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Diretrizes para Solução dos Problemas Relacionados aos Prédios Construídos em Alvenaria Resistente na Região Metropolitana do Recife Recife – Pernambuco Fevereiro de 2009

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Diretrizes para Solução dos Problemas Relacionados aos Prédios Construídos

em Alvenaria Resistente na Região Metropolitana do Recife

Recife – Pernambuco Fevereiro de 2009

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COMISSÃO DE SISTEMATIZAÇÃO Eng. Alexandre Duarte Gusmão (Universidade de Pernambuco)

Eng. Carlos Fernando de Araújo Calado (Universidade de Pernambuco)

Eng. Carnot Leal Nogueira (Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco)

Eng. Fernando Artur Nogueira Silva (Universidade Católica de Pernambuco)

Eng. Romilde Almeida de Oliveira (CREA-PE)

Eng. Sérgio Osório Cerqueira (Assoc. Bras. de Engenharia e Consultoria Estrutural)

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APRESENTAÇÃO A ocorrência de diversos acidentes com edifícios construídos em alvenaria resistente, ou popularmente conhecidos como prédios caixão, tem chamado a atenção da comunidade técnica local para a necessidade de se estabelecer critérios de investigação, estudo e reabilitação deste tipo de edificação, dentro de níveis de confiabilidade aceitáveis. Diversas manifestações patológicas têm sido observadas nos prédios da Região Metropolitana do Recife (RMR), já tendo ocorrido, em alguns casos, desabamentos com vítimas fatais. Desde o ano de 1999, quando ocorreram os acidentes com os Edifícios Éricka e Enseada de Serrambi em Olinda, onde morreram 12 pessoas, que várias ações foram conduzidas por diferentes entidades (públicas ou não) sem se conseguir, no entanto, chegar a uma solução para o problema. Os números mostram que se trata de um dos maiores problemas urbanos na Região Metropolitana do Recife. São cerca de 6.000 prédios em situação de risco de desabamento, envolvendo 250.000 moradores. Não se trata de um problema somente técnico, mas também social. Este documento apresenta uma metodologia para o enfrentamento definitivo e responsável do problema, contemplando não apenas os aspectos técnicos, mas questões referentes ao financiamento e gestão dos riscos. Com isso se espera resgatar a dignidade e a segurança dos moradores dos prédios, através de intervenções que tenham como base conceitos técnicos e científicos consagrados na Engenharia. São signatárias deste documento as mais representativas entidades ligadas à Engenharia de Pernambuco.

Prof. Eng. Carlos Fernando de Araújo Calado Reitor da Universidade de Pernambuco

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1. METODOLOGIA Desde 1999 já houve várias ações de diferentes entidades da sociedade civil na tentativa de uma discussão sobre os acidentes associados aos prédios em alvenaria resistente na RMR. Apesar de todas representarem algum tipo de avanço, não se tem ainda uma metodologia consistente para o enfrentamento do problema. Um aspecto que parece claro é que a discussão não pode se restringir apenas aos aspectos técnicos das causas e das formas de recuperação dos prédios. Por exemplo, de que adianta serem desenvolvidas soluções tecnicamente perfeitas, se não houver financiamento das obras de recuperação? É nesse contexto, que esse trabalho propõe uma metodologia diferente, onde a discussão deva envolver toda a cadeia produtiva que esteja relacionada a tais construções: empreendedores, financiadores e seguradoras, projetistas, construtores, consumidores e poder público. Trata-se de um fórum onde todas as ações devam ser validadas pelas entidades participantes. A metodologia proposta consistiu nas seguintes etapas:

• Formatação inicial da proposta através da Comissão de Qualidade e Segurança do Ambiente Construído do CREA/PE, em Janeiro de 2008;

• Coordenação da proposta pela Universidade de Pernambuco a partir de Maio de 2008;

• Apresentação da proposta de metodologia em uma reunião em 26/06/2008 com várias entidades representativas da cadeia produtiva. Na ocasião as seguintes entidades participaram e validaram a proposta:

o Universidade de Pernambuco (UPE) o Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) o Universidade Federal de Pernambuco (UFRPE) o Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de

Pernambuco (Crea-PE) o Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco (TCE/PE) o Ministério Público Federal (MPF) o Ministério Público do Estado de Pernambuco (MPPE) o Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural –

ABECE o Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia

Geotécnica – ABMS o Instituto Tecnólogico do Estado de Pernambuco – ITEP o Sindicato Nacional das Empresas de Engenharia e Arquitetura

Consultiva – SINAENCO/PE o Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Pernambuco –

ADEMI/PE o Prefeitura Municipal de Camaragibe o Prefeitura do Recife o Prefeitura Municipal do Paulista

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Foram, então, criados 04 (quatro) comitês: • Comitê de Novos Projetos: tinha como função estabelecer as condições técnicas necessárias aos projetos de novas edificações (materiais, sistemas construtivos e normas). • Comitê de Recuperação de Estruturas: tinha como função estabelecer as condições técnicas necessárias aos projetos de recuperação das estruturas com riscos de desabamento (materiais, sistemas construtivos e normas). • Comitê de Financiamento: tinha como função estabelecer as alternativas de financiamento para o projeto e execução da recuperação dos prédios (fontes, plano de desembolso ao longo do tempo e critérios para hierarquização dos prédios). • Comitê de Gestão de Riscos: tinha como função estabelecer as políticas de gestão de riscos de desabamento para os órgãos públicos, especialmente a Defesa Civil (estrutura, quadro técnico, recursos tecnológicos, logística, entre outros). Também foi estabelecida uma Comissão de Sistematização, cujo função foi centralizar as informações dos comitês, bem como fazer com que os seus trabalhos ficassem concatenados. 2. HISTÓRICO

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Introdução A ocorrência de diversos acidentes com edifícios construídos em alvenaria resistente, caracterizada como edificações em alvenaria que utilizam blocos (tijolos vazados) de vedação com finalidade estrutural, tem chamado a atenção da comunidade técnica local para a necessidade de se estabelecer critérios de investigação, estudo e reabilitação deste tipo de edificação, dentro de níveis de confiabilidade aceitáveis. Diversas manifestações patológicas têm sido observadas na Região Metropolitana do Recife (RMR), já tendo ocorrido, em alguns casos, desmoronamentos com vítimas fatais. Números aproximados apontam que cerca de 250.000 pessoas habitam edificações de alvenaria resistente, significando que cerca de 10% da população da RMR encontra-se potencialmente exposta à perda do patrimônio e ao risco de vida. O quadro instalado se constitui num grave problema de ordem social que demanda intervenções firmes e urgentes para a sua solução. No que diz respeito às estratégias de recuperação, são escassas as informações na literatura sobre o tema e o que se tem observado na prática é o emprego de soluções de recuperação fundamentadas em conhecimentos empíricos que carecem de reflexão mais aprofundada sobre sua eficácia e aplicabilidade. Trata-se de um problema de grande envergadura, comparável em dimensões aos resultantes de grandes catástrofes internacionais. Segundo estimativas, que estão sendo confirmadas pelos recentes levantamentos cadastrais, a RMR conta com aproximadamente 6.000 (seis mil) edifícios construídos em alvenaria resistente, regionalmente referidos como prédios tipo caixão, numa alusão natural à forma da construção que se assemelha a uma grande caixa. Neste tipo de edificação, geralmente se utilizam blocos cerâmicos vazados assentados com furos na horizontal ou blocos de concreto, ambos de pequena espessura, com baixa resistência à compressão, da ordem de 3,0 MPa, como valor máximo. Esta prática construtiva teve importante impulso a partir do início da década de 70. A sua aceitação deveu-se, em grande parte, ao menor custo em relação às obras com estrutura convencional de concreto armado, à rapidez na execução, à grande aplicabilidade e baixo custo dos blocos cerâmicos e de concreto produzidos no estado de Pernambuco, naquela ocasião. Por outro lado, a busca pela minimização dos custos, a falta de controle de qualidade dos componentes e dos procedimentos construtivos, aliados à inexistência de norma técnica específica, vem causando, ao longo dos últimos anos, uma série de patologias e acidentes. A freqüência destes sinistros e a natureza brusca da ruptura, com colapso progressivo, têm gerado inquietação à comunidade técnica local e, principalmente, aos moradores destas edificações, que hoje vivem em sobressalto pela incerteza das condições de segurança de suas residências.

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A relação entre o número de acidentes ocorridos e o número de edificações existentes resulta numa probabilidade de falha de 1:500. Este é um valor socialmente inaceitável, uma vez que o correspondente indicador para o caso em que envolve riscos de vidas humanas é de no máximo 1:10.000, sendo 1:100.000 um valor desejável. Há que se considerar que atualmente existem dezenas de edifícios desta natureza interditados e que, pelo menos, dez edifícios foram demolidos por se ter diagnosticado não oferecerem as mínimas condições de segurança para habitação, o que eleva mais ainda o nível de risco mencionado. Construções de Edifícios em Alvenaria Resistente no Estado de Pernambuco Com a criação do Banco Nacional de Habitação, a partir da década de 70, houve um importante impulso na construção de habitações populares, em larga escala, no Brasil. Naquela época, começaram a ser produzidos edifícios residenciais de até quatro pavimentos empregando, com razoável freqüência, blocos caracterizados como de vedação com finalidade estrutural. Trata-se de extensão das construções que vinham sendo produzidas com menor número de pavimentos. A maior parte destas edificações foi executada de forma empírica, sem atendimento aos requisitos de normas técnicas específicas que possibilitassem o estabelecimento de padrões de confiabilidade estrutural aceitáveis, sendo este o principal problema com este tipo de construção. Some-se a isto, o fato de os moradores efetuarem intervenções sem orientação técnica, a qualidade de muitos materiais e componentes utilizados, que é efetivamente muito variável e, com freqüência, falha sob o ponto de vista técnico e está criado um quadro propício ao mau desempenho destas edificações. Além disso, em decorrência das sucessivas crises financeiras pelas quais o país atravessou, a partir do início da década de 80, houve a redução do poder aquisitivo dos potenciais usuários deste tipo de moradia e, na tentativa de viabilizar economicamente as unidades, elementos essenciais como cintas, pilaretes, vergas e contravergas, foram suprimidos, em grande número de casos. Complementarmente, ainda na linha da redução de custos, foram adotadas soluções tecnicamente inadequadas, como é o caso do uso do piso não aterrado (“caixão vazio”). Diante destes fatos, resultou um processo de degradação muito acelerado das obras, um envelhecimento precoce e inúmeras manifestações patológicas, desde as mais simples até as mais complexas com comprometimento da segurança das edificações. Nos duas últimas décadas, foram registrados mais de dez casos de desabamentos de edifícios residenciais construídos com esta técnica e interditados dezenas de prédios. Doze vítimas fatais e vários feridos resultaram destes sinistros que contribuíram para a geração de um quadro de insegurança e incerteza generalizado, cujas repercussões ainda estão sendo contabilizadas.

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Dentre os casos mais recentes, destacam-se os edifícios Aquarela, Ijuí e Sevilha, em Jaboatão dos Guararapes, e os edifícios Éricka e Enseada de Serrambi em Olinda. Nestes casos, foram identificados pela primeira vez fenômenos de degradação nunca antes discutidos no meio técnico local, muito embora não se constituam em temas inéditos sob o ponto de vista do conhecimento técnico-científico. É o caso da Expansão por Umidade no Edifício Aquarela e a degradação dos componentes cimentícios (blocos e argamassas à base de cimento) por ataque das águas agressivas do subsolo, no caso do Edifício Éricka. Características Típicas da Alvenaria Resistente A alvenaria resistente é uma técnica construtiva que se caracteriza pela utilização de unidades de vedação (cerâmicas ou de concreto) com finalidade estrutural, ou seja, com o objetivo de suportar cargas além do seu próprio peso. As lajes são na sua maioria nervuradas, pré-moldadas tipo volterrana, com blocos cerâmicos ou de concreto e com capeamento de concreto. São assentadas diretamente sobre as paredes ou sobre cintas de concreto executadas no coroamento das paredes. As fundações são geralmente construídas em alvenaria simples ou dobrada, em continuidade às paredes da edificação, geralmente assentadas sobre sapatas corridas na forma de T invertido de concreto armado ou sobre componentes de fundação pré-moldados assentados sobre camada de concreto magro. Tem sido constatada a execução do piso do pavimento térreo em laje pré-moldada, semelhante às empregadas nos demais pisos da edificação, em substituição ao preenchimento do caixão da obra com aterro compactado. O porão assim formado cria um ambiente potencialmente agressivo aos elementos do embasamento e à própria laje. É agravado pela inexistência de saneamento, em muitos casos. Neste tipo de edificação é freqüente não se dispor cintas de concreto armado na interface fundação-parede de elevação ou mesmo nas interfaces parede-laje em cada pavimento. É comum também a ausência de vergas e contravergas nos vãos de aberturas de portas e janelas. As paredes de elevação são construídas em alvenaria singela de blocos cerâmicos ou de concreto, com espessura média de 9 cm, com juntas verticais descontínuas, assentadas com argamassa mista de cimento, cal e areia, de cimento saibro e areia ou simplesmente cimento e areia. Esta espessura das paredes é responsável, em grande parte, pela redução da já pequena capacidade de carga destes elementos resistentes devido à sua elevada esbeltez. Para os valores de pé-direito usualmente empregados neste tipo de construção – 2,60 m – tem-se uma esbeltez próxima de 30 que é consideravelmente superior ao valor 20, admitido para construções em alvenaria estrutural.

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Geralmente os revestimentos externos e internos são constituídos de argamassas mistas de cimento. A caixa de escada, muitas vezes posicionada na parte central do bloco, é geralmente estruturada em pórtico de concreto armado e serve de sustentação do reservatório superior. Em alguns casos são observadas escadas apoiadas diretamente sobre as paredes da edificação. A estrutura de telhado, geralmente em madeira, assenta-se sobre as paredes através de pilaretes ou barrotes de madeira, sendo a coberta em telhas de fibrocimento ou telhas cerâmicas. Os Desabamentos mais Significativos de Edificações em Alvenaria Resistente Em março de 1994, um dos blocos do Conjunto Residencial Bosque das Madeiras, localizado no bairro de Engenho do Meio ruiu ainda na fase de construção. A alvenaria da edificação era singela em blocos cerâmicos de oito furos e a fundação em caixão vazio. Não houve vítimas. O laudo de avaliação do acidente foi conduzido pelo Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura de Pernambuco (CREA-PE) e apontou como causa principal do colapso a execução de rasgos horizontais para instalação de eletrodutos ao longo de toda extensão de uma parede divisória central. A Figura 1 mostra uma visão da edificação em ruína. Três anos mais tarde, em 1997, ocorreu o desabamento do Edifício Aquarela, localizado no bairro de Piedade, no município de Jaboatão dos Guararapes. O colapso ocorreu onze anos após sua construção. A estrutura da edificação era em alvenaria singela de blocos cerâmicos vazados, assentados à galga na superestrutura com os furos na horizontal. As lajes eram pré-moldadas do tipo volterrana apoiadas sobre cintas de concreto armado, corridas ao logo de todas as paredes.

Fig. 1 – Conjunto Residencial Bosque das Madeiras A fundação deste edifício, em caixão vazio, foi construída em alvenaria singela de blocos cerâmicos de seis furos (19cm x 11cm x 9cm) assentados ao chato, constituindo uma trama de paredes. Os embasamentos então formados não foram

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aterrados em seu interior, apresentando em alguns pontos vazios de até 1,40m do solo à laje de piso. A laje de piso do pavimento térreo era também do tipo volterrana. A existência de cintas de amarração evitou o desmoronamento da edificação, mantendo os níveis dos pisos praticamente horizontais, na ocasião do colapso da estrutura. Não houve vítimas. O laudo de avaliação foi conduzido pelo CREA-PE e indicou como causa principal da ruptura a perda de resistência dos blocos de fundação decorrente da expansão por umidade. Também foram observadas na edificação reduções das dimensões das alvenarias de embasamento projetadas. A Figura Fig. 2 mostra detalhes do colapso da edificação.

Fig. 2 – Edifício Aquarela

Em novembro de 1999, ruiu em Jardim Fragoso, Olinda, o Edifício Éricka causando a morte de cinco pessoas. O edifício era construído em alvenaria singela mista, envolvendo blocos cerâmicos e blocos de vedação em concreto. A fundação desta edificação foi executada em caixão vazio e as paredes em alvenaria singela mista. Foram observados em alguns pontos vazios de até 1,70 m, entre o solo natural e a laje de piso do pavimento térreo. O laudo de avaliação foi conduzido pela Coordenação de Defesa Civil de Pernambuco (CODECIPE) e apontou como causa principal da ruína a perda de resistência decorrente da degradação produzida pela ação continuada de íons de sulfatos sobre os componentes do cimento. A Figura Fig. 3 mostra detalhes do colapso da edificação.

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Fig. 3 – Edifício Éricka

Em dezembro de 1999, colapsou também em Jardim Fragoso, o Bloco B do Conjunto Enseada de Serrambi causando sete vítimas fatais. O edifício era construído em alvenaria singela de blocos cerâmicos vazados assentados com furos na horizontal. A fundação deste prédio foi também executada em caixão vazio com paredes em alvenaria singela e a laje de piso do pavimento térreo em laje do tipo volterrana. O laudo de avaliação foi conduzido pela Coordenação de Defesa Civil de Pernambuco (CODECIPE) e apontou como causa principal da ruína a falha dos blocos de fundação. A Figura Fig. 4 mostra detalhes do colapso da edificação, onde se pode observar a fragmentação generalizada da mesma, decorrente da inexistência de cintas de concreto armado nos níveis dos pisos. Em maio de 2001, o Edifício Ijuí, localizado em Candeias, Jaboatão dos Guararapes, também construído em alvenaria resistente de blocos de concreto e fundação em caixão vazio, ruiu sem deixar vítimas. O laudo de avaliação foi conduzido pela Prefeitura Municipal de Jaboatão dos Guararapes contando com a participação do ITEP, CREA e CODECIPE. A Figura 5 ilustra as condições do edifício após o colapso. A ruptura se deu a partir dos embasamentos provocados pelo descalçamento das sapatas corridas em decorrência da passagem das águas servidas e pluviais devido à inclinação do terreno natural e pelo fato da fundação não ser aterrada.

Fig. 4 – Bloco B do Conjunto Enseada de Serrambi

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Fig. 5 – Edifício Ijuí

Mais recentemente, em dezembro de 2007, a parte posterior do Bloco B do Edifício Sevilha, situado em Jaboatão dos Guararapes colapsou no nível das paredes que constituíam os embasamentos da edificação. A fundação era também construída em caixão vazio em alvenaria singela formada por blocos vazados de oito furos assentados ao chato. A Figura 6 ilustra as condições do edifício após o colapso.

Fig. 6 – Edifício Sevilha

Ações Desenvolvidas Diante deste quadro, diversas ações de natureza técnica e política foram esboçadas para tentar solucionar o problema, tais como: a) Documento encaminhado ao CREA-PE, em 2000, por um grupo de engenheiros que participaram da maioria dos eventos relevantes relacionados com os prédios caixão e que, na condição de engenheiros e cidadãos denunciaram a gravidade do problema e propuseram soluções. Em conseqüência, o CREA-PE promoveu várias reuniões técnicas com componentes do setor da construção civil, e que resultaram em um documento similar ao proposto; b) Instalação de Comissão Parlamentar de Inquérito da Câmara Municipal de Olinda com a finalidade de investigar os casos dos desabamentos ocorridos no município; c) Realização de Seminário Técnico em nível regional promovido pela CREA-PE em maio de 2000;

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d) Criação de comissões de trabalho em diversas entidades representativas da comunidade técnica; e) Criação de disciplinas específicas relativas a Alvenaria Estrutural em níveis de graduação e pós-graduação nos cursos de engenharia civil; f) Cancelamento de linhas de financiamento para construção de prédios em alvenaria resistente (iniciativa da Caixa Econômica Federal); g) Desenvolvimento de projeto de pesquisa para estudo de modelos para recuperação de edifícios construídos com alvenaria resistente, conduzido pela Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP), Associação Instituto de Tecnologia de Pernambuco (ITEP), Universidade de Pernambuco (UPE), Secretaria de Ciência e Tecnologia do Governo do Estado de Pernambuco (SECTMA) e Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); h) Ação civil pública impetrada pelo Ministério Público Estadual e Federal contra prefeituras de cinco municípios da RMR e a Caixa Econômica Federal, determinando o cadastramento e avaliação do grau de risco de desabamento de todos os prédios em alvenaria resistente; i) Criação de legislação específica por parte das prefeituras, regulamentando a construção de edificações em alvenaria estrutural e vedando a licença de construção de obras em alvenaria resistente; j) Criação da lei 13.341 pela Assembléia Legislativa do Estado de Pernambuco tornando obrigatórias as inspeções periódicas dos edifícios de múltiplos andares, residenciais ou não, públicos e privados, obrigando as inspeções e manutenções periódicas; k) Criação de fórum permanente de discussão sobre a qualidade e segurança do ambiente construído pelo CREA-PE; l) Como resultado da ação civil pública, anteriormente referida, foi efetuado o levantamento dos prédios tipo caixão da cidade do Recife e estimativas do grau de risco de cada um deles. Este trabalho está sendo levado a efeito para os municípios de Paulista, Jaboatão dos Guararapes e Camaragibe; m) Formação de comissão técnica pela UPE para formulação de soluções relativas aos prédios caixão; n) Criação de Grupo de Trabalho pela Secretaria das Cidades para o equacionamento de soluções relacionadas com os prédios caixão. Pesquisas Realizadas Poucas pesquisas em nível local e nacional têm sido realizadas na temática da recuperação de obras de alvenaria resistente. Uma das mais abrangentes encontra-se em andamento sob a responsabilidade executiva da Universidade Católica de Pernambuco e proposta pela Associação Instituto de Tecnologia de Pernambuco (ITEP), envolvendo a Universidade de Pernambuco (UPE), a Secretaria de Ciências e Tecnologia do Governo do Estado de Pernambuco (SECTMA) e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), embora não integre formalmente a equipe responsável pelo desenvolvimento da pesquisa, tem participação com alunos de mestrado e doutorado do seu Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil.

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Os objetivos da pesquisa, apoiada pela Financiadora de Estudos e Projetos do Ministério da Ciência e Tecnologia (FINEP), podem ser sumarizados em três grandes linhas de ação, a saber:

• Análise do comportamento estrutural de paredes construídas em alvenaria resistente;

• O desenvolvimento de modelos para recuperação de edifícios construídos com alvenaria resistente;

• O desenvolvimento de modelos e processos de recuperação para uso em situações típicas.

A pesquisa busca contribuir para o entendimento do comportamento estrutural das edificações de alvenaria resistente através de ensaios experimentais e numéricos em modelos representativos (blocos, prismas e paredinhas). Quantidade significativa de ensaios estatisticamente fundamentados já foi realizada, inclusive alguns com avaliação de possíveis soluções de recuperação. A pesquisa contempla o estudo de elementos de alvenaria resistente constituídos de blocos cerâmicos e de concreto, submetidos exclusivamente à carga compressiva, que se constitui no tipo de carregamento usualmente imposto a estes elementos na prática executiva. Dentro do universo da pesquisa em desenvolvimento, várias dissertações de mestrado já foram desenvolvidas e outras estão em fase de conclusão. Também inserida no contexto da alvenaria estrutural, uma tese de doutorado foi concluída em 2006 e duas outras se encontram em andamento. Um manual com indicações de estratégias para avaliação e recuperação de obras em alvenaria resistente será produzido, bem como um Simpósio em nível nacional para apresentação e discussão dos resultados alcançados. Estas ações estão previstas para acontecer até meados de 2009. Considerações Críticas sobre a Pesquisa em Andamento e seus Resultados Um aspecto primordial que deve ser inicialmente salientado é que praticamente não se têm estudos que permitam o conhecimento das formas pela quais as paredes de alvenaria construída com blocos destinados a vedação, usadas com função estrutural, resistem aos esforços a que são submetidas. Há uma forte razão para isto, que reside na contradição intrínseca em se usar o componente de forma inadequada. Não há interesse científico em se promover uma investigação desta natureza se não houver uma forte motivação. Há, no caso pernambucano (e nacional), importantes razões para o desenvolvimento de pesquisas pelo fato de que existe um significativo passivo de construções executadas dentro deste princípio, com altíssimas faixas de risco, expondo cerca de 60.000 famílias a possibilidades de perdas de vida e/ou do seu patrimônio. Este quadro se constitui num grave problema social a ser equacionado e resolvido, o que justifica amplamente os esforços empregados nesta direção.

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É oportuno lembrar que até recentemente, antes da lei municipal da Prefeitura da Cidade do Recife em 2006, proibindo a construção de edificações contendo mais de dois pavimentos, não se tinha a prática da construção de alvenaria estrutural racionalizada, executada com princípios internacionalmente testados e validados. Seguindo a metodologia utilizada no estudo de alvenaria estrutural e de vedação, foram realizados ensaios de blocos, prismas e paredinhas em diversas composições de argamassas de assentamento e de revestimento, objetivando a determinação de suas propriedades e comportamentos estruturais. Os resultados destes estudos permitiram determinar as razões pelas quais, apesar dos cálculos indicarem que as paredes dos edifícios do tipo caixão sejam instáveis, milhares deles se encontram em “aparente” estabilidade. Alguns resultados obtidos são a seguir sumarizados:

• Os blocos cerâmicos e de concreto pesquisados apresentaram importante variabilidade dimensional denunciando um precário controle de qualidade no seu processo de fabricação;

• A resistência à compressão dos blocos ensaiados se mostrou excessivamente baixas – da ordem de 2 MPa – aspecto que os caracteriza como blocos que deveriam ter utilização restrita como elementos de vedação. Nenhum dos blocos ensaiados apresentou resistência compatível para suportar cargas além do próprio peso da parede;

• Os ensaios de compressão realizados em componentes, prismas e paredinhas de blocos cerâmicos mostraram ruptura brusca;

• Os ensaios realizados em prismas e paredinhas indicaram que o chapisco e o revestimento contribuem para o aumento da capacidade de carga destes elementos e a sua existência pode ser um dos responsáveis pela “estabilidade” aparente de grande parte das edificações em alvenaria resistente no Estado;

• Apesar de ter sido constatada melhoria na capacidade de carga gerada pelos revestimentos, a natureza brusca da ruptura dos elementos ensaiados ainda se constitui em um problema a ser superado;

• Os ensaios realizados em prismas e paredinhas indicaram que a colocação de armaduras no interior da camada de revestimento, desde que adotados critérios adequados de disposição e fixação, pode contribuir para o incremento da capacidade de carga dos elementos ensaiados, bem como promover ductilidade.

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3. COMITÊ DE NOVOS PROJETOS Em termos construtivos, daqui por diante, a alvenaria resistente deverá se resumir ao seu papel de alvenaria de vedação. Apesar da lei promulgada pela Prefeitura da Cidade do Recife permitir o seu uso para edificações de até dois pavimentos, há que se considerar as cargas, os vãos e os contraventamentos. Não se pode limitar apenas no que se refere ao número de pavimentos da construção. Obras futuras executadas em alvenaria devem seguir as normas técnicas específicas para a Alvenaria Estrutural, tanto no que se refere aos procedimentos de cálculo quanto no que se refere às características mínimas de desempenho, qualidade dos materiais utilizados e procedimentos construtivos adotados. Para obras em alvenaria de blocos de concreto, tem-se a NBR 10837 - Cálculo de alvenaria estrutural de blocos vazados de concreto, em vigor desde 1989 e que atualmente se encontra em processo de revisão. Além desta norma, deverão ser obedecidas as especificações dos componentes que já se encontram normatizadas. Para o caso de obras de alvenaria de blocos cerâmicos, se encontra em fase de consulta pública para aprovação final. Tem-se em vigor, no entanto, normas que regulam a qualidade dos componentes (blocos e argamassas de assentamento). Para que se possam utilizar blocos cerâmicos em obras de alvenaria estrutural, em uma fase transitória, até a aprovação e publicação da norma nacional sobre o tema, poder-se-ia recorrer, por exemplo, ao Eurocódigo 6 - Projeto de Estruturas de Alvenaria - que tem características similares à versão da norma brasileira que deverá entrar em vigor no país. Outra hipótese também possível seria adotar uma extensão da norma NBR 10.837, a exemplo da Norma Americana ACI/ASCE/TMS/2008, que trata estas duas alvenarias de forma unificada e que em muito se assemelha à norma NBR 10.837. Na elaboração de novos projetos em alvenaria estrutural é recomendada a utilização do seguinte referencial normativo mínimo:

• Projeto de Norma: 02:123.03-001/1, Janeiro 2009 - Parte 1 - Projetos; • Projeto de Norma: 02:123.03-001/2, Janeiro 2009 - Parte 2 – Execução e

controle de obras; • NBR 15270-1 – Componentes cerâmicos – Parte 1: Blocos cerâmicos para

alvenaria de vedação – Terminologia e requisitos; • NBR 15270-2 – Componentes cerâmicos – Parte 2: Blocos cerâmicos para

alvenaria estrutural – Terminologia e requisitos; • NBR 15270-3 – Componentes cerâmicos – Parte 3: Blocos cerâmicos para

alvenaria estrutural e de vedação – Métodos de ensaio; • NBR 10837 – Cálculo de alvenaria estrutural de blocos vazados de concreto; • NBR 13281 – Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e

Tetos – Requisitos;

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• NBR 13280 – Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos – Determinação da densidade de massa aparente no estado endurecido;

• NBR 13279 – Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos – Determinação da resistência à tração na flexão e à compressão;

• NBR 13278 – Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos – Determinação da densidade de massa e do teor de ar incorporado;

• NBR 13277 – Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos – Determinação da retenção de água;

• NBR 13281 – Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos – Preparo da mistura e determinação do índice de consistência;

• NBR 7480 – Barras e fios de aço destinados a armaduras para concreto armado;

• NBR 6738 – Concreto – Procedimento para moldagem e cura de corpos-de-prova;

• NBR 8949 – Paredes de alvenaria estrutural – Ensaio à compressão simples; • NBR 15575-1 – Edifícios habitacionais de até cinco pavimentos –

Desempenho – Parte 1: Requisitos gerais; • NBR 15575-2 – Edifícios habitacionais de até cinco pavimentos –

Desempenho Parte 2: Requisitos para os sistemas estruturais; • NBR 15575-3 – Edifícios habitacionais de até cinco pavimentos –

Desempenho Parte 3: Requisitos para os sistemas de pisos internos; • NBR 15575-4 – Edifícios habitacionais de até cinco pavimentos –

Desempenho Parte 4: Sistemas de vedações verticais externas e internas; • NBR 15575-5 – Edifícios habitacionais de até cinco pavimentos –

Desempenho Parte 5: Requisitos para sistemas de coberturas; • NBR 15575-6 – Edifícios habitacionais de até cinco pavimentos –

Desempenho Parte 6: Sistemas hidrossanitários. Diante de todas estas considerações, parte-se da premissa de que a indústria local esteja habilitada a fornecer os componentes para obras de alvenaria estrutural, tanto de blocos cerâmicos quanto de blocos de concreto. Sabe-se, entretanto, que esta não é a realidade local e que raras são as obras executadas efetivamente em alvenaria estrutural na RMR. O mercado produtivo local deste setor ainda se encontra numa fase muito incipiente. Por outro lado, as indústrias de blocos cerâmicos ou de concreto só realizarão investimentos para adequar o seu parque produtivo se houver demanda e a demanda, por sua vez, só ocorrerá se os construtores tiverem a segurança na qualidade dos insumos e custos compatíveis.

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Este impasse precisa ser adequadamente tratado por todos que integram o setor produtivo da construção civil (empresas e profissionais de projeto e construção, fornecedores de materiais, agentes do sistema financeiro, universidades e agentes de formação de mão-de-obra) e a sua superação representará um salto de qualidade que o setor terá que dar na direção da melhoria do padrão das construções de alvenaria estrutural no estado de Pernambuco. Naturalmente, este processo exigirá um árduo esforço coletivo, mas, sem dúvida alguma, os benefícios decorrentes serão de suma importância para o setor da construção civil do Estado e para a população em geral.

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4. COMITÊ DE RECUPERAÇÃO DOS PRÉDIOS As obras que já se encontram construídas estão atualmente em fase de caracterização, com estimativa do seu grau de risco, em decorrência dos processos judiciais movidos pelo Ministério Público Estadual e Federal. Esta classificação de risco deve ser entendida apenas como uma escala de prioridade para a adoção de intervenções que conduzam a níveis de segurança compatíveis com o que é moral e eticamente defensável socialmente, quando se trata de vidas humanas. Em princípio, todos os edifícios do tipo caixão deverão ser reforçados e, para tanto, faz-se necessário um diagnóstico aprofundado empregando ensaios e demais recursos técnicos que permitam a realização de projetos de recuperação adequados. Estes projetos e as obras decorrentes deles deverão ser executados por profissionais legalmente habilitados pelo Sistema CONFEA/CREA e, principalmente, com capacitação específica para esse tipo de serviço. Adicionalmente, deve ser registrado que as obras em alvenaria resistente executadas na RMR possuem uma vida útil inferior às correspondentes em concreto armado, e que estimativas efetuadas em consonância com as recomendações da norma ISO 15.286 mostram resultados preocupantes. O quadro assim instalado demanda ações urgentes já que com o passar do tempo a situação de risco destas edificações se agrava. Sua vida útil pode ser atingida, ou mesmo ultrapassada, a depender dos fatores envolvidos em seu projeto, construção e utilização. Recomenda-se que as vistorias e os laudos atendam aos requisitos do Termo de Referência intitulado “Inspeções e Laudos sobre Prédios em Alvenaria Resistente – Requisitos Mínimos”, que está anexado a esse documento. De tudo que foi exposto anteriormente, podem ser formuladas as seguintes conclusões:

• Antes que qualquer ação seja tomada, é necessário se estender o cadastro

(inclusive social) e a caracterização das edificações em alvenaria resistente no Estado de Pernambuco, em andamento, para todo o universo existente;

• Ações no sentido de proibir a utilização de blocos de vedação com finalidade estrutural nas edificações de alvenaria em todo o Estado de Pernambuco necessitam ser implementadas;

• A alvenaria resistente não pode ser pensada, em nenhuma hipótese, como um processo construtivo capaz de suportar cargas além de seu peso próprio. Consistentemente com esta afirmação, todos os prédios do tipo caixão, construídos dentro desta técnica, devem ser recuperados, conforme o projeto. Os fatores de risco determinados por qualquer que seja a metodologia devem servir meramente como indicadores da ordem ou seqüência em que os prédios devem ser recuperados. Fornecem, portanto, apenas uma escala de prioridades para as intervenções a serem efetuadas, a ser utilizada com critério pelo gestor do processo de recuperação;

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• O fato constatado de que a argamassa de revestimento contribui para a resistência de uma parede de alvenaria serve meramente para explicar as razões pelas quais a respectiva parede não colapsou. A literatura internacional mostra através de estimativas que a vida útil de rebocos é da ordem de vinte anos, razão pela qual não se pode atestar a segurança da edificação que padece de falha congênita, ou seja, ter sido executada com alvenaria de vedação com finalidade estrutural;

• Em grande número de desabamentos, a ruptura não se deu necessariamente a partir da parede mais carregada. A deterioração dos materiais poderá ser determinante. Daí, não se poder estabelecer coeficientes de segurança baseados apenas em critérios de resistência mecânica;

• Os prédios construídos com alvenaria resistente estão sujeitos a ruptura brusca e colapso progressivo.

Os projetos de recuperação devem ter, para merecer esta designação, necessariamente, capacidade de redistribuição de esforços decorrente de uma possível ruína de um dos elementos estruturais. A estrutura resultante não poderá ser suscetível à ruptura brusca, nem ao colapso progressivo.

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5. COMITÊ DE GESTÃO DOS RISCOS Considerações Iniciais O levantamento divulgado recentemente pelo ITEP, mostra que o número de prédios em situação de risco alto e muito alto a desabamento na RMR é muito expressivo. Mesmo que sejam viabilizados recursos técnicos e financeiros para a recuperação dos prédios, será necessário um prazo estimado entre 5 e 10 anos para que os serviços sejam concluídos. Isso significa que será necessária a implantação de um sistema de gestão dos riscos, que envolva não apenas o poder público, mas também os próprios. Portanto, municípios devem estar estruturados através dos seus órgãos de Defesa Civil para fazer essa gestão. Elementos para a Gestão do Risco A experiência internacional e brasileira em gestão de riscos de fenômenos naturais (deslizamentos, inundações, terremotos, entre outros) mostra que o êxito da gestão depende fundamentalmente do reconhecimento de sua importância pelos gestores públicos, do fortalecimento das instituições e da consciência pró-ativa das populações ameaçadas. Propõe-se que para os prédios em alvenaria resistente seja seguido o mesmo modelo de gerenciamento do risco proposto pelo UNDRO (1991), e que tem sido usado com êxito em encostas urbanas. O modelo inclui os seguintes procedimentos:

• Identificação dos processos de instabilização • Análise de riscos de desabamento • Medidas preventivas:

o Estruturais – urbanização e obras de recuperação dos prédios o Não estruturais – Defesa Civil

• Planejamento para situações de emergência • Informações públicas e treinamento

A identificação dos processos de instabilização dos prédios compreende a caracterização do sistema construtivo dos prédios e o modo como se comporta a longo prazo. Nessa fase são feitos os estudos para a compreensão do desempenho do sistema estrutural, e também o processo de degradação dos materiais e a sua interação com o meio físico, incluindo a influência da forma de uso e manutenção dos prédios. A análise de riscos de desabamento é a fase de apropriação dos principais fatores relacionados à suscetibilidade dos prédios a desabamento, e à vulnerabilidade das famílias e das estruturas sujeitas a perdas.

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As medidas estruturais preventivas referem-se às obras e intervenções nos prédios que reduzem o risco e evitam a ocorrência de acidentes, enquanto as medidas não estruturais, também de caráter preventivo, se dão através da ação continuada da Defesa Civil, junto aos moradores dos prédios de maior risco, evitando mortes e reduzindo as perdas materiais nos locais onde há maior probabilidade de ocorrerem acidentes. O planejamento para situações de emergência é feito através dos Planos de Contingência e de outras formas de organização dos esforços municipais de modo preventivo, para lidar com situações de acidentes dos prédios. As informações públicas e treinamento referem-se aos sistemas de alerta à população devidamente preparada para responder às recomendações feitas pela Defesa Civil. Inclui também todas as formas de capacitação técnica e administrativa voltadas para as ações preventivas e emergenciais, com os grupos voluntários regularmente instituídos, além do tratamento das bases de dados, os sistemas de geo-informação e as relações com os meios de comunicação. Instrumentos Formais para a Prevenção e Redução de Desastres A impossibilidade de eliminação completa do risco em um curto espaço de tempo, impõe a necessidade de montagem de um sistema de gerenciamento que permita conviver com o risco com o mínimo de sofrimento e de perdas por parte da população atingida. Para o estabelecimento de medidas não estruturais voltadas para a redução do risco é de grande importância a montagem de instrumentos que definam o modelo de gerenciamento e contenha o diagnóstico dos problemas, a estrutura municipal a ser envolvida, os condicionantes técnicos e sociais que contribuem para a existência do risco, bem como aqueles que preparam o município para enfrentar as situações emergenciais. Propostas para o Gerenciamento de Risco Um dos principais problemas observados nos órgãos de Defesa Civil dos municípios é o pequeno número de técnicos para dar suporte à avaliação de risco, a falta de um sistema de suporte à decisão que dê mais agilidade aos trabalhos da Defesa Civil e, a insuficiência dos recursos destinados anualmente para os serviços de execução direta, no orçamento das prefeituras.

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As proposições para o gerenciamento de risco são as seguintes:

• Ampliar o quadro técnico de modo a garantir um número suficiente de equipes, que devem ser compostas por engenheiros civis devidamente qualificados nas áreas de estruturas, tecnologia dos materiais e geotecnia, além de técnicos da área social, para aprofundar a avaliação de risco, dando suporte às equipes de campo;

• Ampliar a participação comunitária na solução dos problemas, através da

construção consciente do processo de Defesa Civil, estruturando Núcleos Descentralizados de Defesa Civil – NUDECs (ou aproveitando os já que existirem);

o capacitar e consolidar os NUDECs e fortalecer os grupos voluntários

de apoio à Defesa Civil já existentes: o capacitar os agentes que trabalham em outras áreas (por exemplo,

saúde e meio ambiente) para a ação complementar preventiva e emergencial de Defesa Civil;

• Fortalecer os vínculos institucionais entre as secretarias e outros órgãos e

setores municipais com interface na Defesa Civil:

o criar um Fórum Permanente, com a participação dos órgãos municipais diretamente envolvidos (planejamento, manutenção urbana e obras públicas), bem como o setor produtivo da construção civil, para dar maior agilidade às ações preventivas e particularmente às emergenciais;

o realizar oficinas de sensibilização e troca de experiências na ação de

Defesa Civil, com a participação dos parceiros do sistema municipal;

• Implantar um sistema de suporte à decisão a partir do sistema computacional de geoinformação, para dar suporte à Defesa Civil:

o criar uma divisão de Geoinformação com a infra-estrutura mínima para

seu funcionamento (rede elétrica e lógica, computadores, impressoras, GPS e câmeras digitais);

o capacitar e sensibilizar a equipe técnica para o uso do sistema de

geoinformação, para a alimentação da base de dados do sistema, e para a obtenção de informações que dêem agilidade à Defesa Civil e seus parceiros nas atividades de prevenção e nas respostas às emergências;

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• Montar um Plano Preventivo de Defesa Civil a partir dos dados do levantamento de riscos feito pelo Itep, com planejamento, controle e hierarquização das intervenções nos prédios com maior risco;

• Estabelecer metas de investimento em ações estruturais de redução de risco

para um horizonte de 10 anos, definidas nos Planos Anuais de Defesa Civil, e nos Planos Plurianuais do Município – PPA, de modo a garantir recursos para investimentos contínuos, para os setores mais críticos.

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6. COMITÊ DE FINANCIAMENTO Estimativa dos Custos Ainda não há estudos conclusivos sobre o custo para recuperação de um prédio em alvenaria resistente. Imagina-se que tal valor dependa do grau de risco do prédio. Dados preliminares, no entanto, mostram que são cerca de 6.000 prédios em situação de risco, com 250.000 moradores. A maioria dos prédios tem entre 08 e 16 apartamentos com valor de venda variando entre R$ 25.000,00 (vinte mil reais) e R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais). Admitindo-se que o custo da recuperação do prédio possa chegar a 2/3 do valor de venda, e que se tenha como média 12 apartamentos por prédio com valor de venda de R$ 37.500,00 (trinta e sete mil e quinhentos reais), tem-se um custo estimado para a recuperação dos prédios da ordem de R$ 1,8 bilhões. A esse valor devem ser acrescidos outros custos, tais como os projetos de recuperação, custos de relocação de moradores, aluguel, entre outros, que podem ser estimados em cerca de 10%. Com isso, chega-se a um total da ordem de R$ 2 bilhões. Fontes de Financiamento Embora ainda não haja um cadastro social da população atingida, pode-se afirmar que a maioria da população que mora nos prédios em situação de risco não possui condições de financiar sequer os estudos e projetos necessários à recuperação dos seus prédios. Por outro lado, os municípios também têm limitações orçamentárias para a execução das medidas necessárias, especialmente as medidas estruturais que incluem os projetos e a execução dos serviços de recuperação dos prédios. Propõe-se que os recursos financeiros necessários sejam alocados pelo Estado de Pernambuco, pela União e por outros agentes, tais como seguradoras dos prédios. Aos municípios seria exigida como contrapartida a reestruturação dos seus órgãos de Defesa Civil, para dar suporte às medidas não estruturais. Embora nem sempre voltados para o financiamento de ações estruturais, os programas identificados a seguir apresentam possibilidades de interface na redução do risco, mesmo onde os investimentos objetivem ações de caráter educativo, social ou econômico nos prédios em situação mais precária.

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Planos e Programas Federais

• Ministério das Cidades / Ministério da Integração Nacional (OGU)

o Habitação de Interesse Social; o Prevenção para Emergências e Desastres – PPED; o Resposta aos Desastres – PDR.

• Ministério do Planejamento e Orçamento / Caixa Econômica Federal

o Habitar-Brasil (OGU – BID – BIRD); o Pró-Moradia (FGTS); o Pró-Sanear.

Planos e Programas Metropolitanos e Municipais

• Estratégia de Desenvolvimento da RMR – Metrópole Estratégica do Governo do Estado de Pernambuco / Agência Condepe-Fidem;

• Planos plurianuais dos municípios envolvidos; • Programa Habitar – Brasil / BID.

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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS Cerca de 250.000 pessoas habitam 6.000 edificações de alvenaria resistente na Região Metropolitana do Recife, onde diversas manifestações patológicas têm sido observadas, já tendo ocorrido desabamentos com vítimas fatais. Isso significa que cerca de 10% da população encontra-se potencialmente exposta à perda do patrimônio e ao risco de vida. Ocorreram dez desabamentos espontâneos, o que corresponde a uma probabilidade de falha aproximada de 1:500. Este indicador de risco deve ser ainda maior, se for considerado que várias demolições foram realizadas e dezenas de interdições de prédios efetuadas, por não oferecerem condições de segurança para o seu uso. Pode-se considerar como limite socialmente aceitável, valores de no máximo 1:10.000. O quadro instalado se constitui num grave problema de ordem social que demanda intervenções firmes e urgentes para a sua solução. Este documento apresenta uma metodologia para o enfrentamento definitivo e responsável do problema. São apresentadas, não apenas recomendações quanto aos requisitos técnicos para a construção de novos prédios e recuperação dos prédios já construídos, mas também quanto ao financiamento e gestão dos riscos. Com isso se espera resgatar a dignidade e a segurança dos moradores dos prédios, através de intervenções que tenham como base conceitos técnicos e científicos consagrados na Engenharia.

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ANEXO 1: Termo de Referência “Inspeções e Laudos sobre Prédios em Alvenaria Resistente – Requisitos Mínimos”

1. INTRODUÇÃO As presentes diretrizes têm como objetivo fornecer os requisitos mínimos a serem considerados nos serviços de inspeção para elaboração de laudos técnicos com vistas ao atendimento da Lei 13341 que dispõe sobre a obrigatoriedade de vistorias periciais e manutenções periódicas, em edifícios de apartamentos e salas comerciais no âmbito do Estado de Pernambuco. Todos os ensaios e procedimentos deverão atender às normas da ABNT. Também deve ser considerado, onde necessário, a NBR 5674 – Manutenção de edificações – Procedimentos, a NBR 14037 – Manual de operações, uso e manutenção das edificações e a norma de desempenho NBR 15575 – Edifícios habitacionais de até cinco pavimentos – Desempenho, Parte-1 a Parte-6, em suas últimas versões. 2. CARACTERIZAÇÃO DA EDIFICAÇÃO Dados Cadastrais

• Nome da edificação; • Endereço; • Data da construção/Habite-se; • Motivo da solicitação; • Nome do síndico ou órgão responsável pela edificação.

Informações Gerais

• Verificar a existência de projetos/manuais da edificação; • Verificar a utilização da edificação em relação à concepção de projeto; • Caracterizar a edificação (número de pavimentos, número de apartamentos,

tipo de lajes, croqui e tipo da fundação, entre outros); • Verificar registros de intervenções anteriores (data de execução; empresa

responsável; projeto; motivo e locais de intervenção); • Analisar os projetos da edificação.

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Questionário: Condôminos e Administração

• Entrega de questionários apropriados à edificação, através do síndico ou administrador, sucinto para cada unidade, para que os condôminos indiquem os problemas existentes nas unidades (fissuras nas paredes, nos pisos tetos e nos elementos estruturais, problemas com portas e janelas, deformações, infiltrações, entre outros), e ao administrador para que forneça informações semelhantes das áreas comuns;

• Filtragem dos questionários e seleção das unidades a serem vistoriadas. 3. REGISTRO DAS MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS Levantamento de Manifestações Patológicas Os aspectos mais importantes deverão ser documentados mediante registro fotográfico:

• Manchas de umidade, formação de bolor e de eflorescência; • Fissuras devido à corrosão de armaduras; • Fissuras por deformações em elementos estruturais; • Fissuras nos elementos de vedação, em pisos e tetos; • Descolamentos de revestimentos; • Outros.

Além disso, algumas considerações preliminares podem ser feitas:

• Classificar a gravidade das manifestações patológicas presentes nas estruturas vistoriadas, separando por elemento estrutural, localização, orientação e micro-clima (condições de umidade, presença de agentes agressivos, entre outros);

• Levantar possíveis causas das manifestações patológicas encontradas; • Estimar níveis de comprometimento relacionados à segurança, funcionalidade

e durabilidade. Definição dos Pontos de Inspeção Para essa definição devem ser considerados os seguintes aspectos:

• Pontos críticos da estrutura, observando possíveis falhas construtivas; • Condições de umidade, insolação, orientação e posicionamento dos

elementos; • Ambiente interno ou externo; • Condições de exposição a agentes agressivos; • Intervenção ou recuperação anterior; • Outros.

Aspectos Relacionados à Segurança Estrutural

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Quando forem necessários, deverão ser considerados:

• Elaboração de croqui identificando os elementos estruturais com indicativo das seções;

• Tipos e direções das lajes; • Tipo de fundação; • Identificação das fissuras ou deformações excessivas que indiquem

comportamento estrutural inadequado dos elementos investigados; • Identificação das perdas de seção de aço nos elementos estruturais; • Extração de testemunhos de concreto/prismas de alvenaria; • Dureza superficial do concreto; • Posicionamento da armadura nos elementos estruturais armados; • Velocidade de propagação de ondas ultra-sônicas e resistência à compressão

de testemunhos extraídos; • Prova de carga; • Outros.

Aspectos Relacionados à Segurança de Revestimentos e Vedações Quando forem necessários, deverão ser considerados:

• Caracterização dos tipos e posicionamento dos revestimentos de fachada; • Levantamento das manifestações patológicas dos revestimentos; • Mapeamento por percussão dos revestimentos aderentes de fachada; • Resistência de aderência dos revestimentos aderentes; • Verificação dos elementos de fixação dos revestimentos não aderentes; • Levantamento das manifestações patologias das vedações; • Outros.

Aspectos Relacionados à Durabilidade Quando forem necessários, deverão ser considerados:

• Posicionamento e cobrimento da armadura; • Potencial de corrosão e resistividade elétrica; • Profundidade de carbonatação; • Teor de íons cloreto; • Reconstituição de traço de concreto; • Extração de testemunhos; • Índice de vazios, absorção de água por imersão e massa específica; • Agressividade das águas nas fundações; • Microscopia eletrônica; • Outros.

Aspectos Relacionados à Funcionalidade

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Quando forem necessários, deverão ser considerados:

• Identificação de desaprumo; • Identificação de problemas de movimentação de portas e janelas; • Mapeamento de falhas em revestimentos (fachadas e pisos); • Verificação das instalações elétricas, hidráulicas, hidro-sanitárias, drenagem e

pára-raios; • Identificação de problemas com impermeabilização; • Verificação da funcionalidade e manutenção dos elevadores; • Outros.

4. ANÁLISE E DIAGNÓSTICO Nesta fase, devem ser formuladas hipóteses sobre as possíveis causas das manifestações patológicas encontradas, e também devem ser buscadas evidências que comprovem as hipóteses levantadas nas investigações realizadas. Investigação sobre as Condições de Agressividade Havendo indícios de degradação nos elementos estruturais de concreto armado, se faz necessário investigar e caracterizar os potenciais agentes de degradação do meio e/ou intrínsecos aos materiais constituintes, tais como:

• Ações de cloretos; • Ações de sulfatos; • Carbonatação; • Reações álcali-agregados; • Ações de águas agressivas; • Ações de águas ácidas; • Outros.

Nessa etapa, devem ser coletadas informações que forneçam subsídios para o prognóstico da deterioração da estrutura, e identifiquem os mecanismos e as causas que provocaram as manifestações patológicas e a degradação da edificação. Também deve ser feita uma simulação sobre as conseqüências da não realização de uma intervenção ao longo do tempo baseado em um estudo detalhado e coerente que tenha resultado em um diagnóstico do problema. Além do diagnóstico, são necessárias informações sobre a cinética do mecanismo que esteja afetando a estrutura. Investigação sobre as Intervenções Realizadas

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Devem ser investigados os locais e os processos de intervenções realizadas posteriores à construção original, principalmente as que se referem a:

• Tipos de reparos realizados; • Tipos de reforço; • Obras que resultaram na alteração de uso e/ou carregamento adicional da

estrutura. Investigação sobre Ações Externas à Edificação Havendo indícios de movimentação das fundações se faz necessário investigar possíveis intervenções realizadas no entorno imediato posteriores à construção da edificação, principalmente as que se referem à:

• Construção de edificações adjacentes; • Movimentação de solo; • Execução de obras subterrâneas; • Alteração no nível de tráfego; • Ações sísmicas; • Vazamentos no sistema hidro-sanitário (tubulações, caixas de passagem,

entre outros); • Outros.

Investigação sobre Ações de Degradação dos Elementos Estruturais Havendo indícios sobre degradação de elementos estruturais, se faz necessário investigar as seguintes influências, principalmente nos elementos indicados:

• Verificar áreas de infiltrações e/ou presença constante de água (pilares, lajes e fundações);

• Potenciais de corrosão de armaduras; • Formação de pilhas galvânicas; • Baixa resistividade do concreto; • Elevada porosidade do concreto; • Baixa espessura de cobrimento; • Proximidade das frentes de carbonatação e perfil de cloretos da armadura; • Potenciais de reação álcali-agregado (caixas d´água e fundações); • Mapeamento com posicionamento e abertura de fissuras; • Retira de testemunhos para ensaios de caracterização; • Realização de ensaios específicos; • Potenciais de reação de águas agressivas (caixas de esgotamento e

fundações). Investigação sobre Ações de Degradação dos Elementos de Fachada

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Havendo indícios sobre degradação de elementos de fachada, se faz necessário investigar as seguintes influências, principalmente nos elementos indicados:

• Acúmulo de umidade em argamassas de revestimentos externos; • Falha nos rejuntamentos; • Acúmulo de água dentro das irregularidades dos tardozes; • Caixas de ar condicionado e brises; • Ausência de chapins; • Ausência de drenagem de caixas de ar condicionado; • Destacamento dos elementos de revestimento.

Investigação sobre Falhas Construtivas Sendo observadas falhas construtivas, quer sejam oriundas de conceitos equivocados ou de processo construtivo deficiente, devem ser levantadas as seguintes informações:

• Falhas de concretagem e segregação; • Ninhos de concretagem; • Má vibração; • Concreto poroso, com baixa resistência.

Investigação sobre Patologias do Último Pavimento e Coberta Devem ser verificados os seguintes elementos:

• Calhas; • Telhado/madeiramento; • Fissuras de origem térmica; • Impermeabilização; • Isolamento térmico; • Algerozes; • Chapins; • Reservatório superior; • Casa de máquinas; • Fixação dos ganchos na laje de coberta; • Existência de trincas na ligação da estrutura de concreto armado da laje de

coberta e alvenarias; • Guias de elevadores.

Investigação sobre Impermeabilização

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Havendo indícios sobre degradação dos sistemas de impermeabilização, se faz necessário investigar os elementos indicados:

• Jardineiras; • Play-ground; • Áreas vazadas; • Juntas de dilatação; • Reservatórios inferiores.

Investigação das Fundações Não havendo registro documentado de investigações anteriores acerca das fundações, são obrigatórias as inspeções destas, considerando as recomendações apresentadas a seguir. Para edifícios com até 20 anos de construção, deve ser realizada uma inspeção dos elementos de fundação (sapatas ou blocos), independentemente de apresentarem sintomas ou não na superestrutura. O número mínimo recomendado de elementos de fundação a ser inspecionado é de 30% das sapatas ou blocos e pescoços de pilares pertencentes à lâmina do edifício. A fundação deverá ser investigada sempre que houver indicadores, tais como trincas e manifestações típicas de recalques. É obrigatória a inspeção de pilares, sapatas e/ou blocos, especialmente próximo aos seguintes locais:

• Tubulações caixas de passagem; • Sistema de fossa, filtro, sumidouros, valas de infiltração; caixas de visita; • Reservatório inferior; • Sistema de drenagem.

Investigação sobre os Sistemas de Instalações Instalações hidráulicas:

• Condições visuais da estanqueidade das tubulações, conexões e barriletes; • Identificação de áreas que apresentem vazamentos.

Sistema de esgotamento sanitário:

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• Condições visuais das tubulações de esgotamento e ventilação; • Condições visuais das caixas de passagem e vala de infiltração e

sumidouros. Instalações elétricas:

• Condições visuais do sistema de entrada de energia e quadro de forças; • Condições visuais dos quadros de disjuntores e distribuição nas unidades.

Instalações de combate a incêndio

• Presença e validade dos extintores nas áreas comuns; • Condições visuais das mangueiras e caixas de incêndio; • Condições visuais das portas corta-fogo e rotas de fuga;

Instalações de gás:

• Condições visuais das instalações do suprimento de gás; • Condições visuais das tubulações e conexões.

Instalações de pára-raios:

• Condições visuais das instalações da rede e dispositivos de pára-raios. Investigação da casa de máquinas e elevadores:

• Integridade estrutural e estanqueidade das lajes de piso e teto das casas de máquinas;

• Condições de manutenção dos elevadores; • Integridade das guias através de percepção sensorial ao longo do percurso.

Investigação de Edificações Construídas em Alvenaria Deverão ser considerados os seguintes itens:

• Investigação e caracterização dos elementos de fundação, com atenção especial de indicativos de degradação;

• Retirada de amostras para avaliação da capacidade resistente; • Análise de agressividade do solo e da água do subsolo; • Análise da super-estrutura, com atenção especial na identificação e

caracterização dos elementos estruturais (tipos de laje, existência de cintas e pilaretes, estruturação da caixa de escada e apoio do reservatório superior);

• Retirada de amostras das paredes para determinação das densidades e capacidade resistente;

• Consideração da existência de alterações internas e externas realizadas na edificação;

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• Análise dos demais aspectos que constituem a edificação, tomando como referência os itens anteriormente considerados.

Em princípio, o número mínimo de ensaios a serem efetuados, por prédio é:

• Sondagens de reconhecimento a percussão: 03 (a depender do julgamento do consultor);

• Amostras de paredes:

o Fundação/embasamento: 06; o Super-estrutura: 06; o Amostras de água do subsolo: 02

Obs.: Devem prevalecer os valores recomendados nas normas da ABNT. 5. ELABORAÇÃO DE RELATÓRIO Todo estudo de campo e elaboração de relatórios de inspeção necessita ser conduzido por profissionais devidamente habilitados para realização deste tipo de investigação. São aspectos importantes:

• Detalhar todas as patologias encontradas no trabalho de campo; • Descrever todos os procedimentos de ensaio empregados no trabalho de

inspeção; • Apresentar o diagnóstico de forma clara e objetiva, com a identificação das

causas, origens e mecanismos de ocorrências; • Apresentar recomendações relativas às intervenções a serem efetuadas; • Mencionar eventuais obstáculos encontrados que impediram ou dificultaram a

investigação, citando as causas e os nomes das pessoas que criaram obstáculos ao trabalho, se for o caso;

• Apresentar o prognóstico da estrutura, indicando o que deve ocorrer no caso de não se realizar as intervenções recomendadas.

6. ELABORAÇÃO DO PROJETO EXECUTIVO DE RECUPERAÇÃO O relatório servirá de base para a elaboração do Projeto Executivo de Recuperação. Deverão ser apresentados no mínimo os seguintes aspectos:

• Detalhamento da solução proposta através de plantas baixas, cortes e fachadas, em escala adequada à compreensão da intervenção a ser realizada, em meio digital e impressa;

• Justificativa da solução de recuperação proposta com apresentação da respectiva memória de cálculo;

• Na memória de cálculo deve ser demonstrada, de forma clara que, após a recuperação, a estrutura terá capacidade de redistribuição de esforços decorrente de uma possível ruína de um dos elementos estruturais. A

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estrutura resultante não poderá ser suscetível à ruptura brusca, nem ao colapso progressivo;

• Memorial descritivo dos procedimentos; • Especificação dos materiais; • Outros esclarecimentos que se façam necessários.

7. PLANILHA ORÇAMENTÁRIA E CRONOGRAMA FÍSICO-FINANCEIRO Devem ser obrigatoriamente observados em todos os itens:

• Completa caracterização dos quantitativos, sendo vedada a utilização da expressão “verba”;

• Definição de composições de custo ou origem dos preços unitários adotados.