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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 20
08
Versão On-line ISBN 978-85-8015-039-1Cadernos PDE
VOLU
ME I
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - SEED
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO - SUED
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE
TÍTULO:
IMPACTO DA SOCIEDADE DE CONSUMO NA REPRESENTAÇÃO DO CORPO
Jacarezinho- 2009
2
IMPACTO DA SOCIEDADE DE CONSUMO NA REPRESENTAÇÃO DO CORPO
Idê Néia Acorsi1
Prof. Alfredo Moreira da Silva Júnior2
Resumo: O presente artigo tem por objetivo investigar o impacto da sociedade de consumo na representação do corpo e suas implicações, na vida dos alunos da Escola Estadual “Cecília Meireles” - Bandeirantes –PR, com idade entre 13 e 16 anos, bem como com alguns professores/funcionários. Partindo da premissa de que a mídia é hoje o principal veículo de divulgação de padrões estéticos, e nisto auxilia a criar no imaginário das pessoas, que a idéia nos apresentada do corpo magro malhado, esquálido, mulheres lindas, homens musculosos, é o ideal de beleza a ser seguido. Essa busca, às vezes insana pela perfeição corporal muitas vezes é confundida com felicidade, realização, gerando grandes frustrações. Os padrões de beleza veiculados pela mídia em geral levam jovens, adolescentes e até adultos menos informados a estado enfermidade em busca do enquadramento social, e para conseguir vale tudo. Este trabalho busca conscientizar os jovens da importância de se abordar esse tema em ambiente escolar e, também como alerta quanto a se prevenir diante da insistente abordagem dos meios de comunicação, sobre beleza e seus procedimentos para alcançar os padrões por eles estabelecidos.
Palavras - chave: mídia – corpo – beleza
Abstract : The article has the objective to investigate the impact of society’s consumption in the representation of the body and its implications in the student’s life with age between 13 and 16 years old and some teachers at Escola Estadual Cecília Meireles in Bandeirantes- PR. Based in the premise that media is today the main vehicle of spreading aesthetic standards, and this assists to create in the imaginary of people that the idea presented of thin and athletic body, squalid, pretty women, athletic men, search of the healthful body, pretty and perfect, ideal beauty, is the ideal beauty to be followed. Searching the insane corporal perfection sometimes is confused with happiness, achievement, giving great frustrations for the person. The standards of beauty in media generally take the teenagers, adults and even non informed adults about this illness, searching a social status that worth everything to get it. This article wants to aware teenagers about the importance of approaching this theme at school and, also as an alert to prevent people of approaching this theme by the means of communication that insistently talk about this subject, on beauty and its ways to reach the standard established by the society.
Keywords: media - body - beauty
1 Professora QPM e aluna do Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE, Universidade Estadual do Norte do Paraná - e-mail: [email protected]
2 Professor orientador do Programa de Desenvolvimento Educacional, UENP- Campus de Jacarezinho, Doutorando em Ciência da Religião pela PUC/SP, Mestre em História pela UNESP/Assis
3
1. Introdução
“Dieta da Banana, a dieta derrete 3 kg em 10 dias”, “Que pernão”, “Beleza
construída”, “Magra sem sair de casa”, “Caminhada seca-barriga”, “Corpo em dia
depois do parto - perca peso enquanto amamenta”, “Sol, mar e muita malhação -
corpo perfeito, alma lavada”, “Venci a luta contra a balança e eliminei 34 quilos”;
“Fique em forma naturalmente”. Como podemos observar os títulos das reportagens
de revista são muito atrativos, os citados acima são alguns selecionados de uma
única revista de veiculação mensal que tem como objetivo tratar somente de beleza:
assim com também programas de TV como “Dez anos mais jovem”, “A verdadeira
idade”, “Esquadrão da moda”, prometem e induzem as pessoas a valorizarem cada
vez mais as formas físicas.
A mídia é hoje o principal veículo de divulgação de padrões estéticos, e
nisto auxilia a criar no imaginário das pessoas a idéia que nos foi apresentada.
O mundo consumista que nos cerca exerce uma influência muito grande
em nossas vidas, as crianças e jovens são mais receptivos às mensagens
veiculadas na mídia, considerado o principal veículo de divulgação dos padrões
estéticos, e nisto auxilia criar a idéia apresentada do corpo esquálido, esguio,
“malhado”, “sarado”, mulheres lindas, saudáveis, homens musculosos, etc. E essa
busca incansável sugere o alcance da almejada, sonhada, e querida felicidade;
partindo desse pressuposto, surge uma indagação sobre a atitude do jovem em
meio a esse bombardeio de propagandas de TV, revistas, outdoors, jornais e muitas
delas com mensagens diretas sobre a beleza. Os jovens e adolescentes de hoje
estão preparados para filtrar, absorver somente o que é necessário, e não o que é
colocado como objeto de consumo?
A partir desta reflexão surgiu da idéia de desenvolver um trabalho
direcionado a esse público carente de informação calcada na formação de uma
identidade autêntica, real, verdadeira e não a copiada, imaginada e tão sonhada
perfeição; da busca constante em ser ou parecer igual à determinado artista
(cantores, atrizes, atores, apresentadores, etc.). Segundo Uitdewilligen (2008), “o
modelo almejado, que ganha cada vez mais espaço através da mídia, é baseado em
atletas de grande destaque, nos galãs de novela, nos manequins e modelos
famosos, onde estão em evidencia os corpos musculosos, sem excessos de
4
gordura, com pele dourada.” Isto induz as pessoas à imitação, levando muitos à
obsessão ao embelezamento do corpo, assim perseguem o tão sonhado “corpo
perfeito”.
2. O conceito de Beleza e suas Implicações
2.1 Conceitos de Beleza ao Longo da História
Desde a Pré-História o homem representa a si próprio, e essa
representação constitui-se numa maneira dele contar sua história, seus costumes,
sua cultura. A arte é um dos elementos mais ricos da produção humana. Através das
obras dos grandes artistas, podemos compreender a própria história da
humanidade. A representação da figura humana, é tão antiga quanto a própria
história do homem, varia de acordo com a visão de mundo das diferentes culturas,
assim também o conceito de beleza vem se modificando através dos séculos.
Estudos têm demonstrado a forma como o corpo se configura em símbolo de uma
cultura, esses símbolos ajudam-nos a compreender melhor o mundo que envolve
determinados povos, pelos seus vestuários, pinturas corporais, ornamentos, se
projetam como códigos de identidade. O culto ao corpo sempre esteve presente na
humanidade, antigamente era mais presente nas elites, Como nos diz Derdyk
(1990), “O corpo transmuta. É transparente a passagem do corpo no tempo pela
transformação visível de sua matéria. O corpo é testemunha de nossa existência,
documento vivo”.
Na Pré-História a figura humana era representada exaltando as partes
mais valorizadas pela cultura. Segundo Proença (2001) “predominam as figuras
femininas, com a cabeça surgindo como prolongamento do pescoço, seios
volumosos, ventre saltado e grandes nádegas”. Era a representação do que mais os
impressionava e interessava. A mulher foi um modelo constante na Arte, através dos
tempos.
Para os egípcios a representação do corpo era submetida a lei da
frontalidade, configurava uma realidade eterna e imutável em que refletia o método
construtivo rigoroso. Derdyk (1990) mostra que para eles a representação das
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figuras era proporcional de acordo com a posição hierárquica. Existe uma grande
indagação quanto à cor da pele dos egípcios, devido a localização do Egito ficar na
África. Os egípcios, pelo menos em sua maioria, não eram negros, mas brancos de
pele morena. No entanto, vale lembrar que houve miscigenação entre egípcios e
núbios. Núbia se localizava em parte do território dos atuais Egito e Sudão Os reis
núbios que então governaram o país são conhecidos como "faraós negros".
Para os gregos a representação da figura humana era expressão máxima
da perfeição da beleza e do equilíbrio (cânones). O homem era a criatura mais
importante. Na cidade de Esparta os homens eram mais preocupados com a beleza
física e o preparo dos soldados, endeusavam os corpos fortes, musculosos.
Preocupavam com a beleza, mas não eram escravizados por ela, como acontece
hoje em dia. Atenas preocupava com a beleza intelectual e com a democracia. A
mulher bonita era aquela que fosse gorda e com quadril largo, pois para eles
simbolizava a fertilidade e saúde; conceito bem diferente dos atuais. Para
Hipocrátes o homem, nem nenhuma outra coisa deve ultrapassar os limites
estabelecidos grande estudioso da medicina, considerado pai da medicina dizia:
“Nem a sociedade, nem pela natureza.
Grandes filósofos, pensadores também teorizaram sobre o beleza, “o
belo”, para Platão (427 – 348 a.C.), sua preocupação é com a beleza ideal, não com
a beleza que se encontra nas coisas, “afirma que a beleza que percebemos no
mundo material participa de um Belo ideal” (Kaminski, p. 271, 2007), para Sócrates
(469-399 a.C), "toda beleza é difícil”, associa o belo ao útil, “assim todo objeto que
se adapta e cumpre com sua função, é belo.” (idem, p. 271), para Aristóteles outro
importante filósofo grego “a beleza é própria da criação humana e resulta do perfeito
equilíbrio de uma série de elementos”.
Na Idade Média a figura humana é representada de forma esquemática e
desvinculada da observação anatômica, pois nesse período todo o conhecimento
era centralizado em Deus. A valorização do corpo vinha via espírito que só era
valorizado por ser a morada de Deus, persistindo a visão dual (corpo e alma). O
corpo era tratado com respeito e moderação, com discrição dentro da ética e da
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moral3, devendo seguir as leis de Deus, renunciando aos prazeres, por ser uma
ameaça à vida (pecado).
Já no Renascimento há uma grande concentração nos estudos e no
conhecimento do homem, houve grandes mudanças culturais e ao mesmo tempo
em que a arte clássica (greco-romana) era subitamente revivida era também
superada (tomado apenas como fonte de inspiração) por esse momento histórico
rico em novidades. A figura humana retoma suas dimensões ideais, há uma
valorização do homem e da natureza, em oposição ao divino e ao sobrenatural. Foi
acentuada a importância do estudo da natureza e da ciência. O homem passa ser o
centro de tudo, a criatura mais importante do universo (ideal humanista), ou seja, a
partir do Renascimento, o ser humano passou a ser o grande foco das
preocupações da vida e do imaginário dos artistas. O retrato, por exemplo, tornou-se
um dos gêneros mais populares da pintura, utilizado, na ausência da fotografia, para
o registro de pessoas e famílias nobres e burguesas. A beleza do corpo antes vista
como pecaminosa, volta a ser explorada. Leonardo Da Vinci realiza estudos sobre o
corpo, pesquisa sua anatomia,o que influência sua criação artística.
Na Idade Moderna rompe-se com o modo renascentista de representação
da figura, inaugura-se um período de inovação e liberdade, multiplicam-se as
tendências os estilos e concepções estéticas. Há representações de mulheres
gordas, pele branca, passando para mulheres magras, de cintura marcada, seios
volumosos, rostos finos, quase angelicais. Neste período algumas mulheres da alta
sociedade (elite) tomavam vinagre para ficarem com aspecto de palidez, chegavam
a desmaiar em festas em nome do conceito de beleza vigente na época.
Na era Contemporânea mudam-se completamente os códigos de
representações, do figurativo ao abstrato. A partir dessas mudanças e com o
advento das tecnologias o homem passa a “conviver com uma representação quase
que diária de sua própria imagem, oferecida pelos extensos meios de comunicação”,
como nos diz Derdyk (1990, p.36),). O homem passa a ser a figura central, marcada
3 Por ética entendemos ser uma regra que dentro de um grupo, determina ou define um ato individual como sendo feito
em detrimento desse grupo e vice-versa. O ato ético recebe aprovação de todos quando se afere nos limites de um grupo
onde não hpa relação de força e dominação. Concluindo ética se refere sempre a atos responsáveis.
Quanto a moral é o conjunto de regras reveladas que visa, dentro de um determinado grupo, manter uma relação estável de poder entre estado e sociedade.
7
pela instantaneidade da imagem oferecida pela mídia. A mídia é a grande vitrine da
exposição física, o cinema foi o primeiro veículo a abrir as portas para esse novo
conceito de beleza, as atrizes de Hollywood sempre belas, com corpos esbelto,
esguio, usando maquiagem, principalmente o batom, contribuíram para a expansão
das indústrias de cosméticos e da moda, e na formulação de um novo ideal físico.
Os anos 20 são o marco histórico do ideal de magreza, quando ocorre o
aparecimento das dietas, onde o homem toma para si a responsabilidade de
desenhar seu próprio corpo, como uma forma de definir (afirmar) sua identidade
individual, maior capacidade de sociabilidade, nesse período a corporeidade ganha
cada vez mais evidência.
Após a Segunda Guerra há uma grande mudança de comportamento
fundamental através da propagação de hábitos de higiene, associado ao cuidado do
corpo, e também pela democratização da moda, que passa a ser popularizada pela
revistas femininas, como nos diz Lipovetsky (1999 apud Castro 2001):
“Após a Segunda Guerra Mundial, o desejo de moda expandiu-se com força, tornou-se um fenômeno geral, que diz respeito a todas as camadas da sociedade [...] os signos efêmeros e estéticos da moda deixaram de aparecer, nas classes populares como um fenômeno inacessível reservado aos outros: tornaram-se uma exigência de massa, um cenário de vida decorrente de uma sociedade que sacraliza a mudança, o prazer, as novidades”. (1999:p.115 apud Castro 2001:p.25).
Aqui podemos constatar como os meios de comunicação massificam os
indivíduos fazendo com que suas regras sejam assimiladas como verdades, como
aquilo que é certo, e é impregnada na sociedade, até como um objetivo social, um
status.
Para Uitdewilligen (2008) “os corpos contemporâneos carregam o peso de
grandes expectativas e muitas ansiedades, estão rodeados de regras e
constrangimentos no que se refere à sua estética, formato, virilidade, potência,
desempenho físico”.
Sempre em todo o tempo e em toda a cultura, a beleza do corpo foi e
sempre será exaltada por pintores, escultores, compositores musicais e poetas,
como o nosso poeta maior Vinícius de Moraes, em Receita de Mulher:
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[...] As muito feias que me perdoem Mas beleza é fundamental [...]
[...] É preciso que as extremidades sejam magras; que uns ossos despontem, sobretudo a rótula no cruzar das pernas, e as pontas pélvicas
No enlaçar de uma cintura semovente. Gravíssimo é, porém, o problema das saboneteiras: uma mulher sem [saboneteiras ]
É como um rio sem pontes. Indispensável Que haja uma hipótese de barriguinha, e em seguida
A mulher se alteie em cálice, e que seus seios Sejam uma expressão greco-romana, mais que gótica ou barroca
E possam iluminar o escuro com uma capacidade mínima de 5 velas. Sobremodo pertinaz é estarem a caveira e a coluna vertebral Levemente à mostra; e que exista um grande latifúndio dorsal!
Os membros que terminem como hastes, mas bem haja um certo volume de [coxas E que elas sejam lisas, lisas como a pétala e cobertas de suavíssima [penugem]
No entanto, sensível à carícia em sentido contrário. É aconselhável na axila uma doce relva com aroma próprio Apenas sensível (um mínimo de produtos farmacêuticos!)
Preferíveis sem dúvida os pescoços longos De forma que a cabeça dê por vezes a impressão
De nada ter a ver com o corpo, e a mulher não lembre Flores sem mistério. Pés e mãos devem conter elementos góticos
Discretos. A pele deve ser fresca nas mãos, nos braços, no dorso e na face.”
O texto acima, nos remete a um conceito considerado atrativo sexual,
presente desde o início da vida, e que tem na beleza corporal um considerável peso.
O autor relata minuciosamente o que para ele seria a mulher ideal. Ao analisarmos
as credenciais que ele atribui à beleza corporal da mulher, podemos notar que são
os mesmos dos dias atuais. Tanto as artes plásticas, como a poesia, a literatura, a
música tratam a beleza estética como algo com toque de divino, porém utópico. A
beleza como a única coisa que se tem para oferecer, como já comentamos no início
deste texto.
2.2 Afinal Beleza é Fundamental?
As mídias fazem e continuarão a fazer parte de nossa civilização. Porém
as mídias, principalmente a TV não são de todo ruins, se observados por um ângulo
otimistas, onde os jovens atualmente por meio delas são mais informados sobre
vários assuntos, formulam opiniões, e aumentam sua socialização. Entretanto nosso
objeto de estudo é a educação da linguagem midiatista, explicando a esse público
que se trata de um mundo simbólico, construído por outras pessoas, um mundo
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totalmente inventado, imaginário, pois uma mensagem televisiva nem sempre
expressa a realidade. Como nos diz Pelegrini (2005):
A mídia contemporânea vincula somente corpos que se encaixam em um
padrão estético “aceitável”, mediado pelos interesses da indústria de consumo.
Modelos corporais são evidenciados como indicativo de beleza, em todos os
formatos de mídia, num jogo de sedução e imagens. Trata-se de vincular à
representação da beleza estética ideais de saúde, magreza e “atitude”.
Configurando-se como objeto de desejo um corpo bonito, jovem, “malhado”, com
idéias de vencedor e rodeado pelo consumo. Esse conjunto de fatores acabou por
criar no imaginário social uma associação entre “corpo ideal” e sucesso.
Com o avanço da tecnologia e da ciência, conquistamos saúde,
longevidade e mais qualidade e vida e, com essas conquistas surgem novas
gerações dedicadas à técnicas de culto ao corpo, em busca do ideal de perfeição,
tornam seus corpos espelhos dos padrões de beleza vendidos como ideais,
perfeitos, que são expostos nos meios de comunicação de massa. Esses padrões
hoje ditados pelos meios de comunicação são absorvidos pelos adolescentes e, por
vezes acabam por influenciar de maneira negativa na vida desses jovens, e também
uma grande maioria de adultos.
Os efeitos da TV, e de outros meios de comunicação, são influenciados
pela emoção, pelo desejo, e, principalmente são inconscientes, despercebidos. Em
se tratando especificamente da TV, ela transforma em consumidores, em potencia,
crianças da mais tenra idade. Enquanto as escolas, os professores se esforçam ao
máximo formar cidadãos, ela fabrica consumidores; pois os meios de comunicação
têm uma visão capitalista e muitas vezes irresponsável. A televisão nossa de cada
dia acaba por criar ilusões de novos estilos de vida, transforma nossas fantasias
douradas em razão de vida, nos vende uma realidade que a própria realidade nega,
e acaba por decidir a nossa vida, não apenas como consumidor, mas infelizmente
decide também como cidadão. Decidir não ser influenciado pelos meios de
comunicação é muito difícil, é preciso ter conhecimento e uma educação em (re)
conhecer as tentativas enganosas de nos ludibriar.
Diante dessa constatação surgiu o interesse em investigar o impacto da
sociedade consumo na representação do corpo e suas implicações, na vida dos
alunos da Escola Estadual “Cecília Meireles” - Bandeirantes –Pr. com idade entre 13
e 16 anos, bem como com professores e funcionários.
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A discussão a respeito da excessiva valorização do corpo é um tema
sempre atual. Evidente que esse tema não se constitui como nenhuma novidade, o
culto ao corpo sempre esteve presente em diversas culturas e épocas ditando
padrões de beleza. Estamos vivendo uma era de culto ao corpo, no Brasil teve início
a partir dos anos 90. Porém, os padrões de beleza vêm se transformando, se
atualizando. Diante dessa realidade é oportuno fazer um trabalho voltado à questão
do resgate da identidade e da auto-estima, investigar qual o papel da TV no
cotidiano dos jovens alunos, os perigos do culto ao corpo, alertando, discutindo,
também, sobre os distúrbios alimentares. Cumpre-se assim o papel social da escola,
primando pelo bem estar, pela qualidade de vida, saúde física de seus alunos e
comunidade escolar. Em um mundo que, a cada instante, apresenta mudanças
significativas, o processo de identificação do adolescente faz-se mais desafiador, em
razão das diferenças de padrões éticos e comportamentais. Temos percebido que o
ideal de uma imensa parte da população, tem sido a busca incessante pela
aparência física. O ter ocupou o lugar do ser.
Outras questões que também causam inquietação como: qual o ideal de
beleza buscado pelos adolescentes, jovens e adultos na contemporaneidade? Quais
outros problemas são gerados na cabeça dos adolescentes em função do dilema do
“corpo que se tem e o corpo que se quer”? Como lidar e quais instrumentos utilizar
para recuperar a auto-estima dos adolescentes? Esses questionamentos vão muito
além da beleza, da estética tão desejada, entramos também nas questões de saúde
e no lado inverso dos problemas de anorexia e bulimia.
3. Distúrbios Comportamentais
3.1 Anorexia Nervosa
A preocupação com o peso e a forma corporal leva o adolescente a iniciar
uma dieta progressivamente mais seletiva, evitando ao máximo alimento de alto teor
calórico. Aparecem outras estratégias para perda de peso como: exercícios físicos
excessivos, vômitos, jejum absoluto, etc. Segundo alguns especialistas, esta perda
de peso provoca alterações químicas no cérebro, levando a pessoa a ver gordura
onde ela não existe. A anorexia por tempo prolongado pode levar a graves
problemas de saúde, como a osteoporose e dano aos rins. A pessoa segue se
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sentindo gorda apesar de estar extremamente magra, acabando por se tornar
escrava das calorias e de rituais em relação à comida. Isola-se da família e dos
amigos, ficando cada vez mais triste, irritada e ansiosa. Dificilmente a pessoa admite
ter problemas e não aceita ajuda de forma alguma. A família às vezes demora muito
tempo para perceber que algo está errado. Assim, as pessoas com anorexia nervosa
podem não receber tratamento médico até que se tornem muito magras e
desnutridas.
3.2 Causas da Anorexia Nervosa
Não existe uma única causa para explicar o desenvolvimento da anorexia
nervosa. Essa síndrome é considerada multi- determinada por uma mescla de
fatores biológicos, psicológicos, familiares e culturais. Alguns estudos chamam
atenção que a extrema valorização da magreza e o preconceito com a gordura nas
sociedades ocidentais estariam fortemente associados à ocorrência desses quadros.
Uma diminuição da pressão cultural e familiar com relação à valorização
de aspectos físicos, forma corporal e beleza pode eventualmente reduzir a
incidência desses quadros. É fundamental fornecer informações a respeito dos
riscos dos regimes rigorosos para obtenção de uma silhueta "ideal", pois eles têm
um papel decisivo no desencadeamento dos transtornos.
3.3 Bulimia Nervosa
A bulimia nervosa é uma doença relacionada à alimentação (um
"transtorno alimentar", no vocabulário dos médicos). Na bulimia, a pessoa come
muito (parece que está com muita fome). Depois, ela se sente culpada porque acha
que com toda essa comida, ganhou peso. Então, ela provoca o vômito, toma
laxativos ou diuréticos (remédios que soltam o intestino e que aumentam a produção
de xixi), tudo para tentar se "livrar" do aumento de peso. Uma pessoa bulímica pode
também fazer exercícios físicos exageradamente, com o mesmo objetivo. Esse
comportamento de comer muito e depois vomitar não acontece todos os dias da vida
do bulímico e, sim, de duas a três vezes por semana, mais ou menos. Em geral, o
doente come escondido dos outros ou guarda comida em baixo da cama. Como o
bulímico fica sempre nesse processo de comer e “por para fora”, ela não perde
12
peso. Por isso, tanto a família quanto os médicos têm mais dificuldade em descobrir
a doença.
Em geral, os bulímicos são pessoas depressivas, que se sentem
inferiores aos outros. Muitas vezes, a pessoa com bulimia sabe que tem um
problema, mas não consegue controlar a doença e a esconde, com vergonha. A vida
de um bulímico gira em torno de um ciclo vicioso, pois ele faz uma dieta rigorosa e
um pouco depois inicia a compulsão de comer. As causas são a ênfase para a
predisposição genética, pressão familiar, valorização do corpo magro como ideal de
beleza (cultura da magreza), que leva alguns jovens a imaginarem que para ter
beleza é necessário ser magra e isso, leva-as a lutar para ter um corpo ideal,
chegando a extremos. A ajuda deve vir do apoio dos familiares, tratamentos
psicológicos, de internamentos para reposição de nutrientes e evitar as recidivas.
3.4 Vigorexia ou Síndrome de Adônis
É um transtorno obsessivo-compulsivo em que o indivíduo torna-se
dependente por atividades físicas, onde a malhação é tudo na vida, com uma
valorização praticamente religiosa (fanatismo) ou a tal ponto de exigir
constantemente seu corpo sem importar com eventuais conseqüências ou contra-
indicações, mesmo medicamente orientadas,
A Vigorexia também é conhecida por "overtrainning" (em inglês),
"Síndrome de Adônis" ou Transtorno Dismórfico Muscular. Tal transtorno acomete
principalmente homens, mas também pode ocorrer em mulheres.
Portadores da Vigorexia são pessoas que só buscam a imagem corporal
perfeita, influenciadas por uma sociedade consumista, e por modelos culturais
atuais, onde o culto a imagem acaba adquirindo primordial importância, exigindo
insensatamente de seu organismo até sua meta ser alcançada. O abuso de
atividades físicas pode acarretar em muitos problemas físicos, como lesões
musculares, insônia, desinteresse sexual, irritação, fraqueza, má alimentação, entre
outros. Apesar de tais prejuízos orgânicos, os vigoréxicos também podem
apresentar outros sinais como: baixa auto-estima, timidez, desmotivação, depressão
entre outros.
13
Por se tratar de um transtorno descoberto recentemente os critérios de
diagnóstico para a Vigorexia ainda não estão claramente estabelecidos. O sintoma
central parece ser uma distorção na percepção do próprio corpo e deste sintoma
decorrem os demais, como por exemplo, a obsessão pelos exercícios e dietas
especiais, onde buscam eliminar completamente alimentos que contenham gorduras
e consomem exageradamente proteínas. A situação de um vigoréxico pode se
agravar se buscar em anabolizantes o aumento da massa corpórea, pois esses
podem provocar problemas cardiovasculares, câncer de próstata, diminuição dos
testículos, etc.
Esse tipo de sintoma básico (percepção distorcida do próprio corpo)
também é o sintoma principal dos transtornos alimentares.
A psiquiatria e a psicoterapia cognitivo-comportamental juntas, tem obtido
resultados eficazes em seu tratamento, onde o profissional e familiares podem fazer
com que o individuo se conscientize que a preocupação com o corpo é bem vinda,
mas a demasia é prejudicial.
Em cada época o homem busca sua identidade, sua auto-afirmação
sempre a procura de um corpo perfeito, ideal, para muitas vezes ser aceito na
sociedade, essa passou a ser uma preocupação cada vez mais presente na vida das
pessoas, uma obsessão. Como podemos constatar no desabafo do cantor e
compositor Hebert Viana:
“'Cirurgia de lipoaspiração?'
Pelo amor de Deus, eu não quero usar nada nem ninguém, nem falar do que não sei, nem procurar culpados,
nem acusar ou apontar pessoas, mas ninguém está percebendo que toda essa busca insana pela estética ideal é muito menos lipo-as e muito mais piração?
Uma coisa é saúde outra é obsessão. O mundo pirou, enlouqueceu.”
[...]. “A sociedade consumidora, a que tem dinheiro, a que produz, não pensa em mais nada além da imagem, imagem, imagem.
Imagem, estética, medidas, beleza. [...]Ok, eu também quero me sentir bem, quero caber nas roupas,
quero ficar legal, quero caminhar, correr, viver muito, ter uma aparência legal mas... Uma sociedade de adolescentes anoréxicas e bulímicas,
de jovens lipoaspirados, turbinados, aos vinte anos não é natural. “
Essa realidade que se apresenta diante de nós é conseqüência da
avalanche de imagens e representação do corpo expressa na atualidade através da
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mídia, sempre buscando nos apresentar um padrão de beleza existente no meio
social e o excesso de valorização atribuída a ele, o endeusamento da beleza e
repercute de forma considerável na vida das pessoas e principalmente das
mulheres. Os homens não estão imunes a essa cultura de beleza, nos últimos anos
se percebem mudanças nesse sentido. Eles têm investido em sua aparência,
buscando tratamento de beleza, freqüentando cada vez mais academias, para
conquistar um corpo “malhado”, “sarado”; e para isso muitos recorrem ao uso (e
abuso) de hormônios e anabolizantes. Segundo Kehl (FOLHA, 2002) para milhares
de brasileiros, incentivados pela publicidade e pela indústria cultural, o sentido da
vida reduziu-se a produção de um corpo [...] a cultura do corpo não é a cultura da
saúde, como quer parecer. As pessoas se espelham nesses conceitos achando que
é bom, há um barateamento da vida, atitudes que só poderão se mudadas com a
compreensão da sociedade, o entendimento da máquina que veicula esse tipo de
produção, necessidade de esclarecimento e resistência; os jovens são levados pela
onda. Os efeitos da TV (de outros meios de comunicação) são influenciados pela
emoção, pelo desejo, e principalmente são inconscientes, despercebidos.
Os conceitos de beleza que atualmente veiculam nas mídias trazem
certos danos à saúde das pessoas, em detrimento de intervenções, tais como:
dietas, cirurgias plásticas e bariátricas, aplicações de botox, exercícios físicos, uso
de anabolizantes, silicone, etc. As propagandas de cosméticos, produtos de
emagrecimento veiculados na TV, são elaboradas com o objetivo de persuadir o
telespectador (muitas vezes a mulher) a um padrão de beleza pré-estabelecido.
Entretanto a mídia tem grande responsabilidade na definição e constituição de
modelos corporais. Assim como diz Berger (2006, p.119) “vemos mulheres lindas na
mídia o tempo todo, recebemos via publicidade virtual ou convencional, inúmeras
mensagens imagéticas que sugerem que emagrecer, e ser bonito é um passaporte
para a felicidade”. Também segundo Bordieu (1997, p.17) “[...] a tela de televisão se
tornou hoje uma espécie de espelho de Narciso, um lugar de exibição narcísica.”;
essa é uma característica das sociedades de consumo.
A busca pela perfeição corporal muitas vezes é confundida com felicidade
e realização, gerando grandes frustrações. A obsessão pela aparência pode causar
estresse, ansiedade, tornando deprimidas e infelizes pessoas saudáveis que não
atingem o padrão de beleza que a sociedade exige. Quem acaba por lucrar com
essas situações de inversão de prioridade são as indústrias de cosméticos. Nessa
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era de consumismo exacerbado pode-se dizer que belo é tudo aquilo que se vende.
Portanto, beleza vira mercadoria que através de diferentes técnicas, mais do que
tudo é desejada, e torna-se passível de ser compradas, comercializadas. Como
afirma em uma frase o cantor e compositor, Beto Alves: “Se passamos a consumir
tudo e todos, passamos também a ser consumidos por tudo e por todos”.
4. Metodologia
Para a coleta de dados da pesquisa lançamos mão de três instrumentos;
observação dos indivíduos pesquisados, aplicação de questionário para alunos e
professores (professor/aluno; professor/professor), utilizando a escala de Likert,
(MATTAR, apud Brandalise, 2005) os resultados serão apresentados ao final deste
artigo; antes da aplicação do questionário e durante todo o processo investigativo e
de implementação do projeto fez-se a aplicação da Produção Didática (neste caso
uma Unidade Temática) para estudo e realização das atividades propostas, como
parte do conteúdo curricular; bem como análise reflexiva de pesquisa feita pelos
alunos em revistas, sites de internet, atividade realizada em grupos sobre,
Procedimentos Estéticos Invasivos e não Invasivos. Distúrbios Alimentares e
Conceitos de Beleza na Contemporaneidade, tais trabalhos foram apresentados à
sala e amplamente debatidos. Posteriormente fez-se o estudo de um recorte do
artigo de Thiago Pellegrini “Mídia e o Mercado dos Corpos”, como informação e
reflexão. Para complementação da implementação foi assistido dois vídeos, o
primeiro, “Beleza” (veiculado no Youtube), que traz de forma impactante e reflexiva
como os programas de computação modificam a imagem, transformando e
divulgando como beleza ideal, mostrando como a mídia pode iludir quanto ao
protótipo de beleza por ela veiculado. O segundo, documentário Super Size-me – a
Dieta do Palhaço, que aborda as conseqüências e os perigos de uma alimentação
de má qualidade em exagero, onde o personagem se propõe a uma dieta, durante
um mês, só se alimentar de sanduíches, comidas de fast-foods, sem se submeter a
nenhum exercício físico e ao final resultando na perda de sua saúde. Tais atividades
foram pensadas com o objetivo de conscientizar os jovens, da importância de se
abordar esse tema em ambiente escolar e, também como alerta quanto a se
prevenir diante da insistente abordagem dos meios de comunicação, sobre beleza e
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seus procedimentos para alcançar os padrões por eles estabelecidos. A mídia trata
hoje a beleza estética, corporal como a única coisa que se tem a oferecer.
Durante o desenvolvimento do Programa de Desenvolvimento (PDE) uma
das atividades propostas foi o Grupo de Trabalho em Rede (GTR), realizado no
segundo semestre de 2008, onde contamos apenas com 04 professores da rede
participantes, dos quais somente 03 concluíram o curso.
No decorrer do curso foi colocado para análise e apreciação dos
participantes, o Projeto de Implementação, o material de Produção Didática (neste
caso uma Unidade Temática), por orientação da monitoria do curso; e também o
artigo científico de autoria de Thiago Pellegrini “Imagens do Corpo, Reflexões sobre
as Acepções Construídas pelas Sociedades Ocidentais”, por tratar de forma crítica
uma reflexão sobre a necessidade de modificação e acepção de corpo
contemporâneo que tem sido cada vez mais massificado por segmentos midiáticos
nossa sociedade, e ainda aborda os mecanismos utilizados para a construção dos
modelos estéticos e os interesses mercadológicos envolvidos na sua propagação.
Quanto à participação dos cursistas não foi muito satisfatória, pois mesmo
com insistentes pedidos de complementação das atividades, não houve o feedback
esperado, não dando nenhum subsídio consistente para a elaboração deste artigo.
5. Resultados
A intenção deste trabalho visou investigar e discutir, os efeitos da mídia
em relação “cultura do culto ao corpo e suas implicações nos jovens, alunos das 8ª
séries da Escola Estadual “Cecília Meireles”- Ensino Fundamental, da cidade de
Bandeirantes –Pr., totalizando 44 alunos participantes, de classe baixa, com média
salarial de dois salários mínimos por família) e, professores/funcionários, num total
de 38, somente 10 participaram do projeto, percebe-se faltou interesse e espírito
colaborativo em participar da pesquisa e assim contribuir para a melhoria da
educação; mesmo entregando o questionário, estes não retornaram.
Nota-se a falta de consciência de alguns profissionais de que o foco está
na necessidade do aluno, necessitando proporcionar orientação num processo
contínuo, coerente e consistente em relação à busca de uma melhor qualidade de
vida. Entretanto pelos resultados obtidos, pode-se considerar que a grande maioria
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dos professores/funcionários já estão influenciados (dominados) pelo mundo
consumista, contribuindo para o culto à “beleza”. Os professores/funcionários
participantes são de classe média, com média salarial de 03 a 08 salários mínimos
por família, aqui a diferença de nível sócio-econômico demonstra grande relevância
no comportamento das pessoas. Quanto aos jovens mesmo sendo constado que
ficam mais tempo assistindo a TV, baseado em dados coletados através de
questionário e estudos de textos, constatamos que os alunos não estão sendo
influenciado em relação a métodos invasivos tais como: cirurgias plásticas,
lipoaspiração, aplicação de silicone, cirurgia bariátrica (redução do estômago).
Os dados aqui apresentados foram calculados em percentual das
questões em relação ao número de participantes. Apenas 0,5% apresentaram
preocupação com o cuidado exagerado ao corpo, desenvolvendo a bulimia
acompanhada de depressão, atualmente encontra-se em tratamento; 95% nunca
pensaram em recorrer a tais recursos, e 4,5% quem sabe futuramente, se tiver
condição financeira fariam lipoaspiração abdominal. Entretanto são influenciados na
questão da moda, cuidados com cabelos e cosméticos, desses 100% das meninas;
e os meninos também 100% em relação a tênis e bonés de marca; “Viu né, melhora
o visual”, frase de um aluno. O trabalho com estudos de textos auxiliou nos
esclarecimentos e prevenção da influência da mídia em nossos comportamentos,
hábitos e costumes. Querer ser bonitos como muitos artistas, modelos, atrizes, creio
que todos gostaríamos de ser, porém a preocupação exagerada pode levar os
jovens, a um verdadeiro abismo, pois cada um é de um jeito e, muitas vezes aqueles
que se acham o “patinho feio” se isolam, causando sérios problemas emocionais.
Temos que cuidar para não cair na tentação de querermos ter corpos esculturais, e
ficar com a cabeça vazia, porque se a pessoa fica obstinada pela beleza exterior,
corre um sério risco de perder o que é mais precioso no ser humano, amor-próprio, o
entusiasmo, dignidade, confiança, a Vida.
Entre os professores participantes 50% já se submeteram a algum tipo de
correção estética, como cirurgia plástica, bariátrica, prevenção contra o
envelhecimento (com laser), dessas 30% alegaram ter recorrido a tratamentos
invasivos por correr riscos com a saúde, e 20% por cuidados com a aparência,
“vaidade feminina”. Os outros 50% ainda não tem necessidade de tais
procedimentos, pois são jovens, estão “com tudo em cima”. Aqui constamos que o
nível sócio-econômico dá condições e estimula a vontade de recorrer a métodos
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mais invasivos; onde a renda familiar atinge o teto de três a oito salários mínimos em
média.
Após o término da implementação do projeto, as mudanças notadas no
comportamento dos alunos foi muito sutil, porém por pequena e insignificante que
seja a mudança de atitude, o importante é a auto-percepção daquilo que estão por
passar; pois o tempo destinado ao desenvolvimento do mesmo foi muito curto,
sendo necessário mais tempo para pesquisa, discussão e debate do assunto, para a
formação de jovens conscientes e críticos da sua realidade, agindo como cidadãos
responsáveis detentores da ética e da moral.
6. Considerações finais .
No mundo de hoje a imagem tomou uma importância exacerbada no
mundo contemporâneo. Segundo Pellegrini (2005), “A mídia contemporânea veicula
somente corpos que se encaixam em um padrão estético aceitável, mediado pelos
interesses da indústria de consumo”. A busca incessante para se “encaixar” a um
modelo corporal estabelecido como ideal, pode desencadear problemas de saúde,
psicossociais e muitas vezes conduzir a morte.
Diante dos dados obtidos na presente pesquisa, permite fazer algumas
considerações e reflexões no âmbito escolar, bem como os valores associados aos
profissionais da área da educação.
Enquanto constata-se que o nível sócio-econômico e cultural, tem grande
influência no comportamento das pessoas, como dito anteriormente, felizmente
pode-se afirmar que os alunos pesquisados, ainda não são totalmente influenciados
pelos meios de comunicação. Considerando que são menores, “imaturos”, e não
podem tomar certos tipos de decisões, eles tendem a preocupar por hora somente
com o “look” (roupa da moda, tênis de marca, tintura e corte de cabelo da moda,
entre outros), sem recorrerem a métodos invasivos.
Todavia, seria interessante um acompanhamento desses jovens durante
sua vida escolar na rede pública de ensino retomando o projeto; suas implicações,
trabalhando a auto-estima, influência negativa de pessoas próximas, retomando as
reflexões de como veiculam conceitos de beleza nas mídias e proporcionar aos
mesmos a capacidade de filtrar o que realmente é importante e pertinente para a
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vida; pois acreditamos que futuramente, quando forem “independentes”, talvez e
pela insistente apelação da mídia muitos poderão mudar de idéia, de
comportamento e atitude, requerendo assim um respaldo da escola atualizando
informações, primando por uma qualidade vida cada vez melhor para os jovens.
Cabe aqui mais uma vez a escola cumprir seu papel social, buscando cada vez mais
informar, conscientizar os jovens quanto á importância de uma qualidade de vida
saudável. Acreditamos que uma estrutura familiar bem solidificada colabora para
prevenir que distúrbios, desvios de comportamentos não venham a acontecer, pois a
família é base de tudo e é ela quem dá força, apoio para que jovens e adolescentes
passem ilesos por essa tão conturbada fase. Entretanto compete a nós educadores
auxiliarmos a combater acirradamente os estereótipos criados pelos meios de
comunicação, principalmente o publicitário, de um ideário corporal por eles
veiculado. Mostrar que ser “belo” é ter belos ideais, que deixam marcas profundas
no mundo.
7. REFERÊNCIAS
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