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Diplomatica ´ Diplomatica ´ With English & French Texts Nº8 Novembro 2010 4 (Cont.) Diplomática 8 • Novembro/Dezembro 2010 Obama o Homem que surpreendeu o mundo Dossier NATO Entrevistas: Allan Katz - Emb. EUA Um pilar na campanha de Obama Mira Gomes Embaixador de Portugal na Nato Rasool Mohajer Embaixador do Irão País de cultura Helena Daget Grande nome além fronteiras BUSINESS & DIPLOMACY Angola recebe Cavaco e Sócrates

Diplomática n.º 8

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Negócios e Diplomacia

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Page 1: Diplomática n.º 8

Diplomatica´Diplomatica´

With English & French Texts

Nº8 Novembro 20104 (Cont.)

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Obamao Homem que surpreendeu o mundo Dossier NATO

Entrevistas:

Allan Katz - Emb. EUA Um pilar na campanha

de Obama

Mira Gomes Embaixador de Portugal

na Nato

Rasool Mohajer Embaixador do Irão

País de cultura

Helena Daget Grande nome

além fronteiras

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Angolarecebe Cavaco

e Sócrates

Page 2: Diplomática n.º 8

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Page 3: Diplomática n.º 8

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Page 4: Diplomática n.º 8

4 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010

DIRECTOR: maria da luz de bragança PRODUÇÃO: césar Soares PROPRIEDADE: maria da luz de bragança EDIÇÃO: Gabinete 1 editor nº 211 326. av. engº Duarte pacheco, nº1 - 4º esq. – 1070-100 lisboa.

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AssuntosSummary

capa. barack obama. Front page. barack obama.

Dossier. a relevância da nato no novo enquadramento geoestratégico e o seu futuro enquanto organização internacio-nal. – o que esperar da cimeira eUa/europa.Dossier. the relevance of nato in the new geostrategic environment and its future as an international organization. – What to expect from USa/europe Summit.

entrevista a João mira Gomes, embaixador de portugal na nato.interview with João mira Gomes, ambassador of portugal in nato.

entrevista a alan Katz, embaixador dos eUa em portugal.interview with alan Katz, U.S. ambassador to portugal.

instituições. crónica de Graça Didier, Secretária-Geral da câmara de comércio americana.institutions. chronicle of Graça Didier, General Secretary of the american chamber of commerce.

visita de estado. Grão Duques do luxemburgo em portugal.official visit. Grand Dukes of luxembourg in portugal.

visita de estado. Hugo chavez, presidente da venezuela em portugal.official visit. Hugo chavez, president of venezuela in portugal.

expo Xangai 2010.expo Xangai 2010.

viagens de estado. angola. visita do presidente cavaco Silva e primeiro ministro, José Sócrates.official visit. angola. visit of president cavaco Silva and prime minister José Sócrates.

Diplomacia no Feminino. maria da piedade polignac de barros, embaixatriz da ordem de malta em portugal.Diplomacy in the feminin. maria da piedade polignac de barros, ambassador of the order of malta to portugal.

mala Diplomática. Dia nacional dos estados Unidos da américa.Diplomatic bag. national Day of the United States of america.

mala Diplomática. Dia nacional do reino da arábia Saudita.Diplomatic bag. national Day of the Kingdom of Saudi arabia.

entrevista a rasool mohajer, embaixador do irão em portugal.interview with rasool mohajer, iran's ambassador to portugal.

mala Diplomática. Dia nacional da Suiça.Diplomatic pouch. Switzerland national Day

mala Diplomática. Dia nacional da líbia.Diplomatic pouch. national Day of libya.

mala Diplomática. Dia nacional do brasil.Diplomatic pouch. national Day of brazil.

mala Diplomática. Dia da Unidade alemã.Diplomatic pouch. Day of German Unity.

empresários internacionais. maria Helena Daget.international business. maria Helena Daget.

mala Diplomática. Dia nacional da indonésia.Diplomatic pouch. national Day of indonesia.

mala Diplomática. Despedida do embaixador do egipto em portugal.Diplomatic pouch. Farewell to the ambassador of egypt in portugal.

mala Diplomática. Dia nacional da coreia do Sul. Diplomatic pouch. national Day of South Korea

memória Diplomática. Hawai. 50 anos de DemocraciaDiplomatic memories. Hawaii. 50 Years of Democracy

memória Diplomática. oea. 50 anos de Direitos Humanos.Diplomatic memories. oea. 50 Years of Human rights.

marcas & Gestores. João lima. Diplomatic and Direct Sales consultant da caetano baviera/bmWbrands & managers. João lima. Diplomatic and Direct Sales consultant of caetano baviera / bmW

arte e cultura. mostra portuguesa em espanha.art and culture. portuguese exibition in Spain

livros. “nobre povo”, Jaime nogueira pinto, “História de portugal”, rui ramosbooks. "nobre povo", Jaime nogueira pinto, "História de portugal, rui ramos

traduçõestranslations

Foto da capa: ricardo oliveira - Gpm

2º Aniversário

Page 5: Diplomática n.º 8

6737_Institucional 23x32_AFC 9/30/10 6:23 PM Page 1

Page 6: Diplomática n.º 8

6 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010

Normalmente na europa não se percebe bem a realidade ame-

ricana, onde a dicotomia esquerda-direita normalmente não

funciona. É que, numa primeira fase, mais por responsabilida-

de americana do que por incompreensão europeia, a américa

da guerra fria apresentava uma política externa agressiva,

centrada na aventura militar e na pressão musculada…

a américa está a mudar

com obama, a situação alterou-se, embora moderadamente.

mas é inquestionável que a presença militar americana no

iraque tem vindo a decrescer e que, ao nível da nato, já se

começa a equacionar a possibilidade de, num prazo relativa-

mente curto, se proceder à saída do contingente militar interna-

cional. e isto tem, inegavelmente, o selo de obama.

a américa está a mudar, mas a esquerda europeia e os po-

pulistas “esquerdofrénicos” que agora pululam um pouco pela

américa latina, não entenderam o essencial. É que os ataques

a obama, no actual contexto, rotulando-o ingenuamente de

“chefe imperialista”, ao contrário de empurrarem os eUa, deci-

sivamente, para uma política de paz e coexistência internacio-

nal, dão mais força aos grupos de pressão conservadores que,

a pretexto da crise e da perda de influência da super-potência,

pretendem um retrocesso na linha moderada da nova adminis-

tração americana.

concorde-se ou não com as posições do presidente ame-

ricano, mesmo considerando a velocidade controlada das

reformas, a américa de hoje tem uma postura completamente

diferente do tempo em que pontificavam os “falcões” na casa

branca. e isso tem o aDn de um homem talhado para a políti-

ca no universo enriquecedor dos movimentos sociais america-

nos e da intervenção cívica.

Breve biografia do rosto da mudança

De seu nome completo barack Hussein obama, nasceu a 4 de

agosto de 1961, em Honolulu, Havai. os pais eram um casal

atípico para a época, um tempo em que a miscigenação era

condenada na preconceituosa e dividida américa dos anos

60…

a mãe, ann Dunham, uma mulher branca do Kansas, perdera-

se de amores pelo estudante negro queniano barack obama,

desta relação nasceria a criança registada com o nome do

progenitor. ann e barack conheceram-se na Universidade do

Havai, precisamente no dia em que se matricularam. o divórcio

veio pouco depois do nascimento do actual presidente. o pai

transferiu-se para Harvard, onde acabou os estudos, e, mais

tarde, regressou ao Quénia, tendo toda a vida trabalhado como ➤

Barack Obama por antónio pinho, fotos de ricardo oliveira

O rosto do novo “american dream”

Capa

Page 7: Diplomática n.º 8

7novembro/dezembro 2010 - diplomática •

Barack Obama

Page 8: Diplomática n.º 8

8 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010

Barack Obama

Page 9: Diplomática n.º 8

9novembro/dezembro 2010 - diplomática •

➤ economista numa importante consultora petrolífera.

ann casou-se de novo e transferiu-se como pequeno barack

para a indonésia, terra de seu segundo marido. ali estudou,

durante dois anos (dos seis aos oito), o futuro presidente,

numa madrassa, a escola tradicional muçulmana, facto que,

mais tarde, foi usado contra ele nas eleições presidenciais,

insinuando rumores de uma suposta conversão islâmica.

o pequeno barack, aos 8 anos de idade, regressa ao Havai

e é criado pelos seus avós maternos, enquanto ann continua

na indonésia, até ao segundo divórcio que a faz regressar aos

eUa. com a mãe, barack vai para los angeles e frequenta o

requintado occidental college – uma escola preparatória da

classe média alta.

Forma-se na columbia University (bacharelato), em 1985, e

muda-se para chicago, envolvendo-se em organizações e

movimentos sociais, tornando-se activista e participando na

vida comunitária. antes, ainda na universidade, fumou “erva” e

cocaína” – comum na juventude dessa época -, episódios que

revela na sua autobiografia de 1996, “dreams from my Father”.

mais tarde inscreve-se na conceituada escola de direito de

Harvard, doutorando-se em 1991, tendo sido o primeiro presi-

dente negro da prestigiada “Harvard law review” – uma publi-

cação mensal dirigida aos estudantes de direito.

em 1992 casa-se com michelle robinson, que também havia

sido colaboradora da “Harvard law review”, e que conhece no

escritório de advogados onde obama fez o estágio. curiosa-

mente a sua orientadora era michelle.

o activismo social não preenche integralmente as suas neces-

sidades do Ser e, em 1998, junta-se à United church of christ,

em chicago, com a qual rompe durante a campanha para a

presidência, por discordar do discurso radical do seu guia espi-

ritual. no ano seguinte nasce a primeira filha, mahalia, e, em

2001, o casal recebe o nascimento de natasha.

Uma fulgurante carreira políticaObama inicia a actividade política como senador do estado

de illinois, com dois mandatos, entre 1997 e 2004. neste ano

empreende um voo mais alto, sendo eleito para o Senado dos

eUa. em 2007 inicia a marcha fulgurante para a presidência,

impondo-se na eleição democrata a Hillary clinton e, logo

depois – e contra algumas expectativas – derrota mccain, o

candidato republicano.

enquanto senador federal, obama destacou-se pela oposição

à invasão do iraque decidida pela administração bush, contra-

riando mesmo a orientação dominante dos seus colegas de-

mocratas. essa posição, num contexto de isolamento nacional

e internacional de George W. bush, foi decisiva para ganhar o

voto dos americanos e afirmar-se como um dos mais emblemá-

ticos líderes mundiais deste início de século e, sem dúvida, o

mais popular presidente americano depois de Kennedy. ■

Page 10: Diplomática n.º 8

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Page 11: Diplomática n.º 8

11novembro/dezembro 2010 - diplomática •

A Cimeira da Nato reunida, em Lisboa, 19 e 20 de Novembro, com a presença do presi-

dente norte-americano Barack Obama, organizada sob os pressupostos do calendário de

conclaves desta natureza, bem como da agenda interna onde se destaca a revisão do

Conceito Estratégico, aprovado em 1999, dificilmente – segundo os especialistas – estará

concluída antes de 2012.

Para além do calendário corrente e da agenda incontornável do novo Conceito Estratégico,

fundamental num contexto mundial que se alterou substantivamente desde a década de

90, em debate a aprovação da nova estrutura de comandos da NATO.

Um produto da guerra friaA north atlantic treaty organization (nato) foi criada em 1949, tendo por objecto a

constituição de uma frente oposta ao bloco soviético, que como resposta política e militar à

fundação da nato haveria de criar, poucos anos depois, o tratado de varsóvia (também

conhecido por pacto de varsóvia) – uma organização com orgânica similar à primeira mas

de propósitos opostos.

os estados subscritores do tratado de 1949 acordaram um compromisso de cooperação

estratégica em tempo de paz, assumindo a obrigação de auxílio mútuo em hipotético ata-

que a qualquer dos países signatários.

os estados que actualmente integram a nato são a albânia, a alemanha, a bélgica, a bul-

gária, o canadá, a croácia, a dinamarca, a eslováquia, a espanha, os estados Unidos da

américa, a estónia, a França, a Grécia, a Holanda, a islândia, a itália, a letónia, a lituânia o

luxemburgo, a noruega, a polónia, portugal, o reino Unido, a república checa, a roménia

e a turquia. ➤

Cimeira da NatoUm novo conceito

Dossier Nato

Page 12: Diplomática n.º 8

12 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010

Pascal Teixeira da Silva - Embaixador de França

O mundo está a mudar, com o aparecimento

de potências e conjuntos regionais, e com a

diversificação das ameaças que nossos países

enfrentam, a maioria das quais provenientes

de factores não estatais. neste novo contex-

to estratégico, a aliança atlântica tem que se

adaptar. ela mantém a sua importância como

aliança de defesa dos países europeus e norte-

americanos que partilham os mesmos valores

e se confrontam com as mesmas ameaças. ela

tem assegurado a defesa colectiva dos seus

membros e tem-se mostrado eficaz e duradoura.

É por isso que a 24ª cimeira da nato, que

terá lugar em lisboa a 19 e 20 de novembro

de 2010, será um momento crucial para a

adaptação da nato aos desafios do século

XXi.

o conceito estratégico da nato, que é um do-

cumento público, é o texto mais importante de-

pois do tratado do altlântico norte, fundador da

aliança em 1949. ele define a natureza, os ob-

jectivos e as missões da aliança atlântica, bem

como os meios necessários para levar a cabo

as suas tarefas. na versão actual, o conceito

estratégico data de 1999. onze anos depois, é

preciso actualizá-lo. a nova versão deverá ter

em conta as grandes evoluções que atingiram

a aliança e o seu meio estratégico ao longo de

dez anos: o alargamento da nato a nove es-

tados-membros da europa central e oriental; a

sua implicação na resolução de grandes crises

internacionais, no Kosovo ou no afeganistão; o

desenvolvimento de novas ameaças internacio-

nais (terrorismo, proliferação nuclear, química

e bacteriológica; ataques cibernáuticos); o novo

lugar que a rússia ocupa actualmente.

neste ambiente cada vez mais incerto, a Fran-

ça não deixará de lembrar que a missão primor-

dial da aliança continua a ser a defesa colectiva

dos seus membros, como prevê o artigo 5 do

tratado do atlântico norte. a este propósito, a

dissuasão nuclear continua a ser crucial para

a preservação da credibilidade da aliança. a

defesa antimíssil é um complemento útil para

a dissuasão nuclear mas não se lhe poderá

substituir.

a experiência dos balcãs ou do afeganistão

mostra que as crises internacionais são cada

vez mais complexas e que a sua resolução pela

comunidade internacional exige que se possa

combinar acções civis e militares e permitir que

actores muito diversos trabalhem em conjunto. ➤

Dossier Nato

Page 13: Diplomática n.º 8

13novembro/dezembro 2010 - diplomática •

➤ a nato deve portanto delinear a sua acção

mediante uma abordagem global das crises

adaptando a sua organização e as suas re-

lações a outros actores de gestão de crises

para melhorar a cooperação com esses acto-

res. a nato, sendo fundamentalmente uma

organização militar, não deverá ser um actor

global, mas um dos actores do sistema global,

ligado aos outros e colaborando com eles. a

este respeito, deve ser prestada uma atenção

especial ao aumento da importância da União

europeia que, particularmente desde a entrada

em vigor do tratado de lisboa, dispõe de toda

a gama de instrumentos para intervir em prol da

resolução das crises, da manutenção e conso-

lidação da paz e do desenvolvimento. membro

da União europeia e da aliança atlântica, a

França defende o reforço das relações entre as

duas organizações para garantir a eficácia e a

complementaridade das nossas acções, e não

a concorrência e a duplicação.

a partir da revisão do conceito estratégico

deve conceber-se e implementar uma reforma

profunda da nato. devemos fazer da aliança

atlântica uma organização cada vez mais eficaz

e reactiva num contexto orçamental exigente e

num ambiente estratégico imprevisível.

o segundo grande assunto na ordem do dia

da nato será a situação no afeganistão onde

está empenhada no terreno a maior (120.000

homens e mulheres) e mais longa (desde 2001)

operação da nato, agindo sob mandato do

conselho de Segurança das nações Unidas.

a cimeira de lisboa será uma ocasião para

reafirmar a unidade dos aliados e a sua deter-

minação em prosseguir, “pelo tempo que for ne-

cessário”, a sua intervenção neste país, como

lembrou o presidente Sarkozy no seu discurso

de 25 de agosto de 2010.

Será igualmente abordada a transferência

progressiva das responsabilidades para o

afeganistão – a transição acordada pela comu-

nidade internacional durante as conferências

internacionais de londres (Janeiro de 2010) e

de cabul (Julho de 2010).

Finalmente, entre os parceiros internacionais da

nato, a rússia, sendo um vizinho directo dos

vários estados-membros, tem uma importância

especial. a cimeira em lisboa será uma oca-

sião para dar um novo impulso a uma coope-

ração necessária a ambas as partes durante

um encontro ao mais alto nível entre a rússia

e a nato. a França apoia esta iniciativa, que

permitirá identificar todas as ameaças com que

elas estão igualmente confrontadas e avançar

relativamente à realização de cooperações con-

cretas nos domínios em que os seus interesses

de segurança são idênticos, como o afeganis-

tão ou a defesa antimíssil.

concluindo, assim como em lisboa em 2008

quando foi assinado o tratado de lisboa, a

União europeia apresentou os seus princípios

fundamentais para o início do século XXi,

também a nato vai apresentar os seus, em

lisboa, em 2010. lisboa pode felicitar-se por

acolher os processos de renovação das comu-

nidades europeias e transatlânticas.

a próxima cimeira Ue/estados Unidos, que terá

lugar em lisboa no próximo dia 20 de novem-

bro, será importante por dois motivos.

no plano institucional, trata-se do primeiro en-

contro euro-americano desde a entrada em vi-

gor do tratado de lisboa. este tratado permitiu

agrupar, racionalizar e reforçar os instrumentos

de política externa da Ue até então divididos

entre o conselho e a comissão. a pergunta

provocadora e célebre de Henry Kissinger “a

europa, qual é o número de telefone?” obteve

finalmente uma resposta. Futuramente o ➤

A experiência dos Balcãs ou do

Afeganistão mostra que as crises

internacionais são cada vez mais

complexas

Page 14: Diplomática n.º 8

14 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010

➤ presidente americano, bem como os outros

dirigentes mundiais, podem dirigir-se a um

triunvirato estável : um presidente do conselho

instituído com mandato de dois anos e meio,

van rompuy ; um alto representante para

a política externa e a política de segurança,

catherine ashton, que é simultâneamente vice-

presidente da comissão, apoiada pelo serviço

de acção externa, um género de ministério dos

negócios estrangeiros da União; e um presiden-

te da comissão europeia, Durão barroso. estão

assim reunidas as condições formais para que a

próxima cimeira euro-americana tenha sucesso.

Fundamentalmente, a Ue, depois de ter avan-

çado com as suas instituições, envolveu-se no

exame e na definição das suas relações com os

grandes parceiros estratégicos, pólos de poder

(no século XXi – os estados Unidos, evidente-

mente, mas também a rússia, a china, a Índia,

o brasil, e os grandes agrupamentos regionais

como a União africana, o mercoSUl, a aSe-

an ou o cceaG (conselho de cooperação dos

estados árabes do Golfo). o mundo globalizado

é a partir de agora multipolar. assistimos a uma

importante redistribuição da riqueza e do poder.

a Ue tem todos os trunfos – humanos, cultu-

rais, tecnológicos, económicos, militares – para

continuar a ser um destes grandes pólos em

redor dos quais se está a organizar a sociedade

internacional, sendo disso exemplo a compo-

sição e a importância crescente, pedida pela

França, do G20.

com os estados Unidos, a União europeia

partilha valores, tais como : democracia, liber-

dade, estado de direito, direitos do Homem

– e responsabilidades – como contribuir para

prevenir e resolver as crises e conflitos que

abalam o mundo, lutar contra as ameaças

transversais que agridem a nossa segurança

comum (terrorismo, proliferação, tráficos, crimi-

nalidade organizada, ameaças cibernáuticas),

tratar de problemas sistémicos com os quais a

nossa sociedade se vê confrontada (alterações

climáticas, desequilíbrios e instabilidade dos

mercados monetários, financeiros e de matérias

primas, pobreza, doenças graves como a SiDa

ou o paludismo). a parceria transatlântica é um

dos pilares fundamentais para enfrentar todos

estes desafios. naturalmente, que europeus

e americanos não podem resolver sozinhos

os problemas que se lhes colocam e sem uma

conjugação de esforços é certo que nada se

fará.

embora os pontos da ordem do dia ainda

estejam em fase de elaboração, os desafios

são numerosos e as expectativas grandes de

um lado o do outro do atlântico. barak obama

lembrou precisamente que a pertinência da

relação transatlântica, no futuro, se baseia não

só na partilha de valores comuns, mas também

na capacidade da europa contribuir para a

resolução de questões tão diferentes como as

relações com a china, o êxito da estabilização

no afeganistão, ou a resolução da crise de pro-

liferação iraniana. Do lado da Ue, a expectativa

relativamente a Washington é enorme no que

diz respeito à governância económica mundial e

ao ambiente. na agenda deverão figurar igual-

mente o processo de paz no médio-oriente, a

luta contra o terrorismo ou ainda a necessária

complementaridade entre a Ue e a nato.

Desde a eleição de barak obama, os pontos

de vista europeus e americanos sobre grande

parte das importantes questões internacionais

aproximaram-se sensivelmente. o contexto

é portanto mais propício a que esta cimeira

constitua uma nova etapa no reforço de uma

cooperação indispensável entre a europa e os

estados Unidos. n

Desde a eleição de Barak Obama,

os pontos de vista europeus e

americanos sobre grande parte das

importantes questões internacio-

nais aproximaram-se sensivelmente

Pascal Teixeira da Silva

Page 15: Diplomática n.º 8

15novembro/dezembro 2010 - diplomática •

A nato tem que definir a forma de enfrentar os

novos desafios da realidade geopolítica, desde

as ameaças mais recentes como o terrorismo

ou os perigos do ciberespaço, até às mais tradi-

cionais ameaças contra os interesses territoriais

dos seus membros. a nato precisa de mostrar

que é capaz de responder às mudanças e ao

ritmo a que têm lugar num mundo cada vez mais

interligado.

o reino Unido regista com agrado a forma como

o Grupo de peritos foi ao alcance da socie-

dade civil e das organizações internacionais

no processo de elaboração deste documento,

ultrapassando o circuito tradicional da própria

estrutura da nato. encaramos com interesse a

perspectiva de um debate mais detalhado sobre

as propostas apresentadas pelo Secretário-Geral

anders Fogh rasmussen, durante a reunião

conjunta com ministros da defesa e negócios

estrangeiros em meados de outubro.

este será um dos assuntos mais importantes da

cimeira da nato, a ter lugar aqui em lisboa em

novembro, e inclui um debate sobre o futuro da

estrutura de comandos da nato. os ministros

Alexander Ellis - Embaixador do Reino Unido

britânicos desejam um acordo que defina uma

estrutura de comando substancialmente mais

pequena e mais económica. os progressos

conseguidos até ao momento em bruxelas são

encorajadores: é necessário encontrar o equilí-

brio certo entre as estruturas de comando e de

forças. neste processo, o reino Unido não tem

em mente nenhum projecto para a localização

geográfica das bases da nato no futuro.

esperamos também que durante a cimeira se-

jam tomadas algumas decisões importantes

sobre a presença da nato no afeganistão,

em particular no que diz respeito aos planos da

transferência gradual da responsabilidade pela

segurança para as autoridades afegãs.

pode ser também que haja um conselho

nato-rússia durante a cimeira. trata-se de

um mecanismo importante para os objectivo do

relacionamento nato/russia, nomeadamente

em termos de confiança recíproca e segurança

mútua. acreditamos que os nossos interesses de

segurança mútua são melhor servidos se trabal-

harmos em conjunto na resolução de problemas

como o afeganistão, narcóticos, terrorismo,

segurança fronteiriça, proliferação e pirataria.

Queremos que a nato tenha um relacionamen-

to sólido e honesto com a rússia.

a importância da relação da União europeia com

os estados Unidos, superpotência pro-eminente

do mundo económico e político, não necessita

de ser reafirmada aqui. À imagem do que acon-

tece com outros parceiros estratégicos da Ue,

com os quais procuramos definir a orientação da

nossa relação, é fundamental que continuemos a

colaborar estreitamente com os estados Unidos.

Ficámos, por isso, satisfeitos por portugal ter

chegado a um acordo para que esta cimeira

tivesse lugar aqui em lisboa. ao mesmo tempo,

partilhamos da opinião de que esta deve ter uma

agenda clara, centrada na preparação de uma

estratégia para fazer frente aos desafios que jun-

tos enfrentamos, como os objectivos do milénio,

a ajuda ao paquistão que recupera de cheias

devastadoras, a eliminação de barreiras no

comércio internacional, ou a luta contra as alter-

ações climáticas, entre outros. ■

Dossier Nato

A importância da relação da União

Europeia com os Estados Unidos,

superpotência pro-eminente do

mundo económico e político, não

necessita de ser reafirmada aqui.

Page 16: Diplomática n.º 8

16 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010

Botschafter Elfenkämper - Embaixador da Alemanha

Este outono estaremos perante importantes

decisões para o futuro no que toca à política

externa. Fazemos intenções de aprovar, duran-

te a cimeira, nos dias 19 e 20 de novembro,

um novo conceito estratégico da nato. o

Secretário-Geral rasmussen apresentou um

projecto - do nosso ponto de vista, muito bom

- que constitui uma base excelente para as res-

tantes consultas e que também pega em muitas

sugestões, apresentadas por nós durante o

processo que decorreu até agora.

os ideais fundadores da aliança e as questões-

chave do corrente conceito estratégico de

1999 ainda são válidos. não obstante, o mundo

enfrenta, actualmente, ameaças novas e cada

vez mais globais, como o terrorismo, a proli-

feração de armas de destruição maciça e dos

respectivos vectores, e ciber-ataques. É sobre

este pano de fundo que o novo conceito estra-

tégico terá que servir de guia, contribuindo para

forjar um novo consenso estratégico, definindo

a direcção que a aliança deverá tomar nos

próximos 10 a 15 anos.

o compromisso central, como está descrito no

artigo 5, continuará a ser o claro enquadramen-

to de referência para a aliança: salvaguardar

e defender, pelos meios políticos e militares, a

segurança e liberdade dos seus membros. no

entanto, a nato é mais do que uma aliança

para a defesa. É uma aliança para a seguran-

ça. a nossa ambição deveria ir no sentido de

continuar a fortalecer a segurança pan-euro-

peia.

Um foco claro nas medidas de dissuasão e de

tranquilização não deverá ter como consequên-

cia a negligência de quaisquer outros elemen-

tos de segurança cooperativa, nomeadamente

parcerias, o reforço da confiança e da seguran-

ça, o controle de armas e o desarmamento. as

medidas de tranquilização e a segurança coo-

perativa com a rússia devem andar de mãos

dadas. no passado recente, tem havido sinais

encorajadores para afastar o estigma da guerra

fria e para iniciar uma relação mais sóbria e

pragmática com a rússia.

Desde 1999, a aliança tem sido confrontada

com riscos e desafios novos e frequentemente

híbridos, participando em operações complexas

na europa e a uma distância estratégica.

não há qualquer dúvida que a aliança tem um

papel fundamental no que toca aos desafios

novos e emergentes. a nato tem que ter a ➤

Dossier Nato

Page 17: Diplomática n.º 8

17novembro/dezembro 2010 - diplomática •

➤ capacidade de agir quando e onde for neces-

sário. Frequentemente, uma defesa eficiente

contra as novas ameaças tem que ser iniciada

muito para além do seu próprio território. no en-

tanto, a aliança não é, de modo nenhum, a úni-

ca resposta a todos os problemas que afectam

a segurança internacional. não acreditamos que

a nato tenha uma responsabilidade univer-

sal. e, muito simplesmente, não possui meios

ilimitados. o tratado de Washington não envol-

ve responsabilidades a uma escala global. por

conseguinte, a acção da nato deverá continu-

ar claramente ligada à salvaguarda da seguran-

ça da área euro-atlântica, de modo a assegurar

o maior apoio possível internamente. apesar da

necessidade de adaptar a estratégia da nato

aos riscos da segurança global, acreditamos

firmemente que a chave é a legitimidade inter-

nacional. a aliança deve empenhar-se na reali-

zação dos propósitos e princípios da carta das

nações Unidas e da legislação internacional. e

é isso que deveremos afirmar no novo conceito

estratégico. deveremos também reiterar a dis-

ponibilidade contínua da aliança, no sentido de

usar as suas capacidades para a manutenção

da paz, sob os auspícios das nações Unidas.

a experiência no afeganistão deu à nato a

oportunidade de aprender lições valiosas, por

vezes, do modo mais difícil. a estabilidade não

pode ser conseguida apenas através de meios

militares. as responsabilidades-chave para a

estabilização e a reconstrução estão, frequen-

temente, nas mãos de outros actores, nomea-

damente dos governos locais ou das nações

Unidas. por outro lado, a intervenção da nato

poderá ser necessária, no sentido de dar apoio

a estas organizações. por conseguinte, a nato

tem que realçar a sua capacidade para cooperar

com outros actores internacionais, especialmen-

te a União europeia e as nações Unidas, bem

como com onGs e outros actores civis. não

obstante, a aliança não tem que desenvolver

as suas próprias capacidades civis, mas sim a

sua capacidade para interagir de modo eficaz

com outros parceiros. infelizmente, o estado

actual das relações Ue/nato não permite que

esta cooperação atinja o seu potencial máxi-

mo. temos que alterar esta situação. a grande

sobreposição dos membros e dos interesses

exige uma cooperação próxima e estratégica,

em particular na gestão de crises.

no que diz directamente respeito à questão

do afeganistão, a cimeira de lisboa será um

marco importante. pretendemos definir a direc-

ção a tomar, de modo a que a entrega gradual

da responsabilidade pela segurança nas mãos

dos afegãos possa, efectivamente, iniciar-se no

próximo ano.

Gostaria de resumir as nossas expectativas

mais importantes para a cimeira da nato em

lisboa em três pontos. em primeiro lugar, o

nosso desejo de que não se entenda a nato

apenas como uma aliança militar, mas também

como uma comunidade de valores políticos. em

segundo lugar, pretendemos uma cooperação

estratégica da aliança com a rússia. e, em ter-

ceiro lugar, aspiramos a que seja reconhecida

a relação entre a segurança internacional e o

desarmamento, ou seja, à não-proliferação nu-

clear. pretendemos ampliar ainda mais a janela

de oportunidades que se abriu aqui nos últimos

meses. o desarmamento constitui um desafio

tão grande para a Humanidade como a protec-

ção climática. Quanto mais estados tiverem

acesso a arsenais nucleares, maior é o perigo

de que estes caiam nas mãos de terroristas. n

Salvaguardar e defender, pelos

meios políticos e militares, a

segurança e liberdade dos seus

membros

Page 18: Diplomática n.º 8

18 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010

A definição tradicional do conceito de seguran-

ça dava mais importância ao controlo e uso da

força militar por parte dos estados. no entanto,

na época pós-guerra fria os perigos e as amea-

ças externas contra a segurança nacional dum

país não são só de natureza militar e não se

podem enfrentar só com meios militares. além

disso, a natureza variável dos conflitos consti-

tui, aparentemente, a característica dominante

do mundo pós-bipolar, onde os conflitos que

decorrem em cada vez mais lugares do planeta

são mais “intra-estatais” e menos “inter-esta-

tais”.

portanto, devido à natureza transnacional de

muitos problemas de segurança, a cooperação

internacional, relacionada com o desenvolvi-

mento das organizações regionais e interna-

cionais, torna-se indispensável. a diferenciação

funcional constitui o mecanismo de transforma-

ção e adaptação destas organizações perante

as condições de segurança mundiais facilmente

variáveis, uma vez que estão a ser seriamente

questionadas as razões da sua existência em

termos militares. Um exemplo característico

deste tipo de organização é a nato.

a partir de 1989 em diante, a nato tem sofrido

Vassilios Costis - Embaixador da Grécia

alterações significativas. Uma aliança de guerra

fria bem sucedida, embora de carácter estático,

evoluiu para uma organização mais dinâmica

através da adesão de novos membros, da re-

organização da estrutura de administração, do

fortalecimento das suas relações entre parcei-

ros, do reforço da sua cooperação com outras

organizações internacionais, da sua transfor-

mação militar e da adopção de um novo Dogma

estratégico. este Dogma descreve o objectivo

da nato, a sua natureza e as suas funções

principais de segurança. trata-se da decla-

ração fundamental dos objectivos da aliança,

que por um lado fornece a orientação política

necessária para o desenvolvimento dos meios

militares e políticos necessários para a realiza-

ção destes objectivos e, por outro lado, constitui

a base para a realização, na sua totalidade, das

políticas da nato.

a defesa colectiva do artigo 5º continuará a

constituir a missão principal da nato no âmbito

actual de segurança internacional, caracteriza-

do pelo surgir de novos desafios em termos de

segurança, tais como a difusão das armas de

destruição massiva, o terrorismo internacional,

a segurança do ciberespaço, a segurança ➤

Dossier Nato

Page 19: Diplomática n.º 8

19novembro/dezembro 2010 - diplomática •

➤ energética, a pirataria, as alterações climá-

ticas e as pandemias. para o combate eficaz

contra estes desafios é preciso ser adoptada

uma aproximação coerente por parte da comu-

nidade internacional, constituída por um es-

pectro alargado de mecanismos militares e não

militares. no ambiente internacional actual, a

segurança, que já não está só relacionada com

o campo dos conflitos inter-estatais e o desen-

volvimento tendem a ser considerados como

inseparáveis. a «vitória militar» não é, por si só,

suficiente para que um organismo defensivo

alcance êxitos no âmbito da segurança. pelo

contrário, para que estes sejam alcançados,

é necessário o estabelecimento de relações,

a coordenação e a cooperação com todos os

actores, respeitando a autonomia institucional e

o modo de funcionamento de cada um deles.

a aliança continuará a participar, também, na

gestão das crises e na prevenção dos conflitos

e a realizar operações que não estão previstas

no artigo 5º. a experiência obtida através da

realização deste tipo de operações tem de-

monstrado a importância da possibilidade de

realização de operações de estabilidade e da

prestação de assistência militar em esforços de

reconstrução. além disso, a aliança fortalecerá

as suas relações com as outras organizações

internacionais, irá intensificar os contactos

com os seus parceiros, através da adaptação

adequada do programa “parceria para a paz”,

do “diálogo mediterrâneo” e da “iniciativa da

cooperação de istambul” e irá melhorar a sua

cooperação na prática com os ditos “países de

contacto”. a cooperação com a União europeia

que tem a capacidade de recurso a uma ampla

escala de meios e capacidades não militares,

entre as quais as verbas comunitárias, espe-

cialmente valorizáveis pela aliança, é indis-

pensável para a nato, para alcançar os seus

objectivos. a cooperação política e operacional

com a rússia, como por exemplo no afeganis-

tão, irá também reforçar significativamente as

capacidades da nato.

a constante transformação da nato converte a

aliança numa organização capaz de contribuir

para a aproximação firme da segurança e para

a salvaguarda dos interesses colectivos dos

seus estados-membros. na medida em que, no

futuro, a nato não reduza os seus esforços

para a prestação de garantias de segurança

aos seus estados-membros, fará com que o

fosso de conceitos, que a separa dos seus anti-

gos adversários, diminua e responderá às obri-

gações oriundas da assunção do papel de actor

internacional no âmbito mundial de segurança,

irá conservar e aumentar o seu valor. a nato

deverá estar em posição de, com base numa

hierarquização de prioridades, de acordo com

os meios que os estados-membros colocam à

sua disposição, garantir, em primeiro lugar, a

defesa colectiva dos seus membros, gerindo

desafios de segurança tradicionais e actuais

mas também, contribuir, na medida das suas

capacidades, para os esforços internacionais

no combate contra crises graves e a consoli-

dação da paz e da segurança, respeitando os

princípios do direito internacional e as decisões

das nações Unidas. n

A definição tradicional do con-

ceito de segurança dava mais

importância ao controlo e uso

da força militar por parte dos

Estados.

Page 20: Diplomática n.º 8

20 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010

Over the years the alliance has shown a remarka-

ble ability to adapt to a changing security envi-

ronment. nato’s relevance has not diminished,

rather the opposite. over time its focus has shifted

but the core task of the alliance remains the same,

collective defence within the framework of article

v of the Washington treaty. the commitment to

collective defence is as solid today as it was when

nato was founded in 1949. Some predicted that

nato would be less relevant after the end of the

cold War. i happen to disagree. in addition to

nato’s core tasks i believe nato’s current enga-

gements in operations in the balkans and afgha-

nistan as well as surveillance and counter piracy

operations at sea prove that nato is relevant.

nato has never been busier.

nato’s future is to a large extent what the lisbon

Summit is all about. the allies will agree on a new

Strategic concept and make important decisions

on the very demanding operation in afghanistan.

the new Strategic concept is nato’s strategy

for dealing with new challenges in an ever chan-

ging security environment. the only thing certain

about the future is that it is uncertain. an alliance

between democratic nations built on common

values continues in my view to be the best insu-

Inga Magistad - Embaixadora da Noruega

rance policy and instrument for dealing with future

security challenges in the transatlantic area. i am

confident that nato’s partnerships will play an

even more important role in the decades to come

and that nato will continue to be the arena for

trans-atlantic dialogue.

First of all i am convinced lisbon will be a won-

derful venue for the Summit. the city has so

much to offer and i hope the delegates will have

time to step out of the meeting rooms and enjoy

this beautiful and historic city. as i mentioned the

key deliverable from the Summit will be the new

Strategic concept. this will be yet another miles-

tone in nato’s history, and may i add at a very

important juncture. the world and nato’s security

environment looks very different today than what it

did when nato’s current Strategic concept was

agreed in 1999. i am confident that nato will con-

tinue to make bold decisions and adapt its strategy

to the challenges of the 21st century.

as a non eU member norway does not have any

strong opinions on the summit between the eU

and the US. in general, however, we are pleased

to see that there is close cooperation and fruitful

exchanges of views between our two closest part-

ners in security policy and economic relations. ■

Dossier Nato

I am confident that NATO will

continue to make bold decisions

and adapt its strategy to the

challenges of the 21st century.

Page 21: Diplomática n.º 8

21 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010

Lithuania joined the nato in the group of 7

central and eastern european nations on the

29th of march 2004. by this act, a longstanding

dream of lithuania came true: our country be-

came a member of the defensive alliance of the

democratic states, based on respect of sove-

reignty, territorial integrity, human rights, rule of

law and other democratic principles. lithuania

needed it to secure its regained freedom and

independence.

although security of the country and collective

defense are the two major factors which brou-

ght lithuania to the nato, we clearly unders-

tand that we can’t be merely consumers of

security, which is provided by the organization.

We also have strong obligation to contribute

to international security. that’s why lithuania

sent hundreds of troops and police forces to the

“hot spots” of the world: afghanistan, iraq, the

balkans. already 5 years lithuania leads the

provincial reconstruction team in Ghor provin-

ce in afghanistan.

preparing for the lisbon Summit, lithuania is

participating in a drafting of the nato’s new

Strategic concept, the first to be adopted since

the enlargement of the alliance. in this docu-

Algimantas Rimkunas - Embaixador da Lituânia

ment, lithuania, as well as other nato mem-

bers, the collective defense would like to see as

the core function of the alliance. the commit-

ments of article 5 of Washington treaty, which

in fact mean reassurance within the nato,

have to be supported by practical measures.

only safety and security of all members of the

alliance can assure its successful external

action and relationship with non-member coun-

tries.

nowadays the world is facing the new uncon-

ventional threats, such as terrorism, piracy,

potential energy supplies disruptions, cyber

crimes etc. in a new Strategic concept, lithua-

nia supports the development of the nato ca-

pabilities to respond to these new challenges,

especially clear alliance’s role in the area of

energy security. but it is imperative that this not

be done at the expense of its core function.

lithuania strongly supports nato’s open door

policy, which is a crucial contribution to the

security and stability in euro-atlantic region.

enlargement of the alliance is a vivid political

process between the nato and aspirant coun-

tries and should remain such, guided by the

article 10 of Washington treaty. in this respect,

lithuania is of the opinion that, according to

bucharest nato Summit decisions, the status

of Georgia and Ukraine, as future members of

the alliance, should be correctly reflected in

nato’s new Strategic concept. ■

Dossier Nato

Nowadays the world is facing

the new unconventional threats,

such as terrorism, piracy, poten-

tial energy supplies disruptions,

cyber crimes etc.

Page 22: Diplomática n.º 8

22 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010

Ivan Petrov - Embaixador da Bulgária

As novas realidades geo-estratégicas coloca-

ram perante a nato novas tarefas, respon-

sabilidades e incumbências. criada em 1949

com o objectivo de defender a liberdade e a

segurança dos seus membros, a organização

passou por várias provações e transformações.

Durante o período da guerra fria, que durou até

1989, a nato garantia a segurança aos países

ocidentais e mantinha os valores e os princípios

democráticos. nos anos 90, o propósito fun-

damental era o projecto duma europa unida e

livre. nesse período, pela primeira vez a nato

envolveu-se em acções militares nos balcãs,

o que contribuiu para a estabilização duradou-

ra nesta parte do mundo. o fim da guerra fria

criou possibilidades para o desenvolvimento

duma série de parcerias com os países da

europa central e do leste e com a rússia, o

que tornou a europa mais segura e estável. o

alargamento da aliança contribuiu para o alar-

gamento da zona da estabilidade e incrementou

a capacidade de resposta aos novos desafios

face à segurança.

atravessando os umbrais do século XXi, a alian-

ça enfrentou novos desafios, imprevisíveis e

assimétricos pela sua natureza como, por exem-

plo, crises regionais e conflitos provocados por

confrontos étnicos, políticos e doutra índole em

vários países e regiões do mundo, acções ter-

roristas, criminalidade organizada, proliferação

de armas de extermínio em massa, destruição

de infra-estruturas do sector energético, ciberas-

saltos, pirataria. a necessidade de encarar as

novas realidades e desafios face à segurança

pressupunha em muitos casos acções da nato

fora da área euro-atlântica tradicional, como

aconteceu no afeganistão, no Golfo de ádem e

no paquistão, entre outros. as novas condições

de segurança, a urgência duma adopção de

abordagens adequadas para resolver os novos

riscos e ameaças, bem como a alteração dos

imperativos defensivos implicam uma transfor-

mação dinâmica das capacidades militares da

nato, a procura de novas iniciativas para o

desenvolvimento das parcerias, consultas mais

intensas na esfera da segurança e uma estrutu-

ra mais eficiente da aliança.

o Futuro da nato como organização interna-

cional

em maio último, foi publicado um relatório do

grupo de peritos reunido pelo Secretário-Geral

da nato, com base no qual será elaborado ➤

Dossier Nato

O fim da guerra fria criou possibilidades

para o desenvolvimento duma série de

parcerias com os países da Europa

Central e do Leste e com a Rússia, o que

tornou a Europa mais segura e estável.

Page 23: Diplomática n.º 8

23novembro/dezembro 2010 - diplomática •

➤ um projecto para um novo conceito estratégico

da aliança. espera-se que o documento seja

aprovado na cimeira da nato em lisboa, onde

se dará resposta às questões relacionadas com

o futuro da organização. o relatório dos peritos

delineou as direcções estratégicas fundamen-

tais da actividade da nato nos próximos dez

anos. a nato manterá a sua função central,

registada no artigo 5º do tratado da nato,

nomeadamente, a defesa colectiva, inclusive o

desenvolvimento de capacidades militares de

confiança, planeamento e logística. continua a

ser tarefa primordial a defesa contra ameaças

não-convencionais (terrorismo, proliferação de

aem, combate à pirataria, aos ciberassaltos,

etc.) que possam surgir muito além das frontei-

ras da aliança. a realização bem-sucedida das

operações pelo mundo fora e sobretudo a mis-

são no afeganistão será de suma importância

para o prestígio da aliança no futuro. a aposta é

grande e os aliados e os parceiros evidenciam

sérios esforços para cumprirem esta missão

com êxito.

o novo conceito estratégico tem de afirmar que

a nato não ficará sozinha no caminho por que

enveredou, mas sim poderá contar com o apoio

dos seus parceiros, antigos e novos, para a

solução de problemas-chave da segurança. «a

porta da nato» tem de continuar aberta para

novos membros como mecanismo e contributo

para a segurança colectiva. o desenvolvimen-

to das parcerias permitirá que a organização

opere e encontre soluções em situações de

crise. É sobretudo importante manter o diálogo

e a cooperação com a rússia como garantia da

segurança na área euro-atlântica.

Uma política nuclear de confiança e a manuten-

ção de reservas de forças nucleares contribuirá

para o processo da contenção nuclear global

na zona da segurança. o desenvolvimento dum

sistema da nato para uma defesa territorial

antimíssil será uma resposta eficiente às amea-

ças de ataques com mísseis balísticos.

tendo em vista o facto de que hoje em dia

a segurança não se associa unicamente ao

cumprimento das tarefas militares, a nato, em

conjunto com as outras organizações inter-

nacionais, terá de aplicar no futuro uma nova

abordagem abrangente na gestão das crises,

conjugando elementos militares e civis.

Quanto às expectativas relativas à próxima

cimeira

esperamos que a cimeira da nato em lisboa

se torne um fórum de discussões intensas e

soluções de problemas-chave da ordem do dia.

atribuímos uma relevância especial à aprova-

ção do novo conceito estratégico, a respeito

do qual temos a esperança de que reafirme os

valores e os princípios básicos da aliança, in-

clusive do artigo 5º do tratado de Washington,

a relação transatlântica, bem como de que dê

continuação à política das «portas abertas» e à

responsabilidade assumida nos balcãs. consi-

deramos que a nato deve prestar uma aten-

ção séria à região do mar negro como parte

indivisível da segurança euro-atlântica.

o desenvolvimento das parcerias é uma res-

posta eficaz aos desafios na área da segurança

no séc. XXi. as relações com a rússia devem

assentar numa colaboração construtiva para

a solução de questões estratégicas da segu-

rança. a nato deve adoptar uma abordagem

concertada, no que respeita à segurança ener-

gética, sublinhando o seu papel político, desen-

volvendo paralelamente capacidades de operar

«dentro» e «fora» da área da responsabilidade

da aliança. a integração mais rápida dos novos

membros da nato nas estruturas estratégicas

garantirá o cumprimento mais pleno das tarefas

comuns. os diferentes desafios e ameaças que

enfrenta a nato exigem esforços abrangen-

tes e bem coordenados dum amplo leque de

participantes: da esfera civil e militar, de orga-

nizações não-governamentais, bem como uma

colaboração eficiente com as organizações

internacionais.

tal como os outros aliados, também a bulgária

compartilha a sensação de ameaça, sendo que

o flanco sul se revela o mais vulnerável. isto é

um estímulo poderoso para que a aliança siga

em frente no desenvolvimento de capacidades

de defesa antimíssil. ■

Page 24: Diplomática n.º 8

24 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010

Jaroslav Jarúnek - Embaixador da República Eslovaca

Apesar das mudanças na ordem geopolítica

mundial, a relevância da existência da nato é

indiscutível. a aliança é o maior grupo de defe-

sa global e o seu papel estabilizador no mundo

é de primordial importância. para a eslováquia

a nato é uma das prioridades da sua política

externa e de defesa. Dadas as mudanças no

mundo, é necessário responder a estes desa-

fios e adaptar-se às novas condições. neste

contexto, terá particular importância a adopção

do seu novo conceito estratégico na cimeira de

lisboa, mantendo o artigo 5 do tratado de Wa-

shington no âmbito da defesa comum. na nova

estratégia a aliança atlântica deveria ter em

conta também as novas formas de ameaças po-

tenciais, a proliferação de armas de destruição

maciça, a luta contra o terrorismo, os ataques

cibernéticos ou de pirataria, que também são

novos desafios. Finalmente, mas não menos

importante é a segurança energética.

a relevância da nato deveria ser confirmada

também mediante o sucesso futuro da iSaF no

afeganistão, onde a república eslovaca tam-

bém participa com as suas forças armadas. no

entanto, vai levar o seu tempo, pelo que não

antevejo resultados significativos a curto prazo,

mas será crucial para gradualmente entregar

aos afegãos, às suas forças armadas e da polí-

cia a responsabilidade pelo seu próprio país. Só

então será possível a nato retirar-se do país.

claro, que para o sucesso da operação será

importante também a dimensão civil, a constru-

ção do país de tal maneira que os talibãs sejam

derrotados, não só fisicamente, mas principal-

mente na mentalidade da população nacional.

outros desafios para a aliança serão a procura

de novas parcerias no âmbito da nova ordem

global, incluindo a cooperação pragmática com

a rússia. acredito que a todos estes desafios,

a aliança responderá com o novo conceito es-

tratégico durante a próxima cimeira em lisboa.

para a república eslovaca as relações com os

eUa são de uma importância extraordinária, os

laços transatlânticos estão entre as prioridades

da política externa da eslováquia e, com respei-

to a isso consideramos a próxima cimeira Ue /

eUa de particular relevância. os eUa são para

nós não só um importante parceiro comercial,

mas sobretudo um dos principais investidores

estrangeiros. a reunião deveria conduzir a um

alargamento da cooperação de ambos os lados

do atlântico em todas as áreas. os resultados

positivos da cimeira ajudarão a enfrentar os ac-

tuais desafios, na área da política, da economia

e do comércio mútuo, estabilização dos merca-

dos financeiros, dos transportes e outros. Será

importante encontrar posições comuns e equili-

bradas sobre as questões tratadas no G20, no

domínio das mudanças climáticas e procurar

compromissos mutuamente benéficos. ■

Dossier Nato

Dadas as mudanças no mundo, é ne-

cessário responder a estes desafios e

adaptar-se às novas condições

Page 25: Diplomática n.º 8
Page 26: Diplomática n.º 8

26 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010

João Mira Gomes por antónio manuel pinho, fotos de andré Garrido

Embaixador de Portugal na NATO

“Gostaríamos de reduzir o nível da presença militar no Afeganistão, mas mais do que ter datas é ter objectivos”

Diplomata de carreira, o recém-nomeado embaixador de Portugal na NATO foi

Secretário de Estado no primeiro governo de Sócrates, ex campeão nacional

de Ténis, motard, corredor de automóveis e, até, participante na etapa para

amadores da Volta a Portugal em Bicicleta ➤

Diplomacia na 1ª pessoa

Entrevista

Page 27: Diplomática n.º 8

27novembro/dezembro 2010 - diplomática •

➤ João mira Gomes recebeu-nos em

sua casa, no estoril, seis dias antes

de iniciar funções (27 de Setembro).

na agenda, como seria evidente,

está a cimeira da nato de novem-

bro, em lisboa, bem como o proces-

so de reorganização da nato sob

um clima de crescente contestação

à presença militar no afeganistão.

O senhor embaixador foi repre-

sentante de Portugal no Comité

Político e de Segurança da União

Europeia, foi também secretário

de Estado da Defesa do anterior

governo, mas não corresponde ao

padrão típico de um político…

eu, na realidade, não sou político.

Sou um funcionário da carreira

diplomática do ministério dos ne-

gócios estrangeiros, a minha pas-

sagem pela política foi episódica –

embora tenha gostado muito dessa

experiência -, mas foi apenas uma

experiência de três anos e meio, e

sabendo, quando nela entrei, que

iria sair da política e regressar à

minha carreira, que é a carreira

diplomática.

E quando começou a sua carrei-

ra?

Fiz concurso de adido de embaixa-

da, em 1983, comecei a trabalhar

no ministério em finais desse ano. o

meu primeiro posto diplomático no

estrangeiro foi, de facto, a nato,

em 1987.

Já é reincidente…

(risos) Sou reincidente, embora

em circunstâncias diferentes. mas,

pelo meio, quando tivemos a nos-

sa primeira presidência da União

europeia, estive na missão de

monitores, em zagreb, numa missão

de observadores durante a guerra

da ex Jugoslávia. depois, regressei

à nato, ainda, durante uns meses,

e fui para macau onde fui assessor

diplomático do governador rocha

vieira. estive aí três anos e voltei

para lisboa, para preparar a presi-

dência da União europeia de 2000;

depois, estive um ano à frente da

embaixada em Sófia e, a seguir, fui

para paris.

Sófia é uma cidade fascinante.

É, é. e por duas razões. porque a

bulgária talvez fosse dos países

mais ortodoxos dentro do pacto de

varsóvia, mas também é fascinante

porque é um cruzamento de cultu-

ras. eles são eslavos mas têm uma

grande presença turca que, aliás,

não recordam com particular agra-

do. mas é, de facto, um sítio onde

se cruzam várias culturas, várias

populações. É um corredor de trân-

sito da ásia para a europa. e, nessa

altura, foi ainda mais interessante

estar em Sófia porque era uma

época de grande transição, coincidiu

com o regresso do rei Simeão – que

participou nas eleições e acabou por

ganhar. e, portanto, foi uma experi-

ência de um ano muito interessante.

Para si foi, mas para o rei nem

tanto…

(risos) mais tarde, de facto, foi

menos interessante para o rei. aliás,

tive vários contactos com ele, que

gosta muito de portugal, onde a sua

própria mãe viveu. ele episodica-

mente passou por cá e fala portu-

guês.

Portugal teve sempre essa tradi-

ção de ser uma espécie de placa

giratória de famílias reais apea-

das.

portugal e, mais particularmente,

aqui o estoril. a quatrocentos me-

tros daqui fica a villa Giraldo, que foi

residência dos condes de barcelo-

na; um pouco mais perto era a casa

do rei carol da roménia; um pouco

mais acima era uma casa para onde

veio o Fulgêncio batista, quando se

deu a revolução cubana…

O mais terrível, aqui no Estoril, foi

dar guarida a essa personagem.

(um discreto sorriso) … em cascais

esteve o rei Humberto.

mas, continuando, houve essa

passagem por Sófia, depois paris

– onde fui o número dois da embai-

xada, com o embaixador antónio

monteiro. e, logo a seguir, para

bruxelas, como já referiu, para o

comité político e de Segurança da

União europeia. e, quando estava

lá há menos de um ano a preparar

a nossa presidência de 2007, tive o

convite para ir para o governo como

Secretário de estado da defesa e

dos assuntos do mar, onde trabalhei

com o professor nuno Severiano

teixeira, mas sempre sabendo que

iria regressar à carreira diplomática.

Um bocado na linha daquelas

coisas que, às vezes, fazemos

na vida e só queremos fazer uma

vez. Vou usar uma figura de es-

tilo: foi uma espécie de salto de

pára-quedas?

(risos) não, não foi. não foi assim

que encarei. nós, muitas vezes,

criticamos os governos, os políticos,

as políticas … mas, de facto, nun-

ca temos a responsabilidade de as

conduzir. e, quando se é colocado

perante o desafio que, obviamente,

tem riscos e inconvenientes e se

diz que não, acho que nós depois

temos menos legitimidade para criti-

car quem governa. portanto, foi isso

que pensei. “tenho aqui um desafio,

para trabalhar com uma pessoa que

conheço” – de quem sou amigo e

considero muito -, coloquei várias

condições para aceitar o desafio,

essas condições foram aceites e,

depois, ia dizer o quê? “não, muito

obrigado, não quero correr esses

riscos?” e foi basicamente por aí

que aceitei, num espírito de mis-

são e de serviço público. e gostei,

também pela área da defesa, que

já conhecia – embora sem a pro-

fundidade que decorre do exercício

de funções governativas -, mas

também pela área dos assuntos do

mar, um sector muito interessante e

estratégico para o desenvolvimento

do país e para afirmação de portu-

gal no mundo. aliás, costumava ➤

Page 28: Diplomática n.º 8

28 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010

➤ dizer que este projecto do mar e,

sobretudo a extensão da plataforma

continental, vai ser tão importante

no século XXi como foram os desco-

brimentos nos séculos Xv e Xvi.

vai ser absolutamente decisivo para

o crescimento económico e para a

criação de emprego.

E é também um regresso às

origens da nossa História, essa li-

gação ao mar que, durante muitos

anos, foi muito maltratada.

Foi tratada, digamos, de uma forma

muito tradicional. Sempre olhamos

para o mar ligado às actividades

tradicionais. e as novas fronteiras

do mar são cada vez maiores. ainda

temos um conhecimento ínfimo

daquilo que ele nos pode dar.

portanto, é um regresso ao mar mas

com novos horizontes, sem descu-

rar as actividades tradicionais que,

hoje em dia, têm um peso diferente,

mas apostando nas novas oportu-

nidades, nos novos produtos que o

oceano nos pode dar. e, durante a

presidência portuguesa em 2007,

promovemos o lançamento da polí-

tica marítima europeia, depois, dois

anos mais tarde, lançamos a estra-

tégia da cplp para os oceanos, e

apresentamos a nossa proposta de

extensão da plataforma continental,

em nova iorque – dentro dos prazos

e dentro do orçamento –, o que

também é muito importante. Foi um

período muito interessante e enri-

quecedor.

Bom, passe a expressão, vamos

entrar pela NATO adentro. Têm-se

manifestado várias vozes – e não

me refiro só àquelas tradicional-

mente contrárias à organização

– que questionam a necessidade

da sua existência. Isto, principal-

mente, após a queda do muro de

Berlim e o colapso dos regimes

da órbita soviética e do Tratado

de Varsóvia. Mas, também, por

ordem da importância crescen-

te do Conselho de Segurança

da ONU e, a prazo, da possível

constituição de um exército único

europeu.

isso é uma questão recorrente,

mas temos de enquadrar a questão

em termos do que a nato é hoje

em dia e aquilo que poderá ser no

futuro. como ponto prévio temos de

pensar que, de facto, era muito mais

fácil conceber a organização num

cenário de guerra fria.

Foi assim que ela nasceu…

exactamente. mas também de-

vemos pensar – e nós somos da

geração que viveu esse período –

que sem a nato nós não teríamos

tido o período de prosperidade que

tivemos na europa, e sem essa

estabilidade ao longo dessas dé-

cadas da guerra fria não teria sido

possível, por exemplo, desenvolver

a União europeia como desenvol-

vemos. porque, de facto, a nato e

os americanos eram uma garantia

de estabilidade e de segurança para

os europeus – que são condições

essenciais para o desenvolvimento

económico.

com a queda do muro de berlim –

na qual a nato teve um importante

papel -, de facto, colocam-se novos

desafios. mas penso que a organi-

zação soube responder, porque logo

no ano seguinte – isto em 90 – foi

lançada a política da amizade e

cooperação, foi feito o convite para

os ex-países do pacto de varsóvia

estabelecerem relações diplomáti-

cas com a nato, mais tarde com a

integração de três deles. e, logo aí,

tentou fazer-se essa adaptação às

novas condições, aprovou um novo

conceito estratégico, em 91, que era

uma alteração profunda daquilo que

era nos anos 60 – este virado para

a confrontação, o de 91 virado para

a cooperação – e, portanto, come-

çou a abrir-se uma nova via para a

nato.

claro que, com o fim da guerra fria,

também houve uma outra noção,

passada para a opinião pública, de

que já não seria necessário fazer

gastos em termos de forças arma-

das, na defesa, nos equipamentos

militares. Que era uma ideia errada.

obviamente que nos teríamos de

adaptar às novas missões – que

não sabíamos muito bem quais

seriam -, mas não precisávamos de

ter o nível de forças que tínhamos

anteriormente naquele cenário de

confrontação com o pacto de varsó-

via. e, depois, de repente, quando

toda a gente achou que iríamos ter

paz para todo o sempre, rebenta o

conflito na Jugoslávia. primeiro a

guerra no Golfo, depois o conflito na

Jugoslávia.

Conflito esse que foi gerido de-

sastrosamente pela União Euro-

peia.

ninguém estava preparado para

aquilo, nem as nações Unidas

estavam preparadas para gerir uma

crise daquelas dimensões. porque,

aliás, a intervenção militar, com os

capacetes azuis, foi da onU. mas

as pessoas apercebem-se que é

possível haver uma guerra na eu-

ropa, com centenas de milhares de

refugiados, com crimes contra a Hu-

manidade e, aí, a única organização

que estava preparada para poder

começar a tomar conta da gestão

de crise era, de facto, a nato, que

tinha os meios militares e começou

a desenvolver essa nova doutrina

de adaptação para um cenário de

defesa territorial e defesa colectiva,

para poder também empreender

missões de manutenção da paz. e é

essa adaptação que tem vindo a fa-

zer, com a intervenção nos balcãs e

com a intervenção que, agora, está

a efectuar no afeganistão.

o que nós temos de explicar – e

essa sua pergunta é útil – às gera-

ções que nunca viveram a guerra

fria, que não sabem qual foi o papel

da nato, e que acham que a esta-

bilidade é um dado adquirido, ➤

Embaixador João Mira Gomes

Page 29: Diplomática n.º 8

29novembro/dezembro 2010 - diplomática •

➤ porque é que temos de continuar a

construir uma rede de segurança co-

operativa com outros parceiros, para

haver mais segurança no mundo e,

por consequência, haver mais segu-

rança na europa. e esse é o nosso

desafio.

É o “novo conceito estratégico”

de que se fala…

Hoje em dia, a nato está de novo

num processo de mudança com

a cimeira de lisboa. e os vários

temas da cimeira são bem elucida-

tivos dessa mudança, desse novo

conceito…

Já lá iremos. Falou da ex Jugos-

lávia e há uma certa ironia nisto,

porque aquele país surge - com

aquelas fronteiras e com aquele

artificial conceito de Estado - no

rescaldo da II Guerra Mundial. E

vem, de alguma forma, ressalvar a

ideia de que fronteiras e Estados

construídos a régua e esquadro

não têm muitas possibilidades

de sobrevivência. E, morrendo

Tito, que era o garante da unidade

jugoslava, o país implodiu.

conheci bem a Jugoslávia porque

estive lá em 92 e, depois disso, em

96, fui o coordenador do ministério

para todas as questões dos balcãs.

de facto, a Federação Jugoslava

nasce no pós-guerra, decorrente da

força do marechal tito e do movi-

mento partizan, tem de reparar al-

gumas feridas por causa do regime

fascista da croácia, mas também

havia outra coisa que preservou a

Jugoslávia. com a saída do país do

pacto de varsóvia, havia uma ame-

aça exterior soviética que mantinha

a Jugoslávia unida. em 89, com a

queda do muro de berlim, os nacio-

nalismos que sempre existiram vie-

ram ao de cima, sobretudo com uma

conjugação histórica nefasta que foi

haver três dirigentes nacionalistas

muito fortes que coincidiram nesse

período. e isso foi fundamental para

o desastre que conhecemos.

mas tivemos outros exemplos, na

europa, de repartição de um país,

que foram pacíficos. a checoslová-

quia, por exemplo. portanto, teria

sido possível, na minha opinião,

também negociar isso se houvesse

tempo, se houvesse vontade políti-

ca e, sobretudo, se a comunidade

internacional estivesse preparada e

unida – porque havia uma grande

divisão sobre a questão jugoslava –

para gerir essa crise.

Até porque havia a ideia de que

essas coisas dos conflitos arma-

dos eram lá para África e para a

América Latina.

Houve países que se adiantaram

no reconhecimento da croácia, e

isso criou uma dinâmica que foi

muito difícil parar. Se estivéssemos

mais preparados e tivéssemos os

instrumentos de gestão de crise que

temos hoje, poderíamos ter evitado

a guerra na Jugoslávia.

vamos agora ao afeganistão, que

há quem o defina como o atoleiro e

considere que o controlo internacio-

nal é muito precário e muito circuns-

crito a cabul. e há também quem

diga – meio por laracha, meio a

sério – que Hamid Karzai é o presi-

dente, mas da câmara de cabul. e,

depois destes anos de ocupação, o

problema afegão não está de forma

nenhuma resolvido, não consegui-

ram erradicar a ameaça talibã e o

país está, de alguma forma, trans-

formado numa placa de produção e

circulação de tráfico de drogas. não

seria melhor sair de lá e fechar a

porta?

primeiro há uma expressão sua da

qual tenho de discordar, que é a

“ocupação” do afeganistão. não há

ocupação nenhuma, há uma ope-

ração internacional com o mandato

das nações Unidas, com o consenti-

mento e a participação das autorida-

des afegãs.

Eu estava a usar a expressão que

é utilizada pelos críticos.

mas, na minha opinião, não há

uma ocupação do afeganistão. por

outro lado, há uma percepção clara,

junto da opinião pública europeia

e dos decisores europeus – isto é,

da comunidade internacional – que

o afeganistão é importante para

a segurança dos nossos países.

isto é, para nós portugal, a nossa

segurança e a das alianças de que

fazemos parte passa pelo sucesso

da operação naquele país. agora,

esta operação não é de natureza

militar.

Mas foi inicialmente.

Foi, mas evoluiu para um outro tipo

que tem, também, componentes

civis de desenvolvimento humano,

económico e social. portanto, tem

vários actores e esta estratégia da

comunidade internacional tem que

ser coordenada – e que também

inclua os países vizinhos. porque

o problema do afeganistão – dos

talibãs e da al-Qaeda – não é

circunscrito às suas fronteiras. e

a nato tem aqui um papel mui-

to importante, que é o de criar as

condições militares de estabilidade

que permitam desenvolver as outras

vertentes deste processo afegão.

mas isso passa não só pelo controlo

do território.

Controlo esse que não está a ser

conseguido.

esse controlo tem, também, de ser

feito com as forças afegãs e essa

é a segunda parte da missão da

nato. a primeira é uma missão

militar típica, uma outra segunda é a

missão de treino do exército nacio-

nal afegão e, ao mesmo tempo, o

treino das forças policiais para que

eles próprios possam começar a ter

o controlo do seu território. Sabe-

mos que há zonas em que é mais

difícil do que em outras, que há

zonas onde a nato este sob mais

pressão nas suas operações diárias.

estive lá, vi isso. em cabul circula-

se com segurança mas com escolta ➤

Page 30: Diplomática n.º 8

30 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010

➤ armada bastante grande, porque

de facto a parte do controlo territorial

e a assunção de responsabilidades

pelas forças afegãs está a ser mais

lento do que aquilo que gostaría-

mos. e também gostaríamos que o

próprio governo afegão fosse mais

eficaz na sua acção, no combate à

corrupção, nos índices de governa-

ção e pudesse ter uma governação

sobre todo o território, que neste

momento é ineficiente.

Mas há a ideia, fundamentada em

situações concretas, do envol-

vimento de pessoas ligadas ao

governo no tráfico de droga, na

corrupção. E, há pouco tempo, vi

um documentário sobre um hos-

pital, construído com a ajuda in-

ternacional, que três anos depois

estava a cair aos bocados – um

hospital supostamente de topo.

isso é um desafio que nós temos

em muitos países em que há ajudas

ao desenvolvimento, onde situações

dessas ocorrem porque as autorida-

des locais, muitas vezes, não estão

preparadas. mas, em minha opinião,

a estratégia passa por ter um gover-

no afegão cada vez mais forte, com

governos provinciais mais fortes,

em assegurar o desenvolvimento

económico, em criar condições de

vida à população – que lhe permita

sair daquele circuito terrível que é o

do cultivo da papoila que, de facto,

é o que faz andar o afeganistão nas

zonas tribais. temos de criar alter-

nativas e não é a nato que as cria. ➤

Embaixador João Mira Gomes

Page 31: Diplomática n.º 8

31novembro/dezembro 2010 - diplomática •

➤ Alternativas, até, do ponto de

vista da produção agrícola.

exactamente. e isso é uma função

da comunidade internacional, não

é a nato que tem de se ocupar

dessa área. a organização tem uma

operação militar em curso, tem de

criar as condições de segurança e

tem que ajudar a treinar as forças

afegãs, mas há outros actores,

nomeadamente as nações Unidas

com as suas agências, a União eu-

ropeia que também está no terreno,

e os próprios parceiros regionais

que têm de ajudar nessa matéria.

o desafio no afeganistão é de toda

a comunidade internacional, não

é um desafio só da nato. Se não

tivermos sucesso, os primeiros pre-

judicados são os próprios afegãos,

os segundos serão os vizinhos, mas

nós também seremos afectados por

isso – não só na nossa credibilidade

como na nossa segurança.

Há alguma previsão definida de

saída das forças internacionais?

não, não há datas definidas…

Mas parece haver vontade por

parte da administração americana

para resolver – bom, numa primei-

ra linha, a questão do Iraque – o

atoleiro afegão.

Gostaríamos de reduzir o nível da

presença militar no afeganistão,

mas mais do que ter datas é ter

objectivos, porque essa redução

tem de ser em função de uma

análise das condições no terreno e

das condições políticas e outras. É

essa análise que está regularmente

a ser feita para permitir definir se,

efectivamente, se há condições

para baixar gradualmente o nível da

presença militar, ou não. e este ano

foi muito complicado, com eleições,

sabíamos que ia ser um período

de grandes tensões. vamos ver se

2011 pode ser um ano de normaliza-

ção da situação.

Não lhe parece haver alguma

pressa de Washington em resol-

ver o problema?

Houve afirmações do presiden-

te obama nesse sentido, de que

gostariam de ter no horizonte um

calendário de redução da presença

militar no afeganistão, mas isso

ainda não foi discutido pelos aliados

e, recentemente, o general petreus

afirmou que temos de continuar a

assegurar a coesão e unidade de

todos os que estão no afeganistão.

para alguns países tem sido muito

duro, com um número de baixas

elevado. devemos compreender

isso, começa a haver um desgaste

da opinião pública desses países.

Ainda para mais quando não se

vislumbra nenhuma solução para

o problema. Mesmo alguns, que

apoiaram inicialmente a interven-

ção, vêm agora dizer que o pro-

blema é irresolúvel.

mas, a esses, podemos responder

recordando qual foi o resultado do

desinvestimento internacional no

afeganistão. Que resultou naquilo

ser um santuário…

Curiosamente apoiado por secto-

res da comunidade internacional,

nomeadamente as administrações

norte-americanas.

até determinada altura.

O aliado de hoje pode vir a ser o

inimigo de amanhã.

o resultado foi transformar o país

num santuário do terrorismo interna-

cional, num santuário da al-kaeda,

com ramificações em várias regiões

do mundo. É isso que estamos a

combater, é isso que não podemos

deixar que se repita.

Sabemos que o território é difícil, a

própria História do país é difícil, há

muitas divisões étnicas e tribais… É

complexo. mas se os próprios afe-

gãos e o governo não tiverem capa-

cidade para inverter isso, estaremos

numa situação muito mais difícil.

Tenho mais duas questões para

lhe colocar, e uma delas tem a

ver com a Cimeira da NATO de

Lisboa. As perspectivas quanto

a ela, nomeadamente essa ideia

do “novo conceito estratégico”.

É uma cimeira só para marcar

calendário?

não é para marcar calendário. lis-

boa vai ser um marco importante na

história da nato.

Está, também, prevista uma

contra-cimeira…

mas isso é natural. penso que vai

haver uma fase antes de lisboa

e uma fase nato após lisboa. e

é significativo que a nossa capital

tenha sido escolhida para esta

cimeira. como sabe, portugal é

um país fundador da organização,

mas um elemento muito importante

desta cimeira e do novo conceito

estratégico é a abertura e o reforço

da relação com outros parceiros

internacionais. passar essa mensa-

gem em lisboa é muito interessan-

te para a nato e muito relevante

para portugal, porque lisboa é uma

cidade que está virada para vários

destinos e para outras parcerias

que o nosso país cultiva há muito

tempo. designadamente, as par-

cerias com o magreb, através do

desenvolvimento do diálogo medi-

terrânico que existe na nato, as

parcerias com áfrica, as parcerias

com o atlântico sul, nomeadamente

o brasil. e, naturalmente, continuar

a privilegiar um dos pilares funda-

mentais da nato que é a coope-

ração transatlântica. Sendo que o

outro pilar é o europeu, através da

cooperação com a União europeia.

Fazer isto em lisboa, com tudo o

que nós temos de relacionamento

com essas partes do mundo, com

tudo o que implica também a nossa

participação na União europeia, é

muito interessante.

a nato após lisboa vai ser uma

reafirmação daquilo que são os prin-

cípios fundamentais da organização,

portanto, a defesa territorial com

base na cláusula de ➤

Page 32: Diplomática n.º 8

32 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010

➤ solidariedade e ajuda mútua con-

signadas no artigo 5º do tratado de

Washington; vai ser a continuação

da readaptação das forças da nato

para as missões de gestão de crises

– que já estamos a fazer no afega-

nistão e nos balcãs -, mas apren-

dendo com as lições dessas mis-

sões, e uma delas é que temos de

ter uma estratégia mais global que

combine os elementos militares com

os elementos civis. a nato após

lisboa também será um elemento

muito importante de reforço da con-

sulta política face às novas ame-

aças. e essas ameaças vão para

zonas com as quais a nato, nor-

malmente não se ocupava, como,

por exemplo, a cibersegurança, as

questões ambientais e as parcerias.

e, nessas parcerias, é decisivo a

União europeia como parceiro estra-

tégico. têm havido condicionantes

políticas que impediram o desenvol-

vimento dessa parceria.

A mudança da administração

americana veio ajudar?

esta nova administração valoriza

mais o multilateralismo e a consulta

e concertação com os europeus.

portanto, é natural que o primeiro lu-

gar onde se sinta isso seja a nato.

mas, na relação com a União euro-

peia, também houve uma evolução

da posição americana que, aliás, já

se começara a verificar ainda com

a administração bush. porque, ao

invés de pensarem que o desen-

volvimento de políticas de segu-

rança europeia seria uma ameaça

à nato, começaram a pensar que

isso poderia servir para o reforço da

organização.

persiste, no entanto, uma condicio-

nante política que tem a ver com a

questão de chipre que impede o

desenvolvimento político e institucio-

nal desta parceria. mas têm havido

progressos.

Outra situação praticamente irre-

solúvel…

temos de ter esperança. também

ninguém acreditava que o pacto de

varsóvia ia acabar e que o muro de

berlim ia cair. e há alguns elemen-

tos na situação de chipre que nos

permitem ter essa esperança. por

exemplo, o último referendo cons-

titucional na turquia talvez possa

criar algumas condições favoráveis

à resolução do problema. mas isto

para dizer que essas parcerias, em

lisboa, vão ser um elemento muito

importante da cimeira. parceria com

a União europeia, mas também par-

ceria com a rússia. aliás, foi feito

um convite ao presidente medvedev

para uma cimeira nato-rússia aqui

em lisboa.

E foi aceite o convite?

ainda não temos resposta. nós,

portugal, gostaríamos muito que

essa reunião tivesse lugar porque

achamos que a rússia é um parcei-

ro estratégico para a nato e para

a europa. e há uma agenda comum

em várias áreas, o que só reforça a

necessidade de cooperação. co-

meçando, por exemplo, pelo com-

bate ao terrorismo e à proliferação

nuclear.

Para terminar, um tema recorren-

te. O comando da NATO em Oei-

ras vai implodir ou vai manter-se?

Implodir, passe a expressão. Que

não seja entendido como incita-

mento a um ataque terrorista…

(risos) não, não. aliás, portugal é

um país bastante seguro. e isso

contou, seguramente, para a es-

colha de lisboa como a capital da

cimeira.

Porém, com um sistema de segu-

rança apertadíssimo.

mas tem que haver, não há maneira

de organizar estas cimeiras de outra

forma. aliás, penso que haverá a

tendência para fazer estas cimeiras

nas sedes das organizações, porque

os esquemas de segurança já estão

montados e, além do mais, é mais

barato.

mas, voltando a oeiras, um dos te-

mas que vai estar aqui em aprecia-

ção é a agenda de reformas internas

da nato.

O Secretário-Geral, Rasmussen,

parece sensível à ideia de acabar

com o comando de Oeiras.

Há um grupo de altos funcionários

que tem estado a trabalhar para

apresentar um relatório sobre uma

matriz de comandos. portanto, sem

haver ainda uma discussão sobre

a localização geográfica desses

comandos. Há dois comandos es-

tratégicos, depois há comandos de

segundo nível – que são de forças

conjuntas -, de terceiro nível… e

por aí abaixo. não existe, ainda,

uma proposta para apresentar na

cimeira, ainda está a ser trabalha-

da. neste momento é prematuro

dizer se oeiras vai continuar ou

não. o que nós sabemos é que,

actualmente, o quartel de oeiras

realiza missões muito importantes

para a nato.

Nomeadamente…

nomeadamente, o comando da

operação naval de combate à

pirataria na Somália. e é um quar-

tel que tem custos comparativos

relativamente baixos, tem um bom

apoio da nação hospedeira, isto é,

portugal. e é um quartel que tem

uma grande capacidade de projec-

tar elementos de comando. para

além de ter uma posição geográfica

– como já falamos – de aproxima-

ção com os novos parceiros. oeiras

tem muitas vantagens, vamos ver

quando for aprovada essa estrutura

de comandos onde iremos aplicar

essa matriz.

está tudo em aberto, sabendo

nós – e isto é uma mensagem que

também se deve passar – que a par-

ticipação de portugal na nato não

se resume a oeiras. É muito mais

vasta que oeiras. mas estamos em-

penhados para que a bandeira da

organização continue por cá. ■

Embaixador João Mira Gomes

Page 33: Diplomática n.º 8
Page 34: Diplomática n.º 8

34 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010

Allan Katz por maria da luz de bragança, fotos de pedro t. cardoso

Embaixador dos Estados Unidos da América em Portugal

“Portugal é um membro dedicado da Nato e um aliado que pode contribuir para o desenvolvimento das nossas boas relações com a África e o Brasil” ➤

Diplomacia na 1ª pessoa

Entrevista

Page 35: Diplomática n.º 8

35novembro/dezembro 2010 - diplomática •

➤ Nascido em 1947 em St. louis,

no estado do missouri, é embai-

xador dos estados Unidos em

portugal desde março de 2010.

allan Katz, formado em direito

– Juris doctor – pela american

University of Washington – col-

lege of law, com um curriculum

invejável como jurista, conse-

lheiro governamental e adminis-

trador de empresas, é membro

do comité democrático nacional

tendo colaborado na comissão de

Finanças da campanha obama

for america e ajudado a redigir o

programa para a convenção na-

cional do partido democrático em

2008. premiado com o “champion

for climate change”; “the best

lawers in américa for insurance

law” e chambers U.S.a, tem em

portugal o seu primeiro posto

como embaixador.

a “diplomática” foi conversar com

este homem de excepção que,

junto com a sua mulher, a embai-

xatriz nancy cohn, formada pela

University of miami-Sociology/

antropology, senhora dada às

causas humanitárias e à cultura,

nos revela um casal que se com-

pleta em bom senso e simpatia,

levando-nos a concluir que portu-

gal terá muito a beneficiar com a

sua presença.

Uma questão prévia, é Embaixa-

dor porquê? Foi escolhido por

quem?

allan Katz - trabalhei intensa-

mente na campanha do presiden-

te obama que, em novembro de

2009, me nomeou para represen-

tar os estados Unidos em portu-

gal. confirmada esta nomeação

pelo Senado, em março deste

ano, tanto eu com a minha mulher

ficamos muito, muito felizes com

este convite até porque ela fala

fluentemente português dado ter

sido durante anos voluntária do

peace corps, no brasil.

Fale-me da importância da Em-

baixada dos E.U.A. em Portugal.

allan Katz - a relação de amizade

entre portugal e os estados Uni-

dos tem uma longa história, des-

de que portugal reconheceu, em

1791, os e.U.a. depois da guerra

da independência. É uma relação

que tem crescido e prosperado

ao longo dos anos. os estados

Unidos também se envolveram na

revolução portuguesa de 1974/75.

a ligação entre os nossos dois

países é mesmo muito forte.

acreditamos que trabalhamos

bem em muitos assuntos e que

portugal é um membro dedicado

da nato e um aliado que pode

contribuir para o desenvolvimento

das nossas boas relações com

a áfrica e o brasil. Sentimo-nos

muito afortunados com as nossas

relações.

E os Açores? A importância

dos Açores nas relações entre

os dois países.

allan Katz - É a mais longa e

continuada representação que os

estados Unidos têm no mundo.

Um contrato muito importante,

também porque a base das lages

torna a ligação entre os nossos

países ainda mais estreita.

O que lhe ocorre dizer sobre

a nova direcção da Fundação

Luso Americana para o Desen-

volvimento (FLAD)?

allan Katz - a Flad é uma or-

ganização muito importante em

muitos sentidos e emblemática

das relações entre os e.U.a. e

portugal. e a nova directora, dra.

maria de lurdes rodrigues, é

uma pessoa muito inteligente e

talentosa. estamos muito felizes

em ter a oportunidade de traba-

lhar com a senhora e, minha mu-

lher e eu próprio já conversamos

com ela sobre o futuro em várias

ocasiões.

Aliás, a Senhora Embaixatriz

abraçou um programa de cul-

tura e arte, apoiando jovens e

promissores artistas portugue-

ses. O programa é independen-

te da FLAD?

nancy cohn - É. apesar de

pequeno, portugal tem muito a

oferecer em matéria de cultura

e arte. o programa é um plano

independente da Flad que pla-

neámos desde Washington. entre

outros projectos de cultura, esta-

mos a trabalhar num catálogo e a

preparar exposições de jovens ar-

tistas portugueses e americanos.

O Senhor Embaixador poderá

dizer-nos quais serão as priori-

dades nas relações com Portu-

gal?

allan Katz - Uma das prioridades

é a Flad, à qual gostaríamos de

dedicar mais tempo e energia.

outra das prioridades é incremen-

tar as relações entre os e.U.a.

e portugal, particularmente em

relação a áfrica e brasil, e estrei-

tar alianças com portugal para

desenvolver relações económi-

cas, particularmente no turismo.

muitos americanos viajam e vêm

à europa mas não conhecem

nem sabem nada de portugal.

Queremos ajudar a desenvolver

o turismo e contribuir para que

saibam como portugal é óptimo

para negócios. Gostaríamos que

muito mais americanos viessem

ao vosso país.

Como vê a posição do Dólar

face ao Euro?

allan Katz - ambos, os e.U.a. e

a maioria dos estados europeus,

estão agora a enfrentar dificul-

dades na sua economia e tudo

deve ser muito bem trabalhado

nos próximos um ou dois anos.

penso que portugal fez grandes

progressos em muitos sentidos

nos últimos 5 anos, lidando bem

com os problemas económicos e

tomando medidas que muitos ➤

Page 36: Diplomática n.º 8

36 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010

➤ outros estados europeus não

tomaram, em termos de idade da

reforma, segurança social, funcio-

nalismo público… assim, penso

que portugal está em boas con-

dições a médio e a longo prazo,

mesmo sabendo que as econo-

mias não estejam tão bem como

todos gostaríamos que estivesse.

os estados Unidos também têm

problemas a curto prazo devido a

terem tantas pessoas desempre-

gadas, mas estamos a trabalhar

afincadamente para mudar isso.

Vive-se uma recessão?

allan Katz - não será recessão.

tecnicamente pensamos é que

não estamos a conseguir pôr as

pessoas a trabalhar, não temos

oferta suficiente de trabalho, mas

temos esperança de em breve

colmatar isso. penso que na eu-

ropa acontece o mesmo…e está

a demorar mais tempo do que

gostaríamos que demorasse.

Fale-me do Dólar e do Euro.

allan Katz - o euro ficou muito

caro comparando com o Dólar, o

que é bom para os e.U.a. no sen-

tido da exportação, mas não será

bom para o turismo. agora, com

o euro baixando será bom para

o turismo e não tão bom para o

negócio. a nível de exportações,

é melhor para portugal e para os

países europeus que o euro es-

teja mais baixo. penso que o que

vai acontecer nos próximos um ou

dois anos é que o euro e o Dólar

flutuarão um pouco, mas tende-

mos a ter um valor mais correcto,

ultrapassando esta crise juntos.

muitas pessoas devem entender

que é do interesse dos e.U.a. que

a europa recupere, e é também

do interesse da europa que os

estados Unidos recuperem. os

e.U.a. e a europa devem prospe-

rar juntos porque será muito difícil

prosperarem de costas voltadas.

A EDP comprou uma empresa

de energia eólica nos Estados

Unidos. O que pensa das ener-

gias renováveis?

allan Katz - portugal está no di-

reito de sentir muito orgulho pelo

que tem feito no sector da ener-

gia. o “times”, de há uns meses,

diz-nos que há muitos séculos

portugal partiu à descoberta de

novos mundos e agora está no-

vamente a fazê-lo no domínio da

energia. está a fazer um óptimo

trabalho e melhor que o resto do

mundo. portugal lidera esta tão

importante área. Quando a eDp

vai para os estados Unidos - e

investe muitos milhões no poder

do vento - fá-lo porque acredita

que vai competir e que terá muito

sucesso. penso que as energias

renováveis serão muito boas

para os estados Unidos e para

portuga,l e tenho esperança que

nesse sector possamos aprender

com os portugueses.

É uma honra…

allan Katz - o nosso presidente

está muito empenhado nas novas

energias, cuja implantação está a

demorar mais tempo do que em

portugal. mas temos esperança

de que haveremos de lá chegar.

No programa político do Pre-

sidente Obama o que faltará

ainda implementar, depois da

reforma da saúde e da reforma

legal dos bancos?

allan Katz - penso que a prio-

ridade é lidar com o tremendo

problema do sistema económi-

co. o presidente já despendeu

muitas energias, tempo, esforço

e dinheiro para salvar a economia

do colapso. a General motors

estava em ruptura, agora está a

fazer dinheiro e tivemos bancos

que estavam em colapso e agora

estão equilibrados e a ter lucros.

o maior esforço, agora, é saber

como vamos conseguir que os

americanos voltem ao trabalho

- nada é tão importante do que

isso. tenho esperança que, no

próximo ano, este problema pos-

sa estar em parte resolvido.

Falemos agora das políticas para

o Iraque, Irão, Afeganistão...

allan Katz - a violência no iraque

diminuiu significativamente, houve

eleições e o futuro está nas mãos

dos iraquianos, tal como deveria

estar. estão novamente a produ-

zir petróleo, electricidade e a dar

segurança às pessoas que vivem

no iraque. São eles que têm de

encontrar o caminho.

Quanto ao irão, fiquei encoraja-

do quando a china se juntou à

rússia e ao resto do conselho

de Segurança, e todos chega-

ram à mesma conclusão. chine-

ses, russos, franceses, ingleses

juntaram-se aos estados Unidos,

concordando com o nosso pro-

pósito. acredito que as sanções,

que impusemos, junto com as na-

ções Unidas, tiveram um impacto

positivo. Sempre pensei que se o

irão estivesse apenas a lidar com

o poder nuclear para assuntos de

paz, tal como produção de ener-

gia etc., deveria permitir que os

inspectores verificassem o que

estão a fazer. inspeccionados e

verificando que a energia é para

objectivos de paz, todo o mundo

poderá dizer que é óptimo e a

situação no irão está resolvida.

o afeganistão é um problema

muito significativo, não só para os

estados Unidos como para todos

os países que fazem parte da

força de segurança internacional

naquele país. Sabemos que quan-

do foi governado completamente

pelos talibãs houve ataques terro-

ristas por todo o mundo, e todos

sabemos que permitindo que

voltem àquele estado é ➤

Embaixador Allan Katz

Page 37: Diplomática n.º 8

37novembro/dezembro 2010 - diplomática •

embaixador allan Katz e sua mulher, a embaixatriz nancy cohn

Page 38: Diplomática n.º 8

38 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010

➤ estar, basicamente, a permitir

que fiquem livres para voltar a

fazer o que querem contra a civi-

lização ocidental. É um problema

e uma situação muito difícil. o

governo do afeganistão precisa

de oferecer segurança às pes-

soas que lá vivem - e até isso se

conseguir será impossível senti-

rem-se seguras para viverem em

paz, particularmente se pensar-

mos nas coisas horríveis que os

talibãs têm feito.

Quando poderá haver paz no

Afeganistão?

allan Katz - É uma pergunta

difícil. não sei se viu o “times

magazin”, com a mulher desfi-

gurada pelo marido talibã… a

questão central é o que fazemos

com esta espécie horrível de fé

e civilização a quase todos os

níveis. abandonamos o povo

à sua sorte, principalmente as

mulheres? não encontramos uma

solução fácil. as alternativas são

difíceis e nenhuma é muito clara.

talvez criando diferentes áreas

que sejam seguras, começando

a construir desde essas áreas, es-

perando que o Governo do afega-

nistão possa tomar conta desses

assuntos sozinho… nessa altura,

todas as tropas que estão a asse-

gurar a paz - incluindo as portu-

guesas - poderão sair, deixando

de ser necessárias. o problema é

que todos temos responsabilida-

des no mundo e algumas vezes

não gostamos de as ter. a vida, às

vezes, mostra-nos problemas não

muito agradáveis, aos quais gos-

taríamos de virar as costas. penso

que, neste caso, precisamos de

continuar a fazer um esforço não ➤

Embaixador Allan Katz

Page 39: Diplomática n.º 8

39novembro/dezembro 2010 - diplomática •

➤ permitindo que este país seja

um estado terrorista que pratica

acções condenáveis aos olhos de

todo o mundo civilizado.

não há garantia de sucesso,

mas estamos lá por boas razões

e para proteger a forma de vida

dos cidadãos. nada queremos do

afeganistão, a não ser um Gover-

no viável que gere uma economia

estável, bem como o conforto e

segurança da sua população.

Nesta catástrofe da plataforma

petrolífera da BP, que medidas

estão pensadas para que não

volte a acontecer?

allan Katz - todo o mundo ficou

muito perturbado com o que acon-

teceu, e penso que não haverá

dinheiro suficiente para colma-

tar todo o prejuízo causado. no

entanto, a multa de vinte biliões

de dólares serviu para minorar os

enormes prejuízos das vítimas da

catástrofe.

certamente que iremos ser mais

fortes nas regras do que no pas-

sado, e os peritos saberão hoje

muito mais sobre o que devem

fazer para evitar a situação. mas

foi, realmente, uma lição muito

cara.

Qual o futuro da NATO e da sua

missão?

o que acontece à nato é que

a sua missão mudou, porque o

mundo mudou e deve adaptar-

se a um mundo diferente. muitas

pessoas não gostam de mudança

porque as torna inconfortáveis,

mas eu penso que a nato inicia-

rá o seu processo de mudança

na próxima cimeira de novem-

bro, aqui em portugal. a nato foi

fundada originalmente pelo receio

de ataque soviético, num contex-

to de guerra fria. medos que não

se coadunam com as políticas e

os tempos de hoje. no entanto,

temos ainda inimigos comuns. n

Allan e NancyDois amigos de Portugal

o embaixador allan Katz e a embaixatriz nancy cohn,

estão casados há 33 anos e têm dois filhos: eaton,

que casou recentemente em israel e é professor uni-

versitário, e mathieu, estudante na Universidade de

chicago.

conheceram-se aos 17 anos, mas os estudos se-

pararam-nos. enquanto allan se doutorava em leis

na Universidade de Washington, nancy , em miami,

doutorava-se em antropologia, tendo também estado

uns tempos no brasil. naquele tempo, sem internet,

namoraram-se sete anos por telefone, até casarem em

1977. Galardoado pelas suas capacidades de lide-

rança e produção legislativa, allan escolhe para sua

companheira nancy, socióloga e antropóloga muito

dedicada às causas humanitárias, seja no brasil como

voluntária do peace corps, seja prestando serviço na

cruz vermelha na Flórida, e também com especial

apetência para as artes e culturas, especializando-se

em ohio como bachelor of arts.

Qual a mensagem que gostariam de deixar aos

portugueses?

allan Katz - o que gostaria de acrescentar é o que

digo aos meus amigos: Sinto que tenho o melhor em-

prego do mundo e que serei capaz de representar o

meu país, do qual tenho muito orgulho. Gosto de estar

neste maravilhoso país que é, sem dúvida, muito sim-

pático, com óptima comida e óptimos vinhos. Gosta-

mos muito, muito, de tudo o que encontramos em por-

tugal e sinto-me muito lisonjeado em poder encontrar

forma de criar novas oportunidades e contribuir com

novas decisões e acções a bem de ambos os países.

nancy cohn - temos estreitos laços com muitos

açorianos que vivem nos estados Unidos. Falando da

minha vida em portugal, gostaria de dizer que consi-

dero um privilégio aprender a História e a cultura do

país, encontrando constantemente pessoas e procu-

rando causas comuns e projectos comuns. penso que

os portugueses compreendem muito sobre a natureza

humana e que, aqui, há uma sabedoria que penso irei

assimilar e transmitir à minha família e amigos, que

julgo existir pela grandiosidade da sua História e pelo

facto de portugal ter conhecido tantas e diferentes

terras e tantos países, tomando conhecimento com

muitas espécies de pessoas e civilizações. para mim,

é mesmo um privilégio ter a oportunidade de explorar

uma cultura que tem tanta riqueza a oferecer. n

Page 40: Diplomática n.º 8

40 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010

Quatro temas principais vão dominar esta cimeira da

aliança atlântica, a primeira que o nosso país organiza: a

adopção de um novo conceito estratégico, o afeganistão, a

defesa antimíssil e as relações entre a nato e a rússia.

De todos os assuntos constantes na agenda, o que

maiores expectativas levanta é o novo conceito estraté-

gico, que substituirá o de 1999 e deverá reflectir o novo

ambiente estratégico que se vive após os atentados de

11 de Setembro, bem como o alargamento das fronteiras

e os novos desafios que o mundo enfrenta, como o ciber-

terrorismo, a não-proliferação de armas e a pirataria.

É pois, como se compreende, um acontecimento da

maior relevância, sendo uma honra para portugal acolher

o mesmo, e é mais uma oportunidade para colocar portu-

gal em lugar de destaque em toda a imprensa internacio-

nal e muito particularmente na imprensa americana.

mas gostaria de destacar a visita do presidente obama,

não querendo obviamente desprestigiar a presença dos

restantes chefes de estado, referindo que se trata de

um acontecimento histórico devido á importância políti-

ca, económica e geoestratégica dos e.U.a. e do presi-

dente norte-americano.

mas também devido á própria personalidade em si, ao seu

carisma, ao que representou há um ano transmitindo uma

mensagem de esperança ao povo americano tão bem tra-

duzida na frase “YeS We can” e uma admiração imensa

no mundo em geral e na europa em particular.

em termos económicos os eUa são a maior economia do

mundo (o pib americano é 31% do pib mundial, 3 vezes

o Japonês; quase 5 vezes o alemão e 70 vezes o portu-

guês).; são um mercado de 300 milhões de habitantes com

um nível de vida 43% superior ao nível de vida europeu

(35% superior ao Japonês e 110% superior ao português) e

é ainda o primeiro país importador a nível mundial.

É por isso, e apesar da crise porque está a passar, um

mercado que apresenta enormes potencialidades, ofe-

recendo um mundo de oportunidades. os dados eco-

nómicos dos eUa traduzem já uma retoma económica,

embora em abrandamento, neste ano de 2010. no 1º

trimestre registou-se um crescimento do pib de 2,4%, e

no 2º trimestre o crescimento foi de 1,6%.

É ainda, contudo, um mercado pouco explorado pelas

empresas portuguesas (representa apenas 5% das nos-

sas exportações). não sendo um mercado fácil, é um

mercado exigente e altamente concorrencial, deverá

ser visto como um destino promissor para a internacio-

nalização das empresas portuguesas.

ainda recentemente o presidente obama anunciou um

mega plano de investimento, que é o maior plano de

investimentos em infra-estruturas dos últimos 50 anos

nos estados Unidos.

obama prometeu ainda uma vasta modernização das esco-

las, um esforço massivo para reduzir o consumo de energia

nos edifícios públicos, num país que tem a maior factura

energética do mundo, e ainda a generalização do acesso à

internet para reforçar a competitividade norte-americana.

todas estas áreas constituem fortes oportunidades também

para as empresas portuguesas que se saibam posicionar,

como algumas já têm feito, e com excelentes resultados.

os eUa são um país muito aberto à recepção de inves-

timento estrangeiro, desejosos de receber novas ideias,

novos investimentos e criar postos de trabalho. por isso

as oportunidades são muitas e os apoios maiores do

que na maioria dos outros países.

Sendo os eUa um mundo de oportunidades, como

referi, não deve contudo ser entendido como um merca-

do fácil. trata-se de um mercado exigente e altamente

competitivo onde todo o mundo quer estar e onde os

mais capazes já lá estão.

a câmara de comércio americana em portugal tem

como missão principal desenvolver e facilitar as relações

económicas e comerciais entre portugal e os eUa numa

base de mútuo interesse, exercendo um papel activo na

diplomacia económica.

a experiência adquirida ao longo destes anos, bem como

o capital de conhecimentos, contactos e capacidade de

angariação e transmissão de informação qualitativa são

postas ao serviço dos nossos associados criando opor-

tunidades de desenvolvimento de negócios nos diversos

sectores.

contribuímos activamente para uma aproximação entre os

dois países, sublinhamos as oportunidades, apoiamos e

ajudamos as empresas que queiram estabelecer esta ponte

e colaboramos com entidades portuguesas e americanas

que tenham também esta missão. Somos, como costu-

mamos dizer, uma auto-estrada

com dois sentidos incentivando e

apoiando empresas americanas e

empresas portuguesas que quei-

ram desenvolver o seu negócio no

outro lado do atlântico.

e uma coisa é certa, as relações

transatlânticas continuam indubi-

tavelmente a ser o grande suporte

da economia nos dois lados do

atlântico. ■

Obama em Portugal e o futuro das relações bilaterais por Graça Didier Secretaria-Geral da camâra do comércio americano

InstItuIções

Page 41: Diplomática n.º 8
Page 42: Diplomática n.º 8

42 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010

Durante a recente visita de estado que os Grão Du-

ques do luxemburgo, Henri e maria teresa, fizeram a

portugal, a convite de aníbal cavaco Silva, o presi-

dente da república portuguesa também foi agracia-

do: com a Grã-cruz da ordem do leão de ouro de

nassau. eis como decorreu a vinda de um homem

afável, que tem raízes portuguesas e está eternamen-

te grato ao nosso país por ter recebido a sua avó e os

seus pais “quando a Guerra rebentou”.

além dos vários encontros institucionais e das honras

de estado, os Grão Duques do luxemburgo participa-

ram num seminário económico. o convite para Suas

altezas, Henri e maria teresa, visitarem o nosso país

partiu directamente do presidente da república de

portugal, aníbal cavaco Silva.

o itinerário da visita de estado passou pelo mosteiro

dos Jerónimos, onde os Grão Duques depositaram

uma coroa de flores no túmulo do eterno poeta de

“os lusíadas” e da portugalidade, luiz vaz de ca-

mões. em cortejo solene, Henri e maria teresa foram

escoltados a cavalo até ao palácio de belém e rece-

bidos com honras militares. cavaco Silva e Henri do

luxemburgo falaram aos jornalistas e enalteceram as

excelentes relações existentes entre os dois países,

com o presidente português a oferecer aos Grão

Duques um almoço e um banquete de gala – o jantar

teve lugar no palácio nacional da ajuda.

Forte contributo da comunidade lusa

cavaco e Henri realçaram o contributo dado pela co-

munidade portuguesa para que o luxemburgo tenha

um “futuro promissor” e para o seu desenvolvimento

económico e social. “o elemento de aproximação

mais forte entre os dois países é a comunidade por-

tuguesa no luxemburgo, uma comunidade de mais

de 80 mil cidadãos, representando uma percentagem

elevada da população activa do luxemburgo que con-

tribui, de forma significativa, para o desenvolvimento

económico e social do país de acolhimento”, declarou

o chefe de estado português. “os dois países têm

vindo a dialogar no sentido de reforçar essa ➤

Grão Duques do Luxemburgo visitaram Portugal por nuno Sá

Henri agraciado com o Grande Colar da Ordem de Sant’lago de Espada

Visitas de estado

maria cavaco Silva, Grão Duque do luxemburgo, presidente de portugal e Gran Duquesa maria teresa

Page 43: Diplomática n.º 8

43novembro/dezembro 2010 - diplomática •

➤ possibilidade de o português ser aprendido no sis-

tema normal luxemburguês e têm sido feitos progres-

sos nesse sentido”, apontou cavaco, esperançado

em “encontrar oportunidades acrescidas de negócios

e de parcerias.”

“o luxemburgo é um dos principais investidores em

portugal e esperemos que, no futuro, os empresários

luxemburgueses continuem a olhar, e olhem ainda

mais, para as oportunidades que se oferecem aqui no

nosso país”, acrescentou o presidente luso, lembran-

do, no decorrer da visita dos Grão duques, a assina-

tura de um protocolo quanto à dupla tributação e de

combate à evasão fiscal.

Grato a Portugal

no fim do encontro com cavaco, o Grão duque agra-

deceu “toda a contribuição da comunidade portugue-

sa” para ajudar o país a ter um “futuro promissor”,

recordou que tem raízes portuguesas e sublinhou que

foi o nosso país que recebeu a sua avó e os seus

pais “quando a Guerra rebentou”.

os Grão duques do luxemburgo foram, também, re-

cebidos no Hemiciclo. tiveram um encontro exclusivo

com o presidente da assembleia da república, Jaime

Gama, e mantiveram reuniões ao mais alto nível com

diversos representantes das forças político-partidárias

com assento parlamentar. os Grão duques retribu-

íram o jantar oficial, proporcionado pelo presidente

cavaco Silva.

De Cascais a Coimbra

em cascais, Henri e maria teresa participaram no

lançamento da tradução portuguesa da obra “História

do luxemburgo”, de Gilbert trausch. no derradeiro

dia da visita, o roteiro incluiu uma ida a coimbra,

cidade histórica, cultural, onde Henri e maria teresa

visitaram o panteão dos primeiros reis de portugal,

no antigo mosteiro de Santa clara, o instituto pedro

nunes, a sua incubadora de empresas, e a Universi-

dade. Suas altezas participaram, ainda, numa mesa

redonda sobre micro-finanças, que decorreu na bi-

blioteca nova da Universidade de coimbra. ■

o brinde dos dois chefes de estado no palácio da ajuda

Page 44: Diplomática n.º 8

44 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010

O presidente da venezuela, Hugo chávez, realizou uma relevante visita de estado, de dois

dias, a portugal, selando importantes acordos na construção naval e civil, e nos computa-

dores magalhães. Dias depois da visita, já no seu país, declarou o cacau produto estratégico

nacional. Quer, agora, exportá-lo para vários países amigos.

polémico, amado e odiado mas sempre na berlinda, Hugo chávez, presidente da venezuela,

veio, recentemente, por dois dias, ao nosso país, e fechou acordos muito importantes do ponto

de vista económico e estratégico.

a visita de estado teve a cereja no topo do bolo com a assinatura de acordos na área da cons-

trução e no fornecimento de 1,5 milhões de computadores magalhães.

Hugo chávez pernoitou na cidade invicta. Do porto rumou até aos estaleiros de viana do

castelo (envc). acompanhado por vários ministros do seu executivo, o presidente vene-

zuelano permitiu que portugal recuperasse um anterior compromisso para que o Grupo lena

possa construir, na venezuela, 2.500 vivendas pré-fabricadas, num negócio que ascende a

950 milhões de dólares, e também um acordo, igualmente importante, na área das energias

renováveis.

“Um dos nossos maiores amigos na Europa”

chávez, antes de nos visitar, a convite de Sócrates, para estreitar as relações económicas bila-

terais, fez questão de apresentar o primeiro-ministro português e portugal como um dos “maio-

res amigos na europa” (citado pela agência lusa) .

o presidente venezuelano falava na principal base militar de caracas, Forte de tíuna, a propó-

sito da distribuição dos computadores portáteis magalhães que, na venezuela, são chamados

de “canaima”.

“ele [Sócrates] ajudou-nos com esses computadores que foram feitos em portugal”, lembrou

Hugo chávez, referindo-se, depois, ao entendimento, oficializado entre lisboa e caracas, para a

aquisição de um milhão de magalhães para equipar as escolas primárias públicas venezuelanas.

ao falar do primeiro-ministro de portugal, chávez desfez-se em elogios, garantindo tratar-se

de um “dos melhores amigos” e enaltecendo a postura de estado de Sócrates, que “não se

deixa chantagear nem pressionar por ninguém, nem faz caso a essa guerra que, na europa,

nos montaram a Direita e a imprensa” – garante o “amigo” venezuelano de José Sócrates.

Cacau para o Mundo

Desengane-se, porém, quem pensar que a estratégia de chávez assenta apenas em parcerias

– económicas – nos domínios da construção naval, das novas tecnologias e da Habitação.

É que o pacote de acordos foi adoçado, dias depois do périplo europeu do presidente da ve-

nezuela, com… cacau! referimo-nos, bem entendido, ao produto cuja pasta está na base do

chocolate e não a dinheiro, embora uma coisa puxe, como é óbvio, a outra…

É que, muito recentemente, já em solo venezuelano, Hugo chávez decretou o cacau como

produto estratégico nacional, com o qual almeja fortificar o intercâmbio comercial mediante

exportações para vários países, entre os quais portugal.

Novo modelo económico

o anúncio foi feito durante o programa radiofónico e televisivo “alô presidente!”, transmitido

desde a fábrica de chocolate el cimarrón. na ocasião, o presidente da venezuela explicou

que deseja converter o país que dirige numa “potência cacaueira mundial”, integrando um novo

modelo económico, declarando que pretende distribuir o produto “a países aliados da revolu-

ção bolivariana”, como a líbia, a arábia Saudita, a Ucrânia, a bielorrúsia, a rússia… e, claro,

portugal, a bordo de um barco que faria, precisamente, a primeira paragem no território de luiz

vaz de camões. ■ ➤

Presidente da Venezuela visitou, e encantou, Portugal Chávez veio firmar acordos nos planos económico e estratégico

Visitas de estado

texto: nuno Sá Fotos: ricardo oliveira - Gpm

Page 45: Diplomática n.º 8

45novembro/dezembro 2010 - diplomática •

1. o presidente da venezuela Hugo chávez e o primeiro-ministro português José Sócrates 2. Hugo chávez com o presidente da

enercon, Francisco rodrigues e José Sócrates 3. Hugo chavez, marcos perestrello e José Sócrates 4. Hugo chávez e José Sócrates

com o presidente da camâra municipal de viana do castelo, José maria costa 5. Hugo chávez e sua filha com José Sócrates 6. o

presidente da venezuela a segurar a réplica em miniatura do "atlântida" adquirido a portugal pelo seu Governo

1 2

3

4

5 6

Page 46: Diplomática n.º 8

46 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010

Encerrou agora em finais de outubro as suas portas em Xangai, uma das

mais imponentes exposições Universais de todos os tempos. polarizou

muitas dezenas de milhões de visitantes de todo o mundo nomeadamente

asiáticos, no coração de um dos países maiores do mundo, de crescente

riqueza e desenvolvimento, a china. a Diplomática não podia estar ausen-

te de tão retumbante acontecimento e aproveitanto uma viagem à china, fi-

zemos uma visita relâmpago aos quase 200 pavilhões, espalhados por 528

hectares por onde passaram mais de 70 milhões de pessoas. mesmo em

regime de relâmpago não deixámos de visitar o curioso pavilhão de por-

tugal, de volumetria original, feito em cortiça. evocações históricas, ou não

fossemos nós, por macau e não só, em passado glorioso, tão próximos da

velha civilização chinesa. e por lá estavam, alem de ideias de negócios , o

chá, o vinho do porto, a música portiguesa e... variações sobre o Galo de

barcelos. até camões, nosso magno poeta, nele se metamorfoseou. etc.

3 milhões ali passaram. não foi mau.

mas o objectivo da expo Xangai 2010 era apresentar a civilização e o

desenvolvimento das cidades do futuro. e lá foi a nossa representante, de

mão dada com a mascote, Hai bao (tesouro do mar). não entrou no pavi-

lhão da china pois eram 7 horas de fila mas fez-se o que se pôde. adivi-

nharam-se aspectos tecnológicos e científicos dos 5 gigantescos pavilhões

temáticos. admirou-se a super organização e a gestão das multidões de

visitantes sob um sol escaldante aliviado por frescas brisas. Foi um ver-

dadeiro encontro de culturas,não só internacionais mas chinesas entre as

gentes das cidades e do campo. Foi notável o pavilhão do luxemburgo,

brasil, da rússia , da croácia, canadá, Japão, coreia do Sul.

reliquias culturais do velho passado ombreavam com futurologias tecno-

lógicas de espantar. tudo começou há 2000 anos com a invenção chinesa

dos 2 pauzinhos para nos deliciarmos com a saborosa gastronomia chi-

nesa, tal como os 2 principios opostos chineses que regem a harmonia da

natureza Ying e Yang, que todos conhecemos de vista. e os sapatinhos do

Jummy choo também por lá andavam mas menos depressa que os ténis

da adidas, made in china.

a china conseguiu estreitar os laços culturais, económicos, sociais entre

todos os países do mundo. Foi um exemplo das tendências da evolução

das cidades para o século XXi. e em Xangai mais sítios visitámos na ofus-

cante cidade. Jantar no bairro Francês, uma comprinha na Xangai tang,

para mais tarde recordar, passeios junto ao rio, ver a cidade antiga, cheia

de charme e mistério e a cidade cosmopolita e rica dos arranha céus a

perder de vista e ...o luxo. muitos bancos. comércio para todos os bolsos

mas principalmente marcas de joalharia e moda que farão as alegrias dos

13 milhões de gigamilionários chineses. ali não se brinca em serviço:

Hong Kong, pekim e, não fica atrás a velha macau do nosso contentamen-

to. Que futuro!

e os milhares de guerreiros de terracota de chian finalmente desenterra-

dos, ali continuam perfilados, indiferentes a mandarins e outros maos.

“É preciso que algo mude para que tudo fique na mesma.” como dizia o

Gattopardo. e nós por cá... ■ ➤

Expo Xangai 2010 texto e fotos de paula bobone

EsfEra cultural

Page 47: Diplomática n.º 8

47novembro/dezembro 2010 - diplomática •

Page 48: Diplomática n.º 8

48 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010

A importância da paz e da estabilidade políticao presidente da república e o primeiro-ministro do nosso país estiveram, recentemente, em

angola, país cuja parceria estratégica com portugal precisa de caminhar num clima de paz e

estabilidade política em áfrica. a revista “Diplomática” aponta-lhe o essencial das visitas dos

dois estadistas lusos.

no palácio presidencial da cidade alta, luanda, no fim do encontro privado com o seu homólo-

go português, aníbal cavaco Silva, o presidente da república popular de angola, José eduar-

do dos Santos, defendeu que a parceria estratégica entre angola e portugal necessita de um

programa que defina prioridades, estabeleça instrumentos jurídicos para a sua viabilização, e

objectivos a curto, médio e longo prazos.

o presidente angolano referiu, em conferência de imprensa, que a cooperação multilateral com

o nosso país assumiu um cariz estratégico desejado pelos dois estados, com uma sólida base

de sustentação. José eduardo dos Santos exaltou o “clima de grande compreensão em que foi

fácil alcançar entendimentos” entre os dois países em questões regionais e internacionais.

Paz e estabilidade políticaos dois chefes de estado reconheceram a importância da paz e da estabilidade política em

áfrica como condição fulcral quer para o fomento económico e social, quer para a consolidação

da democracia. acordaram continuar os esforços conjuntos para auxiliar a Guiné-bissau na pro-

cura do funcionamento pleno das suas instituições democráticas e da cessação da interferência

das Forças armadas daquele país na esfera política do estado.

cavaco Silva e José eduardo dos Santos analisaram o (importantíssimo) papel de angola na

áfrica austral e central, bem como a reforma das nações Unidas.

cavaco apontou a posição de potência política e económica desempenhada por angola em áfri-

ca, estando convicto e confiante de que angola será, cada vez mais, agente de paz e estabiliza-

ção na região, o que já sucede nos Grandes lagos e no Golfo da Guiné.

Angola preside à CPLPa presidência da comunidade dos países de língua portuguesa (cplp) passou de portugal

para angola, que adoptou o lema “Solidariedade na Diversidade”. a cplp, reúne mais de 250

milhões de pessoas que falam português. Daí a importância vital quer da solidariedade quer da

defesa, intransigente, do português – que deverá ser, cada vez mais, internacionalizado.

José eduardo dos Santos afirmou que a recente visita de cavaco Silva a angola dará um gran-

de impulso ao fortalecimento das relações amistosas entre os dois países e que evolui, e bem,

a cooperação bilateral. prova disso é o crescimento do volume de negócios entre angola e

portugal, acompanhado do aumento considerável no investimento. angola é o quarto mercado

das exportações lusas, logo a seguir a espanha, alemanha e França.

“Progresso notável”, diz Cavacoo presidente da república portuguesa sublinhou que há que registar o “progresso notável no ➤

Cavaco Silva e José Sócrates visitaram Angolapor nuno Sá

Viagens de estado

Page 49: Diplomática n.º 8

49novembro/dezembro 2010 - diplomática •

1. o presidente da república portuguesa, aníbal cavaco Silva e o presidente da república popular de angola, José eduardo dos

Santos 2. recepção calorosa da população angolana ao presidente português

1

1

Fo

tos:

lu

ís c

ata

rin

o

Page 50: Diplomática n.º 8

50 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010

➤ campo económico e social” atingido por angola em apenas oito anos de paz. por isso mesmo,

cavaco considera que é necessário ter “respeito por angola”.

ou não fosse economista cavaco apontou as taxas de crescimento superiores a 10 % regista-

das, nos últimos anos, pelos angolanos. após este período de crise económica e financeira, o

pr português não duvida de que angola retomará um significativo crescimento. aníbal cavaco

Silva asseverou, ainda, que os empresários portugueses têm de olhar às prioridades traçadas

pelo executivo angolano na diversificação da economia e na qualificação de quadros, esperan-

çado que os nossos homens de negócios “darão o seu contributo para o desenvolvimento deste

país irmão de portugal e para a melhoria das condições de vida da população.”

Sócrates anuncia linhas de créditotambém o primeiro-ministro português esteve, recentemente, em angola, promovendo o

estreitamento dos laços entre os dois países. Durante a sua visita de trabalho, José Sócrates

informou, logo depois de um encontro com José eduardo dos Santos, que haverá um alarga-

mento, para 500 milhões de euros, da linha de crédito da coSec, de seguro ao crédito para

os investimentos em angola, cujo plafond, de 300 milhões, já estava esgotado. José Sócra-

tes anunciou, também, a criação de uma linha de crédito à ajuda, de 100 milhões, da caixa

Geral de Depósitos, e outra de crédito à banca, no montante de 500 milhões de euros.

Sócrates considerou, igualmente, que os dois países têm, hoje em dia, “uma relação muito

sólida”, lembrando que os portugueses estão presentes “em todos os sectores” angolanos.

ainda para o chefe do Governo português, a sua visita de um dia a angola foi “muito foca-

da nas relações comerciais”, sendo que as linhas de crédito “são um sinal político da maior

importância, de atribuição de uma prioridade como nunca existiu nas relações” entre os dois

países.

Elogio à visita do PRprova da efectiva concertação de esforços entre belém e São bento foi, aquando da visita de

cavaco Silva a angola, o tom elogioso manifestado por José Sócrates.

o primeiro-ministro fez, na ocasião, um “balanço muito positivo” da ida do presidente da re-

pública, frisando, também, que o desbloquear da dívida angolana terá resultado da acção do

Governo que lidera.

Sócrates mostrou-se, ainda, “muito satisfeito” com o facto de poder verificar que, enquanto

portugal preparava a cimeira da cplp, “houve, também, muito movimento de aproximação das

autoridades angolanas”.

esse movimento, acrescentou, foi “no sentido de desbloquear, em grande parte, os problemas

que existiam com as empresas portuguesas.”

“Fiquei muito satisfeito quer com a visita do senhor presidente da república quer com a minha

própria visita e com a cimeira da cplp”, realçou o pm luso, avançando que “as coisas vão-se

construindo lentamente, devagar.”

e rematou: “não estamos aqui, portugueses e empresas, com o intuito oportunista de fazer

negócio em seis meses ou num ano. a presença portuguesa aqui é de longo prazo.” n

Cavaco Silva e José Sócrates visitaram Angola

Page 51: Diplomática n.º 8

51novembro/dezembro 2010 - diplomática •

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pm

José Sócrates na Feira internacional de luanda recebido por membros do Governo de angola e presidente da Filda

Page 52: Diplomática n.º 8

52 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010

Maria da Piedade de Polignac de BarrosEmbaixatriz da Ordem de Malta, por maria bragança, fotos de orlando Sousa

Nasceu em Lisboa, mas ainda criança rumou com os pais a Luanda,

onde residiu até 1960 - um regresso a Lisboa marcado pelo início da

Guerra Colonial. ➤

Diplomacia no Feminino

Page 53: Diplomática n.º 8

53novembro/dezembro 2010 - diplomática •

➤ De educação religiosa, estudou nas doroteias, tendo-se,

mais tarde, licenciado em enfermagem. exerceu no Servi-

ço de cardiologia e na Unidade de cuidados intensivos do

Hospital de Santa cruz.

do casamento com Francisco de mello (Ficalho), entretan-

to falecido, nasceram dois filhos, antónio martim e tomás,

que, na altura da morte do pai, tinham seis e dois anos.

empreendedora, não se deixou abater pelo desapareci-

mento precoce do marido. mesmo na dor da perda, teve

a lucidez de abrir uma empresa de organização de festas

com ana leite castro e pimenta da Gama, seu tio e primo.

e, durante bastante tempo, ali se empenhou, porque maria

da piedade não é de se acomodar nem viver à sombra dos

pergaminhos familiares…

Há mais de uma década, resolveu fundar a “chouros”, uma

empresa que fornece aluguer de material para seminários

e congressos, assim como sistemas de som e luz para fes-

tas, a nova vida que obteve e na qual trabalha diariamente.

do seu segundo casamento, com miguel polignac de bar-

ros (o embaixador da ordem de malta em portugal), nas-

ceu o filho pedro, actualmente com 16 anos.

com a vida de empresária, acumula as preocupações

humanitárias dando uma ajuda na obra mesa de nossa

Senhora, uma organização de solidariedade social que

apoia os sem-abrigo e lhes fornece almoços. pelo meio,

ainda encontra forças para apoiar a organização do bazar

dos diplomatas, iniciativa de natal que, todos os anos, é

promovida pelas mulheres dos embaixadores acreditados

em portugal.

preocupada com este nosso mundo, aflige-lhe a lógica

materialista que o domina. “O mundo tem de dar uma volta,

direccionar-se mais para o espiritualismo, as pessoas têm

de ser mais solidárias. Os pais deveriam exigir mais dos

filhos e não se esquecerem da formação espiritual – hoje

deficitária – que pode ser um grande apoio para as adver-

sidades. Tento transmitir isso aos meus filhos, mas admito

que hoje há outras motivações e os jovens dispersam-se

mais".

Utópica, sonha com um mundo diferente. “Se fosse muito

rica procurava uma união entre a procura e a oferta. ou

seja, direccionava as pessoas – que estão perdidas e não

sabem o que fazer – para algo produtivo que as motive. Há

pessoas a viver o drama do desemprego e não têm quais-

quer perspectivas. tem de se fazer um esforço de coorde-

nação entre as necessidades das pessoas e as necessi-

dades do mercado, para podermos dar a volta por cima. e

tem de haver um grande esforço colectivo, as pessoas têm

de se sacrificar mais, mas preservando sempre a alegria

de viver, de saber rir, de brincar mesmo quando a vida cor-

re menos bem. e isto tem de ser cultivado.” ■

Maria da Piedade de Polignac de BarrosEmbaixatriz da Ordem de Malta, por maria bragança, fotos de orlando Sousa

Embaixatriz Maria da Piedade de Polignac de Barros

Page 54: Diplomática n.º 8

54 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010

Para celebrar o 234º aniversário

da Declaração da independência

dos estados Unidos, a embaixada

abriu as suas portas. em palavras

de boas vindas aos convidados, o

embaixador recordou que ao de-

clarar a independência da Grã bre-

tanha, os Fundadores disseram:

“consideramos estas verdades

como auto-evidentes, que todos

os homens são criados iguais e

são dotados pelo criador de certos

direitos alienáveis , que entre estes

estão a vida, a liberdade e a busca

da felicidade”. Focando o sonho

americano do acreditar nos

valores do trabalho duro, na

igualdade e na liberdade e enal-

tecendo homens corajosos tais

como abraham lincoln, e martin

luther King Jr e mulheres como

Susan anthony que lutaram pelos

direitos civis de igualdade entre os

cidadãos, citou palavras de um

discurso do presidente obama

“ Fomos criados no ideal de que

todos são iguais, e derramámos

sangue e lutámos durante séculos

para dar sentido a estas palavras –

nas nossas fronteiras e em todo o

mundo. nós somos moldados por

todas as culturas, trazidas de to-

dos os confins da terra e dedicado

a um conceito simples: e pluribus

unum, “de todos um”.

o embaixador allan Katz referiu

a amizade e entendimento entre

os estados Unidos da américa e

portugal que há dois séculos liga

estes dois países, afirmando-se

honrado em representar o presi-

dente obama, o seu governo e o

seu país na república portugue-

sa, apostando-se em alimentar

e consolidar a forte aliança entre

portugal e os estados Unidos da

américa. ■

Dia da Independencia dos Estados Unidos

1. o grupo de fuzileiros da embaixada

durante a cerimónia de apresenta-

ção de bandeiras

2. o embaixador allan Katz e a sua

mulher, nancy cohn, recebem os

convidados

3. embaixador Katz e maryann mckay,

adjunta da chefe do Serviço de

imprensa e cultura da embaixada

1

2

3

MALA DipLoMáticA

Page 55: Diplomática n.º 8
Page 56: Diplomática n.º 8

56 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010

Os embaixadores da arábia

Saudita receberam os seus

convidados para celebrarem o

Dia nacional do reino da arábia

Saudita. a festa decorreu em

lisboa. estiveram presentes in-

dividualidades ligadas por laços

afectivos, económicos, culturais,

militares e empresariais.

a arábia Saudita é a maior

nação do médio oriente, tem

uma população estimada em

28 milhões de habitantes e

uma superfície de cerca de

2.149.690 km2. o reino é, por

vezes, chamado de “a terra das

Duas mesquitas Sagradas”, em

referência a meca e medina, os

dois lugares mais sagrados do

islão. as duas mesquitas são

al masjid al-Haman e al masjid

al-nabawi. ➤

Dia Nacional do Reino da Arábia Saudita

1. Hisham bin Sultan al-Qahti, em-

baixador da arábia Saudita, e sua

mulher

2. embaixador da república islâmica

do paquistão, Gui Haneff, com a

sua mulher e os embaixadores da

arábia Saudita

3. os anfitriões com a embaixadora

da noruega, inga magistad

4. maria de bragança a cumprimen-

tar os embaixadores da arábia

Saudita

1 2

3 4

MALA DipLoMáticA

Page 57: Diplomática n.º 8

57novembro/dezembro 2010 - diplomática •

➤ a arábia Saudita, coração do

islamismo, é o maior exportador

de petróleo do mundo, o que

resulta na principal fonte da

economia saudita. o petróleo

representa mais de 90 por cento

das exportações e quase 75%

das receitas do Governo, que

contribuem para uma situação

de bem-estar social.

a maioria dos sauditas é etnica-

mente árabe e muitos árabes de

países vizinhos estão emprega-

dos no reino.

Foi na arábia Saudita que ocor-

reu a revelação do “alcorão” pelo

profeta maomé. actualmente, a

constituição do país é baseada no

corão e nos resgates moneteístas

que muhammad abd al-Wahhab

realizou sobre o “livro de mao-

mé” e a Sunnah. ■

5. o embaixador com o seu staff

6. nuno rogeiro com sua mulher

e os anfitriões

7. embaixador da Suíça, rudolf

Shaller, com os anfitriões

5

6 7

Page 58: Diplomática n.º 8

58 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010

Rasool Mohajer por maria da luz de bragança, fotos de orlando Sousa

Embaixador do Irão em Portugal

“Acredito que Obama queira mudar algumas coisas na política externa”

Há dois anos em Portugal, o Embaixador do Irão traça um cenário diferente daquele que,

regra geral, é propalado pelos media ocidentais. Realça os propósitos pacifistas do Governo

de Teerão e define o seu país como uma nação tolerante e aberta às diferenças religiosas. ➤

Diplomacia na 1ª pessoa

Entrevista

Page 59: Diplomática n.º 8

59novembro/dezembro 2010 - diplomática •

➤ Como veio parar a Portugal?

Sou diplomata de carreira. antes de estar

em lisboa já havia sido embaixador na

roménia, logo a seguir à revolução de

1989, após o que fui colocado na Hungria.

portugal é o meu terceiro destino.

No Irão há algum curso específico para

a carreira diplomática?

Sim, há cursos específicos de formação

especial para diplomatas. mas, antes de

vir para portugal, fui director-geral do

ministério dos negócios estrangeiros. e,

antes da estada na Hungria, por exemplo,

fui, durante cinco anos, director de assun-

tos bilaterais com a União europeia.

Mas, antes desses percursos, passou

pela universidade...

claro, graduei-me na Faculdade de rela-

ções internacionais e, depois, entrei para

o ministério dos negócios estrangeiros.

mas, quanto a portugal, cheguei cá há

dois anos, com a minha mulher. e tenho

dois filhos, já crescidos, um deles casado,

que ficaram no irão.

Qual a relevância de Portugal para o

Irão?

temos uma longa tradição de relações

e história comum. o primeiro embaixa-

dor de um país estrangeiro no irão foi o

português, isto no início do século Xvi.

aí nasceram, logo, as nossas relações

diplomáticas e de amizade. trata-se de

uma marcante carga simbólica , podere-

mos mesmo afirmar que é um tesouro que

ambos os países têm de aproveitar.

recentemente comemorámos os 500

anos de relações entre portugal e o irão,

efeméride assinalada com uma emissão

conjunta de selos nos nossos dois países.

acredito, na verdade, que poderão existir

e ser desenvolvidas diversas áreas de co-

operação, até porque os portugueses são

um povo muito aberto ao “outro” e amante

da paz. devo, aliás, sublinhar que aqui,

em portugal, nunca senti qualquer acinte

contra os estrangeiros. até pela experiên-

cia que tenho, em comparação com outros

países, não se sente qualquer reacção

relevante, por exemplo, contra os africa-

nos, sendo que os estrangeiros – regra

geral – são muito respeitados e integrados

na sociedade portuguesa.

outra característica admirável do povo

português é a sua noção de família, uma

instituição muito forte e unida, sempre

presente na sociedade. no irão é também

assim, encontra esses mesmos sentimen-

tos. por outro lado, para quem estiver

atento, poderá descobrir que os iranianos

são poetas, moderados, temos uma His-

tória e uma cultura de milhares de anos,

baseada na tradição familiar.

(como parêntesis, permita-me referir que

achei admirável o amor que transborda da

relação entre si e o seu marido...)

No Irão as pessoas casam por amor,

ou é tudo combinado entre as famílias

– como antigamente acontecia frequen-

temente em Portugal?

não. eles encontram-se, conversam,

namoram e, se assim entenderem, ca-

sam-se. mas as famílias envolvem-se, os

pais vão a casa uns dos outros, fazem

os pedidos de casamento. e, conforme

as possibilidades, vão ajudar a procurar

casa para eles, um carro… Quando temos

uma flor é preciso regá-la para que cresça

saudável.

No ocidente diz-se que a mulher irania-

na é mal tratada e não pode sair à rua

de cara destapada…

na capital, teerão, num universo de 12

milhões de habitantes, não se encontra

uma única mulher com a cara tapada.

Usa-se o véu, que decorre da nossa

tradição. mas, no irão, ao contrário de

outros países, não há restrições, e se uma

senhora quiser usar burca pode fazê-lo.

Irão e Portugal - o nosso país pode ser

uma porta para a Europa?

de facto, penso que portugal pode ter um

papel muito mais importante nas relações

comuns entre os nossos países, decorren-

te até da relevância de todo esse patri-

mónio histórico que já referi. e, também,

porque há um bom entendimento entre as

nossas duas nações. Francamente, nunca

vi portugal como um pequeno país que

está colocado a um canto da europa.

existe um enorme potencial de desenvol-

vimento das nossas relações bilaterais - e

multilaterais (têxteis, construção, energia ➤

Page 60: Diplomática n.º 8

60 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010

➤ solar, petróleo...)nos últimos anos,

promovi a vinda a portugal de um grupo

de músicos iranianos ( dois homens e

três mulheres, incluindo a directora), para

divulgação da riqueza da música, do estilo

e dos instrumentos do meu país. Foram

muito bem acolhidos, e apreciados, pelos

portugueses. na música, na ciência, na

história, o irão é, por tradição, um país de

cultura.

No ocidente, muitas vezes, passa a ideia

de que o Irão é um país extremista.

não existe qualquer extremismo no irão.

o povo é muito tolerante. aliás, até lhe

dou um exemplo da tolerância iraniana.

enquanto os países europeus obrigavam

os judeus a converter-se ao cristianismo,

não encontra na nossa História nenhum

momento em que os iranianos tenham

perseguido povos em função da sua

religião. Há dois mil e sessenta anos, na

pérsia antiga (hoje irão) davam refúgio

aos judeus expulsos de outras nações.

Há uns meses, dois grandes jornalistas

americanos publicaram no n. Y. times

um relatório onde se diz ser no irão que

os judeus têm mais liberdade, compara-

tivamente a outras regiões do

médio oriente. e convém referir

que, no nosso país, cada reli-

gião está representada por um

deputado. a nossa assembleia

tem 290 deputados e, por exem-

plo, para ser eleito por teerão,

são necessários 800 mil votos,

mas um membro de uma minoria religiosa

só precisa de sete mil – e tem os mes-

mos direitos e deveres de qualquer outro

deputado. Qual é o outro país do mundo

que respeita assim as minorias religiosas?

mais: no irão há cerca de 200 sinagogas

para os judeus praticarem os seus rituais.

o ecumenismo é um princípio que carac-

teriza a nossa pátria.

e, em matéria judicial, se há um problema

entre muçulmanos, é aplicada a lei islâmi-

ca; mas se, por outro lado, o problema é

entre cristãos, aplicam-se as leis e nor-

mas do cristianismo.

Como é que está organizado o sistema

político?

temos um líder religioso que é o líder

supremo do país, mas não está no execu-

tivo. o presidente da república tem o po-

der executivo, mas a assembleia consul-

tiva tem tanto poder que até pode demitir

o presidente. não há nenhum poder que

possa anular as decisões da assembleia.

Depois da revolução, demos uma grande

importância ao voto do povo, até porque

esta foi, de facto, uma revolução do povo.

basta percorrer as ruas no dia 11 de Fe-

vereiro para se perceber o quanto o povo

participa nas comemorações da revolu-

ção, cuja data é o dia nacional iraniano.

E as relações com a União Europeia

(UE) – e já falamos na importância de

Portugal – em que estado se encon-

tram?

ainda bem que fala nessa questão,

porque portugal pode ter um papel facili-

tador no entendimento com os membros

da União que, infelizmente, seguem uma

política muito ligada à perspectiva ameri-

cana. repare, não temos nenhum precon-

ceito em relação aos estados Unidos da

américa, mas é um facto que desde há

30 anos não temos relações diplomáticas

com os eUa que, neste momen-

to, influenciam a Ue – que não

deveria seguir o mesmo caminho

e, pelo contrário, deveria ajudar

e agilizar as relações com os

americanos.

portugal poderia ajudar a fazer

compreender a questão iraniana.

mas isso depende apenas de portugal,

que não deveria ouvir apenas uma fonte

de informação. recorrendo às relações

históricas que existem entre os nossos

países, portugal está em muito melhores

condições de perceber a realidade irania-

na e comunicá-la à União europeia.

aliás, a nossa vizinha turquia – que é

membro da nato – adoptou uma posição

independente. e o presidente do brasil,

lula da Silva, foi ao irão ouvir a posição

iraniana, com toda a abertura, sem pre-

conceitos. e ficou tão revoltado com as

contradições americanas que resolveu

tornar públicas as cartas do presidente

obama. ➤

Embaixador Rasool Mohajer

"Se há pro-blema entre oS muçulma-noS, é aplica-da a lei iSlâ-mica...."

Page 61: Diplomática n.º 8

61novembro/dezembro 2010 - diplomática •

O país das rosas

país de cultura milenar, o irão é também conhecido pelas suas belíssimas

rosas, pela poesia e pela cordialidade do seu povo. mas as contingências da

política geoestratégica confinaram-no, nos últimos anos, a uma espécie de gue-

to internacional.

a pressão do estado de israel – que não dos judeus enquanto tal -, associada

às incompreensões americanas – que obama, de algum modo, procura contra-

riar -, colocaram a nação iraniana no lote dos estados malquistos da comunida-

de internacional.

mas começa a ser evidente, independentemente do que se possa pensar sobre

o aproveitamento de energia nuclear, que há seriedade por parte dos iranianos

quando dizem não ter intenções de a utilizar na produção de armamento.

embaixador rasool mohajer

Page 62: Diplomática n.º 8

62 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010

➤ O que são essas cartas do presidente

Obama?

a primeira tem duas páginas e foi envia-

da ao presidente lula, pedindo-lhe para

ele interceder sobre a questão do nuclear

iraniano. lula assim fez, empenhou-se

denodadamente, e chegámos à Decla-

ração de teerão, assinada entre o irão,

a turquia e o brasil. porém, dois dias

depois, o presidente obama adoptou

uma posição totalmente diferente. apesar

disso, acredito que obama queira mudar

algumas coisas na política externa, mas

existem muitas pressões dentro da pró-

pria administração americana,

de que ressaltam as posições

da Secretária de estado, Hillary

clinton. e, do outro lado, está

israel a pressionar, e a influen-

ciar os americanos.

Já falamos na importância

que o Irão atribui às relações

com a Europa. E com a Rússia?

Historicamente a rússia é nossa vizinha,

temos grandes relações políticas e econó-

micas. e até acolhemos uma das centrais

nucleares que os russos estão a construir,

no sul do irão. as relações são muito boas

e o balanço comercial é muito positivo.

Mas está de todo afastada a hipótese

de o Irão utilizar a energia nuclear para

fins militares?

claro que está. Sempre defendemos,

mesmo quando muitos não o faziam,

uma política de desarmamento unilate-

ral. e essa tem sido sempre a posição

do irão desde a revolução, já lá vão três

décadas.

recordo que, há alguns meses, represen-

tantes de mais de 60 países participaram

em teerão numa conferência subordinada

ao tema “armas nucleares para ninguém,

energia nuclear para todos”.

Desde os anos 70 que não nos cansa-

mos de repetir que o médio-oriente deve

ser livre de qualquer armamento nuclear.

nessa década, irão e egipto, erguemos a

voz em uníssono contra as armas nu-

cleares, e pelo desarmamento total do

mundo. passadas quatro décadas, porém,

o tratado de não-proliferação continua

a não estar rubricado por muitos países

que, por sinal, persistem em desenvolver

armamento nuclear.

Pode, portanto, garantir que o Irão não

constitui uma ameaça?

certamente. e repare: não só somos

contra as armas nucleares como sempre

contestámos a posse de armas nucleares

por quaisquer países. apenas alguns dias

após a conferência do tratado de não-

proliferação nuclear ter realçado, numa

passagem, que israel deveria assinar o

tratado ( o que persiste em não fazer) e

fosse vigiado pela agência mundial de

energia atómica, o conselho

de Segurança da onU aprovou,

para nossa surpresa, e de tantos

outros países, uma resolução

contra...o irão.

nenhuma organização interna-

cional, nem a agência mundial

de energia atómica reuniram

até hoje qualquer prova de que o irão se

tivesse desviado, com fins militares,dos

objectivos pacíficos e exclusivamente

científicos do seu programa nuclear. pelo

contrário, constantemente contrapomos,

coerentemente, que somos contra as

armas nucleares, quaisquer armas, em

qualquer país. mais: por que é que os

norte-americanos apresentam o irão como

ameaça, quando, durante séculos, não

invadiu nem atacou outro país? Foi o irão

que foi atacado. recordo, até, que foi a

primeira vítima de armas químicas...e eu

pergunto: durante os oito anos da guerra

irão-iraque, na década de 80, quais foram

os países que apoiaram o iraque e forne-

ceram armas a Saddam Hussein? Seria

bom que a opinião pública portuguesa, e

internacional, se interrogasse sobre estes

e tantos outros asuntos...

O que pensa da crise económica que o

mundo está a atravessar?

É muito grave, especialmente na europa,

com o desemprego, o enfraquecimento

da moeda… mas o mais grave é o senti-

mento de desconfiança no futuro. espe-

ro, todavia, que os esforços feitos pelos

responsáveis possam retomar a confiança

e resolver a crise. ■

"...Se o

problema é entre criS-tãoS, apli-cam-Se aS leiS do criS-tianiSmo"

Embaixador Rasool Mohajer

Page 63: Diplomática n.º 8

63novembro/dezembro 2010 - diplomática •

O dia nacional da Suíça, foi celebrado

com uma recepção na sua embaixada.

estiveram presentes muitas individualida-

des que não quiseram deixar de corres-

ponder ao convite de rudolf Schaller e

almy Schaller, embaixador e embaixatriz

da Suíça em portugal.

esta data está relacionada com o pacto

Federal dos Waldstätten (“cantões flores-

tais”), de agosto de 1921. É o primeiro

pacto escrito de que há registo, apesar de

hoje se saber não ter sido essa a primeira

aliança entre as três comunidades envol-

vidas - Uri, Schwytz e Unterwald - os mais

antigos cantões da Suíça.

este pacto foi quase ignorado durante

séculos e a criação de uma festa nacional

nunca foi ponderada. isto ocorreu até ao

século XiX, quando se manifestou a von-

tade de “oficializar” uma verdadeira festa

nacional, celebrada ao mesmo tempo em

toda a confederação. em 1889/90, com a

aproximação do 600º aniversário do pacto,

o Governo e o parlamento decidiram, final-

mente, que a fundação da confederação

seria festejada a 1 de agosto.

a partir dessa data, esta celebração é orga-

nizada anualmente pelos municípios com a

colaboração das comunidades locais.

pela sua estrutura política, a Suíça é

um estado federativo que se formou

no decurso da História e cujos 26 esta-

dos membros (cantões e semi-cantões)

conservam grande parte da sua autono-

mia. os municípios suíços, chamados

comunas, possuem, igualmente, compe-

tências administrativas bem amplas. no

país existem quatro línguas nacionais e

oficiais: o alemão (falado por cerca de

65 % da população), o francês (18%),

o italiano (10%) e o romanche (1%). as

duas principais religiões cristãs da Suíça

possuem um número praticamente igual

de adeptos: 48 por cento de católicos

e 44 por cento de protestantes. os 8%

restantes correspondem a outras comu-

nidades cristãs ou religiões (Judaísmo e

islamismo). ■

Dia Nacional da Suíça1 2

3 4

5

6 7

1. o embaixador da Suíça, rudolf Schaller com a nossa directora

2. a embaixadora da república dominicana, ana Silva de abud

com seu marido 3. Jorge Felner da costa e sua mulher 4. embai-

xador do irão rassol mahajer 5. Fabricio pignatelli 6. margarida

Quevedo Gorgão Henriques e seu marido 7. maria de bragança e

isabel Silveira Godinho

mala Diplomática

Page 64: Diplomática n.º 8

64 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010

Por ocasião do Dia nacional do

seu país, o embaixador da líbia

em portugal, Sua excelência ali

emdored, foi o anfitrião de uma

recepção num hotel de lisboa.

altas individualidades portugue-

sas e estrangeiras, de diversas

esferas da sociedade, aceitaram

o convite para estarem presentes

na comemoração. estiveram na

recepção membros do corpo Di-

plomático acreditado em lisboa,

figuras políticas, académicas, e

empresários de renome. entre os

mais notáveis foram ao apronto

Sua alteza real, Dom Duarte pio

de bragança, Dr. ricardo espíri-

to Santo Salgado, presidente do

banco espírito Santo (beS), ➤

A Líbia comemora o 41º Aniversário da Revolução do 1º de Setembro em Lisboa

1 2

3 4 5

6 7

1. embaixador ali emdored com Yahya el Jadid e seus filhos 2. embaixador da líbia

e embaixador da palestina 3. o embaixador da rússia, pavel Fiodorovitch petrovsky

e maria de bragança 4. embaixador da líbia, Sua excelência ali emdored, e omran

Saieh 5. o embaixador com membros da Delegação da líbia 6. Sua alteza real, Dom

Duarte pio de bragança, com o embaixador 7. ali emdored e eduardo ambar

mala Diplomática

Page 65: Diplomática n.º 8

65novembro/dezembro 2010 - diplomática •

➤ dr. José bouza Serrano, chefe

do protocolo do estado, profes-

sor vítor escária, do Gabinete

do primeiro-ministro, dr. manuel

pechirra, presidente do institu-

to luso-árabe de cooperação,

bem como muitos membros

deste instituto, além de amigos

pessoais da comunidade líbia

em portugal. os diplomatas da

embaixada da líbia em lisboa,

assim como as suas famílias,

estiveram presentes para dese-

jar boas vindas aos convidados.

dado o número e a importância

dos presentes, a recepção da

embaixada da líbia confirmou as

excelentes relações existentes

entre a líbia e portugal. ■

8 9

10 11 12

13

14 15

8. os embaixadores dos emirados árabes Unidos, iraque, líbia, e amigos 9. embaixadora

da argélia, Fatiha Selmare com maria de bragança 10. José bouza Serrano com o embai-

xador 11. embaixador da líbia com vítor escária 12. ricardo espírito Santo Salgado e ali

emdored 13. omran Saieh, o embaixador e Waled buabdalla 14. embaixador de moçambi-

que e maria de bragança 15. embaixador dos emirados árabes Unidos e um convidado

Page 66: Diplomática n.º 8

66 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010

Celso vieira de Souza, embaixador do

brasil em portugal, recebeu uma plêiade

lusófona de convidados, altas individuali-

dades e figuras públicas; do corpo diplo-

mático à política, da cultura ao empresa-

riado, do meio social à área militar. entre

países irmãos e amigos, na residência

do embaixador, em lisboa, foi celebrado

recentemente em portugal, com pompa

e circunstância, o Dia da independência

do brasil. com a língua de camões

por pano de fundo e a comunidade dos

países de língua oficial portuguesa

(cplp) como enquadramento histórico e

afectivo.

na sumptuosa festa que teve por an-

fitriões o embaixador e sua mulher, a

embaixatriz lúcia vieira de Souza, um

dos momentos protocolares altos da ses-

são solene foi o agraciamento de que foi

alvo o presidente da câmara municipal

de lisboa, antónio costa, cuja simpatia e

cumplicidade para com o embaixador ➤

A festa lisboeta do Dia da Independência do Brasil Embaixador Vieira de Souza recebe diplomatas e notáveis

1. celso vieira de Souza usa da palavra na evocação da proclamação da

independência do brasil 2. os representantes do brasil em portugal foram os

cicerones da festa de 7 de Setembro

mala Diplomática

1

2

Page 67: Diplomática n.º 8

67novembro/dezembro 2010 - diplomática •

➤ foram evidentes. as fotos revelam-no.

celso vieira de Souza assumiu funções

a 11 de Junho. pretende estabelecer e

consolidar um canal de contínua interac-

ção com os vários segmentos represen-

tativos da sociedade lusa e da comunida-

de brasileira que reside no nosso país.

a independência do brasil é oficialmente

celebrada a 7 de Setembro, assinalando

o episódio do chamado Grito do ipiran-

gaG, ocorrido nesse dia do ano de 1822.

reza a história oficial que, nessa data,

o príncipe regente d. pedro terá excla-

mado perante a sua comitiva: ,inde-

pendência ou morte!i. terá sido aí, nas

margens do rio ipiranga (actual cidade

de São paulo) que começou a emanci-

pação política do país irmão do reino de

portugal, embora o início do processo

de transferência da corte portuguesa

para o brasil tenha sucedido a partir de

1808 e até 1821, no contexto da Guerra

peninsular. ■

3. o embaixador de itália, luca del balzo do presenzano, foi uma presença notada

na grande festa entre os dois países irmãos 4. antónio pinto ribeiro, em amena

cavaqueira nos jardins 5. encheram os jardins da residência oficial do embaixador

para as comemorações 6. antónio costa ficou muito lisonjeado com o agraciamen-

to de que foi alvo 7. Jerónimo de Sousa e bernardino Soares, associaram-se à

comemoração dos 188 anos da independência do brasil

3

5

7

6

4

Page 68: Diplomática n.º 8

68 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010

O embaixador Helmut elfenkäm-

per e sua mulher, Ulla elfenkäm-

per, tiveram a oportunidade de

festejar um aniversário especial na

sua residência, com cerca de 300

convidados, já que, este ano, se

comemorou pela 20ª vez a unifica-

ção das duas alemanhas.

esta ocasião teve um significa-

do especial, uma vez que, após

uma separação de décadas,

os alemães vivem, desde 3 de

outubro de 1990, novamente

unidos num só estado. este dia é,

desde então, o Feriado nacional

da alemanha – e não o dia 9 de

novembro, data em que se come-

mora a queda do muro, sobre a

qual se festejaram duas décadas

no ano passado e que suscitou

um grande interesse em toda a

europa. a queda do muro de ber-

lim constituiu apenas o arranque

de um processo. inicialmente, não

estava, de modo nenhum, claro

que, em menos de um ano, este

acontecimento teria como con-

sequência a reunificação alemã.

tanto na política interna, como na

externa, ainda seria necessário

ultrapassar diversos obstáculos.

portugal fez parte do grupo de

países que, logo desde o início,

apoiou claramente a unidade ale-

mã. tudo isto constitui razão para

que o embaixador elfenkämper

tivesse feito um agradecimento

no seu discurso : “a unificação foi

possível graças a condições ➤

RecepçãoDia da Unidade Alemã

1. embaixador Helmut elfenkämper e a embaixatriz Ulla elfenkämper 2. o ensemble Divers da orquestra Juvenil do land da re-

nânia do norte vestefália 3. ministro conselheiro Doutor Frank rückert, e sua mulher, dão as boas-vindas a luís neves e a João

carlos espada 4. o embaixador da república Federal da alemanha saúda altos representantes da marinha portuguesa

1 2

3 4

mala Diplomática

Page 69: Diplomática n.º 8

69novembro/dezembro 2010 - diplomática •

➤ históricas particularmente felizes.

nós, alemães devemos esta unifi-

cação também à compreensão que

encontrámos por parte dos nossos

vizinhos e parceiros. neste senti-

do, gostaria de dar especialmente

as boas-vindas aos representantes

das quatro potências – estados

Unidos, França, reino Unido e

rússia – hoje aqui presentes, mas

também aos representantes de

portugal: país que apoiou, desde o

início, as aspirações dos alemães

à unidade. Gostaria de saudar,

também, os representantes de

todos os países vizinhos da alema-

nha, e entre eles, os que connosco

superaram a divisão da europa, a

grande maioria dos quais se en-

contra actualmente unida a nós na

União europeia.”

Um ensemble de música de câmara

vindo do estado federado da renâ-

nia do norte-vestefália interpretou

composições que serviram de fun-

do à recepção e os hinos alemão

e português. entre os convidados

encontravam-se o vice-presidente

da assembleia da república, vera

Jardim, também presidente do

Grupo de amizade portugal-ale-

manha no parlamento português,

o ex-vice-presidente mota amaral

e representantes do ministério dos

negócios estrangeiros português,

inúmeros embaixadores, represen-

tantes do corpo diplomático e da

comunidade alemã em portugal,

entre muitos outros. ■

5. embaixador Helmut elfenkämper e sua mulher com antónio eira leitão e Stephan Stieb 6. Helmut elfenkämper e o vice-presiden-

te da assembleia da república, José vera Jardim 7. embaixador com o deputado mota do amaral e manuel Ferreira enes

8. conselheira miriam Wolter à conversa com João carlos espada e o tenente-coronel João alvelos

5 6

7 8

Page 70: Diplomática n.º 8

70 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010

Maria Helena Daget por antónio manuel pinho, fotos de antónio porto

“É preciso encontrar os caminhos que possibilitem

reequilibrar a economia. Porque a economia não é só

números, é também capital humano.” ➤

EmprEsários intErnacionais

Entrevista

Uma empresária que lidera uma importante multinacional

Page 71: Diplomática n.º 8

71novembro/dezembro 2010 - diplomática •

➤ É fascinante ouvir esta mulher

sem idade, mas com a sabedoria

ancestral de uma andarilha desta

vida, eterna [mas lúcida] portadora

de utopias. desde logo, a primeira

de todas, sonhar com um outro

mundo em que as pessoas sejam o

centro, mesmo na economia…

maria Helena daget, ceo da te-

chdrill - que desenvolve software,

serviços, peritagens e formação

para o ramo petrolífero -, pode

orgulhar-se de ser hoje a face

visível de uma empresa que está

no segundo lugar mundial deste

exigente nicho de mercado. a sua

humanidade, porém, não apaga,

antes revela, uma gestora rigorosa

e firme, de uma tenacidade que,

provavelmente, foi buscar à he-

rança paterna, ao carácter de um

progenitor que foi um dos maiores

empresários portugueses e que,

também, enfatizava a importância

das pessoas no desenvolvimento

das empresas e dos negócios.

aqui se conta como nasceu o so-

nho, como maria Helena se afirmou

num universo predominantemente

masculino e como, tantos anos

depois, ainda se entrega com a

mesma generosidade a uma outra

utopia…

Em 1971, salvo erro, resolveu

sair do país.

exactamente. Fui para paris. Saí,

nessa altura, porque casei com um

engenheiro francês…

Patrick Daget. Conheceu-o cá?

conheci-o em luanda. patrick era

director da perfuração da total.

entrei para a total, quando esta

companhia de petróleos abriu a

filial em angola. anteriormente era

professora de liceu. Um mundo tão

diferente do ensino. no inicio tive

a ajuda de meu pai, que era sócio

co-fundador da mota & companhia,

e me abriu muitas portas.

Portanto, Mota & Companhia…

origem familiar no porto…

porto, braga e Gerês, mais preci-

samente. os meus avós paternos

eram donos do Hotel ribeiro, no

Gerês. e, do lado da minha mãe,

havia uma ligação à hotelaria,

também no Gerês. no porto, em

braga e também em lisboa tenho

ligações familiares.

Foi, então, para Angola.

a mota & companhia tinha, en-

tão, várias empreitadas na antiga

colónia, nomeadamente, estradas,

aeroportos e barragens. ia passar

férias em angola onde os meus

pais residiam.

estudei em braga e dois anos em

angola. Fiz o 7º ano no liceu de bra-

ga e depois fui estudar para a Suíça,

línguas modernas e economia.

E essa incursão na economia

veio a ser muito útil quando se

tornou empresária – o que, dedu-

zo, nunca lhe teria passado pela

cabeça…

não foi bem assim. Sempre que

estava de férias escolares, o meu

pai puxava-me para os negócios.

e, aos poucos, fui descobrindo com

prazer esse mundo.

É evidente que os conhecimentos

de economia e finanças me foram

muito úteis quando mais tarde me

lancei na luta empresarial.

E correu mundo com Patrick.

Onde havia petróleo, estavam lá.

(risos) primeiro com a total,

(patrick daget foi um dos primei-

ros 4 engenheiros que a total

contratou para começarem a fazer

sondagens petrolíferas). mais tarde

com a Shell, e também na blocker

energy, uma empresa americana.

vivemos em paris, em londres, na

escócia, na tunísia, nos estados

Unidos, no médio oriente.

durante este anos, continuei a

estudar economia, management e

finanças. e fundámos a techdrill

– que celebrou 20 anos em 12 de

Setembro passado.

era para aí que eu ia… para o iní-

cio do sonho…

do patrick. não era o meu, de ma-

neira nenhuma, porque se trata de

uma tecnologia de ponta.

O que me parece fascinante, na

sua trajectória profissional, é

que se afirma num mundo mas-

culino. E, de uma forma geral,

as mulheres têm de ter um outro

tipo de empenhamento para se

afirmarem. Teve de desbravar

caminhos.

É verdade. mas um dos países que

conheci primeiro, o nosso – e que

dava oportunidades às mulheres –,

foi portugal. parece estranho, num

país que poderia parecer machista,

tenho primas e amigas que se for-

maram, já nesse tempo, em enge-

nharia – um curso tendencialmente

masculino. reporto-me aos anos

sessenta, que marcam o grande flu-

xo das mulheres nas universidades.

Mas, quando começou a sua acti-

vidade nos petróleos, não sentiu

que era um corpo estranho?

não senti muito, porque tudo

aconteceu por fases. Utilizei o

que podemos chamar “o adn dos

portugueses”. nós temos uma

grande qualidade – aliás, revelada

pela nossa História -, arranjamos

solução para tudo à última da hora.

porém, também tinha um problema,

a planificação. aprendi o método

de planificar e organizar na Suíça,

mais tarde nas universidades em

França e na escócia. a actividade

nos petróleos tem sido uma grande

aventura, mas também uma grande

sorte, que me oferece experiências

e desafios por vezes difíceis mas

sempre interessantes.

para evitar sentir-me um corpo

estranho no mundo dos petróleos,

apoiei-me nas pessoas que sabiam

mais do que eu. tem de haver

essa humildade intelectual.

Não a imagino líder de gabine-

te. Gosta de saber como são as

coisas? ➤

Page 72: Diplomática n.º 8

72 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010

➤ nunca fui líder de gabinete.

tenho sempre que saber como se

fazem as coisas “cá em baixo” - e

a todos níveis - para perceber e

poder gerir. porque para se mandar

tem de se conhecer a dinâmica,

o mecanismo. não tenho que ser

uma engenheira de perfuração

nem de informática, mas tenho de

perceber o processo, senão não

consigo liderar.

Portanto, nunca sentiu nenhum

tipo de constrangimento por ser

mulher.

na fase de angola, nunca senti.

onde senti o choque foi em paris

em 1971. aí foi difícil porque sou

portuguesa e a imagem de portugal

não era muito boa nessa altura. era

o tempo da emigração portuguesa

que fugia à miséria. e, portanto, aí

foi um duplo combate: impor-me

como mulher e como portuguesa.

Foi o seu marido que criou o

software que está na origem da

Techdrill e a afirmou nos mer-

cados. Deduzo que tudo tenha

começado por um pequeno

escritório…

com efeito, montámos o primeiro

escritório no nosso apartamento,

que era enorme, começámos por

contratar uma secretária e um en-

genheiro informático. Durante qua-

tro ou cinco meses foi assim, até

que reunimos amigos, colegas do

patrick, todos como ele altos exe-

cutivos das grandes companhias

petrolíferas mundiais: pierre orieux

(chairman), Jean-pierre anselmini,

Jean miramon, patrick Jonville. e

fui buscar um dos meus filhos – o

miguel -, que é um especialista

em marketing, gestão e comércio

internacional que, por essa época,

trabalhava na thompson. Foi com

esta equipa e outros colaborado-

res que preparámos a saída para

o mercado. Foi difícil, porque o

nosso projecto era precursor. Foi

tudo a pulso, a desbravar caminho,

estudos de mercado… no ramo da

perfuração não havia nada.

este software visa, essencialmente,

duas coisas: optimizar os meios e

reduzir os custos na perfuração.

a perfuração de poços de petróleo

e de gás é uma actividade de altos

riscos, humanos, financeiros e téc-

nicos. os nossos softwares cobrem

todos os aspectos desde a planifi-

cação à execução da perfuração.

transpondo isto para a área da

construção civil, poderemos dizer

que, no processo, o nosso papel é

o mesmo dos arquitectos, com os

nossos programas planificamos o

poço todo. Depois, temos a fase de

execução, que nos permite ver por

onde podemos ir. por exemplo, um

dos nossos programas chama-se

“radar” e ele permite-nos contro-

lar a trajectória do poço e detectar

as potenciais colisões com poços

produtivos vizinhos.

E, de alguma forma, este softwa-

re funciona como um sistema de

segurança.

exactamente. os programas com-

portam todas as áreas: controle de

poços, desenho dos tubos, cimen-

tação, a trajectória de perfuração…

comportam tudo, desde a planifica-

ção à realização.

A empresa surge em 1990.

Sim, embora tenhamos começado

o processo em 1987, construindo

os programas, fazendo testes,

montando a estrutura. mas, para o

mercado, só aparecemos em 90.

E qual a quota de mercado da

Techdrill?

Surgimos no mercado em paris.

Desde 1996, somos uma empresa

britânica. penso que deveríamos

ter começado nos e.U.a., porque

ali há uma outra cultura empresa-

rial, há um outro apoio às novas

tecnologias. comparativamente, a

França é bastante conservadora. e,

agora – imagine -, tratando-se de

uma mulher e de uma portuguesa,

as dificuldades foram conside-

ráveis. mas, curiosamente, num

contexto mais global, nunca senti

mais essa discriminação.

Mas, voltando à concorrência…

nós aparecemos primeiro. Depois,

surgiram dois “gigantes” – e fomos

muito assediados para vender a

empresa. Um deles é a Halliburton.

o presidente dessa empresa era,

na altura, Dick cheney, que mais

tarde foi vice-presidente dos e.U.a.

e, depois, a Schlumberger – outro

“gigante”… mas hoje já só nos de-

frontamos com um deles, porque a

Schlumberger retirou, há uns qua-

tro ou cinco meses, o seu software

do mercado. portanto, actualmente,

o líder em termos de volume de ne-

gócios é a Halliburton. estamos na

posição de sermos o número dois

do ranking neste segmento.

Como conseguiram impor-se no

mercado?

os nossos softwares têm quatro

vantagens competitivas:

“Drilling logic”: Uma lógica de

perfuração.

“User Friendly”: e, sendo produtos

hiper-sofisticados, têm a vantagem

de poderem ser utilizados pelos en-

genheiros, o que dispensa custos

acrescidos de acompanhamento

na utilização. É, quase, o conceito

“use você mesmo”. ou seja, depois

de uma formação curta, pode ser

manipulado pelos clientes. e isso é

uma grande mais-valia.

“all-in-one”: os dados são introdu-

zidos uma vez e estão disponíveis

em todos os módulos dos softwa-

res.

independência: a techdrill tem

uma vantagem acrescida nos

serviços que presta. Somos espe-

cialistas independentes, não temos

actividades noutras áreas, estamos

só neste nicho e, naturalmente,

podemos dar um apoio mais eficaz

aos nossos clientes. a techdrill

não tem conflito de interesses. ➤

Maria Helena Daget

Page 73: Diplomática n.º 8

73novembro/dezembro 2010 - diplomática •

Maria Helena Daget

Page 74: Diplomática n.º 8

74 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010

➤ prestamos serviços de formação,

de treino, de peritagem, de aconse-

lhamento e de auditoria de perfura-

cao.

Mas as tecnologias de informa-

ção também ajudaram ao proces-

so de afirmação da empresa.

claro, a internet foi e é muito im-

portante. Uma holding como a nos-

sa nunca poderia estar em tantos

países se não existisse a internet.

por exemplo, com um programa

específico, podemos fazer video-

conferência daqui para a china e,

no computador do engenheiro que

está na china, aparece o nosso

software, e a partir de londres, por

exemplo, o nosso engenheiro faz

uma demonstração ao vivo ou de

apoio técnico. ou seja, em vez de

termos que fazer a viagem para

resolver um problema, estamos a

falar com o cliente e a dar resposta

em tempo real.

E, ao que sabemos, a Techdrill

ajudou a encontrar soluções

para a tragédia que ocorreu com

o poço da BP.

como muitos outros, propusemos

soluções. Foi uma situação dramá-

tica. como pode compreender, este

tema é confidencial.

O processo de internacionaliza-

ção da empresa é algo de notá-

vel.

estamos em 51 países. não quer

dizer que tenhamos escritório em to-

dos eles, temos agentes, até porque

a internet é uma auto-estrada fan-

tástica que nos permite estar desde

o peru à austrália, no Sudão, no

paquistão, na líbia, na rússia… ➤

“Nunca fui líder de gabinete.

Tenho sempre que saber como

se fazem as coisas ‘cá em

baixo’ para perceber e poder

comandar. Porque para se

mandar tem de se conhecer a

dinâmica, o mecanismo”

Maria Helena Daget

Page 75: Diplomática n.º 8

75novembro/dezembro 2010 - diplomática •

➤ e isso sustenta todo um suporte

de apoio que garante a excelên-

cia dos nossos serviços, baixando

substancialmente os custos de

apoio ao cliente, sem afectar a

qualidade da oferta. paralelamente,

temos um departamento de pesqui-

sa que apresenta novas versões

anualmente, novos instrumentos

que permitem dar resposta às novas

necessidades concretas. no mês de

maio apresentámos em Houston um

novo módulo para perfurações em

águas profundas. este módulo é um

grande avanço tecnológico que aju-

dará a perfuração no mar em águas

profundas.

Mas é curioso que, sendo a

Techdrill uma empresa de dimen-

são internacional, não perdeu

aquele lado familiar, muito pró-

prio, aliás, da cultura empresa-

rial latina.

É, mas também tem cultura empre-

sarial americana. a entrada de bo

eagles na techdrill - americano

ex-executivo da cameron e da

Weatherford - ajudou a alargar a

cultura da empresa para melhor

penetrar nos estados Unidos e

internacionalmente. mas, não deixa

de ser verdade, temos essa com-

ponente familiar.

Dos quatro filhos, dois estão na

vossa empresa.

Sim, o Filipe, que é o mais novo

dos rapazes e é advogado, tam-

bém está na empresa a fazer um

trabalho extraordinário, porque,

sendo de formação jurídica, entrou

muito bem na área do desenvolvi-

mento do negócio a nível mundial.

ele é responsável pela filial ameri-

cana.

a daphné, que está na área finan-

ceira, mas que também tem feito

carreira por outros lados, nomeada-

mente no Grupo paris match, onde

foi directora financeira de uma filial.

mas, na família, sempre pensámos

que os filhos tinham de ir aprender

primeiro, a dizer “yes, sir”. e todos

eles foram trabalhar fora, antes ou

depois de virem para a empresa.

porque entrando para uma empre-

sa semi-familiar como é a nossa,

obviamente que têm vantagens,

estão muito mais depressa no con-

selho de administração… come-

çar por baixo, subindo a pulso, dá

outra disciplina e outros métodos

de trabalho, rigor, obediência, para

saberem ouvir quando são líderes.

o miguel – a que já fiz referência –

ocupa, há cerca de dois anos, um

posto importante na Schlumberger.

Sempre pensámos - o patrick e

eu -, desde o início da techdrill,

que seria bom para nossos filhos

irem ver como se trabalha noutras

empresas multinacionais, o que

permite ampliar a visão dos negó-

cios, do mundo do trabalho, porque

isso é muito importante para a sua

valorização como profissional e

como pessoa.

a caroline fez estágios na nossa

empresa e, porque é uma criati-

va, muito ligada às artes, entrou

para fazer um estágio na Warner

brothers há nove anos e aí está a

fazer uma carreira linda.

tivemos muita sorte com os filhos,

fizeram estágios, são profissionais

e têm-se afirmado.

A Techdrill contraria aquele mito

de que “não se deve fazer negó-

cios com amigos”.

desde há vinte anos que a em-

presa se mantém com os mesmos

associados, pessoas com quem

o meu marido se foi relacionando

num período anterior à constituição

da techdrill. verdadeiros amigos,

do patrick e meus. Homens que fo-

ram, presidente e vice-presidente,

administradores, directores gerais,

executivos de grandes empresas

internacionais e que, em determi-

nada altura, decidiram perseguirem

este sonho. São também a “família”

que escolhemos.

Quantos colaboradores têm?

nós começámos num período

difícil, em que ocorreu um choque

petrolífero. e a “moda” era “deitar

fora” as pessoas. assisti a um se-

minário, em bruxelas, em que esta-

vam presentes oitenta companhias

mundiais – foi a minha experiência

mais aterrorizadora. como era a

única mulher, puseram-me à mesa

dos presidentes das maiores com-

panhias. e diziam: “tenho 340 mil

empregados e vou ter que despedir

120 mil. e eu estava quase em pâ-

nico. a empresa ainda era recente,

éramos uns dez ou doze. e pensei:

“quando disser o número de cola-

boradores, já mais ninguém me fala

o resto do jantar” (risos). e, quando

chegou a minha vez, disse: “nós

somos flexíveis, mas a estratégia

que vou implementar é termos uma

base de pessoas essenciais à em-

presa e, depois, conforme os pro-

jectos, vamos contratando consul-

tores”. eles acharam que aquilo era

uma grande inovação. mas nunca

cheguei a dizer quantos éramos. e,

ainda hoje, mantemos essa política

de gestão. e os nossos consultores

vão e vêm regularmente segundo

os projectos, há 20 anos.

mas, respondendo à sua pergun-

ta, teremos hoje à volta de 130

colaboradores, que muito preza-

mos. São a riqueza da empresa.

e posso dizer que nunca tive um

colaborador que me tenha pedi-

do aumento de salário, porque

nos antecipamos sempre. nunca

conseguimos fazer nada sozinhos,

temos de ter uma equipa e, dentro

das nossas possibilidades, mantê-

la feliz, tratá-la com respeito e

consideração. e isso tem a ver com

a cultura de uma empresa que nas-

ceu de uma utopia e que procura

manter uma estrutura fixa, até por

uma questão de gestão de recur-

sos na sua formação. tento ouvir e

ser humana. mas sou exigente. ➤

Page 76: Diplomática n.º 8

76 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010

➤ infelizmente, nos últimos anos,

tem havido uma tendência para a

desumanização das relações entre

as pessoas. nas empresas de nos-

so estilo, as pessoas não podem

ser números, porque a riqueza

fundamental para a empresa é o

“Know-how” interno.

Há um outro velho sonho – este

sim, de sua “maternidade” exclu-

siva – que é o de criar, em Portu-

gal, uma escola de formação na

área dos petróleos.

o sonho é mesmo meu, neste

caso, não é do patrick (risos). Senti

na pele durante vários anos, por

vezes com bastante sofrimento,

a imagem que era veiculada do

nosso país, a falta de preparação

dos trabalhadores emigrantes que,

no entanto, sempre manifestaram

essa ousadia de fugir à miséria e ir

à aventura. Hoje a realidade é um

pouco diferente, porque os des-

cendentes de segunda e terceira

gerações já vão para a universi-

dade, são quadros qualificados e

empresários de sucesso. nós fun-

dámos – e isso não foi ideia minha,

foi uma ideia do meu filho miguel

– uma escola de Formação no

méxico, onde já ultrapassámos o

número de 700 engenheiros forma-

dos. Um ensino com vários níveis:

diplomados, mestrados… vários

escalões, formação contínua para

técnicos e quadros. e tem sido um

sucesso. Daí, ter-me interrogado:

”por que não levar esta ideia para

portugal?”.

não sei se sou utópica, nem se

isto corresponde a um desejo de

portugal, mas a questão é esta: se

temos ex-colónias como angola, S.

tomé e príncipe, timor, onde se

fala a mesma língua, onde temos

alguma influência, temos também

todas as condições para dar for-

mação a engenheiros e técnicos

originários destes países com inte-

resses económicos no petróleo. e

isto permitiria também formar mais

engenheiros de petróleo portugue-

ses. e porque não um mini-instituto

do petróleo português - como es-

panha já tem?

É uma questão de geopolítica, de

estratégia a longo prazo…e este

projecto poderia abrir a porta a

novos empregos no mundo dos pe-

tróleos para engenheiros e técnicos

portugueses.

Mas seriam necessários parcei-

ros para um tal projecto.

claro que sim, desde logo, por

exemplo, a Galp, a partex e,

naturalmente, o próprio estado,

quer através dos ministérios, quer

através das universidades.

e este ensino universitário, para

além da sua existência física numa

universidade ou numa escola

superior, tem uma lógica de itine-

rância, ou seja, se for preciso vai

às próprias empresas dar cursos.

como, aliás, o fazemos mundial-

mente. não é nenhum milagre,

pode ser até uma gota no oceano,

mas são janelas de oportunidade

que se abrem às necessidades de

formação.

esta é uma área onde existe um

grande deficit de mão-de-obra

qualificada a nível mundial. e pode

ser mais uma ponte de cooperação

no quadro dos países da lusofonia.

e, numa segunda linha, poderia até

atrair algumas empresas do sec-

tor petrolífero a instalar filiais em

portugal.

acredito que haja uma grande

possibilidade de presença de gás

natural no algarve, nas águas

profundas, como existe na zona

marítima confinante na espanha.

portugal poderia ser um actor.

Há uma lógica de crescimento re-

lativo das energias renováveis e,

de alguma forma, isso irá afectar

o mercado do petróleo. A Te-

chdrill prevê dedicar-se a outras

áreas, para além dos petróleos?

não, de todo. Somos bons e

reconhecidos – se não, ao fim de

vinte anos já não existiríamos -,

devemos manter a nossa imagem

naquilo em que somos especialis-

tas de topo e não nos lançarmos

em dispersões. mas considero

que as energias que referiu são

uma necessidade para o equilíbrio

ecológico e para uma adequada

gestão de recursos. e é importante,

também, porque força as empresas

do petróleo a serem cada vez mais

conscientes e amigas do ambiente.

Não lhe parece que, nos últimos

anos, houve uma perigosa deriva

da economia para os mercados

financeiros e a especulação?

ainda assim, não sou tão pessi-

mista. continua a haver empresas

onde o capital humano é referen-

cial, onde as jóias da empresa são

as pessoas colocadas no lugar

certo. não foi tudo tomado pela

“selva”. mas continua a haver um

domínio terrível da finança, que

gerou também o preço especulati-

vo do petróleo. e os bancos foram

infectados por uma lógica absurda

que nos pôs a todos numa situação

por vezes difícil. É preciso encon-

trar os caminhos que possibilitem

reequilibrar a economia. porque

a economia não é só números, é

também o capital humano. nes-

se sentido, é fundamental realçar

o papel social da economia. e é

essencial a cooperação entre cola-

boradores, empresários, sindicatos

e Governo. temos de nos ouvir a

todos e encontrar soluções positi-

vas e benéficas para ajudar o país

a sair da crise.

isto é válido para portugal, para

França, e tantos outros países

onde observo os problemas actuais

da crise económica.

não venho ao portugal para dar

lições mas gostava de colaborar

humildemente num projecto para

bem do nosso país. ■

Maria Helena Daget

Page 77: Diplomática n.º 8

77novembro/dezembro 2010 - diplomática •

Por ocasião do dia nacional do seu

país, o embaixador da indonésia,

albert matondang, convidou para

a recepção, no marriott Hotel, em

lisboa, personalidades dos mais

diversos meios sociais, diplomáticos,

económicos e políticos.

a reunião decorreu num ambiente de

grande cordialidade, tendo o embai-

xador discursado.

a indonésia e portugal mantêm uma

cooperação construtiva e produtiva

na onU e outros fóruns interna-

cionais. Segundo o embaixador, a

cooperação bilateral entre portugal

e a indonésia pode aumentar ainda

mais no futuro. os laços históricos e

culturais iniciados pelos navegado-

res portugueses são recursos que

podem ser utilizados nas relações

bilaterais. como resultado da longa

interacção das duas sociedades,

muitas palavras portuguesas foram

absorvidas da língua nacional e

da música tradicional portuguesas.

o fado é um ícone português que

influenciou o músico indonésio

Keroncong.

“aproveito esta oportunidade para

confirmar o compromisso da indo-

nésia para continuar a expandir os

laços com portugal. e agradeço

sinceramente ao Governo de por-

tugal pelo seu contínuo apoio para

reforçar o actual bom relacionamento

bilateral”.

a 17 de agosto de 1945 foi o dia

em que a república da indonésia

declarou a independência. desde aí,

tem feito progressos significativos

para desenvolver o país. a paz e

a estabilidade têm sido muito bem

conservadas e a indonésia tornou-

se um país democrático, enquanto

a sua economia continua a crescer

positivamente, atingindo 4,9% no

ano passado e devendo crescer 6%

este ano. ■

Dia Nacional da Indonésia

1. albert matondang a discursar 2. o anfitrião com o embaixador pinto da França e

sua mulher 3. Selly pada, mulher do conselheiro cultural da indonésia, com outra

convidada, vestidas com trajes tradicionais indonésios 4. luciano da Silva, cônsul

Honorário da indonésia no porto, cumprimenta perry pada, conselheiro cultural da in-

donésia 5. luciano da Silva cumprimenta o embaixador da indonésia albert matodag

1

2 3

4 5

mala Diplomática

Page 78: Diplomática n.º 8

78 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010

O embaixador do egipto em

portugal, amgad maher abdel

Ghaffar, ofereceu uma festa

de despedida para agradecer

todo o apoio recebido durante a

sua permanência em portugal.

compareceram amigos e indi-

vidualidades dos mais diversos

meios: diplomáticos, políticos,

culturais, militares, empresa-

riais e outras figuras de relevo

do meio social, que não quise-

ram deixar de homenagear o

diplomata egípcio.

localizado no nordeste da

áfrica, no encontro com a ásia,

o egipto é berço de uma das

mais importantes civilizações da

antiguidade. Dinastias de faraós

levantaram construções gran-

diosas, como as pirâmides de

Quéops, Quéfren e miquerinos,

consideradas patrimónios da

Humanidade.

o território egípcio é desértico,

salvo nas margens do rio nilo e

na costa do mediterrâneo, onde

fica o delta do rio. atravessando

o país de norte a sul, o rio nilo

é sua fonte de vida e trabalho,

garante o abastecimento de água

e energia eléctrica, e possibilita

o desenvolvimento da agricultura

ao longo de seu curso.

cerca de 90 por cento da popu-

lação, a segunda maior da áfrica

e a maior do mundo árabe, vive

em suas proximidades, concen-

trada em apenas 4 por cento

do território. o islamismo é a reli-

gião de mais de 80 porcento dos

habitantes. as mulheres egípcias

têm hábitos bastante ocidentali-

zados para os padrões árabes:

grande parte trabalha fora e a

maioria não usa véu sobre o

rosto. ■ ➤

Despedida do Embaixador do Egipto Amgad Maher Abdel Ghaffar

1 2

3 4

5

1. o embaixador do egipto e maria de bragança 2. a embaixadora da noruega, inga

magistad e o embaixador da argentina, Jorge Faurie 3. o embaixador da Suíça, rudolf

Schaller 4. maria carrilho, maria de bragança e ridha Farhat, ex-embaixador da tuní-

sia 5. o embaixador de itália, luca de presenzano

Mala DiploMática

Page 79: Diplomática n.º 8

79novembro/dezembro 2010 - diplomática •

5 6

7 8

5. os embaixadores da coreia do Sul com a nossa directora 6. Senhora de ridha Farhat, Hanene e o em-

baixador do iraque, Hussain Sinjari 7. Francisco mendes palma e maria de bragança 8. embaixadores de

inglaterra e do egipto

Page 80: Diplomática n.º 8

80 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010

Os embaixadores da coreia do

Sul receberam os seus convida-

dos para comemorarem a festa

do Dia nacional do seu país.

estiveram presentes embaixa-

dores, empresários, intelectuais,

elementos da comunidade sul

coreana e individualidades liga-

das à cultura e à política.

o embaixador Dae-Hyun Kang

proferiu algumas palavras: “este

é um dia muito especial e signifi-

cativo para a coreia. nesta data,

em 2333 a.c., começou a história

do povo coreano. por isso, a 3

de outubro, celebramos os 5 mil

anos da nossa venerável história.”

as relações de amizade e coo-

peração entre a coreia do Sul

e portugal estão cada vez mais

fortes. no próximo ano de 2011,

comemoram-se os 50 anos de

relações diplomáticas entre os ➤

Dia Nacional da Coreia do Sul

1 2

3 4

1. a festa do Dia nacional da coreia do Sul contou com a presença do de-

putado social-democrata Jorge costa

2. o embaixador Dae-Hyun Kang proferindo o seu discurso

3. os anfitriões com maria de bragança

4. embaixador do paquistão, Gui Haneff, e sua mulher

mala Diplomática

Page 81: Diplomática n.º 8

81novembro/dezembro 2010 - diplomática •

➤ dois países. e, através desta

ocasião muito especial, acredito

que as relações entre a coreia

e portugal vão prosperar ainda

mais no futuro. vamos todos de-

sejar o progresso das relações

entre os dois países”.

a coreia é uma das civilizações

mais antigas do mundo. através

do tempo, a história do país tem

sido turbulenta com numerosas

guerras, incluindo invasões (tan-

to chinesas como japonesas).

enquanto o Governo adoptou

oficialmente a democracia de es-

tilo ocidental desde a fundação

da república, os processos de

eleições presidenciais sofreram

grandes irregularidades.

Hoje, a península coreana é

vista como uma das zonas mais

voláteis no palco internacional,

herança da Guerra Fria. ■

5 6

7 8

9 10

5. o embaixador, e a sua mulher, com Jorge costa, José lello, antónio devesa de

Sá pereira e domingues dos Santos

6. embaixador da Suíça, rudolf Shaller, com vera chalaça, assessora do Secretário

de estado da administração local, e outro convidado

7. os embaixadores com maria de belém roseira

8. luís Soares de oliveira e sua mulher

9. paulo Saragoça da matta, mário Silveiro de barros com terceiro Secretário lee

dong Gyu e sua mulher,

10. Uma convidada sul-coreana com trajes tradicionais

Page 82: Diplomática n.º 8

82 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010

Meio século passou desde a

implantação da democracia ame-

ricana no 50º e último território a

integrar a federação dos estados

Unidos da américa. a 21 de agosto

de 1959, durante a presidência de

eisenhower, a emenda aprovada

no congresso de 1957, que eleva-

va o Havai à categoria de estado,

foi assinada.

o arquipélago situado a meio do

oceano pacífico foi o único estado

americano governado por uma mo-

narquia, desde os finais do século

Xviii até à sua anexação em 1898

pelos eUa. talvez, se não mesmo,

o maior marco, na história ameri-

cana e mundial, das ilhas desco-

bertas por James cook em 1778,

tenha sido o porto das pérolas

(pearl Harbor). pois, o ataque japo-

nês, em 7 de Dezembro de 1941, à

base naval fez com que os estados

Unidos entrassem oficialmente na ➤

MeMória DiploMática

Havai. 50 Anos de Democracia

1

Page 83: Diplomática n.º 8

83novembro/dezembro 2010 - diplomática •

➤ ii Guerra mundial.

a população do arquipélago ha-

vaiano é multicultural, constituída

por uma mistura de colonos poliné-

sios com ascendentes da europa,

alguns da madeira e dos açores,

que foram para lá trabalhar nas

plantações de açúcar, bem como

com imigrantes asiáticos.

o Havai das praias e paisagens

paradisíacas, do “surf”, da “Hula”

(dança tradicional do Havai com

saias de palha), das camisas às

flores, e do “ukulele” (o cavaquinho

que os imigrantes madeirenses

levaram para Honolulu, capital

havaiana) tem actualmente outro

motivo de reconhecimento – bara-

ck obama. o primeiro presidente

afro-americano da história dos

eUa eleito, precisamente, neste

mesmo ano em que a sua pátria

comemora os cinquenta anos de

democracia. n

2

3

4

1. o arquipélago situado a

meio do oceano pacífico

foi o único estado ameri-

cano governado por uma

monarquia, desde os finais

do século Xviii até à sua

anexação em 1898 pelos

eUa.

2. 3. e 4. o Havai das praias e

paisagens paradisíacas, do

“surf”, da “Hula”, das cami-

sas às flores, e do “ukulele

Page 84: Diplomática n.º 8

84 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010

“A liberdade, a justiça e a paz têm

por base o reconhecimento da

dignidade intrínseca e dos direitos

iguais e inalienáveis do ser huma-

no”. esta frase assinalada pelos

estados-membros da organização

dos estados americanos (oea) na

acta final da 5ª reunião de con-

sulta de ministros das relações

exteriores, celebrada em Santiago

do chile de 12 a 18 de agosto de

1959, mudou a realidade dos esta-

dos americanos e vincou a impor-

tância da salvaguarda dos Direitos

Humanos. a criação da comissão

interamericana dos Direitos Hu-

manos (ciDH), em 18 de agosto

de 1959, foi o primeiro passo para

promover o respeito de tais direi-

tos. nascia assim uma comissão

com a missão de supervisionar a

complacência dos estados-mem-

bros da oea com a Declaração

americana dos Direitos e Deveres

do Homem, adoptada em maio de

1948 em bogotá. o outro órgão

que faz parte do Sistema interame-

ricano de protecção e promoção

dos Direitos Humanos nas amé-

ricas é a corte interamericana de

Direitos Humanos, estabelecida

em 1979, cujo propósito é aplicar e

interpretar a convenção americana

de Direitos Humanos (caDH) e ou-

tros tratados de Direitos Humanos.

a ciDH comemora este ano meio

século de existência dedicados

com determinação ao espírito da

democracia e dos Direitos Huma-

nos, colocando o ser humano no

eixo central, tal como se compro-

meteram os países do hemisfério

na carta da oea.

nos primeiros tempos, esta institui-

ção caracterizou-se pela realização

de visitas in loco e denúncia das

graves violações contra os direitos

dos cidadãos em vários países da

região marcados pela instabilida-

de democrática e pelas ditaduras.

o triunfo da democracia não fez

com que a ciDH abrandasse a

sua política e, actualmente, o seu

trabalho de campo continua a ser

um instrumento essencial para a

protecção e promoção dos Direitos

do Homem. a comissão e a corte

interamericana são as faces de

soluções de violação dos Direitos

Humanos e da criação de padrões

interamericanos para a protecção

dos direitos das pessoas.

para além destas características e

capacidades, a comissão interame-

ricana recebe, analisa e investiga

petições individuais que alegam

violações dos direitos humanos;

observa o cumprimento dos direitos

humanos nos estados-membros, ➤

MeMória DiploMática

50 anos de Direitos Humanos proclamados pela OEA – Organização dos Estados Americanos

1. a criação da comissão interamericana dos Direitos Humanos, a missão de supervisionar a complacência dos estados-membros

da oea com a Declaração americana dos Direitos e Deveres do Homem

1

Page 85: Diplomática n.º 8

85novembro/dezembro 2010 - diplomática •

➤ e quando o considera convenien-

te, publica as informações espe-

ciais sobre a situação num estado

específico; estimula a consciência

dos direitos Humanos nos países

da américa. além disso, realiza

e publica estudos sobre temas

específicos como, por exemplo:

medidas para assegurar maior

independência do poder judiciário;

para terminar com a censura pré-

via; actividades de grupos armados

irregulares; a situação dos direitos

humanos dos menores, das mulhe-

res e dos povos indígenas; forta-

lecer a participação política dos

habitantes; garantir a igualdade

aos grupos vulneráveis; respeitar

os direitos dos trabalhadores, etc.

realiza e participa em conferên-

cias e reuniões com diversos tipos

de representantes de Governos,

universitários, organizações não

governamentais, entre outros, para

difundir e analisar temas relaciona-

dos com o Sistema interamericano

de direitos Humanos; faz recomen-

dações aos estados-membros da

oea acerca da adopção de medi-

das para contribuir com a promo-

ção e garantia dos direitos Huma-

nos; requer aos estados-membros

que adoptem “medidas cautelares”

específicas para evitar danos

graves e irreparáveis nos direitos

Humanos em casos urgentes; e

solicita “opiniões consultivas” à

corte interamericana sobre aspec-

tos de interpretação da convenção

americana.

São cinquenta anos a defender

a dignidade dos seres humanos,

mas não só, também a ajudar a

construir um estado de direito

na região. tarefas possíveis de

realizar devido à combinação

de dois factores: estado e so-

ciedade civil. o relacionamento

híbrido entre estados, socieda-

de, cidH e corte interamerica-

na, tornam-nos no núcleo duro

do Sistema interamericano dos

direitos Humanos.

Um caminho marcado pela dificul-

dade, mas também pelo êxito, e

que está longe de chegar ao fim.

os desafios existentes são inume-

ráveis: a pobreza, a fome, as desi-

gualdades sociais, a insegurança,

a violência doméstica, a falta de

acesso à saúde e à educação, são

algumas das preocupações em que

todos os cidadãos, e não apenas a

cidH, se devem debruçar.

estas cinco décadas são a de-

monstração de que a luta pelos

direitos Humanos deve continuar

em busca de soluções para resol-

ver os desafios pendentes. n

2. corte interamericana de direitos Humanos, estabelecida em 1979, cujo propósito é aplicar e interpretar a convenção americana

de direitos Humanos (cadH) e outros tratados de direitos Humanos 3. estados, sociedade, cidH e corte interamericana núcleo

duro do Sistema interamericano dos direitos Humanos

2

3

Page 86: Diplomática n.º 8

86 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010

Tem uma larga experiência no

ramo automóvel. No contacto

com as pessoas, no dia-a-dia, já

que está num sector que mexe

com tanto dinheiro, como é que

lida com a descrença quase

generalizada em relação à saúde

económica?

o sector diplomático é beneficiado

porque não se pagam impostos,

logo aí existe uma certa diferença

nos preços. Já tenho alguns anos

de marcas premium, que não se

ressentem tanto nestas alturas. o

cliente continua com o mesmo fundo

de maneio, com o mesmo poder de

compra. muitas vezes, só não com-

pra porque não convém nessa altu-

ra, mas compra sempre. Um mês ou

dois depois, acaba por comprar.

O longo trajecto do João Lima

passou por várias marcas. Está

agora (desde Abril último) a tra-

balhar na Caetano Baviera. Que

diferenças encontra entre traba-

lhar uma marca premium e numa

generalista?

estou nos automóveis há 20 anos.

comecei em 1989, no importador

duma das melhores marcas ➤

João Lima por nuno Sá, fotos de lígia correia

Diplomatic and Direct Sales Consultant da Caetano Baviera/BMW:

“Temos de perceber quais são os interesses e as necessidades da Embaixada ou do Embaixador”

João Lima, 47 anos, é a cara exclusiva de um novo projecto da Caetano Baviera – BMW, para todo o mundo

diplomático e não só – com representação única na Caetano Baviera do Parque das Nações em Lisboa.

Uma entidade Nacional que esteja em qualquer parte do Mundo e pretender adquirir um carro, ou a frota de

serviço, para um titular ou organismo diplomático, inicia um processo que chegará às mãos deste consultor

da Caetano Baviera, entidade com ligação privilegiada com a BMW Portugal e BMW AG.

Marcas & gestores

Automóveis

Page 87: Diplomática n.º 8

87novembro/dezembro 2010 - diplomática •

➤ generalistas. estive lá 13 anos.

depois, fui convidado para um

projecto duma outra marca, desta

feita no segmento premium e agora

vim para este projecto da caetano

baviera com a bmW.

É diferente trabalhar numa marca

generalista e numa premium. o

cliente tem sempre uma expectativa

num carro novo, há sempre uma

certa emoção na compra, mas não é

como numa marca premium, nunca

é “o carro dos meus sonhos”. Uma

das primeiras vendas numa marca

que fiz, e me marcou muito, foi ven-

der um carro a um cliente da classe

média-baixa, um fiel de armazém,

que andou a vida toda para comprar

o carro dos seus sonhos. toda a

venda foi feita com base no sonho

da compra. Foi uma coisa fantástica.

Um vendedor, que vende diariamen-

te e tem objectivos mensais para

cumprir, sente que cada mês que

começa parte do zero. vender um

carro de 175 mil euros não é nada

de extraordinário, faz parte da nossa

função.

O que é preciso ter-se para se ser

um bom vendedor?

Um dos aspectos principais, que se

aprende em cursos de formação de

vendas, é que um bom vendedor

tem de saber ouvir. muitas vezes, o

cliente vem, quer dizer o que preten-

de e o vendedor não o ouve e co-

meça a debitar informação, muitas

vezes de forma robotizada, que não

é pertinente para o cliente. temos

de o encaminhar para as necessi-

dades de conforto, de número de

lugares, de família, percebermos o

que o cliente faz na vida e para que

precisa do carro. Quando o cliente

entra num stand para comprar um

carro, regra geral, está interessado.

temos de o saber ouvir. cabe ao

vendedor dar-lhe todo o espaço,

para ele perceber, enquadrar-se

no ambiente. a abordagem tem de

ser muito cuidada, muito simpática,

para, depois, ouvir o cliente.

outra qualidade do bom vendedor,

importantíssima, é a organização.

a par da seriedade/credibilidade.

temos de dar as boas e as más

notícias na altura certa, dizer já se o

carro existe, se vai demorar, se há

já a cor que o cliente escolheu, en-

fim, os bons vendedores antecipam,

muitas vezes, as más notícias.

A relação pessoal que se estabe-

lece entre o vendedor e o compra-

dor é decisiva. Essa proximidade,

essa confiança, muitas vezes emo-

cional, é tanto ou mais importante

do que o lado técnico, não é?

Sim, o cliente compra um carro por

razões racionais e emocionais, mas

a emoção, principalmente numa

marca como a bmW, conta muito, é

muito importante. vendemos carros

a todo o tipo de pessoas, de todas

as classes sociais, e há clientes que

vêm com uma emoção fantástica,

parecem miúdos!

É então, por saber ouvir, ser

organizado, sério e credível que

o João Lima tem uma carreira

no sector automóvel cujo ponto

alto é a chegada agora ao Grupo

Salvador Caetano e neste novo

Departamento da Caetano Baviera

ligado ao mundo diplomático?

tem de haver um gosto muito gran-

de naquilo que se faz, sou um apai-

xonado pelo contacto, pelo poder

ajudar, pelo poder criar empatia com

as pessoas. tenho 47 anos, mas

há 20 não tinha o tal cabelo branco,

não tinha idade, experiência, para

uma marca premium. É preciso

transmitir confiança em quem vai

comprar um bem de 40, 80, 200 mil

euros.

Temos a ideia de que quem vende

carros anda, sempre, com mode-

los super-sónicos. Corresponde

ao padrão? E já agora, qual é o

carro dos seus sonhos?

realmente esta função permite-me

andar com bons carros de serviço,

mas esta é acima de tudo uma ne-

cessidade, pois tenho que promover

estes bens e também o serviço que

desenvolvemos nesta empresa do

Grupo Salvador caetano. trato tão

bem um carro da empresa como se

fosse meu. nunca comprei um carro

para mim, só comprei carros para

a minha mulher. comprei-lhe, há

pouco tempo, uma carrinha para ela

andar e trabalhar.

Sou um apaixonado pelo campo,

tenho uma casa de campo, e se

calhar o carro dos meus sonhos

seria uma pick-up, para andar no

meio dos campos com a liberdade

suficiente, com as sacas de batata e

a lenha atrás.

No passado mês de Abril foi

convidado pelo Grupo Salvador

Caetano a personificar este novo

projecto. Como está a correr?

está a ser fantástico. a caetano

baviera é uma entidade fantástica

e representando a bmW que é uma

marca muito especial, é juntar o

melhor de dois mundos. a marca

é reconhecidamente superior aos

mais variados níveis, mas especial-

mente pela sua componente des-

portiva e dinâmica que se traduzem

num grande prazer de condução.

as pessoas têm uma grande ex-

pectativa em relação a uma marca

premium. desde o primeiro contacto

até à entrega do carro, temos de

surpreender positivamente, o mais

possível, o cliente.

João Lima, entremos concreta-

mente no projecto diplomático.

Como foi escolhido para desen-

volver esta função tão importante

e estratégica?

neste sector, sinto-me um pouco

privilegiado. Já fui chefe de vendas,

já tive cargos fantásticos na área

comercial, mas, agora, existe uma

exclusividade muito grande, pois é

um produto premium e um serviço

de grande personalização e com

comunicação directa com a fábrica. ➤

Page 88: Diplomática n.º 8

88 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010

➤ ou seja os nossos clientes têm

um interlocutor sempre com via

aberta e acesso exclusivo.

Sinto-me privilegiado porque,

fui convidado directamente pelo

Director Geral da caetano baviera

em lisboa para este projecto, que

bastante me lisonjeia pelo convite

e por terem pensado logo em mim,

que eu seria a única pessoa que

poderia liderar este projecto de uma

marca diferente, que tinha todos os

requisitos: tempo suficiente na área

comercial, idade adequada, forma

serena de estar e de lidar com os

clientes, etc.

Passou, portanto, a ser o super-

consultor, uma posição mais

estratégica da Caetano Baviera,

da própria BMW e a uma escala

global.

De certa forma, sim. chefiei equipas

desde 1991, mas também sempre

vendi e tive contacto com o cliente,

mas nunca tinha tido uma ligação

tão directa e exclusiva com uma

marca como é agora o caso na

caetano baviera.

É uma espécie de “ponta-de-lan-

ça” da Caetano Baviera e da pró-

pria BMW no mundo diplomático.

É exactamente isso, a caetano

baviera convidou-me para que eu

tratasse de tudo, qualquer compra,

qualquer contacto passa através

dos nossos serviços, sendo nós ca-

etano baviera o canal privilegiado.

ainda há pouco, estava ao telefone

com um cliente da nato que com-

prou directamente na alemanha,

mas nós é que temos de contactar

o cliente, toda a documentação vem

à nossa responsabilidade, e somos

nós que temos de entregar esses

carros.

Falemos, em concreto, deste

novo projecto da BMW dirigido

ao mundo diplomático. Em que

consiste?

antes de mais, temos de perceber

quais são os interesses e as ne-

cessidades do embaixador ou da

embaixada, que tipo de carro é que

quer, se quer o carro só para uso

nacional ou não, se o vende cá ou

se o vai levar para o país de ori-

gem. Um exemplo: os países asiá-

ticos só compram carros a gasolina

porque, nesses países, praticamen-

te não existe gasóleo. Se for para

levar para a china, temos de confi-

gurar o carro, sendo nós na caeta-

no baviera que fazemos todo ➤

João Lima

Page 89: Diplomática n.º 8

89novembro/dezembro 2010 - diplomática •

➤ esse levantamento e caso a caso.

Usando este novo serviço da

BMW, que descontos é que as

embaixadas podem usufruir,

que pontinha do véu nos pode

levantar?

as embaixadas e os restantes po-

tenciais clientes deste departamen-

to têm acesso a condições ímpares

na politica comercial da marca.

mas, repare, este projecto também

integra, além dos carros para o

mundo diplomático, as viaturas de

segurança (transporte de valores,

por exemplo), os carros blindados

(para fazer face a possíveis ata-

ques terroristas, por exemplo), os

carros para os vip’s internacionais,

e os carros de topo-de-gama para

fazer o transfer de clientes para os

grandes hotéis, de 5 estrelas para

cima, que, geralmente, são limou-

sines.

A BMW AG tem os olhos postos

nesse serviço da Caetano Bavie-

ra, por isso a responsabilidade é

enorme.

Sim, a bmW aG está, realmente,

muito interessada em que este ca-

nal vá para a frente em termos mun-

diais. estive em formação, durante

uma semana, na alemanha. Foram

15 pessoas, de vários países, como

a china ou a venezuela, e senti, de

facto, muito entusiasmo no Grupo

bmW à volta deste projecto.

Sendo um líder nessa área co-

mercial da Caetano Baviera, e

com um projecto muito inte-

ressante de vida e de carreira,

mas - é assim normalmente nas

grandes equipas e nas grandes

estruturas. Contudo também tem

de cumprir objectivos. Quais os

objectivos a que se propõe?

para este ano em termos de

vendas, as expectativas deste

departamento passam por fazer

o melhor ano de sempre. penso

que vamos cumprir esse objectivo

e para 2011, com mais divulga-

ção deste novo departamento da

caetano baviera, as perspectivas

crescem.

lido bem com a pressão do objec-

tivo e da meta, sempre lidei, não

me incomoda nada. temos de ten-

tar cumprir objectivos desde que

estes sejam, obviamente, razoá-

veis. este sector tem um potencial

inacreditável.

Para terminar, a pergunta clás-

sica: se não fosse vendedor de

carros, seria…?

bem, seria sempre vendedor, tenho

sentido comercial. olhe, pensei,

muitas vezes, em ser delegado de

propaganda médica, enfim, um gé-

nero de venda mais personalizada,

mais de informação e de aconselha-

mento. Há vendedores porta-a-porta

excelentes, mas aquela agressivida-

de não é para mim. Há muitos tipos

de vendedor, não é que uns sejam

melhores do que outros, há muitas

diferenças de perfil.

Quando comecei a vender, há 20

anos, nas técnicas de venda, come-

çava-se pelo fecho. Sentávamo-nos

na secretária e a primeira coisa que

tínhamos à frente era o contrato

de venda, quase para intimidar o

cliente a comprar. Hoje em dia, isso

é a última coisa a fazer. Hoje, não

se vende; informa-se e transmite-

se confiança. ou seja, o fecho e a

venda são uma consequência, é

natural. muitas vezes, é o próprio

cliente que diz: “bom, então, vamos

fechar o negócio!”. ou seja, quase

não é preciso falar disso.

vender é o objectivo cumprido, che-

ga a ser um vício. É preciso muito

estofo, uma certa força interior, para

ouvirmos muitos “nãos” seguidos

e não nos irmos abaixo. por ve-

zes, temos uma boa postura, mas,

quando não vendemos, transmiti-

mos ansiedade quer ao cliente quer

lá em casa, à família. É importante,

para isso, termos uma certa estabi-

lidade financeira. Quando andamos

ansiosos, não conseguimos ouvir

bem as pessoas. para se dar a

volta nesses momentos, temos de

acreditar em nós próprios, sermos

positivos, mentalizar que vamos

conseguir. Se vamos derrotados

para uma reunião, não vai dar de

certeza. o cliente pode não per-

ceber do que se trata, mas sente

quando não está a fazer-se o clique

onde deve ser feito, sente quando

há insegurança.

todos os negócios são feitos com

pessoas e todas as pessoas fazem

negócio. Já me aconteceu sair de

uma reunião, a venda não aconte-

cer mas eu sentir que, daqui a uns

tempos, esse cliente iria acabar por

comprar aquele carro. e, depois, ele

comprou. Há sinais, há uma primei-

ra imagem, um primeiro impacto,

uma primeira empatia, há tudo aqui-

lo que fica. por exemplo, quando

recebo um e-mail de alguém a pedir

uma informação, automaticamente

agradeço esse envio, é a primeira

coisa que faço, e digo que estou

à disposição daquela pessoa, não

é só escrever “oK”. ou seja, não

se trata de sermos apenas profis-

sionais, temos de demonstrar que

estamos, mesmo, disponíveis para

ajudar o cliente.

temos sempre de melhorar, o bom

acompanhamento é fundamental.

a comunicação tem de dar o cli-

que, mas, de qualquer forma, não

é agradável sermos agradáveis,

prestáveis, simpáticos, com as

pessoas? e é evidente que tam-

bém esperamos esse retorno, mas

recebemos porque damos. estamos

num sector, sobretudo o diplomá-

tico, em que há muito tempo para

se pensar nas questões, mas as

respostas têm de ser dadas na hora

e prestarmos muita atenção aos

pormenores. e é nestes pontos em

particular que descobri a grande di-

ferença que é fazer parte do Grupo

Salvador caetano. n

Page 90: Diplomática n.º 8

90 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010

A embaixada de portugal em espanha e o instituto camões promovem, desde o

ano de 2003, uma iniciativa denominada mostra portuguesa, que visa apresentar

em espanha a diversidade e contemporaneidade da cultura portuguesa. todos

os anos, em novembro, várias cidades de espanha acolhem os mais diferentes

exemplos da produção cultural portuguesa: da arte contemporânea à arte po-

pular, da música actual à música tradicional, dos intérpretes emergentes aos já

consagrados, das artes de palco às artes plásticas, cinema, conferências, gas-

tronomia, entre outras.

este ano, uma vez mais, a cultura portuguesa vai estar, desde os finais de outu-

bro e todo o mês de novembro, em várias cidades e com um programa diversi-

ficado. o objectivo é usar a cultura nacional, os seus criadores e as suas obras,

para reforçar a imagem de portugal como país único, moderno, universal e hu-

manista, reduzindo distâncias e reforçando as ligações que mantém internamen-

te e as que o aliam ao mundo. Daí o esforço para dar a conhecer novos autores

e novas obras, mostrando a fértil produção cultural do país, abrindo novas portas

para a internacionalização dos artistas e das instituições culturais lusas.

o programa que se apresenta nesta edição da mostra portuguesa serve estes

objectivos – proporcionar a descoberta dos melhores representantes da música,

da fotografia, da literatura, da gastronomia, de peças de museus, de realizadores

e novos filmes, de teatro, e de investigadores em conferências, desenvolvendo

um programa denso, diversificado capaz de interessar o público espanhol. entre

os cantores destacam-se as jovens fadistas carminho, Joana amendoeira e

ana Sofia varela; na música vão poder ouvir-se peças de um músico português,

antónio Fragoso, interpretado por margarida prates; o grupo de teatro cornucó-

pia vai apresentar “Dança da morte”; dos escritores refere-se a participação de

Francisco José viegas, de manuel Jorge marmelo e raquel ochoa; do cinema

evidenciam-se João canijo com “Fantasia lusitana”, miguel Gomes com “aquele

Querido mês de agosto”, marco martins com “como Desenhar um círculo per-

feito”, antónio pedro vasconcelos com “a bela e o paparazzo”, entre outros; das

artes plásticas sobressai a performance de adriana Sá e a exposição de másca-

ras orientais da responsabilidade do museu do oriente.

participam, na oitava edição deste evento, nove cidades de oito comunidades

autónomas espanholas com as suas respectivas administrações locais e regio-

nais.

Um dos factores de sucesso desta iniciativa da embaixada de portugal e do

instituto camões, assente na qualidade dos intervenientes e protagonistas

culturais, é a solidez das parcerias criadas com instituições espanholas e portu-

guesas. apoiam, uma vez mais, esta edição da mostra portuguesa, entre outros,

o Governo de espanha, através dos seus ministérios dos assuntos exteriores e

cooperação e da cultura, o ayuntamento de madrid, a Fundação caja Duero e

a tap, bem como um diversificado conjunto de outras parcerias e apoiantes da

mostra portuguesa.

consulte programa completo em www.mostraportuguesa.es. n ➤

Cultura Portuguesa em EspanhaMostra Portuguesa 2010

Arte & CulturA

Page 91: Diplomática n.º 8

91novembro/dezembro 2010 - diplomática •

1. carminho, Jovem intérprete do fado. a intensidade da sua expressão

artística leva-a a afirmar que quando canta vai para outro mundo.

"não penso em nada. as palavras vão directas a sentimentos”.

2. imagem de paulo bragança, um dos pioneiros da nova geração

do fado que, a par de uma capacidade interpretativa considerada

notável pelos especialistas, escandaliza os puristas do fado ao

apresentar-se em palco descalço e com roupas simples, por muitos

consideradas manifestações de excentricidade.

3. máscara oriental, que faz parte de

uma exposição de artefactos asiáticos,

promovida pela Fundação oriente

4. logótipo da mostra portuguesa iniciati-

va da responsabilidade da embaixada

de portugal em espanha e do instituto

camões que, desde o ano de 2003,

visa apresentar em espanha a diversi-

dade e contemporaneidade da cultura

portuguesa

1

2

3 4

Page 92: Diplomática n.º 8

92 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010

Livros - novidades

Na manhã de 5 de outubro de 1910, em lisboa, um movimento revolucio-

nário derruba o regime monárquico e proclama a república na varanda da

câmara municipal de lisboa. Um pouco fruto da sorte, porque é um equívoco

que determina a rendição das forças monárquicas. Um grupo de diplomatas,

apavorado com a revolução, dirige-se de bandeira branca aos revoltosos

entrincheirados a pedir salvo-conduto para saírem do país. Do torel, onde

estavam acantonados, os fiéis ao regime pensaram tratar-se da rendição

formal de enviados do rei…

É um mero pormenor, que não diminui em nada o mérito da vitória. o regime

monárquico agonizava putrefacto nas suas contradições e vilanias, e o povo

urbano, farto da arrogância do regime e da mão de ferro do Governo, ansiava

por dias melhores.

em “nobre povo”, Jaime nogueira pinto revela um retrato desapaixonado de

um tempo de mudança, da vitória republicana, mas também da impotência

republicana, das contradições de um poder novo que, desde a primeira hora,

se esqueceu das promessas feitas e da fidelidade a um ideal assente em

“liberdade, igualdade, Fraternidade” – grito de revolta que tomou a europa e

pretendeu salvar o mundo.

entre os roufenhos carros de cavalos e o emergente automóvel, é, mais do

que a mudança de um regime, o prenúncio de um tempo novo. nem pior,

“Nobre Povo – Os Anos da República”Viagem a um tempo de fogo

“História de Portugal”Rui Ramos, Bernardo Vasconcelos e Sousa e Nuno Gonçalo Monteiro

O prémio D. Dinis 2009 foi atribuído, por unanimidade, aos historiadores rui

ramos, bernardo vasconcelos e Sousa e nuno Gonçalo monteiro pelo livro

“História de portugal, publicado pela esfera dos livros.

a sessão de entrega do prémio decorreu na casa de mateus e foi presidida

pelo presidente da comissão europeia, Doutor José manuel Durão barroso

rui ramos é investigador principal do instituto de ciências Sociais da

Universidade de lisboa, onde ensina nos cursos de mestrado em política

comparada e de Doutoramento em ciência política, e professor convidado

na Universidade católica portuguesa (lisboa). licenciado em História pela

Universidade nova de lisboa e doutorado em ciência política pela Universi-

dade de oxford, é autor de vários livros.

bernardo vasconcelos e Sousa é professor na Faculdade de ciências Sociais

e Humanas da Universidade nova de lisboa, onde tem leccionado no âmbito

da licenciatura e do mestrado em História medieval e de cujo instituto de estu-

dos medievais foi presidente. tem várias obras editadas.

nuno Gonçalo monteiro é investigador coordenador do instituto de ciências

Sociais da Universidade de lisboa e professor convidado do iScte (lis-

boa). Doutorado em História moderna pela F.c.S.H/Universidade nova de

lisboa e agregado em História pelo iScte, realizou conferências e comu-

nicações em vários países, tendo sido professor visitante em universidades

espanholas, francesas e brasileiras. tem várias publicações editadas. ■

nem melhor. Um tempo de conspirações, golpadas militares, governos autoritários e a Grande Guerra. Uma viagem

no tempo a que Jaime nogueira pinto emprestou o rigor da sua investigação, a fluidez da escrita e, naturalmente,

a sua interpretação da História não necessariamente coincidente com a do leitor. mas, sem dúvida, um documento

importante e de leitura fundamental, este que a esfera dos livros acaba de dar à estampa. ■

Page 93: Diplomática n.º 8

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Page 94: Diplomática n.º 8
Page 95: Diplomática n.º 8

95novembro/dezembro 2010 - diplomática •

English & French texts

6. Barack Obama, the face of the new “American Dream”

Who is this man who stunned the world with his steady and decisive ascension, who won the nobel peace prize winner less

than a year after being elected? How has he established himself as one of the most iconic leaders of the new century and

undoubtedly the most popular american president since Kennedy? “diplomática” outlines his profile... ■

6. Barack Obama, le visage de la nouvelle «American Dream»

Qui est cet homme qui a stupéfié le monde avec un chemin brillant, lauréat du prix nobel de la paix moins d’un an après avoir

été élu? comment est-il que s’est imposé comme l’un des leaders les plus emblématiques du nouveau siècle et sans doute le

président le plus populaire en amérique, après Kennedy? “diplomática” décrit son profil... ■

11. NATO: the Lisbon Summit - changes, challenges, strategic concept

Where is it coming from and where is nato heading? What is its relevance in the new geostrategic environment and what does

the future hold for it as an international organization? Simultaneously, what to expect from the Summit USa / eU? the answer is

provided by seven ambassadors credited in portugal, namely the ones from France, UK, Germany, norway, Greece, bulgaria,

Slovakia and lithuania. ■

11. OTAN: le sommet de Lisbonne - les changements, défis, concept stratégique

d’où il vient et où il va à l’otan? Quelle est sa pertinence dans le nouvel environnement géostratégique et son avenir en tant

qu’organisation internationale? en même temps, à quoi s’attendre de Sommet des États-Unis / Union européenne? la réponse

est en sept ambassadeurs au portugal: France, royaume-Uni, l’allemagne, la norvège, la Grèce, la bulgarie, la Slovaquie et la

lituanie. ■

26. João Mira Gomes - Interview with the Ambassador of Portugal in NATO

the purpose and future of the atlantic alliance are discussed with the newly appointed ambassador of portugal in nato. “We

would like to reduce the level of military presence in afghanistan, but more than setting dates one has to present goals,” stated

João mira Gomes, stressing, albeit with caution, the importance of the command in oeiras... ■

26. João Mira Gomes - Entretien avec l’Ambassadeur du Portugal à l’OTAN

le but de l’avenir de l’alliance atlantique, a parlé avec l’ambassadeur nouvellement nommé du portugal à l’organisation. «nous

souhaitons réduire le niveau de présence militaire en afghanistan, mais plus de dates avoir est d’avoir des buts», a déclaré João

mira Gomes, en soulignant, avec prudence, l’importance de la commande à oeiras... ■

34. Allan Katz - Interview with U.S. Ambassador to Portugal

“portugal is a committed member of nato and an ally that may provide us with major contributions to the development of

our good relations with both africa and brazil.” the words are from the U.S. ambassador, who received us, alongside with

ambassador nancy cohn, a woman that mainly dedicates her efforts to humanitarian and cultural causes... ■

34. Allan Katz - Interview avec U. S. ambassadeur au Portugal

«le portugal est un membre actif de l’otan et un allié qui peut contribuer au développement de nos bonnes relations avec

l’afrique et le brésil.» les mots sont de l’ambassadeur américain, qui nous reçut, avec l’ambassadeur nancy cohn, mme

spécialement dédié à des causes humanitaires et culturelles... ■

40. “Yes We Can” - The future of Luso-American relations

it is with a metaphor - “a two-way motorway, that encourages and supports american businesses and portuguese companies

that want to grow their businesses across the atlantic - that Graça didier, Secretary General for the american chamber of

commerce, defines the mission of this institution. ■

40. “Yes We Can” - L’avenir des relations luso-américaine

c’est avec une métaphore - «une autoroute à deux sens, encourager et soutenir les entreprises américaines et les entreprises

portugaises qui souhaitent faire croître votre entreprise à travers l’atlantique - que Graça didier, secrétaire général de la

chambre de commerce américaine, caractérisent la mission cette institution. ■

42. The Grand Dukes of Luxembourg visited Portugal

on a visit to our country, at the invitation of president cavaco Silva, and accompanied by his wife, maria teresa, the sovereign

Grand duke Henri of luxembourg, thanked “all contributions of the lusitanian community “ that helped his country to ensure a

“promising future”, also recalling his portuguese roots and the support of portugal to his grandparents when the second world

war broke out.” ■

42. Les Grands-ducs du Luxembourg ont visité le Portugal

lors d’une visite dans notre pays à l’invitation du président cavaco Silva, accompagné de son épouse, maria teresa, le Grand-

duc Henri de luxembourg souverain, a remercié «tous les contribution de la communauté lusitanienne» pour aider son pays à

un bel avenir «prometteur», rappelant ses racines portugaises et l’appui du portugal à leurs grands-parents lorsque la guerre a

éclaté.» ■

Page 96: Diplomática n.º 8

96 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010

English & French texts

44. In a visit to Portugal Hugo Chavez signs strategic and economic agreements

at the invitation of the portuguese prime minister José Sócrates, “one of our greatest friends in europe”, the venezuelan

president recently visited portugal and signed important agreements in the fields of naval and civil construction, prefabricated

homes and also ordered a 1,5 million magalhães computers… ■

44. Hugo Chavez dans les accords d’entreprise au Portugal et économique stratégique

À l’invitation du premier ministre portugais José Sócrates - «l’un de nos meilleurs amis en europe» - le président vénézuélien a

récemment visité le portugal et signé des accords importants dans les domaines de la construction navale et civile, les maisons

préfabriquées et «ordonné» une 1,5 millions d’ordinateurs «magalhães»... ■

46. SHANGHAI EXPO 2010

one of the world’s largest countries, china has already awakened to a burst of power and economic development. Diplomática

visited one of the most imposing Universal exibitions of all time whilst paula bobone studied this asian colossus and

remembered the Gatopardo: “something must change if one is to keep everything the same”... ■

46. Expo Shanghai 2010

Un des plus grands pays du monde, la chine a «réveillé» avec un éclatement du pouvoir et de dévelopement économique,

“Diplomática” a visité l’une des plus imposantes expositions universelles de tous les temps. paula bobone à observé le colosse

asiatique se souvenant de Gatopardo: «quelque chose doit changer pour que tout reste la même»... ■

48. Portugal and Angola strengthen cooperation ties

the visit of cavaco Silva and José Sócrates to angola had “very positive” results in the areas of culture, economics and

finances, while the angolan president, José eduardo dos Santos, stressed the “climate of great understanding, that made

compromises easy to reach “ between the two countries on bilateral, regional and international issues... ■

48. Portugal et l’Angola de renforcer les liens de coopération

a conduit à des variations considérables «très positive» dans les mouvements culturels, économiques et financières de cavaco

Silva et José Sócrates à l’angola, dont le président, José eduardo dos Santos a salué le «climat de plus grande compréhension,

qui a été facile de parvenir à des accords» entre les deux pays sur les questions bilatérales, régionales et internationales... ■

52. Maria da Piedade Polignac de Barros against materialistic theories

“the world must change, steer itself more towards spiritualism, and people must be more supportive.” maria da piedade

polignac de barros, ambassador to the order of malta in portugal, is a fighter, and to her entrepreneurial life she adds her

humanitarian concerns, supporting the homeless, and also, at christmas, the organization of the Diplomatic bazaar. ■

52. Maria da Piedade Polignac de Barros - contre “la logique matérialiste”

«le monde doit faire un tour et s’orienter plus vers le spiritisme, les gens doivent être plus favorable.» maria da piedade

polignac de barros, ambassadeur de l’ordre de malte, au portugal, ne se contente pas, et à la vie d’entrepeneur elle accumule

des préoccupations humanitaires, de soutien aux sans-abri, et à noël, l’organisation du bazar de Diplomates. ■

54. Independence Day of USA

at the celebration of the 234th anniversary of the Declaration of independence of the United States, ambassador allan Katz

quoted obama: “we created the ideal that all are equal and have bled and fought for centuries to give sense to these words”... ■

54. Fête de l’Indépendance des Etats-Unis

lors de la fête célébration du 234èmé de la Déclaration d’indépendance des États-Unis, l’ambassadeur allan Katz cité obama:

«nous avons crée dans l’idéal que tous sont égaux et nous avons renversé du sang et somes battus, pendant des siècles, pour

donner un sens à ces mots»... ■

56. National Day of the Kingdom of Saudi Arabia

the ambassadors of Saudi arabia in portugal shared with his guests the celebration of the national Day of his Kingdom, the

largest nation in the middle east, the heart of islam, and “land of the two Holy mosques.” ■

56. Journée nationale du Royaume d’Arabie Saoudite

les ambassadeurs de l’arabie saoudite au portugal partage avec ses hôtes, la célébration de la Journée nationale de son

royaume, la plus grande nation au moyen-orient, au cœur de l’islam, «terre des Deux Saintes mosquées.» ■

58. Rasool Mohajer - Interview with Iran’s Ambassador in Portugal

after living for two years in portugal, the ambassador of iran outlines a different scenario from what generally is presented by the

Western media. Highlighting the peaceful purposes of tehran’s government, well set against the ownership of nuclear weapons

by any country, defines his country as a nation of great culture, tolerant and open to religious differences. ■

58. Rasool Mohajer - Entretien avec l’ambassadeur d’Iran au Portugal

il ya deux ans au portugal, l’ambassadeur d’iran présente un scénario différent de ce qui est généralement vanté par les médias

occidentaux. Faits saillants intentions de paix du gouvernement de téhéran - contre «la possession d’armes nucléaires par un ➤

Page 97: Diplomática n.º 8

97novembro/dezembro 2010 - diplomática •

➤ pays» - et définit le pays comme une nation de culture tolérante et ouverte aux différences religieuses. ■

63. National Day of Switzerland

the national day of Switzerland, that evokes the Federal pact Waldstätten, was celebrated in lisbon with a reception that

took place in the embassy. present were major figures from the cultural, business and diplomatic worlds, at the invitation of

ambassador rudolf Schaller. ■

63. Fête nationale suisse

la fête nationale suisse - l’évocation des Waldstätten pacte fédéral - a été signé à lisbonne par une réception à l’ambassade.

etaient présents des individus de la culture, des affaires et diplomatique, invités par l’ambassadeur rudolf Schaller. ■

64. Libya Celebrates the Anniversary of its Revolution

the 41th anniversary of the revolution of September the 1st, the national day of libya, was celebrated with a reception in

lisbon where, at the invitation of ambassador ali emdored, members of the diplomatic corps, politicians, academics and well-

known businessmen were able to mingle. ■

64. La Libye commémore anniversaire de la Révolution

le 41 anniversaire de la révolution de Septembre 1, la Journée nationale de la libye, a été marquée par une réception

à londres, où, à l’invitation de l’ambassadeur ali emdored, les membres du corps diplomatique, des politiciens, des

universitaires et hommes d’affaires de renom ont confraternizé. ■

66. The “Scream of Ipiranga” remembered in Lisbon

With the language of camões as the main link, and the community of portuguese Speaking countries its history and all its

emotional ties as background, the independence day in brazil was celebrated in lisbon by ambassador celso vieira de Souza

and a host of guests. ■

66. Cri de Ipiranga évoqué à Lisbonne

avec la langue de camões par le fond et la communauté des pays de langue portugaise et de l’histoire et émotionnel, Jour de

l’indépendance du brésil a été célébré à londres par l’ambassadeur celso vieira de Souza et une foule d’invités. ■

68. Day of German Unity

the unification of the two Germanies , 20 years ago, after a separation of nearly half a century, was evoked in lisbon, at the

residence of the ambassador Helmut elfenkamper which, before 300 guests, thanked portugal for having supported German

unity from the very start. ■

68. Journée de l’unité allemande

l’unification des deux allemagnes il ya 20 ans - après une séparation de près de la moitié d’un siècle - a été soulevée à

lisbonne, à la résidence de l’ambassadeur Helmut elfenkamper qui, devant 300 invités, a remercié le portugal pour avoir, dès

le début, pris en charge l’unité allemande. ■

70. Maria Helena Daget - Interview with an Entrepreneur Winner

a mother, a fighter and a winner in a world of men, maria Helena daget tells “diplomática” how her dream took shape and she

managed to create the techdrill, a strong multinational oil company that she has run for over 20 years. aware that “economy is

not just numbers, it is also human capital,” she’s now moving on to the creation of a teacher trainig School in portugal... ■

70. Maria Helena Daget - Entretien avec une Entrepreneur gagnante

mère, femme d’armes, de gagner dans un monde d’hommes, maria Helena daget ce qui concerne la «diplomatique» a donné

forme au rêve, à créer techdrill, forte de l’industrie du pétrole multi-nationales, qui se déroule depuis 20 ans. consciente du

fait que «l’économie n’est pas seulement des chiffres, il est également capital humain», elle pense à la creation dune école de

formation des enseignants… au portugal ■

77. National Day of Indonesia

to acknowledge the national day of indonesia, ambassador albert matondang remembered before his guests, “the historical

and cultural ties that were initiated by the portuguese navigators,” focusing also on the “constructive and productive” bilateral

strengthening of cooperation. ■

77. Journée nationale de l’Indonésie

a l’occasion de la Journée nationale de l’indonésie, l’ambassadeur albert matondang rappelé avant leurs invités, «les liens

historiques et culturels initiés par les navigateurs portugais,» mettant l’accent sur le renforcement de la coopération bilatérale «,

constructive et productive.» ■

78. Farewell Party for the Ambassador of Egypt

Just before departing his position as the ambassador of egypt in portugal, amgad maher abdel Ghaffar, welcomed in the

gardens of the embassy a party of friends and many individualities in order to thank them all for the support he received during

his stay in our country. ■

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98 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010

English & French texts

78. Adieu l’ambassadeur partie de l’Egypte

l’ambassadeur sortant du portugal en egypte, amgad maher abdel Ghaffar, offert dans les jardins de l’ambassade, une partie

d’amis et de personnes à remercier tout le soutien reçu pendant son séjour dans notre pays. ■

80. National Day of South Korea

the ambassadors of South Korea celebrated with dozens of guests, the national Day of his country, a nation that in 2011, will

complete 50 years of diplomatic relations with portugal. ambassador Dae-Hyun Kang remarked that “the history of the Korean

people dates back to 2333 bc”. ■

80. Journée nationale de la Corée du Sud

les ambassadeurs de la corée du Sud ont célébré avec des dizaines d’invités, la Journée nationale de son pays que en 2011

achève 50 ans de relations diplomatiques avec le portugal. ambassadeur Dae-Hyun Kang a noté que «l’histoire du peuple

coréen remonte à 2333 av». ■

82. Hawaii - 50 Years of Democracy

Half a century has passed since american democracy conquered Hawaii, the 50th and last territory to join the federation of the

United States of america. “Diplomática” recalls the event, “surfing” with obama through pearl Harbor and remembering the

influence of madeira island… ■

82. Hawaii. 50 ans de démocratie

Un demi-siècle s’est écoulé depuis le déploiement de la démocratie américaine à Hawaï, 50e et dernier territoire à adhérer à la

fédération des etats-Unis d’amérique. «Diplomatique», se rappelle de l’événement, «surfer» avec obama ... pour pearl Harbor

et de l’influence de l’ille madère... ■

84. OAS. 50 years of Human Rights

50 years have passed since the summit of the organization of american States that stated the importance of safeguarding

human rights. “Diplomática” points out that these five decades remind one that the search “must continue in order to address the

challenges that still remain to be faced”... ■

84. De l’OEA. 50 ans de droits de l’homme

après 50 ans au sommet de l’organisation des États américains a déclaré que l’importance de la sauvegarde des droits de

l’homme. “Diplomática”, fait remarquer que ces cinq décennies sont la preuve que la recherche «doit continuer à relever les

défis restants»... ■

86. João Lima - Interview with BMW’s face for the Diplomatic World

João lima is Diplomatic and Direct Sales consultant of caetano baviera / bmW. it is in the hands of this 47 years old man,

linked to the prime bmW portugal and bmW aG, that arrive all requests for acquisition of cars or fleets of this prestigious car

brand from any holder or diplomatic body. From all corners of the World... ■

86. João Lima - Interview avec le visage de BMW pour le Monde diplomatique

João lima, diplomatique et Direct Sales consultant de caetano baviera / bmW. il est dans les mains de cet homme, 47 ans,

lié à la prime bmW portugal et bmW aG, qui devrait arriver tous les processus d’acquisition des voitures ou des flottes de la

signification de cette marque de voiture de prestige à tout titulaire ou corps diplomatique. De n’importe quel coin du monde... ■

90. Portuguese Culture in Spain

the embassy of portugal in Spain and the instituto camões have, from 2003 onwards, been involved with an initiative called

“mostra portuguesa”, which aims to present in the neighboring country all the diversity of contemporary portuguese culture in all

its”unique, modern, universal and humanist capacities”... ■

90. La culture portugaise en Espagne

l’ambassade du portugal en espagne et l’instituto camões, ont, depuis 2003, une initiative appelée «mostra portuguesa»,

qui vise à présenter dans le pays voisin la diversité de la culture portugaise contemporaine »unique, moderne, universel et

humaniste»... ■

92. Books – launchings

“nobre povo – os anos da república” is the journey of Jaime nogueira pinto through the causes and consequences of the

revolution that deposed the portuguese monarchy in 1910.

“História de portugal” is the book that justified unanimously the presentation of the D. Dinis award 2009. responsible for the

coordination of this book are rui ramos, bernardo vasconcelos e Sousa and nuno Gonçalo monteiro. ■

92. Livres - nouveautés

«nobre povo – os anos da república” est un voyage de Jaime nogueira pinto pour les causes et les conséquences de la

révolution qui a renversé la monarchie portugaise en 1910. “História de portugal” est le livre qui a justifié à l’unanimité d’attribuer

le prix D. Dinis. coordination rui ramos, avec bernardo vasconcelos e Sousa et nuno Gonçalo monteiro. ■

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