Didática Da Geografia

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Didática

Citation preview

  • 7/21/2019 Didtica Da Geografia

    1/22

    Autor

    Paulo Csar Medeiros

    2008

    Fundamentos Tericos e Prticos

    do Ensino de Geografia

  • 7/21/2019 Didtica Da Geografia

    2/22

    2008 IESDE Brasil S.A. proibida a reproduo, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorizao por escrito dos autores e do detentor dosdireitos autorais.

    M488 Medeiros, Paulo Csar. / Fundamentos Tericos e Prticos do

    Ensino de Geograa. / Paulo Csar Medeiros. Curitiba:

    IESDE Brasil S.A. , 2008.

    144 p.

    ISBN: 978-85-387-0580-2

    1. Geograa. 2. Educao. 3. Cincias Humanas. I. Ttulo.

    CDU 372.8

    Todos os direitos reservados.

    IESDE Brasil S.A.

    Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482 Batel

    80730-200 Curitiba PR

    www.iesde.com.br

  • 7/21/2019 Didtica Da Geografia

    3/22

    Sumrio

    Apresentao ........................................................................................................................7

    Geograa: a cincia da Terra ...............................................................................................9Por que ensinar a Geograa? ...................................................................................................................9O encolhimento do planeta Terra .............................................................................................................10A crise socioambiental e as Cincias Humanas .......................................................................................13A Geograa no sculo XXI......................................................................................................................14

    A sistematizao do saber geogrco ..................................................................................23A evoluo da Geograa ..........................................................................................................................23As escolas de Geograa ...........................................................................................................................24Os princpios fundamentais da cincia geogrca ...................................................................................26

    Grandes conceitos da Geograa ..............................................................................................................27

    Ser humano: o construtor do espao ....................................................................................33O nascer da humanidade ..........................................................................................................................33O trabalho humano ..................................................................................................................................34Quadro comparativo doAustralopitecus afarensiscom oHomo habilis ................................................35As tcnicas de produo ..........................................................................................................................37O espao humanizado ..............................................................................................................................38

    O espao vivido e o espao percebido .................................................................................41

    O indivduo e as instituies sociais ........................................................................................................41A percepo do espao.............................................................................................................................42A cognio do espao ..............................................................................................................................43O lugar e o poder da identidade ...............................................................................................................44

    O espao representado .........................................................................................................49O que uma representao? ....................................................................................................................49A produo/representao do espao .......................................................................................................50As representaes e o contexto social .....................................................................................................51A Geograa das representaes ...............................................................................................................52

    O ensino de Geograa e os Parmetros Curriculares...........................................................59A Geograa e a Educao Infantil ...........................................................................................................59A Geograa no primeiro ciclo .................................................................................................................61A Geograa no segundo ciclo ..................................................................................................................62Construindo um sistema avaliativo ..........................................................................................................64

    O ensino de Geograa e os Temas Transversais..................................................................71A tica e a pluralidade cultural ................................................................................................................71A sade e o meio ambiente ......................................................................................................................72Geograa e educao sexual ....................................................................................................................72

    Geograa, trabalho e consumo ................................................................................................................73

  • 7/21/2019 Didtica Da Geografia

    4/22

    O eu e o outro .......................................................................................................................75Justicativa ..............................................................................................................................................75Objetivos ..................................................................................................................................................75Procedimentos Metodolgicos .................................................................................................................76Avaliao .................................................................................................................................................78

    Explorando o espao da escola ............................................................................................81

    Justicativa ..............................................................................................................................................81Objetivos ..................................................................................................................................................81Procedimentos Metodolgicos .................................................................................................................82Avaliao .................................................................................................................................................84

    Conhecendo os lugares ........................................................................................................87Justicativa ..............................................................................................................................................87Objetivos ..................................................................................................................................................87Procedimentos Metodolgicos .................................................................................................................88Avaliao .................................................................................................................................................90

    O trabalho e a organizao do espao ..................................................................................93Justicativa ..............................................................................................................................................93Objetivos ..................................................................................................................................................93Procedimentos Metodolgicos .................................................................................................................94Avaliao .................................................................................................................................................96

    A natureza e suas dinmicas ................................................................................................99Justicativa ..............................................................................................................................................99Objetivos ..................................................................................................................................................99Procedimentos Metodolgicos .................................................................................................................100Avaliao .................................................................................................................................................102

    O campo e a cidade ..............................................................................................................105Justicativa ..............................................................................................................................................105Objetivos ..................................................................................................................................................106Procedimentos Metodolgicos .................................................................................................................106Avaliao .................................................................................................................................................109

    As atividades produtivas ......................................................................................................113Justicativa ..............................................................................................................................................113

    Objetivos ..................................................................................................................................................113Procedimentos Metodolgicos .................................................................................................................114Avaliao .................................................................................................................................................116

    A cultura e os grupos sociais ................................................................................................119Justicativa ..............................................................................................................................................119Objetivos ..................................................................................................................................................119Procedimentos Metodolgicos .................................................................................................................120Avaliao .................................................................................................................................................122

  • 7/21/2019 Didtica Da Geografia

    5/22

    O espao geogrco brasileiro .............................................................................................125Justicativa ..............................................................................................................................................125Objetivos ..................................................................................................................................................125Procedimentos Metodolgicos.................................................................................................................126Avaliao .................................................................................................................................................128

    O espao geogrco mundial...............................................................................................131

    Justicativa ..............................................................................................................................................131Objetivos ..................................................................................................................................................131Procedimentos Metodolgicos................................................................................................................. 132Avaliao .................................................................................................................................................134

    Referncias ...........................................................................................................................137

  • 7/21/2019 Didtica Da Geografia

    6/22

  • 7/21/2019 Didtica Da Geografia

    7/22

    ApresentaoApresentao

    Oquestionamento norteador deste livro por que ensinar geograa. A humanidade vive umcenrio constante de mudanas, desde o sculo XV por meio das grandes rotas martimas

    iniciando as atividades mercantilistas e as relaes capitalistas, ao incio do sculo XXIcom a globalizao, o avano da tecnologia e dos meios de comunicao dividindo o mesmo espaocom catstrofes, medos, angstias e atentados terroristas.

    O estudo da geograa apresenta alguns aspectos terico-metodolgicos que orientam o ensinodessa disciplina como suporte para cidadania e formao da criana, criando uma ponte entre o espa-o vivido e o percebido por ela. Nesse sentido o trabalho do professor-educador pea fundamental

    para estabelecer referncia entre o social e o cultural para que se construa um conhecimento contnuo,uma integrao da criana com o seu ambiente e a sociedade do qual faz parte.

    O convvio com a famlia, grupos de amigos, religio, lazer e principalmente a escola so fun-

    damentais para a criao da identidade de cada um. o exemplo dos pais, amigos, dos professores eda sociedade que moldam nosso aprendizado todos os dias, sejam adultos ou crianas, pois so fun-damentais para o seu desenvolvimento.

    Ao trabalhar com o saber geogrco mundial, ou seja, com a geograa, o educador conseguedesenvolver a autonomia da criana diante da sociedade e do ambiente. a partir desses laos que sereconhecem as diferenas e semelhanas e isso contribui para o esclarecimento e enriquecimento doindivduo.

    Paulo Freire ensinou que s participa ativamente na histria e para a transformao da mesma,aqueles que tem conscincia de sua prpria capacidade de transform-la. O ponto de partida com-

    preender e apreender como o homem e suas relaes sociais, psicolgicas, econmicas, culturais eestruturais inuenciam sua transformao com o meio.

    Ento podemos dizer que ensinar geograa ensinar as geraes a conhecer e reconhecer-se,todos os dias no espao social onde tudo o que se pratica produz causa e efeito.

  • 7/21/2019 Didtica Da Geografia

    8/22

  • 7/21/2019 Didtica Da Geografia

    9/22

    Geografia:a cincia da Terra

    Paulo Csar Medeiros*

    Vivemos num mundo conquistado, desenraizado e transformado pelo titnico processo

    econmico e tecnocientco do desenvolvimento do capitalismo, que dominou os dois ou trs

    ltimos sculos. Sabemos, ou pelo menos razovel supor, que ele no pode prosseguir ad

    innitum. O futuro no pode ser uma continuao do passado, e h sinais, tanto externamente

    quanto internamente, de que chegamos a um ponto de crise histrica. As foras geradas pela

    economia tecnocientca so agora sucientemente grandes para destruir o meio ambiente, ou

    seja, as fundaes materiais da vida humana. As prprias estruturas das sociedades humanas,

    incluindo mesmo algumas das fundaes sociais da economia capitalista, esto na iminncia de

    ser destrudas pela eroso do que herdamos do passado humano. Nosso mundo corre o risco...

    Se tentarmos construir o terceiro milnio nessa base, vamos fracassar. E o preo do fracasso,

    ou seja, a alternativa para uma mudana da sociedade, a escurido.

    (HOBSBAWN, 1995, p. 562)

    Por que ensinar a Geograa?

    As diferentes naes mundiais vivem momentos de angstia e medo, as

    notcias que circulam nos meios de comunicao apresentam um cenriode catstrofes e terror. O incio do sculo XXI v suas primeiras marcas

    histricas registradas nas sucesses de atentados terroristas internacionais. Astecnologias usadas, que atualmente permitem monitorar o mundo em tempo real,ofereceram aos telespectadores de todo o mundo as cenas instantneas. O tempo eo espao so continuamente desaados pela maximizao das redes eletrnicas.

    Simultaneamente, a humanidade defronta-se com limitaes para satisfaodas necessidades bsicas de existncia e a diviso internacional do trabalho e dosrecursos naturais distanciou milhes de pessoas da possibilidade concreta da eman-

    cipao humana. Nesse sentido, observa-se um amplo esforo das cincias naturais ehumanas, principalmente no nal do sculo XX, em buscar respostas e em estimularaes concretas que permitam aos indivduos libertar-se da alienao socioespacial,superando-a.

    Paulo Freire nos ensinou que o ser humano s tem as possibilidades de par-ticipar ativamente na histria, na sociedade e na transformao da realidade se forauxiliado a tomar conscincia da realidade e de sua prpria capacidade para trans-form-la. O indivduo no pode lutar contras as foras que no compreende, a noser que descubra que ele pode. Essa conscientizao coloca o primeiro objetivo daeducao que antes de tudo provocar uma atitude crtica, de reexo, que com-

    prometa a ao.

    Mestre em Geografia pela

    Universidade Federal do

    Paran (UFPR). Graduado

    em Geografia pela Univer-

    sidade Federal do Paran

    (UFPR). Atualmente pro-

    fessor titular da Secretaria

    de Estado da Educao do

    Paran (SEED-PR) e pro-

    fessor titular do Instituto

    Modelo de Ensino Superior

    Sc Ltda.

  • 7/21/2019 Didtica Da Geografia

    10/22

    Fundamentos Tericos e Prticos do Ensino de Geografia

    10

    O conhecimento emprico do espao o primeiro estgio de desenvolvi-mento humano, servindo como fornecedor das primeiras referncias espaciais

    para o conhecimento do ambiente vivido, o qual ter de desvendar durante toda asua vida. Basta lembrar como o trajeto que fazemos de nosso trabalho at nossacasa est armazenado em nossa memria. Assim tambm estavam nos primeiroshumanos, que memorizavam seu ambiente e retornavam s cavernas aps horasde caa em campo aberto ou nos bosques, em longas distncias.

    No entanto, o ser humano levou milhares de anos para sistematizar suasreexes sobre as informaes espaciais, criar os primeiros sistemas matemticos

    para referenciar o espao terrestre e organizar uma descrio da superfcie pla-netria. H pouco mais de cem anos, nas universidades europias, constitui-se acadeira de Geograa, e de l para c essa disciplina ensinada e promovida nassociedades contemporneas.

    Ao iniciarmos o estudo da Geograa temos de ter a clareza de estarmos tra-tando de assuntos pertinentes ao ser humano e que este sujeito ou objeto da cons-truo do espao, dependendo de seu grau de conscincia. Assim, quando apresen-

    tamos a importncia do estudo da Geograa para as crianas, estamos depositandoesforos na construo de um espao geogrco mais humano, crtico e solidrio.

    O encolhimento do planeta Terra

    ParabolicamarGilberto Gil

    Antes mundo era pequeno

    Porque Terra era grande

    Hoje mundo muito grande

    porque Terra pequena

    Do tamanho da antena

    Paramblicamar

    , volta do mundo, camar

    , mundo d volta, camar

    Antes longe era distante

    Perto s quando dava

    Quando muito ali defronte

    E o horizonte acabava

    Hoje l trs dos montes

    Dende casa, camar

    , volta do mundo, camar

    , mundo d volta, camar

    De jangada leva uma eternidade

    De saveiro leva uma encarnao

    De avio o tempo de uma saudade

    Pela onda luminosa

    Leva o tempo de um raio

    Tempo que levava Rosa

    Pra arrumar o balaio

    Quando sentia que o balaio ia

    Escorregar, volta do

    Mundo, camar

    , mundo d volta, camar

    [...]

  • 7/21/2019 Didtica Da Geografia

    11/22

    Geografia: a cincia da Terra

    11

    Antes do processo de mundializao das relaes capitalistas de produo,a humanidade estava dividida em diferentes mundos, cada qual correspondendoao espao geogrco construdo por seus ancestrais. Povos europeus, asiticos,rabes, tupis, incas, astecas, africanos e tantos outros.

    Com o incio das atividades mercantilistas do sculo XV, por meio de grandes

    rotas martimas, inicia-se um novo processo de conhecimentos sobre a superfcie

    do planeta.Vejamos a gura a seguir que sugere o encolhimento do mapa do mundo

    de acordo com as capacidades tcnicas de deslocamento humano na superfcieterrestre.

    Mapa reproduzido em 1456 com baseno original do sculo XII, feito pelo car-tgrafo rabe Al-Idrissi. Era comum osrabes construrem seus mapas inverti-dos em relao ao que estamos acostu-mados hoje, colocando o sul na parte decima (MOREIRA; SENE, 2000, p. 10).

    Aps um longo processo de mundializao das relaes capitalistas, perce-bemos que o conhecimento do planeta atingiu nveis de preciso elevados. Basta

    compararmos as imagens apresentadas por cartgrafos ao longo dos tempos paraconrmar como o conhecimento da superfcie planetria evoluiu.

  • 7/21/2019 Didtica Da Geografia

    12/22

    Fundamentos Tericos e Prticos do Ensino de Geografia

    12

    Mapa elaborado em 1508, por Francesco Ros-seli, um cartgrafo orentino. Esse foi o pri-meiro mapa-mndi da histria da cartograa,ou seja, o primeiro a mostrar o planeta inteiro.

    (M

    OREIRA;SENE,2000,p.11)

    Mapa elaborado em 1508, por Francesco Rosseli, um cartgrafo orentino. Esse foi o primeiro mapa-mndi da histria da cartograa, ou seja, o primeiro a mostrar o planeta inteiro.

    (MOREIRA;SENE,200

    0,p.11)

    Imagem do governo terrestre feita pelo satlite GOESem novembro de 1992.

    (CURIOSIDADES,2004)

  • 7/21/2019 Didtica Da Geografia

    13/22

    Geografia: a cincia da Terra

    13

    A crise socioambientale as Cincias Humanas

    Nos anos 1980 do sculo passado, o relatrio Nosso Futuro Comum de-monstra que o modelo de desenvolvimento capitalista, empreendido em profun-didade no nal do sculo XX, teve como principais conseqncias a morte de

    milhes de humanos, pela fome, por acidentes qumicos e nucleares. Cerca de 60milhes de pessoas, sendo a maioria crianas, mortas por doenas relacionadas gua contaminada e pela desnutrio.

    Diante da crise ambiental, anunciada ocialmente pelas ltimas grandes con-ferncias de meio ambiente e desenvolvimento e pelos documentos que delas deri-varam, surge a necessidade de se educar os cidados para a racionalidade do uso dosrecursos naturais. A educao apresenta-se como a principal alternativa e difunde-se como um novo modelo de abordagem pedaggica para a formao social.

    Dentre os primeiros trabalhos voltados s relaes socioambientais huma-

    nas, merecem ser citados autores como Thomas Huxley, que em 1863 escreveusobre as interdependncias entre os seres humanos e os demais seres vivos em seuensaioEvidncias sobre o Lugar do Homem na Natureza. George P. Marsh emsua obra, O Homem e a Natureza, analisou as causas do declnio de civilizaesantigas a partir da ao humana; Aldo Leopoldo publicou em 1949, A Sand Coun-try Almanac, em que discutiu uma tica de usos dos recursos da Terra. Em 1962,Rachel Carson em seu livro Primavera Silenciosa, apresenta um estudo sobre a

    perda da qualidade de vida produzida pelo uso indiscriminado e excessivo dosprodutos qumicos e os efeitos dessa utilizao sobre os recursos ambientais.

    A formao do Clube de Roma1, em 1968, inicia um movimento para discu-tir a crise planetria e publica em 1972, The Limits of Growth, denunciando queo crescente consumo mundial levaria a humanidade a um limite de crescimentoe possivelmente a um colapso. Nesse mesmo ano, a realizao da Confernciada ONU sobre o Ambiente Humano, realizada em Estocolmo Sucia, marcaum novo momento da questo socioambiental. Na Declarao sobre o AmbienteHumano2, foi estabelecido o Plano de Ao Mundial, com o objetivo de inspirare orientar a humanidade para a preservao e melhoria do ambiente humano.

    Em 1975, a Carta de Belgrado3 indicava a necessidade de uma nova tica

    global, com a nalidade de estabelecer meios para a erradicao da pobreza, dafome, do analfabetismo, da poluio, da explorao e dominao humanas, apon-tando e censurando as naes que se desenvolvem sob a explorao de outras.

    Em 1977, realizou-se em Tiblisi Gergia (ex-URSS) a Primeira Confe-rncia Intergovernamental sobre Educao Ambiental, promovida pela UNES-CO, em colaborao com o Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente(PNUMA). Essa conferncia constituiu-se no incio da estruturao de um Pro-grama Internacional de Educao Ambiental; apontou para que os Estados mem-

    bros incluam em suas polticas de educao medidas que visem a incorporao decontedos, de diretrizes e atividades ambientais a seus sistemas; convidou as au-toridades de educao a intensicar seus trabalhos de reexo, pesquisas e inova-

    1Em 1968, foi realizadaem Roma uma reunio decientistas dos pases desenvol-vidos para discutir o consumo,as reservas de recursos natu-rais no-renovveis, o cresci-mento da populao mundialat meados do sculo XXI.Dessa reunio foi publicado olivro Limites do Crescimento(Perspectiva. So Paulo, 1978),

    que foi durante muitos anosuma referncia internacionals polticas e projetos. Os inte-lectuais latino-americanos, noentanto, liam nas entrelinhasdo documento a indicao deque, para se conservar o pa-dro de consumo dos pasesindustrializados, era necess-rio controlar o crescimento da

    populao dos pases pobres.(REIGOTA, 1994).

    2O grande tema em dis-cusso na Conferncia foia poluio ocasionada, prin-cipalmente, pelas indstrias.

    O Brasil e a ndia, que viviamna poca milagres econ-micos, defenderam a idiade que a poluio o preoque se paga pelo progresso.(REIGOTA, 1994).

    3Em Belgrado, na entoIugoslvia, em 1975, foirealizada a reunio de espe-cialistas em Educao, Bio-logia, Geograa e Histria,entre outros, denindo-se osobjetivos da educao am-

    biental, publicados no quese convencionou chamar deCarta de Belgrado. (REI-

    GOTA, 1994).

  • 7/21/2019 Didtica Da Geografia

    14/22

    Fundamentos Tericos e Prticos do Ensino de Geografia

    14

    o com respeito Educao Ambiental; solicitou o intercmbio de informaes eexperincias e solicita comunidade internacional que ajude a fortalecer essa co-laborao, em uma esfera de atividades que simbolize a necessria solidariedadede todos os povos e que possa ser considerada como particularmente alentadora

    para promover a compreenso internacional e a causa da paz.

    Em nvel internacional, dois eventos marcam o nal dos anos 90. A publica-

    o do relatrio chamado Nosso Futuro Comum (abril, 1987), elaborado pela Co-misso Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU e o CongressoInternacional sobre Educao e Formao Ambientais (agosto, 1987), realizadoem Moscou.

    A conferncia realizada no Rio de Janeiro em 1992 foi, sem dvida, um mar-co no nal do sculo XX. Mais de 170 pases estiveram debatendo temas de impor-tncia mundial. Esse trabalho resultou na Declarao do Rio sobre Meio Ambientee Desenvolvimento, nas Convenes da Biodiversidade, da Mudana do Clima, oProtocolo de Florestas, o Direito Internacional e o Desenvolvimento Sustentvel.

    A Geograa no sculo XXIAs democracias do sculo XXI sero cada vez mais confrontadas com o

    gigantesco problema decorrente do desenvolvimento em que cincia, tcnica e bu-rocracia esto intimamente associadas. Essa enorme mquina que domina a infor-mao internacional no produz apenas conhecimento e elucidao, mas produztambm ignorncia e cegueira.

    Os avanos disciplinares das cincias no trouxeram apenas as vantagensda diviso do trabalho, trouxeram tambm os inconvenientes da hiperespaciali-zao ou globalizao. Com o parcelamento do saber, cada vez mais dominado

    pelos tcnicos especialistas, o saber universal ca cada vez mais distante da amplamaioria da populao.

    O espao social apresenta-se como uma organizao que se adapta e evoluisem cessar seus efeitos, este espao socialmente construdo constitui-se numaunidade, um territrio onde a organizao e o funcionamento decorrem das rela-es socioespaciais que o animam.

    Podemos pensar, ento, em um sistema espacial como o produto de decisesdos atores. Nesse sentido, a Geograa deve preocupar-se com a anlise de algu-mas questes, tais como:

    Os processos da construo do espao e da organizao espacial comoresultado dos diferentes grupos de indivduos que compem cadasociedade.

    As transformaes no espao sofrem uma construo contnua de cadasociedade que o habita.

    O ser humano como indivduo ou sociedade de seres humanos atuam

    como atores do espao.

  • 7/21/2019 Didtica Da Geografia

    15/22

    Geografia: a cincia da Terra

    15

    (BLACHE, 1993)

    Chamado a falar de Geograa perante um auditrio de futuros professores formados nos m-todos cientcos, mas se preparando ao ensino de diversas disciplinas, meio embaraado indaguei-me sobre qual seria, entre as questes que esse tema sugere, aquela que melhor convinha em taiscircunstncias. Ao reetir, quei impressionado pelos mal-entendidos que reinam sobre a prpriaidia da Geograa. No grupo das Cincias Naturais, ao qual sem nenhuma dvida se integra, ela

    possui um lugar parte. Suas anidades no excluem sensveis diferenas. Ora, sobretudo a res-peito dessas diferenas que as idias so pouco precisas. Pareceu-nos que tentando colocar algumaluz nesse lado das coisas, isto , propondo-me a especicar o que distingue a Geograa, eu me

    ajustarei inteno que preside estas conferncias. A Pedagogia uma obra de coordenao e derelaes: ser que ela no deveria ser considerada como uma espcie de losoa abraando tudoaquilo que contribui formao do esprito?

    A Geograa considerada como se alimentando nas mesmas fontes de fatos da Geologia, daFsica, das Cincias Naturais e, de certa forma, das Cincias Sociolgicas. Ela serve-se de noes,sendo que algumas delas so o objeto de estudos aprofundados nas cincias vizinhas: da vem,ento, a crtica que se faz s vezes Geograa, a de viver de emprstimos, a de intervir indiscreta-mente no campo de outras cincias, como se houvesse compartimentos reservados no domnio dacincia. Na realidade, a Geograa possui seu prprio campo. O essencial considerar qual uso elafaz dos dados sobre os quais se exerce. Ser que ela aplica mtodos que lhe pertencem? Ser quetraz novos horizontes, de onde as coisas possam aparecer em perspectiva especial, que os mostrasob ngulo novo? Todo o problema este que est a. Na complexidade dos fenmenos que se en-trecruzam na natureza no se deve ter uma nica maneira de abordar o estudo dos fatos; til quesejam observados sob ngulos diferentes. E se a Geograa retoma certos dados que possuem umoutro rtulo, no h nada para que se possa taxar essa apropriao de anticientca.

    A unidade terrestreA Geograa compreende, por denio, o conjunto da Terra. Este foi o mrito dos matem-

    ticos-gegrafos da Antigidade (Eratstenes, Hiparco, Ptolomeu), o de colocar em princpio a

    unidade terrestre, o de fazer prevalecer esta noo acima das descries empricas das regies.

    As decises so tomadas mediantes a racionalidade econmica dentrode todas as sociedades, assim o espao percebido julgado, valorizado,interiorizado e reformulado em cada momento histrico.

    Pensar em ensinar Geograa para as geraes do futuro signica reetirsobre as mltiplas dimenses dos indivduos: antropolgicas, biolgicas, psico-lgicas, sociolgicas, histricas e geogrcas. O espao geogrco o reexo

    de sua sociedade e nele encontramos as marcas das diversas humanidades. Oeducador-cidado um ator primordial na construo dos saberes que alimenta-ro os discursos e quem sabe as aes das novas geraes. Para tal, fundamentalque construa uma base terica ampla que permita dialogar com muitas disciplinasespeccas e estabelea um vnculo com o espao vivido pelos atores do processoeducacional.

  • 7/21/2019 Didtica Da Geografia

    16/22

    Fundamentos Tericos e Prticos do Ensino de Geografia

    16

    nesta base que a Geograa pde-se desenvolver como cincia. A idia de correspondncia, de so-lidariedade entre os fenmenos terrestres, penetrou e tomou corpo, muito lentamente na verdade,

    porque se tratava de apoi-la sobre fatos e no sobre simples hipteses. Assim, quando no incio dosculo XIX Alexandre von Humboldt e Karl Ritter zeram-se os iniciadores do que se chamavaento de geograa comparada, eles se orientavam de acordo com uma viso geral do globo; e foi

    por a que sua impulso foi fecunda.

    Todos os progressos posteriormente obtidos, no conhecimento da Terra, foram atribudosa melhor esclarecer esse princpio de unidade. Se existe um domnio no qual ele se manifestamuito claramente, ento o domnio das massas lquidas que cobrem 3/4 do globo e do oceanoatmosfrico que o envolve. Nos movimentos da atmosfera, escreve o meteorologista Dove, no se

    pode isolar nenhuma parte, pois cada parte age sobre sua vizinha. assim que, propagando-se,as borrascas formadas nas proximidades da Terra Nova atingem as costas da Europa Ocidental e,evidentemente, do Norte do Mediterrneo; e se as perde de vista a seguir e se sua marcha escapados observatrios, no h dvida de que a srie das repercusses continua.

    As partes do oceano esto em comunicao ntima por uma circulao de fundos e de su-perfcie. Bernard Varenius j escrevia que Quum ocesnus movetur, totus movetur. A parte slidado globo tambm sofre a participao de uma dinmica geral. O conjunto de fatos tectnicos,que as exploraes feitas nas diversas regies da Terra coletaram, contribuiu para que EduardSuez pudesse edicar sobre eles uma sntese, cuja prpria idia poderia ter parecido anterior-mente como ilusria.

    O conhecimento das regies polares promete-nos, enm, novos exemplos de correspondncia ede correlao que esclarecero, sem dvida, a gnese dos fenmenos. Esta idia de unidade comum,sem dvida, a todas as cincias que tocam a fsica terrestre, assim como as que estudam a repartioda vida. A insolao, a evaporao, o calor especco da terra e da gua, as mudanas de estado dovapor da gua etc. esclarecem-se pela comparao recproca das diversas partes do globo.

    A lei da gravidade domina toda a diversidade das formas de eroso e de transporte, e ma-nifesta-se assim na sua plenitude. Toda espcie viva est em perptua tenso de esforos paraadquirir ou defender um espao que lhe permite subsistir, e isto serve de guia ao naturalista. Oconhecimento destes fatos que, em ordem diversa e em graus diferentes, contribuem para xara sionomia da Terra, resulta de um conjunto de observaes em que cada parte do globo deve,tanto quanto possvel, trazer o seu testemunho. Cada cincia realiza, neste sentido, a tarefa que lhe prpria; mas no se pode dizer, por isso, que elas preenchem o papel da Geograa: este papelque se deve precisar.

    A combinao dos fenmenosCabe-me emprestar do autor de uma das melhores obras j publicadas sobre a Climatologia, o

    professor J. Hann, os termos dos quais ele se serve para estabelecer a distino entre a meteorolo-gia e o estudo dos climas. Esta distino (diz ele) de natureza mais descritiva; ela tem por objetofornecer ao leitor uma imagem to viva quanto possvel da ao combinada de todos os fenmenosatmosfricos sobre uma parte da Terra.

    Pode-se dizer, generalizando esta anotao, que a Geograa, inspirando-se como as cinciasvizinhas na idia de unidade terrestre, tem por misso especial procurar como as leis fsicas ou

    biolgicas, que regem o globo, combinam-se e modicam-se aplicando-se s diversas partes dasuperfcie. Ela as segue em suas combinaes e suas interferncias. A Terra lhe oferece, para isso,um campo quase inesgotvel de observaes e de experincias. Ela tem por objetivo principalestudar as expresses mutveis que revestem, conforme os lugares, a sionomia da Terra.

  • 7/21/2019 Didtica Da Geografia

    17/22

    Geografia: a cincia da Terra

    17

    Antes de prosseguir, notemos que esta combinao a prpria forma sob a qual os fenme-nos se oferecem em todos os lugares na natureza. A Geograa solicitada para as realidades.Disse-nos Buffon: Na natureza, a maioria dos efeitos depende de vrias causas diferentementecombinadas. Com maior preciso ainda, o pensador Henry Poincar assim se exprime em um dosseus ltimos trabalhos: O estado do mundo, e mesmo de uma muito pequena parte do mundo, qualquer coisa extremamente complexa e que depende de um grande nmero de elementos. A

    justeza dessas noes nos choca, qualquer que seja a parte da Geograa que considerarmos. Omodelado do solo resulta do conito entre as energias, que se desdobram para o ataque dos agen-tes metericos, e a fora de resistncia, que lhes opem as rochas; mas este conito se exerce emum campo que j foi remanejado no decorrer dos tempos e que ainda o incessantemente seguin-do as modicaes dos nveis de base e as oscilaes do clima.

    O que se chama de clima de uma regio uma mdia na qual contribuem a temperatura,a umidade, a luminosidade, os ventos; mas a avaliao destes diversos elementos somentedaria uma idia muito incompleta, se no se procurasse saber como eles se combinam, nosomente entre eles mas tambm com o relevo, a orientao, as formas do solo, a vegetao emesmo as culturas. V-se, por exemplo, o mximo da estao de calor coincidir com o m-ximo de umidade? Todas as caractersticas de certo tipo de clima, o do Sul do Mediterrneo,surgem diante do esprito. Outros tipos, com mltiplas nuanas correspondem, ao contrrio,aos diversos regimes de chuvas de vero. A diversidade dos elementos a considerar tambmse encontra no domnio dos seres vivos.

    A vegetao de uma regio um conjunto heterogneo, no qual se distinguem plantas dediversas provenincias: umas invasoras, outras refugiadas, outras que so legadas de climas ante-riores, outras que acompanharam as culturas dos homens. Tudo indica tambm, medida que seavana no exame e na anlise das faunas regionais, o seu carter heterogneo.

    As migraes, cujo sentido e datas nos escapam freqentemente, misturaram as tribos de

    seres vivos, compreendendo tambm os homens; e de seus resduos que se formaram os ocu-pantes sobre as diversas regies, onde eles puderam concentrar-se. Enquanto as classicaeslingsticas nos fornecem a iluso de grandes grupos humanos, os ndices que fornecem a antro-

    pologia e a pr-histria concordam em mostrar a diversidade das raas que, como aluvies suces-sivas, formaram a maioria de nossos povoamentos.

    A anlise desses elementos, o estudo de suas relaes e de suas combinaes compem atrama de toda a pesquisa geogrca. No se pode mais questionar, segundo este ponto de vista,uma antinomia de princpio entre duas espcies de Geograa: uma que sob o nome de GeograaGeral seria a parte verdadeiramente cientca e a outra que se aplicaria, tendo como o con-dutor somente uma curiosidade supercial, na descrio das regies. De qualquer maneira que

    se enfoque, so os mesmos fatos gerais, nos seus encadeamentos e na sua correlao, que seimpem ateno. Estas causas, se permitido usar esta palavra ambiciosa, ao se combinar ori-ginam as variedades sobre as quais o gegrafo trabalha: seja quando ele se prope a determinaros tipos de clima, formas de solos, de hbitat etc., como faz quando trata de Geograa Geral;seja quando ele se esfora para caracterizar as regies, at mesmo de as pintar, pois o pitorescono lhe proibido.

    As superfciesO campo de estudo da geograa, por excelncia, a superfcie; este o conjunto dos fe-

    nmenos que se produzem na zona de contato entre as massas slidas, lquidas e gasosas, queconstituem o planeta. Este contato o princpio de fenmenos inumerveis, sendo que apenas

  • 7/21/2019 Didtica Da Geografia

    18/22

    Fundamentos Tericos e Prticos do Ensino de Geografia

    18

    alguns esto denidos; ele age como um reativo para colocar em evidncia as energias terrestres.A coluna de ar modica-se sem cessar no contato com as superfcies slidas ou lquidas; e o vapordgua, transportado em seguida a essas oscilaes, cresce, condensa-se ou precipita-se conformeo estado trmico das superfcies que encontra. O solo est exposto aos meteoros, no somente aataques de fora ativa mas tambm a ataques por inltrao. Sua epiderme se endurece ou, ento,se decompe ao seu contato. O ar e a gua penetram ento na sua textura porosa; e a terra torna-

    se, conforme a expresso de Berthelot, alguma coisa viva. Os fermentos e as bactrias entramem movimento; o cido carbnico dissolve os fosfatos, a cal, o potssio e outros ingredientes queentram nos corpos das plantas, ou que se elaboram, sob a ao da luz, para servir de alimento aosoutros seres vivos.

    Sem dvida, o interior da Terra a sede de outros fenmenos de transformao, de uma in-calculvel grandeza. A Geograa, entretanto, neles est apenas indiretamente interessada. Se estquase certo que os dobramentos e os acavalamentos, que tomam um aspecto to saliente em certascadeias montanhosas, formaram-se em profundidade sob o esforo de presses e de contraesenormes, esta obra subterrnea s se torna um objeto geogrco porque, pela ao combinadados soerguimentos e das desnudaes, ela aparece na superfcie. Ela toma, ento, lugar no relevo,associa-se s outras formas do solo, inui sobre o modelado que a envolve; e torna-se um dosmais poderosos centros de ao sobre o clima, a hidrograa, a vegetao e os homens. Entre assuperfcies que estuda a Geograa, as da litosfera tm a vantagem de conservar mais ou menosa impresso das modicaes que elas sofreram desde a sua emerso. Elas apresentam, por isso,um interesse particular e abrem uma nova fonte de ensinamentos. como um quadro registrador,sobre o qual o estado presente das formas revela-se em continuao dos estados anteriores. Atra-vs das formas que pertencem ao ciclo atual de evoluo, distinguem-se linearmente das que as

    precederam. Estas formas subsistem, s vezes, to claramente, que se pode distinguir at o grau deevoluo atingido pelas formas do solo, devido s aes de natureza semelhantes s que trabalham

    sob nossos olhos, quando um novo ciclo de eroso aberto. Na cadeia das idades, naturalmenteo anel mais prximo, o antecedente imediato que menos sofreu desgaste. Ele se transforma maisdo que abolido. A obra do passado persiste atravs do presente como a matria sobre a qual seexercem as foras atuais. A partir da, estamos em plena Geograa.

    Nas regies que sofreram as invases das geleiras quaternrias, os cursos dgua no ter-minaram de transportar os detritos que elas acumularam. Alguns ainda procuram o seu leito pormeio desses materiais, no qual formam aluvies. Os vales originados por um clima mais midono Saara so, aparentemente, formas fsseis: exercem uma inuncia sensvel sobre as fontes, os

    poos, a vegetao, e o vento, apoderando-se de suas aluvies arenosas, encontra a os materiaisdas dunas que ele edica. O aspecto da superfcie slida revela-se, assim, como o resultado de

    modicaes incessantemente remanejadas de poca em poca; ele representa uma seqncia eno um estado uma vez dado e atingido de repente. As formas atuais s so inteligveis se as foca-liza na sucesso das quais fazem parte. Como explicar, por exemplo, sem recorrer consideraode um regime de declividades anteriores, a direo to paradoxal, na aparncia, desses rios queatravessam, ao invs de os contornar, os obstculos que parecem opor-se sua passagem? Tudoisso continuaria sendo um enigma se no tivesse penetrado na cincia, com a ajuda da comparaoe da anlise, esta noo de evoluo das formas que a chave. Pode-se dizer que atualmente eladomina qualquer pesquisa.

  • 7/21/2019 Didtica Da Geografia

    19/22

    Geografia: a cincia da Terra

    19

    A fora do meio e a adaptaoSe desejarmos nos colocar no esprito de um gegrafo, ou seja, analisarmos os fatos como um

    gegrafo, estaremos ligados a fatores de ordem diversa de provenincia heterognea, e formandoentre si combinaes mltiplas; sentiremos que o equilbrio resultante dessas combinaes no temabsolutamente nada de estvel, que ele est merc de modicaes cuja multiplicidade dos fato-res abre uma ampla margem. Pode-se perguntar onde est o princpio diretor que permite edicar,

    nesse terreno aparentemente mvel, mtodos que se mantm, e tentar experincias coordenadas dedescries terrestres. Recorramos ainda observao. O que a observao e a anlise encontramnessas superfcies onde se imprimem os fenmenos, no so casos isolados, traos incoerentes,mas grupos de formas obedecendo a uma ao de conjunto, ligadas por anidades, e trabalhandoem comum para eliminar da superfcie o que no convm mais s condies atuais. L onde oscursos dgua no possuem mais a fora para carregar os detritos de destruio das rochas, todo oaspecto do modelado recebe a impresso desta impotncia: estreitas margens terrosas encaixandoos talvegues, grandes superfcies unidas, acima das quais emergem aqui e acol picos cnicos,compem uma diversidade de traos que, entretanto, convergem para o conjunto clssico da pai-

    sagem da regio rida. O contraste completo com o mundo das formas que povoam a superfcie,quando a obra de um desgaste avanado modelou os ancos dos vales, colocando a nu as vertentesdas montanhas, dissecando e diversicando os planos. L onde as geleiras passaram, subsiste, aomenos provisoriamente, esse conjunto catico de montculos e de lagos que se chama paisagemmornica. O nome de aparelho litorneo caracteriza uma auncia de formas que, variadas em simesmas, no aparecem uma sem a outra: aquifjords, com lagos interiores e prolongando-se emdireo ao mar por orla recortada de ilhas e de recifes que os escandinavos chamaram skiargaard;em outros lugares, a leira uniforme das lagunas, das barras uviais e dos cordes litorneos.Cada um destes tipos se compe de formas em dependncia recproca.

    Assim tambm a sionomia da vegetao. No s a oliveira que personica a vegetao

    mediterrnea e muito menos uma andorinha no faz vero. O que evoca esta expresso do Me-diterrneo uma enorme quantidade de plantas, cujas formas tm, por sua variedade, excitadoa imitao artstica, mas que coexistem num conjunto que a linguagem popular designa sob osnomes de maquis, guarrigues ou outros. uma das associaes caractersticas que distingue a ci-ncia botnica. Por todos os lados encontraremos expresses coletivas, algumas populares, outrascientcas, correspondendo a estes fatos de observao. Estas expresses coletivas serviriam paranos dizer que um elo comum existe entre os diversos elementos em que reconhecemos a comple-xidade. Do que formado este elo? por esta questo que somos levados noo de meio; noocuja aparncia vaga levou ao abuso que dela se fez, mas que por menos que se a pesquise, mostra-se cheia de ensinamentos. o clima, pode-se dizer, que decide sobre a preponderncia das formas

    de entulhamento ou de desnudao.Mas esta explicao muito sumria e esta palavra no expressa de maneira adequada e

    completa os fenmenos. No entanto, vemos que as prprias formas procuram organizar-se entresi, a realizar certo equilbrio. Aqui com a ajuda do vento, acol com a ajuda das guas correntes,trabalham de acordo com um plano e para um m determinado; pouco importa se atingem ouno esse m. As dunas e as areias alinham-se seguindo uma geometria; concluem uma obra denivelamento. Cada echa estende-se na direo de sua vizinha, e tende a juntar-se com aquela quelhe faz face. A ravina que, nascida de uma valeta, entalha o anco de uma montanha, abastece-se

  • 7/21/2019 Didtica Da Geografia

    20/22

    Fundamentos Tericos e Prticos do Ensino de Geografia

    20

    de um conjunto de valetas semelhantes; e quando desse conjunto formado um curso dgua, estetrabalha, de acordo com seus irmos, para adaptar o seu perl conforme um nvel de base comum.Se no mundo das formas inanimadas os traos se coordenam, esta adaptao recproca no me-nos sensvel entre os seres vivos, mas se exerce diferentemente.

    As plantas que povoam uma regio, os animais aos quais essas plantas servem de alimento,e at certo ponto os prprios grupos humanos que encontram neste meio ambiente o princpio de

    um gnero de vida, so compostos por elementos dspares. Entram, dissemos, nas associaesvegetais as mais diversas espcies de provenincia e de forma. Mas acima dessas diferenas umatonalidade geral domina; as plantas organizam-se siologicamente, revestem, para se acomodars inuncias ambientais, uma aparncia comum, de acordo com a altitude, as intempries, a seca,o calor mido. No somente modicam seguindo procedimentos diversos e s vezes muito ines-

    perados, os seus rgos exteriores, mas tambm combinam-se entre si de maneira a se repartiremno espao. Nesses agrupamentos, que so aspectos normal sob o qual se apresenta e se grava nosnossos olhos sionomia da paisagem, cada planta est organizada com as suas vizinhas para tersua parte de solo, de luz e de alimento. Os seres vm-se associar e se unir encontrando vantageme proveito nas condies determinadas pela presena dos outros. Uma oresta uma espcie deser coletivo onde coexistem, numa harmonia provisria e no prova de mudanas, rvores, ve-getais do tipo rasteiro, cogumelos e uma multido de hspedes igualmente subordinados, insetos,trmitas, formigas. Assim, as coisas apresentam-se a ns em grupos organizados, em associaesregidas por um equilbrio que o homem perturba incessantemente ou, conforme o caso, reticacolocando a mo. A idia de meio, nessas diversas expresses, precisa-se como correlativo e sin-nimo de adaptao. Ela manifesta-se atravs das sries de fenmenos que se encadeiam entre si eso postos em movimento por causas gerais. por essas causas que incessantemente retornamoss causas de clima, de estrutura, de concorrncia vital, que impulsionam muitas atividades espe-ciais das formas e dos seres.

    O mtodo descritivoPode-se julgar, pelo que acabou de ser dito, o papel capital que desempenha a descrio. A

    Geograa distingue-se como cincia essencialmente descritiva. No seguramente que renuncie explicao: o estudo das relaes dos fenmenos, de seu encadeamento e de sua evoluo sotambm caminhos que levam a ela. Mas esse objeto mesmo a obriga mais que em outra cincia,a seguir minuciosamente o mtodo descritivo. Uma dessas tarefas principais no localizar asdiversas ordens de fatos que a ela concernem, determinar exatamente a posio que ocupam, asreas que abrangem? Nenhum ndice, mesmo nenhuma nuana no poderia passar despercebida;cada uma tem seu valor geogrco, seja como dependncia, seja como fator, no conjunto que se

    trata de analisar. preciso, ento, tomar sobre o fato cada uma das circunstncias que o carac-terizam, e estabelecer exatamente o resultado. No rico teclado de formas que a natureza expe anossos olhos, as condies so to diversas, to intercruzadas, to complexas, que elas arriscamescapar a quem acredita t-las cedo demais. H dois obstculos que devem, particularmente, serlevados em considerao: o das frmulas muito simples e rgidas entre as quais deslizam os fatose o das frmulas multiplicadas a tal ponto que se acrescentam mais nomenclatura e no cla-reza. Descrever, denir e classicar alm de deduzir so as operaes que logicamente se man-tm; mas os fenmenos naturais de ordem geogrca no se curvam com uma solicitude sempredcil s categorias do esprito. A descrio geogrca deve ser malevel e variada como seu

    prprio objeto. Freqentemente, proveitoso para ela servir-se da terminologia popular; est

  • 7/21/2019 Didtica Da Geografia

    21/22

    Geografia: a cincia da Terra

    21

    sendo formada diretamente em contato com a natureza, tal designao apreendida sobre o atual,tal mxima rural ou provrbio podem abrir uma luz sobre um relatrio, uma periodicidade, umacoincidncia, qualquer coisa que se reclama diretamente da Geograa. No sem razo que noslivros ou memrias geogrcas as representaes guradas aparecem cada vez mais. O desenhoe a fotograa entram a ttulo de comentrios na descrio. As guras esquematizadas tm suautilidade como instrumento de demonstrao. Mas nada vale o desenho como meio de anlise

    para captar de perto a realidade, e como controle dessas observaes diretas, que encontram hojenas excurses geogrcas a ocasio freqente de se exercer. O hbito dessas lies itinerantes ,

    para ns, um dos mais notveis ganhos pedaggicos desses ltimos anos. a escola ao ar livre,mais higinica e mais ecaz que qualquer outra. Ela escolhe antecipadamente os seus textos, isto, as paisagens onde se junta, numa perspectiva mais fcil, a apreender este conjunto de traoscaractersticos que gravam no esprito do gegrafo a idia de regio.

    A geograa e a histria preciso dizer que nesta sionomia o homem impe-se, direta ou indiretamente por sua pre-

    sena, por suas obras ou conseqncia de suas obras. Ele tambm um dos agentes poderosos que

    trabalha para modicar a superfcie. Coloca-se, por isso, entre os fatores geogrcos de primeiraordem. Sua obra sobre a Terra j longa; h poucas partes que no levam seus estigmas.

    Pode-se dizer que dele depende o equilbrio atual do mundo vivo. uma outra questo aquelade saber qual inuncia as condies geogrcas exerceram sobre seus destinos e particularmentesobre sua histria. No posso deixar de abordar aqui este ponto importante. A Histria e a Geogra-a so companheiras antigas por h muito tempo caminharem juntas e que, como acontece comos velhos conhecimentos, perderam o hbito de discernir as diferenas que as separam. Longede mim a inteno de atrapalhar a harmonia deste arranjo. til, no entanto, que, continuando a

    prestar servios recprocos, elas tenham ntida conscincia das divergncias que existem nos seus

    pontos de partida e nos seus mtodos.A Geograa a cincia dos lugares e no dos homens. Ela se interessa pelos acontecimentosda Histria medida que acentuam e esclarecem, nas regies onde eles se produzem, as proprie-dades, as virtualidades que sem eles permaneceriam latentes. A histria da Inglaterra insular,a da Frana sacudida entre o mar e o continente; o dedo da Geograa est marcado sobre cadauma delas. Estes encadeamentos histricos tm seu lugar na evoluo dos fatos terrestres; masquanto limitado o perodo de tempo que eles abrangem!

    uma espcie de trusmo opor a brevidade da vida humana durao que exige a naturezapara suas mnimas mudanas: mas, enm, quo poucas geraes seriam necessrias para colocarde ponta a ponta, para tocar no ponto alm do qual no h mais testemunho histrico, e mesmo, j

    que a Histria resume-se em grandes esforos coletivos, onde no h mais histria!O estudo da evoluo dos fenmenos terrestres supe o emprego de uma cronologia que

    difere essencialmente daquela da Histria. Somos, muitas vezes, levados a esquec-la. o queacontece, por exemplo, quando diante do espetculo de civilizaes decadentes, mencionamos aexplicao dessas decadncias e dessas runas s das mudanas de climas. Seguramente, houvetais mudanas desde a poca quaternria; mas podemos aplicar seus efeitos histria humana?

    Ficamos inquietos diante de tais hipteses, cujo menor defeito no contornar a questo efechar a porta s pesquisas que tomam a Histria por base, que no teriam, sem dvida, dito sualtima palavra. tempo de concluir: conhecemos h muito tempo a Geograa incerta de seuobjeto e de seus mtodos, oscilando entre a Geologia e a Histria. Esses tempos passaram. O que

  • 7/21/2019 Didtica Da Geografia

    22/22

    Fundamentos Tericos e Prticos do Ensino de Geografia

    a Geograa, em troca do auxlio que ela recebe das outras cincias, pode trazer para o tesourocomum a aptido para no dividir o que a natureza juntou, para compreender a correspondnciae a correlao dos fatos, seja no meio terrestre que envolve a todos, seja nos meios regionais ondeeles se localizam. H a, sem dvida nenhuma, um benefcio intelectual que pode estender-se atodas as explicaes do esprito. Retraando as vias pelas quais a Geograa chegou a esclarecerseu objetivo e a fortalecer seus mtodos, reconhecemos que ela foi guiada pelo desejo de observar

    cada vez mais diretamente, cada vez mais atentamente, as realidades naturais. Esse mtodo trouxeseus frutos: o essencial agarrar-se a eles.

    1. Sugesto de atividade em grupo com o uso do texto do gegrafo Paul Vidal de La Blache, sobre

    a Geograa: dividam a turma em seis grupos de trabalho. Cada equipe far uma sntese de umdos seis tpicos do texto e apresentar aos demais colegas.

    2. Realize uma pesquisa com pessoas de vrias idades. (sugesto: 3 jovens, 3 adultos e 3 idosos),com as seguintes perguntas:

    O que Geograa?a.

    Qual a importncia do estudo da Geograa?b.

    3. Com base nas respostas, elabore um texto comentando as opinies que mais lhe chamaram aateno e apresente seu ponto-de-vista com relao ao estudo da Geograa.

    Formem grupos e organizem uma apresentao dos resultados. Cada equipe poder elaboraruma resposta para as questes da pesquisa e, como fechamento, confeccionar um painel com osresultados do trabalho.