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Descobrindo a Bíblia

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DescobrinDoa

bíblia

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Copyright 2006 Alex Varughese (editor), Robert D. Branson, Jim Edlin, Tim M. Green, Roger Haln, David Neale, Jeanne Orjala Serrão, Dan Spross, Jirair Tashjian Copyright 2006 by Beacon Hill Press of Kansas City, a division of Nazarene Publish House, Kansas City, Missouri, 64109 USA. All rights reserved.Copyright 2012 em português Editora Central Gospel Ltda, com permissão da Beacon Hill Press de Kansas City, uma divisão da Nazarene Publish House, Kansas City, Missouri, 64109 USA.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)Varughese, Alex (ed.)Descobrindo a Bíblia — História e fé das comunidades bíblicasTítulo original: Discovering the Bible — History and Faith of the biblical CommunitiesRio de Janeiro: 2012520 páginasISBN: 978.85.7689.256-4 1. Bíblia - Vida Cristã I. Título II.

Gerência editorial e de produçãoGilmar Chaves

Coordenação editorialPatrícia Nunan

Coordenação de designMarcos Henrique Barboza

TraduçãoElen CantoGiuliana Niedhardt

1ª revisão Juliana RamosQueila Martins

Revisão finalPatrícia NunanPatrícia Calhau

Capa e adaptação do projeto gráficoMarcos Henrique Barboza

DiagramaçãoMarcos Henrique BarbozaSanderson Santos

Impressão e acabamentoSermograf

1ª edição: abril/2012Todos os direitos da obra original, em inglês, reservados a Nazarene Publishing House. É

proibida a reprodução total ou parcial do texto deste livro por quaisquer meios (mecânicos, eletrônicos, xerográficos, fotográficos etc), a não ser em citações breves, com indicação da fonte bibliográfica.

As citações bíblicas utilizadas neste livro foram extraídas da Versão Almeida Revista e Corrigida (ARC) 2009 da SBB, salvo indicação específica, e visam incentivar a leitura das Sagradas Escrituras.

Este livro está de acordo com as mudanças propostas pelo novo Acordo Ortográfico, em vigor desde janeiro de 2009.

Editora Central Gospel Ltda.Estrada do Guerenguê, 1851 – TaquaraCEP: 22713-001 | Rio de Janeiro – RJ

Tel.: (21) 2187-7000www.editoracentralgospel.com

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DescobrinDoa

bíbliaHistória e fé das

comunidades bíblicas

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ColaboradoresDr. Robert D. Branson (Universidade de Boston)Professor de Literatura Bíblica e chefe do Departamento de Religião e Filosofia na Universidade Olivet Nazarene, em Bourbonnais, Illinois.

Dr. Jim Edlin (Seminário Teológico Batista do Sul dos Estados Unidos)Professor de Literatura e Línguas Bíblicas e chefe do Departamento de Religião e Filosofia na Universidade MidAmerica Nazarene, em Olathe, Kansas.

Dr. Tim M. Green (Universidade Vanderbilt)Professor de Antigo Testamento e decano da Escola de Religião na Universidade Trevecca Nazarene, em Nashville, Tennessee.

Dr. Roger Hahn (Universidade Duke)Decano da Faculdade e professor de Novo Testamento no Seminário Teológico Nazarene, em Kansas City, Missouri.

Dr. David Neale (Universidade Sheffield)Vice-presidente de Assuntos Acadêmicos, decano acadêmico e professor de Novo Testamento na Faculdade Canadian Nazarene, em Alberta, Canadá..

Drª. Jeanne Orjala Serrão (Universidade Claremont Graduate)Decano da Escola de Teologia e Filosofia e professora adjunta de Literatura Bíblica na Universidade Mount Vernon Nazarene, em Mount Vernon, Ohio.

Dr. Dan Spross (Seminário Teológico Batista do Sul dos Estados Unidos)Professor de Teologia e Literatura Bíblica na Universidade Trevecca Nazarene, em Nashville, Tennessee..

Dr. Jirair Tashjian (Universidade Claremont Graduate)Professor de Novo Testamento na Universidade Nazarene do Sul, em Bethany, Oklahoma..

Dr. Alex Varughese (Universidade Drew)Professor de Literatura Bíblica na Universidade Mount Vernon Nazarene, em Mount Vernon, Ohio.

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Sumário

Prefácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9Nota do editor ao aluno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11Nota do editor ao instrutor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15Agradecimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17Dedicatória . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

UNIDADE 1INTRODUÇÃO .......................................... 21

1 – Uma história, muitos livros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 232 – Como se deve ler a Bíblia? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

UNIDADE 2O INÍCIO DE UMA COMUNIDADE DA FÉ .... 55

3 – O mundo em que surge Israel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 574 – Israel vê o começo: Gênesis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 695 – Israel se torna uma comunidade da aliança: Êxodo . . . . . . . . . . . . 856 – Rumo à Terra Prometida: Levítico, Números e Deuteronômio . .97

UNIDADE 3A COMUNIDADE DA ALIANÇA EM CRISE...111

7 – Israel na Terra Prometida: Josué, Juízes e Rute . . . . . . . . . . . . . . . . 1138 – Israel se torna um reino politicamente organizado: 1 e 2 Samuel . .1279 – O exílio de Israel da Terra Prometida: 1 e 2 Reis . . . . . . . . . . . . . . . 14110 – A restauração de Israel à Terra Prometida: Crônicas, Esdras, Neemias e Ester . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155

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UNIDADE 4ISRAEL: UMA COMUNIDADE COM SÁBIOS E POETAS ........................... 171

11 – Sabedoria da comunidade: Jó, Provérbios e Eclesiastes . . . . . . . . 17312 – Canções da comunidade: Salmos, Cantares e Lamentações . . . 189

UNIDADE 5ISRAEL: UMA COMUNIDADE COM PROFETAS E VISIONÁRIOS ........................................ 203

13 – Porta-vozes de Deus à comunidade: Isaías . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20514 – Porta-vozes de Deus à comunidade: Jeremias e Ezequiel . . . . . . 21915 – Porta-vozes de Deus à comunidade: Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas e Miquéias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23516 – Porta-vozes de Deus à comunidade: Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24917 – Porta-vozes de Deus à comunidade: Daniel . . . . . . . . . . . . . . . . . 263

UNIDADE 6O INÍCIO DA COMUNIDADE DA NOVA ALIANÇA ................................. 273

18 – O mundo do Novo Testamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27519 – Jesus: O Mediador da nova aliança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29120 – Jesus nos Evangelhos: os Evangelhos de Mateus e Marcos . . . . . 30521 – Jesus nos Evangelhos: os Evangelhos de Lucas e João . . . . . . . . . 32322 – O crescimento e a expansão da comunidade da nova aliança: o Livro de Atos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 341

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UNIDADE 7PAULO: PORTA-VOZ DA NOVA COMUNIDADE DA ALIANÇA .................... 355

23 – Paulo e suas cartas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35724 – A Carta de Paulo aos Romanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36925 – 1 e 2 Coríntios e Gálatas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38326 – Efésios, Filipenses e Colossenses . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39927 – 1 e 2 Tessalonicenses . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41328 – 1 e 2 Timóteo, Tito e Filemom . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 423

UNIDADE 8PROVAÇÕES E TRIUNFOS DA COMUNIDADE DA NOVA ALIANÇA .......... 435

29 – A Carta aos Hebreus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43730 – As Cartas de Tiago, Pedro e Judas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44931 – As Cartas de João . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46132 – O Livro de Apocalipse . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 473

Epílogo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 485Notas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 487

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Prefácio

A Bíblia desempenha um papel importante na fé e na educação cristã do homem. Pra-ticamente todos os cristãos afirmam que a Bíblia é a Escritura inspirada e a Palavra de Deus, e pelo menos uma versão dela pode ser encontrada em cada lar cristão.

A maioria dos cristãos está familiarizada com as histórias de Adão e Eva, Noé, Abraão, José, Moisés, Samuel, Davi, Jesus, Pedro, Paulo e outras personalidades bíblicas conhecidas. As histórias bíblicas fazem parte do currículo da escola dominical na maioria das igrejas cristãs. Os pregadores usam a Bíblia como fonte de pregação e ensinamento sempre que cristãos se reúnem para adorar a Deus. A leitura e o estudo da Bíblia são uma parte comum da vida devocional dos cristãos devotos.

Com frequência, eles consultam a Bíblia em busca de respostas definitivas para ques-tões relacionadas à moral e à ética. Apesar da popularidade da Bíblia e de sua posição sa-grada na Igreja e na sociedade, há um nível alarmante de “analfabetismo bíblico” entre os cristãos hoje em dia. Esse fato é particularmente evidente entre os jovens que ingressam em faculdades e universidades cristãs.

Uma das principais razões para essa crise é a falta de uma abordagem disciplinada na compreensão e no estudo da Bíblia. Com frequência, os estudos bíblicos individuais ou gru-pais se concentram na aplicação da Bíblia em questões práticas e contemporâneas, sem pro-curar investigar o contexto, a forma literária e o significado do texto para o público original.

Um objetivo importante de Descobrindo a Bíblia é ajudar os leitores a desvendar o mundo por trás dos relatos bíblicos e fornecer-lhes o conhecimento básico necessário para captar o significado e a mensagem das Escrituras.

O livro Descobrindo a Bíblia foi escrito principalmente como material didático de nível introdutório para cursos panorâmicos em faculdades e universidades cristãs que incluem o estudo da Bíblia como parte integral de seu programa educacional. A exigência da Bíblia na grade dos cursos de Artes Liberais pressupõe suas importantes contribuições para a herança e civilização da humanidade e seu valor como obra-prima literária.

Esta obra é um excelente recurso que introduz os leitores às características históricas, literárias e teológicas da Bíblia. Descobrindo a Bíblia também possui o objetivo de levar os estudantes a ter um encontro significativo com a viva e com a poderosa Palavra de Deus de uma maneira transformadora durante os anos de formação na faculdade ou universidade. No entanto, este livro não é apenas um material didático para cursos sobre a Bíblia em faculdades e universidades. Outro objetivo importante é oferecer um recurso claro e de fácil compreensão para leitores em geral e adultos que desejem aumentar seu conhecimento sobre a Bíblia.

Não há muitos panoramas introdutórios da Bíblia em um único volume no mercado atualmente. Consideramos este trabalho uma contribuição importante para suprir a neces-sidade crítica do povo de Deus.

Uma característica especial deste livro são os quadros informativos com conteúdo his-tórico, cultural, literário, arqueológico, hermenêutico e teológico. Esses quadros oferecem

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esclarecimentos concisos que levam o leitor a uma compreensão mais profunda da Bíblia como Palavra de Deus. Os livros bíblicos são apresentados nesta obra com informação in-trodutória suficiente acerca de autoria, data, contexto e outros dados relevantes e necessários para o entendimento do seu conteúdo. Cada capítulo apresenta objetivos de aprendizado, lista de palavras-chaves, perguntas a serem consideradas durante a leitura, resumo em tópi-cos, perguntas para reflexão e aplicação e fontes para estudo adicional. Além disso, ao final da maioria dos capítulos, encontra-se uma proposta de estudo bíblico com o objetivo de levar os leitores a desenvolver uma abordagem sistemática do estudo das Escrituras.

Descobrindo a Bíblia também demonstra uma preocupação profunda em destacar as questões teológicas da Palavra. Embora não possua o objetivo de abranger todos os diversos aspectos da teologia bíblica, cada capítulo demonstra a convicção dos autores de que Deus operou na história das comunidades bíblicas. Perspectivas protestantes sobre pecado, salvação, graça, fé, santidade e esperança do crente fundamentam cada capítulo e estão resumidas nos quadros informativos de conteúdo teológico.

Todos os autores deste livro lecionaram em cursos panorâmicos sobre a Bíblia para iniciantes em faculdades e universidades cristãs de Artes Liberais, e muitos deles estão envolvidos com o ensino há mais de um quarto de século. Todos os autores possuem qualificação nos estudos bíblicos em nível de doutorado. Descobrindo a Bíblia demonstra a combinação de sabedoria e perícia destes acadêmicos cristãos que dedicaram sua vida à educação superior cristã. Eles foram bem-sucedidos na transmissão de um entendimento claro das Escrituras e no incentivo de uma fé viva e consciente por meio deste livro.

Tanto alunos como professores serão convidados a adentrar na mensagem da Pa-lavra. É minha oração que seu amor pelas Escrituras e seu relacionamento com Deus se aprofundem por meio do estudo deste livro.

— Roger L. HahnEditor geral de materiais didáticos

da Beacon Hill de Kansas

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Nota do editor ao aluno

Seja bem-vindo a uma jornada que o levará a conhecer a Bíblia de uma maneira inovadora. Como leitor e estudante das Escrituras, você considerará esta jornada uma aven-tura desafiadora e empolgante. O propósito deste livro é oferecer a você um roteiro claro e estrategicamente projetado para que esta jornada seja uma incrível experiência de apren-dizado. Nela, você se deparará com diversos cruzamentos importantes na história e com o desenvolvimento da fé do povo de Deus — tanto Israel no Antigo Testamento como a comunidade dos cristãos primitivos no Novo Testamento.

Os diversos capítulos deste livro têm como objetivo ajudá-lo a entender a impor-tância de tais eventos históricos e tradições religiosas não somente para as comunidades da fé do passado, mas também para o povo de Deus nos dias de hoje. Cada capítulo está cuidadosamente estruturado não apenas com descrições desses eventos e dessas ideias bíblicas, mas também com indicações e sinalizações que o ajudarão a transitar pelo ca-pítulo sem muita dificuldade. Convidamos você a reservar algum tempo no início para se familiarizar com essas indicações e sinalizações antes de embarcar em sua aventura no descobrimento da Bíblia.

ObjetivosNo início de cada capítulo, você encontrará uma lista de objetivos. Eles indicam o que

você deverá ser capaz de fazer como resultado do estudo de cada capítulo desta obra. Man-tenha esses objetivos em mente ao ler e estudar cada parte do livro. Sublinhe ou grife os trechos do capítulo onde encontrar descrições de tópicos que o ajudarão a alcançar cada objetivo.

Palavras-chavesCada capítulo contém explicações ou definições de termos, bem como identificações

de pessoas e lugares importantes. Esses termos estão localizados no início de cada capítulo e são destacados com negrito em suas ocorrências no decorrer do texto. A compreensão desses termos e a capacidade de identificá-los ou descrevê-los é essencial para o sucesso de sua jornada de estudo da Bíblia.

Perguntas a serem consideradas durante a leituraNo início de cada capítulo, você também encontrará várias perguntas. Elas visam

prepará-lo para a leitura e o estudo do assunto em questão em cada capítulo. Antes de começar a leitura do capítulo, escreva suas respostas a essas perguntas. Esse exercício o ajudará a refletir antecipadamente e a preparar-se para as questões históricas e teológicas apresentadas no capítulo.

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Resumo em tópicosÉ natural que todo leitor de livro ou capítulo de um livro faça a pergunta “Qual é o

ponto principal?”. Nós fornecemos alguns tópicos importantes ao final de cada capítulo, os quais resumem os principais pontos dele. Utilize esses resumos em tópicos para revisar o que você aprendeu e retorne aos trechos que você possa ter deixado de lado.

Perguntas para reflexãoCada capítulo também termina com algumas perguntas. Elas o ajudarão a pensar

mais a respeito dos assuntos, dos acontecimentos e das ideias religiosas que você aprendeu. O objetivo dessas perguntas é levá-lo não apenas a processar o que aprendeu, mas também desafiá-lo a aplicar as lições nas situações de sua própria vida.

Proposta de estudo bíblicoAo final de cada capítulo, a partir do terceiro, você encontrará uma proposta de es-

tudo bíblico, a qual, se realizada fielmente, ajudará você a desenvolver um método sistemático de leitura e interpretação do texto bíblico.

Fontes para estudo adicionalNão temos a pretensão de que este material responda a todas as suas perguntas sobre

a Bíblia. Apesar de muito trabalho ter sido destinado à produção deste livro, reconhecemos a providência da graça de Deus por meio de outros recursos que contribuem para o nosso entendimento acerca de Sua Palavra. Cada capítulo termina com uma lista de dois ou mais comentários bíblicos ou recursos que esperamos poder ajudá-lo na continuação de seu estudo da Bíblia.

Quadros informativosAo longo de cada capítulo, incluímos quadros informativos de diferentes cores com

informações resumidas, porém úteis, sobre assuntos relacionados a interpretação bíblica, teologia, história, cultura bíblica, características literárias e arqueologia. Os símbolos e a refe-rência de cores desses quadros são especificados abaixo.

I Quadros de conteúdo interpretativo/hermenêutico que tratam de questões inter-pretativas ou explicações relacionadas a textos bíblicos específicos.

T Quadros de conteúdo teológico que tratam de questões teológicas importantes que encontramos nos livros bíblicos.

H Quadros de conteúdo histórico que oferecem esclarecimento para o desenvolvi-mento de conceitos religiosos, ideias ou outras questões historicamente relevantes relacionadas a assuntos específicos.

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C Quadros de conteúdo cultural que ilustram costumes culturais e ideias religiosas da época bíblica.

L Quadros de conteúdo literário que explicam características literárias específicas do texto bíblico.

A Quadros de conteúdo arqueológico que explicam descobertas arqueológicas im-portantes que esclarecem determinados textos bíblicos.

Recursos visuaisApresentamos fotos, mapas e ilustrações neste livro que lhe servirão de ajuda no estu-

do. Nossa esperança é que uma imagem valha mais que mil palavras! Nós também o incenti-vamos a estudar os mapas e a tentar transpor a distância geográfica entre você e a localização dos acontecimentos bíblicos.

Por fim, nossa oração é que você considere essas indicações e sinalizações imensamente úteis ao iniciar sua “viagem” rumo à descoberta da Bíblia.

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Nota do editor ao instrutor

O principal objetivo deste livro é oferecer um material didático claro, conciso, de fácil leitura e pedagogicamente sólido para cursos panorâmicos de nível introdutório da Bíblia, os quais são parte importante do currículo educacional geral em faculdades e universidades cristãs. Cada capítulo deste livro aborda questões pedagógicas que são cruciais para o domí-nio do conteúdo, bem como sua avaliação e aplicação.

O método pedagógico inclui objetivos de aprendizado, listas de palavras-chaves, per-guntas para os alunos a fim de orientá-los quanto ao material de cada capítulo, panoramas do conteúdo dos livros bíblicos, resumo em tópicos, perguntas para reflexão, avaliação e aplicação das lições aprendidas, uma proposta de estudo bíblico e duas ou mais fontes para leitura e estudo adicionais.

Também incluímos, em cada capítulo, diversos quadros informativos que abordam uma variedade de assuntos e questões. Esses quadros de diferentes cores — categorizados com conteúdo interpretativo, teológico, histórico, cultural, literário e arqueológico — estão dispostos em posições estratégicas ao longo do capítulo.

Os quadros de conteúdo interpretativo tratam de questões interpretativas ou expli-cações relacionadas a textos bíblicos específicos. Os quadros de conteúdo teológico se concentram em análises profundas de questões teológicas importantes e em sua relevância e aplicação à vida dos leitores contemporâneos da Bíblia. Os quadros de conteúdo histórico, cultural, literário e arqueológico oferecem informação suplementar para expandir o entendimento do leitor acerca da Bíblia. É nossa esperança que você considere esses quadros informativos um recurso valioso para uma compreensão mais profunda de seus alunos a respeito da Palavra de Deus.

Além dos quadros informativos, este livro inclui uma proposta de estudo bíblico ao fi-nal de cada capítulo, a partir do terceiro. Nosso objetivo é introduzir os leitores a um método adequado de leitura e estudo da Bíblia. Esperamos que você incentive seus alunos a realizar essas tarefas como parte das exigências do seu curso.

Os colaboradores deste livro trazem consigo perspectivas singulares e treinamento especializado em relação a diferentes seções da Bíblia. Cada capítulo reflete o interesse acadêmico do autor, sua preparação e sua competência no ensino. O livro contém ma-teriais e métodos de instrução testados e experimentados em nossas aulas panorâmicas sobre a Bíblia.

Nossos longos anos de experiência no ensino de cursos introdutórios sobre a Bíblia nos levaram a tomar decisões quanto à estrutura, ao formato e ao conteúdo deste livro. Apresentamos este trabalho como uma obra acadêmica, mas escrito para o nível de univer-sitários iniciantes, com uma linguagem de fácil compreensão. Também procuramos tratar as questões críticas com profunda clareza, sem prejudicar o conhecimento acadêmico em detrimento de uma abordagem superficial do assunto em questão.

Por fim, focamos a Bíblia como Escritura cristã, tendo em mente a unidade e a conti-nuidade essenciais do Antigo e do Novo Testamento. Sempre que apropriado, os autores dos

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capítulos procuraram estabelecer uma relação da história e fé de Israel com a história e fé da Igreja. A unidade da Bíblia, a continuidade entre os dois Testamentos e o plano redentor de Deus para toda a humanidade, consumado pela morte e ressurreição de Jesus Cristo, são convicções primordiais dos autores deste livro. É nossa esperança que o leitor obtenha um entendimento básico não só da história das comunidades bíblicas, como também dos temas fundamentais da teologia bíblica.

Nosso desejo é que você considere este livro uma importante ferramenta em suas mãos ao ensinar a Palavra eterna e fiel de Deus aos seus alunos e ao ministrar-lhes Sua graça em sala de aula!

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Agradecimentos

Este volume único de Descobrindo a Bíblia é uma edição condensada e resumida de Discovering the Old Testament (Descobrindo o Antigo Testamento) e Discovering the New Testament (Descobrindo o Novo Testamento), publicados pela Beacon Hill Press. Quero expressar minha gratidão aos meus colegas por permitirem que eu reeditasse seu material nesses dois volumes e produzisse este livro.

Assim, agradeço a cada acadêmico que colaborou com esta obra. A lista com o nome deles a seguir vem com a indicação dos capítulos que contêm seu trabalho.

Alex Varughese (capítulos 1, 3, 4, 5, 6, 13, 14, 15, 16, 18, 23, 24, 25, 26, 27, 28 e epílogo)David Neale (capítulos 21, 22)Dan Spross (capítulos 24, 25, 26, 27, 28)Jeanne Orjala Serrão (capítulos 29, 30, 31, 32)Jim Edlin (capítulos 10, 16, 17)Jirair Tashjian (capítulos 19, 20, 21)Robert Branson (capítulos 11, 12)Roger Hahn (capítulos 1, 2, 23)Tim Green (capítulos 7, 8, 9)

Agradeço também a Roger Hahn, editor geral da Centennial Initiative na Igreja de Nazarene, e a Bonnie Perry, editora executiva da Beacon Hill Press, de Kansas, pois eles foram incentivadores fiéis deste projeto.

Esta obra reflete o forte compromisso da Beacon Hill em oferecer recursos acadêmi-cos de qualidade a faculdades e universidades cristãs, bem como a pastores e membros de igrejas.

Eu também gostaria de expressar minha gratidão a Richard Buckner, editor da linha de produtos para ministério da Beacon Hill Press, por sua assistência e supervisão editorial neste projeto, e a Sharon Page, pelo projeto habilidoso e design deste livro.

Meu agradecimento maior a Deus.

Alex Varughese,Editor

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Dedicatória

Dedico este livro à minha esposa, Márcia, como expressão de minha gra-tidão por seu fiel apoio às minhas ativi-dades de escrita. Minha oração é que a presença constante de Deus que desco-brimos em nossa vida juntos seja o pre-sente dele aos leitores deste livro!

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UNIDADE 1

INTRODUÇÃO

O estudo desta unidade ajudará você a:• Discutir a formação da Bíblia e a canonização dos livros bíblicos.• Descrever a estrutura literária da Bíblia.• Resumir a história da tradução da Bíblia.• Estabelecer diretrizes para a leitura e a interpretação da Bíblia.

1. Uma história, muitos livros

2. Como se deve ler a Bíblia?

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Objetivos:

Perguntas a serem consideradas durante a leitura:

Palavras-chaves

Uma história, muitos livros

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Revelação

Encarnação

Inspiração

Teoria da inspiração ditada

Teoria da inspiração dinâmica

Cânon

Teologia

História da salvação

Torá

Nebi’im

Os Manuscritos do mar Morto

Ketuvim

Canonização

Evangelhos

Cartas

Literatura apocalíptica

Targuns

Septuaginta

Vulgata

Apócrifos

O estudo deste capítulo deverá ajudar você a:

• Resumir o processo de formação dos livros bíblicos e a canonização do Antigo e do Novo Testamento.

• Descrever as diversas e importantes seções literárias da Bíblia e os livros que fazem parte de cada uma dessas seções.

• Discutir a unidade e a continuidade da história bíblica no Antigo e no Novo Testamento.

• Resumir a história da tradução da Bíblia.

1. Qual é a relação entre revelação e inspiração na confecção da Bíblia?

2. Como os livros bíblicos demonstram a unidade e a continuidade da história bíblica?

3. Como você relaciona o conceito de comunidade da aliança com a formação da Bíblia?

23

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De que se trata a Bíblia?

A revelação de Deus na HistóriaA história relatada na Bíblia é frequen-

temente considerada “a maior história já con-tada”. Essa é uma forma adequada de caracte-rizar a Bíblia, porque ela trata da história de um relacionamento por meio do qual Deus revela e expressa Seu amor à humanidade. Essa história revela ao leitor quem Deus é.

A Bíblia narra a história da revelação divina, da autorevelação dele à humanida-de por meio de Suas palavras e ações. Por-tanto, ela é mais do que uma mera história. Ela é História, porque acontecimentos his-tóricos serviram de cenário para a revela-ção divina registrada na Bíblia.

Acontecimentos históricos — a começar pela criação da Terra e da humanidade por Deus, a ascensão da civilização humana e o surgimento dos poderes políticos mundiais

— são parte da história da Bíblia. A história bíblica, que começa no Livro de Gênesis, com o relato da criação da Terra e da humanidade por Deus, termina no Livro de Apocalipse, com a consumação da história e a criação de um novo céu e uma nova terra.

O ponto central da história bíblica é a revelação de Deus na pessoa de Jesus de Na-zaré. O Verbo de Deus, Jesus, encarnou, fez--se carne e sangue (encarnação), e, assim, re-velou-se de modo mais pleno à humanidade.

Os acontecimentos históricos do An-tigo Testamento constituem o cenário des-sa realidade suprema da autorrevelação de Deus. O Novo nos oferece o registro das ações de Deus na história por meio do es-tabelecimento da comunidade cristã e do crescimento da Igreja.

A história humana continua a servir como palco para as ações de Deus por inter-médio de Cristo e de Seu Espírito Santo. Nós precisamos considerar essa relação essencial

Deus se revela a nós por meio de Sua criação: um pôr do sol visto do mar da Galileia

25

1. Uma história, muitos livros

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entre revelação e história ao embarcarmos na jornada pelas comunidades da fé na Bíblia.

Inspiração divinaA inspiração divina desempenhou um

papel ativo no recebimento e registro da re-velação pelos escritores bíblicos da antigui-dade. Muito embora não possamos explicar adequadamente o método e o processo de inspiração, as Escrituras testificam que Deus teve participação ativa em seu processo de escrita (2 Tm 3.16,17; 2 Pe 1.20,21).

Alguns cristãos entendem a inspiração como se o texto bíblico tivesse sido ditado por Deus aos escritores da Bíblia (teoria da ins-piração ditada). Teólogos evangélicos wes-leyanos reconhecem o envolvimento ativo do Espírito Santo no processo de escrita das Escrituras (teoria da inspiração dinâmica).

O Espírito Santo preparou os escri-tores bíblicos para receber e comunicar a revelação. Os escritores bíblicos receberam entendimento especial em relação às ativi-dades de Deus na História, as quais eles in-terpretaram aos olhos de suas tradições de fé e comunicaram-nas por meio da escrita.

A teoria dinâmica se concentra no real envolvimento do Espírito de Deus na vida e na obra desses escritores. Uma vez que o Espírito Santo é o Agente ativo na comunicação da revelação por meio das Escrituras, precisamos submeter-nos à au-toridade e à direção do Espírito para o en-tendimento correto da Palavra de Deus.

A Bíblia como cânonA revelação e a inspiração dão à Bíblia

a posição distinta como cânon da Igreja cristã. Na acepção popular, o termo cânon se refere à compilação de escritos aceita como oficial e normativa para fé e prática por um corpo eclesiástico.

A Bíblia como cânon reflete a autori-dade das Escrituras na tradição cristã. Ela possui autoridade por ser o registro da au-torrevelação de Deus. A Bíblia determina o

padrão (literalmente, a palavra cânon em grego significa uma haste, uma vara ou ré-gua) para a fé e a prática.

História bíblicaDiversas histórias bíblicas relatam o

que Deus fez no passado, o que está fa-zendo no presente e o que fará no futuro. Os escritores da Bíblia não apenas agru-param e organizaram materiais históri-cos, como também interpretaram aconte-cimentos a fim de mostrar o significado e o propósito das atividades de Deus na história humana.

A história bíblica é, portanto, história teológica, algo bem diferente de história se-cular em conteúdo e orientação (teologia é, propriamente, uma ciência ou o estudo de Deus e de Seus atributos). Ela se distingue da história secular porque se concentra nas atividades de Deus e pressupõe uma rela-ção direta entre Deus e diversos aconteci-mentos históricos.

Os escritores bíblicos enxergam a salvação da humanidade como o propósi-to final das ações de Deus na história. Os escritores do Novo Testamento afirmam que Deus cumpriu o plano de salvação por intermédio de Cristo, que veio ao mundo pelo determinado conselho e presciência de Deus (At 2.23). O apóstolo Paulo falou da vinda de Jesus Cristo como sendo o plano de Deus de tornar a congregar em Cristo to-das as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra (Ef 1.10).

Essa plenitude dos tempos [gr. kairos] é o tempo ou época determinada por Deus para cumprir Seus planos e propósitos, dos quais o ponto central é a vinda de Jesus ao mundo para trazer salvação à humanidade pecaminosa.

Os acadêmicos frequentemente deno-minam a história bíblica como história da salvação [al. heilgeschichte] por causa da ên-fase na redenção do pecado da humanidade.

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UNIDADE 1

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A história bíblica apresenta continui-dade e unidade. Isso é evidente nas histó-rias tanto do Antigo como do Novo Testa-mento. Os acontecimentos importantes a seguir constituem a estrutura da história do Antigo Testamento:

• Criação e pecado da humanidade (Gênesis 1—11).

• Aliança de Deus com Abraão e seus descendentes (Gênesis 12—50).

• Êxodo de Israel, do Egito e a aliança no monte Sinai (Êxodo 1—40).

• Jornada de Israel no deserto e a con-quista de Canaã (Livros de Números, Deuteronômio e Josué).

• Israel sob a liderança de líderes carismá-ticos (Livros de Juízes e 1 Samuel 1—9).

• O início da monarquia (1 Samuel 10—1 Reis 11).

• Os reinos divididos de Israel (1 Reis 12—2 Reis 25).

• O exílio e a restauração (Livros de Esdras e Neemias).

Durante o período em que o reino de Israel esteve dividido, o povo ficou sob o controle político da Assíria, que trouxe fim ao Reino do Norte. Quando o domínio assírio chegou ao fim, a Babilônia obteve o controle do Reino do Sul, o que resultou no exílio dos líderes locais para a Babilônia.

Durante o período persa, os exilados retornaram à sua terra natal. A história posterior de Israel (dos judeus), apesar de não estar registrada no Antigo Testamento, é bem conhecida. Após o domínio persa, os governantes gregos controlaram a Palestina por aproximadamente 170 anos.

Seguindo o exemplo do governo gre-go, os judeus estabeleceram um reino in-dependente que durou cerca de 100 anos, mas essa independência chegou ao fim quando Roma conquistou o controle mi-litar e político da Palestina.

A história do Novo Testamento se pas-sa neste contexto histórico maior da história

de Israel e mostra como as esperanças e ex-pectativas dos judeus em relação à vinda do Messias davídico foram satisfeitas na pes-soa de Jesus de Nazaré.

Uma parte essencial dessa história é a entrada dos gentios na aliança com Deus, uma demonstração evidente da fidelidade dele para com Sua promessa de abençoar todas as famílias da terra por intermédio da família de Abraão.

As narrativas históricas do Novo Tes-tamento se concentram principalmente nas duas categorias seguintes: no nascimento, na vida, no ministério, na morte e na res-surreição de Jesus (Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João) e, também, no início e expansão da Igreja em meio à civilização romana (o Livro de Atos)

A história do Novo Testamento não termina com o Livro de Atos, mas persiste nos dias de hoje e continuará até a volta de Jesus Cristo. A história bíblica, na verdade, é a nossa história. Não somente herdamos essa história de homens e mulheres da Bíblia, mas somos participantes do drama em andamen-to da redenção, que continua a ser represen-tado no palco da história humana. Não po-demos permanecer às margens da história bíblica como espectadores. Devemos entrar nessa história e, assim, provar um relaciona-mento vivo e dinâmico com Deus.

A compilação da Bíblia

O Antigo TestamentoO Antigo Testamento (também conhe-

cido como Escrituras hebraicas) é a Bíblia do judaísmo e parte das Escrituras cristãs [o Antigo Testamento]. Com exceção de algu-mas passagens em aramaico (tais como Ed 4.8—6.18; 7.12-26; Dn 2.4b—7.28), os livros do Antigo Testamento foram escritos em he-braico. Há 39 livros na edição protestante do Antigo Testamento. O Antigo Testamento Católico Romano possui sete livros a mais,

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1. Uma história, muitos livros

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comumente conhecidos como livros deute-rocanônicos ou apócrifos.

A tradição judaica divide as Escrituras hebraicas em três partes: Torá (a Lei), Nebi’im (os Profetas) e Ketuvim (os Escritos). Os li-vros pertencentes à Torá, ou à Lei (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronô-mio), contêm os primeiros registros da his-tória humana e o início da história de Israel.

As narrativas de Israel incluem as his-tórias dos ancestrais dessa nação, o estabe-lecimento deles como povo por Deus, as re-gras e normas determinadas por Deus para a fé e a vida de Israel no mundo e a história da jornada desse povo à terra de Canaã. Com exceção de Gênesis 1—11, esses livros abrangem a história de Israel desde aproxi-madamente 1900 a.C. a 1240 a.C.

A parte Nebi’im (os Profetas) possui duas subdivisões. A primeira, também co-nhecida como Profetas Anteriores (Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel e 1 e 2 Reis), trata da história de Israel desde sua entrada em Ca-naã até o início do seu cativeiro na Babilônia (1240 a.C. a 587 a.C.). Esses livros são co-nhecidos como os livros históricos da tradi-ção cristã. A segunda subdivisão, os Profetas Posteriores, contém os livros dos grandes

profetas de Israel, Isaías, Jeremias e Eze-quiel, e os Doze (Oseias, Joel, Amós, Oba-dias, Jonas, Miqueias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias).

A parte Ketuvim (os Escritos) contém os seguintes livros: Salmos, Jó, Provérbios, Rute, Cântico dos Cânticos, Eclesiastes, Lamentações, Ester, Daniel, Esdras, Neemias, 1 Crônicas e 2 Crônicas.

Formação do Antigo TestamentoO Antigo Testamento em sua forma

atual é o resultado de um processo longo e complexo que incluiu a escrita e o de-senvolvimento de manuscritos, bem como a aceitação de manuscritos selecionados como Escrituras [inspiradas por Deus] re-conhecidas pelo judaísmo.

As histórias registradas no Livro de Gênesis faziam parte das tradições de fé de Israel durante a época de Moisés (Século 13 a.C.). Começando com o Livro de Êxodo, os acontecimentos bíblicos se concentram na vida e no ministério de Moisés. As histórias em Êxodo, Levítico, Números e Deuteronô-mio pertencem ao período mosaico. Talvez uma parte signifi cativa dessas histórias tenha permanecido como tradição oral de Israel (histórias transmitidas oralmente de uma ge-ração a outra) durante três ou mais séculos antes de serem registradas na forma escrita.

Também é possível que grandes tre-chos dos Livros de Josué, Juízes, 1 e 2 Sa-muel e 1 e 2 Reis tenham existido na forma de tradição oral durante um período consi-derável de tempo.

Os Livros dos Profetas pertencem a um período entre o oitavo e o quinto século a.C. A maior parte dos Escritos também poderia ser datada desse período. É provável que a maio-ria dos livros do Antigo Testamento tenha re-cebido sua forma fi nal entre 800 e 400 a.C.

Os locais onde a escrita dos livros do Antigo Testamento ocorreu não são clara-mente conhecidos por nós, mas a Palestina e a Babilônia são possíveis localizações.

MANUSCRITOS DO MAR MORTO

Os manuscritos hebraicos mais antigos que temos hoje são de um período por volta de 100 a.C.. Esses manuscritos, encontrados em Qumran, na região noroeste do mar Mor-to, esclareceram um pouco sobre a história dos manuscritos do Antigo Testamento.

Os Manuscritos do mar Morto, des-cobertos entre 1947 e 1956, incluem duas cópias do Livro de Isaías (uma delas com-pleta), um comentário sobre o Livro de Ha-bacuque, vários salmos e fragmentos de to-dos os livros do Antigo Testamento, menos Ester. Além disso, as cavernas em Qumran também nos deram um grande número de material não bíblico.

A

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Não temos os manuscritos originais (hológrafos) dos livros do Antigo Testa-mento. Cópias ou manuscritos posterio-res dos livros do Antigo Testamento são produto do trabalho dos escribas, os quais faziam cópias cuidadosas e precisas de manuscritos existentes. Desgaste, rasgos e envelhecimento dos rolos teria induzido a novas cópias dos manuscritos antigos.

Descobertas em Qumran confirmaram a opinião acadêmica de que uma variedade de tradições de manuscritos existia durante a época pré-cristã. Embora não se saiba mui-to acerca da história e da produção dos ma-nuscritos, do Antigo Testamento, cremos que, por volta de 100 a.C., as autoridades judaicas na Palestina iniciaram o processo de análise das diversas tradições de manus-critos, a fim de estabelecer as Escrituras pa-drões e oficiais do judaísmo. Isso significa que um grande número de manuscritos não recebeu reconhecimento como Escritura [e não entrou para o cânon sagrado]. Esse pro-cesso foi completado em 100 d.C.

A partir do estabelecimento de uma tradição de manuscrito padrão e oficial, os representantes do judaísmo tiveram cuidado

especial em copiar e preservar os manuscritos dos livros do Antigo Testamento.

Em cerca de 500 d.C., os escribas in-troduziram um sistema de vogais e notas de margem (massorá) no texto do Antigo Tes-tamento. O texto massorético, fonte textual da Bíblia hebraica hoje, é atribuído à obra completa desses escribas [massoretas].

Canonização do Antigo TestamentoEm diversos períodos na história da

produção e transmissão dos livros do An-tigo Testamento, o judaísmo deu passos em direção ao reconhecimento desses li-vros como oficiais e normativos para a fé e a prática. A precisa história desse processo (canonização) é desconhecida.

Acadêmicos acreditam que os livros da Lei (Torá) eram as Escrituras oficiais (câ-non) do judaísmo em torno de 400 a.C. É possível que esses livros tenham se tornado oficiais sob a influência de Esdras, o sacer-dote, o qual influenciou a vida judaica no quinto século a.C. [pós-exílio babilônico].

O judaísmo aceitou os Profetas Ante-riores e Posteriores como cânon por volta de 200 a.C. Alguns dos Ketuvim (os Escritos)

Caverna IV de Qumran, a qual continha uma cópia quase completa da tradução em grego dos 12 profetas menores

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1. Uma história, muitos livros

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faziam parte das Escrituras sagradas do ju-daísmo no início do primeiro século d.C.

As referências à Lei, aos Profetas e aos Salmos no Novo Testamento (veja, por exemplo, Lucas 24.44) indicam a natureza do cânon judaico no primeiro século de-pois de Cristo.

A aceitação oficial do Ketuvim como cânon ocorreu durante o Concílio de Jâm-nia, por volta de 95 d.C. Durante esse con-cílio, os rabinos deram seu aval oficial a to-dos os 39 livros do Antigo Testamento.

O Novo TestamentoUm total de 27 porções de literatura

cristã antiga forma o Novo Testamento. A organização do Novo Testamento mostra algumas semelhanças impressionantes com a organização do Antigo. O Novo Testamen-to também começa com uma compilação de narrativas seguida por uma compilação de escritos ocasionais produzidos durante a história narrada. E, assim como o Antigo, encerra com uma visão profética do futuro.

Os Livros de Mateus, Marcos, Lucas e João são chamados de Evangelhos e devem sua designação à pessoa que, conforme a

tradição, havia escrito ou coletado o mate-rial narrado neles.

Embora alguns acontecimentos e al-gumas palavras de Jesus sejam comuns a dois, três ou até mesmo todos os quatro Evangelhos, cada escritor pintou um re-trato ímpar da vida e importância de Jesus. Cada um dos Evangelhos dedica quase um terço do livro à última semana, morte e res-surreição de Jesus.

O quinto livro de narrativa é o de Atos dos Apóstolos, o qual, claramente, é o segundo volume produzido pelo autor do Evangelho de Lucas. O prólogo tanto de Lucas como de Atos deixa claro que Lu-cas tencionou que esses dois livros fossem entendidos como parte do gênero antigo de história.

Depois dos Evangelhos e de Atos, o Novo Testamento apresenta duas compila-ções de cartas cristãs primitivas. A primeira compilação contém cartas escritas pelo após-tolo Paulo a diversas igrejas ou pessoas (Ro-manos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Fili-penses, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito, Filemom). A segunda com-pilação de cartas costuma ser chamada de

As primeiras cópias dos manuscritos do Novo Testamento foram escritas em papiro, material feito de caules finos de papiros

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