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Dungeon Defense 1 Novel Mania

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— Olhe para isso. — O massacre do Lorde Demônio mo-tivado pelo poder se aproxima.

[Eu sou a resposta.]

Lorde Demônio Dantalian conquistou uma tremenda riqueza com a Peste Negra e, ao mesmo tempo, os humanos estão preparando um enorme exército para roubar sua fonte de renda.

À medida que o perigo se aproxima, de pouco em pouco, Danta-lian se lembra de quem se tornaria “o maior comandante do mundo”. A jovem de 16 anos, fadada a se tornar uma escrava—a estimada filha de uma família nobre acabada, Laura De Farnese.

Os vassalos do Lorde Demônio começavam a se reunir.

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Supere o seu passado.

Era fácil as pessoas dizerem isso.

Se eu fosse dar um pequeno conselho a estas pessoas otimistas, então seria que existem vários acontecimentos passados neste mundo que não podiam ser superados.

E se a sua própria mãe fosse um lixo humano? Tudo bem, você conseguia lidar com isso.

Mas e se o seu próprio pai fosse um lixo de pessoa? Você tam-bém conseguiria lidar com isso caso tivesse paciência.

Porém, e se você testemunhasse as suas meias-irmãs tremendo de medo porque a sua própria mãe tinha batido nelas, simplesmente pelo único motivo delas serem filhas de outra mulher, enquanto o seu pai apenas assistia ali, bem ao lado, sem falar um “A” sequer... Então, neste momento, você só poderia humildemente aceitar a verdade:

Que a sua vida estava afundada em um poço de merda.

Eu assumi que a minha vida havia chegado a este ponto quando ainda tinha 10 anos.

Minhas meias-irmãs mais novas estavam se agarrando umas nas outras e chorando. O motivo era simples: Minha mãe havia as xingado, gritando: “Suas imundas filhas de uma puta!”. É claro, naquela época eu não sabia o que a palavra “puta” significava. O dia em que descobri que a existência conhecida como “pênis” podia ser usada para outra coisa, além de urinar, foi quando tinha 11 anos, ou seja, precisei esperar mais um ano antes de entrar no mundo da obscenidade.

Estou falando sério.

Até mesmo eu tive uma época em que fui puro.

De volta à história...

Não tinha como crianças de seis e cinco anos conseguirem com-preender a palavra “puta”, já que nem mesmo uma criança de dez con-seguia. Porém, era óbvio que essas palavras foram proferidas com um significado ofensivo. Como eu sabia? Porque minha mãe tinha as cha-mado de putas.

“Oh. Então vocês duas são as filhas da puta”, ela não tinha fala-do de um jeito agradável assim, mas sim: “Essas vira-latas filhas de uma puta. Como ousam não saber o seu lugar e...!”

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16 Novel Mania

Bem, ela tinha explodido em raiva e selvageria. Até mesmo cri-anças sabiam quando não eram bem-vindas.

Independentemente de ser capaz de compreender as palavras ou não, você ao menos sabia dizer se o adulto a sua frente estava tentando te matar ou te ajudar. Era ainda mais fácil de distinguir este fato quan-do o adulto havia te estapeado com toda a força enquanto te chamava de “filha de uma puta”.

Então, no momento em que os ombros de minhas meias-irmãs mais novas começaram a tremer... No instante em que minhas irmãs mais novas, que estavam rindo felizes há um mero segundo, abafaram o som de seus choros porque estavam sinceramente temendo que fossem morrer...

Eu tive o pressentimento de que se não ajustasse essa situação de merda, então minha vida também se transformaria em merda.

— Pai. Livre-se da minha mãe.

— O quê?

— Não responda com um pergunta desnecessária. Você ouviu bem, peça divórcio.

Meu pai piscou. Até mesmo sua piscada pareceu uma desculpa, o que aumentou ainda mais a minha irritação para com ele.

— O que você está dizendo...?

— Então você vai continuar se acovardando e não tomará atitu-de? Tudo bem, eu usarei esta chance para deixar isto claro: Minha mãe é louca. Minhas irmãzinhas apenas quebraram um vaso de cerâmica por acidente, mas você sabe o que minha mãe fez? — estapeei minha própria face. Com toda força que consegui.

Isso porque eu pensei que deveria fazer uma demonstração para ele.

— Ela deu tapas nelas. Fortes o suficiente para fazê-las caírem no chão. Até aqui você ainda pode fazer vista-grossa e tratá-la como uma vítima normal de histeria, mas o que ela fez em seguida foi o ver-dadeiro problema: Minha mãe foi pegar uma faca de cozinha e quase esfregou no rosto delas.

Silêncio.

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— Você entendeu? Uma faca de cozinha. Ela mostrou uma faca para a minha irmãzinha de cinco anos. Minha mãe não é uma mulher afetada pela histeria, ela é uma pessoa total e absolutamente insana. Divorcie-se dela agora mesmo e a expulse de nossa casa.

— Filho, ela ainda é sua mãe.

— Sei muito bem disso — falei com frieza. — É por isso que estou insistindo e te apressando ainda mais para que se divorcie dela. Antes que eu despreze mais ainda o pai que afirmou amar essa mulher e a tomou como esposa.

Silêncio.

— Pai. Ontem você leu partes de Rousseau1 para mim, disse que a diferença entre homens e animais é que os homens possuem arbítrio e razão. Você leu para mim em um tom suave, muito suave. E hoje, eu descobri uma besta contida no rosto da minha mãe.

— Certamente contratar um professor de retórica para você foi algo bem eficaz, visto que você é muito mais eloquente do que eu era quanto tinha a sua idade.

— Eu já havia percebido que era um gênio quando tinha seis anos. Você não me fará perceber isso de novo me elogiando agora.

— Você pensou nisso como um elogio? Eu estava zombando de você.

— Ha. É você quem precisa assistir as aulas de retórica, pai. Vo-cê não sabe nem como zombar de seu próprio filho direito e acha que consegue aguentar sua esposa? Por favor, se esforce mais em cuidar de si mesmo.

— Eu vou dizer isto novamente: Ela é sua mãe. — A voz de meu pai ficou fria. — Por nove meses inteiros, ela suportou todo tipo de dor mantendo você dentro da barriga para poder te dar a vida. A primeira pessoa a sorrir quando você veio ao mundo foi a sua mãe, a primeira pessoa a chorar quando você se machucou pela primeira vez também foi a sua mãe. Filho, saiba o seu lugar. Como ousa dizer algo tão imoral quanto expulsar sua própria mãe de casa?

Eu dei uma risadinha.

1 Jean-Jacques Rousseau foi um importante filósofo, teórico político, escritor e compositor suíço. É considerado um dos principais filósofos do iluminismo e um dos precursores do romantismo.

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— Mas que sem vergonha.

— O quê?

— Isso não é problema meu. Este problema é seu. Devido a uma única mãe, seis de suas crianças estão sendo agredidas. É uma equação simples. Você vai salvar uma, ou vai salvar as outras seis? Jogue fora essas palavras irritantes como “imoral”. Não há nenhum humano tão lixo quanto você no quesito de ética, pai. Nenhum.

Silêncio.

— É a última vez que pedirei algo a você sobre este assunto. De-finitivamente. Então me dê uma resposta séria. Você se divorciará da minha mãe?

Meu pai ficou em silêncio. Ele continuou quieto por mais de 40 minutos.

O motivo para me lembrar exatamente do tempo era por eu ter observado o relógio de pulso que meu pai estava usando. Já eram onze horas da manhã, quase meio-dia.

— Não consigo.

Desgraça, meio-dia.

A partir daquele momento, passei a desprezar aquela hora para sempre. Meu hábito de me recusar a sair da cama de manhã também se originou assim. Vou estar me repetindo, mas... definitivamente detesto a manhã e o meio dia.

— Por quê?

— Porque eu amo a sua mãe.

— Essa resposta é realmente, imensamente, decepcionante. En-tão isso significa que você não ama seus filhos, pai? Você não ligaria se sua esposa matasse todas as suas crianças?

— Exato.

E então eu nunca mais consegui esquecer esse momento. Foi como um escultor usando um martelo e um cinzel para gravar uma marca no meu cérebro, um tipo de trauma foi cravado na minha mente.

— Eu amo a sua mãe a este ponto.

Eu não soube o que responder.

— Peço desculpas, filho.

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— Agora mesmo, pai — engoli algo, pode ser que o que tinha en-golido não fosse só saliva. — Pai, agora mesmo você perdeu toda a mi-nha confiança.

— Eu sei.

— Pai, agora mesmo você arruinou a minha vida.

— Eu também sei disso. — Meu pai assentiu. — Não importa o que você escolha, vai viver uma vida mais difícil do que a minha.

Esse pai desgraçado. Eu realmente te detestava.

— Deixe-me perguntar uma última coisa... Se isso fosse uma pergunta normal… você obviamente sacrificaria uma pessoa por seis. Esse é o tipo de pessoa que você é. Mas devido a esta coisa chamada “amor”, você está me dizendo que escolhe salvar uma em vez de seis?

— Sim.

— Se este seu “amor”, pai, está apenas te enfraquecendo, então qual o significado, o motivo por trás dele?

Ele não respondeu, isso porque não conseguia responder. Mordi meus lábios e xinguei.

— Sinto vergonha em olhar para o meu próprio pai, fraco, paté-tico. Entende? Estou envergonhado. No fim das contas você não conse-guiu escolher nada. Você é realmente, realmente desgraçado de tão in-deciso.

Naquela época “desgraçado” era o pior xingamento que eu co-nhecia. Não sabia como usar ofensas mais horríveis do que essa, já não disse? Até mesmo eu tive uma época em que fui puro.

— Filho.

— Não peça desculpas. Não estou bravo com você para receber um pedido de desculpas. O que poderia mudar se você se desculpasse? Só saiba disto...

Eu jurei... Um juramento frio, um juramento claro:

— Eu não me tornarei fraco como você, pai.

Ele ficou em silêncio.

— Nunca.

E...

E...

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Lorde Demônio mais fraco, 71° Rank, Dantalian. Calendário Imperial: 20/09/1505. Niflheim, Praça Hermes.

Slap!

Sinceramente, foi um som bem satisfatório.

O som de pele colidindo contra pele ecoou alto.

As pessoas devem ter ficado alarmadas pela poderosa onda de choque do tapa, já que muitas delas estavam com o queixo caído. Cerca de 200 demônios de várias raças estavam olhando para esta direção. Nesta situação, “esta direção” referia-se apenas a duas pessoas:

Eu... e Lapis Lazuli.

— Esta serva está decepcionada.

Silêncio.

— E pensar que Vossa Alteza não passava de uma pessoa deste nível.

Com o rosto absolutamente inexpressivo, e com um tom de voz ainda mais frio, ela falou:

— Se fosse Vossa Alteza, então esta subordinada pensava que fosse diferente dos outros Lordes Demônios. Tinha esperanças de que o Senhor pudesse mostrar algo de diferente comparado às outras pessoas intoxicadas pelo desejo de autoridade, mas tudo que consigo ver na minha frente é um porco ridiculamente gordo.

Eu cuidadosamente apalpei a minha bochecha.

Ela doía. Minha pele estava vermelha e inchada.

Isso não era impressionante?

— Lapis Lazuli... Por mais que você seja minha amante e minha noiva, você também é minha vassala. A esta hora do dia, no centro da praça, na frente de centenas de cidadãos, você levantou tua mão contra teu senhor. Sabe o quão desleal este ato é, certo?

— Sim, esta serva sabe.

— Bom — balancei a cabeça.

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Seja uma pária ou uma mestiça, alguém assim ousar bater em um inviolável Lorde Demônio... Só isso, por conta própria, já era sufici-ente para ir para o topo das manchetes do ano. Até mesmo as pessoas na praça estavam olhando abismados para a cena.

Mas ainda não tinha acabado. Permita-me fazê-la ainda mais di-vertida.

Declamei:

— Eu, Dantalian, por meio desta declaração, dispenso-lhe de teus deveres.

Ela ficou em silêncio.

— Nunca mais apareça na minha frente.

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Naquele dia, uma notícia chocante se espalhou pela cidade:

O casal que tinha se tornado o mais famoso no mundo dos de-mônios, por ter superado uma enorme barreira social, desfez-se em dois meses.

Se esse não fosse um acontecimento esplêndido, então eu não sabia dizer o que seria.

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Lorde Demônio mais fraco, 71° Rank, Dantalian. Calendário Imperial: 20/09/1505. Niflheim, Palácio do Governador.

— Eu escutei tudo. Você teve uma grande briga com a sua aman-te súcubo, não foi?

— Os boatos realmente se espalham rápido.

— Eu sou uma garota atenta às novas tendências.

Barbatos veio visitar o local em que eu estava hospedado.

Por alguma razão, esta ilustre Lorde Demônio, de 8º Rank, ha-via se afeiçoado um bom tanto a mim. Ela provavelmente teve uma boa impressão minha graças ao incidente em que derrubei Paimon de cima de seu pedestal. Bem, essa não era a única razão.

— Vá em frente e me conte tudo. Por que vocês dois brigaram?

— Você não está vendo que ainda estou passando gelo no rosto? Faz só vinte minutos desde que Lapis me deu um tapa. Sério, não quero falar com ninguém agora.

— Oh, tadinho dele. — Barbatos revelou um sorriso astuto.

Era um pouco irritante.

— Pense com cuidado. A sua amante é uma súcubo mestiça, um pedaço de lixo que normalmente seria executada só por encostar em um Lorde Demônio. Se uma garota como essa fosse te bater, então faria isso enquanto colocava a própria vida em risco, literalmente. Que tipo de besteira você fez para fazê-la se arriscar a algo assim?

— Então você está dizendo que isso é tudo minha culpa?

— Isso mesmo. Em toda a minha vida, sempre que um problema ocorria, os homens pareciam ter mais chance de serem os culpados do que as mulheres.

— Você deve ser bem feliz por ter nascido mulher.

Barbatos riu.

Normalmente nós não estaríamos em uma posição que nos permitia trocar palavras informais assim com tamanha franqueza. Ela era a Lorde Demônio de oitavo Rank, possuía um exército de 6.000 homens em prontidão e um número incontável de seguidores sob seu

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comando. Barbatos até mesmo liderava uma grande facção política co-nhecida como Facção das Planícies.

Por outro lado, eu era o Lorde Demônio de septuagésimo pri-meiro Rank. Não só possuía nenhum seguidor, como também não fazia parte de nenhuma facção de verdade, podia até estar rasgando dinheiro, mas não passava disso. Comparado com ela, eu era no máximo um in-seto.

Apesar disso, parecia que Barbatos desejava, mesmo que só um pouco, que fôssemos amigos. O que eu deveria fazer quando a minha interlocutora queria um estilo informal de conversa comigo? É mais do que um prazer satisfazê-la.

— Dantalian, nós podemos até não sermos amigos ainda, mas acredito que atingimos um nível relativamente próximo ao de uma ami-zade.

— Fico honrado.

— Estou falando sério — falou Barbatos enquanto revelava um grande sorriso.

Aquela expressão facial era a razão para eu não sentir nem um pouco de credibilidade vindo dela, mesmo enquanto se supunha estar falando sério.

— A maioria dos Lordes Demônios não passa de um amontoado de lixo. Nenhum deles é promissor. Ainda assim, em 60 anos você é o primeiro novato que aparenta ser talentoso. Eu só queria te tratar bem, sendo a sua veterana neste ramo da indústria de negócios.

Uma veterana, huh.

Barbatos liderava o grupo conhecido como a “Facção das Planí-cies”. Essa facção recebeu esse nome devido ao fato de que a maioria dos Lordes Demônios que fazia parte deste grupo possuía castelos que se situavam nas planícies. Como consequência de estarem localizados em uma área aberta, os encontros com humanos eram frequentes.

Portanto, Barbatos, claro, tornou-se uma Lorde Demônio hostil para com os humanos. Se algum dia os exércitos dos Lordes Demônios invadissem o mundo dos humanos, então ela seria, sem sombra de dú-vidas, aquela que os lideraria. Ela havia espalhado uma ampla rede de informações ao longo do mundo dos humanos e estava os vigiando o tempo todo enquanto se preparava para uma guerra colossal.

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Por outro lado, Paimon, a Lorde Demônio que eu havia esmaga-do, era conhecida por ser a líder da “Facção das Montanhas”. Como o nome sugere, esse grupo era composto majoritariamente de Lordes cujos castelos se localizavam nas regiões íngremes e montanhosas, onde raramente se encontravam frente-a-frente com os humanos.

A Facção das Planícies e a Facção das Montanhas estavam pre-sas uma à outra em sua rivalidade. Será que Facção Agressiva e Facção Moderada seriam termos mais apropriados?

Então, quando Barbatos se chamou de “veterana” e referiu-se a mim como “novato”, estava indiretamente tentando me atrair para sua própria facção. Aquela frase possuía uma trama oculta em si.

Eu olhei de esguelha para ela.

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— O que você quer?

— Se você está tentando romper com aquela sua amante súcubo, então posso ajudar. Em primeiro lugar, não faz sentido algum uma pá-ria estar fazendo sexo com um Lorde Demônio. Ainda não é tarde de-mais, então peça a minha ajuda.

Nós nos encaramos por um momento.

— Você está me dizendo para terminar minha relação com La-pis?

— Por quê? Você está envergonhado? Não se preocupe com isso. Tanto quanto as pessoas se empolgam rápido por aqui, essa empolga-ção também se esvai com a mesma velocidade. Dê um ano e terão es-quecido que você fornicou com uma pária — falou Barbatos, parecia até que isso não tinha importância alguma.

Franzi as sobrancelhas.

— Não é você quem decide o que acontece entre Lapis e eu, sou eu. Não se envolva tanto com a vida amorosa de outra pessoa.

— Normalmente não sou tão intrometida, mas você não é um garoto normal, é o grande novato que conseguiu golpear Paimon. Como uma Lorde Demônio veterana, eu tenho a obrigação de demonstrar preocupação com a reputação de meu júnior — falou enquanto cruzava as pernas.

Coxas e panturrilhas perfeitamente brancas entraram em meu campo de visão.

— É claro, não vai ser tão fácil assim romper relações com a amante pela qual você demonstrou tamanho afeto, eu entendo. Mas, criança, as pessoas se tornam mais fortes toda vez que perdem seu amor.

Não falei nada diante disso.

— A única serventia que o amor possui é expor as suas fraque-zas. As pessoas não ficam mais fortes quando recebem ou dão amor, ficam mais fortes quando o jogam fora.

— Hou... — torci os cantos da minha boca. — É assim que as coisas realmente são?

— Sim, com certeza. Acredite em mim. Apesar de minha aparên-cia, já vivi 500 anos. A quantidade de amantes com que tive relaciona-

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mentos passa de 1.000. Se você escutar os meus conselhos amorosos, então mulheres bonitas vão te oferecer boquetes depois de um simples olhar — falou Barbatos enquanto sorria.

Era um sorriso astuto como o de um gato de rua.

— De qualquer forma, só me diga o que levou a essa separação. Diga tudo e deixe que sua mente fique tranquila, se você colocar tudo para fora irá se sentir mais leve.

Eu fiquei em silêncio por um minuto.

O que aconteceu para fazer com que Lapis Lazuli me desse um tapa? A situação por trás disso era muito grande. Ela continha uma his-tória tão distorcida e emaranhada em si mesma que eu não fazia ideia sobre por onde começar.

Bem aos poucos, abri a boca.

— Há meio mês uma velha veio nos visitar.

— Hmm.

— A princípio pensei que fosse só uma mendiga. Afinal, a sua aparência era suja e miserável. Mas logo descobri que não era só uma indigente, aquela velha era… — fechei meus olhos por um segundo, ain-da conseguia me lembrar claramente da cena. — Aquela velha era a mãe da Lapis.

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Lorde Demônio mais fraco, 71° Rank, Dantalian. Calendário Imperial: 03/09/1505. Niflheim, Palácio do Governador.

— Entendo. Então você é mãe da Lala. O que te traz aqui?

— Sim, oh grande senhor. Esta humilde mulher ouviu notícias de sua filha, aquela que estive procurando por anos enquanto vagava. Apesar de estar arriscando ser descortês, esta humilde mulher veio até aqui, até Vossa Alteza — falou a mulher velha e extremamente enruga-da.

Eu servi uma xícara de chá pessoalmente à senhora. Ela insistiu que era uma honra grande demais e tentou recusar várias vezes, mas apesar de como me pareço, presto um respeito imensurável quando se trata de idosos. Além disso, se essa pessoa fosse a mãe de Lapis Lazuli, então eu não poderia levar na brincadeira. Isso não faria com que fosse a minha sogra?

— Por favor, não faça com que a minha gentileza seja em vão.

— Mu-muitíssimo obrigada.

A senhora de idade, como se não tivesse outra opção, recebeu a primeira xícara de chá com cuidado. Apesar de suas ações, parecia que não desgostava disso.

— Você disse que esteve vagando em busca de Lala, certo?

— Sim, Vossa Alteza.

— De acordo com o que sei, Lala tornou-se uma órfã ainda bem nova. Quando ela desenvolveu os seus sentidos os pais já haviam desa-parecido. Dizer isto pode ser rude de minha parte, mas pensei que você tivesse a abandonado e fugido sozinha...

— Ah não, não foi isso. — Lágrimas começaram a vazar dos olhos da velha senhora. — Esta humilde mulher foi banida do vilarejo assim que deu a luz para aquela criança. O prefeito da cidade me expul-sou. Uma súcubo que fez um contrato matrimonial com um mero hu-mano jamais poderia ser aceita como membro da vila. Essa era a regra de nossa cidade.

Escutei a história de vida desta velha mulher sem emitir uma palavra sequer.

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33 Novel Mania

— Esta idosa deu a luz àquela criança em um dia frio de inverno. A consciência desta pobre mãe ainda estava se recuperando do parto quando o prefeito subitamente ordenou que eu partisse. Esta humilde mulher implorou insistentemente para que lhe fosse dado mais tem-po..., uma semana ou ao menos mais um dia, mas foi em vão. Esta mi-serável mulher foi expulsa do vilarejo sem conseguir dar de beber o seu leite materno a sua filha uma única vez sequer...

A mulher idosa descansou sua xícara e colocou-se de joelhos, ela se arrastou até mim e agarrou a minha mão esquerda.

— Oh grandioso senhor, a única coisa que esta mulher de origem humilde deixou para aquela criança foi o seu nome, Lapis Lazuli. O pai dela tinha os olhos com o mesmo azulado, portanto esta senhora deu-a este nome. Aquela criança certamente é filha desta humilde mulher. Por favor, se esta senhora puder ver o rosto de sua filha... ver se sua filha está bem... este é o único desejo desta mulher de origem tão humilde.

O apelo desta senhora idosa sem dúvidas tocou meu coração. Uma súcubo que pariu uma criança graças a seu amor por um humano.

É óbvio, casamento entre demônios e humanos era proibido. Es-ta senhora, por ter violado esse tabu, foi exilada e perdeu sua filha. Para uma cicatriz criada por uma mera noite de amor de verão, não tinha como não ver isso como algo grave.

— Entendo. Eu lhe providenciarei a oportunidade para que en-contre Lapis.

— I-isso é verdade? Muito obrigada. Muitíssimo obrigada, Vossa Alteza!

— Uma mãe estará encontrando a sua filha. Estou apenas garan-tindo que algo natural ocorra, não há motivo para me agradecer.

Chamei Lapis Lazuli para o cômodo. Pouco tempo depois, ves-tindo o mesmo uniforme impecável de sempre, ela chegou. Lala olhou para a idosa, mas parecia que não foi capaz de reconhecer quem era.

— Vossa Alteza chamou-me?

— Lala, minha eterna amante e subordinada leal.

— Por que Vossa Alteza está se comportando assim do nada...? Sempre que Vossa Alteza começa a imitar um jeito estranho de falar, esta serva não consegue evitar de sentir uma ansiedade estranha.

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34 Novel Mania

— Observe esta senhora idosa aqui. Por algum acaso você a re-conhece?

Lapis Lazuli franziu o cenho, era uma face que expressava o fato de ela não fazer ideia de quem era.

— Esta vassala pede desculpas, mas esta pessoa é alguém com-pletamente desconhecida para mim.

— Olhe com mais cuidado. Você realmente não sabe?

— Esta serva é incapaz de adivinhar o que Vossa Alteza está pen-sando.

Foi então que a senhora começou a se aproximar de Lapis Lazu-li. Enquanto soltava um grito, a idosa abraçou Lala.

— Aah...! Minha filha! Com certeza é minha filha!

Graças à situação repentina, Lapis Lazuli congelou. Ao invés de parecer confusa, ela parecia ser incapaz de entender o que estava acon-tecendo. Era essa a impressão que passava. Lala virou-se para olhar na minha direção.

— Vossa Alteza, uma explicação, por favor.

— Como você acaba de ouvir, essa pessoa é a sua mãe verdadei-ra. É claro, muitas coisas ainda precisam ser confirmadas, mas com certeza alguém não contaria uma mentira na presença de um Lorde Demônio, sendo que a verdade pode ser revelada a qualquer momento.

Eu me senti um pouco orgulhoso. Uma órfã conseguiu se reen-contrar com sua mãe. Até mesmo eu, que sempre pensava de um jeito pessimista, não podia evitar ficar comovido com esse reencontro. Espe-rei as palavras de agradecimento saírem da boca de Lapis Lazuli com toda calma.

Mas...

Lapis Lazuli estava estranha.

Uma emoção peculiar apareceu em seus olhos por um instante. Foi realmente só por um curto momento. Se alguém fosse calcular o tempo que durou, então foi tão curto quanto um piscar de olhos. A ex-pressão de Lapis Lazuli estava indiferente—talvez indiferente demais.

Apesar de não saber o que exatamente era aquela emoção, com certeza não era o tipo de expressão que alguém deveria ter quando re-encontrava a sua própria mãe pela primeira vez em décadas.

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35 Novel Mania

Rapidamente eu tomei uma decisão.

— Lapis Lazuli.

— Sim, Vossa Alteza.

— Ajoelhe-se.

Sem fazer uma pergunta sequer, Lapis Lazuli ajoelhou-se. Eu me pergunto se a idosa estava confusa com a ordem que dei assim do nada, mas ela estava olhando para mim e para Lala, variando de um para o outro, com um olhar perplexo.

Eu me aproximei de Lazuli e brandi a minha mão direita. Não foi uma piada, realmente coloquei força em meu braço e a estapeei. La-pis Lazuli, incapaz de aguentar a força, caiu no chão. Assim que isso aconteceu, a velha mulher soltou um grito agudo.

— O q-que Vossa Alteza! O que Vossa Alteza está fazendo?!

— Silêncio, sua súcubo imbecil. Cuspa mais uma palavra e eu cortarei a sua língua e a enfiarei em seu ouvido.

Eu ignorei o grito da mulher e agarrei Lapis Lazuli pelo cabelo. Então levantei seu corpo à força. Lala não deixou escapar nenhum som e simplesmente olhou para mim com seus olhos desprovidos de emo-ções.

— Confesse. Você ousou usar truques sujos?

— Esta serva descobriu pela primeira vez que Vossa Alteza é muito mais violento do que eu pensava inicialmente...

— Você é muito boa em ficar abrindo essa sua boca suja desse jeito. Ficou cega só porque recebeu a minha Graça Real? Permiti que uma mera escória como você ficasse ao meu lado e agora você quer me tratar como se eu fosse seu pai também? Fale. Eu sou o seu senhor ou sou a sua algibeira de moedas de ouro? — olhei de soslaio para a idosa e pude ver seus lábios tremendo.

Parece que ela não conseguia entender o que estava acontecendo a sua frente.

— A sua mãe não veio te procurar, provavelmente foi você quem a encontrou antes. Você e a sua mãe planejaram essa performance de-sagradável para me ridicularizar, não estou certo?

— Isso não é possível... grandioso senhor, isso é um mal-entendido! — exclamou a velha senhora aos gritos. — Esta humilde mu-

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36 Novel Mania

lher encontrou a sua filha pela primeira vez hoje! Não houve uma ocasi-ão em que esta senhora e a sua filha se encontraram para planejar um plano contra Vossa Alteza. Por favor, acredite nesta pobre idosa!

— Eu sei muito bem o quão astuta a sua filha é. Sempre tentan-do me enganar e me apunhalar pelas costas quando aparece qualquer chance. Isso é a mesma coisa. Não foi o suficiente só você viver na ri-queza, então trouxe a sua mãe também. Sua mulher desgraçada — esta-peei a bochecha de Lala mais uma vez.

Uma vez, duas vezes, três vezes, continuei batendo.

A cada golpe a velha senhora soltava um grito. Mas era só isso. Assim que eu desembainhei uma adaga, a idosa correu apressadamente para fora do recinto e escapou para algum outro lugar.

A sala de visitas estava silenciosa novamente.

Lapis Lazuli ficou de pé e tirou o pó de sua saia, sempre em si-lêncio. A face de Lala continuava inexpressiva, e parecia que ela não sentia nenhuma dor em especial vinda de suas bochechas inchadas e avermelhadas.

— Desgraça....

Thud, finquei a lâmina na mesa.

— Era uma mentira. A sua mãe nos ridicularizou com uma men-tira, Lala! Ela não veio até você porque estava preocupada, provavel-mente queria só se agarrar em você como algum tipo de parasita.

— Isso provavelmente está correto — falou Lapis Lazuli, de-monstrando uma calma surreal. — Esta serva foi aceita oficialmente como a concubina de Vossa Alteza Dantalian. Somado a isso, Vossa Al-teza entrou no ranking das pessoas mais ricas do continente. A mãe desta serva deve que se aproximou de Vossa Alteza almejando nossa riqueza.

— Fugir correndo sozinha enquanto a sua própria filha estava sendo agredida...!

Foi um teste simples, mas extremo, tudo para confirmar quais eram as verdadeiras intenções daquela mulher.

Se aquela velha senhora realmente tivesse vagado por 40 anos buscando sua filha, então não teria como ficar inerte e deixar que toda

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37 Novel Mania

aquela violência acontecesse. Ela tentaria me parar mesmo se tivesse que arriscar a própria vida.

Entretanto, aquela velhota fugiu muito rápido. O que isso signi-ficava? Significava que aquela velha senhora, como uma mãe, não ama-va ou prezava Lapis Lazuli.

A possibilidade de ter vindo por dinheiro era incrivelmente alta, ela de certo se arrastou até aqui para se encostar em sua filha e viver uma vida repleta de luxo. Meu coração ficou completamente negro com a fúria.

— Para ela copular com um homem, terem uma filha, e fugir do vilarejo sozinha irresponsavelmente—e tentar voltar e agir como uma mãe agora! Quão cara de pau alguém pode ser depois de ter abandona-do sua filha por 40 anos?!

— Vossa Alteza.

— Eu vou matá-la! — gritei. — Vou arrancar a língua dela, que-brar seus braços e pernas e jogá-la em um chiqueiro. Seria apenas apropriado que aquele tipo de vira-lata receba punição divina. Se os deuses estão negligenciando o trabalho deles, então não me resta outra opção senão a punir no lugar deles!

— Vossa Alteza. — Lapis Lazuli olhou diretamente para mim. — Recomponha-se. Não há motivos para Vossa Alteza sujar as suas mãos.

— Não, existem motivos mais do que suficientes, Lala. Você é minha amante. Seja isso uma farsa ou não, você ainda é a minha noiva. A zombaria que você recebe se torna a minha própria humilhação. A zombaria que eu recebo torna-se a sua humilhação. Como isso poderia não ter importância?!

Ela absteve-se de responder.

— Não se preocupe. Como eu poderia dizer para você matar a sua própria mãe? Só espere aí. Cuidarei disso com discrição, vou garan-tir que lixos assim jamais intervenham em sua vida novamente. Primei-ro subornar os guardas e...

Slap.

Por um momento eu não consegui entender o que tinha aconte-cido, era algo que nunca esperei que pudesse acontecer.

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38 Novel Mania

Olhei para Lapis Lazuli com o rosto atordoado, ainda incapaz de acreditar no que havia acontecido.

— Lorde Dantalian.

Eu estava sem palavras.

— Esta serva disse para você se recompor.

O sentimento em meu peito se acalmou, agora mesmo Lala me deu um tapa.

Isso por si só não era um problema, eu também não tinha batido no rosto dela várias vezes pouco antes? Olho por olho, dente por dente. Naturalmente ela também tinha o direito de me bater de volta, entre-tanto, o fato de que “Lazuli me bateu” foi o que me chocou.

— Lala...

— Vossa Alteza finalmente se acalmou?

— Perdoe-me. Não bati em você antes por um desejo meu. Peço desculpas por ter brandido a minha mão como um bárbaro, realmente estou arrependido. Mas tive de ter certeza sobre sua mãe estar sendo honesta ou não — falei em voz baixa. — Se eu não deixasse tudo claro, então pensei que, no fim, você acabaria se machucando. Pagando o pre-ço por ser o “malvado”, eu quis garantir a sua segurança. Juro, não tive nenhum motivo escuso.

— Esta serva sabe disso, mas esse não é o problema — falou La-pis Lazuli enquanto balançava a cabeça. — Não tem para que pedir per-dão por me agredir, esta serva não passa de escória. Só de estar ao lado de Vossa Alteza Dantalian já possibilita que eu me banhe em privilégios que não mereço. O verdadeiro problema é outro.

— O que você quer dizer com verdadeiro problema...?

— Vossa Alteza não sabe?

Esse tipo de pergunta me deixava louco.

A outra pessoa sabia a resposta, mas eu não. Sendo assim, eu deveria ter o direito de ao menos saber qual era a pergunta, mas por alguma razão a outra pessoa a possuía e guardava para si tanto a res-posta quanto a pergunta. Isso não era excessivamente injusto?

— Lala. Não quero debater com você.

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39 Novel Mania

— Isso não é um debate — disse Lapis Lazuli ao curvar a cabeça. — É apenas um teste simples.

Então Lala saiu da sala, sem sequer pedir permissão.

Subitamente eu me encontrei sozinho no cômodo e encarei o es-paço vazio à minha frente, sem reação. Foi então que uma janela de aviso semitransparente apareceu.

[Afeição de Lapis Lazuli diminuiu em 1 ponto.]

Por um longo tempo eu encarei o aviso sem entender nada. Por-que não tinha mais ninguém no recinto para ouvir as minhas palavras, murmurei baixinho para o vazio:

— Que merda foi essa...?

O som dos pássaros cantando podia ser escutado pela janela.

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40 Novel Mania

Lorde Demônio mais fraco, 71° Rank, Dantalian. Calendário Imperial: 20/09/1505. Niflheim, Praça Hermes.

— Qual era o problema?

Barbatos parecia não saber o que dizer, era o tipo de expressão que parecia querer que eu mordesse a minha própria língua e cometes-se suicídio.

— Você tentou matar a mãe de sua amante!

Hm.

— E daí...?

— Oh deusa Perséfone. Bom Deus. O motivo para você ainda não ter purgado esse covarde imbecil é algo incompreensível para mim — resmungou Barbatos enquanto passava a mão pela testa. — Dantali-an, você quer que eu te diga com muita, muita sinceridade mesmo?

— Uma resposta honesta seria muito melhor do que uma hipó-crita.

— Antes de escutar a sua história lhe aconselhei com toda since-ridade à romper com a sua amante súcubo, certo? Mas agora tudo ficou muito vago e mais incerto. Seu retardado. Você levou só um tapa de uma pária, mas merecia ter sido estapeado centenas e milhares de ve-zes.

— Ei. O que você teria feito então? — Abaixei o pacote de gelo. A bochecha que havia levado o tapa de Lala continuava quente. — Tem uma garota que você ama mesmo, mas essa garota, independentemente de sua própria vontade, nasceu neste mundo única e exclusivamente por um erro de seus pais. Assim que ela saiu do útero de sua mãe foi taxada de “pária”. Agora mesmo, Barbatos, você também está a despre-zando.

Barbatos franziu o cenho.

— Eu não ignoro as pessoas baseado em seus status sociais. Eu as diferencio.

— Você quis dizer “eu as discrimino”. De qualquer forma, tudo bem. Em suma, a principal culpada por ter feito a vida de Lapis Lazuli

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41 Novel Mania

ser uma fossa imunda foi aquela velha decrépita. O que eu deveria fa-zer? O que você teria feito?

As pessoas que eu mais desprezava eram os grupos de indiví-duos que eram irresponsáveis com seus filhos. Meu pai tinha feito isso, assim como minha mãe também o tinha.

As pessoas normais não conseguiam entender o quão frustrante são as coisas para uma criança cuja vida já tinha sido arruinada com apenas dez anos. Entretanto, comparado com a Lala, minha vida podia ser considerada uma benção. A vida dela havia sido retorcida e esmaga-da como um pedaço de papel alumínio quando ela tinha apenas um ano.

— Não posso perdoar aquela velha. Perdoá-la seria errado. Des-graça, eu deveria não ter me importado com o que Lapis estava pensan-do e tê-la matado naquela hora, lá mesmo.

— Dantalian...

Com um efeito sonoro, um holograma apareceu na minha fren-te.

[Sua interlocutora está desapontada com você.]

[Afeição da Lorde Demônio Barbatos diminuiu em 3 pontos.]

— Você é um homem com a personalidade bem distorcida, não é mesmo? — falou Barbatos enquanto me direcionava um olhar de simpa-tia. — Você aparenta ser completamente normal, mas o que está dentro do seu crânio tem problemas. Você nem consegue notar que agora mesmo está parecendo um demente, ou consegue?

— Eu sou completamente normal.

— Tem dois tipos de pessoas que afirmam serem completamente normais. Um deles é um homicida, e o outro tipo é alguém prestes a se tornar um — disse enquanto abaixava os ombros, depois me encarou com seriedade. — Todas as pessoas vão cometer erros conforme vivem suas vidas. É claro, se erram então devem ser punidas. Até aí tudo bem. Mas você está dizendo que a punição precisa ser uma execução. Além disso, isso está sendo aplicado à mãe de sua amante.

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42 Novel Mania

— Se há uma puta que merece morrer, então ela deveria morrer.

Barbatos soltou um suspiro.

— Você disse que o nome da sua amante é Lapis Lazuli...? Cara-lho, ela é realmente de se admirar. Como diabos conseguia lidar com você? Se fosse eu, teria cortado as suas bolas fora e te largado há muito tempo. Vocês dois realmente deveriam se separar.

— Você está do meu lado ou do dela?

— Eu não sei, seu imbecil. — Barbatos coçou a cabeça. — Eu es-tava esperançosa de que um novato verdadeiramente útil tivesse apare-cido depois de tanto tempo, mas ele não é só um demente? Haaa, o meu destino é sempre assim... Se ignorar os seus problemas amorosos então até que é decente, mas como caralhos faço esse retardado funcio-nar como uma pessoa normal...?

— Olá? Eu consigo escutar tudo o que você está falando.

— Já que eu quis que você escutasse é claro que você consegue. Senhor Otário, neste exato momento estou deliberando se eu deveria ou não me candidatar a ser a sua babá. Isso é um grandessíssimo poço de merda.

Barbatos franziu a testa e grunhiu.

Era como se estivesse ponderando o quão profundamente estava planejando se envolver com a vida de outra pessoa.

Se você se preocupar com os problemas pessoais de outra pessoa então quase que com certeza vai acabar preso em um pântano sem fim. Barbatos provavelmente estava pensando sobre esta sensação viscosa.

Pergunto-me se ela finalmente se decidiu.

— Tudo bem... continue falando.

Barbatos estava com uma expressão que parecia que em sua mente havia aceitado a situação mesmo não querendo.

— Continue falando? Sobre o quê?

— Seu mongol. Estou falando dos seus problemas amorosos. Pe-lo que você me contou até agora, não parece que ainda houve um gran-de problema entre você e a sua amante súcubo. Vocês podem até ter discutido, mas não foi uma briga grande o suficiente para acabar em uma separação. Que tipo de merda fez no decorrer deste mês para fazer aquela garota ter tanta repulsa a você?

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43 Novel Mania

— Vejo que você está falando em um tom de voz que é como se já tivesse certeza de que sou o culpado.

— Sim. Eu tenho certeza. Se você acha que é injusto, então prove a sua inocência, tsk...

Barbatos olhou para fora da janela.

Ainda era meio-dia, então estava claro lá fora. Como se estivesse estimando o peso da luz solar, ela semicerrou os olhos. A luz do Astro Rei poliu as suas panturrilhas enquanto escorria por suas pernas.

Falando sério, era encantador.

Até mesmo a luz do sol ficaria contente pelo fato de ter beijado a perna de Barbatos. Ao menos não há dúvidas de que ficaria mais feliz do que se tivesse iluminado a minha cabeça. Se não fosse pela sua si-lhueta infantil, então talvez eu pudesse ser seduzido por ela.

— Ei... Para onde você está olhando? — Barbatos estava me en-carando como se estivesse observando algo podre.

Respondi com sinceridade:

— Eu estava admirando a sua perna.

— Não é de graça, então se você quiser admirá-las precisa pagar.

— Em vez de pagar, você pode olhar para a minha perna tam-bém.

— Diga isso depois de ter depilado todos os pelos dela.

Dei de ombros.

— Eu consegui informação.

Barbatos balançou a cabeça.

— Que tipo de informação?

— Um bilhete. Não há nome e nem emitente escrito nela. Ape-nas duas frases foram escritas usando uma caneta de pena, o conteúdo era bastante memorável.

Eu tirei um pedaço de papel do meu bolso e entreguei a ela.

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Você tem um inimigo.

Daqui 10 dias uma tropa de 2.000 homens invadirá o seu cas-telo de Lorde Demônio.

— Hmm. — Barbatos soltou um som nasal. — Uma ameaça dire-ta está escrita aí, huh.

— Eu vejo isso mais como um aviso do que uma ameaça.

— Por quê? Até mesmo à primeira vista isso parece ser um blefe.

— Barbatos, olhe para as frases com atenção. Podem parecer só duas sentenças, mas muitos significados se escondem nelas. Primeiro, “Você tem um inimigo”. Está escrito aqui, está bem claro. Isso insinua sutilmente que “Eu não sou seu inimigo”.

Isso era muito gentil para ser considerado como alguma ameaça. Por isso que quando recebi essa mensagem, um mês atrás, Lala e eu ponderamos bastante sobre o assunto.

Quem, com que intenção, teria mandando algo assim?

— Observando o estilo da caligrafia, o indivíduo que escreveu es-se bilhete é alguém de alta classe que recebeu educação profissional. Pela maneira que as palavras estão ligeiramente tortas, você consegue concluir que a pessoa é destra ou ambidestra.

— Você consegue identificar isso...?

— São apenas suposições — reclinei-me de volta sobre a cadeira para continuar falando em uma posição confortável. — Também, há grandes chances de que a pessoa em questão está envolvida no ramo dos negócios em uma alta posição.

Barbatos franziu as sobrancelhas.

— Haa? Por que em uma alta posição?

— Se você consegue ver, então olhe para os números.

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45 Novel Mania

Você tem um inimigo.

Daqui 10 dias uma tropa de 2.000 homens invadirá o seu cas-telo de Lorde Demônio.

— Tem um ponto entre o dois e o zero. É por isso que há uma grande chance de que essa pessoa esteja trabalhando em uma alta posi-ção.

Barbatos continuava com o rosto confuso.

Parecia que essa criança violenta que era uma Lorde Demônio não era boa em adaptar a sua mente em situações assim. Soltei um sus-piro e expliquei para ela com toda gentileza do mundo:

— Pessoas normais não colocam um ponto quando escrevem números na casa dos milhares. Normalmente escrevem como ‘2000’, sem nenhum tipo de sinal especial. Mas o indivíduo que escreveu esse bilhete adicionou um ponto por hábito.

Portanto, significa que era uma pessoa que normalmente lidava com grandes quantidades de dinheiro. Uma pessoa que sempre coloca-ria um ponto quando três zeros estavam agrupados um ao lado do ou-tro. Uma pessoa que lidava com grandes números como 1.000.000 no seu dia-a-dia.

— Não há dúvidas de que essa pessoa cuida da contagem de do-cumentos ou de registros frequentemente. Essa pessoa poderia ser um grande castelão de um território, ou poderia ser um mercador que tra-balha em uma posição elevada.

— Então é isso... — O rosto de Barbatos torceu-se enquanto ela observava a carta. — O seu cérebro realmente não está aí só para enfei-te.

— Não fique comovida ainda. Existem cinco verdades ocultas no bilhete. Mas se eu tivesse que explicar cada uma delas pouco a pouco então morreria de tédio, vamos deixar essas coisas de lado.

Desde a antiguidade os segredos eram como o sexo.

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46 Novel Mania

Quando está despindo as roupas de sua companheira você tem que removê-las cuidadosamente, uma de cada vez. Que prazer poderia ter se rasgasse todas as roupas dela de uma só vez?

Tudo ficava em seu ponto mais belo quando semidesnudo. Co-mo uma mulher que estivesse apenas parcialmente exposta era mais encantadora do que uma completamente nua, os segredos eram mais saborosos quando despidos pouco a pouco apenas aqui e ali e só então cozinhados.

C’est si bon.2

— Este sujeito é um filho da puta completamente tarado, não é mesmo? — Após escutar as minhas noções estéticas, o rosto de Barba-tos se contorceu.

— De qualquer forma, você está dizendo que há uma grande possiblidade de que o culpado seja um mercador, certo?

— Mm. Ao menos superficialmente — falei antes de coçar a tes-ta. — Por sorte, eu tenho uma grande amizade com os mercadores. Se, por um acaso, a pessoa que mandou o bilhete realmente for um merca-dor e estiver só fazendo uma brincadeira, então seria ridiculamente fácil encontrar o culpado.

— Hm? Como?

Dei um sorrisinho.

— Já falei, os mercadores são meus amigos.

2 “Isso é muito bom” em francês.

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47 Novel Mania

Lorde Demônio mais fraco, 71° Rank, Dantalian. Calendário Imperial: 05/09/1505. Niflheim, Palácio do Governador.

— Este cavalheiro jamais escreveu algo assim...

— Chefe, eu também desejo acreditar que você é inocente. Mas no passado você me atacou e conspirou contra mim, lembra? Em outras palavras, você ainda não é completamente confiável.

— Este senhor não mais planeja ser hostil com Vossa Alteza.

— Isso é mesmo uma pena. Eu não consigo acreditar em você.

Ivar Lodbrok rangeu os dentes.

Era óbvio que ele estava irritado. Afinal, tinha motivos mais do que suficientes para estar estressado.

Esta pessoa diante de mim era, a princípio, um dos indivíduos com maior poder e autoridade, era a pessoa mais rica do mundo dos demônios e também aquela que comandava a cidade livre de Niflheim por baixo dos panos.

Esta pessoa havia decaído e agora estava agindo como minha marionete, latia como um cachorrinho sob meus comandos, acabou se tornando algo digno de pena. Mesmo assim, eu não planejava a perdoar com tanta facilidade.

— O que este vampiro precisa fazer para ganhar a confiança de Vossa Alteza?

— Simplesmente faça alguns favores para mim.

— Que tipo de favores...?

— Primeiro, eu gostaria de contratar alguns soldados.

Estava escrito naquele bilhete anônimo que um exército de dois mil soldados invadiria. Apesar de ser incerto se o bilhete era verdadeiro ou falso, não seria nada mal estar preparado. No mínimo três mil. Sim, eu queria estar preparado com um exército de no mínimo três mil sol-dados.

— Eu considero este pedido como algo fácil. Se for a maravilhosa Firma Keuncuska, então com certeza vocês são capazes de reunir uma tropa de três mil homens facilmente. Não acha?

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48 Novel Mania

— É claro... Vossa Alteza.

O vampiro de sangue puro estava com uma expressão facial de quem estava comendo merda.

Ei, as suas emoções estão transparecendo completamente no seu rosto.

Ele, por um acaso, estava olhando com desprezo para mim? Era isso mesmo. Ele decidiu que não precisava mais manter as aparências enquanto estivesse em minha frente?

Isso era preocupante. Um cachorro que menosprezava seu pró-prio dono era inútil. Parecia que eu tinha que ensinar as boas maneiras a este vampiro mais uma vez.

— Lodbrok, você por acaso não gosta de mim?

— Isso não é possível... Este vampiro guarda em seu coração respeito e lealdade aos Lordes Demônios a todo momento.

— Que alívio. Eu também gosto bastante de você, estava preocu-pado que este pudesse ser um amor unilateral. Amores unilaterais só são bonitos durante a tenra infância. Mas nesta idade, não é vulgar se deixar ser tomado por algo assim?

Ivar Lodbrok me fitou com o olhar carregado de dúvida. Ele muito provavelmente estava tentando entender do que eu estava falan-do.

Tirei algo de minha manga. Bem, não era algo muito importan-te. Uma única mecha de cabelo. Não passava de uma única mecha de cabelos loiros, mas, com isso, o rosto de Ivar Lodbrok revolveu-se em uma careta.

— O que poderia ser isso?

— Direi novamente: Também gosto bastante de você. Porém, não da sua aparência senil, mas sim do seu corpo original. A sua forma feminina e delicada... prefiro aquela.

Os olhos de Ivar Lodbrok tremeram com ansiedade.

O corpo principal dele era uma garota com cabelos loiros. Os ca-belos que eu acabo de pegar também são loiros. O que isso poderia sig-nificar?

— Claro...!

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49 Novel Mania

— Quando se trata do seu corpo, pessoalmente eu prefiro as suas panturrilhas. O seu peito pequenino e a silhueta de sua cintura também são bons, mas realmente acho que as suas panturrilhas são as melhores — sorri. — Se você acariciar com cuidado, então consegue sentir ambas ao mesmo tempo, a firmeza de suas canelas e a maciez de suas panturri-lhas. Senti como se minhas mãos derreteriam de tão macias que elas eram. A fragrância de rosas que emanava de sua pele quase me fez que-rer lambê-la por acidente.

— Vossa Alteza prometeu não tocar no corpo principal deste vampiro, não foi?! — Ivar Lodbrok soltou um grito enfurecido. — Este cavalheiro traiu Sua Alteza Paimon assim como Vossa Alteza ordenou! Este senhor protegeu Vossa Alteza sacrificando um executivo da Firma! Então por quê...?!

— Não entenda errado — falei em um tom despreocupado. — Nós não fizemos uma promessa. Promessas são coisas mutualmente benéficas. Entretanto, nosso relacionamento é um pouco mais simples do que isso. É um de obediência absoluta.

Ele ficou em silêncio.

— Ajoelhe-se.

Ivar Lodbrok congelou.

Pergunto-me se ele não conseguiu ouvir direito o meu pedido. Visto que está preso em um corpo senil, será que sua audição também estaria prejudicada? Certamente isso era possível. Não se preocupe, sou devoto ao respeito aos mais velhos, sou um homem capaz de demons-trar compaixão com os idosos o quanto for preciso.

Com um tom gentil, ordenei mais uma vez:

— Ajoelhe-se, chefe.

Ele continuou em silêncio.

— Prossiga.

Ivar Lodbrok dobrou os joelhos lentamente.

Assenti.

— Agora venha aqui.

Humilhação e raiva tingiam o rosto do velho cavalheiro.

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50 Novel Mania

Eu não conseguia evitar amar toda vez que uma pessoa poderosa fazia uma expressão como essa. Parecia que eu estava vendo um delin-quente mudando e reparando seus delitos, quase quis elogiar em voz alta a beleza da humanidade.

Ivar Lodbrok se arrastou até mim.

Eu retirei o meu sapato e pressionei o meu pé direito sobre a ca-beça do velho cavalheiro. Esta era, é claro, uma ação humilhante. Os ombros de Ivar Lodbrok tremeram.

— Chefe.

— Sim... Vossa Alteza.

— Por favor, comporte-se com mais cuidado quando estiver na minha frente. Eu não te ridicularizei assim que nos encontramos. Nor-malmente e com suavidade, te tratei como um cúmplice do mesmo nível que eu, e, ainda assim, você não me olhou como se estivesse encarando um punhado de lixo?

Pisa pisa...

Pressionei a cabeça dele mais para baixo, fazendo o nariz de Ivar Lodbrok encostar no chão.

— É por isso que a comunicação é algo impossível. Por quanto tempo você planeja me manter em um amor não correspondido? Se você deseja que eu respeite a sua dignidade, então tem que respeitar a minha primeiro. Entende?

— Este cavalheiro vai, com toda certeza, manter isso em mente...

— Prepare o exército de três mil soldados em dois dias — falei antes de retirar meu pé de cima da cabeça dele. — Seria um problema se você juntasse um punhado de pessoas aleatórias, então devo pedir a melhor qualidade possível de soldados. De acordo com a mensagem, a invasão acontecerá em dez dias, então se apresse.

Ivar Lodbrok levantou a sua cabeça rapidamente.

— Vossa Alteza. Dois dias é muito pouco! No mínimo, permita-nos uma semana... não, mesmo que Vossa Alteza nos desse a metade de um mês seria quase impossível contratar três mil soldados da melhor qualidade.

— Do que você está falando? Têm muitas tropas próximas daqui.

— Perdão?

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51 Novel Mania

— Não tem soldados protegendo Niflheim? Eu ouvi dizer que a força militar daqui era de cerca de oito mil homens. Empreste-me al-guns deles.

Ivar Lodbrok abriu sua boca, seu rosto era de como se tivesse acabado de ouvir uma sugestão inacreditável.

— Vossa Alteza! Essas são as forças de defesa da cidade!

— E você é o verdadeiro governante de Niflheim. Você consegue movimentar as forças de um lado para o outro a seu bel-prazer.

— Entenda por favor! Se os soldados sumirem então o método de defesa de Niflheim desaparece junto com eles. Niflheim é uma cida-de livre que é responsável por toda a economia do mundo dos demô-nios. Se este lugar cair, então uma grande calamidade ocorrerá em todo o mundo dos demônios. Se isso acontecesse enquanto a Peste Negra está se espalhando com tanto descontrole...!

— Whoa, whoa. Acalme-se — levantei-me da minha cadeira.

Levantei Ivar Lodbrok para que ficasse em pé novamente e, im-pecavelmente, retirei toda a sujeira de suas roupas. Ele, sem saber ao certo como reagir, não conseguia dizer nada em resposta.

— É claro que tem muitas coisas com que se preocupar. O perigo com que você terá que lidar também será grande, entendo tudo isso. É sério, eu entendo. Mas apesar de tudo, chefe, é uma grandessíssima pena, mas... — Por fim, eu bati a sujeira dos ombros de Ivar Lodbrok. — O problema não é meu, é seu.

Após isso mostrei um enorme sorriso. O vampiro estava sem pa-lavras.

— Ah. Eu deveria informar que este cabelo não é do seu corpo principal. Como eu poderia fazer uma coisa dessas sendo que respeito você tanto assim, chefe? Não se preocupe.

— Perdão? Então de onde...?

— Eu peguei estes pelos soltos de um cachorro que estava va-gando pelo Palácio do Governador depois de brincar um pouco com ele. A cor e o charme daquele cão eram bem refinados. Bem como esperado, se o dono é abastado então até seus animais vivem uma vida de luxo.

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52 Novel Mania

A expressão facial de Ivar Lodbrok mudou rapidamente. Ele de-ve ter percebido que havia se humilhado só por causa de um pouco de pelos de cachorro e estava estarrecido.

É por isso que você não deveria ter retaliado tão inutilmente. Nós poderíamos ter nos despedido felizes sem ter que aborrecer um ao outro. Eu não conseguia entender as pessoas que insistiam em manter sua fronte e orgulho estufados quando sabiam que obviamente perderi-am. Vocês são masoquistas? Apreciam sentir dor de propósito? É um grande incômodo o fato de ter tantos tarados no mundo...

— Três mil soldados. Da mais alta qualidade. Deixo isso em suas mãos, chefe.

— Sim...

— Oh, sim. Eu também gostaria que você obtivesse algumas in-formações — mostrei um sorriso largo. — Essa não é uma empreitada muito difícil então você não precisa se preocupar. A tarefa é só encon-trar uma única humana. Ah, enquanto você estiver fazendo isso, com-pre uma garrafa do vinho mais fino possível para mim...

— Tudo o que Vossa Alteza ordenar...

Parece que ele finalmente desistiu de resistir. Ivar Lodbrok cur-vou a cabeça. Era bonitinho, já que seu cabelo pendendo lembrava as orelhas de um cachorro.

O fato de ele ter muitas rugas era um ponto negativo, mas, ah, tanto faz. Seria melhor se eu só pensasse estar cuidando de um animal de estimação com orgulho muito forte. Me sentiria mal se só o ordenas-se e humilhasse demais, então devia dar-lhe uma recompensa depois. Ah não, eu não deveria ter o hobby de criar animais de estimação...

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53 Novel Mania

Lorde Demônio mais fraco, 71° Rank, Dantalian. Calendário Imperial: 07/09/1505. Niflheim, Palácio do Governador.

Eu pude ouvir o som de papéis sendo remexidos. Pergunto-me se eu venho transpirando a noite, já que minhas costas pareciam estar úmidas. Esfreguei meus olhos e virei minha cabeça para ver Lapis Lazu-li lendo um relatório ao meu lado na cama.

— Lodbrok?

— Sim.

Em resposta à minha pergunta rápida sobre aqueles relatórios virem de Lodbrok, Lapis Lazuli respondeu de imediato.

Havia passado uma semana desde que nos tornamos amantes. Curiosamente, nossas palavras e frases eram entendidas com relativa facilidade um pelo outro. Eu poderia dizer que nossa compatibilidade era boa? Não, seria até mesmo uma extrema negligência de minha parte a considerar minha amante...

— E como está?

— O nível das informações é bom. O número total de mercados de escravos localizados na região norte da Sardenha é treze. Dentre eles, a quantidade de mercados que lidam com escravos nascidos em famílias nobres são quatro. A escrava que Vossa Alteza procura está registrada em Pavia.

Lapis Lazuli pegou um documento em especial.

Balancei a cabeça e enterrei meu nariz em suas coxas. Parecia que ela tinha passado algum tipo de óleo adocicado em sua pele. Um aroma muito agradável emanava dela.

— Óleo de oliva?

— É óleo de rosas da Anatólia. Vossa Alteza, se tem tempo para assediar sexualmente esta serva, então, por favor, leia este relatório primeiro.

— Eu não quero ler logo quando acordo pela manhã. Agradece-ria imensamente se você pudesse ler em voz alta para mim.

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54 Novel Mania

— Não é de manhã, já passou do meio-dia. — Lapis Lazuli soltou um suspiro. — Esta serva acha que o ciclo biológico dela está sendo ar-ruinado por culpa de Vossa Alteza. Muito tempo está sendo gasto ape-nas em relações sexuais. Esta subordinada aconselha Vossa Alteza a reduzir o tempo de quatro horas para duas.

— O que eu posso fazer se a minha resistência é inigualável? — mordisquei as nádegas de Lala. — Eu tenho a tendência de não saciar os meus desejos rapidamente. Em todo caso, o fato dos homens de hoje em dia não saberem como dar importância às mulheres é um grande problema. O quão prazeroso é aproveitar o calor um do outro e...

— Esta serva já sabe. Já é de meu total conhecimento o fato de que Vossa Alteza é um pervertido inimaginável, então não necessito de outra aula.

Lapis Lazuli desistiu de discutir e começou a ler o relatório:

— Laura De Farnese. Desde o seu nascimento como filha ilegí-tima da família do Duque Farnese, ela sempre ficou presa na mansão. Apesar de não ter sido revelado quem era a sua mãe de fato, há rumores de que nasceu depois do Duque ter estuprado uma de suas servas.

— Hmm — afaguei a coxa de Lapis Lazuli enquanto a escutava falar.

Lala não tinha nenhuma gordura desnecessária. Isso muito pro-vavelmente se devia ao fato de ter nascido como uma pária e ter passa-do toda a infância faminta. Vagando pelos becos e procurando por mi-galhas em latas de lixo, sendo maltratada por ser uma mestiça. Tendo pedras jogadas nela o tempo todo...

Eu deveria ter matado aquela velha... realmente me arrependia disso.

— Parece que a Senhorita Farnese viveu uma infância demasia-damente desafortunada — continuou Lapis Lazuli. — Não só da man-são, ela também era proibida de sair de seu quarto. Seus irmãos e irmãs não consideravam a Senhorita Farnese como parte da família, e até mesmo os servos a tratavam como se não existisse... Vossa Alteza? Está escutando?

— É claro. Estou escutando atentamente.

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55 Novel Mania

— Apesar de você afirmar estar ouvindo, esta subordinada tem a impressão de que Vossa Alteza vem tocando a coxa dela faz algum tem-po.

— Não faço ideia do que você está falando, provavelmente é só algo da sua cabeça.

— Esta vassala continuará lendo...

Laura De Farnese.

Ela era uma personagem importante que aparecia em ‹Dungeon Attack›. Assim como o protagonista, era uma pessoa de grande influên-cia naquela era, mas se alguém tivesse que indicar uma diferença entre eles, é que ela estava empurrando o mundo em direção ao desespero ao invés da esperança.

Havia um motivo político relativamente complexo envolvido na coisa toda.

O protagonista de ‹Dungeon Attack›, o herói, era afiliado ao “Império de Habsburgo”. Por outro lado, Laura De Farnese trabalhava para a nação conhecida como “Reino da Bretanha”. O império e o reino começaram uma guerra monumental visando decidir quem era o ver-dadeiro governante de todo o continente.

Havia chances de que, comparado aos Lordes Demônios, a quantidade de humanos que morreram por causa da Senhorita Farnese era ainda maior. Em outras palavras, para o protagonista, podia-se di-zer que ela era uma oponente muito mais assustadora do que os Lordes Demônios.

Bem, essas eram coisas que só ocorreriam em quinze ou vinte anos no futuro.

No presente, Laura De Farnese não passava de uma garota de dezesseis anos, fraca e frágil. Não havia nada a esconder.

Eu queria obter esta garota destinada a se tornar uma grande general no futuro o quanto antes, já que parecia que dois mil soldados invadiriam vindos de um local desconhecido. Enquanto eu contratava as tropas, queria ao mesmo tempo recrutar um comandante para elas, matando dois coelhos com uma cajadada só.

Lapis Lazuli terminou de ler o relatório e disse:

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56 Novel Mania

— Vossa Alteza, há algo que esta serva deseja perguntar. Por que você tem interesse em uma criança da raça humana?

— Nenhum motivo em especial. É só que esta criança carrega em si uma enorme quantidade de ódio para com os humanos — contei uma mentira casual para Lapis.

Não havia nenhum motivo em especial. Seria mais problemático se eu a respondesse honestamente e dissesse: “É algo que eu sei porque joguei o jogo, mas aquela garota vai crescer e se tornar a maior general do continente”. Não tinhas outra escolha senão dramatizar um motivo e contá-lo.

— Ódio..., é isso mesmo?

— Sim. Pense um pouco pelo ponto de vista daquela garota. Ela nasceu como uma criança ilegítima e passou todos os seus dias trancada em seu quarto, recebeu abusos de quem deveria ser a sua família, era evitada até mesmo pelos servos. E agora que a família está em ruínas, Laura De Farnese decaiu a ponto de se tornar uma escrava e está sendo vendida em um mercado. O que você acha que se esconde na mente dela? O que aquela jovem deseja ardentemente? Ela não estaria culti-vando ódio contra os humanos?

Lala não respondeu.

— Eu preciso desse tipo de criança para mim. Uma garota ar-dendo com mais ódio do que qualquer outra pessoa. Eu preciso de uma rebenta que venderia a própria alma para o diabo se isso significasse conseguir vingança contra os humanos. Laura De Farnese é uma pessoa exatamente como eu desejo.

Deixei uma risadinha escapar.

Lapis Lazuli olhou para mim com uma expressão impassível, os olhos dela passavam a impressão de que ela tinha entendido, mas ao mesmo tempo também não tinha.

— O que foi? Você está decepcionada? Não era a resposta que esperava?

— Um pouco. — Lapis Lazuli balançou a cabeça. — Esta subor-dinada tinha certeza de que Vossa Alteza desejava obter e desfrutar de uma escrava sexual de alta qualidade vinda da nobreza.

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57 Novel Mania

— O quê? Que tipo de maluquice... Espera. Você me vê como sendo que tipo de pessoa?

— É claro, esta serva só vê as coisas como elas são.

Tem uma vassala aqui que está tratando o seu senhor como se fosse um lixo humano!

Eu entendi vagamente a razão para a afeição de Lapis Lazuli ainda não ter passado de 10. Não, bem, na verdade eu sou humano ape-sar de tudo! Não sou depravado o suficiente para fazer algo repulsivo como comprar uma escrava sexual.

— Lala — falei em um tom incrivelmente sério. — Eu vou usar esta oportunidade para te dizer isto claramente...

— O que foi?

— Prefiro mulheres maduras.

Realmente era assim. Complexo por lolis é uma doença mental.

— Eu não consigo suportar pessoas que ainda tem cheiro de cri-ança. É claro, eu prefiro seios grandes aos pequenos, e prefiro uma tra-seira desenvolvida frente a uma pequena. Você entende? Pessoas que gostam de corpos infantis são todas dementes com vários parafusos soltos na cabeça.

— Realmente? — Lapis Lazuli perguntou e assentiu. — Para re-sumir, Sua Alteza Paimon está mais próxima das preferências de Vossa Alteza Dantalian do que Sua Alteza Barbatos.

— Antes mesmo de discutir se são mais próximas ou distantes, simplesmente não gosto de corpos de crianças. Até mesmo se uma se aproximasse e se oferecesse para mim, eu recusaria!

— Mas que pena. Se Vossa Alteza estivesse obtendo a Senhorita Farnese com a intenção de saciar os seus desejos sexuais, então esta vassala iria apoiar esta decisão fervorosamente, já que significaria que o fardo desta serva seria bastante reduzido.

— Dormir comigo te desagrada tanto assim!? Não, espera. No fim, não foi você quem veio para cima de mim primeiro...?!

— Minhas desculpas. Naquela ocasião, esta subordinada ainda não havia descoberto que Vossa Alteza na verdade era um garanhão equino. O senhor até mesmo se satisfez completamente na primeira

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58 Novel Mania

noite, já que tocamos no assunto, foram três vezes seguidas... Sincera-mente, esta subordinada começou a se arrepender do que fez.

— Isso já não é demais?!

Acabei ouvindo da minha amante, de uma semana, que ela já es-tava se arrependendo de sua decisão.

Podia até mesmo ser uma relação puramente física sem qual-quer tipo de amor, mas não pude evitar de ficar abalado...

Enquanto estava conversando com Lapis Lazuli, alguém bateu à porta.

— Oh grandioso senhor, trouxemos o almoço de Vossa Alteza.

— Ah. Tudo bem, podem entrar.

Eram as empregadas que trabalhavam no Palácio do Governa-dor.

As empregadas abriram a porta e entraram no recinto. Cada ser-va carregava uma bandeja de prata. Elas olharam para esta direção e os rostos de todas congelaram simultaneamente. Um homem e uma mu-lher estavam deitados nus na cama. Apesar de estarmos cobertos por um lençol, meu torso estava exposto.

— Pe-perdoe-nos! Vossa Alteza!

— Está tudo bem. Fui eu quem ordenou que vocês entrassem, não há porque se desculparem. Não se preocupem conosco e arrumem a mesa para a refeição.

— Ah... Entendido.

As empregadas, agradecidas, colocaram os pratos sobre a mesa. Apesar de estarem fazendo o seu melhor para se manter indiferentes e manterem seus olhares na direção certa, acabaram olhando para nós institivamente. Hm? Essa era a primeira vez delas vendo um Lorde Demônio sem roupas?

Achando isso divertido, continuei observando as empregadas si-lenciosamente, até que escutei o som de alguém estalando a língua com um “tsk”. Foi tão baixo que eu poderia não ter percebido. Meu coração esfriou drasticamente.

— Nós, humildes servas, nos retiraremos agora.

— Todas vocês. Parem aí mesmo.

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59 Novel Mania

As empregadas ficaram paralisadas em frente à porta.

Eu acabei falando em um tom frio acidentalmente.

— Quem estalou a língua?

— Perdão?

— Não se finjam de inocentes. Eu ouvi claramente uma de vocês estalando a língua. Confessem quem é a culpada.

As empregadas olharam umas para as outras cheias de pavor, mas durou apenas um momento. Seus olhares se concentraram em uma única pessoa no final. Era uma garota com orelhas de gato da raça que possuía traços de animais.

Então é assim. Você é a transgressora que estalou a língua?

Vesti um roupão folgado e me levantei da cama.

Neste momento, a empregada da raça das bestas percebeu o seu erro e começou a tremer. Seus dentes estavam batendo de medo. Pare-cia que suas colegas tinham percebido qual seria o destino dela, já que deram alguns passos para trás se afastando.

— Seu nome.

— O... o n-nome desta humilde serva é Julia.

— Entendo. Julia. Você tem um lindo nome. — Contrastando com o elogio, o meu rosto estava austero. — Por que você estalou a sua língua há pouco?

— Esta pobre serva está absolutamente arrependida, Vossa Alte-za. Por favor, perdoe esta simples empregada!

— Eu perguntei por que você estalou a sua língua.

A serva não conseguia responder.

Mas estava tudo bem, eu não estava a questionando tendo espe-ranças de que fosse responder. Eu já sabia a resposta.

Esta garota não estalou a língua para mim, mas sim para uma direção ligeiramente ao meu lado. Em outras palavras, estalou a língua enquanto encarava Lapis Lazuli.

Isso me deixou irritado, incrivelmente irritado. A ponto de eu mal conseguir controlar a minha raiva.

— Você está desprezando o fato de eu estar sendo íntimo com a minha amada?

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— Não. Vossa Alteza, esta súdita não pensou nada do tipo...!

— Compreendo. Deve ter sido muito desagradável ver uma mera mestiça inferior na mesma cama que um Lorde Demônio. Deve ter sido uma visão bem nauseante para você. É por isso que estalou a língua para a minha amante, certo?

— E-esta pobre... Esta serva estava...

Eu acertei em cheio. Essa foi a impressão que tive vendo a rea-ção dela, não tinha mais nada a ser entendido.

Andei a passos largos em direção à parede em que espadas esta-vam expostas e desprendi uma. A lâmina fina foi desembainhada pro-duzindo um som metálico. Vendo isso, as outras empregadas gritaram.

— Mais do que uma mestiça, ela é a minha noiva. Com que auto-ridade você está caçoando da amada de outra pessoa? Eu sou ridículo o suficiente para você poder caçoar de mim?

— Vossa Alteza... ao menos a vida desta serva... por favor, pou-pe...

Era realmente difícil de entender.

Depois de ser jogado neste mundo, apenas coisas impossíveis de se entender vêm acontecendo. Por que as pessoas menosprezavam as outras tão facilmente? Por que as pessoas não conseguiam manter nem mesmo o mínimo de etiqueta? E, finalmente, por que as pessoas ataca-vam sendo que sabiam que iriam perder?

Elas não tinham cautela, não tinham senso comum e não tinham conhecimento. Paimon fez isso, assim como Lodbrok também o fez. Aquela velha decrépita fez meu estômago rebulir de raiva há poucos dias, e agora esta empregada estava tentando provocar um conflito.

Era por isso.

Já que estava tão cheio deste tipo de pessoa, porque existia só esse tipo de gente irresponsável, minhas irmãs e eu...

Abruptamente, uma janela de escolha surgiu junto a um efeito sonoro.

[1. Punir.]

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[2. Poupar.]

Uma janela semitransparente que só podia ser vista por mim.

Apertei mais forte a empunhadura da espada. As outras empre-gadas prenderam a respiração. A garota com orelhas de animal estava murmurando pedidos de perdão enquanto chorava.

Matar ou não matar. Todo tipo de cálculo passou por minha mente. A ameaça ao status político por assassinar uma serva do Palácio do Governador. O impacto social que isso iria causar... Entretanto, ape-sar de considerar todos deméritos, ainda era difícil perdoar esta garota. Era incrivelmente difícil. Eu não sabia dizer claramente a razão para não conseguir, mas...

— Lorde Dantalian.

Em um tom contido... sempre calmo...

— Basta — disse Lazuli.

Lentamente eu virei minha cabeça para a direção de Lala.

E lá estavam os mesmos olhos que eu vi há poucos dias, o mes-mo olhar reprovador que perguntava se eu não havia entendido o que tinha feito de errado.

Naquele momento...

O interior do meu crânio resfriou na hora.

Agora eu conseguia perceber quão insanas as minhas ações es-tavam sendo. Eu tentar matar alguém simplesmente por ela ter estalado a língua uma vez... ridículo.

A senhora idosa e essa empregada na minha frente eram dife-rentes. A idosa era a principal culpada por ter arruinado completamen-te a vida de Lapis Lazuli. Porém, tudo o que esta serva fez foi estalar a língua. Apesar dela com certeza não saber como se comportar apropri-adamente, não passava disso. Ela não havia cometido nenhum crime que merecesse a morte!

Eu derramei água gelada sobre minha cabeça forçadamente.

“Acalme-se, não crie inimigos sem motivos. Se eles reconhece-rem o próprio erro, então recue”, procedimentos de como se comportar estavam lapidados em minha mente como em um manual.

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62 Novel Mania

A doutrina que havia se tornado quase que instintiva graças à educação do meu pai começou a fazer efeito. Um segundo, dois segun-dos, e depois do terceiro segundo eu recobrei a compostura.

Abri a boca com muita dificuldade.

— Você já refletiu o suficiente sobre as suas ações...?

— S-sim! Vossa Alteza! Esta humilde serva está absolutamente arrependida! Nunca farei isso novamente!

— Jamais se esqueça desta emoção. Um único erro poderia ame-açar a sua vida.

Virei-me para olhar para as outras empregadas e falei:

— Mantenham isto em mente: Como servas que atendem pesso-as da alta nobreza, cada uma de suas ações podem levar a um erro ir-remediável. Seus erros se tornarão os erros de Niflheim, sua imprudên-cia se tornará a imprudência de Niflheim. Ajam com responsabilidade.

Todas as empregadas se curvaram profundamente de uma só vez e responderam juntas:

— Nós manteremos isso em mente, Vossa Alteza!

Eu assenti. Com isso, consegui dar uma resposta evasiva.

— Bom. Agora vocês podem se retirar.

E então, as empregadas saíram rapidamente dos aposentos.

[1. Punir.]

[2. Poupar.]

As palavras brilharam resplandecentes no meio do ar e depois se quebraram e formaram novas frases.

[Uma decisão gentil e piedosa!]

[Fama aumentada levemente.]

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63 Novel Mania

Então as linhas se dividiram em pequenos pedaços e se disper-saram como pétalas.

Eu deveria estar exultante por minha fama ter aumentado, mesmo que só um pouco, mas para ser sincero meu humor atual era absurdamente ruim. Era impossível ficar pior. Já fazia muito tempo desde a última vez que meu humor ficou assim tão terrível.

Lapis Lazuli me fitou em silêncio.

No momento em que nossos olhares se encontraram eu me des-culpei instintivamente.

— Desculpe-me.

— Por?

— Isso é... — Eu não conseguia responder.

O sentimento de ter feito algo errado estava apertando o meu coração. Contudo, eu não conseguia entender exatamente o que tinha feito de errado, nem um pouco mesmo. Isso me deixava perplexo.

O silêncio perdurou.

No fim, Lapis Lazuli soltou um suspiro.

— Entendido...

O que havia entendido?

Ela levantou da cama e vestiu suas roupas. Depois que Lapis La-zuli terminou de colocar todo o seu uniforme, abaixou sua cabeça e se curvou. Foi um movimento fluído sem nem um mísero detalhe errado.

— Esta serva fará os preparativos para ir ao mercado de escra-vos. Acredito ser adequado contratar as irmãs Berbere para esta viagem também. Vossa Alteza, saia de seus aposentos quando terminar sua refeição, por favor.

— Lala.

— Esta súdita irá se retirar primeiro. — Sem olhar para a minha direção, ela abriu a porta e saiu.

Assim como quatro dias atrás, eu fui deixado no quarto sozinho. Lapis Lazuli podia até ter se retirado, mas seu aroma de rosas ainda permeava o quarto.

Então uma janela de aviso surgiu.

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64 Novel Mania

[Afeição de Lapis Lazuli diminuiu em 1 ponto.]

Silenciosamente eu cobri meu rosto com as mãos.

Durante toda a minha vida eu pertenci ao grupo de pessoas que se decepcionava com as outras pessoas, nunca fiz parte do grupo que desapontava os outros.

Mas não desta vez. Hoje eu desapontei Lapis Lazuli.

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65 Novel Mania

Lorde Demônio mais fraco, 71° Rank, Dantalian. Calendário Imperial: 20/09/1505. Niflheim, Palácio do Governador.

— Você sabe qual é a pior parte de tudo isso? É o fato de eu não fazer a menor ideia do que fiz de errado.

Fim de tarde.

Antes que eu percebesse, o cenário do lado de fora da janela já tinha escurecido. Barbatos estava olhando para mim sob a iluminação da chama tremulante de uma vela.

Conforme o céu escurecia, a sombra que cobria a feição de Bar-batos se espalhou por seu rosto. Enquanto apoiava seu queixo com o braço, ela me encarava silenciosamente.

— Eu poderia ao menos agir de forma descarada se não sentisse que havia feito algo errado. Eu poderia até questioná-la sobre qual era o problema. Mas não, entendi que tinha feito algo errado, só que não fa-zia ideia do que era. E... este é um sentimento bem miserável. Muito mesmo...

Ela continuou em silêncio.

— Diga-me. O que Lapis Lazuli poderia estar querendo de mim? — olhei para Barbatos com os olhos cheios de seriedade.

Barbatos abriu sua boca, mas nenhuma palavra saiu dela. Então eu não tinha outra escolha senão continuar falando.

— Ela queria que eu ficasse de joelhos e implorasse? Era isso que Lapis queria de mim? Que jogasse fora minha dignidade, como um es-cravo, jogasse fora todo ato relacionado a “manter o respeito” e supli-casse? Poderia ser isso... isso era mais do que possível. Entretanto, por que ela não me diria ao menos quais eram os meus erros? — pressionei minhas têmporas. — Isso deixa as pessoas loucas. Barbatos. Isso real-mente é algo que deixa as pessoas loucas. Você sabe por que Lapis não me disse nada?

— Eu me pergunto…

— Havia um motivo. Lapis queria que eu percebesse meus erros sozinho. Que se ela não falasse nada, então eu descobriria sozinho o que era. Lapis acreditava em mim. Desgraça!

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66 Novel Mania

Thud, bati no chão.

— Isso era insultante e ainda mais insultante. Por que era insul-tante assim... porque estava me tratando como idiota. Primeiro, estava desapontada porque eu não tinha percebido o que tinha feito errado. Segundo, tinha esperanças de que eu descobriria qual era o erro que havia cometido. Você entende? Hm? Você entende o tamanho da merda que isso era? — revelei um sorriso zombeteiro.

Mas ele não saiu como deveria, o sorriso zombeteiro acabou pa-recendo mais um sorriso torto forçado.

— Lapis não estava só julgando o meu eu-presente, mas também o meu eu-futuro. Por conta própria. Por conta própria e como bem quis! Como se me entendesse total e completamente! Como se estivesse se considerando em uma posição superior à minha...! — rangi os dentes. — Era tão insultante que eu poderia vomitar. Era a primeira vez na minha vida que recebia uma ofensa dessas. A decepção e a expectativa que Lapis tinha por mim tornaram-se duas muralhas que me esmagavam ainda mais. Em meu peito, uma raiva... uma fúria começou a surgir aos poucos, tudo acumulado contra Lapis.

— Dantalian.

— Eu cheguei a uma decisão em minha mente — encarei a vela.

O instrumento de cera tinha duas cores. A parte superior amare-la, a parte inferior azulada. Enquanto produzia essas duas cores, a luz queimava e caía lentamente da chama.

— Ser pego uma vez. “Esperarei até a próxima vez que ela de-monstrar desrespeito para mim”. E se Lapis irracionalmente me igno-rasse mais uma vez... — peguei o pavio da vela e o pressionei entre meus dedos. A chama logo tremulou e morreu. — Quando isso aconte-cer eu não ficarei parado.

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67 Novel Mania

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69 Novel Mania

Lorde Demônio mais fraco, 71° Rank, Dantalian. Calendário Imperial: 20/09/1505. Reino da Sardenha, Mercado de Escravos de Pavia.

— Somente duas pessoas?

— Sim. Eu e minha esposa.

— Hm. Aceitaremos duas moedas de ouro como taxa de escolta.

Entreguei cinco moedas para o soldado contratado e ele deu um grande sorriso, havia um charme inesperado emanando do sorriso des-te mercenário que não tinha dois dentes incisivos.

— Muito, muito obrigado mesmo, Vossa Excelência. Nós mercená-rios te protegeremos com nossas vidas durante sua estadia aqui. Por favor, tenha um dia muito agradável com sua senhorita. Ooi, escoltem este casal para o devido lugar! Certifiquem-se de que sejam lugares da mais alta classe!

— Entendido.

Nos subúrbios de Pavia.

Mercadores de escravos montaram tendas nos terrenos abertos das planícies da área.

Para evitar que os ladrões cometessem furtos, soldados estavam guardando com rigor e cuidado toda a zona de comércio. Existiam cinco plataformas de vários tamanhos, aproximadamente setenta guardas e tendas de comércio tão grandiosas que caso você observasse de longe poderia até ser confundido com um acampamento militar. A maioria dos bandidos sequer ousaria perturbar este mercado.

— Vossa Excelência, por aqui.

— Mm.

Seguindo a liderança deste homem, nós prosseguimos até o centro do mercado.

Lapis Lazuli e eu estávamos fingindo ser um casal de jovens mer-cadores. Nós falsificamos nossos documentos de identificação e nomes com todo cuidado, assim não teríamos que nos preocupar tão cedo com nossas verdadeiras identidades sendo expostas.

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70 Novel Mania

O mercado de escravos estava transbordando com uma atmosfera sombria e úmida.

— Mexam-se logo! Jumentos desgraçados.

— Elfos da neve aqui! Capturados diretamente das remotas mon-tanhas nevadas do reino de Moscou. Nesta ocasião em especial, hoje, estarei os expondo de graça. Por favor, venham olhá-los!

— Eu disse para você se mexer mais rápido!

De um lado, um guarda estava brandindo seu chicote e forçando um grupo de escravos a se mover. Uma fila de seis escravos homens acorrentados uns aos outros andava lentamente para frente, de pouco em pouco. Parecia que eu estava vendo uma lagarta andar.

— Por favor, olhe tanto quanto quiser. Olhar é de graça!

Do outro lado, uma elfa nua estava presa atrás de barras de ferro. Um promotor de vendas estava anunciando o quão incrível era o seu “produto” enquanto apontava para os seios e costelas da elfa. Havia muitas pessoas aglomeradas ao redor da jaula de ferro, e existiam até mesmo crianças entre elas. Garotinhas enfiavam suas cabeças nos vãos entre as barras e encaravam a elfa desnuda.

Eu consegui ouvir a conversa delas:

— Irmãzona, é verdade que os elfos conseguem viver só tomando orvalho?

— Uhm, eu não acho que ela consegue entender o que nós estamos falando. Não sei como falar à língua que eles usam em Moscou, e tam-bém…

— Dizem que os elfos tomam sangue puro de crianças todos os anos. É por isso que continuam bonitos por cem ou duzentos anos.

— Sua mentirosa! Pare de mentir!

O grupo de garotinhas riu. A elfa sorriu suavemente enquanto as-sistia as crianças. Quando elas esticaram as mãos, a nativa do norte ficou mais do que feliz e esticou o seu braço para deixar que as garoti-nhas tocassem sua pele. Apesar do braço da elfa estar fino e em estado de puro-osso, as criancinhas estavam fazendo alvoroço como se estives-sem tocando algo semelhante a ouro.

— Essas crianças danadas!

O vendedor tirou as crianças dali enquanto ria cordialmente.

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71 Novel Mania

— Vocês não podem ser tão descuidadas e tocar nos produtos desse jeito!

Eu assisti só até esse momento antes de me virar e afastar.

— Kuaaaaaah…

O som de um chicote sendo açoitado e um escravo gritando pôde ser ouvido de longe e, ainda assim, ninguém no mercado deu importân-cia. Os únicos que prestaram atenção nos gritos foram as crianças. Cada vez que escutavam um lamurio, se empolgavam e perguntavam: “Você escutou isso? Você escutou isso?”. Toda vez que escutavam um grito, imitavam o som com suas próprias vozes bradando “Kaah!” e “Kue-eak!”.

Talvez elas faziam isso graças a sua inocência?

Murmurei:

— Este é um lugar bastante esplêndido. Todos os mercados de es-cravos são assim?

— Sim. Não há muitas diferenças entre eles — respondeu Lapis La-zuli. — O mercado de escravos com que esta serva teve dívidas por um curto período, durante sua infância, tinha a mesma atmosfera deste local.

— O quê? Você já trabalhou em um mercado de escravos?

— Para ser exata, esta súdita não trabalhou em um mercado de es-cravos, mas sim quis se tornar uma escrava. Naquela época, esta vassala estava incrivelmente faminta. Pensava que desde que conseguisse obter uma refeição, então valeria a pena se tornar uma escrava, já que escra-vos ao menos são alimentados — falou calmamente. — Entretanto, as-sim que o mercador de escravos descobriu que esta vassala era uma mestiça, ele me expulsou de lá. Aparentemente, párias não tinham o “direito” de se tornarem produtos para serem negociados. De todo mo-do, antes que a identidade desta súdita fosse revelada, consegui comer meio pão embolorado. É uma boa lembrança.

O passado de Lapis Lazuli era tão sombrio que chegava a ser assus-tador…

Fiz tudo o que pude para mudar de assunto, limpei a garganta.

— A súcubo que costumava vagar por estes terrenos agora é a amante de um Lorde Demônio. Isso não é esplêndido, Lala? O valor de

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72 Novel Mania

alguém não é determinado em seu nascimento. Você, que conseguiu superar todo tipo de condições desfavoráveis, tem o valor mais belo de todos.

Lapis Lazuli me olhou de soslaio.

— De vez em quando Vossa Alteza certamente fala coisas surpre-endentes...

— Hm?

— Não é nada. Vossa Alteza elogiou esta serva dizendo que ela ha-via alcançado o sucesso, mas isso é algo lamentavelmente inadequado. Quando Vossa Alteza se tornar um verdadeiro soberano dos demônios, quando este momento chegar, eu ter ou não atingido o sucesso poderá ser discutido.

— Você é uma mulher deveras gananciosa — sorri —, por isso que gosto de você.

— Não há motivos para Vossa Alteza elogiar esta serva, não ganha-rá nada fazendo isso.

— Eu não tenho expectativas de receber muita coisa em troca. Simplesmente gostaria que nossas atividades noturnas de hoje tivessem mais charme. Em primeiro lugar, quando nós fazemos “aquilo” o seu rosto é tão inexpressivo que chega a ser divertido faze…

Lapis Lazuli pisou no meu pé direito. A parte do calcanhar do sapa-to dela estava fincando diretamente no meio do meu dedo, então doía bastante, mas em contraste à dor, eu estava muito feliz.

Sim. Era a mesma Lapis Lazuli de sempre. A mesma Lapis Lazuli que era tranquila, calma, e que respondia com moderação às minhas provocações. Sentindo um alívio excepcional vindo deste fato, desem-pacotei os meus pertences nos aposentos a que os soldados mercenários nos guiaram.

Naquela noite recebemos um convite para um banquete com os comerciantes de escravos. Valeu a pena ter dado cinco moedas de ouro para aquele soldado, as pessoas que faziam parte do mercado nos reco-nheceram como indivíduos de grande importância e nos ofereceram um convite.

Pergunto-me se era porque o banquete era para comerciantes de escravos, mas o conjunto de pessoas que ali se encontrava era bem ex-

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73 Novel Mania

travagante. Havia vários guardas de prontidão como seguranças e belas escravas nuas servindo comida, logo me integrei ao grupo de mercado-res e comecei a conversar com eles.

O álcool circulou pelo banquete de forma apropriada, era exata-mente a quantidade necessária para que as pessoas ficassem embriaga-das. Esse tipo de noite cheia de cobiça e ambição era o momento mais propício para induzir as pessoas a confessarem seus pensamentos mais íntimos. Agora, vamos direto ao que interessa…?

— É a primeira vez na minha vida que vejo um mercado de escra-vos tão luxuoso. Eu já frequentei muitos mercados de escravos mais amplos e de maior escala, mas se você comparar a qualidade dos produ-tos daqui e daqueles outros, é impossível que consigam chegar ao nível de excelência daqui. Meus amigos, isto é maravilhoso. Estou realmente comovido.

— Haha. Você está nos valorizando e enaltecendo demais — riram os mercadores, seus rostos estavam rubros.

Um clima alegre preenchia o recinto. Todos ali passavam uma boa impressão de si mesmos. Para indivíduos que negociavam escravos, era difícil acreditar no quão inofensivos pareciam ser, não sentiam nem um grama de culpa sequer por venderem escravos?

Bem, provavelmente era assim que as pessoas desta época eram, não era um assunto com o qual eu deveria me envolver. Revoluções deveriam ser deixadas nas mãos dos revolucionários e a política deveria ser deixada na mão dos políticos. Essa era a minha crença. Contudo, existiam muitas pessoas que acabavam misturando esses dois trabalhos distintos.

— Entretanto, há algo que despertou minha curiosidade.

— O que é? Diga-nos.

— Assim como uma bela e única flor pode conquistar todo um sa-lão cheio de pessoas, não haveria também um escravo com um valor inigualável neste mercado? Quem todos aqui consideram ser a flor do mercado?

Os mercadores se entreolharam depois de ouvirem a minha per-gunta.

Pouco depois começaram a fazer um alvoroço.

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74 Novel Mania

— É claro, a flor não seria a elfa da neve que capturei em Moscou? Eu tive que contratar nada mais nada menos do que vinte caçadores só para capturar aquela criatura, não há dúvidas de que o meu produto é o melhor.

— Pfft. Sinceramente, a moda dos elfos já acabou. Hoje em dia nin-fas e sereias são a grande novidade. Tendo dito isso, a ninfa que eu pas-sei por dezenas de dificuldades para conseguir…

— Ha! Como uma simples besta alada poderia gerar algum desta-que? Já é duvidoso se você conseguiria ao menos vinte moedas de ouro com elas. Podem até ser uma espécie rara e adequada para animar a atmosfera de eventos, mas você não pode dizer que são a grande estrela local. Eu tenho certeza absoluta disso.

— Não, é claro que você deve dar uma nota mais alta para elas ba-seado em sua raridade. Na verdade, estou pensando sobre colocar em exposição o meu grande ás na manga e leiloar um centauro. Se for um cavalo então as senhoritas nobres iriam…

Eles bradavam em algazarra.

A discussão de quem tinha o melhor escravo continuou e, depois de um bom tempo, um dos mercadores apontou para um jovem e disse:

— E os seus escravos, Giacomo? Ouvi dizer que você realmente se dedicou para preparar um produto excelente desta vez.

— Não é tão bom quanto a lista de produtos de todos vocês... — respondeu o rapaz enquanto franzia o cenho.

Era o jovem que esteve bebendo vinho em silêncio durante todo o banquete. Apesar do outro mercador ter tentando trazer atenção para o escravo do rapaz, ele recusou. Vendo como a sua feição havia fechado, parecia que estava incomodado com alguma coisa.

— Dizer que não é nada demais! Isso é bem modesto da sua parte!

— É verdade, Giacomo. Nós não somos surdos, escutamos os ru-mores. Ouvimos dizer que você conseguiu obter a filha bastarda da fa-mília de um Duque.

O rosto do jovem se contorceu em uma expressão amarga, parecia que estava desconfortável com o fato de toda atenção do salão estar focada nele.

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75 Novel Mania

— Eu tive sorte... só isso — disse o homem antes de virar sua taça de vinho.

Os cantos de meus lábios se contorceram discretamente enquanto encarava o jovem rapaz.

Encontrei.

Eu tinha certeza de que este homem era o mercador que possuía Laura De Farnese.

Suportar a minha preguiça e participar deste banquete valeu a pe-na. Ter conseguido encontrar o meu alvo tão rápido assim... tive sorte.

Agindo como se estivesse surpreso, eu levantei a voz:

— Espera, pessoal. A filha ilegítima da família de um Duque? Do que estão falando? Eu gostaria de ouvir mais detalhes sobre isso.

— Eu não estou totalmente certo disso, mas este camarada, Giaco-mo, conseguiu um belo de um tesouro mesmo sendo tão jovem assim. É a primeira vez dele entrando na indústria dos mercados de escravos, mas meu Deus do céu, conseguiu colocar as mãos em um produto que é “A Flor dentre as flores”!

— Dizem que é a filha bastarda do Duque da Casa dos Farneses.

Os comerciantes ficaram agitados e começaram a fazer um grande alvoroço.

— A família de um Duque. E não uma familiazinha qualquer, mas sim a família dos Farneses! É claro que o nível de status deles caiu ver-tiginosamente após terem perdido na última Guerra das Rosas, mas ainda assim…

— Bem, este é um segredo conhecido por todos. Eles provavelmen-te não queriam jogar a responsabilidade pela derrota em um dos her-deiros legítimos, então venderam uma de suas filhas bastardas como concessão pela derrota. Contudo, tudo isso não passa de uma série de especulações.

— Essa especulação provavelmente não seria o que aconteceu de fato? As outras possibilidades são impossíveis… Aquela pequena senho-rita foi escolhida para ser um bode expiatório para a sua família.

Alguém estalou a língua.

— Aqueles que saíram por cima após a Guerra das Rosas estão feli-zes por terem conseguido desonrar a família dos Farneses, e os próprios

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76 Novel Mania

Farneses estão felizes por terem conseguido reduzir seus prejuízos ao mínimo possível.

— Se você olhar bem, aquele bando de nobres é ainda melhor nos negócios do que nós comerciantes. Keke. Aqueles no topo da pirâmide realmente sabem como as coisas funcionam.

— Além disso, dizem que “aquilo” não é de jogar fora — disse um dos mercadores enquanto mordia uma coxa de galinha.

Eu transfigurei meu rosto em uma expressão de puro fascínio.

— O que você quer dizer com “aquilo”?

— Aquilo, eu estou falando daquilo. O rosto e o corpo dela são sim-plesmente… kuuh!

O comerciante deu uma risada perversa, um molho marrom gru-dento besuntava seus dedos. Os outros mercadores concordaram ani-mados.

— Eu também ouvi rumores sobre isso. Dizem que ela era a prince-sa trancada dos Farneses.

— Sim. Por ela ser uma mulher de beleza inigualável, temiam que isso fosse causar perturbações no reino. É por isso que o Duque a es-condeu propositalmente na parte mais interna e oculta da mansão, para que ninguém pudesse vê-la.

— Bem, para ser honesto, isso deve que é só um monte de menti-ras.

Os mercadores deram de ombros.

— Não importa como você analise isso, provavelmente a esconde-ram porque estavam envergonhados… Mas o que importa? O simples fato de rumores desse tipo terem vindo junto a ela já é algo especial. Afinal, rumores aumentam o valor do produto.

— Mm. Acho que você está certo. Para início de conversa, ela vem de uma das famílias mais nobres do reino…

— O rumor que afirmava que era a garota mais bela do continente já circulou uma vez.

— E está na flor da idade, 16 anos!

Todos os escravistas caíram na gargalhada juntos.

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77 Novel Mania

A única pessoa incapaz de acompanhar o clima do ambiente era o jovem rapaz. Ele manteve o rosto estoico.

— Por favor, perdoem-me por ir embora cedo... Boa noite. — O homem levantou-se da mesa e andou para fora do recinto casualmente.

Os outros mercadores também lhe deram boa noite, mas o rapaz recebeu as despedidas com displicência. Seria difícil ver essa ação como sendo um comportamento positivo. Assim que o jovem se retirou de fato, os outros comerciantes logo deram voz a suas opiniões.

— Ele não está agindo com um pouco de arrogância? Nós convida-mos todos do mesmo ramo desta forma para que pudéssemos conhecer melhor nossos colegas, mas se ele se comporta assim…

— Um completo mal educado. Ele está apenas agindo com arro-gância assim enquanto se apoia na reputação de seu pai, hoje em dia todos os jovens são desse jeito.

Parece que o jeito que os jovens se comportavam neste mundo e no meu mundo de origem era o mesmo.

Eu coloquei um sorriso no rosto e me levantei.

— Gostaria de dar uma olhada no mercado amanhã bem cedo, en-tão terei que me despedir de vocês e também retornarei aos meus apo-sentos agora. Companheiros, por favor, tenham uma noite maravilhosa.

— Ooh. Durma bem.

Depois de receber as despedidas dos mercadores, eu me retirei do salão de festas. Depois de instruir Lala para que ela fosse para fora do mercado e se preparasse para qualquer situação, fui atrás do rapaz so-zinho. Não tendo que ir muito longe, logo avistei a figura do jovem an-dando sozinho à noite pelo mercado.

— Senhor Giacomo. Senhor Giacomo!

— Pois não…? — O jovem virou-se para olhar para mim, seus olhos pareciam estar olhando para alguém suspeito.

Coloquei um grande sorriso no rosto.

— Você, por um acaso, não gostaria de conversar comigo?

Vamos amaciar o novato.

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78 Novel Mania

Comerciante de Methoranum, Mercador de Escravos, Giacomo Petrarch. Calendário Imperial: 10/09/1505. Reino da Sardenha, Mercado de Escravos de Pavia.

Em um canto da zona do mercado, eu estava bebendo cerveja com um mascate estranho.

Isso era estranho. Realmente não conseguia lembrar como acabei bebendo com ele assim, parecia até que eu tinha sido possuído. Bem, em alguns dias de nossa vida você simplesmente apaga…

— Eu estou contando só para você, Senhor Giacomo — falou o es-tanho à minha frente enquanto revelava um sorriso amargo. — Para te falar a verdade, o ato de comprar e vender escravos é algo desagradável para mim. Parece que estou cometendo um crime contra a humanidade.

— É verdade? Eu também penso assim — respondi alegremente di-ante da confissão dele.

Era por isso, era por causa dessa característica dele que nós come-çamos a beber juntos como se fosse algo natural. Pergunto-me se era uma coincidência ou se era pura sorte, mas a compatibilidade da ma-neira de pensar deste homem e da minha era surpreendentemente boa.

— A princípio, eu não queria ser algo como um comerciante de es-cravos. Entretanto, meu pai me pressionou para que me tornasse um. Ele disse que se eu quisesse me tornar um mercador veterano rapida-mente, não tinha um negócio melhor do que me tornar um mercador de escravos…

— Você tem um bom pai. Mas existem muitas coisas neste mundo que são mais preciosas e importantes do que se tornar um veterano. Seria bom se ele tivesse percebido isso.

— É exatamente o que eu penso! — acabei falando mais alto do que queria, oh deuses.

Mas isso não era de surpreender. Era a primeira vez que havia en-contrado alguém que se relacionava de maneira familiar e tão bem, e ainda por cima isso aconteceu no meio de um mercado de escravos. Este encontro não era algo bem excêntrico?

— Meu pai é muito aficionado ao dinheiro. Sim, o trabalho de um mercador é transportar produtos e fazer dinheiro. Eu não tenho ne-

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79 Novel Mania

nhum problema com isso… Mas os escravos também não são pessoas? Sejam humanos, elfos ou ninfas… tratá-los como se fossem um tipo de produto em exibição…

— Eu entendo. Ah, sua taça está vazia. Aqui, deixe-me servir outra.

— Muito obrigado…

Eu tomei o vinho que o cavalheiro me serviu. Senti uma embria-guez agradável crescendo em mim. Parece que realmente precisava de alguém com que pudesse conversar livremente. Parecia que eu estava bebendo mais do que o normal, mas estava tudo bem, ainda estava den-tro da minha margem do aceitável.

E então o tempo passou. Antes que percebesse, me encontrei le-vando-o para o alojamento da minha plataforma de escravos… Huh, por que eu o trouxe aqui?

— Mas que admirável. Recusar colocar correntes na maioria dos seus escravos, este é um respeito muito humano e belo que você tem com eles.

O homem olhou com admiração para os escravos nos vagões.

Aah, é isso mesmo. Lembrei-me agora. Ele me perguntou se podia dar uma olhada nos meus escravos e eu aceitei alegremente o pedido. Mesmo que não seja permitido trazer convidados para esta área… Isso não seria um problema muito grande, certo? Esta pessoa não era um mero convidado, ele era meu amigo. Pensando bem nisso, qual era mesmo o nome dele?

— A maioria das pessoas apenas falam sobre isso, mas nunca ten-tam de fato. Você é diferente, Giacomo, está realmente tratando os seus escravos com zelo. Eu consigo ver tudo com clareza. É esplêndido.

— Ahaha, você está exagerando.

Ah, bem, nomes não são algo importante. A coisa mais importante quando se trata de julgar uma pessoa é a sua personalidade. Estava tu-do bem em confiar nele. Ele possuía uma boa personalidade.

— Porém, eu não acho que todos os escravos estariam satisfeitos com isso.

— Perdão?

Do que ele estava falando?

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80 Novel Mania

Não tentando me vangloriar, mas na minha opinião não existia ou-tro mercador que demonstrava tanta preocupação com seus escravos quanto eu. Eu oferecia regularmente duas refeições ao dia para eles e, obviamente, os escravos também gostavam de mim. Mas dizer que não estavam satisfeitos…

— Oh deuses, isso foi rude de minha parte. Eu estava só pensando pela perspectiva dos escravos. — O homem revelou um sorriso suave. — Antes de serem capturados por nós, eles não viviam uma vida bem pací-fica? Anteriormente deviam poder mover-se livremente e viver a vida como bem quisessem. Sinto que com certeza manteriam um pouco de insatisfação mesmo recebendo suas refeições na hora certa.

— Pensar pela perspectiva dos escravos…

Isso era surpreendente, eu nunca tinha pensado assim.

Sou um homem livre e eles são escravos. Nós claramente somos di-ferentes. Não tinha motivos para eu imaginar como pensavam sendo que eram completamente diferentes de mim, eu havia pensado nisso assim…

Tratá-los com um pouco de cuidado e zelo já era mais do que o su-ficiente. Pensar pela perspectiva dos escravos? Isso era possível? Não era uma maneira excessivamente idealista de se pensar…?

— E como está na verdade?

Enquanto eu recebia um choque pelas palavras anteriores do ho-mem, ele atirou uma pergunta para mim.

Me recuperei com o sobressalto. Do que ele estava falando? Eu não conseguia lembrar o contexto da nossa conversa. Minha cabeça estava confusa já fazia algum tempo.

— O que é “na verdade”...?

— Eu estou falando da Senhorita Farnese. Você já se esqueceu?

Farnese? Ele estava falando da Senhorita Laura De Farnese?

Não, como que aquela família havia a privado de seu título de no-breza, eu já não podia mais chamá-la usando o nome daquela família. Mas eu não me lembrava claramente se nós realmente tivemos uma conversa sobre isso. Oh deuses, acho que bebi demais.

O homem explicou com toda calma:

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81 Novel Mania

— Eu não havia perguntando se a Senhorita Farnese estava satisfei-ta com sua vida como escrava? Assim que eu questionei, você, Senhor Giacomo, disse que iria mostrá-la pessoalmente a mim.

— Ah. Isso mesmo. Isso mesmo… Por um instante eu havia esque-cido — respondi enquanto estava meio incerto.

A Senhorita Farnese era um bem da mais alta qualidade. Para pre-venir que ladrões a roubassem, eu a escondi na parte mais interna da minha plataforma. Mesmo que ele fosse meu amigo, não podia a mos-trar tão levianamente. Eu estava começando a me arrepender disso. Como pude fazer uma promessa tão irresponsável…

O homem logo percebeu a minha feição e disse:

— Entendo. Parece que você está relutante em mostrá-la a mim.

— Não, a verdade é que…

— Tudo bem. Por favor, não se sinta pressionado. Eu apenas sugeri isso sem um grande motivo ou razão, só estava curioso em relação a como você realmente lidava com seus escravos, como eles realmente se sentiam em relação a você.

O homem deu um sorriso dolorido e murmurou:

— Sou eu quem deveria estar me desculpando. Graças a minha cu-riosidade, acabei colocando o Senhor Giacomo em uma situação difícil. Vamos voltar ao bar.

— Ah…

Após ver a expressão de tristeza dele, uma sensação de culpa in-descritível surgiu em meu peito. Era isso então. Ele só havia pedido alguma coisa pensando em mim como seu amigo. Mas o que eu estava fazendo?

No fim das contas não estava tratando ele como um desconhecido? O que me tornava diferente daquelas pessoas no salão de banquete que açoitavam seus escravos? Eu era ainda pior. Se aqueles mercadores eram vilões, então eu não passava de um mero hipócrita.

— Não... Espere por favor. Eu o guiarei até o local onde a Senhorita Farnese está.

— Perdão?

Surpreso, o homem piscou os olhos.

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82 Novel Mania

— Está tudo bem mesmo?

— É claro. Se nós apenas olharmos e já voltarmos não tem proble-ma nenhum. Por sorte, a Senhorita Farnese não dorme pela noite, então não tem problema fazermos a visita agora.

— Senhor Giacomo... Se você sentir qualquer dificuldade que seja em aceitar o meu pedido, então pode recusar a qualquer momento. — O homem estava me olhando com os olhos cheios de preocupação. — Po-dem até serem apenas algumas horas desde que nos conhecemos, Se-nhor Giacomo, mas sinto que há amizade entre nós. Não quero inco-modar um amigo.

Eu estava comovido pela consideração que demonstrava, então disse que estava tudo bem, mas ele ainda estava sendo delicado em res-peito a mim e tentava recusar. Por que diabos eu estava hesitando fren-te a uma pessoa tão boa?!

Um sorriso se formou naturalmente em meus lábios, o leve toque de ansiedade que ainda restava em meu peito derreteu-se como neve.

— Não, está tudo bem. Eu, por meu próprio desejo, também quero ouvir a opinião da Senhorita Farnese. Se não for um incômodo, gostaria de pedir que você fosse comigo. Se é possível eu pensar a partir do pon-to de vista dos escravos… as coisas que faltavam em mim até agora... Eu gostaria de discutir isso com você.

Os olhos do homem se arregalaram. Até que, por fim, ele sorriu. Foi um sorriso muito suave.

— Giacomo, você sabe como respeitar as outras pessoas. Essa é uma habilidade preciosa que vem do seu coração. Não é algo que qual-quer um consegue aprender, realmente te respeito.

Eu não soube o que falar em resposta ao seu elogio tão direto.

Apesar de minha boca estar aberta e eu não conseguir dizer nada, ele apenas sorriu para mim em silêncio. Como se estivesse me dizendo que entendia tudo sobre mim… Não, era como se entendesse quanto reconhecimento que eu desejava que o mundo me desse, era este tipo de sorriso.

— Ah, bem uh. Você sabe.

— Sim. — O homem deu um sorriso torto. — Vá em frente, Senhor Giacomo.

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83 Novel Mania

—É… p-por aqui. Por favor, siga-me.

Sentindo-me envergonhado, as palavras não me vinham à boca fa-cilmente.

Por algum motivo, eu me sentia muito acanhado para olhá-lo no rosto. Sim, é porque eu estava bêbado. Minhas emoções estavam com-pletamente descontroladas por causa da embriaguez, não tinha nenhum motivo além desse. Nenhum mesmo. Sério.

Lentamente, minha cabeça ficou tonta. Estava ficando mais difícil me manter estável. Mesmo que eu tentasse dizer que era tudo minha imaginação, a minha visão estava se retorcendo demais. Era estranho. Eu não deveria ser tão fraco assim com o álcool.

— S-só um pouco mais a frente. — Minhas palavras começaram a se embaralhar. Minha consciência começou a se esvair rapidamente. — Só mais um pouco e a cela em que a Senhorita está confinada…

— Está tudo bem, Giacomo.

Eu estava oscilando da direita para a esquerda e ele me apoiou com leveza.

Assim que apoiei minha cabeça sobre o corpo dele, toda a minha força desapareceu. Enquanto meus olhos começaram a se fechar lenta-mente, pude ouvir a sua voz:

— Parece que você bebeu um pouco demais hoje. Tomarei a res-ponsabilidade e levarei o Senhor Giacomo de volta a seus aposentos. Por isso, por favor, descanse tranquilo. — Uma voz que soava como a cantiga materna.

Sentindo-me confortado pela voz, fechei meus olhos. Apesar do fa-to da minha mente estar totalmente desorganizada, tive certeza absolu-ta de uma coisa: Eu tinha conseguido uma amizade que duraria para sempre…

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84 Novel Mania

Lorde Demônio mais fraco, 71° Rank, Dantalian. Calendário Imperial: 10/09/1505. Reino da Sardenha, Mercado de Escravos de Pavia.

Bom, isso foi bem fácil.

Eu deitei o jovem no chão e dei um sorriso torto.

— Você não deveria confiar em uma pessoa como eu tão facilmen-te, amigo.

Conquistei com extrema facilidade este rapaz que parecia ter cerca de dezenove anos. Eu apenas o elogiei moderadamente, mas ele ficou animado por conta própria e se entregou de braços abertos. Foi tão fácil que chegava a ser ridículo. Isso se devia ao meu talento, ou era porque ele era excessivamente puro mesmo sendo um mercador…?

A resposta era clara, foi graças ao meu talento. Eu sabia muito bem disso. Se por um acaso eu falasse com humildade seria apenas para res-peitar a etiqueta e, além disso, a afeição dele aumentou em uma quan-tidade absurda.

Nós passamos apenas duas horas bebendo juntos, mas seus pontos de afeto voaram pela primeira dezena, ultrapassaram os 20 pontos e, por fim atingiram a marca dos 30. Ainda assim, a afeição de Lapis La-zuli continuava em 10. Por que exatamente eu recebia mais afeto de homens do que de mulheres? Deve ser um sinal do fim dos tempos.

— Status.

Depois de murmurar baixinho a palavra, um holograma apareceu à minha frente. Uma espécie de janela de status que só aparecia se os pontos de afeição passavam de 20.

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85 Novel Mania

Nome: Giacomo Petrarch.

Raça: Humano.

Profissão: Mercador (E).

Reputação: Estudioso Anteriormente Fracassado.

Liderança F Força F Inteligência E

Política F Charme C Técnica F

Afeição: 32

Estado Mental Atual: “Amigo...”

Mas que natureza adorável a dele. De certa forma, ao invés de uma garota como Lapis Lazuli, cujas intenções eu não chegava nem perto de compreender, este tipo de pessoa era consideravelmente mais complacente.

Um tipo de pessoa que dava o seu melhor para respeitar os ou-tros, apesar de ser ligeiramente ingênua e mentalmente fraca. A maior parte da população pode ridicularizar gente assim, tratando-as como sendo fracotes e presas fáceis, mas eu ao menos não faço isso. Na ver-dade, eu até os invejava um pouco, já que nunca conseguiria ser como eles...

— Só pense nisso como ‘eu acabei me envolvendo com uma pes-soa horrível’.

Procurei pelo casaco de Giacomo até que minhas mãos encon-traram um molho de chaves. Elas fizeram um tinido metálico quando as retirei. Era muito provável que a chave para a cela da Laura De Farnese estivesse entre elas.

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86 Novel Mania

Roubar é errado? Isso é óbvio. Sou uma pessoa ruim, então fiz algo no nível de furtar como se fosse normal.

Eu vendi qualquer coisa que se assemelhava a culpa há muito tempo.

Durante a minha vida, cheguei à conclusão de que não havia um motivo sequer para portar algo do tipo comigo.

Não tenho certeza do que um masoquista, que gosta de receber dor, pensaria sobre isso. Sendo um sádico saudável e sensato, não tinha como eu saber essa resposta.

— Mmmm… — resmungou Giacomo Petrarch enquanto dormia.

Já que adulterei sua cerveja com algumas pílulas de sono relati-vamente fortes, ele iria continuar roncando assim por um bom tempo.

Dei uma batidinha na cabeça de Giacomo.

— Durma bem. Laura De Farnese é uma pessoa difícil demais para alguém bom como você conseguir lidar. Tudo o que precisa fazer é dormir tranquilo e deixá-la em minhas mãos.

— ....

— Isso será mais benéfico para Laura De Farnese, para você e para mim. Você não fez nada de errado.

Imagino se ele conseguiu escutar minhas palavras enquanto dormia.

Aos poucos a face de Giacomo Petrarch relaxou, o som de respi-ração pesada saía dentre seus lábios.

Bom. A boa criança fechou os olhos, era hora dos indivíduos completamente perversos vagarem como fantasmas na noite.

Segurando as chaves na minha mão, prossegui. O meu destino logo ficou visível. Entre dois vagões de madeira residia uma gaiola de ferro.

A luz da Lua a cobria gentilmente.

Apesar das barras de ferro estarem sendo banhadas no luar, elas não brilhavam, mas sim pareciam se aproximar ainda mais da escuri-dão. Era como se repudiassem qualquer coisa que se aproximasse do exterior, até mesmo a simples luminosidade.

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87 Novel Mania

Havia apenas uma coisa em especial que estava sendo iluminada pela luz. Não era a jaula, mas sim a garota presa nela.

A garota estava vestindo trapos similares aos que um mendigo usaria. Provavelmente havia se passado muito tempo desde a última vez que conseguiu se banhar, já que manchas de sujeira estavam espalha-das sobre sua pele aqui e ali.

E então, a Lua no céu estrelado foi coberta pelas nuvens por um momento para, em seguida, aparecer novamente. O luar recobriu a pele da garota mais uma vez, fazendo com que ela brilhasse resplandecente.

Acabei prendendo a respiração mesmo sem querer.

Não importa quem viesse aqui, todos seriam sobrepujados pela beleza desta garota. Entretanto, a razão para eu ter a minha respiração roubada por um instante não foi a beleza da jovem. Algo completamen-te diferente havia me comovido.

A pequena escrava estava lendo um livro...

No meio da gaiola infinitamente sombria, utilizando a Lua como sua única fonte de luz, com um livro grosso aberto no chão a sua frente, ela virava as páginas silenciosamente com suas mãos feridas.

Havia algo de tirar o fôlego nesta cena extraordinária.

Se alguém me perguntasse o quê, então seria que absolutamente nada conseguiria a atrapalhar.

Podia ser só a minha primeira vez a vendo, mas eu entendi tudo no mesmo instante.

A desgraça e vergonha de ter caído da nobreza para a escravi-dão, o número infindável de pessoas que a agrediram e ofenderam, o desespero e a mágoa de ser abandonado por seus próprios pais. As di-versas emoções não tinham nenhum efeito nela, absolutamente ne-nhum.

Ela já era uma humana completa.

Reclusa.

Na escuridão.

Eu me aproximei da jaula fazendo barulho com meus passos.

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88 Novel Mania

Apesar de ter feito meus passos serem barulhentos proposital-mente, a garota não levantou a cabeça, simplesmente olhava para baixo com o seu rosto inexpressivo.

Ela estava tão focada em seu livro que não conseguia ouvir ne-nhum som exterior?

Entrei no caminho entre a Lua e a jovem.

Uma sombra negra repousou sobre ela. Agora, pela primeira vez, a menina lentamente levantou a cabeça para me fitar de volta, com olhos que não possuíam uma centelha de luz sequer.

Laura De Farnese, a humana que se opôs ao herói e transformou o continente em um mar de sangue.

Para a garota que foi abandonada por sua família e pelo mundo, eu disse:

— Meu nome é Dantalian, o Lorde Demônio de Rank 71...

Sem qualquer tipo de falsidade ou enganação.

Truques bobos não funcionam com pessoas com esse tipo de olhos. Sempre direto e honesto, era o melhor método de persuasão nes-te tipo de situação.

— Farnese. Eu vim aqui para obtê-la. Sou rico, portanto, consigo comprá-la facilmente no leilão de escravos se eu assim quiser. Minhas bruxas e tropas estão ocultas aguardando dentro do mercado, logo, to-má-la a força também é uma possibilidade real.

Não era mentira.

A esta hora, Lapis Lazuli muito provavelmente estava se prepa-rando para começar um ataque nos arredores do mercado. As Irmãs Berbere estavam com ela. Minhas forças estavam aguardando o meu comando.

Onze bruxas e nove soldados da mais alta classe.

As defesas deste mercado de escravos eram consideravelmente boas, mas ainda assim não passavam de setenta guardas. Utilizando o poder de fogo das bruxas nós podíamos transformá-los facilmente em carne grelhada. Roubar Laura De Farnese e desaparecer tranquilamen-te não seria algo difícil.

Se eu desse a ordem então isso seria simples.

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89 Novel Mania

Mas, apesar disso...

— Mas desejo que você me reconheça. — Eu queria deixar isso como uma última opção.

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90 Novel Mania

— Não por riqueza ou por poder. Eu quero ser aceito por você

puramente de pessoa para pessoa. Por favor, me julgue com teus olhos

foscos, determine se possuo ou não o calibre para lhe ter. Avalie-me

com precisão.

Ela ficou em absoluto silêncio.

— Você poderia me oferecer a oportunidade de realizar o seu teste?

Uma calmaria silenciosa tomou o local enquanto a garota me encarava com os olhos vazios.

Nós não evitamos o olhar um do outro. Até que uma terceira nu-vem cobriu a lua, o tempo passou em silêncio.

A garota por fim moveu os lábios.

— Pare de tampar a luz da lua e mova-se para o lado... — Era uma voz inorgânica, igual uma máquina tentando imitar uma voz hu-mana sem qualquer naturalidade.

Casualmente, eu assenti.

Neste local, esta garota havia estabelecido seu próprio reino com perfeição. O livro era tudo para ela. Portanto, o ato de tampar a luz sig-nificava que eu estava invadindo seu território. Aceitei prontamente o pedido da Senhorita Farnese e dei um pequeno passo para o lado.

A Senhorita Farnese balançou a cabeça aprovando.

— Dou-lhe meus agradecimentos. Você é uma pessoa gentil.

— Respeitar o domínio de outra pessoa é algo básico afinal. Mesmo que você se torne minha vassala, sempre respeitarei os seus desejos assim como o fiz agora.

— Vassala? — A cabeça da Senhorita Farnese pendeu para o la-do em confusão. — Não me tomando como uma escrava sexual, mas sim como uma vassala?

— Exato. Se eu quisesse te tratar como uma escrava, então teria te comprado com ouro ou teria agido de maneira violenta. Mas concluí que riqueza e poder não eram necessários para te persuadir. Laura De Farnese, eu simplesmente quero te obter.

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91 Novel Mania

— Se isso agora fosse uma confissão de amor, então esta jovem senhorita ficaria comovida com toda certeza. — Senhorita Farnese colo-cou uma mão em seu queixo.

Diga-se de passagem, Laura De Farnese falou em quatro línguas diferentes. Sardenho, habsburgo, franco e helasiano antigo. Não era uma simples conversa. Ela estava me testando para ver o quão bem eu conseguiria acompanhá-la.

Passei em seu teste básico com facilidade. Não importa a situa-ção, se envolvesse línguas então não tinha como eu perder. Além do mais, eu estava bem confiante de que essa era a minha especialidade.

A partir de agora vinha o evento principal.

— Sou honestamente grata por sua oferta. O único outro destino que resta a esta jovem senhorita é ser vendida para algum nobre bem afortunado e viver uma vida como escrava para aliviar os desejos sexu-ais dele.

— Aah. Exatamente.

Graças às informações que consegui obter em ‹Dungeon At-tack›, eu tinha um panorama geral do que seria o destino da Laura De Farnese. Provavelmente não seria um problema citar quais seriam os eventos futuros.

— A pessoa que te comprará no leilão será o Conde Roswell do Reino da Bretanha. Publicamente, ele é elogiado como sendo um ho-mem de personalidade nobre, mas na verdade ele é um pervertido sádi-co.

— Hou.

Eu chamei a sua atenção? A Senhorita Farnese demonstrou uma resposta interessada. Todavia, seus olhos continuavam opacos.

— Conte-me mais detalhadamente sobre isso.

— Com todo prazer. Conde Roswell gosta de trancar nobres caí-das, como você, em sua câmara de tortura subterrânea, é o prazer de sua vida. Como suas preferências são tão vastas, ele se deleita com di-versas atividades, desde tortura com cera quente até amputação.

— Amputação? O que é isso?

— Existem muitos tipos de pervertidos neste mundo, Senhorita Farnese — revelei um sorriso gentil. — Dentre eles, há o tipo de pessoa

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92 Novel Mania

que sente prazeres carnais ao ver mulheres tendo seus braços e pernas arrancados.

Sinto satisfação sempre que consigo revelar a realidade cruel pa-ra uma garota ignorante sobre como o mundo funciona. Você pode di-zer que eu sentia como se estivesse contribuindo um pouco para a edu-cação desta jovem, afinal, sou uma pessoa amigável.

— Se você fosse vendida para o Conde Roswell, não há dúvidas de que seria estuprada continuamente por várias pessoas em uma cela onde nem mesmo a luz do Sol consegue alcançar, por dez anos. Se não tiver sorte, então pode também experienciar abortos forçados várias e várias vezes.

— Esse é mesmo o pior indivíduo para me tornar escrava. Eu consigo aguentar ser torturada com cera de vela, mas esta jovem senho-rita acha que não conseguiria tolerar ter seus membros arrancados.

— Isso por que você não conseguiria mais ler livros?

— Sim. Eu não seria capaz de ler livros sem meus membros — respondeu com toda seriedade a Senhorita Farnese.

Pensei mesmo que ela seria este tipo de garota.

— Mas, oh Lorde Demônio. É bem difícil acreditar que você pla-neja utilizar esta jovem senhorita como algo além de uma escrava sexu-al. Como você pode ver, esta jovem é deveras bela. Mesmo que me tome como sua vassala, como esta moça poderia ter certeza de que você não será cativado pela aparência dela no futuro e a violará?

Ela era uma mocinha que falava besteiras como se fosse algo na-tural.

Ficando levemente abalado, eu franzi o cenho.

— Você... você, por um acaso, ouve com frequência outras pes-soas te dizerem que é muito convencida?

— Perdoe-me. Estou apenas avaliando minha própria beleza ob-jetivamente. Durante minha vida, quatro vezes meu próprio pai, onze vezes meus meios-irmãos e duas vezes minhas meias-irmãs, esta jovem senhorita quase foi estuprada por eles. A beleza desta jovem é, com toda certeza, fora do comum. Isso é mesmo uma pena.

— O quê? Você quase foi estuprada por suas meias-irmãs? — Até mesmo esse Lorde Demônio aqui ficou surpreso com isso.

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93 Novel Mania

A Senhorita Farnese respondeu bruscamente:

— Existem muitos tipos de pervertidos neste mundo, oh Lorde Demônio. Dentre eles há o tipo de mulher que sente desejos carnais por pessoas do mesmo sexo. Somado a isso, também há o tipo de mulher que sente desejos incestuosos por pessoas que compartilham do mesmo sangue.

A sua frase seguiu exatamente a mesma cadência da que eu disse antes tentando me vangloriar. Era um contra-ataque por eu ter me comportado como um adulto ante a ela.

Acabei admirando a mente desta garota sem querer.

— Impressionante...

— Você não precisa elogiar esta jovem senhorita, uma vez que ela já havia percebido e se acostumado com sua genialidade quando tinha apenas seis anos.

— Oh, é mesmo? Que coincidência. Quando percebi que eu era um prodígio também tinha seis anos.

— Mm, é mesmo? Esta jovem senhorita deveria adicionar que se tornou ciente de seu intelecto superior após testemunhar seus irmãos sofrendo para dominar um mero teorema geométrico mesmo eles tendo mais do que dez anos.

— Eu me tornei ciente disso quando vi que minhas meias-irmãs mais novas não conseguiam dominar nem mesmo duas línguas aos cin-co anos.

— Aah. Realmente é difícil entender por que as pessoas sofrem para aprender línguas estrangeiras. Você não domina automaticamente uma língua depois de escutá-la por meio ano?

— Precisamente. Isso é algo que eu também não consigo enten-der.

— Sempre que esta jovem senhorita vê um grupo de pessoas confusas com uma simples verdade, enquanto ela sente tristeza e pena deles, também, ao invés disso, sente ainda mais suspeita vindo desta confusão. Como é possível conseguir viver tanto tempo com um cérebro desses? Se esta senhorita algum dia estivesse no lugar deles, com certe-za cometeria suicídio na mesma hora.

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— A maioria das pessoas nascem sendo dignas de pena. Não há nada a ser feito sobre isso. Não há outra opção para seres como nós senão os educar com elegância sobre o que é inteligência e etiqueta.

— Oh Lorde Demônio, mas tal calvário não é sacal?

— Ele é de fato incrivelmente fastidioso. Entretanto, apesar de tudo, nós ainda somos parte da comunidade que reside neste mundo. Às vezes devemos ser capazes de nos sacrificar por uma boa causa.

— Por “às vezes”, você quer dizer uma vez na vida?

— Se for tudo isso, então já é muito mais do que suficiente...

Ah! Acabei ficando envolvido no diálogo por acidente.

A máscara que eu estava utilizando para atuar havia atenuado consideravelmente durante a conversa.

A afinidade desta garota comigo era boa além do que eu poderia imaginar.

— Oh, certo. Ademais, esta jovem senhorita ocasionalmente pa-ra de falar e se isola em seu próprio mundo durante uma semana intei-ra. Se nós formos passar nosso tempo juntos, por favor, leve isso em consideração.

— Ah, por vezes eu também me prendo à minha cama e me re-cuso a sair por cerca de quatro dias a cada vez que me isolo. Nessas oca-siões, espero que respeite minha vida pessoal.

— É claro. Além disso, esta jovem senhorita costuma tocar violi-no muito alto. Adicionalmente, há vezes em que ela se deixa levar pelo entusiasmo e começa a cantar também. Então, se você irá viver com esta senhorita, também deve levar isso em consideração.

— Violinos são parte dos prazeres da vida — balancei a cabeça concordando com honestidade.

— Oh, você acha mesmo?

— A melodia dos instrumentos da família dos cravos3 é muito rí-gida, então ela passa um sentimento muito mecânico. Mas no caso dos violinos, eles não expressam as intensas vibrações da vida? Música é vibração, e nada além de vibração. O oboé também é bastante maravi-

3 Cravo é a designação dada a qualquer dos membros de uma família europeia de instrumentos musicais de tecla.

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lhoso, mas se você precisa comparar os dois, então o violino continuaria sendo melhor.

— Esta senhorita concorda em absoluto.

Nós olhamos um para o outro fixamente.

Com muito cuidado, eu abri a boca.

— Diga, não tenho certeza se isso é um mal-entendido, mas…

— Mm?

— Não tenho certeza da razão exata, mas parece que nós conse-guiremos conviver em grande harmonia.

— Mas que coincidência peculiar. Esta senhorita compartilha da mesma opinião.

— Isso pode ser abrupto, mas eu tenho algumas perguntas. Quem é a pessoa mais inteligente do mundo?

A garota respondeu imediatamente:

— É claro, são os indivíduos, eles em si.

— O que pensa sobre uma pessoa que descumpre uma promessa irresponsavelmente e destrata os outros?

— Seria no mínimo apropriado que seus membros fossem arran-cados e que fosse sentenciada à morte.

— Quando você vê uma pessoa pura, o que passa pela sua cabe-ça?

— Como é possível viverem uma vida tão tola, mas ao mesmo tempo esta senhorita também é ofuscada por sua pureza e não consegue evitar admitir que os puros pertencem a uma raça superior à dela.

— O que é o amor?

— Um ato suicida de destruição disfarçado de romance.

— O que é amizade?

— A emoção que esta jovem oferece aleatoriamente às pessoas que não a incomodam.

— O que é o trabalho?

— É a prova de que Deus não existe neste mundo, e que seria tremendamente apropriado que isso fosse erradicado.

A garota e eu assentimos com a cabeça ao mesmo tempo.

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96 Novel Mania

Pode-se dizer facilmente que este cumprimento foi algo destina-do.

— Senhorita Farnese. Eu pessoalmente não gosto de corpos in-fantis, sinto mais atração sexual por mulheres com seios fartos. Então, por sorte, as chances de eu ser cativado por você são incrivelmente bai-xas.

— Oh Lorde Demônio, esta jovem senhorita prefere homens que são de idade mais avançada, então no mínimo cinquenta anos, mas se possível sessenta anos. Esta jovem detesta homens sem nenhuma ruga. O charme de um homem vem puramente de seus anos de experiência, portanto, as chances desta senhorita ser seduzida por você são muito baixas.

Nós levantamos os braços e seguramos a mão estendida um do outro com firmeza.

— Perfeito...

— Esplêndido...

Isso já tinha ultrapassado há algum tempo a questão de ser compatível ou não.

Eu era a outra metade dela, e ela era a minha. Nós nascemos no mesmo planeta, mas, devido ao desejo mesquinho dos deuses, fomos separados. Até que, finalmente, hoje conseguimos nos reunir aqui. Po-dia até haver uma diferença de idade entre nós, mas isso não era um problema. Uma companhia que compartilhava da mesma ideologia era algo que ultrapassava barreiras de gerações e idade. A alma que era uma figura decalcada da minha que não consegui encontrar no meu mundo original agora estava à minha frente.

Um efeito sonoro soou e uma janela de notificação apareceu.

[Você atingiu uma comunhão sincera com sua interlocutora.]

[Afeição de Laura De Farnese aumentou em 15 pontos.]

Os pontos de afeto ultrapassaram a marca dos 10 pontos de uma só vez.

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97 Novel Mania

Demorou cerca de cento e cinquenta dias para aumentar a afei-ção da Lapis Lazuli apenas até os 10 pontos, porém, no caso da Laura De Farnese levou apenas quinze minutos. Qual o motivo para esta dis-crepância na escala de tempo?

Entendo, Lapis Lazuli era mesmo um caso especial.

Enquanto me sentia feliz com minha própria competência eu usei a chave para destrancar a jaula.

Com um estalo, a porta da gaiola se abriu. Depois de desprender a coleira de metal ao redor do pescoço da Senhorita Farnese, todos os problemas estavam belamente resolvidos.

— Mmm. Isso é revigorante.

A Senhorita Farnese saiu de dentro da prisão. Então ela esticou seus braços para cima em direção da lua no céu noturno, parecia que estava tentando medir quanto do céu conseguiria capturar com seus braços.

O tempo passou desta maneira por um longo tempo.

Pouco depois, Farnese virou-se para a minha direção.

— Senhor... — Ela se ajoelhou apoiando-se em apenas um joe-lho. — Contanto que Vossa Senhoria não traia esta jovem senhorita primeiro, ela seguirá seus comandos com lealdade. Contanto que Vossa Senhoria respeite esta jovem senhorita, ela devotará sua alma a ti. Lau-ra De Farnese, sendo a terceira filha do Duque de Parma e a herdeira legítima de Piacenza, nesta noite, do décimo dia, do nono mês, do ano mil quinhentos e cinco do calendário imperial, com todos os deuses como testemunhas, jura neste momento: Se Vossa Senhoria ordenar que esta jovem senhorita seja sua espada, então ela se tornará sua es-pada. Se ordenada a ser sua cabeça, então ela se tornará sua cabeça. Se ordenada a ser suas pernas, então ela se tornará suas pernas. A deter-minação desta jovem senhorita, o conhecimento desta jovem senhorita e os seus esforços serão eternamente devotados a Vossa Senhoria. Se-nhor, peço apenas que conceda a esta jovem senhorita um pouco de liberdade.

— Eu sinceramente prometo que protegerei tua liberdade — se-gurei a mão da Senhorita Farnese e fiz com que se levantasse.

Apesar de não passar de uma promessa verbal formal, também era a primeira promessa estabelecida entre eu e esta garota.

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98 Novel Mania

Eu não poderia a tratar com negligência.

— Dantalian, Lorde Demônio de Rank 71, sendo um represen-tante sagrado e inviolável que simboliza dignidade absoluta, e como membro da ordem dos 72 que governa todos os demônios, prometo: Tua devoção será recompensada, tua lealdade será honrada. Teus erros serão perdoados e aqueles que guardam animosidade contra ti serão então meus inimigos. As casas que lhe levaram a ruína, sendo elas a Casa dos Médicis em Florença, a Casa dos Sforzas em Milão e a casa dos Agilolfes em Pavia—e se tu assim desejares, então até mesmo a Casa dos Farneses em Parma. Usando todos os meios necessários, eu te vingarei.

A minha promessa acabou sendo uma surpresa?

A Senhorita Farnese piscou os olhos.

— Você é louco? Eles são autoridades que têm reinos inteiros perfeitamente sob o controle de suas mãos. Certamente são aqueles que contribuíram para a queda desta moça na escravidão, mas…

— Não se preocupe. Eu não repetirei meu juramento — revelei um largo sorriso. — Afogarei o Arquiduque de Florença no oceano, exe-cutarei o Duque de Milão perfurando trinta e seis buracos em seu cor-po, decapitarei o Conde de Pavia e deixarei sua cabeça exposta em uma estrada e, por fim, deixarei o destino do Duque De Farnese em suas mãos. Dez anos. Não, eu realizarei a sua vingança sobre todas essas pessoas dentro de nove anos.

A Senhorita ficou em silêncio.

— Que tal assim? Com tudo isso as minhas intenções ficaram claras para você?

— Pelo que parece, aparentemente esta jovem senhorita esco-lheu servir a um senhor bastante insano... — Laura De Farnese balan-çou a cabeça levemente. — Isso é problemático. Se você me oferecer tantas promessas assim então isso será injusto. Esta jovem senhorita fará mais uma promessa.

— Mais uma?

— Aah. Se Vossa Senhoria realmente executar a vingança por es-ta jovem, então, eu, Laura De Farnese, irei devotar a minha própria liberdade a você mais do que alegremente. Tornar-me-ei sua escrava por vontade própria, e serei propriedade de Vossa Senhoria em júbilo.

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99 Novel Mania

— Excelente. Juro pelo Rio Estíge.

— Juro pelo Rio Estíge.

Eu beijei levemente a testa da Senhorita Farnese.

O cheiro de sujeira estava forte, já que ela não pôde se limpar por um bom tempo, mas por algum motivo isso não me incomodou, senti como se tivesse ganhado uma irmãzinha que era exatamente igual a mim.

Aproveitando a oportunidade, dei um abraço nela. O corpo pe-quenino da Senhorita Farnese foi envolvido pelos meus braços. Ela não resistiu. Ao invés disso, até repousou sua cabeça em meu peito. Que bonitinha...

— Tem algo que atiça a curiosidade desta jovem senhorita, mi-lorde.

— Diga.

— Com o que exatamente você planeja utilizar esta jovem? Para ser sincera, esta senhorita não tem talento algum na política. Porém, ela considera sua própria habilidade de adquirir e interpretar conhecimen-to e estudos um talento de nascença do qual pode se vangloriar com confiança.

— Ah. Planejo fazer de você minha general atuante. A partir de hoje como a comandante suprema das minhas forças, seu dever é repe-lir os inimigos.

— Esta jovem senhorita sendo a general? — A voz da Senhorita Farnese ficou levemente mais aguda.

Isso provavelmente se devia ao fato de ser um papel que ela de-finitivamente não esperava.

Na história original, o momento que a genialidade no combate militar da Laura De Farnese floresceu seria daqui dez anos. Aconteceria depois que o Conde Roswell morreria envenenado e ela competiria pela autoridade sobre a Casa do Conde. Até então Laura De Farnese não sabia qual era o seu verdadeiro talento.

É claro, eu ia despertar este monstro dentro dela dez anos mais cedo.

— O quê? Você não esperava por isso?

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100 Novel Mania

— Obviamente. Apesar de esta jovem senhorita ter lido muitos manuais sobre a arte da guerra, o talento desta senhorita quanto às ba-talhas militares muito provavelmente não existe. A guerra não é algo em que um amador deveria tomar a frente. Esta jovem acredita que é uma tarefa que deve ser avaliada com muita cautela antes de ser atribu-ída a alguém. Ao invés disso, esta jovem senhorita recomenda algo co-mo ser a curadora de uma biblioteca…

Dei uma risadinha.

Você só estava dizendo isso porque não se conhecia completa-mente.

Em um campo de batalha tático, se enfrentasse um inimigo com a mesma quantidade de tropas que você, suas chances de vitória eram cem por cento. Se suas forças fossem três décimos menores, então você tinha oitenta por cento de chances de sair vitoriosa. Se suas forças fos-sem apenas metade da do inimigo, então sessenta por cento de chances. Você era uma comandante extraordinária que conseguia conquistar a vitória não importando a situação.

Até mesmo o herói teve que mobilizar um exército com três ve-zes o tamanho do seu para poder te derrotar, Laura De Farnese. Você era um símbolo tanto de medo quanto de pesadelo no continente. Bas-tava uma mera notícia de que estava participando na batalha e inúme-ras cidades hasteavam suas bandeiras brancas se rendendo.

Uma garota amada pela deusa da Guerra. Não, a deusa da Guer-ra que havia se tornado uma garota. Esta era a garota na minha frente que estava balançando a cabeça confusa.

— Confie na perspicácia dos meus olhos. Você brilhará mais se-gurando o bastão de comando em um campo de batalha do que brilha-ria lendo livros. Farei com que a história lembre seu nome.

— Mm. Estranhamente, esta jovem senhorita está ficando cheia de confiança… — A Senhorita Farnese me fitou com os olhos cheios de dúvida. — Atribuir as questões militares a uma moça de dezesseis anos, esta escolha de uso de mão de obra é algo inédito. Apesar desta senhori-ta acreditar que é um ato extremamente tolo, a determinação de Vossa Senhoria é muito firme. Mesmo que esta jovem acabe criando confusão no comando militar, não repreenda muito esta moça, tudo bem?

— Você é bem cínica. Eu vou repetir: Acredite em mim.

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101 Novel Mania

Enquanto afagava suavemente a cabeça da Senhorita Farnese, retirei um pedaço de pergaminho de meu casaco e o rasguei. Assim que o fiz, uma chama vermelha surgiu e atirou-se aos céus.

Hora de escapar.

Booooom!

A chama explodiu como um fogo de artifício. Os guardas que es-tavam no turno da noite devem ter visto isso. Lentamente o mercado de escravos ficou agitado. As forças de segurança estavam se movendo pelo local em desespero, tentando encontrar o culpado por atirar o sinal.

— Hey...! De onde aquele sinal...

— Desgraça..., veio do lado dos Methoranum...

— Aqueles moleques ricos estão por aí esbanjando seu dinhei-ro...

Mesmo de longe, nós conseguimos ouvir pessoas gritando e dando ordens com urgência.

Pouco depois, um grupo de quatro ou cinco guardas veio cor-rendo até nós. As tochas que seguravam iluminaram os arredores. En-tão, os guardas perceberam que a Senhorita Farnese estava fora de sua prisão.

— Hey! Por que uma escrava está solta sem permissão? — Um soldado mostrou uma expressão amarga. Seus olhos estavam recheados de cautela. Caso fosse necessário, ele provavelmente me cortaria.

Coloquei um sorriso leve no rosto e disse para se acalmarem.

— Sou amigo do mercador de Methoranum deitado logo ali. Es-tava checando a qualidade da escrava junto com o Senhor Giacomo, mas ele acidentalmente rasgou um pergaminho mágico no processo. Peço desculpas por causar um alvoroço no meio da noite, cavalheiros.

Os soldados olharam rapidamente para Giacomo Petrarch que estava no chão. Ele continuava dormindo como uma pedra.

— O que você quer dizer com “checando a qualidade da escra-va”?

— Bem. Se eu tivesse que te dar uma demonstração, então seria isto — beijei o pescoço da Laura De Farnese.

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102 Novel Mania

E então passei minha mão direita rapidamente sobre seu corpo e sorri.

Os guardas arregalaram os olhos enquanto nos observavam com seus queixos caídos.

— Em alguns dias, esta escrava será vendida ao Conde Roswell do Reino da Bretanha. O ilustríssimo Conde pediu especificamente por uma escrava sexual de luxo. Mas cavalheiros, não seria um grande pro-blema se esta escrava na verdade fosse uma mulher frígida?

— R-realmente, mas…

— Aah. Seja isso um grande problema ou não, como vocês todos devem saber, o comerciante de Methoranum é bem jovem, portanto ignorante quando se trata deste tipo de coisa. É por isso que eu, sendo seu amigo, estava gentilmente fazendo a checagem por ele.

Os soldados trocaram olhares uns com os outros. Era aparente que estavam apreensivos. Eles queriam prender o culpado que havia disparado a chama, mas, ao mesmo tempo, estavam preocupados se estavam ou não interrompendo uma tarefa muito importante.

— De qualquer forma, todo este serviço é pelo ilustríssimo Con-de. Eu provavelmente não deveria estar contando isso, mas vou dizer para vocês este segredo. O nome do Conde Roswell é bem famoso no Reino por seus passatempos devassos. Se por um acaso a escrava não conseguir satisfazer ele, então só os deuses sabem como nós seremos punidos.

Usar o prestígio neste tipo de situação era conveniente. Conde, Conde, Conde, ao repetir essa palavra várias vezes consegui assustar esses guardas. “Se você mexer comigo então um nobre vai ficar estres-sado, sabia? Você quer mesmo isso?”, eu estava quase que os ameaçan-do dessa forma.

— Ah, tudo bem, tudo bem. Mas tenha cuidado com os sinaliza-dores, certo? É provável que o mercado fique agitado graças a eles.

Os soldados recuaram um pouco. Para plebeus como eles, um Conde era uma autoridade muito acima da que poderiam alcançar. Na-turalmente, não gostariam de provocar uma figura dessas sem ter um bom motivo.

De qualquer forma, elas devem vir me pegar em breve…

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103 Novel Mania

Os guardas estavam hesitando.

— Senhor. É, uh, por razões de segurança nós precisamos no mínimo ficar aqui. Há uma regra que diz que dois soldados precisam guardar como supervisores sempre que um escravo está fora da prisão.

— Mm? Vocês podem ficar de guarda do lado de fora deste alo-jamento.

— Hehe. — Os soldados deram uma risada tonta.

A “hostilidade” havia desaparecido mas agora um ar de “encan-to” apareceu subitamente. Eu não estava entendendo o motivo para começarem a agir assim tão de repente. Se machos tentassem agir de maneira fofa e tentassem me “encantar”, então tudo o que conseguiriam fazer seria revirar o meu estômago. Eles deveriam mostrar um pouco de delicadeza e respeito a minha saúde.

Os homens embainharam suas lâminas e esfregaram as mãos.

— Se possível, enquanto você estiver checando a qualidade desta flor, nós podemos ficar assistindo daqui do lado? Hehe, para te falar a verdade, nós sempre conversamos com nossos amigos sobre fa-zermos isso e aquilo com essa mocinha aí.

Wow.

Meu rosto acabou se contorcendo graças ao comentário honesto deles.

A maneira que estes guardas estavam mexendo seus corpos en-quanto pediam “por favor” fazia com que parecessem cachorros balan-çando suas caudas, o que fez a cena ainda mais desagradável. Por que todos os homens eram tarados não importando onde e quando na his-tória?

— Não, bem. Eu também sou um homem, então não é como se não entendesse como vocês se sentem, mas… por favor, se retirem obe-dientemente. Não sou um exibicionista.

— Pelo amor dos deuses. Senhor, não seja assim! Mesmo que nós estejamos servindo como guardas em um mercado de escravos, tem muitas coisas que nós não podemos fazer! Sempre que uma mulher bonita anda por aí nua, tudo o que nós podemos fazer é assistir como estátuas enquanto pensamentos como “Então isso que é uma mulher” e

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104 Novel Mania

“Então isso que é uma buceta” passam pela nossa cabeça. É assim que as pessoas deveriam viver suas vidas? Assim mesmo?

Eles estavam me contando sobre um dilema com que eu nunca havia me preocupado antes… Sinceramente, eu queria perguntar por que diabos deveria me importar com isso…

Os soldados continuaram choramingando com angústia estam-pada em seus rostos.

— Não há nenhum lugar nesta região para conseguirmos nos aliviar, e temos que ficar sempre “de pé”, desgraça. As prostitutas não trabalham por aqui porque temem serem capturadas e transformadas em escravas. E mesmo se quiséssemos ir para Pavia aliviar nosso es-tresse, nós não temos nem uma hora sobrando para ir. Senhor, não, chefe! Não estamos pedindo para participar do ato, só queremos ficar aqui do lado assistindo quietinhos.

Inesperadamente eu acabei me tornando o chefe destes homens que havia encontrado pela primeira vez.

Eu cocei a parte de trás de minha cabeça.

Naquele momento, algo me veio à mente. O rosto de Lapis Lazu-li. Assim que lembrei as ocasiões em que Lala impediu que eu matasse a senhora e a idosa, minha mente ficou levemente incerta.

Eu deveria fazer isso? Vou demonstrar um pouco de piedade aqui.

— Cavalheiros... Depois de escutar suas histórias eu sinto pena e piedade por vocês. Apesar de eu também sentir um pouco de desprezo, mas isso ainda é algo humano então está tudo bem. É por isso que irei poupar suas vidas. Tudo bem? Vamos encerrar isso desta forma.

— Perdão?

— Cuidem deles — balancei a mão.

Os guardas balançaram as cabeças confusos e, naquele momen-to… As bruxas que estavam aguardando silenciosamente sobre nós des-ceram e golpearam as nucas dos guardas. Grunhindo “Ack!”, todos os cinco homens caíram no chão ao mesmo tempo. Os movimentos das bruxas eram eficientes.

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105 Novel Mania

As bruxas desmontaram de suas vassouras graciosamente. Onze bruxas de elite, todas as Irmãs Berbere se ajoelharam em perfeita sin-tonia.

— Oh representante sagrado e inviolável que simboliza dignida-de absoluta, membro da ordem dos 72 que governa todos os demônios. As servas da deusa Selene receberam o chamado de Vossa Grandiosa Senhoria e nos apresentamos a ti.

— Fico feliz em vê-las. Mas Humbaba, nós já não nos conhece-mos faz mais de um mês? Você não está sendo muito cerimoniosa? — falei em jocosidade para a bruxa líder. — Eu fico preocupado com a pos-siblidade de sua mandíbula cair toda vez que você pronuncia seu gran-dioso discurso sobre ser sagrado inviolável e tudo mais. A partir de hoje se refira a mim apenas como Senhor e omita todos estes procedimentos formais.

— Ahaha. Entendo, Senhor. Se essa for a sua ordem... — A líder das bruxas deu um grande sorriso.

Seu cabelo da cor de platina estava preso em duas tranças late-rais que tremulavam levemente como se fossem um par de orelhas de coelho. Eu não sabia dizer como exatamente elas faziam para se mover, mas era encantador. Alguém com uma aparência dessas ser uma solda-da habilidosa que participou de guerras monumentais três vezes, isso era um pouco injusto.

— Muito bem, agora todas estão reunidas aqui, Senhor! Por fa-vor, dê-nos seu comando. Desde que Vossa Senhoria pague a quantia apropriada, nós cortaremos até mesmo nosso próprio cabelo para tecê-lo como seda.

Esse era um ditado no mundo dos demônios que significava que elas poderiam fazer praticamente tudo em seus serviços.

Eu puxei Laura De Farnese para mais perto de mim.

— Transforme este lugar em um Inferno.

— Aha? O que Vossa Senhoria quer dizer com “Inferno”?

— Consigo sentir um cheiro em algum lugar aqui. É o cheiro de gordura emanando de amontoados repugnantes de carne. É o cheiro de ganância e hipocrisia. — Seguindo o ritmo, falei alegremente: — Se eles são porcos, então seria no mínimo apropriado que se comportassem como tal e grunhissem em um chiqueiro, mas ainda assim, por que es-

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106 Novel Mania

tão passeando tão audaciosamente pelas ruas? O que você deve fazer quando estes porcos tentam imitar as pessoas e ficam esfregando seus focinhos por todo lugar, cheios de arrogância?

— É claro que você deve marcar a fogo neles o fato de serem porcos! — responderam cheias de energia as bruxas.

— Apenas pessoas podem possuir escravos. Parece que estes animaizinhos estão sendo arrogantes e indo contra o código moral das bestas e tentando lidar com escravos.

— Por favor, nos dê uma ordem — gritaram juntas todas as bru-xas em uma só voz alegríssima.

— Hoje à noite nós devemos transformar este lugar em um aba-tedouro!

— Sim. A ordem a qual eu comandarei vocês é: abatam — tirei uma sacola de moedas de dentro do meu casaco e a joguei.

A líder das bruxas tomou a algibeira que continha cem moedas de ouro. Ela deve ter sentido o quão pesada a bolsa era. Um sorriso bri-lhante floresceu no rosto da bruxa.

— Abatam aqueles desgraçados sem dar nem mesmo a chance para que gritem. Isto não é assassinato. Não deixem que suas consciên-cias pesem em seus corações e impeçam suas mãos de agirem. Como se vocês fossem Senhoras de tudo que existe, com a autoridade concedida a vocês por todas as deusas, abatam estes suínos por nossa grandiosa causa.

— Como você ordenar, nosso Senhor! — De uma só vez, as bru-xas voltaram a suas vassouras e voaram aos céus.

Então, bolas de fogo gigantescas subiram aos céus e bombardea-ram o mercado de escravos. As chamas explodiram e pilares de fogo se ergueram. Humanos gritaram. O massacre havia começado.

Os soldados entraram em pânico e tentaram retaliar, mas era em vão. O único tipo de tropa que poderia se opor a Forças Mágicas Aéreas eram outras Forças Mágicas Aéreas. A história seria diferente se eles tivessem muitos arqueiros, mas os guardas do mercado de escravos se consistiam primariamente de soldados a pé equipados com espadas. Mas que pena, vocês não conseguem derrotar as bruxas que estão vo-ando pelo céu com meras espadas. Apenas sejam abatidos em obediên-cia como se fossem animais.

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107 Novel Mania

As forças que faziam a segurança do local caíram rapidamente. Pólvora chovia do céu e as bruxas espalhavam magia de fogo sobre ela. Imediatamente o mercado de escravos transformou-se em um mar de chamas.

— F-fujam! Saiam logo daqui!

Depois de a resistência organizada ter sido eliminada, todo o resto não passou de uma caça a galinhas. Enquanto riam de deleite, as bruxas matavam guardas e civis indiscriminadamente. Suas faces esta-vam recheadas de tranquilidade. Isso não era uma batalha. Como eu disse antes, era um abate.

— Acabou… — murmurou Laura De Farnese.

Com os olhos cheios de interesse, ela acompanhava os movi-mentos das bruxas pelo céu. Parecia que estava sentindo absolutamente nada pelos civis sendo exterminados. De fato, ela era uma humana com a cabeça deturpada.

— Eu li em um manual da arte da guerra que um único esqua-drão bem treinado de Forças Mágicas Aéreas conseguia vencer um re-gimento inteiro de lanceiros. Depois de ver isso com os próprios olhos, esta jovem senhorita consegue entender. É impossível para a infantaria sozinha se defender contra as Forças Demoníacas Aéreas.

— Elas são as Irmãs Berbere. Uma das melhores tropas de elite no mundo dos demônios.

— Irmãs Berbere? Este não é o nome daquela unidade que teve um papel muito ativo em meio às forças dos Lordes Demônios durante duas guerras, a sétima e a quinta Guerra Mercuriana?

Oh, ela as conhecia?

A Senhorita Farnese exclamou enquanto observava fixamente o céu:

— Conseguir ver estas tropas de elite que eu apenas havia lido sobre nos livros de história com meus próprios olhos… Isso é bem ins-pirador. Com mais de duzentos e cinquenta anos de vida gravados ne-las, as Irmãs Berbere são testemunhas vivas da história. Gostaria de conversar com elas depois.

— Uh… Se você agir como a minha general, então as Irmãs Ber-bere em breve estarão sob o seu comando.

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108 Novel Mania

— O quê? Isso é verdade!? — Os olhos da Senhorita Farnese bri-lharam resplandecentes.

Uma pequena centelha de luz havia retornado em seus olhos completamente desprovidos de vida. A Senhorita Farnese estava aper-tando seus pequenos punhos com força. Parecia com uma fã ficando animada porque havia acabado de encontrar seu ídolo favorito.

— Isso é maravilhoso. Não, isso é muito maravilhoso! É uma oportunidade para perguntar pessoalmente como as pessoas viviam há duzentos e cinquenta anos. Todo tipo de informação que você não con-segue aprender através dos livros… Ah, será que é assim mesmo!?

Ela compreendeu alguma coisa?

A Senhorita Farnese colocou a mão em seu queixo e começou a murmurar seriamente:

— Normalmente os demônios vivem por centenas de anos... Só por este fato em si eles se assemelham muito a livros de história. Se esta jovem senhorita se tornasse a comandante suprema, então poderia usar sua autoridade para chamar estes demônios sempre que quisesse… É isso mesmo, fazer isso torna-se possível. Ser general tinha um mérito desses!

Parece que a Senhorita conseguiu encontrar um tipo próprio de charme que lhe agradava na posição de general.

Mm. Mesmo que isso soasse um pouco absurdo, os diferentes significados que um trabalho possuía variavam de pessoa para pessoa. Não me intrometerei nesta questão.

— Meu senhor! Esta jovem senhorita gostaria de saber antecipa-damente quanta autoridade ela ganhará sendo a general atuante — fa-lou a Senhorita Farnese com uma voz claramente animada.

Eu escolhi as palavras exatas que ela gostaria de escutar:

— Deixarei tudo em suas mãos. Os comandos, o poder judiciário sobre as tropas, e até mesmo a autoridade sobre a vida e a morte, eu lhe presentearei tudo isso.

— I-isso é deveras maravilhoso… slurp. — Laura De Farnese limpou a saliva que estava escorrendo da lateral de sua boca.

Naquele momento, eu só conseguia vê-la como uma simples pervertida ao invés de uma filha da família de um Duque.

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109 Novel Mania

Parece que esta Senhorita normalmente mantinha sua atitude fria e calma, mas quando o tópico envolvia algo do seu campo de inte-resse ficava descontrolada.

Ela não é simplesmente uma otaku por história…? Não, vamos chamá-la de entusiasta de história. Temos que levar em consideração a dignidade e a honra da Senhorita Farnese.

— Jurarei lealdade mais uma vez, Meu Senhor! Seja uma general atuante ou qualquer outra coisa, deixe isso nas mãos desta jovem se-nhorita. Ela erradicará todo e qualquer inimigo que entrar no caminho de Vossa Senhoria. Contanto que Milorde conceda a esta jovem senho-rita o comando e o poder jurídico!

A Senhorita Farnese agarrou a minha mão. Assim que o fez, uma mensagem apareceu.

[Laura De Farnese foi recrutada como subordinada.]

[Ο nível de lealdade aparecerá nos status de Laura De Far-

nese.]

[Lealdade instável. A pessoa envolvida lhe considera apenas

como seu senhor contratualmente. Ela pode te trair a qualquer mo-

mento.]

Eu dei um sorriso torto.

Por fim, depois de ver esta janela de aviso aparecer tive certeza de algo: Para esta garota uma posição grandiosa não tinha importância. Se algo poderia ou não satisfazer os seus desejos, apenas isso conseguia ganhar o seu interesse.

Estava tudo bem.

Uma pessoa com este tipo de personalidade não o trairá inespe-radamente. O contrato permaneceria firme enquanto a relação de troca justa fosse mantida.

Dez minutos se passaram desde que o mercado de escravos se transformou em um Inferno.

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110 Novel Mania

Lapis Lazuli se aproximou com seis soldados juntos a ela. Ape-sar da área ao seu redor ser um mar de chamas, o rosto da Lala conti-nuava gélido. Eu a recebi alegremente.

— Ooh, Lala, meu amor. Como é que foi?

— Nós ateamos fogo à guarnição dos guardas e cuidamos das trinta e seis “presas” que vieram correndo do portão principal. Não houve nenhum inimigo que conseguiu escapar.

— Bom trabalho. Nós não podemos deixar nenhuma testemu-nha, nem por uma ínfima chance.

Enquanto as bruxas estavam aterrorizando o mercado de escra-vos pelo ar, Lapis Lazuli levou os mercenários para atacar a guarnição dos guardas. Você poderia chamar isso de uma pequena operação de subterfúgio. De todo modo, nós conseguimos limpar o mercado de es-cravos com sucesso.

— Durante a supressão aos guardas, três de nossos aliados caí-ram no combate. Independentemente disso, Vossa Alteza, por favor, apresente a Senhorita ao seu lado a esta serva.

— Ah, certo. Esta é a Senhorita Laura De Farnese de que te falei anteriormente. A partir de hoje, você ajudará com as nossas questões internas enquanto a Senhorita Farnese me ajudará com as questões diplomáticas. Espero que vocês duas possam cooperar coesas assim como uma carruagem puxada por dois cavalos.

— Esta subordinada compreende. — Lapis Lazuli abaixou a ca-beça mecanicamente. — O nome desta subordinada é Lapis Lazuli. Nas-cida entre uma Súcubo Humbaba e um humano sem nome, esta serva é uma mestiça. Sendo a principal ajudante de Vossa Alteza Dantalian, esta vassala é encarregada da função de castelã e de administradora. Esta serva estará sob seus cuidados.

— Mm. Esta jovem senhorita chama-se Laura De Farnese. Posso ser um pouco estranha quando se trata de algo relacionado a história, mas, por favor, cuide de mim também. — A Senhorita Farnese aproxi-mou-se de Lapis e estendeu sua mão direita.

Lapis Lazuli franziu o cenho levemente.

— Peço desculpas, mas esta serva é uma plebeia mestiça.

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111 Novel Mania

Uma pária que não tinha permissão para entrar em contato com outras pessoas, essa era uma regra não escrita que era usada por am-bos, humanos e demônios.

Apesar disso, a Senhorita Farnese pendeu a cabeça para o lado demonstrando confusão.

— Mm? Aah, está tudo bem. Isso não importa. Esta jovem se-nhorita é filha de uma escrava. Eu sou a criança que nasceu quando meu pai, o Duque, estuprou minha mãe que era uma escrava. Se você levasse em consideração o status social desta jovem senhorita, esta não é uma linhagem que você possa se vangloriar pelo mundo afora, então, por favor, não recuse.

Todos ficaram em silêncio diante desta revelação chocante.

Ela era a filha nascida do estupro de uma escrava? Você estava me dizendo que não era a filha bastarda vinda de uma serva normal? Enquanto nós olhávamos para ela atônitos, a Senhorita Farnese mur-murou um “Ah” e disse:

— Ah, certo. O que esta jovem acaba de dizer é um segredo. Esta senhorita é conhecida publicamente como a filha de uma serva para proteger a reputação da Casa do Duque. Sua mãe verdadeira foi enve-nenada no dia em que esta moça nasceu. A partir de então uma babá tomou conta desta jovem, e esta pessoa é conhecida publicamente como a mãe desta senhorita.

— Esta informação não estava escrita no relatório… — falei com amargura.

Nem mesmo em ‹Dungeon Attack› um segredo desses foi reve-lado.

Enquanto estávamos enojados ao pensar no quão escusa e obs-cura a aristocracia era, a Senhorita Farnese pegou as duas mãos de Lala e as balançou energeticamente.

— Já que esta senhorita é a novata, por favor, instrua esta jovem nos mais diversos temas. Tudo bem te chamar de Irmãzona Lazuli de agora em diante?

— Pode referir-se a esta serva como desejar...

— Mm. Então irei te chamar de Irmãzona. Irmãzona Lazuli.

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112 Novel Mania

Ooh, as sobrancelhas de Lapis Lazuli abaixaram como se ela ti-vesse ficado perplexa.

Era a minha primeira vez vendo Lala ficando perturbada graças a alguém além de mim, isso era consideravelmente divertido.

Hm? Lapis Lazuli me olhou de soslaio. Ela não falou nada em voz alta, mas, na verdade, moveu seus lábios para que apenas eu conse-guisse entender.

Parece que Vossa Alteza recrutou uma garota que é exatamen-te igual a ti.

Não. Eu não vou negar, mas não sou tão indisciplinado quanto ela, sou muito mais dócil.

Se algum dia você alcançar o nível meu e da Lala, então se co-municar só pela movimentação dos lábios será possível.

Esta serva está entendendo errado o significado da palavra dócil? Ou Vossa Alteza está com uma flecha cravada atravessando vosso cérebro?

O quê?

Esta subordinada está em seu limite cuidando apenas de Vossa Alteza. Mas o fato de existir outra pessoa neste mundo similar a ti? Há um limite para os pesadelos. A partir de hoje, por favor, tome conta da Senhorita Farnese por conta própria, Vossa Alteza.

Isso era estranho. Parecia até que a maneira que ela me tratava estava lentamente piorando…

Eu realmente merecia este tipo de abuso por parte de minha vassala meramente porque passava minha vida dormindo por doze ho-ras, compartilhando intimidades por quatro horas, e trabalhando por oito horas todos os dias? Não importa como você analise, essa era uma agenda de alguém diligente. Lapis Lazuli estava sendo muito regrada, essa súcubo-sempre-naqueles-dias.

Bem, o plano em si acabou sem nenhum problema. Nós deverí-amos começar a retornar agora. Consegui tomar Laura De Farnese sob minha bandeira e me livrei de todas as testemunhas. Era um final feliz.

— Vossa Alteza. Por favor, espere um segundo.

— Mm?

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113 Novel Mania

Foi pouco antes de eu me sentar na parte de trás da vassoura de uma bruxa.

Lapis Lazuli me chamou e estava apontando para uma certa di-reção. Imaginando qual era o problema, olhei para a área que ela estava apontando e vi Giacomo Petrarch e uma bela quantidade de guardas dormindo ali.

— Ainda há sobreviventes. Por favor, lide com eles.

— Aah. Pode ignorar estes humanos. Eu os deixei vivos de pro-pósito.

— De… propósito? — Lapis Lazuli pendeu a cabeça em confusão enquanto demonstrava uma expressão de quem não estava entendendo. — Esta subordinada pede desculpas, porém ela é incapaz de compreen-der quais são as intenções de Vossa Alteza. Há algum outro benefício a ser ganho por deixar sobreviventes?

— Não há nenhum benefício. Estou apenas deixando-os vivos porque quero — sorri. — Este jovem humano dormindo ali é Giacomo Petrarch. Ele é uma pessoa relativamente pura que foi jogada para viver nesta era selvagem. Estes tipos de humanos precisam viver, eles deixam esperança neste mundo tal qual uma folha em branco.

Naquele momento, algo estranho aconteceu.

Ao contrário de compreender assim como eu esperava que ela fi-zesse, a dúvida estampada no rosto de Lapis Lazuli se acentuou ainda mais.

— Então, e estes outros humanos...?

— Era patético demais continuar vendo estes tolos, então lhes concedi misericórdia. Eles são pessoas bastante sortudas, se tivessem se comportado de uma maneira mais desagradável então suas cabeças teriam rolado — revelei um sorriso largo.

Lapis Lazuli me encarou.

Em seus olhos que estavam tão obscuros quanto as profundezas do oceano, nem uma mísera gota de emoção podia ser encontrada.

Pouco depois, Lala assentiu.

— Então é assim... Esta vassala compreende. Senhorita Humba-ba, por favor, leve a Senhorita Farnese e os mercenários para a entrada traseira do mercado de escravos e aguarde lá.

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114 Novel Mania

— Huh?

Por Lapis Lazuli ter dado uma ordem às bruxas subitamente, a líder das irmãs questionou em resposta:

— Ir primeiro para a entrada de trás?

— Sim. Há algo que Vossa Alteza e esta subordinada precisam discutir em particular. Já que outras pessoas não podem escutar, por favor, tome esta responsabilidade e guie todos para longe, Senhorita Humbaba.

— Eeh. Mas nosso dever de escoltar Vossa Senhoria…

— Não se preocupem, não vai demorar.

A bruxa principal virou-se para olhar para mim. Seus olhos pa-reciam estar me perguntando: “Deveríamos fazer como a súcubo orde-nou?”. Eu não sabia exatamente o que estava acontecendo, mas por hora apoiei Lala.

— Sigam as ordens da Grande Castelã.

Estabelecer a autoridade de uma vassala em frente às outras su-bordinadas era algo importante. Não havia ninguém que seguiria um rei que desrespeitava seus vassalos.

As bruxas miraram o céu noturno e voaram para longe.

Os únicos que permaneceram nas ruínas do mercado de escra-vos eram eu e Lazuli.

Pendi a cabeça demonstrando confusão.

— Qual o problema assim tão de repente? Você nem me consul-tou antes.

Lapis Lazuli não respondeu.

Poderia ter sido só a minha imaginação, mas parecia que sua feição havia ficado mais fria.

Conforme o silêncio dela perdurava, a ansiedade em meu peito também aumentava, parecia até que uma lagarta estava se arrastando lentamente sobre o meu coração.

Eu a chamei em voz baixa:

— Lala?

Silêncio novamente.

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115 Novel Mania

Em vez de dar uma resposta, Lapis Lazuli começou a andar. Não era em um ritmo rápido. Com passos lentos, mas muito decididos, ela se aproximou de Giacomo Petrarch e dos guardas.

Shiiiing.

Lapis Lazuli desembainhou a espada de um dos guardas.

— Espere, Lala. O que você está…

Sem me dar chance para interrompê-la, ela brandiu a espada e a fincou no pescoço do guarda.

— O quê…?

A lâmina afiada afundou-se na carne humana.

Lapis Lazuli não parou ali. Depois de girar a arma libertando-a, imediatamente fincou em outro guarda. Em um instante, de um estado de desmaio, os guardas caíram em um estado de sono eterno. Até o momento em que consegui processar a situação que estava ocorrendo à minha frente, ela já havia cometido seu terceiro assassinato.

— O que você está fazendo, Lazuli!?

— Fazendo o que precisa ser feito.

— O que precisa ser feito…?

Até mesmo eu, que normalmente nunca entro em pânico, não consegui recobrar os sentidos tão rapidamente nesta situação.

— O que isso significa? Explique para que eu consiga entender!

Apesar de obviamente ter ouvido o meu grito, Lapis Lazuli não parou sua lâmina. O fio da espada cortou a garganta do quarto guarda. Sangue espirrou como um chafariz e manchou a pele branca de Lala com o carmesim sujo.

— Você… Pare agora mesmo!

— Esta vassala pede desculpas, porém ela não pode seguir esta ordem.

— Lapis Lazuli, estou te advertindo. Se você mover mais um fio de cabelo sequer, se você ignorar minha ordem mais uma vez, juro por Zeus! Eu, pessoalmente, vou lhe arrancar a pele!

Schunk.

Depois de matar o último guarda, em silêncio, Lapis Lazuli vi-rou-se para me encarar.

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116 Novel Mania

O silêncio que fedia a sangue pesava intensamente sobre os ar-redores.

Sem saber o que falar, meus lábios tremeram. Eu realmente não conseguia entender o comportamento dela.

O plano foi concluído sem o menor problema... Nós atingimos um sucesso satisfatório. Depois de mascarar este incidente no mercado de escravos como algo feito por alguma outra organização, nós sairía-mos sem maiores preocupações. Depois de atravessar o continente e voltar para o meu castelo de Lorde Demônio, só então que as verdadei-ras preparações para a batalha começariam. E tudo subsequentemente a isso iria transcorrer belamente.

Mas por quê?

— Por que você está se opondo às minhas ordens? A operação acabou. Tudo está acontecendo perfeitamente como planejado. Com o que você está descontente? Por que está cometendo este massacre sem motivo?

A minha voz tremeu devido ao sentimento de traição.

A razão para eu poupar estes guardas, que originalmente iria matar, foi simplesmente porque estava pensando em Lapis Lazuli. Ela não gostava de assassinatos sem motivos. É por isso que fui contra a minha própria preferência, para exercer um pouquinho de misericór-dia.

E ainda assim, por quê?

Lapis Lazuli abriu sua boca e falou:

— Vossa Alteza. Por favor, pare de fazer besteiras.

— O que você disse?

— Massacre sem motivo? Por favor, explique a esta serva se al-guma destas mortes foi sem propósito. — Lapis Lazuli gesticulou para seus arredores.

Tudo estava em chamas. As únicas coisas que permaneceram de pé eram as estruturas de ferro das jaulas. Abaixo delas estavam corpos e montes de carne queimando em um inferno de chamas.

— Vossa Alteza ordenou que nós massacrássemos os guardas, os civis, e até mesmo os escravos, sem discriminação alguma. A razão para isso é clara: Não deixar nenhuma evidência da visita de Vossa Alteza a

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117 Novel Mania

este local. — Lapis Lazuli olhou para mim. —Só por esta razão, cento e cinquenta humanos e cinquenta demônios morreram nesta noite. Mas ir tão longe assim e querer poupar seis pessoas? Esta subordinada é incapaz de entender isso, não importa o quanto ela se esforce para fazê-lo. Então, por favor, Vossa Alteza, explique para esta tola: Há alguma morte sem motivo aqui?

Uma pergunta silenciosa.

E ao mesmo tempo, um comentário infinitamente gélido.

— O Lorde Dantalian a quem esta vassala jurou lealdade é um indivíduo com o coração frio e impiedoso. Se por um mísero acaso ele fosse ameaçado, Vossa Alteza seria cautelosa o suficiente para não tra-tar até mesmo a menor ameaça com leviandade. Para onde esta pessoa foi? Onde foi que “O Senhor” desta serva desapareceu?

— Não. Não é isso. Eu estava…

— Vossa Alteza perdeu sua visão? Depois da epidemia da Peste Negra, ter se tornado um dos Lordes Demônios mais ricos do continen-te deixou a mente de Vossa Alteza tranquila? Alteza, piedade e genero-sidade são privilégios exclusivos dos fortes. Os fracos não têm o direito de demonstrar piedade. Vossa Alteza Dantalian já ficou tão poderoso assim? — falou Lapis Lazuli, acertando em cheio em tudo, seu olhos sempre desprovidos de emoção.

Ela me encarava diretamente.

Por algum motivo, aquele olhar congelou meu coração.

— Lala…

— Esta vassala enumerará todos os indivíduos poderosos que ela conhece. 1º no ranking, Lorde Demônio Baal é poderoso o suficiente para começar uma guerra monumental sozinho. 2º no ranking, Lorde Demônio Agares é forte o suficiente para exterminar um exército inteiro sozinho. 5º no ranking, Lorde Demônio Marbas controla o mundo polí-tico. 8º no ranking, Lorde Demônio Barbatos tem guerreiros imortais leais a ela, e 9º no ranking, Lorde Demônio Paimon tem apoio de todos os cidadãos no mundo dos demônios. Esta serva há de perguntar: O que Vossa Alteza Dantalian possui?

Eu tenho ouro, não tenho nada além de ouro.

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118 Novel Mania

— Vossa Alteza prometeu a esta subordinada que ela poderia aproveitar ao máximo a maior das autoridades. Tudo bem quanto a isso. Esta vassala lhe dirá claramente: O nível de autoridade que possui ainda está na base da pirâmide. Lorde Dantalian, Vossa Alteza já está satisfeito por ter se tornado uma pessoa de poder?

Eu não conseguia responder.

Lapis Lazuli virou as costas para mim e levantou a espada mais uma vez.

Depois de matar todos os cinco guardas, a única pessoa que res-tava era Giacomo Petrarch, o jovem rapaz com uma alma tolamente pura.

Eu forcei minha boca a se mover.

— Lazuli... Não é isso que eu queria. Só pensei que estaria tudo bem em demonstrar generosidade de vez em quando. Não era isso que você queria de mim?

Lapis Lazuli parou.

Ela virou sua cabeça para me encarar.

Tendo esperanças de resolver o mal-entendido, falei:

— É verdade. Você não me parou quando tentei matar a sua mãe e punir aquela empregada? É por isso que pensei que você gostaria dis-so.

— Isso está incorreto. — Lapis Lazuli balançou a cabeça. — Isso está perfeitamente incorreto, Lorde Dantalian. Parece que Vossa Alteza ainda não sabe que tipo de pessoa esta serva é. Esta subordinada está desapontada.

— Lala…?

— Se Vossa Alteza pensa que esta vassala é similar a uma donze-la de classe média, então estás tremendamente enganado. Esta subor-dinada lhe mostrará claramente que tipo de pessoa ela é.

Lapis Lazuli levantou sua espada para o alto no ar.

E então...

[Afeição de Lapis Lazuli diminuiu em 1 ponto.]

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119 Novel Mania

Ela brandiu a lâmina para baixo.

A espada parou exatamente no centro do pescoço de Giacomo Petrarch. De novo, Lapis Lazuli balançou a espada. Uma vez, duas ve-zes... A arma era brandida em direção ao corpo sem cessar. Mesmo que a pessoa já tivesse morrido instantaneamente, ela não parou. Sangue jorrava e ensopava seu corpo de carmesim.

— Pare...

[Afeição de Lapis Lazuli diminuiu em 1 ponto.]

— Pare com isso, Lazuli.

[Afeição de Lapis Lazuli diminuiu em 1 ponto.]

— O sangue não está atingindo o seu rosto? Você pode parar agora…

[Afeição de Lapis Lazuli diminuiu em 1 ponto.]

Como um cão correndo atrás de seu próprio rabo.

Ela continuou golpeando o corpo.

A cada vez que o fazia, parecia que uma parte da minha mente estava sendo mutilada.

Pergunto-me quanto tempo tinha passado.

Lapis Lazuli havia parado.

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120 Novel Mania

O efeito sonoro que continuava soando como louco até alguns instantes atrás não podia mais ser escutado.

Nome Resistência Ataque Defesa Afeição

Lapis Lazuli E D F 0

Isso se devia ao fato do nível de afeição da Lapis Lazuli ter che-gado a 0.

Por ter atingido um ponto em que não poderia diminuir mais, ele havia se aquietado.

Ela se inclinou e pegou algo do chão: A cabeça de Giacomo Pe-trarch.

— Olhe, por favor, Vossa Alteza — falou Lapis Lazuli. — Lembre-se da expressão do rosto deste homem. Lembre-se do branco dos olhos dele e de sua boca estúpida aberta. Lembre-se de sua morte horrenda depois de ser assassinado pelas mãos desta serva com tamanha facili-dade. Se algum dia Vossa Alteza esquecer que ainda é fraco, então serás forçado a lembrar-se por outra pessoa.

Fiquei em absoluto silêncio.

— Quem esta pessoa será, pode acabar sendo Paimon ou Barba-tos. Neste momento, a face que Vossa Alteza fará não será nada diferen-te da expressão deste homem.

As chamas brilhando ofuscantes refletiam-se no rosto de Lapis Lazuli.

A luz iluminava um lado de seu corpo e lançava uma sombra completamente escura sobre o outro lado.

Ela era o ponto central. Com ela no meio, a luz e a sombra se se-paravam pela metade.

Com a postura ereta, Lapis Lazuli estava de pé exatamente no centro. Fazendo isso, estava demandando que eu fizesse o mesmo.

— Por favor, marque a fogo este momento em teu cérebro Vossa Alteza.

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121 Novel Mania

Aguentando um longo momento de silêncio, eu mal consegui proferir minhas palavras:

— Lazuli.

— Sim, Vossa Alteza. Diga, por favor.

— Você é uma mulher diabólica.

Como se fosse algo óbvio, Lapis Lazuli assentiu.

Uma gota de sangue carmesim escorreu por sua bochecha macia e pingou no chão.

— Até hoje, o que Vossa Alteza pensava que esta serva era?

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123 Novel Mania

Lorde Demônio mais fraco, 71° Rank, Dantalian. Calendário Imperial: 20/09/1505. Niflheim, Palácio do Governador.

Cera derretida escorreu por uma vela.

Era noite. O céu do lado de fora da janela já estava escuro.

Eu falei enquanto observava a vela que queimava suavemente:

— Me pergunto o que fiz de errado.

Barbatos ficou em silêncio.

— Enquanto voávamos pelo céu de Pavia para o Império de Habsburgo, e durante todo o trajeto até o meu castelo na Montanha Negra, Lapis e eu não trocamos uma palavra sequer. Minha mente esta-va caótica — levantei minha cabeça.

Barbatos estava sentada no sofá do lado oposto ao meu.

Suas sobrancelhas estavam arqueadas no formato de “八”, seus

lábios estavam entreabertos como se fosse falar algo, entretanto, não conseguia vocalizar nenhuma palavra. Em algum momento, enquanto escutava a minha história, ela havia esquecido sobre beber álcool e es-tava apenas fitando o meu rosto.

Como se estivesse sem palavras.

Literalmente.

— Eu definitivamente havia me decidido: Se Lapis pisasse fora da linha mais uma vez, então eu iria mostrar para ela quem é que man-dava. Mas quando realmente aconteceu… Seja raiva ou qualquer outra coisa, todas as emoções desapareceram deixando apenas a confusão.

O que exatamente Lapis estava esperando?

— Era porque eu não conseguia entender. Lapis havia me para-do quando tentei matar a velha senhora. Ela havia me parado de novo quando tentei matar aquela empregada. Isso não é estanho? Não é? Barbatos, isso é anormal.

Levantei os cantos de minha boca. Pretendia sorrir, mas ao invés disso minha boca acabou tremendo.

Para Barbatos, o meu estado atual deveria aparentar ser incri-velmente horroroso.

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124 Novel Mania

Como se fosse uma prova de que minhas emoções estavam esca-pando do meu controle, não me importei com isso.

Neste momento, era muito melhor desta forma...

— Se ela quisesse que eu fosse um vilão impiedoso, se o pedido de Lapis fosse que me tornasse um vilão impiedoso… Então ela não teria interferido comigo quando tentei matar aquela velha decrépita e quando estava prestes a matar aquela empregada. Estaria tudo bem ter me deixado fazer o que quisesse naquelas ocasiões. Desta forma as ati-tudes dela fariam sentido, certo?

— Está certo...

— Por que ela pedia que fosse misericordioso em algumas ocasi-ões e pedia que fosse violento em outras? O que ela queria de mim? Eu começava a ficar depressivo sempre que pensava nisso... — cobri meus olhos com a minha mão. — Barbatos, acredite em mim. Eu pretendia levar a sério qualquer coisa que Lapis pedisse para mim. Se Lazuli pe-disse para me tornar um Senhor generoso e piedoso, então realmente teria aceitado. Se ela pedisse para me tornar um tirano cruel, então também teria aceitado alegremente. Eu estava preparado. Estava pre-parado para percorrer este caminho junto a ela. É verdade.

Barbatos permaneceu em silêncio.

— Entretanto, não posso ser ambos. Isso é impossível. Percorrer dois caminhos diferentes simultaneamente não é possível. Então que outra opção restava? Hm? Agir de acordo com os impulsos momentâ-neos da Lapis, esta era a única escolha restante? — Vendo que Barbatos continuou em silêncio, continuei. — Isso é impossível também. Seria o rumo mais absurdo que poderia tomar. Até mesmo eu tenho limites. Poupar pessoas quando Lapis dissesse para poupar, matar pessoas quando Lapis me dissesse para matar… Não posso me tornar uma ma-rionete para ela. Nunca.

Isso significaria o mesmo que a morte para mim. Sem dúvidas, o relacionamento nosso relacionamento estava entrando em colapso.

Até mesmo depois de retornarmos ao meu castelo, nós não compartilhamos uma conversa sequer. Naturalmente, nossa vida de quarto compartilhado também desapareceu.

Em preparação para o exército de dois mil homens que invadi-ria, nós fizemos planos e preparativos, mas nada além disso.

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125 Novel Mania

As palavras um com o outro foram mantidas ao mínimo possí-vel, apenas conversas técnicas e profissionais.

Excluindo essas, nenhuma outra palavra era trocada entre nós.

O tempo passava sem nada ser feito.

Barbatos falou:

— Dantalian, vamos descansar um pouco.

O escárnio e o desprezo que ela demonstrou inicialmente não podia mais ser visto em sua expressão.

Havia uma leve aflição pelo seu rosto, estava claro que ela estava hesitando.

A razão para sua aflição ser leve era porque ela estava fazendo o seu melhor para não demonstrar simpatia para comigo, e a razão para sua hesitação ser clara era porque estava se contendo para não dar ne-nhum conselho imprudente. Só por aquela expressão eu poderia dizer que Barbatos era uma boa mulher.

— Descansar?

— Seu idiota. Já é noite. Você já está falando há muitas horas. Sua voz está falhando e seu rosto está tão podre quanto o de um cadá-ver.

Sem mais, peguei um espelho de mão e olhei para ele. Como Barbatos havia dito, meu rosto estava acabado como o de um zumbi, parece que eu havia ficado excessivamente imerso neste meu papel.

— Certo… Acho que nós devemos descansar um pouco.

— Você não tem nada para beber?

Barbatos balançou a taça que estava em sua mão direita. Seu co-po estava vazio. Ela estava dando um sorriso torto como o de uma cri-ança levada.

— Agora que estou pensando nisto, você não é um sujeitinho en-graçado? Ei, Dantalian. Eu estou escutando educadamente sobre seus problemas amorosos por um bom tempo, mas você não tem a capacida-de nem de me servir um álcool decente? Isso vindo de um filho da puta que conseguiu uma caralhada de dinheiro vendendo Ervas Negras, co-mo você explica isso? Se continuar deste jeito, vai acabar fazendo as pessoas ficarem putas com você.

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126 Novel Mania

— Haha.

Provavelmente ela estava reclamando animadamente assim para mudar o clima.

Eu pude sentir um pouco de delicadeza vindo desta Lorde De-mônio. De fato, Barbatos é uma boa mulher.

Nesta vida tediosa, delicadeza era como o sal. Não importa o quão sem graça a vida fosse, se você adicionasse um pouquinho de sal, ao menos ficaria ligeiramente apetitosa. Barbatos sabia utilizar isso apropriadamente.

— É claro, eu sabia que você agiria assim.

— Hmm. E o que você quer dizer com isso?

— Aguarde um instante, trarei algo que você com certeza vai gostar.

Me aproximei de um dos cantos da sala de visitas e retirei uma garrafa de dentro de uma estante. Era uma garrafa de vinho. Depois de mostrar a garrafa para Barbatos com um “tadah”, o rosto dela congelou na mesma hora.

— N-não me diga. Isto não é o que estou pensando, ou é?

Diferentemente de como ela era normalmente, as palavras de Barbatos estavam falhando.

Eu revelei um sorriso largo.

— A região mais famosa do mundo dos demônios por produzir vinhos luxuosos, a Fonte do Inferno Flamejante. Em meio às áreas des-ta região, a garrafa da mais alta qualidade que é criada apenas uma vez ao ano no território do Conde de Lava. O vinho dentre os vinhos. Manu-faturado no ano de mil cento e um de Balleleunium, este é um vinho produzido em comemoração à segunda guerra vietnamita. É o produto genuíno que amadureceu por quatrocentos anos.

— Isso é ridículo! — gritou Barbatos. — Este é um vinho de qua-lidade tão alta que até mesmo o velhote do Baal teria dificuldades para conseguir!

— Eu me esforcei.

Para ser exato, usei o esforço de Ivar Lodbrok.

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127 Novel Mania

Era um exemplo claro que mostrava que ter alguém facilmente influenciável com muitas conexões pessoais fazia a sua vida mais con-veniente.

— Pelas deusas, isso é loucura! É de verdade? Não é genuíno, certo!?

Neste momento Barbatos já estava fora do sofá.

O amor da Lorde Demônio Barbatos por vinho era bem conhe-cido.

Ela se considerava como sendo a maior bebedora e os outros Lordes Demônios a reconheciam como sendo a maior bebedora invete-rada dentre eles. Para ela, este vinho era como o Santo Graal. Deixando de lado as boas maneiras e a dignidade, ela correu até mim.

—Me dê isso!

— É claro, aqui — joguei a garrafa para o alto no ar, levemente, como se estivesse brincando com uma bola.

— Kyaaaaaaaak!?

— Boa sorte tentando pegar isso em segurança sozinha.

— Este maluco desgraçado...!?

Em um instante Barbatos utilizou magia para agarrar a garrafa que estava jogada no ar. Pelo que pude compreender, três camadas de magia negra foram ativadas ao mesmo tempo.

Primeiro, ela havia se propelido no chão do cômodo e pulado mais de três metros no ar. Uma névoa negra apareceu no espaço vazio próximo à garrafa e se enrolou no objeto. Graças a isso, a queda havia desacelerado. Em seguida, uma mão invisível agarrou o vidro com fir-meza.

Se outros magos testemunhassem esta cena, eles muito prova-velmente não conseguiriam conter seu espanto e perplexidade. A pri-meira razão era o fato de que três camadas de magia foram ativadas ao mesmo tempo. A segunda razão, o fato de que três camadas de magia conseguiram ser ativadas sem qualquer tipo de entoamento ou encan-tamento. E a razão final, o fato desta técnica mágica grandiosa ter sido utilizada apenas para agarrar uma simples garrafa de vinho.

Certo, era óbvio que Barbatos não ligava para o que outros ma-gos pensavam dela. Ela estava inteiramente focada naquele “ano de mil

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128 Novel Mania

cento e um de Balleleunium”. A habilidade mágica que ela treinou e treinou durante seus quinhentos anos de vida, neste momento, foi utili-zada em prol de uma garrafa de vinho com meros dez centímetros de diâmetro. Eu me pergunto se até mesmo as deusas não ficariam como-vidas por sua concentração.

Finalmente, a garrafa chegou em suas mãos e ela pousou no chão com segurança.

— Uaaaaaaaah!

Barbatos levantou a garrafa de vinho para cima com seus dois braços, assim como uma jogadora de basquetebol que havia conseguido um arremesso de rebote em um momento decisivo.

Neste momento, ela era, sem sombra de dúvidas, imbatível.

— Você viu isso, caralho! Esta é a grandiosidade da filha da pu-tamente incrível Rank 8, Barbatos...!

— Mm.

Inconscientemente eu a aplaudi.

— Não tenho certeza absoluta, mas parece que algumas acroba-cias realmente incríveis acabaram de acontecer.

— Dantalian, seu filho de uma cadela! — Barbatos me encarou com ferocidade. — Porcos como você não têm o direito de tomar uma gota desta maravilha! Como você ousa jogar este Balleleunium como se fosse algum tipo de brinquedinho!? Aaaang!?

Era incrível. Uma aura assustadora estava emanando de sua en-carada, sendo que ela era alguém que mal parecia ter treze anos. Se não fosse pela garrafa sendo segurada desesperadamente em seus braços como se fosse um tesouro, eu realmente poderia ter ficado assustado. Sim, realmente.

— Falando sério! Realmente não consigo acreditar nisso. Um vi-nho que amadureceu por quatrocentos anos! O produtor, usando a ma-gia mais especial do mundo, um feitiço desenvolvido especialmente para o objetivo de preservar vinhos, entoava a magia a cada quinzena. Este vinho foi preservado por várias gerações para, com esforço, conse-guir se tornar o produto completo que é hoje! E você joga este vinho que não foi nem lançado ao comércio, e que é presenteado apenas para os indivíduos que o arquiduque da Fonte Flamejante julga pessoalmen-

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129 Novel Mania

te como sendo os mais nobres e belos! Jogá-lo como um filho da puta! Seu desgraçado, você não vale nem o mesmo que um punhado de terra preso na garra de um corvo!

Balancei a cabeça assentindo.

— Agora eu tenho ainda mais certeza do quão severo é seu caso de ‘bêbada descontrolada’.

— Não sou uma bêbada, simplesmente amo beber, seu imbecil sem cérebro!

Enquanto rangia os dentes, Barbatos observou a garrafa de vi-nho. Uma energia mágica negra saiu de suas mãos. Ela devia estar che-cando se o vinho era genuíno ou não através da magia.

Ela arfou involuntariamente.

Sua expressão ficou tão esticada quanto à de “O Grito” de Ed-vard Munch.

— V-você… se isto não for o artigo genuíno, então juro, eu não vou te deixar impune pelo crime de me enganar…

— Vou deixar você tomar o primeiro gole.

Ela chegou até mesmo a soluçar.

— Mas o primeiro gole do vinho… T-tem o melhor gosto, você não sabe?

— É por isso que estou deixando você tê-lo — revelei um grande sorriso.

Para ela, agora eu era um anjo, provavelmente parecia tão radi-ante quanto um santo que havia recebido a palavra dos deuses.

— Nós não somos amigos, Barbatos?

— Dantalian… — Barbatos olhou para mim comovida. — Você pode até ser um filho da puta, mas é um filho da puta realmente muito bom.

— Apesar de eu estar consideravelmente indeciso entre tomar isso como um elogio ou não, em nome da boa educação, tomarei como um elogio.

— N-não é hora para isso. Taça de vinho. Onde foi que eu deixei a minha taça de vinho!?

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Barbatos balançava seus braços freneticamente. Enquanto ela o fazia, a taça de vidro que estava rolando pelo carpete do quarto voou diretamente para sua mão. Barbatos engoliu em seco.

— B-bom, Balleleunium mil cento e um. Mostre-me o cheiro sensual de sua pele.

— Entretanto, acho que a única coisa sensual aqui não é o vinho, mas sim a parte de dentro da sua cabeça…

— Cale a boca.

Barbatos começou a entoar um feitiço. Eu posso garantir que de todos os feitiços mágicos que testemunhei até hoje, esse foi o mais ins-pirador de todos. A razão para isso era porque esta era de fato uma ma-gia absolutamente inútil. Esta magia, sendo um feitiço-saca-rolhas, es-tava sendo entoada por Barbatos pura e simplesmente com o objetivo de retirar a rolha. Conforme ela murmurava o encantamento do feitiço, a rolha foi subindo pouco a pouco, até que finalmente. Com um “pop” o tampo saiu.

Barbatos trouxe o gargalo para a ponta de seu nariz e inalou.

Ah. Esta era a face de alguém que havia enlouquecido.

Era como se sua consciência tivesse alçado voo e estivesse a qui-nhentos metros de altitude no céu.

Apesar de ainda nem ter experimentado o álcool, a face de Bar-batos já estava emanando deleite.

— E-então o céu realmente existe.

— Sendo a pessoa que o presenteou a você, estou muito feliz que está satisfeita até com a simples fragrância. Vá adiante, beba-o.

— Beber? Isso…? — Com a garrafa de vinho e a taça em mãos, Barbatos começou a tremer. — Dantalian, você não sabe o valor deste objeto. Como poderia beber um tesouro? Você não bebe tesouros. Você não deve…

— Eu pensei que você tinha dito que gostava de álcool. O melhor álcool de todos está bem na sua frente. Ainda assim não irá tomar?

— Keuuk…!

O rosto de Barbatos se contorceu em desespero.

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131 Novel Mania

— Que contradição é essa? Porque amo álcool mais do que todo mundo, desejo o Balleleunium. Mas porque o amo mais do que todo mundo, e ainda mais por isso, não posso tomar! Um paradoxo! Uma agonia! É assim que a vida é…!?

Se ela fosse um pouco mais adiante descobriria a verdade sobre o universo.

O carisma de Sua Alteza Barbatos estava desmoronando devido a uma única garrafa de vinho.

— Dê-me isto. Vou servi-lo eu mesmo.

— T-tudo bem.

Barbatos me entregou a garrafa de vinho obedientemente.

Seguindo a etiqueta que rege o ato de beber, eu educadamente servi o vinho com uma mão. Com um semblante muito nervoso, Barba-tos assistia a taça sendo preenchida pelo líquido escarlate. Pensei seri-amente que ela faria com que eu fosse executado caso derramasse uma gota sequer.

— Um brinde.

— Um br…brinde.

Clink.

Um som límpido ressoou quando nossas taças se encontraram. Enquanto eu aproveitava o vinho de maneira tranquila, Barbatos me encarava agitada.

— E-ele é bom?

— Bem, é claro que é bom.

— Qual o seu sabor, hm? Descreva com a máxima minuciosidade de detalhes que você conseguir.

— Não sei por que você está me perguntando isso quando pode simplesmente beber por conta própria.

— Porque seria um desperdício…

Retiro o que disse. Barbatos era uma mulher lamentável.

— Hoo haa. Hoo haa.

Ela começou a respirar profundamente, até começou a murmu-rar para si mesma que “isto não é nada além de vinho tinto”. Eu me pergunto se os seus murmúrios tiveram efeito, já que seu semblante

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132 Novel Mania

ficou mais relaxado. Se tivesse que dizer algo no meu próprio ponto de vista, pensava que ela era louca.

Finalmente, Barbatos colocou a taça sobre seus lábios e sorveu um gole de vinho. Seus olhos continuaram fechados por um longo tem-po. Então, seus ombros começaram a tremer e subitamente ela come-çou a chorar.

— Uwaah… Eu fiz bem em continuar viva. Foram tempos difí-ceis. Não foi fácil viver estes quinhentos anos, mas, uwaah, realmente fiz bem em viver por tanto tempo.

— Certo...

Até mesmo eu não pude evitar de ficar atordoado por esta situa-ção.

Barbatos estava bebendo o vinho enquanto derramava lágrimas mornas. O fato surpreendente era que, enquanto estava bebendo, o processo de absorver a fragrância do vinho pelo seu nariz, o processo de girar o vinho pela boca, etc, ela fez questão de executar todos os proces-sos gustativos do vinho com toda devoção do mundo. Apesar de ser insana, era racionalmente insana.

— Dê-me aqui.

Barbatos esvaziou sua taça em um instante e tomou a garrafa de mim à força. Sendo incapaz de resistir, passei a garrafa para ela.

— Heueuk. Heuk, gulp.

Enquanto chorava...

— Uwaaah.

Servia outra taça...

— É bom. É tão bom, caralho.

E chorava de novo.

Uma cena bastante honesta estava acontecendo diante de meus olhos.

A imagem de uma garota com uma aparência exterior de doze anos em prantos enquanto servia e bebia álcool. Se você dissesse com palavras gentis, era surreal. Se dissesse com palavras rudes, era um caso de maluquice considerável.

Eu disse:

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133 Novel Mania

— Por que você está fazendo a experiência de beber ficar desa-gradável para as outras pessoas xingando e bebendo? Pensei que você havia dito que era bom.

— Heueuk. Isso é delicioso, mas toda vez que você bebe, a mes-ma quantidade que engole acaba desaparecendo da quantia total. Isso é realmente uma merda. Além disso, as pessoas dizem que você não pode discutir este sentimento com alguém que tomou Balleleunium sem cho-rar.

Este era um ditado popular com origens seriamente duvidosas…

De todo modo, nós conseguimos mudar a atmosfera entre nós decentemente.

Originalmente, devido à constituição corpórea dos Lordes De-mônios, era possível beber tanto álcool quanto você quisesse e não ficar bêbado. Era graças à mana circulando em nossos corpos que eliminava automaticamente a embriaguez. Entretanto, de acordo com Barbatos, quando você “recebia” Balleleunium, era considerada uma grande falta de educação não ficar bêbado com ele. Ela havia parado a circulação de mana em seu corpo de propósito e permitiu-se ficar embriagada.

Alcoólatras são bem assustadores.

— E então? O que aconteceu em seguida? — falou Barbatos com uma leve vermelhidão em seu rosto. Parecia que estava tonta apenas até o ponto apropriado. — Depois de escutar a sua história, esse não foi o momento em que vocês romperam relações, certo? Então significa que houve outro momento decisivo. Ponha tudo para fora tranquilamente, criança. Já que pude saborear o gosto do Balleleunium, me responsabi-lizarei por você até o fim.

— Essa é uma bela gratidão — sorri amargamente. — Vamos brindar primeiro?

— Ooh, claro. Um brinde!

Conforme os brindes continuaram, fomos nos aprofundando na noite. Pelo vidro da sala de visitas, uma coruja chirriou. Eu conseguia mover meus lábios com mais facilidade do que antes, e Barbatos acom-panhava com mais entusiasmo.

— Primeiro, um exército invadiu meu castelo.

— Hou, então a mensagem era mesmo verdadeira.

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— Aah. Entretanto, os números eram um pouco menores quan-do comparados aos que estavam escritos…

Com um “ding”...

O relógio de pêndulo no primeiro andar do Palácio do Governa-dor soou seco, avisando a todos que era meia-noite.

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138 Novel Mania

Guardião do Norte, Marquês de Rosenberg, Georg von Rosenberg. Calendário Imperial: 15/09/1505. Proximidades do Castelo do Lorde Demônio Dantalian.

— Parece que o inimigo não tem nenhum posto militar à frente, Vossa Senhoria.

— Mm. Então está de acordo com as informações de nossos es-piões. Parece que não há nada de impressionante sobre este Lorde De-mônio chamado Dantalian…

Eu assenti após escutar o relatório do meu subordinado.

Atualmente, minhas tropas, as tropas do Marquês de Rosenberg, estavam marchando com bastante calma. O destino era a fortaleza do Lorde Demônio Dantalian. Nossa campanha estava procedendo em perfeição. A moral das tropas estava alta e todos os soldados estavam com seus passos leves.

Esta foi uma expedição repentina, mas todos eles estavam acei-tando. Eu estava honestamente agradecido. Uma força de mil e qui-nhentos soldados estava seguindo as ordens de seu superior sem dizer uma palavra de reclamação. Não havia nada que deixava uma pessoa de status elevado mais realizada do que isso.

— Vossa Senhoria acha que é verdade? O rumor de que há um estoque infinito de Ervas Negras acumuladas no castelo do Lorde De-mônio Dantalian…?

— Não importa se é verdade ou não. O importante é o fato de um rumor deste tipo ter se espalhado por todos os cantos de nosso ter-ritório.

A razão decisiva para termos sido enviados era a Peste Negra.

A praga aterrorizadora havia se estabelecido instantaneamente como um pesadelo, reinando sobre todas as pessoas nas cidades. Os amigos e familiares que estavam saudáveis ontem se tornavam corpos frios na manhã seguinte. Era a encarnação do terror.

Infelizmente, o mesmo ocorria com as pessoas nas minhas ter-ras. Passado apenas um mês desde que a doença se espalhou, dois mil de meus cidadãos haviam falecido.

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Todos tremeram de medo da mazela, não importando o status social. De acordo com o relatório de um coletor de impostos, a popula-ção de um pequeno vilarejo nas montanhas havia sido completamente aniquilada. A princípio ele havia ido para o local para receber os impos-tos, mas acabou tendo que enterrar os corpos. Era uma história pertur-badora…

— Os meus súditos estão no auge do medo e da insegurança. Se nós apenas ficarmos parados e não fizermos nada, os sentimentos da população serão perturbados. E caso isso aconteça, como resultado há a possibilidade de uma revolta brotar.

— Uma revolta… — O rosto do meu ajudante de ordens4 endure-ceu.

Ele deve ter ficado surpreso que eu, o senhor, havia mencionado a possibilidade de uma rebelião. Meu ajudante podia até estar sendo competente, mas lhe faltava um pouco de coragem. Ele relaxaria se eu sorrisse?

— Conforme as coisas estão agora, isso é só uma hipótese. Pense sobre isto você mesmo, o que os meus súditos fariam se o senhor deles não fizesse nada enquanto assistiam amigos próximos e colegas mor-rendo? Seria difícil tolerarem isso.

— Mas isso é irracional… A Peste Negra não é uma punição divi-na vinda dos deuses? Isso não é algo que Vossa Senhoria tem capacida-de para lidar.

— Seja uma punição divina ou qualquer outra coisa, é dever do senhor cuidar de seus súditos. Se um senhor ou senhora fugisse desta situação, a única coisa que os aguardaria é a ruína.

— Vossa Senhoria... — Meu ajudante de ordens olhou para mim com os olhos cheios de admiração.

Pare de olhar para mim com os olhos assim. Eu não disse algo óbvio? O fato dos jovens de hoje em dia ficarem comovidos com tão pouco é problemático.

4 Um ajudante de ordens, também chamado de ajudante de campo, é o assistente ou secretário pessoal de uma pessoa de posição elevada, normalmente de um oficial militar ou de um Chefe de Estado.

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Ou será que fiquei tão velho que já sou incapaz de me manter tão sensível quanto eles? Que deprimente. As únicas coisas que aumen-tam com a idade são a quantidade de rugas e de celulites. Seria bom ir para um campo de batalha o quanto antes e ter uma morte honrada…

Se eu tivesse que reclamar de algo, então seria do fato de que não houve nenhuma guerra que realmente se parecesse com uma guer-ra nestes últimos anos. Algo no nível de uma guerra total era ainda mais improvável graças ao surto da Peste Negra.

Por isso, eu tinha uma grande chance de morrer, mas não nos terrenos acidentados de um campo de batalha, e sim em cima de uma cama confortável. Em outras palavras, uma morte vergonhosa para um guerreiro. Eu não teria a honra necessária para poder olhar nos olhos dos meus ancestrais no pós-vida...

— Ao menos os cidadãos precisam saber que seus superiores não estão sentados sem fazer nada. Se realmente há Ervas Negras no castelo do Lorde Demônio ou não, é uma questão secundária. Mostrar que nós estamos nos esforçando o máximo que podemos para fazer alguma coi-sa é o que importa.

— Entendo. Isto que é política, huh…

— Mm — assenti. — A coisa a que mais deveríamos ser gratos é que Dantalian é o protagonista deste rumor. É um alívio que se trata do Lorde Demônio de Rank 71.

— Um alívio?

Exato.

Supondo que o rumor espalhado dissesse que aquela que estava monopolizando a Erva Negra fosse a Lorde Demônio de 8º Rank, Bar-batos, seria imensamente difícil para minhas forças como um Marquês sozinhas atacarem ela. Seria impossível utilizar este rumor politicamen-te.

Por outro lado, Dantalian, de Rank 71, era um novato. Ele estava no nível de um indivíduo que você acabava esquecendo com bastante frequência.

— Nós podemos torcer o pescoço de Dantalian sempre que qui-sermos. Honestamente, é até um desperdício chamá-lo de Lorde De-mônio. Ele é só um ninguém. Nada mais, nada menos.

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De acordo com as informações que nós coletamos, Dantalian não possuía uma base apropriada e reside em uma caverna. Ele não possui um posto militar sequer como defesa. Está tudo bem em dizer que subjugar o Lorde Demônio Dantalian era tão fácil quanto quebrar o braço de uma criança.

Portanto, era sorte.

— Nós somos capazes de enviar nossas tropas porque nosso alvo é o Dantalian, se fosse Barbatos, então não poderíamos nos mover nem mesmo um centímetro. Teríamos que sentar e esperar pacientemente até que meus súditos começassem uma revolta. É uma sorte que a fonte deste rumor é o Dantalian…

Meu ajudante ficou maravilhado.

— Após escutar as palavras de Vossa Senhoria compreendi que a deusa da Sorte está mesmo cuidando de Vossa Senhoria.

— Mm? É isso mesmo?

— Sim. Os outros territórios não estão tão longe que seria difícil para nós enviarmos nossas tropas mesmo se quiséssemos? Mas as ter-ras de Vossa Senhoria são relativamente próximas do castelo do Lorde Demônio Dantalian. Não importa o quão grande é o império, apenas Vossa Senhoria recebeu esta oportunidade! Isso é sorte. Você só pode confiar neste tipo de sorte algumas vezes durante toda a sua vida.

Mas eu entendo. O que meu ajudante disse é coerente. Eu deve-ria me permitir ficar contente por a deusa ter me presenteado com esta chance?

Propelindo a voz de dentro do meu peito, ordenei:

— Soldados, avancem! Faltam apenas dois dias até chegarmos à fortaleza de Dantalian. Lá conquistaremos nossos espólios de guerra!

— Sim, Vossa Senhoria!

Os oficiais comandantes se espalharam e comandaram o resto dos soldados.

— Mexam-se logo, acabou o descanso. Levantem essas suas bundas sujas e marchem um atrás do outro como patinhos!

As tropas começaram a se mover diligentemente. Todos os sol-dados estavam utilizando equipamentos leves. Nós havíamos mobiliza-do tropas equipadas com equipamentos leves assim de propósito, para

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acabar esta batalha o mais rápido possível. Também seria difícil trans-portar os mantimentos se não fizéssemos isso, então essa era uma tática óbvia.

Olhei para o céu e murmurei:

— O tempo está bom.

O Sol estava escondido por trás das nuvens. O vento era refres-cante. Era o clima apropriado para marchar. Nós muito provavelmente iremos batalhar daqui a dois dias. Vamos destruir o castelo de Dantali-an e levar paz a minhas terras o quanto antes.

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Lorde Demônio mais fraco, 71° Rank, Dantalian. Calendário Imperial: 15/09/1505. Proximidades do Castelo do Lorde Demônio Dantalian.

As bruxas relataram que um exército desconhecido estava se aproximando.

A sua força militar era de aproximadamente mil soldados, um exército composto somente por humanos e nenhum demônio. De acor-do com a previsão das bruxas, pela velocidade de avanço dos inimigos, eles chegariam em breve.

— Nós demoramos demais para descobri-los…? — murmurei de-sanimado.

Nós os encontrarmos muito tarde. A razão para isso era simples: Não fazíamos ideia do local por onde os invasores iriam atacar. O aviso nos dizia apenas que o exército apareceria aproximadamente a esta ho-ra, entretanto, não nos dizia exatamente quem eram os invasores e por onde nos atacariam.

O resultado disso era esta situação desagradável. Nós permiti-mos que as forças inimigas chegassem até bem de baixo de nossos nari-zes. Eu me sentia como se tivesse ficado tão cego quanto um morcego. Por sorte, ao menos tínhamos o reconhecimento aéreo das bruxas, mas se não as tivéssemos, então o quão tarde nós teríamos os descoberto…?

Os jogos e a realidade eram diferentes. Em uma guerra na vida real não havia algo como uma janela com um mapa que mostrava gen-tilmente que “as forças inimigas estão se aproximando por esta dire-ção”. Era deprimente. No fim, tive que desempenhar a função trabalho-sa de procurar os invasores por conta própria. Era a pior situação pos-sível para um recluso como eu. Não tinha nenhum feitiço que aniquila-va as forças inimigas de uma só vez como no jogo? Não tinha nenhum mesmo? Entendo.

Eu queria me matar…

Desde o dia em que briguei com Lazuli, estive constantemente em um clima desanimado. Tudo no mundo era cansativo.

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Por que eu ainda estava vivendo a minha vida? Sendo alguém que já havia percebido que a sua vida era um completo monte de merda aos seis anos, por que ainda estava vivo? Sou um masoquista?

Sim, eu sabia a verdade... Era por causa do meu maldito trans-torno de personalidade, desde que conseguisse atingir meu objetivo, não me importava em massacrar nem crianças e nem idosos. Não sentia nem um pingo de remorso por isso. O próprio ato de transformar outra pessoa em uma marionete e controlá-la como bem quisesse era o prazer da minha vida, e esmagar imbecis arrogantes e jogá-los no esgoto era o que me alimentava. O que mais eu deveria fazer? Eu já era assim quan-do nasci.

Independentemente disso, uma vez tentei escapar do meu desti-no. Depois que o meu pai morreu, havia recusado a herança e me isola-do. Mas por alguma razão, fui jogado de novo em um mundo que seguia a lei da selva. A minha vida estava daquele jeito e voltou a ficar assim novamente…

— Haaa... — Um suspiro escapou sem que eu quisesse.

Já era difícil viver a vida com diligência, mas também era difícil viver com preguiça? Esse era mesmo o meu destino, certamente combi-nava com uma vida que era um monte de merda. Todo mundo deveria ir comer bosta.

Laura De Farnese falou:

— Senhor, a sua feição está ruim. Tudo bem com você?

No momento nós dois estávamos tendo uma reunião de estraté-gia. Provavelmente ela estava preocupada já que eu tinha soltado um suspiro no meio da nossa reunião. Com meus olhos vazios, eu fitei a Senhorita Farnese.

— Farnese, quando a vida parece ser uma merda, o que você faz?

— Mm? Do que é que você está falando? A vida sempre foi uma merda. Vossa Senhoria, por um acaso, algum dia pensou que a sua vida fosse algo além de uma bosta?

A Senhorita Farnese piscou me encarando e dei de ombros.

— Bem… até hoje não.

— Viu? Vossa Senhoria certamente diz coisas inúteis. Diga-se de passagem, esta jovem senhorita pensa cerca de duas vezes ao dia sobre

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querer se matar. Os impulsos suicidas já fazem parte da vida desta se-nhorita.

— A minha quantidade é um pouco menor. Na média de uma vez e meia ao dia, talvez.

— Eu sabia. Isso não é similar à mentalidade de uma pessoa normal? Não se preocupe com coisas desnecessárias, senhor. De qual-quer forma nós já estamos destinados a nadar no esgoto pelo resto de nossas vidas. Nada vai mudar mesmo que Vossa Senhoria se preocupe.

— Mmm — balancei a cabeça lentamente concordando.

Ela estava absolutamente correta. Sem sombra de dúvidas tam-bém penso assim e por isso estava concordando. Mas por que eu estava sofrendo com crises de depressão tão subitamente? Eu não sabia qual era o motivo. Quando foi que o problema começou…?

— Agora eu estou com muito mal humor... Oh Farnese, vendo que chegamos a este ponto, terei que aliviar o meu estresse esmagando os inimigos. Vamos aniquilá-los rapidamente sem deixar nenhum para contar história.

— Apesar desta jovem senhorita não ter nenhuma objeção a esta sugestão… Senhor? Agir baseado nas emoções é um hábito extrema-mente ruim. Os sentimentos pessoais apenas fazem os indivíduos se tornarem seres de segunda categoria.

— Sei muito bem disso. Mas o que posso fazer se não consigo melhorar meu humor não importa o que eu faça? Não tenho outra op-ção senão acalmar minha raiva assistindo o rosto das outras pessoas se contorcendo em dor — reclamei.

A Senhorita Farnese balançou a cabeça concordando relutante-mente.

— Bem, esta jovem senhorita apenas segue as ordens de Vossa Senhoria. Contudo, se está realmente tão aborrecido, por que não co-manda o exército você mesmo? A frustração de Vossa Senhoria pode se dissipar caso assista estes humanos caírem graças aos seus comandos.

— Está tudo bem. O objetivo desta batalha é despertar o seu po-tencial. Não serviria para nada se nós colocássemos a carroça na frente dos bois agora.

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— Vossa Senhoria é consideravelmente teimoso com assuntos peculiares. — Laura de Farnese balançou a cabeça. — Esta jovem senho-rita avisará Vossa Senhoria uma última vez: Há a possibilidade de que esta jovem faça com que todas as tropas, refiro-me às que Vossa Senho-ria contratou, sejam aniquiladas. Esta senhorita não tem certeza sobre isso, mas é possível que sejamos derrotados mesmo que o inimigo tenha mil soldados enquanto nós temos três mil. Vossa Senhoria ainda acha que está tudo bem em deixar o comando nas mãos de uma moça des-sas?

— Por favor, pare de se preocupar.

Apertei a parte de cima da cabeça da Senhorita Farnese, era um ponto fraco dela que eu descobri nestes últimos dias durante o tempo que passamos juntos.

A Senhorita Farnese balançou os braços e se contorceu.

— Ah..., ah... Senhor, não no redemoinho. Eu não gosto que me-xa aí.

— Escute com atenção: Não importa se todas as tropas morre-rem. De qualquer forma, a coisa que este mundo mais tem são solda-dos. Se eles morrerem contratamos outros e se fugirem nós treinamos mais. O seu Senhor tem tanto ouro que isso pode até começar a enferru-jar.

— Ah... hoah, não pode apertar o redeemoinhoo…

A Senhorita Farnese desmanchou-se em uma poça. Ela estava com o rosto confuso enquanto se transformava em geleia. Para alguém que não tinha nem um pouco de cócegas, esta senhorita tinha um ponto fraco bem estranho.

— Entretanto, você é um indivíduo impossível de ser substituí-do: Uma força que não pode ser criada não importa quanto ouro eu ofereça. Permita-me perguntar agora: Pareço ser uma pessoa que joga-ria fora um indivíduo excepcional, que no futuro poderia ter a capaci-dade equivalente à de quinhentas mil pessoas, só porque achei que per-der três mil soldados seria um desperdício?

— Porque esta jovem senhorita não possui experiência no campo militar…

— Desgraça, fique quieta. Eu não me lembro de te dar permissão para responder. Apenas receba este cafuné obedientemente.

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— Aak..., aak..., aak... É por isso que apertar o redemoinho é co-vardia…

Hoo. Vendo a Senhorita Farnese se encolhendo assim, um pouco do meu estresse desapareceu. De fato, eu era um sádico saudável. Um indivíduo exemplar.

Bom, consegui voltar um bom tanto para o meu estado normal. O meu eu de sempre que está invariavelmente correto.

Esqueça Lapis Lazuli por enquanto. Lide imediatamente com es-tes bandidos, estes imbecis sem cérebro que não sabem quem é que manda e estavam invadindo meu território como bem queriam. Ensine a estes tolos o que é a boa educação.

— Farnese, pense neste lugar não como um campo de batalha, mas como um parque. A pequena quantidade de três mil brinquedos foi colocada a sua frente para você brincar como bem quiser.

— Hooah… Brinquedos, é isso mesmo?

— Exatamente. Trate a vida destes soldados como se fossem ba-ratas. Ou considere eles como sendo apenas meros pontinhos no mapa. Você acha que eu te puniria por quebrar alguns brinquedos?

Em uma situação normal, eu não falaria com tanta honestidade. Entretanto, nós éramos similares. Fazíamos parte de um grupo de pes-soas que eram indiscutivelmente egoístas. Quando conversando com apenas ela, eu não tinha intenção de tomar cuidado com o que falava.

Já que ela muito provavelmente pensava a mesma coisa.

— Entendo. Então esta jovem senhorita seguirá as ordens de Vossa Senhoria e brincará com os soldados. — A Senhorita Farnese balançou a cabeça concordando. — Esta jovem senhorita moverá a van-guarda primeiro.

Ela moveu um boneco de argila que estava sobre o mapa.

No momento em que ela posicionou a figura de argila no lugar com thud...

A batalha havia começado.

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148 Novel Mania

Guardião do Norte, Marquês de Rosenberg, Georg von Rosenberg. Calendário Imperial: 16/09/1505. Proximidades do Castelo do Lorde Demônio Dantalian.

— Vossa Senhoria, a tropa de reconhecimento retornou.

— A batalha está prestes a começar. Refira-se a mim como gene-ral, não como senhor — corrigi o erro de meu ajudante com severidade.

Se tornar um nobre de excelência era difícil. Nas ocasiões nor-mais você tinha que ficar imerso nas obrigações sociais enquanto toma-va conta das questões internas. Enquanto nas situações de emergência você tinha que se responsabilizar como o comandante supremo na guerra. Magnanimidade e leniência tinham que coexistir com a insensi-bilidade.

Portanto, o seu título era de suma importância. Havia uma energia espiritual nas palavras. As pessoas podiam mudar livremente dependendo do nome que era dado a elas.

No momento eu não era o soberano do ducado de Rosenberg, mas sim o comandante de um exército de mil homens. Não Vossa Se-nhoria marquês, mas sim um mero general. Poderia chamar isso de tenacidade de um velho. A minha crença era que se o seu nome não se destacasse imediatamente, então tudo iria ao chão.

— Sim. Peço desculpas, general. Corrigirei meus erros de agora em diante.

— Bom. Dê-me o relatório do time de reconhecimento.

— Eles reportaram que uma unidade, aparentemente de inimi-gos, está bloqueando o caminho adiante.

— O que é isso? — arregalei os olhos. — Você está me dizendo que o Lorde Demônio Dantalian tem tropas sob seu comando?

— Sim. Entretanto, ainda não temos certeza disso.

Não tem certeza? Essa não era uma frase agradável de se escu-tar. A imprecisão era inimiga dos militares, você tem que falar com con-fiança.

— Estandartes foram vistos no território inimigo, mas os bate-dores relataram que não reconheciam a quem pertenciam. Parecia ser uma unidade composta principalmente por anões.

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149 Novel Mania

— Uma unidade de anões de afiliação desconhecida, é mesmo…? Qual o número de soldados?

— Não é uma quantidade muito impressionante, general. De acordo com o relatório, não passa de cem a duzentos homens.

— Confirmarei isso com meus próprios olhos.

Com as tropas montadas me seguindo, prossegui até à frente do exército. Pouco depois, pude ver o acampamento inimigo alocado no topo de uma região montanhosa. Com os olhos semicerrados eu exami-nei o seu acampamento.

— Mm, vejo que o time de reconhecimento está fazendo o seu trabalho direito. O número de inimigos não chega a 200.

— Também pensei isso. Deveríamos mandar um mensageiro pa-ra questionar a quem estas tropas estão afiliadas?

Balancei a cabeça em negação.

— Não há necessidade. Excluindo Dantalian, não há nenhum outro Lorde Demônio que se localiza nesta região.

— Mas existe a possibilidade, mesmo que pequena, de ser uma unidade completamente alheia…

— Eu agradeço pelo conselho, mas terei que recusá-lo. Esta tro-pa apareceu para bloquear nosso caminho no dia exato que nossas tro-pas estão avançando. Não há nenhuma coincidência aqui.

Assim que respondi para ele severamente, meu ajudante balan-çou a cabeça concordando e se afastou.

De todo modo, minha mente estava incerta.

O fato das forças opositoras estarem paradas naquele local signi-ficava que sabiam sobre nossa invasão de antemão. Por onde a informa-ção pode ter escapado…?

Não, mais tarde ainda não seria tarde demais para investigar is-so, descuido deve ser evitado. Primeiro devemos nos livrar destas forças inimigas logo à nossa frente.

— Ajudante, transmita meu comando! Mobilize a cavalaria e ataque as forças inimigas pelos dois flancos. Infantaria, continuem prontos para agir.

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150 Novel Mania

— Entendido! Companhia de cavaleiros, avancem sobre os flan-cos!

Meu ajudante repetiu minha ordem em voz alta. Assim que o comando chegou às outras unidades, os corneteiros assopraram seus instrumentos. Um som grandioso e valente. Este era a trombeta de chi-fre, única da região norte de Habsburgo. Eu amava este eco nos campos de batalha.

Meu ajudante murmurou:

— As forças inimigas também devem estar desesperadas. Esta batalha pode se tornar difícil.

Ele estava demonstrando simpatia para com o inimigo? Isso se-ria preocupante. Sentimentos pessoais não passavam de coisas luxuosas sem qualquer significado nos campos de batalha.

Eu o repreendi:

— Mas nós também temos nossas próprias questões. Mesmo que eu sinta pena de Dantalian, não temos outra escolha senão forçá-lo a ser nosso bode expiatório.

— É claro.

Hm. Era uma preocupação desnecessária?

Dez minutos se passaram desde que a trombeta foi assoprada.

Meu ajudante falou com uma expressão de preocupação estam-pada no rosto:

— General... Os inimigos não estão retaliando?

— Mmm.

Meu rosto não estava muito diferente do de meu ajudante. Ho-nestamente, eu estava confuso.

Neste momento, nossa cavalaria com equipamentos leves estava atirando de cima de um morro, estava atirando virotes nos inimigos usando bestas.

Os ferimentos dos inimigos deveriam estar ficando sérios, e mesmo assim não se moveram um centímetro. O que estava acontecen-do?

— Talvez tenham algum tipo de plano em mente…?

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— Não sabemos quais são suas intenções — franzi as sobrance-lhas. — Se continuarem assim o número de mortes deles vai apenas aumentar.

— Realmente não há nenhuma movimentação, general. Talvez estejam recebendo menos dano do que pensamos?

— Não. A chance de isso realmente estar acontecendo é muito pequena.

É claro, o alcance e a força das bestas utilizadas pela cavalaria eram inferiores às utilizadas pela infantaria, mas ainda eram bestas. O conceito de absorver energia mágica dos arredores para atirar um dis-paro poderoso ainda era o mesmo. Você não podia tratar isso com leni-ência. Certamente as coisas deveriam ser assim, mas…

— General, existe a chance de que haja uma emboscada.

— Nestes morros a céu aberto? Não tem nenhuma floresta nas proximidades. Se tivessem que ocultar suas tropas, aonde poderiam conseguir escondê-las?

Meu ajudante ficou em silêncio. A perturbação na expressão de seu rosto era aparente.

Eu não senti necessidade de o repreender. Ele provavelmente sabia muito bem que não teria qualquer tipo de emboscada. Era só que não conseguia entender o comportamento das tropas inimigas e estava simplesmente expressando o seu “talvez?”.

— Bem, digo, parecem ser uma tropa de elite. Eles estão sob ata-que constante por dez minutos, mas ainda assim não apresentam sinais de movimento. General, não é um grupo de soldados mal treinados.

— Isso apenas resulta em ainda mais perguntas...

— Isso é verdade.

As forças inimigas estavam sendo alvejadas por flechas sem po-der reagir, e ainda assim permaneciam inabaláveis.

O número de sua tropa era inferior a duzentos. Não importa quantas balestras tinham, com certeza a quantidade não passava de cem.

Por outro lado, nós possuíamos quatrocentas sentinelas. Qua-trocentos soldados que atiravam sem parar, permitindo que uma chuva infindável de flechas fosse disparada. Eles não eram nem dignos de se-

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152 Novel Mania

rem oponentes. Uma luta entre um adulto e uma criança provavelmente seria mais vigorosa que isso.

Apesar disso, a infantaria inimiga continuou mantendo sua for-mação. Eles mantiveram seus queixos erguidos, como se seus compa-nheiros ao lado indo ao chão devido às flechadas fosse algo sem impor-tância. Era uma coragem anormal.

— Normalmente nós os elogiaríamos pela disciplina militar im-pressionante…

— Isso não é triste...? O que diferencia estes homens de simples escudos de carne?

— Sim. É realmente digno de pena — falou meu ajudante con-cordando.

Nós assistimos o campo de batalha em silêncio por algum tem-po.

Finalmente, após 20 minutos de combate, meu ajudante não conseguiu mais conter a sua raiva.

— Eu realmente não consigo entender!

Seu rosto estava brilhando de tão rubro.

Ele com certeza estava furioso com a incompetência do coman-dante inimigo desconhecido.

— O que exatamente o comandante deles está fazendo?! Seus soldados estão morrendo. Retalie, vire a mesa desta batalha, faça algu-ma coisa! Ao menos deveriam se render…!

No fim...

Cerca de trinta minutos depois da batalha ter começado, as for-ças inimigas finalmente foram derrotadas.

Incapazes de continuar aguentando seus ferimentos, suas for-mações se despedaçaram. A muralha resistente havia desmoronado.

— Dê a ordem para avançarmos...

— Sim, general...

Ambos, o general dando a ordem e o ajudante a recebendo esta-vam cansados. Mas as únicas duas pessoas que foram tomadas por este humor melancólico foram eles. Obviamente as tropas estavam entusi-asmadas graças à vitória fácil.

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153 Novel Mania

Buuuuuu...

O som da trombeta de chifre ressoou.

Recebendo o sinal, nossas tropas desembainharam suas armas e audaciosamente correram em direção aos inimigos cuja formação esta-va quebrada.

E acabou assim mesmo.

Não conseguindo aguentar o nosso avanço, os inimigos foram ao chão rapidamente. Os soldados fugiram para os lados. Por causa dessa sequência de acontecimentos tão óbvia, e o resultado mais óbvio ainda, a força nos meus ombros desapareceu…

— General. Deveríamos dar a ordem para perseguir os fugitivos?

— Dê a ordem… Eu realmente não consigo entender nada disso.

Os soldados inimigos, incapazes de correr até longe, foram ani-quilados pelas minhas forças. Gritos perturbadores começaram a ecoar pelas colinas. Meu ajudante cerrou os olhos. Era uma cena arrepiante…

— O que foi esta batalha que acabou de acontecer?

— Eu também gostaria de perguntar isso.

Existiam muitos mistérios no mundo.

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154 Novel Mania

Lorde Demônio mais fraco, 71° Rank, Dantalian. Calendário Imperial: 16/09/1905. Proximidades do Castelo do Lorde Demônio Dantalian.

— Entendo... Cheguei a uma conclusão. — Os olhos de Laura De Farnese brilharam. — A infantaria sozinha não consegue comba-ter a cavalaria!

— Por que você está concluindo algo tão óbvio!? — gritei com toda minha força.

Bufando de raiva, apertei firmemente o redemoinho na cabeça desta senhorita.

— Ah..., ah... Eu não gosto disso, senhor. Não gosto que aperte aí.

— O que foi essa batalha agora? Ela não foi completamente sem sentido?!

— Hoah... É por isso que esta jovem senhorita pediu que Vossa Senhoria não deixasse o comando nas mãos dela…

A Senhorita Farnese estava em meus braços, esparramada feito mingau.

Mesmo que uma pessoa tivesse absolutamente nenhuma experi-ência com guerras, esta batalha de agora foi terrível. Não tinha como definir exatamente o quão horrível ela foi. Nós perdemos uma unidade de cento e cinquenta soldados de infantaria em um piscar de olhos, sem nem receber algo em troca.

— Sua desgraça. Eu retiro o que disse antes. Nós não somos o mesmo tipo de pessoa, e você também não é como minha irmãzinha. Você não passa de minha bolinha antiestresse pessoal.

— Qual a diferença disso e de uma escrava sexual, senhor…?

— Ao menos uma escrava sexual é capaz de ajudar com os dese-jos sexuais, mas você não consegue ajudar em nada. Essa é a grandiosa diferença, sua coisa inútil.

— De repente esta jovem senhorita transformou-se em uma ga-rota inferior a uma escrava sexual…

A Senhorita Farnese ficou mal-humorada.

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155 Novel Mania

Nesta última batalha, a quantidade de soldados que conseguiu escapar não chegou a vinte. Isso significava que nove décimos do total de tropas que nós enviamos morreram.

Eu tive que assistir aquela cena miseravelmente sem sentido do início ao fim junto com a Senhorita Farnese, tudo enquanto voávamos na vassoura de uma bruxa. Me senti como se estivesse sendo forçado a ver um filme B5.

— Mm. Mas isso é de completa responsabilidade de Vossa Se-nhoria.

— Poderia dizer isso de novo?

— Já que esta jovem senhorita apenas leu manuais da arte da guerra, é obvio que esta jovem não estaria familiarizada com uma bata-lha real. Em um dos manuais de guerra que esta senhorita leu, estava escrito que a infantaria era suficiente para combater a cavalaria leve. Então esta jovem senhorita não teve outra escolha senão verificar quais livros estavam corretos.

Para alguém que havia conduzido a pior batalha da história, ela estava sendo bastante desavergonhada.

Com os olhos transparecendo o mau humor, encarei a Senhorita Farnese.

— Então? Qual a sua verdadeira intenção?

— Já que pensei que iria perder minha primeira batalha de qualquer forma, esta jovem senhorita jogou cento e cinquenta pessoas descartando-as para morrer.

— Eu amassarei esta sua mentalidade de perdedora.

Aperta, aperta, aperta.

— Ah, ah, ah... estou sendo amassada, senhooor..., hoah. Esta jovem senhorita está sendo amassada…

— Tente com um pouco mais de entusiasmo. Você entende? A vitória é uma donzela, ela sorri apenas para o mais corajoso dos compe-tidores. A vitória fica distante dos tolos que ficam quietos encolhidos em um canto.

5 Filmes de baixo orçamento que não eram feitos para serem exatamente bons, principalmente de Faroeste, Terror e Gangsteres.

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156 Novel Mania

— Os mais corajosos dos competidores, é isso mesmo…?

A Senhorita Farnese levantou os olhos para me fitar.

Eu a fitei de volta nos olhos com sinceridade.

— É isso mesmo. Aja ousadamente e com coragem.

— Ousadamente…

— Com tanta audácia que faça você parar para refletir se está re-almente tudo bem com o que está fazendo.

— Com audácia...

Pergunto-me se minha sinceridade a alcançou.

Laura De Farnese ficou pensando profundamente por um mo-mento e então assentiu com a cabeça. Era um movimento pequeno, mas havia uma certa determinação contida nele. Já que era eu, alguém ta-lentoso em ler a psique das pessoas, quem estava dizendo isso, então era certeza...

— Entendido. Certamente é como Vossa Senhoria disse. Esta jo-vem senhorita podia estar sendo um pouco hesitante por ser a primeira vez desta jovem, e como este era um território desconhecido a ela, esta senhorita pode ter sido muito cautelosa.

— Mm.

— Na verdade, a primeira vez de alguém é o momento em que se pode testar a quantidade de privilégios que a pessoa tem. Mesmo que uma criança caia, ninguém vai culpá-la por ter feito isso. Por mais que esta jovem senhorita seja a maior gênio do mundo, esta jovem ainda é um mero bebê quando se trata de assuntos militares. Não tem motivos para tomar cuidado com a honra desta jovem senhorita nesta situação.

— Mm…

— E é por isso que esta jovem senhorita seguirá os conselhos de Vossa Senhoria e mudará este modo de pensar. Esta jovem forçará até mesmo os inimigos a ficarem chocados. Sinta-se à vontade para ter ex-pectativas sobre isso. Juro pelo nome desta jovem, Laura De Farnese, que esta senhorita não desapontará Vossa Senhoria.

— Apesar de eu sentir que humildade e orgulho próprio foram misturados caoticamente neste discurso, tanto faz. É exatamente esse o espírito! Eu não garanti a você que estava tudo bem em usar nossos soldados como bem quisesse? Lidarei com as responsabilidades e com

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157 Novel Mania

as percas, enquanto você fica com a glória e com a vitória. Desta forma não há negócio que não seja lucrativo.

— Como você comandar. Meu Senhor. — A Senhorita Farnese segurou um boneco de barro. — Esta é a sinceridade desta jovem se-nhorita.

Com um “thud”, ela colocou a figura de barro no centro do ma-pa.

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Guardião do Norte, Marquês de Rosenberg, Georg von Rosenberg. Calendário Imperial: 16/09/1505. Proximidades do Castelo do Lorde Demônio Dantalian.

— General, outra unidade de tropas inimigas apareceu à frente.

— O quê? — franzi as sobrancelhas por causa do relatório do meu ajudante.

Depois de conseguir nossa vitória incompreensível desta manhã — durante a minha vida posso ter passado por inumeráveis campos de batalha, mas esta foi a primeira vez que consegui uma “vitória incom-preensível” ao invés de uma “derrota incompreensível” — nossas tropas reorganizaram as formações e estavam marchando novamente.

Normalmente seria apropriado permitir que meus soldados des-cansassem depois de uma batalha. A fadiga que os militares sentiam depois de entrar no campo em combate era inimaginável, isso seria um respeito óbvio de se prestar.

Entretanto, desta vez eu não pude permitir que tivessem um descanso tranquilo. A razão para isso era simples: A minha voz da razão e meu senso comum se fundiram e declararam que “aquilo” não pode-ria, de forma alguma, ser considerada uma batalha. Já que não houve combate também não haveria descanso. Não tinha nenhuma falha na minha lógica.

Mas tropas inimigas aparecerem de novo? Do que ele estava fa-lando?

— Dê-me todos os detalhes, ajudante.

— Sim. Estimamos que o número de soldados inimigos seja aproximadamente cento e cinquenta desta vez também. Eles parecem estar em uma formação de batalha em cima de um monte relativamente alto.

— Por que esta unidade não estava junto com as tropas que nós “enfrentamos” hoje de manhã...?

— Peço desculpas, mas também não sei dizer.

Meu ajudante estava tão confuso quanto eu. Seria difícil querer uma resposta satisfatória nesta situação.

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159 Novel Mania

Com a cavalaria atrás de mim me seguindo, eu prossegui até o fronte. E realmente, outra unidade de forças inimigas estava lá. Bandei-ras de uma afiliação desconhecida estavam balançando ao vento mais uma vez.

Contudo, havia algo definitivamente diferente sobre estes solda-dos quando comparado às tropas que enfrentamos nesta manhã.

— Ajudante, não me diga que eles…

— Sim... General. Depois de ver isso pessoalmente, eu também cheguei a essa conclusão.

Meu ajudante murmurou:

— Este grupo, não tem nada além de besteiros.

Minha visão ficou turva.

Sendo sincero, este grupo era absurdo.

Era a minha primeira vez vendo uma unidade assim durante to-da a minha vida.

Tipicamente, a unidade da infantaria consistia de lanceiros e besteiros. Não era assim sem motivo. Havia uma razão bem pensada por trás de tudo isso.

Os lanceiros usavam suas armas longas para impedir que as tro-pas inimigas se aproximassem. Dada a necessidade, manteriam a ponta de suas lanças estendidas para impedir que inimigos como a cavalaria realizassem uma investida.

Sobre o que aconteceu durante o “combate” desta manhã — sim, eu pretendo continuar usando esse termo — meus homens não avança-ram despreocupadamente desde o início. Isso se devia ao fato dos lan-ceiros inimigos estarem em suas posições sem deixar nenhuma mísera falha. Portanto, nós tivemos que atirar flechas incessantemente neles, à distância, para forçá-los a quebrar suas formações. A investida aconte-ceu depois disso.

Meu ajudante falou amargamente:

— Porém, parece que montaram estacas de madeira em volta de suas tropas…

— Hmm.

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160 Novel Mania

As forças inimigas colocaram estacas de madeira em volta de si como uma cerca para poderem combater a cavalaria. Como se estives-sem tentando compensar o que estava faltando. As estacas certamente eram efetivas em atrapalhar o avanço da nossa cavalaria, mas estes es-pinhos eram inferiores a ataques perfurantes de verdade. Seria impos-sível bloquear completamente nossa cavalaria só com isso.

— Ajudante. Isto é, por acaso, alguma estratégia popular nos campos de batalha hoje em dia? Como estou envelhecendo, não consigo mais acompanhar as últimas modas.

— Minhas desculpas, general. Se algo assim fosse uma moda, então o império já teria unificado o continente há muito tempo. E eu teria perdido meu trabalho e atualmente seria um desempregado.

— Nós deveríamos… julgar isso como sendo uma estratégia ori-ginal?

— Você é muito gentil, general. Se fosse eu, denominaria isso como sendo uma idiotice.

Superando a diferença de gerações, eu consegui me identificar com meu ajudante…

E naquele momento, como se ele tivesse percebido alguma coisa, arregalou os olhos.

— General. Pode ser que o inimigo não esteja utilizando este tipo de estratégia intencionalmente!

— Não intencionalmente, você diz?

— Sim. Pode não passar de uma mera especulação minha, mas estes soldados a frente deveriam estar planejando se encontrar com as tropas que enfrentamos nesta manhã. Eles muito provavelmente pre-tendiam nos enfrentar com as duas unidades juntas. Entretanto, já que o encontro deles foi atrasado, acabaram sendo derrotados antecipada-mente!

— Hm…

Eu senti como se minha visão tivesse clareado. Isso realmente era possível.

— Entendo. Foi isso que aconteceu então…? Isso explicaria por-que as tropas que enfrentamos esta manhã não retaliaram. Eles esta-vam esperando os seus reforços chegarem.

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161 Novel Mania

— Isso mesmo, general. E nós chegamos antes que suas tropas conseguissem juntar forças. Eles provavelmente não esperavam que nós iriamos avançar tão rapidamente. Deve que isso estava completamente fora de suas previsões.

— Com certeza.

Finalmente tudo fez sentido.

O “combate” desta manhã foi simplesmente um erro por parte dos inimigos. Eles entraram em combate antes que suas forças conse-guissem se juntar apropriadamente. Resumindo, isso resultou na sua derrota excessivamente estranha e ridícula.

Certamente os soldados inimigos desta manhã não estavam com seu comandante presente. E, naquele momento, provavelmente esta-vam esperando seu comandante e os reforços chegarem. Mas no fim das contas, o comandante não conseguiu chegar a tempo e toda a unidade acabou sendo aniquilada…

— Isso tudo é graças a sua perspicácia, general! Se você tivesse organizado nossas tropas de forma que consistissem principalmente de infantaria e cavalaria com equipamentos pesados, então consequente-mente nossa velocidade de marcha teria sido mais lenta. Nós chegaría-mos ao campo de batalha após as unidades inimigas terem se unido.

— Mm, isso é apenas sorte.

— Dizem que se uma coincidência acontece duas vezes então na verdade é o destino. Não restam dúvidas de que as deusas estão cui-dando de você, general. Ooh, a benção da deusa Atena está sobre nós! — gritou meu ajudante em meio ao seu ânimo.

Os soldados tendem a confiar muito na religião devido às suas experiências terríveis no campo de batalha. Não havia nada que conse-guia colocar mais coragem nas tropas do que saberem que as deusas estavam ao seu lado. Era por isso que meu ajudante, que sabia desse fato, estava gritando com tamanho entusiasmo.

— A deusa Atena deu a Sua Senhoria, Rosenberg, a sua proteção divina!

— O que aconteceu?

Com a menção do nome da deusa, os outros comandantes mili-tares se aproximaram.

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162 Novel Mania

Assim que meu ajudante explicou a situação para eles cheio de ânimo, os seus rostos também se iluminaram e reluziram.

— Parabéns, Vossa Senhoria!

— Está claro que as deusas desejam proteger o território de Vos-sa Senhoria contra a Peste Negra!

Os outros comandantes deram seus parabéns como se já tives-sem conquistado a vitória.

Com a expressão fria, balancei a cabeça.

— Silêncio. Está cedo demais para comemorarmos nossa vitória, nosso inimigo ainda está à nossa frente. Podemos deixar para brindar quando retornarmos às nossas terras, ainda não será tarde demais.

Apesar de eu também estar muito feliz, isso era ser apressado demais.

A batalha ainda não tinha acabado. A luta continuaria até que derrotássemos nosso inimigo e retornássemos para nossos lares. O des-cuido causava tragédias inesperadas.

— Todos vocês, retornem às suas unidades e organizem as for-mações! Continuem de prontidão até escutarem o som da trombeta.

— Sim, general! — responderam os comandantes militares de prontidão.

Entenderam minhas intenções na mesma hora. Eles eram com-petentes, de fato. Seus salários não eram altos por acaso, eles eram um grupo de subordinados confiáveis.

— Ajudante, dê a ordem para que o grupo da cavalaria invista. Ensinem aos besteiros inimigos que algo trivial como as estacas não passa de uma resistência fútil quando nós as pulamos com nossos cava-los.

— Eu transmitirei seus comandos. Nós nos certificaremos de ba-ter nestes anões desgraçados até que suas bundas fiquem vermelhas.

Depois do som da trombeta de chifre, a nossa cavalaria disparou em frente.

Uma porção de nossos cavaleiros foi desmontada pelas flechas inimigas, mas não passou disso.

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163 Novel Mania

Nossas tropas desviaram habilidosamente dos espinhos de ma-deira e esmagaram as forças inimigas.

“Acabou.”

O sentimento de felicidade descarregou um peso de minha men-te.

Com isso, as tropas do Lorde Demônio Dantalian haviam se exaurido.

Não havia mais obstáculos para impedirem nosso avanço, vamos marchar com nossos corações e passos leves.

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164 Novel Mania

Lorde Demônio mais fraco, 71° Rank, Dantalian. Calendário Imperial: 16/09/1505. Proximidades do Castelo do Lorde Demônio Dantalian.

— Eu vou amassar você.

— Hoack, ackack... ah, ah..., você não pode. Você realmente não pooodee...

— Sim. Com certeza eu te aconselhei a agir com ousadia. Tam-bém te aconselhei a ser corajosa, admito toda a responsabilidade por isso. Entretanto, quem te disse para agir como uma idiota?! Isso vai além de ser criativa e é pura e simplesmente jogar nossas forças em um monte de merda!

— Ack..., assoprar no redemoinho, este tipo de técnica ardilosa de alto nível… esta jovem senhorita não aguenta mais… esta jovem se-nhooritaa, ah..., esta senhorita está sendo amassada pelo seu senhor…

O que tínhamos a esconder?

Seguindo a primeira unidade, a segunda também foi lindamente aniquilada. Cada grupo tinha cento e cinquenta soldados. A senhorita Farnese enviou trezentas tropas de elite para o espaço em menos de seis horas. Esta habilidade não era impressionante?

— Você poderia ter utilizado todas as nossas forças de uma só vez e acabado com isso, mas por que enviou de pouco em pouco, cento e cinquenta soldados de cada vez?! Você é masoquista? Laura De Far-nese, você faz parte do grupo de pessoas que sente prazer ao se jogar em situações delicadas? Se você quer dor tanto assim, então eu posso te mostrar o Paraíso pessoalmente. Aaang? É aqui? É este o seu ponto fraco?

— Não… mais um pouco e, hoah..., é sééérioooo….

A Senhorita Farnese estava completamente esparramada feito mingau.

O seu cabelo loiro estava bagunçado como um ninho de pássa-ro. Eu parei de fazer cafuné naquele momento.

Depois de continuar parecendo geleia por um bom tempo, Laura De Farnese murmurou:

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165 Novel Mania

— Mas isso é estranho. De acordo com os cálculos desta jovem senhorita, eles ao menos deveriam conseguir se defender da cavalaria.

— A única coisa estranha aqui é a sua cabeça. Sua idiota.

— Durante toda a sua vida esta é a primeira vez que esta jovem senhorita foi chamada de idiota. Esta jovem sempre teve curiosidade em saber como as pessoas, que sempre eram chamadas de burras, se sentiam. Mas depois dela mesma ser chamada disso, é incrivelmente deprimente. Eu quero me matar… — Com uma expressão chorosa, a Senhorita Farnese arrumou seu cabelo e falou: — Parece que a cavalaria inimiga não estava montando em cavalos normais, mas sim uma raça melhorada, cavalos de guerra...

— Cavalos de guerra?

— Mm. Uma raça que nasce da cruza entre centauros e cavalos. Esta jovem senhorita ouviu dizer que comparado a cavalos normais, os de guerra não temem objetos cortantes ou evitam chamas. A valor de referência, apesar dos cavalos de guerra serem considerados a parte principal da milícia do Reino da Bretanha, o inimigo não parece ser de lá. Já que estava escrito em um livro que esta jovem leu que os cavalos de guerra da Bretanha eram tão grandes quanto um orc.

— Eu não ligo nem um pouco para a sua exibição de conheci-mento. Mostre resultados. Resultados! — esbravejei. — A coisa que eu mais odeio no mundo é sacrifício sem rendimento. Não me diga que, depois de trezentas mortes, você não conseguiu se desenvolver nem um pouco?

— Que mesquinho. Você até mesmo me disse para tratá-los co-mo brinquedos…

— Eu quis dizer que você deveria ao menos brincar com eles dentro do limite do senso comum que as pessoas são capazes de com-preender.

Laura De Farnese me olhou diretamente nos olhos.

— Senhor, isso não é divertido?

— Hm?

— Esta jovem senhorita está se divertindo. Realmente me sinto como se estivesse agindo como uma sargenta — falou a Senhorita Far-nese.

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166 Novel Mania

Apesar do foco em seus olhos com cor de esmeralda continuar difuso, havia uma pequena centelha de vida neles a mais que o normal.

— Honestamente, esta jovem senhorita ficou surpresa. Vossa Senhoria instruiu esta jovem a tratar a vida dos soldados como brin-quedos, mas nisto havia o problema de isto ser ou não possível para esta senhorita. Deixando de lado a ausência de uma coisa chamada “consciência” dentro desta moça, esta jovem senhorita ainda possui conhecimento sobre os conceitos de ética e moral. Esta jovem acredita que a verdadeira alegria provém da euforia que se origina do cérebro. Então a questão de se o corpo desta jovem senhorita poderia aceitar uma ação que ia contra a sua racionalidade como sendo “felicidade”…

A Senhorita Farnese revelou um pequeno sorriso.

Para ser sincero, seria muito deselegante sequer considerar isso como um sorriso, era como uma máquina imitando um humano, mas estava faltando a alma.

Um sorriso que apenas seguia o gesto de “levantar os cantos da sua boca”.

Apesar disso...

— Foi divertido além do que esta jovem senhorita conseguia imaginar...

No momento, este era o melhor que Laura De Farnese conseguia fazer.

— Foi o completo oposto. Tratar a vida das outras pessoas como brinquedos é a coisa mais interessante e divertida do mundo. É tão interessante quanto ler um livro de história, não, pode ser que seja ainda mais empolgante do que ler um livro de história. É maravilhoso. Esta jovem senhorita nunca se sentiu assim antes…

Eu dei um sorriso largo.

Com um toque leve, passei a mão na cabeça da Senhorita Far-nese.

— De fato, você é o mesmo que eu, Farnese. Essa emoção... Você sabe do que as pessoas chamam este prazer?

— Não, eu não sei. — A Senhorita Farnese balançou a cabeça. —

Por favor, diga-me, senhor. Ilumine esta jovem e ignorante senhorita.

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167 Novel Mania

Como se chama esta emoção estranhamente prazerosa. Como esta jo-vem senhorita pode chamar esta alegria que está extravasando de seu coração e envolvendo seu peito?

— Algumas pessoas chamam isso de instinto possessivo. Outras pessoas se referem a isso como o desejo de controlar. Os indivíduos ligeiramente mais inteligentes se referem a isso como o processo de satisfação de sua própria superioridade. Entretanto, se eu tivesse que dizer isso na minha língua, então seria muito mais intuitivo, aliás, seria resumido a uma única palavra.

— E que palavra seria essa?

— Autoridade.

Eu afaguei sua bochecha.

A expressão da Laura De Farnese ficou estupefata, como se ela tivesse sido atingida por um raio.

— Autoridade…

— Isso mesmo. Autoridade, minha companheira. Assim como ela é a força por trás do eterno derramamento de sangue em nosso mundo, também é a minha razão pessoal para continuar vivendo esta minha vida desgraçada.

— Autoridade. Vossa Senhoria continua vivendo a sua vida para poder desfrutar ao máximo da autoridade?

Eu ri.

Se eu estivesse falando com Lapis Lazuli, então ela nunca teria feito este tipo de pergunta para início de conversa.

Porque esse era um fato extremamente óbvio.

— Pense sobre isso, Farnese. O cheiro de sangue é rançoso, o cheiro de órgãos internos é tão nojento que faz você querer vomitar. Mas apesar disso tudo, você realmente nunca parou para pensar qual a razão para as pessoas continuarem se banhando em infindáveis massa-cres e assassinatos? É por causa da doçura da autoridade, que é tão ma-ravilhosa que sobrepuja o fedor repugnante do sangue.

Ela ficou em silêncio.

— Aah. É claro, uma pessoa que nunca experimentou apropria-damente o sabor desta iguaria tão única não consegue entender. Real-

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168 Novel Mania

mente não conseguem imaginar isso. Assim como você, Farnese, que não conhecia esta sensação nestes teus dezesseis anos de vida…

Laura De Farnese era uma filha ilegítima, ela passou pratica-mente toda a sua vida trancada em seu quarto.

O lugar em que esta garota escapava do abuso e do aprisiona-mento era a biblioteca.

Ela havia protegido sua própria psique se exilando no mundo dos livros.

Em pouco tempo o universo dentro dos livros havia se tornado seu próprio universo. Neste processo, o método para produzir expres-sões faciais, o instinto de focar os próprios olhos, e até mesmo a técnica de levantar ou abaixar a própria voz, ela esqueceu tudo.

Essencialmente...

Da perspectiva de um terceiro, ela não passava de alguém que havia falhado miseravelmente em se adaptar ao mundo.

Da perspectiva dela, era o completo oposto, todos os seus esfor-ços e sacrifícios haviam sido gastos se adaptando ao seu próprio mun-do.

A paixão de Laura De Farnese por história também não era coincidência. Seus desejos interiores, os impulsos que deveriam sim-plesmente ser chamados de “seus instintos”, estavam sendo refletidos depois de terem sido distorcidos.

Porque todo evento histórico existente era uma história de au-toridade.

Até hoje, a Senhorita Farnese viveu sem saber que tipo de pes-soa ela era originalmente e que tipo de sangue corria em suas veias.

— Você não deseja ter ainda mais?

Portanto, o papel que eu havia dado a esta garota já estava de-terminado.

Um demônio seduzindo uma donzela pura.

— Você não deseja mais do que já experimentou? Mais uma vez ganhar controle sobre as pessoas, colocá-las para morrer. Você não de-seja se sentir como se fosse onipotente?

Ela seguiu em silêncio.

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169 Novel Mania

— Você é uma escrava, mas direi que tipo de escrava você se tor-nará a partir de hoje. Não algo como uma escrava sexual, e jamais seria isso. Se você fosse se tornar uma escrava sexual, então não teria outra escolha senão ser aprisionada por mim. Farnese, você só pode se tornar uma escrava da autoridade.

Eu passei minha mão sobre a boca da Senhorita Farnese, roçan-do levemente as pontas de meus dedos sobre seus lábios macios.

— Qualquer outro tipo de escravidão iria acorrentá-la, mas uma escrava da autoridade é diferente. A autoridade irá te libertar. Se você desejar se tornar a mestra da autoridade, então o único caminho que pode seguir é primeiro se tornar uma escrava dela! Esta é a terra em que a liberdade vive e respira. Portanto, é um reino em que os escravos em pouco tempo se tornam mestres, e os mestres se tornam os escravos — apresentei um objetivo apropriado para a minha jovem júnior.

Parecia com a vez que eu ensinei isso gentilmente para minhas meias-irmãs mais novas.

Infelizmente, as minhas irmãs não eram iguais a mim...

De qualquer forma, eu tinha certeza de que esta garota na minha frente andaria pelo mesmo caminho que eu havia trilhado e ainda esta-va andando.

Com certeza.

— Haa, aaah... — A Senhorita Farnese soltou a respiração.

Era uma respiração que continha o calor de seu coração.

— Senhor, esta jovem senhorita… nunca sentiu seu coração ba-ter tanto quanto agora. Isso é estranho. Esta jovem consegue sentir muito claramente a verdade nas palavras de Vossa Senhoria. Meu cora-ção continua batendo…

Ela não conseguia mostrar suas emoções em seu rosto muito bem.

Mas isso não importava, sua respiração quente era uma prova de sua sinceridade, melhor do que qualquer outra coisa.

De qualquer forma, a expressão da pessoa não importava tanto. Lapis Lazuli era sempre inexpressiva e mesmo assim não foi tomada pelo desejo por poder mais intensamente do que qualquer outra pes-

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170 Novel Mania

soa? A autoridade havia superado as emoções há muito tempo, e era muito profunda para ser expressa no rosto de alguém.

— Você se sente como se estivesse viva?

— Sim, senhor. Esta jovem senhorita se sente viva…

— Grave na sua memória que você é o tipo de humana que só consegue se sentir viva com isso. Se algum dia você achar que as coisas estão dando errado, então lembre-se novamente que tipo de humana você é. Se não se esquecer de suas origens, então jamais se desviará de seu caminho…

No momento em que eu estava prestes a dar a ela meu último conselho...

Abruptamente, a voz de uma pessoa soou na minha mente:

“Desculpe-me.”

“Por?”

“Isso é…”

Huh.

Fragmento a fragmento, como o som que ressoava sempre que uma gota de chuva caía na água, cada memória foi silenciosamente sa-cudida por uma voz.

“O verdadeiro problema é outro.”

“Vossa Alteza não sabe?”

A onda causada pela gota se espalhou como um círculo e lenta-mente se afastou.

Por fim, as diferentes partes da minha mente responderam a ela.

Não apenas a sua voz, mas também a sua face, o seu olhar, e o dinamismo de cada uma de suas palavras permaneceram intactas e fo-ram reproduzidas no meu cérebro.

“Isso não é um debate, é apenas um teste simples.”

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171 Novel Mania

“Vossa Alteza.”

“Lorde Dantalian...”

Meu Deus, como pode ser?

Eu abri minha boca e meus lábios tremeram.

Todo o meu corpo foi tomado pela eletricidade causada pelo choque.

“Parece que Vossa Alteza ainda não sabe que tipo de pessoa esta serva é.”

“Esta subordinada está decepcionada...”

“Por favor, marque a fogo este momento em teu cérebro Vossa Alteza.”

Certamente...

Não, com certeza.

“Lazuli.”

“Sim, Vossa Alteza. Diga, por favor.”

“Você é uma mulher diabólica.”

“Até hoje, o que Vossa Alteza pensava que esta serva era?”

Tudo ficou claro.

Eu entendi o motivo para Lapis Lazuli estar irritada e decepcio-nada comigo.

E não havia como não ficar embasbacado pelo fato de ter demo-rado tanto tempo para compreender. Você está me dizendo que eu fui um idiota? Mesmo que a resposta estivesse diante de meus olhos, não fui capaz de enxergar até agora.

Oh meu senhor, bom Deus, mãe, pai, minhas irmãs, hambúr-guer de galinha, de Alá a Buda:

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172 Novel Mania

Eu fui um imbecil, fui um idiota retardado e um filho da puta com problemas neurológicos.

Agora eu conseguia entender o motivo para Lapis Lazuli ter se comportado tão desobedientemente assim por tanto tempo. Era óbvio o motivo para ela ter feito isso. Era tão óbvio que ela não tinha outra es-colha senão fazer isso. Se Lapis Lazuli tivesse se comportado como eu, então também teria ficado furioso!

Eu estava louco, seriamente insano.

Por que exatamente eu continuo vivo e não cometi suicídio? Como é possível ter vivido neste mundo com um cérebro tão subdesen-volvido? Seria no mínimo apropriado que eu mordesse minha própria língua e cometesse suicídio. Uma criança de seis anos provavelmente era mais inteligente do que eu.

— Senhor?

Meus sentidos voltaram rapidamente com o chamado da Senho-rita Farnese.

Ela estava me encarando inexpressivamente.

— Está tudo bem com você? Subitamente Vossa Senhoria parou de falar e começou a tremer. Se, por um acaso, Vossa Senhoria precisar ir ao banheiro, então não se importe com esta jovem senhorita e vá.

A Senhorita Farnese colocou as duas mãos sobre seu peito, esta-vam sobre seu coração.

— As palavras que Vossa Senhoria quis transmitir a esta jovem senhorita conseguiram alcançar perfeitamente até aqui. De maneira leve, mas bastante particular… Esta jovem senhorita jamais se esquece-rá das palavras de Vossa Senhoria até o dia que ela morrer.

[A sua eloquência diabólica a cativou!]

[Afeição de Laura De Farnese aumentou em 24 pontos!]

Com os olhos demonstrando meu espanto, eu olhei para ela.

Recebendo meu olhar com sinceridade... Laura De Farnese bri-lhava resplandecente.

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173 Novel Mania

— É por isso que está tudo bem em você ir e voltar depois.

Apesar de ainda ser uma imitação desajeitada de um sorriso, os seus sentimentos estavam contidos apropriadamente dentro dele.

Era a primeira vez em sua vida que ela tinha sorrido por vontade própria.

— Não se preocupe com a batalha, os testes acabaram. A verifi-cação de quais aspectos de quais manuais da arte da guerra estão corre-tos já está completa. Agora tudo que esta jovem senhorita tem que fazer é aplicar este conhecimento de acordo com a necessidade.

Eu me levantei lentamente.

Depois de me erguer, andei de um lado para o outro da minha cadeira por um tempo. O que eu planejava fazer de agora em diante estava organizado na minha mente. A Senhorita Farnese estava me en-carando como se eu fosse estranho, mas eu não estava preocupado com isso.

Já que o tempo de reflexão foi longo, a decisão foi firme.

— Volto logo.

No fim das contas, eu não era alguém com a personalidade inde-cisa e hesitante. Era da minha natureza desprezar este tipo de compor-tamento. Golpear enquanto o ferro ainda estava quente era o melhor a se fazer.

— Mm, parece que Vossa Senhoria tem o costume de segurar até o último momento antes de utilizar o banheiro. Gaste o tempo que pre-cisar...

Eu não consegui escutar o restante do que a Senhorita Farnese disse, já estava correndo loucamente de volta ao meu Castelo de Lorde Demônio. Já que nossa sede de comando militar estava armada do lado de fora, tive que correr por um bom tempo até alcançar o castelo.

Pergunto-me o quanto corri. Era óbvio que corri mais que o su-ficiente para ser considerado demais para a resistência física miserável de um recluso. Honestamente, seria mais conveniente se eu tivesse pe-dido para uma das Irmãs Berbere me dar uma carona, mas só pensei nisso mais tarde. Para ser exato, percebi este fato depois de ter chegado em frente ao escritório de Lapis Lazuli no meu castelo.

Bang.

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174 Novel Mania

— Lala! — abri a porta com força, batendo-a.

Por sorte, Lapis Lazuli estava em seu escritório. Entretanto, a minha hora para chegar não foi muito boa. Na verdade, ela foi muito ruim. Lapis Lazuli estava seminua e trocando a sua meia-calça negra. Não, esta minha hora para chegar não foi muito boa na verdade? Não tenho certeza.

Lapis Lazuli olhou para a minha direção e deixou escapar um pequeno suspiro.

— Vossa Alteza. Esta serva já não disse várias vezes para bater à porta antes de entrar no quarto desta subordinada?

— Espere. Escute o que tenho para dizer agora — respirei fundo.

Como havia corrido descontroladamente, meu peito estava do-endo muito mais que o necessário. Estava arquejando pesado. Foi ne-cessário muito tempo até que minha respiração se acalmasse. Era por isso que eu odiava exercícios intensos. Eles roubavam a sua compostu-ra. Eu era sempre calmo e controlado.

— Certo, Vossa Alteza correu todo o trajeto até aqui...? Isso é surpreendente. Até hoje esta vassala sempre pensou que Vossa Alteza só sabia como andar e deitar, incapaz de qualquer outro movimento corporal.

— Escute com atenção, Lala — ajeitei minhas costas.

Usando minhas duas mãos, utilizei todos tipos de gestos.

— O que nós precisamos agora é diálogo. A necessidade para nós dóis atingirmos uma compreensão mútua através de um diálogo com-plexo e delicado, mas essencial, é urgente. Esse é um problema político grave, e também é uma questão fundamental mais importante do que qualquer outra coisa.

— Por que Vossa Alteza está agindo desta forma tão subitamen-te...? Sempre que começa a imitar uma maneira estranha de falar, esta serva não consegue evitar ser tomada por uma ansiedade estranha.

Eu levantei meu dedo indicador.

— Infelizmente, nossa situação atual não é muito agradável. Não seria um exagero dizer que nós estamos indo ladeira abaixo. Uma força de cerca de mil homens está se aproximando de nós mais e mais a cada minuto, então precisamos tirar coisas como as questões políticas de

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175 Novel Mania

nossas cabeças. É por isso que vou dizer isto só uma vez. Já que nós estamos, em mais de uma forma, em uma situação turbulenta, vou dizer uma única vez. É claro, nossas circunstâncias vão melhorar de agora em diante e dias em que não estaremos particularmente ocupados podem vir, mas ainda assim, só uma vez. Não peça para eu me repetir. Para mim, esta é uma decisão incrível, assustadora e imensamente difícil e, portanto, vou deixar claro que te dizer isto frente-a-frente está me dei-xando sob uma pressão terrível.

— Haah.

Lapis Lazuli balançou a cabeça confusa, ela estava estupefata e com o rosto inexpressivo.

— Diga, por favor.

— Eu te amo.

O tempo parou. O relógio de pêndulo fez “tick tack”.

Parecia que até mesmo o ar tinha parado de fluir.

Depois de uma longa pausa, Lapis Lazuli franziu as sobrance-lhas.

— Esta serva pede desculpas, porém ela é incapaz de entender.

— Eu te amo, Lapis.

E no momento em que ela abriu a boca para falar...

Bati minhas mãos de maneira exagerada.

— Bom, eu disse duas vezes. No fim das contas consegui dizer is-so duas vezes. Eu havia me decidido e jurado a mim mesmo que diria apenas uma vez, mas acabei dizendo duas vezes. Bom, tudo bem. Isso ainda está dentro do meu escopo de previsão. Não tem problema. Não me peça para dizer novamente. Para mim, essa foi uma decisão incrível, assustadora e imensamente difícil e, portanto, vou deixar claro que te dizer isso frente-a-frente estava me deixando sob uma pressão terrível. Nós podemos discutir os detalhes depois, irei me retirar para poder lidar com as forças inimigas que estão se aproximando cada vez mais. Se você observar cuidadosamente, isso não é o que um Lorde Demônio deveria fazer. Se cuide, adeus. Estou indo embora.

Slam.

Fechei a porta.

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176 Novel Mania

Eu distorci rapidamente a minha expressão facial.

O silêncio fluía. A serenidade do interior do meu castelo era ili-mitada. O som da água pingando de uma estalactite podia ser escutado vindo de algum lugar. Enquanto me mantinha na mesma posição apoi-ando minhas costas contra a porta, deixei escapar um “Mm”.

— Isso foi perfeito.

Tinha sido mesmo.

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177 Novel Mania

Lorde Demônio mais fraco, 71° Rank, Dantalian. Calendário Imperial: 21/09/1505. Niflheim, Palácio do Governador.

Aos poucos, a expressão da Barbatos mudou.

A princípio, parecia que seu cérebro não tinha conseguido com-preender o que ela tinha escutado. Entretanto, depois de três segundos, suas sobrancelhas se levantaram lentamente.

— Hã...?

— Amor, Barbatos. Eu estou falando sobre amor — sorri.

Barbatos ainda não conseguia compreender as minhas palavras.

Com um grande sorriso estampado em meu rosto, falei em um tom brincalhão:

— Pense bem sobre isso. Esse era um problema muito óbvio. Por que tentei matar a mãe da Lapis? Hm?

Já que Barbatos não respondeu, perguntei novamente:

— Por que foi que tentei matar a mãe da Lapis? Se você usar um pouquinho o seu cérebro você consegue entender. Honestamente, eu não ganharia nenhum benefício matando aquela velhota. Nenhum mesmo — deixei uma risadinha escapar. — Um Lorde Demônio que matou a mãe de sua amada de maneira horrível. Como as pessoas me veriam? Iriam me considerar um assassino maluco descontrolado. Fa-zer algo assim serviria apenas para esfregar meu nome no lixo. Sem sombra de dúvidas, eu não deveria a matar. Isso é óbvio.

O momento em que alguém se livrava de sua própria ignorância era tão maravilhoso assim. Aah, eu senti como se fosse começar a gos-tar deste mundo sem querer.

— Entretanto, tentei matar aquela velha como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. Se Lapis não tivesse me parado, então as entra-nhas daquela velha teriam sido arrancadas. Qual era o motivo? Por que realizaria um ato que me prejudicaria politicamente? Há apenas uma resposta: Porque eu amo Lapis Lazuli…

— Espere um instante... — Barbatos franziu o cenho. — Pare de ficar animado com seu monólogo e espere um segundo. O quê? Amor?

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178 Novel Mania

Você tentou matar a mãe daquela garota por causa de amor? Dantalian, escutei isso direito?

— Você ouviu perfeitamente. Parece que você tem uma boa au-dição.

— Caralho. Como diabos isso é amor?

Revelei um sorriso gentil.

No momento, eu estava infinitamente condescende com a vida.

— Com base em um princípio muito simples e coerente, Barba-tos. Cometi três atos que normalmente jamais faria caso estivesse em meu estado normal.

Primeiro, tentei matar um idosa mesmo sem haver nada a se ga-nhar com isso.

Segundo, tentei assassinar uma empregada no Palácio do Go-vernador mesmo que, de fato, não houvesse nenhum benefício nisso. Se eu matasse uma empregada sem ligar para as consequências, então a reputação do Lorde Demônio Dantalian iria se deteriorar terrivelmente. Não tem como ver isso como uma ação lógica.

Terceiro, tentei poupar a vida de Giacomo Petrarch e a dos guardas enquanto enfrentava o risco do meu massacre ser descoberto. Isso era realmente sem sentido. Eu estava louco? Por que tentei poupar aqueles homens? Era simplesmente porque queria mostrar para Lapis Lazuli que “eu sou capaz de demonstrar misericórdia”.

A primeira vez, um capricho.

A segunda vez, uma coincidência.

A terceira vez, inevitável.

E eu era o desgraçado idiota que não conseguiu entender o que era a questão inevitável. Duas vezes ainda era aceitável, mas, eu, não perceber pela terceira vez? Isso era impossível.

Meu cérebro deu uma resposta compatível à minha personali-dade controlada.

Lapis Lazuli.

Ela era o meu erro lógico.

Assim como um vírus que dava origem a erros.

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179 Novel Mania

— Honestamente, era incrivelmente óbvio… — encarei o vazio inexpressivamente. — Quando tentei matar aquela senhora, eu não des-frutei de nem um pouco de diversão. Isso não é algo surpreendente? Para mim, nada é mais prazeroso do que usar minha autoridade para jogar alguém no Inferno. Mas por alguma razão, quando estava indo matar aquela velhota, meu humor estava péssimo…

Foi o mesmo que com a empregada, não foi nada divertido.

Uma raiva puramente desagradável havia preenchido meu peito.

Eu era a pessoa que havia sentido prazer ao enfrentar Paimon e Ivar Lodbrok na noite de Walpurgis. Em uma situação em que se eu tivesse cometido um erro sequer, estaria correndo perigo de cair em direção à ruína, e ainda assim, estava aproveitando alegremente o sen-timento de brincar com aqueles dois como bem quisesse. Eu era alguém insano a este nível quando se tratava de autoridade.

Mas me sentir irritado quando tentei me livrar da idosa e da empregada?

Isso era estranho.

Estava claro que havia algum erro envolvido nisso.

As pistas já haviam sido entregues anteriormente.

Quando pisei na cabeça de Ivar Lodbrok me senti satisfeito...

Quando ameacei a senhora e a empregada me senti irritado...

As diferenças eram simples.

A primeira ação foi tomada em nome da autoridade, enquanto as outras duas foram tomadas por causa do amor.

Se isso não era surpreendente, então eu não sabia o que era.

Pensando nisso agora, era óbvio demais.

— Eu estava realmente abismado. E pensar que realmente che-garia um dia em que alguém como eu iria amar alguém de verdade. É algo que não podia prever nem em meus sonhos, então não consegui perceber isso antes…

— Você… você realmente está falando sério?

— Barbatos, eu sempre falo sério.

O rosto da Monarca Imortal enegreceu.

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180 Novel Mania

— Louco...

— Quem?

— Você. Você é completamente insano.

— Isso não é nenhuma novidade — tomei um gole de meu vinho.

Uma doçura amarga umedeceu a minha língua. De fato, este vi-nho, carregando seu profundo sabor, fazia jus a seu título de melhor do mundo dos demônios.

“Filho.”

“Se você tiver sorte então vai encontrar uma mulher boa.”

“Não importa o que você faça. Nunca. Nunca deixe esta mulher ir embora.”

Pai, suas palavras estavam certas.

Se você encontra uma mulher excepcional, então realmente tem este sentimento.

Entretanto, o quanto meu pai estava correto só chegava até este ponto. Porque, com certeza, sou mais competente que ele.

E vou provar isso aqui e agora.

— O que eu tinha que fazer era simples. Primeiro, tinha que con-fessar meu amor para Lapis. Isso, como eu te disse antes, foi feito per-feitamente.

— Perfeitamente…?

A expressão de Barbatos se distorceu, mas a ignorei.

— Depois, eu tinha que eliminar rapidamente as tropas invaso-ras. Esta não era uma tarefa fácil, já que meu objetivo não era esmagar as forças inimigas, mas sim cultivar minha futura general atuante. Bem, até certo ponto o seu despertar foi um sucesso—relativamente. Ainda tenho que ensinar muitas coisas para ela. Mm. De qualquer forma, de-pois de impedir os invasores, e amassar a Senhorita Farnese até can-sar… — toquei o meu queixo. — Depois disso, eu tinha que terminar com Lapis.

Uma quietude silenciosa pairou pelo ar.

— O quê...?

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Ri baixinho.

— Imagine só, imagine a decepção dela. O quanto ela estava de-sapontada comigo. Há um segundo, eu estava aconselhando a Senhorita Farnese a se tornar nada mais nada menos do que uma escrava da autoridade, mas logo depois disso, em um piscar de olhos, foi revela-do que eu não passava de um escravo do amor. Isso não estava certo. Não tinha como isso funcionar.

Lentamente, balancei meu dedo indicador de um lado para o ou-tro.

— Lapis não havia pedido o meu amor. É claro, nós rolamos jun-tos na cama um pouco, mas, bem… Isso não era muito importante. Eu teria amado Lapis mesmo se fosse um eunuco.

Barbatos olhou para mim atônita.

— Tudo bem, vou ser honesto. Eu poderia tê-la amado um pou-co menos. Afinal, os desejos sexuais são importantes. Diga-se de pas-sagem, fazendo jus ao seu nome como súcubo, a habilidade de Lapis neste campo é bem… nossa, é inimaginável. Apesar do meu envolvi-mento com mulheres ser um tanto quanto bizarro, senti como se subi-tamente tivesse voltado a ser virgem. Admito isso. As atividades notur-nas fizeram um bom trabalho em aumentar o meu amor por ela. Mas era só isso, não era essencial. A comunicação entre nós ia além dos mo-vimentos corporais.

Barbatos não se deu ao trabalho de falar qualquer coisa.

— O único desejo da Lapis é obter autoridade absoluta. Mas se eu pedisse por seu amor, então hora ou outra ela teria que ceder. Assim como eu fiz por ela acidentalmente… quando encontrei a velha, a em-pregada e Giacomo Petrarch — balancei a cabeça lentamente. — E isso estaria ignorando os desejos e intenções da Lapis, e também estaria deixando de lado meu próprio desejo. Porque…

Sorri.

— Eu amava a autoridade mais do que amava a Lapis.

Barbatos fechou sua boca.

Olhando para ela gentilmente, adicionei:

— Se eu tivesse que fazer uma estimativa improvisada, então, bem… Lapis estaria em terceiro.

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182 Novel Mania

— Em terceiro o quê…?

— Eu estou falando da sequência do amor. A ordem de priorida-de na vida de alguém. As pessoas precisam saber o que é importante e o que não importa tanto para elas. Se você tentar pegar isso e aquilo, en-tão acaba sendo como um leão que perdeu ambos: o coelho e o cervo.

Eu franzi levemente as sobrancelhas.

— Então a vida do indivíduo se despedaçaria caoticamente. Eu deveria chamar isso de frágil? No mínimo, se precisar tomar uma deci-são crucial, então você tem que saber previamente o que vai escolher. Mm. No meu caso, o primeiro lugar na lista do que é importante para mim, seria uma vida em que eu possa ser um pouco preguiçoso, e a segunda coisa mais importante é a autoridade. E agora, Lapis Lazuli tornou-se a terceira coisa mais importante para mim.

Barbatos permaneceu em silêncio.

— Isso não é impressionante? A preguiça esteve comigo desde que eu tinha apenas um ano. A autoridade vem caminhando comigo desde os seis. Sendo bem sincero, essas duas coisas foram minhas com-panheiras durante toda minha vida. Apesar disso, a coisa com que eu convivi por apenas metade de um ano tomou a posição como sendo a terceira mais importante. Se isso não for um milagre, então não sei di-zer o que é — coloquei minhas duas mãos sobre meu peito.

O pulsar do meu coração foi transmitido para minha mão, eu jamais esquecerei esta emoção.

Era uma experiência verdadeiramente maravilhosa e estarrece-dora.

— Isso não é amor — falou Barbatos.

Pergunto-me se isso não era só minha imaginação, mas parecia que sua voz estava tremendo.

— Tudo bem vocês dois terminarem, mas o amor… é uma emo-ção mais preciosa do que qualquer outra coisa. É algo para que todo o resto deva ser deixado de lado e se entregar de vontade própria, se es-forçar por ele.

— Ah. É assim que as coisas são para a maioria das pessoas — balancei a cabeça concordando —, e a maioria das pessoas está errada.

Revelei um grande sorriso torto.

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183 Novel Mania

Assim como venho fazendo até hoje, e como continuarei fazen-do.

— Eu sei a resposta.

Sempre.

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185 Novel Mania

Guardião do Norte, Marquês de Rosenberg, Georg von Rosenberg. Calendário Imperial: 17/09/1505. Proximidades do Castelo do Lorde Demônio Dantalian.

— Ajudante. Não há mais nenhum relatório da equipe de reco-nhecimento?

— Não há nenhum. O caminho a frente está completamente limpo, general — respondeu meu ajudante, ele aparentava estar muito feliz.

Não era só o meu ajudante. Todos os soldados ao meu redor também estavam contentes. Pouco depois, nossas forças chegaram em segurança ao Castelo do Lorde Demônio Dantalian.

A princípio estávamos constantemente temerosos quanto aos nossos arredores.

Isso se devia ao fato de termos encontrado à nossa frente uma grande floresta após a área montanhosa.

Ao contrário das colinas, emboscadas eram mais prováveis den-tro de uma floresta. Você não pode ignorar a possibilidade de uma em-boscada inimiga. Enviar uma pequena unidade para ser derrotado de propósito, e então armar uma cilada enquanto estivermos sendo des-cuidados… Usando termos mais simples, uma técnica de enganação padrão. Mesmo que fosse uma chance minúscula, eu não iria ignorar a possibilidade de uma emboscada.

— De fato, parece que toda a força militar de Dantalian foi eli-minada ontem.

— Sim. Apesar de inicialmente eu estar duvidando disso, parece que era uma preocupação desnecessária.

Depois de passar pela floresta, chegamos a uma montanha pe-dregosa genuinamente grande.

Diante de nossos olhos estava uma montanha completamente sem vida, nela não havia nada além de pedras. A vegetação não conse-gue crescer em castelos de Lordes Demônios, principalmente devido à energia mágica excessivamente poderosa emitida por eles. Com certeza a montanha à nossa frente era o Castelo do Lorde Demônio Dantalian.

— Nossos batedores encontraram a entrada da caverna.

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186 Novel Mania

— Mm, dê continuidade ao plano.

Como nós havíamos combinado previamente, um grupo separa-do entrou na caverna. Era uma operação para confirmar se realmente havia Ervas Negras estocadas dentro do castelo.

Estava tudo bem mesmo se não houvesse ervas. Isso não passa-va de uma ação para mostrar para minha população que nós não está-vamos parados fazendo nada, se realmente houvesse ervas, então seria uma grande sorte, mas se não houvesse não seria um grande problema. Era esse tipo de situação.

Três horas depois, a unidade separada terminou a sua busca e retornou. Meu ajudante me repassou o relatório com a voz animada:

— General, eles disseram que encontraram Erva Negra suficien-te para encher seis vagões de carroça!

— O quê!?

Era um resultado surpreendente.

Completamente embasbacado, eu me levantei e andei para fren-te, com certeza, a unidade de exploração estava transportando as Ervas Negras enquanto tremiam de felicidade. Vendo a tropa de exploração, todos os meus mil e quinhentos soldados comemoraram. Parecia que isso havia se transformado em um festival.

Atualmente, no império, as Ervas Negras estavam sendo vendi-das por dez moedas de ouro por ramo. Dez moedas de ouro era o menor preço! Dependendo da região e do valor de mercado, o preço podia che-gar a até vinte peças de ouro. Sem que eu percebesse, meu queixo havia caído.

— Bom Senhor. Deus Hades…

Quanto seis carroças de ervas valeriam? No total, provavelmente havia cerca de sete mil plantas. Setenta mil moedas de ouro… O orça-mento processado pela família imperial de Habsburgo é de cerca de quinhentas mil peças de ouro. Isso significa que eu consegui obter, em minhas mãos, um sétimo do orçamento nacional necessário para gerir um império inteiro por um ano!

— É um sucesso inigualavelmente grande, Vossa Senhoria! — gritou cheio de fervor o meu ajudante. — Agora o território de Rosen-berg sobreviverá. Não, isso não é simplesmente continuar vivendo! As

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pessoas venerarão Vossa Senhoria como um santo abençoado pelas deusas!

— É isso mesmo. Nós podemos salvar todos os meus cidadãos que estão sofrendo com esta doença misteriosa…

Meu peito se encheu de felicidade.

Quantos de meus súditos estavam sofrendo, quantas pessoas enviaram suas preces às deusas, e quantas vezes as deusas os responde-ram cruelmente com o silêncio?

Dois de meus netos morreram por causa desta doença. Um deles era uma criança que tinha apenas seis anos…

Meu peito ficou apertado ao me lembrar do corpo enegrecido do meu neto. Naquele momento, minha filha estava segurando o corpo de sua criança enquanto gritava em prantos. Um pouco antes, se eu tivesse invadido este lugar um pouco mais cedo, então minha filha não teria que ter perdido sua criança…

— Vossa Senhoria, o que quer dizer com salvar todos os cida-dãos? — perguntou meu ajudante. — Nós certamente podemos vender para eles a um preço apropriado. Simplesmente liberar este estoque para os mercados já seria o suficiente para receber grandes elogios de todos os seus súditos.

— Não. Eu providenciarei a Erva Negra gratuitamente para to-dos aqueles que estiverem doentes — afirmei depois de deixar minhas emoções se acalmarem.

Começando pelo meu ajudante, todos comandantes da minha companhia também me olharam com expressões de choque estampadas em seus rostos.

— Isso é impensável!

— A boa sorte recaiu sobre mim duas vezes durante esta expedi-ção. A primeira vez foi por meu território por sorte ser adjacente ao Castelo do Lorde Demônio Dantalian. A segunda foi por nós conse-guirmos dividir e conquistar as tropas inimigas antes que elas pudes-sem juntar suas forças.

O fato de nós termos conseguido obter estes espólios de guerra hoje se deve principalmente ao fato de a deusa ter permitido isso. Você não deve se esquecer disso.

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188 Novel Mania

— Se a deusa me concedeu a benção, então o meu papel é conce-der esta benção de volta aos meus súditos. A glória de Deus deve ser a glória de todos. Não estou certo, cavalheiros?

Meu ajudante e os comandantes da companhia olharam uns pa-ra os outros.

Momentos depois, meu ajudante abaixou um de seus joelhos so-lenemente e se ajoelhou perante mim.

— Este súdito jura lealdade a Vossa Senhoria.

Os comandantes da companhia abaixaram suas cabeças um a um. Esse não era um simples gesto corporal realizado pelos soldados para mostrar respeito a seu soberano. Deixando de lado o relaciona-mento contratual, este era um sinal de respeito entre guerreiros. Pesso-almente, eu levantei cada um deles para que ficassem de pé.

— Digam isto para o resto de nossos soldados: A cada um dos militares desta campanha será distribuída uma erva igualmente, e as-sim que retornarmos às nossas terras, pagarei a vocês uma rodada de cerveja e carne de porco.

— Entendido!

Se um nobre como eu recebesse respeito, então, em troca, eu te-ria que os presentear não com palavras, mas sim com objetos úteis. Qualquer um pode mostrar a sua gratidão com palavras.

Palavras que vagam pelo vento são como plataformas construí-das no ar. O menor dos ventos podia derrubá-la. A lealdade vem do dinheiro, não tem para que ter vergonha de admitir isso.

— Então nós vamos mover os barris de pólvora, Vossa Senhoria.

— Mm. Faça isso.

— Sim. Transporte os barris!

Os soldados levaram os barris de pólvora das carroças com todo cuidado possível.

Já que havia o risco deles explodirem ao serem mal manejados, quatro magos estavam próximos a eles os fiscalizando de perto. Isso era algo óbvio, se uma explosão acidental ocorresse, todos nós morrería-mos. Nem mesmo o mínimo de negligência seria permitido.

Os magos passaram esta expedição toda guardando os barris de pólvora. Eles poderiam ter sido utilizados como Forças Mágicas Aéreas,

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mas por sorte não houve nenhuma batalha severa o suficiente para eles serem enviados.

Magos. Em outras palavras, Forças Mágicas Aéreas, eram uma força militar incrivelmente valiosa. Apenas eles podiam dominar os céus. Foi uma sorte não termos perdido nenhum mago nesta campa-nha. Sinceramente, existiam muitos luxos que podiam ser considerados bênçãos de sorte…

— Vossa Senhoria, nós colocamos todos os barris de pólvora dentro da caverna.

— Bom. Detone-os com cuidado. Tenha certeza de manter a sua segurança como a maior prioridade.

— Sim! Detone os explosivos!

Os magos apontaram para a entrada da caverna e, em sincronia, atiraram um feitiço elemental. O alcance mágico dos feitiços mágicos era de cinquenta metros. As bolas de fogo voaram por uma distância considerável e explodiram dentro da caverna.

Booooooom...

O som alto de uma explosão reverberou e sacudiu a montanha rochosa.

Pólvora feita de carvão de nitrato de potássio. Junto a ela, o bar-ril também continha pedaços de metal e de pedra. Apesar de serem tra-balhosos de se utilizar em uma batalha de verdade, eram úteis para der-rubar as fortalezas inimigas, justo como agora.

O Castelo do Lorde Demônio Dantalian foi ao chão diante de meus olhos. Entretanto, era impossível derrubar uma montanha intei-ra, então simplesmente fiz a entrada da caverna desabar. Só com isso eu já estava satisfeito.

Comovido, meu ajudante falou enquanto assistia ao espetáculo da base da montanha colapsando:

— Isso é incrível.

Realmente era mesmo. Foi uma expedição perfeita do seu início até o fim.

Agora seria impossível para o Lorde Demônio Dantalian se re-cuperar. Ele não só perdeu todas as suas tropas, mas também perdeu a

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sua fortaleza. Desta forma as medidas de segurança do Marquês de Ro-senberg estavam completas.

A emoção conhecida como misericórdia não existia no meu co-ração. Essa é a lei da selva, é óbvio que os humanos são hostis contra os demônios. Aceite sua derrota obedientemente, oh débil Lorde Demônio.

— Todas as tropas! Vamos voltar para casa!

Buuuuuuu.

Os trombeteiros, transbordando de alegria, assopraram seus instrumentos com toda a força.

Recebendo a luz refrescante do meio-dia, meus soldados mar-charam felizes. E como o vento estava assoprando agradavelmente, tu-do estava perfeito.

Era isso mesmo. Já era outono… As folhas ficavam vermelhas e os fazendeiros iam aos campos, era a estação em que todos os seres co-lhiam suas próprias vidas.

De fato, o mesmo valia para a minha vida que continuou avan-çando por meio de campos de batalhas e arenas por mais de 50 anos.

Eu desejava morrer em um campo de batalha, gostaria de ser co-locado para descansar junto aos outros guerreiros.

Mas…

“Muito obrigado, Vossa Graça. Oh grandes deuses, por permitir a este homem indigno a oportunidade de deixar algo para o seu povo antes de sua morte, só posso ser grato.”

Fiz uma oração mental em adoração aos deuses.

Se, por acaso, depois de dar a cura à minha população, depois de salvar minhas terras, eu pudesse então cerrar lentamente meus olhos... Se esse era o meu destino, então isso também não seria nada mal. De fato, nada mal.

Eu estaria deixando esperança para a nova era e a nova geração.

Este último papel dado a um velho não era excepcional?

— General! O time de reconhecimento retornou com urgência!

Enquanto eu estava refletindo sobre como deveria dividir a he-rança entre meus filhos e filhas, meu ajudante me deu um relatório. Sua voz estava bastante aguda. Por algum motivo, uma feição de atordoa-

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mento havia tomado seu rosto. O time de reconhecimento? Não deveria haver nada digno de ser relatado a esta altura do campeonato.

— O que foi?

— Forças inimigas apareceram! Encontramos forças inimigas à frente!

Com o grito do meu ajudante, o ar nos circundando esfriou. Eu podia sentir que os soldados ao nosso redor ficaram surpresos e esta-vam encarando o ajudante.

Eu também estava chocado, mas deliberadamente mantive o rosto calmo. Se o comandante tremesse de ansiedade, então esta ansie-dade se espalharia instantaneamente para todas as tropas. Em outras palavras, seria uma doença mais aterrorizadora do que a Peste Negra.

Mm. Parece que agora precisamos mudar o clima aqui.

— Acalmem-se! Vocês já se esqueceram? Nossa guerra não ter-mina até retornarmos para nossas casas. Enquanto a batalha não ter-minar, o inimigo pode aparecer de qualquer lugar! Isso é óbvio. Qual o motivo para começar uma confusão!?

— M-minhas desculpas.

Assim que meu ajudante abaixou a cabeça, as tropas que esta-vam prestes a se desarranjarem rapidamente recuperaram o fôlego. Meu ajudante recebeu a bronca no lugar dos outros soldados. Mas esse também era um papel de suma importância dos ajudantes de campo.

— Dê o relatório com mais detalhes. Diga-me onde estão locali-zadas as tropas inimigas e a força militar estimada delas.

— Sim, general. As forças inimigas estão paradas na área com colinas por onde nossas tropas passaram ontem. O número deles se aproxima de três mil!

Eu mal consegui me impedir de arregalar os olhos.

O sentimento de sangue saindo do meu corpo me dominou. A razão para eu ainda conseguir manter a compostura se devia unicamen-te ao fato de ter passado toda a minha vida em campos de batalha e arenas. Se não tivesse essas experiências, então provavelmente teria gritado de uma maneira degradante.

— Você realmente disse três mil?

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Entretanto, eu não conseguia controlar completamente o senso de urgência na minha voz. O estado de espírito estava ruim. Eu podia sentir o receio dos soldados ao meu redor, podia até mesmo ver o rosto pálido do comandante de uma companhia…

— Sim. A equipe de reconhecimento relatou claramente que eram três mil.

Mantenha a compostura.

Sempre havia a possibilidade de o relatório estar errado.

Eu já passei por algo assim antes. Depois de descobrir que as forças inimigas, que nós passamos a noite inteira lutando brutalmente contra, tinham uma força militar três vezes menor que a nossa, toda a tensão no meu coração desapareceu. Nem sempre os cinco sentidos humanos eram precisos. Ainda estava cedo demais para entrar em pâ-nico.

— Mm. Isso é bem difícil de acreditar. Por hora, darei uma or-dem para todas as tropas.

Fiz questão de me esforçar para fingir uma atitude calma. Estes soldados não tinham outra escolha senão passar suas vidas sob minhas asas. Sem uma ordem eles ficariam ansiosos. Ou seja, era possível apa-gar a ansiedade utilizando um comando.

— Nós vamos sair desta floresta o mais rápido possível. Todos os soldados avancem tendo em mente a possibilidade de haver uma bata-lha.

— Sim, general! Todos os Soldados! Avancem a velocidade má-xima! Marchem à frente a velocidade máxima...!

Nossas forças passaram pela floresta rapidamente. Duas horas depois, nossas tropas chegaram à região de colinas e testemunharam uma visão completamente inacreditável. Do outro lado da colina real-mente havia uma formação de cerca de três mil soldados aguardando a nossa chegada.

— General…

O ajudante olhou para mim com o rosto tão pálido quanto már-more. Nossa força militar era de cerca de mil e quatrocentos homens. Comparado ao inimigo, nós éramos duas vezes menores. Era óbvio qual

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lado venceria. Estava claro para os comandantes de companhia, e tam-bém era evidente para os soldados…

Se recomponha, Georg. Ser um comandante de verdade é ser capaz de fingir ignorância até mesmo neste tipo de situação. Os coman-dantes precisam agir como se não soubessem a verdade que todo mun-do obviamente sabe. É claro, este é um papel angustiante, mas era a única forma que eu poderia assumir responsabilidade.

— Ajudante. Por que você acha que as forças inimigas aparece-ram ali?

— Perdão?

— Se possuem uma força militar de três mil soldados, então se-ria no mínimo apropriado que tivessem aparecido mais cedo. Eles ti-nham várias oportunidades para nos aniquilar, entretanto, as tropas inimigas chegaram depois de termos pilhado e destruído a sua fortale-za. Não importa como você interprete isso, é um manejamento de tro-pas anormal.

— Isso… é verdade, general.

— Todos soldados, escutem minhas palavras! — gritei forçando meu pescoço.

De uma só vez, todos os soldados viraram para me olhar. Este momento era importante. Era a minha única oportunidade de prevenir que o seus espíritos de luta desmoronassem. Vamos apostar a jogada da vitória nisso.

— Estes soldados inimigos na nossa frente acabaram de chegar neste campo de batalha! Eles queriam nos bloquear, mas estávamos um passo à frente. Nós conseguimos destruir a sua fortaleza!

Não importava se isso era verdade ou não, dar vigor para os meus soldados, esse era meu único objetivo…

— Melhor que qualquer coisa, riam alto deles. Nós conseguimos e eles falharam. E acima de tudo, nós descansamos o suficiente e nossa energia está boa. Mas já que acabaram de chegar ao campo de batalha, eles ainda estão cansados! Se nós atacarmos agora então a vitória estará ao alcance de nossas mãos!

Os soldados se remexeram por um momento até que, por fim, as suas feições começaram a ficar firmes, uma de cada vez. Bom. O espíri-

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to de luta voltou para os seus olhos. Vamos lá, meus soldados do norte, o povo aguarda a nossa volta!

— Chutem as bundas destes anões gordos desgraçados! Batam nas traseiras deles e abusem deles! De acordo com os boatos, dizem que os anões gemem como porcos cruzando. Nós humanos não deveríamos ensinar a estes suínos o que são homens de verdade!?

Os soldados responderam com um rugido. Ao invés de uma jus-tificativa grandiosa, às vezes era mais efetivo simplesmente cuspir xin-gamentos contra o inimigo. Nós não seremos reprimidos em uma dis-puta de vigor.

— Assoprem as trombetas de foles!

Buuuuuu...

Buhuuuuu...

O som das trombetas de chifres ecoou pelas vastas colinas. Era o barulho que desde setecentos anos atrás simbolizava o início de uma guerra. Era isso mesmo, o povo de nossas terras venceu por setecentos longos anos de história e agora estamos aqui. Nós não seremos facil-mente derrotados.

— Toda a cavalaria, avancem!

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Lorde Demônio mais fraco, 71° Rank, Dantalian. Calendário Imperial: 17/09/1505. Proximidades do Castelo do Lorde Demônio Dantalian.

Cinco minutos se passaram desde o começo da batalha.

Apesar de temporária, a situação atual da batalha estava bem equilibrada. O ânimo dos soldados inimigos era bem impressionante. Entretanto, havia algo um pouco mais impressionante: A condição atual da Laura De Farnese.

— Senhorita Farnese, tudo bem com você?

— Estou bem, não há problema algum com esta jovem senhorita.

— Mas você está transpirando bastante…

Laura De Farnese estava transpirando a um ritmo assustador já fazia algum tempo. Eu estava preocupado sobre ela estar nervosa, mas felizmente esse não era o caso. Era uma espécie de superaquecimento cerebral. De acordo com ela, “Isso sempre acontece quando esta jovem senhorita força o seu cérebro”, ou ao menos foi o que me disse.

— A moral do regimento de cavalaria inimiga parece estar relati-vamente alta.

— Uma escolha tola. Teria sido melhor se tivessem tentado es-capar no momento em que descobriram nossas tropas. Apesar de que iriam sofrer baixas durante a perseguição, ao menos trinta por cento deles sobreviveria.

A Senhorita Farnese revelou um grande sorriso.

O seu sorriso ainda estava estranho, os cantos de sua boca esta-vam duros e seus lábios estavam tremendo. E mesmo assim, de alguma forma aquele sorriso era o que expressava Laura De Farnese mais apro-priadamente. Ao menos ele me agradava.

— Mas o inimigo escolheu não fugir. Eles entraram em combate como se fosse a coisa mais óbvia do mundo a se fazer. Você sabe qual o motivo disto, senhor?

— Provavelmente por causa da Erva Negra.

— Correto. Se conseguirem retornar com a Erva Negra, então conseguirão salvar o seu território. Seria possível até mesmo receber

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elogios da população. As forças inimigas estão tão presas a esta ilusão que não conseguem abandonar as carroças.

Em frente a uma isca atraente, o peixe podia fugir facilmente a qualquer momento, mas eles eram fisgados mesmo assim.

Esta habilidade não era deveras esplêndida?

A Senhorita Farnese utilizou a ilusão conhecida como Ervas Ne-gras como uma forma de pressionar o inimigo a entrar em combate. Muito provavelmente eles nem perceberam que foram enganados, lite-ralmente se transformaram em peixes imbecis. Nosso truque funcionou extremamente bem.

— Bem, então, Senhorita Farnese, apesar de que tudo até agora foi digno de elogios, a moral das forças inimigas não pode ser ignorada. Como você planeja lidar com a situação?

— Simples. A razão para a moral deles estar alta é porque estão na ofensiva. Mas esta jovem senhorita é consideravelmente egocêntrica. Esta jovem não pode permitir que tenham um papel tão divertido por tanto tempo neste palco.

A Senhorita Farnese segurou firmemente o boneco de cerâmica em sua mão.

— Eu os pressionarei lentamente a um papel angustiante.

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Guardião do Norte, Marquês de Rosenberg, Georg von Rosenberg. Calendário Imperial: 17/09/1505. Proximidades do Castelo do Lorde Demônio Dantalian.

— General! A cavalaria inimiga está vindo pela lateral!

— O quê?

Eu olhei para a outra ala do campo de batalha. Meu ajudante es-tava certo, uma unidade da cavalaria inimiga estava indo por um cami-nho mais longo ao redor da colina e se aproximando de nós. Fiz uma careta.

— Outra tática tola… Se possuíssem mais cavalaria nas forças re-servas, então seria apropriado fazer com que participassem da batalha imediatamente. Por que estavam ordenando algo assim, um ataque nos flancos?

Não restavam dúvidas de que o comandante inimigo era um amador em táticas de guerra.

No momento, uma batalha ferrenha entre as nossas tropas mon-tadas e as inimigas estava acontecendo. Nossas forças de combate esta-vam consideravelmente equiparadas.

Se o inimigo utilizasse suas forças reservas nesta situação, então nós mal teríamos um décimo de chances de vencer. Nossas forças mon-tadas seriam aniquiladas e, em seguida, nossa infantaria. Nossas forças seriam completamente derrotadas. Apesar disso, o comandante inimigo escolheu usar as suas tropas reservas como uma força separada, que tolo.

— Mmm. O comandante inimigo não tem olhos bons para ver o fluxo da batalha…?

Na minha situação, eu só podia ser grato por isso. Se as forças deles avançassem sobre nossos flancos, então tudo que teríamos que fazer era utilizar nossa infantaria para bloqueá-los. Só estender nossas lanças já seria o suficiente para manter a cavalaria inimiga sob cheque.

Apesar de que esta seria uma batalha tensa, estava tudo bem. A vitória ainda estava ao nosso alcance. Nós possuíamos habilidade para sairmos vitoriosos. As deusas não nos abandonaram!

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— Companhia de infantaria na asa direita. Preparem suas lanças e espalhem-se em uma parede anti-cavalaria. Mostrem a estes homens imprudentes o Inferno e…

E naquele momento, algo entrou no meu campo de visão.

Os vagões de transporte. Os vagões abarrotados de Ervas Negras estavam atrás de nós… Eles estavam almejando isso!? Estavam mais desesperados para recuperar seus bens do que vencer a batalha na mesma hora?

O comandante inimigo era um sujeito mesquinho. Era revoltan-te estar muito mais preocupado com o dinheiro do que com a sua pró-pria vitória. Mas esta ganância foi o que nos pegou desprevenidos…

Eu mordi meu lábio com força e dei uma ordem:

— Foquem nossa força militar na asa direita...

— General, com isso nossas forças ficarão frágeis dos dois lados! — Meu ajudante ficou assustado. — O inimigo pode conseguir quebrar nossa formação. Por favor, reconsidere isso!

— Ajudante, eles estão mirando nos nossos vagões. Não pode-mos permitir que as ervas sejam pegas agora.

Aquelas ervas eram o futuro da nossa terra. As vidas de nossas crianças. A esperança para curar os pais do desespero. Como se fôsse-mos deixar que tomassem as ervas de volta com tanta facilidade!

— Rápido, agora. Se os vagões forem atacados, então tudo estará perdido.

— Sim, general! Como você ordenar!

Assim que o sinal com a bandeira foi dado, nossos soldados mu-daram o foco para a asa direita. Com isso, o comandante inimigo se sentirá desencorajado a tentar pilhar os vagões. Não foque seus olhos no saque ou algo do gênero e venha nos enfrentar direito.

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199 Novel Mania

Lorde Demônio mais fraco, 71° Rank, Dantalian. Calendário Imperial: 17/09/1505. Proximidades do Castelo do Lorde Demônio Dantalian.

— A guerra realmente é bem divertida, senhor — cantarolou a Senhorita Farnese.

No momento, a moral das tropas inimigas havia diminuído con-sideravelmente. O seu comportamento agressivo transformou-se len-tamente em um comportamento passivo. A determinação que demons-traram no início da guerra já havia desaparecido e fugido para longe.

— E pensar que controlar as pessoas de acordo com os desejos desta jovem senhorita seria tão prazeroso. Esta jovem não consegue se conter. Apesar de que é possível vencer simplesmente esmagando a asa direita da formação inimiga, mas… isso seria insípido.

— O que você quer dizer com insípido?

— Obviamente, o gosto da comida. Pratos cozinhados com since-ridade são os que carregam valor de verdade. Um prato feito com mais pressa do que com cuidado não seria uma falta de educação para com os convidados? — falou a Senhorita Farnese com uma voz repleta de alegria.

O seu rosto estava brilhando como o de uma criança imersa em sua brincadeira.

— Esta jovem senhorita deseja manipular mais um pouco, ma-nejar mais um pouco, aproveitar mais um pouco. É por isso que esta jovem senhorita não vai fazer algo insípido como aniquilar o inimigo de imediato.

Essas eram as tendências da humana chamada Farnese?

No meu caso, eu não pensaria da mesma forma que ela. Se a oportunidade de esmagar o oponente aparecesse, então eu teria certeza de despedaçá-los sem deixar nenhum risco em potencial. Eu deveria chamar isso de “arrancar o mal pela raíz”? Não importava o que fosse, gostava de me livrar da questão com a máxima velocidade possível.

Por outro lado, a Senhorita Farnese fazia parte do grupo de pes-soas que gostava de aproveitar as coisas lentamente. Ao dar aos inimi-

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200 Novel Mania

gos esperança, em seguida desespero e logo em seguida esperança outra vez, ela desejava aproveitar o máximo possível disso.

Bem, resumindo, se você dissesse que eu sentia a autoridade quando me via dominando os oponentes, então pode-se dizer que Lau-ra De Farnese sentia a autoridade quando via os oponentes se de-sesperando graças a ela. Apenas o direcionamento era diferente, mas o desejo por autoridade era o mesmo.

Eu ri de leve.

— Você não é nada diferente de uma criança totalmente empol-gada com um brinquedo novo. Dito isso, quando você chegar a um certo nível de cansaço dele, vai acabar começando a lidar com as questões tão rapidamente quanto eu. Já que agora é o momento mais divertido, brinque o quanto quiser.

— Mm. Já que vai demorar um bom tempo até que esta jovem senhorita comece a se entediar com isso, ela vai ficar bem por enquan-to.

— Deixei o meu aviso bem claro.

Eu conhecia muito bem este sentimento, já que houve um tempo em que passei por algo similar ao que esta pequena senhorita estava experimentando agora.

Até hoje a memória de quando eu, secretamente, fiz dois alunos abandonarem a escola, quando era o presidente estudantil, é divertida.

Contudo, fazer algo assim repetidamente apenas fazia com que ficasse sem graça.

Apesar dos humanos se cansarem das outras pessoas bem rápi-do, eles raramente se cansavam de si mesmos. Graças a este princípio, consegui viver tanto tempo assim… Passados cerca de sete ou dez anos, a Senhorita Farnese acabará percebendo isso por si só. Por favor, apro-veite seus tempos áureos ao máximo que puder.

Laura De Farnese estava observando a linha de frente com os olhos brilhando de antecipação.

— Ah..., não recuem agora. Por favor, se revoltem contra esta jo-vem senhorita mais um pouco. Vocês cavaleiros não são soldados valen-tes do Império de Habsburgo? Mostrem novamente o vigor que de-monstraram antes e criem mais dificuldades para esta senhorita... Ten-

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201 Novel Mania

tem avançar sobre esta jovem como cães miseráveis e façam com que esta jovem senhorita fique despedaçada...

Ela era uma sádica ou uma masoquista...?

Já que eu havia pensado que ela era uma sádica, estava tranqui-lo, mas surpreendentemente ela pode ser uma masoquista.

Era isso então? Quando apertei o redemoinho da cabeça da Se-nhorita Farnese, o que ela sentiu não foi desconforto, mas sim prazer? Será que eu, que possuía os melhores olhos julgadores do mundo, jul-guei errado a sua personalidade? Mas que assustador. Para um sádico saudável como eu, os masoquistas não passavam de uma raça alieníge-na impossível de se entender. O fato de haver tantos pervertidos estra-nhos no mundo era bem perturbador…

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202 Novel Mania

Guardião do Norte, Marquês de Rosenberg, Georg von Rosenberg. Calendário Imperial: 17/09/1505. Proximidades do Castelo do Lorde Demônio Dantalian.

A situação não era boa... Pouco a pouco nossas forças estavam sendo forçadas a recuar.

Apesar de querer fazer todo o possível para mudar o rumo da batalha, nós não tínhamos a habilidade necessária para isso. Os inimi-gos insistiam em vir em direção aos nossos vagões. Nossas tropas esta-vam presas por esse motivo.

— É como se nossas posições tivessem invertido…

— Sim. É como se agora eles fossem os invasores e nós os defen-sores. Neste ritmo não conseguiremos fazer nada.

Meu ajudante mordeu o lábio. A sua feição estava aflita. Nossas forças não conseguiam fazer coisa alguma e, ao invés disso, estavam sendo reprimidas pelo inimigo.

De qualquer forma, essa não era a parte mais angustiante. Na verdade, nossos soldados estavam conseguindo combatê-los relativa-mente bem. Ao menos era assim se você analisasse objetivamente. Eles superaram a diferença do dobro da força militar e estavam lutando em pé de igualdade com as tropas inimigas. Com toda certeza isso era um feito impressionante.

Mas aos poucos, bem aos poucos e sem parar, a visão de nós sendo sobrepujados me assombrava.

Esse era o sentimento que estava nos pressionando contra uma cama de espinhos.

Lamentos escapavam de meus lábios:

— Se nossas forças estivessem na ofensiva então teríamos mui-tas opções disponíveis... Ao menos, se nossas tropas estivessem em uma clara desvantagem nós poderíamos ordenar uma retirada.

— Mas é difícil decidir qualquer coisa nesta situação atual, gene-ral.

— É isso mesmo. É problemático.

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203 Novel Mania

Seja vitória ou derrota, um tipo de resultado tinha que aparecer à nossa frente para que respondêssemos apropriadamente. E ainda as-sim, qual era a nossa situação atual? Não era uma coisa nem outra. Apenas o fluxo da nossa força militar sendo corroída aos poucos, com uma continuação incessante…

Muito provavelmente eu não deveria ordenar uma retirada nas nossas circunstâncias atuais. No momento nossos homens estavam enfrentando os inimigos desesperadamente, a única coisa que estava apoiando os soldados era a sua esperança. Só mais um pouco, caso se esforçassem só mais um pouco, então talvez pudessem vencer. Essa era a esperança que os mantinha em pé.

Entretanto, na verdade, este “mais um pouco” nunca diminuía além de uma certa quantia. As forças inimigas mantinham o controle teimosamente e nós estávamos apenas sendo levados por eles. De pou-co em pouco a energia das nossas tropas estava chegando ao limite…

Se ordenássemos uma retirada agora, então seria o momento em que nossos soldados realmente cairiam em desespero. O espírito de luta deles desapareceria de imediato. Seria o fim. Sem conseguir recuar da devida maneira, sem conseguir obter a vitória, nossas forças se des-manchariam miseravelmente por contra própria.

Drosera6.

Parecia que estávamos presos em uma planta carnívora meticu-losa. Uma sensação grudenta desagradável percorreu a minha coluna. A minha boca ficou seca. O sentimento de não ser uma coisa nem outra, enquanto ao mesmo tempo era arrastado passo a passo em direção à morte certa… Este sentimento absurdamente agonizante...

O comandante inimigo realmente era um amador? Talvez nós tivéssemos sido pegos em uma armadilha? Essa era uma ideia idiota, mas eu não conseguia ignorar as minhas dúvidas.

Em primeiro lugar, esse tipo de batalha ia contra as minhas pre-ferências. Causar destruição como uma tempestade e eliminar os inimi-gos, esse era o tipo ideal de batalha que eu almejava. Como as coisas acabaram assim…

6 Drosera é um gênero botânico, compreende uma extensa lista de plantas, em sua maioria carní-voras.

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204 Novel Mania

— General. Talvez esta seja a estratégia do inimigo?

— Uma estratégia?

Meu ajudante olhou para mim com o rosto apreensivo.

— Eu estou me referindo às duas unidades que nossas tropas suprimiram ontem. Eles podem ter deixados aquelas duas unidades como iscas para fazer que ficássemos descuidados.

— Não. Isso é impossível — balancei a cabeça decisivamente. — Se você somar aquelas duas unidades então chegaria a trezentos solda-dos, se combinar aqueles soldados com as tropas inimigas que estamos enfrentando agora, então poderiam ter nos finalizado com tremenda facilidade. Por que descartariam a chance de conseguir uma vitória fá-cil?

— Está certo, huh…

— Somado a isso, nós demolimos o Castelo do Lorde Demônio deles. Se, por um acaso, nossa situação atual realmente fosse uma ar-madilha, então significaria que eles permitiram que nós destruíssemos sua fortaleza sem mais nem menos. Caso seja verdade, o inimigo não ganharia nenhum benefício com isso.

Não há dúvidas. Eles receberiam apenas prejuízo.

As Ervas Negras foram saqueadas e o Castelo do Lorde Demônio foi destruído. A nível estratégico as forças inimigas já perderam. Mesmo que nos dizimassem aqui, as tropas inimigas não poderiam celebrar sua vitória. Ganhariam a batalha, mas seriam completamente derrotados estrategicamente, seria a conclusão desta guerra.

— Acho que não temos outra alternativa... Vamos utilizar os ma-gos.

— Sim. Eu também acho que não nos resta outro método. Se as Forças Mágicas Aéreas bombardearem os inimigos com pólvora, então nossa situação pode melhorar, mesmo que seja só uma pequena melho-ra.

O número de magos que nossas forças possuíam atualmente era quatro. Era um número excessivamente pequeno, mas já era suficiente para causar impacto nas tropas inimigas. Vamos colocar nossa fé nesta última cartada.

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205 Novel Mania

— General, as Forças Mágicas Aéreas decolaram em formação — relatou meu ajudante.

Assim que olhei para cima, um grupo de magos voou pelo céu mantendo uma altitude de cento e cinquenta metros. Minhas mãos co-meçaram a transpirar… Apenas quatro magos. Entretanto, as vidas de todos nossos mil e quinhentos soldados estavam sobre seus ombros. Não, se você considerasse as ervas estocadas nos vagões, então as vidas de sete mil pessoas de nossas terras também repousavam em seus om-bros!

Eu lhes imploro: Levem caos às forças inimigas!

Vocês não têm que matar muitos deles, já seria suficiente sim-plesmente plantar o medo de que “pólvora e fogo estão caindo do céu” em seus corações. Uma pequena desordem, só isso já seria suficiente para criar um apoio para virar o fluxo desta batalha. Os magos avança-ram apressadamente para a linha de frente. Mais um pouco, só mais um pouco…!

— G-general. Olhe para lá. — Naquele momento, meu ajudante me chamou. A sua voz estava cheia de desespero. — É uma Força Mági-ca Aérea. As tropas inimigas também mobilizaram as Forças Mágicas Aéreas deles.

— O que? Isso não é…

Possível. Quando eu estava prestes a terminar minha frase, algo também entrou no meu campo de visão. Do outro lado, um grupo de magos hostis voando em vassouras estava se aproximando pelo ar. Eram magos com grandes chapéus cônicos sobre suas cabeças.

— Não me diga que são bruxas…?

Meu corpo inteiro tremeu com o choque.

Bruxas, elas recebiam juventude eterna por devotar suas almas aos Lordes Demônios, possuíam o mais alto nível de proficiência. Além disso, eram muitas delas. Comparadas aos nossos magos, elas nos supe-ravam completamente.

— Dez, não, são onze. General! Os nossos oponentes têm uma quantidade assombrosa de usuários de magia!

— Isso não é possível. Por que tem bruxas lá?!

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206 Novel Mania

No centro dos céus, nossos magos lutaram contra os deles. Eles foram caçados e derrubados em um piscar de olhos. Como se estives-sem se divertindo com brinquedos, as bruxas mataram nossos magos um por um. Aquilo não era uma batalha, era apenas um massacre…

Nosso único mago restante fugiu desesperadamente até que por fim foi ao chão. Conforme seus membros foram arrancados, ele gritou. Os pedaços de carne, que foram fatiados em pequenos pedaços, caíram dos céus em direção ao chão. Então, as bruxas celebraram a sua carnifi-cina voando em círculos no céu. Meu ajudante e eu ficamos embasba-cados pela visão horrenda que acabamos de testemunhar.

As bruxas voltaram ao acampamento inimigo como se estives-sem vivendo uma vida livre de qualquer preocupação mundana. Parecia até que haviam saído para caminhar e agora estavam voltando.

Meu ajudante olhou para mim, seu rosto estava pálido como o de um cadáver.

— G-general…

Pense. Não entre em pânico e concentre-se, Georg!

Por que enviaram as bruxas agora? Se tivessem mandado elas no começo da batalha, então poderiam ter nos derrotado com extrema facilidade. Por que usaram o seu trunfo só agora? O objetivo deles não era nos aniquilar? Que tipo de significado isso poderia ter… Espera, e se não tivesse significado? E se “não ter significado” era o que representa-va as suas intenções…?

Lentamente eu abri a minha boca.

— Levante a bandeira branca... Nós estamos nos rendendo.

— Perdão?

— As forças inimigas não têm intenção de nos enfrentar seria-mente. Eles estão só brincando com nossas tropas enquanto esperam nós apodrecermos. Estão nos tratando como brinquedos. — Minha mandíbula tremeu por causa desta emoção miserável. — Podem acabar conosco quando bem quiserem, entretanto, não estão fazendo isso. É porque desde o princípio planejavam nos ridicularizar.

— Não pode ser…

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207 Novel Mania

O rosto do meu ajudante ficou manchado pela angústia. Eu não tinha energia para repreendê-lo por fazer uma expressão dessas. O sentimento de derrota estava me esfaqueando por dentro.

— Se nós continuássemos a batalha assim, a única coisa que nos restaria era a erradicação. A única diferença era se gostaríamos de ser aniquilados mais cedo ou mais tarde. Hasteie a bandeira branca, aju-dante… Nós só podemos ter esperança de que eles mostrarão um pouco de generosidade…

Nós enviamos um mensageiro ao campo inimigo para informá-los da nossa desistência.

Não iria acabar só com isso. Havia a chance de que o inimigo não permitiria que nós nos rendêssemos, de que continuariam nos as-sistindo morrer enquanto tremíamos de agonia.

Então tanto recuar quanto se render seria impossível. Nesta si-tuação, tudo o que nossos soldados poderiam fazer era aceitar morrer como cães e lutar até o último instante. E, como o comandante inimigo esperava, nós gritaríamos de dor enquanto caíamos em um verdadeiro Inferno, até que finalmente morrêssemos na batalha. Um sentimento indescritível de impotência estava pesando fortemente sobre meus om-bros…

Pouco depois, nosso mensageiro retornou.

Por sorte, parece que as forças inimigas aceitaram nossa rendi-ção. Porém, havia certas condições.

Deixar para trás as Ervas Negras roubadas do Castelo do Lorde Demônio, abandonar nossas armas e deixar aqui as bandeiras do nosso regimento militar.

— Eles estão nos dizendo para desistir de nossos espólios, nos-sas armas e de nossa honra?

Essas não eram condições fáceis de serem aceitas. No mínimo, esse era o tipo mais humilhante de rendição.

A voz de meu ajudante tremeu:

— General. Estas condições são muito severas. Ao invés disso, nós deveríamos apenas lutar até o último instante.

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208 Novel Mania

— Então o que restaria? Nós todos morreremos, e o povo de Ro-senberg será tomado pelo caos. Não temos outra opção senão aguentar nossa humilhação agora.

— Mas...

— Eu não vou aceitar reclamações.

Os comandantes de companhia abaixaram as suas cabeças. A atmosfera estava pesada. Era o humor das pessoas que perderam sem uma justificativa. Era inimaginável que chegaríamos a este tipo de situ-ação. Tanto para eles, quanto para mim…

— Avise-os que aceitaremos as suas condições.

— Sim...

— Levantem suas cabeças. Vocês deram seu melhor para me se-guir com lealdade. Eu sou o único que deve receber a culpa por esta derrota, vocês não fizeram nada de errado — bati levemente no ombro do meu ajudante. Uma voz macia, que surpreendeu até a mim, saiu de meus lábios.

— General.

— Não se esqueçam da humilhação de hoje. Além disso, hoje não será o pior dia de suas vidas. Vocês poderão ir para casa depois de ter sobrevivido por pouco e com seus membros intactos. Para um soldado, não há nada mais importante do que isso.

Os comandantes de companhia concordaram balançando a ca-beça com dificuldade.

Estes homens mostraram lealdade mais do que suficiente para com o seu senhor. Era difícil encontrar soldados tão fiéis quanto eles no império. Só por conseguir mandar estes soldados de volta para suas casas vivos já era o suficiente para não me deixar desencorajado.

— Então, agora, vamos partir. Este velho tomará a frente.

— Sim, general.

A batalha havia acabado.

As nossas tropas avançaram para frente mantendo uma forma-ção de coluna. Nós deixamos nossas armas para trás.

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209 Novel Mania

A maioria dos nossos soldados se recusou a jogar fora suas ar-mas sem importância como adagas ou facas, mas não havia alguém que implicasse com isso. Nós descartamos todas nossas bestas e lanças.

Nossos passos deveriam estar tão mais leves quanto a quantida-de de equipamentos pesados que perdemos, mas a atmosfera sobre nossas tropas era infinitamente pesada. Todos estavam em absoluto silêncio.

As tropas inimigas estavam espalhadas dos dois lados da colina. Parecia que um mar estava dividido ao meio. Eles muito provavelmente estavam dizendo para nós passarmos sem criar confusão. Rangi meus dentes com rancor para este caminho ao qual estavam nos guiando por e pelo qual, parecia que estavam zombando de nós.

“Algum dia terei a minha vingança.”

E, portanto, desistirei do destino de morrer submissamente na minha cama.

Lorde Demônio Dantalian, antes de minha morte, juro por meu nome, Georg von Rosenberg, com toda certeza me vingarei pela derrota de hoje. Dez vezes, não, lhe pagarei de volta vinte vezes por isso e assis-tirei enquanto você implora por perdão no chão!

Se estiver determinado a isso, então posso juntar dez mil solda-dos. Também não seria impossível pedir ajuda de outros marqueses na vizinhança e aumentar as tropas para vinte mil soldados. Eliminar algo como um Lorde Demônio de Rank 71 era uma tarefa ridiculamente fá-cil.

Algum dia, assim que a Peste Negra acalmar e o meu território atingir certo nível de estabilidade, eu retornarei.

Foi neste momento, enquanto caminhava penosamente com o restante de minhas tropas...

Algo entrou no meu campo de vista. No topo da colina. Pensan-do que havia enxergado errado, semicerrei os olhos para ver e fiquei estupefato.

Um anjo estava parado no topo da colina.

Uma garota indescritivelmente bela estava lá. Ela era tão encantadora que fez eu, alguém que estava na idade em que deveria começar a se preparar para morrer, pensar as-

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sim. Eu a encarei sem ter reação até que sacudi rapidamente a minha cabeça como se estivesse tremendo.

Acalme-se. Não tem por que um anjo estar diante dos meus olhos, certo?

Eu estava muito maculado pela realidade para poder acreditar que um anjo havia descido para a terra. Vamos apenas pensar nisso como “eu havia visto uma garota incrivelmente elegante”.

E, naquele momento, a garota fez uma pequena saudação volta-da para a nossa direção. Ela levantou levemente a ponta de sua capa e curvou sua cintura. Era um estilo de cumprimento perfeitamente fiel às regras da nobreza.

“Isso não é um cumprimento para mim?”

Para examinar a garota melhor, pisquei meus olhos várias vezes, no instante em que olhei novamente para a colina distante...

Eu enxerguei.

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213 Novel Mania

Um ser diabólico estava sorrindo atrás da garota.

Apesar de em toda a minha vida eu nunca ter visto a existência conhecida como “diabo”, neste momento entendi “a que” as pessoas se referiam quando chamavam algo de diabo.

— Todas…

Todo e qualquer nervo no meu corpo estava emitindo sinais de perigo para meu cérebro.

Isso não era permitido. Isso não era algo que tinha permissão para existir sobre a terra.

É claro, era uma alucinação. Assim que eu pisquei novamente e olhei para o topo da colina mais uma vez, a figura angelical da garota havia retornado.

— Todas as forças…

Entretanto, meus instintos estavam gritando. A intuição que eu afiei por cinquenta anos estava gritando com todas as suas forças. Gri-tando que isto era perigoso, que ficar aqui mais um segundo sequer era extremamente perigoso. Seguindo a intuição que salvou a minha vida incontáveis vezes, abri minha boca:

— Todas as forças… fujam! Isto é uma armadilha!

E, ao mesmo tempo....

Milhares de flechas choveram de cima da colina.

Gritos ressoaram por todos os lados. Sangue espirrou. A marcha que antes era silenciosa transformou-se instantaneamente em um ver-dadeiro inferno. À esquerda e à direita, as tropas inimigas que estavam dividias ao meio estavam atirando suas bestas incessantemente. Nossas tropas, que haviam deixado para trás suas armas, não podiam sequer considerar a opção de resistir e estavam sendo abatidas como gado.

— Escapem! Todas as forças, não caiam de joelhos. Façam tudo que for possível para fugir!

Apesar de eu estar gritando como se estivesse vomitando san-gue, meus soldados não responderam. Eles estavam apenas dominados pelo pânico e correndo de um lado para o outro, todos confusos. Havia até mesmo homens que abaixaram suas cabeças até o chão e começa-ram a tremer.

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214 Novel Mania

— Vossa Senhoria. Você tem que escapar! — gritou meu ajudan-te. — Este lugar é perigoso! Por favor, pense no futuro!

— Mas os soldados...

— Nós não consideramos homens incapazes de cuidar de suas próprias vidas como parte da companhia livre. Ei! Pegue Vossa Senho-ria o Marquês e fuja rapidamente! Se nosso senhor receber um arra-nhão sequer, vou enfiar um prego no seu cu!

A cavalaria veio até o meu lado, mas não me movi. Eu era o co-mandante, não podia fugir e deixar para trás meus soldados. Mesmo que não fossem forças civis, mas sim soldados contratados, isso não mudava.

— Perdoe minha falta de educação.

Meu ajudante esticou a perna e, em seguida, bateu com força o calcanhar de seu sapato contra a perna do meu cavalo de guerra. Meu cavalo, ao ser golpeado pelo calcanhar, soltou um relincho alto e come-çou a correr a toda velocidade.

— Ajudante!

— As deusas protegerão Rosenberg!

Em poucos instantes eu havia cruzado a colina e escapado do campo de batalha. Virei-me para trás uma última vez e enxerguei meu ajudante fazendo todo o possível para colocar os soldados sob controle.

Uma flecha veio voando de algum lugar e perfurou a cabeça do meu ajudante. Ele caiu de seu cavalo. A sua expressão e ele caindo no chão, não consegui ver nada disso. A infantaria estava cobrindo toda a área ao seu redor. O corpo do meu ajudante caiu no centro das tropas remanescentes… como se estivesse sendo engolido por um oceano…

— Kuuuuuh!

O gosto de sangue se espalhou pela minha boca. Sem que eu percebesse, havia mordido minha língua. Fúria corria pelas minhas veias descontroladamente. O interior da minha cabeça estava tão quen-te que eu parecia não sentir o meu crânio. Olhei para a colina.

— Vou te matar…!

Eu tinha certeza de que aquela garota era a comandante das for-ças inimigas. Aquele cumprimento, o cumprimento que parecia ser tão modesto, não passava de um sinal para abrir fogo. A garota era uma

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215 Novel Mania

peça do Lorde Demônio Dantalian. A principal culpada por me causar esta desgraça. E minha inimiga! Inimiga dos Rosenbergs!

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216 Novel Mania

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217 Novel Mania

— Eu não te perdoarei! Juro pelo Rio Estige, não vou te perdoar até o dia que você morrer! Colocando o nome e a honra de Rosenberg em jogo, colocando meu sangue e meus ossos em jogo, eu, com toda certeza, vou te matar!

Zombe destes gritos de um perdedor desgraçado. Tudo bem em fazer isso.

Sendo um juramento solene, eu proferi a máxima passada por gerações na minha família:

— O Norte não deixará que esta vingança caia no esquecimento!

Devotarei o pouco que resta da minha vida para conseguir mi-nha vingança contra esta garota. Lorde Demônio Dantalian, você tam-bém, cortarei a sua cabeça e a colocarei sobre o altar da deusa. E então, quando eu cumprir completamente minha vingança, será quando cerra-rei meus olhos…

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Lorde Demônio mais fraco, 71° Rank, Dantalian. Calendário Imperial: 17/09/1505. Proximidades do Castelo do Lorde Demônio Dantalian.

— Uma pessoa que parece ser um nobre está escapando. Senhor, tudo bem mesmo não o perseguir?

— Deixe-o ir. Aquele homem é o Marquês von Rosenberg. Um nobre de alto escalão que está competindo por poder na região norte do império de Habsburgo. Se nós capturássemos o Marquês aqui, então as consequências acabariam ficando desnecessariamente grandes — afir-mei.

Ainda não havia motivos para nos destacarmos mais do que o necessário.

“De repente o Lorde Demônio peixe-pequeno de Rank 71 captu-rou o maior Marquês do império”, isso se tornaria um escândalo exces-sivamente grande, ganhando atenção instantânea de todo o continente. Também apareceriam facções me vigiando com uma enorme intensida-de. Isso era algo que eu não desejava.

O território do Duque de Rosenberg estava localizado na área de fronteira entre o mundo dos demônios e dos humanos.

Para os exércitos de demônios invadirem os humanos, e para os exércitos humanos invadirem os demônios, este era um caminho que ambos tinham que cruzar. Se nós tocássemos esta zona de perigo com imprudência, então estaríamos acordando um lobo adormecido.

Nesta situação nos manter sem chamar atenção era a escolha certa.

— Apesar de termos vencido aqui, se você analisar objetivamen-te, esta não é uma vitória muito impressionante. Não é nada mais do que três mil soldados reprimindo apenas mil. Além disso, também per-di meu Castelo de Lorde Demônio. Pensando bem, os outros demônios muito provavelmente irão me ridicularizar.

Um Lorde Demônio que perdeu seu Castelo de Lorde Demônio mesmo tendo uma vantagem arrasadora de mais de três vezes o número de tropas.

Eu planejava fazer as pessoas me avaliarem desta forma.

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Em suma, enquanto eu era o “novo-rico” que por sorte vendeu a Erva Negra para ficar assim tão afortunado, também era desdenhado como sendo o idiota dentre os idiotas que aceitou uma pária como mi-nha amante. Se essa não era a tática de disfarce perfeita, então eu não sabia o que era.

Ri satisfeito.

— Este Marquês fez um trabalho excepcionalmente bom. E pen-sar que ele explodiria meu Castelo de Lorde Demônio… Eu já esperava que ele ao menos pilhasse as ervas do meu castelo, mas ao invés de fa-zer só isso, foi além e fez algo a mais. Mas que esplêndido.

— Não importa o quão grande o mundo seja, o único Lorde De-mônio que ficaria feliz por ter seu Castelo de Lorde Demônio destruído é Vossa Senhoria — falou a Senhorita Farnese com um tom de voz abismado. — Esta jovem senhorita pensa que os outros Lordes Demô-nios menosprezarão Vossa Senhoria.

— Só posso ser grato a eles caso me desmereçam. — Isso era exa-tamente o que eu esperava. — Pense bem sobre isso, Farnese. O Mar-quês von Rosenberg poderia ter mobilizado facilmente uma força de dez mil soldados. Entretanto, a quantidade de tropas que ele trouxe foi apenas mil. Aliás, foi uma força militar que consistia principalmente de infantaria leve e cavalaria. O quanto ele deveria estar me subestimando para ter feito isso?

Mas graças a isso, consegui sobreviver.

Se o Marquês tivesse liderado um exército de dez mil soldados para invadir meu castelo, então eu não teria chances de conseguir me defender.

Mesmo que estivesse transbordando dinheiro, ainda precisaria de tempo para organizar as tropas. Demorariam muitos meses para juntarmos tropas suficientes para mal chegarmos aos dez mil homens. Se não tivéssemos sorte, então teríamos que nos esforçar por seis meses recrutando tropas.

De todo modo, o Marquês von Rosenberg parou de mobilizar tropas quando elas chegaram em mil. Neste momento uma rota de fuga foi criada. O descuido do Marquês permitiu que eu preservasse minha vida.

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— Até mesmo os leões se esforçam ao máximo caçando coelhos, é uma regra. Aquele Marquês não sabia nem desta simples verdade, isso causou a sua própria derrota.

— Se esforçar ao máximo caçando coelhos, é isso mesmo…? Esta é uma frase bem profunda. Esta jovem senhorita a manterá em mente.

— Mas que louvável. Como recompensa eu apertarei o seu re-demoinho.

— Ah..., ackackack..., mas nós vencemos... Nós conquistamos a vitória como Vossa Senhoria queria, porque esta jovem senhorita está sendo amassada de noooovooo…?

Desista. De agora em diante, esta pequena senhorita será a mi-nha bolinha fisioterapêutica pessoal. Eu havia gostado bastante desta sensação insuportavelmente amassável de sua cabeça, então cuidarei de você com muito carinho, assim como fiz com minha segunda meia-irmãzinha.

Depois de a batalha ter acabado, capturamos uma quantidade considerável de prisioneiros, cerca de seiscentos, das mil tropas inimi-gas que perderam a vontade de lutar e se renderam. Como era a primei-ra vez que eu e a Senhorita Farnese lidamos com os problemas pós-guerra, nós estávamos perplexos.

— Vossa Senhoria possui algum local para acomodar os prisio-neiros?

— Que tipo de coisa você espera de um Lorde Demônio que aca-ba de ter o seu Castelo destruído?

— Mm. Já que seria problemático deixá-los ir assim, vamos só nos livrar deles.

Eu dei de ombros, não havia razão para discordar.

Naquele dia seiscentos humanos foram executados na colina.

Enquanto observávamos a cena do massacre ocorrendo a nossa frente, estávamos tendo uma conversa amigável (eu chamo assim, mas leia como punição de cafuné). Os prisioneiros gritavam chorando e im-ploravam para que nós os poupássemos, mas ignoramos isso.

— Ah, pensando bem... — lembrei de algo importante. — Far-nese, você nunca cometeu um assassinato com suas próprias mãos, co-meteu?

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— Mm? Se você se atentar aos detalhes então não, Vossa Senho-ria está correto.

— Eu recomendo utilizar esta oportunidade para experienciar o ato de matar. A diferença entre matar alguém em sua cabeça e de real-mente matar alguém é consideravelmente grande. Se você ganhar expe-riência nisso de antemão, então não vai acabar caindo em uma situação difícil no futuro.

— De fato, isso faz sentido.

Laura De Farnese assentiu e andou colina abaixo. Ela recebeu uma espada longa de um de nossos soldados e imediatamente, com um movimento fluido, golpeou o pescoço de um dos prisioneiros. Como o pescoço não foi cortado com um só golpe, ela teve que bater com a lâ-mina cinco ou seis vezes.

Com a cabeça do prisioneiro em sua mão esquerda, a Senhorita Farnese subiu laboriosamente a colina até mim. Ela me olhou e, confu-sa, pendeu a cabeça para o lado.

— Esta jovem senhorita não sentiu nenhuma emoção particu-larmente relevante…?

— Hou. Parece que você tem um coração mais forte do que eu imaginava.

No meu caso, fiquei bem abalado depois do meu primeiro assas-sinato.

Eu ainda conseguia lembrar bem das minhas mãos tremendo por ter tirado a vida dos meus dois sequestradores. Naquela época eu estava no terceiro ano do ensino fundamental.

Apesar de que, na verdade, a pessoa que havia organizado o se-questro era uma das amantes do meu pai.

Em certo momento, um dos meus sequestradores gritou aterro-rizado: “Eu não fiz nada de errado! A sua família disse que iria me pa-gar. Por favor, me perdoe!”.

Talvez eu tenha ficado mais chocado por esta frase do que pelos assassinatos.

As pessoas cegas de amor faziam loucuras com certa frequência.

Meu pai caiu em seu sono eterno sem saber da verdade sobre es-te incidente. Fiquei em silêncio sobre este caso de propósito. Senti que

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seria um “dedo-duro” caso contasse a ele, então não gostaria disso. Era assim que eu enxergava as coisas antigamente.

Eu não queria pegar o poder do meu pai emprestado, eu iria pu-nir aqueles que ameaçaram a minha vida pessoalmente.

O leão não pede para o tigre lutar em seu lugar.

Com dez anos de vida, esse foi o momento em que o meu pró-prio senso fundamental de ética foi gravado a ferro e fogo no meu cére-bro.

— Senhor, esta jovem senhorita gostaria de transformar a cabeça deste prisioneiro em um crânio e guardá-lo — disse a Senhorita Farnese enquanto abraçava a cabeça. — De um jeito ou de outro, foi a primeira pessoa que esta jovem senhorita matou. Este é um evento monumental. Graças a Vossa Senhoria, esta senhorita descobriu que fazer história por conta própria é muito mais prazeroso do que ficar se atentando às his-tórias do passado. Portanto, a cabeça deste soldado será o primeiro sa-crifício para gravar o nome desta jovem senhorita na história… Eu dese-jo cuidar dela com carinho.

— Bem, tudo bem então? O passatempo de coletar crânios é bas-tante sofisticado, logo, é algo digno de elogios.

— Mm, esta jovem senhorita sabia que Vossa Senhoria entende-ria.

Na verdade eu não a entendia perfeitamente, estava apenas res-peitando-a.

Depois da Laura De Farnese dar a ordem para limparem os “re-sultados” da guerra — passei esta tarefa para ela, já que seria extrema-mente desgastante fazer isso eu mesmo — fui procurar Lapis Lazuli.

Lala estava organizando documentos em um recinto na parte de trás de nossas forças. Assim que entrei no quarto, ela parou o que esta-va fazendo e me encarou.

Houve um momento de silêncio, porém, quando abri minha bo-ca, Lapis tomou a iniciativa.

— Esta serva está decepcionada.

Fiquei mudo.

— Esta serva estava decepcionada... — Lapis Lazuli colocou os papéis sobre a mesa e me encarou. — Vossa Alteza tentou tratar esta

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subordinada como uma amante comum. O que esta vassala desejava de você era ser tratada como companheira de autoridade, esta vassala nunca desejou ter um relacionamento de amantes presos um ao outro. Por que Vossa Alteza tentou ignorar e descartar tudo que esta serva queria?

— Peço desculpas...

— Ontem Vossa Alteza disse que amava esta súdita?

Balancei a cabeça concordando.

— Vossa Alteza ainda ama esta subordinada?

— Pode parecer surpreendente, mas acho que sim.

— Haaa... — Lapis Lazuli soltou um pequeno suspiro. — Vamos estabelecer regras.

— O que você quer dizer com regras?

— Não peça pelo afeto desta serva, e esta serva também não exi-girá o afeto de Vossa Alteza. A coisa mais importante para Vossa Alteza e para esta subordinada é conquistar poder no mundo dos demônios. Para alcançar este objetivo, uma atitude fria e capaz de derramar san-gue e lágrimas é necessária.

— Concordo completamente.

— As coisas viraram uma confusão... — Lapis Lazuli pressionou os dedos contra a testa e fechou os olhos. — O amor não é nada além de uma fraqueza. Um excesso de peso de emoções que não serve para na-da. Vossa Alteza realmente considerar esta serva como mulher é sur-preendente. Mais do que uma mulher, esta vassala é uma mera súcubo plebeia que deseja alcançar o sucesso.

— Lala, também tenho algo a dizer sobre este assunto — sorri de leve. — Não sou só eu que tenho um excesso de peso preso às emoções. Lala, você também tem. É uma pena, mas você não está em uma posi-ção que permite me repreender tão confiantemente assim.

— Esta subordinada pede desculpas, mas ela é incapaz de en-tender do que Vossa Alteza está falando.

— Você também não me ama?

Lentamente, Lapis Lazuli franziu o cenho.

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— Vossa Alteza está louco? Até os egos mais inflados deveriam ter limites.

— Pense bem nisso. Se eu decaísse e me tornasse escravo do amor, no mínimo, seria benéfico para você. Se eu ficasse preso, me tor-nasse submisso, e fosse forçado a me ajoelhar para toda e qualquer pa-lavra sua, então, por fim, você chegaria a uma posição superior à do Lorde Demônio Dantalian. Portanto, no dia que eu obtivesse o trono de poder, você, já me tendo na palma de suas mãos, seria na verdade a pessoa com a maior autoridade, não seria?

Lapis Lazuli se calou.

O sorriso nos cantos da minha boca cresceu ainda mais.

— Mas você não fez isso. Não, você foi incapaz de sequer alimen-tar esta ideia. Ao invés de ficar feliz me vendo obcecado por você, você sentiu desgosto. Por que acha que isso aconteceu?

Um longo tempo se passou.

Havia uma certa quantidade de choque contida nos olhos azuis de Lapis Lazuli, era como se ela estivesse vendo uma paisagem natural estonteante pela primeira vez.

— Vossa Alteza está certo... Esta serva não tinha motivos para recusar seus cortejos. Por que esta vassala…

— Porque você me ama — dei um passo em direção a ela.

Nossos olhares também se aproximaram um passo.

— Entretanto, mais do que amar outra pessoa, nós amamos ain-da mais a autoridade. Portanto, nós amamos a pessoa que ama a mes-ma autoridade que nós. Como um músico que seria atraído por uma amante que aprecia música. Como uma poetisa que seria atraída por um amante apaixonado por poemas…

Exatamente o mesmo que eles.

A pessoa que ansiava intensamente pela autoridade assim como eu, a pessoa que entendia tanto quanto ela o que era a autoridade.

Nós sermos atraídos um pelo outro era inevitável.

— Lala. Eu amo você, que ama a autoridade.

Ela permaneceu em silêncio.

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— A sua tenacidade fria, o seu pragmatismo impiedoso, a sua atitude que não permite nem um pingo de descuido ou tolerância. Eu amo tudo isso. Entretanto, no momento que você perder a sua aspira-ção pura, o seu desejo por poder, eu não te amarei mais.

— Esta serva compreende...

Os olhos de Lapis Lazuli se estreitaram lentamente.

— A cena de Vossa Alteza tratando algo além da autoridade co-mo precioso, esta subordinada sentiu-se decepcionada por isso. O amor desta vassala estava enfraquecendo por ter percebido esta parte de Vos-sa Alteza.

Lapis Lazuli fechou os olhos, lentamente, como se estivesse ten-tando apreciar algo.

— Então isto é… o meu amor.

— Exato.

Outro passo.

— Nós somos o mesmo. O que nós dois mais amamos é a autori-dade. Portanto, quando observamos o outro deixar o poder em segundo plano, uma raiva incontrolável ferve dentro nós.

— O que Vossa Alteza disse está correto. A autoridade tem valor primário. Nada pode mudar isso.

Lapis Lazuli abriu seus olhos.

O olhar frio de sempre da Lala estava ali.

— Apesar de que esta serva admite amar Vossa Alteza, ela tem que pedir desculpas. No fim das contas, Vossa Alteza não é mais precio-so que a autoridade.

Nós somos iguais.

Um passo mais próximo.

Talvez não fosse apropriado chamar esta emoção de amor, isso não era amor, não era amizade.

A mesma raça.

O sentimento de me assegurar do fato que uma pessoa perfeita-mente familiar a mim existia neste mundo.

Não como Laura De Farnese, que só recentemente conseguiu fi-car de pé por conta própria, mas sim duas pessoas que já haviam se

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autodescoberto e que já estavam completamente desenvolvidas. Estas duas se encontraram e reconheceram quem era a outra pessoa, e con-firmaram suas raças.

Até hoje eu era uma raça única no meu mundo.

Apenas eu existia, e eu, sozinho, formava um tipo diferente de raça humanoide, distante dos outros Homo sapiens. Mas agora, havia encontrado Lapis Lazuli e descoberto outro indivíduo da minha raça.

Em outras palavras:

Amor pela humanidade.

No momento estávamos percebendo um amor pela humanidade que consistia apenas de nós dois.

— Você sabe qual a melhor parte de ser um Lorde Demônio? É o fato de que mal preciso dormir. Certa vez tive que ficar acordado por quatro noites seguidas me agonizando enquanto pensava em algo. Na-queles tempos, não gostava nem um pouco da ideia de dormir e ter mi-nha linha de pensamento interrompida.

Dando o último passo para chegar até ela, finalmente nos alcan-çamos.

— Pessoas normais diriam que os sonhos são inúteis, que em meio às outras coisas da vida, os sonhos não eram necessários. Entre-tanto, eu sou um pouco diferente. Os sonhos não só faziam a minha vida parecer inútil, eles também a deixavam totalmente fraca. Eu sem-pre fui tomado por esta emoção.

— Mesmo que só metade, esta serva ainda é uma súcubo.

Sem que ninguém tomasse iniciativa, lentamente, ela e eu apro-ximamos nossos corpos.

Enquanto envolvia suas costas com meus braços, ela também enrolou os braços dela em volta de mim.

Como duas cobras venenosas enrolando-se juntas.

— Esta súdita consegue controlar os sonhos de Vossa Alteza.

— Você me fará perfeito.

— Sim. Esta vassala fará Vossa Alteza perfeito. E esta serva tam-bém se tornará perfeita através de Vossa Alteza.

Nossos rostos se aproximaram.

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Nossas respirações também se aproximaram.

— Você é a minha fraqueza. Entretanto, se nós prestarmos atenção o suficiente, se não nos esquecermos da raça de que nos origi-namos, então esta não será uma relação em que revelaremos as falhas um do outro, mas sim um relacionamento em que suprimos as fraque-zas um do outro.

Única e exclusivamente para uma autoridade mais poderosa.

Única e exclusivamente para uma autoridade mais sublime.

Portanto, não uma noiva, mas sim...

Uma parceira.

Nós dois éramos parceiros.

— Lapis Lazuli, eu te amo.

— Esta serva também ama Vossa Alteza, Lorde Dantalian.

Nossos lábios se juntaram.

Um efeito sonoro excelente soou no meu ouvido.

[Você atingiu uma comunhão sincera com sua interlocutora.]

[Afeição de Lapis Lazuli aumentou em 50 pontos!]

Ao invés de prestar atenção em algo como a janela de notifica-ção, eu mergulhei mais profundamente nos toques da Lala.

A sua pele fria, porém macia, era encantadora.

Um pouco mais profundamente.

Enquanto explorávamos o calor um do outro, enquanto confir-mávamos a existência um do outro...

Eu para mim, ela para ela mesma, cada pessoa simplesmente completava uma a outra.

Como um cão perseguindo sua própria cauda.

Vorazmente...

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Lorde Demônio mais fraco, 71° Rank, Dantalian. Calendário Imperial: 21/09/1505. Niflheim, Palácio do Governador.

— Barbatos. Esta manhã você veio aqui e me disse o seguinte: O único significado do amor é que ele revela as suas fraquezas, as pessoas não ficam mais fortes por causa do amor, mas sim se fortalecem depois de descartá-lo.

Barbatos permaneceu em silêncio.

— A sua frase estava meio certa e meio errada. Com certeza La-pis era a minha fraqueza, e eu também era a fraqueza dela. Mas não passa disso. Enquanto nós dois compartilhamos nosso amor, não faze-mos que o outro fique fraco.

Bem pelo contrário, era o exato oposto.

— Nós apenas fazemos o outro ficar mais forte sem nos prender ou limitar.

Barbatos ficou em silêncio.

Enquanto degustava o meu vinho, eu disse:

— Nosso amor pode não ser quente, mas é frio. Nós podemos não ser macios, mas somos afiados. Mesmo que não consigamos aceitar algo, continuamos seguindo em frente rumo a algum lugar. Nós somos firmes, então não quebramos e, em perfeita harmonia, aniquilamos o inimigo a nossa frente. É assim que agimos. E este também é o motivo de termos retornado a Niflheim depois de derrotarmos o exército do Marquês.

— O que você quer dizer?

— O bilhete.

— O quê?

Sorri.

— A responsável por escrever o bilhete me informando dos inva-sores, é ninguém mais ninguém menos do que você, Barbatos.

Por um instante, o rosto de Barbatos congelou.

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— Como eu disse, do que é que você está falando…?

— Foi um teste simples. O culpado sempre volta para a cena do crime que cometeu. Desta vez tentei utilizar este velho e antiquado di-tado.

Com um olhar suave... como se estivesse afagando a cabeça dela com minha mão, olhei para Barbatos da cabeça aos pés.

— Quem quer que tivesse me enviado o bilhete, era óbvio que a pessoa tinha boas intenções para mim. Afinal, me avisou do fato de que invasores apareceriam. Entretanto, quem poderia saber detalhadamen-te a situação do Marquês Rosenberg e possuía a capacidade de adquirir essa informação? Barbatos, quão grande tem que ser a rede de infor-mantes de alguém para saber a informação exata da quantidade de tro-pas que foram enviadas? Sem sombra de dúvidas, o culpado tinha que ser alguém com muito poder.

Por exemplo, alguém poderoso o suficiente para ser a 8º no ranking.

Alguém hostil contra os humanos e, portanto, que sempre ob-servasse as movimentações militares do lado dos humanos.

Alguém bem informada da situação no território do Marquês Rosenberg, já que ele fica na divisa do mundo dos demônios e dos hu-manos.

— Sim. Barbatos. Uma pessoa de autoridade como você.

Barbatos abriu a boca.

Em algum momento da conversa ela havia retomado a sua ex-pressão travessa.

— Aha, ahahaha... Eu estava curiosa sobre o que você estava querendo dizer.

A sua voz também estava controlada.

— Dantalian. É claro, sou uma pessoa assustadoramente incrí-vel, exatamente como você disse. Uma rede de informações da raça humana, bem, é óbvio que eu tenho isso, já que nunca se sabe quando aqueles humanos vão tentar começar a fazer algo engraçadinho.

Barbatos revelou um grande sorriso.

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A sua habilidade de atuação era muito deslumbrante. Como uma política, isso era ideal. Ela ser a líder de uma grande facção política co-nhecida como a Facção das Planícies não era mera coincidência.

Suas ações normalmente exageradas que pareciam frívolas, in-serir palavrões pesados em suas frases para o desagrado dos ouvidos das outras pessoas, utilizar roupas que deixavam tanto à mostra e fazi-am as pessoas não saberem para onde olhar... Todas essas coisas eram ações calculadas.

Meios de atrair e manipular a mente das outras pessoas como ela bem quisesse.

— Mas sabe? Isso é tudo. Não sou o tipo de pessoa que escreve-ria algo trivial como um bilhete. Se algo acontece, então como estamos fazendo agora, eu cuspiria tudo na sua cara pessoalmente. Por que en-viaria um bilhete para um imbecil com a mente limitada?

Ela havia se aproximado de mim como se realmente se impor-tasse com meu bem-estar, apesar de ser uma pessoa absolutamente desinteressada na minha vida amorosa, agiu como se estivesse ouvindo a minha história com sinceridade.

Porém, eu disse antes: Barbatos era uma boa mulher.

Raramente eu havia visto uma mulher tão minuciosamente “po-lítica” assim.

Barbatos conseguiu desenvolver a sua habilidade de atuação du-rante seus longos quinhentos anos de vida. Certamente era uma habili-dade formidável. Aah, era de um nível que faria até mesmo os melhores atores chorarem. Apesar de não estar no meu nível, admito que ela che-gava bem próximo do meu queixo.

O talento natural ganha do esforço.

Não tinha como seus esforços superarem a minha aptidão para atuar.

— Para começar, se eu tivesse te mandado algum bilhete, então não teria motivos para negar isso. Você não acha? No fim das contas, você foi salvo por causa daquele aviso. — Barbatos deu de ombros. — Sem aquilo, você não saberia que o exército do Marquês estava inva-dindo e teria apenas sido eliminado. Portanto, a pessoa que escreveu ele é sua salvadora. Por que eu jogaria fora a oportunidade de te deixar em débito comigo? É porque realmente não o enviei.

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Apesar de isso ser plausível, era uma desculpa rasa.

— Barbatos. É porque você não enviou aquilo com a intenção de me salvar.

— Ei, caralho. Estou dizendo que não enviei a porra do bilhete, mas você continua repetindo isso?

— Você enviou aquilo com a simples intenção de me “testar”.

Ela havia me dito.

“Eu estava esperançosa de que um novato verdadeiramente útil tivesse aparecido depois de tanto tempo, mas ele não é só um demen-te?”

“Como caralhos faço esse retardado funcionar como uma pessoa normal…”

Como ela poderia saber que eu era um novato útil?

Simplesmente porque eu consegui juntar dinheiro vendendo as Ervas Negras?

Barbatos não sabia os detalhes precisos de como exatamente eu fiquei rico. Foi somente graças à sorte, ou foi porque consegui deixar Ivar Lodbrok na palma da minha mão? Sorte ou habilidade, ela não tinha certeza de qual era a fonte do meu sucesso.

Portanto...

No momento que Barbatos disse aquilo, ela já havia me testado usando algum método prévio.

— Depois de ouvir a notícia de que o exército do Marquês estava se movimentando, você muito provavelmente gostaria de ver a minha habilidade ao menos uma vez. Você queria ver se eu realmente seria alguém útil. Você enviou o bilhete e, então, esperou pacientemente para ver como responderia à invasão…

O resultado foi que “eu passei”.

O Lorde Demônio Dantalian passou com segurança no teste chamado Marquês von Rosenberg.

Agora a Lorde Demônio Barbatos havia decidido que recrutaria o Lorde Demônio Dantalian para a sua facção.

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Porém, havia um grande problema no caminho.

— Por um acaso você lembra? Das palavras que disse ontem no momento que entrei aqui.

— Não... Já que não sou o tipo de pessoa que se recordaria espe-cificamente de algo inútil.

— Então se recorde agora. Essa não era uma ocasião pouco im-portante para você, nem de longe. Desde o começo você me disse algo.

“Se está tentando romper com aquela sua amante súcubo, então posso ajudar.”

“Em primeiro lugar, não faz sentido algum uma pária estar fa-zendo sexo com um Lorde Demônio. Ainda não é tarde demais, então peça a minha ajuda.”

Sendo sincero, isso foi algo muito intrometido para se dizer.

Mas se você mudar levemente o seu ponto de vista, então era um conselho bem óbvio.

Porque se o indivíduo que ela planejava trazer para a sua facção fosse “um imbecil que tomou uma pária como amante”, então isso cau-saria um grande dano contra a imagem da facção da Barbatos.

Cuidar da sua imagem é uma parte fundamental da política.

Do ponto de vista da Barbatos, ela precisava me fazer romper com Lapis, não importava como.

— Haa... Eu te dei este conselho apenas por estar sendo atencio-sa. — Depois de escutar o que eu disse, o rosto de Barbatos distorceu-se em uma careta. — Você realmente é um filho da puta que trata favores como se fossem merda, huh? O quê? Para esses buracos que você cha-ma de olhos todas as pessoas parecem ser coiotes querendo apenas ga-nhos políticos? O seu jeito de pensar é realmente horrível, Dantalian.

— Quando você escutou a notícia de que o Lorde Demônio Dan-talian foi estapeado por Lapis na praça... — falei em voz baixa.

Barbatos cerrou seus lábios.

— Naquele momento você provavelmente pensou isto: Surgiu uma oportunidade de ouro. Você se aproximou de mim rapidamente

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236 Novel Mania

pretendendo bater enquanto o ferro ainda estava quente. Aliás, em me-nos de vinte minutos depois de eu levar o tapa.

“Vá em frente e me conte tudo. Por que vocês dois brigaram?”

“Você não está vendo que ainda estou passando gelo no rosto? Faz só vinte minutos desde que levei o tapa de Lapis.”

— Aqui, em Niflheim, sou famoso por meu amor ardente por Lapis. Estando na sua posição, a dor de cabeça que isso deve ter te cau-sado deve ter sido imensa. Para começar, você tinha que nos fazer se separar, mas não lhe veio à cabeça como poderia conseguir fazer com que rompêssemos a relação.

Barbatos permaneceu quieta.

— Com o relatório de que eu fui estapeado, você pensou “é isso”. Não há algo mais frágil do que alguém que acaba de brigar com sua amada, e logo depois de termos nos afastado, este vidro frágil despeda-çaria facilmente se você o tocasse com um martelo. Muito provavelmen-te você pensou que se arremessasse suas cartas corretamente, então poderia romper a minha relação com Lapis facilmente.

Então Barbatos estava cautelosa... apenas para não deixar que suas verdadeiras intenções se tornassem óbvias.

“Você disse que o nome da sua amante era Lapis Lazuli? Cara-lho, ela é realmente de se admirar. Como diabos conseguia lidar com você? Se fosse eu, teria cortado as suas bolas fora e te largado há muito tempo.”

Essa foi a parte em que Barbatos foi digna de elogios.

Ela não ficou do meu lado, ao contrário, ficou do lado de Lapis. Como se estivesse plantando o mal-entendido de que “ela sozinha esco-lher terminar” era a escolha certa.

“Vocês dois realmente deveriam se separar.”

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237 Novel Mania

Ela disfarçou suas palavras habilmente.

Inicialmente Barbatos devia estar feliz por tudo estar correndo sem que ela precisasse agir. Assim que escutou que eu tentei matar a mãe da Lapis, teve certeza.

Estava tudo acabado.

Barbatos estava convencida de que não existia uma pessoa que poderia tolerar um homem que tentou matar a mãe de sua amada e continuar com o relacionamento.

Entretanto, conforme seu estratagema prosseguia sem dificul-dades... encontrou um problema que nunca havia esperado.

— O instante em que você começou a entrar em pânico, Barba-tos. Foi no momento em que confessei meu amor a Lapis pela segunda vez. Deve ter sido incrivelmente incompreensível. Eu entendo. Você muito provavelmente nunca imaginou que existira uma pessoa no mundo cujo amor era tão insano quanto o meu.

Ela parecia sem palavras.

— Você tentou me convencer falando um bocado.

“Como diabos isso é amor?”

“Isso não é amor.”

“Tudo bem vocês dois terminarem, mas o amor… é uma emoção mais preciosa do que qualquer outra coisa. É algo pelo que todo o resto deva ser deixado de lado e se entregar de vontade própria, se esforçar por ele.”

— A emoção que eu estou sentindo agora não é amor. Amor é al-go mais nobre do que qualquer outra coisa. Mais sagrado. É algo mais macio… Ao afirmar isso, você queria que apontasse para meu próprio sentimento e dissesse que “isso não é amor”, certo? — sorri gentilmen-te. — Desculpe-me por você não conseguir atingir seu objetivo, Barba-tos. Esse é meu pagamento por ser minha conselheira amorosa nesta noite: Irei provar para você que este é outro exemplo de amor.

Jingle, levantei um pequeno sino e o balancei.

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238 Novel Mania

Assim que fiz isso, a porta para a sala de visitas abriu e alguém entrou. Barbatos assustou-se e virou para olhar para a porta. E ali esta-va Lapis, de pé, e com o seu rosto inexpressivo.

— Vossa Alteza chamou?

— Aah. Deve ter sido muito problemático ter permanecido espe-rando de pé a noite inteira, Lapis.

— Está tudo bem. Graças a Vossa Alteza, esta serva já se acos-tumou a ficar acordada a noite inteira.

Vendo nós dois conversando, Barbatos nos olhou com perplexi-dade estampada no rosto.

— O que é isso…?

— Lapis, parece que Sua Alteza Barbatos está duvidando um pouco de nosso amor. Parece que ela acha que você está guardando rancor de mim por ter tentando matar a sua mãe. O que você acha? Po-deria mostrar aquilo para Sua Alteza Barbatos também?

— Entendido. Esta vassala mostrará aquilo agora mesmo.

Lapis curvou-se e saiu da sala de visitas. Barbatos olhou para mim, seus olhos demonstravam que não estava conseguindo entender. Bem, espere um pouco. A velocidade de caminhada da Lapis é surpre-endentemente rápida, então ela vai voltar em breve.

Um silêncio peculiar ocupou o cômodo. Pouco depois, Lapis vol-tou. Em suas mãos carregava uma bandeja de prata que as empregadas utilizavam para entregar comida.

— Então agora, Lapis, mostre isso para Sua Alteza Barbatos.

— Sim. Dê licença a esta subordinada.

Com toda delicadeza possível, Lapis levantou a tampa da bande-ja.

Barbatos arregalou os olhos.

Brilhando de alegria, eu bati palmas.

— Que tal? Não é esplêndida? Esta é Lapis Lazuli. Meu primeiro amor, minha amante que talvez seja meu único amor. Barbatos. Obser-ve.

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239 Novel Mania

Em cima da bandeja brilhante de prata estava a cabeça de uma pessoa.

Tinha o rosto da velha senhora que veio aqui quinze dias atrás.

— Esta é a mãe da Lapis.

— O quê...?

— Você ainda não entendeu? Ela foi assassinada. Pela própria Lapis! — comecei a gargalhar.

O som da risada preencheu a sala de visitas. Apesar de ser falta de educação fazer isso no meio da noite, era inevitável. Como eu pode-ria parar quando a gargalhada vinha do meu peito por conta própria?

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241 Novel Mania

— Lapis não estava brava por eu ter tentado matar a mãe dela. Ela estava brava porque tentei tomar a frente esquecendo qual era “o meu lugar”!

O rosto de Barbatos ainda mostrava que ela estava perplexa.

— O quê… você está querendo dizer?

— Estou falando sobre vingança, Barbatos. Vingança! Não é ób-vio que a pessoa tem que conseguir se vingar com suas próprias mãos contra o indivíduo que arruinou a sua vida? Apesar disso, tentei agir como bem quis e me vingar em seu lugar, é claro que Lapis ficaria irri-tada!

“Por que Vossa Alteza tentou roubar a diversão e a presa desta serva tão descuidadamente?”

A frase que Lapis disse para mim.

As palavras que ela falou quando me repreendeu tinham este significado.

Sem conseguir conter o riso, deixei uma risadinha escapar. Foi uma gargalhada completamente imprópria e feia. No entanto, eu não tinha tanto espaço sobrando na minha mente para me preocupar com a dignidade agora. Eu queria aproveitar este momento ao máximo.

— Agora você entende, certo? No terceiro dia do nono mês, no dia que aquela velha decrépita entrou na minha sala de visitas, Lapis imediatamente perseguiu e assassinou a velha em segredo. Aah, mas como esta garota é adorável! Quão veementemente esta garota executou seu plano de vingança! Lapis, eu realmente te amo…

— Sua Alteza Barbatos está nos vendo... Por favor, tenha um pouco de dignidade, Lorde Dantalian.

— E daí? Quanto mais o amor é compartilhado, melhor ele fica.

Lapis Lazuli soltou um pequeno suspiro.

Agora até mesmo esses suspiros eram adoráveis. Realmente, sou mesmo um apóstolo do amor. Até mesmo a deusa Afrodite sorriria con-tente ao olhar para mim. Apontar para mim e me criticar dizendo que

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242 Novel Mania

“eu não sei o que é o amor”, até mesmo as propagandas falsas mais obs-tinadas têm limites.

— Não foi só a velha senhora. Lapis também matou a empregada que a insultou. Mais tarde, para a minha surpresa, descobri que aquele evento foi escondido como sendo um acidente. Disseram que a comida ficou presa na garganta dela e ela sufocou até morrer, mas na verdade foi veneno. Tudo bem você ficar maravilhada, Barbatos. Já que a nossa Lapis é uma mulher verdadeiramente digna de elogios.

— Certamente isso é um problema, vendo que as asneiras de Vossa Alteza saíram de controle, esta serva se retirará do recinto.

— Ah, certo. Pode ir, descanse. Já que nós não dormiremos jun-tos hoje, você não precisa se dar ao trabalho de passar óleo de rosas antes de deitar...

Depois de encarar friamente, Lapis saiu da sala de visitas.

Sim. Sim, eu sabia bem que estava me comportando de forma bastante idiota. Mas este era meu primeiro amor. Era óbvio que eu não conseguia me manter totalmente são e que estava apaixonado pela ga-rota. Isso era perfeitamente normal. Virei minha cabeça para olhar para Barbatos.

— Eu disse a ela que se me desse um tapa na praça, estando na frente de muitas pessoas, então o responsável por mandar o bilhete viria me procurar. E assim que eu disse isso, sem nem uma gota de hesitação, ela me estapeou. Então nós agimos como se tivéssemos ter-minado.

Lapis Lazuli era esse tipo de mulher.

A parceira que eu amava era este tipo de mulher.

— E então, Barbatos... Como foi? Oh maestra do amor, que teve mais de mil amantes durantes seus quinhentos anos de vida. Oh Barba-tos, você que disse que caso escutasse seus conselhos amorosos, então mulheres bonitas me ofereceriam boquetes assim que me aproximas-se. Qual a sua impressão desta nova categoria de amor que está teste-munhando pela primeira vez em seus quinhentos anos?

Barbatos estava silenciosa.

Com sua cabeça curvada para baixo, seus ombros tremiam.

E então...

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243 Novel Mania

— Ha... — Seus ombros tremeram um pouco mais violentamen-te. — Ha… haha, hahah… ahaha... Hahahaha… Heu, gehehe... eheuh, keuhehe... Haa, heu, ha... haha, KAHAH! KUHAHAHA! HAHA, AHAHAHAHA...!

O que começou como uma gargalhada incontrolável atingiu o nível de ser uma gargalhada incontrolavelmente enlouquecida.

O corpo inteiro de Barbatos tremia enquanto ela ria.

A risada continuou por muito tempo. A cabeça da Barbatos logo voltou para a posição normal. Uma clara insanidade brilhou em seu rosto. Os cantos dos seus olhos e de seus lábios estavam contorcidos com um escárnio exultante, seus dentes brancos brilharam com sua ganância voraz.

— Uma obra-prima! Isto é uma obra-prima!

Esta. Esta era a oitava Lorde no ranking.

A necromante de mais alto nível, exaltada por sua imortalidade, esta era a verdadeira face da Lorde Demônio Barbatos.

— Aaang? Heung, euung? Dantalian, você conseguiu me apre-sentar uma diversão muito além das minhas expectativas. Gostei de você. Eu realmente, tremendamente, gostei de você. Se por acaso seu objetivo fosse barganhar pela minha boa-vontade, então te dou meus parabéns. Mm. Já que com certeza me afeiçoei a você.

— Fico feliz pela sua alegria — dei de ombros. — Como o ator que lhe presenteou com esta atuação durante esta noite, isto é recom-pensador.

— Atuação? Puh, puhahaha. Foi uma encenação? Um espetáculo que você calculou do início ao fim? Seu filho da puta retardado. Você está me dizendo que fez todas essas merdas só para me fazer rir!?

— Você é Barbatos. A Lorde Demônio de Rank 8. Se só me cus-tou uma única noite para lhe tocar, então considero este um preço baixo a se pagar.

Se houve algum outro objeto que eu investi para conseguir esta noite, então foi o vinho Balleleunium ano 1101.

Eu adquiri propositalmente o vinho de mais alta qualidade, para estimular até mesmo a menor fagulha de descuido por parte da Barba-tos. Para desfrutar deste vinho tão sublime, ela permitiu-se ficar bêbada

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sem pensar duas vezes, desativou por conta própria os seus poderes de desintoxicação. O resultado foi a comédia ocorrendo à minha frente.

— Kakakaka! Sim, certamente é um preço baixo. Você realmen-te sabe o lugar a que pertence. Meus pensamentos mais internos que eu não revelei para quem quer que seja por trezentos anos, no fim das con-tas, você os conseguiu em uma única noite. Mas isso é uma idiotice. Aah, não há dúvidas de que é uma idiotice.

Barbatos revelou um grande sorriso.

O seu sorriso era tão largo que parecia que os cantos da sua boca iriam rasgar.

— Mas sabe? Não posso ignorar alguém que descobriu que tipo de vadia eu sou. Isso me deixa nervosa. Se você espalhar um rumor co-mo: “Investiguei e descobri que na verdade a Barbatos é uma vadia que gosta de entranhas e cria cobras venenosas”, hm? O impacto negativo que me causaria não seria pequeno.

— Muito provavelmente não.

— Então agora, Dantalian. Use rapidamente esta sua cabeça tão esperta. Como eu deveria lidar com o filho da puta que viu a minha ver-dadeira face? Os meus compatriotas do mundo dos demônios pensam que sou uma pessoa pura e justa, sabe? Para não desapontar aquelas crianças, é meu dever manter a sua boca bem fechada. Pense bem nisto antes que corte fora a sua língua, Lordezinho Demônio…

Barbatos se aproximou lentamente.

Uma névoa negra ondulava em torno dela.

Uma névoa formada por energia mágica. Eu não possuía uma vi-são capaz de saber que tipo de efeito aquela névoa possuía. Porém, até mesmo eu conseguia dizer que aquilo não faria bem para a minha saú-de.

— Não, cortar a sua língua seria um desperdício. A sua eloquên-cia e a sua voz certamente seriam úteis em operações com discursos demagogos. Eu deveria te transformar em uma marionete minha? Seria mais eficiente? Para começar, deveria te matar cortando sua garganta, e então te reviver como um escravo que escuta e obedece apenas aos meus comandos? — Barbatos deu uma risadinha. — Seria divertido. Ah, já que estou tratando disso, também deveria transformar a sua amante súcubo em uma escrava? Súcubos podem até ser a coisa que mais des-

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prezo no mundo, mas de um jeito ou de outro gostei de vocês dois. Vou organizar uma arena em que vocês podem matar um ao outro e morrer o tempo todo. Mas é claro…

Barbatos agarrou o meu queixo e o levantou levemente, seus olhos dourados estavam excepcionalmente próximos.

— A história seria diferente se você jurar lealdade a mim. Sou uma Lorde Demônio generosa, Dantalian. Protejo as pessoas que en-tram em minha facção, aconteça o que acontecer, até o fim. Apesar de haver uma pequena condição não muito importante.

— Estou bem curioso para saber o que é essa condição...

— Hm. Não poder sair da facção até morrer.

Barbatos sorriu suavemente.

A insanidade que estava brilhando em seu rosto um segundo atrás estava completamente invisível agora.

Você não determina o quão psicótica a pessoa é por quão rapi-damente ela revela a sua loucura, mas sim por quão rápido consegue escondê-la.

— Entretanto, na verdade você não vai conseguir sair dela até mesmo depois da morte, já que sou a maior necromante do continente. Se eu me esforçar um pouco, então poderia até mesmo reviver o seu cadáver. É por isso que, por toda a eternidade... você se juntará à minha facção e trabalhará até que seus ossos virem pó.

— Posso te perguntar qual o objetivo deste “trabalho”?

— Mas que pergunta boba. Obviamente já foi decidido que é o extermínio da humanidade.

Uma risada amarga escapou acidentalmente graças à resposta muito típica de um Lorde Demônio.

Ainda sorrindo confortavelmente como uma santa, Barbatos fa-lou:

— O mundo dos demônios é muito infértil. Não só mal podemos praticar a agricultura, há um limite para o quanto conseguimos alimen-tar nosso povo dependendo apenas do comércio. O simples fato daque-les humanos inferiores estarem ocupando um cinturão agrícola tão abundante me enche de raiva.

— Conquistar o continente. É este o seu objetivo, Barbatos?

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— Não. Meu objetivo é dar à raça dos demônios uma vida abun-dante. Dantalian, eu posso até ser uma guerreira, mas, antes disso, sou apenas uma imperatriz. — Barbatos mordeu minha orelha direita.

Fazendo um barulho de “crunch”, a sensação da cartilagem da minha orelha sendo rompida foi transferida para mim.

Eu senti a dor, mas aguentei. O líquido escorrendo da minha orelha provavelmente era sangue.

— Aquela vadia da Paimon está declarando coexistência com os humanos, mas, sério, isso é impossível. Olha só. Diferentemente de nós, os humanos são todos parecidos. Apesar disso, eles se separaram em nações ou seja lá como chamam, e são hostis uns contra os outros. Nós demônios, que somos diferentes em aparência, linguagem e costumes, como conseguiríamos nos relacionar com os humanos? Isso é uma bes-teira monumental.

Fiquei em silêncio.

— Mas nós demônios somos diferentes. Os demônios podem se unir como um só povo abaixo dos Lorde Demônios. É possível inúmeras raças trabalharem juntas em um único grupo.

— E, portanto. É por isso que nós somos os representantes sa-grados e invioláveis que simbolizam a dignidade absoluta, somos parte da ordem de setenta e dois membros que reinam sobre todos os demô-nios…

— Exatamente. Muito bem, nosso Dantalianzinho.

Enquanto dava um grande sorriso, Barbatos puxou a minha ore-lha.

Teimosamente, ela puxou a parte que a carne estava rasgada e a cartilagem estava rompida.

— Como os humanos não aceitam a divindade dos Lordes De-mônios não há outra escolha além de os erradicar da face do planeta. É por isso que aqueles caras são como bactérias no nosso mundo. Para a utopia em que todos são unidos vivendo em paz, nós precisamos ani-quilá-los.

— Essa é uma lógica bem extrema.

— A lógica é sempre extrema. A grande massa ignorante tem medo desta extremidade e vive em um duvidoso, mas agradável, auto

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conforto. Para eles, a verdade é como um vento congelante, então se forem atingidos diretamente por ela, vão congelar e morrer. Portanto, se recobrem com camadas de trapos decrépitos de hipocrisia e falsida-de, sempre pensando que estes trapos são roupas. Sem saber que, na verdade, isso é a sua própria pele.

— Esta é uma filosofia impressionante.

— Eu ficaria feliz se você se referisse a ela como sendo uma filo-sofia incrivelmente precisa.

Barbatos parou de agredir a minha orelha.

Seus dedos estavam cobertos de sangue carmesim. Ela os levou até os lábios. A sua saliva e o meu sangue estavam misturados no seu dedo.

— Hm. O seu sangue é consideravelmente doce. Vejo que seus hábitos alimentares são saudáveis.

— Pessoalmente, acho que, quando possível, não comer é o hábi-to alimentar correto.

— Esta é uma boa maneira de se pensar. E também está correta. E é muito melhor do que aqueles porcos que enfiam seus narizes em qualquer coisa que veem pela frente. Você era um pouco parecido com um porco, Dantalian. Vou usar esta chance para te dizer isto...

Barbatos sussurrou:

— Não mexa imprudentemente com os Lordes Demônios acima do Rank dez.

Fiquei mudo.

— Você parece bem confiante por ter conseguido esmagar aque-la vaca da Paimon, mas tome cuidado. Apesar da aparência dela, ela não é uma porca qualquer. Como se não bastasse já parecer uma puta, ainda sai abrindo as pernas por todos os cantos, sheesh. Se você fizer qualquer movimento em falso contra ela, então seus amantes espalha-dos por todos os lados… seria problemático. Incrivelmente irritante.

Barbatos estalou a língua.

— Você teve sorte, só isso. Eles deixaram passar daquela vez, já que estava tão claro que Paimon estava errada durante a Noite de Walpurgis. Não sei o que pode acontecer se um monte de tiozões assus-tadores se aproximarem de você, você sabe?

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Segui em silêncio.

— Eu vou te convidar pela última vez: Venha para a minha fac-ção, Dantalian. Com os seus recursos, você pode contribuir para a pros-peridade de todos os demônios no continente. Mesmo que a sua perso-nalidade seja total e completamente podre, não significa que não pode trabalhar em prol de uma causa justa. Não se preocupe. Vou até mesmo ignorar aquela sua amante súcubo, mas você vai ter que anular o seu noivado. Posso até mesmo ser leniente se você decidir mantê-la como sua concubina em segredo…

— Te presentearei com uma guerra.

Barbatos calou-se. Ela franziu o cenho.

— O quê?

— Você muito provavelmente está querendo uma guerra, Barba-tos. Para destruir a humanidade, uma guerra monumental é necessária. No presente, a Peste Negra está correndo solta e as forças militares dos humanos estão diminuindo constantemente. Você deve ter concluído que se quiser realizar a unificação do continente, então agora seria a oportunidade de ouro.

— Hmm...

Como se eu tivesse conquistado seu interesse, Barbatos mostrou um sorriso levado, igual com o de uma gata.

— E se a sua adivinhação for verdade. E daí?

— Não faço adivinhações, apenas vejo a verdade dos fatos. — Es-sa era a diferença entre um teórico e um político. — A guerra que você deseja, eu a trarei para nós.

— Kakaka. O que esse novato de Rank 71 está dizendo? — riu Barbatos, seu tom zombeteiro mais evidente que nunca. — Você sabe o tamanho da guerra que eu desejo? Uma guerra de extermínio. Uma guerra para exterminar uma raça inteira. Uma guerra gigantesca em que todos os Lordes Demônios participem, junto com todas as nações do mundo dos humanos. Não é algo que um peixinho pequeno como você pode me oferecer.

— Sim — sorri —, a guerra que te darei é exatamente assim.

— Haa? Como é que alguém como você poderia começar uma guerra gigantesca…

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— Espalhando o rumor de que os Lordes Demônios dissemina-ram a Peste Negra.

Silêncio.

A quietude preencheu a sala de visitas.

Barbatos falou com a voz cheia de dúvida:

— Do que é que você está falando?

— Se você pensar bem, é simples. No momento, a Peste Negra está varrendo todo o continente. As regiões que conseguiram suprimir a contaminação inicial com sucesso são poucas e preciosas, já que os hu-manos são menos informados que nós demônios sobre pragas.

Uma pequena porção de cidades teve a sorte de prevenir que a praga se espalhasse.

Foi graças ao fato de que eu descobri a Erva Negra muitos anos mais cedo do que ela deveria ter sido descoberta. Alguns senhores utili-zaram tanto os recursos dos seus territórios quanto a fortuna de suas famílias para comprar a cura em massa, e a utilizaram para proteger a sua população.

Entretanto, a quantidade de senhores que fizeram isso foi pe-quena.

A maioria utilizou a cara Erva Negra apenas para proteger eles mesmos e suas famílias. Houve até mesmo pessoas que compraram a erva de mim e distribuíram a um preço exorbitante. Em suma, assim como em «Dungeon Attack», a Peste Negra estava causando o fim de incontáveis vidas.

Os humanos.

Os camponeses, principalmente, estavam vivendo um verdadei-ro inferno.

— A sociedade humana está caindo aos pedaços lentamente. Os senhores e os templos não conseguem lidar com esta situação apropria-damente. A insatisfação para com as famílias reais está em seu ápice histórico. Nesta situação, se o rumor de que “os Lordes Demônios cria-ram a praga” se espalhasse, como acha que os monarcas do mundo dos humanos utilizariam isso?

Barbatos arregalou os olhos.

De fato, ela era uma mulher inteligente.

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Ela entendeu rapidamente a informação que eu estava querendo passar.

— Eles vão disseminar este rumor. Aqueles que estão errados não são os senhores, as nações, ou as famílias reais. Vão pregar zelosa-mente para as pessoas que a verdadeira origem do mal são os Lordes Demônios que deram início a essa epidemia tão maligna.

— Não me diga que…!

— Nós vamos utilizar isso inversamente.

Obtendo a mercadora Lapis Lazuli, eu consegui riquezas.

Obtendo a general Laura De Farnese, eu consegui força militar.

A única coisa que eu precisava agora era uma causa grande e justa, uma justificativa.

Um nome.

Meu nome.

— Os senhores do mundo dos humanos vão espalhar o rumor para apagar a chama momentaneamente, mas vão fazer isso sem saber quão terrível será a força que a Peste Negra vai demonstrar. Com o pas-sar do tempo, os humanos amaldiçoarão nós Lordes Demônios. Eles nos desprezarão. Obviamente as vozes demandando que as forças mili-tares partam para suprimir os Lordes Demônios vão ficar bem mais altas. E, sem dúvidas, chegará a um ponto em que os senhores do mun-do dos humanos não vão mais conseguir controlar as opiniões públicas exaltadas. Toda a raça humana clamará pela guerra e por vingança, e os senhores não terão outra opção além de concordar com eles.

O nome dos Lordes Demônios.

— Assoprem as trombetas de Pruteni. Soem os silvos de Livônia. Rufem os tambores de Yotvingia e façam todo o continente tremer. Fa-çam a canção da Selônia, Ratigola e da Semigola reinar como o símbolo do medo. Uma guerra devastadora, Barbatos. Se nós não pode-mos invadir, então só precisamos fazer com que invadam.

Espalharei o nome de Dantalian pelo continente.

Eu assisti alegremente a expressão da Barbatos endurecer de pouco em pouco.

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Sorria mais energeticamente, essa não é a parte divertida? Eu gosto bastante quando sorrio. Certamente é melhor quando as pessoas vivem sorrindo quando querem sorrir.

Eu me tornar o seu vassalo é um evento que jamais acontecerá, mas me tornarei algo no nível de ser seu parceiro de negócios com toda a alegria. Nosso objetivo imediato era igual. Me esforçarei para se tor-nar um ótimo parceiro de negócios para você.

Afaguei a bochecha da Barbatos e declarei:

— Mostre para os humanos o que é o verdadeiro Inferno.

O outono estava acabando.

As folhas que precisam cair irão ao chão.

E a neve que precisa descer cairá.

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Então agora...

Vamos começar a estação de Dantalian.

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Lorde Demônio da Imortalidade, 8° Rank, Barbatos Calendário Imperial: 21/09/1505. Niflheim, Palácio do Governador.

Bom. Muito bom. Mas você ainda está longe.

Dantalian, admito que você é muito esperto.

Talvez você seja até mesmo incrivelmente esperto. Sim, se eu ti-vesse que te elogiar ainda mais, então pode ser que a sua cabeça funcio-ne melhor que a minha.

Entretanto, você não tem poder. Você não tem informações. Em suma, não tem uma “facção”. A razão para o seu erro decisivo também é essa.

Se você acha que só porque é inteligente consegue entender o mundo inteiro, então é um grande e tolo erro. Por exemplo, você está dizendo isso agora... Que eu coletei informações do território do Mar-quês de Rosenberg e as enviei para você secretamente. Mas isso é uma pena.

Você só está meio certo, e todo o resto está errado.

Porque eu sou a culpada por espalhar o rumor no terri-tório do Marquês.

Aha...

No vigésimo dia do oitavo mês. Assim que vi você conquistar a vitória sobre aquela puta da Paimon durante a noite de Walpurgis, me surgiu um pensamento: “Vou te testar para saber se você é realmente genuíno.”

Então, já no dia seguinte, ordenei que meus espiões espalhas-sem o rumor. O território do Marquês de Rosenberg está entre as áreas mais importantes, sabia? Graças a um esforço extremo, consegui uma grande rede de informações espalhada por aquela área.

Dantalian.

O problema sempre se origina no menor dos enganos.

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256 Novel Mania

Se a rede de informações de alguém é grande o suficiente para adquirir um rumor, então, inversamente, é óbvio que é possível fabricar um rumor aqui e espalhá-lo lá.

Um conceito simples que até mesmo as crianças conseguiriam entender.

Foi aproximadamente no vigésimo quarto dia do oitavo mês que os rumores começaram a se espalhar com mais força. Já que a Peste Negra era um assunto em alta, o rumor circulou bem rápido.

E se o rumor se espalhasse de uma forma que dissesse que um lugar logo abaixo de seus narizes, próximo ao seu território, tem um estoque absurdo de Ervas Negras… Hm? Estando no lugar daqueles humanos malcriados que estavam morrendo por causa de uma doença incurável, isso seria bom o suficiente para fazê-los enlouquecer, não seria?

Eu também entendo tudo.

Naturalmente, é divertido brincar com a ganância das pessoas.

Se havia algo que não estava esperando, então isso era os movi-mentos do Marquês de Rosenberg, que agiu mais rápido do que eu es-perava. Quando os clamores de rebelião mal começaram a se enraizar ele já havia decidido despachar as tropas.

No décimo dia após o rumor infundado se espalhar, aquele jo-venzinho do Rosenberg já havia notificado os soldados sobre a invasão. De fato, foi uma velocidade de reação que pareceu ser rápida como um raio.

Hm.

Como esperado da casa que tem lutado contra nós Lordes De-mônios por quase trezentos anos.

Devo dizer que eles não têm nenhuma falha?

É uma casa de nobres que busca tanto a perfeição que faz com que eu queira matá-los.

De qualquer forma, a situação progrediu rápido demais…

Apesar de que atingi meu objetivo de deixar aquela criança do Dantalian em uma situação difícil, ainda assim, o envio das tropas foi veloz demais.

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257 Novel Mania

Quando meus espiões relataram que a organização das tropas seria completada muito provavelmente em menos de seis dias, eu suspi-rei sem querer. Era essa a parte em que eu deveria elogiá-los por serem “o paraíso dos mercenários”, a região norte de Habsburgo?

A distância entre o território do Marquês de Rosenberg e o Cas-telo do Lorde Demônio Dantalian era cerca de dez dias de marcha. Se a força militar deles consistisse principalmente de infantaria e cavalaria, então no caso de se forçarem um pouco, talvez conseguiriam chegar dentro de uma semana.

O exército de Rosenberg provavelmente atacaria o Castelo de Dantalian entre o dia dezesseis ao dia dezenove do nono mês. Faltava menos de quinze dias. Parecia que eu realmente tinha fodido com o jovem Lorde Demônio.

Sim. Eu estava arrependida.

Bom, foi completamente desbalanceado usar um indivíduo competente como o Marquês de Rosenberg como cobaia para testar um novato de ranking 71.

Já que parecia que isso era um pouco exagerado... enviei um bi-lhete.

Você tem um inimigo.

Daqui 10 dias uma tropa de 2.000 homens invadirá o seu cas-telo de Lorde Demônio.

Para evitar que ele relaxasse, coloquei algumas informações exageradas de propósito.

Na verdade, provavelmente demoraria um pouco mais de dez dias, mas escrevi dez. A força militar seria no máximo entre mil e du-zentos e mil e quinhentos, mas escrevi dois mil. A intenção era dizer para que ficasse seriamente alerta.

Mas nunca cheguei a sonhar que ele tomaria a milícia de Ni-flheim assim que recebesse a notificação...

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Até mesmo eu fiquei chocada naquele momento, novato.

O fato de que existia um sistema desconhecido de cooperação entre Dantalian e a Firma Keuncuska ficou claro.

Bem, o resto está de acordo com as “adivinhações” deste cara.

No entanto...

— Uma guerra devastadora, Barbatos. Se nós não podemos in-vadir, então só precisamos fazer com que nos invadam.

Diante da proposta de Dantalian, por um instante eu não tinha o que dizer.

Não foi por uma razão específica. Pessoalmente, eu senti uma sensação de ironia.

Eu, Barbatos, que espalhei um rumor falso para enviar invasores contra você.

Sugerir para eu mais uma vez espalhasse um rumor falso, e levar os humanos a nos atacar... Isso com toda certeza prova a validade do ditado de “ninguém sabe para onde a vida vai te levar.”

— Hahah, ahahahah. Hahahaha!

Até mesmo eu cair na gargalhada era algo natural.

Ah, Dantalian. Oh pobre criança. Você está tentando montar uma armadilha contra outra presa, sendo que você mesmo está caindo em uma. Você está enfeitando esta sua idiotice como sabedoria por cau-sa da sua ingenuidade ou por causa do seu orgulho?

Ou é simplesmente algo da juventude?

Até mesmo o meu coração morto pareceu se esquentar.

— Mas que original, Dantalian. Muito original.

Eu acariciei o abdômen, o peito, o pescoço, e a bochecha de Dan-talian, uma parte de cada vez. Seus músculos que eram mais firmes do que aparentavam ser me agradaram. Ele olhou para mim, seu rosto continuava com um sorriso.

— Meio mês atrás, mais ou menos no momento em que te enviei o bilhete, eu tinha esperanças de que você fosse um sujeito um pouco interessante. Mas, pelo que parece, eu já vivi por tempo demais. Com alguém como você aqui, minhas esperanças para o futuro do mundo já estão recheadas de temor!

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259 Novel Mania

— Barbatos.

— Tudo bem. Vou cooperar com você. Guerra? Era isso que eu queria. Um rumor falso? É exatamente disso que gosto. Pelos seus maus hábitos, eu, Barbatos, irei me associar com você. O quão longe vai conseguir andar, o que te espera no fim do seu caminho... Barbatos, a Imortal, irá esperar para ver.

Apesar de que ainda é incerto se o seu fim não será eu cortando o seu pescoço, isso é algo para se preocupar só no futuro.

Vamos aproveitar o momento.

— Só de imaginar quão horrível será a guerra que você vai come-çar já é divertido, Dantalian. Você não está planejando ir embora e des-cartar esta senhorita que você deixou tão excitada, ou planeja?

— O que…?

Ativei minha névoa mágica.

A névoa negra lambeu a parte de trás da orelha de Dantalian e infiltrou-se em seu cérebro. Sacudindo o crânio desta criança, ela pas-sou por sua coluna e se enterrou na parte inferior do seu corpo. Assim que isso aconteceu, ele arregalou os olhos.

— Não me diga que essa névoa…

— Aham. Um feitiço afrodisíaco — sorri sugestivamente.

Prender um novato como você ao meu lado é algo simples.

Para começar, depois de estabelecer uma relação em que seu corpo não consegue mais me negar, e, então, lentamente, uma mordis-cada de cada vez, tudo acabará depois que eu te morder todo, um pouco de cada vez, mas sem parar. Então em certo ponto, toda a sua carne terá sido arrancada e só sobrarão seus ossos.

Meu nome é Barbatos.

A Lorde Demônio que governa todos os mortos.

Tudo que se tornar um esqueleto não tem outra opção senão se-guir meus comandos.

Assoprei meu hálito quente no ouvido de Dantalian:

— Já faz muito tempo que eu quero ser fodida por um filho da puta que nem você e gemer feito uma cadela… que tal?

E com isso estava tudo acabado.

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Oh criança esperta.

Monte no meu quadril e dance a seu bel prazer.

Até o momento em que você caia enfraquecido e, por fim, pere-ça.

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Autor de Dungeon Defense, Humano, Yoo Heonhwa. Calendário Cristão: 21/03/2016. Quarto em que o chão continua gelado.

Para um autor o posfácio é como uma vida após a morte dos ateus.

Enquanto estão tranquilos fechando os olhos pensando que a vida finalmente acabou, do nada, um anjo aparece e tira sarro de você dizendo “não acabou ainda não seu moleque”. Então o ateu tenta de-sesperadamente resistir implorando: “Mas a minha vida já está comple-ta!”, então nosso belo anjo sorri cheio de gentileza e responde: “Pro-blema seu, sua criança♪”. Então o ateu não tem o que dizer. Por isso, o livro pode ter acabado, mas agora é hora do posfácio.

Começando pelo mais importante, um muitíssimo obrigado ao ilustrador de «Dungeon Defense», Cocorip. Muito obrigado pela capa incrível e pelas ilustrações que você desenhou novamente. Sempre tem algo de admirável nas artes que o Cocorip desenha. Como a ilustração fodástica do volume 2 — Dantalian, Lapis e Laura sentados em cadeiras um ao lado do outro —, por exemplo. Nos planos iniciais da ilustração que eu elaborei, não havia imagem de fundo. E lá o Cocorip desenhou uma “referência”. Apesar de que você vai conseguir entender se olhar para a ilustração você mesmo, mas a coisa que dá vida para a ilustração com um “Bam!”, é a referência no lado esquerdo que se estende para arte direita.

No filme «Amadeus», Salieri aponta para a partitura ainda não terminada e pergunta para Mozart: “É só isso?”. Neste momento, Mo-zart respondeu: “Não, a verdadeira chama ainda continua.”, e acrescen-tou outra melodia. E então esta partitura acabou se tornando algo ina-pagável da história. Não importa que tipo de obra seja, é necessário um elemento que dá vida a ela, e sem ele você não consegue sentir qualquer vigor ou atmosfera na obra. Eu gostaria de agradecer mais uma vez ao Cocorip, que sempre consegue encontrar “uma melodia” através de um método lindo.

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Eu gostaria de agradecer a pessoa que está sempre aguardando pacientemente o manuscrito deste autor, minha mãe… Mentira, não é ela, é o meu editor. O manuscrito estava especialmente atrasado. Quan-to mais eu demoro, mais dificuldades o meu editor enfrenta, então só posso pedir desculpas. O próximo manuscrito… Para te dar o próximo manuscrito um pouquinho mais rápido… Darei o meu máximo…!

E a última pessoa que desejo dar meus agradecimentos, é aos meus leitores, é claro.

Apesar de ser um belo anjo que traz o veredito sobre a vida, o veredito do volume 2 de «Dungeon Defense» está completamente na mão de vocês leitores. Isso serve para estabelecer a metáfora de que vocês leitores são exatamente como anjos para mim. É isso mesmo. Na verdade, este posfácio, de seu início ao fim é completamente uma figura de linguagem. Não só o volume em si, mas o posfácio também é uma história dentro de outra. Mas como isso é profundo! Mas como isso é barroco! Enquanto derramo lágrimas, posso apenas suplicar ao anjo que ele pelo menos me livre e poupe de um inferno ardente…

Espero que todos tenham gostado do 2º volume.

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