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Gilgames o La conquista de la inmortalidad Franco D'Agostino Traducción de Francisco del Rio Sánchez A L T R O T T A

d'Agostino 2007 Gilgamesh

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Capítulos que hacen referencia al descubrimiento del Cercano Oriente Antiguo durante el transcurso del siglo XIX, con una visión eurocentrista y bíblica muy presente

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Page 1: d'Agostino 2007 Gilgamesh

G i l g a m e s

o La c o n q u i s t a de la i n m o r t a l i d a d

F r a n c o D ' A g o s t i n o

T r a d u c c i ó n d e F r a n c i s c o d e l R i o S á n c h e z

A L T R O T T A

Page 2: d'Agostino 2007 Gilgamesh

A Verónica Konstantinovna Afanas'jeva, poetisa y extraordinaria traductora

de la literatura sumeria

P L I E G O S D E O R I E N T E S E R I E P R Ó X I M O O R I E N T E : M O N O G R A F Í A S D I R E C T O R : M A N U E L M O L I N A

f i t u l o o r i g i n a l : G i l g a m e s . Alia c o n q u i s t a d e l l ' i m m o r i a l i t á

f f l » E d i t o r i a l T r o l l a , S . A . , 2 0 0 7

Feria/ . . 5 5 . 2 8 0 0 8 M a d r i d

t e l é f o n o : 9 1 5 4 3 0 3 6 1

fax : 91 5 4 3 ' 4 8 8

e - m a i l : e d i t o r i a l @ t r o t t a . e s

h t t p : / / w w w . t r o t t a . e s

<£> E d i z i o n i P i e m m e Spa , 1997 T i t l e o f t he o r i g i n a l I t a l i an e d i t i o n :

G i l g a m e s by F r a n c o D ' A g o s t i n o

© F r a n c i s c o del Rio S á n c h e z , 2 0 0 7

i s b n : 9 7 8 - 8 4 - 8 1 6 4 - 9 3 8 - 3

d e p ó s i t o legal : M - 4 9 - 6 ' 3 ~ 2 0 c > 7

i m p r e s i ó n

Glosas O r c o y e n , S . L .

C O N T E N I D O

Prólogo 9 Introducción 11

1. El descubrimiento de Mesopotamia: un sueño que duró más de dos mil años 13

2. El descubrimiento de la epopeya 37 3. De uno a muchos Gilgames 59 4. GilgameS y Enkidu: la amistad más antigua de la historia 79 5. La imparable ascensión de dos héroes 97 6. Los mortales caprichos de una diosa 129 7. La afanosa búsqueda para huir de la muerte 151 8. El secreto de los dioses: el Diluvio universal 169 9. Gilgames entre la historia y la leyenda 195

Bibliografía 217 índice 221

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por callejones sin salida o, peor aún, a caer en in te rpre tac iones er ró-neas. Por eso se ha añad ido una pr imera par te que hace referencia al descubr imien to del Or i en t e preclásico po r pa r t e de Occ iden te : pocos recuerdan hoy las aguer r idas disputas que dividieron a los es tudiosos du ran t e el pe r íodo de t ransic ión entre los siglos xix y x x , con feroces a taques y apas ionadas defensas del m u n d o que Gilgames represen taba . En efecto, el descubr imien to del p o e m a fue u n o de los acontec imien tos cul turales más impor tan tes y significativos del siglo XIX, pues llegaría a modif icar to ta lmente la manera de cons idera r el m u n d o or ien ta l y su tex to más impor t an t e : la Biblia.

Pero lo que más i m p o r t a y s o r p r e n d e es que aún hoy, a pesar de que son miles de años los que nos separan de esta compos ic ión , nos veamos impl icados en las aven turas de Gilgames, e x a l t á n d o n o s su hero í smo, c o n m o v i é n d o n o s su desesperación y a p e s a d u m b r á n d o n o s sus fracasos. No p o d e m o s cons iderar c o m o e x t r a ñ o a este joven y mis ter ioso rey, capaz de apas ionarse y de llorar, capaz de ma ta r y de amar , de soñar y de rezar.

Un rey, un dios, que es el p r o t o t i p o del h o m b r e que huye de sí mi smo , el pa rad igma de la vanidad de los es fuerzos h u m a n o s con t r a el des t ino y la muer te . Y m u c h o más aún. . .

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EL D E S C U B R I M I E N T O DE M E S O P O T A M I A : U N S U E Ñ O Q U E D U R Ó MÁS D E D O S M I L A Ñ O S

Un h o m b r e ve mor i r an te sus ojos al amigo , her ido por la maldic ión de los dioses. Hab ían c o m p a r t i d o mil aventuras , ayudándose c o m o her-manos , en lugares lejanos, mister iosos y mágicos, cont ra desp iadados d e m o n i o s y divinidades capr ichosas y crueles. Llora por él d u r a n t e lar-go t i e m p o y después lo ent ierra con todos los honores . O b s e s i o n a d o por el tétr ico ros t ro de la m u e r t e se lanza en tonces a la búsqueda de la inmor ta l idad , hasta encon t ra r se en el c amino al ún ico ser h u m a n o que escapó al Diluvio universal . Al volver a su patr ia , p o n d r á po r escr i to sobre una tablilla de lapislázuli todas sus t r ibulaciones , para las genera-ciones futuras .

Ese h o m b r e se l lamaba Gilgames, rey de la ant iquís ima c iudad sume-ria de Uruk, s i tuada en la M e s o p o t a m i a mer id iona l , y su historia nos ha l legado gracias a un poema que nar ra sus gestas y su a fanosa y d o l o r o -sa búsqueda . Se trata del poema épico más an t iguo que haya concebi-do la h u m a n i d a d ; es más an t iguo que la Iliada o la Odisea, más an t iguo que el Mahübharata indio: es la suma cul tura l , ideológica y poé t i ca del h o m b r e mesopo támico , e laborada en el t rascurso de tres mil años de historia. Antes de que la cul tura occidental pudiese volver a apropia r -se de esta ex t rao rd ina r i a obra de ar te habr ían de pasar más de dos mil años de absolu to olvido.

Lo que descr ib i remos en las páginas que siguen es una in t roducc ión —necesar ia pe ro a la vez fo rzosamente b reve— para c o m p r e n d e r el cli-ma cultural que ha servido de marco al descubr imien to del más ex t raor -d inar io p o e m a épico del an t iguo Or i en te . Sus tancia lmente consiste en la nar rac ión de c ó m o volvió a renacer en la cul tura occidenta l el m u n d o oriental an te r ior a los griegos, al que los acon tec imien tos habían relega-do a una sombra que había ocu l t ado su v e r d a d e r o y p r o f u n d o significa-do histórico. El desc i f r amien to del sistema gráf ico cune i fo rme , in ic iado

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G I L G A M E S O L A C O N Q U I S T A D E L A I N M O R T A L I D A D

por Geo rg Friedrich G r o t e f e n d , y los descubr imientos arqueológicos de Paul-Émile Botta y H e n r y Austen Layard du ran t e los p r imeros cincuen-ta años del siglo xix , abr i rán una ven tana sobre un nuevo y fascinante á m b i t o filológico y a rqueo lóg ico .

El pr imer impulso para la búsqueda de este c a m p o fue generado , sin duda , por la voluntad —dec la rada o táci ta— de conf i rmar los relatos bíblicos. De este m o d o , du ran t e un largo pe r íodo de t i empo se asistió a un e n f r e n t a m i e n t o en t re una asiriología que era «servidora» de la herme-néutica bíblica y una ciencia que , en cambio , buscaba la justificación de su existencia apoyándose sobre bases, por decir lo de algún m o d o , inter-nas. Es la diatriba conocida en el ambien te científico con el n o m b r e de Babel und Bibel (Babel y Biblia) que , con estos dos acrónimos, sintetiza un prob lema de la cul tura occidental que posee una notabilísima ent idad.

Sin e m b a r g o —al lado de la polémica filológica y de la pasión ar-queológica de los af ic ionados de lu jo— un papel f u n d a m e n t a l en el des-cub r imien to del an t iguo Or ien te se debió a la fo r tuna , la única diosa que queda para reírse de los esfuerzos de los hombres . Maravi l losa-m e n t e consciente de esto fue el p ione ro de la búsqueda arqueológica en Or i en t e , el i ta lo-f raneés P.-É. Botta, del que hab la remos ex t ensamen te en breve, y que escribió:

C i e r t a m e n t e , e l é x i t o n o m e c iega a c e r c a del p a p e l q u e h e p o d i d o t e n e r | e n e l d e s c u b r i m i e n t o de l m u n d o o r i e n t a l a n t i g u o a n t e r i o r a los g r i e g o s ] ; s in d u d a h e h e c h o u n d e s c u b r i m i e n t o , h e a b i e r t o u n n u e v o c a m i n o p a r a l a a r q u e o l o g í a , p e r o sin los i n d i c i o s f o r t u i t o s del s u c e s o , mi s b ú s q u e d a s y mi p e r s e v e r a n c i a h a b r í a n s i d o inút i les .

Las tierras más allá del l imes

Ante los m u r o s de Ctes i fonte , cerca de Babilonia, mor ía en el año 3 6 3 d .C. , con sólo 31 años, el e m p e r a d o r r o m a n o Ju l iano el Apósta ta : en su a locada guerra personal con t ra el cr is t ianismo e n c o n t r ó la m u e r t e a miles de k i lómetros de distancia de su maravil losa capital , he r ido p o r una flecha «que nadie sabe desde d ó n d e fue lanzada», c o m o escribe el h i s to r i ador r o m a n o A m m i a n o Marce l ino . Fue el ú l t imo y d r amá t i co en-cuen t ro que Roma tuvo con el que había sido el te r r i tor io más a d m i r a d o y d i spu tado de los milenios precedentes : M e s o p o t a m i a .

Bajo los sucesores de Ju l iano , que cons ide ra ron quizás su muer t e c o m o una señal de mal agüero , el Imper io r o m a n o no volvió a demos -t rar interés a lguno por la t ierra que se encon t r aba más allá del limes, un te r r i to r io que coincide más o menos con la actual Siria.

Ante la ausencia de conoc imien tos precisos e in formac iones de pri-mera m a n o , la zona que se ex tendía en t re los d o s ríos, el Tigris al este v el Euf ra tes al oe>te, hasta el Go l fo Pérsico se cons ideraba toda ella

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«Persia». A pesar de que una mul t i tud de pueblos d i ferentes habi tase en aquel vastísimo te r r i to r io que se extendía desde el actual Irak hasta el Asia Centra l y el Cáucaso , el n o m b r e de Persia, a t r ibuido a los roma-nos, tenía obviamente un f u n d a m e n t o histórico. De hecho , se t ra taba a p r o x i m a d a m e n t e de la zona geográfica sobre la que habían r e inado los descendientes de Akhamanish , en la t radición griega Aquemenes , f u n d a d o r de la est irpe de los aquemén idas y padre de Tispe. Después , en la época de las conquis tas de Alejandro M a g n o , esta zona cons t i tuyó la porc ión oriental de su vasto imper io . Sin embargo , para lo que aqu í nos interesa, es la his tor ia p receden te al p e r í o d o heleníst ico la que debe tenerse presente .

Y los persas entraron en Babilonia...

En el año 5 3 9 a.C. , t ras consol idar su pode r con las conquis tas de Me-dia y Lidia, Ci ro , el más f a m o s o de los descendientes de Aquemenes , conquis tó Babilonia. Al parecer e n t r ó con sub te r fug ios ; en cua lquier caso fue sin encon t r a r una resistencia encarn izada y tras una c a m p a ñ a militar que du ró pocos meses1 .

Para hace rnos una idea de lo que los persas se e n c o n t r a r o n al en t ra r en Babilonia y c ó m o debía de presentarse la c iudad ante el visi tante todavía du ran t e el siglo v a .C. , c i tamos a lgunos pasajes que nos o f rece H e r o d o t o en sus Historias; a través de ellos se vis lumbra toda la admi-ración del visitante de Hal icarnaso :

S e e n c u e n t r a [Bab i lon ia ] e n u n a a m p l i a l l a n u r a c o n f o r m a d e c u a d r a d o q u e t i e n e u n a e x t e n s i ó n p o r c a d a l a d o d e 120 e s t a d i o s ; e s to s e s t a d i o s del p e r í m e t r o de l a c i u d a d s o n en to ta l 4 8 0 . . . En p r i m e r l uga r l a c i r c u n d a un f o s o p r o f u n d o y l a r g o q u e es tá l l eno de a g u a y d e s p u é s un m u r o q u e t i ene u n a a n c h u r a d e 5 0 c ú b i t o s y u n a a l t u r a d e 2 0 0 cub i to s . . . 2 .

D e s p u é s , s o b r e e l m u r o y a lo l a rgo de los m á r g e n e s , h a b r í a u n a s c o n s t r u c c i o n e s d e u n s o l o v a n o ; s o b r e e l las d e j a r o n e s p a c i o s u f i c i e n t e c o m o p a r a q u e p u d i e s e p a s a r u n a c u a d r i g a . A l r e d e d o r del m u r o hay c ien p u e r t a s , t o d a s d e b r o n c e , c o n c o l u m n a s y a r q u i t r a b e s iguales . . .

La c i u d a d p r o p i a m e n t e d i c h a , r e p l e t a de casas c o n t r e s o c u a t r o p isos , es tá d i v i d i d a p o r ca l les r ec t a s y , de m o d o p a r t i c u l a r , p o r cal les t r ansve r -sales q u e se d i r i g e n h a c i a e l r í o [Eu f r a t e s ] . . .

1. Acerca del último per íodo de la ciudad, cf. F. D'Agostino, Nabonedo, Adda-Gitp-pi. il deserto e il dio Luna (Storia, ideología e propaganda iiella Babilonia del VI sec. a.C..), Pisa, 1994, pp. 68-80: íd.. EVO 1995, pp. 1-18.

2. Ph.-E. Legrand, Hérodote. Histoires I. París, pp. 115 ss. y nota I. Sobre i.t topografía de la ciudad de Babilonia, cf. D. |. Wiseman, Nebuchadnezzar and Rabylon, Oxford , 1985, pp. 42-80; G. Peuinato, Babilonia centro dell'universo, Miiano, 1988 pp. 99-138.

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G I L G A M E S O L A C O N Q U I S T A D E L A I N M O R T A L I D A D

E n c a d a u n a d e las d o s p a r r e s d e l a c i u d a d a p a r e c e n [ s e n d o s ed i f ic ios ] e n s u p a r t e c e n t r a l : e n u n a está e l p a l a c i o rea l , c i r c u n d a d o p o r u n r e c i n -to g r a n d e y u n i d o ; en la o t r a es tá e l t e m p l o de Z e u s Belo [ M a r d u k ] , a

p a r t i r d e las p u e r t a s d e b r o n c e . . . E n m e d i o de l t e m p l o s e e leva u n a c o m p a c t a t o r r e q u e m i d e u n e s t a -

d io de a l t u r a y de a n c h u r a , y s o b r e és ta se c o l o c a o t r a t o r r e , y s o b r e ésta o t r a , y así h a s t a o c h o t o r r e s . E l c a m i n o q u e s u b e p o r ella está c o n s t r u i d o p o r f u e r a e n e sp i r a l y c i r c u n d a t o d a s las t o r r e s . . .

P o r f in , en l a ú l t i m a t o r r e hay un g r a n t e m p l o ; en e l t e m p l o h a y c o l o -c a d o u n g r a n l e c h o a d o r n a d o c o n bel las c u b i e r t a s q u e t i e n e a l l a d o u n a m e s a d e o r o . N o e x i s t e all í r e p r e s e n t a c i ó n d e d i v i n i d a d a l g u n a , y n i n g ú n h o m b r e p e r m a n e c e d e n o c h e , a e x c e p c i ó n d e u n a ú n i c a m u j e r del l u g a r : a q u e l l a q u e , e n t r e t o d a s , ha s i d o e l eg ida p o r e l d ios 3 .

Volveremos más ade lan te sobre estas in formac iones que nos p ro -porc iona el más f a m o s o de los h is tor iadores griegos, pues con t ienen aspectos que t ienen que ver con el t ema que es el f u n d a m e n t o de este vo lumen , el Poema de Gilgames. Ahora es i m p o r t a n t e destacar c ó m o los persas, y especia lmente Ci ro — q u e prec isamente gracias a la conquis ta de Babilonia adqu i r ió en t r e los gr iegos la fama de «el G r a n d e » — se d ie ron cuen ta i nmed ia t amen te de la ex t raord inar ia grandeza de lo que habían conquis tado . No sólo —y no t a n t o — deb ido a las ricas cons-t rucc iones de los t emp los y de los palacios, e n t r e los q u e cabe citar los «jardines colgantes», que e ran ya desde la an t igüedad el e j emplo más impres ionan te de la habil idad construct iva de los babi lonios . Se t ra taba de u n a elevación po r m e d i o de terrazas, cubier ta de árboles e i r r igada po r med io de un sistema de canales y cuya cons t rucción atr ibuía la tra-dición a N a b u c o n o d o s o r para su esposa Amytis, originaria de M e d i a , a f in de q u e no tuviese nostalgia del v e r d o r de su país de or igen 4 . Sin em-bargo , y sobre todo , fue la ya en tonces t r imilenaria cul tura babi lónica la que en tus iasmó a los persas vencedores y les inspiró sen t imientos de r e spe to p o r los vencidos .

La civilización mesopo támica poseía un p r o f u n d o conoc imien to del t i e m p o y de los astros, de la matemát ica y de la geomet r ía , de la medic ina y de la h id rod inámica , además de noc iones precisas del m u n d o en tonces

3. Sobre el ziggurat del templo de Zeus Belo consúltese el libro de C. Saporetti , Le Torri di Babele, Pisa, 1997, lleno de interesantes informaciones y apuntes.

4. Para concluir esta breve descripción de la capital del mundo mesopotámico, es o p o r t u n o recordar que su belleza y renombre histórico también impresionaron a Alejan-dro M a g n o , el cual, tras la batalla de Gaugamela, junto a Kirkuk (la antigua Arrapha), el 1." de octubre del año 331 a.C., en la que venció a Darío III, entró en Babilonia y, como cuenta Arriano en el libro VIH de su Anábasis de Alejandro, decidió convertirla en la capital de su imperio. Su repentina muerte le impidió llevar a termino su proyecto de reconstrucción. Por o t ro lado, Estrabón nos informa de que Alejandro el Macedonio fue el últ imo en querer reconstruir la ciudad (XVI, 1).

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conoc ido (pol í t icamente ree laboradas con el objet ivo de concebi r a Ba-bilonia c o m o el cen t ro de t o d o el universo) . Sus sofis t icadísimos mi tos , y los ritos re lac ionados con ellos, que tanta influencia t endr ían sobre el pensamien to judío de la caut iv idad y, a t ravés de él sobre la cul tura cris-t iana y en definitiva occidenta l , hab ían a d q u i r i d o una espec tacular idad y una r iqueza de significado ex t raord inar ias ; los escribas, ve rdade ros de ten tores de esta t radic ión, eran capaces de fo rmula r sutilezas polí-ticas dignas de la cul tura italiana humanís t ico- renacent i s ta . Todo esto fascinó a Ci ro m u c h o más que el palacio real o el ziggurat descri to por H e r o d o t o . No es una casual idad que la pr imera acción de Ciro , c u a n d o su ejérci to cons iguió en t r a r en la c iudad , fue ra p o n e r una guardia ar-mada a l rededor del t e m p l o Esagila (cuyo n o m b r e , sumer io , significa «el t emplo que eleva la t ierra hasta el cielo») para q u e no sufr iera saqueo . Este edificio estaba ded icado al dios principal de Babilonia, M a r d u k , y había r ep re sen tado el eje de la cul tura mesopo támica du ran t e dos mil qu in ien tos años5 .

En definit iva, Ciro y los persas e x p e r i m e n t a r o n la misma fascinación por Babilonia q u e los r o m a n o s sentir ían después respecto de Grecia . Lejos de des t ru i r esa c iudad q u e ya el p ro fe t a Isaías (13, 19), a pesar de maldecir la por su inmora l idad , no había t en ido más r emed io que definir c o m o «el más bello de en t r e los reinos, la glorificación de la majes tad de los caldeos», C i r o la hizo u n o de los núcleos económicos y cul turales de su imper io , pe rmi t i endo que la academia q u e se encon t raba junto al t emplo de M a r d u k , eje de la t radición semítica mer id ional , con t inua ra exis t iendo y p r o s p e r a n d o .

Incluso hay más. C u a n d o los persas — q u e tenían una civilización i letrada y, po r tanto , pr ivada de una exper iencia escri turaria au tóc to-na— sint ieron el deseo de poseer una t radic ión escrita que les permi-tiese expresar su p rop ia lengua, religión y visión del m u n d o , imi ta ron prec i samente el c u n e i f o r m e q u e habían e n c o n t r a d o en Babilonia. El más ilustre de los sucesores de Ciro , Darío I, nos in fo rma en su larga inscripción tr i l ingüe de Bisutün, el Bagestana de los autores griegos, de haber s ido el au tén t i co inven to r del «cune i fo rme persa» que , c o m o se dirá, será desc i f rado po r G. F. G r o t e f e n d a inicios del x ix . Este sobera-no escogió un sistema gráfico que, a pesar de su mayor simplicidad tan-to f o r m a l c o m o es t ruc tura l respecto al de la t radición mesopo támica , suponía la incisión de signos con f o r m a de cuneus, cuña 6 .

5. F. D'Agostino, Nabouedo, cit., pp. 69-70. 6. A título de curiosidad recordemos que el té rmino «cuneiforme», del latín «(es-

critura) con forma de cuña», parece que fue acuñado y utilizado de modo independiente por Tilomas Hyde y Engelbert Kámpfer entre los siglos xvn y XVlll. La astilla de madera con la que se hacían incisiones en la arcilla fresca, como tenía la figura de un triángulo

l O

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En el siglo VI a.C. la cultura mesopotámica tenía tras de sí una vida ya bimilenaria. Muchos pueblos diferentes, por tadores de culturas muy diversas entre sí, habían de ten tado el poder sobre la Tierra entre los dos Ríos con mayor o menor for tuna por un per íodo de t iempo a veces muy largo o a veces muy breve; sin embargo, todos coincidieron en legarse unos a otros la suma de los conocimientos en todos aquellos campos que la tradición cune i forme había permit ido poner por escrito. Hablaremos más adelante de estos pueblos, que también influirían mu-cho sobre la redacción de la epopeya que constituye el tema principal de este libro. Baste recordar aquí que los persas utilizaban tres lenguas para sus inscripciones reales; esas tres lenguas eran, por llamarlas de algún modo , las oficiales de su inmenso imperio: la lengua persa antigua (que, c o m o se ha dicho, se puso por escrito desde Dar ío I), la lengua babilónica, que encont ra ron en Babilonia y que aún utilizaba en muchos lugares del Creciente Fértil y el elamita, una lengua que tenía su eje cultural y étnico en Elam, nombre antiguo del terr i torio que hoy co-rresponde, aproximadamente , a la zona comprendida entre el Lurestán y el Khuzistán, en el occidente de Persia. Esta última lengua y su grafía —que formalmente es también «cuneiforme»— aún hoy plantea nota-bles problemas interpretativos, y no puede decirse que esté to ta lmente descifrada. Por o t ro lado, sus pr imeros documentos son antiquísimos y datan de la época de los pr imeros súmenos .

Por tanto, los primeros descifradores se encont ra ron frente a una cultura que se presentaba claramente como un conglomerado compues-to de diversas tradiciones y etnias. De hecho, este dato no se debía a la casualidad: toda la cultura mesopotámica, en el t ranscurso de sus tres mil años de historia, se caracteriza por la colaboración, a veces estrecha y a veces ocasional, de diferentes grupos étnicos que eran por tadores de lenguas y tradiciones literarias diversas, pero que, en todo caso, estaban aunados por el rasgo más significativo e innovador de la historia orien-tal preclásica, el cuneiforme 7 . Los valientes pioneros que der ramaron su perspicacia filológica occidental sobre el misterioso pasado del Oriente deberían habernos pasado la cuenta.

alargado, trazaba los signos característicos que serían copiados de nuevo también sobre piedra y darían lugar a este neo-cuneiforme.

7. Sin embargo, es bueno recordar que durante el primer milenio, la escritura al-fabética fenicia, más ágil, a través de la mediación del mundo arameo, se iba imponiendo cada vez más en el uso cotidiano; tenemos numerosos ejemplos de la misma incluso en Mesopotamia. El material perecedero sobre el cual se escribía —normalmente cera, ma-dera, papiro, etc.— ha hecho que esta documentación tenga menos duración a través de los siglos.

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En los inicios de la asiriología: el tiempo de los filólogos

L a fami l i a De l l a Valle, pa t r i c i a r o m a n a , p o r e l m é r i t o d e sus m i e m b r o s t u v o a n t e s q u e e l e m p e r a d o r S e g i s m u n d o e l águ i l a i m p e r i a l q u e l leva e n sus a r m a s , d i s t i n g u i d a p o r l a s a g r a d a p ú r p u r a d e d o s c a r d e n a l e s : Rús t i -co , b a j o H o n o r i o II, y A n d r e a , b a j o L e ó n X . U n a calle t o m a n o m b r e de las c a s a s e n las q u e h a b i t a n los s e ñ o r e s d e esa f a m i l i a ; p o r e l t r á n s i t o cíe las c a b a l l e r í a s se c o n v i e r t e en i l u s t r e y p a p a l , y a d e m á s es tá e l m a g n í f i c o t e m p l o , l l a m a d o d e S a n t ' A n d r e a de l la Valle. E n e l i n f o r t u n i o del S a q u e o d e R o m a , b a j o C l e m e n t e VII , s e r e f u g i a r o n e n é l c i e n t o c i n c u e n t a p e r s o -nas d e d i v e r s a s f ami l i a s ; e n él , e l c a r d e n a l A n d r e a — d e c a n o del S a c r o C o l e g i o — n e g o c i ó l a p r o p i a y c o m ú n l i be rac ión c o n ve in t i s i e t e mil es-c u d o s , j u n t a m e n t e c o n F a b r i c i o M a r a m a u s . Por e s o , l ó g i c a m e n t e , e n e l t e c h o d e u n a d e sus h a b i t a c i o n e s p u e d e ve r se , g r a b a d a e n o r o , l a c o r o n a cívica c o n el l ema Ofl CAVES SERVATOS8.

En esta familia, el once de abril de 1586, en la residencia roma-na que aún hoy es visible en el Corso Vittorio, nacía Pictro, hijo de Pompeo y Giovanna Alberini —per teneciente también ella a una noble familia con abundancia de Papas—. Obviamente , fue educado en un modo acorde con su linaje y demos t ró muy p ron to «espíritu dispuesto, ingenio fácil, memoria , agudeza, perspicacia y toda otra alabanza en las disciplinas»9.

Sin embargo, el espléndido comienzo de su vida fue bruscamente destrozado por el destino: al parecer, la mujer que amaba —y que le correspondía con amor— fue dada como esposa a o t ro hombre por la despótica madre de ella; este hecho condujo a Pietro al borde de la des-esperación y del suicidio. Tras esta aguda desilusión amorosa, el joven se hizo a sí mismo el voto de visitar Tierra Santa; de jando las comodida-des de Roma, y tras hacerse bendecir en el monaster io de San Marcel ino en Nápoles , donde adoptó el título de «peregrino», el año 16 14 se puso a viajar por Oriente. Su peregrinación, desde Turquía a Persia y más allá, hasta llegar a las Indias, ocupó doce años de su vida (no volvería a Roma hasta el 18 de marzo de 1626).

Las cartas que Pietro escribió a su amigo Mar io Schipano, llenas de una agudeza y aper tura mental sorprendentes para aquel t iempo, ani-mándole a que escribiese un libro sobre el m u n d o y las culturas orien-tales, representan hoy para nosotros una fuente inagotable de noticias sobre todos los aspectos de la cultura islámica de los países que el pere-

8. Estas y otras informaciones se encuentran en la introducción a las cartas de Pietro Della Valle de Giovanni Pietro Bellori, escrita en 1662; véase para ello Viaggi di Pietro Della Valle, il Pellegrino, G. G a n d a , Brighton (pero impreso en Turín), 1843, con-cretamente en el vol. I, p. xv.

9. Viaggi di Pietro Della Valle, cit., p. xvi.

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grino r o m a n o tuvo la for tuna de visitar. En ellas, por citar de nuevo el ya menc ionado breve resumen biográfico de Bellori, se encuentran

m e m o r i a s p e r t e n e c i e n t e s t a n t o a la c o s m o g r a f í a c o m o a la h is tor ia y úti les v i s iones de c o n j u n t o re la t ivas a las c o s t u m b r e s , a la pol í t ica y a las cosas na tu r a l e s : lo e j ecu tó con la i n t enc ión de p r o p o n e r n o s y des-c r ib i rnos , c o m o en u n a tabla , los lugares , las t ie r ras , los mare s , los r íos , las pos i c iones del c ie lo , las c i u d a d e s , las co r t e s , las f iestas, los juegos , las c o s t u m b r e s , las v ías de c o m u n i c a c i ó n , la re l ig ión , las leyes civiles y mi l i ta res 1 0 .

Si hemos comenzado esta parte in t roductor ia a la epopeya de Gilgames con Pietro Della Valle es por un mot ivo que, sin duda, lo involucra de un m o d o inimaginable. Al escribir desde Shiraz en Persia a su amigo Schipano, recuerda haber visitado las ruinas de Persépolis en octubre de 1621. Allí copia cinco signos cuneiformes de la antigua escritura cuneiforme aqueménida que coloca aparte en la misma carta para su amigo: se trata sin duda de la primera noticia que aparece en Occidente acerca de un aspecto de la grafía cuneiforme, que dejó de usarse alrededor del siglo i de la Era C o m ú n y que caería en el olvido más total durante o t ros quince siglos. A pesar de las muchas e intere-santes deducciones acerca de los signos y el o rden de lectura que dio Pietro (el cual veía en ellos una auténtica escritura, lejos de creer, como muchos después de él, que fueran un puro a d o r n o o un jeux d'esprit), es cierto que aún estamos muy lejos de un «desciframiento» en el sent ido técnico. Pero, sin lugar a dudas, el «Peregrino de Roma» fue el que abrió el camino a ese gran movimiento cultural que culminaría —ten iendo en las espaldas por un lado la experiencia francesa del enciclopedismo y por el o t ro la naciente actitud positivista de la ciencia— con el desci-f ramiento casi con temporáneamente del sistema cuneiforme del persa ant iguo por parte de un joven y genial profesor del instituto de Gott in-gen, Georg Friedrich Grotefend en 1 8 0 2 " , y del egipcio por obra de Jean-Frangois Champol ion sólo veinte años después.

10. Ibid., p. xx. Antes de dejar a este fascinante personaje de la cultura romana del siglo X V I I , que murió el 21 de abril de 1652 a los sesenta y seis años, es oportuno recordar que su extraordinaria curiosidad le llevó a conocer a la perfección —además de las len-guas clásicas y europeas— el árabe, el persa y el turco. Se casó con una princesa persa con-versa que se llamaba Sitti Maani Yoerida, que murió a los veintitrés años, antes de llegar a Italia. Allí Pietro tomó como esposa a una sirvienta de aquélla, Maria Tinatin de Ziba, con la que tuvo catorce hijos. Un amor semejante por el Oriente se encontrará en un oc-cidental quizás tan sólo en el legendario Sir T. E. Lawrence, apodado Lawrence de Arabia. Su amor quedó expresado por éste en su libro Los siete pilares de la sabiduría de 1926.

11. No puede silenciarse aquí, aunque sólo sea por medio de una indicación, la actividad de un famoso viajero alemán de origen danés del siglo xvm, Carsten Niebuhr (1733-18 15). Tomó parce en la primera expedición a Arabia, patrocinada por Federico V

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Volver a recorrer el largo y tor tuoso camino, los múltiples callejones sin salida a los que condujeron las sendas del desciframiento de la com-pleja grafía cuneiforme no es el comet ido de esta obra, ya que este asun-to consti tuye la materia de un libro distinto al que el lector se dispone a leer. Sin embargo, debe recordarse al menos el año 1857, que represen-ta la fecha del verdadero nacimiento de la ciencia que se define c o m o «asiriología», esto es, el estudio de las culturas que se expresaron utili-zando la grafía cune i forme desde el tercer milenio hasta la era cristiana.

Un acontecimiento tan preciso se debió al proverbial sentido prác-tico de los anglosajones. C o m o es sabido, la «ciencia» se define en sen-tido m o d e r n o como aquel conjunto de nociones en to rno al cual hay un consenso sustancial por parte de los que son, o se definen, exper tos de aquel campo. Sobre la base de esta consideración, la célebre Royal Asiatic Society de Londres decidió romper la demora y recurrir a un autént ico subterfugio a fin de dirimir el ya viejo problema del descifra-miento efectivo del cunei forme babilónico, cosa afirmada de m o d o en-tusiasta por unos y negada decididamente por otros. Se ofreció a cuatro estudiosos diferentes el traducir un texto cunei forme que acababa de ser sacado a la luz en Mesopotamia y que nadie había visto hasta entonces, sin hacer saber a n inguno de los expertos que el mismo documen to había sido entregado a los otros para ser estudiado. Por las crónicas, se trataba de un cil indro octogonal que contenía una inscripción histórica de Tiglat-Pileser I (1114-1076 a.C.) y que había sido encont rado en QaTat Sarqát, la antigua capital Assur. Pues bien, en aquel preciso año 1857, duran te una sesión pública de la Real Sociedad Asiática, se abrie-ron los sobres con las t raducciones de Henry Rawlison, Edward Hinks, Fox Talbot y Jules Opper t : aparte de detalles de poca importancia, co-incidían sustancialmente.

Había nacido la asiriología.

Y llegó la época de la arqueología...

Mientras los pioneros de la filología oriental se dedicaban victoriosa-mente al descubrimiento de la tradición escrita, con temporáneamente

de Dinamarca, que se dirigió a Oriente en 1760. La fortuna hizo que Carsten, tras la muerte de los otros cuatro miembros, permaneciese solo en Bombay; de allí volvió a su patria en 1767 después de un viaje lleno de aventuras. Niebuhr, en su Reisebeschreibung nacb Arabien und andern umliegenden Landeni de 1774, identificó la antigua escritura persa de Persépolis, copiando al mismo tiempo numerosas inscripciones en caracteres cuneiformes que estimularon el interés y el entusiasmo de los estudiosos occidentales y formaron la base para el desciframiento que hizo Grotefend con su Beitrdge zur Eridtt-terung der persepolitanischen Keilscbrift. Gracias a la identificación de Niebuhr, la grafía persa antigua fue llamada «escritura persepolitana».

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comenzaba la búsqueda sobre el terreno de los maravillosos vestigios de las civilizaciones orientales. El descubrimiento arqueológico del mundo oriental ant iguo está ínt imamente ligado a la figura de un italo-francés emprendedor y a for tunado .

Paul-Émile Botta1 2 nació en Turín el 6 de diciembre de 1802 (magia de las fechas, en el mismo año en el que el joven G. F. Grotefend pu-blicaba su ya citado Beitráge, una obra con la que se iniciaría el camino para el nacimiento de la asiriología como ciencia filológica). Paul-Émile era hijo del célebre historiador y patriota Cario, y siguió al padre cuan-do éste fue exiliado a Francia. Allí se convirt ió en c iudadano francés y se educó en París, donde se licenció en medicina. Sin embargo, desde muy p r o n t o se manifes tó su tendencia al vagabundeo y al amor por lo exótico. Así, en 1826, el joven inconformista se embarcó como médico de a bordo para emprender un viaje alrededor del mundo . Tras una larga peregrinación que du ró tres años, durante el camino de vuelta de-cidió establecerse en Oriente Medio . En Egipto se convirtió p ron to en el médico personal del pachá M u h a m m e d cAli; con él fue a Sudán con ocasión de una campaña militar en el Ni lo Azul.

La habilidad diplomática que demost ró precisamente en esta oca-sión, además de su experiencia y familiaridad con la compleja mentali-dad de los árabes, le valieron en 1833 el nombramien to de cónsul del gobierno francés en Alejandría; con la misma función se dirigió desde allí hasta Mosul , en el Irak septentrional1 3 .

La zona del Alto Tigris, lugar donde está situada la ciudad iraquí, representaba el área geográfica que era conocida a través de la Biblia — p o r medio de noticias confusas y contradictorias— c o m o Asiria, o lo que es lo mismo, Mesopotamia septentrional . Esta consideración —es decir, la posibilidad de poder investigar un terri torio tan significativo para los acontecimientos bíblicos— junto con el hecho de que un gran número de hallazgos arqueológicos había sido hecho sobre las colinas de a l rededor de Mosul, movieron al cónsul francés Botta a comenzar unas verdaderas excavaciones a gran escala. En marzo de 1843 inició los trabajos sobre la gran colina que tiene el nombre de Quyunj ik , en las afueras de Mosul.

12. G. Pettinato, «P. E. Botta, il pionere dell'assiriologia»: Rendiconti Accademia Na-zionale dei Lincei IX, V/6 ( 1995), pp. 469-481. En general, acerca de los descubrimientos occidentales en tierras orientales entre los años 1840 y 1860, véase el bello trabajo de M. T. Larsen, The Conquest of Assyria (Excavations in an Antique Laúd), London, 1996; acerca de Botta, cf. pp. 14-20.

13. Lettres de M. Botta sur ses Découvertes á Khorsabad, prés de Niniue, publiées par M.J. Mohl, Paris, 1850; Monuments de Niniveh, découverts et déscrits par Botta, mesurés et dessinés par Flandin, Paris, 1849-1850, vols. I-V (introducción vol. 1).

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La falta de hallazgos significativos, unida al hecho de que el p rop io Botta financiaba la empresa, le llevó a cambiar los t rabajos de excava-ción a un tell l lamado Khorsabad1 4 , s i tuado a una veintena de ki lóme-tros de Quyunj ik . C o m o Botta mismo admite en una de sus cartas, a la hora de elegir el lugar para excavar siguió las indicaciones de la gente del lugar, que le aseguró que encontrar ía los m o n u m e n t o s que buscaba. Los sensacionales descubrimientos no se hicieron esperar : p r o n t o sacó a la luz los maravil losos or tostatos del palacio de Sargón II de Asiria, el cual se encont raba justamente bajo el tell de Khorsabad. Sin saberlo (como se ha dicho, se llegaría a una traducción fiable de las inscripcio-nes mesopotámicas quince años más tarde), Botta acababa de descubrir una de las capitales del m u n d o asirio, concre tamente la que Sargón II erigió: Dür Sarrukin, que significa en asirio-babilónico «La fortaleza de Sargón».

El carácter excepcional del descubrimiento e m p u j ó al gobierno francés a poner a disposición de Botta la suma, nada extraordinar ia , de treinta mil f rancos para financiar unos trabajos regulares de excavación. Este dinero fue llevado hasta Mosul por el p intor Eugéne-Napóleon Flandin, que colaboraría con Botta en la publicación de los hallazgos. El hecho de que un pintor formase parte de una misión arqueológica no era ex t raño en aquella época; conviene recordar que, al faltar la posibilidad de fotografiar los objetos, los hallazgos de la excavación se acompañaban siempre de los dibujos realizados por un profesional. Respecto a esto, por ejemplo, puede traerse a colación un luctuoso in-cidente. Botta había enviado a París en 1 845 muchos hallazgos a fin de que se conservasen en el Louvre, ut i l izando unas balsas por el río Tigris. Sin embargo, éstas fueron cañoneadas por los rebeldes —movidos por una probable instigación inglesa— y se fueron a pique con su inestima-ble carga: todo lo que queda hoy de estos objetos son precisamente los dibujos que realizó Flandin1 5 .

Aunque la actividad arqueológica de Botta había concluido de he-cho ya en 1846, su importancia fue reconocida por el gobierno de París, sobre todo después de que una nueva expedición de hallazgos asirios llegase al Louvre sin incidentes. Botta recibió por ello la máxima distin-ción del Estado, la Legión de Honor .

14. Se define técnicamente tell —una palabra de origen árabe que quiere decir pre-cisamente «colina»— como una colina artificial creada por la destrucción de los ladrillos de arcilla no cocida a causa de los agentes atmosféricos. Los astutos arqueólogos occiden-tales utilizaban a la gente del lugar para encontrar estos tell, pues ellos sabían distinguir a simple vista el color de la arcilla de aquél, casi idéntico, propio del polvo del ladrillo desquebrajado.

15. Gomo curiosidad recuerdo que una misión japonesa, hace unos años, decidió recuperar estos objetos utilizando sofisticadas técnicas de ultrasonidos, sin resultado.

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Sin embargo, Inglaterra —la otra gran potencia de la época, con intereses concretos en la zona de Oriente Med io— no podía quedarse a contemplar la actividad del cónsul francés en Mosul sin intervenir di rectamente . Henry Rawlison, al cual hemos ya citado por haber sido uno de los cuat ro estudiosos que en 1857 habrían d a d o comienzo a la ciencia asiriológica y que en 1843 se había conver t ido en el cónsul bri-tánico en Bagdad, escribía ya en octubre de 1845, cuando comenzaba a haber rumores de los descubrimientos de Botta:

¡Es pa ra mí u n a f u e n t e de g r a n d o l o r ver q u e los f r a n c e s e s m o n o p o l i z a n es te sec tor , ya q u e los f r u t o s de las fa t igas de Bot ta cons t i t u i r án u n a g lor ia nac iona l p a r a las é p o c a s f u t u r a s !

La frase se encuentra en una carta dirigida a Henry Austen Layard, es decir, el que juntamente con Paul-Émile Botta puede ser considerado sin duda el f undador de la arqueología oriental.

Henry Austen Layard había conocido a Botta en Mosul en 1840, cuando éste apenas comenzaba a dar sus pr imeros pasos en el campo de la arqueología, y quedó fuer temente sorprendido por el entusiasmo del neóf i to italo-francés y por los lugares y las gentes de Irak16. Hijo de un diplomático inglés, Layard nació en París en 1817 y fue educado siguiendo a su padre en varias sedes diplomáticas europeas: en Italia, en Suiza y en Francia. Después comple tó su etapa de estudios en Inglaterra, donde obtuvo el diploma de abogado; ejerció esta profesión junto a un notar io de Londres. Sin embargo, esa vida no era la apropiada para un h o m b r e que había pasado toda la juventud viajando cont inuamente y que conocía todas las principales lenguas de Europa: en el año 1839 decidió que su vida debía dar un giro radical y, de un día para o t ro , part ió con un amigo hacia la India para probar for tuna en la exótica isla de Ceilán. Sin embargo, al llegar a Oriente Medio, la fascinación por las ruinas que afloraban entre las dunas del desierto junto con la intuición del ex t raord inar io campo de acción que esas tierras podían representar para su espíritu voluntarioso, lo hicieron detenerse allí. Durante dos años —ent re 1839 y 1840— visitó en toda su extensión la zona com-prendida entre Siria y Asia Menor , familiarizándose con las culturas y las lenguas del lugar: fue durante este per íodo cuando tuvo la opor tuni -dad de conocer por pr imera vez a Botta en Mosul .

16. Muchas noricias acerca de este personaje y de su actividad arqueológica, además del mundo cultural en el que se movía, se pueden encontrar en las diferentes colabora-ciones del volumen Alisten Henry Layard Ira ¡'Oriente e Venezia, simposio internacional a cargo de B. J. Hickey y F. M. Fales, Roma, 19S7; también F. Manera en Gli Assiri, catá-logo ilc la exposición, Roma, 1980, pp. 23-25 y R. D. Barnett, «Layard, Austen Henry», en Reallexikon der Assyriologie VI, 1983, pp. 517 s.

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Al convertirse en amigo del embajador inglés en Constant inopla , Sir Stratford Canning, Henry Austen se estableció en la capital del Im-perio o t o m a n o durante algún t iempo, t rabajando c o m o mensajero de la embajada inglesa: una función que supo desempeñar de un m o d o increíblemente eficaz gracias pr incipalmente al óp t imo conocimiento de las lenguas del lugar y de la mental idad de la gente, además —obvia-mente— de una fina habilidad diplomática. C o m o ya hemos visto en el caso de Botta, la capacidad de desenvolverse diplomát icamente es una característica necesaria para quien debe actuar en una situación social muy diversa de la europea tan to entonces como hoy.

En Constant inopla, Henry Austen ejerció también el oficio de perio-dista, lo que le permitió, entre otras cosas, conocer a Flandin en la ciudad o tomana; para él escribió en el Malta Times entusiastas artículos acerca de la actividad arqueológica del cónsul francés en Mosul . En esa misma línea entusiasta provocada por las noticias acerca de los maravillosos descubrimientos en Khorsabad (y de las presiones desde la madre patria para que también Inglaterra entrase en el nuevo sector de la arqueolo-gía), consiguió que la embajada inglesa le financiara unas excavaciones en Te 11 Nimrud , un tell al sur de Mosul; con sesenta libras esterlinas y siete t rabajadores comenzó en o t o ñ o de 1845 sus primeras excavaciones arqueológicas. Los hallazgos, ya en el primer mes de actividad, sin duda son comparables, tanto por su belleza como por su significado histórico, a los de Botta: en una serie de campañas que se sucederán hasta 1851 saldrán a la luz el palacio noroeste de Assurbanipal II, el palacio central de Tiglat-Pileser IIT y el meridional de Asarhaddon. Entre los hallazgos realizados en Tell N i m r u d , y que Layard por medio de una habilísima actividad diplomática había conseguido enviar al British Museum de Londres1 7 , debe ser menc ionado al menos el llamado «Obelisco Negro», con la representación de Yehú de Israel r indiendo homenaje al soberano asirio Salmanasar III, una estela que fue descifrada por primera vez por H. Rawlison en 18501 8 . Layard estaba excavando una de las principales capitales asirías, la ciudad de Kalhu, la Kalah bíblica.

Sin embargo, el dinámico emprendedor inglés decidió ya en 1846 re tomar las excavaciones sobre la colina de Quyunj ik que, como he-mos visto, había sido abandonada por Botta tres años antes debido a la falta de hallazgos significativos: por primera vez en la historia de la arqueología oriental, los trabajos fue ron financiados por una institución académica oficial, el British M u s e u m , al cual Layard había promet ido

17. Sobre este punto véase más adelante; se explicará en qué consistió la habilidad diplomática que aquí se menciona.

18. R. D. Barnett y A. Lorenzini, Assyrian Sculpture in the British Museum, Toronto, 1975, pp. 10 ss.

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enviar los hallazgos de la pr imera excavación en Tell N imruá /Ka lhu (éstos llegarían a Londres en 1848, tras un viaje muy accidentado)1 9 .

L.a for tuna , que no había sonre ído al cónsul francés en su primera tentativa como arqueólogo, fue t remendamente benévola en esta oca-sión con Layard: el emisario inglés descubrió en el lado sudoeste del tell los restos del más bello de los palacios asirios, que su mismo construc-tor, el soberano Senaquerib, había definido en sus inscripciones como «el palacio que 110 conoce igual». Aquí se encont ra ron los espléndidos or tostatos que ilustran la conquista de la ciudad judía de Lakish y los relacionados con la construcción misma del palacio. Sin embargo, La-yard hizo en este lugar el descubrimiento quizás más impor tante , el que dará el impulso definitivo al estudio de la literatura asirio-babilónica y sin el cual la asiriología sería hoy una ciencia mucho menos evolucionada: en lugares tanto internos como adyacentes al palacio, la misión inglesa descubrió la celebérrima «Biblioteca de Asurbanipal», el Sardanápalo de la tradición griega; más de veinte mil tablillas cuneiformes que el muy culto soberano asirio hizo reunir a mediados del siglo vil a.C. en el pa-lacio de Nínive20 .

Asurbanipal, por lo que se dice en sus inscripciones reales, tenía formación de escriba y se gloriaba de conocer —cosa muy rara entre los soberanos babilónicos y asirios— la antiquísima lengua sumeria, muerta a la sazón hacía más de mil quinientos años. En una inscripción suya se expresa así:

Poseo las [extraordinarias cajpacidades del sabio Adapa: el secreto es-condido de todo el arte de los escribas. He aprendido los sig(nos] del ciclo y de la tierra (= presagios) y sé comprender (su motivación); estoy capacitado para ocupar mi lugar en una reunión de sabios y para dis-cutir la serie de omina con los adivinos (más) expertos. Sé resolver las fracciones y las multiplicaciones, cuya solución no es intuitiva. He leído las composiciones literarias, de gran valor artístico, (cuya) parte sumeria es oscura y (cuya) parte acadia es difícil de comprender. Obtengo gran placer leyendo las inscripciones sobre piedra anteriores al Diluvio, cuyos signos cuneiformes son complicados21.

19. A decir verdad, el gobierno turco estuvo indeciso a la hora de confiar a Layard las excavaciones de Quyunjik pues temía, con razón, irritar a los franceses: el hecho de conseguir el permiso es otra demostración de la habilidad del emprendedor abogado inglés para arreglar asuntos embarullados.

20. Está claro en este punto que el título de los cinco volúmenes de Botta, Morcií-ments de Ninive, mencionados más arriba, nacía de la idea errada del italo-francés de que Khorsabad era de hecho Nínive. ¡No olvidemos que el mismo Layard pensaba que había descubierto Nínive en Kalhu!

21. Acerca de Adapa, que es el personaje de 1111 pequeño poema en babilónico y uno de los Siete Sabios de la tradición sumerio-acadia, l lamado en la tradición griega Oannes, véase S. A. Picchioni, II poemetto di Adapa, Budapest, 1981, especialmente pp. 82 ss.

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Por si no bastase el descubrimiento de la biblioteca para aceptar como verídicas las afirmaciones de Asurbanipal , gracias a las cartas que el soberano hizo redactar bajo su re inado sabemos que o r d e n ó copiar eti varias ciudades de Babilonia (Sippar, Ur, Uruk, Borsippa, la misma Babi-lonia, etc.) t o d o el saber que la tradición cune i forme había acumulado a lo largo del t iempo: textos mitológicos y épicos, h imnos a divinidades y templos, textos históricos y matemáticos, listas de objetos y animales y otras cosas. Frecuentemente se cita una carta que el rey hizo entregar a uno de sus subditos que era escriba de profesión y se hallaba en la ciudad de Borsippa, en la Babilonia central; ella nos da una idea precisa de cómo procedió Asurbanipal para formar su riquísima colección de tablillas:

Orden del soberano para Sadñnu... El mismo día en el que veas esta car-ta, trae contigo a Suma, Bél-etir..., Aplá... y [otros eventuales] eruditos de Borsippa que tú conozcas. Recoge todas las tablillas que se encuen-tren en sus casas o que estén depositadas en el Ezida [el templo de Bor-sippa, «el templo eternamente fiel»], todo lo numerosas que sea posible, incluidas las tablillas raras que se encuentran en tus archivos y que ya no existen en Asiria; busca también éstas y envíamelas... Del mismo modo, si encuentras tablillas acerca de las cuales 110 te he escrito pero que tú consideras dignas de mi palacio..., envíamelas".

Con el descubrimiento de esta extraordinar ia biblioteca —que se-ría comple tado por el a rqueólogo con menos escrúpulos de la primera época, H o r m u z d Rassam, después de que Layard se retirase— hemos llegado por fin al umbral del hallazgo del Poema de GilgameS: en efecto, entre las tablillas de Nínive se descubrirá enseguida esta maravillosa y fascinante obra, que producirá rápidamente una enorme sensación in-cluso entre el gran público. C o m o hemos recordado, en el descubrimien-to del Poema de Gilgames tendrá un papel important ís imo la casualidad, ayudada, eso sí, por el trabajo apasionado e incansable de George Smith, un oscuro dependiente de la Casa de la M o n e d a del estado inglés.

Para la citada inscripción, cf. M. Streck, Assurbanipal und die Letzten assyrischen Kónige, Leipzig, 1916, pp. 256 ss.

22. Véase L. Watermann, Royal Correspondence of the Assyrian Empire, Ann Arbor, 1931, vol. IV, 6. Por otra parte, en las tablillas halladas en la misma Biblioteca y que hablan de su formación, puede leerse (M. Streck, Assurbanipal, cit., p. 357): «Palacio de Asurbanipal, el rey de la totalidad (de las tierras conocidas), rey de Asiria, que confía en los dioses Assur y Ninlil, al cual han dado gran inteligencia los dioses Nabñ y TaSménu, que posee un ojo vivo (apto) para el nivel más alto del arte del escriba, una capacidad que, entre los reyes que le precedieron, ninguno poseía. La sabiduría del dios Nabú , esto es, los signos cuneiformes, por muchos que existan, los he hecho escribir sobre tablillas, los he hecho controlar y comparar y, para leerlos y estudiarlos, los he introducido en el interior de mi palacio».

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Sin embargo, antes de proseguir con el relato de lo que leyó Smith en la tablilla de Nínive y, sobre todo, lo que pasó después en el m u n d o de la intelligentzia europea a causa de su contenido , es conveniente apuntar algo acerca de una cuestión de la «historia de los estudios» (por llamarla de algún modo) que hasta hoy no puede decirse que esté to ta lmente aclarada. Se trata de un problema que en realidad sólo tiene un valor documental pero que no puede ser totalmente acallado cuando se habla de las tablillas de Nínive y que, sin duda , representa un punto oscuro en la historia de la arqueología oriental.

¿Quién excavó las tablillas de Nínive?-*

En el apar tado precedente hemos apuntado que las excavaciones de Q u -yunjilc, tras haber sido abandonadas por Botta, se reanudaron en 1846 por H. A. Layard. No hace falta comentar que los franceses —carentes de un nuevo cónsul en Mosul después de que Botta se trasladara a Ale-jandría— no estaban muy contentos con esta iniciativa.

Además, ya habían tenido pruebas de la falta de escrúpulos del bri-llante y joven emprendedor inglés: en h o n o r a la verdad es necesario recordar que Sir Stratford Canning, quizás porque confiaba en las ca-pacidades diplomáticas de Layard, no pidió jamás un permiso de exca-vación regular para el t rabajo que Henry Austen había realizado ya en Nimrud/Kalhu , de cuyos resultados hemos hablado ampliamente. Por otra parte, a causa de esto las mismas excavaciones eran interrumpidas f recuentemente por las autor idades o tomanas , probablemente instiga-das por los franceses24 . Este permiso llegaría en mayo de 1846 gracias a las presiones que Layard realizó sobre el embajador Canning, que estaba a pun to de marcharse de la capital o tomana . Y llegó de un m o d o poco habitual, por medio de una carta que envió el gran visir de Estam-bul al pacha de Mosul y que se refería a los trabajos de excavación de los ingleses. En ella puede leerse2-1:

Existen [...] cerca de Mosul grandes cantidades de piedras y de restos an-tiguos. Hay un Gentleman inglés que lia llegado desde aquí para buscar piedras de este tipo, y ha hallado en la orilla del Tigris, en cierros lugares

23. Para un análisis más detallado de esta cuestión véase C. F. Walker en Austen Henry Layard tra l'Oriente e Venezia, cit., pp. 179 ss. y S. \1 . Chiodi, «Scoperta e ricos-t ru / ione de la Saga di Gilgamesh», en G. Pettinato, La Saga di Gilgamesh, Milano, 1992, pp . 82-119.

24. Desde o t ro punto de vista, se sabe que los mismos franceses intentaron, sin éxi-to. recibir un permiso para excavar Nimrud y quitar así el sitio a los ingleses.

25 . La carta aparece citada por H. W. F. Saggs en su prefacio al libro de H. A. Layard, Ntneveb and its Remains, ed., introducción y notas de H. W. F. Saggs, London, 1970, p. 43 ; véase también S. M. Chiodi , La Saga di Gilgamesh, cit., p. 93.

E L D E S C U B R I M I E N T O D E M E S O P O T A M I A

deshabitados, piedras antiguas sobre las cuales hay dibujos e inscripcio-nes. El Embajador Inglés pide que no se interpongan obstáculos al hecho de que el susodicho Gentleman pueda coger las piedras que considere útiles, incluidas las que pueda descubrir por medio de excavaciones.

La carta continúa menc ionando que el Gentleman tiene permiso para enviar a Londres aquellos hallazgos de Nimrud que considere opor tunos , subrayando que las piedras («de acuerdo con el informe que se ha reali-zado», probablemente por el mismo Canning) están situadas en lugares desiertos y deshabitados y no son utilizadas por nadie. A propósi to de esto recordemos que la primera ley de protección arqueológica del terri-torio no se promulgaría en Or ien te Medio hasta 1929, y sólo para Tur-quía, gracias a la política de defensa patrimonial del gran Kemal Atatürk.

En la misma carta vemos que la agudeza política de Layard encon-tró también la art imaña legal para conseguir que le fueran confiadas las excavaciones de Quyunjik. Dando la vuelta a la situación, se afirmaba:

No debe ponerse ningún obstáculo [...] a que realice excavaciones en lugares deshabitados en los cuales este trabajo pueda hacerse sin mo-lestias para nadie, ni a que coja las piedras que desee entre las que haya podido descubrir.

Por tanto, en la práctica se le dejaba el campo libre para hacer excava-ciones en todo el terr i torio del nor te de Irak. Sobre la base de esta inter-pretación personal de la voluntad del gobierno de Constant inopla —se sobreentendía por parte de las autor idades de Estambul que no se debía excavar en lugares nu deshabitados, quizás porque estaban ya ocupados por otros arqueólogos—, comenzó el t rabajo sobre el tell de Quyunj ik .

Vanas fueron las quejas de los franceses que, c o m o hemos indicado, tras el traslado de Botta, no tenían cónsul en Mosul y defendían sus intereses por medio de un simple agente consular l lamado M. Goullois; querían hacer valer que tenían derechos sobre el tell por motivos de precedencia cronológica (algo que verdaderamente está del todo justifi-cado tanto entonces como hoy). C o m o sabemos gracias una carta escri-ta a Canning por el inglés, H. A. Layard respondió a Goullois que el tell era lo suficientemente grande como para que estuvieran dos misiones diferentes, y añadió:

Empleé a diez hombres para excavar aquí durante algunos días, pues el descubrimiento de numerosos fragmentos de esculturas me animó a pro-seguir. Antes de empezar el trabajo examiné el tell con mucho cuidado; creo que he comenzado en el lugar mejor26.

26. La carta aparece citada en G. Waterfield, Layard of Niiieveh, London, 1963, pp. 174 s.

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Por otra parte, Layard se apoyaba en una consideración que le hacía estar seguro de su éxito. En efecto, tras el abandono de Botta, por parte francesa no había nadie que científica y psicológicamente estuviese en disposición de dirigir unas excavaciones. Ni siquiera Henry Austen te-nía formación de arqueólogo, aunque poseía un entusiasmo que había compar t ido con el i talo-francés y una experiencia de campo de casi un lustro. Layard era to ta lmente consciente de eso cuando, en la misma carta al embajador inglés en Constant inopla , escribió: «Si M. Gouillois sigue haciendo las zanjas donde ha comenzado a excavar, no tengo mu-cho que temer...». Y en sus memorias , hablando acerca del t rabajo sobre el tell de Quyunjik después de Botta, dice: «Los t rabajadores del cónsul francés estuvieron excavando al azar pozos de pocos metros de profun-didad, y cont inuaron así durante meses sin encontrar nada»2 7 .

La aventura inglesa en el tell de Quyunj ik había comenzado de he-cho en 1847, en mayo (aún hoy éste es el per íodo del año en el cual es más fácil excavar; el calor del verano, las lluvias otoñales y primaverales hacen muy difícil el t rabajo en las restantes estaciones), precisamen-te en el lado sur. Entre 1849 y 1851, el año en el que Layard volvió defini t ivamente a su patria, realizó hallazgos de belleza extraordinar ia que obviamente se dest inaron a enriquecer el British Museum (relieves, esculturas, toros protectores de las puertas y, algo que aquí nos interesa más, tablillas cuneiformes que quizás representan el archivo principal de la Biblioteca de Nínive).

Sin embargo, tras el abandono definitivo de Layard —que llegaría a ocupar cargos elevados en su patria, l legando en dos ocasiones al puesto de ministro2 8— el panorama de la situación cambió a peor tanto desde el pun to de vista político como cultural. Ante todo, los franceses acabaron nombrando un cónsul estable en Mosul , escogiendo a Victor Place. Este, mientras viajaba para tomar posesión del consulado, se en-contró con H. Rawlison que iba de regreso a Bagdad; los dos cónsules

27. H. A. Layard, Nineueh and its Remains, cit., p. 75. Conviene recordar que el interés por el lugar se debía también —y seguramente sobre todo— a la posibilidad de que bajo las ruinas de Quyunjik estuviera escondida la ciudad de Nínive; aunque, como se ha dicho, de hecho tanto Layard como Botta en esa época estaban convencidos de haber descubierto ya esta capital asiria (¡como ya hemos indicado, uno en Khorsabad y el otro en Nimrud!) , la opinión popular quería que fuese precisamente el pr imer sitio excavado sin éxito por Botta el que encerrara la más famosa entre las capitales asirías citadas en la Biblia. Los descubrimientos filológicos que se realizaban cotidianamente en los textos parecían corroborar esta tesis (recordemos que H. Rawlison, tras convertirse en cónsul inglés en Bagdad, trabajaba en estrecho contacto con Layard descif rando los hallazgos que poco a poco se iban realizando).

28. En el campo académico, recordemos que Layard fue condecorado en 1848 con la Laurea ad Honorem de Oxford y un año después con la medalla de oro de la Royal Gcographical Society. Tras retirarse de la política vivió los últ imos años de su vida en Venecia (véase M. T. Larsen, The Conquest of Assyria, cit., pp. 359 ss.).

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intentaron llegar a un acuerdo que evitase que la compet ic ión por las excavaciones acabase en una pelea. Se trata del pr imer in ten to de acuer-do entre las dos potencias — c o m o veremos, quedó abo r t ado— para di-rigir la nueva situación cultural que habían abierto los descubrimientos arqueológicos en Oriente Medio . De hecho, los dos decidieron simple-mente no molestarse mutuamente , evi tando una competencia desleal: por tanto, los ingleses continuarían excavando en el lado sur del tell de Nínive, mientras que los franceses proseguirían en el lado nor te (donde había comenzado a excavar Botta diez años antes).

Las buenas palabras estaban destinadas a enfrentarse con las accio-nes más allá del límite de la legalidad de aquel que fue el brazo dere-cho de Layard en su aventura medio oriental y que en 1852 recibió el encargo de parte del Museo Británico para cont inuar por su cuenta las excavaciones en el nor te de Irak: Hormuzd Rassam.

Rassam era un árabe cristiano (en Irak eran l lamados «asirios») de Mosul, y hablaba perfectamente tan to las lenguas orientales del lugar (árabe y turco) como el inglés y el francés. Había sido elegido por Hen-ry Layard para que penetrara en la complicada realidad del Irak de la primera mitad del siglo xix, un terri torio acorra lado por el gobierno de Constant inopla y las miras expansiónistas inglesas y francesas. Hor-muzd estaba totalmente dedicado a la causa inglesa y, c o m o todos los siervos, estaba impulsado de un celo por conseguir los intereses de su señor que puede definirse como maníaco: de hecho, buscó por todos los medios asegurar para la nación bri tánica todos los lugares y hallazgos arqueológicos relacionados con ellos que su mano, inexperta e inculta, pudiera recoger de cualquier modo posible".

C o m o puede entenderse, Rassam quedó cont rar iado cuando se en-teró de que Rawlison había permi t ido a los franceses que cont inuaran las excavaciones en Quyunj ik por el lado norte , justamente donde que-rría haber excavado él mismo; a partir de las prospecciones de Layard parecía, en efecto, la parte más p rometedora . C o m o los franceses aún no habían comenzado a excavar o, por lo menos, el cónsul Victor Place no estaba presente, sin pensárselo dos veces, aprox imadamente en el per íodo final de las excavaciones, hizo montar su t ienda en el mismo lugar fingiendo que estaba p reparando la part ida, pero con el objetivo oculto de hacer que unos obreros de total confianza cont inuaran con el t rabajo por la noche, sin ser descubierto. De este m o d o tan Cándido cuenta él esta empresa3 0 :

29. Rassam no tuvo que ver sólo con el tell de Quyunjik; obró del mismo modo apresurado e inmoral en otros lugares del norte de Irak (véase todo lo que afirma de sí mismo en la conferencia citada en la nota siguiente).

30 . Véase H. Rassam, «Excavations and Discoveries in Assyria»: Transactions of thc Society ofBiblical Arcbaeology 7 (1882), pp . 34 ss. (sin embargo, la conferencia —de la

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G I L G A M E S O L A C O N Q U I S T A D E L A I N M O R T A L I D A D

Tras habe r e s p e r a d o d u r a n t e a lgunos días u n a n o c h e de luna l lena y habe r e l eg ido a l g u n o s viejos y f ie les o b r e r o s á r a b e s capaces de m a n t e n e r e l s ec re to , j u n t o c o n un g u a r d i á n m u y fiel, q u e d é con ellos d o s h o r a s d e s p u é s de la pues t a del sol en c i e r to p u n t o q u e está s o b r e la co l ina . C u a n d o t o d o e s t u v o p r e p a r a d o , les asigné t res p u n t o s d i f e r e n t e s en los q u e excavar . Ex is t í an ya a lgunas zan ja s que h a b í a n s ido excavadas en u n a oca s ión p r e c e d e n t e , y o r d e n é a los o b r e r o s q u e excava ran en ellas a h o n d a n d o . Tras c o n t r o l a r e l t r a b a j o p e r s o n a l m e n t e les dejé c o n t i n u a r (después de deci r les q u e i n t e r r u m p i e r a n la excavac ión al a m a n e c e r ) y

me fui a d o r m i r .

Durante la inspección que realizó a la mañana siguiente, Rassam quedó aún más convencido de la necesidad de excavar aquella parte del lugar, y ráp idamente : habían aparecido restos asirios en las zanjas. La noche siguiente se cont inuó con el mismo procedimiento, pero dupli-cando el número de obreros, y la constancia fue premiada. En efecto, antes del alba le desper tó el capataz con la noticia de que se habían encon t rado dos bajorrelieves. En este pun to Rassam se vio obligado a quemar etapas —también porque temía que la noticia de las extrañas excavaciones nocturnas atrajese al lugar a otros árabes decididos a apro-piarse del «tesoro» y que todo el asunto llegase a los oídos de los fran-ceses— y, por tanto , se dispuso a seguir personalmente las excavaciones de sus asalariados. El tercer día, en medio de la incontenible alegría de los obreros , se descubrió u n o de los más bellos bajorrelieves asirios, referente a la caza del león del soberano Asurbanipal . Estaba claro que se estaba ante un nuevo palacio asirio del cual no se sabía nada hasta el momen to . En la sala en la que se encont ró el relieve de Asurbanipal fue ron halladas también numerosas tablillas cuneiformes que Rassam, en su relato, considera que son sin duda las de la famosa biblioteca.

C u a n d o Victor Place se enteró del descubrimiento, se enfureció al conocer que había sido realizado en la parte nor te del lugar, la cual, c o m o hemos visto, confo rme a los acuerdos con H. Rawlison, habría debido pertenecer a los franceses. Rassam, educado en la escuela de Layard, respondió a estas observaciones diciendo que la colina de Qu-yunjik era de propiedad privada y que el cónsul inglés no tenía n ingún derecho a ofrecer lo que no le pertenecía. Por o t ro lado, el propie tar io del tell había sido ya indemnizado por el p ropio Rassam31 .

cual el texto es lina relación— es de tres años antes); cf. también S. M. Chiodi, La Saga di Gilgamesh, cit., pp. 95-101 y, de modo general, acerca de su actuación como arqueólogo: J. E. Keade, «Hormuzd Rassam and bis Discoveries»: Iraq 55 (1993), pp. 39 ss.

31. Sin embargo, H. Rawlison, consciente del robo que Rassam había cometido, a modo de resarcimiento ofreció a Place coger algunos trozos que se encontraban en las zanjas, cosa que éste hizo de muy buen grado.

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Con todo , entre los estudiosos, además de la versión oficial dada por el emisario del British Museum —la cual, por otro lado, se carac-teriza por una notable dosis de inmoral idad y falta de deontología—, circula otra m u c h o menos edificante que presenta a Rassam como una figura que trasciende el límite del servidor entusiasta hasta el pun to de llegar a describir a un autént ico delincuente y ladrón3 2 .

De acuerdo con este diferente relato parece que Rassam habría co-r rompido al capataz de los franceses, un árabe de origen albanés, a fin de que le informase acerca de todo lo que sus antagonistas descubrían cada día. De este modo , cuando los franceses en t ra ron en las salas del palacio de Asurbanipal (que habían sido visitadas por Place por la noche y en gran secreto) y descubrieron su enorme y extraordinar ia biblioteca, Hormuzd Rassam supo enseguida lo que estaba ocurr iendo, a pesar de la discreción que había sido ordenada en lo referente a este aconteci-miento. Por desgracia para los franceses, el descubrimiento se hizo en jueves, y el día siguiente era día de fiesta en el país musulmán. Rassam no dejó escapar esta apeti tosa ocasión: reunió una cuadrilla de obreros , excavó durante la noche un túnel desde su sector hasta el francés y arrambló con todo lo que se hallaba en las salas que habían sido sacadas a la luz con fatiga por el t r aba jo de Place ( incluyendo obviamente las tablillas). A pesar de las protestas de los franceses, Rassam siempre negó ser el autor del robo. Dos meses después, las tablillas se hallaban en un almacén del British Museum.

Concluyo esta digresión acerca del «descubrimiento de las tablillas de Nínive» recordando que , hasta el día de hoy, los responsables del Museo Británico no han dado a conocer la documentac ión , que cier-tamente está en posesión suya, para dirimir con las cartas en la m a n o todos los puntos oscuros de este episodio que está a caballo entre la ciencia y la política.

Sin embargo, t ras ladémonos ahora hasta Londres, en una húmeda y fría mañana de diciembre del año 1872.. .

32. Esta cuestión no posee hoy nada más que un valor folclórico para los estudios de orientalística. Si, en efecto, se discute acerca de la posibilidad de que una parte de las tablillas provenga de lina biblioteca un poco más antigua (unos ochenta años), la sustancia del problema no cambia, ya que la existencia de otro lugar de conservación no añadiría informaciones nuevas respecto a la datación o al contenido de la Epopeya tal y como la conocemos (véase, en cualquier caso, J. Reade, Archaeology and the Kuyunjik Archives, Cuneiform Archives and Libraries, RAI XXX, Leiden, 1983, pp. 197 ss.).

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EL DESCUBRIMIENTO DE LA EPOPEYA

George Smith se sentiría con toda probabil idad muy emoc ionado mien-tras se preparaba en la mañana del 3 de diciembre del año 1872 para pronunciar la conferencia que había sido anunciada desde hacía t iempo. Aunque no existan crónicas en ese sent ido, me gusta pensar que se esta-ría abo tonando la camisa con las manos nerviosas y se colocaría el gilet mientras repetía en voz alta el texto que se disponía a presentar1 .

Tanta emoción estaba, en todo caso, más que justificada. En aquella fría mañana inglesa —que no se diferenciaría de otras

que son tan típicas de la estación invernal en la isla británica, nublada y húmeda a la vez— en la prestigiosa sede de la Biblical Archaeologi-cal Society el público sería el p ropio de las grandes ocasiones. Raras veces, tanto ayer como hoy, un hombre que no era entusiasta y genial sino más bien oscuro, un estudioso de lenguas orientales ya perdidas, tenía la ocasión de expresarse ante los magnates y regentes. Incluso se anunciaba la presencia del entonces pr imer ministro, Sir William Ewar t Gladstone.

Lo que George Smith debía presentar al m u n d o culto de la Sociedad para la Arqueología Bíblica sin duda merecía ese despliegue de perso-nalidades, y justificaba su aprensión. Sin embargo, antes de desvelar el extraordinario descubrimiento que había realizado Smith, es necesario esbozar brevemente la figura de este estudioso que es uno de los funda-dores de la gran escuela asiriológica inglesa y que, a pesar de su breve

1. No poseemos el relato de George Smith acerca de este histórico día; lo que sabemos es tan sólo oficial, y aparece incluido en su Chaldaische Genesis, que aquí se cita según la edición de Leipzig de 1876 como traducción del inglés A Cbaldean Account of Genesis. Sin embargo, como veremos, no faltan notas y comentarios personales en las obras del estudioso inglés, que era bien consciente a pesar de su proverbial modestia del papel que tenía en la nueva ciencia asiriológica que estaba naciendo.

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vida, acumuló tantos méri tos en el desarrollo de la asiriología y de la orientalística mesopotámica en general.

Nacido en marzo de 1840 en Londres, George Smith fue educado desde la edad de catorce años para convertirse en técnico de incisiones de billetes, y éste fue el oficio que adop tó t rabajando en la Casa de la Mo-neda del Estado inglés. Sin embargo, desde su primera juventud se había quedado fascinado por los novísimos descubrimientos que H. A. Layard y sus sucesores estaban realizando en terri torio iraquí; estaba especial-men te impres ionado por las cuidadísimas y perfectas incisiones de las inscripciones, algo que se debía sin duda a su formación profesional. Al joven Smith le gustaba pasar gran parte de su t iempo libre en las salas del British Museum, que habían sido decoradas recientemente con los relieves de Tell N i m r u d y más tarde de Tell Quyunj ik 2 . Hen ry Rawlin-son, conservador (keeper) de la colección oriental del museo 110 tuvo más remedio que darse cuenta de la presencia de este joven y apasiona-do visitante que estaba más interesado en el complicado y enmarañado aspecto de la escritura cunei forme que en las vigorosas representaciones de los soberanos asirios con atavíos guerreros de los relieves de los pa-lacios de Kalhu y de Nínive: algo que era raro tan to en aquel t iempo c o m o en el de hoy.

Así, en 1.861 Rawlinson convenció a las autor idades del Museo Bri-tánico para que cont ra taran a Smith en calidad de restaurador de las tablillas, que llegaban cada vez en mayor cant idad y se conservaban con cier to desorden d e n t r o de cajas de madera en los almacenes del museo. La pasión llevó bien p r o n t o al ant iguo técnico de incisiones a familia-rizarse con la grafía y la lengua de las mismas tablillas, ayudando así a su men to r no sólo en el t rabajo de búsqueda y unión de los f ragmentos que pertenecían a un mismo d o c u m e n t o sino también (y sobre todo) en la lectura de los textos y en la reconstrucción de las antiguas composi-ciones orientales ' .

Entre los muchos miles de tablillas conservadas en el British M u -seum que había examinado George Smith, orientalista emprendedor y entusiasta, una en particular le llamó la a tención; ella constituiría el núcleo de la conferencia que hemos mencionado al comienzo del capí-tulo. Se t ra taba de una tablilla de forma rectangular, no muy grande , rota en diagonal y de la cual se conservaba la mitad de dos columnas po r cada lado. Por tanto, al menos formalmente , era absolutamente

2. Una fo to de cómo debían aparecer estas pioneras salas museísticas, tomada en 18.58, se encuentra en J. Bottéro y M.-J. Stéve, 11 était une fois la Mésopotamie, Paris, 1993, p. 77.

3. La unión de los diferentes f ragmentos que originalmente pertenecían a una única tablilla es una operación complicada desde un pun to de vista científico y técnico, que se define con la palabra inglesa join.

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idéntica a muchísimas otras que permanecían confusamente amonto-nadas en las cajas provenientes de las excavaciones de N i m r u d (Kalhu) y especialmente de Quyunj ik (Nínive), y que habían sido enviadas a la madre patria por Sir Henry Layard y sobre todo por H o r m u z d Rassam a comienzos de 1848 de esa manera complicada y misteriosa que ya hemos visto.

La part icularidad de esta tablilla de arcilla residía en algunas líneas que Smith había podido leer y que hacían referencia de m o d o puntual e indiscutible al relato bíblico del Diluvio universal.

A decir verdad, lo que inicialmente atrajo a Smith fue ron algunas alusiones encont radas en un tex to mejor conservado (= K[uyunjik] 63) que hacían clara referencia al relato de la creación tal y c o m o se cono-cía por el relato bíblico y por otras tradiciones (esencialmente griegas). Smith se t o p ó con la tablilla a la que nos refer imos mientras t rabajaba con los f ragmentos de las cajas que provenían de Nínive, buscando pre-cisamente otros testimonios babilónicos relativos a la cosmogonía . He aquí c ó m o cuenta él esta aventura filológica con su habitual actitud de neófito humilde e inteligente:

Trabajando asiduamente con los fragmentos encontré muy pronto la mi-tad de una tablilla interesante que claramente había contenido en su ori-gen seis columnas de texto: dos de éstas (la tercera y la cuarta) estaban aún casi enteras; otras dos (la segunda y la quinta) contenían tan sólo la mitad del texto, mientras que las restantes (la primera y la sexta) faltaban del todo. E11 una lectura rápida de la tercera columna mi mirada se fijó en el dato de que la nave encalló sobre el monte Nizir, y en la siguiente información acerca del envío de la paloma, que no podía encontrar un lugar donde posarse y regresaba. Inmediatamente me di cuenta de que había descubierto, al menos en parte, el relato caldeo del Diluvio4.

El entusiasmo que supuso este descubrimiento casi for tu i to empujó a Smith a rebuscar con renovado vigor en t re los f ragmentos que él mis-mo había reunido bajo la etiqueta de «tablillas mitológicas».

Después de aquello, cuando leí totalmente el documento, encontré que el estilo estaba en forma de un diálogo que el héroe del Diluvio man-tenía con una persona que tenía el nombre de I Z . D U . B A R 5 . Entonces me vino a la memoria una leyenda (K. 231) que trataba de este héroe 1Z.DU. BAR y que, tras una comparación más atenta, se reveló como pertene-

4. Véase Chalclaische Genesis, cit., pp. 4 ss., de donde se han tomado también las restantes citas acerca del descubrimiento de Smith.

5. Se trata del primer intento de lectura de un nombre que más tarde se descubrirá que es GilgameS.

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c íen te a la m i s m a ser ie ; p o r e so me puse a buscar los o t r o s t rozos que f a l t aban a ú n de estas tablillas.

A pesar de la simplicidad con la que el autor narra los hechos, no hace falta mencionar que el t rabajo de Smith, que estaba buscando el Poema de Gilgames sin darse cuenta, no era una empresa fácil. Quien no haya tenido nunca ocasión de ver tablillas cuneiformes no se dará cuen-ta fáci lmente de la dificultad que supone leer unos f ragmentos de arcilla seca —muy raramente cocida— que en ocasiones son muy pequeños y sobre los cuales están incisos con una pluma de caña unos signos que a veces se superponen unos a otros, o que el t iempo ha bo r rado en parte. Muy f recuentemente algunas partes de la tablilla estaban perdidas (el inicio, el final o porciones completas de la parte central) y ias líneas de la composición estaban rotas por la mitad. La dificultad del objetivo que George Smith se había propues to aumentaba además por el hecho de que, en ese momento , no tenía una idea precisa de lo que estaba buscando.

A decir verdad, según lo que se evidencia a part i r del té rmino «se-rie» que Smith utiliza a la hora de hablar de la redacción del Gilgames, el filólogo inglés pudo hacerse una idea acerca de la composición en la que se contenía el relato babilónico del Diluvio. Esto se puede explicar si notamos que, de m o d o general, las composiciones literarias y acadé-micas asirio-babilónicas desde el inicio del segundo milenio antes de Cristo (el per íodo l lamado paleobabilónico, aprox imadamente 1850-1600 a.C.) cont ienen f recuentemente al final una sección en la que se recogen una serie de informaciones que hacen referencia al escriba, a la fecha de composición de la tablilla, al motivo de la redacción, al pro-pietario y, sobre todo, que ofrecen noticias relativas al texto al que la tablilla hace referencia o al que pertenece: se trata de eso que, con una palabra de origen griego, l lamamos «colofón» ( información colocada al final). A m o d o de ejemplo, ofrezco aquí uno de los que están relaciona-dos con el Poema de Gilgames:

Tablilla XI I de la ser ie «Gi lgames»; se t ra ta de la ú l t ima . La tabla ha s i d o c o p i a d a de n u e v o según el o r ig ina l y , p o r t a n t o , co t e j ada . Tablil la e l escr iba N a b i i - z u q u p - k i n a , h i jo de M a r d u k - s u m a - i q - s a , d e s c e n d i e n t e de Gabbi - i l án i -é res , el je fe de los escribas'1.

6. Este colofón está tomado de H. Hunger, «Babylonisclie und Assyrische Kolo-phone»: AOAT 2 (1968), p. 91, n.° 294. Al final del texto citado sigue el nombre de la ciudad en la cual se copió la tablilla, junto con la fecha. Así explica Smith la presencia de colofones (Chaldaische Genesis, cit., p. 20): «Resulta por las inscripciones que las tablillas se ordenaban en las bibliotecas formando grupos según el contenido. Se iniciaba un tema en una tablilla y se continuaba sobre otra cíe igual medida y formato. El número de tabli-llas pertenecientes a series formadas de este modo supera en ocasiones los centenares».

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Añadamos que, aún hoy, cuando nos encont ramos f rente a textos literarios o académicos, para hacernos una idea de lo que nos espera procedemos del mismo m o d o que Smith: rápidamente mi ramos el f inal de la tablilla con la esperanza de que un celoso escriba mesopotámico nos ilumine acerca de su contenido.

Colocando las piezas de su puzle filológico, al final el joven orienta-lista encontró aquello que se había puesto a buscar:

E n c o n t r é e l f r a g m e n t o de o t r o e j e m p l a r del r e l a to del D i luv io q u e t a m -bién c o n t e n í a e l e n v í o de los pá j a ros . De ese m o d o me p u s e a r e c o g e r o t r o s f r a g m e n t o s de la m i s m a tabl i l la ; los puse en f i la u n o a l l ado de o t r o has ta q u e consegu í r e c o n s t r u i r l a m a y o r p a r t e de la s e g u n d a c o l u m n a . Sa l ie ron r á p i d a m e n t e a la luz u n o s f r a g m e n t o s de un t e r ce r e j e m p l a r : a l co loca r lo s j un tos , c o m p l e t a r o n u n a p a r t e c o n s i d e r a b l e de l a p r i m e r a y de la sex ta c o l u m n a . E n t o n c e s me hice con el re la to del d i l uv io en la f o r m a en la cua l lo p r e s e n t é a la a s a m b l e a de la Bíblica! Archaeo log ica l Socie ty el 3 de d i c i e m b r e de 1872 .

Tal y como nos lo narra el mismo Smith, así se llegó a ese fatídico 3 de diciembre de 1872.

En sustancia, por primera vez en la historia occidental , los relatos del Génesis estaban atestiguados en un ámbi to extra-bíblico y en unos documentos que eran presumiblemente anteriores a la misma redacción del texto bíblico. C o m o puede comprenderse , el impacto producido por estos descubrimientos fue sencil lamente ext raordinar io tanto en el mundo culto de las universidades y de las academias como en la opinión pública. Sin duda , contr ibuyó a esto el interés que la prensa (y un perió-dico en particular) dedicó a esta noticia.

Gilgames, la estrella de los periódicos

Entre los que part iciparon en la conferencia pronunciada por Smith se encontraba también el culto y perspicaz redactor jefe de uno de los más impor tan tes y vendidos periódicos ingleses. Edwin Arnold traba-

Es necesario añadir que esta práctica surgió para poder gestionar del mejor modo posible el inmenso patrimonio de textos de las más variadas clases que la tradición cuneiforme mesopotámica había acumulado a lo largo de más de dos mil años de historia literaria y cultural: podemos imaginar los problemas de biblioteconornía que la cantidad de tablillas que quería Asurbanipal causaría al bibliotecario de entonces. Éste utilizó para organizarse tanto los colofones como las tablillas que contenían listados de obras (que científicamente definimos como «catálogos»). Resaltemos aquí el hecho de que hoy no sabemos cuáles fueron los criterios que los antiguos escribas utilizaron para poner en orden sus tablillas ya que en el mismo catálogo encontramos obras que, para nuestra moderna sensibilidad, deberían pertenecer a «géneros» diferentes (épica junto con textos mitológicos, listas de objetos o animales junto con himnos a divinidades, etc.).

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jaba para el The Daily Telegraph y, cuando percibió el valor que tenían las informaciones que George Smith había obtenido de las tablillas ira-quíes, presintió que existía la posibilidad de conseguir un scoop. C o m o cuenta el mismo conferenciante , Arnold, que ya antes había mostra-do interés por el t rabajo de desciframiento que se llevaba a cabo en el British Museum, nada más acabar la conferencia se le acercó con una oferta que parecía increíble: le propuso ir a Quyunj ik para seguir las excavaciones a expensas del periódico, que ofrecía mil guineas con el fin de recuperar ulteriores informaciones acerca de esas «maravillosas leyendas». Obviamente , el arqueólogo-fi lólogo debería enviar informes periodísticos acerca de su viaje a Irak además de prometer la exclusiva al Daily Telegraph en lo referente a t o d o t ipo de divulgación acerca de eventuales descubrimientos 7 . El interés de los mass-media había s ido suscitado también por una conclusión que Smith sacó al final de su re-lación: ba jo el tell de Asiria debía de haber aún muchas tablillas que contenían informaciones y conexiones con el Génesis bíblico. La inicia-tiva del Telegraph se encuadra plenamente en el marco de ese m o d o de pensar que — c o m o ya hemos indicado en el pr imer capí tulo— entendía la asiriología como una ciencia subsidiaria de la hermenéut ica bíblica. Veremos d e n t r o de poco lo difícil que será el camino de esta nueva cien-cia hasta que consiga librarse de este impasse.

Tras ob tener un permiso de seis meses del British M u s e u m , po r pri-mera vez en su vida George Smith se embarcó para llegar a los terr i to-rios en los que se habían encon t rado las tablillas que le habían produci-do tan to entusiasmo: fue en la noche del 20 de enero de 1873 —había pasado menos de un año desde la histórica conferenc ia— cuando el t re in tañero orientalista inglés part ió hacia Or ien te Medio . El Telegraph tenía puestas grandes expectat ivas en él y en sus eventuales descubri-mien tos en Irak, buscando opor tun idades positivas desde un p u n t o de vista publici tario. El viaje du ró tres meses; de este m o d o , las excava-c iones —tras obtener un permiso regular de par te de las au tor idades o t o m a n a s — comenzaron el 7 de mayo de 1873. Lo que sucedió ape-nas una semana después debe ser contado con las palabras del mismo Smith:

[...] me p u s e a e x a m i n a r e l m o n t ó n de f r a g m e n t o s de i n s c r i p c i o n e s cu-n e i f o r m e s q u e se h a b í a n e n c o n t r a d o en ese d ía , c o g i é n d o l o s c o n l a m a n o y q u i t a n d o la t i e r ra q u e t en í an i n c r u s t a d a , a fin de leer su c o n t e n i d o . AI pul i r u n o de ellos me e n c o n t r é c o n g ran s o r p r e s a y g ra t i f i cac ión q u e

7. Todas estas noticias, además de los pasajes que se citarán, están tomadas de la otra obra importante de Geo'v,e Smith que trata precisamente de sus actividades en Irak en éste y en otros viajes s u c o i . os, Assyrian Discoveries. An Account of Explorations and Discoveries on the Site of Nineveh during 187 i and 1874. London, 1875.

E L D E S C U B R I M I E N T O D E L A E P O P E Y A

c o n t e n í a la m a y o r p a r t e de las diecis iete l íneas p e r t e n e c i e n t e s a la p r i -m e r a c o l u m n a del r e l a t o c a l d c o del D i luv io , las cua les l l enaban la ú n i c a l aguna de la n a r r a c i ó n 8 .

El hecho de constatar que el texto que leyó el estudioso no pertene-cía al Poema de Gilgames ni a su serie de tablillas, s ino que en realidad se trataba del más ant iguo Mito de Atram-Khasis, no quita nada a la enorme satisfacción de Smith ni a la consideración de la influencia q u e tiene en la ciencia el papel de la for tuna. En este mito —anter ior a la redacción de Gilgames que conocía Smith— se encuentra el relato del Diluvio universal; en última instancia, a part i r de aquí se copiaría más tarde, casi al pie de la letra, en el relato sobre Gilgames.

Smith telegrafió el sensacional descubrimiento al periódico, que dio gran relieve a la noticia en sus páginas del 21 de mayo. Sin embargo, y contra los deseos del arqueólogo, el Telegraph i n fo rmó del descubri-miento de la parte perdida del relato del Diluvio haciendo referencia a un p r ó x i m o «fin de las excavaciones» (en su libro, Smith, con un candor que hoy nos conmueve, afirma que no sabe explicar el e r ror comet ido por el diario acerca de esa referencia a una conclusión de las excavacio-nes, algo que faltaba en su telegrama). A nosotros nos queda claro que, para los propietarios del periódico, había acabado la hermosa aventura del descubrimiento del tesoro escondido. La exclusiva se había conse-guido del m o d o mejor que podía esperarse9 .

El t r aba jo de Smith, p r imero en las oscuras habitaciones del British Museum y después bajo el sol de Irak, había abierto ya el camino a la investigación filológica y —gracias a la intervención del Daily Tele-graph— a la diatriba acerca de la importancia y el significado que te-nían los nuevos descubrimientos arqueológicos y filológicos a la hora de comprender el texto oriental por excelencia para el m u n d o occidental: la Biblia. El debate será largo y muy vehemente , c involucrará a estu-diosos de diversa extracción cultural; de hecho no se concluirá hasta la

8. Assyrian Discoveries, cit., p. 97. 9. Smith, sin hacer ningún comentario respecto a la actuación tan poco científi-

ca del periódico, se expresa de este modo: «Los propietarios del Daily Telegraph con-sideraron que el descubrimiento del fragmento que faltaba conseguía el objetivo que se proponían y se negaron a continuar la financiación; sin embargo mostraron interés por mi trabajo y auspiciaron que fuese financiado por el Estado» {Assyrian Discoveries, cit., p. 100). George Smith volvería dos veces más a Nínive para excavar en busca de tablillas o adquirirlas en Bagdad para su museo (que contiene tinos cinco mil fragmentos), conti-nuando además su trabajo de desciframiento. Murió a los treinta y seis años en la ciudad siria de Alepo en un tórrido agosto, mientras viajaba a Irak. No participaría en el debate cultural que promovió su trabajo; se puede decir de él lo que Dante dijo de Virgilio (Ptirg., XXII, 67-69): «Hiciste como aquél que va de noche / que lleva la luz detrás, y no le apro-vecha / pero que tras él hace sabias a las personas».

nacho
Resaltar
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víspera de la primera guerra mundial . Esta diatriba ha tomado el nom-bre de Babel und Bibel, esto es: «Babilonia y Biblia».

La lucha por la primacía: Babel und Bibel

¿Por q u é t o d a s es tas fa t igas en u n a t ie r ra le jana , i nhósp i t a y pe l igrosa? ¿Por q u é este c o s t o s o r e b u s c a r en t r e los d e t r i t o s de mil lares de a ñ o s has ta l legar a la capa f reá t i ca , en la q u e no hay o r o ni pla ta? ¿Por q u é esta lucha en t r e las n a c i o n e s pa ra a segura r se cada vez c o n m a y o r f u e r z a las e x c a v a c i o n e s s o b r e es tas d e s o l a d a s col inas? ¿De d ó n d e p rov i ene es te g r a t u i t o i n t e r é s s i e m p r e c r e c i e n t e q u e , d e s d e a q u í y d e s d e e l o t r o l ado del O c é a n o , se ded ica a las excavac iones en Asi r ia-Babi lonia? H a y u n a r e spues t a a estas p r e g u n t a s q u e , a u n q u e no es e x h a u s t i v a , expl ica en b u e n a m e d i d a el m o t i v o y la f ina l idad : la Biblia».

El pasaje citado está sacado de una conferencia que se haría después famosísima; fue pronunciada en 1.902 (y publicada al año siguiente) por uno de los más fecundos y significativos orientalistas que vivieron a caballo entre los dos siglos, Friedrich Delitzsch. El t í tulo de la con-ferencia, Babel und Bibel, in t roduce, con tina síntesis que más tarde se volvería proverbial , un tema que hoy tiene para nosotros un valor que ya está to ta lmente ant icuado (excepto en algún raro c infausto caso)10. Sin embargo, el que esta cuestión era un tema candente queda demos-trado por el hecho de que a la conferencia, celebrada el 13 de enero en la Singakademie de Berlín, asistió también el Emperador , el cual quiso que se repitiera el uno de febrero del mismo año en el palacio imperial de Ber l ín" .

N o c r e o q u e e x i s t a n e n l a l i t e r a t u r a c i e n t í f i c a d e a q u e l p e r í o d o u n a s p a l a b r a s m á s c l a r a s p a r a e x p r e s a r e l m o t i v o m á s p r o f u n d o y l a r a z ó n m á s p a l p a b l e q u e t e n í a n t o d o s l o s e s t u d i o s o s p a r a a c e r c a r s e a las n u e v a s c u l t u r a s , t a n r i c a s e n h i s t o r i a , q u e h a b í a n d e s c u b i e r t o las e x c a v a c i o n e s d e l s i g l o x i x . T o d o e l e s f u e r z o f í s i c o e i n t e l e c t u a l d e l o r i e n t a l i s t a d e e s a é p o c a s e c o n s a g r ó a p r o f u n d i z a r e n l a d o c u m e n t a c i ó n y e n las a r e -

lo. Debido al enorme impacto que tuvo su toma de posición respecto al tema de la relación entre las fuentes cuneiformes y el texto de la Biblia, Delitzsch tuvo posterior-mente otras intervenciones con el mismo argumento, en 1904 y 1905, que se reunieron en un volumen titulado precisamente Babel und Bibel, publicado en Leipzig en 1905 (aquí se cita desde la p. 3). Acerca de la figura de Friedrich Delitzsch véase en general H. Weissbach, en Reallexikon der Assyriologie II, 1938, p. 198. 11, Véase Babel und Bibel, cit., p. 53. Ya Smith, en la introducción a su volumen acerca del Génesis de los caldeos, había escrito que «el descubrimiento y el desciframiento de las inscripciones cuneiformes habían reavivado en todos los amigos del Oriente la es-peranza de poder encontrar un día anotaciones en las sagas y en las historias babilónicas que aportasen una luz más antigua y más satisfactoria sobre aquellas historias [de la Biblia) (Urgescbicbten)».

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ñas del desierto para conseguir cualquier cosa que pudiese, en el mejor de los casos, aclarar un punto oscuro del texto bíblico; y en el peor de los casos, para demostrar el f u n d a m e n t o histórico de los relatos que los profetas e historiadores del Antiguo Testamento habían recogido en el texto sagrado. La imagen es esclarecedora: el esfuerzo titánico de enteras generaciones de hombres —que desafían al clima tórr ido y a poblaciones peligrosas, que litigan por conseguirse un lugar para excavar— no se realiza para encontrar plata u oro sino que se encamina hacia un único objetivo cultural: la Biblia.

Por lo demás, el mismo Delitzsch, que era hijo de un teólogo, se ha-bía acercado al estudio de la ant igüedad mesopotámica («asiria», como se decía entonces) empujado precisamente por intereses bíblicos. De hecho, ya en 1876, en el prefacio que p reparó para la t raducción alema-na del libro de su amigo Smith, Chaldaische Genesis (Génesis caldeo), escribió:

| El l ib ro de Smi th ] es u n a o b r a q u e liace é p o c a d e n t r o de la h i s to r i a cul-tura l y l i terar ia de la a n t i g ü e d a d , y sob re t o d o pa ra la c iencia b íbl ica , de m o d o especial para la c o m p r e n s i ó n y el a p r e c i o de las h is tor ias q u e h a n p r e c e d i d o al Génesis (Urgeschichten der Genesis) y qu izás t a m b i é n pa ra la cr í t ica del P e n t a t e u c o .

Añadía después que el l ibro era también indicado para acercar al lector a lemán a la nueva ciencia asiriológica que estaba naciendo, con-tando con que Alemania —respecto a las dos potencias de la época, Inglaterra y Francia— aún no había encont rado o buscado espacio para comenzar sus propias investigaciones en ese sector. Por lo demás, c o m o sabía Delitzsch, el libro de Smith había abierto nuevas perspectivas de estudio y de financiación, como demuestra c laramente el ejemplo del The Daily Telegraph (que aparece p ro fusamente ci tado en el prefacio de Smith a pesar de su sustancial fracaso). Además merece la pena subrayar que el mi smo libro se había conver t ido en un autént ico best-seller que estaba de moda en el país12.

Pero volvamos a la cuestión Babel und Bibel.

12. Respecto a esto, es bueno recordar que Alemania, con su famosa institución de la Deutsche Orient-Gesellschaft, trabajó desde 1898 en Oriente Medio excavando principalmente en tres importantísimos lugares entre el final del siglo xix y el inicio del XX: Babilonia (Robert Koldewey, desde 1899); Assur (Qa°lat Sarqñt, R. Koldevvey y, desde 1903, Walter Andrae) y Uruk (Warka, Robert Koldewey y, desde 1925, Julius Jordán). En el mismo período, precisamente en 1898, también los americanos (en una misión de la Universidad de Pensilvania dirigida por Hermann Hilprecht, de origen alemán) co-menzaron a excavar en Nippur (Nuffar), que resultaría ser un centro sumerio de enorme importancia, del cual hablaremos seguidamente.

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La idea que p ropuso el es tudioso a lemán era verdaderamente muy simple y sustancialmente bri l lante: en la documen tac ión asirio-babilóni-ca se encuen t ran aspectos que proyectan luz sobre el t ras fondo histórico y cultural de los libros del Ant iguo Testamento. N o m b r e s de soberanos, de ciudades, de pueblos que eran conocidos únicamente por el tex to bíblico y que pasaron al olvido más absoluto, de m o d o que no queda ni ras t ro en la documentac ión griega posterior , test imonios de ritos y divinidades que la Biblia tan sólo menciona , encuent ran en las tabli-llas cune i fo rmes una puntual referencia . En su conferencia , Delitzsch puso estos aspectos en evidencia p o r pr imera vez y de un m o d o claro e inequívoco.

De este m o d o Babilonia, que los profe tas habían descri to c o m o la Gran Meret r iz , iniciando así una tradición que llegaría hasta san Agus-tín y aún m á s allá, volvió a ser aquel espléndido reino que la admiración casi envidiosa de Isaías había hecho imaginar1 3 . Delitzsch describe con estas palabras la Babilonia histórica, después de haber hablado del as-pecto arqui tec tónico de la capital mesopotámica1 '1 :

El c o m e r c i o , la i ndus t r i a , el p a s t o r e o y la ag r i cu l t u r a e s t aban en p l e n o e s p l e n d o r , y las c iencias c o m o la g e o m e t r í a , la m a t e m á t i c a y sob re t o d o la a s t r o n o m í a h a b í a n l l e g a d o a un nivel de d e s a r r o l l o ta l q u e m u e v e a la a d m i r a c i ó n inc luso a n u e s t r o s m o d e r n o s a s t r ó n o m o s . Ni s iqu ie ra París: a lo s u m o R o m a p u e d e p a r a n g o n a r s e con Babi lon ia p o r e l in f lu jo q u e lia e j e r c i d o en es tos d o s mil años . Un t e s t i m o n i o de la e x t r a o r d i n a r i a belleza y de la invenc ib le fue rza de la Babi lon ia de N a b u c o n o d o s o r es tá c o n s t i t u i d o p o r los p r o f e t a s v e t e r o t e s t a m e n t a r i o s , c o n su d isgus to . . . Ba-b i lonia e ra ya d e s d e el in ic io de l III m i l e n i o este eje de cu l t u r a , c iencia y l i t e ra tu ra , es te «cerebro» de l Asia A n t e r i o r , l a p o t e n c i a q u e re ina s o b r e

la t o t a l i d a d .

Y aún más. Las tablillas iraquíes hablaban de mitos que tenían una cor respondenc ia precisa con la Biblia, d e m o s t r a n d o que ésta tenía co-nexión con dist intos pueblos, lo que hacía intuir que había intromisio-nes en su apa ra to teológico e ideológico.

Esto era suficiente para p reocupa r a la consol idada t radición de la hermenéut ica bíblica. Además, incluso un lector superficial podía ad-vert ir en las entusiastas palabras de Delitzsch una liberación —cier to , aún in nuce— de la asiriología respecto a la servidumbre de tener que glosar m e r a m e n t e a la Biblia (y esto a pesar de que el espíritu que había a n i m a d o a este autor fuese to ta lmente distinto).

13. Sobre el tema de la tradición bíblica acerca de Babilonia puede consultarse G. Permuto , Babilonia Centro dell'Uni verso, Milano, 1988, pp. 255-267.

14. Véase Babel und Bibel, cit., pp. 26 ss.

E L D E S C U B R I M I E N T O D E L A E P O P E Y A

Añádase a esto que la comple ja si tuación política creada por la rela-ción entre la tradición crítica protes tante —y su lobby— con la católica (especialmente en Alemania y en los países de lengua alemana) se puso por encima de las querellas científicas. C o m o ya es sabido, desde los t iempos del Conci l io de Tren to en la p r imera mi tad del siglo XVI, la Iglesia de Roma, fundada sobre el pr incipio de autor idad , había des-preciado la acti tud del nuevo filón cristiano, enca rnado a la sazón en Lutero, que preveía al menos en parte una aproximación al texto bíbli-co sin que mediasen interpretaciones aprioríst icas (esto es, dogmáticas) . El descubr imiento de Babilonia y de su m o n u m e n t a l t radición, que se adelantaba más de dos mil años al texto bíblico, se acogió en esta si-tuación histórica y cultural p o r p a r t e de unos c o m o la confi rmación de la necesidad de acercarse al tex to del Antiguo Tes tamento con mirada crítica y acti tud historicista; por parte de otros, c o m o un intento de im-pugnar con jactanciosos conocimientos el verdadero valor de la Biblia (que debe buscarse en la au tor idad del mismo texto , puesto que es de revelación divina)15 .

Para hacernos una idea acerca del tono de la disputa, presento aquí un escrito de un tal Franz Kaulen, que no me resulta familiar, con el título (no hace falta decirlo) Babel und Bibel-, fue publ icado en el Lite-rariseber Handweiser zunáchst fi\y alie Katholiken deutscher Zunge, y aparece c i tado por el p rop io Delitzsch en Babel und Bibel d e n t r o de un apéndice en el que se recoge todo lo que se había escrito sobre el t ema:

Los r e su l t ados del t r a b a j o t r ienal de la e x p e d i c i ó n a l e m a n a [en Babilo-n i a ! "o r e s p o n d e n a ú n a las expec ta t ivas , s o b r e t o d o s i se c o m p a r a n c o n los éx i tos q u e la e x p e d i c i ó n a m e r i c a n a [en N i p p u r j ha o b t e n i d o en e l m i s m o lapso de t i e m p o . La pa r t i c ipac ión del p u e b l o a l e m á n no p o d r á r e e m p l a z a r e l p r o f u n d o e i n h e r e n t e mal q u e la inves t igac ión a l e m a n a p o s e e c o m o t e n d e n c i a : e l p o n e r la c iencia , en es te caso la «bab i lon io lo-gía» (Babylot i io logie ) , en e l lugar de la r eve lac ión d iv ina . P o r m e d i o de Del i tzsch , la na tu ra l eza ina l i enab le de Babel , el ser la e n e m i g a de D i o s y de la r eve lac ión d i v i n a , ha s i d o t r a n s m i t i d a a es te e sc r i t o y a la S o c i e d a d A l e m a n a pa ra e l O r i e n t e " ' .

15. El resumen que se lia hecho aquí es voluntariamente sintético y general; podrían añadirse muchas cosas al argumento en cuestión. El lector interesado podrá encontrar lina síntesis de este tema que se sitúa entre la filología, la teología y la política, en cualquier libro acerca de la historia de la crítica textual de la Biblia.

16. Para comprender correctamente el clima cultural del momento es relevante des-tacar de qué manera comenta Delitzsch esta afirmación: «Protesto con indignación contra esta última insinuación!» (ien negrita en el original!), añadiendo que la Deutsche Orient-Gesellschaft no tiene nada que ver con sus ideas. En otros términos, no pone objeciones al contenido de las absurdas acusaciones que se habían hecho contra él pero se preocupa por no meter en la diatriba a una institución oficial. Según mi opinión, esto significa que este hecho ciertamente podría haber perjudicado a Delitzsch, una señal de que las opinio-

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En definitiva, faltó poco para que el filólogo y orientalista Friedrich Delitzsch fuese descrito c o m o una especie de Anticristo.

Duran t e el trascurso de los años treinta y cuarenta del siglo pasado se llegará a una visión más serena de la relación entre los descubrimien-tos en el Med io Oriente y el texto bíblico (con contadas excepciones que tienen un m e r o valor documental ) , de m o d o lento y con el bagaje de la dramática experiencia de la primera guerra mundial , que echó tota lmente por tierra la seguridad ideológica que presuponen las citadas frases de Kaulen. Más tarde, la gran cantidad de nuevos descubrimien-tos, junto con la aper tura de campos nuevos y desconocidos incluso para la Biblia (el caso de la lengua y de la cultura sumeria, de la que hablaremos enseguida, es el más evidente pero no el único), hizo indis-pensable una especialización de los estudios que liberaría a la asiriología de su dependencia de la revelación veterotestamentar ia .

Babel und Bibel se convertirían de este m o d o en dos polis perfecta-mente terminadas que, si son correctamente interpretadas y liberadas de una interdependencia mutua , conducen a la apertura de un m u n d o nue-vo para el Occidente, con un impacto cultural que es, sin lugar a dudas, comparable al descubrimiento del Nuevo M u n d o por Colón1 7 .

dlgames y la «cuestión sumeria»

Hasta este m o m e n t o hemos hablado tan sólo de los descubrimientos del m u n d o «asirio» o del «babilónico». Sin embargo, en el pr imer capítulo mencionamos el hecho de que los pr imeros representantes de la cultura mesopotámica , al menos escrita, desde un pun to de vista temporal , fue-ron los súmenos . Pero desde el campo científico ¿cuándo intervino este pueblo que, según nuestros actuales conocimientos, inventó la escritura cune i forme y cuya lengua oscura y complicada se enorgullecía de cono-cer un soberano como Asurbanipal? Por lo demás, el mismo Gilgames, rey de la antiquísima ciudad sumeria de Uruk, pertenecía a esta etnia.

l 'ara comprende r c ó m o los estudiosos, en ausencia de cualquier tra-dición posterior (bíblica o griega), comenzaron a pensar que tras la len-

nes expresadas por Kaulen de un m o d o tan grosero encontraban eco en ot ros ambientes. Además se sabe que el mismo Kaiser Guillermo II, que participó en la conferencia de Delitzsch, escribió más tarde en el periódico Grenzboten del 19 de febrero de 1903 una declaración de disensión, al menos formal, respecto al entusiasmo del estudioso alemán; a ese artículo le siguió una apasionada defensa de F. Delitzsch por parte de W Chad Bos-cawen en el Times, en la que se lamentaba del ataque efectuado por el Emperador, que podía hacer que el autor de Babel und Bibel perdiera su puesto de profesor.

17. Quien quiera profundizar en los muchos aspectos de la cuestión Babel und Bibel puede consultar esa voz en cualquier enciclopedia teológica o en los volúmenes de K. Jo-hanning, Der Bibel-Babel-Streit, Frankfur t a.M., 1988 y, sobre todo, de R. G. Lehmann, Friedrich Delitzsch und der Babel-Bibel-Streit, Freiburg Br., 1994.

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gua asirio-babilónica debía existir otra que era p robablemente más ant i-gua, es necesario decir algo acerca de la escritura y de la grafía sumeria y asirio-babilónica. A esta lengua se la llamará «sumeria» tan sólo en un segundo momen to . C o m o se verá, esta breve síntesis es especialmente interesante, ya que el descubrimiento de una lengua y de una cultura más antiguas trajo consigo una durísima polémica en la que, de nuevo, la política jugaría un papel muy impor tante .

La grafía sumeria: de la realidad a la idea

En su origen, la escritura cunei forme, inventada con toda probabil idad por los sumerios, estaba basada en el concepto de «pictografía». El pro-cedimiento mental que está tras esta característica de la grafía, po r lo demás bastante simple, puede resumirse en el siguiente m o d o de actuar lógico18:

1) existe un «objeto» visible en la realidad; 2) existe un «sonido», el «nombre» con el cual yo lo identifico; 3) realizo un «dibujo» del «objeto» a fin de representar lo visual-

mente; 4) a t r ibuyo al «dibujo» el «sonido» a part ir del «nombre» con el que

el «objeto» es identificado en mi lengua. Así se pasó de la realidad a su representación gráfica, que incluye

obviamente el aspecto fonét ico. Entre las lenguas modernas , únicamen-te el chino utiliza aún hoy un sistema gráfico fo rmado a partir de estas consideraciones lógicas; proviene de milenios pasados y hace que esta lengua posea más de cincuenta mil pictogramas diferentes. Por su parte , los signos cuneiformes son sólo a l rededor de ochocientos, y no todos ellos fue ron utilizados de m o d o general en el mismo per íodo. De este modo, descubrimos rápidamente una diferencia evidente entre la pic-tografía china y la sumerio-babilónica, que prevé una drástica disminu-ción de los signos: ¿Cómo se puede explicar esta diferencia?

Los sumerios, a diferencia de los chinos, optaron por seguir un mé-todo diferente y más simple para ampliar su pa t r imonio léxico; es un recorr ido que puede sintetizarse del siguiente m o d o : si yo dibujo un objeto, si hago una «pintura» (de ahí el té rmino «pictografía»), una vez identif icado un objeto con un signo y un signo con el sonido del objeto correspondiente , puedo añadir a ese signo otros conceptos y otras ideas

18. A decir verdad, tras este procedimiento se esconde una «prehistoria» de la grafía que aun ahora , en muchos aspectos, es oscura; sobre ella se discute con cierto ardor entre los estudiosos. C o m o era de esperar, este tema ha producido una imponente bibliografía científica. Para profundizar sobre esta cuestión remitimos aquí al volumen de G. Pettina-to, I Sitmeri, Milano, 1992, pp. 43-47 y al de J. Bottéro y S. N. Kramer, Uomini e Déi della Mesopotamia, Torino, 1992, pp. 32-45.

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G I L G A M E S O L A C O N Q U I S T A D E L A I N M O R T A L I D A D

con las cuales el ob je to que él representa guarda corre lac ión con la rea-lidad. P o n g a m o s un e j e m p l o t o m a d o de la misma graf ía sumer ia .

Si d ibu jo una cabeza de h o m b r e , s u b r a y a n d o con unos signos obli-cuos su par te anter ior , i nd ico una «boca». Sin e m b a r g o , a l mismo t i e m p o , sin neces idad de inventar o t ros signos d i ferentes , los sumer ios idea ron indicar con el m i s m o signo todas las acciones que , de d i fe ren tes m o d o s , están re lac ionadas con «boca», c o m o «hablar» y, al m i s m o t i e m p o , to-dos los sus tant ivos re lac ionados con ella, c o m o la «palabra» o la «voz», hasta llegar incluso a ob je tos que t ienen relación con la «boca», c o m o p o r e j e m p l o «diente». En o t ros t é rminos , un solo s igno , el de la «boca», indica t ambién al m i s m o t i e m p o «hablar», «palabra», «voz», «diente», etc . Esto se p r o d u c e por m e d i o de una re lac ión lógica en t r e el s igno y la rea l idad q u e , en el p l a n o de las ideas o de las asociaciones menta les , el s igno impl ica . Se trata del p r o c e d i m i e n t o lógico q u e c ient í f icamente se conoce c o m o «ideografía».

Es obv io q u e los d iversos ob je tos y rea l idades a las que a lude un ún i co s igno tenían para los sumer ios (como para nosot ros) un m o d o diverso de expresarse f o n é t i c a m e n t e en su lengua. C o n t i n u a n d o con el m e n c i o n a d o e jemplo , «boca» será /KA/, «hablar» / D U G / , «palabra» / 1 N I M / , «diente» /ZU/, etc. De esto se d e d u c e que un ún ico s igno de la graf ía c u n e i f o r m e sumer ia t end rá var ias posibi l idades de lectura, tantas cuan-tos sean los «significados» q u e p o n e n en re lac ión ese s igno c o n o t r a s rea l idades o concep tos (y r á p i d a m e n t e d e b e m o s decir que no s iempre es ev iden te q u é s ignif icado t e n e m o s que da r a un s igno y, por t an to , no s a b e m o s s i e m p r e c ó m o «leerlo» o q u é valor foné t i co a t r ibui r le) i y .

Por a m b i g u o que pueda parecer , este s is tema represen ta pe r fec ta -men te la es t ruc tura de la lengua sumer ia . Esta es de t ipo «aglut inante»: las pa labras p e r m a n e c e n sin modif icar , y pa ra e x p r e s a r las re lac iones gramat ica les se añaden an tes o después de ellas («aglutinar» significa «añadir») unas par t ículas que t ienen la f u n c i ó n de ident i f icadores gra-mat ica les . Por p o n e r un e j e m p l o expl ica t ivo, e l da t ivo se indica p o r m e d i o de la p repos ic ión /RA/ : de este m o d o , «al rey» se dice en su iner io («rey» = LUGAL), LUGAL.RA. El c o m p l e m e n t o de c o m p a ñ í a se expresa c o n / D A / : así, «con, j un to al rey» se di rá LUGAL.DA, etcétera 2 0 .

19. Éste que se ha descrito es solamente uno, el más evidente, de los modos con los que la lengua sumeria añadió posibilidades a su representación gráfica de la realidad; por tanto debe destacarse que la relación que liga los diferentes significados y sonidos que un signo puede tener no es siempre clara. Acerca de este fascinante problema, véase Y. Gong, Studien zur Bildung und Eiitwicklung der Keilschriftzeicben, Hamburg, 1993.

20. Puede apreciarse la complejidad del sistema si se piensa que los modificadores gramaticales son palabras comunes del léxico: así, /KA/ significa también «golpear, batir» en un contexto diferente y /DA/ indica también «lado, parte lateral». Lo mismo puede decirse de los otros exponentes gramaticales.

E L D E S C U B R I M I E N T O D E L A E P O P E Y A

Los sucesores de los sumer ios t o m a r o n p res t ado este s is tema que estaba ya conso l i dado p o r la misma t rad ic ión l i teraria sumer ia , p e r o mod i f i cándo lo según sus neces idades .

La grafía asirio-babilónica: la victoria del sonido

Los asirios y babi lonios no olvidar ían nunca el o r igen p ic tográf ico e ideográf ico de la escri tura cune i fo rme sumer ia ; es to se m a n t u v o incluso en el m o m e n t o de la ext inc ión de su cu l tura al inicio de la e ra cristia-na, la cual a ú n se conse rvaba gracias a u n o s p o c o s y cu l tos sace rdo te s caldeos, espec ia lmente en las c iudades de Babilonia y Uruk. Por consi-guiente , los signos, a u n q u e se mod i f i ca ron y se s impl i f icaron en pa r t e , con t inua ron ind icando el ob je to y las ideas que e v e n t u a l m e n t e es taban conectadas con él y que el m i s m o signo con ten ía e n t r e los sumer ios . En otras pa labras , du ran t e casi tres mil años el s igno /KA/ significó s i empre , «boca» con sus posibles lecturas d e p e n d i e n d o del c o n t e x t o : /ZU/, «dien-te», /DUG/, «hablar», e tcétera .

Pero la lengua q u e e l c u n e i f o r m e deb ía r ep resen ta r ten ía u n a estruc-tura c o m p l e t a m e n t e d i fe ren te a la del sumer io , pa ra el cual había s ido inventado y a d a p t a d o el s is tema en te ro . El as i r io-babi lónico 2 1 , que es una lengua semít ica afín al heb reo y al árabe , posee una es t ruc tura flexi-va (lo m i s m o que ocur re con nues t ras lenguas europeas ) : en sustancia, existen unas raíces q u e o p o r t u n a m e n t e se modi f ican (se «fiexionan»), expresando así sus re laciones gramaticales . Por t an to , «al rey» se dirá en acadio («rey» = sarru) ana sarri, d o n d e ana es la prepos ic ión y la te rminac ión «-i» del n o m b r e indica el caso ob l i cuo q u e rige la prepos i -ción; «con el rey» se di rá itti sarri, etc. ¿ C ó m o a d a p t a r o n los semitas el cune i fo rme sumer io a sus exigencias?

El m é t o d o que se s iguió fue el de destacar en los signos su aspecto fonético en aquel las pa labras que ten ían un son ido más sencillo, de jan-do en s e g u n d o p l ano (pero sin olvidar lo) el aspecto semánt ico , esto es, el significado de los signos c u n e i f o r m e s en sí mismos. Así, por e j emplo , «perro» se d ice en acadio kalbti. Para escribir esta pa labra en cunei-forme, los ingeniosos semi tas u s a r o n t res s ignos sumer ios : /KA/, /AL/ y /BU/, esto es, ka-al-bu, sin cons ide ra r que los tres, si se leen en sumer io , significan respec t ivamente «boca» ( como ya sabemos) , «azada» y «(ser) largo»22. C o m o se ha des t acado ya varias veces, los semi tas no perd ie-

21. Desde el final del tercer milenio, los soberanos de Ur llevaron en su título la fór-mula «Rey de Sumer y de Akkad»; a partir de aquí, la lengua semítica expresada en carac-teres cuneiformes se define, de modo sintético, como acadia. El término deriva del nom-bre de la capital del primer imperio semítico que se instauró en Mesopotamia, Akkad, que detentó el poder durante la segunda mitad del tercer milenio (entre ca. 2400 y 2200 a.C.).

22. A decir verdad, como hemos apuntado más arriba, ya los sumerios utilizaron

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i on n u n c a la conc ienc ia del o r igen de su s is tema de escr i tura , que era ideográf ico y pic tográf ico; por eso, t o d o s los signos tenían u n o o más signif icados, además de tener u n o o varios sonidos . Esta fue la si tuación c o n la q u e se e n f r e n t a r í a n los desc i f r ado res de la m i t ad del siglo XIX: un sistema m i x t o c o m p u e s t o de s i labogramas e ideogramas .

En este p u n t o , el s iguiente paso lógico de estos p ione ros de la asi-riología fue casi na tura l : si los semitas hubiesen s ido los inventores del s is tema en su to ta l idad no habr ían d a d o a varios s ignos unos valores fonét icos que no cor respondían a su m o d o de p ronunc ia r las palabras. Así, «boca», que en acadio se dice pú, habría ten ido un valor similar a esta palabra , y no /KA/. Esto quería decir que debía haber exist ido un pueblo que pa ra decir «boca» p ronunc iaba /KA/, y no podía ser ni el pueblo aca-dio ni el as i r io-babi lónico.

Esto que se ha descr i to es, en síntesis, el p r o c e d i m i e n t o lógico que llevó hasta la hipótesis de la exis tencia de una lengua m á s ant igua y di-fe ren te de la semít ica, algo que después se reveló c o m o cier to. Veamos a h o r a q u é e fec tos p r o d u j o esta h ipótes is sobre la cu l tura occidental de finales del siglo xix.

Una cruzada contra el «sumerio»...

Ya desde 1852 , E d w a r d H i n c k s —el as i r ió logo i r landés q u e f u e u n o de los c u a t r o es tudiosos que c o n t r i b u y ó con su t raducc ión del pr isma oc-togonal de Tiglat-Pileser I al n a c i m i e n t o de la asiriología c o m o ciencia f i lológica— había pos tu l ado que la escr i tura c u n e i f o r m e tenía un or igen no semít ico. Su hipótesis fue c o n f i r m a d a el mismo a ñ o gracias al descu-b r imien to p o r p a r t e de H. Rawl inson de tablillas bi l ingües en la Biblio-teca de Asurbanipa l . La nueva lengua, c o m p l e t a m e n t e desconoc ida en-tonces , fue l lamada «turánica» en un p r imer m o m e n t o , a par t i r de una d e n o m i n a c i ó n t o m a d a de la t r ad ic ión persa , canon izada en el Sah Ñame de Firdusi, según la cual las pob lac iones turcas y m o n g o l e s se d e n o m i n a n tur. La razón residía en la hipótesis de que la nueva lengua mesopo támi -ca tenía a f in idad con el g r u p o de lenguas que hoy se def inen c o m o «ura-lo-altaicas» con u n a d e n o m i n a c i ó n que , a decir ve rdad , es más geográ-f ica que es t ruc tura l o de ve rdade ra f i l iación l ingüíst ica: se buscaban —y se e n c o n t r a b a n — parale los con el tu rco , el húnga ro , el finés, e tcétera .

Sin embargo , en este m o m e n t o in te rv ino en la nueva ciencia asirio-lógica un es tud ioso muy par t icular , t r e m e n d a m e n t e cu l to y obs t inado , que a ú n hoy hace discutir a los que se in teresan p o r la h is tor ia de estos

algunos signos también por su valor fonético, como es el caso de los modificadores gra-maticales que se añaden a las palabras. Sin embargo, ahora se asiste a una utilización casi exclusivamente fonética de los signos, con un background ideográfico.

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estudios (y que gene ra lmen te es t a c h a d o de ceguera cu l tura l y pre ju ic io por éstos úl t imos) : Joseph Halévy2-1.

En 1874 , con un ar t ícu lo en el pres t igioso Journal Asiatique, H a -lévy c o m e n z ó u n a autént ica c ruzada con t ra los «turánicos» (más t a rde «sumerios») y su lengua, n e g a n d o ca t egór i camen te q u e esa lengua y ese pueblo hubiesen exis t ido nunca . C o m e n z a n d o desde la cons ide rac ión de que la cu l tura asir io-babilónica r ep resen ta un hecho c o n t i n u o c inin-t e r r u m p i d o desde el p u n t o de vista h is tór ico y cul tural , a f i rmaba que en la larga his tor ia de M e s o p o t a m i a debía haber exis t ido tan solo u n a «raza» y un solo «pueblo», sobre t o d o si se cons idera que ni la Biblia ni los au to res clásicos hab la ron jamás de o t ra etnia p r e c e d e n t e a la semí-tica que hubiese hab i t ado la zona geográf ica que está en t r e los dos ríos Tigris y Eufra tes . Ni s iquiera los n o m b r e s geográf icos de Babilonia, ar-gumen taba Llalévy, que son f r e c u e n t e m e n t e la señal de s i tuaciones cul-turales m u c h o más ant iguas que las que apa recen en la d o c u m e n t a c i ó n escri ta, ind icaban cua lqu ie r d i fe renc iac ión étnica. Del m i s m o m o d o , la b ipar t ic ión que se encon t raba en el t í tulo de los sobe ranos , «rey de Sumer y de Akkad», debía en t ende r se c o m o una mera indicación geo-gráfica o pol í t ica y no é tn ica .

Después , r espec to a lo que se refer ía al p rob l ema de los valores de los signos c u n e i f o r m e s (que era en úl t ima instancia la v e r d a d e r a mot iva-ción q u e había l levado a H i n c k s a pos tu la r la exis tencia de o t ra lengua y otra poblac ión 2 4 ) , Halévy señalaba que f r e c u e n t e m e n t e ten ían un valor foné t i co que respondía a la lec tura semítica del ob je to que represen-taban . Así, p o r e j emplo , e l s igno /KA/ t a m b i é n tenía u n a posibi l idad de lectura c o m o «pu», que se expl icaba según Halévy a par t i r de la pala-bra semítica acadia pú, que es p rec i samen te «boca». El s igno /SAG/, que significa «cabeza», debía re fer i r se — s i e m p r e según este e s t u d i o s o — al ve rbo saqú, «ser, estar en alto», etc. Esta observación de Halévy debe ser b revemen te d iscut ida .

C u a n d o los acadios , de o r igen semí t i co , t o m a r o n p res tada la graf ía c u n e i f o r m e de los sumer ios , se e n c o n t r a r o n f ren te a una es t ruc tura muy pecul iar que preveía una relación d i rec ta en t re u n a real idad y su d ibu jo , con el a ñ a d i d o eventua l de t o d a s las rea l idades u obje tos que el d ibu jo llevaba consigo. Sin embargo , está claro que si ut i l izaban un signo c o m o

2,3. Para la redacción de las páginas que siguen me ha servido mucho un artículo muy interesante escrito por el estudioso americano J. Cooper en Aula Orientalis 9 (1991), pp. 47-66: «Posing the Sumerian question: Race and Scholarship in the Early History of Assyriologv».

24. Añadamos aquí que había otras consideraciones en la liase de esta hipótesis del estudioso irlandés: sobre todo el hecho de que no existían en la grafía signos peculiares para expresar sonidos que, por ot ro lado, son típicos de la fonética semítica, como los llamados «enfáticos».

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pictograf ía —es decir, basándose en su signif icado c o m o «d ibu jo»— c u a n d o leían e l t e x t o lo ha r ían en su lengua . Así, una exp re s ión del t i po KA ka-al-bi se leía pü kalbi, esto es, «la boca del perro», en la cual el pri-mer s igno /KA/ se cons ideraba por lo que represen taba v i sua lmente y se leía con la co r r e spond ien te palabra acadia (pú) mien t ras que el s egundo debía utilizarse p a r t i e n d o del son ido que expresaba , ka. Sin embargo , con el t ranscurso del t i empo , este p r o c e d i m i e n t o llevó a los escribas a añadir a los signos sumer ios los valores que surgían de la lectura en acadio de los p ic togramas originales ( c o m o pú para el s igno /KA/): este desar ro l lo secundar io de la grafía as i r io-babi lónica p u d o llevar al e r ro r a Jo seph Halévy. A ñ a d a m o s que muchas de sus deducc iones eran for-zadas, se basaban en u n a imper fec t a c o m p r e n s i ó n del t e x t o o inc luso deb ían explicarse c o m o p rés t amos de la lengua sumer ia en el acadio 2 5 .

En conclus ión , según Halévy, las dos «lenguas» dist intas que los asi-r ió logos creían haber e n c o n t r a d o no eran sino dos m o d o s diversos de escribir e l mismo tex to : uno , más arcaico, era esenc ia lmente de carác ter pictográf ico, un sistema que habría p e r m a n e c i d o en el u so sacerdota l y que const i tu ía u n a especie de escr i tura hierát ica; e l o t ro , más rec iente , el silábico, se uti l izaría en la práct ica cot id iana y en el comerc io .

Joseph Halévy p r o p u g n ó d u r a n t e más de cua ren ta años esta tesis, de f end i éndo la con su i nmenso caudal f i lológico y su i n m e n s o cono-c imien to de la l ingüíst ica semít ica , has ta su m u e r t e en 1917 . Incluso c u a n d o la existencia de los sumer ios y de su lengua se había conver t i -do ya en algo t o t a l m e n t e evidente desde que en 1 8 7 7 las excavac iones f rancesas en Tel loh, la ant igua c iudad sumer ia de Lagas, e fec tuadas por el vicecónsul f rancés en Basora, H e r n e s t de Sarzec, habían c o m e n z a d o a sacar a la luz d o c u m e n t o s adminis t ra t ivos escri tos en la graf ía «hierá-tica» que d e m o s t r a b a n sin lugar a d u d a s la exis tencia de u n a t rad ic ión d i f e r en t e a la asir io-babilónica.

Pero ¿quién era este comple jo pe r sona je que se expuso a sí m i s m o a la bur la del m u n d o científ ico y de la c o m u n i d a d académica , de la cual e ra m i e m b r o c o m o p r o f e s o r univers i ta r io , q u e p e r m a n e c i ó soli-tar io d e f e n d i e n d o su prop ia teor ía con t r a t o d o y con t ra todos , y sobre t o d o con t ra una evidencia que cada a ñ o se hacía cada vez más rica en t ex tos y conf i rmaciones? No debe si lenciarse el h e c h o de que su teoría convenc ió , al m e n o s al inicio, a dos de los más significativos asir iólogos de la época , Fr iedr ich Deli tzsch, del cual h e m o s hab lado a m p l i a m e n t e , que se exp re só a favor de Halévy en su Assyrische Grammatik de 1889 , y el gran as i r ió logo f r ancés Frangois T h u r e a u - D a n g i n 2 6 .

25. Así, para retomar el ejemplo citado antes, el término /SAG/ es fonéticamente cercano al verbo saqú de la lengua acadia sólo por casualidad.

26. Sin embargo Delitzsch abjuraría de esta teoría ya en 1897, en su volumen acerca

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Joseph Ha lévy fue u n o de los más i m p o r t a n t e s f i ló logos semitistas de su t i empo . No se conoce el lugar exac to de su nac imien to , que tuvo lugar en 1827 : quizás fue Adr ianópol i s , H u n g r í a o incluso Galitzia, des-de d o n d e — t o d a v í a s i endo un n i ñ o — se t r a s l adó hasta Turquía2 7 . En t odo caso, se e d u c ó en las escuelas hebreas de Turquía y Bucarest , estu-diando las lenguas semíticas (sobre t o d o las de Et iopía) y llegó a París en 1866 invi tado por la comun idad hebrea . Después de d e s e m p e ñ a r muy pos i t ivamente un ca rgo pa ra la Alliance Israélite Universelle en Et iopía , fue env iado al Yemen por la Académie des Inscr ip t ions et des Belles-Lettres en 1869 , pa ra r ecoger inscr ipc iones de la ant igua lengua sabea, atest iguada desde el p r imer mi len io an tes de Cr is to , que deber ían for-mar par te del Corpus Inscriptionum Semiticarum. Volvió de allí con casi setecientas copias de inscr ipciones, que publ icó en t re 1 8 7 2 y 18732 S .

En 1879 fue f ina lmente n o m b r a d o p r o f e s o r de lenguas et iópicas en la Ecole Prat ique des Hau tes Etudes en París. Este culto judío, además de dominar todas las lenguas semíticas, hablaba cor rec tamente las lenguas europeas — i n c l u y e n d o el español , en el que escribió incluso versos—, el turco y el h ú n g a r o .

Entonces ¿por qué un es tudioso de ese nivel se e m b a r c ó en aquella aventura que, ya en t o r n o a los años n o v e n t a del siglo xix, se presentaba cada vez de m o d o más d r a m á t i c o c o m o una causa perd ida , u n a c ruzada contra m o l i n o s de v ien to? H a y u n a respues ta de carác te r polí t ico: f u e una reacción c o n t r a el an t i semi t i smo.

... tras el espectro de los campos de concentración

En pol í t ica c o m o , p o r o t r a p a r t e , en la p o e s í a , en la re l ig ión , en la f i lo-sof ía , e l d e b e r (devoir ) de los p u e b l o s i n d o e u r o p e o s es busca r e l ma t i z (nuance), la conc i l i ac ión de los o p u e s t o s , la c o m p l e j i d a d , t an p r o f u n -

del origen de la escritura Die Entstebung des altesten Scbriflsyslems, editado en Leipzig. Por lo que concierne a F. Thureau-Dangin, es poco edificante tener que recordar cómo éste, cuando en 1913 hizo la recensión de la última obra de J. Halévy —que ya era más que octogenario—, citó la momentánea aceptación de su teoría por parte de Delitzsch olvidando mencionar la suya, que incluso había expresado públicamente en 1897 durante un congreso internacional de orientalística: en efecto, habiéndose pedido a la asistencia que votara a mano alzada a favor o en contra del «sumerio», él —prácticamente solo— alzó la mano contra la existencia de una lengua y una cultura distinta de la asirio-babiló-nica en Mesopotamia.

27. Véase J. Cooper, «Posing the Sumerian question...», cit., p. 47 y n. 2. 28. Merece la pena recordar que, en aquel tiempo, el Yemen estaba cerrado para los

occidentales, por lo que J. Halévy se hizo pasar por un judío de Jerusalén; puede apreciar-se adecuadamente el valor de su empresa si se tiene presente que las inscripciones sabeas y, en general, las sudarábigas se encuentran muy frecuentemente en casas privadas, en las cuales, aún hoy, un fragmento de un texto antiguo se utiliza en ocasiones para sujetar el arquitrabe de la puerta o un muro de contención.

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d a m e n t e d e s c o n o c i d a p a r a los p u e b l o s s emí t i cos , cuya o r g a n i z a c i ó n h a s i d o s i e m p r e d e u n a d e s o l a d o r a s impl ic idad 2 9 .

Son las palabras que un gran e influyente orientalista francés del si-glo xix, Ernest Renán, escribió y p ronunc ió en su conferencia inaugural del a ñ o académico del Collége de France en 1862. La idea que anima estas frases es de una desoladora claridad en sus premisas, las cuales no fue ron expresadas po r el autor po rque eran consideradas obvias y axiomáticas: todos los pueblos t ienen indist intamente una tarea en la historia que es diferente de etnia a etnia; sin embargo, esta tarea no se considera como una porción que fo rma par te de un organismo para el que cada partícula tendría su razón de ser y su dignidad. N o , la «his-toria» prevé una línea que discrimina lo que tiene valor de lo que no lo tiene: y hay poblaciones, como las semíticas, que tienen una incapa-cidad inherente para produci r «cultura», incluyendo su «simplicidad», algo que les coloca en un nivel inferior respecto al d inamismo de otras poblaciones (110 hace falta decirlo, las indoeuropeas) .

Objetar que la idea del monote í smo —que incluso estos propagan-distas del siglo pasado consideraban c o m o un nivel de desarrollo supe-rior respecto al poli teísmo de los pueblos indoeuropeos— o el cristia-nismo —el nivel religioso más al to conseguido en la historia— surgiera entre uno de los pueblos semíticos, los hebreos, no sirve: la idea de un dios único no es nada más que el p roducto de una cultura desértica y monó tona , incapaz, en última instancia, de apreciar la multiplicidad. Por o t ro lado, el monote ísmo —así se a rgumentaba— ha produc ido mejores resultados cuando ha sido recibido y conver t ido en algo propio por los pueblos indoeuropeos , mientras que permanec ió inerte cuando fue una prerrogat iva tan sólo de los hebreos: los pueblos indoeuropeos , repletos de aquellas capacidades que estaban ausentes entre los hebreos, una vez que se apoderaron del monote í smo, se convirt ieron en los civi-lizadores del mundo .

Sería de nuevo un er ror pensar que los nuevos descubrimientos de pueblos semíticos —los asirio-babilonios de Mesopotamia , con su mul-t i forme y riquísima cultura literaria, con sus refinados palacios y relie-ves— haría cambiar de idea a los autores de esas teorías. La teor ía del pueblo «turánico», no indoeuropeo pe ro c ier tamente no semítico, es decir, la idea de que la escritura cunei forme (de hecho, el más grande de los inventos semíticos si se atribuye a los asirio-babilonios), la literatura, el arte y la arquitectura, en una palabra, todo el complejo que forma la civilización, no debía adscribirse en última instancia a los semitas, podía

29. Véase J. Coopcr, «Posing the Sumerian question...», cit., pp. 49 ss., donde se en-contrará una bibliografía sobre el problema del antisemitismo en la cultura del siglo xix.

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E L D E S C U B R I M I E N T O D E L A E P O P E Y A

utilizarse ad hoc para quitar cualquier p r imado a estos úl t imos y justifi-car, desde fuera, esta insospechada vitalidad cultural . De este m o d o tan claro se expresa J. Cooper acerca de este aspecto30 .

¡Pero u n m o m e n t o ! H i n c k s y R a w l i n s o n h a b í a n d e m o s t r a d o hac ia 1 8 5 0 que e l a s i r io -bab i lón ico e ra u n a l engua semít ica . ¿Es to no deber í a de-jar obso le t a la idea de q u e los s emi t a s e r an i n c a p a c e s de c r e a r g r a n d e s c iv i l izaciones? ( ¡C ie r to ! : c o m o h e m o s v is to , c u a n d o los s e m i t a s f u e r o n l l evados desde el e s t a d o salvaje has ta la cuna de la c iv i l ización, se d e c i d i ó q u e no f u e r o n ellos los q u e c r e a r o n su p r o p i o s i s t ema g rá f i co : un p u e b l o p r e c e d e n t e , no s e m í t i c o , h a b í a i n v e n t a d o la e s c r i t u r a y c r e a d o las ins-t i t uc iones básicas de la c ivi l ización m e s o p o t á m i c a ( re l ig ión , m i to log í a ,

l i t e r a tu ra y c iencia) .

No hay que sorprenderse por el hecho de que existan el h imnar io y la épica asirio-babilónica, o por la existencia de un poema épico de tales p roporc iones c o m o el del héroe Gilgames, ya que no fueron ellos quienes los crearon: incapaces de tal inventiva, hicieron propio un mo-delo de civilización que otros pueblos, los «turánicos» o alguien en vez de ellos, habían creado ya precedentemente .

Así queda explicado el mot ivo por el que un gran filólogo, exper to en todas las lenguas semíticas, que conocía todas las lenguas europeas incluido el húngaro y hablaba además el turco, Joseph Halévy, dedicó toda su vida a combatir una batalla que la ciencia quiso que estuviera perdida desde el principio.

Se ha apun tado , y es probablemente verdad, que, con el paso del t iempo, Halévy cayó en una especie de orgullo racista, y comenzó a adscribir a los semitas de Mesopotamia más de lo que los textos permi-tían in terpre tar : además se embarcó en polémicas personales de dudoso gusto académico. C o m o hemos dicho, murió en 1917; sin embargo, a partir de las experiencias dramáticas de lo que la civilizada Europa sería capaz de producir tan sólo quince años después, no podemos dejar de advertir la trágica premonic ión que se escondía tras su «locura» cientí-fica y académica.

Hasta aquí hemos presentado los episodios que condu je ron desde el descubrimiento del m u n d o oriental al hallazgo del poema más com-plejo de la civilización preclásica tanto por su temática como por su inspiración literaria, por medio de experiencias de exaltada filología y de a fo r tunada arqueología. H e m o s quer ido destacar cuál fue el m u n d o cultural en el que se p roduje ron estos descubrimientos, pon iendo en

30. Véase J. Cooper, «Posing the Sumerian question...», cit., p. 52.

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Page 26: d'Agostino 2007 Gilgamesh

G I L G A M E S O L A C O N Q U I S T A D E L A I N M O R T A L I D A D

evidencia la t rama de prejuicios políticos y religiosos que trajo consigo el nacimiento de la asiriología, algo que normalmente se infravalora.

Ha llegado el m o m e n t o de que volvamos de nuevo al Poema de Gilgames, p resentando las diversas tradiciones en las que se ha transmi-tido el texto.

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DE U N O A M U C H O S GILGAMES

Después de que George Smith descubriera el relato del Diluvio sobre una tablilla cuneiforme proveniente de Mesopotamia , obviamente no fue sólo el interés de los mass-media el que se despertaría y estimularía por los extraordinarios y evidentes paralelos bíblicos. En efecto, y como era de esperar, después de la famosa conferencia del 3 de diciembre de 1872, un gran número de estudiosos en Inglaterra, Francia y Alemania —y muy p ron to también en América— fue tras las huellas de nuevos do-cumentos. Se pusieron a buscar con empeño textos que formasen parte del largo relato que tenía c o m o personaje principal a un tal «IZ.DU.BAR» en los almacenes de los museos de Europa, en las colecciones privadas que comenzaban a nacer y, más tarde, sobre todo en las tiendas de los anticuarios árabes de Mosul y Bagdad. Que se trataba de un poema de cierta extensión y complejidad era algo que le había resultado evidente desde el principio al mismo Smith que, como hemos visto, se basó en los colofones de las tablillas de Nínive. En su edición sobre el descubrimien-to del relato del Diluvio, escribió ya respecto a esto:

H a b í a r e c o n o c i d o d e s d e m u y p r o n t o que la serie relat iva a IZ.DIJ .BAR c o m p r e n d í a a l m e n o s d o c e tabl i l las ; m á s t a r d e me d i c u e n t a q u e ésta e ra p r e c i s a m e n t e su e x t e n s i ó n def in i t iva 1 .

Más aún, los nuevos asiriólogos (aunque una materia como ésa esta-ba aún lejos de hacerse objeto de la enseñanza universitaria) recibieron un estímulo para su t rabajo y sus investigaciones gracias a la publica-ción en 1875 —sólo tres años después de la conferencia— de todos los fragmentos relativos al poema de «IZ.DU.BAR» que se conocían gracias

1. Véase su Chaldáische Genesis, cit., p. 5.

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