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XVII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 1 DIAGNÓSTICO GEOAMBIENTAL DO ESTUÁRIO DO RIO ACARAÚ: Uso de Geotecnologias ARAÚJO, Maria Valdirene ¹; FREIRE, George Satander Sá ²; CRUZ, Patrícia Silva da³ & PORTELA, João Paulo. RESUMO --- A Bacia do Acaraú está localizada a oeste da capital cearense e compreende uma área de 14.500Km², considerada a segunda maior bacia hidrográfica do Ceará. A área pesquisada compreendeu a região do estuário do rio Acaraú com 80Km². A pesquisa analisou de forma integrada os atributos ambientais do estuário do rio Acaraú, enfocando os impactos ambientais, bem como a identificação das unidades ambientais e o processo de uso e ocupação do solo. A metodologia adotada constou-se de levantamentos cartográficos, bibliografias referentes à área, fotografias aéreas e imagens de satélites para melhor identificação das unidades naturais. As atividades de geoprocessamento envolveram o processamento digital de imagens de sensoriamento remoto e a integração de dados em estrutura de SIG. Os resultados obtidos foram; o levantamento de uso e ocupação, onde foi dada ênfase na atividade de carcinicultura que ocupa boa parte das áreas de mangues próximos à foz do rio, o processo de expansão urbana da cidade de Acaraú e como medida mitigadora dos impactos ficou sugerida a criação de uma Área de Proteção Ambiental e um programa intensivo de educação ambiental com a população local. ABSTRACT --- The Basin of Acaraú is located to west of the capital from Ceará and he understands an area of 14.500Km², considered the second largest basin of Ceará. The researched area understood the area of the estuary of the river Acaraú with 80Km². The research analyzed in an integrated way the environmental attributes of the estuary of the river Acaraú, focusing the environmental impacts, as well as the identification of the environmental units and the use process and occupation of the soil. The adopted methodology was consisted of cartographic risings, referring bibliographies to the area, aerial pictures and images of satellites for better identification of the natural units. The geo- processing activities involved the digital processing of images of remote sensing and the integration of data in structure of SIG. The obtained results were; the use rising and occupation, where emphasis was given in the shrimp farm activity that occupies good part of the areas of close swamps to the mouth of the river, the process of urban expansion and as measured to lessen of the impacts it was suggested the creation of an Area of Environmental Protection and an intensive program of environmental education with the local population. Palavras-chave: Análise geoambiental, geotecnologias, ecossistema manguezal. _______________________________ 1) Geógrafa Mestranda em Geologia Universidade Federal do Ceará (UFC) - Rua Cecil Salgado, 366 –Fortaleza – CE - Email: [email protected] ,. 2) Prof. Dr. do Departamento Geologia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Av. Humberto Monte, s/n – Fortaleza – Ceará. Email: [email protected]. 3) Geógrafa Mestranda em Geologia Universidade Federal do Ceará (UFC) – Av. Humberto Monte, s/n –Fortaleza – CE - Email: [email protected]

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XVII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 1

DIAGNÓSTICO GEOAMBIENTAL DO ESTUÁRIO DO RIO ACARAÚ: Uso de

Geotecnologias

ARAÚJO, Maria Valdirene ¹; FREIRE, George Satander Sá ²; CRUZ, Patrícia Silva da³ &

PORTELA, João Paulo.

RESUMO --- A Bacia do Acaraú está localizada a oeste da capital cearense e compreende uma área de 14.500Km², considerada a segunda maior bacia hidrográfica do Ceará. A área pesquisada compreendeu a região do estuário do rio Acaraú com 80Km². A pesquisa analisou de forma integrada os atributos ambientais do estuário do rio Acaraú, enfocando os impactos ambientais, bem como a identificação das unidades ambientais e o processo de uso e ocupação do solo. A metodologia adotada constou-se de levantamentos cartográficos, bibliografias referentes à área, fotografias aéreas e imagens de satélites para melhor identificação das unidades naturais. As atividades de geoprocessamento envolveram o processamento digital de imagens de sensoriamento remoto e a integração de dados em estrutura de SIG. Os resultados obtidos foram; o levantamento de uso e ocupação, onde foi dada ênfase na atividade de carcinicultura que ocupa boa parte das áreas de mangues próximos à foz do rio, o processo de expansão urbana da cidade de Acaraú e como medida mitigadora dos impactos ficou sugerida a criação de uma Área de Proteção Ambiental e um programa intensivo de educação ambiental com a população local.

ABSTRACT --- The Basin of Acaraú is located to west of the capital from Ceará and he understands an area of 14.500Km², considered the second largest basin of Ceará. The researched area understood the area of the estuary of the river Acaraú with 80Km². The research analyzed in an integrated way the environmental attributes of the estuary of the river Acaraú, focusing the environmental impacts, as well as the identification of the environmental units and the use process and occupation of the soil. The adopted methodology was consisted of cartographic risings, referring bibliographies to the area, aerial pictures and images of satellites for better identification of the natural units. The geo- processing activities involved the digital processing of images of remote sensing and the integration of data in structure of SIG. The obtained results were; the use rising and occupation, where emphasis was given in the shrimp farm activity that occupies good part of the areas of close swamps to the mouth of the river, the process of urban expansion and as measured to lessen of the impacts it was suggested the creation of an Area of Environmental Protection and an intensive program of environmental education with the local population.

Palavras-chave: Análise geoambiental, geotecnologias, ecossistema manguezal._______________________________

1) Geógrafa Mestranda em Geologia Universidade Federal do Ceará (UFC) - Rua Cecil Salgado, 366 –Fortaleza – CE - Email:

[email protected],.

2) Prof. Dr. do Departamento Geologia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Av. Humberto Monte, s/n – Fortaleza – Ceará. Email:

[email protected].

3) Geógrafa Mestranda em Geologia Universidade Federal do Ceará (UFC) – Av. Humberto Monte, s/n –Fortaleza – CE - Email:

[email protected]

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4) Geógrafo Mestrando em Geologia Universidade Federal do Ceará (UFC) – Av. Humberto Monte, s/n –Fortaleza – CE - Email:

[email protected]

1 – INTRODUÇÃO

A área de estuário é um ambiente de muita fragilidade e vulnerabilidade devido à pressão

antrópica, causando diversos desequilíbrios na sua dinâmica natural. O manguezal que normalmente

é encontrado nas desembocaduras dos rios sofre muito com a atividade do homem que explora de

forma predatória, diminuindo assim seus recursos naturais e trazendo sérios riscos para a

conservação desse ecossistema de significativa riqueza natural.

O manguezal é considerado um ecossistema costeiro de transição entre os ambientes terrestre

e marinho sendo característico de regiões tropicais e subtropicais, a vegetação de mangue está

sujeito ao regime das marés, dominado por espécies vegetais típicas, às quais se associam a outros

componentes vegetais e animais. O ecossistema manguezal está associado às margens de baías,

enseadas, barras, desembocaduras de rios, lagunas e reentrâncias costeiras, onde haja encontro de

águas de rios com a do mar, ou diretamente expostos à linha da costa. A cobertura vegetal, ao

contrário do que acontece nas praias arenosas e nas dunas, instala-se em substratos de vasa de

formação recente, de pequena declividade, sob a ação diária das marés de água salgada ou, pelo

menos, salobra. A riqueza biológica dos ecossistemas costeiros faz com que essas áreas sejam os

grandes "berçários" naturais, tanto para as espécies características desses ambientes, como para

peixes e outros animais que migram para as áreas costeiras durante, pelo menos, uma fase do ciclo

de sua vida. (GERCO/PE, 2003).

Para Almeida, (2002) a educação ambiental estabelece a necessidade de novos métodos

pedagógicos e de administração do saber, de acordo com os princípios do desenvolvimento

sustentável, a gestão participativa e a administração coletiva dos processos ecológicos e produtivos,

que assegurem oferta sustentável de recursos naturais e de satisfação para a sociedade.

A Bacia do rio Acaraú está localizada a oeste da capital cearense (Fortaleza) e compreende

uma área uma equivalente a 14.500 Km² e banha cerca de vinte e cinco municípios cearenses, sendo

considerada a segunda maior bacia hidrográfica do Ceará. O rio Acaraú nasce na Serra das Matas,

possui drenagem aberta ao mar, atravessa trechos do sertão centro – norte e dos tabuleiros litorâneos

e abriga grandes reservatórios como o Açude Paulo Sarasate (Araras), Ayres de Sousa e o Acaraú-

Mirim, garantindo a perenidade do rio, pois a alimentação de seu leito depende do regime

pluviométrico que ocorre de maneira irregular, tanto no tempo como no espaço, chove muito num

curto período de tempo. A área da pesquisa compreende a região do Estuário do rio Acaraú,

correspondendo uma área de 80Km², abrange o município de Acaraú e parte do município de Cruz

(oeste).

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Este projeto analisou de forma integrada os atributos geoambientais do estuário do rio Acaraú,

enfocando os impactos ambientais, bem como, a delimitação da área, identificação e caracterização

das unidades naturais (Geossistemas e Geofácies), analisar o processo de uso e ocupação do solo, o

seu processo de degradação e fazer o zoneamento da área, dando enfoque na educação ambiental

para as populações que vivem nesse meio.

A análise pretendida tornou-se possível com as aplicações de geotecnologias, que possibilita a

interpretação e processamento das imagens através do sistema SIG (Sistema de Informações

Geográficas). Conforme Crosta (1992) o objetivo do processamento de imagens é o de remover as

barreiras, inerente ao sistema visual humano, facilitando a extração de informações a partir de

imagens digitais.

Nesse contexto, o processamento digital deve ser encarado como um estágio preparatório da

atividade de interpretação das imagens de sensoriamento remoto. O sensor remoto Landsat ETM+

nos fornece imagens com resoluções multiespectrais, na faixa espectral do visível-infravermelho

(VISIR, com resolução espacial de 30 metros) e pancromática (PAN com resolução espacial de 15

m). Veja a Figura 1.

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Figura 1 – Imagem Landsat 7 EMT+ de 2000, composição colorida RGB, mostrando o estuário do

rio Acaraú, com ausência de projetos de carcinicultura no manguezal no rio Cacimbas a oeste e na

localidade de Currais Velhos a leste.

1.1 Localização da área

A área em estudo está localizada no litoral oeste da capital cearense, a 248 Km de Fortaleza.

O município de Acaraú tem como coordenadas UTM 375000 E e 9682000 W onde corresponde

uma área de 839,20 Km². Limita-se ao Norte com o Oceano Atlântico, ao Sul com os municípios de

Marco, Morrinhos e Amontada, a Oeste com os municípios de Cruz e Bela Cruz e a Leste com o

município de Itarema. A situação espacial do município de Acaraú no contexto da região noroeste

do Estado do Ceará pode ser observada na Figura 2.

Figura 2 – Localização espacial do município de Acaraú. Fonte: (www.monografias.com.br)

A área pesquisada corresponde somente à região estuarina do rio Acaraú que deságua no

município de mesmo nome, compreendendo uma área aproximada de 80Km². As coordenadas

UTM correspondem:

Coordenadas UTM (SAD69) (E) 370000,00 e (W) 9688000,00;

Coordenadas UTM (SAD69) (E) 378000,00 e (W) 9680000,00;

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Na Figura 3 observa-se a localização da área, áreas de manguezais, atividades de

carcinicultura presentes em área de mangues, a planície de inundação do rio e a cidade de Acaraú

localizada às margens do rio de mesmo nome.

-

Manguezais

Planície de inundação

Cidade de Acaraú

Carcinicultura

Carcinicultura

Oceano Atlântico

Carcinicultura

Foz do rioAcaraú

Ceará

Brasil

Figura 3 – Imagens de Satélites do Google Earth (Dezembro/2006) visualizando a área da pesquisa

– Estuário do rio Acaraú.

2 – MATERIAIS E MÉTODOS

Para o desenvolvimento desse projeto, tivemos como meta a análise dos aspectos

geoambientais e o zoneamento da região estuarina. Esta área representa uma área de manguezal e o

maior objetivo é a conservação desse ecossistema diante da grande pressão antrópica e da instalação

de grandes empreendimentos nestas áreas, visto que são áreas de muita vulnerabilidade e

fragilidade.

O Sensoriamento Remoto, através de fotos aéreas e imagens de satélite, o Sistema de

Posicionamento Global (GPS) incorporados aos SIGs - Sistemas de Informações Geográficas, são

ferramentas indispensáveis à obtenção e processamento de dados ambientais em escalas adequadas

aos usuários dos ecossistemas costeiros.

Foram utilizadas as leituras relacionadas ao tema, de dissertações, que muito ajudou nesta

pesquisa empírica. Utilizamos entrevistas com profissionais da área que nos levou um maior

conhecimento da importância da educação ambiental para uma melhor visão da realidade. As visitas

de campo se deram com a equipe do Laboratório de Geologia Marinha da UFC. Verificamos que

cada local tem suas características e paisagens que ao longo dos tempos o homem vem modificando

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e se apropriando do meio ambiente onde acaba por descaracterizar esse meio trazendo sérios

desequilíbrios que muitas vezes se torna irreversível.

Foram seguidas as seguintes etapas:

- Levantamento e análise da bibliografia pertinente à área em estudo.

- Elaboração do mapa base.

- Organização de material geo-cartográfico e processamento digital de imagens.

- Trabalhos de campo

- Descrição da morfologia, geologia, solo, vegetação e modalidades de uso e ocupação.

- Integração dos dados para elaboração da pesquisa final.

- Para o embasamento teórico-metodológico, serão utilizadas as contribuições de (BERTRAND,

1972) e (TRICART, 1977) no que se refere à delimitação das unidades geoambientais, assim como

os Geossistemas/Geofácies.

- Etapa de Sensoriamento Remoto e Processamento de imagens.

- Material geocartográfico:

- Imagens Quickbird de composição RGB 321, com o processamento das imagens por meio do

Software GIS 9.0 – são imagens de resolução espacial de 0.6m, segue as imagens utilizadas no

processamento de imagens;

- Acarau_03JUN27125537-S2AS-000000149675_01_P001

- Acarau_03JUN27125537-S2AS-000000165668_01_P001_REC-01

- Acarau_03JUN27125537-S2AS-000000165668_01_P001_REC-02

- acarau_03jun27125537-s2as-000000165668_01_p001_rec-03

- Acarau_04SEP09130318-S2AS-000000165668_01_P002_REC-01

- Acarau_04SEP14130845-S2AS-000000165668_01_P006

- Acarau_04SEP14130845-S2AS-000000178613_01_P002

- Carta da SUDENE de 1972, Escala de 1:100.000.

- Carta da Conservação e da Biodiversidade de Acaraú na Escala de 1:150.000 – utilizadas para sua

confecção Imagens do Satélite ETM – LANDSAT 7, WRS 216.64, 217.63, 217.64, 218.63 e

218.64, datadas de Junho de 1999 e Julho de 2000.

- Carta do Diagnóstico Geoambiental de Acaraú na Escala de 1:150.000 – utilizadas para sua

confecção Imagens do Satélite ETM – LANDSAT 7, WRS 216.64, 217.63, 217.64, 218.63 e

218.64, datadas de Junho de 1999 e Julho de 2000.

- Carta do Uso e Ocupação de Acaraú na Escala de 1:150.000 – utilizadas para sua confecção

Imagens do Satélite ETM – LANDSAT 7, WRS 216.64, 217.63, 217.64, 218.63 e 218.64, datadas

de Junho de 1999 e Julho de 2000.

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- Base Cartográfica no CAD com fotografias aéreas de 1968 do SACS, atualizada pela Divisão de

Geografia e Cartografia – DGC/IPLANCE em 1998, através do Projeto Arquivo Gráfico Municipal

– AGM (Convênio IPLANCE/IBGE).

Em seguida foram realizados os procedimentos de análise e interpretação das assinaturas

espectrais predominantes e a seleção das composições coloridas das bandas, para a geração de

imagens com caráter multiespectral. Do conjunto de imagens coloridas, foram interpretadas aquelas

que proporcionaram melhor distinção das unidades de paisagem, levando em consideração a

morfologia costeira e o manguezal.

3 - RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Análise ambiental

A planície litorânea compõe-se da faixa de praia, campo de dunas, planície fluviomarinha e a

planície fluvial, são componentes que estão constantemente em evolução, mantendo a dinâmica

natural do ambiente. No litoral identificamos o processo hidrodinâmico, destacam-se os estuários de

rios, locais expressivos de depósitos sedimentares, atuando em conjunto com as condições físicas

inerentes a esses ambientes. Quadro 1.

UNIDADE

SUB-

REGIONAL

DA

PAISAGEM

PRINCIPAIS

FEIÇÕES

PAISAGÍSTICAS

AFLUENTES

LITORÂNEOS

FORMAS DE

USO E

OCUPAÇÃO

DO SOLO

PRINCIPAIS

IMPACTOS

AMBIENTAIS

Complexo estuarino do rio Acaraú

Manguezais Apicuns e salgados Salinas desativadas e funcionando Coqueirais Carnaubais Flechas de areias e delta de maré Lagamares

Rio Cacimbas Córrego S. Félix

Porto Salinas Pecuária extensiva Coqueiral Agricultura de subsistência Pesca artesanal Área residencial

Carcinicultura Poluição hídrica Desmatamento Assoreamento Aterros

Quadro 1 - Aspectos geoecológicos regionais da paisagem do litoral de acaraú. Adaptado de Edson

Vicente da Silva. (IBAMA, 2005).

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O ecossistema manguezal apresenta particularidades quanto a sua composição de flora e

fauna, interagindo com as condições climáticas locais e condições de solos hidromórficos

constituindo as planícies fluviomarinhas, ambientes de muita fragilidade e vulnerabilidade

ambiental. Esses ambientes naturais são considerados de preservação permanente, encontram-se

muito degradados principalmente em sua parte estuarina, atingindo boa parte do mangue, onde

também em diversos pontos percebemos o assoreamento de suas margens, devido dentre outros

fatores a implantação de fazendas de carcinicultura.

Na foz do Acaraú, os depósitos submersos são resultantes do transporte dos sedimentos do

rio, que não podem ser erodidos pelo movimento longitudinal das ondas, que ainda deposita

material retirado das regiões do litoral mais a leste. A origem dos depósitos submersos do litoral

cearense estar associado a um mecanismo duplo de formação envolvendo a influência de flutuação

do nível do mar e a deriva litorânea dos sedimentos. No estado do Ceará, merecem destaque os

depósitos submersos em Icapuí (Figura 4), na região de Barra Grande e, na foz do rio Acaraú,

(Figura 5). (MAIA, 2005). E na Figura 6 mostra com detalhe a foz do rio Acaraú, o desmatamento,

a carcinicultura e os depósitos submersos de sedimentos carreados pelo rio.

Figura 4 – Imagem de satélite de Icapuí, onde se observa uma inflexão da costa de NW-SE para E-

W, com a formação de depósitos submersos e laguna. (MAIA, 2005).

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Figura 5 – Imagem de satélite, com depósitos submersos na foz do rio Acaraú. (MAIA, 2005).

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Fozdo

rioAcaraú

Sedimentos submersos

NNNN

Figura 6 – Nesta imagem de satélite Quickbird é possível observar com mais detalhe os depósitos

submersos da foz do rio Acaraú.

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XVII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 11

3.2 Rede de drenagem

O sistema hídrico cearense é dotado de rios intermitentes, ou seja, rios alimentados pelo

regime pluviométrico que secam no período de estiagem. Como possuímos condições climáticas

variáveis e de distribuições irregulares, os rios tornam-se também inconstantes, apresentando

volumes de águas abundantes apenas no período chuvoso.

Diante das condições dos rios intermitentes, são inúmeras as ações de armazenamentos de

água para que não se esgotem até chegar à próxima quadra chuvosa, como a construção de açudes,

onde o Ceará é destaque em questão de açudagem. Mas mesmo com essas ações, as populações do

sertão cearense convivem com a escassez de água e sofrem pela dificuldade de adquirir esse recurso

natural. Diante desta perspectiva nota-se a importância de conservarmos e utilizarmos os recursos

hídricos de forma sustentável e racional.

Com relação às condições climáticas que influem sobre o curso do rio Acaraú, destaca-se que

apesar do litoral possuir um clima Tropical, a maior parte da Bacia encontra-se sob o domínio do

clima semi-árido. Conclui-se que o fluxo hídrico à montante da planície fluviomarinha possui um

regime intermitente, sendo a drenagem do seu alto, médio e baixo curso influenciado pelo regime

das chuvas, onde se torna um rio perene devido a grande quantidade de represas ao longo do seu

leito, destacando-se o açude Araras, o Ayres de Sousa e o Acaraú-Mirim.

Durante o período seco as águas subsuperficiais acumuladas nos aqüíferos da Formação

Barreira, na zona de tabuleiros e baixo curso, alimentam o seu volume hídrico superficial através de

percolação até as planícies fluvial e fluviomarinha.

A Bacia do rio Acaraú possui uma área de 14.500km², sendo considerada a segunda maior

bacia do Ceará, perdendo apenas para a maior bacia do rio Jaguaribe. A região em estudo equivale

uma área de 80km² que corresponde o estuário do rio Acaraú, sendo caracterizada boa parte pelo

manguezal, dunas e áreas agricultáveis, sendo que atualmente a grande concentração é de indústrias

de criação de camarões, a carcinicultura, que está degradando o mangue de maneira que sua fauna e

flora não terão mais como se recompor, devido aos danos que a carcinicultura causa a esses

ecossistemas. Não apenas no Ceará, mas em todo o Nordeste o crescimento do cultivo de camarões

cresceu bastante, visando o mercado externo. (Figura 8).

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Figura 8– Rede de drenagem do estuário do rio Acaraú.

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XVII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 13

3.3 Zoneamento ambiental

Para chegarmos ao zoneamento ambiental do estuário do rio Acaraú a primeira etapa

compreendeu abordagens temáticas (geologia, geomorfologia, pedologia, vegetação, clima e uso da

terra) com análise, seleção e hierarquização dos atributos dos componentes físicos e bióticos.

A etapa seguinte consistiu em realizar interações temáticas através de sucessivos níveis de

síntese, de acordo com as relações de causa e efeito. Esse mecanismo de correlação interdisciplinar

conduziu à identificação da estrutura e da dinâmica dos espaços diferenciados para a composição do

Zoneamento Geoambiental.

Foram realizadas correlações entre as comunidades vegetais e os condicionantes climáticos,

entre os atributos geomorfológicos e as estruturas e litologias, originando unidades morfoestruturais

e correlações entre a fauna e os solos resultando na compartimentação morfopedológica e na

geração de dados para obtenção das relações morfogênese/pedogênese, necessárias para a análise

ecodinâmica. Para a definição das categorias ecodinâmicas no estuário do rio Acaraú, foi utilizada

uma adaptação da classificação proposta por (TRICART, 1977).

Esse elenco de correlações, análises e sínteses, permitiram compartimentar a área em

unidades territoriais homogêneas que foram caracterizadas e hierarquizadas segundo um sistema

taxonômico com dois níveis: o Geossistema e o Geofácies.

Geossistema corresponde a um nível taxonômico caracterizado pela convergência de

semelhanças dos componentes físicos e bióticos e de suas dinâmicas. Pode ser composto por um ou

mais Geofácies.

Geofácies compreende unidades ambientais elementares com menor nível de diversidade

interna e, portanto, de maior coerência.

A área em estudo foi zoneada em três principais zonas: (Figura 9).

Zona de restrição Máxima e/ou Alta – compreende as Áreas de Preservação Permanente

(APPs) definidas por lei, incluindo aquelas que possuem características ambientais que justifiquem

seu enquadramento nesta categoria;

Zona de restrição Média – permite diversos usos, impondo-os algumas restrições;

Zona de restrição Baixa – refere-se a locais onde as ocupações desordenadas, dificultam outra

destinação para a área.

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ZONEAMENTO GEOAMBIENTAL DO ESTUÁRIO DO RIO ACARAÚ/CE

Convenções Cartográficas

litoral

ocenano atlantico

rio acarau

afluente rio

Oceano Atlântico

RioAca

raú

0.8 0 0.8 1.6 2.40.4

Kilometers

Escala Numérica

Datum - SAD 69

IMPLICAÇÕES QUANTO AO USO

Zona de restrição Máxima e/ou Alta

Zona de restrição Média

Zona de restrição Baixa

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Figura 9– Zoneamento ambiental do estuário do rio Acaraú.

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4 – CONCLUSÕES

Dentre a vasta pesquisa feita para o desenvolvimento deste trabalho, foram destacados cinco

temas, considerados mais relevantes, que permitiram adquirir um bom embasamento teórico sobre a

problemática da área e a metodologia adotada:

� Desmatamento do ecossistema manguezal;

� A atividade da Carcinicultura;

� A contaminação das águas pelos efluentes da Carcinicultura;

� A educação ambiental e

� A necessidade de criação de uma Área de Proteção Ambiental (APA) como medidas de

preservação e conservação do ambiente.

4.1 Ecossistema manguezal

O Brasil tem uma das maiores extensões de manguezais do mundo. Estes ocorrem ao longo

do litoral Sudeste-Sul brasileiro, margeando estuários, lagunas e enseadas, desde o Cabo Orange no

Amapá até o Município de Laguna, em Santa Catarina. Os mangues abrangem uma superfície total

de mais de 10.000 km², a grande maioria na Costa Norte.

O manguezal é um ecossistema particular, que se estabelece nas regiões tropicais de todo o

globo. Origina-se a partir do encontro das águas doce e salgada, formando a água salobra. Este

ambiente apresenta água com salinidade variável, sendo exclusivo das regiões costeiras.

Os mangues localizam-se em terrenos baixos, junto à costa, sujeito às inundações das marés.

Esses terrenos são, na quase totalidade, constituídos de vasas (lamas) de depósitos recentes.

(GUERRA, 1998).

No Brasil, os mangues são protegidos por legislação federal, devido à importância que

representam para o ambiente marinho. São fundamentais para a procriação e o crescimento dos

filhotes de vários animais, como rota migratória de aves e alimentação de peixes. Além disso,

colaboram para o enriquecimento das águas marinhas com sais nutrientes e matéria orgânica.

No passado, a extensão dos manguezais brasileiros era muito maior: muitos portos,

indústrias, loteamentos e rodovias costeiras foram desenvolvidos em áreas de manguezal,

ocorrendo uma degradação do seu estado natural.

O mangue é alvo da especulação imobiliária, que aterra suas áreas para a construção de

casas, marinas e indústrias. Suas águas são alvo de esgotos domésticos e industriais. E mais

recentemente essas áreas estão sendo ocupadas pela carcinicultura, atividade que está crescendo de

maneira acelerada no nordeste do Brasil. (AMBIENTE BRASIL).

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No caso do estuário do rio Acaraú, essa atividade está sendo explorada desde a década de

1970 e pode-se considerar como um dos estuários mais degradados do Estado do Ceará segundo

estudos realizados pelo LABOMAR e pelo ZEE-CE.

Analisando imagens de satélites multitemporais sendo possível identificar o crescimento do

desmatamento do mangue no estuário do rio Acaraú, não apenas pela carcinicultura como também

pelos pescadores artesanais que desmatam para construir suas casas, a agropecuária e a expansão

urbana da cidade de Acaraú.

4.2 A carcinicultura

A carcinicultura é a criação de camarões marinhos em áreas de manguezais, apicum e

salgado nas regiões costeiras. É uma atividade que vem crescendo muito em todo o Brasil, onde o

principal mercado são as exportações.

Conforme Fernandes (2004) a carcinicultura pode ser definida como o processo de produção

em cativeiro de organismos com habitat predominantemente aquático, como os camarões

marinhos. Apesar de ser uma atividade muito antiga, o crescimento mundial da carcinicultura nos

últimos anos tem preocupado os pesquisadores.

Toda preocupação dos pesquisadores e ambientalistas está em torno da degradação do meio

ambiente, num curto espaço de tempo. A carcinicultura segundo dados da ABCC (Associação

Brasileira de Criadores de Camarão) entre os anos de 2001 a 2004 teve um crescimento superior a

300% em áreas de viveiros, conforme um estudo do LABOMAR-UFC, 2004 (Instituto de Ciências

do Mar)-UFC.

Os manguezais estão sendo ameaçados por essa atividade que cada vez mais contribui para o

desmatamento do mangue e o desequilíbrio desse ecossistema. Essas incomparáveis florestas

tropicais litorâneas estão entre os habitats mais ameaçados do mundo. A expansão urbana, o

desenvolvimento do petróleo, a indústria do carvão, as estradas e o turismo, todos se aproveitaram

de grandes extensões de florestas de mangue. Atualmente, esses ecossistemas danificados

enfrentam ainda mais prejuízos devido à aqüicultura de camarão. E a ameaça vai além da perda

contínua de florestas provocando perda de áreas alagadas pelas marés.

A expansão desta devastadora atividade é agravada por consumidores dos Estados Unidos,

Canadá, Japão e Europa que fazem crescer a procura voraz de camarões baratos. O resultado é que

os manguezais, fornecedores de meios de vida para as comunidades pobres locais, são destruídos

para alimentar aqueles que já estão bem alimentados e para aumentar os lucros dos ricos produtores

de camarão e de companhias mercantis transnacionais. (AMBIENTE BRASIL).

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XVII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 17

4.3 Efluentes da carcinicultura

Os efluentes da carcinicultura são direcionados para os mangues, causando contaminação das

águas e conseqüentemente atingindo a fauna e flora, resultando na perda do equilíbrio ambiental.

Segundo Fernandes, (2004) os efluentes da carcinicultura são ricos em nutrientes (nitrogênio

e fósforo), bactérias, clorofila “a” e sólidos em suspensão oriundos das fezes e da ração que não é

consumida, bem como, dos sedimentos que são assoreados para os viveiros. A fertilização

artificial, o manejo e o metabolismo dos organismos presentes na água dos viveiros, também, são

responsáveis pelo enriquecimento dos nutrientes.

A determinação da qualidade dos efluentes das fazendas de carcinicultura tem sido objeto de

estudo em vários países devido aos problemas de salinização do lençol freático, eutrofização e ao

próprio ecossistema em que se realizam as fazendas, nas áreas de mangues. (FERNANDES, 2004).

4.4 Educação ambiental

As questões ambientais atualmente preocupam os ambientalistas, pesquisadores como

também a sociedade em geral, fazendo com que aumente a consciência da preservação dos recursos

naturais.

Conforme Cunha (2003) desde que as questões ambientais vêm ganhando peso nas

preocupações mundiais, as relações entre o modelo de desenvolvimento, o que constituiu a

sociedade urbano-industrial contemporânea e o meio ambiente, vêm sendo profundamente

questionadas. O despertar da consciência ecológica, princípio e fim de uma educação ambiental,

são substanciados por uma razão crítica, que percebe as relações de poder de caráter dominador e

explorador, que desestruturam, que rompem laços, produzem cisão, que degradam homem e

natureza.

4.5 Área de Proteção Ambiental (APA)

Criar uma APA é de muita importância quando se visa à proteção de ecossistemas de muita

fragilidade e vulnerabilidade, como é o caso do estuário do rio Acaraú.

Na área já existe o Parque Ecológico do Município de Acaraú que juntamente com o a

criação da APA formaria um corredor ecológico de proteção do manguezal, ambiente de maior

interesse de conservação, por encontrar-se parcialmente ou muito degradado.

5– AGRADECIMENTOS

A realização deste trabalho foi possível graças ao apoio de várias pessoas e instituições, em especial

a FUNCAP pelo auxílio financeiro recebido.

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XVII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 18

Ao Prof° Dr. George Satander Sá Freire pela orientação durante a elaboração deste trabalho.

Ao Curso de Pós-Graduação do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Ceará pelos

conhecimentos adquiridos.

Aos colegas do Laboratório de Geologia Marinha e Aplicada (LGMA) pela amizade e ajuda nos

momentos de dúvidas.

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marinho cultivado. Recife. 14p.

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