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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS
Cristiane Margarete Daikuzono
Desenvolvimento de dispositivos microfluídicos para análise de sistemas
líquidos complexos
São Carlos
2017
CRISTIANE MARGARETE DAIKUZONO
Desenvolvimento de dispositivos microfluídicos para análise de sistemas
líquidos complexos
Versão corrigida
Tese apresentada ao programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais da Universidade de São Paulo, para obtenção do título de Doutora em Ciências. Área de concentração: Desenvolvimento, Caracterização e Aplicação de Materiais. Orientador: Prof. Dr. Osvaldo Novais de Oliveira Junior
São Carlos
2017
AUTORIZO A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO,
POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS
DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
Ficha catalográfica elaborada pela Seção de Tratamento
da Informação do Serviço de Biblioteca - EESC/USP
Dedico este trabalho aos Doutores Flávio Makoto Shimizu e Larisa Florea pelo conhecimento transmitido,
pela paciência, amizade e por me apoiarem nos momentos mais difíceis. Dedico também à minha família por
todo apoio dado.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço ao Professor Dr. Oliveira Jr. pela orientação, por todo
conhecimento transmitido e pelas oportunidades dadas. Aos doutores Flávio M. Shimizu e
Larisa Florea pela supervisão, apoio e por me ensinarem a ser uma boa pesquisadora.
Dois exemplos de excelentes pesquisadores a serem seguidos. Agradeço ao grupo de
polímeros do Instituto de Física de São Carlos- USP por todo apoio dado, em especial aos
técnicos e secretárias. Ao grupo do laboratório de microfabricação do CNPEM-Campinas,
em especial ao Dr. Angelo Gobbi e a Maria Helena Piazzetta por todo apoio e
colaboração. Agradeço também a EMBRAPA Instrumentação – São Carlos, em especial
ao pesquisador Dr. Daniel S. Corrêa que me supervisionou na parte inicial do doutorado e
a todos os técnicos da instituição. Agradeço imensamente ao Prof. Dr. Dermot Diamond
por ter me recepcionado tão bem em seu grupo e por toda orientação dada no doutorado
sanduíche. Agradeço a todos os membros do grupo de pesquisa do departamento Insight
da Dublin City University - Irlanda. Agradeço ao Prof. Dr. Riul, que mesmo indiretamente
me orientou, apoiou, e sempre me incentivou a seguir a diante. Ao amigo Tiago Pedroso
pelas medidas de Raman. A secretaria de pós graduação do programa de Ciência e
Engenharia de Materias, em especial ao Victor. Agradeço a todos os meus amigos e
colegas de trabalho pelos momentos de descontração e desabafos. E claro ao apoio
sempre dado da minha família.
Muito obrigada galera!!!
RESUMO
DAIKUZONO, Cristiane Margarete. Desenvolvimento de dispositivos microfluídicos
para análise de sistemas líquidos complexos. 2017. 110 f. Tese (Doutorado em Ciência
e Engenharia dos Materiais) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São
Paulo, São Carlos, 2017.
O objetivo principal desta tese foi desenvolver dispositivos microfluídicos do tipo língua
eletrônica baseada em espectroscopia de impedância para análise de líquidos complexos.
Dois tipos de língua eletrônica foram desenvolvidos. O primeiro com unidades sensoriais
fabricadas com eletrodos interdigitados de ouro sobre vidro, selados com microcanal de
PDMS, e recobertos com filmes automontados de polímeros condutores, materiais
orgânicos e semicondutores. Essa língua eletrônica foi usada para diferenciar os sabores
básicos, representados por soluções aquosas de NaCl (salgado), sacarose (doce), cafeína
(amargo), HCl (azedo) e glutamato monosódico (umami), distinguir diferentes tipos de
cafés, e detectar a presença de gliadina em soluções e alimentos. A distinção foi possível
processando-se os dados de magnitude da capacitância com técnicas de projeção
multidimensional IDMAP (Interactive Document Map) e análise de componentes
principais (PCA). O segundo tipo de língua foi produzido com eletrodos interdigitados de
carbono impressos sobre papel com canal hidrofílico e barreiras hidrofóbicas também
impresso, modificado com hidrogel funcionalizado com ácido fenil-borônico (PBA) ou
polilíquido iônico (PIL). Com dados de capacitância tratados com PCA e IDMAP, a
língua foi usada para distinguir soluções dos açúcares glicose, frutose e sacarose, em
diferentes concentrações, e diferentes marcas de suco de maçã. Nesta última língua,
empregou-se a capacidade de intumescimento de hidrogéis contendo PBA na presença de
açúcares, principalmente frutose, que também foi explorada na confecção de sensores
com eletrodos de papel que puderam detectar concentrações baixas de glicose, próximas
às encontrados no suor humano. Com a tecnologia de sensores em papel e microfluídica,
podem-se conceber aplicações futuras, de baixo custo, em sensores na forma de emplastro
para monitorar o nível de glicose no suor humano de maneira não invasiva e língua
eletrônica para verificar a presença de glúten em alimentos.
Palavras chaves: língua eletrônica, microfluídica, filmes nanoestruturados e hidrogel.
ABSTRACT
DAIKUZONO, Cristiane Margarete. Development of microfluidic devices for analysis
of complex liquid systems. 2017. 110 f. Tese (Doutorado em Ciência e Engenharia dos
Materiais) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos,
2017.
The main aim of this thesis was to develop microfluidic devices of electronic tongue (e-
tongue) type based on impedance spectroscopy to analyze complex liquids. Two types of
e-tongue were developed. The first had sensing units fabricated with gold interdigitated
electrodes onto glass with a microchannel sealed with PDMS and coated with layer-by-
layer films of conducting polymers, organic and semiconductors. This e-tongue was used
to distinguish the basic tastes, represented by aqueous solutions of NaCl (salty), sucrose
(sweet), caffeine (bitter), HCl (sour) and monosodium glutamate (umami), to distinguish
different types of coffees, and detect the presence of gliadin in solutions and food. The
distinction was made possible by processing the capacitance data with the
multidimensional projection techniques IDMAP (Interactive Document Map) and
principal component analysis (PCA). The second type of e-tongue was produced with
carbon interdigitated electrodes printed on paper with a hydrophilic channel with
hydrophobic barriers, also printed, modified with functionalized hydrogel with
phenylboronic acid (PBA) or poly(ionic liquid) (PIL). With capacitance data treated with
PCA and IDMAP, the e-tongue was used to distinguish solutions at various
concentrations of glucose, fructose and sucrose, in addition to different brands of apple
juice. In this latter e-tongue, use was made of the ability of the hydrogel containing PBA
to swell in the presence of sugars, mainly fructose, which was exploited in producing
sensors with paper electrodes that could detect low concentrations of glucose, close to the
values found in human sweat. With the technology of paper-based sensors and
microfluidics, one may envisage future low cost applications, including patch sensors to
monitor glucose in human sweat in a non-invasive manner and e-tongues to determine the
presence of gluten in food.
Key words: electronic tongue, microfluidics, nanostructured films and hydrogel.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Epidemiologia da doença celíaca no mundo................................................... 25
Figura 2 - Esquema de deposição de filmes nanoestruturados por automontagem (LbL).29
Figura 3 - Estímulos externos que podem influenciar o intumescimento do hidrogel. ..... 30
Figura 4 - Gráfico de trabalhos publicados por ano na área de sensores de hidrogéis.
Sensor and hydrogel foram as palavras chaves utilizadas na pesquisa realizada no site do
Web of Sciense. .............................................................................................................. 31
Figura 5 – Equilíbrio de complexação entre grupos do ácido fenilborônico e glicose.
Interação da glicose com grupos de PBA resulta no inchamento do hidrogel. ................. 32
Figura 6 - Esquema de interação do ácido borônico imobilizado em matriz de hidrogel
com grupo diol do açúcar; Fotos de discos de hidrogel em tampão e diferentes
concentrações de glicose. ............................................................................................... 33
Figura 7 - Representação da impedância elétrica como vetor usando coordenadas polares
e cartesianas. ................................................................................................................. 35
Figura 8 - Os filmes são depositados por LbL dinâmico através da injeção de
polieletrólitos no microcanal. ......................................................................................... 42
Figura 9 - Imagens de MEV de filmes finos depositados através da técnica LbL
dinâmico: ...................................................................................................................... 44
Figura 10 - Imagens de AFM em diferentes regiões do filme de 5 bicamadas de
PAH/CuTsPc, mostrando: (a) Espessura de 170 a 180 nm da região da borda do filme e
(b) espessura de 12 nm da região central do filme. ........................................................ 44
Figura 11 - Imagens de AFM para filme de 5 bicamadas de PAH/PEDOT:PSS: (a)
Espessura de 170 a 180 nm da região da borda do filme e (b) espessura de 96 nm da
região central do filme. .................................................................................................. 45
Figura 12 - Imagens de AFM para filme de 5 bicamadas de PAH/PPy. (a) Espessura de
170 a 180 nm da região da borda do filme e (b) espessura de 48 nm da região central do
filme. ............................................................................................................................. 45
Figura 13 - Perfil de velocidade . ................................................................................... 46
Figura 14 - Espectro Raman da região de borda do microcanal com filme de
CuTsPc/PAH. ................................................................................................................ 46
Figura 15 - Espectro Raman da região de borda do microcanal com filme de
PAH/PEDOT:PSS. ......................................................................................................... 47
Figura 16 - Espectro Raman da região de borda do microcanal com filme de PAH/PPy. 48
Figura 17 - PCA de soluções de 1mM de NaCl (salgado), C12H22O11 (doce), HCl (azedo),
C8H10N4O2 (anidra) (amargo) e C5H8NNaO4.xH2O (umami) [23]. ................................. 49
Figura 18 - PCA dos diferentes tipos de café. ................................................................ 50
Figura 19 - Espectros UV-vis de diferentes concentrações de gliadina (1309, 941, 776,
576, 227 e 50 ppm) com banda característica em 280 nm. ............................................. 51
Figura 20 - Distinção dos grupos alimentares com, sem e contaminados com gliadina
através da análise com o software PEx–Sensors dos resultados de espectroscopia no UV-
vis. ................................................................................................................................ 52
Figura 21 – (A) Medidas de magnitude da capacitância da solução padrão com diferentes
concentrações de gliadina para o sensor sem filme e (B) diferentes concentrações de
gliadina monitoradas através de valores de capacitância em 1kHz. ................................ 53
Figura 22 - (A) Medidas de magnitude da capacitância da solução padrão com diferentes
concentrações de gliadina para o sensor com 5 bicamadas de filme de PAH/CuTsPc e (B)
diferentes concentrações de gliadina monitoradas através de valores de capacitância em
1kHz. ............................................................................................................................ 54
Figura 23 - (A) Medidas de magnitude da capacitância da solução padrão com diferentes
concentrações de gliadina para o sensor com 5 bicamadas de filme de PAH/PEDOT:PSS e
(B) diferentes concentrações de gliadina monitoradas através de valores de capacitância
em 1kHz........................................................................................................................ 54
Figura 24 - (A) Medidas de magnitude da capacitância da solução padrão com diferentes
concentrações de gliadina para o sensor com 5 bicamadas de filme de PAH/PPy e (B)
diferentes concentrações de gliadina monitoradas através de valores de capacitância em
1kHz. ............................................................................................................................ 55
Figura 25 - IDMAP plot para diferentes concentrações de gliadina em solução analisadas
em uma faixa de frequência de 1 Hz a 1 kHz.. ............................................................... 56
Figura 26 - PCAs de soluções padrões de gliadina com diferentes concentrações. ......... 57
Figura 27 - Medidas elétricas de alimentos com glúten em 4 diferentes sensores. (A) sem
filme, (B) PAH/CuTsPc, (C) PAH/PEDOT:PSS e (D) PAH/PPy. .................................... 58
Figura 28 - Análise de alimentos sem glúten através da curva de capacitância vs
frequência em 4 sensores. (A) sem filme, (B) PAH/CuTsPc, (C) PAH/PEDOT:PSS e (D)
PAH/PPy. ...................................................................................................................... 59
Figura 29 - Medidas de amostras que foram contaminadas com 200 ppm de gliadina e
analisadas nos sensores sem filme, com filme de PAH/CuTsPc, PAH/PEDOT:PSS e
PAH/PPy respectivamente. (A) sem filme, (B) PAH/CuTsPc, (C) PAH/PEDOT:PSS e (D)
PAH/PPy. ...................................................................................................................... 60
Figura 30 - (A) PCA de amostras de alimentos com e sem glúten; (B) PCA de amostras
sem glúten e de amostras sem glúten contaminadas com gliadina. ................................. 61
Figura 31 - Gráfico IDMAP dos espectros de UV-vis das amostras de alimentos com, sem
e contaminados com gliadina. ........................................................................................ 62
Figura 32 - Espectro PM-IRRAS de filme com 5 bicamadas de PAH/CuTsPc depositado
sobre lâmina de vidro recoberto com ouro. .................................................................... 63
Figura 33 - (A) espectro de 5 bicamadas de filme CuTsPc + gliadina; (B) espectro do
filme CuTsPc + gliadina pós-lavagem. ........................................................................... 63
Figura 34 - Espectro de filme com 5 bicamadas de PAH/PEDOT:PSS. .......................... 64
Figura 35 - (A) 5 bicamadas de PAH/PEDOT:PSS + gliadina; (B) filme PAH/PEDOT:PSS
+ gliadina pós lavagem. ................................................................................................. 65
Figura 36 - Espectro PM-IRRAS para filme LbL com 5 bicamadas de PAH/PPy ........... 65
Figura 37 - Espectro PM-IRRAS para (A) 5 bicamadas de PAH/PPy + gliadina; (B)
PAH/PPy + gliadina. ...................................................................................................... 66
Figura 38 - Etapas de fabricação dos eletrodos interdigitados de carbono impressos em
papel pela técnica screen-printing. ................................................................................. 71
Figura 39 - Preparação de amostras de hidrogel em molde de PDMS para o teste de
intumescimento. ............................................................................................................ 72
Figura 40 - Eletrodos interdigitados de carbono cobertos com hidrogel; A) Foto do
eletrodo interdigitado de carbono antes da funcionalização; B) Esquema de deposição do
coquetel sobre os eletrodos via drop-casting e C) Protocolo de fotopolimerização do
hidrogel. ........................................................................................................................ 73
Figura 41 - Aparato experimental para detecção de impedância de monossacarídeos
usando eletrodos funcionalizados com hidrogel funcionalizado. .................................... 74
Figura 42 - Imagens de microscópio do hidrogel funcionalizado com 20 % mol PBA,
quando imerso em (a) tampão PBS, (b) 20 mM glicose em PBS e (c) 20 mM frutose em
PBS. .............................................................................................................................. 75
Figura 43 - Equilíbrio de inchamento de hidrogéis de p (AAm-co-PBA) com 20% mol de
PBA em solução tampão em diferentes concentrações de glicose e frutose. .................... 75
Figura 44 - Imagens de MEV de eletrodos interdigitados de carbono impressos sobre
papel antes (A) e depois de cobertos com 1 (B), 3 (C) e 5 (D) camadas de hidrogel,
respectivamente............................................................................................................. 76
Figura 45 - Medidas da magnitude da impedância (círculo) e magnitude da capacitância
(quadrado) para o aumento de número de camadas de hidrogel sobre os eletrodos, em
água deionizada. ............................................................................................................ 77
Figura 46 - Detecção de glicose em tampão PBS através de mudanças na capacitância
relativa, para hidrogéis contendo 5 mol % PBA (azul) e 20 mol % PBA (vermelho). ..... 78
Figura 47 - Espectro de impedância para eletrodos cobertos com uma camada de hidrogel
funcionalizado com 20 mol % PBA quando exposto para uma variedade de concentrações
de glicose (A) e frutose (B), respectivamente. ............................................................... 79
Figura 48 - Alterações de capacitância (ΔC) a 1 kHz para o eletrodo revestido com
hidrogel funcionalizado com 20 mol % de PBA versus concentração de açúcar. Os dados
foram analisados em triplicata e foram obtidas barras de erro a partir dos desvios-padrão.
O eletrodo sem hidrogel (estrela) foi testado com diferentes concentrações de glicose para
verificar o efeito de PBA na resposta de capacitância. (A) alterações de capacitância
analisadas para concentrações entre 0 a 5 mM. (B) alterações de capacitância analisadas
para concentrações entre 0 a 1,2 mM. ............................................................................ 80
Figura 49 - Fabricação de eletrodos interdigitados de carbono com canal impresso. ...... 85
Figura 50 - (A) eletrodo interdigitado de carbono impresso via screen-printing; (B) canal
impresso sobre o eletrodo; (C) canal derretido sobre os eletrodos. ................................. 85
Figura 51 - Polimerização de hidrogel funcionalizado sobre o canal impresso sobre o
eletrodo. ........................................................................................................................ 86
Figura 52 - Conjunto de eletrodos da língua eletrônica: (A) sem hidrogel, (B) 5 mol %
PBA, (C) 20 mol % PBA e (D) PIL. .............................................................................. 86
Figura 53 - Aparato experimental para medidas de impedância com língua eletrônica
microfluídica. ................................................................................................................ 87
Figura 54 - Espectros de capacitância das unidades sensoriais, modificadas com PIL, 5 e
20 mol % PBA e 1 eletrodo sem hidrogel, em (A) água deionizada e (B) solução aquosa
de PBS (pH 7,4). ........................................................................................................... 88
Figura 55 - PCA de diferentes concentrações de glicose, sacarose e frutose. .................. 89
Figura 56 - (A) curvas de capacitância dos açúcares sacarose, glicose e frutose com
concentração de 0.016 g.mL-1
analisados em canais modificados com PIL; (B) gráfico 3D
de capacitância analisada em 100 Hz para 3 tipos de açúcar........................................... 90
Figura 57 - PCA 3D de diferentes concentrações de frutose (bola vermelha), glicose (bola
verde) e sacarose (bola azul) e buffer PBS (bola preta). ................................................. 91
Figura 58 - Imagem gerada a partir do método IDMAP de diferentes concentrações de
frutose e solução PBS. ................................................................................................... 91
Figura 59 - Imagem gerada pelo método IDMAP de diferentes concentrações de glicose e
PBS. .............................................................................................................................. 92
Figura 60 - Imagem gerada pelo método IDMAP de diferentes concentrações de sacarose
e PBS. ........................................................................................................................... 92
Figura 61 - Espectros de impedância de sucos de maçã com diferentes concentrações de
açúcar. ........................................................................................................................... 93
Figura 62 - PCA de diferentes marcas de suco de maçã analisadas em 3 línguas
eletrônicas. .................................................................................................................... 94
Figura 63 - Gráfíco de PCA 3D de amostras medidas em triplicata de amostras de
diferentes marcas suco de maçã. .................................................................................... 95
Figura 64 - Gráfico 3D de respostas para unidades sensoriais com sucos de maçã e
respectivas capacitâncias. .............................................................................................. 96
Figura 65 - PCA de amostras de sucos de maçã utilizando o mesmo conjunto de unidades
sensoriais da língua eletrônica. À esquerda está o gráfico para a primeira medida, sendo
que o gráfico à direita se refere à segunda medida. ........................................................ 96
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Atribuições de bandas do espectro Raman da CuTsPc [75,80]. ...................... 47
Tabela 2 - Atribuições de bandas do espectro Raman do PEDOT [81,82]....................... 47
Tabela 3 - Atribuições de bandas do espectro Raman do PPy [83,84]. ............................ 48
Tabela 4 - Amostras de café analisadas com a língua eletrônica microfluídica. .............. 49
Tabela 5 - Amostras de glicose, sacarose e frutose e suas respectivas concentrações. ..... 89
Tabela 6 - Amostras de suco de maçã e suas respectivas concentrações de açúcar em 100
mL de suco. ................................................................................................................... 93
Lista de Abreviações
BA: do inglês Boronic acid.
CuTsPc: ftalocianina tetrasulfonada de cobre.
IDMAP: do inglês Interactive Document Map.
LbL: do inglês layer-bu-layer.
LOC: do inglês lab-on-a-chip.
µPAD: do inglês Microfluidic paper-based analytical devices.
PAH: poli(cloridrato de alilamina).
PBA: do inglês fenilboronic acid.
PC: do inglês Principal Component.
PCA: do inglês Principal Component Analysis.
PDMS: polidimetilsiloxano.
PEDOT:PSS: poli(3,4-etilenodioxitiofeno):poli(estireno sulfonado).
PIL: do inglês poli(ionic liquid).
PM-IRRAS: reflexão-absorção na região do infravermelho com modulação
da polarização.
PPy: polipirrol.
SM: Sammon’s Map
Sumário
CAPÍTULO 1 – MOTIVAÇÃO E OBJETIVOS ..................................................................... 25
1.1 - Motivação ............................................................................................................. 25
1.2 - Objetivos ............................................................................................................... 26
CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ..................................................................... 27
2.1 – Língua eletrônica .................................................................................................. 27
2.2 - Microfluídica ......................................................................................................... 28
2.3 – Técnicas de automontagem (layer-by-Layer)............................................................29
2.4 – Hidrogéis...................................................................................................................30
2.5 – Sensores baseados em hidrogéis funcionalizados com ácido borônico....................32
2.6 – Glúten e Doença Celíaca...........................................................................................33
2.7 – Conceito básico de Impedância.................................................................................34
2.8 – Espectroscopia de Impedância..................................................................................36
2.9 – Análise de Componentes Principais..........................................................................36
2.10 – Método de visualização de informação...................................................................37
Capítulo 3 – INTEGRAÇÃO DE UMA “LÍNGUA ELETRÔNICA” EM DISPOSITIVOS MICROFLUÍDICOS PARA ANÁLISE DE LÍQUIDOS COMPLEXOS E DETECÇÃO DE GLIADINA EM ALIMENTOS...................................................................................................39
Resumo...............................................................................................................................39
3.1 – Introdução..................................................................................................................40
3.2 – Materiais e Métodos..................................................................................................41
3.3 – Resultados e Discussão.............................................................................................43
3.4 – Conclusão..................................................................................................................66
CAPÍTULO 4 – DETECÇÃO DE MONOSSACARÍDEOS ATRAVÉS DE ESPECTROSCOPIA DE IMPEDÂNCIA ELÉTRICA UTILIZANDO ELETRODOS DE CARBONO IMPRESSO EM PAPEL E FUNCIONALIZADOS COM HIDROGEL.............67 Resumo...............................................................................................................................67
4.1 – Introdução..................................................................................................................68
4.2 – Materiais e Métodos..................................................................................................70
4.2.1 – Fabricação de eletrodos interdigitados.......................................................71
4.2.2 – Estudo de síntese e inchaço de hidrogel funcionalizado............................71
4.2.3 – Protocolo de funcionalização de eletrodos e análises.................................72
4.2.4 – Espectroscopia de impedância elétrica.......................................................73
4.3 – Resultados e Discussão.............................................................................................74
4.3.1 – Caracterização do hidrogel.........................................................................74
4.3.2 – Camada de hidrogel funcionalizado com PBA para revestimento de
eletrodos.................................................................................................................... .........76
4.3.3 – Análises de impedância e capacitância.......................................................77
4.4 – Conclusão..................................................................................................................80
CAPÍTULO 5 – DETECÇÃO DE DIFERENTES TIPOS DE AÇÚCARES E MARCAS DE SUCO MAÇÃ A PARTIR DE UMA LÍNGUA ELETRÔNICA MICROFLUÍDICA EM PAPEL COM ELETRODOS FUNCIONALIZADOS COM HIDROGEL...............................82
Resumo...............................................................................................................................82
5.1 – Introdução..................................................................................................................83
5.2 – Materiais e Métodos..................................................................................................84
5.2.1 – Materiais.....................................................................................................84
5.2.2 – Fabricação de eletrodos interdigitados de carbono via screen-printing e
impressão de canais hidrofóbicos.......................................................................................84
5.2.3 – Modificação da superfície do canal com polimerização de hidrogel
funcionalizado....................................................................................................................86
5.2.4 – Unidades sensoriais da língua eletrônica microfluídica.............................86
5.2.5 – Espectroscopia de impedância....................................................................87
5.2.6 – Análise de dados com PCA e IDMAP........................................................87
5.3 – Resultados e Discussão.............................................................................................88
5.4 – Conclusão..................................................................................................................97
CAPÍTULO 6 – CONCLUSÃO GERAL E PERPESCTIVAS FUTURAS...............................98 REFERÊNCIAS.......................................................................................................................... .99
Apresentação
Esta tese está dividida em 5 Capítulos: O Capítulo 1 discorre sobre a motivação e
principais objetivos do trabalho; no Capítulo 2 é feita uma breve revisão conceitual dos
principais tópicos abordados no trabalho; o Capítulo 3 discorre sobre a integração de uma
língua eletrônica em dispositivos microfluídicos para análise de líquidos complexos e
detecção de gliadina em alimentos. Os Capítulos 4 e 5 apresentam os trabalhos
desenvolvidos no doutorado sanduíche, em um período de 1 ano, realizado na Dublin City
University (DCU) – Irlanda em colaboração com o grupo do Prof. Dr. Dermot Diamond.
A pesquisa do Capítulo 4 envolveu detecção de monossacarídeos através de
espectroscopia de impedância elétrica utilizando eletrodos de carbono impressos em papel
e funcionalizados com filmes de hidrogel. Este trabalho foi continuado com a detecção de
diferentes tipos de açúcares e marcas de suco de maçã a partir de uma língua eletrônica
microfluídica, cujos resultados aparecem no Capítulo 5.
A seguir estão listados os trabalhos derivados da pesquisa no doutorado:
Alessio, P.; Constantino, C. J. L.; Daikuzono, C. M.; Riul, A.; de Oliveira, O. N.
Analysis of Coffees Using Electronic Tongues. In Electronic Noses and Tongues
in Food Science; Elsevier, 2016; pp. 171–177.
Daikuzono, C. M.; Delaney, C.; Tesfay, H.; Florea, L.; Oliveira, O. N.; Morrin,
A.; Diamond, D. Impedance spectroscopy for monosaccharides detection using
responsive hydrogel modified paper-based electrodes. The Analyst, 2017, 142,
1133-1139.
Daikuzono, C.M.; Shimizu, F.M.; Manzoli, A.; Riul Jr.,A.; Piazzetta, M.H.O.;
Gobbi, A.L.; Correa, D.S.; Paulovich, F.V.; Oliveira Jr., O. Information visualiza-
tion and feature selection methods applied to detect gliadin in gluten-containing
foodstuff with a microfluidic electronic tongue. ACS Applied Materials and Inter-
faces, 2017, 9 (23), 19646-19652.
Paper-based microfluidic electronic tongue for sugar and juices analyzes using
thin film of responsive hydrogel (2017) – em andamento.
25
Capítulo 1 – Motivação e Objetivos
1.1 – MOTIVAÇÃO
O trabalho desenvolvido no doutorado foi motivado pela busca de sensores de baixo custo
que possam no futuro auxiliar portadores de doença celíaca e diabéticos a identificarem a
presença de gliadina em alimentos e no monitoramento de glicose para aplicação de insulina,
respectivamente. A doença celíaca é emergente, acometendo cerca de 1 % da população
mundial [1,2], cuja incidência é ilustrada na Figura 1. Pacientes celíacos sofrem com
inflamações severas no trato gastrointestinal quando da ingestão de alimentos que contenham
glúten, causando inúmeros problemas de saúde. O tratamento mais eficaz para esta doença,
hoje, é a não ingestão de alimentos com glúten. O desenvolvimento de um sensor capaz de
identificar a presença de glúten nos alimentos é, portanto, de grande interesse para os celíacos
por permitir um consumo seguro.
Figura 1 - Epidemiologia da doença celíaca no mundo.
Fonte:Adaptado de http://www.drschaer-institute.com/us/professional-articles/a-global-map-of-celiac-
disease-1229.html acessado 12/06/2017.
A segunda parte do trabalho de doutorado teve como motivação desenvolver sensores
de açúcares focando no desenvolvimento futuro de um skin-patch para detecção de glicose no
suor de diabéticos. Segundo a Organização Mundial da Saúde (World Health Organization),
diabetes é uma doença crônica e silenciosa, que provoca falecimento de órgãos, cegueira,
26
perda de peso e amputação de membros. Sua incidência tem aumentado: de 1980 a 2014 o
número de pessoas acometidas com diabetes aumentou de 108 milhões para 422 milhões. Os
maus hábitos alimentares e o aumento de sobrepeso na população colaboram para o aumento
de casos de diabetes. Por isso é necessário o monitoramento constante de glicose no paciente
diabético. Infelizmente, o método mais eficaz é através de uma pequena incisão no dedo para
extração de sangue para análise [3]. Em nosso trabalho, pretendemos desenvolver um sensor
não invasivo, mas eficiente na detecção de glicose.
1.2 – OBJETIVOS
Os principais objetivos são desenvolver diferentes design de língua eletrônica que possam
ser aplicados em: (i) detecção de gliadina em solução aquosa através de unidades sensoriais
em eletrodos interdigitados de ouro sobre um substrato de vidro e com canal fabricado em
PDMS, ambos fabricados pela técnica de fotolitografia. As unidades sensoriais foram
funcionalizadas com filmes nanoestruturados de polímeros condutores, materiais orgânicos e
semicondutores depositados via técnica de automontagem (layer-by-layer); (ii) detecção de
monossacarídeos em solução aquosa através de sensores de papel com eletrodos interdigitados
de carbono impresso via screen-printing e com canal impresso via impressora de cera. As
unidades sensoriais foram modificadas com filmes finos de líquidos iônicos e hidrogéis
funcionalizados com ácido borônico. Com língua eletrônica em duas plataformas diferentes,
realizamos o estudo das unidades sensoriais para detectar a gliadina em alimentos e monitorar
diferentes concentrações de açúcares em solução aquosas através da técnica de espectroscopia
de impedância elétrica.
27
Capítulo 2 – Revisão Conceitual
Neste capítulo abordaremos os principais tópicos envolvidos na tese, dando uma breve
introdução para cada assunto.
2.1 – Língua eletrônica
De acordo com a IUPAC, língua eletrônica é um instrumento analítico composto por um
arranjo de unidades sensoriais não específicos e não seletivo utilizado para análises
quantitativas e qualitativas de soluções complexas [4]. As unidades sensoriais da ―língua
eletrônica‖ podem ser compostas por membranas, eletrodos interdigitados recobertos com
filmes finos de materiais diversos, que são capazes de distinguir líquidos complexos
semelhantes empregando o conceito de seletividade global, no qual a diferença de resposta
elétrica de diferentes materiais serve como uma impressão digital para classificar a amostra
analisada [5,6]. O número de sensores que compõem o arranjo sensorial pode variar de 4 a 40
unidades sensoriais, dependendo da complexidade da amostra analisada e do material
disponível para fabricação da unidade sensorial. Quanto maior o número de unidades
sensoriais, maior sua aplicabilidade para testes analíticos de amostras complexas [4]. A
―língua eletrônica‖ pode ser utilizada em diversas análises, como as de alimentos, bebidas, de
vestígios de impurezas ou poluentes em águas e biocombustível [7-10]. Este tipo de sensor
pode empregar diferentes princípios de detecção, que incluem medidas eletroquímicas
(potenciometria, amperometria e voltametria cíclica) [5,9] e espectroscopia de impedância
[10].
A vantagem de se utilizar medidas eletroquímicas é de usarem instrumentação simples e
de alta sensibilidade, mas são limitados por necessitarem de espécies eletroativas. Segundo
Riul Jr. et al. [11], são vantagens da espectroscopia de impedância em relação aos métodos
eletroquímicos: i) não ser necessário usar eletrodo de referência; (ii) o material da unidade
sensorial não precisa ser eletroativo. As medidas de espectroscopia de impedância são
realizadas variando-se a faixa de frequência do sinal aplicado sobre os eletrodos interdigitados
recobertos com filmes nanoestruturados de diferentes materiais [5]. A escolha dos filmes
nanoestruturados é relevante para aumentar a sensibilidade do dispositivo através da interação
do analito em solução com esses filmes. É essa utilização de materiais com propriedades
distintas que permite criar uma ―impressão digital‖ da solução analisada [11-12]. O
processamento de dados gerados pelas unidades sensoriais através de análises qualitativas e
28
quantitativas pode ser processado através de métodos estatísticos como análise de
componentes principais [13-14] e computacional (técnica de projeção multidimensional) [15-
16]. Além disso, podem-se usar técnicas de inteligência artificial para correlacionar com a
percepção humana de distinção de sabores e odores [5].
2.2 – Microfluídica
A microfluídica é uma área de ciência e tecnologia em que dispositivos são produzidos
com canais na ordem de 10 a 100 µm, permitindo a passagem de fluidos com volumes que
podem variar de 10-9
a 10-18
litros [17]. Uma vantagem óbvia desta técnica é a redução de uso
de reagentes, o que gera redução de descarte e de custo. Com microfluídica é possível
construir dispositivos simples ou mais complexos que permitem realizar separações e
detecções com alta resolução e sensibilidade, diminuição no tempo de análise, além do baixo
custo envolvido [18-19]. Dispositivos microfluídicos têm sido usados em biossensores [19],
análise de DNA [20-21], análise química [22] e em língua eletrônica [23]. Com processos
litográficos [24-25] e a integração da microeletrônica à tecnologia microfluídica [26] é
possível produzir os chamados lab-on-a-chip, em que todas as funções de um laboratório são
integradas em um único chip, sem a necessidade de operador qualificado. Todo procedimento
laboratorial, incluindo transferência de amostras, mistura de reagentes, titulação e seleção de
materiais, é realizado num único dispositivo de poucos centímetros quadrados [27- 28].
Usando miniaturização, pode-se também integrar os elementos fluídicos com as partes
ópticas e elétricas [29-30]. Isso permite usar dispositivos lab-on-a-chip em diversas áreas [31
-33], com as vantagens de redução do volume de reagentes e descartes, redução nos custos e
aumento das velocidades de reação. Em 2007 Martinez et.al. [34] introduziram a
microfluídica em dispositivos analíticos produzidos em papel, o chamados µPADs (do inglês
Microfluidic paper-based analytical devices). Os µPADs são dispositivos simples fabricados
em papel com microcanais hidrofóbicos que podem ser impressos via fotolitografia,
carimbados com tinta hidrofóbica e screen-printing, entre outras técnicas [35]. Esta
plataforma analítica pode servir para ensaios biológicos de baixo custo e são portáteis e de
fácil manuseio. Os dispositivos microfluídicos de papel são mais baratos que os
convencionais fabricados sobre silicone ou vidro, e não requerem instrumentos complexos
para análise de dados. Muitos dispositivos microfluídicos de papel utilizam a força de
capilaridade para escoar os líquidos ao longo do canal e as detecções geralmente são
colorimétrica, eliminado assim grande parte de equipamentos analíticos. Para tanto, não há
29
necessidade de pessoas capacitadas para analisar dados, e o material pode ser incinerado
evitando o acúmulo de dispositivo e contaminação do meio ambiente.
2.3 – Técnica de automontagem (Layer-by-Layer)
A língua eletrônica pode ser composta por um arranjo cujas unidades sensoriais
formadas por eletrodos interdigitados recobertos com filmes nanoestruturados. A técnica de
automontagem por adsorção física (LbL) é a mais usada para depositar filmes finos sobre os
eletrodos interdigitados, por oferecer a vantagem de incorporação de diferentes materiais com
arquitetura controlada [36]. A Figura 2 ilustra a técnica de automontagem LbL que consiste
basicamente em alternar a imersão do substrato em uma solução de poliânion e policátion.
Soluções de lavagem são usadas entre as deposições poliiônicas para remoção do excesso de
moléculas não adsorvidas. As camadas nanoestruturadas são formadas por atração
eletrostática entre as cargas opostas das moléculas em solução, gerando multicamadas de
espessura da ordem de nm [37].
Figura 2 - Esquema de deposição de filmes nanoestruturados por automontagem (LbL).
Fonte: Elaborada pela autora.
A técnica de automontagem possibilita a aplicação de filmes nanoestruturados em
diversas áreas, tais como sensores [38-39] e biossensores [40-41]. Yang et.al., por exemplo,
recorreram à técnica LbL para desenvolver um biossensor eletroquímico capaz de detectar
colesterol com eletrodos de ouro modificados com filme fino de nanopartículas de platina
dopada com quitosana e nanotubos de carbono combinados com sal de poli(sódio-p-
estirenossulfonato) (PSS) [41]. Filmes nanoestruturados são usados também na modificação
30
de arranjos sensoriais de língua eletrônica. Borato et.al. modificaram o arranjo de uma língua
eletrônica com eletrodos de cromo com filmes finos produzidos a partir da interação de poli
(o-etoxianilina) (POEA) com nanopartículas de quitosana-poli(ácido metacrílico) (CS-
PMAA) para detecção de íons cobre em soluções aquosas [42]. Daikuzono et.al. também
usaram a técnica LbL para produzir as unidades sensoriais de uma língua eletrônica
microfluídica, sendo que a deposição dos polímeros foi feita em fluxo dentro do microcanal e
sobre os eletrodos interdigitados de ouro. Filmes finos de polímeros condutores, materiais
orgânicos e semicondutores foram utilizados para detecção de diferentes ―sabores‖ (amargo,
doce, salgado, azedo e umami) em solução aquosa [23].
2.4 – Hidrogéis
Os hidrogéis são materiais poliméricos hidrofílicos que podem inchar e reter grande
quantidade de água, sem se dissolver. São produzidos a partir da reação de um ou mais
monômeros e podem ser classificados através do tipo de cross-linking. As junções podem ser
naturais e químicas, e por isso os hidrogéis são classificados em categorias químicas e físicas.
As ligações químicas são permanentes, enquanto que as físicas ocorrem através de interações
iônicas, ligações de hidrogênio e interações hidrofílicas [43]. Estímulos químicos (pH,
composição do solvente, espécies moleculares, etc.) e físicos (temperatura, campo elétrico,
magnético, pressão e luz) podem influenciar no intumescimento do hidrogel.
Figura 3 - Estímulos externos que podem influenciar o intumescimento do hidrogel.
Fonte: Elaborada pela autora.
O hidrogel é versátil para aplicação em inúmeras áreas, tais como na agricultura [44],
liberação controlada de drogas [45], engenharia de tecidos [46] e sensores [47]. Romero et.al.
31
desenvolveram uma válvula inteligente a partir de hidrogel, que controlam a umidade do solo
para irrigação de plantas. O hidrogel inchou e desinchou sem se desintegrar em contato com o
solo, e esta válvula polimérica foi testada durante quatro meses em uma planta utilizando
somente 3 litros de água, o que torna esta peça viável para irrigação controlada [44]. Os
hidrogéis podem ser usados também na liberação controlada de medicamentos. Um grupo de
pesquisadores desenvolveu nanogéis para liberação controlada de medicamentos a partir de
estímulos externos, tais como mudança de pH e temperatura. A liberação do medicamento é
acelerada quando os nanogéis passam de um meio neutro para outro ácido em altas
temperaturas [45]. A engenharia de tecido também emprega hidrogéis em suas pesquisas, por
exemplo, com peptídeos incorporados em fibras de hidrogel sem cross-linker que podem ser
metabolizadas por células. As fibras de hidrogel funcionalizadas podem ser empregadas em
regeneração de ossos, cartilagem, ligamentos, fígado, nervo óptico, entre outras aplicações
[46].
Hidrogéis têm sido usados também em sensores. A Figura 4 ilustra o crescente
interesse em hidrogéis para sensores em um gráfico de trabalhos publicados ao longo dos
últimos 19 anos. Estes sensores podem ser colorimétricos [48], eletroquímicos [49], ópticos
[50] e elétricos [51]. Uma parte do trabalho de doutorado envolveu o estudo de sensores com
hidrogéis funcionalizados com ácido borônico, tema da próxima seção.
Figura 4 - Gráfico de trabalhos publicados por ano na área de sensores de hidrogéis. Sensor and hydrogel foram
as palavras chaves utilizadas na pesquisa realizada no site do Web of Sciense.
Fonte adaptada do site de pesquisa Web of Sciense.
32
2.5 – Sensores baseados em hidrogéis funcionalizados com ácido borônico
Os ácidos borônicos são compostos de baixa massa molecular que possuem propriedades
eletrônicas e físico-químicas úteis para várias aplicações. Em química orgânica, ácidos
borônicos são usados como agentes protetores para o grupo diol e intermediários em reações
como as de acoplamento. São utilizados também para inibir atividade enzimática, em
carreadores de drogas e sensoriamento de sacarídeos [52]. Sua utilidade em sensores se deve
principalmente ao fato de apresentarem base forte de Lewis, como fluoreto ou ânions cianeto
e pela interação do grupo borônico com grupo diol de sacarídeos [53]. Servem como alicerces
para fabricação de sensores ópticos [50], eletroquímicos [54] e elétricos [51].
A incorporação de ácido fenilborônico (PBA) em matrizes de hidrogel permite produzir
sensores para detectar e monitorar o nível de glicose, em virtude da alta afinidade pelo grupo
diol de açúcares [47]. A interação de grupos dióis com PBAs induz mudança de volume da
matriz de hidrogel permitindo o monitoramento de diferentes concentrações de glicose. A
Figura 5 ilustra o esquema de ligação entre grupos do PBA e diol da glicose.
Figura 5 – Equilíbrio de complexação entre grupos do ácido fenilborônico e glicose. Interação da glicose com
grupos de PBA resulta no inchamento do hidrogel.
Fonte adaptada [52].
A Figura 6 apresenta o esquema de inchamento da matriz de hidrogel funcionalizado
com ácido fenilborônico (PBA), que ocorre quando o hidrogel se liga a grupos diol de
monossacarídeos. A mudança no volume do hidrogel serve para o sensoriamento de diferentes
concentrações e tipos de açúcares [47,53], podendo ser detectada com métodos ópticos,
piezelétricos, eletroquímicos e impedância elétrica [55, 56].
33
Figura 6 - Esquema de interação do ácido borônico imobilizado em matriz de hidrogel com grupo diol do açúcar;
Fotos de discos de hidrogel em tampão e diferentes concentrações de glicose.
Fonte: Elaborado pelo autor.
2.6 – Glúten e Doença Celíaca
O glúten é uma proteína encontrada no trigo, centeio, cevada e aveia. Tem baixo valor
nutritivo, sendo consumida pela população por ser responsável pela elasticidade, viscosidade
e capacidade de absorver água, o que favorece a fabricação de pães, bolos e massas em geral
[57]. É constituído por duas frações protéicas classificadas de acordo com a solubilidade em
álcool: a prolamina é solúvel em solução de etanol 60-70% (v/v), enquanto a glutenina é
insolúvel [57]. As prolaminas estão presentes no centeio (secalina), cevada (hordeína), aveia
(avenina) e trigo (gliadina). A gliadina é subdividida em frações monoméricas α, β, γ e ω [57].
É resistente à digestão no trato gastrointestinal, pancreático e afeta o lúmen intestinal [58], o
que a torna nociva para indivíduos com pré-disposição genética à intolerância ao glúten.
Mesmo pessoas que não têm pré-disposição à doença celíaca também sofrem com alguns
sintomas de intolerância ao glúten [59].
A doença celíaca é genética e autoimune, afeta cerca de 1% da população mundial [58],
sendo definida como intolerância permanente à ingestão de alimentos que contenham glúten.
As prolaminas são resistentes à digestão no trato gastrointestinal e causam inflamação crônica
no intestino delgado, dificultando a absorção de nutrientes [58]. As manifestações clínicas são
34
geralmente caracterizadas por má absorção de nutrientes, perda de peso, diarréia, distensão
abdominal, anemia, osteoporose, entre outras complicações [2]. O único tratamento até o
momento é a dieta sem glúten, ou seja, os pacientes devem confiar nos rótulos dos alimentos
comercializados. De acordo com o Codex Alimentarius, o limite de glúten permitido nos
produtos alimentícios comercializados como sem glúten deve ser no máximo 20 ppm ou 20
mg/kg em massa seca. Os alimentos naturalmente sem glúten devem ter menos que 20 mg/kg
[60].
2.7 – Conceito básico de impedância
O conceito básico de impedância (Z) é a oposição de fluxo de corrente elétrica em um
circuito de corrente alternada. Essa oposição à passagem de corrente é representada por um
termo real e outro imaginário reflete a capacidade de o circuito armazenar energia elétrica.
Matematicamente, a impedância pode ser definida como a razão entre a tensão elétrica
alternada (V) e a corrente (I) aplicada no dispositivo.
𝑍 𝜔 = 𝑉 (𝑡)
𝐼(𝑡) (1)
Na equação (1), a frequência angular é definida como 𝜔 = 2𝜋𝑓, sendo f a frequência
do sinal aplicado. A equação (2) indica que a impedância pode ser tratada como uma grandeza
complexa por depender da relação da fase e da amplitude de sinais aplicados.
𝑍 𝜔 = 𝑍′ + 𝑗𝑍′′ (2)
Os símbolos Z’ e Z’’na equação (2) representam as componentes real e imaginária da
impedância; e o operador imaginário j é definido como 𝑗 = −1. A impedância em um plano
complexo está ilustrada na Figura 7, na qual se pode coletar as duas coordenadas cartesianas
da impedância representadas nas equações (3) e (4).
35
Figura 7 - Representação da impedância elétrica como vetor usando coordenadas polares e cartesianas.
Fonte – Figura adaptada do livro Impedance Spectroscopy Theory, Experiment,and Applications [61].
𝑅𝑒 𝑍 ≡ 𝑍′ = |𝑍|𝑐𝑜𝑠𝜃 (3)
𝐼𝑚(𝑍) ≡ 𝑍" = |𝑍|𝑠𝑒𝑛𝜃 (4)
Nas equações (3) e (4), o ângulo θ e o módulo da impedância podem ser descritos
através das equações (5) e (6).
𝜃 = 𝑎𝑟𝑐𝑡𝑔(𝑍"/𝑍′) (5)
𝑍 = 𝑍′2 + 𝑍"2 (6)
A impedância em coordenadas polares é representada matematicamente pela equação
(7), equacionada a partir da relação de Euler, 𝑒𝑗𝜃 = 𝑐𝑜𝑠𝜃 + 𝑗𝑠𝑒𝑛𝜃, e das equações (3) e (4).
𝑍 𝜔 = 𝑍 ′ + 𝑗𝑍" = |𝑍|(𝑐𝑜𝑠𝜃 + 𝑗𝑠𝑒𝑛𝜃) que implica em 𝑍(𝜔) = |𝑍|𝑒𝑗𝜃 (7)
A partir do valor de impedância é possível determinar a capacitância através de
cálculos envolvendo equações de admitância (Y), que é o inverso da impedância, e da
condutância (G).
𝑌 = 1
𝑍=
1
𝑍 ′+𝑗𝑍 "=
𝑍 ′−𝑗𝑍 "
𝑍 ′2 +(𝑍"2)=
𝑍′
𝑍 ′2 +(𝑍"2)− 𝑗
𝑍"
𝑍 ′2 +(𝑍"2) (8)
𝑌 = 𝐺 + 𝑗𝜔𝐶 (9)
Rearranjando as equações (8) e (9), obtemos equações para condutância (10) e
capacitância (11):
36
𝐺 =𝑍′
𝑍 ′ 2 +(𝑍"2)
(10)
𝐶 = −1
𝜔
𝑍"
𝑍 ′ 2 +(𝑍"2)= −
1
2𝜋𝑓
𝑍"
𝑍 ′ 2 +(𝑍"2) (11)
2.8 Espectroscopia de impedância elétrica
A espectroscopia de impedância elétrica é utilizada para caracterizar dispositivos
eletrônicos, propriedade elétricas de materiais sólidos/líquidos (semicondutor, iônico,
dielétrico e etc) e suas interfaces com eletrodos condutores [61]. O protocolo mais comum
para medir a impedância real e complexa dos materiais é a aplicação de uma voltagem ou
corrente AC na interface ou no material analisado em uma determinada faixa de frequência.
Analisadores de impedância comerciais oferecem uma faixa de frequência de 1mHz a 1 MHz
para realizar análises de propriedades intrínsecas de materiais que podem influenciar na
condutividade entre amostra-eletrodo. Através do espectro de impedância diversos parâmetros
podem ser avaliados, tais como condutividade, constante dielétrica, mobilidade de cargas,
interface do material com eletrodo, equilíbrio de cargas sobre as interfaces, capacitância da
região de interface, difusão de íons sobre o eletrodo. Por essa versatilidade, a espectroscopia
de impedância elétrica é também útil para analisar dados obtidos com as unidades sensoriais
da língua eletrônica. Para este trabalho de doutorado todas as medidas elétricas foram
realizadas através do método de espectroscopia de impedância elétrica.
2.9 - Análises de Componentes Principais (PCA)
A análise de componentes principais (PCA- Principal Component Analysis) é uma
técnica de análise multivariada, cujo objetivo é eliminar sobreposição e reduzir um grande
número de dados em um novo conjunto de variáveis não correlacionadas, sem perder muita
informação dos dados originais [62]. A técnica PCA reduz o espaço de variáveis, gerando
eixos ortogonais que são combinações lineares das variáveis originais, denominadas
componentes principais (PC). As componentes principais são obtidas em ordem decrescente
de variância [14,62]. Portanto, PC1 agrega mais informação sobre os dados do que a PC2 e
assim sucessivamente, e as componentes principais não se correlacionam. A redução do
número total de variáveis é possível porque geralmente as primeiras componentes principais
(PC1 e PC2) possuem mais de 90% de informação estatística dos dados originais. Os
resultados ou unidades amostrais são arranjados em gráficos que podem ser bidimensionais ou
37
tridimensionais, onde seus eixos ortogonais são as componentes principais.
2.10 – Método de visualização de informações
Os dados obtidos com uma língua eletrônica podem ser analisados com outros
métodos de visualização de informações. O software PEx-Sensors desenvolvido por
Paulovich et.al.[15] permite visualizar os dados de espectroscopia de impedância de diversas
amostras em diferentes unidades sensoriais em uma única etapa. Para tanto, empregam-se
técnicas não lineares como Sammon’s Mapping ou Interactive Document Map (IDMAP). Isto
permite um estudo aprofundado da sensibilidade das unidades sensoriais e de suas respectivas
respostas a estímulos externos, como interação de moléculas na superfície dos eletrodos
modificados. Esta técnica se assemelha à técnica PCA, pois também emprega a redução de
dimensões, o que gera uma maior precisão de classificação das amostras. A técnica de
projeção multidimensional aborda a redução de dimensionalidade preservando as relações de
distância Eucleudiana.
Formalmente, pode-se descrever uma técnica de projeção com um exemplo genérico.
Seja um conjunto de dados X, contendo n amostras, representado por X = [x1, x2, ... xn] com δ
(xi,xj) sendo a função de dissimilaridade entre duas amostras, que geram a distância entre as
amostras no espaço X. A análise de dados gerados pela língua eletrônica é analisada através da
distância Euclidiana. Considera-se Y = [y1, y2,…,yn] para o mapeamento de X em um gráfico
de duas ou três dimensões, em que a distância entre elementos do conjunto Y pode ser
definida como d (yi, yj). A projeção é feita com uma função f : X →Y, onde f é denominada
função erro, com o objetivo de minimizar o erro das diferenças |δ (xi, xj) – d
(yi,yj)| ∀ 𝑥𝑖, 𝑥𝑗 𝜖 𝑋, porque a projeção inevitavelmente gera perda de informação.
A técnica de visualização Sammon’s Mapping (SM) emprega a função erro S definida
na equação 12.
𝑆𝑆𝑀 = 1
𝛿(𝑥𝑖 ,𝑥𝑗 )𝑖<𝑗
(𝑑 𝑦𝑖 ,𝑦𝑗 −𝛿 𝑥𝑖 ,𝑥𝑗 )2
𝛿(𝑥𝑖 ,𝑥𝑗 ) (12)
A técnica IDMAP reduz a dimensão recursivamente projetando pontos de alta
dimensionalidade em direções ortogonais reduzidas entre si, utilizando a técnica Fastmap. A
combinação da técnica Fastmap com o conceito de forças de atração e repulsão (Force
Scheme) melhora a disposição inicial dos pontos. Considera-se Y um conjunto de amostras já
38
posicionadas no plano e para cada amostra projetada ( 𝑦𝑖 𝜖 𝑌) um vetor, 𝑣𝑖𝑗 = 𝑦𝑗 −
𝑦𝑖 ,∀ 𝑦𝑖 ≠ 𝑦𝑗 , é calculado. A quantidade de movimento da componente yi na direção de 𝑣𝑖𝑗 é
calculada através da equação 13, onde δmin e δmax são as distâncias mínimas e máximas
entre as amostras.
𝑆𝐼𝐷𝑀𝐴𝑃 =𝛿 𝑥𝑖 ,𝑥𝑗 −𝛿𝑚𝑖𝑛
𝛿𝑚𝑎𝑥 −𝛿𝑚𝑖𝑛 −𝑑 𝑦𝑖 ,𝑦𝑗 (13)
A colocação mais precisa dos pontos nas projeções, respeitando a distância em relação
ao espaço inicial, pode ser obtida com a aplicação sucessiva deste processo em todas as
amostras analisadas, resultado da diferença |δ(xi,xj) – d(f(xi,xj))| ∀xi,xj ∈ X. Dados gerados de
sensores e biossensores podem ser analisados com estas técnicas de visualização de
informação.
39
Capítulo 3 – Integração de uma “língua eletrônica” em dispositivos
microfluídicos para análise de líquidos complexos e detecção de gliadina em
alimentos.
RESUMO
O trabalho neste capítulo visa à integração de uma ―língua eletrônica‖ em dispositivos
microfluídicos para análise de diferentes tipos de líquidos. Os filmes finos utilizados em cada
unidade sensorial foram depositados nos microcanais usando-se a técnica de automontagem
(layer-by-layer, LbL) dinâmica, com bicamadas de ftalocianina tetrassulfonada de cobre
(CuTsPc) e poli(cloridrato de alilamina) (PAH), bicamadas de poli(3,4-
etilenodioxitiofeno):poli(estireno sulfonado) (PEDOT:PSS) e PAH, e bicamadas de polipirrol
(PPy) e PAH. A adsorção de filme LbL no substrato de ouro, assim como a adsorção de
gliadina no filme, foi verificada por espectroscopia no infravermelho com modulação da
polarização (PM-IRRAS), enquanto a distribuição do filme ao longo dos dígitos dos eletrodos
de ouro foi observada por microscopia de força atômica (AFM) e espectroscopia Raman. A
espectroscopia no UV-VIS foi utilizada para verificar a presença de gliadina nas soluções
padrões e amostras de alimentos diluídos em etanol 70% (v/v), para que pudessem
posteriormente ser analisadas através da espectroscopia de impedância. Os espectros de UV-
VIS foram analisados com o software PEx-Sensors, com clara distinção dos grupos de
amostras sem gliadina, contendo e contaminados com gliadina. Usando análise de
componentes principais (PCA) para medidas de impedância obtidas nos dispositivos
microfluídicos com filmes nanoestruturados, foi possível distinguir diversos tipos de líquidos.
Por exemplo, foram separados sabores básicos representados por soluções de 1mM de NaCl,
sacarose, HCl, cafeína anidra, glutamato monossódico, da água ultrapura. Distinguiram-se
diferentes tipos de café (tradicional, orgânico, gourmet e premium). De relevância para
monitoramento de alimentos, com o dispositivo distinguiram-se diferentes concentrações de
soluções de gliadina, e foi possível separar amostras de alimentos com e sem glúten e
alimentos sem glúten contaminados com gliadina.
Palavras chaves: automontagem (layer-by-layer), PM-IRRAS, AFM, língua eletrônica, PCA
e gliadina.
40
3.1 - INTRODUÇÃO
O trabalho neste capítulo está relacionado à microfluídica, com a deposição de filmes
nanoestruturados sobre eletrodos interdigitados no interior de microcanais fabricados em uma
matriz de polidimetilsiloxano (PDMS). O objetivo é integrar uma ―língua eletrônica‖ em
dispositivos ―lab-on-a-chip” (LOC) para análises de líquidos complexos, tais como soluções
de gliadina, alimentos, diferentes tipos de café e a análise clássica da língua eletrônica que
consiste em diferenciar sabores básicos (doce, salgado, amargo, azedo e umami). A ―língua
eletrônica” é formada por um conjunto de sensores para análise de sistemas líquidos, como
vinhos, café, suco de frutas, cerveja, vestígios de impurezas ou poluentes em águas [7,63-66],
além do emprego na indústria de alimentos e farmacêutica [67,68]. Sua integração com
dispositivos microfluídicos é promissora por permitir uso de muito menos reagentes e
amostras, com volumes de nano a picolitros, uma vez que pelo menos uma das dimensões dos
canais é da ordem de 10-6
m [17]. A aplicação da microfluídica em dispositivos LOC pode ser
útil para as áreas médica, biológica, ambiental, farmacêutica, alimentícia e até na eletrônica
[18,29,69-71], estando na fronteira dos desenvolvimentos de nanociência e nanotecnologia.
Estes dispositivos oferecem vantagens de poder separar e detectar analitos com alta resolução,
sensibilidade, diminuição no tempo de análise e baixo custo [17].
A ―língua eletrônica‖ microfluídica [23] possui eletrodos recobertos com filmes
nanoestruturados depositados através da técnica LbL dinâmica [72]. A escolha da técnica LbL
foi baseada na possibilidade de controlar a arquitetura dos filmes pela sequência de deposição
[36]. Podem-se depositar polieletrólitos em dispositivos nanofluídicos [73], além de facilitar o
processo de selagem nos dispositivos. Todo estudo de deposição de filmes nanoestruturados
no interior do microcanal foi realizado no mestrado [23]. Algumas análises complementares
foram realizadas neste trabalho, por exemplo, a utilização de MEV para verificar a presença
de filme sobre os eletrodos interdigitados. A microscopia de força atômica (AFM) foi usada
para obter o perfil de distribuição de material ao longo do filme sobre os eletrodos. Análises
com Raman foram realizadas para confirmar a deposição de mais material na região de borda
do microcanal em relação à região central do canal. A espectroscopia de PM-IRRAS
confirmou a adsorção de filmes de PAH/CuTsPc, PAH/PEDOT:PSS e PAH/PPy. Foi possível
também verificar que a gliadina adsorve sobre o filme e que não é removida após a lavagem
com etanol 70 % (v/v).
Usando análise de componentes principais (PCA), foi possível distinguir diferentes
soluções de 1mM de NaCl, sacarose, HCl, cafeína anidra, glutamato monossódico e água
41
ultrapura medidas nos dispositivos microfluídicos com filmes nanoestruturados [23]. Com os
dispositivos microfluídicos conseguimos também analisar diferentes tipos de café (gourmet,
tradicional, Premium e orgânico [74], diferentes concentrações de soluções padrões de
gliadina e amostras com e sem glúten, e alimentos sem glúten contaminados com gliadina.
Neste trabalho, focamos nas análises de soluções padrões de gliadina e na análise de
alimentos com e sem glúten. Os dados de análises de soluções padrões de gliadina e de
alimentos com ou sem glúten foram analisados também através da técnica de visualização de
informação (software PEx-Sensors). Aspiramos futuramente desenvolver um dispositivo
microfluídico que auxilie os portadores de doença celíaca a identificar glúten nos alimentos
por eles ingeridos.
3.2 - Materiais e Métodos
A PAH, CuTsPc, PEDOT:PSS, PPy e gliadina foram adquiridos da Sigma-Aldrich.
NaCl, C12H22O11, HCl, C8H10N4O2 (anidra) e C5H8NNaO4.xH2O para preparar soluções de
1mM foram adquiridos da Vetec, Quemis, Synth e Sigma-Aldrich, respectivamente. Todas as
soluções foram preparadas utilizando água ultrapura de um sistema Direct-Q5 Millipore, com
exceção da gliadina e alimentos que são preparados em etanol 70 % (v/v). Os alimentos com
glúten (cerveja, torrada, bolacha salgada e mix de cereal) e sem glúten (leite em pó, saquê e
mistura para ―papinha‖ de bebê a base de amido de milho) foram adquiridos em um
supermercado de São Carlos. Os cafés foram adquiridos em supermercados de Campinas
(Pilão, Três Corações, Astro, Taeq, Chini e Demeter). Os filmes de PAH/CuTsPc foram
obtidos de soluções aquosas de PAH e CuTsPc nas concentrações de 0,5 mg.mL-1
a um pH =
8 [75]. Os filmes de PAH/PEDOT:PSS foram produzidos com soluções aquosas de PAH e
PEDOT:PSS nas concentrações de 3 mg.mL-1
e 0,1 mg.mL-1
, respectivamente, em pH = 3,5
[76]. Para o filme de PAH/PPy a concentração de PAH foi de 0,5 mg.mL-1
e de PPy foi 1,12
mg.mL-1
, ambos preparados com solução de NaCl de 0,5 M [77], sem correção de pH. Os
filmes LbL foram depositados no interior do microcanal de PDMS em condição de fluxo com
vazão de 103 µL/h. Os polieletrólitos foram injetados alternadamente no microcanal usando
microsseringas Hamilton alocadas em uma bomba de seringa da marca New Era pump
systems, conforme indica o esquema da Figura 8.
42
Figura 8 - Os filmes são depositados por LbL dinâmico através da injeção de polieletrólitos no microcanal.
Fonte: Adaptada de Daikuzono et.al. [78].
Com um bisturi, o microcanal em PDMS foi removido da superfície do dispositivo e
uma análise da superfície do eletrodo interdigitado foi feita com microscopia eletrônica de
varredura (MEV), modelo JEOL 6510, para verificar a presença de filmes finos. A
distribuição de material na superfície do eletrodo foi estudada com microscopia de força
atômica (AFM), modelo Dimension V (Veeco), utilizando pontas de silício em um
microcantilever de constante de mola 5,6 N.m-1
e frequência de ressonância de 180 kHz. As
imagens foram geradas em modo de contato intermitente (tappingTM
) com frequência de
varredura de 0,5 Hz. O Micro Raman Xplora Horiba, com laser de 638 nm, objetiva de x100,
grade de 1800 gr/mm e filtro de 100%, foi utilizado para confirmar a maior deposição de
filmes nas bordas dos microcanais. A espectroscopia de reflexão-absorção na região do
infravermelho com modulação da polarização (PM-IRRAS), modelo PMI 550, foi usada para
confirmar a adsorção dos filmes. Para obter espectros de cada filme, foi utilizado um modelo
composto por um detector de HgCdTe, modelo PCI-3TE-10.6, uma lâmpada de carbeto de
silício e um modulador fotoelástico de cristal de ZnSe.
As soluções padrões de gliadina e os alimentos foram preparados com etanol 70%
(v/v) e misturas em um Vortex por cerca de 10 min. O sobrenadante foi retirado
cuidadosamente e centrifugado na centrífuga, modelo Hanil – Continent R, por 20 min em
5000 rpm. As soluções de gliadina e as soluções de alimentos foram analisadas no
43
espectrofotômetro UV-VIS, UV-160 1PC-Shimadzu, em um comprimento de onda de 280 nm.
Para o arranjo de sensores da língua eletrônica foram usados chips com filmes de
PAH/CuTsPc, PAH/PEDOT:PSS, PAH/PPy e outro sem filme. As amostras foram analisadas
por espectroscopia de impedância variando a frequência de 1Hz a 1MHz, com tensão
alternada de 20 mV. Foram analisadas soluções aquosas de 1mM de NaCl, sacarose, cafeína
anidra, glutamato monossódico e HCl, além de água ultrapura. Foram analisados também
diferentes tipos de café (tradicional, orgânico, gourmet e premium) e soluções com diferentes
concentrações de gliadina (0,005 ppm, 5 ppm, 10 ppm, 20 ppm, 30 ppm, 50 ppm, 100 ppm,
200 ppm, 227 ppm, 570 ppm, 770 ppm, 950 ppm e 1310 ppm) dissolvidas em etanol 70%
(v/v). Os valores de capacitância usados posteriormente na análise com PCA foram extraídos
da região intermediária da faixa de frequência (1 kHz). A técnica PCA foi empregada com o
software Statistica 12. Análises de soluções de gliadina e de alimentos com e sem glúten
foram feitas também com a técnica de visualização de informação através do software PEx-
Sensors.
3.3 - RESULTADOS E DISCUSSÃO
As imagens de MEV foram realizadas utilizando 10 kV e aumento de 100 x e
confirmam a deposição de filmes ao longo da região do microcanal e sobre os eletrodos
interdigitados de ouro, como ilustrado na Figura 9 para filmes de PAH/CuTsPc,
PAH/PEDOT:PSS e PAH/PPY. O tracejado delimita a região com filmes finos depositados
(regiões ligeiramente mais escuras nas imagens). Os filmes parecem homogêneos, mas
imagens de superfície de AFM indicam maior acúmulo de material na borda do filme.
44
Figura 9 - Imagens de MEV de filmes finos depositados através da técnica LbL dinâmico: (a)
PAH/CuTsPc, (b) PAH/PPy e (c) PAH/PEDOT:PSS.
Fonte: Adaptada de Daikuzono et.al. [78].
A Figura 10 ilustra imagens de AFM em que a espessura da borda (170-180 nm) é
significativamente maior do que no centro (12 nm) do filme de 5 bicamadas de PAH/CuTsPc.
Figura 10 - Imagens de AFM em diferentes regiões do filme de 5 bicamadas de PAH/CuTsPc, mostrando: (a)
Espessura de 170 a 180 nm da região da borda do filme e (b) espessura de 12 nm da região central do filme.
Fonte: Adaptada de Daikuzono et.al. [78].
As imagens de AFM na Figura 11 indicam que para o filme de 5 bicamadas de
PAH/PEDOT:PSS a espessura da borda é 170-180 nm, ao passo que no centro do filme é de
96 nm.
45
Figura 11 - Imagens de AFM para filme de 5 bicamadas de PAH/PEDOT:PSS: (a) Espessura de 170 a 180 nm da
região da borda do filme e (b) espessura de 96 nm da região central do filme.
Fonte: Adaptada de Daikuzono et.al. [78].
Assim como nos outros filmes, a espessura do filme de 5 bicamadas de PAH/PPy foi
de 170 – 180 nm na borda, como mostra a Figura 12. Já no centro a espessura foi de 48 nm.
Figura 12 - Imagens de AFM para filme de 5 bicamadas de PAH/PPy. (a) Espessura de 170 a 180 nm da região
da borda do filme e (b) espessura de 48 nm da região central do filme.
Fonte: Adaptada de Daikuzono et.al. [78].
A espessura no centro do filme de PAH/CuTsPc (12 nm) é menor que para os filmes de
PAH/PEDOT:PSS (96 nm) e PAH/PPy (48 nm), provavelmente porque o CuTsPc é uma
pequena molécula orgânica e não um polímero. Uma busca da literatura foi realizada para
46
tentar comparar com filmes similares, mas nada foi encontrado sobre o método que
empregamos (verificação de espessura riscando o filme e analisando por AFM). Podemos
verificar que filmes de ftalocianina depositados em fluxo são bem mais finos (12 nm) que os
filmes depositados, por exemplo, por método cast (500 nm) [79]. A deposição de filme em
fluxo gera filmes mais finos e homogêneos. A maior deposição de material na borda dos
filmes era esperada devido ao perfil de velocidade dos líquidos dentro de um canal, pois a
velocidade é maior no centro do fluxo. A Figura 13 ilustra o perfil de velocidade do líquido
num duto, em que a velocidade é maior no núcleo de escoamento, enquanto nas paredes do
canal a velocidade é menor devido à viscosidade do liquido e atrito com as paredes.
Figura 13 - Perfil de velocidade .
Fonte: Adaptada de Daikuzono et.al. [78].
O maior acúmulo de material nas bordas do microcanal foi confirmado através de
medidas de espalhamento Raman. Foi observada maior intensidade dos espectros Raman nas
bordas, o que corrobora os resultados de AFM. A Figura 14 apresenta o espectro da região de
borda do microcanal com filme de CuTsPc/PAH com seus picos característicos, listados na
Tabela 1.
Figura 14 - Espectro Raman da região de borda do microcanal com filme de CuTsPc/PAH.
400 600 800 1000 1200 1400 1600 18000
2000
4000
6000
8000
10000
12000
Inte
nsid
ade
Ram
an
Número de onda (cm-1)
5 bicamadas PAH/CuTsPc
borda
746
9561212
1338
1528
Fonte: Elaborado pela autora.
47
Tabela 1 - Atribuições de bandas do espectro Raman da CuTsPc [75,80].
Atribuições Número de onda (cm-1
)
Estiramento no anel; vibração do
macrociclo; C-H wag.
746
Estiramento isoindol; respiração
benzeno.
956
Estiramento (SO3)-2
; Deformação
angular C-H.
1212
Estiramento isoindol e pirrol. 1338
C=N estiramento do anel
pirrólico.
1528
A Figura 15 apresenta os espectros do filme de PAH/PEDOT:PSS depositado na região
de borda do microcanal, com as atribuições das bandas mostradas na Tabela 2.
Figura 15 - Espectro Raman da região de borda do microcanal com filme de PAH/PEDOT:PSS.
400 600 800 1000 1200 1400 1600200
400
600
800
1000
1200
Inte
nsid
ade
Ram
an
Número de onda (cm-1)
5 bicamadas PAH/PEDOT:PSS
borda
991
1368
1421
1532
Fonte: Elaborado pela autora.
Tabela 2 - Atribuições de bandas do espectro Raman do PEDOT [81,82].
Atribuições Número de onda (cm-1
)
Deformação do anel de oxietileno 991
Estiramento Cβ – Cβ 1368
Estiramento simétrico Cα = Cβ (-o) 1421
Estiramento Cα = Cβ 1532
48
Filmes de PAH/PPy depositados na borda do canal também foram analisados com
espectroscopia Raman, apresentando um espectro com as bandas esperadas. A Figura 16
apresenta o espectro, com atribuições das bandas listadas na Tabela 3
Figura 16 - Espectro Raman da região de borda do microcanal com filme de PAH/PPy.
800 1000 1200 1400 16001200
1500
1800
2100
2400
2700
3000
Inte
nsid
ad
e R
am
an
Número de onda (cm-1)
5 bicamadas PAH/PPy
borda
982
929
1046 1257
Fonte: Elaborado pela autora.
Tabela 3 - Atribuições de bandas do espectro Raman do PPy [83,84].
Atribuições Número de onda (cm-1
)
Deformação do anel associado ao
bipolaron.
929
Vibrações de deformação do anel 982
Simétrico C-H em plano de flexão. 1046
Estiramento da estrutura C=C do
estado de redução.
1581
Após confirmar a presença de filmes PAH/CuTsPc, PAH/PEDOT:PSS e PAH/PPy
sobre os IDES, foram utilizados 4 sensores em análises de diferentes líquidos. Assim como a
língua humana, o dispositivo conseguiu distinguir diferentes tipos de sabores (doce, salgado,
azedo, umami e amargo) em soluções de 1mM (abaixo do limiar humano para paladares que é
de 10 mM) de sacarose, NaCl, HCl, C5H8NNaO4.xH2O e cafeína [23], como ilustra o gráfico
PCA da Figura 17.
49
Figura 17 - PCA de soluções de 1mM de NaCl (salgado), C12H22O11 (doce), HCl (azedo), C8H10N4O2 (anidra)
(amargo) e C5H8NNaO4.xH2O (umami) [23].
Fonte – Adaptado do Daikuzono et.al., 2015 [23].
Foi possível também distinguir, com medidas de impedância, diferentes tipos de café
[74]. No gráfico de PCA da Figura 18, observa-se a distinção do café tradicional, orgânico,
gourmet e Premium. Os cafés com grãos selecionados (100% arábicos) ficaram bem próximos
entre si (cafés da marca Astro, Taeq, Chini e Demeter), em que os números 1, 2, 3, 4, 5 e 6
representam os cafés Pilão (tradicional), Três Corações (tradicional), Astro (orgânico), Taeq
(orgânico), Chini (gourmet), Demeter (gourmet) e Três Corações (Premium) respectivamente,
organizados na Tabela 4. Cafés gourmet possuem grãos mais selecionados e de alta qualidade,
o que os diferencia dos tradicionais. Do gráfico de PCA é possível ver a clara distinção dos
grupos de café tradicionais e premium dos demais grupos de café gourmet.
Tabela 4 - Amostras de café analisadas com a língua eletrônica microfluídica.
Amostra Marca Classificação
1 Pilão Tradicional
2 3 corações Tradicional
3 Astro Orgânico
4 Taeq Orgânico
5 Chini Gourmet
6 Demeter Gourmet
7 3 corações Premium
50
Figura 18 - PCA dos diferentes tipos de café.
Fonte - Adaptado Alessio et.al. 2016 [74].
A língua eletrônica microfluídica foi usada também para analisar soluções de gliadina
e amostras reais contendo ou não glúten em sua composição. O objetivo é produzir no futuro
um dispositivo que auxilie celíacos a identificar a presença de glúten em alimentos. Para
análises de soluções contendo gliadina, inicialmente empregou-se espectroscopia no UV-VIS
para tentar distinguir as diferentes amostras. As soluções padrão apresentaram a banda
característica da gliadina (280 nm), como mostra a Figura 19.
51
Figura 19 - Espectros UV-vis de diferentes concentrações de gliadina (1309, 941, 776, 576, 227 e 50 ppm) com
banda característica em 280 nm.
255 270 285 300 315 330
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0 50 ppm
227 ppm
576 ppm
776 ppm
941 ppm
1309 ppmA
bso
rbâ
ncia
Comprimento de onda (nm)
280
Fonte: Adaptada de Daikuzono et.al. [78].
Os espectros para as amostras de alimentos com glúten (cerveja, torrada, mix de
cerais/Neston e bolacha salgada), sem glúten (saquê, leite em pó/ Molico-Ninho e preparo de
papinha de bebê a base de amido de milho/cremogema) e amostras sem glúten contaminadas
com gliadina são obviamente mais variados. Para estes empregamos uma técnica de projeção
multidimensional, IDMAP, implementada na ferramenta PEx-Sensors [16,85]. Embora seja
semelhante à PCA, que também reduz dimensionalidade, a técnica IDMAP se distingue por
permitir otimização da visualização dos dados, maximizando a capacidade de distinguir
amostras. A Figura 20 mostra o gráfico de IDMAP, com clara distinção dos grupos
alimentares com, sem e contaminados com a gliadina.
52
Figura 20 - Distinção dos grupos alimentares com, sem e contaminados com gliadina através da análise com o
software PEx–Sensors dos resultados de espectroscopia no UV-vis.
Fonte: Adaptada de Daikuzono et.al. [78].
Empregando o conceito de língua eletrônica, foram utilizadas 3 unidades sensoriais
com filmes de PAH/CuTsPc, PAH/PEDOT:PSS, PAH/PPy e 1 eletrodo sem filme para obter
os dados de capacitância (magnitude) em 1kHz, para essas amostras padrão e de alimentos
que foram tratados posteriormente com PCA (software Statistica 12) e PEx-Sensors. A Figura
21 (A) mostra curvas de capacitância vs frequência e a Figura 21 (B) gráfico de capacitância
vs concentração de gliadina analisado em uma frequência de 1kHz de diferentes
concentrações de amostra padrão de gliadina medidas no sensor sem filme.
53
Figura 21 – (A) Medidas de magnitude da capacitância da solução padrão com diferentes concentrações de
gliadina para o sensor sem filme e (B) diferentes concentrações de gliadina monitoradas através de valores de
capacitância em 1kHz.
100
101
102
103
104
105
106
10-2
10-1
100
101
102
etanol
0,005 ppm
5 ppm
10 ppm
20 ppm
30 ppm
50 ppm
100 ppm
200 ppmC (
nF
)
Frequência (Hz)
sem filme
(A)
0 50 100 150 200
1,5x10-1
2,0x10-1
2,5x10-1
C (
nF
)
Concentração de gliadina (ppm)
sem filme
(B)
Fonte: Elaborado pela autora.
Nota-se na Figura 21 (A) que ao injetar gliadina há um decréscimo na capacitância em
comparação com o valor de capacitância da solução de etanol 70%. Provavelmente isto se
deve à presença de proteína sobre o eletrodo, que aumenta a resistência à passagem de
corrente elétrica. Porém, através da Figura 21 (B), notamos que após o primeiro contato do
eletrodo com a proteína e de sua estabilização, o aumento da concentração de gliadina na
solução gera aumento na capacitância. Isto ocorre porque as medidas foram feitas em fluxo
(103µL) o que permite uma maior mobilidade de íons sobre o eletrodo. Entretanto o aumento
de concentração de gliadina sobre o eletrodo, especialmente após 30 ppm, tende a uma
estabilização do valor de capacitância. Provavelmente este fato decorre de um maior acúmulo
de material sobre o eletrodo reduzindo a condução de corrente elétrica. Este comportamento
se repete para as análises em eletrodos com filmes de PAH/CuTsPc, PAH/PEDOT:PSS e
PAH/PPy, os quais podem ser visualizados nas Figuras subsequentes. Além disso, nas Figuras
subsequentes assim como na anterior, observa-se um forte ruído na região de altas
frequências, fato ocasionado por mal contado do conector com a entrada do Solartron.
As Figuras 22 (A) e 22 (B) ilustram os gráficos de capacitância vs frequência e
capacitância vs concentração de gliadina de soluções padrões no sensor com 5 bicamadas de
filme de PAH/CuTsPc. Notamos novamente uma tendência de estabilização do valor de
capacitância após a concentração de 30 ppm.
54
Figura 22 - (A) Medidas de magnitude da capacitância da solução padrão com diferentes concentrações de
gliadina para o sensor com 5 bicamadas de filme de PAH/CuTsPc e (B) diferentes concentrações de gliadina
monitoradas através de valores de capacitância em 1kHz.
100
101
102
103
104
105
106
10-2
10-1
100
101
102
etanol
0,005 ppm
5 ppm
10 ppm
20 ppm
30 ppm
50 ppm
100 ppm
200 ppmC (
nF
)
Frequência (Hz)
PAH/CuTsPc
(A)
0 50 100 150 200
2,2x10-1
2,4x10-1
2,6x10-1
PAH/CuTsPcC
(nF
)
Concentração de gliadina (ppm)
(B)
Fonte – Elaborada pela autora.
As Figuras 23 (A) e 23 (B) ilustram os gráficos de capacitância vs frequência e
capacitância vs concentração de gliadina de soluções padrões no sensor com 5 bicamadas de
filme de PAH/PEDOT:PSS.
Figura 23 - (A) Medidas de magnitude da capacitância da solução padrão com diferentes concentrações de
gliadina para o sensor com 5 bicamadas de filme de PAH/PEDOT:PSS e (B) diferentes concentrações de gliadina
monitoradas através de valores de capacitância em 1kHz.
100
101
102
103
104
105
106
10-2
10-1
100
101
102
etanol
0,005 ppm
5 ppm
10 ppm
20 ppm
30 ppm
50 ppm
100 ppm
200 ppmC (
nF
)
Frequência (Hz)
PAH/PEDOT:PSS
(A)
0 50 100 150 200
1,5x10-1
2,0x10-1
2,5x10-1
PAH/PEDOT:PSS
C (
nF
)
Concentração de gliadina (ppm)
(B)
Fonte: Elaborado pela autora.
55
As Figuras 24 (A) e 24 (B) ilustram os gráficos de capacitância vs frequência e capacitância
vs concentração de gliadina de soluções padrões no sensor com 5 bicamadas de filme de
PAH/PPy.
Figura 24 - (A) Medidas de magnitude da capacitância da solução padrão com diferentes concentrações de
gliadina para o sensor com 5 bicamadas de filme de PAH/PPy e (B) diferentes concentrações de gliadina
monitoradas através de valores de capacitância em 1kHz.
100
101
102
103
104
105
106
10-2
10-1
100
101
102
etanol
0,005 ppm
5 ppm
10 ppm
20 ppm
30 ppm
50 ppm
100 ppm
200 ppmC (
nF
)
Frequência (Hz)
PAH/PPy
(A)
0 50 100 150 2001,0x10
-1
1,5x10-1
2,0x10-1
2,5x10-1
PAH/PPy
C (
nF
)
Concentração de gliadina (ppm)
(B)
Fonte: Elaborado pela autora.
Não foi possível ver clara distinção das diferentes concentrações de gliadina nos
espectros obtidos do gráfico de capacitância vs frequência. Então recorremos a técnicas de
IDMAP e PCA para obter melhor visualização dos dados utilizando o PEx-sensor e o software
Statistica 12. A Figura 25 mostra a análise com a técnica IDMAP para amostras com
concentrações entre 0 a 200 ppm, na qual observou-se clara distinção das diferentes
concentrações de gliadina em solução.
56
Figura 25 - IDMAP plot para diferentes concentrações de gliadina em solução analisadas em uma faixa de
frequência de 1 Hz a 1 kHz..
Fonte: Adaptada de Daikuzono et.al. [78].
Análises em triplicata das amostras também foram feitas através da técnica de PCA.
As medidas em triplicata foram realizadas em 3 línguas eletrônicas utilizando o conjunto de 4
unidades sensoriais formada por um sensor sem filme, PAH/CuTsPc, PAH/PEDOT:PSS e
PAH/PPy. O gráfico da Figura 26 mostra os resultados para as amostras padrão, em que se
nota ser possível detectar uma baixa quantidade de gliadina (0,005 ppm). Ainda mais
relevante é a clara separação entre amostras com menos de 20 ppm das demais. O valor de 20
ppm é importante porque é o limite, de acordo com a Codex Alimentarius [60], para
considerar alimentos sem glúten nos rótulos de embalagens. Para facilitar a análise, foram
colocados na Figura 26 B os dados para as altas concentrações de gliadina, que também
podem ser distinguidas entre si.
C1
C2
C3
C4
C5
C6
C7
C8
C0
0 = 0 ppm
1 = 0.005 ppm
2 = 5 ppm
3 = 10 ppm
4 = 20 ppm
5 = 30 ppm
6 = 50 ppm
7 = 100 ppm
8 = 200 ppm
57
Figura 26 - PCAs de soluções padrões de gliadina com diferentes concentrações.
Fonte: Adaptada de Daikuzono et.al. [78].
O próximo passo foi analisar as amostras de alimentos com e sem glúten através de
medidas de impedância, sendo as curvas de capacitância vs frequência mostradas nas Figuras
27 (A), 27 (B), 27 (C) e 27 (D) para 4 sensores (sem filme, PAH/CuTsPc, PAH/PEDOT:PSS e
PAH/PPy, respectivamente). Observa-se que cada unidade sensorial respondeu de maneira
diferente ao mesmo conjunto de amostras, o que é adequado para análises com língua
eletrônica. Como as amostras formam um conjunto complexo para análise, o número de
unidades sensoriais respondendo de maneira diferente auxilia na distinção do conjunto de
dados.
58
Figura 27 - Medidas elétricas de alimentos com glúten em 4 diferentes sensores. (A) sem filme, (B)
PAH/CuTsPc, (C) PAH/PEDOT:PSS e (D) PAH/PPy.
Fonte: Elaborado pela autora.
As Figuras 28 (A), 28 (B), 28 (C) e 28 (D) mostram curvas de capacitância vs
frequência das amostras sem glúten (cremogema, leite em pó Molico, leite em pó Ninho e
saquê), medidos em 4 sensores (sem filme, PAH/CuTsPc, PAH/PEDOT:PSS e PAH/PPy,
respectivamente). Novamente, as unidades responderam de maneira diferente para o mesmo
conjunto de amostras, facilitando as análises de dados por PCA ou método de visualização de
informação.
59
Figura 28 - Análise de alimentos sem glúten através da curva de capacitância vs frequência em 4 sensores. (A)
sem filme, (B) PAH/CuTsPc, (C) PAH/PEDOT:PSS e (D) PAH/PPy.
Fonte: Elaborado pela autora.
Após as análises de amostras sem glúten, as amostras foram contaminadas com 200
ppm de gliadina e analisadas por medidas de impedância, cujas curvas de capacitância estão
nas Figuras 29 (A), 29 (B), 29 (C) e 29 (D) para sensores sem filme, com filme de
PAH/CuTsPc, PAH/PEDOT:PSS e PAH/PPy, respectivamente.
60
Figura 29 - Medidas de amostras que foram contaminadas com 200 ppm de gliadina e analisadas nos sensores
sem filme, com filme de PAH/CuTsPc, PAH/PEDOT:PSS e PAH/PPy respectivamente. (A) sem filme, (B)
PAH/CuTsPc, (C) PAH/PEDOT:PSS e (D) PAH/PPy.
Fonte: Elaborado pela autora.
A distinção das amostras sem gliadina e contaminadas com gliadina não pode ser
conclusiva através dos gráficos de capacitância vs frequência. Houve, assim, a necessidade de
recorrer à técnica de PCA para visualização dos dados. Para as amostras de alimentos, a
Figura 30 ilustra gráficos de PCA obtidos com capacitâncias a 1 kHz. Há clara distinção na
Figura 30 (A) de grupos de alimentos com glúten (cerveja, torrada, bolacha salgada e mix de
cereal/Neston) e sem glúten (saquê, amido de milho/cremogema, leite em pó/Ninho e leite em
pó/Molico). A contaminação deliberada de alimentos sem glúten com 200 ppm de gliadina é
facilmente perceptível na Figura 30 (B).
61
Figura 30 - (A) PCA de amostras de alimentos com e sem glúten; (B) PCA de amostras sem glúten e de amostras
sem glúten contaminadas com gliadina.
Fonte: Adaptada de Daikuzono et.al. [78].
Os alimentos com, sem e contaminados com gliadina foram analisados também por
espectros de UV-vis, cujos dados foram processados coma técnica IDMAP. A espectroscopia
de UV-vis foi empregada somente para o monitoramento de solução de alimentos com, sem e
contaminados com gliadina para corroborar os resultados obtidos pelo sensor. A Figura 31
ilustra a análise de amostras com, sem e contaminadas com gliadinas, em que se observa clara
distinção destes grupos. Apesar de a técnica de UV-vis em conjunto com análises IDMAP
terem apresentados bons resultados, a técnica de espectroscopia UV-vis é mais cara e requer
uma pessoa com conhecimento prévio para realizar a preparação de amostra, análise de dados
e operação do equipamento. Além disso, a comunidade científica que trabalha com análises de
glúten não considera espectroscopia Uv-vis como técnica prioritária para análise de alimentos
com glúten. Geralmente empregam técnicas mais precisas e caras, tais como HPLC (do inglês
High performance liquid chromatography) e ELISA (do inglês Enzyme Linked
ImmunoSorbent Assay) [86,87].
62
Figura 31 - Gráfico IDMAP dos espectros de UV-vis das amostras de alimentos com, sem e contaminados com
gliadina.
Fonte: Adaptada de Daikuzono et.al. [78].
O uso de técnicas como espectroscopia no UV-VIS e espectroscopia de impedância
permite distinguir amostras similares, mas não fornece informações sobre os mecanismos de
detecção. Para as amostras de alimento, em particular, interessa determinar se a gliadina
adsorve nas unidades sensoriais, e se isso ocorre verificar se um processo de lavagem do
sensor é suficiente para dessorvê-la. Para responder a essas questões, empregamos a técnica
de PM-IRRAS, que também serviu para comprovar a adsorção dos filmes que compõem as
unidades sensoriais sobre a superfície de ouro. Nos experimentos relatados a seguir, filmes de
PAH/CuTsPc, PAH/PEDOT:PSS e PAH/PPy foram imersos em solução de gliadina (200 ppm)
por cerca de 20 minutos e foram secos com nitrogênio, analisados e lavados (10 minutos com
etanol 70 %).
A Figura 32 ilustra o espectro de um filme de 5 bicamadas de PAH/CuTsPc, com
bandas características da CuTsPc. A atribuição de bandas é a seguinte: 800 cm-1
, 900 cm-1
(C-
H, deformação fora do plano), 1100 cm-1
(vibração C-H no plano) [88], 1034 cm-1
(SO3
estiramento simétrico) [89], 1467 cm-1
e 1564 cm-1
(estiramento C-N) [88].
63
Figura 32 - Espectro PM-IRRAS de filme com 5 bicamadas de PAH/CuTsPc depositado sobre lâmina de vidro
recoberto com ouro.
800 1000 1200 1400 1600
-0,02
-0,01
0,00
0,01S
ina
l P
M IR
RA
S
Número de onda (cm-1)
900 1100
1564
1612
8681467
1034
PAH/CuTsPc
Fonte: Adaptada de Daikuzono et.al. [78].
As Figuras 33 (A) e 33 (B) mostram espectros PM-IRRAS do filme com gliadina e
após a lavagem do filme com etanol 70 %. As bandas atribuídas à gliadina no filme são: 1547
(Amida I), 1600-1609 (NH2+), 1606-1611 (NH2
+), 1617-1623 (β-folha), 1627-1632 (β-folha),
1636-1643 (random coil), 1647-1655 (α-hélice), 1668-1671 (β-turn) e 1692-1693 (β-folha)
[90-92]. Como as bandas de gliadina permanecem no espectro, mesmo após a lavagem, uma
unidade sensorial com filme LbL deverá ser descartável.
Figura 33 - (A) espectro de 5 bicamadas de filme CuTsPc + gliadina; (B) espectro do filme CuTsPc + gliadina
pós-lavagem.
1450 1500 1550 1600 1650 1700
0,000
0,001
0,002
0,003
0,004
0,005
Sin
al P
M IR
RA
S
Número de onda (cm-1)
1612
PAH/CuTsPc - com gliadina
1494
1556
15821644
1669
1690
(A)
1350 1400 1450 1500 1550 1600 1650 1700
0,000
0,004
0,008
0,012
0,016
0,020
Sin
al P
M IR
RA
S
Número de onda (cm-1)
1330
1395
1452
1496
1547
1610
1642
1670
1692
PAH/CuTsPc com gliadina após lavagem(B)
Fonte: Adaptada de Daikuzono et.al. [78].
64
A Figura 34 mostra o espectro para 5 bicamadas de PAH/PEDOT:PSS sobre uma
lâmina de ouro. As bandas características do filme PAH/PEDOT:PSS estão em 830 cm-1
(C-S
ligação dentro do anel de tiofeno), (-SO3 vibrações de estiramento simétricos), 1005 cm-1
,
1057 cm-1
(C-O-C estiramento da ligação no grupo etilenodioxi do monômero PEDOT), 1320
cm-1
e 1520 cm-1
(C-C ou C = C modos de estiramento de anel de tiofeno), 1410 cm-1
(C = C
vibrações de estiramento no anel aromático) e 1394 e 1454 cm1 (C = C e C-C estiramento do
anel tiofeno) [93-96].
Figura 34 - Espectro de filme com 5 bicamadas de PAH/PEDOT:PSS.
800 900 1000 1100 1500
0,000
0,005
0,010
0,015
0,020
Sin
al P
M IR
RA
S
Número de onda (cm-1)
PAH/PEDOT:PSS
830
1005
1410
1057
1454
1394
1320
Fonte: Adaptada de Daikuzono et.al. [78].
As Figuras 35 (A) e 35 (B) ilustram espectros de 5 bicamadas de PAH/PEDOT:PSS +
gliadina e PAH/PEDOTSS + gliadina pós-lavagem, respectivamente. Novamente observamos
que a gliadina não é removida do filme.
65
Figura 35 - (A) 5 bicamadas de PAH/PEDOT:PSS + gliadina; (B) filme PAH/PEDOT:PSS + gliadina pós
lavagem.
1300 1350 1400 1450 1500 1550 1600 1650 1700
0,000
0,001
0,002
0,003
0,004
Sin
al P
M IR
RA
S
Número de onda (cm-1)
PAH/PEDOT:PSS comgliadina
1363
1401
1460
1498
1554
1578
16121667
(A)
1300 1400 1500 1600 1700
0,000
0,003
0,006
0,009
Sin
al P
M I
RR
AS
Número de onda (cm-1)
16121497
1400
PAH/PEDOT:PSS com gliadina
após lavagem
13301454 1641
1692
16671534
1555
(B)
Fonte: Adaptada de Daikuzono et.al. [78].
A deposição de um filme de PAH/PPy de 5 bicamadas foi confirmada com o espectro
da Figura 36, cujas bandas características são: 1250 e 1400 cm-1
(C-H ou C-N modo de
deformação do plano de PPY), 1300 cm-1
(C-N vibração de estiramento), 1462 - 1442 cm-1
(deformação do anel para vibrações simétricas), 1540 cm-1
(C = C, vibração de estiramento do
anel) [97-101].
Figura 36 - Espectro PM-IRRAS para filme LbL com 5 bicamadas de PAH/PPy
1200 1300 1400 1500 1600 1700
0,00
0,01
0,02
0,03
0,04
Sin
al P
M IR
RA
S
Número de onda (cm-1)
PAH/PPy1250
1300
1400
1462
1540
1612
Fonte: Adaptada de Daikuzono et.al. [78].
66
Também para o filme de PAH/PPy observa-se adsorção de gliadina, com suas bandas
características mostradas nas Figuras 37 (A) e 37 (B), antes e após a lavagem,
respectivamente. Como para os outros filmes, a adsorção da gliadina é irreversível e, portanto,
as unidades sensoriais terão que ser descartáveis.
Figura 37 - Espectro PM-IRRAS para (A) 5 bicamadas de PAH/PPy + gliadina; (B) PAH/PPy + gliadina.
1300 1400 1500 1600 1700
0,000
0,001
0,002
0,003
0,004
0,005
Sin
al P
M I
RR
AS
Número de onda (cm-1)
1330
1454 1540 1612
1646
1689
PAH/PPy com gliadina(A)
1200 1300 1400 1500 1600 1700
0,00
0,03
0,06
0,09
Sin
al P
M IR
RA
S
Número de onda (cm-1)
PAH/PPy com gliadina - pós lavagem
1250
1400 1500 1550 1600 1650 1700
0,000
0,001
0,002
0,003
1533
1612
1643
1670
1690
(B)
Fonte: Adaptada de Daikuzono et.al. [78].
3.4 - CONCLUSÃO
Conclui-se que os filmes estão sendo depositados sobre os eletrodos de ouro e que a
distribuição de material se concentra mais nas bordas, como era de se esperar devido ao perfil
de velocidade do líquido no interior do microcanal. Além disso, com medidas de PM-IRRAS,
verificou-se que o filme não é removido com a passagem de solução de etanol 70% (v/v). Esta
informação é importante para o desenvolvimento de sensores de glúten, em que as soluções de
amostras reais são preparadas em etanol 70% (v/v). Observamos que a gliadina adsorve ao
filme, não sendo removida após lavagem. Assim, as unidades sensoriais terão que ser
descartáveis, como ocorre na maioria dos biossensores. A língua eletrônica microfluídica se
mostrou eficiente na diferenciação de sabores, diferentes tipos de café, diferentes
concentrações de gliadina em solução padrão e atingiu o objetivo central do trabalho que é
conseguir distinguir alimentos com e sem glúten.
67
Capítulo 4 – Detecção de monossacarídeos através de espectroscopia de
impedância elétrica utilizando eletrodos de carbono impresso em papel e
funcionalizados com hidrogel
RESUMO
Em parceria com o grupo de pesquisa do Prof. Dr. Dermot Diamond foram desenvolvidos
sensores de baixo custo para detecção de monossacarídeos (glicose, frutose e etc) em solução,
usando espectroscopia de impedância elétrica. Para fabricação dos sensores foram utilizados
eletrodos interdigitados de carbono impresso em papel, cuja superfície foi funcionalizada com
hidrogel contendo acrilamido copolimerizado com 20 mol % 3-ácido acrilamido fenilborônico
((Acrylamido)phenylboronicacid (PBA)). Os hidrogéis funcionalizados com 20 mol % PBA
apresentaram aumento considerável no volume em presença de soluções aquosas de glicose e
frutose. O intumescimento do hidrogel altera a impedância medida através dos eletrodos,
possibilitando o uso do sensor em detecção quantitativa de açúcares. Investigamos as
variações de impedância e capacitância variando a concentração, de 0 a 5 mM, de soluções de
glicose e frutose preparadas em tampão fosfato (pH 7.4). As moléculas de açúcar entram por
difusão no hidrogel e se ligam ao boro, o que induz o aumento de volume do hidrogel. O
intumescimento do gel por consequência altera as propriedades dielétricas do hidrogel sob um
campo elétrico aplicado levando a variações na impedância. As medidas de impedância
monitoradas em 1 kHz indicam que o inchamento da matriz de hidrogel causa a mobilidade de
íons através da camada de hidrogel inchado.Verificamos que ao aumentar a concentração de
açúcar em solução, a impedância diminui e as curvas de capacitância relativa são diferentes
para frutose e glicose. Observou-se que o hidrogel exibe maior inchaço na presença de frutose
do que em glicose na mesma faixa de concentrações. O sensor se mostrou eficiente em
detecção de baixas concentrações de açúcares, o que o torna adequado para detecção de
glicose em níveis de concentração encontrados em suor humano. Esperamos futuramente
aplicar estes sensores em skin patch para monitoramento não invasivo do açúcar no suor.
Palavras chaves: sensor, hidrogel, ácido borônico e screen printing.
68
4.1 – INTRODUÇÃO
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, cerca de 422 milhões de adultos no
mundo sofrem de diabetes, uma doença crônica caracterizada por níveis elevados de glicose
no sangue. A diabetes pode causar complicações graves para a saúde, como cegueira,
falecimento de órgãos, insuficiência renal e ataque cardíaco. Devido a estas complicações há
um interesse crescente no desenvolvimento de dispositivos invasivos [102] e não invasivos
[103] para monitoramento de glicose. Métodos comumente utilizados para monitoramento de
glicose no sangue envolvem uma pequena perfuração no dedo (ou antebraço, coxa) [104] ou
de implante subcutâneo de sensores. Embora minimamente invasivos ainda causam
desconfortos aos pacientes. Os métodos não invasivos são vantajosos porque são indolores
por utilizarem amostras corporais como suores [105], lágrimas [106] ou saliva [107]. Porém,
para que esses sensores sejam eficazes há necessidade de uma sensibilidade maior, porque os
níveis de glicose encontrados nos fluidos corporais são bem menores que no sangue. No
sangue os níveis de glicose variam de 4-8 mM (72-144 mg.dL-1
) [108], enquanto que para
suor o valor é 0.28-1.11 mM (5-20 mg.dL-1
) [109].
A comunidade científica vem tentando desenvolver sensores de baixo custo e com
limite de detecção cada vez mais baixo. Para isto, vários métodos vêm sendo utilizados para
detecção de glicose em intervalos de concentração distintos. Os métodos empregados podem
ser eletroquímicos [110,111], óticos [112,113] e espectroscopia de impedância [85,114], em
que o mecanismo de detecção geralmente emprega a utilização da enzima glicose oxidase
[105,112] ou moléculas de ligação a açúcar tais como derivados de ácido borônico [111]. Os
ácidos borônicos (BA do inglês boronic acid) representam uma boa alternativa às enzimas
para detecção de monossacarídeos por serem utilizados como receptores de quimiossensores.
A detecção de açúcar em concentrações abaixo de mM é possível devido à interação covalente
reversível de BA com grupo diol de açúcares. Os ácidos borônicos são considerados ácidos de
Lewis porque são compostos de um átomo de boro deficiente em elétrons com dois grupos
hidroxila ligados [115]. As fortes interações com grupos hidroxila eletronegativas em
moléculas de açúcar podem ser explicadas por este comportamento ácido de Lewis [115] e
permite assim o reconhecimento de sacarídeos na gama de pH fisiológico.
Em solução, derivados de BA podem ser utilizados em detecção óptica (fluorescente)
de açúcares quando atuam em conjunto com fluoróforos, através de ligação covalente ou não
covalente. A fluorescência do sistema é alterada devido à alteração conformacional em torno
do átomo de boro após a ligação do açúcar, que por consequência afeta a interação entre o BA
69
e a porção fluorescente. A dopagem não covalente de lentes de contatos com soluções de BA
fluorescentes foi proposta por Badugu et al. [106], em que lentes de contatos inteligentes
poderiam detectar glicose em fluidos oculares em concentrações entre 50 a 100 μM. Porém, a
lixiviação do sensor ao longo do tempo consiste em uma grande desvantagem para este tipo
de sensor. Também foi proposta a incorporação covalente de derivados de BA em sistemas
poliméricos ou transistores de efeito de campo, a fim de fabricar sensores BA integrados com
estabilidade melhorada.
Transistores de efeito de campo podem ser fabricados com nanotubos de carbono
funcionalizados com ácido pireno-1-borônico para detecção de glicose na gama clinicamente
relevante para sangue ou saliva [117]. A detecção de frutose, manose e glicose pode ser
eficiente quando se utiliza o ácido fenilborônico (PBA) modificado com óxido de grafeno,
atingindo limite de detecção de 0,8 mM para glicose [118], e empregando voltametria
diferencial de pulso. Funcionalizando eletrodos de ouro com BA e utilizando a técnica de
impedância eletroquímica foi possível detectar quatro tipos de monossacarídeos: glicose,
sorbitol, manitol e frutose [119].
Vários grupos de pesquisa têm incorporado os derivados de BA em matrizes de
hidrogel para detectar açúcar, uma vez que a interação entre o ácido borônico e o açúcar induz
uma alteração no volume de hidrogel, modulado pela concentração de açúcar. O aumento de
volume do hidrogel pode ser convertido em concentração de açúcar [120], porém este
monitoramento de intumescimento não tem a precisão necessária para sensores de açúcar. No
entanto, as diferenças no volume da matriz podem, por sua vez, causar alterações nas
propriedades ópticas ou elétricas do hidrogel, permitindo vários meios de detecção com
precisão significativamente melhorada. Tierney et al. [121] incorporaram o PBA em um
hidrogel como uma cavidade Fabry-Perot na extremidade de uma fibra óptica para
desenvolver um sensor óptico que detecta glicose. Com uma onda formada pela reflexão da
luz em interfaces fibra-gel e gel-solução é possível detectar o comprimento óptico do gel.
Uma resposta com intumescimento linear do hidrogel em solução aquosa com 2,5 mM de
carboidratos gerou o valor de -1760 nm mM-1
para a glicose. O uso de uma matriz coloidal
incorporada ao hidrogel funcionalizado com PBA permite que o inchamento do gel causado
pela interação de PBA-glucose seja convertido num desvio de comprimento de onda da luz
difratada de Bragg [122].
A incorporação de hidrogel funcionalizado com PBA em transdutor capacitivo de
MEMS permite medir as alterações nas propriedades dielétricas do hidrogel sobre a ligação de
70
açúcar [123]. Entre dois microeletrodos paralelos foi depositado um filme fino de hidrogel e
verificou-se que com mudanças nas concentrações de glicose o valor da capacitância efetiva
do sensor podia ser medida. No entanto, a variação absoluta na capacitância efetiva na região
de baixa concentração de glicose (0-40 mg.dL-1
) foi inferior a 0.5 pF, sem as concentrações
intermediárias analisadas, tornando este sensor provavelmente inadequado para a análise de
suor.
Neste trabalho de doutorado apresentamos uma alternativa de sensor descartável de
baixo custo com sensibilidade melhorada para baixas concentrações de açúcar. O sensor foi
desenvolvido a partir de eletrodos interdigitados de carbono impresso em papel revestido com
uma fina camada de hidrogel contendo PBA. A interação do açúcar com hidrogel
funcionalizado induziu mudanças nas propriedades dielétricas do hidrogel que foram
detectadas através da espectroscopia de impedância elétrica. Variações de impedância e
capacitância com diferentes concentrações de glicose e frutose, preparados em tampão
fosfato, foram investigadas na faixa de concentração de 0-5 mM. O dispositivo oferece a
vantagem de ser facilmente fabricado (por exemplo, impressão de serigrafia) e produzido em
larga escala devido à simplicidade da técnica empregada. O uso de papel como substrato
reduz o custo e permite imobilização direta do hidrogel devido a sua estrutura porosa/fibrosa,
eliminando o uso de membranas semipermeáveis que seriam necessárias para manter o
material sensível à glicose [102] no lugar. A sensibilidade e o alcance operacional do sensor
permitem que futuramente se possa desenvolver um dispositivo microfluídico com papel para
detecção de açúcar no suor.
4.2 – MATERIAIS E MÉTODOS
Para este trabalho foram utilizados acrilamida 99% (AAm), N, N'-metilenobis
(acrilamida) 99% (MBIS), 2-hidroxi-2-metilpropiofenona 97% (HMPP), 3-
(Acrylamido)phenylboronicacid 98% (PBA), D- (-) - Frutose, D - (+) - glicose, sulfóxido de
dimetilo (DMSO) e papel de filtro Watman (grade 158 x 68 cm e tamanho de poro 11 μm) que
foram adquiridos da Sigma-Aldrich, e utilizados como recebidos. A tinta de carbono foi
adquirida de GWENT GROUP Inc. Pontypool, UK (código de produto C2030519P4). Todas
as soluções aquosas foram preparadas com água ultrapura (18,2 MΩ cm de resistividade,
Millipore Milli-Q).
71
4.2.1 – Fabricação de eletrodos interdigitados
Os eletrodos interdigitados de carbono foram fabricados através da técnica de screen
printing. Para este trabalho utilizamos o equipamento screen printer DEK 248 que permite a
automatização de impressão em poucos minutos de centenas de eletrodos em substratos, como
polietileno tereftalato (PET) e papel. A Figura 38 ilustra as etapas de impressão dos eletrodos.
Uma tela de náilon com as máscaras de eletrodos interdigitados impressas foi fixada no
equipamento e em seguida espalhou-se a pasta de carbono na parte móvel do equipamento
(―rodo‖). Os eletrodos interdigitados de carbono (15 mm de comprimento x 10 mm de
largura, 10 dígitos com 1mm de espaçamento) foram impressos em papel e secos no forno a
50 °C por 40 minutos.
Figura 38 - Etapas de fabricação dos eletrodos interdigitados de carbono impressos em papel pela técnica screen-
printing.
Fonte: Elaborado pela autora.
4.2.2 - Estudos de síntese e inchaço de hidrogel funcionalizado
Testes de intumescimento para o hidrogel funcionalizado com PBA foram feitos para
verificar seu comportamento em diferentes concentrações de glicose e frutose. O hidrogel foi
preparado misturando-se 0,25 g AAm, 1 mol % HMPP e 20 mol % PBA, respectivamente,
dissolvidos em 500 µL água/DMSO (1:1). A Figura 39 ilustra a preparação do molde de
pequenos hidrogéis para o teste de intumescimento. Em um molde de PDMS com 10 mm de
72
diâmetro, foram depositados 200 µL deste coquetel e expostos em luz UV (CL-1000
Ultravioletcrosslinker UVP) por 30 minutos para permitir a polimerização do hidrogel. A
partir deste molde, pequenos hidrogéis (4 mm diâmetro) foram cortados com um cortador
manual e pesados (Wdry). Cada disco de hidrogel foi hidratado por 24 h em tampão fosfato
(pH 7,4), ou em soluções tampão com diferentes concentrações de glicose e frutose. Após a
hidratação, os discos foram cuidadosamente secos com papel filtro para remoção de líquido
em sua superfície; cada disco foi pesado novamente (Ww) para calcular a taxa de
intumescimento do hidrogel utilizando a equação 14.
𝑇𝑎𝑥𝑎 𝑑𝑒 𝑖𝑛𝑡𝑢𝑚𝑒𝑠𝑐𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 =𝑊𝑤−𝑊𝑑𝑟𝑦
𝑤𝑑𝑟𝑦 (14)
Figura 39 - Preparação de amostras de hidrogel em molde de PDMS para o teste de intumescimento.
Fonte: Elaborado pela autora.
4.2.3 – Protocolos de funcionalização de eletrodos e análises
Um estudo foi feito para verificar a influência da funcionalização do hidrogel na me-
dida de impedância. Para isto, 10 µL do coquetel de hidrogel (sem PBA) foram depositados
sobre os eletrodos via drop casting e polimerizados por cerca de 30 min com luz UV para
cada camada depositada. Foram depositadas 5 camadas de hidrogel sobre os eletrodos e entre
cada camada de hidrogel, a impedância e a capacitância dos eletrodos foram medidas em água
deionizada. Separadamente, imagens de microscopia eletrônica de varredura (MEV) dos ele-
trodos foram coletadas depois de cada camada de hidrogel depositado. Após este estudo, os
eletrodos para o sensoriamento de açúcares foram modificados com apenas uma fina camada
de hidrogel usando o mesmo protocolo de funcionalização.
73
Figura 40 - Eletrodos interdigitados de carbono cobertos com hidrogel; A) Foto do eletrodo interdigitado de car-
bono antes da funcionalização; B) Esquema de deposição do coquetel sobre os eletrodos via drop-casting e C)
Protocolo de fotopolimerização do hidrogel.
Fonte: Figura adaptada de Daikuzono, et.al. [56].
4.2.4 – Espectroscopia de impedância elétrica
Todas as medidas de espectroscopia de impedância foram realizadas usando um anali-
sador de impedância (Solartron 1260). A Figura 41 ilustra o aparato usado nas medidas. Es-
pectros de impedância foram obtidos aplicando-se um sinal AC de 20 mV através de eletrodos
interdigitados numa faixa de frequência de 0,1 Hz a 10 MHz com 5 pontos por década. Para
garantir a estabilização da dupla camada elétrica, os eletrodos foram imersos em tampão PBS
por 12 minutos. Nas análises subsequentes em soluções tampões contendo açúcar foram dei-
xadas estabilizando durante 6 minutos entre as medições. Soluções de glicose e frutose com
diferentes concentrações (0-5 mM) foram preparadas em solução tampão (pH 7,4) e monito-
radas em uma frequência de 1 kHz. A partir de dados de capacitância em 1 kHz, a capacitân-
cia relativa (∆C) foi calculada usando a equação 15, onde Cs é a capacitância do dispositivo
em presença de açúcar em tampão fosfato e Cb capacitância do dispositivo em tampão.
∆𝑪 = 𝑪𝒔 − 𝑪𝒃 (15)
74
Figura 41 - Aparato experimental para detecção de impedância de monossacarídeos usando eletrodos
funcionalizados com hidrogel funcionalizado.
Fonte: Figura adaptada de Daikuzono, et.al. [56].
4.3 – RESULTADO E DISCUSSÃO
4.3.1 – Caracterização do Hidrogel
Fez-se inicialmente uma caracterização dos hidrogéis em solução tampão e em solu-
ções com concentrações de 20 mM de glicose e frutose. Pequenos discos (4 mm de diâmetro)
de hidrogel funcionalizados com 20 mol % PBA foram imersos nestas soluções por 24 horas,
e então observado seu intumescimento. A Figura 42 ilustra que os hidrogéis expandem consi-
deravelmente em presença de açúcar, com mudança volumétrica maior para frutose do que
glicose. Pode-se atribuir a maior mudança volumétrica para a frutose ao fato de o PBA ter
força de ligação para frutose aproximadamente 40 vezes maior do que a da glicose, em condi-
ções fisiológicas [118]. A força de ligação do BA com sacarídeos está relacionada à orienta-
ção e posição relativa da hidroxila na molécula de açúcar.
75
Figura 42 - Imagens de microscópio do hidrogel funcionalizado com 20 % mol PBA, quando imerso em (a) tam-
pão PBS, (b) 20 mM glicose em PBS e (c) 20 mM frutose em PBS.
Fonte: Figura adaptada de Daikuzono, et.al. [56].
Com o aumento de concentração de açúcar (0-5 mM), neste caso glicose e frutose em
solução tampão, é possível ver na Figura 43 a taxa de intumescimento do hidrogel em relação
à concentração de açúcar. Assim, conclui-se que este material tem potencial para ser aplicado
como filme em sensores de monossacarídeos. A próxima etapa do estudo foi observar quantas
camadas seriam necessárias para obter bom desempenho do sensor, o que é discutido na pró-
xima seção.
Figura 43 - Equilíbrio de inchamento de hidrogéis de p (AAm-co-PBA) com 20% mol de PBA em solução tampão
em diferentes concentrações de glicose e frutose.
0 1 2 3 4 5
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8 Frutose
Glicose
20 mol % PBA
Taxa d
e incham
ento
Concentração (mM)
Fonte: Figura adaptada de Daikuzono, et.al. [56].
76
4.3.2 – Camada de hidrogel funcionalizado com PBA para revestimentos de eletrodos.
Hidrogéis funcionalizados com PBA foram depositados via drop cast e a cada camada
adicionada foi realizada a polimerização do mesmo. Imagens de MEVcom aumento de 1000x
de cada camada depositada sobre os eletrodos de carbono impresso em papel mostram o au-
mento da espessura com aumento das camadas depositadas, que podem ser visualizadas na
Figura 44. Nas Figuras 44 (A), 44 (B), 44 (C) e 44 (D), observamos as fibras de celulose, 1
camada, 3 camadas e 5 camadas de hidrogel, respectivamente.
Figura 44 - Imagens de MEV de eletrodos interdigitados de carbono impressos sobre papel antes (A) e depois de
cobertos com 1 (B), 3 (C) e 5 (D) camadas de hidrogel, respectivamente.
Fonte: Figura adaptada de Daikuzono, et.al. [56].
É importante verificar o número otimizado de camadas de hidrogéis nos sensores por-
que o polímero é isolante, e assim um aumento na espessura pode afetar as análises. Medidas
com eletrodos cobertos com diferentes camadas de hidrogel (sem PBA) mostraram que há um
aumento da magnitude da impedância e decréscimo da magnitude da capacitância com au-
mento de camadas, o que era esperado. Estes comportamentos podem ser verificados na Figu-
ra 45. Portanto, seguindo as medidas de triagem, todos os experimentos foram realizados com
eletrodos interdigitados recobertos com apenas uma fina camada de hidrogel. Uma camada
fina de hidrogel funcionalizado permite difusão rápida através do gel, aumentando a mobili-
dade iônica e consequentemente tempos de inchamento de equilíbrio mais rápidos.
77
Figura 45 - Medidas da magnitude da impedância (círculo) e magnitude da capacitância (quadrado) para o aumen-
to de número de camadas de hidrogel sobre os eletrodos, em água deionizada.
0 1 2 3 4 5
104
105
Camadas de hidrogel
Imp
ed
ân
cia
(
)
4
8
12
16
Ca
pa
citâ
ncia
(n
F)
1 kHz
Fonte: Figura adaptada de Daikuzono, et.al. [56].
4.3.3 – Análises da magnitude da impedância e capacitância
Usando espectroscopia de impedância elétrica foi possível detectar mudanças nas pro-
priedades dielétricas do hidrogel devido à interação entre o açúcar e o grupo PBA. Camadas
de hidrogel, depositados via drop casting, em contato com diferentes concentrações de açúcar
em solução incham e aumentam de volume. Isso permite difusão de íons e aumento da corren-
te elétrica, facilmente detectados como alterações na impedância e/ou capacitância. A capaci-
tância relativa, analisada em uma frequência de 1 kHz, para diferentes concentrações de glico-
se (5-30 mM) em distintas composições de PBA (5 mol % e 20 mol %) em hidrogel pode ser
visualizado na Figura 46. O aumento de variação na capacitância para hidrogéis com maior
concentração de PBA se deve ao fato de haver mais grupos ligantes para moléculas de glico-
se. Mudanças nas propriedades dielétricas causadas pelo aumento de volume do gel podem
ser monitoradas através da variação da capacitância em 1 kHz.
78
Figura 46 - Detecção de glicose em tampão PBS através de mudanças na capacitância relativa, para hidrogéis
contendo 5 mol % PBA (azul) e 20 mol % PBA (vermelho).
0 5 10 15 20 25 30
0
30
60
90
120 5 % PBA
20 % PBA
1 kHz
C (
nF
)
Concentração de glicose (mM)
Fonte: Figura adaptada de Daikuzono, et.al. [56].
Os espectros da Figura 47 (A) e 47 (B) são de eletrodos recobertos com uma camada
de hidrogel funcionalizado com 20 mol % PBA. O aumento no volume de hidrogel sobre os
eletrodos permite a mobilidade de íons provenientes de moléculas de açúcar que penetraram
no gel por difusão e consequentemente alteram a propriedade elétrica do hidrogel [119]. Vari-
ações no espectro de impedância foram detectados para diferentes concentrações de glicose e
frutose em uma faixa de frequência de 0,1 Hz a 1 MHz. Uma maior distinção das curvas de
impedância foi observada em 1 kHz para a exposição a concentração de açúcar. A Figura 47
mostra que para na faixa de frequência em 1 kHz, os espectros para as concentrações de glico-
se e frutose decrescem monotonicamente. Este decréscimo pode estar relacionado ao aumento
da mobilidade iônica no hidrogel intumescido.
79
Figura 47 - Espectro de impedância para eletrodos cobertos com uma camada de hidrogel funcionalizado com 20
mol % PBA quando exposto para uma variedade de concentrações de glicose (A) e frutose (B), respectivamente.
10-1
100
101
102
103
104
105
106
107
103
104
900 950 1000 1050 1100
1100
1150
1200 buffer
0,2 mM
0,6 mM
1 mM
3 mM
5 mM
Z (
)
Frequência (Hz)
Z ()
Frequência (Hz)
(A)
Glicose
10-1
100
101
102
103
104
105
106
107
103
104
900 950 1000 1050 1100580
600
620
640
buffer
0,2 mM
0,6 mM
1 mM
3 mM
5 mM
Z (
)
Frequência (Hz)
Z (
)
Frequência (Hz)
(B)
Frutose
Fonte: Figura adaptada de Daikuzono, et.al. [56].
A Figura 48 (A) ilustra as alterações nos valores de capacitância (ΔC) a 1 kHz detec-
tados para concentrações (0 a 5 mM) de soluções de glicose e frutose. Todas as medidas fo-
ram realizadas em triplicata. Para assegurar a reprodutibilidade do sensor, atenção especial
deve ser dedicada para a reprodutibilidade dos eletrodos sem hidrogel em solução de tampão,
antes de os eletrodos serem funcionalizados. Isso garante que quaisquer variações na resposta
do sensor não sejam causadas pela característica intrínseca dos eletrodos interdigitados de
carbono. A região tracejada na Figura 48 (A) indica a região de baixas concentrações (0-1,2
mM) que foi plotada novamente para análise do sensor em baixas concentrações. A análise
pode ser verificada na Figura 48 (B), onde ambos os açúcares apresentaram aumento linear
para concentração de açúcar de 0,2 a 1,2 mM e uma leve alteração no eletrodo sem hidrogel
decorrente do inchamento o papel. Sensores recobertos com hidrogel funcionalizado com 20
mol % PBA têm maior sensibilidade para a frutose do que a glicose, o que já era esperado do
estudo de intumescimento do hidrogel. O maior aumento de volume do hidrogel causado pela
frutose torna as alterações de capacitância mais significativas para frutose do que para a glico-
se em concentrações semelhantes. Esta afinidade do sensor por frutose permite diferenciar a
frutose e a glicose com base na inclinação da curva de resposta do sensor. A Figura 48 (A)
mostra que para concentrações acima de 2 mM há uma tendência de saturação de sinal de
capacitância. Provavelmente esta saturação advém de o hidrogel atingir sua capacidade má-
xima de intumescimento. Do gráfico da Figura 48 (B), nota-se que o sensor é adequado para
80
detectar baixas concentrações de açúcares (0,2 – 1,2 mM), sendo relevante para a análise do
suor humano em que a concentração de glicose varia de 0,28 a 1,11 mM.
Figura 48 - Alterações de capacitância (ΔC) a 1 kHz para o eletrodo revestido com hidrogel funcionalizado com
20 mol % de PBA versus concentração de açúcar. Os dados foram analisados em triplicata e foram obtidas barras
de erro a partir dos desvios-padrão. O eletrodo sem hidrogel (estrela) foi testado com diferentes concentrações de
glicose para verificar o efeito de PBA na resposta de capacitância. (A) alterações de capacitância analisadas para
concentrações entre 0 a 5 mM. (B) alterações de capacitância analisadas para concentrações entre 0 a 1,2 mM.
0 1 2 3 4 5
0
7
14
21
28
35 frutose
glicose
sem gel
1 kHz
C
(n
F)
Concentração (mM)
(A)
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2
0
5
10
15
20
25 Frutose
glicose
sem gel
1 kHz
C (
nF
)
Concentração (mM)
(B)
Fonte: Figura adaptada de Daikuzono, et.al. [56].
4.4 – CONCLUSÃO
Neste trabalho apresentamos eletrodos interdigitados de carbono impressos em papel e
modificados com hidrogel para detecção de monossacarídeos em solução, usando espectros-
copia de impedância. Os eletrodos foram modificados cobrindo sua superfície com uma fina
camada de hidrogel contendo 20 mol % ácido fenilborônico (PBA). À medida que as molécu-
las de açúcar penetram no hidrogel, elas se ligam às porções de ácido borônico, resultando na
formação de grupos boronato. Esta ligação permite um aumento na quantidade de carga nega-
tiva no hidrogel e, através de uma força osmótica, causa o inchamento do gel. Este inchaço
induzido por açúcar aumenta a mobilidade dos íons no hidrogel, alterando assim suas proprie-
dades elétricas [119]. Os resultados mostraram que as variações de impedância e capacitância
do dispositivo, na faixa de frequência de medição, responderam consistentemente a concen-
trações de açúcares de 0 a 5 mM, em soluções tampão aquosas de fosfato. A impedância me-
dida em 1 kHz diminui com a concentração de açúcar. As variações de capacitância relativas
81
são marcadamente diferentes para frutose e glicose, uma vez que o hidrogel exibe maior in-
chaço na presença de frutose do que em glicose na mesma faixa de concentrações. No entanto,
com este sensor simples, a quantificação de diferentes tipos de açúcares numa amostra não é
possível, e para este âmbito é imaginada uma matriz de eletrodos interdigitados funcional-
mente diferentes e a utilização de método estatístico, como análise de componentes principais
(PCA), para análise de dados. Como o sensor proposto mostrou ser adequado para a detecção
de glicose a níveis de concentração encontrados no suor humano, o trabalho futuro consistirá
na incorporação desses eletrodos modificados em papel em skin-patch para monitoramento
não invasivo do açúcar no suor. Nesta fase futura do desenvolvimento, as interferências exter-
nas do suor, juntamente com a concentração variada de eletrólitos e as taxas de transpiração,
poderão ser potencialmente superadas utilizando uma abordagem multissensor que permita a
quantificação de influências externas, tais como concentração de íons e hidratação do reves-
timento de hidrogel.
82
Capítulo 5 – Detecção de diferentes tipos de açúcares e marcas de suco de
maçã a partir de uma língua eletrônica microfluídica em papel com eletrodos
funcionalizados com hidrogel
RESUMO
O trabalho do capítulo 5 foi desenvolvido em parceria com o grupo do Prof. Dr. Dermot
Diamond–DCU. Foram produzidas línguas eletrônicas microfluídicas com unidades
sensoriais em papel (paper-based), que são de baixo custo e descartáveis. Com microfluídica
reduziu-se drasticamente o volume de hidrogéis funcionalizados e das amostras testadas. A
língua contém quatro unidades com eletrodos interdigitados de carbono impressos por screen
printing e canal impresso com uma impressora a cera. Três unidades sensoriais tiveram a
superfície do canal modificada com hidrogéis funcionalizados com 5 e 20 mol% PBA e um
com polilíquido iônico, polimerizados por radiação no UV-vis. A escolha destes materiais foi
estratégica, pois estes polímeros têm afinidade por monossacarídeos. Foram analisadas
amostras de glicose, frutose e sacarose com concentrações entre 0,008 e 0,056 g.mL-1
,
preparadas em tampão fosfato (pH 7,49). A técnica de detecção foi espectroscopia de
impedância, com registro da capacitância entre 100 Hz e 1 kHz, cujos dados foram analisados
com os métodos PCA e IDMAP. A língua eletrônica foi eficiente na diferenciação de
concentrações e grupos de açúcares, com maior afinidade dos sensores por frutose devido à
interação com PBA. Também foi usada para discriminar várias marcas de suco de maçã com
diferentes concentrações de açúcares, o que poderia ser esperado pois o açúcar mais usado
nesses sucos é a frutose.
Palavras chaves: língua eletrônica, microfluídica, hidrogel, PBA e PIL.
83
5.1 – INTRODUÇÃO
A língua eletrônica é um sistema de multissensores capazes de distinguir líquidos
complexos e semelhantes. As unidades sensoriais são formadas por sensores com baixa
seletividade que geram muitos dados que precisam ser processados com métodos estatísticos,
como a análise de componentes principais (PCA, do inglês Principal Component Analysis) e
outros métodos de projeção multidimensional, implementados na ferramenta PEx-Sensors
[15,16]. As unidades sensoriais geralmente são formadas por um conjunto de eletrodos que
podem ser modificados através de membranas [124], polímeros condutores [12],
semicondutores [23] e hidrogéis funcionalizados.
Neste trabalho utilizamos polilíquidos iônicos (PIL) e PBA para modificar as unidades
sensoriais da língua eletrônica. Os PILs são polieletrólitos fortes, com alta densidade de carga,
que combinam propriedades de líquidos iônicos (ILs) em uma arquitetura macromolecular
[126,127]. Há grupos catiônicos e aniônicos nas unidades repetitivas da cadeia, sendo a
solubilidade do PIL governada por grupos aniônicos [125]. Kim et.al utilizaram os PILs para
modificar eletrodos de grafeno [126] e aumentar a área efetiva. A resposta eletroquímica era
estável com o dispositivo operando em 3.5 V, produzindo um máximo de densidade de
energia de 6.5 W.h/kg com densidade de potência de 2.4 kW/kg. PBAs têm sido usados em
sensores, como em nosso trabalho recente [56] para detecção de açúcares. Numa língua
eletrônica, utilizam-se técnicas eletroquímicas e de impedância para analisar bebidas como
café [74], vinho [128], leite [129], água [10]. Nery et.al. desenvolveram uma língua eletrônica
eletroquímica a base de papel para análise de cervejas e vinhos [130]. O uso de papel é
importante para reduzir custo e empregar microfluídica através da força de capilaridade.
Martinez et.al. [131] introduziram os chamados µPADs (do inglês microfluidic paper-based
analytical devices). Os µPADs são plataformas de papel com canais hidrofílicos limitados por
barreiras hidrofóbicas que permitem a realização de análises de forma simples e rápida. As
fibras de celulose hidrofílicas permitem o fluxo de soluções aquosas ao longo do canal. A
velocidade de fluxo é influenciada pelas dimensões do canal e temperatura/umidade do
ambiente. A fabricação dos µPADs pode ser feita, por exemplo, através do uso de uma
impressora com cartuchos de cera (wax printer) e de uma chapa aquecedora. Este tipo de
fabricação permite a obtenção de canais com dimensões de 561 ± 45 µm e barreiras de 850 ±
50 µm [129]. Estes dispositivos permitem o uso de pouco volumes de soluções e dispensam o
uso de equipamentos (análise por colorimetria). Neste capítulo apresentamos uma língua
eletrônica microfluídica com eletrodos de papel, usando espectroscopia de impedância que
84
não requer eletrodo de referência e contra eletrodo. Isso torna o sistema mais simples,
permitindo imprimir o canal em cera, o que limita o espaço do sensor, e reduzir o volume da
amostra, de 5 mL para 6 µL. A língua eletrônica tem quatro unidades sensoriais modificadas
com hidrogel funcionalizado com PBA, PIL e um sem hidrogel para detecção de diferentes
grupos e concentrações de glicose, frutose e sacarose, além da análise de diferentes marcas de
suco de maçã.
5.2 – MATERIAIS E MÉTODOS
5.2.1 – Materiais
Foram utilizados acrilamida 99% (AAm), N, N'-metilenobis (acrilamida) 99%
(MBIS), 2-hidroxi-2-metilpropiofenona 97% (HMPP), ácido 3-acrilamido fenil borônico 98%
(PBA), D- (-) - Frutose, D - (+) - glicose, sulfóxido de dimetila (DMSO) e papel de filtro
Watman (grade 158 x 68 cm e tamanho de poro 11 μm), adquiridos da Sigma-Aldrich, e
utilizados como recebidos. A tinta de carbono foi adquirida de GWENT GROUP Inc.
Pontypool, UK (código de produto C2030519P4). O PIL foi sintetizado pelo grupo de
química do Prof. Dr. Dermot Diamond – Dublin City University. A sacarose e as cinco
diferentes marcas de suco de maçã foram adquiridas em supermercados de Dublin, Irlanda.
Todas as soluções aquosas foram preparadas com água ultrapura (18,2 MΩ cm de
resistividade, Millipore Milli-Q).
5.2.2 – Fabricação de eletrodos interdigitados de carbono via screen-printing e impressão
de canais hidrofóbicos.
A Figura 49 apresenta o esquema de fabricação dos eletrodos interdigitados de
carbono com canal hidrofóbico impresso. Os eletrodos interdigitados de carbono (15 mm de
comprimento x 10 mm de largura, 10 dígitos com 1 mm de espaçamento) foram impressos em
papel por screen-printing utilizando o equipamento DEK 248 screen printer. Os eletrodos
foram secos no forno a uma temperatura de 50°C por cerca de 40 minutos. O design dos
canais foi feito através do software AutoCAD, impresso sobre os eletrodos utilizando a
impressora a cera XEROX.
85
Figura 49 - Fabricação de eletrodos interdigitados de carbono com canal impresso.
Fonte: Elaborado pela autora.
Os eletrodos com canal impresso foram postos em uma chapa quente (80°C) por cerca
de 1 minuto para derreter a cera dos canais. Com o derretimento a largura do canal diminui de
3 para 2 mm. A Figura 50 mostra os eletrodos interdigitados de carbono impresso em papel
(A), com canal impresso (B) e com canal de cera pós aquecimento (C). Os eletrodos da Figura
50 (C) serão as bases das unidades sensoriais da língua eletrônica microfluídica.
Figura 50 - (A) eletrodo interdigitado de carbono impresso via screen-printing; (B) canal impresso sobre o
eletrodo; (C) canal derretido sobre os eletrodos.
Fonte: Elaborado pela autora.
86
5.2.3 – Modificação da superfície do canal com polimerização de hidrogel
funcionalizado.
As unidades sensoriais foram modificadas com hidrogéis funcionalizados com PBA e
com PIL. Não há informação de preparação do mesmo devido a segredo industrial. Os
hidrogéis funcionalizados com PBA foram preparados misturando 0,25 g de acrilamida, 1 mol
% bis acrilamida, 1 mol % HMPP e 20 ou 5 mol % PBA, respectivamente, dissolvidos em 500
µL de água/DMSO na proporção 1:1. A Figura 51 ilustra o procedimento de polimerização do
hidrogel no canal impresso. Cada canal recebeu 0,6 µL deste coquetel e o mesmo volume foi
usado para o PIL; os líquidos fluíram por capilaridade no canal e foram expostos em luz UV
(CL-1000 Ultraviolet crosslinker UVP) por 30 minutos para a polimerização dos hidrogéis.
Figura 51 - Polimerização de hidrogel funcionalizado sobre o canal impresso sobre o eletrodo.
Fonte: Elaborado pela autora.
5.2.4 – Unidades sensoriais da língua eletrônica microfluídica.
A Figura 52 ilustra as unidades sensoriais: (A) eletrodo sem hidrogel, (B) eletrodo com
5 mol % PBA, (C) eletrodo com 20 mol % PBA e (D) eletrodo modificado com PIL
Figura 52 - Conjunto de eletrodos da língua eletrônica: (A) sem hidrogel, (B) 5 mol % PBA, (C) 20 mol % PBA
e (D) PIL.
Fonte: Elaborado pela autora.
87
5.2.5 – Espectroscopia de Impedância elétrica
As análises de espectroscopia de impedância foram feitas com o analisador de
impedância Solartron 1260, com 20 mV aplicados nos eletrodos interdigitados em uma faixa
de frequência de 0,1 a 10 MHz com 5 pontos por década. Diferentes concentrações (0 a 0,056
g.mL-1
) de glicose, sacarose e frutose foram preparadas em tampão fosfato (pH 7,4) e foram
usadas diferentes marcas de suco de maçã. As medidas se iniciaram com solução de tampão (8
µL) no canal por 12 minutos para estabilizar o sistema, antes de usar outras amostras. Para
cada amostra foram utilizados 6 µL e tempo de 6 minutos. Entre as medidas de suco de maçã,
o canal foi lavado com solução de buffer. A Figura 53 ilustra o aparato experimental para as
medidas.
Figura 53 - Aparato experimental para medidas de impedância com língua eletrônica microfluídica.
Fonte: Elaborado pela autora.
5.2.6 – Análise de dados com PCA e IDMAP.
Os dados obtidos foram analisados através de softwares Statistica 13, Origin e PEx-
Sensors. Para amostras de açúcar os dados de capacitância foram analisados em 100 Hz e 1
kHz e para amostras de suco de maçã os dados foram analisados em 1 kHz. As análises foram
feitas nessas frequências porque nelas foi observada maior distinção entre as curvas de
capacitância.
88
5.3 – RESULTADO E DISCUSSÃO
As Figuras 54 (A) e 54 (B) exibem curvas de capacitância de unidades sensoriais
modificadas, com PIL, 5 e 20 mol % PBA e 1 eletrodo sem hidrogel, imersos em água
deionizada e tampão fosfato pH 7,4. Os resultados após 20 minutos de estabilização da dupla
camada elétrica indicam a presença de hidrogel funcionalizado sobre o canal impresso.
Verificamos que a resposta das unidades sensoriais é mais diversa em água do que em tampão,
especialmente para o espectro de PIL medido em água. Isso era esperado, pois os PIL são
polieletrólitos fortes [123].
Figura 54 - Espectros de capacitância das unidades sensoriais, modificadas com PIL, 5 e 20 mol % PBA e 1
eletrodo sem hidrogel, em (A) água deionizada e (B) solução aquosa de PBS (pH 7,4).
10-1
100
101
102
103
104
105
106
107
10-1
101
103
105
C (
nF
)
Frequência (Hz)
sem hidrogel
5 % PBA
20 % PBA
PIL
DI water
(A)
10-1
100
101
102
103
104
105
106
107
10-1
101
103
105
C (
nF
)
Frequência (Hz)
sem hidrogel
5 % PBA
20 % PBA
PIL
PBS pH 7.4
(B)
Fonte: Elaborado pela autora.
Diferentes concentrações de glicose, sacarose e frutose preparadas em solução tampão
PBS, como indicado na Tabela 5, foram analisadas com espectroscopia de impedância. A
Figura 55 mostra o gráfico de PCA obtido para medidas a 1 kHz das diferentes concentrações
de glicose, sacarose e frutose, em que é possível distinguir diferentes concentrações e grupos
de açúcar. Os grupos de glicose e sacarose estão próximos entre si, e distantes do grupo de
frutose. Fato que pode ser explicado pela maior afinidade do PBA e PIL por grupo diol dos
açucares, como já demonstrado por Daikuzono et.al. em que eletrodos interdigitados de
carbono impressos em papel e recobertos com 20 mol % PBA têm maior afinidade por frutose
do que glicose [56].
89
Tabela 5 - Amostras de glicose, sacarose e frutose e suas respectivas concentrações.
Amostras Concentração (g.mL-1
)
0g, 0s e 0f Tampão pH 7.4
g1,s1 e f1 0,008
g2, s2 e f2 0,016
g3, s3 e f3 0,032
g4, s4 e f4 0,04
g5, s5 e f5 0,056
*g (glicose), s (sacarose) e f (frutose)
Figura 55 - PCA de diferentes concentrações de glicose, sacarose e frutose.
Fonte: Elaborado pela autora.
A Figura 56 (A) apresenta a curva de capacitância da sacarose, glicose e frutose, com
concentração de 0,016 g.mL-1
, analisadas nos canais modificados com filme polimerizado de
PIL. A diferença de respostas dos açúcares pode ser mais bem averiguada na Figura 56 (B)
que ilustra um gráfico 3D com as respostas em 100 Hz de 3 unidades modificadas com PIL.
Dos valores de capacitância, verifica-se que o PIL tem maior afinidade por frutose do que
para a glicose e sacarose. Isso é consistente com o isolamento do grupo de frutose dos demais
açúcares no PCA da Figura 55.
90
Figura 56 - (A) curvas de capacitância dos açúcares sacarose, glicose e frutose com concentração de 0.016 g.mL-
1 analisados em canais modificados com PIL; (B) gráfico 3D de capacitância analisada em 100 Hz para 3 tipos
de açúcar.
10-1
100
101
102
103
104
105
106
107
10-1
101
103
105
C (
nF
)
Frequência (Hz)
sacarose
glicose
frutose
Concentração 0.016 g/mL
PIL
Fonte: Elaborado pela autora.
A Figura 57 apresenta o PCA 3D de análises em triplicata, geradas através de valores
de capacitância extraídos em 1 kHz, de diferentes concentrações de açúcar. Para confirmar a
distinção dos diferentes grupos de açúcar, nota-se novamente a separação desses grupos, e da
solução de PBS. Na Figura 57 bolas pretas, vermelhas, verdes e azuis representam soluções de
PBS, frutose, glicose e sacarose, respectivamente. A distinção das diferentes concentrações de
açúcares neste gráfico não ficou clara, e por isso recorremos ao método computacional
IDMAP para analisar separadamente cada açúcar.
91
Figura 57 - PCA 3D de diferentes concentrações de frutose (bola vermelha), glicose (bola verde) e sacarose (bola
azul) e buffer PBS (bola preta).
Fonte: Elaborado pela autora.
A Figura 58 ilustra a imagem gerada pelo método IDMAP das diferentes
concentrações de frutose em triplicata, onde F1, F2, F3, F4 e F5 representam as concentrações
de 0.008, 0.016, 0.032, 0.040 e 0.056 g.mL-1
, respectivamente. Observamos a clara distinção
das concentrações de frutose da amostra de PBS.
Figura 58 - Imagem gerada a partir do método IDMAP de diferentes concentrações de frutose e solução PBS.
Fonte: Elaborado pela autora.
92
Análises em triplicata foram feitas também para a glicose e sacarose que estão
ilustradas nas Figuras 59 e 60 geradas pelo método IDMAP, onde as concentrações de 0.008,
0.016, 0.032, 0.040 e 0.056 g.mL-1
são representadas por letras com numeração crescente.
Novamente, podemos verificar a distinção do PBS das diferentes concentrações de açúcar.
Figura 59 - Imagem gerada pelo método IDMAP de diferentes concentrações de glicose e PBS.
Fonte: Elaborado pela autora.
Figura 60 - Imagem gerada pelo método IDMAP de diferentes concentrações de sacarose e PBS.
Fonte: Elaborado pela autora.
Com os resultados positivos da língua eletrônica microfluídica para diferentes
açúcares, surgiu a motivação de empregá-la para análise de amostras de suco de maçã com
diferentes concentrações de açúcar. A Tabela 6 lista as amostras de sucos, as concentrações de
93
açúcar em 100 mL de suco e a porcentagem de pureza do suco de maçã. As amostras foram
analisadas com espectroscopia de impedância aplicando-se tensão AC de 20 mV com
unidades sensoriais modificadas com PBA, PIL e um eletrodo sem hidrogel. A Figura 61
apresenta o espectro de impedância das amostras de sucos e da água. Em 100 Hz é possível
observar que ao aumentar a concentração de açúcar no suco, há um aumento na impedância.
Este aumento indica maior resistência à passagem de corrente elétrica, que pode ser devido ao
hidrogel funcionalizado polimerizado sobre o canal. O confinamento do hidrogel no canal e o
intumescimento com o aumento da concentração de açúcar levam a uma camada espessa de
material isolante sobre o eletrodo interdigitado, aumentando a impedância.
Tabela 6 - Amostras de suco de maçã e suas respectivas concentrações de açúcar em 100 mL de suco.
Amostras Açúcar em 100 mL % pureza do suco de
maçã
Heinz (h) 4,8 g 50
Fruice (f) 8,5 g 100
Tesco (t) 9,6 g 100
Del Rivo (d) 10 g 99
Homestead (ho) 11,3 g 100
Figura 61 - Espectros de impedância de sucos de maçã com diferentes concentrações de açúcar.
10-1
100
101
102
103
104
105
106
107
103
104
105
90 95 100 105 110
1600
2000
2400
2800
3200
water
Heinz
Fruice
Tesco
Del Rivo
Homestead
Z (
)
Frequency (Hz)
Z )
Frequência (Hz)
Fonte: Elaborado pela autora.
Medidas de impedância em triplicata com sucos das marcas Heinz (h), Fruice (f),
Tesco (t), Del Rivo (d) e Homestead (ho), com concentrações de 4.8, 8.5, 9.6, 10 e 11.3 g de
açúcar em 100 mL de amostra foram analisadas por PCA, cujos gráficos de cada língua
94
eletrônica com o mesmo conjunto de unidades sensoriais são mostrados na Figura 62. A
língua eletrônica consegue distinguir a água das amostras de suco, e partindo do ponto da
água no gráfico houve distinção crescente das concentrações de açúcar no suco.
Figura 62 - PCA de diferentes marcas de suco de maçã analisadas em 3 línguas eletrônicas.
Fonte: Elaborado pela autora.
A Figura 63 apresenta um gráfico de PCA 3D com medidas em triplicata dos sucos de
maçã e da água. As amostras dos sucos Tesco (0,096g/mL) e Del Rivo (0,1 g/mL), que
possuíam concentrações de açúcar próximas, se agruparam perto uma das outras.
95
Figura 63 - Gráfíco de PCA 3D de amostras medidas em triplicata de amostras de diferentes marcas suco de
maçã.
Fonte: Elaborado pela autora.
O gráfico 3D da Figura 64 apresenta a relação das unidades sensoriais com valores de
capacitância e as amostras de sucos analisados. A distinção das amostras foi mais clara, com
diferenças maiores na capacitância, para o sensor com PIL. Isto pode ser explicado pelo fato
de o PIL ser um polieletrólito forte e ter afinidade por frutose, como já discutido em
resultados anteriores. A frutose é o açúcar majoritário nos sucos de frutas e, portanto,
esperávamos que os sensores conseguissem fazer a distinção, em especial os modificados com
PBA e PIL.
96
Figura 64 - Gráfico 3D de respostas para unidades sensoriais com sucos de maçã e respectivas capacitâncias.
Fonte: Elaborado pela autora.
Testamos a possibilidade de reutilizar as unidades sensoriais da língua eletrônica,
repetindo a mesma série de medidas para os sucos de maçã. Da Figura 65, observa-se que a
distinção dos sucos ainda é possível na segunda medida, mostrada no gráfico PCA da direita,
mas o valor da primeira componente reduziu de 94,6% para 44,15%. Ou seja, a capacidade de
distinção das amostras de suco não foi mantida. Concluímos que os sensores precisam ser
descartados, e assim para cada análise é necessário trocar o conjunto de unidades sensoriais
devido à saturação ou contaminação dos hidrogéis.
Figura 65 - PCA de amostras de sucos de maçã utilizando o mesmo conjunto de unidades sensoriais da língua
eletrônica. À esquerda está o gráfico para a primeira medida, sendo que o gráfico à direita se refere à segunda
medida.
Fonte: Elaborado pela autora.
97
5.4 – CONCLUSÃO
A língua eletrônica fabricada em papel com unidades sensoriais modificadas com
hidrogéis funcionalizados com PBA e PIL permitiu distinguir diferentes concentrações de
glicose, frutose e sacarose em solução aquosa de PBS. Com análise estatística e
computacional, foi possível visualizar a distinção de grupos de açúcares, assim como a
distinção de diferentes concentrações. A língua eletrônica foi empregada também na análise
de marcas de suco de maçã que continham diferentes concentrações de açúcar. As análises
demonstraram que o sensor conseguiu distinguir as diferentes marcas de acordo com o
aumento de concentração de açúcar. As marcas Tesco e Del Rivo que continham somente 0.4
g de diferença na concentração de açúcar ficaram bem próximas. Verificamos também através
de análises de PCA que o alto valor da primeira componente (PC 1) pode estar correlacionado
ao sensor com PIL que se mostrou muito sensível às amostras analisadas e à frutose que
normalmente é o açúcar predominante em sucos de frutas. Foi constatado também que os
dispositivos são descartáveis, o que era esperado já que são fabricados em papel.
98
Capítulo 6 – Conclusão geral e perspectivas futuras
Do trabalho de doutorado, verificou-se que é possível desenvolver sensores de baixo
custo para análises de gliadina, diferentes concentrações de monossacarídeos e análise de
bebidas, como sucos de maçã. Sensores do tipo língua eletrônica microfluídica, construídos
em plataforma de vidro com canais moldados em PDMS, com unidades sensoriais
modificadas com polímeros condutores e semicondutores geraram resultados satisfatórios na
distinção de diferentes concentrações de gliadina preparadas em solução de etanol 70 %.
Concentrações abaixo e acima de 20 ppm foram detectadas, o que é importante para análises
de alimentos que são considerados sem glúten, cuja concentração máxima é 20 ppm. Além
disso, a língua eletrônica permitiu distinção de grupos de alimentos com, sem e contaminados
com 200 ppm de gliadina. Abre-se a perspectiva, a partir desses resultados, de desenvolver um
sensor para os celíacos monitorarem seus alimentos sem o perigo de sofrer os agravantes da
doença por consumirem alimentos supostamente sem glúten, mas que podem ter sido
contaminados na preparação.
Concluímos também que sensores de papel com eletrodos interdigitados de carbono
via screen-printing, com unidades modificadas com PBA e PIL, podem diferenciar grupos de
glicose, frutose e sacarose com diferentes concentrações. Notou-se que o sensor com hidrogel
funcionalizado com 20 mol % PBA é adequado para detectar baixas concentrações de
açúcares (0.2 – 1.2 mM), sendo relevante para a análise do suor humano em que a
concentração de glicose varia de 0.28 a 1.11 mM. Estes sensores podem ser aplicados
futuramente no desenvolvimento de skin patch para monitoramento de glicose no suor. A
língua eletrônica microfluídica em papel também permitiu a diferenciação de concentração de
açúcares e distinção de sucos de maçã. Como perspectiva futura, espera-se aprimorar os
sensores e aplicar a língua eletrônica microfluídica em papel para determinar a concentração
de glicose em amostras de suor, incluindo sob ação de interferentes. O objetivo final é
desenvolver um sensor não invasivo para monitoramento de glicose através do suor humano.
99
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