Upload
tranduong
View
219
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
Educação Ambiental Crítica: do socioambientalismo às sociedades
sustentáveis
Ciclo de Cursos de Educação Ambiental – Ano 4 Secretaria de Estado do Meio Ambiente
Coordenadoria de Planejamento Ambiental Estratégico e Educação Ambiental
Departamento de Educação AmbientalSão Paulo – Abril 2006
Gustavo Lima ‐ UFPB
1. Contextualização histórica da educação ambiental ‐ EA
Elementos do contexto
‐ quadro autoritário (64‐84);‐ desenvolvimentismo;‐ resistência de setores de esquerda;‐ contracultura (maio 68, hippies);‐ conferências internacionais;‐ Relatório Meadows – Limites do crescimento‐ crise welfare e prenúncios neoliberalismo (Thatcher 79, Reagan 80)‐ ambientalismo científico (IUCN, FBCN)
EA surge na década de 70 no contexto de crise ambiental como campo plural formado por:
a) diversos atores sociais: ‐ associações e Ongs ambientalistas;‐ órgãos governamentais – SEMA, CETESB, FEEMA; ‐ escolas e educadores pontuais;‐ setores do ambientalismo científico
b) influências político‐conceituais:
‐ contracultura;‐militância política – marxismo e anarquismo;‐movimento ambientalista;‐ ciências naturais – ecologia, biologia;‐ ambientalismo governamental;‐ campo educacional – pedagogia comportamentalista, pedagogia crítica;
Apesar dessa multireferencialidade discursiva e prática, o campo da EA assumiu a princípio características que definiram a hegemonia de uma EA conservacionista:
Como caracterizar EA Conservacionista?
a) forte influência das ciências naturais;b) tendência apolítica e neutra (funcional ao momento autoritário);c) compreensão ecológica da crise ambiental;d) ênfase tecnicista;e) pedagogia comportamentalista (individualista);f) visão de educação como transmissão de conhecimento (conteudismo);g) paradigma fragmentador;h) ética antropocêntrica.
2. A EA Crítica e o Socioambientalismo
EA crítica se constitui como reação à essa tendência conservacionista
2.1 Os Argumentos da EA Crítica:
a) a questão ambiental como fenômeno complexo e multidimensional. Não é possível separar: (ver reducionismo)
‐ sociedade/ cultura e natureza;‐ indivíduos e coletividades;‐ razão e emoção;‐ ciência e demais saberes;‐ disciplinas naturais e sociais;‐ técnica, ética, política, economia e ecologia;‐ consumo e produção;‐ desenvolvimento e meio ambiente;
b) o ambiental transcende a esfera privada, é problema público epolítico;
c) se EA nasce da crise ambiental é necessário EA transformadora, não reprodutora das mesmas condições que produziram a crise;
d) crise ambiental como problema civilizatório;
e) o ambiental como um campo discursivo diferenciado e em disputa;
f) as categorias “a humanidade”, “o homem” ou “a ação antrópica são abstratas e genéricas. Os sujeitos existem em contextos e relações sociais concretas diferenciados. Sua responsabilidade pela degradação é também diferenciada;
g) a sociedade é lugar de conflitos e disputas não de harmonia;
h) a questão ambiental vista como objeto de direitos – cidadania ambiental.
2.2 O contexto histórico da EA crítica (1985 ):
a) redemocratização política;
b) ressurgem NMS;
c) aproximação entre ambientalismo e MS – Fórum de Ongs e MS (socioambientalismo);
d) diálogo ciências naturais e sociais;
e) emerge debate DS – Nosso Futuro Comum
f) Conferência Rio 92
g) Tratado de EA para sociedades sustentáveis
3. DS e Sociedade Sustentáveis
‐ Discurso do DS surge em 1987 como estratégia para substituir o discurso do desenvolvimento econômico em esgotamento;
‐ A partir de 1992 aparece como discurso dominante no debate sobre desenvolvimento e meio ambiente;
‐ Penetra vários campos de atividade entre os quais o campo educativo;
‐ Organismos internacionais, Agenda 21, Ongs, governos euniversidades dos países centrais tendem a substituir EA por Educação para o Desenvolvimento Sustentável – EDS;
Argumentam que EA convencional não respondia à complexidade dos problemas vivenciados:
a) reducionista;
b) visão naturalista da questão ambiental;
c) desprezou aspectos políticos, sociais e culturais;
d) centrou‐se em respostas técnicas e comportamentais;
e) adotou métodos disciplinares.
‐ A partir desse diagnóstico propõem EDS (ver década UNESCO).
‐ Crítica é procedente, se parece com problemas observados na EA brasileira inicial.( ver diferenças da EA européia)
Contudo, solução é discutível. Por que?
a) Ambigüidade e polissemia do DS converte EDS em discurso vazio:O que pode significar educar para o DS?
b) Necessário diferenciar o conteúdo dos vários discursos de sustentabilidade em seus:
‐ objetivos‐ interesses ‐ valores
c) EDS é proposta instrumental: “educar para” sugere adestramento porque suprime a autonomia do educando; (Jickling, 1992)
d) EDS é autoritária (de cima pra baixo): impõe DS como fim desejável e restringe debate aos meios de como atingí‐lo;
‐ Isso significa delimitar o debate às técnicas (meios) em detrimento da ética e política (fins);
e) EDS não supera contradições do DS: ‐ economicismo;‐ universalismo (ver sociedades sustentáveis);‐ viabilidade no contexto do capitalismo;
f) afirma inspiração neoconservadora (muda para conservar).
4. Contribuições da EA Crítica à Sustentabilidade
a) contribuição crítica – formar cidadãos críticos capazes de:
‐ pensar e decidir com autonomia;
‐ compreender a dinâmica da relação sociedade‐ambiente em suas múltiplas dimensões;
‐ diferenciar os significados dos vários discursos epráticas quanto à:
‐ concepções político‐pedagógicas;‐ objetivos;‐ interesses;‐ valores.
c) contribuição epistemológica – renovar o olhar e as formas de conhecer a realidade, no sentido de:
‐ problematizar o olhar reducionista que tende a separar subjetividade e objetividade, sociedade e ambiente, o si e os outros ( indivíduo da coletividade), a ciência de outros saberes, etc;
‐ explorar a idéia de complexidade que remete às noções de interdependência, inseparabilidade, multidimensionalidade, pluralidade;
‐ estimular o uso de métodos e práticas a interdisciplinares.
c) contribuição ética – promover a compreensão ético‐valorativa das relações: ‐ do indivíduo consigo mesmo;
‐ do indivíduo com os outros (em sociedade);‐ do indivíduo com seu ambiente;
‐ refletir sobre os valores que orientam nossas ações e sobre a possibilidade de mudá‐los; (individualismo, competitividade, felicidade associada ao consumo, utilitarismo)
‐ compreender a ética como construção social e humana que pode ser reconstruída;
‐ conhecer a diversidade do repertório ético‐cultural da humanidadeem relação às nossas práticas cotidianas;
d) contribuição política – politizar a compreensão da relação sociedade‐ambiente problematizando questões como:
‐ cidadania ambiental – direito a um ambiente saudável;
‐ participação ambiental – tomar parte em políticas e processos quedefinem nossa qualidade de vida;
‐ justiça ambiental – distribuição dos riscos e responsabilidadesambientais;
‐ cidadania científica – ciência não é só para cientistas;
‐ conflitos sobre propriedade e acesso aos bens naturais.
Bibliografia
‐ CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. Educaçã ambiental crítica: nomes e endereçamentos da educação. In:LAYRAGUES, P. P. Identidades da Educação Ambiental Brasileira. Brasília: MMA, 2004.
‐ GUIMARÃES, Mauro. Educação ambiental crítica. In:LAYRAGUES, P. P. Identidades da Educação Ambiental Brasileira. Brasília: MMA, 2004.
‐ LIMA, Gustavo F da Costa. Questão ambiental e educação: contribuições para o debate. Campinas, SP/NEPAM, Ambiente & Sociedade, ano II, nº 5, 1999.
_______________________. Crise ambiental, educação e cidadania: os desafios da sustentabilidade emancipatória. In: LAYRARGUES, P. P.; LOUREIRO, C.F.B.Educação ambiental: repensando o espaço da cidadania. São Paulo: Cortez, 2002.
‐ LOUREIRO, Carlos Frederico Bernardo. Educação ambiental transformadora. In:LAYRAGUES, P. P. Identidades da Educação Ambiental Brasileira. Brasília: MMA, 2004