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DIAS FERREIRA. Histórico da fundação da República brazileira

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H I S T Ó R I C O

D A F U N D A Ç Ã O

DA

REPUBLICA BBAZILEIEA

POR

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D I A S - F E R R E I R A J U I

E X A N D R E J IA S f E R R E I R A J Ú N I O R

S A O P A U L O

TYPOG RAPHIA A VAPOR DE JORGE SECKLER COMP.

1890

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« A política é uma sciencia de app licaç ão,

« po rqu e tem por objecto com binar os princi-

« pios da philosoph ia com os factos sociaes e

'« applical-os á medida que as novas tendências

« da sociedade indiquem a sua necessidade.»

(Lastaria.)

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o s B E N E M É R I T O S P A T R I O T A S

M A R E C H A L D E O D O R O D A F O N S E C A , Q U I N T I N O B O C A Y U V A ,

S A L D A N H A M A R I N H O , L O P E S T R O V Ã O , S I L V A J A R D I M ,

J Ú L IO R I B E I R O , A R I S T I D E S L O B O , R A N G E L P E S

T A N A , C A M P O S S A L L E S , R U Y B A R B O Z A , A S S I S

B R A Z I L , F R A N C I S C O G L Y C E R I O , A M É R I C O

D E  C A M P O S , A L B E R T O S A L L E S , P R U

D E N T E D E M O R A E S , B E R N A R D I N O

D E  C A M P O S , C E S A R I O A L V I M ,

H E R C U L A N O D E F R E I

T A S ,

  J O Ã O P I N H E I R O

E C O S T A M A

C H A D O

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AO PUBL ICO

- iXt-

implantação da fôrma de governe republi

cano foi sem pre o sonho enluarado de m inha

,mocidade, porque sempre aspirei ver minha

.querida pátria radiante no altar da civilisa-

ção moderna, celebrar suas nupcias de ouro

com o progresso, pela real isação das grandes

reformas sociaes e políticas, o qu e era com

pletamente impossível no regimen deposto.

Hoje, porém, que o heroísmo do inclyto

Marechal Deodoro acaba de legar-nos um paiz verdadeira

m ente au tôno m o, abrindo-nos de par em par as po rtas dia

mantinas do templo magestoso da l iberdade, julgo prestar

um fraco plei to de hom enag em á Rep ublica dos Esta dos

Un idos do Brazil , publican do, ainda que mo destam ente, o

resumo histór ico da incruenta e abençoada revolução de 15

d e N o v e m b r o .

Para escrever o presente opusculo t ive por guia as noti

cias e os apon tam entos da im prensa da Capital Fe de ral ,

tendo extratado de alguns jornaes diversos ar t igos, cuja

reproducção pareceu-me de grande ut i l idade para a or ien

tação dos episódios pr incipaes do patr iót ico movimento.

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X

Não desconheç o qua nto é árdua a tarefa a que me impuz,

pois que por todas as considerações me reconheço inhabil l-

tado para occu par o elevado carg o de histor iador . Sirva-

m e ,  entreta nto, de t i tulo a benevolência publica o patr io

t ismo que me inspirou no trabalho que hoje dou á luz.

Se algum cidadão elei to do talento, murmurar contra a

singela ofTerta, que venho humildemente depor no altar da

Rupublica Brazileira, a elle apenas repetirei as palavras

de Pithou: —«

  Patriam unice dilexi

  ».

Poços de Caldas, 30 de Janeiro de 1890.

^ L E XANDRE p iAS j ^ E RRE IRA   JÍUNIOF^

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PRIMEIRA PARTE

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« Desde que as inst i tuições deixam de corres-

« pon der ás aspirações nacionaes, é um cr ime

« mantel-as, porqu e s ão a ex press ão de um a

« tyrannia, instrumentos de to r tura e de desorga-

« n isação social . »

( Arislides Lobo.)

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O principal elemento da monarehia

brazileira

uai foi o mais poderoso alicerce em que

se firmou o throno, nas ridentes e poé

ticas plagas de nosso adorado Brazil, a

mais deslumbrante jóia das conquistas

de Cabral, a mais preciosa pérola da

abençoada America  ?

Lançando um olhar retrospectivo pelo

\  passado político de nosso admirável Gi-

<&i ga nt e Tro pical, vem os cla ram ent e, atravez

do luminoso telescópio da historia, que a monarehia

brazileira (miserabile dictu ) manteve-se sempre apoia

da na escravidão da raça ne gra , visto não haver

na Am erica a aristocracia de san gue , nem tão pouco

o irrisório preconceito da  emanação divina,  os dous

únicos sustentaculos das monarchias europêas.

A ma nutenção do eleme nto servil foi sem pre o

redue to formidável que apadrinhou o thron o, o élo

único da enferrujada cadêa , que po r larg os anno s

prend eu este gra nd e paiz ao nefando regimen da

servidão monarchica.

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_ 2 —

T o d a s a s n o s s a s a s p i r a ç õ e s d e i d e a l p o l í t i c o s e

r e s u m i r a m n a d e m o c r a c i a p u r a , s e n d o a m o n a r e h i a

u m f a ct o r i n t r u s o , s e m p r e s t i g i o a l g u m t r a d i c i o n a l ,

s e m f u n d a m e n t o n o â m a g o d e n o s s a h i s t o r i a .

N ã o e r a p o s s í v e l , p o r é m , q u e s e r e p u b l i c a n i s a s s e

o p a i z c o n s e r v a n d o - s e a e s c r a v i d ã o , n ã o p o d i a o

p o v o r e c e b e r a a s p e r s ã o d a s á g u a s l u s t r a e s d o

b a p t i s m o d e m o c r á t i c o s e m q u e p r i m e i r a m e n t e a b o

l i s s e o e l e m e n t o e s c r a v o .

P a r a p r o v a r q u e o t in ic o a r r i m o d a m o n a r e h i a , n o

Brazil, foi a nefand a es cr av id ão da raça africana é

b a s t a n t e l e m b r a r - s e q u e , e m t o d a s a s t e n t a t i v a s

r e p u b l i c a n a s q u e e x p l o d i r a m n o t e r r i t ó r i o n a c i o n al ,

e n t r e a s q u a e s n ã o p o d e m o s d e i x a r d e i n cl u ir o

7 d e S e t e m b r o d e 1 8 2 2 , a m a n u t e n ç ã o d a e s c r a v a

t u r a f o i s e m p r e a p o n t a d a c o m o i n c o m p a t í v e l c o m o

r e g i m e n r e p u b l i c a n o .

Isto fazia com qu e a m on ar eh ia ficasse possu ída

d o m a i o r c o n t e n t a m e n t o e m a n t i v e s s e c o m e n th u -

s i a s m o a m i s e r á v e l e s c r a v i d ã o , p o i s q u e o s l a m e n t o s

e gemidos da infel iz raça não abalavam-lhe o coração.

A s u b l i m e e s a c r o s a n t a i d é a q u e s y n t h e t i s a v a a

l u m i n o s a a s p i r a ç ã o d o g r u p o a l t i v o d o s c o r y p h e u s

d a

  Inconfidência Mineira

  e r a :

  a independência do

paiz do jugo da metrópole, a liberdade da raça negra

e o estabelecimento da Republica.

T ã o g r a n d i o s a s e p a t r i ó t i c a s t e n t a t i v a s fo ra m c om

p l e t a m e n t e s u f fo c a d a s e n t ã o , p o r q u e a m o n a r e h i a ,

s e m p r e r e f r a c t a r i a . á s i d é a s d e m o c r á t i c a s , s u s t e n t a v a

a escravidão, a ferro e fogo.

Q u a n d o , e m 1 8 2 4 , a e n t ã o a l ti v a p r o v í n c i a d e

P e r n a m b u c o p r o c l a m o u a « R e p u b l ic a d o E q u a d o r »

foi d e c l a r a d a l iv r e a e s c r a v i d ã o ; m a s a m i s e r á v e l

m o n a r e h i a , n u l l i f i c a n d o e s s e t ã o c e l e b r e m o v i m e n t o ,

r e - e s c r a v i s o u - a

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— 3 —

Na constituinte José Bonifácio apresentou um pro-

jecto de abolição do trafico e a libertação gradual

do elemento escravo, tendo também Antônio Carlos,

redactor do projecto da constituição, assignalado

á câmara dos deputados o dever de decretarem a

suppressâo do trafico, a abdicação,  gradatim,  da

escravatura e a educação moral e religiosa dos

libertos.

A monarehia, porém , vend o sua com pleta ruina

na liberdade da raça negra, mandou logo dissolver

a assembléa, deportando em seguida os mais heróicos

paladinos da liberdade, e, organ isando uma nova

constituição, supprimiu todos os artigos referentes á

abolição dos escravos.

O antipathico gov erno dos privilégios continuou

a proteger o vil me rcado dos neg ros até o raiar

do inolvidavel dia 7 de A bril, em qu e foi dep or

tado Pedro I .

Ficamos sem monarcha por espaço de sete mezes,

de 7 de Abril a 7 de No vem bro. Esta ndo , nessa

época como regente do governo, Diogo Antônio

Feijó, compadecido da sorte de tantos infelizes, de

cretou a abolição do trafico dos africanos. Tal de

creto, porém , n ão chegou a ser p osto em execução,

porqu e o áulico partido do primeiro impe rador se

oppoz tenazmente ao governo, de modo que foi a

lei suffocada.

Mais tarde, quando D. Pedro II subiu ao throno,

cuidou elle logo em correr uma negra cortina sobre

a qu es tão , nullificando, assim , a lei fundam ental da

liberdade dos escravos.

Passados eram já 20 annos que Pedro II estava

governando o Brazil, quando a Inglaterra, cheia de

gra nd e en ergia, impoz ao monarcha o  ultimatum

em relação do trafico

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_ 4 —

Em 24 de Setembro de 1864, um decreto pro

mulgou a emancipação legal a todos os africanos,

livres de facto, que tivessem sido im por tado s dep ois

de abolido o trafico.

Em 28 de Sete m bro de 1871, foi prom ulgad a a

gran de lei do ve ntr e livre, decla rando a liberdade

de todos os nascituras de m ãe escrava, desd e a

sua promulgação.

Alguns annos depois, os próprios senhores dos

escravos começaram a notar que a escravidão era

um cancro que corroía o paiz, empedia-lhe o pro

gre sso e a civilisação, dev end o, p or isso, se r qua nto

antes abolida.

Graça s ás largas providencias libertad oras , duas

províncias libertaram-se de seus escravos em 1884:

O Ce ará e o Am azona s ; e mais oito se estavam

desem baraça ndo do elem ento servil. No Rio-Grande

do Sul a liberdade caminhava rapid am ente ; em

S. Paulo esse movimento fazia-se com enthusiasmo

adm irável, tan to mais em se trata nd o de uma pro

víncia cafeeira, que em 1882, po ssuía ainda perto

de 175.000 escravos.

Em seis annos três quartas partes ficaram livres,

na capital de S. Paulo libertaram-se todos os ca-

ptivos no dia do annive rsario do cidadão Antônio

Prado , um dos athletas da giga nte idéa. Santos

declarou-se livre, também.

A pe zar de sua utilidade inco ntestá vel, a lei de

28 de Se tem bro de 1871 não podia ser a ultimapalavra sob re a que stão. E ra obra conciliante do

partido conservador. Os liberaes pretendiam ir

mais longe—« Não devemos parar nem retroceder»,

dizia o cidadão Dantas.

Em 25 de Setembro de 1885, nova lei, apresen

tada pelos liberaes, foi votad a, libertando os escra-

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— 5 —

vos m aiores de 6o an nos, e estabelecendo uma

tarifa decresc ente para a libertação dos outros, que,

em cada anno, perdia parte de seu valor.

Em virtude das dua s hum anitárias leis—a de 28

de Sete m bro de 1871 e a de 25 de Se tem bro de

1885,

  as duas extremidades da vida, a infância e a

velhice, tornaram-se sagradas.

A humanitária propaganda abolicionista exercia-se

com vigor e sem interrupção.

Em 1884, grande maioria liberal, sob a direcção

do ex-senador Da nta s, passava com armas e baga

gens para o campo abolicionista, afim de regula-

risar-lhe a marcha no sentido da legalidade.

O pequeno partido de outr 'ora tornava-se repen

tinamente compacto partido de governo.

Durante o anno de 1885 os liberaes deixaram o

poder e foram substituídos pelos conservadores,

tendo á sua frente o fallecido barão de Cotegipe.

Este ministério que g overno u desde 1885 até 1888,

declarou-se partidário de  estalus quo.

Nã o conseguiu, porém , fazer pa rar o arrojo da

opinião ; sua resistência não fez mais do que au-

gmentar o ardor daquelles que escalavam as mura

lhas do escravism o, e do seu próprio seio sahiu

um dos chefes do ministério abolicionista o ex-sena

dor Antônio Prado.

As fugas tomaram então proporções consideráveis.

Os celeberrimos

  capitães do matto

  foram, então,

convocados para perseguirem os captivos que se

retiravam das fazendas em massas compactas.

Na ex-provincia do Rio de Janeiro, principalmente,

a escravidão foi muito maltratada pelo governo,

que m anda va arcabuzal-a pela policia e por seus

a g e n t e s .

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— 6 —

Na capital, gran de porção de captivos era, dia

riamente, espaldeirada pelos soldados, que os fa

ziam arrastar pesadas cadêas.

Emquanto o ministério conservador, ha dous annos

e meio installado no poder, esforçava-se em marcar

passo, um grupo conservador destacava-se delle e

reunia-se ás idéas abolicionistas.

O Snr. de Co tegipe oppoz tan tos óbices á reali-

sação da grandiosa idéa, que o ministério por

(

el le

presidido nada fez, cahindo arruinado co m pletam ente

pela gran de divergência que havia en tre seus mem

bros quanto á solução do magno problema.

Para organisar novo gabinete foi então chamado

o ex-senador Joã o Alfredo Co rrêa de O liveira, um

dos collaboradores da lei de 28 de Setembro

de 1871.

Organisado o ministério 10 de Março, que tinha

intuitos mais elevados que o seu predecessor, tran-

quillisou-se o pov o, por sa be r qu e sua dou rad a as

piração era abraçada pelo novo gabinete.

Os primeiros alvores da aurora da redem pção já

illuminavam os horisontes das ex-provincias do Ceará,

Amazonas e S. Paulo.

Pa recia ouvir-se já um cântico suave e melodioso

entoado por milhares de homens arrancados aos

horrores do nefasto servilismo

Além, bem longe, ouvia-se ainda um murmúrio

tetrico, sinistro e m elancho lico: era o ultimo alento

da escravidã o que se contorcia, que desapparecia

sobr e a ter r a .

Succumbia, depois de três largos séculos de ver

gon hos a existência, por que , filha das trevas e da

igno rânc ia, os reflexos da luz resp len den te e da

Razão destruiam-lhe o coração.

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O ministério 10 de M arço decretou en tão a lei

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8 8 8 ,  libertando a es

cravidão,

  sine conditione.

Atrav ez de três séculos de escravidão a idéa

abolicionista, uma vez concebida, medrou, desen

volveu-se, enc ontra ndo écho em todos os corações,

realisando o seu philantropico e luminosíssimo ideal

A gloriosa lei foi san ccio nad a pela Princez a Im

perial, então Regente, que esperava não mais descer

as douradas escadas do throno, tendo recebido dos

apan iguad os do imperialismo o pom pos o qualifica

tivo de—

Redemptora

Fizeram-lhe estrondosas festas ; queimaram-lhe in

censo e  mirrha,  sen do que Izabel não fez sen ão

sanccionar a v on tade do pov o, impellida irresisti-

velmente pela força das circumstancias.

E si á R eg en te fosse me recido o titulo de  Re

demptora,  a ella que nada fez, que em nada con

tribuiu directamente para a extincção do elemento

servil, a não ser com uma soberba penna de bri

lhan te qu e pelos seus K uriferarios foi-lhe offerecida

para ass ignar o dec reto, assign atura que o povo

pedia bradando ;—qual o titulo que se devia dar aos

nobres e intemeratos abolicionistas, que tanto pugna

ram em prol de causa tão santa e tão symp athica ?

A família d a ex-casa imp erial nun ca foi aboli

cionista, porq ue , se o fosse, de ha m uito que teria

despedaçado as cadêas da escravidão, mesm o no

temp o em que , o bello sentim ento de fraternidade

dormia ainda no coração do povo brazileiro.

A lei 13 de Maio foi producto activo da gloriosa

propag anda republicana, que despertou o povo de

sua indifferença qu an to a tão sublime e gran diosa

causa .

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— 8 —

Se o povo não se tivesse devotado de corpo e

alma á realisação dessa idé a, affirmo qu e a escra

vidão continuaria a ser conservada para ho nra e

gloria da monarehia.

Segundo o eminente Dr. Ruy Barboza, a extinc-

ção do elemen to servil foi, no sen tido mais stricto

da palavra, uma con quista po pular, a rran cad a ás

oscillações e repu gna ncias de Izabel pela eman ci

pação ge ral da ex-provincia de S . Pa ulo e pela

crise militar nas ruas do Rio de Janeiro.

A regência, continua o illustre jornalis ta, entre

gara-se completamente á reacção escravista, perso

nificada no gabinete Cotegipe. Dera-lhe carta branca

a todas as m edidas de cara cter mais accentu ada-

mente anti-abolicionista.

Facultara-lhe autoridade absoluta para anniquilar

o direito de reunião na capital do paiz, converter

a policia em succursal das fazendas, pôr a preço,

em Cam pos a delação venal contra os am igos dos

captivos, re-escravisar por um aviso trez e mil ho

mens,

  tentar o aviltamento do exercito brazileira,

destacando-o em matilhas de sangue contra os es

cravos pacificamente esparsos nas serranias paulistas

á busca de liberdade.

O glorioso dia 13 de M aio assignalo u perfeita

m ente a magn anim idade do povo brazileiro, tor

nando-se duplamente celebre na historia do Brazil,

por marcar o mem orável dia em que cahiram para

sem pre as cadêas da escravidão, e por assignalar

também o luminoso ponto de partida para as novas

conquistas democráticas, que viemos de realisar.

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Aurora do renascimento da soberania

nacional

l o n g a p e r m a n ê n c i a d o e l e m e n t o s e r v i l f o i

s e m p r e u m g r a n d e t r o p e ç o a o c a m i n h o d a s

^ i d é a s r e p u b l i c a n a s , n o B r a z i l.

? O dec reto da áu rea lei 13 de M aio veio

a b r i r a s p o r t a s d o t e m p l o a u g u s t o d a l i b e r d a d e a o s

escravos polí t icos da nação brazi le ira .

A b o l i d a a e s c r a v i d ã o d o s o l o a b e n ç o a d o d a p á t r i a

b r a z i le i r a , e r a f or ça q u e o p o v o t r a b a l h a s s e c o m

t o d a a e n e r g i a p o s s í v e l p a r a s e l i b e r t a r d a s c a d ê a s

d a e s c r a v i d ã o m o n a r c h i c a .

A R e p u b l i c a F e d e r a t i v a f oi, e n t ã o o l u m i n o s o

h o r i z o n t e p a r a o n d e s e c o n v e r g i r a m a s v i s t a s d o s

b r a z i l e i r o s p r o g r e s s i s t a s e a m a n t e s d e s u a p á t r i a .

A s a g r a d a c a u s a d e m o c r á t i c a , c o m o m a g n a e s u

b l im e q u e s t ã o q u e e r a , c o m e ç o u a a v o l u m a r - s e t a n t o

no terr i tór io naciona l , qu e foi-se t ran sfo rm and o de

u m m o m e n t o p a r a o u t r o n u m a e s p é c i e d e r e li g iã o

q u e d i a a d i a f o i c o n q u i s t a n d o b r i l h a n t e m e n t e , g r a n d e

q u a n t i d a d e d e p r o s e l y t o s .

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— 1 2 —

O l a b a r o d o u r a d o e i m p o r t a n t e d a l i b e r d a d e foi

a g i t a d o p e l a i m p r e n s a i n d e p e n d e n t e , q u e f i r m e e m

s e u g l o r i o s o a p o s t o l a d o , n ã o c e s s a v a d e e s p a l h a r

s o b r e o p o v o a s p r e c i o s í s s i m a s g o t t a s d o o r v a l h o

s a l u t a r d a d e m o c r a c i a .

O s h e r ó i c o s p r o p a g a n d i s t a s d e t ã o g r a n d i o s a i d é a

an da va m de lar em lar , de vi l la em vi lla , de c idad e

e m . c i d ad e e d e p r o v í n c i a e m p r o v í n c i a , p r e g a n d o

a v e r d a d e a o p o v o .

A s h e s i t a ç õ e s q u e a p p a r e c i a m e m a l g u n s e s p í r i t o s

m a i s t i m o r a t o s d i s s i p a v a m - s e c o m p l e t a m e n t e a n t e o

v e r b o i n s p i r a d o d o s e v a n g e l i s t a s d a l i b e r d a d e e o

sublime ideal qu e lucil lava no co raç ão da pá tr ia —

A R e p u b l i c a F e d e r a l — e l e c t r i z a v a a t o d o s , a v o lu

m a n d o u m a e s p e r a n ç a , d e f i n i n d o u m a g r a n d i o s a

a s p i r a ç ã o .

G r a n d e m u l t i d ã o d e v e l h o s s o l d a d o s d a s p h a l an -

g e s m o n a r c h i c a s , v i n h a a l i s ta r - s e j u b i l o s a n a c r u z a d a

• d o s e v a n g e l i s t a s d a R e p u b l i c a c o n t r a o s v â n d a l o s

d o i m p e r i a l i s m o .

O n o v o p a r t i d o n a c i o n a l c o m e ç o u a p r o g r e d i r

t a n t o n o p a i z , q u e a m o n a r e h i a e n c h e u - s e d e p a v o r

d i a n t e d a r u i n a q u e a a m e a ç a v a m a n d a n d o o r g a n i -

sar a  guarda-negra  p a r a g a r a n t i a d o t h r o n o a m e a

ç a d o .

O p r e s i d e n t e d o c o n s e l h o d e m i n i s t r o s , J o ã o A l

fredo,

  o r g u l h o s o , c h e i o d e s i d i a n t e d o t r e m u l a r d o s

t h u r i b u l o s p a l a c i a n o s , n ã o a c o m p a n h a v a o d e s e n v o l

v i m e n t o d o p a r t i d o r e p u b l i c a n o q u e e s t a v a a v a s s a -

land o as consciências pela palav ra , pela d ou trina e

pela evangelisação, e cheio de confiança na

  guarda-

negra

  d o s e n a d o g r i t a v a a o s r e p u b l i c a n o s a l t o e

bo m som :

Cresçam e appareçam

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- 13 —

O M inistério dep ois da prom ulgaçã o da lei 13 de

Maio, ficou tão inactivo, que de nad a mais curou,

pois que se achava ainda seu presidente embriagadocom o aroma das flores que aureolavam-lhe a fronte

e beijavam-lhe os pés.

Quando acordou de tão profundo lethargo, o la-

baro purpurino da dem ocracia tremulava galharda

mente sobre as cabeças dos brazileiros independen

tes e patriotas.

Grande parte da  guarda-negra,  conhecendo o en

godo em que cahira, abandonara o posto de vigia

do paço, e em punh ava a band eira do partido na

cional.

Se o ex-senado r João Alfredo era máo direc tor

de gabinete, era em compensação muito bom pro-

pheta, porque os republicanos  cresciam e appare-

ciam.

Os sublimes e decantados prodígios da idéa demo

crática, levantando altares no peito da multidão

sede nta de luz e de liberd ade , empallideeiam com

pletamente os irrisórios devaneios da Monarehia

brazileira.

A Bastilha abominável da autocracia imperial,

derrocava-se dia a dia, e sobre seus negros destroços

levantava-se, triumphante, o pavilhão sagrado da

Inconfidência.

Isto muito razoavelme nte, porque a sciencia tem

demonstrado que as instituições devem seguir,  pari-

fiassu,

  a evolução social e de acco rdo com as ne

cessidades d o m eio sociológico substituirem -se po r

outras que mais se conformem com as mesmas ne

cessidades, disse-o um político.

A estrella sacrosanta da liberdade, radiante de luz

des po ntav a no firmam ento do Brazil, dissipando as

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— 1 4 —

trev as da polí tica impe rial ista , qu e a no ssa digni

d a d e r e p e l li o , q u e a e x p e r i ê n c i a c o n d e m n a v a , q u e

o século prescrevia .

O p o v o b r a z i le i r o , e n s i n a d o p e l a t r i s t e e x p e r i ê n

c ia d o r e i n a d o d e P e d r o I I, h ia c o m p r e h e n d e n d o

q u e a m o n a r e h i a , s e g u n d o u m e s t a d i s t a b r a z i l e i r o ,

e r a u m a p l a n t a e x ó t i c a t r a n s p o r t a d a p a r a a A m e r i c a ,

porém incapaz de a l i viver .

O s y s te m a d e g o v e r n o d o e x - i m p e r a d o r a b s o r v i a

c o m p l e t a m e n t e t o d a s a s f a c u ld a d e s t r i n s e c a s a o s e u

p o d e r , c o n c e n t r a n d o t o d a s a s f o rç a s e m u m a s ó

p e s s o a .

E s s e p o d e r p e s s o a l , c a r a c t e r i s a d o p e l a a b s o r p ç ã o

e c e n t r a l i z a ç ã o , d o m i n o u s e m p r e t o d o o p a i z , d e s

t r u i n d o t o d o s o s h o m e n s , t o d o s o s c a r a c t e r e s , t o d a s

a s v o n t a d e s , t o d o s o s s y s t e m a s , t o d o s o s p r o g r a m -

m a s p o l í ti c o s , d e t a l m a n e i r a , q u e s o b r e t u d o e

s o b r e t o d o s a v o n t a d e i m p e r i a l o s t e n t a v a - s e p o d e

r o s a , t r i u m p h a n t e e i n v u l n e r á v e l .

P e d r o II n o s l e g o u u m a n a ç ã o a r r u i n a d a , t e n d o

t o d o s o s e l e m e n t o s d e r i q u e z a , o s v e r d a d e i r o s m é

r it o s r e t r a h i d o s , p o r n ã o p o d e r e m p a c t u a r c om a s

i m m o r a l i d a d e s e a b u s o s , p o v o a n a l p h a b e t o , n a m ó r

p a r t e , a u t o r i d a d e s d e s p o t i c a s , i m p o s t o s a v u l ta d i s s i-

m o s ,

  j u s t i ç a u m a c h i m e r a , s o c i e d a d e c o r r o m p i d a .

A m o n a r e h i a b r a z i l e i r a c o m s e r a n t i p a t h i c a e x c e p -

ç ã o n o c o n v ív i o d o s p o v o s a m e r i c a n o s , p o d i a t e r

s i d o t o l e r a d a p o r m a i s a l g u m t e m p o , s e t i v e s s e

h a v i d o m a i s p a t r i o t i s m o p o r p a r t e d o s v a s s a l o s d o

e x - i m p e r a d o r , s e o p a i z n ã o ti v e s s e s i d o d o m i n a d o

p e l o s á u l i c o s e s p e c u l a d o r e s .

N i n g u é m m a i s u l t i m a m e n t e a c r e d i t a v a n a s i ns ti

tuições , nã o po dia mais h av er i llusões d ian te dos

f a c t o s a n o r m a e s e r e p u g n a n t e s , q u e r e i t e r a d a e c o n s -

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— 1 5 —

t a n t e m e n t e s e r e p r o d u z i a m e m t o d o o l o n g o d e c u r s o

d o s e g u i n t e r e i n a d o .

O p o v o j á h a v i a c h e g a d o a o t r i s t e d e s e n g a n o d e

q u e n a d a m a i s p o d i a e s p e r a r d a f ô r m a d e g o v e r n o

qu e p ossuía , e cujo de sc ala br o era tão ge ral e pro

f u n d o , q u e a r e g e n e r a ç ã o e r a d e t o d o o p o n t o i m

possível .

S ó u m a t r a n s f o r m a ç ã o r a d i c a l , c o m o a q u e t e m o s

p r e s e n t e m e n t e , p o d e r i a s a l v a r a i n t e g r i d a d e p o l í t i c a ,

e mo ral de ste po vo, re iven dican do-lh e os foros e

p r e r o g a t i v a s s o b e r a n a s , q u e c o n s t i t u e m a e s s ê n c i a

d a s n a c i o n a l id a d e s e m fa ce d o d i r e i t o m o d e r n o , n a

phrase de um polí t ico nacional .

As inst i tuições, em Vez de servirem de guarda de

n o s s o s m a i s s a g r a d o s d i r e i t o s , c o n v e r t i a m - s e e m i n s

t r u m e n t o m o l e a v e l p a r a d e s p o j a r - n o s d e t o d a s a s

regalias de povo l ivre .

T o d o o l o n g o d e c u r s o d o s e g u n d o r e i n a d o fo i,

s e m d u v i d a a l g u m a , a m a i s p e r f e i ta r e p r e s e n t a ç ã o

d a b a s t i l h a d a l i b e r d a d e : o p o v o b r a z i l e i r o t r i s t e m e n t e

d e s p o j a d o d e s u a s o b e r a n i a , q u e s u r g i o . r e d iv i v a ,

qual phe nix , da fábula do s fulgores do dia 13 de

M a i o d e 1 8 8 8 .

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Propaganda evolueionista

^ P p e g u n d o o e m i n e n t e l i t t e r a t o f r a n c e z , E . L i t t r é ,

n j B l e v o l u ç â o o u f ilia çã o é u m p h e n o m e n o p e l o q u a l

s p l ^ o e s t a d o a c t u a l d e u m a s o c i e d a d e é o p r o -

|- T d u e t o d o e s t a d o i m m e d i a t a m e n t e p r e c e d e n t e , e

a s s i m p o r d i a n t e t a n t o n o p a s s a d o c o m o n o f u t u r o .

O m e s m o e s c r i p t o r , d e s e n v o l v e n d o m a i s a t h e o r i a d a

p a l a v r a , d i z q u e a e v o l u ç ã o c o n s i s t e e s s e n c i a l m e n t e

n o a p p a r e c i m e n t o s u e c e s s i v o d e c o n j u n e t o d e c o u s a s

q u e p o d e m e d e v e m s a b e r - s e ; p r o s e g u e o s e u c u r s o

pa ssa nd o de um a soc ieda de á ou tra , é indefinida ;

seu effei to é me lho rar as faculdades inte l lec tuae s

e s t h e t i c a s e m o r a e s d o s i n d i v í d u o s q u e s e s u e c e d e m

p o r d e s c e n d ê n c i a n a m e s m a s o c i e d a d e . P e l o c o n h e

c i m e n t o p o s i t i v o d a e v o l u ç ã o s o c i al , s a b e m o s q u e

u m a l e i n a t u r a l p r e s i d e a o s m o v i m e n t o s d a s s o c i e

d a d e s ,

  e que é benéfica, porque o seu cumprimen to tem

por effeito augm entar o bem-estar material, intellec-

tual e moral de todos.

I s t o p o s t o , j u l g o c o n v e n i e n t e f a ze r d u a s c o n s i d e

r a ç õ e s s o b r e a s d u a s f o n t e s q u e n o p a r t i d o r e p u b l i

c a n o c o r r i a m p a r a l l e l a s , u l t i m a m e n t e : a  Evolueionista

e a

  Revolucionaria,

  h a v e n d o a m b a s c o r r i d o p a r a o

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— 1 8 —

m e s m o o c e a n o , s e g u n d o o g l o ri o s o Q u i n t i n o B o-

c a y u v a .

A s d u a s c o r r e n t e s q u e c i r c u l a r a m n o t e r r i t ó r i o

n a c io n a l, a t r a v e s s a n d o o g r a n d e p a r t i d o , o s e p a r a

ram na escolha dos m eios, se m qu e o dividisse ,

e n t r e t a n t o , n o o b j e c t i v o a q u e s e p r o p u n h a o p o v o

brazileiro :

  a proclamação da R epublica :

O n o s s o p a r t i d o m a r c h o u p o i s , p a r a o m e s m o fim

s e c c i o n a d o e m d u a s f ra c ç õ es : u m a q u e e s p e r a v a a

R e p u b l i c a d a s e q ü ê n c i a n a t u r a l d o s a c o n t e c i m e n t o s ,

e outra que para a lcançal-a , só confiava nos recursos

q u e a v i o lê n c ia f o r n e c e , s e g u n d o e s c r e v e u o D r .

L o p e s T r o v ã o .

A p r o p a g a n d a e v o l u t i v a , s e m c o n t e s t a ç ã o foi a

v e s t a l p u r í s s im a d a d e m o c r a c i a b r a z i l e i r a , p o r q u e

c o n d u z i u o p o v o a o m a g e s t o s o t e m p l o d a l i b e r d a d e ,

guiou-o por entre as negras f lorestas da monarehia

q u a l a c o l u m n a d e f o g o q u e e n c a m i n h o u o s H e b r e u s

a t r a v e z d o s d e s e r t o s e g y p c i o s .

E s s a s u b l i m e p r o p a g a n d a d e s t r u i u a s f r á g e is ar ch i -

tecturas da monarehia , fez vaci l lar o throno e cahir o

s c e p t r o , r e p u b l i c a n i s a n d o , e m f i m , o p a i z p e l a e v a n g e -

l i s a ç ã o d a s i d é a s l u m i n o s a s d o g r a n d e p a r t i d o n a c i o n a l .

O l o g a r d e h o n r a d e s t a g l o r i o s a p r o p a g a n d a p e r

t e n c e á i m p r e n s a i n d e p e n d e n t e e p r o g r e s s i s t a a q u al

espalhando r identissima luz pela mult idão fez desa-

b r o c h a r a s g a r r i d a s f l o r e s d a d e m o c r a c i a p o r t o d o s

o s â n g u l o s d o t e r r i t ó r i o n a c i o n a l .

S o b a e g y d e s a g r a d a d a i m p r e n s a , o p a r t i d o r e

publicano cada vez mais estreitou-se, solidificou-se e

unificou-se pelo a t t r i to das re laç ões contin uas , pela

fundação geral de c lubs e pelo sublime apostolado.

A i m p r e n s a l i v re , n a o p i n i ã o d e u m d e m o c r a t a ,

q u a l P r o m o t t e u , t r o u x e d o c é o u m a f a i s c a e l a n ç o u

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— 1 9 —

fogo nas crateras que jaziam inactivas no coração

do povo brazileiro.

Os heróicos propagandistas de tão patriótica causa

tendo por divisa— veritas et labor omnia vincun—

abraçaram esperanço sos a sacrosanta b ande ira da

regeneração da pátria, pregando a religião da Re

publica e orga nisan do clubs qu e foram verdad eiros

templos levantados á deusa da democracia.

A perseguição contra esses cidadãos, aureolados

de patriotismo foi sempre tremenda ; porém não os

deteve no caminho da verdade, porque tiveram, cer

tamente, ouvidos attentos ás palavras de Emilio

C aste llar: « O nde sur ge uma idéa levanta-se um

calvário >.

Es tand o a pro pa ga nd a evolutiva assim tão bem

pre pa rad a, a aspiraç ão repub licana enco ntrou feliz

m ente, largo horizonte pa ra se distender, pa ra se

ampliar, cresceu, firmou-se, espalhou-se por todas as

ex-provincias adiantadas, fazendo vacillar a monar

ehia, que pouco a pouco se hia dissolvendo sob a

apparente tranquillidade suas nefastas tradições, de

seu antigo e condemnavel poder.

O sagra do evangelho da l iberdade, methodica-

men te explicado ao po vo e po r elle larga m ente

comprehendido, veiu esclarecer-lhe os direitos, sub

stituindo o arbítrio imperial pela lei scientificamente

deduzida do conjuneto sociológico, da natureza

intima e consciente do homem.

Do nebuloso syncretismo que a prepotência impe-

rialista creá ra pa ra apo iar a sua fraqueza e pa ra

inutilisar tod a a exp an são n acional, o sol fulguroso

da liberdade ergue-se, trazendo na irradiação de seus

raios a nova se iva, q ue germinou fortemente no

coração do pov o, que até entã o tacteav a as trevas

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— 20 —

s e m e n c o n t r a r u m r a i o d e l u z q u e p u d e s s e g u i a l - o

n o p r o f u n d o c a h o s , s e g u n d o a s l u m i n o s a s i d é a s d o

D r . L u i z M u r a t .

A p r o p a g a n d a e v o l u ti v a p r e p a r o u b r i l h a n t e m e n t e

o g l o r io s o a d v e n i m e n t o d a R e p u b l i c a , p o r i n t e r m é

dio da im pren sa in de pe nd en te , qu e foi o l ivro de

o u r o s e m p r e a b e r t o d i a n t e d o p o v o p a r a g u i a l - o a o

t e m p l o r a d i a n t e d a l i b e r d a d e , q u e T i r a d e n t e s , m o r i

b u n d o , a p o n t o u á s m a s s a s , d a s a l t u r a s d o I t a c o l o m y .

A benéfica evolução, res pir an do p elos lábios da

imprensa, espalhou um dilúvio de luz por entre o

p o v o d o e x e r c i to e d a a r m a d a q u e s e n d o s e m p r e

o s d e f e n s o r e s d o b r i o , d a g r a n d e z a e d a i n t e g r i d a d e

n a c i o n a l , h e r o i c a m e n t e p r o c l a m a r a m a R e p u b l i c a

Brazi le ira .

N i n g u é m p o d e r á c o n t e s t a r q u e o d e c a n t a d o e m e

m o r á v e l d i a 15 d e N o v e m b r o n a s c e u n a b r i lh a n t í s

s i m a a u r o r a d a p r o p a g a n d a e v o l u e i o n i s t a .

O i ll u s tr e S i m i l e s c o n s i d e r a a h u m a n i d a d e u m

e x e r c i t o c e r r a d o d e b a t a l h a d o r e s , c a m i n h a n d o a u m

d e f un d o, c o m a s m ã o s e s t e n d i d a s s o b r e a s e s p a -

d u a s u n s d o s o u t r o s , i m p e l l i n d o - o s s e m p r e p a r a j o r

nada do futuro .

Eis ahi a im ag em viva da naç ão brazi le ira , em

b u s c a d o l u m i n o s o t e m p l o d a d e m o c r a c i a , p e l a ful

g u r a n t e e s t r a d a d a p r o p a g a n d a e v o l u e i o n i s t a .

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(

è£^^^Mm^mmÈm^^5

Propaganda Revolucionaria

gltimamente alguns de nossos jornaes indepen

dentes, depois de doutrinar o povo na evolução

jdemocratica, se constituíram arautos das idéas

francamente revolucionárias, reconhecendo que

era já tempo de se ultimar a propaganda pacifica, re

conhecendo também que era tempo de se agir renhida

e fortem ente co ntra a instituição m onarchica que fla-

gellava o povo brazileiro, fazendo-o tremer pela sorte

da pátria, pela sorte de seus filhos.

D'entre esses órgão s destacavam-se os se guintes :

A Província de São Paulo, A Platéa, O Rebate,

A Republica Brazileira, A Revolução, O Mequetrefe,

O Correio do Machado,  etc .

A Província de São Paulo   órgão respeitado pelos

grandes serviços prestados á propaganda das idéas

dem ocráticas, o segu ro e perfeito guia de qua ntos

militaram na phalange gloriosa do partido nacional,

em um de seus brilhantes artigos escreveu :

— «Se a Rep ublica ha d e vir, seg un do as

soes mais seg ura s, pela R evolução, o bom

aconselha que nos preparemos para a lucta.

previ-

senso

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— 22 —

«A Revolução que ha muito tem po está nos es

píritos, é essa cousa que anda no ar, presentida por

todos,  mas sem que se tenh a traduzido por meios

materiaes.

«Isso que se chama  revolução armada  é o resul

tado de um choque violento que se approxima entre

as forças sociaes da acção e as da resistência, entre

o povo que se julga soberano para se governar ou

para alterar a força do governo e os reis apoiados

nas classes o lygarchicas , nos usufructuarios do pode r

e na obediência passiva do exercito.

Para lá caminhamos.

Os representantes da monarehia não nos cederão

de bom grado os seus direitos magestaticos, os altos

rendimentos que recebem do orçam ento, os privilé

gios que os tornam superiores a todo s n ó s ; mas

se convencerão facilmente de que o mandato lhes

escapa e de que uma nação se levanta para con

quistar a sua sob eran ia, a sua liberd ade e a sua

independência.

Esta phrase do conde d'Eu nos seus enthusiasmos

de reacção é expre ssiva : «E ' preciso esticar para

ver isto no que dá».

E assim falava qua ndo julga va subjugado o exer

cito pela corrupção e vil traição, dando commissões

e accessos a uns e m and and o outro s pa ra as fron

teiras de Matto-Grosso, e desorganisando as Escolas

e corpos militares.

Er a o prelúdio dos ataq ue s á s conferências e

ban qu etes republicanos que se prendiam ás visitas

á rep artição de policia e ás arrua ças dos aggregados

aos arsenaes da Corte.

E em quan to osten tam os a nossa rhetorica no jor

nalismo, nas conferências, nos banquetes e nos ma-

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— 23 —

nifestos, o plano de reaç ão vae-se exe cuta ndo com

o intuito, por enquanto, de arredar das festas repu

blicanas as famílias e as sympathias das classes con

servadoras.

Do rmim os tranquillos e sobresaltados, sonha ndo

com a Re pub lica. que os príncipes nos outorga rem

pela sua leal abnegação

Aqui ou alli alguns exaltados, fortes somente pelo

enthusiasm o julg ava m pod er arriscar a pelle, a liber

dade e a causa da Republica em ousadas resistên

cias que não sortiam outro effeito, porque o fim do

ataque brutal era apenas desmoralisar as festas de

mocráticas.

Eram ensaios dos descendentes dos Bourbons de

Nápoles, e dos O rleans de Fran ça. Prelúdios do

plano reator que promette ser sanguinolento.

A ambição e egoísmo de um ser completam com

a leviandade e capricho de outro.

E' por tudo isso qu e duvidam os da Repub lica

pela

  Evolução.

Mas como p rep ara r a R epublica ?

A revolução está feita, não é de agora mas de

annos atraz ; não é outra cousa o aband ono cons

tante dos grupos monarchicos, a exaltação com que

se ferem os pontos mais melindrosos do organismo

governamental, o appello corajoso á nova forma de

governo, as accusações mais severas aos príncipes

e o quasi esquecimento do  fetiche  que por tanto

tempo resumiu a nação na sua pessoa.

A Revolução se manifesta no funccionar dos po-

deres públicos, na lucta abe rta entre esses mesm os

po de res que se desres peitam e se annullam : no des

prestigio da a utoridad e diante do exercito e da

armada e na sua emancipação moral pelo prestigio

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— 24 —

scientifico da officialidade que comprehende os de-

veres de soldado e patriota.

A Revolução verifica-se pelo estudo do animo das

províncias profundamente agitadas pelos maus go

verno s em s eria s difficuldades po r defficiencia de

rendas.

O que falta é a confraternisação de tod os esses

elementos de acção, q ue se pôde conseg uir com

calma, com prudência e precisão.

Appareçam homens capazes de apparelhar esses

meios, que se imponham pela coragem, firmeza, capa

cidade intellectual e mo ral, e a revolução conseg uirá

o seu rumo fatal que terá por ter m o a Rep ublica.

Si os bacharéis, os médicos, os mathematicos e os

industriaes querem hom ens pa ra esse trabalho elles

hão de sahir do exercito e da armada.

Eis ahi o que é a Revolução.

Ella precisa de um chefe. Si es te reunir as gran

des qualidades de organisador para o momento do

periodo agudo da crise social e politica, estará com

elle a confiança nacional».

A Platéa,  folha illustrada de S. Paulo, dirigida

por litteratos notáveis, em seu n. 34 trouxe um

magnífico artigo de propaganda revolucionaria.

Eis o final d'esse escripto, que é um bra do de

enthusiasmo e de amor pátrio.

— « E '  tempo já de não dormir.

Os que estiverem dorm indo ac cordarão sorpre-

hendidos pela grande enchente que se prepara.

Chove já nas cabeceiras. Cano as na estaca e vi

gias no outeiro  Alerta

— «Mas nã o ha dinheiro para com prar armas» di

zem muitos.

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— 2 5 —

A r m a s

 

a r m a s

 

Mas de que serve a espingarda

ou o revolver nas mãos do inexperiente?

Não ha processos modernos mais aperfeiçoados

de defesa e ataque, mais baratos e expeditos, mais

rápidos e mais seguros

 ?

Diga m- m e:— onde f ica a dynamite ?

No dia em que a revolução re ben tar, e os solda

dos do gov erno avançarem contra o povo, qual vale

mais :—um tiro i um ) de dous em dous m inuto s,

ou uma bomba no meio delles alimpando uma área

humana de muitos metros ao redor

 ?

Qu erem atac ar a tua casa, porq ue tu és contra o

G overno , tu és revolucionário. Es pera e resiste.

Uma bom ba á esqu erda de vez em q uand o, outra á

direita de vez em qua nd o. Tu fazes isto, teu com

panheiro fará o mesm o, o mesm o farão todos os

revolucionários, e a conq uista do 3.

0

  reinado será

muito mais difficil do que se no   tal momento  fosse

mos cuidar de um tardio armamento.

Pensemos seriamente nestas cousas, e se é pre

ciso uns dous annos de  nihilismo  para acabar com

a peste neg ra do thron o, sejamos nihilistas, qu e

mal ha nisto ?

Não nascemos para povo de escravos

Os escravos com que a m onarehia nos aviltou

perante o mundo, nós os l ibertámos.

Resta agora que nos l ibertemos.

Chove já nas cabeceiras. Ca noa s á estaca e vi

gias no outeiro

A enchente virá

Alerta

 

pov o brazileiro »

O Rebate,  de que sahiram á luz alguns números,

inseria em suas columnas artigos tão violentos con-

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— 26 —

tra a monarehia, que aconselhava ao povo que tra

balhasse sem tregoa s contra o imperialismo, ainda

que fosse necessário perderem* a vida Pedro II, Con

de d'Eu e Izabel.

Tratando ainda que resumidamente, da propa

ganda revolucionaria, não posso deixar de mencionar

um facto altam ente significativo, q ue m uito h onra e

glorifica a historia de nossa psycologia social:

 —

Quando, já nos últimos crepúsculos da monarehia

o Dr. Silva Jardim esteve em S. João d ^l -R éi , fez

alli uma brilhante conferência republicana.

Os miseráveis palacianos prom overam algazarras

e tumultos na cidade com o fim de impedirem a

realisação da conferência de Silva Jardim.

O Grande Hotel, em que se hospedara o illustre

tribuno, foi assa ltado á noite, p elos vâ nda los do go

verno dos privilégios.

M uitas senh oras, heró icas filhas d'aquella cidade

não só dispensaram protecção ao illustre orador

como também forneceram armas para sua defeza.

As reformas sociaes desdobram o labaro radiante

do triumpho, quando a influencia feminina toma parte

nas luetas diárias.

Segundo um distineto democrata, as mulheres,

como certas aves, sentem a tempestade em distancia

e entram em boa hora para a phalange dos patriotas,

que mais coragem adquirirem sob o olhar poderoso

da mais bella porção da humanidade.

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« A p ersegu ição é com o o vento do deserto,

« leva bem longe a sem ente das idéas » .

(A.  Esquiros.)

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fi&9 $ & $ fiáfcfl ftSO fàkfl CWfefi (%*^ fiifc"

Ultimas tentativas da Monarehia para levar

sua náu a salvamento

f m q u a n t o a s e n t h u s i a s t i c a s n o t a s d a r u b r a M a r -

| s e l h e z a t r a d u z i a m n a s r u a s d o R i o d e J a n e i r o

a h e r ó i c a e p o p é a d e u m p o v o s o b e r a n o , a r e v o -

,ç l u ç ã o t r a n s p o n d o o s p ó r t i c o s d o p a l á c i o i m p e

r i a l , m u r m u r a v a a o o u v i d o d o v e l h o e x - m o n a r c h a

q u e o s e u i m p é r i o c h e g a v a a o fim d e s u a o r b i t a ,

que a R epu blic a , já qua si vic toriosa , havia de em

b r e v e r e p e l l i r d o p a i z s u a d e s a s t r o s a d y n a s t i a .

O e x - i m p e r a d o r , s e m e n e r g i a s , a l q u e b r a d o p e lo s

a n n o s , e e n f e r m o , s e n t i n d o v e r d a d e i r a m e n t e q u e o

t h r o n o f u gi a- lh e d e s o b o s p é s , m a n d o u c h a m a r u m

d e s e u s m a i s d e v o t a d o s á u li c o s , q u e t r a t a s s e a l li a r

a m o n a r e h i a a o p o v o , e x t e r m i n a n d o e n e r g i c a m e n t e

o p a r t i d o r e p u b l i c a n o d o s o l o d o p a i z c o n v u l s o .

S u p p u n h a o e x - m o n a r c h a q u e p a r a c o n s e g u i r t ã o

l i s o n g e ir o r e s u l t a d o , c o n v i n h a q u e o p a r l a m e n t o c o n

v o c a d o p e l o n o v o m i n i s t é r i o fo s se c o m p l e t a m e n t e

a p o i a d o p e l a n a ç ã o , t e n d o p o r o b j e c t i v o r e f o r m a r a

ad m ini str aç ão , m elh or ar a situ açã o financeira, fortifi

c a r o s d i r e i t o s c o n s t i t u c i o n a e s c o n t r a o s i n i m i g o s d o

i m p e r i a l i s m o .

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- 30 —

Da enorme e funesta camarilha de palacianos foi

escolhido um indivíduo abom inável no paiz de sde

1878,  um homem completamente áulico, autoritário

e orgulhoso para concentrar os negócios da nação,

exterminar o grande partido nacional e sustentar o

arruinado edifício da monarehia : o visconde de Ouro

Preto, brazileiro que conserva na fronte orgulhosa o

estigma da maldição popular.

Chamado a Petropolis a conferenciar com o ex-im

perado r, aceitou elle as réde as do go ve rno imp erial,

organisando o ministério 7 de Junho, composto dos

seguin tes m inistros que foram recebid os com pro

nunciado desco ntentam ento pela im prensa e pelo

povo quasi em geral:

Conselheiro Affonso Celso—Presidente do Conselho

e Ministro da Fazenda.

Senador Cândido d'OHveira—Ministro da Justiça.

Visconde de Maracajú—Ministro da Guerra.

Barão de Loreto—Ministro do Império.

Conselheiro Diana—Ministro dos Estrangeiros.

Barão do Ladario—Ministro da Marinha.

Conselheiro Lourenço d'Alb uqu erque — M inistro da

Agricultura.

A sua origem, a sua composição, os antecedentes

ligados a algum de seus membros, tudo denunciava

que aquelle ministério, commissão áulica, engendrada

por detraz dos repos teiros do palácio d e S. Chris-

tovam , era unicam ente um ministério de com bate

apparelhado expressamente para debellar o partido

republicano, que triumphava no Brazil.

Estava provado á saciedade que antipathico mi

nistério não represe ntava as altas e nobres aspira

ções do povo nem as do p artido q ue pretend ia

representar .

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— 3 1 —

Não havia duvida que era unicamente da realezaaquelle gab inete, organisado ao sabor do terceiro

reinado, com acquiescencia do ex-imperador, enfermo,

o qual entretido na mystica contemplação das estrel-

las,

  hia fazendo tud o o q ue lhe pedia sua filha, com

o único fim, hoje um caso nervopathico, de firmar

pretenciosamente a sua repellida dynastia n'esta

ter ra livre, já cança da de soffrer toda a sorte de

imposições de mentiras e velipendios, segundo escre

veu a « Re pub lica Brazileira ».

A mais culminante aspiração dos monarchistas, mais

adian tado s, na qu ell a occasião, era a federação das

extinctas províncias.

O Sn r. de O uro-P reto chefe de uma camarilha

áulica, ma is infensa ao rep ublicanism o do q ue a

guarda-negra,  para organisar gabinete, atraiçoôu o

seu partido, repudiando a idéa da federação que fora

acceita como idéa mãe do programma, isto porque

o ex-imperador não queria a federação.

Comquanto a tarefa fosse difficilima, na quadra ter

rível que atrav essa va o paiz, estan do a agonizar a

monarehia atac ad a da necrobiose fatal, o Sn r. de

Ouro-Preto ajustou-se com o ex-imperador como em

preiteiro da consolidação do throno.

O Ministério do infame desc end ente de Joaquim

Silverio dos Reis foi o maior pronunciamento da

reacção do rei contra o povo, da tyrannia contra o

futuro.

O disp arata do homem iniciou seus trabalho s de

salvador de uma monarehia corrupta, corruptora e

detestada, accenando ao povo com um phantasma-

gorico progra m m a de reformas que jamais serião

realisadas, entre as quaes os celeberrirhos «auxílios

á lavoura» panacéa já muito vulgarisada, paraattrahir

as sympathias das classes agrícolas illudindo-as.

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— 32 —

No seu antipathíco governo, a pagina mais triste

e vergonhosa da historia política d'este paiz, todos

os meios de corrupção foram praticados—as graças,

o dinheiro, a força bruta, a ameaça, tudo com o

machiavelico intuito de liquidar a idéa republicana

e eleger uma câmara unanimemente liberal.

Por toda a parte lavrava com grande intensidade

a desorganisação.

Em política: a baixeza, a ignomínia, a venalidade

a afilhadagem da ignorância.

Em finança: a pob reza, a des graç a e o déficit com

grande pendor para a bancarrota.

Em m ora l: o roub o publico, a jog atin a desen

freada, a diffamação, a mentira e a calumnia.

Em seus últimos dias, principalmente o governo»

do Snr. de Ou ro-Preto tinha-se torna do particular

mente odioso.

O sagrado direito de reunião foi violado com a

publicação do edital Basson, que prohibia os

  meetings

e o brado—«viva a Republica».

Quasi todos os dias os jornaes annunciavam que

em um a ou outra cidade, os indivíduos conhecidos

como adeptos do partido republicano, eram maltra

tados pela policia e quasi sempre presos.

As typographias dos jornaes democráticos eram

assaltadas, as' machinas partidas, os caracteres e os

materiaes destruídos.

No dia 6 de Se tem bro de I8 89 , foi apunh alado

em plena praça do Recife o distincto e estimado ora

dor popular Ricardo Guimarães.

A multidão indignada contra esse acto selvagem

e violento, reuniu-se pa ra lyncha r o crimino so, Paula

Nery, que se refugiou no escriptono d  A P rovíncia

d e .

 propriedade de José M arianno.

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— 33 —

O governo provincial prometteu justiçar o assas

sino ; porém o mais q ue fez foi ob rigal-o a as se nta r

praça no exercito activo.

Na ex-provincia do R io G ran de do Sul foram

pratica das as mais gros seira s e aviltantes persegui

ções con tra os funccionarios q ue não quizeram pôr

sua consciência em hasta publica.

As perseguições do malsinado visconde se conver

giram, ultima m ente para o exerc ito e a arm ada, cujo

pessoal adheria, na mór par te, á idéa republicana.

No dia 10 de Julho do anno transacto o Snr. de

Ouro-Preto foi visitar o Arsenal de Marinha.

Como os p-uardas A. Martinho, Durval e A. Sil-

veira não ficassem de pé, perfilados e desc obe rtos

durante todo o tempo que o Visconde se demorou

no arsenal, foi dada ordem de prisão contra elles.

Esse acto de governo absoluto, de ministro atre

vido e de imperador da Rússia ou da Turquia pro

duziu gra nd e excitaçâo en tre o pessoal do arsenal

e o povo fluminense.

O Snr de Ouro-Preto queria, de certo, que os

ofrkiaes se prosternassem á sua passagem, batendo

ao peito como á passagem do Santíssimo

Os militares saudãram-n'o e puzeram-se em seguida

os seus bonets, continuando no seu posto.

O Snr. de Ouro-Preto, o ex-senador Cândida d'01i-

veira (interinam ente m inistro da gue rra) e o Barão

do Ladario (ministro da marinha), distinguindo-se

pela pro tervia dos proco nsules rom anos , lançaram

mão de todos os meios que pudessem desprestigiar

estas duas nobres corporações que são a garantia

da integridade e da honra do Brazil.

T od os os gran des gene raes do exercito foram

feridos em sua honra por esses homens (pragas peio-

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— 34 —

res do que os gafanhotos do Egypto) que não

souberam respeitar nem manter a ordem e disci

plinas das classes mais importantes da nação.

O exercito e a armada se achavam reduzidos a

um servilismo tal, que nem direito tinham pa ra se

queixar.

Diante desse descalabro resolveram elles promover

uma solução cujo fim foi depor o governo monar-

chico e proclamar a Republica.

O Brazil mostrou finalmente, que tem filhos ca

pazes de repellir um go ve rno de vând alos abomi

náveis, que nã o cessam de lud ibriar a h on ra na

cional.

A revolução que se preparava, forte e invencível

realisava perfeitamente a prophecia do distincto de

mocrata Júlio Ribeiro :

« Louco é o Snr. Affonso Celso de querer, pobre

« pygm eu, abafar com seus b racinhos curtos uma

« idéa gigante que explode ; em afagar a possibili-« dade de deitar grilhões a um povo que se levanta.

« Lou co, três vezes lou co a revolução quebral-o-a

« nas garras potentes como quebrou no México os

« trahido res nativos, sequ azes d o príncipe estran-

« g e i r o .

« E não é de hoje que o povo tem contas a

« ajustar com S. E x c : o sang ue da população flumi-

« nense , derram ado na revolta do vintém, está a

« bradar vingança ».

O s at tes tad os systematicíos d o m inistério 7 de Ju

nho produziram o resultado que, ha mu ito anteviam

os espíritos esclarecidos e previdentes.

O desgraçado Visconde quiz apunhalar sua pátria;

mas,

  felizmente, a mão desse miserável pygmeu não

poude alcançar o coração dos brazileiros.

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— 3 5 —

Na véspera da revolução,  O Paiz,  o mais bri

lhante defensor da liberdade no Brazil, publicou

este monumental artigo de Quintino Bocayuva:

NO CAPITÓLIO

« Triumphante em toda a l inha ; embriagado pelas

suas successivas victorias ; orgulhoso pelos resulta do s

sorprendentes de sua habilidade política, o honrado

Snr. d e Ou ro-Preto acredita ha ver, de um só go lpe

ass egu rado o thron o nos seus alicerces e a sua

estatua no pedestal da immortalidade.

Moysés fez brotar a lympha de um rochedo afim

de saciar a sede de seu povo ; o Snr. presidente do

conselho fez bro tar do thezouro até entã o árido e

secco, a caudal corre nte de ou ro, onde se desalte-

ravam ávidos e se quio sos, os clientes, os am igos de

S. E x c , encan tados diante do prodígio e exalçando

os hymnos do seu contentam ento, em verdadeiro

extasis, dian te da gran dez a do es tadista sem par,

cuja gloria v ae s er p erpe tuad a em sym bolo plástico.

Sob o ponto de vista artístico e decorativo esta

mos longe de desapreciar essas commemorações

concretas, que se corporificam em monumentos osten-

tosos sempre preadmiraveis como obra d 'arte quando

são confiados a bons artistas.

Mas sob o ponto de vista moral merecem-nos muito

mais preço as estatuas animadas dos cidadãos mo

destos, laboriosos, honrados, patriotas que são para a

geração de seu tempo exemplo vivo de sólidas virtu

des e cujo nome projecta-se na historia como um

raio luminoso, afagando a memória e a consciência

dos posteros quando contemplam na observação se

rena dos factos a influencia moral exercida por esses

heróes abnegados—symbolos sagrados que se tornam

o patrimônio com mun d as gerações sobreviventes.

7

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— 36 —

En riquecer não é certam ente nem a única, nem

a mais nob re das preoccupa ções do hom em e tra

tando-se de uma nação—não é certamente a riqueza

a melhor garantia do seu poder e da sua gloria.

A historia nos offerece disso mais de um exem

plo.

  Nações favorecidas pelos mais surp reh end ente s

progressos materiaes têm tido as suas entranh as

corroídas pela peior de suas corrupções e se hão

esboroado, apesar da sua opulencia e da sua gran

deza.

O espetáculo a que assistimos revela bem qual é

a indole da política liberal do ga bin ete presidido

pelo Snr. Visconde de O uro-P reto, e sejam quaes

forem as suas app are nte s victorias, seja qu al for o

gráo de enthusiasm o artificial dos seus ado radore s

será bem cego o que não veja transluz ir no hori

zonte da pátria a estrella solitária do patriotism o

ainda meia coberta pela caligem das ambições re

voltas que sobem até o throno como um vapor espesso

e asph yxian te, m as luz qu e afinal ha de esp anc ar as

trevas desta situação, preta na sua indole e na

sua expressão, nos seus designos e nos seus actos,

até sanificar, pelo influxo dos seus raios a atmos-

phera empestada que nos rodeia.

A hora presente é a do tr iumpho; a hora succes-

siva ha de ser a da derrota.

Hoje no Capitólio

 •,

  mas amanhã na rocha Tarpéa

o Snr. Visconde de Ouro-Preto não é e não será mais

que a sinistra reproducção de outros typos idênticos

—dos quaes guarda a historia a mais execrável me

mória ».

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« Q uan do a revolução está com eçada nos es-

« pir i tos, bas ta um pun had o de hom ens resolu-

« tos para levar comsigo todo o pov o. Os carac-

« teres f racos e t ímidos seguem o mo vim ento.

« Quanto ás massas, el las se aggregam desde

« o principio , po rqu e a audá cia é pa ra ellas o

« signal da força, e a força as a ttra he d e m od o

« irresistível ».

(Dupraf).

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Violência da monarehia contra a distincta

classe militar

jjP§m sua ligeira resenha histórica, Jacques Ourique

^Sftoma por po nto de par tida na qu es tão m ilitar,

pa expedição do Marechal Deodoro á província

, hoje Estado de Matto-Grosso.

A qu estã o m ilitar data d o ministério Cote gipe , e

para orie nta r o leitor e com pletar a interessan te

narração do Sr . Jacques Ourique, julgo opportuno

remontar-me aos factos que a iniciaram.

Em 1887 o depu tado Coelho de Reze nde accusou

na câmara por violências e arbitrariedades o coronel

Cunha Mattos, inspector da Companhia de infanteria

do Piauhy.

Cunha Mattos não era bem visto do exercito.

O inspector da companhia do Piauhy não guardou

silencio diante dos ata qu es de qu e fora alvo n a

câmar a dos deputados.

Infringindo um a disposição d o m inistro da gu er ra ,

Cândido d'OHveira, que prohibiu aos militares levar

á imprensa questões de serviço, contestou em um

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— 40 —

jornal da Corte as accusações contra elle formuladas

pelo deputado Coelho de Rezende.

O então ministro da guerra, Sr. Alfredo Chaves,

político de reconhecida energia, applicou a pena de

oito dias de prisão a Cun ha M attos, que se tinha

tor na do d'ella m erece dor por sua infracção á dis

posição Oliveira, antes citado ; porém, como Cunha

M attos reco nhe cera sua falta, foi a prisão substi

tuída por uma reprehensão.

N'essa eme rgência o tenente-corone l de estado-

maior de i .

a

  classe, Senna Madureira, commandanteda escola de tactica e tiro do Rio Pa rdo , no Rio

G rand e do Sul, suscitou a qu est ão militar, advo

gand o deno dadam ente em favor dos previlegios da

classe a que pertencia e com batend o na impren sa

a disposição do ministro Cândido d'01iveira.

O marechal Deodoro da Fonseca, vice-presidente

em exercício da província do Rio Grande do Sul e

commandante das armas da mesma, se poz á frente

da ques tão iniciada pelo tenente-coro nel M adureira.

Posto na alternativa de renunciar ou ser desti

tuído,

  o Marechal decidiu-se pela renuncia e em sua

substituição foi nomeado o tenente-general Augusto

César da Silva.

Ch egado á Co rte, os alumnos da Escola Militar

fizeram-lhe uma demonstração de sympathia, de

monstração que custou a demissão do director desse

estabelecimento, Marechal de campo Severiano da

Fon seca, mais tard e Barão d e A lago as, irmão do

Mar echal Deodor o .

Instigado o elem ento militar pelos liberaes par a

crear difficuldades ao ministério Cotegipe, secundado

no Senado por Affonso Celso, pediu Silveira Martins

ao gabinete que, para acalmar a excitaçâo dos ani-

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— 4 1 —

mos e evitar conflictos que podiam degenerar em san

grentas revoltas, fossem retiradas as notas de reprehen-

são referentes a Cunha Mattos e a Senna Madureira,

notas que haviam decidido este ultimo a demittir-se.

Re tiradas estas nota s, ficou adorm ecida a ques

tão militar.

O ministro da guerra, Alfredo Chaves, demittiu-se

depois da sessão em que tratou-se d 'esse assumpto.

Vaga no senado a cadeira que occupára o senador

A ntão , pela província do R io de Janeiro, Alfredo

Chaves appresentou a sua candidatura, tendo por

contendores Pereira da Silva e A ndrad e Figue ira,

dois antigos políticos de relevantes qualidades, che

fes de partid os e dep utad os em varia s legislaturas.

Alfredo Chavfes foi o qu e ob te ve m ais suffragios,

dando-se este facto digno de me ncionar-se, po rqu e

abona a sympathia que sua conducta firme e reso

luta gra ng eá ra no próprio ex er ci to; os districtos

militares, as escolas militares da C orte e Ca m po

Grande e a i .

a

  secção de San ta Rita, em que do

mina o elem ento da marinha de guerra, votaram

unanimemente no ex-ministro.

No entanto , a princeza reg en te, segun do uns, por

lisonja á classe m ilitar, ou , seg un do ou tros , p or

sugg estão da condessa do Ba rrai, elegeu o menos

votado, isto é, Pereira da Silva.

Chegamos ao segundo período da questão militar,

quando o ministro da gue rra, Tho m az Coelho de

Almeida, dispoz a partida do Marechal Deodoro, á

frente de 90 0 hom ens, para a província de M atto-

G rosso, adduzindo como causa d'essa me dida a

que stão entre a Bolívia e o Para gua y, quando o

movei positivo que a inspirava era o afastamento

do exercito, considerado como um perigo na C orte.

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— 42 —

Desd e seu regresso da campanha do Paragu ay o

exercito brazileiro começou a sentir o pouco apreço

que os go vern os ligavam á instituição m ilitar, ape-

zar da importante missão que acaba de desempe

nhar, com um valor e uma abne gação adm irados

por todo o mundo civilisado.

Esqu ecidas as penosas lições d'essa cam panha ,

desapproveitados os ensinamentos das guerras entre

a Fra nça e a Allem anha, e en tre o Chile e o Peru,

e de todos os dem ais m ovim entos militares que

desde então occorreram, apezar das incessantes re

clam ações dos officiaes braz ileiros, o e xe rcito era

calculado e systematicamente impellido para o plano

inclinado qu e dev ia conduzil-o a sua inev itáve l de

cadência. Fora m sem pre factores principaes de

menospreso e abandono que cercava essa instituição,

a má vontade, á iniqüidade, a rotina e a incúria

dos govern os, devidas a ignorância technica dos

ministros e ao pouc o conhecim ento que, tinham do

pessoal do exercito.

Por um lado a justiça militar, cujos processos de

vem ser simples, claros e rectos, era entre gue aos

sophismas e ageitamentos de uma hermenêutica sub-

til e ás exigências de um nepo tism o im pud ente,

originando-se d'ahi o abati m en to d o espirito m ilitar,

que assistiu sobres altado a controvérsias incabidas

e a explicações especiosas das leis.

Com o conseqüência d'esse s factos, não ha ne-

gal-o,

  geraram-se no seio da força armada a des

confiança, o desgosto, a descrença, que transforma

ram-se logo em desespero.

V arias ten tativ as levaram a effeito os gov erno s

no sentido de abater completamente a nobre altivez

qu e ainda m ant inh a a m aioria da officialidade na

defeza de seus direitos violentamente atacados.

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— 43 —

Essas luctas, ainda que sustentadas pelo exercito

du ran te muitos anno s den tro do circulo de ferro

das conveniências militares, começaram finalmente a

reb en tar nas celebres que stões suscitadas nos trez

últimos annos.

Para os espíritos calmos e reflectidos que conhe

cem o glorioso passado da força armada no Brazil,

eram ellas grandes manifestações do trabalho latente

que solapava o regim en monarchico em todas as

classes de nossa sociedad e ; para os go vern os, no

entanto, não passavam de simples indícios de insu

bordina ção e indisciplina, que convinha abafar com

energia.

Em vista da attitud e assumida pelo exercito, pro

vocada pela inépcia administrativa do poder, o ga

binete João Alfredo, em vez de procu rar corrigir

franca e patrioticamente os erros de seus anteces

sores, preferiu lançar mão da perfídia, fazenda sahir

da Corte, sob um pretexto que não podia ser recu

sado, o general Deodoro, com uma forte expedição

para a longínqua província de Matto-Grosso.

N'aque lla provincia, o ge nera l s em pre correcto,

escravo do dev er, dava comp leta e satisfactoria exe

cução á missão qu e lhe fora incum bida, qu and o,

constituído o gabinete Ouro Preto, recebeu brusca

mente, sem a menor attenção a seu alto cargo e

aos mu itos serviços por elle pres tado s ao paiz, or

dem para regressar com as forças para a Corte.

Essa inepta e descabida provocação foi aggravada

com a nom eação , para pres iden te d'aquella provin

cia, de um official de péssima reputação militar, ins

trumento maleavel dos inimigos do Marechal, e que,

além d'isto, tinha propalad o na Co rte e no Rio

G ran de do Sul o bo ato de que o chefe da s forças

em observação em Matto-Grosso tinha sido assassi-

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— 44 —

nado pelas próprias tropas que commandava, devido

á falta de disciplina que não pu der a m an ter.

Do is dias depois do re gr es so das forças á ca pital

do paiz, o p residen te do conselho, ao entra r no

Thesouro Nacional, prendeu e compelliu a abandon-

nar o seu posto, violenta e illegalmente. o tenente

Pedro Carolin, com m andan te da gu ar aa d'aquelle

estabelecimento. '

Essa questão, como as que seguiram-se, tratadas

pelo Dr. Ruy Barboza, foram discutidas com calma

e reflexão necessária no  Diário de Noticias,  único

jorn al que acom panhou dia a dia os últimos acon

tecimen tos m ilitares, dirigindo-os do mo do que pa

recia mais acertado aos que se tinham encarregado

de debatel-os na imprensa.

De sde 18 de Sete m bro o D r. Ruy Barboza era

também ouvido s obre esse assum pto e dizia sem pre :

o exercito deve traba lhar com toda a rese rva e

decisão, porque só alcançará garantias mudando o

regimen de governo.

A' questão Pedro Carolino seguiu-se a repentina

retirada do 9.

0

  regim ento de cavallaria da cidade

de Ou ro Pre to, sob pre tex to de um conflicto com

o corp o de policia, qu an do tal conflicto fora resul

tado da imprudência do chefe de policia e de repe

tidas provocações feitas por agentes d'esse chefe.

Não estavam ainda resolvidas essas dua s ques

tões,

  em que o governo marchava de erro em erro,

de arbitrariedade em arbitrariedade, de violência em

violência, negando até os meios de justificação, por

leis claras e positivas, garantidas ás partes, sobre

as quaes entretanto ia exercendo perseguição notó

ria, quand o o ministro da gu erra destituiu  a bem

do serviço publico  o tenente-coronel Mallet, com

m and ante da Escola M ilitar do Ce ará, so b o pre-

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— 4 5 —

exto de que esse official havia-lhe dirigido um te-

egramma concebido em termos inconvenientes.

Achavam-se já os ânimos summamente exaltados,

»ão só po r aque lles factos, mas tam bém pela sua

liscussão na imprensa ; e esta exaltação accentuou-se

linda mais depois de um discurso pronunciado pelo

Dr. Benjamim Constant, na Escola Militar, em pre-

;ença do m inistro interino da g ue rra, Câ ndid o de

oliveira, por occasião de visitarem aquelle es tab e-

ecimento os officiaes do  Almirante Cochrane.

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« A força armada põe-se sempre ao lado dos

c povos, quando as nações falam pelos princípios

« de sua soberania. »

enóeca

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SEGUNDA PARTE

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Histórico da Revolução

Y^fUr^endo-se resolvido convocar uma reunião de

officiaes no Club Militar no dia 9 de Novem

bro,

  para trat ar de assum ptos da classe, con-

ç

  cordou-se na vésp era en tre o Dr. Benjamin

Constant e alguns officiaes que na sessão do dia 9

se acceitasse a proposta—entregar-se a solução da

questão a uma commissão de três mem bros, com

faculdade de obrar livremente depois de mais uma

ultima e enérgica tentativa junto ao governo, mar-

cando-se-lhe o pra so de 24 ho ras pa ra levar a term o

sua missão e dar conta do resultado ao club.

Na sessão do dia 9, á noite, presentes cento e

cincoenta e três officiaes, propoz o Dr. Benjamim

Constant que, em vez de ser concedida uma com

missão de três membros, lhe fossem entregues ospod eres que a ella se pretend ia conced er e lhe des

sem o praso de oito dias para apresentar o resul

tado dos trabalhos que ia emprehender .

Com o fim de evitar discussões impo rtunas em

assembléa tão nu m erosa, tanto mais quan do acha

vam -se os ânim os dos jov en s officiaes que a cons-

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— 52 -

tituiam exacerbados em alto gráo pelos últimos actos

do governo, e sabia-se estar debaixo de constante

vigilância dos agentes da policia, propuzeram imme-

diatam ente :— que , dando prova de com pleta con

fiança na palavra que o Dr. Benjamim Constant acaba

de empenhar espontaneamente, e como justa mani

festação a seu elevado caracter e a sua reconhecida

dedicação á classe a que pertence, se lhe desse

mandato sem discussão.

Acolhida com enthusiasmo essa moção, cujo al

cance principal era deixar aos chefes os meios de

trabalhar com a reserva necessária, o Dr. Benjamin

Co nstant a grade ceu a honra com que o distinguiam

assim os companhe iros e levantou-se logo a sessão.

D esd e essa me sma noite com eçou o dig no official

a desempenhar a delicada missão que lhe fora con

fiada.

Com a convicção de que nada alcançaria por

meios brandos e suasorios junto ao orgulho e per-

tinaz obstinaç ão do chefe do ga bin ete , resolveu re

correr a reação arm ada.

Pa ra isso começou por en tend er-se no dia 10

com o Marechal Deodoro, que, apezar de estar en

fermo, acompanhava de perto a questão, empenhando

nella todo o seu am or e tod a a sua dedicação a

classe militar.

D e accordo com o M arechal, o D r. Bemjamin

Constant entendeu-se com alguns commandantes de

corpos, chefes da arm ada e de estabelecimentos

militares, e officiaes do exercito, principalmente com

os mais activos da 2.

a

  brigada, e pedio uma confe

rência ao Dr. Ruy Barboza.

No dia 11 reuniram-se em casa do Marechal, á

praça da Acclamaçâo n. 99, além do Dr. Ruy Bar-

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— 5 3 —

boza, que, como já disse, estava em dia com todo

o occorrido, os cidadãos Quintino Bocayuva, Aris-

tides Lobo e Francisco Glycerio, os quaes só então

entrarão em conspiração.

Proposta a questão em termos claros pelo tenente-

coronel Benjamin Constant e decidida por estes

respeitáveis membros do partido republicano a de

posição da monarehia, como medida de urgente

necessidade para a salvação do paiz e a única pos

sível para  restauração do exercito,  de accordo com o

Marechal D eod oro resolveu o D r. Benjamin Cons

tant executar o movimento revolucionário na tarde

de 16, quando os ministros se achassem em confe

rência com o ex-imperador.

Por sua pa rte o M arechal D eod oro, no dia 13

mandou cham ar o ajudante-general do exercito, Ma

rechal de campo Floriano Peixoto, e confiou á sua

lealdade a posição em qu e se achava o exercito.

Tendo ponderado o general Floriano Peixoto que,

a seu ver, os acto s do gov erno não autorizavam

ainda a sem elha nte ext rem o, que talvez fosse prefe

rível fazer uma ultima tentativa junto ao gabinete,

o Marechal Deodoro declarou cathegoricamente ao

seu velho amigo que o movimento era irrevogável,

e que elle já se achava á frente de seus compa

nheiros.

Jacques Ourique se dirigiu no dia 12 á casa do

Marechal Deodoro e lhe disse francamente :

—« Con stando-m e que está resolvida a mudança

da fôrma de governo, e achando-me, como sabeis,

á frente de um gru po de officiaes, na mó r pa rte

m ona rchista s, desejo, p ara evitar um a divisão de

opiniões no momento decisivo, conhecer vossa ma

neira de pensar a respeito.

O M arechal respond eu então :

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— 54 —

—« Jacq ues, eu também fui sem pre mon archista,

ainda que m uito des gosto so e descon tente nestes

últimos tempos.

— «  A go ra nos é forçoso convenc er-nos de que,

com a mo narehia, não ha salvação possível para a

pátria nem para o exercito.

«

  Já tem os prova de que, depois de tudo o que

fizéssemos, elles segueriam a mesma senda e trata

riam de anniquilar o exercito.

« E, alterando-se-lhe o sem blante, que adquiriu

essa expressão aquilina de precisão e de commando,

de que só podem dar testemunho aquelles que, nos

momentos supremos, tem estado a seu lado, aceres-

centou :

 x

  E , demais, a Republica virá com sangue se

não formos a seu enco ntro sem derrama l-o. -

Jacq ues confessou ao ge ne ral qu e não só elle

como os que se achavam comsigo, o acompanha riam

cega m ente, e qu e podia dispor de suas espadas

como melhor lhe parecesse, certo de que por sua

par te a classe se apre sen taria unida e disposta a

todos os sacrifícios no momento decisivo.

Por seu la do, o D r. Benjamim Co nsta nt conti

nuava seus traba lhos , no intu ito de reunir o s ele

m entos de que carecia a revolução, em conferências

celebradas em diversos pontos da cidade, com offi

ciaes dedicados e dispostos, qua ndo se soub e, ao

anoitecer do dia 14, que o gabinete, prevenido, se

reunia no arsenal de marinha, e depois no quartel-

gener al .

Era preciso obrar enérgica e rapidamente.

Com effeito, deram-se immediatamente ordens no

sentido do movimento nessa mesma noite, antes que

o governo pudesse organisar resistência.

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— 5 5 —

Como corresse o boa to da prisão do M arechal

D eodo ro e do Dr. Benjamin C on sta nt ; da ordem

de embarque e partida do 7.

0

  batalhão de infante-

ria e 9.

0

  regimento de cavallaria, mandou-se imme-

diatamente um carro buscar o Marechal, que á tarde

se havia retirado, por conselho de seu medico, para

a casa de seu irmão , D r. João Sev eriano , no An-

darahy, afim de repousar e experimentar a mudança

de ar es .

D epo is d e sua volta, á s 11 ho ras d a noite, come

çou-se a trata r do m ovim ento, em su a casa do

Campo da Acclamação, onde com o Dr. Benjamin

Constant, se achavam vários officiaes do exercito e

da armada, sendo a cada momento chamados outros.

O enthusiasmo e a dedicação dos officiaes eram

enexcediveis.

O Marechal, impertubavel e atten to, examinava

os meios de acção e dava ordens.

Discutia com o capitão Espirito Santo um plano

de ataque apresentado por este official, quando

sobreveiu-lhe um fortíssimo accesso da enfermidade

que soffre. vendo-se forçado a recolher-se ao leito

em um estado grave de prostação.

Por esta razão, o Dr. Benjamin Constant deu

ordem em con trario, aprazan do o mov imento para

o dia 15 ou 16, á tard e, seg un do aconselhassem

as circumstancias e o estado do Marechal.

N'este ínterim, um distincto official proposital-

mente levou á 2.

a

  brigada aquelles rumores como

factos indiscutíveis.

Ante tão grave noticia os officiaes apressaram-se

em organizar os elementos materiaes, e ás quatro

horas da manhã, pouco mais ou menos, achavam-se

prepa rados para partir , tendo expedido emissários

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— 5 6 —

ás casas do M arechal Deo do ro e D r. Benjamin

Constant .

Estes chefes, apenas prevenidos, sahiram em carro

para S. Christovam, onde o segundo d'elles encon

trou a força. O M arechal D eo do ro encorporou-se

a ella em caminho.

Ao che gar a brigada na praça On ze de Junho,

ordenou o M arechal ao capitão Godolfim qu e par

tisse em recon hecim ento com 6 hom ens, p ara o

Campo da Acclamação, e colhesse noticias exactas

do que se passava no qua rtel-gen eral e em suas

immediações.

Godolfim dese mp enhou com galha rdia essa com-

missão, indo tomar informações de um particular na

po rta central do 'quartel, de ntro do qual já havia

trop as em fôrma, levand o-as em seg uid a claras e

completas ao Marechal.

Ao chegarem as forças ao Campo, na esquina da

rua Visconde de Itaúna, o Marechal Deodoro mon

tou o cavallo em que vinha o alferes Eduardo Bar

boza e pôz-se a frente da columna.

Ao entrar no Campo, e quando passava diante das

forças de policia da Co rte e de impe riaes m arinheiros,

que acabavam de ser collocados no angulo em que

se achava a estação da estrada de ferro D. Pedro II, o

Marechal voltou-se energicamente para ellas e, ven

do-as indecisas, perguntou com voz de commando :

—Então, não me fazem continência ?

N'esse momento o major Valladão, que comman-

dav a a infanteria de policia, e rg ue u um v iva ao

Marechal, que foi correspondido, fazendo a tropa a

continência da ordenança.

Es te facto, pequeno na a ppa rencia, foi de um

gra nd e alcance militar. Com elle m antev e o M aré-

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— 57 —

chal o prestigio que, nem por um instante, devia

deix ar m eno spre zad o n'ess e dia, e affirmou a confi

ança dos q ue o acom panhavam em seu rápido golpe

de vista, qualidade de que devia depender essencial

m ente todo o resultado da jornad a que ia começar.

Quando a brigada entrou no Campo da Acclama-

çâo pela rua do Visconde de Itaúna, o brigadeiro

Almeida Barreto dispunha as forças do governo,

sob seu cornmando, no angulo correspondente á

estrada de ferro de D. Pedro II, onde permanece

ram até o desenlace dos acontecimentos.

O Marechal Deodoro mandou desenvolver a 2 .

a

brigada em frente ao quartel-general, e determinou

que as quatro peças de artilharia da esquerda obli-

quassem em direcção ás forças do go ver no , para

mantel-as em respeito.

Foi nessa occasião qu e che gou o coupé, que

conduzia o Barão de Ladario.

O M arechal disse :

— E '

  um coupé de ministro.

O Tenente Pena, que se achava a seulado accres-

centou :

•—Não é o da guerra, porque as ordenanças são

de policia.

O carro approximou-se.

— E '  o La dar io, exclamou o M arechal. E ficou

pensativo alguns seg und os. De pois, em voz baixa,

disse ao Te nen te Pena :

— P r enda o B ar ão .

O tene nte Pena partio a galope. Ao mesmo

tempo que o Barão sahia do carro o tenente sal

tava do cavallo e dirigia-se a S. Exc.:

—Está preso á ordem do Marechal Deodoro.

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— 5 8 —

O Barão não respondeu uma palavra. M etteu a

mão no bolso, tirou um revolver, apontou e dispa

rou c ontra o Te ne nte , quasi á queim a-roupa. A

arma negou fogo.

O Tenente Pena quando viu a arma apontada contra

seu peito, fez instinctivamente um movimento, apre

sentando o f lanco ao Barão. Re sgua rdand o a cabeça

com o braço esquerdo, com a mão direita tirou o revol

ver da cintura e disparou contra o ministro da marinha.

Ao primeiro tiro, o Marechal Deodoro dirigiu-se

ao grup o e o Barão disparou entã o contra o Ma

rechal, que sentiu pass ar a bala pelo lado direito

de sua cabeça.

Depois disto o Barão se retirava, qua ndo o pi

quete do Marechal disparou-lhe alguns tiros.

En tão apressou o passo e foi cahir jun to ao

armazém da esquerda, no canto da rua de S. Lou-

renço, onde tratou de e n tr ar ; porém alguém de

dentro se oppoz e fechou a porta.

Nesse momento alguns soldados quizeram matal-o a

coronhadas. O General De odoro acudiu, orde nan do:

—Soldados, não matem o Barão.

Pou co depo is o B arão foi recolhido por varias

pessoas ao palacete Itamaraty, onde recebeu o pri

meir o t r atamento .

O General Deodoro voltou com seu estado

maior, ao qual enco rporara-se depois da chega da

das forças ao campo da Acclamação o cidadão

Quintino Bocayuva, a tomar posição em frente ao

portão central do quartel.

Neste ponto veiu conferenciar com elle o Gene

ral Barreto, que regressou logo para pôr-se outra

vez á frente das forças do governo.

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— 5 9 —

C h e g a d o a o c a m p o , o G e n e r a l d i r i g i u - s e a o p o s t i g o

d o p o r t ã o , d e o n d e f al lo u c o m o s c a p i t ã e s B e n t o , F e r

r a z e G a l v ã o , d i z e n d o - l h e s q u e a b r i s s e m ; a o q u e e s t e s

o ff ic ia es c o n t e s t a r a m q u e a i n d a n ã o e r a t e m p o .

E m f r e n te d a s t r o p a s o M a r e c h a l r e c e b e u a v i s o s

d e q u e a m e t r a l h a d o r a q u e t i n h a m l e v a d o p a r a

d e n t r o d o q u a r t e l e s t a v a á s u a d is p o s i ç ã o , p o is o

o f f i c i a l q u e a c o m m a n d a v a e r a d o s r e v o l u c i o n á r i o s .

D e p o i s d e c o n f e r e n c i a r c o m o B r i g a d e i r o B a r r e t o ,

o G e n e r a l o r d e n o u a o T e n e n t e - C o r o n e l S il va T e l l e s

q u e f o ss e i n t i m a r o m i n i s t é r i o a q u e a b a n d o n a s s e

o p o d e r e s e e n t r e g a s s e á d i s c r i p ç ã o .

E m s e g u i d a a o r e g r e s s o d e s s e o f f i c i a l d e s c e u d o

q u a r t e l - g e n e r a l o a j u d a n t e - g e r a l M a r e c h a l F l o r i a n o

P e i x o t o , q u e c o n fe r en c io u c o m o M a r e c h a l D e o d o r o

a l g u n s m i n u t o s .

E n t ã o o M a r e c h a l f e z a b r i r o p o r t ã o e p e n e t r o u

a g a l o p e , c o m o b o n e t n a m ã o , s e g u i d o d o a ju

d a n t e g e n e r a l e d e a lg u n s of fi ci ae s . A o c h e g a r e m

f r e n te d a m e t r a l h a d o r a , o r d e n o u , s o r r i n d o - s e :

— T i r e m d a h i e s s e t r a m b o l h o .

A g u a r n i ç á o r e t i ro u i m m e d i a t a m e n t e a m a c h i n a

d e g u e r r a .

Ao passar pela frente do

  j.°

  batalhão de infan

t a r i a m a n d o u t o c a r a m u s i c a .

U m v a l e n t e C a p i t ã o d e s s e c o r p o e r g u e u u m v i v a

a o M a r e c h a l , v i v a q u e f o i c o r r e s p o n d i d o p o r t o d a a

t r o p a q u e s e a c h a v a d e n t r o d o q u a r t e l , á q u a l o

M a r e c h a l p a s s o u r e v i s t a , r e c e b e n d o a s h o n r a s i n h e -

r e n t e s a o s e u p o s t o .

O r d e n o u á s f o rç a s q u e s a h i s s e m , e a s c o n d u z iu

p a r a f o r a d o q u a r t e l , o n d e m a r c h a r a m e m c o r r e c t a

f o r m a t u r a d i a n t e d a s q u e a l i s e a c h a v a m , i n d o p o s

tar-se em colu m na na frente do po rtã o do edifíc io .

10

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— 6 0 —

En tão subiu o M arechal a entend er-se com o ga

binete.

Quando deu ordem de prisão aos mem bros do

ministério, reunidos no Q ua rtel, dous velhos com

panheiros d'armas e amigos do Marechal intervieram

para pedir-lhe que abandonasse o rigor e deixasse os

miseros decahidos em liberdade, garantindo-lhe que

todos se compromettiam a tomar immediatamente seus

passaportes, para seguirem para o estrangeiro.

D epois de um insta nte de reflexão :

« Pois, podem sahir », disse com desdé m o Marechal.

Levantou-se, então, pallido e tremulo, o arrogante

Visconde de O uro P ret o, o infortunado Affonso do

vintém, para confirmar a promessa dos dous padri

nhos sobre os passa portes, pedir gara ntias para a

sua vida em perigo.

«  O Senhor está garantido pelo despreso publico  »,

disse-lhe friamente o M arechal. «  0 mais que al

guém poderá fazer-lhe, é cuspir-lhe na cara.

  »

O Marechal Deodoro e Quintino Bocayuva, auréo-

lados de gloria, se puzeram á frente de 4.00 0 sol

dados, e percorreram as principaes ruas do Rio de

Janeiro, ergu end o phrene ticos vivas á Republica,

acclamando a deposição da monarehia.

A passagem dos batalhões o povo abria alas e

saudava o exe rcito victorioso, atirand o sob re elle

radiantes grinaldas, que estrellavam magestosamente

o solo por ond e transitava m , jubilos os, pelo trium-

pho da grandiosa causa da liberdade da pátria.

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— 6 2 —

meios ao seu alcance, promette e garante a todos os habi

tantes do Brazil , nacionaes e estrang eiros, a segu rança da

vida e da prop rieda de, o respeito aos direi tos individuaes

e polí t icos, salvas, qua nto a estes , as l imitações exigidas

pelo bem da pátr ia e pela legit ima defeza do g ove rno pro

clamado pelo povo, pelo exerci to, pela armada nacional .

C O N C ID A D Ã O S . — A s  funcções da justiça ordinária, bem

como as funcções da administração civil e militar continua

rão a ser exercidas pelos órgãos até aqui existentes, com

relação ao* acto s na plenitu de dos seus effeitos; com rela

ção ás pessoas, respeitadas as vantagens e os direi tos adqui

ridos por cada funccionario.

Fica, porém, abolida, desde já, a vi tal iciedade do senado,

e bem assim abolido o conselho d 'Estad o. Fica dissolvida

a c â m a r a d o s d e p u t a d o s .

C ONC I DADÃOS. — O  governo provisório reconhece e acata

todo s os com prom issos nacionae s, contrahidos d uran te o

regiinen anter ior , os t ratados subsistentes com as potências

estrangeiras, a divida publica externa e interna, os contra-

ctos vigentes e mais obrigações legalmente estatuídas.

Marechal

  Deodoro da Fonseca

—chefe do governo

provisório .

Aristides da Silveira Lobo

—ministro do interior .

Ruy Barboza— ministro da fazenda e interinam ente

da just iça.

T e n e n t e - C o r o n e l

  Benjamin Constante Botelho de

Magalhães

—m inistro da gu erra .

Chefe de esquadra  Eduardo Wandenkolk—ministro

d a m a r i n h a .

Quintino Bocayuva

—m inistro da s relações exteriores

e inter inamente da agricultura, commercio e obras

publicas.

V i e r a m m a i s t a r d e f a z er p a r t e d o m i n i s t é r i o :

D r.  Campos Salles—m inistro da justiça e o D r.  De-

metrio Ribeiro

—m inistro da agric ultura .

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— 6 3 —

N o P a ç o d a c i d a d e

A s 11 horas da manhã, o Visconde de Ou ro

Preto telegraphou ao Imperador, que se achava em

Petropolis, chamando-o á Corte immediatamente.

Ao meio-dia e um quarto, o Snr. D. Pedro II,

acompanhado da Imperatriz e de seus semanários,

tom aram o trem da estrada de ferro Príncipe do

Grão-Pará, chegando á estação de S. Francisco

Xavier, ás 2 horas da tarde.

D'ahi seguiram em coche para o paço da cidade,

onde chegaram ás 3 horas.

Alguns minutos depois chegaram também os

Snr s .  Conde e Condessa d'Eu, que se fizeram trans

portar por mar até o cáes Pharoux.

A s 4 horas da tarde compareceu no paço o

Visconde de Ouro Preto em companhia do Barão

de Miranda Reis.

A sua conferência com o Im pera dor d urou ape

nas cinco minutos, pedindo o Visconde de O uro

Preto a demissão collectiva do ministério.

Manifestou então o Snr. D . Pe dro II desejos de

conferenciar com o sena do r Silveira M artins, que

não se achava na Corte.

Então o Imperador e a Condessa d'Eu, sua filha,

mandaram procurar o conselheiro Andrade Figueira

e convidal-o a chegar ao paço.

S. Exc . foi enco ntrado pouco depois e obedeceu

áquelle chamado.

Ao chegar ao paço, foi elle recebido pela Prin-

ceza Imperial que, na dolorosa emergência em que

se achava, exprimiu de modo muito honroso, para

aq ue lle est ad ista , a confiança qu e a família impe

rial dep ositav a em seu caracter e em seus conse-

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— 6 4 —

l h o s .

  P e d i u - l h e e m s e g u i d a s e u p a r e c e r s o b r e o s

a c o n t e c i m e n t o s q u e n a q u e l l e m o m e n t o s u c c e d i a m - s e

n a c i d a d e .

O c o n s e lh e i ro A n d r a d e F i g u e i r a , c o m f r an q u e z a

e lealda de, declarou a S . A. qu e a si tuaç ão er a

grav íssim a ; pois se t ra ta va d e um a sed ição mil i tar,

c o n t r a a q u a l e n t e n d i a q u e o g o v e r n o n ã o t i n h a

m e i o s d e r e a g i r .

S . A . d e c l ar o u a o S n r A n d r a d e F i g u e i r a - q u e o

Imperador desejava ouvil-o, e pediu-lhe que fa lasse

a S . M . c o m a c o s t u m a d a e n e r g i a , s e m e s c r ú p u l o

em dizer a verdade inteira , por dura que fosse .

E m s e g u i d a c o n f e re n c i o u o c o n s e l h e i r o A n d r a d e

Figueira com S. M. que a principio se mostrou in

t e i r a m e n t e d e s c o n t e n t e d a g r a v i d a d e e x c e p c i o n a l

d o s f a ct o s, p a r e c e n d o s e g u r o d e q u e a s c o u s a s t e

riam afinal êx ito feliz, e se ria m re m o vi d as as diffi-

c u l d a d e s .

A ' m e d i d a , p o r é m , q u e a c o n f e r ê n c i a a d i a n t a v a - s e ,

o I m p e r a d o r i a- se m o s t r a n d o i m p r e s s i o n a d o c o m a

l i n g u a g e m s e v e r a e f r a n c a d e s e u c o n s e l h e i r o , t e r

m i n a n d o p o r d e c l a r a r - l h e q u e d a q u e l l a v e z f ar ia o

q u e l h e f o s s e a c o n s e l h a d o p e l o s v e r d a d e i r o s e l e a e s

a m i g o s d a s i n t u iç õ e s , a o q u e o S n r . A n d r a d e F i

g u e i r a r e t o r q u i u c o m e s t a p h r a s e :

  Infelizmente, Senhor, é muito tarde.

  »

C o n s t a m a i s q u e , d i z e n d o o I m p e r a d o r q u e co n

f ia va a i n d a n o b o m s e n s o d e s e u s a m i g o s , o S n r .

A n d r a d e F i g u e i r a , c o m o d e v i d o r e s p e i t o , p o n d e r o u

a S . M . q u e «

 se tivesse havido bom senso, as cousas

não teriam chegado áquelle extremo.  ».

A o t e r n o t i c i a s d o f e r i m e n t o d o B a r ã o d e L a d a

r i o S . M . t e l e g r a p h o u p e d i n d o n o t i c i a s , e n o p a ç o

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— 6 5 —

da cidade por diversas vezes pediu informações,

mostrando-se muito afrlicto pelo acontecimento.

A gu ar da do paço foi confiada a uma força de

70 praças- do 10

o

  ba talh ão de infanteria, com or

dens termina ntes de negar, entra da a quem quer

que fosse.

No largo do paço, qua ndo ali estava em fôrma

o corpo de policia da província do Rio de Janeiro,

foi dep os to o tenen te-coro nel H ono rio Lima, assu

mindo o commando d'aquelle corpo o bravo e dis-

tincto official do ex ercito cor on el F on se ca e Silva.

Orde nou o digno com ma ndan te ao major Des-

champs que fizesse recolher a força ao quartel.

Seguiu imm ediatam ente o corpo policial para

Nictheroy.

E m N i c t h e r o y

A s 5 horas da manhã embarcou em Nictheroy,

para est a C orte , uma força de 170 praça s, com-

mandada pelo major Deschamps.

A's 11 horas seguiu outra força commandada

pelo tenente-coron el H onorio Lima, com m andante

do corpo.

Para o serviço do qua rtel, prisões, policiamen to

das ruas e guarnições do Thesouro Provincial foram

destacados officiaes da guarda nacional, sendo n'essa

occasião aga rrado s carreg adore s e outros hom ens

do povo, que t iveram de montar guarda, na ausên

cia da força policial.

Para o quartel seguiram os Sr s. Carlos Affonso,

presidente da província do Rio de Janeiro, chefe de

policia e de pu tad os provinciaes Rufino Fu rtad o,

Carneiro Leão, Alves Cunha e outros.

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— 6 6 —

A's duas horas da tarde desembarcou em Nicthe

roy, de volta da Co rte, o corpo policial, comm an-

dado pelo coronel Francisco Victor da Fonseca e

Silva, que foi pelo povo recebido, na estação das

barcas F erry e na passag em pelas rua s, com enthu-

siasticos vivas.

Ao chegar o corpo policial ao quartel, o Sr. Car

los Affonso pe rgu nto u ao coronel Fo nse ca e Silva

em que caracter ali se apresentava.

—N o de comm andante deste corpo, respondeu

aquelle official.

— Não o reconheço como tal, redarguiu o Sr.

Carlos Affonso.

V endo, poré m , qu e a officialidade do corp o e to

das as praças reconheciam o Sr. Fonseca como seu

com m and ante , disse o Sr. Carlo s Affonso :

—N'este momento deixo a presidência da provín

cia. Occupe-a també m.

— Cum pro ordens, redarguiu o coronel Fonseca

e Silva : sou apenas commandante de corpo policial.

Retirou-se o Sr. presid ente da província, acompa

nhado das pessoas que com elle estavam.

O povo conservou-se calm o, assistindo em boa

ordem a todo esse movimento.

N a G a m a r a M u n i c i p a l

Os Srs . veread ores estiveram reunidos, das 10horas da manhã até ás 3 horas da tarde sob a pre

sidência do Dr. Ferreira Nobre.

Cerca de 3 horas da tar de , chegou ao mesmo

edifício o Sr. Vereador José do Patrocínio, acompa

nhado do povo e imm ediatamen te foi votada a se

guinte representação :

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— 6 7 -

Ex m s. Srs. representantes do exercito e da armada na

cionaes.— Temos a honra de comm unicar-vos que, depois

da gloriosa e nobre resolução que

  ipso

 facto

  depoz a mo

narehia brazileira, o povo, por órgão s espontâneo s e pelo

seu representante legal n'esta cidade, reuniu-se no edifício

dá câmara municipal, e, na fôrma da lei ainda vigente, pro

clamou como nova forma de governo do Brazil a Repu

blica.

« Attend endo ao que, os abaixo assignados esperam que

as patrióticas classes militares sanecionem a iniciativa popu

lar, fazendo imm ediatam ente decretar a nova forma repu

blicana do governo nacional.

« Rio de Janeiro, 15 de Novembro de 1889.

V o t a d a a r e p r e s e n t a ç ã o , o r o u o D r . S i lv a J a rd i m .

H o u v e u m m o m e n t o e m q u e o p o v o p r e t e n d e u

d e s p e d a ç a r o s r e t r a t o s d o s S r s . D . P e d r o I , D . P e

d r o I I e d a S r a . c o n d e s s a d ' E u ; u s a n d o , p o r é m , d a

p a l a v r a o D r . L o p e s T r o v ã o , a c o n s e lh o u a o s r e p u

b l i c a n o s q u e n ã o m a r c a s s e m a s u a v i c t o r i a d e s p e

d a ç a n d o o s r e t r a t o s .

I m m e d i a t a m e n t e f o i a c o l h i d a a i d é a n o m e i o d e

a p p l a u s o s e o p o v o r e t i r o u - s e e m p e r f e i t a o r d e m .

C o m m e r c i o   e  R e p a r t i ç õ e s

L o g o q u e fo i c o n h e c i d o o m o v i m e n t o , o c o m m e r

cio fechou as su as po rta s e as rep art içõ es publicas

s u s p e n d e r a m o s e u e x p e d i e n t e .

A a l f â n d e g a e a g u a r d a - m o r i a f e c h a r a m - s e d e s d e

q u e o e x e r c i t o d i r i g iu - s e e p a r l a m e n t o u c o m a

f o r ç a d e s t a c a d a n o a r s e n a l d e m a r i n h a .

11

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— 6 8 —

P r i s ã o d o V i s c o n d e d e O u r o P r e t o

A's 6 e meia horas da tarde, sabendo o bravo

M arechal D eod oro que o Visconde de O uro Preto

reunido a alguns am igos n uma casa á rua da Ajuda

deliberava sobre a organisação de um gabinete li

beral, ordenou ao coronel Germ ano de An drade

Pinto, commandante do corpo de policia, que com

um piquete prendesse-o. y

A dete nçã o effectuou-se, e, esc oltad o po r uma

força, o Visco nde recolheu-se ao estado-m aior do

i.° regimento de cavallaria, em S. Christovam.

A prisão foi feita pelo ten en te de estado-m aior

Fernando Augusto da Veiga e Dr. Teixeira de Car

valho.

N a s r u a s

Durante todo o dia e até alta hora da noite o povo

percorreu as ruas do cen tro da cidade, formando

diversos grupos precedidos de bandas de musica.

Exp ansiva em seu enthusiasm o, a população er

guia vivas e saudações á imprensa livre, aos bravos

do exercito e da arm ada, ao M arechal D eod oro , a

Quintino Bocayuva, ao  O Paiz  e á Re publica Brazi

leira.

Um facto notável convém aqui accentuar: ao

nosso conhecim ento não cheg ou noticia alguma so

bre qualquer conflicto ou ferimento.

Pacifico e ordeiro, aspirando a liberdade, o povo

fluminense proclamo u a transforma ção de seu go

verno, sem reg ar sua victoria com sangu e irmão e

amigo.

A 's 7 ho ras da noite um official de cavallaria

perco rreu ás ruas da cidade, dirigindo a segu inte

proclamação :

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— 6 9 -

« O Marechal Deodoro manda dizer que o povo pôde

« ficar tranquillo. A cidade está en tregu e á guarda do 7.0

« batalhão de infanteria e morrerá   o   ousado que tentar arrom-

« bar uma porta.»

0 d e s f i l a r d a s t r o p a s

Cerca de 1 hora da tard e as forças partiram do

campo da Acclamação pelo lado da câmara municipal,

percorrendo a rua Visconde do Rio Branco, Praça da

Constituição, rua do Theatro, largo de S. Francisco

de Paulo, ruas do Ouvidor e Primeiro de Março.

A' frente da tropa vinham os Srs Marechal Deo

doro, Quintino Bocayuva, Benjamim Constant e

gra nd e num ero de officiaes, dos qu ae s mu itos da

guarda nacional .

D as janellas e sacadas, das porta s e ruas era

sau dad a a força do modo mais enthusiastico, com

palmas e vivas, com acenos de lenços e bandeiras.

Na rua do O uvidor discursaram brilhantemente

de varias jan ellas os cidad ãos D r. Silva Jardim,

Aristides Lobo e José do Patrocínio.

A

  P o l i c i a

Por deleg ação do gov erno provisório, assumiu no

dia 16, o cargo de chefe de policia do Rio de Ja

neiro o capitão de estado maior de artilheria Vicente

Antônio do Espirito Santo.

O conselheiro Basson, ao receber communicação

d'aquelle official entregou-lhe o exercido do cargo,

reunindo os D rs. de lega dos , secretario e pessoal da

repartição, a quem communicou o occorrido, apre-

sentando-os ao capitão Espirito Santo.

Lo go retirou-se o conselheiro Basson, acompa

nhado dos Dr s . delegados.

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— 70 —

0 T e l e g r a p h o

P a r a q u e d o o c c o r r i d o f o s s e m t r a n s m i t t i d a s n o t i

c ia s t e l e g r a p h i c a s c o m t o d a a e x a c t i d ã o , o M a r e c h a l

D e o d o r o e x p e d i u a o D i r e c t o r d o s T e l e g r a p h o s a s e

g u i n t e o r d e m , e n t r e g u e a o i , ° t e n e n t e J o s é A u g u s t o

V i n h a e s :

« Em nome do governo provisório ordeno ao telegrapho

que facilite tudo ao i.o tenente José Augusto Vinhaes.—

Rio d e Janeiro, 15 de N ovem bro de 1889. »

O B a r ã o d e C a p a n e m a , a o s e r d ' i s to i n t i m a d o

d e c l a r o u q u e s ó p o r m e i o d a f o rç a o u c o m o r d e m

e s c r i p t a c u m p r i r i a o q u e s e l h e m a n d a v a .

E m c o n s e q ü ê n c i a d ' is s o , o i . ° t e n e n t e V i n h a e s

d e u - l h e e s c r i p t a s a s s e g u i n t e s l i n h a s :

« Por ordem do M arechal De odo ro, chefe do governo

provisório, intimo ao Sr. B arão de Capanema, para que me

entregu e a repartição a seu cargo e que lhe foi confiada

pelo extincto governo imperial e gabinete 7 de Junho, sendo

que no caso de resistência usarei dos meios que me foram

dados.

 »

A t o d o s o s n o s s o s c o r r e s p o n d e n t e s , q u e r d a e s

t r a n g e i r o , q u e r d o i m p é r i o , t r a n s m i t t i r a m - s e i m m e -

d i a t a s n o t ic i as t e l e g r a p h i c a s , n a r r a n d o o g r a n d e s uc -

c e s s o .

F o i e x p e d i d o o r d e m t e l e g r a p h i c a p a r a o D e s t e r r o ,

afim d e s e r p r e s o , a o c h e g a r a e s s e p o r t o a b o r d o

d o p a q u e t e

  Rio Pardo,

  o e x - s e n a d o r S i l v e i r a M a r t i n s .

D E C R E T O N .

  1 . — D E

  15

  D E N O V E M B R O D E

  1 8 8 9 .

O g o v e r n o p r o v i s ó r i o d o s E s t a d o s - U n i d o s d o

Brazi l decreta :

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— 71 —

A r t . i . o — F i c a p r o c l a m a d a p r o v i so r i a m e n t e e d e c r e t a d a

com o forma de gov erno da nação brazi leira—a Rep ublica

F e d e r a t i v a .

Art . 2 .0—As províncias do Brazil , reunidas pelo laço da

federação, f icam consti tuindo os Estados-Unidos do Brazil .

A rt . 3 .0—Cada um jd 'esses estado s, no exercício de sua

legit ima soberan ia, dec retará op por tuna m ente a sua consti

tuição definitiva, elegendo os seus corpos deliberantes e os

seus governos locaes.

A rt . 4.0 Em qu an to, pelos meios regulares, não se proce

der á eleição do Congres so Consti tuinte do Brazil e bem

assim á eleição da s legislatu ras de cada um dos estad os,

será regida a nação brazi leira pelo gov erno provisório da

R e p u b l i c a ; e o s n o v o s e s t a d o s p e l o s g o v e r n o s q u e h a ja m

procla ma do, ou, na fal ta d 'estes, po r gov ernado res delega

dos do governo provisório .

A r t . 5 .0 — O s g o v e r n o s d o s e s t a d o s f e d e r a d o s a d o p t a r ã o

com urgência todas as providencias necessárias para a ma

nuten ção da orde m e da segu rança publica, defeza e ga

rantia da l iberdad e e dos d irei tos dos cida dãos, quer nacio

naes, quer estrangeiros.

A r t . 6 . 0— E m q u a l q u e r d o s e s t a d o s, o n d e a o r d e m p u

blica for per turbada e onde fal tem ao governo local meios

efficazes pa ra reprim ir as deso rden s e as seg ura r a paz e

tranqüil idade publicas, effectuará o gov erno provisório a

intervenção necessária para, com o apoio da força publica,

assegurar o l ivre exercício dos direi tos dos cidadãos e a

l ivre acção das authoridades const i tuídas.

Art . 7 .0—Sendo a Republica Federat iva Brazileira a forma

de Go verno procla m ado , o go vern o provisório não reco

nhece e nem recon hece rá nenh um governo local contrar io

á forma republicana, aguardando como lhe cumpre o pro

nunciam ento definit ivo do voto da nação, l ivremen te ex

pressado pelo suffragio popular .

A r t .

  8.0—A

  força publica regular , representada pelas

três arm as do exerc i to e p ela arm ada nacional, de que

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— 72 —

existem guarnições em contingentes nas diversas províncias,

continuará subordinada e exclusivamente dependente do

governo provisório da Republica, podendo os governos lo-

caes, pelos meios ao seu alcance, decretar a organisação de

uma guarda cívica destinada ao policiamento do território

de cada um dos novos estados.

Art. 9.0—Ficam igualmente subordinadas ao governo pro

visório da Repub lica todas as repartiçõ es civis e militares

até aqui subordinadas ao governo central da nação brazi

leira.

Art. 10.0   -   O território do m unicípio n eutro fica proviso

riamente sob a administração immediata do governo provi

sório da Rep ublica e a cidade do Rio de Janeiro, consti

tuída também provisoriamente sede do poder federal.

Art. 11.°—Ficam encarregados da execução d'este de

creto, na pa rte que a cada um pertença, os secretários de

estado das diversas repartições ou ministérios do actual go

verno provisório.

Rio de Janeiro, 15 de Novembro de 1889.

M a r e c h a l

  Manoel D eodoro da Fonseca,

  chefe do

G o v e r n o P r o v i s ó r i o . —

Arist ides Lobo.

Ruy Barboza.

Quintino Bocayuva.

Benjamim Constant.

  Wan-

denkolk.

D .

  P e d r o d e A l c â n t a r a

D u r a n t e t o d a a n o i t e d e 1 5 d e N o v e m b r o c i r -

c u m d o u o p a ç o u m c o n t i n g e n t e d e c a r a b i n e i r o s d o

i . ° r e g i m e n t o d e c a v a l l a r i a , s e n d o g u a r d a d a c a d a

porta do edif íc io por t rês praças.

S . M . p e r n o i t o u n o p a ç o .

H o n t e m p e l a m a n h ã o c o m m a n d a n t e d a f o r ç a d o

m e s m o p a ç o r e c e b e u o r d e m d o g o v e r n o p r o v i s ó r i o

p a r a t o r n a r i n c o m m u n i c a v e l a p e s s o a d o S r . D . P e

dro II .

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— 73 —

Po r esse motivo foi prohibida a entra da a toda e

qualquer pessoa no edifício.

F i l h o s d o C o n d e d E n

Achando-se em Petropolis os filhos do Conde

d'Eu , e tendo sido ordena do o em barqu e da família

imperial propalou-se o boato, depois verificado sem

fundamento, de que algumas pessoas queriam fazer

uma manifestação aos filhos do Conde d'Eu, que re

gressavam de Petropolis em uma barca, ao encontro

d'esta mandou o governo provisório duas lanchas

do arsenal de marinha, com 45 praças do batalhão

naval, sob o comm ando do i .° tene nte No brega de

Va sconcellos, a fim de ser evit ado o que se dizia

projectado.

N o A r s e n a l d e G n e r r a

Por ordem superior foram no dia 16 de Novem bro

pela manhã desencaixotadas e armadas 8 metralha

doras do sy stem a Com blain, que se achavam no

mesmo arsenal .

Para esse fim foram destacados operários das

officinas em gra nd e num ero, q ue se em prega ram

n'esse serviço até ás 5 horas da tarde.

A's 6 horas da tarde a guarda do arsenal foi refor

çada por 50 praças do io.° batalhão de infantaria e

25 praças do corpo de alumnos da escola militar.

As 8 metralhadoras foram collocadas no centro do

pateo do arsenal com direcção ao portão, estando

todas municiadas.

A secre taria da ma rinha te ve dura nte o dia 15 as

suas portas fechadas, sendo facilitada a entrada pelo

portão principal do arsenal de marinha.

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— 74

O s n a v io s d e g u e r r a s u r t o s n o p o r t o c o n s e r v a r a m

a s s u a s g u a r n i ç õ e s d e p r o m p t i d á o d u r a n t e o d i a,

c o n s e r v a n d o - s e a s s i m a t é s e g u n d a o r d e m .

N a n o i t e d e 15 e s t i v e r a m d e p r o m p t i d ã o n o a r s e

n a l d e m a r i n h a 1 0 0 p r a ç a s d o c o r p o d e i m p e r i a e s

m a r i n h e i r o s , c o m p e t e n t e m e n t e m u n i c i a d a s .

P e l a m a n h ã f o ra m o s i m p e r i a e s r e n d i d o s p o r so l

d a d o s d o b a t a l h ã o n a v a l .

D ' e s t e c o r p o p e r m a n e c e r a m d u r a n t e a n o i t e d o

m e s m o d i a u m a p a r t e n ó C a m p o d a A c c l a m a ç ã o e

o u t r a n o q u a r t e l d e p o l i c i a .

No dia 18 esta ul t ima ala recolheu-se ao arsenal

e a q u e l l a a o r e s p e c t i v o q u a r t e l .

P r e v e n ç õ e s d o G o v e r n o

F o i c e r c a d a n a m a d r u g a d a d o d i a 1 6 a c a s a d o

t e n e n t e - c o r o n e l M a l v i no R e i s , c o m m a n d a n t e d o i . °

c o r p o d e c a v a l la r i a d a g u a r d a n a c i o n a l , c o m o f im

d e s e r p r e s o o e x - m i n i s t r o d a j u s t i ç a , C â n d i d o L u iz

M aria de Oliveira , qu e co ns tav a ach ar-s e al i refu

g i a d o . S ó foi e n c o n t r a d a a s u a f am í l ia .

M e n s a g e m   a  D . P e d r o  II

E ' e s t a a m e n s a g e m t e x t u a l , q u e o c h e f e d o g o

v e r n o p r o v i s ó r i o d i r i g i u a o S r . D . P e d r o d e A l c â n

tara , sol ic i tando a sua re t i rada e de sua famíl ia do

ter r i tó rio brazi le iro :

« SENHOR.—Os  sentimentos democráticos da nação, ha

muito tempo preparados, mas despertados agora pela mais

nobre reacção do caracter nacional contra o system a de

violência, de corrupção, de subversão de todas as leis exer

cidas n'um g ráo imcomp aravel pelo ministério 7 de Junho ,

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— 75 —

a polí tica system atica de at te nt ad os do g overno imperial

n 'estes úl t imos tempos, contra o exerci to e a armada, polí

tica odiosa á naç ão e profun dam ente repellida por esta, o

esbulho dos direi tos d 'essas duas classes, que, em todas as

époc as, tem sido entre nós, a defeza da orde m, da consti

tuição, da l iberdade e da honra da pátr ia, a intenção ma

nifestada nos acto s de vossos m inistros e confessada na sua

imprensa, de dissolvel-as e aniquilal-as, substituindo-as por

elem ento s de co m pre ssã o official, qu e foram sem pre , entre

nós,

  o b j e c t o d e h o r r o r p a r a a d e m o c r a c i a l i b e r a l ; — d e t e r

minaram os acontec ime ntos de hon tem , cujas circumstan-

cias conheceis, e cujo caracter decisivo cer tamente podeis

avaliar .

« E m face d'esta situa ção , peza-nos dizer-vol-o, e não o

fazemos senão em cumprimento do mais custoso dos deve-

res,  a p rese nç a da família im perial no paiz, an te a nova

situação que lhe criou a revolução irrevogável do dia 15,

ser ia absurda, impossível e provocadora de desgostos, que

a salvação publica nos impõe a necessidade de evitar .

« Ob edec end o, pois, ás exigências urge ntes do voto na

cional, com todo o respe ito devid o á dign idade das func

ções publicas que acabais de exercer , somos forçados a

notificar-vos qu e o go ve rno prov isório espe ra de voss o pa

triotis m o o sacrifício de d eix ard es o território brazileiro,

com a vossa famil ia no mais breve termo possível .

« Para esse fim se vos e stabelece o prazo máx imo de 24

h o r a s , q u e c o n t a m o s n ã o t e n t a r e i s e x c e d e r .

« O tran spo rte vosso e d os vossos para um po rto da

E u r o p a c o r r e r á p o r c o n t a d o E st a d o , p r o p o r c io n a n d o - v o s

para isso o gov erno provisório um navio com a gua rnição

militar precisa, effectuando-se o embarque com a mais ab

soluta seguran ça da vossa pess oa e de tod a a vossa fami

l ia, cuja com mo didad e e saúde serão zeladas com o maior

desvelo na t ravessia, e continuando-se a contar-vos a dota

ção q ue a lei vos asseg ura, a té que sob este pon to se

p r o n u n c i e a p r ó x i m a A sse m b l é a C o n st i t u i n t e .

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— 76 —

«Estão dadas todas as ordens a fim de que se cumpra

esta deliberação.

« O paiz conta que sabereis imitar na subm issão aos seus

desejos o exemplo do primeiro impe rador no dia 7 de

Abril de 1831.

Rio de Janeiro, 16 de Novembro de 1889.

M a r e c h a l

  Deodo ro da Fonseca.

R e s p o s t a d o e x - I m p e r a d o r

« A'vista da representação que me foi entregue hoje, ás

3 horas da tarde, resolvo, cedendo ao império das circums-

tancias, partir com toda a minha família par a a Eu ropa

amanhã, deixando esta pátria de nós estremecida, á qual

me esforcei por dar constantes testemunhos de entranhado

amor e dedicação du rante quasi meio século, em que des

empenhei o cargo de chefe do Estado.

« Ausentando-m e, p ois, eu, com tod as as pessoas de mi

nha família, conservarei do Brazil a mais saudosa lembrança,

fazendo ardentes votos por sua grandeza e prosperidade.

Rio de Janeiro, 16 de Novembro de 1889.

Pedro de Alcântara.

D u r a n t e a n o i t e d e 15 e a t é a m a d r u g a d a d e

1 6 f o i o p a ç o d a c i d a d e r o n d a d o e g u a r d a d o , a l é m

d a g u a r d a r e s p e c t i v a , p o r u m a f o rç a d e c a r a b i n e i r o s

d o i . ° r e g i m e n t o d e c a v a l l a r i a .

O p o v o l e v a d o p e l a c u r i o s i d a d e a g g l o m e r a v a - s e

d e s d e a s 8 h o r a s d a n o i t e p e l a s p r o x i m i d a d e s d o

p a ç o , s e n d o o e x e r c i t o o b r i g a d o a d e s v i a r o s g r u p o s

p a r a p o n t o s d i f f e r e n t e s a t é a h o r a d o e m b a r q u e d o

S r . D . P e d r o d e A l c â n t a r a .

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— 77 —

E m b a r q u e d a F a m í l i a I m p e r i a l

D epo sta a coroa, o Sr. D . Pe dro de Alcântara

e sua família resolveram no dia 17 retirarem-se do

Brazil, no sentido da mensagem que lhe foi dirigida.

T ud o com binado, estabelecida a fôrma da partida

e o navio que devia conduzil-os, o Sr. D. Pedro e

sua família sahiram do paço da cidade ás 3

  l

/i  horas

da madrugada para embarcarem no cáes Pharoux.

O Sr . D . Pedro de Alcân tara, a Imperatriz, a

Sra. D . Izabel, seu esposo e D. Pedro Au gusto

transportaram-se n'um carro até o cáes, guardando

as portinho las do vehiculo os Sr s. coronel M allet

e tenente general Miranda Reis.

O Dr. Motta Maia, almirante Tamandaré, dama

Baroneza Fonseca Costa, aias ao serviço da Impe

ratriz, DD. Lividia Espozel e Joanna Moura seguiram

a pé até o logar do embarque.

Precediam o prestito os alumnos da escola supe

rior de guerra tenentes Antônio José Vieira Leal e

José Raphael Alves, alferes João Baptista da Motta e

Affonso Deligorio Doria, todos em primeiro uniforme.

Lo go depois seguia uma escolta de qu atro artífi

ces do arsenal de guerra.

Por occasião do em barq ue o largo do paço con

servou-se isolado, vendo-se unicamente ali as praças

do serviço de policiamento.

No cáes Pharoux embarcaram o Snr . D. Pedro e

sua família e comitiva descripta numa lancha a va

por, que já os aguardava, tendo a bordo um piquete

ao mando de um official.

Levados até a bordo do vapor Parnahyba a offr

cialidade d'esse navio recebeu a família do Snr. D-

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— 78 —

Ped ro com todas as provas de respeito e conside

ração.

Deste vaso de guerra regressaram então para

a terra o coronel Mallet, general Miranda Reis, pi

quete e alumnos da escola superior de guerra.

Mais tarde desembarcou também do Parn ahyba o

S nr . a lmir ante Tamandar é .

Es te navio deixou o porto ás 9 horas da ma

nhã, com destino á ilha Grande, onde aguardou a

chegad a do paq uete nacional Alago as, fretado pelo

governo provisório para conduzir a família imperial

á Lisboa e que foi provido larga e luxuosam ente

de tudo quan to pude sse servir aos comm odos e pas-

sadio dos viajantes.

O paquete  Alagoas  levand o já içada a flamm ula

republicana, sahiu á 1

 l

/i  horas da tarde de 17.

O cruzador

  Parnahyba,

  com a familia imperial,

conde de Aljezur e M otta-M aia, Bar ão e Barone za

de Muritiba, sahiu ás 10 horas da manhã.

As 5 horas su spend eu do po rto o couraçado Rio>

chuelo,  designado pa ra comboiar o paqu ete  Alagoas

até que seja transposta a linha do Equador.

A o  Alagoas  foi determinado não poder tocar em

po rto algum do Brazil, demorando-se unicam ente em

S. Vicente o tempo indispensável para receber com

bustível.

O paço da cidade foi fechado, logo depo is do

em barqu e do Snr . D . Ped ro e familia, sen do a

guarda externa do palácio de S. Christovam confiada

a um piquete de cavallaria.

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— 7 9 —

B e n s d a d y n a s t i a d e p o s t a

N ã o t e n d o s i d o c o m m u n i c a d o a o g o v e r n o p r o v is ó

r i o a in d i c a ç ã o d a p e s s o a q u e p o r p a r t e d o e x -i m

p e r a d o r e d o s p r í n c i p e s c o n d e s d ' E u e d e S a x e f i

c a s s e g e r i n d o e g u a r d a n d o a s p r o p r i e d a d e s , b e n s e

j ó i a s p e r t e n c e n t e a e s s a s p e s s o a s , o g o v e r n o p r o v i

s ó r i o n o m e o u o m a r q u e z d e P a r a n a g u á d e p o s i t á r i o

e z e l a d o r d ' e s s e s m e s m o s b e n s , c o n c e d e n d o a e s s e

c i d a d ã o o d i r e i t o d e e s c o l h e r o s a u x i l i a r e s q u e d e

viam ajudal-o n 'essa honrosa tarefa .

5.000:000$000

O g o v e r n o p r o v i s ó r i o d a R e p u b l i c a d o s E s t a d o s -

U n i d o s d o B r a z i l, q u e r e n d o p r o v e r á d e c ê n c i a d a

p o s i ç ã o e e s t a b e l e c i m e n t o d a f a m il ia d a d y n a s t i a

d e p o s t a , r e s o l v e :

« A rt. i.o Conceder de uma só vez a quantia de

.ooo:ooo$ooo.

« A rt. 2.° Essa quantia não prejudica as v antagens

assegu radas ao chefe da dynas tia deposta e sua familia na

mensagem do governo provisório hoje datada.

« A rt. 3.0 Revogam -se as disposições em contrario.

« Rio de Janeiro, 16 de No vem bro de 1889.—Pelo ma

rechal

  Manoel Deodoro da Fonseca

— o ministro do interior

Aristides da Silveira Lobo.

0 S r C â n d i d o O l i v e i r a

A ' e n t r a d a d a n o i t e d e 17 foi p r e s o o e x - m i n i s t r o

d a j u s t i ç a C â n d i d o d ' 0 1 i v e i r a , q u e e s t a v a r e f u g i a d o

n o E n g e n h o N o v o , n a c a s a d e r e s id ê n c ia d o D r .

G u i d o d e S o u z a C a r v a l h o .

E m s e g u i d a á p r i s ã o o S n r . C â n d i d o d ' 0 1 i v e i r a

d i r i g i o a o m i n i s t r o r e s p e c t i v o a s e g u i n t e p e t i ç ã o :

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— 80 —

Ex m . Snr. Dr. Ruy Barboza, m inistro da justiça do go

verno provisório.

< Cândido Luiz Maria d'01iveira deseja seguir com sua

familia para a Europa no primeiro paquete que d*aqui

partir.

i Roga, pois, á V. Ex c. a graça de permittir esse em

barque com as garantias necessárias para a sua segurança.

« Corte 16 de Novembro de 1889.

Cândido Luiz Maria d Oliveira.

O m i n i s t r o d a j u s t i ç a d e s p a c h o u a s s i m e s s a p e

tição :

« O peticionario tem a mais plena faculdade de ficar no

paiz ou sahir d'elle, como, quando e para onde lhe convier.

« Precisamente para segurança da sua pessoa, porém tem

resolvido o gov erno confial-o á gua rda de um official sem

prejuízo da sua liberdade de acção e locom oção.

« Rio, 17 de Novembro de 1889.

Ruy Barboza.

0 V i s c o n d e d e O n r o P r e t o

O V i s c o n d e d e O u r o - P r e t o d e s c e u d o q u a r t e l d o

i . ° r e g i m e n t o d e c a v a l la r i a, e m S . C h r i s t o v a m , á s

9 h o r a s d a m a n h ã , e m c a r r o f e x a d o c o m o S n r .

Q u i n t i n o B o c a y u v a .

O carro era escoltado por off ic iaes d 'aquelle regi

m e n t o .

A s 10 h o r a s e m b a r c a r a m n o a r s e n a l d e g u e r r a ,

e m l a n c h a d o a r s e n a l d e m a r i n h a , o s S n r s . A f f o n s o

C e l s o , s u a s e n h o r a , g e n r o , A f fo n so C e l s o J ú n i o r e

familia d 'e ste s, se gu id os dos officiaes do i . ° regi

m e n t o , q u e o s a c o m p a n h a r a m a t é a b o r d o d o p a

q u e t e  Montevidéu,  q u e s e a c h a v a f u n d e a d o e m n o s s o

p o r t o .

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— 8 1 —

O Visconde de Ouro-Preto comprimentou com affa-

bilidade a seus amigos Dantas, Conde de Figueiredo

Rodolpho D antas , Lourenço d 'Albuquerque, Carlos

Affonso, Ferreira Sampaio, Hasselmann, guarda-mór

da Alfândega, etc.

No sem blante do Visconde não se mo strava ne

nhuma agitação, e, durante a conversação que teve

com seus am igos, não fez referencia algu m a aos

acontecimentos do dia 15.

O   Montevidéo  levantou ferro ás 5 Y2 ho ras , não

sahindo á s 4, com o estava m arcado, devido a carre

gamento de café.

Disseram varias pessoas que, durante o encontro

do Visconde de Ou ro-Preto e Quintino Bocayuva,

aquelle dissera:

— «Afinal, você é q ue é a uto r de tudo isto

—«Não creia em tal—replicou Quintino.

— «Como não

  ?

  O seu artigo— N o Capitólio —

annunciava quanto succedeu.

Quintino familiarmente e com amabilidade re

plicou :

  «Você é uma cre an ça . Basta ver a gran

deza do facto, pa ra se ter a certez a de qu e elle

não proveio de uma só cabeça. »

0 S r S i l v e i r a M a r t i n s

Partiu no dia 20 para Santa Catharina o cruzador

Paranahyba,  afim de traze r pa ra a Cap ital Fed era l

o Snr. Silveira Martins.

Ao desembarcar no Rio de Janeiro recolheu-se á

sua residência, com ordens de não sahir á rua.

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— 8 2 —

E l e i t o r e s

O g o v e r n o p r o v i s ó r i o d o s E s t a d o s u n i d o s d o B ra z il

d e c r e t a :

A rt . i .° Consideram-se elei tores, para as câm aras geraes ,

provinciaes e municipaes, todos os cidadãos brazi leiros no

gozo dos seus direi tos civis e polí t icos, que souberem ler e

escrever .

A rt . 2 .0 O ministro do inter ior , em tem po expe dirá as

instrucções e organisará os regulamentos para a qualificação

e o processo eleitoral .

A rt . 3.0 Rev ogam -se as disposições em contrar io .

Sala das sessões do gov erno p rovisório, 19 de Nove m bro

de 1889.

M a r e c h a l

  Deodoro da Fonseca

Aristides Lobo

Ruy  Barboza

M.  Ferraz de Campos Salles

Ben

jamim Constant Botelho de Magalhães

Eduardo

Wandenkolk— Quintino Bocayuva.

C o r e s d a b a n d e i r a b r a z i l e i r a

O g o v e r n o p r o v i s ó r i o b a i x o u o s e g u i n t e d e c r e t o ,

e s t a b e l e c e n d o a fô r m a e c o r e s d o n o v o p a v i l h ã o

b r a z i l e i r o .

« O g overn o provisório dos Estad os-U nidos do Brazil ,

considerando que as cores de nossa antiga bandeira recor

dam as luctas e as v ictor ias g lor iosas do exerci to e da

a r m a d a e m d e f e z a d a p á t r i a ;

Con siderando, pois, que essas cores, indep ende ntem ente

da fôrma de gove rno, sym bolisam a perp etuid ade e inte

g r i d a d e d a P á t r i a e n t r e a s o u t r a s n a ç õ e s;

A r t . i . °— A b a n d e i r a a d o p t a d a p e l a R e p u b l i c a m a n t é m

a tradição das antigas cores nacionaes—verde e amarel la—

d o se g u i n t e m o d o : u m l o sa n g o a m a r e l lo e m c a m p o v e r d e ,

ten do n o meio a esph era celeste azul , atrave ssad a po r um a

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— 83 —

zona branc a em sentido oblíquo e desc ende nte da esq uerd a

pa ra a dire ita com a leg en da « ORDEM E PROGRESSO »

ponteada por 21 estrellas, entre as quaes as da constella-

çâo do Cruzeiro dispostas na sua si tuação astronômica.

Quanto á distancia e ao tamanho relat ivos representando

os vinte Estados da Republica e o Município Neutro, tudo

se g u n d o o m o d e l o d e b u x a d o n o a n n e x o n . 1 .

A r t . 2 .

0

— As arma s nacionaes serão as que f iguram na

e st a m p a a n n e x a n . 2 .

Marechal

  Deodoro da Fonseca—Aristides da Silveira Lobo

Ruy Barboza

Quintino Bocayuva

Benjamin Constant

Eduardo Wandenkolk.

  »

N a c i o n a l i s a ç ã o

O g o v e r n o p r o v i s ó r i o d o s E s t a d o s - U n i d o s d o

B r a z il , c o n s t i t u í d o p e l o e x e r c i t o e a r m a d a e m n o m e

d a n a ç ã o :

Consideran do que o inolvidavel acontecimento de 15

de Nov em bro de 1889, que assignalando o glorioso adven to

da Republica Brazileira, f irmou os princípios da egualdade

e fraternidade que prendem os povos educados no regimen

da l iberdade e aug m enta a som m a dos esforços necessários

ás conq uistas do progres so e civi lisação da hum anidade,

resolve decretar :

A rt . i .°— São considerado s cidadãos brazileiros todo s os

estran geiro s q ue já residiam no Brazil no dia 15 de Novem

bro de 1889, salvo de cla raç ão em con trario feita per an te

a respe ctiva Intende ncia M unicipal no pra so de seis mezes

d a p u b l i c a ç ã o d e st e d e c r e t o .

A r t . 2 .

0

—Todos os estrangeiros que t iverem residência

no paiz duran te do us ann os, d esde a data do prese nte

decreto, serão considerados brazi leiros, salvo os que se

excluírem desse direi to mediante a declaração de que trata

o art . l .°

13

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— 84 —

A r t .

  3.

0

—Os

  estrangeiros natural isados por este decreto

gosa rão de todos os direi tos civis e polí t icos dos cidad ãos

n a t o s , e x c e p t o o d e c h e f e d o E st a d o .

A rt . 4 . °- -A d eclaração a que se refere os ar ts i .° e 2 .

0

será tom ada peran te o secreta r io da Intendenc ia Municipal

ou corporação que p rovisoriam ente a subst i tua, em l ivro

especialmente dest inado a tal f im e assignado pelo decla-

rante e pelo mesmo secretar io ou representante da al ludida

c o r p o r a ç ã o .

A rt . 5 .°—Ficam revog adas as disposições em contrar io .

Sala das sessões do gov erno p rovisório da Rep ublica dos

Estados-Unidos do Brazil , 15 de Dezembro de 1889, i .° da

R e p u b l i c a . — Ma r e c h a l

  Deodoro da Fonseca,

  chefe d o go

verno provisório—

Ar istid es da Silveira Lobo.

  »

C o n s p i r a d o r e s c o n t r a

  a

  R e p n b l i c a

O M a r e c h a l D e o d o r o d a F o n s e c a , c h ef e d o g o

v e r n o p r o v i s ó r i o , c o n s t i t u í d o p e l o e x e r c i t o e  armada,

e m n o m e d a n a ç ã o , c o n s i d e r a n d o :

que a nação inteira, por todos os seus órgãos de expres

são em toda s as c am adas sociaes, tem adhe rido francamente

á obra da revolução d e 15 de No vem bro ;

que essa encorp oração geral d e to das as opiniões á

fôrma republicana, crea para o gove rno provisório novos

deveres, const i tuindo depositár io desta si tuação e obrigando-o

com o tal a defendel-a com a ma ior ene rgia con tra toda s

as ameaças, até entregal-a illesa na mão da assembléa con

vocad a para vota r a futura c onst i tuição dos Estado s-Unid os

d o B r a z i l ;

que estand o apraza do para term o brevíssimo a reunião

da constituinte, tend o se de cre tad o já quasi toda s as refor

mas l iberaes, cujo adiam ento provocou a revoluç ão e es

tando em rápida elaboração as outras, tem o governo pro

visório, de sua p arte, dado toda s as arrha s possiveis de

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— 8 5 —

fidelidade aos seus compromissos para com o paiz, o qual

não cessa de retribuir-lh'o em demonstrações da mais solida

confiança;

que, em circum stancias taes o m aior de todos os d everes

imp ostos ao g ove rno é a firmeza ab solu ta e a ma is inexorá

vel severidade nas medidas tendentes á preservação da paz

e á ma nutenç ão dos interesses fundados na seguranç a da

propriedade ;

q u e ,

  estando el iminadas todas as possibi l idades de recon-

st i tuição do antigo estado de cousas, e não nos restando

sinão a Rep ublica ou a anarchia, qualq uer tentat iva contra

a sol idez da si tuação actual ser ia simplesmente um acto de

d e so r d e m , d e st i n a d o a e x p l o r a r o m e d o ;

que ser ia, da parte do governo, inépcia, covardia e

traição deixar os créditos da Repu blica a mercê dos sen

t imentos ignóbeis de fezes sociaes em penh adas em seme ar

a sozania e a cor rupç ão no espirito do soldado brazileiro,

sempre generoso, desinteresseiro, discipl inado e l iberal ;

que a perversidade de taes especulações não tem medida

senão no horror das desgraças incalculáveis, necessariamente

l igadas ao t r iumpho da desordem.

D e c r e t a :

Art . i .°—Os indivíduos que conspirarem contra a Repu

b li ca e o se u g o v e r n o ; q u e a c o n se lh a r e m o u p r o m o v e r e m

por palavras, escriptos ou actos., a revolta civil ou a indis

ciplina militar ; que tentarem suborno ou alliciação de qual

quer gêne ro sob re sold ado s ou officiaes co ntra os seus de

veres para os supe riores ou a fôrma repub licana ; que di

vulgarem nas fileiras do exerc ito e arm ad a noções falsas e

subversivas tendentes a indispol-os contra a Republica;

que usarem da em briaguez para insubordinar os ânimos dos

soldados—serão julgados mil i tarmente, por uma commissão

militar nom ead a pelo ministro da gue rra e pun ido com as

penas mil i tares de sedição.

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— 86 —

Art . 2 .°—Revogam-se as disposições em contrar io .

Sala das sessões do governo provisório dos Estados

Un idos do Brazil, 23 de D eze mb ro de 1889.— Marechal

Deodoro da Fonseca

  chefe do gov erno provisó rio—

Benjamin

Constant Botelho de  Magalhães—M.  Ferraz de Campo s

Salles—Ruy Barbosa

Eduardo Wandenkolk

  Quintino Bo

cayuva —D emeirio Nunes Ribeiro e Aristides da Silveira

Lobo.

D .   P e d r o d e A l c â n t a r a

O M a r e c h a l D e o d o r o d a F o n s e c a , c h e fe d o g o

v e r n o p r o v i s ó r i o , c o n s t i t u í d o p e l o e x e r c i t o e a r m a d a

e m n o m e d a n a ç ã o , c o n s i d e r a n d o :

Qu e o Snr . D . Ped ro Alc ânta ra depo is de acceitar e

agrade cer aqui o subsidio de

  5.000

  contos para ajuda de

custo de seu estabelecimento na Eu rop a, ao receber das

mãos do General qu e lh 'o aprese ntou, o dec reto onde se

consigna essa m edida, m uda ago ra de del iberação, decla

rando recusar sem elhante l iberal idade ;

Que repell indo esse acto do governo republicano, o Snr .

D .

  P e d r o d e A l c â n t a r a p r e t e n d e a o m e sm o t e m p o c o nt in u a r

a receber a dotação annual sua e de sua familia em vir

tude do direi to que presu m e subsistir -lhe po r força da lei ;

Que essa distincção envolve a negação evidente da legi

t imidade do mo vime nto nacional e encerra reivindicações

incompa tíveis hoje com a v onta de do paiz, express a em

tod as as suas antigas províncias, hoje estado s, e com os

interesses do povo brazileiro, agora indissoluvelmente ligados

á estabe lidade do regimen republican o ;

Que a cessação do direito da antiga familia imperial á

lista civil é conse qüên cia imm ediata da revoluç ão nacional,

q u e a d e p o z , a b o l i n d o a m o n a r e h i a ;

Q u e o p r o c e d i m e n t o d o g o v e r n o p r o v i só r i o , m a n t e n d o , a

despeito disso, essas vanta gens ao pr íncipe decah ido, era

simplesm ente uma providencia de benignida de republicana,

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— 87 —

destinada a attestar os intuitos pacíficos e conciliadores do

n o v o r e g i m e n , a o m e sm o t e m p o q u e u m a h o m e n a g e m

retrospectiva á dignidade que o ex-imperador occupara

c o m o c h e f e d e E st a d o

;

Q u e a a t t i t u d e p r e se n t e m e n t e a ssu m i d a p e l o S n r . D . P e

d r o d e A l c â n t a r a n e st e a ssu m p t o , p r e su p o n d o a so b re v i

vência de direitos extin ctos pela revolução, contem o pen

sam ento de desa utoral-a e anim a velleidades inconciliáveis

com a si tuação republicana ;

Q u e ,

  conseguintemente, cessaram as razões de ordem

polí t ica, em que se inspirara o governo provisar io, propor

cionando ao Snr . D . Pe dro de Alc ântara o subsidio de

5.00O:ooo$ooo e respeitan do tem pora riam ente a su a do

tação ;

D e c r e t a :

Art . i .°—E' banido do terr i tór io brazi leiro o Snr . D.Pe

dro de A lcâ nta ra e com élle sua familia.

A rt . 2 .°—Fica-lhe v eda do p ossuir imm oveis no Brazil ,

devendo l iquidar no prazo de dou s annos os bens dessa

espécie que aqui possuem.

A r t . 3 .

0

— E ' r e v o g a d o o d e c r e t o n. d e 1 6 d e N o v e m b r o

de 1889, que conced eu ao Snr . D . Pedro de Alcântara

5.O0O:O0O$0O0 de ajuda de custo para o seu estabelecimento

no estrangeiro.

A r t . 4 .

0

— Consideram -se extinctas , a contar de 15 deste

mez, as dotações do Snr . D. Pedro de Alcântara e sua famil ia .

A rt . 5.0 Rev ogam -se as disposições em contrar io .

B a n i m e n t o

  e

  D e s t e r r o

O M a r e c h a l D e o d o r o d a F o n s e c a , c h e f e d o g o v e r n o

p r o v i s ó r i o c o n s t i t u í d o p e l o e x e r c i t o e a r m a d a e m

n o m e d a n a ç ã o , c o n s i d e r a n d o :

Que a manutenção da ordem e da paz interna da Repu

blica é o pr incipal dever do governo provisório e const i tue

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— 88 -

um interesse social superior a toda s as conveniências que r

de ordem polí t ica, quer de ordem pessoal;

Que por actos posi t ivos e manifestações publicas depri

mentes do caracter nacional e infensos á ordem da política

estabelecida pelo pronunciamento da opinião nacional , alguns

cidadãos procura m fomentar den tro e fora do paiz o descré

dito da pátr ia por agitações que podem trazer a per turbação

da paz publica lançando o paiz ás contingênc ias perigosa s

d e u m a g u e r r a c i v i l ;

Que por mais constrangedora que seja a necessidade de

recorrer a medidas r igorosas das quaes resultem l imitações

ao pr incipio da l iberdade individual , não se pô de com tudo

subordinar o interesse superior da pátria, aos interesses indi-

viduaes dos inimigos d 'el la;

D e c r e t a :

A rt . r .o Fica m banidos do terr i tór io nacional os cidadãos

Affonso C elso de Assis Figue iredo, int i tulado Visco nde de

Ouro-Preto e Carlos Affonso de Assis Figueiredo.

A rt. 2.0 Fica de sterra do do território nacion al, com obri

gação de residir em qualquer dos paizes do continente euro-

p o

o cidadão Gaspar da Silveira Mart ins.

C o n s t i t u i n t e

O M a r e c h a l D e o d o r o d a F o n s e c a , c h e fe d o g o v e r

n o p r o v i s ó r i o d o s E s t a d o s - U n i d o s d o B r a z i l , c o n s t i

t u í d o p e l o e x e r c i t o e a r m a d a , e m n o m e d a n a ç ã o ,

c o n s i d e r a n d o :

Q u e o g o v e r n o p r o v i só ri o , p e n e t r a d o d o se n t i m e n t o d a

sua grave responsabil idade, não tem outro interesse em l imi-

tal-a na ordem do tempo, approximando a organisação dos

E st a d o s- U n i d o s d o B r a z i l ;

Que é absolutamente segura a si tuação da Republica,

havend o pa ra a sua estabil idade e consolidação a ma ior con

veniência em apressar a solemne manifestação do elei torado

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— 89 —

sobre o novo regimem político já legitimado pelo pronun

ciamento geral de toda s as opiniões do paiz ;

Que da sua dedicação ao serviço da democracia e do seu

respeito á mais franca expan são da vontad e nacional já deu

o governo provisório prova cabal e decisiva, extendendo o

suffragio eleitoral a todo s os cidadãos não analphab etos, e

decretando a grande naturalisação que chama ás urnas im-

mensas camadas populares;

Q u e

entretanto, a reunião da Constituinte demanda pro

videncias preliminares, subordinadas a certo lapso de tempo

inevitável, quae s sejam a organisação do regimen eleitoral

o alistamento do novo eleitorado, o praso indispensável á

convocação d'elle e á prep araçã o do projecto de consti

tuição ;

D e c r e t a :

A rt. i.o No dia 15 de Setem bro de 1890 se celebrará

em todo a Republica a eleição geral para a assembléa cons

tituinte, a qual compor-se-á de uma só câmara, cujos mem

bros serão eleitos por escrutínio de lista em cada um dos

Estados.

A rt. 2.0 A Assem bléa Constituinte reunir-se-á dous mezes

depois na capital da Republica.

A rt. 3.0 Revogam -se as disposições em contrario.

U l t i m a s R e f o r m a s d o G o v e r n o P r o v i s ó r i o

O go ve rn o p atr iót ic o qu e ag or a nos fe lici ta , inspi-

r a n d o - s e v e r d a d e i r a m e n t e n o s a l t o s i n t e r e s s e s d a

naçã o brazi le ira e so b o influxo de um a perfei ta

o r i e n t a ç ã o s c ie n ti fi ca , v a e m o s t r a n d o d i a r i a m e n t e o

c u n h o g e n u i n a m e n t e p o p u l a r q u e o c a r a c t e r i s a .

D e facto, a rapid ez de execu ção de lumino sas

r e f o r m a s s o c i a e s , q u e c o m a p p l a u s o e a d m i r a ç ã o g e

r a l

v ã o s e t o r n a n d o r e a l i d a d e , e n c h e d e j ú b i l o a u m

p o v o h a b i t u a d o a v e r s e m p r e l u d i b r ia d a s a s s u a s

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— 9 0 —

legitimas aspirações, no tempo do desastroso regimen

da monarehia.

O principal objecto do governo, filho das energias

populares, tão dignamente representadas no exercito

e na armada, é fazer sobresahir o titulo mais legi

timo,

  mais nobre, mais grandioso de sua origem —

a democracia.

A Pátria brazileira celebra radiosamente, suas

nupeias de ouro com o prog resso pela realisaçâo

das grandes idéas sociaes e políticas, as quaes estrel-

lam magnificamente o augusto templo da civilisação

moder na .

Nos ridentes e imm aculados cálices das rosas da

grinalda, que symbolisa o sublime consórcio da Pá

tria com o prog resso , qu e hão de brilhar estes pre

ciosos diamantes—  a grande naturalisação, a sepa

ração da Egreja do Estado e o casamento civil.

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^ S S Í S - J

Y M N O

DA PROCLAMAÇÃO

DA

R EPU BLICA BR AZILEIR A*

Seja um pall io de luz desdobrado

Sob a larga amplidão d 'estes céus

Este canto rebel , que o Passado

Vem remir dos mais torpes labéus

Seja um hymno de gloria que falle

D e e sp e r a n ç a s d e u m n o v o p o r v i r .

C o m v i sõ e s d e t r i u m p h o e m b a l e

Quem por el le luctando surgir

 1

L i b e r d a d e   L i b e r d a d e

A b r e a s a z a s so b r e n ó s

D a s l u c t a s n a t e m p e st a d e

D á q u e o u ç a m o s t u a v o z .

w

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— 9 2 —

N ó s n e m c r e m o s q 'e sc r a v o s o u t r 'o r a

T e n h a h a v i d o e m t ã o n o b r e p a i z .

Hoje o rubro lampejo da aurora

A c h a i r m ã o s, n ã o t y r a n n o s h o st i s

t

S o m o s t o d o s e g u a e s S ó f u t u r o

Saberemos, unidos, levar

N o sso a u g u st o e s t a n d a r t e q u e , p u r o ,

Bri lha, avante, da Pátr ia no al tar .

L i b e r d a d e

 

L i b e r d a d e

  1

 e t c .

Si é mister que de pei tos valentes

Haja sangue no nosso pendão,

S a n g u e v i v o d o h e r ó e T i r a d e n t e s

B a p t i so u e s t e a u d a z p a v i l h ã o

Me n sa g e i r o s d e p a z , p a z q u e r e m o s,

E' de amor nossa força e poder ,

Ma s d a g u e r r a n o s t r a n se s su p r e m o s

Heis de ver-nos luctar e vencer

 I

L i b e r d a d e

 

L i b e r d a d e

  1

  e t c .

D o Y p i r a n g a é p r e c i so q u e o b r a d o

Seja um gri to soberbo de fé

 1

Que o Brazil surja em fim libertado

S o b r e a s p u r p u r a s r e g ia s d e p é

Eia, pois, Brazi leiros, avante

Ve rdes louros c olham os louçãos I

Seja o nosso paiz t r iumphante,

L i v r e t e r r a d e l i v r e s i r m ã o s

L i b e r d a d e

 

L i b e r d a d e

  I

  e t c .

M E D E I R O S D E A L B U Q U E R Q U E .

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