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Anais do XV Seminário Temático – ISSN 2357-9889
EDUCAÇÃO MATEMÁTICA EM ALAGOAS:
Análise dos documentos presentes no Repositório Digital
Mercedes Carvalho1
Siloane Pimentel2
Juliane Bezerra3
RESUMO
Este artigo é o relato do projeto de Iniciação Científica (PIBIC) desenvolvido entre o período de
2013-2015 sobre o ensino da Aritmética nas escolas primárias de Maceió no período de 1940 a
1970 e que foi subprojeto do projeto A CONSTITUIÇÃO DOS SABERES ELEMENTARES
MATEMÁTICOS: na Aritmética, a Geometria e o Desenho no Curso Primário em Perspectiva
Histórico-Comparativa, 1890-1970, coordenado pelo Prof. Dr. Wagner Valente da UNIFESP.
Neste espaço realtamos como o desenvolvemos ao longo do período e nas considerações finais
apresentamos os resultados alcançados.
Palavras-chave: curso primário, aritmética, matemática, historico-comparativo, grupo
escolar
Apresentação
Participar do Grupo de Pesquisa de História do Ensino da Matemática
(GHEMAT) sinalizou para a possibilidade de se construir um ensaio sobre a história do
ensino da Matemática no estado de Alagoas, bem como buscar possíveis respostas e
soluções para que possamos propor um currículo mais eficaz no ensino da matemática.
Portanto, de 2013 a 2015, concorremos ao edital do Programa Institucional de Bolsas de
Iniciação Científica (PIBIC) com a proposta de investigarmos o ensino da matemática
na escola primária alagoana no século passado.
Desenvolvemos o projeto, em tela, em três etapas. Primeiramente, fizemos
pesquisas nos arquivos da Secretaria Estadual de Educação, do Instituto de História e
Geografia de Alagoas e lemos as dissertações produzidas pelo grupo de pesquisa em
História da Educação em Alagoas com vistas a coletar e catalogar documentos que
tratassem sobre a escola primária no século passado e, em especial, o ensino da
Matemática. Catalogamos as informações e elaboramos os primeiros documentos com
dados históricos sobre a escola alagoana e que alimentaram o Repositório
1Doutora em Educação Matemática, Professora Adjunta da Universidade Federal de Alagoas: CEDU e
IM 2 Bolsista PIBIC – Graduanda Instituto de Matemática – Licenciatura em Matemática - UFAL 3 Colaboradora PIBIC – Graduanda do Curso de Pedagogia – Centro de Educação -UFAL
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Anais do XV Seminário Temático – ISSN 2357-9889
http://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/998554 com informações do estado de
Alagoas https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/989655 .
Ainda, nesta etapa, analisamos os documentos de outros Estados que constam no
Repositório e montamos um quadro síntese com os dados elencados sobre o ensino da
Matemática com ênfase na aritmética. Feita esta organização partimos para um estudo
preliminar, histórico-comparativo, das informações a fim de buscar elementos que
sinalizassem sobre o ensino da aritmética em Alagoas/Maceió em relação aos demais
Estados que participam do projeto e, assim, produzir documentos e relatórios que
alimentassem tanto o Repositório quanto as pesquisas do Programa de Pós- Graduação
em Educação (PPGE) e do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e
Matemática (PPGECIM) e, também, subsidiassem os estudos do Grupo de Pesquisa em
Educação Matemática (GPEM).
Na segunda etapa realizamos a análise das Revistas de Ensino que circularam nos
Estados com ênfase no ensino da Aritmética e, também, analisamos os anais dos dois
Seminários Temáticos sobre a História do Ensino da Matemática que ocorreram nos
anos de 2014 e 2015, sediados na Universidade Federal de Santa Catarina e na
Pontifícia Universidade Católica do Paraná, respectivamente. Neste momento, nossa
intenção foi analisar os artigos e temáticas publicados pelos Estados que compõe o
projeto basilar.
A partir do inventário dos anais selecionamos aqueles que abordavam sobre o
ensino da Aritmética. Munidos desses dados, pudemos passar para a análise
comparativa entre o enino da Aritmética nos diferentes Estados, mas principalmente,
apreciar a participação de Alagoas nos referidos seminários.
Por fim, como última etapa do projeto, buscamos fontes – livros didáticos – que
circularam nas escolas maceioenses, no recorte temporal da pesquisa, como meio de
analisar a circulação e apropriação de modelos culturais ligados aos saberes elementares
matemáticos.
Como é vultuosa a quantidade de documentos no Repositório e o projeto de
Iniciação Científica (PIBIC) aconteceu ao longo de três anos, optamos por apresentar,
4 O Repositório se encontra na Universidade Federal de Santa Catarina. 5 A Constituição dos saberes elementares matemáticos - AL
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Anais do XV Seminário Temático – ISSN 2357-9889
neste artigo, como executamos o trabalho nas duas últimas etapas do projeto, com
ênfase no ensino da Aritmética, pois este era o foco da pesquisa em Alagoas e
apresentar uma síntese de nossas análises, em uma perspectiva comparativa nas
considerações finais, isso porque, são várias temáticas que emergem dos documentos e
que podem ser tratadas, separadamente, devido a sua relevância.
As Etapas do Projeto de Iniciação Científica – PIBIC
Nosso primeiro movimento, após a aprovação do projeto, foi buscar informações
nos arquivos disponibilizados na Secretaria Estadual de Educação, no Museu de
História e Geografia de Alagoas, na Biblioteca Estadual e em algumas escolas estuduais
antigas e, também, ler as dissertações produzidas pelo grupo de estudos sobre História
da Educação alagoana na busca de informações sobre o ensino da Matemática no curso
primário. Essa primeria fase do trabalho foi demorada porque muitos dos documentos
disponibilizados não estavam catalogados ou digitalziados para consulta. Portanto,
também, ao fazermos a busca nos arquivos, digitalizamos vários documentos históricos
sobre a educação no Estado e que traziam alguma informação sobre o ensino da
matemática para que pudessemos alimentar o link de Alagoas no Repositório.
Após a catalogação e depósito dos documentos alagoanos no Repositório
http://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/99855, montamos uma síntese com os
dados elencados sobre o ensino da Matemática, com ênfase na aritmética, nas escolas
primárias alagoanas e produzimos um quadro acerca do ensino da Matemática nos
Estados que participam do projeto e ensaiamos um estudo histórico-comparativo sobre o
ensino da Matemática entre Alagoas e os demais estados.
As Revistas de Ensino
Na segunda etapa do projeto trabalhamos com as Revistas de Ensino que
circularam nos Estados e o Seminário de Curitiba foi dedicado a essa temática.
Catalogamos as revistas6 e montamos um novo quadro comparativo, por região, sempre
com ênfase nas Revistas de Ensino que, em suas edições, tivessem artigos sobre o
ensino da aritmética no curso primário, pois era o nosso objeto de pesquisa em Alagoas.
6Por conta do espaço dedicado ao artigo não temos como apresentar a catalogação das revistas, mas todas
as revistas de todos os estados estão disponíveis no Repositório.
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Anais do XV Seminário Temático – ISSN 2357-9889
Muitas vezes, os títulos dos artigos não fazem alusão à aritmética, porém a leitura do
texto traz informações acerca do trabalho aritmético no curso primário.
A organização dos dados dessas revistas apontou, principalmente, no nosso
Estado, que não há muitos artigos que tratem, especificamente, da aritmética no ensino
primário. Na região Nordeste, a quantidade de artigos que tratam, especificamente, da
aritmética no curso primário é pequena, visto que os estados de Alagoas e Bahia, juntos,
apresentam sete, enquanto os demais não apresentam artigos sobre a temática.
A região Centro-Oeste é a que possui menor quantidade de artigos que tratam,
especificamente, da aritmética no ensino primário, visto que o Distrito Federal apresenta
apenas um documento e Goiás três, enquanto que Mato Grosso não apresenta artigos.
A região Sudeste apresenta a maior quantidade de artigos que tratam sobre o
ensino da aritmética no curso primário, sendo que os estados de São Paulo e Minas
Gerais, juntos, têm cinquenta e quatro escritos.
O estado do Rio Grande do Sul apresenta grande quantidade de artigos que
tratam do ensino da aritmética. Paraná e Santa Catarina possuem juntos dois artigos.
Ler e examinar esses documentos, em particular os artigos das revistas, trouxe
um enriquecimento para o estudo acerca do ensino da aritmética no curso primário em
Alagoas, pois pudemos observar que os artigos mostram como e quais conteúdos
aritméticos eram estudados pelos alunos e a tabuada era e ainda é, em nosso Estado,
conteúdo importante no aprendizado.
Os Seminários Temáticos
Nesta etapa da execução do projeto nossa intenção era avaliar a participação do
Estado de Alagoas nos seminários bem como fazer uma análise comparativa entre os
trabalhos dos Estados que participam desse projeto e fizemos mais um quadro para
catalogar os artigos dos anais dos Seminários Temáticos realizados em 2014 e 2015.
Os anais do XI Seminário Temático: A Constituição dos Saberes Elementares
Matemáticos: A Aritmética, a Geometria e o Desenho no curso primário em perspectiva
histórico-comparativa, 1890-1970 realizado em Florianópolis, Santa Catarina no ano de
2014, estavam divididos em duas modalidades: a primeira de resumos de pesquisas em
andamento e em artigos de pesquisas já concluídas. Desse modo, localizamos dezessete
estudos que versam sobre o ensino da Aritmética, sendo onze na modalidade resumo e
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seis em artigo. Neste Seminário foi nossa primeria participação e apresentamos dois
artigos.
O primeiro artigo intitulado “Memórias das Professoras do Primário sobre o
Ensino de Aritmética em Alagoas nas Décadas de 40 a 80 do Século XX” de Correia e
Carvalho (2014)7, que investigaram o ensino de Aritmética na escola primária utilizando
como fonte as memórias das professoras primárias. Para tal, recorreram ao recurso
audiovisual, assim puderam apreender como essas professoras abordavam o ensino da
Matemática. A falta de dados históricos que compreendem esse período impede uma
análise mais aprofundada sobre como as concepções pedagógicas influenciaram o
ensino da Aritmética em Alagoas, conforme salientam as autoras:
Atualmente, não temos dados históricos de como as concepções
metodológicas eram abordadas em sala durante este período histórico e nem
como aconteceram tais mudanças dentro desta vertente [...] (SILVA;
CARVALHO, 2014, p. 2-3)
O artigo “O ensino da Matemática na escola primária de Maceió no século
passado – o que os documentos revelam” de Carvalho (2014)8 que abordou o ensino da
Aritmética nos grupos escolares maceioenses no período de 1940 a 1970 e focalizou a
identificação dos conteúdos de Aritmética trabalhados no ensino primário e
metodologia empregada. As autoras identificaram que os conteúdos trabalhados pelos
professores estão relacionados a: a contagem; as operações fundamentais; frações;
geometria; e sistema métrico. Quanto à metodologia, as autoras constatam que,
possivelmente, os professores dos diferentes Estados utilizavam-se do mesmo método:
apresentar o conteúdo e aplicar exercícios como forma de avaliar. A tabuada esteve
presente em todos os documentos analisados.
Observou-se que o ensino da Matemática, de acordo com os documentos do
respositório, é semelhante em todos os Estados. (CARVALHO; PIMENTEL;
PEREIRA, 2014, p. 2-3)
Os artigos apresentados neste Seminário compreendem um espaço temporal
entre 1896 a 1960 e as temáticas são diversificadas, dentre as quais podemos destacar:
as representações sobre o método intuitivo nos processos de ensino e aprendizagem da
Matemática, analisar as apropriações do movimento da Escola Nova no ensino de
7 Disponível em http://seminariotematico.ufsc.br/files/2014/03/RE6_correia_res_DAC.pdf . Acesso
outubro de 2016 8 Disponível em http://seminariotematico.ufsc.br/category/resumos/ acesso em outubro de 2016.
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Aritmética e Geometria no ensino primário, compreender de que forma o método
intuitivo foi apropriado para o ensino da Aritmética, entre outros.
Apesar, de tratarem de diferentes temas os trabalhos se relacionam, isso porque,
todos os artigos apresentados têm como fonte primária os documentos presentes no
Repositório.
Os anais do XII Seminário Temático intitulado “Saberes elementares
matemáticos do ensino primário (1890 - 1970): o que dizem as Revistas Pedagógicas?”
realizado em Curitiba no ano de 2015 encontramos sessenta e um artigos dos quais
dezoito se dedicam a discutir o ensino da Aritmética.
Neste Seminário apresentamos três artigos. “O ensino das Matemáticas no Liceu
Alagoano (1930-1970): o currículo e seus agentes”9 de Cavalcanti e Carvalho (2015) e
buscou analisar a disciplina de Matemática enfatizando o currículo e seus agentes no
Liceu Alagoano no período de 1930 a 1970; “A constituição da história da Matemática
no nordeste brasileiro: um estudo comparativo sobre a resolução de problemas (1930-
1950)”10 de Fernandes e Carvalho (2015) apresenta um recorte de um projeto de
pesquisa de mestrado em Educação e buscou compreender como se iniciou o trabalho
com resolução de problemas matemáticos no Nordeste brasileiro, especificamente, nos
estados de Alagoas, Bahia, Sergipe e Rio Grande do Norte. O artigo “Uma busca sobre
o que abordam as Revistas Pedagógicas de Alagoas em relação aos saberes elementares
Matemáticos e as concepções de ensino no primário”11 faz um estudo sobre os assuntos
matemáticos tratados nas Revistas de Ensino do Estado de Alagoas de 1907, 1927 e
1938 como também as concepções de ensino que eram abordadas e defendidas.
No que diz respeito ao ensino da Aritmética, os autores dos artigos em tela,
inferem que esse saber elementar, é relevante e ocupa espaço significativo nos
programas da época e que apesar dos vários decretos sancionados este se manteve com
poucas alterações.
9 Disponível em http://www2.td.utfpr.edu.br/seminario_tematico/artigos/95.pdf Acesso em outubro de
2016 10 Disponível em http://www2.td.utfpr.edu.br/seminario_tematico/ANAIS/47_ELISABETE.pdf. Acesso
em outubro de 2016 11 Disponível em http://www2.td.utfpr.edu.br/seminario_tematico/ANAIS/36_SILVA_CARVALHO.pdf.
Acesso em outubro de 2016
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Anais do XV Seminário Temático – ISSN 2357-9889
Cabe dizer que estamos de acordo com a compreensão de saberes aritméticos
tomada por Valente (2015, p. 196-197) a qual estabelece:
Para resposta primeira, tomou--se o senso comum pedagógico: o elementar
refere-se aos primeiros passos, àquilo que deve ser ensinado para que haja
uma progressão aos níveis mais avançados; trata-se da base do conhecimento,
dos seus graus iniciais; enfim, de modo tautológico, dos elementos.
Além disso, as autoras também apontam que mesmo diante das modificações
ocorridas por meio das legislações, havia a recomendação para que os professores se
utilizassem do método intuitivo entendido como “sendo a prática pedagógica que faz
uso de objetos didáticos, conhecidos ou semelhantes àqueles conhecidos pelos alunos,
para promover a aprendizagem (VALDEMARIN, 2011, p. 4)”.
Como decorrência dessa concepção teórica, a atividade educativa deve
centrar-se na proposição de exercícios para aprimorar a criação de idéias
claras e exatas, adequados às sucessivas etapas do desenvolvimento humano.
Dos trabalhos apresentados, neste evento, cinco artigos buscam identificar
elementos da Aritmética - desde conteúdos, recursos e orientações metodológicas - que
circulavam nas Revistas Pedagógicas. Observamos que Soares, Amaral (2015); Pinto
(2015); Costa, Souza, Costa (2015); Gawlowski, Santos (2015) e Borges (2015)
apontaram em seus artigos, que as Revistas Pedagógicas apresentavam orientações aos
professores quanto ao método e práticas de ensino bem como os conteúdos a serem
abordados para que o ensino primário se tornasse mais eficaz. Indicaram, ainda, que nas
orientações metodológicas há a prevalência do método intuitivo com a utilização de
materiais, ou seja, o professor deveria partir sempre do concreto para o abstrato, do
simples para o mais complexo além da utilização de problemas.
O artigo de Felisberto (2015) corrobora com esse entendimento. Seu trabalho
objetiva localizar vestígios da concepção de concreto adotada no século XX nas práticas
de ensino de Aritmética em escolas primárias paranaenses. Segundo o autor,
Os vestígios trazidos pelas revistas referentes à Aritmética da escola primária
paranaense foi uma confirmação que de fato o método intuitivo, tão discutido
na época, era adotado nas escolas da Capital, de modo que os professores
prezavam pelo ensino que partisse do simples para o composto.
(FELISBERTO, 2015, p. 127)
Atentar para esse fato é de fundamental importância para que possamos entender
a relevância que as Revistas Pedagógicas possuíam para a formação e qualificação dos
professores primários. Como descreve Lima & Wielewski (2015, p. 270) cuja
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comunicação descreve artigos trazidos por Revista que circulava em 1920 no
Amazonas.
A comunicação apresenta a importância da descrição de revistas direcionadas
ao ensino, veiculadas em 1920, como base na tarefa de configurar as
estratégias para a formação de professores de matemática e os reflexos táticos
legitimados na atuação desse profissional nos grupos escolares no Amazonas.
(LIMA & WIELEWSKI, 2015, p. 270)
Como difusora de ideias e discursos, as Revistas Pedagógicas serviram ao
propósito de disseminar os ideais defendidos em cada período histórico. Assim, a
utilização de problemas aritméticos na escola primária recebe destaque como importante
recurso didático para desenvolver competências e habilidades na resolução de situações
práticas da vida. (BURIGO & SANTOS, 2015)
Desse modo, o ensino deveria preparar para a vida, para o trabalho. Sendo assim,
a orientação é que os problemas deveriam partir da realidade da criança além do
aumento crescente na dificuldade dos problemas propostos. Como coloca Burigo &
Santos (2015)
As orientações veiculadas na Revista para a abordagem dos problemas
aritméticos valorizavam: a vinculação entre os problemas aritméticos e as
vivências das crianças; o apelo ao desenvolvimento do raciocínio
matemático; a variedade dos tipos de problemas a serem propostos; a
abordagem dos problemas em grau crescente de complexidade; o
conhecimento, pelo professor, das dificuldades de cada aluno. (p.13)
Fernandes & Carvalho (2015) ao tratarem da resolução de problemas em escolas
alagoanas apontam para indícios de sua presença já no Programa de Ensino de 1938
corroborando com a ideia trazida por Burigo & Santos (2015) ao afirmar que:
A coleção de artigos analisados indica que a resolução de problemas era,
mais do que um item do Programa Mínimo, considerada um dos eixos do
ensino de Matemática na escola primária. E isso, não apenas no Rio Grande
do Sul, como atestam os artigos de autores de outros Estados. (p. 20)
Os recursos didáticos são ferramentas importantes para consolidação da
aprendizagem seguindo a metodologia sugerida, dentre os quais há grande destaque para
as Cartas de Parker. Desse modo, Portela & Pinto (2015) abordam a utilização das
Cartas de Parker como meio de concretizar o ensino da Aritmética na escola primária
tomando como fonte as Revistas Pedagógicas.
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Novamente as Revistas Pedagógicas aparecem como instrumento tanto de
divulgação de metodologias e práticas de ensino quanto de formação e qualificação do
professorado. Nas palavras de Portela & Pinto (2015, p. 244):
A revista foi um veículo importante na melhoria do ensino primário do
período. Ao divulgar as Cartas de Parker, material que mais que um
dispositivo pedagógico, contribuía para a modernização do ensino da
Aritmética.
Ao que parece, de Norte a Sul do país, independente do período delimitado nos
estudos apresentados, as recomendações e direcionamentos ao professor para o ensino
da Aritmética se assemelham. Existem indícios que apontam que São Paulo foi pioneiro
na educação primária e formação de professores.
[...] o modelo de instrução paulista serviu de elo entre os diferentes estados e
a pedagogia intuitiva. Pois, com o advento do sistema governamental
republicano o estado paulista depositou na educação esperanças de um futuro
melhor. (OLIVEIRA, 2014, p. 11)
Sendo assim, diferentes Estados brasileiros empenhados em propor melhorias
tanto para o ensino primário quanto para a formação de professores passa a buscar
profissionais formados nas Escolas Normais de São Paulo. Talvez essa seja a razão para
as semelhanças que observamos nos textos analisados.
Com o propósito de fazer parte da modernização educacional, diferentes
estados brasileiros passaram a contratar professores normalistas formados em
São Paulo para reformar seus respectivos sistemas de instrução pública
(OLIVEIRA, 2014, p. 12)
Os livros Didáticos
Na terceira e última etapa da nossa pesquisa buscamos informações sobre livros
didáticos que circularam nas escolas maceioenses no recorte temporal da pesquisa. Mas
não encontramos nenhum livro didático que tenha circulado em nosso território e que
tratasse do ensino da aritmética e fizesse parte do acervo das bibliotecas das escolas, da
Biblioteca Estadual e do Instituto de História e Geografia de Alagoas. Em seguida,
fizemos análise dos arquivos digitais sobre os livros didáticos de outros Estados que
fazem parte da pesquisa e estão no Repositório Digital e montamos um quadro síntese
com os dados referentes a esses livros, sobre o ensino da Matemática, em cada Estado
que participa do projeto basilar com ênfase na aritmética.
Primeiramente, analisamos os livros presentes nos Estados da região Nordeste e
depois nos demais estados participantes desse projeto de pesquisa. Durante a análise dos
10
Anais do XV Seminário Temático – ISSN 2357-9889
arquivos digitais dos livros selecionamos os conteúdos vinculados ao ensino da
aritmética no curso primário.
Encontramos livros didáticos, sobre o ensino da aritmética, apenas no estado da
Paraíba que conta com cinco exemplares e em São Paulo com dois, no recorte temporal
da pesquisa.
O livro Elementos de Matemática vol. 112 e 213 de autoria do Prof. Jacomo
Stávale seguem o programa indicado na portaria ministerial da época e procura
desenvolver o raciocínio dos alunos. O primeiro volume está dividido em quatro
capítulos: operações fundamentais, divisibilidade aritmética e números fracionários e
sistema legal de unidade de medir. Já o segundo volume trata do sistema métrico
decimal, potências e raízes, razão e proporção e grandezas proporcionais. Os dois
trazem, primeiramente, as definições e depois os exemplos e exercícios.
O livro Aritmética14 da autora Andréa Fontes Peixoto trabalha com grandezas
numeração, sistema de numeração, numeração romana, operações aritméticas: adição,
subtração, multiplicação e divisão, divisibilidade, números primos, máximo divisor
comum, mínimo múltiplo comum, frações ordinárias, operações com frações, frações
decimais, sistema métrico decimal e sistema monetário brasileiro. Da mesma maneira
dos livros anteriores, este apresenta as definições seguidas de exemplos e exercícios
propostos.
O livro Primeiro Ano de Matemática15 do autor Prof. Jacomo Stávale procura
dar ênfase aos exercícios orais, pois faz com que os alunos reflitam sobre cada temática,
considerando que a Matemática é muito importante para desenvolver o raciocínio dos
mesmos. Distribui a matéria em dezessete capítulos: numeração, as operações
fundamentais, noções elementares de geometria, quadrado e raiz quadrada dos números
inteiros, divisibilidade, máximo divisor comum, números primos, frações ordinárias,
frações decimais, dizimas periódicas, quadrado e raiz quadrada das frações, sistema
métrico decimal, números complexos, os números qualificados ou relativos,
preliminares de álgebra, gráficos e equações. O autor coloca, primeiramente, as
12 https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/134704 13 https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/134705 14 https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/163570 15 https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/135739
11
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definições dos conteúdos exemplificando-as com situações cotidianas. Em seguida, traz
os exercícios orais e para quadro negro.
O livro Matemática – Curso Ginasial vol. 116 está dividido em sete capítulos: o
que é Matemática, numeração, os números inteiros, geometria não-métrica, fatoração e
números primos, o sistema dos números racionais e medida. Ele apresenta, inicialmente,
um pouco da história que envolve o conteúdo e, em seguida, mostra alguns problemas
que são classificados em três categorias: os que aplicam teoria, os com nível de
dificuldade maior (assinalados com um x) e os problemas-desafio.
O livro Problemas de Matemática17 do autor Prof. Jacomo Stávale apresenta
inúmeros problemas e exercícios com resultados e alguns com suas possíveis soluções.
Esses exercícios envolvem numeração, operações fundamentais, números relativos,
divisibilidade, números primos, máximo divisor comum, mínimo múltiplo comum,
frações ordinárias e decimais, dízimas periódicas, unidades de medida.
O livro Ensinando Matemática a Crianças18 publicado pelo Centro Brasileiro de
Pesquisas Educacionais é um guia para professores do 1º ano e está dividido em seis
capítulos. O primeiro trata dos objetivos do ensino da matemática para o 1º ano de
estudos. O segundo traz recomendações indispensáveis ao professor para que ele possa
trabalhar os conteúdos matemáticos de uma maneira que possa desenvolver o raciocínio
dos alunos. O terceiro trata dos interesses infantis e seu aproveitamento na
aprendizagem da matemática, dando sugestões de atividade segundo o interesse da
criança. O quarto apresenta sugestões para direção das atividades de matemática no 1º
ano, tratando de noções gerais de grandeza, posição, distância, sentido e direção,
contagem, número par e ímpar, ordinais, dúzia e meia dúzia, adição e subtração, sistema
monetário, unidades de medida. O quinto trata dos recursos para o ensino da matemática
no 1º ano, como material, atividade de utilização múltipla, jogos e outros recursos. O
sexto apresenta a medida da aprendizagem da matemática no 1º ano, trazendo sugestões
de prova, tabulação e apreciação dos resultados.
16 https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/156864 17 https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/135737 18 https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/159674
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O livro Noções de Aritmética19 escrito por Guilherme Nienaber apresenta,
exercícios de cálculo envolvendo numeração – nome e forma dos algarismos, operações
aritméticas e suas respectivas tabuadas, frações decimais, problemas sobre as quatro
operações, regra de três e recapitulação.
Observamos que os livros procuram apresentar seus conteúdos de maneira
igualitária se comparados, alguns apresentam atividades cotidianas, já outros
apresentam um pouco da história, porém todos buscam orientar o professor no intuito de
facilitar a aprendizagem. A disposição dos conteúdos trabalhados no ensino primário
apresenta-se em concordância com o programa da época.
Algumas considerações sobre o projeto desenvolvido em Alagoas
O Repositório Digital tem um acervo riquíssimo em informações e podem e
devem ser analisados a partir de diferentes olhares. Nossa intenção ao fazermos esse
trabalho foi compreender como se constituiu a história do ensino da Matemática em
Alagoas e trazer luzes às nossas pesquisas e até o momento depreendemos que os
estados do Rio de Janeiro, na época capital brasileira, e São Paulo formam os modelos
que as autoridades educacionais seguiram para a construção do currículo escolar.
Por meio da análise dos documentos presentes no repositório, notamos que a
abordagem dos conteúdos objetivava desenvolver o domínio dos processos aritméticos e
habilitar o aluno a usar os conhecimentos adquiridos no dia a dia.
Durante o desenvolvimento do projeto houve dificuldades para conseguirmos
material que desse respaldo às análises, pois existem poucos documentos que tratam,
objetivamente, do histórico do ensino da Matemática nas escolas primárias de Alagoas.
Alguns estudos existentes são pesquisas acerca do ensino, aprendizagem e formação de
professores que ensinam Matemática e são desenvolvidas com o envolvimento de
professores licenciados em Matemática ou em Pedagogia. Porém, esses estudos não
tratam da história do ensino da matemática no Estado.
Entretanto, ainda que de posse de poucos documentos, pois é uma pesquisa
pioneira, analisamos os documentos que constam no Repositório. Além disso, fizemos
um estudo histórico-comparativo, das informações a fim de buscar elementos que 19 https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/159667
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sinalizassem sobre o ensino da aritmética em Alagoas/Maceió em relação aos demais
Estados que participam do projeto.
Na segunda etapa do projeto tivemos a oportunidade de analisar os artigos
presentes nas revistas de ensino de cada estado, especificamente aqueles que tratam
sobre o ensino da aritmética no curso primário e informações sobre a formação dos
professores no curso Normal. Esse estudo exigiu persistência para compreender os
escritos da época, pois não é uma tarefa fácil tentar entender como ocorria a
aprendizagem.
Mediante as análises percebemos que sempre houve uma preocupação do
governo em propor melhorias para o ensino primário, assim, os documentos oficiais
veiculavam artigos que orientavam os professores tanto no que se refere a metodologia
como recursos didáticos. Observamos que apesar das pesquisas serem de diferentes
estados existem muitas semelhanças entre os programas de ensino e orientações
pedagógicas e que São Paulo tornara-se o centro de referência em modernidade da
educação.
Pretende-se, portanto, dada a importância do assunto, contribuir com os
professores e profissionais da área de educação, sobretudo da educação matemática, de
maneira que possam compreender a importância da história do ensino matemático para
entender o surgimento das ideias que deram forma à cultura matemática.
Esse projeto de pesquisa nos proporcionou aprendizagem e contribuição na
formação acadêmica, pois podemos perceber que a história sobre o ensino da
matemática pode ser utilizada visando inovar a prática pedagógica e proporcionar
melhores rendimentos no processo de ensino-aprendizagem. Conhecendo o processo
histórico do ensino matemático podemos entender que a matemática é fruto da
necessidade humana.
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