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Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes
DIRETRIZES SBD 2009
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Reproduo autorizada pela Sociedade Brasileira de Diabetes
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Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes
DIRETRIZES SBD 2009
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Diretrizes SBD 2009
Dra. Marlia de Brito Gomes
Presidente da SBD Gesto 2008/2009
Apresentao
O processo de aprendizagem ba-
seado em evidncias cientficas vem
ganhando cada vez mais espao na
medicina da atualidade. Sabe-se queo conhecimento encontra-se em cons-
tante mutao, sendo necessria uma
atualizao peridica. Foi pensando
nissto que surgiram as Diretrizes da
Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD),
que agora chegam a sua edio 2009.
A prescrio mdica deve ser reali-
zada de forma consciente. No processo
de tomada de deciso, devem ser con-
sideradas as preferncias do paciente,
aps esclarecimento dos riscos e be-
nefcios da teraputica , as circunstn-
cias do atendimento, o estadiamento
da doena e os recursos disponveis.
Alm dissto, a experincia profissional
fundamental e faz muita diferena na
conduta final, garantindo um melhor
acompanhamento do paciente.
essencial, portanto, entender que
as evidncias so apenas um dos compo-
nentes na tomada de deciso. Os mdi-
cos envolvidos na ateno a seus pacien-
tes utilizam as diretrizes como uma das
formas de constante atualizao perante
o avano extremamente rpido do co-nhecimento mdico e das opes farma-
colgicas disponveis como instrumento
de terapia. Especialistas de reconhecido
saber foram convidados a elaborar e
atualizar os temas apresentados desde
a primeira edio das Diretrizes da SBD.
Nesta edio, contamos tambm com a
participao de profissionais de outras
especialidades, permitindo uma aborda-
gem multidisciplinar, aspecto que deve
ser frequentemente enfatizado.
Finalizando, gostaria de agradecer
aos colegas que, generosamente, em-
prestaram seu tempo dedicando-se
produo deste importante e til tra-
balho. Com isso, estamos contribuin-
do para a misso da SBD, que servir
de instrumento de atualizao e reci-
clagem. Nosso objetivo final vale
a pena destacar a qualidade da
ateno ao paciente com diabetes.
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2009 Diretrizes SBD
SBDSociedade Brasileira de Diabetes
DIRETORIA
GESTO 2009
Presidente
Dra. Marlia de Brito Gomes
Vice-Presidentes
Dr. Balduno Tschiedel
Dr. Mario Jos A. Saad
Dr. Saulo Cavalcanti da Silva
Dr. Nelson Rassi
Dra. Reine Marie Chaves Fonseca
Secretrio-GeralDr. Sergio Atala Dib
Segunda Secretria
Dra. Rosane Kupfer
Tesoureiro
Dr. Antonio Carlos Lerario
Segundo Tesoureiro
Dr. Domingos Malerbi
Diretor para Assuntos Internacionais e Sociais
Dr. Antonio Roberto Chacra
Conselho Fiscal
Dr. Milton Csar Foss
Dr. Walter Minicucci
Dr. Marco Antnio Vvolo
Suplente
Dr. Adriana Costa e Forti
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Diretrizes SBD 2009
AUTORES
SBD/SBEM/ABESO
Adolpho MilechAdriana Perez Angelucci
Airton Golbert
Alexandre Jos Faria Carrilho
Ana Claudia Ramalho
Anita Sachs
Annelena Soccal Seyffarth
Antonio Carlos Lerario
Antonio Carlos Pires
Antonio Roberto Chacra
Antonio Rodrigues Ferreira
Augusto Pimazoni Netto
Balduino Tschiedel
Bernardo Leo Wajchenberg
Bruno Gelonese
Carlos Antnio Negrato
Celeste Elvira Viggiano
Claudia Piepper
Deise Baptista
Durval Damiani
Edgar D`vila Niclewicz
Gisele Rossi GoveaHermelinda Pedrosa
Ivan Ferraz
Joo Felipe Mota
Joo Roberto de S
Jose Egidio P. de Oliveira
Josefina Bressan
Larcio Joel Franco
Luciana Bruno
Luciano Oliveira
Luis H. Canani
Marcia Nery
Mrcio Mancini
Marcos Tadashi Kikitami Toyoshima
Marcos Tambascia
Maria Tereza Zanella
Marilia de Brito Gomes
Mrio Jos A. Saad
Marlene Merino Alvarez
Mauro Scharf
Milton Csar Foss
Mirela Azevedo
EDITORES
Marlia de Brito Gomes
Antonio Carlos Lerario
Mnica Gabbay
Nelson RassiPaula Pascalli
Paulo Henrique de vila Morales
Regina Clia Santiago Moiss
Reginaldo Albuquerque
Renata Szundy Berardo
Roberta Arnoldi Cobas
Roberta Coelho
Ruy Lyra
Saulo Cavalcanti da Silva
Srgio Vencio
Silmara Leite
Sonia Grossi
Walter Minicucci
SOCIEDADE BRASILEIRA DE
HIPERTENSO
Eduardo Tibiri
SOCIEDADE BRASILEIRA DE
NEUROLOGIA
Gerson Canedo de Magalhes
SOCIEDADE BRASILEIRA DE
PSIQUIATRIAMarco Andr Mezzasalma
SOCIEDADE BRASILEIRA DE
REUMATOLOGIA
Mauricio Levy Neto
SOCIEDADE BRASILEIRA DE
CARDIOLOGIA
Raul Santos
SOCIEDADE BRASILEIRA DE
INFECTOLOGIA
Nanci Silva
SOCIEDADE BRASILEIRA DE
ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR
Carlos Eduardo Virgini Magalhes
OUTROS
Camila Barcia
Daniel Deluiz
Livia Ferreira da Costa
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2009 Diretrizes SBD
SUMRIO
Epidemiologia do diabetes mellitus
Classificao etiolgica do diabetes mellitusMtodos e critrios para o diagnstico de diabetes mellitus
Anlise dos marcadores de resistncia insulina na clnica diria
Princpios para orientao nutricional no diabetes mellitus
Como prescrever o exerccio no tratamento do diabetes mellitus
Medicamentos orais no tratamento do diabetes mellitus: como selecion-los de acordo com as caractersticas clnicas do paciente
Uso da insulina no tratamento do diabetes mellitusdo tipo 2
Tratamento combinado: drogas orais e insulina no diabetes mellitusdo tipo 2
Diabetes mellitusdo tipo 2 no jovem
Uso da insulina no tratamento do diabetes mellitusdo tipo 1
Tratamento de crianas e adolescentes com diabetes mellitusdo tipo 1
Alvos no controle clnico e metablico de crianas e adolescentes com diabetes mellitusdo tipo 1
Mtodos para monitorar o tratamento da hiperglicemia
Tratamento da hipertenso arterial no diabetes mellitus
Tratamento da dislipidemia associada ao diabetes mellitus
Uso de antiagregantes plaquetrios no tratamento do diabetes mellitus
Preveno primria e secundria da doena macrovascular no paciente com diabetes mellitus
Diagnstico de isquemia miocrdica silenciosa no paciente diabtico
Retinopatia diabtica
Tratamento da nefropatia diabtica
Neuropatia diabtica
Diagnstico precoce do p diabticoDiabetes mellitusgestacional: diagnstico, tratamento e acompanhamento ps-gestacional
Tratamento do paciente idoso diabtico
Crises hiperglicmicas agudas no diabetes mellitus
Avaliao da funo endotelial e marcadores laboratoriais de estresse oxidativo no diabetes
Aplicao de insulina
Tratamento com insulina em pacientes internados
Preparo pr e ps-operatrio do paciente com diabetes mellitus
Cirurgia baritrica no paciente diabtico
Transplante de pncreas
Indicaes e uso da bomba de infuso de insulina
Educao do paciente com diabetes mellitus
Transtornos alimentares no paciente diabtico: diagnstico e conduta
Avaliao do controle glicmico
Gerenciamento eletrnico do diabetes
Diabetes e drogas antipsicticas
Doena arterial obstrutiva perifrica no paciente diabtico
Diabetes mellitusps-transplante
Manifestaes reumatolgicas do diabetes
Diabetes e doena periodontal
Disglicemias na gestao
Cirurgia para diabetes
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1318
21
23
33
39
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Diretrizes SBD 2009
SUMRIO
Indicao de vacinas ao paciente diabtico
Sndrome metablica em crianas e adolescentesHIV, diabetes e sndrome metablica
Depresso no paciente diabtico
Degenerao vascular cerebral
Definio de indicadores de desempenho dos programas de atendimento aos diabticos
Consenso brasileiro para avaliao da hemoglobina glicada
Todo o desenvolvimento, bem como suas respectivas fotos e imagens de contedo cientfico, de responsabilidade dos autores,no refletindo necessariamente a posio da editora e do laboratrio, que apenas patrocina sua distribuio classe mdica.
Esta publicao contm publicidade de medicamentos sujeitos a prescrio mdica, sendo destinada exclusivamente a
profissionais habilitados a prescrever, nos termos da Resoluo RDC Anvisa n. 96/08.
AC Farmacutica Diretores: Silvio Araujo e Andr Araujo Coordenadoras editoriais: Roberta Monteiro e Christina Araujo Designer grfico: Vincius Nuvolari e Gabriel Meneses | Revisora ortogrfica: Patrizia Zagni Comercial: Selma Brandespim, Wilson Neglia, Rosngela Santos, Karina Maganhini, Fabiola Pedroso, Sidney Azevedo e
Flvio CardosoSP Rua Dr. Martins de Oliveira , 33 - Jardim Londrina - CEP 05638-030 - So Paulo - SP - Tel.: (11) 5641-1870RJ Estrada do Bananal, 56 - Freguesia/Jacarepagu - CEP 22745-012 - Rio de Janeiro - RJ - Tel.: (21) 2425-1440
proibida a duplicao ou reproduo deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrnico, mecnico, gravao,
fotocpia, distribuio na Web, entre outros), sem permisso expressa da Editora.
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CIP-BRASIL. CATALOGAO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
D635
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes 2009 / Sociedade brasileira de diabetes. - [3.ed.]. - Itapevi, SP : A. Arajo
Silva Farmacutica, 2009.400p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-60549-30-6
1. Diabetes Mellitus. 2. Diabetes - Tratamento. I. Sociedade Brasileira de Diabetes
09-5712. CDD: 616.462
CDU: 616.379-008.64
03.11.09 10.11.09 016092
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2009 Diretrizes SBD
Epidemiologia do diabetes mellitus
MAGNITUDE DO PROBLEMA
Uma epidemia de diabetes mellitus(DM) est em curso. Em 1985, estimava-se haver 30
milhes de adultos com DM no mundo; esse nmero cresceu para 135 milhes em 1995,
atingindo 173 milhes em 2002, com projeo de chegar a 300 milhes em 2030. Cerca de
dois teros desses indivduos com DM vivem em pases em desenvolvimento, onde a epide-
mia tem maior intensidade, com crescente proporo de pessoas afetadas em grupos etrios
mais jovens, coexistindo com o problema que as doenas infecciosas ainda representam (B)1.
O nmero de indivduos diabticos est aumentando devido ao crescimento e
ao envelhecimento populacional, maior urbanizao, crescente prevalncia de
obesidade e sedentarismo, bem como maior sobrevida de pacientes com DM.
Quantificar a prevalncia de DM e o nmero de pessoas diabticas, no presente e no
futuro, importante, pois permite planejar e alocar recursos de forma racional (D) 2.
No Brasil, no final da dcada de 1980, estimou-se a prevalncia de DM na popula-
o adulta em 7,6% (A)3; dados mais recentes apontam para taxas mais elevadas, como
12,1% no estudo de Ribeiro Preto (SP) (A)4e de 13,5% em So Carlos (SP) (A)5.
O Estudo Multicntrico sobre a Prevalncia do Diabetes no Brasil3 evidenciou a in-
fluncia da idade na prevalncia de DM e observou incremento de 2,7% na faixa etriade 30 a 59 anos para 17,4% na de 60 a 69 anos, ou seja, um aumento de 6,4 vezes (A) 3.
H marcantes diferenas na prevalncia de DM entre diversos pases e grupos
tnicos. Descreveram-se taxas mais elevadas para Nauru, na Oceania, e para os n-
dios Pima, no Arizona, nos Estados Unidos, onde praticamente metade da popula-
o adulta apresenta DM (B)6.
Outros aspectos a destacar so as repercusses de mudanas no estilo de vida,
em curto perodo de tempo, em grupos de migrantes. No Brasil, um estudo reali-
zado na comunidade nipo-brasileira mostrou aumento vertiginoso na prevalncia
de DM, cuja taxa passou de 18,3%, em 1993, para 34,9%, em 2000, evidenciando o
impacto de alteraes no estilo de vida, em particular do padro alimentar, intera-
gindo com provvel suscetibilidade gentica (A)7.
difcil determinar a incidncia de DM do tipo 2 (DM2) em grandes populaes, pois en-
volve seguimento durante alguns anos, com medies peridicas de glicemia. Os estudos
de incidncia so geralmente restritos a DM do tipo 1 (DM1), pois suas manifestaes iniciais
tendem a ser bem caractersticas. A incidncia de DM1 demonstra acentuada variao geo-
grfica, apresentando taxas por 100 mil indivduos com menos de 15 anos de idade: 38,4 na
Finlndia, 7,6 no Brasil e 0,5 na Coreia, por exemplo (B)8. Atualmente, sabe-se que a incidncia
de DM1 vem aumentando, particularmente na populao infantil com menos de cinco anos
de idade (B)9.
Frequentemente, na declarao de bito no se menciona DM pelo fato de serem
suas complicaes, particularmente as cardiovasculares e cerebrovasculares, as causas da
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Diretrizes SBD 2009
morte. No incio do sculo XXI, estimou-se
que se atriburam 5,2% de todos os bi-
tos no mundo ao diabetes, o que torna
essa patologia a quinta principal causa demorte. Parcela importante desses bitos
prematura, ocorrendo quando ainda os
indivduos contribuem economicamente
para a sociedade (D)10.
Dados brasileiros de 2006 mostram que
as taxas de mortalidade por DM (por 100 mil
habitantes) apresentam acentuado aumento
com o progredir da idade, variando de 0,46 para
a faixa etria de 0 a 29 anos a 223,3 para a de 60
anos ou mais, ou seja, um gradiente prximo a
400 vezes (B)11. Na maioria dos pases desenvol-
vidos, quando se analisa apenas a causa bsica
do bito, verifica-se que o DM, entre as prin-
cipais, figura entre a quarta e a oitava posio.
Estudos brasileiros sobre mortalidade por DM,
analisando as causas mltiplas de morte, ou
seja, quando se menciona DM na declarao
de bito, mostram que a taxa de mortalidade
por essa enfermidade aumenta at 6,4 vezes
(B)12. Ao analisar a importncia do DM como
carga de doena, ou seja, o impacto da morta-lidade e dos problemas de sade que afetam a
qualidade de vida de seus portadores, por meio
do Disability Adjusted Life of Years (DALY), verifi-
ca-se que em 1999 DM apresentava taxa de 12
por mil habitantes, ocupando a oitava posio,
sendo superado pelo grupo das doenas infec-
ciosas e parasitrias, neuropsiquitricas, cardio-
vasculares, respiratrias crnicas, do aparelho
digestivo, neoplasias malignas e doenas mus-
culoesquelticas (C)13. Nessa comparao, deve-
se considerar que o DM, como nica entidade,
est sendo comparado a grupos de doenas e,
mesmo assim, pode-se notar sua importncia.
Sua natureza crnica, gravidade das
complicaes e os meios necessrios para
control-las tornam o DM uma doena
muito onerosa no apenas para os indiv-
duos afetados e suas famlias, mas tambm
para o sistema de sade (D)14. Nos Estados
Unidos, estimou-se que os custos dos cui-
dados de sade para um indivduo com tal
patologia eram o dobro ao triplo maiores
dos que os para um sem a doena (C)15.
Os custos do DM afetam todos, porm
no so apenas um problema econmi-co. Os custos intangveis (dor, ansiedade,
inconvenincia e perda de qualidade de
vida, por exemplo) tambm apresentam
grande impacto na vida das pessoas com
essa patologia e suas famlias, sendo dif-
ceis de quantificar.
Os custos diretos com DM variam entre
2,5% e 15% do oramento anual da sade,
dependendo de sua prevalncia e do grau
de sofisticao do tratamento disponvel. Es-
timativas do custo direto para o Brasil oscilam
em torno de 3,9 bilhes de dlares america-
nos, em comparao com 0,8 bilho para a
Argentina e 2 bilhes para o Mxico (C)16.
Muitos indivduos com diabetes so
incapazes de continuar a trabalhar em de-
corrncia de complicaes crnicas ou per-
manecem com alguma limitao no seu
desempenho profissional. Estimar o custo
social dessa perda de produtividade no
fcil. Entretanto, em algumas situaes nasquais se tem feito essa estimativa, tais cus-
tos so equivalentes ou mesmo superiores
aos diretos com a sade. Por exemplo, em
2007, as estimativas para os Estados Uni-
dos dos custos diretos para o tratamento
de DM foram de US$ 116 bilhes em com-
parao com US$ 58 bilhes para os custos
indiretos (C)15. Combinando as estimativas
para 25 pases latino-americanos, pode-se
inferir que os custos decorrentes da perda
de produo pela presena de DM podem
ser cinco vezes maiores que os diretos15.
Tal fato se deveria ao acesso limitado boa
assistncia sade, com consequente ele-
vada incidncia de complicaes, incapaci-
taes e morte prematura (D)16.
PREVENO
Preveno efetiva tambm significa
mais ateno sade de forma eficaz.
Isso pode ocorrer mediante preveno
do incio de DM (preveno primria) ou
de suas complicaes agudas ou crnicas
(preveno secundria).A preveno primria protege indiv-
duos suscetveis de desenvolver DM, ten-
do impacto por reduzir ou retardar tanto
a necessidade de ateno sade como
a de tratar as complicaes do DM.
Atualmente, a preveno primria de
DM1 no tem uma base racional que se pos-
sa aplicar a toda populao. As intervenes
populacionais ainda so tericas, necessitan-
do de estudos que as confirmem. As proposi-
es mais aceitveis baseiam-se no estmulo
do aleitamento materno e em evitar a admi-
nistrao do leite de vaca nos primeiros trs
meses de vida2. Entretanto, o recrutamento
de indivduos de maior risco para participar
de ensaios clnicos justificvel. As interven-
es propostas tm se baseado em imuno-
modulao ou imunossupresso (B)2,6.
Quanto ao DM2, condio na qual a
maioria dos indivduos tambm apresenta
obesidade, hipertenso arterial e dislipide-mia, as intervenes devem abranger essas
mltiplas anormalidades metablicas, o que,
alm de prevenir o surgimento de diabetes,
estaria tambm evitando doenas cardiovas-
culares e reduzindo a mortalidade (A)2.
H evidncias de que alteraes no estilo
de vida, com nfase na alimentao e na re-
duo da atividade fsica, associam-se a acen-
tuado incremento na prevalncia de DM2. Os
programas de preveno primria do DM2
baseiam-se em intervenes na dieta e na
prtica de atividades fsicas, visando a com-
bater o excesso de peso em indivduos com
maior risco de desenvolver diabetes, particu-
larmente nos com tolerncia glicose dimi-
nuda. Os resultados do Diabetes Prevention
Program (DPP) demonstraram reduo de
58% na incidncia de casos de DM mediante
o estmulo a uma dieta saudvel e prtica
de atividades fsicas, sendo essa interveno
mais efetiva que o uso de metformina (A)17
.
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2009 Diretrizes SBD
OFinnish Diabetes Prevention Study (DPS)17
mostrou que reduo do peso em torno de 3
a 4 kg em quatro anos diminuiu a incidncia
de DM em 58% (A)18. Num estudo longitudi-nal com 84.941 enfermeiras e seguimento de
16 anos, o controle de fatores de risco modifi-
cveis, como dieta habitual, atividade fsica, ta-
bagismo e excesso de peso, associou-se re-
duo de 91% na incidncia de DM e de 88%
nos casos com histria familiar de DM (A)19.
Quanto preveno secundria, h evi-
dncias de que o controle metablico estrito
tem papel importante na preveno do sur-
gimento ou da progresso de suas compli-
caes crnicas, conforme evidenciou o Dia-
betes Control and Complications Trial (DCCT)
(A)20para o DM1 e o United Kingdom Prospec-
tive Diabetes Study (UKPDS) para o DM2 (A)21.
Outras medidas importantes na
preveno secundria so:
tratamento da hipertenso arterial edislipidemia, o que reduz substancialmen-
te o risco de complicaes do DM (A)2;
preveno de ulceraes nos
ps e de amputaes de membros
inferiores por meio de cuidados es-
pecficos que podem reduzir tanto a
frequncia e a durao de hospitali-
zaes como a incidncia de ampu-
taes em 50% (A)2;
rastreamento para diagnstico
e tratamento precoce da retinopatia,
que apresenta grande vantagem do
ponto de vista custo-efetividade, dada
a importante repercusso nos custos
diretos, indiretos e intangveis da ce-
gueira (B)2;
rastreamento para microalbumi-nria um procedimento recomend-
vel para prevenir ou retardar a progres-
so da insuficincia renal, permitindo
intervir mais precocemente no curso
natural da doena renal (B)2;
medidas para reduzir o consu-
mo de cigarro tambm auxiliam no
controle do DM, visto que o taba-
gismo se associa de modo intenso
a mau controle dessa patologia e
causalmente a hipertenso e doen-
a cardiovascular em pessoas com
ou sem DM (B)2.
Concluses finais
Grau de reco-mendao
Concluso
A frequncia do DM est assumindo propores epidmicas na maioria dos pases.
Na maioria dos pases em desenvolvimento, o incremento da incidncia do DM ocorre com maior intensidade nos grupos
etrios mais jovens.A incidncia do diabetes do tipo 1 est aumentando, particularmente na populao infantil com menos de cinco anosde idade.
As estatsticas de mortalidade e hospitalizaes por diabetes subestimam sua real contribuio.
As doenas cardiovasculares e cerebrovasculares so as principais causas de bito de portadores de diabetes.
Parcela importante de bitos em indivduos com diabetes prematura, ocorrendo quando ainda contribuem economi-camente para a sociedade.
Na atualidade, a preveno primria do diabetes do tipo 1 no tem uma base racional que se possa aplicar populao geral.
Intervenes no estilo de vida, com nfase em alimentao saudvel e prtica regular de atividade fsica, reduzema incidncia de diabetes do tipo 2.
Intervenes no controle da obesidade, hipertenso arterial, dislipidemia e sedentarismo, alm de evitar o surgi-mento do diabetes, tambm previnem doenas cardiovasculares.
O bom controle metablico do diabetes previne o surgimento ou retarda a progresso de suas complicaescrnicas, particularmente as microangiopticas.
Medidas de combate ao tabagismo auxiliam no controle do diabetes e na preveno da hipertenso arterial e dedoena cardiovascular.
A
B
B
B
B
D
B
A
A
A
B
Legenda
A. Estudos experimentais e observacionais de melhor consistncia.B. Estudos experimentais e observacionais de menor consistncia.C. Relatos de casos Estudos no controlados.
D. Opinio desprovida de avaliao crtica, baseada em consenso, estudos fisiolgicos ou modelos animais.
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Diretrizes SBD 2009
REFERNCIAS
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13
2009 Diretrizes SBD
Classificao etiolgica do diabetes
mellitus
Diabetes mellitus(DM) no uma nica doena, mas um grupo heterogneo de dis-
trbios metablicos que apresenta em comum a hiperglicemia, a qual o resultado de
defeitos na ao da insulina, na secreo de insulina ou em ambos.
A classificao atual do DM baseia-se na etiologia e no no tipo de tratamento, por-
tanto se deve eliminar os termos DM insulinodependente e DM insulinoindependente.
A classificao proposta pela Organizao Mundial da Sade (OMS) (D)1e Associao
Americana de Diabetes (ADA) (D)2e aqui recomendada inclui quatro classes clnicas: DM
tipo 1 (DM1), DM tipo 2 (DM2), outros tipos especficos de DM e DM gestacional (Tabela
1). Ainda h duas categorias, referidas como pr-diabetes, que so a glicemia de jejum
alterada e a tolerncia glicose diminuda. Tais categorias no so entidades clnicas, mas
fatores de risco para o desenvolvimento de DM e doenas cardiovasculares (DCVs).
Tabela 1. Classificao etiolgica do DM
DM1
AutoimuneIdioptico
DM2
Outros tipos especficos de DM
DM gestacional
DIABETES MELLITUSDO TIPO 1
O DM1, forma presente em 5% a 10% dos casos, o resultado da destruio
de clulas betapancreticas com consequente deficincia de insulina. Na maioria
dos casos, essa destruio de clulas beta mediada por autoimunidade, porm
existem casos em que no h evidncias de processo autoimune, sendo, portan-
to, referida como forma idioptica de DM1. Os marcadores de autoimunidade so
os autoanticorpos anti-insulina, antidescarboxilase do cido glutmico (GAD 65) e
antitirosina-fosfatases (IA2 e IA2B) (A)3-7. Esses anticorpos podem estar presentes
meses ou anos antes do diagnstico clnico, ou seja, na fase pr-clnica da doena,
e em at 90% dos indivduos quando se detecta hiperglicemia. Alm do compo-
nente autoimune, DM1 apresenta intensa associao com determinados genes do
sistema antgeno leucocitrio humano (HLA), alelos esses que podem suscitar o
desenvolvimento da doena ou proteger contra esta (A)8,9.
A taxa de destruio das clulas beta varivel, sendo, em geral, mais rpida
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Diretrizes SBD 2009
entre as crianas. A forma lentamente
progressiva ocorre em adultos, sendo
referida como latent autoimmune dia-
betes in adults (LADA).O DM1 idioptico corresponde mi-
noria dos casos e caracteriza-se pela au-
sncia de marcadores de autoimunidade
contra as clulas beta e no associao
com hapltipos do sistema HLA. Os in-
divduos com essa forma de DM podem
desenvolver cetoacidose e apresentam
graus variveis de deficincia de insulina.
Como a avaliao dos autoanticorpos
no se encontra disponvel em todos os
centros, a classificao etiolgica do DM1
nas subcategorias autoimune e idiopti-
co pode no ser sempre possvel.
DIABETES MELLITUSDO TIPO 2
O DM2 a forma presente em 90% a
95% dos casos e caracteriza-se por defeitos
na ao e secreo da insulina. Em geral,
ambos os defeitos esto presentes quando
a hiperglicemia se manifesta, porm podehaver predomnio de um deles. A maio-
ria dos pacientes com essa forma de DM
apresenta sobrepeso ou obesidade, e ceto-
acidose raramente se desenvolve de modo
espontneo, ocorrendo apenas quando se
associa a outras condies como infeces.
DM2 pode ocorrer em qualquer idade, mas
geralmente diagnosticado aps os 40
anos. Os pacientes no dependem de insuli-
na exgena para sobreviver, porm podem
necessitar de tratamento com insulina para
obter controle metablico adequado.
Diferentemente do DM1 autoimu-
ne, no h indicadores especficos para
o DM2. H, provavelmente, diferentes
mecanismos que resultam nessa forma
de DM, e com a identificao futura
de processos patognicos especficos
ou defeitos genticos, o nmero de
pessoas com essa forma de DM ir di-
minuir custa de mudanas para umaclassificao mais definitiva em outros
tipos especficos de DM.
OUTROS TIPOS ESPECFICOSDE DM
Pertencem a essa classificao
formas menos comuns de DM cujos
defeitos ou processos causadores po-
dem ser identificados. A apresentao
clnica desse grupo bastante variada
e depende da alterao de base. Es-
to includos nessa categoria defeitos
genticos na funo das clulas beta,
defeitos genticos na ao da insulina,
doenas do pncreas excrino e outras
condies listadas na tabela 2.
Tabela 2. Outros tipos especficos de DM
Defeitos genticos na funo das clulas betaMODY 1 (defeitos no gene HNF-4 alfa)
MODY 2 (defeitos no gene da glicoquinase)
MODY 3 (defeitos no gene HNF-1 alfa)
MODY 4 (defeitos no gene IPF-1)
MODY 5 (defeitos no gene HNF-1 beta)
MODY 6 (defeitos no gene Neuro D1)
DM mitocondrial
Outros
Defeitos genticos na ao da insulina
Resistncia insulina do tipo A
Leprechaunismo
Sndrome de Rabson-Mendenhall
DM lipoatrfico
Outros
Doenas do pncreas excrino
Pancreatite
Pancreatectomia ou trauma
Neoplasia
Fibrose cstica
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2009 Diretrizes SBD
Tabela 2. Outros tipos especficos de DM
Continuao - Tabela 2
Pancreatopatia fibrocalculosa
Outros
Endocrinopatias
Acromegalia
Sndrome de Cushing
Glucagonoma
Feocromocitoma
Somatostinoma
Aldosteronoma
Outros
Induzido por medicamentos ou agentes qumicos
Determinadas toxinas
Pentamidina
cido nicotnico
Glicocorticoides
Hormnio tireoidiano
Diazxido
Agonistas betadrenrgicos
Tiazdicos
Interferon alfa
Outros
Infeces
Rubola congnita
Citomegalovrus
Outros
Formas incomuns de DM auto-imune
Sndrome stiff man
Anticorpos antirreceptores de insulina
Outros
Outras sndromes genticas por vezes associadas a DM
Sndrome de Down
Sndrome de Klinefelter
Sndrome de Turner
Sndrome de Wolfram
Ataxia de Friedreich
Coreia de Huntington
Sndrome de Laurence-Moon-Biedl
Distrofia miotnica
Sndrome de Prader-Willi
OutrosMODY = maturity onset diabetes of the young.
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Diretrizes SBD 2009
DIABETES MELLITUSGESTACIONAL
Trata-se de qualquer intolerncia glicose, de magnitude varivel, com
incio ou diagnstico durante a ges-
tao. No exclui a possibilidade de
a condio existir antes da gravidez,
mas no ter sido diagnosticada. Simi-
lar ao DM2, o DM gestacional associa-
se tanto resistncia insulina quan-
to diminuio da funo das clulas
beta (B)10-12. O DM gestacional ocorre
em 1% a 14% de todas as gestaes,
dependendo da populao estudada,
e relaciona-se a aumento de morbi-
dade e mortalidade perinatais (B)13-16.
Deve-se reavaliar pacientes com DM
gestacional quatro a seis semanas
aps o parto e reclassific-las comoapresentando DM, glicemia de jejum
alterada, tolerncia glicose diminu-
da ou normoglicemia. Na maioria dos
casos, h reverso para a tolerncia
normal aps a gravidez, porm existe
10% a 63% de risco de desenvolver
DM2 dentro de cinco a 16 anos aps
o parto (B)17-19.
PRDIABETESRefere-se a um estado interme-
dirio entre a homeostase normal
da glicose e o DM. A categoria gli-
cemia de jejum alterada refere-se
s concentraes de glicemia dejejum inferiores ao cr itr io diag-
nstico para DM, porm mais ele-
vadas que o valor de referncia
normal. A tolerncia glicose di-
minuda representa uma anorma-
lidade na regulao da glicose no
estado ps-sobrecarga, que diag-
nosticada por meio de test e oral de
tolerncia glicose (TOTG), o qual
inclui a determinao da glicemia
de jejum e de duas horas aps a so-
brecarga com 75 g de glicose.
Concluses finais
Grau de recomendaoConcluso
Classificao atual baseada na etiologia e no no tipo de tratamento D
Classes clnicas: DM 1, DM 2, DM gestacional e outros tipos especficos de DM
Pr-diabetes: glicemia de jejum alterada e tolerncia glicose diminuda
D
D
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Legenda
A. Estudos experimentais e observacionais de melhor consistncia.B. Estudos experimentais e observacionais de menor consistncia.C. Relatos de casos Estudos no controlados.D. Opinio desprovida de avaliao crtica, baseada em consenso, estudos fisiolgicos ou modelos animais.
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18
Diretrizes SBD 2009
Mtodos e critrios para o diagnstico
de diabetes mellitusA evoluo para o diabetes mellitustipo 2 (DM2) ocorre ao longo de um perodo
de tempo varivel, passando por estgios intermedirios que recebem a denomina-
o de glicemia de jejum alterada e tolerncia glicose diminuda. Tais estgios se-
riam decorrentes de uma combinao de resistncia ao insulnica e disfuno de
clulas beta. J no diabetes mellitusdo tipo 1 (DM1), o incio geralmente abrupto,
com sintomas indicando, de maneira slida, a presena da enfermidade1,2.
Em 1997, o critrio diagnstico foi modificado pela American Diabetes Associa-
tion (ADA), posteriormente aceito pela Organizao Mundial da Sade (OMS) e pela
Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD)1,2.
As modificaes foram realizadas com a finalidade de prevenir, de maneira eficaz,
as complicaes micro e mascrovasculares do DM3-5.
Atualmente, so trs os critrios aceitos para o diagnstico de DM:
sintomas de poliria, polidipsia e perda ponderal acrescidos de glicemia casual
acima de 200 mg/dl. Compreende-se por glicemia casual aquela realizada a qual-
quer hora do dia, independentemente do horrio das refeies (A)1,2;
glicemia de jejum igual ou superior a 126 mg/dl (7 mmol). Em caso de
pequenas elevaes da glicemia, deve-se confirmar o diagnstico pela repe-
tio do teste em outro dia (A)1,2; glicemia de duas horas ps-sobrecarga de 75 g de glicose acima de 200 mg/dl (A)1,2.
Deve-se efetuar o teste de tolerncia glicose com os cuidados preconizados pela OMS,
com colheita para diferenciao de glicemia em jejum e 120 minutos aps a ingesto de glicose.
Reconhece-se um grupo intermedirio de indivduos em que os nveis de glicemia no
preenchem os critrios para o diagnstico de DM. So, entretanto, muito elevados para
serem considerados normais6. Nesses casos, consideraram-se as categorias de glicemia de
jejum alterada e tolerncia glicose diminuda, cujos critrios so apresentados na tabela 1.
Tabela 1. Valores de glicose plasmtica (em mg/dl) para diagnstico de diabetes mellituse seus estgios pr-clnicos
Glicemia normal
Categoria Jejum* Duas horas aps 75 g de glicose Casual
Menor que 100 Menor que 140 -
Tolerncia glicosediminuda
Maior que 100 amenor que 126
Igual ou superior a 140 amenor que 200
Igual ou superior a 200(com sintomas clssicos)***
Diabetes mellitusIgual ou superior a
126Igual ou superior a 200
-
*Define-se jejum como a falta de ingesto calrica por, no mnimo, oito horas.**Glicemia plasmtica casual a realizada a qualquer hora do dia, sem se observar o intervalo desde a ltima refeio.***Os sintomas clssicos de DM incluem poliria, polidipsia e perda no explicada de peso.Nota: deve-se sempre confirmar o diagnstico de DM pela repetio do teste em outro dia, a menos que haja hiperglicemia inequvoca
com descompensao metablica aguda ou sintomas bvios de DM.
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2009 Diretrizes SBD
GLICEMIA DE JEJUM ALTERADA
Glicemia de jejum acima de 100 mg/
dl e abaixo de 126 mg/dl A OMS ain-da no oficializou esse critrio, porm
j existe uma recomendao da Fede-
rao Internacional de Diabetes (Inter-
national Diabetes Federation [IDF]) aca-
tando o ponto de corte para 100 mg/dl.
Tolerncia glicose diminuda
Quando, aps uma sobrecarga de 75 g de
glicose, o valor de glicemia de duas horas
se situa entre 140 e 199 mg/dl (B)2-7.
O mtodo preferencial para deter-
minar glicemia sua aferio no plas-
ma. Deve-se coletar sangue em um
tubo com fluoreto de sdio, centrifu-
gado, com separao do plasma, que
dever ser congelado para posterior
utilizao. Caso no se disponha desse
reagente, a determinao da glicemia
dever ser imediata ou o tubo mantidoa 40C por, no mximo, duas horas8.
Para realizar o teste de tolerncia
glicose oral, deve-se levar em conta al-
gumas consideraes:
perodo de jejum entre 10 e 16 horas;
ingesto de pelo menos 150 g de
glicdios nos trs dias anteriores reali-
zao do teste;
atividade fsica normal;
comunicar a presena de infec-
es, ingesto de medicamentos ou
inatividade;
utilizar 1,75 g de glicose por quilo-
grama de peso at o mximo de 75 g8.
As fitas com reagentes no so to
precisas quanto as dosagens plasmti-
cas, no se devendo utiliz-las para o
diagnstico.Em julho de 20099, props-se a uti-
lizao de hemoglobina glicada como
critrio de diagnstico para diabetes
mellitus. A alegao que a medida da
A1c avalia o grau de exposio glice-
mia durante o tempo e os valores se
mantm estveis aps a coleta. As re-
comendaes so as seguintes:
Diabetes: A1c acima de 6,5% a ser
confirmada em outra coleta. Dispens-
vel em caso de sintomas ou glicemia
acima de 200 mg%.
Indivduos com alto risco para de-
senvolver diabetes: A1c entre 6% e 6,5%.
Concluses finais
Grau de recomendao
DM Glicemia de jejum acima de 126 mg% A
DM Glicemia acima de 200 mg% aps duas horas no TOTG*
DM Sintomas de diabetes: poliria, polidipsia, perda ponderal e glicemia ao acaso acima de 200 mg%
A
A
Concluso
DM A1c superior a 6,5% B
IGT Glicemia aps duas horas no TOTG entre 140 e 199 mg% B
IFG Glicemia de jejum entre 100 e 126 mg% B
Risco para desenvolver diabetes mellitus A1c entre 6% e 6,5% D
*TOTG: teste oral de tolerncia glicose; IGT: tolerncia glicose diminuda; IFG: glicemia de jejum alterada.
Legenda
A. Estudos experimentais e observacionais de melhor consistncia.
B. Estudos experimentais e observacionais de menor consistncia.C. Relatos de casos Estudos no controlados.D. Opinio desprovida de avaliao crtica, baseada em consenso, estudos fisiolgicos ou modelos animais.
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21
2009 Diretrizes SBD
Anlise dos marcadores de resistncia
insulina na clnica diria
A resistncia insulina, definida como uma resposta biolgica subnormal a uma
determinada concentrao desse hormnio, uma condio fisiopatolgica de grande
repercusso clnica. Estudos epidemiolgicos demonstram que indivduos que apresen-
tam resistncia insulina tm chance maior de desenvolver diabetes mellitusdo tipo 2
(DM2), alguns tipos de dislipidemia, hipertenso arterial, esteatoepatite no alcolica,
doenas neurodegenerativas, algumas neoplasias, como de mama, pncreas e clon, e
risco cardiovascular aumentado em duas a quatro vezes. Assim, tornou-se importante,
na prtica clnica, estabelecer se um paciente apresenta ou no resistncia insulina.
Os bons mtodos utilizados para avaliar a resistncia insulina so:
teste de infuso qudrupla;
teste de tolerncia endovenosa glicose (modelo mnimo de Bergman);
teste de tolerncia oral glicose (TOTG);
teste de tolerncia insulina (KITT);
clampde glicose (clampeuglicmico hiperinsulinmico).
H mtodos mais simples, que s usam a dosagem basal de insulina e/ou glicose.
Desses, o mais amplamente utilizado o ndice homeostasis model assessment insulin
resistance (HOMA-IR), calculado por meio da frmula glicemia de jejum (mmol/l = mg/dl 18) insulinemia de jejum (U/ml)/22,5.
CRITRIOS PARA DEFINIR RESISTNCIA INSULINA
Estudo recente realizado por Stern et al.1utilizou a maior coleo de resultados de
clampeuglicmico associando dados de diferentes populaes. Permitiu o desenvolvi-
mento de critrios clinicamente viveis e rotineiros, tendo como base a definio de re-
sistncia insulina no mtodo padro-ouro (clampeuglicmico). Foram avaliados 2.321
resultados de clamp, sendo 2.138 em indivduos no diabticos. Os resultados prticos
resumidos desse estudo definem resistncia insulina na prtica clnica por meio de trs
modelos. Veja-os a seguir.
Critrios para diagnstico de resistncia insulina
Modelo 1 utiliza ndice de massa corporal (IMC) e/ou HOMA-IR
a) IMC > 28,9 kg/m2; ou
b) HOMA-IR > 4,65; ou
c) IMC > 27,5 kg/m2e HOMA-IR > 3,6
Esses critrios do modelo 1 tm sensibilidade de 84,9% e especificidade de 78,7%.
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Diretrizes SBD 2009
Critrios para diagnstico de resistncia insulina
Modelo 2 utiliza s critrios clnicos
a) IMC > 28,7 kg/m2; ou
b) IMC > 27 kg/m2e histria familiar de DM
Os critrios do modelo 2 tm sensibilidade de 78,7% e especificidade de 79,6%.
Critrios para diagnstico de resistncia insulina
Modelo 3 utiliza variveis clnicas e determinaes de lipdios
a) IMC > 28,7 kg/m2; ou
b) IMC > 27 kg/m2
e histria familiar de DM; ouc) histria familiar de DM negativa, mas triglicrides (TG) > 2,44 mmol/l
Os critrios do modelo 2 tm sensibilidade de 78,7% e especificidade de 79,6%.Os critrios do modelo 3 tm sensibilidade de 81,3% e especificidade de 76,3%.
Esse estudo certamente ser um
marco na transio da pesquisa de
resistncia insulina para a prtica
clnica, por ter avaliado diferentes po-
pulaes, pelo grande nmero de in-
divduos analisados e, principalmente,
por usar como parmetro de definio,
para efeitos de comparao, o clamp
euglicmico. Os trs modelos deriva-
dos desse estudo devem ser difundidos
como critrios para se definir resistn-
cia insulina em estudos clnicos ou na
prtica mdica (B, 1), mas o modelo 1
apresenta melhor sensibilidade e deve,
sempre que possvel, ser utilizado.
Concluses finais
Grau de recomendao
Pode-se definir que um paciente tem resistncia insulina, na prtica clnica, quando se enquadra nos crit-rios dos modelos 1, 2 ou 3 propostos por Stern et al.1 A
Concluso
Legenda
A. Estudos experimentais e observacionais de melhor consistncia.B. Estudos experimentais e observacionais de menor consistncia.C. Relatos de casos Estudos no controlados.D. Opinio desprovida de avaliao crtica, baseada em consenso, estudos fisiolgicos ou modelos animais.
REFERNCIAS
1. Stern SE, Williams K, Ferrannini E, DeFronzo RA, Bogardus C, Stern MP. Identification of individuals with insulin resistance
using routine clinical measurements. Diabetes. 2005;54:333-9.
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2009 Diretrizes SBD
Princpios para orientao nutricional a
pacientes com diabetes mellitus
A orientao nutricional e o estabelecimento de dieta para controlar pacientes
com diabetes mellitus(DM) em associao a mudanas no estilo de vida, incluindo
atividades fsicas, so considerados terapias de primeira escolha (A)1-4.
Comprovou-se que essa associao provoca melhora na sensibilidade insuli-
na, diminui os nveis plasmticos de glicose e, de forma expressiva, a circunferncia
abdominal e a gordura visceral, melhorando o perfil metablico com reduo nos
nveis de colesterol de lipoprotena de baixa densidade (LDL-C) e triglicerdeos e
aumento de colesterol de lipoprotena de alta densidade (HDL-C)2,5.
Diversos estudos em pacientes com DM fundamentam as condutas referentes
terapia nutricional e a exerccios fsicos como tratamento, as quais sero apresen-
tadas a seguir.
TERAPIA NUTRICIONAL
A terapia nutricional desempenha papel preponderante na preveno do DM,
no gerenciamento da doena j existente e na preveno do desenvolvimento das
complicaes decorrentes dessa doena crnica4,6.As diretrizes nutricionais publicadas por importantes rgos como American
Diabetes Association (ADA)6, European Association for Study of DM (EASD) e Dia-
betes Care Advisory Comitee of DM (UK)7sobre o tratamento do DM enfatizam que
alcanar as metas de tratamento propostas nessa doena crnica requer esforo
envolvendo a equipe de sade com educadores em DM, nutricionista especializa-
do e o portador de DM.
A conduta nutricional dever ter como foco a individualizao, considerando
todas as fases da vida, diagnstico nutricional, hbitos alimentares e sociocultu-
rais, no diferindo de parmetros estabelecidos para populao em geral, conside-
rando tambm o perfil metablico e o uso de frmacos6.
A importncia do controle de peso corporal, na reduo dos riscos relaciona-
dos ao DM, de grande importncia. O risco de comorbidades associadas ao ex-
cesso do tecido adiposo aumenta com o ganho ponderal. Em razo dos efeitos
da obesidade na resistncia insulina, a perda de peso um importante objetivo
teraputico para indivduos com risco de desenvolver DM6.
O componente diettico desempenha importante papel para o desenvolvimen-
to da obesidade, devendo-se considerar os macronutrientes e micronutrientes do
plano alimentar, alm da energia, como fatores de aumento de risco para o desen-
volvimento da obesidade. Ateno especial deve-se dar s gorduras, envolvidas no
balano energtico da dieta e na alterao do perfil lipdico, quando consumidas de
forma desbalanceada. Ainda no se estabeleceu a melhor distribuio de macronu-
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Diretrizes SBD 2009
trientes da dieta para promover o ema-
grecimento, entretanto sabe-se que a
conduta nutricional deve-se basear na
promoo da perda de peso gradual,manuteno do peso saudvel e pre-
veno de ganho de peso6.
Programas estruturados que enfa-
tizam mudanas no estilo de vida, in-
cluindo educao nutricional, reduo
de gorduras (menos de 30% da inges-
to energtica) e ingesto energtica,
atividade fsica regular e contato regu-
lar com profissionais, podem ocasionar
perda de peso em longo prazo em tor-
no de 5% a 7% do peso corporal (A)3-6.
Dessa forma, exerccios e modificao
comportamental so muito teis comoadjuntos a outras estratgias para per-
da e manuteno de peso (A)2,4,6.
A interveno nutricional direcio-
nada a portadores de DM tipo 1 (DM1)
aponta a importncia de integrar insuli-
na, dieta e atividade fsica, reforando o
ajuste da terapia insulnica ao plano ali-
mentar individualizado como chave para
adequado controle metablico (A)6.
A nutrio equilibrada, estabeleci-
da segundo concentraes adequadas
de macronutrientes e micronutrientes
prescritos de forma individualizada,deve-se basear nos objetivos do trata-
mento. A ingesto diettica recomen-
dada segue recomendaes semelhan-
tes s definidas para a populao geral,
considerando todas as faixas etrias8.
As recomendaes de ingesto de
calorias e macronutrientes esto suma-
rizadas na tabela 1.
Carboidratos (CHOs)1
Sacarose
Frutose
Fibra alimentar2
Gordura total (GT)3
cidos graxos saturados (AGSs)4
cidos graxos poli-insaturados (AGPIs)5
cidos graxos monoinsaturados (AGMIs)6
Colesterol7
Protena8
Tabela 1. Composio nutricional
Ingesto recomendada
Considerar as necessidades individuais
Utilizar parmetros semelhantes aos da populao geral em todas
as faixas etrias
Carboidratos totais (45% a 60%)
At 10%
No se recomenda adio nos alimentos
Mnimo de 20 g/dia ou 14 g/1.000 kcal
At 30% do VET
Menos de 7% do VET
At 10% do VET
Completar de forma individualizada
Menos de 200 mg/dia
15% a 20% (VET)
Valor energtico total (VET )
Macronutrientes
CARBOIDRATOS
A adoo do modelo diettico Die-
tary Approaches to Stop Hypertension
(DASH) associado interveno no es-
tilo de vida pode aumentar a sensibili-
dade insulina. Para os carboidratos,
recomenda-se o uso de hortalias, le-
guminosas, gros integrais e frutas, que
devem ser consumidos segundo uma
dieta saudvel (A).
O acar de mesa ou produtos con-
tendo acar (fonte de frutose) podem
eventualmente ser ingeridos no contex-
to de um plano alimentar saudvel (A),
contudo se recomenda no ultrapassar
10% do valor calrico total (D)9. Como a
sacarose no aumenta a glicemia mais
do que quantidades isocalricas de ami-
do, pessoas com DM no necessitam
restringir sacarose nem alimentos con-
tendo sacarose, no entanto devem subs-
titu-la por outra fonte de carboidrato ou,
se adicionada, compens-la com doses
adicionais de insulina ou outro medica-
mento hipoglicemiante (A). Adoantes
no nutritivos so seguros quando con-
sumidos at o nvel dirio aceitvel de in-
gesto estabelecido pela Food and Drug
Administration (FDA) (A)1,2,4,10,11
.
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2009 Diretrizes SBD
Em relao ao efeito do ndice glic-
mico dos carboidratos, pode-se afirmar
que a quantidade do carboidrato na re-
feio ou lanche mais importante quea fonte ou tipo dele (A)12. O mtodo de
contagem de carboidratos considera-
do pela ADA a chave do tratamento nu-
tricional do DM1 (A)1.
A aplicao clnica do ndice glic-
mico na preveno e tratamento das
doenas crnicas controversa. No h
indcio da implementao de planos ali-
mentares com baixo ndice glicmico na
reduo da morbidade e mortalidade
por doenas cardiovasculares e na re-
duo da glicemia em DM. Estudos ob-
servacionais no evidenciam o papel da
dieta de baixo ndice glicmico e o risco
de desenvolvimento de doena cardio-
vascular. Estudos clnicos relatam modesta
reduo no colesterol total (- 6,6 mg/dl) com
a ingesto de alimentos de baixo ndice
glicmico em comparao com alimentos
de elevado ndice glicmico, porm no re-
duzem outros fatores de risco como LDL-C,colesterol total, triacilgliceris, glicemia
de jejum, insulina e peso corporal. No
se encontraram evidncias suficientes
para recomendar o uso de alimentos de
baixo ndice glicmico como estratgia
primria no plano alimentar (B)1,11,13.
Carboidrato e gordura monoinsatu-
rada juntos devem perfazer 60% a 70%
da ingesto energtica14. Entretanto,
deve-se considerar o perfil metablico e
a necessidade de perda de peso quando
se determina a quantidade de gordura
monoinsaturada da dieta (B)3,4,6,14,15.
FIBRAS
Deve haver oferta adequada e su-
ficiente de fibras. Recomenda-se o
consumo de, no mnimo, 20 g ao dia
ou 14 g/1.000 kcal6. As fibras solveis
podem interferir na absoro da gli-
cose alimentar, proporcionando picos
glicmicos ps-prandiais menores16.
Como para todas as pessoas, o con-
sumo de fibras alimentares deve serencorajado, porm no h razo para
recomend-lo em maior quantidade
aos portadores de DM (A)6. Alto teor de
fibras na alimentao pode afetar sig-
nificativamente os hbitos alimentares
e a palatabilidade desta, no havendo
evidncias de que o alto consumo in-
terfere na glicemia e no perfil lipdico
de forma diferenciada. As fibras devem
ter origem diettica, no sendo neces-
sria suplementao se na alimenta-
o diria estiverem presentes cereais
integrais, hortalias, leguminosas e
frutas em pores recomendadas pela
pirmide alimentar para a populao
brasileira17.
GORDURAS
A primeira meta para portadores de
DM limitar a ingesto de cido graxosaturado, cido graxo trans e colesterol
com a finalidade de reduzir o risco car-
diovascular6. A recomendao para o
cido graxo saturado atingir menos
de 7% do total de calorias (A).
A ingesto de gorduras saturada e
trans positivamente se associa a mar-
cadores inflamatrios e inversamente
sensibilidade insulina18. Os cidos
graxos trans devem ter seu consumo
reduzido (D). De acordo com a Organi-
zao Mundial da Sade, no se deve
ultrapassar 2% do total de calorias.
Os cidos graxos saturados e trans
tambm so os principais determi-
nantes dietticos das concentraes
de LDL-C. Dessa forma, a reduo na
ingesto desses cidos graxos e de co-
lesterol pode reduzir as concentraes
de LDL-C. A recomendao para inges-
to do colesterol alimentar inferior a
200 mg (D). Todavia, a reduo de ci-
do graxo saturado tambm pode dimi-
nuir as concentraes de HDL-C. Pou-
cos estudos com portadores de DMdemonstram os efeitos das porcenta-
gens de cidos graxos saturado, trans
e do consumo de colesterol diettico
sobre os lipdios plasmticos. Por essa
razo, as metas dietticas para porta-
dores de DM so as mesmas que para
indivduos com doena cardiovascu-
lar, j que ambos os grupos apresen-
tam risco cardiovascular idntico6.
Alguns estudos mostram que pla-
nos alimentares com quantidades re-
duzidas de cido graxo saturado e altas
em carboidrato ou cido graxo cis-mo-
noinsaturado diminuem as concentra-
es de LDL-C de maneira equivalente3.
Entretanto, planos alimentares com ele-
vada quantidade de carboidrato (apro-
ximadamente 55% do total de calorias)
aumentam a glicemia, insulinemia e
trigliceridemia ps-prandial quando
comparados ao maior consumo de ci-do graxo monoinsaturado (30% a 40%
do total de calorias). Alm disso, o plano
alimentar rico em cido graxo monoin-
saturado, quando comparado ao hiper-
glicdico, pode repercutir em melhora
na glicemia de jejum, sem promover
ganho de peso quando isocalrico.
Planos alimentares ricos em cido
graxos poli-insaturados parecem ter
efeitos similares aos cidos graxos mo-
noinsaturados sobre os lipdios plasm-
ticos. A suplementao com cidos gra-
xos poli-insaturados n-3 pode reduzir
as concentraes de triacilgliceris em
diabticos19, bem como modular a res-
posta inflamatria nesses indivduos20.
Embora a suplementao possa provo-
car pequeno aumento nas concentra-
es de LDL-C, o incremento de HDL-C
pode compensar esse efeito.
O consumo de cido graxo n-3 de
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Diretrizes SBD 2009
fontes como peixes ou por meio de su-
plementos mostra reduo nos riscos
cardiovasculares21. Uma recente reviso
indicou que o consumo de n-3 pode re-duzir a resistncia insulina22. Pode-se
recomendar consumo de duas ou mais
pores de peixes por semana, com ex-
ceo dos fils de peixe fritos (B)21,23.
Em estudos recentes com esteris
de plantas e steres de estanol, veri-
ficou-se que esses componentes blo-
queiam a absoro intestinal de coles-
terol diettico e biliar. Em portadores de
DM, a ingesto de 2 g/dia de esteris de
plantas e steres de estanol demonstra
reduo nas concentraes de coleste-
rol total e LDL-C24,25.
PROTENA
As necessidades proteicas variam de
acordo com as fases da vida e a oferta
deve ser suficiente para atender s de-
mandas. Essa oferta deve constituir-se
de um tero de protena de alto valorbiolgico e as protenas vegetais, como
as leguminosas, devem ser includas a
fim de suplementar a necessidade de
aminocidos para a sntese e manuten-
o dos tecidos. Alm disso, esses gros
oferecem fibras solveis e amido resis-
tente, que favorecem a resposta glic-
mica ps-prandial.
Pode haver catabolismo proteico
aumentado em portadores de DM tra-
tados com esquema de insulinizao
convencional, sugerindo ser necessrio
aporte proteico suficiente, assim como
monitorar as reservas corporais de pro-
tena, de forma a aumentar a demanda
alimentar, se necessrio. Indivduos ex-
postos cetoacidose podem necessitar
de correo do estado nutricional por
meio do aumento da oferta de energia
e protenas na dieta (B).
Para pessoas com DM, no h evi-
dncias que sugiram que se deva mo-
dificar a ingesto habitual proteica
(15% a 20% das necessidades dirias
de energia) caso a funo renal estejanormal (A)3,4,6.
Desconhecem-se os efeitos a longo
prazo de dietas com contedo proteico
elevado e baixo em carboidrato. Embo-
ra tais dietas possam promover perda
de peso a curto prazo e melhorar o per-
fil glicmico, ainda no se estabeleceu
se essa perda de peso ser mantida por
um perodo mais prolongado de tempo.
O efeito de tais dietas no perfil de LDL-C
plasmtico tambm um ponto inte-
ressante (B)6.
VITAMINAS E MINERAIS
DM uma doena que frequente-
mente se associa deficincia de micro-
nutrientes26, por isso os indivduos com
DM devem ter um suporte de vitaminas
e minerais atingido diariamente por
meio de fontes alimentares e plano ali-mentar balanceado27. O plano alimen-
tar deve prover a recomendao para
o consumo dirio de duas a quatro por-
es de frutas, sendo pelo menos uma
rica em vitamina C (frutas ctricas), e de
trs a cinco pores de hortalias cruas
e cozidas. Recomenda-se, sempre que
possvel, dar preferncia aos alimentos
integrais6.
Estudos longitudinais so necess-
rios para avaliar a segurana e os benef-
cios da suplementao de cromo, mag-
nsio, antioxidantes e outras terapias
complementares no manejo do DM228.
Em alguns grupos como idosos, gestan-
tes ou lactentes, vegetarianos restritos
ou aqueles em restrio calrica, a su-
plementao de multivitamnicos pode
ser necessria3. Outras excees so
feitas ao folato, para prevenir doenas
congnitas, e ao clcio, para prevenir
doena ssea. Contudo, no h evidn-
cias suficientes quanto ao benefcio da
suplementao de vitaminas e minerais
em portadores de DM que no pos-suem deficincia desses nutrientes (A).
Em razo de o DM aumentar o es-
tresse oxidativo, a terapia com antioxi-
dantes tem despertado interesse dos
pesquisadores, mas infelizmente no h
estudos que examinaram os efeitos da
interveno diettica sobre as concen-
traes plasmticas de antioxidantes e
biomarcadores inflamatrios em dia-
bticos. Alguns estudos mostram be-
nefcios com a utilizao de alimentos
funcionais com potenciais efeitos an-
tioxidantes, tais como caf, ch, cacau e
canela29-31. No entanto, ressalta-se que a
suplementao rotineira de antioxidan-
tes com vitaminas E, C e caroteno no
recomendada, devido carncia de
estudos sobre a eficcia e segurana a
longo prazo (A).
Deficincias de cromo, potssio,
magnsio e zinco podem agravar a in-tolerncia glicose. Nveis sricos de
potssio e magnsio so facilmente
detectveis, todavia a verificao da
deficincia de zinco e cromo difcil32.
Recentes estudos sinalizam que a suple-
mentao de cromo pode apresentar
importante papel na manuteno da
homeostase glicmica33,34. Entretanto,
a ADA enfatiza que os benefcios com
a suplementao de cromo em diabti-
cos ou obesos no tm sido claramen-
te demonstrados, por isso no se deve
recomend-los (D).
Da mesma maneira, no h evi-
dncias suficientes que demonstram
a eficcia de suplementos herbceos
em pessoas com DM35. Suplementos
comercialmente disponveis para ven-
da no so padronizados e variam em
quantidade de ingredientes ativos, logo
no so recomendados. Preparaes
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2009 Diretrizes SBD
herbceas tambm podem apresentar
interaes com outros medicamentos36.
Portanto, importante que profissio-
nais da sade estejam atentos ao usodesses produtos por pessoas com DM
devido a possveis efeitos colaterais e
interaes erva-droga ou erva-erva.
SAL DE COZINHA
O consumo de sdio deve-se limitar
a 2.400 mg por dia, o que equivale a 6 g
de sal de cozinha. Segundo o Ministrio
da Sade, o consumo populacional aci-
ma dessa meta causa importante de
hipertenso arterial. Deve-se evitar pro-
dutos alimentcios que, alm de conter
sal, so ricos em ingredientes fontes de
sdio, os quais incluem conservantes e
acidulantes, entre outros. So ricos em
sdio, porm, ao contrrio do sal, no
agregam sabor salgado aos alimentos,
o que pode favorecer o consumo inade-
quado. So exemplos desses alimentos
no recomendados: embutidos, conser-vas, enlatados, defumados, salgados de
pacote, macarro instantneo, pipoca
para micro-ondas, temperos em cubos
ou sache e molhos prontos9.
Por outro lado, plano alimentar rico
em temperos naturais, frutas, vegetais,
laticnios magros e outros alimentos
saudveis, associado a menor teor de
sdio (menos de 2.300 mg/dia), pode
auxiliar a reduzir a presso arterial. Esse
padro alimentar reflete o preconizado
pela dieta DASH (A). As recomenda-
es da ADA ressaltam que portadores
de DM e doena cardaca sintomtica
podem ter os sintomas reduzidos com
consumo de sdio de 2.000 mg/dia (C)1.
LCOOL
O excesso de bebida alcolica
perigoso e pode induzir hipoglicemias
prolongadas (at 16 horas aps sua
ingesto). Deve-se sempre enfatizar a
educao quando adolescentes e adul-
tos iniciam a ingesta de lcool na rotinadiria37. Ao fazerem uso da bebida alco-
lica, a ingesto diria deve-se limitar a
uma quantidade moderada (uma dose
ou menos por dia para mulheres e duas
doses ou menos por dia para homens).
Uma dose definida como 360 ml de
cerveja, 150 ml de vinho ou 45 ml de be-
bida destilada (D)3,4,6,38. Deve-se encora-
jar o uso de algum tipo de identificao,
como tenho DM37.
O consumo de carboidratos coin-
gerido com lcool em drinques mistos,
por exemplo, pode elevar a glicemia
(B)11. Deve-se tomar cuidado especial
para prevenir a hipoglicemia noturna.
Nesse sentido, carboidratos devem ser
ingeridos antes e/ou durante e/ou aps
a ingesto da bebida alcolica. Tambm
pode ser necessrio ajustar a dose de
insulina ou secretagogos de insulina,
particularmente se houver a associaode exerccio fsico no perodo da inges-
ta da bebida alcolica (ex.: festas com
dana). Deve-se incentivar a monito-
rao da glicemia durante a noite e no
dia seguinte, aps a ingesto de bebida
alcolica (D)6.
RECOMENDAES ALIMENTARES
COMPLEMENTARES
Recomenda-se fracionar o plano
alimentar em seis refeies, sendo trs
principais e trs lanches. Quanto for-
ma de preparo dos alimentos, deve-se
preferir grelhados, assados, cozidos no
vapor ou at mesmo crus. Pode-se in-
dicar alimentos diet e light no contexto
do plano alimentar, no os utilizando
de forma exclusiva. Deve-se respeitar as
preferncias individuais e o poder aqui-
sitivo do paciente e da famlia (C)4,6
.
SITUAES ESPECIAIS
CRIANAS E ADOLESCENTES
Planos alimentares individualizados
e regimes intensivos de insulina podem
fornecer flexibilidade a crianas e ado-
lescentes com DM para acomodar o
tempo e os horrios de refeies irregu-
lares, em situaes de variao de apeti-
te e nveis de atividade fsica (A). As ne-
cessidades de nutrientes para crianas
e adolescentes com DM1 e 2 parecem
ser similares s de outros indivduos de
mesma idade (B)1,3,4.
Dessa forma, sugere-se, para o cl-
culo do plano alimentar de crianas e
adolescentes com DM, o uso das reco-
mendaes nutricionais por faixa etria
e com as mesmas caractersticas para
macronutrientes indicadas na tabela 1.
Ressalta-se que o objetivo prioritrio da
conduta nutricional nessa faixa etria
manter crescimento e desenvolvimento
adequados e, posteriormente, adequaraos aspectos relacionados ao controle
glicmico (D)39.
Recomenda-se o uso do mtodo de
contagem de carboidrato como estra-
tgia para individualizar e flexibilizar a
ingesto alimentar para obter bom con-
trole glicmico (A)6. O mtodo de conta-
gem de carboidrato prioriza o total de
carboidratos por refeio, considerando
que sua quantidade determina a res-
posta glicmica ps-prandial. Tal fato
ocorre em razo de os carboidratos se
converterem totalmente glicose, no
perodo que varia de 15 minutos a duas
horas, enquanto apenas parte das pro-
tenas (35% a 60%) e somente 10% das
gorduras podem ser convertidas gli-
cose, no perodo de trs a quatro horas
e cinco horas, respectivamente40.
A hipoglicemia em crianas e ado-
lescentes pode ocasionar danos seve-
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Diretrizes SBD 2009
nutricional pr-gestacional determina
o ganho de peso, assim a interveno
precoce deve considerar IMC 19,8 kg/
m2 como ponto de corte mnimo paraeutrofia no perodo pr-gestacional. No
primeiro trimestre, as necessidades nu-
tricionais so semelhantes s do pero-
do pr-gestacional. Para amenizar nu-
seas e vmitos, mais incidentes nesse
perodo, recomendam-se seis a oito re-
feies/dia pequenas e mais freqentes,
alimentos com baixo teor de gordura e
na forma de purs.
Para o segundo e o terceiro trimes-
tre, a determinao de energia ser
pelo clculo de energia por quilograma
de peso, tomando-se como referncia o
IMC correspondente eutrofia.
A distribuio energtica deve-se ba-
sear nas recomendaes de alimentao
saudvel e balanceada, com base na pi-
rmide alimentar para a populao bra-
sileira, suprindo o aporte de vitaminas e
minerais e contendo 50% a 55% de car-
boidratos, prioritariamente complexos,20% de protenas e 25% a 30% de gor-
duras17. Deve-se estimular o consumo de
fibras alimentares e o aumento da inges-
to de gua como medidas corretivas ou
preventivas da obstipao intestinal.
Quanto distribuio do VET duran-
te o dia, recomendam-se 10% no caf
da manh, no lanche da manh e da
noite e 30% no almoo e no jantar. Po-
rm, ao considerar as condies clnicas
e a insulinoterapia, o fracionamento de-
ve-se ajustar individualmente, de forma
a no permitir oscilaes glicmicas im-
portantes ao longo das 24 horas do dia.
As mesmas recomendaes a lac-
tantes no diabticas devem ser segui-
das pelas portadoras de DM.
PESSOAS IDOSAS
As necessidades energticas para
ros, sobretudo nos menores de cinco
anos6. A orientao alimentar de quan-
tidades consistentes de carboidratos
em horrios frequentes (trs em trshoras) de suma importncia para
evitar essa complicao aguda. Nos
episdios de hipoglicemia em que a
criana esteja lcida, sugere-se o uso
de 15 g de carboidratos de rpida ab-
soro (uma colher de sopa de acar
para 200 ml de gua ou 200 ml suco
de laranja, ou 200 ml de refrigerante,
ou cinco sachs (3 g) de mel, ou cinco
balas macias)40. No se recomenda a
ingesta de biscoitos doces ou chocola-
tes para corrigir a hipoglicemia porque
esses alimentos contm alto contedo
de gorduras, que retardam a absoro
do carboidrato, acarretando aumento
exacerbado da glicemia mais tarde (D).
Para crianas e adolescentes que j
apresentam presso arterial igual ou su-
perior a percentil 90 para idade, sexo e es-
tatura, deve-se promover interveno nu-
tricional adicional, objetivando o controledo peso e restrio do excesso de sdio6.
Deve-se priorizar a restrio do uso exces-
sivo de produtos industrializados (exs.:
macarro instantneo, biscoitos salgados,
enlatados, embutidos etc.) (D).
Crianas e adolescentes com DM1
necessitam ser triados para doena ce-
laca, uma vez que apresentam maior
prevalncia dessa doena em relao
populao em geral. Deve-se atentar
para dficit de crescimento, perda pon-
deral ou sintomas gstricos (diarreias,
dor abdominal, m absoro) sem ex-
plicao e, caso se confirme o diagns-
tico da doena, deve-se retirar todo o
glten do plano alimentar. Casos de DM
devem ser encaminhados de imediato a
nutricionista6, para se substituir alimen-
tos com glten (pes, bolos, macarro,
biscoitos) por outros que apresentem
funes similares (D).
Nas ltimas dcadas, tm-se verifi-
cado, no mundo todo, aumento da inci-
dncia de sndrome metablica41e DM2
em adolescentes, que, em geral, se as-sociam a excesso de peso e resistncia
insulina1. No Brasil, verificou-se, em
amostra representativa de adolescentes
brasileiras de escolas pblicas, presen-
a de alteraes metablicas naquelas
com maior resistncia insulina e com
sobrepeso42. Recomenda-se a incluso
de hbitos alimentares saudveis e a
reduo progressiva da ingesto ener-
gtica, de maneira a assegurar as re-
comendaes nutricionais para idade8
no tratamento nutricional da sndrome
metablica ou DM2 em jovens. A dimi-
nuio de alimentos ricos em gorduras
saturadas e trans, colesterol, sdio e o
aumento da atividade fsica promovem
benefcios no controle glicmico, na dis-
lipidemia e na presso arterial (D)1.
A teraputica nutricional direciona-
da a crianas e adolescentes precisa ser
realizada por nutricionista especialmen-te treinado para essa faixa etria. Deve-
se dar ateno especial identificao
precoce dos transtornos alimentares,
sobretudo na fase da adolescncia.
A nfase na educao nutricional da
criana e da famlia fundamental para
nortear todo o tratamento (D)6.
GESTAO E LACTAO
As necessidades nutricionais duran-
te a gestao e a lactao so similares
para mulheres com ou sem DM. O diag-
nstico nutricional da gestante abrange
a anlise conjunta do consumo alimen-
tar, da bioqumica, da clnica e da antro-
pometria por meio da utilizao de cur-
vas que considerem a idade gestacional,
o peso atual e a estatura de acordo com
o IMC43, colocados em curva de acor-
do com a idade gestacional. O estado
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2009 Diretrizes SBD
pessoas idosas so menores que para
adultos jovens (B). Deve-se encorajar
atividades fsicas (A). Na idade avana-
da, principalmente aps os 75 ou 80anos de idade, a desnutrio mais co-
mum que o excesso de peso, portanto
se deve dar ateno quando se prescre-
ver dietas para perda de peso (B)1,3,4.
HIPERTENSO
Uma modesta perda de peso afeta,
de forma benfica, a presso sangunea
(A). A meta deve ser reduzir a ingesto
de sdio para 2.400 mg ou de cloreto de
sdio para 6.000 mg por dia (B)1,3,4,10.
DISLIPIDEMIAS
Para indivduos com concentraes
plasmticas de LDL-C elevadas, deve-
se limitar os cidos graxos saturados e
trans da alimentao a menos de 7% e
reduzir a ingesto de cido graxo trans
(ADA, 2009). O acrscimo de esteris deplantas favorece a reduo do coleste-
rol total e LDL-C24. Para indivduos com
triacilgliceris plasmticos elevados,
recomendam-se ingesto adequada
de fibras, reduo de carboidratos na
contribuio total de calorias e aumen-
to na quantidade de cidos graxos n-3e cis-monoinsaturado18,22. Para melhor
controle metablico, indicam-se perda
de peso modesta (5% a 10%) para in-
divduos acima do peso e aumento da
prtica de exerccios fsicos44.
NEFROPATIAS
A reduo da funo renal contribui
para depleo de reservas de gorduras
e protenas, especialmente de tecido
muscular, o que requer ateno para o
diagnstico nutricional a partir de an-
tropometria e parmetros laboratoriais,
a fim de se conhecer as reservas corpo-
rais. No diagnstico de distrofia nutri-
cional, dever haver correo por meio
de oferta suficiente de energia. Na fase
no dialtica, carboidratos constituem-
se no principal substrato energtico,
considerando-se haver ocorrncia fre-quente de dislipidemia e restrio pro-
teica, que posterga o incio da terapia
dialtica e reduz a sintomatologia ur-
mica. Na presena de microalbuminria
e indivduos com taxa de filtrao glo-
merular superior a 70 ml/min, a oferta
de protenas dever manter-se em 0,8 a1 g/kg/dia, a mesma que para a popula-
o saudvel. Quando a taxa se encon-
tra entre 70 e 30 ml/min, recomenda-se
restrio proteica de 0,6 g/kg/dia (B)45.
Na prescrio nutricional, necessrio
ainda considerar as recomendaes de
eletrlitos, minerais, vitaminas e lqui-
dos, que, dependendo da fase da doen-
a, devero seguir conduta nutricional
especfica.
DOENAS CATABLICAS
Pode-se encontrar a energia ne-
cessria para a maioria dos pacientes
hospitalizados quando se fornecem
25 a 30 calorias por quilo de peso
atual ao dia (ingesto de 150 a 200
g de carboidratos) (A). A necessida-
de proteica oscila entre 1 e 1,5 g por
quilo de peso corporal atual ao dia,sendo esse o limite superior forneci-
do a pacientes em estado de maior
estresse metablico (A)3,6,46.
Concluses finais
Concluso Grau de recomendao
O estabelecimento de um plano alimentar para controlar pacientes com DM associado a mudanasno estilo de vida, incluindo atividade fsica, considerado terapia de primeira escolha
Deve-se incentivar o consumo de carboidratos oriundos de hortalias, leguminosas, gros integrais,frutas e leite desnatado segundo os preceitos de uma dieta saudvel
Pode-se substituir a sacarose por outros carboidratos e utiliz-la no contexto de um plano alimentarsaudvel
Recomenda-se que o total de sacarose no ultrapasse 10% do valor calrico total
Adoantes no nutritivos so seguros quando consumidos at o nvel dirio aceitvel de ingestoestabelecido pela FDA
A carga glicmica oferece um modesto benefcio adicional em relao contagem de carboidrato
No se verificam evidncias suficientes para recomendar o uso de alimentos de baixo ndice glic-mico como estratgia primria no plano alimentar
A
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D
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Continuao - Concluses finais
Concluses finais
Concluso Grau de recomendao
O mtodo de contagem de carboidratos considerado a chave do tratamento nutricional do DM1
Carboidrato e gordura monoinsaturada juntos devem perfazer 60% a 70% da ingesto energtica.Entretanto, deve-se considerar o perfil metablico e a necessidade de perda de peso quando sedetermina a quantidade de gordura monoinsaturada da dieta
Como para todas as pessoas, o consumo de fibras alimentares deve ser encorajado (20 g/d ou 14g/1.000 kcal), mas no h razo para recomendar aos portadores de DM maior consumo de quan-tidade de fibras
A recomendao para o cido graxo saturado atingir menos de 7% do total de calorias
Os cidos graxos trans devem ter seu consumo reduzido
A recomendao para ingesto do colesterol alimentar inferior a 200 mg
Deve-se recomendar o consumo de duas ou mais pores de peixes por semana, com exceo dosfils de peixe fritos
No h evidncias que sugiram que se deva modificar a ingesto habitual proteica (15% a 20% dasnecessidades dirias de energia) caso a funo renal esteja normal
No h evidncias suficientes quanto ao benefcio da suplementao de vitaminas e minerais emportadores de DM que no possuem deficincia desses nutrientes
O consumo