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8/3/2019 Dedos com Música - Maria Teresa Maia Gonzalez http://slidepdf.com/reader/full/dedos-com-musica-maria-teresa-maia-gonzalez 1/8 Maria Teresa Maia Gonzalez Dedos com Música Livros Horizonte, 20007, Lisboa Dedos com Música «Serei eu uma harpa para que a mão do Todo-Poderoso me possa tocar, ou uma flauta para que o seu sopro passe através de mim? Sou apenas um buscador de silêncios. E que tesouro encontrei nos meus silêncios para poder distribuir confiadamente?» Khalil Gibran, O Profeta * * I Sons mágicos Sara andava feliz: o dia do seu aniversário estava muito próximo. Ia fazer sete anos!

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Maria Teresa Maia GonzalezDedos com Música 

Livros Horizonte, 20007, Lisboa

Dedos com Música

«Serei eu uma harpapara que a mão do Todo-Poderoso

me possa tocar,

ou uma flauta para que o seu sopropasse através de mim?

Sou apenas um buscador de silêncios.E que tesouro encontrei nos meus silêncios

para poder distribuir confiadamente?»

Khalil Gibran, O Profeta

* *

I Sons mágicos

Sara andava feliz: o dia do seu aniversário estava muitopróximo.

Ia fazer sete anos!

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A mãe e o pai já lhe tinham perguntado que presente gostaria

de receber, mas Sara, apesar de ter muitas ideias sobre o que adeixaria contente, ainda não se decidira...

Fizera uma lista com algumas das coisas interessantes que

sonhava vir a ter: uns sapatos de ténis azuis que vira na montra dasapataria do seu bairro; uns patins para ir até ao parque patinar com

os vizinhos da sua idade; um estojo bem grande com tintas de todasas cores e pincéis de vários tamanhos para fazer belas pinturas...

Havia tantas coisas bonitas que a escolha era difícil.Um dia, ao regressar da escola com o primo mais velho, que já

tinha dez anos, passou pela igreja paroquial, que ficava ao fundo da

rua onde morava, e ouviu um som maravilhoso que voava até aos seusouvidos, convidando-a a aproximar-se...

Então, Sara disse ao primo que tinha de entrar na igreja nem

que fosse só por um instante, para ver de onde vinha aquela músicatão bonita que quase a fazia voar.

O primo lá lhe disse que a esperaria cá fora, no passeio, epediu-lhe que se despachasse, pois já eram horas do lanche e ele

tinha barriga a pedir um copo de leite com chocolate e uma tostacom a compota que a avó fazia.

Sara subiu muito depressa os degraus e, depois de fazeralguma força para conseguir abrir a porta da igreja, entrou...

A música ouvia-se agora muito melhor e vinha lá da frente, do

lado direito do altar-mor.Sara já ali tinha estado várias vezes, mas nunca tinha ouvido

aquela música, só a que era cantada pelo coro dos jovens nas missasde domingo. Começou, então, a caminhar pelo corredor central,

sobre uma passadeira muito comprida, de cor vermelha.Ao chegar lá à frente, viu que estava uma senhora a tocar no

uma música que, com certeza, vinha do Céu, porque ela ainda não a

conhecia, mas era linda e fez sorrir o Bebé que estava na gruta, aocolo da Mãe.

Como era bom tocar para Jesus!

Na verdade, Sara até podia tocar de olhos fechados, que não seenganaria, porque os seus dedos sabiam todas as notas de cor! Eram

mesmo dedos com música!

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Depois, fez descer as mãos sobre o teclado e começou a tocar

para surpresa de todos...

VI – Um sonho fantástico

Naquela noite de 25 de Dezembro, confortavelmente deitadana sua cama, Sara sonhou que tinha viajado até à pequena cidade de

Belém e estava a chegar à gruta onde Jesus tinha nascido...

No Céu, sobre a gruta, junto de uma estrela muito brilhante(igual à que estava na árvore de casa dos avós), dois anjos

magníficos tocavam flauta para festejarem o nascimento de Jesus.E que bem que eles tocavam! Dava até vontade de cantar!

Então, Sara reparou que à sua frente havia um piano e foisentar-se para tocar. E a menina tocou — tocou a noite inteira —

órgão que Sara já ali vira, mas não sabia como soava.

A senhora que estava a tocar — e tinha olhos azuis e o cabeloquase todo branco — não reparou que Sara estava ali, maravilhada, aouvi-la; assim, continuou a tocar, muito concentrada.

Sara sabia que não podia demorar-se, pois o primo estava láfora no passeio, à sua espera, mas não conseguia ir-se embora.

Simplesmente não conseguia! Era como se aquela música não adeixasse mexer.

A certa altura, deixou-se cair lentamente no chão, ao lado doórgão, poisou a mochila ao pé de si e ficou a ouvir aquela melodia tãobonita até a organista parar de tocar.

O tempo do ensaio da senhora de cabelo branco tinha chegado

ao fim e foi só quando se levantou que reparou na menina sentada nochão, ainda de olhos fechados, lembrando os sons mágicos que lhetinham entrado pelos ouvidos e descido até ao coração.

A organista admirou-se de ver ali Sara e tossicou duas vezespara ela lhe dar atenção.

Finalmente, Sara abriu os olhos e, vendo a senhora, levantou-se

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à pressa, pegou na mochila e achou que tinha de dizer alguma coisa,

talvez pedir desculpa, mas só conseguiu dizer:— A sua música é a mais bonita que eu já ouvi! É a mais bonita

do mundo!

A senhora sorriu-lhe e agradeceu com o sotaque de um paíslongínquo:

— Obrigada. Fico contente por teres gostado. Mudei-me hápouco tempo para este bairro e nunca tinha tocado aqui. — Depois,

vendo que Sara se aproximava do órgão para observar as teclas,perguntou-lhe: — Gostavas de aprender a tocar?

— Muito! — exclamou a menina, sem deixar de olhar para

aquelas teclas fantásticas; então, quis saber: — Como é que a músicasaiu daqui?

— Como te chamas? — perguntou-lhe, então, a senhora, pondo-

-lhe a mão direita sobre o ombro.— Sara. E vou fazer sete anos no dia dezasseis de Abril.

— Pois então, Sara, o mais importante é saberes que a músicaque sai de um órgão, de um piano ou de uma viola nasceu no Céu.

— No Céu?! — admirou-se a menina.— No Céu. Ela desce, invisível, pelo ar, e só quem gosta dela de

verdade é que pode tocá-la.Sara estava muito surpreendida e, entusiasmada, quis saber:— E onde é que eu posso aprender a tocar? A senhora voltou a

sorrir e contou:— Chamo-me Helga. Nasci na Alemanha, onde também nasceram

grandes compositores como Bach, Beethoven, Mendelssohn, RobertSchumann... E dou aulas de piano, em minha casa, a quem quer

aprender. Mas é preciso querer mesmo aprender!— Esses nomes que disse são de pessoas que também ouviram a

V – O Natal

Finalmente, chegou o dia 25 de Dezembro, o dia mais bonito doano!

Sara e os pais foram almoçar a casa dos avós, onde já estavam

os tios, o primo e uma prima mais velha que vivia sozinha num bairroantigo da cidade.

Foi o avô quem veio abrir a porta, e logo se sentiu um cheiro

muito agradável aos doces de Natal: sonhos, rabanadas, filhós...Durante o almoço, Sara mal conseguiu comer o peru assado, tão

ansiosa estava para o momento que se seguiria à sobremesa. Os seus

olhos castanhos e bonitos brilhavam ainda mais do que as velas que aavó colocara sobre a mesa.

A mãe reparou que ela estava distraída, mas não lhe disse nada,porque sabia que aquele era um dia muito importante para Sara.

Quando os adultos se sentaram nos sofás para tomarem café ouchá, Sara foi sentar-se ao piano da avó e, então, fez-se silêncio nasala.

Do lado direito do piano, estava a árvore de Natal que a avótinha enfeitado com bolas, fitas coloridas e uma estrela dourada.

Debaixo da árvore, como era costume, estava o Presépio, jáantigo e muito bonito, com as figuras que representavam a Sagrada

Família: Jesus, Maria e José.Então, a menina olhou para o Menino Jesus e sorriu, dizendo-lhe

em pensamento “Vou tocar esta música especialmente para Ti,

porque, hoje, Tu fazes anos”. E quase pareceu a Sara que o Meninodo Presépio também lhe sorriu, mas achou melhor não dizer a

ninguém, porque talvez não acreditassem.

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pela primeira vez, para a família, em casa dos avós.

Esperava que todos gostassem de a ouvir — tanto como elagostava de tocar!

Haveria de surpreendê-los. Para isso andava a praticar com

tanto esforço, em casa da professora Helga, de quem se tornaramuito amiga.

música descer do Céu?

— Precisamente! Foram grandes músicos e deixaram-nosescritas as suas obras para nós também as tocarmos o melhor queformos capazes.

Neste momento, Sara olhou para o corredor central da igreja eviu o seu primo com cara de zangado. Então, teve de despedir-se:

— Gostava de saber mais sobre música, mas tenho de ir paracasa, que o meu primo está à minha espera...

Helga avisou-a, então, de que estaria novamente ali na igreja nodomingo seguinte, a tocar na missa do meio-dia, e que gostaria devoltar a vê-la e talvez conversar com a sua mãe ou o seu pai.

Sara sorriu, disse-lhe adeus com a mão e, por fim, seguiu oprimo, que morava no mesmo prédio onde ela morava com os pais.

II Os dedos de Sara

No domingo, depois da missa, Sara aproximou-se da organistade cabelo branco e, ao vê-la, a mãe seguiu-a.

Então, depois de fechar a tampa de madeira sobre o teclado,Helga começou a falar com a mãe de Sara sobre as aulas de piano.

A certa altura, a mãe de Sara olhou para ela e perguntou-lhe:— Queres mesmo aprender a tocar?

— Quero! — apressou-se a menina a responder. Em seguida,muito animada, pediu: — Posso começar amanhã?

— Amanhã ainda não — disse-lhe a mãe. — Primeiro, precisamos

de falar com o pai sobre este assunto. Mas tudo se há-de resolver.Mãe e filha despediram-se da organista e encaminharam-se

para a porta da igreja. Sara ficou a olhar para trás durante algum

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tempo, enquanto seguia de mão dada com a mãe, sorrindo para Helga.

Na verdade, estava mesmo desejosa de começar a aprender a tocartão bem como ela.

Naquela tarde, em casa, Sara foi para o seu quarto e sentou-se

na cama a pensar na sua primeira aula de piano. Estava tão ansiosapor começar a aprender que era só nisso que pensava!

A certa altura, esticou os braços para a frente e fechou osolhos...

Então, imaginou que tinha à sua frente um piano como o quehavia em casa da avó ou um órgão como o que ela conhecia da igrejaparoquial.

Depois, sempre de olhos fechados, animou-se e pôs-se a mexeros dedos. Ora, aconteceu então que, como se fosse por magia,

começou a ouvir notas... Notas de música! Como as que saíam dos

instrumentos verdadeiros!Primeiro, saiu um dó, que vinha um pouco rouco; depois, um ré;

em seguida, saiu um mi, mais decidido; logo a seguir, ouviu um fá, umsol muito feliz, um lá, um si que subiu até ao tecto e, por fim, um

outro dó, desta feita mais agudo do que o primeiro que saíra do seupiano-fantasma.

Depois de ouvir toda a escala musical, Sara abriu os olhos eolhou para as suas mãos.

Estava maravilhada! A música parecia mesmo ter saído dos seus

dedos! Seria que os seus dedos tinham realmente música lá dentro,música nascida no Céu?!, perguntava-se ela, muito admirada.

Mais tarde, um pouco antes do jantar, quando os familiaresapareceram em sua casa, Sara chamou o primo até ao quarto e,

sentando-se outra vez na cama, disse-lhe para ficar em silêncioabsoluto.

IV – As aulas de piano

As aulas de piano com a organista Helga tornaram-se osmelhores momentos da semana para Sara. Não faltava a nenhuma,mesmo quando lhe doía a cabeça ou estava cansada.

A sala de piano de casa da professora era um mundo mágico

onde Sara entrava para se transformar, aos poucos, numa pianistade verdade. Lá, ela sentia-se mesmo bem, melhor do que num grandearmazém de brinquedos ou numa loja de chocolates!

Era uma sala grande, cheia de livros de música e partituras portoda a parte. Ao centro, o piano brilhava, esperando pelos dedoslongos e esguios de Sara...

Quando cada aula terminava, Sara queria sempre ficar maisalgum tempo ao piano, às vezes imaginando apenas que estava a tocar

num concerto para muitas pessoas. Então, por uns momentos,fechava os olhos em silêncio e, do fundo do coração, desejava muito

tocar músicas que só os anjos conheciam... Músicas que ainda nemtinham descido do Céu.

Quando chegou o mês em que se festeja o Natal, a professora

Helga disse:— Temos mais duas aulas para ensaiares a música que vais tocar

para a tua família, no dia vinte e cinco. Quero que te concentres,Sara, para não te enganares.

E a menina lá se pôs a ensaiar, com toda a atenção, a música quea professora lhe tinha ensinado a tocar no piano.

Ao seu lado, no chão, o gato de Helga assistia ao ensaio,

parecendo encantado com aquela música.Em casa, depois de fazer os deveres da escola, Sara deitava-se

sobre a cama e punha-se a pensar no grande dia em que iria tocar,

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bateram palmas.

Em seguida, os avós, os tios e o primo de Sara foram entregar--lhe os presentes, que ela agradeceu, muito contente.

Eram coisas de que Sara gostava muito: o primo ofereceu-lhe

uma caixa de chocolates recheados de avelãs; a tia, que eraprofessora, deu-lhe um livro com a história de uma menina que tinha

o seu nome — Sara; os avós tinham-lhe comprado uns patins e umestojo com material de desenho e pintura...

Por fim, os pais aproximaram-se e a mãe deu-lhe a notícia queela mais queria ouvir:

— Amanhã, começam as tuas aulas de piano, filha... Espero que

gostes!— E que venhas a ser uma grande pianista — acrescentou o pai.

Muito feliz com a surpresa que a mãe lhe prometera, Sara deu

um abraço apertado aos pais e prometeu que, dentro de poucotempo, haveria de tocar para eles.

No final do dia, antes de regressar a sua casa, o primo de Sarafoi ter com ela e perguntou-lhe ao ouvido:

— Ainda ouves música a sair dos teus dedos?— Às vezes — respondeu ela em voz baixa para mais ninguém

ouvir. — Mas, a partir de amanhã, a música que vai sair dos meusdedos toda a gente a vai ouvir! Toda a gente!

Depois, esticando os braços para a frente, pôs-se outra vez a

mexer os dedos, como fizera quando estava sozinha.Então, fez soar o dó, o ré, o mi e as restantes notas da escala

musical até à última. No fim, perguntou ao primo:

— Gostaste?O primo não percebeu a pergunta de Sara e quis saber:

— Gostei de quê? De te ver a mexer os dedos como seestivesses a tocar piano?...

Sara compreendeu, então, pela cara do primo, que ele não tinhaouvido o mesmo que ela. No entanto, ainda com alguma esperança,

perguntou-lhe:— Não ouviste nada?— Não. O que é que querias que eu tivesse ouvido?! Tens as

mãos no ar!— Nem uma só nota?! — insistiu ela, um pouco desolada.

— Nada, já disse — e, virando costas, saiu do quarto da prima,

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achando que, decididamente, não compreendia nada das brincadeiras

das raparigas, que, às vezes, eram muito estranhas.Sozinha no quarto, a menina foi até à janela e encostou-se ao

parapeito.

Estava um pouco triste por descobrir que só ela podia ouvir asnotas do seu «piano invisível», mas, passado um momento, sorriu,

porque se pôs a sonhar acordada: em breve, iria começar a aprendera tocar num piano daqueles que toda a gente vê, dos que têm cor

preta, umas teclas claras e outras escuras, e um tampo de madeira.Nessa altura, o primo, os pais, os avós e tios, todas as pessoaspoderiam, certamente, ouvi-la tocar. E como seria bom que isso

acontecesse bem depressa!Naquela noite, depois de as visitas terem saído, Sara regressou

ao seu quarto e, antes de adormecer, a mãe veio dar-lhe um beijo.

— Estavas muito pensativa ao jantar, Sara — disse-lhe.— É que eu queria começar a aprender a tocar piano o mais

depressa possível — respondeu ela. E confessou: — Não consigopensar noutra coisa, mãe! Deve ser tão bom!

A mãe sorriu e aconchegou-lhe o lençol.— Gostavas mesmo de aprender a sério?

— Gostava muito! Até podia ser o meu presente de anos,começar as aulas de piano!

Sara estava verdadeiramente entusiasmada, bem se via.

— Bem, vou pensar no assunto — disse-lhe a mãe. — Hum... achoque gostava de ter uma pianista na família... Mas terás de praticar

muito para vires a tocar bem!— Por mim, posso até praticar todos os dias — apressou-se

Sara a responder.— Agora, são horas de dormir. Boa noite! Sonha com o teu

piano... — E, dizendo isto, a mãe apagou a luz do candeeiro e saiu do

quarto, agora só iluminado pelo luar que entrava pela janela.Demorou algum tempo a adormecer, ao contrário do que era

habitual. Então, Sara teve um sonho maravilhoso: estava sentada

num banquinho redondo, a tocar num piano todo branco que tinha oseu nome escrito em letras grandes. Ora, quando começou a tocar as

notas mais agudas, sentiu-se subir no ar, tocando sempre, atéchegar perto de uma nuvem onde brincavam dois anjos pequeninos,

com as suas asas feitas de penas macias e tão brancas que atébrilhavam ao luar.

Que divertido que era estar tão perto dos anjos! Devia ser

mesmo bom viver naquele lugar!Então, enquanto tocava, Sara perguntou-se se Deus estaria

também a ouvir a sua música e, pensando nisto, sorriu, muito

contente.

III – A festa de anos

Finalmente, chegou o dia 16 de Abril! Era o dia do aniversáriode Sara, que, desde manhã cedo, começou a pensar na sua festa.

Quando foi acordá-la, a mãe deu-lhe um beijo e prometeu-lheuma surpresa para mais tarde. Então, Sara ficou ainda mais

entusiasmada. Sabia que os pais tinham sempre uma boa surpresapara ela no dia dos anos. O que seria, desta vez?

À hora do lanche, toda a família se reuniu à volta da mesa. A

mãe de Sara foi à cozinha buscar o bolo de anos onde estavamdesenhadas algumas notas de música. Então, acendeu as velas e

todos cantaram os parabéns. Depois, Sara apagou as velas e todos