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CIP- Brasil. Catalogação-na-Fonte Câmara Brasileira do Livro, SP Poe, Edgar Allan, 1809-1849' P798h Histórias extraordinárias / Edgar Allan Poe ; tra- duçáo de Brenno Silveira e outros - Sáo Paulo : AbriÌ Cultural, 1981. l. Contos estadunidenses I' Título' 8l -0348 cDD-813 Índice Para catálogo sistemático: l. Contos : Literaturaestadunidense 813 fDcnn nilnn POI flISTONINS TXTNNONDIÌIflNINS Tradução de Brenno Silveira c outros BDITOR: VICTOR CIVITA

Edgar Allan Poe - A Queda Da Casa de Usher

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Page 1: Edgar Allan Poe - A Queda Da Casa de Usher

CIP- Brasil. Catalogação-na-FonteCâmara Brasileira do Livro, SP

Poe, Edgar Allan, 1809-1849'

P798h Histórias extraordinárias / Edgar Allan Poe ; tra-

duçáo de Brenno Silveira e outros - Sáo Paulo : AbriÌ

Cultural, 1981.

l. Contos estadunidenses I' Título'

8l -0348 cDD-813

Índice Para catálogo sistemático:

l. Contos : Literaturaestadunidense 813

fDcnn nilnn POI

flISTONINS

TXTNNONDIÌIflNINS

Tradução de

Brenno Silveira c outros

BDITOR: VICTOR CIVITA

Page 2: Edgar Allan Poe - A Queda Da Casa de Usher

Capa: Antirnio Migucl Cotrin

Ilustração das guardas: (ìravura dc Gustavc I)orú

Título original:Tales of the Grotesque and Arabesque

Copyright desta ediçáo, Abril S.A. Cultural c lndustrial'

São Paulo, 1978.

Tradução Publicada sob licença da

Editora Civilização Brasilçira S.A', Rio de Janeiro'

A QUEDA DA CASA DE USHER

Page 3: Edgar Allan Poe - A Queda Da Casa de Usher

Stttt t'tst'trr í'sí un lulll \ttsP('tdtt;'ls'íih q,tuu tt' tttut'ttc il ';J:j';ï;i

Durante urn <Jia intciro cle outtlno' cscuro' sonrbrio'

silcnciostl, cm que as nuvens pairav,am' h1]xas c opress()-

,oi, nnt céus. passava cu' a cavaltl' sozinho' por umiì

rcgiãtl singularmcntc mon(ltona - c' quando as sonlbras

rla noite sc cstcnolam, finalmentc mc eincontrci diantc dlt

ìnelancólica Casa cle Ushcr' Nao sci ctlmo ftli - miì\' a()

primeircl olhar lançaJo ì construçiìo' uma scnsaçatl tlc

i,r-ïõ*a"J trisrczii mc invacliu o cspíriti'r. Digo insupor-

ìrl".i. pni. aquclc scntimcnto trittl cra alcnuado por csslì

cmoção ntcl() iÌgreìoavel. meio poéticu' 1:- qtlt o' n:Ì::l

..pirìtn rcccbc. im gcral' mcsmo as imagcns naturals mals

;;ï;;;ì cla dcsolaçãõ e do tcrrívcl' Contcmplci a cena cluc

tinha cliantc clc mim -- a simplcs casa' a simples.plris.agcm

.iirr,.t.ri*ti.. cla propriccladc' os frios muros' as ìl.lnelas

quc sc asscmclhavam a cllhos vazios' algumits filciras clc

carriçt-ls e uns tiÌntos troncos apodrccidos -- c()m unla com-

;;;;;i.pt;tsão de alma, que não RtLs,s1^comparar' apro-

priatlamcnte, a ncnnuma outriì sensaçàt-t terrena' excgt')

coÌn a qur- scnte, ,ao despertitr' o vicìado cm tipic-l' com' ü

iÌnlarglì volt:ì a vrcra cotidiana' com a atroT- dcscida do veu'

Ë;;'..i;;,;ì.ìtrçan .rt alguma c.isa gelacìa' unt abatimcnÌ.'

ì.lm apcrt(ì n.-, ..,r,,çãn, ïma ariilcz- irrcnlccliávcl cle pcnsa-

lììcnt() quc ncnlìum itiit"ufo da imaginação podcria clcvat'

rr,.r sublinlc. Quc cra aquilo - dctivç-mc it pcnsâr -'(luc cra ucluilo quc tantò lìÌe cncrvavlÌ' it() contenrplitr lt

(''rrsa dc Usïrcr'.' Et^--u* rnìstéritl clc ttltlcl instllúvcl: niio

t .\t'tt t'ttrtti tutrlrrorr. í.\'. t/o

t; ttDt ttltttitlt' fl/r/)í'tÌ'r(), tàrt !ogtt d Q('tlll tt lttttt' i'lt

Itl

Page 4: Edgar Allan Poe - A Queda Da Casa de Usher

podia lutar contra as sombrias visões que se amontoavamsobre mim enquanto pcnsava naquilo. Fui obrigado a rccor-rer à conclusão insatisfatória de aue existem. sem a menorclúvida, combinaçõcs cle objctos nãturais muito simples quetêm o poder de afetar-nos desse modo, embora a análisedesse poder se baseie em considerações que ficam além denossa apreensão. Era possível, refleti, que um arranjo sim-plesmente diferente de particularidades da cena, dos deta-lhes do quadro, fosse o bastante para modificar, ou talvez,para aniquilar aquela impressão dolorosa. Agindo de acor-do com essa idéia, dirigi meu cavalo até a margem escar-pada do negro e sombrio lago, que estendia o seu tranqüilobrilho junto à casa, e fitei, mas com um estremecimentoainda mais vivo do que antes, as imagens reconstituídas einvertidas dos carriços cinzentos, dos troncos fantasmagó-ricos e das janelas que se assemelhavam a olhos vazios.

Não obstante, propunha-me permanecer algumas sema-nas naquela lôbrega mansão. Seu proprietário, RoderickUsher, tinha sido um de meus joviais companheiros de in-fância; mas haviam transcorrido muitos anos desde o nossoúltimo encontro. Uma carta, porém, me chegara recente-mente às mãos, quando me encontrava numa parte distantedo país, uma carta dele, cuja natureza, bastante urgente,não admitia senão uma resposta pessoal. A letra revelavaevidente agitação nervosa. O autor da carta falava de umaenfermidade física aguda, de um transtorno mental que ooprimia, e de um desejo ardente de ver-me, como a seumelhor e, efetivamente, seu único amigo pessoal, julgandoencontrar, na jovialidade de minha companhia, algum alíviopara o seu mal. Foi a sua maneira de dizer tudo isso, e

muito mais -

4 1114pei1a suplicante pela qual me abria oseu coração

-, o que não mc permitiu quaÌquer hesitaçãcr

e, por conseguinte, obedeci incontinenti ao que, ainda as-sim, me parecia um convite muito estranho.

Embora, quando meninos, houvéssemos sido companhei-ros bastante chegados, eu, na reaÌidade, pouco sabia demeu amigo. Sua reserva fora scmprc exccssiva c habitual.Sabia, contudo, que sua família, muito antiga, se distingui-

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ra, desde tempos imcmoriais, por uma peculiar scnsibiÌi-clacic dc temperamcnto, rcvelada, através dos séculos, cnlmuitas obras clc arte dc cxaltada inspiração e manifesta<ja'havia muito, cm rcpcti<ìos atos dc cstupcnda mas rcca-tada caridadc, bem como por unta apuixonada dcvoção às

dificuldades, talvez mais do quc às bclczas facilmentc reco-nhecívcis c ortttcloxas cla ciência musical. Tive tambémnotícias do fatc'r, bastantc notável. de quc do tronco da

cstirpc dos Usher, por ntais antigtt c glorioso quc fossc.nao surgira nuncr, em tcmpo algum, qualquer ramo clura-douro; cm outras palavras, sabia qtrc a família se perpc-tuariì scÍnprc cm linha dircta, salvo insignificantes c passü-gciras cxccçocs. Scntclhantc dcficiênçi1s -

pcnsava cu, cn-quanto rcpâssava cm minha imaginaçãrt a pcrfeita concor-dância cxistcntc cntrc o câriìtcr duquclas prcmissas c a índ.l-lc atribuícla àclucla gcntc, c cnqualìto rcflctia sobrc a possí-vcl inl'luência quc urìl dc scus ranros podcrie tcr cxcrcido.durantc a longa pussagcm dos sócuÌos. sclbrc o outro

-, crit

aqucla dcliciência clc linhagcnr coliticral. talvcz, c a con-scqücntc c dircta transnrisslìo clc plri parlr lilho. do patri-mônio c do nonrc, o qtrc havirt. por finr, iclcntificacltl a

ambos, acabrndo por unir o título originlrl cla prclpricdadcì arcaicl c ccluívt'rclr clcnorrtinaçlio tlc "Citslt clc Ushcr". de-nominaçiìo cluc parccia irtcluir. rto cspÍrito rlos clttc a u\iì-vlÌm. Illnt() lr Illttílilt e (ìtìl(ì ll lììlttìslìo.

Já clissc quc o único ctcito tlc nrinhrt cxpcrii'rtcil trrrt

tantt-l pucril -

l clc Íitttr, crlbaixo. o lago -

ltti t()Íniìrair.rda nrtis protundl aclucla printcira inrplcssiìo. Nao podchavcr dúvida clc quc a consciência do riipiclr ltunrcnto clc

rninha supcrstiçiìo -

ptlis, ptlr quc nittl d.'fini-la assinr'l -scrviu principalrncntc piìril lìccntLlar aquclil scnsaça<). 'l'lrl

é, cclmo sci dcsdc hh muito, lt lci paracloxitl tlc todos os

scntimcntos bascadtts t1() tcrror. E talvcz lossc ptlr csslt

única razão quc, ito crgucr novamcntc tls tllhtls plÌrlt it

casa, afastando-os da imagcrn rcflctida no lago, surgitr

cm mcu cspírito uma cstranha visittl -- rcaltttctttc tiìo

cstranlìa c ridícula, quc apcnas lì tttcltciott<l pltra dcrlrtlrts-

trar a vivit ftlrça das sensltçtìe's quc nle (ìpfilÌlilìlì1. Minhrrimaginaçào trabalhara tanto, quc mc parccilt Ìravcr rcrtl'

Page 5: Edgar Allan Poe - A Queda Da Casa de Usher

mente, cm torno da mallsiìo c suas adjacências, ulÌ'la atllìos-fera pcculiar, quc nada tinha cm comum com () ltr Llos

céus. mas clue òmanaua clas árvores apodrecidas' das pa-

redes cinzentas c do lago silcncioso -

um vapor pestilcnttlc místico, opaco, pcsado, mal discernível, cor de chumbo.

Afastanclo cle mcu cspírito o que não podia sct senão

um sonho, cxaminei mais atentamente o aspecto reaÌ da

casa. Sua caractcrística principal parecia ser a de uma ex-cessiva antigüidade. A descoloração causada pelos séculos

tinha sido gran<Ie. Minúsculos cogumelos estendiam-se portodo o exterior, pendendo, em emaranhada c fina tessitura,dos beirais. Mas nada disso implicava qualquer estrago ex-traordinário. Nenhuma parte da aÌvenaria desmoronara, e

parecia haver uma vioÌenta contribuiÇão entre aquela aindaperfeita adaptação das partes e o estado das pedras des-

gurto.lur. Aquilo me lembrava muito a enganadora integri-ãacle clas esiruturas de madeira apodrccidas, durante lon-gos anos, em alguma abóbada esquecida, sem contato comó sopro do ar cxterior. Afora cssa indicação de ostensiva

tlecadência, a casa não apresentava sinal algum de insta-bilidade. Talvez o olhar de um observador meticuloso pu-

clcsse.ter clcscoberto uma fenda mal pcrceptível, que, esten-

dendo-se desde o telhado da fachada, descia em ziguezaguc

até perder-se nas hguas sombrias do lago.

Observando essas coisas, atravessci' a cavalo, um curtocaminho que conduzia à casa' Um lacaio tomou o meu

cavalo e penetrei pelo arco gótico do vestíbulo. Um mor-clomo, de passos furtivos, conduziu-mc, em silêncio, atra-

vés cle muÌtos corredores cscuros e intrincados' ao gabi-

nete de trabalho de seu amo. Muitas das coisas que cncon-trei em mcu caminho contribuíram, não sei por quê, para

acentuar as vagas sensações a que já me refcri' Os obietos

oue mc rocleavam - os entalhes dos tetos, as sombrius

t'apcçarias clas pareclcs, a negrura de ébano. dos assoalhos c

os'ïantasmagórìcos troféus de armas quc tilintavam ìt minhapassagcm

- eríìm, para mim, coisas mttito ctlnhccidas, cont

"r qtúit estaváÌ familiarìzado dcsdc a inl'ância, e, emboru

não'hcsitasse cm rcconhccêlas comtl tais, fiquci surprestr

rÌnte iìs visões insólitas quc aquclas imagcns ordinárias des-

t0

pcrtavam cm minha imaginaçào. Numa das. escadas' depa-

ici com um mcíclico da família' Sua fisionomia, penset, reve-

lava um misto de astúcia e perplcxidade' Saudou-me' um

tanto perturbado, e passou. O mordomo, então' abriu uma

portil c conduziu-mc ì prcsença de seu amo'

O aposento cm quc me cncontrei era muito amplo e

alto. As janelas, compridas, estrcitas e ogivais, achavam-

sc a tal distância do negro assoalho de carvalho, que se tor-

navam inteiramente inãcessíveis por dentro' Fracos raios

tle luz avermelhada atravessavam as vidraças guarnecidas

<le gelosia, tornando suficientemente claros os principais

objõos ali existentes' O olhar, no entanto, esforçava-se em

vãô para alcançar os cantos mais distantes do aposento' ou

ni; ,Ë."rro, do tcto abobadado e trabalhado a cinzel' Es-

."."t irp"çurias cobriam as paredes' O .mobiliário geral

cra excesslvo, lncomodo, antigo e estragado' Muitos livros

e instrumentos musicais jaziam espalhados em torno' mas

não .onr"guiam dar vitálidade alguma ao ambiente' Etl

sentia que rcspirava uma atmosfera de tristeza' Um ar de

rr.".ir.'profunda e irremissível melancolia pairava sobre

turjo. envolvia tudo.A minha entrada, Usher levantou-se do sofá em que es-

tava esten<Jido por completo, e me saudou com calorosa

vivaciaade, na quaÌ havfa - conforme pensei a princípio

- exagelacla córdialiclade, o obrigado esforço de um ho-

mem dã sociedade ennuyéel . Contudo, bastou-me lançar um

olhar ao seu rosto para que me convencesse de sua perfeita

sinceridade. Sentamo-nos e' durante aìguns momentos' en-

quanto cle permaneceu calado. olhci-o com um sentimcnto

iliti. o. pieoaae e pavor. Seguramente, jamais homem al-

gum sofrera tão terrível transformação, em tão curto espaço

ã" t.rnpn, como Roderick Usher! Era-me difícil persuadir-

;; J.'q;" a identidade do homem abatido que tinha. à

minha ficnte era a mesma cla de meu companheiro de in-

fância. Contudo, o caráter de sua fisionomia fora sempre

rctável. Tez cadavética, olhos grancles, transparentes, lumi-

nosos sem comparação; lábios um tuntn finos c muito páÌi-

) Entediadu. (N. do T.)

ll

Page 6: Edgar Allan Poe - A Queda Da Casa de Usher

dos, nras dc linhas incttmparltvclmcntc bcllrs, nlrriz dc dclt-cirdo tiptl hebraico, nras dc narinas largas, iltcottttttls .'ntscnrclhantc I'ornra; qucixo I'inamcnte- modclaclo, it rcvclat.om sua falta dc procminência, ausência dc cncrgia mttral;cabclos que lcmbravant a maciez e a suuvidade cle umatcia de aranha.'fodos csscs traços aliados a um dcscnvolvi-mcnto frontal cxccssivo compunham, cm conjunto, uma li-sionomia quc não sc csquecia com facilidade. E, naquelcrnomcnto, no simplcs fato dc sc achar accntuadtl o cará-tcr prcclominantc daquclas fcições, c na cxprc55llr clur'lllostravan.ì, notava-sc tal mudança, quc Èu duvidava dohonrcm com qucm Ïalava. A palidcz espectral da pele c ttbrilho agora extraordinário dos olhos me surprgcndiam so-

brcmaneira, chcgando, mcsmo, a atcrrar-mc. Além disso.clcixara crcsccr, scm nenhum cuidado, os cabclos sedosos,c, conro acluela contextura dc teia dc aranha mais flutuav:tdo quc caía stlbre o rosto, não mc cra possível, mcsmo comesforço, rclacionar a sua exprcssão ltrabesca com qualquerrdóia dc simples humanidadc.

Chocou-me logo ccrta incocrência -

ccrta contradição

- na\ rlanciras dc mcu anrigo. Não tardei em verificarclLrc aquilo proccdia dc pc'que'nos e' inútcis csforços no sen-titìo de vcnccr uma pcrturbação habitual

- uma u-xccssiva

lgitação ncrvosa. Eu cstava prcparaclo para clualqucr coisatlcssc gêncro, nix'l sti clevido iì sua cat'ta, c às lcmbrançasclc algLrns dc scus traços infantis, ben.r como pelas con-elust-rcs dccluzidas dc sua pcculiar conformação física c dcscu tcn-Ìpcranìcnto. Seus atos cranl, altcrnadame ntc, clra

vivos. oru solurnos. Sua voz variava rapidamentc de tom'pussando du- ut1ìiì trêmula indecisão (quando sctt arclor pa-

lccilr cuir cnr contplcta inaçao) iì csslì cspócic clc c<lncislltr

cnórgicu. a cssa cnunciaçao abrupta. pcsada, lcn[x -

11111i1

crrrrnciaciìo oca -.

a cssa mancira clc lalar gutLrral, pÌunt-hc;r. cqtrilibrltda c pcrfcitame-ntc rtlorltrladlt, qLte sc p()Lle

,,irscrr'ur rro bêbadtl pcrdido tltÌ IÌo itlcort'igívcl ILrnrantc dc

i,pirr" tiunttttL'os pcríodos clc stta ttrais itrtcttslt ltrlitltçlìo.

F'oi lssinr. pois, clue clc [alttu cltl objcto clc nrinha visita.rle scu vivo dcscjo clc vcr-nrc- c do alívio (lue espcriìva qtlü

cu lhe propttrciottltssc. Rclcritr-sc. clurittllc bastlttlte lenìp().

rl

sobre tt quc pcnsava accrca da natureza clc sua e nlcrmtdlt-tic. Era.'clissc. um mal ctlnstitucior.ral dc lamíliu. para ()

tluul ntlo tinha cspcrança dc cncontritr rcméditl; uma sinr-

Plcs afccçiicl ncrvilt,t, acÍcscclltou l()go' cluc. sem dúvicla'

irao turclariiÌ a passar. Manifcstava-sc nttnllt variaçàtt clc

scnsaçõcs nitcla naturiris. Algunlas, onquant() clc- as pttr-

IilCnclrizava, mc intercssarant c confunclirant, clÌÌboÍa talvcz()s tcrmos cmprcgaoos c a mancira gcral da nart'açãtl influís-se Íìl bastântc'paia isso. Stlfria nlr-rittl clc urra agudczlt lllrir-bida r,los sentidos: suportaviÌ s()Íncnlc os alimt-ntos nlltis

tr.iviais; nno poclia usar scnlitt roupas cle clctcrminacìos tc-

cidosl o aroma dc toclas as florcs o oprimia: u luz, por mrtis

lracaqucl.tlssc'ttlrturava-|hctlsolhossol.rs pcculiarcs, os cltls instrumentcls clc c<lrda, nãtl lhc cau-

slìviìm horror.Vi quc cra escravo f<lrçado dc unla cspócie anômalla clc

I crror.

- \,{i111ç1L-i

- diqsc-mc

-, Tlsys morrcr desta dcplo-

lrivcl loucura. Assim, assim, c nãtl clc otltril moncirlì, t'

L'ornt) devtl morrcr. Aterrltm-mc tls actttìtccimcnttls futurtls.rrio por si prtiprios, mas pcltls scus rcsultatlos. Trcmo atr

l)crìsur nlesrrìo n() Ínais trivial incidcntc, pclo cfcito .qucpossa tcr sobrc esta intcllcrávcl agitaçiro clc minha alma

Niìtt re'ccic'1, clctivamentc, o pcrigo' cxccto ct.t.t scu cfcitt'r

rrbsoluto: o tcrror. Ncstc estado dc cxcitaçiìtl . nc-sta la-

rÌìcÌrtltvcÌ condiçilo . . . sinto quc chcgarár logo o nlomcntor'rÌì (luc dcvcrci abanclonar. ao mcsfiìo lcmpo' a vloa c a

,,,rrìl.ì, cnr alguma luta conr tl horrcnclo fantasma: ct ntedtt'

l'ambém tomci conhccimcnto, a intcrvalos' por insi-

rrrilrçircs intcrrompiclâs c ambíguas, dc outra particularitlacle

',irrgular clc sua òoncìição mcntal. Estava. 1ç1111"cnt1clo por

,, 11rrs imprcssõcs supcrsticiclsas rclativlts à mitnsiìo L-m quL'

rivilr. dc onclc. durantc muittls anos, não ousara satr"r,l:rlivas a unìa iniluência cuia suposta Ítlrçlt erit por clu

, \r)r'cssiì cm tcrmos clcrnasiado sombritls plrra scrcm lrqui

r,lrt'litlos, uma inlluôncia quc algumas pcculiaricladcs cxis-r rrrL's Itlr sirnplcs fornta c rnatéria clc suit mansão solarcnglt, , ìrì\r'gtliráìm, lr custa clc longtl sclf rime nttl

- clizia clc --'

r, ,, .'r sobrc o scLr cspírito um cfcitil quc o li çrcrr clas

l-l

Page 7: Edgar Allan Poe - A Queda Da Casa de Usher

paredes e das torrcs cinzcntas, bem como do cscuro lagoem que tudo se refletia, acabara por fazer pcsar sobre otrwrul dc sua cxistência.

Admitia, porém, embora com hesitação, que grande par-te da peculiar tristeza que o afligia podia ser atribuída a

uma origem mais natural e muito mais palpável; à sua se-vera e contínua enfermidade . . . à morte e à decomposiçãoevidentemente próxima. . . de uma irmã ternamente ama-da, sua única companheira durante longos anos, e suaúltima e única parenta sobre a terra.

- Sua morte

- disse ele, com uma amargura que ja-

mais poderei esquecer -

fará de mim (o desesperançado,o fraco) o último representante da antiga raça dos Usher.

Enquanto falava, Lady Madeline (pois assim se chamavaela) passou, lentamente, pela parte mais distante do aposen-to e, sem ter notado minha presença, desapareceu. Olhei-atomado de profundo assombro, não destituíde ds fs1161

-e, no entanto, percebi que me era impossível explicar taissentimentos. Uma sensação de estupor me oprimia, en-quanto meus olhos seguiam seus passos que se afastavam'Quando, por fim, uma porta se fechou atrás dela, meuolhar procurou, instintiva e ansiosamente, o rosto de seu

irmão -

mas ele havia afundado o rosto nas mãos, e so

pude observar que uma palidez muito maior que a habi-tual se estendera pelos dedos descarnados, através dosquais gotejavam lágrimas ardentes.

A enfermidade de Lady Madeline desafiara durantelongo tempo a ciência de seus médicos. Uma apatia cons-tante, um esgotamento gradual de sua pessoa, bem comofreqüentes mas passageiros ataques em parte epilépticos,eram o singular diagnóstico. Até então, ela suportara comfirmeza a pressão de sua doença, sem que se dispusesse arecolher-se ao leito; mas, ao cair da tarde da minha chega-da à casa, sucumbira (como seu irmão me disse, à noite,com inexprimível agitação) ao pocler prostrador do mal, e

soube que o olhar que dirigi à sua pcssoa scria, provavel-mente, o último: que aquela clama, pelo menos enquantovivesse, já não seria mais vista.

Por espaço de vários dias consecutivos, seu nome não

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loi mcncionado nem por Usher, nem por mim, e, duranteessc pcríodo, esforcei-me vivamente por aliviar a melan-t'olia do meu amigo. Pintávamos e líamos juntos' ou, então,t'u cscutava, como num sonho, suas vibrantes improvisa-çocs à guitarra. E assim, à medida que uma intimidadecada vez maior me permitia penetrar, sem certas reservas,rìo recesso de seu espírito, mais amargamente percebia ainutili<tade de qualquer tentativa no sentido de alegrar umcspírito cujo negrume, como se fosse uma qualidade po-sitiva e inerente, se esparzia por todos os objetos do mun-clo físico e moral, numa irradiação incessante de tristeza.

Conservarei sempre a lembrança das muitas horas sole-ncs que passei só em companhia do dono da Casa de Usher.(ìontudo, não me seria possível tentar dar uma idéia docaráter exato dos estudos, ou das ocupações, em que elernc envolveu, ou aos quais me conduziu. Uma idealidadecxacerbada, descontrolada, lançava sobre todas as coisasrrma luz sulfúrea. Suas longas improvisações fúnebres res-soavam sempre em meus ouvidos. Entre outras coisas, lem-brcl-me penosamente de certa perversão singular, amplifi-cada, da ária impetuosa da última valsa de Von Weber.Quanto às pinturas a que se entregava a sua incansávell'antasia

- e que se transformavam, traço a traço, em

t;ualquer coisa de vago que me fazia estremecer com maiorrÌmoção, pois eu estremecia sem saber por que

-, quanto

ir cssas pinturas (tão vívidas, que suas imagens ainda se

:rcham presentes em meu espírito), eu em vão procurariaextrair delas a mínima parte que pudesse estar contida noirrnbito das simples palavras escritas' Pela extrema simpli-cidade e nudez de seus desenhos, ele detinha e subjugava:r atenção. Se é que algum mortal jamais pintou uma idéia,('ssc mortal foi Roderick Usher. Para mim, ao menos nas

tircunstâncias que então me cercavam, surgia, das puras:rbstrações que o hipocondríaco conseguia lançar em suas

Ir'lus, um teiror intenso e intolerável, cuja sombra não senti

1:rrnais na contemplação dos devaneios, sem dúvida reful -

r,,('rìtcs, mas demasiado concretos, de Fuseli.Uma das concepções fantasmagóricas de meu amigo, em

,;rre o espírito de abstração não participava de maneira tão

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rígi<la, pode ser csboçada, cmbora debilmente, com pala-vras. Um pequcno quadro rcpresentava o intcrior de umaabóbada ou túncl imcnsamente longo c retangular, de mu-ros baixos, lisos, brancos e sem interrupção ou adornos'Certos pontos acessórios clo desenho serviam bem paradar a idéia de que aquela escavação se achava a grandcprofundidade, sob a supcrfície da terra. Não se via nenhu-ma saída ao longo de sua vasta extensão, nem se observavaclualqucr archote ou outra fonte de Ìuz artificial; não obs-tante, uma onda de raios intensos inundava tudo, banhandoo seu interior de um csplendor lívido e inadequado.

Já me referi à condição mórbida dc seu nervo auditivt.r,que lhe tornÉÌva toda música intolcrável, exceto a de cer-tos instrumentos de corda. Eram, talvez, os limites estrei-tos a que ele se limitava ao tocar guitarra que haviarndado, cm grande parte, aquels caráter fantástico às suasexecuções. Mas, quanto à férvida facílidade de suas im-provisações, era coisa quc não se podia explicar dessc mo-do. Tinham dc ser, e o eram, tanto nas notas como nas

palavras de suas loucas fantasias (pois ele, não raro, se

acompanhava por mcio de improvisações verbais), resuÌ-tado tle intcnso recolhimento e concentração mentais, a qucmc refcri como scndo obscrváveis somcnte em momentosda mais alta cxcitação artificial. Lembro-me bem das pala-vras de uma clessas rapsódias. [sso me impressionou tantornais fortcmente quanto me pareceu pcrceber, pcla primci-rà vez, plcna consciência, por parte dc Usher, do dcsmoro-namento dc sua sublime razão no trono em que sc achava.Os versos, intitulados O palácio assontbrado, eram, pouco;nais ou menos, cmbora não ao pé da letra, os scguintes:

I

Ncl mais verdc de nossos valcs,habitado por anjos bons.rntiganrente um belo c impclncntc plrlircitr

- um palácio radiantc

- sc clgui'1.

Nos clomínios ckr rci Pcnsltntcnttt,lír sc achava ç:lel

ì6

.tlrruiris rtrrr scralim cspaìmou a asa

sobrc ttl.tì ctlifício só metade tão belo'

il

lrstlutditrtcs amarelos, gloriosos, dourados'

solrrc o scu telhado ondulavam. flutuavam'(lsso, tutlo isso, aconteceu há muito,rnrritíssinto temPo')l: ('lìì citda brisa suave que soprava'rrrtltrclcs doces dias,;rtr lortgo cios muros pálidos e empcnachados's,' clcvava um artlma alado.

Ill

('arrrinhantes que passavam por esse valc fcliz

viirm, através de duas janelas iluminirdas,espíritos quc sc mclvianr musicuìmentcrrrr som clc um ulaúclc hem alinado.cÍì torno de um trono onde, sentado,( Porl'irogênitol)com majestade digna dc sua gloria'rrparccilt o senhor do rcintt.

IV

E tot.la refulgentc de pérolas c rubis

cra a lincla Porta do Palácio'através da qual passava, passava e passava'

a refulgir sem cessar'umlr turbu tlc cctls cuju grata missãtt

era iìpenas cantar,.nrn u,.,rat clc inexcedível bcleza,

o talr'nttr c o subcl tlc scu rci'

V

Mas scres maus, trajados de luto,assaltaram o alto trono do monitrcil;

t1

Page 9: Edgar Allan Poe - A Queda Da Casa de Usher

1rrlr, lamentemo-nos, visto que nunca mais a alvoradadcspontará sobre ele, o desolado!)c, em torno de sua mansão, a glória,que, rubra, florescia,não passa, agora, de uma história quase esquecidados velhos tempos já sepuÌtados.

VI

E agora os caminhantes, nesse vale,através das janelas de luz avermelhada, vêemgrandes vultos que se movem fantasticamenteao som de desafinada melodia;enquanto isso, qual rio rápido e medonho,através da porta descorada,odiosa turba se precipita sem cessar,rindo

- mas sem sorrir nunca mais.

Lembro-me muito bem de que as sugestões suscitadaspor essa balada nos conduziram a uma série de pensamen-tos em^.que se tornou manifesta uma opinião de Uìher a queme refiro não apenas devido à sua novidade (pois outioshomensr também assim pensaram), mas devido à tenacidadec.gT que ele a mantinha. Essa opinião, em sua forma geral,dizia respeito à sensibilidade de todos os seres vegãtais.Mas, em sua desordenada imaginação, a idéia assumiia umcaráter ainda mais ousado, e invadia, sob certas condi-ções, o reino das coisas inorgânicas. Faltam-me palavras pa-ra exprimir toda a extensão ou todo o fervor de sel abàn-dono a essa convicção. Tal crença, porém, se relaciona(como já o insinuei) às pedras cinzentas da mansão de seusantepassados. As condições da sensibilidade estavam aícumpridas

- pensava ele

- no método de colocação de

tais pedras. .. na ordem do seu arranio, bem como na dosnumerosos fungos que as cobriam e das árvores doentiasque se erguiam em redor

- mas, sobretudo, na imutabili-

dade daquela disposição e em seu desdobramento nas águas

I Watson, Dr. Percival, Spallanzani e, em prtrticular, o bispo deLandaíf . Ver Chemical Essays, vol. V. (Nota de Edgar Allan poe.)

l8

rnrovcis do lago. A prova -

a prova daquela sensibilidadecstava

- dizia ele (e eu me sobressaltei ao ouvir tal

r'oisit) -

na gradual mas evidente condensação, por cimatl;rs riguas e em redor dos muros, de uma atmosfera que thes('riì própria. O resultado era discernívsl

- 3ç1s5çentou -rrrr silcnciosa mas importuna e terrível influência que, du-

r':rrrtc séculos, moldou os destinos de sua família, e que fize-rt dcle aquilo que eu via

- aquilo que ele era.

Nossos livros -

os livros que durante anos haviamt'onstituído uma parte não pequèna da vida mental do in-vrilido

- estavam, como se pode bem imaginar, em per-

lt'itrr acordo com aquele caÍâler fantasmal. Estudamos, cui-rl:rtlosamente, obras como Velvert et Chartreuse, de Gres-set; o Belphegor, de Maquiavel; O céu e o inÍerno, deSwcclcnborg; I viagem subterrânea de Nicolau Klimnt,tlc Holberg; a Quiromancia, de Robert Flud, Jean D'Irrclaginé e De la Chambre; a Viagem pelo espaço azul,tle '[-ieck, e A cidade do sol, de Campanella. Um de seus

vtrlumes prediletos era a pequena edição in-octavo do Dl-rt't'!rtrium inquisitorum, do dominicano Eymeric de Girort-lÌ(\

- e havia passagens, em Pomponius Mela, sobre os

;rntigos egipanos e sátiros africanos, diante das quais Ushersorrhava durante horas inteiras. Sua principal delícia, not'ntanto, ele a encontrava na leitura atenta de um raro e

t'rrricrso livro gótico inquarto - o manual de uma igre-jrr csquecida -

intitulado Vigiliae mortuorum secundum, ltorum ecclesiae maguntinae.

Nao pude deixar de pensar no estranho ritual desse livro(' crn sua estranha influência sobre o hipocondríaco, quan-thr, uma noite, tendo sido informado, abruptamente, detlrrc l-ady Madeline já não existia, ele me manifestou a

irrtcnção de conservar o corpo, durante quinze dias (antcsrlr' seLl sepultamento final), numa das numerosas criptas.,ìtrradas no interior das paredes principais do edifício. Ar:rzlur profana, porém, atribuída a esse singular procedi-rrrento, era uma dessas coisas que eu não tinha liberdade,1,' rliscutir. O irmão fora levado a essa resolução (segundo

rrrL' clisse) devido ao caráter incomum da doença da mortar' :t ulÌÌâ certa curiosidade importuna e indiscreta por parte

l9

Page 10: Edgar Allan Poe - A Queda Da Casa de Usher

de seus médicos, bem como à localização distante e expos-ta do jazigo da família. Confesso que, ao lembrar-me dafisionomia sinistra do homem com que deparei na escada,no dia de minha chegada à casa, não senti nenhum deseiode me opor a uma coisa que me parecia, a.final de contas,apenas uma precaução inofensiva, mas, de modo algum,insólita.

A pedido de Usher, ajudei-o pessoalmente nos prepara-tivos daquele sepultamento temporário. Pusemos o corpo noataúde e, nós dois, sozinhos, o colocamos no lugar dã seul'epouso. A cripta em que o deixamos (e que estivera fe-chada durante tanto tempo que os nossos ãrchotes, semi-apagados naquela atmosfera sufocante, não nos permitiamquase nenhuma investigação) era pequena, úmida e vedavainteiramente a entrada de qualquef claridade. Achava-sesituada, a grande profundidade, exatamente na parte dacasa que ficava embaixo de meus aposentos. Ao que pa-recia, fora utilizada, nos remotos tempos feudais. comomasmorra e, em épocas posteriores,

"orno depósito de pól-

vora ou qualquer outra substância altamente inflamável,pois uma parte de seu assoalho e todo o interior de umalonga abóbada, que atravessamos para chegar até lâ, eramcuidadosamente revestidos de cobre. A porta, de ferromaciço, tinha sido também igualmente protegida. SeuimenSo peso fazia com que produzisse um som agudo eáspero, ao mover-se em seus gonzos.

Após depositar o nosso lúgubre fardo sobre uns suportes,naquela região de horror, abrimos um pouco a tampa doataúde, que não estava ainda parafusada, e contemplamoso rosto da morta. Chamou-me a atenção, antes de maisnada, a extraordinária semelhanca existente entre irmão eirmã, e Usher, adivinhando, talvez, os meus pensamentos,murmurou algumas palavras, pelas quais fiquei sabendo quea morta e ele eram gêmeos, e que sempre existira enireambos certa simpatia de natureza quase inexplicável. Nos-sos olhares, porém, permaneceram pouco tempo fixos sobrea morta, pois não podíamos olhála sem experimentarcerto terror. A enfermidade que levara Lady Madeline aotúmulo em plena juventude deixara, como ocorre comu-

20

nìt:lìtc cnì todas as doenças de caráter estritamcnte cata-It'ptico, a ironia dc uma ligcira coloração sobrc o seitl c olosto c, nos lábios, essc sorriso equivocamcntt- parado, cìut-

t: tho tcrrívcl na morte. Recolocamos c purafusamos ll

trrnrpa <1o ataúde cm scu lugar e, depois de fcchar a portatlo I'crro, voltamos de novo, com dificuldade, aos nossos

;rposcntos na parte superior da casa, os quais nào eratlrììcnos tristes.

Então, decorridos aÌguns dias dc amargo pL-silr. ve'ri-

licou-se uma transformação visívcl nos sintomas da cnfc-r-nriclacle mental de mcu amigo. Suas maneiras habituaisIraviam clesaparecido. Suas ocupaçõcs ordinárias foramncgligenciadas ou esquecidas. Andava de um aposcnto para()utro com passos apressados, dcsiguais c sem finalidade.A palidez dc seu rosto adquirira, se possívcl, um tom mais

caclavérico a luminosidadc de seus olhos se dis-sipara por completo. Não sc ouvia mais, nt) tom tlc sua

v()2, certa aspercza ocasional, como acontecia antcs, e umtrên.rulo balbucio, como dc extrcmo terror, caracte'rizlvurrgora, habitualmente, as suas frascs. Havia momentos,r'trntudo. em quc cu pcnsava quc scu cspírito, inccssunle-rrrcnte agitado, se achava em luta com algum scgredcl()prcssor, que ele não tinha coragem de divulgar. Outrasvczes, era obrigado a atribuir tudo aquilo a mcras e inex-plicáveis fantasias produzidas pela loucura, pois o via a

olhar para o vazio durante horas seguidas, numa atitudctla mais protunda atenção, como se escLltasse algum somirnaginário. Não era de estranhar qlle sua condição me

:rtcrrorizasse . . . que me contagiasse. Sentia que sc iam:ìrrastando sobre mim, de modo lento, mas certo, as vio-lcntas influências de suas fantásticas, impressionantes su-pcrstições.

Foi, particularmente, uma noite, no sétimo ou oitavo diatlcpois de termos ciepositado o Çorpo de Lady Madeline narììlrsmorra, que experimentei toda a força de tais senti-rÌrcntos. O sono não queria aproximar-se de meu leito'('rìquanto passavam e repassavam as horas. Lutei por;rlustar, por meio do raciocínio,..o nervosismo que se apo-tlr'rrìÍâ de mim. Procurei convenòer-me de que muito, scnão

LI

Page 11: Edgar Allan Poe - A Queda Da Casa de Usher

tuclo, do cluc sentia cra dcvido iì influência pcrturbadoratlo sombrio mobiliário do aposento

- clas ncgras c esfran-

galhadas cortinas quc, agitadas pelo sopro dc uma tem-pcstade que sc iniciava, oscilavam de um lado para outrclnas paredcs e farfalhavant inquietas cm torno dos adornosdo lcito, Mas mcus esfclrços foram em vão. Irreprimíveltrcmor invacliu, pouco a pouco, o meu cspírito

- c, no

Iim, pousou sobrc o mcu coração um verdadeiro pesadclodc sobrcssaltos scm causa. Afastando-o com esforço, arque-jantc, crgui-me sobre os travesseiros e, ìançando um olharpcrscrutador pela intcnsa escuridão do quarto, suyi

- nf,s

sei como, cxceto que alguma coisa instintiva me aguçou ocspírito

- certos ruídos vagos c indefinidos, que vinham,

através das pausas da tormenta, não sci dc onde. Domi-nado por intcnsa sensação dc terror, inexplicável mas,não obstante, insuportável, vesti-mc às pressas (pois sentiaquc não poderia mais dormir aquela noitc) e procureilivrar-mc, andando dc um lado para outro pclo quarto.do lamcntávcl cstado cm quc mc cncontrÍÌviì.

Tinha clado apcnas umas voltus pc-lo qulrrto, quanclo unspass()s lcvcs, numa cscacla próxima, mc atraíram a atenção.Rcconheci ktgo os passos cle Usher. Dccorrido um mo-mcnto, batcu de lcvc cm minha porta e cntrou, carregandtlum castiçal. Seu rosto cra, como sempre, dc uma palidczcadavérica; mas havia, ainda, uma espécie de Ìouca hila-ridadc cm seus olhos c, em toda a sua pcssoa, uma his-tcria cvidentcmente contida. Seu aspccto ms nts1161l2su

-mas qualqucr coisa era prefcrível à soÌidão por mim supor-tada durante tanto tempo, e acolhi sua prcsença quase comoum alívio.

- Então você ainda não viu isso?

- disse ele abrupta-

mcnte, depois de haver-mc fitado alguns momentos em si-lêncio.

- Então você não viu? Mas cspcrc! Você vcrá!

Enquanto assim falava, resguardanclo com a mão a luzdo castiçal, aproximou-se ds uma das janelas c escancarou-a para a tempestade.

A impetuosa fúria das rajadas quasc nos crgue u do solo.Era, realmente, uma noite tempestuosa, mas de uma beÌeza

22

,,( \r'rit. cspantosamcntc singular enl seu tcrror e cnl sua bc-

lr',/1. Unr rcdcmoinho, 3o que plrccia, concentrara toda a

.,rrrr lorçit nas imcdiaçòr.'s, pois sc (ìperavllm freqücntes c

r iolcntas altcraçõcs na dircção do vcnto, e a cxcessiva den-

sitlrrrlc das nuvcns (tão baixas que parcciiìm pcsar sobre,s lon'ct-rcs da casa) ni-ìo ncls impcdia dc obscrvar a vivarelocidadc com quc se ilproxinìltvltm umlìs das outras, vin-tlrrs rlc totjos cls pontos, sem quc sc pcrdcsscm na distância.l)igo c1r.rc ncm a sua cxccssiva densidadc impcdia quc per-

,.'hôsscntos tal fato c, contutJo, nllo vislumbrávamos ncmrr lrur ncm as cstrclas, como tampouccl havia lampcjo algurn,lc rclâmpagos. Mas, sob a supcrfícic das intcnsas massas

,lc ugitado vapor, bcm como sobrc to(los os objctos tcÍre-il()s cluc rlos ccrcavam, rcsplandecia uma clariclaclc sclbrc-

nrrtural, uma cmaniìção gasosa quc pairava sobrc a casa( iì cnvolvia numa mortalha luminosa c bcm visívcl.

- Você nito dcvc... você não contcmplarh isto! -

dis-se , trêmuÌo, a Ushcr, c o levci, conì sutìve violência, cia ja-rrclu para uma cadeira. -

E'lsas apariçõcs' qLlc o transtof-rurrn, nãcl passam clc fcnômcnos clétrictls nada cxtraordirrli-lios. . ou podc scr que tcnham stla origcm tcrrívcl nos

rrrirrsmas fétidos do lago. Fcchemos csta jancla. O ar cstir

gclado e é pcrigoso para a sua saúdc. Aclui cstá um dc scus

r'(ìrì11Ìnccs prcfcriilos. Vou lê-lo para você... c. assim. pus-

srrrcmos juntos esta noitc terrívcl.O volumc antigo quc apanhei era o Mad Tri.rl, dc Sir

l.runcclot Canning; mas cu disscra que era um dos livrosllrvoritos dc Ushcr mais cm tom de tristc graccjo dcl que a

si'r'io. pois, na vcrdadc, com a sua rude c pobrc prolixida-tle, pouco atrativo pocìeria ofereccr i\ elevada c cspiritualitlcliiclacìc de mcu amigct. Era, no cntanto, o único livro quc( u tiÌlhiì imcdiatamcntc à mão

- e cntrcguci-me iì vaga

r'sl,ìcrânÇiì de quc a cxcitaçãro quc cntão agitava o hipocon-,lr'íucc'r talvez pudcssc cncontrar alívio (pois a histílria das(lr'sordcrìs mentais está chcia de scmclhantes anomalias) atÓ

rìÌ('slìlo no cxagero clas loucuras quc cu iria lcr. A julgarpell atitudc de intenso c ardcnte intcrcssc com quc cscuta-\r, ()Lt parecia cscutar, as frascs da narrativa, eu bcm po-,lr'r'ia tcr-ÍÌc congratulado pelo êxito dc mctt intcntt.r'

Page 12: Edgar Allan Poe - A Queda Da Casa de Usher

Chcguei ao tlccho bastante conhccido da história em oueEthclred, o herói do Tri.çt, tcndo tcntacÌo em vão entrar ia-cificamentc na morada clo crmitão, resolve lá cntrar ì foça.Aqui, como sc rccrtrclará, as palavras da narrativa são asscguintes:

"E Ethclred, qLrc tinha por naturcza um coração valentc,r: quc agora sc scntia, alóm disso, muito forte, devidcl errcfeito do vinho cluc bebera, não espcrou mais tcmpo paritl'alar cont o crmitilo, quc tinha, realmcntc. o ânimo propen-so iì obstinaçiro c à malícia, c, scntindo a chuva cair-lhcsobrc os onrbros, c tcmcndo quc sc clcscncatleassc a tormcn-ta. lcvantou sua n.taça c, com rcpctidos golpcs, abriu cntãoLrnr caminho atravós das tábuas da porta, fazendo uso clcscus gLÌantcs; dcpois, puxando cclm clcs vigorosamcnte astábuas, fcz cont que tudo cstalassc c sc partissc em pecla_ços. dc tal nrodo cluc o ruíckl du madcira, scco c oco, ecooupor tocla a florcsta".

Ao tcrnìinar clc lcr cssl triÌsc, estrcrltcci c, por unÌ nì()-ÌÌrcrìto. fiz uma paustr, pois rrrc purcccra (crnbora logo c<tn-c'luíssc cluc n'rinhu cxcitadu irnaginaçiro ntc havia enganil-do).c1uc, tjc urna purtc nruito distantc da mansao, chcga-va indistintanìcntc aos mL-us t'ruvidos unt ruídtt quc, pclasurÌ cxrìtiÌ scmclhança, dir-sc-ia [rn] cc() (mas sufclcaclo csurdo, ccrtamcnte-) clos prírprios cstaliclos c cstragos dcs-critos, dc mancira tao nrinuciosa, por Sir l.auncclot. Era,scnr clúvida algunra, apcnas a coinciclência cluc mc atraíraa rlcnçlìo, visto quc, cm mcit:r do batcr inccssantc dos cai-xiìhos das janclas c dos ruídos quc sc misturavam à tem-pcstadc ainda crcsccntc, aqucle barulho nada tinha, por.ccrto, cìuc ntc pudcssc intr_-rcssrrr ou pcrturbar. Continuci,pois, a história:

"Mas o bom campeão Ethclrcd, tranqucanclo cÍltiÌo irporta, ficou dolorosamcntc pt-rplcxo c irlrekr, ao não cn-contrar sinal algum do malicioso crmitao, rnas sim, cm lu_gar dclc, unt dragão dc aparênciu cscumucla c prttcligiosa,com língua dc fogo, cìuc montava guardir antc ulÌì paláciodc ouro, com assoalhos dc prata; c s<lbrc a purccle- haviaum escudo brilhantc, no qual sc lia a scguintc lcgenda:

24

rl tlttclt tltre uqui (tttrur, r'en('ed()r '\eru,'

..llrtelc tlrtt' tttale tt dragatt, tt etctrdo gwtlruni

"lrFthclrcci crgucu lt sua mltça c tlcslcrir'r um golpc.nat'rrbeç'lr tlo drlrgacl, quc caiu cliirntc tlelc, c cxalou o scu hii-lito pcstilcnt(). com um gl'ito taitl cstridcntc. aspero c mc-

,l,rrrlro. quc Fthclrcd te vc tle lilpiÌr (ìs -()tlvitltls

ctrm us mã()s'

Irurr supttrttìr aquclc tre-mcndo barulho, tíìo lortc como lil-rrÌlris tluvira itntes".

,,\11ui. liz dc novtt ulÌìa pa[lsiì subita.. agora conl uma scrl-

'rrç'a,r rlc violcnto lssombro, ptlis nlìo havia dúvida dc cluc''

\'\sil vcz. rluvira (crnbora mc ftlssc impossívcl dizcr de quu-

rlircçrìo acluilo vinha) trnr ruídtl Iraco c aparcntcmente dis-

trrìtú. nlas xspcro. prolongadtl. singttlarmcntc agudo c dis-\()rì:ìrìtc

- rr contrapitrtc cxati.r do grito sobrcnatural lança-

(l() llcl() drlrgiìo. titl ctlmtl (.ì rtlmltncistlt tl tlcscrcvera c cu

rrrurgitìlt t'lt.()prirlido. com() por cctt() tu cstüvil. cliantc daquclu sc--

',,,,,.i,, . cxtrattrdinltria coi'cidência' p.r mil scnsitçtìcs c.n-

rrrrrlittiriirs. cntrc lls qtrais prcclonlinavam um assombro c

rÌìr piì\r()Ì' cxtrcmos. conscrvci. niì() obstante , suficicntc prc-

:r'rrç:u de cspírito para tcr o cuitlrttlo de nllo cxcitar' cttm

,;rrulclucr observaçi'rcl. l scnsihilidadc ttcrvtlslt tìL' mcu c(ìm-

1ïrrnheiro. Dc nrttclo algum niìo tinha ccrtcztr dc que ele ti-\r'\\ü notitd(l tls ruícir'ls cm tlucstiìtr, cmh(ìra. ccrtiìmcntc'ilÌÌÌiÌ L'stranha altcraçzio sc httuvcssc vcrificaclo, nos últimos

rììirìutos. cm suâ atitudc. Scntadtl, a princípio, à minhallt'rttc. Iizcrlt, atls p()uc()s' girrrr it cirdeira. de modo a ficar\(Ììtircl() conl o t'tlsto vtlltitd() para a portil dtt ltposento'

\s:inr. niio nte- cra possívcl vcr scnão unla partc de sua fi-\ì()n()nliiì. cnttrctra pcrccbcssc quc scus lábios trçmiam como

\, üstivcsscm murmurando palavras inaudíveis' A cabcça

,;rinr-lhc sobrc o pcito -

mas. não obstantc. sabia quc não

, sllva adclrmcciclo. pois o olho quc eu cntrcvia do perfil

l)r'rmanecia abcrto c l'ixtl. Além disso, o ntovimcnti.l de seu

, or.1.lo contraclizia taÌ idéia, visto que sc balançava' de um

lir(l() DiÌrA outro. com suavc. mas consÌanÌc e uniforme osci-

lrtlìo. Tcnc.lt) notado, rapidamcnte, tudo isso. prossegui ori l;rto clc Sir Launcelot, cìue continuava assim:

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Page 13: Edgar Allan Poe - A Queda Da Casa de Usher

"E cntiìo, cl campcão, tcndo cscapado da terrívcl fúria docJragao, c lcmbrando-sc clo cscudo de bronze c dc que ocrìcantíÌmento que sobrc clc pcsava cstava <jesfeito, afastouos dcstroços de scu caminho c avançou, corajosamente.pclo pavimento clc prata do castelo, na direção do cscudoque cstava prcso à parcde, o qual, na verdade, não csperouque cle chegassc até perto, caindo-lhe aos pés, sobre o as-solrlho tie prata. com violento c tcrrível ruído".

Mal cstas últimas sílabas foram pronunciadas - e como

se, na rcaliiaclc, um pcsatJo cscucio r.le bronzc houvesse cuí-do, naquele momento, sobre um assoalho de prata

-, ouvi

o eco claro, profundo, metálico e cstridentc, embora, apa-rcntementc, abafado. lnteiramente excitaclo, pus-mc tìe pc<

dc um salto; mas o movimento oscilante e compassado cleUsher continuou, imperturbávcl. Seus olhos achavam-se fi-xos cliantc de si, e sua fisionomia sc contraía numa rigidczpétrca. Mas, ao colocar a mão em seu ombro, um cstremcci,mcnto percorrcu-lhÈ todo o corpo, um sclrriso imperceptívcÌtrcmcu em scus lábios e vi que falava num sussurro apa-gado, rápìdo, como sc não tivcsse consciência da minhaprcscnça. Inclinando-me sobre ele, pude, afinal, compreen-dcr o significadcl horrcndo de suas palavras:

- Não ouvc, agora? Sim, cu o ouço, e ouvi antes. Du-rantc muito, muito tempo, muitos minutos, muitas horas,muitos dias, tenho ouvido. . . Mas não me atrevia

- oh,

rniserávcl infeliz quc sou ! -

não me atrevia . . . não meuÍrevia a falar! Nó.ç a colocamo.s viva em sue tumba! Nã,olhc dissc que os meus scntidos estão aguçados? Digo-lhc,(tgora, quc i.luvi os seus primeiros e quase imperceptíveismovimentos dentro do ataúde. Ouvi-os, há muitos, muitosclias... mas não ousava... não otlsava Íalar! E agora...csta noite. . . Ethelred

- ah. ah, ah! --, o arrombamentoda porta do crmitão, o grito de morte do dragão e o es-trondo do escudo. . . diga-sc antes, o destroçar de scu ataú-de, o rangcr dos gonzos de ferro dc sua prisão e a sua lutadentro da cripta revestida de cobrel Oh, para onde fugi-rci? Não cstará cla logo aqui? Não estará cla correndo aomcu encontro, para censurar-me peìa minha precipitaçãoÌ

26

Niìo ouvi os seus passos na escada? Não percebo o bater

lrorrível de seu coração? Louco!Nesse momento, ergueu-se de um salto, proferindo estri-

tlcntemente as sílabas, como se, naquele esforço, a alma se

lhe exalasse do peito:

- Louco! Digo-lhe que ela estd aSora atrds da porta!

No mesmo instante, como se a energia sobre-humana de

suas palavras houvesse adquirido a força de um encanta-mento, as enormes e antigas folhas da porta que ele indica-va entreabriram, lentamente, as suas pesadas mandíbulas de

óbano. Aquito era obra de uma rajada d-e vento, mas' no

marco daqìela porta, surgiu alta e amortalhada, a figura de

Lady Madeline de Usher. Suas alvas vestes estavam man-chadas de sangue, e havia sinais de violenta luta em toda

t sua pálida figura. Durante um momento, permaneceu'trêmulá e vacilante, sobre o umbral; depois, com um gritoabafado e queixoso, caiu pesadamente sobre o irmão e, em

sua violentâ e, agora, finál agonia, o arrastou para o chãojá cadáver, vítima dos terrores que havia previsto'

Fugi, aterrorizado, daqueles aposentos e daquela man-sho. Ã tempestade se desèncadeava ainda com toda a sua

lúria, quanão atravessei o velho caminho' Súbito, uma luzintensa se projetou diante de mim, e voltei-me para ver de

onde provinhá uma claridade tão estranha - pois somen-

tc a imensa mansão e suas sombras se achavam para trás'A irradiação provinda da lua cheia, de um vermelho corclc sangue-, já Èaixa no horizonte, brilhava agora através.da-

quela Tendá antes mal perceptível, a que i9 me referi,^e,tu" ,. estendia, em zigúezague, desde b tethado do edifí-cio até sua base. Enquanto a olhava, a fenda alargou-se ra-pidamente

- soproü violenta rajada de vento, em rede-

iroinho -

e o disco inteiro do satélite irrompeu de repente

ì minha vista. Meu cérebro se transtornou quando vi as pe-

st<1as paredes se desmoronarem, partidas ao meio; ouviu-sc longo e tumultuoso estrondo, como o reboar de mil ca-

turatas -

e o lago fétido e profundo, a meus pés, se fechou,

lótrica e silencioiamente, sôbre os restos da Casa de Usher'

27