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RODRIGUEZ, A. Ensaios Filosóficos, Volume VIII Dezembro/2013 Derrida e o problema de uma "nova Internacional" A herança marxista da desconstrução e a ética da hospitalidade Daniel Arbaiza Rodriguez 1 Resumo O presente artigo irá abordar a última etapa do pensamento de Jacques Derrida, no que tange à noção de uma "nova Internacional" e sua relação intrínseca com um novo cosmopolitismo e uma democracia por vir e que possuem como motor uma meta-ética da hospitalidade. Para tal, será levado a cabo uma análise de outros conceitos que estão em relação com esta noção de modo a melhor elucidar o problema. O artigo se divide em duas partes, aonde serão abordados em um primeiro momento e de modo bem sucinto as noções de desconstrução, herança e espectro; e posteriormente, iremos nos concentrar na relação entre cosmopolitismo e democracia por vir, hospitalidade e a "nova internacional". Palavras-chave: Nova Internacional. Hospitalidade. Cosmopolitismo por vir. Résumé L'article se concentrera dans la dernière étape de la pensée de Jacques Derrida, au sujet de la notion d'une « nouvelle Internationale » et sa relation intrinsèque avec un nouveau cosmopolitisme et d'une démocratie qui sont à venir et qui possèdent comme moteur une méta- éthique de l'hospitalité. Pour cela, nous irons mener à bien une élucidation d'autres concepts qui sont en relation avec cette notion afin de mieux élucider le problème. L'article est divisé en deux parties, où ils seront abordés dans une premier moment et de manière très succincte les notions de déconstruction, de héritage et de spectralité, et par la suite, nous irons nous concentrer sur la relation entre le cosmopolitisme et la démocratie qui sont à venir, l'hospitalité et la « nouvelle Internationale. Mots-clés: Nouvelle International. Hospitalité. Cosmopolitisme à venir. Introdução Em 1993 Derrida publica seu livro intitulado Spectros de Marx, que possui como subtítulo "O Estado da dívida, o trabalho de luto e a nova internacional"; ele deve ser lido como um duplo genitivo, subjetivo e objetivo: espectros do marxismo e do comunismo que nos assombram e o trabalho reativo do luto, de uma conjuração política do retorno subversivo de um espírito de Marx; há também uma referência aos espectros 1 Daniel Arbaiza Rodriguez, mestre pelo programa Erasmus Mundus Europhilosophie (Praga, Bolonha, Toulouse II Le-Mirail). Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/0950155021778431 . E-mail: [email protected]

Derrida e o Problema de Uma Nova Internacional Arbaiza_daniel

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O presente artigo irá abordar a última etapa do pensamento de Jacques Derrida,no que tange à noção de uma "nova Internacional" e sua relação intrínseca comum novo cosmopolitismo e uma democracia por vir e que possuem como motoruma meta-ética da hospitalidade. Para tal, será levado a cabo uma análise deoutros conceitos que estão em relação com esta noção de modo a melhorelucidar o problema. O artigo se divide em duas partes, aonde serãoabordados em um primeiro momento e de modo bem sucinto as noções dedesconstrução, herança e espectro; e posteriormente, iremos nos concentrar narelação entre cosmopolitismo e democracia por vir, hospitalidade e a "novainternacional".

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  • RODRIGUEZ, A. Ensaios Filosficos, Volume VIII Dezembro/2013

    Derrida e o problema de uma "nova Internacional"

    A herana marxista da desconstruo e a tica da hospitalidade

    Daniel Arbaiza Rodriguez1

    Resumo

    O presente artigo ir abordar a ltima etapa do pensamento de Jacques Derrida,

    no que tange noo de uma "nova Internacional" e sua relao intrnseca com

    um novo cosmopolitismo e uma democracia por vir e que possuem como motor

    uma meta-tica da hospitalidade. Para tal, ser levado a cabo uma anlise de

    outros conceitos que esto em relao com esta noo de modo a melhor

    elucidar o problema. O artigo se divide em duas partes, aonde sero

    abordados em um primeiro momento e de modo bem sucinto as noes de

    desconstruo, herana e espectro; e posteriormente, iremos nos concentrar na

    relao entre cosmopolitismo e democracia por vir, hospitalidade e a "nova

    internacional".

    Palavras-chave: Nova Internacional. Hospitalidade. Cosmopolitismo por vir.

    Rsum

    L'article se concentrera dans la dernire tape de la pense de Jacques Derrida,

    au sujet de la notion d'une nouvelle Internationale et sa relation

    intrinsque avec un nouveau cosmopolitisme et d'une dmocratie qui sont

    venir et qui possdent comme moteur une mta- thique de l'hospitalit. Pour

    cela, nous irons mener bien une lucidation d'autres concepts qui sont en

    relation avec cette notion afin de mieux lucider le problme. L'article est

    divis en deux parties, o ils seront abords dans une premier moment et de

    manire trs succincte les notions de dconstruction, de hritage et de

    spectralit, et par la suite, nous irons nous concentrer sur la relation entre le

    cosmopolitisme et la dmocratie qui sont venir, l'hospitalit et la nouvelle

    Internationale.

    Mots-cls: Nouvelle International. Hospitalit. Cosmopolitisme venir.

    Introduo

    Em 1993 Derrida publica seu livro intitulado Spectros de Marx, que possui

    como subttulo "O Estado da dvida, o trabalho de luto e a nova internacional"; ele deve

    ser lido como um duplo genitivo, subjetivo e objetivo: espectros do marxismo e do

    comunismo que nos assombram e o trabalho reativo do luto, de uma conjurao poltica

    do retorno subversivo de um esprito de Marx; h tambm uma referncia aos espectros

    1 Daniel Arbaiza Rodriguez, mestre pelo programa Erasmus Mundus Europhilosophie (Praga, Bolonha,

    Toulouse II Le-Mirail). Currculo lattes: http://lattes.cnpq.br/0950155021778431 .

    E-mail: [email protected]

  • Derrida e o problema de uma "nova Internacional"

    que assombraram o prprio Marx, espectros que ele busca exorcizar ao longo de sua obra.

    O subttulo por sua vez deve ser lido com ateno: "O Estado da dvida" faz referncia

    guerra econmica sem trgua entre os Estados-Naes e a agravao da dvida exterior,

    que uma contradio das flutuaes geopolticas como fruto de uma insero desigual

    no livre mercado. Ns podemos ler a "dvida" como uma prestao de contas de

    Derrida com o esprito marxista que lhe acompanhou ao longo de sua obra e

    desempenhou um papel preponderante na sua filosofia da desconstruo. Finalmente, no

    que concerne noo de uma nova Internacional, iremos tematizar a relao de

    insuficincia democrtica do direito internacional atual e das instituies supranacionais

    para pensar um novo conceito de cosmopolitismo ligado a uma outra democracia, os

    dois por virem, para formar novas alianas entorno da acolhida incondicional da

    singularidade que chega.

    Procedamos, pois de modo sistemtico para abordar estas noes e efetuar um

    esforo interpretativo do papel que Marx desempenha para Derrida. Em um primeiro

    momento iremos abordar de modo sucinto a noo de desconstruo para o autor e a

    importncia de um dos espritos de Marx para seu desenvolvimento; em um segundo

    momento, faremos referncia ao conceito de espectro que intitula o livro e a noo

    central de herana. Por fim, nos concentraremos sobre a noo de uma nova

    Internacional e sua relao intrnseca com um novo cosmopolitismo e uma democracia

    que esto por vir e que possuem como motor uma meta-tica da hospitalidade, ideia

    desenvolvida por Derrida, sobretudo em sua maturidade, ao longo dos anos noventa at

    sua morte em 2004.

    A desconstruo e o esprito marxista

    A filosofia da desconstruo de Derrida uma operao de denncia das

    estruturas e valores sedimentados no discurso da tradio ocidental na medida em que

    se traz tona seus princpios dissimulados; trata-se de pr em evidncia os

    pressupostos constitutivos da produo de subjetividade e de verdade. A

    desconstruo um movimento de abalo estrutural no regime discursivo da tradio,

    deslocando o centro de gravidade e de relevncia aonde os elementos que lhe so

    constitutivos orbitam rumo a um plano descentralizado, sem referentes ou significantes.

    A desconstruo se pe margem da metafsica ocidental com o intuito de entrar em

  • RODRIGUEZ, A. Ensaios Filosficos, Volume VIII Dezembro/2013

    seu vocabulrio e abalar seus pressupostos de modo a retirar-lhe o rastro impregnado

    (DERRIDA, 1972, p. 81), para tal, ela entra no mbito desta sem se confundir com seu

    regime, criando conceitos que por sua relevncia e novidade iro determinar a "verdade".

    Analisando os pares conceituais binrios enraizados na metafsica ocidental,

    Derrida questiona o porqu da hegemonia de um termo sobre o outro, denuncia a

    hierarquia implcita que aceita ou refuta um determinado termo, que privilegia a

    presentificao imediata, a unidade e identidade em detrimento da ausncia,

    diversidade e diferena. Ele leva a cabo uma ruptura com a lgica oposicional que

    delimita o pensamento nas fronteiras do definvel, reclama a independncia total de

    uma cadeia de significantes onde cada termo seria supostamente localizvel,

    estabilizado em um plano rgido em torno de um centro de referncia ou de origem.

    Saindo de um pensamento do negativo que submete a diferena ao domnio da

    identidade, a desconstruo efetua um duplo movimento: reinverte o conceito

    estabelecido no discurso analisado e a golpes de martelo desestabiliza a hierarquia que

    lhe implcita, um processo de desmoronamento que no possui uma sntese derradeira.

    Este movimento, portanto se caracteriza por entrar na histria da filosofia de modo mais

    fiel e profundo possvel, efetuando a leitura genuna, aquela que indissocivel da

    escritura (DERRIDA, 1972, p. 15), decifrando e marcando s margens e entre as linhas

    dos textos primordiais de nossa tradio, um deslocamento dos conceitos, do lxico e

    dos axiomas elementares, naturais e intocveis que nos so transmitidos; trata-se de

    depurar os pressupostos metafsicos que implicam efeitos indesejados mediante um

    posicionamento crtico de nossa herana.

    a crtica afirmativa que pe em movimento a desconstruo. O legado que se

    recebe de modo fiel na medida em que se infiel possui uma natureza intempestiva,

    pois, contra seu tempo, ela redefine as questes e urgncias que no possuem um

    horizonte previsvel. Buscando as formas de desenvolvimento e perfectibilidade mais

    elevadas, a desconstruo tem como norte os conceitos que no so passveis de

    desconstruo tais como a justia, por exemplo, ou seja, a experincia da vinda do

    outro enquanto outro, afirmao de um evento que aquele que vem, abertura ao por

    vir. Deixar vir o todo outro, estar aberto diferena e ao outro em si mesmo um

    aspecto poltico da desconstruo, onde o espectro de Marx desempenha um papel

    relevante: a crtica marxista e o clamor messinico por um plano social e poltico mais

    justo e democrtico, clamor pelas formas de desenvolvimento humanas mais elevadas,

  • Derrida e o problema de uma "nova Internacional"

    engajamento poltico de toda filosofia que busca dar respostas aos desafios a

    contratempo prprio empresa de Derrida.

    Espectros

    Se nos anos sessenta e setenta Derrida se ocupou principalmente das anlises

    tericas onde se observa a fundamentao da filosofia da desconstruo, nos anos

    oitenta em diante ele se aproxima de modo decisivo s questes de natureza tico-

    polticas j presentes em germe em suas primeiras obras. Este movimento est

    correlacionado com um aumento das referncias aos trabalhos de Lvinas e em

    consonncia com o projeto compartilhado por certos autores (notadamente tienne

    Balibar e Daniel Bensad) diante da crise do marxismo, de se liberar de toda forma de

    ontologia ou dogmatismo. Em vistas das urgncias e da iminncia do que nos constrange

    a pensar, aqui e agora, Derrida se v na necessidade de conceber uma nova aliana entre

    os viventes, novos engajamento para alm da cidadania presa s fronteiras do Estado-

    nao.

    Derrida surpreendeu quanto se ps a falar de Marx, a fazer falar um certo Marx

    pela necessidade de responder um compromisso: precisamente porque Marx est

    morto e enterrado, reduzido ao silncio, negado e anulado aps a queda do muro de

    Berlim, que os representantes que exaltaram o triunfo do capitalismo neoliberal com um

    tom apocaltico, profetizaram o "fim da histria" com grande jbilo. Foi o caso de

    Francis Fukuyama e seu best seller " The End of History and the Last Man"2, que faz

    do esprito do velho Marx nada mais do que um dos ltimos e mais melanclicos

    captulos da concluso da histria. Se h um ato de coragem de Derrida, no o de

    buscar restaurar certo tipo de "marxismo", de legitimar um certo tipo de discurso marxista,

    mais sim de mudar o terreno da discusso que se levava a cabo no comeo dos anos

    noventa e combater o novo consenso que se estabelecia em torno de uma ordem

    mundial nica de modo inovador e crtico.

    Para combater o consenso de tom eufrico e triunfante da ligao da democracia

    com a lgica do liberalismo econmico, o fim da crtica do capitalismo pela celebrao

    2 Derrida ira consagrar uma grande parte do captulo II de Spectros de Marx "conjurar - o marxismo"

    discusso do livro de Fukoyama e sobre a conjurao do anti-marxismo dos anos noventa.

  • RODRIGUEZ, A. Ensaios Filosficos, Volume VIII Dezembro/2013

    do livre mercado; Derrida se levanta no apenas contra uma certa ortodoxia marxista

    mas igualmente contra o novo dogma antimarxista. No se trata de um retorno tardio

    Marx, dvida antiga da filosofia da desconstruo com uma de suas principais

    influncias, mais um retorno de Marx, ateno uma certa "volta" de Marx que no

    tem nada a ver com a reabilitao deste. Espectros de Marx um texto que visa acolher

    certo Marx, o nome prprio "Marx", que concentra neste momento a mais forte

    acumulao de negao e censura, um longo trabalho de luto3. O Marx morto que

    aparece no "panteo dos grandes filsofos" nos livros de introduo filosofia

    aquele de um pensamento politicamente estril; analisar o processo despolitizante deste

    trabalho de luto analisar a situao contempornea do estabelecimento de uma nova

    ordem mundial, onde certo esprito de Marx faz retorno reivindicando o carter

    intempestivo de seu pensamento.

    Mas o que significa acolher um certo esprito? A capacidade de retorno de um

    esprito est ligada ao conceito de fantasma, aquele cuja morte permanece inquietante,

    ela assombra e nos acompanha a uma distncia suficiente para que possamos viver

    nossas prprias vidas sem lhe esquecer, sem perder sua capacidade de afeco. A

    essncia do fantasma a espectralidade: entre a vida e a morte, a heterogeneidade de

    um esprito insiste em retornar no enquanto mesmo, mais como fora sempre

    diferenciada. H um eterno retorno do mesmo, do original, somente como differance;

    escutar a voz de um fantasma requer a capacidade de acentuar sua singularidade, de lhe

    acolher como pura fora de diferenciao.

    Herana

    O tempo da herana um tempo heterogneo e descontnuo; a histria poltica e

    econmica no possui a sincronia entre a globalizao, a homogeneizao e a

    homohegemonia; nossa contemporaneidade sempre "out of joint" como dir Hamlet, o

    qual Marx tanto apreciava. Tempo deslocado, disjuntivo, onde as urgncias possuem

    uma natureza anacrnica em relao ao espectro. A "assombrologia", que se opem

    ontologia, possui uma lgica paradoxal que no permite a distino entre ser e no ser,

    3 Para Derrida, o luto o que resta do outro que morto ou desaparecido, o que permanece no interior

    do eu como corpo estrangeiro, parasitando-o permanentemente. H uma dimenso do eu que habitada

    pelo outro, pelo seu esprito que no esgotvel. A incompletude do outro em mim a condio de lhe

    respeitar enquanto outro, enquanto ser irredutvel.

  • Derrida e o problema de uma "nova Internacional"

    atual e virtual, vivente e no-vivente. O que caracteriza esta lgica atribuir direito

    palavra em contratempo, tarefa de natureza poltica.

    O espectro e o fantasma fazem referncia visibilidade (Phinesthai). Aquele

    que retorna no possui necessariamente viso, imagem; ele no requer um ato

    deliberado para adquirir direito de volta, ele no submetido a nenhuma instancia, pois

    desempenha um papel ativo: com sua voz que nos parasita e olhar que nos assombra, o

    fantasma nos escolhe e volta sem a necessidade de ser chamado. Escutar a fala espectral

    daquele que volta, daquele que vem antes de ns e ao qual ns recebemos sem qualquer

    deliberao, daquele que retorna sem periodizao, saber bem receber nossa herana.

    Mas quem so os verdadeiros herdeiros de Marx? Como escolher os pretendentes

    legtimos dessa filiao? A herana no um bem, uma riqueza passvel de ser

    guardada em segurana; a herana na verdade uma afirmao ativa, seletiva, que

    realizada e reafirmada plenamente pelos herdeiros ilegtimos, por aqueles que levam a

    cabo uma leitura performativa da tradio, utilizando-os contra seu tempo.

    O engajamento poltico para Derrida passa pela questo da recepo da

    herana. Ela compreendida no como um bem capitalizvel ou rastrevel, ela se

    confunde com o fantasmtico no sentido da desfiliao, da re-filiao a partir da

    desfiliao. Trata-se assim de ser fiel sendo infiel, pois o herdeiro deve sempre

    responder a uma dupla injuno, a uma designao contraditria: necessrio saber

    reafirmar ativamente este esprito que nos chama, uma reafirmao que no somente

    aceitao, mas abordar de modo diferente o esprito e lhe manter vivo. No escolhemos

    nossa herana, ns a recebemos como uma imposio. O que varia a atitude em face

    dessa herana: ns podemos interpret-la, reativ-la em um ato de responsabilidade

    com aquele que imperativamente vem.

    Derrida nos diz explicitamente (DERRIDA, 2002, p. 18-19) que seu livro sobre

    Marx um livro sobre a herana, de uma herana que nunca unvoca, mas que em sua

    heterogeneidade e na bifurcao de suas prprias contradies nos impem uma

    injuno a ser respondida, a se posicionar diante dela. No h herdeiro fiel, legtimo;

    Derrida descontri a lei da filiao patrimonial, a linhagem pai-filho, o

    falogocentrismo paternalista ao longo de sua obra. A recepo de um legado, a

    confrontao com aquele que vem um ato de responsabilidade, de resposta crtica aos

    espritos heterogneos, mltiplos, que nos leva a uma interpretao de seus labirintos,

  • RODRIGUEZ, A. Ensaios Filosficos, Volume VIII Dezembro/2013

    de suas encruzilhadas e contradies sem normas prescritas, abordando o que ainda

    no foi dito. Os espritos de Marx neste sentido continuam a nos assombrar: o

    espectro do comunismo, do totalitarismo, do estalinismo, do desastre socio-tecno-

    econmico ainda esto presentes para ns (DERRIDA, 1993, p. 37 e 150). No obstante,

    outros espritos de Marx no devem ser renunciados: o esprito da crtica, que Marx

    herda do iluminismo, de um certo Kant da crtica radical; o esprito de afirmao

    emancipatria e messinica, liberada de todo dogmatismo e messianismo, de todo tipo de

    determinao metafsico-religiosa.

    Para Derrida, ns somos todos irremediavelmente herdeiros de Marx, de um

    certo esprito do marxismo (DERRIDA, 1993, p. 36). O nome de Marx possui

    consigo a carga de um acontecimento que no pode ser apagado, acontecimento este

    que veio e continuar a vir de modo imprevisvel, sem um horizonte antecipvel, que

    nos toma desprevenidos e que no necessariamente fantasmtico ou espectral,

    porque invisvel, tal como um bombardeio areo, explosivo e que nos toma de

    surpresa4. O carter intempestivo de seu pensamento permanece ainda uma pujana

    interpretativa infinitamente aberta, que nos constrange uma resposta no esprito da

    crtica radical, resposta questes de natureza social, ecolgica, tcnica, econmica, de

    direito internacional e geopoltica. A insistncia em um certo Marx no comeo dos anos

    noventa possui um papel estratgico para Derrida, a volta de um autor que apesar de

    todo o trabalho de luto poltico de sua morte continua a aportar a leitura prtica e

    sintomtica do tempo presente.

    Marx, tal como entende Derrida, tambm foi um pensador da espectralidade:

    espectro do comunismo que assombra todas as potncias europeias no Manifesto, a

    dimenso espectral do fetichismo da mercadoria no comeo do Capital, etc. Marx busca

    exorcizar os espectros mostrando que por exemplo o valor de uso j assombrado pela

    dimenso espectral do valor de troca, ele mantm portanto uma oposio entre

    mercadoria espectral e valor de uso real. O Marx de Derrida representa o germe de um

    pensamento da virtualizao, do espao e do tempo, virtualizao dos eventos com

    grande velocidade5. Trata-se de um Marx que no aquele da ontologia, do sistema

    4 Jacques Derrida, Infine non fu la parola (ghost of marx), Parte final d'uma entrevista de Jacques Derrida

    com Enrico Ghezzi. Disponvel em: http://www.youtube.com/watch?v=KMKIv5_yj6s 5 ibid; sobre a noo de virtualizao dos eventos e do papel das medias Cf. DERRIDA, J.;

    HABERMAS, J. Le concept du 11 septembre : Dialogues New York (octobre-dcembre 2001) avec

  • Derrida e o problema de uma "nova Internacional"

    filosfico ou metafsico, do materialismo histrico, dos aparelhos de Estado, de partido

    ou de uma Internacional proletria; mais bem um filsofo de escritura testamentria,

    intempestiva, que requer uma intepretao performativa para dar as respostas s

    urgncia do presente6: as novas configuraes da pobreza e do desemprego; a excluso

    massiva dos cidados da vida democrtica, dos exilados, aptridas e imigrantes; as

    novas formas de guerra econmica, monetria e o protecionismo econmico; os

    mecanismos de manuteno e gesto das dvidas externas; ameaas militares e o risco

    atmico; guerras entre etnias; trfico e fora dos Estados paralelos; insuficincia do

    direito internacional e de suas instituies face a uma globalizao desigual.

    Esta globalizao aparece para Derrida como a expresso de um evento

    mltiplo, com fenmenos e efeitos inditos. Os anos noventa representam o momento

    de consolidao de um capitalismo tele- e tecno-cientfico, com um aumento

    considervel do ritmo de circulao de pessoas, de capital, informao e de

    comunicao instantneas (internet, fax, celular); aumento das trocas materiais, visuais,

    culturais; integrao global da cadeia produtiva, dos transportes; consolidao de uma

    hegemonia global do modelo de livre mercado que se encontra em vias de abertura

    regulamentada aps a queda da URSS e que possui implicaes socio-polticas

    decisivas. Nunca a interao com o outro foi experimentada com tamanha intensidade.

    Continuar no domnio de um plano legislativo aonde o exerccio do direito amparado

    no saber-poder tecno-cientfico, nas estratgias poltico-econmico-militares, possuem

    consequncias nefastas para uma grande parcela da humanidade.

    O discurso de uma abertura homogeneizante da globalizao tematizada por

    Derrida, sobretudo por suas implicaes tico-polticas. O discurso de uma participao

    universal, uma insero igualitria nos debates e na gesto dos problemas globais so

    vistos por ele como uma iluso, demagogia, pois os resultados de uma economia

    mundial integrada, os desastres ecolgicos, a disseminao de epidemias como a AIDS,

    a desnutrio, e diversas outras tragdias so a prova de que os benefcios desse processo

    limitado a uma parte restrita da humanidade. Nesse sentido, o esprito cosmopolita da

    globalizao ainda no aconteceu, ele continua por vir. Os marginalizados da economia

    Giovanna Borradori. Paris: Galile, 2004. 6 Derrida descreve estas urgncias como as "Dez pragas da 'nova ordem mundial'", em Spectres de Marx, p.

    134-140.

  • RODRIGUEZ, A. Ensaios Filosficos, Volume VIII Dezembro/2013

    global, aqueles que testemunham a injustia e o enriquecimento suas custas possuem

    ainda a esperana messinica (mais sem Messias) de outro cosmopolitismo que no seja

    aquele do artifcio meditico-poltico; eles possuem a esperana de outra democracia

    que se encontra dentro de um dos espritos de Marx.

    O cosmopolitismo por vir e a "nova Internacional"

    Derrida busca sustentar o projeto de uma "nova internacional", fundada sobre a

    necessidade de uma transformao profunda e de longa durao no direito internacional,

    de seus conceitos e de seu campo de interveno, que dever se estender e se

    intensificar at incluir o novo campo econmico, social e poltico mundial. Trata-se de

    uma resposta engajada s urgncias do presente, uma abertura alteridade, experincia

    de um evento radicalmente imprevisto, inseparvel de uma promessa e de uma injuno

    que ordena uma resposta imediata:

    A "nova Internacional", no apenas aquilo que busca um novo direito

    internacional a travs de seus crimes. um lao de afinidade, de sofrimento

    e de esperana, um lao ainda discreto, quase secreto, como em meados de

    1848, mas cada vez mais visvel - temos mais de um signo disso. um lao

    intempestivo e sem estatuto, sem ttulo e sem nome, passvel de pena

    pblica mesmo que ele no seja clandestino, sem contrato, "out of joint",

    sem coordenao, sem partido, sem ptria, sem comunidade nacional

    (Internacional antes, a travs e para alm de toda determinao nacional), sem

    co-cidadania, sem pertencimento comum uma classe. O que se chama aqui,

    sob o nome de nova Internacional, o que lembra a amizade de uma aliana

    sem instituio entre aqueles que, mesmo no crendo mais ou que jamais

    acreditaram na internacional socialista-marxista, na ditadura do proletariado,

    no papel messiano-escatolgico da unio universal dos proletariados de todos

    os pases, continuam a se inspirar ao menos de um dos espritos de Marx ou

    do marxismo (eles agora sabem que h mais de um) para se aliar, sob um

    modo novo, concreto, real, ainda que esta aliana no tome a forma de um

    partido ou da internacional obreira mas aquela de um tipo de contra

    conjurao, na crtica (terica e prtica) do estado do direito internacional, dos

    conceitos de Estado e nao, etc.; para renovar esta crtica e sobretudo

    radicaliz-la. (Derrida, 1993, p. 141-142 [traduo nossa])

    Desta forma, percebemos que o projeto de uma "nova Internacional" apresentado

    no incio dos anos noventa requer o apelo um novo cosmopolitismo que se funda com

    a promessa de uma democracia por vir. A reflexo sobre a hospitalidade se inscreve no

    cerne deste perodo. O pano de fundo das pesquisas tico-polticas de Derrida

    (DERRIDA, 2001d) so as relaes estabelecidas entorno do estrangeiro, do imigrante,

    do exilado, do deportado, ou dos que no possuem estatuto poltico, os sans-papiers ou

  • Derrida e o problema de uma "nova Internacional"

    sem identidade nacional; ele reflete sobre os grandes deslocamentos de massas que

    ocorreu aps a primeira guerra mundial e que se intensificou ao longo das dcadas

    seguintes no quadro de um capitalismo tardio. O tema da hospitalidade surge no seio das

    urgncias concretas que articualm a poltica tica, e longe de destruir ou de negar

    totalmente uma tradio de pensamento entorno da hospitalidade cosmopolita, o autor

    reconhece e ressalta os progressos alcanados, reafirmando-os mediante a denncia de

    suas insuficincias ou de seus efeitos indesejados. Derrida desconstri o edifcio da

    discursividade jurdica aonde a hospitalidade se encontra ligada logica do mesmo,

    para lhe conduzir em direo um encontro assimtrico com a singularidade do outro

    em um transbordamento dos limites do poltico. Ele se posiciona junto Lvinas, junto

    a um pensamento da hospitalidade que no se limita a um problema poltico-jurdico, mas

    que o princpio mesmo da eticidade, uma mta-tica (DERRIDA, 1997c, p. 94).

    Para Lvinas, a hospitalidade no se limita ao acolhimento de um outro

    estrangeiro consigo, na casa, cidade ou nao; j no momento mesmo de abertura diante

    da alteridade do outro, nos encontramos em uma disposio acolhedora. No conflito, na

    xenofobia e na guerra, a relao que se estabelece com o outro inimigo j a de uma

    abertura, uma reao a perda de seu mbito prprio (chez soi), abertura uma

    hospitalidade primeira. A hospitalidade se encontra diante de um Eu, do ipse, e da

    identidade, ela sua condio de possibilidade que a relao com o outro favorece

    (DERRIDA, 1997c, p. 42). A representao do Eu, da relao que estabeleo comigo

    mesmo e com meu espao precedida pela vinda sbita de outro e precede minha

    ipseidade. Desta forma, a acolhida uma atitude primeira diante do outro, de outro o

    qual recebo e sou refm, um hspede que o meu liberador, "como se o estrangeiro

    pudesse salvar o mestre, prisioneiro de seu lugar e de seu poder, de sua ipseidade, de sua

    subjetividade (sua subjetividade refm)" (DERRIDA, 1997d, p. 111 [traduo

    nossa]). Sou refm do hspede que existe em mim, no meu espao, no que me

    prprio; isso define minha responsabilidade face ao outro. H, portanto uma relao de

    tenso nessa estrutura inevitvel de subordinao, j que minha liberdade se torna

    dependente de um outro. O que Derrida prope com esse pensamento um imperativo

    de acolhimento da alteridade do todo outro, daquele que vem e proporciona um

    deslocamento essencial do meu "chez moi". Trata-se da afirmao do acaso, da

    contingncia da vinda do outro, uma abertura ao devir outro em ns mesmos que torna

    propcio uma mudana de subjetividade, uma nova reconfigurao do presente. Para tal,

    necessrio refletir acerca de uma tica da alteridade pois devemos respeitar o outro por

  • RODRIGUEZ, A. Ensaios Filosficos, Volume VIII Dezembro/2013

    si mesmo, em sua singularidade insubstituvel.

    Nesse sentido, Derrida se aproxima de Lvinas e seu pensamento que aborda a

    relao com um outro irredutvel ao mesmo, compreendido como um Eu individual ou

    como um identidade e coletiva. O Eu, noo que inclui a identidade e a ipseidade,

    uma formao que existe apenas em funo de um outro; somente no momento onde

    vemos "o rosto do outro", que um Eu se forma e se informa sobre esta alteridade

    irredutvel, insubstituvel, interpretada a sua prpria maneira e segundo valores morais.

    Esse pensamento denuncia a suposta homogeneidade idealizada do Eu ou do sujeito, a

    crena em uma unidade estvel, indivisvel, que expulsa fora de si toda

    heterogeneidade, toda disputa. O que se oblitera com esta iluso a multiplicidade

    interior ao indivduo, um constante devir outro em si na relao com o outro, pois "Eu

    no estou sozinho comigo mesmo, assim como a um outro, eu no sou apenas um. Um

    'eu' no um tomo indivisvel." (DERRIDA, 2001b, p. 184 [traduo nossa]).

    No que concerne a relao com o outro - aquele que no somente vem do

    exterior, de um meio fechado, de uma famlia, comunidade, cidade, nao ou Estado;

    aquele que pode ser o barbaro ou o selvagem, mas tambm o amigo e o prximo

    (sendo essa proximidade traduzida frequentemente em termos mais econmicos e

    blicos do que culturais) - ela regida pelo direito do Estado-nao que delimita e

    normatiza a vinda do outro por uma sistematizao das leis da hospitalidade, leis que

    estipulam as condies e os critrios de apario e acolhimento do outro que chega. Para

    dar conta da questo das leis da hospitalidade, Derrida efetua uma desconstruo sobre

    uma longa herana do pensamento cosmopolita que possui mltiplas filiaes e se

    encontra na encruzilhada de tradies heterogneas, aonde formam a hegemonia ou o

    centro de referncia ao qual se busca denunciar. Tal herana aquela de uma

    politizao cosmopolita dos cidados do mundo que nos remete a um certo estoicismo

    grego e um cristianismo pauliniano, que ser transmitido at o iluminismo, onde Kant

    o principal herdeiro (DERRIDA, 1997b, p.45-50). na senda de uma herana da

    hospitalidade cosmopolita de dupla filiao que determina a vinda do outro no plano

    jurdico-poltico, pelo crivo da integibilidade pela identificao, que Derrida ir

    interpolar Kant. O pensador alemo sintetiza os elementos que iro influenciar

    parcialmente ou diretamente o direito internacional, acordos entre Estados, organizaes

    supranacionais tais como a Sociedade de Naes, da posterior ONU e da emergente Unio

    Europeia.

  • Derrida e o problema de uma "nova Internacional"

    Derrida entra em um dilogo profundo com os textos kantianos nesse perodo.

    Ele analisa o terceiro artigo definitivo do Projeto de paz perptua, um percurso

    filosfico, onde Kant fala do direito que tem um estrangeiro de no ser tratado com

    hostilidade pelo fato de estar fora de seu pas. O direito de visita a um outro Estado

    pertence a todos os seres humanos pois a terra uma propriedade comum da

    humanidade e ela se partilha em sociedade de modo igualitrio (KANT, 1958, B 39-

    41). A possibilidade de visita uma condio do cosmopolitismo para Kant, pois a

    cultura e a ordem social so o resultado da dialtica do antagonismo de nossas

    tendncias: acordo e desacordo (que numa escala entre povos seria da ordem da lngua,

    crenas, costumes, viso de mundo, etc.). O encontro entre povos, numa relao unio-

    desagregao tal como se passa com indivduos em um mesmo Estado, cria o estmulo

    do esprito de liberdade que conduz inevitavelmente a formas superiores de

    desenvolvimento. O conceito ontolgico de um plano da natureza anuncia a sentena

    triunfante do direito no "tribunal da razo": ele no se produz como a imposio

    exterior de uma obrigao da razo prtica, mas como um imperativo racional que lhe

    prprio. O direito cosmopolita hospitalidade universal, como condio paz

    perptua, compreendido assim como um direito natural, inalienvel e indispensvel.

    Na leitura performativa de Derrida, mais do que mostrar o carter

    predominantemente europeu das formulaes kantianas, ele ressalta o fato que os

    "cidados do mundo" possuem o direito cosmopolita (Weltbrgerrecht) hospitalidade.

    Esta, num plano global, deve ser universal e outorgada aos indivduos enquanto

    cidados, pertencentes a um Estado-nao, o que implicitamente um

    condicionamento restritivo para os no-cidados. Se o direito de visita a um outro

    Estado pertence aos cidados na medida em que a terra um bem comum, Derrida

    acrescenta que o condicionamento hospitalidade exclui tudo aquilo que se encontra

    nesta mesma terra e sobre ela (DERRIDA, 1997b, p. 53), seja num plano material, seja

    no domnio cultural ou lingustico. A hospitalidade condicionada cidadania

    submetida legislao estatal, s relaes interestatais e aos interesses poltico-

    economicos do Estado-nao. O Weltbrgerrecht, na medida em que condiciona a

    chegada do outro cidadania, violenta o que singular neste estrangeiro recm-

    chegado, protege contra os "riscos potenciais" que uma vinda indesejvel pode

    provocar e ao mesmo tempo restringe a alteridade, a diferena e a positividade de um

    devir outro.

  • RODRIGUEZ, A. Ensaios Filosficos, Volume VIII Dezembro/2013

    Derrida ressalta o avano notvel do cosmopolitismo kantiano ao mesmo tempo

    em que critica certos postulados e as injustias que lhes so decorrentes,

    contextualizando o cenrio poltico internacional aonde ele se encontra. A crise do

    Estado-nao e do constante retorno do fascismo e do racismo com os quais somos

    confrontados no momento atual, esto em consonncia com a insuficincia da

    hospitalidade interestatal, com a incapacidade do Estado de assegurar a proteo e a

    liberdade de seus cidados quando no ela mesmo o motor destas violncias.

    Prximo s anlises de Hannah Arendt em As Origens do Totalitarismo, Derrida

    lembra os Heimatlosen (DERRIDA, 1997b, p.23-24), aqueles que surgiram durante a

    primeira guerra mundial, os aptridas, os refugiados, deportados de mltiplas origens

    para os quais a legislao dos Estados-naes foram insuficiente e que dentro do

    contexto hodierno de globalizao e intensificao dos fluxos migratrios, se tornaram

    protagonistas de uma ampla crise social em escala global. A hospitalidade cosmopolita

    insuficiente quando lida com essa populao em termos de integrao, naturalizao ou

    de repatriamento.

    A vinda inesperada do todo outro, do estrangeiro annimo (com o duplo

    sentido que a palavra francesa tranger comporta) representa uma modificao

    essencial do "chez soi": o estranho/estrangeiro traz a diferena com a sua chegada em

    uma nova casa, numa nova famlia, Estado, nao, lngua, religio ou qualquer outra

    forma identidade. A vinda do outro ameaa todo esprito reativo que deseja manter seu

    territrio sob controle, ameaa a deliberao de acolhimento e pem em risco a

    estabilidade de um espao ficticiamente homogneo, a estabilidade da prpria

    ipseidade. O risco de desagregao do corpo social impe a necessidade de estabelecer

    critrios que condicionem a vinda desse estranho/estrangeiro, processos de seleo que

    do acolhimento a travs de um clculo regulado que busca mensurar o grau de

    "adaptabilidade" ao estabelecido, neutralizao da diferena e de sua singularidade.

    Toda hospitalidade passa assim por uma certa hostipitalidade.

    Contra as foras reativas que zelam pelo regime do mesmo, Derrida propem o

    imperativo contra intuitivo de uma hospitalidade incondicional. Isto no significa,

    como uma primeira leitura possa dar a entender, que se trate da simples abertura sem

    critrios de todas as fronteiras, sejam elas pblicas ou privadas, das fronteiras estatais ou

    dos muros, portas e janelas da casa. No que poderia consistir ento um imperativo de

    hospitalidade que ordena o acolhimento incondicional do todo outro?

  • Derrida e o problema de uma "nova Internacional"

    A vinda sempre inesperada do todo outro, do estrangeiro absoluto, acarreta a

    angstia face ao imensurvel, ela implica necessariamente uma mudana qualitativa no

    territrio e no prprio acolhedor. A hospitalidade incondicional ordena o acolhimento

    sem critrios daquele que vem: o estrangeiro sem documentos, sem identidade, com

    dbia insero no mercado de trabalho, um potencial "parasita" do Estado de bem estar

    social. Trata-se de um acolhimento inusitado que no pede provas ou estabelece

    critrios de reconhecimento, no se verifica a lngua, etnia, religio ou capacidade para

    o trabalho (DERRIDA [et al.], 2001c, p. 116). Anterior s leis que condicionam a vinda

    do outro, esta lei da hospitalidade no se encontra num plano tico ou poltico, ela se

    posiciona de modo anterior como uma mta-tica ou como uma ultra-tica. Ela dobra a

    linguagem poltico-jurdica para deslocar seu centro de referncia na direo do outro,

    ela inventa uma nova lngua, uma nova potica da hospitalidade (DERRIDA [et al.],

    2001c, p. 116 ; DERRIDA [et al.], 1997d, p. 10).

    Mas como acolher um todo outro sem nenhuma garantia, na indeterminao de

    sua identidade, com o risco potencial de colocar a casa em desordem na medida em que

    ele pode no respeitar nossas tradies, nossa cultura, as leis institudas e aqueles que a

    instituem? Essa hospitalidade acarreta o temor diante de uma imprevisibilidade to

    absoluta. Como posso deixar entrar qualquer um na minha casa no como convidado,

    mas para comigo morar, instituindo suas leis, me impondo seus hbitos, sua religio,

    sua lngua, sem minha permisso, sem meu conhecimento e mesmo subtraindo o que

    tenho? A hospitalidade incondicional nos pareceria assim no apenas irrealizvel, mas

    impossvel. precisamente na impossibilidade que a hospitalidade incondicional se

    torna possvel. a travs dessa caracterstica paradoxal compartilhada com a

    desconstruo que a hospitalidade um limite ou esfera absolutamente necessria ao

    pensamento. Trata-se de um "pensamento do possvel impossvel, do possvel como

    impossvel, de um possvel- impossvel que no se deixa mais determinar pela

    interpretao metafsica da possibilidade ou da virtualidade" (DERRIDA, 2001a, p. 47).

    Como realizar uma utopia? O que fazer do impossvel? Ou melhor, "ser que o

    impossvel possvel?" (DERRIDA [et al], 2001c, p. 174-175.) Fazer o possvel

    nada fazer, nada decidir, seria deixar apenas desenrolar um programa de possveis.

    necessrio transgredir as leis que delimitam o campo de possibilidades, transgredir as

    normas, as condies, os direitos e deveres impostos:

  • RODRIGUEZ, A. Ensaios Filosficos, Volume VIII Dezembro/2013

    No h tica, no h responsabilidade moral, como se diz, ou uma deciso

    tica onde no h mais regras ou normas ticas. Se h regras, uma tica

    disponvel ou um conjunto de regras, nesse caso suficiente saber quais so as

    regras e proceder em sua aplicao, e assim, no h mais deciso tica. O

    paradoxo que, para haver uma deciso tica, necessrio que no haja mais

    tica, que no haja mais regras ou normas precedentes. preciso reinventar

    cada situao particular ou regras que no existam previamente. (DERRIDA,

    2001d [traduo nossa] )

    Podemos dizer ento que a hospitalidade incondicional um tipo de ideia

    reguladora no sentido kantiano, que no se realiza, mas que uma direo a qual

    devemos tender, um rumo para alcanar formas de organizaes polticas mais

    pacficas, justas, complexas e eficazes. Tudo isso sem uma concepo teleolgica da

    histria, sem um conceito formulado de antemo, pois o conceito ele mesmo est por

    vir. A hospitalidade para sair de uma abstrao, requer a materializao nas instituies

    (nacionais ou internacionais), no poltico, jurdico, na famlia, nao, etc. Para se tornar

    efetiva; ela requer as leis que a limitam para que ela possa se realizar, afetar e

    transformar o prprio institudo; portanto elas no se opem. Da hospitalidade pura,

    incondicional ou infinita, ns no temos a experincia, mas apenas a catstrofe ordinria

    que se sofre todos os dias, "pelas pessoas, as naes, as comunidades mesmo as mais

    acolhedoras, que se protegem pela lei, pelo controle das fronteiras, pelo que se chama de

    bons modos" (DERRIDA in: FATHY, 1999 [traduo nossa]). Ela no se inscreve nas

    categorias do direito nem nas convenes jurdicas internacionais, tais como a

    hospitalidade condicionada ou limitada; mas ela tambm no as renuncia, ela as

    reacomoda.

    H uma antinomia entre a lei e as leis da hospitalidade, aquela que nos

    apresenta o imperativo de incondicionalidade e a outra que institui estas condies.

    Trata-se de uma antinomia que no dialetizvel, de uma tenso que no binria e que

    inscreve a lei da hospitalidade em um plano precedente s prprias leis. Podemos dizer

    que h um tipo de simbiose entre estas duas esferas da hospitalidade, uma servindo de

    direo com o imperativo de sua lei e a outra se materializando nas leis, i.e. colocando-

    a em prtica. A inveno poltica que reivindica Derrida se d, portanto na deciso e na

    responsabilidade diante do outro, buscando estabelecer uma legislao que minimize os

    efeitos negativos e maximize o respeito pela alteridade; sempre diante de cada caso

    concreto e inventando uma melhor legislao, respeitando o princpio de hospitalidade,

    um princpio que se encontra anteriormente a toda norma ou axioma estabelecido, pois

  • Derrida e o problema de uma "nova Internacional"

    uma meta- tica.

    no plano kantiano de uma ideia reguladora como direo e sem conceito de

    antemo, a promessa de um futuro legvel a partir de certos aspectos do presente, tais

    como a paz perptua (no nosso caso a hospitalidade incondicional), que se vislumbra o

    perfil do cosmopolitismo por vir. Impulsionado pela sua impossibilidade, ela ir

    redefinir a prpria categoria do poltico que vai alm de sua raiz na polis, soberania do

    Estado-nao, figura mesma do Estado e s relaes entre cidados. A lei da

    hospitalidade assim o princpio que transborda o poltico e o jurdico, no se confunde

    com eles, ela deve ser ajustada para sair de seus limites estatais e se posicionar em um

    cosmopolitismo que no sofra com as mesmas insuficincias de perfectibilidade e

    universalidade. Ela o motor de uma nova configurao social mais justa e solidria

    entre os viventes7, inspirada por um dos espritos de Marx.

    nesse esprito, que numa referncia concluso do clebre Manifesto,

    Derrida vai proclamar: "Cosmopolitas de todos os pases, mais um esforo!", um

    chamado a melhorar a hospitalidade cosmopolita de sua atual insuficincia e injustia em

    favor de um cosmopolitismo por vir apoiado numa nova inspirao poltico-jurdica

    que ultrapasse os limites estatais. O cosmopolitismo atual vlido mas no d conta

    das relaes entre os viventes, pois os reduz cidadania, regulamentao tal como no

    caso dos grandes deslocamentos de populaes, os Heimatlosen das grandes guerras

    os quais os Estados-naes e suas legislaes relegam marginalidade, tal como a

    situao atual dos sans-papier na Europa. O cosmopolitismo por vir , pois, sustentado

    pela nova tica da hospitalidade que no nega sua herana, mas a transgride almejando

    um pensamento ainda em formao, baseado na ideia de uma nova democracia

    igualmente por vir.

    O cosmopolitismo por vir, construdo sobre o princpio da hospitalidade pura,

    tematiza uma relao entre espao e direito8, um meio que mediatiza e torna favorvel o

    7 Derrida engloba a noo de vivente na de todo outro absoluto, uma alteridade radical que tem em conta

    igualmente os viventes no-humanos, situando-os fora do fonocentrismo ou logocentrismo numa questo

    estratgica e crucial para o autor. A exposio desta questo se encontra alm dos limites deste artigo,

    mas pode ser abordada em violence contre les animaux in De quoi demain... p. 105-127; L'animal

    que donc je suis in: L'animal autobiographique, autour de Jacques Derrida (dir. Marie-Louise Mallet),

    Paris: Galile, 1999. e 'Il faut manger' ou le calcul du sujet , Entrevista com Jean-Luc Nancy publicada

    em Cahiers Confrontation, 20, hiver 1989: Aprs le sujet qui vient. 8 DAVID, Pascal : "Ses Visages" in :(DERRIDA [et al], 2001c, p. 25)

  • RODRIGUEZ, A. Ensaios Filosficos, Volume VIII Dezembro/2013

    encontro com o outro, ao qual se reconhece o direito fala, de abrir as portas e as janelas

    e de tornar acessvel uma sociedade mais solidria. Isso conduz inevitavelmente uma

    mediao que em sua interveno considera o patrimnio do outro (cultural, lingustico,

    religioso, etc) para que sua voz possa ser escutada em equidade com o institudo, no

    submetendo-o ao crivo de um centro de referncia. Acolher o outro no cosmopolitismo

    por vir dar conta de um outro que no renuncia sua lngua e a tudo o que lhe vem

    junto: a cultura, as normas, as tradies, os costumes, a memria, etc.; mas ao mesmo

    tempo, que sua vinda respeite e se situe numa mesma igualdade com a lngua local,

    com a cultura local e todo o institudo; no pode haver a imposio de aprendizagem de

    uma lngua local em vistas de uma "futura integrao". Trata-se de um impasse de

    difcil soluo, pois a vinda do outro desencadeia um conflito cuja soluo mais justa

    varia diante de cada caso especfico. necessrio uma articulao de pontos de vista

    particulares e universais, entre universalismo e relativismo de modo a dar conta das

    modalidades concretas de uma poltica da alteridade9.

    O que Derrida nos propem uma outra concepo de democracia, por vir,

    condio de um novo cosmopolititismo, inveno de um evento de traduo. Esta nova

    democracia dever tematizar as relaes descontnuas entre os viventes antes de todo

    registro identitrio e toda fronteira, em suas interaes e coabitao em um mesmo

    territrio. Ela no sucumbe homogeneidade fictcia de um ns idealmente

    estabelecido entorno de identidades sempre ambguas, mas aborda uma nova forma de

    organizao social, cuja instvel unidade de uma massa heterognea de viventes no

    sofrero assimetria, pois no h centro regulador. No se busca com essa democracia

    uma homogeneizao unvoca, mas sim um encontro de aceitao e acordo em uma

    interao difcil, sem renncia da diferena e da singularidade. Ela requer uma

    capacidade de acolhimento, "(...) de uma certa plasticidade nas pessoas que sabem lidar

    consigo mesmas, que so mais livres e possuem uma boa relao com sua sociedade

    interior" (DERRIDA [et al], 2001c, p. 172-173 [traduo nossa]).

    A hospitalidade implica que aquele que recebe aquele que vem sejam capazes de acolher o outro em

    si, seu prprio Eu estrangeiro, que eles consigam superar seus fantasmas internos e aceitem suas

    multiplicidades, suas capacidades de tornarem-se outros sublimando os comportamentos xenfobos e anti-

    9 WIEVIORKA, Michel. "Les difficults d'une politique de l'altrit" in :(DERRIDA [et al],

    2001c, p. 158)

  • Derrida e o problema de uma "nova Internacional"

    hospitaleiros diante dos outros e de si mesmos:

    Para que este espao democrtico se abra, preciso que cada um dos

    cidados e cidads, que cada uma dessas multiplicidades de vozes, sejam na

    medida do possvel liberadas. preciso que os cidados e cidads tratem

    bem dentro de si o proble das vozes, da diferena sexual, dos fantasmas, etc.

    para poder trata-los como se deve, fora. Se eu sou tirano dentro de mim, eu

    terei a tendncia de s-lo fora. porque a poltica passa tambm por uma

    espcie de autoanlise, por um tipo de experincia de si. Se algum no

    trata bem seu inconsciente, se uma autoanlise no est sempre sendo

    levada a cabo, o exerccio da responsabilidade poltica sofrer. (DERRIDA in:

    FATHY, 1999 [traduo nossa] )

    A multiplicidade ou a pluralidade tematizada por Derrida deve ser considerada a

    partir da heterogeneidade originria, que o ethos da desconstruo. A operao

    desconstrutora distingue a incondicionalidade da hospitalidade com a soberania do

    Estado sem se opor suas instncias, assim como ela o faz com o regime discursivo da

    metafsica ocidental; no se trata de formar pares conceituais binrios, mas de romper

    com a lgica oposicional. no movimento de retrao, se posicionando em um plano

    anterior democracia e ao poltico, ao poder e polis, que a desconstruo buscar

    depurar esses conceitos. O espao democrtico que Derrida nos apresenta na

    "democracia por vir" requer uma redefinio da democracia e do poltico que no seja

    somente aquela do demos e da polis, ela no se encontra ligada suas condies.

    A democracia por vir pressupem uma atitude consigo e com o outro, ela o

    resultado do que fao aqui e agora, vem at ns como uma promessa, uma dimenso de

    um futuro que nunca se faz presente. O por vir da democracia no consiste em uma

    impossibilidade de realizao tal como a ideia reguladora kantiana, mas se trata de um

    norte indeconstrutvel que nos engaja em suas urgncias. A cada configurao do

    presente, ela tem seus pressupostos, seus axiomas e sua eficacia interrogados; ela requer

    uma desconstruo infinita, sem sntese, que acompanha seu processo de

    perfectibilidade, uma postura crtica que se harmoniza com seu movimento orgnico. A

    operao descontrutora pois uma espcie de sentinela da indeconstrutvel democracia,

    ela deve vigi-la sem cessar, deslocando todo institudo de seu conformismo.

    A democracia por vir, assim como a desconstruo, possui como condio de

    possibilidade a autonomia do pensamento, a livre participao ao espao pblico e o

    exerccio do direito incondicional de colocar tudo em questo. O princpio de abertura

  • RODRIGUEZ, A. Ensaios Filosficos, Volume VIII Dezembro/2013

    como condio da desconstruo e da democracia se confunde com a liberao da

    multiplicidade de vozes evocada por Derrida, uma abertura ao outro em si e fora de si

    deve atravessar toda interdio, todo domnio do poder que submeta a pluralidade ou a

    multiplicidade hegemonia de um centro de referncia (monolinguismo,

    falogocentrismo, fonocentrismo, soberania do Estado-nao, etc.).

    Derrida no um relativista que tematiza um multiculturalismo radical, uma

    tica da hospitalidade incondicional que somente veja positividades na vinda do todo

    outro. A tica da hospitalidade enquanto motor da democracia por vir se apoia numa

    desconstruo "mestia", que vai alm da busca pela coexistncia pacfica entre culturas

    heterogneas e as identidades em um mesmo espao de coabitao. Derrida denuncia a

    atitude arrogante das sociedades ditas "progressistas" que abrem suas fronteiras e

    acolhem o estrangeiro com "tolerncia" (mas como vimos, sempre pelo crivo das

    regras de acolhimento: cidadania, capacidade para o trabalho, assimilao e integrao

    numa cultura local, etc.). O multiculturalismo reconfigurado pela desconstruo na

    medida em que retira suas razes do "contrato social" da "autoctonia", denunciando a

    ambiguidade de conceitos tais como cultura e identidade. O cosmopolitismo por vir,

    assim como a democracia por vir devem se distanciar de toda "tolerncia" porque

    embora ela vise a igualdade e a reciprocidade das "identidades culturais" em interao

    constante, ela se encontra ligada lgica do mais forte, ao registro onto-teolgico da

    soberania (lingustica, subjetiva, sexual, cidad, cultural, estatal, nacional, etc.),

    pensando a coexistncia em termos de adio, de ser-com, submetendo a

    multiplicidade a uma fictcia identidade homognea, una e indivisvel.

    O cosmopolitismo por vir no consiste em um chamado ao acolhimento

    incondicional sem precedentes, ela no sugere regras ou leis que devem ser aplicadas,

    pois em cada caso singular e diante de cada singularidade deve haver uma nova

    configurao da lei de hospitalidade nas leis. No h modelo de hospitalidade, apenas o

    compromisso de uma depurao que vise melhorar e tornar mais justas as leis

    materializadas. Sobre o cosmopolitismo por vir no temos o conceito, mas

    compreendemos que ele pode resultar de experincias com o direito internacional, da

    criao de alternativas polticas do espao pblico e de novas relaes com nossa

    herana. A tica da hospitalidade o motor de um cosmopolitismo por vir sedimentado

    em uma nova democracia, ela nos ajuda a conceber um outro espao e um outro direito

    internacional, um direito cidade, um espao que favorise o encontro e que garanta a

  • Derrida e o problema de uma "nova Internacional"

    coabitao da massa heterognea de viventes. A meta-tica da hospitalidade se

    apresenta como o princpio de manuteno da multiplicidade, preservao da

    singularidade e da diferena sem apelo a nenhum centro de referncia, ela vem como a

    promessa de uma nova aliana entre os viventes, condio de uma "nova internacional".

    Referncias bibliogrficas

    DERRIDA, Jacques, Positions, Paris: Minuit, 1972.

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