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Documentos da CNBB - 94

Coleo Documentos da CNBB2 - Sou Catlico: Vivo a minha F 3 - Evangelizao da Juventude 84 - Diretrio Nacional de Catequese 87 - Diretrizes Gerais da Ao Evangelizadora da Igreja no Brasil 88 - Projeto Nacional de Evangelizao: O Brasil na Misso Continental 89 - 20 Plano Pastoral do Secretariado Geral 2009 - 2011 90 - Legislao Complementar ao Cdigo de Direito Cannico para o Brasil sobre a Absolvio Geral (aplicao do cn. 961) 91 - Por uma Reforma do Estado com Participao Democrtica 92 - Mensagem ao Povo de Deus sobre as Comunidades Eclesiais de Base 93 - Diretrizes para a Formao dos Presbteros da Igreja no Brasil 94 - Diretrizes Gerais da Ao Evangelizadora da Igreja no Brasil 2011 - 2015

CONFERNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL

DIRETRIZES GERAIS DA AO EVANGELIZADORA DA IGREJA NO BRASIL2011 - 2015Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida (Jo 14,6) 49 Assembleia Geral Aparecida-SP, de 4 a 13 de maio de 2011 Texto aprovado 09 de maio de 2011

C748d

Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil / Diretrizes Gerais da Ao Evangelizadora da Igreja no Brasil: 2011-2015. Braslia, Edies CNBB. 2011. Diretrizes Gerais da Ao Evangelizadora da Igreja no Brasil: 2011-2015 / CNBB. 112 p.: 14 x 21 cm ISBN: 978-85-7972-090-1 1. Igreja - Evangelizao - Misso. 2. Pessoa. 3. Comunidade. 4. Sociedade. CDU - 272

3 Edio - 2011

COORDENAO EDITORIAL: Pe. Valdeir dos Santos Goulart REVISO ORTOGRFICA: Dic. Ribamar de Moraes Lcia Soldera PROJETO GRFICO, CAPA: Fbio Ney Koch dos Santos DIAGRAMAO: Henrique Billygran da Silva SantosNenhuma parte desta obra poder ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ ou quaisquer meios (eletrnico ou mecnico, incluindo fotocpia e gravao) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permisso escrita do autor - CNBB.

Edies CNBB SE/Sul Quadra 801 - Cj. B - CEP 70200-014 Fone: (61) 2193-3019 - Fax: (61) 2193-3001 E-mail: [email protected] www.edicoescnbb.com.br

SUMRIOSIGLAS .............................................................................................7 OBJETIVO GERAL .........................................................................9 APRESENTAO ........................................................................11 INTRODUO .............................................................................15 CAPTULO I PARTIR DE JESUS CRISTO ......................................................21 CAPTULO II MARCAS DE NOSSO TEMPO..................................................31 CAPTULO III URGNCIAS NA AO EVANGELIZADORA ...................39 3.1. Igreja em estado permanente de misso ..............................42 3.2. Igreja: casa da iniciao vida crist ....................................47 3.3. Igreja: lugar de animao bblica da vida e da pastoral ....50 3.4. Igreja: comunidade de comunidades ...................................56 3.5. Igreja a servio da vida plena para todos ............................60 CAPTULO IV PERSPECTIVAS DE AO........................................................67 4.1. Igreja em estado permanente de misso ..............................68 4.2. Igreja: casa da iniciao vida crist ....................................72 4.3. Igreja: lugar de animao bblica da vida e da pastoral ...75

4.4. Igreja: comunidade de comunidades ...................................78 4.5. Igreja a servio da vida plena para todos ............................82 CAPTULO V INDICAES DE OPERACIONALIZAO ........................93 5.1. O plano como fruto de um processo de planejamento ......94 5.2. Passos metodolgicos .............................................................95 CONCLUSO COMPROMISSO DE UNIDADE NA MISSO...................105 NDICE ANALTICO ................................................................107

SIGLASAAS ChL CV DAp DCE Acta Apostolicae Sedis Papa Joo Paulo II, Exortao Apostlica Christideles Laici Papa Bento XVI, Encclica Caritas in Veritate Documento de Aparecida Papa Bento XVI, Encclica Deus Caritas est

DGAE Diretrizes Gerais da Ao Evangelizadora da Igreja no Brasil DI DP EN EV GS LG NMI PO Papa Bento XVI, Discurso Inaugural Conferncia de Aparecida Documento de Puebla Papa Paulo Nuntiandi VI, Exortao Apostlica Evangelii

Papa Joo Paulo II, Encclica Evangelium Vitae Constituio Pastoral Gaudium et Spes Constituio Dogmtica Lumen Gentium Papa Joo Paulo II, Carta Apostlica Novo Millennio Ineunte Decreto Presbyterorum Ordinis

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RM SC SD UR VD

Papa Joo Paulo II, Encclica Redemptoris Missio Constituio Dogmtica Sacrosanctum Concilium Documento de Santo Domingo Decreto Unitatis Redintegratio Papa Bento XVI, Exortao Apostlica Verbum Domini

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OBJETIVO GERAL

E VA N G E L I Z A R ,

a partir de Jesus Cristo e na fora do Esprito Santo, como Igreja discpula, missionria e proftica, alimentada pela Palavra de Deus e pela Eucaristia, luz da evanglica opo preferencial pelos pobres, para que todos tenham vida,(cf. Jo 10,10)

rumo ao Reino definitivo.

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A P R E S E N TA OIde pelo mundo inteiro e anunciai a Boa-Nova a toda a criatura! (Mc 16,15) A Igreja existe para evangelizar. Em meio s alegrias e esperanas, tristezas e angstias do ser humano de cada tempo, notadamente dos que sofrem (cf. GS, n. 1), ela anuncia, por palavras e aes, Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida (cf. Jo 14,6). Para cumprir sua misso, a Igreja, impulsionada pelo Esprito Santo, acolhe, reza a Palavra que salva, escuta os sinais dos tempos, rev prticas pastorais e discerne objetivos e caminhos. Expresso desta incessante atividade missionria da Igreja no Brasil, as Diretrizes Gerais da Ao Evangelizadora, aprovadas na 49 Assembleia dos Bispos, so a tentativa de escutar os sinais dos tempos e os desaos que neles se manifestam. Desejam ser uma resposta aos desaos que emergem em nosso tempo de transformaes radicais na totalidade da existncia, que, s vezes, geram perplexidade, ameaam a vida em suas diversas formas e levam o ser humano a se afastar dos valores do Reino de Deus. Elas apontam um desao imenso, pois, em cada indicao, pedem o esforo de no nos assustarmos diante das

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transformaes, mas, conantes no Crucicado-Ressuscitado que tudo venceu, olharmos para o Horizonte novo, assumindo corajosamente o que a graa de Deus nos pede para os dias de hoje. Assim, voltados para o Senhor (Cap. 1), as Diretrizes no tiram os ps do cho da realidade (Cap. 2). Ao contrrio, identicam as urgncias (Cap. 3) e propem caminhos para seu enfrentamento (Cap. 4). Em esprito de comunho, oferecem, por m, indicaes para que as urgncias sejam concretizadas nos planejamentos das Igrejas particulares (Cap. 5). So cinco as urgncias apontadas: Igreja em estado permanente de misso; Igreja: casa da iniciao crist; Igreja: lugar de animao bblica da vida e da pastoral; Igreja: comunidade de comunidades; Igreja a servio da vida plena para todos. Elas indicam um modo pedaggico de expressar um nico e grande passo ao qual toda a Igreja chamada em nossos dias: reconhecer-se em estado permanente de misso. Isso implica o anncio e o re-anncio de Jesus Cristo, possibilitando aos que no O conhecem ou que dEle se afastaram ouvir o ncleo da Boa Nova da Salvao. Aproximar Jesus Cristo do corao de pessoas e grupos implica, por sua vez, aproximar tambm a comunidade dos discpulos missionrios, construindo e fortalecendo uma intensa rede de comunidades cada vez mais prximas dos lugares onde as pessoas vivem, se alegram e sofrem. Em tudo isso, a Igreja no Brasil se reconhece comprometida com a vida, em todas as suas manifestaes, especialmente a vida ameaada. Como partes de um nico passo, as urgncias necessitam ser assumidas em seu conjunto, no cabendo, durante os planejamentos locais, a escolha de uma ou outra. Todas so igualmente urgncias. Optar por algumas e postergar outras signica afetar o conjunto.

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As Diretrizes so um convite para que toda pessoa batizada, como discpula-missionria, assuma o mandato de Jesus Cristo: Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa-Nova a toda a criatura! (Mc 16,15). Elas podero ecoar na Boa-nova na medida em que cada Igreja Particular torn-las visveis, atravs dos planejamentos pastorais, do plano pastoral. Atravs das cinco urgncias, a Igreja do Brasil caminhar na mesma direo. Nos planejamentos locais, a partir das Diretrizes, as urgncias se concretizaro em cada um dos especcos contextos. Ficam, assim, respeitadas duas caractersticas indispensveis da Igreja: a unidade e a diversidade. Nestes tempos em que ainda estamos aprendendo a saborear as riquezas da Conferncia de Aparecida, celebrando o Jubileu de Ouro do Conclio Vaticano II e nos preparando para o Snodo sobre a Nova Evangelizao, rearmamos que estas Diretrizes foram elaboradas no desejo de que, cada vez mais, se creia que Jesus o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, se tenha a vida em seu nome (cf. Jo 20,31). Quer no acolhimento destas Diretrizes, quer nos planejamentos subsequentes, haveremos de reconhecer que o ponto de partida ser sempre o testemunho: O homem contemporneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres; ou, ento, se escuta os mestres, porque eles so testemunhas.1 Sejamos, pois, testemunhas do Ressuscitado. para isso que Ele nos envia. 31 de maio de 2011 Festa daVisitao de Nossa Senhora + Leonardo Ulrich Steiner Bispo prelado de So Flix do Araguaia Secretrio Geral da CNBB1 Papa Paulo VI, Discurso aos Membros do Consilium de Laicis (em 2 de outubro de 1974): AAS 66 (1974), p. 568, repe do na EN, n. 41.

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INTRODUO1. Fiel a Jesus Cristo, o Verbo de Deus, missionrio do Pai (Jo 5,37; Jo 20,21), que se fez carne e habitou entre ns (Jo 1,14), a Igreja no Brasil, ao mesmo tempo em que escuta e acolhe a voz do Esprito Santo, rearma a importncia de conhecer a realidade e de traar metas especcas para a ao evangelizadora luz da Sagrada Escritura e da Tradio.2 Desde o Plano de Emergncia,3 a Igreja no Brasil no interrompeu o rico processo de planejamento pastoral, elaborando diretrizes e planos, tendo em vista corresponder melhor ao do Esprito numa realidade em constante transformao. Deseja, mais uma vez, contemplar o cotidiano do povo brasileiro, notadamente dos mais sofridos, voltar s fontes da f e indicar caminhos a serem trilhados. Diretrizes so rumos que indicam o caminho a seguir, abordando aspectos prioritrios da ao evangelizadora, princpios norteadores e urgncias irrenunciveis. Os planos de pastoral das Igrejas Particulares percorrem um roteiro especco, contendo estudo e iluminao da realidade luz da f, objetivos, critrios e meios para sua concretizao naCf. VD, nn. 17, 18 e 35. 5 Assembleia Geral da CNBB, de 2 a 5 de abril de 1962; cf. Documento da CNBB 76.

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prpria realidade. Realizar planos uma tarefa que cabe s Comisses Pastorais e s Igrejas Particulares, com suas parquias, comunidades, organismos, movimentos leigos, institutos de vida consagrada, em suma, todos os agentes de pastoral. Na interao entre as diretrizes e os planos, o objetivo geral assumido por todos os Bispos do Brasil, em suas Igrejas Particulares, preservando-se a unidade e a diversidade. 3. A Igreja no Brasil, iluminada pela Conferncia de Aparecida e celebrando o cinquentenrio do Conclio Vaticano II, louva e bendiz o Deus da Vida, do Amor e da Paz, pela tradio em planejar a ao evangelizadora. Ergue um canto de louvor por todas as pessoas que, nas mais diversas formas de viver a f, levam adiante o anncio do Reino de Deus, concretizando os planejamentos e suscitando novas propostas, algumas vezes, na satisfao de v-las realizadas, outras, no martrio que decorre da delidade ao Evangelho. Louva a Deus pela Palavra anunciada, a Eucaristia celebrada, a solidariedade concretizada, a vida defendida, o amor compartilhado, a unidade fortalecida e a fraternidade testemunhada. Eleva um canto de gratido pelas inmeras e diversicadas formas de viver a dimenso comunitria, sem as quais planejamento algum pode se concretizar. Curva-se perante o Deus de Misericrdia, pedindo perdo por fraquezas, indelidades e pecados de seus membros e implorando foras para viver, sempre mais intensamente, o discipulado missionrio que decorre do encontro com Jesus Cristo, alimentado pela Palavra de Deus e pelos Sacramentos. Clama pela rmeza indispensvel para superar uma concepo de f restrita a um conjunto de prticas religiosas fragmentadas, a adeses

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parciais e participao ocasional.4 Reza, enm, para que, atravs destas Diretrizes e do empenho de todos, se supere o medocre pragmatismo da vida cotidiana da Igreja, no qual, aparentemente, tudo procede com normalidade, mas, na verdade, a f vai se desgastando e degenerando em mesquinhez.5

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Cf. DAp, n. 12. DAp, n. 12, citando: RATZINGER, J. Situao atual da f e da teologia. Conferncia pronunciada no Encontro de Presidentes de Comisses Episcopais da Amrica La na para a Doutrina da f, celebrado em Guadalajara, Mxico, 1996. Publicado em LOsservatore Romano, em 1 de novembro de 1996.

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CAPTULO I

PA R T I R D E J E S U S C R I S T O

4.

Toda ao eclesial brota de Jesus Cristo e se volta para Ele e para o Reino do Pai. Jesus Cristo nossa razo de ser, origem de nosso agir, motivo de nosso pensar e sentir. Nele, com Ele e a partir dEle mergulhamos no mistrio trinitrio, construindo nossa vida pessoal e comunitria. Nisto se manifesta nosso discipulado missionrio: contemplamos Jesus Cristo presente e atuante em meio realidade, Sua luz a compreendemos e com ela nos relacionamos, no rme desejo de que nosso olhar, ser e agir, sejam reexos do seguimento, cada vez mais el, ao Senhor Jesus. No h, pois, como executar planejamentos pastorais sem antes pararmos e nos colocarmos diante de Jesus Cristo. Em atitude orante, contemplativa, fraterna e servidora, somos convocados a responder, antes de tudo, a ns mesmos: quem Jesus Cristo? (cf. Mc 8,27-29). O que signica acolhlo, segui-lo e anunci-lo? O que h em Jesus Cristo que desperta nosso fascnio, faz arder nosso corao (cf. Lc 24,32), leva-nos a tudo deixar (cf. Lc 5,8-11) e, mesmo diante das nossas limitaes e vicissitudes, armar um incondicional amor a Ele (cf. Jo 21,9-17)? A paixo por Jesus Cristo leva ao arrependimento, contrio (cf. Lc 24,47; cf. At 2,36ss) e verdadeira

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converso pessoal e pastoral. Por isso, devemos sempre nos perguntar: estamos convencidos de que Jesus Cristo o Caminho, a Verdade e a Vida? O que signica para ns, hoje, o Reino de Deus por Ele instaurado e comunicado? 5. A Conferncia de Aparecida, marco referencial para a Igreja na Amrica Latina e no Caribe, na esteira do cinquentenrio de abertura do Conclio Vaticano II (1962), nos convida a olhar com ateno para Aquele que, sendo rico, se fez pobre para a todos enriquecer (cf. 2Cor 8,9).6 O discpulo missionrio, ao contemplar Jesus Cristo descobre o Verbo que arma sua tenda entre ns, o Filho nico do Pai, cheio de amor e delidade (cf. Jo 1,14); aquele que, sendo de condio divina, no se fecha em si mesmo, mas se esvazia at a morte e morte de cruz (cf. Fl 2,5ss) e, diferena das aves do cu e das raposas, no tem sequer onde reclinar a cabea (Mt 8,20). Ele sempre precisa ir a outros locais (Lc 4,43) para anunciar o Reino, a graa, a justia e a reconciliao. Ele se preocupa com as ovelhas que no fazem parte do rebanho (Jo 10,16), mesmo que seja uma nica ovelha perdida, sofrida (Lc 15,4-7), para reanimlas diante da dor e da desesperana (Lc 24,13-35). este mesmo Jesus que vir, um dia, em sua glria, para julgar os vivos e os mortos (Mt 25,31-46). A recente Exortao Apostlica Ps-sinodal Verbum Domini proclama, com toda clareza, que Deus nos fala, comunicase conosco por meio de sua Palavra que Jesus Cristo, Verbo feito carne. Como nos mostra claramente o Prlogo de Joo, o Logos indica originariamente o Verbo eterno, ou seja, o lho unignito, gerado pelo Pai antes de todos osDAp, DI n. 3; DAp, n. 31.

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sculos e consubstancial a Ele: o Verbo estava junto de Deus, o Verbo era Deus. Mas este mesmo Verbo arma So Joo fez-se carne (Jo 1,14); por isso Jesus Cristo, nascido da Virgem Maria, realmente o Verbo de Deus que Se fez consubstancial a ns. Assim a expresso Palavra de Deus acaba por indicar aqui a pessoa de Jesus Cristo, Filho eterno do Pai feito homem.7 7. Jesus Cristo Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, manifestao plena do amor radical, que se entrega pelos pecadores (cf. Rm 5,8). Seu desejo de salvao no simplesmente aguardar os que O buscam. Jesus Cristo incessante e eterna entrega, dom de si para o outro. contnuo convite aos discpulos missionrios e, por meio deles, a toda a humanidade para segui-lo, em meio a diferenas e desencontros. O encontro com Jesus Cristo acolhimento da graa do Pai que, pela fora do Esprito, revela o Salvador e atua, no corao de cada pessoa, possibilitando-lhe esta resposta. As atitudes de alteridade e gratuidade marcam a vida do discpulo missionrio de todos os tempos. Alteridade se refere ao outro, ao prximo, quele que, em Jesus Cristo, meu irmo ou minha irm, mesmo estando do outro lado do planeta.8 o reconhecimento de que o outro diferente de mim e esta diferena nos distingue, mas no nos afasta. As diferenas nos atraem e complementam, convidando ao respeito mtuo, ao encontro, ao dilogo, partilha e ao intercmbio de vida e solidariedade. Fechar-se no isolamento, no individualismo e em atitudes que transformam pessoas em mercadorias cair no pecado da idolatria e

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VD, n. 6. Cf. NMI, n. 43.

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semear infelicidade. A vida s se ganha na entrega, na doao. Quem quiser perder a sua vida por causa de mim a encontrar! (Mt 10,39). 9. Todo relacionamento , igualmente, chamado a acontecer na gratuidade. semelhana de Cristo Jesus que, saindo de si, foi ao encontro dos outros, nada esperando em troca (cf. Fl 2,5ss), tambm o discpulo missionrio chamado a profeticamente questionar, atravs de suas escolhas e atitudes, um mundo que se constri a partir da mentalidade do lucro e do mercado, no esquecendo que tais atitudes geram violncia, vingana, guerra e destruio (cf. Mt 6,24). Gratuidade signica amar, em Jesus Cristo, o irmo e a irm, respondendo, atravs de atitudes fraternas e solidrias, a grande questo proposta a Jesus: quem o meu prximo? (Lc 10,29), querendo e fazendo bem ao outro sem nada esperar em troca. Signica cortar a raiz mais profunda da violncia, da excluso, da explorao e de toda discrdia. Gratuidade e alteridade, como expresses do Amor, so fontes de paz, reconciliao e fraternidade. So sementes da atitude crist mais radical: o perdo (cf. Lc 23,34), atitude que deve ser incessantemente testemunhada e transmitida (cf. Mt 18,21-22) a um mundo que se caracteriza pelo crescimento da vingana e da violncia como solues s dores da vida. A radicalidade do Amor de Deus atinge sua extrema manifestao no amor aos inimigos. A reconciliao o pice da Nova Lei. Supera toda diviso que nos afasta de Deus e nos separa uns dos outros. O discpulo missionrio, ao contemplar Jesus Cristo e Cristo rucicado! , reconhece que a loucura e o escndalo (cf. 1Cor 1,18.21) do Reino de Deus chegam a seu pice na reconciliao (cf. Rm 5,6-8; Lc 23,34).

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Por certo, a ao evangelizadora e pastoral da Igreja trabalha pela reconciliao, o que no signica pactuar com a impunidade, a corrupo e todas as formas de desrespeito aos direitos bsicos de toda pessoa. Diante de graves situaes que fazem os irmos sofrerem, o corao do discpulo missionrio se enche de compaixo e clama por justia e paz. Angustia-se diante da inrcia e mesmo da omisso. Quer atitudes que superem o mal existente e no permitam o surgimento de mais dor. Esta indignao, porm, no deve afastar o discpulo missionrio do ideal de perdo e reconciliao, pois o Reino de Deus s acontece efetivamente quando se responde ao mal com o bem (cf. Rm 12,17-21). Gratuidade e alteridade so, portanto, modos de compreender o que h de mais decisivo em Jesus Cristo: a sada de si, rumo humanidade marcada pelo pecado, fonte de dor e morte. Jesus nos mostrou que no se vence o pecado pelo pecado (cf. Lc 11,14-22). Este vencido pela graa derramada abundantemente nos coraes dos discpulos missionrios. A atuao da graa paz, justia, bondade, reconciliao, gratuidade e alteridade (cf. Gl 5,22). , pois, motivado pela atitude de constante ida ao encontro do outro que o discpulo missionrio contempla a realidade, no desejando que ela se encaixe em suas expectativas, mas nela se encarnando, discernindo a presena do Reino de Deus e trabalhando para que ele cresa cada vez mais. Jesus nos amou at o m! A delidade uma das maiores provas do amor. Num mundo onde tudo descartvel at mesmo as pessoas o compromisso el torna-se uma das caractersticas fundamentais do(a) discpulo(a) missionrio(a) (cf. Hb 10,38).

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O discpulo missionrio sabe que no exerce esta sublime misso isoladamente. Ao contrrio, ele a exerce na Igreja, grande comunidade de todos os discpulos missionrios, novo povo de Deus, conclamado para reunir-se na fraternidade, acolher a Palavra, celebrar os sacramentos e sair em misso, no testemunho, na solidariedade e no claro anncio da pessoa e da mensagem de Jesus Cristo. Mesmo quando se encontra sozinho, em meio a quem no se compromete com os valores do Reino de Deus, o discpulo missionrio est unido a toda a Igreja. Sabe que, no mistrio do DeusComunho, ele ser sempre um irmo entre irmos. Cristo Cabea remete necessariamente Igreja Corpo (cf. Cl 1,18). No h como ser verdadeiro discpulo missionrio sem o vnculo efetivo e afetivo com a comunidade dos que descobriram fascnio pelo mesmo Senhor.9 Na Igreja, o discpulo missionrio percebe a fora de uma unio que ultrapassa raas, condies econmico-sociais, preconceitos, discriminaes (cf. Gl 3,28) e tudo que, de algum modo, tenda mais a separar do que a unir. Chamada a ser, na terra, sinal do Deus-Amor, do Deus-Comunho, do Deus-Trindade, a Igreja encontra sua razo de ser na vivncia e no anncio do Reino de Deus (cf. LG, n. 1). A unidade de todos os discpulos missionrios, em meio diversidade de dons, servios, carismas e ministrios (cf. LG, nn. 9-13), testemunha o amor trinitrio do Pai, pelo Filho, no Esprito. Ao testemunh-lo, interpela todas as formas de desgurao humana, tais como discriminao, excluso, explorao, separao, opresso, escravido, manipulao, protecionismo, injustia e ausncia de reconciliao.

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EN, n. 16.

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Nestes tempos de agudo apelo ao individualismo hedonista e de fortssimo consumismo, nos deparamos com o surgimento de propostas religiosas que dizem oferecer o encontro com Deus sem o efetivo compromisso cristo e a formao de comunidade. Desaparece, ento, a imagem do Deus Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, cujo zelo por suas criaturas atento com as aves do cu, com os lrios do campo ou com um nico o de cabelo (cf. Lc 21,18). Surge a imagem do Deus da troca, do negcio, dando a impresso de que Ele se encontra mais preocupado com o que pode lucrar atravs de pedidos e reivindicaes, notadamente dos que sofrem. Em tudo isso, o discpulo missionrio reconhece que no pode existir caminho para o Deus revelado em e por Jesus Cristo, se no houver amor (cf. 1Jo 4,7.20-21). O discpulo missionrio sempre desconar (cf. 1Jo 4,1) das propostas religiosas que no brotem do amor nem levem a ele. Viver, pois, o encontro com Jesus Cristo implica necessariamente amor, gratuidade, alteridade, unidade, eclesialidade, delidade, perdo e reconciliao. Torna o discpulo missionrio rmemente enraizado e edicado em Cristo Jesus (cf. Ef 3,17; Cl 2,7), semelhana da casa que se constri sobre a rocha (cf. Mt 7,24-27). Assim, cada discpulo missionrio, junto com toda a Igreja, comunidade dos discpulos missionrios, torna-se fonte de paz, justia, concrdia e solidariedade. Signica contemplar Jesus Cristo em constante atitude de sada de si, de desprendimento e esvaziamento. Signica acolher o mistrio divino como contnuo transbordar do amor do Pai pelo Filho, no Esprito. Implica dilogo, unidade na diversidade, partilha, compreenso, tolerncia, respeito, reconciliao e, consequentemente, misso.

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CAPTULO II

MARCAS DE NOSSO TEMPO

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O discpulo missionrio sabe que, para efetivamente anunciar o Evangelho, deve conhecer a realidade sua volta e nela mergulhar com o olhar da f, em atitude de discernimento. Como o Filho de Deus assumiu a condio humana, exceto o pecado, nascendo e vivendo em determinado povo e realidade histrica (cf. Lc 2,1-2), ns, como discpulos missionrios, anunciamos os valores do Evangelho do Reino na realidade que nos cerca, luz da Pessoa, da Vida e da Palavra de Jesus Cristo, Senhor e Salvador. O Conclio Vaticano II nos conclama a considerar atentamente a realidade, para nela viver e testemunhar nossa f, solidrios a todos, especialmente aos mais pobres. Sabemos, porm, que nem sempre fcil compreender a realidade. Ela sempre mais complexa do que podemos imaginar. Nela existem luzes e sombras, alegrias e preocupaes.10 Da a contnua atitude de dilogo, de evanglica viso crtica, na busca de elementos comuns que permitam, em meio diversidade de compreenses, estabelecer fundamentos para a ao.

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DGAE 2008-2010, n. 12. cf. GS, n. 1.

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A Conferncia de Aparecida nos oferece rica indicao,11 ao recordar que vivemos um tempo de transformaes profundas, que afetam no apenas este ou aquele aspecto da realidade, mas a realidade como um todo, chegando aos critrios de compreenso e julgamento da vida. Estamos diante de uma globalizao que no apenas geogrca, no sentido de atingir todos os recantos do planeta. Estamos, na verdade, diante de transformaes que atingem tambm todos os setores da vida humana, de modo que j no vivemos uma poca de mudanas, mas uma mudana de poca.12 O que antes era certeza, at bem pouco tempo, servindo como referncia para viver, tem se mostrado insuciente para responder a situaes novas, deixando as pessoas estressadas ou desnorteadas.13 Mudanas de poca so, de fato, tempos desnorteadores, pois afetam os critrios de compreenso, os valores mais profundos, a partir dos quais se armam identidades e se estabelecem aes e relaes. Vrias atitudes podem, ento, surgir nestes perodos histricos. Duas, no entanto, se destacam. De um lado, o agudo relativismo, prprio de quem, no devidamente enraizado, oscila entre as inmeras possibilidades oferecidas. De outro, so os fundamentalismos que, se fechando em determinados aspectos, no consideram a pluralidade e o carter histrico da realidade como um todo. Estas duas atitudes desdobram-se em outras tantas como, por exemplo, o laicismo militante, com posturas fortes contra a Igreja e a Verdade do Evangelho; a irracionalidade da chamada cultura miditica; o amoralismo generalizado; as atitudes de desrespeitoDAp, nn. 33-100 e DGAE 2008-2010, nn. 12-46. DGAE 2088-2010, n. 13. DGAE 2088-2010, n. 21.

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diante do povo; um projeto de nao que nem sempre considera adequadamente os anseios deste mesmo povo. 21. Os critrios que regem as leis do mercado, do lucro e dos bens materiais regulam tambm as relaes humanas, familiares e sociais, incluindo certas atitudes religiosas. Crescem as propostas de felicidade, realizao e sucesso pessoal, em detrimento do bem comum e da solidariedade. No raras vezes, o individualismo desconsidera as atitudes altrustas, solidrias e fraternas. Por vezes, os pobres so considerados supruos e descartveis.14 Desta forma, cam comprometidos o equilbrio entre os povos e naes, a preservao da natureza, o acesso terra para trabalho e renda, entre outros fatores. preciso pensar na funo do Estado, na redescoberta de valores ticos, para a superao da corrupo, da violncia, do narcotrco, bem como o trco de pessoas e armamentos. A conscincia de concidadania est comprometida. Em situao de contradies e perplexidades, o discpulo missionrio reage, segundo o esprito das bem-aventuranas (cf. Mt 5,1ss), em defesa e promoo da vida, negada ou ameaada por vrias formas de banalizao e desrespeito. Como no reagir diante da manipulao de embries, homicdios, prtica do aborto provocado, ausncia de condies mnimas para uma vida digna com educao, sade, trabalho, moradia, enm, da ausncia de efetiva proteo vida e famlia, s crianas e idosos, com jovens despreparados sem oportunidade para ocupao prossional? O discpulo missionrio observa, com preocupao, o surgimento de certas prticas e vivncias religiosas, predominantemente ligadas ao emocionalismo e aoDGAE 2008-2010, n. 25; DAp, nn. 65 e 402.

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sentimentalismo. O fenmeno do individualismo penetra at mesmo certos ambientes religiosos, na busca da prpria satisfao, prescinde-se do bem maior, o amor de Deus e o servio aos semelhantes. Oportunistas manipulam a mensagem do Evangelho em causa prpria, incutindo a mentalidade de barganha por milagres e prodgios, voltados para benefcios particulares, em geral vinculados aos bens materiais. Exclui-se a salvao em Cristo, que passa a ser apresentada como sinnimo de prosperidade material, sade fsica e realizao afetiva. Reduzem-se, deste modo, o sentido de pertena e o compromisso comunitrio-institucional. Surge uma experincia religiosa de momentos, rotatividade, individualizao e comercializao. J no mais a pessoa que se coloca na presena de Deus, como servo atento (cf. 1Sm 3,9-10), mas a iluso de que Deus pode estar a servio das pessoas. 23. Importa discernir os motivos pelos quais uma iluso to grave assim acaba por adquirir fora em nossos dias. As causas so muitas e interligadas. Dizem respeito s incontveis carncias das mnimas condies que grande parte de nossa populao tem para enfrentar problemas ligados sade, moradia, ao trabalho e s questes de natureza afetiva. Dizem ainda respeito s incertezas de um tempo de transformaes, que levam algumas pessoas a buscarem tbuas de salvao, agarrando-se ao que mais imediatamente se encontra ao alcance. Assim, surgem os diversos tipos de fundamentalismo que atingem o modo da leitura bblica e os demais aspectos da vida humana e social. Quando aliado ao individualismo, o fundamentalismo torna-se ainda mais perigoso, pois impede que se perceba o outro como diferente. Este, contudo, tambm apelo ao encontro e ao convvio. O amor ao prximo,

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especialmente aos mais pobres, tende a desaparecer destas propostas, que acabam se tornando uma espcie de culto de si mesmo. 24. Tempos de transformaes to radicais, por certo, nos aigem, mas tambm nos desaam a discernir, na fora do Esprito Santo, os sinais dos tempos.15 Mudanas de poca pedem um tipo especco de ao evangelizadora, a qual, sem deixar de lado aspectos urgentes e graves da vida humana, preocupa-se em ajudar a encontrar e estabelecer critrios, valores e princpios.16 So tempos propcios para volta s fontes e busca dos aspectos centrais da f. Esta a grande diretriz evangelizadora que, neste incio de sculo XXI, acompanha a Igreja: no colocar outro fundamento que no seja Jesus Cristo, o mesmo ontem, hoje e sempre (cf. Hb 13,8).17 A espiritualidade, a vivncia da f e do compromisso de converso e transformao nos orientam para a construo da caridade, da justia, da paz, a partir das pessoas e dos ambientes onde h diviso, desafetos, disputas pelo poder ou por posies sociais. Este um tempo em que, atravs de novo ardor, novos mtodos e nova expresso,18 respondamos missionariamente mudana de poca com o recomear a partir de Jesus Cristo.

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DGAE 2008-2010, n. 12. EN, n. 19. NMN, n. 29. JOO PAULO II, Homilia em 9 de maro de 1983, na Catedral de Nossa Senhora do Perptuo Socorro, em Porto Prncipe, Hai , por ocasio da abertura da 19 Assembleia Geral do Conselho Episcopal La no-Americano CELAM.

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CAPTULO III

U R G N C I A S N A A O E VA N G E L I Z A D O R A

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Quando a realidade se transforma, devem, igualmente, se transformarem os caminhos pelos quais passa a ao evangelizadora. Instrumentos e mtodos que deram certo em outros momentos histricos, com resultados que nos alegram profundamente, podem no apresentar, em nossos dias, condies de transmitir e sustentar a f. Enquanto, em outros perodos da histria, os discpulos missionrios precisaram dar as razes de sua esperana como consequncia de critrios rmemente aplicados, em nossos dias, so os prprios critrios que vm experimentando abalo. Para no poucas pessoas a incerteza sobre como julgar a realidade e com ela interagir muito grande. Por isso, estamos em uma mudana de poca, pois ela j no atinge somente este ou aquele aspecto concreto da existncia. As mudanas de poca atingem os prprios critrios de compreender a vida, tudo o que a ela diz respeito, inclusive a prpria maneira de entender Deus. O nome de Jesus Cristo utilizado para expressar atitudes at mesmo opostas ao Reino de Deus, deixando confusos os que querem efetivamente viver o discipulado missionrio. Esta a razo pela qual a Conferncia de Aparecida nos convoca a ultrapassar uma pastoral de mera conservao

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ou manuteno para assumir uma pastoral decididamente missionria, numa atitude que, corajosa e profeticamente, chamou de converso pastoral.19 Assim como indica o desao da mudana de poca, Aparecida aponta a converso pastoral como caminho para a ao evangelizadora. Uma verdadeira converso pastoral deve estimular-nos e inspirar-nos atitudes e iniciativas de autoavaliao e coragem de mudar vrias estruturas pastorais em todos os nveis, servios, organismos, movimentos e associaes. Temos necessidade urgente de viver na Igreja a paixo que norteia a vida de Jesus Cristo: o Reino de Deus, fonte de graa, justia, paz e amor. Por esse Reino, o Senhor deu a vida.20 27. Por certo, ao reconhecer a mudana de poca como o maior desao a ser atualmente enfrentado, o discpulo missionrio no se esquece das ameaas vida de pessoas, povos e at mesmo de todo o planeta.21 Estas ameaas permanecem e necessitam ser, corajosa e profeticamente, enfrentadas. Contudo, neste enfrentamento, o discpulo missionrio se depara com a fragilidade dos critrios para ver, julgar e agir. Olhar, portanto, para a mudana de poca e para o necessrio (re)enraizamento de critrios, longe de signicar o afastamento dos problemas concretos e urgentes da vida de nosso povo, signica buscar uma base realmente slida para enfrent-los. Caso contrrio, o discpulo missionrio poder ser como o construtor ou o chefe que, no reconhecendo os novos desaos, v a misso fracassar (cf. Lc 10,28-32). Voltar s fontes e recomear a partir de

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DAp, n. 370. DGAE 2008-2010, n. 46. CNBB, A criao geme em dores de parto. Fraternidade e Vida no Planeta, Campanha da Fraternidade 2011.

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Jesus Cristo,22 longe de signicar a preocupao consigo mesma, coloca a Igreja no mesmo caminho do amor-servio aos sofredores desta terra. Porque deseja servir, a Igreja reconhece o momento histrico em que se encontra, sendo convocada a buscar caminhos para a transmisso e a sedimentao da f, mesmo que, para isso, precise abandonar estruturas ultrapassadas que j no facilitem mais a transmisso da f.23 28. , pois, neste sentido, que emergem algumas urgncias na evangelizao que, por isso mesmo, devem estar presentes em todos os processos de planejamento e nos consequentes planos, independentemente do local onde as aes evangelizadoras aconteam. Tais urgncias dizem respeito busca e ao encontro de caminhos para a transmisso e a sedimentao da f, neste perodo histrico de transformaes profundas. So o elo entre tudo que se faz em termos de evangelizao em todo o Brasil. Mostram uma Igreja em comunho com sua histria, com as concluses da Conferncia de Aparecida e, por isso mesmo, com as demais Igrejas no Continente e com a realidade perplexa e sofrida do povo. Por tudo isso, a Igreja no Brasil se empenhar em ser uma Igreja em estado permanente de misso, casa da iniciao vida crist, fonte da animao bblica de toda a vida, comunidade de comunidades, a servio da vida em todas as suas instncias. Estes aspectos encontram-se inevitavelmente ligados, de tal modo que assumir um deles exige que se assumam os outros. Esto sempre presentes na vida da Igreja, pois se referem a Jesus Cristo, Igreja, DAp, nn. 12, 41 e 549. DAp, n. 365.

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vida comunitria, Palavra de Deus como alimento para a f, Eucaristia como alimento para a vida eterna e para o servio ao Reino de Deus. Por seu testemunho e por suas aes pastorais, a Igreja suscita o desejo de encontrar Jesus Cristo. Este encontro se d atravs do mergulho gradativo no mistrio do Redentor. Da a importncia da iniciao vida crist, a qual no acontece plenamente se no se tem contato com a Escritura.24 Alimentando, iluminando e orientando toda a ao pastoral, a Bblia transborda para a totalidade da existncia de pessoas e grupos, tornandose luz para o caminho (cf. Sl 119,105). Transformados por Jesus Cristo e comprometidos com o Reino de Deus, os discpulos missionrios formam comunidades que no podem fechar-se em si mesmas, ao estilo de guetos ou ilhas. Por suas atitudes fraternas e solidrias, trabalhando incessantemente pela vida em todas as suas instncias, tornam-se sinais de que o Reino de Deus vai se manifestando em nosso meio (cf. Mt 11,2-6; At 2,42), na vitria sobre o pecado e suas consequncias.

3.1. Igreja em estado permanente de missoIde pelo mundo inteiro e anunciai a Boa Nova a toda criatura! Quem crer e for batizado ser salvo! (Mc 16,15) 30. Jesus Cristo, o grande missionrio do Pai, envia, pela fora do Esprito, seus discpulos em constante atitude de misso (Mc 16,15). Quem se apaixona por Jesus Cristo deve igualmente transbordar Jesus Cristo, no testemunho e no

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VD, n. 23-25.

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anncio explcito de sua Pessoa e Mensagem. A Igreja indispensavelmente missionria.25 Existe para anunciar, por gestos e palavras, a pessoa e a mensagem de Jesus Cristo. Fechar-se dimenso missionria implica fechar-se ao Esprito Santo, sempre presente, atuante, impulsionador e defensor (Jo 14,16; Mt 10,19-20). Em toda a sua histria, a Igreja nunca deixou de ser missionria. Em cada tempo e lugar, esta misso assume perspectivas distintas, nunca, porm, deixa de acontecer. Se hoje partilhamos a experincia crist, porque algum nos transmitiu a beleza da f, apresentou-nos Jesus Cristo, acolheu-nos na comunidade eclesial e nos fascinou pelo servio ao Reino de Deus. 31. No atual perodo da histria, marcado pela mudana de poca, a misso assume um rosto prprio, com, pelo menos, trs caractersticas: urgncia, amplitude, incluso. A misso urgente em decorrncia da oscilao de critrios. ampla e includente, porque reconhece que todas as situaes, tempos e locais so seus interlocutores. At mesmo o discpulo missionrio , para si, um destinatrio da misso, na medida em que est inserido nesta mudana de poca, com referncias cidas e valores nem sempre efetivamente sedimentados (Mt 13,5-6.20-21). Trata-se, portanto, de suscitar, em cada batizado e em cada forma de organizao eclesial, uma forte conscincia missionria, sem a qual os discpulos missionrios no contribuiro efetivamente para o novo que haver de surgir na histria. A atual conscincia missionria interpela o discpulo missionrio a sair ao encontro das pessoas, das famlias, das comunidades e dos povos para lhes comunicar e compartilhar o dom do encontro com Cristo.26 Estamos numDAp, n. 347. DAp, n. 548.

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tempo de urgente sada em todas as direes para proclamar que o mal e a morte no tm a ltima palavra,27 um tempo de esquecer o que cou para trs e correr em busca dAquele que j nos alcanou (cf. Fl 3,12-14), um tempo que deve levar a uma forte comoo missionria.28 32. Na medida em que as mudanas de poca atingem os critrios de compreenso, os valores e as referncias, os quais j no se transmitem mais com a mesma uidez de outros tempos,29 torna-se indispensvel anunciar Jesus Cristo, apresentando, com clareza e fora testemunhal, quem Ele e qual sua proposta para toda a humanidade.30 No se trata, por certo, de estabelecer uma espcie de concorrncia religiosa, ingressando na competio por maior nmero de is. Tampouco se trata de busca de privilgios para a Igreja que, em todos os tempos, chamada a ser serva humilde e despojada (cf. Lc 17,7-10). Trata-se de se reconhecer que o distanciamento em relao a Jesus Cristo e ao Reino de Deus traz graves consequncias para toda a humanidade. Estas consequncias no so percebidas apenas pela reduo numrica dos catlicos. Elas so igualmente sentidas principalmente nas inmeras formas de desrespeito e mesmo de destruio da vida. Todas as formas de violncia e excluso revelam o distanciamento de Jesus e do Reino. So as ameaas vida, frutos de uma cultura de morte,31 que questionam os discpulos missionrios a anunciarem, principalmente atravs do testemunho, a beleza do Reino de Deus, que vida, paz, concrdia, reconciliao (cf. Gl 5,22s). Os discpulos missionrios sabem queDAp, n. 548. DAp, n. 362. DAp, n. 38-39. DAp, n. 348. DAp, n. 358.

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no lhes cabe a exclusividade na construo da nova poca que est para surgir. Esta conscincia, no entanto, no lhes exime da responsabilidade por testemunhar e anunciar Jesus Cristo e o Reino de Deus, fazendo-o oportuna e inoportunamente (2Tm 4,2). 33. Neste redescobrir missionrio, emerge, em primeiro lugar, o papel de cada pessoa batizada em todos os lugares e situaes em que se encontrar. Trata-se do testemunho pessoal, base sobre a qual o explcito anncio haver de ser construdo.32 Perodos histricos com menores doses de incerteza e oscilao oferecem aos discpulos missionrios referncias de valores que desaparecem nas mudanas de poca, deixando-os sozinhos em meio grande diversidade de valores e crenas. Este, portanto, um tempo do testemunho! Em virtude do enfraquecimento das instituies e das tradies, cresce a responsabilidade pessoal. Em outras pocas, instituies e tradies protegiam bem mais os indivduos. Nesta mudana de poca, instituies e tradies tendem a ser socioculturalmente julgadas com base na ao dos indivduos. Ningum, em s conscincia, deseja colaborar para o mal. Em tempos de perplexidade e incertezas, os discpulos missionrios sabem que necessitam de rigor ainda maior naquilo que sentem, pensam e fazem. Devem vericar se, em razo das perplexidades e incertezas, no esto, de algum modo, deixando de realmente defender, promover e testemunhar a vida em todas as suas instncias. Em segundo lugar, surge a urgncia de pensar estruturas pastorais que favoream a realizao da atual conscincia missionria. Esta deve impregnar todas as estruturasEN, n. 21.

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eclesiais e todos os planos pastorais,33 a ponto de deixar para trs prticas, costumes e estruturas que, ao corresponderem a outros momentos histricos, j no tm atualmente grandes condies de favorecer a transmisso da f, como lembra Aparecida.34 No se trata, portanto, de negar tudo que j foi feito em outras pocas, mas de reconhecer que, nesta mudana de poca, preciso agir com rmeza e rapidez. neste sentido que se entende a convocao de Aparecida converso pastoral, atravs da qual se ultrapassam os limites de uma pastoral de mera conservao para uma pastoral decididamente missionria.35 35. Surgem, deste modo, imperativos que colocam a Igreja em estado permanente de misso.36 No se trata, portanto, de conceber a atitude missionria ao lado de outros servios ou atividades, mas de dar a tudo que se faz um sentido missionrio, estabelecendo, neste conjunto de atividades desenvolvidas, algumas urgncias que ajudem todos os batizados a efetivamente se reconhecerem como missionrios. A Igreja no Brasil refora, assim, seu compromisso com a Misso Continental.37 Este o grande servio que a Igreja, discpula missionria de Jesus Cristo, chamada a prestar neste momento da histria. Em atitude de dilogo, cabe-lhe anunciar e reanunciar a pessoa e a mensagem de seu Mestre, conclamando comunho todos os seres humanos, para a busca da cultura da vida, a caminho do Reino denitivo.

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DAp, n. 365. DAp, n. 365. DAp, n. 370. DAp, n. 551. DAp, nn. 550-551, DGAE 2008-2010, nn. 211-212.

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3.2. Igreja: casa da iniciao vida cristPaulo e Silas anunciaram a Palavra do Senhor ao carcereiro e a todos os da sua casa. E, imediatamente, foi batizado, junto com todos os seus familiares (At 16,32s) 37. A f dom de Deus! No se comea a ser cristo por uma deciso tica ou uma grande ideia, mas pelo encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que d um novo horizonte vida e, com isso, uma orientao decisiva.38 Por sua vez, este encontro mediado pela ao da Igreja, ao que se concretiza em cada tempo e lugar, de acordo com o jeito de ser de cada povo, de cada cultura. A descoberta do amor de Deus manifestado em Jesus Cristo, dom salvco para toda a humanidade, no acontece sem a mediao dos outros (Rm 10,14). Cada tempo e cada lugar tm um modo caracterstico para apresentar Jesus Cristo e suscitar nos coraes o seguimento apaixonado no a algo, mas sua pessoa, que a todos convida para com Ele vincular-se intimamente.39 A admirao pela pessoa de Jesus, seu chamado e seu olhar de amor despertam uma resposta consciente e livre desde o mais ntimo do corao do discpulo.40 Todavia, como resposta, a adeso a Jesus Cristo implica anncio, apresentao, proclamao. Em outras pocas, a apresentao de Jesus Cristo se dava atravs de um mundo que se concebia cristo. Famlia, escola e sociedade em geral, ao mesmo tempo em que ajudavam a seDCE, n. 1, DAp, nn. 12, 243-244. DAp, n. 131. DAp, n. 136.

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inserir na cultura, apresentavam tambm a pessoa e a mensagem de Jesus Cristo. 39. Sabemos que, em nossos dias, meios utilizados em outros tempos para o anncio de Jesus Cristo j no possuem a mesma eccia de antes. Olhemos, por exemplo, a famlia, chamada a ser a grande transmissora da f e dos valores.41 Tamanhas tm sido as transformaes que a instituio familiar j no possui o mesmo flego de outras pocas para cumprir esta misso indispensvel. O mesmo ocorre com outras instituies importantes. Esta situao exige uma radical transformao no modo de concretizar a ao evangelizadora. Em outras pocas, era possvel pressupor que o primeiro contato com a pessoa e a mensagem de Jesus Cristo acontecia em sociedade, possibilitado pelos diversos mecanismos culturais, fazendo com que a ao evangelizadora se preocupasse mais com a puricao e a retido doutrinais, com a moral e com os sacramentos. A mudana de poca exige que o anncio de Jesus Cristo no seja mais pressuposto, porm explicitado continuamente. O estado permanente de misso s possvel a partir de uma efetiva iniciao vida crist. Esta a razo pela qual cresce o incentivo iniciao vida crist, grande desao que questiona a fundo a maneira como estamos educando na f e como estamos alimentando a experincia crist.42 Trata-se, portanto, de desenvolver, em nossas comunidades, um processo de iniciao vida crist que conduza a um encontro pessoal, cada vez maior com Jesus Cristo,43 atitude que deve ser assumida em todo o continente latino-americano e, portanto,DAp, n. 432. DAp, n. 287. DAp, n. 289.

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tambm no Brasil.44 Este um dos mais urgentes sentidos do termo misso em nossos dias. o desao de anunciar Jesus Cristo, recomeando a partir dele, sem dar nada como pressuposto ou descontado.45 preciso ajudar as pessoas a conhecer Jesus Cristo, fascinar-se por Ele e optar por segui-lo. 41. A Conferncia de Aparecida, alm de elevar a iniciao vida crist categoria de urgncia, lembra que ela deve acontecer no apenas uma nica vez na vida de cada pessoa. A iniciao crist no se esgota na preparao aos sacramentos do Batismo, Crisma e Eucaristia. Ela se refere adeso a Jesus Cristo. Esta adeso deve ser feita pela primeira vez, mas refeita, fortalecida e raticada tantas vezes quantas o cotidiano exigir.46 Ela acontece, por exemplo, quando chegam os lhos, quando o adolescente busca sua identidade, quando o jovem prepara suas escolhas futuras, no noivado e no matrimnio, nas experincias de dor e fragilidade. Nossas comunidades precisam ser comunidades diuturnamente mistaggicas, preparadas para permitir que o encontro com Jesus Cristo47 se faa e se refaa permanentemente. Esta perspectiva eminentemente catecumenal de nossas comunidades apresenta uma srie de consequncias para a ao evangelizadora. Em primeiro lugar, o processo permanente de iniciao apresenta uma srie de exigncias para a evangelizao: acolhida, dilogo, partilha, bem como maior familiaridade com a Palavra de Deus e a vida em comunidade. Em segundo lugar, implica estruturas,DAp, n. 294. DAp, n. 549. DAp, n. 288. DAp, nn. 246-257, 278.

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isto , grupos de estilo catecumenal nos mais diversos lugares e horrios, sempre disponveis a acolher, apresentar Jesus Cristo e dar as razes da nossa esperana (1Pd 3,15). Implica, assim, um novo perl de agente evangelizador, no qual o Ministrio dos(as) introdutores(as)48 e catequistas assuma papel preponderante. Eles so a ponte entre o corao que busca descobrir ou redescobrir Jesus Cristo e Seu seguimento na comunidade de irmos, em atitudes coerentes e na misso de colaborar na edicao do Reino de Deus. 43. No servio do acolhimento, que inicia ou reinicia no encontro com Jesus Cristo e com a comunidade dos discpulos, a ao evangelizadora se pe em dilogo com o atual momento da histria, que pede o anncio explcito e contnuo de Jesus Cristo e o chamado comunho, como atitude decorrente para a vivncia de f e para a vida em geral.

3.3. Igreja: lugar de animao bblica da vida e da pastoralToda Escritura inspirada por Deus e til para ensinar, para argumentar, para corrigir, para educar conforme a justia (2Tm 3,16) 44. Deus se d a conhecer no dilogo que estabelece conosco.49 Quem conhece a Palavra divina conhece plenamente tambm o signicado de cada criatura50 A Palavra divina,Pessoa que conhece o candidato ao Ba smo, acompanha e testemunha de seus costumes, f e desejo de receber os sacramentos. No necessariamente o padrinho ou madrinha (Cf. Ritual de Iniciao Crist de Adultos, n. 42). DV, n. 15; VD, n. 6. VD, n. 10.

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pronunciada no tempo, deu-Se e entregou-Se Igreja denitivamente para que o anncio da salvao possa ser ecazmente comunicado em todos os tempos e lugares [] Disto conclui-se como importante que o Povo de Deus seja educado e formado claramente para se abeirar das Sagradas Escrituras na sua relao com a Tradio viva da Igreja, reconhecendo nelas a prpria Palavra de Deus.51 45. Vinculado iniciao vida crist, o atual momento da ao evangelizadora convida o discpulo missionrio a redescobrir o contato pessoal e comunitrio com a Palavra de Deus como lugar privilegiado de encontro com Jesus Cristo.52 Na alvorada do terceiro milnio, no s existem muitos povos que ainda no conheceram a Boa Nova, mas h tambm muitos cristos que tm necessidade que lhes seja anunciada novamente, de modo persuasivo, a Palavra de Deus, para poderem assim experimentar concretamente a fora do Evangelho.53 A Igreja hoje tem conscincia de que particularmente as novas geraes tm necessidade de ser introduzidas na Palavra de Deus atravs do encontro e do testemunho autntico do adulto, da inuncia positiva dos amigos e da grande companhia que a comunidade eclesial.54 No se trata, por certo, de nos voltarmos para a Palavra de Deus como atitude momentnea, fruto do atual perodo da histria. Trata-se de redescobrir, mais ainda, que o contato profundo e vivencial com as Escrituras condio indispensvel para encontrar a pessoa e a mensagem Jesus

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VD, nn. 17-18. DAp, nn. 247-249. VD, n. 96. VD, n. 97.

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Cristo e aderir ao Reino de Deus.55 Deste modo, iniciao vida crist e Palavra de Deus esto intimamente ligadas. Uma no pode acontecer sem a outra, pois ignorar as Escrituras ignorar o prprio Cristo.56 Este um tempo muito rico para que cada pessoa seja iniciada na contemplao da vida, luz da Palavra e no empenho para que ela seja efetivamente colocada em prtica (Tg 1,22-25). 47. , pois, no contato eclesial com a Palavra de Deus que o discpulo missionrio, permanecendo el, vai encontrar foras para atravessar um perodo histrico de pluralismo e grandes incertezas. Bombardeado a todo o momento por questes que lhe desaam a f, a tica e a esperana, o discpulo missionrio precisa estar de tal modo familiarizado com a Palavra de Deus e com o Deus da Palavra que, mesmo abalado pelas presses, continue solidamente rmado em Cristo Jesus e, por seu testemunho, converta os coraes que o questionam (cf. At 16,16-34). No h, pois, discpulo missionrio sem efetivo contato com a Palavra de Deus, um contato que atinge toda a vida e que transmitido aos irmos e irms. Esse encontro gera solidariedade, justia, reconciliao, paz e defesa de toda a criao. Dirige-se a crianas, jovens, adultos, idosos, migrantes, doentes, pobres e pecadores.57 Nosso tempo traz em si uma ambiguidade. Estamos num tempo de muitas falas, muitos rudos, muito barulho, incertezas e crise de referncias. O mundo fala, mas tem sede de palavra que guia, tranquiliza, impulsiona, envolve, ajuda a discernir. O mundo tem sede, portanto, da Palavra de Deus. Nosso tempo carece de conhecer verdadeiramenteDAp, n. 247. S. Jernimo, Prlogo ao Comentrio sobre o Livro do Profeta Isaas, N 1.2: CCL 73, 1-3. VD, nn. 99-108.

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a Palavra, deixar-se apaixonar por ela e, com ela, caminhar pelas sendas do Reino. O mundo informatizado tem contribudo com o enriquecimento dos conhecimentos e a conscientizao da realidade. Tem igualmente sobrecarregado a vida das pessoas de informaes, muitas delas contraditrias, distorcidas e no ticas. Este um dos graves rudos que tem atingido a todos, principalmente os jovens. O atual excesso de informaes no contempla uma formao adequada que os auxilie na sntese, no discernimento, nas escolhas. O desao para o jovem assim como para todos os que aceitam Jesus como caminho escutar a voz de Cristo em meio a tantas outras vozes.58 49. Infelizmente, em meio a tantos rudos, tambm podemos constatar que a Bblia, algumas vezes, no usada como luz para a vida. Ao contrrio, instrumentalizada at mesmo para engodo. Cabe ao discpulo missionrio no se abater diante de tamanha manipulao da Escritura. Se, por amor, Jesus Cristo, Palavra eterna do Pai, se entregou para a nossa salvao, como se abater ao constatar que a Escritura parece refm de quem busca apenas o benefcio prprio? Assim como Ele venceu a morte e o pecado, o discpulo missionrio de hoje chamado a ultrapassar as teias da manipulao bblica e fazer a Palavra brilhar (Mt 5,14-16), como fonte de vida, justia e paz. Neste contato, o discpulo missionrio haver de reconhecer e testemunhar que a Palavra de Deus e como tal deve ser acolhida e praticada. Isto signica assumir que, no contato com a Palavra, no se trata de um encontro entre dois contraentes iguais; aquilo que designamos por Antiga e Nova Aliana no um ato de entendimentoCNBB, Evangelizao da Juventude; Documento 85, n. 60.

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entre duas partes iguais, mas puro dom de Deus.59 No o discpulo missionrio que indica Palavra o que ela deve dizer. Antes, o discpulo missionrio um ouvinte da Palavra (Is 50,5). Ele a acolhe na gratuidade e na alteridade, deixando-se apaixonadamente interpelar. 51. Ao se curvar diante da Palavra, o discpulo missionrio sabe que no o faz isoladamente. Ele acolhe o dom da Palavra na comunho com esta mesma Palavra e com todos que tambm a acolhem. Acolhe o dom da Palavra na Igreja e com toda a Igreja. Assim, a Palavra saboreada na alteridade, na gratuidade e tambm na eclesialidade. Quanto bem tem feito, pelo Brasil afora, nas mais diversas realidades, a leitura da vida luz da Palavra! Quantas comunidades se nutrem dominicalmente da Palavra de Deus, experimentando a fora deste alimento salutar!60 Quanta riqueza evangelizadora acontece nos Crculos Bblicos, nos Grupos de Reexo, nos Grupos de Quadra e outros similares! So vrios os mtodos de leitura da Bblia.61 A Conferncia de Aparecida destacou a Leitura Orante como caminho para o encontro com a Palavra de Deus. Nela, o discpulo missionrio acolhe a Palavra como dom, mergulha na riqueza do texto sagrado e, sob o impulso do Esprito, assimila esta Palavra na vida e na misso. Em meio agitao cotidiana, notadamente nas grandes cidades, onde o tempo se tornou uma questo crucial, a Leitura Orante permite ao discpulo missionrio estabelecer uma relao com a Palavra de Deus a qualquer momento e em qualquer lugar. Assim como dois amigos so capazes de seVD, n. 22. DAp, n. 253. VD, n. 29.

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identicar em meio multido, o discpulo missionrio, atravs do exerccio da Leitura Orante, aprende a estabelecer contato com a Palavra de Deus e com o Deus da Palavra, ainda que em meio agitao diria. 53. Por tudo isso, o discpulo missionrio compreende a expresso do salmista, quando diz que a Palavra de Deus luz para sua vida (Sl 119,105). Ao fazer esta experincia, ele une profundamente sua palavra Palavra de Deus. Reza com a Palavra, reza a Palavra. Eis por que podemos dizer que a animao bblica de toda a pastoral vai alm de uma pastoral bblica especializada,62 quer nos conduzir a uma iluminao bblica de toda a vida, porque um caminho de conhecimento e interpretao da Palavra, um caminho de comunho e orao com a Palavra e um caminho de evangelizao e proclamao da Palavra. O contato interpretativo, orante e vivencial com a Palavra de Deus no forma, necessariamente, doutores. Forma santos.63 Esta perspectiva deve orientar tambm a formao inicial e permanente dos presbteros. A Igreja, como casa da Palavra deve, antes de tudo, privilegiar a Liturgia, pois esta o mbito privilegiado onde Deus fala comunidade. Nela Deus fala e o povo escuta e responde. Cada ao litrgica est, por sua natureza, impregnada da Escritura Sagrada.64 Como consequncia do servio que disponibiliza ainda mais a Palavra de Deus, cada discpulo missionrio se descobre preparado para o dilogo com uma mentalidade que, sob diversas formas, o interpela. Pela rmeza emDAp, n. 248; VD, n. 73. VD, nn. 49; 77. Cf. VD, n. 52.

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seus valores e referncias, faz de sua vida um verdadeiro anncio do que podem ser os novos tempos que esto para surgir, tempos de comunho, que brota da Palavra, gerando vida e paz.

3.4. Igreja: comunidade de comunidadess Igrejas da Galcia, a vs graa e paz da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo (Gl 1,2s). 56. O discpulo missionrio de Jesus Cristo faz parte do Povo de Deus (cf. 1Pd 2,9-10; LG, n. 9) e necessariamente vive sua f em comunidade. A dimenso comunitria intrnseca ao mistrio e realidade da Igreja, que deve reetir a Santssima Trindade.65 Sem vida em comunidade, no h como efetivamente viver a proposta crist, isto , o Reino de Deus. A comunidade acolhe, forma e transforma, envia em misso, restaura, celebra, adverte e sustenta. Ao mesmo tempo em que se constata, nesta mudana de poca, uma forte tendncia ao individualismo, percebe-se igualmente a busca por vida comunitria. Esta busca nos recorda como importante a vida em fraternidade. Mostra tambm que o Esprito Santo acompanha a humanidade suscitando, em meio s transformaes da histria, a sede por unio e solidariedade. Em nossos dias, alm das comunidades territorialmente estabelecidas, nos deparamos com comunidades transterritoriais, ambientais e afetivas. Constatamos tambm o rpido crescimento das comunidades virtuais, to presentes na cultura juvenil atual.

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DAp, n. 304.

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Estes fatos abrem o corao do discpulo missionrio a novos horizontes de concretizao comunitria. 57. As Diretrizes anteriores armavam: concretamente, para a maioria dos nossos is, a relao com a Igreja se restringe aos chamados servios paroquiais. a que a maioria das pessoas, atualmente, se relaciona com a Igreja. E concluam: por isso, as parquias tm um papel fundamental na evangelizao e precisam tornar-se sempre mais comunidades vivas e dinmicas de discpulos missionrios de Jesus.66 A busca sincera por Jesus Cristo faz surgir a correspondente busca por diversas formas de vida comunitria. Articuladas entre si, na partilha da f e na misso, estas comunidades se unem, dando lugar a verdadeiras redes de comunidades. Entre elas, encontram-se as Comunidades Eclesiais de Base67 e outras formas de novas comunidades,68 cada uma vivendo seu carisma, assumindo a misso evangelizadora de acordo com a realidade local e se articulando de modo a testemunhar a comunho na pluralidade. Comunidade implica necessariamente convvio, vnculos profundos, afetividade, interesses comuns, estabilidade e solidariedade nos sonhos, nas alegrias e nas dores. Um dos maiores desaos consiste em iluminar, com a Boa Nova, as experincias nos ambientes marcados por aguda urbanizao, para os quais vizinhana geogrca no signica necessariamente convvio, anidade e solidariedade. Outro grande desao encontra-se nos ambientes virtuais, onde a rapidez da comunicao e a liberdade em relaoDGAE 2008-2010, n. 154. DAp, nn. 178-180, 307-310. DAp, n. 180.

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s distncias geogrcas tornam-se grandes atrativos. Estas situaes conguram desaos para a ao evangelizadora, na medida em que nada substitui o contato pessoal. 60. No caminhar em busca de vida comunitria, constata-se a presena das comunidades eclesiais de base, as CEBs, que, alimentadas pela Palavra, pela fraternidade, pela orao e pela Eucaristia, so sinal, ainda hoje, de vitalidade da Igreja.69 So tambm presena eclesial junto aos mais simples, partilhando a vida e com ela se comprometendo em vista de uma sociedade justa e solidria. Veem-se atualmente desaadas a no esmorecer, mas a discernir, na comunho da Igreja, caminhos para enfrentar os desaos oriundos de um mundo plural, globalizado, urbanizado e individualista. Tambm elas se deparam com os desaos da mudana de poca. Num mundo plural, no se pode querer um nico modo de ser comunidade. O Esprito sopra onde quer e nenhuma concretizao comunitria possui o monoplio da ao deste mesmo Esprito. Nenhuma deve chamar para si a primazia sobre as demais, pois todos os membros do corpo possuem igual valor (1Cor 12,12ss). A comunidade eclesial deve abrir-se para acolher dinamicamente os vrios carismas, servios e ministrios. De cada uma dessas comunidades, exige-se que sejam aliceradas na Palavra de Deus, celebrem e vivam os sacramentos, manifestem seu compromisso evangelizador e missionrio, principalmente com os afastados, sejam solidrias com os mais pobres.70 O importante no confundir a natureza das comunidades71 e assim evitar concorrncias, desgastes inteis eCf. CNBB, Mensagem ao Povo de Deus sobre as CEBs Documento 92. DAp, n. 179. Cf. DAp, n. 15.

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ambiguidades. Todas as comunidades so convocadas a se unirem em torno das Diretrizes da Ao Evangelizadora da Igreja no Brasil e a assumirem os Planos Pastorais de cada Igreja Particular.72 62. O caminho para que a parquia se torne verdadeiramente uma comunidade de comunidades inevitvel, desaando a criatividade, o respeito mtuo, a sensibilidade para o momento histrico e a capacidade de agir com rapidez. Mesmo consciente de que processos humanos e transformaes de mentalidade no acontecem de uma hora para outra, a Igreja no Brasil se compromete em acelerar ainda mais o processo de animao e fortalecimento de efetivas comunidades, que buscam intensicar a vida crist por meio de autntico compromisso eclesial. A setorizao da parquia73 pode favorecer o nascimento de comunidades, pois valoriza os vnculos humanos e sociais. Assim, a Igreja se faz presente nas diversas realidades, vai ao encontro dos afastados, promove novas lideranas e a iniciao vida crist acontece no ambiente em que as pessoas vivem. Importa reconhecer que o investimento nestas pequenas comunidades traz consigo o desao de se pensar naqueles que as vo pastorear, bem como na diversicao dos ministrios conados aos leigos. A pastoral vocacional se torna prioritria neste novo momento da histria da evangelizao, sobretudo para o ministrio ordenado e a vida consagrada e para a sempre crescente adequao da formao diaconal e presbiteral, inicial e permanente. Deve ser sempre mais valorizada a atuao do laicato na

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DAp, n. 179. DAp, nn. 197, 172 e 372.

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animao das comunidades.74 No h como prescindir de sua participao na elaborao e execuo de projetos pastorais a favor da comunidade.75 Sob a orientao do bispo diocesano, presbteros, diconos, consagrados e leigos devem se unir em torno das grandes metas evangelizadoras e dos projetos pastorais que as concretizam. Uma Igreja com diversas formas de ser comunidade deve ser igualmente uma Igreja que testemunha a comunho de dons, servios e ministrios. 64. Em tempos de incerteza, individualismo e solido, a presena de uma comunidade prxima vida, s alegrias e s dores um servio, que urge apresentar a um mundo que necessita vencer a cultura de morte. Comunidades so escolas de dilogo interno e externo. So pontos de partida para o anncio do Deus da Vida, que acolhe, redime, purica, gera comunho e envia em misso.

3.5. Igreja a servio da vida plena para todosEu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundncia (Jo 10,10) 65. A vida dom de Deus! A grande novidade que a Igreja anuncia ao mundo que Jesus Cristo, o Filho de Deus feito homem, a Palavra e a Vida, veio ao mundo para nos fazer partcipes da natureza divina (2Pd 1,4), e para que participemos de sua prpria vida. a vida trinitria do Pai, do Filho e do Esprito Santo, a vida eterna.76 O Evangelho da vida est no centro da mensagem de Jesus.DAp, nn. 99c; 211 e 213. DAp, n. 213. DAp, n. 348.

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Amorosamente acolhido cada dia pela Igreja, h de ser el e corajosamente anunciado como Boa-Nova aos homens de todos os tempos e culturas.77 A Palavra de Deus ilumina o compromisso com a rede de comunidades e faz pulsar a vida do Esprito nas artrias da Igreja e em meio ao mundo. A misso dos discpulos o servio vida plena.78 66. A Igreja no Brasil sabe que nossos povos no querem andar pelas sombras da morte. Tm sede de vida e felicidade em Cristo.79 Por isso, proclama com vigor que as condies de vida de muitos abandonados, excludos e ignorados em sua misria e dor, contradizem o projeto do Pai e desaam os discpulos missionrios a maior compromisso a favor da cultura da vida.80 Ao longo de uma histria de solidariedade e compromisso com as incontveis vtimas das inmeras formas de destruio da vida, a Igreja se reconhece servidora do Deus da Vida. A nova poca que, pela graa deste mesmo Deus, haver de surgir precisa ser marcada pelo amor e pela valorizao da vida, em todas as suas dimenses. A omisso diante de tal desao ser cobrada por Deus e pela histria futura. Ao mergulhar nas profundezas da existncia humana, o discpulo missionrio abre seu corao para todas as formas de vida ameaada desde o seu incio at a morte natural. Na medida em que nenhuma vida existe apenas para si, mas para outras e para Deus, este um tempo mais do que propcio para a articulao e a integrao de todas as

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EV, n. 1. DAp, cap. VII. DAp, n. 350. DAp, n. 358.

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formas de paixo pela vida. S assim conseguiremos, de fato, vencer os tentculos da cultura de morte.81 68. atravs da promoo da cultura da vida que os discpulos missionrios de Jesus Cristo testemunham verdadeiramente sua f. Num tempo que tende a privilegiar o indivduo, a ganncia e o culto ao corpo em detrimento do bem comum, o discpulo missionrio sabe que Jesus Cristo veio dar a vida em resgate de todos, voltando-se de modo especial para a ovelha perdida, desgarrada, fragilizada.82 pelo amor-servio vida que o discpulo missionrio haver de pautar seu testemunho, numa Igreja que segue os passos de Jesus, adotando sua atitude,83 sendo pobre, despojada, sem bolsa nem alforje, colocando sua conana unicamente no Senhor (Lc 10,3-9). Contemplando os diversos rostos de sofredores, desta Terra de Santa Cruz, especialmente, os novos rostos dos pobres84 o discpulo missionrio enxerga, em cada um, o rosto de seu Senhor: chagado, destroado, agelado (Is 52,13ss).85 Seu amor por Jesus Cristo e Cristo Crucicado (1Cor 1,23-25) leva-o a buscar o Mestre em meio s situaes de morte (cf. Mt 25,31-46). Leva-o a no aceitar tais situaes de morte, sejam elas quais forem, envolvendo-se na preservao da vida. O discpulo missionrio no se cala diante da vida impedida de nascer seja por deciso individual, seja pela legalizao e despenalizao do aborto. No se cala igualmente diante da vida sem alimentao, casa, terra, trabalho, educao, sade, lazer,

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DGAE 2008-2010, n. 142. DAp, n. 30. DAp, n. 31. DAp, n. 402. DAp, nn. 32, 65 e 402.

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liberdade, esperana e f. Torna-se, deste modo, algum que sonha e se compromete com um mundo onde seja, efetivamente, reconhecido o direito a nascer, crescer, constituir famlia, seguir a vocao, crer e manifestar sua f, num mundo onde o perdo seja a regra; a reconciliao, meta de todos; a tolerncia e respeito, condio de felicidade; a gratuidade, vitria sobre a ambio. O discpulo missionrio reconhece que seu sonho por vida eterna leva-o a ser, j nesta vida, parceiro da vida e vida em plenitude. Da raticar e potencializar a opo preferencial pelos pobres,86 implcita f cristolgica naquele Deus que se fez pobre por ns, para nos enriquecer com sua pobreza.87 e que dever atravessar todas as suas estruturas e prioridades pastorais88 manifestando-se em opes e gestos concretos.89 70. De modo especial, ressalte-se a importncia da vida no planeta, dilapidada, tanto tica quanto ecologicamente, pelo uso ganancioso e irresponsvel. Nestes tempos de crescente conscincia ecolgica, a Igreja no Brasil, em linha de continuidade com o que faz h quatro dcadas, realizou, em 2011, a Campanha da Fraternidade para alertar que, assim como os lhos e lhas de Deus sofrem desrespeito e ameaas, o planeta inteiro se depara, como nunca, com o risco de degradao talvez irreversvel.90 Consciente de que precisa enfrentar as urgncias que decorrem da misria e da excluso, o discpulo missionrio tambm sabe que no pode restringir sua solidariedade ao

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DAp, nn. 396, 407-430. DAp, DI n. 3. DAp, n. 396. DAp, n. 397, cf. DCE, n. 28 e 31. CNBB, A criao geme em dores de parto. Fraternidade e Vida no Planeta, Campanha da Fraternidade 2011.

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gesto imediato da doao caritativa. Embora importante e mesmo indispensvel, a doao imediata do necessrio sobrevivncia no abrange a totalidade da opo pelos pobres. Antes de tudo, esta implica convvio, relacionamento fraterno, ateno, escuta, acompanhamento nas diculdades, buscando, a partir dos prprios pobres, a mudana de sua situao. Os pobres e excludos so sujeitos da evangelizao e da promoo humana integral.91 Em tudo isso, a Igreja reconhece a importncia da atuao no mundo da poltica e assim incentiva os leigos e leigas participao ativa e efetiva nos diversos setores diretamente voltados para a construo de um mundo mais justo, fraterno e solidrio.92 72. O servio testemunhal vida, de modo especial vida fragilizada e ameaada, a mais forte atitude de dilogo que o discpulo missionrio pode e deve estabelecer com uma realidade que sente o peso da cultura da morte. Na solidariedade de uma igreja samaritana,93 o discpulo missionrio vive o anncio de um mundo diferente que, acima de tudo, por amar a vida, convoca comunho efetiva entre todos os seres vivos.

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DAp, nn. 397-398. Cf. AA 7; LG, n. 35; ChL 3; DCE, n. 28; DAp, nn. 99f, 100c, 210. DAp, n. 27.

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CAPTULO IV

P E R S P E C T I V A S D E A O

73.

De nosso olhar como discpulos missionrios sobre marcas de nosso tempo (Cap. II), confrontado com as urgncias na ao evangelizadora (Cap. III), a partir de Jesus Cristo (Cap. I), derivam numerosos e complexos desaos pastorais. Em nosso imenso Brasil, as particularidades de cada contexto exigem que cada Igreja Particular responda a eles, a seu modo. Entretanto, em um mundo globalizado, alm de caractersticas comuns da realidade brasileira em suas diferentes regies, a delidade ao Evangelho no hoje de nosso tempo e o carter indispensvel do testemunho de unidade exigem uma ao orgnica em torno a alguns referenciais comuns. A proposta de algumas perspectivas de ao quer contribuir, por um lado, com uma Igreja comunho e participao,94 despertando a criatividade e fornecendo subsdios s diversas iniciativas de ao. Por outro, quer promover, nas Igrejas Particulares e entre elas, uma pastoral orgnica e de conjunto mais ecaz, pois, na perspectiva do Vaticano II, a Igreja Igreja de Igrejas.95 Trata-se de linhas e formas de ao, de critrios, que cada Igreja Particular precisarDAp, nn. 213, 368. Cf. LG, n. 23.

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concretizar em processos de ao pastoral, segundo as condies e necessidades do prprio contexto. 75. Ao pensar nas perspectivas de ao, ser til lembrar que de 2012 a 2015, estaremos comemorando os 50 anos da realizao do Conclio Vaticano II, com vrias aes na Igreja no Brasil. O Conclio representa um acontecimento eclesial que marcou fortemente a caminhada da Igreja, promovendo a atualizao de mtodos e de linguagem, verdadeiro Pentecostes do sculo XX. Vrias atividades sero programadas pela CNBB, atravs da Comisso constituda para este m, que precisaro ser integradas no processo de execuo destas Diretrizes Gerais.

4.1. Igreja em estado permanente de misso76. A Conferncia de Aparecida nos convocou a ser uma Igreja toda missionria e em estado permanente de misso: Ai de mim se no evangelizar! (1Cor 9,16). A Igreja nasce da misso e existe para a misso. Existe para os outros e precisa ir a todos.96 No processo de evangelizao, o testemunho condio para o anncio. A prpria comunidade crist precisa ser ela mesma anncio, pois o mensageiro tambm Mensagem. Os mensageiros de Jesus Cristo so, antes de tudo, testemunhas daquilo que viram, encontraram e experimentaram. Este fato implica irradiar a presena de Deus, de Jesus Cristo, Deus-Conosco, e, na fora do Esprito Santo, proclamar com a palavra e com a vida que Cristo est vivo entre ns. Vendo a comunidade crist reunida no amor e em orao, as pessoas de hoje exclamaro, como o visitante de quem fala Paulo aos Corntios: Verdadeiramente, Deus est entre vs! (1Cor 14,25).Cf. EN, n. 14.

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A experincia de f faz transbordar o anncio para alm da comunidade crist, para cada um dos ambientes a onde os mensageiros so enviados a se fazer presentes como Jesus, cheio de graa e de verdade. 77. Homens e mulheres de nosso tempo apreciam, principalmente, o testemunho.97 Mas isso no dispensa a comunidade como no dispensa cada cristo de prestar o servio da proclamao ou do anncio explcito,98 oferecendo s pessoas, grupos e a todo o gnero humano a pregao do Evangelho, nas variadas modalidades que o ministrio da Palavra pode assumir. Cabe a cada comunidade eclesial perguntar quais so os grupos humanos ou as categorias sociais que merecem ateno especial e lhes dar prioridade no trabalho de evangelizao. Entre esses grupos esto os que tm pouco vnculo com a Igreja. s vezes so jovens; outras vezes, pessoas vivendo na periferia de nossas cidades, intelectuais, artistas, polticos, formadores de opinio, trabalhadores com grande mobilidade, nmades etc. Importa ir ao encontro deles, no apenas nas famlias e nas residncias, mas em todos os ambientes. As misses populares, indo ao encontro do apelo da Misso Continental, tm se mostrado um caminho ecaz. As visitas sistemticas nos locais de trabalho, nas moradias de estudantes, nas favelas e nos cortios, nos alojamentos de trabalhadores, nas instituies de sade, nos assentamentos, nas prises, nos albergues e junto aos moradores de rua,99 entre outros, so testemunho de uma Igreja samaritana. A pastoral da visitao pode dar maior organicidade e eccia a este servio.Cf. EN, n. 21. Cf. EN, n. 22. Cf. DAp, n. 407.

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Entre os grupos humanos aos quais deve se dirigir o anncio missionrio, a partir de nossas comunidades eclesiais, esto tambm os povos indgenas e os afro-brasileiros, na perspectiva da evangelizao inculturada, pelas atitudes do servio, do dilogo, do testemunho e do anncio explcito da mensagem crist.

80.

Contradiz profundamente a dinmica do Reino de Deus e de uma Igreja em estado permanente de misso, a existncia de comunidades crists fechadas em torno de si mesmas, sem relacionamento com a sociedade em geral, com as culturas, com os demais irmos que tambm creem em Jesus Cristo e com as outras religies. Inclusive eventos esportivos, como a Copa do Mundo e as Olimpadas, que o Brasil vai sediar nos prximos anos, podem ser momentos de evangelizao, especialmente da juventude.

81.

Ateno especial merecem os nossos jovens. A beleza da juventude e os inmeros desaos para a plenitude de sua vida exigem urgentes iniciativas pastorais nas diversas instncias de nossa ao evangelizadora. O Documento 85 da CNBB motiva e norteia nossos projetos em vista disso. A crescente participao do Brasil nas Jornadas Mundiais da Juventude nos convida, tambm, organizao de um caminho que garanta o crescimento da animao dos jovens em vista de sua identidade de discpulos missionrios de Jesus Cristo. O combate apologia e ao uso de drogas, a todo tipo de violncia e extermnio de jovens, uma atraente proposta vocacional e a oferta de um itinerrio para a organizao de seu projeto pessoal de vida contribuiro com a vida plena desta parcela to signicativa de nossa Igreja e da sociedade.

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82.

Um dos primeiros desaos o ecumenismo, a unidade com os irmos e irms que creem em Jesus Cristo. O escndalo da diviso entre os cristos100 nos interpela a evitar a indiferena. No bastam as manifestaes de bons sentimentos. Fazem falta gestos concretos que penetrem nos espritos e sacudam as conscincias, impulsionando cada um converso interior, que o fundamento de todo progresso no caminho do ecumenismo.101 Sobretudo, cada Igreja Particular est desaada a dar passos mais consistentes no campo do ecumenismo. Outro desao o dilogo inter-religioso, o encontro fraterno e respeitoso com os seguidores de religies no crists e com todas as pessoas empenhadas na busca da justia e na construo da fraternidade universal.102 Especial ateno merece o dilogo com os judeus e os muulmanos, irmos de f no Deus Uno, com as expresses religiosas afrodescendentes e indgenas, assim como com os ateus. Tal como o ecumenismo, o dilogo inter-religioso precisa integrar a vida e a ao de nossas comunidades eclesiais. Uma Igreja em estado permanente de misso nos interpela, nalmente, misso ad gentes, dando de nossa pobreza,103 em outras regies e alm fronteiras. Uma Igreja Particular no pode esperar atingir a plena maturidade eclesial para, s ento, comear a se preocupar com a misso para alm de seu territrio. A maturidade eclesial consequncia e no apenas condio de abertura missionria.

83.

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100

Cf. UR, n. 1; Joo Paulo II, Homilia na abertura da porta santa da baslica de So Paulo Fora dos Muros, 18 de janeiro de 2000, n. 2. 101 DAp, n. 234. 102 Cf. Pon cio Conselho para a Unidade dos Cristos, Diretrio para a aplicao dos princpios e normas sobre o ecumenismo, n. 210. 1993. 103 DPb, n. 368; cf. tambm CNBB, documento 40, Igreja: comunho e misso, n. 119.

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4.2. Igreja: casa da iniciao vida crist85. Nos dias atuais, a catequese de inspirao catecumenal,104 que equivale ao processo de iniciao crist, adquire grande importncia, no limitada a crianas. Trata-se de uma catequese no ocasional (apenas na ocasio de preparar-se para receber algum sacramento), mas continuada. Isso implica melhor formao dos responsveis105 e um itinerrio catequtico permanente, assumido pela Igreja Particular, com a ajuda da Conferncia Episcopal,106 que no se limite a uma formao doutrinal, mas integral, vida crist. A inspirao bblica, catequtica e litrgica condio fundamental para a iniciao crist de crianas, bem como de adolescentes, jovens e adultos que no foram sucientemente orientados na f e nas obras inspiradas pela f. necessrio desenvolver, em nossas comunidades, um processo de iniciao vida crist, que conduza ao encontro pessoal com Jesus Cristo,107 no cultivo da amizade com Ele pela orao, no apreo pela celebrao litrgica, na experincia comunitria e no compromisso apostlico, mediante um permanente servio aos demais.108 As muitas manifestaes da piedade popular catlica precisam ser valorizadas e estimuladas e, onde for necessrio, puricadas. Tais prticas tm grande signicado para a preservao e a transmisso da f e para a iniciao vida crist.

86.

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Cf. DAp, n. 294; CNBB, Diretrio Nacional de Catequese. Braslia, Edies CNBB. 2007; n. 45. Cf. DAp, n. 296. Cf. DAp, n. 298. DAp, n. 289. Cf. DAp, n. 299. A qualidade e os frutos do catecumenato so diretamente proporcionais sua durao. A escolha mais di cil do Bispo para a iniciao crist sua durao. O Rito de Iniciao Crist de Adultos (RICA) frisa que deve prolongar-se e, se necessrio, mesmo por vrios anos para que a converso e a f possam amadurecer (RICA 7/b; 98).

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87.

No contexto em que vivemos, marcado pelo pluralismo e pelo subjetivismo, desencadear o processo de iniciao vida crist implica grande ateno s pessoas, com atendimento personalizado109. Trata-se de estabelecer um dilogo interpessoal, de reexo sobre a experincia de vida, abrindo-a a seu verdadeiro sentido. importante valorizar e respeitar a liberdade de cada um, assim como sua experincia, pois toda pessoa traz em si o desejo e a capacidade de encontro com a Palavra de Deus, que o prprio Esprito Santo suscita. As pessoas, hoje, ciosas de sua liberdade e autonomia, querem se convencer pessoalmente. Desejam discutir, reetir, avaliar, ponderar os argumentos a favor e contra determinada viso, doutrina ou norma. Por isso, no processo de iniciao vida crist, deve-se ter conscincia que, mesmo em se tratando da Boa Nova, no se pode imp-la. A pedagogia evanglica consiste na persuaso do interlocutor pelo testemunho de vida e por uma argumentao sincera e rigorosa, que estimula a busca da verdade. No anncio da Boa Nova, antes do missionrio, sempre chega o Esprito Santo, protagonista da evangelizao. Ele quem move o corao para o encontro pessoal com Jesus Cristo, embora se trate de um encontro sempre mediado por pessoas. O discpulo missionrio cr em Igreja, cr com os outros discpulos missionrios e naquilo que os outros discpulos missionrios creem. No processo de iniciao crist preciso, portanto, dar grande valor relao interpessoal, no seio de uma comunidade eclesial. As pessoas no buscam em primeiro lugar as doutrinas, mas o encontro pessoal, o relacionamento solidrio e fraterno, a acolhida, vivncia implcita do prprio Evangelho.

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109 Diretrio Geral para a Catequese (1997), n. 170; RM, n. 14.

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Diretrizes Gerais da Ao Evangelizadora da Igreja no Brasil 2011 - 2015

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O lugar da iniciao crist a comunidade eclesial. Que esta, particularmente a parquia, seja lugar de iniciao vida crist dos adultos batizados e no sucientemente evangelizados. Seja local para iniciar os no batizados que, havendo escutado o querigma, querem abraar a f.110 A comunidade eclesial o lugar de educao na f111 para crianas, adolescentes e jovens batizados, em um processo que os leve a completar sua iniciao crist. A formao dos discpulos missionrios precisa articular f e vida e integrar cinco aspectos fundamentais: o encontro com Jesus Cristo; a converso; o discipulado; a comunho; a misso.112 O processo formativo se constitui no alimento da vida crist e precisa estar voltado para a misso, que se concretiza em vida plena, em Jesus Cristo, para todos, em especial para os pobres. A formao no se reduz a cursos, pois integra a vivncia comunitria, a participao em celebraes e encontros, a interao com os meios de comunicao, a insero nas diferentes atividades pastorais e espaos de capacitao, movimentos e associaes. A formao dos leigos e leigas precisa ser uma das prioridades da Igreja Particular, dado que um direito e dever para todos.113 Ela se torna mais efetiva e frutuosa quando integrada em um projeto orgnico de formao,114 que contemple a formao bsica de todos os membros da comunidade e a formao especca e especializada, sobretudo para aqueles que atuam na sociedade, onde se apresenta o desao de dar testemunho de Cristo e dos valores do Reino.115

91.

110 111 112 113 114 115

DAp, n. 293. DAp, n. 276. DAp, n. 278. ChL, n. 57. DAp, n. 281. DAp, n. 216.

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Documento da CNBB - 94

4.3. Igreja: lugar de animao bblica da vida e da pastoral92. A Igreja no Brasil quer investir cada vez mais na formao de todos os catlicos para que, nas mais diversas formas de seguimento e misso, sejam agentes deste contato vivo, apaixonado e comprometido com a Palavra de Deus. Assim, como toda a Igreja, todos os servios eclesiais precisam estar fundamentados na Palavra de Deus e serem por ela iluminados. Para que isto acontea, algumas atitudes e vivncias tornam-se indispensveis. Em primeiro lugar, nos deparamos com a necessidade de possuir a Bblia. Nesse sentido, estimulem-se as iniciativas que permitam coloc-la nas mos de todos, especialmente dos mais pobres. No entanto, no basta possuir. necessrio que a pessoa seja ajudada a ler corretamente a Escritura, chegar interpretao adequada dos textos bblicos e empreg-los como mediao de dilogo com Jesus Cristo.116 O encontro com a Palavra viva exige a experincia de f. Para isso, o catlico precisa ser devidamente capacitado tanto no contedo bblico quanto na pedagogia para iniciar e manter contato permanente com a Escritura. Trata-se, portanto, de incrementar a animao bblica de toda a pastoral, com seus agentes e suas equipes, indispensvel para que toda a vida da Igreja seja, ainda mais, uma escola de interpretao ou conhecimento da Palavra, escola de comunho e orao com a Palavra e escola de evangelizao e proclamao da Palavra.117

93.

116 DAp, n. 248; VD, n. 73. J a Dei Verbum do Va cano II e, atualmente, todos os documentos eclesiais, corroborados pela Exortao apostlica Ps-sinodal Verbum Domini, falam da passagem de uma pastoral bblica para uma animao bblica de toda a pastoral. 117 DAp, n. 248; VD, n. 73.

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Diretrizes Gerais da Ao Evangelizadora da Igreja no Brasil 2011 - 2015

94.

Em todos os nveis da ao evangelizadora paroquial, regional, diocesano sejam criadas ou fortalecidas equipes de animao bblica da pastoral, com a especca misso de propiciar meios de aproximao de cada pessoa Palavra de Deus, para conhec-la e interpret-la corretamente; entrar em comunho e orao com ela; evangelizar e proclam-la como vida em abundncia para todos, uma vez que ela o Verbo de Deus feito carne, habitando no meio de ns, para nossa salvao. Por isso, as equipes de animao bblica da pastoral precisam proporcionar retiros, cursos, encontros, subsdios para a leitura individual, familiar e em pequenos grupos da Palavra de Deus. A existncia de um servio especializado para a iluminao ou a animao bblica de toda a pastoral no exime, mas, pelo contrrio, impulsiona a responsabilidade de todos os batizados. Dentre