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Maíra Bonafé Sei
Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis
(Organizadoras)
Diálogos em Psicanálise - Anais da III
Jornada do LEPPSI e II Seminário do curso
de especialização em Clínica Psicanalítica
da UEL
1ª. Edição
Londrina/PR
Universidade Estadual de Londrina
2017
Catalogação na publicação elaborada pela Divisão de Processos Técnicos da
Biblioteca Central da Universidade Estadual de Londrina.
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
J82a Jornada do LEPPSI (3. : 2017 : Londrina, PR)
Anais da III Jornada do LEPPSI e [do] II Seminário do Curso de
Especialização em Clínica Psicanalítica da UEL [livro eletrônico] : Diálogos
em psicanálise / Organizadoras: Maíra Bonafé Sei, Maria Elizabeth Barreto
Tavares dos Reis. – Londrina : UEL, 2017.
1 Livro digital.
Inclui bibliografia.
Disponível em:
http://www.uel.br/projetos/leppsi/pages/eventos/iii-
jornada-leppsi.php.
Sumário
Apresentação ............................................................................................................................................................................................. 1 Estudos e Pesquisas em Psicanálise: um caminho a seguir ............................................................................................ 2
Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis ........................................................................................................................ 2 Palestra ......................................................................................................................................................................................................... 4
Breve apresentação de Sándor Ferenczi ................................................................................................................................. 5 Daniel Polimeni Maireno .......................................................................................................................................................... 5
Resumos expandidos............................................................................................................................................................................ 10 O manejo da transferência na relação terapêutica com adolescentes: relato de experiência ....................... 11
Amanda Lays Monteiro Inácio; Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis ..................................................... 11 A contratranferência na clínica atual ...................................................................................................................................... 17
Jéssica Gehring Palladino de Souza Dutra1; Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis ............................ 17 Dificuldades afetivo-emocionais na infância: a psicoterapia psicanalítica frente à medicalização ............ 22
Juliana Mistrini Veríssimo; Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis ............................................................. 22 Um estudo da relação parental na adolescência sob o ponto de vista psicanalítico .......................................... 27
Marisa de Cássia Domingues Subtil de Almeida; Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis .................. 27 Um olhar para o masculino na clínica psicanalítica .......................................................................................................... 32
Solange Gomes de Melo Viol; Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis ......................................................... 32 Medidas socioeducativas: adolescência e a vulnerabilidade para o ato infracional .......................................... 37
Anderson José Rodrigues; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida .................................................................... 37 Algumas expressões do falso self a partir de um caso clínico com adolescente .................................................. 42
Isabella Suttini Ferreira; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida ....................................................................... 42 As contribuições da Psicanálise para o tratamento de adictos na clínica psicanalítica ................................... 48
Márcia Camacho da Silva Cordér; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida; Mauro Fernando Duarte 48 Em se tratando de atendimento infantil, quem é o paciente? ...................................................................................... 52
Maristela Helfenstein; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida; Paulo Victor Bezerra .............................. 52 Depressão na contemporaneidade: uma análise do filme “Entre Abelhas” ........................................................... 57
Mayra Ramalheira de Almeida; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida; Paulo Victor Bezerra ............ 57 Possibilidades da psicanálise em casos de alienação parental .................................................................................... 62
Naiara Calvi Oliveira; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida .............................................................................. 62 Psicossomática: contribuições de Winnicott e Joyce McDougall ................................................................................ 67
Rosilene Devechi; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida; Mauro Fernando Duarte ................................ 67 A mãe que não se torna desnecessária e suas possíveis consequências para o amadurecimento do seu filho nos estágios iniciais da vida .............................................................................................................................................. 72
Vanessa Cristina Paviani; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida ..................................................................... 72 A função paterna: uma relação direta a partir do complexo de Édipo masculino sob um enfoque psicanalítico........................................................................................................................................................................................ 77
Cristiano Domingues da Silva; Ricardo Justino Flores .............................................................................................. 77 Repetição e relacionamentos amorosos ................................................................................................................................ 81
Homero Artur Belloni Silva; Ricardo Justino Flores ................................................................................................... 81 As saídas possíveis do Édipo e suas implicações nos (des)encontros do amor ................................................... 86
Mariana Mota Mesquita; Ricardo Justino Flores .......................................................................................................... 86 Resumos ..................................................................................................................................................................................................... 92
A teoria winnicottiana e o falso self: um estudo de caso ................................................................................................ 93 Amanda Lays Monteiro Inácio; Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis ..................................................... 93
Implicações dos aspectos psicológicos em uma avaliação com finalidade de mudança de sexo ................. 94 Amanda Lays Monteiro Inácio; Amália Clivati Cauduro; Eduardo Yudi Huss; Katya Luciane de Oliveira; Patrícia Silva Lúcio; Patricia Emi de Souza .................................................................................................. 94
Reflexões atuais sobre o processo de individualização em gêmeos ......................................................................... 95 Beatriz Cristina Gallo; Maria Elizabeth Barreto Tavares Dos Reis; Silvia Nogueira Cordeiro ................. 95
Grupo de Dinâmicas: Conversando sobre a Adolescência ............................................................................................. 96 Beatriz Cristina Gallo; Lara Balera; Daniel Polimeni Maireno ............................................................................... 96
Congresso nacional sobre relacionamento familiar (conaref) .................................................................................... 97 Cristiane Castilho Cadan ......................................................................................................................................................... 97
Os atravessamentos institucionais no atendimento com crianças a partir de um viés psicanalítico ........ 99 Debora Lydines Martins Corsino; Maíra Bonafé Sei ................................................................................................... 99
Malandramente, uma menina inocente: reflexões sobre o manejo da psicoterapia com adolescentes . 101
Felipe de Souza Barbeiro; Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis ............................................................ 101 Os processos de saúde-doença em mulheres: um estudo a partir da Escala Diagnóstica Adaptativa Operacionalizada Redefinida (EDAO-R). ............................................................................................................................ 102
Flávia Angelo Verceze; Silvia Nogueira Cordeiro ...................................................................................................... 102 Pulsão de morte articulada ao corpo: sintoma? .............................................................................................................. 103
Isadora Nicastro Salvador; João Pedro Gomes Previdello; Claudia Maria de Sousa Palma ................... 103 Atividades dos projetos de Extensão e Pesquisa que lidam com a Adolescência e Escolha Profissional - aplicação do EMEP e outras técnicas psicológicas ......................................................................................................... 104
Rosemarie Elizabeth Schmidt Almeida; Jádia Cristina Dos Santos; Giovanna Sandoval Fioresi; Geovanna Moreno Cianca; Jéssica Cardoso Roque; Rafaela Grumadas Machado ...................................... 104
A Clínica Dermatológica e a sua articulação com o Serviço de Psicologia ........................................................... 106 Leonardo Piva Botega; Paula Medri; Claudia Maria de Sousa Palma ............................................................... 106
Subjetividade e maternidade: um caso clínico ................................................................................................................. 108 Luciane Cristina de O. Carnaúba; Maíra Bonafé Sei ................................................................................................. 108
Aplicando o “Holding” em uma clínica psicológica universitária ............................................................................ 109 Luciane Cristina de O. Carnaúba; Maíra Bonafé Sei ................................................................................................. 109
Modalidades de Intervenção em Orientação Profissional .......................................................................................... 110 Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida; Manuela dos Reis Parenti; Geovanna Moreno Cianca; Giovanna Sandoval Fioresi .................................................................................................................................................. 110
Transferência no atendimento clínico de crianças autistas ....................................................................................... 111 Márcia Camacho da Silva Cordér; Maristela Helfenstein; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida ... 111
O serviço de Plantão Psicológico da UEL como dispositivo da Atenção Básica de Saúde: Psicologia, políticas públicas e a rede de saúde mental ...................................................................................................................... 112
Maria Lúcia Mantovanelli Ortolan; Gabriel Candido Paiva; Paulo Victor Bezerra; Maíra Bonafé Sei 112 Psicanálise, instituição e grupos: a escuta psicanalítica nos Grupos de Dinâmicas do serviço-escola de Psicologia da UEL .......................................................................................................................................................................... 113
Maria Lúcia Ortolan; Gabriel Candido Paiva; Daniel Polimeni Maireno; Maíra Bonafé Sei ................... 113 A psicoterapia psicanalítica com adolescentes e uso de jogos nas sessões ........................................................ 114
Maristela Helfenstein; Maíra Bonafé Sei ....................................................................................................................... 114 O setting e o manejo da clínica winnicottiana .................................................................................................................. 116
Maristela Helfenstein; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida ......................................................................... 116 Abuso sexual: função materna, proteção e (des)proteção na perspectiva da psicanálise ........................... 117
Simone Paula A. Rodrigues; Gabriela Lorena Massardi ......................................................................................... 117 Abuso sexual e trauma na constituição do psiquismo sob o ponto vista da psicanálise............................... 118
Simone Paula A. Rodrigues; Gabriela Lorena Massardi ......................................................................................... 118 O ineditismo da psicanálise na exploração da psique .................................................................................................. 119
Vinícius Xavier Cintra Marangoni; Mary Yoko Okamoto ....................................................................................... 119 Os limites do pronto atendimento psicológico e a questão do encaminhamento............................................ 120
Ana Letícia Alves Morais; Gabriel Candido Paiva; Paulo Victor Bezerra; Maíra Bonafé Sei .................. 120 A psicoterapia familiar na adoção: cuidado em Saúde Mental ................................................................................. 122
Caroline da Silva Fantini; Maíra Bonafé Sei ................................................................................................................. 122 A Psicose na infância a partir do viés winnicottiano, e o setting no dispositivo de saúde mental pós reforma psiquiátrica: relato de experiência de um Caps Infantil ............................................................................ 123
Caroline da Silva Fantini; Maíra Bonafé Sei ................................................................................................................. 123 A função simbolizante da creche no processo de subjetivação do bebê .............................................................. 125
Cleide Vitor Mussini Batista ............................................................................................................................................... 125 Crianças autistas e psicóticas: por uma construção de uma escola ........................................................................ 126
Cleide Vitor Mussini Batista ............................................................................................................................................... 126 Do “quintal” da escola: ................................................................................................................................................................ 127 Por um protocolo de observação dos brincares da criança ............................................................................................... 127
Cleide Vitor Mussini Batista; Paloma de Campos Ale Pereira ............................................................................. 127 Breve discussão sobre a atuação em psicologia hospitalar ....................................................................................... 129
Daiane Franciele Costa; Estela Parrilha Casemiro da Silva; Jaqueline Bezerra Ferreira; Luana Dias da Silva; Maria Gabriela Lima Gomes; Daniela Maria Maia Veríssimo .................................................................. 129
Breves considerações sobre o vínculo professor-aluno: Um olhar Psicanalítico ............................................. 131 Daniella de Souza Balduino; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida ............................................................. 131
A oferta de atendimento na Clínica Psicológica da UEL a partir de um programa de Extensão ................ 132 Debora Lydines Martins Corsino; Felipe Montes Trevisan; Maíra Bonafé Sei ............................................. 132
Projeto de intervenção com adolescentes em processo de medida socioeducativa ....................................... 134
Estela Parrilha Casemiro da Silva; Maria Gabriela Lima Gomes; Thaís Yazawa ......................................... 134 A escuta como ferramenta de trabalho no pronto atendimento psicológico ..................................................... 135
Gabriel Candido Paiva; Paulo Victor Bezerra; Maíra Bonafé Sei ........................................................................ 135 Adolescência e a escolha profissional: o tempo do devir ............................................................................................ 137
Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida; Geovanna Moreno Cianca................................................................. 137 Atendimento familiar em clínica-escola: algumas reflexões sobre a resistência no processo terapêutico em famílias encaminhadas pelo sistema judiciário de Londrina ............................................................................. 139
Hellen Lima Buriolla; Hévila de Fátima P. Pereira; Maíra Bonafé Sei .............................................................. 139 Relato de Caso: Avaliação psicológica de uma criança encaminhada por suspeita de deficiência intelectual: divergências entre a avaliação formal e informal .................................................................................. 140
Hellen Lima Buriolla; Jaqueline Alvernaz de Miranda; Eduardo Yudi Huss; Patrícia Silva Lúcio; Katya Luciane de Oliveira ................................................................................................................................................................. 140
A ansiedade a partir dos conceitos de Freud .................................................................................................................... 142 Hévila de Fátima P. Pereira; Jéssica Guirardelli; Mauro Fernando Duarte.................................................... 142
Adolescência e Escolha Profissional de Adolescentes do Ensino Médio na cidade de Londrina –PR. .... 144 Rosemarie Elizabeth Schmidt Almeida; Jádia Cristina Dos Santos; Giovanna Sandoval Fioresi; Geovanna Moreno Cianca; Jéssica Cardoso Roque; Rafaela Grumadas ......................................................... 144
Uma articulação entre a psicanálise e a arte na saúde mental ................................................................................. 146 Josemar Santos de Matos; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida ................................................................. 146
A transmissão transgeracional na trilogia tebana.......................................................................................................... 147 Josemar Santos de Matos; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida ................................................................. 147
Os casos de histeria no Plantão Psicológico da UEL: a importância das supervisões para o desenvolvimento de raciocínio diagnóstico e manejo clínico do psicólogo ....................................................... 148
Maria Lúcia Mantovanelli Ortolan; Ana Letícia Alves Morais; Gabrieli Zaros Granusso; Paulo Victor Bezerra......................................................................................................................................................................................... 148 Maíra Bonafé Sei ...................................................................................................................................................................... 148
Ansiedade em psicanálise: um recorte clínico. ................................................................................................................ 150 Mayra Cristina Teixeira Batista; Carolina Caires Motta ......................................................................................... 150
Atenção à saúde da mulher: relato de experiência ........................................................................................................ 151 Nathália Tavares Bellato Spagiari; Sílvia Nogueira Cordeiro; Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis ................................................................................................................................................................................................ 151
Percepções do psicólogo-observador sobre a relação mãe-bebê e equipe de saúde na visita puerperal: o método Bick ..................................................................................................................................................................................... 152
Nathália Tavares Bellato Spagiari; Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis; Sílvia Nogueira Cordeiro....................................................................................................................................................................................... 152
Impactos cognitivos da depressão infantil sob a ótica da avaliação psicológica .............................................. 154 Patricia Emi de Souza; Amanda Lays Monteiro Inácio; Larissa Botelho Gaça ............................................. 154
Aspectos cognitivos e atencionais em uma avaliação psicológica no contexto de trânsito ......................... 155 Patrícia Emi de Souza; Eduardo Yudi Huss; Amanda Lays Monteiro Inácio; Katya Luciane de Oliveira ......................................................................................................................................................................................................... 155
A avaliação psicológica e a influência de questões emocionais em um caso de dificuldade de aprendizagem ................................................................................................................................................................................. 156
Patricia Emi de Souza; Lana Raquel Piassa; Amanda Lays Monteiro Inácio; Patrícia Silva Lúcio; Katya Luciane de Oliveira ................................................................................................................................................................. 156
Relato de experiência de atendimento clínico à pessoa idosa .................................................................................. 158 Vanessa Cristina Paviani; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida .................................................................. 158
Manejo da técnica em um caso de paciente com tentativas de suicídio ............................................................... 159 Vanessa Cristina Paviani; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida .................................................................. 159
Comissões
Comissões
Comissão Científica
Maíra Bonafé Sei
Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis
Ricardo Justino Flores
Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida
Sílvia Nogueira Cordeiro
Organização dos Anais
Maíra Bonafé Sei
Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis
Programação
Programação
27 de abril /2017
Horário Atividade
8h00 – 8h30 Credenciamento
8h15 – 8h30 Abertura
08h30 – 9h30 Conferência de Abertura: Clínica Psicanalítica na Infância Coordenadora: Profa. Dra. Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis
Palestrante: Psicanalista Niracema Kuriki
9h30 – 10h00 Coffee break e Apresentação de pôsteres e lançamentos de livros
10h00 – 12h00 Mesa 1: Contribuições teórico-práticas à clínica psicanalítica na atualidade
Coordenadora da mesa: Profa. Dra.Maíra Bonafé Sei Sandor Ferenczi – Prof. Dr. Daniel Polimeni Maireno Thomas Ogden – Prof. Dr. Cleto Rocha Pombo Filho
13h00-14h00 Roda de conversa sobre o mestrado o Mestrado de Psicologia na UEL
14h00 – 15h30 Mesa 2: Os desafios da Psicanálise no contexto hospitalar Coordenadora da mesa: Profa. Dra.Sílvia Nogueira Cordeiro
Palestrantes:
Ana Lilian Marchesoni Parrelli (HU/UEL) Patrícia Maria Fassina Lepri (HU/UEL) Maria Terezinha Meira Lopes Monteiro (HU/UEL)
15h30 – 16h00 Coffee break, Apresentação de pôsteres e lançamentos de livros
16h00 – 18h00 Supervisão pública de caso clínico Coordenadora: Profa. Dra. Rosemarie Elizabeth Schmidt Almeida
Supervisora: Psicanalista Lucia A. Barreto Osti
Seminário especialização em Clínica Psicanalítica
28 de abril /2017
Horário Atividade
8h00 – 9h30 Sessão de Apresentação Oral 1 Sessão de Apresentação Oral 2
9h30 – 10h00 Coffee break
10h00 – 12h00 Sessão de Apresentação Oral 3 Sessão de Apresentação Oral 4
12h00 - 14h00 Almoço
14h00 – 15h30 Sessão de Apresentação Oral 5 Sessão de Apresentação Oral 6
15h30 – 16h00 Coffee break 16h00 – 18h00 Sessão de Apresentação Oral 7 Sessão de Apresentação Oral 8
Diálogos em Psicanálise - Anais da III Jornada do LEPPSI e II Seminário do curso de especialização em Clínica Psicanalítica da UEL
ISBN 978-85-7846-424-0 1
Apresentação
Diálogos em Psicanálise - Anais da III Jornada do LEPPSI e II Seminário do curso de especialização em Clínica Psicanalítica da UEL
ISBN 978-85-7846-424-0 2
Estudos e Pesquisas em Psicanálise: um caminho a seguir
Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis
O Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicanálise (LEPPSI) visa o estudo, o
ensino, a pesquisa, a extensão e a difusão da psicanálise no contexto universitário
nacional e internacional, tendo como uma das atividades a realização de Jornadas
científicas.
A III Jornada do Laboratório de Estudo e Pesquisa em Psicanálise (LEPPSI)
teve como objetivo estabelecer Diálogos em Psicanálise, com o intuito de fomentar o
estudo e aplicação da Psicanálise nos diversos pilares da academia – ensino, pesquisa e
extensão, bem como incentivar na comunidade o interesse pelo estudo e aplicação da
psicanálise tanto na clínica quanto nos serviços de saúde.
Os Diálogos em Psicanálise iniciaram com a conferência “Clínica Psicanalítica na
Infância”, onde foi possível refletir sobre a temática frente às novas configurações da
família e cuidados destinados à infância. Na mesa redonda “Contribuições teórico-
práticas à clínica psicanalítica na atualidade”, foram apresentadas as contribuições de
Sandor Ferenczi e Thomas Ogden à clínica psicanalítica na contemporaneidade. Na mesa
sobre “Os desafios da Psicanálise no contexto hospitalar” foi possível dialogar sobre a
atuação do serviço de Psicologia no Hospital Universitário da UEL, demonstrando as
dificuldades encontradas na realização das atividades e principalmente os benefícios
vivenciados pelos usuários atendidos. Finalmente, através do “Seminário Clínico” foi
possível dialogar a respeito da psicoterapia psicanalítica na atualidade.
O evento contou com a participação de pós-graduandos através do “II Seminário
de Pesquisa do Curso de Especialização em Clínica Psicanalítica” que contribuíram com a
apresentação oral de 18 trabalhos científicos que estão sendo elaborados pelos
acadêmicos do referido curso. Além disso, 50 trabalhos no formato pôster, elaborados
por graduandos, pós-graduandos, psicólogos e educadores provenientes de
universidades do Paraná e São Paulo.
As atividades realizadas contribuíram para a divulgação e atualização de
atividades teórico-práticas tanto no contexto do ensino da Psicanálise quanto na atuação
dos psicólogos na clínica e nos serviços de saúde.
Diálogos em Psicanálise - Anais da III Jornada do LEPPSI e II Seminário do curso de especialização em Clínica Psicanalítica da UEL
ISBN 978-85-7846-424-0 3
Agradecemos aos profissionais que aceitaram o convite e certamente
contribuíram para o sucesso do evento, à comissão organizadora e científica pela
elaboração da proposta e participação efetiva nas diversas etapas da realização da
Jornada, aos monitores e à Empresa Elo pelo auxílio logístico tanto do evento quanto
desta publicação.
Diálogos em Psicanálise - Anais da III Jornada do LEPPSI e II Seminário do curso de especialização em Clínica Psicanalítica da UEL
ISBN 978-85-7846-424-0 4
Palestra
Diálogos em Psicanálise - Anais da III Jornada do LEPPSI e II Seminário do curso de especialização em Clínica Psicanalítica da UEL
ISBN 978-85-7846-424-0 5
Breve apresentação de Sándor Ferenczi
Daniel Polimeni Maireno
Um dos mais criativos e audazes colaboradores de Freud, certamente aquele com
quem o pai da psicanálise estabelecera maior intimidade, Ferenczi foi um defensor e
propagador incansável da doutrina freudiana. Escreveu excelentes textos de introdução
à psicanálise, equiparáveis aos escritos por Freud com o mesmo objetivo. Dentre todos
os seus discípulos, era Ferenczi quem Freud mais acionava para publicamente
questionar as teorias de dissidentes como Adler e Jung, bem como para responder às
críticas vindas de diversas autoridades acadêmicas da época. Compreensível, então,
porque Freud orgulhosamente referiu-se a ele como um colaborador "que equivale a
uma sociedade inteira" (1914/2012, p. 281).
Paradoxalmente, Ferenczi foi também um crítico perspicaz – e, para muitos de
seus contemporâneos, bastante incômodo – de determinados pontos dessa mesma
teoria que tanto defendia e propagava, especialmente nos pontos que dizem respeito
diretamente à terapêutica psicanalítica, à performance do psicanalista, à sua
disponibilidade intelectual e emocional etc. Compreensível, então, porque Freud
reservadamente referiu-se a ele como o "padrinho de toda técnica transgressiva" (cf.
Sanches, 1993, p. 91).
Tais questionamentos, no entanto, jamais fizeram com que Ferenczi se tornasse
mais um dissidente do movimento psicanalítico. Segundo Green, Ferenczi poderia ser
legitimamente chamado de "o pai de grande parte da psicanálise contemporânea" (cf.
COELHO JUNIOR, 2004, p. 80). No mesmo sentido, Kezem afirma que "[...] as
controvérsias entre os dois expoentes da psicanálise é um divisor de águas entre a fase
clássica e a fase contemporânea da psicanálise." (2010, p. 23) – o que justifica, enfim,
falar de Ferenczi neste evento promovido pelo Laboratório de Estudos e Pesquisa em
Psicanálise da UEL, numa mesa que pretende discutir a psicanálise na
contemporaneidade.
Com Ferenczi vê-se surgir um real entusiasmo em encarar clinicamente
modalidades de sofrimento estranhas àquele funcionamento neurótico que marcara as
primeiras descobertas freudianas, formas de sofrimento que pareciam implicar
mecanismos defensivos diferentes do recalque, e cujos movimentos pulsionais
Diálogos em Psicanálise - Anais da III Jornada do LEPPSI e II Seminário do curso de especialização em Clínica Psicanalítica da UEL
ISBN 978-85-7846-424-0 6
percorriam caminhos outros que não os do sintoma neurótico. Situações clínicas, enfim,
que pareciam demandar uma atuação terapêutica diferente da utilizada na lida com as
neuroses de transferência.
Não há dúvidas de que tais diversidades clínicas atraíam a atenção de muitos à
época, incluindo o próprio Freud. Mas foi Ferenczi quem de forma mais substanciosa
promoveu experimentações terapêuticas com tais pacientes. Segundo Mezan,
Freud se torna mais sensível aos diversos fatores que, na vida psíquica, parecem
colocar fora de circuito o princípio do prazer e as organizações neuróticas que
dele dependem. Traumatismos devastadores, sentimentos de culpa acachapantes,
masoquismos gravíssimos, reações terapêuticas negativas, vivências catastróficas
de desorganização, dor psíquica insuportável, inércia ou viscosidade da libido –
toda esta gama de fenômenos, qualitativamente diferentes daqueles a que a
psicanálise se dirigira até então, passa a receber mais atenção teórica por parte
dele, e mais atenção clínica por parte de seus discípulos, em particular Ferenczi
(2014, p. 199, grifo nosso).
Dessas incursões pelos casos mais desafiadores surgiram noções que marcaram
especialmente os últimos anos de sua vida, tais como a de elasticidade, tato, neocatarse,
mutualidade, entre outras, e que têm sido revisitadas pelos psicanalistas de hoje por sua
capacidade de nos fazer pensar os limites e as potencialidades da ação psicanalítica em
nossa época, tão marcada por formas de sofrimento que transbordam qualquer
enquadre inflexível.
Segundo Fédida, é em Ferenczi que se encontra de uma maneira mais
transparente um questionamento do ofício psicanalítico em que viu-se o "[...] abandono
crescente de qualquer expectativa de 'uniformização objetiva' da técnica [...] a des-
objetivação da técnica, com a maior ênfase dada ao funcionamento psíquico do analista
[...]" (1988, p. 11), o que aumentou ainda mais o alerta ferencziano quanto à necessidade
peremptória da segunda regra fundamental da psicanálise: a análise pessoal do analista.
Ao nomear esta última de "análise autêntica", Ferenczi pretendia criticar a "análise
didática" que, em seu entendimento, permanecia em geral numa superficialidade estéril,
coadunando na formação de analistas carregados de um excesso de saber intelectual,
mas com uma escassa assunção de suas próprias subjetividades. Trata-se de uma crítica
que se afina com o ulterior questionamento lacaniano sobre a formação nos institutos
tradicionais de psicanálise, bem como suas formulações sobre o desejo do analista:
Diálogos em Psicanálise - Anais da III Jornada do LEPPSI e II Seminário do curso de especialização em Clínica Psicanalítica da UEL
ISBN 978-85-7846-424-0 7
segundo Kupermann, "[...] os problemas suscitados por Lacan (1964) através da noção
de 'desejo do analista' não são estranhos aos problemas tratados por Ferenczi em seu
Diário Clínico." (2003, p. 48, nota de rodapé)
Vem também dessa última fase de sua vida as críticas mais contundentes ao
"fanatismo da interpretação" (FERENCZI, 1928/2011, p. 38), bem como às diversas
formas de resistência do analista:
Uma espécie de fé fanática nas possibilidades de êxito da psicologia da
profundidade fez-me considerar os eventuais fracassos menos como
consequência de uma 'incurabilidade' do que da nossa própria inépcia, hipótese
que me levou necessariamente a modificar a técnica nos casos difíceis em que era
impossível obter êxito com a técnica habitual. [...] a causa do fracasso será sempre
a resistência do paciente, não será antes o nosso próprio conforto que desdenha
adaptar-se às particularidades da pessoa, no plano do método? (1931/2011, p.
81)
O que lembra a famosa provocação de Lacan – novamente! – segundo a qual "[...]
não há outra resistência à análise senão a do próprio analista" (1958/1998, p. 601). Não
é coincidência, portanto, que Ferenczi e Lacan tenham sido marginalizados, cada um em
sua época, pelas forças políticas mais tradicionais do campo psicanalítico.
Ferenczi avançou sobre um tema problematizado, porém pouco discutido, por
Freud: a contratransferência. Segundo Haynal, "todo o assunto [sobre a
contratransferência] se tornou um fardo muito pesado e um grande problema, era
considerado um segredo sobre o qual não se poderia falar abertamente. Ferenczi foi
aquele que teve que trazê-lo à luz do dia [...]" (2004, p. 14, tradução nossa).
Avançou também em outro tema que, este sim, receberia também de Freud
crescente dedicação, especialmente a partir de 1920: a constituição do Eu. O artigo O
desenvolvimento do sentido de realidade e seus estágios, segundo Balint (1968/2011), foi
"sem dúvida o primeiro artigo que se escreveu sobre o desenvolvimento do ego" (cf.
FERENCZI, 2011, v. II, p. XI), uma tentativa de Ferenczi de complementação das noções
sobre o desenvolvimento da libido avançadas por Freud.
Por outro lado, Ferenczi também foi um precursor da escola das relações de
objeto: especialmente seus últimos trabalhos permitem concebê-lo, segundo Mezan,
como
Diálogos em Psicanálise - Anais da III Jornada do LEPPSI e II Seminário do curso de especialização em Clínica Psicanalítica da UEL
ISBN 978-85-7846-424-0 8
[...] o ponto de partida de uma corrente que irá valorizar o ambiente familiar e
social no qual se desenvolve o sujeito, e, do ponto de vista técnico, recomendar
uma postura conforme a esta perspectiva genética, diferente da clássica, que seria
demasiado rígida: a escola das relações de objeto. (2014, p. 349)
Uma leitura dos textos de Ferenczi evidencia a antecipação de muitas outras
noções que se tornariam fundamentais em determinadas correntes do pensamento
psicanalítico, que podem apenas ser mencionadas aqui. É o caso, por exemplo, da noção
de regressão terapêutica, cujos desenvolvimentos alcançaram importância notória na
obra de Winnicott, como estratégia alternativa à clínica da interpretação: "[...] em vez de
falar da criança que habita o analisando através do instrumento interpretativo, seria
preciso voltar a falar com a criança que se expressa em cada paciente em análise."
(KUPERMANN, 2008, p. 83, grifos do autor). Ainda segundo este autor, haveria em
Ferenczi uma passagem da clínica fundamentalmente freudiana balizada pela tríade
associação livre - princípio de abstinência - interpretação para uma clínica balizada pela
tríade associação livre - regressão - jogo – este último elemento influenciado pelas
primeiras tentativas na história da psicanálise de realizar psicanálise com crianças.
Falando em Winnicott, cabe mencionar que as noções ferenczianas de clivagem
narcísica e progressão traumática antecipam de forma surpreendente a noção de falso
self tão cara ao pensamento winnicottiano.
Ferenczi também pode ser uma instigante referência para os interessados na
abordagem psicanalítica de fenômenos somáticos, pois seus escritos sobre tiques,
convulsões epilépticas, gagueira, impotência sexual, ejaculação precoce, entre outros
temas, contribuíram para embaçar as fronteiras entre soma e psique, tornando
imprecisas suas delimitações.
Para finalizar, espera-se que esta diversidade de temas e linhas de raciocínio
possa favorecer uma aproximação a esta figura fundamental da história da Psicanálise
que, apesar de cronologicamente distante, parece ter muito com o que contribuir para os
desafios da psicanálise na contemporaneidade. E que esta aproximação se dê
independente das preferências teóricas e metodológicas de cada um, pois a obra de
Ferenczi – aliás, como a de Freud – permite-se ser apreciada pelos mais diversos ângulos
e interesses. Pensando a partir dessa diversidade, talvez Freud estivesse mesmo certo
quando escreveu que os trabalhos de Ferenczi "converteram todos os analistas em seus
discípulos" (1933/2010, p. 467)
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Resumos expandidos
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O manejo da transferência na relação terapêutica com adolescentes:
relato de experiência
Amanda Lays Monteiro Inácio 1; Maria Elizabeth Barreto Tavares dos
Reis2
Palavras-chave: Adolescência. Atendimento Clínico. Relato de Experiência.
Transferência.
Introdução
A transferência é um fenômeno humano natural que ocorre em nosso cotidiano e
se aplica a diversas situações. No entanto, possui um valor único, sendo considerada
como um conceito fundamental utilizado em todo tratamento psicanalítico, tendo
características particulares dentre os teóricos, como Freud (1912) e Winnicott (1971),
abordados, no presente estudo. A transferência, juntamente com a resistência e
interpretação são considerados o tripé fundamental da prática psicanalítica (Zimerman,
2004).
Laplanche e Pontalis (2001) definem transferência como “processo pelo qual os
desejos inconscientes se atualizam sobre determinados objetos no enquadre de um
certo tipo de relação estabelecida com eles e, eminentemente, no quadro da relação
analítica” (p.514). Nesse sentido, a transferência pode ser compreendida como a
repetição dos moldes infantis, substituindo aquilo que não pode ser lembrado, a partir
do deslocamento de afeto de uma representação para outra. Assim, a relação do
indivíduo com as figuras de sua infância é revivida na relação com o analista (Martins,
2014).
Por meio da análise do caso Dora, Freud (1905) descobriu a importância da
transferência para a psicanálise, afirmando que o tratamento psicanalítico, não cria a
transferência, mas releva sua existência. Desde então, o autor observa que a
transferência pode ser um importante aliado ao trabalho em psicanálise (Sato, 2010).
1 Psicóloga, pós-graduanda do curso de especialização em Clínica Psicanalítica e mestranda do programa de pós-graduação em Educação pela Universidade Estadual de Londrina –UEL. E-mail: [email protected]. 2 Professora Doutora do Departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina – UEL. E-mail: [email protected].
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Sendo assim, afirma que “a transferência, destinada a constituir o maior obstáculo à
psicanálise, converte-se em sua mais poderosa aliada quando se consegue detectá-la a
cada surgimento e traduzi-la ao paciente” (Freud, 1905, p. 112).
A relação transferencial para Winnicott se baseia no paradigma da relação mãe e
bebê, pois a própria relação analítica pode ser vista como uma forma de reviver essa
relação primitiva. Nesse sentido, faz-se alusão ao papel da “mãe suficientemente boa”,
como aquela que por meio de sua sensibilidade exacerbada, consegue identificar
consciente e inconscientemente as necessidades do seu bebê, processo necessário para
seu bom desenvolvimento. Winnicott se baseia no conceito da "mãe suficientemente
boa" como norteador da transferência, para evidenciar a importância do terapeuta estar
identificado com o paciente e ao mesmo tempo permanecer atento a realidade externa,
nomeada como espaço potencial, uma área intermediária subjetiva e objetiva da qual o
terapeuta faz uso no contexto da psicoterapia (Januário & Tafuri 2010).
Diante do enfoque da transferência enquanto elemento fundamental presente na
prática clínica psicanalítica surge a necessidade de compreendê-la na clínica com
adolescentes, haja vista que essa faixa etária possui especificidades importantes a serem
consideradas. A adolescência, bem como a infância por si própria, pode ser considerada
como uma invenção moderna em nossa sociedade, sendo tema recorrente há cerca de
um século na história (Calligaris, 2000).
A teoria psicanalítica postulada por Freud sobre a importância das questões
relativas à infância na vida adulta dos indivíduos contribuiu de maneira geral também
para a compreensão da adolescência e suas vicissitudes. Nesse sentido, o complexo de
Édipo pode ser entendido como o campo central da vida sexual relativa à primeira
infância (Freud, 1924). Domingues, Domingues & Baracat (2009), ao discorrerem sobre
o período de latência, o caracterizam como o período após a dissolução do complexo de
Édipo, onde a criança deixa de sentir toda a excitação sexual em seu corpo e volta-se ao
seu desenvolvimento social e cognitivo. Com a chegada da puberdade, as exigências
pulsionais adquirem uma força maior e os objetos incestuosos da infância são
retomados.
Aberastury e Knobel (1981) remetem o período da adolescência à vivência de
lutos importantes, o luto pelo corpo infantil perdido, considerado a base biológica da
adolescência, o luto pelo papel e identidade infantis, onde ocorre a perda da
dependência e inserção das responsabilidades e o luto pelos pais da infância. Nesse
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sentido, o adolescente paira entre a dependência e a independência extremas, de modo
que somente a maturidade desenvolvida no final desse período lhe permitirá
compreender a necessidade dos limites. Sendo assim, esse período de caracteriza pelas
diversas contradições, fragilidades e ambivalências no contexto familiar e social, pois
todas as mudanças incontroláveis pelas quais estão passando dolorosamente são tidas
como uma invasão, motivo pelo qual o adolescente costuma de fechar em seu mundo
interno, a fim de reviver seu passado para conseguir então enfrentar o futuro.
O amadurecimento se mostra como uma questão central na adolescência, motivo
pelo qual a teoria de Winnicott sobre o amadurecimento pessoal representa grande
importância para o entendimento do tema proposto. Para o autor todo indivíduo é
dotado de uma tendência inata ao amadurecimento, essa tendência, no entanto, depende
fundamentalmente de um ambiente facilitador ao bebê que lhe forneça os cuidados
necessários e primordiais (Dias, 2008).
Se faz presente na adolescência o desejo de uma nova adaptação da realidade,
motivo pelo qual surge a arrogância, hostilidade, mentira, ironias e a necessidade de
confronto com a sociedade de modo geral. Desse modo, não há como evitar que o
adolescente passe por esse processo até chegar a maturidade, no entanto, é
imprescindível a existência de uma boa provisão ambiental por parte dos pais ou
responsáveis (Oliveira & Fulgencio, 2010).
Pode-se considerar que a adolescência possui um caráter universal permeado por
singularidades das quais a clínica psicanalítica atual possa abarcar através da escuta das
dores, lutos e fragilidades do adolescente. Esse papel é importante à medida que auxilia
no processo de subjetivação dos mesmos (Ayub & Macedo, 2011). A psicanálise de
adolescentes possui especificidades importantes a serem consideradas, sendo
necessário ao analista “sobreviver” às necessidades, pulsões e fantasias do adolescente
(Outeiral, 2012). Partindo desses pressupostos, o presente estudo tem por objetivo
analisar o tipo de manifestação transferencial que ocorre entre paciente e terapeuta na
clínica com adolescentes. Para tanto, serão utilizados fragmentos de um caso clínico.
Método
Trata-se de um estudo de caso de psicoterapia psicanalítica atendido em uma
clínica escola de Psicologia de uma universidade pública, com uma adolescente do sexo
feminino, denominada no presente estudo como Raquel. Os dados apresentados foram
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obtidos por meio de cerca de 15 sessões de atendimento psicanalítico realizadas
semanalmente com a adolescente. Para a realização do estudo foi feita análise do
discurso, utilizando uma metodologia qualitativa de análise de dados. A metodologia
qualitativa, segundo Turato (2005) direciona o pesquisador para o significado das
coisas, ou seja, não se busca compreender como ocorre determinado fenômeno, mas
sim, compreender seu significado e importância para a vida das pessoas.
Resultados e Discussão
O presente estudo ainda se encontra em desenvolvimento, no entanto já foi
possível identificar no material clínico advindo do caso de psicoterapia psicanalítica a
presença de manifestações tanto de transferência positiva quanto negativa,
influenciando o estabelecimento de vínculo paciente–psicoterapeuta no início do
tratamento. Ao longo do trabalho, pretende-se apresentar vinhetas dos atendimentos
realizados e analisa-las a partir da literatura psicanalítica sobre a temática da
transferência.
Durante as análises preliminares encontrou-se uma sessão onde a adolescente
relatou para a terapeuta, logo no início, que não gostaria de estar ali, tendo vindo contra
sua vontade e, no final da mesma sessão, informou que na próxima semana iria efetuar o
pagamento, enfatizando que pagaria com seu próprio dinheiro e não dos familiares por
ela responsáveis. Essa pequena vinheta ilustra um dos diversos momentos em que a
paciente faz um jogo com a terapeuta, de modo que ora se apresenta como uma pessoa
fechada, ora demonstra estar aberta ao trabalho da psicoterapia.
De acordo com Outeiral (2012), é comum ao adolescente a presença de oscilações
entre movimentos progressivos e regressivos, passando rapidamente por movimentos
transferenciais de amor e ódio, por meio de várias “idades” transferenciais. Desse modo,
durante uma mesma sessão pode-se observar uma adolescente determinada a agredir a
terapeuta e uma adolescente responsável que demanda pela continuidade do trabalho.
Considerações Finais
Até o momento, o presente estudo possibilitou uma melhor compreensão acerca
das características próprias do período da adolescência, principalmente no que se refere
ao âmbito da psicoterapia psicanalítica. Espera-se posteriormente contribuir para uma
melhor compreensão dos casos clínicos atendidos na adolescência, bem como analisar o
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tipo de manifestação transferencial que ocorre entre paciente e terapeuta na clínica com
adolescentes.
Referências
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A contratranferência na clínica atual
Jéssica Gehring Palladino de Souza Dutra 31; Maria Elizabeth Barreto
Tavares dos Reis4
Palavras-chave: contratransferência, atendimento clínico, psicanálise.
Introdução
De acordo com Laplanche & Pontalis (2001, p. 102) a contratransferência é o
“Conjunto das reações inconscientes do analista à pessoa do analisando e, mais
particularmente, à transferência deste”. Segundo Etchegoyen (2004) e Minerbo (2012),
Freud apresentou o termo contratransferência no texto: “As perspectivas futuras da
terapia psicanalítica” em 1910, no II Congresso Internacional de Psicanálise em
Nurenberg, onde descreveu a contratransferência como “a resposta emocional do
analista aos estímulos que provêm do paciente, como resultado da influência do
analisando sobre os sentimentos inconscientes do médico” (Etchegoyen, 2004, p. 156).
Nesse sentido, a contratransferência ocorre em função do paciente e constitui um
obstáculo a ser superado, já que se espera que o analista tome consciência de seus
sentimentos e os supere em prol do trabalho de análise. Para isso, Freud entendia ser
necessário um trabalho apurado de autoanálise, sendo esta indispensável para a prática
de um bom analista. Com exceção do caso Dora (Freud, 1905/1996), em que Freud
indica uma possível atitude contratransferencial quando o tratamento não mostra
progressos, o conceito não foi objeto específico de estudo na obra freudiana.
Segundo Etchegoyen (2004), em meados do século XX, quando a
contratransferência despertou a atenção de estudiosos da área, um esboço do conceito
apareceu nos estudos de H. Racker em 1953, analisando as experiências intuitivas de A.
Reich em 1933, sobre o caso de um paciente que não apresentava melhoras. A conclusão
de Racker no referido caso é que, determinados conteúdos relativos às frustrações do
paciente foram transferidos para o analista exercendo certa força castradora em sua
atuação, o fazendo sentir-se também impotente. Essa situação consistiria numa
3 Psicóloga, pós-graduanda do curso de especialização em Clínica Psicanalítica pela Universidade Estadual de Londrina – UEL. E-mail: [email protected] 4 Professora Doutora do Departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina – UEL. E-mail: [email protected].
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experiência contratransferencial.
Minerbo (2012) ao comentar sobre o mesmo artigo de Racker, ressaltou aspectos
importantes sobre a posição do analista no fenômeno da contratransferência, explicando
que, mesmo fazendo sua análise, está sujeito as influências de seus aspectos neuróticos
na prática de seu ofício, tendo em vista a característica atemporal do inconsciente e suas
manifestações. A contratransferência deixa de ser considerada um evento isolado na
sessão, e percebido como uma relação (Laplanche & Pontalis (2001). Nesse sentido, a
contratransferência não é mais considerada um problema a ser resolvido, porém como
uma oportunidade de trabalho analítico resultante da relação analista-paciente. A
contratransferência “já não é mais vista apenas como um perigo, mas também como um
instrumento sensível, que pode ser muito útil para o desenvolvimento do processo
analítico. (...) configura, de certo modo, o campo no qual se dará a modificação do
paciente” (Etchegoyen, 2004, p. 159). Por isso a contratransferência, atuaria de
maneiras diferentes e complementares: sendo um obstáculo, constituindo os pontos
cegos do analista, mas também entendida como um instrumento, visando identificar o
que acontece com o paciente, sobretudo quando se torna uma espécie de campo no qual
o paciente experimentará vivências diferentes das originárias. (Etchegoyen, 2004).
Laplanche & Pontalis (2001) explicam que, do ponto de vista técnico, três
orientações sobre contratransferência se fazem necessárias: a primeira diz respeito ao
analista conter consideravelmente as manifestações contratransferenciais pela análise
pessoal, de maneira que a situação analítica seja estruturada apenas pela transferência
do paciente; a segunda orientação consiste em utilizar a contratransferência no trabalho
analítico conforme a indicação de Freud, tendo em vista que todos possuímos
inconscientemente instrumentos que nos permitem interpretar as expressões
inconscientes dos outros (Freud, 1913); e a terceira afirma a necessidade do analista, na
formulação das interpretações, orientar-se pelas suas próprias reações
contratransferenciais, muitas vezes assimiladas, nesta perspectiva, às emoções sentidas.
Essa postura reafirma uma ideia autenticamente psicanalítica: a ressonância de
“inconsciente a inconsciente” como verdadeira comunicação.
A partir do entendimento do conceito de contratransferência como uma relação
entre pares – uma relação bipessoal e recíproca, Laplanche & Pontalis (2001) explanam
que as diferentes variações na conceituação do fenômeno levam em conta dois aspectos
relativos ao analista: a contratranferência seria qualquer intervenção no processo
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analítico resultante de características da personalidade do analista, ou, a
contratransferência seria uma produção inconsciente do analista consequência da
transferência do paciente.
Assim, para Minerbo (2012) a contratransferência é caracterizada por uma dupla
perspectiva, ela diz respeito aos sentimentos do analista, mas sobretudo às ações do
mesmo concernente ao processo analítico. A contratransferência seria o resultado da
transferência em um sentido mais abrangente, mais produtivo do ponto de vista da
elaboração e da resolução dos conflitos do paciente.
Com esses princípios de compreensão, diversos analistas desenvolveram sua
maneira de trabalho. A divergência pode surgir enquanto técnica, mas é certo que o
fenômeno da contratransferência se impõe e precisa ser manejado. Considera-se assim
que a contratransferência está presente na relação terapêutica e que a mesma tem como
referência a carga transferencial do paciente. Por conseguinte, a contratransferência do
analista pode demonstrar a implicação deste no processo, bem como seu compromisso
com o tratamento e a melhora do paciente, tendo sempre em vista a necessidade do
reconhecimento e do manejo das situações contratransferenciais, pois que em um
processo de análise entendido como relação, ambos participam e contribuem
(Etchegoyen, 2004). Portanto, a noção de relação no conceito de contratransferência,
extrapola a ideia dos sentimentos e das reações do analista para com o paciente.
Em razão da mudança no paradigma da contratransferência, passando a ser
entendida como um aspecto essencial na relação da dupla terapêutica, faz-se importante
a realização de estudos sobre o tema em uma perspectiva mais atual, na tentativa de se
compreender um pouco mais desse fenômeno no âmbito da clínica. Por isso o objetivo
desse trabalho consiste em compreender como a contratransferência está sendo
considerada atualmente na prática clínica. Nesse momento, a percepção que se tem é
que a contratransferência esteja sendo conceituada a partir da relação psicanalítica, ou
seja, como resultante da produção do par analítico, de maneira a levar em conta sua
contribuição ao tratamento do paciente.
Metodologia
Será realizado um levantamento dos artigos científicos, que tratam da temática,
disponíveis on line nos principais sites de busca, tais como SciELO, Pepsic. Bv saude,
Google Academico, Lilacs e outros, no período de 2006-2016 de acordo com o seguinte
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critério de inclusão: textos que abordem a contratransferência no contexto do
atendimento clínico individual.
O método utilizado será a revisão narrativa, a qual consiste em “uma revisão
qualitativa que fornece sínteses narrativas, compreensivas, de informação publicada
anteriormente” (Ribeiro, 2014, p. 07). A revisão narrativa pode ser utilizada em
explorações iniciais de um problema, bem como para integrar temáticas diversas;
consiste em recurso educativo e útil por reunir informações relevantes apresentadas
sob um ponto vista coerente e amplo do tema a ser tratado, além disso a interpretação
dos conteúdos coletados possibilita a manifestação da análise crítica a partir da
subjetividade dos autores do trabalho a ser realizado.
Resultados e Discussão
A pesquisa encontra-se em andamento, logo, os resultados agora apresentados
são ainda preliminares.
De acordo com os artigos disponíveis on line que atendem aos critérios
metodológicos, observou-se que a contratransferência é considerada aspecto
fundamental do método psicanalítico, pois implica no compromisso inconsciente do
analista com seu paciente e na disponibilidade subjetiva deste para atender às
solicitações transferenciais. Esse aspecto da contratransferência a faz ocupar um lugar
importante na relação do par analítico, quando se presta ao serviço de acatar a
transferência com todas as suas peculiaridades, a partir da escuta analítica.
Em oposição ao pensamento clássico psicanalítico, a contratransferência é
atualmente concebida como componente atuante no processo analítico pois ela oferece
maiores e melhores possibilidades de interpretação em razão do vínculo inconsciente da
dupla analítica. Zambelli, Tafuri, Viana e Lazzarini (2013) explicam que o fato do analista
se utilizar de sua vivência emocional criando um espaço subjetivo para a compreensão
da condição psíquica do paciente constitui um enorme proveito, já que ele transforma
sua subjetividade em aliada para o manejo da transferência.
Conclusão
Os estudos sobre a contratransferência, da mesma maneira que progrediram ao
longo dos anos, ainda podem avançar e possibilitar formas de trabalho que favoreçam o
acolhimento, manejo adequado, interpretações apropriadas e possibilidades de sucesso
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na análise. Portanto, este trabalho não tem a pretensão de esgotar o assunto, mas
realizar reflexões e apontamentos sobre o tema, além de contribuir para o entendimento
de princípios essenciais para a prática clínica psicanalítica.
Referências
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Dificuldades afetivo-emocionais na infância: a psicoterapia
psicanalítica frente à medicalização
Juliana Mistrini Veríssimo 5; Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis 6
Palavras-chave: Psicanálise; Infância; Medicalização.
Introdução
Muitas das demandas de psicoterapia infantil estão relacionadas às dificuldades
de aprendizagem, no entanto, tem sido fator de inquietação o fato de a prescrição
medicamentosa ser utilizada como primeiro procedimento adotado para tratamento por
profissionais da saúde.
A dificuldade de aprendizagem tem sido difundida de forma marcante pela mídia
leiga, pelas capas de revista semanais, revistas dirigidas aos pais e nas páginas de jornal
dedicadas a ciência. Nas escolas, o saber médico, difundido por essa mídia, faz com que
professores e coordenadores professem diagnósticos diante da observação de certos
comportamentos das crianças, principalmente de TDAH – Transtorno de Déficit de
Atenção e Hiperatividade, e as encaminhem para avaliação psiquiátrica, neurológica
e/ou psicológica (Guarido & Voltolini, 2009).
Lacet (2014), ao tratar da escuta psicanalítica da criança diagnosticada de TDAH,
aponta que de um lado tem-se a família e a escola que não conseguem controlar os
comportamentos da criança, portanto, desejam silenciar a criança e sua “agitação”. Do
outro se tem a criança que não é escutada. Tendo o saber médico como primeira escolha
tem-se também a intervenção medicamentosa, e esta, atende à demanda dos pais, que
não precisam questionar suas implicações nos sintomas do filho, e a escola que tende a
se eximir do questionamento sobre as maneiras de lidar com a criança. A criança neste
saber fica excluída do processo. Ao ser classificada como “doente” ou “portadora” de
síndromes e transtornos deixa de ser autora do próprio sofrimento e passa a ser objeto
de cuidados especializado (Marino, 2013).
5 Psicóloga. Especialização em Psicomotricidade pela Faculdade de Tecnologia do Vale do Ivaí – FATEC, 2015. Discente do curso de Especialização em Clínica Psicanalítica da Universidade Estadual de Londrina – UEL. E-mail: [email protected]. 6 Professora Doutora do Departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina – UEL. E-mail: [email protected].
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Além de excluir o olhar de outras disciplinas, é possível notar que por
considerarem os sintomas como manifestações da bioquímica cerebral, a descrição do
manual diagnóstico prevalece em detrimento a descrição dos sintomas apresentados
pelo sujeito (Guarido, 2007). As propostas de avaliação e tratamento se dividem de
maneira excludente entre o campo biológico e o campo subjetivo (Silva & Albertini,
2016).
As informações apresentadas pelo DSM IV acerca das disfunções da criança
mostram-se pouco operacionais, pois enfatizam a função/disfunção e ignoram o sujeito,
além de que as mesmas disfunções descritas no TDAH podem ser encontradas em
diferentes estruturas clínicas e posições subjetivas, como na psicose, autismo ou
debilidade intelectual, ou seja, “pode, por exemplo, diagnosticar a agitação psicomotora
de uma criança psicótica como sendo transtorno de hiperatividade” (Legnani & Almeida,
2009, p. 15).
Desse modo, supõe-se que o processo diagnóstico, psiquiátrico e/ou neurológico,
que antecede a prescrição medicamentosa tem sido realizado de modo impreciso, pois
ao excluir em sua análise o olhar das diversas disciplinas, reduz questões amplas ao
domínio do saber médico. Consequentemente, ao descrever um estado prévio ou
constitutivo do sujeito, pode ser capaz de estagnar outras observações sobre a
problemática (Guarido & Voltolini, 2009).
Jerusalinsky (2011) aponta como um dos efeitos do uso inadequado de
metilfenidato (medicamento com maior índice de consumo, aprovado para o tratamento
do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade – TDAH) a interrupção da
espontaneidade, dos comportamentos de exploração, curiosidade, da socialização e do
brincar, além da redução ou eliminação da expressão de sentimentos e emoções,
principalmente da angústia associada ao conflito. Portanto seria possível pensar a
medicalização das crianças, inibidora da ação espontânea, como uma intrusão ambiental
referente à possibilidade de desenvolvimento emocional? Seria a medicalização a
silenciadora da subjetividade da criança?
Ao observar a teoria de Winnicott (1983) sobre processo de amadurecimento
compreende-se que o ambiente facilitador é fundamental para o desenvolvimento do
potencial intrínseco da criança. Neste sentido, o psicanalista precisará estar atento ao
ambiente e aos aspectos somáticos, mas deve-se ocupar do indivíduo vivendo, e este
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pode estar se defendendo das falhas do ambiente ou se desenvolvendo com o apoio do
ambiente, ou seja, é preciso pensar os fatores pessoais e ambientais.
Na relação terapêutica, o papel do psicanalista é permitir ao paciente criança, a
comunicação de seus sentimentos sem presumir a existência de um fio decisivo para
ideias e pensamentos aparentemente desconexos, ou seja, seu papel é favorecer o
amadurecimento da criança, para que ela alcance o gesto espontâneo e desenvolva o self
verdadeiro (Winnicott, 1975).
Partindo da breve exposição sobre as questões de medicalização e patologização
das queixas escolares, e a respeito da psicoterapia psicanalítica, levanta-se a hipótese de
que o psicólogo que se utiliza dos fundamentos psicanalíticos pode contribuir para o
debate sobre medicalização da infância a partir da prática clínica, uma vez que os
fundamentos teóricos e as práticas neste campo questionam a utilização do instrumento
médico organicista e propõem a criação de um espaço favorável para que os elementos
criativos fundamentais que não se estabeleceram possam ser desenvolvidos.
O objetivo deste trabalho é demonstrar a importância da psicoterapia
psicanalítica como espaço de escuta e elaboração dos conflitos enfrentados pela criança
em contrapartida à medicalização em função das queixas relativas ao contexto escolar.
Método
Será realizada revisão narrativa da literatura psicanalítica de autores clássicos,
sobretudo a teoria de Donald Woods Winnicott, seguida de um levantamento dos artigos
publicados no período de 2007 a 2016, em bases de dados eletrônicos, como Google
Acadêmico, Pepsic e SciELO, relacionados ao assunto proposto, tendo como base os
temas: medicalização na infância e psicanálise, psicanálise e educação, psicanálise e
TDAH e psicoterapia psicanalítica infantil.
Resultados e Discussão
Para Lacet (2014), a nomeação diagnóstica reconhecida pelos pais e especialistas
e a medicalização das questões subjetivas, impossibilitam a criança de acessar os
aspectos de sua singularidade, o que afeta seu processo de subjetivação.
Em Marino (2013) compreende-se que há uma supressão da criança como
sujeito, que ao ser classificada como doente ou portadora de síndromes e transtornos,
passa a ser objeto de cuidados especializados em detrimento do saber subjetivo. Em
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contrapartida, ao receber o direito de fala na clínica psicanalítica, que vai além dos
aspectos do desenvolvimento e da adaptação ao ambiente, a criança é tida enquanto
sujeito de uma clínica do infantil, de uma estrutura que remete a fantasia, e passa a ser
autora de sua própria história (Marino, 2013).
Apesar de se tratar de um estudo em andamento, acredita-se que, através da
articulação entre a teoria psicanalítica e a prática clínica das demandas escolares, terá
como resultado uma resposta psicanalítica às questões de medicalização da infância, que
considere a subjetividade da criança.
Considerações Finais
A psicoterapia psicanalítica na infância poderia ser melhor difundida e utilizada,
tendo em vista que segue na contramão do proposto pela lógica médica de diagnósticos
pautados no discurso biológico e vai de encontro com a necessidade de oferecer à
criança um espaço de escuta e acolhimento de suas questões, sejam elas do âmbito
familiar, social e individual, portanto proporciona um espaço onde a criança possa se
sentir segura em falar sobre seus sentimentos e dificuldades.
Referências
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Um estudo da relação parental na adolescência sob o ponto de vista
psicanalítico
Marisa de Cássia Domingues Subtil de Almeida 7; Maria Elizabeth Barreto
Tavares dos Reis8
Palavras-chave: Adolescência. Relação parental. Psicanálise.
Introdução
A despeito das teorias desenvolvimentistas que abordam e explicam o processo
maturacional do ser humano, cada indivíduo percorre e vivencia esse caminho de forma
singular, embora compartilhe características em comum. A adolescência, de forma
específica, é reconhecida como um período de alterações físicas/biológicas, constitutivas
da puberdade, também de tribulações emocionais, conflitos psíquicos e desajustes
comportamentais pertinentes a esse momento transitivo e de evolução. A entrada no
mundo dos adultos é desejada e temida ao mesmo tempo, acompanhada pela perda da
condição de criança (Aberastury & Knobel, 1981).
Seria oportuno, nesse momento, debruçar-se sobre a etimologia da palavra
‘adolescência’ ou discorrer sobre as definições trazidas pela Organização Mundial da
Saúde e do Estatuto da Criança e do Adolescente, bem como resgatar a construção
histórica desse conceito, como uma das fases do desenvolvimento humano, porém
outros autores (Barreto & Rabelo, 2015; Santos & Pratta, 2012; Sei & Zuanazzi, 2016) o
fizeram de forma bastante inequívoca. Preferiu-se, nesse trabalho, voltar o olhar para a
afirmação de Winnicott, que diz: “[...], a ideia de adolescência surge no momento em que
as mudanças da puberdade ascendem ao primeiro plano e as defesas contra a ansiedade
organizadas nos primeiros anos de vida reaparecem ou tendem a reaparecer na psique
do indivíduo” (Winnicott, 1965/2001, p.123).
Experiências relatadas por outros autores (Bolsoni-Silva, Paiva & Barbosa, 2009;
Shoen-Ferreira, Silva, Farias & Silvares, 2002) confirmam esses fatos pela grande
procura de pais aflitos em busca de auxílio na compreensão e manejo dessa fase, na
7 Graduada em Filosofia, Psicologia e pós-graduanda do Curso de Especialização em Psicanálise Clínica da Universidade Estadual de Londrina. E-mail: [email protected]. 8 Professora Doutora do Departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina- UEL. E-mail: [email protected].
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relação com filhos adolescentes. O desrespeito às regras, a iniciação sexual precoce, as
dificuldades escolares, o uso de substâncias psicoativas são alguns dos dilemas
vivenciados por esses pais.
O pediatra e psicanalista Winnicott (1965/2001) questionava sobre como a
organização preexistente do ego reagiria à nova investida do id, nessa fase, e como se
acomodariam as mudanças da puberdade ao padrão de personalidade. A partir dessa
questão, asseverou a importância da “continuidade da existência e do interesse do pai,
da mãe e da família pelo adolescente” (p.116). Esse autor afirma que muitas das
dificuldades pelas quais passam os adolescentes derivam das más condições do
ambiente, tornando esse processo, para os pais, “pontilhado de dores de cabeça” (p.
116). Aberastury (1981) explica que a não compreensão, por parte dos pais, da
flutuação extremadamente polarizada entre dependência e independência, refúgio na
fantasia-ânsia de conhecimento, conquistas adultos-refúgio em conquistas infantis,
resulta em dificuldades no trabalho de luto “no qual são necessários permanentes
ensaios e provas de perda e recuperação de ambas as idades: a infância e a adulta” (p.
15).
Em se tratando de uma fase em que o jovem busca construir sua própria
identidade, sua relação com os pais ou autoridades familiares servirá de modelo e guia
nessa busca, seja para uma reprodução similar ou para uma completa diferenciação
dessas figuras parentais. Tal fato foi o que motivou a investigação da influência dessas
relações e seus desdobramentos na vida do adolescente; as contribuições de um manejo
adequado e as disfunções resultantes das faltas e falhas na função parental.
Já em 1905 Freud postulou a dependência e influência das imagos paternas
internalizadas na infância e a reedição do complexo de Édipo que ocorre no período da
adolescência, como organizador da escolha objetal: “Por fim, descobrimos que a escolha
objetal é guiada pelos indícios infantis, renovados na puberdade, da inclinação sexual da
criança pelos pais e por outras pessoas que cuidam dela, [...]” (Freud, 1905, p. 221).
Nessa delicada interação pais-filhos, função paterna e função materna exercem
igual importância, questão evidenciada pelo papel estruturante do pai, a partir da
instauração do complexo de Édipo e por sua posição de autoridade (Benczik, 2011), bem
como pela relevância dos cuidados oferecidos pela mãe suficientemente boa, referida
por Winnicott (Winnicott, 1965/2001; Zimerman, 2010). Tais fatos justificam a
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necessidade de se conhecer como os autores estão abordando o papel dos pais na
vivencia da adolescência.
Objetivos
Este trabalho tem como escopo fazer uma revisão narrativa sobre temas
concernentes ao período da adolescência em geral e de modo específico, investigar como
a relação entre os pais e o adolescente, tem sido considerada, no contexto atual, sob a
perspectiva psicanalítica.
Método
Será realizada uma revisão narrativa, considerando que o investigador “recorre à
investigação que foi feita anteriormente para identificar o estado da arte sobre um
determinado tema e para fundamentar a sua ação” (Ribeiro, 2014, p. 674). Esta
metodologia é, entre outras, defendida pelo autor supracitado, como forma de
ultrapassar uma multidão de conhecimento originada pelo aumento da produção
científica atual, em direção à “identificação de evidências científicas, seja para a prática,
seja para a investigação” (p. 673). Nesse sentido, a revisão narrativa pode comportar ou
não uma crítica, mas deve conter, de forma condensada, os conteúdos do material
analisado, constituindo “instrumentos educativos úteis” resultantes da associação e
junção legível de muitas informações além de “apresentarem uma perspectiva alargada
do tópico em revisão” (p. 678).
Tal revisão será de caráter qualitativo realizando-se buscas nas bases de dados
SciELO, Lilacs, BVS, PePSIC e Google Acadêmico, privilegiando-se o período que
compreende 2010 e 2016, a partir dos seguintes descritores: adolescência, relação
parental e psicanálise. Uma leitura criteriosa considerará, como critério de inclusão, a
presença dos temas relacionados a limites/liberdade, responsabilidade, imagem
corporal, isolamento, comportamentos antissociais, uso de drogas e busca por uma
identidade, característicos da fase de adolescência, associados à função parental. Como
critério de exclusão, serão desconsiderados artigos que façam referência a religiosidade;
relações de gênero entre os cuidadores de adolescentes; avaliações das propriedades
psicométricas de Escalas e Inventários ou aqueles que abordem, especificamente, a
saúde/doença física e gestação na adolescência. Perseguiremos um delineamento
teórico, fazendo um levantamento da produção científica realizada sobre o tema, com o
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intuito de evidenciar a relevância da adequada relação parental na adolescência, como
amparo ao adolescente diante das angústias sentidas nesse período.
Resultados e Discussão
Em se tratando de um estudo ainda em andamento, perseguimos o intento de
evidenciar que a função parental permeia todas as situações que envolvem um
adolescente, sejam elas positivas ou não, saudáveis ou patológicas, uma vez que
consideramos a família como lugar de referência e suporte para o adolescente, desde sua
infância (Barreto & Rabelo, 2015; Winnicott, 1965/2001). Buscamos destacar o poder
de influência das relações parentais no desenvolvimento dos filhos no sentido de que,
possíveis falhas e falta de habilidade dos mesmos, na forma de educar, dar acolhimento
e ao mesmo tempo limites, transmitindo a segurança necessária à concretização de um
estado de independência, podem comprometer o processo de adolescer.
Discutiremos, cotizando o diverso material estudado, a respeito dos diferentes
desfechos dos casos de adolescentes, seus comportamentos e suas histórias de vida,
relacionando-os à interação parental. Espera-se confirmar a relevância da relação
parento-filial na estruturação da personalidade, subjetivismo e equilíbrio psíquico do
jovem adolescente, futuro adulto, a partir da oferta dosada dos pais, de amor/atos de
correção, liberdade/imposição de limites, acolhimento/imposição de responsabilidades.
Considerações Finais
Diante da pretensão estabelecida para essa pesquisa, considera-se que o
aprofundamento em conhecimentos sobre a interferências resultantes da relação
parento-filial, pode auxiliar pais a aprenderem lidar com seus filhos, bem como se
implicarem nessa tarefa, reconhecendo sua participação no desencadeamento dos
sintomas.
Os profissionais que realizam a psicoterapia psicanalítica com adolescentes
poderão se beneficiar desse conhecimento, tanto no atendimento aos seus pacientes
quanto na orientação aos pais.
Finalmente pretende-se, através da confirmação da ideia de que a relação
vivenciada entre o adolescente e as figuras parentais, reflete-se de forma bastante
significativa no processo de amadurecimento do jovem, nessa fase da vida, a ponto de
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direcioná-los e até mesmo determiná-los, fomentar novos estudos e o incremento de
medidas profiláticas e remediativas à saúde mental na adolescência.
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Um olhar para o masculino na clínica psicanalítica
Solange Gomes de Melo Viol9; Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis 10
Palavras-chave: masculino; masculinidades; homem.
Introdução
Esse artigo tem o objetivo de ampliar o olhar sobre o masculino e fomentar a
discussão em torno de um universo em transformação, o homem no século XXI. Esse
homem herdeiro das transformações culturais e sociais oriundas do movimento
feminista com suas angustias, conflitos e dilemas decorrentes de uma crise de
identidade provocada por abalos na ordem social patriarcal. Até meados do século XX, a
mulher era mantida num processo de subordinação, que se constituía como uma ordem
natural nas relações entre os sexos onde a subversão desse papel era impensável.
Nesse cenário histórico, a Psicanálise se constituiu, enquanto teoria, método e
técnica, a partir do olhar de Freud para a clínica da histeria, basicamente feminina, ainda
no século XIX. A teoria freudiana foi construída num período em que a diferença sexual
era utilizada para a perpetuação do patriarcado. Birman aponta que embora esse
paradigma não esteja explícito em suas obras, “ele esteve sempre lá, impondo-se como
figura de fundo, constrangendo, pois, as linhas de força da construção psicanalítica sobre
a diferença sexual” (2001, p 47).
Nesse sentido, Freud enquanto sujeito da cultura, constituiu sua teoria sob a
marca do falocentrismo que é a convicção baseada na idéia de superioridade masculina
(Michaelis online, 2016), onde imperavam discursos reprodutores da dominação
masculina e se caracterizava por colocar o homem numa posição hierárquica superior e
inquestionável em relação à mulher. Assim, ao homem caberia a função de dominação e
à mulher a condição de dominada. Nesse sentido, a Psicanálise freudiana emerge com a
Modernidade e se fundamenta em premissas típicas do momento histórico. Segundo
Bleichmar, há no pensamento freudiano um “sexo de partida” tomado como referência -
o masculino - que permanece como a norma, e a mulher como o desvio. Assim, o
9 Graduada em Psicologia, pós-graduanda em Clínica Psicanalítica – [email protected]. 10 Professora Doutora Depto. de Psicologia e Psicanálise/ CCB/UEL – [email protected].
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incompreendido é localizado no campo feminino e, o homem permanece pouco
problematizado (2006, p.77).
Freud (1976) em “Mal estar na civilização” aponta que “o trabalho de civilização
tornou-se cada vez mais um assunto masculino, confrontando os homens com tarefas
cada vez mais difíceis e compelindo-os a executarem sublimações instintivas de que as
mulheres são pouco capazes”. Em Três ensaios sobre a sexualidade há um pressuposto
notadamente falocêntrico: a definição de libido como masculina, por ser ativa. Em nota
de rodapé o autor justifica que “a libido seja descrita como masculina, pois a pulsão é
sempre ativa, mesmo quando escolhe para si um alvo passivo” (Freud, 1976, p. 207). Nos
textos “Algumas consequências psíquicas da distinção anatômica entre os sexos” e em
“Sexualidade feminina” o autor reconhece a existência de uma tendência masculina a
menosprezar a mulher entendida como castrada a partir do Complexo de Édipo. O
homem é tido então como privilegiado por possuir um órgão, apesar de temer perde-lo.
Entretanto, para entender os homens hoje, essa teoria pode parecer limitante,
pois parece reduzir os dilemas masculinos à angustia da castração. Para melhor
compreender os dilemas masculinos e preciso olhar também para questões sociais e
culturais que atravessam o homem na contemporaneidade. Nesse sentido, refletindo
sobre o movimento feminista podemos pensar em mudanças nos papéis sociais. Desde
os anos de 1960, os papéis, masculino e feminino, tem sido revistos no ocidente e,
homens e mulheres vistos como igualitários, tem acesso a vida pública e a esfera
privada, possibilitando a construção de novos lugares sociais, o que, segundo Badinter
(1993) contradiz a cristalização dos papéis sexuais presentes na obra freudiana.
O tema da masculinidade como objeto de estudo, no Brasil, teve sua origem
também na década de 1960, no entanto, parece haver ainda hoje, uma escassez de
publicações que abarquem o masculino dentro da psicanálise (Silva, 2006). Miranda
aponta que ao lado da “nova mulher”, o “novo homem” parece ser assim conduzido a
assumir, uma certa fragilidade. Surge a palavra “crise que pode ser o resultado da
multiplicidade de identidades promovidas pela hipermodernidade ou referir-se a um
modo de existência ancorado pela liquidez das relações. Se há uma crise, é possível
sustentar que ela tende a suscitar papéis estereotipados tanto para o homem como para
a mulher (2010, p. 56).
Assim, é preciso se pensar numa reconstrução cultural da masculinidade pois o
masculino pode se tornar um enigma e é a partir do reconhecimento das contradições e
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lacunas desse homem contemporâneo que será possível construir novas narrativas
sobre o masculino – masculinidades. Pois, conforme assinala Badinter (1993), ser
homem não é uma questão tão natural como usualmente se supõe. Para chegar a ser
homem é necessário empreender toda uma tarefa de construção de virilidade.
Alizade e Dupetit (1997, citado por Alizade, 2009) afirmam não ter dúvidas de
que o heróico roteiro dos homens tem mudado e que a transformação cultural, as
reivindicações femininas produziram modificações no estereótipo masculino. Além
disso, apontam que a sociedade pós-industrial transformou o penetrante herói
conquistador num homem-máquina produzindo uma certa quebra identificatória da
figura masculina.
Esse homem contemporâneo, sem modelo e fruto da revolução feminista motivou
a presente pesquisa, que tem por objetivo investigar como a Psicanálise tem se ocupado
com os temas que envolvem as questões da masculinidade na contemporaneidade.
Metodologia
Será realizada uma revisão narrativa através de pesquisa nos sites Pepsic, Scielo,
Lilacs e BVS de publicações entre os anos de 2000 a 2016, considerando os seguintes
descritores de busca: masculino – masculinidade(s) – homem .
Segundo Pais Ribeiro (2014) a Revisão Narrativa se apresenta como revisão
qualitativa a partir de sínteses narrativas, compreensivas, de informações publicadas
anteriormente. Green, Johnson, e Adams (2006, citado por Pais Ribeiro, 2014, p. 7)
apontam que os resultados são apresentados em formato condensado sumariando os
conteúdos de cada artigo. Assim, a revisão narrativa foca um conjunto alargado de
questões relacionadas com um tópico específico (em vez de abordar uma questão
específica em profundidade).
Serão utilizados como critérios de inclusão os artigos que contiverem os
descritores mencionados em seus títulos. Serão excluídos os temas referentes a
transsexualidade e análises literárias.
Os dados coletados serão organizados através de categorias de assuntos
relevantes sobre o tema em questão.
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Resultados e Discussões
A pesquisa encontra-se em andamento, entretanto é possível apontar alguns
temas/questões que predominam: questões ligadas a saúde, adoecimento, gênero,
sofrimento psíquico do homem contemporâneo, crise de identidade masculina,
masculinidade e narcisismo, e masoquismo masculino dentre outros. Há que se pensar
as masculinidades a partir de diferentes pontos de partida e de diferentes
endereçamentos. Além disso, ao lado das enormes mudanças ocorridas a partir do
movimento feminista é possível identificar, coexistindo na sociedade contemporânea,
fatores reveladores de mudança e permanência da dominação masculina em alguns
setores. A masculinidade construída e vigente durante séculos passou a ser questionada
por um contingente feminino em franca revolução.
Ao se pensar no masculino e nas questões que atravessam o homem
contemporâneo, pode-se imaginar que ele enfrenta uma crise de identidade cuja origem
está na eclosão do movimento feminista que trouxe em seu bojo mudanças sociais e
culturais. Então, trata-se da escuta do masculino na atualidade e, assim como Sigmund
Freud olhou para o feminino e o tirou das sombras ao analisa-lo, nos sentimos
convocados a fazer o mesmo movimento na escuta do sujeito masculino.
Considerações finais
A partir dos estudos preliminares pode-se perceber a importância de melhor
conhecer como os homens têm sido acolhidos e atendidos na clínica psicanalítica na
atualidade. Assim será possível não apenas melhor compreender a problemática
emocional masculina, mas também melhor instrumentar os profissionais que deles se
ocupam.
Referências
Alizade, A.M. (2009). Cenários masculinos vulneráveis. Recuperado em 02 de Outubro, 2016, de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-58352009000200013
Badinter, Elisabeth. (1993). Sobre a Identidade Masculina. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.
Birman, J. (2001) O mal-estar na atualidade: a psicanálise e as novas formas de subjetivação. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.
Bleichmar, S. (2006). Paradoxos da sexualidade masculina. Buenos Aires: Paidós.
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ISBN 978-85-7846-424-0 36
Bourdieu, P. (1998). Conferência do Prêmio Goffman: a Dominação Masculina Revisitada. In D. Lins (org.). Campinas/SP: Papirus.
Freud, S. (1976). Três ensaios sobre a sexualidade. Edição standard das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. (v. VII, p.207). Rio de Janeiro: Imago.
Freud, S. (1976). Algumas consequências psíquicas da distinção anatômica entre os sexos. Edição standard das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. (v. XIX, pp. 301-307). Rio de Janeiro: Imago.
Freud, S. (1976). O mal estar na civilização. Edição standard das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. (v. XXI, pp. 81-171). Rio de Janeiro: Imago.
Freud, S. (1976). Sexualidade feminina. Edição standard das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. (v. XXI, pp. 255-279). Rio de Janeiro: Imago.
Michaelis, Dicionário online, Recuperado em 12 outubro, 2016, de http://michaelis.uol.com.br/
Miranda, C. E. S. (2010). A angústia na cena contemporânea e os avatares da masculinidade. Reverso, 32(59), 55-60. Recuperado em 30 de maio de 2017, de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-73952010000100007&lng=pt&tlng=pt.
Pais Ribeiro, J. L. (2014). Revisão de investigação e evidência cientifica. Psicologia, saúde & doenças, 15(3), pp.672- 683. Recuperado em 15 de outubro, 2016, de http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1645-0862014000300009.
Silva, S. G. (2006). A crise da masculinidade: uma crítica à identidade de gênero e à literatura masculinista. Psicologia: ciência e profissão, 26(1), 118-131. Recuperado em 30 de maio de 2017, de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932006000100011&lng=pt&tlng=pt.
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Medidas socioeducativas: adolescência e a vulnerabilidade para o ato
infracional
Anderson José Rodrigues11; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida12
Palavras Chave: Adolescência; Políticas Públicas; Ato Infracional.
Introdução
No final dos anos 1980, iniciaram-se vários movimentos de mudanças no intuito
de promover transformações nas políticas sociais, o que foi materializado com a
Constituição Federal de 1988. Um fato que contribuiu para essas transformações foram
as ações dos movimentos sociais e entidades que reivindicavam os direitos das crianças
e dos adolescentes e, por consequência dessas ações, foi promulgada a Lei nº. 8.069, de
13 de julho de 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Todo esse contexto de transformações permitiu que o serviço fosse dividido em
níveis de complexidade, criando-se dois planos de ações: Rede de Proteção Básica e
Rede de Proteção Especial. Para que tudo isso funcione, de acordo com o SUAS (Sistema
Único da Assistência Social), foram criados espaços públicos como os Centros de
Referência de Assistência Social (CRAS) e o Centro de Referência Especializado de
Assistência Social (CREAS), cada serviço referenciado de acordo com sua demanda e sua
especificidade: CRAS – Proteção Básica (Prevenção a violações) e CREAS – (trabalhar as
violações com o sujeito e sua família) (Brasil, 1993).
Nesse sentido, serão abordados no CREAS os direitos já violados, situações em
que o adolescente já fez à passagem a infração, visto que o mesmo é um espaço
especializado de Assistência Social, um equipamento público que foi criado para ser
referência na coordenação de ações com adolescentes em conflito com a lei e articulador
da proteção social especial. No CREAS, as intervenções são propostas por meio dos
serviços ofertados que desenvolvem, promovem e articulam ações de importância na
inclusão e proteção social aos indivíduos e/ou famílias que se encontram em situação de
violação de direitos e de violência, visa resgatar os vínculos familiares e comunitários,
11 Psicólogo; Pós-Graduando em Clínica Psicanalítica CCB- Centro Ciências Biológicas UEL- Universidade Estadual de Londrina. 12 Psicóloga; Doutora em Psicologia; Coordenadora do Curso de Pós-Graduação em Clínica Psicanalítica UEL.
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apoiar a construção e/ou reconstrução de projetos de vida, relacionados à autonomia e
empoderamento pessoal (Brasil, 2012).
Compreendemos que a adolescência é uma etapa que, atualmente, pressupõe-se
algumas características bem definidas teoricamente, e com atributos peculiares a essa
fase. Segundo Rigon (2012), quanto mais cedo for realizado um trabalho de intervenção
com esses adolescentes, maiores serão as probabilidades de que se construa um projeto
de vida saudável.
Portanto, a intervenção seja da instituição família, ou do Estado, para que seja
eficaz, deverá atentar a uma perspectiva de prevenção, algo que perpasse a infância
desse sujeito, promovendo a possibilidade de ressignificações ao longo de seu
desenvolvimento e do ambiente que o cerca. Ainda nesse sentido, deve-se discorrer
sobre essa fase do desenvolvimento, o que ela representa na contemporaneidade, o que
significa ser adolescente e os fatores que circundam esse momento da vida, com enfoque
nas infrações.
Na contemporaneidade, os serviços que atuam com adolescentes em conflitos
com a lei (Judiciário, CREAS, Conselho Tutelar), observa-se um aumento dos índices de
infrações provocados por adolescentes. O cenário atual reflete situações de violência,
frequentemente acompanhados por violações de direitos, ou seja, o infrator, autor do
cenário, é também vítima, pois seus direitos não são resguardados.
Com o aumento das infrações entre os adolescentes, faz-se necessário uma
reflexão/questionamento sobre os fatores que contribuem para que o adolescente faça a
passagem ao ato infracional. Nessa lógica, podemos pressupor algumas falhas no
processo de maturação ao longo do seu amadurecimento biopsicossocial.
Assim sendo, a teoria winnicottiana serve como uma abordagem teórica que
propõe estudar as relações do ambiente/adolescente. Segundo Winnicott (1987), a
referência materna será o primeiro organizador psíquico da criança, e, pela relação
estabelecida por essa dupla, ocorrerá à vinculação da criança a essa figura cuidadora,
ficando incumbida de repassar à criança as impressões acerca do mundo e da vida pelas
relações emocionais significativas. Sendo assim, as primeiras impressões na relação da
mãe (ou quem faça sua função) com a criança será de extrema importância, para sua
formação e seu desenvolvimento psíquico integrado e preventivo a uma adolescência
saudável.
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Cardoso (2014) nos apresenta a adolescência como uma fase a qual o jovem entra
em contato com vários sentimentos: medo, angústia, perdas e separações. A entrada
nesse novo campo, ainda inexplorável, será marcada pelas experiências subjetivas
internalizadas na fase anterior, fortemente arraigadas na figura infantil, no qual insere o
sujeito em desenvolvimento em situações novas, exigindo um retorno a outras
experiências já internalizadas. Ainda segundo Cardoso (2014) “estamos diante da
revivência da situação de desamparo infantil, inescapável na adolescência” (p. 66).
Portanto, o sujeito em desenvolvimento, que vivenciou uma experiência de
afetividade com sua figura cuidadora, sendo esta satisfatória, se no momento posterior
for colocado em um estado de privação emocional significativa, poderá desenvolver
comportamentos antissociais, hostis, apresentando dificuldades no envolvimento em
relações afetivas, por ter vivenciado experiência de perda no passado (Sá, 2001).
Sendo assim, os estudos em relação à tendência antissocial, Winnicott estabelece
duas referências: em uma via, considera uma falha na relação da “dupla” mãe/bebê no
que considera alguma privação emocional significativa, no qual não propicia o encontro
da criança com seus objetos desejados. Essa falha justificaria a busca pelo objeto, que
pressupõe o início de comportamentos tais como o furto. A outra via é atribuída ao pai
(ou a figura que faz a função), nessa perspectiva, em relação a uma tendência antissocial,
uma função específica no que se refere a uma condição de segurança a essa dupla,
conferindo a este ser em maturação uma condição de lidar com suas questões da
agressividade, ódio e destrutividade (Ferreira & Vaisberg, 2006).
Assim sendo, quando um adolescente inicia sua trajetória no percurso de
comportamentos antissociais, podemos pressupor que houve uma falha nas relações
familiares, algo da ordem da falta, seja afetiva e/ou econômica, portanto, esse jovem foi
privado em algum momento do seu desenvolvimento, sendo exposto a situações que
poderão propiciar uma condição de transgressão. São projeções incertas, que podem
influenciar os adolescentes ao mundo das transgressões e torná-los sujeitos vulneráveis
a alguma dependência.
Entretanto, se o ambiente que o cerca for acolhedor e satisfatório, a tendência à
agressividade que é inata, passa a ser direcionada a outra via pelo sujeito; a diversão,
uma vazão para essa energia. Colle (2001) diz: “Os sintomas dos adolescentes são
testemunhas do seu sofrimento, da sua vontade e, simultaneamente, da sua impotência
para curar os sistemas relacionais” (p. 196).
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Objetivo
A efetivação das legislações atuais de proteção Federal, Estadual e Municipal e a
rede de políticas públicas estão diretamente relacionadas ao crescente índice de ato
infracional de adolescentes. Há um sistema judicial que garante os direitos básicos e
essenciais a esses jovens; as ações das redes de serviços intersetoriais que, na prática,
atuam para legitimar sua execução. Entretanto, é preciso um questionamento sobre esse
sistema, pois como demonstram o CNJ – Conselho Nacional de Justiça (2012) e o Plano
Decenal de Medidas Socioeducativas do CREAS Ourinhos SP, um apresenta o cenário
nacional e outro municipal, que indica o crescente número de infrações entre a
adolescência.
Nessa perspectiva, este trabalho visa analisar o número crescente de
adolescentes em conflito com a lei, em face de um sistema judiciário que foi instituído
como garantia a violações e, assegurado pelas políticas públicas, explorando os possíveis
fatores que contribuem para o ingresso do adolescente ao ato infracional.
Metodologia
Este trabalho será desenvolvido com base em uma pesquisa bibliográfica e
documental. A pesquisa bibliográfica terá em sua essência livros e artigos científicos,
pautados na teoria winnicottiana.
Para pesquisa documental, utilizaremos o Plano Decenal do CREAS Ourinhos SP,
que realizou um estudo não analítico, e ilustra o cenário municipal das principais
infrações praticadas por adolescentes e, aponta que, os adolescentes não somente são
autores das infrações, e sim, vítimas, pois estão com seus direitos violados.
Resultados e Discussões
Os resultados e as discussões serão elaborados e fundamentados, através da
revisão de literatura, que a posteriori, serão confrontados com os dados quantitativos de
pesquisas que apontam o crescimento das infrações entre os adolescentes. Por
conseguinte, as discussões serão pensadas na interlocução dos dados: como a literatura
concebe esse adolescente em conflito com a lei, a realidade que se apresenta através dos
indicadores numéricos (dados quantitativos das infrações), a efetivação das legislações
atuais.
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Considerações finais
Quando as políticas públicas atuam com congruência rumo à promoção e
fortalecimento dos vínculos sociais, promovendo um espaço de desenvolvimento
saudável e acolhedor às famílias, espera-se que os indicadores de violações estejam
enfraquecidos nesse contexto.
Sendo assim, fica evidente a importância da instituição família e suas influências
nas garantias de direitos para que o adolescente, ao entrar em contato com essa fase
complexa de seu desenvolvimento, esteja suficientemente seguro, com um self Bollas
(1992) integrado, capaz de realizar suas identificações a diferentes grupos de iguais na
construção de sua identidade. Portanto, as medidas socioeducativas são medidas de
proteção ao adolescente, e por se tratar de um conjunto de ações que parte do
pressuposto da intersetorialidade, as ações de seus representantes (Judiciário, CREAS,
Conselho Tutelar, Escolas, Secretarias Municipais e outros), deverá ocorrer de forma
sincronizada uma a outras, para que assim, o sujeito em desenvolvimento esteja em uma
perspectiva de proteção integral ao sujeito em formação e protagonista de suas ações.
Referências
Bollas, C. (1992). Forças do destino. Psicanálise e idioma humano. Rio de Janeiro: Imago.
Brasil (1993). Lei nº 8.742. Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) de 07 de dezembro de 1993. Dispõe e regulamenta esse aspecto da constituição e estabelece normas e critérios para organização da assistência social. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 10 dez.
Brasil (2012). Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE). Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos.
Cardoso, M. R. (2014). Dependência e adolescência: a recusa da diferença. Revista Ágora: Estudos em teoria psicanalítica. 17(n. spe),63-74
Ferreira, M. C. Vaisberg, T. M. J. A. (2006). O Pai “suficientemente bom”: algumas considerações sobre o cuidado na psicanálise winnicottiana. Revista Psicologia da Saúde. 14(02), 136-142.
Rigon, R. A. (2012). Delinquência infanto-juvenil. Curitiba: Juruá.
Sá, A. A. (2001). Delinquência Infanto-Juvenil como uma das formas da Privação Emocional. Revista Psicologia Teoria e Prática, 03(01), 13-22. Recuperado em 30 de maio de 2017, de http://www.mackenzie.br/fileadmin/Editora/Revista_Psicologia/Teoria_e_Pratica_Volume_3_-_Numero_1/v3n1_art1.pdf. Acesso em: 25 abr. 2016.
Winnicott, D. W. (1987). Privação e delinquência. São Paulo: Martins Fontes.
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Algumas expressões do falso self a partir de um caso clínico com
adolescente
Isabella Suttini Ferreira13; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida 14
Palavras-chave: Falso self. Winnicott. Psicanálise.
Introdução
Na clínica psicanalítica contemporânea a compreensão do conceito de falso self se
faz necessária para o diagnóstico e manejo de certos casos, nos quais é expressiva a
queixa de um não saber sobre si e da falta de espontaneidade. Na adolescência, surgem
questões específicas que podem remeter a uma compreensão clínica da existência do
falso self. Este conceito foi desenvolvido por Winnicott (1983) a partir do conceito de
self verdadeiro que é o lugar da criatividade e espontaneidade, do “sentir-se real” e
remete ao eu autêntico. Já o falso self é voltado para o mundo externo, e tem a função de
ocultar e proteger o verdadeiro. Ele faz a mediação entre o verdadeiro e o ambiente
como meio de adaptação. Isso pode acontecer sob a forma de cisão, que caracteriza o
mecanismo das psicoses (Winnicott, 1983). No entanto, o falso self não é só patológico.
Ele é considerado saudável, na medida em que é a renúncia à onipotência, indispensável
para conviver em sociedade e se mostra por meio da atitude social, polida (Winnicott,
1983).
Na teoria do desenvolvimento emocional do ser humano, Winnicott (1988)
afirma que o bebê nasce com uma tendência para se desenvolver. Nos primeiros meses
da vida, ele vive um período de não-integração que será ultrapassado ao longo do
processo de amadurecimento, esse processo abarca o desenvolvimento do self no
caminho para a integração. Porém isso somente ocorrerá em um ambiente facilitador
que forneça cuidados suficientemente bons. No início, esse ambiente é representado
pela mãe-ambiente: ela será a pessoa responsável pelas condições facilitadoras para que
o crescimento do bebê se efetive. Winnicott (1983) denomina de “mãe suficientemente
13 Universidade Estadual de Londrina, Pós-Graduação em Clínica Psicanalítica. Psicóloga; [email protected]. 14 Psicóloga. Doutora em Psicologia Clínica 2006-Puccamp. Professora Associada UEL -Graduação e Pós-Graduação em Psicologia- Departamento de Psicologia e Psicanálise. Coordenadora de projetos de pesquisa e extensão sobre: Adolescência e Orientação Profissional. Coordenadora do curso de Especialização em Clínica Psicanalítica- UEL. Atua na clínica Psicanalítica; [email protected]
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boa” àquela que, por estar identificada com o bebê, é capaz de satisfazer as necessidades
deste, e satisfazê-las tão bem que a criança é capaz de ter uma breve experiência de
onipotência. O self verdadeiro começa a despontar quando a mãe permite a manutenção
dessa ilusão de onipotência. Se isso não é permitido, pelo fato da mãe não conseguir
sentir as necessidades do filho, ela substitui o que seria a onipotência deste pelo seu
próprio gesto, ameaçando a continuidade deste, que precisa desenvolver defesas para
sobreviver. Assim, o gesto espontâneo do lactente passa a se submeter ao gesto
materno. É o início do falso self. Dessa forma, a individualidade do bebê passa a ser
marcada por padrões externos, buscando sempre a adaptação a esses padrões, mas
como nesse período o bebê ainda não possui maturidade para compreender o que é
interno e externo, essa apresentação da realidade ocorre precocemente, antes do estado
de integração. (Winnicott, 1983). O self verdadeiro que surge pela experiência, embora
seja um potencial herdado, nesses casos não está num ambiente favorável para emergir.
A mãe não olha para o bebê, no sentido de enxergá-lo com suas necessidades e, por isso,
ele não é visto, portanto não adquire o sentimento de existir. A identidade que se
constrói, então é falsa e artificial, pois emerge para atender aos desejos da mãe como
forma de sobrevivência. (Dias, 2003).
A adolescência faz parte dos estágios que compreendem o processo de
amadurecimento e é um período de transição da infância para a vida adulta, repleto de
novos sentimentos e demandas, mudanças corporais e emocionais e gerador de
angústias frente às quais, o adolescente repete os padrões dos estágios primitivos. A
identidade é ressignificada, implicando na busca pelo “si mesmo”. Diante disso, o
sentimento de irrealidade do bebê reaparece nesse estágio e o principal objetivo é
sentir-se real. (Winnicott, 1971).
Para Winnicott (1971):
A adolescência implica crescimento e esse crescimento leva tempo. E, enquanto o
crescimento se encontra em progresso, a responsabilidade tem que ser assumida
pelas figuras parentais. Se essas figuras abdicam, então os adolescentes têm de
passar para uma falsa maturidade e perder sua maior vantagem: a liberdade de
ter ideias e de agir segundo o impulso. (p. 202)
Segundo Almeida (2012), a ocorrência dessas questões do ambiente mostra que o
adolescente necessita da continuidade das experiências e atenção dos pais e do
ambiente sócio cultural. Nesse sentido, o adolescente se expressa de forma ainda
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confusa, pois está no processo de sair de uma situação de dependência quase absoluta
para uma independência relativa, construindo uma posição de crescimento e de sua
própria identidade. Para Winnicott (1987), “[...], é a partir de uma posição de isolamento
que ele se lança no que pode resultar em relações” (p. 152). Destarte, como o bebê, o
adolescente é um ser isolado, até estabelecer relações com “objetos que reconhece e
acolhe como não partes que o integram, e isso com satisfação, não mais como um
quantum de agressão instintual” (Almeida, 2015 p. 8). A partir desse contexto, o jovem
precisa de suporte e acolhimento para se sentir amparado no processo de descoberta do
“si mesmo”. O setting pode contribuir para isso, na medida em que dá condições para o
self verdadeiro se mostrar. (Winnicott,1955/2000).
Objetivo geral
Este trabalho tem como objetivo geral, analisar as formas de expressões do falso
self na busca pelo “si mesmo” na adolescência, a partir de um caso clínico atendido em
clínica escola. Frente a isso, os objetivos específicos são: verificar evidências de falso self
no processo de atendimento clínico, bem como os impasses do atendimento do
adolescente na clínica winnicottiana.
Método
A fim de atingir os objetivos propostos, está sendo realizado um estudo de caso,
tendo como fundamento o manejo da clínica winnicottiana. O referencial teórico foi
buscado em livros de Winnicott e de seus comentadores, como Dias (2003), Almeida
(2012, 2015). O caso analisado está sendo atendido em clínica escola e até o momento
foram realizadas 13 sessões com a adolescente e duas com os pais. Trata-se de uma
adolescente de 15 anos, terceira filha de quatro irmãos, estudante do segundo ano do
ensino médio. É a mãe quem procurou pelo atendimento, com o consentimento da filha.
A queixa trazida pelos pais foi a dificuldade na escola (que resultou em duas
reprovações e havia a possibilidade da terceira) e a dificuldade em lidar com o humor
oscilante da filha. A queixa da paciente também estava relacionada ao desempenho
escolar.
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Desenvolvimento do caso
Logo no início do processo, em uma sessão, relatou que preferia tirar notas ruins,
pois assim a mãe teria que dedicar seu tempo para estudar com ela. Ao longo do
processo, apareceu também a queixa de sentir que “não tem um espaço” em casa e “não
sobrar atenção” para ela. A adolescente diz que não gosta e não sabe falar de si. Queixa-
se por não conseguir fazer amigos, não saber conversar. Nas brigas com a irmã, acusa a
mãe de defender sempre a caçula, o que a mãe acabou confessando em um encontro. A
partir da terceira sessão, foi percebido algumas expressões do falso self; às vezes diz:
esta não ela “de verdade”, “a de verdade é extrovertida e brincalhona”, “não entendo por
que não consigo mostrar quem sou”. Apesar dos pais a relatarem como agressiva,
irritada, a paciente que se mostra em sessão é tímida, quieta, falando baixo, num tom
quase infantil; suas falas parecem ser ensaiadas. A mãe engravidou após uma crise no
casamento. No decorrer do processo, tanto nos encontros com os pais, quanto nas
sessões com a paciente, é trabalhada a necessidade de ser notada e cuidada e como isso
está relacionado à demanda por atenção e à dificuldade escolar. A partir disso, houve a
recuperação das notas. As conversas entre ela e os pais têm se tornado mais frequentes.
Discussão
No caso apresentado, a paciente revivencia o sentimento de irrealidade do bebê
(Dias, 2003). Ela precisa ser olhada para existir e se sentir real e descobrir quem ela é,
assim como afirma Winnicott (1988). No entanto, os pais não conseguem olhá-la em
suas necessidades, por isso, ela elege outras, em forma de um falso self, para conseguir
receber esse olhar. A dificuldade na escola tem a função de fazer com que os pais se
preocupem e a notem. Só sob esse olhar é que a paciente descobrirá quem é e, embora
essa atenção recaia sobre uma personalidade falsa, ainda assim o self verdadeiro tem a
possibilidade de emergir, uma vez que não houve a cisão típica da psicose e, no caso em
questão, o self verdadeiro está sendo protegido pelo falso (Winnicott, 1983). Esse self
real aparece nos poucos momentos em que mãe dá espaço para que isso ocorra, como
durante as conversas que tem com a filha.
Como a paciente não tem o sentimento de ter um espaço para si em casa e,
portanto, na vida dos pais, precisou fazer uso do falso self como meio de submissão aos
atos dos pais. Winnicott (1983) afirma que quando isso acontece, o bebê perde seu gesto
espontâneo e se adapta aos gestos dos outros. O fato da paciente não saber nomear o
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ISBN 978-85-7846-424-0 46
que está sentindo e não gostar de falar de si evidenciam uma ausência de sentido e, ao
mesmo tempo, um movimento em busca de si mesma, que é normal na adolescência
(Dias, 2003). No entanto, por assumir um falso self, essa busca fica prejudicada, já que o
self verdadeiro está oculto e, por isso não se expressa. No início, a adolescente se
mostrava nas sessões, submissa e preocupada em não contrariar a terapeuta, como
forma de garantir atenção e cuidado. Assim ela não expressava suas vontades, não
dando espaço para o gesto espontâneo. Ela repete no setting, o modo de agir em suas
relações com a realidade externa. Nesse caso, o falso self tem a função criar um ambiente
favorável e seguro para o verdadeiro emergir, o que segundo Winnicott (1983), é uma
forma normal de expressão do falso self. Embora os atendimentos estejam em
andamento, já foi percebido que o falso self se manifesta como estratégia defensiva,
protegendo o verdadeiro e criando condições para que ele venha a emergir. Como disse
Winnicott (1987) citado por Almeida (2015), os pais não poderão abdicar de um tipo de
cuidado para o filho adolescente, até que ele consiga constituir algo que se perdeu no
ambiente.
Considerações finais
No caso apresentado, que se encontra em desenvolvimento, a busca pelo si
mesmo é permeada por expressões do falso self, que fazem com que as angústias das
reedições dos estágios primitivos, sob aspectos peculiares desse novo contexto, sejam
acentuadas. O falso self em questão defende o verdadeiro que passa a existir como
secreto. Apesar disso, o falso self da paciente traz algumas consequências prejudiciais,
como o sentimento de irrealidade e a necessidade de fazer uso de mecanismos que
repercutem na vida como um todo, como o fato da reprovação. O não entender sobre si
mesmo conduz o adolescente à busca pela identidade, pelo seu eu real, mas quando esse
eu é sobreposto por um falso, a descoberta do si mesmo se faz por um caminho mais
tortuoso. A paciente precisa se lançar com seu falso self para, só então, após sentir-se
segura, fazer emergir o verdadeiro. Diante disso, o setting deve funcionar como um
espaço seguro, onde o self verdadeiro possa se expressar (Winnicott,1955/2000). Um
verdadeiro espaço temporal transicional (Almeida, 2012). Isso tem se mostrado, pelo
fato da paciente não precisar agradar a terapeuta o tempo todo nas sessões, às vezes
mostrando sentimentos de raiva nas falas e até discordando. O caso em questão é rico
em manifestações da adolescência, no entanto, neste estudo de caso, foram abordados
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com ênfase os desdobramentos referentes ao falso self, a fim de delimitar as a
explanações de acordo com o objetivo desse estudo.
Referências
Almeida, R. E. S. (2012). O grupo como espaço transicional para jovens frente a questão da escolha vocacional e profissional. In Sei, M. B. (Org.), Clínica psicanalítica na universidade: interfaces, desafios e alcances. Londrina: Eduel.
Almeida, R. E. S. (2015). A temporalidade de um espaço temporal transicional e sua vivência para o adolescente em grupos de orientação profissional. Winnicott e-prints, 10(1), 01-12. Recuperado em 30 de maio de 2017, de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-432X2015000100002&lng=pt&tlng=pt.
Dias, E. O. (2003). A teoria do amadurecimento de Donald Winnicott. Rio de Janeiro: Imago.
Winnicott, D. W. (1955). Formas clínicas da transferência. In: Da pediatria à psicanálise: obras escolhidas. (p. 347-354). Rio de Janeiro: Imago, 2000.
Winnicott, D. W. (1971). O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago Ed.
Winnicott, D. W. (1983). O ambiente e os processos de maturação: estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional. Porto Alegre: Artes Médicas.
Winnicott, D. W. (1987). Privação e delinquência. São Paulo: Martins Fontes.
Winnicott, D. W. (1988). Natureza humana. Rio de Janeiro: Imago, 1990.
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As contribuições da Psicanálise para o tratamento de adictos na
clínica psicanalítica
Márcia Camacho da Silva Cordér 15; Rosemarie Elizabeth Schimidt
Almeida16; Mauro Fernando Duarte17
Palavras-chave: Adicção. Psicanálise. Tratamento.
Introdução
Este artigo baseia-se num estudo bibliográfico acerca de contribuições da
psicanálise no tratamento terapêutico da adicção. Pretende-se percorrer um breve
histórico sobre a adicção e analisar os aspectos da clínica, levando em consideração o
atendimento e processo terapêutico desses pacientes.
Por meio da busca de pesquisa sobre o assunto, pode-se observar que Freud não
se dedicou à teorização sistemática no campo das adicções, porém, o tema da adicção
encontra-se em diversos trabalhos de Freud. Diante disso, o levantamento desse
referencial busca explicar a interação existente no tratamento psicanalítico com
dependentes químicos.
Poiares (1999) afirma que nos dois últimos séculos a droga passou a fazer parte
de uma tríade: a de mercadoria, sendo ela um eixo de união entre os componentes
jurídico, econômico e fiscal; a lúdica e terapêutica, como forma de proporcionar um
maior convívio social e também como tratamento médico; e, por fim, objeto e causa do
crime, perspectiva essa que tem sido emergente, principalmente a partir da metade do
século XX.
McDougall (1997 apud Stacechen; Bento, 2008) afirma o sentido de “adicção”
como qualquer dependência química que pode gerar um "estado de escravidão". Mesmo
diante dessa “escravidão” do indivíduo para com seu objeto adictivo, seja ele qual for
15 Psicóloga (Unifil- Londrina), Pós-Graduanda do Curso de Especialização em Psicanálise Clínica (Universidade Estadual de Londrina). Contato: [email protected]. 16 Título de Doutor em Psicologia - Campinas/BR, área: Psicologia Clínica/Título de Mestre em Educação - Universidade Estadual de Londrina/PR, área: Desenvolvimento Humano/1999. Título de Graduação em Psicologia - Universidade Estadual de Londrina/PR. Professor Associado AC- A da Universidade Estadual de Londrina/PR. Departamento de Psicologia e Psicanálise. [email protected]. 17 Mestre em Psicologia e professor colaborador do curso de especialização de clínica psicanalítica da UEL-PR contato: mauroduarteuel@gmailcom.
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(álcool, drogas comida, sexo, etc.), este objeto não será o motivo de sua real busca, ainda
que ele apresente, diversas vezes, características de alívio ou satisfação.
Para essa autora, a adicção é considerada com uma dificuldade do sujeito de
suportar sentimentos desagradáveis, buscando na droga uma forma de dissipá-los.
Portanto, a real finalidade da busca adictiva seria, através do uso de drogas, acabar com
as tensões com as quais o indivíduo não consegue lidar.
Trata-se de um grande equívoco afirmar que a droga é algo recente em nossa
sociedade. É perceptível que ao longo dos anos, desde os primórdios, a droga já aparecia
em diferentes formas, seja na medicina e na ciência, mas também como expressão de
significado através da magia, da religião, de festas, etc. Em cada cultura, cada época,
meio e fim de administração, a droga era vista e julgada de maneira específica, seja ela
benéfica ou nociva; pura ou impura, sagrada ou não.
As drogas que foram surgindo na contemporaneidade referem-se à cocaína no
final do século XX que reaparece de forma mais violenta. Administrada pelas vias
intranasal e endovenosa, foi associada, no Brasil, à infecção do HIV no final dos anos 80.
A partir dos anos 90 percebeu-se um grande aumento do consumo de crack, uma
mistura de bicarbonato de sódio e de cocaína aquecida e fumada na forma de pedra. Um
dos fatores que influenciaram o aumento no consumo de crack é o seu potencial de
dependência e o baixo custo.
Contudo, para McDougall (1995), a adicção começa a se estabelecer muito
precocemente, conforme um padrão de relacionamento adictivo se desenvolve a relação
mãe-bebê. O bebê teme profundamente desenvolver os próprios recursos para lidar com
tensão, não desenvolve a capacidade de ficar só e busca constantemente a presença da
mãe para lidar com qualquer experiência afetiva.
Portanto, a prática clínica no atendimento à adicto traz um olhar mais voltado
para o campo da transferência e do vínculo, segundo a autora:
A cura psicanalítica se realizará fundamentalmente no campo da transferência. Se
a finalidade da análise é propiciar a emergência da simbolização, ela se realiza
mediante a análise da resistência, pela colocação da repetição no campo da
transferência, onde a significação encontra a condição de possibilidade para se
articular. O campo analítico está assim circunscrito entre o sentido e a força
pulsional. E o analista não pode se contentar em pensar as relações entre analista
e analisando em termos racionais. Tem que se entregar à experiência
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transferencial, para manter as coordenadas do espaço analítico e para que a
simbolização possa se articular. (Chaves, 2006, p109).
Espera-se encontrar neste trabalho uma compreensão da perturbação psíquica
produzida por afetos não simbolizados, ou seja, uma “intoxicação psíquica” citada por
Freud (1930, apud Gomes, 2010) como uma forma direta de prazer que possibilita o ser
humano afastar-se da realidade, como também a expectativa de encontrar modelo de
organização da psicanálise no trabalho terapêutico da adicção.
Sendo assim, demonstrar por meio do método de pesquisa qualitativa a
importância e a contribuição da Psicanálise e da psicoterapia de orientação psicanalítica,
como pilares teóricos e metodológicos que visam ampliar as possibilidades de
recuperação, abstinência e cura de si mesmo.
Objetivo
Neste artigo, o objetivo central é elaborar um estudo psicanalítico sobre o
fenômeno da adicção, efetuando um recorte nesse contexto para promover uma
fronteira clínica e teórica a partir do qual seja possível discutir e levantar possíveis
contribuições no tratamento dos sujeitos adictos, através da investigação de outros
estudos sobre o tema. E, cumprir a formalidade do processo de Conclusão do Curso de
Especialização em Clínica Psicanalítica.
Método
A fim de atingir os objetivos propostos, será realizado um estudo teórico sobre as
ideias de Freud, Décio Gurfinkel, J. McDougall, entre outros conceituados autores da
psicanálise, acerca das contribuições do tema para o tratamento de adictos na clínica
psicanalítica. Diante disso, busca-se alçar as implicações da psicanálise que oriente o
profissional no conhecimento psíquico do adicto, por meio da intervenção clínica.
Resultados e discussões
Na temática apresentada do estudo em desenvolvimento sobre a relação do
adicto com as drogas, segundo a teoria psicanalítica, tem nos apresenta o quanto o papel
do ambiente é importante. Um indivíduo que não tem um ambiente facilitador, ou seja,
uma mãe suficientemente boa, tem uma real possibilidade de relacionar-se com outros
objetos, de forma patológica, no caso as drogas. Diante dessas questões que serão
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aventadas, poderá ficar registrado a grande importância da prática clínica psicanalítica,
corroborando o ato da drogadicção do sujeito perante as falhas do ambiente.
Sendo assim, demonstrar por meio desse estudo, a importância e a contribuição
da Psicanálise e da psicoterapia de orientação psicanalítica, como pilares teóricos e
metodológicos que visam ampliar as possibilidades de recuperação, abstinência e cura
de si mesmo e dos pacientes drogadictos que se encontram em sofrimento.
Considerações finais
Com a proposta de pesquisa apresentada fica registrado a importância do estudo
das adicções na prática da clínica psicanalítica, promovendo um reconhecimento desse
indivíduo e acendendo uma nova oportunidade de se conhecer como um ser integrado.
Ademais, a clínica das adicções, é um ambiente natural para a psicanálise, e da
possibilidade de reconstrução de algo para o sujeito que poderá ser atendido. Esta
pesquisa fica com a proposta de contribuir para novos estudos, sendo possível a
descoberta de novos caminhos.
Referências
Dolto, F. ( 1988.). A primeira entrevista em psicanálise.6. ed. Rio de Janeiro: Prefácio. In.
Flavio Carvalho Ferraz, R. M. (1997). Psicossoma, Psicossomática, Psicanalítica. SãoPaulo: Casa do Psicólogo.
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Lacan, J. (1969). Duas notas sobre a criança. (t. S. Sobreira, Trad.) Revista do Campo Freudiano, nº 37, 1986.
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Rubens Marcelo Volich, F. C. (1997). Psicossoma, Psicossomática, Psicanalítica. São Paulo: Casa do Psicologo.
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Chaves, E. (2006) Toxicomania e transferência. Dissertação (Mestrado em Psicologia Clínica) Universidade Católica de Pernambuco, Recife.
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Em se tratando de atendimento infantil, quem é o paciente?
Maristela Helfenstein18; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida 19; Paulo
Victor Bezerra20
Palavras-chave: Psicanálise, Psicoterapia, Atendimento Infantil.
Introdução
Este trabalho de pesquisa tem como objetivo refletir sobre o atendimento clínico
infantil sob a visão da Psicanálise. Parte de uma breve compreensão histórica, fazendo
uma revisão das teorias psicanalíticas sobre a criança e seu sintoma e o sintoma
parental, além de sintetizar os principais manejos técnicos sugeridos por autores de
grande relevância no campo da psicanálise. Como ponto central a escuta psicanalítica de
crianças, procura-se refletir sobre a questão de saber se o psicanalista infantil deve ou
não receber os pais, ou se estes devem ou não aparecer na cena analítica.
A prática clínica infantil constitui-se um grande desafio para o psicanalista,
embora a Psicanálise seja a clínica do sujeito, no entanto a clínica com crianças gera
alguns impasses:
- Receber uma criança para atendimento nos coloca diante de uma questão
intrigante: de quem se trata, quando se trata de uma criança?
Haja vista que quando os pais solicitam ajuda para o filho, os profissionais dessa
área também estão diante de uma problemática própria de cada um deles, pois pais e
filho, “constroem” uma história entrelaçados. Quanto mais pais e filhos estão implicados
18 Psicóloga formada pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) Bacharel em psicologia, pela Universidade Noroeste do Rio Grande do Sul. Especializanda em Clínica Psicanalítica pela Universidade Estadual de Londrina. email: [email protected]. 19 Psicóloga. Doutora em Psicologia Clínica -2006-Puuccamp. Professora Associada Uel - Graduação e Pós-Graduação em Psicologia -Departamento de Psicologia e Psicanálise. Universidade Estadual de Londrina (UEL-PR). Coordenadora de projetos de pesquisa e extensão sobre Adolescência e Orientação Profissional. Coordenadora do curso de Especialização em Clínica Psicanalítica-UEL-PR. Atua na Clínica Psicanalítica. Contato: [email protected]. 20 Possui graduação em Formação de Psicólogo - UNESP - Faculdade de Ciências e Letras de Assis (2008), mestrado em Psicologia e Sociedade pela Faculdade de Ciências e Letras de Assis (SP) (2011) e doutorado em Psicologia e Sociedade pela Faculdade de Ciências e Letras de Assis (SP) (2015). Atualmente é professor colaborador da Universidade Estadual de Londrina e psicólogo clínico. [email protected].
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entre si, tanto mais se percebe que um pode estar falando no “lugar” do outro. Deste
modo, os pais podem fazer a criança “falar por eles”, como a criança pode fazer a mãe ou
o pai “falar por ela”.
Assim, a questão de saber se o psicanalista infantil deve ou não receber os pais,
ou se estes devem ou não aparecer na cena analítica, remete a pensar sobre o manejo no
atendimento infantil. Destacando que os pais procuram atendimento, quando a criança
apresenta algum sintoma, que pode ser próprio da criança, mas também esse sintoma
pode vir para denunciar questões próprias dos pais. E assim entramos no campo da
sintomatização parental.
Para Lacan (1969) o sintoma da criança é capaz de responder pelo que há de
sintomático na estrutura familiar. Lacan remete à questão da relação entre a estrutura
familiar e o sintoma da criança, onde existe a possibilidade de uma apropriação
sintomática da criança através de suas produções fantasmáticas, ou de um
assujeitamento ao desejo do Outro.
Já para Manonni (1967/2003), os pais estão sempre implicados, de certa
maneira, nos sintomas trazidos pela criança. A autora pontua que é raro que não se
perceba, por trás de um sintoma infantil, certa desordem familiar. Dolto (1988)
compreende que a criança encarna e presentifica através dos seus sintomas, as
consequências de um conflito vivo, familiar ou conjugal, camuflado e aceito por seus
pais.
Outro ponto que merece ser destacado quanto à clínica infantil diz respeito a
quem é o paciente. De acordo com Siencman (2000), uma das principais diferenças desta
clínica (da infância) é o fato de que não se sabe, a priori, quem será o paciente: a criança
ou os pais, uma vez que esta criança vem de um meio social específico e de uma família
particular, sendo produto desta. Esta autora ainda define que é preciso que o terapeuta
“desvende” a quem diz respeito o sintoma que a criança carrega. Neste caso percebe-se
que o trabalho com a criança e com os pais é muito importante.
Objetivos
Esta pesquisa tem como objetivo, procurar compreender dentro da teoria
psicanalítica quem é o paciente em uma análise de crianças. A criança deve ser vista
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como sintoma dos pais, como um psiquismo independente ou se deve encarar a inter-
relação entre o psiquismo parental e o da criança? As atuações clínicas são diferentes,
no manejo clínico. Isto leva à pergunta de quem é o paciente na psicanálise de criança e
quais as configurações possíveis para este atendimento. A inclusão ou exclusão dos pais
no tratamento de uma criança, a possibilidade de se trabalhar com a família, o
atendimento mãe e filho, são opções que decorrem tanto de uma determinada maneira
de pensar o fazer clinico quanto de saber quem é efetivamente o paciente ou pacientes.
Metodologia
A pesquisa será em forma de revisão bibliográfica, abordando diferentes autores
clássicos sobre o atendimento infantil, possibilitando a comparação das distintas visões
teóricas dentro dos conceitos psicanalíticos. Primeiramente será pesquisado sobre o
sintoma infantil e o sintoma parental. E após as diferentes visões psicanalíticas no
manejo de atendimento infantil, tais como as de Manonni, Ana Freud, Klein e Winnicott.
Resultados esperados
Essa pesquisa ainda está em andamento e pretende-se alcançar os resultados
esperados.
A família é o espaço em que a criança deve se sentir protegida e amada, mas nem
sempre as famílias apresentam condições mínimas para um desenvolvimento sadio dos
filhos. Os sintomas trazidos pela criança podem refletir aspectos da dinâmica familiar,
sintomas que denunciam que algo não vai bem. Compreende-se então, que no
atendimento infantil, é necessário que os pais façam parte da cena analítica.
Ao recebermos uma criança para avaliação, não a recebemos de forma isolada.
Recebemos também seus pais, seus avós, seus irmãos, seu ambiente, via discurso. E
todas estas pessoas se tornam fatores importantes, até mesmos decisivos, para o
sucesso ou fracasso de uma psicoterapia.
Na maioria dos casos onde há procura por atendimento psicoterápico, os pais ou
responsáveis já realizaram algumas tentativas de ajuda para esta criança que está em
sofrimento. Percebe-se também que as famílias fazem tentativas de se adaptarem ao
comportamento sintomático que seus pequenos membros apresentam, e se o terapeuta
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não for sensível o suficiente para compreender toda esta cadeia, pode ter dificuldades
em executar o que se propõe.
Muitas vezes, não há somente o comportamento do paciente, mas também a
bagagem que esta família carrega. Como lidar com as semelhanças e também com as
diferenças? Observações como “ele é igual a mim quando eu tinha esta idade” são
frequentes no discurso dos pais.
As relações vinculares como terapeutas estabelecem com os familiares dos
pacientes, um questionamento sobre quem é o paciente. Pela sensibilidade de muitas
crianças, estas podem nomear a doença da família, tornando-se depositárias de uma
bagagem que nem sempre é só delas.
Durante a escuta analítica de crianças, torna-se imprescindível à escuta dos pais,
uma vez que, para que se sintam também acolhidos e entendidos, o tripé paciente –
terapeuta – família há que ser preservado.
Considerações Finais
Este trabalho pode possibilitar uma melhor compreensão acerca das diferentes
formas de manejo clinico no atendimento infantil. Espera-se posteriormente contribuir
para uma reflexão sobre a importância dos pais ou não na cena analítica.
Referências
Dolto, F. (1988.). A primeira entrevista em psicanálise.6. ed. Rio de Janeiro: Prefácio. In.
Flavio Carvalho Ferraz, R. M. (1997). Psicossoma, Psicossomática, Psicanalítica. SãoPaulo: Casa do Psicólogo.
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Stacechen, L. F. (2008). Consumo excessivo e Adicção na pós modernidade. Fractal, Rev. Psicol v. 20, n.2 , 421-435.
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Depressão na contemporaneidade: uma análise do filme “Entre
Abelhas”
Mayra Ramalheira de Almeida 21; Rosemarie Elizabeth Schimidt
Almeida22; Paulo Victor Bezerra23
Palavras-chaves: Depressão; Psicanálise; Cinema
Introdução
Tratada como a doença da sociedade moderna, a depressão possui características
que exprimem desde uma patologia grave até a ser apenas mais um sintoma do sujeito
diante do momento real que se vive. Assim, suas características podem determinar uma
melancolia em si ou ser apenas um sintoma constituinte de outra patologia. (Esteves &
Galvan, 2006). Dentro dos quadros clínicos da psicanálise, segundo Delouya (2010), a
depressão nunca ocupou um lugar de destaque entre seus temas, diferentemente da
psiquiatria, que adere os sintomas depressivos em grande parte dos quadros
patológicos.
No Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 4ª edição, (DSM-IV),
da Associação Psiquiátrica Americana, e a Classificação de Transtornos Mentais e de
Comportamento da CID- 10, da Organização Mundial da Saúde, dissipam a melancolia na
depressão. Consequentemente, os capítulos sobre os transtornos do humor desses
Manuais, os denominados “transtornos bipolares” não se referem mais à melancolia-
mania, mas à depressão-mania (Berlinck & Fédida, 2000).
No campo da psicanálise, Kehl (2015) coloca que o ensaio “Luto e melancolia” de
1917 da teoria freudiana veio muito a acrescentar sobre a melancolia, retirando esta do
campo da psiquiatria, porém, salienta que muito deve ser discutido e elaborado sobre a
sobre a clínica das depressões. Neste escrito, Freud nos lançou luz sobre a origem e o
21 Especializanda no curso em Clínica Psicanalítica da Universidade Estadual de Maringá. Graduada em Psicologia pela Universidade Estadual de Maringá. [email protected]. 22 Coordenadora do Curso de Especialização em clínica psicanalítica. - Doutora em Psicologia PUCCAMP – Campinas. Mestre em Educação - Universidade Estadual de Londrina/PR. Graduação em Psicologia - Universidade Estadual de Londrina/PR. [email protected] 23 Doutor em Psicologia e Sociedade pela Faculdade de Ciências e Letras de Assis (UNESP), Mestre em Psicologia e Sociedade pela UNESP e graduação em Formação de Psicólogo – UNESP. [email protected].
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caráter da depressão em seu sentido descritivo, dado como “nostalgia de algo que foi
perdido”, algo que se articula com o luto (Delouya, 2010).
Freud (1917/1996) definiu o luto como resultado da perda de um objeto
particularmente investido. É um processo que está inscrito no tempo e sua elaboração
só se faz paulatinamente, havendo a liberação da inibição própria e absorção da libido e
assim, o deslocamento a um novo objeto.
Lacan (1974/1993) pensou na depressão do seu ponto de vista ético, entendendo
o sujeito na sua emoção triste ou depressiva, levando em conta que este é o sujeito da
escolha e responsável por seu desejo. Péret (2003) acrescenta a depressão na clínica
lacaniana, é considerada como uma paixão da alma, um afeto e manifesta-se na vida do
sujeito mediante a perda, surpresa, o acaso, e deve ser verificada no um a um da
experiência analítica.
Assim colocado, para Lacan a depressão seria um afeto normal porque se
estrutura no sujeito em uma relação de gozo – ao inverso do sintoma, ou seja, é um afeto
que aparece em um momento que o sujeito evita a sua própria determinação
inconsciente, cede ao desejo, não querendo saber o que determina (Lacan, 1974).
A depressão tem certa relação com a cultura atual, que se mostra maníaca e
onipotente, tentando excluir o mal-estar e a ‘dor de existir’, ponto nodal do narcisismo e
que são inerentes ao sujeito. Kehl (2015) afirma que esta relação proporciona a
depressão como produto da cultura, colocando ela no campo psiquiátrico e
farmacológico. Contudo, na psicanálise, o que se ressalta é o desejo, sendo este o que
possibilita o sujeito a redimensionar a castração e a sustentar a singularidade de seu
desejo. Como já dizia Lacan (1962-63, p. 115), “o melhor remédio para a angústia é o
desejo”.
Para articular a temática da depressão contemporânea dentro do campo da
psicanálise, será utilizado neste estudo o cinema, uma base na qual podemos vivenciar e
se relacionar através de uma experiência singular. Psicanálise e o cinema são frutos de
um mesmo momento histórico, marcado pelas promessas, mas também pelas demandas
sociais de um significativo avanço industrial e capitalista (Souza, 2012). São continentes
que sempre se mantiveram em uma atração mútua, pois são campos que se articulam
através da linguagem e com diversos significantes em comum. Conforme Ramos (2000),
a psicanálise exerce uma função explicativa, e que algumas obras artísticas, surgem
diante da perspectiva autoral, surgem como manifestações da ordem do sintoma.
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Diante disso, serão utilizadas algumas vinhetas da cinematografia “Entre
Abelhas” (2015) para ilustrar o conteúdo contemporâneo da depressão no campo da
psicanálise, a fim de que mostrem reflexões para profissionais da área.
Objetivos
O objetivo geral desta pesquisa é articular o conceito de depressão
contemporânea na clínica psicanalítica com a análise do filme “Entre abelhas”. Como
específicos, será realizado um levantamento bibliográfico nas obras de Freud - “Luto e
Melancolia” e de Lacan (Seminário X – A angústia). Além de realizar buscas sobre a
depressão na contemporaneidade na perspectiva analítica, bem como analisar o filme
“Entre Abelhas”, a fim de se estabelecer os conteúdos recorrentes destes com o
conteúdo bibliográfico.
Método
O método será um estudo exploratório atrelado à análise do filme Entre Abelhas.
Assim, a referida pesquisa buscará produzir conhecimentos úteis no campo da
psicanálise, e se utilizará de livros, e artigos científicos que constam nas bases de dados
eletrônicas (PePSIC, Scielo, e Google Acadêmico), utilizando-se das palavras-chave
“Depressão”, “Contemporâneo” e “Psicanálise” de modo cruzado a partir da perspectiva
freudiana e lacaniana.
Com relação a análise fílmica, buscará combinar alguns aspectos de comparação
entre o fazer do montador no cinema que, dentre outras operações, articula sequências e
produz cortes no processo fílmico e o fazer do analista em sua escuta da cadeia
associativa produzindo recortes e interpretando, tendo por bússola a transferência
(Froemming, 2002). Assim, serão analisadas interlocuções e cenas do filme no qual
chamam a atenção para traçar um paralelo com a temática “depressão na
contemporaneidade”.
Resultados e Discussão
A cinematografia Entre Abelhas, escrita pelo ator e comediante Fábio Porchat ao
juntamente com o diretor Ian Sbf apresenta à situação de Bruno, que, recém-divorciado
de Regina, passa a morar com a mãe, ao mesmo tempo em que é levado pelo melhor
amigo Davi para uma vida de baladas. Aos poucos, nessa nova rotina, Bruno percebe que
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as pessoas ao seu redor estão desaparecendo - não deixando de existir, já que ele ainda
sente as pancadas quando tromba com os seres agora invisíveis na rua, ele apenas não
consegue mais vê-las. Por não ver e não falar mais com tais pessoas, ele começa a se
isolar, se retirando de sua rotina de trabalho e da vida social, caracterizado como um
estado depressivo.
A depressão é empregada na clínica psicanalítica para dizer de situações
psíquicas de um sujeito com dificuldades em elaborar as suas determinações
inconscientes. Cada sujeito possui diversas maneiras de representar a depressão, que só
a análise pode decifrar.
O enredo do filme é desenvolvido sugerindo alguns sintomas depressivos, diante
da separação. Tal situação demonstra que o personagem está sofrendo um processo de
luto. Sobre o trabalho do luto Freud (1917/1996) definiu que este resulta da perda de
um objeto particularmente investido. Há um movimento do personagem em aceitar a
sua condição, desistindo de buscar soluções e assentindo em não enxergar pessoas. Tal
cena é retratada através da fala do psicólogo para Bruno no filme: “Será que deixando de
enxergar a todo mundo, você passou a se enxergar mais? ”.
Percebe-se que o sujeito goza diante da situação do ver, havendo uma repetição
diante da situação, e assim, ele deixa de ver mais pessoas a cada vez, mas não havendo
entendimento sobre o porquê isto ocorre. Lacan (1974) contribui dizendo que a
depressão é um afeto normal, e que se repete na estrutura do sujeito em forma de gozo.
Bruno se gratifica da situação de não se ver – ele passa a se ver mais e
consequentemente, se isolar, não possuindo o Outro como imagem.
Segundo Kehl (2015), a depressão do ponto de vista social expressa a
desvalorização que o sujeito possui de sua vida e interrogando o seu sentido diante do
espelho, e assim, não existe passado ou futuro, e o sujeito se desprende de qualquer
situação. O personagem Bruno, ao deixar de ver e, consequentemente, falar com as
pessoas, passa para um estado de isolamento. Foi a aceitação em não ver mais os outros,
que fez com que o personagem entrasse mais afundo neste estado de solidão.
Considerações Finais
O contato do estudo da depressão na contemporaneidade faz-nos perceber o
quanto a psicanálise cresceu e se desenvolveu desde as teorizações freudianas,
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permitindo pensar a postura profissional a que compete a um analista frente às
demandas atuais.
No estudo em questão, percebe-se que no decorrer do filme o que foi ofertado ao
personagem e que vai de encontro com o que a psicanálise pode ofertar ao deprimido,
que é um percurso livre de pressa e de demanda do Outro. Cabe ao personagem do filme
estabelecer seu ritmo particular, com contorno pulsional para sair da situação de
deprimido. Deste modo, a análise fílmica contribui para dar compreensão a visão
psicanalítica na depressão, e esse método de estudo vai comprovando sua eficácia pois
para os profissionais da área tem agregado valor a temática da Depressão, ao seu
conhecimento e possibilidades de novos estudos a partir disso.
Referências
Berlinck, M. T., & Fedida, P. (2000). A clínica da depressão: questões atuais. Rev. latinoam. psicopatol. fundam.., 3(2), 9-25. http://dx.doi.org/10.1590/1415-47142000002002
Delouya, D. (2010) Depressão. Coleção clínica psicanalítica 5 ed. - São Paulo: Casa do Psicólogo.
Esteves, F. C., & Galvan, A. L. (2006). Depressão numa contextualização contemporânea. Aletheia, 24, 127-135.
Freud. S. (1996). Luto e Melancolia. In: Obras completas de Sigmund Freud: Edição Standard brasileira (Vol. XIV, pp. 249-266). São Paulo: Imago. Originalmente publicado em 1917.
Froemming, L. S. (2002) A montagem no cinema e a associação-livre na psicanálise. Tese de doutorado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Rio grande do Sul, Brasil.
Kehl, M. R. (2015). O tempo e o cão: A atualidade das depressões. São Paulo: Boitempo.
Lacan, J. (1993). Televisão. Tradução de Antonio Quinet. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. Originalmente publicado em 1974.
Lacan, J. O Seminário, livro 10 - A angústia (2005). Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. Originalmente publicado em 1962-63.
Péret, M. F. F. (2003). A depressão na clínica lacaniana: Um estudo de caso. Dissertação de mestrado, Universidade Católica Dom Bosco. Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Brasil.
Ramos, F. (2000). Teoria do cinema e psicanálise: intersecções. In: Bartucci, G. (org.) Psicanálise, cinema e estéticas de subjetivação. Rio de Janeiro: Imago.
Souza, M. R. (2012). Inquietantes traslados: uma leitura psicanalítica do filme Encontros e Desencontros. Psicologia em Estudo, 17(4), 587-595. https://dx.doi.org/10.1590/S1413-73722012000400005
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Possibilidades da psicanálise em casos de alienação parental
Naiara Calvi Oliveira24; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida 25
Palavras-chave: Alienação Parental, Psicanálise, Alienação.
Introdução
O presente estudo tem por objetivo compreender o conceito de Síndrome de
Alienação Parental e suas implicações no funcionamento psíquico da criança e da
dinâmica familiar. O interesse pelo tema advém da prática de trabalho dentro do Centro
de Referência de Assistência Social, o qual recebe demandas advindas do Poder
Judiciário com relação a revisão de guarda e/ou regulamentação de visitas.
Ressalta-se a importância da legislação acerca dos direitos da criança e do
adolescente, assegurados por meio da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, o Estatuto da
Criança e do Adolescente e a Lei nº 12.318, de 26 de outubro de 2010, que dispõe sobre
a alienação parental. Esta última, regulamenta o convívio dos filhos com os pais, após a
separação (Brasil, 2010).
O psiquiatra Richard Gardner cunhou os termos Alienação Parental (AP) e
Síndrome de Alienação Parental (SAP) em 1985, como resultado de seu extenso trabalho
no âmbito jurídico. Ao longo de mais de vinte e cinco anos de dedicação em avaliações
psicológicas de menores envolvidos em processos litigiosos entre seus responsáveis,
Gardner pôde observar que a Alienação Parental é o fenômeno onde um ou ambos
genitores alteram a percepção cognitiva e emocional da ou das crianças a respeito do
outro genitor (Gardner, 1998 apud Brockhausen, 2011).
Conforme disposto na Lei nº 12.318/10, em seu artigo segundo:
Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da
criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos
avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda
24 Psicóloga, graduada pela Universidade Estadual de Maringá e pós-graduanda Latu-sensu pela Universidade Estadual de Londrina. Contato: [email protected]. 25 Psicóloga. Doutora em Psicologia Clínica - 2006 – Puccamp. Atua como professora associada na graduação e pós-graduação em Psicologia da Universidade Esadual de Londrina (UEL-PR). Coordenadora de projetos de pesquisa e extensão sobre: Adolescência e Orientação Profissional. Coordenadora do Curso de Especialização em Clínica Psicanalítica.UEL/PR.
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ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento
ou à manutenção de vínculos com este (Brasil, 2010).
O desenvolvimento da Síndrome de Alienação Parental no menor depende de
dois fatores, de acordo com Gardner como citado por Brockhausen (2011): 1- a
argumentação feita ao menor para hostilizar um dos genitores e afastá-lo dele, e 2- as
atitudes desta criança para sustentar a depreciação contra o genitor alienado.
Ao refletir sobre a cultura, os valores sociais e os relacionamentos das famílias
brasileiras, percebe-se uma maior vinculação e cuidados do genitor masculino com os
filhos. Na tentativa de buscar igualdade no exercício da função parental, os pais vêm
assumindo todo o tipo de tarefas e responsabilidades com seus filhos. Quando a relação
conjugal termina, procuram manter os laços e a convivência com seus herdeiros, porém
com frequência são impedidos pelo ex-cônjuge guardião. Consequentemente, recorrem
aos Juizados da Família dando entrada em processos de regulamentação de visitas e
guarda (Souza, 2010).
Assim, sob a ameaça de perder a autoridade parental, a função e o papel de
protetor e até os vínculos afetivos, genitores de ambos os sexos passaram a produzir a
Síndrome da Alienação Parental em seus filhos, na tentativa de conquistá-los como seus
aliados no processo judicial (Souza, 2010).
Com a sanção da Lei nº 12.318/10, que dispõe sobre a alienação parental, faz-se
necessário discutir sobre o impacto do tema no processo de divórcio de um casal, na
dinâmica familiar e no funcionamento psíquico dos familiares, principalmente das
crianças ou adolescente destas famílias.
Em especial para o profissional psicólogo que irá intervir junto às crianças com a
função, muitas das vezes, de identificar as “verdades” do litígio do ex-casal parental,
como por exemplo: agressões verbais e físicas, abandono, abuso sexual, exploração do
trabalho infantil, além da síndrome da alienação parental.
Por isso é muito importante esse estudo, a medida que o profissional poderá
beneficiar-se de uma compreensão psicanalítica da SAP, que possa trazer contribuições
à intervenção. A Teoria Psicanalítica tem como princípio desvelar sintomas e dinâmicas
do psiquismo humano. Nesse sentido, pontuando a importância dos genitores, do
cuidado dirigido ao sujeito e do ambiente em sua constituição, a obra de Winnicott
(2011) poderá elucidar questões relevantes a esta temática social extremamente
relevante à infância.
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Objetivos
Com esta pesquisa pretende-se compreender o conceito de Síndrome de Alienação
Parental a partir de um embasamento psicanalítico e suas implicações no
funcionamento psíquico da criança e da dinâmica familiar.
Método
O método escolhido para o desenvolvimento do estudo foi o de revisão bibliográfica.
De acordo com Ferrari (1992), a pesquisa bibliográfica compreende a leitura, a seleção e
o fichamento dos tópicos de interesse para a pesquisa em pauta, com o intuito de
conhecer as contribuições efetuadas em relação ao assunto investigado. Dessa forma,
será feito um levantamento seletivo da literatura existente sobre a alienação parental
em bases de dados especializadas em Psicologia, priorizando aqueles relativos à
abordagem psicanalítica.
Para o primeiro levantamento de dados, utilizou-se os termos “alienação
parental” nas bases de dados eletrônicas indexadas à Biblioteca Virtual em Saúde Brasil
– Psicologia, no sítio www.bvs-psi.org.br. Assim, localizou-se trinta e cinco artigos, sendo
nove no SciELO, nove no PePSIC e dezessete na LILACS, como resultado da busca.
Nesta triagem, restaram quinze artigos, que serão analisados um a um. Procura-
se verificar nestas fontes de dados as formas como a síndrome de alienação parental se
manifesta e de que forma o psicólogo pode intervir, dentro dos limites de um Centro de
Referência de Assistência Social, auxiliando no desenvolvimento psíquico saudável de
crianças vítimas dessa realidade, levando em conta seu conhecimento teórico-prático
psicanalítico, com ênfase em Winnicott.
Resultados
Efetivamente, a Síndrome da Alienação Parental ainda não é reconhecida no
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição, compêndio
psiquiátrico que legitima o sofrimento psíquico perante a sociedade. No entanto, o fato
de que não seja reconhecida como uma “doença”, não significa que não exista. As
pessoas que a vivenciam estão sujeitas a um abuso psicológico grave, no qual se instiga
medo, ressentimento e raiva contra um genitor que era figura de amor e proteção
(Maiada, Herskovic, & Prado, 2011).
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De acordo com Maiada et al. (2011), a SAP caracteriza-se pela existência de uma
campanha de difamação e rejeição a um genitor, por parte do alienador, transferindo
posteriormente a tarefa para a criança. O menor passa a manifestar argumentos
absurdos e frágeis para a desqualificação do genitor, porém tem a percepção de que são
conclusões suas, negando qualquer influência de outrem. Percebe-se apoio incondicional
ao alienador, sem questionar a validade de seus juízos sobre o outro. Pode manifestar
ausência de culpa pela crueldade dirigida ao alienado, comportamento que não seria
permitido em outras circunstâncias. Há presença de discursos emprestados, pois são
incompatíveis com a cognição verbal da criança. A animosidade ao pai alienado se
estende a sua família de origem e aos amigos.
Nesse processo de alienação parental, os filhos são negligenciados por seus pais,
suas necessidades e até seus pensamentos são capturados pela objetividade do adulto e
confundidos com as suas próprias. Preocupados em reconstruir a rotina familiar, mães e
pais tornam-se cegos aos comportamentos dos herdeiros. A convicção equivocada de
que a felicidade dos pais, tornará os filhos mais felizes, é alicerçada no fato persistente
de que a maioria dos adultos é incapaz de captar a visão de mundo de uma criança e de
como ela pensa. (Wallerstein, Lewis, & Blakeslee, 2002).
Dessa maneira, é difícil para os pais preparar seus filhos adequadamente para a
iminente separação e proporcionar-lhes o conforto de que precisam. Assim, Souza
(2010) propõe um serviço de auxílio à família pós-divórcio onde a equipe
multidisciplinar dos Juizados de Família ou dos Centros de Referência de Assistência
Social ofereça a oportunidade de os pais refletirem sobre a superação dos impasses e um
possível acordo judicial, de esclarecer suas dúvidas e dificuldades quanto à nova forma
de organização da família, bem como trabalhar junto às crianças seus anseios, temores e
questionamentos sobre tal organização.
Considerações Finais
Ao longo dos quase quarenta anos em que o divórcio foi instituído no país,
realizaram-se mudanças radicais na estrutura e na dinâmica familiar. Os mitos que
monitoram nossas teses e políticas a respeito do divórcio sustentam que a separação
gera uma crise temporária, e que o bem-estar dos pais, gera felicidade em seus filhos.
Todavia, Wallerstein, Lewis e Blakeslee (2002) apontam em seus estudos longitudinais
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sobre divórcio que estas são premissas frágeis, pois as emoções despertadas na
separação não são fáceis de serem vivenciadas e superadas.
Considerando esta realidade, a criança que desenvolve a síndrome de alienação
parental além de um sofrimento psíquico acentuado, tem seus direitos violados,
demandando dos profissionais que trabalham no âmbito jurídico e em Centros de
Referência de Assistência Social um olhar mais acurado às complexas relações
familiares.
O presente estudo, ainda em desenvolvimento, possibilita compreender que a
síndrome de alienação parental se desenvolve não só pela intensa ação do alienador,
mas por múltiplas circunstâncias psicodinâmicas da criança, dentre outras questões a
serem melhor investigadas como aponta Brockhausen (2011).
Referências
Brasil. (2010). Lei nº 12.318, de 26 de agosto de 2010. Publicada no Diário Oficial da União em 31 de agosto de 2010.
Brockhausen, T. (2011). SAP e Psicanálise no Campo Psicojurídico: de um amor exaltado ao dom do amor. Dissertação de mestrado, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil.
Ferrari, A. (1992). Metodologia da pesquisa científica. São Paulo: Mcgraw-Hill do Brasil.
Maiada, A., Herskovic, V., & Prado, B. (2011). Síndrome de alienacíon parental. Revista Chilena de Pediatría, nov. – dic., 82, 6. Recuperado em 12 outubro, 2016, de LILACS.
Souza, A. M. (2010). Síndrome da alienação parental: um novo tema nos juízos de família. São Paulo: Cortez, 2010.
Wallerstein, J., Lewis, J., & Blakeslee, S. (2002). Filhos do divórcio. São Paulo: Edições Loyola, 2002. Recuperado em 14 outubro, 2016, de https://books.google.com.br/books?id=y1F-ocl0swQC&pg=PA29&lpg=PA29&dq= onepage&q=Filhos%20do%20Div%C3%B3rcio%20Judith%20Wallerstein&f=false
Winnicott, D. W. (2011). A família e o desenvolvimento individual. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 2011.
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Psicossomática: contribuições de Winnicott e Joyce McDougall
Rosilene Devechi26; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida 27; Mauro
Fernando Duarte28
Palavras-chave: Psicossomática. Psicologia. Psicanálise.
Introdução
Este artigo baseia-se no tema da psicossomática, um campo de atuação e
pesquisa tanto atual e interessante, quanto profundo aos estudiosos ligados à psicologia.
Analisar os aspectos constitutivos de uma patologia orgânica, partindo do pressuposto
de que o homem não é uma máquina, e trazendo à tona a necessidade de avaliar também
sua história de vida, é uma tarefa importante para a compreensão da visão
contemporânea do ser humano, e caracteriza diretamente o foco dos estudos da
psicossomática.
O termo psicossomático compreende toda perturbação somática relacionada
direta ou indiretamente com processos psicológicos mal elaborados (McDougall, 2001).
Atualmente, o estudo da psicossomática tem como finalidade estudar e integrar a
doença na dimensão psicológica, propiciando um melhor entendimento do paciente e
uma ação terapêutica mais abrangente e significativa.
Por ser um tema importante dentro da psicologia, é de grande valia assimilar
aspectos tão importantes do funcionamento humano, complexidade das relações através
de seus sintomas psicossomáticos. McDougall (2000) explica que os afetos são
manifestações psíquicas de carga de excitação que vem do corpo, na medida em que
essas cargas se tornam acumuladas como manifestação psíquica, a tendência do nosso
aparelho psíquico é descarregar essas tensões, mas esse descarregar só é possível para o
sujeito que possui representações disponíveis.
26 Psicóloga (Unifil- Londrina), Pós-Graduanda do Curso de Especialização em Psicanálise Clínica (Universidade Estadual de Londrina). [email protected]. 27 Doutor em Psicologia - Campinas/BR, área: Psicologia Clínica/Mestre em Educação - Universidade Estadual de Londrina/PR, área: Desenvolvimento Humano/1999. Título de Graduação em Psicologia - Universidade Estadual de Londrina/PR. Professor Associado AC- A da Universidade Estadual de Londrina/PR. Departamento de Psicologia e Psicanálise. [email protected]. 28 Mestre em Psicologia e professor colaborador do curso de Especialização Clínica Psicanalítica. Universidade Estadual de Londrina UEL-PR. [email protected].
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Objetivo
Desse modo, o objetivo dessa pesquisa é contextualizar á psicossomática,
enfocando as ideias dos autores Winnicott e Joyce McDougall aproximando as teorias e a
visão dos autores sobre a relação mente e corpo. Compreender o surgimento de
sintomas somáticos diante do não enfrentamento de situações adversas, nas quais
indivíduos não conseguem uma simbolização necessária, o que o leva a uma
desorganização mental e corporal.
A fim de atingir o objetivo proposto neste artigo busca-se a perspectiva de
encontrar respostas para a problemática seguinte: Não encontrando saída para lidar
com uma angústia indizível, não tendo recurso para uma simbolização, isso pode levar
indivíduos a desenvolver sintomas psicossomáticos?
Método
Será apresentado um breve levantamento teórico do tema psicossomática,
fazendo uma delimitação e aproximando as ideias dos autores Winnicott e Joyce
McDougall, quanto ao assunto exposto.
Discussão e Resultados
Sujeitos que não verbalizam afetos em suas falas, porque essa emoção não pode
ser realizado em seu interior psíquico, faz com que essa afeição volte para seu lugar de
origem que é o corpo. Logo, o percurso natural das hesitações era ser vinculado nas
representações e no significante, isso vai gerar como resultado o sintoma
psicossomático.
Esse sintoma, para Joice McDougall (2001), é resultado primeiramente desse
processo que ela vai chamar de desafetação, que seria o processo que inviabiliza a
formação de sintomas mentais e aumenta a vulnerabilidade somática do indivíduo.
A autora ainda cita que o terapeuta que desempenha adequadamente a função
materna, precisará ser capaz de auxiliá-los nessa empreitada, propiciar e fazer uma
maternagem. Como consequência, poderá torná-los capazes de concluir o processo de
dessomatização do aparelho psíquico.
Segundo McDougall (2000) por não haver as possibilidades de descarregar, a
única saída para não se desintegrar e lidar com essa angústia que aparecia como
resultado de uma manifestação psíquica é fazer uma negação de afetos. Então esses
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sujeitos vão constituir uma estrutura que no futuro poderá produzir como resultado
sintomas somáticos.
Conforme McDougall (2000) relata que em estados psicossomáticos, é o corpo
que se comporta de maneira delirante, ele hiperfunciona ou inibe funções somáticas
normais e o faz de modo insensato no plano fisiológico. O corpo enlouquece, porém,
seres humanos tendem mais a adoecer e a sofrer acidentes quando estão ansiosos,
deprimidos, angustiados, do que quando a vida e o futuro se apresentam de forma mais
leve.
Em Winnicott (1983), a experiência do nascimento também elucida, de forma
fundamental, o lugar do corpo na teoria do amadurecimento, ou seja, descrição e
conceituação das diferentes tarefas, conquistas e dificuldades que são inerentes ao
crescimento em cada um dos estágios da vida, desde o momento em que um estado de
ser tem início, ainda na vida intra-uterina, estendendo-se pela infância, adolescência,
juventude, idade adulta e velhice até a morte.
Desta forma, o autor desenvolve este processo para afirmar que todo o indivíduo
apresenta uma tendência herdada para o desenvolvimento e associada a um ambiente
facilitador, levará a integração da personalidade. De fato, o Amadurecimento remete a
passagem da fase de dependência absoluta dos primeiros momentos de vida do lactente,
para a dependência relativa, quando posteriormente atingirá a independência relativa
(Winnicott, 1998).
Segundo Winnicott (1998) revela a existência de uma angústia impensável na
base da formação subjetiva e da integração psicossomática. Esta experiência está
associada à ideia de um estado de não-integração, vivenciado no início do
desenvolvimento emocional. Logo após o nascimento, o bebê não tem acesso à
experiência de completude para formação da noção de “eu”, porém apresenta uma forte
tendência para esta integração. Para alcançá-la, necessita de cuidados maternos
acolhedores que garantam sua preservação. Por outro lado, repetidas falhas maternas,
antes que o lactente esteja preparado para se proteger, levarão a experiência de
angústia excessiva, que será manifestada pelo corpo, diante da falta de recursos
psíquicos.
O estudo do lugar do corpo na teoria de Winnicott mostrará a importância
fundamental da experiência corporal real como uma conquista importante no processo
de amadurecimento pessoal.
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Considerações Finais
Os autores asseguram que esses sujeitos possuem uma falha na elaboração
psíquica e entendem as afecções orgânicas como causadas pelo lapso do processo de
amadurecimento citado por Winnicott ou pela desafetação exposta por McDougall
(2001) que são caracterizadas como manifestações desprovidas de valor simbólico.
Depois de todo conteúdo exposto, é importante ressaltar que a falta de
investimento da mãe, consequentemente, pode marcar a vida de um indivíduo por
inúmeros conflitos e ambivalência, assim como, o papel do pai na constituição psíquica
vem trazer possibilidade da criança experimentar a oscilação da presença e ausência
materna. Esses aspectos determinam a essência da constituição e da experiência de se
tornar inteiro, de ter autonomia, capacidade de representação de seu aparelho psíquico,
e a possibilidade de reconhecimento da presença paterna. Constituindo um processo de
maturação saudável (McDougall, 2001).
Por fim, deve ser assinalado e concluído que a psicossomática, apesar de já ter
sido analisada e discutida por diversos autores, em diferentes vertentes, ainda se
encontra em constante evolução. Portanto diante das ideias expostas se pode colocar o
quanto a contribuição do analista se cumpre de forma profunda e transformadora na
vida de um indivíduo, podendo através do olhar psicanalítico construir uma
simbolização junto do paciente, e construir com palavras uma compreensão de sua
história e um reconhecimento do eu, não necessitando mais somatizar em seu corpo.
O analisante escreveu sua tragédia e o analista lhe pontua o texto cuja tinta se
imprime na alma e assim é a refundação desta experiência de sua pesquisa no divã o
analisante pode se fazer letra de uma outra pesquisa: a psicanalítica (Iribarry,1999).
Referências
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Flavio Carvalho Ferraz, R. M. (1997). Psicossoma, Psicossomática, Psicanalítica. SãoPaulo: Casa do Psicólogo.
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Manonni, M. (1967). A criança, sua doença e os outros 2. ed. São Paulo: Via Lettera.
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ISBN 978-85-7846-424-0 71
Mcdougall, J. (2000). Teatros do corpo. São Paulo: Martins Fontes.
Mcdougall, J. (2001). Um corpo para dois. São Paulo: Casa do Psicologo .
Rubens Marcelo Volich, F. C. (1997). Psicossoma, Psicossomática, Psicanalítica. São Paulo: Casa do Psicologo.
Seincman, M. ( ano XIII, nº 130, 2000.). Quem é o paciente na psicanálise de crianças? In: Pulsional Revista , 47-59.
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ISBN 978-85-7846-424-0 72
A mãe que não se torna desnecessária e suas possíveis consequências
para o amadurecimento do seu filho nos estágios iniciais da vida
Vanessa Cristina Paviani29; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida30
Palavras-Chaves: Winnicott, mãe suficientemente boa, falha ambiental, estágios do
amadurecimento.
Introdução
Na atualidade da clínica psicanalítica o atendimento infantil vem encontrando
dificuldades para trabalhar a desvinculação entre mãe e filho e a conquista da
independência por parte da criança. Percebido isso se encontra na psicanálise infantil o
autor Donald Woods Winnicott, que discorre brilhantemente sobre a relação mãe e filho
e como essa relação influencia na conquista da independência da criança. Deste modo,
justifica-se a realização da pretendida pesquisa por que na clínica psicanalítica faz-se
necessário compreender como a relação entre mãe e filho interfere no processo de
amadurecimento da criança e de que forma essa relação pode desencadear falhas
ambientais precoces no desenvolvimento. Visto essa característica da clínica da infância
faz optou-se por realizar um estudo da teoria do amadurecimento com o objetivo de
compreender as consequências no desenvolvimento do sujeito quando a mãe não
adquire a capacidade de falhar.
Ao escrever sobre a mãe desnecessária Winnicott (2000) quer dizer que, com as
falhas da maternagem, ao seu devido tempo o indivíduo se tornará capaz de cuidar de si
mesmo, o autor diz que
Um resultado mais comum dos graus menos elevados da maternagem
tantalizante nos estágios inicias é que o funcionamento mental passa a existir por
si mesmo, praticamente substituindo a mãe boa e tornando-a desnecessária. (p.
336).
29 Psicóloga graduada pela Universidade Estadual de Maringá. Possui experiência na área de psicologia clínica e orientação profissional. E-Mail: [email protected]. 30 Doutora em Psicologia. Atua como professora associada na graduação e na pós-graduação em Psicologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL-PR). E-Mail: [email protected].
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Desse modo é preciso que a mãe deixe de suprir todas as necessidades do bebê e
comece a falhar, para que ele comece a dar conta de suprir as suas falhas, de forma
patológica.
No início da vida a mãe que supre todas as necessidades do bebê, foi por
Winnicott (1975) denominada uma mãe suficientemente boa, que é aquela que efetua as
adaptações às necessidades do bebê, ao dar um sentido ao seu gestual inicial perceptivo.
Essa adaptação se dá quase que por completo e tende a ir diminuindo com o passar do
tempo, à medida que o bebê se torna capaz de lidar com o fracasso dela (Winnicott,
1975).
Dias (2003), aponta que a mãe suficientemente boa se torna um ambiente
facilitador, por tornar-se uma mãe capaz de reconhecer e atender as necessidades do
bebê devido a sua identificação com ele, que lhe permite saber qual a necessidade deve
ser atendida em dado momento. A capacidade de ser “suficientemente boa” vai além de
suprir as necessidades do bebê por completo, ela também implica em reconhecer que o
bebê está em um processo de amadurecimento em curso e por isso ela também precisa
oferecer condições para que o bebê-unidade se desenvolva.
Nos estágios iniciais da vida do bebê ele vive em um estado de dependência
absoluta, ao ponto de não podermos pensar na existência desse novo indivíduo como
uma unidade e nem em uma existência que independa de cuidados. A dependência
absoluta quer dizer que o bebê depende completamente da mãe para ser como é, para
existir, e para posteriormente realizar as tendências inatas à integração tornando-se
uma unidade, Dias (2003) explica que
O âmbito onde se dá o amadurecimento não é um espaço intrapsíquico, mas
inter-humano, um entre a mãe e o bebê. Esse espaço é ainda pré-pessoal, pelo
fato de não haver ainda duas pessoas; cada um é para o outro, a unidade do dois-
em-um (p. 331-332)
Dessa forma, com o passar do tempo e com a crescente capacidade de adaptação
do bebê, a mãe suficientemente boa tornará a dependência cada vez menos absoluta,
assim permitindo que ele caminhe em direção à dependência relativa e a independência.
O estágio de dependência relativa é um estado de adaptação a falha gradual da
mãe, explica Winnicott (1983). É comum que se promova uma desadaptação gradativa e
isso será favorável para o desenvolvimento saudável do lactente. Dias (2003) aponta
que a desadaptação da mãe é imprescindível para o rompimento da unidade mãe-bebê,
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de modo que o processo de separação levará o indivíduo a integração como um ser
unitário e separado, que é capaz de estabelecer relação com o mundo externo.
Progredindo para a independência é importante que se tenha em mente que ela
nunca é absoluta, pois o indivíduo normal não se torna isolado. O que acontece é que no
estado de independência o indivíduo vai se tornando capaz de compreender o mundo
com todas as suas complexidades, seus círculos sociais se tornam abrangentes e cada
vez mais ele se identifica com essa sociedade, como um exemplo de seu próprio mundo
pessoal (Winnicott, 1983).
Quando a mãe é saudável, essa mudança acontece de maneira tranquila e natural
para as duas partes, pois a mãe reconhece que esse amadurecimento é essencial para o
bebê; porém se a mãe não é capaz de reconhecer a necessidade desse caminho para a
independência, as consequências podem gerar sérias dificuldades para o
desenvolvimento da criança (Dias, 2003). Visto isso, se pretende compreender quais são
as consequências geradas quando essa mudança não acontece.
Objetivos
Compreender quais são as possíveis influencias no amadurecimento do ser
humano, quando a mãe não adquire a capacidade de falhar e as patologias que
poderão ser decorrentes desse processo.
Produzir um artigo científico que contribua para a ampliação do conhecimento
sobre o tema, e também para o desempenho da prática clínica.
Método
Optou-se por realizar um estudo de caso utilizando vinhetas de casos clínicos
triados na Clínica Escola de Psicologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). De
acordo com Castro (2010) o estudo de caso se sustenta por fragmentos do caso –
vinhetas – articulados com a teoria segundo a escrita do pesquisador e não tem a
pretensão de esgotar a compreensão da história do sujeito. O presente estudo será
embasado pela teoria winnicottiana. Os dados dos casos foram colhidos na pasta de
triagem infantil da Clínica Escola da UEL, existiam 13 casos triados, dos quais 5 foram
selecionados para compor o quadro de casos clínicos a serem estudados. As triagens
descartadas referiam-se a 3 casos de dificuldade de aprendizagem, 2 casos relacionados
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a problemas de saúde como dificuldades de locomoção e cegueira, 2 casos de
drogadição, 1 caso de tentativa de suicídio e 1 caso de agressividade.
Resultados e Discussão
De acordo com a literatura pertinente as hipóteses que serão investigadas
referem-se a:
1- Nos estudos investigados, será percebido que o filho poderá não sair do estado
de dependência absoluta ou relativa, e ser então passível de ter baixa tolerância à
frustração, além de não conquistar autonomia e até a ocorrência de um falso self.
2-Sabemos que para a psicanálise winnicottiana, o processo de conquista da
independência é fundamental para que o indivíduo se torne capaz de se relacionar com
o mundo, seu vir -a –ser, a busca de um sentido para estar-se no mundo. Ao constatar a
incapacidade de uma mãe em tornar-se insuficientemente boa, quais aspectos que a
literatura estudada poderá evidenciar as consequências disso, por exemplo, como
personalidades das crianças com tendência antissociais?
3- Como essa mãe, poderá sobreviver a separação entre o seu eu e o outro eu –o
bebê, tornarem –se 2 unidades em uma unidade, sem “perecer” o amadurecimento desse
processo?
Tais questões serão o mote para a contribuição esperada por esse estudo.
A seguir apresentar-se-á uma tabela com a relação dos casos clínicos
selecionados. Nos quais foram constatadas dificuldades ambientais relacionadas ao
desenvolvimento infantil referentes à dependência dos pais.
Idade
Sexo
Encaminhado por
Queixas
Criança 1
9 anos
F Hospital das clínicas
Dificuldade de dormir durante a noite, pede dormir na cama dos pais.
Criança 2
11 anos
F Pediatra Dificuldade de relacionar-se com outras pessoas. Dificuldade em realizar atividades básicas sozinha.
Criança 3
10 anos
M Demanda espontânea
Pede para dormir na cama com o pai. Retraimento social.
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Tabela 1: Crianças triadas na clínica escola de Psicologia da Universidade Estadual de
Londrina
Portanto diante destes primeiros resultados obtidos levanta-se a hipótese de que,
quando a mãe não falha em relação aos cuidados maternos, se torna cada vez mais difícil
que o filho avance rumo ao processo de independência. A partir desta constatação,
buscar-se- à na literatura, aspectos que evidenciem essas consequências para o
desenvolvimento do sujeito.
Considerações Finais
Espera-se que com o desenvolvimento do estudo em questão, sejam esclarecidas
de maneira mais aprofundada, visando contribuir com o tema não só com o meio
acadêmico, mas com a prática clínica.
Referências
Couto, J. E. (2010) O método psicanalítico e o estudo de caso. In: F. K. Neto e J. O. Moreira (Org.), Pesquisa em Psicanálise: transmissão na Universidade (pp. 59-80). Barbacena: EdUEMG.
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Winnicott. D. W. (1983). O ambiente e os processos de maturação: estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional. Porto Alegre: Artmed.
Criança 4
12 anos
M Grupo de dinâmicas UEL
Chupa o dedo. Carência excessiva: quer abraço e beijo da mãe a todo.
Criança 5
8 anos
M Demanda espontânea
Dependência excessiva da mãe
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A função paterna: uma relação direta a partir do complexo de Édipo
masculino sob um enfoque psicanalítico
Cristiano Domingues da Silva 31; Ricardo Justino Flores32
Palavras Chaves: clínica psicanalítica; complexo de Édipo; função paterna.
Introdução
Este artigo tem como objetivo investigar o campo da função paterna sob um
enfoque psicanalítico, buscando responder algumas perguntas. Como se compõe o
trabalho analítico a partir da ausência paterna? Esta ausência pode influenciar no
complexo de Édipo do menino? Quais as lacunas que ficam neste adulto que sofreu esta
ausência?
A demanda deste estudo foi devido ao grande número de pacientes que buscam a
clínica psicanalítica a partir de uma queixa sobre a ausência da figura paterna, sendo
que esta pode ser física ou não, o mais importante é ter alguém que faça este papel para
suprir tal lacuna.
O papel do pai varia de acordo com as diferentes fases que a criança está
vivenciando, por este motivo é necessário ter uma adequação deste papel, buscando
suprir cada momento do desenvolvimento e cada necessidade deste indivíduo.
Para Aberastury (1991), o pai tem um lugar fundamental entre os seis meses e o
primeiro ano do bebê, que não é tão falado na literatura como acontece com a figura
materna, porém este contato corporal entre ele e o bebê é o que dará um referencial na
organização psíquica, devido à sua função estruturante no desenvolvimento do ego. No
segundo ano de vida já existe a imagem da figura do “pai”, e o papel paterno fica mais
destacado para apoiar o desenvolvimento social da criança, auxiliando nas dificuldades
peculiares a este período.
31 Psicólogo clínico, graduado pelo Centro Universitário de Maringá (UNICESUMAR); especialista em avaliação psicológica pelo UNICESUMAR; especializando em Clínica Psicanalítica pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Contato: [email protected]. 32 Professor e mestre em psicologia pela PUCCAMP.
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Justificativa
Pesquisar a função paterna é de grande importância para clínica psicanalítica,
pois as consequências desta ausência são tão relevantes quanto à materna. Há pais que
não só deixam de desfrutar da paternidade como também perdem o contato afetivo com
a criança, tal questão está diretamente relacionada com o complexo de Édipo masculino
mal elaborado e a deficiência da função paterna, que este indivíduo pode ter vivenciado
em sua infância. Este homem que esteve no papel de filho e se prepara para assumir a
função de pai, será o foco dos estudos.
Objetivo
O objeto deste artigo é investigar a importância da função paterna em um
enfoque psicanalítico, e o quanto a falta desta figura pode causar consequências para
esta criança “menino” que também terá que assumir no futuro um papel de pai.
Metodologia
Este artigo se utiliza de revisão narrativa através de levantamento bibliográfico
para pensar sobre a função paterna no manejo da clínica psicanalítica. Para tanto, foram
utilizados autores clássicos e contemporâneos, como fonte primária para esta pesquisa
dois autores fundamentais para pensar na função paterna: Freud, o precursor da
psicanálise e Aberastury. Para uma melhor compreensão da temática estudada será
citado também alguns autores como Lacan, Mezan, Carvalho Filho, Amazonas e Braga.
Resultado e Discussão
Não é necessariamente o pai biológico que realiza a função paterna e segundo
Aberastury (1991), mesmo na impossibilidade da presença do Pai, esta função deve ser
feita por outro homem, um referencial masculino, como, por exemplo, um tio.
Para Freud (1924-1980), o complexo de Édipo é uma fase universal que ocorre
nos primeiros anos de vida da criança e é responsável por toda construção familiar.
Deste modo, é necessário entender, a partir da teoria psicanalítica, o processo de
dissolução, para então compreender mais adiante as consequências da ausência paterna.
O ser humano origina sempre de um pai e a uma mãe, não fugindo dessa triangulação
que constitui o centro do conflito humano, sendo que a mesma perpassa por toda a vida
do indivíduo, a partir deste esse acontecimento forma se a estrutura psíquica.
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Para psicanálise este conceito é universal, visto que desperta sentimentos de amor e
ódio direcionados para aqueles que farão o papel de pai e mãe. O complexo de Édipo
ocorre quando a criança está atravessando a fase fálica, assim como quando descobre
que ao chegar próximo dos três anos de idade passará por várias dificuldades que antes
eram ignoradas. Nesse período, a criança não pode mais fazer o que deseja os
cuidadores e a própria sociedade começam a impor regras, limites e padrões, a partir
deste momento, a criança começa a ter distinção entre ela e seus genitores, ingressando
em uma das fases mais importantes de sua vida, tendo em vista que definirá sua
personalidade na idade adulta, principalmente referente as questões de identificações
(Mezan, 2003). Na primeira elaboração da teoria da sexualidade infantil não aparecia
termos sobre o assunto, embora Freud já relata em uma carta para Fliess em 1897
algumas questões. “Ter descoberto em si mesmo impulsos carinhosos quanto à mãe e
hostis em relação ao pai, estes complicados pelo afeto que lhe dedicava” (Mezan, 2003,
p.189).
O início do Édipo no menino, aparece através de um investimento objetal com a
mãe, conduzido inicialmente para o seio, sendo que com o pai sua relação é de
identificação. Porem isto não têm uma longa duração, porque logo os desejos
incestuosos do menino pela mãe se tornam mais intensos, e o pai passa a ser visto como
um impedimento a eles, então damos início ao complexo de Édipo. Na sequência a
identificação com o pai fica bem resistente, e a ideia de ocupar o seu lugar fica
totalmente manifesto. A ambivalência inerente à identificação, desde o início, se
manifesta dominando a relação com o pai. Portanto, o complexo de Édipo positivo do
menino se caracteriza por uma atitude ambivalente em relação ao pai e por uma relação
objetal afetuosa com a mãe (Carvalho Filho, 2010).
No momento contemporâneo atual que vivenciamos existe uma discussão sobre
um suposto declínio da figura paterna, a presença do pai ou de alguém que faça esta
função nas atuais configurações familiares está cada vez mais limitante, (Amazonas &
Braga, 2004), a discussão mais importante não é sobre a presença de um pai, quer seja
ele biológico ou não, pois este bebê necessita de tal figura para seu desenvolvimento,
esta questão sobre um suposto decaimento da função paterna que nos convida a
pesquisar elementos que apresentem as especificidades da experiência edípica para o
menino, ou seja, o futuro candidato a pai.
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Lacan (1999, pp. 186-187), no seminário sobre as formações do inconsciente,
afirma: “O pai, para nós, é, ele é real. Mas, não nos esqueçamos de que ele só é real para
nós na medida em que as instituições lhe conferem, eu nem diria seu papel e sua função
de pai, não se trata de uma questão sociológica, mas seu nome de pai”.
Considerações Finais
A partir dos estudos sobre a função paterna, observa se que as transformações
estão ocorrendo na sociedade, antes o pai era visto apenas como figura de autoridade e
agora foi acrescentado o papel de fornecedor de atenção e afeto, sendo que a
participação no desenvolvimento da criança é vista na atualidade como cada vez mais
atuante. Portanto, a presença de uma figura paterna é vista hoje como essencial para o
desenvolvimento psíquico da criança, não apenas ter alguém que faça o papel de
autoridade, que imponha regras e punições, mas também, que forneça segurança, para
que a criança alcance a maturidade e consiga realizar sua função paterna
posteriormente de forma estruturada.
Referências
Aberastury A. (1991). A paternidade. In: Aberastury A & Salas E.J. (eds). Paternidade: um enfoque psicanalítico. Porto Alegre: Artes Médicas.
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Repetição e relacionamentos amorosos
Homero Artur Belloni Silva 33; Ricardo Justino Flores34
Palavras Chave: Psicanálise, Repetição e relacionamentos amorosos
Introdução
A noção da repetição se mostra um tema de grande importância na teoria
psicanalítica. Sua importância já fora apontada pelo próprio Freud, tanto é que o pai da
psicanálise reservou um artigo inteiro para trata de tal questão: “Recordar, repetir e
elaborar” (1914/1996). Segundo a nota do editor inglês da coleção standard das obras
completas de Freud (1996), Freud teria considerado esse o principal trabalho técnico de
sua série.
Para Freud (1914/1996) a repetição ocorre justamente em relação a materiais
inconscientes que ainda não foram elaborados. Ou seja, o indivíduo não recorda de
determinada ideia, mas age em função dela. Freud (1914/1996) também diz que a
repetição ocorre em relação as resistências, para ele um indivíduo costuma repetir a
maneira como se defende de determinada ideia, ele diz que a pessoa detém uma espécie
de “arsenal” de resistências e que lança mão dele quando é necessário. Assim, nas duas
maneiras que Freud (1914/1996) apresenta a repetição, ela se dá sempre como uma
atuação do indivíduo, seja quando o indivíduo repete um material inconsciente que
ainda não foi elaborado, ou quando o sujeito age de determinada maneira com o intuito
de se defender de algo.
Nesse mesmo artigo Freud (1914/1996) apresenta a ideia de que a repetição
sempre ocorreria dentro de uma relação, uma relação transferencial. Nesse momento
ele dá o exemplo de um paciente que não recordava ser desafiador frente as figuras de
seus pais, mas que agia dessa mesma forma em relação ao analista na relação de
transferência. Assim, a repetição seria uma ação dentro de uma relação transferencial.
Dessa forma, vale pensar que a noção das repetições não ocorre apenas na
relação com o analista, também a extrapolam, chegando a outras relações da vida do
indivíduo. Freud (1912/19966) diz que a quando um paciente se encontra insatisfeito
33 Psicólogo clínico formado pela UEL. E-mail: [email protected]. 34 Professor Adjunto da Universidade Estadual de Londrina.
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em uma relação amorosa ele tende e intensificar sua relação com o analista. Tal
proposição de Freud (1912/1996) traz à tona de que a relação amorosa entre as pessoas
também é transferencial, pois ele nos diz que uma pessoa frustrada em sua relação
amorosa tem essa energia sobrando para intensificar a relação com o analista, ou seja, a
energia é a mesma nas duas relações, na amorosa e na relação com o analista.
Partindo dessa noção, de que as relações amorosas também são marcadas pela
relação transferencial, e de que as repetições ocorrem dentro de uma relação de
transferência, pode ser pensado a questão das repetições dentro das relações amorosas,
e principalmente, dentro das relações conjugais.
Justificativa
Segundo o IBGE os números de divórcios só aumentam no Brasil, desde que se
começou a medir tais separações, o número só aumentou, ano após ano, e no intervalo
de tempo de dez anos, entre 2004 e 2014, esse número subiu de 130,5 mil casos por ano,
para 341,1 mil casos por ano. Dessa forma, um trabalho que busque investigar situações
sobre tal assunto, se mostra de extrema relevância para a sociedade atual, já que
segundo os dados do IBGE as pessoas estão encontrando cada vez mais dificuldades de
permanecerem juntas.
Objetivo
Esse trabalho tem por objetivo investigar em que momentos a questão da
repetição pode levar a uma separação do casal.
Metodologia
O método utilizado para investigar a problemática dessa pesquisa – a repetição
dentro das relações amorosas – será o relato de caso. Segundo Kupfer e Zanetti (2006)
existem três maneiras de se utilizar tal método, uma delas, e a que será empregada aqui,
parte da ideia de que as autoras chamam de “ponto fixo”, ou seja, uma espécie de tema
ou problemática central do caso, e tal problemática vai sendo construída pelo próprio
analista na relação transferencial. Kupfer e Zanetti (2006) defendem que tal
metodologia já fora empregada por Freud, de que quando ele relatava certo caso, esse
teria um “ponto fixo” em torno do qual o saber iria sendo construído. Nesse sentido, este
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trabalho buscará utilizar tal ideia, a da existência de um “ponto fixo” dentro do caso e de
que esse ponto será a repetição dentro das relações amorosas.
Caso Clínico
Ana chegou a clínica psicológica da Universidade Estadual de Londrina com a
queixa de depressão e por chorar diversas vezes ao dia. No entanto um aspecto chamou
a atenção, logo na primeira sessão, quando ela foi questionada sobre o início desses
sintomas, ela relatou que sua tristeza e choros tiverem início com seu casamento. A
partir desse momento a questão dos seus relacionamentos ganharam foco durante a
sessão e no decorrer de todo o tratamento.
Ana conta que sua infância foi extremamente humilde e marcada por um grande
sofrimento. Segundo Ana, seu pai era pastor de uma igreja em sua cidade e ele tinha todo
um código moral a ser obedecido, que ele impunha aos filhos por meio da austeridade.
Nesse ponto ela relata que a austeridade do pai extrapolava os limites do aceitável,
segundo ela, os filhos eram torturados por esse pai. Nesse momento ela começa a relatar
as torturas impostas por ele, como ficar horas de joelho em sementes de milho, ficar
presa ao pé da cama durante um dia inteiro, apanhar com um instrumento usado para
bater em cavalos, além de humilhações públicas que as vezes ele impunha perante aos
outros membros da igreja. Ela dá ênfase ao fato da sensação durante esses castigos, ela
se sentia uma pecadora, como alguém que se desvirtuou do caminho correto e ficava se
sentindo suja durante o dia inteiro.
Ainda na sua infância, Ana conta que devido a problemas financeiros sua família a
mandou morar com uma outra família na mesma cidade. Ela diz que isso foi para o seu
próprio bem, pois já estava começando a passar necessidades em sua casa, no entanto,
ela foi a única dos filhos a ser mandada embora de casa, motivo que ela relaciona ao fato
dela ser uma espécie de pecadora, de impura, coisa que a irmã não era.
Já na juventude, Ana se muda de cidade e vai morar junto a outra família, no
entanto agora na cidade. Ela conta que foi ser uma espécie de empregada para essa
família, em troca de comida e um lugar para morar. Ela diz que nessa época conheceu
seu marido - cuja a família era da mesma religião de seu pai - e que pouco tempo depois
se casou. Nesse momento, ela dá uma atenção muito grande ao fato dela não ter se
casado virgem e por tal motivo não pode casar de branco dentro da igreja. Ela diz que
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isso acabou se tornando um problema futuramente com a família de seu marido,
principalmente com seu sogro, que sempre dizia preferir sua outra nora.
Voltando para os atendimentos, passadas umas duas sessões Ana, vem muito
abalada pelo motivo do marido ter trocado ela por outra mulher e ter ido morar com ela.
Ana conta que é a segunda vez que ele faz isso, mas que dessa vez parecia ser definitivo.
Ela começou a contar que fez de tudo por ele e que nunca ele a reconheceu como uma
boa mulher. Ela conta, inclusive, que realizava práticas que feriam seu código moral para
satisfazer a vontade do marido mesmo se sentindo mal por isso. Ela relata que realizar
tais práticas fazia com que ela se sentisse a pior pessoa do mundo, e que passava o resto
do dia se lavando, pois se sentia extremamente suja. No entanto, mesmo fazendo tais
coisas não foi suficiente para manter o casamento, e que agora o ex-marido ainda fica
dizendo que sua mulher atual é uma pessoa correta e honesta, pois não faz as coisas que
Ana fazia. Mesmo diante de tudo isso Ana não consegue deixar de conversar com o ex-
marido, mesmo que seja para ele ficar comparando com a mulher atual e a deixando mal.
Resultados e Discussão
O caso de Ana tem um tema central que é a questão da repetição, Ana repete
diversos aspectos de sua infância na sua vida atual e em muitos momentos seu
casamento se mostrou uma reedição de suas relações infantis. Alguns fatos podem ser
explicitados em sua vida, o primeiro fato é o do pecado, que Ana sempre se coloca nessa
posição de pecadora, repetindo algo lá de sua infância e da relação com seu pai, foi assim
no dia de seu casamento, que ela não casou vestindo branco, e durante todo seu
casamento com aa práticas que rompiam com seu código moral. Outro aspecto a ser
mencionado é o fato de que ela sempre menciona a sensação produzida por seus
“pecados”, que é de sujeira, levando ela a passar horas do dia se lavando. Por fim, algo
que Ana repete em sua vida é a questão de sempre existir uma mulher correta frente aos
olhos dos homens, na infância a irmã, na vida adulta sua cunhada e a atual mulher de seu
ex-marido.
A vida de Ana pode ser olhada sob a luz da teoria psicanalítica pois Freud
(1914/1996) defende a ideia de que aspectos inconscientes não elaborados tendem a se
repetir durante a vida do indivíduo buscando a elaboração - a atribuição de um sentido a
tais aspectos. Tal fato é recorrente na vida de Ana, em sua infância, ela não conseguiu
atribuir um sentido as torturas do pai e a toda essa relação conturbada estabelecida com
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ele, levando-a a repetir esses aspectos durante toda sua vida, tornando seu casamento
uma grande repetição, e por conta disso sua separação se tornou algo inevitável.
Considerações Finais
O caso clínico exposto se configura como um exemplo de como a repetição se dá
em uma relação amorosa, mais precisamente a conjugal, e como ela leva ao sofrimento e
a separação da dupla amorosa. Assim, tal noção merece uma grande atenção na clínica
psicanalítica.
Referências Bibliográficas
Freud, S. (1912-1996). A dinâmica da transferência. In S. Freud, O Caso Schereber, Artigos sobre Técnica e outros trabalhos Vol. XII. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de S. Freud. (pp.109-119). Rio de Janeiro: Imago
Freud, S. (1914-1996). Recordar, repetir e elaborar. In S. Freud, O Caso Schereber, Artigos sobre Técnica e outros trabalhos Vol. XII. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de S. Freud. (pp. 159-171). Rio de Janeiro: Imago.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). (2013). Estatísticas do Registro Civil entre 1984 e 2013. Rio de Janeiro.
Zanetti, S. A. S., & Kupfer, M. C. M. (2006). O relato de casos clínicos em psicanálise: um estudo comparativo. Estilos da clínica, 11(21), 170-185.
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As saídas possíveis do Édipo e suas implicações nos (des)encontros do
amor
Mariana Mota Mesquita35; Ricardo Justino Flores36
Introdução
O relacionamento humano começa desde o desejo de uma gravidez e a fantasia
como será àquele bebê. Ele cresce e é a partir das relações que adentra no universo da
linguagem, aprende a falar, engatinhar, andar, depois conhecer sobre sua sexualidade e
encontrar outra pessoa para amar.
O complexo de Édipo é um período marcante que ocorre em uma fase inicial do
desenvolvimento e na formação da personalidade. Contudo, esta fase que ocorre em
ambos os sexos, têm características peculiares e distintas entre meninos e meninas.
Muito embora a história de todos nós inicia-se a partir da mãe. É com ela e por ela que
começamos a perceber e ter contato com a realidade, ou seja, a mãe é o primeiro objeto
de amor de todos nós. Esta relação é fundamental e foi largamente estudada pela
psicologia (Spitz, Klein, Bolwby, etc).
É a partir dela que aprendemos como nos relacionamos com os objetos que
compõe a realidade a qual estamos inseridos, que sempre se caracterizará por relações
objetais. Relações em que sempre estamos transferindo alguma coisa do passado para o
presente que se vive. Assim, os primórdios da vida humana, se inicia por uma relação de
amor, como já foi dito.
Parece simples, mas o que a psicanálise mostra na clínica é que muitos pacientes
relatam insatisfações com suas relações amorosas, passadas, atuais e até ansiosos por
àquelas que esperam ter. Relações que podem ser observadas como sintomáticas,
sintomas decorrentes de relações passadas, dificuldades em se relacionar e em se ter
prazer.
Na clínica psicanalítica essas questões da eleição do objeto apresentam relação
com a vivência do Complexo de Édipo como foi dito acima, visto que àquele que
escolhemos amar nunca é qualquer um, mas há neles um traço comum que sempre se
35 Psicóloga graduada pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e estudante de especialização de clínica psicanalítica pela UEL – [email protected]. 36 Mestre em psicologia clínica pela PUC Campinas e Professor de psicologia da Universidade Estadual de Londrina.
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repete (Freud, 1910). Trata-se da fixação de alguns traços maternos, o que pontua que a
libido continua relacionada a essa figura.
A vivência edípica e a relação do Sujeito com o falo determina sua relação com a
realidade e os objetos. No início tanto o menino como a menina têm a mãe como o objeto
original, os meninos retêm esse objeto no complexo de Édipo, mas sob ação do complexo
de castração, identifica-se com o pai e substitui-a por outra mulher (Freud, 1925). As
meninas, contudo, abandonam a figura materna como objeto de amor tendo em vista a
descoberta do pênis e deslocam sua libido para a equação ‘pênis-criança’, tomando o pai
como objeto de amor e a mãe como objeto de ciúmes.
A dissolução do Complexo de Édipo se faz pela a identificação com o lugar do pai
(àquele tem o falo e pode ter relações com a mãe/ outras mulheres) ou com o lugar da
mãe (ser amada pelo pai – detentor do falo). Contudo Freud (1924) mostra que esta
libido pertencente à vivência edípica com o tempo e depois do complexo de castração é
dessexualizada e sublimada e, ainda parte dela é inibida em seu objetivo e transformada
em afeto e é por isso que se buscam substitutos.
Para o Sujeito amar o objeto de satisfação sexual é preciso que este tenha traços
do primeiro objeto de amor (mãe) e ao mesmo tempo, que não ocupe o lugar idealizado
da mãe. Neste sentido, a função paterna tem uma grande importância, visto que uma
barreira deve ser imposta a criança, sua mãe que é seu objeto de afeto não pode ser seu
objeto de satisfação sexual, visto que é de seu pai.
Freud (1912) na continuidade a suas investigações acerca do amor e como então
se daria o encontro amoroso, ele considera que a sexualidade é comporta por 2
correntes: corrente afetiva e corrente sensual. A corrente afetiva, se forma nos primeiros
anos de vida e se dirige àqueles que cuidam da criança e corresponde a escolha de
objetos primária. A pulsão sexual encontra os primeiros objetos no momento em que há
as primeiras experiências de satisfação sexual em ligação com a função de preservação
da vida. Sendo assim, mesmo possuindo componentes da pulsão sexual, esta corrente
tem em sua base as pulsões de autoconservação (Freud, 1912).
A partir da puberdade fixações afetivas da criança que trazem consigo elementos
de erotismo se desviam e se unem através da corrente sensual. Neste momento,
contudo, este Sujeito já se defrontou com a barreira do incesto e assim deve transpor
estes objetos que são inadequados para outros objetos com os quais possa levar uma
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vida sexual. No entanto, estes novos objetos ainda trazem consigo traços dos objetos
infantis e da mesma forma deverão suscitar a afeição (Freud, 1912).
Discute-se então como se dá a relação interpessoal e como esta segue um modelo
particular decorrente de um primeiro objeto que a priori é a mãe e os outros que seriam
àqueles substitutivos a figura materna (Freud, 1912). O deslocamento e a substituição
deste primeiro objeto caracterizariam àquilo que desencadeia o desejo sexual e
promove a escolha de um objeto, enquanto objeto de amor.
A vivência edípica é fundamental para o jogo das identificações e das identidades
sexuais e o que a clínica nos mostra são desencontros na maneira como estão se dando
os relacionamentos interpessoais. Questões de identificação com uma posição feminina
ou masculina e como serão delineados os relacionamentos a partir disso. Pessoas que
sofrem por não conseguirem gozar com quem se ama, ou àqueles que precisam de um
elemento de fetiche para obter prazer com o outro. Ou seja, as implicações que vivências
passadas deixam na forma como cada um tem de se encontrar com o amor.
Objetivo
Este artigo tem por objetivo levantar as questões trazidas por Freud à luz da
psicanálise sobre as escolhas amorosas do Sujeito e as implicações de vivências infantis
nesta a fim de melhor compreender as saídas possíveis do complexo edípico e as
ressonâncias na vida amorosa do Sujeito.
Metodologia
Para tanto o artigo terá um delineamento qualitativo e a metodologia utilizada
será a de uma pesquisa de cunho bibliográfico, tendo em vista que será elaborada a
partir de dados e materiais já publicados. Método cuja validade e importância já fora
citada por Gil (2010). Principalmente as obras completas de Sigmund Freud a fim de
discutir as saídas possíveis do Sujeito do Complexo de Édipo e a relação com os
encontros e desencontros no amor.
Resultados e Discussão
Freud (1912) coloca que é na puberdade que o Sujeito poderá encontrar um
objeto de amor e satisfação sexual a partir da junção das duas correntes e, assim iniciar
um laço amoroso. Mas aí há uma dificuldade, visto que até então a corrente afetiva tem
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sido satisfeita por familiares. Para se estabelecer o laço, o Sujeito pode usar-se da
depreciação do objeto que carrega o traço incestuoso.
Assim, para conseguir estabelecer laços o sujeito se usa da depreciação, tendo em
vista que é à medida que protege o Sujeito e o permite gozar de um objeto que carrega o
semblante do objeto incestuoso. Tendo em vista que o objeto de escolha está sempre
ligado ao objeto incestuoso e seus representantes, e é a partir da condição de
depreciação que a sensualidade pode se desenvolver livremente e este sujeito pode
desejar.
Contudo, a confluência destas duas correntes nem sempre é possível e quando
isto não se dá, esta clivagem das duas correntes se sobrepõe e pode resultar em sujeitos
com sintomas de frigidez, impotência, ou que quando amam não desejam e, quando
desejam, não podem amar.
Freud (1927) declara que a libido humana é instável e que a partir do complexo
de Édipo e de castração ela precisa encontrar uma via de descarga para se satisfazer. E
para isso pode até se desenvolver um fetiche, ou seja, a libido pode ter um desvio do alvo
sexual. Entretanto destaca que isso pode estar presente em todas as pessoas em maior
ou menor grau.
A sexualidade humana no início é perversa polimorfa, contudo com o
desenvolvimento e os processos de recalques, repressões, barreiras de incesto e
castração, e assim o que o sujeito pode fazer com essa pulsão? Recalcá-la, sublimá-la, há
àqueles ainda em que uma parte desta pulsão é recalcada e a outra idealizada e elevada
a fetiche (Freud, 1909).
O fetichismo, então pode ser uma saída possível da sexualidade devido a
castração na saída do Completo de Édipo. O recalque sempre se dá devido a conflitos
psíquicos causados por desejos que não podem ser aceitos pelo Ego (Freud, 1910). A
saída pelo fetiche suspenderia estes conflitos visto que se coloca como substituto do
objeto incestuoso, uma proteção contra a ameaça de castração, de modo que na neurose,
o Eu reprime um fragmento do Id em prol do princípio de realidade. O afeto é recalcado
e o complexo mental se cliva em uma parte recalcada e outra idealizada, ou seja, há um
recalque parcial (Freud, 1927).
A saída do conflito psíquico (colocada pelo complexo de castração) pode dar-se
por duas opções: (1) o reconhecimento da impossibilidade de satisfazer a pulsão,
renunciando-a, ou (2) através da rejeição da realidade dada pela satisfação da pulsão
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(FREUD, 1938). Portanto as saídas possíveis do sujeito podem ocasionar uma cisão do
Ego, em que um componente do conflito sempre obnubilaria o outro, mas coexistiria no
mesmo Eu.
Deste modo, para que o Sujeito consiga estabelecer um laço com o outro é preciso
que ele atravesse estas questões colocadas pela castração, alguns conseguem usar-se da
depreciação do objeto e encontrar-se com outro Sujeito.
Há àqueles em que isso não é possível, e o encontro dá-se com sintomas (frigidez,
impotência sexual), e outros em que o estabelecimento de um laço com o outro se torna
tão difícil que sua saída sintomática, mas possível é a obtenção de prazer com parte do
corpo do outro ou até mesmo com um objeto totalmente despersonificado.
Considerações Finais
Na prática clínica, é possível, cada vez mais observarmos sujeitos marcados por
esta separação entre as duas correntes, o que diz da saída possível que cada Sujeito
conseguiu no Complexo de Édipo. Conciliar o que quer do que se deseja, o amor do gozo,
isto nem sempre é fácil, por isso observamos saídas sintomáticas independente da
orientação sexual: frigidez, impotência sexual, fetichismo, entre outras. A clínica
psicanalítica pode oferecer a eles colocar palavras onde antes só havia atos, tentar
elaborar algo de uma vivência infantil para que possam encontra-se com um outro e,
enfim, amar.
Palavras-chave: Psicanálise, Dissolução, Complexo de Édipo
Referências
FREUD, S. (1912). Sobre a tendência universal à depreciação na esfera do amor. Contribuições à Psicologia do Amor II. In: S. Freud Cinco lições de psicanálise, Leonardo DA Vinci e outros trabalhos. Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de janeiro: Imago editora, vol. XI, 1996. p. 159-173
FREUD, S. (1910). Um tipo especial de escolha de objeto. Contribuição à Psicologia do amor 1. In: S. Freud Cinco lições de psicanálise, Leonardo DA Vinci e outros trabalhos. Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Obras completas. Rio de Janeiro: Imago, 1996. v. XI.
FREUD, S. (1924). A dissolução do complexo de Édipo. In S. Freud, O Ego, o Id e outros trabalhos. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro: Imago editora, 1996, vol. XIX.
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FREUD, S (1927) Fetichismo. In: S. Freud O futuro de uma ilusão. Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Obras completas. Rio de Janeiro: Imago, 1996, vol XXI, p.151-160
FREUD, S. (1938) A divisão do Ego no processo de defesa. In: Freud, S. Moises e o Monoteísmo, Esboço de psicanálise e outros trabalhos. Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Obras completas. Rio de Janeiro: Imago, 1996, vol XXIII, p.306-312
GIL, A. C. (2010) Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas.
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Resumos
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A teoria winnicottiana e o falso self: um estudo de caso
Amanda Lays Monteiro Inácio 37; Maria Elizabeth Barreto Tavares dos
Reis38
Resumo: O presente estudo pretende analisar um caso de atendimento psicoterápico
realizado no estágio clínico obrigatório do curso de Especialização em Clínica
Psicanalítica da Universidade Estadual de Londrina. A jovem no início da vida adulta
procurou atendimento com a queixa de ansiedade e necessidade de autoconhecimento
em relação a sua sexualidade. Durante o processo psicoterápico pode-se observar uma
falsa ideia de maturidade, apesar de ter comportamentos e vivências características da
fase adulta, apresentava aspectos como desconfiança, dificuldade em perceber o valor
de suas próprias realizações e baixa autoestima. Nesse sentido, a jovem parecia ser
guiada por um falso self, que serviria como uma defesa que ocultava e protegia seu
verdadeiro self. O falso self, termo proposto pela teoria de Winnicott (1896/1971)
advém de falhas no processo de amadurecimento primitivo, no qual o indivíduo é
prejudicado na constituição do ser e do reconhecer, servindo assim como uma tentativa
de substituição da função materna que falhou. Sobretudo, destacou-se o papel da
transferência no processo psicoterápico, haja vista que os mesmos sentimentos de
desconfiança trazidos em relação aos demais, são transferidos para a figura da
terapeuta. Com pacientes cujo ego não se estabeleceu verdadeiramente, ou seja, que
possuem um falso self, cabe ao psicoterapeuta uma preocupação maior com a
manutenção do setting. Diante do exposto, coube à psicoterapeuta possibilitar um
ambiente suficientemente bom no qual a paciente tivesse a possibilidade de expressar
seu self verdadeiro e entrar em contato com seus sentimentos e emoções.
Palavras-chave: Atendimento Clínico; Psicanálise; Winnicott.
37 1Psicóloga, Pós-Graduanda do Curso de Especialização em Clínica Psicanalítica e Mestranda em Educação pela UEL. E-mail: [email protected]. 38 Professora Doutora do Departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina – UEL.
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Implicações dos aspectos psicológicos em uma avaliação com
finalidade de mudança de sexo
Amanda Lays Monteiro Inácio 39; Amália Clivati Cauduro 40; Eduardo Yudi
Huss41; Katya Luciane de Oliveira 42; Patrícia Silva Lúcio 43; Patricia Emi de
Souza44
Resumo: O termo transexual é designado ao indivíduo que se identifica psicológica e
socialmente com o sexo oposto ao constante em seu Registro de Nascimento, possuindo
uma forte inadequação ao papel social de seu sexo biológico. Para a realização da
cirurgia de redesignação do sexo, chamada também de adequação do sexo anatômico ao
sexo psicológico, é necessário um diagnóstico criterioso por uma equipe que envolve
diversos profissionais da saúde, como psiquiatra, endocrinologista, psicólogo, entre
outros. Diante disso, o presente estudo relata um caso de avaliação psicológica
encaminhado pela Clínica Psicológica da UEL ao projeto “Avaliação Psicodiagnóstica em
Diferentes Contextos e Acolhimento na Clínica Escola do Curso de Psicologia da UEL”. O
avaliando A., de 24 anos, buscava um laudo psicológico com a finalidade de compor uma
série de avaliações necessárias para a cirurgia de redesignação do sexo feminino para
masculino. A avaliação realizada de forma abrangente sobre sua personalidade e
aspectos emocionais concluiu que o avaliando apesar de ser uma pessoa comunicativa,
demonstra dificuldade em estabelecer objetivos fixos em sua vida, se preocupando
muito com a imagem que transmite aos demais, podendo se sentir sozinho e sem
expectativas em alguns momentos, o que corrobora com outros aspectos apresentados,
como indícios de desesperança e depressão. Diante do exposto, o encaminhamento
sugerido foi pela continuidade do processo psicoterápico que já realizava, a fim de que
possa haver maior reflexão acerca de sua autoimagem e sobre os aspectos relativos à
cirurgia desejada.
Palavras-chave: avaliação psicológica; mudança de sexo; transexualidade.
39 Psicóloga, Pós-graduanda do curso de Especialização em Clínica Psicanalítica e Mestranda em Educação pela Universidade Estadual de Londrina –UEL. E-mail: [email protected] 40 Discente de Psicologia pela Universidade Estadual de Londrina–UEL. 41 Discente de Psicologia pela Universidade Estadual de Londrina–UEL. 42 4Professora Doutora da Universidade Estadual de Londrina –UEL. 43 4Professora Doutora da Universidade Estadual de Londrina –UEL. 44 6Psicóloga Colaboradora Externa da Universidade Estadual de Londrina –UEL.
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Reflexões atuais sobre o processo de individualização em gêmeos
Beatriz Cristina Gallo45; Maria Elizabeth Barreto Tavares Dos Reis 46;
Silvia Nogueira Cordeiro47
Resumo: A gemelaridade é um assunto repleto de dúvidas e mitos que tornam o tema
ainda pouco compreendido. No desenvolvimento gemelar, o processo de
individualização de cada gêmeo se mostra mais complexo se comparado com o de filhos
singulares, tendo em vista os estudos que apontam as dificuldades relativas à separação
entre o bebê e a mãe e, também, entre os próprios cogêmeos. Devido a maior incidência
de nascimentos de gemelares, em função de tratamentos contra infertilidade, o assunto
se torna atual, porém com poucos os estudos na área. O presente trabalho teve por
objetivo investigar a produção científica sobre o processo de individualização em
gêmeos na atualidade. Desta forma, realizou-se uma revisão bibliográfica, incluindo
artigos e teses sobre temática da individualização em gêmeos, em bases de dados online.
Foram selecionados e analisados 14 os trabalhos científicos que atenderam aos critérios
de inclusão. Verificou-se que o processo de individualização em gêmeos é dificultado
principalmente por práticas culturais implicadas pela sociedade, que afetam setores da
vida dos gêmeos como as relações familiares, as relações estabelecidas na escola, e entre
os próprios irmãos. Tendo isso em vista, a partir dos dados expostos em literatura,
optou-se por categorizar as informações encontradas considerando a maneira como os
gêmeos são tratados na família e escola, bem como sobre o relacionamento entre os
cogêmeos. Pode-se observar como os vários aspectos se interrelacionam e exercem
influência no processo da individualização. Observou-se também nos estudos atuais há
uma preferência pelo estudo com gêmeos univitelinos devido à possibilidade de
comparação entre as influências de aspectos genéticos e dos aspectos culturais que
atuam em seus desenvolvimentos. A partir disto, viu-se a necessidade de estudos mais
aprofundados na área, sendo o assunto complexo e ainda com poucos esclarecimentos.
Palavras-chave: gêmeos, individualização, relações fraternas, revisão bibliográfica.
45 Graduada em Psicologia pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) Email: [email protected] 46 Professora Doutora do Departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina – UEL. E-mail: [email protected]. 47 Professora Dra. do departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina. Email: [email protected]
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Grupo de Dinâmicas: Conversando sobre a Adolescência
Beatriz Cristina Gallo48; Lara Balera49; Daniel Polimeni Maireno 50
Resumo: Com a crescente procura por atendimento na Clínica Psicológica da UEL e sua
recorrente demanda, houve um aumento também no número de casos em espera. Com a
intenção de diminuir essa numeração e de que as pessoas que procuram a instituição
não perdessem o vínculo com a Clínica Psicológica, ofertou-se mais um serviço que
acompanharia tais usuários enquanto permanecessem em espera, por meio do Projeto
Grupo de Dinâmicas. Inicialmente, a proposta se voltou para os usuários que ainda
aguardavam atendimentos e permaneciam em fila de espera, porém, atendendo à
demanda direcionada ao serviço, ampliou-se o público dos grupos de dinâmicas para a
população em geral, se tornando um projeto de grupos abertos. O projeto funciona de
forma a proporcionar grupos que são divididos em faixas etárias: crianças, adolescentes
e adultos. A cada encontro, propõe-se atividades diferenciadas e dinâmicas que
trabalhem assuntos diversos do cotidiano. No atual trabalho, enfatizou-se a prática
realizada no grupo de adolescentes, que ocorre às terças feiras das 14:00h as 15:30h.
Neste grupo, são trabalhadas atividades um pouco mais lúdicas como jogos,
brincadeiras, de acordo com a demanda dos participantes. As atividades são planejadas
a cada semana, sendo que algumas são decididas em grupo a partir de sugestões e
apontamentos dos próprios adolescentes. No decorrer dos encontros, percebeu-se a
dificuldade dos adolescentes em seguir determinadas atividades mais direcionadas à
temática dos sentimentos e a sua disponibilidade em falar sobre o tema. Por meio de
estratégias e atividades mais próximas aos hábitos dos participantes, foi possível
perceber uma maior vinculação entre os próprios participantes e entre as
coordenadoras, estando o processo em constante construção.
Palavras chave: grupo de dinâmicas, fila de espera, grupos abertos, adolescentes.
48 Graduada em Psicologia pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) Email: [email protected] 49 Graduanda em Psicologia na Universidade Estadual de Londrina (UEL) Email: [email protected] 50 Mestre e Doutor em Psicologia Clínica pela PUC-SP, Professor Colaborador do Departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina. Email: [email protected]
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Congresso nacional sobre relacionamento familiar (conaref)
Cristiane Castilho Cadan51
Resumo: O Congresso Nacional sobre Relacionamento Familiar (CONAREF) – 100%
online e gratuito – surgiu a partir da inquietação e do desejo de levar o conhecimento
psicanalítico produzido na clínica, acerca das relações familiares, do desenvolvimento
emocional de crianças e adolescentes, da técnica de intervenção terapêutica conjunta
pais-filhos, para além das quatro paredes do consultório. Divulgar esse conhecimento
através da internet, como veículo de compartilhamento, demonstrou-se muito
enriquecedor por alcançar um público amplo e por propiciar discussões com maior
alcance da informação e do conhecimento a respeito da temática. Teve como objetivos:
a) transmitir conhecimento psicanalítico sobre o desenvolvimento emocional de
crianças e adolescentes, bem como suas implicações nos vínculos familiares; b)
apresentar a técnica de intervenção terapêutica conjunta pais-filhos em suas
perspectivas teórica, técnica, implicações e possíveis alcances; c) discutir a importância
das funções psíquicas parentais no desenvolvimento emocional de crianças e
adolescentes; e d) favorecer a promoção do desenvolvimento pessoal e profissional de
estudantes e profissionais da área da saúde mental e da educação por meio da
transmissão de conhecimento científico com referencial psicanalítico. Como
procedimentos, ocorreram as gravações de 22 vídeos de palestras e entrevistas por
profissionais da área de saúde mental (psicanalistas, psicólogos e psicopedagogos), a
criação de uma plataforma digital por meio da qual foi disponibilizada a transmissão dos
vídeos em dias e horários previamente determinados através da internet. Participaram
530 pessoas. Ao final do evento foi realizada uma LIVE (transmissão ao vivo na rede
social Facebook) com o propósito de construir uma síntese do conteúdo transmitido e
das discussões. Foram ressaltados os principais aspectos abordados no congresso e
houve maior interação entre os participantes através de comentários, dúvidas,
51 CRP: 08/06646-2 Psicóloga clínica graduada pela UEM; Coordenadora do grupo de estudos e seminário clínico em psicanálise; Formação de base psicanalítica através de: GEPPPI (Grupo de estudos em psiquiatria psicologia e psicoterapia da Infância – SP), Grupo de Observação das Relações mãe-bebê- família vinculado ao IPPIA – SP, Curso de estudos observacionais e aplicação de conceitos psicanalíticos ao trabalho com crianças, adolescentes e famílias (CEPSI – Centro de Estudos Psicanalíticos Mãe – Bebê – Família – SP), Curso de psicoterapia psicanalítica (CEPSI – SP). Contato: [email protected] – (44) 3018-4893
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perguntas e respostas bem como sugestões de temas a serem abordados em futuros
eventos. A LIVE obteve mais de mil visualizações.
Palavras-chave: Psicanálise; Relacionamento familiar; Desenvolvimento emocional;
Pais e filhos.
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Os atravessamentos institucionais no atendimento com crianças a
partir de um viés psicanalítico
Debora Lydines Martins Corsino 52; Maíra Bonafé Sei53
Resumo: Atualmente entende-se que é possível exercer a Psicanálise em universidades
que ofertam o devido amparo para tal, entretanto essa prática é permeada por diversos
atravessamentos institucionais. Diante deste contexto, o presente trabalho objetiva
apresentar um caso de psicoterapia de criança atendido em um serviço-escola de
Psicologia e discutir questões concernentes ao atendimento no cenário institucional. O
caso em questão refere-se a uma criança de 6 anos, que chegou à clínica por uma
demanda dos pais. A entrevista inicial foi realizada com a mãe em outubro de 2016 e
atualmente o caso está na décima segunda sessão. Logo após a primeira sessão com o
menino a Universidade entrou em greve, portanto os atendimentos que não eram
urgentes foram interrompidos. No início de dezembro a greve foi suspensa e as
atividades retomadas, portanto o atendimento com o menino deveria ter continuidade.
Entretanto logo chegou o recesso de fim de ano e então aconteceu novamente a
interrupção, assim ocorreu um intervalo de três semanas. Com o retorno das atividades
normais da instituição os atendimentos passaram a ser mais contínuos e apresentar
mais conteúdos passíveis de análise. Entretanto com o recesso de carnaval os
atendimentos ficaram com um intervalo de duas semanas. Como o atendimento de
crianças é totalmente transpassado por metodologias lúdicas como desenhos,
brincadeiras e materiais pedagógicos, notou-se em alguns desenhos o paciente
representou a terapeuta com traços primitivos, demonstrando um sujeito sem
contornos. Esse dado evidencia que as intercorrências institucionais afetaram a
dinâmica do atendimento com esta criança, e dificultou o fortalecimento do vínculo tão
imprescindível para que o processo analítico aconteça. Compreende-se que as
vicissitudes do atendimento institucional são inerentes ao funcionamento dos serviço-
escola de Psicologia, principalmente aqueles vinculados às universidades públicas.
Assim, o terapeuta precisa buscar estratégias para minimizar a influência desta situação
52 Estudante do 5º ano de Psicologia da Universidade Estadual de Londrina (e-mail: [email protected]) 53 Professora Adjunta no Departamento de Psicologia e Psicanálise; Diretora da Clínica Psicológica da Universidade Estadual de Londrina (Gestão 2014-2018); e-mail: [email protected]
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ISBN 978-85-7846-424-0 100
na psicoterapia.
Palavras-chave: Psicanálise; Crianças; Instituição; Psicoterapia.
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Malandramente, uma menina inocente: reflexões sobre o manejo da
psicoterapia com adolescentes
Felipe de Souza Barbeiro54; Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis55
Resumo: A adolescência é um período de intensas modificações e instabilidades, tanto
biológicas como afetivas. Tal período não se resume à transição da criança para o adulto,
mas exige que o indivíduo repense seus conceitos e atitudes, o que pode acarretar em
conflitos entre as normas sociais e os desejos motivados pela busca do prazer. O
incremento da motivação em busca da experiência da sexualidade envolve dúvidas,
medos e repressões, os quais podem ser expressos de diferentes formas. O presente
trabalho tem por objetivo refletir sobre a comunicação do paciente através da música. A
paciente está no início da adolescência e demonstrou dificuldade em falar sobre
assuntos referentes à sua sexualidade, sempre afirmando: “Não sei, sou uma menina
inocente”. Com o andamento do caso, passou dessa para “menina séria”, que se
mantinha muitas vezes em silêncio, para a expressão de suas vontades e angústias. Em
uma das sessões, cantou o refrão de “Malandramente”, que narra a história de uma
menina inocente que se envolveu com garotos para “poder curtir”. A melodia comporta
uma letra que conota o assunto da sexualidade por metáforas, como “ganhar
madeirada”. A música foi utilizada como instrumento de interpretação sobre seu estado
emocional, possibilitando abordar o que precisava ser dito, não somente a partir da
letra, mas pelo contexto do funk, que é um estilo musical não apreciado por seus pais -
quase que proibido. Percebe-se que o atendimento psicoterápico ao adolescente implica
na possibilidade de o terapeuta se apropriar de formas alternativas, tais como a
expressão artística, como forma de acolher e interpretar as fantasias projetadas pelo
indivíduo no setting terapêutico, tanto no que tange à realidade interna como a externa.
Palavras-chave: Adolescência. Espaço potencial. Malandramente. Sexualidade.
54 Graduando em Psicologia pela Universidade Estadual de Londrina – UEL. E-mail: [email protected] 55 Professora Doutora do Departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina – UEL. E-mail: [email protected].
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Os processos de saúde-doença em mulheres: um estudo a partir da
Escala Diagnóstica Adaptativa Operacionalizada Redefinida (EDAO-R).
Flávia Angelo Verceze56; Silvia Nogueira Cordeiro57
Resumo: A inserção do psicólogo nos serviços de saúde tem requerido a reformulação
da atuação deste profissional, que significa um distanciamento do modelo clínico
tradicional e a criação de novas ferramentas de trabalho. Neste sentido, o presente
trabalho objetivou explorar e analisar os aspectos psicodinâmicos ligados aos processos
de saúde-doença encontrados em mulheres atendidas em uma Unidade Básica de Saúde
pela Residência Multiprofissional em Saúde da Mulher. Foram realizadas entrevistas
tomando como base a Escala Diagnóstica Adaptativa Operacionalizada Redefinida
(EDAO-R). A pesquisa consistiu em uma parte quantitativa e uma qualitativa. Na
primeira, foi realizada uma caracterização dos dados sociodemográficos das mulheres
entrevistadas e os resultados obtidos na EDAO-R foram analisados segundo a proposta
de Simon (1989), chegando a um diagnóstico adaptativo de cada participante. E em um
segundo momento, foi realizada uma análise qualitativa de conteúdo de 16 entrevistas
por meio da técnica de análise temática e através do aporte teórico da psicanálise. A
análise quantitativa teve como resultado que cerca de 50% das mulheres apresentaram
adaptação ineficaz grave ou severa e que as queixas estão principalmente relacionadas
ao setor afetivo-relacional. Da análise qualitativa resultaram três categorias: vivências
de luto, violência contra mulher e transtornos alimentares. Concluiu-se que os
resultados mostraram que os aspectos psicodinâmicos envolvidos no processo de
saúde-doença destas mulheres estão relacionados principalmente ao setor afetivo-
relacional, indicando que as intervenções deveriam ser mais centradas nesses aspectos e
em suas implicações em outros setores.
Palavras-chave: mulher, EDAO-R, afetivo-relacional.
56 Psicóloga, foi residente do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Mulher da UEL. (43) 99620-8850 / [email protected] 57 Profa. Dra. do Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina (UEL), Londrina-PR, Brasil. (43) 8859-9779 / [email protected]
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Pulsão de morte articulada ao corpo: sintoma?
Isadora Nicastro Salvador58; João Pedro Gomes Previdello59; Claudia
Maria de Sousa Palma60
Resumo: O presente trabalho busca articular os conceitos psicanalíticos de pulsão de
morte e sintoma no corpo. Primeiramente, procura-se conceituar o que é a pulsão
dentro da teoria freudiana. Freud era dualista no que tange à pulsão. Lacan, em seu
retorno a Freud, faz uma releitura do dualismo, tendo uma concepção monista da
pulsão, proferindo que toda pulsão é virtualmente pulsão de morte. A pulsão de morte
possui atributos difíceis de articular e o próprio conceito não é bem definido e
esclarecido. Inicialmente, Freud tentou aborda-lo por um viés biológico, uma busca do
organismo ao seu estado anterior inanimado, também seu caráter destrutivo e
agressivo. Lacan situa a pulsão de morte como a pulsão que foge à cadeia significante, e,
portanto, uma pulsão crua, que ao atingir o corpo não produz significações, justamente
por estar para além da cadeia. Busca-se com o trabalho também descrever o conceito de
sintoma para a psicanálise, seguindo o mesmo percurso de escrita da pulsão, partindo
da teoria freudiana e, posteriormente, abordando-o com Lacan. Freud fundou a
psicanálise a partir da escuta da histérica sobre seu sintoma, ou seja, além dessa marca
no corpo, o sintoma da histérica produz um discurso. A histérica fala de seu sintoma e
este fala dela. Ao falar de pulsão e sintoma, o corpo entra em cena. Logo, discutir a noção
do que é o corpo para a psicanálise mostrou-se necessária. Corpo não apenas biológico,
mas libidinal, investido pulsionalmente. Através do corpo que os conceitos de pulsão de
morte e o sintoma articulam-se. Sendo assim, o trabalho buscou compreender como a
pulsão de morte se presentifica através de um sintoma no corpo e em que tal sintoma se
diferencia das sintomatologias clássicas estudadas por Freud. Ao final, encontrar na
teoria Lacaniana aporte para compreensão e manejo de tal configuração.
Palavras-chave: Metapsicologia; Psicanálise lacaniana; Pulsão de morte; Sintoma.
58 Graduada em Psicologia pela Universidade Estadual de Londrina. E-mail: [email protected] 59 Graduado em Psicologia pela Universidade Estadual de Londrina. E-mail: [email protected] 60 Profª Drª vinculada ao Departamento de Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina – PPSIC. E-mail: [email protected]
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Atividades dos projetos de Extensão e Pesquisa que lidam com a
Adolescência e Escolha Profissional - aplicação do EMEP e outras
técnicas psicológicas
Rosemarie Elizabeth Schmidt Almeida 61; Jádia Cristina Dos Santos62;
Giovanna Sandoval Fioresi63; Geovanna Moreno Cianca 64; Jéssica Cardoso
Roque65; Rafaela Grumadas Machado 66
Resumo: O projeto de Orientação Vocacional e Profissional (OVP), existente há
aproximadamente 20 anos é renovado sistematicamente com pouquíssimas alterações,
à medida que cumpre a formalidade institucional a cada 2 anos. Tem como objetivo
orientar adolescentes. A vida do jovem nesta fase é de dúvidas, ansiedades e conflitos,
haja vista um quantum de afeto e emoções que podem tornar-se condutas de risco,
como, por exemplo, a questão do suicídio. No espaço temporal transicional criado para a
reflexão de suas trajetórias, os adolescentes lidam com partes da sua própria
temporalidade, de suas identidades pessoal e profissional. Os atendimentos são
realizados na Clínica Psicológica da Universidade Estadual de Londrina, individuais ou
grupo, com alunos de escolas públicas do ensino médio. Utilizam-se neste processo o
método clínico, a escuta e a aplicação de técnicas psicológicas. Essas técnicas aplicadas e
o setting criado fazem parte de um contexto no tempo, o qual corrobora um estado
potencial - o DEVIR - por apresentar uma nova visão temporal dos adolescentes sobre
seu amadurecimento. Trata-se não tão somente a escolha de uma profissão, e sim da
superação desse momento do crescimento emocional, da continuidade do viver, do
ingresso na vida adulta. A história do trabalho com os adolescentes , por volta de 20
anos consolida-se cada vez mais, à medida que as atividades de prevenção e
psicoprofilaxia, realizadas por meio do conjunto de técnicas psicológicas que fazem
parte da metodologia do projeto de extensão: Orientação Vocacional e Profissional de
61 Prof. Dr. Associado PPSIC-CCB. Coordenadora dos Projetos de Pesquisa e de Extensão do Departamento de Psicologia e Psicanalise/PPSIC – CCB/UEL sobre Adolescência e a Escolha Vocacional e Profissional. Coordenadora do Curso de pós-graduação: Especialização em Clínica Psicanalítica-Departamento de Psicologia e Psicanálise. Atua na Clínica Psicanalítica. Londrina-PR. E-mail: [email protected]. 62 Graduada em Psicologia pela UEL. Foi bolsista PIBEX/PROEX/UEL. E-mail: [email protected] 63 Graduada em Psicologia/UEL - Colaboradora. 64 Psicóloga do Curso de Psicologia/UEL - Colaboradora. 65 Graduanda do Curso de Psicologia/UEL - Colaboradora 66 Psicóloga –Colaboradora Externa
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Adolescentes das Escolas Estaduais da Cidade de Londrina e Região, e do projeto de
pesquisa: Avaliação das contribuições do grau de maturidade para escolha profissional
em adolescentes do ensino médio público antes e após intervenção de OVP. Definem um
espaço temporal transicional para que o adolescente pense o DEVIR. (Almeida,2015).
Palavras Chaves: O DEVIR e a Adolescência, Orientação Vocacional e Profissional, EMEP
– técnicas e testes psicológicos.
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A Clínica Dermatológica e a sua articulação com o Serviço de
Psicologia
Leonardo Piva Botega67; Paula Medri68; Claudia Maria de Sousa Palma 69
Resumo: O presente trabalho apresenta os dados iniciais de um estudo realizado no
Ambulatório de Dermatologia do HC, juntamente com o Serviço de Psicologia, cuja
finalidade é sistematizar um fluxo para o encaminhamento dos pacientes ao Serviço de
Psicologia, otimizando a efetividade do tratamento psíquico a ser ofertado
posteriormente. A justificativa para o desenvolvimento deste estudo dá-se a partir da
constante demanda da Clínica Dermatológica para um acompanhamento psicológico de
seus pacientes. Demanda pertinente quando consideramos a própria constituição do
aparelho psíquico a partir de Freud (1923, p.39), em que “o ego é, primeiro e acima de
tudo, um ego corporal; não é simplesmente uma entidade de superfície, mas é, ele
próprio, a projeção de uma superfície”. A pele, enquanto órgão que reveste o corpo,
coloca-se como a primeira superfície de contato com o mundo externo, mediando a
formação dessa instância psíquica tão fundamental: o eu, do qual se conclui a
pertinência de uma proximidade entre patologias na pele e correlatos psíquicos. Para
tanto, o trabalho consistiu em 2 fases: na 1a. fase, aplicação de um questionário para o
levantamento do ponto de vista médico sobre as possíveis relações entre os sintomas de
pele e a incidência psíquica que justificariam um encaminhamento; e na 2a fase, uma
entrevista com os pacientes em sala de espera para o levantamento de uma amostra-
piloto, a partir de uma narrativa própria, do entendimento a respeito da doença e
possíveis relações com a vida emocional. A 3a. fase do estudo consistirá na construção
de um protocolo que espera otimizar a comunicação entre os dois Serviços a partir de
indicadores claros ao encaminhamento. Além disso, contará com uma triagem
psicológica a fim de ratificar o procedimento inicial, favorecendo também uma reflexão
quanto às possibilidades de oferta dos diferentes dispositivos, na direção da efetividade
no atendimento ao usuário.
67 Discente do Curso de Psicologia da Universidade Estadual de Londrina. Email:[email protected] 68 Discente do Curso de Psicologia da Universidade Estadual de Londrina. Email: [email protected] 69 E-mail: [email protected]
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Palavras-chave: Dermatologia; Serviço de Psicologia; Protocolo de Encaminhamento;
Instrumentos.
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Subjetividade e maternidade: um caso clínico
Luciane Cristina de O. Carnaúba 70; Maíra Bonafé Sei71
Resumo: Décadas de transformações sociais, históricas e econômicas ocasionaram
mudanças que possibilitaram à mulher ocupar novos lugares na sociedade, inserir-se no
mercado de trabalho, apropriar-se de seu corpo, de sua sexualidade e aproximar-se de
seu desejo. As referidas transformações também geraram uma variedade de novas
modalidades de sofrimento psíquico, presentes na clínica contemporânea; novas formas
de subjetividade, que desafiam os psicanalistas em suas práticas clínicas. Partindo
dessas premissas, apresentar-se-á, sob uma abordagem psicanalítica e tendo por
objetivo a reflexão sobre a maternidade, mais especificamente acerca do antes e do
depois de ser mãe, um caso teórico-clínico realizado em um serviço-escola de Psicologia.
Trata-se de uma paciente com aproximadamente quarenta anos, casada e mãe de um
filho pequeno, a qual procurou atendimento para expor seu sofrimento psíquico após ter
se tornado mãe. Relatou este fato como um marco em sua vida, discorrendo sobre o
antes e o depois da maternidade. Suas queixas apontavam para uma sensação de
nulidade de si, de perda de identidade. Casos como o apresentado evidenciam as muitas
mudanças ocorrem após a maternidade, tais como, alterações físicas, novas rotinas, o
desempenho do papel de mãe e esposa, entre outras coisas. Soma-se a isto o fato de a
mulher moderna desempenhar muitos papéis, sendo exigida e cobrada por muitos para
seguir um padrão de beleza, ter o corpo perfeito, atender ao consumismo, além de dever
estar bem consigo mesma. Pensa-se que a psicoterapia pode promover um acolhimento
das vivências decorrentes da maternidade e dos demais papéis assumidos pela mulher,
contribuindo para a oferta de um ambiente suficientemente bom para mãe e criança.
Palavras-chave: maternidade, subjetividade, contemporaneidade.
70 Assessora Especial da Clínica Psicológica da Universidade Estadual de Londrina; email: [email protected]. Graduada em Psicologia pela UNIFIL em 2011; Especialização em Residência Clínica e da Saúde – Ênfase em Psicanálise – UNIFIL 2012; Especialização em Clínica Psicanalítica UEL em 2013. 71 Psicóloga, Mestre e Doutora em Psicologia Clínica (IP-USP), Professora Adjunta do Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina – UEL. [email protected]
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Aplicando o “Holding” em uma clínica psicológica universitária
Luciane Cristina de O. Carnaúba 72; Maíra Bonafé Sei73
Resumo: Objetiva-se, com este estudo, refletir sobre a importância do papel do
psicólogo frente às questões apresentadas pelo paciente no setting clínico, a partir de
uma visão psicanalítica Winnicottiana. Trata-se de um estudo teórico-clínico, pautado
em um atendimento realizado em um serviço-escola de Psicologia. A análise do caso é de
uma mulher, na faixa etária dos 30 anos. Sua história traz o abandonado. Primeiro pela
mãe, depois pelo pai, finalizado com a separação do marido decorrente de várias
traições, após quinze anos de casada. Chega à clínica com muito sofrimento em ter que
lidar com as questões do abandono e diz que quer organizar suas ideias. Nas sessões, a
terapeuta lhe oferece o olhar, a escuta e a sustenta nas suas questões que são trazidas.
Dessa forma, constata-se a necessidade de aplicar o holding. De acordo com Dias (2003),
o segurar (holding) diz respeito ao manuseio do bebê e aos cuidados físicos relativos ao
seu bem-estar, o qual vai sendo ampliado à medida que o bebê cresce e se estende para
os cuidados em geral. Este foi um dos instrumentos utilizados para sustentar
emocionalmente as necessidades e angústias da paciente. Contudo, a paciente, em todo o
seu caminhar, passou a entender melhor a sua história de abandono, as suas perdas,
nomeou seus sentimentos e tenta lidar de forma mais saudável com as suas frustrações,
medos, angústias e abandono. Considera-se, para o estudo do caso clínico apresentado, a
atualidade dos conceitos desenvolvidos por Winnicott, pois eles se aplicam em todas as
fases da vida do ser humano, isto é, permitem que o indivíduo reconstrua o seu
emocional, danificado em alguma ou em algumas fases de sua vida.
Palavras Chave: holding, clínica psicológica, mãe suficientemente boa.
72 Assessora Especial da Clínica Psicológica da Universidade Estadual de Londrina; e-mail: [email protected]. Graduada em Psicologia pela UNIFIL em 2011; Especialização em Residência Clínica e da Saúde – Ênfase em Psicanálise – UNIFIL 2012; Especialização em Clínica Psicanalítica UEL em 2013. 73 Psicóloga, Mestre e Doutora em Psicologia Clínica (IP-USP), Professora Adjunta do Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina – UEL. [email protected]
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Modalidades de Intervenção em Orientação Profissional
Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida74; Manuela dos Reis Parenti75;
Geovanna Moreno Cianca76; Giovanna Sandoval Fioresi 77
Resumo: O projeto de extensão em Orientação Profissional, em sua trajetória ao longo
de aproximadamente 20 anos, surge com novas modalidades de atendimento, com o
intuito de produzir ambientes psicoprofiláticos. Em atividades recentes como o da
apresentação na Feira de Profissões, bem como o do Cursinho, ambos na UEL, os
objetivos das atividades foram de levar os jovens, aproximadamente 180, participaram
de uma reflexão sobre o contexto da escolha profissional, através de assuntos sobre o
tema, elucidando que esta estratégia interventiva visava ofertar um ambiente de
holding, um espaço temporal transicional, no qual o pensar do adolescente sobre a sua
vida, seu contexto social e sua escolha profissional, poderiam contribuir para uma
redução da angústia peculiar a esse momento. Essas práticas podem ser denominadas
como “consulta coletiva”, uma vez que constitui um potente instrumento clínico que
permite ao psicólogo psicanalítico atender um grande número de pessoas que, de outra
maneira, estariam impossibilitadas de serem beneficiadas por esse recurso, e que tem a
duração de 3 a 4 horas, nos próprios locais. Winnicott caracteriza-as como um espaço de
comunicação, de verdadeira mutualidade, em um tempo definido, entendido como
momento em que a criatividade é ativada na presença dos participantes desse espaço.
Observou-se o surgimento de um ambiente eficaz e psicoprofilático, através das
avaliações dos próprios adolescentes, visto que essas consultas coletivas são
intervenções pontuais e breves, que consistem em uma experiência com começo, meio e
fim, perpassada por elementos de holding, criados por esse setting acessível. Considera-
se que há a produção de novos sentidos, que favorecem o caminho do suposto devir.
Palavras-chave: Escolha Profissional; espaço-temporal transicional; consultas coletivas.
74 Professora Doutora,Associada - PPSIC-CCB. Coordenadora dos Projetos de Pesquisa e de Extensão do Departamento de Psicologia e Psicanalise/PPSIC – CCB/UEL sobre Adolescência e a Escolha Vocacional e Profissional. Coordenadora do Curso de pós-graduação: Especialização em Clínica Psicanalítica- Departamento de Psicologia e Psicanálise. Atua na Clínica Psicanalítica. Londrina-PR. E-mail: [email protected]. 75 75 Psicóloga e pós-graduanda Lato-sensu pela Universidade Estadual de Londrina. E-mail: [email protected]. 76 Psicóloga, colaboradora PPSIC/UEL. E-mail: [email protected]. 77 Estagiária projeto UEL/PR.
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Transferência no atendimento clínico de crianças autistas
Márcia Camacho da Silva Cordér 78; Maristela Helfenstein 79; Rosemarie
Elizabeth Schimidt Almeida 80
Resumo: Esse trabalho tem como objetivo explorar a relação transferencial na clínica
psicanalítica com crianças autistas, na teoria de Klein e Winnicott. O trabalho de Melanie
Klein (1930), a análise da transferência com crianças autistas, é realizada por meio de
interpretações verbais e o lugar do analista é o de intérprete. A partir do pensamento de
Winnicott, o analista ganha outro lugar na situação transferencial com a criança autista
para além da função de intérprete. Dentre as ideias de Winnicott, destaca-se a questão
do holding e da interpretação, o modelo da “mãe suficientemente boa” como um
norteador da transferência e a importância dos vínculos sensoriais não-verbais na
relação transferencial. Através desses embasamentos teóricos e a grande demanda de
crianças com diagnóstico de autismo nas clinicas, procura-se entender a difícil tarefa do
vínculo paciente-terapeuta, explorar o campo transferencial. Destacando que a
transferência é uma ferramenta central na escuta clínica, os resultados apontam que o
atendimento de criança autista, além do ato de brincar onde se manifestam suas
fantasias, não se deve trabalhar apenas junto ao portador do autismo, mas todo o seu
contexto de convivência, e principalmente a família que convive diretamente com todo o
processo. Winnicott, diz em 1966 numa Conferência sobre o Autismo: [...] Do meu ponto
de vista, a invenção do termo autismo foi uma benção duvidosa. As vantagens estão
bastante óbvias, as desvantagens são menos óbvias. [...] A partir disso, vamos refletir
sobre a questão do autismo e tratamento, imbricados a questão transferencial e a
posição do analista perante o manejo da clínica winnicottiana.
Palavras-chave: transferência, clinica-psicanalítica, autismo.
78 Psicóloga (Unifil- Londrina), Pós-Graduanda do Curso de Especialização em Psicanálise Clínica (Universidade Estadual de Londrina). Contato: [email protected] 79 Psicóloga formada pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) Bacharel em psicologia, pela Universidade Noroeste do Rio Grande do Sul. Especializanda em Clínica Psicanalítica pela Universidade Estadual de Londrina. e-mail: [email protected] 80 Psicóloga. Doutora em Psicologia Clínica -2006 - PUCCAMP. Professora Associada UEL - Graduação e Pós-Graduação em Psicologia -Departamento de Psicologia e Psicanálise. Universidade Estadual de Londrina (UEL-PR). Coordenadora de projetos de pesquisa e extensão sobre Adolescência e Orientação Profissional. Coordenadora do curso de Especialização em Clínica Psicanalítica-UEL-PR. Atua na Clínica Psicanalítica. Contato: [email protected]
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O serviço de Plantão Psicológico da UEL como dispositivo da Atenção
Básica de Saúde: Psicologia, políticas públicas e a rede de saúde
mental
Maria Lúcia Mantovanelli Ortolan81; Gabriel Candido Paiva; Paulo Victor
Bezerra82; Maíra Bonafé Sei83
Resumo: Desde 2015, o plantão psicológico é ofertado pelo serviço-escola de psicologia
da UEL diariamente por estudantes de psicologia do quarto e quinto ano. O serviço de
plantão psicológico configura-se a partir de três pontos: a) espaço de escuta e subsídio
para as potencialidades humanas e suas inúmeras formas de existir e de se autocuidar,
b) desenvolvimento de autopercepções do sujeito sobre sua situação-problema e c)
acolhimento deste no momento da crise. Objetiva-se aqui, por meio de uma revisão não
sistematizada da literatura, problematizar a modalidade de plantão psicológico como
estratégia de clínica ampliada na Atenção Básica de Saúde, implicando a psicologia pós-
moderna, suas relações com as políticas públicas e a inserção do psicólogo no contexto
de rede em saúde mental. Os resultados indicam que o trabalho que vem sido
desenvolvido no plantão psicológico da UEL faz do serviço-escola de psicologia da
universidade um ponto da rede de saúde mental, configurando-se como um dispositivo
da Atenção Básica, na medida em que muitas vezes este serviço é o atendimento inicial,
considerando-o porta de entrada do usuário no sistema de saúde mental. Conclui-se que
as políticas públicas que concerne à saúde mental e a formação dos profissionais da área
devem estar atentas a inserção desses profissionais no contexto da Saúde Coletiva, o que
indaga os currículos dos cursos de psicologia e os limites e avanços dos serviços
substitutivos à lógica manicomial, tais como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e
Unidades Básicas de Saúde organizadas pela Estratégia da Saúde da Família.
Palavras-chaves: Plantão psicológico. Atenção básica de saúde. Serviço-escola de
psicologia. Saúde mental. Políticas públicas.
81 Foi Bolsista CNPq-IC, Psicóloga pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), Residente em Saúde da Família; [email protected] 82 Psicólogo, Mestre e Doutor em Psicologia e Sociedade (UNESP), Professor colaborador do Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina (UEL) - [email protected] 83 Psicóloga, Mestre, Doutora e Pós-doutora em Psicologia Clínica (IP-USP), Professora adjunta do Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina (UEL) - [email protected]
Diálogos em Psicanálise - Anais da III Jornada do LEPPSI e II Seminário do curso de especialização em Clínica Psicanalítica da UEL
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Psicanálise, instituição e grupos: a escuta psicanalítica nos Grupos de
Dinâmicas do serviço-escola de Psicologia da UEL
Maria Lúcia Ortolan84; Gabriel Candido Paiva; Daniel Polimeni
Maireno85; Maíra Bonafé Sei86
Resumo: O serviço-escola de Psicologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL),
desde 2015, oferta o serviço de Grupo de Dinâmicas às diferentes faixas etárias em
diversos horários. São grupos abertos, coordenados por estudantes do quarto e quintos
anos de Psicologia, que se propõem trabalhar temas do cotidiano dotando-se de
atividades lúdicas e apostando na convivência social como promotora de saúde mental.
Objetiva-se aqui, por meio de uma revisão bibliográfica não sistematizada da literatura,
a problematizar esse espaço pelo referencial teórico da Psicanálise, privilegiando,
principalmente, a questão da escuta psicanalítica e sua aplicação nos contextos
institucionais. A escuta, como uma ação que pode ser feita em qualquer contexto, em
qualquer lugar, no recorte psicanalítico, é um modo de apreensão de aspectos latentes
presentes no discurso do sujeito. Assim, a escuta psicanalítica torna-se possível em
diversos contextos, inclusive o institucional, escutando-se o ser que se preste a falar, seja
ele de qual faixa etária que for, seja de qual condição estruturante que for. Os resultados
observados indicam que os grupos de dinâmicas da UEL é um espaço de possibilidade da
escuta psicanalítica, um espaço no qual a psicanálise tem a oportunidade de se
reinventar de uma maneira particular, de acordo com contexto exigido, o que é um
acréscimo à formação do praticante, tendo em vista que o serviço de dinâmicas se trata
de um projeto de extensão, atendendo também suas funções educativas e formativas.
Conclui-se que a Psicanálise nos contextos extramuros pode existir, tendo como norte
seus dispositivos, tais como a escuta psicanalítica e a ética de sua intervenção.
Palavras-chave: Psicanálise. Instituições. Grupo de dinâmicas. Serviço-escola de
Psicologia.
84 Psicóloga pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), Residente em Saúde da Família; [email protected] 85 Psicólogo, Mestre e Doutor em Psicologia Clínica (PUC-SP), Professor colaborador do Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina (UEL) - [email protected] 86 Psicóloga, Mestre e Doutora e Pós-doutora em Psicologia Clínica (IP-USP), Professora adjunta do Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina (UEL) - [email protected]
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ISBN 978-85-7846-424-0 114
A psicoterapia psicanalítica com adolescentes e uso de jogos nas
sessões
Maristela Helfenstein87; Maíra Bonafé Sei88
Resumo: A adolescência se configura como um momento de mudanças físicas,
psicológicas e sociais, que implicam na construção de uma nova identidade. A
psicoterapia desempenha um importante papel nesta etapa de vida, oportunizando um
espaço de expressão de sentimentos e elaboração dos lutos. Observa-se, entretanto,
certa dificuldade de comunicação dos adolescentes no setting terapêutico, já que se
diferenciam das crianças, que fazem uso intenso da linguagem lúdica e gráfica, e dos
adultos, que se comunicam primordialmente pela linguagem verbal. Tendo em vista
estes aspectos, o presente trabalho tem por objetivo discutir o uso de jogos da
psicoterapia psicanalítica do adolescente. Trata-se de um estudo teórico-clínico, pautado
no delineamento de estudo de caso, referente ao atendimento de uma adolescente
realizado em um serviço-escola de Psicologia. A adolescente foi inserida no atendimento
por desejo da mãe, que trazia queixas sobre o comportamento da filha. A garota foi
inserida na psicoterapia e ao longo das sessões foram utilizados jogos, ora escolhidos
pela própria adolescente, ora levados pela terapeuta, para comunicação nas sessões.
Observou-se que esta dinâmica favoreceu a abordagem de temas que possivelmente não
seriam tratados no atendimento, os jogos não estivessem disponíveis. Tal aspectos
mostra-se relevante, especialmente no contexto dos serviços-escola de Psicologia, que
apresentam restrições quanto ao tempo disponível para os processos terapêutico,
trabalhando frequentemente dentro da perspectiva da psicoterapia breve. Por meio do
caso em questão, notou-se, assim, que os jogos foram importantes mediadores para a
psicoterapia da adolescente, contribuindo para sua comunicação e compreensão de suas
questões. Considera-se ser necessário desenvolver maior número de pesquisas sobre o
uso destes recursos no setting terapêutico de adolescentes, favorecendo o
desenvolvimento de intervenções terapêuticas, especialmente no que se refere ao
87 Psicóloga formada pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) Bacharel em psicologia, pela Universidade Noroeste do Rio Grande do Sul. Especializanda em Clínica Psicanalítica pela Universidade Estadual de Londrina. e-mail: [email protected] 88 Psicóloga, Mestre, Doutora e Pós-Doutoranda em Psicologia Clínica pelo IP-USP, Professora Adjunta do Departamento de Psicologia e Psicanálise da UEL. E-mail: [email protected].
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atendimento no contexto institucional.
Palavras-chave: psicanálise, adolescência, técnica, jogos.
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O setting e o manejo da clínica winnicottiana
Maristela Helfenstein89; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida 90
Resumo: O sujeito que chega a clínica em busca de ajuda vem marcado por um
sofrimento que muitas vezes o leva a uma desorganização psíquica que expõe toda sua
vulnerabilidade e o coloca frente a situações de extremo desamparo. Como o sujeito em
análise encontra-se em um processo de amadurecimento continuo, o setting analítico
será o ponto central, na qual acontecem intercomunicações nas diversas etapas deste
processo, e cada sessão é absolutamente imprevisível e traz características e
configurações próprias. Frente a isso, o presente trabalho tem como objetivo refletir
sobre o manejo do setting winnicottiano. E de que forma o setting poderá diferenciar-se
em se tratando de atendimento infantil, adolescente e adulto? Para isso serão abordados
fragmentos teóricos-clínicos de três casos, de uma criança de cinco anos trazida pela
mãe, com a queixa do comportamento inadequado após a separação dos pais, um
adolescente de 17 anos com a queixa, sobre a indecisão na escolha sexual, e uma pessoa
adulta de 50 anos, com a queixa de depressão. Todas atendidas no serviço-escola de
Psicologia. Tem-se observado que o setting se torna contínuo, estável, processual, à
medida que possamos levar em consideração os elementos de holding que possam
“sustentar”, “segurar no colo” o paciente, e questões que surgem na sessão. Essa
pesquisa facilita nesse sentido, ao abordar os diferentes estágios do amadurecimento, o
entendimento na escuta, em se tratando as formas de manejos, dependentes das
condições apresentadas por cada paciente, à necessidade do terapeuta, além do
embasamento teórico, torna-se necessário a criação de condições criativas no que se
refere ao par analista-paciente no ambiente setting. Identifica-se a importância sobre a
necessidade de o manejo adequado a cada paciente, com as necessidades que lhe são
próprias, de acordo com a falha que sofreu em seu processo de amadurecimento.
Palavras-chave: Winnicott, setting, manejo.
89 Psicóloga formada pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) Bacharel em psicologia, pela Universidade Noroeste do Rio Grande do Sul. Especializanda em Clínica Psicanalítica pela Universidade Estadual de Londrina. e-mail: [email protected] 90 Psicóloga. Doutora em Psicologia Clínica -2006- PUUCCAMP. Professora Associada UEL - Graduação e Pós-Graduação em Psicologia -Departamento de Psicologia e Psicanálise. Universidade Estadual de Londrina (UEL-PR). Coordenadora de projetos de pesquisa e extensão sobre: Adolescência e Orientação Profissional. Coordenadora do curso de Especialização em Clínica Psicanalítica-UEL- PR. Atua na Clínica Psicanalítica. Contato: [email protected]
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Abuso sexual: função materna, proteção e (des)proteção na
perspectiva da psicanálise
Simone Paula A. Rodrigues 91; Gabriela Lorena Massardi 92
Resumo: Surpreendentemente o abuso sexual intrafamiliar é mais frequente do que as
outras formas de violência sexual, e abrange uma perversão das funções familiares, de
modo que, aquele que deveria ser o cuidador se tornara o agressor, o que resulta em
sequelas devastadoras ao psiquismo das vítimas. De acordo com a Assembleia Geral da
ONU, 230 milhões de crianças foram vítimas de abuso sexual e 270 milhões de violência
doméstica. Desta forma, o que intriga e também instiga a presente pesquisa é a questão
referente à proteção e à desproteção especialmente no que tange à função materna no
ponto de vista da psicanálise. Freud (1914) ressaltou a preocupação com o bebê em
relação à alimentação, aos cuidados e proteção da mãe, ou por quem a substitua e exerça
função materna. Por função materna compreende-se uma gama de fatores relacionados
à significação subjetiva e cuidados que contribuem para o desenvolvimento do sujeito e
suas relações com o mundo. A função da mãe é um operador fundamental na
estruturação do sujeito e de tais relações, podendo criar condições para o abuso sexual
ou para o incesto. A função materna falha quando a mãe fracassa em sua tarefa de
realizar o holding e o bebê sente grande aflição, devido à sensação de estar em um
estado não integrado. O fracasso da função materna seria uma incapacidade de amar a
criança como pessoa inteira, sendo ela, portanto, alvo do ódio, do abandono ou uma
extensão do corpo da mãe, objeto do prazer excitado, e utilizado para fins perversos.
Assim, a busca pela compreensão, acerca dos fatores de proteção e de desproteção
implicam em ações de prevenção e intervenção nas políticas públicas voltadas ao
atendimento das mães e crianças, a fim de interromper o ciclo da violência.
Palavras chaves: abuso sexual; função materna; proteção; desproteção.
91 Centro de Referência Especializado em Assistência Social, Pós-graduação em Saúde Mental e em Psicologia Clínica Psicanalítica; [email protected] 92 UNIFIL, Estudante do 5º ano de Psicologia; [email protected]
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Abuso sexual e trauma na constituição do psiquismo sob o ponto vista
da psicanálise
Simone Paula A. Rodrigues 93; Gabriela Lorena Massardi 94
Resumo: Definido como a submissão física e psicológica de uma criança a estímulos
sexuais inapropriados ao seu estágio de desenvolvimento psicossexual (Kaplan, 1995), a
experiência do abuso, segundo (Pizá, 2010), é sempre traumática e ocasiona maior dano
à configuração do psiquismo, quanto mais precocemente for vivenciada. O presente
trabalho objetiva analisar as implicações do abuso sexual enquanto experiência
traumática em relação à constituição do psiquismo, sob a ótica psicanalítica. A fim de
aprofundar a temática apresentada, propõe-se a investigação de bibliografia, com base
na fundamentação teórica e no método psicanalítico. Em seu texto de 1940, “Esboço de
Psicanalise”, Freud comparou a violência do trauma psicológico, à de uma agulha no
embrião humano, e o incesto com a uma crueldade associada ao canibalismo e ao
assassinato (Freud, 1996b). O psicanalista Shengold (1974) denominou a experiência
emocional do trauma como “Assassinato da Alma”, pois, a fim de evitar a dor psíquica, o
sujeito passa a vivenciar uma sensação de “morte em vida”, enquanto forma de
sobrevivência psíquica. Em Laplanche e Pontalis (2001), o trauma se refere a um
acontecimento da vida do sujeito que se define por sua intensidade, pela incapacidade
do sujeito reagir a ele, pelos transtornos e efeitos patogênicos duradouros que provoca
na organização psíquica. Segundo Lacan (2000) e Pizá (2010), a saída do conflito e do
trauma se torna possível a partir da construção de um significante novo, pela via da
palavra durante o processo de análise, visando à reconstrução psíquica, a fim de auxiliar
o sujeito a sair de uma posição paralisante e aprisionada à experiência do trauma.
Palavras chaves: abuso sexual; trauma; psiquismo; psicanálise.
93 Centro de Referência Especializado em Assistência Social, Pós-graduação em Saúde Mental e em Psicologia Clínica Psicanalítica; [email protected] 94 UNIFIL, Estudante do 5º ano de Psicologia; [email protected]
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O ineditismo da psicanálise na exploração da psique
Vinícius Xavier Cintra Marangoni 95; Mary Yoko Okamoto96
Resumo: Sobretudo por meio das obras pré-psicanalíticas, é possível inferir que os anos
que antecederam à descoberta da psicanálise referem a marca de um esforço
determinado a decifrar o enigma das neuroses, particularmente a histeria. O exercício
clínico incansável; a recusa das teorias neuropatológicas explicativas das neuroses,
correntes à época; e o emprego de procedimentos médicos-terapêuticos alternativos,
como a hipnose e o método catártico, conduziram Freud à descoberta de um novo
procedimento psicoterapêutico, que se demonstrou capacitado para vencer a resistência
dos pacientes e para, consequentemente, retirar a consciência do centro da psique.
Assim, viabilizou o acesso a conteúdos além-da-consciência e, ao colocá-los em aberto e
interpretá-los, possibilitou o alívio duradouro dos sintomas neuróticos e abriu caminho
para o conhecimento etiológico das neuroses. Ao dar provas da aplicabilidade e
eficiência do novo procedimento na patologia e na normalidade, Freud parteja a
psicanálise, formalmente com a publicação de A interpretação dos sonhos (1900).
Porém, somente com a publicação da obra Três ensaios da teoria da sexualidade (1905)
que é lançada uma teoria psíquica psicanalítica, mas nesta data Freud já acumulava
aproximadamente 10 anos de atendimento clínico com o uso do novo procedimento,
como prova A psicoterapia da histeria (1895) em que já empregava-o. Então, as
conclusões teóricas apresentadas em Três ensaios... são provenientes de dados reais
oriundos da exploração clínica da psique inconsciente, diferentemente das teorias
neurológicas e neuropatológicas, cujas enunciações revelaram-se impregnadas de
preconceito e do puritanismo que permeou também o campo da medicina mental
daquela época. Resumidamente, a psicanálise enunciou um conhecimento acerca do
psiquismo a partir de constatações clínicas, somente acessíveis por intermédio do
método psicanalítico, ao contrário das elucubrações da medicina mental positivista da
época, teorias baseadas em abstrações sem fundamento empírico.
Palavras-chave: psicanálise; método psicanalítico; medicina mental positivista.
95 Psicólogo. Mestrando em Psicologia. Universidade Estadual Paulista - Faculdade de Ciências e Letras - Unesp/Assis - SP. [email protected] 96 Psicóloga. Professora assistente doutora na Universidade Estadual Paulista - Faculdade de Ciências e Letras - Unesp/Assis - SP. [email protected]
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Os limites do pronto atendimento psicológico e a questão do
encaminhamento
Ana Letícia Alves Morais 97; Gabriel Candido Paiva98; Paulo Victor
Bezerra99; Maíra Bonafé Sei100
Resumo: O presente trabalho almeja discutir os limites do pronto atendimento
psicológico, prática ofertada na Universidade Estadual de Londrina (UEL), apontando
para questões concernentes aos encaminhamentos realizados por meio desta
intervenção. No que se refere ao pronto atendimento, este se trata de um atendimento
imediato e pontual ao usuário que procura o serviço em qualquer situação de grande
sofrimento emocional, fornecendo o acolhimento adequado à demanda. Diferencia-se da
psicoterapia individual, pois a característica de um único encontro dificulta uma
investigação da dinâmica do usuário pautada na transferência terapêutica que é
formada por causa do número maior e de regularidade temporal das sessões. A
psicoterapia de base psicanalítica exige um período de entrevistas inicias para
compreender o quadro do usuário e a sua respectiva demanda. Por outro lado, uma
característica importante do pronto atendimento é a necessidade de uma devolução
rápida e concisa, a partir do encontro, do conteúdo apresentado pelo usuário,
contribuindo para esclarecer da demanda. Este esclarecimento envolve uma
estruturação do serviço, cuja importância é fundamental para que o terapeuta conheça
os limites de sua prática no pronto atendimento e consiga pensar, a partir da demanda,
os encaminhamentos coerentes que deverão ser apresentados. Por isso, é importante
pensar e refletir constantemente acerca do fator encaminhamento, pois não há a
regularidade própria da psicoterapia. Compreende-se que os encaminhamentos devem
ser pautados em um estudo que leve em consideração inúmeros fatores que atravessam
o sofrimento humano, inclusive as questões sociais, atualmente bem demarcadas na
97 Graduanda do 5º ano de Psicologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL) - [email protected] 98 Graduando do 4º ano de Psicologia do Centro Universitário Filadélfia (UNIFIL) - [email protected] 99 Psicólogo, Mestre e Doutor em Psicologia e Sociedade (UNESP), Professor colaborador do Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina (UEL) - [email protected] 100 Psicóloga, Mestre e Doutora e pós doutoranda em Psicologia Clínica (IP-USP), Professora adjunta do Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina (UEL) - [email protected]
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sociedade. Balizar esses limites é necessário para que o terapeuta não se responsabilize
além do que lhe é exigido. Além disso, o preparo teórico é fundamental para entender a
diferenciação do pronto atendimento e da psicoterapia individual, pois se enquadram
em modalidades diferentes, com o setting semelhante.
Palavras-chave: psicanálise, clínica-escola, pronto atendimento psicológico,
encaminhamento psicológico.
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A psicoterapia familiar na adoção: cuidado em Saúde Mental
Caroline da Silva Fantini101; Maíra Bonafé Sei102
Resumo: O presente trabalho propõe uma reflexão sobre questões envolvidas no
processo de adoção, através das contribuições de Winnicott e de outros autores busca-se
compreender o processo de maturação da criança abrigada, as relações com o ambiente,
e também a constituição familiar do casal que adota, visto que envolve questões pessoais
e institucionais. Segundo Gomes (2006, p. 52) “compreender a adoção com base na
teoria de Winnicott implica considerar que a família adotiva pode "tratar" a criança que
sofreu deprivação. Ainda é importante considerar que “as crianças que passam pelo
processo de adoção poderão ter questões com a memória, já que seu passado muitas
vezes traz segredos ou coisas doloridas demais para lembrar, e talvez problemas com o
desejo se seu futuro ao invés de ser sonhado, for temido por suas famílias de adoção”
(VERDI, 2010, p. 25). A psicoterapia familiar é um espaço que propícia para família se
reorganizar diante de questões sobre a adoção e também pode “prover o ambiente que
facilite a saúde mental individual e o desenvolvimento emocional”. (WINNICOTT, 1983
p.63), configurando-se como um ambiente suficientemente bom. A metodologia utilizada
é qualitativa, buscou-se compreender através de conceitos psicanalíticos, o caso clínico
de família atendido em um serviço-escola de Psicologia de uma universidade pública.
Optou-se por atendimento mesclado de quinze em quinze dias: aos pais, e outro com a
família toda. Ao adotar o casal precisa cuidar de duas crianças, os dois irmãos, que não
foram geradas por eles, e se deparam com: medo, expectativas, e com o próprio passado
dos filhos que os assombram. Também com o atendimento surgiram projeções e
idealizações dos filhos O cuidado em Saúde Mental é importante em se tratando do
processo de adoção, pois a terapia familiar está auxiliando na elaboração de questões
inconscientes neste processo.
Palavras-chave: Adoção, Saúde mental, Psicoterapia, Vulnerabilidade.
101 5º ano de Psicologia (UEL); Pós-graduanda em Psicanálise pela Faculdade Pitágoras Londrina [email protected] 102 Professor Adjunto (UEL); Pós-doutoranda em Psicologia pelo Instituto da USP [email protected]
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ISBN 978-85-7846-424-0 123
A Psicose na infância a partir do viés winnicottiano, e o setting no
dispositivo de saúde mental pós reforma psiquiátrica: relato de
experiência de um Caps Infantil
Caroline da Silva Fantini103; Maíra Bonafé Sei104
Resumo: No cenário de Reforma Psiquiátrica e novas propostas de cuidado em saúde
mental, pensa-se que a "experiência institucional com psicóticos, possibilita ao analista
confrontar-se com uma atuação que requer uma abordagem diferenciada daquela
habitualmente adotada no âmbito do consultório privado" (MONTEIRO; QUEIROZ, 2006,
p. 133), sendo necessário buscar referenciais que primem pela flexibilização do setting.
Para Winnicott, psicanalista que contribuiu nessa lógica, a psicose é uma doença que “se
origina num estágio em que o ser humano imaturo é inerentemente dependente do que
o meio lhe propicia" (WINNICOTT, 1990, p. 34), e, portanto, deve-se “prover o ambiente
que facilite a saúde mental individual e o desenvolvimento emocional”. (WINNICOTT,
1983 p.63). Considerando o período da infância determinante para a saúde mental do
indivíduo, o CAPSi é um importante dispositivo em saúde que pode operar mudanças
significativas, como contemplar as questões relacionadas a essas falhas, poderia
reinventar vias de ofertar uma nova provisão ambiental, agora suficientemente boa.
Objetiva-se relatar a experiência advinda do acompanhamento de um grupo realizado
no CAPSi da cidade de Londrina/PR, e também entender sobre o trabalho desenvolvido
e o manejo de crianças em sofrimento psíquico. A experiência do estágio proporcionou
justamente esta sensibilização do lugar do profissional neste cuidado e do papel
ambiente e do manejo na promoção da saúde, em que há uma adaptação da profissional
às demandas das crianças, e deve primar não só "a ética da autonomia, mas a do
cuidado" (DIAS, 2010, p.31). Acredita-se que o papel dos profissionais se refere à
provisão de “1-tolerância para com a imaturidade e saúde mental deficiente do
indivíduo; 2-terapia; 3-profilaxia” (WINNICOTT, 1983, p. 63). Convoca-se, assim, o
profissional a oferecer um espaço de cuidado, entender a necessidade caso a caso e
potencializar o vir a ser das crianças e adolescentes atendidos no CAPSi.
103 5º ano de Psicologia (UEL); Pós-graduanda em Psicanálise pela Faculdade Pitágoras Londrina [email protected] 104 Professor Adjunto (UEL); Pós-doutoranda em Psicologia pelo Instituto da USP [email protected]
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Palavras-chave: Clínica ampliada, CAPS infantil, Saúde Mental, Psicose, Winnicott.
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A função simbolizante da creche no processo de subjetivação do bebê
Cleide Vitor Mussini Batista 105
Resumo: Este trabalho tem como objetivo refletir acerca da entrada precoce dos bebês
em creches e os efeitos desta na constituição subjetiva deste sujeito que a de vir.
Recorrendo à história do atendimento às crianças de zero a 3 anos, encontramos
diferentes enfoques, correspondentes a diferentes períodos e contextos históricos e
culturais que impulsionaram práticas centradas no assistencialismo, no higienismo ou
na compensação das carências culturais das camadas populares. É, aqui, pois que se
instaura nosso problema: Que efeitos a entrada precoce de bebês em creches tem sobre
sua constituição subjetiva? Esta indagação nos faz refletir sobre como o berçário têm
uma função importante nos primórdios da história psíquica dos bebês atendidos por
este espaço. Partindo da constatação de que na atualidade a instituição creche faz parte
de um número expressivo de crianças, esta pesquisa, se mostra relevante na
contribuição de novos elementos para a reflexão acerca da constituição subjetiva do
bebê. Estas reflexões são oriundas de um projeto de pesquisa “Entre Fraldas,
mamadeiras, risos e choros: verificação de fenômenos cotidianos presentes nas creches”
e da análise de intervenções de cuidadoras junto aos bebês por meio de ações e
momentos propiciados por elas a estes na rotina diária e no brincar. A partir do olhar da
Psicanálise, buscamos investigar as particularidades da constituição do sujeito. Para
tanto utilizamos as contribuições dos conceitos psicanalíticos - segundo os referenciais
teóricos de Freud e Lacan. Elucidamos que a creche seja não apenas um lugar de
cuidados instrumentais, mas que se reconheça nisso o dispositivo de transmissão de
saberes. Tarefa que vai exigir da equipe não apenas um olhar diferenciado sobre a
criança em constituição, mas também uma abertura para fazer de sua prática uma
interrogação permanente, capaz de provocar uma mudança de posição junto à criança
que é atendida, cuidada e educada.
Palavras-chave: Bebês. Creche. Constituição. Desenvolvimento.
105 Profa Associado da Universidade Estadual de Londrina/Departamento de Educação. Psicóloga da Gerência de Apoio Especializado GEAE/SME. Líder do Grupo do Núcleo de Estudos e Pesquisas do Brincar, Infância e Diferentes Contextos/CNPq. Coordenadora Coordenadora do Projeto de Extensão “Quintal da Infância: um tempo e um espaço para brincar” e do Projeto de Pesquisa “Entre Fraldas, mamadeiras, risos e choros: verificação de fenômenos cotidianos presentes nas creches”.
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Crianças autistas e psicóticas: por uma construção de uma escola
Cleide Vitor Mussini Batista106
Resumo: Este trabalho tem como objetivo analisar como as concepções da escola
francesa (freudo-lacaniana) são tomadas como fundamento da escolarização da criança
autista e psicótica. A prática clínica, as construções teóricas aqui elaboradas e as
políticas atuais que recomendam a inclusão de todos nas classes regulares nos instigam
a refletir sobre a contribuição da Psicanálise no campo da Educação. Este estudo,
oriundo do projeto de extensão “Escolarização de crianças autistas e psicóticas” em
pareceria com a Secretaria Municipal de Educação/SME, ao amarrar experiência
empírica e reflexão teórica, permite inferir a possibilidade de aprendizagem de crianças
com distúrbios graves, bem como as condições e limites que se colocam no processo de
escolarização das mesmas. Participam deste estudo e formação, dez professoras
regentes das Classes TGDs, sendo que duas professoras por sala e vinte crianças. O
trabalho que aos poucos vai se desenvolvendo junto com as professoras e a troca de
experiências, contempla, de certo modo, esse entrelaçamento do educativo com o
terapêutico. Dentro desta proposta de trabalho somos guiadas pelo mesmo princípio
teórico, ou seja, o de considerar a criança não como tábula rasa ou como mero objeto de
cuidados, mas como sujeito particularizado e capaz de produzir um conhecimento,
acolhemos as crianças propondo canalizá-lo para a aprendizagem. O desafio que se
coloca para os profissionais de saúde e educação é o de sustentar o trabalho de inclusão
escolar na tensão do paradoxo entre o universal da “escola para todos” e o singular de
cada caso. Se a direção do trabalho de extensão da psicanálise implica em seguir os
princípios da ética psicanalítica, propomos que a inclusão de crianças autistas e
psicóticas nas escolas não se faça pela tentativa de adaptação da particularidade às
normas universalizantes da instituição de ensino, mas que esta possa abrir-se e dobrar-
se à singularidade de cada caso.
Palavras-chave: Autismo. Psicose. Educação Terapêutica.
106 Profa Associado da Universidade Estadual de Londrina/Departamento de Educação. Psicóloga da Gerência de Apoio Especializado GEAE/SME. Líder do Grupo do Núcleo de Estudos e Pesquisas do Brincar, Infância e Diferentes Contextos/CNPq. Coordenadora do Projeto de Extensão “Escolarização de Crianças Autistas e Psicóticas” e de Formação Continuada acerca da temática.
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Do “quintal” da escola:
Por um protocolo de observação dos brincares da criança
Cleide Vitor Mussini Batista107; Paloma de Campos Ale Pereira 108
Resumo: O objetivo desta pesquisa oriunda do Projeto de Extensão: Quintal da Infância
é apresentar os passos da construção de uma metodologia observacional para coletar
dados de crianças brincando no ambiente escolar. A metodologia observacional aqui
proposta pode auxiliar também na observação de outros fenômenos relacionados ao
desenvolvimento infantil. Foi realizada uma busca teórica em três bases de dados
científicas com o intuito de verificar o que já foi publicado a respeito da construção e
sistematização de metodologias observacionais. Foi consultada uma base internacional,
a PsycInfo (base de dados on-line da American Psychological Association - APA) e duas
bases de dados nacionais, a IndexPsi do Conselho Federal de Psicologia/PUC - Campinas,
e a Scielo Brasil. Tal resultado aponta para as lacunas existentes na área e a necessidade
de uma maior discussão a respeito do tema, uma vez que, a pesquisa observacional, nas
últimas décadas, tem adquirido significativa importância nas áreas do desenvolvimento
infantil. Com o objetivo de buscar os parâmetros para a criação de uma metodologia
observacional e a consequente formulação de um protocolo de observação, foi realizado
um estudo piloto. Os dados fornecidos pelo estudo piloto auxiliaram na construção do
protocolo de observação final, nos procedimentos de observação e na categorização dos
comportamentos que devem ser observados. Participaram deste estudo crianças
(meninos e meninas) provenientes dos Centros de Educação Infantil, bem como Anos
Iniciais do ensino Fundamental da rede municipal, filantrópica e privada do município
de Londrina e região. Enfatizamos, então, que a utilização de um protocolo de
observação facilita na codificação dos comportamentos observados conduzindo os
pesquisadores a uma discussão mais fidedigna dos resultados, bem como dos
107 1 Profa Associado da Universidade Estadual de Londrina/Departamento de Educação. Psicóloga da Gerência de Apoio Especializado GEAE/SME. Líder do Grupo do Núcleo de Estudos e Pesquisas do Brincar, Infância e Diferentes Contextos/CNPq. Coordenadora do Projeto de Extensão “Quintal da Infância: um tempo e um espaço para brincar” e do Projeto de Pesquisa “Entre Fraldas, mamadeiras, risos e choros: verificação de fenômenos cotidianos presentes nas creches”. 108 Discente da graduação em Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina. Aluna de Iniciação científica do Projeto de Extensão “Quintal da Infância: um tempo e um espaço para brincar”. [email protected]
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profissionais da educação ter uma postura investigativa para compreender a
complexidade da natureza infantil e favorecer o enriquecimento das competências
imaginativas dos alunos por meio do brincar.
Palavras-chave: Brincar. Criança. Observação. Protocolo.
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Breve discussão sobre a atuação em psicologia hospitalar
Daiane Franciele Costa109; Estela Parrilha Casemiro da Silva110; Jaqueline
Bezerra Ferreira111; Luana Dias da Silva 112; Maria Gabriela Lima Gomes113;
Daniela Maria Maia Veríssimo 114
Resumo: Este trabalho é referente a um estudo realizado por alunas do 5° ano do curso
de Psicologia em seu estágio de Formação em Psicologia Hospitalar da Faculdade da Alta
Paulista de Tupã, estágio que motivou a composição deste trabalho, resultante dos
primeiros levantamentos bibliográficos para embasamento teórico sobre atuação do
estágio supervisionado realizado pelas estagiárias na Santa Casa de Misericórdia de
Tupã/SP. Tem-se como objetivo apresentar, de forma sucinta, a atuação do psicólogo em
hospital geral. O profissional atuante em tal área pode utilizar de técnicas interventivas
como a psicoterapia de apoio e a psicoterapia breve dinâmica. Segundo Cordioli e cols.
(1998) estas psicoterapias são modalidades de curta duração, que ocorrem de forma
ativa através de um foco, de acordo com as necessidades imediatas do indivíduo a fim de
promover a superação dos sintomas e alívio do sofrimento psíquico presentes na
realidade dos pacientes. Por meio destes métodos, a prática pode ser realizada, segundo
Cantarelli (2009), através de atendimentos no leito, sala de espera, sala de observação
atendendo desde pacientes a acompanhantes e até colaboradores, priorizando a
humanização do atendimento hospitalar e a minimização da angústia e ansiedade
intensificadas pelo contexto. O objetivo dos atendimentos é fornecer aos indivíduos
possibilidades de uma ressignificação das possíveis projeções negativas a respeito de
sua permanência no ambiente hospitalar, “ajudando a assumir a sua condição
existencial, a perceber suas responsabilidades nas escolhas efetuadas durante o
tratamento” (CANTARELLI, 2009, p.137), bem como acolhimento das diversas angústias
suscitadas pelo processo de adoecimento. Sendo assim, conclui-se que o psicólogo
hospitalar deve uma postura de facilitador no ambiente hospitalar, sempre atento as
109 Graduanda em Psicologia da Faculdade da Alta Paulista - Tupã/SP. [email protected] 110 Graduanda em Psicologia da Faculdade da Alta Paulista - Tupã/SP. [email protected] 111 Graduanda em Psicologia da Faculdade da Alta Paulista - Tupã/SP. [email protected] 112 Graduanda em Psicologia da Faculdade da Alta Paulista - Tupã/SP. [email protected] 113 Graduanda em Psicologia da Faculdade da Alta Paulista - Tupã/SP. [email protected] 114 Psicóloga, Mestra e Docente do curso de psicologia da Faculdade da Alta Paulista, e-mail: [email protected]
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necessidades que emergir no ambiente, intervindo com sua experiência e apoio técnico
teórico de acordo com a psicoterapia utilizada por este, a fim de fornecer acolhimento e
o auxílio psicológico necessário aos demandantes no campo hospitalar.
Palavras chave: Psicologia Hospitalar, Psicoterapias e Acolhimento.
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Breves considerações sobre o vínculo professor-aluno: Um olhar
Psicanalítico
Daniella de Souza Balduino115; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida116
Resumo: Atualmente a prática educativa se depara com diversos conflitos, um deles
envolve a relação professor-aluno, em que as condutas dos alunos; desinteresse,
confronto com o docente, entre outras, repercutem como obstáculo para a realização do
trabalho dos professores. Nota-se que frequentemente os alunos se queixam dos
docentes, e atribuem aos mesmos a responsabilidade e o motivo de suas dificuldades de
aprendizagem. Em contrapartida, também pode-se constatar, que os professores
manifestam suas lamentações em relação aos impasses encontrados em sua prática
educativa devido aos comportamentos dos discentes. O vínculo professor-aluno engloba
os mais diversos e adversos sentimentos e atitudes, os quais podem impactar no ensino-
aprendizagem. Em decorrência dos fatos expostos, torna-se relevante a compreensão
dos aspectos intangíveis que permeiam a relação docente-discente, a qual reflete
diretamente no processo de aprendizado, tema este que tem sido discutido e estudado
ultimamente. Dessa forma, o presente artigo está estruturado por meio do procedimento
de estudo bibliográfico, e tem como desígnio, a partir de uma ótica psicanalítica,
possibilitar uma breve compreensão sobre os fenômenos transferenciais e contra-
transferenciais que permeiam o estabelecimento do vínculo professor-aluno. Será
necessário delinear um panorama entre as perspectivas da psicanálise e da educação, e
o vínculo propriamente dito; os sentimentos diversos e adversos que se encontram
presentes nesta relação, as atitudes dos alunos, as dificuldades vivenciadas pelos
professores, o desejo de ensinar, o desejo de aprender. Assim, torna-se possível uma
compreensão sobre alguns fenômenos decorrentes na relação professor-aluno, para
contribuir com o contexto da prática educativa.
Palavras-chave: professor-aluno; psicanálise; transferência; contratransferência.
115 Atua como psicóloga clínica em consultório particular e psicopedagoga clínica na Geração Integrar; Pós-graduanda em Clínica Psicanalítica pela UEL (2017-2018); Pós-graduada em Psicopedagogia Clínica e Institucional pelo Esap; Graduada em Psicologia pela UniFil. e-mail: [email protected] 116 Doutora em Psicologia pela PUCCAMP; Mestre em Educação pela UEL; Graduada em Psicologia pela UEL; Professor Associado B do Departamento de Psicologia e Psicanálise da UEL; [email protected]
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A oferta de atendimento na Clínica Psicológica da UEL a partir de um
programa de Extensão
Debora Lydines Martins Corsino117; Felipe Montes Trevisan118; Maíra
Bonafé Sei119
Resumo: O projeto “A psicoterapia como instrumento de na clínica psicológica da UEL”
em vigor desde 2014, oferta para discentes e profissionais recém-formados a
possibilidade de atuar enquanto terapeutas na clínica psicológica, e assim contribuir
com a rotatividade de pessoas que aguardam atendimento, inscritas na lista de espera.
Os colaboradores possuem como função agendar atendimentos clínicos com crianças,
adolescentes e/ou adultos, e comprometer-se em zelar pela ética profissional,
garantindo o andamento destes tratamentos por meio de supervisões com
colaboradores formados e com experiência clínica. Tal dinâmica cumpre uma função
importante, tanto no que tange a formação acadêmica, adentrando a prática clínica nas
diversas correntes psi, como possibilita um melhor atendimento à comunidade que
demanda tais serviços, contribuindo com maior quantidade de atendimentos aos
diversos casos encaminhados para a clínica universitária. As reuniões clínicas são
agendadas com antecedência e contam com a participação do terapeuta que apresenta o
caso, o supervisor que trabalha com a abordagem utilizada pelo terapeuta, e os demais
participantes do projeto que desejam aprimorar a prática clínica, tendo em vista que
participar de supervisões é um passo fundamental para a formação do psicólogo. Além
disso vale ressaltar que algumas prerrogativas institucionais atravessam a formação do
estudante de Psicologia. A iniciação de atendimentos clínicos ocorre nos estágios
obrigatórios dos últimos anos da graduação, portanto, a prática extensionista surge
como uma possibilidade de inserção antecipada dos discentes no contexto da clínica.
Além disso, a Universidade possui apenas dois departamentos que ofertam estágio em
clínica para os estudantes, e como o presente projeto conta com supervisores externos à
instituição, é crescente a procura por supervisões em escolas psi diferentes das
117 Estudante do 5º ano de Psicologia da Universidade Estadual de Londrina; e-mails: [email protected]
118 Estudante do 5º ano de Psicologia da Universidade Estadual de Londrina; e-mails: [email protected]
119 Docente adjunta no Departamento de Psicologia e Psicanálise e atual diretora da Clínica-escola Psicológica da Universidade Estadual de Londrina; e-mail: [email protected]
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oferecidas na graduação, como a Psicologia Analítica e a Corporal. Portanto, a partir
destes dados o projeto se mostra relevante para a Universidade e para a comunidade
com um todo.
Palavras-Chave: Formação clínica; Supervisão; Clínica-escola; Psicoterapia.
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Projeto de intervenção com adolescentes em processo de medida
socioeducativa
Estela Parrilha Casemiro da Silva 120; Maria Gabriela Lima Gomes 121;
Thaís Yazawa122
Resumo: Este trabalho é referente a um estudo realizado por alunas do curso de Psicologia
em seu estágio de Formação em Psicologia Jurídica da Faculdade da Alta Paulista de Tupã,
com o intuito de apresentar o projeto de prática do estágio, realizado em uma instituição
que atende adolescentes que cumprem medidas socioeducativas no interior de São Paulo.
Dentro deste contexto, é proposto como prática interventiva a realização de atividades com
estes adolescentes focando nas problemáticas segundo a demanda do grupo, este no qual
residem em um contexto de vulnerabilidade social, desprovido de políticas públicas e
consequentemente, de qualidade de vida. A proposta de trabalho com este grupo inclui na
prevenção, que ‘‘contempla mais que a desvinculação dos jovens com o ato infracional:
remete a um olhar que o percebe como indivíduo de elevada vulnerabilidade e sujeito a
múltiplas situações de risco’’ (COSTA; ASSIS, p.75, 2006); assim como a conscientização e
promoção da autonomia utilizando-se de métodos como dinâmicas, rodas de conversas,
oficinas e ferramentas, abordando temas que atinjam os objetivos propostos e que sejam
coerentes com a realidade vivenciada pelo público alvo. Com o objetivo de provocar uma
reflexão e visão crítica sobre o ato infracional e seu contexto social, com temáticas que
concernem à realidade dessa população, tais como: abuso de substâncias, habilidades
sociais, relacionamentos interpessoais em um espaço para acolhimento de suas demandas
psicológicas, em uma tentativa de contextualizar o adolescente enquanto pessoa que deseja
e precisa ser ouvida (XAUD, 2000), fornecendo subsídios para auxiliá-lo a recolocar-se e
inserido na sociedade, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990). Participarão
das atividades adolescentes, entre 13 e 21 anos, em encontros quinzenais de
aproximadamente uma hora de duração. Durante tais encontros é esperado que os
adolescentes encontrem acolhimento e consigam visualizar outras possibilidades fora do
contexto do ato infracional.
Palavras-chave: Psicologia Jurídica, Ato Infracional, Adolescente.
120 Graduanda em Psicologia da Faculdade da Alta Paulista, [email protected] 121 Graduanda em Psicologia da Faculdade da Alta Paulista, [email protected] 122 Psicóloga, Mestra e Docente do curso de Psicologia da Faculdade da Alta Paulista.
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A escuta como ferramenta de trabalho no pronto atendimento
psicológico
Gabriel Candido Paiva123; Paulo Victor Bezerra124; Maíra Bonafé Sei125
Resumo: A escuta como ferramenta de trabalho do plantonista é embasada e amparada
pelo arsenal teórico da Psicanálise que pretende extrapolar os consultórios privados
conforme preconizado por Freud e Lacan. Diferentemente de outros serviços de Atenção
Básica em Saúde nos quais o usuário apreende saberes de outros especialistas numa
tentativa de aplacar seu sofrimento, o espaço do Pronto Atendimento orienta-se pelo
caminho inverso: reconhecer o saber do paciente numa tentativa de implicá-lo em seu
próprio sofrimento. Isso tem o potencial de produzir mudanças pois, ao falar e não ser
prontamente atendido em sua demanda manifesta, o usuário é levado a narrar sua
história a partir do contexto em que passou a sofrer da maneira como vem sofrendo. O
silêncio do plantonista-analista permite a instalação de um sujeito que se põe a falar. A
partir da reconstrução do sofrimento do sujeito na experiência da fala produzida no
encontro, novos saberes são esboçados a partir das compreensões que o próprio
paciente realiza em função de informar o plantonista. Abre-se, então, a possibilidade de
um esclarecimento sobre as falhas do saber, uma retomada da consciência que joga luz
nas cenas as quais o sujeito não soube fazer, contribuindo para o quadro do seu
sofrimento. Esses novos saberes são caracterizados como novas posições que o sujeito
pode tomar frente ao seu próprio sofrimento, a partir do momento no qual ele percebe
que se tornou coadjuvante de uma história em que era protagonista. A fala do sujeito
que sofre, ou melhor, a circulação da palavra é um movimento chave para que a queixa
possa vir a se tornar produção de saber. Neste sentido, entende-se a importância do
Pronto Atendimento Psicológico na rede de saúde pública, privilegiando uma criação de
sínteses e saídas que quebrem a cadeia de repetições mortíferas.
123 Graduando do 4º ano de Psicologia do Centro Universitário Filadélfia (UNIFIL) - [email protected] 124 Psicólogo, Mestre e Doutor em Psicologia e Sociedade (UNESP), Professor colaborador do Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina (UEL) - [email protected] 125 Psicóloga, Mestre e Doutora e pós doutoranda em Psicologia Clínica (IP-USP), Professora adjunta do Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina (UEL) - [email protected]
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Palavras-chave: psicanálise, escuta em psicanálise, psicanálise em clínica-escola,
clínica-escola, pronto atendimento psicológico.
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Adolescência e a escolha profissional: o tempo do devir
Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida126; Geovanna Moreno Cianca127
Resumo: Através do projeto de pesquisa e extensão são realizados grupos terapêuticos
abordando o tema da escolha profissional na adolescência, com enfoque na teoria do
amadurecimento. A vida do adolescente é perpassada por conflitos, ansiedades e por
uma temporalidade subjetiva peculiar, o que justifica a importância do processo de
Orientação Vocacional e Profissional, fundamental nesse momento de transição, que
carece de elementos de holding sociocultural. Objetivo: O grupo objetiva orientar e
acolher os adolescentes frente à problemática da adolescência e da escolha profissional,
à medida que cria um espaço temporal transicional. Método: os beneficiados são
adolescentes do ensino médio de escolas estaduais da comunidade de Londrina-PR. O
método segue a modalidade clínica aplicada ao contexto grupal, levando em
consideração as nuances da vivência ao abordar aspectos sobre a família, a escolha
profissional e futuro. Resultados: Por meio das oficinas, foi possível aos adolescentes
refletir a escolha profissional através da produção criativa e da relação com o grupo de
pares. Em atividade realizada com grupo de adolescentes em agosto de 2016, surgiu
sobre o eixo “adolescência” as associações: dúvida, liberdade ou prisão?,
responsabilidade, perguntas sem resposta – que sinalizam os conflitos de adequação aos
papéis de adulto e as mudanças psíquicas e corporais que acompanham essa fase. Sobre
“família” foram associados: base, educação, amor, bem como a questão da influência
familiar na escolha profissional e os dilemas decorrentes “talvez a liberdade que as
famílias modernas passam aos seus filhos seja um dos problemas de tanta indecisão!” Ao
eixo “escolha profissional” foram relacionados: futuro, decisão, difícil, o que demonstra
relação entre os eixos, bem como variância entre a indecisão/incerteza e a certeza sobre
a profissão desejada. Conclusão: Conclui-se que o ao tirar dúvidas, gerar reflexão e
126 Profa. Dra. Associada PPSIC/CCB/UEL. Coordenadora do Projeto de Pesquisa e de Extensão do Departamento de Psicologia e Psicanálise/ UEL, sobre a Adolescência e a questão da Escolha Profissional. Coordenadora do Curso de pós-graduação: Especialização: Clínica Psicanalítica. Londrina - PR. E-mail: [email protected] 127 Psicóloga, CRP-08/21364. Colaboradora do Projeto de Pesquisa e de Extensão do Departamento de Psicologia e Psicanálise/ UEL, sobre a Adolescência e a questão da Escolha Profissional. E-mail: [email protected]
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discussão, o grupo serve como um espaço de acolhimento para os adolescentes e suas
ansiedades, cumprindo função psicoprofilática.
Palavras-chave: adolescência, escolha profissional, orientação vocacional, futuro.
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Atendimento familiar em clínica-escola: algumas reflexões sobre a
resistência no processo terapêutico em famílias encaminhadas pelo
sistema judiciário de Londrina
Hellen Lima Buriolla 128; Hévila de Fátima P. Pereira 129; Maíra Bonafé
Sei130
Resumo: A Clínica Psicológica da Universidade Estadual de Londrina (UEL) possui uma
grande demanda por atendimento psicoterapêutico familiar. Contudo, grande parte
dessas famílias não chegam por conta própria, mas sim encaminhadas por uma
instituição, sendo uma das principais, o Sistema Judiciário de Londrina. Para que seja
realizado esses atendimentos as famílias são encaminhadas ao projeto “A psicoterapia
psicanalítica de casal e família na Clínica Psicológica da UEL“ para iniciarem o processo
terapêutico. Sabe-se que a terapia familiar só é possível quando todos os participantes
da família estão envolvidos no processo terapêutico para que seja trabalhado a inter-
relação entre os membros envolvidos, ou seja, a família em sua totalidade, para que
assim ela consiga lidar com suas angústias e resistências, afim de mobilizar as mudanças
e transformações necessárias. Entretanto, quando a família vem encaminhada por uma
instituição e não porque acredita precisar de ajuda, nos deparamos com uma forte
resistência para com processo terapêutico, onde podemos identificar aspectos de recusa
ou enquistamento impostos aos laços intersubjetivos, que podem estar ligados a
gravidade do sintoma ou ao conflito encoberto. Na tentativa de elucidar os aspectos que
dificultam o avanço da psicoterapia familiar neste contexto, o presente trabalho buscou
apresentar reflexões acerca de dois casos encaminhados pelo sistema judiciário de
Londrina atendidos na clínica-escola da UEL. Os casos apresentados mostram alguns dos
obstáculos encontrados que dificultam o avanço da terapia, como: tentativas de
flexibilização dos atendimentos em relação periodicidade por parte da família; excessivo
número de faltas; atrasos; rejeição a comunicação; perguntas sobre credenciais ou
qualidades do terapeuta; e o abandono à terapia.
Palavras-chave: Terapia Familiar; Resistência, Sistema Judiciário; Psicanálise.
128 Graduanda do 5º ano de Psicologia na Universidade Estadual de Londrina – [email protected] 129 Graduanda do 5º ano de Psicologia na Universidade Estadual de Londrina - [email protected] 130 Professora Doutora do Departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina.
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Relato de Caso: Avaliação psicológica de uma criança encaminhada
por suspeita de deficiência intelectual: divergências entre a avaliação
formal e informal
Hellen Lima Buriolla 131; Jaqueline Alvernaz de Miranda 132; Eduardo Yudi
Huss133; Patrícia Silva Lúcio 134; Katya Luciane de Oliveira 135
Resumo: A avaliação psicológica fornece diversas informações que requerem do
psicólogo saber interpretar, selecionar, transmitir e devolver ao avaliando os resultados
obtidos. Exige um olhar atento e, principalmente, considerações éticas, pois os
resultados podem impactar na vida pessoal e social do indivíduo avaliado, podendo
ainda ser motivo de exclusão em diversos ambientes. O objetivo deste trabalho é relatar
o caso de uma criança (G., 7 anos) encaminhada ao projeto “Avaliação Psicodiagnóstica
em Diferentes Contextos e Acolhimento na Clínica Escola do Curso de Psicologia da UEL”
pela Neuropediatria do Hospital das Clínicas da UEL para investigação cognitiva e
aspectos comportamentais. G. frequentava a APAE há cerca de um ano após ser
encaminhado pela antiga escola regular. G. foi submetido aos seguintes instrumentos
padronizados: WISC-IV (Escala de Inteligência Wechsler para crianças), Matrizes
Progressivas de Raven e Escala de Maturidade Mental Colúmbia. G. apresentou
desempenho cognitivo geral dentro do esperado comparando-o com crianças de mesma
faixa etária. Analisando as subáreas especificas da inteligência do WISC-IV, constatamos
que G. apresenta boa capacidade de organização perceptual e velocidade para processar
informações. A principal dificuldade relaciona-se a memória de curto prazo para
informações verbalmente mediadas (mas sem caracterização de deficiência). O
desempenho cognitivo de G. em instrumentos não-verbais mostra-se superior a crianças
de mesma faixa etária. Observamos que G. apresenta habilidades mais desenvolvidas
nos aspectos não-verbais da cognição, contudo, as tarefas verbais são as mais exigidas
no contexto escolar e provavelmente isso força a ilusão de que ele apresenta
131 Discente do curso de psicologia da Universidade Estadual de Londrina – [email protected] 132 Discente do curso de psicologia da Universidade Estadual de Londrina – [email protected] 133 Psicólogo pela Universidade Estadual de Londrina - [email protected] 134 Professora Doutora do Departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina – [email protected] 135 Professora Doutora do Departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina – [email protected]
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dificuldades mais gerais. Portanto, foi aconselhado que G. voltasse para a escola regular,
porém com estimulação diferenciada nas áreas onde possui maior dificuldade. O caso é
relevante para demonstrar a necessidade da observação atenta a questões subjetivas do
avaliando e o conhecimento adequado sobre as teorias psicológicas, critérios
diagnósticos e os instrumentos utilizados no processo de avaliação psicológica.
Palavras-chave: Criança, Avaliação Psicológica, Aspectos Cognitivos, Inclusão.
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A ansiedade a partir dos conceitos de Freud
Hévila de Fátima P. Pereira136; Jéssica Guirardelli137; Mauro Fernando
Duarte138
Resumo: Como objetivo, este trabalho buscou identificar os conceitos de ansiedade a
partir do viés psicanalítico, e compreender como se estabelece o processo de
desenvolvimento da ansiedade na psique do sujeito e como se manifesta no corpo,
proposto por Sigmund Freud ao longo de sua teoria. Em seus primeiros estudos, Freud
considera a ansiedade uma expressão sintomática de um conflito interno em que foi
reprimido da consciência quando ocorre alguma situação que sinta medo de algo ou
alguém. Posteriormente, Freud afirma que os conteúdos recalcados no inconsciente
possuem bastante energia libidinal em busca do prazer, e provoca a ansiedade pela
ameaça ao ego, e esta ansiedade precisa ser elaborada. Freud compõe sua teoria a partir
de dois momentos, o primeiro como ansiedade “realística”, o segundo como ansiedade
“neurótica”. A ansiedade “realística” seria a expectativa sexual não realizada ou não
completamente realizada. Uma derivação da libido que não encontrou a satisfação
buscada pela falta do objeto, ou por ausência do prazer esperado. Entretanto, a
ansiedade “neurótica”, era vista como resultado do conflito psíquico ente impulsos
sexuais ou agressivos inconscientes com origem no id, sendo essas ameaças um sinal da
presença de perigo no inconsciente. Neste caso, a ansiedade foi definida por Freud tanto
como uma manifestação sintomática de conflito neurótico quanto um sinal adaptativo
para desviar o conflito neurótico da consciência. O último conceito sobre ansiedade em
sua teoria é entendida como reprodução de um estado afetivo de conformidade com
uma imagem mnêmica já existente resultante de experiências traumáticas primevas.
Quando ocorre uma situação semelhante, são revividos como símbolos mnêmicos. Este
trabalho permitiu, enquanto futuras psicólogas, abranger as várias facetas da ansiedade
136 Graduanda em Psicologia pela UEL. Participou como bolsista do projeto “A psicoterapia psicanalítica de casal e família na clínica psicologia da UEL”. Contato: [email protected] 137 Graduanda em Psicologia pela UEL. Participou como bolsista do projeto de Iniciação Cientifica “Estudo sobre o processo de individuação segundo a percepção de gêmeos adultos”. Contato: [email protected] 138 Psicólogo e psicoterapeuta, doutorando em Psicologia pela USP, Mestre em Psicanalise pela UEM, especialista em Psicologia Clínica e Psicossomática pela UNIFIL, e graduado pela UEL. Contato: [email protected]
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ao longo da teoria psicanalítica de Freud e suas possíveis ações e reações no psiquismo
humano.
Palavras chave: conceitos, ansiedade, psicanálise.
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Adolescência e Escolha Profissional de Adolescentes do Ensino Médio
na cidade de Londrina –PR.
Rosemarie Elizabeth Schmidt Almeida 139; Jádia Cristina Dos Santos140;
Giovanna Sandoval Fioresi 141; Geovanna Moreno Cianca 142; Jéssica Cardoso
Roque143; Rafaela Grumadas 144
Resumo: O projeto “Adolescência e a Questão da Escolha Profissional, Atendimentos em
Grupo e Individual na Clínica Psicológica da Universidade Estadual de Londrina”, atende
as demandas que vão surgindo, relacionadas a Clínica Psicológica, e de Escolas que se
interessam em participar das atividades e dos processos que são ofertados pelo projeto.
O método é de Consulta Terapêutica Coletiva e seus desdobramentos podem ser na
modalidade de consulta terapêutica individual ou coletiva. Intervêm em eventos
institucionais, e quando há um setting específico, relacionados a uma imersão, ao
desenvolvimento de uma reflexão, às palestras, os quais são denominados como
Wokshpos e Oficinas terapêuticas. Tivemos como exemplos em 2016, a participação na
semana pedagógica do Colégio de Aplicação, do ensino médio, Pitch das Profissões na
Feira das Profissões, evento anual, tradicional da Universidade, Imersão de 4 horas com
os estudantes do Cursinho Vestibular da UEL. Além de outras atividades na modalidade
clínica, com a formação e o atendimento de 3 grupos de adolescentes na clínica
Psicológica, adolescentes oriundos de escolas da cidade de Londrina-PR. Todas as
modalidades de intervenção, tiveram em consideração o momento do amadurecimento
do adolescente, reunindo-se atividades com foco em uma reflexão sobre seus “sonhos”,
especialmente os profissionais, sobre si seu estado de isolamento e de uma suposta
integração. Sob o ponto de vista da teoria do amadurecimento, essa fase da adolescência
e da escolha profissional envolve manejos psicoprofiláticos, que acontecem por meio de
139 Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida - Prof. Dr. Associado PPSIC-CCB. Coordenadora dos Projetos de Pesquisa e de Extensão do Departamento de Psicologia e Psicanalise/PPSIC – CCB/UEL sobre Adolescência e a Escolha Vocacional e Profissional. Coordenadora do Curso de pós-graduação: Especialização em Clínica Psicanalítica-Departamento de Psicologia e Psicanálise. Atua na Clínica Psicanalítica. Londrina-PR. E-mail: [email protected]. 140 Jádia Cristina dos Santos – Graduanda do curso de Psicologia da UEL. Bolsista PIBEX/PROEX/UEL. E-mail: [email protected] 141 Giovanna Sandoval Fioresi – Graduanda do Curso de Psicologia/UEL. 142 Geovanna Moreno Cianca – Graduada do Curso de Psicologia/UEL. 143 Jéssica Cardoso Roque – Graduanda do Curso de Psicologia/UEL. 144 Yuriko Siu Takeda - Graduanda do Curso de Psicologia/UEL.
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um espaço temporal transicional, criado pelo setting perpassado por elementos de
holding.
Palavras-chave: Orientação Vocacional; Adolescentes; Consulta terapêutica.
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ISBN 978-85-7846-424-0 146
Uma articulação entre a psicanálise e a arte na saúde mental
Josemar Santos de Matos145; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida146
Resumo: Este trabalho estudou a articulação entre arte e psicanálise, na atuação
terapêutica na saúde mental. Na compreensão da terapêutica de pessoas acometidas por
um intenso sofrimento psíquico. Neste estudo foi realizada a pesquisa bibliográfica, da
articulação entre a psicanálise e arte e, também, sobre a psicose. A hipótese levantada
para o estudo é de quando o sujeito-artista, ao produzir a obra de arte, manifesta seu
inconsciente, e isso, pode possibilitar, através do seu discurso sobre a sua obra, uma
diminuição do sofrimento psíquico. Teve como foco a obra de arte, produzida pela
pessoa estruturada na psicose, devido à falta de valorização e inclusão social. Portanto,
pode-se notar que esta atuação terapêutica tem mais benefícios ao sujeito-artista.
Autuori (2005) ressalta que a arte se faz presente em vários estudos de Freud, em
especial no texto “Delírios e sonhos na Gradiva de Jensen”. Neste texto, Freud tece
comparações entre a ciência psicanalítica e arte, trabalhando sobre as possibilidades de
efeitos e entrosamento entre ambas no que diz respeito à esfera mental, em especial no
sonho e no delírio. A autora escreve que Freud considera a arte como sua aliada, pois
esta expõe de forma artística o mesmo que ele descobrira em sua pesquisa clínica e
expusera em seus escritos psicanalíticos. Dessa forma, na produção artística, a história
de vida, é extremamente projetada na obra, manifestando seus conteúdos recalcados, ou
seja, o inconsciente. O sujeito pode ressignificar suas experiências reprimidas do
passado, através do discurso sobre a obra feita. Através desse trabalho, acontece
elaboração por meio da arte. Conclui-se, assim, que a arte é uma via sublimatória por
meio da qual o sujeito constrói uma nova realidade que lhe forneça uma satisfação não
encontrada na realidade objetiva.
Palavras-chave: Psicanálise. Arte. Psicose. Saúde Mental.
145 Psicólogo, Pós-graduando na Especialização de Clínica Psicanalítica 2017 e Pós-graduado em Saúde Mental pela UNINGÁ – Centro Universitário Ingá, Telefone: 044 99943-2762, e-mail: [email protected] 146 Docente do Departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina. Telefone: 043 99941-5364, e-mail: [email protected]
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A transmissão transgeracional na trilogia tebana
Josemar Santos de Matos147; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida 148
Resumo: Este trabalho tem a finalidade de propor uma reflexão teórica da intersecção
da Transmissão Psíquica Transgeracional e a mitologia grega, utilizando como recurso
material o livro “A Trilogia Tebana”. Através do estudo dos mitos do livro foi feito o
exercício interpretativo de alguns conceitos teóricos, envolvendo primeiramente a
definição de mito, transmissão psíquica e familiar. Para o entendimento teórico, utilizou-
se o corpo teórico da psicanálise. Em analise, os autores Trachtenberg, Kopittke, Pereira,
Chem, & Mello (2005) ressaltam que os conteúdos psíquicos dos filhos estarão
registrados pelo funcionamento psíquico de seus avós, ou até, de outros ascendentes,
que eles podem não ter conhecido, mas cuja vida psíquica marcou de forma traumática
seus próprios pais. Com isso, este tipo de transmissão é considerado alienante e não-
estruturante, assim, evitando a singularização do herdado, pois ela se impõe em estado
concreto aos descendentes. A intersecção entre psicanálise e mitologia grega percebida
nos estudos feitos por Freud que contribuiu na elaboração da teoria psicanalítica, é um
campo amplo para novos estudos. Logo, permitimo-nos a fazer uma intersecção da
transmissão psíquica transgeracional e com mitologia grega, pautando-se, no destino
traçado ao herói, por determinação dos deuses. Concomitantemente, esse estudo
pretende fazer articulação teórica do processo de subjetivação do humano. Então,
partir-se-ia da transmissão psíquica feita pelos pais aos seus filhos, a qual, pela via das
narrativas familiares, pode ocorrer à estruturação do aparelho psíquico. Assim como,
nos mitos gregos, o destino traçado por um deus a um herói e a sua trajetória trágica na
narrativa mítica. Conclui-se, que a interdição ao incesto estaria ligado com as primeiras
transmissões míticas ao inconsciente, que seria para manter a ordem social e interna
familiar.
Palavra Chave: Transmissão Transgeracional, Mitologia Grega, Psicanálise.
147 Psicólogo, Pós-graduando na Especialização de Clínica Psicanalítica 2017 e Pós-graduado em Saúde Mental pela UNINGÁ – Centro Universitário Ingá, Telefone: 044 99943-2762, e-mail: [email protected] 148 Prof. Doutor do Departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina. Telefone: 043 99941-5364, e-mail: [email protected]
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Os casos de histeria no Plantão Psicológico da UEL: a importância das
supervisões para o desenvolvimento de raciocínio diagnóstico e
manejo clínico do psicólogo
Maria Lúcia Mantovanelli Ortolan149; Ana Letícia Alves Morais 150;
Gabrieli Zaros Granusso 151; Paulo Victor Bezerra152
Maíra Bonafé Sei153
Resumo: O plantão psicológico é uma modalidade de atendimento de encontro único
que acolhe a experiência do sujeito em sua emergência a fim de clarificar a demanda
deste e fazer possíveis encaminhamentos, podendo ser um dispositivo para a rede de
saúde pública. Implantado na clínica psicológica da UEL em 2015 o serviço é um projeto
de extensão que atende a comunidade externa e fomenta formação do estudante de
psicologia, aprimorando seu raciocínio e manejo clínico por meio dos atendimentos de
demanda espontânea e das supervisões clínicas. Este artigo objetiva-se discutir as
possibilidades da psicanálise como referencial teórico e metodológico nos atendimentos
e supervisões do Plantão Psicológico, problematizando os diagnósticos e
encaminhamentos da histeria. Trata-se de estudo investigativo-descritivo desenvolvido
por meio de relato de experiência acerca de dois atendimentos realizados no projeto do
plantão psicológico, além de uma revisão não-sistemática da literatura sobre a estrutura
clínica da histeria e sobre o lugar das supervisões clínicas para a formação do analista.
Freud, em seus estudos sobre a histeria clássica contribuiu para que a visão acerca
destes pacientes pudesse ter uma nova perspectiva, no entanto, entende-se que ainda
hoje os usuários histéricos, nos serviços de saúde de atenção primária, não recebem um
diagnóstico adequado e são comumente nomeados de pacientes poliqueixosos: hiperuso
149 Psicóloga (UEL), Residente no programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família (RMSF-UEL) - [email protected] 150 Graduanda do 5º ano de Psicologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL) - [email protected] 151 Graduanda do 5º ano de Psicologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL) - [email protected] 152 Psicólogo, Mestre e Doutor em Psicologia e Sociedade (UNESP), Professor colaborador do Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina (UEL) - [email protected] 153 Psicóloga, Mestre e Doutora e pós doutoranda em Psicologia Clínica (IP-USP), Professora adjunta do Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina (UEL) - [email protected]
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do serviço, hipocondríacos e “fazedores de cena”. O plantão psicológico pode ser uma via
de acesso para pensar nas manifestações atuais de indivíduos histéricos, havendo uma
importância em projetos como este que fomentem um raciocínio diagnóstico para que
os usuários de saúde mental sejam corretamente identificados e interpretados,
acarretando em uma saúde pública mais resoluta e efetiva.
Palavras-chaves: plantão psicológico; serviço-escola de psicologia; histeria; supervisão
clínica.
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Ansiedade em psicanálise: um recorte clínico.
Mayra Cristina Teixeira Batista154; Carolina Caires Motta155
Resumo: Ao pensarmos em ansiedade, devemos olhar para a contemporaneidade, pois
hoje muitos indivíduos vivem de modo, onde exista alguma forma de pressão, seja em
seus empregos, seus relacionamentos, seus estudos. Assim o papel do analista, é dar
significado a fala do paciente, deixando ameno os conteúdos inconscientes, dos quais ele
traz em terapia. No caso a ansiedade pode acontecer a princípio por algo indefinido ou
por falta de um objeto, outro ponto importante é o desamparo, que quando físico ele é
real, e quando psíquico ele é instintual, isso ocorre por uma situação traumática.
Entretanto o caso clínico abordado, com V., de 28 do sexo masculino, não foi diferente,
pois a queixa inicial, para o seu atendimento, foram crises de ansiedade e um termino de
um relacionamento que tinha acontecido recentemente. Assim trabalho foi realizado no
NPP – Núcleo de Práticas Psicológicas – no município de Londrina, por uma estagiária do
5º ano do curso de psicologia da PUCPR, a referente à disciplina de Estágio
Profissionalizante em Psicologia no ano de 2016. Podemos entender então que a
ansiedade no caso de V. é a reação de uma perda de objeto que ocorreu recentemente,
ou seja a perda de alguém significante. Contudo a Ansiedade passa a interferir na
qualidade de vida dos indivíduos, e na forma como se lida com as questões emocionais e
psíquicas, e isso pode acarretar, prejuízos no desempenho na vida cotidiana, trazendo
sofrimento psíquico, e impossibilitando que a pessoa continue seus afazeres do
cotidiano. Os atendimentos, tem feito com que o paciente, consiga ter a autorreflexão
sobre o quanto é necessário investir energia psíquica em outras coisas, para que o
sofrimento aos poucos, vá diminuindo, e ele consiga pensar mais em si, para que
diminua a intensidade do sintoma, até trabalharmos, outras questões inconscientes.
154 Psicóloga (CRP 08/23948) graduada na PUCPR- Campus Londrina no ano de 2016, com formação sempre voltada a psicanálise, hoje aluna da pós-graduação Clínica Psicanalítica da UEL. [email protected] Celular: (43) 99166 7855. 155 Psicóloga (CRP 08/ 15454)
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Atenção à saúde da mulher: relato de experiência
Nathália Tavares Bellato Spagiari 156; Sílvia Nogueira Cordeiro157; Maria
Elizabeth Barreto Tavares dos Reis 158
Resumo: Para a atender os princípios que embasam o conceito de saúde e assistência à
saúde do SUS – universalidade, integralidade, equidade, intersetorialidade, humanização
do atendimento e participação social –, demanda constante atualização das práticas
realizadas pelos diversos profissionais que compõem o quadro da atenção à saúde.
Devido a esta revisão da prática, foram criados os programas de residências
multiprofissionais para a capacitação do profissional ocorra de acordo com a filosofia do
SUS. A residência multiprofissional em saúde um campo novo de atuação do psicólogo,
portanto, cheio de desafios. Inclusive, as questões referentes à saúde da mulher vêm
sendo tratada com mais cuidados pelo SUS, devido à alta procura deste púbico pelos
serviços, além da maior ocorrência de transtornos psíquicos e físicos associados as fases
reprodutivas. Este trabalho tem como objetivo descrever a experiência do psicólogo em
um programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Mulher. O trabalho se baseou
nas atividades das duas primeiras turmas do programa, sendo cada uma turma
constituída por 16 residentes – ao todo – das áreas de educação física, enfermagem,
farmácia, nutrição e psicologia. Durante o primeiro ano, os residentes atuavam na
Atenção Básica e, no segundo ano, na Atenção Secundária e Terciária. O trabalho
desenvolvido pela psicologia nos três setores da atenção à saúde, promoveu diversas
reflexões. Desta maneira, salientamos os desafios e contribuições da psicologia no
campo da residência multiprofissional, desde sua relação com demais residentes e
tutores, em conjunto com as experiências em campo de prática, que possibilitaram a
legitimação da importância do núcleo profissional específico, contribuindo para o
desenvolvimento profissional de cada residente.
Palavras-chaves: residência; multiprofissional; psicologia; saúde da mulher.
156 Psicóloga pós-graduanda na Especialização de Clínica Psicanalítica e pós-graduada pela Residência Multiprofissional em Saúde da Mulher pela UEL, e-mail: [email protected] 157 Docente do Departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina, e-mail: [email protected] 158 Docente do Departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina, e-mail: [email protected]
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Percepções do psicólogo-observador sobre a relação mãe-bebê e
equipe de saúde na visita puerperal: o método Bick
Nathália Tavares Bellato Spagiari 159; Maria Elizabeth Barreto Tavares
dos Reis160; Sílvia Nogueira Cordeiro161
Resumo: O puerpério é uma fase tomada por muitas emoções. Após o nascimento da
criança, o Sistema Único de Saúde (SUS) promove a realização de uma visita à puérpera,
através de suas equipes de saúde, visando o cuidado físico e emocional da díade mãe-
bebê. Por intermédio da observação de 20 duplas mãe-bebê de duas Unidades Básicas
de Saúde (UBS) e o método Bick de observação, buscou-se levantar as percepções do
psicólogo-observador sobre a relação mãe-bebê e equipe de saúde durante as visitas
puerperais realizadas pela equipe de saúde da UBS. A observação foi fundamentada no
método de observação psicanalítica modelo Esther Bick que permite que o pesquisador
observador reflita sobre suas emoções vivenciadas no local de pesquisa. Conforme o
método Bick, a observação é constituída por fenômenos reais e sentimentos envolvidos
que emergiram na situação, e possui como receptáculo dessas emoções, o observador.
Os sentimentos e emoções despertados pela dupla mãe-bebê no observador viabilizam
processos identificatórios, isto é, possibilitaram o experienciar da realidade psicológica
intrapsíquica pela díade e seu entorno pelo próprio observador. Por intermédio das
observações, as psicólogas-pesquisadoras afundaram nas vivências junto com a díade
em cada visita. Através da análise clínico-qualitativa do material coletado nas
observações, notou-se que algumas puérperas foram percebidas pelas observadoras
como inseguras e confusas; como também, que algumas puérperas demonstravam
sentimentos divergentes com intensidade – cansaço e atenção, carinho e desespero.
Através do método Bick, percebeu-se que a observadora se angustiou sendo afetada por
diversos sentimentos negativos na maioria das visitas puerperais, por conta da
condução do protocolo pela equipe de saúde, mas, principalmente, pela identificação
com os sentimentos vividos pela díade mãe-bebê. Desta maneira, demonstra-se que a
159 Psicóloga pós-graduanda na Especialização de Clínica Psicanalítica e pós-graduada pela Residência Multiprofissional em Saúde da Mulher pela UEL, e-mail: [email protected]
160 Docente do Departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina, e-mail: [email protected]
161 Docente do Departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina, e-mail: [email protected]
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fase do puerpério tem recebido pouca atenção pelo sistema de saúde, acarretando
dificuldades na identificação de complicações ocorrentes nesta fase.
Palavras-chave: relação mãe-bebê; equipe de saúde; método Bick de observação; visita
puerperal; pesquisador-observador.
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Impactos cognitivos da depressão infantil sob a ótica da avaliação
psicológica
Patricia Emi de Souza162; Amanda Lays Monteiro Inácio 163; Larissa
Botelho Gaça164
Resumo: A depressão infantil tem se apresentado como um transtorno bastante comum
no mundo contemporâneo, diferentemente do que ocorria anos atrás, quando se
pensava que crianças fossem incapazes de desenvolver tal transtorno ou ainda que fosse
muito raro. O significativo aumento da manifestação da depressão infantil pode ser
consequência das exigências crescentes feitas às crianças nos dias atuais somado a uma
queda da qualidade do tempo e dos cuidados ofertados pelos pais ou responsáveis,
decorrentes das transformações da família e sociedade de forma geral. Além dos
sintomas emocionais, o desempenho cognitivo da criança pode ser prejudicado nesse
transtorno, sendo observados déficits de atenção, concentração e memória. Diante do
exposto, o objetivo do estudo é apresentar o relato de caso de uma criança avaliada
mediante a dificuldades de aprendizagem em contexto escolar. No que se refere aos
procedimentos da avaliação psicológica, foram realizadas entrevistas com os familiares
e direção escolar e aplicados instrumentos psicológicos na criança a fim de melhor
compreender o quadro clínico apresentado. Observou-se através dos resultados um
quadro diagnóstico de depressão moderada. Diante do exposto e considerado a
importância do papel dos pais e dos professores na melhora dos quadros de depressão
infantil, o encaminhamento do avaliando considerou a realização de orientação familiar
e escolar acerca do tema e de suas devidas implicações, bem como a necessidade de uma
avaliação psiquiátrica para compreender o quadro sob outra perspectiva. Além desses
encaminhamentos, foi solicitada a realização de futuras avaliações a fim de acompanhar
o quadro clínico e o desenvolvimento da criança.
Palavras-chave: Avaliação Psicológica; Cognição; Depressão Infantil.
162 Psicóloga Colaboradora Externa da Universidade Estadual de Londrina –UEL, Especialista em Psicologia do Trânsito e Neuropsicologia. E-mail: [email protected] 163 Psicóloga, Pós-graduanda em Clínica Psicanalítica e Mestranda em Educação pela Universidade Estadual de Londrina –UEL. 164 Psicóloga, Especialista em Neuropsicologia e Doutouranda em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo- UNIFESP.
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Aspectos cognitivos e atencionais em uma avaliação psicológica no
contexto de trânsito
Patrícia Emi de Souza165; Eduardo Yudi Huss166; Amanda Lays Monteiro
Inácio167; Katya Luciane de Oliveira 168
Resumo: A avaliação psicológica como processo de investigação pode ocorrer sob
diversas demandas e em diferentes populações, tendo como intuito a investigação dos
processos psicológicos, afetivos e cognitivos dos indivíduos. Cada etapa deste processo
deve ser planejada e executada considerando a individualidade do sujeito, para que os
resultados tenham valores reais, contextualizando as facilidades e dificuldades que cada
um possa vir a apresentar. Diante do exposto, o objetivo do presente trabalho é relatar o
caso de uma mulher com 63 anos, encaminhada ao projeto “Avaliação Psicodiagnóstica
em Diferentes Contextos e Acolhimento na Clínica Escola do Curso de Psicologia da
Universidade Estadual de Londrina (UEL)” por uma clínica de trânsito em razão de suas
recorrentes reprovações nos testes de habilidades exigidos para conseguir sua 1ª
Carteira Nacional de Habilitação. A avaliação psicológica no contexto do trânsito tem
recebido destaque em pesquisas da área nos últimos anos diante das mudanças na
legislação vigente no Brasil. Têm como finalidade auxiliar na identificação de
adequações psicológicas e cognitivas mínimas para o correto e seguro modo de conduzir
um veículo automotor, a fim de garantir a segurança de todos os envolvidos. Os
resultados apontaram dificuldades importantes em habilidades atencionais frente às
situações em que se necessita manter a atenção a diversos estímulos ao mesmo tempo.
Além disso, na avaliação da capacidade de inteligência geral não verbal a avalianda
demonstrou desempenho abaixo do esperado para a sua idade. Diante do exposto, foi
orientado que seriam necessários treinos cognitivos caso se decidisse pela continuidade
do processo de habilitação, visto se tratar de uma tarefa complexa que demanda a
utilização dos aspectos cognitivos e atencionais do sujeito em sua realização.
Palavras-chave: Avaliação Psicológica; Avaliação de Trânsito; Cognição.
165 Psicóloga Colaboradora Externa e Especialista em Psicologia do Trânsito. E-mail: [email protected] 166 Discente de Psicologia pela Universidade Estadual de Londrina 167 Psicóloga e Mestranda em Educação pela Universidade Estadual de Londrina –UEL. 168 Professora Doutora da Universidade Estadual de Londrina –UEL.
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A avaliação psicológica e a influência de questões emocionais em um
caso de dificuldade de aprendizagem
Patricia Emi de Souza169; Lana Raquel Piassa170; Amanda Lays Monteiro
Inácio171; Patrícia Silva Lúcio172; Katya Luciane de Oliveira 173
Resumo: A avaliação psicológica consiste em procedimentos de investigação clínica, que
tem por objetivo esclarecer questões sobre o funcionamento cognitivo, comportamental
e afetivo do indivíduo com vistas a responder determinada demanda. Como
instrumentos de investigação podem ser utilizados testes cognitivos, entrevistas, escalas
de avaliação de sintomas e personalidade e observações comportamentais. Cabe
ressaltar a importância de se compreender o indivíduo enquanto ser biopsicossocial,
entendendo que as dificuldades que o sujeito possa apresentar, estão relacionadas a
diversos fatores como a família, meio social, aspectos genéticos entre outros. O objetivo
do presente trabalho é apresentar o relato de caso de uma criança encaminhada pelo
serviço de Psicologia de Unidade Básica de Saúde (UBS) de Londrina para avaliação
mediante dificuldades de aprendizagem e de relacionamento interpessoal em contexto
escolar. Os atendimentos foram realizados pelo projeto de “Avaliação Psicodiagnóstica
em Diferentes Contextos e Acolhimento na Clínica Escola do Curso de Psicologia da
UEL”. Durante a avaliação psicológica da criança foram realizadas entrevistas com
familiares e direção escolar, aplicadas provas e outros instrumentos de avaliação
cognitiva e emocional no avaliando a fim de compreender melhor a queixa apresentada.
Os atendimentos foram realizados entre os meses de Janeiro à Março de 2017. Os
resultados obtidos apontaram desempenho intelectual dentro da média e
demonstraram que questões emocionais e motivacionais estariam influenciando para a
ocorrência de déficits cognitivos e comportamentais do avaliando em sala de aula.
Assim, considerando que os aspectos afetivos são facilitadores e exercem grande
influência sobre o desenvolvimento intelectual infantil, o encaminhamento da criança
169 Psicóloga Colaboradora Externa da Universidade Estadual de Londrina –UEL, Especialista em Psicologia do Trânsito e Neuropsicologia. E-mail: [email protected] 170 Discente de Psicologia pela Universidade Estadual de Londrina –UEL. 171 Psicóloga, Pós-graduanda em Clínica Psicanalítica e Mestranda em Educação pela Universidade Estadual de Londrina –UEL. 172 Professora Doutora da Universidade Estadual de Londrina –UEL. 173 Professora Doutora da Universidade Estadual de Londrina –UEL.
Diálogos em Psicanálise - Anais da III Jornada do LEPPSI e II Seminário do curso de especialização em Clínica Psicanalítica da UEL
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considerou acompanhamento psicoterápico e atividades grupais para auxilia-lo em seu
desenvolvimento.
Palavras-chave: Avaliação Psicológica; Atendimento Clínico; Dificuldade de
aprendizagem.
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Relato de experiência de atendimento clínico à pessoa idosa
Vanessa Cristina Paviani174; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida 175
Resumo: Em seu texto “A sexualidade na etiologia das neuroses” Freud (1996) traz a
impossibilidade da clínica psicanalítica com idosos, devido ao acúmulo de material
psíquico e pouco tempo hábil que resta para lidar com esse material. Porém, Mucida
(2015) nos lembra que não é o idoso que fala, mas seu sintoma, trazendo a percepção de
que o inconsciente é atemporal, diante disso, a autora mostra que o sintoma é antigo,
mas não velho, ele se reedita e volta atualizado, independente da idade. Assim, ela
acredita que a clínica com idoso deve considerar a velhice e a passagem do tempo, mas
também deve considerar que a velhice não traz novos sujeitos/sintomas. O caso
apresentado se trata de uma paciente do sexo feminino, solteira, 71 anos. Procurou
atendimento por se sentir sozinha, por não ter com quem conversar percebe estar
adoecendo. É portadora de problemas de saúde graves. Tem-se como objetivo relatar
experiência de atendimento clínico na abordagem psicanalítica à pessoa idosa. Os
atendimentos foram realizados na Clínica Escola de Psicologia de uma universidade
pública, as sessões se deram semanalmente de 22/09/2016 a 08/12/2016.Foram
trabalhadas questões referentes aos lutos, não somente pelo fim da vida, mas, as perdas
reais e imaginárias (MUCIDA, 2015). É ressaltada a importância do espaço de escuta
para a quebra das resistências e enfrentamento do medo em relação à morte, além de
elaborar angústias e negações dessa fase da vida (BACKES, 2016).
Palavras-Chave: Idoso, Psicanálise, Envelhecimento.
174 Psicóloga graduada pela UEM. Experiência na área de psicologia clínica. E-Mail: [email protected] 175 Doutor-PUCCAMP (2006). Professor Associado UEL-PR. (2012). PPSIC-CCB (1997). Coordenadora do Curso de Especialização em Clínica Psicanalítica. E-Mail: [email protected]
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Manejo da técnica em um caso de paciente com tentativas de suicídio
Vanessa Cristina Paviani176; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida 177
Resumo: Segundo registros da OMS o suicídio está entre as principais causas de morte
entre pessoas de 15 a 44 anos. O Brasil está entre os 10 países que registram os maiores
números. As causas mais comuns são associadas a outros transtornos psicológicos como
a depressão e a bipolaridade (BOTEGA, 2014). O Paciente do sexo masculino, casado, 32
anos, procurou atendimento apresentando sintomas depressivos com agravante de
ideações suicidas, que se transformaram em tentativas concretas. Os sintomas tiveram
início quando o mesmo, na vida adulta recordou-se de situações traumática sofrida na
infância. Tem-se como objetivo explanar o manejo da técnica psicanalítica no
atendimento a pessoa com risco de suicídio. Os atendimentos foram realizados na
Clínica Escola de Psicologia de uma universidade pública. Foram realizados
atendimentos psicoterápicos semanalmente de 28/07/2016 a 15/12/2016 totalizando
20 sessões. Ressalta-se a importância de construir uma rede de cuidados, envolvendo
pessoas próximas e equipe multidisciplinar. O contrato e sua formulação deve ser
baseado na proposição em que consiste o tratamento. O manejo do tratamento foi
determinado através das vicissitudes do processo, os elementos de holding – o pegar no
colo winnicottiano (ETCHEGOYEN, 1987) e também a empatia e a disponibilidade em se
aproximar do sofrimento do paciente (FUKUMITSU, 2014). Por fim, o manejo dos
atendimentos com pacientes em risco de suicídio deve caminhar em direção a empatia e
disponibilidade do terapeuta para se aproximar do sofrimento do paciente. Neste
sentido, técnica não prima pela cura, mas, pelo cuidado, permitindo que o paciente
encontre perspectivas para manejar seus conflitos.
Palavras-Chave: Suicídio, Depressão, Psicoterapia, Manejo da técnica.
176 Psicóloga graduada pela UEM. Possui experiência na área de psicologia clínica. E-Mail: [email protected] 177 Doutor-PUCCAMP (2006). Professor Associado, UEL-PR. (2012). PPSIC-CCB (1997). Coordenadora do Curso de Especialização em Clínica Psicanalítica. E-Mail: [email protected]