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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PERSPECTIVA CONSTRUTIVISTA NO PROCESSO DE
ALFABETIZAÇÃO INFANTIL: ASPECTOS COGNITIVOS E
EMOCIONAIS NA APRENDIZAGEM
Por: Maria das Graças Batista
Orientador
Professora Maria da conceição Maggioni Poppe
Goiânia
2008
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PERSPECTIVA CONSTRUTIVISTA NO PROCESSO DE
ALFABETIZAÇÃO INFANTIL: ASPECTOS COGNITIVOS E
EMOCIONAIS NA APRENDIZAGEM
Apresentação de monografia á Universidade Cândido
Mendes como requisito parcial para obtenção do título de
especialista em Psicopedagogia Institucional.
Por: Maria das Graças Batista
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus em primeiro lugar e as
pessoas que muito me auxiliaram durante a
elaboração desta pesquisa para a conclusão
do presente trabalho.
4
DEDICATÓRIA
Dedico esta monografia a meus filhos que contribuíram
para a conclusão desta monografia através da tolerância
e compreensão com meus estudos.
5
RESUMO
A presente pesquisa tem como objetivo contribuir com um conjunto de informações para auxiliar professores e administradores a adquirir atitudes e habilidades necessárias para a inteligente formulação e verificação de hipóteses relacionadas ao processo ensino aprendizagem, visando evitar a instauração de problemas de não aquisição da leitura e dificuldades de interação ao processo. Presume-se que as crianças das camadas mais pobre da sociedade são menos inteligentes, que as das classes médias e ou altas, uma vez que muitas encontram dificuldades no processo de aquisição de leitura e dificuldades de aprendizagem, de forma geral. Preocupados com esta questão tão relevante para os educadores e principalmente para a psicopedagogia, que tem como um dos objetivos a prevenção e intervenção Psicopedagógicas, possíveis no processo ensino aprendizagem, pesquisamos e analisamos teorias de estudiosos destas áreas como: Freud, Piaget, Emilia Ferreiro, Vygotsky, Paulo Freire, outros e ainda, observamos o desempenho de crianças das já citadas camadas sociais. Os estudos e pesquisas direcionaram para o entendimento de que todos os seres são dotados de inteligências, entretanto, o meio onde estamos inseridos interferem de maneira positiva ou negativa, no desenvolvimento cognitivo, facilitando ou dificultando a aquisição do conhecimento. Um dos fatores mais relevantes que interferem na aprendizagem, é o contato com o mundo da leitura, desde os primeiros anos de vida: livros, revistas, filmes, jogos, quebra cabeças etc. No entanto, muitas crianças das camadas menos favorecidas não têm acesso, dificultando o processo ensino aprendizagem. Enfim o assunto em pauta é de suma importância para todos, uma vez que visa encontrar soluções para prevenir e evitar dificuldades de aprendizagens, indiferente da classe social na qual se está inserido. Palavras-chave: Habilidades Educacionais. Prevenção. Ensino e Aprendizagem.
6
METODOLOGIA
No primeiro momento foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre o
processo de alfabetização para coleta de dados sobre o mesmo. Foram realizadas
pesquisas com o objetivo de tornar a fundamentação teórica mais abrangente, em
documentos relacionados ao desenvolvimento cognitivo e suas fases, segundo
Piaget, o desenvolvimento emocional e a perspectiva analítica de Freud, método de
Paulo Freire, Vygotsky a linguagem e a perspectiva de Emilia Ferreiro sobre a
alfabetização.
O material de apoio consistiu das apostilas do curso de Psicopedagogia, bem
como materiais adicionais de relevância que foram pesquisados na rede mundial de
computadores.
De acordo com as análises e observações foi elaborado relatório baseado na
fundamentação teórica de diversos pesquisadores que tratam do assunto em
questão e conclusões sobre os problemas e hipóteses levantadas.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 05
CAPÍTULO I – O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO SEGUNDO PIAGET ............ 07
1.1 Fases do Desenvolvimento Cognitivo ............................................................. 09
CAPÍTULO II – O DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL SEGUNDO FREUD .......... 12
2.1 O Desenvolvimento Emocional Infantil na Concepção Analítica .................. 13
CAPITULO III – O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO ........................................... 18
3.1 A Natureza do Processo ................................................................................... 17
3.2 Algumas Teorias à Respeito do Processo de Alfabetização ......................... 19
3.2.1 Método de Alfabetização Paulo Freire ................................................... 19
3.2.2 Ezequiel Teodoro e o ato de ler .............................................................. 20
3.2.3 Vygotsky e a Linguagem ......................................................................... 21
3.3 A Perspectiva de Emilia Ferreiro na Alfabetização ........................................ 22
CAPITULO IV – INTERVENÇÕES PSICOPEDAGÓGICAS.................................... 28
4.1 Abordagem psicopedagógicas na instituição escolar..............................29
4.2 Dificuldades de alfabetização......................................................................30 CONCLUSÃO ........................................................................................................... 31
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 33
8
INTRODUÇÃO
Este trabalho discorre e analisa a abordagem construtivista de alfabetização,
elaborada por Emília Ferreiro. Neste sentido, entende-se que a alfabetização é um
processo muito mais complexo do que normalmente se imagina.
Pensa-se que a escola hoje recebe muitos alunos, e especialmente, para
aqueles provenientes das camadas populares, ela representa a única oportunidade
real de apropriação de conhecimentos, que pertencem a toda à humanidade.
Entretanto, mais do que o direito do acesso à escola, estas crianças têm o direito de
iniciarem o seu processo de alfabetização, de forma que, estes venham a atuar de
maneira consciente e crítica, contribuindo para a mudança da sociedade.
É este o grande desafio, para os educadores, na medida em que não há
ainda uma política educacional voltada para esta questão: a alfabetização das
crianças das camadas populares.
Com esta preocupação é que se desenvolve este estudo, examinando,
através da perspectiva construtivista, o processo que se desenvolve na criança, no
qual ela elabora e representa, gradativamente, a sua inserção no mundo da leitura e
da escrita.
Desta forma, num primeiro momento, discorre-se sobre o desenvolvimento
cognitivo da criança, destacando, a partir de Piaget, as principais considerações
acerca deste processo.
No segundo momento, incorpora-se a teoria psicanalitica freudiana trazendo
uma visão essencial para a compreensão do desenvolvimento emocional.
Posteriormente, no terceiro momento, aborda-se a questão do processo de
alfabetização, dando uma visão geral deste na visão de algumas teorias, destacando
a perspectiva de Emília Ferreiro, o método de alfabetização de Paulo Freire,Ezequiel
Teodoro e o ato de ler e Vygotsky e a linguagem.
No quarto capitulo enfatiza-se o papel e importância da psicopedagogia e as
perspectivas preventivas e intervencionistas, analisa os principais fatores que
facilitam ou dificultam a aprendizagem.
Acredita-se que a compreensão da psicologia educacional aumenta a
eficiência quanto a maneira de auxiliar o educando a obter progresso na
aprendizagem provocando redução da frustração de ambos . Torna o processo mais
9
agradável, uma vez que proporciona interação dinâmica entre as partes envolvidas :
educador, educando, família e o contexto no qual estão inseridos.
Espera-se que este trabalho possa cumprir a sua finalidade, ao tentar
fortalecer a compreensão do processo de alfabetização, na busca de alternativa
viável para a alfabetização nas escolas públicas.
Busca-se esclarecer, que o papel do professor é fundamental neste processo,
e para que este possa atuar com competência é preciso que esteja preparado para
isto, entendendo de maneira ampla e global o desenvolvimento do aluno, em todos
os aspectos e o contexto familiar, cultural e social no qual se insere.
Aborda-se ainda o papel e a importância da psicopedagogia na prevenção e
intervenção em possíveis dificuldades de aprendizagem no processo de aquisição
da leitura, de acordo com o contexto sociocultural dos envolvidos.
Procura-se com este estudo proporcionar maior compreensão do processo e
da situação de aprendizagem, assim como do aprendiz, não isoladamente, mas
numa interação dinâmica, pois não existe sentido fora de tal interação.
10
CAPÍTULO I – O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO SEGUNDO
PIAGET
Na biografia de Jean Piaget descobriu-se que ele nasceu na Suíça, no século
passado, em 1896 e faleceu em 1980. Desde muito cedo se interessou pela ciência
e a natureza, tendo produzido seu primeiro artigo científico aos dez anos de idade.
Precocemente debruçou-se nos livros de filosofia, religião e lógica, a qual contribui
para a construção de sua base intelectual. Formou-se em Ciências Naturais em
1915. Posteriormente, conquistou três doutorados mediante uma tese sobre
moluscos, o que confirma sua vocação pelo estudo científico. Neste mesmo período
dedicou-se também às leituras de natureza abstrata ao estudar os filósofos Kant,
Spencer, Comte, Durkheim e outros, ampliando mais os seus conhecimentos sobre
filosofia, existencialismo e cientificismo.1
Iniciaram-se os estudos sobre o conhecimento humano, após estudar
psicologia experimental na cidade de Zurique, conscientizando-se a partir daí, da
importância desta área na construção do conhecimento humano. Indo para Paris, lá
trabalhou sobre a padronização de testes de inteligência, num teste com criança, no
qual as respostas erradas eram mais interessantes que as carretas, levando-o a
concluir que a chave para a compreensão do pensamento infantil residia na
qualidade das respostas. A partir desta descoberta elaborou a sua teoria, ou seja, a
lógica do funcionamento mental da criança é qualitativamente diferente da lógica
adulta. Assim, Piaget ignorou os testes de Binet e Simon, também relacionado ao
mesmo assunto, e concebendo o método clínico de investigação, fundamentando-se
na psiquiatria.
Neste mesmo período, Piaget descobre que a lógica desenvolve-se de forma
gradativa, o que lhe permitiu descobrir os nexos que constituem o conhecimento.
O que caracteriza o universo científico de Piaget era sua versatilidade, o que
se refletiu na sua produção, principalmente nos estudos realizados acerca do
desenvolvimento cognitivo da criança, para explicar a origem do conhecimento.
Portanto, a teoria psicogenética de Piaget sofre influência da filosofia de Kant,
do evolucionismo de Bérgson, da sua própria formação em biologia e por fim, do
estruturalismo.
1 http://hps.infolink.com.br/peco/piag_01.htm
11
Desta maneira, Piaget adotou, no estudo da inteligência, uma concepção
diferente daquela empregada pelos americanos, pois sua teoria esta centrada nas
aquisições básicas, que estão subjacentes às funções cognitivas. Com isto, Piaget
afirma que o estabelecimento das relações cognitivas é proporcionado pela contínua
interação do sujeito com o meio. Nesta perspectiva, são quatro os fatores que atuam
no desenvolvimento cognitivo: a maturação, o meio físico, o social e a equilibração.
Ao lado destes fatores, estão presentes as estruturas, que por sua vez vão
definir os estágios que sustentam o processo de desenvolvimento, em especial, a
articulação deste: os estágios.
É na fase pré-operatória onde se tem o desenvolvimento cognitivo da criança,
de 2 a 7 anos, quando ocorre o início do processo de alfabetização.
Trata-se de um período onde a criança caminhará para alcançar a adaptação
mental e o equilíbrio de suas estruturas cognitivas que os ajudará a responder às
solicitações do ambiente físico/social.
Anteriormente, o mundo da criança até os dois anos se resumia ao ambiente
doméstico. Neste período dos 2 aos 7 anos o pensamento da criança caracteriza-se
por um pensamento egocêntrico onde predomina uma visão do mundo que parte do
próprio eu da maneira que a criança não consegue pensar o seu próprio
pensamento. A ausência da lógica é outra característica desta fase, ela possui uma
tendência a imaginar que os seus pensamentos são comuns a todas as outras
pessoas, achando que com isso poderá ser facilmente compreendida. Ao ignorar a
própria natureza de seu pensamento elas revelam o seu lado egocêntrico. Também
não consegue diferenciar seres vivos de objetos inanimados, ela, inclusive, dá vida a
estes últimos ao afirmar que a “árvore está triste” ou que “A lua acordou”, que “o Sol
foi dormir”, “a boneca está com sono”, etc.
Em resumo, pode-se afirmar que a criança quanto mais nova for será
egocêntrica, à medida que vai se aproximando dos 7 anos, ela tenderá a adotar o
pensamento socializado.
1.1 Fases do Desenvolvimento Cognitivo
O desenvolvimento cognitivo da criança se dá nas seguintes fases:
12
Equilíbrio: devido às indagações do pensamento egocêntrico com relação à
compreensão da realidade, pode-se concluir que este pensamento se encontra em
estado de equilíbrio instável, ocorrendo um predomínio da assimilação sobre a
acomodação que em outras palavras significa dizer que a criança tenderá muito
mais assimilar dados da realidade externa à sua visão de mundo do que a se
acomodar a eles.
Justaposição: a criança não consegue compreender o conceito de classes
por não captar as inter-relações que há entre os vários elementos. Daí é levada
apenas a justapor a colocar em paralelo às informações que assimilar.
Neste período a criança forma apenas pré-conceitos, isto é, adquire uma série de informações a respeito de objetos, mas não consegue discriminar e generalizar adequadamente, no sentido de conceber um conceito (RAPPAPORT, 1981, p. 44).
Transdução: refere-se a um tipo de raciocínio que se caracteriza por uma
agregação, uma junção de elementos que podem ou não manter uma conexão
lógica entre si, o que leva a criança a ter dificuldades em entender leis gerais. Essa
dificuldade de perceber os elementos comuns de uma relação logicamente
necessária como uma característica do pensamento egocêntrico recebeu de Piaget
o nome de sincretismo.
Irreversabilidade: significa dizer que a criança ainda não é capaz de trilhar
por um caminho cognitivo, ou seja, não há seqüência no raciocínio por ainda não ter
adquirido a noção de invariância que objetos possuem identidade própria que
independem de modificações em sua aparência. Portanto, é um pensamento isento
de reversibilidade.
No pensamento pré-operacional não existe esquemas conceituais e nem
realiza julgamentos perceptuais, daí, a inconstância a instabilidade do pensamento.
Centralização: o raciocínio da criança pré-operacional é centralizado, firme e
inflexível. Ela ainda não consegue ainda entender várias relações simultaneamente,
ou seja, não pode perceber a relação inclusiva. Como exemplo, temos as relações
13
de parentesco, onde a criança tem dificuldade em entender que se pai é filho, irmão
e tio, etc. ao mesmo tempo.
Realismo Intelectual: esse pensamento passa a existir quando a criança
concebe como verdade uma percepção momentânea. Por exemplo, ao desenhar
uma pessoa de perfil, a criança colocará dois olhos e duas pernas e ao desenhar
uma pessoa que acabou de lanchar o fará representando volume da barriga, o que
nos dá a impressão de que o desenho é produzido segundo a situação e não como
é visto.
Animismo e Artificialismo: neste pensamento a criança costuma dar vida a
objetos inanimados, ou seja, dá alma humana a todas as coisas, por exemplo: ”a
cadeira está triste”, “o bichinho de pelúcia está chorando”, etc. Ela também atribuirá
causas humanas aos fenômenos naturais ao dizer que o Sol foi feito pelos homens,
no caso trata-se de artificialismo.
Socialização: a socialização será adquirida à medida que a criança deixa de
ser egocêntrica, quando ela passa a se aproximar da idade de 7 anos, onde a
estimulação social será básica para o desenvolvimento intelectual por se constituir
em forças motivadoras.
O contato com as pessoas é fundamental por permitir à criança adaptar-se à
realidade, o que contribuirá também para seu crescimento psicológico, pois nesta
fase ela se encontra dotada de um grande poder de imitação, que se constitui em
elementos básicos que propiciará a criança atingir uma assimilação da realidade
externa ao seu próprio “eu” em processo de formação.
Portanto, a partir do aumento da idade da criança se verificará a diminuição
do egocentrismo intelectual, como também o egocentrismo social, fluindo,
espontaneamente, como conseqüência natural a cooperação.
Brinquedo: Piaget menciona o brinquedo no sentido de evolução social e de
inteligência, estando presente em todos os períodos de desenvolvimento. A
interação social da criança no período sensório-motor é muito limitada, o brinquedo
é predominantemente, isolado, porém de natureza exploratória, isto é, a criança
14
deixa transparecer que explora as potencialidades dos objetos, sem precisar se
acomodar a eles.
O brinquedo ou o jogo é voltado para a busca do prazer. Para Piaget o
brinquedo seria a manifestação mais pura do pensamento egocêntrico, já que pode
vir a representar uma assimilação da realidade ao próprio eu.
Para a criança dos 4 aos 7 anos, o brinquedo se aproxima mais de uma
representação imitativa da realidade. Ela passa a indicar uma ordem que se
assemelha à realidade ou até mesmo uma imitação exata do real, como arrumar
índios em suas aldeias, bonecas em várias atividades, organizar cenas domésticas,
etc.
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CAPÍTULO II – O DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL SEGUNDO
FREUD
Sigmund Freud nasceu em Freibgerg, Morávia, em 1856. Ingressou na
Universidade de Viena em 1873, aos dezesseis anos de idade, tendo sido aprovado
em seus exames médicos finais em 1881.
A curiosidade científica o levara a acompanhar os cursos de grandes
cientistas e pensadores que lá se encontravam. Os cursos de filosofia dados por
Brentano deram importante base humanística para a construção da psicanálise.
Dedicou-se assiduamente à psiquiatria, para terminar concluindo que os
conhecimentos existentes não eram significativos. No Departamento de
Dermatologia interessa-se pelas conexões entre a sífilis e várias moléstias do
sistema nervoso. Desenvolve ainda uma nova técnica para a coloração de tecidos
nervosos pelo cloreto de ouro e lança as bases para a utilização clínica da cocaína
como anestésico local. Nas décadas de 1880/1890 Freud fixa-se como neurologista
de renome. Introduz explicações funcionais, correlacionando áreas motoras,
acústicas e visuais do cérebro. Seus trabalhos sobre a afasia, paralisias infantis,
hipertonias nos membros inferiores enuréticos, bem como o trabalho final sobre
paralisia cerebral infantil já que lhe assegurariam um lugar histórico na medicina.
O interesse de Freud pela psiquiatria, e particularmente pela histeria, o leva a
conseguir uma bolsa de estudos para estudar com Charcot, em Paris. Este
psiquiatra havia se notabilizado por seus estudos e trabalhos com pacientes
histéricas. Freud acompanha seus seminários e sua descoberta de que os
fenômenos histéricos e a hipnose constituíam um mesmo processo. Embora a teoria
específica de Charcot não tenha tido utilidade para a psicanálise, as correlações
entre processos sugestivos e sintomas de doenças mentais constituirão uma base
para o pensamento de Freud.
O principal colaborador das idéias iniciais de Freud é Joseph Breuer, médico
vienense, e que já realizava na Áustria pesquisas de tratamento de histeria com
hipnose.
Breuer introduz Freud em suas descobertas e juntos publicam suas
descobertas, e a colaboração durará até a ruptura ocorrida quando da elaboração da
16
teoria da sexualidade infantil de Freud.
No tópico seguinte, apresenta-se a concepção de Freud sobre o
desenvolvimento da personalidade infantil.
2.1 O Desenvolvimento Emocional Infantil na Concepção Analítica
No desenvolvimento infantil que se processa na escolarização, cabe aqui
salientar que recorre-se a teoria psicanalítica de Sigmund Freud por entender que
esta fornece contribuições significativas para o entendimento do desenvolvimento da
personalidade infantil.
Vale ressaltar que, na perspectiva posta por Freud, o desenvolvimento
emocional se processa em fases, de maneira contínua, onde estas fases são
construídas no processo que o indivíduo se insere na cultura, através da socialização.
Desta maneira, ao considerar os processos pelos quais o indivíduo se
constitui, a teoria psicanalítica considera que este se desenvolve em etapas, assim
descritas:
Fase oral: o nascimento pode ser considerado como uma entrada violenta ao
mundo, pois é tudo tão diferente da vida uterina. A criança ao nascer passa por
fases de sofrimento como é o caso do corte do cordão umbilical que gera
deficiências na respiração devido o bloqueio afluxo do oxigênio materno. Essa
sensação negativa leva o nome de angústia, pois, no bebê já se verifica o combate
entre os instintos da vida em relação aos instintos da morte. Ao adentrar ao mundo
externo, o bebê precisará reagir e inspirar.
A angústia de respirar é a perda do paraíso bíblico e o início da conquista do pão com o suor do próprio rosto. Perdido o útero a criança terá de enfrentar o mundo. Construirá progressivamente suas relações afetivas e intelectuais até que ela própria se toma progenitora (RAPPAPORT, 1981, p. 35).
Portanto, o ato de respirar se traduz em uma angústia, ao mesmo tempo em
que marca o ponto inicial da independência humana. Em seguida, vem a
amamentação, as fezes e a urina dejetam os produtos já metabilizados, isto é,
desde já a representação dos mecanismos de projeção e introjeção, inaugurando as
"trocas psicológicas" com o mundo.
17
Das estruturas sensoriais pós-nascimento, a mais desenvolvida é a boca. E
mediante a ela que ocorrerá o equilíbrio homeostático, que se provará e
reconhecerá o mundo e se efetuará a mais importante descoberta: o seio,
considerado o primeiro objeto de ligação infantil. É onde se armazenará os amores e
ódios.
O seio para a criança representa uma grande adoração por ser a sua única
fonte de prazer, o qual é empregado o termo libido que está organizado em torno da
zona oral, que erotizada cabendo então, a partir daí, a denominação de "fase oral”.
A criança incorpora o leite e o seio e sente ter a mãe dentro de si. O vínculo inicial pode ser estabelecido. Tudo o que a criança pega é levado à boca: é comendo que ela conhece o mundo e que as identificações podem ser estabelecidas (RAPPAPORT, 1981, p. 36).
Fase anal: inicia-se a partir do segundo ano de vida, onde a libido passa da
organização oral para a anal, ocorrendo nesse período que até o terceiro ano a
maturação do controle muscular na criança, que em outras palavras é a organização
psicomotora de base; onde ela começa a andar. A criança nessa fase passa a
conhecer o mundo de pé, diferente da fase anterior que é de baixo para cima.
Essa fase é chamada de anal, porque a libido passa a organizar-se sobre a
zona erógena anal. As fezes adquirem valor simbólico como conseqüência básica de
uma fantasia. Estas fezes são consideradas objetos que geram prazer ao serem
produzidos, dadas aos pais como prendas ou recompensas.
Fase fálica: representa o início de uma nova organização que começa a
partir do terceiro ano de vida, onde a zona erógena passa a ser dirigida para os
genitais passa a ter grande importância, materializado pelo ato freqüente da
masturbação e a preocupação com as diferenças sexuais entre macho e fêmea.
Nesta fase, a libido erotiza os genitais, cuja fantasia é fálica, e sua tarefa
básica se reduz em organizar modelos de relações entre o homem e mulher.
Desta maneira, a organização da libido está centrada na zona erógena genital
e configurada sob a fantasia fálica. Na erotização existe um acúmulo de tensão que
deve ser descarregada que, por sua vez corresponde à sensação de prazer.
Na fase fálica, a erotização genital exige um objeto que possibilite a sensação
de prazer e esse objeto é um elemento do sexo oposto. Por exemplo, é natural um
menino, durante a fase fálica se dirigir para o lado de uma figura feminina. No caso a
18
figura feminina mais próxima é a mãe, sendo também, a pessoa de quem mais
gosta. Assim, a figura da mãe não poderá preencher, teoricamente, a sua fantasia,
funcionando como suporte mais tarde (quando adulto) para encontrar uma parceira
sexual fora do seio familiar, e assim, constituir a sua própria família. Isto implica dizer
que a criança adquirindo uma noção de amor em casa propiciará facilidades para o
adulto amar fora.
Contudo, o amor incestuoso é proibido e assim deve ser reprimido, com a
autoridade do pai que entra em cena, colocando-se como interceptor entre o filho e a
mãe, dotado de poder tanto para recompensar como para reprimir, quando as
crianças falavam em casar a mãe ou namorá-la com reflexo de suas fantasias.
Diante da repressão a criança toma aversão pelo pai chegando até pensar a eliminá-
la. Freud deu o nome de complexo de Édipo a esse processo que é o ponto central
da organização afetiva dentro do modelo psicanalítico.
Esta repressão faz com que a energia da libido desloca-se por um certo
tempo, dos objetivos sexuais. Essa energia passa a ser canalizada para outros fins,
ou seja, para o desenvolvimento intelectual e social da criança.
Essa canalização como processo foi denominada de realização socialmente
produtiva de sublimação e o período que se sucede a fase fálica, é chamado de
período de latência.
O período de latência caracteriza-se pela canalização das energias sexuais para o desenvolvimento social, através das sublimações. O período de latência não é, portanto, uma fase: não há nova organização de fantasias básicas e nem novas modalidades de relações objetais (RAPPAPORT,1981, p. 45).
Como Já foi dito, enquanto a sexualidade permanecer dormente, a energia
será utilizada para as realizações intelectuais e para a socialização.
Fase genital: nesta fase o ser humano atingiu o pleno desenvolvimento adulto
normal. Segundo Freud é quando o homem se toma capaz de "amar e trabalhar",
pois, as adaptações biológicas e psicológicas foram realizadas.
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CAPITULO III – O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO
O presente capítulo é uma compilação sobre o processo de alfabetização
baseando-se nas teorias de Piaget, Ferreiro, Paulo Freire, Vygotsky, entre outros.
Na fase de alfabetização, a criança já começa a interagir com o mundo sob outros
aspectos que não o familiar, começa a adquirir responsabilidades e aprender a
administrar conflitos, procurando sempre o equilíbrio.
3.1 A Natureza do Processo
Piaget é considerado construtivista, pois acredita que a criança constrói o seu
conhecimento de forma ativa na interação com o ambiente, daí, portanto, a
importância da família desde os primeiros anos de vida oferecendo materiais que
favoreçam o desenvolvimento cognitivo e o interesse pelo mundo da leitura e escrita.
Um corpo em movimento se relaciona, estabelece canais de comunicação e
descobre o mundo afetivo, cognitivo e motor. É a partir de uma de uma organização
sensório-motor, ou seja, das informações visuais, olfativas, táteis, gustativas e
auditivas, que a criança aprende sobre o mundo e dá significado a ele por meio das
ações. É tocando, cheirando, apalpando que a criança desenvolve seu físico,
elabora seus conceitos, desperta suas emoções, constrói seu conhecimento, enfim,
percebe um mundo a sua volta e constrói o seu próprio mundo.
Sabe-se que Piaget dirigiu suas pesquisas epistemológicas e psicológicas
baseado na seguinte pergunta: “Como se. passa de um estado menor conhecido a
um de maior conhecimento?” (FERREIRO, 1996, p. 9).
Depois de inúmeros estudos, sabe-se que existem vários modos de
representação da escrita para se chegar à representação alfabética da linguagem.
São modos de representação pré-alfabéticos que são modificações de acordo com o
desenvolvimento cognitivo da criança que, vai modificando de um estágio para outro,
ou seja, a criança vai criando hipóteses e conseqüentemente construindo sua
aprendizagem, sua escrita e leitura.
20
Isso acontece porque a cada passagem desses níveis são assimilados pela
criança e processados por ela de uma forma própria, ou seja, a criança absorve a
informação, processa e faz sua própria construção.
Para o adulto “alfabetizado”, inicialmente, a construção da escrita infantil lhe
será totalmente sem compreensão, sem sentido, e os estágios estarão dominando a
escrita alfabética.
Nossa tarefa foi (e ainda é) a de compreender a “lógica interna” desses modos de organização, bem como o de compreender as razões da substituição de um modo de organização para outro, isto é, os processos de construção do conhecimento neste campo específico (FERREIRO, 1996, p. 10)
Na aquisição da leitura e da escrita existem alguns problemas cognitivos, que
têm início a partir que se percebe que a escrita é composta de partes.
A criança irá criando “hipóteses” e a cada conflito, novas “hipóteses” são
criadas possibilitando à criança chegar ao domínio da escrita. Inicialmente a
representação dela é uma letra para cada objeto, posteriormente, percebe que é
necessário um número mínimo de letras para representar o objeto, no mínimo três,
depois percebe que cada sílaba pode ser representada por uma letra, é o período
pré-alfabético, posteriormente, perceberá que não bastam algumas letras e
conhecerá as sílabas que irão representar o objeto escrito. Com todos esses
conflitos e hipóteses a criança culminará no período alfabético.
Neste nível a criança já percebe que nas partes do nome, as “sílabas”
precisam ser colocadas de modo ordenado, “começa com...” e “termina com...”,
mostrando com esta concepção que está desenvolvendo sua aprendizagem
quantitativa e qualitativamente.
Os momentos de conflitos para a criança são difíceis, porém podem ser
superados de acordo com suas hipóteses e concepções.
E aborrecido (mas não é mais que isto) aceitar que há letras que pertencem a “ninguém”, é também um tanto perturbador aceitar que alguém (mas não ninguém) tem direito ao ver duas letras ao invés de apenas uma; é ainda mais perturbador aceitar que há uma letra "para unha”, sendo que todas as outras são uma “para pessoas”, é extremamente conflitante aceitar que letras de outros são uma parte constitutiva do nome próprio (FERREIRO, 1996, p. 31).
21
A criança continua sua exploração a caminho da alfabetização, com as
informações fornecidas pelo adulto, porém seus conflitos continuam.
A criança não consegue, por exemplo, entender a regra de propriedade como
são utilizadas a mesma letra para escrever outros nomes. Ela passa a trabalhar
apenas o nível quantitativo urna letra para cada pessoa. Contudo se esforça para
entender porque o adulto usa várias letras para escrever um mesmo nome. Começa
então a trabalhar a parte quantitativa, ou seja, faz sua primeira análise silábica das
palavras. Esta descoberta das sílabas é muito importante, é a sua primeira hipótese
silábica.
A informação deve ser dada à criança de modo que possibilite a sua
assimilação, pois, “Não é a informação, como tal, que cria conhecimento. O
conhecimento é o resultado da construção de um sujeito cognoscente conhecido”
(FERREIRO, 1996, p. 38).
A criança mostra o quanto é difícil esta construção do conhecimento, ainda
que haja os conflitos para que o conhecimento seja elaborado. A cada nova situação
de conflitos são superadas fases e adquiridos novos progressos no desenvolvimento
da criança rumo à alfabetização. Ao compreender que cada letra tem um significado,
passa a dividir as sílabas e colocar cada letra para uma sílaba.
Surgem novos conflitos e novas assimilações e diante disso, a criança passa
a colocar as sílabas com duas letras aumentando assim o seu desenvolvimento no
processo da escrita.
É por volta dos quatros anos que a criança percebe que é necessário olhar
para todas as letras que compõe um texto, esta hipótese silábica faz surgir novos
conflitos e a criança começa a enunciar os fonemas de muitos nomes, facilitando
sua elaboração, sua construção da escrita.
3.2 Algumas Teorias à Respeito do Processo de Alfabetização
3.2.1 Método de Alfabetização Paulo Freire
Paulo Freire (1981), no desejo de alfabetizar jovens e adultos criou uma
metodologia que não infantilizasse o adulto, a qual sentia-se menosprezado em
22
decorar símbolos gráficos que vinham associados a temas infantis, comuns em
cartilhas de alfabetização.
Com esse propósito formou-se um grupo de adultos não-alfabetizados, onde
seria introduzida técnica do trabalho em grupo promovendo discussões de temas
relevantes para o mesmo, escolhia-se palavras chaves deste debate (palavras
geradoras) que seriam então reconhecidas e decompostas em sílabas. O método
partia do significado para o significante, ou seja, aquilo que era vivência dos adultos
era transformado em palavras que eram decompostas em letras. A partir dessa
experiência, o próprio grupo montava sua cartilha constituída de palavras geradoras,
seguindo assim, o seu ritmo de aprendizagem.
A metodologia de Paulo Freire transformou-se em um sistema Educacional,
não só para os adultos, mas também para as crianças. Ele acreditava que a leitura
da palavra deveria ser significativa, ou seja, que deveria ser interpretada para que
houvesse um significado.
Para uma criança em processo de alfabetização é necessário que haja uma
paixão pela leitura, pela vontade de saber ler. Brandão (1981, p. 30-31), afirma que
“as palavras não é só um instrumento de leitura e linguagem, são também
instrumentos de releitura coletiva da realidade social onde a língua existe, e existem
os homens que a falam...”.
Segundo Paulo Freire (1981), o professor não é o detentor do poder e saber,
mas aquele que também aprende, pois sua função é trazer para o grupo os temas a
serem abordados e juntamente com os alunos vão realizando o ensino e a
aprendizagem. Portanto cabe à figura do professor ser um agente mediador,
trazendo para o processo da alfabetização uma leitura significativa, despertando no
aluno um interesse e um hábito maior pela leitura.
3.2.2 Ezequiel Teodoro e o ato de ler
O autor Ezequiel Teodoro da Silva, não elaborou, ainda, nenhuma teoria
sobre a leitura, mas ressalta a importância desta para a formação crítica do aluno,
para que este saiba além de decodificar e, principalmente, saiba interpretar o que lê.
Para ele o ato de ler é complexo:
23
A leitura não pode ser confundida como decodificação de sinais, com reprodução mecânica de informações... O ato de ler sempre envolve apreensão, apropriação e transformação de significados, a partir de um documento escrito (SILVA, 1985, p. 96).
Para Ezequiel é na escola, através da alfabetização que a criança amplia
seus horizontes, pois antes a criança só se comunica através da audição e da fala,
somente com a alfabetização é que ela passaria a ler e a escrever.
Ezequiel descreve que a função do professor é ser um agente formador; que
promove na criança o desenvolvimento cognitivo da leitura e da escrita, e
principalmente, amplia a aquisição de conhecimentos e culturas na formação da
criança. É esse autor quem diz “(...) a leitura, em suas diversas formas, aumentaria
as possibilidades de conhecer o outro e se auto conhecer, alargando as alternativas
de ver o mundo e permitindo a entrada e a participação no mundo da escrita” (Silva,
1985, p. 67).
Portanto, por meio da leitura, a criança absorve a escrita.
3.2.3 Vygotsky e a Linguagem
Vygotsky (1985, apud Pellegrini, 2001), demonstrou em suas pesquisas que a
linguagem possui um papel fundamental no desenvolvimento do pensamento, que
acontece por meio do intercâmbio social e o pensamento generalizado.
Segundo Vygotsky a conquista da linguagem representa um marco no
desenvolvimento do homem:
A capacitação especificamente humana para a linguagem habilita as crianças a providenciares instrumentos auxiliares na solução de tarefas difíceis, a superarem a ação impulsiva, a planejarem a solução para um problema antes de sua execução e a controlares seu próprio comportamento. Signos e palavras constituem para as crianças, primeiro acima de tudo, um meio de contato social com outras pessoas. As funções cognitivas e comunicativas da linguagem tornam-se, então, a base de uma forma nova e superior de atividade nas crianças distinguindo-as dos animais (1984, apud REGO, 1995, p. 63-64).
Sendo que, a linguagem expressa o pensamento da criança, tanto como age
organizando esse pensamento.
24
Para Vygostyk a necessidade de comunicação impulsiona o desenvolvimento
da linguagem, gerando assim, um intercâmbio social. Podemos usar símbolos,
desenhos, gestos e sons para expressar estados emocionais aos outros, mas a
comunicação exige intercâmbio de signos socialmente compreensíveis, ou seja, a
leitura e a escrita (a alfabetização).
A alfabetização leva a segunda função da linguagem estudada por Vygotsky
(1985, apud Pellegrini, 2001), que é o pensamento generalizado. Isso quer dizer que
a linguagem passa a ter uma função conceituai que permite ordenar a realidade,
passa ser parte da sociedade alfabetizada.
Segundo Tereza Maria Machado (1998, apud Pellegrini, 2001), Vygotsky
acredita que a “(...) Função conceitual torna a linguagem um instrumento do
pensamento, sendo, pois, no significado que se encontra a unidade entre as funções
de intercâmbio social e pensamento generalizado”.
Assim, todo aprendizado provém daquilo que nos é significativo.
3.3 A Perspectiva de Emilia Ferreiro na Alfabetização
Emília Ferreiro, em pesquisas realizadas em conjunto com Ana Teberosky
procurou explicar os processos e a formas pelas quais a criança aprende a ler e
escrever. Ou seja, o caminho que a criança percorre para compreender o valor e a
função da escrita desde que esta se constitui no objeto de sua atenção.
Ao contrário dos métodos tradicionais, onde a escrita e a leitura é tratada
numa visão mecanicista, a proposta de Emília Ferreiro traz novas reflexões sobre o
processo de aquisição da escrita e da leitura. Através dos estudos de Piaget, a
análise de Ferreiro mostra como o processo de alfabetização será paulatinamente
construído pela criança, a partir da interação com o seu meio.
Na perspectiva tradicional, a escrita é concebida como um código de
transcrição gráficas das unidades sonoras, onde se considera esta escrita como um
objeto adquirido mecanicamente, levando em consideração a repetição e a
visualização através de exercícios repetitivos.
Na perspectiva construtivista, o modo de conceber a escrita é levar a criança
à compreensão de como construir um sistema de representação, buscando assim a
escrita por meio conceituais.
25
Se a escrita é concebida como um código de transcrição, sua aprendizagem é concebida como uma aquisição de uma técnica; se a escrita é concebida como um sistema de representação, sua aprendizagem se converte na apropriação de um novo objeto de conhecimento, ou seja, em uma aprendizagem conceituai (FERREIRO, 1986, p. 16).
Considera-se que a criança tem uma concepção da escrita mesmo antes de
entrar para a escola. Ao fazer os “rabiscos”, as “bolinhas” ela está considerando a
escrita, embora para os adultos não seja uma escrita clara, se questionarmos a
criança a respeito do que escreveu ela irá dizer lendo nos “rabiscos” e nas “bolinhas”
o que está escrito. Daí a necessidade de se considerar estas “escritas” como a
escrita da criança.
Se pensarmos que a criança aprende só quando é submetida a um ensino sistemático, e que a sua ignorância está garantida até que receba tal tipo de ensino, nada poderemos enxergar. Mas se pensarmos que as crianças são seres que ignoram que devem pedir permissão para começar a aprender, talvez comecemos a acenar que podem saber embora não tenham sido dada a elas a autorização institucional para tanto. Saber algo a respeito de certo objeto não quer dizer, necessariamente saber algo socialmente aceito como conhecimento “Saber” algo quer dizer ter construído alguma concepção que explica certo conjunto de fenômenos ou de objetos da realidade (FERREIRO, 1986, p. 17).
A escrita do ponto de vista construtivo, é concebida através de uma evolução
surpreendentemente regular, através dos meios culturais e sociais e das diversas
situações educativas. A esta evolução cabe discorrermos três grandes períodos.
No primeiro período, a criança ao representar os objetos, através de
desenhos, está no período icônico, e ao representar os objetos através da escrita,
está no não icônico. Estas marcas gráficas figurativas e não figurativas são de
grande importância, porque o esforço intelectual que a criança faz para construir as
formas diferentes da escrita é que caracteriza o segundo período.
O eixo qualitativo e quantitativo é caracterizado pela variação da construção
de formas da escrita. A criança neste período precisa de uma quantidade mínima de
letras, normalmente três para que a escrita signifique algo, é o eixo qualitativo.
Portanto,
... é necessário criar modos sistemáticos de diferenciação entre uma escrita e a seguinte, precisamente para garantir a diferença de
26
interpretação que será atribuída. As crianças exploram então critérios que lhe permitem, às vezes, variações sobre o eixo quantitativo, e, as vezes sobre o eixo qualitativo variar o repertório de letras que se utiliza de uma escrita para outra variar a posição das mesmas letras sem modificar a quantidade (FERREIRO, 1986, p. 24).
No terceiro período, a criança descobre que a escrita pode ter mais letras
dependendo do som das palavras, ela que antes usava três letras descobre que a
escrita pode ser concebida pelo número de sílabas, uma letra para cada sílaba, é o
período silábico que, com o seu esforço e orientação do professor culmina no
período alfabético, onde a escrita é constituída de modo conceituai pela criança.
Os conflitos antes (ao que se acrescenta às vezes a ação educativa conforme a idade que tenha a criança nesse momento), vão desestabilizando progressivamente a hipótese silábica, até que a criança tem coragem suficiente para se comprometer em um novo processo de construção. O período silábico-alfabético marca a transição entre os esquemas prévios em uma via de serem abandonados e os esquemas futuros em vias de serem construídos (FERREIRO, 1986, p. 27).
A prática tradicional de alfabetização tem sido palco de inúmeras discussões,
os métodos aplicados têm causado polêmicas na área de alfabetização, porém
nenhuma dessas discussões levou em consideração a nova proposta que agora
conhecemos, ou seja, as considerações da criança sobre o sistema da escrita. Cabe
então colocar as discussões sobre novas bases.
Se aceitarmos que a criança não é uma tábua rasa onde inscrevem as letras e as palavras segundo determinado método; se aceitarmos que o “fácil” e o “difícil” podem ser definidos a partir da perspectiva do adulto, mas de quem aprende; se aceitarmos que qualquer informação deve ser assimilada (e, portanto transformada) para ser operante, então os métodos (como seqüências de passos ordenados para chegar a um fim) não oferecem mais do que sugestões, incitações, quando não práticas rituais ou conjunto de proibições. O método não pode criar conhecimento (FERREIRO, 1986, p. 29-30).
As crianças que vivem no meio urbano tem acesso à escrita a todo momento,
o meio social fornece esta interação da criança com o objetivo social que é a escrita
através de vários canais, seja nas propagandas dos muros cartazes, etc. ou seja em
propaganda da televisão, panfletos etc. A criança irá assimilando e retendo
conhecimentos mesmo sem está ainda na escola. Quando ela chega na sala de
aula, ela já tem sua concepção da escrita e leitura, ainda que desordenadamente,
27
que só ela entende, se o adulto questionar o que ela escreveu, ela saberá dizer.
Nesse sentido,
É preciso mudar os pontos por onde nós fazemos passar o eixo central das nossas discussões. Temos uma imagem empobrecida da língua escrita: é preciso reintroduzir, quando consideramos a alfabetização, a escrita como sistema de representação da linguagem. Temos uma imagem empobrecida da criança que aprende: a reduzirmos a um par de olhos, um par de ouvidos, uma mão que pega um instrumento para marcar e um aparelho fanado que emite sons. Atrás disso há um sujeito cogniscente alguém que pensa que constrói interpretações, que age sobre o real para fazê-lo seu (FERREIRO, 1986, p. 40-41).
A interpretação da leitura e da escrita tem início antes do período de
escolarização, nas atividades em que a aprendizagem se interage com um sistema
de concepções previamente elaboradas pela criança que em interação com a
comunicação, com o meio social interpreta a escrita e a leitura nos mais variados
conceitos.
A escrita não é um produto escolar, mas sim objeto cultural, resultado do esforço coletivo da humanidade. Como o objeto cultural, a escrita cumpre diversas funções sociais e tem meios concretos de existência. O escrito aparece para a criança como objeto com propriedades específicas e com suportes de ações e intercâmbios sociais (FERREIRO, 1986, p. 43).
A criança elabora sua própria idéia a respeito dos sinais escritos. Ela sabe
que a figura embora possa ser interpretada não pode ser lida porque não possui
letras ou sinais que possam ser interpretados.
Depois de a criança distinguir “o que é uma figura” e “o que não é uma figura”,
tem início o trabalho cognitivo em que os critérios são chamados de “quantidade
mínima de caracteres”. Esse critério é que faz a evolução do desenvolvimento da
criança no mundo da escrita. Ela sabe que precisa de uma quantidade mínima de
caracteres para que possa ler no mínimo três “já que com poucas não se pode lei”.
Outro critério é a "variedade interna de caracteres", ou seja, é necessário que
as grafias variem para que se possa ler.
Ambas as hipóteses, a da quantidade e a da variedade, são construções próprias da criança, no sentido de elaborações internas que não dependem do ensino adulto e nem da presença de amostras
28
da escrita onde podem aparecer anotações de uma ou duas letras com reduzida variedade interna (FERREIRO, 1986, p. 47).
A criança constrói sua própria concepção da escrita, assim, se um adulto lhe
apresentar um texto, este será processado de acordo com a concepção infantil e
não do ponto de vista do adulto.
Ao iniciar a construção do sistema de escrita, a criança também relaciona o
tamanho do objeto ao tamanho do nome escrito, assim se pedir para que escreva
"elefante" ela escreverá um rabisco grande, e se pedir que escreva “formiga” ela
escreverá um rabisco pequeno.
Com a construção de hipóteses e os conflitos que esta criança vai adquirindo,
ela chegará a uma escrita alfabética conceituai e clara, pois assim,
Como outros sistemas de escrita, o sistema alfabético é o produto do esforço coletivo para representar o que se quer simbolizar: a linguagem. Como toda representação, baseia-se em uma construção mental que cria suas próprias regras (FERREIRO, 1986, p. 55).
O adulto ao dar oportunidade para que a criança aja como se fosse um leitor
através de várias oportunidades de folhear escritos mesmo antes do período
escolar, estará contribuindo para o seu desenvolvimento precoce no mundo social
que é a escrita.
Esse desenvolvimento que começa antes da escola e que culmina com a
alfabetização propriamente dita, que é a escrita alfabética e a aquisição da leitura,
pois ambas são adquiridas ao mesmo tempo e não de forma isolada, é que
chamamos de construção do conhecimento.
A construção de um objeto de conhecimento implica muito mais que coleção de informações. Implica a construção de um esquema conceituai que permita processos de inferência acerca de propriedades não-observadas, de um determinado objeto e a construção de novos observáveis, na base do que se antecipou e do que foi verificado (FERREIRO, 1986, p. 66).
Porém, isso não significa que todas as dificuldades tenham sido superadas,
pois a partir desse momento, a criança encontrará pela frente com as questões
ortográficas, uma vez que a identidade de som não garante a identidade de letras,
nem a identidade de letra, a de som. É importante observar que as dificuldades
29
ortográficas são essencialmente diferentes das dificuldades relativas à compreensão
do sistema de escrita e suas leis,
Finalmente, a criança percebe a estrutura e o funcionamento do sistema de
escrita por conseqüência da apropriação desse conhecimento através de sua
reconstrução.
30
CAPITULO IV – INTERVENÇÕES PSICOPEDAGÓGICAS
Um dos papeis da psicopedagogia è estudar as relações com o
conhecimento, o vinculo com a aprendizagem e as significações contidas no ato de
aprender, tendo como objetivo contribuir para a análise e reformulação de práticas
educativas sociais e a ressignificações de atitudes subjetivas, ou seja, compreender
questões relativas ao desenvolvimento cognitivos, afetivo e psicomotor que podem
aparecer no aprendiz e se necessário, intervir.
A psicopedagogia deverá reconhecer as capacidades do educando visando
compreender e remover o que o impede de aprender.
O principal procedimento de intervenção psicopedagógico consiste na
prevenção, que se dividem em três níveis:
1º Atuar nos processos educativos visando diminuir a freqüência de
instauração de “problemas de aprendizagem”, incidindo nas questões didáticas.
2º “ Amenizar e tratar problemas de aprendizagem já instaurados, criando um
plano diagnostico da realidade institucional e em segundo, elaborar planos de
intervenções, baseado no diagnostico, avaliando o currículo com os professores
evitando a repetição dos transtornos.”
3º “Eliminar os transtornos já instalados num procedimento clínico com todas
as implicações”. (BOSSA, 2001, p. 22.).
O diagnóstico é o principal indicador de estratégias de ação
Psicopedagógicas de sucesso, pois, o mesmo é comum aos três níveis, sendo,
portanto, a base para o contexto preventivo e intervencionista.
4.1 Abordagens psicopedagógicas institucionais no ambiente
escolar.
Sendo a instituição escolar um espaço de construção escolar um espaço de
construção do conhecimento para todos que ali estão, faz-se necessário as ações e
investigações Psicopedagógicas, tendo como objetivo a prevenção das dificuldades
de aprendizagem na qual se insere a construção do relacionamento saudável para
que o contexto escolar se volte para os aspectos sadios da aprendizagem e do
31
conhecimento. (URRUTIGARAY, Maria Cristina Fontes. Teorias e Intervenções
Psicopedagógicas. A Vez do Mestre, módulo ll).
Segundo a autora citada A psicopedagogia é uma área de investigação
cientifica, cujo o objetivo de estudo é o aluno ou um sujeito inserido no processo de
educação, portanto é imprescindível a prática psicopedagogica na instituição
escolar.
A intervenção psicopedagógica deve considerar os seguintes itens:
- O desenvolvimento não deve ser mensurado através de escalas (teste)
pois o desenvolvimento como maturidade para a aprendizagem é influenciado
pelo meio, mas não determinado por ele.
- Algumas atividades escolares apresentam dificuldades especificas,
como no caso da leitura, que no caso de dislexia não tem relacionamento com
quocientes de inteligência.
- Os testes e fichas de avaliação que mediam o conhecimento tornaram-
se obsoletos, faces aos aportes e sanções que o meio ambiente providencia para
o sujeito.
Sendo assim não podemos nos ater mais em intervenções e práticas
Psicopedagógicas que não englobem a dimensão relacional e intervencional do
modelo de ensino aprendizagem.
Para Kiquel, o processo de aprendizagem humana depende de padrões
evolutivos normais e patológicos e da influência do meio como família, escola e
sociedade inseridos no processo. (Kiquel Apud Bossa, 2000:19)
A escola deve estabelecer o compromisso com um trabalho, que vise o
estabelecimento de novas formas de saberes articuladores de uma nova concepção
de mundo, pois:
“Com metodologias ativas e com a construção de grupos operativos, o que podemos observar e a caracterização de um espaço onde emoção, prazer, subjetividade e para o surgimento de novos relacionalidades, mais abertas, proveitosas e onde a dialocidade seja uma constate possibilidade integrada”. (BEAUCLAIR, 2006).
Neste contexto, onde a psicopedagogia no campo institucional tem atuação?
Em todos os lugares e neo-lugares que possibilitem gerar o movimento da
reflexão sobre o ensinar - aprender, trazendo a forma, o exercício da sincronidade,a
vivência da homeostase e a percepção da antropia, que são dinâmicas da natureza
32
do ser humano visivelmente passíveis de experimentação e aprendizagem dentro
dos grupos.
O surgimento dessa área de conhecimento, a principio se dá a partir da
necessidade de se compreender os, até então chamados problemas de
aprendizagem, via desenvolvimento cognitivo, objetivo e psicomotor. Porém, é
possível procedimentos Psicopedagógicas deter-se nas modalidades de
aprendizagens a partir da constituição psicológica, mesológica e histórica – cultural
do sujeito, e vem para ampliar o olhar quanto a estas questões. Além de propor
métodos de intervenção com o objetivo de inserir o aluno no processo de construção
do conhecimento, bem como, fomentar a reflexão sobre o procedimento didático e
éticos que se dão no ambiente escolar, na sala de aula. Nesse sentido, SCOZ
observa que:
“os problemas de aprendizagem não são restringiveis nem a causa físicas ou psicológicas, nem a analise conjunturais e a partir de um enfoque multidimencional, que amalgame fatores orgânicos, cognitivos, afetivos, sociais e pedagógicos, percebidos dentro das articulares sociais. (SCOZ, 1994,Pg 22).
A natureza da intervenção psicopedagógica reflete duas vertentes, uma na
dimensão terapêutica e outra na dimensão preventiva. E diz respeito não só aos
alunos, mas a toda dinâmica escolar. Essa forma de atuação da psicopedagógica
visa favorecer os ensinar com o outro, tocando nas questões pertinentes as relações
do aluno com a escola, com o professor, com o de que se possa configurar numa
quebra de paradigmas quanto aos processos educacionais.
Por tanto, a partir de um referencial interdissiplinar e transdisciplinar como o
da psicompedagogia, é possível estabelecer a convergência não só no que diz
respeito aos aspectos intresecos da educação formal, pois, um novo pensar mundo,
no mundo, se faz premente a fim de que o indivíduo possa conceber seu sentido de
futuro e temporalidade significativa para gerar auto sustentabilidade psíquica e
emocional na convivência como ser inserido na coletividade. 2
2 In : Artigo, Fazer Ciência em Psicopedagogia. Uma Convergência de Olhares para o Lugar Transdissiplinar do Ser e do Saber. http/www.psicopedagogia online.
33
4.2 Dificuldades em Alfabetização
É comum a queixa, de que a criança, ao final da alfabetização, escreve, mas
não lê. Com embasamento na psicologia cognitiva e nos estudos de letramento
e,segundo a pesquisa de FERREIRO e TEBEROSKY (1979), a criança com escrita
alfabética faz uma representação grafema-fonema das palavras.
O mesmo processo pode não se dar na leitura, uma vez que decodificar
através da rota fonologia de leitura pode ser muito cansativo e desistimulante
quando não ligado, ao significado textual. Essa forma de leitura se contrapõe ao
pensamento global da criança, que estará muito mais preocupada com o que diz o
texto do que com a decodificarão.
Para crianças pequenas, os livros são muito mais do que letras e sons, por
isso é fundamental incentivar que a criança se arrisque na rota lexical, através de
questionamentos que a levem a pensar sobre o significado e não apenas,
elaborando hipóteses de leitura.
A aprendizagem da leitura e da escrita são processos distintos que se
complementam. Enquanto a escrita se dá por estágios de elaboração de hipóteses,
a leitura envolve processos para além da decodificação, envolvendo movimentos
oculares, memória de trabalho, memória semântica e precisa ser uma aprendizagem
significativa. É fundamental que os profissionais que atuam na alfabetização tenham
clareza desses dois processos, que estão intimamente ligados ao crescimento da
criança a sua autonomia e desconcentramento3.
O papel da psicopedagogia consiste em interferir para sanar ou evitar as
dificuldades de leitura a escrita, de maneira diferenciada, interagindo o emocional,
auto-estima e a alfabetização de maneira prazerosa.
As brincadeiras e os jogos são terapêuticas por ser um espaço simbólico em
que o sujeito irá integrar o mundo interno e externo. Através da brincadeira, a
criança constrói uma ponte por onde passar dos significados simbólicos dos
objetivos para a investigação ativa de suas verdadeiras funções e particularidades.
O lúdico é um espaço mental, uma realidade intermediária entre o mundo
interno e o externo que segundo Winnicott (1975), se origina na relação mamãe –
bebê.
3 IN: Dificuldades Iniciais em Alfabetização.http/www.psicopedagogia.online.com.br
34
Portanto, propor Jogos e brincadeiras como proposta de intervenções visando
a reconstrução, o resgate do prazer de aprender e fazer reviver o desejo pelo
conhecimento em contraposição as memorizações e atividades sem sentido é uma
ação Psicopedagógicas desafiadora, problematizadora e reflexiva muito indicada
nas situações de prevenção e intervenções.
Segundo a mestra e psicóloga Maria Cristina Urrytigaray, o modelo científico
da psicopedagogia constitui-se numa intervenção que permita:
1º) Diagnosticar tanto as dificuldades quanto as habilidades específicas dos
alunos;
2º) Propor atividades destinadas tanto para evitar fracassos, através de
aquisições que forneçam capacitação, quanto para solucionar problemas que
surgem na prática cotidiana, sem que o indivíduo tenha de se tornar cristalizado na
sua formatação, isto é, dotar o indivíduo de agilidade e flexibilidade mental pela
capacidade de articular conhecimentos ou agilidade de pensamento.
As experiências psicomotoras, sociais e intelectuais determinam nossos
pensamentos e atitudes. Elas podem ser positivas ou negativas com relação ao
próprio corpo e á sociedade. Dessa forma a educação deve oferecer experiências
significativas e positivas para a formação da própria identidade das crianças.
As atividades motoras são de suma importância para o desenvolvimento
global das crianças, portanto os jogos e brincadeiras são uma grande fonte de
construção de significados e limites. Daí sua importância no contexto da educação.
35
CONCLUSÃO
Ao concluir esse trabalho baseado na concepção interacionista, ficou
evidenciado a necessidade da escola repensar o processo da alfabetização da
criança. Processo esse, que deve ser baseado no contexto em que a criança vive.
Tendo como referência o fato de que na nossa sociedade existem classes
diferentes e que, portanto, existem diferenças entre os indivíduos, assim, não existe
também um desenvolvimento homogêneo por parte da criança. O desenvolvimento
infantil é mais rápido ou mais lento, de acordo com o meio social que a criança
pertence.
Um meio social estimulador, rico em informações, possibilita uma interação
maior da criança, visto que ao ter acesso ao processo da escrita, conseqüentemente
seu desenvolvimento será mais acelerado. Já no meio social onde há pouca
estimulação disponível este possibilita uma interação precária, onde a criança tem
pouco contato com o processo da leitura e escrita. Isso é evidenciado na criança,
quando ela chega no período de escolarização, onde seu desenvolvimento será
mais lento, justamente, por não ter recebido os estímulos necessários antes do
período escolar.
Ao abordar a criança no período de alfabetização, não poderia deixar de falar
do desenvolvimento cognitivo neste período, baseado na teoria cognitiva de Piaget.
Esta perspectiva se constitui em uma contribuição fundamental para os educadores
na compreensão do processo de interação da criança com o meio, na construção da
sua leitura e escrita.
Piaget mostra que a criança que sente, pensa e age, não deve receber tudo
pronto e acabado, ela é capaz de construir seu conhecimento gradativamente,
através das disponibilidades que o meio pode dispor.
Não poderia deixar de citar também a grande contribuição de Freud na
compreensão do desenvolvimento emocional da criança neste período de
alfabetização. Esta abordagem é extremamente importante para os educadores
compreenderem o processo de formação da personalidade que se constitui na
alfabetização.
Estas contribuições são importantes para os educadores compreenderem o
processo, constituído por fases, possibilitando, assim, um trabalho integral com a
36
criança, sem “queimar” suas etapas, sem “prejudicar” seu desenvolvimento, tanto no
aspecto emocional como no cognitivo, proporcionando uma aprendizagem em todos
os sentidos, tanto no social quanto no intelectual.
A criança traz para a escola conhecimentos espontâneos sobre a língua
escrita, decorrentes das informações recebidas do mundo letrado o qual está
inserida. O processo de alfabetização deve iniciar-se com um diagnóstico destes
conhecimentos, que serão referenciais para as atividades a serem propostas.
Portanto, respeita-se a criança enquanto ser inteligente, ativo e criador, que pensa
sobre o que a escrita representa e como funciona.
Após este estudo, fica claro a necessidade da interação do professor com o
aluno, onde o professor deve incentivar as pequenas construções feitas por este e
buscar meios e formas produtivas para que o aluno tenha o prazer de aprender. E
através de incentivos, valorização e sensibilidade que o professor deve propiciar à
criança a apropriação do seu processo de alfabetização.
Entende-se ainda que as disfunções cognitivas intervenientes na inadaptação
social, são geradas, não necessariamente, pôr questões sociais ou potenciais para a
aprendizagem de baixa ou fraca inteligência, mas , o fraco rendimento escolar ou a
desqualificação cognitiva levam a problemas de inadequação social.
O fracasso escolar está alicerçado, basicamente, sobre duas dimensões que
se influenciam numa dimensão dialética: o individual, que diz respeito ao aluno e
suas vivências, pertencentes a uma estrutura familiar, e outra externa que
corresponde a escola e aos aspectos culturais, ideológicos e sociais da
aprendizagem.
Não é a diferença cultural o fator determinante do fracasso escolar, mas a
“privação cultural” sendo necessário, portanto desenvolver metodologias dirigidas a
autoria do pensar, levando o educando a conduzir seu conhecimento e suas
habilidades rumo a atividades produtivas e criativas.
Cabe ao educador, escolher a intervenção e a prática psicopedagógica, de
acordo como modelo e ou ideal de homem a ser alcançado.
37
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOSSA, Nádia. A psicopedagogia no Brasil. Contribuições a partir da prática, Artimed: Poto Alegre, 2000.
BRANDÃO, C. R. O que é método Paulo Freire. São Paulo: Brasiliense, 1981.
FERREIRO, Emília. Alfabetização em processo. 11. ed. São Paulo: Cortez. 1996.144p.
_________. Reflexões sobre alfabetização. Tradução de Horácio Gonzalez. São Paulo: Cortez: Autores Associados, 1986.
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.
PELLEGRINI, D. Aprenda com eles e ensine melhor. In: Revista Nova Escola. São Paulo: Abril, 2001.
RAPPAPORT, Clara Regina, et. al. Psicologia do desenvolvimento. São Paulo, EPU, 1981, v. 1. 92 p.
REGO, Teresa Cristina. Vygostky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.
SILVA, Ezequiel Teodoro. Leitura na escola e na biblioteca. 4. ed. Campinas, S.P.: Editora Papirus, 1985.
WINNICOTT, D.W. O Brincar e a realidade, Rio de Janeiro : Imago, 1975.
URRUTIGARAY, Maria Cristina Fontes. Teorias e Intervenções Psicopedagógicas, módulos l – Vlll, Rio de janeiro : A Vez do Mestre.
_________. Os processos de leitura escrita: novas perspectivas. 3. ed. Porto Alegre: Artes Medicas, 1989.
_________. Psicologia do desenvolvimento. São Paulo: EPU, 1981, v.3. 78p.
_________. Reflexões sobre alfabetização. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1986. 102 p.
39
FOLHA DE AVALIAÇÃO Universidade Cândido Mendes
Pós-graduação “Lato Sensu”
A vez do Mestre
Perspectiva Construtivista no Processo de Alfabetização Infantil: Aspectos
Cognitivos e Emocionais na Aprendizagem
Maria das Graças Batista
Data entrega:______/_____/____
Avaliada por:______________________________________ Nota:_________
____________________________ ___________________
Professor(a) Orientador(a) Nota
____________________________ ____________________ Professor(a) Orientador(a) Nota