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Negócios e Diplomacia
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Diplomatica´Diplomatica´
With English & French Texts
Nº8 Novembro 20104 (Cont.)
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Obamao Homem que surpreendeu o mundo Dossier NATO
Entrevistas:
Allan Katz - Emb. EUA Um pilar na campanha
de Obama
Mira Gomes Embaixador de Portugal
na Nato
Rasool Mohajer Embaixador do Irão
País de cultura
Helena Daget Grande nome
além fronteiras
business & Diplomacy
Angolarecebe Cavaco
e Sócrates
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4 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010
DIRECTOR: maria da luz de bragança PRODUÇÃO: césar Soares PROPRIEDADE: maria da luz de bragança EDIÇÃO: Gabinete 1 editor nº 211 326. av. engº Duarte pacheco, nº1 - 4º esq. – 1070-100 lisboa.
MARkETIng & PUblICIDADE: Gabinete 1 - e-mail:[email protected] tel.: 21 322 46 60 a 76 Fax: 21 322 46 79IMPRESSÃO: multiponto DISTRIbUIÇÃO: logista - alcochete - telefone: 21 926 78 00 Fax: 21 926 78 45
iSSn 1647-0060 – Depósito legal nº 276750/08 – publicação registada na Direcção Geral da comunicação Social com o nº 125395
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AssuntosSummary
capa. barack obama. Front page. barack obama.
Dossier. a relevância da nato no novo enquadramento geoestratégico e o seu futuro enquanto organização internacio-nal. – o que esperar da cimeira eUa/europa.Dossier. the relevance of nato in the new geostrategic environment and its future as an international organization. – What to expect from USa/europe Summit.
entrevista a João mira Gomes, embaixador de portugal na nato.interview with João mira Gomes, ambassador of portugal in nato.
entrevista a alan Katz, embaixador dos eUa em portugal.interview with alan Katz, U.S. ambassador to portugal.
instituições. crónica de Graça Didier, Secretária-Geral da câmara de comércio americana.institutions. chronicle of Graça Didier, General Secretary of the american chamber of commerce.
visita de estado. Grão Duques do luxemburgo em portugal.official visit. Grand Dukes of luxembourg in portugal.
visita de estado. Hugo chavez, presidente da venezuela em portugal.official visit. Hugo chavez, president of venezuela in portugal.
expo Xangai 2010.expo Xangai 2010.
viagens de estado. angola. visita do presidente cavaco Silva e primeiro ministro, José Sócrates.official visit. angola. visit of president cavaco Silva and prime minister José Sócrates.
Diplomacia no Feminino. maria da piedade polignac de barros, embaixatriz da ordem de malta em portugal.Diplomacy in the feminin. maria da piedade polignac de barros, ambassador of the order of malta to portugal.
mala Diplomática. Dia nacional dos estados Unidos da américa.Diplomatic bag. national Day of the United States of america.
mala Diplomática. Dia nacional do reino da arábia Saudita.Diplomatic bag. national Day of the Kingdom of Saudi arabia.
entrevista a rasool mohajer, embaixador do irão em portugal.interview with rasool mohajer, iran's ambassador to portugal.
mala Diplomática. Dia nacional da Suiça.Diplomatic pouch. Switzerland national Day
mala Diplomática. Dia nacional da líbia.Diplomatic pouch. national Day of libya.
mala Diplomática. Dia nacional do brasil.Diplomatic pouch. national Day of brazil.
mala Diplomática. Dia da Unidade alemã.Diplomatic pouch. Day of German Unity.
empresários internacionais. maria Helena Daget.international business. maria Helena Daget.
mala Diplomática. Dia nacional da indonésia.Diplomatic pouch. national Day of indonesia.
mala Diplomática. Despedida do embaixador do egipto em portugal.Diplomatic pouch. Farewell to the ambassador of egypt in portugal.
mala Diplomática. Dia nacional da coreia do Sul. Diplomatic pouch. national Day of South Korea
memória Diplomática. Hawai. 50 anos de DemocraciaDiplomatic memories. Hawaii. 50 Years of Democracy
memória Diplomática. oea. 50 anos de Direitos Humanos.Diplomatic memories. oea. 50 Years of Human rights.
marcas & Gestores. João lima. Diplomatic and Direct Sales consultant da caetano baviera/bmWbrands & managers. João lima. Diplomatic and Direct Sales consultant of caetano baviera / bmW
arte e cultura. mostra portuguesa em espanha.art and culture. portuguese exibition in Spain
livros. “nobre povo”, Jaime nogueira pinto, “História de portugal”, rui ramosbooks. "nobre povo", Jaime nogueira pinto, "História de portugal, rui ramos
traduçõestranslations
Foto da capa: ricardo oliveira - Gpm
2º Aniversário
6737_Institucional 23x32_AFC 9/30/10 6:23 PM Page 1
6 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010
Normalmente na europa não se percebe bem a realidade ame-
ricana, onde a dicotomia esquerda-direita normalmente não
funciona. É que, numa primeira fase, mais por responsabilida-
de americana do que por incompreensão europeia, a américa
da guerra fria apresentava uma política externa agressiva,
centrada na aventura militar e na pressão musculada…
a américa está a mudar
com obama, a situação alterou-se, embora moderadamente.
mas é inquestionável que a presença militar americana no
iraque tem vindo a decrescer e que, ao nível da nato, já se
começa a equacionar a possibilidade de, num prazo relativa-
mente curto, se proceder à saída do contingente militar interna-
cional. e isto tem, inegavelmente, o selo de obama.
a américa está a mudar, mas a esquerda europeia e os po-
pulistas “esquerdofrénicos” que agora pululam um pouco pela
américa latina, não entenderam o essencial. É que os ataques
a obama, no actual contexto, rotulando-o ingenuamente de
“chefe imperialista”, ao contrário de empurrarem os eUa, deci-
sivamente, para uma política de paz e coexistência internacio-
nal, dão mais força aos grupos de pressão conservadores que,
a pretexto da crise e da perda de influência da super-potência,
pretendem um retrocesso na linha moderada da nova adminis-
tração americana.
concorde-se ou não com as posições do presidente ame-
ricano, mesmo considerando a velocidade controlada das
reformas, a américa de hoje tem uma postura completamente
diferente do tempo em que pontificavam os “falcões” na casa
branca. e isso tem o aDn de um homem talhado para a políti-
ca no universo enriquecedor dos movimentos sociais america-
nos e da intervenção cívica.
Breve biografia do rosto da mudança
De seu nome completo barack Hussein obama, nasceu a 4 de
agosto de 1961, em Honolulu, Havai. os pais eram um casal
atípico para a época, um tempo em que a miscigenação era
condenada na preconceituosa e dividida américa dos anos
60…
a mãe, ann Dunham, uma mulher branca do Kansas, perdera-
se de amores pelo estudante negro queniano barack obama,
desta relação nasceria a criança registada com o nome do
progenitor. ann e barack conheceram-se na Universidade do
Havai, precisamente no dia em que se matricularam. o divórcio
veio pouco depois do nascimento do actual presidente. o pai
transferiu-se para Harvard, onde acabou os estudos, e, mais
tarde, regressou ao Quénia, tendo toda a vida trabalhado como ➤
Barack Obama por antónio pinho, fotos de ricardo oliveira
O rosto do novo “american dream”
Capa
7novembro/dezembro 2010 - diplomática •
Barack Obama
8 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010
Barack Obama
9novembro/dezembro 2010 - diplomática •
➤ economista numa importante consultora petrolífera.
ann casou-se de novo e transferiu-se como pequeno barack
para a indonésia, terra de seu segundo marido. ali estudou,
durante dois anos (dos seis aos oito), o futuro presidente,
numa madrassa, a escola tradicional muçulmana, facto que,
mais tarde, foi usado contra ele nas eleições presidenciais,
insinuando rumores de uma suposta conversão islâmica.
o pequeno barack, aos 8 anos de idade, regressa ao Havai
e é criado pelos seus avós maternos, enquanto ann continua
na indonésia, até ao segundo divórcio que a faz regressar aos
eUa. com a mãe, barack vai para los angeles e frequenta o
requintado occidental college – uma escola preparatória da
classe média alta.
Forma-se na columbia University (bacharelato), em 1985, e
muda-se para chicago, envolvendo-se em organizações e
movimentos sociais, tornando-se activista e participando na
vida comunitária. antes, ainda na universidade, fumou “erva” e
cocaína” – comum na juventude dessa época -, episódios que
revela na sua autobiografia de 1996, “dreams from my Father”.
mais tarde inscreve-se na conceituada escola de direito de
Harvard, doutorando-se em 1991, tendo sido o primeiro presi-
dente negro da prestigiada “Harvard law review” – uma publi-
cação mensal dirigida aos estudantes de direito.
em 1992 casa-se com michelle robinson, que também havia
sido colaboradora da “Harvard law review”, e que conhece no
escritório de advogados onde obama fez o estágio. curiosa-
mente a sua orientadora era michelle.
o activismo social não preenche integralmente as suas neces-
sidades do Ser e, em 1998, junta-se à United church of christ,
em chicago, com a qual rompe durante a campanha para a
presidência, por discordar do discurso radical do seu guia espi-
ritual. no ano seguinte nasce a primeira filha, mahalia, e, em
2001, o casal recebe o nascimento de natasha.
Uma fulgurante carreira políticaObama inicia a actividade política como senador do estado
de illinois, com dois mandatos, entre 1997 e 2004. neste ano
empreende um voo mais alto, sendo eleito para o Senado dos
eUa. em 2007 inicia a marcha fulgurante para a presidência,
impondo-se na eleição democrata a Hillary clinton e, logo
depois – e contra algumas expectativas – derrota mccain, o
candidato republicano.
enquanto senador federal, obama destacou-se pela oposição
à invasão do iraque decidida pela administração bush, contra-
riando mesmo a orientação dominante dos seus colegas de-
mocratas. essa posição, num contexto de isolamento nacional
e internacional de George W. bush, foi decisiva para ganhar o
voto dos americanos e afirmar-se como um dos mais emblemá-
ticos líderes mundiais deste início de século e, sem dúvida, o
mais popular presidente americano depois de Kennedy. ■
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11novembro/dezembro 2010 - diplomática •
A Cimeira da Nato reunida, em Lisboa, 19 e 20 de Novembro, com a presença do presi-
dente norte-americano Barack Obama, organizada sob os pressupostos do calendário de
conclaves desta natureza, bem como da agenda interna onde se destaca a revisão do
Conceito Estratégico, aprovado em 1999, dificilmente – segundo os especialistas – estará
concluída antes de 2012.
Para além do calendário corrente e da agenda incontornável do novo Conceito Estratégico,
fundamental num contexto mundial que se alterou substantivamente desde a década de
90, em debate a aprovação da nova estrutura de comandos da NATO.
Um produto da guerra friaA north atlantic treaty organization (nato) foi criada em 1949, tendo por objecto a
constituição de uma frente oposta ao bloco soviético, que como resposta política e militar à
fundação da nato haveria de criar, poucos anos depois, o tratado de varsóvia (também
conhecido por pacto de varsóvia) – uma organização com orgânica similar à primeira mas
de propósitos opostos.
os estados subscritores do tratado de 1949 acordaram um compromisso de cooperação
estratégica em tempo de paz, assumindo a obrigação de auxílio mútuo em hipotético ata-
que a qualquer dos países signatários.
os estados que actualmente integram a nato são a albânia, a alemanha, a bélgica, a bul-
gária, o canadá, a croácia, a dinamarca, a eslováquia, a espanha, os estados Unidos da
américa, a estónia, a França, a Grécia, a Holanda, a islândia, a itália, a letónia, a lituânia o
luxemburgo, a noruega, a polónia, portugal, o reino Unido, a república checa, a roménia
e a turquia. ➤
Cimeira da NatoUm novo conceito
Dossier Nato
12 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010
Pascal Teixeira da Silva - Embaixador de França
O mundo está a mudar, com o aparecimento
de potências e conjuntos regionais, e com a
diversificação das ameaças que nossos países
enfrentam, a maioria das quais provenientes
de factores não estatais. neste novo contex-
to estratégico, a aliança atlântica tem que se
adaptar. ela mantém a sua importância como
aliança de defesa dos países europeus e norte-
americanos que partilham os mesmos valores
e se confrontam com as mesmas ameaças. ela
tem assegurado a defesa colectiva dos seus
membros e tem-se mostrado eficaz e duradoura.
É por isso que a 24ª cimeira da nato, que
terá lugar em lisboa a 19 e 20 de novembro
de 2010, será um momento crucial para a
adaptação da nato aos desafios do século
XXi.
o conceito estratégico da nato, que é um do-
cumento público, é o texto mais importante de-
pois do tratado do altlântico norte, fundador da
aliança em 1949. ele define a natureza, os ob-
jectivos e as missões da aliança atlântica, bem
como os meios necessários para levar a cabo
as suas tarefas. na versão actual, o conceito
estratégico data de 1999. onze anos depois, é
preciso actualizá-lo. a nova versão deverá ter
em conta as grandes evoluções que atingiram
a aliança e o seu meio estratégico ao longo de
dez anos: o alargamento da nato a nove es-
tados-membros da europa central e oriental; a
sua implicação na resolução de grandes crises
internacionais, no Kosovo ou no afeganistão; o
desenvolvimento de novas ameaças internacio-
nais (terrorismo, proliferação nuclear, química
e bacteriológica; ataques cibernáuticos); o novo
lugar que a rússia ocupa actualmente.
neste ambiente cada vez mais incerto, a Fran-
ça não deixará de lembrar que a missão primor-
dial da aliança continua a ser a defesa colectiva
dos seus membros, como prevê o artigo 5 do
tratado do atlântico norte. a este propósito, a
dissuasão nuclear continua a ser crucial para
a preservação da credibilidade da aliança. a
defesa antimíssil é um complemento útil para
a dissuasão nuclear mas não se lhe poderá
substituir.
a experiência dos balcãs ou do afeganistão
mostra que as crises internacionais são cada
vez mais complexas e que a sua resolução pela
comunidade internacional exige que se possa
combinar acções civis e militares e permitir que
actores muito diversos trabalhem em conjunto. ➤
Dossier Nato
13novembro/dezembro 2010 - diplomática •
➤ a nato deve portanto delinear a sua acção
mediante uma abordagem global das crises
adaptando a sua organização e as suas re-
lações a outros actores de gestão de crises
para melhorar a cooperação com esses acto-
res. a nato, sendo fundamentalmente uma
organização militar, não deverá ser um actor
global, mas um dos actores do sistema global,
ligado aos outros e colaborando com eles. a
este respeito, deve ser prestada uma atenção
especial ao aumento da importância da União
europeia que, particularmente desde a entrada
em vigor do tratado de lisboa, dispõe de toda
a gama de instrumentos para intervir em prol da
resolução das crises, da manutenção e conso-
lidação da paz e do desenvolvimento. membro
da União europeia e da aliança atlântica, a
França defende o reforço das relações entre as
duas organizações para garantir a eficácia e a
complementaridade das nossas acções, e não
a concorrência e a duplicação.
a partir da revisão do conceito estratégico
deve conceber-se e implementar uma reforma
profunda da nato. devemos fazer da aliança
atlântica uma organização cada vez mais eficaz
e reactiva num contexto orçamental exigente e
num ambiente estratégico imprevisível.
o segundo grande assunto na ordem do dia
da nato será a situação no afeganistão onde
está empenhada no terreno a maior (120.000
homens e mulheres) e mais longa (desde 2001)
operação da nato, agindo sob mandato do
conselho de Segurança das nações Unidas.
a cimeira de lisboa será uma ocasião para
reafirmar a unidade dos aliados e a sua deter-
minação em prosseguir, “pelo tempo que for ne-
cessário”, a sua intervenção neste país, como
lembrou o presidente Sarkozy no seu discurso
de 25 de agosto de 2010.
Será igualmente abordada a transferência
progressiva das responsabilidades para o
afeganistão – a transição acordada pela comu-
nidade internacional durante as conferências
internacionais de londres (Janeiro de 2010) e
de cabul (Julho de 2010).
Finalmente, entre os parceiros internacionais da
nato, a rússia, sendo um vizinho directo dos
vários estados-membros, tem uma importância
especial. a cimeira em lisboa será uma oca-
sião para dar um novo impulso a uma coope-
ração necessária a ambas as partes durante
um encontro ao mais alto nível entre a rússia
e a nato. a França apoia esta iniciativa, que
permitirá identificar todas as ameaças com que
elas estão igualmente confrontadas e avançar
relativamente à realização de cooperações con-
cretas nos domínios em que os seus interesses
de segurança são idênticos, como o afeganis-
tão ou a defesa antimíssil.
concluindo, assim como em lisboa em 2008
quando foi assinado o tratado de lisboa, a
União europeia apresentou os seus princípios
fundamentais para o início do século XXi,
também a nato vai apresentar os seus, em
lisboa, em 2010. lisboa pode felicitar-se por
acolher os processos de renovação das comu-
nidades europeias e transatlânticas.
a próxima cimeira Ue/estados Unidos, que terá
lugar em lisboa no próximo dia 20 de novem-
bro, será importante por dois motivos.
no plano institucional, trata-se do primeiro en-
contro euro-americano desde a entrada em vi-
gor do tratado de lisboa. este tratado permitiu
agrupar, racionalizar e reforçar os instrumentos
de política externa da Ue até então divididos
entre o conselho e a comissão. a pergunta
provocadora e célebre de Henry Kissinger “a
europa, qual é o número de telefone?” obteve
finalmente uma resposta. Futuramente o ➤
A experiência dos Balcãs ou do
Afeganistão mostra que as crises
internacionais são cada vez mais
complexas
14 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010
➤ presidente americano, bem como os outros
dirigentes mundiais, podem dirigir-se a um
triunvirato estável : um presidente do conselho
instituído com mandato de dois anos e meio,
van rompuy ; um alto representante para
a política externa e a política de segurança,
catherine ashton, que é simultâneamente vice-
presidente da comissão, apoiada pelo serviço
de acção externa, um género de ministério dos
negócios estrangeiros da União; e um presiden-
te da comissão europeia, Durão barroso. estão
assim reunidas as condições formais para que a
próxima cimeira euro-americana tenha sucesso.
Fundamentalmente, a Ue, depois de ter avan-
çado com as suas instituições, envolveu-se no
exame e na definição das suas relações com os
grandes parceiros estratégicos, pólos de poder
(no século XXi – os estados Unidos, evidente-
mente, mas também a rússia, a china, a Índia,
o brasil, e os grandes agrupamentos regionais
como a União africana, o mercoSUl, a aSe-
an ou o cceaG (conselho de cooperação dos
estados árabes do Golfo). o mundo globalizado
é a partir de agora multipolar. assistimos a uma
importante redistribuição da riqueza e do poder.
a Ue tem todos os trunfos – humanos, cultu-
rais, tecnológicos, económicos, militares – para
continuar a ser um destes grandes pólos em
redor dos quais se está a organizar a sociedade
internacional, sendo disso exemplo a compo-
sição e a importância crescente, pedida pela
França, do G20.
com os estados Unidos, a União europeia
partilha valores, tais como : democracia, liber-
dade, estado de direito, direitos do Homem
– e responsabilidades – como contribuir para
prevenir e resolver as crises e conflitos que
abalam o mundo, lutar contra as ameaças
transversais que agridem a nossa segurança
comum (terrorismo, proliferação, tráficos, crimi-
nalidade organizada, ameaças cibernáuticas),
tratar de problemas sistémicos com os quais a
nossa sociedade se vê confrontada (alterações
climáticas, desequilíbrios e instabilidade dos
mercados monetários, financeiros e de matérias
primas, pobreza, doenças graves como a SiDa
ou o paludismo). a parceria transatlântica é um
dos pilares fundamentais para enfrentar todos
estes desafios. naturalmente, que europeus
e americanos não podem resolver sozinhos
os problemas que se lhes colocam e sem uma
conjugação de esforços é certo que nada se
fará.
embora os pontos da ordem do dia ainda
estejam em fase de elaboração, os desafios
são numerosos e as expectativas grandes de
um lado o do outro do atlântico. barak obama
lembrou precisamente que a pertinência da
relação transatlântica, no futuro, se baseia não
só na partilha de valores comuns, mas também
na capacidade da europa contribuir para a
resolução de questões tão diferentes como as
relações com a china, o êxito da estabilização
no afeganistão, ou a resolução da crise de pro-
liferação iraniana. Do lado da Ue, a expectativa
relativamente a Washington é enorme no que
diz respeito à governância económica mundial e
ao ambiente. na agenda deverão figurar igual-
mente o processo de paz no médio-oriente, a
luta contra o terrorismo ou ainda a necessária
complementaridade entre a Ue e a nato.
Desde a eleição de barak obama, os pontos
de vista europeus e americanos sobre grande
parte das importantes questões internacionais
aproximaram-se sensivelmente. o contexto
é portanto mais propício a que esta cimeira
constitua uma nova etapa no reforço de uma
cooperação indispensável entre a europa e os
estados Unidos. n
Desde a eleição de Barak Obama,
os pontos de vista europeus e
americanos sobre grande parte das
importantes questões internacio-
nais aproximaram-se sensivelmente
Pascal Teixeira da Silva
15novembro/dezembro 2010 - diplomática •
A nato tem que definir a forma de enfrentar os
novos desafios da realidade geopolítica, desde
as ameaças mais recentes como o terrorismo
ou os perigos do ciberespaço, até às mais tradi-
cionais ameaças contra os interesses territoriais
dos seus membros. a nato precisa de mostrar
que é capaz de responder às mudanças e ao
ritmo a que têm lugar num mundo cada vez mais
interligado.
o reino Unido regista com agrado a forma como
o Grupo de peritos foi ao alcance da socie-
dade civil e das organizações internacionais
no processo de elaboração deste documento,
ultrapassando o circuito tradicional da própria
estrutura da nato. encaramos com interesse a
perspectiva de um debate mais detalhado sobre
as propostas apresentadas pelo Secretário-Geral
anders Fogh rasmussen, durante a reunião
conjunta com ministros da defesa e negócios
estrangeiros em meados de outubro.
este será um dos assuntos mais importantes da
cimeira da nato, a ter lugar aqui em lisboa em
novembro, e inclui um debate sobre o futuro da
estrutura de comandos da nato. os ministros
Alexander Ellis - Embaixador do Reino Unido
britânicos desejam um acordo que defina uma
estrutura de comando substancialmente mais
pequena e mais económica. os progressos
conseguidos até ao momento em bruxelas são
encorajadores: é necessário encontrar o equilí-
brio certo entre as estruturas de comando e de
forças. neste processo, o reino Unido não tem
em mente nenhum projecto para a localização
geográfica das bases da nato no futuro.
esperamos também que durante a cimeira se-
jam tomadas algumas decisões importantes
sobre a presença da nato no afeganistão,
em particular no que diz respeito aos planos da
transferência gradual da responsabilidade pela
segurança para as autoridades afegãs.
pode ser também que haja um conselho
nato-rússia durante a cimeira. trata-se de
um mecanismo importante para os objectivo do
relacionamento nato/russia, nomeadamente
em termos de confiança recíproca e segurança
mútua. acreditamos que os nossos interesses de
segurança mútua são melhor servidos se trabal-
harmos em conjunto na resolução de problemas
como o afeganistão, narcóticos, terrorismo,
segurança fronteiriça, proliferação e pirataria.
Queremos que a nato tenha um relacionamen-
to sólido e honesto com a rússia.
a importância da relação da União europeia com
os estados Unidos, superpotência pro-eminente
do mundo económico e político, não necessita
de ser reafirmada aqui. À imagem do que acon-
tece com outros parceiros estratégicos da Ue,
com os quais procuramos definir a orientação da
nossa relação, é fundamental que continuemos a
colaborar estreitamente com os estados Unidos.
Ficámos, por isso, satisfeitos por portugal ter
chegado a um acordo para que esta cimeira
tivesse lugar aqui em lisboa. ao mesmo tempo,
partilhamos da opinião de que esta deve ter uma
agenda clara, centrada na preparação de uma
estratégia para fazer frente aos desafios que jun-
tos enfrentamos, como os objectivos do milénio,
a ajuda ao paquistão que recupera de cheias
devastadoras, a eliminação de barreiras no
comércio internacional, ou a luta contra as alter-
ações climáticas, entre outros. ■
Dossier Nato
A importância da relação da União
Europeia com os Estados Unidos,
superpotência pro-eminente do
mundo económico e político, não
necessita de ser reafirmada aqui.
16 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010
Botschafter Elfenkämper - Embaixador da Alemanha
Este outono estaremos perante importantes
decisões para o futuro no que toca à política
externa. Fazemos intenções de aprovar, duran-
te a cimeira, nos dias 19 e 20 de novembro,
um novo conceito estratégico da nato. o
Secretário-Geral rasmussen apresentou um
projecto - do nosso ponto de vista, muito bom
- que constitui uma base excelente para as res-
tantes consultas e que também pega em muitas
sugestões, apresentadas por nós durante o
processo que decorreu até agora.
os ideais fundadores da aliança e as questões-
chave do corrente conceito estratégico de
1999 ainda são válidos. não obstante, o mundo
enfrenta, actualmente, ameaças novas e cada
vez mais globais, como o terrorismo, a proli-
feração de armas de destruição maciça e dos
respectivos vectores, e ciber-ataques. É sobre
este pano de fundo que o novo conceito estra-
tégico terá que servir de guia, contribuindo para
forjar um novo consenso estratégico, definindo
a direcção que a aliança deverá tomar nos
próximos 10 a 15 anos.
o compromisso central, como está descrito no
artigo 5, continuará a ser o claro enquadramen-
to de referência para a aliança: salvaguardar
e defender, pelos meios políticos e militares, a
segurança e liberdade dos seus membros. no
entanto, a nato é mais do que uma aliança
para a defesa. É uma aliança para a seguran-
ça. a nossa ambição deveria ir no sentido de
continuar a fortalecer a segurança pan-euro-
peia.
Um foco claro nas medidas de dissuasão e de
tranquilização não deverá ter como consequên-
cia a negligência de quaisquer outros elemen-
tos de segurança cooperativa, nomeadamente
parcerias, o reforço da confiança e da seguran-
ça, o controle de armas e o desarmamento. as
medidas de tranquilização e a segurança coo-
perativa com a rússia devem andar de mãos
dadas. no passado recente, tem havido sinais
encorajadores para afastar o estigma da guerra
fria e para iniciar uma relação mais sóbria e
pragmática com a rússia.
Desde 1999, a aliança tem sido confrontada
com riscos e desafios novos e frequentemente
híbridos, participando em operações complexas
na europa e a uma distância estratégica.
não há qualquer dúvida que a aliança tem um
papel fundamental no que toca aos desafios
novos e emergentes. a nato tem que ter a ➤
Dossier Nato
17novembro/dezembro 2010 - diplomática •
➤ capacidade de agir quando e onde for neces-
sário. Frequentemente, uma defesa eficiente
contra as novas ameaças tem que ser iniciada
muito para além do seu próprio território. no en-
tanto, a aliança não é, de modo nenhum, a úni-
ca resposta a todos os problemas que afectam
a segurança internacional. não acreditamos que
a nato tenha uma responsabilidade univer-
sal. e, muito simplesmente, não possui meios
ilimitados. o tratado de Washington não envol-
ve responsabilidades a uma escala global. por
conseguinte, a acção da nato deverá continu-
ar claramente ligada à salvaguarda da seguran-
ça da área euro-atlântica, de modo a assegurar
o maior apoio possível internamente. apesar da
necessidade de adaptar a estratégia da nato
aos riscos da segurança global, acreditamos
firmemente que a chave é a legitimidade inter-
nacional. a aliança deve empenhar-se na reali-
zação dos propósitos e princípios da carta das
nações Unidas e da legislação internacional. e
é isso que deveremos afirmar no novo conceito
estratégico. deveremos também reiterar a dis-
ponibilidade contínua da aliança, no sentido de
usar as suas capacidades para a manutenção
da paz, sob os auspícios das nações Unidas.
a experiência no afeganistão deu à nato a
oportunidade de aprender lições valiosas, por
vezes, do modo mais difícil. a estabilidade não
pode ser conseguida apenas através de meios
militares. as responsabilidades-chave para a
estabilização e a reconstrução estão, frequen-
temente, nas mãos de outros actores, nomea-
damente dos governos locais ou das nações
Unidas. por outro lado, a intervenção da nato
poderá ser necessária, no sentido de dar apoio
a estas organizações. por conseguinte, a nato
tem que realçar a sua capacidade para cooperar
com outros actores internacionais, especialmen-
te a União europeia e as nações Unidas, bem
como com onGs e outros actores civis. não
obstante, a aliança não tem que desenvolver
as suas próprias capacidades civis, mas sim a
sua capacidade para interagir de modo eficaz
com outros parceiros. infelizmente, o estado
actual das relações Ue/nato não permite que
esta cooperação atinja o seu potencial máxi-
mo. temos que alterar esta situação. a grande
sobreposição dos membros e dos interesses
exige uma cooperação próxima e estratégica,
em particular na gestão de crises.
no que diz directamente respeito à questão
do afeganistão, a cimeira de lisboa será um
marco importante. pretendemos definir a direc-
ção a tomar, de modo a que a entrega gradual
da responsabilidade pela segurança nas mãos
dos afegãos possa, efectivamente, iniciar-se no
próximo ano.
Gostaria de resumir as nossas expectativas
mais importantes para a cimeira da nato em
lisboa em três pontos. em primeiro lugar, o
nosso desejo de que não se entenda a nato
apenas como uma aliança militar, mas também
como uma comunidade de valores políticos. em
segundo lugar, pretendemos uma cooperação
estratégica da aliança com a rússia. e, em ter-
ceiro lugar, aspiramos a que seja reconhecida
a relação entre a segurança internacional e o
desarmamento, ou seja, à não-proliferação nu-
clear. pretendemos ampliar ainda mais a janela
de oportunidades que se abriu aqui nos últimos
meses. o desarmamento constitui um desafio
tão grande para a Humanidade como a protec-
ção climática. Quanto mais estados tiverem
acesso a arsenais nucleares, maior é o perigo
de que estes caiam nas mãos de terroristas. n
Salvaguardar e defender, pelos
meios políticos e militares, a
segurança e liberdade dos seus
membros
18 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010
A definição tradicional do conceito de seguran-
ça dava mais importância ao controlo e uso da
força militar por parte dos estados. no entanto,
na época pós-guerra fria os perigos e as amea-
ças externas contra a segurança nacional dum
país não são só de natureza militar e não se
podem enfrentar só com meios militares. além
disso, a natureza variável dos conflitos consti-
tui, aparentemente, a característica dominante
do mundo pós-bipolar, onde os conflitos que
decorrem em cada vez mais lugares do planeta
são mais “intra-estatais” e menos “inter-esta-
tais”.
portanto, devido à natureza transnacional de
muitos problemas de segurança, a cooperação
internacional, relacionada com o desenvolvi-
mento das organizações regionais e interna-
cionais, torna-se indispensável. a diferenciação
funcional constitui o mecanismo de transforma-
ção e adaptação destas organizações perante
as condições de segurança mundiais facilmente
variáveis, uma vez que estão a ser seriamente
questionadas as razões da sua existência em
termos militares. Um exemplo característico
deste tipo de organização é a nato.
a partir de 1989 em diante, a nato tem sofrido
Vassilios Costis - Embaixador da Grécia
alterações significativas. Uma aliança de guerra
fria bem sucedida, embora de carácter estático,
evoluiu para uma organização mais dinâmica
através da adesão de novos membros, da re-
organização da estrutura de administração, do
fortalecimento das suas relações entre parcei-
ros, do reforço da sua cooperação com outras
organizações internacionais, da sua transfor-
mação militar e da adopção de um novo Dogma
estratégico. este Dogma descreve o objectivo
da nato, a sua natureza e as suas funções
principais de segurança. trata-se da decla-
ração fundamental dos objectivos da aliança,
que por um lado fornece a orientação política
necessária para o desenvolvimento dos meios
militares e políticos necessários para a realiza-
ção destes objectivos e, por outro lado, constitui
a base para a realização, na sua totalidade, das
políticas da nato.
a defesa colectiva do artigo 5º continuará a
constituir a missão principal da nato no âmbito
actual de segurança internacional, caracteriza-
do pelo surgir de novos desafios em termos de
segurança, tais como a difusão das armas de
destruição massiva, o terrorismo internacional,
a segurança do ciberespaço, a segurança ➤
Dossier Nato
19novembro/dezembro 2010 - diplomática •
➤ energética, a pirataria, as alterações climá-
ticas e as pandemias. para o combate eficaz
contra estes desafios é preciso ser adoptada
uma aproximação coerente por parte da comu-
nidade internacional, constituída por um es-
pectro alargado de mecanismos militares e não
militares. no ambiente internacional actual, a
segurança, que já não está só relacionada com
o campo dos conflitos inter-estatais e o desen-
volvimento tendem a ser considerados como
inseparáveis. a «vitória militar» não é, por si só,
suficiente para que um organismo defensivo
alcance êxitos no âmbito da segurança. pelo
contrário, para que estes sejam alcançados,
é necessário o estabelecimento de relações,
a coordenação e a cooperação com todos os
actores, respeitando a autonomia institucional e
o modo de funcionamento de cada um deles.
a aliança continuará a participar, também, na
gestão das crises e na prevenção dos conflitos
e a realizar operações que não estão previstas
no artigo 5º. a experiência obtida através da
realização deste tipo de operações tem de-
monstrado a importância da possibilidade de
realização de operações de estabilidade e da
prestação de assistência militar em esforços de
reconstrução. além disso, a aliança fortalecerá
as suas relações com as outras organizações
internacionais, irá intensificar os contactos
com os seus parceiros, através da adaptação
adequada do programa “parceria para a paz”,
do “diálogo mediterrâneo” e da “iniciativa da
cooperação de istambul” e irá melhorar a sua
cooperação na prática com os ditos “países de
contacto”. a cooperação com a União europeia
que tem a capacidade de recurso a uma ampla
escala de meios e capacidades não militares,
entre as quais as verbas comunitárias, espe-
cialmente valorizáveis pela aliança, é indis-
pensável para a nato, para alcançar os seus
objectivos. a cooperação política e operacional
com a rússia, como por exemplo no afeganis-
tão, irá também reforçar significativamente as
capacidades da nato.
a constante transformação da nato converte a
aliança numa organização capaz de contribuir
para a aproximação firme da segurança e para
a salvaguarda dos interesses colectivos dos
seus estados-membros. na medida em que, no
futuro, a nato não reduza os seus esforços
para a prestação de garantias de segurança
aos seus estados-membros, fará com que o
fosso de conceitos, que a separa dos seus anti-
gos adversários, diminua e responderá às obri-
gações oriundas da assunção do papel de actor
internacional no âmbito mundial de segurança,
irá conservar e aumentar o seu valor. a nato
deverá estar em posição de, com base numa
hierarquização de prioridades, de acordo com
os meios que os estados-membros colocam à
sua disposição, garantir, em primeiro lugar, a
defesa colectiva dos seus membros, gerindo
desafios de segurança tradicionais e actuais
mas também, contribuir, na medida das suas
capacidades, para os esforços internacionais
no combate contra crises graves e a consoli-
dação da paz e da segurança, respeitando os
princípios do direito internacional e as decisões
das nações Unidas. n
A definição tradicional do con-
ceito de segurança dava mais
importância ao controlo e uso
da força militar por parte dos
Estados.
20 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010
Over the years the alliance has shown a remarka-
ble ability to adapt to a changing security envi-
ronment. nato’s relevance has not diminished,
rather the opposite. over time its focus has shifted
but the core task of the alliance remains the same,
collective defence within the framework of article
v of the Washington treaty. the commitment to
collective defence is as solid today as it was when
nato was founded in 1949. Some predicted that
nato would be less relevant after the end of the
cold War. i happen to disagree. in addition to
nato’s core tasks i believe nato’s current enga-
gements in operations in the balkans and afgha-
nistan as well as surveillance and counter piracy
operations at sea prove that nato is relevant.
nato has never been busier.
nato’s future is to a large extent what the lisbon
Summit is all about. the allies will agree on a new
Strategic concept and make important decisions
on the very demanding operation in afghanistan.
the new Strategic concept is nato’s strategy
for dealing with new challenges in an ever chan-
ging security environment. the only thing certain
about the future is that it is uncertain. an alliance
between democratic nations built on common
values continues in my view to be the best insu-
Inga Magistad - Embaixadora da Noruega
rance policy and instrument for dealing with future
security challenges in the transatlantic area. i am
confident that nato’s partnerships will play an
even more important role in the decades to come
and that nato will continue to be the arena for
trans-atlantic dialogue.
First of all i am convinced lisbon will be a won-
derful venue for the Summit. the city has so
much to offer and i hope the delegates will have
time to step out of the meeting rooms and enjoy
this beautiful and historic city. as i mentioned the
key deliverable from the Summit will be the new
Strategic concept. this will be yet another miles-
tone in nato’s history, and may i add at a very
important juncture. the world and nato’s security
environment looks very different today than what it
did when nato’s current Strategic concept was
agreed in 1999. i am confident that nato will con-
tinue to make bold decisions and adapt its strategy
to the challenges of the 21st century.
as a non eU member norway does not have any
strong opinions on the summit between the eU
and the US. in general, however, we are pleased
to see that there is close cooperation and fruitful
exchanges of views between our two closest part-
ners in security policy and economic relations. ■
Dossier Nato
I am confident that NATO will
continue to make bold decisions
and adapt its strategy to the
challenges of the 21st century.
21 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010
Lithuania joined the nato in the group of 7
central and eastern european nations on the
29th of march 2004. by this act, a longstanding
dream of lithuania came true: our country be-
came a member of the defensive alliance of the
democratic states, based on respect of sove-
reignty, territorial integrity, human rights, rule of
law and other democratic principles. lithuania
needed it to secure its regained freedom and
independence.
although security of the country and collective
defense are the two major factors which brou-
ght lithuania to the nato, we clearly unders-
tand that we can’t be merely consumers of
security, which is provided by the organization.
We also have strong obligation to contribute
to international security. that’s why lithuania
sent hundreds of troops and police forces to the
“hot spots” of the world: afghanistan, iraq, the
balkans. already 5 years lithuania leads the
provincial reconstruction team in Ghor provin-
ce in afghanistan.
preparing for the lisbon Summit, lithuania is
participating in a drafting of the nato’s new
Strategic concept, the first to be adopted since
the enlargement of the alliance. in this docu-
Algimantas Rimkunas - Embaixador da Lituânia
ment, lithuania, as well as other nato mem-
bers, the collective defense would like to see as
the core function of the alliance. the commit-
ments of article 5 of Washington treaty, which
in fact mean reassurance within the nato,
have to be supported by practical measures.
only safety and security of all members of the
alliance can assure its successful external
action and relationship with non-member coun-
tries.
nowadays the world is facing the new uncon-
ventional threats, such as terrorism, piracy,
potential energy supplies disruptions, cyber
crimes etc. in a new Strategic concept, lithua-
nia supports the development of the nato ca-
pabilities to respond to these new challenges,
especially clear alliance’s role in the area of
energy security. but it is imperative that this not
be done at the expense of its core function.
lithuania strongly supports nato’s open door
policy, which is a crucial contribution to the
security and stability in euro-atlantic region.
enlargement of the alliance is a vivid political
process between the nato and aspirant coun-
tries and should remain such, guided by the
article 10 of Washington treaty. in this respect,
lithuania is of the opinion that, according to
bucharest nato Summit decisions, the status
of Georgia and Ukraine, as future members of
the alliance, should be correctly reflected in
nato’s new Strategic concept. ■
Dossier Nato
Nowadays the world is facing
the new unconventional threats,
such as terrorism, piracy, poten-
tial energy supplies disruptions,
cyber crimes etc.
22 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010
Ivan Petrov - Embaixador da Bulgária
As novas realidades geo-estratégicas coloca-
ram perante a nato novas tarefas, respon-
sabilidades e incumbências. criada em 1949
com o objectivo de defender a liberdade e a
segurança dos seus membros, a organização
passou por várias provações e transformações.
Durante o período da guerra fria, que durou até
1989, a nato garantia a segurança aos países
ocidentais e mantinha os valores e os princípios
democráticos. nos anos 90, o propósito fun-
damental era o projecto duma europa unida e
livre. nesse período, pela primeira vez a nato
envolveu-se em acções militares nos balcãs,
o que contribuiu para a estabilização duradou-
ra nesta parte do mundo. o fim da guerra fria
criou possibilidades para o desenvolvimento
duma série de parcerias com os países da
europa central e do leste e com a rússia, o
que tornou a europa mais segura e estável. o
alargamento da aliança contribuiu para o alar-
gamento da zona da estabilidade e incrementou
a capacidade de resposta aos novos desafios
face à segurança.
atravessando os umbrais do século XXi, a alian-
ça enfrentou novos desafios, imprevisíveis e
assimétricos pela sua natureza como, por exem-
plo, crises regionais e conflitos provocados por
confrontos étnicos, políticos e doutra índole em
vários países e regiões do mundo, acções ter-
roristas, criminalidade organizada, proliferação
de armas de extermínio em massa, destruição
de infra-estruturas do sector energético, ciberas-
saltos, pirataria. a necessidade de encarar as
novas realidades e desafios face à segurança
pressupunha em muitos casos acções da nato
fora da área euro-atlântica tradicional, como
aconteceu no afeganistão, no Golfo de ádem e
no paquistão, entre outros. as novas condições
de segurança, a urgência duma adopção de
abordagens adequadas para resolver os novos
riscos e ameaças, bem como a alteração dos
imperativos defensivos implicam uma transfor-
mação dinâmica das capacidades militares da
nato, a procura de novas iniciativas para o
desenvolvimento das parcerias, consultas mais
intensas na esfera da segurança e uma estrutu-
ra mais eficiente da aliança.
o Futuro da nato como organização interna-
cional
em maio último, foi publicado um relatório do
grupo de peritos reunido pelo Secretário-Geral
da nato, com base no qual será elaborado ➤
Dossier Nato
O fim da guerra fria criou possibilidades
para o desenvolvimento duma série de
parcerias com os países da Europa
Central e do Leste e com a Rússia, o que
tornou a Europa mais segura e estável.
23novembro/dezembro 2010 - diplomática •
➤ um projecto para um novo conceito estratégico
da aliança. espera-se que o documento seja
aprovado na cimeira da nato em lisboa, onde
se dará resposta às questões relacionadas com
o futuro da organização. o relatório dos peritos
delineou as direcções estratégicas fundamen-
tais da actividade da nato nos próximos dez
anos. a nato manterá a sua função central,
registada no artigo 5º do tratado da nato,
nomeadamente, a defesa colectiva, inclusive o
desenvolvimento de capacidades militares de
confiança, planeamento e logística. continua a
ser tarefa primordial a defesa contra ameaças
não-convencionais (terrorismo, proliferação de
aem, combate à pirataria, aos ciberassaltos,
etc.) que possam surgir muito além das frontei-
ras da aliança. a realização bem-sucedida das
operações pelo mundo fora e sobretudo a mis-
são no afeganistão será de suma importância
para o prestígio da aliança no futuro. a aposta é
grande e os aliados e os parceiros evidenciam
sérios esforços para cumprirem esta missão
com êxito.
o novo conceito estratégico tem de afirmar que
a nato não ficará sozinha no caminho por que
enveredou, mas sim poderá contar com o apoio
dos seus parceiros, antigos e novos, para a
solução de problemas-chave da segurança. «a
porta da nato» tem de continuar aberta para
novos membros como mecanismo e contributo
para a segurança colectiva. o desenvolvimen-
to das parcerias permitirá que a organização
opere e encontre soluções em situações de
crise. É sobretudo importante manter o diálogo
e a cooperação com a rússia como garantia da
segurança na área euro-atlântica.
Uma política nuclear de confiança e a manuten-
ção de reservas de forças nucleares contribuirá
para o processo da contenção nuclear global
na zona da segurança. o desenvolvimento dum
sistema da nato para uma defesa territorial
antimíssil será uma resposta eficiente às amea-
ças de ataques com mísseis balísticos.
tendo em vista o facto de que hoje em dia
a segurança não se associa unicamente ao
cumprimento das tarefas militares, a nato, em
conjunto com as outras organizações inter-
nacionais, terá de aplicar no futuro uma nova
abordagem abrangente na gestão das crises,
conjugando elementos militares e civis.
Quanto às expectativas relativas à próxima
cimeira
esperamos que a cimeira da nato em lisboa
se torne um fórum de discussões intensas e
soluções de problemas-chave da ordem do dia.
atribuímos uma relevância especial à aprova-
ção do novo conceito estratégico, a respeito
do qual temos a esperança de que reafirme os
valores e os princípios básicos da aliança, in-
clusive do artigo 5º do tratado de Washington,
a relação transatlântica, bem como de que dê
continuação à política das «portas abertas» e à
responsabilidade assumida nos balcãs. consi-
deramos que a nato deve prestar uma aten-
ção séria à região do mar negro como parte
indivisível da segurança euro-atlântica.
o desenvolvimento das parcerias é uma res-
posta eficaz aos desafios na área da segurança
no séc. XXi. as relações com a rússia devem
assentar numa colaboração construtiva para
a solução de questões estratégicas da segu-
rança. a nato deve adoptar uma abordagem
concertada, no que respeita à segurança ener-
gética, sublinhando o seu papel político, desen-
volvendo paralelamente capacidades de operar
«dentro» e «fora» da área da responsabilidade
da aliança. a integração mais rápida dos novos
membros da nato nas estruturas estratégicas
garantirá o cumprimento mais pleno das tarefas
comuns. os diferentes desafios e ameaças que
enfrenta a nato exigem esforços abrangen-
tes e bem coordenados dum amplo leque de
participantes: da esfera civil e militar, de orga-
nizações não-governamentais, bem como uma
colaboração eficiente com as organizações
internacionais.
tal como os outros aliados, também a bulgária
compartilha a sensação de ameaça, sendo que
o flanco sul se revela o mais vulnerável. isto é
um estímulo poderoso para que a aliança siga
em frente no desenvolvimento de capacidades
de defesa antimíssil. ■
24 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010
Jaroslav Jarúnek - Embaixador da República Eslovaca
Apesar das mudanças na ordem geopolítica
mundial, a relevância da existência da nato é
indiscutível. a aliança é o maior grupo de defe-
sa global e o seu papel estabilizador no mundo
é de primordial importância. para a eslováquia
a nato é uma das prioridades da sua política
externa e de defesa. Dadas as mudanças no
mundo, é necessário responder a estes desa-
fios e adaptar-se às novas condições. neste
contexto, terá particular importância a adopção
do seu novo conceito estratégico na cimeira de
lisboa, mantendo o artigo 5 do tratado de Wa-
shington no âmbito da defesa comum. na nova
estratégia a aliança atlântica deveria ter em
conta também as novas formas de ameaças po-
tenciais, a proliferação de armas de destruição
maciça, a luta contra o terrorismo, os ataques
cibernéticos ou de pirataria, que também são
novos desafios. Finalmente, mas não menos
importante é a segurança energética.
a relevância da nato deveria ser confirmada
também mediante o sucesso futuro da iSaF no
afeganistão, onde a república eslovaca tam-
bém participa com as suas forças armadas. no
entanto, vai levar o seu tempo, pelo que não
antevejo resultados significativos a curto prazo,
mas será crucial para gradualmente entregar
aos afegãos, às suas forças armadas e da polí-
cia a responsabilidade pelo seu próprio país. Só
então será possível a nato retirar-se do país.
claro, que para o sucesso da operação será
importante também a dimensão civil, a constru-
ção do país de tal maneira que os talibãs sejam
derrotados, não só fisicamente, mas principal-
mente na mentalidade da população nacional.
outros desafios para a aliança serão a procura
de novas parcerias no âmbito da nova ordem
global, incluindo a cooperação pragmática com
a rússia. acredito que a todos estes desafios,
a aliança responderá com o novo conceito es-
tratégico durante a próxima cimeira em lisboa.
para a república eslovaca as relações com os
eUa são de uma importância extraordinária, os
laços transatlânticos estão entre as prioridades
da política externa da eslováquia e, com respei-
to a isso consideramos a próxima cimeira Ue /
eUa de particular relevância. os eUa são para
nós não só um importante parceiro comercial,
mas sobretudo um dos principais investidores
estrangeiros. a reunião deveria conduzir a um
alargamento da cooperação de ambos os lados
do atlântico em todas as áreas. os resultados
positivos da cimeira ajudarão a enfrentar os ac-
tuais desafios, na área da política, da economia
e do comércio mútuo, estabilização dos merca-
dos financeiros, dos transportes e outros. Será
importante encontrar posições comuns e equili-
bradas sobre as questões tratadas no G20, no
domínio das mudanças climáticas e procurar
compromissos mutuamente benéficos. ■
Dossier Nato
Dadas as mudanças no mundo, é ne-
cessário responder a estes desafios e
adaptar-se às novas condições
26 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010
João Mira Gomes por antónio manuel pinho, fotos de andré Garrido
Embaixador de Portugal na NATO
“Gostaríamos de reduzir o nível da presença militar no Afeganistão, mas mais do que ter datas é ter objectivos”
Diplomata de carreira, o recém-nomeado embaixador de Portugal na NATO foi
Secretário de Estado no primeiro governo de Sócrates, ex campeão nacional
de Ténis, motard, corredor de automóveis e, até, participante na etapa para
amadores da Volta a Portugal em Bicicleta ➤
Diplomacia na 1ª pessoa
Entrevista
27novembro/dezembro 2010 - diplomática •
➤ João mira Gomes recebeu-nos em
sua casa, no estoril, seis dias antes
de iniciar funções (27 de Setembro).
na agenda, como seria evidente,
está a cimeira da nato de novem-
bro, em lisboa, bem como o proces-
so de reorganização da nato sob
um clima de crescente contestação
à presença militar no afeganistão.
O senhor embaixador foi repre-
sentante de Portugal no Comité
Político e de Segurança da União
Europeia, foi também secretário
de Estado da Defesa do anterior
governo, mas não corresponde ao
padrão típico de um político…
eu, na realidade, não sou político.
Sou um funcionário da carreira
diplomática do ministério dos ne-
gócios estrangeiros, a minha pas-
sagem pela política foi episódica –
embora tenha gostado muito dessa
experiência -, mas foi apenas uma
experiência de três anos e meio, e
sabendo, quando nela entrei, que
iria sair da política e regressar à
minha carreira, que é a carreira
diplomática.
E quando começou a sua carrei-
ra?
Fiz concurso de adido de embaixa-
da, em 1983, comecei a trabalhar
no ministério em finais desse ano. o
meu primeiro posto diplomático no
estrangeiro foi, de facto, a nato,
em 1987.
Já é reincidente…
(risos) Sou reincidente, embora
em circunstâncias diferentes. mas,
pelo meio, quando tivemos a nos-
sa primeira presidência da União
europeia, estive na missão de
monitores, em zagreb, numa missão
de observadores durante a guerra
da ex Jugoslávia. depois, regressei
à nato, ainda, durante uns meses,
e fui para macau onde fui assessor
diplomático do governador rocha
vieira. estive aí três anos e voltei
para lisboa, para preparar a presi-
dência da União europeia de 2000;
depois, estive um ano à frente da
embaixada em Sófia e, a seguir, fui
para paris.
Sófia é uma cidade fascinante.
É, é. e por duas razões. porque a
bulgária talvez fosse dos países
mais ortodoxos dentro do pacto de
varsóvia, mas também é fascinante
porque é um cruzamento de cultu-
ras. eles são eslavos mas têm uma
grande presença turca que, aliás,
não recordam com particular agra-
do. mas é, de facto, um sítio onde
se cruzam várias culturas, várias
populações. É um corredor de trân-
sito da ásia para a europa. e, nessa
altura, foi ainda mais interessante
estar em Sófia porque era uma
época de grande transição, coincidiu
com o regresso do rei Simeão – que
participou nas eleições e acabou por
ganhar. e, portanto, foi uma experi-
ência de um ano muito interessante.
Para si foi, mas para o rei nem
tanto…
(risos) mais tarde, de facto, foi
menos interessante para o rei. aliás,
tive vários contactos com ele, que
gosta muito de portugal, onde a sua
própria mãe viveu. ele episodica-
mente passou por cá e fala portu-
guês.
Portugal teve sempre essa tradi-
ção de ser uma espécie de placa
giratória de famílias reais apea-
das.
portugal e, mais particularmente,
aqui o estoril. a quatrocentos me-
tros daqui fica a villa Giraldo, que foi
residência dos condes de barcelo-
na; um pouco mais perto era a casa
do rei carol da roménia; um pouco
mais acima era uma casa para onde
veio o Fulgêncio batista, quando se
deu a revolução cubana…
O mais terrível, aqui no Estoril, foi
dar guarida a essa personagem.
(um discreto sorriso) … em cascais
esteve o rei Humberto.
mas, continuando, houve essa
passagem por Sófia, depois paris
– onde fui o número dois da embai-
xada, com o embaixador antónio
monteiro. e, logo a seguir, para
bruxelas, como já referiu, para o
comité político e de Segurança da
União europeia. e, quando estava
lá há menos de um ano a preparar
a nossa presidência de 2007, tive o
convite para ir para o governo como
Secretário de estado da defesa e
dos assuntos do mar, onde trabalhei
com o professor nuno Severiano
teixeira, mas sempre sabendo que
iria regressar à carreira diplomática.
Um bocado na linha daquelas
coisas que, às vezes, fazemos
na vida e só queremos fazer uma
vez. Vou usar uma figura de es-
tilo: foi uma espécie de salto de
pára-quedas?
(risos) não, não foi. não foi assim
que encarei. nós, muitas vezes,
criticamos os governos, os políticos,
as políticas … mas, de facto, nun-
ca temos a responsabilidade de as
conduzir. e, quando se é colocado
perante o desafio que, obviamente,
tem riscos e inconvenientes e se
diz que não, acho que nós depois
temos menos legitimidade para criti-
car quem governa. portanto, foi isso
que pensei. “tenho aqui um desafio,
para trabalhar com uma pessoa que
conheço” – de quem sou amigo e
considero muito -, coloquei várias
condições para aceitar o desafio,
essas condições foram aceites e,
depois, ia dizer o quê? “não, muito
obrigado, não quero correr esses
riscos?” e foi basicamente por aí
que aceitei, num espírito de mis-
são e de serviço público. e gostei,
também pela área da defesa, que
já conhecia – embora sem a pro-
fundidade que decorre do exercício
de funções governativas -, mas
também pela área dos assuntos do
mar, um sector muito interessante e
estratégico para o desenvolvimento
do país e para afirmação de portu-
gal no mundo. aliás, costumava ➤
28 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010
➤ dizer que este projecto do mar e,
sobretudo a extensão da plataforma
continental, vai ser tão importante
no século XXi como foram os desco-
brimentos nos séculos Xv e Xvi.
vai ser absolutamente decisivo para
o crescimento económico e para a
criação de emprego.
E é também um regresso às
origens da nossa História, essa li-
gação ao mar que, durante muitos
anos, foi muito maltratada.
Foi tratada, digamos, de uma forma
muito tradicional. Sempre olhamos
para o mar ligado às actividades
tradicionais. e as novas fronteiras
do mar são cada vez maiores. ainda
temos um conhecimento ínfimo
daquilo que ele nos pode dar.
portanto, é um regresso ao mar mas
com novos horizontes, sem descu-
rar as actividades tradicionais que,
hoje em dia, têm um peso diferente,
mas apostando nas novas oportu-
nidades, nos novos produtos que o
oceano nos pode dar. e, durante a
presidência portuguesa em 2007,
promovemos o lançamento da polí-
tica marítima europeia, depois, dois
anos mais tarde, lançamos a estra-
tégia da cplp para os oceanos, e
apresentamos a nossa proposta de
extensão da plataforma continental,
em nova iorque – dentro dos prazos
e dentro do orçamento –, o que
também é muito importante. Foi um
período muito interessante e enri-
quecedor.
Bom, passe a expressão, vamos
entrar pela NATO adentro. Têm-se
manifestado várias vozes – e não
me refiro só àquelas tradicional-
mente contrárias à organização
– que questionam a necessidade
da sua existência. Isto, principal-
mente, após a queda do muro de
Berlim e o colapso dos regimes
da órbita soviética e do Tratado
de Varsóvia. Mas, também, por
ordem da importância crescen-
te do Conselho de Segurança
da ONU e, a prazo, da possível
constituição de um exército único
europeu.
isso é uma questão recorrente,
mas temos de enquadrar a questão
em termos do que a nato é hoje
em dia e aquilo que poderá ser no
futuro. como ponto prévio temos de
pensar que, de facto, era muito mais
fácil conceber a organização num
cenário de guerra fria.
Foi assim que ela nasceu…
exactamente. mas também de-
vemos pensar – e nós somos da
geração que viveu esse período –
que sem a nato nós não teríamos
tido o período de prosperidade que
tivemos na europa, e sem essa
estabilidade ao longo dessas dé-
cadas da guerra fria não teria sido
possível, por exemplo, desenvolver
a União europeia como desenvol-
vemos. porque, de facto, a nato e
os americanos eram uma garantia
de estabilidade e de segurança para
os europeus – que são condições
essenciais para o desenvolvimento
económico.
com a queda do muro de berlim –
na qual a nato teve um importante
papel -, de facto, colocam-se novos
desafios. mas penso que a organi-
zação soube responder, porque logo
no ano seguinte – isto em 90 – foi
lançada a política da amizade e
cooperação, foi feito o convite para
os ex-países do pacto de varsóvia
estabelecerem relações diplomáti-
cas com a nato, mais tarde com a
integração de três deles. e, logo aí,
tentou fazer-se essa adaptação às
novas condições, aprovou um novo
conceito estratégico, em 91, que era
uma alteração profunda daquilo que
era nos anos 60 – este virado para
a confrontação, o de 91 virado para
a cooperação – e, portanto, come-
çou a abrir-se uma nova via para a
nato.
claro que, com o fim da guerra fria,
também houve uma outra noção,
passada para a opinião pública, de
que já não seria necessário fazer
gastos em termos de forças arma-
das, na defesa, nos equipamentos
militares. Que era uma ideia errada.
obviamente que nos teríamos de
adaptar às novas missões – que
não sabíamos muito bem quais
seriam -, mas não precisávamos de
ter o nível de forças que tínhamos
anteriormente naquele cenário de
confrontação com o pacto de varsó-
via. e, depois, de repente, quando
toda a gente achou que iríamos ter
paz para todo o sempre, rebenta o
conflito na Jugoslávia. primeiro a
guerra no Golfo, depois o conflito na
Jugoslávia.
Conflito esse que foi gerido de-
sastrosamente pela União Euro-
peia.
ninguém estava preparado para
aquilo, nem as nações Unidas
estavam preparadas para gerir uma
crise daquelas dimensões. porque,
aliás, a intervenção militar, com os
capacetes azuis, foi da onU. mas
as pessoas apercebem-se que é
possível haver uma guerra na eu-
ropa, com centenas de milhares de
refugiados, com crimes contra a Hu-
manidade e, aí, a única organização
que estava preparada para poder
começar a tomar conta da gestão
de crise era, de facto, a nato, que
tinha os meios militares e começou
a desenvolver essa nova doutrina
de adaptação para um cenário de
defesa territorial e defesa colectiva,
para poder também empreender
missões de manutenção da paz. e é
essa adaptação que tem vindo a fa-
zer, com a intervenção nos balcãs e
com a intervenção que, agora, está
a efectuar no afeganistão.
o que nós temos de explicar – e
essa sua pergunta é útil – às gera-
ções que nunca viveram a guerra
fria, que não sabem qual foi o papel
da nato, e que acham que a esta-
bilidade é um dado adquirido, ➤
Embaixador João Mira Gomes
29novembro/dezembro 2010 - diplomática •
➤ porque é que temos de continuar a
construir uma rede de segurança co-
operativa com outros parceiros, para
haver mais segurança no mundo e,
por consequência, haver mais segu-
rança na europa. e esse é o nosso
desafio.
É o “novo conceito estratégico”
de que se fala…
Hoje em dia, a nato está de novo
num processo de mudança com
a cimeira de lisboa. e os vários
temas da cimeira são bem elucida-
tivos dessa mudança, desse novo
conceito…
Já lá iremos. Falou da ex Jugos-
lávia e há uma certa ironia nisto,
porque aquele país surge - com
aquelas fronteiras e com aquele
artificial conceito de Estado - no
rescaldo da II Guerra Mundial. E
vem, de alguma forma, ressalvar a
ideia de que fronteiras e Estados
construídos a régua e esquadro
não têm muitas possibilidades
de sobrevivência. E, morrendo
Tito, que era o garante da unidade
jugoslava, o país implodiu.
conheci bem a Jugoslávia porque
estive lá em 92 e, depois disso, em
96, fui o coordenador do ministério
para todas as questões dos balcãs.
de facto, a Federação Jugoslava
nasce no pós-guerra, decorrente da
força do marechal tito e do movi-
mento partizan, tem de reparar al-
gumas feridas por causa do regime
fascista da croácia, mas também
havia outra coisa que preservou a
Jugoslávia. com a saída do país do
pacto de varsóvia, havia uma ame-
aça exterior soviética que mantinha
a Jugoslávia unida. em 89, com a
queda do muro de berlim, os nacio-
nalismos que sempre existiram vie-
ram ao de cima, sobretudo com uma
conjugação histórica nefasta que foi
haver três dirigentes nacionalistas
muito fortes que coincidiram nesse
período. e isso foi fundamental para
o desastre que conhecemos.
mas tivemos outros exemplos, na
europa, de repartição de um país,
que foram pacíficos. a checoslová-
quia, por exemplo. portanto, teria
sido possível, na minha opinião,
também negociar isso se houvesse
tempo, se houvesse vontade políti-
ca e, sobretudo, se a comunidade
internacional estivesse preparada e
unida – porque havia uma grande
divisão sobre a questão jugoslava –
para gerir essa crise.
Até porque havia a ideia de que
essas coisas dos conflitos arma-
dos eram lá para África e para a
América Latina.
Houve países que se adiantaram
no reconhecimento da croácia, e
isso criou uma dinâmica que foi
muito difícil parar. Se estivéssemos
mais preparados e tivéssemos os
instrumentos de gestão de crise que
temos hoje, poderíamos ter evitado
a guerra na Jugoslávia.
vamos agora ao afeganistão, que
há quem o defina como o atoleiro e
considere que o controlo internacio-
nal é muito precário e muito circuns-
crito a cabul. e há também quem
diga – meio por laracha, meio a
sério – que Hamid Karzai é o presi-
dente, mas da câmara de cabul. e,
depois destes anos de ocupação, o
problema afegão não está de forma
nenhuma resolvido, não consegui-
ram erradicar a ameaça talibã e o
país está, de alguma forma, trans-
formado numa placa de produção e
circulação de tráfico de drogas. não
seria melhor sair de lá e fechar a
porta?
primeiro há uma expressão sua da
qual tenho de discordar, que é a
“ocupação” do afeganistão. não há
ocupação nenhuma, há uma ope-
ração internacional com o mandato
das nações Unidas, com o consenti-
mento e a participação das autorida-
des afegãs.
Eu estava a usar a expressão que
é utilizada pelos críticos.
mas, na minha opinião, não há
uma ocupação do afeganistão. por
outro lado, há uma percepção clara,
junto da opinião pública europeia
e dos decisores europeus – isto é,
da comunidade internacional – que
o afeganistão é importante para
a segurança dos nossos países.
isto é, para nós portugal, a nossa
segurança e a das alianças de que
fazemos parte passa pelo sucesso
da operação naquele país. agora,
esta operação não é de natureza
militar.
Mas foi inicialmente.
Foi, mas evoluiu para um outro tipo
que tem, também, componentes
civis de desenvolvimento humano,
económico e social. portanto, tem
vários actores e esta estratégia da
comunidade internacional tem que
ser coordenada – e que também
inclua os países vizinhos. porque
o problema do afeganistão – dos
talibãs e da al-Qaeda – não é
circunscrito às suas fronteiras. e
a nato tem aqui um papel mui-
to importante, que é o de criar as
condições militares de estabilidade
que permitam desenvolver as outras
vertentes deste processo afegão.
mas isso passa não só pelo controlo
do território.
Controlo esse que não está a ser
conseguido.
esse controlo tem, também, de ser
feito com as forças afegãs e essa
é a segunda parte da missão da
nato. a primeira é uma missão
militar típica, uma outra segunda é a
missão de treino do exército nacio-
nal afegão e, ao mesmo tempo, o
treino das forças policiais para que
eles próprios possam começar a ter
o controlo do seu território. Sabe-
mos que há zonas em que é mais
difícil do que em outras, que há
zonas onde a nato este sob mais
pressão nas suas operações diárias.
estive lá, vi isso. em cabul circula-
se com segurança mas com escolta ➤
30 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010
➤ armada bastante grande, porque
de facto a parte do controlo territorial
e a assunção de responsabilidades
pelas forças afegãs está a ser mais
lento do que aquilo que gostaría-
mos. e também gostaríamos que o
próprio governo afegão fosse mais
eficaz na sua acção, no combate à
corrupção, nos índices de governa-
ção e pudesse ter uma governação
sobre todo o território, que neste
momento é ineficiente.
Mas há a ideia, fundamentada em
situações concretas, do envol-
vimento de pessoas ligadas ao
governo no tráfico de droga, na
corrupção. E, há pouco tempo, vi
um documentário sobre um hos-
pital, construído com a ajuda in-
ternacional, que três anos depois
estava a cair aos bocados – um
hospital supostamente de topo.
isso é um desafio que nós temos
em muitos países em que há ajudas
ao desenvolvimento, onde situações
dessas ocorrem porque as autorida-
des locais, muitas vezes, não estão
preparadas. mas, em minha opinião,
a estratégia passa por ter um gover-
no afegão cada vez mais forte, com
governos provinciais mais fortes,
em assegurar o desenvolvimento
económico, em criar condições de
vida à população – que lhe permita
sair daquele circuito terrível que é o
do cultivo da papoila que, de facto,
é o que faz andar o afeganistão nas
zonas tribais. temos de criar alter-
nativas e não é a nato que as cria. ➤
Embaixador João Mira Gomes
31novembro/dezembro 2010 - diplomática •
➤ Alternativas, até, do ponto de
vista da produção agrícola.
exactamente. e isso é uma função
da comunidade internacional, não
é a nato que tem de se ocupar
dessa área. a organização tem uma
operação militar em curso, tem de
criar as condições de segurança e
tem que ajudar a treinar as forças
afegãs, mas há outros actores,
nomeadamente as nações Unidas
com as suas agências, a União eu-
ropeia que também está no terreno,
e os próprios parceiros regionais
que têm de ajudar nessa matéria.
o desafio no afeganistão é de toda
a comunidade internacional, não
é um desafio só da nato. Se não
tivermos sucesso, os primeiros pre-
judicados são os próprios afegãos,
os segundos serão os vizinhos, mas
nós também seremos afectados por
isso – não só na nossa credibilidade
como na nossa segurança.
Há alguma previsão definida de
saída das forças internacionais?
não, não há datas definidas…
Mas parece haver vontade por
parte da administração americana
para resolver – bom, numa primei-
ra linha, a questão do Iraque – o
atoleiro afegão.
Gostaríamos de reduzir o nível da
presença militar no afeganistão,
mas mais do que ter datas é ter
objectivos, porque essa redução
tem de ser em função de uma
análise das condições no terreno e
das condições políticas e outras. É
essa análise que está regularmente
a ser feita para permitir definir se,
efectivamente, se há condições
para baixar gradualmente o nível da
presença militar, ou não. e este ano
foi muito complicado, com eleições,
sabíamos que ia ser um período
de grandes tensões. vamos ver se
2011 pode ser um ano de normaliza-
ção da situação.
Não lhe parece haver alguma
pressa de Washington em resol-
ver o problema?
Houve afirmações do presiden-
te obama nesse sentido, de que
gostariam de ter no horizonte um
calendário de redução da presença
militar no afeganistão, mas isso
ainda não foi discutido pelos aliados
e, recentemente, o general petreus
afirmou que temos de continuar a
assegurar a coesão e unidade de
todos os que estão no afeganistão.
para alguns países tem sido muito
duro, com um número de baixas
elevado. devemos compreender
isso, começa a haver um desgaste
da opinião pública desses países.
Ainda para mais quando não se
vislumbra nenhuma solução para
o problema. Mesmo alguns, que
apoiaram inicialmente a interven-
ção, vêm agora dizer que o pro-
blema é irresolúvel.
mas, a esses, podemos responder
recordando qual foi o resultado do
desinvestimento internacional no
afeganistão. Que resultou naquilo
ser um santuário…
Curiosamente apoiado por secto-
res da comunidade internacional,
nomeadamente as administrações
norte-americanas.
até determinada altura.
O aliado de hoje pode vir a ser o
inimigo de amanhã.
o resultado foi transformar o país
num santuário do terrorismo interna-
cional, num santuário da al-kaeda,
com ramificações em várias regiões
do mundo. É isso que estamos a
combater, é isso que não podemos
deixar que se repita.
Sabemos que o território é difícil, a
própria História do país é difícil, há
muitas divisões étnicas e tribais… É
complexo. mas se os próprios afe-
gãos e o governo não tiverem capa-
cidade para inverter isso, estaremos
numa situação muito mais difícil.
Tenho mais duas questões para
lhe colocar, e uma delas tem a
ver com a Cimeira da NATO de
Lisboa. As perspectivas quanto
a ela, nomeadamente essa ideia
do “novo conceito estratégico”.
É uma cimeira só para marcar
calendário?
não é para marcar calendário. lis-
boa vai ser um marco importante na
história da nato.
Está, também, prevista uma
contra-cimeira…
mas isso é natural. penso que vai
haver uma fase antes de lisboa
e uma fase nato após lisboa. e
é significativo que a nossa capital
tenha sido escolhida para esta
cimeira. como sabe, portugal é
um país fundador da organização,
mas um elemento muito importante
desta cimeira e do novo conceito
estratégico é a abertura e o reforço
da relação com outros parceiros
internacionais. passar essa mensa-
gem em lisboa é muito interessan-
te para a nato e muito relevante
para portugal, porque lisboa é uma
cidade que está virada para vários
destinos e para outras parcerias
que o nosso país cultiva há muito
tempo. designadamente, as par-
cerias com o magreb, através do
desenvolvimento do diálogo medi-
terrânico que existe na nato, as
parcerias com áfrica, as parcerias
com o atlântico sul, nomeadamente
o brasil. e, naturalmente, continuar
a privilegiar um dos pilares funda-
mentais da nato que é a coope-
ração transatlântica. Sendo que o
outro pilar é o europeu, através da
cooperação com a União europeia.
Fazer isto em lisboa, com tudo o
que nós temos de relacionamento
com essas partes do mundo, com
tudo o que implica também a nossa
participação na União europeia, é
muito interessante.
a nato após lisboa vai ser uma
reafirmação daquilo que são os prin-
cípios fundamentais da organização,
portanto, a defesa territorial com
base na cláusula de ➤
32 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010
➤ solidariedade e ajuda mútua con-
signadas no artigo 5º do tratado de
Washington; vai ser a continuação
da readaptação das forças da nato
para as missões de gestão de crises
– que já estamos a fazer no afega-
nistão e nos balcãs -, mas apren-
dendo com as lições dessas mis-
sões, e uma delas é que temos de
ter uma estratégia mais global que
combine os elementos militares com
os elementos civis. a nato após
lisboa também será um elemento
muito importante de reforço da con-
sulta política face às novas ame-
aças. e essas ameaças vão para
zonas com as quais a nato, nor-
malmente não se ocupava, como,
por exemplo, a cibersegurança, as
questões ambientais e as parcerias.
e, nessas parcerias, é decisivo a
União europeia como parceiro estra-
tégico. têm havido condicionantes
políticas que impediram o desenvol-
vimento dessa parceria.
A mudança da administração
americana veio ajudar?
esta nova administração valoriza
mais o multilateralismo e a consulta
e concertação com os europeus.
portanto, é natural que o primeiro lu-
gar onde se sinta isso seja a nato.
mas, na relação com a União euro-
peia, também houve uma evolução
da posição americana que, aliás, já
se começara a verificar ainda com
a administração bush. porque, ao
invés de pensarem que o desen-
volvimento de políticas de segu-
rança europeia seria uma ameaça
à nato, começaram a pensar que
isso poderia servir para o reforço da
organização.
persiste, no entanto, uma condicio-
nante política que tem a ver com a
questão de chipre que impede o
desenvolvimento político e institucio-
nal desta parceria. mas têm havido
progressos.
Outra situação praticamente irre-
solúvel…
temos de ter esperança. também
ninguém acreditava que o pacto de
varsóvia ia acabar e que o muro de
berlim ia cair. e há alguns elemen-
tos na situação de chipre que nos
permitem ter essa esperança. por
exemplo, o último referendo cons-
titucional na turquia talvez possa
criar algumas condições favoráveis
à resolução do problema. mas isto
para dizer que essas parcerias, em
lisboa, vão ser um elemento muito
importante da cimeira. parceria com
a União europeia, mas também par-
ceria com a rússia. aliás, foi feito
um convite ao presidente medvedev
para uma cimeira nato-rússia aqui
em lisboa.
E foi aceite o convite?
ainda não temos resposta. nós,
portugal, gostaríamos muito que
essa reunião tivesse lugar porque
achamos que a rússia é um parcei-
ro estratégico para a nato e para
a europa. e há uma agenda comum
em várias áreas, o que só reforça a
necessidade de cooperação. co-
meçando, por exemplo, pelo com-
bate ao terrorismo e à proliferação
nuclear.
Para terminar, um tema recorren-
te. O comando da NATO em Oei-
ras vai implodir ou vai manter-se?
Implodir, passe a expressão. Que
não seja entendido como incita-
mento a um ataque terrorista…
(risos) não, não. aliás, portugal é
um país bastante seguro. e isso
contou, seguramente, para a es-
colha de lisboa como a capital da
cimeira.
Porém, com um sistema de segu-
rança apertadíssimo.
mas tem que haver, não há maneira
de organizar estas cimeiras de outra
forma. aliás, penso que haverá a
tendência para fazer estas cimeiras
nas sedes das organizações, porque
os esquemas de segurança já estão
montados e, além do mais, é mais
barato.
mas, voltando a oeiras, um dos te-
mas que vai estar aqui em aprecia-
ção é a agenda de reformas internas
da nato.
O Secretário-Geral, Rasmussen,
parece sensível à ideia de acabar
com o comando de Oeiras.
Há um grupo de altos funcionários
que tem estado a trabalhar para
apresentar um relatório sobre uma
matriz de comandos. portanto, sem
haver ainda uma discussão sobre
a localização geográfica desses
comandos. Há dois comandos es-
tratégicos, depois há comandos de
segundo nível – que são de forças
conjuntas -, de terceiro nível… e
por aí abaixo. não existe, ainda,
uma proposta para apresentar na
cimeira, ainda está a ser trabalha-
da. neste momento é prematuro
dizer se oeiras vai continuar ou
não. o que nós sabemos é que,
actualmente, o quartel de oeiras
realiza missões muito importantes
para a nato.
Nomeadamente…
nomeadamente, o comando da
operação naval de combate à
pirataria na Somália. e é um quar-
tel que tem custos comparativos
relativamente baixos, tem um bom
apoio da nação hospedeira, isto é,
portugal. e é um quartel que tem
uma grande capacidade de projec-
tar elementos de comando. para
além de ter uma posição geográfica
– como já falamos – de aproxima-
ção com os novos parceiros. oeiras
tem muitas vantagens, vamos ver
quando for aprovada essa estrutura
de comandos onde iremos aplicar
essa matriz.
está tudo em aberto, sabendo
nós – e isto é uma mensagem que
também se deve passar – que a par-
ticipação de portugal na nato não
se resume a oeiras. É muito mais
vasta que oeiras. mas estamos em-
penhados para que a bandeira da
organização continue por cá. ■
Embaixador João Mira Gomes
34 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010
Allan Katz por maria da luz de bragança, fotos de pedro t. cardoso
Embaixador dos Estados Unidos da América em Portugal
“Portugal é um membro dedicado da Nato e um aliado que pode contribuir para o desenvolvimento das nossas boas relações com a África e o Brasil” ➤
Diplomacia na 1ª pessoa
Entrevista
35novembro/dezembro 2010 - diplomática •
➤ Nascido em 1947 em St. louis,
no estado do missouri, é embai-
xador dos estados Unidos em
portugal desde março de 2010.
allan Katz, formado em direito
– Juris doctor – pela american
University of Washington – col-
lege of law, com um curriculum
invejável como jurista, conse-
lheiro governamental e adminis-
trador de empresas, é membro
do comité democrático nacional
tendo colaborado na comissão de
Finanças da campanha obama
for america e ajudado a redigir o
programa para a convenção na-
cional do partido democrático em
2008. premiado com o “champion
for climate change”; “the best
lawers in américa for insurance
law” e chambers U.S.a, tem em
portugal o seu primeiro posto
como embaixador.
a “diplomática” foi conversar com
este homem de excepção que,
junto com a sua mulher, a embai-
xatriz nancy cohn, formada pela
University of miami-Sociology/
antropology, senhora dada às
causas humanitárias e à cultura,
nos revela um casal que se com-
pleta em bom senso e simpatia,
levando-nos a concluir que portu-
gal terá muito a beneficiar com a
sua presença.
Uma questão prévia, é Embaixa-
dor porquê? Foi escolhido por
quem?
allan Katz - trabalhei intensa-
mente na campanha do presiden-
te obama que, em novembro de
2009, me nomeou para represen-
tar os estados Unidos em portu-
gal. confirmada esta nomeação
pelo Senado, em março deste
ano, tanto eu com a minha mulher
ficamos muito, muito felizes com
este convite até porque ela fala
fluentemente português dado ter
sido durante anos voluntária do
peace corps, no brasil.
Fale-me da importância da Em-
baixada dos E.U.A. em Portugal.
allan Katz - a relação de amizade
entre portugal e os estados Uni-
dos tem uma longa história, des-
de que portugal reconheceu, em
1791, os e.U.a. depois da guerra
da independência. É uma relação
que tem crescido e prosperado
ao longo dos anos. os estados
Unidos também se envolveram na
revolução portuguesa de 1974/75.
a ligação entre os nossos dois
países é mesmo muito forte.
acreditamos que trabalhamos
bem em muitos assuntos e que
portugal é um membro dedicado
da nato e um aliado que pode
contribuir para o desenvolvimento
das nossas boas relações com
a áfrica e o brasil. Sentimo-nos
muito afortunados com as nossas
relações.
E os Açores? A importância
dos Açores nas relações entre
os dois países.
allan Katz - É a mais longa e
continuada representação que os
estados Unidos têm no mundo.
Um contrato muito importante,
também porque a base das lages
torna a ligação entre os nossos
países ainda mais estreita.
O que lhe ocorre dizer sobre
a nova direcção da Fundação
Luso Americana para o Desen-
volvimento (FLAD)?
allan Katz - a Flad é uma or-
ganização muito importante em
muitos sentidos e emblemática
das relações entre os e.U.a. e
portugal. e a nova directora, dra.
maria de lurdes rodrigues, é
uma pessoa muito inteligente e
talentosa. estamos muito felizes
em ter a oportunidade de traba-
lhar com a senhora e, minha mu-
lher e eu próprio já conversamos
com ela sobre o futuro em várias
ocasiões.
Aliás, a Senhora Embaixatriz
abraçou um programa de cul-
tura e arte, apoiando jovens e
promissores artistas portugue-
ses. O programa é independen-
te da FLAD?
nancy cohn - É. apesar de
pequeno, portugal tem muito a
oferecer em matéria de cultura
e arte. o programa é um plano
independente da Flad que pla-
neámos desde Washington. entre
outros projectos de cultura, esta-
mos a trabalhar num catálogo e a
preparar exposições de jovens ar-
tistas portugueses e americanos.
O Senhor Embaixador poderá
dizer-nos quais serão as priori-
dades nas relações com Portu-
gal?
allan Katz - Uma das prioridades
é a Flad, à qual gostaríamos de
dedicar mais tempo e energia.
outra das prioridades é incremen-
tar as relações entre os e.U.a.
e portugal, particularmente em
relação a áfrica e brasil, e estrei-
tar alianças com portugal para
desenvolver relações económi-
cas, particularmente no turismo.
muitos americanos viajam e vêm
à europa mas não conhecem
nem sabem nada de portugal.
Queremos ajudar a desenvolver
o turismo e contribuir para que
saibam como portugal é óptimo
para negócios. Gostaríamos que
muito mais americanos viessem
ao vosso país.
Como vê a posição do Dólar
face ao Euro?
allan Katz - ambos, os e.U.a. e
a maioria dos estados europeus,
estão agora a enfrentar dificul-
dades na sua economia e tudo
deve ser muito bem trabalhado
nos próximos um ou dois anos.
penso que portugal fez grandes
progressos em muitos sentidos
nos últimos 5 anos, lidando bem
com os problemas económicos e
tomando medidas que muitos ➤
36 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010
➤ outros estados europeus não
tomaram, em termos de idade da
reforma, segurança social, funcio-
nalismo público… assim, penso
que portugal está em boas con-
dições a médio e a longo prazo,
mesmo sabendo que as econo-
mias não estejam tão bem como
todos gostaríamos que estivesse.
os estados Unidos também têm
problemas a curto prazo devido a
terem tantas pessoas desempre-
gadas, mas estamos a trabalhar
afincadamente para mudar isso.
Vive-se uma recessão?
allan Katz - não será recessão.
tecnicamente pensamos é que
não estamos a conseguir pôr as
pessoas a trabalhar, não temos
oferta suficiente de trabalho, mas
temos esperança de em breve
colmatar isso. penso que na eu-
ropa acontece o mesmo…e está
a demorar mais tempo do que
gostaríamos que demorasse.
Fale-me do Dólar e do Euro.
allan Katz - o euro ficou muito
caro comparando com o Dólar, o
que é bom para os e.U.a. no sen-
tido da exportação, mas não será
bom para o turismo. agora, com
o euro baixando será bom para
o turismo e não tão bom para o
negócio. a nível de exportações,
é melhor para portugal e para os
países europeus que o euro es-
teja mais baixo. penso que o que
vai acontecer nos próximos um ou
dois anos é que o euro e o Dólar
flutuarão um pouco, mas tende-
mos a ter um valor mais correcto,
ultrapassando esta crise juntos.
muitas pessoas devem entender
que é do interesse dos e.U.a. que
a europa recupere, e é também
do interesse da europa que os
estados Unidos recuperem. os
e.U.a. e a europa devem prospe-
rar juntos porque será muito difícil
prosperarem de costas voltadas.
A EDP comprou uma empresa
de energia eólica nos Estados
Unidos. O que pensa das ener-
gias renováveis?
allan Katz - portugal está no di-
reito de sentir muito orgulho pelo
que tem feito no sector da ener-
gia. o “times”, de há uns meses,
diz-nos que há muitos séculos
portugal partiu à descoberta de
novos mundos e agora está no-
vamente a fazê-lo no domínio da
energia. está a fazer um óptimo
trabalho e melhor que o resto do
mundo. portugal lidera esta tão
importante área. Quando a eDp
vai para os estados Unidos - e
investe muitos milhões no poder
do vento - fá-lo porque acredita
que vai competir e que terá muito
sucesso. penso que as energias
renováveis serão muito boas
para os estados Unidos e para
portuga,l e tenho esperança que
nesse sector possamos aprender
com os portugueses.
É uma honra…
allan Katz - o nosso presidente
está muito empenhado nas novas
energias, cuja implantação está a
demorar mais tempo do que em
portugal. mas temos esperança
de que haveremos de lá chegar.
No programa político do Pre-
sidente Obama o que faltará
ainda implementar, depois da
reforma da saúde e da reforma
legal dos bancos?
allan Katz - penso que a prio-
ridade é lidar com o tremendo
problema do sistema económi-
co. o presidente já despendeu
muitas energias, tempo, esforço
e dinheiro para salvar a economia
do colapso. a General motors
estava em ruptura, agora está a
fazer dinheiro e tivemos bancos
que estavam em colapso e agora
estão equilibrados e a ter lucros.
o maior esforço, agora, é saber
como vamos conseguir que os
americanos voltem ao trabalho
- nada é tão importante do que
isso. tenho esperança que, no
próximo ano, este problema pos-
sa estar em parte resolvido.
Falemos agora das políticas para
o Iraque, Irão, Afeganistão...
allan Katz - a violência no iraque
diminuiu significativamente, houve
eleições e o futuro está nas mãos
dos iraquianos, tal como deveria
estar. estão novamente a produ-
zir petróleo, electricidade e a dar
segurança às pessoas que vivem
no iraque. São eles que têm de
encontrar o caminho.
Quanto ao irão, fiquei encoraja-
do quando a china se juntou à
rússia e ao resto do conselho
de Segurança, e todos chega-
ram à mesma conclusão. chine-
ses, russos, franceses, ingleses
juntaram-se aos estados Unidos,
concordando com o nosso pro-
pósito. acredito que as sanções,
que impusemos, junto com as na-
ções Unidas, tiveram um impacto
positivo. Sempre pensei que se o
irão estivesse apenas a lidar com
o poder nuclear para assuntos de
paz, tal como produção de ener-
gia etc., deveria permitir que os
inspectores verificassem o que
estão a fazer. inspeccionados e
verificando que a energia é para
objectivos de paz, todo o mundo
poderá dizer que é óptimo e a
situação no irão está resolvida.
o afeganistão é um problema
muito significativo, não só para os
estados Unidos como para todos
os países que fazem parte da
força de segurança internacional
naquele país. Sabemos que quan-
do foi governado completamente
pelos talibãs houve ataques terro-
ristas por todo o mundo, e todos
sabemos que permitindo que
voltem àquele estado é ➤
Embaixador Allan Katz
37novembro/dezembro 2010 - diplomática •
embaixador allan Katz e sua mulher, a embaixatriz nancy cohn
38 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010
➤ estar, basicamente, a permitir
que fiquem livres para voltar a
fazer o que querem contra a civi-
lização ocidental. É um problema
e uma situação muito difícil. o
governo do afeganistão precisa
de oferecer segurança às pes-
soas que lá vivem - e até isso se
conseguir será impossível senti-
rem-se seguras para viverem em
paz, particularmente se pensar-
mos nas coisas horríveis que os
talibãs têm feito.
Quando poderá haver paz no
Afeganistão?
allan Katz - É uma pergunta
difícil. não sei se viu o “times
magazin”, com a mulher desfi-
gurada pelo marido talibã… a
questão central é o que fazemos
com esta espécie horrível de fé
e civilização a quase todos os
níveis. abandonamos o povo
à sua sorte, principalmente as
mulheres? não encontramos uma
solução fácil. as alternativas são
difíceis e nenhuma é muito clara.
talvez criando diferentes áreas
que sejam seguras, começando
a construir desde essas áreas, es-
perando que o Governo do afega-
nistão possa tomar conta desses
assuntos sozinho… nessa altura,
todas as tropas que estão a asse-
gurar a paz - incluindo as portu-
guesas - poderão sair, deixando
de ser necessárias. o problema é
que todos temos responsabilida-
des no mundo e algumas vezes
não gostamos de as ter. a vida, às
vezes, mostra-nos problemas não
muito agradáveis, aos quais gos-
taríamos de virar as costas. penso
que, neste caso, precisamos de
continuar a fazer um esforço não ➤
Embaixador Allan Katz
39novembro/dezembro 2010 - diplomática •
➤ permitindo que este país seja
um estado terrorista que pratica
acções condenáveis aos olhos de
todo o mundo civilizado.
não há garantia de sucesso,
mas estamos lá por boas razões
e para proteger a forma de vida
dos cidadãos. nada queremos do
afeganistão, a não ser um Gover-
no viável que gere uma economia
estável, bem como o conforto e
segurança da sua população.
Nesta catástrofe da plataforma
petrolífera da BP, que medidas
estão pensadas para que não
volte a acontecer?
allan Katz - todo o mundo ficou
muito perturbado com o que acon-
teceu, e penso que não haverá
dinheiro suficiente para colma-
tar todo o prejuízo causado. no
entanto, a multa de vinte biliões
de dólares serviu para minorar os
enormes prejuízos das vítimas da
catástrofe.
certamente que iremos ser mais
fortes nas regras do que no pas-
sado, e os peritos saberão hoje
muito mais sobre o que devem
fazer para evitar a situação. mas
foi, realmente, uma lição muito
cara.
Qual o futuro da NATO e da sua
missão?
o que acontece à nato é que
a sua missão mudou, porque o
mundo mudou e deve adaptar-
se a um mundo diferente. muitas
pessoas não gostam de mudança
porque as torna inconfortáveis,
mas eu penso que a nato inicia-
rá o seu processo de mudança
na próxima cimeira de novem-
bro, aqui em portugal. a nato foi
fundada originalmente pelo receio
de ataque soviético, num contex-
to de guerra fria. medos que não
se coadunam com as políticas e
os tempos de hoje. no entanto,
temos ainda inimigos comuns. n
Allan e NancyDois amigos de Portugal
o embaixador allan Katz e a embaixatriz nancy cohn,
estão casados há 33 anos e têm dois filhos: eaton,
que casou recentemente em israel e é professor uni-
versitário, e mathieu, estudante na Universidade de
chicago.
conheceram-se aos 17 anos, mas os estudos se-
pararam-nos. enquanto allan se doutorava em leis
na Universidade de Washington, nancy , em miami,
doutorava-se em antropologia, tendo também estado
uns tempos no brasil. naquele tempo, sem internet,
namoraram-se sete anos por telefone, até casarem em
1977. Galardoado pelas suas capacidades de lide-
rança e produção legislativa, allan escolhe para sua
companheira nancy, socióloga e antropóloga muito
dedicada às causas humanitárias, seja no brasil como
voluntária do peace corps, seja prestando serviço na
cruz vermelha na Flórida, e também com especial
apetência para as artes e culturas, especializando-se
em ohio como bachelor of arts.
Qual a mensagem que gostariam de deixar aos
portugueses?
allan Katz - o que gostaria de acrescentar é o que
digo aos meus amigos: Sinto que tenho o melhor em-
prego do mundo e que serei capaz de representar o
meu país, do qual tenho muito orgulho. Gosto de estar
neste maravilhoso país que é, sem dúvida, muito sim-
pático, com óptima comida e óptimos vinhos. Gosta-
mos muito, muito, de tudo o que encontramos em por-
tugal e sinto-me muito lisonjeado em poder encontrar
forma de criar novas oportunidades e contribuir com
novas decisões e acções a bem de ambos os países.
nancy cohn - temos estreitos laços com muitos
açorianos que vivem nos estados Unidos. Falando da
minha vida em portugal, gostaria de dizer que consi-
dero um privilégio aprender a História e a cultura do
país, encontrando constantemente pessoas e procu-
rando causas comuns e projectos comuns. penso que
os portugueses compreendem muito sobre a natureza
humana e que, aqui, há uma sabedoria que penso irei
assimilar e transmitir à minha família e amigos, que
julgo existir pela grandiosidade da sua História e pelo
facto de portugal ter conhecido tantas e diferentes
terras e tantos países, tomando conhecimento com
muitas espécies de pessoas e civilizações. para mim,
é mesmo um privilégio ter a oportunidade de explorar
uma cultura que tem tanta riqueza a oferecer. n
40 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010
Quatro temas principais vão dominar esta cimeira da
aliança atlântica, a primeira que o nosso país organiza: a
adopção de um novo conceito estratégico, o afeganistão, a
defesa antimíssil e as relações entre a nato e a rússia.
De todos os assuntos constantes na agenda, o que
maiores expectativas levanta é o novo conceito estraté-
gico, que substituirá o de 1999 e deverá reflectir o novo
ambiente estratégico que se vive após os atentados de
11 de Setembro, bem como o alargamento das fronteiras
e os novos desafios que o mundo enfrenta, como o ciber-
terrorismo, a não-proliferação de armas e a pirataria.
É pois, como se compreende, um acontecimento da
maior relevância, sendo uma honra para portugal acolher
o mesmo, e é mais uma oportunidade para colocar portu-
gal em lugar de destaque em toda a imprensa internacio-
nal e muito particularmente na imprensa americana.
mas gostaria de destacar a visita do presidente obama,
não querendo obviamente desprestigiar a presença dos
restantes chefes de estado, referindo que se trata de
um acontecimento histórico devido á importância políti-
ca, económica e geoestratégica dos e.U.a. e do presi-
dente norte-americano.
mas também devido á própria personalidade em si, ao seu
carisma, ao que representou há um ano transmitindo uma
mensagem de esperança ao povo americano tão bem tra-
duzida na frase “YeS We can” e uma admiração imensa
no mundo em geral e na europa em particular.
em termos económicos os eUa são a maior economia do
mundo (o pib americano é 31% do pib mundial, 3 vezes
o Japonês; quase 5 vezes o alemão e 70 vezes o portu-
guês).; são um mercado de 300 milhões de habitantes com
um nível de vida 43% superior ao nível de vida europeu
(35% superior ao Japonês e 110% superior ao português) e
é ainda o primeiro país importador a nível mundial.
É por isso, e apesar da crise porque está a passar, um
mercado que apresenta enormes potencialidades, ofe-
recendo um mundo de oportunidades. os dados eco-
nómicos dos eUa traduzem já uma retoma económica,
embora em abrandamento, neste ano de 2010. no 1º
trimestre registou-se um crescimento do pib de 2,4%, e
no 2º trimestre o crescimento foi de 1,6%.
É ainda, contudo, um mercado pouco explorado pelas
empresas portuguesas (representa apenas 5% das nos-
sas exportações). não sendo um mercado fácil, é um
mercado exigente e altamente concorrencial, deverá
ser visto como um destino promissor para a internacio-
nalização das empresas portuguesas.
ainda recentemente o presidente obama anunciou um
mega plano de investimento, que é o maior plano de
investimentos em infra-estruturas dos últimos 50 anos
nos estados Unidos.
obama prometeu ainda uma vasta modernização das esco-
las, um esforço massivo para reduzir o consumo de energia
nos edifícios públicos, num país que tem a maior factura
energética do mundo, e ainda a generalização do acesso à
internet para reforçar a competitividade norte-americana.
todas estas áreas constituem fortes oportunidades também
para as empresas portuguesas que se saibam posicionar,
como algumas já têm feito, e com excelentes resultados.
os eUa são um país muito aberto à recepção de inves-
timento estrangeiro, desejosos de receber novas ideias,
novos investimentos e criar postos de trabalho. por isso
as oportunidades são muitas e os apoios maiores do
que na maioria dos outros países.
Sendo os eUa um mundo de oportunidades, como
referi, não deve contudo ser entendido como um merca-
do fácil. trata-se de um mercado exigente e altamente
competitivo onde todo o mundo quer estar e onde os
mais capazes já lá estão.
a câmara de comércio americana em portugal tem
como missão principal desenvolver e facilitar as relações
económicas e comerciais entre portugal e os eUa numa
base de mútuo interesse, exercendo um papel activo na
diplomacia económica.
a experiência adquirida ao longo destes anos, bem como
o capital de conhecimentos, contactos e capacidade de
angariação e transmissão de informação qualitativa são
postas ao serviço dos nossos associados criando opor-
tunidades de desenvolvimento de negócios nos diversos
sectores.
contribuímos activamente para uma aproximação entre os
dois países, sublinhamos as oportunidades, apoiamos e
ajudamos as empresas que queiram estabelecer esta ponte
e colaboramos com entidades portuguesas e americanas
que tenham também esta missão. Somos, como costu-
mamos dizer, uma auto-estrada
com dois sentidos incentivando e
apoiando empresas americanas e
empresas portuguesas que quei-
ram desenvolver o seu negócio no
outro lado do atlântico.
e uma coisa é certa, as relações
transatlânticas continuam indubi-
tavelmente a ser o grande suporte
da economia nos dois lados do
atlântico. ■
Obama em Portugal e o futuro das relações bilaterais por Graça Didier Secretaria-Geral da camâra do comércio americano
InstItuIções
42 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010
Durante a recente visita de estado que os Grão Du-
ques do luxemburgo, Henri e maria teresa, fizeram a
portugal, a convite de aníbal cavaco Silva, o presi-
dente da república portuguesa também foi agracia-
do: com a Grã-cruz da ordem do leão de ouro de
nassau. eis como decorreu a vinda de um homem
afável, que tem raízes portuguesas e está eternamen-
te grato ao nosso país por ter recebido a sua avó e os
seus pais “quando a Guerra rebentou”.
além dos vários encontros institucionais e das honras
de estado, os Grão Duques do luxemburgo participa-
ram num seminário económico. o convite para Suas
altezas, Henri e maria teresa, visitarem o nosso país
partiu directamente do presidente da república de
portugal, aníbal cavaco Silva.
o itinerário da visita de estado passou pelo mosteiro
dos Jerónimos, onde os Grão Duques depositaram
uma coroa de flores no túmulo do eterno poeta de
“os lusíadas” e da portugalidade, luiz vaz de ca-
mões. em cortejo solene, Henri e maria teresa foram
escoltados a cavalo até ao palácio de belém e rece-
bidos com honras militares. cavaco Silva e Henri do
luxemburgo falaram aos jornalistas e enalteceram as
excelentes relações existentes entre os dois países,
com o presidente português a oferecer aos Grão
Duques um almoço e um banquete de gala – o jantar
teve lugar no palácio nacional da ajuda.
Forte contributo da comunidade lusa
cavaco e Henri realçaram o contributo dado pela co-
munidade portuguesa para que o luxemburgo tenha
um “futuro promissor” e para o seu desenvolvimento
económico e social. “o elemento de aproximação
mais forte entre os dois países é a comunidade por-
tuguesa no luxemburgo, uma comunidade de mais
de 80 mil cidadãos, representando uma percentagem
elevada da população activa do luxemburgo que con-
tribui, de forma significativa, para o desenvolvimento
económico e social do país de acolhimento”, declarou
o chefe de estado português. “os dois países têm
vindo a dialogar no sentido de reforçar essa ➤
Grão Duques do Luxemburgo visitaram Portugal por nuno Sá
Henri agraciado com o Grande Colar da Ordem de Sant’lago de Espada
Visitas de estado
maria cavaco Silva, Grão Duque do luxemburgo, presidente de portugal e Gran Duquesa maria teresa
43novembro/dezembro 2010 - diplomática •
➤ possibilidade de o português ser aprendido no sis-
tema normal luxemburguês e têm sido feitos progres-
sos nesse sentido”, apontou cavaco, esperançado
em “encontrar oportunidades acrescidas de negócios
e de parcerias.”
“o luxemburgo é um dos principais investidores em
portugal e esperemos que, no futuro, os empresários
luxemburgueses continuem a olhar, e olhem ainda
mais, para as oportunidades que se oferecem aqui no
nosso país”, acrescentou o presidente luso, lembran-
do, no decorrer da visita dos Grão duques, a assina-
tura de um protocolo quanto à dupla tributação e de
combate à evasão fiscal.
Grato a Portugal
no fim do encontro com cavaco, o Grão duque agra-
deceu “toda a contribuição da comunidade portugue-
sa” para ajudar o país a ter um “futuro promissor”,
recordou que tem raízes portuguesas e sublinhou que
foi o nosso país que recebeu a sua avó e os seus
pais “quando a Guerra rebentou”.
os Grão duques do luxemburgo foram, também, re-
cebidos no Hemiciclo. tiveram um encontro exclusivo
com o presidente da assembleia da república, Jaime
Gama, e mantiveram reuniões ao mais alto nível com
diversos representantes das forças político-partidárias
com assento parlamentar. os Grão duques retribu-
íram o jantar oficial, proporcionado pelo presidente
cavaco Silva.
De Cascais a Coimbra
em cascais, Henri e maria teresa participaram no
lançamento da tradução portuguesa da obra “História
do luxemburgo”, de Gilbert trausch. no derradeiro
dia da visita, o roteiro incluiu uma ida a coimbra,
cidade histórica, cultural, onde Henri e maria teresa
visitaram o panteão dos primeiros reis de portugal,
no antigo mosteiro de Santa clara, o instituto pedro
nunes, a sua incubadora de empresas, e a Universi-
dade. Suas altezas participaram, ainda, numa mesa
redonda sobre micro-finanças, que decorreu na bi-
blioteca nova da Universidade de coimbra. ■
o brinde dos dois chefes de estado no palácio da ajuda
44 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010
O presidente da venezuela, Hugo chávez, realizou uma relevante visita de estado, de dois
dias, a portugal, selando importantes acordos na construção naval e civil, e nos computa-
dores magalhães. Dias depois da visita, já no seu país, declarou o cacau produto estratégico
nacional. Quer, agora, exportá-lo para vários países amigos.
polémico, amado e odiado mas sempre na berlinda, Hugo chávez, presidente da venezuela,
veio, recentemente, por dois dias, ao nosso país, e fechou acordos muito importantes do ponto
de vista económico e estratégico.
a visita de estado teve a cereja no topo do bolo com a assinatura de acordos na área da cons-
trução e no fornecimento de 1,5 milhões de computadores magalhães.
Hugo chávez pernoitou na cidade invicta. Do porto rumou até aos estaleiros de viana do
castelo (envc). acompanhado por vários ministros do seu executivo, o presidente vene-
zuelano permitiu que portugal recuperasse um anterior compromisso para que o Grupo lena
possa construir, na venezuela, 2.500 vivendas pré-fabricadas, num negócio que ascende a
950 milhões de dólares, e também um acordo, igualmente importante, na área das energias
renováveis.
“Um dos nossos maiores amigos na Europa”
chávez, antes de nos visitar, a convite de Sócrates, para estreitar as relações económicas bila-
terais, fez questão de apresentar o primeiro-ministro português e portugal como um dos “maio-
res amigos na europa” (citado pela agência lusa) .
o presidente venezuelano falava na principal base militar de caracas, Forte de tíuna, a propó-
sito da distribuição dos computadores portáteis magalhães que, na venezuela, são chamados
de “canaima”.
“ele [Sócrates] ajudou-nos com esses computadores que foram feitos em portugal”, lembrou
Hugo chávez, referindo-se, depois, ao entendimento, oficializado entre lisboa e caracas, para a
aquisição de um milhão de magalhães para equipar as escolas primárias públicas venezuelanas.
ao falar do primeiro-ministro de portugal, chávez desfez-se em elogios, garantindo tratar-se
de um “dos melhores amigos” e enaltecendo a postura de estado de Sócrates, que “não se
deixa chantagear nem pressionar por ninguém, nem faz caso a essa guerra que, na europa,
nos montaram a Direita e a imprensa” – garante o “amigo” venezuelano de José Sócrates.
Cacau para o Mundo
Desengane-se, porém, quem pensar que a estratégia de chávez assenta apenas em parcerias
– económicas – nos domínios da construção naval, das novas tecnologias e da Habitação.
É que o pacote de acordos foi adoçado, dias depois do périplo europeu do presidente da ve-
nezuela, com… cacau! referimo-nos, bem entendido, ao produto cuja pasta está na base do
chocolate e não a dinheiro, embora uma coisa puxe, como é óbvio, a outra…
É que, muito recentemente, já em solo venezuelano, Hugo chávez decretou o cacau como
produto estratégico nacional, com o qual almeja fortificar o intercâmbio comercial mediante
exportações para vários países, entre os quais portugal.
Novo modelo económico
o anúncio foi feito durante o programa radiofónico e televisivo “alô presidente!”, transmitido
desde a fábrica de chocolate el cimarrón. na ocasião, o presidente da venezuela explicou
que deseja converter o país que dirige numa “potência cacaueira mundial”, integrando um novo
modelo económico, declarando que pretende distribuir o produto “a países aliados da revolu-
ção bolivariana”, como a líbia, a arábia Saudita, a Ucrânia, a bielorrúsia, a rússia… e, claro,
portugal, a bordo de um barco que faria, precisamente, a primeira paragem no território de luiz
vaz de camões. ■ ➤
Presidente da Venezuela visitou, e encantou, Portugal Chávez veio firmar acordos nos planos económico e estratégico
Visitas de estado
texto: nuno Sá Fotos: ricardo oliveira - Gpm
45novembro/dezembro 2010 - diplomática •
1. o presidente da venezuela Hugo chávez e o primeiro-ministro português José Sócrates 2. Hugo chávez com o presidente da
enercon, Francisco rodrigues e José Sócrates 3. Hugo chavez, marcos perestrello e José Sócrates 4. Hugo chávez e José Sócrates
com o presidente da camâra municipal de viana do castelo, José maria costa 5. Hugo chávez e sua filha com José Sócrates 6. o
presidente da venezuela a segurar a réplica em miniatura do "atlântida" adquirido a portugal pelo seu Governo
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46 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010
Encerrou agora em finais de outubro as suas portas em Xangai, uma das
mais imponentes exposições Universais de todos os tempos. polarizou
muitas dezenas de milhões de visitantes de todo o mundo nomeadamente
asiáticos, no coração de um dos países maiores do mundo, de crescente
riqueza e desenvolvimento, a china. a Diplomática não podia estar ausen-
te de tão retumbante acontecimento e aproveitanto uma viagem à china, fi-
zemos uma visita relâmpago aos quase 200 pavilhões, espalhados por 528
hectares por onde passaram mais de 70 milhões de pessoas. mesmo em
regime de relâmpago não deixámos de visitar o curioso pavilhão de por-
tugal, de volumetria original, feito em cortiça. evocações históricas, ou não
fossemos nós, por macau e não só, em passado glorioso, tão próximos da
velha civilização chinesa. e por lá estavam, alem de ideias de negócios , o
chá, o vinho do porto, a música portiguesa e... variações sobre o Galo de
barcelos. até camões, nosso magno poeta, nele se metamorfoseou. etc.
3 milhões ali passaram. não foi mau.
mas o objectivo da expo Xangai 2010 era apresentar a civilização e o
desenvolvimento das cidades do futuro. e lá foi a nossa representante, de
mão dada com a mascote, Hai bao (tesouro do mar). não entrou no pavi-
lhão da china pois eram 7 horas de fila mas fez-se o que se pôde. adivi-
nharam-se aspectos tecnológicos e científicos dos 5 gigantescos pavilhões
temáticos. admirou-se a super organização e a gestão das multidões de
visitantes sob um sol escaldante aliviado por frescas brisas. Foi um ver-
dadeiro encontro de culturas,não só internacionais mas chinesas entre as
gentes das cidades e do campo. Foi notável o pavilhão do luxemburgo,
brasil, da rússia , da croácia, canadá, Japão, coreia do Sul.
reliquias culturais do velho passado ombreavam com futurologias tecno-
lógicas de espantar. tudo começou há 2000 anos com a invenção chinesa
dos 2 pauzinhos para nos deliciarmos com a saborosa gastronomia chi-
nesa, tal como os 2 principios opostos chineses que regem a harmonia da
natureza Ying e Yang, que todos conhecemos de vista. e os sapatinhos do
Jummy choo também por lá andavam mas menos depressa que os ténis
da adidas, made in china.
a china conseguiu estreitar os laços culturais, económicos, sociais entre
todos os países do mundo. Foi um exemplo das tendências da evolução
das cidades para o século XXi. e em Xangai mais sítios visitámos na ofus-
cante cidade. Jantar no bairro Francês, uma comprinha na Xangai tang,
para mais tarde recordar, passeios junto ao rio, ver a cidade antiga, cheia
de charme e mistério e a cidade cosmopolita e rica dos arranha céus a
perder de vista e ...o luxo. muitos bancos. comércio para todos os bolsos
mas principalmente marcas de joalharia e moda que farão as alegrias dos
13 milhões de gigamilionários chineses. ali não se brinca em serviço:
Hong Kong, pekim e, não fica atrás a velha macau do nosso contentamen-
to. Que futuro!
e os milhares de guerreiros de terracota de chian finalmente desenterra-
dos, ali continuam perfilados, indiferentes a mandarins e outros maos.
“É preciso que algo mude para que tudo fique na mesma.” como dizia o
Gattopardo. e nós por cá... ■ ➤
Expo Xangai 2010 texto e fotos de paula bobone
EsfEra cultural
47novembro/dezembro 2010 - diplomática •
48 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010
A importância da paz e da estabilidade políticao presidente da república e o primeiro-ministro do nosso país estiveram, recentemente, em
angola, país cuja parceria estratégica com portugal precisa de caminhar num clima de paz e
estabilidade política em áfrica. a revista “Diplomática” aponta-lhe o essencial das visitas dos
dois estadistas lusos.
no palácio presidencial da cidade alta, luanda, no fim do encontro privado com o seu homólo-
go português, aníbal cavaco Silva, o presidente da república popular de angola, José eduar-
do dos Santos, defendeu que a parceria estratégica entre angola e portugal necessita de um
programa que defina prioridades, estabeleça instrumentos jurídicos para a sua viabilização, e
objectivos a curto, médio e longo prazos.
o presidente angolano referiu, em conferência de imprensa, que a cooperação multilateral com
o nosso país assumiu um cariz estratégico desejado pelos dois estados, com uma sólida base
de sustentação. José eduardo dos Santos exaltou o “clima de grande compreensão em que foi
fácil alcançar entendimentos” entre os dois países em questões regionais e internacionais.
Paz e estabilidade políticaos dois chefes de estado reconheceram a importância da paz e da estabilidade política em
áfrica como condição fulcral quer para o fomento económico e social, quer para a consolidação
da democracia. acordaram continuar os esforços conjuntos para auxiliar a Guiné-bissau na pro-
cura do funcionamento pleno das suas instituições democráticas e da cessação da interferência
das Forças armadas daquele país na esfera política do estado.
cavaco Silva e José eduardo dos Santos analisaram o (importantíssimo) papel de angola na
áfrica austral e central, bem como a reforma das nações Unidas.
cavaco apontou a posição de potência política e económica desempenhada por angola em áfri-
ca, estando convicto e confiante de que angola será, cada vez mais, agente de paz e estabiliza-
ção na região, o que já sucede nos Grandes lagos e no Golfo da Guiné.
Angola preside à CPLPa presidência da comunidade dos países de língua portuguesa (cplp) passou de portugal
para angola, que adoptou o lema “Solidariedade na Diversidade”. a cplp, reúne mais de 250
milhões de pessoas que falam português. Daí a importância vital quer da solidariedade quer da
defesa, intransigente, do português – que deverá ser, cada vez mais, internacionalizado.
José eduardo dos Santos afirmou que a recente visita de cavaco Silva a angola dará um gran-
de impulso ao fortalecimento das relações amistosas entre os dois países e que evolui, e bem,
a cooperação bilateral. prova disso é o crescimento do volume de negócios entre angola e
portugal, acompanhado do aumento considerável no investimento. angola é o quarto mercado
das exportações lusas, logo a seguir a espanha, alemanha e França.
“Progresso notável”, diz Cavacoo presidente da república portuguesa sublinhou que há que registar o “progresso notável no ➤
Cavaco Silva e José Sócrates visitaram Angolapor nuno Sá
Viagens de estado
49novembro/dezembro 2010 - diplomática •
1. o presidente da república portuguesa, aníbal cavaco Silva e o presidente da república popular de angola, José eduardo dos
Santos 2. recepção calorosa da população angolana ao presidente português
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50 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010
➤ campo económico e social” atingido por angola em apenas oito anos de paz. por isso mesmo,
cavaco considera que é necessário ter “respeito por angola”.
ou não fosse economista cavaco apontou as taxas de crescimento superiores a 10 % regista-
das, nos últimos anos, pelos angolanos. após este período de crise económica e financeira, o
pr português não duvida de que angola retomará um significativo crescimento. aníbal cavaco
Silva asseverou, ainda, que os empresários portugueses têm de olhar às prioridades traçadas
pelo executivo angolano na diversificação da economia e na qualificação de quadros, esperan-
çado que os nossos homens de negócios “darão o seu contributo para o desenvolvimento deste
país irmão de portugal e para a melhoria das condições de vida da população.”
Sócrates anuncia linhas de créditotambém o primeiro-ministro português esteve, recentemente, em angola, promovendo o
estreitamento dos laços entre os dois países. Durante a sua visita de trabalho, José Sócrates
informou, logo depois de um encontro com José eduardo dos Santos, que haverá um alarga-
mento, para 500 milhões de euros, da linha de crédito da coSec, de seguro ao crédito para
os investimentos em angola, cujo plafond, de 300 milhões, já estava esgotado. José Sócra-
tes anunciou, também, a criação de uma linha de crédito à ajuda, de 100 milhões, da caixa
Geral de Depósitos, e outra de crédito à banca, no montante de 500 milhões de euros.
Sócrates considerou, igualmente, que os dois países têm, hoje em dia, “uma relação muito
sólida”, lembrando que os portugueses estão presentes “em todos os sectores” angolanos.
ainda para o chefe do Governo português, a sua visita de um dia a angola foi “muito foca-
da nas relações comerciais”, sendo que as linhas de crédito “são um sinal político da maior
importância, de atribuição de uma prioridade como nunca existiu nas relações” entre os dois
países.
Elogio à visita do PRprova da efectiva concertação de esforços entre belém e São bento foi, aquando da visita de
cavaco Silva a angola, o tom elogioso manifestado por José Sócrates.
o primeiro-ministro fez, na ocasião, um “balanço muito positivo” da ida do presidente da re-
pública, frisando, também, que o desbloquear da dívida angolana terá resultado da acção do
Governo que lidera.
Sócrates mostrou-se, ainda, “muito satisfeito” com o facto de poder verificar que, enquanto
portugal preparava a cimeira da cplp, “houve, também, muito movimento de aproximação das
autoridades angolanas”.
esse movimento, acrescentou, foi “no sentido de desbloquear, em grande parte, os problemas
que existiam com as empresas portuguesas.”
“Fiquei muito satisfeito quer com a visita do senhor presidente da república quer com a minha
própria visita e com a cimeira da cplp”, realçou o pm luso, avançando que “as coisas vão-se
construindo lentamente, devagar.”
e rematou: “não estamos aqui, portugueses e empresas, com o intuito oportunista de fazer
negócio em seis meses ou num ano. a presença portuguesa aqui é de longo prazo.” n
Cavaco Silva e José Sócrates visitaram Angola
51novembro/dezembro 2010 - diplomática •
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José Sócrates na Feira internacional de luanda recebido por membros do Governo de angola e presidente da Filda
52 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010
Maria da Piedade de Polignac de BarrosEmbaixatriz da Ordem de Malta, por maria bragança, fotos de orlando Sousa
Nasceu em Lisboa, mas ainda criança rumou com os pais a Luanda,
onde residiu até 1960 - um regresso a Lisboa marcado pelo início da
Guerra Colonial. ➤
Diplomacia no Feminino
53novembro/dezembro 2010 - diplomática •
➤ De educação religiosa, estudou nas doroteias, tendo-se,
mais tarde, licenciado em enfermagem. exerceu no Servi-
ço de cardiologia e na Unidade de cuidados intensivos do
Hospital de Santa cruz.
do casamento com Francisco de mello (Ficalho), entretan-
to falecido, nasceram dois filhos, antónio martim e tomás,
que, na altura da morte do pai, tinham seis e dois anos.
empreendedora, não se deixou abater pelo desapareci-
mento precoce do marido. mesmo na dor da perda, teve
a lucidez de abrir uma empresa de organização de festas
com ana leite castro e pimenta da Gama, seu tio e primo.
e, durante bastante tempo, ali se empenhou, porque maria
da piedade não é de se acomodar nem viver à sombra dos
pergaminhos familiares…
Há mais de uma década, resolveu fundar a “chouros”, uma
empresa que fornece aluguer de material para seminários
e congressos, assim como sistemas de som e luz para fes-
tas, a nova vida que obteve e na qual trabalha diariamente.
do seu segundo casamento, com miguel polignac de bar-
ros (o embaixador da ordem de malta em portugal), nas-
ceu o filho pedro, actualmente com 16 anos.
com a vida de empresária, acumula as preocupações
humanitárias dando uma ajuda na obra mesa de nossa
Senhora, uma organização de solidariedade social que
apoia os sem-abrigo e lhes fornece almoços. pelo meio,
ainda encontra forças para apoiar a organização do bazar
dos diplomatas, iniciativa de natal que, todos os anos, é
promovida pelas mulheres dos embaixadores acreditados
em portugal.
preocupada com este nosso mundo, aflige-lhe a lógica
materialista que o domina. “O mundo tem de dar uma volta,
direccionar-se mais para o espiritualismo, as pessoas têm
de ser mais solidárias. Os pais deveriam exigir mais dos
filhos e não se esquecerem da formação espiritual – hoje
deficitária – que pode ser um grande apoio para as adver-
sidades. Tento transmitir isso aos meus filhos, mas admito
que hoje há outras motivações e os jovens dispersam-se
mais".
Utópica, sonha com um mundo diferente. “Se fosse muito
rica procurava uma união entre a procura e a oferta. ou
seja, direccionava as pessoas – que estão perdidas e não
sabem o que fazer – para algo produtivo que as motive. Há
pessoas a viver o drama do desemprego e não têm quais-
quer perspectivas. tem de se fazer um esforço de coorde-
nação entre as necessidades das pessoas e as necessi-
dades do mercado, para podermos dar a volta por cima. e
tem de haver um grande esforço colectivo, as pessoas têm
de se sacrificar mais, mas preservando sempre a alegria
de viver, de saber rir, de brincar mesmo quando a vida cor-
re menos bem. e isto tem de ser cultivado.” ■
Maria da Piedade de Polignac de BarrosEmbaixatriz da Ordem de Malta, por maria bragança, fotos de orlando Sousa
Embaixatriz Maria da Piedade de Polignac de Barros
54 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010
Para celebrar o 234º aniversário
da Declaração da independência
dos estados Unidos, a embaixada
abriu as suas portas. em palavras
de boas vindas aos convidados, o
embaixador recordou que ao de-
clarar a independência da Grã bre-
tanha, os Fundadores disseram:
“consideramos estas verdades
como auto-evidentes, que todos
os homens são criados iguais e
são dotados pelo criador de certos
direitos alienáveis , que entre estes
estão a vida, a liberdade e a busca
da felicidade”. Focando o sonho
americano do acreditar nos
valores do trabalho duro, na
igualdade e na liberdade e enal-
tecendo homens corajosos tais
como abraham lincoln, e martin
luther King Jr e mulheres como
Susan anthony que lutaram pelos
direitos civis de igualdade entre os
cidadãos, citou palavras de um
discurso do presidente obama
“ Fomos criados no ideal de que
todos são iguais, e derramámos
sangue e lutámos durante séculos
para dar sentido a estas palavras –
nas nossas fronteiras e em todo o
mundo. nós somos moldados por
todas as culturas, trazidas de to-
dos os confins da terra e dedicado
a um conceito simples: e pluribus
unum, “de todos um”.
o embaixador allan Katz referiu
a amizade e entendimento entre
os estados Unidos da américa e
portugal que há dois séculos liga
estes dois países, afirmando-se
honrado em representar o presi-
dente obama, o seu governo e o
seu país na república portugue-
sa, apostando-se em alimentar
e consolidar a forte aliança entre
portugal e os estados Unidos da
américa. ■
Dia da Independencia dos Estados Unidos
1. o grupo de fuzileiros da embaixada
durante a cerimónia de apresenta-
ção de bandeiras
2. o embaixador allan Katz e a sua
mulher, nancy cohn, recebem os
convidados
3. embaixador Katz e maryann mckay,
adjunta da chefe do Serviço de
imprensa e cultura da embaixada
1
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MALA DipLoMáticA
56 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010
Os embaixadores da arábia
Saudita receberam os seus
convidados para celebrarem o
Dia nacional do reino da arábia
Saudita. a festa decorreu em
lisboa. estiveram presentes in-
dividualidades ligadas por laços
afectivos, económicos, culturais,
militares e empresariais.
a arábia Saudita é a maior
nação do médio oriente, tem
uma população estimada em
28 milhões de habitantes e
uma superfície de cerca de
2.149.690 km2. o reino é, por
vezes, chamado de “a terra das
Duas mesquitas Sagradas”, em
referência a meca e medina, os
dois lugares mais sagrados do
islão. as duas mesquitas são
al masjid al-Haman e al masjid
al-nabawi. ➤
Dia Nacional do Reino da Arábia Saudita
1. Hisham bin Sultan al-Qahti, em-
baixador da arábia Saudita, e sua
mulher
2. embaixador da república islâmica
do paquistão, Gui Haneff, com a
sua mulher e os embaixadores da
arábia Saudita
3. os anfitriões com a embaixadora
da noruega, inga magistad
4. maria de bragança a cumprimen-
tar os embaixadores da arábia
Saudita
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MALA DipLoMáticA
57novembro/dezembro 2010 - diplomática •
➤ a arábia Saudita, coração do
islamismo, é o maior exportador
de petróleo do mundo, o que
resulta na principal fonte da
economia saudita. o petróleo
representa mais de 90 por cento
das exportações e quase 75%
das receitas do Governo, que
contribuem para uma situação
de bem-estar social.
a maioria dos sauditas é etnica-
mente árabe e muitos árabes de
países vizinhos estão emprega-
dos no reino.
Foi na arábia Saudita que ocor-
reu a revelação do “alcorão” pelo
profeta maomé. actualmente, a
constituição do país é baseada no
corão e nos resgates moneteístas
que muhammad abd al-Wahhab
realizou sobre o “livro de mao-
mé” e a Sunnah. ■
5. o embaixador com o seu staff
6. nuno rogeiro com sua mulher
e os anfitriões
7. embaixador da Suíça, rudolf
Shaller, com os anfitriões
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58 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010
Rasool Mohajer por maria da luz de bragança, fotos de orlando Sousa
Embaixador do Irão em Portugal
“Acredito que Obama queira mudar algumas coisas na política externa”
Há dois anos em Portugal, o Embaixador do Irão traça um cenário diferente daquele que,
regra geral, é propalado pelos media ocidentais. Realça os propósitos pacifistas do Governo
de Teerão e define o seu país como uma nação tolerante e aberta às diferenças religiosas. ➤
Diplomacia na 1ª pessoa
Entrevista
59novembro/dezembro 2010 - diplomática •
➤ Como veio parar a Portugal?
Sou diplomata de carreira. antes de estar
em lisboa já havia sido embaixador na
roménia, logo a seguir à revolução de
1989, após o que fui colocado na Hungria.
portugal é o meu terceiro destino.
No Irão há algum curso específico para
a carreira diplomática?
Sim, há cursos específicos de formação
especial para diplomatas. mas, antes de
vir para portugal, fui director-geral do
ministério dos negócios estrangeiros. e,
antes da estada na Hungria, por exemplo,
fui, durante cinco anos, director de assun-
tos bilaterais com a União europeia.
Mas, antes desses percursos, passou
pela universidade...
claro, graduei-me na Faculdade de rela-
ções internacionais e, depois, entrei para
o ministério dos negócios estrangeiros.
mas, quanto a portugal, cheguei cá há
dois anos, com a minha mulher. e tenho
dois filhos, já crescidos, um deles casado,
que ficaram no irão.
Qual a relevância de Portugal para o
Irão?
temos uma longa tradição de relações
e história comum. o primeiro embaixa-
dor de um país estrangeiro no irão foi o
português, isto no início do século Xvi.
aí nasceram, logo, as nossas relações
diplomáticas e de amizade. trata-se de
uma marcante carga simbólica , podere-
mos mesmo afirmar que é um tesouro que
ambos os países têm de aproveitar.
recentemente comemorámos os 500
anos de relações entre portugal e o irão,
efeméride assinalada com uma emissão
conjunta de selos nos nossos dois países.
acredito, na verdade, que poderão existir
e ser desenvolvidas diversas áreas de co-
operação, até porque os portugueses são
um povo muito aberto ao “outro” e amante
da paz. devo, aliás, sublinhar que aqui,
em portugal, nunca senti qualquer acinte
contra os estrangeiros. até pela experiên-
cia que tenho, em comparação com outros
países, não se sente qualquer reacção
relevante, por exemplo, contra os africa-
nos, sendo que os estrangeiros – regra
geral – são muito respeitados e integrados
na sociedade portuguesa.
outra característica admirável do povo
português é a sua noção de família, uma
instituição muito forte e unida, sempre
presente na sociedade. no irão é também
assim, encontra esses mesmos sentimen-
tos. por outro lado, para quem estiver
atento, poderá descobrir que os iranianos
são poetas, moderados, temos uma His-
tória e uma cultura de milhares de anos,
baseada na tradição familiar.
(como parêntesis, permita-me referir que
achei admirável o amor que transborda da
relação entre si e o seu marido...)
No Irão as pessoas casam por amor,
ou é tudo combinado entre as famílias
– como antigamente acontecia frequen-
temente em Portugal?
não. eles encontram-se, conversam,
namoram e, se assim entenderem, ca-
sam-se. mas as famílias envolvem-se, os
pais vão a casa uns dos outros, fazem
os pedidos de casamento. e, conforme
as possibilidades, vão ajudar a procurar
casa para eles, um carro… Quando temos
uma flor é preciso regá-la para que cresça
saudável.
No ocidente diz-se que a mulher irania-
na é mal tratada e não pode sair à rua
de cara destapada…
na capital, teerão, num universo de 12
milhões de habitantes, não se encontra
uma única mulher com a cara tapada.
Usa-se o véu, que decorre da nossa
tradição. mas, no irão, ao contrário de
outros países, não há restrições, e se uma
senhora quiser usar burca pode fazê-lo.
Irão e Portugal - o nosso país pode ser
uma porta para a Europa?
de facto, penso que portugal pode ter um
papel muito mais importante nas relações
comuns entre os nossos países, decorren-
te até da relevância de todo esse patri-
mónio histórico que já referi. e, também,
porque há um bom entendimento entre as
nossas duas nações. Francamente, nunca
vi portugal como um pequeno país que
está colocado a um canto da europa.
existe um enorme potencial de desenvol-
vimento das nossas relações bilaterais - e
multilaterais (têxteis, construção, energia ➤
60 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010
➤ solar, petróleo...)nos últimos anos,
promovi a vinda a portugal de um grupo
de músicos iranianos ( dois homens e
três mulheres, incluindo a directora), para
divulgação da riqueza da música, do estilo
e dos instrumentos do meu país. Foram
muito bem acolhidos, e apreciados, pelos
portugueses. na música, na ciência, na
história, o irão é, por tradição, um país de
cultura.
No ocidente, muitas vezes, passa a ideia
de que o Irão é um país extremista.
não existe qualquer extremismo no irão.
o povo é muito tolerante. aliás, até lhe
dou um exemplo da tolerância iraniana.
enquanto os países europeus obrigavam
os judeus a converter-se ao cristianismo,
não encontra na nossa História nenhum
momento em que os iranianos tenham
perseguido povos em função da sua
religião. Há dois mil e sessenta anos, na
pérsia antiga (hoje irão) davam refúgio
aos judeus expulsos de outras nações.
Há uns meses, dois grandes jornalistas
americanos publicaram no n. Y. times
um relatório onde se diz ser no irão que
os judeus têm mais liberdade, compara-
tivamente a outras regiões do
médio oriente. e convém referir
que, no nosso país, cada reli-
gião está representada por um
deputado. a nossa assembleia
tem 290 deputados e, por exem-
plo, para ser eleito por teerão,
são necessários 800 mil votos,
mas um membro de uma minoria religiosa
só precisa de sete mil – e tem os mes-
mos direitos e deveres de qualquer outro
deputado. Qual é o outro país do mundo
que respeita assim as minorias religiosas?
mais: no irão há cerca de 200 sinagogas
para os judeus praticarem os seus rituais.
o ecumenismo é um princípio que carac-
teriza a nossa pátria.
e, em matéria judicial, se há um problema
entre muçulmanos, é aplicada a lei islâmi-
ca; mas se, por outro lado, o problema é
entre cristãos, aplicam-se as leis e nor-
mas do cristianismo.
Como é que está organizado o sistema
político?
temos um líder religioso que é o líder
supremo do país, mas não está no execu-
tivo. o presidente da república tem o po-
der executivo, mas a assembleia consul-
tiva tem tanto poder que até pode demitir
o presidente. não há nenhum poder que
possa anular as decisões da assembleia.
Depois da revolução, demos uma grande
importância ao voto do povo, até porque
esta foi, de facto, uma revolução do povo.
basta percorrer as ruas no dia 11 de Fe-
vereiro para se perceber o quanto o povo
participa nas comemorações da revolu-
ção, cuja data é o dia nacional iraniano.
E as relações com a União Europeia
(UE) – e já falamos na importância de
Portugal – em que estado se encon-
tram?
ainda bem que fala nessa questão,
porque portugal pode ter um papel facili-
tador no entendimento com os membros
da União que, infelizmente, seguem uma
política muito ligada à perspectiva ameri-
cana. repare, não temos nenhum precon-
ceito em relação aos estados Unidos da
américa, mas é um facto que desde há
30 anos não temos relações diplomáticas
com os eUa que, neste momen-
to, influenciam a Ue – que não
deveria seguir o mesmo caminho
e, pelo contrário, deveria ajudar
e agilizar as relações com os
americanos.
portugal poderia ajudar a fazer
compreender a questão iraniana.
mas isso depende apenas de portugal,
que não deveria ouvir apenas uma fonte
de informação. recorrendo às relações
históricas que existem entre os nossos
países, portugal está em muito melhores
condições de perceber a realidade irania-
na e comunicá-la à União europeia.
aliás, a nossa vizinha turquia – que é
membro da nato – adoptou uma posição
independente. e o presidente do brasil,
lula da Silva, foi ao irão ouvir a posição
iraniana, com toda a abertura, sem pre-
conceitos. e ficou tão revoltado com as
contradições americanas que resolveu
tornar públicas as cartas do presidente
obama. ➤
Embaixador Rasool Mohajer
"Se há pro-blema entre oS muçulma-noS, é aplica-da a lei iSlâ-mica...."
61novembro/dezembro 2010 - diplomática •
O país das rosas
país de cultura milenar, o irão é também conhecido pelas suas belíssimas
rosas, pela poesia e pela cordialidade do seu povo. mas as contingências da
política geoestratégica confinaram-no, nos últimos anos, a uma espécie de gue-
to internacional.
a pressão do estado de israel – que não dos judeus enquanto tal -, associada
às incompreensões americanas – que obama, de algum modo, procura contra-
riar -, colocaram a nação iraniana no lote dos estados malquistos da comunida-
de internacional.
mas começa a ser evidente, independentemente do que se possa pensar sobre
o aproveitamento de energia nuclear, que há seriedade por parte dos iranianos
quando dizem não ter intenções de a utilizar na produção de armamento.
embaixador rasool mohajer
62 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010
➤ O que são essas cartas do presidente
Obama?
a primeira tem duas páginas e foi envia-
da ao presidente lula, pedindo-lhe para
ele interceder sobre a questão do nuclear
iraniano. lula assim fez, empenhou-se
denodadamente, e chegámos à Decla-
ração de teerão, assinada entre o irão,
a turquia e o brasil. porém, dois dias
depois, o presidente obama adoptou
uma posição totalmente diferente. apesar
disso, acredito que obama queira mudar
algumas coisas na política externa, mas
existem muitas pressões dentro da pró-
pria administração americana,
de que ressaltam as posições
da Secretária de estado, Hillary
clinton. e, do outro lado, está
israel a pressionar, e a influen-
ciar os americanos.
Já falamos na importância
que o Irão atribui às relações
com a Europa. E com a Rússia?
Historicamente a rússia é nossa vizinha,
temos grandes relações políticas e econó-
micas. e até acolhemos uma das centrais
nucleares que os russos estão a construir,
no sul do irão. as relações são muito boas
e o balanço comercial é muito positivo.
Mas está de todo afastada a hipótese
de o Irão utilizar a energia nuclear para
fins militares?
claro que está. Sempre defendemos,
mesmo quando muitos não o faziam,
uma política de desarmamento unilate-
ral. e essa tem sido sempre a posição
do irão desde a revolução, já lá vão três
décadas.
recordo que, há alguns meses, represen-
tantes de mais de 60 países participaram
em teerão numa conferência subordinada
ao tema “armas nucleares para ninguém,
energia nuclear para todos”.
Desde os anos 70 que não nos cansa-
mos de repetir que o médio-oriente deve
ser livre de qualquer armamento nuclear.
nessa década, irão e egipto, erguemos a
voz em uníssono contra as armas nu-
cleares, e pelo desarmamento total do
mundo. passadas quatro décadas, porém,
o tratado de não-proliferação continua
a não estar rubricado por muitos países
que, por sinal, persistem em desenvolver
armamento nuclear.
Pode, portanto, garantir que o Irão não
constitui uma ameaça?
certamente. e repare: não só somos
contra as armas nucleares como sempre
contestámos a posse de armas nucleares
por quaisquer países. apenas alguns dias
após a conferência do tratado de não-
proliferação nuclear ter realçado, numa
passagem, que israel deveria assinar o
tratado ( o que persiste em não fazer) e
fosse vigiado pela agência mundial de
energia atómica, o conselho
de Segurança da onU aprovou,
para nossa surpresa, e de tantos
outros países, uma resolução
contra...o irão.
nenhuma organização interna-
cional, nem a agência mundial
de energia atómica reuniram
até hoje qualquer prova de que o irão se
tivesse desviado, com fins militares,dos
objectivos pacíficos e exclusivamente
científicos do seu programa nuclear. pelo
contrário, constantemente contrapomos,
coerentemente, que somos contra as
armas nucleares, quaisquer armas, em
qualquer país. mais: por que é que os
norte-americanos apresentam o irão como
ameaça, quando, durante séculos, não
invadiu nem atacou outro país? Foi o irão
que foi atacado. recordo, até, que foi a
primeira vítima de armas químicas...e eu
pergunto: durante os oito anos da guerra
irão-iraque, na década de 80, quais foram
os países que apoiaram o iraque e forne-
ceram armas a Saddam Hussein? Seria
bom que a opinião pública portuguesa, e
internacional, se interrogasse sobre estes
e tantos outros asuntos...
O que pensa da crise económica que o
mundo está a atravessar?
É muito grave, especialmente na europa,
com o desemprego, o enfraquecimento
da moeda… mas o mais grave é o senti-
mento de desconfiança no futuro. espe-
ro, todavia, que os esforços feitos pelos
responsáveis possam retomar a confiança
e resolver a crise. ■
"...Se o
problema é entre criS-tãoS, apli-cam-Se aS leiS do criS-tianiSmo"
Embaixador Rasool Mohajer
63novembro/dezembro 2010 - diplomática •
O dia nacional da Suíça, foi celebrado
com uma recepção na sua embaixada.
estiveram presentes muitas individualida-
des que não quiseram deixar de corres-
ponder ao convite de rudolf Schaller e
almy Schaller, embaixador e embaixatriz
da Suíça em portugal.
esta data está relacionada com o pacto
Federal dos Waldstätten (“cantões flores-
tais”), de agosto de 1921. É o primeiro
pacto escrito de que há registo, apesar de
hoje se saber não ter sido essa a primeira
aliança entre as três comunidades envol-
vidas - Uri, Schwytz e Unterwald - os mais
antigos cantões da Suíça.
este pacto foi quase ignorado durante
séculos e a criação de uma festa nacional
nunca foi ponderada. isto ocorreu até ao
século XiX, quando se manifestou a von-
tade de “oficializar” uma verdadeira festa
nacional, celebrada ao mesmo tempo em
toda a confederação. em 1889/90, com a
aproximação do 600º aniversário do pacto,
o Governo e o parlamento decidiram, final-
mente, que a fundação da confederação
seria festejada a 1 de agosto.
a partir dessa data, esta celebração é orga-
nizada anualmente pelos municípios com a
colaboração das comunidades locais.
pela sua estrutura política, a Suíça é
um estado federativo que se formou
no decurso da História e cujos 26 esta-
dos membros (cantões e semi-cantões)
conservam grande parte da sua autono-
mia. os municípios suíços, chamados
comunas, possuem, igualmente, compe-
tências administrativas bem amplas. no
país existem quatro línguas nacionais e
oficiais: o alemão (falado por cerca de
65 % da população), o francês (18%),
o italiano (10%) e o romanche (1%). as
duas principais religiões cristãs da Suíça
possuem um número praticamente igual
de adeptos: 48 por cento de católicos
e 44 por cento de protestantes. os 8%
restantes correspondem a outras comu-
nidades cristãs ou religiões (Judaísmo e
islamismo). ■
Dia Nacional da Suíça1 2
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5
6 7
1. o embaixador da Suíça, rudolf Schaller com a nossa directora
2. a embaixadora da república dominicana, ana Silva de abud
com seu marido 3. Jorge Felner da costa e sua mulher 4. embai-
xador do irão rassol mahajer 5. Fabricio pignatelli 6. margarida
Quevedo Gorgão Henriques e seu marido 7. maria de bragança e
isabel Silveira Godinho
mala Diplomática
64 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010
Por ocasião do Dia nacional do
seu país, o embaixador da líbia
em portugal, Sua excelência ali
emdored, foi o anfitrião de uma
recepção num hotel de lisboa.
altas individualidades portugue-
sas e estrangeiras, de diversas
esferas da sociedade, aceitaram
o convite para estarem presentes
na comemoração. estiveram na
recepção membros do corpo Di-
plomático acreditado em lisboa,
figuras políticas, académicas, e
empresários de renome. entre os
mais notáveis foram ao apronto
Sua alteza real, Dom Duarte pio
de bragança, Dr. ricardo espíri-
to Santo Salgado, presidente do
banco espírito Santo (beS), ➤
A Líbia comemora o 41º Aniversário da Revolução do 1º de Setembro em Lisboa
1 2
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6 7
1. embaixador ali emdored com Yahya el Jadid e seus filhos 2. embaixador da líbia
e embaixador da palestina 3. o embaixador da rússia, pavel Fiodorovitch petrovsky
e maria de bragança 4. embaixador da líbia, Sua excelência ali emdored, e omran
Saieh 5. o embaixador com membros da Delegação da líbia 6. Sua alteza real, Dom
Duarte pio de bragança, com o embaixador 7. ali emdored e eduardo ambar
mala Diplomática
65novembro/dezembro 2010 - diplomática •
➤ dr. José bouza Serrano, chefe
do protocolo do estado, profes-
sor vítor escária, do Gabinete
do primeiro-ministro, dr. manuel
pechirra, presidente do institu-
to luso-árabe de cooperação,
bem como muitos membros
deste instituto, além de amigos
pessoais da comunidade líbia
em portugal. os diplomatas da
embaixada da líbia em lisboa,
assim como as suas famílias,
estiveram presentes para dese-
jar boas vindas aos convidados.
dado o número e a importância
dos presentes, a recepção da
embaixada da líbia confirmou as
excelentes relações existentes
entre a líbia e portugal. ■
8 9
10 11 12
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14 15
8. os embaixadores dos emirados árabes Unidos, iraque, líbia, e amigos 9. embaixadora
da argélia, Fatiha Selmare com maria de bragança 10. José bouza Serrano com o embai-
xador 11. embaixador da líbia com vítor escária 12. ricardo espírito Santo Salgado e ali
emdored 13. omran Saieh, o embaixador e Waled buabdalla 14. embaixador de moçambi-
que e maria de bragança 15. embaixador dos emirados árabes Unidos e um convidado
66 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010
Celso vieira de Souza, embaixador do
brasil em portugal, recebeu uma plêiade
lusófona de convidados, altas individuali-
dades e figuras públicas; do corpo diplo-
mático à política, da cultura ao empresa-
riado, do meio social à área militar. entre
países irmãos e amigos, na residência
do embaixador, em lisboa, foi celebrado
recentemente em portugal, com pompa
e circunstância, o Dia da independência
do brasil. com a língua de camões
por pano de fundo e a comunidade dos
países de língua oficial portuguesa
(cplp) como enquadramento histórico e
afectivo.
na sumptuosa festa que teve por an-
fitriões o embaixador e sua mulher, a
embaixatriz lúcia vieira de Souza, um
dos momentos protocolares altos da ses-
são solene foi o agraciamento de que foi
alvo o presidente da câmara municipal
de lisboa, antónio costa, cuja simpatia e
cumplicidade para com o embaixador ➤
A festa lisboeta do Dia da Independência do Brasil Embaixador Vieira de Souza recebe diplomatas e notáveis
1. celso vieira de Souza usa da palavra na evocação da proclamação da
independência do brasil 2. os representantes do brasil em portugal foram os
cicerones da festa de 7 de Setembro
mala Diplomática
1
2
67novembro/dezembro 2010 - diplomática •
➤ foram evidentes. as fotos revelam-no.
celso vieira de Souza assumiu funções
a 11 de Junho. pretende estabelecer e
consolidar um canal de contínua interac-
ção com os vários segmentos represen-
tativos da sociedade lusa e da comunida-
de brasileira que reside no nosso país.
a independência do brasil é oficialmente
celebrada a 7 de Setembro, assinalando
o episódio do chamado Grito do ipiran-
gaG, ocorrido nesse dia do ano de 1822.
reza a história oficial que, nessa data,
o príncipe regente d. pedro terá excla-
mado perante a sua comitiva: ,inde-
pendência ou morte!i. terá sido aí, nas
margens do rio ipiranga (actual cidade
de São paulo) que começou a emanci-
pação política do país irmão do reino de
portugal, embora o início do processo
de transferência da corte portuguesa
para o brasil tenha sucedido a partir de
1808 e até 1821, no contexto da Guerra
peninsular. ■
3. o embaixador de itália, luca del balzo do presenzano, foi uma presença notada
na grande festa entre os dois países irmãos 4. antónio pinto ribeiro, em amena
cavaqueira nos jardins 5. encheram os jardins da residência oficial do embaixador
para as comemorações 6. antónio costa ficou muito lisonjeado com o agraciamen-
to de que foi alvo 7. Jerónimo de Sousa e bernardino Soares, associaram-se à
comemoração dos 188 anos da independência do brasil
3
5
7
6
4
68 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010
O embaixador Helmut elfenkäm-
per e sua mulher, Ulla elfenkäm-
per, tiveram a oportunidade de
festejar um aniversário especial na
sua residência, com cerca de 300
convidados, já que, este ano, se
comemorou pela 20ª vez a unifica-
ção das duas alemanhas.
esta ocasião teve um significa-
do especial, uma vez que, após
uma separação de décadas,
os alemães vivem, desde 3 de
outubro de 1990, novamente
unidos num só estado. este dia é,
desde então, o Feriado nacional
da alemanha – e não o dia 9 de
novembro, data em que se come-
mora a queda do muro, sobre a
qual se festejaram duas décadas
no ano passado e que suscitou
um grande interesse em toda a
europa. a queda do muro de ber-
lim constituiu apenas o arranque
de um processo. inicialmente, não
estava, de modo nenhum, claro
que, em menos de um ano, este
acontecimento teria como con-
sequência a reunificação alemã.
tanto na política interna, como na
externa, ainda seria necessário
ultrapassar diversos obstáculos.
portugal fez parte do grupo de
países que, logo desde o início,
apoiou claramente a unidade ale-
mã. tudo isto constitui razão para
que o embaixador elfenkämper
tivesse feito um agradecimento
no seu discurso : “a unificação foi
possível graças a condições ➤
RecepçãoDia da Unidade Alemã
1. embaixador Helmut elfenkämper e a embaixatriz Ulla elfenkämper 2. o ensemble Divers da orquestra Juvenil do land da re-
nânia do norte vestefália 3. ministro conselheiro Doutor Frank rückert, e sua mulher, dão as boas-vindas a luís neves e a João
carlos espada 4. o embaixador da república Federal da alemanha saúda altos representantes da marinha portuguesa
1 2
3 4
mala Diplomática
69novembro/dezembro 2010 - diplomática •
➤ históricas particularmente felizes.
nós, alemães devemos esta unifi-
cação também à compreensão que
encontrámos por parte dos nossos
vizinhos e parceiros. neste senti-
do, gostaria de dar especialmente
as boas-vindas aos representantes
das quatro potências – estados
Unidos, França, reino Unido e
rússia – hoje aqui presentes, mas
também aos representantes de
portugal: país que apoiou, desde o
início, as aspirações dos alemães
à unidade. Gostaria de saudar,
também, os representantes de
todos os países vizinhos da alema-
nha, e entre eles, os que connosco
superaram a divisão da europa, a
grande maioria dos quais se en-
contra actualmente unida a nós na
União europeia.”
Um ensemble de música de câmara
vindo do estado federado da renâ-
nia do norte-vestefália interpretou
composições que serviram de fun-
do à recepção e os hinos alemão
e português. entre os convidados
encontravam-se o vice-presidente
da assembleia da república, vera
Jardim, também presidente do
Grupo de amizade portugal-ale-
manha no parlamento português,
o ex-vice-presidente mota amaral
e representantes do ministério dos
negócios estrangeiros português,
inúmeros embaixadores, represen-
tantes do corpo diplomático e da
comunidade alemã em portugal,
entre muitos outros. ■
5. embaixador Helmut elfenkämper e sua mulher com antónio eira leitão e Stephan Stieb 6. Helmut elfenkämper e o vice-presiden-
te da assembleia da república, José vera Jardim 7. embaixador com o deputado mota do amaral e manuel Ferreira enes
8. conselheira miriam Wolter à conversa com João carlos espada e o tenente-coronel João alvelos
5 6
7 8
70 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010
Maria Helena Daget por antónio manuel pinho, fotos de antónio porto
“É preciso encontrar os caminhos que possibilitem
reequilibrar a economia. Porque a economia não é só
números, é também capital humano.” ➤
EmprEsários intErnacionais
Entrevista
Uma empresária que lidera uma importante multinacional
71novembro/dezembro 2010 - diplomática •
➤ É fascinante ouvir esta mulher
sem idade, mas com a sabedoria
ancestral de uma andarilha desta
vida, eterna [mas lúcida] portadora
de utopias. desde logo, a primeira
de todas, sonhar com um outro
mundo em que as pessoas sejam o
centro, mesmo na economia…
maria Helena daget, ceo da te-
chdrill - que desenvolve software,
serviços, peritagens e formação
para o ramo petrolífero -, pode
orgulhar-se de ser hoje a face
visível de uma empresa que está
no segundo lugar mundial deste
exigente nicho de mercado. a sua
humanidade, porém, não apaga,
antes revela, uma gestora rigorosa
e firme, de uma tenacidade que,
provavelmente, foi buscar à he-
rança paterna, ao carácter de um
progenitor que foi um dos maiores
empresários portugueses e que,
também, enfatizava a importância
das pessoas no desenvolvimento
das empresas e dos negócios.
aqui se conta como nasceu o so-
nho, como maria Helena se afirmou
num universo predominantemente
masculino e como, tantos anos
depois, ainda se entrega com a
mesma generosidade a uma outra
utopia…
Em 1971, salvo erro, resolveu
sair do país.
exactamente. Fui para paris. Saí,
nessa altura, porque casei com um
engenheiro francês…
Patrick Daget. Conheceu-o cá?
conheci-o em luanda. patrick era
director da perfuração da total.
entrei para a total, quando esta
companhia de petróleos abriu a
filial em angola. anteriormente era
professora de liceu. Um mundo tão
diferente do ensino. no inicio tive
a ajuda de meu pai, que era sócio
co-fundador da mota & companhia,
e me abriu muitas portas.
Portanto, Mota & Companhia…
origem familiar no porto…
porto, braga e Gerês, mais preci-
samente. os meus avós paternos
eram donos do Hotel ribeiro, no
Gerês. e, do lado da minha mãe,
havia uma ligação à hotelaria,
também no Gerês. no porto, em
braga e também em lisboa tenho
ligações familiares.
Foi, então, para Angola.
a mota & companhia tinha, en-
tão, várias empreitadas na antiga
colónia, nomeadamente, estradas,
aeroportos e barragens. ia passar
férias em angola onde os meus
pais residiam.
estudei em braga e dois anos em
angola. Fiz o 7º ano no liceu de bra-
ga e depois fui estudar para a Suíça,
línguas modernas e economia.
E essa incursão na economia
veio a ser muito útil quando se
tornou empresária – o que, dedu-
zo, nunca lhe teria passado pela
cabeça…
não foi bem assim. Sempre que
estava de férias escolares, o meu
pai puxava-me para os negócios.
e, aos poucos, fui descobrindo com
prazer esse mundo.
É evidente que os conhecimentos
de economia e finanças me foram
muito úteis quando mais tarde me
lancei na luta empresarial.
E correu mundo com Patrick.
Onde havia petróleo, estavam lá.
(risos) primeiro com a total,
(patrick daget foi um dos primei-
ros 4 engenheiros que a total
contratou para começarem a fazer
sondagens petrolíferas). mais tarde
com a Shell, e também na blocker
energy, uma empresa americana.
vivemos em paris, em londres, na
escócia, na tunísia, nos estados
Unidos, no médio oriente.
durante este anos, continuei a
estudar economia, management e
finanças. e fundámos a techdrill
– que celebrou 20 anos em 12 de
Setembro passado.
era para aí que eu ia… para o iní-
cio do sonho…
do patrick. não era o meu, de ma-
neira nenhuma, porque se trata de
uma tecnologia de ponta.
O que me parece fascinante, na
sua trajectória profissional, é
que se afirma num mundo mas-
culino. E, de uma forma geral,
as mulheres têm de ter um outro
tipo de empenhamento para se
afirmarem. Teve de desbravar
caminhos.
É verdade. mas um dos países que
conheci primeiro, o nosso – e que
dava oportunidades às mulheres –,
foi portugal. parece estranho, num
país que poderia parecer machista,
tenho primas e amigas que se for-
maram, já nesse tempo, em enge-
nharia – um curso tendencialmente
masculino. reporto-me aos anos
sessenta, que marcam o grande flu-
xo das mulheres nas universidades.
Mas, quando começou a sua acti-
vidade nos petróleos, não sentiu
que era um corpo estranho?
não senti muito, porque tudo
aconteceu por fases. Utilizei o
que podemos chamar “o adn dos
portugueses”. nós temos uma
grande qualidade – aliás, revelada
pela nossa História -, arranjamos
solução para tudo à última da hora.
porém, também tinha um problema,
a planificação. aprendi o método
de planificar e organizar na Suíça,
mais tarde nas universidades em
França e na escócia. a actividade
nos petróleos tem sido uma grande
aventura, mas também uma grande
sorte, que me oferece experiências
e desafios por vezes difíceis mas
sempre interessantes.
para evitar sentir-me um corpo
estranho no mundo dos petróleos,
apoiei-me nas pessoas que sabiam
mais do que eu. tem de haver
essa humildade intelectual.
Não a imagino líder de gabine-
te. Gosta de saber como são as
coisas? ➤
72 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010
➤ nunca fui líder de gabinete.
tenho sempre que saber como se
fazem as coisas “cá em baixo” - e
a todos níveis - para perceber e
poder gerir. porque para se mandar
tem de se conhecer a dinâmica,
o mecanismo. não tenho que ser
uma engenheira de perfuração
nem de informática, mas tenho de
perceber o processo, senão não
consigo liderar.
Portanto, nunca sentiu nenhum
tipo de constrangimento por ser
mulher.
na fase de angola, nunca senti.
onde senti o choque foi em paris
em 1971. aí foi difícil porque sou
portuguesa e a imagem de portugal
não era muito boa nessa altura. era
o tempo da emigração portuguesa
que fugia à miséria. e, portanto, aí
foi um duplo combate: impor-me
como mulher e como portuguesa.
Foi o seu marido que criou o
software que está na origem da
Techdrill e a afirmou nos mer-
cados. Deduzo que tudo tenha
começado por um pequeno
escritório…
com efeito, montámos o primeiro
escritório no nosso apartamento,
que era enorme, começámos por
contratar uma secretária e um en-
genheiro informático. Durante qua-
tro ou cinco meses foi assim, até
que reunimos amigos, colegas do
patrick, todos como ele altos exe-
cutivos das grandes companhias
petrolíferas mundiais: pierre orieux
(chairman), Jean-pierre anselmini,
Jean miramon, patrick Jonville. e
fui buscar um dos meus filhos – o
miguel -, que é um especialista
em marketing, gestão e comércio
internacional que, por essa época,
trabalhava na thompson. Foi com
esta equipa e outros colaborado-
res que preparámos a saída para
o mercado. Foi difícil, porque o
nosso projecto era precursor. Foi
tudo a pulso, a desbravar caminho,
estudos de mercado… no ramo da
perfuração não havia nada.
este software visa, essencialmente,
duas coisas: optimizar os meios e
reduzir os custos na perfuração.
a perfuração de poços de petróleo
e de gás é uma actividade de altos
riscos, humanos, financeiros e téc-
nicos. os nossos softwares cobrem
todos os aspectos desde a planifi-
cação à execução da perfuração.
transpondo isto para a área da
construção civil, poderemos dizer
que, no processo, o nosso papel é
o mesmo dos arquitectos, com os
nossos programas planificamos o
poço todo. Depois, temos a fase de
execução, que nos permite ver por
onde podemos ir. por exemplo, um
dos nossos programas chama-se
“radar” e ele permite-nos contro-
lar a trajectória do poço e detectar
as potenciais colisões com poços
produtivos vizinhos.
E, de alguma forma, este softwa-
re funciona como um sistema de
segurança.
exactamente. os programas com-
portam todas as áreas: controle de
poços, desenho dos tubos, cimen-
tação, a trajectória de perfuração…
comportam tudo, desde a planifica-
ção à realização.
A empresa surge em 1990.
Sim, embora tenhamos começado
o processo em 1987, construindo
os programas, fazendo testes,
montando a estrutura. mas, para o
mercado, só aparecemos em 90.
E qual a quota de mercado da
Techdrill?
Surgimos no mercado em paris.
Desde 1996, somos uma empresa
britânica. penso que deveríamos
ter começado nos e.U.a., porque
ali há uma outra cultura empresa-
rial, há um outro apoio às novas
tecnologias. comparativamente, a
França é bastante conservadora. e,
agora – imagine -, tratando-se de
uma mulher e de uma portuguesa,
as dificuldades foram conside-
ráveis. mas, curiosamente, num
contexto mais global, nunca senti
mais essa discriminação.
Mas, voltando à concorrência…
nós aparecemos primeiro. Depois,
surgiram dois “gigantes” – e fomos
muito assediados para vender a
empresa. Um deles é a Halliburton.
o presidente dessa empresa era,
na altura, Dick cheney, que mais
tarde foi vice-presidente dos e.U.a.
e, depois, a Schlumberger – outro
“gigante”… mas hoje já só nos de-
frontamos com um deles, porque a
Schlumberger retirou, há uns qua-
tro ou cinco meses, o seu software
do mercado. portanto, actualmente,
o líder em termos de volume de ne-
gócios é a Halliburton. estamos na
posição de sermos o número dois
do ranking neste segmento.
Como conseguiram impor-se no
mercado?
os nossos softwares têm quatro
vantagens competitivas:
“Drilling logic”: Uma lógica de
perfuração.
“User Friendly”: e, sendo produtos
hiper-sofisticados, têm a vantagem
de poderem ser utilizados pelos en-
genheiros, o que dispensa custos
acrescidos de acompanhamento
na utilização. É, quase, o conceito
“use você mesmo”. ou seja, depois
de uma formação curta, pode ser
manipulado pelos clientes. e isso é
uma grande mais-valia.
“all-in-one”: os dados são introdu-
zidos uma vez e estão disponíveis
em todos os módulos dos softwa-
res.
independência: a techdrill tem
uma vantagem acrescida nos
serviços que presta. Somos espe-
cialistas independentes, não temos
actividades noutras áreas, estamos
só neste nicho e, naturalmente,
podemos dar um apoio mais eficaz
aos nossos clientes. a techdrill
não tem conflito de interesses. ➤
Maria Helena Daget
73novembro/dezembro 2010 - diplomática •
Maria Helena Daget
74 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010
➤ prestamos serviços de formação,
de treino, de peritagem, de aconse-
lhamento e de auditoria de perfura-
cao.
Mas as tecnologias de informa-
ção também ajudaram ao proces-
so de afirmação da empresa.
claro, a internet foi e é muito im-
portante. Uma holding como a nos-
sa nunca poderia estar em tantos
países se não existisse a internet.
por exemplo, com um programa
específico, podemos fazer video-
conferência daqui para a china e,
no computador do engenheiro que
está na china, aparece o nosso
software, e a partir de londres, por
exemplo, o nosso engenheiro faz
uma demonstração ao vivo ou de
apoio técnico. ou seja, em vez de
termos que fazer a viagem para
resolver um problema, estamos a
falar com o cliente e a dar resposta
em tempo real.
E, ao que sabemos, a Techdrill
ajudou a encontrar soluções
para a tragédia que ocorreu com
o poço da BP.
como muitos outros, propusemos
soluções. Foi uma situação dramá-
tica. como pode compreender, este
tema é confidencial.
O processo de internacionaliza-
ção da empresa é algo de notá-
vel.
estamos em 51 países. não quer
dizer que tenhamos escritório em to-
dos eles, temos agentes, até porque
a internet é uma auto-estrada fan-
tástica que nos permite estar desde
o peru à austrália, no Sudão, no
paquistão, na líbia, na rússia… ➤
“Nunca fui líder de gabinete.
Tenho sempre que saber como
se fazem as coisas ‘cá em
baixo’ para perceber e poder
comandar. Porque para se
mandar tem de se conhecer a
dinâmica, o mecanismo”
Maria Helena Daget
75novembro/dezembro 2010 - diplomática •
➤ e isso sustenta todo um suporte
de apoio que garante a excelên-
cia dos nossos serviços, baixando
substancialmente os custos de
apoio ao cliente, sem afectar a
qualidade da oferta. paralelamente,
temos um departamento de pesqui-
sa que apresenta novas versões
anualmente, novos instrumentos
que permitem dar resposta às novas
necessidades concretas. no mês de
maio apresentámos em Houston um
novo módulo para perfurações em
águas profundas. este módulo é um
grande avanço tecnológico que aju-
dará a perfuração no mar em águas
profundas.
Mas é curioso que, sendo a
Techdrill uma empresa de dimen-
são internacional, não perdeu
aquele lado familiar, muito pró-
prio, aliás, da cultura empresa-
rial latina.
É, mas também tem cultura empre-
sarial americana. a entrada de bo
eagles na techdrill - americano
ex-executivo da cameron e da
Weatherford - ajudou a alargar a
cultura da empresa para melhor
penetrar nos estados Unidos e
internacionalmente. mas, não deixa
de ser verdade, temos essa com-
ponente familiar.
Dos quatro filhos, dois estão na
vossa empresa.
Sim, o Filipe, que é o mais novo
dos rapazes e é advogado, tam-
bém está na empresa a fazer um
trabalho extraordinário, porque,
sendo de formação jurídica, entrou
muito bem na área do desenvolvi-
mento do negócio a nível mundial.
ele é responsável pela filial ameri-
cana.
a daphné, que está na área finan-
ceira, mas que também tem feito
carreira por outros lados, nomeada-
mente no Grupo paris match, onde
foi directora financeira de uma filial.
mas, na família, sempre pensámos
que os filhos tinham de ir aprender
primeiro, a dizer “yes, sir”. e todos
eles foram trabalhar fora, antes ou
depois de virem para a empresa.
porque entrando para uma empre-
sa semi-familiar como é a nossa,
obviamente que têm vantagens,
estão muito mais depressa no con-
selho de administração… come-
çar por baixo, subindo a pulso, dá
outra disciplina e outros métodos
de trabalho, rigor, obediência, para
saberem ouvir quando são líderes.
o miguel – a que já fiz referência –
ocupa, há cerca de dois anos, um
posto importante na Schlumberger.
Sempre pensámos - o patrick e
eu -, desde o início da techdrill,
que seria bom para nossos filhos
irem ver como se trabalha noutras
empresas multinacionais, o que
permite ampliar a visão dos negó-
cios, do mundo do trabalho, porque
isso é muito importante para a sua
valorização como profissional e
como pessoa.
a caroline fez estágios na nossa
empresa e, porque é uma criati-
va, muito ligada às artes, entrou
para fazer um estágio na Warner
brothers há nove anos e aí está a
fazer uma carreira linda.
tivemos muita sorte com os filhos,
fizeram estágios, são profissionais
e têm-se afirmado.
A Techdrill contraria aquele mito
de que “não se deve fazer negó-
cios com amigos”.
desde há vinte anos que a em-
presa se mantém com os mesmos
associados, pessoas com quem
o meu marido se foi relacionando
num período anterior à constituição
da techdrill. verdadeiros amigos,
do patrick e meus. Homens que fo-
ram, presidente e vice-presidente,
administradores, directores gerais,
executivos de grandes empresas
internacionais e que, em determi-
nada altura, decidiram perseguirem
este sonho. São também a “família”
que escolhemos.
Quantos colaboradores têm?
nós começámos num período
difícil, em que ocorreu um choque
petrolífero. e a “moda” era “deitar
fora” as pessoas. assisti a um se-
minário, em bruxelas, em que esta-
vam presentes oitenta companhias
mundiais – foi a minha experiência
mais aterrorizadora. como era a
única mulher, puseram-me à mesa
dos presidentes das maiores com-
panhias. e diziam: “tenho 340 mil
empregados e vou ter que despedir
120 mil. e eu estava quase em pâ-
nico. a empresa ainda era recente,
éramos uns dez ou doze. e pensei:
“quando disser o número de cola-
boradores, já mais ninguém me fala
o resto do jantar” (risos). e, quando
chegou a minha vez, disse: “nós
somos flexíveis, mas a estratégia
que vou implementar é termos uma
base de pessoas essenciais à em-
presa e, depois, conforme os pro-
jectos, vamos contratando consul-
tores”. eles acharam que aquilo era
uma grande inovação. mas nunca
cheguei a dizer quantos éramos. e,
ainda hoje, mantemos essa política
de gestão. e os nossos consultores
vão e vêm regularmente segundo
os projectos, há 20 anos.
mas, respondendo à sua pergun-
ta, teremos hoje à volta de 130
colaboradores, que muito preza-
mos. São a riqueza da empresa.
e posso dizer que nunca tive um
colaborador que me tenha pedi-
do aumento de salário, porque
nos antecipamos sempre. nunca
conseguimos fazer nada sozinhos,
temos de ter uma equipa e, dentro
das nossas possibilidades, mantê-
la feliz, tratá-la com respeito e
consideração. e isso tem a ver com
a cultura de uma empresa que nas-
ceu de uma utopia e que procura
manter uma estrutura fixa, até por
uma questão de gestão de recur-
sos na sua formação. tento ouvir e
ser humana. mas sou exigente. ➤
76 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010
➤ infelizmente, nos últimos anos,
tem havido uma tendência para a
desumanização das relações entre
as pessoas. nas empresas de nos-
so estilo, as pessoas não podem
ser números, porque a riqueza
fundamental para a empresa é o
“Know-how” interno.
Há um outro velho sonho – este
sim, de sua “maternidade” exclu-
siva – que é o de criar, em Portu-
gal, uma escola de formação na
área dos petróleos.
o sonho é mesmo meu, neste
caso, não é do patrick (risos). Senti
na pele durante vários anos, por
vezes com bastante sofrimento,
a imagem que era veiculada do
nosso país, a falta de preparação
dos trabalhadores emigrantes que,
no entanto, sempre manifestaram
essa ousadia de fugir à miséria e ir
à aventura. Hoje a realidade é um
pouco diferente, porque os des-
cendentes de segunda e terceira
gerações já vão para a universi-
dade, são quadros qualificados e
empresários de sucesso. nós fun-
dámos – e isso não foi ideia minha,
foi uma ideia do meu filho miguel
– uma escola de Formação no
méxico, onde já ultrapassámos o
número de 700 engenheiros forma-
dos. Um ensino com vários níveis:
diplomados, mestrados… vários
escalões, formação contínua para
técnicos e quadros. e tem sido um
sucesso. Daí, ter-me interrogado:
”por que não levar esta ideia para
portugal?”.
não sei se sou utópica, nem se
isto corresponde a um desejo de
portugal, mas a questão é esta: se
temos ex-colónias como angola, S.
tomé e príncipe, timor, onde se
fala a mesma língua, onde temos
alguma influência, temos também
todas as condições para dar for-
mação a engenheiros e técnicos
originários destes países com inte-
resses económicos no petróleo. e
isto permitiria também formar mais
engenheiros de petróleo portugue-
ses. e porque não um mini-instituto
do petróleo português - como es-
panha já tem?
É uma questão de geopolítica, de
estratégia a longo prazo…e este
projecto poderia abrir a porta a
novos empregos no mundo dos pe-
tróleos para engenheiros e técnicos
portugueses.
Mas seriam necessários parcei-
ros para um tal projecto.
claro que sim, desde logo, por
exemplo, a Galp, a partex e,
naturalmente, o próprio estado,
quer através dos ministérios, quer
através das universidades.
e este ensino universitário, para
além da sua existência física numa
universidade ou numa escola
superior, tem uma lógica de itine-
rância, ou seja, se for preciso vai
às próprias empresas dar cursos.
como, aliás, o fazemos mundial-
mente. não é nenhum milagre,
pode ser até uma gota no oceano,
mas são janelas de oportunidade
que se abrem às necessidades de
formação.
esta é uma área onde existe um
grande deficit de mão-de-obra
qualificada a nível mundial. e pode
ser mais uma ponte de cooperação
no quadro dos países da lusofonia.
e, numa segunda linha, poderia até
atrair algumas empresas do sec-
tor petrolífero a instalar filiais em
portugal.
acredito que haja uma grande
possibilidade de presença de gás
natural no algarve, nas águas
profundas, como existe na zona
marítima confinante na espanha.
portugal poderia ser um actor.
Há uma lógica de crescimento re-
lativo das energias renováveis e,
de alguma forma, isso irá afectar
o mercado do petróleo. A Te-
chdrill prevê dedicar-se a outras
áreas, para além dos petróleos?
não, de todo. Somos bons e
reconhecidos – se não, ao fim de
vinte anos já não existiríamos -,
devemos manter a nossa imagem
naquilo em que somos especialis-
tas de topo e não nos lançarmos
em dispersões. mas considero
que as energias que referiu são
uma necessidade para o equilíbrio
ecológico e para uma adequada
gestão de recursos. e é importante,
também, porque força as empresas
do petróleo a serem cada vez mais
conscientes e amigas do ambiente.
Não lhe parece que, nos últimos
anos, houve uma perigosa deriva
da economia para os mercados
financeiros e a especulação?
ainda assim, não sou tão pessi-
mista. continua a haver empresas
onde o capital humano é referen-
cial, onde as jóias da empresa são
as pessoas colocadas no lugar
certo. não foi tudo tomado pela
“selva”. mas continua a haver um
domínio terrível da finança, que
gerou também o preço especulati-
vo do petróleo. e os bancos foram
infectados por uma lógica absurda
que nos pôs a todos numa situação
por vezes difícil. É preciso encon-
trar os caminhos que possibilitem
reequilibrar a economia. porque
a economia não é só números, é
também o capital humano. nes-
se sentido, é fundamental realçar
o papel social da economia. e é
essencial a cooperação entre cola-
boradores, empresários, sindicatos
e Governo. temos de nos ouvir a
todos e encontrar soluções positi-
vas e benéficas para ajudar o país
a sair da crise.
isto é válido para portugal, para
França, e tantos outros países
onde observo os problemas actuais
da crise económica.
não venho ao portugal para dar
lições mas gostava de colaborar
humildemente num projecto para
bem do nosso país. ■
Maria Helena Daget
77novembro/dezembro 2010 - diplomática •
Por ocasião do dia nacional do seu
país, o embaixador da indonésia,
albert matondang, convidou para
a recepção, no marriott Hotel, em
lisboa, personalidades dos mais
diversos meios sociais, diplomáticos,
económicos e políticos.
a reunião decorreu num ambiente de
grande cordialidade, tendo o embai-
xador discursado.
a indonésia e portugal mantêm uma
cooperação construtiva e produtiva
na onU e outros fóruns interna-
cionais. Segundo o embaixador, a
cooperação bilateral entre portugal
e a indonésia pode aumentar ainda
mais no futuro. os laços históricos e
culturais iniciados pelos navegado-
res portugueses são recursos que
podem ser utilizados nas relações
bilaterais. como resultado da longa
interacção das duas sociedades,
muitas palavras portuguesas foram
absorvidas da língua nacional e
da música tradicional portuguesas.
o fado é um ícone português que
influenciou o músico indonésio
Keroncong.
“aproveito esta oportunidade para
confirmar o compromisso da indo-
nésia para continuar a expandir os
laços com portugal. e agradeço
sinceramente ao Governo de por-
tugal pelo seu contínuo apoio para
reforçar o actual bom relacionamento
bilateral”.
a 17 de agosto de 1945 foi o dia
em que a república da indonésia
declarou a independência. desde aí,
tem feito progressos significativos
para desenvolver o país. a paz e
a estabilidade têm sido muito bem
conservadas e a indonésia tornou-
se um país democrático, enquanto
a sua economia continua a crescer
positivamente, atingindo 4,9% no
ano passado e devendo crescer 6%
este ano. ■
Dia Nacional da Indonésia
1. albert matondang a discursar 2. o anfitrião com o embaixador pinto da França e
sua mulher 3. Selly pada, mulher do conselheiro cultural da indonésia, com outra
convidada, vestidas com trajes tradicionais indonésios 4. luciano da Silva, cônsul
Honorário da indonésia no porto, cumprimenta perry pada, conselheiro cultural da in-
donésia 5. luciano da Silva cumprimenta o embaixador da indonésia albert matodag
1
2 3
4 5
mala Diplomática
78 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010
O embaixador do egipto em
portugal, amgad maher abdel
Ghaffar, ofereceu uma festa
de despedida para agradecer
todo o apoio recebido durante a
sua permanência em portugal.
compareceram amigos e indi-
vidualidades dos mais diversos
meios: diplomáticos, políticos,
culturais, militares, empresa-
riais e outras figuras de relevo
do meio social, que não quise-
ram deixar de homenagear o
diplomata egípcio.
localizado no nordeste da
áfrica, no encontro com a ásia,
o egipto é berço de uma das
mais importantes civilizações da
antiguidade. Dinastias de faraós
levantaram construções gran-
diosas, como as pirâmides de
Quéops, Quéfren e miquerinos,
consideradas patrimónios da
Humanidade.
o território egípcio é desértico,
salvo nas margens do rio nilo e
na costa do mediterrâneo, onde
fica o delta do rio. atravessando
o país de norte a sul, o rio nilo
é sua fonte de vida e trabalho,
garante o abastecimento de água
e energia eléctrica, e possibilita
o desenvolvimento da agricultura
ao longo de seu curso.
cerca de 90 por cento da popu-
lação, a segunda maior da áfrica
e a maior do mundo árabe, vive
em suas proximidades, concen-
trada em apenas 4 por cento
do território. o islamismo é a reli-
gião de mais de 80 porcento dos
habitantes. as mulheres egípcias
têm hábitos bastante ocidentali-
zados para os padrões árabes:
grande parte trabalha fora e a
maioria não usa véu sobre o
rosto. ■ ➤
Despedida do Embaixador do Egipto Amgad Maher Abdel Ghaffar
1 2
3 4
5
1. o embaixador do egipto e maria de bragança 2. a embaixadora da noruega, inga
magistad e o embaixador da argentina, Jorge Faurie 3. o embaixador da Suíça, rudolf
Schaller 4. maria carrilho, maria de bragança e ridha Farhat, ex-embaixador da tuní-
sia 5. o embaixador de itália, luca de presenzano
Mala DiploMática
79novembro/dezembro 2010 - diplomática •
5 6
7 8
5. os embaixadores da coreia do Sul com a nossa directora 6. Senhora de ridha Farhat, Hanene e o em-
baixador do iraque, Hussain Sinjari 7. Francisco mendes palma e maria de bragança 8. embaixadores de
inglaterra e do egipto
80 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010
Os embaixadores da coreia do
Sul receberam os seus convida-
dos para comemorarem a festa
do Dia nacional do seu país.
estiveram presentes embaixa-
dores, empresários, intelectuais,
elementos da comunidade sul
coreana e individualidades liga-
das à cultura e à política.
o embaixador Dae-Hyun Kang
proferiu algumas palavras: “este
é um dia muito especial e signifi-
cativo para a coreia. nesta data,
em 2333 a.c., começou a história
do povo coreano. por isso, a 3
de outubro, celebramos os 5 mil
anos da nossa venerável história.”
as relações de amizade e coo-
peração entre a coreia do Sul
e portugal estão cada vez mais
fortes. no próximo ano de 2011,
comemoram-se os 50 anos de
relações diplomáticas entre os ➤
Dia Nacional da Coreia do Sul
1 2
3 4
1. a festa do Dia nacional da coreia do Sul contou com a presença do de-
putado social-democrata Jorge costa
2. o embaixador Dae-Hyun Kang proferindo o seu discurso
3. os anfitriões com maria de bragança
4. embaixador do paquistão, Gui Haneff, e sua mulher
mala Diplomática
81novembro/dezembro 2010 - diplomática •
➤ dois países. e, através desta
ocasião muito especial, acredito
que as relações entre a coreia
e portugal vão prosperar ainda
mais no futuro. vamos todos de-
sejar o progresso das relações
entre os dois países”.
a coreia é uma das civilizações
mais antigas do mundo. através
do tempo, a história do país tem
sido turbulenta com numerosas
guerras, incluindo invasões (tan-
to chinesas como japonesas).
enquanto o Governo adoptou
oficialmente a democracia de es-
tilo ocidental desde a fundação
da república, os processos de
eleições presidenciais sofreram
grandes irregularidades.
Hoje, a península coreana é
vista como uma das zonas mais
voláteis no palco internacional,
herança da Guerra Fria. ■
5 6
7 8
9 10
5. o embaixador, e a sua mulher, com Jorge costa, José lello, antónio devesa de
Sá pereira e domingues dos Santos
6. embaixador da Suíça, rudolf Shaller, com vera chalaça, assessora do Secretário
de estado da administração local, e outro convidado
7. os embaixadores com maria de belém roseira
8. luís Soares de oliveira e sua mulher
9. paulo Saragoça da matta, mário Silveiro de barros com terceiro Secretário lee
dong Gyu e sua mulher,
10. Uma convidada sul-coreana com trajes tradicionais
82 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010
Meio século passou desde a
implantação da democracia ame-
ricana no 50º e último território a
integrar a federação dos estados
Unidos da américa. a 21 de agosto
de 1959, durante a presidência de
eisenhower, a emenda aprovada
no congresso de 1957, que eleva-
va o Havai à categoria de estado,
foi assinada.
o arquipélago situado a meio do
oceano pacífico foi o único estado
americano governado por uma mo-
narquia, desde os finais do século
Xviii até à sua anexação em 1898
pelos eUa. talvez, se não mesmo,
o maior marco, na história ameri-
cana e mundial, das ilhas desco-
bertas por James cook em 1778,
tenha sido o porto das pérolas
(pearl Harbor). pois, o ataque japo-
nês, em 7 de Dezembro de 1941, à
base naval fez com que os estados
Unidos entrassem oficialmente na ➤
MeMória DiploMática
Havai. 50 Anos de Democracia
1
83novembro/dezembro 2010 - diplomática •
➤ ii Guerra mundial.
a população do arquipélago ha-
vaiano é multicultural, constituída
por uma mistura de colonos poliné-
sios com ascendentes da europa,
alguns da madeira e dos açores,
que foram para lá trabalhar nas
plantações de açúcar, bem como
com imigrantes asiáticos.
o Havai das praias e paisagens
paradisíacas, do “surf”, da “Hula”
(dança tradicional do Havai com
saias de palha), das camisas às
flores, e do “ukulele” (o cavaquinho
que os imigrantes madeirenses
levaram para Honolulu, capital
havaiana) tem actualmente outro
motivo de reconhecimento – bara-
ck obama. o primeiro presidente
afro-americano da história dos
eUa eleito, precisamente, neste
mesmo ano em que a sua pátria
comemora os cinquenta anos de
democracia. n
2
3
4
1. o arquipélago situado a
meio do oceano pacífico
foi o único estado ameri-
cano governado por uma
monarquia, desde os finais
do século Xviii até à sua
anexação em 1898 pelos
eUa.
2. 3. e 4. o Havai das praias e
paisagens paradisíacas, do
“surf”, da “Hula”, das cami-
sas às flores, e do “ukulele
84 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010
“A liberdade, a justiça e a paz têm
por base o reconhecimento da
dignidade intrínseca e dos direitos
iguais e inalienáveis do ser huma-
no”. esta frase assinalada pelos
estados-membros da organização
dos estados americanos (oea) na
acta final da 5ª reunião de con-
sulta de ministros das relações
exteriores, celebrada em Santiago
do chile de 12 a 18 de agosto de
1959, mudou a realidade dos esta-
dos americanos e vincou a impor-
tância da salvaguarda dos Direitos
Humanos. a criação da comissão
interamericana dos Direitos Hu-
manos (ciDH), em 18 de agosto
de 1959, foi o primeiro passo para
promover o respeito de tais direi-
tos. nascia assim uma comissão
com a missão de supervisionar a
complacência dos estados-mem-
bros da oea com a Declaração
americana dos Direitos e Deveres
do Homem, adoptada em maio de
1948 em bogotá. o outro órgão
que faz parte do Sistema interame-
ricano de protecção e promoção
dos Direitos Humanos nas amé-
ricas é a corte interamericana de
Direitos Humanos, estabelecida
em 1979, cujo propósito é aplicar e
interpretar a convenção americana
de Direitos Humanos (caDH) e ou-
tros tratados de Direitos Humanos.
a ciDH comemora este ano meio
século de existência dedicados
com determinação ao espírito da
democracia e dos Direitos Huma-
nos, colocando o ser humano no
eixo central, tal como se compro-
meteram os países do hemisfério
na carta da oea.
nos primeiros tempos, esta institui-
ção caracterizou-se pela realização
de visitas in loco e denúncia das
graves violações contra os direitos
dos cidadãos em vários países da
região marcados pela instabilida-
de democrática e pelas ditaduras.
o triunfo da democracia não fez
com que a ciDH abrandasse a
sua política e, actualmente, o seu
trabalho de campo continua a ser
um instrumento essencial para a
protecção e promoção dos Direitos
do Homem. a comissão e a corte
interamericana são as faces de
soluções de violação dos Direitos
Humanos e da criação de padrões
interamericanos para a protecção
dos direitos das pessoas.
para além destas características e
capacidades, a comissão interame-
ricana recebe, analisa e investiga
petições individuais que alegam
violações dos direitos humanos;
observa o cumprimento dos direitos
humanos nos estados-membros, ➤
MeMória DiploMática
50 anos de Direitos Humanos proclamados pela OEA – Organização dos Estados Americanos
1. a criação da comissão interamericana dos Direitos Humanos, a missão de supervisionar a complacência dos estados-membros
da oea com a Declaração americana dos Direitos e Deveres do Homem
1
85novembro/dezembro 2010 - diplomática •
➤ e quando o considera convenien-
te, publica as informações espe-
ciais sobre a situação num estado
específico; estimula a consciência
dos direitos Humanos nos países
da américa. além disso, realiza
e publica estudos sobre temas
específicos como, por exemplo:
medidas para assegurar maior
independência do poder judiciário;
para terminar com a censura pré-
via; actividades de grupos armados
irregulares; a situação dos direitos
humanos dos menores, das mulhe-
res e dos povos indígenas; forta-
lecer a participação política dos
habitantes; garantir a igualdade
aos grupos vulneráveis; respeitar
os direitos dos trabalhadores, etc.
realiza e participa em conferên-
cias e reuniões com diversos tipos
de representantes de Governos,
universitários, organizações não
governamentais, entre outros, para
difundir e analisar temas relaciona-
dos com o Sistema interamericano
de direitos Humanos; faz recomen-
dações aos estados-membros da
oea acerca da adopção de medi-
das para contribuir com a promo-
ção e garantia dos direitos Huma-
nos; requer aos estados-membros
que adoptem “medidas cautelares”
específicas para evitar danos
graves e irreparáveis nos direitos
Humanos em casos urgentes; e
solicita “opiniões consultivas” à
corte interamericana sobre aspec-
tos de interpretação da convenção
americana.
São cinquenta anos a defender
a dignidade dos seres humanos,
mas não só, também a ajudar a
construir um estado de direito
na região. tarefas possíveis de
realizar devido à combinação
de dois factores: estado e so-
ciedade civil. o relacionamento
híbrido entre estados, socieda-
de, cidH e corte interamerica-
na, tornam-nos no núcleo duro
do Sistema interamericano dos
direitos Humanos.
Um caminho marcado pela dificul-
dade, mas também pelo êxito, e
que está longe de chegar ao fim.
os desafios existentes são inume-
ráveis: a pobreza, a fome, as desi-
gualdades sociais, a insegurança,
a violência doméstica, a falta de
acesso à saúde e à educação, são
algumas das preocupações em que
todos os cidadãos, e não apenas a
cidH, se devem debruçar.
estas cinco décadas são a de-
monstração de que a luta pelos
direitos Humanos deve continuar
em busca de soluções para resol-
ver os desafios pendentes. n
2. corte interamericana de direitos Humanos, estabelecida em 1979, cujo propósito é aplicar e interpretar a convenção americana
de direitos Humanos (cadH) e outros tratados de direitos Humanos 3. estados, sociedade, cidH e corte interamericana núcleo
duro do Sistema interamericano dos direitos Humanos
2
3
86 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010
Tem uma larga experiência no
ramo automóvel. No contacto
com as pessoas, no dia-a-dia, já
que está num sector que mexe
com tanto dinheiro, como é que
lida com a descrença quase
generalizada em relação à saúde
económica?
o sector diplomático é beneficiado
porque não se pagam impostos,
logo aí existe uma certa diferença
nos preços. Já tenho alguns anos
de marcas premium, que não se
ressentem tanto nestas alturas. o
cliente continua com o mesmo fundo
de maneio, com o mesmo poder de
compra. muitas vezes, só não com-
pra porque não convém nessa altu-
ra, mas compra sempre. Um mês ou
dois depois, acaba por comprar.
O longo trajecto do João Lima
passou por várias marcas. Está
agora (desde Abril último) a tra-
balhar na Caetano Baviera. Que
diferenças encontra entre traba-
lhar uma marca premium e numa
generalista?
estou nos automóveis há 20 anos.
comecei em 1989, no importador
duma das melhores marcas ➤
João Lima por nuno Sá, fotos de lígia correia
Diplomatic and Direct Sales Consultant da Caetano Baviera/BMW:
“Temos de perceber quais são os interesses e as necessidades da Embaixada ou do Embaixador”
João Lima, 47 anos, é a cara exclusiva de um novo projecto da Caetano Baviera – BMW, para todo o mundo
diplomático e não só – com representação única na Caetano Baviera do Parque das Nações em Lisboa.
Uma entidade Nacional que esteja em qualquer parte do Mundo e pretender adquirir um carro, ou a frota de
serviço, para um titular ou organismo diplomático, inicia um processo que chegará às mãos deste consultor
da Caetano Baviera, entidade com ligação privilegiada com a BMW Portugal e BMW AG.
Marcas & gestores
Automóveis
87novembro/dezembro 2010 - diplomática •
➤ generalistas. estive lá 13 anos.
depois, fui convidado para um
projecto duma outra marca, desta
feita no segmento premium e agora
vim para este projecto da caetano
baviera com a bmW.
É diferente trabalhar numa marca
generalista e numa premium. o
cliente tem sempre uma expectativa
num carro novo, há sempre uma
certa emoção na compra, mas não é
como numa marca premium, nunca
é “o carro dos meus sonhos”. Uma
das primeiras vendas numa marca
que fiz, e me marcou muito, foi ven-
der um carro a um cliente da classe
média-baixa, um fiel de armazém,
que andou a vida toda para comprar
o carro dos seus sonhos. toda a
venda foi feita com base no sonho
da compra. Foi uma coisa fantástica.
Um vendedor, que vende diariamen-
te e tem objectivos mensais para
cumprir, sente que cada mês que
começa parte do zero. vender um
carro de 175 mil euros não é nada
de extraordinário, faz parte da nossa
função.
O que é preciso ter-se para se ser
um bom vendedor?
Um dos aspectos principais, que se
aprende em cursos de formação de
vendas, é que um bom vendedor
tem de saber ouvir. muitas vezes, o
cliente vem, quer dizer o que preten-
de e o vendedor não o ouve e co-
meça a debitar informação, muitas
vezes de forma robotizada, que não
é pertinente para o cliente. temos
de o encaminhar para as necessi-
dades de conforto, de número de
lugares, de família, percebermos o
que o cliente faz na vida e para que
precisa do carro. Quando o cliente
entra num stand para comprar um
carro, regra geral, está interessado.
temos de o saber ouvir. cabe ao
vendedor dar-lhe todo o espaço,
para ele perceber, enquadrar-se
no ambiente. a abordagem tem de
ser muito cuidada, muito simpática,
para, depois, ouvir o cliente.
outra qualidade do bom vendedor,
importantíssima, é a organização.
a par da seriedade/credibilidade.
temos de dar as boas e as más
notícias na altura certa, dizer já se o
carro existe, se vai demorar, se há
já a cor que o cliente escolheu, en-
fim, os bons vendedores antecipam,
muitas vezes, as más notícias.
A relação pessoal que se estabe-
lece entre o vendedor e o compra-
dor é decisiva. Essa proximidade,
essa confiança, muitas vezes emo-
cional, é tanto ou mais importante
do que o lado técnico, não é?
Sim, o cliente compra um carro por
razões racionais e emocionais, mas
a emoção, principalmente numa
marca como a bmW, conta muito, é
muito importante. vendemos carros
a todo o tipo de pessoas, de todas
as classes sociais, e há clientes que
vêm com uma emoção fantástica,
parecem miúdos!
É então, por saber ouvir, ser
organizado, sério e credível que
o João Lima tem uma carreira
no sector automóvel cujo ponto
alto é a chegada agora ao Grupo
Salvador Caetano e neste novo
Departamento da Caetano Baviera
ligado ao mundo diplomático?
tem de haver um gosto muito gran-
de naquilo que se faz, sou um apai-
xonado pelo contacto, pelo poder
ajudar, pelo poder criar empatia com
as pessoas. tenho 47 anos, mas
há 20 não tinha o tal cabelo branco,
não tinha idade, experiência, para
uma marca premium. É preciso
transmitir confiança em quem vai
comprar um bem de 40, 80, 200 mil
euros.
Temos a ideia de que quem vende
carros anda, sempre, com mode-
los super-sónicos. Corresponde
ao padrão? E já agora, qual é o
carro dos seus sonhos?
realmente esta função permite-me
andar com bons carros de serviço,
mas esta é acima de tudo uma ne-
cessidade, pois tenho que promover
estes bens e também o serviço que
desenvolvemos nesta empresa do
Grupo Salvador caetano. trato tão
bem um carro da empresa como se
fosse meu. nunca comprei um carro
para mim, só comprei carros para
a minha mulher. comprei-lhe, há
pouco tempo, uma carrinha para ela
andar e trabalhar.
Sou um apaixonado pelo campo,
tenho uma casa de campo, e se
calhar o carro dos meus sonhos
seria uma pick-up, para andar no
meio dos campos com a liberdade
suficiente, com as sacas de batata e
a lenha atrás.
No passado mês de Abril foi
convidado pelo Grupo Salvador
Caetano a personificar este novo
projecto. Como está a correr?
está a ser fantástico. a caetano
baviera é uma entidade fantástica
e representando a bmW que é uma
marca muito especial, é juntar o
melhor de dois mundos. a marca
é reconhecidamente superior aos
mais variados níveis, mas especial-
mente pela sua componente des-
portiva e dinâmica que se traduzem
num grande prazer de condução.
as pessoas têm uma grande ex-
pectativa em relação a uma marca
premium. desde o primeiro contacto
até à entrega do carro, temos de
surpreender positivamente, o mais
possível, o cliente.
João Lima, entremos concreta-
mente no projecto diplomático.
Como foi escolhido para desen-
volver esta função tão importante
e estratégica?
neste sector, sinto-me um pouco
privilegiado. Já fui chefe de vendas,
já tive cargos fantásticos na área
comercial, mas, agora, existe uma
exclusividade muito grande, pois é
um produto premium e um serviço
de grande personalização e com
comunicação directa com a fábrica. ➤
88 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010
➤ ou seja os nossos clientes têm
um interlocutor sempre com via
aberta e acesso exclusivo.
Sinto-me privilegiado porque,
fui convidado directamente pelo
Director Geral da caetano baviera
em lisboa para este projecto, que
bastante me lisonjeia pelo convite
e por terem pensado logo em mim,
que eu seria a única pessoa que
poderia liderar este projecto de uma
marca diferente, que tinha todos os
requisitos: tempo suficiente na área
comercial, idade adequada, forma
serena de estar e de lidar com os
clientes, etc.
Passou, portanto, a ser o super-
consultor, uma posição mais
estratégica da Caetano Baviera,
da própria BMW e a uma escala
global.
De certa forma, sim. chefiei equipas
desde 1991, mas também sempre
vendi e tive contacto com o cliente,
mas nunca tinha tido uma ligação
tão directa e exclusiva com uma
marca como é agora o caso na
caetano baviera.
É uma espécie de “ponta-de-lan-
ça” da Caetano Baviera e da pró-
pria BMW no mundo diplomático.
É exactamente isso, a caetano
baviera convidou-me para que eu
tratasse de tudo, qualquer compra,
qualquer contacto passa através
dos nossos serviços, sendo nós ca-
etano baviera o canal privilegiado.
ainda há pouco, estava ao telefone
com um cliente da nato que com-
prou directamente na alemanha,
mas nós é que temos de contactar
o cliente, toda a documentação vem
à nossa responsabilidade, e somos
nós que temos de entregar esses
carros.
Falemos, em concreto, deste
novo projecto da BMW dirigido
ao mundo diplomático. Em que
consiste?
antes de mais, temos de perceber
quais são os interesses e as ne-
cessidades do embaixador ou da
embaixada, que tipo de carro é que
quer, se quer o carro só para uso
nacional ou não, se o vende cá ou
se o vai levar para o país de ori-
gem. Um exemplo: os países asiá-
ticos só compram carros a gasolina
porque, nesses países, praticamen-
te não existe gasóleo. Se for para
levar para a china, temos de confi-
gurar o carro, sendo nós na caeta-
no baviera que fazemos todo ➤
João Lima
89novembro/dezembro 2010 - diplomática •
➤ esse levantamento e caso a caso.
Usando este novo serviço da
BMW, que descontos é que as
embaixadas podem usufruir,
que pontinha do véu nos pode
levantar?
as embaixadas e os restantes po-
tenciais clientes deste departamen-
to têm acesso a condições ímpares
na politica comercial da marca.
mas, repare, este projecto também
integra, além dos carros para o
mundo diplomático, as viaturas de
segurança (transporte de valores,
por exemplo), os carros blindados
(para fazer face a possíveis ata-
ques terroristas, por exemplo), os
carros para os vip’s internacionais,
e os carros de topo-de-gama para
fazer o transfer de clientes para os
grandes hotéis, de 5 estrelas para
cima, que, geralmente, são limou-
sines.
A BMW AG tem os olhos postos
nesse serviço da Caetano Bavie-
ra, por isso a responsabilidade é
enorme.
Sim, a bmW aG está, realmente,
muito interessada em que este ca-
nal vá para a frente em termos mun-
diais. estive em formação, durante
uma semana, na alemanha. Foram
15 pessoas, de vários países, como
a china ou a venezuela, e senti, de
facto, muito entusiasmo no Grupo
bmW à volta deste projecto.
Sendo um líder nessa área co-
mercial da Caetano Baviera, e
com um projecto muito inte-
ressante de vida e de carreira,
mas - é assim normalmente nas
grandes equipas e nas grandes
estruturas. Contudo também tem
de cumprir objectivos. Quais os
objectivos a que se propõe?
para este ano em termos de
vendas, as expectativas deste
departamento passam por fazer
o melhor ano de sempre. penso
que vamos cumprir esse objectivo
e para 2011, com mais divulga-
ção deste novo departamento da
caetano baviera, as perspectivas
crescem.
lido bem com a pressão do objec-
tivo e da meta, sempre lidei, não
me incomoda nada. temos de ten-
tar cumprir objectivos desde que
estes sejam, obviamente, razoá-
veis. este sector tem um potencial
inacreditável.
Para terminar, a pergunta clás-
sica: se não fosse vendedor de
carros, seria…?
bem, seria sempre vendedor, tenho
sentido comercial. olhe, pensei,
muitas vezes, em ser delegado de
propaganda médica, enfim, um gé-
nero de venda mais personalizada,
mais de informação e de aconselha-
mento. Há vendedores porta-a-porta
excelentes, mas aquela agressivida-
de não é para mim. Há muitos tipos
de vendedor, não é que uns sejam
melhores do que outros, há muitas
diferenças de perfil.
Quando comecei a vender, há 20
anos, nas técnicas de venda, come-
çava-se pelo fecho. Sentávamo-nos
na secretária e a primeira coisa que
tínhamos à frente era o contrato
de venda, quase para intimidar o
cliente a comprar. Hoje em dia, isso
é a última coisa a fazer. Hoje, não
se vende; informa-se e transmite-
se confiança. ou seja, o fecho e a
venda são uma consequência, é
natural. muitas vezes, é o próprio
cliente que diz: “bom, então, vamos
fechar o negócio!”. ou seja, quase
não é preciso falar disso.
vender é o objectivo cumprido, che-
ga a ser um vício. É preciso muito
estofo, uma certa força interior, para
ouvirmos muitos “nãos” seguidos
e não nos irmos abaixo. por ve-
zes, temos uma boa postura, mas,
quando não vendemos, transmiti-
mos ansiedade quer ao cliente quer
lá em casa, à família. É importante,
para isso, termos uma certa estabi-
lidade financeira. Quando andamos
ansiosos, não conseguimos ouvir
bem as pessoas. para se dar a
volta nesses momentos, temos de
acreditar em nós próprios, sermos
positivos, mentalizar que vamos
conseguir. Se vamos derrotados
para uma reunião, não vai dar de
certeza. o cliente pode não per-
ceber do que se trata, mas sente
quando não está a fazer-se o clique
onde deve ser feito, sente quando
há insegurança.
todos os negócios são feitos com
pessoas e todas as pessoas fazem
negócio. Já me aconteceu sair de
uma reunião, a venda não aconte-
cer mas eu sentir que, daqui a uns
tempos, esse cliente iria acabar por
comprar aquele carro. e, depois, ele
comprou. Há sinais, há uma primei-
ra imagem, um primeiro impacto,
uma primeira empatia, há tudo aqui-
lo que fica. por exemplo, quando
recebo um e-mail de alguém a pedir
uma informação, automaticamente
agradeço esse envio, é a primeira
coisa que faço, e digo que estou
à disposição daquela pessoa, não
é só escrever “oK”. ou seja, não
se trata de sermos apenas profis-
sionais, temos de demonstrar que
estamos, mesmo, disponíveis para
ajudar o cliente.
temos sempre de melhorar, o bom
acompanhamento é fundamental.
a comunicação tem de dar o cli-
que, mas, de qualquer forma, não
é agradável sermos agradáveis,
prestáveis, simpáticos, com as
pessoas? e é evidente que tam-
bém esperamos esse retorno, mas
recebemos porque damos. estamos
num sector, sobretudo o diplomá-
tico, em que há muito tempo para
se pensar nas questões, mas as
respostas têm de ser dadas na hora
e prestarmos muita atenção aos
pormenores. e é nestes pontos em
particular que descobri a grande di-
ferença que é fazer parte do Grupo
Salvador caetano. n
90 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010
A embaixada de portugal em espanha e o instituto camões promovem, desde o
ano de 2003, uma iniciativa denominada mostra portuguesa, que visa apresentar
em espanha a diversidade e contemporaneidade da cultura portuguesa. todos
os anos, em novembro, várias cidades de espanha acolhem os mais diferentes
exemplos da produção cultural portuguesa: da arte contemporânea à arte po-
pular, da música actual à música tradicional, dos intérpretes emergentes aos já
consagrados, das artes de palco às artes plásticas, cinema, conferências, gas-
tronomia, entre outras.
este ano, uma vez mais, a cultura portuguesa vai estar, desde os finais de outu-
bro e todo o mês de novembro, em várias cidades e com um programa diversi-
ficado. o objectivo é usar a cultura nacional, os seus criadores e as suas obras,
para reforçar a imagem de portugal como país único, moderno, universal e hu-
manista, reduzindo distâncias e reforçando as ligações que mantém internamen-
te e as que o aliam ao mundo. Daí o esforço para dar a conhecer novos autores
e novas obras, mostrando a fértil produção cultural do país, abrindo novas portas
para a internacionalização dos artistas e das instituições culturais lusas.
o programa que se apresenta nesta edição da mostra portuguesa serve estes
objectivos – proporcionar a descoberta dos melhores representantes da música,
da fotografia, da literatura, da gastronomia, de peças de museus, de realizadores
e novos filmes, de teatro, e de investigadores em conferências, desenvolvendo
um programa denso, diversificado capaz de interessar o público espanhol. entre
os cantores destacam-se as jovens fadistas carminho, Joana amendoeira e
ana Sofia varela; na música vão poder ouvir-se peças de um músico português,
antónio Fragoso, interpretado por margarida prates; o grupo de teatro cornucó-
pia vai apresentar “Dança da morte”; dos escritores refere-se a participação de
Francisco José viegas, de manuel Jorge marmelo e raquel ochoa; do cinema
evidenciam-se João canijo com “Fantasia lusitana”, miguel Gomes com “aquele
Querido mês de agosto”, marco martins com “como Desenhar um círculo per-
feito”, antónio pedro vasconcelos com “a bela e o paparazzo”, entre outros; das
artes plásticas sobressai a performance de adriana Sá e a exposição de másca-
ras orientais da responsabilidade do museu do oriente.
participam, na oitava edição deste evento, nove cidades de oito comunidades
autónomas espanholas com as suas respectivas administrações locais e regio-
nais.
Um dos factores de sucesso desta iniciativa da embaixada de portugal e do
instituto camões, assente na qualidade dos intervenientes e protagonistas
culturais, é a solidez das parcerias criadas com instituições espanholas e portu-
guesas. apoiam, uma vez mais, esta edição da mostra portuguesa, entre outros,
o Governo de espanha, através dos seus ministérios dos assuntos exteriores e
cooperação e da cultura, o ayuntamento de madrid, a Fundação caja Duero e
a tap, bem como um diversificado conjunto de outras parcerias e apoiantes da
mostra portuguesa.
consulte programa completo em www.mostraportuguesa.es. n ➤
Cultura Portuguesa em EspanhaMostra Portuguesa 2010
Arte & CulturA
91novembro/dezembro 2010 - diplomática •
1. carminho, Jovem intérprete do fado. a intensidade da sua expressão
artística leva-a a afirmar que quando canta vai para outro mundo.
"não penso em nada. as palavras vão directas a sentimentos”.
2. imagem de paulo bragança, um dos pioneiros da nova geração
do fado que, a par de uma capacidade interpretativa considerada
notável pelos especialistas, escandaliza os puristas do fado ao
apresentar-se em palco descalço e com roupas simples, por muitos
consideradas manifestações de excentricidade.
3. máscara oriental, que faz parte de
uma exposição de artefactos asiáticos,
promovida pela Fundação oriente
4. logótipo da mostra portuguesa iniciati-
va da responsabilidade da embaixada
de portugal em espanha e do instituto
camões que, desde o ano de 2003,
visa apresentar em espanha a diversi-
dade e contemporaneidade da cultura
portuguesa
1
2
3 4
92 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010
Livros - novidades
Na manhã de 5 de outubro de 1910, em lisboa, um movimento revolucio-
nário derruba o regime monárquico e proclama a república na varanda da
câmara municipal de lisboa. Um pouco fruto da sorte, porque é um equívoco
que determina a rendição das forças monárquicas. Um grupo de diplomatas,
apavorado com a revolução, dirige-se de bandeira branca aos revoltosos
entrincheirados a pedir salvo-conduto para saírem do país. Do torel, onde
estavam acantonados, os fiéis ao regime pensaram tratar-se da rendição
formal de enviados do rei…
É um mero pormenor, que não diminui em nada o mérito da vitória. o regime
monárquico agonizava putrefacto nas suas contradições e vilanias, e o povo
urbano, farto da arrogância do regime e da mão de ferro do Governo, ansiava
por dias melhores.
em “nobre povo”, Jaime nogueira pinto revela um retrato desapaixonado de
um tempo de mudança, da vitória republicana, mas também da impotência
republicana, das contradições de um poder novo que, desde a primeira hora,
se esqueceu das promessas feitas e da fidelidade a um ideal assente em
“liberdade, igualdade, Fraternidade” – grito de revolta que tomou a europa e
pretendeu salvar o mundo.
entre os roufenhos carros de cavalos e o emergente automóvel, é, mais do
que a mudança de um regime, o prenúncio de um tempo novo. nem pior,
“Nobre Povo – Os Anos da República”Viagem a um tempo de fogo
“História de Portugal”Rui Ramos, Bernardo Vasconcelos e Sousa e Nuno Gonçalo Monteiro
O prémio D. Dinis 2009 foi atribuído, por unanimidade, aos historiadores rui
ramos, bernardo vasconcelos e Sousa e nuno Gonçalo monteiro pelo livro
“História de portugal, publicado pela esfera dos livros.
a sessão de entrega do prémio decorreu na casa de mateus e foi presidida
pelo presidente da comissão europeia, Doutor José manuel Durão barroso
rui ramos é investigador principal do instituto de ciências Sociais da
Universidade de lisboa, onde ensina nos cursos de mestrado em política
comparada e de Doutoramento em ciência política, e professor convidado
na Universidade católica portuguesa (lisboa). licenciado em História pela
Universidade nova de lisboa e doutorado em ciência política pela Universi-
dade de oxford, é autor de vários livros.
bernardo vasconcelos e Sousa é professor na Faculdade de ciências Sociais
e Humanas da Universidade nova de lisboa, onde tem leccionado no âmbito
da licenciatura e do mestrado em História medieval e de cujo instituto de estu-
dos medievais foi presidente. tem várias obras editadas.
nuno Gonçalo monteiro é investigador coordenador do instituto de ciências
Sociais da Universidade de lisboa e professor convidado do iScte (lis-
boa). Doutorado em História moderna pela F.c.S.H/Universidade nova de
lisboa e agregado em História pelo iScte, realizou conferências e comu-
nicações em vários países, tendo sido professor visitante em universidades
espanholas, francesas e brasileiras. tem várias publicações editadas. ■
nem melhor. Um tempo de conspirações, golpadas militares, governos autoritários e a Grande Guerra. Uma viagem
no tempo a que Jaime nogueira pinto emprestou o rigor da sua investigação, a fluidez da escrita e, naturalmente,
a sua interpretação da História não necessariamente coincidente com a do leitor. mas, sem dúvida, um documento
importante e de leitura fundamental, este que a esfera dos livros acaba de dar à estampa. ■
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95novembro/dezembro 2010 - diplomática •
English & French texts
6. Barack Obama, the face of the new “American Dream”
Who is this man who stunned the world with his steady and decisive ascension, who won the nobel peace prize winner less
than a year after being elected? How has he established himself as one of the most iconic leaders of the new century and
undoubtedly the most popular american president since Kennedy? “diplomática” outlines his profile... ■
6. Barack Obama, le visage de la nouvelle «American Dream»
Qui est cet homme qui a stupéfié le monde avec un chemin brillant, lauréat du prix nobel de la paix moins d’un an après avoir
été élu? comment est-il que s’est imposé comme l’un des leaders les plus emblématiques du nouveau siècle et sans doute le
président le plus populaire en amérique, après Kennedy? “diplomática” décrit son profil... ■
11. NATO: the Lisbon Summit - changes, challenges, strategic concept
Where is it coming from and where is nato heading? What is its relevance in the new geostrategic environment and what does
the future hold for it as an international organization? Simultaneously, what to expect from the Summit USa / eU? the answer is
provided by seven ambassadors credited in portugal, namely the ones from France, UK, Germany, norway, Greece, bulgaria,
Slovakia and lithuania. ■
11. OTAN: le sommet de Lisbonne - les changements, défis, concept stratégique
d’où il vient et où il va à l’otan? Quelle est sa pertinence dans le nouvel environnement géostratégique et son avenir en tant
qu’organisation internationale? en même temps, à quoi s’attendre de Sommet des États-Unis / Union européenne? la réponse
est en sept ambassadeurs au portugal: France, royaume-Uni, l’allemagne, la norvège, la Grèce, la bulgarie, la Slovaquie et la
lituanie. ■
26. João Mira Gomes - Interview with the Ambassador of Portugal in NATO
the purpose and future of the atlantic alliance are discussed with the newly appointed ambassador of portugal in nato. “We
would like to reduce the level of military presence in afghanistan, but more than setting dates one has to present goals,” stated
João mira Gomes, stressing, albeit with caution, the importance of the command in oeiras... ■
26. João Mira Gomes - Entretien avec l’Ambassadeur du Portugal à l’OTAN
le but de l’avenir de l’alliance atlantique, a parlé avec l’ambassadeur nouvellement nommé du portugal à l’organisation. «nous
souhaitons réduire le niveau de présence militaire en afghanistan, mais plus de dates avoir est d’avoir des buts», a déclaré João
mira Gomes, en soulignant, avec prudence, l’importance de la commande à oeiras... ■
34. Allan Katz - Interview with U.S. Ambassador to Portugal
“portugal is a committed member of nato and an ally that may provide us with major contributions to the development of
our good relations with both africa and brazil.” the words are from the U.S. ambassador, who received us, alongside with
ambassador nancy cohn, a woman that mainly dedicates her efforts to humanitarian and cultural causes... ■
34. Allan Katz - Interview avec U. S. ambassadeur au Portugal
«le portugal est un membre actif de l’otan et un allié qui peut contribuer au développement de nos bonnes relations avec
l’afrique et le brésil.» les mots sont de l’ambassadeur américain, qui nous reçut, avec l’ambassadeur nancy cohn, mme
spécialement dédié à des causes humanitaires et culturelles... ■
40. “Yes We Can” - The future of Luso-American relations
it is with a metaphor - “a two-way motorway, that encourages and supports american businesses and portuguese companies
that want to grow their businesses across the atlantic - that Graça didier, Secretary General for the american chamber of
commerce, defines the mission of this institution. ■
40. “Yes We Can” - L’avenir des relations luso-américaine
c’est avec une métaphore - «une autoroute à deux sens, encourager et soutenir les entreprises américaines et les entreprises
portugaises qui souhaitent faire croître votre entreprise à travers l’atlantique - que Graça didier, secrétaire général de la
chambre de commerce américaine, caractérisent la mission cette institution. ■
42. The Grand Dukes of Luxembourg visited Portugal
on a visit to our country, at the invitation of president cavaco Silva, and accompanied by his wife, maria teresa, the sovereign
Grand duke Henri of luxembourg, thanked “all contributions of the lusitanian community “ that helped his country to ensure a
“promising future”, also recalling his portuguese roots and the support of portugal to his grandparents when the second world
war broke out.” ■
42. Les Grands-ducs du Luxembourg ont visité le Portugal
lors d’une visite dans notre pays à l’invitation du président cavaco Silva, accompagné de son épouse, maria teresa, le Grand-
duc Henri de luxembourg souverain, a remercié «tous les contribution de la communauté lusitanienne» pour aider son pays à
un bel avenir «prometteur», rappelant ses racines portugaises et l’appui du portugal à leurs grands-parents lorsque la guerre a
éclaté.» ■
96 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010
English & French texts
44. In a visit to Portugal Hugo Chavez signs strategic and economic agreements
at the invitation of the portuguese prime minister José Sócrates, “one of our greatest friends in europe”, the venezuelan
president recently visited portugal and signed important agreements in the fields of naval and civil construction, prefabricated
homes and also ordered a 1,5 million magalhães computers… ■
44. Hugo Chavez dans les accords d’entreprise au Portugal et économique stratégique
À l’invitation du premier ministre portugais José Sócrates - «l’un de nos meilleurs amis en europe» - le président vénézuélien a
récemment visité le portugal et signé des accords importants dans les domaines de la construction navale et civile, les maisons
préfabriquées et «ordonné» une 1,5 millions d’ordinateurs «magalhães»... ■
46. SHANGHAI EXPO 2010
one of the world’s largest countries, china has already awakened to a burst of power and economic development. Diplomática
visited one of the most imposing Universal exibitions of all time whilst paula bobone studied this asian colossus and
remembered the Gatopardo: “something must change if one is to keep everything the same”... ■
46. Expo Shanghai 2010
Un des plus grands pays du monde, la chine a «réveillé» avec un éclatement du pouvoir et de dévelopement économique,
“Diplomática” a visité l’une des plus imposantes expositions universelles de tous les temps. paula bobone à observé le colosse
asiatique se souvenant de Gatopardo: «quelque chose doit changer pour que tout reste la même»... ■
48. Portugal and Angola strengthen cooperation ties
the visit of cavaco Silva and José Sócrates to angola had “very positive” results in the areas of culture, economics and
finances, while the angolan president, José eduardo dos Santos, stressed the “climate of great understanding, that made
compromises easy to reach “ between the two countries on bilateral, regional and international issues... ■
48. Portugal et l’Angola de renforcer les liens de coopération
a conduit à des variations considérables «très positive» dans les mouvements culturels, économiques et financières de cavaco
Silva et José Sócrates à l’angola, dont le président, José eduardo dos Santos a salué le «climat de plus grande compréhension,
qui a été facile de parvenir à des accords» entre les deux pays sur les questions bilatérales, régionales et internationales... ■
52. Maria da Piedade Polignac de Barros against materialistic theories
“the world must change, steer itself more towards spiritualism, and people must be more supportive.” maria da piedade
polignac de barros, ambassador to the order of malta in portugal, is a fighter, and to her entrepreneurial life she adds her
humanitarian concerns, supporting the homeless, and also, at christmas, the organization of the Diplomatic bazaar. ■
52. Maria da Piedade Polignac de Barros - contre “la logique matérialiste”
«le monde doit faire un tour et s’orienter plus vers le spiritisme, les gens doivent être plus favorable.» maria da piedade
polignac de barros, ambassadeur de l’ordre de malte, au portugal, ne se contente pas, et à la vie d’entrepeneur elle accumule
des préoccupations humanitaires, de soutien aux sans-abri, et à noël, l’organisation du bazar de Diplomates. ■
54. Independence Day of USA
at the celebration of the 234th anniversary of the Declaration of independence of the United States, ambassador allan Katz
quoted obama: “we created the ideal that all are equal and have bled and fought for centuries to give sense to these words”... ■
54. Fête de l’Indépendance des Etats-Unis
lors de la fête célébration du 234èmé de la Déclaration d’indépendance des États-Unis, l’ambassadeur allan Katz cité obama:
«nous avons crée dans l’idéal que tous sont égaux et nous avons renversé du sang et somes battus, pendant des siècles, pour
donner un sens à ces mots»... ■
56. National Day of the Kingdom of Saudi Arabia
the ambassadors of Saudi arabia in portugal shared with his guests the celebration of the national Day of his Kingdom, the
largest nation in the middle east, the heart of islam, and “land of the two Holy mosques.” ■
56. Journée nationale du Royaume d’Arabie Saoudite
les ambassadeurs de l’arabie saoudite au portugal partage avec ses hôtes, la célébration de la Journée nationale de son
royaume, la plus grande nation au moyen-orient, au cœur de l’islam, «terre des Deux Saintes mosquées.» ■
58. Rasool Mohajer - Interview with Iran’s Ambassador in Portugal
after living for two years in portugal, the ambassador of iran outlines a different scenario from what generally is presented by the
Western media. Highlighting the peaceful purposes of tehran’s government, well set against the ownership of nuclear weapons
by any country, defines his country as a nation of great culture, tolerant and open to religious differences. ■
58. Rasool Mohajer - Entretien avec l’ambassadeur d’Iran au Portugal
il ya deux ans au portugal, l’ambassadeur d’iran présente un scénario différent de ce qui est généralement vanté par les médias
occidentaux. Faits saillants intentions de paix du gouvernement de téhéran - contre «la possession d’armes nucléaires par un ➤
97novembro/dezembro 2010 - diplomática •
➤ pays» - et définit le pays comme une nation de culture tolérante et ouverte aux différences religieuses. ■
63. National Day of Switzerland
the national day of Switzerland, that evokes the Federal pact Waldstätten, was celebrated in lisbon with a reception that
took place in the embassy. present were major figures from the cultural, business and diplomatic worlds, at the invitation of
ambassador rudolf Schaller. ■
63. Fête nationale suisse
la fête nationale suisse - l’évocation des Waldstätten pacte fédéral - a été signé à lisbonne par une réception à l’ambassade.
etaient présents des individus de la culture, des affaires et diplomatique, invités par l’ambassadeur rudolf Schaller. ■
64. Libya Celebrates the Anniversary of its Revolution
the 41th anniversary of the revolution of September the 1st, the national day of libya, was celebrated with a reception in
lisbon where, at the invitation of ambassador ali emdored, members of the diplomatic corps, politicians, academics and well-
known businessmen were able to mingle. ■
64. La Libye commémore anniversaire de la Révolution
le 41 anniversaire de la révolution de Septembre 1, la Journée nationale de la libye, a été marquée par une réception
à londres, où, à l’invitation de l’ambassadeur ali emdored, les membres du corps diplomatique, des politiciens, des
universitaires et hommes d’affaires de renom ont confraternizé. ■
66. The “Scream of Ipiranga” remembered in Lisbon
With the language of camões as the main link, and the community of portuguese Speaking countries its history and all its
emotional ties as background, the independence day in brazil was celebrated in lisbon by ambassador celso vieira de Souza
and a host of guests. ■
66. Cri de Ipiranga évoqué à Lisbonne
avec la langue de camões par le fond et la communauté des pays de langue portugaise et de l’histoire et émotionnel, Jour de
l’indépendance du brésil a été célébré à londres par l’ambassadeur celso vieira de Souza et une foule d’invités. ■
68. Day of German Unity
the unification of the two Germanies , 20 years ago, after a separation of nearly half a century, was evoked in lisbon, at the
residence of the ambassador Helmut elfenkamper which, before 300 guests, thanked portugal for having supported German
unity from the very start. ■
68. Journée de l’unité allemande
l’unification des deux allemagnes il ya 20 ans - après une séparation de près de la moitié d’un siècle - a été soulevée à
lisbonne, à la résidence de l’ambassadeur Helmut elfenkamper qui, devant 300 invités, a remercié le portugal pour avoir, dès
le début, pris en charge l’unité allemande. ■
70. Maria Helena Daget - Interview with an Entrepreneur Winner
a mother, a fighter and a winner in a world of men, maria Helena daget tells “diplomática” how her dream took shape and she
managed to create the techdrill, a strong multinational oil company that she has run for over 20 years. aware that “economy is
not just numbers, it is also human capital,” she’s now moving on to the creation of a teacher trainig School in portugal... ■
70. Maria Helena Daget - Entretien avec une Entrepreneur gagnante
mère, femme d’armes, de gagner dans un monde d’hommes, maria Helena daget ce qui concerne la «diplomatique» a donné
forme au rêve, à créer techdrill, forte de l’industrie du pétrole multi-nationales, qui se déroule depuis 20 ans. consciente du
fait que «l’économie n’est pas seulement des chiffres, il est également capital humain», elle pense à la creation dune école de
formation des enseignants… au portugal ■
77. National Day of Indonesia
to acknowledge the national day of indonesia, ambassador albert matondang remembered before his guests, “the historical
and cultural ties that were initiated by the portuguese navigators,” focusing also on the “constructive and productive” bilateral
strengthening of cooperation. ■
77. Journée nationale de l’Indonésie
a l’occasion de la Journée nationale de l’indonésie, l’ambassadeur albert matondang rappelé avant leurs invités, «les liens
historiques et culturels initiés par les navigateurs portugais,» mettant l’accent sur le renforcement de la coopération bilatérale «,
constructive et productive.» ■
78. Farewell Party for the Ambassador of Egypt
Just before departing his position as the ambassador of egypt in portugal, amgad maher abdel Ghaffar, welcomed in the
gardens of the embassy a party of friends and many individualities in order to thank them all for the support he received during
his stay in our country. ■
98 • Diplomática - novembro/Dezembro 2010
English & French texts
78. Adieu l’ambassadeur partie de l’Egypte
l’ambassadeur sortant du portugal en egypte, amgad maher abdel Ghaffar, offert dans les jardins de l’ambassade, une partie
d’amis et de personnes à remercier tout le soutien reçu pendant son séjour dans notre pays. ■
80. National Day of South Korea
the ambassadors of South Korea celebrated with dozens of guests, the national Day of his country, a nation that in 2011, will
complete 50 years of diplomatic relations with portugal. ambassador Dae-Hyun Kang remarked that “the history of the Korean
people dates back to 2333 bc”. ■
80. Journée nationale de la Corée du Sud
les ambassadeurs de la corée du Sud ont célébré avec des dizaines d’invités, la Journée nationale de son pays que en 2011
achève 50 ans de relations diplomatiques avec le portugal. ambassadeur Dae-Hyun Kang a noté que «l’histoire du peuple
coréen remonte à 2333 av». ■
82. Hawaii - 50 Years of Democracy
Half a century has passed since american democracy conquered Hawaii, the 50th and last territory to join the federation of the
United States of america. “Diplomática” recalls the event, “surfing” with obama through pearl Harbor and remembering the
influence of madeira island… ■
82. Hawaii. 50 ans de démocratie
Un demi-siècle s’est écoulé depuis le déploiement de la démocratie américaine à Hawaï, 50e et dernier territoire à adhérer à la
fédération des etats-Unis d’amérique. «Diplomatique», se rappelle de l’événement, «surfer» avec obama ... pour pearl Harbor
et de l’influence de l’ille madère... ■
84. OAS. 50 years of Human Rights
50 years have passed since the summit of the organization of american States that stated the importance of safeguarding
human rights. “Diplomática” points out that these five decades remind one that the search “must continue in order to address the
challenges that still remain to be faced”... ■
84. De l’OEA. 50 ans de droits de l’homme
après 50 ans au sommet de l’organisation des États américains a déclaré que l’importance de la sauvegarde des droits de
l’homme. “Diplomática”, fait remarquer que ces cinq décennies sont la preuve que la recherche «doit continuer à relever les
défis restants»... ■
86. João Lima - Interview with BMW’s face for the Diplomatic World
João lima is Diplomatic and Direct Sales consultant of caetano baviera / bmW. it is in the hands of this 47 years old man,
linked to the prime bmW portugal and bmW aG, that arrive all requests for acquisition of cars or fleets of this prestigious car
brand from any holder or diplomatic body. From all corners of the World... ■
86. João Lima - Interview avec le visage de BMW pour le Monde diplomatique
João lima, diplomatique et Direct Sales consultant de caetano baviera / bmW. il est dans les mains de cet homme, 47 ans,
lié à la prime bmW portugal et bmW aG, qui devrait arriver tous les processus d’acquisition des voitures ou des flottes de la
signification de cette marque de voiture de prestige à tout titulaire ou corps diplomatique. De n’importe quel coin du monde... ■
90. Portuguese Culture in Spain
the embassy of portugal in Spain and the instituto camões have, from 2003 onwards, been involved with an initiative called
“mostra portuguesa”, which aims to present in the neighboring country all the diversity of contemporary portuguese culture in all
its”unique, modern, universal and humanist capacities”... ■
90. La culture portugaise en Espagne
l’ambassade du portugal en espagne et l’instituto camões, ont, depuis 2003, une initiative appelée «mostra portuguesa»,
qui vise à présenter dans le pays voisin la diversité de la culture portugaise contemporaine »unique, moderne, universel et
humaniste»... ■
92. Books – launchings
“nobre povo – os anos da república” is the journey of Jaime nogueira pinto through the causes and consequences of the
revolution that deposed the portuguese monarchy in 1910.
“História de portugal” is the book that justified unanimously the presentation of the D. Dinis award 2009. responsible for the
coordination of this book are rui ramos, bernardo vasconcelos e Sousa and nuno Gonçalo monteiro. ■
92. Livres - nouveautés
«nobre povo – os anos da república” est un voyage de Jaime nogueira pinto pour les causes et les conséquences de la
révolution qui a renversé la monarchie portugaise en 1910. “História de portugal” est le livre qui a justifié à l’unanimité d’attribuer
le prix D. Dinis. coordination rui ramos, avec bernardo vasconcelos e Sousa et nuno Gonçalo monteiro. ■
C
M
Y
CM
MY
CY
CMY
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Diplomática Inst BT.pdf 1 10/11/10 1:20 PM