Documento 84 (CNBB)

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    DOCUMENTOS DA CNBB 84

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    CONFERNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL

    DIRETRIO NACIONALDE CATEQUESE

    Texto aprovado pela 43 Assemblia GeralItaici Indaiatuba (SP), 9 a 17 de agosto de 2005

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    Paulinas

    Rua Pedro de Toledo, 16404039-000 So Paulo SP (Brasil)

    Tel.: (11) 2125-3549 Fax: (11) 2125-3548http://www.paulinas.org.br [email protected]

    Telemarketing e SAC: 0800-7010081

    Pia Sociedade Filhas de So Paulo So Paulo, 2006

    Nenhuma parte desta obra poder ser reproduzida ou transmitidapor qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrnico ou mecnico,

    incluindo fotocpia e gravao) ou arquivada em qualquer sistema ou

    banco de dados sem permisso escrita da Editora. Direitos reservados.

    Direo-geral: Flvia ReginattoEditora responsvel: Vera Ivanise Bombonatto

    5aedio 2007

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    DECRETO

    N. 20062186

    Vista a instncia da Conferncia Nacional dosBispos do Brasil (CNBB), que em data de 15 de agostode 2006 pede a aprovao doDiretrio Nacional de Ca-tequese, aprovado pela 43 Assemblia Geral da mesmaConferncia em agosto de 2005, a Congregao parao Clero, examinado o presente texto e depois de ouvirtambm o parecer da Congregao para a Doutrinada F, segundo a norma do cnon 775, 2, do Cdigode Direito Cannico, n. 282 doDiretrio Geral paraa Catequese e o art. 94 da Constituio ApostlicaPastor Bonus,

    concede a necessria aprovao.

    A Santssima e Indivisa Trindade abenoe este

    servio de f, que a Santa Igreja do Brasil deseja prestar

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    sua glria e em favor de todas as mulheres e homensdo Terceiro Milnio, que, misteriosamente movidos

    pelo Esprito Consolador, podero seguir melhor aCristo, a cada dia, iluminados por Maria, Estrela daevangelizao e Virgem de Pentecostes.

    Vaticano, 8 de setembro de 2006

    Festa da Natividade de Nossa Senhora

    @Csaba Ternyk

    Arcebispo tit. de EminentianaSecretrio

    Dario card. Castrilln Hoyos

    Prefeito

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    APRESENTAO

    A catequese vem recebendo da Igreja no Brasiluma crescente valorizao. Comprovam-no os docu-mentos, cursos, encontros, celebraes, mobilizaes,livros, revistas e tantas outras iniciativas, que se mul-tiplicam por este imenso pas. Entretanto, a prova mais

    evidente desse apreo est na quantidade de catequistasque se dedicam com grande paixo a esse ministriovital para a educao na f, na esperana e na caridade,daqueles que optam por seguir Jesus Cristo. E tambmso milhares as pessoas que, sem serem denominadascatequistas, o so, de fato, pois exercem essa mesmamisso em nossas comunidades eclesiais.

    ODiretrio Nacional de Catequese(DNC) foisolicitado pela S Apostlica Conferncia Episcopalpor meio doDiretrio Geral para a Catequese(DGC),em 1997. Ele surge num momento importante em nossaIgreja. Primeiramente, como conrmao dos acertos

    na caminhada de renovao da catequese, desde oConclio Vaticano II (1965), mas, especialmente, des-de o Documento Catequese Renovada, Orientaes eContedo(CR), de 1983.

    Ele representa um impulso para novos e signica-tivos passos, principalmente rumo a um maior aprofun-

    damento e criatividade na prpria ao catequtica. E

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    aqui importante mencionar, entre outras abordagens, acatequese bblica, litrgica, inculturada e fortalecedora

    da eclesiologia de comunho e participao; a catequesecom adultos e a catequese com forte carga evanglicapara a transformao da sociedade, segundo a DoutrinaSocial da Igreja.

    H alguns destaques a serem considerados, comoas fontes da catequese, a formao de catequistas, o

    catecumenato como modelo referencial para os diversostipos de catequese, a pedagogia de Deus, a centralidadede Jesus Caminho, Verdade e Vida (cf. Jo 14,6), a aodo Esprito Santo, a catequese para pessoas com deci-ncia, o princpio metodolgico da interao entre a f ea vida e Maria, me e educadora de Jesus e da Igreja.

    O Diretrio Nacional de Catequese fruto deum grande trabalho de colaborao. Milhares de moso elaboraram ao logo de mais de trs anos, por meiode um rico processo participativo. E a CNBB, em trsassemblias gerais sucessivas, examinou e aperfeiooueste texto. Mesmo assim, oDNCno um documento

    acabado, porque a catequese dinmica, criativa, atentas necessidades, desaos e potencialidades do mundo

    e da Igreja.

    O Diretrio Nacional de Catequese propegrandes orientaes e linhas de ao para a catequesenas Igrejas particulares que, no Brasil, so marcadas

    pela riqueza da diversidade geogrca, histrica, cul-

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    tural, tnica e religiosa. Elas tm uma longa e preciosahistria, inclusive de catequese, a ser contemplada. E,

    alm disso, tm caractersticas que requerem adaptaoe uma inculturao especca da catequese.

    ODiretrio Nacional de Catequesefoi aprovadopelos bispos do Brasil, por unanimidade, durante a 43Assemblia Geral da CNBB, em 2005. Em seguida, re-cebeu a aprovao da Santa S, atravs da Congregao

    para o Clero. Agora, os bispos, pastores e mestres daf, passam o Diretrio para o povo, como um presentevalioso, recordando o pedido do Papa Joo Paulo II:

    O vosso papel principal deve ser o de suscitare alimentar, em vossas Igrejas, uma verdadeirapaixo pela catequese; uma paixo, porm, que se

    encarne numa organizao adaptada e ecaz, queempenhe na atividade as pessoas, os meios e osinstrumentos e, tambm, os recursos nanceiros.Podeis ter a certeza disto: se a catequese for bem-feita nas vossas Igrejas locais, tudo o mais serfeito com maior facilidade (CT 63).

    Que Maria, a estrela da evangelizao e educa-dora do Filho de Deus e da Igreja, acompanhe mater-nalmente o dilogo da f que acontece nos grupos decatequese. Que ela os assessore para que cada catequi-zando e cada catequista possa, a seu exemplo, expressarcom a vida o sim generoso ao chamado e ao envio do

    Senhor. Que ela, com sua fora amorosa de Me da

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    Igreja, ajude a levar ao encontro de Jesus Cristo, seuFilho, todos aqueles que esto procura do caminho, da

    verdade e da vida. Esta a vida eterna: que conheama ti, o Deus nico e verdadeiro, e a Jesus Cristo, aqueleque enviaste (Jo 17,3).

    Esta apresentao no seria completa sem umagradecimento profundo Comisso Episcopal Pastoralpara a Animao Bblico-Catequtica e Comisso

    encarregada, pela CNBB, de elaborar esteDiretrioeacompanhar a sua aprovao: bispos, peritos e asses-sores convidados a darem sua colaborao. Deus lhespague.

    Braslia (DF), 30 de setembro de 2006,memria de so Jernimo

    Dom Odilo Pedro SchererBispo Auxiliar de So PauloSecretrio-Geral da CNBB

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    SIGLAS E ABREVIATURAS

    AG DecretoAd Gentes do Vaticano II sobre evan-gelizao dos povos

    AS Apostolorum Successores Diretrio para oMinistrio Pastoral dos Bispos (2005)

    Catecismo Joo Paulo II, Catecismo da Igreja Catlica(1992-1997)

    CD Decreto Christus Dominus do Vaticano II sobreo episcopado

    CDC Cdigo de Direito Cannico (1983)Celam Conferncia (ou Conselho) Episcopal Latino-

    AmericanoChL Joo Paulo II, Christifdeles Laici sobre a vo-

    cao e misso dos leigosCMM Dimenso Bblico-Catequtica, Catequesepara um mundo em mudana (Estudos daCNBB73, 1994)

    CNBB Conferncia Nacional dos Bispos do BrasilCR CNBB, Catequese Renovada: orientaes e

    contedo (Doc. da CNBB 26, 2002, 35 edio;

    1 edio em 1983)CT Joo Paulo II, Exortao ApostlicaCatechesi

    Tradendae(1979)DCG Congregao para o Clero,Diretrio Catequ-

    tico Geral (1971)DGAE Diretrizes Gerais da Ao Evangelizadora da

    Igreja no Brasil 2003-2006 (Doc. CNBB 71)

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    DGC Congregao para o Clero, Diretrio Geralpara a Catequese (1997)

    DH Dignitatis Humanae do Vaticano II sobre aliberdade religiosa

    DNC CNBB, Diretrio Nacional de Catequese(2002-2005)

    DV Constituio DogmticaDei Verbum do Vati-cano II sobre a Revelao

    EN Paulo VI, Exortao ApostlicaEvangelii Nun-

    tiandi sobre a evangelizao dos povos (1974)ERE Ensino Religioso EscolarFC Dimenso Bblico-Catequtica,Formao de

    Catequistas: critrios pastorais (Estudos daCNBB 59, 1990)

    Grebin Grupo de Reexo Bblica NacionalGrecat Grupo Nacional de Reexo CatequticaGrescat Grupo de Escolas CatequticasGS Constituio Pastoral Gaudium et Spes do Va-

    ticano II sobre a Igreja no mundo de hojeLG Constituio Dogmtica Lumen Gentium do

    Vaticano II sobre a IgrejaMPD Snodo de 1977 sobre a catequese,Mensagem

    ao Povo de DeusNMI Joo Paulo II,Novo Millennio Ineunte (em 2001,

    no trmino do Grande Jubileu do ano 2000)P Celam, Documento dePuebla (1979)PO Presbyterorum Ordinis do Vaticano II sobre o

    ministrio e vida dos presbterosRICA Sagrada Congregao para o Culto Divino,Rito

    de Iniciao Crist de Adultos (1973/2001)

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    RMi Joo Paulo II, Carta Encclica RedemptorisMissio sobre a validade permanente do man-

    dato missionrio (1990)SC Constituio Sacrosanctum Concilium do Va-ticano II sobre a liturgia

    Scala Sociedade de Catequetas Latino-americanosSD Celam, Documento de Santo Domingo(1992)TM Dimenso Bblico-Catequtica, Textos e Ma-

    nuais de Catequese: elaborao, anlise, ava-liao(Estudos da CNBB 53, 1987)

    UR Unitatis Redintegratio do Vaticano II sobre oecumenismo

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    INTRODUO

    Isso que vimos e ouvimos, ns vosanunciamos, para que estejais em comunho

    conosco (1Jo 1,3a).

    1. Este Diretrio Nacional de Catequese (DNC)

    um esforo de adaptao realidade do Brasil doDiretrio Geral para a Catequese, de 19971 (cf.DGC9, 11, 139, 166 e 171). Nele, portanto, inspi-ra-se, fazendo porm as adaptaes necessrias,que reitam a caminhada da Igreja e o movimentocatequtico brasileiro destes ltimos 50 anos.

    2. O documento da CNBB Catequese Renovada:orientaes e contedo,2 que, desde 1983, vemimpulsionando a catequese no Brasil, continuasendo-lhe uma referncia fundamental. Mas, de1983 para c, surgiram situaes e documentos doMagistrio3apontando para a necessidade de novas

    1 CONGREGAOPARAOCLERO. Diretrio Geral para a Catequese. 1. ed. SoPaulo, Paulinas, 1998.

    2 CNBB. Catequese Renovada: orientaes e contedo. 1. ed. (foram feitas outras34 edies). So Paulo, Paulinas, 1983 (Documentos da CNBB 26).

    3 Destacamos especialmente: a Exortao Apostlica de Joo Paulo IICatechesiTradendae, em 1979; oCatecismo da Igreja Catlica, em 1992; oDiretrio Geralpara a Catequese, em 1997; a IV Conferncia Episcopal Latino-Americana, em

    Santo Domingo, em 1992; o Snodo extraordinrio sobre aIgreja na Amrica,

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    orientaes da Igreja para reforar o impulso darenovao da catequese.

    3. A Comisso Episcopal de Animao Bblico-Cate-qutica da CNBB apresentou, ento, AssembliaGeral dos Bispos em 2002 uma proposta, que foiaprovada, de elaborao de umDiretrio Nacionalde Catequese. Uma comisso especial nomeadapela mesma Assemblia logo na primeira reunio

    optou por um trabalho atravs do processo partici-pativo envolvendo dioceses, escolas de catequese ecatequistas. OInstrumento de trabalho n. 1 recebeucontribuies da Assemblia da CNBB de 2003,que solicitou a diminuio do texto. Enriquecido,com mais contribuies vindas de todo o pas, mas

    ao mesmo tempo sintetizado, oInstrumento de tra-balho n. 2teve o aval da Assemblia da CNBB em2004, e com novos enriquecimentos foi preparadoe publicado como Instrumento de trabalho n. 3,para a Assemblia Geral da CNBB de abril de 2005.Tendo sido esta postergada para agosto do mesmoano, por motivo do falecimento do Papa Joo Pau-lo II, de feliz memria, e, tambm, por motivo da

    em 1997; a Carta Apostlica de Joo Paulo IINovo Millennio Ineunte, em 2001;os ProjetosRumo ao Novo Milnio, Ser Igreja no Novo Milnioe Queremos ver

    Jesus, Caminho, Verdade e Vida; a auto-avaliao da Igreja por ocasio dos 500anos de evangelizao do Brasil; a traduo da Bblia pela CNBB; a SegundaSemana Brasileira de Catequese, em 2001, com o tema Com adultos, catequese

    adulta e toda a mobilizao em torno dela.

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    eleio do Papa Bento XVI, houve nova redaointegrando as contribuies chegadas at junho de

    2005, constituindo-se noInstrumento de trabalhon. 3, em sua quarta verso, que foi apresentada paraapreciao e votao.

    1. Os Diretrios na Tradio recente da Igreja

    4. O primeiro Diretrio Catequtico Geral da SApostlica, de 1971, foi publicado por mandato doVaticano II para tratar dos princpios e do orde-namento fundamentais da formao crist (CD14).4ODiretrio Geral para a Catequesede 1997atualizou o anterior. Se o primeiro Diretrio (1971)foi uma resposta do Conclio velha demanda de

    um catecismo universal, o segundo (1997) veioconsagrar o Catecismo da Igreja Catlica, surgidoentre ambos, em 1992, e ocialmente raticado em1997, e seu Compndioem 2005.

    5. No Diretrio Geral para a Catequese encon-tramos, sobretudo, critrios inspiradores para a

    ao catequtica e no tanto indicao de nor-mas imperativas, como poderia sugerir talvez

    4 Christus Dominuspropunha trs tarefas para um futuroDiretrio CatequticoGeral: 1) oferecer princpios teolgico-pastorais fundamentais que orientema catequese; 2) propor linhas mais adequadas para uma pastoral catequtica e3) sugerir critrios para a elaborao dos instrumentos adequados (cf.Intro-duodoDCG).

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    a palavra diretrio. Os Diretrios tornaram-sequase manuais, vade-mcuns ou compndios,

    um conjunto de princpios, critrios e normas denatureza bblico-teolgica e metodolgico-pas-toral com a funo de coordenar a ao pastoral.

    6. NossoDiretrio Nacional de Catequese, o primeirodo Brasil, segue essa mesma orientao. Pretendeno s relembrar princpios e critrios j conquis-

    tados, mas, sobretudo, faz-los avanar, comopede o mesmoDiretrio Geral para a Catequese:Estimular, para o futuro, estudos e pesquisas maisprofundas, que respondam s necessidades da cate-quese e s normas e orientaes do Magistrio (13).

    2. Objetivo e fnalidades7. O objetivo geral doDiretrio Nacional de Cateque-

    se apresentar a natureza e nalidade da catequese,traar os critrios de ao catequtica, orientar,coordenar e estimular a atividade catequtica nas di-versas regies. Ele pretende delinear uma catequese

    litrgica, bblica, vivencial, profundamente ligada mstica evanglico-missionria, mais participativae comunitria.

    8. As nalidades desteDiretrioso:a) estabelecer princpios bblico-teolgico-litr-

    gico-pastorais para promover e impulsionar a

    renovao da mentalidade catequtica;

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    b) orientar o planejamento e a realizao da ativida-de catequtica nos diversos regionais e dioceses;

    c) coordenar as diversas iniciativas catequticas;d) articular a ao catequtica com as outrasdimenses de nossa pastoral (litrgica, comu-nitrio-participativa, missionria, dialogal-ecu-mnica e sociotransformadora);

    e) estimular a atividade catequtica, principalmen-

    te onde as comunidades sentem mais diculdadena promoo da educao da f.

    3. Critrios de redao e esquema geral

    9. Ao se redigir este Diretrio Nacional de Cate-quese, manteve-se o esquema geral do DiretrioGeral para a Catequese, com adaptaes nossarealidade, reetindo o movimento catequtico bra-sileiro destes ltimos 50 anos. Ele divide-se emduas partes:a) Naprimeira, de carter mais de iluminao, so

    tratados os fundamentos teolgico-pastorais da

    catequese, a partir da renovao ps-conciliar.Inicia-se apresentando as conquistas do recentemovimento catequtico brasileiro. A seguir, aprofundado o tema da Revelao e catequese,correspondendo primeira parte do DiretrioGeral para a Catequese; a a catequese se apre-

    senta bem dentro da misso evangelizadora da

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    Igreja, como atividade de iniciao f. Aps tersido esclarecida a verdadeira tarefa da catequese,

    far-se-, ento, uma leitura da nossa realidadebrasileira e da histria como lugares teolgicosda manifestao de Deus, correspondendo Exposio Introdutria doDiretrio Geral paraa Catequese. A mensagem e contedo da cate-quese so considerados no captulo quarto, des-

    tacando-se a Bblia, a liturgia e os catecismos.b) Asegundaparte, de carter mais prtico, com-pe-se de quatro captulos: primeiramente seanalisa a pedagogia catequtica tendo comofundamento a pedagogia divina, modelo daeducao da f pretendida pela catequese. Enu-

    meram-se no captulo sexto os destinatrios,considerados como interlocutores no processocatequtico; o captulo stimo trata do ministrioda catequese com seus protagonistas; e, por m,no ltimo captulo, so analisados os lugarese a organizao da catequese na Igreja local.

    I. Fundamentos teolgico-pastoraisda catequese

    1. Movimento catequtico ps-conciliar: conquistase desaos

    2. A catequese na misso evangelizadora da Igreja

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    3. Catequese contextualizada: histria e realidade4. Catequese: mensagem e contedo

    II. Orientaes para a catequese naIgreja particular

    5. Catequese como educao da f6. Destinatrios como interlocutores no processo

    catequtico7. O ministrio catequtico e seus protagonistas8. Lugares da catequese e sua organizao na Igreja

    particular

    Concluso

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    I.FUNDAMENTOS

    TEOLGICO-PASTORAIS DA

    CATEQUESE E SEU CONTEXTO

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    Captulo 1

    MOVIMENTO CATEQUTICOPS-CONCILIAR:CONQUISTAS E DESAFIOS

    Vs sois as testemunhas destas coisas(Lc 24,48).

    1. Renovao catequtica luz do ConclioEcumnico Vaticano II

    10. Com o Vaticano II, a Igreja no Brasil renovou-se sig-nicativamente, animada, entre outras coisas, pelosplanos de pastoral, diretrizes e documentos. Sob oinuxo da VI Semana Internacional de Catequesee da II Conferncia Geral do Episcopado da Am-rica Latina, ambas em Medelln (1968), a catequesetomou novos rumos luz de uma eclesiologia e cris-tologia mais voltadas para a situao difcil vividapelo povo. Nascia ali um novo modelo de catequeseque, para melhor encarnar a doutrina, acentuavatambm a dimenso situacional, transformadoraou libertadora. As comunidades eclesiais passarama favorecer uma educao da f, ligada mais vida

    da comunidade, aos problemas sociais e cultura

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    popular. A opo pelos pobres fez a catequese re-ver sua metodologia e, sobretudo, seus contedos.

    A formao das(os) catequistas1

    recebeu especialateno, principalmente atravs da multiplicaode escolas catequticas. Em termos de organiza-o, houve maior articulao nacional do trabalhocatequtico por meio dos organismos da CNBB.

    11. As conquistas catequticas ps-conciliares, esti-muladas peloDiretrio Catequtico Geral(DCG,1971), pelo Snodo sobre Evangelizao (1974)e pela Carta Apostlica de Paulo VI Evangelii

    Nuntiandi(EN, 1975), concretizaram-se no Snodosobre a Catequese(1977) e na Exortao Apostlicaque se lhe seguiu Catechesi Tradendae(CT, 1979).No Brasil, foi de especial importncia o texto da

    CNBB Catequese Renovada: orientaes e conte-do (1983). Surgido inicialmente como resposta necessidade de renovar o contedo da catequese, suaelaborao enveredou pela busca dos princpios ediretrizes bsicas da ao catequtica. Foi fruto deampla movimentao nacional, com participao de

    comunidades, catequistas, estudiosos e pastores.12. A catequese, a partir de 1983, em geral assumiu

    estes eixos centrais: a Bblia como texto principal,

    1 Neste Diretrio Nacional de Catequese, por motivos gramaticais, o termocatequista sempre ser usado no masculino, referindo-se tanto s mulherescomo aos homens. O mesmo se diga quanto a coordenador(a), religioso(a),leigo(a), discpulo(a), irmo(a) etc.

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    os momentos celebrativos, o princpio de interaof e vida, o valor e importncia da caminhada da

    comunidade de f como ambiente e contedo deeducao da f. Aprofundando o documento Cate-quese Renovadae atualizando a reexo em tornodos novos desaos, outros textos foram surgindo.2

    2. Caractersticas da Catequese Renovada

    13. As principais caractersticas do documento Cate-quese Renovada e de sua prxis posteriorso:a) Catequese como processo de iniciao vida

    de f: o deslocamento de uma catequesesimplesmente doutrinal para um modelo maisexperiencial, e da catequese das crianas para a

    catequese com adultos. Tanto a dimenso dou-trinal como a da experincia esto integradas no

    2 So textos produzidos pelo Grupo Nacional de Reexo Catequtica(Grecat),fundado em 1983, porm com antecedentes desde a dcada de 1960. So osseguintes: Textos e manuais de catequese: orientaes para sua elaborao,anlise e avaliao= Estudos da CNBB 53, 1987;Primeira Semana Brasileira

    de Catequese= Estudos da CNBB 55, 1987;Formao de catequistas: critriospastorais = Estudos da CNBB 59, 1990; Orientaes para a catequese decrisma= Estudos da CNBB 61, 1991; Catequese para um mundo em mudan-a= Estudos da CNBB 73, 1994; O hoje de Deus em nosso cho= Estudosda CNBB 78, 1998; Com adultos, catequese adulta= Estudos da CNBB 80,2001;Itinerrio da f na iniciao crist de adultos= Estudos da CNBB 82,2001; Segunda Semana Brasileira de Catequese= Estudos da CNBB 84, 2002;Crescer na leitura da Bblia= Estudos da CNBB 86, 2003;Ler a Bblia com a

    Igreja: comentrio didtico popular Constituio dogmtica Dei Verbum =

    Projeto Nacional de Evangelizao Queremos ver Jesus... 11, 2004.

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    processo de tornar-se discpulo de Jesus. Comeaa delinear-se um modelo metodolgico que leva

    experincia de Deus que se expressa, sobretudo,na vida litrgica e orante.b) Iniciao vida de f em comunidade: conforme

    a pedagogia de Deus, Ele se revela no dia-a-diadepessoas que vivem em comunidade. A cate-quese concebida como uma iniciao f em

    sua dimenso pessoal e comunitria.c) Processo permanente de educao da f: se acatequese o momento da iniciao f, a for-mao crist se prolonga pela vida inteira. Almdas crianas, os adultos comeam a merecermaior ateno.

    d) Catequese cristocntrica: conduz ao centro doEvangelho (querigma), converso, opo porJesus Cristo que nos revela o Pai, no EspritoSanto (dimenso trinitria), e ao seu seguimento.A catequese est a servio da pessoa humana emsua situao concreta (dimenso antropolgica).Por isso ela educa para a vivncia do mistrio

    daquele que revelou o homem ao homem, o novoAdo, Jesus Cristo. uma catequese cristol-

    gicacom dimenso antropolgica, que leva auma antropologia com dimenso cristolgica.

    e) Ministrio da Palavra: a catequese conside-rada anncio da Palavra de Deus, a servio da

    qual se coloca. O verdadeiro catequista tem a

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    convico (mstica) de que profetahoje, comu-nicando a Palavra de Deus com seu dinamismo

    e eccia, na fora do Esprito Santo. A Bblia considerada o livro da fe, por isso mesmo,o texto principalda catequese. O princpio dainterao f e vida, aplicado leitura da Bblia,gera um tipo de leitura vital e orante da Palavrade Deus.

    f) Coerncia com a pedagogia de Deus:a reno-vao da catequese assume a doutrina sobre aRevelao, contida na Dei Verbum, com suasconseqncias. O modo de educar a f segue omesmo processo e pedagogia que Deus usoupara revelar-se, isto : Revelao progressivaatravs depalavrase acontecimentos, por dentroda vida da comunidade, o respeito pela cami-nhada da comunidade, o amor pelos pobres e aconseqentepacincia(em sentido bblico) noprocesso de educao da f.

    g) Catequese transformadora e libertadora: a men-sagem da f, iluminando a existncia humana,

    forma a conscincia crtica diante das estruturasinjustas e leva a uma ao transformadora da rea-lidade social. Catequese Renovadaintroduziu oconceito de aes evanglico-transformadorascomo aprofundamento do tradicional conceito deatividades pedaggicas. A catequese tem por

    tarefa introduziro cristo nestas aes, inspi-

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    radas pela experincia de Deus na caminhadada comunidade; [elas] educam evangelicamente

    para as mudanas do ambiente que nossa f exigee inspira.3

    h) Catequese inculturada: a catequese quervalorizar e assumir os valores da cultura, alinguagem, os smbolos, a maneira de ser ede viver do povo nas suas diversas expresses

    culturais. A inculturao est presente emCatequese Renovada, embora o termo noaparea explicitamente. Fala-se de interao fe vida, com vistas principalmente a aspectossociais, polticos e econmicos. Isso facilitouposteriormente a compreenso da necessidade

    de assumir e valorizar os elementos da cultura,da linguagem, dos smbolos que fazem parte damaneira de viver do povo. Expressar o Evan-gelho de forma relevante para a cultura umaexigncia metodolgica da catequese. Comoarmou Joo Paulo II: No a cultura a medidado Evangelho, mas Jesus Cristo a medida detoda a cultura e de toda obra humana (SantoDomingo,Discurso de abertura, 2; cf. 13, nota2).No se trata s da cultura popular, ligada

    3 CNBB, TM129; cf. 129-131 e 194-200. Esse documento aprofunda o conceitode atividades evanglico-transformadoras que tm sua origem nas prticas das

    CEBs. Cf. abaixo 152 e 301-302.

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    mais ao ambiente rural e s vezes pr-moderno,mas tambm da cultura surgida da modernidade

    e ps-modernidade, cujo lugar privilegiado soos grandes espaos urbanos.i) Interao f e vida: o contedo da catequese

    compreende dois elementos que interagem: aexperincia da vida e a formulao da f. Aarmao do princpio de interao a recusa

    tanto do excesso da teoria desligada da realidade,quanto do dualismo que desvaloriza as necessi-dades do aqui e agora, da vida terrena dos lhosde Deus.

    j) Catequese integrada com as outras pastorais:como dimenso,a catequese est presente emtodas as pastorais e, como atividade especfca,articula-se com as demais. A catequese respiraa vida e a f da Igreja, celebrada na liturgia,expressa na prtica pastoral das comunidades enas suas orientaes. A catequese se beneciadessa articulao ao mesmo tempo que contribuipara uma pastoral orgnica ou de conjunto.

    k) Caminho de espiritualidade: um dos temascentrais da formao do catequista sua espi-ritualidade: ela brota da vida em Cristo, que sealimenta na ao litrgica e se expressa a partirda prpria atividade de educador da f, da ms-tica daquele que est a servio da Palavra de

    Deus. uma espiritualidade bblica, litrgica,

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    cristolgica, trinitria, eclesial, mariana e encar-nada na realidade do povo.4

    l) Opo preferencial pelos pobres: a Igreja re-descobriu os pobres no apenas como categoriasociolgica, mas sobretudo teolgica; conside-ra-os destinatrios de sua misso e evangeliza-dores. No se trata de um temada catequese,mas de uma perspectiva geral, que orienta

    concretamente objetivos, sujeitos e destinatrios,contedo, mtodos, recursos e a prpria forma-o de catequistas.

    m) Temas e contedo:Catequese Renovada descre-veu em sua terceira parte os temas fundamentaisda catequese. Trata-se de um conjunto de men-

    sagens a ser adaptado aos destinatrios quanto seleo de temas, linguagem, metodologia.Deseja-se principalmente que esse contedo demensagens seja vivido na caminhada da comuni-dade. O eixo central que permeia a apresentaoda mensagem o da comunho-participaonum processo comunitrio. A quarta parte dodocumento descreve o processo pelo qual in-teragem o contedo da f e a transformao davida pessoal e social.

    4 Cf. CNBB,FC157. Aps o documento CR,houve e continua havendo umimpulso considervel tanto para a vocao de catequistas, quanto para a prxis

    da mesma catequese em diversas instncias.

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    3. Alguns desafos

    14. Depois de mais de duas dcadas da primeira ediode Catequese Renovada, podemos identicar hojealguns desaos mais signicativos, dentre tantosque surgem em nossa tarefa catequtica:a) criar maior unidade na pastoral catequtica,

    organizando melhor a catequese nos diversosnveis (regional, diocesano, paroquial) e pondoem prtica as orientaes que j existem;

    b) formar catequistas como comunicadores de ex-perincias de f, comprometidos com o Senhor esua Igreja, com uma linguagem inculturada queseja el mensagem do Evangelho e compreen-svel, mobilizadora e relevante para as pessoasdo mundo de hoje, na realidade ps-moderna,urbana e plural;

    c) fazer da Bblia realmente o texto principal dacatequese;

    d) fazer com que o princpio de interao f e vida seja

    assumido na atividade catequtica de modo que ocontedo responda aos desaos do mundo atual;e) suscitar nos catequistas e catequizandos o senti-

    do do valor da celebrao litrgica, da dimensoorante na catequese e o amor pela comunidade;

    f) assumir o processo catecumenal como modelo

    de toda a catequese e, conseqentemente, inten-

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    sicar o uso doRitual de Iniciao Crist de Adultos(RICA);

    g) passar de uma catequese s orientada para ossacramentos, para uma catequese que introduzano mistrio de Cristo e na vida eclesial;

    h) integrar na catequese as conquistas das cinciasda educao, particularmente a pedagogia con-tempornea, discernida luz do Evangelho;

    i) fazer com que a catequese se realize num con-texto comunitrio, seja um processo de inserona comunidade eclesial e que essa seja catequi-zadora;

    j) incentivar a instituio do ministrio da cate-quese;

    k) tornar efetiva a prioridade da catequese comadultos como resposta s novas exigncias daevangelizao e como pedem a Catequese Re-novada130 e a Segunda Semana Brasileira deCatequese;

    l) incentivar a catequese junto a pessoas com de-

    cincia;5m) assumir na catequese a vida e os clamores dos

    marginalizados e os excludos;

    5 Neste Diretrio Nacional de Catequese usaremos a nomenclatura ocialbrasileira (cf.Dirio Ofcial do Senado Federalde 17 de outubro de 2003,pp. 32745-32746 e ss) e em consonncia da Campanha da Fraternidade de

    2006.

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    n) motivar e estimular os catequistas e catequizan-dos para o compromisso missionrio e social da

    f, assumido no sacramento da Conrmao;o) buscar parcerias com a pastoral da juventude,missionria e outras, atingindo assim mais pes-soas nesse processo.

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    Captulo 2

    A CATEQUESE NA MISSOEVANGELIZADORA DA IGREJA

    Ide pelo mundo inteiro e anunciaia Boa-Nova a toda criatura! (Mc 16,15).

    1. F e sentido da vida

    15. Em nossa existncia, procuramos o sentido da vida.O que signica ser pessoa humana, viver muitos oupoucos anos? O que estamos fazendo aqui? De ondeviemos? Para onde vamos? Essas e outras perguntasexistenciais so um ponto de partida e de contnuareferncia na catequese. Da capacidade de levarem conta essas perguntas depende a relevncia dacatequese para as pessoas s quais se destina. Abusca de Deus na histria da humanidade se enra-

    za nas perguntas que as pessoas fazem quando seinquietam sobre a vida, o mundo. A f crist nos fazreconhecer um propsito na existncia: no somosfrutos do acaso, fazemos parte de uma histria quese desenrola sob o olhar amoroso de Deus.

    16. algo de extraordinrio o fato de Deus, trans-

    cendente e onipotente, querer comunicar-se com

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    os seres humanos. De muitas maneiras Ele, nopassado, falou a nossos pais na f. De um modo

    perfeito e denitivo revelou-se plenamente em JesusCristo (cf. Hb 1,1-2). Hoje Ele continua a se fazerpresente em nossas vidas: sua Palavra se encontranas Sagradas Escrituras, na Igreja, na liturgia, naspessoas, nos acontecimentos. Cristo est semprepresente em sua Igreja, e especialmente nas aes

    litrgicas. Est presente no sacrifcio da missa,tanto na pessoa do ministro, pois aquele que agorase oferece pelo ministrio sacerdotal o mesmoque, outrora, se ofereceu na cruz, como sobretudonas espcies eucarsticas. Ele est presente pela suavirtude nos sacramentos, de tal modo que, quandoalgum batiza, o prprio Cristo quem batiza. Estpresente na sua palavra, pois Ele quem fala quan-do na Igreja se lem as Sagradas Escrituras. Estpresente, por m, quando a Igreja ora e salmodia,Ele que prometeu: Onde dois ou trs estiveremreunidos em meu nome, eu estou ali, no meio deles(Mt 18,20) (SC 7; cf.DV 4).

    17. A Revelao nos apresenta, desde o comeo, umDeus que quer vida em plenitude para seus lhos.O Deuteronmio nos mostra, como resumo da leido Senhor, o prprio Deus desejando que cada umseja sbio o bastante para optar pelo melhor cami-nho: [...] escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu

    e teus descendentes, amando ao Senhor, teu Deus,

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    obedecendo sua voz e apegando-te a Ele poisEle a tua vida [...] (Dt 30,19-20). A Revelao nos

    encaminha, portanto, a uma catequese que respondaaos anseios humanos e promova uma vida maisgraticante para todos, como estava desde sempreno desgnio de Deus.

    18. Pela evangelizao, catequese e liturgia, essa Pa-lavra de Deus continua a chegar s pessoas. Essa

    comunicao da f, hoje, segue o mesmo processopelo qual Deus, no passado, se revelou. Por isso,para compreender bem as tarefas e o contedoda catequese, necessrio aprofundar as relaesexistentes entre Revelao e catequese.

    2. Revelao e Palavra de Deus

    2.1. Deus, em Jesus Cristo, revela-se como

    Pai Misericordioso

    19. A constituio conciliar Dei Verbum arma quenosso Deus, Pai Misericordioso, quis revelar-se a

    si mesmo. Em sua bondade e sabedoria Ele nos da conhecer o mistrio da sua vontade (cf. Ef 1,9).Deus, que cria e conserva todas as coisas por meiodo Verbo, oferece humanidade, nas coisas criadas,um testemunho permanente de si (DV3), e peloEsprito Santo ns homens e mulheres podemos

    participar da sua natureza divina (cf. 2Pd 1,4;DV 2).

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    O Catecismo1conrma: o ser humano pode chegarat Deus ouvindo a mensagem da criao, e por isso

    toda pessoa humana capaz de Deus (cf. 27-28; Rm1,19-20). Essa condio nos dada porque o Deusinvisvel (cf. Cl 1,15; 1Tm 1,17), levado por seugrande amor, nos fala como amigos, convidando-nos comunho (cf.DV2). O Deus da misericrdiasempre esteve presente na histria dos povos e de

    cada conscincia e assim, nos coraes dos homensde boa vontade, a graa podia operar de modoinvisvel (GS22, 5), a m de dar a vida eterna atodos aqueles que, pela perseverana na prtica dobem, procuram a Salvao (cf. Rm 2,6-7) (DV3).

    20. O Deus, que quis revelar-se a todos atravs das

    maravilhas do mundo e do ser humano criado suaimagem, e que vem ao encontro de todos aquelesque sinceramente o buscam nas diversas religies,em sua misericrdia quis levar a termo a esperanade toda a humanidade escolhendo para si um povo,para revelar-se pessoalmente e acompanh-lo emsua histria. Assim, o Deus de Abrao, Isaac e deJac fez-se Salvador para todos os povos na pleni-tude dos tempos (cf.DV2-3; GS22, 5). Tal Reve-lao tem sua plenitude na pessoa de Jesus Cristo,em suas obras e palavras, em sua vida, toda ela

    1 Daqui para a frente, quando nesteDiretrio Nacional de Catequese se citar

    apenas a palavra Catecismo, sempre se referir ao Catecismo da Igreja Catlica.

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    salvca, e, principalmente, em seu mistrio pascal.Ele nos mostra a face misericordiosa do Pai e nos

    d os meios de nos tornarmos participantes de suanatureza divina (cf. 2Pd 1,4). Atravs dele, na forado Esprito Santo, temos acesso a Deus, nosso Pai(cf. Jo 1,12; At 17,18; 2Cor 3,18). Para se comunicarconosco, em sua innita bondade, Ele se serve deacontecimentos epalavrasintrinsecamente unidas,

    num processo progressivo e por etapas: a peda-gogia divina. Ele se revela inserido na vida e nahistria humana, respeitando nossas capacidades emodo de ser.2

    21. Deus assim se revela desde os incios a nossos pais.Aps a queda (cf. Gn 3,15), Ele prometeu-nos a

    esperana da Salvao e ofereceu-nos sua Aliana;chamou Abrao para dele fazer um grande povo, pormeio de Moiss e os profetas, ajudando este povo aconhec-lo como Deus vivo e verdadeiro, Pai provi-dente e justo Juiz, e a esperar o Salvador prometido(cf.DV 3). Jesus, Verbo feito carne, plenitude daRevelao, revela os segredos do Pai, liberta-nosdo pecado e da morte e nos garante a ressurreio(cf.DV4). Em sua misso Ele usou a mesma peda-gogia do Pai; fez-se um de ns, partilhando nossasalegrias e sofrimentos, usando nossa linguagem

    2 Outros aspectos da pedagogia de Deus e suas conseqncias para a catequese

    sero vistos no captulo quinto, 138-149.

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    (cf. GS 22). Seus discpulos, instrudos por Elemesmo e revestidos do seu Esprito em Pentecostes,

    so testemunhas do mistrio de sua Pessoa, Palavrade Vida que tocaram com as prprias mos (cf. 1Jo1,1), e foram enviados pelo Ressuscitado a todos ospovos (cf. Mt 28,19-20) para convid-los ao ban-quete do Amor-Comunho, tornando-se lhos doPai Misericordioso, discpulos de Cristo e templosdo Esprito Santo.

    22. Essa boa notcia da Salvao(Evangelho) paratoda a humanidade. Jesus deu aos discpulos a mis-so de evangelizar (cf. Mc 13,10; Mt 28,18-20; Lc4,18-19). Essa misso fonte da verdade salvca, detoda disciplina de costumes comunicando os donsdivinos, e isso foi elmente realizado pelos apsto-

    los (cf.DV7). A Igreja, sinal (sacramento) supremode sua presena salvadora na histria, transmite aRevelao e anuncia a Salvao atravs do mesmoprocesso pedaggico depalavrase obras, sobre-tudo nos sacramentos. Ela est convencida de quesua principal tarefa comunicar esta Boa-Nova aos

    povos: ela est a servio da evangelizao, exer-cendo o ministrio da Palavrado qual faz parte acatequese.

    2.2. A Palavra de Deus, fundamento da catequese

    23. O conjunto das obras realizadas por Deus ao longo

    da Histria da Salvao, com as obras e mensagens

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    dos profetas, Revelao de Deus, que em JesusCristo, em sua vida e palavra no s alcana o mais

    elevado grau, mas se constitui no critrio absolutode interpretao da histria salvca anterior. Osapstolos, transmitindo aquilo que eles prpriosreceberam, exortam os is a manter as tradiesque aprenderam, seja oralmente, seja por carta (cf.2Ts 2,15), e a combater pela f que se lhes transmitiu

    uma vez para sempre (cf. Jd 3) (DV8, 1). A pre-gao apostlica expressa de um modo especialnos livros inspirados (DV8).

    24. A Sagrada Escritura a Palavra de Deus enquanto redigida sob a moo do Esprito Santo (cf.DV9). A Sagrada Tradio, por sua vez, transmite in-tegralmente aos sucessores dos apstolos a Palavrade Deus conada por Cristo Senhor e pelo EspritoSanto aos apstolos para que, sob a luz do Espritoda Verdade, eles por sua pregao elmente a con-servem, exponham e difundam; resulta assim queno atravs da Escritura apenas que a Igreja derivasua certeza a respeito de tudo o que revelado (cf.

    DV9). A Sagrada Tradio e a Sagrada Escrituraconstituem um s sagrado depsito da Palavrade Deus, conado Igreja (DV 10, 1). O ofciode interpretar autenticamente a Palavra de Deusescrita ou transmitida foi conado unicamente aoMagistrio vivo da Igreja, cuja autoridade, exer-

    cida em nome de Jesus Cristo, no est acima da

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    Palavra de Deus, mas a seu servio. O Magistrio,por mandato divino e com a assistncia do Esprito

    Santo, piamente ausculta essa Palavra, santamente aguarda e elmente a expe (cf.DV10, 2). Para queseja permanente o dilogo de Deus com a Igreja,a Nova Aliana se expressa e se realiza de modosublime na Palavra da Escritura e na celebrao daliturgia (cf.DV8, 3). Os bispos e os is colaboram

    estreitamente na conservao, exerccio e prossoda f transmitida (DV10, 1). No s o Magistrio portador da Tradio, mas todos aqueles quecontribuem para santamente conduzir a vida efazer crescer a f do Povo de Deus (cf.DV8, 1).A compreenso do depsito da f cresce tambmpelo sincero trabalho dos catequistas e pelo vigorda teologia, em unio com os pastores. Assim, peloEsprito Santo a voz viva do Evangelho ressoa naIgreja e atravs dela no mundo (DV8, 3).

    25. Ao tesouro da Tradiopertence tambm o teste-munho dos que ouviram e vivenciaram essa Palavratransmitida de gerao em gerao (cf. 1Mc 12,9;

    Rm 15,4; 2Tm 3,16-17). APalavra de Deus, assimamplamente entendida, est presente e ressoa naTradio dos santos padres, no tesouro da liturgia,no Magistrio dos pastores, no testemunho dosmrtires e na vida dos santos, no trabalho dosmissionrios, na religiosidade do povo, na caridade

    viva dos cristos... (cf. DGC95). essa Palavra

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    que ilumina nossa existncia e continua sendoo caminho da Revelao de Deus para ns hoje.

    Por isso, a fonte da evangelizao e catequese aPalavra de Deus. A Igreja transmite e esclarece osfatos e palavras da Revelao e, sua luz, interpretaos sinais dos tempos e a nossa vida nos quais serealiza o desgnio salvco de Deus (cf.DGC39),para que o mundo ouvindo creia, crendo espere eesperando ame (DV 1 citando santo Agostinho).

    26. Deus na Sagrada Escritura falou atravs de homense mulheres, e de modo humano. A catequese temcomo tarefa proporcionar a todos o entendimentoclaro e profundo de tudo o que Deus nos quis trans-mitir: investigar com seriedade e entender o queos escritores sagrados escreveram para manifestaro que Deus nos quer falar. importante conheceras circunstncias, o tempo, a cultura, os modos dese expressar para comunicar. O mais importantepara esse entendimento da Palavra de Deus e suavivncia ler a Sagrada Escritura naquele mesmoEsprito em que foi escrita: o Esprito Santo quem

    ajuda a apreender com exatido o sentido dos textossagrados e seu contedo (cf.DV12).

    27. A catequese um dos meios pelos quais Deus con-tinua hoje a se manifestar s pessoas. Ela atualizaa Revelao acontecida no passado. O catequistaexperimenta a Palavra de Deus em sua boca,

    medida que, servindo-se da Sagrada Escritura e dos

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    ensinamentos da Igreja, vivendo e testemunhandosua f na comunidade e no mundo, transmite para

    seus irmos essa experincia de Deus. A delidadea Deus se expressa na catequese como delidade palavra outorgada em Jesus Cristo. O catequista noprega a si mesmo, mas a Jesus Cristo, sendo el Palavra e integridade de sua mensagem (P954).Ele tambm umprofeta, pois faz ecoar a Palavra

    de Deus na comunidade, tornando-a compreensvel.Catequese (kat-ekhein, em grego) signica ressoar;a Igreja d-lhe o sentido de ressoar a Palavra deDeus hoje (cf. CR31).

    28. A Revelao de iniciativa divina; a ns compete aresposta da f, adeso livre e obediente Boa-Nova

    da graa de Deus (cf. Fl 2,16; 1Ts 2,8; At 15,26;At 20,24), com pleno assentimento da vontade eda inteligncia. Guiados pela f, dom do EspritoSanto, chegamos a contemplar e experimentar, naconscincia, na liturgia e na vida, o Deus de amor,revelado em Cristo Jesus (cf.DGC15b).

    3. Evangelizao e catequese

    29. O desao da Igreja a evangelizaodo mundode hoje, mesmo em territrios onde a Igreja j seencontra implantada h mais tempo. Nossa reali-dade pede uma nova evangelizao. A catequese

    coloca-se dentro dessa perspectiva evangelizadora,

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    mostrando uma grande paixo pelo anncio doEvangelho.

    3.1. Primeiro anncio e catequese

    3.1.1. Primeiro anncio e evangelizao

    30. A Igreja existe para evangelizar, isto , paraanunciar a Boa Notcia do Reino, proclamado erealizado em Jesus Cristo (cf.EN14): sua graae vocao prpria. O centro doprimeiro anncio(querigma) a pessoa de Jesus, proclamando oReino como uma nova e denitiva interveno deDeus que salva com um poder superior quele queutilizou na criao do mundo.3Essa Salvao ogrande dom de Deus, libertao de tudo aquilo queoprime a pessoa humana, sobretudo do pecado e doMaligno, na alegria de conhecer a Deus e ser por Eleconhecido, de o ver e se entregar a Ele (EN9;DGC101). Transmitindo a mensagem do Reino, a cate-quese a desenvolve, aprofunda e mostra suas reper-cusses para as pessoas e para o mundo (cf. CT25).

    31. Na explicitao doprimeiro anncioquerigmtico,sublinham-se os seguintes elementos essenciais (cf.

    DGC102):

    3 [...] o sacrifcio de Cristo, nossa Pscoa, na plenitude dos tempos ultrapassaem grandeza a criao do mundo realizada no princpio (Missal Romano

    Viglia Pascal, orao aps a 1 leitura; citado noDGC101, nota 33).

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    a) em Jesus, que anuncia a chegada do Reino, Deusse mostra Pai amoroso. Na vida e mistrio pascal

    de Jesus, o Pai o revela como seu nico Filhoeterno, feito homem no qual o Reino j estrealmente presente;

    b) a Salvao, em Jesus, consiste na acolhida ecomunho com Deus, como Pai, no dom daliao divina que gera fraternidade. umaSalvao integral que comea aqui e se projetana eternidade;

    c) Deus, que nos criou sem ns, no quer salvar-nossem nossa participao e responsabilidade (cf.santo Agostinho): somos chamados conversoe a crer no Evangelho do Reino, que um Reinode justia, amor e paz, e luz do qual seremosjulgados;

    d) o Reino que se inaugura em Jesus, constitudo Se-nhor por seu mistrio pascal, j est presente emmistrio aqui na terra e ser levado plena reali-zao quando se manifestar na glria (cf. GS39);

    e) a Igreja, comunidade dos que crem em Jesus,

    constitui o germe e o incio desse Reino, que,como fermento na massa ou pequena semente,torna-se imensa rvore, vai crescendo e se expres-sando na cultura dos povos, no dilogo com eles;

    f) nossa vida e histria no caminham para o nada,mas, em seus aspectos de graa e pecado, so

    assumidas por Deus para serem transformadas

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    no futuro glorioso no qual Deus ser tudo emtodos (cf. 1Cor 15,28; Cl 3,11; Rm 9,5): essa a

    nossa feliz esperana.32. Alm de signicar oprimeiro anncioou annciomissionriocom o objetivo de converter quem no cristo, evangelizaotem um sentido mais amplo: tudo o que a Igreja realiza para suscitar e alimen-tar a f dos is e para transformar o mundo luz

    dos valores do Reino de Deus (cf. GS39, 89 e 91).A evangelizao implica no apenas o anncio doEvangelho por palavras, mas tambm a vida e aoda Igreja; envolve os gestos sacramentais, dentro dacomunidade viva que celebra o mistrio do amor doPai em Cristo, no Esprito Santo; implica tambma promoo da justia e da libertao; apresenta-se

    no apenas como caminho que vai da comunidadecrist para o mundo, mas tambm como aconteci-mento no mundo, dentro do qual Deus continua suaobra salvca.

    3.1.2. Catequese e evangelizao

    33. A evangelizao uma realidade rica, complexa edinmica, que compreende momentos essenciais,e diferentes entre si (cf. CT18 e 20; DGC63): o

    primeiro momento o anncio de Jesus Cristo(querigma); a catequese, um desses momentosessenciais, osegundo, dando-lhe continuidade.

    Sua nalidade aprofundar e amadurecer a f,

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    educando o convertido para que se incorpore comunidade crist. A catequese sempre supe a

    primeira evangelizao. Por sua vez, catequese se-gue-se o terceiromomento: a ao pastoralpara osis j iniciados na f, no seio da comunidade crist(cf. DGC 49), atravs da formao continuada.4Catequese e ao pastoral se impregnam do ardormissionrio, visando adeso mais plena a JesusCristo. A atividade da Igreja, de modo especial acatequese, traduz sempre a mstica missionria queanimava os primeiros cristos. A catequese exigeconverso interior e contnuo retorno ao ncleo doEvangelho (querigma), ou seja, ao mistrio de JesusCristo em sua Pscoa libertadora, vivida e celebradacontinuamente na liturgia. Sem isso, ela deixa deproduzir os frutos desejados. Toda ao da Igrejaleva ao seguimento mais intenso de Jesus (cf. CR64) e ao compromisso com seu projeto missionrio.

    3.2. Converso, seguimento, discipulado,

    comunidade

    34. O fruto da evangelizao e catequese o fazerdiscpulos: acolher a Palavra, aceitar Deus na

    4 Para maior esclarecimento e aprofundamento dos conceitos deevangelizao,catequese, ao pastoral, iniciaocrist,formaocontinuada, catecumenatoetc., pode-se consultar CNBB,Com adultos catequese adulta, Estudos da CNBB80, 2001, cap. IV, nn. 86-124. Sobre a originalidade da pedagogia da f, cf.

    abaixo 146-149.

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    prpria vida, como dom da f. H certas condiesda nossa parte, que se resumem em duas palavras

    evanglicas: converso e seguimento. A f comouma caminhada, conduzida pelo Esprito Santo, apartir de uma opo de vida e uma adeso pessoala Deus, atravs de Jesus Cristo, e ao seu projetopara o mundo. Isso supe tambm a aceitao in-telectual, o conhecimento da mensagem de Jesus.O seguimento de Jesus Cristo realiza-se, porm,na comunidade fraterna. O discipulado, que oaprofundamento do seguimento, implica rennciaa tudo o que se ope ao projeto de Deus e que di-minui a pessoa. Leva proximidade e intimidadecom Jesus Cristo e ao compromisso com a comu-nidade e com a misso (cf. CR64-65; AS127c).

    4. Nova compreenso do ministrioda catequese

    4.1. Catequese a servio da iniciao crist

    35. No incio do cristianismo, a catequese era o perodo

    em que se estruturava a converso. Os j evange-lizados eram iniciados no mistrio da Salvaoe em um estilo evanglico de ser: experincia devida crist, ensinamento sistematizado, mudanade vida, crescimento na comunidade, constnciana orao, alegre celebrao da f e engajamento

    missionrio. Esse longo processo de iniciao,

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    chamado catecumenato, se conclua com a imer-so no mistrio pascal atravs dos trs grandes

    sacramentos: Batismo, Conrmao e Eucaristia.A catequese estava, pois, a servio da iniciaocrist.

    36. A situao do mundo atual levou a Igreja noVaticano II a propor a restaurao do catecume-nato (cf. SC64; CD14; cf. AG14). O Batismo

    de crianas, que as introduz na vida da graa,exige uma continuao, uma iniciao vivencialnos mistrios da f (a pessoa de Jesus, a Igreja,a liturgia, os sacramentos) atravs da catequese.Esse processo catequtico possibilita tambm aosj batizados (adultos, jovens, crianas) assumir

    conscientemente a prpria vida crist. Para osno-batizados, a catequese se apresenta comoprocesso catecumenal para a vida crist (cf. CR65;DGC64).

    4.1.1. O signicado de iniciao no processo catequtico

    37. A iniciao possui uma raiz antiqssima nasculturas humanas. Elas a valorizavam muito, so-bretudo nos ritos de passagem e pertena (batismo,circunciso, ablao, casamento, desaos perigososetc.), com destaque para a entrada na vida adulta.Nossa sociedade perdeu, quase por completo, esse

    elemento cultural, permanecendo alguns resqu-

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    cios (festa das debutantes, rituais de acolhida emcertos grupos, o recebimento dos calouros etc.). O

    noviciado permanece hoje com caractersticas deiniciao vida religiosa. A iniciao consistia numprocesso a ser percorrido, com metas, exerccios eritos. Considerada como parte da iniciao crist(cf.AG14;RICA19), a catequese no uma supr-ua introduo na f, um verniz ou um cursinho

    de admisso Igreja. um processo exigente, umitinerrio prolongado de preparao e compreensovital, de acolhimento dos grandes segredos da f(mistrios), da vida nova revelada em Cristo Jesuse celebrada na liturgia.

    4.1.2. Exigncias da iniciao vida crist38. A catequese, como elemento importante da inicia-

    o vida crist, implica um longo processo vitalde introduo dos cristos ainda no plenamenteiniciados, seja qual for a sua idade, nos diversos

    aspectos essenciais da f crist. Trata, de formasistemtica, de um todo elementar e coerente, quefornea base slida para a caminhada rumo ma-turidade em Cristo (cf. Ef 4,13), com as seguintesdimenses, interligadas entre si:

    a) descoberta de si mesmo (dimenso antropol-

    gica ou tornar-se pessoa na tica da f);

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    b) experincia de Deus (dimenso afetivo-interpre-tativa);

    c) anncio e adeso a Jesus Cristo (dimenso cris-tolgica);d) vida no Esprito (dimenso pneumatolgica);e) celebrao litrgica e orao (dimenso celebra-

    tiva);f) participao na comunidade (dimenso comu-

    nitrio-participativa);g) interao f e vida, e servio fraterno, de acordo

    com os valores do Reino (dimenso sociotrans-formadora e inculturada);

    h) a formulao da f (dimenso intelectual oudoutrinal);

    i) o dilogo com outros caminhos e tradiesespirituais (dimenso ecumnica e de dilogointer-religioso);

    j) o relacionamento de cuidado com o cosmo (di-menso ecolgica ou csmica).

    4.2. Natureza da catequese39. A catequese , em primeiro lugar, uma ao ecle-

    sial: a Igreja transmite a f que ela mesma vive, eo catequista um porta-voz da comunidade e node uma doutrina pessoal (cf. CR145). Ela transmiteo tesouro da f (traditio) que, uma vez recebido,

    vivido e crescido no corao do catequizando, enri-

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    quece a prpria Igreja (redditio).5Ela, ao transmitira f, gera lhos pela ao do Esprito Santo e os

    educa maternalmente (cf.DGC78-79). A catequesefaz parte do ministrio da Palavra e do profetismoeclesial. O catequista um autntico profeta, poispronuncia a Palavra de Deus, na fora do EspritoSanto. Fiel pedagogia divina, a catequese iluminae revela o sentido da vida.

    40. A catequese possui algumas caractersticas funda-mentais:a) ser um aprendizado dinmico da vida crist, uma

    iniciao integral que favorea o seguimento deJesus Cristo;

    b) fornecer uma formao de base essencial, centra-

    da naquilo que constitui o ncleo da experinciacrist (a f, a celebrao e a vivncia da Pscoade Jesus), lanando os fundamentos do edifcioespiritual do cristo (cf. 1Cor 3,10-18; Is 28,16;1Pd 2,4; 2Cor 6,16);

    c) possibilitar a incorporao na comunidade crist:

    nela, a catequese vai alm do ensino, pe em

    5 No catecumenato primitivo, a traditio era o rito da entrega do Pai-Nosso e doCredo ao catecmeno, e a redditio consistia numa espcie de avaliao, pelaqual o catecmeno demonstrava a assimilao do contedo da f. Aqui os doistermos so tomados em seu sentido gurado, conforme se diz no texto; signica

    tambm que a Igreja, transmitindo os tesouros da sua mensagem s diversasculturas (traditio), enriquece o prprio depsito da f com novas expresses

    (redditio), ou seja, encarna-se nestas culturas (inculturao: cf. 49d, abaixo).

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    prtica a dinmica do encontro com Jesus Cristovivo e da experincia do Evangelho, celebra e

    alimenta a f nas celebraes e na liturgia;d) proporcionar formao orgnica e sistemticada f;

    e) desenvolver o compromisso missionrio, inerente ao do Esprito Santo, para o estabelecimentodo Reino de Deus no corao das pessoas, em

    suas relaes interpessoais e na organizao dasociedade;f) fomentar o dilogo com outras experincias

    eclesiais (ecumenismo), religiosas (dilogo in-ter-religioso) e com o mundo, testemunhando aconvivncia fraterna com o diferente;

    g) despertar o compromisso com a ao socio-transformadora luz da Palavra de Deus e dosensinamentos da Igreja.

    41. Por ser educao orgnica e sistemtica da f, acatequese se concentra naquilo que comum parao cristo, educa para a vida de comunidade, celebrae testemunha o compromisso com Jesus. Ela exerce,portanto, ao mesmo tempo, as tarefas de iniciao,educao e instruo (cf.DGC68). um processode educao gradual e progressivo, respeitando osritmos de crescimento de cada um.

    42. A catequese possui forte dimenso antropolgi-ca. E, por isso, ela precisa assumir as angstias

    e esperanas das pessoas, para oferecer-lhes as

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    possibilidades da libertao plena trazida por JesusCristo. Nessa perspectiva, as situaes histricas

    e as aspiraes autenticamente humanas so par-te indispensvel do contedo da catequese. Elasdevem ser interpretadas seriamente, dentro de seucontexto, a partir das experincias vivenciais dopovo de Israel, luz de Cristo e na comunidadeeclesial, na qual o Esprito de Cristo ressuscitadovive e opera continuamente (cf.Medelln, Cat. 6;CR70, 116).

    4.3. Finalidade da catequese

    43. A nalidade da catequese aprofundar o primeiroanncio do Evangelho: levar o catequizando a co-nhecer, acolher, celebrar e vivenciar o mistrio deDeus, manifestado em Jesus Cristo, que nos revelao Pai e nos envia o Esprito Santo. Conduz entregado corao a Deus, comunho com a Igreja, corpode Cristo (cf.DGC80-81; Catecismo426-429), e participao em sua misso.

    44. A dimenso eclesial essencial f crist (cf.LG9): cada batizado professa individualmente a f, ex-plicitada no Credo apostlico chamado Smbolo,pois manifesta a identidade de nosso compromissocristo. Mas cada um recebe, professa, alimentae vive essa f na Igreja e atravs dela. O Creio eo Cremos se implicam mutuamente. Ao fundir a

    sua consso com a consso da Igreja, o cristo

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    incorporado sua misso: ser sacramento deSalvaopara a vida do mundo. Quem proclama a

    prosso de f assume compromissos que, no pou-cas vezes, atrairo a perseguio. Na histria crist,os mrtires so os anunciadores e as testemunhaspor excelncia (DGC83).

    4.4. A catequese inspirada no processo catecumenal

    45. Os que recebem a catequese so chamados decatequizandos, se j receberam o Batismo, e decatecmenos, quando se preparam para receberesse sacramento (cf.DGC90, nota 60; 16, 29, 66etc.). Para todos a catequese quer garantir umaformao integral, num processo em que estejam

    presentes a dimenso celebrativo-litrgica da f, aconverso para atitudes e comportamentos cristose o ensino da doutrina (cf. DGC29, 88, 89): ainspirao catecumenal que deve iluminar qualquerprocesso catequtico.

    46. A inspirao catecumenal, que remonta ao incio

    da Igreja e poca dos Santos Padres, uma aogradual e se desenvolve em quatro tempos, como apresentado no Ritual de Iniciao Crist de

    Adultos (nn. 6-7:DGC 88):a) opr-catecumenato: o momento do primei-

    ro anncio, em vista da converso, quando se

    explicita o querigma (primeira evangelizao)

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    e se estabelecem os primeiros contatos com acomunidade crist (cf.RICA 9-13);

    b) o catecumenatopropriamente dito: destinado catequese integral, entrega dos evangelhos, prtica da vida crist, s celebraes e ao tes-temunho da f (cf.RICA 14-20);

    c) o tempo da purifcaoe iluminao: dedi-cado a preparar mais intensamente o esprito e

    o corao do catecmeno, intensicando a con-verso e a vida interior (cf.RICA 21-26); nestafase recebem o Pai-Nosso e o Credo; no nalrecebem os sacramentos da iniciao: Batismo,Conrmao e Eucaristia (cf.RICA 27-36);

    d) o tempo da mistagogia: visa ao progresso no

    conhecimento do mistrio pascal atravs denovas explanaes, sobretudo da experinciados sacramentos recebidos, e ao comeo daparticipao integral na comunidade (cf.RICA37-40).

    47. A formao propriamente catecumenal, conforme a

    mais antiga tradio, realiza-se atravs da narraodas experincias de Deus, particularmente da His-tria da Salvao mediante a catequese bblica. Apreparao imediata ao Batismo feita por meio dacatequese doutrinal, que explica o Smbolo Apos-tlicoe oPai-Nosso, com suas implicaes morais.

    Esse processo acompanhado de ritos e escrutnios.

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    A etapa que vem depois dos sacramentos de inicia-o, mediante a catequese mistaggica, ajuda os

    neobatizados a impregnar-se dos sacramentos e aincorporar-se na comunidade (cf.DGC89; cf. CR222).

    48. Essas etapas da tradio catecumenal pr-batismalinspiram tambm todo e qualquer tipo de catequeseps-batismal. Porm, entre catequizandos e catec-

    menos, e entre catequese ps-batismale catequesepr-batismal, existe uma diferena fundamental:os primeiros j foram introduzidos na Igreja, mer-gulhados em Cristo por meio do Batismo. Sua con-verso se fundamenta, portanto, nesse Batismo jrecebido, cuja graa devem desenvolver (cf.RICA295;DGC90).

    49. Diante dessa substancial diferena, preciso terpresentes estes elementos do catecumenato batis-mal: eles so fonte de inspirao para a catequeseps-batismal (cf.DGC91):a) O catecumenato batismal recorda constante-

    mente Igreja a importncia fundamental dafuno da iniciao vida crist, que envolveo anncio da Palavra, o acolhimento do Evan-gelho, acarretando uma converso, a prossode f, o Batismo, a efuso do Esprito Santo, oacesso Comunho Eucarstica (CDC1229). A

    pastoral de iniciao crist vital para a Igreja

    particular.

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    b) O catecumenato batismal responsabilidade dacomunidade crist. De fato, tal iniciao crist

    deve ser obra no apenas dos catequistas e dospresbteros, mas tambm da comunidade de ise, sobretudo, dos padrinhos (cf.AG14d). A insti-tuio catecumenal incrementa assim, na Igreja,a conscincia da sua maternidade espiritual.

    c) O catecumenato batismal impregnado pelomistrio da Pscoa de Cristo. Por isso, todainiciao deve ter carter pascal (RICA8). AViglia pascal, centro da liturgia crist, e a espi-ritualidade batismal so inspirao para qualquerprocesso catequtico.

    d) O catecumenato batismal lugar privilegiadode inculturao.6Seguindo o exemplo da En-carnao do Filho de Deus, que, assumindonossa realidade, foi em tudo semelhante a ns,menos no pecado (cf. Hb 4,15), a Igreja acolheos catecmenos integralmente, com os seus vn-culos culturais, puricados luz do Evangelho.A ao catequizadora participa dessa funo de

    incorporar na catolicidade da Igreja as autnticassementes da Palavra, disseminadas nos indiv-duos e nos povos.

    e) A concepo do catecumenato batismal, comoprocesso formativo e verdadeira escola de f,

    6 Cf. acima 30, nota 15.

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    oferece catequese ps-batismal uma dinmicae algumas notas qualicativas: a intensidade e a

    integridade da formao; o seu carter gradual,com etapas denidas; a sua vinculao com ritos,smbolos e sinais, especialmente bblicos e litr-gicos; a sua constante referncia comunidadeeclesial. A catequese ps-batismal no precisareproduzir ao p da letra o catecumenato batis-mal. Porm, reconhecendo aos catequizandosa sua realidade de batizados, inspira-se nessaescola preparatria vida crist, deixando-sefecundar pelos seus principais elementos.

    50. A catequese no prepara simplesmente para esteou aquele sacramento. O sacramento uma con-seqncia de uma adeso proposta do Reino,vivida na Igreja. Nosso processo de crescimentoda f permanente; os sacramentos alimentam esseprocesso e tm conseqncias na vida. Diante daimportncia de assumir uma catequese de feio ca-tecumenal, necessrio rever, profundamente, noapenas os cursos de Batismo e de noivos e outros

    semelhantes, mas todo o processo de catequese emnossa Igreja, para que se pautem pelo modelo docatecumenato.

    4.5. A comunidade: fonte, lugar e meta da catequese

    51. Jesus deixou na histria uma comunidade viva, a

    Igreja, para dar continuidade sua misso salvca.

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    Paulo a dene como uma carta de Cristo, redigidapor nosso intermdio, escrita no com tinta, mas

    com o Esprito de Deus vivo, no em tbuas de pe-dra, mas em tbuas de carne, os coraes! (2Cor3,3). A comunidade eclesial conserva a memriade Jesus, suas palavras e gestos, particularmenteos sacramentos, a orao, o compromisso como Reino, a opo pelos pobres. Nela se originam

    diferentes modelos de santidade, espiritualidade,transformao crist da civilizao e da cultura (cf.CR57-58).

    52. Por isso, o lugar ou ambiente normal da catequese a comunidade eclesial. Onde h uma verdadeiracomunidade crist, ela se torna umafonte vivada

    catequese, pois a f no uma teoria, mas umarealidade vivida pelos membros da comunidade.Nesse sentido ela o verdadeiro audiovisual dacatequese. Por outro lado, ao educar para viver af em comunidade, esta se torna, tambm, uma dasmetasda catequese. O verdadeiro ideal da catequese

    desenvolver o processo da educao da f, atravsda interao de trs elementos: o catequizando, a ca-minhada da comunidade e a mensagem evanglica(cf. CRIV parte; cf. abaixo 155 e 185). Quando noh comunidade, os catequistas, obviamente, ajudama constru-la (cf. CR311-316).

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    4.6. Tarefas da catequese

    53. Em virtude de sua prpria dinmica interna, a fprecisa ser conhecida, celebrada, vivida e culti-vada na orao. E como ela deve ser vivida emcomunidade e anunciada na misso, precisa sercompartilhada, testemunhada e anunciada. Acatequese tem, portanto, as seguintes tarefas (cf.

    DGC85-87):

    a) Conhecimento da f: a catequese introduz ocristo no conhecimento do prprio Jesus, dasEscrituras Sagradas, da Igreja, da Tradio e dasfrmulas da f, particularmente do Credo Apos-tlico. E, nesse sentido, asfrmulas doutrinaisajudam no aprofundamento do mistrio cristo:

    a dimenso doutrinal da catequese.b) Iniciao litrgica: para realizar a sua obra

    salvca, Cristo est presente em sua Igreja,sobretudo nas aes litrgicas (SC7). tarefada catequese introduzir no signicado e par-ticipao ativa, interna e externa, consciente,

    plena e frutuosa dos mistrios (sacramentos),celebraes, sinais, smbolos, ritos, oraes eoutras formas litrgicas. Na catequese primi-tiva era importante essa introduo no sentidopleno dos sinais e smbolos litrgicos (mistago-

    gia). Alm do mais, a liturgia, por sua prpria

    natureza, possui uma dimenso catequtica. A

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    catequese deve ser realizada em harmonia como ano litrgico.7

    c) Formao moral: uma tarefa importante da ca-tequese educar a conscincia, atitudes, espritoe projeto de vida segundo Jesus. As bem-aven-turanas e os mandamentos, lidos e praticados luz do Evangelho, e com suas conseqnciasticas e morais, tanto pessoais como sociais,

    fazem parte do contedo essencial da educa-o para as atitudes crists, como discpulose discpulas de Jesus Cristo (cf. Mt 5,3-12; Ex19; Dt 5,6-21; Mt 25,31-46). A formao para osacramento da Penitncia contribui para a for-mao moral. A coerncia da vida dos cristoscom sua f sinal de eccia da evangelizao.Somente essa coerncia poder evitar os desviosdo materialismo, consumismo, hedonismo e re-lativismo, e superar as estruturas geradoras deinjustias e outras formas impostas a um povode tradio crist. preciso mostrar que a reli-gio, especialmente o cristianismo, fermento

    de libertao da pessoa e de transformao dasociedade (cf.DGAE193).

    d) Vida de orao: cabe catequese ensinar arezar por, com e em Cristo, com os mesmossentimentos e disposies com os quais Ele se

    7 Esse tema ser aprofundado mais frente, 118-122.

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    dirige ao Pai: adorao, louvor, agradecimento,conana, splica, contemplao. OPai-Nosso

    o modelo acabado da orao crist (cf. Lc 11,1-4;Mt 6,9-13). O catecumenato, conforme oRICA,prev a entrega do livro da Palavra de Deus,do Credoe doPai-Nosso. A vida crist atingemais profundidade se permeada por um climade orao, que tem seu cume na liturgia. A ca-tequese torna-se estril e infrutfera se reduzidaa um simples estudo ou mera reexo doutrinal.

    e) Vida comunitria: se a f pode ser vivida emplenitude somente dentro da comunidade ecle-sial, necessrio que a catequese cuide comcarinho dessa dimenso. Os evangelhos ensinamalgumas atitudes importantes para a vida co-munitria: simplicidade e humildade, solicitudepelos pequenos, ateno para os que erram ou seafastam, correo fraterna, orao em comum,amor fraterno, partilha de bens (cf. At 2,42-47;4,32-35). O ecumenismo e o dilogo inter-reli-gioso tambm fazem parte dessa educao para

    a vivncia em comunidade.f) Testemunho: a misso do cristo levar, socie-

    dade de hoje, a certeza de que a verdade sobre oser humano s se revela plenamente no mistriodo Verbo encarnado. O testemunho de santidadetornar esse anncio plenamente digno de f

    (DGAE81).

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    g) Misso: o verdadeiro discpulo de Jesus mis-sionrio do Reino. As comunidades eclesiais

    tenham viva conscincia de que aquilo que umavez foi pregado pelo Senhor deve ser proclama-do e espalhado at os conns da terra (DGAE25). No h, portanto, autntica catequese seminiciao misso, inclusive alm-fronteiras,como parte essencial da vocao crist.

    5. Educao religiosa nas escolas

    5.1. Ensino Religioso Escolar distinto da

    catequese

    54. Tradicionalmente a educao escolar era considera-da, entre outras coisas, um mbito privilegiado paraa catequese. A sociedade evoluiu para o pluralismoreligioso e, tambm, para uma generalizada secu-larizao dos ambientes pblicos e dos costumes.Nesse contexto oEnsino Religioso Escolar(ERE)no Brasil, reconhecido ocialmente,8est construin-

    do uma epistemologia prpria. A Igreja reconheceque a relao entre ensino religioso na escola e acatequese uma relao de distino e de comple-mentaridade (DGC73). H um nexo indivisvel

    8 Lei de Diretrizes e Bases, de 20 de dezembro de 1996, Lei 9394/96, artigo 33,

    substitudo pela Lei 9.475/97 de julho de 1997 sobre o Ensino Religioso.

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    e, ao mesmo tempo, uma clara distino entreensino da religio e a catequese (CR124-125; cf.

    DGC76). Considerando as mais diversas variantesna situao dos alunos, e do seu contexto social eeclesial, urge proceder com realismo e prudncia naaplicao das orientaes gerais da Igreja particulare da Conferncia dos Bispos (cf.DGC76).

    55. A situao do ERE distinta nos vrios Estados: decarter antropolgico (cultura religiosa), ecumnico,inter-religioso e confessional. Joo Paulo II, falan-do s Conferncias Episcopais da Europa, armaque os alunos tm o direito de aprender, de modoverdadeiro e com certeza, a religio qual perten-cem. No pode ser desatendido esse seu direito aconhecer mais profundamente a pessoa de Cristo e

    a totalidade do anncio salvco que Ele trouxe. Ocarter confessional do Ensino Religioso Escolar,realizado pela Igreja segundo modos e formas es-tabelecidas em cada pas, , portanto, uma garantiaindispensvel oferecida s famlias e aos alunosque escolhem tal ensino (DGC 74). As dioceses

    empenhem-se na formao de prossionais para oexerccio do Ensino Religioso Escolar.

    5.2. O testemunho dos profissionais catlicos

    na educao

    56. Os cristos mantenedores de escolas por causa da

    f, ou que atuam como prossionais nas escolas,

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    permanecem, obviamente, com a misso de evan-gelizar atravs do testemunho, da competncia

    prossional e do dilogo entre cincia e f, como oprope o documento O leigo catlico, testemunhada f na Escola.9

    5.3. Escola catlica

    57. Nas escolas catlicas existe um imenso campo de

    evangelizaoatravs principalmente de seu projetoeducativo. A escola leva os valores e o anncio deJesus Cristo, no s atravs de uma disciplina oumatria, no caso, o ERE, mas principalmente atravsda estrutura escolar, em particular pelo testemunhoda comunidade educativa e do projeto pedaggico,

    medida que diretores, professores, pais e alunos todos os que compem a comunidade educativa vivem efetivamente a f crist, desempenham comcompetncia humana seu papel prossional e exis-tencialmente assumem um projeto educativo auten-ticamente cristo. As diversas iniciativas pastoraisno mbito escolar, respeitando as diferentes origense opes religiosas dos alunos e as orientaes daIgreja, manifestam claramente a identidade catlicadessas escolas, e sempre em comunho com a pas-toral orgnica da Igreja (cf.DGC259).

    9 Congregao para a Educao Catlica.O leigo catlico, testemunhada f na escola. Braslia, s.n., 1982. (Caderno da AEC do Brasil, 16.)

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    58. Para a escola catlica, h tambm um nexo e aomesmo tempo uma distino entreEnsino Religioso

    Escolare catequese. A educao religiosa possuisua natureza prpria, diferente da catequese, pro-porcionando a educao da religiosidade dos alunos,o conhecimento das diversas expresses religiosas,sobretudo do cristianismo, preparando-os para orespeito ao diferente e dando uma especial ateno

    ao estudo objetivo da mensagem evanglica. A edu-cao religiosa deve penetrar no mbito da cultura erelacionar-se com as outras formas do saber huma-no. Como forma original do ministrio da Palavra,o ensino religioso torna presente o Evangelho noprocesso pessoal da assimilao sistemtica e crticada cultura (DGC73). A escola catlica continuasendo um mbito privilegiado para esse processoeducativo (cf. AS133). Nela acontece o exerccioda convivncia solidria entre diferentes opesreligiosas e, tambm, o exerccio do ecumenismo,do dilogo religioso e do dilogo entre cultura e freligiosa.

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    Captulo 3

    CATEQUESE CONTEXTUALIZADA:HISTRIA E REALIDADE

    O que ns ouvimos, o que aprendemos,o que nossos pais nos contaram,

    no ocultaremos a seus lhos;mas vamos contar gerao seguinte [...] (Sl 78,3-4 a).

    1. A catequese na histriae a histria como lugar teolgico1

    1.1. A Igreja na histria

    59. A Igreja faz parte da histria. Ela est situada nocontexto social, econmico, poltico, cultural ereligioso, marcado atualmente pela globalizaoneoliberal de mercado e pelo pluralismo. Em nos-

    1 Lugares teolgicospropriamente ditos so aqueles fundamentos dos quais aIgreja recebe sua f e a certeza dela: a Escritura, consenso universal da Igreja,o Magistrio... H escolas teolgicas que falam de lugares teolgicos no pro-

    priamente ditos (loci theologici alieniou indiretos), que no so diretamente ede per si fonte da f, mas o so indiretamente. Assim, a histria pode ser lugardo mistrio da iniqidade, mas tambm da manifestao do Deus justo, mise-ricordioso e santo. A histria no o manifesta por si s, mas luz da Palavra

    de Deus.

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    sa complexa realidade brasileira, predomina umamatriz cultural crist. O mandato missionrio de

    Jesus (cf. Mc 16,15-16; Lc 24,47; At 2,38) colocacada discpulo e a Igreja, em qualquer lugar, comosal, luz e fermento (cf. Mt 5,13-15; Mc 9,50; Lc14,34-35; 1Cor 5,7-8). A catequese, como ministrioda Igreja, leva em conta as situaes especcas decada lugar e as condies prprias de cada grupo

    de catequizandos.1.2. Ser humano, um ser histrico

    60. A histria lugar da caminhada de Deus com seupovo e do povo com Deus, embora nela se manifestetambm o mistrio da iniqidade.Nela e por ela,

    e por vezes contra ela, Deus se revela e manifestao que Ele quer ensinar e o que espera da humani-dade. Jesus Cristo, o Filho de Deus, encarnou-sena realidade humana e num determinado contextohistrico, que condicionou sua vida, ensinamento emisso. Viveu, ensinou e nos salvou a partir da his-

    tria e do que ela comporta, fazendo dela, marcadapela nova justia e misericrdia, sinal da Salvaoescatolgica. A histria, em sua ambigidade, fazparte do contedo da catequese. O el, iniciado nomistrio da Salvao, chamado a assumir a missode ajudar a construir a histria, segundo o Reino de

    Deus.

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    61. luz da f, a Igreja perscruta os passos de Deusna histria do Brasil. Somos umpovo pluritnico

    e pluricultural, com caractersticas variadas e quedeixam marcas profundas na populao das diver-sas regies. Os primeiros habitantes, os indgenas,que durante milnios aqui viveram e que, em grandeparte, no foram respeitados pelos colonizadoreseuropeus, continuam ainda, na sua maioria, emsituaes dolorosas de isolamento, explorao eexcluso. Os vrios grupos de origem afro, descen-dentes do regime de escravido, multiplicaram-seem algumas regies do pas. Ora, esses lhos elhas de Deus, sob muitos aspectos, no sucien-temente assumidos na nao brasileira, constituemum desao especial misso da Igreja, que no os

    levou devidamente em conta em sua misso. A essesh que se acrescentarem diversos grupos europeus,asiticos, latino-americanos e caribenhos, vindospara c, e que necessitam da presena evangeliza-dora da Igreja.

    62. A catequese tem tambm a misso de superar o

    racismo, a discriminao de gnero e de posioeconmica e social, colaborando para a promooda solidariedade.

    1.3. Encarnar-se na histria

    63. As etapas da histria do Brasil, com as idias que as

    dominaram e a ao do cristianismo em cada uma

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    delas, fundamentam a matriz cultural do Brasil dehoje, rural e urbano. Um novo desao para a Igreja

    atualmente o fenmeno da globalizao.64. A catequese no pode ser desencarnada da histria.Sua misso , tambm, contribuir para a formao decristos como cidados, justos, solidrios e fraternos,co-responsveis pela ptria comum e pelo planetaterra. Nesse sentido, buscando a dinmica da incul-

    turao, cabe catequese adaptar-se aos diversos gru-pos humanos (negros, indgenas, mestios, adultos,jovens, adolescentes, crianas, idosos, homens, mu-lheres, pessoas com decincia), em suas diferentessituaes: cidade, periferias, campo, litoral e outros.

    2. A catequese na evangelizaoda Amrica Latina, especialmente do Brasil

    2.1. A catequese na Amrica Latina

    65. Antes mesmo de ter recebido dos missionrios cris-tos, a partir de 1492, a luz do Evangelho, o Esprito

    do Senhor j estava presente nas populaes quehabitavam o continente, posteriormente denomi-nado Amrica. Elas reconheciam, a seu modo, apresena de Deus criador na natureza e na vida e ocultuavam (cf.P201, 401, 403). Essas sementes daPalavra facilitaram a misso evangelizadora dos

    cristos que aqui chegaram (cf. SD17).

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    66. Destaca-se, pastoralmente, na histria da Igreja nocontinente, o III Conclio de Lima (1584), que deu

    grande valor catequese. Ele fez publicar, em vriaslnguas indgenas, principalmente em quchua, omanualDoutrina Cristem dois volumes (breve,para iniciantes, e maior, para os mais avanados),no esquema do Catecismo de Trento: Credo, man-damentos, sacramentos e orao (Pai-Nosso). En-

    tretanto, no teve xito, pois foi sobreposto peloscatecismos doutrinais de Ripalda e Astete, importa-dos da Espanha. No Mxico foram confeccionadoscatecismos pictricos. preciso salientar a tarefaevangelizadora e catequtica fundamental dos lei-gos. As mes, principalmente, foram responsveis

    pela transmisso da f.67. Um salto qualitativo para a Igreja na Amrica La-

    tina aconteceu em 1955, no Rio de Janeiro, com acriao do Conselho Episcopal Latino-Americano(Celam), com seus encontros, estudos, documentos,assessorias, cursos e publicaes. Marcam momen-

    tos decisivos as Conferncias Gerais do EpiscopadoLatino-americano em Medelln, Puebla, e SantoDomingo. Tudo isso deu forte impulso renovador catequese. Importante inuncia teve oDepar-tamento de Catequese do Celam (Decat) comseus projetos de animao da catequese, escritos,

    semanas latino-americanas de catequese e outras

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    iniciativas.2 preciso destacar, em cada pas, aatuao das Conferncias Episcopais, os Institutos

    e Escolas para a formao de catequistas e as Sema-nas continentais, nacionais e locais de catequese.

    2.2. A catequese no Brasil dos incios

    at o documento CATEQUESERENOVADA

    68. A histria do Brasil se entrelaa com a histria da

    Igreja. Tambm no Brasil a base se forma com aao dos leigos catlicos colonizadores, nas famliase aldeias e, depois, com a ao dos missionrios.Em 1532, fundaram-se as primeiras parquias e, de1538 a 1541, instalou-se a primeira misso formalem Santa Catarina por obra dos franciscanos. Em1549, com o governador-geral, veio de Portugal oprimeiro grupo de jesutas.

    69. Inicia-se, ento, a implantao de uma catequeseinstitucionalizadapara os colonizadores portugue-ses, seguindo o modelo tridentino. Para os indgenasrealizava-se uma catequese missionria bastantecriativa, abandonando-se em pouco tempo a ajuda

    de intrpretes, j que os missionrios decidiramaprender a lngua local. Com a inuncia deles,aos poucos prevalece o uso de uma lngua geral.3

    2 Em julho de 1995 foi fundada a Sociedade de Catequetas Latino-americanos(Scala).

    3 Aos missionrios, sobretudo, impunha-se a grave obrigao de conhecer e

    usar bem as lnguas indgenas, a ponto de poderem escrever livros e explicar

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    Os jesutas escreveram catecismos nessas lnguase usaram a msica, o teatro, a poesia, os autos e a

    dana ritual para a obra evangelizadora. Tanto noscolgios como na catequese indgena, predominavaa metodologia da memorizao e da tradio oral.Para os missionrios, no dizer de Pe. Anchieta, aquesto da converso dos ndios no era doutrinria,mas uma questo de costumes.4

    70. Dentre os missionrios distinguiram-se o Pe. Ma-noel da Nbrega, provincial, e, sobretudo, o bem-aventurado Jos de Anchieta. Ele escreveu textoscatequticos, teatros, gramticas e poemas emquatro lnguas (latim, portugus, castelhano e tupi-guarani), sendo ao mesmo tempo evangelizador, ca-

    tequista, mdico, artce, pacicador, taumaturgo,mestre-escola, arquiteto: um missionrio completo.Novas levas de missionrios jesutas chegaram aoBrasil nos anos seguintes, destacando-se entres eleso Pe. Antnio Vieira (1608-1697). Tambm outrasordens religiosas (franciscanos, capuchinhos, be-

    neditinos, carmelitas, mercedrios)se associaram misso evangelizadora no Brasil. Os missionrios

    a doutrina crist. No poderia ser ordenado nenhum jesuta que no soubesselnguas indgenas.

    4 Leite, S. Cartas do Brasil. Coimbra, s.n., 1955. p. 12; cf. tambmAnchieta,J. de. Cartas, informaes. Rio de Janeiro, Civilizao Brasileira, 1933. pp.

    419 e 435.

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    se preocupavam tambm com apromoo humanae social do indgena fortemente agredido pelos

    colonizadores.71. A crueldade dos colonizadores em relao aosindgenas foi insistentemente denunciada por mis-sionrios, levando o Papa Urbano VIII a escrevera bula Commissum Nobis, em 1638, em defesa dosndios. Com menos intensidade, mas com zelo apos-

    tlico, zeram-se esforos na evangelizao dosnegros que, numa situao anti-humana, sofriama escravido. A Igreja infelizmente no teve vozforte e decisiva para se opor execrvel instituioescravagista.

    72. Mais tarde, as idias que transformavam a Europa

    no sculo XVIII tiveram repercusso no Brasil,sobretudo o Iluminismo, os ideais da RevoluoFrancesa, o Mercantilismo e o Despotismo Escla-recido. Este ltimo movimento teve inuncia noBrasil atravs do Marqus de Pombal (1699-1782).Suas medidas polticas afetaram a ao da Igreja,

    por causa da expulso dos jesutas (1759) e pelaimposio do catecismo jansenista, que favoreciaseus intentos de enfraquecer a Igreja. Esse textofavoreceu a subservincia autoridade e a forma-o moral no Brasil, com seu rigorismo ascticoexacerbado, a busca de rigorosa pureza legal, a

    luta indiscriminada contra o esprito de tolerncia

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    e o laxismo, a viso negativa da sexualidade e adivulgao de um cristianismo triste.

    73. Mas, quando a catequese ocial entrou em crise,no perodo da expulso dos jesutas, foi a catequesepopular dos leigos, rezadores, puxadores de novena,pregadores populares, especialmente mulheres, quemanteve e deu continuidade transmisso dos dadosessenciais da f. Ao mesmo tempo, porm, o sincretis-mo religioso, numa mistura de elementos da religioindgena, africana e do catolicismo, foi-se rmando.

    74. A transferncia da famlia real, em 1808, coincidiucom a reforma catlica, no Brasil.5A catequesedava, ento, prioridade ao ensino da doutrinacrist. As cartas pastorais dos bispos e os catecis-mos alimentaram o movimento catequtico, que

    recebeu um incremento a partir de 1840, quan-do a Igreja no Brasil assumiu as orientaes doConclio de Trento. Os novos textos pretendiamsubstituir o catecismo jansenista. A proliferaode manuais catequticos diocesanos, durante oImprio, preparou o terreno para um texto nico

    no incio do sculo XX. Alm da preocupao com

    5 Podem ser citados como bispos reformadores: Dom Romualdo de SouzaCoelho e Dom Macedo Costa (Par), Dom Antnio Vioso (Mariana), DomJoaquim Manoel da Silveira (Maranho), Dom Antnio Joaquim de Melo(So Paulo), Dom Pedro Maria de Lacerda (Rio de Janeiro) e outros. Algunsautores chamam tal reforma de romanizao, pois a nalidade principal dosbispos reformadores era implantar no Brasil o esprito da reforma tridentina,

    superando o tradicional catolicismo portugus ainda de raiz medieval.

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    o jansenismo, galicanismo e liberalismo, havia otom antiprotestante de Trento. No Brasil, o governo

    aceitara clusulas favorveis liberdade religiosados anglicanos, no Tratado do Comrciocom aInglaterra de 1810. Vrios pastores protestantese imigrantes americanos j iniciavam misses noBrasil, especialmente atravs de colgios.

    75. Junto com os textos de catequese, a pregao

    missionrianos ambientes populares, que incluamissionrios leigos, ajudava a manter e alimentara f dos is, com a difuso de devocionrios,manuais de orao, novenrios, livros de piedade,teros, horas marianas, misso abreviada (textospara a continuidade das misses).

    76. No nal do sculo XIX e incio do XX realiza-ram-se esforos de articulao pastoral. Marcantefoi o Conclio Plenrio Latino Americano (1899),em Roma, convocado pelo Papa Leo XIII. Esseevento teve efeitos no Brasil. Dom Antnio Mace-do Costa conseguiu, pela primeira vez no Brasil,reunir o episcopado (maro de 1890): as dioceseseram poucas. No nal do encontro foi promulgadaa Pastoral Coletiva do Episcopado Brasileiro.6Em 1915, veio a lume outraPastoral Coletiva, umainiciativa da Provncia Eclesistica Meridional do

    6 Pastoral Coletiva do Episcopado Brasileiro ao Clero e aos Fiis das duas

    Provncias Eclesisticas do Brasil. Rio de Janeiro, Leuzinger, 1900.

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    Brasil, e que, logo, foi adotada no Brasil inteiro.Esse documento assumido ocialmente no Conc-

    lio Plenrio Brasileiro, em 1939, foi reeditado comacrscimos em 1950, tendo como subttulo Cons-tituies Eclesisticas do Brasil. Sob o impulsodos Papas Pio XI e Pio XII, os bispos brasileirosacolheram e deram apoio Ao Catlica, que teveboa acolhida e exerceu signicativa inuncia narenovao da Igreja e da catequese no pas.

    77. O Catecismo da Doutrina Crist7marcou a cami-nhada da catequese no Brasil; foi publicado a partirde 1903, pelas provncias eclesis