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Desempenho de Modelo de Infiltração... – Oliveira & Soares
Revista Diálogos N. 18 – set./out. – 2017 519
DESEMPENHO DE MODELOS DE INFILTRAÇÃO
TRIDIMENSIONAL DE ÁGUA NO SOLO
d.o.i. 10.13115/2236-1499v2n18p519
Diogo Botelho Correa de Oliveira1 - UPE
Willames de Albuquerque Soares2 - UPE
Resumo: A água é um recurso natural substancial para as
atividades antrópicas em diversos âmbitos. Os processos que
compõem o ciclo hidrológico, como a infiltração, a
evapotranspiração e o escoamento superficial são dependentes
diretos do meio físico ao qual se encontram. Logo é relevante
conhecer como é possível caracterizar a infiltração da água no solo
e quais são os meios necessários para isto. Em uma região
relevante da cidade do Recife, objetivou-se analisar o desempenho
de dois modelos numéricos de infiltração tridimensional da água
no solo: O de Haverkamp e o de Lassabatère (BEST). Os testes de
infiltração em campo foram realizados com a utilização do
infiltrômetro a simples anel. Junto a este, também foram realizados
ensaios de granulometria, para classificação do solo estudado e
para utilização de um dos métodos, os ensaios de densidade
aparente – através do trado de Uhland - e de umidades natural e
saturada. Como parâmetro estatístico de análise de desempenho,
utilizou-se o coeficiente de determinação e o teste de Tukey. Os
dois modelos mostraram-se altamente eficientes para o tipo de solo
encontrado na região. Os resultados obtidos com as curvas de
infiltração podem ser utilizados em diversos estudos de previsão
1 Graduando do curso de Eng. Civil pela Universidade de Pernambuco -
Campus Benfica [email protected]
2 Professor Adjunto da Universidade de Pernambuco – Campus Benfica
Desempenho de Modelo de Infiltração... – Oliveira & Soares
Revista Diálogos N. 18 – set./out. – 2017 520
que visem estimar eventos como o balanço hídrico na localidade,
a capacidade acumulativa de água no solo t ainda no seu
desempenho na contribuição da drenagem urbana.
Palavras-Chave: Infiltração de água no solo, modelos numéricos
de infiltração, análise Estatística, drenagem urbana.
Abstract: Water is a substantial natural resource for anthropogenic
activities in a variety of settings. The processes that compose the
hydrological cycle, such as infiltration, evapotranspiration and
surface runoff are directly dependent on the physical environment
to which they are located. It is therefore important to know how it
is possible to characterize the infiltration of water into the soil and
what the necessary means are for this. In a relevant region of the
city of Recife, the objective was to analyze the performance of two
numerical models of water infiltration in the soil: Haverkamp and
Lassabatère (BEST). Field infiltration tests were performed using
the simple ring infiltrometer. In addition to this, granulometry tests
were also carried out to classify the studied soil and to use one of
the methods, the tests of apparent density - through Uhland - and
natural and saturated moistures. As a statistical parameter of
performance analysis, the coefficient of determination and the
Tukey test was used. The two models were highly efficient for the
type of soil found in the region. The results obtained with the
infiltration curves can be used in several prediction studies to
estimate events such as water balance in the locality, cumulative
water capacity in the soil and still its performance in the contribution
of urban drainage.
Keywords: Infiltration of soil water, numerical models of
infiltration, statistical analysis, urban drainage.
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Revista Diálogos N. 18 – set./out. – 2017 521
1. Introdução
A água é um recurso natural substancial para as atividades
antrópicas em diversos âmbitos. Seu ciclo possui componentes
indispensáveis para a manutenção do equilíbrio passivo entre a
urbanização e a natureza. Os processos que compõem o ciclo
hidrológico, como a infiltração, a evapotranspiração e o escoamento
superficial são dependentes diretos do meio físico ao qual se
encontram. Atualmente, várias cidades sofrem com problemas
como as cheias e alagamentos, decorrentes da descaracterização
natural do solo. As áreas mais afetadas geralmente se encontra em
localidades próximas aos cursos d’água, já que são locais de baixa
cota topográfica. (OLIVEIRA et al., 2017).
O volume pluvial de água que atinge o solo segue diversos
caminhos. Como o solo é um meio poroso, há infiltração de toda
precipitação que chega ao solo, enquanto a superfície do solo não é
saturada. A partir do momento da saturação superficial, à medida
que o solo vai sendo encharcado a maiores profundidades, a
infiltração decresce até uma taxa residual, com o excesso não
infiltrado da precipitação gerando escoamento superficial. A
infiltração e a percolação no interior do solo são comandadas pelas
tensões capilares nos poros e pela gravidade (TUCCI, 2007).
Desempenho de Modelos de Infiltração... – Oliveira & Soares
Revista Diálogos N. 18 – set./out. – 2017 522
Para Melo et al. (2013), a expansão das áreas urbanas tem
influência direta no equilíbrio natural do ciclo da água. É sabido que
a impermeabilização do solo interfere diretamente em fatores como
a vazão dos rios e consequentemente no abastecimento de água da
população, visto que a fonte destes são as águas subterrâneas. O
abastecimento desta última é proveniente da água que percola da
superfície para as camadas mais internas do solo. Este processo tem
grande variabilidade de tempo para ocorrer por completo, podendo
levar dias ou anos.
O conhecimento do comportamento hidrodinâmico da água
no solo pode ser utilizados em diversas áreas da ciência, como a
agricultura, já que este processo acrescenta em projetos de irrigação;
na construção civil, em projetos de drenagem urbana e de fundações
(efeitos de recalque e plastificação do terreno de fundação); a área
ambiental, já que o reabastecimento do lençol freático e a
contaminação do mesmo e do solo são diretamente afetados por este
processo. Para estes efeitos, também é possível estimar a
profundidade da frente de molhamento (até que profundidade a água
penetra efetivamente) no solo através da curva de infiltração
(PREVEDELLO, 1999). A caracterização da infiltração da água no
solo pode ser realizada através de modelos empíricos, que visam
facilitar este tipo de estudo, reduzindo o tempo e custo de execução
de outros tipos de ensaios. Estes modelos têm aplicação direta e
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Revista Diálogos N. 18 – set./out. – 2017 523
precisa na simulação desse fenômeno, sendo possível realizar
previsões para diversas situações extremas (PAIXÃO et al., 2009).
Na literatura, Existem diversos modelos empíricos de
infiltração de água no solo e diversos tipos de ensaios utilizados para
caracterizá-los. Silva et al. (2017) mostram que é possível obter uma
correspondência muito próxima da realidade através de modelos
relativamente simples de serem utilizados. A simulação de
fenômenos hidrológicos é uma ferramenta de importância assídua,
já que diversas informações relevantes podem ser geradas através
desse utensílio, como vazões de projetos de drenagem, outorga e
irrigação. A utilização de modelos pouco confiáveis pode resultar
em múltiplos problemas gerados por falsos dados de saída dessas
modelagens (PEREIRA et al., 2016).
Para esta caracterização, é necessário a estimativa de dois
parâmetros essenciais neste processo: a sorvidade e a condutividade
hidráulica saturada. Existem algoritmos que podem determinar a
infiltração de maneira unidimensional e tridimensional, sendo este
último mais próximo dos eventos reais. Os objetivos deste estudo
é analisar o desempenho de dois modelos de infiltração
tridimensional da água no solo em uma área suscetível à
alagamentos na cidade do Recife; caracterizar o solo desta região
para aplicações futuras aos modelos e analisar a eficiência do ensaio
utilizado e a correspondência deste com os modelos adotados.
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2. Material e Métodos
O estudo foi realizado no bairro da Madalena, um dos mais
importantes da capital pernambucana, pois encontra-se diversos
pontos relevantes da cidade, como o campi benfica da Universidade
de Pernambuco, Estádio de Futebol, o Museu da Abolição,
Supermercados entre outros; além de servir como principal acesso
para outras localizações importantes como a Universidade Federal
de Pernambuco e o terminal integrado de passageiros do Recife.
A região que foi estudada é demarcada de acordo com a
Figura 1, com linha externa de coloração preta. A área tem,
aproximadamente, 228.000 m2, sendo cerca de 17% deste de solo
natural. As subregiões delimitadas em amarelo, identificadas de 1 a
9 são os principais pontos de ocorrência de terreno natural
permeável, onde foram os pontos alvos de execução dos ensaios e
recolhimento das amostras. A partir destas localidades foram
coletadas amostras para realização de ensaios de granulometria,
densidade aparente, umidade natural e saturada e realização dos
ensaios de infiltração. O ensaio de densidade aparente foi realizado
de acordo com o trado de Uhland, que serve para coletar amostras
indeformadas do solo em campo, pois tem fácil aplicação em
campo, é de simples uso e pode ser transportado sem maiores
complicações.
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Revista Diálogos N. 18 – set./out. – 2017 525
Figura 1. Mapa do local de estudo no bairro da Madalena, Recife-PE,
delimitado por linha preta, indicando os principais pontos de ocorrência
de solo natural, marcados em vermelho.
Para caracterizar os valores que de fato ocorrem no solo,
acerca das diversas propriedades que são inerentes a ele, são
necessários ensaios diversos que disponibilizem a obtenção dessas
informações. Para descrever a dinâmica da água no solo são
necessários ensaios em laboratório e em campo que necessitam de
investimento considerável de recursos financeiros e bastante tempo
para sua execução (Souza et al., 2008). Por essas razões, diversos
pesquisadores optam por utilizarem modelos matemáticos ou
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métodos indiretos que tem embasamento em dados pré-
determinados do solo e têm baixo custo de utilização e aquisição.
Silva Júnior et al. (2016) destacam a simplicidade e
eficiência do ensaio de infiltrômetro a anel simples para determinar
a infiltração em modelos chuva-vazão, com o objetivo de obter os
principais parâmetros que influenciam diretamente no escoamento
superficial de uma região. Como mostrado na Figura 2, o ensaio
consiste em infiltrômetro de anel simples, cravado a 1cm de
profundidade da superfície, visando minimizar a interferência de
fatores estruturais e externos, garantindo fluxo vertical na superfície
do solo. Os tempos são cronometrados para que ocorra a infiltração
total de volumes constantes de água no interior do anel até atingir a
saturação do solo, onde o fluxo se torna praticamente constante,
determinando-se a vazão da água no solo.
O ensaio de Granulometria foi realizado de acordo com o
manual de métodos de análise do solo, elaborado pela EMBRAPA
(1997).
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Revista Diálogos N. 18 – set./out. – 2017 527
Figura 2. Ensaio de Infiltrômetro a anel simples, realizado dentro da área
de estudo.
Para determinar as umidades natural e saturada foram
coletadas amostras deformadas antes e após a realização do ensaio
de infiltração. Estas amostras foram pesadas antes e depois de 24h
na estufa, em balança de precisão de centésimo de grama, para
obtenção da umidade gravimétrica. Para a determinação da
densidade aparente, utilizou-se o trado de Uhland e foram coletados
corpos de prova indeformados do solo em um recipiente de volume
conhecido, para posterior realização da pesagem e determinação de
sua massa específica aparente.
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Revista Diálogos N. 18 – set./out. – 2017 528
Os modelos de infiltração avaliados neste estudo estão
apresentados a seguir.
Método de Haverkamp
A Equação proposta por Harverkamp et al. (1994), propõe
estimar a infiltração tridimensional da água.
𝐼 = (𝐾 +𝛾𝑆2
𝑟𝑑(𝜃𝑓−𝜃𝑖)) 𝑡 +
𝑆2
2𝐾𝑠(1−𝜀)𝑙𝑛 (
1
𝜀) (1)
onde γ é um parâmetro que traduz os efeitos da gravidade na
geometria tridimensional da infiltração, dentro do intervalo de 0,6 a
0,8; para Smettem et al. (1994) o valor de 0,75 é o mais adequado;
ε uma constante dentro do intervalo 0 < 𝜀 < 1; 𝑟𝑑 é o raio do disco,
𝜃𝑓 e 𝜃𝑖, são as umidades volumétricas final e inicial,
respectivamente.
Modelo de Lassabatère - BEST
O modelo de Lassabatère – BEST (Beerkan Estimation of
Soil Transfer Parameters through Infiltration Experiments, 2006) é
o mais moderno e mais complexo modelo empírico de infiltração
Desempenho de Modelos de Infiltração... – Oliveira & Soares
Revista Diálogos N. 18 – set./out. – 2017 529
até o momento já que ele utiliza o ensaio a anel simples e o resultado
da granulometria do solo estudado para estimar os parâmetros
necessários para seu desenvolvimento. Este modelo utilizou-se
especificamente do proposto por Van Genuchten, com o objetivo de
determinar os parâmetros θr, θs, n, α, com a equação descrita em 16
(Van Genuchten, 1980):
𝜃 = 𝜃𝑟 +𝜃0−𝜃𝑛
[1+|𝑎𝛹|𝑛]1−
1𝑛
(2)
𝑚 = 1 −2
𝑛 (3)
onde 𝑛, 𝑚 e 𝑎 são os parâmetros de forma ajustados.
De Haverkamp et al. (1994), foram utilizadas as equações de
infiltração tridimensional acumulada e da taxa de infiltração,
descritas por:
𝐼 = 𝑆𝑡1
2 + (𝐴𝑆2 + 𝐵𝐾𝑠)𝑡 (4)
𝑞 =𝑆
2√𝑡+ (𝐴𝑆2 + 𝐵𝐾𝑠) (5)
Considerando grandes variações de tempo, temos:
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Revista Diálogos N. 18 – set./out. – 2017 530
𝐼+∞(𝑡) = (𝐴𝑆2 + 𝐾𝑠)𝑡 + 𝐶𝑆2
𝐾𝑠 (6)
𝑞+∞ = 𝐴𝑆2 + 𝐾𝑠 (7)
Onde as constantes A, B e C são dependentes das condições iniciais:
𝐴 =𝛾
𝑟𝑑(𝜃0−𝜃𝑛) (8)
𝐵 =1,4
3[1 − (
𝜃𝑛
𝜃0)𝜂] + (
𝜃𝑛
𝜃0)𝜂
(9)
𝐶 =1
0,8[1−(𝜃𝑛𝜃0
)𝜂]ln(
1
0,6) (10)
onde 𝛾 é 0,75 para a maioria dos solos onde 𝜃𝑛 < 0,25𝜃0 (Smetten
et al., 1994; Haverkamp et al., 1994),𝜂, é um parâmetro de forma,
𝑟𝑑 é o raio do anel utilizado.
A sorvidade pode ser estimada a partir da condutividade
hidráulica saturada, considerando as umidades inicial e final pela
equação 17:
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Revista Diálogos N. 18 – set./out. – 2017 531
𝑆2(𝜃𝑛, 𝜃0) = −𝑐𝑝𝜃0𝐾𝑠ℎ𝑔 (1 −𝜃𝑛
𝜃0) [1 − (
𝜃𝑛
𝜃0)𝜂] (11)
Para 𝑐𝑝 e ℎ𝑔 como parâmetros de escala, define-se por:
𝑐𝑝 = 𝛤 (1 +1
𝑛) [
𝛤(𝑚𝜂−1
𝑛)
𝛤(𝑚𝜂)+
𝛤(𝑚𝜂+𝑚−1
𝑛)
𝛤(𝑚𝜂+𝑚)] (12)
ℎ𝑔 = −𝑆2
𝑐𝑝(𝜃0−𝜃𝑛)[1−(𝜃𝑛𝜃0
)𝜂]𝐾𝑠
(13)
onde 𝛤 é a função gama.
O modelo de Haverkamp estima determina a condutividade
hidráulica em função da umidade do solo, possibilitando a
modelagem da infiltração da água do solo através deste parâmetro
hidrodinâmico e em função da sorvidade. Já o modelo de
Lassabatère utiliza de mesmo artifício, acrescido da modelagem da
pressão da água em função da umidade do solo, pela equação (2) de
Van Genuchten, possibilitando a caracterização hidrodinâmica
deste mesmo solo estudado, através das curvas de retenção
hidráulica. Ainda acrescenta-se que o modelo de Haverkamp
diferencia-se do outro na descrição do efeito da sorvidade, onde a
do método mais antigo superestima este parâmetro, já que utiliza
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Revista Diálogos N. 18 – set./out. – 2017 532
uma relação linear para descrever o efeito estudado no solo. Tal
efeito pode ser observado na Tabela 2, que descreve os parâmetros
hidrodinâmicos obtidos em cada metodologia.
3. Resultados
Com os resultados obtidos através do ensaio de
granulometria do solo, é possível classifica-lo de acordo com o
manual da EMBRAPA (1999), indicando o tipo de solo apropriado
para cada modelo de infiltração. A Tabela 1 expõe os teores, em
percentual, de cada fração do solo, assim como sua subclassificação.
Todas as localidades são classificadas como arenosas e
subdivididas em areia, areia franca e franco-arenosa. O triângulo
textural apresentado na Figura 3 propõe situar essas
subclassificações de maneira gráfica. Essas subclassificações são
importantes para referenciar o desempenho dos métodos para esta
tipologia de solo, logo, o ensaio de granulometria teve
funcionalidade duplicada, visto que é possível rotular o meio
estudado a partir dos resultados desse ensaio e também para
determinar os parâmetros de forma ajustados do método de
Lassabatère, que correspondem aos parâmetros 𝑛, 𝑚 e o 𝑎.
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Revista Diálogos N. 18 – set./out. – 2017 533
Tabela 1. Percentuais das frações granulométricas dos nove pontos
estudadas.
Local Areia Silte Argila Classificação
%
1 78,60 19,00 2,40 Areia Franca
2 82,38 15,22 2,40 Areia Franca
3 91,16 3,23 5,60 Areia
4 71,80 22,59 5,60 Franco-Arenosa
5 93,88 3,72 2,40 Areia
6 80,20 14,19 5,60 Areia Franca
7 78,64 15,75 5,60 Areia Franca
8 84,80 12,80 2,40 Areia Franca
9 92,96 4,64 2,40 Areia
Os parâmetros hidrodinâmicos do solo obtidos por cada
metodologia podem ser observados na Tabela 2. Os resultados
encontrados foram bastantes distintos considerando a mesma escala
numérica. A sorvidade bastante superior encontrada no método de
Haverkamp se deve ao coeficiente independente da equação do
primeiro grau proposta pelo mesmo, destoando-se sensivelmente da
realidade, logo as sorvidades encontradas no método de Lassabatère
são mais confiáveis. O mesmo ocorre com as condutividades
hidráulicas saturadas. Os valores destoaram entre si devido às
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equações propostas, sendo o a condutividade de Haverkamp
correspondente ao coeficiente linear de sua equação. Logo pode-se
concluir que os valores encontrados no modelo de Lassabatère são
mais confiáveis em termos de descrição do fenômeno estudado.
O teste estatístico de Tukey avaliou a existência de
diferenças estatisticamente relevantes entre os modelos e os
experimento. Todas as 9 amostras não mostraram diferenças
estatisticamente significativas entre si.
Figura 3. Triângulo textural e amostras
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Para a análise estatística dos modelos utilizou-se o
coeficiente de determinação R2, que indica o nível de
associabilidade, neste caso, entre o modelo numérico e os valores
obtidos nos ensaios de campo da infiltração acumulada em relação
ao tempo total decorrido à ela correspondente, ou seja, a análise é
realizada a partir da correlação entre os dados ensaiados em campo
e os simulados a partir do modelo de infiltração. A Tabela 3 expõe
os resultados obtidos dos coeficientes de determinação do gráfico
de dispersão das localidades estudadas entre os dois modelos.
Os dois modelos apresentados mostraram resultados
estatísticos excepcionais, a partir do coeficiente de determinação,
para todas as localidades e amostras estudadas com relação à
modelagem numérica do solo.
Tabela 2. Resultados obtidospara os parâmetros hidrodinâmicos do solo
– Sorvidade (mm/s) e Condutividade hidráulica saturada (mm/s).
Local
Haverkamp Lassabatère
Sorvidade
(mm/s1/2)
Condutividade
Hidráulica
Saturada (mm/s)
Sorvidade
(mm/ s1/2)
Condutividade
Hidráulica
Saturada (mm/s)
1 1,491 0,631 0,492 0,045
2 1,614 0,292 0,465 0,025
Desempenho de Modelos de Infiltração... – Oliveira & Soares
Revista Diálogos N. 18 – set./out. – 2017 536
3 1,637 0,223 0,708 0,035
4 1,375 0,176 0,000 0,030
5 1,343 0,219 0,000 0,072
6 1,389 0,131 0,499 0,015
7 1,201 0,190 0,506 0,022
8 0,892 0,182 0,000 0,035
9 1,391 0,161 0,454 0,009
A sorvidade é considerada em ambos modelos, mas melhor
descrita no algoritmo de Lassabatère, já que é possível perceber
claramente seu efeito nos menores valores numéricos do tempo na
curva de infiltração acumulada, tendo em vista que o modelo
Haverkamp, por ser representado como uma função do primeiro
grau, superestima esse parâmetro como o termo independente da
reta correspondente. Ela é um parâmetro crucial, pois descreve os
fenômenos da infiltração que ocorrem nos seus momentos iniciais.
Para o modelo mais recente, que considera duas situações quanto ao
tempo de escoamento (Uma para tempos curtos e outra para
períodos mais longos), as duas situações foram bem caracterizadas,
mas em todos os locais modelados, a equação para tempos mais
curtos obteve desempenho sensivelmente superior. Isto pode ser
justificado pela granulometria geral de todos os locais analisado,
identificadas pela Tabela 1, já que todas as sub-regiões são
Desempenho de Modelos de Infiltração... – Oliveira & Soares
Revista Diálogos N. 18 – set./out. – 2017 537
classificadas como arenosas. Este modelo obteve desempenho
estatístico pouco inferior ao de Haverkamp, considerando-se a
média aritmética dos resultados obtidos, embora seja o mais
confiável para previsões em larga escala temporal, tendo em vista
que o modelo Haverkamp simula a curva de infiltração do solo
como uma equação do primeiro grau (reta), enquanto o de
Lassabatère modela a curva de infiltração propriamente dita,
aproximando-se mais fielmente do fenômeno ocorrido na natureza.
O diagrama de caixas apresentado na Figura 4 é composto
pelos erros (em mm) pelo método de Haverkamp (4a) e pelo método
de Lassabatére (4b). Os pontos isolados extremos superiores da
Figura 4a mostram o erro inicial associado à superestimação do
valor da sorvidade, aumentando o erro dos demais pontos analisados
ao longo do tempo do experimento.
Entre as amostras dos locais 1 a 8, os maiores desvios
encontrados são próximos de 2mm. Já na localidade 9, o método
obteve desempenho inferior aos demais em todos os quartis, e
chegando à 4mm no quartil superior. No modelo de Lassabatère
apenas os locais 1, 3 e 7 possuem indicadores que fogem à análise
de erro dos quartis. Desconsiderando a localidade 9, os indicadores
restantes apresentam erros de inferiores à 3mm.
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0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
1 2 3 4 5 6 7 8 9
Err
o
Local
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
1 2 3 4 5 6 7 8 9
Err
o
Local
b)
a)
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Revista Diálogos N. 18 – set./out. – 2017 539
Figura 4. a) Diagrama de caixas para o modelo de Haverkamp. b)
Diagrama de caixas para o modelo de Lassabatère.
Apesar deste indicador ser maior que o do outro método,
percebe-se que não houveram extrapolamentos semelhantes ao
anterior, logo, considerando este estudo, pode-se inferir que o
modelo de Lassabatère obteve desempenho superior para este tipo
de análise estatística.
Desconsiderando-se os erros associados ao efeito da
sorvidade, o método de Haverkamp possui desempenho superior ao
outro. Isto se deve ao desempenho de tempos curtos de infiltração
das duas metodologias, já que Lassabatère considera as duas
possibilidades (tempos curtos e tempos longos).
O modelo de Haverkamp fora desenvolvido para tempos
longos, onde os erros associados ao efeito da sorvidade são
reduzidos para grandes períodos de infiltração acumulada. Ainda
assim, os dois métodos possuem desempenhos satisfatórios,
considerando-se os dois indicadores estatísticos analisados, já que
um erro de 3mm em simulações desta magnitude são inerentes, vide
valores obtidos para os coeficientes de determinação indicados na
Tabela 3.
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Revista Diálogos N. 18 – set./out. – 2017 540
Tabela 3. Valores encontrados para os coeficientes de
determinação entre os métodos e os locais estudados.
Local R²
Harverkamp Lassabatère
1 0,996 0,991
2 0,979 0,996
3 0,950 0,984
4 0,963 0,990
5 0,980 0,996
6 0,927 0,976
7 0,977 0,989
8 0,995 0,995
9 0,879 0,954
Média 0,961 0,986
4. Conclusão
Os dois modelos analisados neste estudo obtiveram ótimos
desempenhos estatísticos na simulação da infiltração da água no
solo em localidades sujeitas a enchentes na cidade do Recife. O solo
estudado possui características arenosas, variando suas
subclassificações em areia, areia-franca e franco-arenosa. O ensaio
de infiltrômetro a anel simples foi uma excelente alternativa
considerando atribuições como custo para sua confecção e
Desempenho de Modelos de Infiltração... – Oliveira & Soares
Revista Diálogos N. 18 – set./out. – 2017 541
realização dos ensaios, no tempo desprendido para sua execução e
em relação ao desempenho para fins científicos. As análises
estatísticas realizadas através do coeficiente de determinação e pelo
teste de Tukey comprovaram a eficiência dos dois métodos para as
considerações deste estudo, mesmo em períodos curtos de
infiltração de água no solo. Os resultados obtidos com as curvas de
infiltração podem ser utilizados em diversos estudos de modelagem
ou previsão, em períodos de curta ou longa duração que visem
estimar o balanço hídrico na localidade (chuva X infiltração), a
capacidade acumulativa de água no solo e ainda no seu desempenho
na contribuição da drenagem urbana.
5. Agradecimentos
O primeiro autor deste trabalho agradece à FACEPE
(Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de
Pernambuco) pelo financiamento da Bolsa de Iniciação Científica
(BIC-0669-1) e à Escola Politécnica de Pernambuco.
6. Referências
ALMEIDA, C. X.; CENTURION, J. F.; JORGE, R. F.;
BARBOSA, J. C.; ANDRIOLI, I. 2012. Funções de
pedotransferência para a curva de resistência do solo à penetração.
Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.36, n.3, p.1745-1755.
Desempenho de Modelos de Infiltração... – Oliveira & Soares
Revista Diálogos N. 18 – set./out. – 2017 542
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