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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA Construção Social da Infância: Conceitos e Pré-conceitos da Família e da Escola na Atualidade Por: Denise Freitas de Castro Orientador Prof .Edla Trocoli Rio de Janeiro 2013 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

Construção Social da Infância: Conceitos e Pré-conceitos da

Família e da Escola na Atualidade

Por: Denise Freitas de Castro

Orientador

Prof .Edla Trocoli

Rio de Janeiro

2013

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

Construção Social da Infância: Conceitos e Pré-conceitos da

Família e da Escola na Atualidade

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Educação Infantil e

Desenvolvimento...

Por: Denise Freitas de Castro.

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AGRADECIMENTOS

....aos meus pais (in memorian) pelo o

estímulo da minha formação.

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DEDICATÓRIA

Aos meus filhos Beatriz e João Pedro.

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RESUMO

Este estudo pretende trazer algumas questões sobre a construção

social da infância. Procura mostrar a origem do conceito de infância, enquanto

construção social. No primeiro capítulo um breve resgate da trajetória histórica

da construção social da infância, e a sua evolução conceitual. No segundo

capítulo, a reflexão se dá em torno, da ação e intervenção da escola e da

família, no desenvolvimento da criança. E por fim, no terceiro capítulo desse

estudo, a reflexão gira em torno da expectativa social e cultural no

desenvolvimento da criança.

Palavras- chave: Infância, história, social, cultura, desenvolvimento.

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METODOLOGIA

A metodologia utilizada destina-se a debater e refletir sobre o papel da

escola e da família na atualidade, respeitando a diversidade que envolve essa

relação, tendo como objetivo central a criança e o seu desenvolvimento.

As ferramentas utilizadas para compor esse trabalho, foram:

1°questionário aplicado a professora de educação infantil, a coordenadora

pedagógica e a mãe de um aluno, todas da mesma unidade de ensino.E 2°

pesquisa bibliográfica, que deu ao trabalho suporte teórico, no sentido de

esclarecer o processo de evolução conceitual de infância, e os avanços da

sociedade em relação a criança de 0 à 6 anos. Destacando a importância da

escola como pilar no desenvolvimento: social, intelectual, cultural,físico e

emocional da criança, destacando também o envolvimento da família nesse

processo. È na família que acontece o desenvolvimento das primeiras

habilidades. E na escola esse desenvolvimento é ampliando.

Vimos através do questionário que escola e família, buscam um

entendimento em relação ao desenvolvimento da criança. A instituição que

atende criança na faixa etária de 0 à 6 anos, perde lentamente seu status de

assistencialismo, para assumir ao lado da família o desafio de contribuir

efetivamente para o desenvolvimento da criança.

Também foi pesquisada, a influência dos estudos nas áreas, da:

psicologia e sociologia nas práticas pedagógicas, e a sua valiosa colaboração

na melhoria da qualidade do trabalho desenvolvido em sala de aula. Devemos

ressaltar também, que a escola pública está buscando, estratégias para

melhorar o atendimento na educação infantil e creche, investindo em

capacitação dos professores e melhorando o relacionamento entre escola e

família. O trabalho aponta para um norte, que está sendo delineado ao longo

do tempo, e que precisa avançar mais, sobretudo no que diz respeito a

igualdade de direitos e desigualdade de condição. Nesse sentido, o estudo traz

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algumas contribuições teóricas de diversos campos do conhecimento voltados

a infância, que mostram que é possível ter qualidade na rede pública.

E por fim segue em anexo os questionários que foram utilizados nesse

trabalho. As pessoas que colaboraram com a pesquisa, fazem parte da rede

municipal de ensino do Rio de Janeiro.

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SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS ............................................................................................. 3

DEDICATÓRIA ....................................................................................................... 4

RESUMO .................................................................................................................. 5

METODOLOGIA ..................................................................................................... 6

SUMÁRIO ................................................................................................................ 8

INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 9

CAPÍTULO I ........................................................................................................... 12

1.1 Fundamentos Históricos ................................................................................... 12

1.2 Evolução Conceitual ......................................................................................... 15

CAPÍTULO II ......................................................................................................... 20

2.1 Ação e Intervenção da Família .......................................................................... 20

2.2 Ação e Intervenção da Escola ........................................................................... 24

CAPÍTULO III ........................................................................................................ 28

CONCLUSÃO ........................................................................................................ 34

ANEXOS ................................................................................................................ 39

ANEXO 1 ............................................................................................................... 40

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ......................................................................... 36

ÍNDICE ................................................................................................................... 44

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INTRODUÇÃO

A proposta desse trabalho, é refletir sobre a contribuição histórica para

a formação do conceito de infância e entender o papel da escola e da família

na educação infantil e na creche. Isso implica em posicionar o papel que cada

uma desempenha, e saber quais as contribuições que eles trazem para a

formação cultural, social, cognitiva e afetiva da criança. É comum que escolas

e famílias vejam a infância como um período de carências. E por isso a

maneira de agir da criança não é levada à sério. Os adultos submetem as

crianças ao seu estilo de vida, ou seja, como eles veem a vida. Algumas

crianças são mimadas e, cheias de vontade, outras esquecidas em frente a TV

ou computador, ou então participando de atividades profissionais para ajudar

no sustento da família. Esse estudo procura destacar que: as crianças são

cidadãs e todas, tem os mesmos direitos. Entre esses direitos está, o de serem

educadas e cuidadas em instituições específicas, que permitam que elas e

suas famílias tenham experiências que ampliem os seus conhecimentos, a sua

autonomia e a confiança nas suas próprias possibilidades.Uma educação que

contribua para a formação de sujeitos ativos e participativos, que enriqueça a

vida das crianças no presente e contribua, para a sua história e para a

melhoria da qualidade de vida

O estudo realizado pelo historiador francês Phillipe Ariès, da era

medieval à modernidade, na Europa,principalmente na França, revela a

infância como um produto da vida moderna, resultado das transformações na

estrutura social. A questão da ausência do sentimento de infância na Idade

Média é narrada pelo autor em função dos altos índices de mortalidade infantil,

e a forma como acriança era inserida no mundo dos adultos, participando com

eles de jogos,dos trabalhos e até nos trajes que vestiam não havia diferença

alguma dos trajes adultos. A criança depois que completava sete anos de

idade não saia mais do mundo do adulto, sendo considerada um adulto em

miniatura. A pesquisa revela também que a infância , não pode ser entendida

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fora da história da família e das relações de produção. Nesta época a criança

pequena não tinha função social, antes de começar a trabalhar. As crianças de

família pobre, assim que se tornavam “independente”, eram inseridas no

mundo do trabalho, misturada aos adultos. As crianças de família nobre, eram

educadas em casa, mas também eram vistas como um adulto em miniatura.

No século XVI, os adultos começam a destinar atenção a criança, o

que Ariès chamou de paparicação. A criança servia de entretenimento para o

adulto, eram como bichinhos de estimação.

No século XVII, a vida em família era vivida em público, ou seja, não

havia vida privada. Tudo acontecia de forma coletiva. A característica do grupo

familar era societária. As funções educativas se desenvolviam desde o

processo de socialização das crianças até o ensino formal. Que nessa época

não era separado por faixa etária. Na verdade a transmissão de

conhecimentos, valores e a aprendizagem da criança, aconteciam em função

da participação efetiva da criança no mundo dos adultos.

No século XVIII, instaura-se a família burguesa. Ela troca a

sociabilidade ampla pela intimidade familiar. Essa mudança pele vida privada,

coloca a criança no centro das atenções da família, e o reconhecimento de

tratala de modo diferente do adulto. Nesse novo contexto familiar, a criança

passa a ser vista como o futuro da família, para tanto, ela deve ser preparada

para assumir esse legado.

Esse é o “sentimento de infância”, que surge lentamente no interior das

famílias. A escola será a instituição responsável por separar as crianças do

mundo dos adultos, usando formas autoritárias e disciplinares em defesa da

moral da época e da preparação da criança para o futuro. Segundo Kramer, a

ideia de infância aparece com a sociedade urbana industrial,à medida que

mudam o papel da criança na sociedade.

A evolução do conceito de infância, sofreu influencia do Iluminismo. E

o projeto educacional era, preparar a criança para ser alguém no futuro, para a

vida adulta e produtiva. Esse pensamento fez surgir a teoria de Jhon Locke, na

qual a criança é considerada uma “tabula rasa”, que deve ser moldada pelo

seu professor. A sua teoria defende que a criança deve ser transformada para

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se tornar um adulto. Em oposição a Locke, surge Jean Jacques Rousseau, que

defendia que a criança era boa por natureza, e que devia ser protegida da

influência má da sociedade. As influências dessas teorias, tornaram a criança

em reprodutora de conhecimentos, transformando a infância em base para o

futuro.

No século XIX e XX, acontece o reconhecimento da infância enquanto

etapa do desenvolvimento humano .Os conhecimentos são construídos

agregando várias áreas do conhecimento. Esse conjunto de teorias e práticas

desenvolvidas teve a participação de: educadores, médicos, psicólogos, etc,

todos com um único interesse o desenvolvimento e reconhecimento da infância

como categoria social. Dentre os estudos produzidos sobre a infância,

destacamos a psicologia do desenvolvimento humano, e sua contribuição para

a pedagogia.

Por fim, reconhecer que acriança é um sujeito ativo, com

potencialidades que devem ser desenvolvidas desde o seu nascimento. Que a

família e a escola fazem parte desse processo de desenvolvimento, que é

construído através das interações sociais, e que devemos estar atentos para a

ideia da criança cidadã,ou seja, a criança competente, com direito a voz e a

ser ouvida. Enfim, um sujeito de direitos.

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CAPÍTULO I

Trajetória histórica na construção social da infância

1.1 Fundamentos Históricos

Antigamente o sentimento de infância não existia.

Na Idade Média, no início dos tempos modernos, e por muito tempo ainda nas classes populares, as crianças misturavam-se com os adultos assim que eram consideradas capazes de dispensar a ajuda das mães ou das amas, poucos anos depois de um desmame tardio, ou seja, aproximadamente, aos sete anos de idade. A partir desse momento ingressavam imediatamente na grande comunidade dos homens, participando com seus amigos jovens ou velhos dos trabalhos e dos jogos de todos os dias.( Ariès,1981, p.193)

Desta forma, observamos que a criança vivia um período onde a sua

condição de “menor” a caracterizava pela imaturidade, que durava até ela

conseguir alguma autonomia. Então nesse momento ela se transformava num

“adulto em miniatura”, a criança passa a se vestir ea trabalhar como um adulto.

Mesmo na escola não havia separação etária. Chegar aos sete anos de idade

já era um feito, visto que, os cuidados dispensados às crianças neste período

da vida eram praticamente inexistentes. A mortalidade infantil não causava

grande comoção, porque uma criaça morta era substituída por outra.

Na verdade os estudos revelam, que na Idade Média, um número

grande mães viam seus filhos sofrerem e morrerem, sem esboçar qualquer tipo

de preocupação, já que nesta época não possuíam, segundo

Postman,(2012,p.22),o mecanismo psíquico necessário para ter empatia com

crianças.

A função da família nesta época era a transmissão dos bens e do

nome familiar. Com o passar do tempo, vai-se modificando o olhar sobre o

universo infantil. Vem então no século XVII, o movimento que Ariès chamou de

“paparicação”, ou seja, a criança a criança era tratada como um brinquedo que

servia para divertir e entreter os adultos ( especialmente a elite da época),

hábito criticado pelo escritor Montaigne. No fim do século XVII, entende-se que

a criança não está preparada para fazer parte do mundo do adulto. Começa a

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surgir o sentimento de infância. Com a mudança de sentimento em relação as

crianças, elas começam a ocupar um lugar diferenciado na sociedade,

deixando de frequentar o mundo dos adultos, e de ser submetida ao “método

de aprendizagem”, que acontecia a partir do contato direto com o adulto. A

família começou a experimentar uma leve afeição pelos filhos, surgindo então

a preocupação com a sua proteção e a sua formação. A sociabilidade

exagerada , ficou para trás, sendo substituída por uma socialização restrita a

família e a escola.

A família retirou a criança do convívio social aberto, para colocá-la

numa escola com um regime disciplinar rigoroso, que utilizava inclusive castigo

corporal. Tudo isso em prol da moral e dos bons costumes empregados na

época. A família prossegue desenvolvendo seu sentimento de infância,

reconhecendo a necessidade de cuidados especiais para esse ser de pouca

idade. Nesse momento ela ergue um muro que a separa da vida social, dando

lugar a uma vida privada em família.

A família moderna retirou da vida comum

não apenas as crianças, mas uma grande parte do tempo e da

preocupação dos adultos. Ela correspondeu a uma

necessidade de intimidade, e também de identidade: os

membros da família se unem pelo sentimento, o costume e o

gênero de vida. As promiscuidades impostas pela antiga

sociabilidade lhes repugnam. Compreende-se que essa

ascendência moral da família tenha sido originariamente um

fenômeno burguês: a alta nobreza e o povo, situados nas duas

extremidades da escala social, conservaram por mais tempo as

boas maneiras tradicionais, e permaneceram indiferentes à

pressão exterior. As classes populares mantiveram até quase

nossos dias esse gosto pela multidão. Existe portanto uma

relação entre o sentimento da família e o de classe. ( Ariès

1981,p.195)

As promiscuidades que Áries se refere no texto acima, é a total

ausência de vergonha, as crianças participavam de todos os aspectos da vida

aduta sem discriminação. Postman cita em seu livro O Desaparecimento da

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Infancia (2012), os quadros de Brueghel, que retratam cenas de uma festa,

onde homens e mulheres embriagados, se tocam com luxuria, inclui crianças

comendo e bebendo com adultos. Não havia preocupação, tudo era permitido

na frente das crianças, usar vocabulário vulgar, não controlar impulsos sexuais,

brincar com sua genitália, urinar, defecar,cuspir no chão, comer com as mãos,

etc. Não existia hábitos de higiene, nem de bom comportamento, porque não

faziam parte dos costumes da época.

Com a separação das classes sociais, a família burguesa retira suas

crianças das escolas( que até então era comum ao conjunto da sociedade),

para colocá-las nas pensões ou nas classes elementares dos colégios cujo

privilégio conquistaram, provocando uma mudança de hábitos a partir do

contexto socioeconômico. De um lado a criança burguesa se beneficia dessa

nova concepção de infância, do outro lado a criança pobre continua sem direito

à educação e a cuidados mais específicos para a sua idade, sendo direcionado

para o trabalho. O papel da criança se modifica lentamente na sociedade essa

evolução traz modificações também na educação. A valorização da criança

coloca a educação como um dos pilares no atendimento a infância. Segundo

Postman, com o surgimento e a divulgação da prensa tipográfica, a população

jovem teria que aprender a ler, e para isso precisariam de educação. Como

mostra a história, a civilização Européia, passa pelo fim do Império Romano, e

com isso o sepultamento da cultura clássica, a Europa entra na Idade das

Trevas e depois na Idade Média, as pessoas perdem a capacidade de ler e

escrever. Com isso todas as interações sociais se realizam oralmente,

trazendo de volta a condição natural e comunicação. No mundo oral a infância

foi esquecida, porque todos compartilhavam o mesmo mundo social. Na época

medieval a criança é invisível.

Com a invenção da prensa tipográfica, a civilização européia

reinventou as escolas. E, ao fazê-lo, transformou a infância numa necessidade.

(Postman 2012)

Na medida em que a sociedade foi se modificando, foi modificando

também a forma de olhar a criança. Percebe-se então a necessidade de

espaços e cuidados diferenciados para que seu desenvolvimento aconteça da

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melhor forma possível. O sentimento de infância surge ao mesmo tempo em

que a sociedade europeia se organiza

A história mostra que a infância é fruto da construção social. A criança

sempre existiu,mas o sentimento de infância, não.

A ideia de infância não existiu sempre e

da mesma maneira. Ao contrário, ela aparece com a sociedade

capitalista, urbano-industrial, na medida em que mudam a

inserção e o papel social da criança na comunidade. Se na

sociedade feudal a criança exercia um papel produtivo direto

(“de adulto”) assim que ultrapassava o período de alta

mortalidade, na sociedade burguesa ela passa a ser alguém

que precisa ser cuidada, escolarizada e preparada para uma

atuação futura. Este conceito de infância é, pois, determinado

históricamente pela modificação nas formas de organização da

sociedade. ( Kramer,2001,p.19)

1.2 Evolução Conceitual

“Para você me educar...

Você precisa me conhecer

Precisa saber da minha vida

Meu modo de viver e sobreviver

Conhecer as funções das coisas nas quais eu creio

E as quais agarro nos momentos de solidão

Precisa saber entender

As verdades, pessoas e fatos

Para você me educar...

Precisa me encontrar lá onde eu existo

Quer dizer, no coração das coisas

Nos mitos e nas lendas

Nas cores e movimentos,

Para você me educar...

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Voce precisa estar comigo onde eu estou.’

(Poema sem nome, autor desconhecido)

Sempre houve criança, mas nem sempre infância. O caminho para a

construção do conceito de infância, conta inicialmente com dois teóricos: Jhon

Locke (1632-1704), Jean Jacques Rousseau (1712-1778).

O primeiro apresenta a teoria da “tabula rasa”. O recém nascido seria

uma espécie de superfície de cera onde os adultos poderiam” escrever”, aquilo

que julgassem necessário ao seu desenvolvimento. Para ele os pais e os

professores, deveriam cuidar da criança para que se tornasse um adulto ativo,

alfabetizado e civilizado.

Rousseau, mesmo tendo sido influenciado pela teoria de Locke,

percorre seu próprio caminho, quando defende que a criança é um ser que

nasce bom e puro, o convívio em sociedade é que a torna má. Em seu livro “ O

Emílio”(1757), Rousseau propõe uma educação em etapas, e que cada uma

delas seja adaptada as necessidades individuais de desenvolvimento.

Para lá de evidente distancia entre o ambientalismo de Locke e

o romantismo de Rousseau, o que emerge é, porém, em

primeiro lugar, algo que aproxima os dois pensadores e talvez

seja esse o aspecto mais importante para a reflexão que nos

interessa fazer. Em ambos “se detecta, de fato,o

reconhecimento do caráter decisivo da atenção e da

intervenção dos adultos no processo de formação das

crianças. Para Rousseau, essa influencia deveria destinar-se a

salvaguardar aquilo que a criança é por causa de sua

fragilidade e da exposição aos riscos advenientes da

sociedade, enquanto que, para Locke, a preocupação deveria

orientar-se no sentido de levar a criança para deixar de ser o

que é para se transformar num adulto. Ambos, porém,

expressam vigorosamente o reconhecimento dessa nova

realidade que é a infância. ( Manoel,Pinto,1997,p.41)

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O pensamento de Rousseau influenciou educadores, como Maria

Montessóri, Pestallozzi e Froebel. A criança começou a ser vista de maneira

diferenciada, despertando o interesse da sociedade em oferecer educação de

qualidade que desse condições para o seu desenvolvimento: afetivo, cognitivo,

social e cultural. O reconhecimento que se faz nesse momento em relação a

necessidade de intervenção do adulto no processo de formação da criança é o

passo inicial, para a criança ser vista como um ser social, com características e

necessidades próprias e, que merece respeito

Maria Montessori(1870-1952), médica italiana. Elaborou uma teoria

científica do desenvolvimento infantil, direcionando seu trabalho para a

pedagogia.,De acordo com seu estudo, a criança desenvolve um senso de

responsabilidade pelo próprio aprendizado. O ensino deve ser ativo. Seu

método enfatiza a manipulação de objetos para trabalhar a concentração

individual. Assim, a atenção do aluno é desviada do professor para as tarefas

serem cumpridas.

Jean Piaget (1896-1980), biólogo e psicólogo suíço. Identificou quatro

estágios no desenvolvimento da capacidade cognitiva do indivíduo, que

ocorriam até o início da adolescência e correspondiam as fases de seu

crescimento físico. Essa descoberta tornou-se muito conhecida no meio

pedagógico.

Esses teóricos e seus estudos a respeito do comportamento infantil,

contribuíram para a evolução do conceito de infância. Essa infância descoberta

pelos teóricos, estava agora nas ruas. A vida urbana e industrial, levou as

mães ao trabalho. Essa situação deu origem as instituições de educação

infantil(como conhecemos hoje). Elas surgiram motivadas pelo fato de que,

com a ausencia da mãe, que agora é trabalhadora na industria. As ruas

estavam sendo território de criança pobre. Para retirar esses meninos e

meninas da rua, e com isso evitar que eles se transformassem em deliquentes,

foram criadas instituições(creches), que recebiam crianças de 0 à 2 anos que

depois eram encaminhadas para as salas de asilo, que se destinavam às

crianças de 3 à 6 anos. Com o tempo, a creche e as salas de asilo se tornaram

etapas que antecediam a escola.

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Essas instituições surgiram na Europa e nos Estados Unidos, a partir da

segunda metade do séculoXIX. Com a divulgação dos projetos, essas

instituições passaram a ser conhecidas internacionalmente, chegando inclusive

no Brasil.

A luta pelo reconhecimento do valor da criança dentro da sociedade

ainda é grande. A concepção de criança é uma noção históricamente

construída e com isso ela está sempre sujeita a mudanças, mesmo dentro da

mesma sociedade e época. Por exemplo: no Brasil, nem todas as crianças tem

seus direitos garantidos. Uma parcela significativa de crianças pequenas no

Brasil, enfrentam uma rotina de trabalho infantil desde muito cedo.

Isso nos leva a refletir que precisamos avançar mais no processo de

construção de uma sociedade que respeita os direitos das crianças.

Avançamos um pouco com a Constituição de 1988. Pela primeira vez uma

Constituição do Brasil refere-se aos direitos específicos da criança.

Artigo 227: È dever da família, da sociedade e do

Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta

prioridade,o direito à vida, à saúde,à educação, ao lazer,á

profissionalização, à cultura,à dignidade, ao respeito,à

liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de

coloca-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,

exploração, violência, crueldade e opressão.

Quanto tempo dura a infância? Será que a infância é igual para todas as

crianças?Isso varia de pessoa para pessoa, de classe social para classe

social. Mesmo com estudos sobre a infância, com leis que protegem os

direitos, ainda é comum encontrarmos crianças executando tarefas de adultos.

Ser criança depende de se ter direito ou não a infância.

È muito comum, escutar mães falando: “eu sei que ele é pequeno, mas

ele precisa trabalhar para ajudar no sustento da casa”. A família sabe que ele é

criança, mas a necessidade fala mais alto. A sobrevivência do grupo não

distingue a criança do adulto, isso acaba empurrando essa criança para o

mundo do adulto. A disparidade econômica entre as classes sociais no Brasil,

está “roubando” a infância da criança pobre.

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Ainda hoje o eco da história assombra, a família pobre brasileira, que

desde cedo submete os pequenos as responsabilidades da vida adulta.

Devemos refletir sobre a ideia de criança como ser social que precisa ser

valorizado, desde sempre, deve ser visto e escutado, e ao mesmo tempo

estimulado a desenvolver sua autonomia e cidadania. Essa criança é um

sujeito de direitos e deveres. È nessa perspectiva que o conceito de infância

deve ser assimilado. A criança é um ser social no presente, sendo assim ela

não é um cidadão do futuro. O conceito de infância de hoje entende a criança

como um sujeito histórico que nasce num determinado contexto

sociocultural,carregado de histórias, ideias,valores, que ao longo se modifica

expressando aquilo que a sociedade entende em determinado período

histórico, por: criança,infância e educação.

Além de todas essas questões que foram tratadas ao longo do texto,

ainda temos um tema que envolve a relação da criança com a natureza.

Auxiliar a formação de uma geração que seja capaz de viver e colaborar para

melhorar a vida em mundo cada vez mais desigual, cheio de contradições e

ameaçado em sua sobrevivência enquanto pilar para a vida humana e de

outras espécies de vida. Os seres humanos dividem a existência com várias

outras espécies, sem as quais a vida no planeta seria impossível. Os seres

humanos são parte da natureza, e é por esta razão que o respeito a

biodiversidade deve fazer parte da formação da criança.

O trabalho com criança,requer uma atenção especial em todos os

sentidos. Educadores, pesquisadores, governantes e em especial docentes,

precisam estar atentos aos movimentos da sociedade em relação a criança,

para que as sua necessidades não sejam ignoradas e que todas as conquistas

já alcançadas sejam preservadas.

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CAPÍTULO II

Desenvolvimento biopsicossocial da criança de 0 a 6

anos

2.1 Ação e Intervenção da Família

Nesse capítulo traremos dois teóricos:

Lev Vygotsky, psicólogo Bielorusso, e seu estudo sociointeracionista que

trata da aprendizagem como experiência sócia, mediada pela utilização de

instrumentos e signos, de acordo com os conceitos usados por ele.

Henri Wallon, médico Frances que valoriza o papel da emoção no

desenvolvimento social da criança. Ele também percebe a necessidade de

desconstruir o olhar marcante do adulto presente na observação e nas

metodologias de investigação sobre o desenvolvimento infantil. Ele diz que

algumas manifestações infantis,interpretada na ótica do adulto, tende a

conceber posturas e a construir significados muitas vezes distantes daquilo

que a criança manifesta.

A capacidade de conhecer e aprender se constrói a partir das trocas

estabelecidas entre o sujeito e o meio.

“É por meio de outros, por intermédio do adulto que a criança

se envolve em suas atividades. Absolutamente tudo no

comportamento da criança está fundido, enraizado no social.

[E prossegue:] Assim, as relações da criança com a realidade

são, desde o início, relações sociais. Neste sentido, poder-se-

ia dizer que o bebê É um ser social no mais elevado grau.”

(Vygotsky,1932 apud Ivan Ivic 2010)

O ser humano, cria sua própria história se expressando através do

pensamento e da linguagem, interagindo com o mundo, criando mecanismos

que permitem interferir e transformá-lo. Isso acontece desde o nascimento.

Quando a criança nasce ela é extremamente dependente de um adulto, sua

sobrevivência e seu contato com o mundo vão depender inteiramente desse

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cuidado familiar. Esse contato irá mediar as relações da criança com o mundo

exterior. A criança se apropria da cultura através da aquisição da linguagem. A

língua irá guia-la a novas vivências, que para a teoria de Vygotsky, é um fato

importante, e que fará toda a diferença nesse processo. Para ele, além da

interação social, existe também uma interação com os produtos da cultura.

Porém, não se pode diferenciar claramente estes dois tipos de

interação, que se apresentam, muitas vezes, sob a forma de interação

sociocultural.

A convivência da criança com adultos ajuda a assimilar o mundo de uma

forma simbólica. Nesse processo as interações sociais, se estabelecem

através de trocas constantes construindo conhecimentos, linguagem,

identidade e individualidade das diferentes pessoas desse universo familiar.

“Analisando o papel da cultura no desenvolvimento

individual, Vygostky desenvolve duas ideias análogas. No

conjunto das aquisições da cultura, centraliza sua análise

sobre aquelas que são destinadas a comandar os processos

mentais e o comportamento do homem. São os diferentes

instrumentos e técnicas (incluindo as tecnológicas) que o

homem assimila e orienta para si mesmo, para influenciar suas

próprias funções mentais. Assim, cria-se um sistema

gigantesco de ‘estímulos artificiais e externos’ pelos quais o

homem domina seus próprios estados interiores. Encontramos,

ainda em vygostky, mas sob uma maneira diferente, o

fenômeno do interpsiquismo: do ponto de vista psicológico, o

individuo tem seus prolongamentos, de uma parte, nos outro, e

de outra, nas suas obras e na sua cultura que, segundo Marx é

seu ‘corpo não organico’. Essa expressão de Marx é muito

pertinente: a cultura é parte integrante do individuo, mas ela

lhe é exterior. Visto desta maneira, o desenvolvimento humano

não se reduz somente às mudanças no interior do individuo,

mas se traduz, também, como um desenvolvimento alomórfico

que poderia adotar duas formas diferentes: produção de

auxiliares externos enquanto tais; criação de instrumentos

exteriores que podem ser utilizados para produção de

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mudanças internas(psicológicas). Assim, executando os

instrumentos criados pelo homem ao longo de sua historia e

que servem para dominar os objetos (a realidade exterior),

existe toda uma gama de instrumentos que, orientados ao

próprio homem, podem ser utilizados para controlar,

coordenar, desenvolver suas proprias capacidades.”(Ivan Ivic

P.20 2010)

A criança desde o seu nascimento é inserida no mundo criado pelo

homem, esse contexto cheio de informações materiais (objeto), e ideias que

são refletidas na linguagem e no comportamento desse grupo familiar estão

diretamente ligados ao desenvolvimento dessa criança, que por sua vez

apropria-se desse universo criando para ela seu próprio significado.

Por fim, a criança é um ser sócial( como já vimos), desde o seu

nascimento. Ela vem fazer parte de uma família, em determinada classe

social,num grupo cultural onde a língua é um tipo de interação, de importância

capital para a teoria de Vygotsky,e esta relação será crucial no processo de

desenvolvimento e na composição de suas estruturas psíquicas e de

comportamento.Ao longo do seu desenvolvimento vai percebendo o real a

partir da interação com seus pares mais experientes, ou seja, ela vai do social

para o individual.

A família deve valorizar a importância das trocas sociais. A criança

constrói o seu desenvolvimento à medida que interage com o grupo familiar,

apropriando-se da cultura trazida pelas gerações anteriores. Essa apropriação

é resultado de um processo de reelaboração pela criança, que constrói

conhecimento à partir das relações com o mundo e progressivamente interfere

na sua forma de pensar, agir e sentir o mundo ao seu redor.

Temos que destacar também o papel da emoção no processo de

desenvolvimento. É pelo afeto que descobrimos a motivação para a resolução

de problemas. A afetividade está ligada a constituição da inteligência.

Henri Wallon, é o teórico que apresenta o afeto como interação social. Ele

defende que a emoção é o caminho para a construção do conhecimento. A

dependência (biológica), que caracteriza os dois primeiros anos de vida da

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criança, em razão da imaturidade orgânica, estabelece um período de total

dependência, essa criança precisa ser cuidada por um adulto para garantir a

sua sobrevivência. Isso torna a emoção a força que garante a atenção do

adulto para o pronto atendimento de suas necessidades. Para Wallon, a

expressão emocional é essencialmente social. A emoção é o primeiro recurso

que a criança usa para interagir com o adulto.

Assim como Piaget, Wallon divide o desenvolvimento em cinco estágios,

que são eles: impulsivo emocional (de 0 a 1 ano); sensório motor e projetivo

(de 1 ano a 3 anos); personalismo (de 3 a 6 anos); categorial (de 6 a 11 anos);

adolescente (a partir dos 11 anos).

No primeiro estagio, a criança estabelece as relações sociais e com o

ambiente por meio do afeto. No segundo estagio, a inteligência é

preponderante, a criança está voltada para as relações exteriores, para o

conhecimento. E nesse estagio que ela desenvolve a fala, começa a andar e a

explorar o ambiente. No terceiro estagio, ela esta voltada para a construção da

personalidade. Nesse estagio o predomínio é afetivo, e apresenta três etapas:

crise de oposição, idade da graça e imitação. No quarto estagio categorial,

assim como no segundo estagio, a criança esta voltada para o conhecimento e

para o mundo exterior. No quinto estagio, adolescência, a criança passa pelas

transformações físicas e psicológicas características dessa fase. Esse estagio

é cercado de conflitos internos e externos, o predomínio é afetivo.

Para Wallon, o início de uma nova etapa do desenvolvimento envolve a

assimilação das condições anteriores, ampliando e resignificando. A criança

passa por diferentes etapas que variam entre momentos de maior

interiorização e outros mais voltados para o exterior. Cada etapa está em

estreita relação com a anterior, da qual precede com aquela que sucederá cujo

o surgimento prepara.

Como vimos, a emoção tem um papel importante no desenvolvimento

da criança. È através dela que a criança demonstra seus desejos e suas

vontades. A abordagem de Wallon, considera a criança como um todo, e

coloca a afetividade como um elemento fundamental do desenvolvimento

infantil. Para o autor há quatro fatores que clarificam o desenvolvimento da

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criança, são eles: emoção,pessoal,movimento e inteligência. Todos acontecem

orgânicamente, ou seja, é o processo de afetar e ser afetado pelo outro.

As teorias de Vygostky e Wallon, destacam a importância do papel das

relações sociais. Para Vygostky, a criança se desenvolve através das

interações com o outro e com o meio que vive. Wallon destaca as relações

afetivas como principal elemento para o desenvolvimento da criança. É no

meio familiar que essas trocas se iniciam.

“Diego não conhecia o mar

O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para

o sul.

Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando.

Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia,

Depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a

imensidão do mar, e tanto o seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza.

E quando finalmente conseguiu falar, tremento, gaguejou, pedindo ao pai:

-Me ajuda a olhar!”

Eduardo Galeano

2.2 Ação e Intervenção da Escola

“Um professor realmente ciente das responsabilidades que

lhes são confiadas deve tomar partido dos problemas de sua

época. Ele deve tomar partido cegamente, mas à luz do que

sua educação e sua instrução lhes permite fazer. Ele deve

tomar partido para conhecer verdadeiramente quais são as

relações sociais, quais são os valores morais de sua época.

Ele deve se engajar não somente com seu trabalho de

escritório, e não somente para a analise das situações

econômicas ou sociais de seu tempo e de seu pais; ele deve

ser solidário com seus estudantes, aprendendo com eles quais

são as suas condições de vida, por exemplo. Ele deve

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constantemente buscar novas ideias e modificar a si próprio

para um contato permanente com uma realidade em evolução

permanente, feito da existência de todos e que deve atender

aos interesses de todos” (Wallon,Enfance,n°7,edition spéciale.

P.130,1985)

No texto acima, Wallon aponta a enorme responsabilidade do professor

em relação a educação, e a importância da busca constante por novos

conhecimentos, alavancando assim a evolução permanente do mesmo.

Para educar crianças de 0 à 6 anos, é necessário uma atenção especial,

com o desenvolvimento: afetivo, cognitivo, fisico e com o contexto socioculuiral

e econômico.

Toda criança necessita de cuidado especial e, para atender a demanda

dessa faixa etária, a escola e o professor devem conhecer a realidade em que

trabalham, partindo do princípio que não há um modelo pronto para a

educação infantil. Refletir sobre a proposta pedagógica e o melhor meio para

organizá-la de forma a favorecer o aprendizado, a autonomia, a cidadania e os

valores morais.

A sociedade atual tem imposto às famílias a necessidade de seus filhos

ingressarem cada vez mais cedo em instituições de educação. Ao ingressar na

pré escola a criança se depara com um mundo novo que possui uma

composição própria com objetos específicos e uma estrutura social diversa da

família. Nesse novo contexto ela terá que lidar com esses novos elementos

interagindo com o meio para melhor adaptar-se a ele. Para acolher a criança

nesse momento e atender as suas necessidades, é preciso que a escola saiba

o significado das experiências vividas no início da vida escolar dessa criança

para com isso contribuir no processo de desenvolvimento infantil.

A escola tem um importante papel no desenvolvimento e na socialização

da criança. Sabendo disso, é bom que a escola e o professor criem estratégias

de colaboração para com a criança, criando espaços que realmente a façam

avançar e desenvolver-se de forma integral.

Propor uma educação que possibilite e valorize as descobertas

cotidianas da interação das crianças com o meio e com as pessoas com quem

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convivem. Fazer do espaço escolar um espaço rico de significados, onde a

criança e adulto possam conviver respeitosamente, onde a criança tenha

acesso a diferentes manifestações artísticas e culturais, ampliando sua

capacidade de refletir sobre o mundo ao seu redor. Para formarmos cidadãos

críticos e reflexivos, é preciso que a criança experimente e tenha contato com

as mais variadas formas de expressão.

Para Vygotsky, somos seres sociais, nascemos inseridos em uma

cultura e, portanto, não há como separar o sujeito de seu meio sócio-cultural. É

a partir de sua interação com o outro que a criança será capaz de se

desenvolver e adquirir conhecimento.

Assim a criança é capaz, de expressar seus pensamentos, sentimento e

imaginação e deve ser estimulada a desenvolver sua autonomia e cidadania.

A educação infantil é um direito das crianças, um dever do Estado e da família.

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional ( lei 9.394/96), a educação

infantil passou a integrar a educação básica. Segundo a LDB em seu artigo 29:

“A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade

o desenvolvimento integral da criança até 6 anos de idade, em seus aspectos

físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da

comunidade.

Também podemos contar com os Referenciais Curriculares para a

Educação Infantil e as Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil, que

orientam os professores sobre o que ensinar aos seus alunos entre 0 e 6 anos

de idade e quais os objetivos a serem alcançados.

O grande desafio, é criar praticas que respeitem e valorizem o

desenvolvimento, a expressão, a convivência e a aprendizagem num ambiente

de prazer e ludicidade. É importante também, percebermos que, olhar para a

criança hoje, enquanto cidadã, é incluí-la em um conjunto de leis e diretrizes

que possam garantir para ela uma educação de qualidade e que contemple

todos os aspectos de seu desenvolvimento.

Para garantir que crianças tão pequenas tenham um atendimento de

qualidade, a educação infantil devera se desenvolver no âmbito da

creche(crianças de 0 a 3 anos), e da pré escola(de 4 a 6 anos). Ambas

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consideradas instituições de educação infantil, que de acordo com a LDB se

diferenciam apenas quanto à faixa etária.

Para construir uma educação de qualidade para crianças dessa faixa

etária, devemos entender que cuidar e educar são funções complementares e

indissociáveis. Uma não caminha sem a outra, e envolve todos os profissionais

nessa interação.

Segundo o RCNEI “Educar significa, portanto, propiciar

situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens

orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o

desenvolvimento das capacidades infantis de relação

interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude

básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas

crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade social e

cultural. Neste processo, a educação poderá auxiliar o

desenvolvimento das capacidades de aproximação e

conhecimento das potencialidades corporais, afetivas,

emocionais, estéticas e éticas, na perspectiva de contribuir

para a formação de crianças felizes e saudáveis” (RCNEI,

1998, Vol. 1 P.23)

Hoje a criança tem o direito de ser criança, o que a escola precisa é

garantir que os anos escolares sejam plenos de realizações. Conceber uma

educação que atenda as suas necessidades, que respeite seus momentos de:

brincar, imaginar, criar, sonhar, sorrir, jogar, desenhar, cantar, dançar.

Proporcionando momentos que estimulem seu desenvolvimento, e nunca

esquecer de valorizar suas conquistas.

Para Célestine Freinet, “as crianças tem a necessidade de pão, do pão

do corpo e do pão do espírito, mas necessitam ainda mais do seu olhar, da sua

voz, do seu pensamento e da sua promessa. Precisam sentir que encontraram,

em você e na sua escola, a ressonância de falar com alguém que as escute,

de escrever a alguém que as leia ou as compreenda, de produzir alguma coisa

de útil e de belo que é a expressão de tudo que trazem nelas de generoso e

superior.”

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Para garantir um atendimento de qualidade para crianças de 0 à 6 anos de

idade, é preciso que os profissionais, sobretudo os professores que

escolheram trabalhar com essa faixa etária, tenham conhecimentos

específicos sobre o desenvolvimento: físico, afetivo e cognitivo da criança. E

que o espaço educacional tenha condições adequadas e uma organização

específica necessária, para o desenvolvimento desse trabalho. Assim, a

capacitação profissional e a reflexão permanente sobre a prática são fatores

fundamentais para uma educação infantil de qualidade.

CAPÍTULO III

Expectativas Social e Cultural no Desenvolvimento da

Criança

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Com base no 1° capítulo deste estudo, acompanhamos o caminho feito

pela criança através da história. Cada época se relacio na com a criança de

acordo com a produção de conhecimentos acerca da infância. Conforme

aponta Ariès(1983), durante muito tempo a criança esteve condenada ao

descaso, percebemos isso na altíssima taxa de mortalidade infantil. Depois

veio a fase que foi chamada de “paparicação”, valorização da vida privada,

escolas, avanço da medicina (diminuição da mortalidade infantil). Com o

Iluminismo, a criança é separada do mundo dos adultos e colacada nas

escolas para que pudessem se civilizar, aprendendo a lêr e escrever,

desenvolvendo sua racionalidade. Nesse momento a criança não é mais um

adulto em miniatura, e sim um pequeno adulto, o homem de amanhã.

Desde a revolução industrial, a sociedade vem sendo seduzida pelas

ideias de utilidade, produtividade e lucro. A vida moderna tem pressa, e a

questão, é : qual é o lugar da criança e da escola nesse tempo tão apressado?

A evolução de conceitos sobre a infância pela sociedade, interfere no

comportamento da criança ditando formas de ser e de agir, de acordo com as

expectativas criadas pelo poder político, econômico e cultural de sua época.

Ainda dialogando com o passado, encontramos o momento em que por

pressão da burguesia, a sociedade se organiza em “classes sociais”. Essa é

uma das características da sociedade moderna. Nossa sociedade está

separada pela força do poder econômico. Crianças ricas tem o mundo a seus

pés,embora não significando que essas crianças sejam plenamente atendidas

nas suas necessidades, principalmente no que diz respeito ao

desenvolvimento afetivo. Do outro lado ainda convivemos com a pobreza, com

famílias que lutam dia-a- dia, pela sobrevivência. Até quando a sociedade vai

manter esse ritmo de desigualdade? Até quando vamos manter os menos

favorecidos no lado invisível da sociedade? Quando é que a sociedade vai se

incomodar com a falta de visibilidade dessa comunidade? Somos todos iguais

perante a lei?

A escola pública precisa: olhar e escutar esse povo que vive na” corda

bamba”, de um lado a pobreza, a violência, o descaso total, do outro uma

sociedade high-tech, cheia de possibilidades, mas que não contempla a todos.

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A escola pública precisa se indignar com essa discrepância que se

arrasta a anos na sociedade. Se indignar é fazer valer o direito do docente e

do educando. O docente precisa sair dessa inércia em que se encontra, para

entender que ele é parte dessa parcela invisível da sociedade. A educação

infantil é o ponto de partida, deixemos de lado a máxima, que: “a mãe coloca o

filho na escola (creche), para ir a praia”. O atendimento de crianças em

equipamento público é direito da criança. Mudar a concepção de educação

assistencialista, significa segundo o RCNEI,” atentar para várias questões que

vão muito além dos aspectos legais. Envolve, principalmente assumir as

especificidades da educação infantil e rever concepções sobre a infância, as

relações entre classes sociais, as responsabilidades da sociedade e o papel do

Estado diante da criança pequena”.

Lutar por uma escola pública de qualidade, com profissionais

capacitados, é dever de todos que estão envolvidos nesse contexto, ou seja,

Estado, sociedade e professor. Para que o professor seja o condutor de

conhecimentos, levando para sua prática diária elementos que façam a

diferença no desenvolvimento: físico,cognitivo e afetivo do aluno, é preciso que

esse profissional tenha condições dignas de vida e de trabalho.

“A formação cultural de professores é parte do processo de

construção da cidadania, é direito de todos se considerarmos

que todos- crianças e adultos- somos indivíduos sociais,

sujeitos históricos, cidadãos e cidadãs produzidos na cultura e

produtores de cultura. Cidadãos que tem direitos sociais, entre

eles, direito a educação e a cultura. (Kramer 2001,p.21)

Com base nas considerações acima, entendemos que tanto professor quanto

aluno, tem necessidades similares.

Para garantir o acesso da criança as diferentes manifestações culturais,

é preciso que tanto o professor quanto a instituição de ensino, estejam atentos

que o contato com essa linguagem é importante na formação cultural de todos

que estão envolvidos no contexto educacional. Cinema, poesia, música,

literatura, teatro e artes plásticas, são alimentos para o espírito. Permitir que a

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criança dialogue com a arte, de maneira lúdica formando seu próprio

conceito,e ampliando sua visão de mundo. Mais do que isso, é importante

perceber que, cada indivíduo (sociedade), carrega diferentes vivências ligadas

a cultura, e essa diversidade que carregamos, possibilita trocas riquíssimas e

importantes para a construção da identidade da criança. Quando refletimos

sobre a relação cultural com a construção da identidade da criança, devemos

levar em conta os vários contextos socioculturais e na diversidade presente no

interior da instituição de ensino. Num país como o Brasil, que por causa da sua

extensão territorial, e do seu mosaico cultural, propicia a existência de um

conjunto de produção variados (regiões industriais, rurais, urbanas,

quilombolas, indígenas, etc.). E o encontro entre essas culturas fazem parte da

vida cotidiana. Outra diversidade muito importante em nosso país, e bastante

presente no interior da instituição de ensino, é a diversidade religiosa. A

religião influencia o modo de vida da família. O desafio da instituição é manter

a harmonia, e lidar de maneira respeitosa com essa diversidade de opções

religiosas.

Conhecer e valorizar as diferentes culturas ,deve ser um objetivo

sempre presente na instituição de ensino. Partindo do princípio que cultura é o

conjunto de conhecimento que está ao redor do homem, não somente no

ambiente familiar, como também na sociedade que faz parte. E que a soma,

dos costumes, valores e tradições, são agentes de identificação pessoal e

social, fazendo com que o sujeito interaja com o mundo que o cerca. A cultura

é dinâmica, e esta sempre em transformação, introduzindo novos códigos,

para adaptá-los ao contexto já existente.

A cultura deve ser valorizada e reconhecida como elemento importante

na formação do sujeito. Assim a identidade, é fruto das relações que

estabelecemos com os outros. Em cada grupo social desempenhamos um

papel, encontramos uma forma de ser e de estar. Os grupos sociais, dos quais

fazemos parte durante nossas vidas, são de grande importância para nossa

formação. Dentre esses grupos a instituição de ensino tem um papel de

destaque, já que é um espaço de formação sistemática, que contribui para a

vida em sociedade. Quando falamos de creche e pré-escola, consideramos

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que para muitas crianças esses espaços representam o início de uma nova

etapa, longe do olhar da família. escola faz parte do processo de

aprendizagem do mundo, é nela que a criança permanecerá durante um tempo

significativo da sua vida. É na escola que a criança tem oportunidade de ouvir

histórias, de conversar com seus pares e de brincar. A criança é um ser social,

e através da brincadeira atua no mundo que está inserida. Nesse processo a

criança é vista como um sujeito criador e recriador de cultura.

Segundo Vygotsky, o desenvolvimento da criança é determinado pelas

relações que se estabelecem entre ela e o meio social. O mergulho na cultura

faz parte dese processo.

“A relação entre o pensamento e a palavra é um processo

vivo(...) uma palavra desprovida de pensamento é uma coisa

morta, e um pensamento não expresso por palavras

permanece uma sombra. A relação entre eles não é, no

entanto, algo já formado e constante; surge ao longo

desenvolvimento e também se modifica”. ( Vygotsky, 1987)

O pensamento acontece dentro do sujeito e está ligado com a

linguagem. O pensamento tem sua origem no sistema cognitivo. Esse sistema

possibilita o sujeito a conhecer e compreender o mundo que faz parte, agindo

sobre a realidade. A origem da linguagem acontece nas interações

estabelecidas com os outros sujeitos. A linguagem do bebê é o choro. Quando

ele chora é acolhido pela mãe, esse choro possui um significado, e ele usa

esse recurso sempre que precisa de atenção. Quando já é maior, a criança

demonstra perceber o significado do mundo que a cerca através de

brincadeiras com as palavras. Imitando o que o adulto fala, ela percebe que as

palavras tem um significado. Esse significado que damos as coisas se

constroem no coletivo, na interação com diferentes grupos sociais. Porém a

interpretação sobre a experiência vivida é individual. Essa compreensaõ do

mundo é afetada pelo convívio social, pelo que falam sobre e para o sujeito,

escolhas, conceitos e pré- conceitos que o cercam. Os significados também

aparecem nas palavras que não são ditas, no silêncio, no olhar, no toque.

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Saber que à medida que nos apropriamos dos significados do mundo,

construímos os significados que compõem o cotidiano, e que são

determinantes para a formação da subjetividade. A construção desses

significados acontecem nas interações construídas no interior dos grupos, nas

práticas sociais com seus pares.

Uma questão muito importante quanto à construção de significado é a

noção de pertencimento ao grupo. À medida que se compreende os costumes,

valores, integra-se a um grupo, compartilhando significados e trocando

informações

Os significados são construídos nas interações. O sujeito que chega ao

grupo, vai ter que iniciar um processo de aprendizagem de uma outra cultura,

mas, à medida que vai interagindo, vai se apropriando e internalizando os

códigos da cultura e dos significados do grupo.

Assim as escolas de educação infantil e creches,devem entender que a

brincadeira da criança como é um canal de troca e aprendizado entre elas, e

que quando estão brincando criam um mundo próprio, rico em significados e

interações. É importante que todos que fazem parte do contexto escolar

entendam que o espaço destinado para o atendimento de crianças de 0 a 6

anos, seja não só acolhedor, mas também motivador de novas experências.

Saber que crianças são produtoras de cultura e tem muito para compartilhar

umas às outras. A escola é parte integrante desse processo, é onde as

crianças passam boa parte do seu tempo diário, convivendo com os colegas,

funcionários e professores. È nesse lugar longe da família que ela vai fazer

novas descobertas e participar de novas aventuras, compartlhar sua história de

vida que é marcada por relações, que estabelecem com as pessoas que vivem

ao seu redor, pois:

“Enquanto sujeito social e histórico que é, a criança não pode

ser jamais confundida, identificada ou reduzida a uma etapa de

desenvolvimento; ela não pode ser percebida apenas como um

sujeito em crescimento, em processo,que irá se tornar alguém

um dia ( quando deixar de ser criança e virar adulto...). Ela é

alguém hoje, em sua casa, no trabalho, no clube, na igreja,na

creche, na pré- escola ou na escola, construindo-se a partir

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das relações que estabelece em cada uma dessas instâncias e

em todas elas”. (Jobim, Souza e Kramer,1991).

O que se pretende na atualidade é que as instituições de ensino sejam

espaços de participação, respeito,,troca,socialização e aprendizagem que

contribuam para a formação de sujeitos, críticos,autônomos e autores. Espaço

de múltiplas linguagens,espaço de apropriação ética e estética,espaço de

diferentes culturas e de produção autoral, ampliando, assim, as diversas

formas de relação homem-cultura-natureza.

CONCLUSÃO

Quando pensar em criança e na maneira como o conceito de infância

evolui. Se faz necessário desconstruir, alguns conceitos e pré- conceitos que

engessam as práticas pedagógicas. Perceber e valorizar a maneira de agir e

interagir com seus pares, e que a criança é produtora de cultura na medida em

que atribui significado ao seu entorno, se expressando com autoria e

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significação. Construindo assim seu conhecimento sobre o mundo que a cerca,

promovendo seu desenvolvimento físico, cognitivo, social e afetivo.

E fundamental ampliar os repertórios artísticos e culturais das crianças e

dos professores. O acesso aos bens culturais também deve ser organizado de

forma a possibilitar e ampliar o desenvolvimento intelectual, ético e estético de

ambos. O que o estudo defende é que a instituição pública de ensino possa

ser espaço de participação de todos, alunos, família, professores e

funcionários. Esse espaço deve proporcionar desafios e incentivar,a

curiosidade e o desejo pelas diferentes linguagens culturais.

Os conceitos de infância e instituição de ensino carregam histórias,

ideias, teorias e valores que modificam-se ao longo dos tempos expressando

aquilo que a sociedade entende em determinado período histórico por infância,

educação e política para a infância. O momento de identificar o que a escola

representa para as famílias é na educação infantil. A instituição deve ousar

mais, e tomar a iniciativa, provocando interações que favoreçam o

envolvimento de ambas no processo de desenvolvimento da criança.

Por fim, esse estudo destacou alguns desafios para cuidar e educar

crianças:

1. garantir os direitos da criança no seu cotidiano, respeitando as

características e necessidades de sua faixa etária, favorecendo seu

desenvolvimento afetivo,cognitivo,físico cultural;

2. ajudar na formação de uma geração que seja capaz de viver e contribuir

para melhorar a vida em um mundo cada vez mais desigual, complexo e

cheio de contradições e conflitos e ameaçado em sua sobrevivência

enquanto suporte para a vida humana e de outras espécies de vida.

3. Garantir uma escola pública de qualidade, democrática e que respeite a

diversidade.

4. Propiciar momentos de interação com a família

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5. Estimular a capacitação permanente dos professores que atuam em

creches e educação infantil.

O trecho abaixo foi retirado de um documento do Ministério da Educação

(1995).

• Nossas crianças têm direito à brincadeira.

• Nossas crianças têm direito à atenção individual.

• Nossas crianças têm direito a um ambiente aconchegante, seguro e

estimulante.

• Nossas crianças têm direito ao contato com a natureza.

• Nossas crianças tem direito à saúde e à higiene.

• Nossas crianças tem direito a uma alimentação sadia.

• Nossas crianças tem direito a desenvolver sua cusiosidade. Imaginação

e capacidade de expressão.

• Nossas crianças tem direito ao movimento em espaços amplos.

• Nossas crianças tem direito à proteção, ao afeto e à amizade.

• Nossas crianças tem direito a expressar seus sentimentos.

• Nossas crianças tem direito a uma atenção especial durante seu

período de adaptação à creche (e a pré-escola).

• Nossas crianças tem direito a desenvolver sua identidade cultural,racial

e religiosa.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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Janeiro: GUANABARA,1986

Coleção educadores: Henri Wllon/ Hèlene G. Alfandéry; tradução: Patricia

Junqueira. Org. Elaine T.D.M.Dias_- Recife: Fundação Joaquim Nabuco,

Editora Massangana,2010.

Coleção educadores: Lev Semionovich Vygotsky/Ivan Ivic; Edgard Pereira

Coelho(org.) – Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana,2010.

FREINET,Celestin.Pedagogia do bom senso.São Paulo:Martins Fontes,1996.

KRAMER,Sonia, LEITE, Maria Isabel. Infancia e produção cultural. São Paulo:

Papirus,1998.

OLIVEIRA,Z.deM.B.(org.). A criança e Seu Desenvolvimento. São Paulo:

Ed.Cortez,2000.4°ed.

KRAMER,Sonia, LEITE, Maria Isabel(org.). Infancia: Fios e Desafios da

Pesquisa. São Paulo: Papirus,2001 6°ed

Ministério da Educação e do Desporto, SEF/COEDI. Critérios para o

atendimento em creches que respeite os direitos fundamentais das crianças.

Brasilia,1995.

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PINTO, Manoel. A Infancia como construção social.In:PINTO, Manoel e

SARMENTO, Manoel Jacinto(coord). As crianças: contextos e identidades.

Centro de Estudos da Criança, Universidade do Minho, Braga,Portugal,1997.

GARCIA, Regina Leite e LEITE FILHO, Aristeo(ogrs). Em Defesa da Educação

Infantil.Rio de Janeiro: DP&A, 2001

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ANEXOS

Índice de anexos

Anexo 1 >> Questionários.

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ANEXO 1

QUESTIONÁRIOS

Questionário respondido pela coordenadora pedagógica da U.E.:

1- O que a escola representa para a criança, e para a família

na atualidade?

A escola, hoje, é formadora de cidadãos crít icos, atuantes na

sociedade, desenvolvendo uma construção de opiniões

continuada e progressiva dentro dos temas atuais e situações

propostas.

2- Qual é a expectativa da escola em relação a educação

infantil?

Ter a participação conjunta de escola e família para o

desenvolvimento sensorial, motor,social,afetivo, trabalhando

dentro de projetos e da bagagem do aluno.

3- Como é a relação da família com a instituição?

Alguns participam ativamente, ajudando no que lhe é pedido,

para o crescimento de seu f i lho. Porém uma boa parte das

famílias se omitem nesta participação, até demonstram

insatisfação quando cobradas nestes aspectos, e nestes alunos

que a família não participa é nít ido a diferença no rendimento.

4- Para você o que é ser criança?

Um ser em formação que precisa de orientação para se tornar

um cidadão verdadeiramente atuante na sociedade.

5- Para você o que é infância?

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Brincar, pular, rolar, sorrir... Esta palavra só me faz pensar em

momentos felizes, como tudo que há de bom.

6- A escola está preparada para enfrentar a diversidade

cultural da atualidade?

Sim e não, a escola tem hoje vários instrumentos para dar

suporte para que o professor busque atualizações e possa

trazer e desenvolver em sala de aula.

Mas nas diferenças sociais como homosexualismo, pobreza,

etc, ainda não estamos preparados.

7 - Quais são as atividades culturais para as crianças?

Passeios diversos, debates, conversações,atividades escolares

com apoio da internet, desenvolvimento de projetos culturais,

participação ativa na sala de leitura e outros.

Questionário respondido pela professora de educação infantil da

U.E.:

1- Para você o que é infância?

È o período de descobertas e de aprendizagem.

2- Do que a criança precisa para se desenvolver?

Visando o desenvolvimento integral da criança tais como:

f ísico,cognitivo e emocional se faz necessário pensar em

ações, espaço e rotina que possibil ite a interação. A

brincadeira e faz de conta é uma grande ferramenta para o

desenvolvimento da criança.

3- Qual é o papel do PEI?

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O PEI tem o papel de mediador, planejando atividades

pedagógicas signif icativas para a aprendizagem da criança,

promover um ambiente rico, signif icativo e acolhedor.

4- Como você vê o atendimento da Instituição de Educação

Infantil e Creche na atualidade?

A educação infantil avançou bastante deixando de ser

assistencialista. Hoje em dia encontramos diferentes livros

falando sobre o assunto. Citando até mesmo o Município do

Rio de Janeiro como exemplo, que vem com um novo olhar

na educação de crianças de 0 à 6 anos. Hoje já temos as

orientações curriculares, orientações para o prof issional de

educação infantil, caderno de planejamento, todos criados

de 3 anos pra cá, mostrando o investimento nesta área.

Ainda precisamos avançar muito, mas estamos no caminho

de uma educação infantil de qualidade.

5- Existe algum tipo de separação entre o que é

considerado: cuidar e educar?

Cuidar e educar caminham juntos na educação infanti l, nesta

fase da vida é impossível esta separação.

6- Como você vê a diversidade familiar na atualidade?

Com a formação familiar de hoje, nós educadores

precisamos ter bastante sensibil idade para falar e l idar com

isto, pensando sempre no melhor para a criança. O

importante é a criança ser amada e cuidada.

7- Que tipo de atividade cultural é oferecida para as

crianças?

Aula passeio ao jardim zoológico, planetário e festas

culturais que encontra-se no calendário.

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Questionário respondido pela mãe do aluno:

1- Por que você matriculou seu filho, na creche?

Para trabalhar.

2- Como você vê a infância na atualidade?

Complicada, pois não é como foi a minha.

3- Para você o que a criança precisa para se desenvolver?

Tudo. Carinho, amor e claro alimentação.

4- Qual é o papel da creche na vida do seu filho?

Pra mim foi ótimo ele se desenvolveu mais.

5- Que tipo de atividade cultural sua família costuma fazer?

Cultura só dança. Eu mesma.

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ÍNDICE

AGRADECIMENTOS ............................................................................................. 3

DEDICATÓRIA ....................................................................................................... 4

RESUMO .................................................................................................................. 5

METODOLOGIA ..................................................................................................... 6

SUMÁRIO ................................................................................................................ 8

INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 9

CAPÍTULO I ........................................................................................................... 12

1.1 Fundamentos Históricos ................................................................................... 12

1.2 Evolução Conceitual ......................................................................................... 15

CAPÍTULO II ......................................................................................................... 20

2.1 Ação e Intervenção da Família .......................................................................... 20

2.2 Ação e Intervenção da Escola ........................................................................... 24

CAPÍTULO III ........................................................................................................ 28

CONCLUSÃO ........................................................................................................ 34

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ......................................................................... 36

ANEXOS ................................................................................................................ 39

ANEXO 1 ............................................................................................................... 40

ÍNDICE ................................................................................................................... 44