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Esta publicação foi possível graças ao Fundo para a Água de Danone /E v ian DE MONTANTE 2 de Fevereiro Dia Mundial das Zonas Húmidas A JUSANTE As Zonas Húmidas unem-nos a todos

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Esta publicação foi possível graças

ao Fundo para a Água

de Danone /E v ian

2 de Fevereiro

DE MONTANTE

2 de Fevereiro

Dia Mundial das Zonas Húmidas

A JUSANTE

As Zonas Húmidas unem-nos a todos

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coisas

9 que todos devemos saber

sobre bacias

hidrográficas

1

1. As zonas húmidas, a água e

as bacias hidrográficas

1

A alteração dos regimes de caudal naturais dos rios, a

fragmentação das vias de água mediante construções levadas

a cabo pelos homens (barragens, tubos e açudes, por

exemplo), a perda do habitat aquático, a extinção de espécies,

as espécies invasoras, a contaminação a água, e o

esgotamento dos aquíferos subterrâneos… são só alguns dos

impactos que a nossa actividade produz sobre as zonas

húmidas. O que temos que enfatizar destas alterações é que

não afectam unicamente uma zona húmida, pois todas as

zonas húmidas estão ligadas e as consequências, boas ou

más, das intervenções humanas em determinadas zonas

húmidas, irão repercutir em toda a bacia hidrográfica. A

extracção excessiva de água nas zonas superiores de uma

bacia pode fazer com que um rio e as correntes e os pântanos

associados até centenas de quilómetros a jusante, recebam

um caudal de água menor – ou, inclusive, deixem de receber

água. Mas as grandes alterações não se reflectem apenas a

jusante; podem inclusive influenciar negativamente o ciclo

da água, modificando a ocorrência de chuva com impactos

noutras partes da bacia e mesmo para além desta.

As zonas húmidas estão ligadas por algo mais que a água. A

nossa perspectiva das zonas húmidas deve ser mais ampla

que a tradicional dos engenheiros, deve ser a que os

ecologistas têm de um ecossistema vivo: as zonas húmidas

são um elemento chave da nossa infra-estrutura natural.

1 1

F o t o : © iS t oc kp h ot o . co m /rh ow

A água é um elemento vital da qual toda a vida terrestre

depende, e são as zonas húmidas – os nossos rios, lagos,

pântanos, campos aluvionares, etc.– os que captam,

armazenam, e transportam a água para todos nós. As

zonas húmidas são uma parte fundamental do ciclo da

água, abastecendo-nos de água onde quer que vivamos e

quem quer que sejamos – agricultores, donos de fábricas,

pescadores ou famílias. Quando a chuva cai sobre a terra,

pode-se abrir caminho para o ciclo da água evaporando-

se rapidamente para a atmosfera – pode infiltrar-se no

solo e acabar numa via fluvial ou nas águas subterrâneas

– ou também pode permanecer como água de superfície

que acabará por chegar ao oceano através de correntes,

lagos e rios. Como somos uma espécie dependente de

água, cuidarmos das zonas húmidas – os nossos

“conectores de água” – não é uma opção, mas uma

obrigação.

‘Uso e abuso’ são as palavras que melhor descrevem

como tratamos as zonas húmidas do mundo. Hoje em

dia, só 21 dos 177 maiores rios do planeta correm

livremente desde a sua nascente até ao mar. Porquê? A

causa das alterações induzidas pelos seres humanos para

proporcionar determinados benefícios as pessoas, como

mais água armazenada para rega, a melhoria da

navegação fluvial e a protecção frente as inundações.

2 - Dia Mundial das Zonas Húmidas 2009

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2

2. O que é uma bacia hidrográfica?

2

2 2

Para muitas pessoas, bacia hidrográfica, bacia fluvial e bacia

de drenagem são definições de intercâmbio e para outras

podem ter significados diferentes: nestas notas informativas

consideramos de intercâmbio.

Como poderemos definir uma bacia? Uma definição, é que é

uma superfície de terreno drenada por um rio. Engloba todas

as terras drenadas não só pelo rio, mas também por todos os

seus muitos efluentes e afluentes, lagos, reservatórios, sapais

e pauis ligados, incluindo a maioria dos aquíferos

subterrâneos. O seu destino final é desaguar no mar,

normalmente através de um estuário. Naturalmente, a bacia

possui também muitos habitantes: os seres humanos e outros

animais, as plantas, as bactérias, etc.

A bacia hidrográfica é como uma banheira gigante que

recolhe toda a água que cai nas suas margens e envia toda a

chuva que cai sobre a terra a sua volta para um rio central e

depois ao mar. Normalmente, as bacias hidrográficas estão

separadas das bacias adjacentes por uma cadeia montanhosa,

uma colina ou uma montanha.

Como sempre, esta regra tem a sua excepção. As bacias

endorreicas são bacias interiores que não drenam para o

oceano; nelas, a água é totalmente reciclada por evaporação

ou infiltração. Calcula-se que cerca de 18% da superfície do

planeta drena para lagos ou mares endorreicos, como o Mar

de Aral, o delta do Okavango, o lago Chad, o lago Prespa,

etc.

O mais importante é que as zonas húmidas que existem numa

bacia – rios, lagos, pauis, reservatórios, etc. – encontram-se

ligadas. Na condição de conectores da água do mundo,

actuam como uma série de artérias principais e capilaridades

menores que nos mantêm vivos, a nós e a todos os outros

seres vivos da bacia. As águas superficiais estão vinculadas à

maioria dos aquíferos subterrâneos – denominados, por

norma, de água subterrânea –, com os quais trocam água em

ambas as direcções. Os limites dos aquíferos subterrâneos

muitas vezes não coincidem com os da bacia, cujas águas

superficiais estão ligadas hidrologicamente, mas seja como

for, estão ligadas. As fontes de águas subterrâneas têm uma

importância vital, já que armazenam 97% da água doce

líquida do planeta, mas, tal como a extracção de água dos

rios ou lagos, possui limites, as possibilidades de extrair água

subterrânea não são ilimitadas, e uma extracção excessiva é

de modo similar prejudicial para o ciclo da água e muitas

vezes causa a intrusão de água salgada nos aquíferos

subterrâneos próximos do mar.

O Conceito de Contínuo Fluvial reconhece que o fluxo de

energia das comunidades animais e vegetais muda conforme

caminhamos para jusante e o que acontece em qualquer parte

desse contínuo, pode influenciar outras partes do sistema. A

‘corrente’ dos seres vivos também pode ir para montante

(pense nos salmões que percorrem as águas do oceano para

desovar nos rios, e nas enguias de água doce que fazem o

contrário) e desde o exterior desde os rios e as ribeiras, aos

campos aluvionares, os sapais e os pauis.

Aqui está uma história interessante de como tudo se

encontra ligado. No Canadá, os ursos capturam salmões no

interior das correntes do mar e muitas das vezes levam-nos

para os bosques para os comerem. Os restos em putrefacção

são uma fonte importante de nutrientes para a vegetação

florestal. Isso sim é a ‘conexão’!

Perante a escassez de água do século XXI, torna-se cada vez

mais importante reflectir sobre como gerimos, usamos e

abusamos das nossas zonas húmidas. Não basta pensar nas

zonas húmidas como a nossa envolvência mais próxima. Para

gerirmos com eficácia, devemos actuar ao nível das bacias

hidrográficas. E isso torna a tarefa mais árdua!

O ciclo global da água

Dia Mundial das Zonas Húmidas 2009 - 3

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3. De Montante a Jusante

3

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4 4 4 4

4. As bacias das zonas húmidas:

prestando serviço de ecossistema

às pessoas

Nem todas as zonas húmidas se encontram sempre húmidas,

mas desempenham funções hidrológicas e ecológicas

importantes numa bacia hidrográfica. Algumas são sazonais,

quer dizer, que secam naturalmente, em parte ou na sua

totalidade, cada ano, e outras são efémeras, o que quer dizer

que podem ter água visível só as vezes, quando chove

bastante ou recebe água suficiente do exterior. A importância

dessas zonas húmidas é maior nos climas áridos, onde podem

proporcionar sítios de refúgio e nidificação de muitas

espécies de flora e fauna que, se não fosse por elas, não

sobreviveriam, e, podem ser de importância crítica para as

pessoas e o seu gado.

Enquanto apreciamos as secções que se seguem, há uma

mensagem fundamental, é que TODOS vivemos numa bacia

hidrográfica. Esta faz parte da nossa morada: rua, número,

cidade, província e bacia! É por isto, que nos interessa a

todos a forma como se gere a nossa bacia. hidrográfica.

As actividades humanas podem conduzir a mudanças a longo

prazo na bacia, as quais serão boas ou más dependendo do

que façamos aos recursos naturais da bacia – no solo, na

água, nas plantas, nos animais – inclusive no ar. Alguns de

nós, envolvidos directamente nas zonas húmidas,

conhecemos muito bem as consequências negativas que as

águas residuais duma fábrica que se despejem numa corrente

podem ter na sua vizinhança imediata e na sua foz, ou o

efeito que causa as escorrências com concentrações elevadas

de nitratos e fosfatos procedentes de campos cultivados, ou

das águas negras não depuradas ou insuficientemente

depuradas, ou as águas da chuva contaminadas procedentes

de zonas urbanas que vão parar aos rios locais. É longa a lista

dos grandes e pequenos atentados as águas superficiais, e

tudo isso acaba a jusante.

Naturalmente, não são preocupantes só as ‘entradas’ nocivas

que se despejam nos canais de água; são também as muitas

alterações directas dos próprios canais – barragens,

canalizações de rios, extracção excessiva de água, introdução

de espécies invasoras, etc. –.

“Todos vivemos a jusante” é algo que quase todos podemos

dizer, mas desde uma perspectiva pessoal, local, nacional e

as vezes internacional, também devemos recordar, que todos

vivemos a montante de alguém. Boa parte do que fazemos a

nível pessoal ou profissional na nossa bacia repercutir-se-á,

positiva ou negativamente, em quem vive a jusante.

Algumas vezes, ‘jusante’ pode ser a uma grande distância e

os efeitos negativos podem viajar centenas, e até milhares de

quilómetros, e inclusive atravessar as fronteiras

internacionais. Em Janeiro de 2000, una barragem edificada

com escórias de uma mina da Roménia transbordou e

arrastou 100.000 metros cúbicos de efluentes que continham

cianeto perto de Zazar e Lápos. O penacho venenoso

escorreu até ao rio Szamos e depois ao rio Tisza e por último

ao Danúbio, atravessando no seu caminho zonas da Roménia,

Hungria, Sérvia e Bulgária. Nos quatro meses seguintes

foram produzidos três derrames noutras localidades, e os rios

levarão anos a recuperar a devastação que os derrames

causaram.

Contudo, não são só os acidentes que causam problemas

graves. A principal consequência do uso excessivo de

fertilizantes agrícolas em muitas partes da bacia do rio

Mississípi, não é só a de a água de muitos dos rios e

arredores da bacia ser imprópria para tomar banho e para

qualquer outra actividade recreativa, ou para beber, senão

que todos os verões aparece uma ‘zona morta’ no Golfo do

México, onde a bacia se encontra com o mar. As elevadas

concentrações de nitrogénio, no Golfo criam uma zona em

que os níveis de oxigénio são tão baixos, devido a grande

propagação das algas, que já não sustenta um ecossistema

normal e impede, por exemplo, as actividades de pesca

comercial de camarões e da pesca recreativa. Este ano, a

maior ‘zona morta’ alguma vez registada no Golfo, cobria

uma superfície de 21.000 quilómetros quadrados.

Temos visto, a interligação das bacias hidrográficas e que a

saúde das zonas húmidas dependem delas, e devemos

lembrar-nos a importância que essas zonas húmidas têm para

todos nós.

As funções hidrológicas das zonas húmidas

• Mitigação das inundações. Nos últimos anos, ocorreram

grandes inundações em todo o mundo, com a consequente

perda de vidas, bens e meios de sustento. Quase dois mil

milhões de pessoas vivem em zonas consideradas com

elevado risco de inundação. A inundação é um processo

essencialmente natural que desempenha um papel

fundamental na fertilização dos solos dos campos

aluvionares, e este ciclo natural sustentou os meios de vida

de seres humanos durante milénios, mas actualmente os

4- Dia Mundial das Zonas Húmidas 2009

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nossos conhecimentos de engenharia permitiram ‘aproveitar’

e isolar campos aluvionares com barragens, tubos, canais,

etc., com o resultado de que muitas cidades modernas e

importantes superfícies agrícolas estão assentes sobre esses

antigos campos aluvionares, ou seja, as zonas em que se

derrama naturalmente o excesso de água quando ocorrem

tempestades e grandes chuvas. Os cenários de devastação

provocados por inundações que a televisão nos mostra

regularmente ajudam-nos a recordar porque nos devemos

esforçar em restaurar os nossos campos aluvionares e contar

novamente com as funções de mitigação das inundações das

zonas húmidas.

• Recarga das águas subterrâneas. Como vimos

anteriormente, os aquíferos subterrâneos armazenam quase

97% da água doce líquida do planeta. Abastecem água

potável a uma quantidade de pessoas situada entre os mil e

quinhentos e três mil milhões, quer dizer, um quarto da

metade da população do mundo, e desempenham um papel

importante na agricultura de regadio. A ligação entre as

zonas húmidas e as águas subterrâneas é complexo e muito

variável segundo a zona húmida de que se trate, mas, falando

em termos gerais, podemos afirmar que muitas zonas

húmidas e fontes de água subterrâneas estão estreitamente

associadas. A recarga de alguns aquíferos depende quase

inteiramente da infiltração subterrânea da água de uma zona

húmida e, o inverso, a origem da água de algumas zonas

húmidas podem radicar de um aquífero. Também existem

algumas zonas húmidas que levam água a aquíferos ou que a

retiram deles, segundo a situação dominante em cada

momento. Qual o valor que tem este serviço de recarga? As

zonas húmidas de Hadejia-Nguru (Nigéria) desempenham

uma função essencial de recarga de aquíferos que a

população utiliza para abastecer de água as suas casas, um

serviço que valorizou 4,8 milhões de dólares dos EE.UU. ao

ano. De modo similar, o valor de armazenamento de água e

recarga do aquífero de um paúl de 223.000 hectares da

Florida valorizou em 25 milhões de dólares por ano.

• Armazenamento de água. As zonas húmidas (incluindo

os aquíferos subterrâneos e os poços de construção artificial)

são os armazéns de água doce do mundo. O que se pode

dizer mais? Devemos mantê-los estáveis, saudáveis e

precisamos de todos eles.

Funções ecológicas

• Aperfeiçoamento da qualidade da água. Se existe algo

que TODOS os seres humanos fazemos e que repercute nas

zonas húmidas é produzir lixo.

Fo t o : © i S t o ck ph o t o. c om /j p a19 99

Fazemo-lo de várias formas: introduzindo nas nossas vias de

água quantidades excessivas de sedimentos devido as nossas

práticas de uso da terra, enormes quantidades de nitrogénio,

fosfatos e, às vezes, pesticidas de escorrências agrícolas,

substâncias tóxicas da indústria (incluindo metais pesados),

descargas acidentais ou deliberadas, águas residuais

domésticas e águas negras tratadas deficientemente ou sem

serem tratadas. As plantas das zonas húmidas ajudam a fixar

os sedimentos e podem ser eficazes para suprimir o excesso

de nitrogénio e de fósforo; podem também eliminar em parte

os elementos patogénicos. As zonas húmidas construídas

especialmente, podem eliminar da água alguns metais

pesados e outros resíduos industriais, ou armazenar os

dejectos nos sedimentos até que se possam retirar em

condições de segurança. Para dizer a verdade, as zonas

húmidas são purificadores da água, mas, claro está, possuem

limites, e quando os ultrapassamos, danificamos a

capacidade dos ecossistemas das zonas húmidas para

funcionar com normalidade e prestar os múltiplos serviços

que usufruímos.

Dia Mundial das Zonas Húmidas 2009 - 5

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• Cultivo de plantas. Muitas espécies de plantas de água

doce vivem em extensas zonas geográficas. A planta aquática

mais famosa é, claro, o arroz, o alimento de base da metade

dos habitantes do mundo. Embora nenhuma planta aquática

que se dá naturalmente seja explorada à mesma escala que o

arroz, outras plantas aquáticas de água doce são utilizadas

como alimento de animais, e recolhidas para consumo

humano e utilizam-se como materiais de construção. O

excesso de nutrientes nas zonas húmidas pode fomentar uma

propagação excessiva de plantas que deteriore gradualmente

a saúde da zona húmida e cause a perda de alguns dos

serviços do ecossistema.

5

• Apoio a diversidade biológica. Em relação à sua

superfície total, as zonas húmidas continentais de água doce

possuem uma diversidade de espécies superior à dos

ecossistemas marinhos ou terrestres. Por exemplo, vejamos o

que sucede com os peixes: as zonas marinhas cobrem

aproximadamente 67% do planeta e as águas continentais só

1%; pois bem, estas albergam 40% das espécies de peixes do

mundo. Calcula-se também que entre 25% a 30% da

diversidade dos vertebrados se concentre nas zonas húmidas

à sua volta. Esta diversidade biológica é o que mantém em

funcionamento os nossos ecossistemas das zonas húmidas.

• Zonas de viveiro de peixes. Os viveiros de peixes são

importantes, especialmente nas zonas costeiras onde se

encontram os estuários e os oceanos. Diminuir o volume de

água que lhes chega, ou derramar contaminantes a partir das

nossas bacias hidrográficas, pode ter efeitos dramáticos nas

zonas de viveiro que são essenciais para a pesca marítima, a

nossa principal fonte de peixes. A diminuição dos

sedimentos arrastados pelos rios ao mar, muitas vezes devido

às barragens, também pode reduzir os ‘nutrientes’ que

asseguram a qualidade de importantes zonas de viveiro de

peixes marinhos. Os campos aluvionares das bacias

hidrográficas também possuem zonas de reprodução

essenciais para determinadas espécies de peixes de água

doce.

• Produção pesqueira. Ainda que as águas interiores só

proporcionem 10% das capturas mundiais de peixes, são

imprescindíveis para os meios de sustento de milhões de

pessoas, e nalguns países em desenvolvimento, constituem a

única fonte de proteínas. Dão emprego a mais de 50 milhões

de pessoas no mundo e oferecem possibilidades de pesca

recreativa a centenas de milhões. Na bacia do Baixo

Mekong, na Ásia, calcula-se que todos os anos se capturam e

consumem dois milhões de toneladas de peixes e outros

animais aquáticos, com um valor de dois mil milhões de

dólares. Os ecossistemas de zonas húmidas devem ter água

em quantidade e qualidade suficiente para sustentar esta

produção vital de alimentos.

5

5

5

5. A escassez da água 5 A água doce é o nosso recurso renovável máximo, cada vez

fala-se mais dos problemas de escassez da água nos canais de

TV ou nos jornais. Apesar de não as afectar directamente, a

maioria das pessoas estão conscientes que existe um

problema cada vez maior. No nosso planeta 2.500 milhões de

pessoas vivem em bacias hidrográficas abaixo de níveis, pelo

menos moderados, de tensão crónica relativamente à água –

mais de 40% da população mundial – e entre 1.000 e 2.000

milhões possuem elevados graus de escassez. A quantidade

de água que se retira ou se extrai dos sistemas de água doce é

35 vezes maior que há 300 anos e aumentou 20% por ano

desde 1960. Sabemos que não podemos continuar assim e,

contudo, a situação não está melhor: os prognósticos mais

recentes indicam que em 2025 até dois terços da população

do mundo poderá viver em zonas com problemas de água,

sendo provável que as mais afectadas sejam a Ásia

meridional, África e o Médio Oriente. Naturalmente, quem

padece mais nos países com problemas de água são,

normalmente, as pessoas desfavorecidas economicamente, ou

seja, os pobres do mundo.

6 - Dia Mundial das Zonas Húmidas 2009

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(w w w . da vi dr og e rs. c o. za ) F ot o: Da vid Ro g ers

A crise alimentar mundial encontra-se estritamente

relacionada com a escassez de água. Actualmente, a

agricultura utiliza 70% da água que retiramos das nossas

zonas húmidas e águas subterrâneas (e em alguns países

registam-se percentagens mais altas), a maior parte é usada

para rega. Embora só 17% dos nossos cultivos sejam de

regadio, essa percentagem produz 30% a 40% da colheita

agrícola mundial, como tal, não é provável que diminuam as

necessidades de rega. Ao aumentar a população mundial, o

desenvolvimento económico e a urbanização, esperara-se que

aumente a procura dos três principais consumidores de água

doce – a agricultura, a indústria e os utentes domésticos – e

que essas elevadas extracções de água produzam grandes

mudanças nos caudais dos rios essenciais para manter os

ecossistemas.

O que têm em comum os rios Colorado, Nilo, Indo, Murray-

Darling e Amarelo? São só alguns dos, noutros tempos,

poderosos rios que nos últimos anos nem sempre chegam ao

mar ou que, quando desaguam nele, chegam com um caudal

muito reduzido. Embora isso se deva a muitos factores, os

principais dessa escassez de água são a extracção excessiva

de água para a agricultura e a modificação física dos rios, por

exemplo, mediante a edificação de barragens.

Esta escassez de água e a competição por ela aumentam a

necessidade de um enfoque integrado de manobra da água e

das zonas húmidas que a transportam. Embora os governos e

as instituições de investigação estudem uma série de opções

que podem contribuir para encontrar soluções para

abastecermos todos, com uma oferta de água limitada

(mediante a recolha de água da chuva, técnicas de rega mais

eficientes, variedades de cultivos melhoradas, etc.), é urgente

gerir eficientemente a água que temos e recordar que um

elemento fundamental da solução são os ecossistemas das

zonas húmidas que captam, transportam, purificam e

libertam a água.

6

6. Os impactos das construções urbanas

6

Em 2005, A Avaliação de Ecossistemas do Milénio assinalou

que “até 2007, a nível global, os habitantes das cidades serão

mais numerosos que nas populações rurais” e existem outros

dados que confirmam. Os números mostram que nos países

de altos rendimentos, entre 70% a 80% da população vive em

cidades, esta situação está a reproduzir um desenvolvimento

nos países. Qual o efeito que a urbanização tem nas bacias

hidrográficas? 6

6

6

TERRAS URBANIZADAS

A chuva escorre mais rapidamente dos

lugares urbanos e suburbanos, pois possuem

níveis elevados de cobertura impermeável.

TERRAS NATURAIS

As árvores, as plantas e o solo ajudam a que

a água da chuva penetre, e travam a

escorrência nos lugares não urbanizados.

As árvores e outra vegetação

diminuem a força da chuva e

ajudam a reduzir a erosão

superficial

A água forma charcos

nas concavidades e

infiltra-se no solo

As raízes agarram

o solo e

minimizam a

erosão

A vegetação ajuda a

que se forme um solo orgânico

absorvente.

Água proveniente do pavimento

e dos telhados

A drenagem das

tempestades leva a

água directamente

para as vias de água.

As estradas actuam

como “ribeiras” que

recolhem a água das

tempestades e

canalizam-na para as

vias de água.

Os contaminantes recolhidos nas superfícies

impermeáveis diluem-se nas ribeiras, rios e lagos.

Fonte: LID (Low Impact Development) Factsheet, Office of Envi ronmental Health Hazard

Assessment, Cal /EPA. www.oehha.ca.gov/ecotox.html. Reproduzido com autorização

Dia Mundial das Zonas Húmidas 2009 - 7

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Já mencionámos o ciclo da água e a maneira como a água se

desloca constantemente entre a atmosfera, a terra e as vias de

água. As zonas urbanas tendem a interferir nesse ciclo

natural, sobretudo quando muitas delas, e algumas são

especialmente grandes, porque possuem grandes quantidades

de superfícies impermeáveis. As estradas, os edifícios, os

estacionamentos, as obras de construção, elementos típicos

das zonas urbanas, não deixam passar a água. Nas zonas

urbanas, a chuva concentra-se, em vez de se dissipar, como

acontece no campo. Para evitar inundações, canaliza-se a

água através de vias e drenagens de tempestades e acaba por

desaguar nas ribeiras ou nos lagos. Faz diferença, já que a

água termina nas nossas vias de água? Claro que sim, já que,

devido as superfícies impermeáveis, as águas urbanas da

chuva não podem infiltrar-se lentamente no solo, repondo a

água subterrânea ou desaguando lentamente nas ribeiras, nos

rios, nos lagos e nas zonas húmidas e, por outro lado,

canalizam muito rapidamente as correntes em grandes

volumes, causando erosão, grandes possibilidades de

inundação, alteração das correntes, repercutindo nas

populações de peixes a jusante, e nos outros elementos da

diversidade biológica. Nos lugares em que existe uma

cobertura vegetal natural, em média só 10% da água da

chuva se converte em escorrência superficial; numa zona

urbana, aumenta 50%.

Igualmente prejudiciais, são os contaminantes que inundam

as nossas ruas, provenientes das casas, das obras de

construção, das fábricas e oficinas, quando chove e passam

directamente para as nossas linhas de água. Um trabalho de

estudo intenso foi feito em Maryland (Estados Unidos) situa

o problema em perspectiva: “Nenhuma bacia com mais de

15% de cobertura impermeável — por exemplo, telhados,

estradas e estacionamentos — foi classificada de ‘boa’

situação biológica”.

Os problemas de quantidade e qualidade da água de uma

bacia hidrográfica devido a urbanização, agravam-se porque

os habitantes das cidades têm que estar ligados ao

abastecimento de água e redes de esgotos. Incluindo nos

países desenvolvidos, normalmente não se dá atenção

suficiente ao tratamento da água, e o resultado é o

consecutivo derrame de compostos tóxicos e a ameaça de

doenças transmitidas pela água. Nos países em

desenvolvimento, o problema é muito mais grave, e calcula-

se que 85% a 95% das águas negras são descarregadas

directamente nos rios, nos lagos e nas zonas costeiras. Nada

menos que 1.200 milhões de pessoas NÃO tem acesso a

serviços de saneamento.

Estas são algumas das principais repercussões nas bacias

hidrográficas associadas a terras urbanizadas e quase

TODAS afectam muito mais as pessoas que vivem a jusante

do que as pessoas que causam os problemas.

8 - Dia Mundial das Zonas Húmidas 2009

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.

7 7

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7

7. Quem lidera?

Quando analisamos a ligação das zonas húmidas dentro de

uma bacia hidrográfica, parece claro que o uso mais eficiente

é o que se faz à escala de uma bacia, embora frequentemente

apresente problemas administrativos nos planos nacionais, do

Estado, ou regionais. Quando pensamos no ciclo da água e

nas principais fontes de água doce para uso humano, vemos

que a bacia hidrográfica é a unidade geográfica e hidrológica

natural do uso dos recursos hídricos. Actualmente, aplicam-

se dois enfoques de gestão a esse nível, a Gestão Integrado

de Recursos Hídricos e a Gestão Integrada das Bacias

Hidrográficas.

No ponto de vista das zonas húmidas, é importa recordar que

estes dois enfoques resultam do sector da água e das suas

políticas. Que lugar ocupa neles as zonas húmidas, os

receptores de água do mundo cabem aqui? Ases vezes, não

encaixam em absoluto. E esse é o principal problema que se

apresenta a quem se ocupa das zonas húmidas. As zonas

húmidas são a infra-estrutura ‘natural’ de uma bacia, assim

quando planificamos algumas das infra-estruturas ‘não

naturais’ que utilizamos para gerir a água – barragens, tubos,

açudes, canais, etc. – temos que nos lembrar que podem (e

fazem-no regularmente) interferir no modo como funciona a

nossa infra-estrutura natural e que muitas vezes têm

consequências negativas nos serviços de ecossistema que se

fornecem as pessoas.

A Gestão Integrada dos Recursos Hídricos e a Gestão

Integrada das Bacias Hidrográficas, oferecem oportunidades

a nível das zonas húmidas de cada país de cooperar com o

sector da água, e o da terra para que se tenham em conta as

questões relativas às zonas húmidas quando se gere a água

das bacias. Do ponto de vista da Convenção de Ramsar,

talvez a Gestão Integrada das Bacias Hidrográficas seja o

mais conveniente porque em geral, supõe uma perspectiva

mais ampla, que tem em conta os serviços de ecossistema

fornecidos pela terra e a água das bacias, não só os próprios

recursos hídricos.

A gestão das bacias hidrográficas consiste nas actividades de

planificação e de execução, que devem realizar-se a

diferentes escalas – a nível nacional (e internacional nas

bacias hidrográficas transfronteiriças), da bacia hidrográfica

e a nível local ou da comunidade. Evidentemente, todos esses

níveis devem cooperar e garantir que um amplo leque de

interessados directos nessas actividades participe

activamente.

Afinal, quem lidera? Embora um governo nacional possa ter

o controle geral da gestão de uma bacia, há muitas mais

‘unidades de gestão’ que têm que possuir a capacidade,

financeira e humana, necessária para actuar ao níveis da

bacia, de sub-bacia e a nível local, e a todos esses níveis, os

gestores das zonas húmidas têm que intervir activamente

para que a planificação e a execução mantenham a

integridade das mesmas. Terão, inevitavelmente, que chegar

a compromissos entre as necessidades de água dos seres

humanos e as dos ecossistemas de zonas húmidas para

manter plenamente as funções destas, e aí é onde a

valorização económica dos serviços de ecossistema pode

apresentar argumentos de peso a favor das zonas húmidas.

A Convenção de Ramsar irá debater uma Resolução e umas

novas linhas sobre o uso das bacias hidrográficas, dirigidas

especificamente ao sector das zonas húmidas, cujo propósito

será preparar o pessoal das zonas húmidas para cooperar

eficazmente com os sectores da água e da terra na gestão dos

recursos hídricos, de forma a respeitar o papel fundamental

das zonas húmidas no ciclo da água e, deste modo, o seu

papel na manutenção dos recursos hídricos, ao mesmo tempo

que se reconhecem os muitos serviços de ecossistema vitais

que exigem que os ecossistemas de zonas húmidas estejam

em bom estado de saúde.

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8. Desafios transfronteiriços

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A água das bacias hidrográficas tem que ser partilhada nos

seus usos (regadio, necessidades das indústrias, consumo

doméstico, etc.) e os seus utilizadores, por exemplo, as

administrações locais, regionais e nacional de um país.

Calcula-se que 263 bacias atravessam fronteiras

internacionais de 145 países, de modo que, para esses países,

a partilha mencionada deve aplicar-se também a nível

internacional. A Europa tem a maior quantidade de bacias

inter-nacionais (69), seguida da África (59), Ásia (57),

América do Norte (40) e dos Neotrópicos (38). Essas bacias

cobrem 45% da superfície terrestre do planeta, afectam 40%

dos habitantes do mundo e corresponde pelo menos a 60%

dos caudais dos rios, de modo que têm uma importância

enorme no que se refere à gestão da água mundial.

Ao se ter reconhecido e analisado, a escassez da água durante

a última década, muito se tem dito sobre os potenciais

conflitos, e inclusive guerras, pelos sistemas de água

partilhados. Apesar disso, a realidade indica que, a tendência

para a interacção cooperativa é muito maior, do que para o

conflito. Segundo um estudo, nos últimos 50 anos, foram

identificadas 1.200 interacções cooperativas nas bacias

partilhadas, frente a 500 conflitos sem guerras declaradas, e

somente 37 incidentes de conflitos violentos (30 dos quais

ocorreram entre um país determinado e os seus vizinhos). Na

segunda metade do século XX, foram negociados e assinados

295 acordos internacionais relativos a água. Esta é uma boa

notícia. Apesar disso, os problemas que envolvem a gestão

eficaz das bacias transfronteiriças são imensos, e há poucos

exemplos de sucesso total, apesar de muitos serem de

avanços significativos. Caracterizar os êxitos é o grande

compromisso no tempo e entradas financeiras – medido em

décadas e milhões – para que seja possível avançar.

É a magnitude do problema o que normalmente o torna tão

difícil de solucionar. A bacia do Danúbio cobre na Europa

mais de 800.000 km2, com uma população de 81 milhões de

pessoas e abrange no total ou em parte 17 países; o rio

Danúbio corre ao longo de 2.780 km. Os 13 principais países

assinaram a Convenção do Danúbio em 1994 e, através dela,

estabeleceu-se a Comissão Internacional para a Protecção do

Rio Danúbio (ICPDR), cujo objectivo é assegurar a gestão

sustentável e equitativa dos recursos hídricos e de água doce

existentes na bacia, no contexto da Directiva no sector da

água da União Europeia. Dentro desta enorme bacia há três

sub-bacias, nas quais também existem acordos entre países e

planos de ordenamento em vigor. Mesmo com estes

mecanismos jurídicos e políticos firmes para garantir a

gestão cooperativa, os avanços, ainda que positivos, são

lentos.

A bacia do rio Mekong cobre partes da China, Myanmar e

Vietnam, quase um terço da Tailândia e a maior parte do

território do Camboja e da RDD Lao – no total, a sua

superfície ascende a 795.000 km2 e a sua principal via de

água, o rio Mekong, tem 4.800 km de longitude. Em 1995

criou-se a Comissão do Rio Mekong mediante um acordo

entre os governos do Camboja, a RDP Lao, Tailândia e

Vietnam, enquanto a China e Myanmar actuaram como

associados no diálogo. Alcançaram-se progressos

consideráveis, mas os problemas gerais continuam a ser

consideráveis. A bacia do Nilo cobre 10 países, mais de três

milhões de km2 e alberga mais de 360 milhões de pessoas e

o rio Nilo, o mais longo do planeta com os seus 6.695 km.

Em 1995, colocou-se em marcha a Iniciativa da Bacia do

Nilo, a qual conta com um conselho ministerial, na que

participam todos os países ribeirinhos do rio, e continuam a

trabalhar em questões relativas ao ordenamento sustentável.

Os Sítios Ramsar Transfronteiriços (SRT) que foram

designados actuam a escala muito menor, mas sem deixar de

possuir benefícios de importância para as zonas húmidas. Em

virtude da Convenção, os países membro comprometeram-se

a consultarem-se quando uma zona húmida se estende por

cima de fronteiras nacionais e alguns países aproveitaram a

oportunidade para designar conjuntamente os seus sítios

Ramsar ou partes de um único sistema de zonas húmidas

como SRT, para assinalar o seu compromisso de colaborar na

gestão de toda a zona húmida. O primeiro SRT foi designado

pela Hungria e Eslováquia em 2001 e desde então já foram

mais sete. Ainda que isto não resolva a questão do uso

racional das zonas húmidas à escala das bacias, ajuda ao uso

transfronteiriço das zonas húmidas dentro das bacias

hidrográficas.

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Na aplicação da Directiva face ao sector da água da União

Europeia, um enfoque de toda a União de gerir a água ao

nível das bacias, a participação dos cidadãos é uma

obrigação, não uma opção. Definida em três níveis –

comunicação de informação, consultas e participação activa

– devem-se assegurar os dois primeiros e encorajar o

terceiro.

Normalmente, as duas primeiras obrigações têm como

destinatário principal os cidadãos em geral, o grupo mais

amplo que envolve a todos os que vivem nas bacias. As

páginas Web, a televisão, os jornais, as feiras locais e as

reuniões, são instrumentos de comunicação habituais que

deram bons resultados relativamente a manter os cidadãos

informados e consultá-los sobre as questões da actualidade

relativas a gestão das bacias.

9. A necessidade de que todos

participemos

9

9

9 9 9

Fonte: Learning together to manage together – improving participation in water

management, de harmóniCOP; ilustração de Michael Friedrich.

Reproduzido com autorização.

Como todos vivemos numa bacia hidrográfica nalgum

lugar, deveríamos participar na sua gestão? Nos sítios

Ramsar, abundam as provas da intervenção dos

interessados do lugar na sua gestão e no das outras zonas

húmidas do mundo. Embora levante muitos problemas,

produz-se a uma escala muito diferente em termos de

participação dos interessados ao nível das bacias. Porque

deveriam os interessados directos participar em qualquer

uma delas? Porque gerir de cima a baixo, sem ajuda da

ampla gama dos utentes, normalmente está destinado ao

fracasso, como aprendeu a Convenção de Ramsar nos 37

anos que leva dedicada a conservação de zonas húmidas.

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A participação activa supõe um enfoque da adopção de

decisões em que a colaboração é muito maior e, claro

está, leva muito mais tempo e é mais cara. É este nível de

participação o que está dirigido normalmente aos

interessados fundamentais e às ONGs. Dito isto, o que é

exactamente um interessado? Uma definição muito

utilizada é a que diz que se trata de uma pessoa, um

grupo ou uma organização que tem interesse numa

questão porque o afectará ou porque pode influenciar

nos resultados. Segundo isto, em muitas bacias

considerariam-se interessados fundamentais os dirigentes

da população, os agricultores, os pescadores, os

industriais, as autoridades locais encarregues da água e

das zonas húmidas, etc.

As tarefas são consideráveis, ainda que seja só porque

muitos interessados regularmente possuem um

conhecimento escasso da complexidade das bacias

hidrográficas, à parte dos que adquiriram por experiência

própria, o qual faz que seja difícil, mas essencial,

conseguir que todo o mundo chegue a um mesmo nível

de compreensão.

Apesar das tarefas serem grandes, também os benefícios

o são – há tantos ‘utilizadores’ da água nas bacias, que

alcançar um entendimento e uma apreciação comuns da

diversidade das necessidades, dar satisfação às distintas

expectativas e assegurar um processo facilitado que

permita aos interessados chegar a um acordo em volta de

soluções de gestão, demonstrou valer a pena – e a menos

que não se deixe ninguém de fora, é provável que

qualquer plano de gestão tropece com problemas de

aplicação.

Em vários projectos experimentais de gestão de bacias

hidrográficas em curso na União Europeia não foi

questionada em nenhum momento a participação dos

interessados, que se espera que faça parte do processo.

As ‘lições aprendidas’ sobre essa participação,

coincidem com as de outras avaliações similares:

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1. A boa participação leva tempo, temos que começar cedo!

2. Há que adquirir e compartir o sentimento de identificação com a bacia.

3. Há que estabelecer e manter relações de confiança com os associados.

4. Deve-se efectuar um “inventário” dos interessados para conhece-los melhor a eles e aos seus interesses.

5. Aprender com os erros é tão importante como compartilhar os êxitos.

6. Escutar é tão importante como falar.

7. Há que defender a causa com paixão, porque a paixão convence.

8. Há que cooperar com os outros e alcançar uma visão comum da bacia, a fim de situar o plano de gestão no

contexto apropriado.

9. Ninguém pode faze-lo sozinho. A verdadeira parceria leva à responsabilidade compartilhada e adopção de

decisões para acções compartilhadas.

10. Onde existam outras culturas e tradições, haverá que aceitar as mensagens fundamentais e adapta-las às suas

necessidades.

A gestão das bacias hidrográficas não é algo novo e há muitas experiências, boas e más, que servem para orientar as

actuações hoje em dia, com instrumentos de eficácia demonstrada para investigar quem são os interessados

fundamentais e resolver a sua participação na planificação e a execução da gestão. Pode levar muito tempo e ser muito

caro, mas a experiência tem demonstrado que sem ele é impossível gerir eficazmente uma bacia, e os amigos das

zonas húmidas locais podem ver como os seus esforços são inúteis se não gerirem com eficácia a bacia de que fazem

parte.

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F ot o: © iS t o c kp ho t o . co m/ LU GO

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O desafio do Dia Mundial das Zonas Húmidas 2009

Para que estas notas informativas fossem de leitura relativamente fácil, talvez tenhamos simplificado em

excesso a complexa situação das nossas bacias hidrográficas relativamente à água, as zonas húmidas e a sua

gestão, e não nos foi possível tratar em detalhe algumas questões. O que fizemos foi enfatizar que as ameaças

que estão sobre as bacias são diversas e que implicam forçosamente ameaças para as distintas zonas húmidas.

É certo que temos um problema mundial de água doce, que vai agravar-se nas próximas décadas. Também está

claro que gerir melhor as nossas bacias hidrográficas e as suas zonas húmidas é uma parte importante da

solução. Este é o desafio do Dia Mundial das Zonas Húmidas. Depois de ter lido estas poucas páginas, o que

pode Você fazer para melhorar a bacia hidrográfica de que depende?

Nestas nove secções, poderá ver-se a si mesmo: pescador, agricultor, família, dono de uma fábrica, pessoa

encarregue da tomada de decisões no sector das zonas húmidas, a água, ou o desenvolvimento do sector,

director de uma zona húmida, político, habitante de uma cidade ou interessado de qualquer outro tipo. O que é

que você faz pessoalmente, ou no seu trabalho quotidiano, prejudicial para a sua bacia hidrográfica? E o que

pode fazer para ajudar a que seja mais eficaz a gestão da bacia em que vive?

Fazer frente às inundações e às secas, diminuir os efeitos das espécies invasoras, combater a entrada de

contaminantes nas linhas de água com políticas correctas, adoptar decisões acertadas sobre a extracção de água

para a agricultura, controlar o desenvolvimento negativo de infra-estruturas, avaliar as consequências do

desenvolvimento urbano nas linhas de água, controlar a colheita de produtos das zonas húmidas, utilizar mais

eficientemente a nossa água, cooperar com os países vizinhos nas bacias partilhadas, são só algumas das

tarefas que devemos estabelecer nas bacias hidrográficas e, também, são oportunidades que todos temos para

encontrar soluções com os nossos próprios esforços, as nossas organizações de cidadãos e os nossos

representantes eleitos por votação.

Enfrentar estes desafios com todas as possibilidades de actuar que se oferecem, ajudá-lo-á a si e a outras

pessoas a gerir com mais eficiência a sua bacia hidrográfica, e todas as zonas húmidas existentes no seu

interior. Um resultado natural da gestão eficaz serão umas zonas húmidas sãs, mas há muito mais a fazer.

E o que fazer para remediar algumas das agressões que cometemos antigamente contra as zonas húmidas?

Segundo muitos especialistas, a restauração das zonas húmidas muito degradadas ou inclusive destruídas é uma

medida essencial para fechar a “lacuna de água doce”, a diferença entre o que temos e o que necessitamos

agora e necessitamos no futuro, e garantir a prestação constante dos serviços de ecossistema de que

dependemos.

Vamos enfrentar o desafio!

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A missão da Convenção Ramsar consiste em

“a conservação e o uso racional de todas as zonas húmidas

mediante acções locais, regionais e nacionais e graças

à cooperação internacional, como contribuição

para o resultado de um desenvolvimento

sustentável em todo o mundo”

.

Para conhecer melhor a Convenção de Ramsar e o trabalho que realiza, visitem o website

da Ramsar, administrado pela Secretaria da Ramsar que é actualizado todos os dias:

www.ramsar.org

Por favor enviem as suas informações de actividades do Dia Mundial das Zonas Húmidas a

wwd@ ramsar.org

Secretaria da Convenção de Ramsar

Rue Mauverney, 28

1196 Gland, Suiza

Tel: +41 22 999 0170

Fa x: +41 22 999 0169

e-mail: [email protected]