Desenho) Sem limitao de paradigma Ausncia de trabalho emprico
Para a identificao e seleo dos estudos relevantes a incluir na reviso, isolaram-
se os conceitos referentes aos participantes, interveno e ao desenho dos estudos
pretendidos, de modo a definir um conjunto de sinnimos e de termos relacionados que
por interseo levaria obteno da expresso de pesquisa estabilizada.
A localizao dos estudos (perodo de 2004 a 2014) foi efetuada em bases de
dados eletrnicas, em catlogos online da Faculdade de Economia da Universidade de
Coimbra, assim como em listagens de teses/dissertaes/monografias de provas pblicas
para concurso, mestrados e doutoramentos.
Os quadros seguintes mostram vrios estudos realizados sobre a cultura de
segurana do doente em vrios hospitais portugueses assim como a realidade desta
varivel em pases da Europa e nos Estados Unidos.
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Quadro 2 - Caraterizao dos estudos em reviso
Estudo Participantes Intervenes
Ttulo Pas Ano Amostr
a N de
hospitais
Taxa de respost
a Objetivos dos estudos
Pilot Study for the Hospital Survey on Patient Safety Culture: A Summary of Reliability and Validity Findings
US 2004 1437 21 29%
- Desenvolver um instrumento confivel de cultura de segurana do doente, que os hospitais pudessem utilizar para avaliar a
cultura de segurana do doente a partir da perspetiva de seus funcionrios e colaboradores.
Hospital Survey on Patient Safety Culture: 2012 User Comparative Database Report
US 2012 567.703
1.128 53
- Permitir que cada hospital possa comparar os resultados dos inquritos a cultura de segurana do doente com os de outros
hospitais. - Fornecer dados para os hospitais para facilitar a avaliao
interna e aprendizagem no processo de melhoria da segurana do doente.
- Fornecer informaes suplementares para ajudar os hospitais identificar seus pontos fortes e as reas com potencial de
melhoria na cultura da segurana do doente - Fornecer dados que descrevem as mudanas na cultura da
segurana do doente ao longo do tempo.
Anlisis de la cultura sobre seguridad del paciente en el mbitohospitalario delSistema Nacional de Salud Espaol
Es 2009 6257 24 40
- Aplicar a ferramenta validada para a medio de atitudes e segurana do doente
- Descrever a frequncia de atitudes positivas e comportamentos relacionados com a segurana do doente nos cuidados de sade
profissionais de nvel hospitalar. - Incentivar o uso do questionrio para a avaliao, monitorizao
e melhoria da cultura de segurana em hospitais do Sistema Nacional de Sade espanhol.
Cultura de seguridad del paciente y factores asociados en una red de hospitales pblicos espaoles
ES 2012 1.113 8 35
- Descrever a frequncia de atitudes positivas e negativas, como profissionais sade desses hospitais, relacionadas com a
segurana do doente; - Analisar os fatores sociolaborais e estruturais que esto
relacionados com a cultura de segurana do doente.
Patient safety culture: an Italian experience
IT 2011 724 1 42
- Validar o questionrio para o contexto Italiano; - Entender qual o nvel de conscincia dos profissionais de sade que trabalham num hospital do norte da Itlia sobre cultura de
segurana do doente
Psychometric properties of the Hospital Survey on Patient Safety Culture: findings from the UK
UK 2010 1.437 3 37 Avaliar as propriedades psicomtricas e adequao da pesquisa sobre cultura de segurana do doente nos hospitais americanos
para uso no Reino Unido.
Avaliao da cultura de segurana do doente numa amostra de Hospitais portugueses
PT 2011 2.449 7 11 Direcionar intervenes de melhoria na cultura de segurana e
monitorizar a evoluo das mesmas.
Segurana do Doente Perspetiva dos Profissionais de um Hospital da Regio Centro
PT 2012 538
1 52
- Conhecer a perceo dos profissionais do Hospital X sobre cultura de segurana do doente;
- Conhecer a perceo dos profissionais sobre o contributo da implementao de normas da qualidade para a segurana;
- Identificar oportunidades de melhoria nas reas de segurana do doente.
Avaliao da cultura de segurana do doente num centro hospitalar da regio centro
PT 2013 310 3 17 - Avaliar a cultura de segurana do doente no Centro Hospitalar e identificar oportunidades de melhoria no mbito de segurana
do doente.
Avaliao da cultura de segurana do doente e propostas de melhoria
PT 2013 269 1 42 - Avaliar a perceo dos profissionais (que interajam direta ou indiretamente com o doente) acerca da cultura de segurana
doente.
31
Quadro 3 - Resultados dos estudos em reviso sobre avaliao da cultura de segurana do
doente
Dimenses HSOPSC
Resultados (% mdias positivas)
Eiras et al PT
2011
Peralta PT
2012
Sousa PT
2013
Pimenta
PT 2013
Sorra et al. US
2004
Sorra et al. US
2012
Saturno et al ES
2009
Gama et al.
ES 2012
Bagnasco, et al
IT 2011
Waterson
Et al UK 2010
Frequncia de notificao
44 28 28 51 52 64 47 45 59 71
Percees gerais sobre a segurana do doente
59 51 44 73 56 67 48 49 64 59
Trabalho em equipa dentro das unidades
73 73 68 76 74 80 72 74 60 75
Expectativas e aes do gestor na promoo da segurana do doente
62 64 58 72 71 75 62 63 69 68
Aprendizagem organizacional melhoria continua
68 71 55 78 71 73 54 54 74 66
Feedback e comunicao sobre o erro
54 62 47 69 52 65 44 43 60 56
Abertura na comunicao
52 58 44 63 61 62 48 49 62 60
Dotao de profissionais
47 39 35 45 50 57 28 28 30 34
Resposta ao erro no punitiva
41 23 21 33 43 45 53 53 35 31
Apoio segurana do doente pela gesto
48 51 24 67 60 73 25 29 28 45
Trabalho em equipa entre unidades
51 47 35 61 53 59 42 41 30 41
Transferncias e transies hospitalares
59 54 35 59 45 46 54 51 37 43
http://translate.googleusercontent.com/translate_c?depth=1&hl=pt-PT&prev=/search%3Fq%3Dhttp://www.ahrq.gov/professionals/quality-patient-safety/patientsafetyculture/hospital/resourcelist/hospimpptsaf.html%26hl%3Dpt-PT%26noj%3D1&rurl=translate.google.pt&sl=en&u=http://www.ahrq.gov/professionals/quality-patient-safety/patientsafetyculture/hospital/resourcelist/hospimpptsaf.pdf&usg=ALkJrhgkVHAXeuieeJA7mLIZWpLzC6a30g#20http://translate.googleusercontent.com/translate_c?depth=1&hl=pt-PT&prev=/search%3Fq%3Dhttp://www.ahrq.gov/professionals/quality-patient-safety/patientsafetyculture/hospital/resourcelist/hospimpptsaf.html%26hl%3Dpt-PT%26noj%3D1&rurl=translate.google.pt&sl=en&u=http://www.ahrq.gov/professionals/quality-patient-safety/patientsafetyculture/hospital/resourcelist/hospimpptsaf.pdf&usg=ALkJrhgkVHAXeuieeJA7mLIZWpLzC6a30g#20
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33
PPAARRTTEE IIII
11 -- JJUUSSTTIIFFIICCAAOO DDOO EESSTTUUDDOO
Cada vez mais as organizaes de sade valorizam a importncia de transformar a
cultura organizacional, com a finalidade de melhorar a segurana do doente, assim,
promover uma cultura de segurana tornou-se um dos pilares fundamentais para a
segurana do doente (Nieva & Sorra, 2003).
Avaliar a cultura de segurana do doente numa organizao o primeiro passo
para o desenvolvimento e estabelecimento de uma cultura de segurana do doente.
As organizaes de sade podem realizar avaliaes de cultura de segurana para uma
variedade de razes. A avaliao da cultura de segurana pode ser utilizada para: (1)
diagnosticar a cultura de segurana do doente para identificar as reas de melhoria e
aumentar a conscientizao sobre a segurana do doente, (2) avaliar as intervenes e
programas de segurana do doente e controlar a mudana ao longo do tempo, (3) realizar
benchmarking interno e externo, e (4) cumprir as diretivas ou requisitos regulamentares
(Nieva & Sorra, 2003).
Justifica-se ainda a necessidade do presente estudo, pela vital existncia de
indicadores de sade, para que possam ser ferramentas propulsoras nas instituies
tornando-as mais competitivas, criativas e flexveis, falamos assim de uma importante
ferramenta para a tomada de deciso. Dado que na organizao no tinha sido realizado
nenhum estudo nesta rea considerou-se muito pertinente a realizao deste estudo no
sentido de obter a avaliao diagnstica e assim abrir caminho para a monitorizao da
cultura de segurana do doente na organizao.
34
35
22 -- DDAA CCOONNCCEEPPTTUUAALLIIZZAAOO TTEERRIICCAA AAOO OOBBJJEETTOO DDEE EESSTTUUDDOO
22..11 -- QQUUEESSTTOO DDEE IINNVVEESSTTIIGGAAOO EE OOBBJJEETTIIVVOOSS
A investigao uma atividade de natureza cognitiva que consiste num processo
sistemtico, flexvel e objetivo de indagao e que contribui para explicar e compreender
os fenmenos sociais. atravs da investigao que se reflete e problematizam os
problemas nascidos na prtica, que se suscita o debate e se edificam ideias inovadoras.
Quando se fala em investigao em cincias sociais e humanas h dois requisitos que se
impem: que seja cientfica, pautada pela sistematizao e rigor, e que seja adequada ao
objeto em estudo (Coutinho, 2011). Este mtodo de aquisio de conhecimentos tem
como objetivo, validar conhecimentos j estabelecidos e de produzir outros novos que
vo, de forma direta ou indireta, influenciar a prtica (Fortin, 2009).
Desta forma formulou- se a seguinte questo de investigao que esteve na base
da pesquisa: A perceo dos profissionais sobre cultura de segurana do doente varia em
funo de variveis socio profissionais (grupo profissional, tempo na organizao, ter ou
no contacto direto com os doentes) e de variveis organizacionais (trabalhar num
servio cer