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 FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA NÚCLEO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO Haroldo de Sá Medeiros PERCEPÇÃO DE VALOR AO COMPOSTO MERCADOLÓGICO EM SUPERMERCADOS DE PORTO VELHO-RO NA COMERCIALIZAÇÃO DE CARNE BOVINA I N NATURA Porto Velho-RO 2012

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PERCEPÇÃO DE VALOR AO COMPOSTO MERCADOLÓGICO EMSUPERMERCADOS DE PORTO VELHO-RO NA COMERCIALIZAÇÃODE CARNE BOVINA IN NATURA

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  • FUNDAO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDNIA

    NCLEO DE CINCIAS SOCIAIS APLICADAS

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO MESTRADO EM ADMINISTRAO

    Haroldo de S Medeiros

    PERCEPO DE VALOR AO COMPOSTO MERCADOLGICO EM

    SUPERMERCADOS DE PORTO VELHO-RO NA COMERCIALIZAO

    DE CARNE BOVINA IN NATURA

    Porto Velho-RO

    2012

  • HAROLDO DE S MEDEIROS

    PERCEPO DE VALOR AO COMPOSTO MERCADOLGICO EM

    SUPERMERCADOS DE PORTO VELHO-RO NA COMERCIALIZAO

    DE CARNE BOVINA IN NATURA

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-

    Graduao Mestrado em Administrao da

    Universidade Federal de Rondnia como um dos

    requisitos para obteno do ttulo de Mestre em

    Administrao.

    Orientadora: Prof. Dra. Mariluce Paes de Souza

    Porto Velho-RO

    2012

  • 2

    HAROLDO DE S MEDEIROS

    Percepo de Valor ao Composto Mercadolgico em Supermercados de Porto Velho-RO

    na Comercializao de Carne Bovina In Natura

    Dissertao apresentada em 02 de agosto de 2012 ao Programa de Ps-Graduao Mestrado

    em Administrao (PPGMAD) da Fundao Universidade Federal de Rondnia (UNIR) como

    requisito final para obteno do Ttulo de Mestre em Administrao e aprovada em sua forma

    final.

    _________________________________________________

    Prof. Osmar Siena, Dr.

    Coordenador do PPGMAD/UNIR

    Comisso Examinadora

    _________________________________________________

    Prof. Mariluce Paes de Souza, Dra.

    Orientadora

    _________________________________________________

    Prof. Eugnio vila Pedrozo, Dr.

    Membro Externo

    _________________________________________________

    Prof. Tomas Daniel M. Rodriguez, Dr.

    Membro

    PORTO VELHO

    2012

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    Dedico este trabalho aos meus pais por todo

    o esforo e por todas as sbias palavras.

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    AGRADECIMENTOS

    Aos meus pais, Flric e Dulce, por mais esta realizao e pelo vencimento de uma etapa rdua

    em minha vida. Sua colaborao e pacincia foram de extrema importncia para tal

    concretizao.

    A minha orientadora Professora Mariluce Paes de Souza pela dedicao, confiana no meu

    trabalho e assertividade em suas orientaes.

    Aos professores do PPGMAD pela oportunidade de ampliar meus conhecimentos por meio

    das aulas no mestrado em administrao, em especial os professores Carlos Andr, Osmar

    Siena, Thephilo e Tomz.

    Aos amigos e colegas do mestrado por toda a colaborao e realizao em conjunto das mais

    diversas atividades, acadmicas ou no. Neste caso, destacam-se a Andressa e Neima, que me

    acompanharam em quase todas as disciplinas durante o curso.

    Aos amigos que no fazem parte do mestrado, sendo que alguns sequer moram em Porto

    Velho, mas se mostraram firmes ao meu lado, sempre me dando apoio, em especial Daniela,

    Lucas, David, Mirts e Roberta.

    As empresas que aceitaram participar da pesquisa.

    Aos demais que colaboraram.

  • 5

    O que nos emociona ser sempre o que nos

    conectar com a vida e com o que existe de

    mais humano.

    Miguel Fontes

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    MEDEIROS, H. S. Percepo de Valor ao Composto Mercadolgico em Supermercados

    de Porto Velho-RO na Comercializao de Carne Bovina In Natura. Dissertao

    (Mestrado) - Programa de Ps-Graduao Mestrado em Administrao Universidade Federal de Rondnia, Porto Velho, 2012.

    RESUMO

    Este estudo tem por objetivo analisar a percepo de valor de compradores de carne bovina in

    natura a partir dos compostos mercadolgicos considerados pelos clientes no processo de

    compra em empresas do segmento supermercadista de Porto Velho-RO, visando propor um

    modelo de composto mercadolgico direcionado ao varejo de carne bovina. Para tal, foi

    analisada a percepo de valor dos compradores de carne bovina e conhecidos quais

    elementos do composto mercadolgico varejista eram considerados no ato da compra, alm

    disso, foram analisados quais elementos influenciam o comportamento de compra dos

    consumidores. Tendo como referencial os autores Barki, Parente, Kotler, Neves, Machado,

    Parasuraman, Zeithaml e Berry, entre outros, foram discutidos e apontados aspectos inerentes

    a cadeia da bovinocultura de corte, varejo supermercadista, composto mercadolgico e

    percepo de valor. A metodologia empregada neste estudo tem natureza quantitativa e

    abordagem descritiva. A coleta de dados ocorreu por meio de questionrios aplicados a 333

    pessoas, embora apenas 316 tenham sido considerados vlidos. A fim de atender os objetivos,

    os mtodos de anlise utilizados foram a anlise descritiva, anlise de conglomerados e

    anlise fatorial. Os resultados indicam que a maior influncia no comportamento de compra

    dos consumidores proveniente de fatores psicolgicos, sendo estes ligados ao aprendizado

    proveniente de experincias pessoais obtidas em compras anteriores e conhecimento explcito.

    A evidncia do processo de compra da carne como um procedimento individualizado, com

    poucas influncias sociais, inclusive familiares exposta e pertinente pesquisa realizada. As

    estratgias de atendimento se mostraram como aquelas com maior nvel de importncia

    atribuda comercializao da carne. Esses resultados corroboram com o descrito por Parente

    e Barki (2006), afirmando que o consumidor brasileiro preza pelo uso da fora de vendas no

    ato da compra. Relacionado a isto, verificou-se que a influncia da fora de vendas na

    percepo do indivduo mais significativa do que as aes destinadas a agregar valor por

    meio da parte tangvel do produto ou polticas de preo. A anlise de conglomerados mostrou

    a existncia de dois grupos de consumidores. Um, rotulado como os influenciveis, formado, em sua maioria, por mulheres e pessoas com renda familiar mediana entre

    R$1.244,01 e R$6.220,00. Esse conglomerado possui maior percepo de valor atribuda a

    todos os fatores que influenciam o comportamento de compra e ao composto mercadolgico.

    O segundo, denominado pouco influenciveis, tem presena maior de pessoas com renda superior a R$6.220,01, homogeneidade entre homens e mulheres, percepo de valor menor

    do que o outro grupo em todos os fatores que influenciam o comportamento de compra e

    composto mercadolgico. A anlise fatorial exploratria mostrou uma estrutura subjacente ao

    composto mercadolgico varejista quando este relacionado a comercializao da carne

    bovina. Estas estruturas so dadas por oito fatores, que so: comunicao, atendimento,

    acesso, preo, produto, higiene e decorao, layout e consistncia.

    Palavras-chave: comportamento do consumidor, percepo, varejo, carne bovina.

  • 7

    MEDEIROS, H. S. Value Perception of Marketing Mix in Supermarkets from Porto

    Velho-RO in Beef Trade. Dissertation (Master) Post Graduate Program Masters Course in Administration. Federal University of Rondnia Porto Velho, 2012.

    ABSTRACT

    This study aims to analyze the value perception of fresh beef buyers from the marketing

    mixes considered by customers during the buying process in supermarkets located at Porto

    Velho-RO, ordering propose a model of marketing mix related to the retail fresh beef. For

    this, the value perception was analyzed and the elements of marketing mix considered during

    the processes were known, furthermore, the elements which influence the consumers behaviors were analyzed. Taking as reference the authors Barki, Parente, Kotler, Neves,

    Machado, Parasuraman, Zeithaml and Berry, among others, were discussed and pointed out

    aspects inherent of the chain of beef cattle, retail, supermarket, marketing mix and value

    perception. The methodology of this study is quantitative and descriptive. The data was

    collected through questionnaires given to 333 people, although only 316 were considered

    valid. In order to the objectives, the methods of analysis used were the descriptive analysis,

    cluster analysis and factor analysis. The result indicates that the biggest influence on

    consumers buying behavior comes from the psychological factors also linked to learning with personal experiences obtained in previous purchases and elements linked to explicit

    knowledge. These results corroborate with the described by Parente and Barki (2006), that the

    Brazilian consumers value the use of seller at the time of purchase. Related to this, it was

    found that the influence of sallers in the individual's perception is more significant than the

    actions to add value through product or pricing marketing policies. Cluster analysis showed

    the existence of two groups of consumers. The first one, called as "the supple" is that formed

    mostly by women and people with median household income between R$ 1.244,01 and R$

    6.220,00. This cluster has a greater value perception attributed to all factors that influences

    buying behavior and marketing mix. The second cluster, called "little influenced," is marked

    by the presence of people with income exceeding R$ 6,220.01, homogeneity between men

    and women, less percepo as the other group on all factors that influence buying behavior

    and marketing mix. Factor analysis showed an underlying structure to the retail marketing

    mix when it is related to the beef commercialization. These structures are given by factors,

    which are: communication, attendance, access, price, product, hygiene and decor, layout and

    consistency.

    Keywords: consumer behavior, percepo, retail, beef.

  • 8

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Compreenso sistmica do agribusiness......................................................................

    Figura 2 Cadeia da bovinocultura de corte................................................................................

    Figura 3 Fatores que influenciam o comportamento de compra................................................

    Figura 4 Service quality model..................................................................................................

    Figura 5 Fatores de influncia no comportamento X Composto Mercadolgico......................

    Figura 6 Estratgia de produto...................................................................................................

    Figura 7 Etapas da anlise de conglomerados...........................................................................

    Figura 8 Agrupamento de fatores...............................................................................................

    Figura 9 Resultados obtidos da anlise fatorial.........................................................................

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    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 Macrosegmentos de cadeias produtivas...........................................................

    Quadro 2 Varejo alimentcio formato de lojas..............................................................

    Quadro 3 Estratgias de produto.......................................................................................

    Quadro 4 Posicionamento de produtos por preo............................................................

    Quadro 5 Estratgias de preos.........................................................................................

    Quadro 6 Estratgias de comunicao...............................................................................

    Quadro 7 Percepo e processos......................................................................................

    Quadro 8 Sntese das contribuies sobre percepo de valor...........................................

    Quadro 9 Critrios de escolha dos supermercados.......................................................

    Quadro 10 Blocos de questes........................................................................................

    Quadro 11 Perguntas do bloco 3.......................................................................................

    Quadro 12 Identidade dos Clusters.................................................................................

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  • 10

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Pases importadores e valores importados em 2011...................................................

    Tabela 2 Renda familiar e escolaridade..................................................................................

    Tabela 3 Relao entre renda e freqncia de compra...........................................................

    Tabela 4 Renda familiar e principais cortes comprados.....................................................

    Tabela 5 Renda familiar e percepo a propaganda de TV......................................................

    Tabela 6 Renda familiar e percepo a internet.....................................................................

    Tabela 7 Faixa etria e internet............................................................................................

    Tabela 8 Mdia de influncia dos fatores no composto.........................................................

    Tabela 9 Composto de produto.................................................................................................

    Tabela 10 Composto de preo...............................................................................................

    Tabela 11 Ambiente de loja..................................................................................................

    Tabela 12 Composto de localizao e acesso...........................................................................

    Tabela 13 Composto de atendimento......................................................................................

    Tabela 14 Composto de comunicao.....................................................................................

    Tabela 15 Componentes dos clusters....................................................................................

    Tabela 16 Caracterizao dos clusters.....................................................................................

    Tabela 17 Ocupao e hbitos de compra nos clusters...........................................................

    Tabela 18 Alfa de cronbach..................................................................................................

    Tabela 19 Alfa de cronbach por varivel.............................................................................

    Tabela 20 KMO e Bartletts..................................................................................................

    Tabela 21 Comunalidades....................................................................................................

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    Tabela 22 Varincia explicada..................................................................................................

    Tabela 23 Matriz dos fatores rotacionados...........................................................................

    Tabela 24 Fator 1 comunicao..........................................................................................

    Tabela 25 Fator 2 atendimento............................................................................................

    Tabela 26 Fator 3 - localizao e acesso...................................................................................

    Tabela 27 Fator 4 preo.......................................................................................................

    Tabela 28 Fator 5 produto....................................................................................................

    Tabela 29 Fator 6 Higiene e decorao................................................................................

    Tabela 30 Fator 7 Layout....................................................................................................

    Tabela 31 Fator 8 Consistncia............................................................................................5

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    SUMRIO

    1 INTRODUO........................................................................................................................

    1.1 PROBLEMATIZAO..............................................................................................

    1.2 OBJETIVO GERAL...................................................................................................

    1.3 OBJETIVOS ESPECFICOS......................................................................................

    1.4 JUSTIFICATIVA........................................................................................................

    2 REVISO TERICA..............................................................................................................

    2.1 CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE CORTE...............................

    2.2 VAREJO SUPERMERCADISTA..............................................................................

    2.3 COMPOSTO MERCADOLGICO VAREJISTA.....................................................

    2.3.1 Estratgias de Produto..................................................................................

    2.3.2 Estratgias de Preo......................................................................................

    2.3.3 Estratgias de Ambiente de Loja..................................................................

    2.3.4 Estratgias de Localizao e Acesso............................................................

    2.3.5 Estratgias de Atendimento e Servios........................................................

    2.3.6 Estratgias de Comunicao.........................................................................

    2.4 PERCEPO DE VALOR.........................................................................................

    3 METODOLOGIA....................................................................................................................

    3.1 CARACTERIZAO DA PESQUISA................................................................

    3.2 VARIVEIS DE ESTUDO...............................................................................

    3.3 AMOSTRA E COLETA DE DADOS....................................................................

    3.4 ANLISE DOS DADOS...................................................................................

    4 ANLISE DOS RESULTADOS.....................................................................................

    4.1 ANLISE DESCRITIVA...............................................................................

    4.1.1 Caracterizao da Amostra......................................................................

    4.1.2 Fatores de Influncia no Comportamento do Consumidor..........................

    4.1.3 Composto Mercadolgico............................................................................

    4.2 ANLISE DE CONGLOMERADOS.............................................................

    4.3 ANLISE FATORIAL....................................................................................

    4.3.1 Fator 1 Comunicao..............................................................................

    4.3.2 Fator 2 Atendimento.............................................................................

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    4.3.3 Fator 3 Acesso..........................................................................................

    4.3.4 Fator 4 Preo..............................................................................................

    4.3.5 Fator 5 Produto.......................................................................................

    4.3.6 Fator 6 - Higiene e Decorao......................................................................

    4.3.7 Fator 7 Layout......................................................................................

    4.3.8 Fator 8 Consistncia...............................................................................

    5 CONCLUSES...................................................................................................................

    6 LIMITAES DA PESQUISA...........................................................................................

    7 REFERNCIAS..................................................................................................................

    Anexo A................................................................................................................................

    Anexo B................................................................................................................................

    Anexo C.................................................................................................................................

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    1 Introduo

    Mudanas expressivas tm ocorrido no comportamento dos consumidores nos ltimos

    anos em diversas reas, entre elas a alimentao. O hbito alimentar se transformou e as

    dificuldades de transporte, ganhos de tempo, entre outros fatores obrigam as pessoas a

    comprar alimentos que facilitem seu dia-a-dia.

    Qualidade do produto, rapidez no atendimento, comodidade, uso de tecnologia e

    diversos outros aspectos deixaram de ser diferenciais e se tornaram bsicos para atrair e

    manter compradores. Decorrente destas mudanas houve um aumento da complexidade do

    ambiente, na qual diversos fatores, como canais de distribuio, formatos de negcio, marcas,

    relacionamento, segmentaes e nichos diferenciados de mercado, interagem para atender

    novas e crescentes demandas. Assim, as empresas podem explorar e compreender diversos

    modos de conexo entre os elementos citados e os consumidores (GOSLING, 2007).

    Diferente dos conceitos econmicos clssicos, nos quais a escassez de produtos e o

    conceito de utilidade eram os principais pontos de partida para a gerao de valor, atualmente,

    estudos baseados na percepo da qualidade de produtos e servios tentam compreender e

    explicar quais seriam as causas extrnsecas a formao de preos e variaes na quantidade

    que podem gerar vantagem competitiva para as empresas. Segundo Di Serio (2009), o valor

    quando comunicado ao cliente e por ele percebido, mesmo que a partir de um conceito

    subjetivo e dado pela percepo, poder ser adicionado ao produto comercializado, tornando-

    o diferenciado.

    As empresas que atuam diretamente com os consumidores, a fim de se manterem

    competitivas, mantm sua ateno para alguns fatores que motivam e influenciam a compra

    de determinados produtos. Assim, estes fatores podem ser extrnsecos aos expressos pelos

    prprios consumidores (MAZZUCHETTI e BATALHA, 2005). Segundo Megido (2003),

    medida que as preferncias dos consumidores tornam-se diversificadas e individualizadas, a

    construo de vantagens competitivas no mercado depende da habilidade das empresas em

    absorver informaes dos clientes, internalizando seus gostos e preferncias. De acordo com

    Neves (2000), entender os novos consumidores, compreendidos pelo comportamento mutvel,

    fundamental para as empresas ao longo das cadeias agroalimentares, de modo que a

    existncia de um fluxo de informaes entre os componentes das cadeias se torna

    preponderante a essa compreenso.

  • 15

    As aes promovidas pelas empresas para influenciar os clientes a comprar produtos

    compem o composto mercadolgico. Este, tambm denominado marketing mix, mix de

    marketing ou composto de marketing, foi descrito por Neil Borden em 1964 em seu trabalho

    The Concept of the Marketing Mix, no qual h a descrio de uma lista com aes

    direcionadas a empresas do setor industrial. A partir dessa concepo, outros autores

    abordaram o tema e o direcionaram para outros modelos de negcio, como Jerome MacCarthy

    ainda na dcada de 1960, elaborando um conjunto de aes conhecido como 4Ps, no qual

    quatro grupos de estratgias forma formulados a fim de estimular compradores (produto,

    preo, promoo e ponto de venda). No entanto, destacam-se algumas adaptaes ao

    composto de marketing, sendo estas decorrentes de ajustes a diferentes modelos de negcio

    ou ainda, a adequaes entre as diferentes estratgias de marketing. Segundo Kotler (2009), a

    estrutura dos 4Ps um meio facilitador para tomada de decises sobre caractersticas dos

    produtos, modo de definio de preos, distribuio e os meios de promov-lo, no

    importando quantos Ps o composto mercadolgico possua, pois o ideal que ele seja

    adequado ao desenho atribudo as estratgias de marketing.

    Oriundo das adaptaes do tradicional composto de marketing denominado 4Ps ao

    do segmento varejista h a formatao de um novo conjunto de estratgias caracterizado como

    composto mercadolgico varejista, sendo que este se d pelas estratgias de preo, produto,

    ambiente de loja, localizao e acesso, atendimento e comunicao (PARENTE e BARKI,

    2006).

    Estabelecendo relaes entre o segmento varejista e a cadeia da bovinocultura de

    corte, destaca-se um dos alvos deste trabalho, o supermercado. Tal modelo de negcio se

    destaca por ocupar um papel importante, agindo como comprador e distribuidor de carne

    bovina, alm de ser um dos principais agentes de mudanas da cadeia devido seu crescente

    poder de compra e barganha frente aos outros componentes (NEVES, 2000). Assim como em

    outros setores dentro do varejo, para os supermercados, os consumidores so os usurios

    finais do produto e grande parte da comercializao de produtos alimentcios, como a carne

    bovina, realizada nessas empresas.

    A compreenso por parte das empresas do setor de supermercados em relao as

    necessidades e desejos dos consumidores diferenciada, pois dessemelhante a outros setores

    do varejo, especialmente aqueles em que as lojas so de pequeno porte, este oferta um grande

    nmero de itens e no caso da carne bovina, a baixa diferenciao do produto torna dificultosa

    as prticas mercadolgicas que visam influenciar o cliente. Segundo Neves (2000), o

  • 16

    mercado de carne bovina ainda necessita de maior agressividade nas aes de marketing,

    agregando valor ao produto.

    Os supermercados, organizaes condicionadas a compreender o comportamento do

    consumidor, assim como outras empresas enquadradas no segmento do varejo alimentcio,

    esto ligados a uma rede de outros agentes dentro de uma cadeia agroalimentar. Para todos

    esses agentes, segundo Megido (2003), alm do comportamento antes da mesa,

    compreendido pelas preferncias e motivos de escolha do local de compra, h o

    comportamento na hora da mesa, que compreendido pelo momento em que o consumidor

    est comprando, ato da venda e o consumo propriamente dito. Porm, ainda h o

    comportamento depois da mesa, no qual a percepo do consumidor estabelecida aps o

    consumo.

    Dentre as pesquisas que tratam sobre a relao dos supermercados com outros

    componentes da cadeia da bovinocultura da carne, destacando a do autor Neves (2000). No

    entanto, as pesquisas usualmente tratam de qualidade do produto e da aceitabilidade da carne

    dos clientes nos supermercados. Outras abordam as definies de estratgias de marketing

    adotadas pelas empresas tendo em vista o processo de compra ou a fidelizao. Pesquisas

    voltadas a anlise da percepo de valor so mais comuns a partir de 2004, embora pouco

    voltadas ao varejo de alimentos, como a realizada por Oliveira (2008) com colaboradores de

    um empresa seguradora que comercializa seguros de vida e o estudo de Diniz, Rosadas e

    Macedo (2004), realizada em restaurantes para analisar a percepo dos clientes quanto o

    tempo em fila de espera.

    1.1 Problematizao

    O Brasil se posiciona com destaque na produo e comercializao de carne bovina.

    Desde o ano de 2004 o pas ocupa as posies de segundo maior produtor, precedido pelos

    EUA (RIBEIRO et al, 2005), e maior exportador mundial (ABIEC, 2012). O rebanho

    brasileiro constitudo de aproximadamente 200 milhes de bovinos (MAPA, 2012) e a rea

    de pastagem destinada a alimentao e engorda desses animais possui 174 milhes de

    hectares, aproximadamente 20% do territrio brasileiro (ABIEC, 2012). Em 2010 foram

    exportados 947.659.107kg de carne bovina congelada, fresca e refrigerada, enquanto em 2011

    o total correspondeu a 816.277.434kg (MDIC, 2012), sendo esses produtos exportados para

    diversos pases, conforme a tabela 1.

  • 17

    Tabela 1 Pases Importadores e Valores Importados em 2011

    Pases Importadores

    de Carne Bovina Brasileira

    Valor Importado

    (em milhares de US$)

    Rssia 970.581,00

    Ira 618.830,00

    Hong Kong 543.863,00

    Egito 338.197,00

    Venezuela 256.456,00

    Pases Baixos (Holanda) 177.993,00

    Itlia 167.677,00

    Reino Unido 162.602,00

    Chile 147.344,00

    Estados unidos 124.180,00

    Outros pases 954.105,00

    Fonte: adaptado de MDIC e ABIEC (2012)

    As exportaes da carne bovina brasileira so efetuadas principalmente por empresas

    frigorficas que, com o sucesso das exportaes, tem modernizado e profissionalizado suas

    indstrias (SABADIN, 2006). Destacando-se no ano de 2011 como principais exportadores as

    empresas Sadia S.A., JBS S.A; BRF - Brasil Foods S.A., Seara S.A. e Minerva S.A. (MDIC,

    2012).

    A modernizao das empresas frigorficas, alm de beneficiar a exportao, implica no

    incremento da qualidade dos processos industriais e reflete em toda a cadeia produtiva. A

    influncia dos consumidores e a desconfiana em relao a higiene e qualidade da carne,

    ofertada no varejo contribui para que os elos da cadeia produtiva da carne que lidam

    diretamente com os consumidores aprimorem seus servios (MAZZUCHETTI E BATALHA,

    2005).

    O consumo de carne bovina por indivduo no Brasil correspondeu, no ano de 2011 a

    aproximadamente 40kg/ano, totalizando 7,6 milhes de toneladas (ABIEC, 2011) e a projeo

    para o crescimento do consumo interno 1,94% ao ano entre 2010 e 2020. Ainda, a

    elasticidade-renda-consumo da carne bovina corresponde a 0,52%, de modo que, caso a renda

    da populao brasileira aumentasse em 10%, haveria um acrscimo do consumo em 5,2%

    (MAPA, 2010).

    A literatura brasileira sobre o consumo de carne bovina, desde a dcada de 2000, tem

    diversos trabalhos relacionados aos fatores que influenciam o comportamento de compra dos

    consumidores. Dentre estes, destacam os estudos de Mazuchetti e Batalha (2004), Nascimento

    (2006), Barcellos (2007) e Barcellos e Ferreira (2003).

    Em seu estudo, Mazuchetti e Batalha (2004) identificaram por meio de um survey

    aplicado a 400 respondentes em 129 pontos de vendas, quais fatores socioeconmicos,

  • 18

    demogrficos e psicogrficos influenciam o consumo de carne bovina em 32 municpios o

    estado do Paran. De acordo com os resultados, os fatores preo e renda so considerados

    importantes influenciadores, porm, o atendimento se torna um diferencial quando a figura do

    aougueiro transmite sensao de idoneidade. Alm disso, os aspetos sensoriais do produto

    (cor, maciez e odor) e elementos do ponto de venda, como a higiene, se fazem presentes como

    influenciadores no processo de compra e posterior consumo.

    Nascimento (2006) realizou um estudo em supermercados de pequeno, mdio e grande

    porte, aougues e boutiques de carne, entrevistando 385 consumidores. O objetivo foi a

    identificao de fatores que determinavam a percepo de qualidade dos consumidores na

    comercializao da carne bovina fresca em supermercados de Campo Grande-MS. Dentre os

    resultados, destaca-se a importncia atribuda aos elementos denominados como imagem do

    atendimento, estando estes relacionados as dimenses de empatia, segurana, confiana e

    prestabilidade. ,

    Barcellos (2007) realizou um survey com 816 respondentes no Brasil, Holanda e

    Austrlia. Teve por objetivo testar um modelo terico que relacionasse atitude, norma

    subjetiva, hbito e inteno de comportamento no consumo de carne bovina. Alguns dos

    resultados indicaram que a presso social de outras pessoas no processo de compra elevada,

    porm, a influncia desta no comportamento de compra no interfere de forma significativa.

    A pesquisa realizada por Barcelos e Ferreira (2003) sobre o consumo de carne, indica que h

    uma forte relao entre a qualidade percebida do produto e a sensibilidade ao preo a ser

    pago.

    Lopez, Gotera e Ortega-soto (2007) identificaram na cidade de Maracaibo, na

    Venezuela, que os fatores determinantes a percepo no ato de compra da carne esto

    relacionados s influencias familiares, trabalho, forma de pagamento e quantidade de pessoas

    no supermercado no momento da compra. Tambm, para Novaes (2006), um dos fatores

    determinantes no processo de compra da carne a escolaridade, pois para os respondentes

    com maior ndice de escolaridade, h um menor consumo de carne bovina e maior de

    verduras.

    Na pesquisa realizada por Abicht (2009), os consumidores de carne bovina apontaram

    como elemento importante a visualizao da certificao do produto exposto nas gndolas dos

    supermercados e hipermercados. Biscola (2005), ao pesquisar as vantagens e desvantagens na

    escolha de um supermercado, evidenciou a preocupao dos clientes com o tempo de espera

    nos checkouts e a forma de manipulao dos alimentos.

  • 19

    Em outras pesquisas realizadas no setor alimentcio, como a de Praxedes (2007),

    divergncias so apontadas entre as expectativas dos consumidores e a concepo de oferta

    dos gestores, especialmente nas estratgias de preo e promoo. No entanto, para a maioria

    das pesquisas, a percepo de valor dos pesquisados foi positiva.

    O setor supermercadista, no Brasil, teve um faturamento de aproximadamente R$201

    bilhes no ano de 2010 e emprega 919,8 mil pessoas no pas (ASSOCIAO BRASILEIRA

    DE SUPERMERCADOS ABRAS, 2011). Ainda, para a mesma instituio, as vendas

    provenientes dos supermercados e hipermercados correspondem a 73% do faturamento do

    autoservio no Brasil. Em conjunto ao setor de hipermercados, os supermercados pagaram R$

    9,6 bilhes em salrios no ano de 2009, segundo dados da Pesquisa Anual do Comrcio

    (2009) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica IBGE.

    Na regio norte, o setor supermercadista possui sete associaes, sendo uma para cada

    estado. Mesmo com a presena das associaes estaduais, a regio deficiente em estudos no

    setor, pois apenas duas associaes apresentam sites institucionais, sendo estas o Par e

    Tocantins. Alm disso, somente Manaus-AM e Belm-PA fazem parte do clculo realizado

    pela ABRAS para a verificao das variaes de preo da cesta bsica em mbito regional e

    nacional.

    O estado de Rondnia possui 1.028 estabelecimentos comerciais atuantes no segmento

    varejista de alimentos (Pesquisa Anual do Comrcio, IBGE, 2009). Quanto aos

    supermercados, na capital do estado, Porto Velho-RO, destacam-se grandes empresas locais

    que possuem mais de uma loja e outras de grupos multinacionais com loja nica que tambm

    atuam como supermercadistas, embora possuam formato hipermercadista e vendam via

    atacado. Segundo, Scheidt (2008), existem 20 supermercados exclusivamente varejistas na

    cidade, incluindo filiais das empresas que possuem diversas lojas.

    As mudanas causadas pela chegada de pessoas ao estado em decorrncia do

    desenvolvimento econmico, construo e implantao de usinas hidreltricas na capital e

    desenvolvimento agropecurio como potencial do estado, remetem as empresas varejistas,

    independente do setor, a competio visando conquistar novos consumidores e ainda

    compreender suas necessidades e desejos, alm de influenciar os nichos j existentes, pois isto

    algo atual e importante para aquelas empresas que desejam se manter no mercado.

    Assim, devido a escassez de estudos sobre o tema no estado, incluindo a capital Porto

    Velho, mudanas correntes no comportamento dos consumidores e a importncia do setor

    supermercadista, tem-se as seguintes perguntas de pesquisa: Quais so os componentes do

  • 20

    composto mercadolgico varejista considerados pelos clientes no processo de compra da

    carne bovina in natura? Qual a percepo de valor dos clientes de carne bovina in natura

    considerando os compostos mercadolgicos dos supermercados?

    1.2 Objetivo geral:

    Analisar a percepo de valor de compradores de carne bovina in natura a partir dos

    compostos mercadolgicos considerados pelos clientes no processo de compra em empresas

    do segmento supermercadista de Porto Velho-RO, visando propor um modelo de composto de

    composto mercadolgico direcionado ao varejo de carne bovina.

    1.3 Objetivos especficos:

    1. Conhecer o composto mercadolgico considerado pelos clientes no processo de

    compra de carne bovina;

    2. Analisar a percepo de valor dos compradores de carne bovina in natura;

    3. Analisar o perfil dos compradores por meio da percepo de valor aos elementos que

    influenciam o comportamento de compra e nveis de importncia atribudos ao

    composto mercadolgico;

    4. Estabelecer um modelo de composto mercadolgico direcionado ao varejo de carne

    bovina a partir da literatura sobre percepo de valor e resultados obtidos na anlise.

    1.4 Justificativa

    A fim de se diferenciar da concorrncia, empresas tem implementado aes que

    pretendem oferecer facilidade aos compradores. O varejo, conector de produtores e

    consumidores, na busca pela fidelizao dos cosumidores e pela manuteno de suas

    vantagens competitivas, tem sido levado a empregar estratgias mais focadas no cliente, se

    tornando um importante elemento do marketing. Assim, surge o marketing de varejo (LAS

    CASAS, 2007; PRAXEDES, 2007). Atrelado aos conceitos de marketing de varejo e as

    ferramentas relacionadas a este tema, autores como Kotler (2009) e Gosling (2007) destacam

  • 21

    o marketing de experincia. Esse conceito, oriundo das relaes B2B (business to business ),

    liga valores ao produto que no esto diretamente presos a mercadoria durante o ato da

    compra nas relaes B2C (business to consumer). Dessa forma, a empresa pode influenciar o

    consumidor a partir de aes que valorizam a prpria empresa e no somente seus produtos

    comercializados.

    A contemporaneidade da amplitude nas aes mercadolgicas pode estar ligada ao

    aumento do poder aquisitivo da populao, especialmente das classes C,D e E, pois o aumento

    poder de compra em conjunto a aes que visem reter o cliente podem ser considerados

    formas de incluso social (BARKI, 2005).

    Os estudos realizados sobre a cadeia da bovinocultura de corte que envolvem

    supermercados localizados em Rondnia no abordam o tema do composto mercadolgico ou

    a percepo voltada a comercializao da carne. Verifica-se apenas um trabalho que trata da

    avaliao da qualidade dos servios dos supermercados da cidade de Cacoal, elaborado por

    Rossoni (2002), porm este estudo no tem como alvo o consumo de carne bovina. Tambm,

    destaca-se o estudo realizado por Scheidt (2008), que avaliou a fora competitiva dos

    supermercados como compradores de produtos lcteos. Desse modo, apura-se a falta de

    estudos voltados a comercializao da carne bovina no elo varejista da cadeia produtiva.

    Por fim, o estudo de toda a cadeia da bovinocultura de corte se torna importante para

    Rondnia, especialmente pela representatividade econmica da atividade no estado. A

    compreenso de como os supermercados, principal canal de distribuio de alimentos

    diretamente ligado ao consumidor no Brasil, atendem as necessidades dos clientes somente

    torna a enriquecer o tema, o mercado consumidor, promovendo o aprendizado por parte das

    empresas e do meio acadmico.

  • 22

    2 Reviso Terica

    Neste captulo so apresentadas as abordagens tericas que suportam o estudo e

    discutidos aspectos inerentes ao tema e objeto de estudo. Nos primeiros itens, so abordados

    pontos significativos sobre a cadeia produtiva da bovinocultura de corte, consumo interno

    brasileiro e varejo supermercadista. Na sequncia, os outros itens versam sobre os principais

    aspectos tericos das estratgias que compem o composto mercadolgico varejista e fatores

    inerentes a percepo de valor e comportamento dos consumidores. Para tal, os principais

    construtos utilizados so o composto mercadolgico varejista (PARENTE e BARKI, 2006);

    modelo dos cinco hiatos (PARASURAMAN, ZEITHAML E BERRY, 1985). Para corroborar

    com o tema da pesquisa, autores como Neves (2002), Kotler (1993; 2009) e Las Casas (2007)

    tambm foram utilizados.

    2.1 Cadeia Produtiva da Bovinocultura de Corte

    Derivado da concepo de filire, constituda por Morvan em 1985 na sua obra Filire

    de Production, in Foundaments deconomie industrielle (ZYLBERSTAJN e NEVES, 2000),

    o conceito de cadeia produtiva consiste no conjunto de atividades, entre diversas etapas, desde

    o processamento, montagem e distribuio, que converte insumos e matrias-prima em

    produtos acabados (HAGUENAUER et al, 2001). Tambm, destaca-se a importncia da

    funo do consumidor como indutor de todos os procedimentos adotados pelos agentes que se

    fazem presentes em uma cadeia (ARBAGE, 2006).

    A relao dos diversos agentes com os consumidores, embora seja diferente de acordo

    com o tipo de produto e o cliente a ser considerado, assegura que operaes sejam articuladas

    e que valores possam ser atribudos aos mais variados produtos. Alm disso, a concepo de

    cadeia produtiva corrobora com o fato de que empresas no so agentes avulsos ou

    independentes e que sua integrao promove a gerao de estruturas que desempenham

    funo fundamental para o conjunto como um todo (PROCHMANN, 2003).

    A identificao dos agentes de uma cadeia produtiva se baseia no papel desempenhado

    por cada um e no relacionamento que h a jusante (em direo ao produto final) ou a

    montante (em direo aos insumos) dentro da cadeia. Segundo Batalha (2001), a cadeia pode

  • 23

    ser segmentada em trs macrosegmentos: produo de matria-prima, industrializao e

    comercializao, conforme quadro 1.

    Quadro 1 Macrosegmentos de Cadeias Produtivas

    Macrosegmento Descrio

    Comercializao

    Representa as empresas que esto em contato com o

    cliente final da cadeia de produo e que viabilizam o

    consumo e o comrcio dos produtos finais. Neste

    macrosegmento podem ser includas as empresas

    responsveis pela logstica de distribuio.

    Industrializao

    Representa as firmas responsveis pela transformao

    das matrias-primas em produtos finais destinados ao

    consumidor. O consumidor pode ser uma unidade

    familiar ou outra agroindstria.

    Produo de matrias-primas

    Rene as firmas que fornecem as matrias-primas

    iniciais para que outras empresas avancem no

    processo de produo do produto final.

    Fonte: Batalha, 2001

    A partir da anlise sistmica de cadeias, tem-se outra concepo, o Commodity System

    Approach (CSA). Derivado da necessidade em examinar a relao entre empresas que

    compreendiam o agribusiness americano, sua base metodolgica tem por objetivo prover uma

    viso analtica sobre dependncia intersetorial e mensurao da intensidade das ligaes

    intersetoriais, abordando assim, relaes verticais entre empresas envolvidas com produo,

    processamento e distribuio de produtos agrcolas e agropecurios (ZYLBERSTAJN e

    NEVES, 2000). Decorrente da compreenso sistmica do agribusiness, trs setores se formam

    como grupos de empresas atuantes no segmento agrcola e agropecurio, sendo estes

    denominados: setores antes da porteira, dentro da porteira e aps a porteira (ARAJO,

    2009), conforme a figura 1.

  • 24

    Figura 1 Compreenso sistmica do agribusiness

    Fonte: Arajo (2009)

    Aps a dcada de 1980, no Brasil, o estudo de carter sistmico, derivado da

    concepo de filire na Europa e agribusiness nos EUA, ganha importncia no meio

    acadmico, empresarial e poltico. Como resultado deste ganho, houve uma grande

    quantidade de estudos relacionados ao funcionamento do sistema agroindustrial (SAI)

    brasileiro. Alm disso, outros fatores contriburam para isto, como aberturas comerciais,

    desregulamentao de cadeias agroindustriais, desequilbrios na balana comercial, entre

    outros aspectos (BATALHA, 2001). Entre estes se destaca o estudo realizado pela CNI et al

    (2000), que teve por objetivo analisar a eficincia econmica e a competitividade das cadeias

    produtivas agroindustriais brasileiras, da produo primria, at o processo industrial e a

    comercializao, assim, identificando os gargalos existentes ao longo da cadeia produtiva

    e propondo solues de curto, mdio e longo prazo.

    Dentre as cadeias estudadas, a cadeia produtiva da bovinocultura de corte ocupa

    posio de destaque, compreendendo os agentes econmicos que abrangem as operaes

    Setores

    Antes da porteira

    Conjunto de empresas composto por fornecedores de insumos e servios (ex.:

    mquinas, defensivos agrcolas, sementes,

    financiamento, entre outros)

    Dentro da porteira

    Empresas que atuam diretamente com atividades de produo agropecuria,

    envolvendo preparo, manejo de solos, tratos culturais, irrigao, criaes, entre

    outras atividades

    Aps a porteira

    Refere-se as empresas que realizam atividades de

    armazenamento, beneficiamento,

    industrializao, embalagem, distribuio, consumo de

    produtos alimentares, fibras e produtos energticos

    provenientes da biomassa

  • 25

    desde a venda de insumos pecurios at a distribuio e venda do produto e subprodutos ao

    consumidor (SABADIN, 2006), abrangendo empresas vendedoras de insumos, produtores

    pecuaristas, frigorficos e distribuidores. Suas relaes envolvem capital, bens, servios e

    informao e sua competitividade dependente do desenho estrutural de coordenao entre

    seus agentes (NEVES, 2002), conforme exemplificado pela figura 1 por meio de suas setas

    com dupla direo.

    Alguns agentes, alm dos comumente estudados, tambm podem ser considerados

    como parte integrante da cadeia, como as empresas frigorficas clandestinas e atravessadores

    ofertando produtos no certificados (PITELLI, 2004; SABADIN, 2006) contribuindo

    negativamente para qualidade, padronizao e rastreabilidade da carne bovina distribuda,

    limitando a explorao de mercados internacionais da pecuria brasileira (MACHADO e

    NEVES, 2000).

    O ambiente institucional do SAG da carne bovina consiste das regras formais (leis e

    portarias) e informais (costumes e tradies) que condicionam as interaes entre os

    participantes da cadeia produtiva. Parte dessas interaes d-se clandestinamente,

    [...], em desobedincia s regras formais. Isso pode decorrer de dois elementos: a)

    custos excessivos impostos pelas regras formais, [...], b) do amparo de regras

    informais que, embora conflitem com as regras formais, fornecem condies

    mnimas de estabilidade das transaes clandestinas (AZEVEDO E BANKUTI,

    2001).

    Como parte integrante do ambiente institucional alguns outros agentes so

    considerados, como: agentes do sistema financeiro, polticas governamentais, embalagem,

    aditivos, transporte, sistemas de pesquisa e desenvolvimento de produtos e tecnologia e

    sistemas de inspeo sanitria (FEMATO, 2007), podendo este ltimo ser realizado por

    entidades governamentais pblicas ou empresas privadas, internacionais ou nacionais, com o

    intuito e verificar conformidades e garantir certificaes.

  • 26

    Figura 2 Cadeia da bovinocultura de corte

    Fonte: MAPA (2007)

    A complexidade da cadeia produtiva da bovinocultura de corte se d pela

    heterogeneidade dos seus componentes, que podem possuir altos nveis de tecnologia e

    conhecimento tcnico a pequenos produtores de baixa renda e baixo conhecimento tcnico.

    Conforme a figura 2, os componentes da cadeia so subsistemas, que so: subsistema de

    apoio; produo de matria prima; industrializao; comercializao e consumo (MAPA,

    2007, p. 19).

    Cada componente dos subsistemas possui caractersticas distintas quanto ao seu

    formato de negcio, atividade fim, nvel tecnolgico, conhecimento, padres, entre outros

    elementos. Desse modo, torna-se importante descrev-los, conforme definies do MAPA

    (2007), para que posteriormente, seu modo de interao seja exposto.

    O subsistema de apoio consiste no grupo de empresas fornecedoras de insumos e

    agentes transportadores; o subsistema de produo de matria-prima compreende as empresas

    rurais que geram, criam e engordam os animais para o atendimento das necessidades das

    indstrias de primeira transformao, podendo estas serem integradas por meio de um

    empreendimento nico ou serem plenamente dissociadas; o subsistema de industrializao,

    composto por indstrias de primeira transformao, que desempenham a funo de abate e

    separao das peas dos animais, e por indstrias de segunda transformao, que a partir da

    Subsistema

    de Apoio

    Subsistema

    de Produo de

    Matria -Prima

    Subsistema

    de

    Industrializao

    Subsistema

    de

    Comercializao

    Subsistema

    de Consumo

    Agentes

    produtores;

    transportadores

    Empresas e

    produtores

    rurais

    Indstria de 1

    transformao

    Indstria de 2

    transformao

    Atacadista ou

    exportador

    Varejo

    Empresas de

    alimentao

    coletiva e/ou

    institucional

    Consumidor

    final

  • 27

    obteno dos cortes originados da indstria de primeira transformao, incorporam a carne e

    agregam valor aos seus produtos.

    O subsistema de comercializao tem como componentes os seguintes modelos de

    negcios: atacadistas ou exportadores, varejistas e empresas de alimentao coletiva. Os

    atacadistas, podendo ser exportadores, compreendem a funo de estocagem e entrega para o

    comrcio varejista; os varejistas efetuam vendas diretamente ao consumidor; enquanto as

    empresas de alimentao coletiva utilizam a carne como parte integrante de seus servios,

    como restaurantes, hotis, escolas, entre outras.

    O subsistema de consumo compreende os consumidores, que fazem aquisio e

    preparam a carne, sendo tambm responsveis pela determinao de caractersticas do

    produto ao longo de toda a cadeia produtiva da carne bovina.

    Em sntese, a partir do consumidor que as informaes sobre a demanda do

    produto, quantidade, preo e preferncias, so transmitidas ao longo da cadeia

    produtiva. Assim, as caractersticas de demanda so passadas do consumidor ao

    varejo, deste para a indstria e, por fim, aos produtores rurais. O consumidor final

    sinaliza as condies de demanda e toda a cadeia produtiva precisa se ajustar para

    atend-la da melhor forma (CALEMAN, 2005. p. 95).

    A literatura que versa sobre a relao na cadeia produtiva da bovinocultura de corte

    mostra que problemas de coordenao e o oportunismo so aspectos inerentes aos agentes que

    a compem. Alguns trabalhos, como os de Macedo (2009), Caleman e Cunha (2011), podem

    ser destacados por partilharem desta perspectiva. No entanto, torna-se importante abordar as

    mudanas positivas, como as relacionadas a qualidade do produtos, relacionadas as tendncias

    do consumo final e, principalmente, o poder dos supermercados na venda final de carne

    bovina (MACHADO FILHO e NEVES, 2000).

    2.2 Varejo Supermercadista

    Com a finalidade de agregar valor aos produtos de origem agropecuria, diversas

    empresas, componentes de cadeias produtivas variadas, buscam diversificar suas ofertas. No

    varejo alimentcio no diferente, pois diversos formatos de negcio como os supermercados,

    hipermercados, minimercados, entre outros, tentam buscar e mostrar diferenciais para serem

    competitivos.

  • 28

    O varejo de alimentos possui duas classificaes, a primeira inerente a forma de

    atendimento ao cliente e a segunda aborda o formato da loja (LAS CASAS, 2007). O

    atendimento pode ocorrer pelo auto-servio, no qual o cliente escolhe seus produtos sem

    interferncia de vendedores e sua aquisio plena acontece mediante pagamento em checkouts

    ou caixas registradoras, sendo este tipo de atendimento mais comum em supermercados,

    hipermercados e minimercados. Tambm, pode ocorrer por meio do varejo tradicional, no

    qual se faz necessrio solicitar os produtos a um colaborador da empresa para que haja a

    aquisio, sendo este tipo mais comum em mercearias e padarias. Quanto ao formato de loja,

    as caractersticas que os definem so: rea de vendas, nmero mdio de itens e sees,

    conforme o quadro 2, sendo que as classificaes so: mercearias, padarias, minimercados,

    supermercados e hipermercados.

    Os supermercados, dentro do segmento de varejo alimentcio, so o formato

    predominante na comercializao de produtos alimentares e se estabelecem como substitutos

    aos formatos tradicionais que no se modernizaram (SENHORAS, 2003; LAS CASAS,

    2007). Alm disso, os supermercados adentraram em centros comerciais e formaram grandes

    conglomerados, associando-se com shopping centers ou posicionando-se em meio a centros

    comerciais urbanos, onde h grande circulao de pessoas. (SENHORAS, 2003).

    Quadro 2 - Varejo alimentcio - formato de lojas

    Formato rea de Vendas (m) N mdio de itens Sees

    Mercearias 20-50 500 Mercearia, frios, laticnio e bazar

    Padarias 50-100 1.000 Padaria, mercearia, frios, laticnio e

    bazar

    Minimercados 50-100 1.000 Mercearia, frios, laticnio e bazar

    Supermercados 300-2.500 9.000

    Mercearia, hortifruti, carnes, aves,

    frios, laticnios, peixaria, padaria,

    bazar, txtil, eletrnicos

    Hipermercados 3.000-16.000 45.000

    Mercearia, hortifruti, carnes, aves,

    frios, laticnios, peixaria, padaria,

    bazar, txtil, eletrnicos

    Adaptado de Las Casas (2001) e Parente (2008)

    A origem do formato supermercadista deriva dos EUA na dcada de 1910, com as

    Lojas Beta Markets no estado da Califrnia e Piggly Wiggly no estado do Tenesee. Porm, tal

    formato se difunde e ganha expresso somente na dcada de 1930 durante a grande depresso.

  • 29

    Essas empresas possuam a caracterstica de ofertar grande quantidade e variedade de

    produtos com preos baixos, tendo alto giro do estoque e utilizando como ferramenta de

    promoo a publicidade (SIMES, 2006).

    Os supermercados, em comparao aos tradicionais varejistas de

    alimentos, tm a vantagem de poder atender um maior nmero de

    clientes, tendo em vista que no necessitam de balco para a

    comercializao, podendo vrios clientes efetuarem as suas compras

    simultaneamente (SCHEIDT, 2008, p. 46).

    Aps o surgimento e expanso do setor supermercadista houve a conexo com o setor

    industrial, tendo este ltimo os supermercados como canal de distribuio (CARVALHO,

    2004). A diferenciao de produtos por meio de embalagem, design, propaganda, entre outros

    elementos, se deu como forma de estmulo ao consumo, impulsionando assim a modalidade

    de auto-atendimento e a interdependncia entre supermercados e indstria (SIMES, 2006).

    No Brasil, o varejo alimentcio se desenvolveu a partir da dcada de 1950, tendo como

    principal expoente o setor supermercadista em detrimento de outros setores tradicionais de

    comercializao, como quitandas, mercearias, entre outros (SENHORAS, 2003,

    CARVALHO, 2004; SIMES, 2006). Atualmente, o setor supermercadista brasileiro possui

    uma associao nacional denominada ABRAS (Associao Brasileira de Supermercados),

    criada em 1968, com vinte e sete associaes estaduais e 81,1 mil lojas filiadas, tendo como

    objetivo o foco na evoluo das lojas; no estmulo ao saudvel intercmbio com os

    fornecedores; alm do esforo dirigido ao melhor atendimento aos consumidores e

    evoluo do mercado de consumo no Pas (ABRAS, 2011).

    Inseridos na cadeia da bovinocultura de corte, os supermercados correspondem ao

    ltimo elo, estando em contato direto com consumidores, assim como os aougues. No

    entanto, os aougues tm uma quantidade pequena de produtos ofertados, enquanto os

    supermercados disponibilizam diversos itens e so os grandes indutores de mudanas na

    cadeia, estimulados pela relao aproximada aos compradores e integrao com outros

    componentes da cadeia (SOUZA, 1999), corroborando com as idias de Caleman (2005, p.

    95).

    A integrao dos supermercados com consumidores motiva as mudanas de preos,

    origem e rastreabilidade, mtodos de produo, distribuio e qualidade ao longo da cadeia da

    bovinocultura de corte, pois outros formatos de varejo tradicionais, assim como os aougues,

    podem sofrer problemas com a clandestinidade da carne (SOUZA, 1999; VILLALOBOS et

  • 30

    al, 2010). Alm disso, a demanda por produtos frescos e de boa qualidade e o aumento das

    compras em supermercados induzem as empresas a ofertarem carne bovina com garantia de

    preo competitivo, validade e boa procedncia (BRUM E JANK, 2001). Ainda, para estes

    autores, as sees de aougue dentro dos supermercados refletem as altas margens de lucro

    advindas da comercializao da carne bovina, tornando a sua presena imprescindvel.

    Os supermercados, como participantes de alianas mercadolgicas, formam acordos

    com pecuaristas, frigorficos, transportadoras, entre outros participantes da cadeia produtiva

    para assegurar a qualidade do produto final ofertado ao cliente (PINEDA e ROCHA, 2002).

    Alm disso, as ferramentas computacionais representam ganhos de eficincia na cadeia, pois

    por meio de troca de dados, o varejo e a indstria trocam informaes sobre estoques,

    reduzindo seus custos (CALEMAN, 2005).

    Depreende-se que a natureza das relaes da cadeia produtiva da bovinocultura de

    corte deriva da interao com o consumidor. As preferncias e hbitos de consumo so

    repassados ao longo dos agentes, sendo imediato o contato com os supermercados que, a

    partir da interao com frigorficos, outros distribuidores, pecuaristas, entre outros,

    transmitem por meio de um fluxo de informao. Ainda, a partir das consideraes sobre

    reteno das informaes dos clientes e sobre a comercializao da carne com altas margens,

    a funo coordenadora dos supermercados em relao ao SAG da carne bovina torna-se

    compreensvel devido seu alto poder de negociao frente aos outros agentes, inclusive

    consumidores quando aborda-se preo, sendo esta relao tratada na seo posterior deste

    trabalho.

    2.3 Composto Mercadolgico Varejista

    A competitividade no mercado, a disputa por clientes em um ambiente mutvel e o

    surgimento de concorrentes, demanda das empresas um esforo por meio de aes

    mercadolgicas que possam ser modificadas ao longo do tempo para atender expectativas ou

    tendncias oriundas dos desejos do consumidor. No obstante, no segmento varejista, nos

    ltimos anos houve a popularizao das franquias, o crescimento de grandes redes e ascenso

    do uso da internet para compras, trazendo uma nova discusso sobre o composto

    mercadolgico praticado no segmento (SILVEIRA e SINEM, 2009).

    A antiga concepo do composto, proposto por Neil Borden em seu artigo The

    Concept of the Marketing Mix publicado em 1964, posteriormente adaptado e simplificado

  • 31

    por Jerome Mccarthy, ainda na dcada de 1960 com o famoso conceito dos 4Ps (preo,

    produto, praa ou ponto de venda e promoo) e difundido por Philip Kotler em seus livros,

    hoje alvo de crticas por no atender a diversas mudanas ocorridas aos formatos de negcio

    vigentes (GOI, 2009; CONSTANTINIDES, 2006). Por isso, na tentativa de ampliar o

    conceito dos 4Ps, outros modelos de composto foram publicados em diversos estudos com a

    finalidade de preencher com novas estratgias lacunas ainda existentes sobre o tema. Tais

    estratgias so, muitas vezes, voltadas especificamente para um setor, segmento ou servio.

    Entre eles podem-se destacar os 4Cs do relacionamento (cummunication, customisation,

    collaboration, clairvoyance); as quatro chaves do marketing moderno (preo, marca, pacote

    de valor e relacionamento); mix de marketing de servios (produto, preo, praa, promoo,

    processos e pessoas); ou ainda, o composto mercadolgico do e-varejo (convenience,

    customer value and benefit, cost to consumer, computing and category management,

    customer franchise, customer care and service e communication and customer

    relathionships), (DENNIS et al, 2005; CONSTANTINIDES, 2006; GOSLING e SOUZA,

    2007).

    No varejo com loja fsica, um dos alvos deste estudo, destaca-se o composto

    mercadolgico varejista proposto por Parente e Barki (2006), tambm presente por meio de

    alguns elementos nos estudos de Barki (2005) e Praxedes (2007). Neste composto esto

    presentes as estratgias de produto, preo, ambiente de loja, localizao e acesso, atendimento

    e comunicao.

    2.3.1 Estratgias de Produto

    Ofertar produtos a razo de ser de uma empresa. Em diversos estudos relacionados

    ao composto mercadolgico, a estratgia de produtos a primeira a ser abordada, pois o modo

    que uma organizao disponibiliza seus produtos pode determinar as outras estratgias. Para

    Kotler (1993), um produto qualquer coisa que pode ser oferecida a um mercado para

    aquisio, ateno, utilizao ou consumo e que pode satisfazer um desejo ou necessidade.

    Ainda, para Schewe (1982), os produtos so ofertados por meio de um pacote de utilidade, de

    forma que um produto inclui cada atividade executada por uma empresa a fim de transmitir

    satisfao. Dessa forma, possvel concluir que um produto pode ser composto de

    caractersticas tangveis e intangveis, incluindo o produto bruto (parte tangvel) e servios

    (parte intangvel). A associao de ambas as caractersticas formam o pacote de valor relatado

  • 32

    por Schewe (1982), assim, para Kotler (1993), o conjunto destas determinado por trs nveis

    de um produto:

    1. Produto bsico: concepo e ncleo; definio dos benefcios que sero

    proporcionados aos consumidores aps a aquisio do produto;

    2. Produto tangvel: conjunto de caractersticas que proporcionam benefcios aos

    consumidores, qualidade, caractersticas, estilo, nome, embalagem, design, marca,

    entre outros;

    3. Produto ampliado: conjunto de benefcios e servios adicionais atrelados ao produto

    tangvel, instalao, entrega, garantia, servios ps-venda, entre outros.

    A partir dos nveis de produto, diferenciaes podem ser atribudas. Inerente as

    caractersticas intrnsecas da tangibilidade, o nvel de diferenciao tem dois extremos:

    mercadorias e produtos de fcil diferenciao. As mercadorias ou commodities, produtos de

    difcil diferenciao, assim como a carne bovina, so um grande desafio para o marketing,

    pois o cliente poder perceber a qualidade do produto apenas aps aquisio ou consumo j

    que o design e algumas caractersticas visuais so semelhantes entre produtos da mesa

    categoria . Enquanto isso, os produtos de fcil diferenciao permitem que seus projetos de

    concepo apresentem demasiada liberdade, de forma que caractersticas visuais, design e

    diversos outros aspectos possam ser atrelados ao produto tangvel (KOTLER, 2009).

    Relacionadas diferenciao dos produtos, as estratgias de marketing so

    ferramentas que visam aumentar a satisfao psicolgica dos consumidores, contribuindo para

    a percepo de variedade. Segundo Kotler (1993), Barki (2005) e Las Casas (2007), os fatores

    a serem considerados nas estratgias de produto so apresentados no quadro 3.

  • 33

    Quadro 3 Estratgias de Produto

    Estratgias Descrio Autores

    Amplitude

    Refere-se a quantidade de categorias que uma empresa oferta,

    podendo ser definidas como famlias de produtos (ex.:biscoitos,

    detergentes, macarres, etc) ou ainda, ou conjunto de produtos

    que detm caractersticas complementares e que atendem uma

    mesma finalidade (ex.: produtos de limpeza, produtos para

    bebs, massas, congelados, etc).

    Kotler (1993); Barki

    (2005)

    Profundidade

    Refere-se a quantidade de categorias ou marcas disponveis ao

    consumidor, nas quais devem ser ofertadas, sem exageros e em

    quantidade suficiente para chamar ateno.

    Kotler (1993); Barki

    (2005)

    Extenso Quantidade total de produtos ofertados, que muitas vezes

    limitada pelo espao de exposio nos displays. Kotler (1993)

    Consistncia

    Relao entre as diversas categorias ofertadas, na qual pode ser

    direcionada a um nicho de mercado especfico ou ainda, pode

    variar de acordo com o formato de loja.

    Kotler (1993); Las Casas

    (2007)

    Fonte: Kotler (1993), Barki (2005) e Las Casas (2007)

    Complementar aos fatores a serem considerados nas estratgias de produto est o

    gerenciamento de categoria. Segundo Las Casas (2007), o gerenciamento se d de acordo com

    o modo que a empresa compreende como o consumidor pensa cada categoria, sendo realizado

    pela empresa varejista ofertante em parceria com fornecedores. Outro ponto a ser destacado

    a reposio de produtos, objetivando a minimizao de rupturas das rotinas de compras, na

    qual o cliente passa a no encontrar determinado item na loja que tinha o hbito de adquiri-lo.

    Relacionando os nveis de produto e os fatores que devem ser considerados na

    elaborao das estratgias, conforme Nascimento (2006) Neves (2000) e Villalobos (2010) os

    aspectos a serem considerados na oferta da carne bovina in natura so: caractersticas

    tangveis ligadas qualidade do produto (cor, cheiro, maciez, embalagem, acondicionamento,

    indicao de origem e rastreabilidade, frescor) e variedade (sortimento de cortes e marcas).

    Alm desses, a facilidade de preparo da carne aps a compra tambm pode ser considerada.

    Alguns outros aspectos, como os intangveis, sero tratados nas estratgias de

    atendimento e servios, ambiente de loja e localizao e acesso.

  • 34

    2.3.2 Estratgias de Preo

    O preo, como componente mercadolgico e econmico, se faz importante pelo fato

    de afetar rapidamente a competitividade das empresas. Valores muito elevados e no

    condizentes com o pacote de valor oferecido podem comprometer negativamente a percepo

    dos consumidores quanto a imagem da empresa ou ainda, valores demasiadamente baixos,

    podem desvalorizar o produto e at ter um efeito danoso nas finanas da organizao.

    Segundo Kirsch (2006), criar um apelo baseado em preos baixos pode criar situaes

    devastadoras de debilitao psicolgica nos indivduos, na empresa e lucratividade da

    indstria que produz determinado produto. Ainda, para Paula (2006), a poltica de preos

    estabelecida em uma empresa um fator de sobrevivncia, nela residindo o sucesso nas

    vendas e sua sustentabilidade. De acordo com Parente e Barki (2006), empresas que adotam

    estratgias com nfase em preos baixos praticam preos muito competitivos, ao mesmo

    tempo diminuindo a importncia de outros aspectos do composto, oferecendo por exemplo

    atendimento mais reduzido, variedade mais enxuta, instalaes simplrias e limitada gama de

    servios.

    Na definio de seus preos, as empresas podem ser orientadas para custos ou valor,

    embora esperem que seus custos sejam menores do que o preo e margem de contribuio

    estipulados. A orientao para custos leva em considerao os custos provenientes da

    aquisio dos produtos, custos operacionais, entre outros. A orientao para custos com base

    no valor, tem como estimativa o valor que os clientes estariam dispostos a pagar para adquirir

    os produtos. Alm disso, a elaborao das estratgias de marketing deve considerar os

    descontos e promoes oferecidos, condies de crdito e prazos de pagamento a serem

    adotados (KOTLER, 2009).

    A oferta de produtos em relao ao seu preo orientada com base no valor est

    intimamente ligada a percepo. Ligando as caractersticas do produto com o valor de oferta

    h o posicionamento quanto ao preo, demonstrado no quadro 4.

  • 35

    Quadro 4 Posicionamento de produtos por preo

    Posicionamento Descrio

    Mais por mais

    Produtos com preos elevados, considerados de

    melhor qualidade em relao ao seu segmento, no

    qual, seu pblico-alvo apia a aquisio de produtos

    com estilo diferenciado.

    Mais pelo mesmo

    Produtos comparveis aos de alta qualidade, no

    entanto, so oferecidos por preos mais baixos em

    relao aos da categoria mais por mais.

    Mesmo por menos

    Produtos j reconhecidos com boa reputao, ou de

    marcas com boa reputao, que so ofertados a

    preos baixos.

    Menos por muito menos

    Produtos ou servios que so ofertados a preos

    muito baixos por oferecerem satisfao a partir do

    comprometimento com necessidades e desejos mais

    comuns. Esses produtos ou servios disponibilizam

    apenas o bsico, sem suprfluos ou adicionais

    voltados diferenciao.

    Mais por menos

    Aplicado geralmente ao comrcio de massa, no qual

    um conjunto de produtos com marcas conhecidas so

    expostos de modo atraente, ofertados a preos baixos

    e boa poltica de devoluo, quando necessrio.

    Fonte: Kotler (2009)

    Estruturando e denominando estratgias, Bolton e Shankar (2003) evidenciam em seu

    estudo que existem cinco formas de se pensar estrategicamente os preos no varejo. So elas:

    preos exclusivos, preos Premium, hi-lo princing, preos baixos e preos agressivos,

    conforme o quadro 5. Para elaborao das estratgias foram analisados os seguintes fatores:

    preo relativo, nvel de variao de preos, intensidade e relao a promoes e apoio a

    promoes.

  • 36

    Quadro 5 Estratgias de preos

    Estratgias de

    Preos Preo Relativo

    Nvel de Variao

    de Preos

    Intensidade e

    Relao a

    Promoes

    Apoio a

    Promoes

    Preos Exclusivos Alto Baixo Baixo Baixo

    Preos Premium Alto Mdio Mdio Mdio

    Hi-lo Pricing Mdio Mdio Alto Alto

    Preos Baixos Baixo Mdio Baixo Mdio

    Preos Agressivos Mdio Alto Baixo Mdio

    Fonte: Bolton e Shankar (2003) e Barki (2005)

    O modo de definio de preos na cadeia da bovinocultura de corte est ligado

    diretamente com o formato de negcio. No entanto, as promoes ou prticas excessivas de

    preos baixos afetam toda a cadeia (BINKLEY e CONNOR, 1998). Feuz e Umberger (2001),

    relatam em seu estudo realizado com 248 respondentes que os consumidores ao relacionar

    qualidade percebida com preos, preferem pagar preos mais elevados para obter maiores

    nveis de qualidade. Sendo que esta qualidade est intrinsecamente relacionada com os

    atributos tangveis do produto (qualidade, caractersticas, estilo, nome, embalagem, entre

    outros).

    2.3.3 Estratgias do Ambiente de Loja

    O ambiente de loja ou atmosfera de loja, segundo alguns autores, uma fonte de

    diferenciao que compreende os seguintes aspectos: layout do espao e ergonomia, msica

    ambiente, cores, materiais do ponto de venda, iluminao, aromas, climatizao, organizao

    dos produtos, decorao e fatores humanos (LAS CASAS, 2007; PARENTE E BARKI, 2006;

    SOUZA, 2009).

    Para Las Casas (2007), h influncia do ambiente de loja no processo de escolha dos

    produtos e interfere na percepo de qualidade, no custo relativo dos produtos, e ainda afeta

    na deciso de retorno e recomendao loja. Alm disso, para Parente (2008), os

    consumidores esperam que suas compras sejam um momento alegre e de entretenimento.

    Dentro do segmento varejista, a loja pode ser tratada como um conjunto de zonas com

    caractersticas distintas, nas quais passam mensagens diferentes para diversos tipos de

  • 37

    consumidores. Essas mensagens esto ligadas as caractersticas dos produtos, no entanto, a

    forma de comunicao de preos ou organizao pode interferir (1999, UNDERHILL apud

    SOUZA, 2009). Para Parente e Barki (2006), as lojas direcionadas ao publico de baixa renda

    devem manter seus displays sempre cheios de produtos para passar a mensagem de que h

    fartura e preos baixos.

    Prprio das sees de aougue presentes nos supermercados, alguns fatores ligados ao

    ambiente de loja so necessrios a prpria conservao do produto. O acondicionamento

    adequado durante a exposio e aps a compra garante a qualidade no momento do preparo da

    carne. Segundo Mazuchetti e Batalha (2004), a aparncia do ponto de venda para os

    consumidores de carne, est ligada diretamente percepo da qualidade do produto e a

    higiene do local.

    2.3.4 Estratgias da Localizao e Acesso

    Embora aes promocionais sejam um fator atrativo para consumidores, a localizao

    e as formas de acesso tambm so relevantes para a escolha do local de compra. Para Bortoli

    (2008), algumas atividades do segmento varejista exigem que a loja possua localizao e

    acesso privilegiados, especialmente aquelas que vendem produtos de convenincia, pois para

    o consumidor, h baixa demanda de esforo para localiz-los e adquiri-los. Em uma pesquisa

    realizada por Rinaldi et al. (2009) com clientes de supermercados, o nvel de priorizao da

    localizao est ligada a escolaridade, dessa forma, quanto maior a escolaridade maior a

    prioridade dada localizao. Enquanto para Kirsch (2009), em pesquisa realizada junto a

    125 respondentes, a localizao do supermercado o segundo item mais importante para a

    escolha da loja.

    O desempenho das empresas que compem o setor supermercadista depende

    significativamente da sua localizao, porque parte significativa das vendas advm de

    consumidores que moram em regies geogrficas prximas a loja. Essa regio denominada

    rea de influncia, estando relacionada diretamente com o tamanho da loja, no estando ligada

    a densidade populacional da rea (PARENTE e KATO, 2001).

    Sob a perspectiva da empresa, a escolha errada da localizao pode trazer diversas

    desvantagens, portanto para Teixeira (2007), os seguintes pontos devem ser observados ao

    estabelecer as estratgias:

    Trfego de pedestres;

  • 38

    Caractersticas da loja quanto sua insero geogrfica (galerias comerciais, centros

    comerciais, junto a grandes lojas, shopping centers, com estacionamento para

    clientes);

    Acesso a fluxo de veculos e transporte (quantidade e facilidade de transporte);

    Capacidade competitiva da concorrncia, na regio;

    Caractersticas da regio e do local (apoio logstico local), entre outros.

    Sob a perspectiva do consumidor, as estratgias de localizao e acesso se desdobram

    em convenincia, tornando produtos mais disponveis e com facilidade de aquisio

    (TEIXEIRA, 2007; KOTLER, 2009).

    2.3.5 Estratgias de Atendimento e Servios

    O contato face a face e a construo de relacionamento no padronizado so

    caractersticas do consumidor brasileiro. A interao do consumidor algo constante e

    possvel de exemplificar: feiras, bares, pequenos varejos onde a vizinhana se encontra so

    comuns independentemente da cidade.

    O conceito de atendimento no padronizado advm da idia que cada consumidor

    uma pessoa distinta com problemas nicos (PARENTE e BARKI, 2006). De modo a

    exemplificar, diversas empresas do setor alimentcio adotaram a ao have it your way (pea

    do seu jeito), ofertando produtos de acordo com os pedidos feitos pelos seus clientes. Dessa

    forma, o atendimento pode gerar intimidade entre empresa e consumidor quando h

    possibilidade e capacidade de fazer ofertas que atendam exigncias especficas dos

    compradores (KOTLER, 2009).

    Para Las Casas (2007), alguns dos principais desafios do varejo esto presentes no

    relacionamento, sendo estes: a necessidade de personalizao da oferta, flexibilidade das

    operaes em funo do perfil do cliente, habilidade dos funcionrios e vendedores em

    agregar valor experincia de compra, capacidade de lidar com diferenas culturais, entre

    outros. Para Praxedes (2007), o atendimento em lojas de varejo um fator importante para os

    empresrios, pois possvel perceber que um atendimento satisfatrio faz com que o cliente

    retorne loja mais vezes. Funcionrios bem treinados e compatveis com o perfil da empresa

    ajudam a desenvolver uma boa imagem da organizao perante o mercado. No entanto, para o

    atendimento eficaz, a fora de vendas, alm de treinamento formal, depende a cultura da

  • 39

    empresa, que poder desenvolver aes que promovam um atendimento de proximidade e

    diferenciado (PARENTE e BARKI, 2006; KOTLER, 2009).

    Atrelado ao atendimento, ambiente de loja e as estratgias de produto esto os

    servios. Para Kotler (1993), o conjunto de estratgias de servio uma ferramenta-chave da

    concorrncia no baseada em guerra de preos, enquanto para Cobra (2000), a qualidade do

    servio est baseada no estreitamento de relaes com os clientes e ainda, os servios servem

    como proteo para a imagem das empresas. Dessa forma, o bom atendimento um modo de

    agregar valor aos servios prestados. Alguns servios prestados por varejistas so: crdito,

    assistncia tcnica, alteraes no produto vendido, devoluo de mercadorias,

    estacionamento, instalao e montagem de produtos, servio de entregas, informaes para

    compras, entre diversos outros.

    2.3.6 Estratgias de Comunicao

    A disponibilidade de um produto ou servio no implicar em grande volume de

    vendas, dessa forma, preciso estabelecer comunicao com seus potenciais mercados

    consumidores. A partir desta premissa, a comunicao como funo do marketing busca

    evidenciar aos compradores como um produto pode ser associado as suas necessidades ou

    desejos. Assim, a comunicao de marketing se releva de grande importncia sobre duas

    perspectivas: empresas e consumidores. Para as empresas, a comunicao promove produtos e

    servios, alm de transmitir para os potenciais clientes o interesse em atend-los. Em

    contrapartida, os consumidores tm a oportunidade de avaliar novos meios de aquisio de

    produtos ou servios, formas de pagamento, datas de compra, ou ainda, o interesse de novas

    empresas em atend-los. No segmento varejista brasileiro, segundo Vidaurre e Filho (2003),

    ocorreu um aumento no uso de ferramentas de marketing promocional a partir da dcada de

    1990, pois houve um aumento significativo na competio, especialmente do setor

    supermercadista, de empresas estrangeiras no pas com a aquisio de empresas locais.

    As decises relevantes as mensagens que comunicam produtos ou servios devem

    levar em considerao cinco fatores: identificao de pblico-alvo, objetivos da comunicao,

    planejamento da mensagem, escolha dos canais de comunicao, seleo da fonte de

    mensagem, coleta do feedback. Esses cinco fatores podem ser expressos por meio de

    ferramentas de comunicao, que compem o mix de promoo (KOTLER, 1993).

  • 40

    Para o estabelecimento do composto promocional, diversos fatores devem ser

    considerados, como o tipo de mercado do produto, o estado de aptido do potenciais

    compradores, ciclo de vida do produto e as estratgias adotadas. Dentre as estratgias, duas se

    destacam: empurrar e puxar (KOTLER, 1993).

    A estratgia de empurrar consiste uso especfico da fora de vendas e promoo de

    vendas para empurrar o produto atravs dos canais de distribuio. Neste caso, h a

    persuaso dos compradores de forma pessoal e direta. Enquanto isso, a estratgia de puxar

    versa sobre dirigir atividades de influncia a vendas sobre as ferramentas de publicidade e

    propaganda advindas dos fabricantes para estimular as vendas por meio dos distribuidores. No

    entanto, essas duas estratgias no so excludentes, podendo ser trabalhadas em conjunto.

    Alm das estratgias descritas, torna-se importante apresentar que um programa de

    comunicao pode se dar pelo composto por propaganda, publicidade, promoo de vendas,

    relaes pblicas, fora de vendas, marketing direto e marketing social, sendo estes descritos

    no quadro 6.

  • 41

    Quadro 6 Estratgias de Comunicao

    Estratgias Descrio Autores

    Publicidade e

    propaganda

    O objetivo a fixao de marcas, desenvolvimento

    de preferncia e despertar o desejo do consumidor,

    divulgar ofertas ou auxiliar no lanamento de novos

    produtos, divulgar eventos como a inaugurao de

    uma nova loja ou nova unidade franqueada;

    Kotler (1993); Kitchen (1999)

    Promoo de

    vendas

    Abrange um conjunto de incentivos imediatos ao

    consumo, entre eles a liquidao, promoes

    relmpago, descontos, abatimentos, programas de

    fidelidade, amostras, prmios e brindes, entre outros

    Kotler (1993); Kitchen (1999)

    Relaes pblicas

    Conjunto de ferramentas que visam influenciar o

    consumidor quanto a imagem da empresa

    relacionada ao seu papel, como publicaes,

    eventos, notcias, comunidades e atividades de

    envolvimento, identidade visual, lobby e atividades

    de responsabilidade social empresarial

    Kotler (1993); Kitchen (1999);

    Harvard business school publishing

    corporation (2006)

    Fora de vendas

    Utilizao de pessoas como intermedirios

    condicionantes a aquisio de produtos ou servios

    (vendedores), geralmente presentes formatos de lojas

    tradicionais e na venda de produtos/servios

    complexos ou ainda, como agente de diferenciao

    Kotler (1993)

    Marketing direto

    Caracteriza-se como o contato direto e impessoal da

    empresa com o consumidor por alguns meios como

    email, telemarketing, mala direta, catlogos, entre

    outros

    Kotler (1993); Kitchen (1999)

    Mdias e redes

    sociais

    Caracteriza-se pela comunicao ao consumidor e

    estmulo da propagao de informaes entre

    consumidores por meio da internet. A propagao

    das informaes se torna incontrolvel por parte das

    empresas e se massifica nas mdias e redes sociais.

    Kotler (2009);Nilsson e Omerovic

    (2011); Singh e Rohila (2011)

    Marketing Social

    Uso das ferramentas tradicionais de comunicao

    voltados rea social com o intuito de restabelecer

    princpios e valores ticos.

    Singh e Rohila (2011); Fontes

    (2008)

    Fonte: Elaborado pelo autor

  • 42

    2.4 Percepo de Valor

    A competitividade no mercado tem provocado mudanas na maneira de ofertar

    produtos e no relacionamento das empresas com seus clientes. O entendimento dessas

    mudanas importante para que os gestores estejam atentos a tendncias futuras. Segundo

    Las Casas (2007), um dos pontos primordiais para esse entendimento se d por meio da

    compreenso do comportamento dos consumidores, sendo estes influenciados pelas mudanas

    na sua renda, idade, nvel de instruo, sentimentos, pensamentos valores, costumes, famlia e

    grupos de referncias, estilo de vida, tecnologia, entre diversos outros aspectos. Alguns

    destes aspectos so classificados como influenciadores culturais, sociais e pessoais no

    processo de compra (KOTLER, 1993) e so apresentados na figura 3.

    Figura 3: Fatores que influenciam o comportamento de compra

    Fonte: Kotler (1993)

    Para compreender o consumidor, empresas, profissionais e pesquisadores do consumo

    precisam captar a ateno dos consumidores por intermdio de estmulos. Neste caso, para

    Schewe (1982), estmulos so peas de informao que um indivduo processa e levam a

    respostas, entre elas, a compra.

    Outros fatores podem influenciar o comportamento de compra e todo o processo de

    escolha de produtos e servios: os fatores psicolgicos, entre eles a percepo. Conforme

    Silva (2005), o conceito de percepo o processo de selecionar, organizar e interpretar as

    informaes recebidas do ambiente externo. Ainda, segundo Kotler (1993), o processo pelo

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    qual as pessoas selecionam, organizam e interpretam informaes para formar uma imagem

    significativa do mundo e pode ser classificada em quatro tipos de processos: ateno seletiva,

    exposio seletiva, distoro seletiva e reteno seletiva, conforme quadro 7. Para Schewe

    (1982), esses quatro processos correspondem a um filtro que canaliza os diversos estmulos

    que existem no ambiente.

    Quadro 7: Percepo e processos

    Processos Perceptivos Descrio

    Ateno seletiva

    Suscetibilidade a estmulos externos que esto

    relacionados com uma necessidade ou desejos

    momentneos e presentes.

    Exposio seletiva Exposio aos estmulos mais atraentes. Incio da

    atribuio de valor ao composto mercadolgico.

    Distoro seletiva

    Tendncia apresentada pelas pessoas a adaptar

    informaes a significados pessoais. Interpretao

    das informaes recebidas e ajustamento ao

    modelo mental existente. Plena atribuio de valor

    ao composto mercadolgico.

    Reteno seletiva

    Tendncia a reter informaes que apiam suas

    crenas e atitudes. Reteno dos valores impostos

    ao composto mercadolgico. Tendncia de

    recompra nos casos de atribuio de valor

    positivo.

    Fonte: Kotler (1