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As águas redemoinhavam em torno ao frágil veículo, ameaçavam traga-lo bom como aos carnei- ros c aos meninos, na corrente- *a. Mas Afonso tudo vencia cantando, estalando indomável- i mento o chicote sobre a super- | fície revolta, até que saíram do j outro lado, rumo à casa do avô, I encharcados, otegantes, virorio- | sos. | üutras vdies Atonso cons- I truia uma espécie de ondor, em í que se estiravà, misto de eadei- rinha brasileira e de polcnquim I °"entol, sendo que uma, aliás, I descende do outro. Afrânio e ai- guns meninos da vizinhança par- L ticipovon^ então, da faíigante Uma das xilogravura de Lívio Abramo para o livro "Pelo Sertão", de Afonso Arinos O VELHO AFONSO ARINOS AFONSO ARINOS DE MELO FRANCO honra de carregar o herói la- deira acima. Virgílio, (2) no período em que foi magistrado em comarcas inabitaveis, deixou o mulher e filhos em Paracatú. Mas, ao ser removido para a capital goiana como desembargador, entendeu de levar consigo a família. Afrâ. nio deveria andar pelos seis anos e Afonso pelos oito Mas eram, para o futuro escritor sertanista, oito anos muito mais enérgicos e bravios que os de Casimiro. A civilização litorânea, em que vi- via o poeta, civilização agrícola o sedentária, permitia ao meni- no romântico a caça às borbo* letas azuis junto às cachoeiras. A zona sertaneja, velha zona de- cadente da mineração, criava meninos tembém românticos, mas de um romantismo menos pie- ges, monos atraído pela noiva morta, pois a amplidão e mobi- lidade da vida dovttm às crian- ças móis independência de cará- ter, faziam-nas mais rijas e fe- lizes. Em 1876 partiram Virgílio e os seus de Parcca.ú, a fim ds iniciar a longa viagem, à manei- ra pitoresca de então. Muitas ou. trás semelhantes empreendeu em seguida. Camaradas, provisões, vários animais de sela e carga eram complementos indispensá- veis para tais expedições. Veí- culos não havia, pois os comi- nhos não eram carroçáveis. ¦ A rota, quando feita com senhoras e crianças, era realizada em cur* tos jornadas de poucas léguas. Pela tarde fazia-se o pouso em alguma fazenda, ou, na ausên- cia de habitação, à beira de ai- gum olho d'cgua, no rancho rús- tico acaso existente, ou ainda em barracas transportáveis, quando até o rancho faltava. Ana Leopoldina, (3) na velhi- ce, lembrava-se com saudade da- quelas viagens, das manhãs em que acordava na rede sentindo por debaixo da lona das barra* cas o bafo dos animais que pas. tavam junto, sentindo entrar com este apelo quente e vivo o cheiro das árveres e dos campos, o ruido das insetos e das águas, toda a força renovada do mun- do, que a luz do nascente ia re* velando nas quietas amplidões. Quando pousavam à noite nos ranchos, —- e temos exatas des- crições do que eram estes abri- gos, nos livros dos viajantes an> Hgos, —-. freqüentemente tinham a companhia de tropeiros. Afon- so, nessas oportunidades, nunca '• í ficava com a família. Sua atra* ção irresistível pala vida poeri- ca do sertão o arrastava para junto daqueles homens rudes, fiéis e probidosos, aqueles ho* mens que transportavam dinhei* ro a mercadorias dos outros du* rante centenas de léguas. Ana Leopoldina contava que, acomodada a família na porta do rancho que tinha sido esco* Ihida, podia ver, no outro axtre* mo, o seu menino mais velho montado numa sela colocada sô- bre um cavalete, a silhueta bem marcada ao clarão das foguel- ras, ouvindo os casos heróicos ou acompanhando as cantigas dolentes daqueles navegantes do deserto. A obra literária de Arinos está cheia destes homens. A cena inicial do "Assombramcnto", com os 'tropeiros deitados pelo chão depois da lida da descarga e da raspagem dos animais, os pn- metros sons da viola arrancados coirna soluços do bojo da noite, cantando as saudades das more- nas esquives, perdidos nos dis- tôncias do imenso país, retreta ao vivo episódios frequentemen- <c presenciados na infância e daí lhe vem aquele sabor agreste de uma realidade inapagável. Os tipos qut fixou nos seus conto» saíram também do mundo am que vivia. Joaquim Miranga era uma camarada dos Pimenteis; o Fior, agregado à casa do «vê João Crisóstomo, foi quem acom- panhou o jovem Arinos em uma das viagens que fez a Paracatú. a;.»dc- estudante; Pedro Barq-í-i- to servia como cao i*ga dos Ma* los; Manuel Alves, o âo "Assam* bramento", era um tropeiro amí» go, qua as vezes encontravam nas estradas do sertão Esta Ma* nuel Alves foi quem curou o ma* n"io Afonso de ume queda pe* ngosa que teve, sobre uma; rji> >es de gamelcira. O tropeiro ma- dicou-o com um unauento e*pe* ciai, feito de gari .-ra de porco e ervas cheirosas. 0 fato é qut o menino ficou bom, graças aquela rude medicino aplicada na m. o do rompi. qualquer coisa de homêri- co, a grandeza simples e po- pular de uns Ulisses caboclos, -— naqueles tipos de homens que eram os tropeiros. De Homero ru de Cervanrsç, fris eles ti- nhem algo ia qu!*otesco, er>«»"» como coval:r»xs aedontes de u/ra civilização decadcr.u . Afonso Arinos guardou a vida inteira e:ta imprcssá'3 das «orna- das sertanejas c do encortíO com as tropas e carovenes Um dos seus estudo* i«vj»s inícressun- t^s, talvez o mejbar *it todos, é aquele sobre "Tropas a Tropel- ros". E era muito a ié;ío que êle sustentava que, no escudo ds (conclui na 2* pag.) m X^j, q ;r Q3 < I— *^ ru Q, r*> y—t coO Io ~t-3 3DO CS K»í o p > í -r-O > Mo ir > - s; B i I m \ í i s IM I i f m é'~:i-:;:; '¦-^.¦^r, % ,&aíÈ*imM^LiiLMJat\ ' --¦'¦.•¦ rf^^^^ivi,';^;;^^'^^,.,. «^*^.'i^, yfê ::;;:v:-r-M . 1'

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Domingo, 13-3-1949

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AFONSO

ero o herói da ca*sa. Andejoj aventureiro,impulsivo, sentimental, ha.

f Via nele, desde pequeno, qualquerj coisa do espaJochim romântico o• do cigano civilizado que foi, no' fundo, a vida inteira.

As lembranças de Afrânio (1)sobre o irmão menino eram sem*pre admirativas.

Afonso fitera construir um car*ro de bois em miniaturo, atrela-va neles os carneiros — o Redon.do, o Chinês, -— e tornava-se oser mais feliz do universo percor-" i rendo heroicamente as vielas'

j •«•ormocidas da sua cidade colo-I mal. Afrânio o acompanhava,; meio timidamente, nas aventuras,I Lembrava-se bem do dia aziago' j em que o irmão ousado decidira

atravessar com seu carro o Cor-rego Rico, em plena cheia. Aságuas redemoinhavam em tornoao frágil veículo, ameaçavamtraga-lo bom como aos carnei-ros c aos meninos, na corrente-*a. Mas Afonso tudo venciacantando, estalando indomável-

i mento o chicote sobre a super-|

fície revolta, até que saíram doj

outro lado, rumo à casa do avô,I encharcados, otegantes, virorio-| sos.

| üutras vdies Atonso cons-I truia uma espécie de ondor, emí que se estiravà, misto de eadei-

rinha brasileira e de polcnquimI °"entol, sendo que uma, aliás,I descende do outro. Afrânio e ai-

guns meninos da vizinhança par-L ticipovon^ então, da faíigante

Uma das xilogravura de Lívio Abramo para o livro "Pelo Sertão", de Afonso Arinos

O VELHO AFONSO ARINOSAFONSO ARINOS DE MELO FRANCO

honra de carregar o herói la-deira acima.

Virgílio, (2) no período emque foi magistrado em comarcasinabitaveis, deixou o mulher efilhos em Paracatú. Mas, ao serremovido para a capital goianacomo desembargador, entendeude levar consigo a família. Afrâ.nio deveria andar pelos seis anose Afonso pelos oito Mas eram,para o futuro escritor sertanista,oito anos muito mais enérgicose bravios que os de Casimiro. Acivilização litorânea, em que vi-via o poeta, civilização agrícolao sedentária, permitia ao meni-no romântico a caça às borbo*letas azuis junto às cachoeiras.A zona sertaneja, velha zona de-cadente da mineração, criavameninos tembém românticos, masde um romantismo menos pie-ges, monos atraído pela noivamorta, pois a amplidão e mobi-lidade da vida dovttm às crian-ças móis independência de cará-ter, faziam-nas mais rijas e fe-lizes.

Em 1876 partiram Virgílio eos seus de Parcca.ú, a fim dsiniciar a longa viagem, à manei-ra pitoresca de então. Muitas ou.trás semelhantes empreendeu emseguida. Camaradas, provisões,

vários animais de sela e cargaeram complementos indispensá-veis para tais expedições. Veí-culos não havia, pois os comi-nhos não eram carroçáveis. ¦ Arota, quando feita com senhorase crianças, era realizada em cur*tos jornadas de poucas léguas.Pela tarde fazia-se o pouso emalguma fazenda, ou, na ausên-cia de habitação, à beira de ai-gum olho d'cgua, no rancho rús-tico acaso existente, ou aindaem barracas transportáveis,quando até o rancho faltava.

Ana Leopoldina, (3) na velhi-ce, lembrava-se com saudade da-quelas viagens, das manhãs emque acordava na rede sentindopor debaixo da lona das barra*cas o bafo dos animais que pas.tavam junto, sentindo entrarcom este apelo quente e vivo ocheiro das árveres e dos campos,o ruido das insetos e das águas,toda a força renovada do mun-do, que a luz do nascente ia re*velando nas quietas amplidões.

Quando pousavam à noite nosranchos, —- e temos exatas des-crições do que eram estes abri-gos, nos livros dos viajantes an>Hgos, —-. freqüentemente tinhama companhia de tropeiros. Afon-so, nessas oportunidades, nunca

'• íficava com a família. Sua atra*ção irresistível pala vida poeri-ca do sertão o arrastava parajunto daqueles homens rudes,fiéis e probidosos, aqueles ho*mens que transportavam dinhei*ro a mercadorias dos outros du*rante centenas de léguas.

Ana Leopoldina contava que,acomodada a família na portado rancho que tinha sido esco*Ihida, podia ver, no outro axtre*mo, o seu menino mais velhomontado numa sela colocada sô-bre um cavalete, a silhueta bemmarcada ao clarão das foguel-ras, ouvindo os casos heróicosou acompanhando as cantigasdolentes daqueles navegantes dodeserto.

A obra literária de Arinos estácheia destes homens. A cenainicial do "Assombramcnto", comos 'tropeiros deitados pelo chãodepois da lida da descarga e daraspagem dos animais, os pn-metros sons da viola arrancadoscoirna soluços do bojo da noite,cantando as saudades das more-nas esquives, perdidos nos dis-tôncias do imenso país, retretaao vivo episódios frequentemen-<c presenciados na infância e daílhe vem aquele sabor agreste deuma realidade inapagável. Os

tipos qut fixou nos seus conto»saíram também do mundo amque vivia. Joaquim Miranga erauma camarada dos Pimenteis; oFior, agregado à casa do «vêJoão Crisóstomo, foi quem acom-panhou o jovem Arinos em umadas viagens que fez a Paracatú.a;.»dc- estudante; Pedro Barq-í-i-to servia como cao i*ga dos Ma*los; Manuel Alves, o âo "Assam*bramento", era um tropeiro amí»go, qua as vezes encontravamnas estradas do sertão Esta Ma*nuel Alves foi quem curou o ma*n"io Afonso de ume queda pe*ngosa que teve, sobre uma; rji>>es de gamelcira. O tropeiro ma-dicou-o com um unauento e*pe*ciai, feito de gari .-ra de porcoe ervas cheirosas. 0 fato é quto menino ficou bom, graçasaquela rude medicino aplicada nam. o do rompi.

Há qualquer coisa de homêri-co, — a grandeza simples e po-pular de uns Ulisses caboclos, -—

naqueles tipos de homens queeram os tropeiros. De Homero

ru de Cervanrsç, fris eles ti-nhem algo ia qu!*otesco, er>«»"»como coval:r»xs aedontes de u/racivilização decadcr.u .

Afonso Arinos guardou a vidainteira e:ta imprcssá'3 das «orna-das sertanejas c do encortíOcom as tropas e carovenes Umdos seus estudo* i«vj»s inícressun-t^s, talvez o mejbar *it todos, éaquele sobre "Tropas a Tropel-ros". E era muito a ié;ío queêle sustentava que, no escudo ds

(conclui na 2* pag.)

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Página LETRAS E ARTES Domingo, 13-3-1949

Como Shenvood Ander- "" "ni,iri""''" ¦v/""""',/^^ l<r'wr":'

son deixou a fabrica

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feí

Sliorwood Anderson t\ Indiscutível-mente, uma das figuras mais pitorescasda literatura americana. Sua vida foitào interessante que 61o nílo se cansoude descreve-la em vários romances nu-to-blogiáílcos. Tendo nascido numa nl-dela, concorreu para o incremento daliteratura regionalista nos Estados Uni-dos, objetivando sempre os tipos dc pro-vlncíano que conheceu, Jovens c adoles-centos freqüentemente inquietos, deba-tendo-se entre as muralhas da vida dointerior.

nnderson exerceu varias profissões, tendo sido até vo-luntárlo na guerra de Cuba. Houve época cm que chegoua exercer o logar dc gerente dc uma fábrica.Já então a 11-teratura o seduzia extraordinariamente —nunca teve, aliás,outra sedução a não ser a da literatura — mas dosfrutan-do uma boa situação econômica, depois de muitos anos demiséria, não se animava a deixar o emprego pelas letras.¦Todo momento que roubava aos afazeres era, no entanto,para rascunhar um conto ou o começo dc uma novela. Fa-cilmejite_sc-pod«-ea4euIftr--o- tor mento desse "homeurnscè-ralmente escritor, às voltas com faturas, e cartas comer-ciais, tendo que atender, diariamente, senhores burguesestjue só lhe falavam cm lucros ou perdas.

Certo dia, porem, deu-se a ruptura total da maneiramais extravagante e espantosa. Andcrson começara a ditaruma carta para sua secretária, justamente na ocasião emque estava preocupado com a idéia obsecante dc um ro-mance. A dactilografa ia escrevendo. De repente, porem, ogerente sai com uma frase sem pé nem cabeça, que não searticulava absolutamente com o assunto da carta: "E amoca atirou-se ao rio..." — dizia Anderson. A dactilografa.encara-o espantada. O homem estava inteiramente abs-trato, como num estado de mediunidade.

"E a moça atirou-se ao rio..." repetia, sem cessar, amesma frase. E num ímpeto levantou-se, deixando sem

i mais nem menos o escritório. A dactilografa não duvidou de/ que o gerente tivesse enlouquecido. No dia seguinte, Ander-| son apresentava sua demissão ao diretor da íábrica e ia es-

crever o romance.

O ESCRITOR AME-RICANO E O POVO

Reproduzimos abaixo uma 'página cm que Sinwnc dc Bcauvoir — a discUpula amada dc Saiire — consigna suas impressões acerca da vida intclcc*tual nos listados Unidos, focalisada, especialmente, sob o anifulo da "par*

licipação,> do escritor na poltíica

«T ANT(¦ casa i

. f perto

•JTO com E. A., cmdc dois anii|;o.i i|ii>-ncem ao grupo da

revista Wicw". Nesse pequenoapartamento da cidude baixa,encontro de novo K. K., poeta,ensaísta, critico.

Demorada discussão logo seinicia e atravessa toda a noite,fcõbrc o problema da "ação".Interessa-me grandemente esseassunto, pois verifiquei existirno seio da juventude universi-tãria e entre os intelectuais deNova York uma propensão pa-ra a Inércia, que muito me sur-preendeu a principio,

.-.^(^..compensação, causa rs-panto a S. K. aquilo a que êlechama nosso "complexo deação".

Sainl-Exupèry, Malraux, Ko-esllcr, assim como Camus, Sar-tre c Aragon lhe parecem con-taminar.os dessa moléstia. Na-titralmente, não preconiza éloatitude de "yogi": a seu ver,houve, na história, momentoscm que a ação foi possível. Mas,hoje, não permitindo a situaçãoobjetiva nenhuma intervençãoindividual eficaz na França ouna América, a vontade dc açãonão passara dc atitude subje-tiva: atitude desadaptada, queconviria fòssc psicanalisada, es-pccialmcnte entre os intelec-tuais, visto como não têm êlcs,neste instante, nenhum papelque desempenhar.

Lei ras e/L/ejORIENTAÇÃO

DE

JORGE LACERDACOLABORADORES :

Adonias Filho, Afrânio Ccutinho, Alcântara Silveira AlceuAmoroso Lima Almeida Fischer, Almeida Sales AlphonsusGiümaraens Filho, Álvaro Gonçalves, Aníbal MachaS?S

----- "¦"•-"' «"i" íjiuuu, vários Urummond do AndradeSfXSn? ri"*?'

CCTCllÍa MdreIcs' Christlano MarthclroSLi* Jos- ClíUlnse Llspector, Cláudio T. Barbosa Dalton

Castro, hkololS^on^^J1^0 Lcíl1- Josué doLúcio Cardoso LubírrHmnfn5 Tr es' ,LopGS de Andrade,Bandeira S 1 í'

Mtoutílto de Ornelas, ManuelqS£, SíSl^l^o da Silva Brito, Mario

noiand Corbisier, Rosário Fusco. Rubem Biafori qnntóRosa Sérgio Mllllot, Servulo de Melo, SiMo Hh Iyl4 £Cunha, Tasso da Silveira, Temistoclès Linhares Thier?.Martins Moreira. Umberto Peregrino, Vicente rírrcí-a dafouva, Wilson Figueiredo, Xavier Placer

ILUSTRADORES :

rtM-rCÍ!ví;e^h!at,i' ^ando Pacheco, Athos Bulcão, Mar-ciei, lajga Ostrower, libere Camargo, Luiz Jardim, Noemia,Oswaldo Goeldi, Paulo o. Flores, Paulo Vincent, RenlnaKatz, Percy Deane, Santa Rosa, Van Rogger e YHen Kerr.

Discutimos por multo tempo,sem que nenhum convencesse aooutro.

A diversidade de comporia-mento entre os franceses, lia-lianos — de um lailo — e 09americanos, de outro, é Hagran-te. Essa diversidade provem daprofunda diferença existenteentre as tradições políticas dés-ses países. A intensa vida inte-rior dos partidos, a ligação davida sindical e da vida política,permile aos ri dada es francesesuma permanente participação

nos movimentos políticos; cadauni deles se considera como umagente histórico. Sabe-se quonáo há coisa semelhante naAmérica. Assinalei já, a propó-sito da juventude universitária,a espécie dc derrotismo que pe-sa sobre a nação. Há uma cias-se que detém o poder econômicoc que influencia na política,maneja os negocies, forma pro-jctos, decide, empreende — essaclasse é a chamada "Pullman-Class".

Os escritores não fazem par-te da "Pullman-Class", não via-

_ jam de "pullman", e náo é só-bre o público das "pullman"que desejam exercer influência.Mas, por outro lado, náo eneon-tram eles nas massas nem an-diência, nem possibilidades deapoio. As relações do escritorfrancês com as massas estãomuito longe dc ser satisfatórias:mas ali uma burguesia que sedecompõe, uma pequena burgue-sia conturbada c uma classeoperária hesitante constituemum público capaz de ser atin-gido.

Richard Wright ficou espan-tado com o prestigio de que go-zam, hoje, entre nós certos es-critores franceses. Bem ou mal,são êlcs conhecidos, pesam, in-fluem. Na América, tal situa-ção não existe: os escritores nãosão populares ou somente o sãoa titulo jocoso; as mulheres da"puliman-class", que consti-tuem seu público habitual, ape-nas lhes pedem que as divirtam.O resto da nação ignora-os.

O escritor nílo tem possiblli-dade de agitar profundamente aopinião pública. E disto se ca-pacitaram tanto certos escrito-res jovens, que preferiram vol-tar sua atenção para o rádio.

Enfim, mesmo que um escri-tor gosto dc atuar sobre as inas-sas, estas se mostram de tal mo-do inertes, tão desprovidas detodo instrumento dc ação, que

eles naua conseguem, «vai pai«Kividade eneontra sua explica*ção na história da América, aimigração arrastou consigo umahctcrogcneidadc dc culturaspouco propicia à formação a»conciéncia coletiva; a existênciade fronteiras abertas, as posst-bilidades que se ofereciam a ca«da cidadão impeliam os emigra-dos & realização de fins indt-viduais, e a instabilidade socialarrancava, sem cessar, das ca-madas inferiores, os seus lide-res. Disso resultou que, na so-ciedade, agora coagulanla, asmassas permanecem divididas,inorgânicas, privadas dc senti-mento de solidariedade, c, porcausa disto, passivas, receptivas,E* possível que semelhante si-tua ção se modifique. Mas, talcomo é hoje, não há esperançaalguma para um escritor ame-ricano, de que nossa grupar, cmtorno de si, forças vivas, poisestas não existem" ,

NOTA DA REDAÇÃO: Algumasdas conclusões a que chegouSimone dc tSeauroir são tenit-rárias, posto qüe sedutoras. Não.talvez, a hctcrogcneidadc dccultura, e s>m a padromzacáo,a tailorizaçáo dela tenham, co-municado, a vida americana,essa aparência de passividadecoletiva. Mas. não se trataráapenas de aparência? Negarforças vivas a essa nação quese mostra tão livre, tüo pienade vitalidade na sua expansãocriadora, tão profundamenteatuante no mundo moderno, cmcujas condições e em cuja cul-tura vai introduzindo trans for-<moções dc tamanha importãn-cia... O deslocamento do een-tro de gravidade da culturamundial para a America do Nor-te 6 fato hoie incontestável. Oque sem dúvida se manifesta,cm tais conceitos, é a profundainwnnattoilidaãe do espiritoeuropeu com as formas de vidaque se elabora?n no novo mun-do.

(6 Letras e Artes" e os novos ° VElK0 Af0K5° ARIH0S

w MMiMus* mesma/ imnweu

A revista dos novos, "Orfeu", em seuúltimo número, publica três artigos vio-lentíssimos contra figuras da velhaguarda: Carlos Drummond de Andrade,Manoel Bandeira e Augusto FredericoSchmidt. São verdadeiras dèscompo-nendas, sem nenhum caráter construti-vo, com o evidente objetivo de fazer ba-rulho, provocar "sururu",

para. nos va-lermos de uma expressão de gíria, e as-sim dar que falar.

Ora, nós que sempre nos colocamosao lado dos jovens e achamos que de-vem eles ser estimulados nas suas aveh-

juras c nos eoiorços dc renovação do panorama literárioDraslleíro, nao podemos deixar de reconhecer, em atitudescomo essa — prosseguimento, aliás, de arremetidas ante-riores — um desvio da missão que lhes atribuímos. Enca-minhar a polemica por esse lado, é tirar aos problemas 1»-teranos sua condição essencial: a seriedade.Queremos o debate, mas no terreno elevado e produti-vo em que ele deve travar-se. Aos novos, que aqui sempreencontraram o melhor acolhimento e a mais decidida sim-

patia, franqueamos as colunas de "Letras e Artes" para a li-vre manifestação do opiniões, rio plano construtivo á qüenos referimos, com um propósito fecundo de esclareci-mento.

,4%m(conclusão da Ia pag.)armas brasileiro, entre os íamos

de café c de fumo, deveriam fi-gurar, também, duas orelhas deburro, evocativas dêste drama dotransporte interno, tão imeorlan-to para a nossa economia colo-nial quanto à exportação da an-figa "erva santa" ou da rubiá-cea negro.

(Trecho do livro inédito "UmEstadista da República),

K R. — 1) Afrânio de Me-'-¦> Io Franco., 2) Virgílio de Melo

Franco (Pai deAfonso Arivos eAfrânio de MeloFranco).

2) Ana Lcopoldina(Mãe de Afrânio

de Melo Franco «Afonso ArinosJ....

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Domingo, 13-3-1949 LETRAS E ARTES Página — 3

Eüclidcs ila Cunha c a novela americanaLm-tc vendo «obre O livro "Eu-

rlldcs da Cunha", de Silvio Ilibe-Io, o poeta uruguaio (iastun FI-gucra, uma das pessoas que maiste ocupam da literatura e das coi-as brasileiras no pais vizinho, diziiie quando se fala da novela au-tenUcamente americana esquece-mo-nos do sentido He precursor.|uc para ela desempenhou os "Ser-lões". F.viden(emente, embura nãoseja um livro dc ficção a grandeobra de Euclidcs da Cunha con-correu para atrair a atenção dosromancistas c contistas para ostipos e os aspectos, náo só da ter-ra brasileira, como do ambienteamericano em geral. Descrições

a do estouro da boiada c o das va-quejadas, perfis magníficos, como o do sertanejo Ira-çudo com mão dc mestre por Euclidcs constituíramverdadeiros modelos para os Hedonistas, indicando-lhes, principalmente, um rumo.

Como Ruskin definia a arte

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admiráveis como

Rusliln, o -esteta Inglês,"" que criou a "religião daBeleza" e tanto influiu em Mareei Proust, definia aarte da seguinte maneira:"A arte é para o homem a expressão da alegriaracional e disciplinada que éle experimenta ante asformas e as leis da criação, dc que éle constitui umaparte"."A Europa Tranqüila", de Mario Graciòtti

Mario Graciòtti, que ainda há pouco nos deu olivro "O homem plural", acaba de publicar agora "Eu-ropa tranqüila", interessantes impressões de umaviagem ao Velho Mundo, em companhia de PlíiüoSalgado. Manoel Mendes e Joaquim Carlos Egídio doSousa Aranha. Essas 11 pressões são escritas, porém,cem tanta simplicidade c com um gosto tão vivo dopitoresco que podem ser lidas com igual interesse pe-loo adolescentes c os adultos. O livro contém 36 ca-pitulos, na maior parte dos quais o autor se ocupa deaspectos e paisagens da Itália, sendo ilustrado por Vi-cente De Grado.

Eduardo Frieiro passou pelcTKíõ"De regresso de Buenos Aires, passou pelo Rio o

escritor Eduardo Frieiro, uma das figuras mais desta-cadas do ambiente intelectual mineiro. A passagemde Frieiro pelo Rio, durante o Carnaval, impediu-nosde ouvi-lo sobre suas impressões dc Buenos Aires, êleque c um dos nossos especialistas em literatura his-pano-americana.

Poemas de Laura Margarida de QueirozEm primorosa apresentação material, Laura Mar»

garida de Queiroz acaba de reeditar, por Livros de,Fortugal Ltda., "Canta, Meu Coração", livro que jáestá julgado pela critica. O nome do belo volume dc-fine-lhe a natureza poética: lirismo, suavidade, amor,saudades torturadas. A esse núcleo sentimental cor-responde uma forma delicada e harmoniosa, que tornafácil a comunicação do poeta com o leitor.

0 acontecimento editorialda semana -

Centenas talvez milhares deescritores exploraram o temadeste livro que a Editora ANoite ora apresenta. Nenhum,contudo, conseguiu superar OSMISTÉRIOS DA GUERRA;nenhum deles logrou, pelo me-nos, aproximar-s* deste vofu-me, cujas tiragens se sucedemem todo o mundo como ver-daáeiro "best-seller".

Todo este livro e organizadodentro de bases até entãoinexploradas pelos escritoresque se ocupam desse tema.E o seu segredo reside no mê-todo utilizado pelo autor; Ray-mond Cartier escreveu umahistoria da guerra que é umahistória secreta da Alemanha,e uma história da Alemanhaque é simultâneumente umahistória da vida privada e daVida pública de Adolf Hitler.

Trata-se de um livro com-pletamente diferente de todosos que se versam sobre esteassunto. O estudo da vida deHitler, desde sua juventudeobscura até à conquista do po-der, coloca-se, pela sua impor-tância, dentro de um plano dereal novidade. O mesmo se po-derm dizer da analise minu-ciosa de figuras .como Eva¦Branvi,- Friscli, Keitel, Jodl,Hvtnmlér, Goering, P.osenberg,Blomberg, Bráuchitsch.

A tradução é de Ledo Ivo.

Uelo empreendimento do sr. JosuéMontelo

A Biblioteca Nacional, por intermédio de seu dl-retor, sr. Josué Montelo, araba de pub*.car um beloálbum, com a reprodução de seis gravuras do pintoralemão Thcrcmin, que esteve no Ilrasil, nas primei-ras decadas do século passado, aqui exercendo asfunções dc cônsul da FrUssIa. Apresentando o álbum,cujas gravuras foram selecionadas por Santa Hosu,Josué Montelo alude à pouca informação que possui-mos sobre esse artista, que parece, entretanto, ler-seinteressado multo pelo nosso pais, e cujas estampasforam gravadas na Europa, numa coleção sob o titulo"Saudades do Kló dc Janeiro".

A iniciativa da Biblioteca Nacional merece am-pios elogios, pois se trata, sem dúvida, dc um empre-cndimcnlo inédito, entre nós, esse de reproduzir gra-vuras documentárias sóbre o nosso passado, que jazemesquecidas nos arquivos. A reprodução cm ótimo pa-pel é excelente.

Ferreira de Castro c a sua vulgarizaçãoem francês

._—— -----O escritor português Ferreirade Castro é, dc certo, na modernaliteratura do seu pais, o nome maisconhecido na França. Aliás, de hámuito que cie vem permanecendonesse pais, ora na província, orana Cidade Luz, onde a sua estadaé sempre pretexto para entrevis-tas. Ferreira de Castro já temvários dos seus romances traduzi-dos para o francês, inclusive a fa-mosa "Selva", que sob o titulode "Forêt Vierge" oferece aos lei-tores franceses uma visão aluei-n.inte da floresta amazonense.Também "Emigrants" e "TerrcFròide", este último de caráterregionalista, dcsenrolanüo-se numa

das regiões mais tipicas de Portugal, já atraíram aatenção do público da França. Ferreira de Castro náose esquece do Brasil, mostrando sempre interesse pelanossa moderna literatura. Ainda há pouco êle respon-deu muito amavelmcnte a um periódico de novos, on-dc lhe transcreveram uma página sua.

Homenageado o escritor J'íeira

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das figurassileiro.

For motivo da sua recente elel-ção para a Academia 1'aulista doLetras foi homenageado pela dirc-toria da "Kevista Brasileira dePoesia", com um coquetel, realiza--Io na residência do poeta llumín-?os Carvalho da Silva, o roman-Cilta José Geraldo Vieira. O au-ior dc "A M<il!icr que íujííu doSodom.t", tendo nas'Mo na Ba-hia, radicou-se primeiramente noHlo; hoje está perfeitamente adnp-tado rm São Paulo, que liic ara-',a de dar a cidadãn!a tias letras,>IefendO-0 para .sua academia es-adual. Escritor dos mais oriiíl-

nais, José Geraldo Vieira é umamais discutidas do moderno romance bra-

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Mesa Redonda para discutir um livro déGilberto Freyre

Vai se realizar em São uma Mesa Redonda paraestudar e debater o livro "Ingleses no Brasil", de Gil-berto Freyre. Procurar-se-á, nesa reunião de intelec-tuais, discutir as influências exercidas pelos britânicossobre os usos e costumes brasileiros, enfim, sobre acoletividade patrícia.

Os tradutores se defendem na FrançaExiste na França uma Associação Profissional de

Tradutores Literários e Científicos, da qual é atual-mente presidente Georges Fillement, que tem tradu-zido para o francês várias obras de língua espanhola.

Como se vê, os tradutores na França se agrupampara a defesa dos seus direitos. Eis um exemplo parao Brasil, onde eles são, em geral, tão mal pagos.

Uma histónajLunia-intrrgtrDoutrinando sobre a arte do romance, o escritor

Inglês E. M. Forster interroga: O que é uma intri-ga? E propõe esta explicação: "O rei morreu; depois,a rainha morieu" — eis — diz éle — uma história"O rei morreu; depois, a rainha morreu de tristeza"•—eis — diz éle — umu intriga.

"Ambiente c alma do povo rumeno"A escritora Alexandra Hortopan, radicada no Bra-

sfl, acaba de publicrr um livro sobre sua terra inti-tulado "Ambiente e Alma do povo rumeno*', escritoaliás cm português. O aludido volume compõe-se ain-da de um ensaio sóbre o p% ta Mihail Eminescu, cujoalto lirismo e analisado com inteligência e sensíbili-dade. O estudo inicial sóbre a Rumãnia constituitambém um ensaio sugestivo.

A "Arte Poética", de Feynaldo Bairão"Poesia muita — Poesia nenhuma", chama-se o

volume de versos dc Ke-jnaldo Bairão, jovem poetapaulista que até hoje ainda não encontrou a com-preensào devida ao seu talento algo csiranho (exce-tuando-se artigo compreensivo de Sérgio Mdlietj;estranho o titulo, cstrauha a poesia, de raiz roman-tica e expressão hermética. Rcynaldo Bairão tempouco de comum com os seus companheiros de ge-ração: cies são, no fundo, inteleetualistas, expri-vündo-se em formas de neo-classicismo; ele. é ro-màntico, sem dúvida, de um romantismo instintivoe indisciplinado — e para disciplinar esse seu ins-tinto poético não escolheu as formas de expressãotradicionais e sim inteiramente pessoais. A poesiadc Rcynaldo Bairão retoma caminhos que o moder-nismo, como assustado por òiia própria audácia, dei-xou no meio. Parcce-se com um jardim cheio defrutas esquisitas, brilhantes como pedras precio-sas. talvez sejam frutas proibidas, em todo *aso: ummundo diferente. Essa poesia, ante* de ser "julga-

da", coloca-nos diante dc um problema: quanto amaneira dc que o poeta transformou cm formas as-sim sua experiência intima. E é aj snas isso o quspretendi fazer nesta nota: abrir a discussão em tor-na da Arte Poética de Reynaldo Bairão.

O. M. C.

Contra os filantes de livros

André Maurois virá a São PauloCuriosas revelações sobre Proust) em seu próximo livro

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ANDRÉ

Maurois, que re-gressou há pouco à Fron-ça, de suo última tem-

poroda nos Estados Unidos,penso em retornar a esse poisporo reolizor um novo curso deseis meses ou um ono numauniversidade.

— Acabo de receber umaproposta verdadeiramente tenta-doro —— diz êle ao repórter queo entrevistou cm Paris — e co-mo gosto muito de lecionar, jáa teria aceito, se isso não de.pendesse ainda de certos mo-tivos particulares. De qualquermaneira devo passar dois meses,proximomeníe, no Brasil, reali-zando um curso idêntico naUniversidade de São Paulo".

Quanto aos seus projetos li-terários declara o escritor:

—- Vou publicar muito brevsuma biografia de Mareei Prouslque será, ao mesmo tempo, umestudo de sua obra baseadonuma quantidade enorme da

'anauBUBun^^ ^^T^ ^k\

André Maurois

documentos inéditos, aponta-mentos o cadernos, em que cn-

contramos todo o processo ges-tatório de seus romances, c quecorrigem, singularmente, a idéiaque até hoje fazíamos de suatécnico de composição."

Pergunto o repórter se Mau-róis tocará em certos aspectosda vida íntimo de Proust.

— Mas, naturalmente, poistais aspectos são inseparáveisde sua obra. Ocultar que êle erajudeu ou que "son gout n'etaitpas de» femmes", como dizSaint-Simon, aludindo ao irmãodo Luís XIV, seria falsear-lhe aexplicação."

Maurois refere-se ainda aum romance que está escrito,mas que não o satisfez e queêle pretende modificar quase in-teiramente. Fala também doum ensaio sobre Âlain, empreparo uma exposição àa filo-sofia do seu antigo mestre, obraque lhe deu muito trabalho ocujo aparecimento suscitará, dccerto, discussões.

O Primeiro Congresso deEditores e Livreiros, entre ou-trás recomendações, conside-rando que "é costume enraiza-do pedir livros como obséquioaos autores, editores e livrei"ros; que estes se vêem acossa-dos por inúmeros pedidos debibliotecas, clubes esportivos,culturais, etc", aprovou o se-guinte: "RECOMENDA, a au-tores, editores, distribuidores elivreiros que só distribuam li-vros de acordo com suas no-cesstdades normais de proporganda e de noticiário biblio-gráfico".

0 canhão de Eduardo PradoSegundo um depoimento da

Afonso Arinos, Eduardo Pradotinha na sua fazenda do Bre-

jão um canhão que êle faziatroar para saudar os \ titeado seu imponente domínio ru-ral.

Correspondência e publicaçõesliterárias devem ser endereçadaspara Jorçe Lacerda, rua Repú-

blica do Peru, 101, apt. 902

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NOITE DE SONHO - GOETHE(Trad. de Leony de Oliveira Machado)

ItAGÕRA ESTA CAÜANA EU VOU DEIXARr- ESTE LUGAR QUE UM CÉU SE ME AFIGURA -«E EIS QUE, PASSO VELADO, ESTOU A ERRARfíPELA FLORESTA QUE fi DESERTA E ESCURA..-..[MAS

ROMPE O LUAR ENTRE OLMOS E CARVALHOSm VÊ-SE ENTÃO QUE O ZÊFIRO É CHEGADO-f'AS BÉTULÃS DERRAMAM, PELOS GALHOS.[TAL QUAL SE FORA INCENSO, UM pçy SAGRADO..,

ILETRAS

E ARTES publicohoje, nesta pagina, umatradução de uma poesia de

IGoethe, talvez o troduçõo melhoruucedida das que já tenham saí-•do da pena do sr. Leony Macha-¦do; e mais dando a auspiciosa no-tícia d« que a Academia Brasi-loira de Letras convidou o escri-tor alemão Fritz ven Unruh paraassistir, em ogòsto deste ano,às comemorações brasileiras dopicentenário do nascimento doiGoethe. Assim, LETRAS E AR-fTES inicia sua própria colabora-jçào, largamente projetada, parata dia 28 de agosto de 1949.

Não havia para escolher, de-germinar ou odiar a dota do co-memoração que se esta preparan-po; depende, evidentemente, daindicação do calendário para1949, do qual constam "os fe-aiados nacionais, dias santifica-dos, os nomes dos Santos e as po-siçõet du Lua". O dia 28 deogòsto é o "dia santificado" dsGoethe que nasceu exatamentehá 200 anos. Mas a "posição dalua'' não c das mais propícias,for isso, não convém, apenas, ce-

Hebrar o bicentenário de Goethe:'é preciso fazê-lo.Basta lembrar-se do dia 22 de

março de 1932 em que o mundocivilizado comemorou o centena-rio da morte do grande poeta egrande sábio. Levantaram-se na-quele dia as vozes mais autoriza-das do nosso época paro expri-mir sua gratidão pelo que Goethelhes dera; publicaram-se inúme-ros livros, contando-lhe a vida,explicondo-lhe a Obra e as Obras;saiu verdadeira enchente de orti-gos necrológicos, e mal havia umem que não oparocessem citadasas últimas palavras do sábio daWelmar: "Mais lu*"l" Mas pou-«os, naquele dia, pensaram nastrevas que envolveriam e afoga-»iom logo depois a Alemanha deWeimer e não só este: e que ca-beria, logo depois escrever o ne-

Icrológio da civilização goetltia-! na, quer dizer, de todos os valo-ires que GoefFio encarnava.

Eis o perigo dos comemorações:que elas folaw. ocadamícümenre,de um corpo morto cm vez da

COMO ME REGOZIJO COM A FRESCURADESTA TAO BELA NOITE DE VERÃO!

COMO SE PODE FRUIR TANTA VENTURA 1MAS, DESCREVER-SE, NAO SE PODE — NAO! —

.TUDO O QUE FAZ ASSIM UMA ALMA EM FESTAMAS EU VOS DIGO, Ó CÉUS! QUE EU BEM PUDESSE,

Ê DAR-VOS-IA MIL NOITES COMO ESTA,EM TROCA DE UMA SÓ QUE ELA ME DESSE!

*

O BI-CENTENARIO DE GOETHEum espírito vivo. Os tempos nãosão hoje, em 1949, mais propí-•ios do que em 1932. No enton-

», vamos levantar bem alto o•ímbolo de que em 1932 se co-memorou a morto dc Goethe

e em 1949 comemorar-se-á suaentrada na vido; não seu desa-porecimento mas sua presença.

O que significa, o que podesignificar o presença de Goethe

entre nós? Sua Obra á tão enci-elopedico que permite aproxima-çôcs de toda espécie, mas não éeste o Espirito que vivifica e simapenas a letra que mata. A poe-sia da Goethe, uma das mais oi-tos da literatura universal, signi-ficaria pouco para nós outros ho-je, se não houvesse permeado omundo moderno, intimamente,osslm como a poesia de Homero

permeava o mundo grego, a deDante o mundo medieval, a daShokespeore — não a suo pró-prio época mas a da tempos porvir. Fei neste sentido quo Goethediaia as palavras memoráveis:"Literatura nacíonol não significamulto, hoje; chegou a hora daLiteratura Universal." Quemacreditaria qua palavras tão sole-Be* *e tenham referido, apenas, a

FRITZ VQN UNRUH VEM AO RIO

A ACADEMIA BRASILEI-RA DE LETRAS no Riode Janeiro acaba deconvidar, para falar sobre

Goeihe, ao ensejo da celebra-ção do seu bl-centenário emagosto de 1949, o poeta e tea-irólogo Fritz von Unruh, por-tador do Prêmio Goethe de1948. O convite foi dirigido aNova Iorque onde o poetadesde oito anos está residin-do.

A sua vasta obra poética secompõe de 24 livros e valeu-lhe todas as distinções literà-rias que os países da linguaalemã, podem conferir: rece-beu da Alemanha, antes doPrêmio Goethe, o PrêmioKleist, o Prêmio Schiller, oPrêmio Raabe, da Áustria, oPrêmio Grillparzer e da Sui-ca o Prêmio Bodmer que ra-ramente se outorga a nâosuíços.

Ê membro de uma das maisvelhas famílias da aristocra-cia alemã da qual se conhe-cem grandes varões aindanos séculos VIII e IX e qicehá 1.000 anos, deu ao Reich,na grande figura de Reren-fíar I, um Imperador. Filhodc general prussiano e èla -próprio oficial da cavalaria,participou da Primeira Gucr-ra Mundial e tornou-se, so>o relumbar dos canhões de

Verdun um "soldado da Paz"que nunca deixou de lutarcontra a guerra e preconizouo bom entendimento entre ospovos.

Após a subida dos nazistas

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Fritx von unruhao poder, êle se exilou. Foi àFrança e depois aos EstadosUnidos, onde escreveu doislomances, assim como dramase comédias. O seu grande ro-mance "The End is not yet",¦publicado no ano passado emNova Iorque foi, pela impren-sa inteira e pelos mais com-petentes críticos, entusiasta-cameuíc elogiado como a mais

impressionante visão da nos»sa época.Em 1948 o cidade de Frank-

fort o convidou como oradorpara o centenário da Primei-ra Assembléia Nacional Ale-mâ de 1848, a qual tambémum Unruh, o irmão do seuavô, tinha presidido. O seudiscurso, na mesma igreja deSão Paulo em que se realiza-ra aquela histórica assem-oleia, produziu, em todas ascamadas da população, umprofundo efeito.

Aos 28 de agosto de 1948foi lhe conferido o PrêmioGoethe, a mais alta das con-sagrações literárias que aAlemanha conhece e que seconcede por 'uma

comissãocomposta de representantesda Sociedade Goetheana deWeimar, do "Freie DeutscheHochstift", da Universidadede Frankfort do Estado dcHessem e da própria Frank-fort, cidade onde Goethe nas-ceu.

A feliz idéia da AcademiaBrasileira de Letras de con-vldar, para o ano festivo de1949, o detentor do PrêmioGoethe dc. 1948, vai- contribuirpara enaltecer as comemora-ções de Goethe neste paiscom o qual o poeta e naturalhsta de Weimar tanto se ocn-pou e, por inintcvruvtos esiu-dos e informes, intimam™tese familiarizo?-- t

um "corpus" de leitura? Não,Goethe quis dizer muito mais. Pa-ra éle, Literatura Universal sig.nificava o conjunto das tradiçõesgregas, dos volores cristãos, dapoesia antiga o moderna, dasciências naturais a históricos, duHistória e do Presente: enfim, osvalores que fazem que a vida va-le a pena sér vivida. Mas nadomais — nada mais! — do queisso. Os valores goethianos nãotêm utilidade alguma. São per-'«'fomente dispensáveis nummundo qua adora o bezerro d'ou-ro da Técnica, da Economia, daEstandordizoção dos vidas indivi-duois e da politica da Violência.,Goethe é profundamente anti-mo-derno. E por isso é preciso cela-bror-lhe o dia do nascimento.

Ainda há esperança? Há. Opoeto alemão cuja presença hon-rara as comemorações do 28 deagosto é testemunha, pela suapresença, de que o Alemanha deWeimar ainda não morreu de to-do. E a tradução que haja pu-blicamos dá testemunho da pre-senço dos valores goethianos emolguns, talvez em muitos entrenos que dedicam a vida às uM-mos e supremas esperanças dahumanidade.

OUE t 0 EPIFAKISNOIScíd os próprios adeptos danova corrente chefiada pelo es-

critor francês Henri Penou-chet que definem o significadodo vocábulo agora em evidên-cia em Paris: "Vem do gregoEpiphdinô (épiphaveia), signi-fica "manifestar", "fazer apa-recer", "mostrar-se sobre". Apalavra é rica do triplo senti-do dc "luz", de "manifesta-ção" desta luz (phaneroô,tornar claro, "phandios", quedá a luZi "phasis", ação demostrar) e de subida para (épi,sobre). Tornar visível a luz es-condida, subir para ela, fa-zer esforço para manifestá-la.E %im esforço sincero: "pha-néròs', abertamente, publica-mente, implica a idéia de sin-ceridade, de rejeição da hipo-criski".

O epifanismo, como se sabe,é um movimento de oposiçãoou reação ao existcncialismo.

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Domtogo. 13-3-1949 LETRAS E ARTES Página — 5

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i:*r.M«ARCO em Reelfo

Doara dia muito claro, dt—i

vibrante claridade própriaau céu du nordeste. Sno pomodit-farcai tninlia rmoçáe. liátanto* nnos planejava esta via*cem! Ia faté-la cm circaustan*rias as mais favoráveis; culli-vando de longa data amuade*[Hiiiiiinlmoania, scntla-me òvontade, pelo quo o amii-.cntc *•a paisagem- **c reveslirlafi htmduvida de intcrétae especial,anunando-sc do talar humano apalpitar em tantos coraçõesain.cos. Assim aconteceu. Am-da náo conhecia pessoaim-niicmuitou daqueles que me foramreceber: entretanto, senti-me taebem entre eles, que julguei ro-atar uma conversação interrorn*ptda na véspera. Para um mi*neire. nascido e criado entre asmontanhas de luis de Fora, ce*do transportado para as monta-nlias cariocas, constituía umaverdadeira aventara peneiraralguns palmos do civilizarãonordesUna, conhecer neva nu,novos tipos, novos sabores, ao*vos costumes. Eu fundara háalguns anos atrás eaaa AníbalMachado o "Anti-Touring<lub". reduto des mineiro* se-dentários qae tinham vontade efalta de Jeito para viajar. Maao autor do desejado "João Ter-mira" traiu-me de maneira vil,passando mais de um ano naEuropa. Por minha vez traioagora o poeta Drummond, via-jaudo ao Recife e à Bahia, alémde várias incursões a S. Paulo.Se náo tomarem providências,acabarei numa expedição ao Ti-bet, á proeara do panda e doDatai Lama...

Tinha ainda o privilegio dacompanhia de minha mulher, edo nosso amigo, o pintor ErosGonçalves. Para este a experl-ência era também interessante,pois retornava ao Recife depoisde oito anos de ausência, sendoque ano e meio passados na In-glaterra. O avião sobrevoava oRio que, viste asaim do alto,surge como um maravilhosopresépio marítimo e celeste, mu-dando de aspecto a todo o ms-tante. Avistam-se inúmeras ca-pclinhas insuspeiiadas do pontode vista da terra. Mas o sôfregoanimal aéreo cm breve nos ar-rança da contemplará i mágica,superando nuvens amontoadas,montanhas e mais montanhas,e lego largos rios, imc.isis. iai-xas côr dc prata, campiu?.s cs-verdeadas. Súbito, divisa-se aoria marítima c lá em baixo,muito lá cm baixo, um casariobranco. O prestimoso aer.r-muçoprevine: é Maceió. Maceió! Pelomenos a tão longe é linda ...Mas a paisagem muda instanlâ-neamente: sobrevoamos a rnien-sa solidão do oceano, revelando-se um verde de tom especialbem diferente do que me ac*s-tumei a ver em águas cariocas.O aparelho vai baixando; já seavistam mais perto os arrecifes,logo depois praias e coijueins:eis o aeroporto de Guara-apra ea vibração da luz do nordeste.

A penetração na cap'ta! per-* nambueana peia praia cU «na-\ Viagem põe-nos em contado

imediato com a sua naturezaprópria. O paralelo entre Boa-Viagem e Copacabana a<ode-nos automaticamente. Mas eunão tenho preconceitos nemcompromissos bairristas, atemdisto venho do país das MinasGerais que não tem mar. Apraia carioca é evidentementebelíssima na sua curva inco*n-parávcl; seu ritmo, entretanto,foi alterado por uma infinidadede casas de mau gosto, próximasde mais da areia. A arquiteturade Tíoa-Viagcm é bern numos

i pretensiosa, mas, antes de tudo,

VIAGEM AO RECIFE

MURILO. MIINDUS.

o verde mariilmo não sofr»» pa-ralelo, "A pena e Impotente pa-ra descrever", como *,s ü\.:U noséculo XIX. Os quo Uuvid une maneiam a cabeça tomam, sepuderem, um barco ou um aviãoe depois me digam se estou Jau*(aliando. Pelo contrsrio, (nlodc domar a pena qae preceradar violentos golpes de exclama*cão... O vento farfalha r.os to*qiieiros, bolindo nae suas p-tl*mas. IV a n lebre brLut que ali*via o calor ao*destino — brisadc que tanto precisávamos nquino Rio. Faramoa para. ubodi^u-tes à cór local, sorver a obriga-tória e deliciosa água de coco.O automóvel detém-se rliau'.e dobusto de Teles Júnior, feüs en*ire ocas coqueiros, sereno e lir-me na paisagem qae ele tanteuroesi e pintou Uo finamente.Medito sobre easa figura de bra*sileiro que honrou a, nossa »ei-tura e, cm avanço sabre a tnen-ialidade do ambiento eas que vi*via, desenvolveu fecunda elhi-dade de tipo social, aosaniadit aconsciência dos problemas poli-ticos mais importante.!. Mas oprodigioso verde marítimo donovo nos solicita. Deixamos fl-nalmente a praia da Boa Via-gem: o carro agora perfará buir-ros com sobradées coloridas, tãodiferentes des funestos edifíciosacinzentados do Rio Aviso qaenáo é por espirito de saudc:.is<noque aprovo a pintura cm «ótesvivas des sobrados: é «me as>iintornam a cidade mais alegre epoética, adaptando-? c milhar áatmosfera, ás condi voes da luzc do clima. E' uma pintura vianlógica. Sobrados vermelhos, ala*ranjades, azuis, vastos sobradosonde se rasgam multas janelas.Atravessamos o bairro popularde S. José com sen vivo movi*mento, os vendedores ambulsn-tes, c sempre os grandes sobra-dos nos acompanhando. Entra-mos na famosa rua da Aurora,uma das mais belas e románti-eas do Brasil, à beira do cais.Depois é a rua da União: diantede um casarão côr de rosa o so-lícito Edson Nery da Fonseca —um dos mais entusiastas e fiéisamigos da poesia que conheço -informa comovido: "Nesta easanasceu Manuel Bandeira". Ues-cemos para olhar melhor Maistarde soube-se que na realidadenão era aquela a casa onde nus-ceu o poeta (e sim à rua, Joa-quim Nabuco em prédio hojedemolido) mas sim a casa doavô, onde ele passou a infânciae que celebrou num dos seusmelhores poemas. Os vultos de

Aninha Vicgas e de Totúnlo Ro«dragues as.uiii.ii.nu às tacadas...No4»o primeiro centacto tom oRecife realizou-se, assim, sob oduplo signo da paisagem e dacultura. A cidade logo sc huma-nizavu para nós. Dirigimo-nosentão & casa onde nos espera-vam excelentes, acolhedoresamigos — um ramo do antigo1'ortugiil transplantado para aterra do Recife.

Eu viera lendo no avião oGuia de Recife e Olinda de Gil-berto Frejrre. Logo à entrada oautor declara qae a capital per-nambueana é esquiva, não seentregando de chofre ao vlsi*tante. Comigo, entretanto, nãose deu tal. Senti Recife desde osprimeiros momentos. Cheguei,vi e amei. Cm verdadeiro "eoupde foudre". De reste, o ilustresociólogo certamente gostará desaber qae a realidade de Recifeexcedeu de muito, não sé asdescrições que me faziam meus

antecipações do próprio "Guia'.Recife é ama cidade muito

vasto, banhada por deis rios qaese cruzam no oceano de aaa ver-de particular, coberta de coquei,ros, mangueiras e outras árve-res, chácaras e Jardins soberbos,inúmeros sobrados, muitos desquais conservam ainda facha-das em azulejos, estátuas e ani-mais de louça, ruas que guar-dam a Unha urbanística do tem-po do Império, bairros de recor-tes acidentados, becos pitorescosao lado de avenidas largas, altase solenes igrejas, algumas am-da do século XVII, akm comomonumentos, alguns nodclares,da arquitetura civil colonial. Ohorizonte é vastíssimo, consti-tuindo novidade poética para ohomem fechado na montanha,a perspectiva da planície que sedesdobra sucessivamente em no-vos e imprevistos planos mági-cos, animados pela presençaconstante da vegetaçã» e daágua, baixa vegetação dos man-gues e da beira-rio, alta vegeta-ção dessas quase florestas urba-nas que não posso deixar dcevocar a todo o instante, nessaalegria do reencontro cv»m aárvore, elemento fundaitentalde nossa vida de natureza e cul-tura, destinado a desaparecerem breve da vida carioca. Osdois rios, o Beberibe e o Capiba-ribe, banham, numa enorme zo-na, fundos de casa com terra-ços e varandas, onde atracam,como antigamente, pequenas ca-noas amarradas às árvores, Em

muitos lugares o nmmrnte re*produz com fidelidade o dasgravuras românticas, abstraindodo estilo c dos costumes desteséculo. Não creio que haja noBrasil muitos espetáculos tãointeressantes como um passeiode lancha pele Cspibsribe. Tra-t.i-st* duma recupcrsçáo feérica,de um entrosamento com a vidaem todas as suss possibilidadesde harmonização entre o inle-rior c o exterior — antigo sonhodos homens, realizado por ai-guns momentos. Mas momentosque ficam para sempre na me*mória de nossas pobres pupilasmortais. A lancha certa aságuas ásperas e contorna es caisintermináveis de onde se debru-cam árvores e figuras humanas.Divisam-se oo milhares me telha-dos do Recife, éaoes talhadas qaeconstituem precioso elementodecorativa e paétieo nas taandasnascidas ao tempo da colônia.Passamos debaixo de pontes, asiaiaseras pontos que Indicam ocaráter anfíbia do Recife. Aolonge destacaae-se as torres dasigrejas de Olinda, no sen severoIsola asetito. Mas por agora Oliu-

recebemos o duplo cheque do rioo do mar pernambucana, numapoderosa faixa liquida qae pa-rece não acabar, ao mesmo tem-po que romanescos elementos dearquitetura e vegetação se des-torcendo em gestos aparente-mente arbitrários avançam —devido ao movimento oscilatórioda lancha — no crepúsculo quecomeça a envolver a cidade,criando uma sensação de re-mate.

Esse o Recife de que en tiverahá muitos anos as primeiras an-tecipações através dos guachesde Cícero Dias. Se Teles Ju-nior é o pintor do mato, do fun-do paisagístico do Recife, Ci-cero Dias é o pintor do Recife-cidade, o pintor do lop-lop deReeife com seus sobrados dc cs-tátuas e azulejos, seus jardinsonde crianças tangem o arco cdançam de roda, suas ruas so-nhadoras à beira do cais, suasfamílias que ainda conservamhábitos e ritos do passado —toda essa inumerável mitologiade Recife, interpretada por Ci-cero Dias em desenhos que, alémde interesse poético, possuem in-terêsse documentário, pois to-dos esses preciosos elementos se-rão em breve abatidos pela "pi-careta do progresso". Eu con-feria o Recife que via agora como Recife que formara em minha

GOTA DE ÁGUAHOMERO ICAZA SÂNCHEZ

•uravei rua rrsurt.Em uma gota de águaLancei a gota de águaNum pequenino arroioO arroio foi rolandoE perdeu-se num rioO rio entrou no marDepois te fui buscarE te achei divididaTeus cabelos ficaram

j (TRADUÇÃO DE MANUEL BANDEIRA)

Numa curva do rioTeus braços me chamavamFeitos ramos de uma árvoreAs pernas completaramUm corpo de sereiaQue ansiava ser mulherDe teu tronco nasceramAlgas e caracóisAchei teus olhos garçosEm uma madrepéroia

Teu vário coraçãoUm peixezinho de ouroAlimentou-se dele(Hoje no mar é reiPor tão feliz façanha).

Como estou sem teus beijos¦— A um tempo mel e

[sal —Bebo a água do rioBebo a água do mar.

Imaginação por mrio aUaocleaguaches — c dava tudo certo.Em obras que guaracecoi a re-aidrm-U da família do Cícero»bem como em outra* pertenceu-tes a coleçór» particulares, ao»bretudo a dc Moacir L uutiuito,esse Recife revestido da forçadc extraordinário Urisme per»mauece vivo. ü pintor nos úi-limos um.* tomou novo ...mi-nho, que poderá mui duvidaproduzir ainda excelentes resui-tados, e acho inútil tomar umpartido fanátieo pro primeira oupró segunda fase: mas o que écerto é que a trau*po*lçáe grá-fica da atmosfera poética per-na mb ura na dos |ü| a 1930 con-segue tocar fortemente nossasensibilidade no que ela tem deespecificamente brasileiro, en-con ira nd o seu paralelismo eaacertas passagens da nossa musl-ca, enquanto a outra fase se afi-na mais cem o registre abstraioeuropeu, de tendências marca-damenle inieimcUmais.

Recife apareceu-me mais cosi-serrada do que eu pensava naseu aspeto decorativa marcadopela genia de século XIX. No-tem-se ainda bairros Inteirosquase intactas com veatigtesmuito evidentes do estilo dagrande propriedade fundada sé-bre o braço do negro c a riqueaade açúcar. Pude ver inúmerossobrados no funde de vastosterrenos, chácaras e Jardins, ai-gana destes quase da tamanhode jardins públicos. VI casas emgrande valor arquitetônico, en*mo o admirável palaeete oa-berto de asulejas. antiga reaUdéncia do conselheiro João Al-frade, hoje transforma ds caquartel. Disseram-me que háanos atrás o jornalista AsaisChaieaubriand pretendeu inste-lar ali um museu - a que serianaturalmente ótimo. (O estiloda casa naturalmente náo émuito apropriado a um quartel),Vi casas que possuem ainda, re-pito, ama infinidade de estátuas,animais de louça, pinhas verdes,azuis e vermelhas, e luminárias,como a do senador Novals Fl-lho. Outras, como a de ChicoMacaco, que já sofreu várias ai-terações, sugerem imediatamen-te um imenso cenário de ópera,construção de diversas alas,com pergolas, pavilhões, planosdiversos c as indispensáveis es-tátuas, testemunhas silenciosasdc uma grandeza econômica ex-tinta. Nos arredores da cidadevisitámos a sede do engenhaBrennan, uma cassas coisas"que não existem", edifício devastas proporções, onde um Pi-raneso mais modesto divertiu-se em levantar salas a perderde vista, corredores cruzando-seem labirintos, pontes, balaustra-das, galerias, jardins suspensos,o diabo. A casa, como muitasoutras do Recife, está decoradaao gosto do século XIX, osten-tando uma exuberância de mo-Dílias pesadas, tapeçarias, lus-ires, retratos da família, quechega a cansar. A governanta,com uma lanterna acesa empleno dia, guia-nos por todaparte, contando-nos episódios davida da família em outras épo-cas. Uma verdadeira crônicaambulante No topo da escada-ria surgem então dois filhos doproprietário — um rapaz ves-tido de couro e uma linda moçacoberta dc negro da cabeça aospés, seguidos por dois enormesgalgos. Suas maneiras, gestos eademanes enquadravam-se per-feitamente no cenário do séculoXIX. O jardim ostentava fio-ros magníficas, de espécies «uenos pareciam inéditas. A pia-nicie estendia-se até aos confinsdo horizonte, arnpliando-se emsoberba perspectiva. Recife empoucos dias apresentava-nos as-pectos nv'i1';»'^s de ¦•«•¦¦«••«ssísemDre renovado.

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*fPágina — 6

*-»r>LETRAS P ARTES

COMO Cll houvesse .niprcs-

tudo "i 11114 Misteriosa***de Jullu Vernc, a um me-

nino de dei anoi) rilltu de umvtohãtclroque trubalhu em mi-ilha herdade, mu máe me di-ada: — "Nilo lia Jeito de faiercora que êle vá para a mes.» ahora d» refeição, nem que vá** deitar; náo quer deixar o II-vro um mi instante". Fui as-Min eumu essa eriatnrlnha deliiuv.Ki escuro que, na modetitacozinha de •nr, pais, curvadunobre o livro, os cotovelos apu-lados na mesa. as mitos arro-Inundo as orelhas, mal ergueipara os que entram, seus olhoscheios de visões.

Talvez nunea tivéssemos si-do. verdadeiramentei leitores se-não nessa época, antes do des-perta? do espirito critico, antesde haver adquirido a eapaeida-de de dlseuUr e rejeitar, o va-lor de uma otira se media, en-tão. para nós, pelo seu poderde encantamento. Se a narra-tiva não nos absorvesse, a cul-pa náo seria nossa, pois a ela«os entregávamos, sem outraresistência senão a da folha nacorrenteza; cri porque o livro,então, náo valia nada.

Alguns autores, que ha dezanos eu considerava gênios,náo me parecem hoje conheci-dos por ninguém. Quem selembra de Alexandre de Lamo-the?

Quem lê ainda "Lcs Oaml-sards", "Lcs Faueheurs de IaMort" c "Mirpha"? Tal era opoder desses livros sõbrc mimiiue. como não os encontravasenão na biblioteca do colégio,cies quase chegavam a conso-lar-me da minha situação dointerno (isso acontecia, por vc-zcs, cm outubro, qrando minhamãe permanecia no campo, pa-ra a caça às pombas). No do-xningo, sobretudo, os internostinham o direito de uma lcitu-ra livre, antes do jantar, e lem-bro-mc do extraordinário pra-zer com que desfrutava dessasduas horas, ao entorpecente ca-lor da lareira.

Duvido que exista hoje equi-valente das revistas infantis danossa época: "Le Saint-Nico-Ias", "Le Petit Français IHus-tré", "Le Journal de Ia Jeu-nesse", que costumávamosmandar encadernar e se torna-vam para nós fontes de inesgo-taveis delicias — inesgotáveisporque a criança tem o dom dereler indefinidamente a mesmanarrativa, sem se enfastiar ja-mais, e não é só ist~: apreciatanto mais uma história quan-to as peripécias lhe são conhe-cidas e sabe ela aonde cadapasso a conduz.

As coleções encadernadasmais antigas nos pareciamsempre as mais belas. Tinha-mos emprestado o ano de 1887do "Saint-Nicolas" a um ca-maradinha que tivera escarlati-na, e minha mãe, per prudên-cia, guardou, durante muitotempo, a coleção no seu armário.Lembro-me das descrições quemeus irmãos me faziam desseano 87, ainda por mim ignora-do: falavam-me dele, como deum país fabuloso de que nãopodia imaginar as maravilhas.Quando me foi dado, afinal, alipenetrar, não me desiludi: acolação continha, entre muitashistórias, a de um pequeno lordFautleroy, com a gravura queainda vejo ho.je. do lordezinhonos braços da mãe e a legendaque não posso ler sem chorar:"Sim, ela havia sido sempresua melhor e mais doce ami-ga".

É com a puberdade que o en-canto da leitura cessa, ou antes,que um outro encanto substituio da infância. Não é mais ahistória que nos domina, nósaue passamos a dominar a his-

Domingo. 13-3-1949

O encanto das leituras infantis

VRANÇOIS, MÀURIAQ

T^w-J-JjrJISíS I fll /wfWa^^TOiX tÍ ¦'/ li \\ W*?r*i

í fcl%feí*^r^y?^02JÍa .'tWM^A7ÍW- WÊSSBÊmWmtmn SlwgflmS iEiJI*^iiísLtíWAw *4Jr* ^^-f-ifivr* - ~\ã-\'WZ^A^- -udàT^^m^iMiic^^iunmY •

Desenho de Feodor Rojanovsky, do livro "AS VIAGENS DE JACQUES CARTIER"tória, encarregando-a de or-questrar nossos desejos, nossossonhos, nossa primeira ternura,

e, sobretudo, ue emprestar-nosargumentos, de fornecer-nos

razões para o desacordo que aeagrava entre nós e os outros se-res. O que nos importa, então,é encontrar nos livros o quei-xume que nos ficou na gargan-

ta, a maldição que somos obrl-gados a sopitar.

Mas a hora do julgamentoestético já se aproxima, mar-cando a grande ruptura: um

A ARTE MODERNA DATADE 40.000 ANOS ATRÁS...

Uma exposição comparativa, em Londres, e as um crítico

conclusões pessimistas de

O

INSTITUTO de ArtesContemporâneas, de Lon-dres, organizou uma ex-

posição que abrangia 194 pe-ças e reproduções, desde os pro-dutos da cultura aurinhacense(a época mais recuada do pa-leolltico superior) até as obra3de Picasso, Miro, Klee, Ernest

e Moore, passando pelas cha-madas artes primitivas da Amé-rica, da África e da Oceania.

Os promotores da exposiçãomanifestaram através de seuporta-voz, Herbert Read, o in-tuito que tinham em mira: —"Sugerimos

que há, na vidamoderna, condições cujos efei-tos só encontram equivalentesnas épocas primitivas. E propo-mo-nos demonstrar que nadaexiste de estranho e nem mes-mo de novo para o humano,nessas formas de arte (moder-na): são modos inevitáveis emque se exprimem, efetivamen-te, certas fases da experiênciahumana".

Robert Melville e W. G. Ar-cher, estudaram, minuciosamen-te, os resultados da exposição,assinalando o que dVivem os ar-tistas mais modernas às artesarcaicas e primitiva».

São, aliás, bem conhecidas asrelações entre a arte dum Pi-casso e a de populações negras

da África, ou entra as artes su-prarrealistas e as artes primi-Uvas — escreve Robert Vrinat,em "Les Nouvelles Litteraires".

Mas, veja-se o que o mesmoescritor concluiu do curiosoconfronto realizado em Londres,que, a seu ver não deixou bema arte contemporânea:"A aproximação de objetosprimitivos e de obras modernas,como as de Arp, Brancusi,Brzeska, Chagall, Chirico, De-rain, Ernest, Gauguin, Oris,Klee, Laurens, Lipchitz, Matis-se, Miro, Modigliani, Moore, Pi-casso, Rouault, Tanguy —. paracitar apenas alguns — veio sa-lientar a preocupação quase ex-clusivamente plástica dè nossaépoca, mesmo quando o artls-ta não se inspira diretamenteem obras primitivas, e apenastenta encontrar o espírito for-mal delas, como no caso deKlee e sobretudo de Miro.

Os objetos primitivos, de ca-ráter sempre utilitário (quer osdo ritual, quer os do uso co-mum) apresentam, de modo ge-ral, um sentido acessível a to-dos e são dominados, por sim-bolos — que, se não podem or-denar a abundância de porme-nores que se vêem sustentadospela simetria e pelo jogo deco-rátivp

A obra moderna é uma obrade exceção, de coleção, de ex-posição. E, quando uma simbó-lica nela se exprime — comoem Chirico ou em Ernest —esta permanece arbitraria e omais das vezes pessoal. Se aobra moderna ambiciona carre-gar-se de beleza e de intenção,a obra primitiva o é de sentidoe de harmonia.

A arte dum Picasso, dum Mi-ro, dum Arp possui imensas vir-tualidades, mas nossa época nâoestá em condições de lhe darvida. As preocupações plásticaspropõem problemas que a artemoderna se esgota para resol-ver, e muito visivelmente à eus-ta dos descobrimentos do pas-sado remoto.

Tais soluções, as artes pré-his-tóricas e primitivas as elabora-ram acessoriamente, como depassagem, na procura de inten-ções mais especificamente hu-manas. A ingenuidade não seconsegue assim à vontade, nemtambém se recria uma mística,quando se quer.

Foi esta "carência da arte de

hoje que â exposição de Lon-dres sublinhou, afinal de contas— remata Robert Vrinat.

aiiiIro, um professor desce-brom-noi certas belesas de umlivro que noi teria enhuludo mide tal náo focemos prevenido*.lmiKimoN a noa uns s a leitu-ra, porque «abemos quti ela obela; depois, hoihon ronquiKta-do» pelo ritmo de uma frase cnáo estamos nunca certos q> terhavido razão para Ihso... En-táo, começa a herie de rceonsUflorações — que não eessará *e-náo no fim d:» mociilade — emoue cada obra descoberta nosenvergonha da que, mesesatrás, levávamos ás nuvens. Dalcm diante, tomamos sempre %atitude de Juizes cm tudo quelemos. Quer queiramos ou não,obedeceremos em nossas rcpul-sas e em nonas admirações averedictos pronunciados por«ntros. Mas. secretamente, e ateao fim da vida. estaremos sem-pre a apelar desses veredictos.Autores, hoje desacreditados, ouInteiramente esquecidos, aosquais amei nos dezesseis anos,tocam-me aiiuia, em certas ho-r.is. lia versos de Sully-Pru-ilhommc que me acompanha-râo até aos últimos dias:"Mon vrai cocur: eelui qui s'at-

tachoEt souffre depuis qtfil est néMon cocur d'etifant, le cocur

sans tacliuQue ma mère m'avalt donnéCe cocur oú plus rien ne pe-

netre,D'oü plus rien desormals no

sort...Je faime avec ce nue mon ctreA de plus fort contre Ia mort"

Basta o aspecto da coletâneade poesias completas de Mus-set, que eu costumava levar pa-ra o fundo do parque c se con-serva ainda cheio de manchasde mofo — porque o esquecerasob os carvalhos c um aguacci-ro, durante a noite, penetrou-lhe as folhas— sim, 1 ,,ta o seuaspecto para me ui- 'irunharo coração, mas nisso encontro,to mesmo tempo, o sabor per-lido de meus encantos juvenis.

Vivemos, por longos anos, do>que subsiste rm nós desse domda infância, dessa capacidadede abandono total â narrativaou ao poema, até ao dia em quedele já não nos resta mais na-da, e em que a leitura de umromance novo, de um manus-crito, se nos apresenta comoum obstáculo impossível de ser

-Vencido..Os jovens julgam-nosindiferentes ou ¦: ingratos. Masque fazer? Somente as idéiasnos retém ainda. Não é que nostornássemos Insensíveis à fie-cão ou & poesia; mas nossaspróprias reservas de mel bas-tam-nos, de agora em diante:nossa colmeia interior deixa es-correr tudo que, criança ouadolescente, ali recolhemos. Eispor que, se eu não receasse per-turbar-lhe a leitura, ficaria ho-ras a contemplar o escolar emblusão escuro, quando êle socurva sobre a "Ilha Mistério-sa", como sobre uma fonte emque se abeberasse, o rostinhodoce e resplandecente.

O QUE SILVIOROMERO PENSAVA1

DEJOSÉ VERÍSSIMO

Conta Alberto de Oliveira qu«Silvio Romero, poucos dias an-tes de morrer, aludindo a JoséVeríssimo, com quem tivera sé-rias turras e a quem agredirafuriosamente, numa famosa po-lemica, dizia considerar "o autordas "Cenas da vida Amázôni-ca" "um homem digno do mo!orrespeito — pelo saber, pe1" ca<lento, pelo estudo e pelo traba-lho"

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Domingo, 13-3-1949 L E T R A S E i R T E 8 r.it'ín.1 — 7

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PARIS

— março — Jeanr.nuinan exerce, há viu-le anos, um papel pre-

|imii!i'.aiiti- na literatura fran-teia. Antes da guerra, dirigia"l.a Nouvelle Itevur Françal-se" e, atualmente, continua co-mo diretor das Edições tialli-mard. K' um homem que co-nhece todo mundo. Cabem-lheas amplas funções de escolher,descobrir, lançar e destruir asreputações. Costumam chama-Io "o papa das letras". Ji pu-blicou vários livros, dos quaiso mais conhecido será sem du-vida, "Terrcur des l.rttres".

Como Paulhan é um homemmuito ocupado combinamos um"rendet-vous" no seu próprio"bureau" da N.R.P., onde fo-mos encontrá-lo, ao lado de vá-rios escritores jovens, dc Wladi-in.r VYclglC, critico alemão,Ili-nri Thomai (o poeta dc"Sccau a Charbon"), MareeiArlnitd, Rcné Sollcr, a escrito-ra Domiuiquc Aury, Pouune-rand e Igou. Numa sala comluz Indircla, cujas janelas dãopara um maravilhoso jardim doséculo 18, com manuscritos e"dosslers" espalhados prlas ca-deiras. c uma grande caixa dcmadeira r;ervindo dc cinzeiro,Jcan Paulhan trabalha c aten-de as visitas. E' um homem deextraordinária vivacidade, ges-tos afaveis e delicados. Fomoslogo entrando no assunto, semdelongas, 0A literatura francesa post-

LibertaçãoO senhor tem a reputação

dc uma espécie de leitor geralda literatura francesa. Penasque depois da Libertação hou-vc uma baixa no valor das tei-tos e uma modificação radicalno sentido da literatura fran-cesa?

Náo creio que seja neces-sário ,.'(^acionar a literaturafranççi, cm função dos aconte-cimü.:as políticos. Porque ha-vemos de querer ver um novoperiodo literário surgindo coma Libertação? De maneira ge-ral, náo houve nenhuma boi-xa de valores. O senhor centi-nua a ver jovens, tendo, comoos seus predecessores. a pre©-cupação do "blen parler" e Jádesembaraçados dos Influxos es-trangeiros que pesaram sobreaqueles. E' a esse jovens aliás,que o senhor devia interrogar.

Entre 1925 e 40. com ex-clusáo das grandes indlvidua-lidados liicràrias", ó movímento mais importante parece tersido o supra-realismo. Existe,atualmente, um movimento coma mesma importância, tradu-zindo a mesma inquietude, epor outro lado, o supra-realis-mo já terá esgotado tôãas assuas prs-.bilidadcs?

A perçunla, talvez, não es-te-a bem formulada. O senhorfa'a de uni movimento literárionos te;mos em que se fala deum mov mento dt idéias políti-ca: c sociais. Creio que sãocoisas completamente diferen-tcs. E' uma espécie de ilusão,na qua', infelizmente se com-praz a nova geração. Dela re-sulta o c-ne chamei (e me een-suraram por ijso) o Terror nasLetras, ãias na verdade, o mo-yimento £.upra-realista, com oQual estive em contato, no ini-cio, era sobretudo uma reuniãode individualidade de nomensportadorc? dc uma linguagemnova. Con inuo ainda ligado avários deles, embora a políticatenha esfriado minhas relaçõescom oaíros.

Restam da supra-realismoobras de valor, e hoje as pes-soas de que o senhor fala nãopossuem nsnhuma tendênciapara ccnstiíuir-se em gruposdesse gênero. São indivíduos quese encontram apenas no terre-(«o literário, náo é isso?.

i I ¦ffijLr '

MM ^¦^^•«w.

* Jk%.t^ +4fè^^à&w **$»^9»)it-*jts}n%mm w_^.» ..M

Jean Paulhan, o condestavel da litera-tura francesa, fala a "Letras e Artes"

Mas julga que o supra-realismo tenha morrido?

Ignoro ae continua a cxls-tir um supra-realismo; comi-nuam a existir, port-in, escrito-res supra-reaiistas que vivem cescrevera. Olha este livro decontos que me foi enviado porum italiano, Zavathii, a quochamam de supra-realista. Co-mo vè, élcs ainda existem.

LOUIS WITSàlTZÉR

O existencialismoQual a sua atitude em fa-

ce do que se convencionouchamar na França de Hcxis-tencinlismo"?

Lembro-lhe ter sido eu oprimeiro a publicar novelas deSartre na N.R.F. e cm "Mc-sures". O que corresponde a dl-xer até que ponto me interessei

pela sua obra romanesca e pe-Ias que nelas puderam Inspirar-se. Mas, evidentemente, é so-bretudo pelo lado literário queme interessa o movimento. De-vo acrescentar que um certo nu-mero de coisas já têm sido mui-to repetidas e não seria dc dc-sejar que se criasse uma tradi-çáo dc romance-moDologo e deconfissões mórbidas. Quanto ás

Verlaine numa tradução de Carlos SáMEU SONHO DE TODA HORA

t:in sonho, quanta vczl o sonho surpreendenteDe uma estranha mulher, que eu amo e que me adora,E que nem sempre é igual, nem sempre ê diferente,Mas me entende; e por mim o amor a alma lhe enflora*

Compreende-me tão bem que sinto transparemPara ela só meu coração, 'que

desde essa horaNão lhe esconde um segredo. E minha fronte ardente 'Ela vem refrescar com as lágrimas que chora.

Se ê loura ou se é morena, ai de mim! que o ignoro*Seu nome? Escuto-o longe, encantado e sonoro,Como os das outras que eu amara e me esqueceram.

Seu olhar lembra o olhar das estátuas sem vida.E em sua vos calma, e grave, e remota, e perdida,De amadas voses voltam sons que emudeceram.

M&

AFONSO ARTKÕS CANDIDATOÀ PRESIDÊNCIA DA A. B. D. E

DEVERA'

realizar-sedentro em pouco a

eleição da nova direto-

ria da Associação Brasileirade Escritores (seção do Rio).Cümo jâ tem sido divulgado,acaw de ser organizada umachapa jm que figura comocandidato à presidência o sr.Afonso Arinos de Melo Fran-co. Trata-se de uma escolhafeliz, pois o autor de "Terra

do Brasil" é, evidentemente,uma das figuras mais presti-giosas daé nossas letras,achando-se por todos os mo-tivos indicado para aqueleposto. Com uma compreensãonítida dos problemas da cias-se e um sensoi pratico da rea-lidade, ele dará -(certamente,um cunho dc grande eficit.i-cia ao seu mandato. Regozi-jando-se com a escolha, LE-piiAS E AlViUü hipoteca o

^SÊi mWr^Si t»SÍSfÊ Bjw v^h —

^% a^iStt^Sr^^' ^^m .mm.

fclí^^i^xi^a MÉÊè

informados, de elementos doumais brilhantes da nossa inte-lectuauaaae.

E' tempo de se tornar aABDE um verdadeiro órgão declasse, capaz de intervir, comautoridade e de maneira fe-cunda, em tudo que envolva osinteresses dos escritores.

Afonso Arinos de Melo Franco

seu apoio à chapa encabeça-da por Afonso Arinos, que se-rã comijQsta, segundo estamos

O MUNDO SOBRENATURAL DE

WILLIAM BLAKEO famoso poeta ingiès Wil-

liam Blake — Que Gide tradu-ziu para o francês — vivia namaior familiaridade com o so-brenatural, conversava quoticüa-namente com os anjos, os pro-fetas, os espíritos dos amigosdesaparecidos. A única realida-de para êle era o mundo espi-ritual de que o material eons-titula uma fachada enganosa.

diMIHfM fllosefira* WJbre o« -.!•:« u< i.tü'.ni<j. rir» me pare-cem, sobretudo, por em rr'«vo

a fraqueza dos seus adversários.Veja, este livro de Lrfcvre éuma absurda refutaçáo...

O destino de "La NouvelleRcvuc Françaiso"Existe, depois da Liberta-

çáo, uma revista literária de*lempenhando o papel de "LaNouvelle Revtie Françalse", quoo senhor dirigiu, antes da guer-ra?

. Paulhan hesita um instante.¦' — F.' um pouco delicado res-

ponder essa questlo. em que •senhor envolve a minha pes-soa. Mas creio poder afirmarque nada, ainda, substituiu a,N.R.F., mesmo as "Cahiers doIa Plelade", que procuro faxersair regularmente. "I/Ardie",•Poesie", "Conlluencei'""Fontainc" deixaram de apare-cer. "Critique" é muito espe-rializada. I. quanto n "TempoModcrnes" trata-se de umatentativa simpática, mas náoapresentando aquela visão deconjunto de todo o movimentoliterário contemporâneo, queprocurei realizar.

Náo poderia ressuscitar aN.R.F.?

Bem o desejaria de minha,parte, mas estou numa situa-çáo muito embaraçosa. Há umeinterdição absoluta do reapa-recimento «ia N.R.F. onde es-rreveram Drieu da Rochelle,Giono e outros durante aocupação, e foi eu justamenteo nomeado pela C.N.E. para,flseallxar a aplicação «lesse mo-dMa. De maneira, qn» acas prababUidadea por ora.

Valores novosSuo missão tem si t> i

pre a do curvar-se sobro osnuscritoa, descobrir os taleteenovos. Tem feito nestes últimosanos grano»* descobertas?

Descoberta é disor multe.Veja aqui alguns escritores ne*vos. Estos o outros quodefender, fomos vários otrá-les, ae mesmo tempo. OlheJean Genet, cujo extraordlna-rio talento poético, Ceeteau,Sartre o ou descobrimos, poe-co antes da Libertação. OlhaMalcolm de Chassi, esse poeteque nos veio das ilhas e parecetrazer a primeira nota verdade!-mente nova da poesia atuai. Narealidade, mostra-se êle iniciaoonos mistérios da Rose-Crus, maonão é um praticante. Eis ainda.Rcné Dhotel, do qual se come-ça, afinal, a falar um pouco, oé com lastima que constato, depassagem, não ter tido a suapeça, publicada em "Chalrs deIa Pleiade" ("Pays des Ceri-siers"), o sucesso merecido.

O romance brasileiro n*França

Agora, uma pergunta que in-teressa particularmente aos lei-tores de LETRAS E ARTES:

Acha possível dar maiordifusão à literatura brasileiratão ignorada até hoje, na Fran-ça?

Foi sempre um dos fins, etalvez, o fim essencial das Edi-toras Gaüimard multiplicar oscontatos culturais cem todasas partes do mundo. A literatu-ra brasileira apresenta muitosaspectos pelos qnais deve inte-ressar os franceses e tornar-seconhecida por efes. Já fizemosnesse rentido algKniw coisa, tra-duzlndo e publicando JorgeAmado. Pretendemos publicarJcsé Lins do U."go, GracilianoRamos, Mario Andrade e outrosdos dçus escritores. Mas, infe-lixmente, as decisões nesse ter-reno são mui to complexas e asco*sàj râo vão táo «depressa co-mo seria de desejar, \vt4i

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•«VSCEU EM lvU IM CACHÔEIRÔ Dl ITAPFMIRIM (I, SANTO».CASADO. TEM UM FILHO DE II ANOS.ALTURA 1,72.PESA 74 QUILOS.SAPATO N. 40.E BACHAREL MAS NUNCA ADVOGOU NEM TEVE EMPPEGO PU

BLICO, EMBORA NAO SEJA CONTRA NEM UMA COISANiM OUTRA.

C CABELUDO.USA TALCO DEPOIS DO BANHO. MNAO TEM RELIGIÃO. <íSEMPRE VIVEU DE JORNAL.ATRAPALHA A MULHER EM CA**-E SONAMBULO FURIOSO.SÓ ESCUTA RADIO PERTO DO CARNAVAL.NAO GOSTA DE POLEMICAS, NEM DE RESPONDER CARTAS (O

QUE LHE DA REMORSO).t MUITO POUCO MUSICAL.ADORA PINTURA, TANTO QUE TENTA PINTAR, MAS É RUIM DE

MAIS.GOSTA MUITO DE BICHOS.SUA LEITURA PREDILETA: POESIA, GEOGRAFIA E HISTÓRIA.LI MUITO POUCO ROMANCE.DOS SEUS LIVROS PUBLICADOS PREFERE "COM A FEB NA ITÃ

LA", PORQUE LHE DEU MAIS TRABALHO.NAO TIM HORA CERTA PARA ESCREVER, MAS PREFERE SEMPRE

AS MANHÃS. *TEM MUITOS LIVROS SÓBRE ANIMAIS, PRINCIPALMENTE PEIXES.FOI CORRESPONDENTE DE GUERRA NA REVOLUÇÃO DE 1932 E

NA ITÁLIA EM 1945-46.TEM MAIS CONFIANÇA EM VIAJAR DE AVIÃO DO QUE NA CEN-

TRAL DO BRASIL.I HOMEM DE MUITOS AMIGOS E AMIGAS (TEMDO MAIS CONFk

ANCA NAS AMIGAS).FAZ VERSOS, EMBORA MUITO RARAMENTE.GOSTARIA DE SER FAZENDEIRO.JA TEVE PAIXÃO PELO JOGO, MAS ENJOOU.GOSTA MUITO DE FAZER E RECEBER VISITAS.I TORCEDOR DO FLAMENGO.

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LuubububuM isnuanSuG «^"^L -*t-f/I_ tmêamuBUBUUBuam m»*^^ '¦oauBUam D^^

"O?* ^'•S'Ul«JaUUF'mw *^HE2. **a*sa**s-m ar "''.V*buuF .antufl auW^BujWm»*^ uH ^V ™ -

FLASH

AOS 19 ANOS FOI CONVIDADO PARA SER CHHFE DE POLICIA EMGOIÁS

t SOCIALbTA.FRUTA DE SUA PRCOILt-CÃO: CAJO.GOSTA Dt VIAJAR b DU Bêõêk k U QUriJíA C" QU5 TA» r!,:*5

COI5AS COM EXCESSIVA MCDtRAÇAO FOR FALTA D£ DlNHEIRO.

GOSTA DE DORMIR A PRESTAÇÓÜS, C SEMPR*: QUí POSSÍVEL M'JDANDO DE CAMA NO MEIO DA NOITE.

ACHA QUE OS JORNAIS PAGAM EXCESSIVAMENTE MAL.GOSTARIA DE HÃO PRECISAR ESCREVER TANTO.ESCREVE A MÁOUINA, C MUITAS VEZES CNQU^NTO CONVERSA.fuma "Liecrirv* ovais, uns so pon dia.GOSTA MUITO DE CAÇAR E PtSCAtí; RARAMENTE O FAZE TAO MAU FI5IONOMISTA QUE BATEU UM PAPO D: Vlí.TE Ml-

NUTOS COM UM MINISTRO DO SUPREMO TíílCUNAL FE-DERAL, PENSANDO QUE FOSSE UM VELHO "CAVADOh"DE PUCLICIDADE.

VAI MUITO A PRAIA E ACHA TRISTE DE MAIS QUALQUER LUGAREM MONTANHA.

SÓBRE LOMBO DE POP.CO A MINEIRA TEM UM ARTIGO QUASESENTIMENTAL, QUE FEZ MONTEIRO LOBATO TELEFONARPARA CASA DANDO INSTRUÇÕES E AUGUSTO FRcDtRICOSCHMIDT ALMOÇAR UM DOMINGO AS 11 HORAS

FOI GAGO DE 4 AOS 6 ANOS.JOFRE DE FALTA DE RITMO E POR ISSO DANSA MAL, O QUE O

DESOLA.ESCREVE MUITO SÓBRE MULHERES, MAS É UM TÍMIDONAO TEM MEDO DE MORRER, MAS SIM DE DOENÇAS CHATAS.GOSTA DE PASSEAR DE BICICLETA.SANTO DE SUA SIMPATIA: NOSSA SENHORA DA PENHA DE VI

TÓRIA.VAI MUITO POUCO A CINEMA E TEATRO E JAMAIS A CONFE-

RINCIAS.LEVANTA-SE TODAS AS VEZES QUE SE FALA EM CACHOEIRO DE

ITAPEMIRIM. _SO FAZ BARBA EM BARBEIRO (Á TARDE), EMBORA JÁ TENHA RE-

DIGIDO MUITO ANUNCIO DA "GILLETTE".ACHA QUE MORRERÁ ENTRE 50 E 55 ANOS DE IDADE E GOSTA-

RIA DE SER CREMADO»a»^»^»»u^»a»^»a»^»»»*,a» ^m *»a»^»a w ^»—-»j *»p -»^ »^-»^^»»— »^^-»y •?-»w »,¦,»í,,»7¦,»/ rw "»^"»^-»y- *w w^ *~ ^^-»»*^»>#^p - u u os ¦#—

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Fotografia tiroda cm 1915 no seminário da Prainha, cm Fortalezaquando Ausrrcgesilo de Athayde cursava o 1.° ano de Teologia

FAC-SÍMILE DE UMA CARTA DE AFONSO ARINOS DEFRANCO, ESCRITA AOS 7 ANOS DE IDADE

MELO DESENHO DO POETA MANUEL BANDEIRA FEITO PELO ESCRITORFERNANDO SABINO

CONFISSÕESREPOUSO

Cornélio Penna

Só mesmo você, João Con-

dé, poderia me levar a fa-zer uma das coisas, para

mim, mais inúteis e ridículas, acontar sua intimidade.

A confidencia nado. representae se hoje é verdade, amanhã seráuma mentira odiosa. Acho quecontar ó nascimento de um ro-mance em nosso espírito, contarsimplesmente, diretamente, sin-ceramente, s«omo pretendo fazeraqui, é expor sem nssultado, aosolhos à atenção indiferente dopúblico, já que você ameaça pu-blicar estas pajavras, a nossamais remota intimidade. Mas,uõo foz mol, eu prometi e aí

vai a rrrujha irrisória "confissão".Como os dois outros livros queescrevi, REPOUSO viveu sempredentro de mim, escondido, guar-dado, mas latente e bem doloro-so e vivo, pois, desde que me co-nheço, ouvia as histórias de Ita-bira, de Pindamonhangaba e dasfazendas de meus avós e tios,contadas de forma interrompida,desconexa, cerceadas pela maissuave discrição que já me foidado encontrar, . coulstidas porminha Mãe. Eu guardava tudocom avidez, sem demonstrar co-mo era funda a emoção que meprovocavam aqueles episódiossem uma ligação aparente entreales, que eu recolhia e depoisligava com um fio-inventado pormim, Era uma obmnsrJb espa-Cada, muitas vezes despedaçadapela vida. mas cujos farrapos eurecosia/ nos momentos de- solidão/

que eram muitos, eni mVnha in-fância lá longe, em Campinas.

Depois, uma parenta de Ita-bira veio de novo para me con-tar as mesmas velhas histórias, •mas já agora com vida, com san-gue, no tumulto de sentimentosque se agitavam de todo aquelesilêncio, de toda aquela sereni-dade endolorida das conversas,tão misteriosamente doces do re- ,gaço materno. Para me livrar de-Ia, para desabafar a compreen- isão devorudora que me fazia per- .der noites inteòljs, pensando no .que tudo aquilo representava de tverdadeiro Brasil, de'humanidade l«jiuito nossa e palpitante, eu co-meons, ¦ por minha «vez, a contar .,a meus amigos o éfrju sabia e os ,3sentimentos que me provocavamjvi >e lhes pediqyque escrevessem sôj ybre a alma de Itabira, que rei'/sumia a do Brasil, que tão feroz- •;

mente se destrói o si mesmo; dei- o'.::

xando perder-se um tesouro pre-ciosíssimo. Mas... era ouvi-do com espanto, ou então como desdém que vi -, uma vez nosolhos e na boca de Raul Bopp,ou, o que era pior, com incom-preensão e outras interpretações,que transformavam minhas po-bres histórias em simples anedo-tas de pequena cidade. Foi en-tão que resolvi deixar de ladoo desenho, que não me satlsfa-zia e me levava a crer que eraum literato que pintava, c toníarescrejser o que vivia em mim co-ntanta intensidade, com os psSSm-mas e os caminhos que se apre-sento^uno à menho frente. Ago-ro, como sempre, com .FRONTEI-Ra e com DOIS- ROM/WCES DENICO HORTA, foi apenas umaconfidencia murmurada a medo,pois que me sentia sob o domí-nio de alguma coisa muito maiorao quo a minha- pobre inteligên-

cia, mal servida pelas leituras de-sordenadas, pelo nenhum cultivo,pela incapacidade que eu sentiatolher todos os meus movimen-tos. Não é sem sofrimento, semtristeza, sem recuos, dúvidas eescrúpulos que dou forma a tudoaue me vem, pois sei que tud.)será diminuído e amesquinhadopela fraqueza de minhas forças,mas sei que no fundo «de tudoque vai neste livro está ocultauma mensagem, vive uma verda-de cuja duração não sei prever.Entretanto, não quero...partilhardela, não posso explicar melhoro que devia dizer, porque con-fesso que não sei. E não me ficanem sequer a sensação de alíviodo dever cumprido, porque

* tom"bém não posso afastar de mim osr-rrera certeza de que tudo nãopassa de uma pobre fantasma-goria, de um pequeno sonho de-masiadarnente grande para mim,

E' H2cessóric que eu me prenda,que retorne o domínio de mimmesmo e não continue a desven-dar segredos tão fracos e de talpobreza que sòmsnte provocamum sorriso. Sobre FRONTEIRA,alguém disse que era um roman-ce de Boris Karloff, e eu acheique tinha razão.

Meus terrores, o medo imensoque me invade quando escrevo, éapenas um pavor de criança, eesses espiritos fortes conhaeomo verdadeiro lado da vida. EmREPOUSO deixei que se libertas-sem muitas coisas, prisioneiras "demeu coração, mas quejjèle vi-vice» comaresfran^eiras, ser» quefizessem parte de meu ser, e seelas tivo/em vida própria, e nüandia eu as—encontrar «ttante demim, independentes e altas, nãoas reconhecerei, o continuarãoentão duplamente estranhas, sua

carreira pelo mundo, talvez maisfelizes e chegarão a se disso!-verem nas almas dos outros. Aúnica felicidade que me deramfoi a da liberdade, da transposi-ção livre, sem peias, do esqueci-mento de mim mesmo e do mun-do. Essa recompensa me basta,mas vejo agora como disse tantacoisa e nada disse ainda de reale de quotidiano, que possa dar aidéia do nascimento, da criaçãodeste livro. Não me "seria

possí-vel voltar atrás, e escrever denovo esta confisdrjfe, pUrque, seo fizesse, diria de novo tudo que,enquanto escrevia, me daws asensação da mais puca das--con-fidências, e no entretanto, ao re-lê-la, sentia-o saiujue me subirao rosto, de vergonha de ter men-tido, ou vestido a verdade comroupas que não se ajustavam.Mas, nõo»Terei o que está aqui, o

(yòrnelio yÀttnn.

REPOUSOrczaxct

ift-OjVuUun e» **B9Br'anuÉl

um -¦'" ¦¦¦" n»

EDlTÔftA * NOitB

entrego ussim mesmo ao arrng»João Conde,

P.is.níi — 10 LETRAS E ARTES

AgradecimentoComo n.. ¦ in os oradores debanquete, sejam as -minhas pn-muitas palavras ue aarud«*U*

momo sincera a tcoos os leito-rea que, por motivo do anivor-sario do "SAo Paulo nas letrase nas tules", enviaram palavrasne encorajamento e apoio puracontinuação destas notas.Foi realmente contortador re-ccocr as anuibilhladea, prmct-

palments tu» quo ooeganun dosvários cantos do pais, as quaisvieram provar a profunda pene-tração que tem A MANHA pe-Io Brasil afora, mostrar queatualmente os brasileiros estãolenda mais do que antigamente(pois ha alguns anos atrás umsuplemento como esto passariacs s-iercebido no meio dc outrosJornais sem Importância», ates-tar a existência a« certo into-resse por Sflo Paulo llterárto oartístico can outras regiões parans euais o nosso Estado, até hapouco, não passava de umamontoauo de fáoricas e de umconglomerado de tatendas <lccafó.

E é somente por estes motivosque legistro r.qui a checada detais manifestações de apreçoQue sfio mais para A MANHA

..S^Qjy^pai^Utót^^^midrf-üS- -crovlnhador (como dizem osoradores de banquete...»Novo regulamento para oSalão Paulista de Belas

ArtesTendo cm vista o interessa

que vem despertando o SalãoPaulista dc nelas Artca, o sc-cretâno do Governo pediu osentidades artísticas a indica-Ção cie vários nomes para in-tegrar uma comissão encarre-gada de elaborar novo recl-menco para o reterido Salão.Indicados os elementos dasassociações Interessadas, ficou

REVISTAS & JOSKAISDO PLANALTO

Domingo, 13-3.1949

Í%m**mhmSt'

'ALCÂNTARA SILVEIRA

MUSEU DE ARTE MO-DERNA DE SÃO PAULO

p ASSADAS es festascarnavalescas, come-çaram a òurgir as pu-blicaçoes da Paulicéia."Investigações continua,

dentro do programa tra-çado, a divulgar estudos,iLpreciaçõcs e comentáriosacerca dos resultados dasconquistas intelectuais cmateriais no campo da prevehção do crime. Conseguedespertar a atenção dc ai-guns leigos e curiosos quepoderão ler, por exemplo, otrabalho de Raimundo dcMenezes sobre o "TenenteGalinhe", o artigo de Pres-tes Mar. sobra "urbanismoe circulação", a contribuiçãodc José Del Picchia Filho arespeito de -falsificação efalsificadores"."Artes Plásticas", a sim-pática revista de Ciro Men-des, tem um número con-sidcrãvel de "jans". Estejornal, que c como que umprolongamento do Clube dosArtista?, bem que merece es-tar nas mãos dc todos eles."Jornal dai Artes" emteu segundo numero apre-zenta-se maior c mais bempaginado. Esta revista vai scimpondo número a númeroaos leitores c. conforme nosdisse o seu Diretor JoaquimNobre Nasario, hã grandetend'71-ia para melhorá-la

Fiv. alvi ~nt;. anunciamoso aparecimento do primeironúmero da "Revista áe No-iissinos" — revista de cul-turc c arte a serviço da ju-ventude. Q seu Diretot-rRes-ponsive! ê o sr. Atzliba No-gueira Júnior, tc.-^ido partedo Conselho-Diretor os srs.Cetio BeiicvMes de Carvalho,Fernando Henrique Cardosoc Haroldo Enrico de Cam-pós. Esta publicação jáanuncia para breve umaantologia de novíssimos..

1

Muwud.^^ suplemento. Ja deve ter sido Inaugurado o

ntsmo". organizada pelo seu diretor Lcon Degand. «it*-™"vi«no ao Abstraem-

nnr ríÍLP:SS!5?na S F*0*** <••• inauguração constam ainda um concerto de olnnopor ...ua beinc, exibição do grondo ttim francês "Jeanna d»SS" IS r£-T planoor>ra ue liudciph Mate leito em 1928 e inieri retnda nor Min,. F*irnn« m l D,liy^

S*™."? S0C10S paearao Cr5 5'00 pam assistir'aos programas de auditório

grancie en^SSílmeato^a^SUcof8 ÍCfitlvIdades com «n* Sao P»* recebeu mais este

assim organizada a referidaComissão: Abelardo de Souzarepresentante do instituto dosArquitetos do Brasil, Jos5Cuco, representante do Sindl-cato dos Compositores e Artls-tar Plásticos de São Paulo. Os-wa!do Camplglla, representan-te do Núcleo dos Artistas Piás-ticos de São Paulo. Cimbelinotlc Freitas, representante daAssociação Paulista de BelasArtes. Oswaldo Gomes Cardiro,encarregado da FiscalizaçãoArtística da Secretaria do Go-vôrno. o qual presidirá a Co-missão.

Parece que agora, com o no-vo Regulamento, os artistas

modernos irão ter a chance doexpor seus quadros e serempremiados com medalhas doouro e viagens ao exterior, oque até hoje somente os aca-démicos podiam tci.

Eleições da ABDEpaulista

Continuam as conversaçõesem torno dos duas chapas quodisputarão a Diretoria da se-Ção paulista da AssociaçãoBrasileira de Escritores. Car-tas, circulares, convites, ma-nlfestos, cédulas e mais cédu-Ias são enviadas aos associa-

do:;, cada candidato exaltan-do seus méritos próprios, tí.-dosse 'uigando os mais honestose mais capazesDificilmente poderá ser ditoa quem caberá a vitória, se àchapa encabeçada por CaioPrado Júnior ou se a chefia-da por Sérgio Millict, pois am-bas estão fortes e contam com

grandes simpatias no seio doeleitorado. Uma coisa iwrém6 cena: é a que não haveráuma Diretoria que representeuma única chapa. Felizmenteo regimento permite se façamchapa* com vários candidatosde qualquer dela; e mesmosem chapa registrada e isto

vai dar em resultado 1 .(o wta o candidato da oharíaX o Sccretu-m ¦pertencente

Jenapa Z, o Tesoureiro tla y üassim por diante.Noticias do Museu de

Ar toFoi Inaugurada ontem, naSa.a de exposições didáticasdo Museu, a mostra didáticada nistóna dos idéias abara-cionistas nn arto. comprecn-dendo oitenta e quatro WÜnTiademonstrativas desse desenvo*.-Vímento na Historia.Nessa mesma ocasião foiinaugurada a expoalçfto dc pm-tura do pintor italiano Ro-beuo Sambonei, com traba-lhos produzido*» durante suapermanência no Brasil. Tr4-to-se de um p.nior autodidatanascido em 1924 que expoi

pela primeira vez cm Stoco -mo. no ano de 1947. Dcpo.ircaiiztu uma exposição cmVenesa o em outras cidadesitalianas,Em m?»adcr, de maio o Mu-seu realisart. a exposição re-trospeetiva de Anita Malfatfo que sorá um grande aconte-cimento, já que o seu quadro•*- "O Homem Amarelo" —foi ura dos rastühos que fe,iexplodir o Movimento dc i>'j.JA rstâo encerradas as inseri-

Ço?s para o Curso sobre pró-plemas da arquitetura con-temporânca a cargo de OscarNiemeyer, a t-r míc'o no tro-ximo dia 2 de abril. Pròxiraa-mente terá inicio também oCurso de Restaurarão dc Qua-dros e Conservação de Telas ;icar^o do sr. Mano ModestfniBuzana Rodrigues apresentarábrevemente uma exposição detra.ialhos artísticos de crian-ças pertencentes ao Clube In-íanld de Arte do Museu.

(ANTIHHO PARA OSnovíssimos

ABRINDO "Os DiasIguais", em que Jo-sé Escolar Faria reu-niu alguns de seus poemas,encontramos "Sombras No-turnos":"À hora em que a fronte{docemente inclinas<* do sono as pesadas pai-ipebras se fundem,Eu vejo a etcada.

Desenfco tis OSWALDO GOELDI

A hora em que cantamlos gaiost o tempo no fosso ago-

Iniza.tu sinto passos rangentesfalados na escadaenquanto viajas no rei-

ino das nuvensh os gênios ao espaço teuleorpo aveiudam,ba ouço o desfile das

., ísombrasNa rude c infinita escadaPara o destino nenhum...£s pedra, não ouvesQue a dura palavra ir-

1 rompe no ar,Desfere seu canto partidoPara amanhã renascer".Sobre este livrarescreveuJcse Geraldo Vieira em suaVugina anônima do horren-ao "suplcmenzo literário"ao "Diário de São Paulo"-'Tiata-se de poesia quejustamente dissocia o reale o MONÓTONO ESTA-Ti ST ICO livrando dessaaparência a essência dosnúcleos c das ai estas. Esta-W05 diante dvm poeta quepode dissr sinceramente'¦Conheço cr.te lugar, vmtapar apenas, mas quão ár-duo e riiâsf" D" fato npcesia sabe que cm qual-quer ordenada ou lougitu-de ISTO é sempre aqui,o. nures e NOWIIERE, exis-te o VAZIO". Etc. etc,...(Sc alguém entendeu,

'queme explique...),

bomingo, 13-3-1949 LF.TR í S E A RTF.S P.íqín.i -—II

Sao

PAULO — Entrei rmconduto rom a obra doic.uiiir «Maria Kilkc rm

1020, lur.it tt|)Óa A |illlilir.u;.iu uo*" Caderno» de Multe LouridesBrigge" nu tradução de Muurl-i. it« (/. Illlkc me impressionoufortemente, nâo mi pela poesiadeusa dn sua prosu, mas prin*clpalraente pelo aeu gosto duMiiiiiào. p.i.i sii.i capacidade deriiminar as instiiiiiiiliil.nl.'-. qtirar delas uma filosofia trá-gieo-OStOlca, i| u e, n .11| ii i-1 «•tempoi eu nâo pudla relacionarcom os ensinamentos de Kicr-kegaard e menos ainda com of\is!enrlallsmo dc llcidcKgcr.Aliás, contra essa IKIaçáo pos-Mvel, c aniiude apontada pé-Ia critica, se manifesta o sr.Crlsllano Martins em um cx-celente estudo ora editado porMovimento Editorial Pu nora-ma, dc Helo Horizonte, c inti-filiado: "Kilkc, o poeta capoesia".

Cristiano Martins insiste cmconsiderar Illlkc um poeta, cx-«liisivanicnte poeta, e justifica

^ua„opinião: —"o- atitude—este--tica supõe um dominio próprioque náo se confunde com odominio da religião ou da filo-sofia", c que cabe julgar se-fundo uma tábua especifica dcvalores. Por certo os valores cs-télicos pouco têm a ver com osvalores morais, mas isso nâo im-pede uma conciliação, Há oucjulgar a obra de orle como obrado arle, porem nao nos serálicito Ignorar a mensagem filo-sóflca quo possivelmente cem-porte. No caso dc Illlkc cm par-ticular essa atitude "eadsten-ualista" parece tanto mais nc-cessaria dc ser assinalada quan-to náo duvido lenha sido volun-tária c até sistematizada. A in-flu&ncia, anotada por CristianoMartins, do poeta Obsttelder,não contraria a tese existência-lista, antes a confirma, a julgarpelo que, ao ver do comenfador,caracteriza a essência poéticado norueguês: "o visível se cn-trelaça com o invisível, com ascoisas secretas que existem noseio da vida e além da vida".Tudo está cm interpetrar esseentrelaçamento, cm comprecn-dê-lo coma a própria existen-cia, determinando não a trans-formação do visível no invisl-vcl mas a identificação de umcom outro.

Ademais, as palavras dc RH-ke: "os versos não são, comogeralmente se acredita, senti-mentos, mas experiências", con-firmam ter tido êle como obje-tivo a expressão dc uma filoso-fia senão existencialista pelomenos muito afim nas suasafirmações.

Analisando as causas da In-fluêncla atoai de Rilke sabre anossa própria poesia, Justificaessa influência aludindo à im-portãncia que teve no movi-mento de 22 a presença espiri-tual e técnica dos poetas es-trangeiros, principalmente fran-cêses e italianos, apesar dosnossos anseios nacionalistas.Em verdade, devemos multo aosvanguardistas europeus de en-tão, mas não creio que a ondanacionalista de "Verde e Ama-relo" tenha para com eles amesma divida. A reação de Me-notti, Cassiano e outros nemmesmo pela técnica se aproxi-ma dos europeus. As raizes doque tentaram não se encontram«m Appolinaire ou Max Jacob;Cas estão no próprio parnasia-nismo — romântico brasileiro,

uanlo à anarquia de 22, náoe parece justo opor-lhe a dis-

iFPHna de hoje. Não vejo maiorhomogeneidade neste momento«le nossa poesia, muito emborase perceba uma linha de reno-Vação com características espe-cuícas. Entretanto, não está cs-sa, iir.ha na aceitação dc uma|oncePÇãq rilkiana da poea.a e

RILKE, O POETA E A POKSM

sim no cuidado técnico do ver-so. Oi melhorei poetas da., no-vas gerações, Cabral de MeloNeto, Hucno dc Klvcra, Pérlclcsda Silva liamos, Domingos Car-valho da Silva, José Paulo Mo-relra da Fonseca, Konder Heisc outros entre os recentissbnos,visam cm seus esforços, antesdc mais nada, a descoberta daforma. Se alguns trazem umamensagem profunda nem porisso se preocupam menos comos segredos do ritmo, da e\prcs-são cm si. Por outro lado. todoum grupo de poetas mais no-vos diverge dessa linha domi-nante c procura fazer da pec-s;.i um instrumento de proseiI-Usmo político, contrariando aconvicção rilkiana dc que "oartista não tem pátria cm partealguma senão em si mesmo".Para o poeta participante o des-

SÉRGIO MILLIET,

Uno nâo se realiza na arte, oupela arte. Eata .serve apeuas co-mo veiculo retórico através doqual se comunicam sentimentosmuito mais do que experiências,

A poesia "como processo Uaexistência em a..áo", ,i..u... quoIlllkc exprimia pelo verso: "ocanto 6 a exislênola" está lon-ge do pensamento participante,Para este c canto é um meiotão somente justificável pelofim a ser atingido. Dal a fra-que/a da poesia Interessada e acondescendência da critica par-lidaria para com ela.

O sr. Cristiano Martins, cuj».trabalho anterior sobre CamÔef,revelara um espirito..penetrante~c"sutil, nio se mostra menosconvincente em seu ensaio só-bre Ilükc. Apenas dá maior ên-fa;c ao tlercjo. natural a qual-quer poeta, dc exprimir o indi-

zivel 'Io que ao conceito de poe-h.a «-.uni ímímmuiiio ue \iu.t. i/áma.or importância oo tjue osversos dc Itiikc tem de místico(no sentido luto da pa aviai uoque ao que apresenta m dctranscendentaunente extsicn-ciai.

Sem dúvida há na obra dopoeta maior numero de referên-cias á ânsia do intraduzivel, po-rem, os versos mais significai!-vos, mais densos, refletem o ou-tro aspecto dc sua filosofia am*bivalente. Sc proclama:

Felizes os que sabemque por detrás das pa-

____^{W/aa Permanece o indizivcl

também adverte queO canto d o exis-

teoria.cm um verso láo grande, como

Ledo Ivo responde a Tose Lins do Rego

EM

seu último número, arevista "Orlou" acusou oescritor José Lins do Rego

cie descambar para um ocasoacadêmico, c essa assertiva deucausa a que o romancista, emartigos sucessivos para a cacieiadc jornais em que colabjra. fi-zesse o revide visando especial-mente ao jovem poeta c romah-cista Ledo Ivo. cujo nome ligarano conselho consultivo da revis-ta. O caso nâo poderia deixarde obter a repercussão quo o ca-racterizou. e que ora leva LE-TRÁS E ARTES a ouv'r LodoIvo em face do incidente.

NAO SOMOS UMA GERAÇÃOACADÊMICA

Continuando, salientou o exi-trcviitado:

— Contudo, examinando deperto o ataque feito ao sr. Linsdo Re^o, vejo que o mesmo, queo considera descambado em umocaso acadêmico, nada tem deinsuituoio, unia vez que externaapenas unia opinião, que o ata-cado poderia e deveria íefuturem outros termos. Aliás, essaopinião dos jovens de "Oríeu"me pareceu flagrantemente in-justa, quando aplicada a umafigura de vanguarda literáriacomo p_sr!_^er^io-M4liietr-Por^-Falando a este suplemen'0,

declarou o autor de "Ode-oo tanto, isso não constituía motivoCrepúsculo": para que o sr. Lins do Rego in-

— Inicialmente, não em ati- juriasse uma geraçúo inteira,tude de desculpa mas em pura acusando-a de acadêmica, ape-observância aos fatos, gostaria nas porque alguns de seus com-

c'est ce que nous voulons". Ês-te é o nc..jo drama: sabemos oque nâo queremos antes de sa-ber o que queremos, e isso é quocria os conflitos, os choques, csincompreensões. E quando faloem juventude, em nova geração,náo me refiro aos Inermes, aosconciliadores — não é êsse rebu-talho de gerações que eátá pre-sente ao meu pensamento, masaqueles que pelo menos têm acoragem de errar ou de acertar,pouco importa, criando o que osdiferencia dos que vieram an-tes. Isso porque a nova gera-ção não é um conjunto homcgc^_

significação, quanto o "penso,lojjo existo*1 de Descartes, fcs-se paralelo Inevitável náo o ea-quece o sr. Cristiano Mailiiis,assinalando o ponto Ue partidada filosofia de Ililke cimo de-corrente da neccsidwade em t,ueae encontrou o poeta "Ue umfato absolutamente certo e po-altivo, ínsuccuvcl de quat%uerduvida, aôlire que se ergueriaa construção de eetis racioci-nlos futuros". Cem efeito is&esraciocínios envolvem qua*e es-elusivamente a ess-ucia mesmada pocja, aa "nxz6c$ seccias"do desejo dc escrever, atribuiu-do "h cd.u;áo n» ':'.:x u,i cará-ler quase de fataüdaSe". Tarcrpoer.as, torna-se a.^m umaescolha dc destino c dc um des-tino exigente dc tolos os sacrl-fidos. Mais um ponto em co-mum com a doutrina existen-elallsta.

Cristiano Martins obrervacom rar.ío ser a r^t -a Ce Ril-

-li!* ma4a-b»Ia~c-nr».n p;cfd«da——do que a Imaginamos, ps.-iuan-to. apesar de sã a tlrmos cmtradução, o mais tias vCics, ciase no* afigura essencial Suagrandeza supera as dificuldadesc a3 fa*has tías tra-urces, o querepresenta por certo uma pro-va das mais duras. E* e.ue oque Importa de fato nos versosdo poeta c menos o contínen-te do que o cs*:!rú*o e i ''- ébem represen* ativo da tendi n-cia contemporânea pa a a des-cobería de um Uríscic sr""*'-dde "subsistir ln.1epenicnicrr.cn-te das normas forcas estratl-ficadas". Acontece qi.c nio ra-ro esse ideal í^ra co -.-> r a'ta-

do um hermeítemo de difcili-mo acesso e a pucsla de Rilke,embora profunda e rciuín ttla,mtnca se anrc.íçnia derrasiadoesotérica. Não 6 cctsxo a ^oe15 a

de lembrar que, não ten io í-idoo inspirador nem tendo qualquerresponsabilidade com a matériade "Orfeu" considerada òfensi-va, deveria ser a direção via re-vista o objeto das iras do sr.José Lins do Rego. Contudo, na-rece-me honrosa a escolha feita,pois há algumas semanas atrásos meus sonetos foram equipa-rados pelo popular romancistaaos de Elizabeth Barrett Bro-wning; e a própria revista "Or-feu", antes de atacá-lo, já forapor éle considerada como umapublicação de "jovens me.vves*'merecedora aliás de uma eiudi-ta alusão a Goethe. Em segui-da, desejo recordar que, nas pá-ginas de LETKAS E ARTES, já,tive oportunidade de censurar adireção de "Oríeu" pela viru-lência de seus ataques pesso:iisa escritores mais velhos, vendonisso uma precária visão estéti-ca e humana. Não seria eu, queme levantara contra os meuscompanheiros de geração quan-do estes desciam à arena ingló-ria do ataque pessoal, que deve-ria ser considerado como res-ponsável por ataques idênticos,mesmo porque pertenço apenasao conselho consultivo da revis-ta, e como prova de que estafunção é decorativa poderiaapontar o ataque feito a JoséGeraldo Vieira, a quem estouligado pela mais viva admiraçãoliterária e a mais comovida fra-ternidade humana.

ponentes, libertos do ingênuo eirrisório preconceito anti-acadè-mico, foram premiados pela Ca-sa de Machado de Assis. Aliás,pessoalmente não entendo a ob-sessão anti-acadêmica do sr. Jo-sé Lins, que o leva aos maioresexageros e sobressaltos, citan-do-a a propósito de tudo e insis-tindo em que na mesma há ai-gumas nulidades, quando o pró-prio limite das poltronas do Pe-tit Trianon nos leva a conside-rar que, fora da Academia, onúmero de nulidades é cente-nas de vezes maior. Se a Aca-demla náo lhe interessa, porque êle se preocupa tanto comela? Uma coisa, porém, possodizer ao sr. José Lins: nossa

v geração nada tem de acadê-mica, a não ser que êle con-funda com academismo umacerta preocupação artística, aUásausente em sua vasta obra, istoé, unia certa pesquisa formalque consideramos inseparável doofício do escritor.

A LUTA DE GERAÇÕES— A propósito dessa luta en-

tre gerações, quero lembrar aquiuma lúcida observação de JeanCocteau. que após considerar afrequéntação da juventude comouma "higiene'' para os escrito-res mais velhos, pois sua inso-lência e severidade administramneles duchas frias, declara:"... Ia jèunesse sáit ce qu'elle neveut avant cie savoir ce cr.t'e'lovèúfc. Or, ce qu elle ne veut pas,

nco corhõ pareceria a principio.Nela há trigo e joio, há os quecaminham vivos e os que cami-nham mortos. E' exatamente,embora em ponto menor, como ageração a que pertence o sr. Jo-sé Lins do Rego. Toda geraçãotem os seus problemas, os seusídolos, os seus objetivos, que sedelineiam numa antecipação àobra realizada. Quero crer quea atitude do sr. Rego, escritorrespeitável, reside justamente nofato de não ter notado isso, li-mítando-se a elogiar a atitudedos mais novos quando estescoincidem consigo e o louvam, ea verberá-los nos momentos dechoque. Devo notar ainda a in-transigência do sr. José Lins doRego, que não tolera o menorataque nem a mais leve restri-ção ao seu nome e aos seus li-vros. O autor de "Riacho Do-ce" c que pode ser configuradonesse orgulho luciferiano queme atribuiu, em segunda mãoaliás, pois êle mesmo já o atri-buíra, meses atrás, ao poetaPaul Valéry.

Quero salientar, ainda, que osescritores mais velhos, nesseconceito de geração, são maisortodoxos do que eu. Náo creioem gerações. Creio em figurasrepresentativas que emergemdas gerações .e as criam numaesp.-eie de mito literário. E es-tas figuras, estes "jeunes mons-três", surgem necessariamentehoje ou amanhã, com uma es-póhsabllidade artística taiuomaior porque, para eles, a lite-ratura é um "valor de Estado",uma tradição nacional que éicscontinuam e transmitem, cria»)-

(conclui na IIa pag.)

de certos grandes pectas daatualidade, exnrfssüo d • i-da exclusivamente a unia dirui-núta eüte. Se o que iV.?. é su-tii. sua maneira de d'*r.;"-lo éclara, quase direta, a jni*ar pe-los textos que tenho lido emfrancês, ou em in-lôs.

Talvez essa particularidadeevplique isso-que Cii.stiano Mar-tins náo parece admitir e parao que procura desculpas: a ad-miração de Rilke por Verhac-ren, que náo foi apenas o- "elo-quente cantor da civilizaçãomoderna" mas o seu dolorosocantor. A exterioridade da poe-sia de Verhaeren somente em ai.guns de seus poemas é real.Nos dois volumes de "Horas",e em boa parte das evocaçõesde sua infância nas liandes, ciedesce aos "golfos profundos on-de a vida c o destino costumamdesvendar seus derradeiros se-gredos". Leia-se a propósito Omagnífico estudo de CharlesBaudouin: " Psychanalise deVerhaeren" e ter-se-á umaidéia mais justa do alcance re-vclador de certas imagens e rit-mos. Sáo muitos dos poemasdo grande belga, janelas lumi-nosas abertas para o inconsci-ente.

O que eu estranho, em ver«dade, é a admiração por Mac-terlinck, cujas obras sobre amorte não passam de divulga-ções ou devaneios, cujo teatro éuma exploração um pouco sim-plória do mistério e cujas poe-sias só se salvam pela musicali-dade debussyaniana.

Creio um erro, entretanto,discutir as predileções das poe-tas. No fundo não é a poesiaalheia que eles amam: é a su-gestão criadora que ela podeacordar neles.

O sr. Cristiano Martins es-crevea com "R'lke, o pseta e apoes'a" um estudo denso e in-teligente, humano e construído,que se recomenda por todos ostítulos aos que conhecem Ril-ke tanto quanto aos a»e aindanáo o conlK^cin,

Página — 12 LETRAS K ARTES"

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SeI ^naussssr ^

«CLÁSSICOS^PORTUGUESES

Domínfo, 13-3*1949

OkK^^^ate ?*^rcjÇ^ ^\f ^m^^ J^*^^^^tjM*asaaJ -^anauaflsnw alai r^m ^Hjj ¦ ^*^s>aWj^»ajam> 'ei-^JB WaT^^M

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m. ir, aja* _ >gj s*^ ^^ *¦ as «aky m^rír^* ^êua\.^ ^^âuaauL^ » 1m r^*^. -^.*. f^^*,uas|*una. aaasajaaa fc*^^(ar*V^B vM^laa^*^^aaaV^*^*^ 'ar T^smoKS^afuh ^^ tta 1***>V**% * ¦fcM-^^ ãaaueerr esGanuB hbbbubm HsmBsaaaum uaaaaW—

Sonetos de FRANCISCO RODRIGUES LOBOIlustração do YLLEN KERR

MIL ANOS HA' QUE BUSCO A MINHA ESTRELAE OS FADOS DIZEM QUE M'A TEM GUARDADA*LEVANTEI-ME DE NOITE E MADRUGADAPOR MAIS QUB MADRUGUEI. NAO PUDE VÊ-LA.JA' NAO ESPERO HAVER ALCANCE DELASENÃO DEPOIS DA VIDA REMATADA,OUE DEVE ESTAR NOS CÉUS TÃO REMONTADAQUE SO' LA" PODEREI GOZÁ-LA E TÊ-LA.PENSAMENTOS, DESEJOS, ESPERANÇA,NÃO VOS CANSEIS EM VÃO, NÃO MOVAIS GUERRAFAÇAMOS ENTRE OS MAIS UMA MUDANÇA:PARA ME PROCURAR VIDA SEGURADEIXEMOS TUDO AQUILO QUE HA* NA TERRA.VAMOS PARA ONDE TEMOS A VENTURA

QUE AMOR SIGO ? QUE BUSCO ? QUE DESEJO ?QUE ENLEIO E' ESTE VÃO DA FANTASIA ?QUE TIVE? QUE PERDI ? QUEM ME QUERIA?QUEM ME FAZ GUERRA ? CONTRA QUEM PELEJO ?FOI POR ENCANTAMENTO O MEU DESEJOE POR SOMBRA PASSOU MINHA ALEGRIA;MOSTROU-ME AMOR, DORMINDO, O QUE NÃO VIAE EU CEGUEI DO QUE VI, POIS JA' NÃO VEJO.FEZ A SUA MEDIDA O PENSAMENTOAQUELA ESTRANHA E NOVA FERMOSURAE AQUELE PARECER QUASE DIVINO;OU IMAGINAÇÃO, SOMBRA, OU FIGURAE' CERTO E VERDADEIRO MEU TORMENTO*EU MORRO DO QUE VI, DO QUE IMAGINO

'4

Sonetos de ANTÔNIO FERREIRADOCE AMOR MOVO MEU TAM BEM TOMADOQUANDO SERÁ* O TAM DITOSO DIA 'QUE DOS ENGANOS LIVRE EM QUE VIVIAME VEJA EM TI DE TODO SOSSEGADO ?QUANDO SERÁ, QUE TENDO IRIUNFADODO QUE TAM CEGAMENTE ME VENCIAO MAL, QUE TANTO D*ANTES ME APRAZIAEM VERDADEIRO BEM VEJA MUDADO ?AMOR DOCE, QU'EM MIM DE NOVO CRIASNOVO DESEJO, NOVO ESPRITO, E SANTOILUSTRADO DE UM NOVO LUME RARO;GUIA-ME ÀQUELE FIM, QUE M"ESCONDIAS

MUDA ESTA MINHA NOITE EM DIA CLARO,LEVANTAREI EM TEU NOME ALEGRE CANTO.,

EM DIA ESCURO, E TRISTE FUI LANÇADODOS CÉUS NA TERRA TAM PESADAMENTEQUE VENDO AO LONGE O ESPÍRITO O MAL PRESENTEEU LOGO DE MIM MESMO FUI CHORADOEM LAGRIMAS NASCI, A ELAS FUI DADO-NELAS PASSEI MINHA IDADE INOCENTETANTO HÁ, QUE HISTÓRIA TRISTE SOU À GENTE »TANTO HA. QU'0 CÉU ESPERO VER MUDADO !UM GRANDE BEM A QUEM NÃO CUSTOU MUITO?A QUEM FOI DADA TÃO DITOSA SORTE,A QUE O MAL NÂO COUBESSE POR MEDIDA?NAO ERAM MINHAS LÁGRIMAS SEM FRUITOPOIS POR VÓS ERAM, NEM O SERÁ' A MORTEQUE MAIS DOCE E" POR VÓS, QUE SEM VÓS VIDA.

:•*

EM TORMENTOS CRUÉIS, TAL SOFRIMENTOEM TAM CONTÍNUA DOR, QUE NUNCA ALI VACHAMAR A MORTE SEMPRE, E QUE ELA ALTIVASE RIA DOS MEUS ROGOS, NQ TORMENTO !E VER NO MAL QUE TODO ENTENDIMENTONATURALMENTE FOGE, E QUANTO AVIVAA DOR MAIS O VAGAR DA ALMA CATIVAA QUEM NAO FARÁ' CRER QUE E' TUDO UM VENTO ?. jBEM SEI UNS OLHOS, QUE TEM TODA A CULPAE SAO OS MEUS, QUE A TODA A PARTF VEMAPÓS O QUE VÊM SEMPRE E OS DESCULPA.O* MINHAS VISÕES ALTAS, MFU SO' BEMQUEM VOS A VÓS NÃO VÊ, ÊSsF ME CULPAE EU SOÜ O SO' QUE as VEJO, OUTREM NINGUÉM r :

Sonetos de FRANCISCO DE SÁ MIRANDAQUANDCf EU, SENHORA, EM VÓS OS OLHOS PONHO,E VEJO O QUE NÃO VI NUNCA, NEM CRIQUE HOUVESSE CÁ, RECOLHE-SE A ALMA A SIE VOU TRESVALIANDO, COMO EM SONHO..

ISTO PASSADO, QUANDO ME DESPONHO,E ME QUERO AFIRMAR SE FO) ASSI,PASMADO E DUVIDOSO DO QUE VI,M'ESPANTO ÀS VEZES, OUTRAS M'AVERGONHO.

QUE, TORNANDO ANTE VÓS, SENHORA TAIQUANDO M'ERA MISTER TANT' OUTR' AJUDADE QUE ME VALEREI, SE ALMA NÃO VAL ?ESPERANDO POR ELA QUE M^ ACUDAE NÃO ME AÇODE, E ESTA' CUIDANDO EM ALAFRONTA O CORAÇÃO, A LÍNGUA E* MUDA l

m

Posar**, IS-Mttt LETRAS E 'ARTES

AOUMOB•este Inslanto algumas fl*goras representativas entre

«i miMON Jovens escritores, arrnprito da atitude da nova ge-ração a ser assumida em rclavujAs anteriores.

N.io %c ignora a posição ex-Ir ema «Ia que vêm tomando ai-jciiiiü elementos expressivos dosMnovos", que náo encontra, en*

. tretanto, em outros setores Jo*vnis, apoio a essa atitude de-niolidora em face de escritoresJá consagrados.

Kcproduxtmos adiante algu-mas opiniões colhidas no selo danova geração.

PECLARAÇORS DEPAULO MENDES

CAMPOS

^**"*"***""*"i"*"""*""'*-"**"-"*"»»*»M*"»"»«-»*--^

T** * ir'*m #^********f«*t***fj <#^4*^ffy*T********ffl***d^********%**f*****|^^PywS*^^*M^PPm*P^SPt 'i^PB^fc^foiMir^if i*^ ~~ ^^JnLSSv ¦ .-*•" -jOjjffltf JSÊÉr^mr^ -'^* . & * ^ v», ' , **¦» A _ . \

Página — 13

PRONUNCIAMENTODA NOVA GERAÇÃO

cm dos "velhos", deveriam res-peitar ao menos a superiorlila-de intelectual desses que nosprecederam. A boa reação quegestarls de encontrar entre osJovens, os "velhos" estão fasen-do melhor do que co melhoresentre os nossos. Os poemas maisrecentes de Joaquim Cardoso ede Dante MUano mostram queo equilíbrio e a paciência va-lem mais do quo a vlvacldade.

Nào vejo nenhum motivo parasjnc os Mmoeos" se coloquem

SST52; rryws palavras os sal.da literatura, mas até hoje naotenho visto critica entre oa mo-cos. As injustiças de tZ Unham¦m alvo, agora afto lançadas novaiio pelo simples praser deatirar flechas. Minha geraçãoe a do gente bem mais moçame parecem fracas e, desrespei-«ando os primeiros cabelos bran-

DANHA COELHO"Vou-me expor à acusação de

desempenhar, antes da idade, opapel de senhor de cinqüentaanos" — escreveu Mareei Proust,ao Iniciar uma de suas crônicas.Dar-se-à, talvez, o mesmo co-migo, pois pretendo, nesta no-ta, esboçar as causas e os obje-

"Mmr<JrkW

"Bandoleirismo",um movi-mento que não é de briga...

"Bandoleirismo" é um novo movimento literário, de ele-mentos Jovens, que acaba de irromper no Rio Grande do Nor-te e do qual temos notícia através de sua simpática revista o"Bando". Aíigura-se-nos uma réplica nor-

tista ao sulino "Quixote", de Porto Alegre.Seu manifesto, assinado por M. Rodri-

gues de Melo, constitui um temível apeloa todas as forças do cangaço e dos bandosfanáticos do pais (sio...

Transcrevamos o preâmbulo de fogo doImpetuoso documento:"Aos bandoleiros das caatingas, das ser-

ü^-Íf'Jfi% ras« dos carrascals, do litoral e do sertão,P va/v. das praias, dos brejos, das várzeas, dos vaies

úmidos, das cidades grandes e pequenas, dasvilas e povoados, dos sítios e fazendas, detodos os recantos do Brasil Meridional e Se-tentrional, e, muito especialmente, do Nor-deste ensolarado, hospitaleiro e bom — Me-ca do Fanatismo, do Cangaço e das Secas".Dum movimento dessa natureza era lógico que surgissem

pelotões ousados, de rudes gestos, correspondendo, assim ásprimeiras linhas do fogoso manifesto.«,r C_°mo •* 8abe» movimentos como o "Antropofagismo" oVerde-Amarelismo", a "Anta" etc, procuraram refletir

'emsuas obras o espírito que os respectivos nomes traduziam...O "Bandoleirismo", entretanto, nos decepcionou. Licito se-na esperar dele uma façanhuda mensagem literária- mas eis-q«e' -3*^<aaln-«a-te, nos desse de Natal uma suave contribuí-çao poética, de enternecer os corações mais ternos e tranqul-

r,„ Su&n$° 홫ta*vamos Canudos, eis que nos surge a serc-na Ilha de Paquetá...Os "bandoleiros" compareceram às trincheiras empunhan-**W í8*-"-^ indomáveis despetalando malmequeres...

i*«J,. Í2 • poí?l ° Paradoxo dos títulos de certas revistas dosJm52*J?ria oportuno, por exemplo, uma troca imediata denomes entre o turbulento "Oríeu» e o sereníssimo "Bando"...

A TERNURA DE UM POETA "BANDOLEIRO"

vos m^tSfírSSS e,xPressivo, dessa mensagem terna dos no-umtfSSi i^111108

"Cangaceiros" do norte, vamos reproduziruma das poesias que figuram na revista "Bando":PERDI NO MEU SONHO A ESTRELA DA TARDE"

Protasio MeloPerdi no meu sonho a estrela da tarde.Procuro nos montes,Procuro nos vales,Perdi no meu sonho a estrela da tarde.Nos altos rochedos à beira do mar,Nas verdes campinas os pássaros a cantar,Procuro nos montes,Procuro nos vales,Perdi no meu sonho a estrela da tarde.Nos grandes desertos no pais do Kafar,Nas tendas dos mouros distante do mar,Perdi no meu sonho a estrela da tarde.Nos mares revoltos bem longe a cismar,Nos invios caminhos sob o sol a marchar,Procuro nos montes,Procuro nos vales,Perdi no meu sonho a estrela da tarde.Um dia afinal já quase a findar,No triste momento do sol se apagar,Achei minha estrela serena a brilhar,Achei minha estrela na borda do mar.

tos dos choques verificados en-tre moços e velhos, sem, no en-tanto, por ser moço, sentir-mena obrigação de manifestar-mecontra os velhos.

Quando surgiram as doaa eutrês primeiras revistas literáriasde Jovens (de 1*46 para eái, oque se podia observar era a suapreocupação em revelar, ao pU-Mico e aos escritores, os traia-lhes, em prosa e verto, daque*les que se estáo iniciando noexercido c no cultivo da arte deescrever. Cada uma delas ma-nifestou o intuito de "apresen-tar novos valores", contribuirpara o "desenvolvimento culto-ra! do nosso Pais" c, igualmen-te, servirem de "elemento de li-gaçáo entre todos os Estados doBrasil onde haja movimento ar-tistico". E embora estreassemcom as naturais imperfeiçõesadmitidas noa novos, fizeram-*-notar, náo tanto pela excelên-cia do seu conteúdo literário,mas, e inegavelmente, por cons-tituirem uma espécie de reua«-cimento de publicações anterio-res, das quais participaram ai-guns de nossos melhores fiecio-nistas e poetas atuais..

Mas. com o correr do tempo,as revistas se multiplicaram detal modo que hoje existem, dis-tribuídas pelo Pais, nada menosde vinte e três; eqüivalendo di-xer, em outras palavras, que asprimeiras publicações perderamo privilégio de serem duas outrês e se viram colocadas emplano idêntico ás vinte e tan-tas outras mais recentes. Daia possível pergunta — "O quefaiermos?" — motivada pela in-tenção de voltarem a ocuparpostos perdidos.

Só havia dois caminhos a se-guir: trabalhar pela própria va-lorizaçáo de seu nome e inte-grantes ou usar do conhecidosistema de atacar a pessoa deescritores em evidencia, por sermais cômodo e exigir menos aque obrigaria a crítica séria desuas obras.

Assim, podemos distinguir ho-Je dois grupos distintos de re-vistas de moços: as que se orien-tam no sentido de sobrepujar aobra dos velhos, mostrando-lheso que têm para substitui-la, eaquelas que, nada realizando,mas, ao contrário, com intuitode destruir, divertem-se comalaridos ameninados e cirandasregionais do país do despeito,onde a chacota de superfície èa única riqueza do seu pobre so-Io estéril".

PALAVRAS DE HA-ROLDO BRUNO

"Impossível negar entre mo-ços e velhos um conflito latente,

ESTADOS ONDENAO HÁ REVISTAS

DE "NOVOS"Apesar da grande atividade li-

terária que se nota entre os ele-mentos da nova geração em to-do o país. através de publicaçõesvárias e de manifestos onde de-finem sua posição em face domundo e das coisas de nossosdias, diversos Estados ainda nâoposuem revistas de "novos".Entre êlcs podemos citar Ala-gôas, Amozonns. Paraíba, Éspi-rito Santo.e Piauí.

que tranweMe o ln*Hv»du-*!. umconflito biológico, que os separana vida c nas idéias. L'm ho-mem que nasce trás o esqueci-mento de am mais antigo, e seeste náo lhe quer ceder o posto,entáo vem a lata. Tudo isso é•imples lugar-comum, mas é oque se observa em todas as ati-vidades do espirito humano, e,dado o aspecto mais participan-te dela, particularmente na lite-ratura, O que se torna neeessá-rio é.que esse antagonismo seresolva em termos de uma har-monisaçao entre a experiênciado velho e a força do jovem.Atualmente, há um movimentode ataque mútuo entre escritoresda velha e da nova guarda. Náoacredito, aliás, numa divisão ri-

foroaa das doas, mas sinto queelas cada vez t* extremam mal*.,isto quase sempre através de re-vistas. "Resenha Literária","Região", "Presenciado Bocl-fe, "Joaquim", de Banta Qatar!-na, "Rcvlfla Branca" e "Or-feu", do Rio, distribuem e rece-bem censura» Náo sou contraehts; acho. aprn-..;, oue toda cri-liea para ser construtiva precisaser Imperem] S objetiva, Na ver-dade, há multo ídolo que se devedwtruir, e nr.:!to falno jovemque se deve desmascarar".

PALAVRAS DE RAY-MUNDO DE SOUZA

DANTAS"Bem orientada, visando re-

visão de valores, aplaudo-i efaço questão üc nela tomarparte. Agora, no sentido d»desvalorização pessoal, conde-no-a formalmente, denunciai i-do inclusive os seus responsa-veis como interessados apnnasna anarquia. A polêmica, por-tanto, se desviada para a de*i-moralização, só deve merecercompleto repúdio. Nossa gera-çáo, sem dúvida, deve estar,em face dos que nos antecede-ram, numa atitude de crítica,mas náo de achincalhe.

^J^Ssss^M^

A revista "Sul", de Floriano-polis, discorda de "OrfeuM

"Sul", revista do Círculo de Arte Moderna de Florianôpo-li*, já se manifestou claramente a respeito da atitude que veinassumindo a revista "Oríeu" cm relação a alguns nomes aos

mais representativos das letras nacionais.Salim Miguel, secretário da simpática du-

blicação barriga-verde, assim se definiu, emartigo estampado no número 6 da revista"Sul". Vamos reproduzir alguns trechos ape-nas de seu trabalho:

"Por que então essa revisão de valores que em verdade "nãoé" revisão de valores? E sim mera destruição. Qual a finalida-de dela? Faremos nós os mesmos erros que culpamos nos ae-mais?

Não se pense, agora, que somos contra a revisão de valores.Pelo contrário. Ela é necessária para pôr nos justos lugares oshomens e as obras. Mas é preciso que ela seja feita de uma íor-ma justa e coerente. Náo poderemos, por exemplo, deixar de darnossos aplausos a um Dalton Trevisan quando procura eiqua-tírar logicamente Monteiro Lobato, no lugar onde èle deve fs-tar desendeusando-o, ou o grupo de São Paulo quando tentafazer o mesmo com Oswaldo de Andrade. Por-4™, quando sequer, sem uma análise justa e lógica, derrubar pelo mero pra-zer de derrubar, não reconhecer o valor de um Mário de An-diade, de um Carlos Dmmond, etc., a coisa muda de figura.

Porque a verdade, toda a ver Jade, quer queiramos quer não,é que nos, todos nós, somos filhos espirituais dessas gerações de20 e 30. Os que mais esperneiam são precisamente aqueles auemais se sentem presos a ela.

Vejamos o que está acontecendo agora. Tomemos porexemplo, o caso Carlos Drumond. Não queremos de modo ai-gum defender Carlos Drumond. Mesmo porque achamo* náoprecisar êle de nossa defesa. Nem queremos dizer que Cue é odens»vp vh^co, o insubstituível, etc. e tal. Inegavelmente po-rém, é êle o maior poeta brasileiro dos últimos tempos.'Tem coisas de que não gostamos em sua obra? 'Uo eosta-mos de nada? Muito bem. Então vamos dizer sinceramente

ÍSS^- ?Ue Zià0 Bostamos. O que de forma alguma, vemdiminuir a obra do poeta. Forque, não gostar, não significaque nao presta. Podemos não gostar, não concordar e no cn-tanto reconhecer o valor de um trabalho, sua importância oen-Íí° hL^' ?m/e!a5ao aos demais, e o porque

"da permanên-cia dele através dos tempos.

É inegável a influência de Carlos Drumond de Andrade namaioria dos poetas novos do Brasil. Auuraa. na

Façamos revisão de valores. Ela é tão necessária, tão fira- „damental para a continuidade artística quanto o surgimento de Bvalores novos, a renovação. No entanto, que essa revisão nãoseja, nunca, de forma alguma destruição, mas sim consolida-çao dos verdadeiros valores. Pois que os valores não pertencema um período, a uma época, mas a todos os períodos, a todasas épocas. De cada vez saem maiores, mais engrandecidos Devinte e trinta, um Manoel Antônio de Almeida,"um Raul Pom-peia, ura Machado de Assis, um Lima Barreto, saiu maior, comtodo o sou valor mais límpido, mais insofismável. Porque .-ramvalores que a revisão enobrecia.

Da mesma forma como sairão maiores amanhã um Máriode Andrade, um Carlos Drumond de Andrade e outros''.

maWaWaaWSmm

Página 14 LETRAS E ARTES

MUITAS

vezes nos dizemquo um dos príviletjiüamala preciosos da vida

democrática 6 o direito de era*tica. «Se pretendermos comer-vur essa democracia, c nossodever, i>or conseqüência, exa-limiar de que maneira aqueiodireito está sendo exercido. Nãoprecisávamos fazer muita in-vesngaçào para saber: na so-cledade moderna, sem diíe.cu-ça uns fui mas políticas, a gran-tie maioria preiere au conheci-mento a opinifto, pormltmdoque esta última seja impostapor uma minoria, liusia icm-brar-sc da influencia que a crt-t;ea dc livros dos nossos jor-nals exerce no movimento dcaquisição das nossas biblioie-cas publicas.

Náo adianta nada gritar con-tra isso nem adianta zombar:não há esperança cie mudar es-se estado tíe coisas sem desco-brirmos, antes, as causas dessas.tuaçâo na própria estruturada .sociedade; depois, ate queponto a formação da opinuiopública por aquelas minorias óinevitável; enfim, o que e pos-sivel fazer para diminuir os pc-risos daquela situação e, even-tualmente, aprovcitá-ia.

Existem dois tipos de socieda-dc: sociedades fechadas e nber-tas. Todas as sociedades huma-nas começam como fechadas;mas com exceção do caso doelas pararem ou morrerem, de-sen volvem-se, produzindo o ti-po aberto Até o advento da rc-voiução industrial, essa evolu-são foi tão lenta que mal sepercebia; depois, tornou-se ca-da vez mais rápida.

Diferentes setores da socie-dade acompanham esse pro-cesso de evolução com velocida-de diferente. Em determinadaépoca algumas classes gozamdas vantagens de uma socieda-de aberta enquanto outras cias-ses ainda sofrem, ao mesmotempo, do prejuizo dc viver nu-ma sociedade fechada. Mas atendência de evolução, histo-ricamente, é para todas as cias-ses a mesma."Democracia" não significa,para nós, esta ou aquela estru-tura política. Democracia e asociedade completamente aber-ta. Para realizar esta já não ópreciso eliminar obstáculos téc-nicos. Mas tanto os adeptos co-mo os adversários da deniacxa--

Domingo, 13-3-1949

A CRITICA LITERÁRIAE A DEMOCRACIA

WYSTAN JIUCII AUDEN

«,. .'."f !?¦ ronreri;nrl!' «***» P'lo maior poeta Inglês da geração nova. Yí\ n. Atirtrn,na ™nceton Untvcrslty, publicada no volume -Tiie Intent of lho CriUo". cdlt. poru. a. Mauiicr. l oram traduzidas as paginas 127-134 e 114-117)

6 o dos «Tiòllaw, dos duendescm "Pccr Oynt": -satisfazer-

se a si mesmo".A sociedade aberta, como

ideal, não admite fronteiras fi-slcas nem econômicas nem cul-tarais, Consciente do que possuie do que lhe faz falta, entra emintercâmbio com todas as uu-trás sociedades. A especializa-çfto dns ocupações c grande;cada um tem sua ulilidritlc, atóindispensabilidadc, c responsa-billdadc. Essa sociedade á tolo-rante; náo se admite mais nor-malidade estandardizada. Edu-çáo náo é mais enquadramentona normalidade geral mas evo-lução das diferenças individuaise da consciência delas. O lemade uma sociedade assim é o doscriaturas humanas em "PcerCynt": "Ficar fiel a si mesmo".

Não temos realizado isso, nemde longe, na nossa vida social.Mas sim, cada vez mais, na nos-sa vida cultural c intelectual.Em vez de limitar-se às tradi-ções estéticas de determinadanação ou região, o artista mo-demo enquadra-se consciente-mente no conjunto da culturauniversal, tanto do mundo dehoje como do passado inteiro.O escultor moderno pode-sesentir influenciado pelas formasdas máquinas elétricas; ou en-tão, pelas másr^as africanas;ou então por Donatello. As trêsmaiores influências na minhaprópria obra são Dante, Lan-gland e Pope.

Falando, hoje, de Tradiçãonão nos referimos — como fezo século XVIII — a métodos detrabalho, transmitidos através

das gerações; pensamos na nos-sa capacidade uc estarmos cons-cientes do passado inteiro no diade hoje. Originalidade já naosignifica qualquer ligeira dife-rença cm relação às obras dopassado, mais uu menus assimcomo a músico dc Havdn ouSchubcrt difere da música doMozart; antes c a capacidade dcencontrar em outras obras, deépoca ou região quaisquer,meios de expressão das nossaspróprias necessidades íntimas.Stravisky e Picasso são bonsexemplos da modificação pes-soai dc técnicas muito díferen-tos.

A essa homogeneidade cultu-ral de TemiK) e Espaço opõe-seporém a crescente diferenciaçãodas nossas situações sociais.Quando ouço falar os críticosde "arte americana" não seicm que América pensam: aAmérica dc um porteiro pretocm Bronx é tãc diferente daAmérica de um fazendeiro abas-tado de Wisconsin como são di-ferentes a França e a China.A importância da crítica lite-rária em nossos dias só pode serbem compreendida em face des-sas qualidades contraditórias denossa sociedade: a tendência dediferenciação das experiências;e a modificação do conceito"tradição".

O crítico contemporâneo temprincipalmente duas tarefas.Primeiro, demonstrar os ele-mentos comuns em experiên-cias tão diferentes e no entan-to todas elas humanas, de mo-do que o leitor possa apreciar

a importância, para êle mesmo,

dc obras de arte que exprimemexperiências aparontomonte es-tranhiis; dc tol modo que umtrabalhador do minas dc cai-vão em Pennsylvánla possa clic-gar a considcrar-.se a si mesmoem termos da obra do escritorcatólico inglês Ronold Firbank,c que um bispo anglicano pus-sa encontrar nos romances doStcinbcck a parábola dos pio-blemas da sua diocese.

Segundo, o crítico tem dc di-vulgar o conhecimento das cul-turns do passado para que osleitores as conhecessem tantocomo o artista, c isso não só pa-ra so apreciar melhor este úl-timo; mas principalmente por-que numa sociedade aberta oúnico obstáculo à dominaçãoautoritária do gosto pela mino-ria é o conhecimento da causapela maioria (trate-se de gostoartístico ou de decisão política).Não podemos ser especialistasem todas as coisas; sempre cs-tamos prontos para submeter-nos ao juízo dos que entendem;mas hoje em dia já é precisosaber bastante para reconhecero verdadeiro entendido. Cadavez mais se exige, neste senti-do, do "homem comum"; e fo-ra das nossas especialidades so-mos todos nós homens co-muns...

As conclusões seriam as se-guintes:

1. O critico que acredita cmvalores absolutos julgará umaobra de arte conforme a capa-cidade do artista de transcen-der as suas limitações pessoaise históricas; mas não espera-

T.êdocia ainda_vivem com a menta«lidade da sociedade relativa-mente fechada do século XVIII.N&o conseguimos pensar con-forme os modos necessários pa-ra o funcionamento de uma so-cledade aberta; daí muita gen-te a considera como lmpossi-vel, ao ponto de aconselhar àvolta do tipo fechado de socle-dade. Mas, por bem ou por mal,evolução social é irreversível,uma sociedade fechada e me-canizada — é contradição. Nãohá mais escolha para fazer; êpreciso adaptar-se à sociedadeaberta, ou então perecer.

Nunca houve, no passado, so-cledade completamente fecha-da; não haverá nunca, prova-velmente, sociedade completa-mente aberta. Mas podemosconstruir as idéias platônicasdas duas.

A sociedade fechada, comoIdeal, seria economicamente au-tárqulca e sem contactos cul-turais com outras sociedades.Não há, dentro delas, outras di-ferenças do que as que se ba-selam no sexo e na idade. Aeducação é a mesma para to-dos. Todas as atividades sãoestandardizadas pela tradi-çao... O indivíduo difere pou-co da comunidade: a liberdadereside na consciência de que de-pendemos de necessidades càü-sais, sejam representadas pelaNatureza ou pela Tradição. Olema de uma sociedade assim

"ã^Jõsé Lins do Rego(conclusão da 11a pag.)do-a segundo as leis de sua na-

tureza, de seu talento e de suaformação. Portanto, acrsdítoque tenha faltado ao sr. JoséLins do Rego serenidade críiicapara julgar uma geração que,aliás, não o corteja, nem se abe-berou em seus livros e talveznem mesmo em sua freqüenta-ção pessoal, mesmo porque o sr.Lins do Rego não é um guia es-tético. E mesmo quanto aosataques pessoais que me lèz,atribuindo-me até o complexode uma rainha da Inglaterra,vejo neles apenas a indócil ima-ginação de um romancista decostumes, que falha precisamen-te no momento da colheita dasingularidade psicológica, con-fundindo um feito natural deespírito — que a idade, a re-tração de crédito literário e asdesilusões poderão corrigircom um comportamento de mo-ral literária. Mesmo porque, sfsse fosse revelar publicamente oque se diz nas portas de livra-rias e cafés (coisas que não fre-quento) até o finado DjalmaViana ficaria horrorizado.

Engana-se o sr. José Lins doRego a julgar a nova geraçãojustamente pelo seu aspectomais exterior, o das revistas eartigos. Na minha opinião, essaparte é justamente a mais inex-prèssiva, .porquanto atende ànatural necessidade de agrupa-

mento. Aliás, o sr. Álvaro Linsjá acentuou que a nova geraçãoestá fazendo sua aprendizagemliterária nas revistas e nos su-plementos, o que, uma vez portodas lhe define a imaturidade.

Pertenço a uma geração quedeu poucos frutos, incerta, ain-da em processo de culturizoçáoe criação. Apesar de ser um deseus componentes, esclareço quenão compactuo do entusiasmodesmedido da maioria dos rapa-zes, uma vez que, dia a dia,mais me convenço de que o quesalva as gerações não é a suaquantidade, mas a qualidadedas mensagens isoladas dos queas formam. Há uma febre en-tre os jovens em torno do queé uma fatalidade biológica, Ltoé, o poderio literário sdo futuro.Ora, parece-me que os artistasautênticos criam por uma fafa-lidade interior, porque este é oseu destino, sua justificaçãodiante da vida, e não visandoobjetivos imediatos. Estes po-dem vir como uma consequên-cia da obra realizada. E sabe-mos que o poderio literário ébastante ilusório: o direito depublicar livros em grandes tira-gens, escrever três artigos diá-rios, doar sangue a instituiçõesmunicipais diante de fotógra-fos, pertencer a um clube de fu-tebol e acusar de ingratidão eincultura os que surgirem de-

pois. O triste das gerações éeste: criar belezas e defeitos e,mesmo refugiadas nos abrigosanti-aéreos da glória artísticaou editorial, investir contra osjovens. Finalizando, quero pes-soalmente dizer ao sr. José Linsdo Rego, solicitando-lhe ape-nas serenidade e adequação desua linguagem ao próprio planoque êle ocupa em nossas letras:o lugar que êle possui em nossaliteratura, ninguém lh'o tirará.Nem minha geração, nem as ge-rações que vierem depois, nemmesmo — como me dizia ummalicioso escritor de sua gera-ção — o seu romance "Eurí-dice".

UM ESTRANHO DE-SEJO DE

LIMA BARRETOCoisa bem estranha: tendo

vivido toda a existência no su-búrbio e fazendo-o ambiente detodos os seus romances, LimaBarreto fêz questão de ser en-terrado no cemitério de SãoJoão Batista, justamente ondese acha sepultada toda a altaburguezia que êle sempre detes-tou. Assim, depois de morto,atravessou êle toda a cidade pa-ra repousar para sempre numdos setores mais aristocráticosda cidade.

rá quo essa transcendência «c.ja complete, nem no artistanem em si mesmo, o orftieninunir-sc-a de eoiUjocliiiwucasociológicos e históricos par»«ujierar ns seus próprios picam,coitos o para demonstrar uo lei.tor a universalidade da obraapesar das particularidades téc.nicas c do assunto, o criticoficará precavido contra os sec-tarismos c contra todos os an-tltoses da esteio "Tradicionalvs. Moderno".

2. Acreditando cm uma Ver-dade so o critico compreenderaa Interdependência de ética, po-lítlca, ciência, estética etc: «.uacultura será táo gciai como íórpossível. Julgando um livropensara cm todos esses aspec-tos, sem permitir que um tíe-les predomine. Evitara a atitu-de puritana dc moralista bur-gués e igualmente a atiui:om hilísta dc boêmio que igno-ra ou nega os valores moraisna arte c a Influência moral quoas obras de arte realmente exer-cem. "Slogans" como a "Ariepela Arte" c a "Arte pela Po-lítica" lhe ficarão igualmentesuspeitos.

3. Admitindo o pecado orl-giual, o crítico náo acreditarana sua própria Impllbllldadenem fará aos outros acreditarneia. Será cauteloso, tanto emcondenar completamente um 11-vro como cm elogiá-lo tomoobra-prima. Náo bajulará asmassas, afirmando que é fatal-mente bom o que lhes agraaa,nem o sofisticado, afirmandoque tudo o que é vanguardistaé fatalmente superior. A arte,assim como a vida, e antes au-to-disciplina do que auto-cx-pressão... A liberdade iirtistl-ca c de personalidade dependemda aceitação voluntária de 11-mites que são bastante fortespara provar a intensidade lesi-Uma do impulso criador; im-põe-se a desconfiança contra afalta de forma, contra a expan-sividade e o inacabado.

4. Aceitando sua responsa-bilidade. o crítico considerarasua própria influência como ca-suai, como herança que êle nao

_J^er^ce_jierii_e-^eí«pelein:e para"administrar. Cada um estacom a obrigação de ajudar aosoutros, mas a capacidade paratanto é outra coisa. Não se po-de prever o efeito de atos rea-lizados para ajudar a outros.Esses atos nunca são perfeitos;dai o crítico deve ajudar aosoutros para ficarem indepen-dentes da ajuda, porque os pre-sentes do Espírito não se rece-bem por Intermediários.

Não convém iludir a si mes-mo ou aos outros, fazendo acre-ditar que a crítica está sendoexercida em favor deles; o di-reito de criticar depende da ca-pacidade de dizer: "Estou fa-zendo isso, independentementedos resultados, porque não pos-so deixar de fazê-lo".

Enfim, todo ato de julgamen-to crítico assim como todo ou-tro ato na vida baseia-se numadecisão, numa aposta que éIrrevogável e, em certo sentidoabsurda. Mas sem a coragem ea fé de tomar decisões assim,reconhecendo-lhes plenamenteo caráter arbitrário e condido-nal — sem Isso nada pos sal-vara, como indivíduos e comocoletividade, de uma ditadura,de que nos queixaríamos depois.A ditadura pode ser definidacomo uma situação na qual tu-do o que não é obrigatório es-tá proibido; e neste sentido ogênero humano viveu sempre eviverá sempre sob ditaduras. Anossa escolha está apenas en-tre uma necessidade exterior efalsa, passivamente aceita, enuma necessidade Interiõr, 'conscientemente escolhida; masaí está a diferença entre escra«=vidão e liberdade.

I

Domingo, 13-3-1949 LETRAS E ARTES Página — 15

A uo restaurante da ali

n algumas mesas que Ja sotornaram íamosus. Três

delas «ao presididas jnir acadê-micos: uma por Olegárlo Ma-rlano, outra por Gustavo Bar-roso o a terceira por Peregrinojúnior. É o "regulamento"desta última <iue publicamos aseguir:

jo — Os Peregrinos sao umgruiH) cie homens — podendonele haver mulheres — que soreúnem .«¦•• segundas-feiras, cmmesa privativa do restaurantecia ABI. para fins índeíuiiclos,que, entretanto, podem ser as-sim definidos: comer, beber oconversar.

2o — Os Peregrinos são assimdenominados por terem-seaglomerado um dia, c sem pro-({rama, em torno do PeregrinoJúnior — náo por ser o mal»bonito, mas por ser o Upo deasepecto maia presidencial.

3° — Como Peregrino Ju-nlor, porém, náo deseja ser ti-tular, compraz-sc cm presidir,como qualquer presidente ad-venticlo. Poderia parecer, as-sim. que os Peregrinos lassemacéfalos — mas. ao contrário,tém multas cabeças, sem con-tudo ditar muitas sentenças,

4U — Os Peregrinos tem cor-to cunho paradoxal: sendo pe-regrinos preterem demorar-senas lindas cadeiras admirável-mente incomodas do rtstau-rante da A!*l c tào unidasumas às outros que a; comen-sais são obrigados a c imer comuma só mão e usar o prato au-xiliar do lado dueite, contra aetiqueta que o con<„i à esquer-da.

S" — Para ser admitido Pe-regrino é necessário — a) serbrasileiro nato ou ser nascidoem qualquer pais do mundo;b) ser vacinado, ou não- c) sermaior, mesmo de estatura; d)residir ra cidade do Rio de Ja-neiro ou nela estacionar; e)amar Peregrino Júnior, não co-mo um pai, mas como um filho,pois que éle é Júnior.

6° — O Peregrino é obrigado:a) pagar o seu almoço e o doseu convidado; b) achar o pratoque encomendou excelente,mesmo qnp afio, preste-;gar indefectivelmente à horaque entender; c) não falar emarte e literatura, a não ser pro-vocado; e) checar com o sorri-so cor de resa nos lábios, mes-mo que tenha a alma negra;f) ter um habito, se náo o deperegrino, qualquer que êle se-ja, pois que o homem é umanimal de hábitos.

7o — Ao Peregrino é permi-tido: a) andar vestido, bem oumal; b) ter opinião, mesmo quenão a manifeste; et -xiupar apresidência, se estiver vaga; d)remexer ao sentar, para alar-gar a brecha entre dois comen-tais insensíveis; e) faif.r e ou-vir, não se esquecendo de queouvir c melhor; í) acreditarsempre (helas!) que o garçãoVai aparecer.

O ritual dos Peregrinos cifra-se nisto:

Io — Cantar o coro dos pere-gnnos cie Tannhau;e<\.. sehouver orquestra.

2o — No aniversário de ai-gum Peregrino, cantar o "Pa-rabens pra você", em surdina,à boca chiusa. Os que não qui-serem não cantam...

3o — Final da ópera.Os peregrinos terão uma flâ-

mula, côr branca ou outraqualquer, menos preta — quedizem não ser côr.

DESENHO: ao centro três(3) formigas, empunhando seuscajados, conversam. Em tornoa legenda: "Formica, formicaechiara". À flâmula, montada empedestal, estará no centro damesa. Mas, sempre que houverum convidado de honra, ou que

Regulamento dos Peregrinos

o seja pela primeira vea, o pre-sldentc mandara colocá-la de-fronte a esse comensal.

O presidente designará umsecretario para cada reunião, oqual terá cons f 3 um cadernode ocorrências. Esse cadernofornecerá elementos para a pu-bllcaçáo de uma "Resenha'*anual. bespesM ootisadas. E oconvidado, que o fôr mais deuma vez. será declarado Pormi-gào, até que assine a regra cseja considerado Peregrino.

Que o Formlgáo guarde istobem na memória: a segunda-

DIOGENES LAHRC10

feira é quase sempro o dia In-termodio entre o domingo oa terça-feira: As vezes tambémfica entre a terça-feira e o do-mlngo, contando de diante pa-ra trás: "Salvo melhor jui/»".

Nessa mesa amável dos "Pe-regrinos" se têm sentado, noRestaurante da ABI. as secun-das-íelras, figuras ilustres dadiplomacia, da política, das le-trás. das artes, da imprensa: oembaixador Jcan Desy, o em-baixador Gaynor, o embaixadorBarbosa Carneiro, o cmbatxa-dor Pena Herrera, o cmbatxa*

dor Pulldo Mendes, o cmbalxa- >dor Burros Pimentel, os adidosculturais da Inglaterra, da Es-panha, da Holanda, das E.ta-dos Unidos, os ministros da Su-lça, da Suerla, as jornalistasCosta Rego, Oswaldo Souza 0Silva. Jarbao de Carvalho. RaulAzevedo. Mario RoUa. SouzaBrasil, os escritores Dantc Cos-ta. Raul Pedrosa, RaimundoMagalhães Júnior. Josué Mon-tclo, Ciro dos Anjos, o escultorLeáo Veloso. os pintores Cam-piofiorlto, Acquarone. Aliseres,Reynoso, o governador Colm-

Conferência Nacional do Negro

Iniciativa de caráter científico c cultural — Sob o patrocínio do TeatroExperimental do Negro, terá lugar no Rio, de 9 a 14 de mato próximo

ESTÃO adiantados os

trabalhos preparatóriosda Comissão Organiza-

dorn. da Conferência Nacionaldo Negro, da qual fazem parteos srs. Guerreiro Ramos, Edl-son Carneiro c Abdias Nasci-mento, para a realização, de 9a ti de maio prozimo, do im-portanto conclave cultural ecientifico. A Conferência ob-jetiva, através de extensa con-sulta aos estudiosos do proble-ma do negro no Brasil ou nè-le interessados, formular umaagenda de temas para o IoCONGRESSO DO NEGROBRASILEIRO, que será reali-zado em maio do próximo anode 1950.

Sem intuitos partidários eabsolutamente sem ligações deespece alguma r.cm ideologias30iifíca&_fl--Co«feroncia—Na=~

cional do Negro, oue se reu-nirá em maio próximo, se con-cretizará:a) — pela consulta a todos os

estudiosos do problema donegro brasileiro sobre anecessidade e possibilidadesde estudo c pesquisa nestecampo:

b) — pelo registro ou levanta-mento das aspirações donegro brasileiro o que seráobtido por meio de investi-gaçòes procedidas no Dis-trito Federal e nos Esta-do-, entre a população decor, bem como pelo pro-nunciamento dos lideresa das associações de ho-mens de cor ao pais;

c) — vela inscrição dos con-gressistas e de suas respec-Uvas teses e indicações:

dj — nela reunião no DistritoFederal, de 9 a 14 de maiode 1949, de conferencistastendo por objeto jL-esLudo-ao material recolhido e aelaboração da AGENDADO P CONGRESSO DONEGRO BRASILEIRO.

Por nosso intermédio, a Co-

missão Organizadora solicitasugestões e colabo-ações de fo-das us pessoas interessadas noreferido problema, as quais se-rcío recebidas ate o dia 25 deabril deste ano, poaendo a cor-respondendo ser endereçadaao <ir. Abdias Nascimento, di-reior do Teatro Experimentaldo Negro, à Praia do Flamcn-go. 132 — Rio de Janeiro.

Para os membros de associa-ções de homens de cor de to-do o pais. como aos negros emgera', existe um questionário aser respondido, o oual acha-sea disposição dos interessadosna direção acima, atendendo-se também pedidos pelo cor-relo.

A Conferência Nacional doNegro, iniciativa do Teatro

-E-z-perimental do yenro, e maisuma realizarão cultural e ei-entifica desse grano, visando oprogresso c a valorização sor,aldo nosso grupo cínico maispigmentado.

CONCURSO DE SONETO

CONFORME

noticiamos emnosso último número, jáestão sendo remetidos aos

seis membros da Comissão Jul-gadora do Concurso de Soneto,promovido por este suplemento,os trabalhos que nele lograramclassificação preliminar, dentreos quais serão escolhidos os dezmelhores, que farão jus a prê-mios.

São os seguintes os concorren-tes cujos trabalhos obtiveramclassificação em nosso concur-

so: Afonso Felix de Souza, Ru-bem Ferreira Matos, José de

Morais Oliveira, Roque Pinhei-ro, Gomes de Moura, J. A. Sea-bra de Melo. Wilson Baia, Ther-cio de Oliveira, Alfonso Falca,Ricardo Couché, Geraldo MattaMachado, Alarico de CastroBorelli, Ziver Martill Ritta, H.Roble, Walclemar Pequeno, RaulAlencastro, Silvio Valente, Hen-rique de Rezende, Alcides Her-culano de Oliveira, Silvio Lúcia-no, Maria Eelmira Reis, Ary de

O folclore no mundoA editora francesa Jacques

Vautrin iniciará em breve a pu-blicação de uma coleção intitu-lada O Folclore no Mundo, des-tinada a mostrar a situação dasdiferentes tradições popularesem cada país e as condições emque neles se encontram os es-tudos e pesquisas folclóricas.Essa Coleção é dirigida pelo foi-clorista francês André Varag»nac, presidente do Instituto Tn-.ternacional de Archeciyilização.

A seu convite, o sr. Renato

Almeida, Secretário-Geral daComissão Nacional de Folclore,do IBECC, acaba de assinar ocontrato para escrever o volu-me sobre o Brasil, que aparece-rá em francês e em inglês. Osoutros autores programados atoagora, na Coleção, são os pro-fessores Siburd Erixon, da Sué-cia, Ralph Stelle Boggs, dos Es-tados Unidos, Marius Barbeau,do Canadá e R. V. Sayer, daInglaterra..

Andrade. José Salgado Guiraa-rães, Gil Concourt, Maria Ke-lena Alves Portilho, A. J. C. A.,Norah Bittencourt, Hcli Gue-des Marques, José Augusto daSilva, Dalmo. G. L. Ferreira,Haroldo Machado de Oliveira,Almeida Rocha, Eimano Azeve-do e Dido Cortines.

Solicitamos aos concorrentesclassificados, que assinaram seussonetos com pseudônimos ouiniciais, que nos remetam, com amáxima urgência, os seus no-mes verdadeiros, para conheci-mento da redação, os quais soserão revelados no caso dos res-pectivos trabalhos serem con-tcmplados com prêmios pela Co-missão Julgadora.

QUANDO PEDRO IIRELIA WALTER

SCOTTConta Rebouças, no seu "Diá-

rio", que estando com D. PedroII, na estação de Petrópolis, nacastumada palestra com que omonarca o distinguia, este lhedisse que, sempre que istavadoente, costumava reler os ro-mancos de -Waiter Scott <A

hrn Bucmo, de Golos, o preíel-to SUvío Pedrosa, do Natal, osenador Hrnnque Movais, doEspirito Santo, os prof&Utort'*Celso Kelly. Zlbrowsfcy, QsurVeiga, os acadêmicos CarneiroLcflU». Rodrigo Otávio Filho oPeregrino Júnior. Como m v#,uma mesa movimentada e ilus-tre, alem de extremamenteeclética, a dos ••Pczisa.rin»",cujo regulamento acabamos dodivulgar,

A VIDA DE CASTROALVES

Começou, no Bahia, a filma-gem da vida de Castro Alves,que terá o titulo romântico oextremamente literário de"Vendava! Maravilhoso". A di-reção artística será de Leitãode Barros e a literária de Ole-gario Mariano.

"CONFITEOR"

As memórias de Pau'o Setu-bal sào sem dúvida um dos li-vros mais belis c comovidos donossa literatura. E o públicobrasileiro sancionou com a aiapreferência essa opinião: acabade aparecer a S* edição cia" Con fí teor".

DIALETO CAIPiTvA

Deve entrar breve para oprelo o 2° volume das 'ObrasCompletas" de Amadeu Ama-ral. organizadas pelo sr. PauloDuarte. Esse 2o volume seruconstituído pelo "Dialeto Cai-pira*»,

LIVRO DE OTÀViOFILHO

Rodrigo Otávio Filho tempronto para o prelo um livro cieensaios de lite -atura e história.Ao lado disso, vai êle dar-nosuma nova tiragem de seu áis-curso de recepção.

CASIM.RO DE ABREU

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A biografia de Casemiro deAbreu acaba ue sofrer uma in-tcgral revisão, com a retifica-çâo surpreendente de muitospontos, inclusive a da La do nas-cimento do poeta. Esse traba-lho se deve a diligente pesqui-sa do sr. Nilo Bruzzl, que tempronta para p prelo uma "Vidade Casimiro de Abreu".

NOVA PECA DE VIRIATOCORREIA

Viriato Correia acaba de es-crever uma nova peça teatral,que deverá ser representadaeste ano no Rio,

"MEMÓRIAS" DO SR.CETÚLÍO YAP.GAS

Eis aqui um livro sensacio-nal: as "Memórias" que osr. Gelúlio Vargas está, es-crevendo cm São Bor ja.Quem lançará o novo livro dosr. Getúiio Vargas? A editoraJosé Olímpio, que editou a"Nova Política do "Brasil"? oua Ipê, de S. Paulo, que é diri-gida pelo sr. Mcnotti cel Pie-chia? Vai ser, decerto, renhidaa disputa entre esses editorps.

RIBEIRO COUTOPassou na data de ontem o

aniversário do ministro RibeiroCouto, plenipotenciário do Bra-sil na Inglaterra c membro daAcademia Brasileira. Os ami-gos. os confrades o os fãs vocontista admirável do "Baiani-ilha" festejaram a data hoie,dedicando-lhe o "jantar dos

13" desta noite.

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Domingo, 13-3-1949

DOCE TORMENTO

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(Tradução de Manuel Bandeira)

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O MAL QUE VENHO SOFRENDOE QUE EM MEU PEITO SE LÊ,SEI QUE O SINTO, MAS PORQUEü SINTO E' (JUE NAO ENTENDO.

SINTO UMA GRAVE AGONIA '

NO SONHAR EM QUE ME VEJO:SONHO QUE NASCE EM DESEJOE ACABA EM MELANCOLIA

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QUANDO COM MAIOR FRAQUEZA1O MEU ESTADO DEPLORO,"SEI QUE ESTOU BEM TRISTE, E IGNOROA CAUSA DE TAL TRISTEZA.

i

SINTO UM DESEJO NEFASTO ,PELO OBJETO AO QUAL ASPIROMAS QUANDO DE PERTO O MIRO,EU MESMA E' QUE A MÃO AFASTO.,

PENSO MAL DO MESMO BEMCOM RECEOSO TEMORE ÀS VEZES O MESMO AMORME OBRIGA A MOSTRAR DESDÉM;

COM POUCA CAUSA OFENDIDA;COSTUMO, COM MEIO AMOR,NEGAR UM LEVE FAVORA QUEM EU DARIA A VIDA.,

ii

JA' PACIENTE, JA' IRRITADA,VACILO EM PENAR AGUDO:

Desenho de fOSEP NiCOLAS

_JBOR-ÊLE SOFREREI TUDOTUDO, MAS COM ÊLE, NADA.

AO QUE PELO OBJETO AMADOMEU CORAÇÃO NÃO SE ATREVE?POR ÊLE, O PESADO É LEVE-SEM ÊLE, O LEVE É PESADO,'

QUANDO O DESENGANO TOCO.LUTO COM O MESMO QUEBRANTODE VER QUE PADEÇO TANTO,PADECENDO POR TÃO POUCO,,

NO TORMENTO EM QUE ME VEJQLEVADA DE MEU ENGANOBUSCO SEMPRE O DESENGANOE NÃO ACHÁ-LO DESEJO.,

SE A ALGUÉM MEU QUEIXÜME ^ALO.MAIS A DIZÊ-LO ME OBRIGAPARA QUE MO CONTRADIGADO QUE PARA REFORÇÁ-LO

POIS SE, COM MINHA PAIXÃODAQUELE QUE AMO MALDIGOÉ MEU MAIOR INIMIGOQUEM NISSO ME DÁ RAZÃO, r

SE ACASO ME CONTRADIGONESTE MEU ARRAZOADOVÓS QUE TIVERDES AMADOENTENDEREIS O QUE DIGO.

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