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7/24/2019 Educao, Teoria Crtica e Literatura - Emancipao x Elitismo-2
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Educao, Teoria Crtica e Literatura:
Emancipao X Elitismo1
Benito Eduardo Araujo Maeso2
Falar sobre as imbricaes da teoria crtica em diversas reas do saber,
mapeando parte de sua penetrao nos campos da teoria literria, educao e
filosofia, obria!nos a voltar no tempo e observar aluns fatos "ist#ricos $ue
podem apontar um possvel problema na recepo do pensamento da
c"amada Escola de Fran%furt no Brasil, notadamente da produo de &"eodor
Adorno' ( necessrio contestar, e at) eliminar totalmente, certas leituras feitas
sobre os fran%furtianos ao lono do tempo, principalmente as resultantes dos
esforos te#ricos da rea de comunicao, jornalismo e propaanda'
A influ*ncia fran%furtiana dentro da universidade brasileira comea a se
dar apenas no final da d)cada de +' -onforme ./&01 234 as primeiras
tradues de artios de Adorno, Benjamin e 5or%"eimer ocorrem apenas em
67+7 na compilao Teoria da Cultura de Massa, orani8ada por 9uis -osta
90MA4' :osteriormente, ;abriel -.5< 67=>4 publica nova colet?nea,
Comunicao e Indstria Cultural, na $ual mais te@tos dos interantes da
Escola de Fran%furt so tra8idos a debate na academia brasileira' .corre uma
coincid*ncia "ist#rica entre a consolidao de uma indstria cultural realmente
1&e@to de introduo amae mesa coordenada de mesmo nome apresentada na Cemana de9etras 26> do -urso de 9etras da DF:/' rios elementos abordados neste artio so frutodos debates ocorridos na preparao com os alunos inscritos na coordenada uliana iani,Andr) 9ui8 -avan"a e os) .livir Freitas4, $ue merecem recon"ecimento do autor nestetrabal"o'
2:rofessor de Filosofia do 0F:/ 0nstituto Federal do :aran4' Mestre em Est)tica e Filosofiada Arte DC:4 e doutorando em Filosofia :oltica DC:GDF:/4'
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poderosa no pas e a assimilao acad*mica da teoria crtica a esta indstria'
Hesta forma, a absoro do debate acaba se dando mais por meio das
faculdades de comunicao do $ue na socioloia ou na filosofia'
os conceitos permitem dianosticar mel"or as mudanasadvindas com o desenvolvimento de um mercado de bensculturais $ue se e@pande a nvel nacional' I4' :or outro lado,o estudo dos meios de comunicao de massa socontempor?neos das Faculdades de -omunicao, $ue a meuver determinam, de uma maneira um tanto es$uemtica, aforma de se perceber a problemtica da cultura de massa noBrasil' -uriosamente, nelas se combinou os conceitos daEscola com uma anlise de contedo de oriem francesa,tornando difcil a compreenso do debate ideol#ico, tal comoele se coloca nos te@tos do 0nstituto' ./&01, 23 J online4
Esta incurso na "ist#ria ) necessria para $ue seja possvel desfa8er
dois dos e$uvocos mais comuns em relao produo fran%furtiana e
&eoria -rticaJ sua circunscrio aos processos de comunicao e seu pretenso
elitismo' A teoria crtica no ) da comunicao, mas sim da sociedade, o $ue
certamente enloba as t)cnicas de comunicao dita de massa de onde deriva
o conceito e@tremamente comple@o de indstria cultural4 mas no se subsume
ou se resume a este fenKmeno' /estrinir a teoria crtica anlise da mdia
acaba por promover uma leitura bastante simplificada do real escopo do
pensamento de Adorno e 5or%"eimer sobre o funcionamento da indstria
cultural, o $ue ser e@plicitado na se$u*ncia'
&ornou!se um trusmo, da mesma forma, atribuir a Adorno uma viso
elitista sobre o processo da formao e produo dos bens culturais para
aluns, a Laura de elitismo na contraposio entre Lalta cultura e
Lmassificao da arte ) muito acentuada, cfe' &/E01A
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simplista entre alta e bai@a cultura, na $ual a cultura dita de massa ou em
teoria produ8ida pela massa4 seria considerada inferior por uma oriem popular
em contraponto cultura refinada, dos sales e museus'
A dita indstria cultural no ) criticada por uma pseudo!banali8ao do
bem cultural, supostamente ao alcance de uma plebe inara, ou uma simples
reduo da cultura dita letima, refinada ou da c"amada rande arte posio
de mercadoria, mas principalmente pela elevao da mercadoria no conceito
mar@iano4 ao status de cultura, isto ), o fato da mercadoria se tornar o sistema
simb#lico pelo $ual reulamos nossas vidas e damos sinificado ao mundo $ue
nos cerca conforme -5ADP, 2634' A cultura, na viso dos te#ricos
fran%furtianos, no est dividida por posio social ou econKmica, mas sim porum crit)rio bastante especficoJ autenticidade ) importante notar $ue, neste
sentido, eles so representantes letimos do pensamento iniciado no
romantismo e no idealismo alemes do s)culo Q0Q4' -ultura ) uma produo
"umana R ou todaa produo "umana R e sua estandardi8ao sob o sino da
mercadoria, da velocidade e do pastic"e ) vista por estes pensadores como o
problema a ser entendido e combatido'
. o@moro Indstria Cultural4uarda em seu interior o mesmo conflito $ue o
"umanoGindivduoGsujeito enfrenta na sociedade administrada ! a aporia entre
um sistema cuja l#ica, permeada pelas leis do capital, e@ie e e@ecuta a
reproduo de padres identitrios j formatados e destinados a finalidades
especficas contra a necessidade e impulso de e@presso aut*ntica tanto do
indivduo $ue busca a consci*ncia de si sua autonomia no sentido %antiano4
como da coletividade em busca de uma orani8ao condi8ente com sua
realidade'
/eplicar e condicionar industrialmente este Geistsomente ) possvel por
meio da alienao, no sentido do no!recon"ecimento de si e do outro, e da
"umano nas sociedades administradas, e no uma crena na superioridade de um tipo deproduo cultural de forma especfica'
4. contraste entre a indstria, uma orani8ao s#cio!poltico!econKmica $ue busca
incessantemente sua auto!replicao, e a culturaGarte, entendida como tudo a$uilo $ue no )voltado apenas autopreservao'
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veiculao de uma ideoloia especfica $ue ocupe o luar da cultura desta
sociedade' ( por isso $ue o seredo da 0ndstria -ultural est em fa8er com
$ue a l#ica da mercadoria dite o modo de vida da sociedade e do indivduo,
por e@tenso' Mais do $ue peas na m$uina, somos produtos na prateleira'
Hesta forma, o carter de entretenimento da 0ndstria -ultural opera uma dupla
funoJ direcionar este conflito do sujeito em relao ao Eu para um
apa8iuamento provis#rio e simultaneamente reforar a ine@orabilidade do
sistema por meio da difuso velada ou no da ideoloia $ue o suporta'
. termo -ultura de Massa, inclusive, ) viorosamente combatido pelos
autores alemes, pois soaria como uma e@presso autnticada dita massa $ue
seria apenas veiculada pelos mass media, sem nen"um tipo de ideoloi8aoou mediao no processo' :ara Adorno, os processos $ue ocorrem na
realidade "ist#rica atual R e nossa percepo desta realidade R esto
condicionados pelos processos econKmicos visveis, por e@emplo, na 0ndstria
-ultural, $ue replica a ideoloia dominante em um processo de duas viasJ na
primeira, os bens culturais padroni8ados j tra8em em si uma resposta a
$ual$uer aresta ou $uestionamento $ue possa surir'
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$ue importa, e no se ) feita por um ar$uidu$ue europeu ou por Mestre
italino' A teoria crtica se insure contra o mundo do sempre!iual e v* na arte
o potencial de rompimento da estandardi8ao da consci*ncia, o potencial de
libertao do ser pela produo da diferena livre' . $ue isso teria de elitista,
aos ol"os de aluns, ) alo $ue ainda parece difcil de decifrar'
Este conceito de autenticidade e de estran"amento na teoria crtica,
invisvel a muitos te#ricos da comunicao, pode ser estendido no apenas
produo artstica por conseuinte literria4 como tamb)m para o processo
educacional, se o entendermos como forma de emancipao do indivduo e de
recon"ecimento de si e do outro' Hedicaremos alumas lin"as a cada um
destes campos'
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funcionamento do tecido $ue era e ) erado por estas contradies, no "
como entend*!las ou super!las' A busca desta decifrao das condies do
mundo e@ie um duplo ol"ar sobre o objeto da anlise' Dm ol"ar crtico'
Essa ) a ferramenta de resist*ncia em relao ao mundo "omo*neo $ue nos
cerca' LC# o trabal"o do pensamento, consciente de si mesmo, conseue
escapar a esse poder alucinat#rio e, seundo o idealismo de 9eibni8 e de
5eel, a filosofia AH./ J 6O64' &er a consci*ncia de si ) a difcil
tarefa em um mundo no $ual a pr#pria noo do Eu j est predeterminada, de
acordo com Adorno, pelas assim c"amadas Lferramentas $ue condicionam o
processo de formao de consci*nciasJ a indstria cultural como difusora da
ideoloia do capital' :or este prisma, pensar ! criticamente R ) resistir a esse
semipensamento formatado, ) deslocar seu ponto de viso e ver o mundo com
outros ol"os' Ceria esta tamb)m a tarefa da educao'
Esta imbricao entre o educar, o escrever e o filosofar, como formas de
nomear, revelar e entender o no!id*ntico ou a$uilo $ue ainda no pode ser
dito, o .utro, a Alteridade4 parece fornecer a possibilidade de superar a
armadil"a na $ual o fil#sofo fran%furtiano en@era nossa sociedadeJ a ascenso
de uma sociedade antissocial s# pode ser evitada pelas eraes futuras, visto$ue a barbrie j ocorreu'
-omo "oje em dia ) e@tremamente limitada a possibilidade demudar os pressupostos objetivos, isto ), sociais e polticos $ueeram tais acontecimentos, as tentativas de se contrapor repetio de Ausc"Tit8 so impelidas necessariamente para o
lado subjetivo' '''4 ( necessrio contrapor!se a uma talaus*ncia de consci*ncia, ) preciso evitar $ue as pessoasolpeiem para os lados sem refletir a respeito de si pr#prias' Aeducao tem sentido unicamente como educao diriida auma auto!refle@o crtica' AH./
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em seu ?mao a ideia de $ue a desumani8ao R a insensibilidade ao $ue )
diferente, a imposio de um pensarGser nico $ue no ) pr#prio do sujeito,
mas sim da ideoloia dominante R precisa ser combatidaJ LA barbrie
continuar e@istindo en$uanto persistirem as condies $ue eram esta
reresso AH./
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como certas vises estereotipadas buscam fa8er parecer' A crtica educao
centrada na severidade, na relao vertical do sujeito detentor de
con"ecimento para o sujeito dito aprendi8, a imposio ao bel!pra8er de limites,
buscando o en$uadramento do discente em padres de severidade
proressiva, tamb)m ) to inefica8 $uanto a permissividade completa' Adorno
observa $ue a ideia educacional da severidade desemboca em um sadismo de
personalidadeJ
:essoas $ue se en$uadram ceamente em coletivosconvertem a si pr#prios em alo como um material,
dissolvendo!se como seres determinados' 0sso combina com adisposio de tratar outros como sendo uma massa amorfa'AH./
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nicas dinas de cr)dito4 seria o maior elitismo $ue uma pessoa poderia
cometer, o e$uivalente educacional da personalidade autoritria e da tentativa
de conformao forada do .utro ao Eu' Ao professor cabe a tarefa crucial da
promoo deste sentido de alteridade em si e nos alunos, em concomit?ncia
com a construo do saber em todos os sujeitos da aprendi8aem'
( neste sentido tamb)m $ue a dialoicidade verdadeira, em$ue os sujeitos dial#icos aprendem e crescem na diferena,sobretudo, no respeito a ela, ) a forma de estar sendocoerentemente e@iida por seres $ue, inacabados, assumindo!se como tais, se tornam radicalmente )ticos' F/E0/E, 266J
+O4
Em sntese, a e$uivocada acusao de elitismo em relao &eoria
-rtica mira, parado@almente, e@atamente nos elementos $ue so os motores
de seu mecanismo promotor da emancipaoJ a inconformidadeGneao aos
padres ideol#icos resultantes da massificao orientada da produo dos
bens culturais e a promoo da alteridade contida no recon"ecimento dascapacidades e saberes dos sujeitos envolvidos no processo de recon"ecimento
de si e do outro em si' Hesta disposio e abertura ao .utro, da recusa ao
sempre!iual, suririam as ferramentas $ue possibilitariam aos seres "umanos
superarem a iluso do Eu rido, pertencente a uma elite, dominador do
mundo, do semel"ante e do diferente' ( da$uilo $ue ) visto por aluns como
elitismo R a recusa ao pensamento nico, mascarado de popular ! $ue sure
e@atamente um antielitismo adorniano, da maneira mais dial)tica possvel'
ObservaoJ o $ue se buscou nos diversos trabal"os desta coordenada, da
$ual este te@to funcionou uisa de introduo, foi e@atamente este processo
de estran"amento e de alteridade de posiesJ por meio do debate e do
deslocamentoGdesloucamento de autores e anlises, no apenas combater
vises limitadas sobre estes conceitos como tamb)m provocar esteestran"amento necessrio criao de novas possibilidades, ou, usando
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terminoloia deleu8iana, lin"as de fua para pensar o novo a partir do
e@istente'
VVVVVVVVVVV
Referncias biblio!r"ficas
AH./
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Dniversidade de Co :aulo, Co :aulo, 263' Hisponvel emJ["ttpJGGTTT'teses'usp'brGtesesGdisponiveisGOGO633Gtde!6=263!7O2>G\
./&01, /enato' L. Escola de 6ran+furt e a 7uesto da Cultura84 /evistabrasileira de -i*ncias Cociais v'6 n'6, Co :aulo, jun' 67O+' Hisponvel em'
[J"ttpJGGTTT'anpocs'or'brGportalGpublicacoesGrbcsVV6Grbcs6V>'"tmJ\Acesso em 6N jun 26>'
CAFA&9E, ladimir' :ara introdu8ir a e@peri*ncia intelectual de &"eodorAdorno' 0nJ A9ME0HA, oreU BAHE/, Wolfan, &ensamento alemo nos'culo XX' Co :auloJ -osac e