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IRMA BEATRIZ ARAÚJO KAPPEL S S S E E E G G G M M M E E E N N N T T T A A A Ç Ç Ç Ã Ã Ã O O O T T T E E E X X X T T T U U U A A A L L L , , , C C C O O O E E E S S S Ã Ã Ã O O O E E E D D D I I I S S S T T T R R R I I I B B B U U U I I I Ç Ç Ç Ã Ã Ã O O O I I I N N N F F F O O O R R R M M M A A A C C C I I I O O O N N N A A A L L L N N N A A A O O O R R R G G G A A A N N N I I I Z Z Z A A A Ç Ç Ç Ã Ã Ã O O O T T T Ó Ó Ó P P P I I I C C C A A A D D D O O O T T T E E E X X X T T T O O O Dissertação apresentada ao curso de Mestrado em Lingüística do Centro de Ciências Humanas e Artes da Universidade Federal de Uberlândia como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Lingüística. Orientador: Prof. Dr. Luiz Carlos Travaglia. UBERLÂNDIA UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA 1998

DISSERT Irma Beatriz

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  • IRMA BEATRIZ ARAJO KAPPEL

    SSSEEEGGGMMMEEENNNTTTAAAOOO TTTEEEXXXTTTUUUAAALLL,,, CCCOOOEEESSSOOO EEE DDDIIISSSTTTRRRIIIBBBUUUIIIOOO IIINNNFFFOOORRRMMMAAACCCIIIOOONNNAAALLL

    NNNAAA OOORRRGGGAAANNNIIIZZZAAAOOO TTTPPPIIICCCAAA DDDOOO TTTEEEXXXTTTOOO

    Dissertao apresentada ao curso de Mestrado em Lingstica do Centro de Cincias Humanas e Artes da Universidade Federal de Uberlndia como requisito parcial para obteno do ttulo de Mestre em Lingstica. Orientador: Prof. Dr. Luiz Carlos Travaglia.

    UBERLNDIA UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLNDIA

    1998

  • Kappel, Irma Beatriz Arajo. Segmentao Textual, Coeso e Distribuio Informacional na Organizao Tpica do Texto./ Irma Beatriz Arajo Kappel. Uberlndia, 1998.

    165 f. il. - Orientador: Luiz Carlos Travaglia. Dissertao (Mestrado). Universidade Federal de Uberlndia. 1. Lingstica. 2. Lngua Portuguesa Estudo e ensino. 3. Redao. I. Universidade Federal de Uberlndia.

    CDU: 801

  • Dissertao defendida e aprovada, em ..08 de .junho de 1998, pela Banca Examinadora constituda pelos professores: ____________________________________________ Prof. Dr. Luiz Carlos Travaglia Orientador ____________________________________________ Prof. Dr. Vnia Maria Bernardes Arruda Fernandes ____________________________________________ Prof. Dr. Mrcia Elizabeth Bortone

  • Para Dris e Avenir, princpio de nossa existncia.

    Para Jonas e Mateus, companheiros desta trajetria.

    Para os professores, colegas e funcionrios do Mestrado/UFU pela amizade e estmulo.

    Para o Prof. Dr. Luiz Carlos Travaglia, incentivador, amigo e orientador incansvel.

  • Como nenhum trabalho pode ser concludo na solido, necessrio agradecer : A todos que direta ou indiretamente contriburam para a sustentao de nossa trajetria e para a realizao desta dissertao. A Deus, presena constante de amor em nossas vidas. Ao Prof. Dr. Luiz Carlos Travaglia pelos estmulos, assistncia e acompanhamento na escolha dos caminhos. Aos professores Dr. Vnia Maria Bernardes Arruda Fernandes e Dr. Evandro Silva Martins pelas sugestes teis. Secretaria de Estado da Educao pela bolsa de estudos e liberao para freqncia ao curso e Secretaria Municipal de Educao e Cultura de Uberaba pela liberao. COPEVE/Universidade Federal de Uberlndia, Universidade de Uberaba, Faculdade de Medicina do Tringulo Mineiro e Universidade Federal do Paran por cederem e autorizarem o uso de material de redaes que integram nosso corpus. Aos entrevistados de nossas pesquisas. CAPES pela concesso parcial de bolsa.

  • SUMRIO

    RESUMO........................................................................................07 1. INTRODUO ....................................................................... 08 2. DOS FUNDAMENTOS ......................................................... 14 2.1. Fundamentao terica .......................................................................... 14

    2.1.1. Preliminares ............................................................................. 14 2.1.2. Texto, Discurso e Textualidade ............................................... 16 2.1.3. Segmentos Textuais ................................................................. 21 2.1.4. Estrutura Informacional ........................................................... 25 2.1.5. Progresso Textual ................................................................... 37 2.1.6. Tipos Textuais .......................................................................... 46

    2.2. A questo metodolgica ........................................................................ 48 2.3. Outros estudos sobre Distribuio Informacional ................................. 50 2.4. Pesquisa ................................................................................................. 57 3. PESQUISA I ............................................................................ 62 3.1. Mtodo ................................................................................................... 62 3.2. Resultados e Comentrios ..................................................................... 75 4. PESQUISA II ........................................................................... 94 4.1. Propsito ................................................................................................ 94 4.2. Mtodo ................................................................................................... 94 4.3. Resultados e Comentrios ..................................................................... 99 5. CONCLUSO ....................................................................... 124 SUMMARY .................................................................................127 BIBLIOGRAFIA ....................................................................... 128 ANEXOS ................................................................................... 135

  • RESUMO

    Este trabalho aborda duas pesquisas empricas que tiveram a finalidade de verificar, na lngua portuguesa, se a questo da colocao da informao (principal/secundria e dada/nova) e o uso da repetio (informao nova, em posio remtica, retomada como tema do segmento-tpico seguinte) como elemento coesivo acima do nvel intersentencial, afetam a unidade e a progresso informacional do texto. A primeira pesquisa foi realizada analisando-se as 50 (cinqenta) melhores redaes e as 50 (cinqenta) piores, segundo a equipe de correo, selecionadas entre as redaes do vestibular de 1997 de trs universidades e uma faculdade, em relao localizao das informaes principal e secundria em trs tipos de progresso tpica ( linear, tema constante e rema subdividido) ou sem progresso alguma e, especificamente, a progresso linear no que se refere repetio como elemento coesivo. A segunda pesquisa foi um questionrio composto por textos considerados bons por avaliadores, analistas e leitores com as informaes colocadas em ordens diferentes, tendo em vista a verificao da preferncia do leitor, segundo sua intuio, para a colocao das informaes no texto. Constatamos que a escolha que a maioria dos entrevistados fez recaiu sobre o texto em que a informao principal estava colocada no final do segmento-tpico; e que, tambm, a maior parte das redaes consideradas melhores pelos corretores tinham as informaes principais colocadas no final do segmento-tpico, o que no aconteceu com as redaes consideradas piores; e que, nos textos em que ocorreu a progresso linear, alm dos segmentos finais do segmento-tpico favorecerem a apresentao do material de primeiro plano, ou principal, tambm podem introduzir, em posio remtica, um novo tpico discursivo futuro, a ser desenvolvido a partir do incio do segmento seguinte. Pudemos confirmar que fundamental considerarmos esses aspectos para a produo de textos de boa qualidade e, tambm, para a leitura no que se refere a como o leitor v o texto: bom ou ruim, fcil ou difcil de ser entendido. PALAVRAS-CHAVE: Texto, Segmentao, Informao, Coeso e Progresso.

  • 1. INTRODUO A questo da ordem de elementos (palavras, oraes, informaes,

    etc.) no texto, quer seja em frase, em segmento-tpico, em captulo ou em

    estrofes, tem sido uma novidade no ensino da lngua. Apenas no estudo das

    figuras de linguagem e figuras de construo (inverses, hiprbato, anstrofe,

    etc.), sob ponto de vista retrico-estilstico, que os alunos so alertados a

    perceber que as frases ou as seqncias de frases admitem diferentes arranjos,

    segundo as pretenses do usurio.

    Entretanto, no ensino de produo de texto e de leitura, a questo da

    colocao das informaes em ordens diferentes de fundamental

    importncia, tendo em vista a variedade de disposies e a liberdade que o

    usurio tem para mobiliz-las, e nada disso exposto para o aluno. Existem

    certas ordens na colocao das informaes que, no domnio da norma,

    recebem a preferncia, tornando-se mais freqentes, porm a variedade que se

    pode ter na mudana dessa ordem que fundamental para quem vai escrever

    ou ler um texto.

    A partir do trabalho de GIORA (1983:155-181), pensamos em

    verificar, no portugus, se a questo da distribuio da informao

    (principal/secundria e dada / nova) e o uso da repetio (informao nova,

    em posio remtica, retomada como tema do segmento-tpico seguinte)

    como elemento coesivo entre segmentos maiores, acima do nvel

    intersentencial, afetam a unidade e a progresso informacional dentro do

    texto. Caso isso ocorra, ser fundamental considerar esses aspectos para a

    produo de textos de boa qualidade e, tambm, ter influncias

  • 9

    considerveis na questo da leitura (de como o leitor v o texto: bom ou ruim,

    fcil ou difcil de ser entendido).

    A investigao a ser desenvolvida neste estudo se justifica por trs

    fatores fundamentais:

    (i) Pelo menos que seja do nosso conhecimento, poucos estudos tm abordado a organizao da distribuio da informao no texto

    escrito, a progresso tpica discursiva em relao s informaes

    dada e nova, a questo da posio das informaes principal e

    secundria no segmento-tpico e a influncia que isso tem na

    qualidade do texto e na facilidade ou dificuldade de compreenso.

    Com a realizao desse estudo, poderemos estar preenchendo essa

    lacuna nos estudos lingsticos sobre o conhecimento da estruturao

    do texto.

    (ii) Como no texto escrito no h sujeitos definidos - leitor e autor1 , o contexto lingstico interno ao texto, enfocado por ns neste estudo,

    passa a ter grande relevncia para a compreenso. A organizao

    textual, de natureza monolgica, , segundo KLEIMAN (1990:93)

    prpria da escrita. O autor responsvel exclusivo pela construo

    do texto e dever imaginar um interlocutor , antecipando-lhe seus

    interesses, seus conhecimentos. Neste sentido, o texto se torna

    dialgico num sentido amplo do termo. O leitor responsvel

    exclusivo pela reconstruo do sentido e dever procurar na

    organizao textual os elementos necessrios sua compreenso.

    Sendo assim, perceber uma forma de distribuio da informao que

    1 Neste estudo, numa viso interacional, no estaremos fazendo diferena entre os termos autor e produtor de texto e consideraremos o leitor como o recebedor que compreende e que estabelece o sentido.

  • 10

    facilite esta reconstruo, pelo leitor, um fator importante para

    quem redige.

    (iii) Utilizando as categorias textuais enfocadas nos itens (i) e (ii), em anlise de textos, apontaremos fatos sobre a estruturao que

    podero trazer conseqncias importantes no que diz respeito ao

    ensino de produo e compreenso de textos, caso as pessoas

    tenham conscincia desses fatos.

    Ao realizarmos este estudo, no pretendemos dar receitas de como

    escrever, muito menos dar modelos a serem seguidos, mas sim, levantar fatos

    que parecem afetar a interao entre autor e leitor, facilitando-a ou

    dificultando-a. Para que o aluno escreva bem, no necessrio que o

    professor lhe d frmulas prontas de como escrever bem. Antes de observar

    fatos propostos neste estudo, que podem influenciar a interao entre autor e

    leitor, importante que o professor e seus alunos entendam os princpios

    bsicos de uma aula de redao. Compreendemos que essa aula na escola,

    antes de tudo , deve ser vista conforme GERALDI (1986:167) nos diz :

    a) a sala de aula um espao fsico como qualquer outro ( o escritrio,

    a casa, etc.) e nela possvel escrever;

    b) a aula de redao no mais do que o espao temporal, aproveitvel

    ou no, para iniciar um processo de interlocuo distncia, os textos a

    produzidos saindo em busca de leitores efetivos;

    c) s se aprende escrever escrevendo, e no simulando situaes de

    escrita..

  • 11

    Quando um texto difcil de ser lido, tanto no aspecto da natureza do

    assunto quanto na maneira pela qual o contedo est organizado, a interao

    entre produtor e recebedor e a legibilidade do texto ficam comprometidas.

    Para que haja uma interao maior entre produtor e recebedor de texto,

    partimos de uma dimenso textual e discursiva de natureza interativa. Nessa

    viso interacionista, toda escrita envolve uma leitura e uma redao em que

    tanto leitor quanto produtor so sujeitos de uma ao mediante o uso da

    linguagem. So aes intersubjetivas em que ocorre a construo da coerncia

    mediante a reconstruo do sentido do outro e para permitir ao outro a

    reconstruo do sentido .

    Nossos principais objetivos a serem alcanados com esse estudo a partir

    de anlises de textos, principalmente dissertativos, so:

    1. Discutir a influncia na legibilidade e no julgamento da qualidade

    de textos da distribuio informacional em segmentos textuais,

    especificamente segmentos-tpicos ;

    2. Verificar qual posio de segmento para a colocao da idia

    dominante prefervel, tendo em vista a interao produtor/leitor e o

    julgamento de boa formao do texto;

    3. Determinar a influncia que tem na formao de um bom texto a

    apresentao de um tpico discursivo dos segmentos seguintes na posio

    final ou remtica de um segmento-tpico em funo coesiva, num

    constituinte prvio;

    4. Discutir como os fatos dos objetivos acima podem afetar os

    procedimentos de ensino de produo e compreenso de textos em relao

    aos mecanismos, fatores e processos enfocados .

  • 12

    Esse estudo verificar as seguintes hipteses :

    1. Se a forma de distribuio da informao nos segmentos textuais afeta a

    qualidade do texto e a facilidade de compreenso, numa interao entre

    autor e leitor.

    2. Se a posio que certos tipos de informao (principal/secundria e

    informao nova/velha) ocupam nos segmentos textuais faz com que o

    texto seja mais ou menos legvel e considerado como mais ou menos bem

    estruturado.

    2.1. Se a posio final de segmento para a informao principal e nova

    melhor compreendida e faz com que o texto seja visto como mais bem

    estruturado, facilitando ao leitor a reteno da idia mais importante.

    2.2. Se a indicao, na posio final ou remtica de um segmento, do

    tpico a ser desenvolvido no segmento seguinte faz com que o texto seja

    visto como melhor e mais legvel. Estaremos considerando isto como um

    recurso de coeso acima do nvel intersentencial.

    No captulo sobre os fundamentos, estaremos expondo, primeiramente,

    a fundamentao terica e metodolgica de nosso trabalho, apontando as

    correntes de estudos em que se situa, com a definio dos principais

    conceitos e a metodologia utilizada na pesquisa. Posteriormente,

    apresentaremos uma sntese dos pontos principais de trabalhos sobre o

    assunto e nosso posicionamento diante das contribuies desses autores

    para o desenvolvimento de nossas duas pesquisas2.

    2 Para verificar as hipteses e alcanar os objetivos, dividimos a pesquisa em dois momentos que estaremos chamando de Pesquisa I e Pesquisa II para facilidade de referncia.

  • 13

    No captulo 3, estaremos mostrando e comentando o mtodo e os

    resultados do primeiro procedimento de pesquisa, utilizando textos

    dissertativos de redaes de vestibular de 1997, classificados pela

    comisso de correo como bons ou ruins.

    No captulo 4, apresentaremos qual o propsito de se utilizar outro

    procedimento de pesquisa com o mesmo objetivo, o mtodo, os resultados

    e os comentrios do estudo realizado com leitores de diversos graus de

    escolaridade para verificao da preferncia pela ordem de colocao das

    informaes no segmento-tpico. Para essa pesquisa foram adotados textos

    dissertativos e narrativos.

    Na Concluso, sero retomadas os principais pontos verificados com

    relao s hipteses e objetivos do presente trabalho.

    Se conseguirmos apontar, neste estudo, fatos que, ao serem observados

    pelo produtor na construo de um texto, facilitaro a reconstruo do

    sentido pelo leitor ou ouvinte, favorecendo a interao entre os sujeitos,

    poderemos ter repercusso positiva na produo e leitura de textos. Se no

    conseguirmos, tambm nos sentiremos realizados pois, acima de tudo, a

    Lingstica veio nos ensinar a questionar, a pesquisar sempre, mesmo que

    seja para falsificar hipteses levantadas e ficar verificado que muitas vezes

    o que pensamos sobre a lngua intuitivamente, no real, lembrando ainda

    que a lngua um fenmeno inacabado, ao mesmo tempo que sistmico,

    social, ideolgico e histrico. Por ser uma instituio humana, a lngua est

    se fazendo a todo momento, est sendo construda por seus usurios, quer

    seja o literato, o artista ou o simples cidado.

  • 2. DOS FUNDAMENTOS

    2.1. FUNDAMENTAO TERICA

    2.1.1. Preliminares

    Desde a dcada de 60, defrontamo-nos com uma evoluo

    epistemolgica no campo da Cincia Lingstica ( configurada na Lingstica

    Textual e na Anlise do Discurso) que ultrapassa os limites que a Lingstica

    at ento apontava - a frase. Os lingistas constataram que a Lingstica da

    Frase estava sendo insuficiente para resolver certos fenmenos lingsticos de

    natureza mais abrangente do que os da frase, como os fenmenos sinttico-

    semnticos ocorrentes entre enunciados e seqncias de enunciados. Havia

    uma demanda que exigia uma Lingstica mais voltada para os mecanismos

    da organizao textual responsveis pela construo do sentido.

    Surgiram, assim, os primeiros estudos sobre as relaes transfrsticas e

    sobre os processos e mecanismos de organizao textual que inseriam textos

    em determinados contextos sociais, histricos , culturais e ideolgicos.

    Esta evoluo faz surgir uma nova unidade de anlise que vai alm

    dos limites da frase: o texto, e uma nova concepo de linguagem :

    ... a linguagem como forma ou processo de interao. Nessa concepo o que o

    indivduo faz ao usar a lngua no to-somente traduzir e exteriorizar um

    pensamento, ou transmitir informaes a outrem, mas sim realizar aes , agir,

  • 15

    atuar sobre o interlocutor (ouvinte/leitor) . A linguagem pois um lugar de

    interao humana, de interao comunicativa pela produo de efeitos de sentido

    entre interlocutores, em uma dada situao de comunicao e em um contexto

    scio-histrico e ideolgico. Os usurios da lngua ou interlocutores interagem

    enquanto sujeitos que ocupam lugares sociais e falam e ouvem desses

    lugares de acordo com formaes imaginrias (imagens) que a sociedade

    estabeleceu para tais lugares sociais. (TRAVAGLIA- 1996:23).

    Consideraremos, neste estudo, a linguagem como forma de ao e

    como meio de interao entre os homens, ou seja, como meio de interao

    social, dotada de intencionalidade. Esta concepo de linguagem como

    processo de interao e como processo em permanente construo

    importante por levar os professores crena de que seus alunos so

    indivduos que realizam aes atravs da linguagem, ou seja, atravs dela

    que constroem o mundo e se constituem como sujeitos. Acreditamos, assim

    como BAKHTIN (1929:123), que:

    A verdadeira substncia da lngua no constituda por um sistema abstrato de

    formas lingsticas nem pela enunciao monolgica isolada, nem pelo ato psico-

    fisiolgico de sua produo, mas pelo fenmeno social da interao verbal,

    realizada atravs da enunciao ou das enunciaes. A interao verbal constitui

    assim a realidade fundamental da lngua..

    J na dcada de 70 , o texto passou a ser abordado sob dois pontos de

    vista: o primeiro, o dos mecanismos sinttico-semnticos responsveis pela

    produo de sentido; o segundo, o da anlise do texto como objeto cultural

    produzido a partir de certas condies de produo, condies culturais em

    uma relao dialgica com as condies histricas.

    No Brasil, somente nos anos 80 que chegaram os primeiros estudos

    da Lingstica Textual que tinham por objetivo o estudo e a pesquisa sobre a

  • 16

    natureza do texto visto como seqncias lingsticas coerentes e os fatores

    que envolvem sua elaborao, sua produo e sua recepo.

    A Lingstica Textual prope verificar o que faz com que um texto

    seja um texto ( princpios de constituio, fatores de coerncia, condies em

    que se manifesta a textualidade), levantar critrios para a delimitao do texto

    e diferenciar as vrias espcies de textos.

    Para desenvolvermos nosso estudo, trabalharemos com o texto escrito

    e com a distribuio da informao. Portanto, importante que nos

    posicionemos sobre as seguintes questes: texto, discurso, textualidade,

    segmento textual, estrutura informacional, progresso textual e tipologia

    textual.

    2.1.2 Texto, Discurso e Textualidade

    Segundo VAN DIJK (1972), a competncia lingstica do falante no

    frasal, mas textual. Os sujeitos se comunicam por meio de textos escritos ou

    falados. Para compreendermos melhor o fenmeno da produo de textos

    escritos, objetos de anlise neste estudo, importante definirmos o que

    entendemos por texto e discurso. Existem diversas conceituaes para esses

    dois termos que variam de autor para autor. Alguns autores, como por

    exemplo Koch e Travaglia (1989), concebem-nos com sentidos diferentes ,

    outros como Mira Matheus (1983) e Rocco (1981) j consideram esses

    termos como sinnimos com um s sentido. Para Mira Matheus (1983:185)

    texto o mesmo que discurso :

  • 17

    um texto ( um discurso) um objeto materializado numa dada lngua natural,

    produzido numa situao concreta e pressuposto os participantes locutor e

    alocutrio, fabricado pelo locutor por seleo sobre tudo o que, nessa situao

    concreta, dizvel para (e por) esse locutor a um determinado alocutrio .

    Tambm para ROCCO (1981:45) os termos texto e discurso aparecem

    praticamente como sinnimos:

    Texto e discurso, a meu ver, no representam puramente uma somatria de

    frases, mas sim um todo semanticamente organizado e que corresponde a forma de

    expresso verbal de um determinado indivduo em determinadas condies.

    Entretanto, para KOCH & TRAVAGLIA (1989:8) h distino entre

    texto e discurso:

    DISCURSO toda atividade comunicativa de um locutor , numa situao de

    comunicao determinada, englobando no s o conjunto de enunciados por ele

    produzidos em tal situao - ou os seus e os de seu interlocutor , no caso do

    dilogo - como tambm o evento de sua enunciao. O TEXTO ser entendido

    como uma unidade lingstica concreta (perceptvel pela viso ou audio ), que

    tomada pelos usurios da lngua( falante, escritor/ ouvinte, leitor), em uma

    situao de interao comunicativa especfica, como uma unidade de sentido e

    como preenchendo uma funo comunicativa reconhecvel e reconhecida,

    independente de sua extenso.

    Neste estudo, estaremos considerando texto como algo diferente de

    discurso, mas interligados e interdependentes pois estaremos trabalhando com

    a utilizao e o funcionamento da lngua. Podemos dizer, ento, que TEXTO,

    para ns, no uma simples somatria de frases, um objeto materializado

    em uma dada lngua, formado por uma unidade de linguagem em uso,

    independente de sua extenso, que representa um todo semanticamente

    organizado, com determinaes scio-comunicativas e com uma unidade que

  • 18

    s ter sentido no momento da interlocuo, quando o autor e o leitor ou

    ouvinte se engajarem na construo do sentido.

    O DISCURSO ser entendido, por ns, como sendo o ponto de

    articulao dos processos ideolgicos e sociais e dos fenmenos lingsticos,

    um conjunto de enunciados na medida em que se apiem na mesma

    formao discursiva FOUCAULT (1969:135). O discurso no se confunde

    com o texto, que concebido como a manifestao verbal do discurso. Ele vai

    alm do texto lingstico propriamente dito, pois envolve as condies

    scio-histricas, culturais e ideolgicas de produo, de construo e de

    reconstruo do texto, que podem ser percebidas e analisadas atravs de pistas

    (marcas lingsticas) presentes no texto.

    Pode-se dizer que, a partir dessas conceituaes de texto e discurso e

    de suas distines, a produo e a recepo de textos influenciada por 3

    (trs) tipos de fatores: pragmticos, que tem a ver com o seu funcionamento;

    semntico-conceituais, de que depende sua coerncia; e formais, entre os

    quais destacamos a coeso.

    Seguindo a lio de estudiosos como PCHEUX (1969:16-23),

    podemos dizer que os fatores pragmticos incluem todos aqueles que tm a

    ver com a funo de um texto num contexto extralingstico . Entre estes

    fatores, os principais so: as intenes do produtor , o jogo de imagens

    mentais que cada um dos interlocutores faz de si, do outro e do outro com

    relao a si mesmo e ao tema do discurso, alm do contexto scio-histrico ,

    cultural e ideolgico que caracteriza a comunicao.

    As outras duas propriedades bsicas do texto tambm se

    responsabilizam pelo sentido. O texto precisa ser percebido pelo recebedor

  • 19

    como um todo significativo (coerncia) e pela unidade formal, material

    (coeso) . Essas relaes so responsveis pela tessitura do texto.

    Ao conjunto de caractersticas que fazem com que um texto seja um

    texto e no simplesmente, um amontoado de frases ou elementos lingsticos,

    damos o nome de TEXTUALIDADE, ou seja,

    ... o que faz de uma seqncia lingstica um texto e no uma seqncia ou um

    amontoado aleatrio de frases ou palavras. A seqncia percebida como texto

    quando aquele que a recebe capaz de perceb-las como uma unidade

    significativa global. Portanto, tendo em vista o conceito que se tem de coerncia,

    podemos dizer que ela que d origem textualidade ( KOCH & TRAVAGLIA

    -1989:26).

    BEAUGRANDE & DRESSLER (1981) apontam sete fatores

    responsveis pela textualidade de um discurso: a coeso e a coerncia que

    para eles se relacionam com o material conceitual e lingstico do texto, e a

    aceitabilidade, a intencionalidade, a informatividade, a situacionalidade, a

    intertextualidade que se relacionam, no processo sciocomunicativo, com os

    aspectos pragmticos j abordados. FVERO (1991:7) acresceu um oitavo: a

    contextualizao, mas que j est ligado aos fatores scio-interativos

    abordados por KOCH.

    Em nosso trabalho vamos adotar a posio de KOCH & TRAVAGLIA

    (1989 e 1990) para os quais o critrio bsico de textualidade, isto , aquilo

    que faz com que uma seqncia lingstica seja um texto, a Coerncia,

    responsvel pelo estabelecimento do sentido. Sentido entendido como

    atualizao seletiva, no texto, de potencialidades significativas virtuais

    (significado) das expresses lingsticas (KOCH - 1989:13).

  • 20

    Os fatores de coerncia apontados pelos autores acima referidos so:

    conhecimentos lingsticos (incluindo mecanismos de coeso), conhecimento

    de mundo, conhecimento partilhado, inferncias, fatores de contextualizao

    ou pragmticos, situacionalidade, informatividade,

    intencionalidade/aceitabilidade, focalizao, intertextualidade, relevncia e

    consistncia.

    A coeso e a coerncia so propriedades textuais em condies de forte

    inter-relacionamento. Para ns, a COERNCIA, fator fundamental da

    textualidade para o estabelecimento do sentido, vai alm da superfcie textual

    por ser um fenmeno externo e subjacente essa superfcie pois depende

    tambm, da situao comunicativa que contextualiza o texto. Ela envolve os

    aspectos lgicos , semnticos e cognitivos por depender do conhecimento

    partilhado entre os interlocutores.

    J a COESO tem a ver com a maneira como o texto redigido na

    superfcie textual, ela a organizao, a ligao entre os elementos da

    superfcie do texto que, alm de unir, correlaciona as partes de uma frase ou

    as frases entre si e, em especial, neste trabalho, um recurso acima do

    intrafrasal e do interfrasal, o modo como os segmentos-tpicos se combinam

    para assegurar a organizao, o desenvolvimento e a progresso textual. A

    Coeso deve ser vista do ponto de vista sinttico, gramatical e semntico. Ela

    tem relao com a coerncia na medida em que um dos fatores que

    possibilita calcul-la, mesmo no sendo nem necessria nem suficiente para o

    estabelecimento da coerncia. Enfim, usaremos a Coeso como um recurso

    acima do intrafrasal e do interfrasal, no aspecto de sua funo, para garantir a

    continuidade e a unidade do texto.

  • 21

    Limitaremos o estudo e a anlise desses recursos ao texto escrito, que

    constitui nosso corpus, tendo em vista as exigncias sociais face ao bom

    desempenho da escrita formal. Por nosso estudo se interligar mais s questes

    lingsticas, tm especial interesse trs outros elementos que, de certa forma,

    esto relacionados com a coerncia no que se refere colocao e a

    distribuio informacional para a progresso textual e para melhor qualidade

    do texto: o segmento textual, a estrutura informacional e a progresso textual.

    2.1.3. Segmentos Textuais

    Como vamos trabalhar com a distribuio da informao em segmentos

    textuais, procuramos ver alguns autores que tenham trabalhado com anlises

    de textos dividindo-os em segmentos.

    GIORA (1983) em seu estudo mostrou-nos sua tentativa de estender a

    noo de coeso alm do nvel da frase por v-la como uma exigncia do

    texto para associao entre segmentos maiores do que uma frase, optando

    pelos seguintes tipos de segmentos: Pargrafos, Captulos inteiros e Estrofes.

    Da mesma forma, KAPPEL (1996) , a partir do trabalho mencionado

    acima, abordou o mesmo estudo, em lngua portuguesa, com os seguintes

    segmentos: Pargrafos e Estrofes.

    Por outro lado, CARRETER & LARA (s/d) partindo da posio de que

    para se analisar um texto no podemos decomp-lo, mas sim analisar, ao

    mesmo tempo, o fundo e a forma, mostram-nos em anlise de textos literrios

    que, para a determinao da estrutura, tem-se que descobrir os segmentos

  • 22

    observando-se as variaes temticas que mais se destacam. Para os autores

    segmento :

    ... cada uma das partes que podemos descobrir no texto....Segmento no significa

    parte que se possa distinguir primeira vista .. No se deve confundi-la com

    divises externas do texto , que se notam visualmente, tais como estrofes, na

    poesia, ou pargrafo, na prosa. Os segmentos so provenientes de modulaes

    diversas que o tema adquire, medida que se desenvolve num texto. ...Os

    segmentos caracterizam-se e distinguem-se entre si porque o tema adquire, em

    cada um deles, modulaes mais ou menos diferentes. (CARRETER & LARA s/d:

    34-35).

    Utilizando-se tambm da diviso em segmento-tpico que no coincide

    com a diviso das estrofes, CNDIDO (1993:25) faz anlise de textos

    literrios em verso.

    Finalmente, JUBRAN et alii (1992) partem da hiptese de que a

    conversao espontnea, apesar da quase simultaneidade entre planejamento e

    execuo, uma atividade altamente organizada, na qual os falantes

    constroem e desenvolvem um tpico organicamente estruturado. Para isso,

    propem uma categoria descritiva do tpico, rejeitando as categorias que se

    limitam em sentenas, mostrando como os tpicos se organizam

    hierarquicamente em super-/sub-tpicos.

    Neste trabalho, vamos adotar a segmentao proposta por JUBRAN et

    alii, elaborada para o texto oral, mas que em termos de segmentao , de

    conceituao e de organizao tpica , a nosso ver, se aplica perfeitamente ao

    texto escrito e serve aos nossos propsitos de anlise. Segundo esses autores,

    a organizao tpica de um texto considera os quadros tpicos, os subtpicos

    e os segmentos-tpicos que se ramificam a partir de um supertpico. O tpico

    a fonte central da elaborao textual.

  • 23

    O tpico, entendido como aquilo sobre o qual o texto est falando, o

    princpio central da organizao discursiva. A manuteno tpica e sua

    expanso em segmento-tpico a partir de uma segunda unidade de sentido,

    propicia o desencadeamento de uma informao nova que nos conduz a uma

    progresso temtica.

    Em princpio, utilizam-se da conceituao de GOFFMAN ( 1976 apud

    JUBRAN 1992:360) sobre Tpico: interao centrada, fio condutor

    responsvel pela tessitura e coerncia. Devido ao carter amplo, vago e

    abstrato de tema e assunto preferem empregar a palavra tpico. Para a

    caracterizao e identificao de uma unidade de anlise de estatuto

    discursivo, adequada descrio textual- interativa do portugus falado,

    estabeleceram os traos que definem o tpico discursivo como categoria

    operacionalizvel.

    Para esses autores, as propriedades definidoras do tpico discursivo

    enquanto categoria abstrata so:

    (i) CENTRAO : diz respeito ao contedo. Permite delinear qual o assunto ou tema e abrange os traos de:

    a) CONCERNNCIA: relao de interdependncia entre os enunciados ( implicativa, associativa, exemplificativa) pela qual se d sua

    interao no referido conjunto de referentes explcitos ou inferveis;

    b) RELEVNCIA: dominncia do conjunto pela posio focal assumida pelos seus elementos:

    c) PONTUALIZAO: localizao do conjunto focal em um momento da mensagem.

  • 24

    (ii) ORGANICIDADE: organiza o discurso: organizao tpica. manifesta por relaes de interdependncia que se estabelecem

    simultaneamente em dois planos:

    a) PLANO HIERRQUICO: vertical, super/ sub-ordenao. So as relaes de interdependncia entre os tpicos de acordo com a abrangncia

    maior ou menor do assunto. Forma o Quadro Tpico: supertpico (st), mais

    abrangente; subtpico (sbt) diviso interna em tpicos co-constituintes;

    subdiviso do tpico co-constituinte.

    b) PLANO SEQENCIAL : linear. Distribuio tpica na linearidade discursiva: continuidade e descontinuidade.

    A continuidade decorre de uma organizao seqencial dos segmentos

    tpicos em que a abertura de um se d aps o fechamento do outro,

    precedente. Define-se por uma relao de adjacncia que ocorre no

    esgotamento do tpico anterior, segundo as condies de contigidade no

    plano inter-tpico e de esgotamento, no plano intra-tpico. J a

    descontinuidade se define pela suspenso definitiva de um tpico, ou pela

    ciso de um tpico em partes decorrentes da intercalao de segmentos no

    atinentes ao tpico cindido. Ocorrendo o retorno aps a interrupo,

    teremos os fenmenos de insero e alternncia.

    A mudana de tpico , manuteno e progresso do texto podem

    ocorrer de trs formas: continuidade, esgotamento natural do tpico anterior;

    passagem gradativa feita atravs dos tpicos de transio ; e a introduo de

    um tpico sem esgotar o anterior.

    O movimento tpico pode se fazer por meio dos seguintes processos:

    usar formulaes de um objeto para constituir linhas diferentes de tpicos,

  • 25

    falar de entidades que podem ser chamadas de membros da mesma classe ou

    expandir um elemento que, no tpico em desenvolvimento, fora rapidamente

    referido ou figurava como marginal no conhecimento de mundo dos

    interlocutores (dar exemplos, fazer snteses, anlises, comparaes etc).

    Embora sejam categorias que foram estabelecidas no estudo do

    portugus falado, pensamos que essas categorias so igualmente aplicveis no

    texto escrito, como a prpria concluso dos autores nos diz:

    ... as concluses a que se chegou aqui so de algum modo generalizveis para

    outros textos, alm do tipo estudado. Nesse caso inclui-se tambm o texto oral

    monologado e, de certo modo, os textos escritos, j que, no essencial, eles no

    trazem muita novidade em termos de estruturao tpica. Apenas seguem outros

    padres que devem ser identificados como prprios dessa modalidade de uso da

    lngua. (JUBRAN et alii 1992: 397).

    Vamos usar neste trabalho a conceituao de tpico ao invs de

    assunto que parece ficar muito ao nvel de frase. Preferimos usar a proposta

    de JUBRAN et alii ( 1992) E CARRETER & LARA(s/d) que propem o

    segmento-tpico, estes no texto escrito, aqueles no texto oral.

    Como nosso objetivo no definir as marcas de delimitao tpica,

    iremos usar isso apenas subsidiariamente, como recurso para identificar o

    segmento-tpico, para analisar as informaes central ou principal /

    secundria e dada / nova.

    2.1.4. Estrutura Informacional

  • 26

    Para a relao TEMA-REMA / DADO-NOVO / TPICO-

    COMENTRIO existem posies divergentes:

    Para MATHESIUS (apud COMBETTES, 1983:11) e para os tchecos

    funcionalistas da Escola de Praga temos trs categorias no nvel temtico:

    TEMA (conhecido, ponto de partida para o emissor), TRANSIO e REMA

    ( o que se afirma sobre o tema, o novo) (apud COMBETTES - 1983:110).

    Para KASSAI ( 1976:123 apud MOREIRA 1992:34) o TEMA o

    elemento j conhecido e o REMA traz informaes novas com ancoragem.

    Entretanto, HALLIDAY (1974:53) traz uma posio diferente: o

    TEMA no se relaciona com a veiculao da informao conhecida, nada tem

    a ver com meno prvia. o elemento da Perspectiva Funcional da

    Sentena, o que realizado pela posio que ocupa no incio da frase,

    primeira posio.

    A teoria de FIRBAS (1964:272) no est em consonncia com as idias

    de Mathesius de que tema seja apenas o conhecido e rema o elemento novo,

    discorda tambm de Halliday com relao ao tema ocupar o primeiro lugar na

    frase e prope: TEMA elementos frasais que contm informao conhecida

    ou a ser inferida; REMA informao nova, desconhecida, parte independente.

    De acordo com PRINCE (1981:225) h uma escala de familiaridade: se

    estiver na conscincia VELHO, se est sendo introduzido, NOVO. As

    entidades do discurso podem ser classificadas como novas, evocadas e

    inferidas.

    J para COMBETTES (1983:19) assim como para os psicolingistas, o

    TEMA o elemento que j pertence ao campo da conscincia. No o

  • 27

    conhecido, o dado, depende do contexto. a partir deles que ocorre o

    desenvolvimento da informao nova (REMA).

    Por outro lado, BARDOVI-HARLIG (1990:45), lingista americana,

    usa a terminologia TPICO e COMENTRIO. Para essa autora, o TPICO

    aquilo sobre o qual o resto da frase e o COMENTRIO tem informao

    dada e nova. Essa informao nova tida como foco que o responsvel

    pelo avano da informao.

    Entenderemos o Tema ou Tpico como a informao dada e o Rema ou

    Comentrio como a informao nova.

    Com relao informao, podemos enfoc-la sobre o grau de

    importncia que ela assume no contexto. FRIES (1992), ao analisar a

    estrutura informacional em textos escritos de propagandas em ingls, aborda

    que pontos relevantes podem ser marcados por pontuao, por destaques no

    modo de redigir e pela colocao da informao principal no final de frases

    para que o leitor se lembre das idias mais importantes.

    Nosso estudo sobre estrutura informacional vai alm do nvel frasal.

    Tentaremos abordar as posies que ocupam nos segmentos-tpicos as

    informaes principal, superior, dominante ou central de primeiro plano e a

    secundria, inferior de segundo plano; e as informaes dada/nova em

    posio temtica e remtica . A informao de primeiro plano pode se referir

    informao nova por ter mais relao com o objetivo do texto e que,

    possivelmente ocupar a posio remtica, em posio final de segmento-

    tpico; a de segundo plano poder ser a informao dada, conhecida, que,

    possivelmente, ocupar a posio temtica, sendo usada apenas como uma

    forma de orientar o leitor a receber a mensagem que est por vir.

  • 28

    Fizemos um levantamento de alguns critrios para diferenciar a

    informao principal da informao secundria:

    a) A informao principal deve estar relacionada

    com o objetivo do texto

    Para FRIES ( 1992), a informao principal est ligada ao objetivo. O

    autor parte da anlise de textos de propaganda que possuem a caracterstica de

    serem bem estruturados, feitos para um pblico-alvo bem definido atravs de

    pesquisas, com objetivos especficos j que conhecem quais so as

    expectativas de quem vai receber o texto de propaganda.

    Na maioria das redaes de vestibular, corpus de nossa anlise, o aluno

    recebe o tema, mas no tem bem definido o objetivo nem o pblico-alvo. Os

    vestibulares deveriam se estruturar de modo a no dar apenas o tema mas

    tambm o objetivo, tendo em vista que os estudos de Lingstica Textual j

    tm abordado sobre essa necessidade. Fica aqui registrado esse estudo

    realizado por FRIES no qual ele afirma e comprova na anlise de textos

    publicitrios, que a informao principal est diretamente relacionada com o

    objetivo do produtor do texto para que se reforce a recomendao de que as

    provas de redao de vestibular deveriam no s propor o tema mas tambm

    deixar claro o objetivo e o pblico-alvo a fim de que o candidato tenha

    condies adequadas para elaborar seu texto.

    Ao solicitar as provas de redao de vrias universidades, recebi o

    relato de uma experincia que a Universidade Federal do Paran tem

    executado que procura atender esses requisitos. A prova de redao do

    vestibular de 1997 foi dividida em cinco questes discursivas distintas que

    englobam cinco aspectos diferentes da escrita pois so solicitadas habilidades

    especficas em cada uma, valorizando um domnio maior da linguagem em

  • 29

    toda a diversidade de seus registros e formas. As questes so mais precisas e

    menos vagas.

    Para exemplificar, a primeira questo do vestibular do primeiro

    semestre de 1997 recebeu a seguinte instruo: Escreva uma carta de at 10

    linhas, repassando as principais informaes do quadro abaixo a um(a)

    amigo(a) que pretende fazer este exame de seleo.

    Exame de seleo Data do exame: ............................................ 10/01/1997 Horrio de fechamento dos portes: ........... 7h20 Horrio de incio do exame: ........................ 7h30 Durao mnima: ......................................... 1h30 Durao mxima: ........................................ 4h Documentos exigidos: ................................. RG e carto de inscrio Material permitido na sala de exame: ......... caneta azul, lpis e borracha Publicao dos resultados: .......................... 10/02/1997 Matrcula dos classificados: ........................ 12/02/1997

    Esse tipo de questo deixa bem definido o pblico-alvo de seu texto e o

    seu porqu , qual o seu objetivo, possibilitando ao vestibulando a seleo

    das informaes importantes, qual o domnio que dever ter em relao

    forma escrita de seu texto, atendendo assim, o objetivo primordial de uma

    prova de redao em vestibular: avaliar a competncia lingstica do

    candidato quanto ao seu domnio da modalidade escrita da lngua.

    Outro aspecto positivo, que de natureza operacional, dessa prova que

    achamos interessante mencionar que cada aluno passa por cinco equipes

    diferentes de correo pois cada questo corrigida por uma equipe diferente

    o que reduz a probabilidade de erros na avaliao, tendo em vista que, por

    mais que se tenham critrios estabelecidos para a correo, h fatores

    subjetivos, que influenciam a correo, como, por exemplo, o corretor ser

    mais ou menos rgido. Em um sistema de avaliao em que o candidato

    produz um nico texto que corrigido por uma s equipe, a probabilidade do

  • 30

    candidato ser prejudicado pelos aspectos subjetivos que influenciam o

    corretor bem maior.

    Sobre a necessidade da exposio dos objetivos, acrescentaramos as

    evidncias experimentais expostas por KLEIMAN (1989 b: 29-44) com

    relao aos objetivos e expectativas de leitura. A autora, em uma experincia

    realizada com alunos do 2o. grau noturno, aplicou o exerccio em dois grupos.

    Um grupo deveria fazer um resumo de um texto sem ser dado nenhum

    objetivo. J para outro grupo foi dado um objetivo especfico: deveriam fazer

    um resumo para ser submetido ao jornal da escola que estava precisando de

    um artigo sobre o assunto. Os resultados obtidos comprovaram que o grupo

    que recebeu a explicao dos objetivos no s escreveu melhor como tambm

    percebeu melhor o tema.

    Em outra pesquisa realizada por dois psiclogos americanos

    (RICKHEIT & STROHNER, 1986:10), o mesmo texto foi dado para dois

    grupos com objetivos diferentes de leitura: lembrar detalhes importantes para

    quem interessa comprar a casa que estava descrita no texto e para quem

    estivesse interessado em arrombar a casa. A recuperao das informaes

    principais nos dois grupos foram diferentes.

    Isso comprova que, tanto para quem vai escrever ou ler um texto, os

    objetivos so fundamentais para que se realize um trabalho melhor em torno

    do tema e para estabelecer que idias sero tidas como principais no texto.

    Baseados nesta segunda experincia tambm realizamos em sala o

    mesmo exerccio, obtendo o mesmo resultado. Posteriormente readaptamos o

    texto colocando as informaes principais destacadas pelos alunos em ordens

    diferentes, criando duas verses, dois textos, com o mesmo contedo em

    ordens diferentes, para que eles escolhessem a que tivesse ficado melhor para

    verificarmos se ocorreria a preferncia pela colocao no final de segmento-

  • 31

    tpico. O relato dessa experincia est em detalhes no ltimo item deste

    estudo.

    Com relao colocao das idias principais no texto, Kleiman afirma

    que o leitor, ao realizar a leitura superficial de um texto jornalstico, realizar

    um processo de leitura pr-leitura seletiva, ou seja Skimming quando ele

    selecionar os primeiros ou os ltimos perodos de pargrafos e tabelas

    para obter uma idia geral sobre o tema e subtemas. De fato, a forma do texto determina, at certo ponto, os objetivos de leitura... o

    objetivo geral ao ler o jornal diferente daquele quando lemos um artigo

    cientfico. Por exemplo, na leitura de um jornal, j na primeira pgina o leitor faz

    uso de mecanismos para a apreenso rpida de informao visual dando uma

    mera passada de olhos, ( processo este chamado de scanning ou avistada)

    geralmente a fim de depreender o tema de diversos itens a partir das manchetes .

    Uma vez localizada a notcia de interesse, provvel que o artigo seja lido

    procurando detalhes sobre o assunto. Por outro lado, se estamos em dvida sobre

    o possvel interesse de um artigo, provvel que utilizemos uma pr-leitura

    seletiva skimming que consiste em ler seletivamente os primeiros ou os ltimos

    perodos de pargrafos, as tabelas, ou quaisquer outros itens selecionados pelo

    leitor a fim de obter uma idia geral sobre o tema e subtemas.(KLEIMAN,1989

    b:33).

    Segundo essa autora, os primeiros ou os ltimos perodos de pargrafo

    so capazes de fornecer uma idia geral sobre o tema e os subtemas. Podemos

    entender ento, que a colocao das informaes principais em um texto tem

    essa ordem prefervel o que reafirma , em parte, nossa hiptese de que a

    ordem prefervel para colocao das informaes principais no final do

    segmento-tpico.

    b) A informao principal tem a ver com a idia que a pessoa quer

    passar e defender no caso da argumentao.

  • 32

    O produtor do texto a pessoa que vai definir o principal ao apresentar

    seu texto que ser julgado pelo leitor.

    Veja a anlise de alguns fragmentos de redao em que pudemos

    observar esse fato:

    i) Somos livres, desde que no tenhamos praticado nenhum ato ilcito,

    para ir e vir. Isto o que consta da nossa Constituio. Muitas pessoas

    acreditam que isso possa ser tudo que precisamos para sermos livres. No

    somente uma cela de cadeia que pode nos prender, mas sim, atos

    impensados ou respostas prontas e acabadas, tambm nos faz

    prisioneiros. (UNIVERSIDADE DE UBERABA, 1 sem. melhores)

    Observamos que o vestibulando, autor desse texto, parte do conceito de

    liberdade na Constituio de que, para ser livre, basta poder ir e vir por no

    ter cometido nenhum ato ilcito e que, segundo o candidato, a opinio da

    maioria das pessoas. Posteriormente, coloca a sua opinio em relao

    liberdade discordando da colocao anterior pois, para ele, a liberdade no

    s impedida por uma cela de cadeia, mas sim, pela conscincia das pessoas

    que agem impensadamente ou radicalmente.

    O principal, para esse autor, em relao temtica apresentada s foi

    colocado no final do segmento-tpico. Partiu da opinio da maioria das

    pessoas sobre o assunto para s colocar a sua opinio no final.

    ii) O povo conheceu , nos anos do regime militar no Brasil, a mais

    pura forma de represso liberdade. A censura fez com que os pensamentos e

    as idias de cada um desaparecessem e o exlio foi uma das conseqncias

    para aqueles que no conseguiram ficar calados. Tudo isso para manter o

    regime poltico que interessava aos poderosos, uma minoria comparada

  • 33

    ao restante da populao. (UNIVERSIDADE DE UBERABA, l Sem.

    melhores).

    O mais importante, para esse autor, o que ele denuncia no final do

    pargrafo: que o regime militar no Brasil, que reprimia a liberdade, foi

    mantido pelo interesse de uma minoria poderosa que queria a sustentao da

    dominao.

    iii) A situao grave e geral em todo o Brasil: mdicos esto

    escolhendo os prprios pacientes para darem assistncia. Uma escolha

    bastante radical que consiste em atender aqueles que tm mais probabilidade

    de se recuperar. Ser que um mdico tem toda capacidade de saber qual

    paciente tem chance ou no de viver? (UFU, lo. sem, tema A, melhores)

    O autor desse fragmento afirma que os mdicos esto escolhendo os

    pacientes para dar assistncia. No final ele questiona se o mdico tem essa

    capacidade deixando transparecer seu posicionamento contrrio a essa atitude.

    O ponto de vista do autor ficou claramente marcado no final do pargrafo

    com a interrogao feita.

    c) As oraes adjetivas se encarregam da informao secundria

    Para comprovao dessa afirmao, partiremos das anlises j

    realizadas por TRAVAGLIA (1996:155). No exemplo (108 c) apresentado

    pelo autor, O gato que branco roubou o peixe , as expresses que

    branco e roubou o peixe so consideradas informaes novas, sendo que a

    primeira informao secundria e a ltima, principal. Pode-se observar nos

    exemplos dados que, na hierarquizao das informaes novas, a informao

    principal fica em posio final da frase:

  • 34

    Essa frase seria usada em uma situao em que a informao de que o gato

    branco secundria dentro da fala, j que o mais importante dizer que ele

    roubou o peixe. (TRAVAGLIA, 1996:155).

    Se invertssemos a colocao das informaes da frase anterior para

    O gato que roubou o peixe branco seria diferente pois o mais

    importante passa a ser a informao de que o gato branco. Poderamos

    exemplificar com uma situao em que algum procura saber qual gato

    roubou o peixe e era-lhe respondido que foi o gato branco. Nesse caso a

    informao principal deslocou-se da posio mediana para a posio final da

    frase.

    Utilizando-se de conhecimentos matemticos na verificao de quantas

    maneiras diferentes podemos reorganizar uma frase MULLER (1973:41 apud

    CHOCIAY, 1993:16), por anlise combinatria, em casos de permutao,

    constata que o nmero de permutaes de n elementos o produto dos

    nmeros inteiros de 1 a n . A mudana na ordem dos blocos constitutivos de

    uma frase ou texto daro vrias opes de construo. Exemplificando:

    Ns no podemos obter este livro em Londres. ... Se observarmos que, no

    conjunto da frase dada, so intercambiveis os blocos ns, no podemos,

    obter, este livro, em Londres, verificaremos que o nmero de permutaes

    (no caso, o produto dos nmeros inteiros de 1 a 5) de 120. (CHOCIAY,

    1993:17)

    A escolha da ordem ser de acordo com os objetivos do autor do texto

    que selecionar o que for mais importante e poder expressar isso para seu

    leitor colocando a informao mais importante no final do segmento-tpico.

    d) Oraes reduzidas veiculam informaes secundrias

  • 35

    Em TRAVAGLIA (1991: item 6.3.6), encontramos um estudo sobre as

    formas verbais em diversas tipologias textuais, constatando que as formas

    verbais tm a ver com a veiculao de informaes:

    a) na dissertao, as formas nominais do verbo (oraes reduzidas)

    expressam informaes secundrias, excetuando o infinitivo, quando

    forma oraes subordinadas substantivas;

    b) na descrio, as formas nominais tambm veiculam informaes

    secundrias;

    c) na injuno, as formas nominais tambm indicam informaes

    secundrias: o infinitivo sem modalidade imperativa, indica modo,

    fim ou forma oraes substantivas tal como nos outros tipos de

    texto.

    Analisando o Captulo referente s oraes reduzidas da Novssima

    Gramtica da Lngua Portuguesa de Cegalla, o autor coloca-nos que : a) Afirmou o sertanista [ que no h selvagens gigantes].

    b) Afirmou o sertanista [ no haver selvagens gigantes].

    Tanto na primeira como na segunda construo, a orao entre

    colchetes subordinada substantiva objetiva direta. A forma dessa orao

    diferente, mas o sentido o mesmo.3 (CEGALLA, 1988:351).

    Questionamos se o sentido seria o mesmo. Quando digo Ao saber isso,

    entristeceu-se. ter o mesmo sentido que Quando soube isso entristeceu-

    se.? Intuitivamente, percebemos que, quando a orao reduzida, a

    informao nela contida vista como secundria ao passo que quando a

    orao desenvolvida, a informao no vista como secundria. Se o

    3 Destaque nosso.

  • 36

    mesmo fato ora importante ora secundrio no estar fazendo diferena de

    sentido?

    Alm dessa diferena, ser que a mudana na colocao da informao

    influenciar na melhoria do texto? Entre Ao saber isso, entristeceu-se. e

    Entristeceu-se ao saber isso. parece-nos que a primeira, que coloca a

    informao principal no final da frase, tem a preferncia.

    Relacionando com nossa pesquisa, a colocao da informao principal

    no segmento-tpico tambm ter a preferncia no final do segmento?

    e) Oraes coordenadas contm informaes principais e oraes

    subordinadas contm informaes secundrias, complementares?

    O perodo composto pode ser constitudo por oraes autnomas,

    independentes, com valor igualitrio, a que se d o nome de coordenadas,

    pois cada uma tem sentido prprio ou pode ser constitudo por oraes sem

    autonomia gramatical, pois uma orao, tida como subordinada ,

    desempenha uma funo sinttica em outra orao, dependente de outra tida

    como principal.

    Na frase Quando o espelho quebrou, Maria estava tricotando. a

    orao subordinada no incio aparece como um informao dada, j conhecida

    por todos, no podendo ser alterada. J a informao final, nova, Maria

    estava tricotando poderia ser substituda por Maria estava caminhando.

    Invertendo as posies, a anlise passa a ser diferente: Maria estava

    tricotando quando (de sbito) o espelho quebrou.. A orao subordinada

    quando (de sbito) o espelho quebrou est no final, em posio de primeiro

    plano, como informao nova, podendo agora ser substituda por outra

    ...quando (ao esbarrar) quebrou o espelho.

  • 37

    Sendo assim, para ns, a informao principal est ligada muito mais s

    intenses (contedos, significados) e objetivos do autor do texto do que

    forma. Podemos ter oraes subordinadas em posio inicial de segmento

    com informao secundria e na posio final do segmento-tpico ser uma

    informao principal, de acordo com as pretenses do autor do texto.

    Essas foram as formas que encontramos para perceber se a informao

    principal ou secundria em um texto. Tentaremos verificar todos esses

    fatores em nossa anlise.

    2.1.5. Progresso Textual

    Ao contrrio de CARNEIRO (1993:31) que parte em seu trabalho

    sobre o adjetivo e a progresso textual, do conceito de progresso, como

    simplesmente o ato de estender o texto, entenderemos por progresso

    textual o mesmo que na viso de CHARROLLES (1978:20), como sendo o

    acrscimo da idia nova, ou seja, a progresso semntica. As relaes entre

    informaes dadas e novas que aparecem no texto no plano da coerncia so

    somadas para garantir a progresso textual. No plano da coeso, a lngua

    dispe de mecanismos para manifestar essas relaes entre o dado e o novo.

    Na seqenciao do texto, o modo como se opera a progresso temtica

    tem grande relevncia. Para CHARROLLES (1978 ):

    A progresso semntica, contrapartida da repetio ou continuidade, a segunda

    condio de coerncia e coeso. O texto deve retomar seus elementos conceituais

    e formais, mas no pode se limitar a essa repetio.

  • 38

    Como estratgia de articulao textual, o uso de mecanismos de coeso

    seqencial para a progresso textual difere da simples repetio que causa a

    circularidade. a unio de novas informaes a propsito dos elementos

    retomados. Esse acrscimo semntico faz o texto progredir.

    A recuperao de uma informao nova em posio temtica no

    segmento-tpico seguinte com base nos recursos da coeso referencial, como

    por exemplo, repetio do mesmo item lexical, nominalizao, expresso

    nominal definida, etc (Cf. KOCH, 1989), considerada por ns uma

    estratgia de articulao textual. O uso desse recurso ter funo coesiva, ao

    enfocar a sua atuao na estrutura da organizao tpica, uma vez que

    possibilita a marcao lexical dos termos que sustentam tal organizao,

    favorecendo a continuidade e a unidade do texto.

    A reiterao da coerncia referencial ocorrer pela necessidade de

    vnculos de coeso entre os segmentos-tpicos diferentes e no uma simples

    circularidade.

    Segundo LEMOS (1977), existem repeties que no contribuem para

    a progresso textual so apenas repeties viciosas das mesmas idias:

    Ao tipo de desvio que se designou por circular , correspondem relaes entre

    sentenas, perodos ou pargrafos, em que um elemento X ( sentena, perodo e

    pargrafo ) justaposto ou ligado por conectivo a um elemento Y do mesmo nvel

    ou classe ( sentena, perodo e pargrafo), sendo o contedo de Y total ou

    parcialmente idntico ao de X. (LEMOS:1977:68).

    Concordamos com o parecer de Moreira (1991: 5-6) ao colocar que:

    ...nem sempre no caso de o contedo de Y ser parcialmente idntico ao de X, se

    pode falar em circularidade. Freqentemente, a recorrncia tem funo

  • 39

    argumentativa : o propsito orientar o leitor para determinadas concluses, com

    excluso de outras.

    A repetio ser vista por ns, assim como para ANTUNES (1996),

    como um poderoso fator para o exerccio da elucidao da mensagem

    veiculada na progresso textual:

    ...o emprego da repetio de unidades e da repetio de seqncias de unidades,

    como estratgia de prover e indicar a organizao seqencial do texto; por estas

    vias, seria possvel conferir repetio um carter menos unilateralista, no sentido

    de que se evidenciariam, tambm, os resultados positivos do seu emprego para

    deixar a seqncia do texto contnua e unificada ( ANTUNES - 1996:309)

    O prprio CHAROLLES (1978), ao propor quatro meta-regras de

    coerncia: repetio, progresso, no-contradio e relao, j falara at

    mesmo na necessidade da repetio para que um texto seja coerente.

    KOCH E TRAVAGLIA ( 1989:50) citam as meta-regras de Charolles

    e enfocam a repetio e a progresso como construtores da coerncia:

    O que se depreende dessas duas regras que, em todo texto, deve haver

    retomadas de elementos j enunciados e, ao mesmo tempo, acrscimo de

    informao . So estas idas e vindas que permitem construir textualmente a

    coerncia.

    Em se tratando de produo e de recepo textual, o avano da

    informao um aspecto que deve ser enfocado com nfase , devido a sua

    importncia. Para o estudo da progresso temtica as questes de

    tema/rema, dado/novo, tpico/comentrio so relevantes no dinamismo

    comunicativo.

    A questo da articulao tema/rema foi desenvolvida por alguns

    funcionalistas que se preocuparam com a organizao e hierarquizao

  • 40

    (blocos comunicativos - tema/ tpico/ dado e rema/ comentrio/ novo4) das

    unidades semnticas de acordo com a perspectiva oracional em que o tema

    aquilo que se toma como base para a comunicao, aquilo de que se fala

    independente de ser o dado, e rema aquilo que se afirma sobre o tema,

    independente de ser o novo; e a perspectiva contextual em que o tema a

    informao deduzvel e o rema, a informao nova, no deduzvel.

    Alguns tipos de progresso j foram analisados por lingistas. Dentre

    eles podemos citar os tipos propostos por Danes e os propostos por

    Lautamatti.

    Segundo Danes (1974:114), Progresso temtica deve ser vista como a

    base, o esqueleto ( skeletos) do enredo (plot).. O autor combina a perspectiva

    oracional e a contextual com a concepo de progresso temtica, pois sua

    preocupao com a organizao do texto e no da frase, e classifica a

    estrutura textual em 5 (cinco) tipos de progresso:

    I- PROGRESSO TEMTICA LINEAR - o rema de cada enunciado -

    ou uma parte do rema - torna-se tema do enunciado seguinte, o rema deste,

    a tema do seguinte, e assim sucessivamente. Isso pode ser representado

    pelos seguintes esquemas e exemplo:

    Esquema 1 -sugerido por MOREIRA (1991:41) :

    T1 R1

    T2 (= R1) R2

    T3 (=R2) R3

    4 Estamos emparelhando tema/tpico/dado e rema/comentrio/novo para efeito da observao do trabalho, mas sabemos que h diferenas entre esses conceitos que, todavia, no so relevantes para o nosso trabalho.

  • 41

    As setas horizontais indicam a relao tema/rema, ou seja, a progresso

    nas frases e as setas verticais indicam o encadeamento no texto, a ligao

    contextual.

    Esquema 2 - sugerido por KOCH (1989:58)

    A B

    B C

    C D

    Exemplo:

    (1)Pensadores de todas as pocas da histria teceram mltiplas teorias sobre as

    possveis causas da agresso do homem pelo homem. Alguns responsabilizaram a

    natureza humana, outros invocaram a autoria de demnios para nossos atos

    violentos e, mais recentemente, alguns empenharam-se com fervor em explicar a

    violncia social atravs de dipo ou da primeira infncia. (...). Surgiram, ento, os

    que encontraram na estrutura da sociedade as razes da violncia social.

    A estrutura de uma sociedade determinada, principalmente, pelo

    arcabouo econmico de seu funcionamento.... ( KAPPEL, 1996:203).

    I I - PROGRESSO TEMTICA COM TEMA CONSTANTE: em

    que, o mesmo elemento temtico aparece em enunciados sucessivos,

    variando, em cada um destes, apenas o rema; a um mesmo tema so

    acrescentadas novas informaes remticas. muito freqente em narraes

    de alunos onde o heri o tema da maior parte das frases e o rema introduz

    apenas novas aes. Podemos representar pelos seguintes esquemas:

    Esquema 3 - sugerido por MOREIRA (1991:42) :

  • 42

    T1 R1

    T1 R2

    T1 R3

    Esquema 4 -sugerido por KOCH (1989:59)

    A B

    A C

    A D

    Exemplo :

    (2) O co um animal mamfero e quadrpede. Ele tem o corpo coberto de plos

    O co um excelente guarda para nossas casas. (/0) um animal muito fiel.

    (KOCH - 1989:58).

    III - PROGRESSO TEMTICA COM TEMA DERIVADO-

    subtemas (temas parciais) originam-se de um hipertema comum. Aparece

    com freqncia em textos descritivos e argumentativos, quando desenvolve

    diferentes pontos. Teremos as seguintes possibilidades de representao:

    Esquema 5 - sugerido por MOREIRA (1991:43)

    T (hipertema)

    T1 R1

    T2 R2

  • 43

    T3 R3

    Esquema 6 - sugerido po KOCH (1989:59):

    A

    A1 B A3 D

    A2 C

    Exemplo:

    (3) O Brasil o maior pas da Amrica do Sul. A regio norte ocupada pela

    bacia Amaznica e pelo Planalto das Guianas . A regio nordeste caracteriza-se,

    em grande parte, pelo clima semi-rido. As regies sul e sudeste so altamente

    industrializadas.(KOCH- 1989:59).

    IV -PROGRESSO TEMTICA COM REMA SUBDIVIDIDO - os

    elementos de um rema mltiplo do origem a vrios temas, ou seja, o

    desenvolvimento das partes de um rema superordenado. Podemos ter os

    seguintes esquemas:

    Esquema 7 - sugerido por MOREIRA (1991:44):

    T1 R1 ( = R1 + R1)

    T2 R2

    T2 R2

  • 44

    Esquema 8 - sugerido por KOCH (1989:59):

    A B (= B1+B2+B3...)

    B1 C

    B2 D

    B3 E

    Exemplo:

    ( 4)Vamos falar agora das partes do corpo humano. A cabea formada de

    crnio e face. O tronco compe-se de trax e abdmen. Os membros dividem-se em

    superiores e inferiores.( KOCH - 1989:59).

    V - PROGRESSO COM SALTO TEMTICO - omisso de um

    enunciado, segmento intermedirio da cadeia de progresso temtica, que

    pode, sem dificuldade, ser depreendido do contexto. Isso pode ser

    representado por:

    Esquema 9 - sugerido por MOREIRA (1991:46):

    T1 R1

    T2 (=R1) R2

    ..................................................

    T3 R3

  • 45

    Esquema 10 - sugerido por KOCH (1989:60):

    A B

    B C

    ............

    D E

    Exemplo:

    (5) Atualmente, um dos principais fatores que interferem no equilbrio do

    homem/meio ambiente a poluio. Gases venenosos tornam irrespirvel o ar das

    grandes cidades. /0/0/0 As doenas das vias respiratrias contribuem para o

    aumento da mortalidade infantil, principalmente no inverno.( MOREIRA -1991:

    47)

    Percebe-se facilmente que no trecho /0/0/0/ poderia estar escrito: e

    isso gera ou o que cria ou o que acarreta doenas das vias respiratrias.

    Preenchido esse espao, a orao seguinte sofreria uma adaptao

    empregando-se o pronome relativo: ...as quais contribuem para o

    aumento.....

    Segundo LAUTAMATTI (1978) a tipologia de progresso proposta :

    (i) PROGRESSO PARALELA - os tpicos das sentenas so

    semanticamente idnticos. o que Danes chama de progresso temtica com

    tema constante. A repetio de um mesmo tpico serve para reforar a idia

    na mente do leitor.

    (ii) PROGRESSO SEQENCIAL - neste tipo de progresso, os tpicos das sentenas so sempre diferentes, uma vez que o comentrio da

  • 46

    sentena anterior fornece o tpico da sentena seguinte e assim por diante.

    Corresponde progresso temtica linear, na terminologia de Danes.

    (iii) PROGRESSO PARALELA AMPLIADA - ocorre quando tpicos de sentenas semanticamente idnticos aparecem em pelo menos

    duas sentenas no adjacentes: a seqncia de um dado tpico de sentena

    interrompida, temporariamente, por uma progresso seqencial. O

    produtor do texto volta a um tpico mencionado anteriormente na redao.

    Esta volta favorece a elaborao do fecho, quando utilizada no final de um

    texto.

    No projeto, havamos selecionado dois tipos de progresso: Linear

    (Danes) ou Seqencial (Lautamatti) e de Tema Constante (Danes) ou Paralela

    (Lautamatti) por serem as mais comuns nos textos dissertativos de vestibular

    j analisados por outros autores. Entretanto, percebemos tambm a incidncia

    de progresso Temtica com Rema Subdividido. Sendo assim, analisamos

    textos com esses trs tipos de progresso.

    2.1.6. Tipos Textuais

    Dentre as tarefas bsicas da Lingstica Textual encontramos a

    diferenciao das vrias espcies de texto. Torna-se necessrio distinguirmos

    algumas tipologias textuais, tendo em vista que vamos trabalhar com anlise

    de textos escritos.

    Partiremos, de acordo com TRAVAGLIA (1991), da idia de que o

    tipo de relao de interlocuo fundamental para a tipologia, pois cada tipo

  • 47

    instaura uma forma de interao entre os interlocutores. Para que um texto

    seja de um tipo ou de outro, preciso haver uma correlao entre

    propriedades e certas marcas, pois a tipologia a possibilidade da

    concretizao das intenes discursivas. Entendemos que o tipo do texto se

    define por uma relao de dominncia de um tipo sobre o outro que tambm

    pode estar presente no texto.

    Como nossa atuao profissional, enquanto professora de redao e

    leitura, a de ensinar alunos do Ensino Mdio e Superior a produzirem textos,

    optamos por trabalhar com o texto dissertativo , podendo ser ou no

    argumentativo de natureza stricto sensu ou no, que o exigido para as

    redaes de vestibular que constituem nosso primeiro corpus, mesmo que

    sejam de regies diferentes, mas em uma mesma situao ( a de prova de

    vestibular) , evitando assim, as flutuaes de contextos que, segundo

    HALLIDAY (1979:109) seria o meio ambiente no qual o texto vem luz.

    Para o segundo corpus escolhemos textos consagrados como bons

    principalmente dissertativos .

    Quanto superestrutura do texto dissertativo, muitos autores se

    preocupam apenas com a organizao do texto segundo a seqncia

    aristotlica que determinou o esquema: Introduo - Desenvolvimento -

    Concluso. Mas, s esses conhecimentos no tm ajudado os estudantes a

    produzirem textos eficazes com um bom desenvolvimento do tema proposto.

    Em nosso trabalho vamos analisar, nas duas pesquisas, corpus

    contendo textos com predominncia para a dissertao. Para isso, faz-se

    necessrio que o caracterizemos, de acordo com as marcas lingsticas e o

    modo de enunciao. Adotaremos a caracterizao de texto dissertativo de

    TRAVAGLIA (1991 - Captulo 2) que se insere numa tipologia em que se

  • 48

    distingue do narrativo, do descritivo e do injuntivo, que se institui por modos

    de enunciao caracterizados pelas perspectivas em que o locutor/enunciador

    se coloca em termos de tempo e espao por um lado e do fazer ( e/ou

    acontecer) ou do conhecer por outro, em relao ao objeto do dizer. O tipo

    argumentativo, stricto sensu ou no, enquadra-se em uma tipologia parte

    porque se institui por modos de enunciao caracterizados por perspectivas do

    locutor/enunciador dadas pela antecipao que ele faz em termos da

    concordncia ou discordncia, adeso ou no do alocutrio ao seu discurso.

    Sendo assim, a argumentao poder ser feita atravs de descries,

    dissertaes, injunes e narraes.

    Para esse autor, o texto dissertativo apresenta as seguintes

    caractersticas , com relao:

    a) perspectiva em que o enunciador/locutor se coloca - enunciador na perspectiva do conhecer, abstraindo-se do tempo e do espao;

    b) ao objetivo da enunciao, uma atitude do enunciador em relao ao objeto do dizer - busca-se o refletir, o explicar, o avaliar, o

    conceituar, expor idias para dar a conhecer, para fazer saber,

    associando-se anlise e sntese de representaes;

    c) instaurao do interlocutor - como ser pensante, que raciocina.

    Alguns autores propem subtipos de dissertao. ANDR (1978:89)

    distingue a subjetiva da objetiva, GARCIA (1965: 335-381) aborda a

    dissertao expositiva e a argumentao . Para nosso objeto de estudo, a

    distino desses subtipos parece, de primeira mo, no ser pertinente. Todavia

    vamos observar se eventualmente subtipos de dissertao criam fatos

    diferentes no que se refere distribuio informacional.

  • 49

    2.2. QUESTO METODOLGICA

    Neste estudo, a atitude filosfica a de empirista, condicionando o

    conhecimento experincia. O mtodo o indutivo e a tcnica, a da

    experimentao. Atravs dos dados poderemos chegar s idias. Para esse

    mtodo , partiremos da observao (coleta de dados em redaes e leitura de

    textos), passando s idias que so levantadas por meio da experimentao e

    da discusso dos resultados obtidos. importante ressaltar que estamos

    cientes de que esta pesquisa interpretativa, tendo em vista a subjetividade

    social do pesquisador e dos pesquisados.

    Na delimitao do corpus da primeira pesquisa, utilizaremos algumas

    redaes (dissertaes) tendo escolhido 50 entre as melhores e 50 entre as

    piores da classificao geral de cada entidade solicitada. De acordo com a

    nota dada pela comisso de correo da redao de cada rgo, os textos

    foram classificados como bons ou ruins, sendo que, do total recebido,

    selecionamos apenas 100: 50 boas e 50 ruins para compor nosso corpus

    operacional.

    O texto dissertativo, dada a sua complexidade e modalidade difcil de

    ser ensinada, mais trabalhado no 2o e 3o graus. Para nossa anlise, as

    inadequaes mais locais tais como ortografia, concordncia ou pontuao

    sero menos relevantes. Deter-nos-emos na perspectiva global que permite

    uma anlise de texto que busca pela coerncia interna do discurso, pela

  • 50

    organizao lgica de suas idias, por um tpico geral que amarre os

    diferentes segmentos-tpicos transformando-os num texto acabado, coeso e

    coerente.

    Para a segunda pesquisa, tendo em vista mais o julgamento do leitor,

    escolhemos textos predominantemente narrativos e dissertativos j

    consagrados como bons por avaliadores, alteramos a ordem da colocao das

    informaes principais e secundrias e fizemos um questionrio para que os

    leitores escolhessem a ordem prefervel.

    Nossas anlises observaro os seguintes aspectos: coeso alm do nvel

    frasal, coerncia ( vendo como a colocao da informao contribui para o

    estabelecimento do sentido), segmentao textual, estrutura informacional e

    distribuio da informao ( dado / novo, introduo do tpico, principal /

    secundrio) com vistas progresso textual , afetando ou no a legibilidade e

    a qualidade de textos .

    2.3. OUTROS ESTUDOS SOBRE DISTRIBUIO INFORMACIONAL

    A distribuio informacional tem sido tratada em diversos estudos mais

    a nvel de sentena.

    MIRA MATHEUS (1983), em seu Captulo 7 - Mecanismos de

    estrutura textual - aborda a comunicao verbal atravs de textos que

  • 51

    possuem as propriedades de conectividade seqencial (coeso) e conceptual

    (coerncia), intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade,

    intertextualidade e informatividade, responsveis pela textualidade . No item

    7.3, p. 207, a autora analisa, do ponto de vista cognitivo, a estrutura temtica

    (modo como um texto seleciona e vai apresentando os tpicos) que

    profundamente ligada estrutura informacional ( modo como se distribui a

    informao apresentada). Considera o tpico discursivo (tpico de seqncias

    textuais) e o tpico frsico ( tpico de uma frase).

    Para essa autora, o texto fala sempre de um ou mais assuntos - os

    tpicos- e, em geral, o que diz acerca deles - o comentrio - que acrescenta

    elementos cognitivos adicionais ao que constitua o conhecimento anterior

    desse objeto. Considera que, para que a estrutura temtica de um texto seja

    coerente, necessrio que os elementos cognitivos fornecidos pelo

    comentrio sejam relevantes e a relao tpico-comentrio deve processar a

    progresso temtica. A estrutura tpico-comentrio coincide muitas vezes

    com a estrutura informacional: o tpico, informao de que j dispe o

    locutor e o alocutrio e o comentrio, a informao nova.

    Mira Matheus ao afirmar que:

    A posio que os constituintes ocupam na frase outra forma de assinalar o

    constituinte foco: dada a funo cognitiva do foco, natural que ele ocorra em

    posio final de frase; assim um dos processos de marcar o foco de um dado

    enunciado, deslocar o constituinte que tem essa funo para posio final de

    frase.(1983:215),

    chega concluso que a posio final de frase prpria para se colocar o foco

    de informao, ou seja, o alvo da ateno dos intervenientes na produo-

  • 52

    interpretao de um texto, devido ao fato de ser ele constitudo por elementos

    novos.

    Em nosso estudo estaremos verificando se a posio ideal para

    colocao da informao principal tambm ser a posio final, s que, ao

    invs de analisarmos o final de frase como Mira Matheus, estaremos

    analisando o final de um segmento-tpico.

    GIORA ( 1983:155-181), em seu artigo Segmentation and segment

    cohesion: On the thematic organization of the text, diferente da viso de que

    a coeso aparece apenas nas relaes lineares entre frases, apresenta um

    estudo que estende a noo de coeso alm do nvel da frase, por v-la como

    uma exigncia do texto para associao de segmentos maiores como

    pargrafos ou at captulos inteiros. Partindo dos planos de concatenao

    listados por DANES (1974), Giora considera apenas um tipo de progresso

    textual, o mais elementar que a apresentao de um tema num rema

    constituinte prvio (progresso linear) por terem duas funes bsicas: uma

    coesiva e outra informacional.

    Esse trabalho da autora uma tentativa de mostrar que posio final de

    segmento de qualquer natureza que seja(pargrafo, estrofe e captulo), um

    parmetro determinante para a posio da informao principal, de primeiro

    plano. Parte dos trabalhos de DANES (1974) e de FIRBAS (1975): assumem

    que a localizao de constituintes na seqncia da frase determina o status

    informacional. A posio final da frase marcada como de primeiro plano

    enquanto que a posio inicial da frase marcada como de segundo plano.

    Comeando a anlise de textos ao nvel da frase, GIORA delineia um

    modelo de conexo linear, sugerida por DANES (1974), que serve como

    modelo bsico para a anlise desses mesmos aplicativos coesivos em

  • 53

    pargrafos, captulos e estrofes de poemas, chegando concluso, em todos

    esses tipos de segmentos , que a posio final de segmento prefervel para a

    colocao de um tpico futuro, alm de ser a idia dominante.

    Essa experincia foi feita em textos cuja organizao se faz por

    progresso linear dos temas no texto em que a viso de relaes temticas

    inter-sentenciais segue o princpio de conduta de velho/dado para

    novo/informao de primeiro plano que exige que uma frase comearia com

    informao velha/dada (Tema= T1) e finalizaria com informao nova (Rema

    =R1). Na frase seguinte, o Tema (T2) o Rema (R1) da expresso prvia.

    Alm disso, Giora afirma que a posio final de segmento, seja de qualquer

    natureza, alm de ser um parmetro determinante para colocao da

    informao principal, de primeiro plano, uma das motivaes para a

    segmentao discursiva, por haver necessidade de trocar ou mudar os tpicos

    discursivos.

    Enfim, Giora chega concluso de que a concatenao tema-rema vai

    alm do nvel da frase e que segmentando o texto depois da introduo do

    tpico discursivo novo/futuro, em vrios nveis de texto, resulta na criao de

    hierarquias informacionais.

    Esse estudo de Giora foi fundamental para iniciarmos nossa pesquisa,

    pois incentivou-nos averiguar se nos textos em lngua portuguesa, o mesmo

    acontecia.

    ANTUNES (1996) partiu do problema referente forma como se

    organiza a seqncia do texto e investigou a maneira como ocorre a coeso

    textual, detendo-se no estudo e na anlise dos recursos da repetio e da

    substituio, privilegiando o fator da continuidade e da unidade do texto.

  • 54

    A autora parte de uma anlise de textos escritos, comentrios

    publicados em jornais, e, ciente de que um texto no prescinde dos elementos

    que comparecem sua superfcie e que tambm no se esgota pela realizao

    da mesma superfcie, postula que o emprego da repetio e da substituio

    lexical coesiva corresponde ao propsito de fazer com que partes diferentes

    do texto entrem em ligao e possibilitem a continuidade semntica que

    marcam as realizaes lingsticas funcionais.

    Aps a realizao de seus estudos, Antunes sugere uma reavaliao da

    forma como, de ordinrio, a repetio abordada no ensino e no exerccio da

    prtica redacional escolar, pois a nfase conferida recomendao de que se

    deve evitar a repetio , obscurece as potencialidades funcionais que este

    recurso lexical pode cumprir na organizao do texto.

    CHOCIAY (1993) analisa no Itinirrio de Pasrgada, testamento

    potico de Manuel Bandeira uma transio entre dois pargrafos (perodo

    final de um pargrafo e o perodo inicial do pargrafo seguinte) para

    demonstrar como uma determinada ordem frasal pode ser requerida pelo texto

    para a eficcia da mensagem: (...) Creio que Carlos Fana nada nos ensinou: aprendemos apenas o

    que estava no livrinho adotado em classe, o Pauthier.

    Mais nos ensinou de Literatura, a mim e mais dois ou trs colegas que o

    cercvamos depois das aulas de sua cadeira, que era a Histria Universal e do

    Brasil, o velho Joo Ribeiro ( ainda no o era quele tempo).(BANDEIRA,

    1958:19 apud CHOCIAY, 1993:21)

    Se tomssemos o segundo perodo isoladamente, observaramos ... que

    construdo em ordem inversa... Afirmar isso , no entanto, descrever apenas parte

    (e a menos importante) do processo: essa disposio no aleatria, mas responde

    manobra operada no perodo anterior, particularmente em nada nos ensinou ,

    a que responde o mais nos ensinou do segundo perodo....o escritor escolheu a

  • 55

    seqncia mais eficaz, no caso, para ressaltar o contraste de qualidade dos dois

    docentes mencionados...atualizou uma seqncia de elementos pertinente ao texto e

    ao contexto... (CHOCIAY,1993:21)

    Partimos da viso de que cada ordem nova a que so submetidos os

    elementos de uma frase ou de frases entre si ou de segmentos-tpicos entre si

    faz surgir uma nova dimenso textual e que a colocao das informaes

    principais, segundo os objetivos do escritor, poder ser fator importante para a

    qualidade do texto e para a facilidade de compreenso do leitor.

    FRIES (1992) aborda como o tema, o tpico e as estruturas de

    informao influenciam as percepes do leitor no ritmo do texto e qual

    informao enfatizada no texto. Partindo de um estudo de propaganda em

    revistas , percebeu que a pontuao de frases usada para enfatizar pontos

    relevantes e que a informao que tinha sido colocada no final das frases, em

    posio remtica, pontuadas regularmente, correlacionavam com a

    informao mais importante, aquela que o leitor deveria se lembrar, enquanto

    que a informao em posio temtica era usada para orientar a mensagem

    que viria no rema, mantendo assim uma informao secundria.

    Para o autor, a classificao da informao em principal ou secundria

    feita tendo por base os objetivos propostos para a criao do texto. A

    localizao da informao mais importante, informao nova, no final de

    segmento por facilitar a interao entre produtor e leitor ou ouvinte. O tema

    que aparece em posio inicial a informao conhecida e/ou secundria, e

    serve para preparar a chegada da informao nova e/ou principal, que fica na

    posio final para marcar a informao na memria do leitor ou ouvinte, o

    pblico-alvo da propaganda:

  • 56

    4. Localizao da informao no texto: H uma tendncia generalizada de se

    colocar as informaes novas e importantes posteriormente em um texto ou em um

    segmento do texto. Assim, ao se comparar dois itens, dos quais um j conhecido,

    h uma tendncia de se descrever o conhecido, primeiro e, em seguida, usar tal

    descrio como padro de comparao para interpretar o segundo.... 5 (FRIES,

    1992:463)

    Nosso trabalho tambm aborda a localizao da informao principal

    no final do segmento, mas diferencia-se na composio do corpus . Giora

    (1983) analisou textos com valor literrio reconhecido, Fries (1992), textos

    especficos para propaganda. Nos dois casos, os textos so bem estruturados,

    para um pblico-alvo bem definido, diferentes das redaes de vestibular que

    constituem o corpus de nossa primeira pesquisa, pois os produtores das

    redaes no tm objetivos especficos, nem um pblico-alvo bem definido.

    Recebem, apenas, um tema para que produzam seu texto.

    VAN DIJK (1992: 196-200) em seu captulo sobre Estruturas de

    Modelos e Relaes Funcionais no Discurso6 aborda a ordenao linear e as

    ordenaes hierrquicas de modelos, afirmando que, aparentemente, h

    estratgias discursivas gerais para a linearizao de informaes representadas

    cognitivamente: em notcias de jornal, objetos ou eventos mais importantes

    so apresentados primeiro, ordenao top-dow , por relevncia ; narrativas

    naturais, a ordenao cronolgica pode ser dominante; no discurso cientfico,

    a tendncia colocar as inferncias no fim como ocorrem nas concluses de

    um esquema argumentativo:

    .. a concluso importante de um argumento pode ser, muitas

    vezes, mencionada na ltima posio . Similarmente, no interior

    da estrutura sentencial de muitas lnguas, dado, velho ou 5 Traduo nossa.

  • 57

    outra forma tpica muitas vezes precede a informao nova,

    focalizada e, portanto, mais relevante. (1992:198)

    Segundo esse autor, a prpria situao comunicativa pode condicionar a

    variao da estrutura de modelos. O mapeamento discursivo da informao do

    modelo de situao tambm uma funo das condies pragmticas e

    interacionais do disc