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560 Introdução à Teoria Geral da Administração· IDALBERTO CHIAVENATO
A TEORIA ADMINISTRATIVA ESTÁ ATRAVESSANDO
um período de intensa e profunda revisão e crítica.
Desde os tempos da teoria estruturalista não se via
tamanha onda de revisionismo. O mundo mudou e
também a teoria administrativa está mudando. Mas,
para onde? Quais os caminhos? Algumas dicas po
dem ser oferecidas pelo que está acontecendo com a
ciência moderna que também está passando por
uma forte revisão em seus conceitos. Afinal, a teoria
administrativa não fica incólume ou distante desse
movimento de crítica e renovação.
Na verdade, a teoria administrativa passou por
três períodos em sua trajetória:
1. O período cartesiano e newtoniano da Admi
nistração. Foi a criação das bases teóricas da
Administração iniciada por Taylor e Fayol en
volvendo principalmente a Administração Ci
entífica, a Teoria Clássica e a Neoclássica. A in
fluência predominante foi a física tradicional
de Isaac Newton e a metodologia científica de
René Descartes. Foi um período que se iniciou
no começo do século XX até a década de 1960,
aproximadamente, e no qual o pensamento li
near e lógico predominou na teoria adminis
trativa. Foi um período de calmaria e de relati
va permanência no munQo das organizações.
2. O período sistêmico da Administração. Aconte
ceu com a influência da Teoria de Sistemas que
substituiu o reducionismo, o pensamento analí
tico e o mecanicismo pelo expansionismo, pen
samento sintético e teleologia, respectivamente
a partir da década de 1960. A abordagem sistê
mica trouxe uma nova concepção da Adminis
tração e a busca do equilíbrio na dinâmica orga
nizacional em sua interação com o ambiente ex
terno. Teve sua maior influência no movimento
do DO e na Teoria da Contingência. Foi um pe
ríodo de mudanças e de busca da adaptabilidade
no mundo das organizações.
3. O período atual da Administração. Está acon
tecendo graças à profunda influência das teo
rias do caos e da complexidade na teoria ad
ministrativa. A ~udança chegou para valer no
mundo organizacional.
Os Paradoxos das Clêf.êias
As ciências sempre guardaram um íntimo relaciona
mento entre si. Principalmente depois da revolução
sistêmica e cibernética: o que ocorre em uma área
científica logo permeia nas demais provocando um
desenvolvimento científico que, se não é homogê
neo, pelo menos se torna relativamente concomi
tante ou se faz com relativo atraso. Um aconteci
mento na biologia no século XIX e cinco outros
acontecimentos na física no início do século XX es
tão produzindo intensa influência na teoria admi
nistrativa no início do século XXI.
1. O darwinismo organizacional
No século XIX, após coletar uma enorme massa de
informações, Charles Darwin (1809-1882) escre
veu seu famoso livro, As Origens das Espécies, no
qual apresenta a sua teoria da evolução das espécies.
Concluiu que todo organismo vivo - seja planta ou
animal- é resultado, não de um ato criador isolado
ou de um evento estático no tempo, mas de um pro
cesso natural que vem se desenrolando há bilhões
de anos. Tudo evolui gradativamente desde os siste
mas simples até os mais complexos. A complexida
de organizada dos seres vivos ocorre sem necessidade
da intervenção de qualquer força não-natural. Em
outras palavras, a vida vem se transformando conti
nuamente através dos tempos. A evolução é orienta
da por um mecanismo incrível chamado seleção na
tural das espécies. Esse mecanismo seleciona os or
ganismos mais aptos a sobreviver e elimina automa
ticamente os demais. Não são os mais fortes da es
pécie os que sobrevivem, nem os mais inteligentes,
mas os que se adaptam melhor às mudanças ambi
entais. I O raciocínio de Darwin é o seguinte: se em
uma espécie existem variações nas características
que os indivíduos herdam de uma geração para ou
tra, e se algumas dessas características são mais úteis
do que outras, então, essas últimas vão dissemi
nar-se mais amplamente na população e, com o
tempo, vão acabar predominando. O conjunto da
população acabará tendo essas características mais
eficientes na arte da reprodução, e essa espécie
pode tornar-se completamente diferente daquilo
que já foi. 2 Para que esse mecanismo seletivo possa
atuar, são necessárias três condições:
1. Deve haver variação, ou seja, as criaturas não
podem ser idênticas.
2. Deve haver um meio ambiente em que nem
todas as criaturas possam sobreviver e no qual
algumas se darão melhor que outras.
3. Deve haver algum mecanismo por meio do
qual a cria herda características dos pais.
A evolução pela seleção natural das espécies ex
plica o mundo vivo. O ser humano é o último passo
da caminhada evolutiva de um determinado tipo de
chimpanzé. Passados quase duzentos anos de sua di
vulgação, a idéia da evolução também está sendo
aplicada às organizações como organismos vivos.
2. Teoria dos quanta
No ano de 1900, o cientista alemão Max Planck
(1858-1947) apresentou a sua teoria dos quanta
que iria operar uma completa revolução na física
tradicional. Planck descobriu que no mundo das
partículas subatômicas, as leis de Newton não fun
cionam. Até então, a física clássica de Isaac Newton
estabelecia uma exata correspondência entre causa
e efeito. O mundo newtoniano e previsível como
um mecanismo de relojoaria passou a ser entendido
~ DICAS
Acorrida pela evoluçãoParodiando os seres vivos, não são mais as organi
zações grandes que engolem as pequenas. Hoje, ta
manho não é documento. São as organizações mais
ágeis - de qualquer tamanho - que quebram as per
nas das organizações lerdas - de qualquer tama
nho. Importa o dinamismo da organização, não o
seu tamanho. Nessa corrida sem fim, ocorre uma
verdadeira seleção darwiniana. Adaptação, aprendi
z~gern e mudança são os ingredientes básicos das
~pécies organizacionais bem-sucedidas.
PARTE X· Novas Abordagens da Administração 561
como aleatório tanto quanto um jogo de dados. Era
como se Deus fosse um excelente jogador. A física
quântica deixou de ser determinística para ser pro
babilística.
Ao estudar os problemas que envolviam trocas
de energia e emissão de radiações térmicas, Planck
chegou à conclusão de que a quantidade de energia
emitida ou absorvida é igual a um múltiplo inteiro
de uma certa quantidade mínima, a que denominou
quantum (significa uma quantidade de alguma coi
sa) elementar de ação. Essa quantidade é represen
tada pela letra h e as medidas efetuadas fixaram seu
valor em 6,625 x 10-27 ergs por segundo (erg é a uni
dade de energia no sistema cegesimal). Para a teoria
quântica, a energia é algo descontínuo e discreto,
ou seja, o seu crescimento se faz por acréscimos
constantes, tais como um muro feito de tijolos que
só pode aumentar segundo múltiplos inteiros de um
tijolo. Em outras palavras, a energia é transmitida
em pequenos pacotes - os quanta - e não de modo
contínuo. Um quantum de energia é dado pela expressão hv onde v é a freqüência da radiação emitida
ou absorvida.
A física quântica mostra que no nível subatômico
não há partículas estáveis e nem blocos de constru
ção de matéria, mas apenas ondas de energia em
contínuo movimento que podem, em certas condi
ções, formar partículas. Todos os fenômenos suba
tômicos podem atuar como onda (vibrações) ou
como partículas (com posição localizada no espaço
e no tempo). É a energia - e não a matéria - a subs-
~ DICAS
Os reflexos na teoria administrativa
A moderna teoria administrativa passou a descre
ver as mudanças organizacionais em termos de
quantum. A mudança quântica significa uma mu
dança de vários elementos ao mesmo tempo, em
contraposição à tradicional mudança gradativa
um elemento por vez, como na estratégia e depois
estrutura e nos processos. A mudança quântica
é<:úmiPIE~xa, imprevisível, intangível, dinâmica e
PERSPECTIVA NEWTONIANA PERSPECTIVA QUÃNTICA
6. Afetado por aquilo que escapa aos olhos. As coisas acontecemapartir de certa distância.
7. Pleno de energia. Aenergia é intrínseca à vida eaos seussistemas.
do-o fóton, a que está ligada uma energia proporcio
nal a respectiva freqüência. Assim, a luz tem um cará
ter dual: ela é onda e é partícula ao mesmo tempo, o
que confundia totalmente os cientistas. Daí surgiu a
Teoria da Relatividade, vinculada às noções de espa
ço e de tempo e aos métodos de medida dessas duas
grandezas. Einstein demonstrou que:
a. A massa é uma forma de energia variante em
função da velocidade (e = mc2). Isso liquidou
a noção de objetos sólidos. Segundo essa fór-
1. Mundo intangível, invisivel eabstrato.
2. Dinãmico, vibratório, em contínua mudança.
3. Imprevisivel, indeterminado.
dac
2. Dinâmicas, em contrnua mudança.
3./mprevisiveis. Funciona do com padrões cíclicos deinformações (laços de Retr as são causadas pelainteração de vários fatores interve
4. Auto-organizadoras. Aordem é criada internamente eépermitida ampla autonomia.
5. São melhor entendidas quando se observa otodo; o todOdetermina as partes. Sfntese.
6. Sistemas abertos. Interagem continuamente1:OfTl oambiente;evoluem em direção anfveis c elevadOs dede complexidade; renova
1. Organismos vivos, nos Quais não há partes idênticas; portanto,são orientadas com base
4. Externamente controladas por meio de estreita observação.
5. Uma máquina: as coisas são mreduzidas em suas partes mais simdeterminam otodo.
6. Localmente controlado. Causa eefeho são claramentediscemfveis
7. Dependente de fontes externas de energia. Sem aforça externatudo se desagrega.
1. Mundo material, visivel econcreto.
2. EStático, estável, preciso, inerte.
3. Previsfvel, controláveL
4. Não afetado pela observação. Arealidade é objetiva.
5. São melhor entendidas se forem reduzidas às suas partesmais simples; as partes determinam otodo. Análise.
6. Sistemas fechados. Procedem em direção àentropia;obedecem àsegunda lei da termodinâmica.
1. Semelhantes auma máquina. Máquinas são construídascom partes padronizadas; portanto, são orientadas com base naestrutura. no processo.
2. Estáticas, estáveis, passivas, inertes.
3. Previsíveis. Funcionam de acordo com uma cadeia linearde causa eefeito. Rupturas são facilmente identificáveis.
VISÃO MECANíSTICA VISÃO SISTÊMICAAS ORGANIZAÇÕES SÃO: AS ORGANIZAÇÕES SÃO:
QUADRO X.2. As duas diferentes visões organizacionais4
QUADRO X.1. As duas visões do mundo: a clássica e a quântica 3
3. Teoria da Relatividade
Em 1905, Albert Einstein (1879-1955) aplicou a hi
pótese quântica ao efeito fotoelétrico para obter uma
explicação para o fenômeno. Admitiu que cada elé
tron é liberado por um quantum de luz, denominan-
tância fundamental do universo. Mas, os efeitos do
mundo quântico não se limitam apenas ao pequeno.
Einstein apontou seus efeitos macroscópicos no uni
verso.
562 Introdução à Teoria Geral da Administração· IDALBERTO CHIAVENATO
PARTE X • Novas Abordagens da Administração 563
aparente dos ac<mtlecilmentcls
movimento do observador. Da
os corpos do universo estão se,nOlré
uns em relação
cia entre eles varia cons1tantern~tlt~I.$~~>
lar da distância entre dois I.iUIIIJUl>,
nar o momento em que essa riiCltA",,..,i,,, tfA\tA!itArr-rIAC'li4
da. Como diferentes observadores
a respeito do que seja o mesmo instar\te. ~11t~)t.~!~l1'+
de-se também que a idéia de distância (feIPet.ldé
movimento. Em resumo, as
distâncias são relativas. A rell:ltiv'idélldé
mundo. Nos sistemas físicos
o universo, a atmosfera ou
ou regularidades por
rio. No espaço intElrglalá1:ico
4. Princípio da incerteza
Em 1927, Werner Heisenberg (1901-1976) propôs
o seu princípio da incerteza: não é possível determi
nar precisamente em um mesmo experimento, a po
sição e a velocidade de uma partícula, pois a medida
precisa de uma dessas quantidades leva à indetermi
nação da outra. Aqui se enterra o velho determinis
mo clássico. Em 1932, Heisenberg ganhou o Prê
mio Nobel de Física pela criação da mecânica quân
tica em substituição à mecânica clássica de Newton,
para melhor interpretar o fenômeno das partículas
atômicas, cujas quantidades de movimento são pe
quenas se comparadas com o produto da velocidade
da luz no vácuo pelas respectivas massas. A mecâni
ca (estudo do movimento) quântica constitui o estu
do das partículas subatômicas em movimento. Essas
partículas subatômicas não são coisas materiais, mas
tendências probabilísticas a respeito de energia com
potencialidade. A energia, como implica a palavra
mecânica, nunca é estática. Está sempre em contínuo
movimento, mudando incessantemente de onda
para partícula e de partícula para onda, formando
o. Nada é absolutoein partiu da relação existente entre nossas idéi
de espaço e de tempo e o caráter de nos
cias. Os acontecimentos isolados que re
recem ordenados de acordo com o cri-
r-posterior", que não é submetido a ne
. Existe, para cada pessoa, um tempo
bjetivo, que não pode ser medido em si.
enumerar cada evento de tal forma que ao
responda o maior número; porém, a manei
pode ser inteiramente arbitrária. Essa
rentemente trivial de simultaneidade,
minada com cuidado, não se apresenta
Dois acontecimentos ocorridos em luga-
es entre si poderão parecer simultâneos
ervador, sucessivos para outro e inverti
terceiro. Embora possa parecer absur
adores estarão certos, pois a ordem
mula, a energia (força) contida na matéria é
equivalente à massa dessa matéria multipli
cada pela velocidade da luz ao quadrado.
Portanto, até mesmo a menor partícula de
matéria contém um imenso potencial de ener
gia concentrada. O espaço assemelha-se a um
oceano invisível fervilhante de atividade,
uma teia ou rede de campos de energia suba
tômicos.
b. O espaço e o tempo estão em permanente in
teração, ou seja, são relativos e não absolutos,
são dependentes do observador e constituem
partes integrantes de um continuum quadridi
mensional - o espaço-tempo. Na medida em
que a velocidade das partículas se aproxima
da velocidade da luz, a descrição até então tri
dimensional precisa incorporar o tempo co
mo uma quarta coordenada determinada rela
tivamente ao observador. Ocorre então uma
espacialização do tempo.
C. A força da gravidade tem o efeito de curvar o
espaço-tempo. Isso derrubou a geometria eu
clidiana e o conceito de espaço vazio.
564 Introdução à Teoria Geral da Administração· IDAlBERTO CHIAVENATO
os átomos e as moléculas que, subseqüentemente,
criam o mundo material. É assombroso que todas as
coisas estáveis e estacionárias que observamos no
mundo material sejam compostas exclusivamente
de ondas de energia em movimento incessante.
Enquanto os físicos clássicos estudam objetosmateriais no mundo tridimensional, os físicos quân
ticos estudam o comportamento dos elétrons, dos
prótons, dos nêutrons e de centenas de partículas
ainda menores denominadas quarks. As leis que re
gem o domínio clássico estão em oposição direta
com a maneira como as coisas funcionam no nível
subatômico do universo. A lei do movimento contí
nuo de Newton (todo universo é constante, exato e
previsível) é questionada: no nível subatômico, as
partículas não se movem de maneira contínua, mas
em inesperados e inexplicáveis saltos quânticos.
Além disso, no nível subatômico, as partes não de
terminam o comportamento do todo, mas é o todo
que determina o comportamento das partes. Devi
do à causação não-local, as partículas subatômicas
são capazes de interagir ao longo de grandes distân
cias no espaço-tempo e jamais podem ser conheci
das com precisão. Assim, os processos reducionistas
não podem explicar o comportamento das partícu
las subatômicas. Também a previsibilidade da se
gunda lei de Newton, segundo a qual toda ação é
acompanhada por uma reação igual e oposta, está
sendo substituída pela concepção mais indetermi
nada de probabilidade estatística. Além disso, a ob
jetividade newtoniana é substituída pela subjetivi
dade quântica. A velha visão mecanicista, determi
nista e reducionista do mundo cai por terra. Assim,
a substância fundamental do universo é a energia enão a matéria.
5. Teoria do caos
Na década de 1960, Edward Lorenz do Instituto de
Tecnologia de Massachusetts (MIT) desenvolveu
um modelo que simulava no computador a evolu
ção das condições climáticas. Dados os valores ini
ciais de ventos e temperaturas, o computador fazia
uma simulação da previsão do tempo. Lorenz ima
ginava que pequenas modificações nas condições
iniciais provocariam alterações igualmente peque-
~ DICAS
Avisão do mundoo prihcípi.o dá Í)"lcerteza signifícaquearealidade
depende daquilo que escolhemos para medi-Ia.
Mais especificamente, depende do conjunto de len
tes que escolhemos para olhar através delas. Se o
mundo externo é visualizado através de uma lente
cultural de paradigmas aprendidos, poderá apre
sentar uma realidade tridimensional concreta: um
mundo de partículas que é composto de objetos
naturais. Se o mundo externo é visualizado sem as
distorções de nossa lente cultural, ele apresentará
apenas ondas de possibilidades energéticas. Vive
mos em um universo subjetivo, isto é, em um uni
verso de que somos co-autores por meio de nossas
escolhas perceptivas. Fomos condicionados pela
visão newtoniana do mundo a acreditar em uma re
alidade exterior objetiva. Essa crença tinha vanta
gens, como a abdicação da responsabilidade: vive
mos em um mundo fixado, objetivo e somos vítimas
de circunstâncias externas que estão além de nos
so controle. Se o mundo tridimensional é subjetivo,
então desempenhamos como seres perceptivos
um importante papel como criadores de tudo isso
que vemos e que vivenciamos.5 Como dizia Prigo
gine, "o que quer que chamemos de realidade, el~
só nos é revelada por intermédio de uma constr\J~
ção ativa na qual participamos".6
nas na evolução do quadro como um todo. A sur
presa: mudanças infinitesimais nas entradas podem
ocasionar alterações drásticas nas condições futuras
do tempo. Como dizia Lorenz: uma leve brisa em
Nevada, a queda de 1 grau em Massachusetts, o ba
ter de asas de uma borboleta na Califórnia podem
causar um furacão na Flórida um mês depois. 7 Uma
estrambólica variação em cadeia do chamado efeito
dominó. Da previsão do tempo ao mercado de
ações, das colônias de cupins à Internet, a constata
ção de que mudanças diminutas podem acarretar
desvios radicais no comportamento de um sistema
veio reforçar a nova visão probabilística da física. O
comportamento dos sistemas físicos, mesmo os re
lativamente simples, é imprevisível. 8 O estado final
....--
de um sistema não é um ponto qualquer; certos per
cursos parecem ter mais sentido do que outros ou
ocorrem com maior freqüência. Os chamados atra
tores estranhos (strange attractors) permitem que os
cientistas prevejam o estado mais provável de um
sistema, embora não quando precisamente ele vai
ocorrer. É o que acontece com a previsão do tempo
ou de um maremoto, por exemplo.
A palavra caos tem sido tradicionalmente associa
da à desordem. Nas mitologias e cosmogonias anti
gas, caos era o vazio escuro e ilimitado que precede à
criação do mundo. * Desde tempos imemoriais, o ser
humano se defronta com o desconhecido e o percebe
como caótico e atemorizante. Desde os tempos de
Descartes, a lógica e a racionalidade da ciência cons
tituíram uma luta constante contra o caos: tornar omundo conhecido e reduzir a incerteza. >, >,
Contudo, na ciência moderna, caos significa uma
ordem mascarada de aleatoriedade. O que parece
caótico é, na verdade, o produto de uma ordem su
bliminar, na qual pequenas perturbações podem ca
usar grandes efeitos devido à não-linearidade douniverso. >, *~. Para a ciência moderna, os fenômenos
deterministas - que obedecem ao princípio da linea
ridade de causa e efeito - constituem uma pequena
minoria nos eventos naturais. Tudo na natureza
muda e evolui continuamente. Nada no universo é
passivo ou estável. A noção de equilíbrio - tão cara
à Teoria de Sistemas - constitui um caso particular e
* A herança da cultura grega é muito forte. Para os antigosgregos, o estado primitivo do mundo era o caos, a matéria queexistia desde toda a eternidade sob uma forma vaga, indefinível, indescritível, em que os princípios de todos os seres particulares estavam confundidos. Para a mitologia grega, o caosera uma divindade rudimentar, que só pode procriar pela intervenção de uma força divina e eterna como os elementos dopróprio caos: Eros, ou o amor. Eros é o deus da união e da afinidade, e nenhum ser pode escapar de sua influência. No entanto, ele tem um oposto, ou adversário: Anteros, isto é, a apatia, a aversão, que separa e desune. A tensão entre Eros e Anteros era o que garantia a evolução do mundo e o impedia devoltar aos caos. Desde o início dos tempos, o ser humano sedefronta com o desconhecido que, como tal, é percebidocomo escuro, atemorizante, caótico. O medo do desconhecido - como o medo da morte - tem movido a humanidade naciência, na arte e na filosofia. A busca tem sido sempre por tornar o mundo cada vez mais amplo, embora convivamos sempre com a noção de que o que conhecemos é infinitamentemenor do que o que desconhecemos do mundo e da vida.
PARTE X· Novas Abordagens da Administração 565
pouco freqüente. Na verdade, não existem mudan
ças no universo. O que existe é mudança. O estado
de equilíbrio, o determinismo e a causalidade linear
são casos muito singulares em um universo primor
dialmente evolutivo, onde tudo é fluxo, transfor
mação e mudança. No decorrer do século XX, a
ciência passou da visão clássica de uma realidade em
permanente estado de equilíbrio para uma visão de
uma realidade sujeita a perturbações e ruídos, mas
que tendia naturalmente a retornar ao equilíbrio,
graças à abordagem sistêmica.
Para a teoria do caos, a desordem, a instabilidade
e o acaso no campo científico constituem a norma, a
regra, a lei. A influência dessas idéias na teoria ad
ministrativa é marcante. Afinal, estamos ainda bus
cando a ordem e a certeza em um mundo carregado
de incertezas e instabilidade. Os modelos de gestão
baseados na velha visão do equilíbrio e da ordem es
tão caducos. Além do mais, quando se faz um esfor
ço para integrar a administração com outras ciênci
as, os resultados caminham em uma direção com
pletamente diferente. 10 A ciência moderna mostra
que o sistema vivo é, para si, o centro do universo e
sua finalidade é a produção de sua identidade. O sis
tema procura interagir com o ambiente externo
sempre de acordo com uma lógica.
*'f A metodologia de Descartes consistia em princípios geraissimples: aceitar somente aquilo que seja tão claro em nossamente que exclua qualquer dúvida, dividir os grandes problemas em problemas menores, argumentar partindo do simplespara o complexo e verificar o resultado final. Ao longo dostempos, essa abordagem lógica e racional foi utilizada na ciência, principalmente ciências exatas e experimentais, com enorme êxito. Já nas ciências sociais e nos negócios, esse métododemonstrou sérias limitações. Na teoria administrativa, o método cartesiano de análise foi intensamente utilizado. Esse tipode abordagem (do mais geral para o mais específico) levou àsestruturas hierarquizadas, modulares e departamentalizadas,tão comuns nas organizações tradicionais. Todavia, tem-sepercebido a importância das relações entre os componentes daempresa, as mútuas influências nos processos de trabalho, anecessidade de visão integrada e a importância do lado emocionaI, afetivo, e não somente racional, no processo decisório.É a velha abordagem reducionista do passado.<-»*0 que parece caótico à primeira vista é produto de umaordem subliminar, na qual pequenas perturbações podem causar grandes efeitos devido à não-linearidade do universo. Umaborboleta voando na Califórnia pode provocar um tufão naFlórida. Para os defensores da Teoria do Caos, todos os resultados têm uma causa. Essa precisa ser estudada pela Teoria dasProbabilidades e não pelo determinismo causal.
I"!li;
çóes não sãoe. no inicio de sua história, a teoria
a concebeu as organizações para funcio
narem como máquinas orientadas para a minimi
zação da incerteza e do ruído. Ordem, controle,
estabilidade, permanência, previsibilidade e regu
laridade eram fundamentais. Mais recentemente,
as organizações passam a ser vistas como siste
mas sujeitos a pressões externas e oscilações que
precisam ser amortecidas para que os sistemas
possam retornar ao equilíbrio: o modelo universal
é um sistema auto-regulado, na qual os desvios
são identificados por sinalizações de retroação e
então compensados, corrigidos, atenuados ou neu
tralizados, sempre por meio de mudanças incre
mentais. A ciência estava orientàda para a
certezas e a desordem sempre foi
rônios, considerar seres humanos reunidos em redes
cooperativas, verifica-se que essa descoberta científi
ca ingressou na teoria administrativa com muito
atraso, indicando que as organizações são sistemas
complexos, adaptativos e que se auto-organizam até
alcançarem um estado de aparente estabilidade.
• Sujeito oobjeto são indissociáveis.
• Conhecer, conhecido econhecimento são indis~,ociáveis.
'a, vida einformaçãosistemas físicos
submetidos às leis de energia.
• Recursividade efeito-causa. Acausalidade.
• Otodo contém as partes eestá contido nelas.
• Universo écomposto por energia. Particulas e luz têm amesma natureza
• Otodo contém as partes.
• Oconhecimento independe da mente do sujeito.
• Matéria, vida einformação são distintas.
• Causalidade linear.
• Dualidade sujeito-objeto
composto por particulas sólidas edlstintas da luz
Figura XX.1. Os Paradigmas Cartesiano-Newtoniana e Holístico. 9
6. Teoria da complexidade
Em 1977, Ilya Prigogine ganhou o Prêmio Nobel de
Química ao aplicar a segunda lei da termodinâmica
aos sistemas complexos, incluindo organismos vivos.
A segunda lei estabelece que os sistemas físicos ten
dem espontânea e irreversivelmente a um estado de
desordem ou de entropia crescente. Contudo, ela
não explica como os sistemas complexos emergem
espontaneamente de estados de menor ordem desa
fiando a tendência à entropia. Prigogine verificou
que alguns sistemas quando levados a condições dis
tantes do equilíbrio - à beira do caos - iniciam pro
cessos de auto-organização, que são períodos de ins
tabilidade e de inovação dos quais resultam sistemas
mais complexos e adaptativos. Exemplos desses sis
temas adaptativos e auto-organizantes são os ecossis
temas de uma floresta tropical, formigueiros, cére
bro humano e a Internet. São sistemas complexos
que se adaptam em redes (networks) de agentes indi
viduais que interagem para criar um comportamento
autogerenciado, mas extremamente organizado e co
operativo. Esses agentes respondem à retroação (feed
back) que recebem do ambiente e, em função dela,
ajustam seu comportamento. Aprendem com a expe
riência e introduzem o aprendizado na própria estru
tura do sistema. Em outras palavras, aproveitam as
vantagens da especialização sem cair na rigidez bu
rocrática. Se, ao invés de formigas, abelhas ou neu-
PARADIGMA CARTESIANO-NEWTONIANO PARADIGMA HOLíSTICO
5&& Introdução à Teoria Geral da Administração· IDALBERTO CHIAVENATO
Prigogine elaborou a teoria das estruturas dissipativas - também conhecida como teoria do não
equilíbrio - para explicar a ordem por meio das perturbações que governam o fenômeno da evolução.A evolução é, basicamente, um processo de criaçãode complexidade por meio do qual os sistemas setornam progressivamente capazes de utilizar maio
res quantidades de energia do ambiente para ampliação de suas atividades.
A palavra complexidade tem sido utilizada pararepresentar aquilo que temos dificuldade de compreender e dominar. A complexidade constituiuma nova visão das ciências. A velha Cibernética
despertou a curiosidade dos cientistas. O emaranhado das ciências interdisciplinares levou àconstatação de que a realidade que nos cercaapresenta segredos ainda não totalmente desvendados para a inteligência humana. 12 As fronteiras
do conhecimento exploradas pelas teorias da complexidade - principalmente pela teoria do caos eteoria das estruturas dissipativas - levam a conclusões impressionantes.
A Teoria da Complexidade é a parte da ciência quetrata do emergente, da física quântica, da biologia, dainteligência artificial e de como os organismos vivosaprendem e se adaptam. Ela é um subproduto da teo-
PARTE X • Novas Abordagens da Administração
ria do caos. No estudo do comportamento das partí
culas fundamentais que constituem todas as coisas domundo, a física quântica proporciona conclusões ambíguas e indeterminadas: como pode a realidade se revelar ao ser humano por meio de um mundo de coisas
concretas e determinadas se ela é constituída de aspectos indeterminados?13 O mundo quântico tem as suas
esquisitices. A lógica da ciência da complexidadesubstitui o determinismo pelo indeterminismo e a certeza pela incerteza. Os físicos tiveram de reconstruir
as bases sobre as quais a ciência vinha se desenvolvendo desde o mundo mecânico, previsível e linear deIsaac Newton. 14 Há autores que pregam um paralelo
entre o mundo da ciência e o mundo dos negócios,mostrando que, da mesma forma, também a teoriaadministrativa terá de se estabelecer sobre bases novas
que definam a nova lógica para a atuação das organizações.15 Para abordar os movimentos ondulatóriosdos negócios seria necessária uma total recauchutagem da teoria administrativa?
Todas essas contribuições - o darwinismo organizacional, a teoria dos quanta, a teoria da relatividade, o princípio da incerteza, a teoria do caos e a teo
ria da complexidade - vieram trazer uma nova conceituação da ciência e da realidade em que vivemos.Em resumo, a ciência moderna não está apenas descobrindo novos campos científicos, mas está redefinindo o próprio sentido do que seja ciência, como: 16
a. A ciência abandona o determinismo e aceita oindeterminismo e a incerteza, inerentes ao homem e às suas sociedades.
b. A ciência abandona a idéia de uma simplicidade inerente aos fenômenos do mundo naturale abraça a complexidade também inerente aohomem e suas sociedades.
C. A ciência abandona o ideal de objetividadecomo única forma válida de conhecimento,
assumindo enfim a subjetividade, marca maiorda condição humana.
A complexidade significa a impossibilidade de se
chegar ao conhecimento completo a respeito da natureza. A complexidade não pode trazer certeza sobre o que é incerto. Ela pode apenas reconhecer aincerteza e tentar dialogar com ela. 17
Figura X.1. O crescente ritmo de inovação: as sucessivas ondas de Schumpeter.
568 Introdução à Teoria Geral da Administração· IDALBERTO CHIAVENATO
A Quinta Onda
A Era Industrial predominou em quase todo o sé
culo XX e cedeu lugar à Era da Informação. Nessa
nova era, as mudanças e transformações passam a
ser gradativamente mais rápidas e intensas. Sobre
tudo, descontínuas. A descontinuidade significa
que as mudanças não são mais lineares ou seqüen
ciais e nem seguem uma relação causal (cau
sa-e-efeito). Elas são totalmente diversas e alcan
çam patamares diferentes do passado. A simples
projeção do passado ou do presente não funciona
mais, pois as mudanças não guardam nenhuma si
milaridade com o que se foi. Como dizia Joseph
Schumpeter: a economia saudável é aquela que
rompe o equilíbrio por meio da inovação tecnoló
gica. 19 Ao invés de tentar otimizar o que já existe, a
atitude produtiva é a de inovar por meio daquilo
que ele chamou de destruição criativa. Destruir o
velho para criar o novo. Na visão de Schumpeter,
os ciclos em que o mundo viveu no passado foram
todos eles determinados por atividades econômi
cas diferentes. Cada ciclo - como qualquer ciclo de
vida de produto - tem as suas fases. Só que essas
ondas estão ficando cada vez mais curtas fazendo
com que a economia renove a si mesma mais rapi
damente para que um novo ciclo possa começar.
O primeiro elemento central da quinta onda é a
Internet. A world wide web - www - a rede mundial
Redes digitaisSoftwareNovas mídias
Petroquímica
Eletricidade Aeronáutica
QuímicaEletrônica
VaporEnergia Estrada Motor a
hidráulica de Ferro combustão
Têxteis AçoFerro
1ª Onda 2ªOnda 3-ª-Onda 4ll Onda 5ªOnda
1785 1845 1900 1950 1990 2020
o( 60 ) o( 55 ) o( 50 )0( 40 ) o( 30 )anos anos anos anos anos
OJipâl"~(j~Ô$)daatllalitfade
Ma.s, opê,raclo)(Óé quê, ao mesrno tempo em que
sedlscutêOiindeterminismo, a complexidade e·a
subjetividade, .a Administração está recebendo
uma preciosa ajuda dos sistemas inteligentes ba
seadoS em computadores. Os fabricantes de solu
ções estão desenvolvendo ferramentas de apoio à
tomada de decisão. O desenvolvimento tecnológi
co dos sistemas de gestão e a utilização da inteli
gência artificial estão proporcionando programas
que imitam o processo de raciocínio usado pelas
pessoas na solução de problemas e que são com-
, postos de bancos de dados e de regras que os es
pecialistas usam para fazer inferências sobre um
problema e determinar o que precisa ser feito.
Essas regras constituem o centro do sistema inteli
gente que funciona como base de apoio às deci
sões administrativas. 18 E, convenhamos, regras
sempre constituem abordagens prescritivas e nor
mativas típicas das antigas teorias administrativas.
Isso significaria o retorno da TGA por meio de no
vos enfoques tradicionais proporcionados pela
moderna tecnologia? Como dizia Giuseppe Lam
peduza no seu livro 11 Gattopardo: é preciso sem
pre mudar as coisas para que elas permaneçam
como estão. Há muito em jogo. A evolução da TGA
promete ser profunda e inarredável.
~ DICAS
-.=
que interliga centenas de milhões de computadores
de pessoas, equipes e organizações." E a inquebran
távellógica dessa nova onda é de que não há mais lu
gar para se fazer as mesmas coisas do passado. Claro
que precisamos conhecer o que foi feito no passado
como base elementar para nosso conhecimento e
para poder criar e inovar. Todavia, o que aprende
mos no passado passa a ter pouco valor prático para
o futuro que se aproxima cada vez mais rapidamen
te. Trata-se de uma nova dimensão de tempo e de es
paço à qual ainda não estamos acostumados.
O segundo elemento central da quinta onda é a
globalização dos negócios. Ela é um processo de mu
dança que combina um número crescentemente
maior de atividades por meio das fronteiras e da tec
nologia da informação, permitindo a comunicação
praticamente instantânea com o mundo. E, de lam
buja, promete dar a todas as pessoas em todos os can
tos o acesso ao melhor do mundo. A globalização
constitui uma das mais poderosas e difusas influênci
as sobre nações, organizações, ambientes de trabalho, comunidades e vidas. Para Kanter,20 quatro pro
cessos abrangentes estão associados à globalização:
a. Mobilidade de capital, pessoas e idéias. Os
principais ingredientes de um negócio - capi
tal, pessoas e idéias - estão adquirindo cada
vez mais mobilidade. Estão migrando de um
lugar para o outro com incrível rapidez e faci
lidade. A transferência de informações em alta
velocidade torna o lugar irrelevante.
* Tudo foi muito rápido. Em 1989, um físico nuclear inglês,Tim-Berners Lee criou um programa que permitia que textos efiguras fossem transferidos e captados por qualquer computador ligado à rede: o hipertexto (nome abreviado como http hyper text transfer protocol). Tim abre mão do lucro e tornasua criação domínio público. Em 1991, surge a invenção daworld wide web (www ou Web, que em português significateia), o avanço tecnológico a partir do qual a Internet se tornaria rapidamente um fenômeno mundial. Logo mais, em 1992,surge o primeiro browser - o Mosaic - que permite acesso àrede por meio do mouse e eliminando os códigos de programação. A partir de então, a Web passou a proporcionar umarede mundial cuja avalanche de dados provoca uma formidável explosão de informações. A chamada super-rodovia de informação virou as comunicações e o mundo dos negócios depernas para o ar. Com isso, surgiu uma rede interativa chamada de ciberespaço (cyberspace, termo criado por William Gibson em seu livro Neuromancer, em 1984).
PARTE X • Novas Abordagens da Administração 569
b. Simultaneidade - em todos os lugares ao mesmo tempo. O processo de globalização signifi
ca uma disponibilidade cada vez maior de
bens e serviços em muitos lugares ao mesmo
tempo. O intervalo de tempo entre o lança
mento de um produto ou serviço em um lugar
e sua adoção em outros lugares está caindo
vertiginosamente, em especial no que se refe
re às novas tecnologias.
c. Desvio - múltiplas escolhas. A globalização
é ajudada pela competição além das frontei
ras apoiada por um trânsito internacional
mais fácil, desregulamentação e privatiza
ção de monopólios governamentais, que au
mentam as alternativas. O desvio significa
inúmeras rotas alternativas para atingir e
servir os clientes. O surgimento de serviços
de entrega de encomendas em 24 horas em
qualquer lugar do mundo substitui os servi
ços postais governamentais. O mesmo ocor
re com o fax. Transferências eletrônicas de
fundos substituem os bancos centrais. Os
novos canais são mais universais, menos es
pecíficos ao local e podem ser explorados
em qualquer lugar.
d. Pluralismo - o centro não pode dominar. No
mundo inteiro, os centros monopolistas estão
se dispersando e sofrendo um processo de
descentralização. O pluralismo se reflete na
dissolução e dispersão de funções para todo o
mundo, independentemente do lugar.
Esses quatro processos juntos - mobilidade, si
multaneidade, desvio e pluralismo - ajudam a colo
car um número maior de opções nas mãos do con
sumidor individual e dos clientes organizacionais
que, em contrapartida, geram uma "cascata de glo
balização", reforçando mutuamente os ciclos de re
troação que fortalecem e aceleram as forças globali
zantes. Pensar como o cliente está se tornando a ló
gica global de negócios. Além disso, dois fenôme
nos ocorrem simultaneamente: o regulamentado
está se tornando desregulamentado (o que reduz o
controle político), enquanto o desorganizado está
ficando organizado (o que aumenta a coordenaçãodos setores).
570 Introdução à Teoria Geral da Administração' IDALBERTO CHIAVENATO
Estâmc3syí'vel1<:fo emum.~
cada vez íWii!I c0rn
O .núcleo básico da sociedade
a organização administrada A institui
constitui a maneira pela qual a socieda-
de consegue que as coisas sejam inventadas, cria
das, desenvolvidas, projetadas e feitas. E a admi
nistração é a ferramenta específica para tomar as
organizações capazes de gerar resultados e satis
fazer necessidades. Como diz Drucker,22 a organi
zação não existe apenas dentro da sociedade. Ela
existe para produzir resultados dentro da socieda
de e principalmente para modificá-Ia continuamen
te. E o sucesso das organizações depende de ad
ministradores competentes. Em decorrência, avulta
o papel do administrador. Ele não só faz as organi-
funcionarem bem, como também faz com
prcldulzalm resultados e agreguem valor.
ele muda continuamente
proprietárias e uma habilidade de compartilhar
com os parceiros. E seus principais ativos são os três
Cs: conceitos, competência e conexões, que elas es
timulam e repõem continuamente. Dessa maneira,
as organizações bem-sucedidas estão criando o
shopping center global do futuro. E, no processo de
globalização, elas se tornam classe mundial: focali
zadas externamente e não internamente, basean
do-se no conhecimento mais recente e operando
através das fronteiras de funções, setores, empresas,
comunidades ou países em complexas redes de par
cerias estratégicas.
a. As organizações organizam-se em torno da lógica do cliente. Atendem rapidamente às ne
cessidades e desejos dos clientes em novos
conceitos de produtos e serviços e transfor
mam o conceito geral do negócio quando as
tecnologias e mercados mudam.
b. Estabelecem metas elevadas. Tentam definir os
padrões mundiais nos nichos almejados e bus
cam redefinir a categoria a cada nova oferta.
c. Selecionam pensadores criativos com uma visão abrangente. Definem seus cargos de forma
abrangente e não de forma limitada, estimu
lam seus funcionários a adquirir múltiplas ha
bilidades, trabalhando em vários territórios e
dão a eles as melhores ferramentas para exe
cutar suas tarefas.
d. Encorajam o empreendimento. Investem em
equipes de empowerment para que elas pos
sam buscar novos conceitos de produtos e
serviços, deixam que elas coloquem em práti
ca suas idéias e reconhecem fortemente a iniciativa.
e. Sustentam o aprendizado constante. Promo
vem a ampla circulação de informações, ob
servam os concorrentes e inovadores no mun
do inteiro, medem seu próprio desempenho
com base em padrões mundiais de qualidade e
oferecem treinamento contínuo para manter
atualizado o conhecimento das pessoas.
f. Colaboram com os parceiros. Combinam o
melhor de sua especialização e da de seus parceiros, desenvolvendo aplicações customiza
das para os clientes.
Para vencer em mercados globais e altamente
competitivos, as organizações bem-sucedidas
compartilham uma forte ênfase em inovação,
aprendizado e colaboração por meio das seguin
tes ações: 21
Daí outros paradoxos: as organizações bem-su
cedidas apresentam uma cultura que combina ca
racterísticas aparentemente opostas: padrões rígi
dos e interesse pelas pessoas; ênfase em inovações
PARTE X • Novas Abordagens da Administração 571
QUADRO X.3. Cronologia dos principais eventos
ANO AUTORES LIVROS
of Action Perspective
ns Manage What
IWealthand Measuring Knowledge-Based Assets
1978
1982
1983
1984
1986
1987
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
C. Argyris & 11Scoon
I.Peters &R.Waterman
Ralph H. Killmann
Paul Davies
Karl E. SveibyDavid leece
K.E.Sveiby &Uom
Peter 5enge
lhomas Stewart
W.Davidoy & M.Malone
W.J.HudsonHernan .Bryant Mayard Jr.&Susan E. MehrtensOdd Norhaug
lhamas StewartPeter SengeKevin KellyRobert W. Jacobs
Oorothy Leonard-BartonI.Nonaka & H.lakeuchiDaniel OennettRGrenier & G.MetesCharles HandyJ.Porras &J.CollinsD. Leonard-Barton
A. BrookíngLeif Edvinsson & M.Malone
Art KleinerJoe JaworskiJ. Upnack &J. StampsRS.Kaplan &O.P.NortonRalph D. Stacey
Clayton Christensenlhamas StewartKarl E. SveibyArie de GeusI. Koulopoulos, R.Spinello &I. Wayne
Patrick SullivanNicholas Negropontelhomas Davenport& Laurence Prusak
Organiz
In Search of
Producing UseM Knowledge for Organizations
God and the New Physics
lhe Know-How CompanyProfiting from lechnologlcallnnovation
Managing Knowhow
lhe Invisible Balance Sheetlhe Age of Unreasonlhe Selflsh Gene
lhe Fifht Discipline
Brainpower
lhe Virtual Corporation
Intellectual Capital: How to Built It, Enhance lt, Use itlhe Fourth Wave: Business in the 21 st Century
Human Capital in Organizations
Intellectual Capitallhe Fifth Discipline FieldbookOut Df Control: lhe New Biology Df Machines, Social Systems, and the Economic Worldlhe Real lime Strategic Change: How to Involve an Entire Organization in Fast andFar-Reaching Change
Wellspring of Knowledge - Building and Sustaining the Sources of Innovationlhe Knowledge-Creating CompanyDarwin's Dangerous IdeaGoing VirtualBeyond CertaintyBumto LastWellsprings of Innovation
Intellectual Capital: Core Asset for the lhird MilleniumIntellectual Capital: Realizing your Company lme Value by Finding its HiddenBrainpowerlhe Age Df HereticsSynchronicitylhe Age Df the Networklhe Balanced ScorecardComplexity and Creativity in Organizations
lhe Innovator's Dilemmalntellectual Capital: lhe New Organilhe New Organizational Wealth: Malhe Uving CompanyCorporate Instinet: Building aKnowing Enterprise forthe 21stCentury
Profiting from IntellectDigital UfeWorking Knowledge: HowIheyKnow
(Continua)
ANO AUTORES LIVROS
..
The Tuming Point: Soienoe, Society and the Rising Culture
Chaos: Making aNew ScienceThe Quantum Universe
ABriei History of Time: From the Big Bang to Black Hofes
Turbufent Mirrar: An IIlustrated Guide to Chaos 177eory and the Seience of WholenessTaking the Quantum Leap: The New Physios for Nonscientists
Flow: The Psychofogy for the Third MillenniumThe Quantum Self: Human Nature and Gonsciousness Defined by lhe
177e Hundredth Monkey
The Tao of PhysicsGod and the New PhysicsThe Celestine Prophecy
Order Out of Chaos: Man's New Dialogue with NatureIn Search of Schroedinger's Cat: Quantum Physics and RealityThe Quantum Worfd
Dar:win's DanTheEndofAtHomeinSeeing Systems:
177e Great Game of Business
Elementa/ Mind: Human ConsoiousnessThe Soul ofaBusiness: ManagingfonPr;Thinking: The New Soience ofFuzzy LogicThe Cefestine Prophecy
FuzzyLogicTheQuantum
The Web ofUfe: ANew Soientific UnderstandínfJ ofExpanding our Know: The Story of Open Space Teohn%gy
lhe Danoe of Change: lhe ChallenOrganizations
on The Strategy·Pocused Organi.ra:Digitaf Capital
I.Prigogine & I.StengersJohn GribbinJ-C.Polkinghome
Fritjof Capra
James GleickT.Hey & P-Walters
S.W.Hawklng
JohnBriggs & F.David PeatFred Alan Wolf
Ken Keyes, Jr.
Frijjof CapraPaul DaviesJames Redfield
M.CsikszentmihalyiDanah ZoharNew Physles
Jaek Stack
Nlek HerbertTom ChappellBart KoskoJames Redfield
D.MeNeill & P. FreibergerDanah Zohar
Daniel DennetJ.HorganStuart KauttmanBarry Oshry
Introdução à Teoria Geral da Administração· IDALBERTO CHIAVENATO
1984
ANO AUTORES LIVROS
1988
1989
1986
1987
1992
1993
1990
1994
1995
1996
1997
QUADRO X.3. Cronologia dos principais eventos (continuação)
QUADRO X.4. Cronologia dos principais eventos recentes na física
572
The lnvisible Balance SheetThe Age of lJoreason
The Rfth DisciplineThe Boroerless World
8raínpowerThe Age Df Paradox
lnte//ectual Capítal: How to Buílt ít, Enhance ít, Use ítReengineering CorporatiOn
InteJ/ectual CapítalThe Fífth DíscipNne Fie/dbaokThe Rise and Fali afStrategic PlanníngCompetíng for lhe FutureBuílt To LastOrganízatian Desígns
Wellspríng DfKnowledge - Building and Sustaíning the $ources oflnnovatíonThe Knowledge-Creatíng Company
lntelleclual Capítal: Core Asset for the
CRONOLOGIA DAS NOVAS ABORDAGENS (CONTINUAÇÃO)
PARTE X • Novas Abordagens da Administração 573
ArtKleínerJoo Jaworski
Karl E. SveibyCharles Handy
PeterõengeKenichi Ohmae
lhamas StewartCharles Handy
W.J.HudsonM. Hammer & J. Champy
lhomas 8tewartPeter 8engeHenry MintzbergG. Hamel & C. K. PrahaladJ. Collins & J. PorrasDavid Nadler
Dorothy Leonard-Barton
Ikujlro Nonaka & Hlrotaka lakeuchi
A. BrookingLaif Edvínsson & M.Malone
1991
1994
1989
1996
1990
1993
1995
_ao>
574 Introdução à Teoria Geral da Administração· IDALBERTO CHIAVENATO
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22. Peter F. Drucker, Management, Nova York, Harper & Row, 1974