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IRMA BEATRIZ ARAJO KAPPEL
SSSEEEGGGMMMEEENNNTTTAAAOOO TTTEEEXXXTTTUUUAAALLL,,, CCCOOOEEESSSOOO EEE DDDIIISSSTTTRRRIIIBBBUUUIIIOOO IIINNNFFFOOORRRMMMAAACCCIIIOOONNNAAALLL
NNNAAA OOORRRGGGAAANNNIIIZZZAAAOOO TTTPPPIIICCCAAA DDDOOO TTTEEEXXXTTTOOO
Dissertao apresentada ao curso de Mestrado em Lingstica do Centro de Cincias Humanas e Artes da Universidade Federal de Uberlndia como requisito parcial para obteno do ttulo de Mestre em Lingstica. Orientador: Prof. Dr. Luiz Carlos Travaglia.
UBERLNDIA UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLNDIA
1998
Kappel, Irma Beatriz Arajo. Segmentao Textual, Coeso e Distribuio Informacional na Organizao Tpica do Texto./ Irma Beatriz Arajo Kappel. Uberlndia, 1998.
165 f. il. - Orientador: Luiz Carlos Travaglia. Dissertao (Mestrado). Universidade Federal de Uberlndia. 1. Lingstica. 2. Lngua Portuguesa Estudo e ensino. 3. Redao. I. Universidade Federal de Uberlndia.
CDU: 801
Dissertao defendida e aprovada, em ..08 de .junho de 1998, pela Banca Examinadora constituda pelos professores: ____________________________________________ Prof. Dr. Luiz Carlos Travaglia Orientador ____________________________________________ Prof. Dr. Vnia Maria Bernardes Arruda Fernandes ____________________________________________ Prof. Dr. Mrcia Elizabeth Bortone
Para Dris e Avenir, princpio de nossa existncia.
Para Jonas e Mateus, companheiros desta trajetria.
Para os professores, colegas e funcionrios do Mestrado/UFU pela amizade e estmulo.
Para o Prof. Dr. Luiz Carlos Travaglia, incentivador, amigo e orientador incansvel.
Como nenhum trabalho pode ser concludo na solido, necessrio agradecer : A todos que direta ou indiretamente contriburam para a sustentao de nossa trajetria e para a realizao desta dissertao. A Deus, presena constante de amor em nossas vidas. Ao Prof. Dr. Luiz Carlos Travaglia pelos estmulos, assistncia e acompanhamento na escolha dos caminhos. Aos professores Dr. Vnia Maria Bernardes Arruda Fernandes e Dr. Evandro Silva Martins pelas sugestes teis. Secretaria de Estado da Educao pela bolsa de estudos e liberao para freqncia ao curso e Secretaria Municipal de Educao e Cultura de Uberaba pela liberao. COPEVE/Universidade Federal de Uberlndia, Universidade de Uberaba, Faculdade de Medicina do Tringulo Mineiro e Universidade Federal do Paran por cederem e autorizarem o uso de material de redaes que integram nosso corpus. Aos entrevistados de nossas pesquisas. CAPES pela concesso parcial de bolsa.
SUMRIO
RESUMO........................................................................................07 1. INTRODUO ....................................................................... 08 2. DOS FUNDAMENTOS ......................................................... 14 2.1. Fundamentao terica .......................................................................... 14
2.1.1. Preliminares ............................................................................. 14 2.1.2. Texto, Discurso e Textualidade ............................................... 16 2.1.3. Segmentos Textuais ................................................................. 21 2.1.4. Estrutura Informacional ........................................................... 25 2.1.5. Progresso Textual ................................................................... 37 2.1.6. Tipos Textuais .......................................................................... 46
2.2. A questo metodolgica ........................................................................ 48 2.3. Outros estudos sobre Distribuio Informacional ................................. 50 2.4. Pesquisa ................................................................................................. 57 3. PESQUISA I ............................................................................ 62 3.1. Mtodo ................................................................................................... 62 3.2. Resultados e Comentrios ..................................................................... 75 4. PESQUISA II ........................................................................... 94 4.1. Propsito ................................................................................................ 94 4.2. Mtodo ................................................................................................... 94 4.3. Resultados e Comentrios ..................................................................... 99 5. CONCLUSO ....................................................................... 124 SUMMARY .................................................................................127 BIBLIOGRAFIA ....................................................................... 128 ANEXOS ................................................................................... 135
RESUMO
Este trabalho aborda duas pesquisas empricas que tiveram a finalidade de verificar, na lngua portuguesa, se a questo da colocao da informao (principal/secundria e dada/nova) e o uso da repetio (informao nova, em posio remtica, retomada como tema do segmento-tpico seguinte) como elemento coesivo acima do nvel intersentencial, afetam a unidade e a progresso informacional do texto. A primeira pesquisa foi realizada analisando-se as 50 (cinqenta) melhores redaes e as 50 (cinqenta) piores, segundo a equipe de correo, selecionadas entre as redaes do vestibular de 1997 de trs universidades e uma faculdade, em relao localizao das informaes principal e secundria em trs tipos de progresso tpica ( linear, tema constante e rema subdividido) ou sem progresso alguma e, especificamente, a progresso linear no que se refere repetio como elemento coesivo. A segunda pesquisa foi um questionrio composto por textos considerados bons por avaliadores, analistas e leitores com as informaes colocadas em ordens diferentes, tendo em vista a verificao da preferncia do leitor, segundo sua intuio, para a colocao das informaes no texto. Constatamos que a escolha que a maioria dos entrevistados fez recaiu sobre o texto em que a informao principal estava colocada no final do segmento-tpico; e que, tambm, a maior parte das redaes consideradas melhores pelos corretores tinham as informaes principais colocadas no final do segmento-tpico, o que no aconteceu com as redaes consideradas piores; e que, nos textos em que ocorreu a progresso linear, alm dos segmentos finais do segmento-tpico favorecerem a apresentao do material de primeiro plano, ou principal, tambm podem introduzir, em posio remtica, um novo tpico discursivo futuro, a ser desenvolvido a partir do incio do segmento seguinte. Pudemos confirmar que fundamental considerarmos esses aspectos para a produo de textos de boa qualidade e, tambm, para a leitura no que se refere a como o leitor v o texto: bom ou ruim, fcil ou difcil de ser entendido. PALAVRAS-CHAVE: Texto, Segmentao, Informao, Coeso e Progresso.
1. INTRODUO A questo da ordem de elementos (palavras, oraes, informaes,
etc.) no texto, quer seja em frase, em segmento-tpico, em captulo ou em
estrofes, tem sido uma novidade no ensino da lngua. Apenas no estudo das
figuras de linguagem e figuras de construo (inverses, hiprbato, anstrofe,
etc.), sob ponto de vista retrico-estilstico, que os alunos so alertados a
perceber que as frases ou as seqncias de frases admitem diferentes arranjos,
segundo as pretenses do usurio.
Entretanto, no ensino de produo de texto e de leitura, a questo da
colocao das informaes em ordens diferentes de fundamental
importncia, tendo em vista a variedade de disposies e a liberdade que o
usurio tem para mobiliz-las, e nada disso exposto para o aluno. Existem
certas ordens na colocao das informaes que, no domnio da norma,
recebem a preferncia, tornando-se mais freqentes, porm a variedade que se
pode ter na mudana dessa ordem que fundamental para quem vai escrever
ou ler um texto.
A partir do trabalho de GIORA (1983:155-181), pensamos em
verificar, no portugus, se a questo da distribuio da informao
(principal/secundria e dada / nova) e o uso da repetio (informao nova,
em posio remtica, retomada como tema do segmento-tpico seguinte)
como elemento coesivo entre segmentos maiores, acima do nvel
intersentencial, afetam a unidade e a progresso informacional dentro do
texto. Caso isso ocorra, ser fundamental considerar esses aspectos para a
produo de textos de boa qualidade e, tambm, ter influncias
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considerveis na questo da leitura (de como o leitor v o texto: bom ou ruim,
fcil ou difcil de ser entendido).
A investigao a ser desenvolvida neste estudo se justifica por trs
fatores fundamentais:
(i) Pelo menos que seja do nosso conhecimento, poucos estudos tm abordado a organizao da distribuio da informao no texto
escrito, a progresso tpica discursiva em relao s informaes
dada e nova, a questo da posio das informaes principal e
secundria no segmento-tpico e a influncia que isso tem na
qualidade do texto e na facilidade ou dificuldade de compreenso.
Com a realizao desse estudo, poderemos estar preenchendo essa
lacuna nos estudos lingsticos sobre o conhecimento da estruturao
do texto.
(ii) Como no texto escrito no h sujeitos definidos - leitor e autor1 , o contexto lingstico interno ao texto, enfocado por ns neste estudo,
passa a ter grande relevncia para a compreenso. A organizao
textual, de natureza monolgica, , segundo KLEIMAN (1990:93)
prpria da escrita. O autor responsvel exclusivo pela construo
do texto e dever imaginar um interlocutor , antecipando-lhe seus
interesses, seus conhecimentos. Neste sentido, o texto se torna
dialgico num sentido amplo do termo. O leitor responsvel
exclusivo pela reconstruo do sentido e dever procurar na
organizao textual os elementos necessrios sua compreenso.
Sendo assim, perceber uma forma de distribuio da informao que
1 Neste estudo, numa viso interacional, no estaremos fazendo diferena entre os termos autor e produtor de texto e consideraremos o leitor como o recebedor que compreende e que estabelece o sentido.
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facilite esta reconstruo, pelo leitor, um fator importante para
quem redige.
(iii) Utilizando as categorias textuais enfocadas nos itens (i) e (ii), em anlise de textos, apontaremos fatos sobre a estruturao que
podero trazer conseqncias importantes no que diz respeito ao
ensino de produo e compreenso de textos, caso as pessoas
tenham conscincia desses fatos.
Ao realizarmos este estudo, no pretendemos dar receitas de como
escrever, muito menos dar modelos a serem seguidos, mas sim, levantar fatos
que parecem afetar a interao entre autor e leitor, facilitando-a ou
dificultando-a. Para que o aluno escreva bem, no necessrio que o
professor lhe d frmulas prontas de como escrever bem. Antes de observar
fatos propostos neste estudo, que podem influenciar a interao entre autor e
leitor, importante que o professor e seus alunos entendam os princpios
bsicos de uma aula de redao. Compreendemos que essa aula na escola,
antes de tudo , deve ser vista conforme GERALDI (1986:167) nos diz :
a) a sala de aula um espao fsico como qualquer outro ( o escritrio,
a casa, etc.) e nela possvel escrever;
b) a aula de redao no mais do que o espao temporal, aproveitvel
ou no, para iniciar um processo de interlocuo distncia, os textos a
produzidos saindo em busca de leitores efetivos;
c) s se aprende escrever escrevendo, e no simulando situaes de
escrita..
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Quando um texto difcil de ser lido, tanto no aspecto da natureza do
assunto quanto na maneira pela qual o contedo est organizado, a interao
entre produtor e recebedor e a legibilidade do texto ficam comprometidas.
Para que haja uma interao maior entre produtor e recebedor de texto,
partimos de uma dimenso textual e discursiva de natureza interativa. Nessa
viso interacionista, toda escrita envolve uma leitura e uma redao em que
tanto leitor quanto produtor so sujeitos de uma ao mediante o uso da
linguagem. So aes intersubjetivas em que ocorre a construo da coerncia
mediante a reconstruo do sentido do outro e para permitir ao outro a
reconstruo do sentido .
Nossos principais objetivos a serem alcanados com esse estudo a partir
de anlises de textos, principalmente dissertativos, so:
1. Discutir a influncia na legibilidade e no julgamento da qualidade
de textos da distribuio informacional em segmentos textuais,
especificamente segmentos-tpicos ;
2. Verificar qual posio de segmento para a colocao da idia
dominante prefervel, tendo em vista a interao produtor/leitor e o
julgamento de boa formao do texto;
3. Determinar a influncia que tem na formao de um bom texto a
apresentao de um tpico discursivo dos segmentos seguintes na posio
final ou remtica de um segmento-tpico em funo coesiva, num
constituinte prvio;
4. Discutir como os fatos dos objetivos acima podem afetar os
procedimentos de ensino de produo e compreenso de textos em relao
aos mecanismos, fatores e processos enfocados .
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Esse estudo verificar as seguintes hipteses :
1. Se a forma de distribuio da informao nos segmentos textuais afeta a
qualidade do texto e a facilidade de compreenso, numa interao entre
autor e leitor.
2. Se a posio que certos tipos de informao (principal/secundria e
informao nova/velha) ocupam nos segmentos textuais faz com que o
texto seja mais ou menos legvel e considerado como mais ou menos bem
estruturado.
2.1. Se a posio final de segmento para a informao principal e nova
melhor compreendida e faz com que o texto seja visto como mais bem
estruturado, facilitando ao leitor a reteno da idia mais importante.
2.2. Se a indicao, na posio final ou remtica de um segmento, do
tpico a ser desenvolvido no segmento seguinte faz com que o texto seja
visto como melhor e mais legvel. Estaremos considerando isto como um
recurso de coeso acima do nvel intersentencial.
No captulo sobre os fundamentos, estaremos expondo, primeiramente,
a fundamentao terica e metodolgica de nosso trabalho, apontando as
correntes de estudos em que se situa, com a definio dos principais
conceitos e a metodologia utilizada na pesquisa. Posteriormente,
apresentaremos uma sntese dos pontos principais de trabalhos sobre o
assunto e nosso posicionamento diante das contribuies desses autores
para o desenvolvimento de nossas duas pesquisas2.
2 Para verificar as hipteses e alcanar os objetivos, dividimos a pesquisa em dois momentos que estaremos chamando de Pesquisa I e Pesquisa II para facilidade de referncia.
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No captulo 3, estaremos mostrando e comentando o mtodo e os
resultados do primeiro procedimento de pesquisa, utilizando textos
dissertativos de redaes de vestibular de 1997, classificados pela
comisso de correo como bons ou ruins.
No captulo 4, apresentaremos qual o propsito de se utilizar outro
procedimento de pesquisa com o mesmo objetivo, o mtodo, os resultados
e os comentrios do estudo realizado com leitores de diversos graus de
escolaridade para verificao da preferncia pela ordem de colocao das
informaes no segmento-tpico. Para essa pesquisa foram adotados textos
dissertativos e narrativos.
Na Concluso, sero retomadas os principais pontos verificados com
relao s hipteses e objetivos do presente trabalho.
Se conseguirmos apontar, neste estudo, fatos que, ao serem observados
pelo produtor na construo de um texto, facilitaro a reconstruo do
sentido pelo leitor ou ouvinte, favorecendo a interao entre os sujeitos,
poderemos ter repercusso positiva na produo e leitura de textos. Se no
conseguirmos, tambm nos sentiremos realizados pois, acima de tudo, a
Lingstica veio nos ensinar a questionar, a pesquisar sempre, mesmo que
seja para falsificar hipteses levantadas e ficar verificado que muitas vezes
o que pensamos sobre a lngua intuitivamente, no real, lembrando ainda
que a lngua um fenmeno inacabado, ao mesmo tempo que sistmico,
social, ideolgico e histrico. Por ser uma instituio humana, a lngua est
se fazendo a todo momento, est sendo construda por seus usurios, quer
seja o literato, o artista ou o simples cidado.
2. DOS FUNDAMENTOS
2.1. FUNDAMENTAO TERICA
2.1.1. Preliminares
Desde a dcada de 60, defrontamo-nos com uma evoluo
epistemolgica no campo da Cincia Lingstica ( configurada na Lingstica
Textual e na Anlise do Discurso) que ultrapassa os limites que a Lingstica
at ento apontava - a frase. Os lingistas constataram que a Lingstica da
Frase estava sendo insuficiente para resolver certos fenmenos lingsticos de
natureza mais abrangente do que os da frase, como os fenmenos sinttico-
semnticos ocorrentes entre enunciados e seqncias de enunciados. Havia
uma demanda que exigia uma Lingstica mais voltada para os mecanismos
da organizao textual responsveis pela construo do sentido.
Surgiram, assim, os primeiros estudos sobre as relaes transfrsticas e
sobre os processos e mecanismos de organizao textual que inseriam textos
em determinados contextos sociais, histricos , culturais e ideolgicos.
Esta evoluo faz surgir uma nova unidade de anlise que vai alm
dos limites da frase: o texto, e uma nova concepo de linguagem :
... a linguagem como forma ou processo de interao. Nessa concepo o que o
indivduo faz ao usar a lngua no to-somente traduzir e exteriorizar um
pensamento, ou transmitir informaes a outrem, mas sim realizar aes , agir,
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atuar sobre o interlocutor (ouvinte/leitor) . A linguagem pois um lugar de
interao humana, de interao comunicativa pela produo de efeitos de sentido
entre interlocutores, em uma dada situao de comunicao e em um contexto
scio-histrico e ideolgico. Os usurios da lngua ou interlocutores interagem
enquanto sujeitos que ocupam lugares sociais e falam e ouvem desses
lugares de acordo com formaes imaginrias (imagens) que a sociedade
estabeleceu para tais lugares sociais. (TRAVAGLIA- 1996:23).
Consideraremos, neste estudo, a linguagem como forma de ao e
como meio de interao entre os homens, ou seja, como meio de interao
social, dotada de intencionalidade. Esta concepo de linguagem como
processo de interao e como processo em permanente construo
importante por levar os professores crena de que seus alunos so
indivduos que realizam aes atravs da linguagem, ou seja, atravs dela
que constroem o mundo e se constituem como sujeitos. Acreditamos, assim
como BAKHTIN (1929:123), que:
A verdadeira substncia da lngua no constituda por um sistema abstrato de
formas lingsticas nem pela enunciao monolgica isolada, nem pelo ato psico-
fisiolgico de sua produo, mas pelo fenmeno social da interao verbal,
realizada atravs da enunciao ou das enunciaes. A interao verbal constitui
assim a realidade fundamental da lngua..
J na dcada de 70 , o texto passou a ser abordado sob dois pontos de
vista: o primeiro, o dos mecanismos sinttico-semnticos responsveis pela
produo de sentido; o segundo, o da anlise do texto como objeto cultural
produzido a partir de certas condies de produo, condies culturais em
uma relao dialgica com as condies histricas.
No Brasil, somente nos anos 80 que chegaram os primeiros estudos
da Lingstica Textual que tinham por objetivo o estudo e a pesquisa sobre a
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natureza do texto visto como seqncias lingsticas coerentes e os fatores
que envolvem sua elaborao, sua produo e sua recepo.
A Lingstica Textual prope verificar o que faz com que um texto
seja um texto ( princpios de constituio, fatores de coerncia, condies em
que se manifesta a textualidade), levantar critrios para a delimitao do texto
e diferenciar as vrias espcies de textos.
Para desenvolvermos nosso estudo, trabalharemos com o texto escrito
e com a distribuio da informao. Portanto, importante que nos
posicionemos sobre as seguintes questes: texto, discurso, textualidade,
segmento textual, estrutura informacional, progresso textual e tipologia
textual.
2.1.2 Texto, Discurso e Textualidade
Segundo VAN DIJK (1972), a competncia lingstica do falante no
frasal, mas textual. Os sujeitos se comunicam por meio de textos escritos ou
falados. Para compreendermos melhor o fenmeno da produo de textos
escritos, objetos de anlise neste estudo, importante definirmos o que
entendemos por texto e discurso. Existem diversas conceituaes para esses
dois termos que variam de autor para autor. Alguns autores, como por
exemplo Koch e Travaglia (1989), concebem-nos com sentidos diferentes ,
outros como Mira Matheus (1983) e Rocco (1981) j consideram esses
termos como sinnimos com um s sentido. Para Mira Matheus (1983:185)
texto o mesmo que discurso :
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um texto ( um discurso) um objeto materializado numa dada lngua natural,
produzido numa situao concreta e pressuposto os participantes locutor e
alocutrio, fabricado pelo locutor por seleo sobre tudo o que, nessa situao
concreta, dizvel para (e por) esse locutor a um determinado alocutrio .
Tambm para ROCCO (1981:45) os termos texto e discurso aparecem
praticamente como sinnimos:
Texto e discurso, a meu ver, no representam puramente uma somatria de
frases, mas sim um todo semanticamente organizado e que corresponde a forma de
expresso verbal de um determinado indivduo em determinadas condies.
Entretanto, para KOCH & TRAVAGLIA (1989:8) h distino entre
texto e discurso:
DISCURSO toda atividade comunicativa de um locutor , numa situao de
comunicao determinada, englobando no s o conjunto de enunciados por ele
produzidos em tal situao - ou os seus e os de seu interlocutor , no caso do
dilogo - como tambm o evento de sua enunciao. O TEXTO ser entendido
como uma unidade lingstica concreta (perceptvel pela viso ou audio ), que
tomada pelos usurios da lngua( falante, escritor/ ouvinte, leitor), em uma
situao de interao comunicativa especfica, como uma unidade de sentido e
como preenchendo uma funo comunicativa reconhecvel e reconhecida,
independente de sua extenso.
Neste estudo, estaremos considerando texto como algo diferente de
discurso, mas interligados e interdependentes pois estaremos trabalhando com
a utilizao e o funcionamento da lngua. Podemos dizer, ento, que TEXTO,
para ns, no uma simples somatria de frases, um objeto materializado
em uma dada lngua, formado por uma unidade de linguagem em uso,
independente de sua extenso, que representa um todo semanticamente
organizado, com determinaes scio-comunicativas e com uma unidade que
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s ter sentido no momento da interlocuo, quando o autor e o leitor ou
ouvinte se engajarem na construo do sentido.
O DISCURSO ser entendido, por ns, como sendo o ponto de
articulao dos processos ideolgicos e sociais e dos fenmenos lingsticos,
um conjunto de enunciados na medida em que se apiem na mesma
formao discursiva FOUCAULT (1969:135). O discurso no se confunde
com o texto, que concebido como a manifestao verbal do discurso. Ele vai
alm do texto lingstico propriamente dito, pois envolve as condies
scio-histricas, culturais e ideolgicas de produo, de construo e de
reconstruo do texto, que podem ser percebidas e analisadas atravs de pistas
(marcas lingsticas) presentes no texto.
Pode-se dizer que, a partir dessas conceituaes de texto e discurso e
de suas distines, a produo e a recepo de textos influenciada por 3
(trs) tipos de fatores: pragmticos, que tem a ver com o seu funcionamento;
semntico-conceituais, de que depende sua coerncia; e formais, entre os
quais destacamos a coeso.
Seguindo a lio de estudiosos como PCHEUX (1969:16-23),
podemos dizer que os fatores pragmticos incluem todos aqueles que tm a
ver com a funo de um texto num contexto extralingstico . Entre estes
fatores, os principais so: as intenes do produtor , o jogo de imagens
mentais que cada um dos interlocutores faz de si, do outro e do outro com
relao a si mesmo e ao tema do discurso, alm do contexto scio-histrico ,
cultural e ideolgico que caracteriza a comunicao.
As outras duas propriedades bsicas do texto tambm se
responsabilizam pelo sentido. O texto precisa ser percebido pelo recebedor
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como um todo significativo (coerncia) e pela unidade formal, material
(coeso) . Essas relaes so responsveis pela tessitura do texto.
Ao conjunto de caractersticas que fazem com que um texto seja um
texto e no simplesmente, um amontoado de frases ou elementos lingsticos,
damos o nome de TEXTUALIDADE, ou seja,
... o que faz de uma seqncia lingstica um texto e no uma seqncia ou um
amontoado aleatrio de frases ou palavras. A seqncia percebida como texto
quando aquele que a recebe capaz de perceb-las como uma unidade
significativa global. Portanto, tendo em vista o conceito que se tem de coerncia,
podemos dizer que ela que d origem textualidade ( KOCH & TRAVAGLIA
-1989:26).
BEAUGRANDE & DRESSLER (1981) apontam sete fatores
responsveis pela textualidade de um discurso: a coeso e a coerncia que
para eles se relacionam com o material conceitual e lingstico do texto, e a
aceitabilidade, a intencionalidade, a informatividade, a situacionalidade, a
intertextualidade que se relacionam, no processo sciocomunicativo, com os
aspectos pragmticos j abordados. FVERO (1991:7) acresceu um oitavo: a
contextualizao, mas que j est ligado aos fatores scio-interativos
abordados por KOCH.
Em nosso trabalho vamos adotar a posio de KOCH & TRAVAGLIA
(1989 e 1990) para os quais o critrio bsico de textualidade, isto , aquilo
que faz com que uma seqncia lingstica seja um texto, a Coerncia,
responsvel pelo estabelecimento do sentido. Sentido entendido como
atualizao seletiva, no texto, de potencialidades significativas virtuais
(significado) das expresses lingsticas (KOCH - 1989:13).
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Os fatores de coerncia apontados pelos autores acima referidos so:
conhecimentos lingsticos (incluindo mecanismos de coeso), conhecimento
de mundo, conhecimento partilhado, inferncias, fatores de contextualizao
ou pragmticos, situacionalidade, informatividade,
intencionalidade/aceitabilidade, focalizao, intertextualidade, relevncia e
consistncia.
A coeso e a coerncia so propriedades textuais em condies de forte
inter-relacionamento. Para ns, a COERNCIA, fator fundamental da
textualidade para o estabelecimento do sentido, vai alm da superfcie textual
por ser um fenmeno externo e subjacente essa superfcie pois depende
tambm, da situao comunicativa que contextualiza o texto. Ela envolve os
aspectos lgicos , semnticos e cognitivos por depender do conhecimento
partilhado entre os interlocutores.
J a COESO tem a ver com a maneira como o texto redigido na
superfcie textual, ela a organizao, a ligao entre os elementos da
superfcie do texto que, alm de unir, correlaciona as partes de uma frase ou
as frases entre si e, em especial, neste trabalho, um recurso acima do
intrafrasal e do interfrasal, o modo como os segmentos-tpicos se combinam
para assegurar a organizao, o desenvolvimento e a progresso textual. A
Coeso deve ser vista do ponto de vista sinttico, gramatical e semntico. Ela
tem relao com a coerncia na medida em que um dos fatores que
possibilita calcul-la, mesmo no sendo nem necessria nem suficiente para o
estabelecimento da coerncia. Enfim, usaremos a Coeso como um recurso
acima do intrafrasal e do interfrasal, no aspecto de sua funo, para garantir a
continuidade e a unidade do texto.
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Limitaremos o estudo e a anlise desses recursos ao texto escrito, que
constitui nosso corpus, tendo em vista as exigncias sociais face ao bom
desempenho da escrita formal. Por nosso estudo se interligar mais s questes
lingsticas, tm especial interesse trs outros elementos que, de certa forma,
esto relacionados com a coerncia no que se refere colocao e a
distribuio informacional para a progresso textual e para melhor qualidade
do texto: o segmento textual, a estrutura informacional e a progresso textual.
2.1.3. Segmentos Textuais
Como vamos trabalhar com a distribuio da informao em segmentos
textuais, procuramos ver alguns autores que tenham trabalhado com anlises
de textos dividindo-os em segmentos.
GIORA (1983) em seu estudo mostrou-nos sua tentativa de estender a
noo de coeso alm do nvel da frase por v-la como uma exigncia do
texto para associao entre segmentos maiores do que uma frase, optando
pelos seguintes tipos de segmentos: Pargrafos, Captulos inteiros e Estrofes.
Da mesma forma, KAPPEL (1996) , a partir do trabalho mencionado
acima, abordou o mesmo estudo, em lngua portuguesa, com os seguintes
segmentos: Pargrafos e Estrofes.
Por outro lado, CARRETER & LARA (s/d) partindo da posio de que
para se analisar um texto no podemos decomp-lo, mas sim analisar, ao
mesmo tempo, o fundo e a forma, mostram-nos em anlise de textos literrios
que, para a determinao da estrutura, tem-se que descobrir os segmentos
22
observando-se as variaes temticas que mais se destacam. Para os autores
segmento :
... cada uma das partes que podemos descobrir no texto....Segmento no significa
parte que se possa distinguir primeira vista .. No se deve confundi-la com
divises externas do texto , que se notam visualmente, tais como estrofes, na
poesia, ou pargrafo, na prosa. Os segmentos so provenientes de modulaes
diversas que o tema adquire, medida que se desenvolve num texto. ...Os
segmentos caracterizam-se e distinguem-se entre si porque o tema adquire, em
cada um deles, modulaes mais ou menos diferentes. (CARRETER & LARA s/d:
34-35).
Utilizando-se tambm da diviso em segmento-tpico que no coincide
com a diviso das estrofes, CNDIDO (1993:25) faz anlise de textos
literrios em verso.
Finalmente, JUBRAN et alii (1992) partem da hiptese de que a
conversao espontnea, apesar da quase simultaneidade entre planejamento e
execuo, uma atividade altamente organizada, na qual os falantes
constroem e desenvolvem um tpico organicamente estruturado. Para isso,
propem uma categoria descritiva do tpico, rejeitando as categorias que se
limitam em sentenas, mostrando como os tpicos se organizam
hierarquicamente em super-/sub-tpicos.
Neste trabalho, vamos adotar a segmentao proposta por JUBRAN et
alii, elaborada para o texto oral, mas que em termos de segmentao , de
conceituao e de organizao tpica , a nosso ver, se aplica perfeitamente ao
texto escrito e serve aos nossos propsitos de anlise. Segundo esses autores,
a organizao tpica de um texto considera os quadros tpicos, os subtpicos
e os segmentos-tpicos que se ramificam a partir de um supertpico. O tpico
a fonte central da elaborao textual.
23
O tpico, entendido como aquilo sobre o qual o texto est falando, o
princpio central da organizao discursiva. A manuteno tpica e sua
expanso em segmento-tpico a partir de uma segunda unidade de sentido,
propicia o desencadeamento de uma informao nova que nos conduz a uma
progresso temtica.
Em princpio, utilizam-se da conceituao de GOFFMAN ( 1976 apud
JUBRAN 1992:360) sobre Tpico: interao centrada, fio condutor
responsvel pela tessitura e coerncia. Devido ao carter amplo, vago e
abstrato de tema e assunto preferem empregar a palavra tpico. Para a
caracterizao e identificao de uma unidade de anlise de estatuto
discursivo, adequada descrio textual- interativa do portugus falado,
estabeleceram os traos que definem o tpico discursivo como categoria
operacionalizvel.
Para esses autores, as propriedades definidoras do tpico discursivo
enquanto categoria abstrata so:
(i) CENTRAO : diz respeito ao contedo. Permite delinear qual o assunto ou tema e abrange os traos de:
a) CONCERNNCIA: relao de interdependncia entre os enunciados ( implicativa, associativa, exemplificativa) pela qual se d sua
interao no referido conjunto de referentes explcitos ou inferveis;
b) RELEVNCIA: dominncia do conjunto pela posio focal assumida pelos seus elementos:
c) PONTUALIZAO: localizao do conjunto focal em um momento da mensagem.
24
(ii) ORGANICIDADE: organiza o discurso: organizao tpica. manifesta por relaes de interdependncia que se estabelecem
simultaneamente em dois planos:
a) PLANO HIERRQUICO: vertical, super/ sub-ordenao. So as relaes de interdependncia entre os tpicos de acordo com a abrangncia
maior ou menor do assunto. Forma o Quadro Tpico: supertpico (st), mais
abrangente; subtpico (sbt) diviso interna em tpicos co-constituintes;
subdiviso do tpico co-constituinte.
b) PLANO SEQENCIAL : linear. Distribuio tpica na linearidade discursiva: continuidade e descontinuidade.
A continuidade decorre de uma organizao seqencial dos segmentos
tpicos em que a abertura de um se d aps o fechamento do outro,
precedente. Define-se por uma relao de adjacncia que ocorre no
esgotamento do tpico anterior, segundo as condies de contigidade no
plano inter-tpico e de esgotamento, no plano intra-tpico. J a
descontinuidade se define pela suspenso definitiva de um tpico, ou pela
ciso de um tpico em partes decorrentes da intercalao de segmentos no
atinentes ao tpico cindido. Ocorrendo o retorno aps a interrupo,
teremos os fenmenos de insero e alternncia.
A mudana de tpico , manuteno e progresso do texto podem
ocorrer de trs formas: continuidade, esgotamento natural do tpico anterior;
passagem gradativa feita atravs dos tpicos de transio ; e a introduo de
um tpico sem esgotar o anterior.
O movimento tpico pode se fazer por meio dos seguintes processos:
usar formulaes de um objeto para constituir linhas diferentes de tpicos,
25
falar de entidades que podem ser chamadas de membros da mesma classe ou
expandir um elemento que, no tpico em desenvolvimento, fora rapidamente
referido ou figurava como marginal no conhecimento de mundo dos
interlocutores (dar exemplos, fazer snteses, anlises, comparaes etc).
Embora sejam categorias que foram estabelecidas no estudo do
portugus falado, pensamos que essas categorias so igualmente aplicveis no
texto escrito, como a prpria concluso dos autores nos diz:
... as concluses a que se chegou aqui so de algum modo generalizveis para
outros textos, alm do tipo estudado. Nesse caso inclui-se tambm o texto oral
monologado e, de certo modo, os textos escritos, j que, no essencial, eles no
trazem muita novidade em termos de estruturao tpica. Apenas seguem outros
padres que devem ser identificados como prprios dessa modalidade de uso da
lngua. (JUBRAN et alii 1992: 397).
Vamos usar neste trabalho a conceituao de tpico ao invs de
assunto que parece ficar muito ao nvel de frase. Preferimos usar a proposta
de JUBRAN et alii ( 1992) E CARRETER & LARA(s/d) que propem o
segmento-tpico, estes no texto escrito, aqueles no texto oral.
Como nosso objetivo no definir as marcas de delimitao tpica,
iremos usar isso apenas subsidiariamente, como recurso para identificar o
segmento-tpico, para analisar as informaes central ou principal /
secundria e dada / nova.
2.1.4. Estrutura Informacional
26
Para a relao TEMA-REMA / DADO-NOVO / TPICO-
COMENTRIO existem posies divergentes:
Para MATHESIUS (apud COMBETTES, 1983:11) e para os tchecos
funcionalistas da Escola de Praga temos trs categorias no nvel temtico:
TEMA (conhecido, ponto de partida para o emissor), TRANSIO e REMA
( o que se afirma sobre o tema, o novo) (apud COMBETTES - 1983:110).
Para KASSAI ( 1976:123 apud MOREIRA 1992:34) o TEMA o
elemento j conhecido e o REMA traz informaes novas com ancoragem.
Entretanto, HALLIDAY (1974:53) traz uma posio diferente: o
TEMA no se relaciona com a veiculao da informao conhecida, nada tem
a ver com meno prvia. o elemento da Perspectiva Funcional da
Sentena, o que realizado pela posio que ocupa no incio da frase,
primeira posio.
A teoria de FIRBAS (1964:272) no est em consonncia com as idias
de Mathesius de que tema seja apenas o conhecido e rema o elemento novo,
discorda tambm de Halliday com relao ao tema ocupar o primeiro lugar na
frase e prope: TEMA elementos frasais que contm informao conhecida
ou a ser inferida; REMA informao nova, desconhecida, parte independente.
De acordo com PRINCE (1981:225) h uma escala de familiaridade: se
estiver na conscincia VELHO, se est sendo introduzido, NOVO. As
entidades do discurso podem ser classificadas como novas, evocadas e
inferidas.
J para COMBETTES (1983:19) assim como para os psicolingistas, o
TEMA o elemento que j pertence ao campo da conscincia. No o
27
conhecido, o dado, depende do contexto. a partir deles que ocorre o
desenvolvimento da informao nova (REMA).
Por outro lado, BARDOVI-HARLIG (1990:45), lingista americana,
usa a terminologia TPICO e COMENTRIO. Para essa autora, o TPICO
aquilo sobre o qual o resto da frase e o COMENTRIO tem informao
dada e nova. Essa informao nova tida como foco que o responsvel
pelo avano da informao.
Entenderemos o Tema ou Tpico como a informao dada e o Rema ou
Comentrio como a informao nova.
Com relao informao, podemos enfoc-la sobre o grau de
importncia que ela assume no contexto. FRIES (1992), ao analisar a
estrutura informacional em textos escritos de propagandas em ingls, aborda
que pontos relevantes podem ser marcados por pontuao, por destaques no
modo de redigir e pela colocao da informao principal no final de frases
para que o leitor se lembre das idias mais importantes.
Nosso estudo sobre estrutura informacional vai alm do nvel frasal.
Tentaremos abordar as posies que ocupam nos segmentos-tpicos as
informaes principal, superior, dominante ou central de primeiro plano e a
secundria, inferior de segundo plano; e as informaes dada/nova em
posio temtica e remtica . A informao de primeiro plano pode se referir
informao nova por ter mais relao com o objetivo do texto e que,
possivelmente ocupar a posio remtica, em posio final de segmento-
tpico; a de segundo plano poder ser a informao dada, conhecida, que,
possivelmente, ocupar a posio temtica, sendo usada apenas como uma
forma de orientar o leitor a receber a mensagem que est por vir.
28
Fizemos um levantamento de alguns critrios para diferenciar a
informao principal da informao secundria:
a) A informao principal deve estar relacionada
com o objetivo do texto
Para FRIES ( 1992), a informao principal est ligada ao objetivo. O
autor parte da anlise de textos de propaganda que possuem a caracterstica de
serem bem estruturados, feitos para um pblico-alvo bem definido atravs de
pesquisas, com objetivos especficos j que conhecem quais so as
expectativas de quem vai receber o texto de propaganda.
Na maioria das redaes de vestibular, corpus de nossa anlise, o aluno
recebe o tema, mas no tem bem definido o objetivo nem o pblico-alvo. Os
vestibulares deveriam se estruturar de modo a no dar apenas o tema mas
tambm o objetivo, tendo em vista que os estudos de Lingstica Textual j
tm abordado sobre essa necessidade. Fica aqui registrado esse estudo
realizado por FRIES no qual ele afirma e comprova na anlise de textos
publicitrios, que a informao principal est diretamente relacionada com o
objetivo do produtor do texto para que se reforce a recomendao de que as
provas de redao de vestibular deveriam no s propor o tema mas tambm
deixar claro o objetivo e o pblico-alvo a fim de que o candidato tenha
condies adequadas para elaborar seu texto.
Ao solicitar as provas de redao de vrias universidades, recebi o
relato de uma experincia que a Universidade Federal do Paran tem
executado que procura atender esses requisitos. A prova de redao do
vestibular de 1997 foi dividida em cinco questes discursivas distintas que
englobam cinco aspectos diferentes da escrita pois so solicitadas habilidades
especficas em cada uma, valorizando um domnio maior da linguagem em
29
toda a diversidade de seus registros e formas. As questes so mais precisas e
menos vagas.
Para exemplificar, a primeira questo do vestibular do primeiro
semestre de 1997 recebeu a seguinte instruo: Escreva uma carta de at 10
linhas, repassando as principais informaes do quadro abaixo a um(a)
amigo(a) que pretende fazer este exame de seleo.
Exame de seleo Data do exame: ............................................ 10/01/1997 Horrio de fechamento dos portes: ........... 7h20 Horrio de incio do exame: ........................ 7h30 Durao mnima: ......................................... 1h30 Durao mxima: ........................................ 4h Documentos exigidos: ................................. RG e carto de inscrio Material permitido na sala de exame: ......... caneta azul, lpis e borracha Publicao dos resultados: .......................... 10/02/1997 Matrcula dos classificados: ........................ 12/02/1997
Esse tipo de questo deixa bem definido o pblico-alvo de seu texto e o
seu porqu , qual o seu objetivo, possibilitando ao vestibulando a seleo
das informaes importantes, qual o domnio que dever ter em relao
forma escrita de seu texto, atendendo assim, o objetivo primordial de uma
prova de redao em vestibular: avaliar a competncia lingstica do
candidato quanto ao seu domnio da modalidade escrita da lngua.
Outro aspecto positivo, que de natureza operacional, dessa prova que
achamos interessante mencionar que cada aluno passa por cinco equipes
diferentes de correo pois cada questo corrigida por uma equipe diferente
o que reduz a probabilidade de erros na avaliao, tendo em vista que, por
mais que se tenham critrios estabelecidos para a correo, h fatores
subjetivos, que influenciam a correo, como, por exemplo, o corretor ser
mais ou menos rgido. Em um sistema de avaliao em que o candidato
produz um nico texto que corrigido por uma s equipe, a probabilidade do
30
candidato ser prejudicado pelos aspectos subjetivos que influenciam o
corretor bem maior.
Sobre a necessidade da exposio dos objetivos, acrescentaramos as
evidncias experimentais expostas por KLEIMAN (1989 b: 29-44) com
relao aos objetivos e expectativas de leitura. A autora, em uma experincia
realizada com alunos do 2o. grau noturno, aplicou o exerccio em dois grupos.
Um grupo deveria fazer um resumo de um texto sem ser dado nenhum
objetivo. J para outro grupo foi dado um objetivo especfico: deveriam fazer
um resumo para ser submetido ao jornal da escola que estava precisando de
um artigo sobre o assunto. Os resultados obtidos comprovaram que o grupo
que recebeu a explicao dos objetivos no s escreveu melhor como tambm
percebeu melhor o tema.
Em outra pesquisa realizada por dois psiclogos americanos
(RICKHEIT & STROHNER, 1986:10), o mesmo texto foi dado para dois
grupos com objetivos diferentes de leitura: lembrar detalhes importantes para
quem interessa comprar a casa que estava descrita no texto e para quem
estivesse interessado em arrombar a casa. A recuperao das informaes
principais nos dois grupos foram diferentes.
Isso comprova que, tanto para quem vai escrever ou ler um texto, os
objetivos so fundamentais para que se realize um trabalho melhor em torno
do tema e para estabelecer que idias sero tidas como principais no texto.
Baseados nesta segunda experincia tambm realizamos em sala o
mesmo exerccio, obtendo o mesmo resultado. Posteriormente readaptamos o
texto colocando as informaes principais destacadas pelos alunos em ordens
diferentes, criando duas verses, dois textos, com o mesmo contedo em
ordens diferentes, para que eles escolhessem a que tivesse ficado melhor para
verificarmos se ocorreria a preferncia pela colocao no final de segmento-
31
tpico. O relato dessa experincia est em detalhes no ltimo item deste
estudo.
Com relao colocao das idias principais no texto, Kleiman afirma
que o leitor, ao realizar a leitura superficial de um texto jornalstico, realizar
um processo de leitura pr-leitura seletiva, ou seja Skimming quando ele
selecionar os primeiros ou os ltimos perodos de pargrafos e tabelas
para obter uma idia geral sobre o tema e subtemas. De fato, a forma do texto determina, at certo ponto, os objetivos de leitura... o
objetivo geral ao ler o jornal diferente daquele quando lemos um artigo
cientfico. Por exemplo, na leitura de um jornal, j na primeira pgina o leitor faz
uso de mecanismos para a apreenso rpida de informao visual dando uma
mera passada de olhos, ( processo este chamado de scanning ou avistada)
geralmente a fim de depreender o tema de diversos itens a partir das manchetes .
Uma vez localizada a notcia de interesse, provvel que o artigo seja lido
procurando detalhes sobre o assunto. Por outro lado, se estamos em dvida sobre
o possvel interesse de um artigo, provvel que utilizemos uma pr-leitura
seletiva skimming que consiste em ler seletivamente os primeiros ou os ltimos
perodos de pargrafos, as tabelas, ou quaisquer outros itens selecionados pelo
leitor a fim de obter uma idia geral sobre o tema e subtemas.(KLEIMAN,1989
b:33).
Segundo essa autora, os primeiros ou os ltimos perodos de pargrafo
so capazes de fornecer uma idia geral sobre o tema e os subtemas. Podemos
entender ento, que a colocao das informaes principais em um texto tem
essa ordem prefervel o que reafirma , em parte, nossa hiptese de que a
ordem prefervel para colocao das informaes principais no final do
segmento-tpico.
b) A informao principal tem a ver com a idia que a pessoa quer
passar e defender no caso da argumentao.
32
O produtor do texto a pessoa que vai definir o principal ao apresentar
seu texto que ser julgado pelo leitor.
Veja a anlise de alguns fragmentos de redao em que pudemos
observar esse fato:
i) Somos livres, desde que no tenhamos praticado nenhum ato ilcito,
para ir e vir. Isto o que consta da nossa Constituio. Muitas pessoas
acreditam que isso possa ser tudo que precisamos para sermos livres. No
somente uma cela de cadeia que pode nos prender, mas sim, atos
impensados ou respostas prontas e acabadas, tambm nos faz
prisioneiros. (UNIVERSIDADE DE UBERABA, 1 sem. melhores)
Observamos que o vestibulando, autor desse texto, parte do conceito de
liberdade na Constituio de que, para ser livre, basta poder ir e vir por no
ter cometido nenhum ato ilcito e que, segundo o candidato, a opinio da
maioria das pessoas. Posteriormente, coloca a sua opinio em relao
liberdade discordando da colocao anterior pois, para ele, a liberdade no
s impedida por uma cela de cadeia, mas sim, pela conscincia das pessoas
que agem impensadamente ou radicalmente.
O principal, para esse autor, em relao temtica apresentada s foi
colocado no final do segmento-tpico. Partiu da opinio da maioria das
pessoas sobre o assunto para s colocar a sua opinio no final.
ii) O povo conheceu , nos anos do regime militar no Brasil, a mais
pura forma de represso liberdade. A censura fez com que os pensamentos e
as idias de cada um desaparecessem e o exlio foi uma das conseqncias
para aqueles que no conseguiram ficar calados. Tudo isso para manter o
regime poltico que interessava aos poderosos, uma minoria comparada
33
ao restante da populao. (UNIVERSIDADE DE UBERABA, l Sem.
melhores).
O mais importante, para esse autor, o que ele denuncia no final do
pargrafo: que o regime militar no Brasil, que reprimia a liberdade, foi
mantido pelo interesse de uma minoria poderosa que queria a sustentao da
dominao.
iii) A situao grave e geral em todo o Brasil: mdicos esto
escolhendo os prprios pacientes para darem assistncia. Uma escolha
bastante radical que consiste em atender aqueles que tm mais probabilidade
de se recuperar. Ser que um mdico tem toda capacidade de saber qual
paciente tem chance ou no de viver? (UFU, lo. sem, tema A, melhores)
O autor desse fragmento afirma que os mdicos esto escolhendo os
pacientes para dar assistncia. No final ele questiona se o mdico tem essa
capacidade deixando transparecer seu posicionamento contrrio a essa atitude.
O ponto de vista do autor ficou claramente marcado no final do pargrafo
com a interrogao feita.
c) As oraes adjetivas se encarregam da informao secundria
Para comprovao dessa afirmao, partiremos das anlises j
realizadas por TRAVAGLIA (1996:155). No exemplo (108 c) apresentado
pelo autor, O gato que branco roubou o peixe , as expresses que
branco e roubou o peixe so consideradas informaes novas, sendo que a
primeira informao secundria e a ltima, principal. Pode-se observar nos
exemplos dados que, na hierarquizao das informaes novas, a informao
principal fica em posio final da frase:
34
Essa frase seria usada em uma situao em que a informao de que o gato
branco secundria dentro da fala, j que o mais importante dizer que ele
roubou o peixe. (TRAVAGLIA, 1996:155).
Se invertssemos a colocao das informaes da frase anterior para
O gato que roubou o peixe branco seria diferente pois o mais
importante passa a ser a informao de que o gato branco. Poderamos
exemplificar com uma situao em que algum procura saber qual gato
roubou o peixe e era-lhe respondido que foi o gato branco. Nesse caso a
informao principal deslocou-se da posio mediana para a posio final da
frase.
Utilizando-se de conhecimentos matemticos na verificao de quantas
maneiras diferentes podemos reorganizar uma frase MULLER (1973:41 apud
CHOCIAY, 1993:16), por anlise combinatria, em casos de permutao,
constata que o nmero de permutaes de n elementos o produto dos
nmeros inteiros de 1 a n . A mudana na ordem dos blocos constitutivos de
uma frase ou texto daro vrias opes de construo. Exemplificando:
Ns no podemos obter este livro em Londres. ... Se observarmos que, no
conjunto da frase dada, so intercambiveis os blocos ns, no podemos,
obter, este livro, em Londres, verificaremos que o nmero de permutaes
(no caso, o produto dos nmeros inteiros de 1 a 5) de 120. (CHOCIAY,
1993:17)
A escolha da ordem ser de acordo com os objetivos do autor do texto
que selecionar o que for mais importante e poder expressar isso para seu
leitor colocando a informao mais importante no final do segmento-tpico.
d) Oraes reduzidas veiculam informaes secundrias
35
Em TRAVAGLIA (1991: item 6.3.6), encontramos um estudo sobre as
formas verbais em diversas tipologias textuais, constatando que as formas
verbais tm a ver com a veiculao de informaes:
a) na dissertao, as formas nominais do verbo (oraes reduzidas)
expressam informaes secundrias, excetuando o infinitivo, quando
forma oraes subordinadas substantivas;
b) na descrio, as formas nominais tambm veiculam informaes
secundrias;
c) na injuno, as formas nominais tambm indicam informaes
secundrias: o infinitivo sem modalidade imperativa, indica modo,
fim ou forma oraes substantivas tal como nos outros tipos de
texto.
Analisando o Captulo referente s oraes reduzidas da Novssima
Gramtica da Lngua Portuguesa de Cegalla, o autor coloca-nos que : a) Afirmou o sertanista [ que no h selvagens gigantes].
b) Afirmou o sertanista [ no haver selvagens gigantes].
Tanto na primeira como na segunda construo, a orao entre
colchetes subordinada substantiva objetiva direta. A forma dessa orao
diferente, mas o sentido o mesmo.3 (CEGALLA, 1988:351).
Questionamos se o sentido seria o mesmo. Quando digo Ao saber isso,
entristeceu-se. ter o mesmo sentido que Quando soube isso entristeceu-
se.? Intuitivamente, percebemos que, quando a orao reduzida, a
informao nela contida vista como secundria ao passo que quando a
orao desenvolvida, a informao no vista como secundria. Se o
3 Destaque nosso.
36
mesmo fato ora importante ora secundrio no estar fazendo diferena de
sentido?
Alm dessa diferena, ser que a mudana na colocao da informao
influenciar na melhoria do texto? Entre Ao saber isso, entristeceu-se. e
Entristeceu-se ao saber isso. parece-nos que a primeira, que coloca a
informao principal no final da frase, tem a preferncia.
Relacionando com nossa pesquisa, a colocao da informao principal
no segmento-tpico tambm ter a preferncia no final do segmento?
e) Oraes coordenadas contm informaes principais e oraes
subordinadas contm informaes secundrias, complementares?
O perodo composto pode ser constitudo por oraes autnomas,
independentes, com valor igualitrio, a que se d o nome de coordenadas,
pois cada uma tem sentido prprio ou pode ser constitudo por oraes sem
autonomia gramatical, pois uma orao, tida como subordinada ,
desempenha uma funo sinttica em outra orao, dependente de outra tida
como principal.
Na frase Quando o espelho quebrou, Maria estava tricotando. a
orao subordinada no incio aparece como um informao dada, j conhecida
por todos, no podendo ser alterada. J a informao final, nova, Maria
estava tricotando poderia ser substituda por Maria estava caminhando.
Invertendo as posies, a anlise passa a ser diferente: Maria estava
tricotando quando (de sbito) o espelho quebrou.. A orao subordinada
quando (de sbito) o espelho quebrou est no final, em posio de primeiro
plano, como informao nova, podendo agora ser substituda por outra
...quando (ao esbarrar) quebrou o espelho.
37
Sendo assim, para ns, a informao principal est ligada muito mais s
intenses (contedos, significados) e objetivos do autor do texto do que
forma. Podemos ter oraes subordinadas em posio inicial de segmento
com informao secundria e na posio final do segmento-tpico ser uma
informao principal, de acordo com as pretenses do autor do texto.
Essas foram as formas que encontramos para perceber se a informao
principal ou secundria em um texto. Tentaremos verificar todos esses
fatores em nossa anlise.
2.1.5. Progresso Textual
Ao contrrio de CARNEIRO (1993:31) que parte em seu trabalho
sobre o adjetivo e a progresso textual, do conceito de progresso, como
simplesmente o ato de estender o texto, entenderemos por progresso
textual o mesmo que na viso de CHARROLLES (1978:20), como sendo o
acrscimo da idia nova, ou seja, a progresso semntica. As relaes entre
informaes dadas e novas que aparecem no texto no plano da coerncia so
somadas para garantir a progresso textual. No plano da coeso, a lngua
dispe de mecanismos para manifestar essas relaes entre o dado e o novo.
Na seqenciao do texto, o modo como se opera a progresso temtica
tem grande relevncia. Para CHARROLLES (1978 ):
A progresso semntica, contrapartida da repetio ou continuidade, a segunda
condio de coerncia e coeso. O texto deve retomar seus elementos conceituais
e formais, mas no pode se limitar a essa repetio.
38
Como estratgia de articulao textual, o uso de mecanismos de coeso
seqencial para a progresso textual difere da simples repetio que causa a
circularidade. a unio de novas informaes a propsito dos elementos
retomados. Esse acrscimo semntico faz o texto progredir.
A recuperao de uma informao nova em posio temtica no
segmento-tpico seguinte com base nos recursos da coeso referencial, como
por exemplo, repetio do mesmo item lexical, nominalizao, expresso
nominal definida, etc (Cf. KOCH, 1989), considerada por ns uma
estratgia de articulao textual. O uso desse recurso ter funo coesiva, ao
enfocar a sua atuao na estrutura da organizao tpica, uma vez que
possibilita a marcao lexical dos termos que sustentam tal organizao,
favorecendo a continuidade e a unidade do texto.
A reiterao da coerncia referencial ocorrer pela necessidade de
vnculos de coeso entre os segmentos-tpicos diferentes e no uma simples
circularidade.
Segundo LEMOS (1977), existem repeties que no contribuem para
a progresso textual so apenas repeties viciosas das mesmas idias:
Ao tipo de desvio que se designou por circular , correspondem relaes entre
sentenas, perodos ou pargrafos, em que um elemento X ( sentena, perodo e
pargrafo ) justaposto ou ligado por conectivo a um elemento Y do mesmo nvel
ou classe ( sentena, perodo e pargrafo), sendo o contedo de Y total ou
parcialmente idntico ao de X. (LEMOS:1977:68).
Concordamos com o parecer de Moreira (1991: 5-6) ao colocar que:
...nem sempre no caso de o contedo de Y ser parcialmente idntico ao de X, se
pode falar em circularidade. Freqentemente, a recorrncia tem funo
39
argumentativa : o propsito orientar o leitor para determinadas concluses, com
excluso de outras.
A repetio ser vista por ns, assim como para ANTUNES (1996),
como um poderoso fator para o exerccio da elucidao da mensagem
veiculada na progresso textual:
...o emprego da repetio de unidades e da repetio de seqncias de unidades,
como estratgia de prover e indicar a organizao seqencial do texto; por estas
vias, seria possvel conferir repetio um carter menos unilateralista, no sentido
de que se evidenciariam, tambm, os resultados positivos do seu emprego para
deixar a seqncia do texto contnua e unificada ( ANTUNES - 1996:309)
O prprio CHAROLLES (1978), ao propor quatro meta-regras de
coerncia: repetio, progresso, no-contradio e relao, j falara at
mesmo na necessidade da repetio para que um texto seja coerente.
KOCH E TRAVAGLIA ( 1989:50) citam as meta-regras de Charolles
e enfocam a repetio e a progresso como construtores da coerncia:
O que se depreende dessas duas regras que, em todo texto, deve haver
retomadas de elementos j enunciados e, ao mesmo tempo, acrscimo de
informao . So estas idas e vindas que permitem construir textualmente a
coerncia.
Em se tratando de produo e de recepo textual, o avano da
informao um aspecto que deve ser enfocado com nfase , devido a sua
importncia. Para o estudo da progresso temtica as questes de
tema/rema, dado/novo, tpico/comentrio so relevantes no dinamismo
comunicativo.
A questo da articulao tema/rema foi desenvolvida por alguns
funcionalistas que se preocuparam com a organizao e hierarquizao
40
(blocos comunicativos - tema/ tpico/ dado e rema/ comentrio/ novo4) das
unidades semnticas de acordo com a perspectiva oracional em que o tema
aquilo que se toma como base para a comunicao, aquilo de que se fala
independente de ser o dado, e rema aquilo que se afirma sobre o tema,
independente de ser o novo; e a perspectiva contextual em que o tema a
informao deduzvel e o rema, a informao nova, no deduzvel.
Alguns tipos de progresso j foram analisados por lingistas. Dentre
eles podemos citar os tipos propostos por Danes e os propostos por
Lautamatti.
Segundo Danes (1974:114), Progresso temtica deve ser vista como a
base, o esqueleto ( skeletos) do enredo (plot).. O autor combina a perspectiva
oracional e a contextual com a concepo de progresso temtica, pois sua
preocupao com a organizao do texto e no da frase, e classifica a
estrutura textual em 5 (cinco) tipos de progresso:
I- PROGRESSO TEMTICA LINEAR - o rema de cada enunciado -
ou uma parte do rema - torna-se tema do enunciado seguinte, o rema deste,
a tema do seguinte, e assim sucessivamente. Isso pode ser representado
pelos seguintes esquemas e exemplo:
Esquema 1 -sugerido por MOREIRA (1991:41) :
T1 R1
T2 (= R1) R2
T3 (=R2) R3
4 Estamos emparelhando tema/tpico/dado e rema/comentrio/novo para efeito da observao do trabalho, mas sabemos que h diferenas entre esses conceitos que, todavia, no so relevantes para o nosso trabalho.
41
As setas horizontais indicam a relao tema/rema, ou seja, a progresso
nas frases e as setas verticais indicam o encadeamento no texto, a ligao
contextual.
Esquema 2 - sugerido por KOCH (1989:58)
A B
B C
C D
Exemplo:
(1)Pensadores de todas as pocas da histria teceram mltiplas teorias sobre as
possveis causas da agresso do homem pelo homem. Alguns responsabilizaram a
natureza humana, outros invocaram a autoria de demnios para nossos atos
violentos e, mais recentemente, alguns empenharam-se com fervor em explicar a
violncia social atravs de dipo ou da primeira infncia. (...). Surgiram, ento, os
que encontraram na estrutura da sociedade as razes da violncia social.
A estrutura de uma sociedade determinada, principalmente, pelo
arcabouo econmico de seu funcionamento.... ( KAPPEL, 1996:203).
I I - PROGRESSO TEMTICA COM TEMA CONSTANTE: em
que, o mesmo elemento temtico aparece em enunciados sucessivos,
variando, em cada um destes, apenas o rema; a um mesmo tema so
acrescentadas novas informaes remticas. muito freqente em narraes
de alunos onde o heri o tema da maior parte das frases e o rema introduz
apenas novas aes. Podemos representar pelos seguintes esquemas:
Esquema 3 - sugerido por MOREIRA (1991:42) :
42
T1 R1
T1 R2
T1 R3
Esquema 4 -sugerido por KOCH (1989:59)
A B
A C
A D
Exemplo :
(2) O co um animal mamfero e quadrpede. Ele tem o corpo coberto de plos
O co um excelente guarda para nossas casas. (/0) um animal muito fiel.
(KOCH - 1989:58).
III - PROGRESSO TEMTICA COM TEMA DERIVADO-
subtemas (temas parciais) originam-se de um hipertema comum. Aparece
com freqncia em textos descritivos e argumentativos, quando desenvolve
diferentes pontos. Teremos as seguintes possibilidades de representao:
Esquema 5 - sugerido por MOREIRA (1991:43)
T (hipertema)
T1 R1
T2 R2
43
T3 R3
Esquema 6 - sugerido po KOCH (1989:59):
A
A1 B A3 D
A2 C
Exemplo:
(3) O Brasil o maior pas da Amrica do Sul. A regio norte ocupada pela
bacia Amaznica e pelo Planalto das Guianas . A regio nordeste caracteriza-se,
em grande parte, pelo clima semi-rido. As regies sul e sudeste so altamente
industrializadas.(KOCH- 1989:59).
IV -PROGRESSO TEMTICA COM REMA SUBDIVIDIDO - os
elementos de um rema mltiplo do origem a vrios temas, ou seja, o
desenvolvimento das partes de um rema superordenado. Podemos ter os
seguintes esquemas:
Esquema 7 - sugerido por MOREIRA (1991:44):
T1 R1 ( = R1 + R1)
T2 R2
T2 R2
44
Esquema 8 - sugerido por KOCH (1989:59):
A B (= B1+B2+B3...)
B1 C
B2 D
B3 E
Exemplo:
( 4)Vamos falar agora das partes do corpo humano. A cabea formada de
crnio e face. O tronco compe-se de trax e abdmen. Os membros dividem-se em
superiores e inferiores.( KOCH - 1989:59).
V - PROGRESSO COM SALTO TEMTICO - omisso de um
enunciado, segmento intermedirio da cadeia de progresso temtica, que
pode, sem dificuldade, ser depreendido do contexto. Isso pode ser
representado por:
Esquema 9 - sugerido por MOREIRA (1991:46):
T1 R1
T2 (=R1) R2
..................................................
T3 R3
45
Esquema 10 - sugerido por KOCH (1989:60):
A B
B C
............
D E
Exemplo:
(5) Atualmente, um dos principais fatores que interferem no equilbrio do
homem/meio ambiente a poluio. Gases venenosos tornam irrespirvel o ar das
grandes cidades. /0/0/0 As doenas das vias respiratrias contribuem para o
aumento da mortalidade infantil, principalmente no inverno.( MOREIRA -1991:
47)
Percebe-se facilmente que no trecho /0/0/0/ poderia estar escrito: e
isso gera ou o que cria ou o que acarreta doenas das vias respiratrias.
Preenchido esse espao, a orao seguinte sofreria uma adaptao
empregando-se o pronome relativo: ...as quais contribuem para o
aumento.....
Segundo LAUTAMATTI (1978) a tipologia de progresso proposta :
(i) PROGRESSO PARALELA - os tpicos das sentenas so
semanticamente idnticos. o que Danes chama de progresso temtica com
tema constante. A repetio de um mesmo tpico serve para reforar a idia
na mente do leitor.
(ii) PROGRESSO SEQENCIAL - neste tipo de progresso, os tpicos das sentenas so sempre diferentes, uma vez que o comentrio da
46
sentena anterior fornece o tpico da sentena seguinte e assim por diante.
Corresponde progresso temtica linear, na terminologia de Danes.
(iii) PROGRESSO PARALELA AMPLIADA - ocorre quando tpicos de sentenas semanticamente idnticos aparecem em pelo menos
duas sentenas no adjacentes: a seqncia de um dado tpico de sentena
interrompida, temporariamente, por uma progresso seqencial. O
produtor do texto volta a um tpico mencionado anteriormente na redao.
Esta volta favorece a elaborao do fecho, quando utilizada no final de um
texto.
No projeto, havamos selecionado dois tipos de progresso: Linear
(Danes) ou Seqencial (Lautamatti) e de Tema Constante (Danes) ou Paralela
(Lautamatti) por serem as mais comuns nos textos dissertativos de vestibular
j analisados por outros autores. Entretanto, percebemos tambm a incidncia
de progresso Temtica com Rema Subdividido. Sendo assim, analisamos
textos com esses trs tipos de progresso.
2.1.6. Tipos Textuais
Dentre as tarefas bsicas da Lingstica Textual encontramos a
diferenciao das vrias espcies de texto. Torna-se necessrio distinguirmos
algumas tipologias textuais, tendo em vista que vamos trabalhar com anlise
de textos escritos.
Partiremos, de acordo com TRAVAGLIA (1991), da idia de que o
tipo de relao de interlocuo fundamental para a tipologia, pois cada tipo
47
instaura uma forma de interao entre os interlocutores. Para que um texto
seja de um tipo ou de outro, preciso haver uma correlao entre
propriedades e certas marcas, pois a tipologia a possibilidade da
concretizao das intenes discursivas. Entendemos que o tipo do texto se
define por uma relao de dominncia de um tipo sobre o outro que tambm
pode estar presente no texto.
Como nossa atuao profissional, enquanto professora de redao e
leitura, a de ensinar alunos do Ensino Mdio e Superior a produzirem textos,
optamos por trabalhar com o texto dissertativo , podendo ser ou no
argumentativo de natureza stricto sensu ou no, que o exigido para as
redaes de vestibular que constituem nosso primeiro corpus, mesmo que
sejam de regies diferentes, mas em uma mesma situao ( a de prova de
vestibular) , evitando assim, as flutuaes de contextos que, segundo
HALLIDAY (1979:109) seria o meio ambiente no qual o texto vem luz.
Para o segundo corpus escolhemos textos consagrados como bons
principalmente dissertativos .
Quanto superestrutura do texto dissertativo, muitos autores se
preocupam apenas com a organizao do texto segundo a seqncia
aristotlica que determinou o esquema: Introduo - Desenvolvimento -
Concluso. Mas, s esses conhecimentos no tm ajudado os estudantes a
produzirem textos eficazes com um bom desenvolvimento do tema proposto.
Em nosso trabalho vamos analisar, nas duas pesquisas, corpus
contendo textos com predominncia para a dissertao. Para isso, faz-se
necessrio que o caracterizemos, de acordo com as marcas lingsticas e o
modo de enunciao. Adotaremos a caracterizao de texto dissertativo de
TRAVAGLIA (1991 - Captulo 2) que se insere numa tipologia em que se
48
distingue do narrativo, do descritivo e do injuntivo, que se institui por modos
de enunciao caracterizados pelas perspectivas em que o locutor/enunciador
se coloca em termos de tempo e espao por um lado e do fazer ( e/ou
acontecer) ou do conhecer por outro, em relao ao objeto do dizer. O tipo
argumentativo, stricto sensu ou no, enquadra-se em uma tipologia parte
porque se institui por modos de enunciao caracterizados por perspectivas do
locutor/enunciador dadas pela antecipao que ele faz em termos da
concordncia ou discordncia, adeso ou no do alocutrio ao seu discurso.
Sendo assim, a argumentao poder ser feita atravs de descries,
dissertaes, injunes e narraes.
Para esse autor, o texto dissertativo apresenta as seguintes
caractersticas , com relao:
a) perspectiva em que o enunciador/locutor se coloca - enunciador na perspectiva do conhecer, abstraindo-se do tempo e do espao;
b) ao objetivo da enunciao, uma atitude do enunciador em relao ao objeto do dizer - busca-se o refletir, o explicar, o avaliar, o
conceituar, expor idias para dar a conhecer, para fazer saber,
associando-se anlise e sntese de representaes;
c) instaurao do interlocutor - como ser pensante, que raciocina.
Alguns autores propem subtipos de dissertao. ANDR (1978:89)
distingue a subjetiva da objetiva, GARCIA (1965: 335-381) aborda a
dissertao expositiva e a argumentao . Para nosso objeto de estudo, a
distino desses subtipos parece, de primeira mo, no ser pertinente. Todavia
vamos observar se eventualmente subtipos de dissertao criam fatos
diferentes no que se refere distribuio informacional.
49
2.2. QUESTO METODOLGICA
Neste estudo, a atitude filosfica a de empirista, condicionando o
conhecimento experincia. O mtodo o indutivo e a tcnica, a da
experimentao. Atravs dos dados poderemos chegar s idias. Para esse
mtodo , partiremos da observao (coleta de dados em redaes e leitura de
textos), passando s idias que so levantadas por meio da experimentao e
da discusso dos resultados obtidos. importante ressaltar que estamos
cientes de que esta pesquisa interpretativa, tendo em vista a subjetividade
social do pesquisador e dos pesquisados.
Na delimitao do corpus da primeira pesquisa, utilizaremos algumas
redaes (dissertaes) tendo escolhido 50 entre as melhores e 50 entre as
piores da classificao geral de cada entidade solicitada. De acordo com a
nota dada pela comisso de correo da redao de cada rgo, os textos
foram classificados como bons ou ruins, sendo que, do total recebido,
selecionamos apenas 100: 50 boas e 50 ruins para compor nosso corpus
operacional.
O texto dissertativo, dada a sua complexidade e modalidade difcil de
ser ensinada, mais trabalhado no 2o e 3o graus. Para nossa anlise, as
inadequaes mais locais tais como ortografia, concordncia ou pontuao
sero menos relevantes. Deter-nos-emos na perspectiva global que permite
uma anlise de texto que busca pela coerncia interna do discurso, pela
50
organizao lgica de suas idias, por um tpico geral que amarre os
diferentes segmentos-tpicos transformando-os num texto acabado, coeso e
coerente.
Para a segunda pesquisa, tendo em vista mais o julgamento do leitor,
escolhemos textos predominantemente narrativos e dissertativos j
consagrados como bons por avaliadores, alteramos a ordem da colocao das
informaes principais e secundrias e fizemos um questionrio para que os
leitores escolhessem a ordem prefervel.
Nossas anlises observaro os seguintes aspectos: coeso alm do nvel
frasal, coerncia ( vendo como a colocao da informao contribui para o
estabelecimento do sentido), segmentao textual, estrutura informacional e
distribuio da informao ( dado / novo, introduo do tpico, principal /
secundrio) com vistas progresso textual , afetando ou no a legibilidade e
a qualidade de textos .
2.3. OUTROS ESTUDOS SOBRE DISTRIBUIO INFORMACIONAL
A distribuio informacional tem sido tratada em diversos estudos mais
a nvel de sentena.
MIRA MATHEUS (1983), em seu Captulo 7 - Mecanismos de
estrutura textual - aborda a comunicao verbal atravs de textos que
51
possuem as propriedades de conectividade seqencial (coeso) e conceptual
(coerncia), intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade,
intertextualidade e informatividade, responsveis pela textualidade . No item
7.3, p. 207, a autora analisa, do ponto de vista cognitivo, a estrutura temtica
(modo como um texto seleciona e vai apresentando os tpicos) que
profundamente ligada estrutura informacional ( modo como se distribui a
informao apresentada). Considera o tpico discursivo (tpico de seqncias
textuais) e o tpico frsico ( tpico de uma frase).
Para essa autora, o texto fala sempre de um ou mais assuntos - os
tpicos- e, em geral, o que diz acerca deles - o comentrio - que acrescenta
elementos cognitivos adicionais ao que constitua o conhecimento anterior
desse objeto. Considera que, para que a estrutura temtica de um texto seja
coerente, necessrio que os elementos cognitivos fornecidos pelo
comentrio sejam relevantes e a relao tpico-comentrio deve processar a
progresso temtica. A estrutura tpico-comentrio coincide muitas vezes
com a estrutura informacional: o tpico, informao de que j dispe o
locutor e o alocutrio e o comentrio, a informao nova.
Mira Matheus ao afirmar que:
A posio que os constituintes ocupam na frase outra forma de assinalar o
constituinte foco: dada a funo cognitiva do foco, natural que ele ocorra em
posio final de frase; assim um dos processos de marcar o foco de um dado
enunciado, deslocar o constituinte que tem essa funo para posio final de
frase.(1983:215),
chega concluso que a posio final de frase prpria para se colocar o foco
de informao, ou seja, o alvo da ateno dos intervenientes na produo-
52
interpretao de um texto, devido ao fato de ser ele constitudo por elementos
novos.
Em nosso estudo estaremos verificando se a posio ideal para
colocao da informao principal tambm ser a posio final, s que, ao
invs de analisarmos o final de frase como Mira Matheus, estaremos
analisando o final de um segmento-tpico.
GIORA ( 1983:155-181), em seu artigo Segmentation and segment
cohesion: On the thematic organization of the text, diferente da viso de que
a coeso aparece apenas nas relaes lineares entre frases, apresenta um
estudo que estende a noo de coeso alm do nvel da frase, por v-la como
uma exigncia do texto para associao de segmentos maiores como
pargrafos ou at captulos inteiros. Partindo dos planos de concatenao
listados por DANES (1974), Giora considera apenas um tipo de progresso
textual, o mais elementar que a apresentao de um tema num rema
constituinte prvio (progresso linear) por terem duas funes bsicas: uma
coesiva e outra informacional.
Esse trabalho da autora uma tentativa de mostrar que posio final de
segmento de qualquer natureza que seja(pargrafo, estrofe e captulo), um
parmetro determinante para a posio da informao principal, de primeiro
plano. Parte dos trabalhos de DANES (1974) e de FIRBAS (1975): assumem
que a localizao de constituintes na seqncia da frase determina o status
informacional. A posio final da frase marcada como de primeiro plano
enquanto que a posio inicial da frase marcada como de segundo plano.
Comeando a anlise de textos ao nvel da frase, GIORA delineia um
modelo de conexo linear, sugerida por DANES (1974), que serve como
modelo bsico para a anlise desses mesmos aplicativos coesivos em
53
pargrafos, captulos e estrofes de poemas, chegando concluso, em todos
esses tipos de segmentos , que a posio final de segmento prefervel para a
colocao de um tpico futuro, alm de ser a idia dominante.
Essa experincia foi feita em textos cuja organizao se faz por
progresso linear dos temas no texto em que a viso de relaes temticas
inter-sentenciais segue o princpio de conduta de velho/dado para
novo/informao de primeiro plano que exige que uma frase comearia com
informao velha/dada (Tema= T1) e finalizaria com informao nova (Rema
=R1). Na frase seguinte, o Tema (T2) o Rema (R1) da expresso prvia.
Alm disso, Giora afirma que a posio final de segmento, seja de qualquer
natureza, alm de ser um parmetro determinante para colocao da
informao principal, de primeiro plano, uma das motivaes para a
segmentao discursiva, por haver necessidade de trocar ou mudar os tpicos
discursivos.
Enfim, Giora chega concluso de que a concatenao tema-rema vai
alm do nvel da frase e que segmentando o texto depois da introduo do
tpico discursivo novo/futuro, em vrios nveis de texto, resulta na criao de
hierarquias informacionais.
Esse estudo de Giora foi fundamental para iniciarmos nossa pesquisa,
pois incentivou-nos averiguar se nos textos em lngua portuguesa, o mesmo
acontecia.
ANTUNES (1996) partiu do problema referente forma como se
organiza a seqncia do texto e investigou a maneira como ocorre a coeso
textual, detendo-se no estudo e na anlise dos recursos da repetio e da
substituio, privilegiando o fator da continuidade e da unidade do texto.
54
A autora parte de uma anlise de textos escritos, comentrios
publicados em jornais, e, ciente de que um texto no prescinde dos elementos
que comparecem sua superfcie e que tambm no se esgota pela realizao
da mesma superfcie, postula que o emprego da repetio e da substituio
lexical coesiva corresponde ao propsito de fazer com que partes diferentes
do texto entrem em ligao e possibilitem a continuidade semntica que
marcam as realizaes lingsticas funcionais.
Aps a realizao de seus estudos, Antunes sugere uma reavaliao da
forma como, de ordinrio, a repetio abordada no ensino e no exerccio da
prtica redacional escolar, pois a nfase conferida recomendao de que se
deve evitar a repetio , obscurece as potencialidades funcionais que este
recurso lexical pode cumprir na organizao do texto.
CHOCIAY (1993) analisa no Itinirrio de Pasrgada, testamento
potico de Manuel Bandeira uma transio entre dois pargrafos (perodo
final de um pargrafo e o perodo inicial do pargrafo seguinte) para
demonstrar como uma determinada ordem frasal pode ser requerida pelo texto
para a eficcia da mensagem: (...) Creio que Carlos Fana nada nos ensinou: aprendemos apenas o
que estava no livrinho adotado em classe, o Pauthier.
Mais nos ensinou de Literatura, a mim e mais dois ou trs colegas que o
cercvamos depois das aulas de sua cadeira, que era a Histria Universal e do
Brasil, o velho Joo Ribeiro ( ainda no o era quele tempo).(BANDEIRA,
1958:19 apud CHOCIAY, 1993:21)
Se tomssemos o segundo perodo isoladamente, observaramos ... que
construdo em ordem inversa... Afirmar isso , no entanto, descrever apenas parte
(e a menos importante) do processo: essa disposio no aleatria, mas responde
manobra operada no perodo anterior, particularmente em nada nos ensinou ,
a que responde o mais nos ensinou do segundo perodo....o escritor escolheu a
55
seqncia mais eficaz, no caso, para ressaltar o contraste de qualidade dos dois
docentes mencionados...atualizou uma seqncia de elementos pertinente ao texto e
ao contexto... (CHOCIAY,1993:21)
Partimos da viso de que cada ordem nova a que so submetidos os
elementos de uma frase ou de frases entre si ou de segmentos-tpicos entre si
faz surgir uma nova dimenso textual e que a colocao das informaes
principais, segundo os objetivos do escritor, poder ser fator importante para a
qualidade do texto e para a facilidade de compreenso do leitor.
FRIES (1992) aborda como o tema, o tpico e as estruturas de
informao influenciam as percepes do leitor no ritmo do texto e qual
informao enfatizada no texto. Partindo de um estudo de propaganda em
revistas , percebeu que a pontuao de frases usada para enfatizar pontos
relevantes e que a informao que tinha sido colocada no final das frases, em
posio remtica, pontuadas regularmente, correlacionavam com a
informao mais importante, aquela que o leitor deveria se lembrar, enquanto
que a informao em posio temtica era usada para orientar a mensagem
que viria no rema, mantendo assim uma informao secundria.
Para o autor, a classificao da informao em principal ou secundria
feita tendo por base os objetivos propostos para a criao do texto. A
localizao da informao mais importante, informao nova, no final de
segmento por facilitar a interao entre produtor e leitor ou ouvinte. O tema
que aparece em posio inicial a informao conhecida e/ou secundria, e
serve para preparar a chegada da informao nova e/ou principal, que fica na
posio final para marcar a informao na memria do leitor ou ouvinte, o
pblico-alvo da propaganda:
56
4. Localizao da informao no texto: H uma tendncia generalizada de se
colocar as informaes novas e importantes posteriormente em um texto ou em um
segmento do texto. Assim, ao se comparar dois itens, dos quais um j conhecido,
h uma tendncia de se descrever o conhecido, primeiro e, em seguida, usar tal
descrio como padro de comparao para interpretar o segundo.... 5 (FRIES,
1992:463)
Nosso trabalho tambm aborda a localizao da informao principal
no final do segmento, mas diferencia-se na composio do corpus . Giora
(1983) analisou textos com valor literrio reconhecido, Fries (1992), textos
especficos para propaganda. Nos dois casos, os textos so bem estruturados,
para um pblico-alvo bem definido, diferentes das redaes de vestibular que
constituem o corpus de nossa primeira pesquisa, pois os produtores das
redaes no tm objetivos especficos, nem um pblico-alvo bem definido.
Recebem, apenas, um tema para que produzam seu texto.
VAN DIJK (1992: 196-200) em seu captulo sobre Estruturas de
Modelos e Relaes Funcionais no Discurso6 aborda a ordenao linear e as
ordenaes hierrquicas de modelos, afirmando que, aparentemente, h
estratgias discursivas gerais para a linearizao de informaes representadas
cognitivamente: em notcias de jornal, objetos ou eventos mais importantes
so apresentados primeiro, ordenao top-dow , por relevncia ; narrativas
naturais, a ordenao cronolgica pode ser dominante; no discurso cientfico,
a tendncia colocar as inferncias no fim como ocorrem nas concluses de
um esquema argumentativo:
.. a concluso importante de um argumento pode ser, muitas
vezes, mencionada na ltima posio . Similarmente, no interior
da estrutura sentencial de muitas lnguas, dado, velho ou 5 Traduo nossa.
57
outra forma tpica muitas vezes precede a informao nova,
focalizada e, portanto, mais relevante. (1992:198)
Segundo esse autor, a prpria situao comunicativa pode condicionar a
variao da estrutura de modelos. O mapeamento discursivo da informao do
modelo de situao tambm uma funo das condies pragmticas e
interacionais do disc