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A IMPORTÂNCIA DA LEITURA NAS SÉRIES
INICIAIS
Marilene Pereira de Miranda
ORIENTADORA: Adriana da Silva Spinelli
Posse – Go 2009
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO A VEZ DO MESTRE A DISTÂNCIA
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
INSTITUTO “A VEZ DO MESTRE”
A IMPORTÂNCIA DA LEITURA NAS SÉRIES
INICIAIS
Marilene Pereira de Miranda
Monografia apresentada como condição para obtenção do título de Especialista no Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Educação Infantil e Desenvolvimento– Instituto a Vez do Mestre - Centro de Educação a Distância, da Universidade Candido Mendes.
Orientador: Prof.ª. Adriana da Silva Spinelli.
POSSE – GO
2009
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos mestres que contribuíram para que
eu chegasse até aqui.
A minha família, que sempre me apoiou e
entendeu a minha ausência.
A Deus que me deu a vida, a sabedoria e a
oportunidade de sempre adquirir novos
conhecimentos.
EPÍGRAFE
“É fundamental diminuir a distância entre o que se
diz e o que se faz, de tal forma que, num dado
momento, a tua fala seja a tua prática”.
Paulo Freire
RESUMO
A escola e a família devem proporcionar às crianças o acesso ao conhecimento e a formação de indivíduos críticos, comprometidos consigo mesmos e com a sociedade, capazes de intervir modificando a realidade, auto-motivados e aptos a buscar o aprendizado e o aperfeiçoamento contínuos, o que passa pela formação de leitores competentes. É fato sabido que várias gerações têm demonstrado não apenas o desinteresse pela leitura, mas também a incapacidade de fazê-la coerentemente, compreendendo um texto em profundidade, o que inegavelmente limita o indivíduo em suas possibilidades de acesso ao conhecimento culturalmente construído. Portanto, é tarefa urgente dos pais e da escola, em todos os níveis, buscar maneiras de estimular, mais do que a capacidade de ler, o prazer pela leitura. Apenas propiciando aos sujeitos leitores o prazer da leitura é que se pode construir as competências necessárias para sua apreensão e produção. Pensadores como Paulo Freire apontam para o reconhecimento de que a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura da palavra escrita implica na ampliação da possibilidade de leitura do mundo. Assim, o não-desenvolvimento de bons leitores limita as possibilidades de leitura do mundo, da compreensão da realidade social e da intervenção do sujeito buscando a transformação da sociedade. No intuito de desenvolver, desde a mais tenra idade, o hábito e o prazer da leitura, a educação infantil deve oferecer oportunidades de leituras variadas, leitura não apenas de textos escritos, mas a própria leitura e interpretação do mundo em que a criança está inserida e do qual faz parte como ator social. O acesso a diferentes tipos de texto, mesmo bem antes da alfabetização, permitirá desenvolver tais capacidades, alem de apresentar à criança elementos constitutivos do texto: vocabulário, estrutura, enredo, coerência interna, elenco de personagens e, além disso, o uso social da escrita, elementos esses que serão fundamentais no processo de alfabetização. Isso porque é constatado que “as crianças constroem conhecimentos sobre a escrita muito antes do que se supunha”. Palavras-chaves: Leitura, infância, contos de fadas, histórias
METODOLOGIA
Para desenvolver o presente trabalho sobre “A importância da leitura nas
séries iniciais”, foi feita pesquisa bibliográfica referente ao tema e que trata da
importância desse assunto no processo de alfabetização dos alunos e de sua
contribuição para a melhoria da educação de forma geral.
Como se refere a importância de literatura apropriada ao público infantil, em
Azevedo:
“Falar, por outro lado, em uma literatura “infantil” é antever um grupo determinado de leitores, com contorno próprio e, pelo menos em tese, uma série de características bastante específicas. É, também, considerar a existência de um universo palpável e nítido, o “universo infantil”, território peculiar e exclusivo da criança. Para ser percebido com clareza, este mundo precisaria estar em oposição a um outro: o “universo adulto””.
(RICARDO AZEVEDO, 2007)
São apresentadas algumas reflexões, comentários e possíveis contribuições
para a melhoria do processo de ensino aprendizagem, tendo o processo de leitura
como ferramenta fundamental para um bom desenvolvimento dos alunos nas séries
iniciais e a formação de cidadãos bem preparados para a vida em sociedade.
Como pode ser visto em Moran, 1993:
“Ler é codificar, decifrar, organizar, encontrar o sentido oculto das aparências e fragmentos dos seres, dos objetos e do mundo. Ler é perceber, num primeiro nível, o que está acontecendo entre nós e num segundo nível, organizá-lo, situá-lo dentro de um conjunto maior, dentro de um espaço e tempo determinados, dentro de uma evolução histórica completa, ler é perceber, sentir, entender e compreender. Ler é sentir, é emocionar-se, sensibilizar-se com esse mundo que se desvela diante de nós”.
(MORAN, 1993, p. 29).
Com base em estudiosos da educação como, em “A importância do ato
de ler”, são feitas reflexões sobre o modo como uma criança deve ser apresentada
as primeiras letras:
A Leitura é sempre um ato, o ato da produção de sentido que não está nem no texto nem no homem, mais na interação leitor-texto. É no ato da leitura que o sentido é produzido e o texto ganha existência para o leitor que dele se apossa. O sentido é um valor de que a leitura investe no texto.
(CARDOSO-SILVA, 1997, P. 24)
Não entendemos a leitura como um simples ato de decodificação de signos, num processo mecanicista comandado por estímulos e respostas, processo que não leva a leitura mas, apenas, ao soletrar enfadanho e de silabas e palavras, sem ligação alguma com a realidade. Não a entendemos como a sonorização mecânica de sílabas, palavras e frases, desconexas e fora do contexto real onde elas têm origem. Ao contrário, a leitura é um ato simples, inteligente, reflexivo e característico do ser humano, porque ela mais é do que um ato de compreensão do mundo, da realidade, que nos cerca e em meio à qual vivemos.
(LUCKESI, 1991, p. 122) “A criança é um ser onde a imaginação predomina em absoluto. Nos livros ela quer que lhe demos cartolas, coisas mais altas que podem entender. Isso a lisonjeia tremendamente. Mas se o tempo inteiro a tratarmos puerilmente, ela nos manda ás favas”.
(Monteiro Lobato)
A partir do material pesquisado e das informações levantadas foi feita a
análise que demonstra a importância do tema na formação de cidadãos críticos e
conscientes, bem como servir de base para o estudo do tema leitura.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 9
CAPÍTULO I .............................................................................................................. 11
1. Visão Histórica da Literatura Infantil ................................................................... 11
1.1. Sobre as origens da literatura infantil .......................................................... 12
1.2. A importância da leitura .............................................................................. 13
1.3. A Leitura e a Educação ................................................................................... 16
1.4. A leitura como processo complexo .................................................................. 18
CAPÍTULO II ............................................................................................................. 21
2. A Arte Mágica de Contar Histórias ..................................................................... 21
2.1. A importância da Escola .................................................................................. 23
CAPÍTULO III ............................................................................................................ 26
3. A primeira relação da criança com o livro ........................................................... 26
3.1. Da oralidade à literacia .................................................................................... 28
3.2. A sensibilização à leitura ................................................................................. 28
3.3. Os primeiros livros de imagens ....................................................................... 30
3.4. A aprendizagem da leitura ............................................................................... 31
3.5. A consolidação da leitura ................................................................................ 32
3.6. A leitura e as fases etárias .............................................................................. 34
CONCLUSÃO ............................................................................................................ 37
BILBIOGRAFIA ......................................................................................................... 39
INTRODUÇÃO
O presente trabalho visa, através de pesquisa bibliográfica, demonstrar a
importância da leitura nas séries iniciais, bem como os benefícios e vantagens de
transmitir informações e conhecimentos aos alunos que estão ingressando na escola
e dessa forma, incentivar a leitura e estimular o melhor aprendizado das crianças.
Sabendo da importância da leitura para a vida humana e principalmente
como as letras têm o poder de transmitir informações, como o hábito da leitura pode
ser estimulado desde o momento em que a criança ingressa na escola e dessa
forma melhorar seu aprendizado? E, estão os profissionais da educação aptos a
estimular os alunos para a leitura?
Estes são alguns questionamentos abordados para a realização da
pesquisa, pois quando o tema abordado é leitura pode-se ter vários focos. Portanto
como princípio norteador do trabalho será usado o tema “leitura como instrumento
fundamental para um bom desenvolvimento intelectual e social do ser humano”.
A criança desde pequena houve histórias, contos, notícias, que estimulam
sua capacidade de imaginação e de raciocínio.
Ao ingressar na escola a criança vai ser estimulada a manusear livros e
aprender o significado de cada letra, deixando de ser somente uma leitura visual,
para tomar conhecimento do significado de cada letra.
É neste ambiente que o professor e a escola devem estar preparados para
estimular a criança a buscar novas leituras e informações que possam melhorar seu
desempenho na escola.
Diante do exposto e através da análise do ambiente escolar e da verificação
de como a leitura é inserida na vida escolar das crianças que estão ingressando no
mundo do conhecimento, faz-se a verificação da realidade das escolas e do trabalho
do professor como mediador desse processo de construção do conhecimento.
Através da importância da leitura nas séries iniciais, são apresentadas
possíveis melhorias para os profissionais de educação em sala de aula e para os
alunos quanto aos benefícios da leitura e dessa forma auxiliar o trabalho do
professor nas séries iniciais.
No capítulo I, é trabalhado a visão histórica da Literatura Infantil, abordando
a importância da leitura, sendo esta uma importante fonte de comunicação.
10
No capítulo II, é trabalhado a arte mágica de contar histórias, demonstrando
a importância da família e da escola neste processo.
No capítulo III, é trabalhado a relação da criança com o livro, pois para
desenvolver o hábito e o gosto pela leitura é importante que a criança tenha contato
com os livros desde pequena.
E, para concluir é demonstrado que vários fatores contribuem para que uma
criança desenvolva o hábito de ler, sendo esta uma prática fundamental na vida de
qualquer ser humano.
11
CAPÍTULO I Para abordar o tema leitura é importante conhecer o momento em que a
literatura começa a fazer parte do cotidiano das pessoas. Sabe-se que desde o
momento em que o homem passa a viver em sociedade ele vai aprimorando as
maneiras de se comunicar e para isso desenvolve a escrita e com o tempo passa a
registrar fatos e a usar a imaginação para criar histórias.
Este capítulo aborda a visão histórica da literatura infantil, abordando suas
origens, sua importância, a relação da literatura com a educação e as
complexidades da leitura para o leitor.
1. Visão Histórica da Literatura Infantil
A humanidade sempre contou histórias para se comunicar, se entender, se
explicar, para provocar emoções, informar, passar valores e ensinamentos. Tudo
isso mesmo antes da escrita.
Sabe-se que há muitos e muitos séculos, quando os homens viviam nas
cavernas, costumavam participar de um ritual: reuniam-se em volta de uma fogueira
e o feiticeiro da tribo contava uma história. As primeiras histórias falavam da origem
dos seres e das coisas, de heróis invencíveis, deuses em seus mudos encantados e
viagens extraordinárias.
Muitas coisas aconteceram desde aquela época. Agora a humanidade tem
automóveis, aviões e computadores, mas as histórias jamais perderam a sua
importância. As lendas do folclore mundial continuam a encantar em livros, revistas
em quadrinhos, peças de teatro, desenhos animados, filmes para televisão ou
cinema. E, até hoje, sempre que alguém senta para contar uma história, pratica a
deliciosa arte de abrir as portas da imaginação. Afinal, o tempo passa, as pessoas
mudam, mas certas coisas, de tão boas, permanecem.
O ato de contar histórias consiste numa das primeiras necessidades culturais
– já que permite a transmissão de expectativas coletivas - cada época dita a forma
pela qual tais necessidades corporificam-se. Com o avanço da tecnologia, novas
12
técnicas de impressão, de ilustração, de utilização da linguagem foram sendo
apropriadas ao texto literário, bem como novas idéias foram sendo transmitidas.
Assim também aconteceu com a literatura infantil quando passou a
constituir uma estrutura literária permeável ao progresso da civilização e às novas
necessidades da sociedade.
1.1. Sobre as origens da literatura infantil Segundo Fernando Azevedo (1924), numerosos estudiosos têm partido do
pressuposto de que só se pode, realmente, falar em literatura infantil a partir do
século XVII, época da reorganização do ensino e da fundação do sistema
educacional burguês. Segundo essa linha de pensamento, antes disso e em resumo,
não havia propriamente uma infância no sentido que se conhece. Antes disso, as
crianças, vistas como adultos em miniatura, participavam, desde a mais tenra idade,
da vida adulta. Não havendo livros, nem histórias dirigidas especificamente a elas,
não existia nada que pudesse ser chamado de literatura infantil. Por este viés, as
origens da literatura infantil estariam nos livros publicados a partir dessa época,
preparados especialmente para crianças com intuito pedagógico, utilizados como
instrumento de apoio ao ensino.
Como conseqüência natural deste processo, o didatismo e o
conservadorismo (a escola, afinal, costuma ser instrumento de transmissão dos
valores vigentes) devem ser considerados componentes estruturais, por assim dizer,
da chamada literatura para crianças.
A pretexto de reconstituir a história da literatura infantil, Denise Escarpit
(1981), inicia seu trabalho já no séc. XVII, apontando quais foram os primeiros livros
para crianças. Cita, como exemplo, o trabalho Orbis Sensualium Pictus (1658), de
Comenius, obra criada com o intuito de ensinar latim através de gravuras, um
antepassado, sem dúvida, do atual livro didático ilustrado para crianças. Antes do
século XVII, afirma Escarpit, não existia nada que pudesse ser tratado como
literatura infantil. A pesquisadora francesa, entretanto, não deixa de mencionar
diversas atividades expressivas e populares como as adivinhas, rimas infantis e
13
certos jogos de palavras que, segundo ela, fazem parte da gênese da literatura
infantil, mas que só ganharam esse contorno - o status de literatura infantil - quando
reaproveitadas e pelos primeiros livros destinados especificamente ao público
infantil. Tal adaptação note-se, significava, na verdade, a incorporação de aspectos
francamente didáticos e utilitários, ligados à educação moral, por exemplo.
A autora refere-se às narrativas populares, por ex. fabliaux (narrativas
breves, alegres, anônimas, em geral abordando pequenos casos da vida cotidiana -
adultérios, espertezas etc. muito populares no período medieval.); contos
maravilhosos (de fadas ou de encantamento); fábulas; lendas etc., frisando que,
basicamente, eram dirigidos a adultos e contados por adultos. Faz ainda uma
interessante associação entre a cultura popular, o que era produzido pelo e para o
povo, e o que era oferecido às crianças.
1.2. A importância da leitura Atualmente com o mundo recheado de descobertas cientificas e
tecnológicas, com significativas transformações sociais e consequentemente
mudanças de paradigmas, a leitura garantiu seu espaço na vida humana, porém
diante da explosão da informação, o leitor abandonou velhos hábitos remanescentes
de uma era e desenvolveu estratégias diversificadas de leitura, tornando-se um leitor
múltiplo e seletivo. Nesse caso, a diversidade costuma enriquecer, oferecer
possibilidades e ampliar horizontes.
O livro, no mundo moderno, como suporte da escrita, compete com jornais
periódicos, cartazes públicos, rótulos, embalagens, letreiros luminosos, mídia digital,
etc., que convidam o leitor, cotidianamente, ao exercício da leitura.
Sendo assim, o ato de ler assumiu novas dimensões estabelecendo novos
parâmetros para constituição do leitor atual e com certeza a escola, enquanto
instituição educacional, não pode ficar de fora. Essas transformações ocorreram
provavelmente, em virtude da explosão da informação, do acúmulo do conhecimento
humano, da necessidade do homem de se comunicar cada vez mais com o maior
número de pessoas, da rapidez do seu progresso, das mudanças e ampliações da
função da escrita na sociedade contemporânea.
14
“Chega-se a um ponto em que pessoas são levadas a ler apenas uma pequena parcela dos textos que lhes chega às mãos, na medida em que o leitor tende a destacar os segmentos relevantes para obter a informação que deseja. A necessidade conhecimento e ampliação de suas possibilidades através da escrita mobilizou o homem em direção à novos vôos. E continua em ritmo alucinado rumo às estrelas. Enquanto isso, os olhos se deslocam de uma página impressa para uma tela de TV...”
(BARBOSA, 1991, p. 23)
Contudo, a leitura na atualidade passa essencialmente pela comunicação.
A prática da leitura se faz presente na vida do ser humano desde o momento
em que este começa a "compreender" o mundo à sua volta. No constante desejo de
decifrar e interpretar o sentido das coisas que o cercam, de perceber o mundo sob
diversas perspectivas, de relacionar a realidade ficcional com a qual vive, no contato
com um livro, enfim, em todos estes casos esta-se, de certa forma, lendo - embora,
muitas vezes, não se de conta.
A atividade de leitura não corresponde a uma simples decodificação de
símbolos, mas significa, de fato, interpretar e compreender o que se lê. Segundo
Angela Kleiman (1995), a leitura precisa permitir que o leitor aprenda o sentido do
texto, não podendo transformar-se em mera decifração de signos lingüísticos sem a
compreensão semântica dos mesmos.
Nesse processamento do texto, tornam-se imprescindíveis também alguns
conhecimentos prévios do leitor: os lingüísticos, que correspondem ao vocabulário e
regras da língua e seu uso; os textuais, que englobam o conjunto de noções e
conceitos sobre o texto; e os de mundo, que correspondem ao acervo pessoal do
leitor. Numa leitura satisfatória, ou seja, na qual a compreensão do que se lê é
alcançada, esses diversos tipos de conhecimento estão em interação. Logo,
percebe-se que a leitura é um processo interativo.
Quando citada a necessidade do conhecimento prévio de mundo para a
compreensão da leitura, pode-se inferir o caráter subjetivo que essa atividade
assume. Conforme afirma Leonardo Boff:
“Cada um lê com os olhos que tem. E interpreta onde os pés pisam. Todo ponto de vista é a vista de um ponto. Para entender o que alguém lê, é necessário saber como são seus olhos e qual é a sua visão de mundo. Isto
15
faz da leitura sempre uma releitura. [...] Sendo assim, fica evidente que cada leitor é co-autor”.
A partir daí, pode-se começar a refletir sobre o relacionamento leitor-texto.
Já foi dito que ler é, acima de tudo, compreender. Para que isso aconteça, além dos
já referidos processamento cognitivo da leitura e conhecimentos prévios necessários
a ela, é preciso que o leitor esteja comprometido com sua leitura. Ele precisa manter
um posicionamento crítico sobre o que lê, não apenas passivo. Quando atende a
essa necessidade, o leitor se projeta no texto, levando para dentro dele toda sua
vivência pessoal, com suas emoções, expectativas, seus preconceitos etc. É por
isso que consegue ser tocado pela leitura.
Assim, o leitor mergulha no texto e se confunde com ele, em busca de seu
sentido. Isso é o que afirma Roland Barthes (1987), quando compara o leitor a uma
aranha:
[...] o texto se faz, se trabalha através de um entrelaçamento perpétuo; perdido neste tecido - nessa textura -, o sujeito se desfaz nele, qual uma aranha que se dissolve ela mesma nas secreções construtivas de sua teia.
Dessa forma, o único limite para a amplidão da leitura é a imaginação do
leitor; é ele mesmo quem constrói as imagens acerca do que está lendo. Por isso ela
se revela como uma atividade extremamente frutífera e prazerosa. Por meio dela,
além de adquirir mais conhecimentos e cultura - o que fornece maior capacidade de
diálogo e prepara melhor para atingir às necessidades de um mercado de trabalho
exigente -, promove novas experiências, ao conhecer mais do mundo em que vive e
também sobre si mesmo, já que a leitura leva à reflexão.
E refletir permite ao homem abrir as portas de sua percepção. Quando
movido por curiosidade, pelo desejo de crescer, o homem se renova
constantemente, tornando-se cada dia mais apto a estar no mundo, capaz de
compreender até as entrelinhas daquilo que ouve e vê, do sistema em que está
inserido. Assim, tem ampliada sua visão de mundo e seu horizonte de expectativas.
Desse modo, a leitura se configura como um poderoso e essencial
instrumento libertário para a sobrevivência do homem.
16
Há entretanto, uma condição para que a leitura seja de fato prazerosa e
válida: o desejo do leitor. Como afirma Daniel Pennac, "o verbo ler não suporta o
imperativo". Quando transformada em obrigação, a leitura se resume a simples
enfado. Para suscitar esse desejo e garantir o prazer da leitura, Pennac prescreve
alguns direitos do leitor, como o de escolher o que quer ler, o de reler, o de ler em
qualquer lugar, ou, até mesmo, o de não ler. Respeitados esses direitos, o leitor, da
mesma forma, passa a respeitar e valorizar a leitura. Está criado, então, um vínculo
indissociável. A leitura passa a ser um imã que atrai e prende o leitor, numa relação
de amor da qual ele, por sua vez, não deseja desprender-se.
1.3. A Leitura e a Educação
De acordo com Vygotsky, (1993), sabendo da importância da leitura para a
vida do individuo na sociedade e ao longo da história da mesma, é importante
mencionar que a inserção da leitura se dá desde a mais tenra idade.
É na educação infantil que o individuo tem acesso ao mundo da literatura,
porém essa literatura deve ser especifica ao seu grau de compreensão e
desenvolvimento.
A criança vem tendo seu ingresso na escola cada vez mais cedo, devido a
inúmeros fatores que vêm transformando a sociedade contemporânea. Assim a
educação infantil vem crescendo substancialmente em quantidade e qualidade, para
atender as crianças desde a mais tenra infância.
Dentro do contexto educacional institucionalizado, a criança se enriquece, se
complexifica, enquanto ser em desenvolvimento, devendo merecer o respeito
necessário. Durante esse período, é notável o progresso da criança quanto às
habilidades motoras, linguagem, funcionamento cognitivo, afetividade e interações
sociais.
Ainda conforma Vygotsky, (1993), a escola deve propiciar um ambiente
favorável ao desenvolvimento físico, social, intelectual e emocional da criança.
Através do incentivo, às investigações, indagações, experiências cientificas,
atividades criadoras, jogos e principalmente o lúdico.
17
Por isso, deve-se ter um olhar especial para as crianças dentro e fora da
escola, incluindo-se nesse momento a leitura em seu ambiente de aprendizado e
aproximação com o mundo.
Assim, torna-se necessário estar alerta para no mínimo dois pressupostos
básicos sobre os quais deve se estruturar um novo conceito de leitura na educação
nos dias de hoje.
O primeiro é de que o educador precisa possuir antes de tudo o hábito de ler
e, por conseguinte um conhecimento global sobre o objeto que ensina no caso a
leitura sugerida ou mesmo advinda da realidade dos alunos aos quais pretende
desenvolver um trabalho sério e compromissado. Ainda sob esse mesmo
pressuposto, pode se perceber algumas dimensões envolvidas nesse processo:
iniciando pela dimensão psicológica implicada no ato de ler, envolve todos os atores
e a forma pela qual é transmitida a leitura; a dimensão lingüística uma vez que se lê
e se aprende a ler o objeto lingüístico, tratando-se portanto de se ensinar o caminho
da decodificação de sinais da escrita e chegar-se à leitura; a dimensão discursiva já
que se aprende a ler através de discursos escritos, selecionando através de
posições tomadas pelo educador quanto a importância da literatura e seus autores e
a dimensão sócio-histórico-política resultante das tensões que envolvem o ato de ler
e de aprender a ler na sociedade brasileira nos dias de hoje, caminhando-se por
realidades vividas e não distantes.
O segundo pressuposto diz respeito às condições em que o educador pode
buscar essa articulação entre diferentes e contraditórias pesquisas sobre a leitura.
Incentivar a leitura exige pesquisa prévia da realidade e da inserção de novas
leituras. O educador pode e deve estar atento ao que acontece no mundo da
literatura, afim de poder selecionar e até mesmo conhecer o que vem acontecendo
no mundo e assim fazer a ponte com a comunidade que vai desenvolver seu
trabalho.
Partindo portanto, do entendimento da complexidade da leitura no contexto
escolar chega-se a literatura infantil que pode se dizer é o ponto de partida da leitura
realizada pelo ser humano dentro e fora da escola. Isso porque é desde a infância
que o individuo possui a oportunidade de se deparar com a escrita e a leitura
conseqüentemente.
18
1.4. A leitura como processo complexo
O ato de ler é um processo abrangente e complexo; é um processo de
compreensão, de entender o mundo a partir de uma característica particular ao
homem: sua capacidade de interação com o outro através das palavras, que por sua
vez estão sempre submetidas a um contexto. Desta forma um texto nunca poderá
ser entendido como um ato passivo, pois quem escreve o faz pressupondo o outro.
Desta forma, a interação leitor-texto se faz presente desde o início de sua
construção.
Nas trilhas do mesmo entendimento, Villardi (1999) afirma:
"Leitura é, basicamente, o ato de perceber e atribuir significados através de uma conjunção de fatores pessoais com o momento e o lugar, com as circunstâncias. Ler é interpretar uma percepção sob as influências de um determinado contexto. Esse processo leva o indivíduo a uma compreensão particular da realidade"(p. 22).
Em Freire (1989) este olhar sobre leitura quando diz que a "leitura do mundo"
precede a leitura da palavra, ou seja, a compreensão do texto se dá a partir de uma
leitura crítica, percebendo a relação entre o texto e o contexto.
Dessa forma, um leitor crítico não é apenas um decifrador de sinais, mas sim
aquele que se coloca como co-enunciador, travando um diálogo com o escritor,
sendo capaz de construir o universo textual e produtivo na medida em que refaz o
percurso do autor, instituindo-se como sujeito do processo de ler.
Nesta concepção de leitura onde o leitor dialoga com o autor, a leitura torna-
se uma atividade social de alcance político. Ao permitir a interação entre os
indivíduos, a leitura não pode ser compreendida apenas como a decodificação de
símbolos gráficos, mas sim como a leitura do mundo, que deve ser constituída de
sujeitos capazes de compreender o mundo e nele atuar como cidadãos.
A leitura crítica sempre leva a produção ou construção de um outro texto: o
texto do próprio leitor. Em outras palavras, a leitura crítica sempre gera expressão: o
desvelamento do SER leitor. Assim, este tipo de leitura é muito mais do que um
simples processo de apropriação de significado; a leitura crítica deve ser
19
caracterizada como um estudo, pois se concretiza numa proposta pensada pelo ser-
no-mundo, dirigido ao outro. (SILVA, 1985). Brandão (1997) afirmam que o leitor se
institui no texto em duas instâncias:
"No nível pragmático, o texto enquanto objeto veiculador de uma mensagem está atento em relação ao seu destinatário, mobilizando estratégias que tornem possíveis e facilitem a comunicação". No nível lingüístico-semântico, o texto é uma potencialidade significativa que se atualiza no ato da leitura, levado a efeito por um leitor instituído no próprio texto, capaz de reconstruir o universo representado a partir das indicações, pistas gramaticais, que lhe são fornecidas." (p. 77).
Essa é uma perspectiva que concebe a leitura como um processo de
compreensão amplo, envolvendo aspectos sensoriais, emocionais, intelectuais,
fisiológicos, neurológicos, bem como culturais, econômicos e políticos. Segundo
Martins (1989), o ato de ler é considerado ''um processo de compreensão de
expressões formais e simbólicas, por meio de qualquer linguagem''.
Há que se encarar o leitor como atribuidor de significados e, nessa atribuição,
levar-se em conta a interferência da bagagem cultural do receptor sobre o processo
de decodificação e interpretação da mensagem. Assim, no momento da leitura, o
leitor interpreta o signo sob a influência de todas as suas experiências com o mundo,
ou seja, sua memória cultural é que direcionará as decodificações futuras. Todavia,
para a formação deste leitor que consegue por em prática sua criticidade, é
necessário que haja um estímulo contínuo para o contato entre o indivíduo e o
trabalho.
O jovem e a criança precisam ser seduzidos para a leitura, desconsiderando
neste processo qualquer artifício que possa tornar a leitura uma obrigação. Martins
(1989) chama a atenção para o contato sensorial com o trabalho, pois antes de ser
um texto escrito, um trabalho é um objeto; tem forma, cor, textura. Na criança esta
leitura através dos sentidos revela um prazer singular; esses primeiros contatos
propiciam à criança a descoberta do trabalho, motivam-na para a concretização do
ato de ler o texto escrito. A escola torna-se fator fundamental na aquisição do hábito
da leitura e formação do leitor, pois mesmo com suas limitações, ela é o espaço
destinado ao aprendizado da leitura.
Tradicionalmente, na instituição escolar, lê-se para aprender a ler, enquanto
que no cotidiano a leitura é regida por outros objetivos, que conformam o
20
comportamento do leitor e sua atitude frente ao texto. No dia-a-dia, uma pessoa
pode ler para agir – ao ler uma placa, ou para sentir prazer – ao ler um gibi ou um
romance, ou para informar-se – ao ler uma notícia de jornal. Essas leituras, guiadas
por diferentes objetivos, produzem efeitos diferentes, que modificam a ação do leitor
diante do texto. São essas práticas sociais que precisam ser vividas em nossas
salas de aula.
Apesar de todos os problemas funcionais e estruturais, é na escola que as
crianças aprendem a ler. Muitas têm no ambiente escolar, o primeiro (e, às vezes, o
único) contato com a literatura. Assim fica claro que a escola, por ser estruturada
com vistas à alfabetização e tendo um caráter formativo, constitui-se num ambiente
privilegiado para a formação do leitor.
21
CAPÍTULO II
A arte de contar histórias faz parte da própria história da humanidade. Uma
forma de manter tradições e mesmo levar informações as sociedades é através do
conto de histórias, onde uma pessoa relata a sua versão sobre os fatos.
Ao contar uma história o ser humano utiliza a sua “arte” de dramatizar,
explicar os fatos, transmitir mensagem e informações.
Neste capítulo é abordado a arte de contar histórias e a importância da escola
neste processo de formação de novos leitores e contadores de histórias.
2. A Arte Mágica de Contar Histórias
“A imaginação é mais importante que o conhecimento.”
ALBERT EINSTEIN
Para Abramovich, (1991) no universo da fantasia tudo é possível acontecer!
Quando uma criança escuta uma história a sua “orelha que existe atrás da orelha”
conserva a significação do conto e o revela muito mais tarde. Ele mergulha naquele
mundo, identifica seus personagens e faz uma interação com o seu real. Contar uma
boa história, ou mergulhar na leitura de um livro, não deve passar apenas valores e
moralismos, mas permitir a transgressão para um universo de magia e fantasia. Aí
está a grande importância de um leito/contador de histórias. Segundo alguns
autores, este profissional deve tomar alguns cuidados para que o seu trabalho tenha
um bom resultado.
Aqui estão algumas recomendações:
• O momento de contar histórias ou viajar pelo mundo da leitura infantil é um
momento que deve ser valorizado. É bom pedir que as crianças se
aproximem e façam uma roda para viverem algo especial. Que cada um
encontre um jeitinho gostoso de ficar: sentado, deitado, enroladinho, não
importa como... cada um a seu gosto. E depois quando todos estiverem
acomodados, aí começar: “Era uma vez....”.
22
• O critério de seleção da história fica por conta do contador / leitor, que deve
respeitar o momento que as crianças estão vivendo, os referenciais de que
necessitam e do quanto saibam aproveitar o texto.
“A criança é um ser onde a imaginação predomina em absoluto. Nos livros ela quer que lhe demos cartolas, coisas mais altas que podem entender. Isso a lisonjeia tremendamente. Mas se o tempo inteiro a tratarmos puerilmente, ela nos manda ás favas”.
(MONTEIRO LOBATO)
• Para transmitir confiança, motivar a atenção e despertar admiração, deve-se
estudar bastante a história antes de contá-la.
• É preciso que seja criado um clima de encanto, de envolvimento. Intervalos e
pausas servem para respeitar o tempo para que o imaginário de cada criança
construa seu cenário, visualize seus monstros, crie seus dragões, vista a
princesa, pense na cara do padre, sinta o golpe do cavalo, imagine o tamanho
do bandido, entre outras coisas mais.
• As pausas também são fundamentais logo após o “então”... Elas servem para
dar um tempo para cada criança imaginar o que vem depois. No momento do
conflito ela dá tempo, muito tempo, para que cada ouvinte vivencie e tome a
sua posição.
• Nunca esquecer de usar modalidades e possibilidades de voz. Falar bem
baixinho nos momentos de reflexão ou de dúvidas e valorizar o momento do
conflito.
• É importante mostrar a criança que o que levou ela ouviu está impresso num
livro (se for o caso).
• Quando conta-se um texto de autoria, é bom procurar manter ao máximo as
palavras. A sua modificação seria uma espécie de traição do autor.
• Quando a história apresenta termos desconhecidos, é bom explicá-los no
momento certo em que aparecem para que o entendimento da mensagem
não fique comprometida.
• É importante que se contem os contos com lobos e bruxas, porque afinal isso
é um processo de desafios e conquista de maturidade. A criança tem que
passar pelas diversas fases da história para que haja essa conquista.
23
Na escola, a roda da história é um dos momentos mais ricos para a
alfabetização, já que ali as crianças, ao ouvirem as narrativas contadas pelo
professor, podem experimentar diferentes estilos literários e enriquecer seu
repertório para o desenvolvimento da leitura e da escrita. É importante que o prazer
de ouvir histórias seja retomado, recuperado e ressignificado principalmente nos
primeiros anos do Ensino Fundamental.
Diante de um ensino democrático, o educador deve proporcionar às crianças
de diferentes camadas sociais o contato com a literatura rica, que estimula a
imaginação, e fazê-la descobrir que é capaz de contar histórias a seu modo, mesmo
que ainda não seja capaz de escrever convencionalmente, num trabalho rico de
alfabetizador.
Redescobrir antigos valores é importante para humanizar o mundo atual.
O tema “A magia de contar histórias” é fascinante e quem se ocupa com ele
fica triste ao ver como essa “magia” está desaparecendo aos poucos. Mas ao
mesmo tempo, o tema faz nascer a esperança de que o maravilhoso tempo em que
a magia de contar histórias preenchia o dia-a-dia em nossos lares está voltando
silenciosamente.
Contudo, se a criança não lê é porque não lhe estão apontando caminhos
para o desfrute de bons e belos textos... Que existem (tantos) e são fáceis de
achar... Literatura é arte, literatura é prazer...
Além do mais, acreditar que o público infantil nunca vai deixar de se
interessar por esses personagens e enredos, desde que os adultos se empenhem
em melhorar sua capacidade como bons contadores de histórias.
Felizes são aqueles que têm sensibilidade para perceber que o futuro da
humanidade depende da maneira como se formam e educam as crianças.
2.1. A importância da Escola Segundo Caruso (2009), assim como na infância, a literatura infantil, deve
estar presente na vida das crianças quando estas vão para a escola.
24
Assim sendo, a educação, mas especificamente a escola, precisa estar
atenta à evolução das diversas modalidades e considerar a existência da
diversificação da leitura e escrita, visto a importância da linguagem, uma vez que ler
é atribuir significado a um texto escrito.
Ao longo do tempo, verifica-se que a estratégia utilizada pela escola é a
oralização da escrita, no entanto, percebe-se que este enfoque tem-se tornado muito
pouco eficaz para as necessidades da leitura do mundo moderno, onde a tecnologia
e globalização vem dando abertura a novos paradigmas educacionais.
Ler nos dias de hoje ultrapassa a decodificação de símbolos escritos, isto é,
na verdade há muito tempo. No entanto, com a velocidade a qual o mundo vem se
transformando e a gama cada vez maior de informações e de idéias, verifica-se a
necessidade de se entender como se deve dar a leitura, visto que é desde a infância
que o ser humano tem acesso e convive com o mundo letrado.
“Não entendemos a leitura como um simples ato de decodificação de signos, num processo mecanicista comandado por estímulos e respostas, processo que não leva a leitura mas, apenas, ao soletrar enfadanho e de silabas e palavras, sem ligação alguma com a realidade. Não a entendemos como a sonorização mecânica de sílabas, palavras e frases, desconexas e fora do contexto real onde elas têm origem. Ao contrário, a leitura é um ato simples, inteligente, reflexivo e característico do ser humano, porque ela mais é do que um ato de compreensão do mundo, da realidade, que nos cerca e em meio à qual vivemos”.
(LUCKESI, 1991, p. 122)
Nesse sentido, muito se tem a refletir sobre os aspectos da leitura no
cotidiano humano. Ler pressupõe inúmeras reflexões. Ler atribui a escola
interpretações sobre a forma de educar e de aprender de acordo com o momento
histórico-econômico-social.
Toda criança tem o direito de ter uma infância saudável e feliz e a sociedade
deve se responsabilizar para tal feito, dando-lhe o que sua própria cultura lhe
reserva para com a literatura. Dessa forma a literatura e a educação encontram seu
espaço conjuntamente, assegurado junto a sociedade, cabendo determinar seus
objetivos de forma que possam entrar em consonância com a contribuição efetiva
para a formação do cidadão consciente do mundo em que vive, critico dos fatos que
25
acontecem e participante, afim de que transforme aquilo que não possa ser
considerado um bem a coletividade.
A Literatura infantil vem mostrando sua importância e determinando assim
seu papel na sociedade de hoje, não podendo ficar de fora das instituições de
ensino nem da discussão político pedagógica dos profissionais de educação.
Assim sendo, a educação, mais especificamente a escola, precisa estar
atenta a evolução das diversas modalidades e considerar a existência da
diversificação da leitura e escrita, visto sua importância e conseqüentemente da
linguagem para os olhos no mundo atual, uma vez que ler é atribuir significados a
um texto escrito.
A leitura e sua importância para a vida humana possibilitam o conhecimento,
ou melhor, a popularização do conhecimento adquirido pelo homem através do
tempo, seja ele cientifico, tecnológico ou até mesmo histórico-cultural. Portanto, ler é
antes de qualquer coisa apropriar-se do mundo a qual todos estão inseridos.
26
CAPÍTULO III Na formação de novos leitores é importante que seja estimulada na criança,
desde pequena, o hábito da leitura. O ser humano necessita ser conduzido para
seus futuros hábitos e costumes. Dentre os vários incentivos estimulados para a vida
do homem, está o hábito da leitura, que leva a informação e a formação de
indivíduos críticos e participativos dos processos sociais.
Neste capítulo é abordado a primeira relação da criança com o livro, as fases
onde a criança passa de ouvinte a leitora de histórias e as diversas fases, onde a
criança, de acordo com a idade vai assumindo seus papeis de leitora.
3. A primeira relação da criança com o livro
"A palavra viva possui uma alma da qual a palavra escrita não é mais do que uma imagem"
SÓCRATES
A primeira relação que a criança estabelece com o livro é a relação lúdica.
Depois, mais tarde, irá descobrir e talvez reconhecer e identificar a imagem que está
na capa. E vai assim iniciando a leitura da linguagem visual, linguagem essa que é
dominada por ela, mesmo sem se apropriar do conteúdo do livro. Ao abrir o livro a
criança terá prazer em ler suas ilustrações, se elas forem semelhantes com o que
ela conhece. Ao identificar as imagens, a criança está desenvolvendo um processo
mental muito complexo. Ela não está perante o objeto, mas perante a sua
representação. Ela reconhece e faz a correspondência entre algo que já viu e
conheceu e lê as imagens encontrando um significado.
Conforme Coelho, (2000) o livro infantil apresenta duas linguagens: a
ilustração e a escrita. As duas se completam. Não se consegue escrever histórias
para crianças sem sintonizar muito bem esses dois aspectos: o desenho e as
palavras. É importante quando se lê histórias para crianças apresentar as ilustrações
do livro. Ela seria uma espécie de “sobremesa”. Não é a toa que o livro infantil é
formado por dois autores: o escritor e o ilustrado. Se o contador/leitor passar a
27
subestimar a imagem, não mostrando cada detalhe dela, as crianças crescerão
perdendo o interesse pela arte.
A boa ilustração é aquela que consegue dar uma boa interpretação ao texto
e não copiá-la. É certo que ela também conta uma história porque ela tem uma
narratividade. A imagem dá possibilidade ao leitor de perceber muito mais coisas na
história.
Foi na Inglaterra do século XIX, em razão da revolução industrial, que o livro
para criança desenvolveu-se com maior cuidado gráfico e encontrou condições
econômicas favoráveis para uma adequada distribuição. As primeiras obras que
visavam o público infantil apareceram no mercado livreiro na primeira metade do
século XVIII. Embora nesse momento começasse a existir um campo gráfico
propicio à ilustração, foi em plena era vitoriana que se presenciou a realização de
um maior número de livros ilustrados feitos especialmente para crianças. Esses
livros traziam imagens atraentes e interessantes, elaboradas não apenas com a
intenção de educar, mas também de promover o prazer estético.
Assim como o escritor, o ilustrador é um autor.
Na seqüência de imagens, cria uma história, podendo atuar de forma
semelhante ao cineasta, quando adapta uma obra literária para o cinema. Sem o
recurso do som, organiza os elementos figurativos conforme a especificidade da sua
linguagem, interpreta o verbal e o traduz na sua visualidade.
“A ilustração convive e faz parte do contexto da história da arte. Ela é um objeto de reprodução e está inserida em uma industria cultural. Relaciona-se com outras linguagens, transita em um espaço multifacetado. Dialoga com o verbal, mas pode utilizar recursos advindos do cinema, da pintura e dos quadrinhos. Ao se observar o trabalho desenvolvido pelos ilustradores, percebe-se que é composto por formas que trazem em si um significado próprio. Linhas, manchas, cores, composições, enfim, todos os elementos plásticos que compõe a ilustração poderão revelar um conteúdo que diz respeito à sua linguagem.”
(MARISA MOKARZEL)
No caso especifico da ilustração, muitas vezes as figuras são retiradas de
um mundo fantástico, não sendo, por isso mesmo, extraídas da realidade. Isto não
quer dizer que não existem formas realistas, mas elas acontecem em número bem
menor. Em geral, na literatura infantil, os bichos falam, há personagens e elementos
28
mágicos. Além de figurativa, a imagem seqüencial dos livros para criança contam
uma história que é lida com grande satisfação e entusiasmo.
3.1. Da oralidade à literacia
Para Mercedez Manzano (1985) no contexto da sociedade é necessário ter
em conta que o encontro, entre a criança e livro provoca uma comunicação emotiva,
penetrante, interrogativa e inesperada. "Devemos revelar à criança a literatura como
elemento constitutivo do seu patrimônio cultural, como horizonte de conquista
pessoal e social, como objeto impulsionador de autonomia, de comunicação
verdadeira, de observação audaz e de fonte de criatividade".
É sobre as diversas etapas desse mágico e misterioso encontro entre a
criança e o livro que se apresentam contribuições de vários autores.
Os períodos de leitura Díaz (1997) apresenta uma classificação dos diferentes
períodos de acesso à leitura:
• sensibilização
• aprendizagem
• consolidação
3.2. A sensibilização à leitura
Este primeiro período que abarca os primeiros anos de vida decorre
fundamentalmente do ambiente familiar e condiciona em grande número o que se irá
desenvolver mais adiante.
Numa primeira etapa a criança contata com os textos que lhe são
transmitidos oralmente, graças à relação com os pais, esta adquire certo vocabulário
pessoal, percebe as informações orais que os pais lhe dão e atribui-lhes conteúdo
( em forma de imagem mental ) mediante um processo visual.
Kieran Egan (1999) cientista canadense, especialista em desenvolvimento
educativo, considera que a valorização do patrimônio cultural de cada povo pode
29
ajudar a compreender melhor o que está implicado na transição da oralidade para a
literatura, e a melhorar a qualidade e riqueza da literatura que se consegue.
A sua tese é que a oralidade desenvolve um conjunto de estratégias mentais
poderosas e eficazes, algumas das quais tendem a ser desvalorizadas nos sistemas
educacionais ocidentais. Numa cultura oral o ouvido está mais harmonizado para
apreender certas mensagens graças à utilização de recursos como as imagens, a
rima, o ritmo e a repetição de fórmulas. Os provérbios, máximas, adivinhas,
anedotas e todo o tipo de rimas infantis utilizam estas ferramentas lingüísticas que
facilitam e treinam a memória da criança ouvinte.
Quem não sabe de cor as rimas de jogar ou de adormecer que aprendeu na
infância?
Também a narrativa sob a forma de história pode surgir numa fase muito
precoce da vida da criança. Os temas enquadrados como opostos binários (bem /
mal; coragem / cobardia; medo / segurança; beleza / fealdade; esperança /
desespero) são elementos estruturantes nos contos populares que se podem
considerar os textos fundadores de cada povo. Essas oposições binárias
correspondem, aliás, aos movimentos de oscilação das vivências infantis. As
crianças sentem-se ameaçadas por um ser feroz e depois graças a um talismã a
tensão cede lugar à felicidade.
A criança é, também, naturalmente um poeta que tem em si os recursos da
oralidade. Ela inventa palavras e usa metáforas a toda a hora.
É com base nestes pressupostos que Kieran Egan defende programas
educacionais, estruturados de acordo com um perfil de desenvolvimento, que
utilizam as aptidões orais do aluno para tornar a leitura e a escrita cativantes.
Numa etapa seguinte a criança começa a ter contacto com os textos
escritos.
Na opinião de Inês Sim-Sim (2001) as bases para o sucesso escolar
remontam a um tempo muito anterior ao 1º ano de escolaridade, sendo a família e o
jardim de infância os ambientes privilegiados para o desenvolvimento dessas bases.
A aprendizagem da leitura está relacionada com o acesso a livros e a outro tipo de
material escrito:
• revistas
30
• legendas
• panfletos publicitários
• registros informáticos
"É através da experiência com este material, quer diretamente através do manuseamento quer indiretamente pela leitura de outrem, que a criança "descobre "os princípios que regem a escrita. Segundo esta investigadora todas estas atividades” iniciam a criança numa espécie de namoro com a linguagem escrita que estimula o desejo de conhecer mais sobre essa mesma realidade e de com ela se envolver” (2001).
3.3. Os primeiros livros de imagens
A terceira etapa é o contacto com os diversos tipos de álbuns e livros
ilustrados.
Segundo Díaz (1997) é nesta fase que a leitura de regaço tem todo o
sentido. A criança através do livro que lhe é apresentado ao colo recebe um número
de informações visuais e através do olhar aprende as formas, as cores e as
imagens. Este é um meio de estimular a aprendizagem, uma vez que ela se
interessa pelo livro movida pelo desejo de conhecer o seu conteúdo- histórias,
informações e jogos.
Trata-se de uma atividade que se leva a cabo num clima de grande
intimidade e que desperta um sentimento de prazer muito gratificante. A criança
neste período vai adquirindo certo vocabulário pessoal.
Segundo Marion Durand (1982) aos 15 meses a criança apercebe-se que a
imagem é reveladora da história que está legendada. Esta aponta com o dedo as
coisas que considera interessantes, para confrontar com o que ouve; ao ler a
imagem a criança reconhece-se nas personagens, reconhecendo como um
semelhante ao mesmo tempo parecido e diferente; estabelece laços afetivos com
elas: ri e chora com as personagens, em suma, emociona-se.
Ler uma imagem é também ter acesso a um conjunto de convenções
gráficas próprias da nossa cultura e da nossa sociedade. As imagens devem
corresponder ao núcleo do eu / mundo de forma a que a criança as identifique e
permitam uma progressão ajustada ao seu desenvolvimento.
31
Folhear as páginas do livro é a metáfora do desenrolar do tempo que a
própria sucessão das ilustrações realça; ao fazê-lo a criança brinca com o tempo,
fazendo-o avançar ou recuar.
Ouvir a leitura da história, manusear o livro permite-lhe identificar as
invariantes da história através da sua repetição na imagem, contatar com a grafia e o
arbitrário do signo. A criança aprende desde cedo que o livro é um objeto diferente
do brinquedo. O livro é um veículo do sonho e fala de conflitos que são muito
semelhantes àqueles com que as pessoas se debatem.
Na opinião de Marie Bonnafé (1994) os primeiros livros de imagens têm para
o bebê uma função equivalente ao objeto transicional (um bocado de tecido ou um
brinquedo), no seio deste universo transicional que se cria entre a criança e a mãe,
ou quem dá os primeiros cuidados maternos. Recorde-se que para Winnicott (1971)
o objeto transicional não é o objeto, mas o investimento imaginário que a criança faz
a partir dele.
Os primeiros livros de imagens, as primeiras narrativas ou rimas infantis, têm
pois o seu lugar neste universo imaginário, por entre esses curiosos objetos de amor
propostos à invenção nascente dos bebês, para servir de intermediário entre eles e
mundo exterior.
As histórias contadas no seio familiar e no jardim de Infância funcionam
como um elemento securizador, constituem uma invariante que suaviza a angústia
da separação própria desta fase de grandes mutações e têm uma função catártica
para os medos, inseguranças e fantasmas que povoam a alma das crianças.
Quando a criança chegar a descobrir a mecânica que envolve a
descodificação do texto entrará por si só na magia da leitura.
3.4. A aprendizagem da leitura
Segundo Winnicott (1971) a partir dos três anos o aluno confronta-se com
um novo período, marcado especialmente pela experiência escolar. Trata-se de um
período de socialização plena na qual o sujeito verá satisfeita a necessidade de
domínio interpretativo de leitor, de tal forma que no final da sua aprendizagem
poderá confrontar-se com um texto com as características assinaladas para a sua
culminação:
32
• decodificação
• compreensão
Nesta fase a competência de leitura começa a ser objeto de atenção escolar
trata-se de uma fase eminentemente lúdica conservando-se "a metodologia
ideovisual da aprendizagem". Ao longo deste período, o aluno irá mostrando as suas
qualidades, através do exercício decodificador, ao qual ele próprio dará sentido. O
caráter lúdico e divertido do exercício vai gerar nele sentimentos de prazer tão
grandes que vão estimular o seu interesse pela leitura.
Nesta fase é muito importante que a criança tenha à sua disposição obras de
literatura infantil concomitantemente com os livros de aprendizagem. É neste período
que se deve estimular na criança o gosto pelos livros através da organização da sua
biblioteca pessoal em casa, da biblioteca na sala de aula com uma forte interação
com a biblioteca escolar para intercâmbio de livros. Este contacto deve ser
constante, permanente e progressivo desde o jardim de infância.
3.5. A consolidação da leitura
Segundo Díaz (1197), a partir dos 3 anos de idade o aluno tem desenvolvido
todo o seu processo de maturação e está pronto para o exercício descodificador e
compreensivo do ato leitor.
A sua personalidade oferecerá um permanente estado de mudança e a sua
competência de leitura vai progressivamente melhorando. O próprio conteúdo textual
vai enriquecendo a personalidade da criança e o seu intelecto desenvolve-se com a
recreação imaginária na qual o seu exercício leitor resultará melhorado. A autonomia
progressiva do sujeito leitor é a característica mais importante deste período.
Convém sublinhar a importância que este autor atribui à escola na
consolidação das potencialidades leitoras.
"Se no período de sensibilização a família ainda exercia certa influência sobre a criança, nesta nova fase a responsabilidade recai no trabalho desenvolvido pelos professores, de forma a desenvolver no aluno os hábitos e os interesses leitores. Só desta forma o aluno terá referências que lhe permitam ter uma atividade crítica face ao texto literário"
DÍAZ (1997)
33
Segundo este autor, do ponto de vista do amadurecimento, a linguagem
permite um desenvolvimento amplo da personalidade que está diretamente
relacionada com a destreza leitora.
Nota-se como, durante este período, a leitura vai modificando o caráter do
aluno de tal forma que, se durante a sensibilização a leitura servia para consolidar as
bases referenciais da personalidade do bebê e mais adiante com a aprendizagem
pretendemos dar uma resposta prática à necessidade comunicativa da criança,
durante todo o período de consolidação a prática fornece à leitura um caráter mais:
• Utilitário, mediante o qual ele poderá satisfazer as suas necessidades
formativas no âmbito escolar. A dimensão utilitária da leitura tem um caráter
mais funcional e é a mais vulgarizada na sociedade em que se vive - ler para
atividades básicas de integração social como ler o jornal, preencher um
formulário, consultar a lista telefônica, etc.
• Socializador, que lhe permitirá participar no seu ambiente quotidiano de
forma funcional. A linguagem por ser a base fundamental da relação social
permite a interação do sujeito com o meio ambiente. O contacto com vários
modelos e o confronto que se estabelece, vai conduzir a um alargamento das
perspectivas acerca da vida e dos outros. A leitura permite uma ligação à
memória coletiva.
• Formativo, pois os conhecimentos serão facilmente integrados (na sua
estrutura mental de conhecimento) o que permitirá um progressivo
desenvolvimento da pessoa. É o aperfeiçoamento do leitor como pessoa, ou
seja, a intervenção a nível da construção de uma personalidade.
Do ponto de vista emocional a leitura ajuda a criança, especialmente a mais
jovem, a racionalizar a sua conduta mais dominada pelo inconsciente. A
leitura permite o aperfeiçoamento intelectual, lingüístico e até do próprio
pensamento.
• Lúdico, pois permitirá desenvolver hábitos leitores para desfrutar com
periodicidade do exercício íntimo do prazer literário. Daniel Pennac no seu
livro “Como Um Romance” recorda assim o momento da leitura noturna que
fazia ao seu filho pequeno:
34
"Gratuito. Pelo menos era assim que ele o entendia. Um presente. Um momento fora de todos os momentos. Quaisquer que fossem as circunstâncias. A história noturna aligeirava-lhe o peso do dia. Largavam-se as amarras. Ia com o vento, levíssimo, o vento que era a nossa voz."
DANIEL PENNAC (1992)
3.6. A leitura e as fases etárias
Segundo Marie Bonnafé (1994), as narrativas acompanham a evolução da
criança nas suas trocas com o adulto e, em cada etapa do seu desenvolvimento,
haverá elementos de um gênero de narrativa que melhor corresponde à vivência
interior e à relação da criança com o seu meio envolvente.
Os profissionais de educação educadores e professores devem, pois saber
escolher os livros que põem à disposição das crianças em função da faixa etária.
São apresentadas seguidamente algumas perspectivas teóricas sobre este
tópico que são completadas por três quadros de sistematização.
No capítulo da sua obra A Literatura Infantil e Juvenil (1999) Glória Bastos
apresenta a perspectiva de Appleyard (1991).
Este autor não distingue propriamente fases, mas cinco "papéis" que o leitor
pode assumir, remetendo para atitudes e intenções que o leitor traz para a leitura e
do uso que faz da mesma. São eles:
§ O leitor como "player" quando a criança é ainda ouvinte de histórias,
assumindo um papel de participante / ator confiante num mundo de fantasia
que simbolicamente recria a realidade, os medos e os desejos, situação que a
ajuda pouco a pouco a ultrapassá-los e a controlá-los;
§ O "leitor como herói ou heroína", quando a criança (do 1º e 2º ciclos) se
assume como figura central de uma história que está constantemente a ser
reescrita, de acordo com a imagem que vai construindo do mundo;
§ O "leitor como pensador", para o período da adolescência, numa altura em
que o leitor procura descobrir nas histórias o sentido da vida, valores e
verdades, imagens idéias e autênticos papéis-modelo para imitação;
35
§ O “leitor como intérprete", para o jovem que estuda literatura de forma
sistemática, caso do estudante do ensino secundário ou universitário, ou dos
próprios professores. Neste caso, a literatura é encarada como um corpo
organizado de conhecimentos, com os seus princípios e as suas regras, que é
possível analisar;
Na sua obra “O gosto pela Leitura” Leonor Cadório apresenta dois quadros
que integram as perspectivas de Piaget e de Appleyard, bem como a sistematização
didáctica de um plano leitor proposta por Díaz.
§ amadurecimento de cada criança.
Neste quadro Ana Mariza Filipouski reelabora e sistematiza a teoria de Piaget,
associando a cada estádio de desenvolvimento os tipos de leitura mais
adequados.
QUADRO 1
EVOLUÇÃO DO ALUNO COMO LEITOR
Evolução Leitor Estágios de Piaget
Classificação dos períodos de
Leitura Atividade Escolar Nível Educativo
1. Conhecimento Pré-linguístico / Sensório-Motor Sensibilização Nível
Experimental Educação Pré-Escolar
2. Aprendizagem Pré-Operacional Aprendizagem Preparação Madurativa e Aprendizagem
Educação Pré-Escolar
3. Prazer Operacional Aprendizagem Consolidação 1º Ciclo
4. Hábito Adolescência Consolidação Funcionalidade 2º e 3º Ciclos
5. Pensamento Crítico Juventude Consolidação Aperfeiçoamento Escola Secundária
Fonte: Ana Mariza Filipouski (1982)
36
QUADRO 2
EVOLUÇÃO DO ALUNO COMO LEITOR
Etapa Características Temporização
Leitor "lúdico" A criança que ainda não lê, mas ouve histórias, torna-se um "jogador" confidente num mundo de fantasia.
Educação Pré-Escolar
Leitor como Herói A criança é a figura principal dum romance que ela constantemente reescreve à medida que relaciona com a imagem que tem do mundo como as pessoas se comportam
Do 1º Ciclo à Adolescência
Leitor como Pensador O adolescente olha para as histórias para descobrir significados para a vida, valores e crenças, imagens e modelos de imitação
Adolescência
Leitor como Intérprete O texto é visto como algo feito por alguém, como algo problemático que requer interpretação Universidade
Leitor Pragmático O leitor adulto escolhe, consciente e pragmaticamente, os usos das suas leitoras Adulto
Fonte: Ana Mariza Filipouski (1982)
37
CONCLUSÃO
Para saber realmente o que a leitura proporciona na vida de uma criança
basta entregar-lhe um livro, ou então, começar a contar uma história para ela e ver
como esta reage a fala de cada personagem narrado na história.
E, aos poucos a criança vai desenvolvendo o gosto por ouvir histórias e
começa e querer contar também, vai manuseando os livros e “lendo” suas figuras,
tornado-se um leitor.
Ao ingressar na escola a criança vai tomando conhecimento das letras e de
seus significados, vai decodificando os textos e interpretando e aos poucos, vai se
tornando um leitor. Com o passar do tempo vai assimilando e fazendo leitura crítica
do que lê.
A leitura crítica sempre leva a produção ou construção de um outro texto: o
texto do próprio leitor. Em outras palavras, a leitura crítica sempre gera expressão: o
desvelamento do SER leitor. Assim, este tipo de leitura é muito mais do que um
simples processo de apropriação de significado; a leitura crítica deve ser
caracterizada como um estudo, pois se concretiza numa proposta pensada pelo ser-
no-mundo, dirigido ao outro. Na criança esta leitura através dos sentidos revela um
prazer singular; esses primeiros contatos propiciam à criança a descoberta do
trabalho, motivam-na para a concretização do ato de ler o texto escrito.
A escola torna-se fator fundamental na aquisição do hábito da leitura e
formação do leitor, pois mesmo com suas limitações, ela é o espaço destinado ao
aprendizado da leitura. Tradicionalmente, na instituição escolar, lê-se para aprender
a ler, enquanto que no cotidiano a leitura é regida por outros objetivos, que
conformam o comportamento do leitor e sua atitude frente ao texto. Essas leituras,
guiadas por diferentes objetivos, produzem efeitos diferentes, que modificam a ação
do leitor diante do texto. Nesse processo, ouvir histórias tem uma importância que
vai além do prazer. "O uso do trabalho na escola nasce, pois, de um lado, da relação
que se estabelece com seu leitor, convertendo-o num ser crítico perante sua
circunstância...".
Muitos estudos e pesquisas têm evidenciado a importância das atividades
literárias diferenciadas no contexto educacional para o bom desempenho da criança.
38
A utilização da literatura como recurso pedagógico pode ser enriquecida e
potencializada pela qualidade das intervenções do educador.
Através deste trabalho, foi refletido sobre o papel do educador, suas funções,
sendo o mesmo mediador na literatura infantil e sendo a leitura, um agente
transformador da aprendizagem, destacando a importância dos contos infantis em
relação ao estímulo da leitura no cotidiano escolar, englobando também o social.
Como foi depreendido a perceber, o educador é destacado como ponte para
que a literatura infantil não seja mais considerada uma forma de literatura menor,
atrelada à função utilitária e pedagógica. Pois a escola é considerada a instituição
encarregada legitimamente para promover a leitura; e muitas vezes é, a principal
desmotivadora. Nesse sentido, foi procurado realçar o papel exercido pelo professor
sendo um grande incentivador no processo de formação do gosto pela leitura.
Cabe então, aos interessados na formação de leitores infantis, que são a
família e os educadores, proporcionarem aos mesmos um aspecto diferente em
relação à leitura, fazendo assim eles perceberem que leitura é muito mais do que um
instrumento formador de sonhos, prazeres, conhecimentos e ideologias, mas que
apresenta o desenvolver de uma mentalidade mais crítica e consciente.
39
BILBIOGRAFIA AZEVEDO, Fernando. Jardins de Salústio À margem da vida e dos livros, ensaios (1924);– ilustrado por Mariana Massarani – Moderna.
ABRAMOVICH, Fanny. Literatura Infantil, Gostosuras e Bobices. 2ª ed. Campinas/SP: Scipione, 1991.
BARBOSA 1991: T. V. R. Barbosa, Acerca de bóe oínope em Ilíada xiii,703, Anais da VI reunião anual da SBEC 1991 : Classica (Brasil) Suplemento Nr. 1 Belo Horizonte Soc. Brasileira de Estudos Clássicos 1992 190 p. 7-12.
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