Curso Cosmovisão 2012 Apostila

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    Cosmovisão Reformada

    Pensando e interpretando arealidade à luz de princípios

    teorreferentes

    Prof. Fabiano de Almeida Oliveira

    Objetivo do Curso

     –  O curso visa proporcionar um tratamento sistemático doprocesso formativo daquilo que se convencionouchamar de “cosmovisão”, seus elementos constitutivos eseu compartilhamento a partir de um fulcro reflexivobiblicamente orientado.

     – 

     Além, é claro, de apresentar os princípios norteadoresde uma cosmovisão genuinamente cristã em oposiçãoàs concepções de mundo particulares de nossa época.

     –   O curso tem um perfil declaradamente crítico-confessional.

     –  Isso quer dizer que desde o início da análise eproblematização do tema proposto, pressupõe-se umponto de partida que transcenda o domínio dosparadigmas filosóficos e científicos vigentes que tendema reduzir a interpretação dos elementos fundamentaisda questão a meros fatores sócio-culturais.

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    A DIVISÃO PROGRAMÁTICA DO CURSO 

    • Primeira Parte: Definição e História doConceito.  – A primeira parte do curso visa apresentar um

    levantamento histórico e etimológico doconceito dentro do contexto teórico onde seoriginou e se desenvolveu.

     – Nesta etapa do curso serão analisadasalgumas definições cristãs contemporâneasno seu intercruzamento com alguns dosprincipais conceitos teóricos encontrados nafilosofia contemporânea, que expressamsentido similar.

    A DIVISÃO PROGRAMÁTICA DO CURSO 

    • Segunda Parte: O Processo deFormação e Compartilhamento devisões de mundo. 

     – Nesta parte do curso se delineará um modeloteórico que procure explicar comocosmovisões se formam, se desenvolvem, setransformam e são compartilhadas.

     – Nesta etapa estudaremos os elementos queconstituem uma cosmovisão e a relação entreuma percepção de mundo privada e individualcom o “espírito de uma época”.

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    A DIVISÃO PROGRAMÁTICA DO CURSO 

     – Terceira Parte: As Etapas Constitutivasda Cosmovisão Cristã e seusPrincípios norteadores. –  Além de apresentarmos as etapas

    constitutivas da cosmovisão cristãapresentaremos também o tema escriturísticoCriação-Queda-Redenção como o esquema

    básico a partir do qual se desenvolvem ospressupostos pré-discursivos e discursivosque refletirão esta visão de mundo.

    A DIVISÃO PROGRAMÁTICA DO CURSO 

    • Quarta Parte: CosmovisõesComparadas.  – Apresentação panorâmica das concepções

    de mundo moderna e pós ou hiper-modernacom interesse especial nos traços regionaispróprios da cosmovisão pós ou hiper-moderna tipicamente brasileira.

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    A DIVISÃO PROGRAMÁTICA DO CURSO 

     – Conclusão: Refletindo Criticamentesobre a realidade à luz da Palavra. –  A conclusão do curso será constituída de um

    esforço germinal de apresentar caminhos emodelos que possibilitem a análise críticateorreferente da cultura, de cosmovisões esistemas teóricos de pensamento, sempre à

    luz dos pressupostos revelados da Palavra.

    Weltanschauung

    DEFINIÇÃO B ÁSICA PRELIMINAR 

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    Definindo Cosmovisão 

    • Cosmovisão é uma das traduções possíveispara Weltanschauung que é um substantivofeminino composto de duas palavras alemãs: Welt  – mundo, e  Anschauung  –  concepção, percepção,intuição. Weltanschauungen é sua forma plural.

    •  As demais traduções do conceito são biocosmovisão,concepção de mundo, mundividência, visão de mundo epercepção de mundo, dentre outras possíveis em

    português, e as já bem conhecidas worldview   e life-worldview , em inglês.

    Definição Básica Preliminar  

     – Para os propósitos deste curso, Cosmovisãoserá um conceito que indicará, sobretudo, umconhecimento pré-discursivo, tácito eabrangente da realidade, baseado em um

    conjunto de pressupostos que envolvemdesde as nossas motivações e impulsosafetivos e fiduciários (confiança) maisprofundos até nossas crenças, certezas,valores e idéias, e que são responsáveis emmoldar e direcionar a nossa existência nomundo.

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    Discursividade

    Rigorosa

     Autoconsciência eelaboração

    sistemática dascrenças, valores e

    certezas na forma deconceitos, ideias eteorias elaborados.

    Cognitividadeabstrata e

    especulativa própriada atividadecientífica e filosófica

    DiscursividadeBásica

     Autoconsciênciabásica das crenças,valores, certezas e

    ideias básicas

    Cognitividadeprática, imediata eintegral própria danossa experiência

    diária

    Pré-discursividade

    Dimensão Tácita

    Crenças, valores,

    certezas e ideiastácitos

    Cognitividade sub ou

    pré-consciente

    Impulsos emotivações origináriosde natureza afetiva e

    fiduciária

    Extra-cognitividadeinconsciente

    Weltanschauung

     A História do Conceito e oDesenvolvimento da Idéia

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    Origem do Conceito: Kant, os Idealistas e RomânticosAlemães

     Ao que tudo indica, o primeiro uso se deu comImmanuel Kant, na Crítica do Juízo, como acapacidade humana de perceber a realidadesensível;

    No início, o termo “weltanschauung”  era muitoassociado com grandes sistemas metafísicos ouconstruções teóricas da cultura (metanarrativasfilosóficas, científicas e religiosas) como porexemplo se observa na obra de Idealistas eRomânticos alemães como Schelling, Hegel,Goethe, etc.: Weltanschauung era igualada àfilosofia da cultura ou do espírito absoluto;

    Desenvolvimento da Idéia de Weltanschauung:  Wilhelm Dilthey e Karl Mannheim

    • Mais tarde Wilhelm Dilthey (1833-1911) chegou à conclusãoque uma weltanschauung  era um fenômeno que não somenteprecedia o domínio da reflexão teórica como o condicionava;

    • Weltanschauung   é um fenômeno pré-teórico ou pré-discursivo, um a priori   necessário a consecução de todoprojeto cultural inclusive de todo tipo de atividade teórica;

    • Seguindo Dilthey, Karl Mannheim, um dos pais da sociologiado conhecimento, dirá: “a  filosofia teórica não é nem acriadora e nem o principal veículo da Weltanschauung deuma época; na realidade, ela é meramente só um dos canaisatravés dos quais um fator global manifesta-se. Mais do queisso – esta totalidade que nós chamamos de Weltanschauungdeve ser entendida neste sentido como algo a-teórico, e aomesmo tempo ser a fundação de todas as objetivaçõesculturais, tais como a religião, costumes, arte, filosofia…”.(Ensaios de sociologia do conhecimento, Mannheim. p. 38)

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    Desenvolvimento da Idéia de Weltanschauung:Wilhelm Dilthey e Karl Mannheim (cont.)

    • Para Dilthey e Mannheim toda forma de pensamentoteórico, manifestações artísticas, religiosas e etc. erammanifestações da Weltanschauung de uma determinadaépoca (Ensaios de sociologia do conhecimento,Mannheim. p. 38);

    • Para Dilthey e depois Mannheim as cosmovisões são oestofo ou substância primária do pensamento;

    • Será justamente esta concepção apriorística deWeltanschauung como fenômeno sócio-culturalestruturador e condicionador de todos osempreendimentos culturais humanos que os pensadorescalvinistas, pioneiros no tratamento desta questão,James Orr e Abraham Kuyper, se apropriarão na suaanálise biblicamente crítica da realidade.

    A apropriação da Idéia de Weltanschauung por parte depensadores cristãos-reformados nos séculos XIX e XX

    • James Orr (1844-1913):• Teólogo e apologeta presbiteriano

    escocês• Seu primeiro tratamento formal

    sobre o cristianismo como uma

    cosmovisão se deu entre os anos1890 e 1891 nas Kerr Lectures  noUnited Presbyterian College  emEdimburgo que posteriormenteforam publicadas com o título TheChristian View of God and World ;

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    James Orr

    • Orr viveu num dos períodos mais conturbados da modernidade, umperíodo em que os efeitos devastadores da secularizaçãoprovocada pelos princípios emancipatórios do Iluminismo estavamdominando a Europa;

    • Orr desenvolveu a sua teoria seminal de cosmovisão cristã sobrebases estritamente teológicas a partir do significado do termoalemão weltanschauung muito em voga nos círculos acadêmicos doseu tempo;

    • Para Orr a palavra weltanschauung “tem  o valor de um termotécnico que denota a visão mais ampla que a mente pode formardas coisas no esforço por compreendê-las juntas como um todo, a

    partir do ponto de vista de alguma filosofia ou teologia particular.Portanto, ao falar de uma idéia cristã do mundo, se está dizendoque o cristianismo tem seu próprio ponto de vista e sua idéia da vidarelacionada com ele, e que esta idéia, quando é desenvolvida,constitui um conjunto ordenado” (Orr p. 7);

    A apropriação da Idéia de Weltanschauung por parte depensadores cristãos-reformados nos séculos XIX e XX (cont.)

    •  Abraham Kuyper (1837 – 1920)• Criador e mentor do movimento

    neocalvinista holandês;• Teólogo e Pastor Reformado

    Holandês;• Estava convicto que um cristianismo

    revitalizado exigia não somente uma igrejarenovada, mas também uma presença cristãrenovada em todas as áreas da vida. Porisso: – Engajou-se no movimento anti-

    revolucionário na Holanda; – Serviu ao parlamento de 1874 a 1875; – Fundou o partido anti-revolucionário em

    1878; – Fundou a Universidade Livre de

     Amsterdã em 1880; – Encabeçou o Doleantie em 1886; – Se tornou Primeiro Ministro da Holanda

    em 1901.

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    Abraham kuyper

    • Calvinismo transcende as esferas teológica e eclesiástica, ele é um sistema de vida; – O calvinismo é uma força cultural, uma cosmovisão, um sistema de vida, e por isso não pode

    estar restrito às esferas eclesiástica e teológica;•  A expressão completa do Calvinismo como uma weltanschauung pode ser encontrada

    em suas Stone Lectures on Calvinism de 1898 na Universidade de Princeton;• Provavelmente a leitura de The Christian View of God and World  de James Orr o tenha

    feito perceber a importância estratégica do termo weltanschauung;• Reproduzindo o ensino reformado, ele afirmava que tudo tem caráter religioso  –  a

    criação existe coram Deo. Isso quer dizer que todas as coisas existem por, em e paraDeus;

    • O homem é fundamentalmente religioso e o centro religioso da sua existência é ocoração;

    •  A antítese religiosa é absoluta e fundamental (não se limita à esfera da fé);•  A soberania absoluta de Deus é expressa na criação através de suas leis criacionais;•  A fé tem caráter funcional, e por isso está presente em todos os seres humanos, o que

    muda é a sua direção religiosa;• Esferas de Soberania das instituições sociais;• Forte ênfase na doutrina do Mandato Cultural;• Forte ênfase no tema central da Escritura como aquele que deve refletir a

    weltanschauung cristã – Criação, Queda e Redenção;•  A Palavra de Deus não é antitética à realidade criada, pelo contrário ela é o poder

    restaurador de Deus para esta mesma realidade.

    A apropriação da Idéia de Weltanschauung por parte depensadores cristãos-reformados nos séculos XIX e XX (cont.)

    Herman Dooyeweerd (1894-1977) Filósofo calvinista e teórico legal,

    professor emérito da UniversidadeLivre de Amsterdam;

    Pai da Filosofia da Idéia Cosmonômica;

    Bernard Zylstra resume bem a

    contribuição de Dooyeweerd quandodiz: “O significado de Dooyeweerd repousa

    em sua contribuição aodesenvolvimento de uma filosofia cristãque fosse biblicamente dirigida eorientada não somente para suprir asnecessidades e exigências dasciências especiais, mas também àsquestões culturais urgentes do século

    vinte.” (ZYLSTRA, Introduction, p.15)

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    Herman Dooyeweerd

    •  A teoria de weltanschauungen  de Dooyeweerd se encontra no primeirovolume de sua A New Critique of Theoretical Thought, cap. 2, p. 114-165,e em recentes anos tem servido como base de estudos sobre estaquestão a muitos pensadores cristãos: – Sistemas filosóficos e cosmovisões são de naturezas e tarefas distintas; – Cosmovisões são percepções pré-teóricas da totalidade de significado da

    realidade; – O substrato fundacional e condicionador tanto de uma cosmovisão como de

    qualquer empreendimento teórico são os impulsos religiosos centraiscompartilhados por uma determinada comunidade social, aquilo queDooyeweerd chamava de “motivos básicos religiosos”;

     – Estes impulsos religiosos impelidores últimos do desenvolvimento histórico-cultural têm a sua origem no coração dos indivíduos e dali determinam adireção integral da vida humana e, consequentemente, da sociedade, istoinclui a cosmovisão;

     – Segundo Dooyeweerd só existem dois tipos de motivos básicos religiosos: orevelacional criação-queda-redenção e o motivo básico da apostasia que, nodecurso da história, tem assumido vários contornos.

    Weltanschauung

     Algumas Definições de AutoresCristãos

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    • Uma cosmovisão é um conjunto de pressuposições (hipóteses que podem serverdadeiras, parcialmente verdadeiras ouinteiramente falsas) que sustentamos(consciente ou inconscientemente,consistente ou inconsistentemente) sobrea formação básica do nosso mundo.

    James Sire - O Universo ao Lado

    • Uma cosmovisão é um compromisso, umaorientação fundamental do coração, que pode serexpresso como uma narrativa ou como umconjunto de pressuposições (suposições que

     podem ser verdadeiras, parcialmente verdadeirasou inteiramente falsas) que nós sustentamos(consciente ou subconscientemente, consistenteou inconsistentemente) sobre a constituiçãobásica da realidade, e que provê o fundamentosobre o qual nós vivemos, nos movemos eexistimos.

    James Sire – Naming th e elephant

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    • Em termos bem simples, uma cosmovisãoé um conjunto de crenças sobre as maisimportantes questões da vida…  é umesquema conceitual pelo qual nósconscientemente ou inconscientementedispomos ou amoldamos todas as coisas

    que nós cremos e pelo qual nósinterpretamos e julgamos a realidade.

    Ronald Nash - Worldv iews in Conf l ic t

    • Para os nossos propósitos, cosmovisão será definidacomo a estrutura compreensiva de crenças básicas deuma pessoa sobre as coisas;

    • Cosmovisão é uma questão de experiência diária dahumanidade, um componente inescapável de todo osaber humano e, como tal, é não-científica, ou melhor(visto que o saber científico é sempre dependente dosaber intuitivo de nossa experiência diária) pré-científica

     por natureza. Ela pertence a uma ordem de cogniçãomais básica do que a ciência e a teoria. Assim como aestética pressupõe algum sentido inato de beleza e ateoria legal, uma noção fundamental de justiça, ateologia ea filosofia pressupõem uma perspectiva pré-teórica de mundo. Elas fornecem uma elaboraçãocientífica da cosmovisão.

    Albert Wolters – Cr iação Res tau rada

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    • Uma cosmovisão (ou visão de vida) é uma estrutura ouconjunto de crenças fundamentais através dos quais nósvemos o mundo e nossa vocação e futuro nele. Estavisão não necessita ser totalmente articulada: ela podeser tão internalizada que pode permanecerconsideravelmente inquestionada; ela pode não serexplicitamente desenvolvida numa concepçãosistemática de vida; ela pode não ser teoricamenteaprofundada em uma filosofia; ela pode não ser mesmocodificada em uma forma credal; ela pode sergrandemente refinada através de desenvolvimentohistórico-cultural. Contudo, esta visão é um canal paraas crenças últimas que dão direção e significado à vida.Ela é a estrutura de integração e interpretação pela quala ordem e a desordem são julgadas; ela é o padrão peloqual a realidade é conduzida e atingida; ela é o conjuntode articulações por meio do qual todos os nossos

     pensamentos e ações de todos os dias transformam-se(p. 29).

    James Olthuis - On Worldviews, in: Stained Glass: Worldviewsand Social Sciences

    • Cosmovisão é um sistema semiótico de sinais narrativosque têm uma influência significante sobre as atividadeshumanas fundamentais de argumentação, interpretaçãoe conhecimento (p. 253);

    • Uma cosmovisão, então, é um sistema semiótico desinais narrativos que cria o universo simbólico definitivoque é responsável principalmente em dar forma a umavariedade de determinantes da vida e praticas humanas.Ela cria os canais nos quais as fontes de águas darazão fluem. Ela estabelece o horizonte de um ponto devista através do qual textos de todos os tipos sãoentendidos. Ela é o meio mental através do qual omundo é conhecido. O coração humano é seu lar, e ela

     provê um lar para o coração humano. (p.330).

    David Naugle – Worldv iew: The History of a Concept

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    Weltanschauung

    Conceitos e idéias similares no

    pensamento não cristãocontemporâneo

    Thomas Kuhn - Paradigmas

    • O paradigma   é um conjunto de crenças, devalores reconhecidos e de técnicas comuns aosmembros de uma determinada comunidadecientífica;

    • Paradigmas são realizações científicas queservem de modelo para toda a pesquisa,determinando que tipos de leis e teorias sãoválidos, que tipos de dados são pertinentes, que

     problemas serão investigados, que tipos desoluções serão propostos e até mesmo como osfenômenos científicos devem ser percebidos.(KUHN, A Estrutura das Revoluções Científicas, p.146).

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    Michel Foucault - Episteme

    • Segundo Chauí podemos entender episteme  como uma estrutura deconhecimentos determinada por uma rede de conceitos que são osinstrumentos com os quais, numa dada época, os pensadores investigam einterpretam a realidade. Uma episteme   é um conjunto de enunciados ou dediscursos baseados num certo instrumento conceitual que organiza alinguagem e o pensamento e lhes dá o sentimento de que as palavrascorrespondem às coisas. Ela exprime o saber de uma época. (CHAUÍ,Marilena. Con vi te à fil os of ia);

    • Seu principal tratamento sobre o conceito de Episteme se encontra em suaobra As Palavras e as Coisas ;

    • Para Foucault num dado momento histórico só pode haver uma episteme quedefinirá as condições de possibilidade de todos os saberes desta mesmaépoca; 

    • O conceito de espisteme não coincide completamente com o conceito deweltanschauung, o abarcameto da totalidade cultural de uma época, como opróprio Foucault assumia, mas se prestava apenas a compreensão de um deseus aspectos que seria o estudo das “regras de formação discursiva”.

    • Ou seja, a partir da análise da estrutura discursiva destes períodos, se buscavaencontrar o princípio unificador e delimitador do conhecimento de cada umadestas épocas.

    Donald Davidson - Esquemas conceituais

    • No texto escrito por Donald Davidson vemos uma definição deEsquemas Conceituais oriunda de filósofos contemporâneos queadvogavam o princípio de relatividade conceitual que elecriticará. Segundo ele, estes filósofos definiriam EsquemasConceituais como:

    • “Modos  de organizar a experiência; ... sistemas de categoriasque dão forma aos dados dos sentidos; são pontos de vista a partir dos quais indivíduos, culturas ou períodos examinam acena dos acontecimentos. Pode não ser possível a tradução deum esquema para outro e, nesses casos, as crenças, desejos,esperanças e partes de conhecimento que caracterizam uma

     pessoa não têm uma contrapartida verdadeira para o partidáriode outro esquema. A própria realidade é relativa a um esquema:o que é tomado como real num sistema pode não ser em outro.” (Sobre a própria idéia de um esquema conceitual , p. 1);

    • Uma weltanschauung consistiria das inumeráveis relações deesquemas conceituais traduzíveis e compartilhados pordeterminado grupo social.

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    Origem, Desenvolvimento e DefiniçãoPreliminar do Conceito Weltanschauung

    BIBLIOGRAFIA B ÁSICA 

    Bibliografia

    • CLARK, Gordon Haddon. A christian view of men and things: an introduction tophilosophy. 2nd ed. Jefferson: Trinity Foundation, 1991.

    • DAVIDSON, Donald. Sobre a própria ideia de um esquema conceitual.http://ghiraldelli.pro.br/wp-content/uploads/2011/02/Davidson-Sobre-a-Pr%C3%B3pria-Id%C3%A9ia-de-Esquema-Conceitual-tradu%C3%A7%C3%A3o-Celso-Braida.pdf

    • DILTHEY, Wilhelm. A construção do mundo histórico nas ciências humanas. SãoPaulo: Ed. UNESP, 2010.

    • DILTHEY, Wilhelm. Teoria das concepções do mundo: a consciência histórica e asconcepções do mundo: tipos de concepção do mundo e a sua formaçãometafísica. Lisboa: Edições 70, 1992.

    • DOOYEWEERD, Herman. A new critique of theoretical thought. 4v. Ontario: PaideiaPress, 1984.

    • DOOYEWEERD, Herman. No crepúsculo do pensamento. São Paulo: Hagnos,2010.

    • FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciênciashumanas. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

    • HENRY, Carl F. H. God, revelation and authority. 6 v. Waco: Word, 1976.

    • HOLMES, Arthur F. Contours of a world view: studies in a christian world view.Grand Rapids: Eerdmans, 1983.

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    Bibliografia

    • KUHN, Thomas S. A estrutura das revoluções científicas. 9. ed. São Paulo:Perspectiva, 2009.

    • KUYPER, Abraham. Calvinismo. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2002.• MADUREIRA, Jonas. A construção da cosmovisão cristã.

    http://dlgrubba.blogspot.com.br/2008/10/construo-da-cosmoviso-crist-jonas.html

    • MANNHEIM, Karl. Essays on the sociology of knowledge. London: Routledge &Kegan Paul LTD, 1952.

    • MANNHEIM, Karl. Sociologia da cultura. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 2008.

    • MARSHALL, Paul A.; GRIFFIOEN, Sander; MOUW, Richard (Ed.). Stained glass:worldviews and social science. Lanham, Maryland: University Press of America,1989.

    • NAUGLE, David K. Worldview: The history of a concept. Grand Rapids: W. B.Eerdmans, 2002.

    • OLIVEIRA, Fabiano de Almeida. Reflexões críticas sobre weltanschauung: umaanálise do processo de formação e compartilhamento de cosmovisões numaperspectiva teo-referente. São Paulo: Fides Reformata, Vol. XIII, n. 1, 2008. 17 p.

    • ORR, James. The christian view of god and the world. 3. ed. Grand Rapids: Kregelpublications, 1989.

    Bibliografia

    • SOUZA, Rodolfo Amorim Carlos de. Cosmovisão: evolução do conceito e aplicaçãocristã. In: LEITE, Cláudio A. C.; CARVALHO, Guilherme V. Ribeiro de; CUNHA,Maurício J. S. (Orgs.). Cosmovisão cristã e transformação: Espiritualidade, Razão eOrdem Social. Viçosa: Ultimato, 2006.

    • SIRE, James W. Dando nome ao elefante: cosmovisão como um conceito. Brasília:Editora Monergismo, 2012.

    • VAN TIL, Cornelius. Apologética cristã: Organizado por Willian Edgar comapresentação e notas. São Paulo: Cultura Cristã, 2011.

    • WALSH, Brian J.; MIDDLETON, J. Richard. A visão transformadora: Moldando umacosmovisão cristã. São Paulo: Cultura Cristã, 2010.

    • WOLTERS, Albert M. A criação restaurada: base bíblica para uma cosmovisãoreformada. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2006.

    • WOLTERS, Albert M. The Intellectual Milieu of Herman Dooyeweerd. In: MCINTIRE,C.T. (ed.). The Legacy of Herman Dooyeweerd: Reflections on Critical Philosophy inthe Christian Tradition. Lanham, Maryland: University Press of America, 1985.

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    Weltanschauung

    DEFININDO  A IDÉIA DE MANEIRA 

    MAIS COMPLETA 

    • Weltanschauung é a orientação fundamental do coração,que se manifesta na integralidade da experiência humanaatravés da apreensão pré-discursiva, tácita e abrangenteda realidade, configurando um campo hermenêutico designificado por meio do qual a vida-no-mundo é

    interpretada imediata e intuitivamente, podendo serarticulada discursivamente através de conceitos e sistemasteóricos de pensamento.

    • Weltanschauung é o estofo de toda manifestação cultural e pode ser expressa esquematicamente como consistindo decamadas ou matrizes sobrepostas de pressupostos(motivações, crenças, compromissos, valores, certezas eidéias) por meio dos quais se experiencia e se interpreta arealidade desde o nível subjetivo-privado ao nível objetivo-

    institucional compartilhado pela sociedade.

    Definição pessoal mais completa

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    As camadas de pressupostos, vivências epercepções de uma Weltanschauung pessoal 

     – Uma Weltanschauung  é formada por camadas depressuposições, vivências e percepções que sesobrepõem (como lentes sobrepostas), formandoa matriz hermenêutica geral por meio da qualvemos e interpretamos a realidade.

     – Todas estas camadas ou matrizes hermenêutico-existenciais, que constituem a Weltanschauung  

    pessoal, formarão as “lentes”  com as quais oindivíduo, durante toda a sua vida, interpretará arealidade.

    Impulsos e Motivações 

    Crenças

    Cosmovisão como lentes sobrepostas (conjunto depressupostos: motivações e impulsos afetivos e fiduciários,

    crenças, certezas, valores e idéias sobrepostas)

    Certezas

    Valores

    Ideias

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     As Camadas ou Matrizes Hermenêutico-Existenciais que Constituem uma

    Cosmovisão Pessoal

     A Dimensão Religiosa Central e aDimensão Psíquico-Social

     As Camadas ou Matrizes Hermenêutico-Existenciais que Constituem uma

    Cosmovisão Pessoal: Parte 1

    Cosmovisão, Percepção ePerspectiva

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    Perspectiva de uma Matriz de InterpretaçãoPictórica

    Forma como percebemos um Sapo

    Perspectiva de uma Matriz de InterpretaçãoPictórica

    Forma como percebemos a face de um

    Cavalo

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    Perspectiva de uma Matriz de Interpretação Gráfica 

    • De aorcdo com uma ivengatsição efuaectda poruma unvidaerdsie inlesga, não isnrteesa emque oedrm as lretas eãtso nmua pvralaa, aúinca cosia ianpmortte é que a prmireia e aumtlia lerta de cdaa paarlva se eoncntrem napçoãsio cocrrtea. A oerdm das lerats pdoe seraldteara sndeo posvesíl a letirua sem

    premoblas. Itso dvee-se a não lrmeos cdaalrtea de uma paavlra, mas sim a plavara cmooum tdoo.

    Cosmovisão e Perspectiva • Da mesma maneira como acontece com a forma dos

    sons, palavras e imagens com a qual estamoshabituados, assim também ocorre com a nossacosmovisão; –  As percepções, vivências e os pressupostos que formam

    nossa cosmovisão, também funcionam como uma matriz deinterpretação, nos habituando a ver a realidade sob suaperspectiva;

     – O que quero dizer é que desde o nosso nascimento temosacumulado crenças, certezas, valores e idéias que temmoldado a nossa maneira de ver e agir no mundo.

    • Vejamos as principais matrizes ou camadas deinterpretação que formam a nossa cosmovisãopessoal:

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    A figura do Iceberg nos fornece algumas boas sugestões arespeito das matrizes ou camadas de interpretação que

    formam a nossa cosmovisão pessoal

    D

    I

    M

    E

    N

    S

    Ã

    O

    T

    Á

    C

    I

    T

    A

    “Do coração procedem as fontes

    da vida” Pv 4.23

    Coração

    Dimensão Psíquico-

    Social-Percepções internalizadas aolongo da vida:

    • Pressupostos tácitos(crenças, valores, certezas,

    sentimentos, etc).

    Manifestação socialde nossa Cosmovisão

    Palavras, atitudes e cultura(profissão de fé, moralidade,ciência, artes, política, etc.)

    Dimensão ReligiosaCentral ou Espiritual• Senso de Rebelião (amor

    último ao eu) oude Amor a Deus na forma de

    impulsos e motivaçõesoriginários.

    A figura do Iceberg nos fornece algumas boas sugestões arespeito das matrizes ou camadas de interpretação que

    formam a nossa cosmovisão pessoal

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    C V I

    C V I C V

    C V I C V

    C V I C V

    C V I C V I C V I C

    C V I C V I C V I V C V I V C V I C V I

    Dimensão ReligiosaCentral ou Espiritual

    • Senso de Rebelião (amorúltimo ao eu) ou

    de Amor a Deus na forma deimpulsos ou motivações

    originários.

    Dimensão Psíquico-Social

    Crenças, valores e

    ideias internalizadosao longo da vida.Cosmovisão

    Regional (visão demundo tipicamente

    pré-moderna).Cosmovisão Global

    (visão de mundopós ou hiper-

    moderna). 

    Do c or ação p ro ced em as font es

    da vida” Pv 4.23

    Coração

    As Camadas ou Matrizes Básicas formadoras de umaCosmovisão Pessoal 

    • Conforme vimos no exemplo do Iceberg, umacosmovisão pessoal é constituída, basicamente, da:

     – Dimensão religiosa fundamental (Coração):• Esta é a matriz inata fundamental da existência humana que

    independe de experiência e intercurso social para se formar,

    as disposições religiosas do coração;• Todos são concebidos em pecado e, por isso, tendem a ser,desde o nascimento, rebeldes em relação a Deus e suaPalavra, e a verem o mundo desta forma.

     – Dimensão Psíquico-social:• Esta é a matriz adquirida ao longo do tempo, resultante das

    primeiras experiências e dos relacionamentos sociaisvariados;

    • Esta matriz é composta das percepções e pressupostos

    que adquirimos ao longo de nossa experiência no mundo. 

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    COR = EU

    DimensãoReligiosa Centralou Espiritual da

    Vida Humana- Afeto último, confiança

    última e vontadereligiosamente

    determinados

    Manifestaçãosocial de nossa

    CosmovisãoPessoal

    - Relacionamentos,Cultura e História

    Matriz Psíquico-social- Esta matriz é composta das

    percepções e pressupostos queadquirimos ao longo de nossa

    experiência no mundo (matrizesglobal e regional).

    .

    Matrizes ou camadas de interpretação que formam a nossacosmovisão pessoal

    COR = EU

    Dimensão ReligiosaCentral ou Espiritual

    da Vida Humana- Afeto último, confiançaúltima e vontade

    religiosamente determinados

    Manifestaçãosocial de nossa

    CosmovisãoPessoal

    - Relacionamentos,

    Cultura e História

    Do coraçãofundamentalmente

    religioso das pessoasprocedem os impulsose motivações últimosque irão determinar a

    totalidade da vida e dodesenvolvimentohistórico-cultural

    “Do coração procedem as fontes da vida”Pv 4.23

    Matriz Global-Percepções compartilhadasnum espectro macrocultural

    (Zeitgeist)

    Matriz Intermediária-Percepções compartilhadas

    num espectro social maisregional

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     A Dinâmica Religiosa Antes da Queda

    Dimensão Social

    u

     Amor Último DEUS

    CONFI

     ANÇ A

    PALAVRA

    Cognições Sentimentos

    Sensações

    VON

    T ADE

    FéSHALOM

    HARMONIA INTERNAE EXTERNA

    ABSOLUTIZAÇÃOTEO-REFERENTE

     Amar a Deus detodo o coração econfiar de formaúltima em sua

    Palavra

     A Dinâmica Religiosa Após a Queda

    Dimensão Social

    u

    CONFI

     AN

    Ç A

    Coisas Criadas(Ídolos)

    Cognições Sentimentos

    Sensações

    VONT

     ADE

    FéPecado/Morte

    DESARMONIADISTÚRBIO

    ABSOLUTIZAÇÃOIDOLÁTRICA

     Amar o Eu acimade qualquer coisa

    redunda ememancipação de

    Deus eincredulidade em

    relação à suaPalavra

     Amor Último

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     A Dinâmica ReligiosaRedimida Hoje

    Dimensão Social

    u

    PALAVRA

    Cognições Sentimentos

    Sensações

    VON

    T ADE

    CIN

    DID A

    FéRestauração

    do Shalom,mas ainda

    com apresença do

    distúrbio

    PROCESSO DEREDENÇÃO

     Amar a Deus de todo ocoração e confiar deforma última em sua

    Palavra em constanteluta com o

    amor idolátrico do Eu eem eventual incredulidade

    em relação à sua

    Palavra

     Amor Último Amor Último DEUSC

    ONFI

     ANÇ A

    Coisas Criadas

    (Ídolos)

    O esquema anterior aponta para a

    relação de interdependência e

    interdeterminação entre o coraçãofundamentalmente religioso dos

    indivíduos e o desenvolvimento

    cultural de uma sociedade inteira.

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    PALAVRA

     A Dinâmica Religiosado Coração Antes da

    Queda

    PALAVRA

     A Dinâmica Religiosado Coração Antes da

    Queda

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    PECADO

    Enganoso éo

    coração, mais do

    que todas as

    co isas, e

    desesperadamente

    cor rupto; quem o

    conhecerá?Jr 17.9

     A Dinâmica Religiosado coração Após a

    Queda

    PE

    CADO

     A Dinâmica Religiosado coração Após a

    Queda

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    PALAVRA

     A Dinâmica Religiosa doCoração Redimido Hoje

     As Camadas ou Matrizes Hermenêutico-Existenciais que Constituem uma

    Cosmovisão Pessoal: Parte 2

     A Camada ou Matriz Primordial: ADimensão do Coração

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    O Centro Religioso e Raiz da Existência Humana: OHorizonte do Eu  ou Coração

    • “Coração”,  na Escritura, está principalmente ligado aidéia daquilo que é mais central e profundo em algo oualguém.

    • O coração do homem é fundamentalmente religioso, ouseja, tem uma vocação ou impulso natural para manterrelação com Deus ou com um ídolo;

    • Coração é o elemento definidor e central da pessoahumana;

    • É o núcleo central e espiritual da existência a partir do

    qual toda vida procede e é determinada;• O coração é quem governa e dirige todas as funções do

    da existência humana: o crer, o raciocinar, o sentir, oquerer, o agir, etc.

    O Centro Religioso e Raiz da ExistênciaHumana: O Horizonte do Eu  ou Coração

    • Esta dimensão se define, basicamente: –  Na sua relação de alteridade com outros seres

    humanos (ser-para-o-outro);

     – Na sua relação com o meio (ser-para-o-mundo); – E, primordialmente, na sua relação com Deus 

    (ser-para-Deus), isso de maneira positiva ounegativa.

    • Não há eu vazio de conteúdo, isento, neutro eautônomo, o coração humano éessencialmente ser-para-Deus, ele é

    fundamentalmente religioso ou pactual.

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    As camadas ou matrizes hermenêutico-existenciais de umaWeltanschauung pessoal: A camada ou matriz primordial (A

    Dinâmica Interna do coração) 

    •  A dinâmica do coração se constitui, essencialmente, deuma profusão de impulsos ou motivações primordiaisresponsáveis em dinamizar a totalidade da existênciahumana.

    • Estes impulsos e motivações primordiais só podem servistos quando presentes em atos, pensamentos,cognições, sentimentos, desejos e volições;

    • Na sua dimensão mais profunda o  eu humanopermanece inacessível a toda forma de análise,procedimento de sondagem empírica oupsicoterapêutica (Sl 139.23,24; Jr 17.10);

    “Do coração procedem as fontes da vida”  

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    Até então se analisou a estrutura ontológicado coração humano. Entretanto, isso não é

    suficiente.Para se ter uma visão compreensível doquadro é necessário acrescentar outro

    elemento que são os efeitos e conseqüências

    do pecado na dinâmica interna do coração.

    A Camada ou Matriz Primordial: Os Efeitos doPecado sobre a Dinâmica Interna do Coração 

    • Se antes da queda o coração humano erareligiosamente qualificado pelo ser-para-Deus emamor e obediência, após a queda o coração passoua ser religiosamente qualificado pelo ser-para-Deus 

    em apostasia e rebelião, o que pode ser dito de outraforma: ser-para-um-ídolo.

    • Neste caso, todos os estados internos, as açõesexternas e empreendimentos resultantes do coração,em última análise, serão sempre religiosamentequalificados. – Serão estados internos, atos externos  e

    empreendimentos-para-Deus  (em amor e adoração)

    ou para-um-ídolo (apostasia e rebelião).

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    Os Efeitos do Pecado sobre a Dinâmica Interna doCoração 

    • Todo processo de idolatria socialmentecompartilhada começa com a tendência inata euniversal à absolutização do próprio eu, quando o eué entronizado no coração; –  A egorreferência é um tipo de teorreferência negativa;

    • Quando falamos de “absolutização do eu”  estamosfalando da tendência do homem caído de amar demaneira última a si mesmo e confiar de maneira

    última naquilo que não é Palavra de Deus; –  Amor último a si mesmo é orgulho, o desejo pecaminoso

    de ser como Deus;

     – Confiança última naquilo que não é a Palavra de Deus éincredulidade;

    Os Efeitos do Pecado sobre a Dinâmica Interna doCoração 

    • Esta é a manifestação originária do pecado em suaessência, é sua “substância ainda informe”;

    • E será este substrato potencial, ainda informe, derebelião e apostasia, que mais tarde dará origem a toda

    forma de pecado consumado, individual ou socialmentecompartilhado (palavras, desejos, atitudes, etc.).

    • Isso quer dizer que toda forma de pecado factual(individual ou social) como adultérios, homicídios,mentiras, cobiças, etc., em última instância, tem umaorigem comum e uniforme que é a idolatria do próprio eu,que se manifesta, primariamente, como autonomiaemancipatória em relação a Deus e sua Palavra.

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    O Processo de Idolatria SocialmenteCompartilhada

    •  A transição da idolatria pessoal para ainstância social se dá justamente através docompartilhamento tácito desta visão demundo apóstata, possibilitada pelauniversalidade da queda.

    • O coração das pessoas fornece o substrato (a

    idolatria do eu e seu desejo por emancipaçãode Deus) e a sociedade o molde (os ideaisque serão absolutizados).

    O Processo de Idolatria SocialmenteCompartilhada

    • Portanto, quando falamos de idolatriasocialmente compartilhada, nós estamosfalando de um processo, cujo papel da

    sociedade na formação destes ídolos, seráapenas o de dar forma àquilo que o coraçãofornece, que neste caso é a essência oumatéria prima de todo tipo de pecado factual: – A idolatria do eu e o impulso pela emancipação

    em relação ao seu ponto de referência último queé Deus e sua Palavra.

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     As Camadas ou Matrizes Hermenêutico-Existenciais que Constituem uma

    Cosmovisão Pessoal: Parte 3

     A Matriz Secundária ou DimensãoPsíquico-Social resultante das primeirasexperiências e do intercurso social variado

    As Camadas ou Matrizes Hermenêutico-Existenciais daDimensão Psíquico-social de uma Cosmovisão Pessoal 

    • Todo indivíduo já nasce no interior de um Zeitgeist(cosmovisão ou matriz globalizada):

     – Num sentido mais amplo, todo indivíduo já nasce imerso emum Zeitgeist , que é o espírito do tempo, um campo maisabrangente de significado, socialmente compartilhado por

    uma determinada época numa proporção macrocultural;• Ocidentalização do Mundo:

     – Num sentido geral a maior parte do mundo civilizado tem incluídoem sua dieta alimentar refrigerantes e fast-foods;

     – Universalidade da importância da Democracia e dos direitoshumanos nas políticas governamentais;

     – Capitalismo (a importância da economia sobre todo e qualquerassunto governamental);

     – Valores tais como individualismo, consumismo, pragmatismo,hedonismo, já foram incorporados na visão de mundo do homemocidental (izado) dos nossos dias (do mais simples ao mais

    culto);

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    As Camadas ou Matrizes Hermenêutico-Existenciais daDimensão Psíquico-social de uma Cosmovisão Pessoal 

    • Todo indivíduo já nasce no interior de uma cosmovisão ouMatr iz regio nal : – Num sentindo menos amplo, todo indivíduo, além da tendência geral,

    nasce também imerso em um contexto hermenêutico mais restrito;

     – Por “Weltanschauung   regional”  se deve entender a cosmovisãoprópria que vai dos pressupostos compartilhados por um povo ouetnia até as percepções ainda mais básicas comuns a um grupominoritário específico com o qual se mantém relação como, porexemplo, o núcleo familiar.

    •  A cosmovisão de uma pessoa nascida na cidade de São Paulo é, emmuitos aspectos, diferente da cosmovisão de uma pessoa nascida

    no interior do sertão da Bahia: – Dieta alimentar,

     – Modo de se expressar e de se vestir,

     – Modo de se lidar com os problemas da vida.

    • Isso se dá também entre grupos de pessoas ou famílias : – Valores diferentes na criação dos filhos. Valores diferentes na administração

    dos recursos, etc.

    •  A estrutura psíquico-cognitiva (que é inata), aliada às vivênciasreligiosamente interpretadas do período formativo dos primeirosanos de vida, forma o modelo de mundo mais elementar eduradouro do indivíduo, a base sobre a qual as demais vivênciasposteriores se acomodarão.

    • Mesmo as experiências mais básicas do indivíduo, desde seunascimento, já vêm carregadas de motivações religiosasprimordiais, ainda que ele não esteja minimamente consciente

    delas, e são elas que servirão de estofo para todas asexperiências futuras.

    •  As percepções de mundo mais duradouras ocorrem,especialmente, nos primeiros anos de vida, no convívio com ospais ou responsáveis diretos, no interior de uma forte carga deconfiança e afetividade.

    • Muito destas primeiras experiências internas e externas doindivíduo resulta numa rede de pressupostos, crenças, valores oucertezas fundamentais que operam tacitamente, formando umadas matrizes interpretativas da realidade mais básicas (remotas).

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    • Muito embora seja correto afirmar que a formação primáriatenha a primazia no processo de desenvolvimento daspercepções vitalícias da Weltanschauung do ser humano;

    • Contudo, não se pode, de maneira alguma, negar, que odesenvolvimento da personalidade e da visão de mundo doindivíduo se dá durante toda a sua vida através das suasconstantes e sucessivas interações com a sociedade.

    • Sobre esta base mais elementar e duradoura, ao longo davida, se acomodarão outras percepções de mundoprocessadas a partir de intercursos sociais mais variados.

    • No decurso dos anos, algumas destas novas percepções

    serão cada vez mais fortemente incorporadas, chegando aoponto até de transformar ou substituir algumas daquelaspercepções mais básicas que haviam sido admitidas nosprimeiros anos de vida, podendo assumir um papel decrenças e pressupostos determinantes na hierarquia devalores e certezas do indivíduo.

     As Camadas ou Matrizes Hermenêutico-Existenciais que Constituem uma

    Cosmovisão Pessoal: Parte 4

    Da Experiência Pré-teórica àDimensão Teórica e Institucional

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    Weltanschauung  pessoal como percepção pré-teórica da realidade 

    • Na maioria das vezes, ou na maior parte do tempo,a Weltanschauung   pessoal, ou socialmentecompartilhada, é “habitada” de maneira tácita pelaspessoas que a assimilam, resultando numa intuiçãoimediata e integral, ou experiência pré-teórica, domundo;

    • É neste horizonte de experiência que se configura o

    conhecimento ingênuo do dia a dia;• Embora a atitude pré-teórica opere comumente num

    nível intuitivo, já existe aqui lugar para uma certamedida de auto-consciência das crenças básicasque condicionam a existência.

    Weltanschauung  pessoal como percepção auto-consciente e reflexiva: Pressupostos reconhecidos,

    aceitos e articulados discursivamente 

    • Quando os pressupostos moldadores de uma determinadacosmovisão são conscientemente reconhecidos, aceitos,afirmados e articulados discursivamente é sinal de que estáhavendo uma transição do nível subjetivo-individual para oobjetivo-social. – Transição do nível pré-teórico para o teórico: Auto-consciência,

    abstração e discursividade;

    • Quando os pressupostos moldadores de uma determinadacosmovisão são conscientemente afirmados e sistematizados.

     – É neste nível que se dá a conceituação das crenças tácita eintuitivamente aceitas que determinam a vida no mundo do indivíduo eda sociedade.

    • Transição do teórico subjetivo para o institucional: – Expressões Culturais:

    • Política, Eclesiástica, Artística, Econômica, Jurídica, Científica, etc.

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    Weltanschauung

     A Transição do Âmbito Privado para osocial: O Processo Formativo e seu

    Compartilhamento

    Transição do privado para o público e o compartilhamento daspercepções de mundo individuais e sociais: o processo de interação e

    reciprocidade e o conceito de estrutura de plausibilidade

    •  A cosmovisão privada jamais permanece estática e inalterada em virtudedo constante compartilhamento de experiências resultante dasinumeráveis trocas de vivências com o outros indivíduos e grupossociais;

    • Nem tampouco é apenas passiva; o processo de compartilhamento éinterativo: o mesmo indivíduo ou grupo social que recebe, também dá a

    sua parcela de contribuição;• Há recepção de percepções, mas estas percepções no interior de umindivíduo, ou grupo social, nunca permanecem as mesmas, sendo antesprocessadas e retransmitidas já modificadas pela visão de mundoprivada de cada um.

    • Este é um processo extremamente dinâmico e vivo e é o que permite auma weltanschauung (global ou regional) nunca permanecer a mesma;

    • O grupo social mais básico responsável por este incessante intercâmbiode percepções vivenciais entre indivíduos é a família;

    •  As famílias não só se originam no interior deste zeitgeist e destaweltanschauung mais regional, mas são as principais receptoras e

    comunicadoras das percepções de mundo ao indivíduo;

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    • No entanto o mesmo fenômeno de interação e reciprocidade depercepções vividas se dá aqui também. A família não somente é afetadade fora, mas também afeta de dentro. Elas recebem, processam etransformam incansavelmente as percepções de mundo, compartilhando

    o seu produto com o espectro social mais amplo;• É bem verdade que este constante e infindável processo decompartilhamento de visões de mundo não se dá de maneira aleatória.  – O Processo de interação e reciprocidade, longe de ser neutro e

    desinteressado, segue diretrizes tácita ou declaradamente definidas pelasociedade, a começar pelo mundo até chegar no grupo social mais básicoque é a família.

     – Sempre houve e sempre haverá uma rede de interesses sociais comuns quetem validado o intercâmbio de percepções de mundo a começar pela família.Esta rede validadora pode ser comparada a um agente alfandegário queconcede a chancela e a autorização social para que percepções de mundocomo valores estéticos, morais, etc., sejam aceitas como socialmenteválidas.

     – Por isso nem todas as percepções de mundo são compartilhadassocialmente numa extensão mais ampla, as vezes ficando restritas a grupossociais específicos e minoritários ou até à famílias e indivíduos.

     – Os interesses majoritários sociais se fundem para formar aquilo que PeterBerger chamou de estrutura de plausibilidade, e será ela a responsável emregular o contexto discursivo válido e pertinente a ser aceito e compartilhadodentro de uma determinada weltanschauung.

     – Isso tudo para dizer que nem todas as percepções são compartilhadas ouigualmente compartilhadas pela sociedade neste processo dinâmico deinteração e reciprocidade de percepções de mundo.

    • Só para dar um exemplo do que quero dizer: – O contexto social brasileiro atual, que experimenta um nível

    elevado de secularização, é permeado por uma estrutura deplausibilidade de forte matiz secularizada que não valida amaioria das percepções de mundo resultantes da genuína fécristã bíblica, vedando assim o trânsito e o compartilhamento deseus valores e concepções acerca da realidade nas suas maisdiversas instâncias e instituições públicas, marginalizando tudoaquilo que se choca ou não se conforma explicitamente com arede de interesses tácitos ou declarados resultantes dacosmovisão da maioria da sociedade.

    • O que é ainda compartilhado da fé bíblica pela a atualcosmovisão da sociedade se resume a resquíciosmoribundos referentes a ordem e a moralidade aindamantidos através de um “tênue  fio de prata”  por umagrande parcela da sociedade secularizada, ainda queisso se deva muito mais aos seus interesses de auto-preservação (que certamente seria impossível numcontexto de completa secularização) do que ao seutemor a Deus e a sua Palavra santa.

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    • Em função do processo de interação e reciprocidade culturalaliado à constatação de que este processo nunca se dá demaneira isenta, mas é permeado por uma diversificada estrutura

    de interesses que valida e regula a aceitação e ocompartilhamento de visões de mundo entre si advindas degrupos sociais mais básicos, a cosmovisão cristã, cujospressupostos centrais são completamente antitéticos aospressupostos apóstatas da secularização, corre mais riscos deser transformada (sintetizada).

    • No seu constante contato com a visão de mundo da sociedadesecularizada a igreja que é constituída de famílias, que por suavez são constituídas de indivíduos espalhados em todos osseguimentos da sociedade, acaba assimilando as percepçõesvalidadas pela estrutura de plausibilidade construída pelasociedade secularizada, abrindo as portas a um constante epaulatino processo de indiferença, depois aceitação tácita,

    síntese e, por fim, absorção dos pressupostos e do estilo de vidada sociedade secularizada.• Num evangeliquês muito claro, a Igreja vai se tornando cada vez

    mais “mundana” e a sua influência restauradora cada vez menosperceptível, o que certamente contribui ainda mais para aconsecução de uma weltanschauung extremamente secularizadae neo-pagã.

    Transição do privado para o público e ocompartilhamento das percepções de mundo individuais

    e sociais•  A transição do nível interiorista-individual (weltanschauung no

    sentido fraco) para o coletivo-social (Weltanschauung no sentidoforte) se dá através de vários mecanismos de construção social.

    • Estes mecanismos vão desde a educação passada pelos pais, aformação recebida nos estabelecimentos de ensino, asinformações recebidas pela indústria cultural até os compromissos

    compartilhados informalmente com outras pessoas durante a vida.• Neste nível social, muito das percepções subjetivas não vem atona em função de sua extrema singularidade ou não-conformidade com os padrões socialmente aceitáveis.

    • No entanto, todas as percepções exteriorizadas pelos indivíduos(por suas ações, palavras ou mecanismos sociais detransmissão), sedimentadas pelo costume e pelo hábito,constituirão a rede pré-teórica, teórica e institucional segundo aqual a sociedade se conduzirá – Criação de leis, preferências da sociedade no campo estético,

    esportivo e religioso, moralidade, etc.

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    • Este processo de comunicação e comunhão de percepçõesnum nível social se dá sempre a partir de uma instância social

    mais simples e elementar até uma instância mais difusa ecomplexa.  – Por exemplo: primeiro há um compartilhamento de percepções

    dentro de um quadro familiar.

     –  Aquelas percepções que forem extremamente singulares ou nãoaceitáveis pelos padrões socialmente estabelecidospermanecerão dentro dos limites da vida familiar,

     – Mas as demais percepções normalizadas pela sociedade passama ser compartilhadas, na maioria das vezes, através de umprocesso não intencional com outras famílias que como ela

    comunga de tais percepções. – Estas percepções, por sua vez, se aglomerarão às percepções de

    outras famílias de um mesmo grupo social provocando aascendência cada vez maior destas até que se chegue a um nívelnacional, configurando a identidade de um povo.

    •  Antes da globalização o fosso que separava grupos sociaisdistintos impedia que houvesse um intercurso mais homogêneode percepções o que tornava a sociedade mais estratificada, ahistória comprova isso.

    • Com o advento da globalização o processo de compartilhamentode percepções entre grupos sociais distintos se tornou cada vezmais comum, diminuindo assim o abismo entre os diversosgrupos sociais, viabilizando o compartilhamento cada vez mais

    homogêneo de percepções de mundo entre eles.• Quando a weltanschauung de um determinado povo ultrapassaos limites geográficos, étnicos e nacionais que a circunscreve epassa a ser compartilhada com outros povos, a ponto decondicionar o desenvolvimento histórico-cultural de todo umcontinente ou mais, dizemos que temos aí o espírito de umaépoca ou como diriam os idealistas alemães: temos um zeitgeist .

    • Este zeitgeist  por sua vez alimenta este círculo, determinando oprocesso de construção social, o que inevitavelmentedesembocará no indivíduo mais uma vez.

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    O Papel dos Produtores Culturais no Processo de Formação eCompartilhamento de Cosmovisões

    • Cada pensador ou escola de pensamento importante da história,

    funciona, ao mesmo tempo, como produto e formador da cultura: – Funciona como produto, pois em última análise, as manifestações

    culturais (propostas teóricas, artísticas, políticas, etc.) nada maissão que a formalização sistemática e autoconsciente das crençase valores compartilhados, na maioria das vezes de forma tácita,por toda uma sociedade em uma determinada época (boasantenas receptoras);

    •  Alguns, é claro, em função de sua genialidade, conseguem iralém, antecipando tendências futuras;

     – Funciona como formador, pois após adquirir expressão objetivaatravés de suas produções culturais, tais crenças e valoressocialmente compartilhados, voltam a retroalimentar o fluxo de

    idéias vigentes, consolidando-as e engendrando novastendências;

    • Isso quer dizer que todo movimento de época não surge apenas porcausa do esforço de seus idealizadores e proponentes maisfervorosos, mas sim porque o germe (crenças e valores) necessário àsua existência já estava, há algum tempo, sendo acalentado e nutridopela cosmovisão da sociedade da época.

    O Processo Dinâmico de Formação e Compartilhamentode Cosmovisões

    Indivíduo e sua cosmovisão pessoal

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    Indivíduo e sua cosmovisão pessoal

    Núcleo Familiar 

    Núcleo Familiar 

    Indivíduo e sua cosmovisão pessoal

    Grupo Social Específico

    Núcleo Familiar 

    Núcleo Familiar 

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    Cosmovisão de um Povo

    Núcleo Familiar 

    Indivíduo e sua cosmovisão pessoal

    Grupo Social Específico

    Grupo Social Específico

    Grupo Social Específico

    Cosmovisão Compartilhada por Vários Povos

    Cosmovisão de um Povo

    Cosmovisão de um Povo

    Cosmovisão de um Povo

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    Cosmovisão de Proporções Globais: “Aldeia Global”

    Cosmovisão compartilhada

    por vários povos

    Cosmovisão compartilhada

    por vários povos

    Cosmovisão compartilhada

    por vários povos

    A Relação entre a Cosmovisão da Maioria e as CosmovisõesRegionais Sectárias

    • O processo de dissolução ou transformação de cosmovisões regionaisarraigadas se dá basicamente da seguinte forma:

    • 1) Por absorção: – Isso ocorre quando os pressupostos de uma cosmovisão minoritária, que antes era

    sectária e exclusivista, são dissolvidos e sintetizados aos pressupostos da cosmovisãomajoritária, fazendo com que a cosmovisão minoritária seja absorvida pela majoritária e,consequentemente, levando-a à perda de sua identidade.

    • Por exemplo: processo de secularização pelo qual passa a Igreja cristã.

    • 2) Por cristalização: – Isso ocorre quando uma determinada cosmovisão ou cultura minoritária, por razões

    diversas, é preservada pela cosmovisão ou cultura majoritária, mas sem que ela (cosm.minoritária), efetivamente, participe do processo de interação e reciprocidade sociais,mantendo-se como um “museu vivo”.

     – Cosmovisões ou culturas que passam por este processo de cristalização, comumente setornam inofensivas e interativamente irrelevantes na troca de percepções de mundo eexperiências, própria da dinâmica social, como por exemplo, acontece com os Amish ealgumas tribos indígenas brasileiras, etc.

    • 3) Por marginalização: – Isso ocorre quando uma determinada cosmovisão minoritária, em função de sua recusa

    em ser absorvida e sintetizada, passa por um processo ostensivo de hostilização, porparte da cosmovisão majoritária, cuja finalidade é transformá-la (cosm. min.) em um

    registro do passado, sem nenhuma relevância significativa para o presente.

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    Cosmovisão Cristã-Reformada

     As Etapas Constitutivas de nossaCosmovisão Cristã

    Primeira Etapa de uma Cosmovisão Genuinamente Cristã:Conhecendo a Deus de Maneira Pessoal e Existencial

    • Como já vimos uma cosmovisão é constituída de camadas daexperiência que vão desde as mais profundas e inconscientes atéas conscientes e articuladas.

    • O horizonte de experiência mais profundo certamente é o religiosocentral, a esfera do “coração” do qual fala a Bíblia, onde se dão osimpulsos religiosos que determinam toda direção da vida, pois é alique se estabelece o tipo de relação que se mantém com oCriador, se de amor e serviço ou ódio e apostasia.

    •  A partir desta constatação é possível, então, afirmar que todos osseres humanos após a queda, inescapavelmente, permanecematrelados a uma matriz de existência marcada por impulsosreligiosos centrais apóstatas, configurando, assim, em todas asexpressões internas (pensamentos, afeições, imaginação, fé,vontade) e externas (atitudes, palavras, e todas as atividadesculturais) da existência humana, uma “tendência  natural”  àindisposição e inconformidade em relação a Deus e sua Palavra.

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    Primeira Etapa de uma Cosmovisão Genuinamente Cristã:Conhecendo a Deus de Maneira Pessoal e Existencial (cont.)

    • Sendo assim, temos que concluir que, em virtude daqueda, todos já nascem presos a estaweltanschauung primária (camada religiosa central)que é a da apostasia.

    • Esta, por sua vez, condicionará as demais matrizesde experiência (as weltanschauungen secundárias),determinando-lhes a direção religiosa que moldará

    toda a existência humana e, por conseguinte, a vidasocial.

    Primeira Etapa de uma Cosmovisão Genuinamente Cristã:Conhecendo a Deus de Maneira Pessoal e Existencial (cont.)

    • Uma cosmovisão genuinamente cristã começa nadimensão religiosa fundamental da nossa existência,quando o nosso coração é regenerado por Deusatravés do ministério da Palavra e do Espírito Santo;

    • Todos os pressupostos moldadores de umacosmovisão cristã estão contidos no tema central daEscritura Criação-Queda-Redenção;

    • Essa é a cosmovisão por excelência, a matriz deinterpretação mais consistente da realidade;

    • Os pressupostos moldadores desta cosmovisão sãooriginariamente experimentados pessoal eexistencialmente na forma de um compromisso de

    vida;

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    Segunda Etapa de uma Cosmovisão Genuinamente Cristã:Tomando Consciência e Dando a Razão da Esperança

    • No coração, este conhecimento se dá, originalmente, naforma de um “poder   motivador central”  de Deus, ou um“conhecimento  pessoal”,  um impulso existencialfundamental na direção da obediência e do amor a Deus.

    • No entanto, este compromisso de vida, ou experiênciapessoal íntima com Deus, deve ser expressodiscursivamente para que possamos dar a razão daesperança que há em nós, e para que se evite o máximopossível toda forma de síntese;

    • Na experiência diária, a externalização deste conhecimento“religioso  central”  (pessoal) é possível através de umprocedimento santo e da profissão de fé no conteúdorevelado por meio de uma exposição básica e simplesdaquilo que implica o tema Criação, Queda e Redenção ;

    Pressupostos Discursivos Centrais do Tema Básico“Criação” 

    • O mundo é criação de um Deus triúno eterno, absolutamentesoberano, transcendente, mas pessoal;

    • Deus criou todas as coisas por meio de sua Palavra e de seuEspírito;

     – Deus estabeleceu, por meio de sua Palavra, o significado detodas as coisas criadas, inclusive das leis ordenadoras da

    realidade física, natural, moral, social e histórica;• Deus mantém todas as coisas por meio de sua Palavra e de seuEspírito;

    • Este Deus criador e mantenedor de todas as coisas se revela pormeio de sua Palavra e de seu Espírito;

    • De todas as criaturas de Deus o homem é a que mais se distinguepois é o único que pode se relacionar de maneira pessoal (pactual)com Deus à semelhança da maneira como Deus se relacionaconsigo mesmo (criado à imagem e semelhança);

    • Há uma distinção quantitativa e qualitativa entre Deus (o Criador) e

    sua criação;

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    • Toda forma de conhecimento ou comunhão pessoal entreDeus e o homem só é possível por meio de Revelaçãoespecial. O ponto de contato pessoal entre o Criador e acriatura se dá sempre por meio da Palavra e do Espírito; – Logo toda forma de comunhão e conhecimento pessoal entre Deus e o

    homem só é possível por meio de Revelação (intermediada pelaPalavra e pelo Espírito);

    • No seu aspecto objetivo toda revelação de Deus na história se deuatravés de acomodação lingüística (antropopatismos,antropomorfismos), imagéticas (teofanias) e pessoal (encarnação);

    • No seu aspecto subjetivo, Deus se revela direta e pessoalmente nocoração do homem redimido mas sempre por meio de sua Palavrae de seu Espírito;

     – Daí porque toda tentativa de se conhecer a Deus e manter comunhãocom ele que não seja por meio de sua Palavra resultará em meraespeculação e religiosidade vazia.

    Pressupostos Discursivos Centrais do Tema Básico“Criação” (cont.) 

    •  Apesar da Insuficiência da revelação geral em nosdar um conhecimento salvador, ela nos mostraclaramente algumas das principais perfeições deDeus o Criador;

    • Deus criou todas as coisas para a sua glória, porisso a criação, é por natureza boa e santa;

     – Logo a finalidade e a realização de todas ascoisas é convergir para este propósito;

     – O homem só pode se realizar vivendo deconformidade com este propósito;

    •  A fim de revelar as suas perfeições, Deus dotou acriação de potencialidades que devem ser

    desenvolvidas no processo de abertura cultural.

    Pressupostos Discursivos Centrais do Tema Básico“Criação” (cont.) 

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    Pressupostos Discursivos Centrais do Tema Básico “Queda” 

    • Embora fosse criado originalmente bom, o mundo foi

    amaldiçoado por Deus por causa do pecado do homem;•  A queda causou efeitos catastróficos à raça humana e à

    criação; – Com a Queda a direção do coração do homem e por conseguinte da

    sociedade e do desenvolvimento histórico-cultural passaram a seguirum itinerário marcado pela apostasia e idolatria;

    •  Apesar da maldição imposta por Deus à criação, a sua graçanão permite que a existência do mal destrua as estruturascriadas (graça comum);

    •  A queda do homem foi radical, afetando todo o seu ser, nãorestando nele nada de espiritualmente neutro ou isento; tudonele tende à rebelião contra Deus e sua Palavra;

    • Todos as manifestações punitivas de Deus sobre o homem ea criação caídos resultam de sua justiça santa;

    Pressupostos Discursivos Centrais do Tema Básico“Redenção” 

    • Sendo os efeitos da queda universais e radicais sobre a criação de Deus, aredenção também deve ser encarada como um ato da misericórdia de Deusde proporções cósmicas;

    •  A Palavra que antes da Queda tinha um caráter exclusivamente regulador erevelacional, agora passa a ter também um caráter redentivo;

    • Deus, no decurso da história, tem revelado a sua Palavra com a finalidadeprimordial de restaurar os seus eleitos à plena comunhão com ele;

    • Em Cristo e pelo Espírito, Deus redime o homem do cativeiro do pecado epaulatinamente o restaura à sua condição primeva;

    • Em virtude da radicalidade da redenção, a própria criação inanimada seráredimida da condição maldiçoada na qual se encontra, o que certamenteocorrerá na consumação dos séculos e na manifestação plena do Reino;

    •  A despeito do estado de miséria no mundo, cabe a cada crente amanutenção do mandato cultural, na tentativa de “redimir”  tudo aquilo quepor natureza pertence à boa criação, mas que por causa da queda, foimaculado pelos efeitos do pecado. Isso envolve todas as manifestaçõesculturais que refletem a glória dos atributos de Deus;

    • Todo processo redentivo é resultado total e incondicional da graça de Deus.

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    Terceira Etapa de uma Cosmovisão GenuinamenteCristã: Formulação Teórica e Sistematização

    • O conteúdo revelado que o crente professadiscursivamente, na sua experiência diária (atitudepré-teórica), deve servir de fundamento para todas assuas ações e empreendimentos no mundo.

    • Este conteúdo também pode ser estudado num nívelmais especializado de investigação através dateologia (atitude teórica);

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    DIREITO

    ECONOMI

     A

    TEOLOGI

     A

    M ATEM

    FÍSIC A

    QUÍMIC A

    BIOLOGI

     A

    SOCIOLOGI

     A

    LINGUÍSTIC A

    HISTÓRI

     A

    Compromisso Bíblico-Confessional (Confissão doutrinal da Igreja)“Depósito vivo da Igreja” 

    Conhecimento Religioso Central (Pessoal e íntimo) resultante daRegeneração e da Santificação operada pelo Espírito e pela Palavra

    FILOSOFIA CRISTÃTEORREFERENTE

    Terceira Etapa de uma Cosmovisão GenuinamenteCristã: Formulação Teórica e Sistematização

    • O conteúdo revelado que o crente professadiscursivamente, na sua experiência diária (atitudepré-teórica), deve servir de fundamento para todas assuas ações e empreendimentos no mundo.

    • Este conteúdo também pode ser estudado num nívelmais especializado de investigação através dateologia (atitude teórica);

    • Estrutura da Teologia Reformada – Uma Perspectiva Integral de Reino;

     – A Unidade do Pacto da Graça;

     – Deus e seus atributos;

     – Soteriologia: Os cinco pontos do Calvinismo;

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    Estrutura da Teologia Reformada

    •  A suficiência redentiva da Palavra em revelar Deuse a sua vontade;

    • Uma Perspectiva Integral de Reino;

    •  A Unidade do Pacto da Graça;

    • Deus e seus Atributos: Ênfase bíblica em seusatributos comunicáveis e incomunicáveis;

    • Soteriologia: Os Cinco Pontos do Calvinismo;• Etc.

    Cosmovisão Cristã-Reformada

    E sua Expressão Teórico-Filosófica 

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    • O verdadeiro conhecimento de Deus não somentedeve resultar numa expressão teórico-teológica teo-referente, como também em uma proposta teórico-filosófica teo-referente;

    •  Abaixo, apresentaremos alguns princípios ontológicosde uma proposta filosófica biblicamente orientada e,adiante, suas implicações para o entendimento do

    processo de abertura cultural e desenvolvimentohistórico;

    Cosmovisão Cristã e sua Expressão Teórico-Filosófica 

    Ontologia de uma Filosofia

    Cristã Reformada

    Os Modos de Ser da RealidadeTemporal e a Centralidade da Fé

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    •  A realidade criada é constituída de várias esferas de

    significado ou modos de ser;• Deus estabeleceu “o ser” de todas as coisas por meio de suaPalavra criadora, portanto não pode haver significadoautônomo e absoluto à parte de Deus;

    • Estes aspectos ou esferas de significado não são coisasconcretas mas sim o potencial estrutural que torna possíveltodos os modos de ser da realidade e suas expressõesconcretas nas suas mais diversas manifestações (natural,social, moral, cultural, etc.);

     – O “como” a realidade temporal se apresenta: Daí porque Dooyeweerdtambém os chama de aspectos modais;

    • Ou seja, segundo Dooyeweerd, estes aspectos são a condiçãode possibilidade ontológica de tudo aquilo que existe ou podevir a existir, e também daquilo que pode ser pensado econhecido.

    Os Modos de Ser da Realidade Temporal ou Aspectos Modais

    • Podemos dizer isso de outra forma: – Deus criou o mundo com um potencial econômico a ser

    desenvolvido;• Se a humanidade desenvolve comércio e indústria; se o homem

    sabe o que é comprar, vender e trocar, é porque já havia, antesmesmo que qualquer processo de construção social, uma estruturade significado econômico a partir da qual todo potencial econômico

    seria descoberto e desenvolvido;•  Aliás, todo o processo de construção social pressupõe este potencial

    estrutural de significados para se realizar.

     – Deus criou o mundo com um potencial artístico a serdesenvolvido;

     – Deus criou o mundo com um potencial científico-tecnológico a serdesenvolvido, etc.;

    • Na sua análise da realidade, Dooyeweerd chegou a 15aspectos fundamentais de significado:

    Os Modos de Ser da Realidade Temporal ou Aspectos Modais

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    Aspectos Modais Núcleos de Significado dos Aspectos

    Modais

    Pístico Fé, firme confiança, certeza última

    Ético ou Moral Amor nos relacionamentos temporais

    Jurídico Retribuição e recompensa

    Estético Harmonia

    Econômico Capacidade de gerenciamento

    Social Intercurso social

    Lingüístico Significado simbólico

    Histórico Poder formativo, desenvolvimento cultural

    Analítico ou lógico Distinção lógica

    Sensitivo ou psíquico Sentimento

    Biótico Vitalidade vida orgânica)

    Físico Energia

    Cinemático Movimento

    Espacial Extensão contínua

    Aritmético ou numérico Quantidade discreta

     A Relação entre Fé, Cultura eHistória a partir de uma

    Filosofia Cristã Reformada

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    •  A partir de uma análise crítica teo-referente(biblicamente orientada), é possível discernir e explicitaros fatores de ordem religiosa que estariam na raiz dacosmovisão de sociedades e períodos históricos inteirose que seriam responsáveis, em última instância, pelassuas transformações.

    • Esta análise visa demonstrar que os desdobramentoshistóricos e culturais sempre se dão pela condução da féde uma determinada sociedade, e que a direção imposta

    a esta fé é sempre o produto da reação do coraçãohumano em relação a Deus e sua Palavra.

    A Relação entre Fé, Cultura e História 

    “Dois amores fundaram,

    po is, duas cidades, a

    saber: o amor d e si , que

    leva ao desprezo deDeus, fundo u a cid ade

    terrena; o amo r a Deus ,

    que leva ao desprezo de

    si , fundou a cidade

    celestial...”

    (Cidade de Deus XIV.28)

    A filosofia da história de Agostinho reflete esta

    idéia

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    • Segundo um paradigma filosófico reformado do qual

    estamos partindo podemos afirmar que a função da fé foicriada com uma estrutura que a faz se dirigir sempre à

    revelação de Deus a fim de “descansar” nela (confiar de

    forma última);

    • Esta condição de “confiança última”, própria da estrutura

    de significado do aspecto da fé, resulta num processo de

    absolutização do objeto por ela buscado (deificação);

    • Estando o coração fechado para a revelação de Deus, afé se dirige à revelação de Deus na natureza - às coisas

    criadas (aspectos, idéias, coisas propriamente ditas)

    absolutizando-as (deificando-as);

    Coração, Fé, Revelação e Idolatria

    • É próprio da estrutura da fé conduzir o processo deabertura ou formação cultural;

    • É por isso que a abertura cultural, após a queda,sempre se dá de maneira restritiva (sob a direçãode uma fé apóstata);

    • Na antiguidade primitiva, ou em comunidadesprimitivas, a fé da sociedade é comumente postanos aspectos subanalíticos, absolutizando-os;

    • Quando isso acontece, o processo de abertura dacultura permanece quase que estagnado;

    A Centralidade da Fé no Processo de AberturaCultural

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    •  A absolutização dos aspectos supra-sensíveis(culturais) gera uma abertura mais rápida dacultura, mas ainda restritiva;

    • Ou seja: Quando a comunidade deixa de deificaros aspectos naturais da realidade como osnúmeros, as pedras, as árvores e os animais,passando a deificar os aspectos mais elevados darealidade, aqueles aspectos supra-sensíveis ou

    culturais, acontece um desenvolvimento cultural,porém muito inferior, limitado e demorado,comparado a um processo de abertura sob acondução de uma fé regenerada.

    A Centralidade da Fé no Processo de AberturaCultural (cont.)

    A Teoria da Realidade Temporal na Filosofia da Idéia

    Cosmonômica

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    Tipos de Weltanschauung 

    Os principais zeitgeistes dacivilização ocidental e os ídolos damodernidade e pós-modernidade

    • Nas aulas passadas pudemos aprender o que é umacosmovisão e demonstrar como elas sãocompartilhadas por indivíduos e até por sociedadesinteiras;

    • Vimos que a comunhão de crenças, valores epercepções comuns, entre indivíduos e sociedades, éum fenômeno profundamente religioso;

    • É a fé religiosa que possibilita esta comunhão depressupostos comuns entre pessoas e grupos sociais;

    • Em função da queda, esta fé religiosa, compartilhadapelos indivíduos de uma determinada sociedade,sempre é dirigida a um ídolo;

    Fé Religiosa e Desenvolvimento Histórico-cultural

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    • É sobretudo esta fé idólatra, dos indivíduos de umasociedade, que tem impulsionado e moldado odesenvolvimento da cultura e o desenrolar da históriaatravés de um processo contínuo de emancipação emrelação a Deus e sua Palavra;

    • Cada época da história traz consigo os seus principaisídolos;

    •  A transição de um período histórico para outro

    comumente é marcada pela mudança de ídolos: – Quando os ídolos de uma determinada época deixam

    de satisfazer a sociedade, esta os substitui por outros,colocando neles a sua plena confiança (fé).

    Fé Religiosa e Desenvolvimento Histórico-cultural

    Tipos de zeitgeistes que dominaram as principais culturas dacivilização ocidental ao longo dos séculos

    • Cultura grega antiga: – Os principais ídolos deste período podem ser

    representados pelo dualismo grego matéria e forma;

    • Cultura romana: – Os principais ídolos deste período podem ser

    representados pelo dualismo romano poder e lei ;• Cultura judaico-cristã:

     – Todos os pressupostos moldadores de uma cosmovisãocristã estão contidos no tema central da Escritura Criação-Queda-Redenção;

    • Cultura medieval européia: – Os principais ídolos deste período podem ser

    representados pelo dualismo sintético natureza e graça;

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    • Desde o advento do cristianismo, o mundo tem assistido a uma

    verdadeira batalha entre uma cosmovisão que reflete osprincípios e valores do Reino de Deus e a outra que reflete oespírito de rebelião e emancipação em relação a Deus e suaPalavra;

    • O processo de emancipação em relação a Deus e sua Palavrase intensificou muito na Modernidade;

    • Este processo de emancipação do ocidente em relação a Deuse sua Palavra foi operacionalizado, através do seguinteesquema: – Desejo de emancipação (liberdade como autonomia) por meio do

    conhecimento seguro do mundo, viabilizado pela razão neutra eimparcial que visa a dominação da natureza (cientificismo etecnicismo = motivo natureza) cuja motivação teleológica é oprogresso social e econômico.

    Tipos de zeitgeistes que dominaram as principais culturas dacivilização ocidental ao longo dos séculos: Cultura moderna 

    Os Principais Ídolos da Modernidade

    • Os principais ídolos deste período podem ser representadospelo dualismo moderno natureza e liberdade  (Determinismonatural versus personalismo autônomo); –  Absolutização da liberdade (autonomismo),

     –  Absolutização do ideal de progresso (otimismo progressista),

     –  Absolutização da razão (racionalismo),

     –  Absolutização do ideal de exatidão matemática (clareza, distinção,

    ordem e medida); –  Absolutização da unidade lógica (sistematicismo),

     –  Absolutização do ideal de ciência e da técnica como forma dedominação da natureza (cientificismo e tecnicismo),

     –  Absolutização da prosperidade econômica (economicismo,materialismo),

     –  E finalmente no século XIX, absolutização da idéia dedesenvolvimento (historicismo e vitalismo naturalista).

    • Estes ídolos sociais contribuíram para a privatização da fé epara a secularização do ocidente;

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     A Cosmovisão Dividida da Modernidade

    Esfera Privada Esfera Pública

    Espiritual e Religioso Secular

    Reino da Graça Reino da Natureza

    Fé Razão

    Teologia Filosofia e Ciência

    Educação Religiosa Educação Formal (secular)

    Igreja Estado

    Ministério Eclesiástico Trabalho Secular

    Conduta Cristã Conduta Pública

    • Nesta cosmovisão dividida, o que era consideradosecular e público, foi se tornando cada vez maisimportante, ameaçando a existência daquilo queera considerado religioso e privado.

    Brasil e Modernidade...

    • Em função da ausência de uma interação sócio-

    cultural mais massificante com a cosmovisão

    moderna europeia desde seu início, formou-se

    no Brasil, ao longo dos séculos iniciais, a base de

    uma visão de mundo peculiar resultante dos

    entrelaçamentos de vivências, crenças, valores e

    ideias oriundos das cosmovisões europeia

    medieval, africana e indígena (e

    posteriormente, a dos imigrantes europeus),

    tendo na cosmovisão do dominador português e

    nas circunstâncias aqui encontradas o seu

    elemento aglutinador e direcionador.

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    Aspectos Destacados da Visão de Mundo

    Brasileira

    • Racionalismo no Brasil jamais floresceu, pelo contrário,entre o nosso povo sempre imperou a convivência pacífica

    entre perspectivas antagônicas e contraditórias em prol

    de uma espécie de utilitarismo prático e também em

    função do apreço pelo sensório e pelo irracional místico;

    • O Brasil não experimentou o processo de secularização

    com a consequente dessacralização da realidade como

    experimentou o continente europeu;

    • O ideal de Progresso no Brasil não teve o impacto

    messiânico que teve na Europa, mesmo após o início da

    industrialização do país;

    • Ao invés do ideal de liberdade, por séculos a fio foi a

    confiança irrestrita no ideal de autoridade que

    prevaleceu entre a massa de brasileiros.

    Aspectos Destacados da Visão de Mundo

    Brasileira

    • Do ponto de vista econômico, enquanto a Europa se

    consolidava como potência industrial o Brasil vivia

    ainda da agricultura, de maneira semi-feudal;

    – Portanto, a idolatria do ideal de prosperidade econômica,

    nos séculos passados, não era um ideal acalentado pelamassa de brasileiros, sendo a sua absolutização entre nós

    algo relativamente recente.

    • Em função do caráter adaptável e flexível da visão de

    mundo da massa, jamais houve no Brasil a necessidade

    de uma identidade exclusiva, de raízes definidas

    – Daí porque uma das características principais de nossa

    visão de mundo ser ainda hoje a valorização da mera

    aparência e sua imitação quando isso é conveniente.

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    Aspectos Destacados da Visão de Mundo

    Brasileira

    • A predisposição para um modo de vida antagônico,

    flexível e fundado nas aparências, inevitavelmente

    incidiu na conduta ética do brasileiro que sempre tendeu

    a ser uma ética de aparências ou conveniências

    • Isso também incidiu na prática religiosa do brasileiro,

    criando uma dicotomia entre espiritualidade

    (compromisso estritamente religioso ou ritual) e conduta

    moral.

    • Apreço pela miscibilidade (o que é em si uma virtude,

    mas que quando aplicada ao domínio das ideias e da fé

    transforma-se em sincretismo)

    • Inclinação e Banalização do sensualismo erótico

    Portanto...

    • As razões que tem levado a massa de brasileiros a

    incorporar, pouco a pouco, a visão de mundo pós ou

    hipermoderna, não são as mesmas que levaram os

    Europeus, p. ex., a abraç�