Click here to load reader
View
228
Download
1
Embed Size (px)
DESCRIPTION
É no corpo que o santo baixa
Citation preview
Identidade! licenciada
sob uma Licena Creative Commons.
Identidade! | So Leopoldo | v.18 n. 1 | p. 122-132 | jan.-jun. 2013 | ISSN 2178-0437X
Disponvel em:
no corpo que o santo baixa! Consideraes
sobre o corpo
nos transes religiosos
afro-brasileiros
It is the body that is
possessed by the spirit! Commentaries about the
body in afro-brazilian
religious trances
Erica Ferreira da Cunha Jorge
Mestra em Cincias Humanas e Sociais pela Universidade Federal do ABC.
Professora da Faculdade de Teologia Umbandista
Professora-pesquisadora da Universidade Aberta do Brasil atuante na Universidade Federal do ABC
Resumo:
Este artigo tem por objetivo apresentar algumas reflexes terico-metodolgicas sobre a
forma com que o corpo concebido, sentido e interpretado no momento dos transes
religiosos afro-brasileiros. O trabalho traz uma contribuio emprica na Casa de
Fundamentos Ordem Inicitica do Cruzeiro Divino, sediada na cidade de So Paulo e
existente h mais de 40 anos. O templo um dos importantes referenciais de Umbanda e
rene inmeras lideranas religiosas afro-brasileiras em seus rituais. A anlise terica
embasada nos estudos antropolgicos, cuja abordagem iniciada com textos clssicos de
Marcel Mauss, e percorre a discusso contempornea sobre a temtica. A contribuio do
artigo revela que o corpo possui um valor simblico-semitico estruturante para a
religiosidade afro-brasileira e instaura formas especficas de relacionamento com os
conceitos de sade e doena.
Palavras-chave: Corpo. Transe. Sade. Doena. Umbanda.
Abstract:
The aim of this article is to present some theoretical and methodological reflections about
the way the body has been conceived, felt and explained in the moment of African-
Brazilian religious trances. The paper brings an empiric contribution in Casa de
Fundamentos Ordem Inicitica do Cruzeiro Divino, which is in the city of So Paulo and it
exists since 1960. This temple is one of the important points of Umbanda and it assembles
many African-Brazilian religious leadership in its rituals. The theoretical analysis is based
on anthropological studies, which the start is focused in classical texts from Marcel Mauss
and the paper goes through the contemporary discusses of the theme. The contribution of
this paper reveals that body has a symbolic-semiologist value which is structuring for the
African-Brazilian religiosity and it establishes specific forms from relationship with the
concepts of healthy and disease.
Keywords: Body. Trance. Healthy. Disease. Umbanda.
JORGE, E. F. C. no corpo que o santo baixa! 123
Identidade! | So Leopoldo | v.18 n. 1 | p. 122-132 | jan.-jun. 2013 | ISSN 2178-0437X
Disponvel em:
Introduo
Assim, h tudo a observar, e no apenas a comparar.
Marcel Mauss.
A frase acima foi retirada do ensaio As tcnicas do corpo, de Marcel Mauss, hoje agrupado
com outros to importantes escritos em Sociologia e Antropologia1. Considero a frase fundamental
para discutir o trabalho em questo que foi pensado primeiramente para entender como os
praticantes afro-brasileiros lidam com o corpo no momento do transe religioso. Atualmente a
antropologia apresenta variados mtodos que permitem a melhor compreenso do meio estudado,
sem que haja escalonamento e gradaes entre as possibilidades do estudo das culturas. Entretanto,
no fazer antropolgico2 que nos deparamos com as dificuldades em olhar o outro com iseno de
valores ou, ao menos, sem construir um modelo comparativo entre vrias prticas religiosas. por
isso que destaquei a frase acima, uma vez que assumo neste trabalho a postura de observar e relatar
(sem comparar) o que acontece em uma dentre as vrias escolas afro-brasileiras3, cada qual com sua
maneira peculiar de entender, valorar e praticar sua cosmoviso. O trabalho procura, portanto,
compreender a maneira de lidar com o corpo em um dos momentos, se no o principal, do ritual
religioso afro-brasileiro: o transe. Para isso, elegi como estudo a comunidade religiosa Ordem
Inicitica do Cruzeiro Divino4 fundada e localizada em So Paulo h 42 anos pelo sacerdote (e
tambm mdico), F. Rivas Neto.
O templo, hoje, pratica Umbanda Omoloco5, uma escola afro-brasileira que mescla
elementos da Umbanda e do Culto de Nao Africano. Minha pesquisa de campo foi realizada pelo
mtodo etnogrfico, que pressups observao participante e entrevistas abertas, e foi realizada nos
rituais de caboclo e exu que ocorrem quinzenalmente no terreiro. Na prxima sesso, destaco a
discusso terica acerca dos conceitos de magia e religio, pois as religies afro-brasileiras foram,
por muito tempo, enquadradas pejorativamente como mgicas. At hoje, alguns pesquisadores
tendem a no enquadr-las como religies se comparadas ao catolicismo e ao protestantismo. Outra
opo pelo destaque na dicotomia magia e religio deve-se ao fato de que o transe, assunto
discutido no artigo, se configura como um momento especfico dentro dos rituais afro-brasileiros
em que elementos mgicos e religiosos so postos em contato.
Universo afro-brasileiro: magia e religio
Algumas temticas do universo afro-brasileiro foram longamente estudadas como, por
exemplo, o transe, a iniciao, a mitologia dos Orixs, as festas de santo e ervas rituais. J a relao
1 MAUSS, Marcel. Sociologia e Antropologia. So Paulo: Cosac&Naify, 2003.
2 DAMATTA, Roberto. Relativizando. Uma introduo Antropologia Social. Petrpolis: Vozes, 1981.
3 RIVAS NETO, Francisco. Escolas Afro-brasileiras. Tradio Oral e Diversidade. So Paulo: Arch Editora, 2012.
4 Este templo foi um dos universos empricos analisados em minha dissertao de mestrado.
124 JORGE, E. F. C. no corpo que o santo baixa!
Identidade! | So Leopoldo | v.18 n. 1 | p. 122-132 | jan.-jun. 2013 | ISSN 2178-0437X
Disponvel em:
entre aspectos mgicos e religiosos, fundante nesse universo, foi principalmente pontuada por
Montero, e depois retomada por Lsias Negro, Antnio Flvio Pierucci e Arthur Cesar Isaia.6
Marcel Mauss ofereceu muito substrato para o estudo da relao entre magia e religio que
foi abordada pelos pesquisadores acima, desde a publicao de Esboo de uma teoria geral sobre a
magia (1903). Seu escrito , de certa forma, amparado pela teoria positivista comteana, a sociologia
da religio de Weber e Durkheim, estudos sobre a mente primitiva com Lvy Bruhl e a antropologia
inglesa de Evans-Pritchard, apenas para citar algumas referncias. Ainda que tenha procurado
superar algumas antinomias, Marcel Mauss se preocupou em delimitar o campo religioso e mgico,
embora em muitos casos tenha dificuldade ou demonstra a impossibilidade de faz-lo apontando a
complexidade desta relao. De qualquer forma, explicita as categorias da magia com base em seus
agentes, atos (rituais) e suas representaes (ideias e crenas):
A magia compreende agentes, atos e representaes: chamamos mgico o indivduo que
efetua atos mgicos, mesmo quando no um profissional; chamamos representaes
mgicas as ideias e crenas que correspondem aos atos mgicos; quanto aos atos, em
relao aos quais definimos os outros elementos da magia, chamamo-los ritos mgicos7.
Em verdade, o primeiro que problematizou a relao entre magia e religio foi Sir James
Frazer e o fez segundo o esprito cientfico de sua poca, valorizando a primazia da razo sobre
qualquer outra forma de compreenso e de significado da realidade humana. Assim, para Frazer, a
magia era um sistema esprio de leis naturais assim como um guia errneo de conduta, uma
cincia falsa e uma arte abortiva8. A mentalidade cientfica frazeriana escalonava magia, religio e
cincia, ficando claro que a primeira era a mais grotesca e relativa a um pensamento arcaico, mal
elaborado9. J a religio era uma etapa mais evoluda, apresentando processos de sistematizao,
hierarquia e instituies organizacionais bem definidas. Entretanto, era com o p fincado na cincia
que o homem chegaria, para Frazer, a interpretaes e explicaes verdadeiras e bem fundadas
sobre a realidade. A cincia apresentava-se como um discurso legtimo e superior.
O defeito da magia estava em sua concepo errnea da natureza e de suas leis
particulares. Frazer sistematizou dois princpios: a magia imitativa e a magia contaminante. A
primeira baseia-se na lei que o semelhante produz o semelhante, o segundo que as coisas que uma
vez estiveram em contato continuam a atuar a distncia. Daremos exemplos retirados das prprias
religies afro-brasileiras, foco deste trabalho. As oferendas magsticas visam propiciar bons
auspcios. Quando um sacerdote oferta, por exemplo, um akass10
, ele intenta preservar sua
integridade espiritual e fsica assim como dos seus. Um assentamento de Ogum, por exemplo, se
6 MONTERO, Paula. Magia e Pensamento Mgico. So Paulo: tica, 1986.; PIERUCCI, Antnio Flavio. A magia.
So Paulo: Publifolha, 2001.; NEGRO, Lsias. Magia e religio na Umbanda. Revista USP, So Paulo, n. 31, p.
76-89, 1996.; ISAIA, Artur Cesar. Umbanda, magia e religio: a busca pela conciliao na primeira metade do
sculo XX. Revista Horizonte, Belo Horizonte, v.9, n.23, p. 729-745, 2011. 7 MAUSS, 2003, p. 55.
8 FRAZER, James. La rama dorada. Magia y religin. Mxico, D.F.: Fondo de Cultura Econmica, 1996. p. 34.
9 Mary Douglas faz uma crtica forma com que Tylor e Frazer viam a cultura primitiva, qual destacava as questes
da mentalidade primitiva. Segundo a autora tal abordagem essencialmente antropocntrica e no revela a verdade
de tais culturas. Cf. DOUGLAS, Mary. Pureza e perigo. So Paulo: Perspectiva, 2010. p. 102. 10
Uma das comidas votivas ofertadas nos preceitos e rituais afro-brasileiros.
JORGE, E. F. C. no corpo que o santo baixa! 125
Identidade! | So Leopoldo | v.18 n. 1 | p. 122-132 | jan.-jun. 2013 | ISSN 2178-0437X
Disponvel em:
constitui por trazer a fora guerreira e ativa deste Orix para aqueles que o esto cultuando. o
semelhante produzindo o semelhante. J a magia contaminante ou por contiguidade pode ser
exemplificada quando um sacerdote oferta a um adepto um objeto particular, um colar, anel,
talism, a fim de que, aquele material mesmo a distncia, possa veicular suas vibraes. O adepto
no viveria com o sacerdote, mas com suas vibraes j que estas esto retidas no objeto.
Frazer11
define religio como a conciliao dos poderes transcendentes ao universo
humano. Assim, a religio teria dois aspectos fundamentais, um terico e um prtico: a crena nos
poderes superiores ao homem e a necessidade prtica de manifestao dos mesmos pelos rituais,
fossem estes sacrificiais ou de recitao de oraes. Frazer afirmava que a religio diferia da magia
e da cincia, pois estas estavam pautadas em leis rgidas, processos invariveis, que no poderiam
ser alterados por uma splica, ameaa ou intimidao, enquanto a religio pretendia alterar o curso
das coisas suplicando s divindades. De todo modo, mais uma diferena aparece aqui. Enquanto a
magia preocupa-se em coagir, a religio procura suplicar. Na magia, a fora est nos magos,
indivduos com notveis poderes para atuar nos elementos da natureza visando um fim prtico. Na
religio, a centralidade est nas divindades, com poderes sobrenaturais e que regem toda a
coletividade. O sacerdote apenas o intermedirio entre os mundos. O mago faz. O sacerdote pede.
Aps Frazer, possvel posicionarmos mile Durkheim no que tange ao estudo da relao
magia e religio12
. O socilogo aponta que a magia tambm possui seus ritos e crenas como a
religio, porm mais rudimentares, pois que visa fins tcnicos e utilitrios. Segundo o autor, o
mgico tem uma clientela, no uma igreja, e seus clientes podem perfeitamente no manter entre si
nenhum relacionamento13
. Uma grande marca da magia seria ento, para Durkheim, o
clientelismo. J a religio, ele define como um sistema solidrio de crenas e de prticas relativas a
coisas sagradas, isto , separadas, proibidas, crenas e prticas que renem numa mesma
comunidade moral, chamada igreja, todos aqueles que a eles aderem14
. A religio estaria vinculada
suposio bipartida do mundo; alis, Durkheim coloca esta como uma das caractersticas do
fenmeno religioso, sendo o sacerdote o responsvel por intermediar o mundo sagrado com o
profano. J o mago atuaria com a manipulao de elementos e foras da natureza visando fins
prticos, objetivos, materiais.
A razo em evocar esta tradio antropolgica e sociolgica para a presente anlise reside
no fato de que estou tratando do universo afro-brasileiro, o qual se constitui justamente pelo
imbricamento entre as relaes mgicas e religiosas. Em minha pesquisa de campo, ao observar os
rituais, ficou claro que h tanto atos mgicos quanto religiosos. A liderana exerce tambm papel de
mago e de sacerdote, ora pratica com suas foras prprias uma movimentao magstica ora invoca
e evoca seres sobrenaturais, Orixs, caboclos, pretos-velhos, encantados, exus entre outros.
importante pontuar que este trabalho faz parte de um contexto maior, de um projeto de mapeamento
11
FRAZER, 1996, p. 57. 12
PINEZI, Ana Keila; JORGE, rica Ferreira da Cunha. Revisitando dicotomias clssicas em As formas elementares
da vida religiosa: sagrado x profano, magia x religio. Estudos de Religio, v. 26, n. 42, p. 83-98 , 2012. (Edio
Especial) 13
DURKHEIM, mile. As formas elementares da vida religiosa. So Paulo: Martins Fontes, 1996. p.29. 14
DURKHEIM, 1996, p.32.
126 JORGE, E. F. C. no corpo que o santo baixa!
Identidade! | So Leopoldo | v.18 n. 1 | p. 122-132 | jan.-jun. 2013 | ISSN 2178-0437X
Disponvel em:
mais amplo da realidade afro-brasileira na capital paulista e de como esta entende a relao do
corpo com o transe. De qualquer forma, os resultados obtidos at o momento sugerem pistas
importantes para a compreenso do que ocorre neste campo.
O transe e o corpo no universo afro-brasileiro: a pesquisa na Casa de Fundamentos Ordem
Inicitica do Cruzeiro Divino
O transe um elemento fundante para as cosmovises afro-brasileiras. Se, por um lado,
um ato religioso por excelncia, por outro no deixa de ser um ato mgico, como nos sugere Arturo
Castiglioni ao enumerar as qualidades de um mago:
A qualidade essencial e principal do mago, em todas as suas funes e em todas as suas
prticas, , sem dvida, a de saber provocar em si mesmo e nos demais, esse estado de
nimo especial que necessrio para a magia. [...] O estado de encantamento se pode
provocar por uma srie de meios, muitos dos quais conhecemos e que todavia so usados
para produzir estados anlogos, sonhos, hipnose, sonambulismo ou alucinao ou nos
estados mais simples de reduo crtica ou de diminuio da conscincia.15
O transe , portanto, uma prtica ritual complexa. Atrai seres sobrenaturais, mas
fundamental que a pessoa tenha qualidades suficientes para possibilitar o estado alterado de
conscincia. Alis, nem todos os seres humanos so veculos de espritos16
e, portanto, h uma
vasta lista de competncias que so necessrias para a manifestao de uma divindade no corpo de
um ser humano. O transe pode ser facilitado pelos sacerdotes e magos, por seus cnticos,
encantamentos ou mesmo por bebidas rituais, como o caso da bebida jurema, lcool e tabaco17
.
Nos rituais que participei, as bebidas no foram utilizadas para propiciar o transe, ainda que as
entidades as utilizem para outros fins.
Os transes que assisti foram medinicos e no de possesso dos Orixs. Presenciei
incorporaes de caboclos e exus. O templo-raiz, conforme chamado, possui atualmente 256
filhos de santo, sendo que destes, 137 incorporam, mas deste nmero apenas 39 incorporam com a
finalidade de atender mediunicamente a assistncia que frequenta o terreiro. Isto porque apenas
esses 39 mdiuns esto preparados para o trabalho. Os demais esto em desenvolvimento. H
outros templos vinculados ao templo raiz da Ordem Inicitica do Cruzeiro Divino que so
denominados agrupamentos. Em trabalhos futuros, poderei enfatizar o detalhamento numrico
destes.
A modalidade que presenciei na pesquisa de campo concebida como mecnica de
incorporao semiconsciente ou irradiao intuitiva. Nela, a entidade que baixa no corpo do
mdium atua em trs partes da constituio etreo-fsica: a funo psquica, a funo sensorial e a
15
CASTIGLIONI, Arturo. Encatamiento y magia. Mxico, D.F.: Fondo de Cultura Econmica, 1987. p. 69. 16
RIVAS NETO, Francisco. Umbanda. O elo perdido. So Paulo: cone Editora, 1994. p. 109. 17
Para maiores detalhes sobre a induo do transe por ervas e bebidas ver ASSUNO, Luiz. O reino dos mestres. A
tradio da jurema na umbanda nordestina. Rio de Janeiro: Pallas, 2010. ; CASCUDO, Luiz da Cmara. Dicionrio
do folclore brasileiro. 2 vols. Rio de Janeiro: IMEP-MEC, 1962.; FERRETTI, Mundicarmo Maria Rocha. De
segunda a domingo, etnografia de um mercado coberto. Mina, uma religio de origem africana. So Lus: SIOGE,
1985.
JORGE, E. F. C. no corpo que o santo baixa! 127
Identidade! | So Leopoldo | v.18 n. 1 | p. 122-132 | jan.-jun. 2013 | ISSN 2178-0437X
Disponvel em:
funo motora. O sacerdote do templo pesquisado recebe uma entidade ligada ao Orix Oxal
denominada Caboclo Urubato da Guia, que em alguns terreiros vinculado linha18
do Orix
Oxossi. Encontrei uma descrio da incorporao desta entidade:
A ligao fludica magntica dessa entidade com o mdium comea pelo alto da cabea, em
sua regio posterior, fazendo descer uma sensao de friagem pelo pescoo at os ombros.
Esta se propaga muito rpido pelo trax, acelerando suavemente a respirao e a frequncia
cardaca [...] e do trax desce ao abdome, na regio do plexo solar, onde se liga em todo
sistema visceral do mdium, dando uma leve rotao harmnica de todo o corpo,
levantando-lhe ligeiramente a cabea, controlando o psiquismo, o sensorial e a motricidade
do aparelho medinico19
.
Ao ler esta descrio imediatamente me reportei a Marcel Mauss que analisou as tcnicas
do corpo em diversas sociedades. Alis, seu ensaio foi o ponto de partida para a presente anlise.
Afinal, seria possvel que at as tcnicas de transe fossem ensinadas culturalmente, fossem
aprendidas? Uma vez que elas partem da relao do humano com o sobrenatural, com uma
realidade diferente da scio-cultural, como poderamos entender as tcnicas do corpo no momento
do transe afro-brasileiro? Na realidade, o prprio Mauss sugere que h tcnicas do corpo que
influenciam os aspectos msticos. Esse estudo sociopsicobiolgico da mstica deve ser feito. Penso
que h necessariamente meios biolgicos de entrar em comunicao com o Deus20
.
Este trabalho no teve a pretenso de fazer o levantamento das possibilidades biolgico-
corporais para facilitar o transe. Antes disso, intentei questionar se isto era vivel pela lente de
quem pratica as religies afro-brasileiras. Elegi o mtodo etnogrfico, com observao participante
e pesquisas abertas, justamente para que as representaes contidas nas falas dos entrevistados
fossem consideradas sob uma perspectiva mica2122
, ressaltando o segmento social ao qual o sujeito
pertence. A ideia foi, portanto, no falar de e pelos adeptos da religio, mas falar com eles. Neste
caminho, encontrei brilhante ajuda da me de santo da casa pesquisada. Perguntei a ela como os
adeptos aprendiam as danas e a lidar com o corpo:
As danas so adquiridas pelo processo vivencial, por meio dos ritos. No existe uma
sistematizao do ensino dessas danas. necessrio participar da comunidade para que
voc assimile essa linguagem simblica (Me Maria Elise de Xang)
Nesta resposta, a prtica do ensino das danas est em conformidade com que afirmou
Mauss sobre a natureza social do habitus. Os hbitos so adquiridos segundo a sociedade e a
educao cultural. Neste caso, as danas afro-brasileiras at podem ser ensinadas pelos pais e mes
de santo, mas so melhor apreendidas pelo processo vivencial, pelos anos de transmisso da
tradio pela oralidade. Ao abordar a questo da mimese na infncia quando a criana imita os atos
18
Enquanto no candombl fala-se em famlias de orixs, a umbanda utiliza muito a teoria das linhas para classificar as
entidades. 19
RIVAS NETO, 1994, p. 192. 20
MAUSS, 2003, p. 422. 21
HARRIS, M. The rise of anthropological theory. London: Routledge and Kegan Paul, 1968 22
GEERTZ, Clifford. From the natives point of view: on the nature of anthropological understanding. In: ______.
Local knowledge. New York: Basic Books, 1983.
128 JORGE, E. F. C. no corpo que o santo baixa!
Identidade! | So Leopoldo | v.18 n. 1 | p. 122-132 | jan.-jun. 2013 | ISSN 2178-0437X
Disponvel em:
bem sucedidos dos adultos nos quais confia e que possuem autoridade sobre ela, Mauss afirma que
o indivduo assimila a srie dos movimentos de que composto o ato executado diante dele ou
com ele pelos outros23
. Isto exatamente o que encontramos nos rituais afro-brasileiros e bem
informado pela me de santo da casa. Os atos no so reproduzidos mecanicamente, mas so
observados, apropriados e vivenciados. A funo das danas e gestuais executados pelos corpos dos
mdiuns tem um papel fundamental dentro da estrutura ritualstica:
as danas para as divindades servem para vener-las e atrai-las e se sabe que para cada
divindade h uma forma especfica e cintica de dana que todos os danarinos seguem. Os
movimentos dessas danas simbolizam o carter ou o mbito de competncia das
divindades para as quais se dana. So danas que atraem e chamam as divindades e
possibilitam o contato com elas. [...] A dana serve com instrumento para evocar a presena
das divindades, enquanto que a invocao dos orixs e a sua presena constituem um ato
religioso e uma realidade espiritual, no momento mesmo em que funciona tambm como
um grande entretenimento e espetculo24
.
No que se refere relao transe-espetculo ou festa/entretenimento, o antroplogo Luc de
Heusch separa categoricamente duas fases distintas da possesso: a possesso inautntica e a
autntica. Ele v a primeira como uma doena no desejada, uma funesta intruso do esprito, que
s pode ser tratada pela expulso ou exorcismo da entidade invasora. A segunda, em contraste, o
prprio recheio da experincia religiosa: uma alegre epifania dionisaca. Segundo ele, este estado de
exaltao um teatro sagrado25
. No entanto, o que pude observar nos rituais foram transes
medinicos no relacionados patologias, ao contrrio, eles eram ativados em benefcio de outras
pessoas, os consulentes26
.
Retomando a questo, durante a entrevista tambm questionei como o corpo era visto nas
religies afro-brasileiras e como a me de santo sentia seu prprio corpo no momento do transe:
O corpo nas religies afro-brasileiras no tem a concepo de ser algo negativo. O corpo
uma expresso da espiritualidade, capaz de ser um veculo dessa espiritualidade. Por isso
que dentro das religies afro-brasileiras h msica, canto, dana, transe, possesso. So
vistos como expresso da espiritualidade. a conexo entre o corpo do homem e o mundo
dos Orixs. como se fossem duas realidades que se encontram no transe, momento
dedicado especialmente para esta interao, j que nossa conscincia mundana, cotidiana,
no permite esses encontros casualmente. Mas eles so sempre presentes.
Logo que a me de santo me deu essa resposta, percebi a diferena entre a cosmoviso
afro-brasileira e a de outros segmentos. O corpo sacralizado, ele permite o encontro do mundano
com o sagrado, ele possibilita o encontro entre as duas realidades e, por isso, est imediatamente
23
MAUSS, 2003, p. 404. 24
TERRIN, Aldo Natale. O rito. Antropologia e fenomenologia da ritualidade. So Paulo: Paulus, 2004. p. 350-351. 25
HEUSCH, Luc de. Cultes de possession et religions initiatiques de salut em Afrique. In: Annales du Centre
dstudes des Religions. Bruxelas, 1992. 26
Na umbanda utiliza-se muito a palavra consulente, aqueles que vo aos rituais sem pagar nada pelas consultas. Em
outros segmentos afro-brasileiros e na literatura acadmica, a palavra cliente mais comum. Esta denominao
cliente e o consequente processo de clientelismo est em conformidade com a forma que Durkheim interpretava o
que era magia.
JORGE, E. F. C. no corpo que o santo baixa! 129
Identidade! | So Leopoldo | v.18 n. 1 | p. 122-132 | jan.-jun. 2013 | ISSN 2178-0437X
Disponvel em:
relacionado aos conceitos de sade e doena. Segundo Barros,27
para se entender o que sade para
os adeptos afro-brasileiros necessrio entender o significado do ax:
Ax fora vital, energia, princpio de vida, fora sagradas dos orixs. Ax o nome que se
d s partes dos animais que contm essas foras da natureza viva, que tambm esto nas
folhas, sementes e nos frutos sagrados. Ax bno, cumprimento, votos de boa-sorte e
sinnimo de amm. Ax poder. Ax o conjunto material de objetos que representam os
deuses quando estes so assentados, fixados nos seus altares particulares para serem
cultuados. So as pedras (os ots) e os ferros dos orixs, sua representaes materiais. Ax
carisma; sabedoria nas coisas-do-santo, senioridade. Ax se tem, se usa, se gasta, se
repe, se acumula. Ax origem, a raiz que vem dos antepassados28
.
Ento ela foi questionada se sentia seu corpo no momento do transe e se seria possvel
ensinar algum tecnicamente a entrar em transe.
Voc tem durante o transe uma reduo do seu estado de conscincia pleno, ento voc no
tem um controle absoluto do seu corpo. importante frisar que h diferena entre a
incorporao e o transe em si, so coisas distintas. Mas impossvel ensinar algum filho de
santo a entrar em transe, a ter uma incorporao porque o transe possibilita o encontro de
dois planos de existncia e a liberao do inconsciente individual e coletivo, o que torna
impossvel voc ter controle, cada pessoa tem uma expresso particular e cada Orix ou
entidade vai se manifestar tambm segundo as particularidades das pessoas. Aprender a
danar uma coisa, aprender o transe impossvel.
Nesta frase, a me de santo respondeu ao problema que me propus a estudar naquela
comunidade. O que me inquietava era entender se existia a possibilidade de ensino, de mtodos para
entrar em transe, pois se assim fosse, a importncia do mundo sobrenatural, das divindades seria
reduzida, a sim poderamos falar em teatro, em encenao. Se tudo fosse aprendido socialmente,
inclusive o transe, significaria que, nas religies afro-brasileiras, qualquer um poderia se candidatar
a mdium, a sacerdote, a iniciado. Mas a resposta foi enftica. No transe, no estamos no domnio
das tcnicas. Trata-se de competncias, de qualidades pessoais para revelar a disposio psquica, o
inconsciente individual e coletivo e, acima de tudo, de permitir que uma entidade de outro plano se
manifeste. Quanto a isso um consagrado ensaio de Ioan Lewis d conta de elucidar a questo
apresentando um olhar apurado sobre as competncias dos grandes magos e xams29
.
Mauss chamava de tcnica um ato tradicional e eficaz. No h tcnica nem transmisso se
no houver tradio. Eis em qu o homem se distingue antes de tudo dos animais: pela transmisso
de suas tcnicas e muito provavelmente por sua transmisso oral.30
. As danas dos Orixs so
tcnicas corporais, so assimiladas pela tradio de cada escola afro-brasileira e pelos anos de
contato com o sacerdote responsvel por aquela comunidade religiosa. J o transe, ainda que seja
fundante no universo afro-brasileiro, no pode ser ensinado tecnicamente. E, quando perguntada se
27
BARROS, Jos Flvio Pessoa de. O cdigo do corpo: inscries e marcas dos Orixs. In: MOURA, Carlos Eugnio
Marcondes de. (Org). Candombl. Religio do corpo e da alma. Tipos psicolgicos nas religies afro-brasileiras.
Rio de Janeiro: Pallas, 2004, p. 103 138. 28
PRANDI, Jos Reginaldo. Os candombls de So Paulo. A velha magia na metrpole nova. So Paulo: Editora
HUCITEC/Editora da Universidade de So Paulo, 1991, p.103. 29
Refiro-me ao ensaio Transe e possesso que encontra-se em forma de captulo na obra xtase Religioso,
constando ao final das referncias deste artigo. 30
MAUSS, 2003, p. 407.
130 JORGE, E. F. C. no corpo que o santo baixa!
Identidade! | So Leopoldo | v.18 n. 1 | p. 122-132 | jan.-jun. 2013 | ISSN 2178-0437X
Disponvel em:
no momento do transe haveria maior importncia dos aspectos espirituais, sociais ou psquicos, a
me de santo respondeu:
Impossvel dissociar isto. As religies afro-brasileiras no tem o cunho individual da
espiritualidade. Ningum se realiza individualmente, assim como elas no tem uma diviso
estanque dos planos de existncia. Dentro desses planos todos esto ligados a esta teia.
Nossa mente muito dividida e v tudo segmentado. A realidade uma s em planos
diferentes. No transe as trs realidades se fundem. Isso maravilhoso e nico.
Esta ltima fala tambm foi bastante indicativa de como o transe visto atualmente pelos
prprios adeptos afro-brasileiros. Se antes, diversos praticantes consideravam que a possesso
requeria tratamento e por isso procuravam um terreiro de umbanda e candombl, atualmente o
mesmo visto como salutar, j que proporciona um bem estar em diversos mbitos.
Hoje, o transe no mais associado doena. Raimundo Nina Rodrigues31
, o primeiro a
abordar a relao entre o contato cultural e religioso das vrias matrizes africanas encontradas no
Brasil, analisava o transe pela perspectiva patolgica. Alis, patologia, fetichismo, animismo,
histeria, sonambulismo so alguns dos termos utilizados pelo iniciador dos estudos sobre o negro no
Brasil, e denotam claramente de onde ele falava. Rodrigues seguia a perspectiva mdico-
cientfica e naquele momento atrelou o transe afro-brasileiro ao desvio, anormalidade, ao
perigo32
sendo todas as prticas associadas a uma forma primitiva de construir sua cosmoviso
religiosa.
Graas ao desenvolvimento de novas posturas antropolgicas e da valorizao da cultura
afro-brasileira no pas (danas, culinria, rituais) os prprios adeptos passaram a afirmar suas
crenas e a compreender melhor as suas prticas. No por acaso que o Ministrio da Educao e
Cultura credenciou e autorizou em 2003 o funcionamento do bacharelado em teologia com nfase
nas religies afro-brasileiras, instituio que, dentre outras cadeiras, ministra disciplinas sobre o
transe, sincretismos e tradio oral afro-brasileira. Isto corresponde, segundo Prandi, ao processo
scio-cultural do pas, de legitimao de elementos da cultura africana pela classe mdia
intelectualizada carioca e paulista.33
Consideraes finais
Este trabalho pretendeu levantar discusses sobre a relevncia do corpo no momento do
transe afro-brasileiro na expectativa de entender a viabilidade de as tcnicas de transe serem
ensinadas aos filhos de santo. Ainda que tenha feito, do ponto de vista metodolgico, um estudo de
caso em um templo afro-brasileiro, considero que as posies apresentadas tanto nas observaes
quanto nas entrevistas apontam para um caminho importante de ser colocado.
31
RODRIGUES, Raimundo Nina. Os africanos no Brasil. So Paulo: Madras, 2008. 32
Ver DOUGLAS, 2010. 33
PRANDI, 1991.
JORGE, E. F. C. no corpo que o santo baixa! 131
Identidade! | So Leopoldo | v.18 n. 1 | p. 122-132 | jan.-jun. 2013 | ISSN 2178-0437X
Disponvel em:
As religies afro-brasileiras so de tradio oral, assim, todo o conhecimento transmitido
de pai/me espiritual para filho espiritual, no decorrer das vivncias e contato constante com a vida
de santo e de sua comunidade. Ainda assim me questiono sobre a possibilidade das tcnicas de
transe serem apreendidas uma vez que um elemento primordial entra no contexto: a relao com o
transcendente.
O templo estudado trouxe como contribuio o caminho de que o transe no ensinado,
diferentemente das danas e toques sagrados. O corpo, no momento do transe, um veculo para
manifestao do transcendente e este ir guiar o indivduo, a entidade espiritual quem ensina e
domina seu cavalo de santo ou mdium. Assim, ainda que existam tcnicas especficas em
outros setores religiosos que propiciem o contato com uma divindade (como a tcnica da respirao
hindusta, por exemplo), este no o caso na comunidade estudada. Deu-se relevncia para os
aspectos espirituais e para a centralidade da entidade em nortear o mdium e sua atuao medinica.
Pretendo continuar com essa pesquisa em outros templos, mas espero que os resultados e as
reflexes apresentadas at o momento possam contribuir para a anlise deste campo religioso.
Referncias
ASSUNO, Luiz. O reino dos mestres. A tradio da jurema na umbanda nordestina. Rio de Janeiro:
Pallas, 2010.
BARROS, Jos Flvio Pessoa de. O cdigo do corpo: inscries e marcas dos Orixs. In: MOURA, Carlos
Eugnio Marcondes de. (Org). Candombl. Religio do corpo e da alma. Tipos psicolgicos nas religies
afro-brasileiras. Rio de Janeiro: Pallas, 2004, p. 103-138.
BASTIDE, Roger. As Religies Africanas no Brasil. So Paulo: Editora da Universidade de So Paulo, 1971.
BIRMAN, Patrcia. O que Umbanda. So Paulo: Brasiliense, 1985.
CASCUDO, Luiz da Cmara. Dicionrio do folclore brasileiro. 2 vols. Rio de Janeiro: IMEP-MEC, 1962.
CASTIGLIONI, Arturo. Encatamiento y magia. Mxico, D.F.:Fondo de Cultura Econmica, 1987.
DAMATTA, Roberto. Relativizando. Uma introduo Antropologia Social. Petrpolis: Vozes, 1981.
DOUGLAS, Mary. Pureza e perigo. So Paulo: Perspectiva, 2010.
DURKHEIM, mile. As Formas Elementares da Vida Religiosa. So Paulo: Martins Fontes, 1996.
FERRETTI, Mundicarmo Maria Rocha. De segunda a domingo, etnografia de um mercado coberto. Mina,
uma religio de origem africana. So Lus: SIOGE, 1985.
FRAZER, James George. La rama dorada. Magia y religin. Mxico, D.F.: Fondo de Cultura Econmica,
1996.
132 JORGE, E. F. C. no corpo que o santo baixa!
Identidade! | So Leopoldo | v.18 n. 1 | p. 122-132 | jan.-jun. 2013 | ISSN 2178-0437X
Disponvel em:
GEERTZ, Clifford. From the natives point of view: on the nature of anthropological understanding. In:
______Local knowledge. New York: Basic Books, 1983.
HARRIS, M. The rise of anthropological theory. London: Routledge and Kegan Paul, 1968.
HEUSCH, Luc de. Cultes de possession et religions initiatiques de salut em Afrique. In: Annales du Centre
dstudes des Religions. Bruxelas, 1992.
ISAIA, Artur Cesar. Umbanda, magia e religio: a busca pela conciliao na primeira metade do sculo XX.
Revista Horizonte, Belo Horizonte, v.9, n.23, p. 729-745, 2011.
LEWIS, Ioan. xtase Religioso. So Paulo: Perspectiva, 2004.
MAUSS, Marcel. As tcnicas do corpo. In: ______. Sociologia e antropologia. So Paulo: Cosacnaify, 2003.
MONTERO, Paula. Magia e Pensamento Mgico. So Paulo: tica, 1986.
MOTTA, Roberto M. Cortez. Transe, Possesso e xtase nos Cultos Afro-brasileiros do Recife. Religio,
Poltica e Identidade. (Srie Cadernos da PUC; 33).
NEGRO, Lsias. Magia e religio na Umbanda. Revista USP, So Paulo, n. 31, p. 76-89, 1996.
PIERUCCI, Antnio Flavio. A magia. So Paulo: Publifolha, 2001.
PINEZI, Ana Keila; JORGE, rica Ferreira da Cunha. Estudos de Religio, v. 26, n. 42, p. 83-98, 2012.
(Edio Especial).
PRANDI, Jos Reginaldo. Os candombls de So Paulo. So Paulo: Hucitec, 1991.
RIVAS NETO, Francisco. Escolas das Religies Afro-brasileiras. Tradio Oral e Diversidade. So Paulo:
Arch Editora, 2012.
______. Umbanda. A Proto-Sntese Csmica. So Paulo: Pensamento, 2002.
______. Umbanda. O elo perdido. So Paulo: cone Editora, 1994.
RODRIGUES, Raimundo Nina. Os Africanos no Brasil. So Paulo: Madras, 2008.
SILVA, Vagner Gonalves. Candombl e Umbanda. Caminhos da devoo brasileira. So Paulo: tica,
1994.
TERRIN, Aldo Natale. O rito. Antropologia e fenomenologia da ritualidade. So Paulo: Paulus, 2004.