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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · ser lançada no Brasil a décima edição do Relatório Delors no formato de livro - Educação um Tesouro a Descobrir. ... (DELORS, 2001, p.152)

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO Superintendência da Educação

Diretoria de Políticas e Programas Educacionais Programa de Desenvolvimento Educacional

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

CADERNO TEMÁTICO

O PEDAGOGO NA ESCOLA PÚBLICA:

TEORIA E PRÁTICA

MARINGÁ

2010

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO Superintendência da Educação

Diretoria de Políticas e Programas Educacionais Programa de Desenvolvimento Educacional

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

MARIA HELENA ROCHA

O PEDAGOGO NA ESCOLA PÚBLICA:

TEORIA E PRÁTICA

Material Didático (Unidade de Caderno Temático) para Intervenção Pedagógica na

Escola, apresentado à Secretaria Estadual de Educação do Estado do Paraná, como

requisito parcial para a obtenção do título de Professor PDE, sob a responsabilidade da Universidade Estadual de Maringá,

tendo como orientadora a Professora Dra. Ivana Veraldo.

MARINGÁ

2010

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.....................................................................................................4

1. OS ANOS 90 E A RECONFIGURAÇÃO DA FUNÇÃO DO PEDAGOGO.....5

1.1 Esclarecendo o contexto................................................................. ...............5

1.2 Pedagogia do Aprender a Aprender..............................................................8

1.3 Papel da Revista Nova Escola na reconfiguração da função do

pedagogo....................................................................................................11

1.4 Influência do pragmatismo...........................................................................12

1.5 Formação dos pedagogos...........................................................................14

1.6 Exemplo de pragmatismo nas escolas........................................................17

1.7 Finalizando a unidade..................................................................................18

2. MUDANÇAS NO MUNDO DO PRODUTIVO E ORGANIZAÇÃO DO

TRABALHO ESCOLAR................................................................................19

2.1 Histórico do trabalho do pedagogo..............................................................22

2.2 Os professores pedagogos na atualidade...................................................28

2.3 Finalizando a unidade..................................................................................32

3. GESTÃO DEMOCRÁTICA NA ESCOLA PÚBLICA.....................................37

3.1 Gestão democrática nos anos 1990............................................................37

3.2 Finalizando a unidade..................................................................................44

4. DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS E O PAPEL DO PROFESSOR

PEDAGOGO..................................................................................................46

4.1 O trabalho do pedagogo: desafios..............................................................47

4.2 Finalizando a unidade.................................................................................52

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................52

REFERÊNCIAS ................................................................................................55

4

INTRODUÇÃO

O Pedagogo na Escola Pública: Teoria e Prática é o título do Caderno

Temático que será utilizado como material didático na fase de implementação

da prática pedagógica no Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE.

Foi planejado um curso de extensão com 32 horas que serão

distribuídas em estudos presenciais e online. Prioritariamente, o público alvo

são os pedagogos do Colégio Paiçandu - Ensino Fundamental Médio e Normal.

A primeira parte do curso (4 horas) será ministrada pela nossa

professora orientadora, Dra. Ivana Veraldo (UEM). Para essa parte do curso,

ela preparou um texto que incluímos nesse material, no primeiro capítulo,

intitulado “Os anos 90 e a reconfiguração da função do pedagogo”.

As outras etapas do curso serão coordenadas e ministradas por nós.

Assim, os demais capítulos desse Caderno se constituem em fruto das leituras,

das informações, das entrevistas com profissionais e das reflexões que fizemos

a respeito do papel que o professor pedagogo tem desempenhado e pode

desempenhar na escola pública.

No segundo capítulo do Caderno, abordamos as mudanças efetivadas

no mundo produtivo e a repercussão na organização do trabalho escolar. No

terceiro, algumas considerações sobre a gestão democrática e o papel do

pedagogo frente a esse novo modo de administrar a escola. No quarto capítulo,

o objetivo é refletir sobre alguns desafios que se colocam na

contemporaneidade e acerca do papel dos pedagogos frente a eles. De certa

forma, esse capítulo já é um pouco conclusivo. Mas, mesmo assim, abrimos

uma parte chamada Considerações finais para sinalizar os pontos principais de

toda a reflexão.

Não temos a intenção de esgotar o assunto. A meta é oferecer alguns

subsídios teóricos para a reflexão sobre a prática dos pedagogos. Como a

educação é um processo, entendemos que é nele que se efetivará a superação

dos obstáculos que hoje se colocam ao trabalho do pedagogo que deseja

sobrepor o aspecto político pedagógico ao administrativo.

1- OS ANOS 1990 E A RECONFIGURAÇÃO DA FUNÇÃO DO PEDAGOGO

Ivana Veraldo

No período histórico referido na citação em epígrafe, a sociedade

capitalista passou por transformações que redefiniram seus rumos e,

inevitavelmente, repercutiram no campo educacional e na reconfiguração da

função do pedagogo.

Assim como no cenário econômico, o que ocorreu foi uma renovação do

Liberalismo, com nova roupagem, configurando-se no Neoliberalismo; no

campo educacional, o que ocorreu foi uma reedição do pensamento

escolanovista, adaptado aos novos tempos. Surgem, então, as chamadas

Pedagogias Pós-modernas. Mas, antes de esclarecer isso, vamos lançar

algumas luzes sobre esse contexto.

Segundo Frigotto e Ciavatta, 2003, o que entrou em crise no período

pós-moderno, nas últimas décadas do século XX, foi a forma de reprodução do

capital.

1.1 Esclarecendo o contexto

No plano mais profundo da materialidade das relações sociais está a

crise da forma capital. Depois de uma fase de expansão, denominada por Hobsbawm (1995) de idade de ouro, com ganhos reais para uma

parcela da classe trabalhadora, particularmente nos países que representam o núcleo orgânico e poderoso do capitalismo, o sistema entra em crise em suas taxas históricas de lucro e exploração. A

natureza dessa crise o impulsiona a um novo ciclo de acumulação mediante, sobretudo, a especulação do capital financeiro. Essa

acumulação, todavia, não é possível para todos (FRIGOTTO;

CIAVATTA, 2003, p. 94-95, grifos nossos).

As últimas décadas do século XX e o início do século XXI vêm marcados por profundas mudanças no campo econômico, sociocultural, ético-político, ideológico e teórico (FRIGOTTO; CIAVATTA, 2003, p. 94).

6

Começa a ser produzido, ideologicamente, um “verdadeiro arsenal de

noções” com a função de um pensamento único, de uma solução única para a

crise (FRIGOTTO; CIAVATTA, 2003, p. 95). Esse pensamento único, nós o

chamamos de discurso hegemônico. Ele se produziu no interior do que vem

sendo chamado convencionalmente de Neoliberalismo ou Globalização, que

corresponde a uma reestruturação da economia em escala planetária e a uma

transformação profunda da divisão internacional do trabalho, assim como uma

negação das referências, modelos ou paradigmas até então utilizados pelas

escolas em todos ou em qualquer grau de ensino.

Um fato importante que marcou o início do Neoliberalismo foi uma

reunião ocorrida em novembro de 1989, na capital dos Estados Unidos,

Washington. Estavam presentes funcionários do Fundo Monetário Internacional

(FMI), do Banco Mundial, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID),

do governo norteamericano e diversos economistas latinoamericanos. O

objetivo era realizar uma avaliação das políticas econômicas para a América

Latina.

As conclusões do que passou a ser chamado Consenso de

Washington acabaram tornando-se o receituário imposto por agências

internacionais para a concessão de financiamentos para países que

solicitassem empréstimos aos organismos internacionais, como o FMI e o

Banco Mundial.

As regras impostas passaram a fazer parte das reformas neoliberais

em diferentes países, centradas na desregulamentação dos mercados, na

abertura comercial e financeira e na redução do tamanho e do papel do

Estado.

Acompanhando esse cenário de mudanças, ocorreu, em março de 1990,

em Jomtien, naTailândia, a Conferência Mundial sobre “Educação para

Todos”, que assumiu como meta primordial a revitalização do compromisso

mundial de educar todos os cidadãos do planeta, tendo em vista o processo

crescente de democratização da sociedade.

7

Essa Conferência deu origem

à “Declaração Mundial sobre

Educação para Todos”. Foram

signatários desse documento quatro

organismos internacionais

patrocinadores desta conferência: a

UNESCO (Organi zação das

Nações Unidas para a

Educação, a Ciência e a

Cultura); o UNICEF (Fundo das

Nações Unidas para a Infância); o

PNUD (Programa das Nações

Unidas para o Desenvolvimento); e o

Banco Mundial.

A Conferência de Jomtien inaugurou um grande consenso sobre a

educação em nível mundial, um discurso hegemônico para a década que se

iniciava.

A UNESCO, em 1993,

convocou uma Comissão

Internacional, composta por vários

especialistas das diversas áreas

do conhecimento de todo o

mundo, para refletir sobre a

Educação para o Século XXI.

Jacques Delors, ex-ministro da

Economia e Finanças da França,

foi o presidente da Comissão. Em

1996, foi publicado um amplo

relatório propondo quatro pilares

para servirem de base à

educação do próximo milênio,

conhecido como Relatório

Delors.

Nesse momento, no Brasil, iniciava-se o governo de Fernando Collor de Melo, que durou pouco mais de um ano, alvo

de denúncias que o incriminaram e lhe valeram um processo de impeachment

como presidente da República. Mas as bases lançadas pela Conferência inspiraram o Plano Decenal da

Educação para Todos, em 1993, já no

Governo Itamar Franco. Ao lado do

breve sucesso de Collor, naufragara o primeiro projeto popular da esquerda depois da ditadura, a derrota do

candidato do Partido dos Trabalhadores, Luiz Inácio “Lula” da Silva. A nova

correlação de forças alterará, como veremos adiante, o rumo da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional (LDB), alimentada pela

Constituinte de 1988 e por um amplo

movimento da sociedade civil nos anos subseqüentes (FRIGOTTO e CIAVATTA, 2003, p . 98, grifos nossos).

SAIBA MAIS

ENDEREÇOS PARA PESQUISA:

UNESCO no Brasil

http://www.brasilia.unesco.org/

UNICEF Brasil

http://www.unicef.org.br/

PNUD

http://www.pnud.org.br/home/

Banco Mundial

www.bancomundial.org.br/

8

Segundo consta no site da

UNESCO, o sucesso desse

documento no Brasil deveu-se à

“[...]pertinência de suas propostas no

sentido de ajudar a edificar um novo

cenário educacional capaz de inserir

a escola no circuito das

transformações mundiais que se

operam em alta velocidade[...]”

http://www.brasilia.unesco.org/noticia

s/ultimas/relatorio%20delors

Delors fundamenta a Pedagogia Pós-moderna do Aprender a Aprender,

tendência educacional que influencia a prática dos professores, mudando o dia-

a-dia das escolas e, portanto, interferindo também na atuação dos pedagogos.

1. Aprender a conhecer, isto

é, adquirir os instrumentos

da compreensão;

2. Aprender a fazer, para

poder agir sobre o meio

envolvente;

3. Aprender a viver juntos,

aprender a viver com os outros, a fim de participar e

cooperar com os outros em

todas as atividades humanas;

4. Aprender a ser, via

essencial que integra as três precedentes (DELORS,

1999, p. 89).

1.2 Pedagogia do aprender a aprender

SAIBA MAIS

O Relatório Jacques Delors (1996) foi publicado no Brasil em formato de livro, em 1999, com o título Educação, um tesouro a descobrir,

com apoio do MEC, UNESCO, pela CORTEZ Editora.

VAMOS

RELEMBRAR

CONHECIMENTOS

IMPORTANTES

Os quatro pilares

necessários para a educação do século

XXI, segundo

Delors, são:

9

Esses quatros pilares têm influenciado com intensidade as Pedagogias

Pós-modernas e todo o discurso educacional produzido a partir dos anos de

1990 no Brasil e no cenário internacional. Um exemplo disso é que acaba de

ser lançada no Brasil a décima edição do Relatório Delors no formato de livro -

Educação um Tesouro a Descobrir.

Nesse relatório, o foco é o professor, a necessidade de ele se adaptar

aos “novos” tempos. A ele é atribuído o sucesso ou o fracasso dos processos

de ensino-aprendizagem, cabendo-lhe a tarefa de transmitir aos alunos os

conhecimentos e, ainda, “despertar a curiosidade, desenvolver a autonomia,

estimular o rigor intelectual e criar condições necessárias para o sucesso da

educação formal e da educação permanente” (DELORS, 2001, p.152).

Em 1999, a UNESCO solicitou ao filósofo francês Edgar Morin a

sistematização de um conjunto de reflexões para se repensar a educação do

século XXI. Elas resultaram no livro Os sete Saberes Necessários à

Educação do Futuro. O livro também contribuiu para a revisão das práticas

pedagógicas na perspectiva das Pedagogias Pós-modernas, por exemplo,

quando sugere a incorporação dos problemas cotidianos ao currículo. Morin

influenciou o pensamento do sociólogo suíço Philippe Perrenoud que, em

seguida, apresentou a proposta da Pedagogia das “Competências”.

Chama a atenção o modo como essas tendências educacionais

diminuem o peso dos conteúdos disciplinares, dos conteúdos científicos, e

valorizam o aprendizado que é realizado a partir da experiência.

O desenvolvimento das competências ocorreria a partir da prática, da

resolução de problemas e por projetos. Aos professores, caberia a organização

de situações didáticas (aula) e de atividades que oportunizassem o acesso a

essa prática e que tivessem sentido para os alunos. O fundamental nessa

proposta é que o aluno é o centro da aprendizagem e o professor deve saber

Delors, Morin, Perrenoud e Nóvoa são autores que

fundamentam as tendências pós-modernas

na educação.

10

colocar-se no lugar do aluno. Observamos uma completa retomada dos

princípios escolanovistas da década de 1930.

Também, que a entrada dessas tendências pedagógicas na escola

afeta igualmente a função do pedagogo, pois ele foi encarregado de organizar

situações didáticas nas quais prevaleçam o aspecto prático e deve orientar os

professores também nesse sentido.

Outra proposição surgida nos anos de 1990, que também se alinha às

Pedagogias Pós-modernas, é a que foi sugerida por Antonio Nóvoa (1992)

quando se refere ao “Professor Reflexivo”. Sua proposta chegou a se

transformar num paradigma dominante na área de formação de professores e

de pedagogos. Segundo Nóvoa: "A produção de práticas educativas eficazes

só surge de uma reflexão da experiência pessoal partilhada entre os colegas".

Há muita nebulosidade, ainda, sobre a tese do Professor Reflexivo, mas,

de qualquer forma, defender essa tese não transforma a consciência dos

professores sobre a realidade e nem transforma a realidade.

A sugestão de Nóvoa (1992) parte do pressuposto da autonomia dos

professores, e temos de considerar que nossa sociedade é marcada pelas

diferenças sociais. Não dá para valorizar somente os aspectos individuais dos

professores. O professor precisa, além de ser reflexivo, de condições objetivas

de trabalho para poder cumprir sua função de mediação entre o conhecimento

e o aluno. Assim como, o pedagogo, para ser reflexivo, também necessita de

condições objetivas para sua atuação, hora atividade, por exemplo.

Além dessas três Pedagogias – do Aprender a Aprender, das

Competências e do Professor Reflexivo – outra tendência educacional que

influencia os professores, os pedagogos e as escolas em geral na atualidade é

o Multiculturalismo, que também faz parte do discurso pós-moderno, mas não

chega a se constituir numa Pedagogia.

Chamamos a atenção para o Multiculturalismo porque queremos

retomar, aqui, uma das suas principais características, que é o deslocamento

da reflexão do campo social para o cultural. Essa questão aparece, por

Multiculturalismo

11

exemplo, quando os educadores deixam de refletir sobre a desigualdade social

e passam a discutir sobre raça, etnias, gênero.

O Multiculturalismo ganha força no campo educacional no Brasil com a

implantação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), pelo MEC, em

1997, que, nos Temas Transversais, denominado Pluralismo Cultural, destaca

a importância de um conjunto de saberes, valores e atitudes a serem

trabalhadas por todas as escolas do território nacional, visando,

simultaneamente, a valorização da diversidade cultural, o respeito e tolerância

às diferenças e consolidação dos valores democráticos da sociedade brasileira

para o alcance da cidadania.

A Revista Nova Escola tem colaborado para difundir essa corrente de

pensamento entre os professores e pedagogos, enraizando a ideia de que as

diferenças entre os indivíduos são, predominantemente, as diferenças de raça,

de religião, bem como todas as necessidades especiais de aprendizagem.

Numa matéria intitulada “Diferenças. É hora de aceitar e valorizar as

diferenças”, a Revista apresenta a seguinte conclusão:

Em última instância, o Multiculturalismo, em nossa opinião, somente tem

contribuído para a manutenção das diferenças, cujas raízes, de fato, são de

ordem econômica e social.

1.3 Papel da Revista Nova Escola na reconfiguração da função do pedagogo

A solução, como se viu em todos os casos relatados, é uma só: aceitar as diferenças e valorizá-las. Pense. A vida não seria um imenso tédio se todos fossem iguais? Ao aceitar as pessoas (alunos, professores, vizinhos, amigos) como elas são, aprendemos, nós também, a ser melhores. Afinal, é graças à maneira de ser, pensar e agir de cada um que o mundo fica mais interessante (ANDRADE, In: Revista Nova Escola. Dezembro de 2000).

12

As crises crescentes do capitalismo, a partir dos anos de 1970, criaram

um clima propício para o surgimento do que vem sendo chamado de Neo-

pragmatismo, cujo maior representante teórico é Richard Rorty (1931-2007).

As Pedagogias Pós-Modernas fazem parte desse movimento

Neopragmatista de retomada dos conceitos fundamentais do Pragmatismo.

Elas retomam os princípios da Escola Nova, com acréscimos preocupantes,

por exemplo, atividade pedagógica tem sido compreendida numa perspectiva

do senso comum, vinculando-se, quase que exclusivamente, a um fazer

imediato, às experiências do cotidiano, dispensando a discussão de conceitos

e teorias. Espera-se que o aluno, por meio da atividade pedagógica, seja capaz

de desenvolver sozinho as abstrações necessárias para a compreensão dos

conceitos, bem como estabeleça as relações entre eles. O professor desobriga-

se de ensinar o aluno, quem o ensina é a atividade.

No Brasil, Newton Duarte e Maria Célia Marcondes de Moraes têm

contribuído para a crítica ao Pragmatismo na área educacional, incorporado

pelas Pedagogias Pós-Modernas. Eles criaram, em 2002, o grupo de pesquisa

Estudos Marxistas em Educação que conta atualmente com pesquisadores da

UNESP, UFSC, UFSCar, UFPR, UFES, UEM, UNIOESTE, entre outras. Esse

grupo tem produzido um conjunto variado de trabalhos que fazem a crítica às

teses do Pragmatismo e às apropriações neoliberais e pós-modernas que os

educadores vêm fazendo.

Duarte (2001) afirma que a Pedagogia das Competências e a Pedagogia

do Professor Reflexivo fazem parte da corrente educacional contemporânea

das Pedagogias do “Aprender a Aprender”, todas inseridas, segundo ele, no

“modismo educacional” atual da Pós-modernidade. Ele analisa o Relatório

Jacques Delors e os PCNs das séries iniciais do Ensino Fundamental,

1.4 Influência do Pragmatismo

Vamos recuperar algumas

críticas às pedagogias pós-

modernas.

13

focalizando quatro posicionamentos valorativos contidos no lema “aprender a

aprender” (DUARTE, 2001).

Para Duarte, as Pedagogias Pós-Modernas recuperam o Pragmatismo

do movimento Escolanovista de várias maneiras. Fazem isso ao afirmar a

autonomia do indivíduo em relação ao processo de aprendizado, cuja

inteligência não se desenvolveria movida pela transmissão de conteúdos, mas

por um processo espontâneo de autoregulações, o que dispensaria um

professor transmitindo conhecimentos. Também o fazem quando afirmam que

seria mais importante aprender os procedimentos para se chegar a conclusões,

importando mais apreender o procedimento científico para a resolução de

problemas, ou seja, o “aprender a aprender”. Fazem isso quando impõem a

tese de que as atividades didático-pedagógicas devem atender às

necessidades dos alunos e, por último, aderem ao Pragmatismo, quando

entendem que todas as atividades pedagógicas devem ter, exclusivamente, um

caráter útil, prático, aplicável à realidade mais imediata do aluno, ao seu

cotidiano, às suas necessidades individuais.

Obviamente, os conhecimentos transmitidos pela escola devem servir à

realidade dos alunos, mas não unicamente ao seu cotidiano mais imediato e

nem somente a suas particularidades. A escola é uma instituição social forjada

para integrar os homens à sociedade, preferencialmente , atendendo àquilo que

há de universal entre os homens, isto é, sua forma de trabalho, as condições

de reprodução da vida, o conhecimento acumulado historicamente.

Duarte afirma que a Pedagogia do “aprender a aprender” limita-se a

encontrar novas formas de ação docente que permitam melhor adaptação aos

ditames da sociedade capitalista (DUARTE, 2001). Diz ele que, para a

Pedagogia do Aprender a Aprender, o conhecimento resulta das ações dos

alunos a partir da e sobre a sua realidade, a partir de suas experiências e de

seu cotidiano.

Duarte, em tom imperativo, afirma:

[...]relegar para um discreto segundo plano o conteúdo da aprendizagem em nome de um apologético ´aprender a aprender´ implica conceber o processo educativo como um processo de interação entre significados subjetivos e individuais em oposição à transmissão de um saber objetivo socialmente construído (2000, p. 65).

14

O abandono da transmissão de conhecimentos e a ênfase no “aprender

a aprender” – ou, dito de outra forma, ênfase no como aprender – pode levar à

naturalização das desigualdades sociais e à responsabilização dos indivíduos

por coisas que as suas condições objetivas de vida não lhe permitiram acessar.

A proposta de limitar a formação de professores e de pedagogos à

prática, visa, no máximo, adaptar o indivíduo ao seu meio social, não a

subvertê-lo, não a transformá-lo, não a refletir sobre a prática. É a própria

prática escolar que servirá como referência para comportar e definir os critérios

de validação do saber.

Da mesma forma, quando se propõe a formar um aluno sem a base dos

conhecimentos científicos universais, mas apenas com base no “aprender a

aprender”, que nada mais é do que uma experiência individual. Observa-se que

sua referência de validação do saber é sua visão individual de mundo e não a

realidade objetivada socialmente. Seu critério de validade é o seu próprio

umbigo e a sua realidade mais imediata.

O problema é que a realidade não é igual para todos, os contextos são

diferenciados, existem desigualdades sociais instituídas pela organização

social capitalista. Em última instância, então, adaptar os sujeitos aos seus

diferentes contextos significa reproduzir as desigualdades sociais.

Para que possamos ser capazes de tornar essa realidade inteligível, é

necessário superar a inteligência sensorial que capta apenas a realidade

imediata, a experiência imediata; é preciso analisar e sintetizar, pois ”a

captação da realidade por si só não assegura o seu real conhecimento, dado

1.5 Formação dos

pedagogos

Os pedagogos formados sem referencial teórico

crítico terão apenas a sua própria prática escolar e

o “imediatamente presente” como referência para

sua ação docente.

15

que este exige a construção da inteligibilidade sobre a realidade captada, isto

é, uma vez conhecida, ela precisa ser explicada, abstraída” (DUARTE, 2004, p.

67).

Esse tipo de raciocínio somente é estimulado com os conhecimentos

obtidos nas disciplinas da área de Fundamentos, ou pelo menos na interface

entre disciplinas teóricas e práticas.

Problematizar é superar o imediatamente perceptível, é superar o

cotidiano, desvelando os fundamentos, numa perspectiva de totalidade,

considerando o movimento histórico e as possibilidades de transformação

dessa realidade.

A sociedade capitalista exerce pressão nos indivíduos para que eles se

adaptem à realidade e, cabe à educação, a tarefa de construir uma consciência

crítica da realidade, superando a alienação, fortalecendo a resistência e não a

adaptação (DUARTE, 2004, p. 71).

Chamamos a atenção para essa reflexão, porque o Pragmatismo tem

determinado uma forte crítica às disciplinas chamadas teóricas na formação

dos professores e dos pedagogos. E entendemos que essas proposições

caminham na direção de aligeirar a formação intelectual dos educadores,

perdendo qualidade na sua formação teórica. O risco, em nossa opinião, é o de

formar educadores sem nenhuma capacidade de reflexão sobre o que fazem e

porque fazem; expressão da alienação do trabalho na sociedade capitalista.

É na condição de possibilidade explicativa, ou abstração mediadora na análise do real, que a teoria, e portanto a transmissão dos conhecimentos clássicos entre as gerações, assume a sua máxima relevância, possibilitando o estabelecimento de relações causais inteligíveis sobre os fenômenos, na base dos quais esta realidade passa a ser conhecida, compreendida e problematizada em sua

essência (DUARTE, 2004, p. 68).

É preocupante o desprestígio da teoria e da

reflexão teórica e a defesa do pragmatismo

imediatista e irracionalista.

16

Dermeval Saviani, um dos maiores educadores do Brasil hoje, ajuda-nos

a pensar a educação e o modo como ela vem incorporando o Pragmatismo em

suas proposições. Para ele, a tendência atual é a valorização dos saberes

centrados na pragmática da experiência cotidiana. Nas suas palavras:

Saviani chama a atenção para as consequências nefastas do

Pragmatismo, por exemplo, a perda da função da escola, que é a transmissão

dos conhecimentos sistematizados, e a incorporação de outras funções,

preferencialmente lights. Para a tendência atual, o que mais importa é o

caráter utilitário e imediatista:

Desde os anos de 1990, o Pragmatismo entre os educadores,

amplamente difundido nas escolas, transformou essa instituição num campo de

ações. Isso ocorreu devido ao entendimento de que a fonte do conhecimento

não está na percepção, mas na ação. O Construtivismo foi incorporado pelos

PCNs e pela prática docente dos professores em geral, sem questioname ntos

e, na maior parte das vezes, sem o devido entendimento dos seus

pressupostos e das consequências da sua aplicação.

Inúmeros são os exemplos de como os educadores e a escola vêm

incorporando a tese de que é por meio das ações que o aprendizado ocorre. A

difusão de programas, como o “Ação na Escola”, que desenvolve e apoia

Grande parte dos professores também não ficou imune ao canto de sereia das novas pedagogias nomeadas com o prefixo ´neo`. Beneficiadas com uma avalanche de publicações e pela grande divulgação na mídia, as ´novas idéias` não deixam de exercer razoável atrativo nas mentes dos educadores. Com isso, a escola foi sendo esvaziada de sua função específica ligada ao domínio dos conhecimentos sistematizados. A descrença no saber científico e a procura de ´soluções mágicas` do tipo reflexão sobre a prática, relações prazerosas, pedagogia do afeto, transversalidade dos cabeças dos professores. (SAVIANI, 2007, p. 30-31, grifos nossos).

Estabelece-se, assim, uma ´cultura escolar`, para usar uma expressão que também se encontra em alta, de desprestígio dos professores e dos alunos que querem trabalhar seriamente e de desvalorização da cultura elaborada. Nesse tipo de ´cultura escolar` o utilitarismo e o imediatismo da cotidianidade prevalecem sobre o trabalho paciente e demorado de apropriação do patrimônio cultural da humanidade. (SAVIANI, 2007, p. 31, grifos nossos).

17

projetos de inovação educacional que visam à integração da escola com a

comunidade, favorecendo a contextualização e relevância social e cultural das

aprendizagens, é um desses casos. Ele é realizado pela “Ação Educativa”, uma

ONG paulista integrada à UNESCO.

O Colégio Estadual Ezequiel Freire, escola pública do Estado do Rio de

Janeiro, com cerca de 1.300 alunos, ganhou o prêmio Viva Óleo, Prêmio

Qualidade Rio. Ele foi reconhecido pelo terceiro ano consecutivo, como o

melhor, pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Energia,

Indústria e Serviços, que criou o prêmio com o objetivo de ser um instrumento

de avaliação e reconhecimento de organização na educação. Foi reconhecido

como exemplo de sucesso em gestão, ficando entre as oito melhores escolas

públicas do Brasil. A escola foi escolhida porque desenvolve muitos projetos

educacionais. Ela fez várias parceiras, com o Senac, com a Delegacia de

polícia, com a indústria e o comércio local etc. Por meio dessas parcerias, ela

oferece vários cursos, ocupando suas salas de aula no contraturno. Cursos de:

libras, francês, informática, operador de processos mecânicos, garçom,

barman, cabeleireiro, manicure, telemarketing, empreendedorismo,

atendimento ao cliente etc.

Observem que a escola é premiada pelo ativismo e não pela qualidade

do conteúdo ensinado aos alunos.

Hoje, tem sido muito comum as escolas priorizarem a oferta de projetos

com atividades variadas (Horta Comunitária, Educação para o trânsito,

Olimpíadas Esportivas, Museu Dinâmico, Feira de Ciências, Reciclagem de

Lixo, Educação Ambiental, Arte na Escola, Prevenção à AIDS etc.), sem que,

necessariamente, estejam conectados ao Projeto Político Pedagógico (PPP) da

Escola, ou sem que atendam às exigências dos conteúdos curriculares para as

séries previstas. As atividades se constituem em apelo para atrair a clientela e

motivar, prazerosamente, os alunos, já que a rejeição pela reflexão teórica é

uma tendência social em geral, não prevalece somente no interior da escola.

1.6 Exemplo de pragmatismo nas escolas

18

Além da rejeição à reflexão teórica, há, como já o dissemos, a

prevalência da tese de que o aprendizado só ocorre por meio da experiência ,

essas atividades representariam, então, o momento da experiência.

O aprendizado, quando ocorre por essa via, tende a ficar preso às

próprias experiências vividas pelos alunos, perdendo a possibilidade de ampliar

seus horizontes teóricos e sua capacidade reflexiva de fazer abstrações e

relações com as referências universais. Os alunos, sozinhos, não têm

capacidade de fazer relações com conceitos teóricos, e os professores não

podem se desobrigar da tarefa de conduzi-los nesse caminho. Não são as

atividades descoladas do estudo que ensinam os alunos. Ademais, muitos

projetos vêm acompanhados de estudos, mas esses são superficiais,

imediatistas e meramente informacionais, contribuindo mais para embaçar a

visão do aluno do que para formá-lo conceitualmente e ampliar sua capacidade

de abstrair e fazer relações.

Todas as mudanças econômicas que marcaram os anos de 1990

impactaram a escola de modo geral e, com certeza, acarretaram mudanças no

modo como os pedagogos exercem a sua função. No capítulo seguinte desse

material didático, tratamos mais especificamente das mudanças no mundo do

trabalho, o que contribuirá para tornar mais consistente a explicação da

reconfiguração da função do papel do pedagogo na atualidade.

1.7 Finalizando a unidade

19

2- MUDANÇAS NO MUNDO PRODUTIVO E ORGANIZAÇÃO DO

TRABALHO ESCOLAR

Maria Helena Rocha

É fundamental que os pedagogos compreendam que as políticas

públicas que direcionam a educação brasileira são ditadas por órgãos

internacionais com a finalidade de educar para a “cultura do mercado”. Nessa

perspectiva, também é importante entender as mudanças do mundo produtivo

a partir dos anos de 1990 e o modo como impactaram a organização do

trabalho nas escolas.

Primeiro, recorremos a Saviani para caracterizar a historicidade do

trabalho. Para ele, o homem não nasce homem, ele se humaniza e se faz pelo

trabalho. À medida que produz sua existência, humaniza-se por meio desse

trabalho, quando age transformando o seu meio natural e social. Segundo

Saviani,

No que se refere às mudanças no mundo do trabalho, inicialmente, é

relevante buscar no passado as influências deixadas por Frederick W. Taylor

(1856-1915) e Henry Ford (1886-1947), precursores da administração

científica. O primeiro gestou o Taylorismo e o segundo, o Fordismo. Vejamos

no que esses pensadores contribuíram na esfera do trabalho.

No site Brasil Escola, encontramos as seguintes explicações para o

Taylorismo e o Fordismo.

[...]o que define a essência da realidade humana é o trabalho, pois é através dele que o homem age sobre a natureza, ajustando-a às suas necessidades (1994 p. 118).

O trabalho do pedagogo circunscreve-

se como trabalho intelectual, mas

segue a lógica do trabalho humano em

geral.

20

TAYLORISMO

FORDISMO

O Taylorismo acabou se constituindo num método de racionalizar a produção, economizando tempo mediante a eliminação ao máximo de gestos e atitudes improdutivas. Com Taylor, a maneira de trabalhar e o próprio trabalho passam a ter atenção especial, isto é, uma sistematização em seus mínimos detalhes. Taylor comprova que pode aumentar a produtividade dos trabalhadores controlando o seu desempenho. Visando um aumento de produção com economia de mão de obra, ele analisa matematicamente cada gesto e cronometra essa produção. Cada trabalhador é monitorado e deve cumprir sua função no menor tempo possível. A cada um é destinada uma tarefa específica e, sob o olhar do monitor, as metas estabelecidas devem ser cumpridas. Taylor aperfeiçoou a já existente divisão entre o trabalho intelectual de planejamento, concepção e direção e o trabalho manual da produção direta. A função do trabalho intelectual era eliminar qualquer autonomia do trabalhador braçal na produção. Sugeria o estudo detalhado de todas as operações de produção, decompondo as tarefas em movimentos elementares e ritmados pela velocidade da

máquina.

O Fordismo criou a linha de montagem e dessa maneira a produção nunca mais foi a mesma. O fordismo como método produtivo mantém o essencial do Taylorismo, mas faz um aperfeiçoamento, introduzindo a linha de montagem, na qual uma esteira traz as peças e os componentes até o operário. Para elevar as margens de lucro e diminuir os gastos, implantou um sistema de controle que ia desde o controle da produção da matéria prima, ferramentas, energia, transporte, até a formação da mão-de-obra. A repetição das atividades exigia apenas atividade motora e dispensava qualquer possibilidade de iniciativa

própria.

SAIBA MAIS:

http://www.brasilesco

la.com/geografia/taylorismo-fordismo.htm

21

Mais recentemente, outra revolução no mundo do trabalho afeta a

educação. Trata-se do Toyotismo. Surge na pessoa do engenheiro Taiichi

Ohno, no Japão, e representou um novo modelo de organização de trabalho

que substituiu o taylorismo e o fordismo. É um sistema de organização voltado

para a produção de mercadorias. Chama-se Toyotismo por ter sido

desenvolvido e implantado na fábrica da Toyota no Japão.

O toyotismo trouxe características das organizações anteriores, mas

incorporou outras que marcariam para sempre toda uma nova prática. A partir

da década de 1960, o Toyotismo se expandiu em todo o mundo e muitas

empresas aplicam o sistema ou parte dele até hoje.

Após um período de produção em massa nas indústrias, os lucros caem

e abre-se espaço para a competitividade. Nesse momento o sistema

taylorista/fordista precisa ser repensado, pois já não atende mais as

necessidades da demanda. Surge então um novo trabalhador, com um perfil

diferente daquele existente no chão das fábricas. Esse novo trabalhador é o

funcionário qualificado e preparado para o desempenho de multifunções ou

polivalência, treinados para conhecer todo o processo, podendo atuar em

várias áreas do sistema produtivo da empresa, substituindo qualquer um que

por ventura venha a faltar.

TOYOTISMO

O Toyotismo é uma estratégia de reanimação do sistema capitalista no

atual momento histórico. Trata-se da "reestruturação produtiva" desenvolvida a

partir da segunda metade do século XX.

As mudanças no mundo do trabalho são oriundas das profundas

transformações na estrutura produtiva do capitalismo que levou à substituição

do padrão produtivo taylorista e fordista pelas formas produtivas flexibilizadas e

Características principais do Toyotismo: produção e relações de trabalho flexíveis, microeletrônica, produção heterogênea, estoques reduzidos, terceirização e precarização do trabalho, fim dos direitos trabalhistas, produção vinculada à demanda dos produtos; trabalho operário em equipe, como princípio o "just in time", buscando atingir o melhor aproveitamento possível do tempo de produção. A qualidade total no processo produtivo passa a ter um importante papel controlador. Controle do processo de trabalho através de formas requintadas de

incorporação do saber dos trabalhadores. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Toyotismo)

22

desregulamentadas, das quais a chamada acumulação flexível e o modelo

japonês ou toyotismo são exemplos. No mesmo período, articula-se o

Neoliberalismo, colocando em questão o Estado do Bem-estar-social.

A partir dessas mudanças no mundo do trabalho no cenário dos anos

1990, temos o contexto que explica o trabalho do professor pedagogo.

Para compreendermos melhor a angústia vivida pelo professor

pedagogo hoje na escola pública, é necessário recuperarmos as mudanças

que o seu trabalho sofreu nas últimas décadas para entender os desencontros

sofridos no desempenho de sua função.

Da mesma forma que o trabalho na sociedade tomou o rumo do

especialista para cada setor, como influência do Taylorismo, do Fordismo e,

mais recentemente, do Toyotismo, a escola também se dividiu em especialistas

para dar conta de atender a “clientela”.

Nos anos 1960, com a expansão da escola, o trabalho do pedagogo se

divide conforme a lógica do capital. Nesse período, as tendências da

organização giram em torno da produtividade, da eficiência, da eficácia e do

controle, segundo os princípios taylorista e fordista. Reproduz-se na escola a

mesma política das fábricas. As tarefas ficam divididas na perspectiva da

eficiência e da racionalidade técnica do trabalho. Implementa-se a divisão do

trabalho pedagógico e privilegia-se o papel do administrativo sobre o

pedagógico.

O artigo 33 da Lei 5.692/71 confirma os profissionais especialistas no

sistema educacional brasileiro originando a divisão do trabalho na escola. O

funcionamento desse sistema exige educadores com papéis específicos para

atender e suprir as necessidades dos alunos.

2.1 Histórico do trabalho do pedagogo

Como essas mudanças no

mundo do trabalho afetam o

pedagogo?

23

É nesse momento histórico, com uma nova

formatação para atuar no interior da escola, que a

orientação surge como forma de auxiliar os alunos

nos planos de estudo e carreira, conforme as

aptidões de cada um, recebendo, a partir daí, o

nome de orientação escolar ou educacional.

Com a implantação da Lei 5.692/71 a Orientação Educacional fica

sujeita à obrigatoriedade.

Além do orientador escolar, surgiu também o especialista supervisor.

A ideia da supervisão, antes de ser assumida

pelo sistema educacional, surgiu com a

industrialização, tendo em vista a melhoria

quantitativa e qualitativa da produção. Depois foi

incorporada pela escola que buscava melhor

desempenho em sua tarefa educativa. A figura do

supervisor vem acompanhada de um ranço de

fiscalizador, olheiro, com a finalidade de punir, vigiar,

cobrar.

A função supervisora sempre se apresentou com o caráter de ação

educativa. Desde sua origem, a característica da função era, segundo Saviani,

“[...]a de estar constantemente presente junto às crianças, tomando conta

delas, isto é, vigiando, controlando, supervisionando, portanto todos os seus

atos” (2000, p. 17).

No entanto a seleção profissional, a orientação profissional e a orientação escolar não eram suficientes para resolver os inúmeros problemas existentes numa empresa. A colocação do homem certo no cargo certo não bastava. Era necessário preocupar-se como o ser humano, ocupante do cargo. Aí surge a necessidade de se preocupar com o ajustamento do homem no trabalho o que provocou o surto de estudos sobre as relações humanas no trabalho (PIMENTA,1995, p. 21).

O

Orientador

educacional

O

supervisor

educacional

24

No Brasil, a função supervisora tem início com os Jesuítas,

especificamente, com o documento Ratio Studiorum, que colocava o supervisor

na figura do prefeito dos estudos. Consta nesse documento as funções do

referido prefeito, que eram trinta regras, dentre elas, a nº 17 apontava

claramente:“ouvir e observar os professores” (SAVIANI, 2000).

Vasconcellos, sobre o referido documento, destaca: “[...]lembrar de sua

obrigação de esgotar a cada ano a programação que lhes fora atribuída,

assistir suas aulas, ler os apontamentos dos alunos, etc.” (2002, p. 85).

Com a Lei nº 5.692/71, a função do supervisor ganha maior espaço

dentro da escola, passa de apenas inspetor e fiscal dos aspectos burocráticos

para a colocação do acompanhamento no processo de ensino aprendizagem,

sendo fundamental no trabalho pedagógico. Nesse sentido, a supervisão passa

a ser compreendida como um esforço conjunto de especialistas e professores

para a realização dos objetivos propostos.

A supervisão tem sua explicação na origem da configuração formal

associada ao “controle”. O modelo de supervisão que teve maior incidência

sobre o nosso é o dos Estados Unidos, que surgiu no século XVIII como

“Inspeção Escolar”, no auge da industrialização.

Alguns autores destacam a figura do supervisor como coordenador

pedagógico. Coordenação pedagógica é utilizada como sinônimo de

supervisão, ou seja, determina as mesmas funções na escola.

Quando nosso olhar vai à Legislação, observamos que há uma linha

histórica e se faz necessário verificar cada momento e seu contexto

sociocultural específico.

Vejamos isso através de excertos de autores importantes para a

compreensão da função do pedagogo.

Quem era o orientador no período das

especializações?

25

[...]alguém para desenvolver, integralmente com a supervisão escolar, um trabalho de orientação via currículo, via professor, via grupo de alunos e pais de modo a evitar o afloramento de problemas de inadequação pessoal, social, profissional e escolar dos alunos de unidades escolares da rede oficial e contribuir para a queda dos índices de evasão e reprovação (PIMENTA,1995, p. 32).

[...]corrige os desajustamentos individuais,[...]previne o aparecimento de possíveis desajustes àqueles alunos que se desviassem do caminho escolar, previamente estabelecido. Para essa orientação, portanto, a evasão, a repetência, o fracasso escolar constituem anomalias psicológicas (intelectuais, afetivas, emocionais e morais) individuais e como tal precisam ser tratadas. Desta forma, as desigualdades sociais motivadoras deste fracasso permanecem intocadas. A ordem social fica assim mantida (PIMENTA,1995, p.131).

Qual era a função do orientador?

A orientação educacional, entendida como assessoramento ao aluno, funda-se nos conhecimentos da psicologia; especialmente na psicologia do adolescente, abrangendo o desenvolvimento emocional, o desenvolvimento físico, social, afetivo, religioso, moral (PIMENTA, 1995, p.107).

Em quais conhecimentos fundava-se

a orientação educacional?

26

Segundo Vasconcellos (2002), a Supervisão Educacional, naquele

período, levou para o interior da escola a divisão social do trabalho ; a divisão

entre os que pensam, decidem e mandam.

Quem era o supervisor no período das especializações?

Em 1961, a Lei nº 4.024 de 20 de dezembro

estabeleceu as normas para a formação do Orientador Educacional:

Sabe-se que a Supervisão Educacional foi criada num contexto de ditadura. A Lei nº 5.692/71 a instituiu como serviço específico da Escola de 1º e 2º Graus (embora já existisse anteriormente). Sua função era, então, predominantemente tecnicista e controladora e, de certa forma correspondia a militarização escolar. No contexto da Doutrina de Segurança Nacional adotada em 1967 e no espírito do AI-5 (Ato Institucional n.5) de 1968, foi feita a reforma universitária. Nela situa-se a reformulação do Curso de Pedagogia. Em 1969 era regulamentada a Reforma Universitária e aprovado o parecer reformulador do Curso de Pedagogia. O mesmo prepara predominantemente, desde então “generalistas”, com o título de especialistas da educação, mas pouco prepara para a prática da educação (URBAN, 1985, apud VASCONCELLOS, 2002, p. 86).

Art.62. a formação do orientador de educação será feita em cursos especiais que atendam as condições do grau do tipo de ensino e do meio social a que se destinam. Art. 63. Nas faculdades de filosofia será criado, para a formação de orientadores de educação do ensino médio, curso especial a que terão acesso os licenciados em pedagogia, filosofia ou ciências sociais, bem como os diplomados em Educação Física pelas Escolas Superiores de Educação Física e os inspetores federais de ensino, todos com estágio mínimo de três anos no magistério. Art. 64. Os orientadores de educação em curso especial a que terão acesso os diplomados em escolas normais de grau colegial e em institutos de educação, com estágio mínimo três anos no magistério (LDB nº 4.024/61).

27

O núcleo de definição e de articulação da supervisão deve ser, portanto, o pedagógico (que é o núcleo da escola, enquanto especificidade institucional) e, em especial, os processos de ensino-aprendizagem. Neste sentido, a própria concepção de supervisão se transforma, na medida em que não se centra na figura do supervisor, mas na função supervisora, que inclusive, pode e deve circular entre os elementos do grupo, cabendo à coordenação a sistematização e integração do trabalho no conjunto, caminhando na linha da interdisciplinaridade.

É importante lembrar que [...] a coordenação é exercida por um educador, e como tal deve estar no combate a tudo aquilo que desumaniza a escola: a reprodução da ideologia dominante, o autoritarismo, o conhecimento desvinculado da realidade, a evasão, a lógica classificatória e excludente (repetência ou aprovação sem apropriação do saber), a discriminação social na e através da escola.

O foco de atenção do supervisor no trabalho de formação é tanto individual quanto coletivo: deve contribuir com o aperfeiçoamento profissional de cada um dos professores e, ao mesmo tempo, ajudar a constituí-los enquanto grupo.

A relação supervisão-professor, em termos de processo de interação, é muito similar à professor-aluno. Assim como o aluno – e não o professor-, naquele momento da aula, é o foco das atenções em termos de construção do conhecimento, quem vai ter a prática pedagógica em sala é o professor, e não o supervisor. Seu papel é, pois, de mediador.

O que a supervisão não deveria ser?

Aquilo que a supervisão não é (ou não deveria ser): não é fiscal de professor, não é dedo-duro (que entrega os professores para a direção ou mantenedora) não é coringa/tarefeiro/quebra galho/salva-vidas (ajudante de direção, auxiliar de secretaria, enfermeiro, assistente social, etc.), não é tapa buraco (que fica toureando os alunos em sala de aula no caso de falta de professor)[...].

28

O trabalho destes especialistas foi fragmentado no interior da escola,

dado que suas funções são muito próximas. O resultado foi uma inútil busca de

identidade profissional e de definições de funções que em nada alterou os

índices de evasão e seletividade da escola (PIMENTA, 1995).

Depois desse percurso

sobre o trabalho do pedagogo

no período das

especializações, chegamos ao

momento atual em que eles

são chamados de professores

pedagogos. Ao ser indagado

sobre a sua identidade

profissional, o pedagogo,

segundo Nóvoa, já não sabe

mais como responder, se

pedagogo ou cientista.

Constatamos, hoje, o pedagogo exercendo uma dualidade funcional,

assumindo inúmeras tarefas. Há uma diversidade de práticas educativas

intencionais as quais se configuram como ação pedagógica nas esferas escolar

e extra-escolar.

2.2 Os professores pedagogos na atualidade

[...]historiador-sociólogo da educação? Para além de pedante, a expressão não parece muito esclarecedora. Pedagogo? É uma boa tentativa, mas que oscila entre o ridículo e o pomposo (por vezes a designação parece estar reservada para os “grandes pedagogos”). A experiência tem-me ensinado que só há uma grande resposta plausível: dizer-me professor. Mas se aparece alguém mais curioso e pergunta: “professor de quê”? Então tudo recomeça [...] (NÓVOA,

1998, p. 72, grifos do autor).

O coordenador, ao mesmo tempo em que acolhe e engendra, deve ser questionador, desequilibrador, provocador, animando e disponibilizando subsídios que permitam o crescimento do grupo (p. 87-89).

29

A Lei Complementar 103/04

trata sobre o Plano de Carreira do

Professor da Rede Estadual de

Educação Básica do Paraná;

estabelece, em seu Cap.III, art.4º,

item V, o conceito fundamental de

professor, alterando a nomenclatura

dos especialistas. (PARANÁ, 2004,

Lei complementar 103/04 disponível

em:

http://www.pde.pr.gov.br/arquivos/Fil

e/pdf/Leis/Lei_Complementar_103.p

df. Acesso em :26 de jun.2010.

Ainda nos artigos 33 e 39 do Capítulo X, verificamos a extinção dos

cargos de orientador Educacional e Supervisor Escolar.

Professor: servidor público que exerce docência, suporte pedagógico, direção,

coordenação, assessoramento, supervisão, orientação,

planejamento e pesquisa exercida em Estabelecimentos de Ensino, Núcleo Regionais da

Educação, Secretaria de Estado da Educação e unidades a ela

vinculadas (PARANÁ, 2004).

Art.33. Os cargos de Professor e Especialista de Educação, que compõem o Quadro Próprio do Magistério da Rede Estadual de Educação Básica do Paraná, ficam transformados em cargos de Professor, sendo que os ocupantes dos referidos cargos ficam enquadrados no Plano de carreira de Professor, obedecidos os critérios nesta

Lei (PARANÀ, 2004).

Art.39. Ficam considerados em extinção, permanecendo com as mesmas nomenclaturas, os cargos de Orientador Educacional, Supervisor Educacional, Administrador Escolar na medida em que vagarem, assegurando-se tratamento igual ao que é oferecido ao Professor, inclusive o direito ao desenvolvimento na carreira, para aqueles que se encontram em exercício (PARANÀ, 2004).

30

Em 2007, a SEED normatiza o

Edital nº 10/2007 que estabelece as

regras para a realização de Concurso

Público para o provimento de vagas no

Cargo de “Professor Pedagogo”,

descrevendo as atividades do cargo,

destacando a coordenação do Trabalho

coletivo na escola, enfatizando a

participação, promoção e intervenção na

organização e efetivação do trabalho

pedagógico escolar. Essas atribuições

estão confirmadas nos Projetos Político

Pedagógicos das escolas e também em

seus Regimentos Escolares.

coordenar a elaboração coletiva e acompanhar a efetivação do projeto político-pedagógico e do plano de ação da escola;

coordenar a construção coletiva e a efetivação da proposta curricular da escola, a partir das políticas educacionais da SEED/PR e das Diretrizes Curriculares Nacionais do CNE;

promover e coordenar reuniões pedagógicas e grupos de estudo para reflexão e aprofundamento de temas relativos ao trabalho pedagógico e para a elaboração de propostas de intervenção na realidade da escola;

participar, intervir, junto à direção, da organização do trabalho pedagógico escolar no sentido de realizar a função social e a especificidade da educação escolar;

participar da elaboração do projeto de formação continuada de todos os profissionais da escola, tendo como finalidade a realização e o aprimoramento do trabalho pedagógico escolar;

analisar os projetos de natureza pedagógica a serem implantados na escola; coordenar a organização do espaço-tempo escolar a partir do projeto político-

pedagógico e da proposta curricular da escola, intervindo na elaboração do calendário letivo, na formação de turmas, na definição e distribuição do horário semanal das aulas e disciplinas, do “recreio”, da hora-atividade e de outras atividades que interfiram diretamente na realização do trabalho pedagógico;

coordenar, junto à direção, o processo de distribuição de aulas e disciplinas a partir de critérios legais, pedagógico-didáticos e da proposta pedagógica da escola;

responsabilizar-se pelo trabalho pedagógico-didático desenvolvido na escola pelo coletivo dos profissionais que nela atuam; implantar mecanismos de acompanhamento e avaliação do trabalho pedagógico escolar pela comunidade interna e externa;

apresentar propostas, alternativas, sugestões e/ou críticas que promovam o desenvolvimento e o aprimoramento do trabalho pedagógico escolar, conforme o projeto político-pedagógico, a proposta curricular e o plano de

Descrição das

atividades genéricas do

professor pedagogo nos estabeleciment

os de ensino de educação

infantil, educação

profissional,

ensino fundamental e

ensino médio da Rede

Estadual do

Paraná:

31

ação da escola e as políticas educacionais da SEED; coordenar a elaboração de critérios para aquisição, empréstimo e seleção de

materiais, equipamentos e/ou livros de uso didático-pedagógico, a partir da proposta curricular e do projeto político-pedagógico da escola;

participar da organização pedagógica da biblioteca da escola, assim como do processo de aquisição de livros e periódicos;

orientar o processo de elaboração dos planejamentos de ensino junto ao coletivo de professores da escola;

subsidiar o aprimoramento teórico-metodológico do coletivo de professores da escola, promovendo estudos sistemáticos, trocas de experiência, debates e oficinas pedagógicas;

elaborar o projeto de formação continuada do coletivo de professores e promover ações para sua efetivação;

organizar a hora-atividade do coletivo de professores da escola, de maneira a garantir que esse espaço-tempo seja de reflexão-ação sobre o processo pedagógico desenvolvido em sala de aula;

atuar, junto ao coletivo de professores, na elaboração de projetos de recuperação de estudos a partir das necessidades de aprendizagem identificadas em sala de aula, de modo a garantir as condições básicas para que o processo de socialização do conhecimento científico e de construção do

saber realmente se efetive; organizar a realização dos conselhos de classe, de forma a garantir um

processo coletivo de reflexão-ação sobre o trabalho pedagógico desenvolvido pela escola e em sala de aula, além de coordenar a elaboração de propostas de intervenção decorrentes desse processo;

informar ao coletivo da comunidade escolar os dados do aproveitamento escolar, de forma a promover o processo de reflexão-ação sobre os mesmos para garantir a aprendizagem de todos os alunos;

coordenar o processo coletivo de elaboração e aprimoramento do Regimento Escolar da escola, garantindo a participação democrática de toda a comunidade escolar;

orientar a comunidade escolar a interferir na construção de um processo pedagógico numa perspectiva transformadora;

desenvolver projetos que promovam a interação escola-comunidade, de forma a ampliar os espaços de participação, de democratização das relações, de acesso ao saber e de melhoria das condições de vida da população;

participar do Conselho Escolar subsidiando teórica e metodologicamente as discussões e reflexões acerca da organização e efetivação do trabalho pedagógico escolar;

propiciar o desenvolvimento da representatividade dos alunos e sua participação nos diversos momentos e órgãos colegiados da escola;

promover a construção de estratégias pedagógicas de superação de todas as formas de discriminação, preconceito e exclusão social e de ampliação do compromisso ético-político com todos as categorias e classes sociais;

observar os preceitos constitucionais, a legislação educacional em vigor e o Estatuto da Criança e do Adolescente, como fundamentos da prática educativa. (http://www.pedagogia.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=9)

32

Recorrendo aos fatos históricos, começamos a perceber a origem de

tantas mudanças no espaço escolar. Vivemos momentos em que o pedagogo

era chamado de especialista (orientador e supervisor). Hoje, essa figura fica

cada dia mais distante diante das mudanças vividas no chão da escola pública.

Consideramos importante destacar que o papel do pedagogo ainda é

fundamental para uma prática pedagógica significativa. Se antes tinha a função

de fiscalizador do trabalho educativo, no contexto atual, sua participação

redimensiona um serviço de acompanhamento a favor das dificuldades dos

alunos, assegurando-lhes a possibilidade de refazer, retomar ou avançar no

processo de aprender. Ao pedagogo, é atribuído o papel de criar ou fortalecer

espaços de participação e vivências, no qual o colegiado possa exercer com

autonomia a sua ação democrática.

Muitas vezes, o pedagogo desempenha ainda um trabalho fragmentado

diariamente, quando solicitado para resolver situações inesperadas. Parece

que toda a herança que lhe foi atribuída de “controlador,” hoje, ainda se faz

necessária de forma tão veemente quando tantas vezes é chamado para

resolver, acalmar, ou apaziguar os ânimos de alunos exaltados que, no espaço

da sala de aula, desrespeitam o direito “seu” e do “outro” ao conhecimento

sistematizado.

Com essa roupagem de trabalho alienado, percebemos, tal como

Frigotto, que essa tarefa não requer conhecer o que se faz, mas executar o que

o comando da produção lhe prescreve.

A divisão do trabalho, tanto quanto na indústria, invadiu a escola,

causando um desalinhamento no ritmo daqueles que foram preparados

especificamente para a função a que se propunham. Características fortes de

um sistema toyotista se instalam sutilmente, buscando espaço para o

capitalismo. A fragmentação das tarefas surge em decorrência da necessidade

de valorização do capital. O trabalhador vende sua força de trabalho como

mercadoria e, desse processo, o homem cria e valoriza ainda mais o capital.

Acácia Kuenzer afirma que:

2.3 Finalizando a unidade

33

Não é substituindo a mão de obra do especialista pelo multitarefa ou

pedagogo unitário que se resolve o problema.

A mudança no processo de trabalho, não é suficiente para mudar a

natureza do processo de valorização do capital.

A escola acaba implementando e qualificando a mão de obra que será

utilizada nos recursos do mundo produtivo. Por essa razão, ela se torna a

responsável, pois se torna útil a esse processo, no qual, o que mais se destaca

em seu produto é mesmo a formação de mão-de-obra necessária ao capital.

Quando comparamos as características evidentes do Toyotismo, com as

mudanças atuais na organização da escola e o novo perfil do professor

pedagogo diante das exigências, percebemos que são muito semelhantes. E o

que vivemos na escola parece repetir o que se viveu no chão da fábrica.

A escola, nas últimas décadas, tem respondido por tantas

responsabilidades que não deveriam ser atribuídas a ela, (fichas, relatórios,

encaminhamentos), ocasionando um acúmulo de tarefas periféricas, ficando

em segundo plano tudo o que deveria ser essencial.

A divisão do trabalho escolar tem origem na separação entre propriedade dos meios de produção e força de trabalho, e não na divisão técnica do trabalho. [...] a origem da fragmentação do trabalho não é a divisão técnica, mas sim a necessidade de valorização do capital, a partir da propriedade privada dos meios de produção (2002, p.48-49).

[...]trabalhador esse nem sempre criativo e autônomo, mas simples tarefeiro em ações esvaziadas de conhecimento técnico e de compromisso político com a transformação (KUENZER, 2002, p. 55).

A escola é capitalista porque contribui para a valorização do capital, e não porque o trabalho pedagógico é fragmentado (KUENZER, 2002, p. 49).

34

Como resultado do novo regime de acumulação, temos um trabalho

cada vez mais desqualificado, intensificado e precarizado dentro das escolas.

O discurso de um novo formato de trabalho coletivo e não mais

fragmentado soa como algo simples e fácil. Quando se defende o trabalho em

equipe em nome do exercício da solidariedade mútua, trilhamos um espaço de

conflito.

Ainda que o grupo esteja sob a mesma sintonia, haverá o perigo da

rejeição, se porventura o trabalho de um ou mais, por acaso, sobressaia-se aos

demais. Ou, quem sabe, no grupo, tenha aquele com habilidades cognitivas

que não estejam tão em evidência para um trabalho coletivo necessitando do

olhar e ajuda mútua dos demais. Despertando, nesse momento, uma

característica sutil, remanescente do sistema toyotista, a competitividade, na

busca do aumento de produtividade individual e coletiva.

No espaço da escola, a competitividade não gera lucros, mas pode

conquistar a aceitabilidade ou popularidade no colegiado.

Frente a um trabalho coletivo, como sugere o novo formato de

organização, disponibilizam-se menos recursos e fica o desafio na mão dos

pedagogos e gestores para enfrentar tantas situações problemas, inesperadas

e periféricas. E o objetivo central, que é o pedagógico, o planejar, o coordenar,

o repensar sobre a lógica da construção do conhecimento, vai sendo

atropelado com as rotinas inesperadas do “mais urgente”. É para essas

situações que hoje desvia-se a atenção e a energia do pedagogo; exige-se

desse profissional um novo perfil para os desafios que a escola apresenta.

[...]a vocês cabe, pois, velar no interior das escolas para que elas não se percam num sem número de atividades acessórias, desviando-se de seu papel fundamental que é a difusão do saber sistematizado (1985, p. 28).

Saviani

recomenda:

35

Destacamos ainda, o principio da flexibilização que sugere profissionais

com acentuada facilidade de adaptar-se a situações novas.

Mesmo diante de um trabalho tão complexo, esse profissional parece

que deixou de ter importância, quando constatamos seu trabalho sendo

minimizado dia após dia.

A Lei Complementar 103/2004 da Secretaria de Estado da Educação do

Paraná dispõe sobre o Plano de carreira do professor da Rede Estadual,

regulamenta a junção dos especialistas da educação em professores

pedagogos, ou seja, os profissionais da educação que exercem suporte

pedagógico nos estabelecimentos de ensino. De acordo com a nova

distribuição funcional, a cada dois especialistas (orientador e supervisor)

corresponderá um professor pedagogo desempenhando dupla função

(PARANÁ, 2004).

[...]quanto mais se simplificam as tarefas, mais se exige conhecimento do trabalhador[...]conhecimento compreendido como domínio de conteúdos e de habilidades cognitivas superiores. [...]habilidades cognitivas tais como análise, síntese, estabelecimento de relações, rapidez de respostas e criatividade em face de situações desconhecidas, comunicação clara e precisa, interpretação e uso de diferentes formas de linguagem, capacidade para trabalhar em grupo, gerenciar processos, eleger prioridades, criticar respostas, avaliar procedimentos, resistir a pressões, enfrentar mudanças permanentes, aliar raciocínio lógico-formal à intuição criadora, estudar continuamente, e assim por diante (KUENZER, 2002, p. 59).

[...]recomposição da unidade no trabalho pedagógico[...] formar trabalhadores com comportamentos flexíveis, de modo a adaptarem-se com rapidez e eficiência a situações novas, bem como criarem respostas para situações imprevistas (KUENZER, 2002, p. 61).

Perfil do pedagogo:

exigências atuais

Pedagogos

flexíveis

36

O pedagogo foi transformado em “professor pedagogo”, mas a ele não

cabe o direito a hora atividade, pois, segundo a Lei, não exerce a docência.

Diante da diversidade de atribuições, ele precisa coordenar esse momento

junto ao professor, dirigindo grupos de estudos para reflexão e aprofundamento

de temas relativos ao trabalho pedagógico e para a elaboração de propostas

de intervenção na realidade escolar; subsidiar o aprimoramento teórico-

metodológico do coletivo de professores da escola, promovendo estudos

sistemáticos, trocas de experiências, debates e oficinas pedagógicas; elaborar

o projeto de formação continuada e promover ações para sua efetivação. Entre

outras atribuições relacionadas ao trabalho do pedagogo, essas e outras

questões têm causado desconforto na atuação desse profissional.

37

3 – GESTÃO DEMOCRÁTICA E ESCOLA PÚBLICA

Maria Helena Rocha

Neste capítulo do Material Didático, a intenção é apresentar algumas

considerações acerca da gestão democrática da escola pública, uma vez que

essa forma de organização implementada nas escolas reconfigura o trabalho

do pedagogo.

A gestão democrática como modelo administrativo entrou para o mundo

escolar nos anos 1990, como consequência da influência das novas relações

entre Estado, mercado e sociedade civil, passando a envolver parcerias,

participação social e descentralização de poder para as esferas locais. Trata-se

de um novo modelo de gestão pública. A participação da comunidade, a

delegação de poderes e a criação de Conselhos nas escolas são

características desse novo modo de gerir as escolas. Além disso, a gestão por

projetos é outra característica importante. Nas escolas foram implementados os

Projetos Políticos Pedagógicos (PPP).

A gestão democrática ganha relevância no contexto da Reforma do

Estado que busca uma nova distribuição de competências entre Estado e

sociedade, compartilhando responsabilidades. Mas o processo da gestão

democrática não é imune às contradições; por esse motivo, é necessário

entendê-las para que os pedagogos possam atuar com qualidade nas escolas.

Talvez seja necessário não rejeitar o potencial democrático desse novo

modelo, mas saber analisar e interpretar criticamente as políticas educativas e

as práticas pedagógicas resultantes dele.

Nunca se falou tanto em gestão como se tem falado atualmente. A

tônica na educação tem sido a nova forma de organização do trabalho

pedagógico que surge sob a alegação de amenizar os efeitos que causou e

3.1 Gestão democrática nos anos 1990

38

tem causado a divisão do trabalho, a fragmentação e também o controle

hierárquico que caracterizavam o modelo anterior.

As mudanças na educação são decorrentes das alterações no mundo do

trabalho, frente às exigências de reorganização do capital. Há um novo

paradigma que ultrapassou os limites da empresa e invadiu o chão da escola

com uma nova forma de gerenciar as instituições educacionais.

Novamente percebemos a influência da administração empresarial nas

políticas públicas educacionais. A industrialização, segundo Kuenzer, produz

um novo homem e requer outras capacidades. São concebidos novos modos

de vida, atitudes, comportamentos e valores.

Surge uma teoria da administração científica que cria a figura do

gerente, o gestor, com a função de coordenar, atuando de maneira cooperativa

no sentido de apoiar o trabalho do grupo. Para se obter o aumento da produção

e do lucro, o trabalho é potencializado por meio de um rígido controle do

processo produtivo (racionalização). Potencializa-se o trabalho, visando o lucro

da empresa, evitando o desperdício de tempo, recursos, controlando o trabalho

de quem foi treinado a desempenhar as atividades com destreza. Dessa forma,

as tarefas são ainda mais fragmentadas. Têm origem alguns princípios básicos

norteadores da organização científica, segundo Taylor: produtividade,

eficiência, eficácia e controle dos que administram sobre aqueles que

executam, garantindo assim os objetivos da organização.

[...]o novo tipo de produção racionalizada demandava um novo tipo de homem, capaz de ajustar-se aos novos métodos da produção, para cuja educação eram insuficientes os mecanismos de coerção social; tratava-se de articular novas competências a novos modos de viver, pensar e sentir, adequados aos novos métodos de trabalho caracterizados pela automação, ou seja, pela ausência de mobilização de energias intelectuais e criativas no desempenho do trabalho [...](KUENZER, 2004, p. 78). Exigem-se novos comportamentos em decorrência dos novos processos de organização, onde as práticas individuais são substituídas por procedimentos coletivos, compartilhando responsabilidades, conhecimentos, informações e formas de controle internas ao trabalhador e ao seu grupo (KUENZER, 2002, p. 60).

39

Essas situações são vividas no espaço da escola pública. O trabalho

pedagógico está submetido ao trabalho administrativo, quando deveria ser o

contrário. O trabalho pedagógico está submetido à lógica da racionalidade. A

figura do profissional pedagogo é vinculada ao tarefeiro. A falta de recursos

humanos obriga a equipe a se desdobrar em ações inesperadas, dificultando

um trabalho organizado e construído num planejamento prévio.

A gestão democrática é entendida como um processo político que

garante a participação de representantes de vários segmentos em todas as

decisões e ações, administrativas e pedagógicas das escolas. No art.3º, inciso

VIII da Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – a

nova LDB), consta de forma explícita a proposição da gestão democrática do

ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino

(BRASIL,1996).

Os anos 1990 consolidam um processo de reforma do Estado e da

gestão, minimizando o papel do primeiro no tocante às políticas públicas. No

Brasil, afirma Dourado, intensificam-se as ações políticas e as reformas

educacionais em sintonia com a orientação dos organismos internacionais. A

nova Lei de diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96)

expressa essas mudanças (DOURADO, 2002, p.150).

Os sistemas de ensino definirão as normas de gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I – participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II – participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes (BRASIL, 1996).

http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L9394.htm

As políticas de gestão e de regulação da educação no país passam por um processo intenso de mudanças, originadas, substantivamente, pelo incremento das relações sociais capitalistas traduzidas no final do século passado pelo expressivo avanço tecnológico e pela globalização do capital e do trabalho (DOURADO, 2002, p.149)

Globalização e gestão das

escolas

Artigo 14 da Lei nº 9.394/96

(Nova LDB)

40

Entre vários aspectos básicos identificados na LDB, enfatizamos a

participação política, a coordenação, o planejamento e a descentralização dos

processos de decisão e de execução, itens vinculados aos princípios de gestão

democrática.

Há que se reconhecer que Gestão Democrática não é simplesmente um

conceito novo ou um modismo; trata-se de um paradigma da administração que

impregnou totalmente as escolas no Brasil.

Segundo Paro (2006), para levar as camadas trabalhadoras a se

apropriarem de um saber historicamente acumulado e desenvolver a

consciência crítica, é necessário transformar a escola, o sistema de autoridade

e a distribuição do próprio trabalho no interior da escola. Mas, para isso, para

que haja participação dos diversos setores, é preciso “levar em conta a dupla

contradição que vive o diretor de escola hoje”.

[...]ele acaba se constituindo, de fato, em virtude de sua condição de responsável pelo cumprimento da Lei e da ordem, em mero preposto do Estado (PARO, 2006, p 11).

A LDB remete aos sistemas de ensino e à normatização da gestão democrática, condicionando suas especialidades à garantia de dois instrumentos fundamentais ao incremento da participação: 1) a elaboração do projeto pedagógico da escola, contando com a participação dos profissionais da educação; 2) a participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares[...] (DOURADO, 2002, p.153).

[...]gestão democrática pode ser entendida como espaço de participação, de descentralização do poder e, portanto, de exercício de cidadania (DOURADO, 2002, p. 152).

A Constituição brasileira, promulgada em 1988, traz em seu bojo um conjunto de princípios fundamentais à cidadania. Dentre eles, a garantia do acesso ao ensino obrigatório e gratuito (direito público subjetivo), a gestão democrática do ensino público, a vinculação constitucional de recursos à educação (DOURADO, 2002, p. 151).

Primeira

contradição

41

Para esse autor, é necessário reorganizar a autoridade no interior da

escola e buscar a autonomia para ”conferir poder e condições concretas para

que ela alcance objetivos educacionais articulados com os interesses das

camadas trabalhadoras” (PARO, 2006, p 11).

É dessa forma que educadores, alunos, funcionários e pais, através da

participação nas decisões sobre os objetivos e o funcionamento da escola,

poderão “pressionar os escalões superiores a dotar a escola de autonomia e de

recursos” (PARO, 2006, p.12)

É com essa finalidade que o Conselho Escolar ganha corpo no espaço

da escola. Os “escolhidos” representam seus pares e têm voz e vez nas

decisões tanto administrativas quanto pedagógicas. É nessa participação que

os setores dividem as responsabilidades, criando o compromisso de todos com

os fins pedagógicos.

Somente participar da gestão democrática da escola não é suficiente,

afirma Paro, é importante ”verificar em que condições essa participação pode

tornar-se realidade” (PARO, 2006, p. 40). Referimo-nos às condições objetivas

em que ocorrem as práticas e relações no interior da escola. É preciso que se

[...]ele deve deter uma competência técnica e um conhecimento dos princípios e métodos necessários a uma moderna e adequada administração dos recursos da escola [...] o problema da escola pública no país não é, na verdade, o da administração de recursos, mas o da falta de recursos (PARO, 2006, p 11).

Segunda

contradição

A gestão democrática é

um processo contraditório.

A participação da comunidade na escola, como todo processo democrático, é um caminho que se faz ao caminhar, o que não elimina a necessidade de se refletir previamente a respeito dos obstáculos e potencialidades que a realidade apresenta para ação (PARO, 2006, p.18).

42

esclareça que nem sempre a existência de condições favoráveis de trabalho

garante relações democráticas e cooperativas. E quando as condições são

opostas, não quer dizer que isso possa contribuir para uma tardia mudança

favorável a tais relações.

É necessário que se faça um trabalho de aproximação da comunidade

para o interior da escola, para que ela sinta que aquele espaço permite sua

participação. Quase sempre, a comunidade não tem a consciência da

importância de sua presença no espaço escolar e como essa participação é

importante na vida escolar dos alunos.

Muitas vezes, a não participação da população na gestão da escola

pública ocorre pelo medo do desconhecido e das questões formais e informais

do interior da escola. Muitos acreditam que esses assuntos devam ser

discutidos somente pelos “entendidos” e não pelos “leigos”. Alguns pais temem

que, ao participarem da gestão, possam colocar seus filhos em evidência e,

assim, possam sofrer alguma represália, se por ventura não estiverem em

acordo com as decisões e práticas da escola

A gestão democrática é possível quando, na escola, abre-se espaço

para o diálogo e para a participação direta dos pais, professores e alunos,

objetivando uma participação política nas decisões que envolvem as atividades

escolares. Essa participação articulada deve respeitar e realimentar as

decisões pedagógicas e administrativas que, de forma coletiva, já foram

organizadas no Projeto Político Pedagógico e registrados no Regulamento

Interno da escola.

Numa sociedade em que o autoritarismo se faz presente, das mais variadas formas, em todas as instâncias do corpo social, é de se esperar que haja dificuldade em levar as pessoas a perceber os espaços que podem ocupar com sua participação (PARO, 2006, p. 59).

É preciso que a escola seja adequadamente estruturada para atingir objetivos educativos em seu todo

(PARO, 2006, p.103).

O que se reivindica é uma organização escolar em que o trabalho e as relações em seu interior se dêem de modo a não contradizer a característica democrática do próprio ato educativo (PARO, 2006, p.103).

43

A gestão democrática da escola cria novas formas de organização e

gestão do trabalho escolar. Cultiva-se um modelo coletivo de trabalho em que

se compartilha o poder e também as responsabilidades. A tarefa desse modelo

de gestão não é mais ditar normas, mas organizar as ações, conviver na

diversidade de opiniões e trabalhar de forma pacífica com essa diversidade.

A gestão democrática não pode ser decretada impositivamente nas

escolas, ela é construída paulatinamente. Para Dourado:

É uma construção cotidiana e processual e, em se tratando de uma luta

política de construção, é eminentemente pedagógica (DOURADO, 2002).

Os conceitos de democracia e prática democrática precisam ser

compreendidos e interpretados no interior da escola para, a partir daí,

estabelecer um processo de gestão que esteja vinculado aos seus objetivos

pedagógicos, políticos e culturais. Não se pode desvincular a gestão

democrática do processo pedagógico e educativo mais amplo; a escola educa

e forma o cidadão por suas relações pedagógicas. O processo de gestão

democrática é construído no interior da escola, na interação de forças entre o

instituído politicamente e o construído democraticamente. Exemplo disso é a

escolha do diretor por meio de processo eletivo.

[...]é o resultado de ações construídas cotidianamente e coletivamente, é a expressão de um aprendizado da participação, pautado pelo dissenso, pela convivência e pelo respeito às diferenças em prol do estabelecimento de espaços de discussão e deliberação coletivos (2002, p.157).

É preciso conhecer a lei de diretrizes e bases, as leis que regulamentam os sistemas educativos, entre outros, não numa perspectiva meramente legalista e normativa, mas compreendendo esses aparatos jurídicos como instrumentos vivos das políticas educacionais, dimensionando esses dispositivos e alocando-os como aliados na luta pela democratização da escola (DOURADO, 2002, p.159).

O que é

preciso

conhecer para

implantar a

gestão

democrática

nas escolas?

44

Pensamos que a escola pública pode não apenas contribuir

significativamente para a democratização da sociedade, como também ser um

lugar privi legiado para o exercício da democracia participativa, para o exercício

de uma cidadania consciente e comprometida com os interesses da maioria

socialmente excluída ou dos grupos sociais privados dos bens culturais e

materiais produzidos pelo trabalho dessa mesma maioria.

Na educação, a organização dos espaços colegiados é fundamental

para a definição de políticas educacionais que orientem a prática educativa e

os processos de participação. O Conselho escolar tem papel decisivo na

democratização da educação e da escola. É ele um importante espaço no

processo de democratização, à medida que reúne seus pares e os outros

representantes da comunidade para discutir, definir e acompanhar o

desenvolvimento do projeto político pedagógico da escola que deve ser visto,

discutido e analisado dentro do contexto em que vivemos. Trata-se de enfrentar

o desafio de construir uma gestão democrática que contribuirá efetivamente

para o processo de construção de uma cidadania que requer autonomia,

participação, criação coletiva dos níveis de decisão e posicionamentos que

combatam a ideia burocrática da hierarquia. Os Conselhos escolares

contribuem decisivamente para a criação de um novo cotidiano escolar, no qual

a escola e a comunidade se identificam no enfrentamento não só dos desafios

escolares imediatos, mas dos graves problemas sociais vividos na sociedade

brasileira.

Como dissemos anteriormente, a gestão democrática tornou-se um

paradigma nas escolas. Está na legislação, está nas discussões teóricas dos

educadores e instalou-se na prática das escolas do Brasil. Nem todos têm a

mesma compreensão sobre esse processo. De qualquer modo, é fato que a

3.2 Finalizando a unidade

É necessário organizar as instâncias colegiadas.

45

implantação desse modo de administrar a escola acompanhou a mudança no

perfil do profissional pedagogo, hoje chamado de professor pedagogo.

Na gestão participativa, são exigidas do pedagogo as mesmas

características exigidas dos trabalhadores, já elencadas no segundo capítulo

desse material, quando apresentamos a discussão sobre o Toyotismo:

flexibilidade, iniciativa, ousadia, laços curtos... O que significa que a gestão

democrática, ao mesmo tempo em que pode representar a possibilidade de a

classe trabalhadora se aproximar das instâncias decisórias, pode representar,

também, reflexos das reformas descentralizadoras e flexibilizadoras neoliberais

que marcam o Estado brasileiro desde os anos 1990.

Esse é o caráter contraditório da gestão democrática que não pode

passar despercebido aos professores pedagogos, sob pena de não

conseguirem atuar de modo a efetivar um trabalho que sobreponha o

pedagógico ao administrativo nas escolas.

A gestão democrática da escola

permite a maior

participação da comunidade

em geral nas instâncias

decisórias.

A gestão democrática da escola é resultado

das políticas descentralizadoras

que desresponsabilizam o Estado, tornando-o

mais enxuto e adequando-o ao

Neoliberalismo.

Contradição

da gestão

democrática

46

4. DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS E O PAPEL DO PROFESSOR

PEDAGOGO

Maria Helena Rocha

É necessário superar a visão simplista de que o pedagogo é um

salvador da escola, ou o profissional da escola que resolve tudo. Entretanto,

por meio de pequenas mediações que estejam ao seu alcance, isto é, de ações

pedagógicas, talvez, os pedagogos possam desenvolver um trabalho de

qualidade. É preciso aproveitar o potencial contraditório do processo

democrático e criar condições favoráveis para um novo fazer educativo que

supere os obstáculos que dificultam e emperram uma educação libertadora e

que assuma um discurso comprometido com um agir transformador.

A escola é uma instituição que tem como função precípua a socialização

do saber sistematizado. Contudo, muitas vezes, ela se perde em atividades

secundárias; “facilmente o secundário pode tomar o lugar daquilo que é

principal, deslocando-se, em conseqüência, para o âmbito do acessório

aquelas atividades que constituem a razão de ser da escola” (SAVIANI, 1994,

p. 27).

[...]a educação é um processo de humanização; que ocorre na sociedade humana com a finalidade explicita de tornar os indivíduos participantes do processo civilizatório e responsáveis por levá-lo adiante (PIMENTA, 1996, p.168).

[...]fez-se de tudo na escola; encontrou-se tempo para toda espécie de comemoração, mas muito pouco tempo foi destinado ao processo de transmissão-assimilação de conhecimentos sistematizados. Isto quer dizer que se perdeu de vista a atividade nuclear da escola, isto é, a transmissão dos instrumentos de acesso ao saber elaborado (SAVIANI, 1994, p. 27).

A escola

perdeu sua

função

pedagógica.

47

É fundamental que as escolas recuperem seu papel de disseminação de

conhecimento, criando situações de aprendizagem que permitam aos alunos

desenvolver suas capacidades cognitivas, afetivas e psicomotoras. É preciso

também torná-la democrática, possibilitando o acesso e a permanência de

todos. Assim, “a escola poderá cumprir aquilo que lhe é específico, enquanto

instância social que luta pela transformação: a socialização do saber”

(PIMENTA, 1995, p.12).

Quais são então os desafios que cabem aos pedagogos no contexto

atual? Antes de responder a essa pergunta, façamos algumas considerações

em torno do trabalho do pedagogo.

[...]está em transformá-la, para que o “pública” se identifique com o “popular”. Os dois aspectos que mais fortemente evidenciam que a escola não é popular são os altos índices de seletividade e evasão. Estes aspectos são sintomas de situações mais complexas que tornam a escola não popular (PIMENTA, 1995, p. 14).

Quem é o

Pedagogo?

Pedagogo é o profissional que atua em várias instâncias da prática educativa, direta ou indiretamente ligadas `a organização e aos processos de transmissão e assimilação de saberes e modos de ação, tendo em vista objetivos de formação humana previamente definidos em sua contextualização histórica (LIBÂNEO, 2007, p. 33).

Pedagogo é um profissional que lida com fatos, estruturas, contextos, situações, referentes à prática educativa em suas várias modalidades e manifestações (LIBÂNEO,

2007, p. 52).

Pedagogo é aquele que possibilita o acesso à cultura. É pois, aquele que domina os procedimentos e os métodos por meio dos quais se chega ao domínio do patrimônio cultural que se pretende no interior das escolas (SAVIANI, 1985, p. 27).

O maior desafio

da escola, hoje:

4.1 O trabalho do pedagogo: desafios

48

O bom profissional, hoje, é o que está continuamente aprendendo,

renovando e reformulando o seu conhecimento, a fim de atender a

necessidade de renovação, para que se evite a fossilização precoce das ideias

e da práxis.

Libâneo conceitua Trabalho Pedagógico como atuação profissional em

um amplo leque de práticas educativas, e Trabalho Docente como forma

peculiar que o trabalho pedagógico assume na sala de aula. Para ele, “a base

da identidade profissional do educador é a ação pedagógica, não a ação

docente” (LIBÂNEO, 2007 p.55). Mas o autor chama a atenção para a

necessidade da teoria para dar direção ao trabalho do pedagogo.

A atuação do pedagogo não deve ser vista como uma muleta para o

professor, como se não tivesse autonomia para pensar planejar e executar seu

trabalho. Ele deve caminhar com firmeza e autonomia, não dependendo

exclusivamente das ideias de outros. Sua presença, quando solicitada na

coordenação pedagógica junto aos professores, não supõe que deva ter o

domínio dos conteúdos disciplinares. Espera-se uma atuação de assistência

nas implicações pedagógicas, sociais e culturais do ensino, na detecção de

problemas de aprendizagem, na avaliação e no uso de técnicas e recursos do

ensino.

[...]é a teoria pedagógica que pode, a partir da prática, formular diretrizes que darão uma direção à ação educativa (LIBÂNEO, 2007, p. 55).

Os pedagogos precisam

do auxílio de uma teoria.

A atuação do pedagogo é imprescindível na ajuda aos professores no aprimoramento do seu desempenho na sala de aula (conteúdos, métodos, técnicas, formas de organização da classe), na análise e compreensão das situações de ensino com base nos conhecimentos teóricos, ou seja, na vinculação entre as áreas do conhecimento pedagógico e o trabalho de sala de aula... são tarefas complexas que requerem habilidades e conhecimentos especializados, tanto quanto requer por parte do professor conhecimento especializado da matéria que leciona (LIBÂNEO, 2007, p. 61).

49

Para indicar algumas características ideais em um professor pedagogo

hoje, vamos recorrer ao primeiro critério levantado na reflexão feita por Newton

Duarte (2006) sobre a formação do intelectual crítico em educação. Suas

considerações podem ser apropriadas para ajudar a pensar a formação do

Pedagogo.

Duarte não tem a pretensão de dar conta de uma completa conceituação

de intelectual crítico, mas de apresentar algumas características que julga

indispensáveis a esse tipo de intelectual no campo da educação. Ele começa

pela definição de intelectual e de trabalho intelectual. Para ele, o intelectual se

define pela forma como essa atividade insere-se na totalidade das relações

sociais, e não por aspectos internos à atividades que o indivíduo realiza.

O primeiro critério para se definir um intelectual como crítico é o tipo de

relação que ele mantém com a divisão social do trabalho e com a apropriação,

pelo capital, tanto da riqueza material como também da riqueza espiritual.

Afirma Duarte:

O pedagogo entra, também, na coordenação do plano pedagógico e planos de ensino, da articulação horizontal e vertical dos conteúdos, da composição de turmas, das reuniões de estudo, conselho de classe [...](LIBÂNEO, 2007, p. 63).

Não se trata aqui de submeter o trabalho do professor ao controle do pedagogo. Ao contrário, são especialistas que se respeitam, sem imposição de métodos e sem romper drasticamente com os modos de agir[...]pedagogos e docentes têm suas atividades mutuamente fecundadas por conta da especialidade de cada um, da experiência profissional, do trato cotidiano das questões de ensino e aprendizagem, dos encontros de trabalho em que o geral e o específico do ensino vão se interpenetrando (LIBÂNEO, 2007, p. 63).

O que o pedagogo

deve fazer?

50

Essa é a questão fundamental para a formação de pedagogos

competentes, atuação ligada à teoria adotada sobre a realidade escolar, o

aluno, o homem e a sociedade. Dependendo do modo como o pedagogo

compreende o homem, seu papel e seu movimento na sociedade (sua história),

vai decorrer seu modo de compreender a escola, o professor, o aluno...

O pedagogo sempre se utiliza de uma teoria para explicar essa

realidade. Ele pode não ter consciência de qual é essa teoria. Ele pode,

inclusive, afirmar que está baseado em senso comum. Mas a adoção de senso

comum está baseada numa teoria. Ele pode afirmar que está baseado naquilo

que é comum na prática pedagógica. Mas a prática pedagógica também está

cristalizada a partir de teorias explicativas da realidade.

É fundamental, aos pedagogos, maior clareza conceitual, maior precisão

nos termos utilizados, mais seriedade para não aderir a modismos sem a

noção exata de seus significados e consequências.

A escola é uma instituição de socialização do conhecimento científico,

filosófico e artístico, afirma Duarte. Mas o dia-a-dia das instituições escolares

brasileiras está impregnado de um conjunto de práticas e de formas de

pensamento que reproduzem o cotidiano alienado da sociedade capitalista

contemporânea. Esse discurso hegemônico toma conta dos pedagogos e dos

docentes, a tal ponto que ficam vulneráveis à sedução sobre eles exercida por

ideários pedagógicos que negam a própria transmissão de conhecimentos pela

escola (DUARTE, 2006):

Mas, para que isso ocorra, é necessário que os intelectuais [...]adotem e desenvolvam teorias educacionais que definam o trabalho do educador e do pesquisador em educação como sendo o de elevação do nível cultural da população em geral. O conhecimento que o intelectual adquiriu em sua formação, e para cujo desenvolvimento ele pretende contribuir com sua atividade de pesquisador, deve estar internamente articulado à crítica dos processos sociais de apropriação privada do conhecimento. Nessa direção, a formação do intelectual crítico não dispensa o auxílio de uma teoria crítica. Não existe nenhum tipo de

pensamento crítico em abstrato, isto é, desprovido de conteúdo (DUARTE, 2006, p. 94, grifos nossos).

51

Muitos são os desafios que se colocam aos pedagogos em seu trabalho

diário. Em nosso entendimento o maior desafio a ser enfrentado é a

necessidade de buscar subsídios teóricos para refletir sobre a prática

pedagógica.

Duarte, afirma que, sem a mediação da análise teórica, o contato direto

com a realidade produz, no pensamento, apenas uma representação caótica,

superficial e fetichista. As pedagogias pós-modernas defendem esse tipo de

contato como prioritário na escola, difundindo-se, hoje, um sentimento de

aversão às teorias. Esse é, sem dúvida, o maior desafio que os pedagogos

enfrentam na atualidade.

[...]intelectual crítico em educação: ele deverá assumir uma atitude frontalmente contrária à seletividade no processo de distribuição social do conhecimento pelo sistema escolar e contrapor a essa seletividade a defesa de um currículo escolar que promova a apropriação por todas as crianças e jovens, sem distinções de nenhuma natureza, do patrimônio científico, artístico e filosófico que a humanidade construiu até aqui (DUARTE, 2006, p. 97).

APENAS A REFLEXÃO TEÓRICA PODE AJUDAR OS PEDAGOGOS A

NÃO CAÍREM NAS ARMADILHAS SEDUTORAS DO DISCURSO

PRAGMÁTICO DA ATUALIDADE.

4.2 Finalizando a unidade

52

Considerações Finais

Constatamos que, hoje, na escola, encontra-se tempo para tudo, mas

muito pouco tempo é destinado ao processo de transmissão e assimilação de

conhecimentos elaborados cientificamente. Saviani já confirma essa tese em

seus escritos.

Em nossa opinião, é nesse ponto nevrálgico que o pedagogo pode atuar.

No entanto, seu trabalho tem causado debates polêmicos em alguns setores do

sistema de educação. Na verdade, os equívocos ocasionados pela história

política recente em relação às suas atribuições têm deslocado o foco de se u

trabalho, descaracterizando sua função, secundarizando o sentido pedagógico.

Muitas vezes, esse profissional é interpretado como burocrata,

disciplinador de alunos, fiscalizador de professores e/ou profissional

multifunção, bombeiro, um verdadeiro “faz tudo” no cotidiano da escola pública.

Não obstante os entraves que descaracterizam a função do pedagogo

no contexto escolar, é interessante ressaltar que os determinantes e

condicionantes que interferem na definição do perfil desse profissional têm

merecido significativa atenção por parte das políticas públicas atuais que

Sentem-se sozinhos, lutando em muitas frentes, tendo que desempenhar várias funções. Qual seria sua efetiva identidade profissional? A sensação que têm, com freqûencia, é de que são ´bombeiros` a apagar os diferentes focos de ´incêndio` na escola, e no final do dia vem o amargo sabor de que não se fez nada de muito relevante... Sentem ainda o distanciamento em relação aos professores, a desconfiança, a competição, a disputa de influência e de poder, etc.(VASCONCELLOS, 2002, p. 85).

Vasconcellos destaca

essa angústia do pedagogo,

a quem ele chama de

coordenador pedagógico:

53

objetivam a transformação social voltada para a superação dos problemas

educacionais e das desigualdades sociais.

Visto como articulador, o pedagogo deve ter como objetivo de sua

trajetória educativa a descoberta de caminhos que permitam reorganizar a sua

prática com o olhar voltado para a escola que temos e a que desejamos. É

preciso, portanto, que esse olhar tenha a compreensão das relações

educativas na escola e também na sociedade, considerando, em seu contexto,

simultaneamente, dimensões individuais e sociais.

O trabalho pedagógico proposto aos pedagogos requer um domínio mais

aprofundado das questões educacionais e pedagógicas presentes na escola

que ultrapasse o mero espontaneísmo e imediatismo com os quais se tem

legitimado a cultura escolar; requer uma compreensão mais profunda sobre a

sociedade e o significado do fenômeno educacional dentro dela; requer

recuperar a função social da escola pública.

O pedagogo responde pela mediação, organização, integração e

articulação do trabalho pedagógico. Ser pedagogo significa ter o domínio

sistemático e intencional das formas (métodos) por meio dos quais se deve

realizar o processo de formação cultural (SAVIANI, 1985).

A este profissional não cabe mais a lógica economicista, reproduzindo a

fragmentação das relações de trabalho, assim como acontece na dualização do

profissional pedagogo em supervisor e orientador.

Sobre a secundarização do papel do pedagogo, citemos Saviani:

Na verdade, tal desvio é hoje regra em nossas escolas: da exaltação aos movimentos de 64 à curiosidade pelo índio, da veneração às mães às festas juninas, das homenagens aos soldados ao cultivo do folclore e às loas à criança, encontra-se tempo para tudo na escola. Mas muito pouco tempo é destinado ao processo de transmissão-assimilação de conhecimentos elaborados cientificamente. Cumpre reverter essa situação. Vocês, pedagogos, têm uma responsabilidade grande nesse esforço de reversão. Enquanto especialistas em pedagogia escolar cabe-lhes a tarefa de trabalhar os conteúdos de base científica, organizando-os nas formas e métodos mais propícios à sua efetiva assimilação por parte dos alunos (SAVIANI, 1985, p. 28).

54

O envolvimento do pedagogo com questões do dia-a-dia escolar não

deve extrapolar o tempo e o espaço do fazer pedagógico, já que problemas de

disciplina, acompanhamento de entrada e saída de alunos, são próprios da

escola e o seu coletivo deve planejar ações para enfrentá-los.

Além da função pedagógica de interlocução com o corpo docente para

efetivação de uma prática pedagógica que cumpra com os pressupostos

conceituais e práticos expostos no Projeto Político Pedagógico, há a função do

pedagogo na gestão escolar, sobre a qual tratamos no capítulo três. O

pedagogo, como articulador do trabalho coletivo da escola, articula a

concepção de educação às relações e determinações políticas, sociais,

culturais e históricas.

A escola é a mediadora

entre o conhecimento e a

comunidade, o professor

é o mediador entre o

conhecimento e o aluno,

o pedagogo é o mediador

entre o método, as

formas de condução do

conhecimento e a prática

docente.

O pedagogo é

um mediador.

55

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