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do edifício ao território teatro que invade cidade 1/8 A dissolução do teatro nos vazios do Bixiga se desenvolve num sistema aberto, no qual seus vazios funcionam de forma conjunta mas autônoma ligados por percursos que extrapolam os limites do lote e se desenvolve no espaço urbano - uma aproximação conceitual ao termo rizoma, criado por Deleuze e Guattari e emprestado por Paola Berenstein Jacques para analisar as dinâmicas das favelas em seu livro Estética da Ginga. Aqui, contanto, o conceito tem como intenção explicar, teoricamente, o processo formado pelo sistema de edifícios dispersos na cidade, convocando o princípio da multiplicidade, onde deixou de ser uno e passou a ser múltiplo, é o processo de fazer e desfazer caminhos, de trazer o edifício ao território. A rua, se torna elemento conector do projeto, articula os edifícios, desenvolvendo uma rede aberta, que se liga não por um percurso, mas por vários, se contrapondo a um sistema fechado em si, de um edifício unitário voltado para ele mesmo. O edifício explodido na cidade, abre-se para o exterior, a cidade é agora o conector das diferentes funções. [00] o lugar: Bixiga-SP [01] a ruptura: viaduto Júlio Mesquista Filho [02] o potencial: baixio do viaduto + vazios urbanos Foto: Cristiano Mascaro Este trabalho surgiu do anseio provocado por dois pontos: o primeiro, os vazios urbanos (de estacionamentos e os baixios de viadutos), fenômeno ligado ao crescimento da cidade para se adaptar às novas dinâmicas e ao sistema de mobilidade a partir da lógica do automóvel. E o segundo, a arte como possibilidade de apropriação do espaço urbano, o teatro experimental, uma ação que extrapola os muros, um teatro poroso. A convergência desses dois pontos encontra um lugar de colisão: o Bixiga, palco de resistência e expressiva identidade cultural, do berço do teatro e das artes, e ao mesmo tempo um lugar abalado pelo padrão rodoviarista de crescimento da cidade. O bairro se fragmentou devido às avenidas transversais de ligação entre o centro e a zona leste, uma articulação urbana que ignorou o existente e gerou rupturas na escala local. O projeto surge como uma tentativa de lidar com este conflito das diferentes escalas que se coadunam no bairro do Bixiga a partir de um teatro experimental explodido em seus vazios. Buscando inserir a cidade para dentro do edifício, onde o percurso estimula um espaço urbano espontâneo, possibilitando o inesperado e explorando a escala humana do bairro.

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do edifício ao territórioteatro que invade cidade

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A dissolução do teatro nos vazios do Bixiga se desenvolve num sistema aberto, no qual seus vazios funcionam de forma conjunta mas autônoma ligados por percursos que extrapolam os limites do lote e se desenvolve no espaço urbano - uma aproximação conceitual ao termo rizoma, criado por Deleuze e Guattari e emprestado por Paola Berenstein Jacques para analisar as dinâmicas das favelas em seu livro Estética da Ginga. Aqui, contanto, o conceito tem como intenção explicar, teoricamente, o processo formado pelo sistema de edifícios dispersos na cidade, convocando o princípio da multiplicidade, onde deixou de ser uno e passou a ser múltiplo, é o processo de fazer e desfazer caminhos, de trazer o edifício ao território. A rua, se torna elemento conector do projeto, articula os edifícios, desenvolvendo uma rede aberta, que se liga não por um percurso, mas por vários, se contrapondo a um sistema fechado em si, de um edifício unitário voltado para ele mesmo. O edifício explodido na cidade, abre-se para o exterior, a cidade é agora o conector das diferentes funções.

[00] o lugar: Bixiga-SP [01] a ruptura: viaduto Júlio Mesquista Filho [02] o potencial: baixio do viaduto + vazios urbanosFoto: Cristiano Mascaro

Este trabalho surgiu do anseio provocado por dois pontos: o primeiro, os vazios urbanos (de estacionamentos e os baixios de viadutos), fenômeno ligado ao crescimento da cidade para se adaptar às novas dinâmicas e ao sistema de mobilidade a partir da lógica do automóvel. E o segundo, a arte como possibilidade de apropriação do espaço urbano, o teatro experimental, uma ação que extrapola os muros, um teatro poroso.A convergência desses dois pontos encontra um lugar de colisão: o Bixiga, palco de resistência e expressiva identidade cultural, do berço do teatro e das artes, e ao mesmo tempo um lugar abalado pelo padrão rodoviarista de crescimento da cidade. O bairro se fragmentou devido às avenidas transversais de ligação entre o centro e a zona leste, uma articulação urbana que ignorou o existente e gerou rupturas na escala local.O projeto surge como uma tentativa de lidar com este conflito das diferentes escalas que se coadunam no bairro do Bixiga a partir de um teatro experimental explodido em seus vazios. Buscando inserir a cidade para dentro do edifício, onde o percurso estimula um espaço urbano espontâneo, possibilitando o inesperado e explorando a escala humana do bairro.

Embora os vazios urbanos e o teatro experimental sejam os pontos que colidem do projeto, eles só realmente se encontram quando o edifício dissolve no território. Esse projeto é uma tentativa de criar um edifício explodido na cidade.A explosão do teatro experimental no Bixiga compõe uma lógica, começando pela escolha dos vazios, tendo como um dos pontos de premissa o Viaduto Júlio Mesquita Filho, como forma de olhar para esse espaço negado, sem interesse, e convertê-lo, inserindo-o na cidade. A partir dessa intância procuro vazios de estacionamentos que possam atravessar o viaduto, na escala do pedestre, atráves do percurso, incentivando o caminhar e a apropriação do espaço urbano, buscando uma articulação com seu entorno.Foi-se necessário pensar em diretrizes de implantação e uma linguagem para os edifícios, assim mantemos a ideia de unidade, de que mesmo separado, quem passe por ali compreenda que é o mesmo edifício. Os vazios escolhidos mantem uma distância de 120m até o viaduto, dando em média 1minuto a pé. Os lotes possuem mais de uma frente, para criar mais de um percurso, sem formalizar a entrada e saída dos edifícios, criando rotas de fuga por dentro dos lotes.

viadutolotes que atravessem o viaduto como forma de inserir este espaço negado para dentro do edifício e da cidade.

diretrizes de implantação

linguagem

cobertura metálicacobertura que abrace o edifício, mantendo sua unidade formal pela implantação.

materialidadeconcreto como material principal dos edifícios

passarelaselemento de circulação interna dos edifícios.

vazios de estacionamento + proximidade com escolas locaislotes com distância média de 1min a pé em relação ao viaduto e que estabeleçam uma possível conexão de cunho educacional para promover cultura ás pessoas que frequentam diariamente o bairro.

rizomalotes com mais de uma frente garantindo a multiplicidade, permeabilidade e rotas de fuga sem formalizar a entrada e saída dos edifícios (princípios do rizoma).

a explosão

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camarim coletivo

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bilheteriafoyerwccamarim individual

explosão teatro no território

1. a convergência2. o ensaio3. a oficina

4. escola estadual Maria Augusta5. dona yayá6. teatro oficina7. escola EMEI Angelo Martinoa- rua major diogob- rua são domingosc- rua conselheiro ramalhod- rua humaitáe- viaduto júlio mesquita filhof- av. nove de julho

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Os aspectos de linguagem do edifício se dão pela utilização de uma cobertura metálica em grelha e o uso da passarela dentro do edifício.O programa do teatro está distribuídos nos 3 vazios, para que quando estiver ocorrendo uma peça, necessite se deslocar entre os edifícios reforçando a noção de unidade. Os lotes funcionam como suporte à peça teatral que aconteceria no baixio do viaduto, envolvendo os programas técnicos e servidores de uma peça teatral: administração, camarim, ensaio, cenário e iluminação. Porém a ideia é que cada edifício possua também um caráter autônomo, para que em dias que não estejam ocorrendo peça, funcionem como um edifício cultural, por meio de oficinas para o público (oficina de iluminação, de cenografia, aulas de teatro e cinema, oficinas de maquiagem). A ideia é sempre manter os lotes em constante uso, não somente em dias de peça. Possibilitando também outros grupos de teatros e escolas a usufruir do programa, podendo utilizá-lo para apoio a sua peça teatral.O baixio do viaduto como local de apresentações, acolhe a cena, e supera sua condição marginal, tornando-se ponto de confluência dos demais programas.

teatro tradicional (simplificação)

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o ensaio a oficina a convergência

Proposto em um lote de duas frentes conectando a Rua Humai-tá e a Rua Major Diogo. O terreno de 4 metros de desnível é a varanda para a escola Ângelo Martino. Seu desnível veste uma rampa que assiste a cidade como um espetáculo. O lote ensaio serve como apoio para os dias de peça teatral no viaduto, con-tendo em seu programa foyer, café, bilheteria e espaço para en-saio. Em dias sem peças teatrais no viaduto, o lote se torna uma praça e serve de apoio as atividades escolares da EMEI Ângelo

Martino ou de escolas de teatros em sua proximidade.Esse edifício é marcado pelas suas 2 caixas entre um grande res-piro e interligada por uma passarela. Com um caráter público e aberto o lote compoem grande térreo livre, onde os usuários são convidados para atravessar o lote ou até ali ficar. Distância até o viaduto para apresentações: 122 passos em 1min 33 segundos

1. acesso rua major diogo2. café/bar3. bilheteria4. loja5. foyer6. sanitários7. jardim8. rampa9. mezanino10. palco

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corte longitudinal

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Proposto em um lote de três frentes conectando a Rua Major Diogo, Rua Conselheiro Ramalho e a Rua São Domingos. Seu terreno com 8 metros de desnível preenche um grande lote com oficinas, onde em dias de peça servem de apoio para as apresentações no baixio do viaduto, sendo aqui que se produz a vestimenta, o cenário, a luz, o camarim e todas as demais funções que servem a peça teatral.

Esse vazio possui a vista das casinhas tradicionais do Bixiga por estar em uma cota alta, tendo como programa em dias sem peça teatral no viaduto, oficinas de camarim, cenário, maquiagem, fig-urino, iluminação e teatro, no qual os profissionais realizam suas

atividades e também ensinam suas especialidades para as pessoas do bairro, alunos da escola vizinha ou a quem tiver interesse.

Esse edifício é marcado pelas suas caixas intercaladas entre respi-ros e cortadas pelas passarelas, que ora estão dentro ora fora, onde qualquer pessoa pode olhar o que acontece dentro das oficinas e fora delas.

Distância até o viaduto para apresentações: 137 passos em 1min e 33segundos

1. acesso rua major diogo2. restaurante3. cozinha4. despensa5. sanitários6. descanso7. respiro8. montagem cenário/depósito9. oficina de cenografia10. serralheria11. marcenaria12. jardim13. casa de máquinas14. contra-regragem15. varanda16. passarela17. oficina iluminação18. sala de aula/workshop19. alfaiataria20. oficina de costura

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rua são domingos

rua são domingos

rua são domingos

21. sala de tingimentos22. sala de tecidos23. oficina de dança e teatro24. praça25. depósito26. área funcionários27. oficina de camarim28. camarim individual29. camarim coletivo30. biblioteca31. exposição32. repcepção adm33. administração34. sala de reunião35. acesso rua conselheiro ramalho 36. acesso privado rua são domingos37. escola estadual

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cobertura metálica

passarela

percurso

planta nível rua major diogo

planta nível intermediário

planta nível rua conselheiro ramalho

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o ensaio a oficina a convergência 6/8

corte longitudinal

O módulo

A estrutura é simples, barata, de rápida e fácil execução, o que permite a construção e reconstrução por parte dos usuários, reforçando seu caráter efêmero e flexível. Composto pela variação de um único módulo (2,5x2,5x2,5m), formando diversas composições de andaimes - completamente desmontáveis. As divisórias verticais são cortinas, com variações de aberturas e opacidade; o apoio/sapata é ajustável às variações de terreno; e seu piso é composto por plataformas metálicas.

o ensaio a oficina a convergência

Um vazio sem limites definidos, a proposta é a convergência dos atos, onde o palco e plateia se misturam no baixio do viaduto Júlio Mesquita Filho. Uma poética que floresce no baixio como forma de apropriação do espaço público em meio a dinâmica urbana ex-istente.O vazio permite a ação reflexiva do homem: a ocupação necessari-amente sucede a significação do vazio. A apropriação é consequên-cia da interpretação do espaço pelo indivíduo, que se depara com a ausência e vislumbra novas possibilidades.As propostas de intervenções no espaço urbano tem que partir de uma necessidade real, e é essa necessidade real que descobre-se experimentando o cotidiano dos baixios, num modo de operar onde a escuta é anterior a intervenção; escutar e deflagrar o es-petáculo já existentes no terreno, descobrir assim seus movimen-tos, seus fluxos, seus agentes, seus atores, seus dançarinos, seus navegadores, seus refluxos. Contracenando com os usos que lá já

estão instituídos como o sacolão e o setor de alimentos, a quadra de futebol das crianças, as moradias, as memórias, os fantasmas, as vegetações que lá estão e que já estavam mesmo antes da construção do viaduto Júlio de Mesquita.“A atual organização urbana de São Paulo impõe às pessoas certos padrões de comportamento que tangem àquilo que define o con-trole social, seja devido a interesses financeiros, imobiliários e cul-turais que normalmente estão enraizados em desejos e necessidades que fragmentam e limitam as possibilidades de “como existir”. “(TERREYRO COREOGRÁFICO)Propõe-se aqui a mínima intervenção para que assim, a vida exis-tente no baixio não seja excluída e sim inserida. Um intervenção efêmera a partir de uma estrutura flexível, o andaime, na qual esteja sempre em possível mutação se adaptando as condições diárias. Nos dias que não estão ocorrendo peça, o viaduto volta a sua dinâmica existente e sua estrutura flexível é levada ao lote suporte.

andaime platéia arquibancada

palco andaime

torre

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Identificar as peças

barras superiores

apoios

vedações e pisos

barras inferiores e verticais

o módulo

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1. sapatas ajustáveis (4x)2. conexão inferior (4x)

3. barras verticais (4x)4. barras horizontais (4x)

5. corda de apoio cortina (1x)6. cortinas

7. plataforma metálicas

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o ensaio a oficina a convergênciaPRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION

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referências bibliográficasBUCCI, Ângelo. Razões da arquitetura (da dissolução dos edifícios e de como atravessar paredes). In: Tempo, cidade e arquitetura, 2010.

CARREIRA, André. Teatro Popular no Brasil: a rua como âmbito da cultura popular. In: UrdimentoDELEUZE, Gilles. GUATTARI, Félix. Mil Platôs - Capitalismo e Esquizofrenia, vol. 1, 1996.

JACQUES, Paola Berenstein. Apologia da Deriva: escritos situacionistas sobre a cidade. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2003.