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SALVADOR SÁBADO 25/8/2018 OPINIÃO A3 www.atarde.com.br 71 3340-8991 (Cidadão Repórter) 71 99601-0020 (WhatsApp) ASSOCIADA À SIP - SOCIEDADE INTERAMERICANA DE IMPRENSA PREMIADA PELA SOCIETY FOR NEWS DESIGN MEMBRO FUNDADOR DA ANJ - ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE JORNAIS ASSOCIADA AO IVC - INSTITUTO VERIFICADOR DE COMUNICAÇÃO SEDE: RUA PROFESSOR MILTON CAYRES DE BRITO, N.º 204, CAMINHO DAS ÁRVORES, CEP: 41.820-570, SALVADOR/BA, FALE COM A REDAÇÃO: (71)3340-8800, (71)3340-8500, FAX: (71)3340-8712 OU 3340-8713, DE SEGUNDA A SEXTA-FEIRA DAS 6:30 À MEIA-NOITE. SÁBADOS, DOMINGOS E FERIADOS: DAS 9:00 ÀS 21 HORAS; SUGESTÃO DE PAUTA: CIDADAOREPORTER@GRU- POATARDE.COM.BR, (71)3340-.8991. CLASSIFICADOS POPULARES: (71)3533-0855; CIRCULAÇÃO: (71)3340-8612; CENTRAL DE ASSINATURA: (71)3533-0850. Diretora de Redação: MARIANA CARNEIRO Diretora de Produção de Conteúdo: ALEZINHA ROLDAN Diretor Controller: LUCAS LAGO Diretor de Operações: CLEBER SOARES Diretor Comercial: LEONARDO CÉSAR Gerente Industrial: ÉLIO PEREIRA Fundado em 15/10/1912 Presidente de Honra: Renato Simões CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO Presidente: João Mello Leitão Conselheiros: Ranulfo Bocayuva e Renato Simões Filho BRUNO AZIZ Isla Gomes Neves e Vanessa Cavalcanti Universidade Católica do Salvador / Núcleo de Estudos sobre Direitos Humanos E m 1957, o cineasta português An- tônio Lopes Ribeiro, meu padrasto, na intenção de rodar um filme so- bre uma lenda de Trás-os-Montes, me pe- diu para, acompanhado de uma produ- tora, fotografar tudo o que poderia ser interessante para a proposta. O tema en- volvia uma ponte legendária debaixo do qual as mulheres que não podiam ter filhos teriam que passar uma noite. Esta remota parte de Portugal, pouco mudada desde a Idade Média, nos levaria a uma viagem no tempo. A noite se aproximava. Chegando a Ponte de Lima, ainda longe do destino, em pouco tempo adentramos as terras já co- bertas de sombras do severo Paço da Gló- ria, propriedade de Peter Pitt-Millward, descendente direto do primeiro-ministro inglês William Pitt. Como e quem me dera o contato, me é impossível hoje lembrar. Enquadrada por duas torres quadradas, uma elegante galeria arcada corria ao lon- go da fachada coberta de erra. O homem nos seus sessenta, acompanhado de dois cães, desceu a escadaria para nos receber. Nosso modesto Citroën 2cv, incôngrua la- taria em frente da imponente residência, foi escondido perto das cavalariças. Um silencioso mordomo nos levou até a torre onde nos esperavam os quartos. Lá pas- saríamos a noite antes de continuar rumo aos povoados mais primitivos das altas terras lusitanas. Pouco tempo depois, fomos convidados a acompanhar novamente o mordomo para a sala de jantar. Sóbria, cadeiras de espaldar alto. Um abajur iluminava a me- sa redonda bem no centro, deixando na penumbra o resto do espaço. Antigos re- tratos nos observavam com olhar altivo. Cinco talheres. Além do anfitrião, um me- nino de uns sete anos e sua governante. A refeição correu sem grande animação. Usufruíamos de uma generosa hospita- lidade, mas as britânicas distâncias eram mantidas. Quando pensávamos que aqui para- riam as amabilidades, Sir Peter nos con- vidou a segui-lo para tomar um cálice de Porto num salão ocupado por um piano de cauda – um Steinway entulhado de partições – uma bela biblioteca e várias obras de arte de qualidade, qualidade aliás confirmada por recentes catálogos da Sotheby’s. Perguntei como adquiria suas peças, morando tão longe de Lon- dres. “Por telefone”, me respondeu sim- plesmente. Sir Peter tocou um botão e uma longa cortina que ocupava uma pa- rede inteira deslizou lentamente. Apare- ceu um janelão de vidro que revelou em- baixo da torre um curral pintado de bran- co, evidenciado por luz generosa. A can- cela aberta por um adolescente vestido de branco deixou evoluir um magnífico ca- valo árabe, branco também, cauda ele- gantemente levantada... Às vezes, no céu de alguma noite de insônia, sento numa velha poltrona e vejo o alegre cavalo caracolando, caracolando no meio das estrelas, só para mim... Dimitri Ganzelevitch Produtor cultural e blogueiro [email protected] EDITORIAL Cavalo Marinho, ano um Já tentou remar contra a maré? O cavalo branco atarde..com.br/bahia/salvador DESTAQUES DO PORTAL A TARDE Shopping sedia feira de adoção de pets neste fim de semana Divulgação micheltelles.atarde.com.br/ Atriz Mel Lisboa vai viver Gretchen no cinema Impunidade é o sentimento que ecoa por toda a Bahia e martela com angústia nas pessoas cuja vida mudou A dor irreparável de perdas humanas, a luta diária para conviver com traumas acarretados por um acidente e as infin- dáveis batalhas judiciais, que se trans- formam gradativamente em esforços in- dividuais de manter-se forte para enfren- tá-las, é tudo que restou para familiares de vítimas e quem esteve no trágico aci- dente em agosto do ano passado, quando a embarcação Cavalo Marinho naufra- gou na Baía de Todos-os-Santos, durante a travessia Mar Grande-Salvador. Como uma avalanche de erros, um ano após o ocorrido, a mesma negligência que mudou para sempre a vida de tantas pessoas é a mesma que as mantém de- samparadas e sem uma resposta para muito do que aquele dia revolucionou. A TARDE lembrou a data do acidente em reportagem, publicada na edição de ontem, que ouviu pessoas impactadas até hoje, que sentem no dia a dia o horror da sensação de quase morte. Ouviu também familiares de pessoas que faleceram no naufrágio, e em ambos os casos existe um denominador comum desta conta que, qualquer que seja o re- sultado, será um inestimável déficit: a falta de assistência aos sobreviventes e familiares, além da ausência de punição aos responsáveis – que, como pontuou a Marinha do Brasil num documento de 1,2 mil páginas, foi principalmente causado por negligência e irresponsabilidade dos encarregados da embarcação. Impunidade é o sentimento imediato que ecoa por toda a Bahia e martela com angústia nas pessoas cuja vida mudou por causa da tragédia, também segundo a Marinha, o maior acidente ocorrido na Bahia nos últimos 20 anos, com 19 mortes e 89 feridos. E enquanto os responsáveis pela Cavalo Marinho se esquivam da Justiça, negli- genciam o que é de direito daqueles que ainda sofrem pelo ocorrido, A TARDE, as- sim como demais veículos da imprensa baiana e de todo o Brasil, vai lembrar que o acidente ainda é, sim, um tormento pulsante e difícil de esquecer, um triste episódio para mostrar a quantidade de mudanças – estruturais e éticas – que ainda estão pendentes. E m vésperas de eleição truncada, sem representatividade e eticamente frágil, temas como direitos huma- nos, gênero e justiça social ficam de fora das rodadas. O que ganha espaço é SPC, Ursal e outras siglas que nem valem a pena. Quando o foco são meninas e mu- lheres, a condição desigual ainda está em voga. Remar contra a maré, firmar agen- das e ações pró-igualdade, tomar cons- ciência das múltiplas identidades e lutas ocupa assento seja na educação formal, nas ruas e na comunicação social am- pliada. Mas será o bastante? Agentes so- ciais respondem: não, não basta! Apesar de existirem circunstâncias favoráveis, direitos conquistados (e pouco garanti- dos) em espaço jurídico ou fora dele, os dados são alarmantes. As violências po- dem ser traduzidas em números: femi- nicídios, agressões, desrespeito no públi- co e no privado, estupros. Sempre que uma oportunidade de silenciamento ou violação surge, a exemplo de eventos fu- tebolísticos, shows, ruas ou elevadores e casas, o cotidiano em forma de espetáculo grita alto. Instrumentos de navegação já são co- nhecidos. Como bússola já não será mais tolerada mencionar que a força da tra- dição se sobrepõe às dinâmicas sociais e às urgências de pauta, especialmente em contexto político e social. Representati- vidade, coerência, ética e, sobretudo, pro- moção de igualdade e direitos estão no senso comum. As cartas de orientação não são somente boas intenções ou bons ventos. Carecem de rota articulada e efe- tiva nas instâncias mais comuns. Isso por- que as oportunidades que são vistas como “promotoras de liberdades” são destina- das ao coletivo. Na tempestade, não dei- xar o imponente oceano afogar oportu- nidades para diálogos, expressões da di- versidade e objetivos de bem comum. Mas já tentou remar contra a maré? Pode ser bastante cansativo e, por vezes, os objetivos se mostram inatingíveis. A desesperança desenhou-se a partir de 2015. No ano seguinte, a pasta (SPM) que tratava sobre a temática em âmbito na- cional foi extinta, enfraquecendo redes e ações criadas em diversas vertentes, tais como as redes de proteção e quebrando um ciclo de criação das Políticas Nacio- nais de Proteção às Mulheres elaboradas em três versões (Plano I - 2004; II - 2008; III - 2013/5). Entretanto, na contramaré, se veem no- vos movimentos (4ª onda feminista), ações e questionamentos. Outras formas de manifestar e associar-se. Basta! Mu- danças de prumo, rotas e navegantes são essenciais. Instrumentos temos (movi- mentos desde os anos 70 orientam e ino- vam), bons ventos (após tormentas) se avizinham e expressões críticas conti- nuam a ensinar que “uma andorinha não faz verão”. O presente serve para refletir sobre o passado e este nas brumas que as “gaivotas” estão no devir.

Divulgação EDITORIAL Cavalo Marinho, ano umnoosfero.ucsal.br/articles/0014/4895/a-tarde-25-de-agosto.pdf · 71 3340-8991 (cidadão repórter) 71 99601-0020 (whatsapp) associada

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SALVADOR SÁBADO 25/8/2018 OPIN IÃO A3

www.atarde.com.br71 3340-8991

(Cidadão Repórter)

71 99601-0020(WhatsApp)

ASSOCIADAÀ SIP -

SOCIEDADEINTERAMERICANA

DE IMPRENSA

PREMIADAPELA

SOCIETYFOR NEWS

DESIGN

MEMBROFUNDADOR DA ANJ

- ASSOCIAÇÃONACIONAL

DE JORNAIS

ASSOCIADAAO IVC -

INSTITUTOVERIFICADOR DECOMUNICAÇÃO

SEDE: RUA PROFESSOR MILTON CAYRES DE BRITO, N.º 204, CAMINHO DASÁRVORES, CEP: 41.820-570, SALVADOR/BA, FALE COM A REDAÇÃO:(71)3340-8800, (71)3340-8500, FAX: (71)3340-8712 OU 3340-8713, DE SEGUNDA ASEXTA-FEIRA DAS 6:30 À MEIA-NOITE. SÁBADOS, DOMINGOS E FERIADOS:DAS 9:00 ÀS 21 HORAS; SUGESTÃO DE PAUTA: [email protected], (71)3340-.8991. CLASSIFICADOS POPULARES: (71)3533-0855;CIRCULAÇÃO: (71)3340-8612; CENTRAL DE ASSINATURA: (71)3533-0850.

Diretora de Redação: MARIANA CARNEIRODiretora de Produção de Conteúdo: ALEZINHA ROLDANDiretor Controller: LUCAS LAGODiretor de Operações: CLEBER SOARESDiretor Comercial: LEONARDO CÉSARGerente Industrial: ÉLIO PEREIRA

Fundado em 15/10/1912Presidente de Honra: Renato SimõesCONSELHO DE ADMINISTRAÇÃOPresidente: João Mello LeitãoConselheiros: Ranulfo Bocayuva e Renato Simões Filho

BRUNO AZIZ

Isla Gomes Neves eVanessa CavalcantiUniversidade Católica do Salvador / Núcleo deEstudos sobre Direitos Humanos

E m 1957, o cineasta português An-tônio Lopes Ribeiro, meu padrasto,na intenção de rodar um filme so-

bre uma lenda de Trás-os-Montes, me pe-diu para, acompanhado de uma produ-tora, fotografar tudo o que poderia serinteressante para a proposta. O tema en-volvia uma ponte legendária debaixo doqual as mulheres que não podiam terfilhos teriam que passar uma noite. Estaremota parte de Portugal, pouco mudadadesde a Idade Média, nos levaria a umaviagem no tempo.

A noite se aproximava. Chegando aPonte de Lima, ainda longe do destino, empouco tempo adentramos as terras já co-bertas de sombras do severo Paço da Gló-ria, propriedade de Peter Pitt-Millward,descendente direto do primeiro-ministroinglês William Pitt. Como e quem me derao contato, me é impossível hoje lembrar.Enquadrada por duas torres quadradas,uma elegante galeria arcada corria ao lon-go da fachada coberta de erra. O homemnos seus sessenta, acompanhado de doiscães, desceu a escadaria para nos receber.Nosso modesto Citroën 2cv, incôngrua la-taria em frente da imponente residência,foi escondido perto das cavalariças. Umsilencioso mordomo nos levou até a torreonde nos esperavam os quartos. Lá pas-saríamos a noite antes de continuar rumoaos povoados mais primitivos das altasterras lusitanas.

Pouco tempo depois, fomos convidadosa acompanhar novamente o mordomopara a sala de jantar. Sóbria, cadeiras deespaldar alto. Um abajur iluminava a me-sa redonda bem no centro, deixando napenumbra o resto do espaço. Antigos re-tratos nos observavam com olhar altivo.Cinco talheres. Além do anfitrião, um me-nino de uns sete anos e sua governante.A refeição correu sem grande animação.Usufruíamos de uma generosa hospita-lidade, mas as britânicas distâncias erammantidas.

Quando pensávamos que aqui para-riam as amabilidades, Sir Peter nos con-vidou a segui-lo para tomar um cálice dePorto num salão ocupado por um pianode cauda – um Steinway entulhado departições – uma bela biblioteca e váriasobras de arte de qualidade, qualidadealiás confirmada por recentes catálogosda Sotheby’s. Perguntei como adquiriasuas peças, morando tão longe de Lon-dres. “Por telefone”, me respondeu sim-plesmente. Sir Peter tocou um botão euma longa cortina que ocupava uma pa-rede inteira deslizou lentamente. Apare-ceu um janelão de vidro que revelou em-baixo da torre um curral pintado de bran-co, evidenciado por luz generosa. A can-cela aberta por um adolescente vestido debranco deixou evoluir um magnífico ca-valo árabe, branco também, cauda ele-gantemente levantada...

Às vezes, no céu de alguma noite deinsônia, sento numa velha poltrona e vejoo alegre cavalo caracolando, caracolandono meio das estrelas, só para mim...

Dimitri GanzelevitchProdutor cultural e [email protected]

EDITORIAL Cavalo Marinho, ano um

Já tentou remar contra a maré?

O cavalo branco

atarde..com.br/bahia/salvador

DESTAQUESDO PORTAL

A TARDE

Shopping sediafeira de adoção de petsneste fim de semana

Divulgação

micheltelles.atarde.com.br/

Atriz Mel Lisboavai viver Gretchenno cinema

Impunidade é osentimento queecoa por toda aBahia e martela comangústia nas pessoascuja vida mudou

A dor irreparável de perdas humanas, aluta diária para conviver com traumasacarretados por um acidente e as infin-dáveis batalhas judiciais, que se trans-formam gradativamente em esforços in-dividuais de manter-se forte para enfren-tá-las, é tudo que restou para familiaresde vítimas e quem esteve no trágico aci-dente em agosto do ano passado, quandoa embarcação Cavalo Marinho naufra-gou na Baía de Todos-os-Santos, durantea travessia Mar Grande-Salvador.

Como uma avalanche de erros, um anoapósoocorrido,amesmanegligênciaquemudou para sempre a vida de tantaspessoas é a mesma que as mantém de-

samparadas e sem uma resposta paramuito do que aquele dia revolucionou.

A TARDE lembrou a data do acidenteem reportagem, publicada na edição deontem, que ouviu pessoas impactadas até

hoje, que sentem no dia a dia o horror dasensação de quase morte.

Ouviu também familiares de pessoasque faleceram no naufrágio, e em ambosos casos existe um denominador comumdesta conta que, qualquer que seja o re-sultado, será um inestimável déficit: afalta de assistência aos sobreviventes efamiliares, além da ausência de puniçãoaos responsáveis – que, como pontuou aMarinha do Brasil num documento de 1,2mil páginas, foi principalmente causadopor negligência e irresponsabilidade dosencarregados da embarcação.

Impunidade é o sentimento imediatoque ecoa por toda a Bahia e martela com

angústia nas pessoas cuja vida mudoupor causa da tragédia, também segundoa Marinha, o maior acidente ocorrido naBahia nos últimos 20 anos, com 19 mortese 89 feridos.

E enquanto os responsáveis pela CavaloMarinho se esquivam da Justiça, negli-genciam o que é de direito daqueles queainda sofrem pelo ocorrido, A TARDE, as-sim como demais veículos da imprensabaiana e de todo o Brasil, vai lembrar queo acidente ainda é, sim, um tormentopulsante e difícil de esquecer, um tristeepisódio para mostrar a quantidade demudanças – estruturais e éticas – queainda estão pendentes.

E m vésperas de eleição truncada, semrepresentatividade e eticamentefrágil, temas como direitos huma-

nos, gênero e justiça social ficam de foradas rodadas. O que ganha espaço é SPC,Ursal e outras siglas que nem valem apena. Quando o foco são meninas e mu-lheres, a condição desigual ainda está emvoga. Remar contra a maré, firmar agen-das e ações pró-igualdade, tomar cons-ciência das múltiplas identidades e lutasocupa assento seja na educação formal,nas ruas e na comunicação social am-pliada. Mas será o bastante? Agentes so-ciais respondem: não, não basta! Apesarde existirem circunstâncias favoráveis,direitos conquistados (e pouco garanti-dos) em espaço jurídico ou fora dele, osdados são alarmantes. As violências po-

dem ser traduzidas em números: femi-nicídios, agressões, desrespeito no públi-co e no privado, estupros. Sempre queuma oportunidade de silenciamento ouviolação surge, a exemplo de eventos fu-tebolísticos, shows, ruas ou elevadores ecasas, o cotidiano em forma de espetáculogrita alto.

Instrumentos de navegação já são co-nhecidos. Como bússola já não será maistolerada mencionar que a força da tra-dição se sobrepõe às dinâmicas sociais eàs urgências de pauta, especialmente emcontexto político e social. Representati-vidade, coerência, ética e, sobretudo, pro-moção de igualdade e direitos estão nosenso comum. As cartas de orientaçãonão são somente boas intenções ou bonsventos. Carecem de rota articulada e efe-tiva nas instâncias mais comuns. Isso por-que as oportunidades que são vistas como“promotoras de liberdades” são destina-das ao coletivo. Na tempestade, não dei-xar o imponente oceano afogar oportu-nidades para diálogos, expressões da di-versidade e objetivos de bem comum.

Mas já tentou remar contra a maré?Pode ser bastante cansativo e, por vezes,os objetivos se mostram inatingíveis. Adesesperança desenhou-se a partir de2015. No ano seguinte, a pasta (SPM) quetratava sobre a temática em âmbito na-cional foi extinta, enfraquecendo redes eações criadas em diversas vertentes, taiscomo as redes de proteção e quebrandoum ciclo de criação das Políticas Nacio-nais de Proteção às Mulheres elaboradasem três versões (Plano I - 2004; II - 2008;III - 2013/5).

Entretanto, na contramaré, se veem no-vos movimentos (4ª onda feminista),ações e questionamentos. Outras formasde manifestar e associar-se. Basta! Mu-danças de prumo, rotas e navegantes sãoessenciais. Instrumentos temos (movi-mentos desde os anos 70 orientam e ino-vam), bons ventos (após tormentas) seavizinham e expressões críticas conti-nuam a ensinar que “uma andorinha nãofaz verão”. O presente serve para refletirsobre o passado e este nas brumas que as“gaivotas” estão no devir.