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Desde muito cedo, no começo da adolescência, o uso das palavras em prédicas religiosas me acompanhou. Quando o desenrolar da vocação de escritor começou em minha vida, ocorrendo numa pequena cidade do interior do Maranhão, onde possuía vida social ativa e era um líder jovem civil, sempre tendo ocasiões para se pronunciar em público, passei escrever algumas destas falas. A razão primordial de escrevê-las, se deu, no meu entender, da importância futura para a história local de serem registradas em discursos, devido os mesmos suscitarem questões e temáticas primarias, na maioria das vezes, na comunidade. É bem verdadeiro um conhecido provérbio: “As palavras voam, a escrita fica”. De fato, as falas proferidas e ouvidas, logo são esquecidas no decorrer do tempo, porém, as mesmas grafadas, materializadas no papel e tinta, acompanharão as gerações, principalmente se tiverem algum sentido para os grupos sociais. Assim, fazendo com que os pronunciamentos não se perdessem no tempo... ... ...
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Discursos
das Causas
Primeiras
São Luís
2014
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Todo o discurso deve ser construído como uma criatura viva, do lado por assim dizer do seu próprio corpo; não lhe podem faltar nem pés nem cabeça; tem de dispor de um meio e de extremidades compostas de modo tal que sejam compatíveis uns com os outros e com a obra como um todo.
Sócrates A leitura traz ao homem plenitude, o discurso segurança e a escrita exatidão.
Francis Bacon
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Índice Apresentação ................................................................................ 05 Discursos da Causa Educação e Leitura Homenagem a Educação Bacelarense ............................................. 08 Um Ano do Grupo de Leitores de Duque Bacelar ....................... 10 Discurso sobre Leituras ........................................................................ 13 A Questão da Leitura em Duque Bacelar ....................................... 17 Discurso da Causa Ambiental Discurso da 1º Conferência Ambiental da ABAMA ................... 22 Criação da APA dos Morros Garapenses ....................................... 26 Um ano de criação da APA dos Morros Garapenses ................. 30 O Poder Público e a Coletividade no Dever de Cuidar do Meio Ambiente ..................................................................... 35 Dez Anos de Fundação da ABAMA ................................................... 40 Discursos de Despedidas O Discurso que não pode ser proferido no dia ............................ 49 O Último diálogo entre dois amigos ................................................. 56 Um Ano da morte de Furtado ............................................................. 59 O Discurso de Despedida ...................................................................... 65 Discursos da Causa Evangélica Campanha da juventude católica por um mundo melhor ...... 70 Discurso de Formatura de Bacharel em Teologia ...................... 72 O autor ......................................................................................................... 81
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APRESENTAÇÃO
Desde muito cedo, no começo da adolescência, o uso
das palavras em prédicas religiosas me acompanhou. Quando o
desenrolar da vocação de escritor começou em minha vida,
ocorrendo numa pequena cidade do interior do Maranhão, onde
possuía vida social ativa e era um líder jovem civil, sempre tendo
ocasiões para se pronunciar em público, passei escrever algumas
destas falas. A razão primordial de escrevê-las, se deu, no meu
entender, da importância futura para a história local de serem
registradas em discursos, devido os mesmos suscitarem questões
e temáticas primarias, na maioria das vezes, na comunidade.
É bem verdadeiro um conhecido provérbio: “As palavras
voam, a escrita fica”. De fato, as falas proferidas e ouvidas, logo
são esquecidas no decorrer do tempo, porém, as mesmas
grafadas, materializadas no papel e tinta, acompanharão as
gerações, principalmente se tiverem algum sentido para os
grupos sociais. Assim, fazendo com que os pronunciamentos não
se perdessem no tempo, cumpriria também o ofício e a função
social de um escritor local, ao deixar registros do passado como
testemunho para o presente e o futuro.
Então, não sendo pretensioso, ou sendo (os meus leitores tem liberdade de criticarem), creio que os textos de “Discursos das Causas Primeiras”, terão um sentido e um pequeno legado para a vida de muitas pessoas da minha comunidade natal.
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As causas aqui referidas devem ser entendidas como trabalhos, esforços genuínos em favor da preservação e do ambientalismo local, como de ações educativas pelo hábito da leitura, no qual estava envolvido como protagonista ou coadjuvante. E algumas homenagens póstumas a pessoas amigas que marcaram a vida social do meu lugar e a minha própria vida, também devem ser entendidas como causa (da amizade e do amor), que sempre busquei cultivar e valorizar. Sendo que os discursos selecionados para a obra carregam as emoções dos fatos através da minha pessoa, tornando-se assim um testemunho humano e ocular, que publicados, contribuirão para o enriquecimento literário, biográfico, cultural e histórico da minha terra; também sendo, sem sombra de dúvida, uma fonte de conhecimento e saber para a população.
Enfim, o que pretendi, volto a enfatizar, escrevendo
estes discursos no decorrer dos anos, foi apenas cumprir o papel social de escritor: registrar os fatos, as coisas, emoções e sentimentos no mundo; nos momentos em que todos os meus ouvintes também os sentiam.
Francisco Carlos Machado
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Discursos da Causa
Leitura e Educação
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HOMENAGEM À EDUCAÇÃO BACELARENSE
Proferido na Missa do Festejo religioso
de São José, em Agosto de 1997,
em Duque Bacelar
Na missa desta noite, onde no festejo solene da paróquia de São José, vocês da comunidade católica agradecem a Deus, homenageando o dia da educação de Duque Bacelar, peço que todos se levantem, e em silêncio façamos um minuto de silêncio em memória de Darcy Ribeiro e Paulo Freire, dois grandes educadores brasileiros que tiveram suas vidas ceifadas neste ano.
Quero assim, em poucas palavras, proferir algo sobre educação. Educação no dicionário que mais uso, o Aurélio de Holanda, é um processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral da criança e de todos os seres humanos em geral, visando sua melhor integração individual e social.
Educar é um processo, e todo processo segue uma sequência de mudança, até chegar a um ponto certo. Em nosso município, em todo Brasil, tal processo caminha para chegarmos a um estado educacional, onde teremos um ensino suficiente em nossas escolas e faculdades, para nossos jovens, crianças e velhos. Uma das provas desta sequência é a atitude do ministério de Educação e Cultura - MEC - distribuindo em todas as escolas públicas antenas parabólicas, TVs, vídeos, livros de qualidades para a formação de Bibliotecas, que se usados corretamente, contribuirão em muito, dando bons resultados, bons frutos. Foi lançado também, o teste Provão, em todas as faculdades privadas e públicas do país, para saber como anda o ensino
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universitário nacional. O resultado do primeiro provão foi ruim, mas o MEC tem agora um pouco do retrato do ensino universitário nacional, e se espera que se trabalhe para melhorar a situação. Vejo em todas essas ações na educação como um processo de mudança.
Por fim, quero homenagear neste momento os que contribuem para o processo de mudança educacional em nosso município. São os que arregaçam as mangas, os que suam para cada bacelarense ter uma educação boa, instruindo no saber crianças e jovens para uma vida melhor. Estes cumprem a 26º Declaração Universal dos Direitos Humanos, que nos afirma:
- Todo homem tem direito a educação, e ela será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos do homem.
Obrigado a todos
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UM ANO DO GRUPO DE LEITORES DE DUQUE BACELAR – GLDB
Proferido na Churrascaria O Rildão,
na noite 29 de Março de 2000.
AOS MEMBROS do Grupo de Leitores de Duque Bacelar, aos professores, amigos e membros da comunidade presente
Sentindo neste momento grande satisfação, alegria e
prazer, onde nesse recinto comemoramos o aniversário de um
ano do Grupo de Leitores de Duque Bacelar, quero agradecer a
todos.
Satisfação por tê-los aqui, que no decorrer de um ano
de nossa existência, nos apoiaram e auxiliaram, acreditando em
nosso trabalho. Alegria e prazer se sentem pelos frutos desta
safra: árdua, doída e vivida com muita fé, determinação e
coragem.
Quando um ano atrás nos reunimos pela primeira vez,
na tarde de 29 de Maio, último sábado do mês, na escola de
alfabetização Antonio Aldir, sabíamos que estávamos no limiar
de uma jornada, um grande sonho, uma utopia possível. No
convite que enviamos para quarenta pessoas convidadas para
participarem do Grupo de Leitores, estava escrito que a grande
ambição e o maior objetivo de nossa organização era levar nossa
cidade em uma das mais cultas do Estado do Maranhão.
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Entretanto, estávamos conscientes de que isso seria possível
somente com uma grande parte dos cidadãos de nossa
comunidade adquirindo o hábito de ler, se tornando leitores.
Porém, nunca sabíamos que incomodaríamos os que querem
centralizar e ter em mãos o controle da educação em nosso
município, e que seríamos criticados e incompreendidos se nós
trabalhássemos num grupo social a prática da leitura.
Naquela tarde de 29 de Maio esperávamos quarenta
pessoas “unidas e irmanadas” para iniciarmos um trabalho
diferente e ímpar, “para transformação de nossa sociedade”.
Mas recebemos, como começo de nossas primeiras dificuldades,
sete pessoas. As restantes convidadas, estudantes, professores
em sua maior parte, e pessoas cultas de nossa cidade não
vieram. Algumas nos enganaram, mentiram e se
descomprometeram nas horas e minutos que se aproximaram de
nosso primeiro sarau. E quando fundamos nosso grupo com sete
pessoas: eu, as professoras Conceição Mesquita, Leila Lopes e
Raldane Almeida; o médico Marcus de Andrade, o cidadão
Raimundinho Dutra, e a estudante Elen Carla, na hora de
tomamos o chá, no momento do Sarau, servido com torradas e
guloseimas a mais, acompanhadas dos clássicos eruditos, Bach e
Beethoven, alguém propositalmente pusera sal em nosso chá. O
incidente foi motivo de duradoras e gostosas gargalhadas, que
não roubou o momento clássico e afável da hora do chá. Depois,
pelo fato de fundamos o GLDB com sete pessoas, fomos motivos
de críticas perniciosas e invejosas de pessoas mesquinhas.
O GLDB, amigos presentes, foi fundado na tarde de 29
de Maio assim, com essas circunstâncias. Entretanto, finalizamos
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conscientes nosso primeiro sarau com certeza que uma jornada
começa com pequenos passos.
Dois meses depois de fundarmos o grupo, realizamos
nossa primeira Campanha Leitura nas Férias. Foi um grande
sucesso. Trouxemos o escritor Frederico Rebêlo, o jornalista José
Machado para lançarem livros de suas autorias, eventos que
foram pioneiros, inéditos na cidade.
Em 1º de Agosto tive que me ausentar vinte dias da
cidade pra fazer um curso de Alfabetização na Universidade de
Caxias, e quando voltei, por alguns fatores, dias depois, caí num
estado de depressão profunda, o que levou o GLDB a parar por
seis meses. Reiniciamos nossas atividades no final do mês de
Março. Dia 22 de Abril, fizemos nosso primeiro trabalho na
comunidade. Uma palestra “Reflexão sobre os 500 anos do
Brasil”. Onde analisamos criticamente os 500 anos de nosso país.
E foi um sucesso, levou todos os ouvintes participantes a saírem
do lugar convictos e conscientes, que para termos um país
melhor, todos devem participar honestamente dessa construção.
Agora, nesta noite, com alegria comemoramos um ano
de formação de nosso grupo. Pretendemos continuar esses, e
melhorarmos nossos trabalhos educativos e filantrópicos.
Sempre lutando para que todos os nossos amigos e conterrâneos
descubram o bom e maravilho mundo da leitura e dos livros.
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LEITURAS NAS FÉRIAS 2005
Proferido na abertura da Campanha Leituras nas Férias, em 11 de Julho de 2005, na Praça Vicente Vilar.
É preciso e necessário levarmos nossa gente a gostar de livros e de leitura. Os livros são a porta de entrada para o conhecimento. As vantagens alcançadas com a leitura incluem o desenvolvimento da fala e da escrita. O desenvolvimento pleno da intelectualidade, bem como aprender ser cidadão consciente e livre, preparados para o mundo, sendo também questionadores maduros da realidade ao derredor, acontece quando se é um leitor.
Quem lê pensa melhor, diz a máxima. Assim, se pensa melhor o cidadão, poderá agir melhor, fortalecendo o bem que há nele, transmitindo aos outros, ajudando construir o país e a cidade que sonhamos.
O Brasil é um dos países em que se menos lê. Os brasileiros leem anualmente, em média, dois livros por ano (isso, quando lê). O francês lê sete livros. Os italianos cinco livros. Os americanos cinco livros. As causas do pouco hábito da leitura entre nós são explicáveis: baixa escolaridade; alto índice de analfabetismo, livros caros, renda insuficiente, ausência de bibliotecas e espaços de leitura adequados e estimulativos. Rui Barbosa, há mais de cem anos já falava que para o Brasil melhorar, era preciso nosso povo ter livros, ler. Um país se faz com homens e livros, afirmava ele, um dos gênios de nossa história.
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Esse evento, “Campanha Leitura nas Férias”, procura contribuir para a solução do problema social do não gostar de ler. Quem lê é mais preparado. Compreende mais e melhor uma realidade (de fome, e de várias mazelas que temos), e sendo do bem, procurar participar de mudanças, pois a leitura leva à participação. A leitura de coisas boas impulsiona o indivíduo a não ser passivo diante de um mal social e pessoal. Leituras de livros como a Bíblia, nos levam a sermos livres, conscientes. É preciso que todas as instituições da sociedade, a Prefeitura, escolas, igrejas, sindicatos etc., criem ações para haver uma mudança do quadro de não leitor, para um de povo leitor. De uma cidade que não lê para uma cidade leitora. Um povo e uma cidade que lê são mais felizes. O escritor Jorge Luis Borges afirmava que uma das formas de felicidade é a leitura. E quem é leitor sabe o quanto os livros, os bons livros, nos tornam realmente felizes. Gosto da máxima que afirma que três elementos reunidos, Deus, um amigo e um livro, são capazes de fazer uma pessoa feliz.
Uma cidade que lê e pessoas que leem são mais criativas, bonitas. É menos solitária. E neste ano em nossa cidade, a Campanha Leitura nas Férias, participa do calendário do “Viva Leitura”, o nome que no Brasil recebeu o Ano Ibero Americano da Leitura, que é uma das grandes mobilizações que em nosso país se organiza para a construção de uma nação de cidadãos leitores.
Amigos presentes hoje na Praça Vicente Vilar, se pergunta como todas as instituições sociais em nossa cidade, empresas e comércios, a prefeitura, pais e familiares e as escolas, podem participar nessa causa social e educativa?
E respondo dando dicas a todos. As empresas: patrocinando ou doando livros e materiais escolares; incentivando a participação dos funcionários como voluntários em escolas ou projetos educativos, oferecendo para as escolas
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assinaturas de jornais e revistas. Prefeitura: desenvolvendo atividades que envolvam a leitura no município, investindo em bibliotecas, inclusive comunitárias; investindo em salas de leitura, promovendo concursos, debates e seminários para incentivar e discutir a leitura; investindo na formação e atualização dos professores. Os pais e os familiares: ler com e para os filhos, levá-los a feira de livros, livrarias e bibliotecas; conversar sobre a importância da leitura e temas variados, nunca impondo a leitura como castigo por ter ido mal na escola (leitura é liberdade), propondo horários e espaços para leitura na própria casa, presenteando os familiares com livros.
Os professores e as escolas, o que podem fazer?
Promover atividades de leitura sobre a realidade que nos cerca, criando pequenas peças teatrais a partir de histórias lidas pelos alunos, propondo pesquisas e leituras de temas atuais e interessantes aos alunos; interligando a biblioteca às atividades curriculares e desenvolvendo projetos de integração escola- bairro-cidade.
Assim, se pede que todos participem. Leiam durante a campanha Leitura nas Férias 2005. Temos que conseguir que nossas crianças e jovens, a nossa cidade alcance o estatuto de leitores. Pedimos que todos ajudem. É cidadania, progresso, liberdade.
Leiam! Leiam! Leiam!
É lendo que conhecemos outros mundos, alimentamos nossa imaginação, abrimos várias janelas para o mundo e visitamos o passado. É lendo que viajamos rumo ao futuro, damos luz ao presente e podemos realizar sonhos.
Quem lê aprende, sabe mais. Quem lê pensa melhor, conhece, compara ideias. Quem lê se prepara melhor. Escreve,
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fala, é conscientizado; debate, responde, se informa, exerce cidadania, opina, compreende o mundo.
Quem lê, meus amigos, melhora o vocabulário, tem mais chances, cresce culturalmente. Absorve experiência, e sendo bem informado sabe o que está acontecendo na realidade, procurando se libertar.
Leia!
Oh! Bendito o que semeia Livros... Livros à mão cheia... E manda o povo pensar! O livro caído n´alma É germe que faz a palavra É chuva que faz o mar. Leiam livros !!!
Um livro aberto é um cérebro que fala. Fechado, um amigo que espera. Esquecido uma alma que perde. Destruído, um coração que chora. Que tenhamos neste ano uma proveitosa Campanha de
Leituras nas Férias.
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A QUESTÃO DA LEITURA EM DUQUE BACELAR
Proferido em 26 de Setembro de 2009,
no 1º Seminário de Leitura e
Literatura de Duque Bacelar
Há quatro anos, em praça pública, no encerramento da
Campanha Leitura nas Férias 2005, como ativista e educador da
causa da leitura, eu havia dado certa pausa neste movimento em
nossa cidade.
Caros amigos, durante anos, como pioneiro, levantamos
a bandeira da leitura entre a juventude, as crianças, os
professores da comunidade, estimulando a todos atentarem
para a importância da leitura em sua vida pessoal. Formamos o
saudoso GLDB - Grupo de Leitores de Duque Bacelar, onde
professores se reuniam, ao som de música clássica, degustando
chás com bolos e torradas, discutindo os livros lidos no decorrer
dos dias. No mês de julho organizávamos a Campanha Leitura
nas Férias, com diversas atividades educativas, palestras com
escritores, lançamento de livros. Paralelo com as crianças da
cidade organizou-se um grupo de leitores infantil. Muitas dessas
crianças do grupo de leitores chegaram a ler mais de 150 livros
juvenis. E o resultado entre elas pendura até hoje, pois muitas se
tornaram bons alunos nas salas de aula, até melhores alunos das
escolas. Sendo que muitas delas ainda cultivam o hábito de ler.
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Ó tempo bom, memorável. Os livros, os autores, as
minhas crianças. Era uma relação de respeito tão construtiva.
Aprendizagem mútua, coletiva.
Então, como lhes falei, tive quer pausar minhas ações de
ativista da leitura para me tornar seminarista e ensinar a palavra
escrita de Deus, o livro dos Livros. Neste ínterim voltei a minha
terra para isso. Acabei fundando a Igreja Batista Nacional,
ensinei jovens sobre a Bíblia, mas eles, infelizmente, não foram
honestos e não aprenderam como as crianças leitoras.
Digo-vos com convicção: o livro é o maior bem cultural
que uma sociedade, um povo e uma pessoa podem ter. Um
tempo gasto folheando páginas e páginas, mergulhado nas
histórias, em emoções e aventuras; encantos e crescimento
interior, psicológico e espiritual contidos nas leituras são uma
das maiores experiências que uma pessoa pode viver e desfrutar.
A maioria das pessoas, disse Drummond, não sente a
sede da leitura, que para esse era “uma fonte inesgotável de
prazer”. O que levou isso a acontecer? Onde a escola, a Igreja, a
família e a nossa cultura impediram o desenvolvimento de suas
pessoas para as leituras e o gosto para literatura? O que faltou
em todos?
Ler é trocar horas de fastio por horas de inefável e
deliciosa companhia, afirma o ex-presidente estadunindese John
Kennedy. Ler é viver momentos de intensas felicidades. Se é
feliz lendo bons livros. A leitura, em vários casos retira pessoas
de desânimos e depressão profundas, quando as mesmas
encontram refúgios e alentos em textos inspirativos e
motivadores.
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O livro, as leituras, revolucionam vidas e civilizações. As
pessoas iniciam etapas novas quando encontram obras que dão
respostas a dilemas e questionamentos profundos da vida. As
civilizações mais preparadas tecnicamente, mais desenvolvidas
educativamente, democráticas e justas socialmente, foram as
que disseminaram os livros. Seus líderes estimularam o hábito do
decifrar o código linguístico, simplesmente forjaram meios,
métodos para o povo gostar de leituras. E em nossa realidade
brasileira, aonde 69% dos brasileiros nunca vão a bibliotecas;
34% dos professores leem causalmente e 25% não costumam
nem ler, nos preocupam bastante. E mais, o povo brasileiro em
média lê 200 páginas por ano, e isso, quando lê. Somos um dos
países em que menos se lê.
E a realidade local, a realidade no qual organizamos este
1ª Seminário de Leitura e Literatura?
Tínhamos, temos uma Biblioteca com um acervo
relevante, dinâmico, atraente aos 5.870 estudantes, as crianças,
os adultos da cidade?
Quantos aqui presente foram neste ano na Biblioteca da
Praça?
Os nossos professores em sua maioria gostam de ler? Os
mesmos estimulam seus docentes a adquirirem o hábito? E as
organizações eclesiásticas, culturais e comunitárias em nossa
cidade garapense fazem alguma coisa pelo hábito de ler entre
seus associados?
Saibam, enfatizo, somos uma das cidades menos
desenvolvidas do Estado do Maranhão e do Brasil em muitas
áreas, principalmente na educativa. E digo, nunca melhoraremos
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nossos índices se a população não adquirir o gosto permanente
da leitura. E nós, neste governo libertador? Nós que cada dia
renovamos nosso compromisso, honesto e sincero, para com
nossas crianças e jovens, nossa gente; temos que lhes dar livros,
leituras, literaturas.
Como um dos educadores pioneiros para a formação do
hábito de ler nas camadas sociais, entre professores e as
crianças, organizamos esse evento educativo e cultural,
irmanado com nosso secretário conterrâneo Rosseveth Oliveira,
as escolas, as igrejas, sindicatos e organizações sociais
garapenses para estimularmos juntos, coletivamente, o hábito
de ler nestes municípios, até consolidarmos o hábito. Assim
pedimos abertura, apoio de todos os cidadãos.
Recentemente conseguimos um Projeto de
Modernização de nossa Biblioteca. Temos agora a sala de
Informática, livros novos, sistema moderno, estantes e mobílias
novas. Estamos hoje fundando o primeiro Comitê do Proler na
cidade, e objetivamos organizar centenas de grupos de leitores;
programas educativos na rádio; programas culturais, festivais de
livros e leitura; campanhas, saraus e palestras com escritores.
Queremos dar livros, o maior bem cultural pra nossa
gente. Queremos nosso povo desenvolvendo mentes pensantes,
inteligentes, participativas na construção das precisas e boas
mudanças sociais; na busca da equidade de bens e
oportunidades a todos.
E isso, volto a reafirmar com convicção, só será possível
quando Duque Bacelar for um município de leitores.
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Discursos da Causa
Ambiental
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Iº CONFERÊNCIA AMBIENTAL DA ABAMA
Proferido na 1º Conferência da ABAMA,
em 1 de Junho de 2007, em Duque
AO SR. PREFEITO DE DUQUE BACELAR,
Francisco Burlamaque; ao pastor Cipriano Pereira, da Igreja Batista Nacional Shalom; a
Armênia Rangel, da AMAVID; ao Sr. Inácio Amorim, da Secretaria de Estado de Meio
Ambiente; ao vereador Antonio Sousa Castelo Branco; a todos os professores,
estudantes, pescadores, agricultores e a população presente em nossa 1º Conferência.
Recebemos todos e todas com grande esperança e
júbilo (e bastantes cansados) pelo esforço, mobilização e a
correria na organização de nossa primeira Conferência
Ambiental.
Isso se torna preciso, acreditamos, pois sem o esforço
da busca, jamais se experimenta a alegria do encontro. Sem
esforço e luta não se vive com grandeza. O lutar dá sentido ao
viver.
E eis-nos aqui a lutar por uma causa. A causa da
bandeira verde que levantamos, uma bandeira pela vida. A vida
das plantas e dos animais em suas diversas formas. A luta pelo
nosso rio; os nossos verdes morros (sempre verdes), com suas
belezas cênicas e paisagísticas. A vida dos nossos mananciais
hídricos: o bom e utilitário açude da Vargem Redonda, as muitas
lagoas, o igarapé, nossos brejos e olhos d’águas.
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Tudo isso implica, e se resume necessariamente na luta
pela vida de nossa gente que habita e palmilha esse torrão.
Batalhamos apaixonadamente pela dignidade social de nosso
povo. Em lhe dar alegria, encanto e fé. Uma fé nela mesma, em
sua unidade comunitária em prol de melhoria de suas vidas. Fé
em suas potencialidades humanas e naturais. Fé no Deus Criador
e Senhor; que nos faz ter sempre risos, constantes, e muitas
forças.
***
Assim, neste momento, na 1º Conferência Ambiental da
ABAMA, queremos discutir sustentabilidade e de como nossa
comunidade deve e pode usar suas potencialidades e recursos
naturais para se desenvolver socialmente, economicamente, em
harmonia e responsabilidade com seu meio ambiente. Buscando
assim, de todos, motivando também, o ouvir, o entender e o
acatar de nossas propostas para o desenvolvimento sustentável
da cidade. Um desenvolvimento para ajudar os pobres (os mais
pobres). Um tipo certo de desenvolvimento que se aprende a
pescar o peixe no rio, mas deixa alguns (muitos até) para se
reproduzirem, se multiplicarem novamente na piracema. Sendo
que noutros dias, ao se voltar a pescar outra vez, existirão outros
peixes para nós e nossos filhos e netos.
Somos um dos municípios mais pobres do Maranhão e
do Brasil, segundo fontes oficiais. A nossa gente não tem terra
certa para plantar. É pobre e miserável em sua maioria. Apesar
dos muitos recursos naturais.
Falta-lhes mais educação. Educação com qualidade.
Faltam-lhes mais frente e oportunidades de empregos
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(principalmente a nossa juventude). Faltam-lhes líderes sociais,
políticos e espirituais que sejam mais comprometidos e sinceros.
Líderes que tenham coração para ajudarem na construção da
felicidade de nosso povo, trazendo dignidade e entusiasmos no
viver. Nos falta heróis, exemplos.
A nossa terra está exaurida. Um grupo industrial
implantado há 30 anos destruiu nossas matas, grilou nossas
terras produtivas, expulsou o povo e poluiu nosso rio.
E é preciso pensar essa ocupação nefasta, latifundiária e
predatória. E procurar reverter muitas coisas que são por demais
oportunas e necessárias para trazer de volta partes da felicidade
de nossa gente.
***
Para isso estamos aqui nesta tarde de calor, mas
abençoados por brisas do Parnaíba. Nós da ABAMA e demais
ambientalistas presentes, desejamos apresentar a proposta de
desenvolvimento sustentável, na realidade de se criar uma
Unidade de Conservação, chamada de Área de Proteção
Ambiental dos Morros Garapenses, para isso acontecer. É um
sonho. Ajude-nos a construí-lo. O mesmo é necessário, certo e
bom. Vamos juntos construirmos esse sonho coletivo, pessoal e
ambiental. Entendamos que é ético, moral e justo cuidarmos
desse rio; da vegetação dos morros, do açude, das lagoas, brejos
e igarapés. Cuidarmos de cada árvore e bicho deste território.
Diz o texto sagrado que no princípio criou Deus a terra.
“Berê’shit Bará Élôhim et rashamaem vêit raarits ”, gosto de falar
na língua original, no hebraico, essa frase do texto sagrado que
Deus criou, a terra, os céus, tudo.
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E ao criar a terra Deus, criou o homem, pondo-o num
jardim. E esse jardim: a nossa terra, o nosso lugar; mais do que
nunca deve ser cuidado com respeito e carinho.
Lutar e defender o meio ambiente, os seres viventes é
compromisso que temos com Deus, o Deus da Bíblia, que é real.
E nunca se deve esquecer isso.
Duque Cidade sustentável e a Área de Proteção
Ambiental dos Morros Garapenses. É possível construirmos esse
sonho? Estamos aqui para começarmos a construí-lo. Façamos o
que é possível para ele ser real.
Meu muito obrigado
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CRIAÇÃO DA APA DOS MORROS GARAPENSES
Proferido dia 21 de Março de 2010, nas
comemorações de Criação da APA dos
Morros Garapenses, em Duque Bacelar.
AOS AMBIENTALISTAS
de Duque Bacelar, Coelho Neto, Buriti e Afonso Cunha; os funcionários da
SEMA-MA; Prefeito e Vereadores, Secretários Municipais, líderes sociais e
religiosos, e toda população presente
Há aproximadamente 144 anos um advogado e
fazendeiro curraliense/buritiense, na necessidade de ter acesso
ao rio Parnaíba, decidiu abrir um caminho, que partindo de sua
fazenda chegaria à margem do rio. O rio, nesta época, passou a
ser navegável, sendo fonte dos negócios, de rendas,
comunicações e transporte na região. Ao se aproximar dele (do
rio), a estrada vinda da fazenda se deparava com um vale de
belos morros, riachos, nascentes e lagoas. A estradinha passava
no meio, e nos caudalosos invernos de então; os bois nas
carroças, os cavaleiros, as gentes escravas e livres; os senhores
em contatos com o solo bastante úmido do vale formado de
morros, atolavam, e nos esforços pra se libertarem, remexiam e
remexiam a terra, que ficava uma garapa de lama. Assim
começou a nossa história social e política. Assim começou, no
século XIX, a história da APA dos Morros Garapenses.
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O porto natural do Garapa se tornou economicamente forte. No território cresceram Zeca Barão, Joana Parente, os Machados, os Aguiar, os fugitivos cearenses e piauienses das secas, que no lugar encontraram sua fonte de vida.
Há 71 anos sendo o porto rico e influente, com a recém-criada cidade Coelho Neto, fez com que recomeçasse nova disputa, luta e poder, com a vizinha Buriti, no querer de ambos fixarem o Garapa em seu território. Esse foi o último litígio existencial dos dois municípios. A natureza, o rio e lagoas eram abundantes com seus frutos.
Há 33 anos, o capital desumano e antiecológico de um grupo industrial se apropriou das terras do Curralim, do Garapa e do Buriti, e destruiu nossas florestas, nossos riachos e lagoas; envenenando o nosso solo, intoxicando o rio Parnaíba, humilhando os moradores nativos. O seu desenvolvimento mais destruiu e atrasou; mais concentrou que distribuiu renda. O seu desenvolvimento intransigente e ferino deixou cicatrizes e dores em todos. Feriu a vida e matou todas as vidas que existiam.
Há 14 anos alguém subiu em um dos morros garapenses e viu as lagoas, o rio Parnaíba, um vale de palmáceas e o sol se pondo. E esse alguém chorou, pois tudo era muito bonito. E se tudo era o que restava de ambiente natural, de cerrado, de biomas, ali um sonho brotou. E surgiu o desejo de lutar para preservar a bela vista para as crianças e as gerações de amanhã. O sonho nasceu no mundo das ideias, num coração de um poeta. Nasceu também nos corações de vários professores. Depois estudantes, pescadores, políticos, religiosos e das crianças. Era um sonho agora coletivo, engajado, buscado e dolorido. Críticas destrutivas todos nós sofremos. Prisões, agressões no corpo, intimidação de morte, incompreensões. Foi duro sim, porém, gratificante. Lutamos e lutaremos ainda com fé, esperança e amor para ele. O amor ao nosso rio, ao açude, aos morros e ao igarapé; as palmeiras, o cerrado, as nossas nascentes. Aos
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passarinhos e todos os animais. O amor às pessoas e às gerações de crianças vindouras. Em dar-lhes o direito de beber água saudável. Nadar em rio limpo. Açude cheio.
O direito de se ver o verde claro e escuro dos morros. O direito de dar terra para os pobres. Para eles cultivarem o pão e manterem as suas vidas. O direito de vivermos numa cidade limpa, com canteiros de flores e arborizantes praças. E estes direitos serão possíveis apenas com sonhos, engajamentos, buscados na luta e na coragem. Motivados na fé em Deus, Senhor da terra e Senhor de toda a vida.
É criada a Área de Proteção Ambiental dos Morros Garapenses. Decreto 25. 087 de 31 de Dezembro de 2008.
É criada a Área de Proteção Ambiental dos Morros Garapenses, pois o cerrado brasileiro está ameaçado. E dentro da Área de Proteção Ambiental dos Morros Garapenses eles serão protegidos.
É criada a Área de Proteção Ambiental dos Morros Garapenses. Uma unidade de Conservação de Uso sustentável. Nós queremos a sustentabilidade em Buriti, em Duque Bacelar, em Coelho Neto e Afonso Cunha.
É criada a Área de Proteção Ambiental dos Morros Garapenses, pois temos a maior floresta de fosséis vegetais do Maranhão, e eles devem ser protegidos.
É criada a Área de Proteção Ambiental dos Morros Garapenses para manter a biodiversidade na bacia hidrográfica do Baixo Parnaíba e Alto Munim.
É criada a nossa APA. Agora vamos recuperar os ecossistemas degradados, com corredores ecológicos. Reinserir a flora e a fauna perseguida, degradada e diminuída. Vamos plantar milhões de árvores.
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É criada a APA dos Morros Garapenses e uma nova história regional começa ser escrita, cujos protagonistas são os cidadãos comprometidos pela vida de todos os seres vivos, comprometidos com essa e todas as gerações vindouras.
Amigos e conterrâneos aqui é a nossa terra. Na APA dos Morros Garapenses nossa história continua com novas expressões. Foi neste chão que nossos avós e pais se fixaram e lutaram pela vida. Eles lavraram o solo, extraindo o sustendo preciso. Nós somos fruto de tudo isso. Crescemos vendo estas paisagens, sendo influenciados por seu clima, seus rios e riachos. Nosso passado, presente, nossa vida está unida aos nossos torrões. Foi aqui que conhecemos a Deus, uns aos outros e construímos nossos sonhos pessoais e coletivos.
Apartir de hoje esse sonho APA dos Morros Garapenses passa ser uma realidade. Peço que todos caminhem a grande e longa vereda dele, onde as próximas gerações também caminharão, e fazendo, amem e valorizem a vida do ser humano e de todos os seres viventes, as plantas, animais, as nascentes, os riachos, os rios, construindo a felicidade regional sustentável.
Obrigado
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UM ANO DE CRIAÇÃO DA APA DOS MORROS GARAPENSES
Proferido em 17 de Março de 2010, na Audiência Pública com
a Comarca de Coelho Neto sobre Meio Ambiente, no Salão da
Paróquia de São José, Duque Bacelar.
Recentemente na minha leitura de cabeceira, li de
James Lovelock, que segundo a crítica ficará na história como o
cientista que mudou nossa maneira de ver a terra, as seguintes
palavras:
- “Imagine meu assombro e alegria quando soube que
meu desejo de ver a terra do espaço seria em breve atendido e
que veria, do céu acima do Novo México, a esfera de um mundo
em toda a sua glória. Em um ato de esplêndida generosidade, Sir
Richard Branson criou à mágica e já fundou sua própria
companhia espacial, a Virgin Galactic, para torná-la possível. Seu
aperfeiçoamento definitivo, o voo ao espaço, permitirá que eu
escape por alguns breves minutos da introspecção dominante da
vida no século XXI e compartilhe aquela sensação transcendental
dos astronautas de que nosso lar não é a casa, nem a rua, a
cidade, nem a nação onde vivemos, mas a própria terra”.
E James Lovelock em palavras escritas pergunta:
- “Há alguma necessidade de ver a Gaia, o único planeta
vivo do sistema solar? Importa, sim, e mais que qualquer outra
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coisa: temos de vê-la como ela realmente é, porque nossas vidas
são inteiramente dependentes da terra viva. Não poderíamos
sobreviver um instante sequer em um planeta morto como
Marte, e precisamos entender a diferença”.
E o cientista que nos fala continua a dizer:
- “Se deixarmos de levar nosso planeta a sério, seremos
como crianças que acham que seus lares estarão sempre lá e
nunca duvidam que o café da manhã inicie o dia; assim nós não
perceberemos, enquanto desfrutamos de nossas vidas cotidianas,
que o custo de nossa negligência poderá em breve causar a
maior tragédia já vista na história da humanidade. Se isso
acontecer, como é provável, teremos sido nós os humanos, a
causa.”
A tragédia que Cameron se refere é o Aquecimento
Global. A destruição das florestas para produção de alimentos, a
criação de bois e demais bichos de consumo, junto com a
emissão de gases poluentes pelas fábricas e pelos automóveis,
atrelado ao crescimento da população, que quer consumir,
consumir e consumir bens e produtos estão destruindo a terra, o
planeta onde vivemos.
E ela, por seu um planeta vivo, reage (e todos nós
assistimos pela televisão) e já sentimos aqui mesmo, em nossa
região as consequências do aquecimento planetário. Tentar, ou
renegar a questão, fechar os olhos diante do óbvio, é tolice.
Destruímos no passado as nossas florestas, e sistemas vivos do
planeta, que se interligam e comungam, e continuamos fazendo
aqui e ali, e a maioria das pessoas, igual manada de bois ao
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matadouro, cegas, ainda não compreenderam que a morte e a
destruição são certas e eminentes.
Amigos, afirmo, que o rincão da terra no qual habitamos
e lutamos pelo pão diário, é em Duque, Coelho Neto, Buriti e
Afonso Cunha, hoje APA dos Morros Garapenses. Essa é a nossa
parte do Globo no qual nos apoderamos e estamos destruindo.
No passado, de forma espantosa para essa população, nossas
florestas de babaçu e milhões de árvores do cerrado foram
degoladas, exterminadas, e de colheita em colheita, foram
jogadas em fornalhas de fogo ardente. As muitas nascentes que
formavam nossos riachos foram soterradas. As matas ciliares
delas, arrancadas sem pudor. O original, o nativo da flora,
substituído pela bamburia vulgares, o bambu; pela cana de
açúcar e o eucalipto. O nosso belo rio Parnaíba passou também a
receber o vinhoto, lixívia e demais agrotóxicos. O nosso solo,
contaminado, fez com toda vida se contaminasse. Agora, todo o
cerrado de Buriti é exterminado, se torna carvão para
brevemente, segundo dados da Convenção das Nações Unidas
de Combate a Desertificação, virar um deserto no leste do
Maranhão.
Também em conjunto: queimadas horripilantes; caça
predatória e inescrupulosa, sem respeito e apreço à nossa fauna;
juntando-se ao desmatamento, o latifúndio, a concentração de
terras, a destruição da agricultura familiar; o êxodo rural de
milhares de pessoas; a corrupção nos sindicatos, nas associações,
nas prefeituras e nos legislativos destes municípios, são esses os
legados que no passado se deixaram para minha geração, a nós,
a população. Fez-se, faz-se ainda hoje. Não se pensa na vida com
dignidade. Não se pensa em servir Deus no próximo, nos
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cuidados com a sua criação. Pensa-se apenas no dinheiro, esse
deus vazio, inflacionado, volúvel.
Neste cenário, a democracia, a educação, as
informações e a capacidade de pensar, porém, passaram a
preponderar na mente de muitos aqui. E dentre as muitas
reações para combater as ações de destruição dos ecossistemas
naturais nossos, surge um Movimento Ambiental sério,
comprometido, interligado e engajado. Dos montes garapenses
pessoas se uniram com fé no Deus da criação, em um sonho,
numa luta de conservação e sustentabilidade. Nós decidimos
lutar e pensar no modelo de desenvolvimento para nossos
municípios que implica em respeitar a criação e a dignidade das
pessoas. E não teremos medo de continuar defendendo esse
modelo. Nosso fundamento está em Deus, em nossas
consciências e no amor aos nossos torrões.
Assim, pedimos aos companheiros perseverança em
nossa causa e na luta empenhada. Sejamos originais, firmes
como raízes profundas. Sejamos, no usar a analogia de uma
marcar de bebida, Coca-cola original, jamais refrigerantes light.
Nesta batalha pela sustentabilidade, ser light é ser
descomprometido com a vida da criação, com a honestidade de
consciência e a dignidade das pessoas.
Permanecemos originais. Lutemos com determinação e
metas. Busquemos nossas realizações e resultados na defesa dos
nossos ecossistemas e biomas ainda de pé.
Hoje trabalhar pela preservação e a sustentabilidade em
Duque Bacelar, Coelho Neto, Buriti e Afonso Cunha, é estar em
sintonia com o restante das pessoas boas que pensam e agem
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não somente no local, mas agem em prol de todo planeta terra.
A nossa casa é a terra, que se interliga e necessita de
preservação dos biomas e ecossistemas regionais. Portanto, é
preciso compromisso dos empresários do Grupo João Santos
com essa verdade. A terra é viva. É preciso compromisso dos
Prefeitos das nossas cidades garapenses. E o Estado deva manter
e de fato querer, hoje, dentro da realidade da APA, aplicar uma
política de sustentabilidade de recuperação das áreas
degradadas, com um planejamento sério e rigoroso, com o ICMS
ecológico, fiscalização e punição aos crimes ambientais de ontem
e de agora.
Para isso contamos com a imparcialidade e atuação
cada vez mais das promotorias. E com a sociedade civil
organizada, esclarecida, independente, emancipada.
É preciso que o povo decida não apenas no voto, mas
decida em acompanhar e fazer políticas públicas em todas as
áreas, principalmente, como levante preciso, agora, em políticas
ambientais sustentáveis.
Pensando nas pessoas presentes e nas futuras.
Pensando hoje no planeta terra, nossa casa azul e verde, com
todos os seres viventes que habitam e se interligam com ele.
Que Deus, o Criador, nos ajude nessa missão.
Meus obrigados
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O PODER PÚBLICO E A COLETIVIDADE NO DEVER DE
CUIDAR DO MEIO AMBIENTE
Proferido dia 10 de Fevereiro de 2010, em Audiência
com o Ministério Público e a Comunidade, no Salão
Paroquial da Igreja Católica, em Duque Bacelar.
Então, a humanidade percebeu nos dois séculos de
industrialização que o derrubar florestas; poluir rios, lagos e o ar,
como levar à extinção animais e formas diversas de viventes do
planeta, são ações que destroem a si mesma, pois tudo no
planeta se interliga, e depende do funcionar sistemático de cada
ser. Principalmente das árvores de todos os biomas, seja
amazônico, atlântico, do cerrado ou caatinga.
E é das nascentes, dos rios e reservatórios que
extraímos o líquido de beber para existirmos e desenvolvermos
no trabalho todos os produtos.
Antes, aqui na Garapa, tínhamos invernos abundantes, e
nossa terra produzia bens sem veneno. Éramos mais apegados à
simplicidade e o natural das coisas. Depois, com a Norpasa, a
Cepalma e o grupo industrial João Santos, as terras foram
monoculturadas e vendidas para se produzir cana de açúcar,
bambu e criar boi. O povo ficou sem terra, e essa passou a ser
envenenada. As florestas de babaçu foram derrubadas; e as
nascentes soterradas. O nosso rio começou a receber
agrotóxicos diversos e vinhoto. Seus peixes contaminados, e as
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matas ciliares dele e dos riachos e lagoas destruídas. E se antes
as águas destes ecossistemas eram naturalmente preservadas o
ano todo, de inverno em inverno, passaram a secar nos verões,
até virarem terra e pó. Ocorreu, principalmente, pela destruição
das florestas de babaçu, do nosso cerrado, das nascentes e
matas ciliares. É triste também afirmar que os animais foram
extintos.
Com isso, a fome, a pobreza que se fez, obrigou o êxodo
e o exílio dos filhos deste lugar.
Sim, aqui no Garapa existiam destruições. No mundo
existiam destruições generalizadas. E as pessoas aqui e no
mundo perceberam isso, e começaram a agir. No mundo, apartir
da década de 50, os grupos em prol da natureza começaram a se
organizar, se incorporaram no movimento dos hippies. Na
década de 70 do século XX, os cientistas, industriais,
governantes, jovens, religiosos, intelectuais iniciavam de forma
decisiva, explodindo em todos os cantos o Movimento
Ambientalista. Era um fato, tanto as formas capitalistas como o
socialismo, ambos materialistas, que na verdade só objetivavam
de fato o lucro e o armamento, exauriam os recursos da terra de
forma predatória. Assim ela morria, e nós e os demais seres
vivos, todos perceberam, morreríamos juntos. E começaram as
discussões, os debates, as políticas, as mudanças e o pensar de
um novo modelo de desenvolvimento, agora sustentável,
respeitando a terra e a vida.
No Garapa o Movimento Ambiental amadureceu,
adquiriu um corpo forte em 2003, quando um grupo de mais de
dez pessoas fundou a ABAMA. Antes, embora nossas ações
fossem exitosas e esporádicas, agora elas seriam socialmente
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organizadas e planejadas. E trazemos metas para isso.
Primeiramente, lutar pela criação de uma área de proteção
ambiental; depois lutar pelo desenvolvimento sustentável,
recuperando os destruídos e preservando o que ficou de pé, o
que de vivo ainda existia de ecossistemas. O nosso primeiro
sonho se realizou, sem antes, porém, vivermos muitas lutas,
suor, orações e preconceitos dos adversários dessa causa e do
sonho. E agora o nosso segundo sonho, se faz, é meta definitiva,
e durará no continuar de nossas vidas inteiras. E assim o estamos
seguindo, e sofrendo, continuando sendo perseguidos e
discriminados por isso. Mas também temos bons aliados, e
somos ouvidos e respeitados. Isso é inegável.
Hoje, no Maranhão e no Brasil, os ambientalistas do
Garapa que lutaram pela criação de uma Unidade de
Conservação são ouvidos. Eles têm espaço e legitimidade, pois
foram e são honestos na defesa do rio Parnaíba, do cerrado, das
nascentes e dos Morros Garapenses. Os ambientalistas do
Garapa foram corajosos. E isso lhes deu acentos em cadeiras de
várias agremiações verdes, e nossa voz é chamada para ser
ouvida, desde a Secretaria Estadual ao Ministério de Meio
Ambiente. Temos voz, temos dignidade para expressá-la; temos
uma história e uma causa. E ninguém pode nos tirar isso ou
querer que deixemos nossa causa por dinheiro, status em
governo temporário ou nos impor ameaças e limitações em
nossa luta sincera pela vida das pessoas de nossa comunidade,
implicando, necessariamente, os cuidados de suas nascentes,
dos riachos e lagoas; em cuidar e preservar o nosso rio. Implica
também defender o cerrado e nossa caatinga, e os nossos
Morros Garapenses, com sua fauna, pois tudo isso faz parte de
nós e nos pertence.
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A segunda etapa de nosso sonho é o desenvolvimento
sustentável em toda APA dos Morros Garapenses, recuperando
tudo que nos foi tirado, desde a terra para nossos agricultores,
até a recuperação da última nascente. E não, jamais poderemos
desistir deste sonho.
E aqui estamos. Temos uma voz e uma causa. E
acreditamos que essa causa não é somente da ABAMA, da
Colônia dos Pescadores Z-90; da Noemi, de Seu João Cesário,
Bernada, Vandinho, Rutinha, Euene, Rosimar e do Francisco
Carlos. A causa pelo rio Parnaíba, as lagoas, o açude da Vargem
Redonda, o cerrado, os babaçuais, os Morros Garapenses; nossa
fauna e ecossistemas,é do promotor André Luis, do Prefeito
Flávio Furtado, do Vice Jorge Oliveira; dos vereadores dessa
cidade, seus líderes religiosos, sindicais e sociais; dos artistas e
jovens; da polícia, dos estudantes e das crianças. É da população
toda e dos governos. Portanto, exigimos, e educadamente
também pedimos, e afirmamos, todos devem se envolver. Todos
devem mudar suas ações predatórias no uso dos recursos
naturais.
Assim, é preciso fazer política pública séria e
comprometida pelo Meio Ambiente nesse atual governo que
elegemos. É preciso fazer. É preciso ter um espaço, uma equipe
preparada, desenvolver projetos e ações para se recuperar o que
fora destruído em anos, e não destruir ou querer desestimular
quem quer construir.
Devemos fazer sim, todos. É mais do que dever, é
obrigação e missão. Fora Deus quem criou os ecossistemas, e o
rio, os animais, as florestas e os morros garapenses. E Deus criou
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e nos fez mordomos de sua obra foi para cuidarmos dela,
preservá-la.
A ABAMA não pode mais levar nas costas sozinha todos
os problemas e os conflitos, as ameaças ambientais. É muito para
se fazer. E o número, infelizmente, dos que querem destruir, é
maior do que os que querem preservar. E estes ainda nos
ameaçam.
A terra não suportará mais. Envolvamo-nos
definitivamente. Evitemos o aquecimento global, agindo aqui;
cuidando de nossas florestas locais, recuperando também o
destruído, refazendo o devastado, buscando um
desenvolvimento justo, agregador e sustentável. É esse o nosso
lugar. Todo o planeta é a nossa casa e pedimos que cada um
aprenda cuidar dele.
Obrigado.
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Dez anos de Fundação da ABAMA
Proferido no aniversário de dez anos de fundação da Associação Bacelarense de Proteção ao Meio Ambiente, em 23 de Dezembro de 2013, no prédio do FUNDEC, Duque Bacelar.
MEUS amigos,
Inicialmente gostaria de agradecer ao Criador, nosso Deus, por ter nos proporcionado diversos momentos ao longo destes dez anos de existência da ABAMA, cuja somatória nos deu muitas vitórias, satisfação da missão cumprida em favor do meio ambiente. Também queria agradecer os meus pais. Foram eles que ao longo destes anos, quando vivendo em Duque, estando desempregado e sem oportunidades de ocupar um cargo público, devido às minhas criticas ao sistema da corrupção, me apoiaram, dando condições de continuar o trabalho voluntário em prol da natureza.
E continuando os agradecimentos, quero dizer aos meus companheiros de sonhos e lutas, nesta belíssima jornada pela proteção de nossas belezas naturais, e nossos ecossistemas, que sem vocês nada seria possível de se fazer, e nunca chegaríamos a completar dez anos. Hoje comemoramos dez anos de ABAMA, e como abamistas nos sentimos ainda cheios de muitas forças, vitalidades e firmezas de propósitos, no ideal de trabalharmos pela conservação.
Quando em Dezembro de 2003 nos reunimos para fundarmos a Associação Bacelarense de Proteção ao Meio Ambiente, uma síntese de várias ações outrora executadas pela
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vida habitável de nossa terra vinda de um movimento ambientalista; sabíamos bem que o caminho que então trilharíamos civilmente organizados, seria feito com passos mais firmes. E de fato, podemos concluir que essa foi a atitude mais certa. Se nosso movimento não tivesse adquirido uma identidade, se transformando numa instituição legal, com objetivos e metas, nunca teríamos feito tanto pela vida das pessoas e dos seres vivos de nossa terra.
Nestes dez anos da ABAMA podemos resumi-los em serviços, parcerias, realizações e conquistas sustentáveis. Nunca um pequeno grupo civil fez tanto por nossa comunidade, mesmo tendo poucos recursos. Gostaria de convidar a amiga Rosinha Gomes para ler comigo uma relação de ações e conquistas da ABAMA nos dez anos para compreendemos melhor a satisfação desse evento. Vale muito citarmos diversas dessas realizações.
Em área de Educação e formação Ambiental a ABAMA:
1 - Dirigiu durante alguns anos o programa “Preservar”, na rádio comunitária São José. Sendo o programa o primeiro de conscientização ambiental na cidade e na região; 2 - Realizou diversas palestras em escolas para os estudantes e na comunidade em geral sobre ambientalismo, preservação do rio Parnaíba e dos ecossistemas da região; 3 – Organizou, em parceria com o Ministério Público (na gestão do Promotor Douglas Nojosa e André Luis) diversas audiências contra caça ilegal, queimadas e pesca predatória e destruição da vegetação nativa dos Morros Garapenses Urbanos; 4 - Organizou em parcerias com as escolas estaduais e municipais da cidade nos anos de 2004, 2005, 2007, 2008, 2010 a Semana Mundial do Meio Ambiente, tendo diversas atividades educativas, esportivas e limpeza das ruas da cidade com os estudantes; 5 - Realizou diversas caminhadas ecológicas pelas trilhas dos Morros Garapenses Urbanos, e na região dos lagos com estudantes e a comunidade.
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Em parcerias com a ONG A Rocha Brasil e AMAVIDA a ABAMA:
1- Organizou as Oficinas de Educação e Mobilização Ambiental e Social com as Igrejas Evangélicas e Católica de Buriti, Duque Bacelar, Coelho Neto e Afonso Cunha, nos anos de 2009, 2011, 2012 e 2013, nas sedes das cidades de Duque Bacelar e Coelho Neto. Em 2012 e 2013, com as lideranças evangélicas e católicas em Coelho Neto realizou dois cafés buscando apoio nas questões ambientais; 2 - Nos anos de 2010 (em Recife - PE), 2011 (em Brasília-DF), 2012 (em Manaus AM), 2013 (Fortaleza-CE) nos Encontros da Rede Nacional Evangélica de Ação Social – RENAS – a convite e em parceria com A Rocha Brasil, em reuniões de planejamento e representando o Maranhão e a APA dos Morros Garapenses; 3 - Em parceria com a ONG AMAVIDA, beneficiou a comunidade do Paissandu, implantando o “Projeto Olha D´água”, dando oficinas de Educação Ambiental, capacitando um jovem em técnica de viveirismo e construindo um viveiro de produção de mudas nativas. Embora hoje o viveiro esteja desativado por abandono da comunidade, alguns frutos do Projeto ainda se colhem.
Participação em Trabalhos Estaduais, Nacionais e Mundiais:
1 - Em Setembro de 2007 participou do 2º Jubileu da Terra, na cidade de Belo Horizonte-MG, com uma exposição sobre os fosseis recém-descobertos e a criação da APA dos Morros Garapenses; 2 - Esteve em Março de 2008 da III Conferência Regional de Meio Ambiente (em Caxias-MA, com 17 pessoas), da III Conferência Estadual do Meio Ambiente (em São Luis, com 9 pessoas), e conseguindo uma delegação para III Conferência Nacional de Meio Ambiente (em Brasília), em Maio de 2008; 3 - em Agosto de 2008, o então Presidente da ABAMA, a convite do Ministério do Meio Ambiente, esteve em Brasília discutindo um programa nacional de Educação Ambiental; 4 - em
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Janeiro de 2009, em Belém do Pará levou uma caravana de 27 pessoas da região para o Fórum Social Mundial, participando de palestras, passeatas e proferindo uma palestra sobre a APA dos Morros Garapenses pra gente do mundo inteiro; 5 - Em Novembro de 2009, seu Presidente a convite do ISER, esteve no Rio de Janeiro participando de um Encontro Internacional de Lideranças discutindo Mudanças Climáticas; 6 - Participou da III Encontro Nacional de Educação Ambiental em João Pessoa na Paraíba, em Outubro de 20012; 7 - Participou em Novembro de 2012, em São Luis, com 10 delegados da região do 15º ENCOB - Encontro Nacional dos Comitês de Bacias Hidrográficas; 8 - Em Junho de 2012, organizou com demais parceiros o mais organizado grupo do Maranhão, uma caravana de 46 pessoas da APA dos Morros Garapenses, indo ao Rio de Janeiro participar da Conferência Mundial das Nações Unidas RIO+20.
Leiamos mais dez realizações alcançadas pela ABAMA durante esses anos:
1- Fez parte do CIEA - Conselho Interinstitucional de Educação Ambiental do Maranhão, no mandado de 2008 e 2009; 2 - Na descoberta dos fósseis em Duque Bacelar, no qual a ABAMA foi a responsável e é guardiã, a TV Mirante gravou em 2007 o Programa Mirante Reporte, com o jornalista Cid Pereira. Esse foi o primeiro programa de televisão retratando Duque Bacelar; 3 - Alguns jornais do Estado e Nacionais fizeram reportagens de seus trabalhos. Cita-se O Estado do Maranhão, Jornal Pequeno, e O Batista Brasileiro; 4 - Em 2011 a Editora Ultimato, uma das mais importantes do Brasil no segmento Evangélico, publicou o livro, “Assim na Terra como nos Céus”, prefaciado por Marina Silva, onde no último Capitulo “Pequenas histórias, grandes realizações”, conta a história da ABAMA em Duque Bacelar; 5 - Em 2012, a Editora Convicção, do Rio de Janeiro, publico o livro “Serviço Social Cristão ”, onde no capítulo “Depoimentos para Inspirar e Desafiar”, a história e luta ambiental da ABAMA foi narrada; 6 - Sensibilizou em audiência
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nas eleições de 2008, junto aos candidatos à prefeitura de Duque Bacelar, a necessidade de Criação de uma Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Sendo a mesma criada no começo da gestão do Prefeito Flavio Furtado; 7 - Organizadora de diversos Protestos e Manifestos para a preservação do Meio Ambiente, sendo que um dos mais marcantes, em Agosto de 2007, onde lideramos com os estudantes, vereadores e a comunidade em geral, o fim da destruição, barrando, na ladeira do Olho D’água os tratores do Grupo João Santos, que desejava destruir a vegetação do local; 8 - Apoiou e motiva com os demais parceiros, através de feijoadas, e encontros à organização dos poetas, escritores e músicos numa Associação e Academia de Letras regional; 9 - Com a criação da APA dos Morros Garapenses , foi eleita Vice-Presidente do CONANG - Conselho Estadual da APA dos Morros Garapenses, nos mandados de 2010-2011; 2012-2013; 10 - Porém a mais marcante de todas as realizações da ABAMA - Associação Bacelarense de Proteção ao Meio Ambiente, foi sem dúvida, o sonho belo e trabalhoso, a Criação da Área de Proteção Ambiental/APA dos Morros Garapenses, pelo Decreto Estadual 25. 087 de 31 de Dezembro de 2008. A maior contribuição que um grupo civil socialmente organizado deu à vida não somente das pessoais da região, mas das plantas, dos animais, dos rios, lagos e igarapés.
Como afirmei poucos foram os grupos sociais locais que fizeram tanto por nossa terra. Isso se deu, primeiramente, devido à brevidade das suas existências. Ao longo de nossa história civil surgiram alguns movimentos nas áreas da cultura, da filantropia e das Igrejas, mas pela falta de permanência, metas de longo prazo e principalmente lideranças firmes e comprometidas, tais grupos não duravam nem três anos. Segundo, esses grupos não sabem separar as lutas por políticas públicas e lutas políticas pelo poder local. Dentre os seus movimentos os integrantes criavam separação e facções entre os que eram favoráveis e contra o prefeito. E nesta situação,
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fragmentados, desunidos, seus movimentos, com os recursos humanos necessários para bem funcionar estando destruídos, acabavam, e nada faziam. Algumas pessoas quando são amigos políticos do prefeito ou estão no poder, esquecem que isso é passageiro. E ao pensar que durará muito o poder prefeitural, estando em movimentos sociais ou fundados por eles, acham que tais movimentos permaneceram apenas com o aval do prefeito local, e assim tentam influenciar e até liderar. Triste engano.
Uma das regras da ABAMA é a separação da política pública que lutamos da agremiação partidária política. Em nossa agremiação todos podem (e devem) ter sua predileção política partidária, mas com atitude madura e sábia. E estando no poder seja qual for a instância dele, não poderá usar sua posição para perseguir ou prejudicar nossa causa. Se assim fizer tal pessoa é convidada a deixar nossa camaradagem ambiental. E temos nestes dez anos pessoas que agiram assim.
Afirmo que esse é um dos grandes problemas das pessoas que possuem o poder em Duque Bacelar. Elas pensam que um poder de quatro anos durará uma eternidade. Logo, tendo maldade no coração, perseguem pessoas inocentes, cidadãos de bem, e até quem um dia foram amigos deles.
Acima de tudo, porém, o que fez a ABAMA permanecer estes dez anos trabalhando para melhorar a realidade local, mesmo com poucos recursos financeiros e poucas pessoas, dando de fato significativas contribuições, foram três virtudes que o Apóstolo Paulo ensinou que são essenciais na vida: a fé, a esperança e o amor. Essas virtudes desenvolvidas na vida dos ambientalistas da ABAMA que permaneceram firmes, convictos com os sonhos ambientais sustentáveis, trabalhados em alto preço ao longo dos anos, foram as chaves de nossos sucessos, de nossa permanência.
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Essa nossa fé primeiramente era em Deus, nosso Criador. Como cristãos ao regermos o documento que nortearia nossa organização, deixamos isso enfatizado. E assim, tendo fé no Criador, orávamos, pedíamos forças e ajuda nos trabalhos em favor da criação. E Ele nos ouviu. Nós tínhamos fé também em nossos amigos. Acreditávamos na capacidade de em grupo, como individualmente protegemos o meio ambiente. Acreditávamos no sonho de criação da APA dos Morros Garapenses. E essa fé nos fazia avançar. Ela nos tornou vitoriosos.
A nossa esperança nos encheu de entusiasmos e motivação para a realização do sonho da criação da APA. Trabalhamos por isso, nunca desistimos. Os críticos diziam que esse sonho não aconteceria, e quando ele aconteceu mandamos fazer um outdoor grande, e fixamos no centro da cidade: “APA dos Morros Garapenses, um sonho, uma realidade”. Sim, a esperança de realizarmos um sonho possível nos deu vida e entusiasmo para a ABAMA permanecer firme estes dez anos, onde tínhamos uma realidade social desmotivadora.
Entretanto, acima de tudo, foi o amor que tínhamos por Deus, em cuidar de sua criação; o amor pelas pessoas de nosso torrão natal que precisam viver com um ambiente saudável e preservado: a floresta que embeleza a cidade e mantém a umidade do ar; nosso rio Parnaíba que todos bebem e banham; o açude, as lagoas e o igarapé que pescam; o amor direcionado a eles, por tudo isso, no desejo de cuidar e guardar, foi o que nos manteve como abamistas unidos e firmes estes dez anos, trabalhando como voluntários por essas causas de vida. Sem amor nada poderíamos realizar.
Outra coisa meus amigos, já finalizando meu discurso, eu sei que não verei mais o rosto de muitos de vocês. O trabalho de tradutor e de vivência entre um povo indígena no qual estou adentrando durará uns vinte anos. E quando alguns de vocês
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partirem, como foi a Dona Conceição Miranda, longe estarei. Assim, aproveitando o momento de encontro e da fala peço que não deixem de acreditar em Deus e no seu Cristo, para que um dia, na morada celeste, vivendo nossa outra etapa existencial, possamos nos ver novamente.
Amigo querido estar com Deus, criador de tudo, é o nosso destino mais grandioso.
Obrigado a todos
E viva a ABAMA por seus dez anos.
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Discursos de Amizade:
memória e despedida
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O DISCURSO QUE NÃO PODE SER PROFERIDO NO DIA
Proferido em 18 de Abril de 1999, na Missa de 7º dia de falecimento de Francisca Leal Castello Branco
Quando a triste notícia do falecimento de nossa mui amada Francisca Leal Catello Branco chegou à minha casa, estava em meu quarto lendo e ouvindo as sinfonias de Beethoven. Ouvi suspiros se juntarem às sinfonias. Atônito, deixei a leitura, desliguei o gravador e nitidamente ouvi altos prantos de minha mãe. Subitamente, minha mente foi invadida por pensamentos de uma realidade que eu não queria saber. Saí do meu quarto, indo ao de mamãe. Ela estava no chão, chorando angustiosamente a perda de sua mais íntima amiga. Sentei numa cama, e em choros também, sentia a crucial dor da morte. Nos minutos seguintes meus irmãos e os vizinhos foram chegando, e minha casa se tornou um cenário dramático de lamentos.
O crepúsculo do dia estava se findando, e nós sentíamos a dolorosa separação. Umas sete horas fui à casa do Sr. Miguel Antero, ficando algumas horas ajudando na preparação da residência para a chegada do corpo que vinha de Caxias. Quando ele chegou à nossa cidade, às 01h10min da madrugada, o carro que o trouxera parou primeiro em nossa casa. Mamãe gritou tanto ao ver o caixão. O meu irmão Carlos Machado que veio de Coelho Neto, avisado da tragédia, minutos depois a levou de carro para casa de seu Miguel. Eu fui atrás, caminhando com minhas irmãs. Ao chegar, contemplei uma cena indescritivelmente dolorosa. Uma das minhas maiores amigas estava sem vida, dentro de um caixão.
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Velei a madrugada inteira o corpo de nossa amada. Quando a manhã chegou, às sete horas, fui com Flávio na fazenda Ana Maria atrás de um livro de poesia, que julgava conter um poema para incluir num discurso que pretendia escrever em homenagem a Dona Francisquinha. Entretanto, quando voltamos da fazenda, não consegui suportar a dor que a morte trás aos entes queridos. Minhas forças se esvaíram, esgotaram-se. E pela primeira vez na vida, eu desmaiei. Os presentes me socorreram; levaram-me para o hospital, o doutor Marcus de Andrade queria me hospitalizar, me dar um sonífero, mas eu não aceitei. Queria escrever o discurso e acompanhar o cortejo fúnebre.
Já em casa, com poucas forças, ainda esboçando os tópicos da elegia, ouvi uma voz da rua dizendo que a multidão se aproximava da escola Dr. Paulo Ramos. Deixei os rabiscos, pedi carona a um colega que passava de bicicleta na rua, e ele me levou até a escola. Ajudado pelo amigo Didi, segui todo o cortejo que seguiu até a Igreja e ao Julião. Assim não pude escrever naquele dia o discurso em homenagem à pessoa que marcou os meus vinte anos de existência.
* * *
Nascida em 8 de Março de 1939, na vizinha cidade de Miguel Alves, Francisca Leal Castello Branco desde criança foi mulher estudiosa. Ela fez seu primário em Chapadinha. Concluiu seu ginásio em nossa cidade em 1975 no maravilhoso colégio Bandeirante. Sua turma foi a primeira de toda a escola. Seus colegas a admiravam pela cultura e inteligência.
“Ela sempre se destacou pela cultura geral”, disse conceição Miranda, colega de classe, profissão e vida.
“Eu sabia bastante matemática e ela português. Quando estávamos fracas num assunto, ajudávamos uma à outra”, declarou Graça Cordeiro, a maior autoridade da disciplina em
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nossa cidade. Outras colegas do período eram Maria do Carmo, João Vilar, Joaquim Torres, Helena Sampaio; as saudosas Dona Lurdina e Gertrudes. Os professores eram pessoas cultas, como José Linhares, Rosemary Furtado, Mariza Coutinho, Conceição do Eurico, tantos outros.
Após terminar o ginásio, Francisquinha partiu novamente para Chapadinha fazer o normal. Concluindo-o em 1978, técnico em habilitação em magistério. Queria continuar os estudos e fazer faculdade de medicina. As circunstâncias, entretanto, a impediram de realizar seu grande sonho.
Voltando para nossa cidade, recomeçou o exercício de sua profissão. O amor, inteligência e criatividade envolvidas em seu ofício, a transformaram em um dos vultos de nossa história educativa e social. Ela dedicou sua vida, seus talentos à educação de nossas crianças, nossos jovens e adultos. Um bem que jamais será retirado da vida de milhares de pessoas que passaram por suas mãos.
No decorrer dos anos de profissão, ela lecionou várias disciplinas: português, didática, estágio, religião, artes etc. Encerrou sua carreira com filosofia, a ciência das ciências, a mesma que trabalhara há alguns anos. Sua última aula dada dois dias antes do incidente que a levou à morte, chamada “A existência da Reflexão Filosófica”, foi proferida com tanta sabedoria, que seus alunos, 40 ao todo, ainda pensam nos comentários ditos por ela. Uma das reflexões lançadas na aula foi a realidade da morte. Ela disse que nossa vida é tão incerta em relação a sua duração, sendo que podemos partir em qualquer hora. Falou que estava lecionando naquela noite de sexta-feira, mas na segunda-feira poderia não estar mais.
Por que justamente este tema?! Será que Deus estava lhe conscientizando de que seus dias findavam-se, e que a queria para si?
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Amigos presentes:
Devo, também, ressaltar a figura humana que fora Francisca Leal Castello Branco. Mulher humilde e servidora soube lavar os pés do próximo de uma maneira excepcional. Sempre compartilhou o que tinha com os outros. O dinheiro do seu trabalho era muitas vezes mais gasto com seu semelhante do que com ela mesma. Ao nos deixar, nos presentes dias, ajudava quatro famílias, dando-lhes constantemente o pão cotidiano.
Em 1992, ela se candidatou a vereadora. Seu propósito eleita era trabalhar com as crianças pobres de nossa cidade. Queria construir uma creche para abrigá-las e educá-las, porém, não conseguiu uma vaga no legislativo. Sempre nos dizia, em sua crença, ter sido eleita, mas o nosso sistema político sujo roubara os seus votos.
Digo-vos que essa cidade perdeu uma grande mulher, uma grande educadora, uma grande amiga. Ela amou essa cidade e sua gente, apesar de diversas vezes ser injustamente criticada, maltratada, incompreendida. Minha mãe perdeu uma grande amiga; sua maior amiga. Minha família perdeu aquela que foi sua mais sincera e leal companheira. Particularmente perdi uma grande amiga.
Dia 12 de Abril, data de sua partida para Deus. Neste dia completaram dois meses que voltei de São Luis. Desde o ano passado ela estava novamente passando mais uma das suas temporadas lá em casa. Os dois meses então fizeram nossa amizade se aprofundar muito. Tornamo-nos confidentes, nos respeitando mutuamente.
Dona Francisquinha foi minha professora alguns dias na primeira série do primário, supervisora de regência quando estagiei como professor em formação, no magistério. Ela também foi minha madrinha de formatura.
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O que contribuiu para nossa amizade eram nossos gostos comuns, desejos e comportamentos parecidos. Fomos os indivíduos mais criticados e taxados de loucos por muitos nesta cidade. Amávamos botânica. Trocávamos mudas de várias espécies de plantas; conversávamos sobre a fisiologia das mesmas, estudávamos as pétalas, as folhas e admirávamos o resplendor das flores, seus aromas e formosuras. Toda a natureza nos encantava: os animais, os rios, a chuva, o vento. Uma tarde singela e poética. Ela era uma das pouquíssimas pessoas na cidade com a qual se podia manter uma conversa intelectual. Um dia me contou que quando jovem, decorou o nome de todos os ossos do esqueleto humano. Também discutíamos sobre literatura, línguas, biologia, geografia, história, poesia, política e música.
Gostávamos dos clássicos: os concertos, as óperas, os cantos de corais, as músicas folclóricas e sacras. Ela tinha uma voz bonita, educada nos anos que cantara no coral da Igreja Católica de Chapadinha. Gostava quando cantava trechos de música em latim. Cantávamos juntos. O clássico “Ave Maria”, do compositor Franz Schubert e o popular louvor “Cantai ao Senhor um Cântico Novo”, em espanhol e português, eram as que mais gostávamos. Apesar de ser evangélico e ela católica, nossa amizade era ligada por Cristo, somente Nele.
Oh, que dor! Que saudades sinto agora de nossa Francisquinha. Ela só me chamava de Neném devido ser eu o mais novo de casa.
Ela foi uma mulher cristã, que dedicou sua vida a Deus; ao seu sobrinho Werdem, aos seus amigos e alunos. Nunca se casara. Quando criança perdera seu grande e primeiro amor. Ele partiu tão cedo para o outro mundo, lhe deixando marcas profundas. Rui, assim se chamava seu amado.
Praticou sua religião desde criança, e quando a morte montada a galope veio e levou minha amiga, como diz Carlos
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Drummond de Andrade, ela tinha acabado de ler a II leitura da liturgia do dia 11 de Abril de 1999, encontrada no livro de I Pedro, capitulo I, versículo 3 a 9, que diz:
- “Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo! Em sua grande misericórdia, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, ele nos fez nascer de novo, para uma esperança viva, para uma herança incorruptível, que não se mancha nem murcha, e que é reservada para vós nos céus. Graças à fé, e pelo poder de Deus, vós fostes guardados para a salvação que deve manifestar-se nos últimos tempos. Isto é motivo de alegria para vós, embora seja necessário que agora fiqueis por algum tempo aflitos, por causa de várias provações. Desde modo, a vossa fé será provada como sendo verdadeira, mas preciosa que o outro perecível, que é provado no fogo, e alcançará louvores, honra e glória no dia da manifestação de Jesus Cristo. Sem ter visto o Senhor, vós o amais. Sem o ver ainda, Nele acrediteis. Isso será para vós fonte de alegria indizível e gloriosa, pois obtereis aquilo em que acreditais: a vossa salvação. Palavra do Senhor.”
Juntamente com o texto bíblico ela fazia os seguintes comentários:
- “Não devemos acreditar apenas no que vemos. Temos que ter fé em Deus. Na vida acontecem muitas coisas que nos deixam tristes, mas através da fé renovaremos nossas alegrias, sorriremos e cantaremos. As coisas de Deus são eternas, não tem fim. O sol feito por ele dura para sempre. As coisas do homem acabam-se aqui. A lâmpada feita pelo homem acaba aqui. Devemos agradecer todas as circunstâncias que veem para a gente. Não vamos agradecer apenas o que achamos bom, mas sim o que acharmos o que é ruim também.”
Depois disso ela deixou o altar e foi para seu banco. Tentou sentar, mas foi atingida. Um derrame. Ela já vinha
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sentido sintomas de dormência e dores no corpo. O organismo avisando.
Amigos, sentiremos ainda muitas saudades de nossa querida Francisquinha. Contudo alegremo-nos com a esperança de que ela está com Deus. Ele disse para não me preocupar, pois ela está consigo.
Minha sobrinha Thaís, de quatro anos, vendo mamãe chorar, lhe disse:
- “ Não chore vovó. A Francisquinha tá no céu, cantando assim: ‘amém, amém, amém.’ Sim, agora ela canta um cântico novo na presença do Senhor ”.
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O ÚLTIMO DIÁLOGO ENTRE DOIS AMIGOS
Proferido na Fazenda Ana Maria, em 24 de Novembro de 2003
MEUS amigos
Esse é um momento muito triste: velamos um dos
nossos. É profundamente triste para dona Rosemery e seus
filhos; profundamente triste para Lia, esposa gestante de cinco
meses; e triste para os demais familiares, os amigos, nossa
comunidade a partida inesperada de José Furtado.
Particularmente, é triste para mim. Comecei desde 1995
uma amizade verdadeira com o Furtado. Ele era adulto, político,
um intelectual. Eu, um adolescente idealista, poeta, cheio de
sonhos sociais. À medida que essa amizade acontecia, em algum
momento, ele foi uma espécie de mentor político e confidente
para mim. Nós tínhamos excelentes conversas. Conversávamos
muito. Eu gostava muito de dialogar com Furtado.
Hoje de madrugada, no velar o corpo de nosso amigo,
escrevi uma pequena elegia, uma homenagem em poucas
palavras para ele. Eu peço desculpas a vocês nesta sala; mas em
fantasia, num monólogo, só se encontram eu e o meu amigo José
Furtado nesta sala. Ele está partindo, é a ultima vez que nos
veremos, é nosso último diálogo. Assim, preciso me despedir,
preciso falar o que sinto; o que está no meu coração:
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Furtado...
... agora todas as vezes que eu refletir a vida do
Mahatma, de Gandhi, e vê-lo marchando com seus seguidores
até Sabarmati, para nesta praia produzir o sal da liberdade do
seu povo. E vendo-o de pernas dobradas, teando suas vestes, e
mais impactantemente ainda: magro, em uma cela de prisão, em
dias e dias de jejum, em prol da independência da Índia,
saudosamente, lembrarei dos bons e construtivos diálogos que
mantivemos sobre este grande homem, no qual você me fez
conhecer com profundidade, e passei a admirar.
Gandhi! Gandhi! Esse nome produzido de seus lábios,
me mostra que és um homem bom. Que possuis boa índole,
altruísmo e fé. Fé em Deus e fé nos sonhos que partilhamos para
um dia se tornarem reais.
Os nossos sonhos pessoais, Furtado, eram e são
ambiciosamente coletivos. São sociais, nobres, se mesclam.
Sonho da terra nossa e de nossos pais ser arada, remexida de
norte a sul. E as águas do Parnaíba jorrando. Os campos
verdejantes, produzindo; e o homem de nossa terra feliz,
colhendo os frutos do trabalho honesto, do suor de seu rosto.
Onde saciará sua fome, alimentando suas crianças e
engrandecendo nosso torrão. Sonho este tão eloquentemente
defendido por você na Tribuna, no palanque e na roda de
amigos. Ele se popularizou por sua causa, e queremos continuar
construindo e seguindo. Como também o sonho de nossa terra
ser livre e guiada por homens que “tenham um pouco de Jesus
Cristo, de São Francisco, de Ghandi”; como você, verdadeira e
energicamente defendia. Homens com raízes fincadas neste solo,
comprometidos com sua gente e seu progresso.
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Furtado, rapaz, o golpe para os últimos momentos de
vida que Mahatama Gandhi recebeu para ir a Deus, foi da forma
que ele temia e esperava. Mas porque o seu foi tão inesperado?
Por que foi o mesmo que lhe fez tanto sofrer há 24 anos? O
mesmo que o levou a se tornar herói, ainda na adolescência, em
companhia de sua admirável mãe, e levar sua família a ser
qualificada profissionalmente, sendo cidadãos construtivos ao
país e um orgulho cultural e acadêmico para Duque.
Meu amigo este é nosso último diálogo. O último olhar
que o fito. Quero o olhar profundamente. Não deverá assim o
tempo apagar seu rosto jovem, belo, visionário e reflexivo em
mim. O tempo não será um vilão.
Até quando se formará outro admirador de Ghandi
neste lugar tão carente de homens com alma e espiritualidade,
cultura e amor para se juntar aos que continuam a caminhada do
sonho de ver o bem, a verdade e o progresso vencerem em
nossa terra?
Meu amigo, grande lacuna já estás fazendo.
Agora, vai. Vai ao encontro de Deus, de Cristo, de São
Francisco, de Abraão Lincoln, de Mahatma Gandhi.
Vai amigo. Em breve nos encontraremos de novo, pois a
morte é apenas outro começo de vida.
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UM ANO DE PARTIDA DE JOSÉ FURTADO
Proferido na Missa de um ano da partida de Furtado,
Novembro de 2004, em Duque Bacelar
Um ano passa tão rápido, e ao mesmo tempo tarda. Talvez
seja pelo passado que carregamos intensamente, que sempre e
constante vivemos no presente. O tempo presente que é cheio,
dia a dia, de fortes e intensas experiências e vivências -
marcantes - no qual nos fixam em momentos reais da existência
e nos levam a pensar e sentir o peso do real dessas vivências e
desse passado que se viveu.
Assim, nesta fala introdutória, um pouco filosófica sobre o
tempo, vos digo que há um ano nos deixou uma pessoa,
chamada Furtado, que vivendo conosco nos ensinou diversas
coisas. Nesse momento aqui no altar da Igreja Católica, no
momento real do agora vivido, gostaria de recordar e refletir o
que aprendi durante este ano da partida de Furtado. Poderia
discorrer sobre ele, fazendo um estudo biográfico seu; ou
mostrar o quanto ele foi importante para sua família, para nossa
terra e para seus amigos, juntando depoimentos. Mas o meu
coração e intelecto, que foram afetados e marcados por sua
amizade, vida e morte, desejam é compartilhar com todos vocês
algumas reflexões e palavras sobre os gestos simples, o perdão,
amizade e amor. Sendo nós povo de cultura emotiva, não
pretendo emocionar ninguém com um discurso e gestos
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eloquentes, cabível até em certos casos em discursos póstumos
e elegias afins.
Porém, quero mesmo é falar dos gestos e coisas simples,
repito, de perdão e do amor que em minha existência vivi com
esse amigo.
Quando na manhã do dia 24 de Novembro, nós a
comunidade, soubemos do falecimento de Furtado em Coelho
Neto, vítima de um ataque fulminante, mamãe pensando que eu
não sabia, veio chorando me avisar, que no banheiro trancado,
também chorava. Ao abrir a porta do banheiro, para dizer a ela
que sabia, vi seus olhos pequenos avermelhados, banhados de
lágrimas.
Naquela manhã, não pretendia de forma alguma sair de
casa, desejando ardentemente ficar sozinho. Mas imediatamente
tomei banho, e logo fui à casa de Seu Pedro Oliveira procurar
entender o que havia de fato acontecido. Nos olhares de todos
ali, como de todos os conterrâneos que se encontravam na rua,
o espanto e a tristeza nos olhos eram visíveis. Logo, amigos
começavam a relatar os últimos momentos vividos com ele em
Duque, os seus últimos gestos: o coração que desenhou na mesa
do bar do Bida com seu nome e de Lia (Furtado x Li); a confissão
dele ao vereador Gustavo dos sentimentos e desafios que
cresciam nele em ser pai. Lembrei também do último diálogo
que tivemos, dois meses antes na convenção do PPS. Ele se
dirigiu a mim e comentou algo sobre papai. Falou rápido, e nos
separamos. Como fora curto nosso último diálogo. Nós que
conversamos muito, longamente, em diversos momentos.
Depois disso, como ele estava mais morando em Coelho Neto, às
vezes que nos encontrávamos, ele sempre estava viajando de
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moto para essa cidade. Ao passar por mim, ele acenava com os
seus olhos marrões. E assim se comunicava comigo.
O mesmo dizia com tal olhar:
- Francisco Carlos, rapaz, como vai? Nós nunca mais
conversamos.
Como os olhos expressam sentimentos e mensagens, e
como eles são o espelho da alma, era o que sentia e entendia. E
foi isso que mais em mim ficou gravado nesse ano todo. Essas
foram as últimas ações dele em mim que dominaram as minhas
emoções e consciência. E esse gesto simples, a saudação com o
olhar, me ensinou mais uma vez, o quanto os gestos simples das
pessoas que fazem parte da vida da gente são o que
verdadeiramente toca, e marcam profundamente nossa
existência, assim que elas nos deixam. E o quanto isso é
importante.
Há alguns meses, em certa madrugada de insônia,
folheando páginas dos meus diários, encontrei vários relatos
descritos de nosso relacionamento. O começo da amizade em
1995, e os fatos dos anos sucessores, e lendo-os, fiquei bastante
tocado.
Gostaria de contar uma história encontrada, que nos diz
muito dele.
O muro da minha casa separava o seu frigorífico,
construído por ele para a venda dos frutos de sua produção da
Fazenda Ana Maria. Atrás do estabelecimento tinha um galpão
em que ficavam os frangos. Creio que com medo de ladrões,
mandou fixar pregos no canto do muro, onde eu subia certas
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noites para declamar poemas e fazer reflexões. Certa vez, sem
saber que no lugar pregos estavam fixados no muro, firmei forte
a primeira mão no muro pra subir, e senti só o rasgo dos pregos.
Em estado de protesto, propus falar com ele. E fiz. Leio sua
reação conforme escrito no diário:
- “Ele ouve educadamente, compreende e diz pra eu
solucionar o problema. Quando saí da casa de frangos, onde
mostrava-lhe o lugar dos pregos, após os relatos, ele toca em
meu ombro e me pergunta como ando. O gesto e a fala
demonstravam um reatar de laços, o refazer de amizade, pedir
alguma desculpa. Respondo que estou muito bem, saindo logo,
pondo um ponto final no encontro. Aliás, bastante positivo. No
quarto, toco bem alto clássicos de músicas populares em coro
para ele em seu lugar de trabalho ouvir e se deleitar, lembrando
que alguns gostos culturais nos identificam. ”
Nestes dias devido um incidente muito decepcionante que
ocorreu entre Flávio e eu, de cortar relações, ele que nada tinha
de culpado, acabou sendo privado de minha comunicação. Mas
ali, no gesto simples e humilde de tocar no meu ombro, e a
pergunta de como estava, ele refaz nossa amizade.
Existe um provérbio que afirma que ninguém vai longe
com amizades se não estiver disposto a perdoar os pequenos
defeitos dos amigos. E em certos graus ele sempre perdoava as
minhas falhas, nos momentos de conflitos que passamos, como
em 1998, onde fiquei meses com a relação cortada, quando
conclui que ele só havia se aproximado de mim por questões
políticas partidárias. Hoje, como antes, eu concluo que estava
errado. Ele foi amigo e maduro, suportando minha estupidez e
imaturidade, até por ser mais velho, diante do conflito.
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Certa vez, viajávamos. E num diálogo confidente que
tivemos (sempre em nossos diálogos tinha algo assim,
confidência e solenidade, pois ele era um intelectual
espiritualista, um homem que acreditava em Deus e no amor),
eu lhe confidenciei:
- Furtado, você é uma das pessoas que eu mais amo. Sua
reação foi apenas de agradecer e continuar dirigindo.
Assim, gostaria de finalizar falando sobre isso, de amor.
Quando o Furtado partiu, devido a ausência e dos diálogos
que vivíamos, e também por ter o rejeitado algumas vezes, fiquei
meses perturbado, com certo sentimento de culpa. Emocionado,
certa vez em falas com um amigo, revelei que o que me curava
era a certeza de saber que ele faleceu sabendo que o estimava;
que nossa relação de amizade era fundamentada em amor. E foi
nessa situação, nestes anos da minha existência, que minha
razão e consciência compreenderam mais uma vez o quanto é
importante dizer “eu te amo” para os seus. O quanto é
importante pronunciar essa frase, e mais importante ainda, viver
em gestos simples e heroicos a realidade desse sentimento.
Sei que para algumas pessoas aqui, devido ao preconceito
e o hábito cultural de não dizer para os seus que se ama, minhas
falas podem soar estranhas. Porém, para ele e para mim (e
também para muitos aqui) que seguimos a ideologia do amor,
isso não é incomum.
Amigos irmãos, conterrâneos, há um ano José Furtado de
Araújo, ou simplesmente, o Furtado, como se popularizou, nos
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deixou. Todos que conviveram próximos dele ou não, sabiam ou
descobriram o quanto ele foi significativo para nós e para nossa
terra. Ele sempre ficará marcado em nossa história pessoal e
coletiva. E na maioria das vezes ao recordarmos, sempre
lembraremos dele com doçura e amor, pois ele cultivou Deus e
as boas virtudes.
Findo afirmando que o Furtado foi um vencedor. Ele partiu
e deixou sua vida marcada positivamente em nós e no mundo.
Meu muito obrigado por me ouvirem.
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DISCURSO DE DESPEDIDA DAS CRIANÇAS
E DOS MEUS AMIGOS
Proferido na Praça Vicente Vilar, em Duque Bacelar,
na noite de 23 Julho de 2005, no encerramento da
Campanha Leitura nas Férias.
A vocês crianças leitoras, desejo com esse discurso me
despedir de vocês.
Durante esses nove dias de “Campanha nas Férias”;
durante vários anos de nossas vidas nos interagimos. Eu, o poeta
louco, o ambientalista destemido, o rapaz do sorriso
extravagante, amante das flores e dos livros e um dos
combatentes da corrupção deste lugar. E vocês as crianças de
Duque, que receberam meu amor, aceitaram minhas causas e
lutaram comigo para elas se fazerem reais e presentes em nosso
meio. Durante esses anos de lutas e trabalhos, vocês aceitaram
minha proposta de escalar os montes ao derredor da nossa
amada cidade para conhecermos a natureza, tendo a visão
panorâmica do Parnaíba, das ruas e das casas. Nós plantamos
árvores, apagamos fogos que maldosamente eram atiçados em
nossas matas; e saímos às ruas gritando em defesa da vida.
Vocês ouviram o meu chamado para proteger a
natureza e nos divertimos muito em nossas caminhadas
ecológicas estudando as plantas e animais e os pássaros de nossa
fauna e flora. As travessias no Igarapé, os banhos nas lagoas e no
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rio ficaram registradas em nossas memórias como lembranças
agradáveis. Além disso, vocês aderiram à questão da leitura
responsavelmente em relação a muitos adultos da cidade, que
diziam ser um besteirol ler; habitua-se na prática da leitura.
E fiz vocês lerem meses a fio para ganharem prêmios,
mas todos vocês receberam (e sabem disso) muito mais que
brindes e bicicletas. Vocês receberam conhecimento, cultura,
poesia, saber, mentes exercitadas e crescidas no mundo dos
livros – cheios de viajem e aventuras; emoções e mágica,
felicidades e informações. E enquanto muitos adultos criticavam,
achando besteirol; “falta do quer fazer” dentro de uma visão
capitalista, vocês e os vossos pais agiram no oposto. E eu sei que
vocês foram felizes se envolvendo nestas questões.
Quando eles tentaram me proibir de sorrir (e isso é um
crime), pois o sorriso era diferente, incômodo, alto, louco, vocês
desafiaram a todos eles e sorriram nas casas, nas escolas, ruas e
praças. E por causa disso organizamos a “Noite do Sorriso”, que
foi um sucesso de público e crítica. Organizou-se um evento para
a felicidade e o riso. E também nesse evento fomos felizes
reciprocamente.
Durante anos vocês foram minhas amigas e
companheiras. E eu lhes dei todo o meu respeito e amor,
consciente que as sementes que plantava germinariam em belas
flores ornamentárias; em bons tempos para nossa sociedade.
Crianças, na rejeição, preconceito, desrespeito de
muitos adultos, fiz-me criança com vocês, sabendo que só assim
contribuiria com a alegria de vocês. Espero ter conseguido.
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Estivemos juntos muitos tempos. Muitos hoje de vocês
adolescentes continuam nas atividades, o que é bom. Nesses
tempos estivemos exercitando cidadania e espiritualidade.
Vivendo fé e amizade. Contribuindo para melhoria de nossa
terra.
Agora vou me retirar integralmente da vida social de
vocês.
Os sorrisos e lutas aqui em Duque serão mais esparsos.
Minha ausência se tornará longa, durará meses, talvez anos.
Integralmente pausar-se-ão as leituras; as subidas ao Morro
Garapa; os protestos em favor da natureza e da vida.
Em corpo estarei mais ausente, porém, sempre presente
em espírito, oração e atenção. Agora pretendo trabalhar para
toda a humanidade. Meu trabalho aqui em prol da natureza, da
educação e da leitura, de cultura, do social, dos pobres e dos
trabalhadores, do combate à corrupção política e administrativa
será mais assistida; ajudada distante.
Não, eu não estou desistindo. Sou um homem de lutas
da vida toda. Só que agora, deixo de abraçá-los integralmente,
para abraçar e sorrir com a humanidade. É o meu desejo e a
continuação de minha missão. Torna-se preciso se retirar pra se
preparar melhor; estudar mais, conseguindo outros
companheiros pra nossa causa.
A todos os meus amigos.
Serei agora um amigo distante. Ainda alguns meses me
tornarei presente. Mas, depois anos separarão nossos olhares.
Digo-vos:
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Aqui é nossa terra. Foi aqui que nos conhecemos, e
vivemos, crescemos e criamos os nossos sonhos. Foi aqui que
conhecemos a realidade, e aprendemos a importância do amor e
da amizade. Temos, digo, muitos e sérios problemas. É preciso se
comprometer e agir para mudar. Ajudei fazendo algumas coisas.
Levantei questões que são boas para a comunidade. Peço aos
que ficarem, deem na medida do possível, continuação. É
preciso, urgente, combater a corrupção, o desrespeito e a falta
de transparência conosco, o povo, vindos do poder executivo,
legislativo e judiciário.
Sonhemos com a cidade limpa, limpinha. Os canteiros
de flores nas frentes das casas. Os morros e o rio Parnaíba
preservados. O prefeito honesto e trabalhador. As crianças indo
às escolas, aprendendo gostar de ler com os adultos. Os jovens
se desenvolvendo e mantendo hábitos saudáveis.
E acima de tudo, meus amigos, amem e conheçam a
Deus. Nosso Guia e Pai. Nossa força e amor. Nosso sentido da
vida.
Amem e perdoem. Faça de Duque algo melhor.
Estaremos juntos para realizarmos esses nossos sonhos.
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Discursos da Causa
Evangélica
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A MISSÃO DE FAZERMOS UM MUNDO MELHOR
Discurso na campanha da juventude católica
bacelarense em Novembro de 2000
Nos dias presentes, refletindo, olhando nossa realidade
local. Uma realidade onde a maioria das pessoas de nossa
comunidade, de nossos amigos, passa fome e são privados de
necessidades e direitos simples e vitais. Realidade humilhante de
professores e trabalhadores públicos, enganados e
desrespeitados pelo sistema do domínio local, onde nossos
jovens, em sua maioria, vivem como alcoólatras, em ociosidades
fúteis e entregues aos vícios, aos jogos, ao supérfluo; sem muitas
perspectivas, objetivos e sonhos. Eles estão distantes de Deus e
da fé.
Temos uma realidade de ruas sujas, os corruptos
prevalecendo e cada vez mais oprimindo os indefesos e os
pobres. E tal realidade, ultrajante e injusta que vejo, sinto e
denuncio; me oprime e me maltrata tanto, leva os meus
pensamentos a quererem desistir da luta por uma cidade mais
bonita. E ir embora pra longe.
Mas, nestes dias surge entre jovens cristãos católicos,
militantes da pastoral da juventude, um evento humano tocante.
Comove-me e me dá forças para continuar lutando e
trabalhando na construção da civilização do amor, que repudia
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os antivalores: o individualismo, o consumismo, a intolerância, as
injustiças, exclusão, corrupção e violência. O Reino feito com
uma sociedade sem opressão, onde a justiça e a paz se
abraçarão.
Amigos, me refiro ao Projeto Missão Jovem, cujo
objetivo pretende a partir de hoje trazer cultura, evangelizar e
levar a consciência de cidadania para nosso povo. Um projeto
que objetiva falar de Deus, do amor, companheirismo e
solidariedade; da felicidade que deve estar presente em nossas
vidas. Do dever de participação social, com os jovens despertam
para a fé e são agentes transformadores de nossa realidade,
onde os próprios jovens são oprimidos, não são ajudando a se
desenvolverem como cidadãos plenos.
Essa busca de um novo caminho, de um novo milênio
que agora discutimos, sem exclusão, deve, e como deve ser
sonhada em nossa comunidade. Vamos viver intensamente este
sonho e esta utopia de uma realidade social mais justa, fraterna
e de fé. Desejamos e queremos verdadeiramente viver Deus, a
solidariedade e sermos Igreja, sal e luz do mundo.
Meus queridos amigos católicos, essa é a tua, a minha, a
nossa missão.
A missão dos jovens e dos adultos; dos políticos e dos
professores.
É a missão de todos nós.
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DISCURSO DE FORMATURA DO BACHAREL EM TEOLOGIA
Proferido em 18 de Dezembro de 2012,
no Auditório da Escola Batista,
em São Luis - MA
Ao Emérito Reitor do Seminário teológico Batista de São Luis, Pr. Leandro Vinícius Tavares; ao Excelentíssimo Carlos José Lopes, Presidente da Junta Administrativa do Seminário Teológico Batista; ao professor Joel Ramos, professor homenageado, no qual saúdo os demais professores presentes; a minha irmã Rosa Machado, no qual saúdo os familiares presentes; aos amigos Anderson Gomes, José Ferreira Mesquita, Juan Pablo Gouveia e Nádia Kely Tavares, formandos, no qual saúdo a todos os nossos amigos.
Então nos formamos. Nós os seminaristas da turma de
2011 do Seminário Teológico Batista de São Luis. E nesta noite de
Ação de graça, com louvores e alegrias, coroamos nossa vontade
e um sonho, no qual acreditamos ser também a vontade e sonho
de Deus para nossas vidas.
Enfim, no usar do verbo na primeira pessoa, eu me
formei, depois de cinco anos e meio em Seminários Teológicos.
Fui o aluno que mais teve aulas, talvez até mais que gastou para
concluir o bacharel. Por algumas razões tive que prolongar o
curso um ano e meio. Entretanto, não estou arrependido, nem
tão pouco lamento. Não lamento ter subido, principalmente, nos
dias mortos de cansado das diversas ocupações diárias, as três
sacadas de escadas do prédio da escola Batista, enfatizando a
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maior e última delas, com seus 25 degraus, que desafiadores,
exigiam fôlego dobrado de qualquer mortal, até chegar ao
Seminário. Não se lamenta os aperreios das aulas de Exegese, as
de Grego, e as poucas de hebraico que tivemos; como o
desnudar de sentimentos e emoções nas aulas de Mentoria,
confessando pecados cativados em caderninhos, no qual se
planejava abandonar.
E os dias mal humorados da secretária Leila Santos,
passando “carão” em todo mundo, do reitor ao zelador; nem no
meu caso, as cobranças da tesoureira Angelita, pelas
mensalidades em atraso. Não se lamenta nada. Só agradecemos
ao Senhor. E sem dúvidas, teremos até saudades. Saudades de
nossos amigos e companheiros. Saudades dos nossos
professores. Saudades da Biblioteca e dos livros cheios de vida.
Sentiremos saudades de um dia termos sido seminaristas.
Conto-lhes, que ter deixado minha pequena cidade na
região leste do Maranhão para cursar teologia protestante, me
tornando um seminarista crente, foi uma experiência humana e
intelectual marcante. Um marco profundo mesmo. Um começo
de construção de nova história pessoal. Foi mais que sonho
tornando-se realidade.
Ser um seminarista, aprender teologia é o quebrar de
muitos paradigmas concebidos e forjados nas EBDs, no rumar de
certa maturidade espiritual e intelectual do homem religioso
cristão que somos. Mesmo havendo certa mística envolta na
condição de ser seminarista, em nossa realidade protestante, ele
é um homem ou mulher vocacionado que se dedica, mesmo
antes de formado, como noviço ou aspirante, em serviços e
ocupações em sua comunidade de fé. O mesmo se esforça em
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parte dos casos para pagar o curso; possuindo mantenedores
dentro ou fora da Igreja (no meu caso), pois poucos de nós
seminaristas temos uma renda segura e vantajosa. Muitos
estudam pela fé. E embora os Seminários protestantes, até
mesmos os internos, serem menos enclausurados que os
seminários católicos; ser um seminarista crente consiste viver na
experiência certos dilemas e algumas crises sérias, com graus
diversos, no decorrer de todo curso. Muitos sucumbem e se
desencantaram, abandonando o saber e a formação teológica.
Os que realmente chegaram ao final da caminhada desejam de
fato servir mais ao seu Deus e ao povo.
Em nossa realidade brasileira os seminários evangélicos
em sua maioria absoluta oferecem formação em bacharelado ou
licenciatura, em nível de curso livre. O que não deveria ser,
defendo convicto. O saber teológico na Europa e nos Estados
Unidos, onde sistematicamente fora organizado em cadeiras de
estudos e nas academias de formação superior; nos campus de
grandes universidades, possuem mesmo hoje com o avanço do
ateísmo e do secularismo nestas terras, respeitável relevância e
espaço nas academias e em segmentos sociais influentes. E no
Brasil, com maioria cristã, embora nominal, é ainda fortíssima a
crença em Deus. Daí, o saber teológico em nosso país deveria ser
visto com uma relevância maior; e o ser teólogo, deveria ocupar
maiores espaços dentro dos dilemas e aspirações sociais. Assim,
o teólogo deveria não somente cumprir oficialmente seu papel e
ofício nas Igrejas, mas também nas muitas instituições
educativas e privadas (sem restrições); como também nas
organizações não governamentais e de classes: nos sindicatos de
categorias diversas, movimentos sociais afins; em creches e
orfanatos, centros de recuperação de dependentes químicos,
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presídios, agremiações políticas partidárias e nas corporações
públicas. Em todos esses lugares o teólogo e o saber teológico
são importantes para o bem das pessoas. O saber teológico é o
saber de Deus. E em todos os lugares as pessoas precisam de
Deus.
Sendo assim, sou favorável, e defendo que o saber e a
formação teológica sejam legalmente reconhecidos em nossa
realidade sócio-educativa e política maranhense e nos rincões
deste continental país. Que muitos tenham acesso a esse saber,
respeitando, porém, o caráter confessional de conteúdos e
dogmas dos credos religiosos, seja ele protestante ou católico. E
que ao concluir o curso cada seminarista tenha um diploma
legalmente válido, não havendo necessidade depois de se formar
organizar outra turma de estudantes para se validar o que já é
válido.
Pergunto: as diversas horas de ensino e aprendizagem,
durante quatro anos (ou cinco anos e meio no meu caso), não
foram bastante válidas de conteúdos? Os muitos tempos gastos
em leituras de tomos enormes e preciosos não foram válidos? Os
saberes e a mentalidade de teólogo formada em nossa pessoa
não foram válidos? E a monografia trabalhada e defendida? O
muito de dinheiro gasto em livros, passagens e mensalidades, e
em muitas coisas necessárias ao curso, não foram válidos?!
Sim, acredito, são e foram muito válidos. Exigiram
sacrifícios e dedicação dos seminaristas. Portanto, nossos cursos
em teologia protestante deveriam ser reconhecidos, até pela
realidade de sermos hoje parte significativa da sociedade
brasileira.
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Nesta discussão, não concordo que ao concluir o
Seminário uma pessoa já seja vista como pastor, como muitos
desejam e se pensa; porque para se alcançar esse título ou o
caráter, tendo uma postura pastoral, somente anos de práticas
diárias e exercícios da função dentro de uma Igreja. No lidar e
cuidados sérios de gente, e no carregar seus fardos e dores; suas
chatices, exigências e incompreensões. Na Igreja Batista e
demais igrejas históricas, só após um Concílio, onde o nível
cultural e intelectual teológico do candidato ao pastorado é
testado, bem como os seus antecedentes psicológicos e morais,
o aspirante é então aceito definitivamente. E isso no meu ver é
muito certo. Antes, porém, o aspirante deve passar quatro anos
em um Seminário Teológico que poderia sim ser legalmente já
convalidado como formação superior de uma pessoa, no qual
desenvolverá importantes trabalhos entre a população.
Por que então, se pergunta, uma pessoa como eu deixa
sua cidade, familiares, alguns sonhos pessoais para trás, e
adentra um Seminário Teológico? E por que também na mesma
indagação os meus amigos que se formam nesta noite
abandonaram diversas coisas para fazer teologia, no desejo de
serem teólogos, pastores ou missionários?
Não é por dinheiro, naturalmente. A perspectiva de se
fazer fortunas no pastorado é improvável. É até estranho pensar
nisso. A não ser que você seja partidário da malvada teologia da
prosperidade e do pastorado que explora a fé da população por
grana. Nós aqui poderíamos muito bem ter optado por um curso
ou outra carreira mais economicamente proveitosa, válida como
curso de nível superior. Todavia, lhes falo, respondendo as
últimas indagações: os que aqui se formam em teologia,
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decidiram fazer o curso para melhor servir a Deus e ao povo.
Sim, são essas as razões, as genuínas razões de termos nos
tornado seminaristas, estudado e lido muitos livros e textos.
Nós queremos ser parte de um grupo seleto que decidiu
obedecer a um chamado. Embora, em muito, nada foi simples
neste decidir. Porém, houvera um momento em nossas vidas
cristãs que não havia como continuar mais sem “obedecer à
vocação do servir”. Um peso sufocante se fez na existência. A
consciência piscou bem vermelha, e se entendeu de vez que o
melhor mesmo é construir e juntar os tesouros dos céus. A
felicidade agora, desejada na vida temporã, só se tornaria
possível no bem e no servir aos outros; em amar ao povo e aos
irmãos. Agora ensinar Deus para crianças e adolescentes.
Afirmar ser Ele bastante real para elas, como aos adultos, jovens
e velhos, passou ser a inspiração maior. Realmente, deixar tudo,
seguir o Mestre em novas campinas; sermos pescadores de
homens era o que mais faria sentido. Optamos, amigos
presentes, em nos gastar no servir e no amar os homens,
principalmente os que mais sofrem e precisam de ajuda para
alcançar dignidade, não somente espiritual, mas também social.
Ajudar as pessoas excluídas do sistema que enfatiza tudo no
juntar os tesouros terrenos como a suprema realização da vida
para ser feliz. E tal pensar é vão, triste demais. Desta vida só se é
feliz servindo e amando a Deus e as criaturas. E dela somente
levaremos as ações de fé e de amor a todos.
Vejamos, todos sabemos bem que isso não é tão
simples. É uma decisão que sempre requererá um renovar diário
de ânimo e propósito. É difícil permanecer original até o final.
Viver para amar. São poucos os que assim desejam trabalhar.
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Entretanto, Cristo disse que se deve rogar a Deus que envie mais
destes decididos para fazerem o trabalho do amor, da colheita
dos frutos humanos da seara existencial.
- Deus nosso, então te pedimos que o Senhor chame
mais cristãos para se capacitar nos seminários, e ao saírem
formados, venham se gastar no ajudar salvar a vida das gentes
do Maranhão e do Brasil, de todos os rincões do mundo perdido.
Que os seminaristas ensinem a beleza da vida e a vivência da fé
em Ti; Aquele que criou tudo, que podes Tudo, e nos ama sem
objeções e condições. Ama-nos porque somos criaturas tuas e
viemos de teu âmago. Assim, se ensinarmos isso para os
perdidos, e eles aceitarem essa realidade, poderão viver com
dignidade espiritual e humana; alcançarão forças para uma vida
mais completa, e principalmente, terão dentro de si a realidade
da Eternidade, ao aceitar o sacrifício e a fé em Jesus, o Cristo,
enviado do Pai, nascido ao mundo para ser nosso caminho, nossa
vida e a nossa luz.
Muitos de meus amigos aqui formados já desenvolvem
trabalhos pastorais ou de ensino. Já fundaram igrejas e buscam
aumentar o número de fiéis. Isso é bom. Entretanto, não nos
esquecemos de que a nossa missão e trabalho consiste, e deve
acontecer, nas dimensões do Evangelho Integral. Cuida-se do
espírito e da alma, mas cuida-se também do corpo das pessoas.
Isso, nós devemos e podemos; nos importemos com sua
condição social. A saúde, a educação, moradia e condições
dignas de trabalho de nossas ovelhas.
Amigos, abracemos as grandes causas da humanidade.
As causas em favor da vida feliz dos homens e das criaturas de
Deus. Defendamos os injustiçados das corrupções políticas e
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monetárias; das maldades e dos egoístas seguidores só de lucros.
Defendamos em nossas missões a conservação e a preservação
dos ecossistemas naturais criados pelo Senhor. Sejamos em
nossos pastorados defensores da honestidade nas
administrações públicas. Sendo contra a corrupção pessoal,
política e administrativa dos maus gestores nos governos das
três instâncias da república. Sim, sejamos contra a corrupção
deles, de nós mesmos, dos civis, da sociedade num todo.
Levantemos sempre a bandeira da democracia, como parte
histórica da nossa cultura batista, como a democracia ampla na
sociedade. Não somente no votar, mas no construir políticas
públicas participativas e cidadãs.
Acredito que tudo discutido, aprendido no Seminário foi
fundamental. E o que aprendemos agora, mais ainda, na prática
séria do pastorado e nas missões, como teólogos e educadores,
nos motivou a permanecer e aprender constantemente coisas
salutares e precisas para nosso povo. Essa é a meta e a nossa
missão intergral no ministério. Os desafios serão grandes,
porém, possíveis de êxitos e vitórias, se nós não lutarmos
somente com nossas forças. Deus é o nosso sustento. É nossa
força maior.
Gostaria de finalizar citando Gonçalves Dias, o poeta
maior de nossa terra:
Não chores meu filho/ Não chores que a vida é luta
renhida/ Viver é lutar. / A vida é combate/ que os fracos abatem/
que os fortes/ que os bravos só podem exaltar.
E quando no final de nossas carreiras, se perguntarem
que valeu a pena, poderemos responder: Sim, tudo valeu, como
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bem disse o poeta Fernando Pessoa, pois vivemos para servir a
Deus, e amar as pessoas. Fomos almas grandes. Os
mandamentos e o chamado de Deus para nossas vidas
obedecemos.
E isso vale muito a pena viver.
Que Deus nos abençoe
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O AUTOR
Francisco Carlos M. Machado, 1978, maranhense, poeta, escritor, professor, teólogo, missionário evangélico, fotografo e ambientalista. Tem dois livros de poemas publicados: “Na Escuridão e no Dia Claro” e “Adolescência Poética”. Além do E-book “Discursos das Causas Primeiras”, tem também “Autoritarismo Pastoral no Maranhão”; as antologias “Vozes Poéticas dos Morros Garapenses” e “Escritos dos Morros”. Participa com textos das antologias poéticas: “Poesia Falada” e “Águas Vivas 3”; e dos livros “Serviço Social Cristão” e “Áreas de Proteção Ambiental do Maranhão”. Muitos de seus artigos, crônicas e poemas foram publicados nos principais jornais do Maranhão e em revistas de circulação nacional. Sócio da Associação Nacional dos Escritores, atualmente trabalha na produção da sua autobiografia ambiental e em sua terceira antologia de poemas. Na internet mantém os blogs “Folha do Garapa” e “Poesia e Prosa Morros Garapenses ”.