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Efeitos da vitamina D na fisiopatologia das
doenças cardiovasculares
Effects of vitamin D in the pathophysiology of
cardiovascular disease
Joana Alexandra Leitão Correia
Orientado por: Prof. Doutora Carmen Brás Silva
Monografia
Porto, 2010
i
Joana Alexandra Leitão Correia | Porto 2010
Dedicatória
Queria dedicar este trabalho aos meus pais, aqueles que tornaram possível o
meu percurso académico e que estarei eternamente agradecida.
O Ricardo merece uma dedicação pelo carinho, paciência e compreensão.
À Daniela pelos momentos de companheirismo e amizade que partilhamos.
ii
Joana Alexandra Leitão Correia | Porto 2010
iii
Joana Alexandra Leitão Correia | Porto 2010
Agradecimentos
A todos aqueles que tornaram possível que eu realizasse esta licenciatura, que
me ajudaram a subir a montanha ultrapassando as dificuldades.
iv
Joana Alexandra Leitão Correia | Porto 2010
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Joana Alexandra Leitão Correia | Porto 2010
Índice
Dedicatória .......................................................................................................... i
Agradecimentos ................................................................................................ iiii
Lista de Abreviaturas ....................................................................................... viiii
Resumo em Português ..................................................................................... ixx
Palavras-Chave………………………………………………………………………..x
Resumo em Inglês ............................................. Erro! Marcador não definido.
Keywords………………………………………………………………………………xii
Introdução .......................................................................................................... 1
1. Vitamina D
1.1 Fontes da vitamina D……………………………………………………...2
1.2 Funções e metabolismo da vitamina D…………………………………3
1.3 Determinação dos níveis séricos………………………………………...5
1.4 Definição dos níveis séricos……………………………………………...6
1.5 Factores que influenciam os níveis séricos…………………………….7
2. Vitamina D e Doenças Cardiovasculares
2.1 Morbilidade e mortalidade cardiovascular: relação com os níveis da
vitamina D………………………………………………………………………………9
2.2 Possíveis mecanismos de acção da vitamina D implicados nas doenças
cardiovasculares………………………………………………………………………12
3. Relevância da suplementação/fortificação em vitamina D na patologia
cardiovascular…………………………………………………………………………18
Análise crítica e considerações finais………………………………………………24
vi
Joana Alexandra Leitão Correia | Porto 2010
vii
Joana Alexandra Leitão Correia | Porto 2010
Lista de Abreviaturas
ADN – Ácido Desoxirribonucleico;
AVC – Acidente Vascular Cerebral;
DAC - Doença Arterial Coronária;
DAP - Doença Arterial Periférica;
DCV – Doenças Cardiovasculares;
DVC – Doenças Vasculares Cerebrais;
ECA – Enzima Conversora da Angiotensina;
IC - Insuficiência Cardíaca;
LURIC - Ludwigshafen risk and Cardiovascular Health;
NHANES III - National Health and Nutrition Examination Survey;
PA - Pressão Arterial;
PTH – Hormona da Paratiróide;
RXR – Receptor do Ácido Retinóico;
SRA – Sistema Renina-Angiotensina;
UP – Upper Limit;
VDR – Receptor da vitamina D;
VDRE – Elementos de resposta da vitamina D;
1,25(OH)2D - 1,25-dihidroxivitamina;
25(OH)D - 25-hidroxivitamina D;
1 alfa-Hidroxilase - 1α-OHase;
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Joana Alexandra Leitão Correia | Porto 2010
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Joana Alexandra Leitão Correia | Porto 2010
Resumo
As doenças cardiovasculares (DCV) são responsáveis por 30% das mortes
em todo o mundo, sendo a causa número um de mortalidade, incapacidade e má
qualidade de vida. Crescentes evidências sugerem que a deficiência em vitamina
D pode estar inversamente associada com as DVC representando um factor de
risco não-clássico, porém os dados ainda não são esclarecedores.
A vitamina D, conhecida como a vitamina do sol, é hoje reconhecida, não
apenas pela sua importância na saúde óssea em crianças e adultos, mas também
por outros benefícios na saúde, como na redução do risco de doenças crónicas,
incluindo doenças auto-imunes, cancro e DCV. O metabolito activo da vitamina D,
1,25-dihidroxivitamina D (1,25(OH)2D), que é sintetizado a partir do precursor 25-
hidroxivitamina D (25(OH)D), tem sido associada a protecção do coração e da
vasculatura. São vários os mecanismos propostos que tentam explicar como os
níveis séricos diminuídos de 25(OH)D estão associados com o aumento do risco
de DCV que têm sido verificados em diversos estudos.
Mais estudos terão de ser realizados, no entanto, se for provado que esta
relação entre a vitamina D e as DCV é causal, intervir na deficiência da vitamina D
da população, com suplementação e /ou fortificação e aumentando, tendo em
conta as recomendações, a exposição solar, pode ser um meio simples e
potencial para abrandar o desenvolvimento de doenças crónicas, como as DCV,
na população em geral. O papel do nutricionista será portanto importante nesta
actuação.
x
Joana Alexandra Leitão Correia | Porto 2010
Esta monografia tem por objectivo fazer uma revisão actual sobre os
efeitos da vitamina D na fisiopatologia da DCV, bem como abordar os potenciais
mecanismos envolvidos nestes efeitos.
Palavras-Chave
Doença Cardiovascular; Vitamina D; colecalciferol; ergocalciferol
xi
Joana Alexandra Leitão Correia | Porto 2010
Abstract
Cardiovascular diseases (DCV) are responsible for 30% of deaths
worldwide and are the number one cause of death, disability and poor quality of
life. Some resources suggests that lake of vitamin D can be inversely associated
with DCV, representing a nonclassical risk factor, but those figues give little
information.
Vitamin D, known as the sunshine vitamin, is now recognized not only for its
importance in bone health of children and adults but also for other health benefits
such as reducing the risk of chronic diseases, including autoimmune diseases,
cancer and DCV. The active vitamin D metabolite, 1,25-dihydroxyvitamin D
(1,25(OH)2D), which is synthesized from its precursor 25-hydroxyvitamin D (25
(OH) D), has been associated with protection of the heart and vasculature. There
are several mechanisms proposed to explain how the lower serum 25 (OH) D are
associated with increased risk of DCV that have been verified in several studies.
More studies need to be made, however, if a causal link between vitamin D
and DCV is affirmed, intervening in vitamin D deficiency in the population with
supplementation and / or fortification, and increasing, taking into account the
recommendations, sun exposure could be a simple and potential solution to slow
the development of chronic diseases such as DCV in the general population.
The role of the nutritionist will be important in this action. The purpose of
this monograph is to present a review on the effects of vitamin D in the
pathophysiology of DCV, as well as address the potential mechanisms involved in
these effects.
xii
Joana Alexandra Leitão Correia | Porto 2010
Keywords
Cardiovascular disease; Vitamin D; cholecalciferol; ergocalciferol
Efeitos da vitamina D na fisiopatologia das doenças cardiovasculares 1
Joana Alexandra Leitão Correia | Porto 2010
Introdução
As doenças cardiovasculares (DCV) matam anualmente cerca de 18
milhões de pessoas em todo o mundo(1). Em 2005 foi a primeira causa de morte,
sendo responsável por 30% das mortes(2). Mais especificamente na Europa, cerca
de metade das mortes é devida a DCV, sendo que em Portugal, dados recentes
apontam para que estas provoquem mais de 30% das mortes ocorridas
anualmente, matando actualmente mais pessoas que todas as formas de cancro
combinadas. As DCV são também uma das principais causas de incapacidade e
pior qualidade de vida(1). Estas incluem várias doenças entre as quais, doença
arterial coronária (DAC), doença arterial periférica (DAP), insuficiência cardíaca
(IC) e doenças vasculares cerebrais (DVC) como o acidente vascular cerebral
(AVC)(2).
Vários estudos têm evidenciado uma relação entre as DCV e os níveis
inadequados de vitamina D. A função clássica da vitamina D na saúde óssea já é
bem conhecida(3), porém evidências recentes sugerem que esta vitamina pode ter
funções extra-esqueléticas importantes na redução do risco de várias outras
doenças, incluindo as DCV. A deficiência de vitamina D constitui neste caso um
factor de risco não clássico (2, 4-7).
A forma activa da vitamina D, 1,25(OH)2D ou calcitriol, actua como uma
hormona esteróide ligando-se ao receptor da vitamina D, que é expresso em
numerosas células e tecidos do organismo, nomeadamente ao nível
cardiovascular, particularmente nos cardiomiócitos (8), no músculo liso vascular(9)
2
Joana Alexandra Leitão Correia | Porto 2010
e no endotélio(10). Todavia, os mecanismos de como esta poderá proteger os
indivíduos de desenvolverem DCV, não estão ainda esclarecidos.
Vários estudos indicam que a hipovitaminose D é generalizada e está a
tornar-se um problema de saúde global(11). A deficiência de vitamina D tem sido
relatada em aproximadamente 36% dos adultos jovens saudáveis e em 57% de
doentes de clínica geral nos Estados Unidos, atingindo na Europa valores ainda
mais elevados (6).
A consciencialização da população para os efeitos benéficos da vitamina D
poderia ser vantajosa. Os nutricionistas poderão ter um papel importante nesta
questão, intervindo na comunidade em que actuam.
1. Vitamina D
1.1. Fontes da vitamina D
As fontes de vitamina D para o ser humano advêm da exposição à luz solar,
da dieta e da suplementação.
A vitamina D existe principalmente sob duas formas, colecalciferol ou vitamina
D3 e ergocalciferol ou vitamina D2. A vitamina D, pode ser produzida na pele, sob
a forma de vitamina D3, pela exposição solar a radiações UVB, sendo esta a
principal fonte e a razão porque esta vitamina é reconhecida como a vitamina do
sol(12-13). Esta vitamina pode também ser obtida através da alimentação como
vitamina D2 ou D3 (6)
. Todavia, a alimentação fornece apenas 10-20% do que é
considerado necessário(7), pois são poucas as fontes alimentares naturais desta
vitamina, entre elas estão, os peixes gordos como o salmão, sarda e sardinha,
alguns óleos de peixe, como o óleo de fígado de bacalhau e as gemas de ovo(14).
Efeitos da vitamina D na fisiopatologia das doenças cardiovasculares 3
Joana Alexandra Leitão Correia | Porto 2010
Podemos também encontrar alimentos suplementados em vitamina D,
incluindo alguns cereais, leite, sumo de laranja, alguns iogurtes e margarinas(13).
1.2. Funções e metabolismo da vitamina D
A vitamina D, pertence á classe dos esteróis e foi a quarta vitamina a ser
descoberta, surgindo assim a sua denominação (D) (15). As suas complexas
actividades na homeostasia do cálcio e no metabolismo ósseo foram
reconhecidas após a sua associação a raquitismo nas crianças e osteomalácia
em adultos(7).
A síntese cutânea inicia-se com a exposição a radiação UVB, que penetra na
pele e converte a 7-dehidrocolesterol (pró-vitamina D3) a pré-vitamina D3, que é
rapidamente convertida em vitamina D3(6)
. A vitamina D que deriva da síntese
cutânea e/ ou da alimentação é metabolizada no fígado e convertida na sua
principal forma circulante, 25(OH)D, pela acção da 25-hidroxílase.
Posteriormente, no rim, a 25(OH)D é convertida pela 1-alfa-hidroxilase (1α-
OHase), na sua forma hormonal activa, 1,25(OH)2D (calcitriol). Esta fase de
activação é estritamente regulada pelos níveis séricos da hormona da paratiróide
(PTH) e dos níveis séricos de cálcio e fósforo(16).
Como principal responsável pela eficiente absorção intestinal de cálcio, na
deficiência de vitamina D a absorção de cálcio diminui em 50%, o que conduz a
uma cascata de importantes eventos, ocorrendo o aumento da produção e
libertação da PTH na circulação, que restabelece a homeostasia do cálcio pelo
aumento da sua reabsorção renal, pela mobilização de cálcio do osso e pelo
aumento da produção de 1,25(OH)2D (7).
4
Joana Alexandra Leitão Correia | Porto 2010
A forma activa circulante, 1,25(OH)2D, reduz os níveis séricos da PTH
directamente pela diminuição da actividade da glândula paratiróide e,
indirectamente pelo aumento dos níveis séricos de cálcio. Também regula o
metabolismo ósseo, em parte, interagindo com o VDR dos osteoblastos, que
libertam sinais bioquímicos, levando à formação de osteoclastos maduros. Estes
libertam colagenases e ácido clorídrico, para dissolver a matriz e minerais,
levando à libertação de cálcio para o sangue e aumentando assim os seus níveis
séricos(12).
Outras células, além das renais, possuem a 1α-OHase e podem converter
a 25(OH)D a 1,25(OH)2D, como é o caso das células do músculo liso vascular e
dos monócitos, especulando-se que funcione como uma hormona parácrina ou
autócrina, porém, esta enzima extra-renal parece não contribuir significativamente
para os níveis circulantes da forma activa da vitamina D, 1,25(OH)2D(15).
A 1,25(OH)2D atravessa a membrana celular, entra na célula alvo e liga-se
ao receptor da vitamina D (VDR) que está presente no citoplasma. Este complexo
(1,25(OH)2D-VDR) sofre translocação para o núcleo e heterodimeriza com o
receptor do ácido retinóico (RXR)(17). De seguida, o complexo 1,25(OH)2D-VDR-
RXR, liga-se aos elementos de reposta da vitamina D (VDRE) no ácido
desoxirribonucleico (ADN) para aumentar a transcrição dos genes regulados pela
vitamina. A transcrição destes genes vai promover a expressão de proteínas
envolvidas na absorção intestinal de cálcio e fósforo (18).
O VDR está presente em inúmeros sistemas, como o endócrino, o
cardiovascular, o muscular, o renal, o hepático, o gastrointestinal, o reprodutor, o
imune, o respiratório, o epidérmico e no sistema nervoso central (12, 15, 19). Por esta
Efeitos da vitamina D na fisiopatologia das doenças cardiovasculares 5
Joana Alexandra Leitão Correia | Porto 2010
razão, pensa-se que o sistema endócrino da vitamina D controle, directa ou
indirectamente, cerca de 3% de todo o genoma humano(20). Este aspecto reforça
também a existência de uma multiplicidade de funções da vitamina D além do seu
envolvimento no metabolismo ósseo(7, 12).
As funções clássicas da vitamina D incluem a regulação de genes
importantes para a mineralização óssea e para o transporte do cálcio no
intestino(18). As funções atribuídas mais recentemente à vitamina D, ou também
designadas funções não-clássicas, incluem genes importantes para a imunidade
inata, proliferação de cancro, função muscular (tanto do liso como do esquelético)
e proliferação das células endoteliais(7). Foram também identificadas mutações no
gene do VDR e associadas ao aumento do risco de elevação da pressão arterial
(PA)(15).
1.3. Determinação dos níveis séricos
Com a identificação de 25(OH)D e 1,25(OH)2D, foram desenvolvidos métodos
para determinar e avaliar estes metabolitos na circulação. Os níveis séricos da
vitamina D são determinados pelos valores de 25(OH)D, a principal forma
circulante e indicador padrão e não pelos valores da 1,25(OH)2D. Isto porque a
25(OH)D apresenta uma maior semi-vida de circulação (três semanas
comparativamente às oito horas de 1,25(OH)2D); a concentração de 25(OH)D
circulante é 1000 vezes superior à de 1,25(OH)2D (ng/mL vs pg/mL); e como a
produção de 1,25(OH)2D é influenciada pela PTH, que regula os níveis de cálcio,
os níveis poderiam estar normais ou elevados em indivíduos com deficiência
grave de vitamina D, como por exemplo, no hiperparatiroidismo secundário,
6
Joana Alexandra Leitão Correia | Porto 2010
devido aos mecanismos de manutenção dos níveis séricos de cálcio. Logo, os
níveis séricos de 1,25(OH)2D não fornecem informações precisas acerca dos
níveis da vitamina D. Acredita-se assim que no caso das DCV os níveis séricos
de 25(OH)D constituirão também um melhor biomarcador para descrever os
níveis da vitamina D (21).
1.4. Definição dos níveis séricos
Não há um consenso absoluto sobre quais os valores séricos normais de
25(OH)D mas a maioria dos especialistas concorda com a seguinte classificação:
25(OH)D <25 nmol/l para deficiência (dividir por 2,5 para converter para ng/ml),
25-49,9 nmol/l para insuficiência, 50 a 75-99,9 nmol/l para hipovitaminoses, ≥100
a 250-500 nmol/ para níveis normais e ≥250-500 nmol/l para
intoxicação/hipervitaminose (22).
No entanto, a grande maioria dos investigadores concorda que níveis de
25(OH)D < 50 nmol/l são inadequados(22)e que os níveis desejáveis de 25(OH)D,
associados a um menor risco são aproximadamente de 100 nmol/l(23).
Globalmente, as concentrações de 25(OH)D são em média cerca de
54nmol/l(24). Na Europa, os níveis rondam apenas os 45nmol/l(2). São mais de
40% os jovens adultos e de 60% os idosos saudáveis europeus que têm
deficiência de 25(OH)D, durante os meses de Inverno(25).
O upper limit (UP) tem sido também questionado (6). O valor de 55 ng/mol
parece ser insuficiente, tendo em conta que estudos com indivíduos salva-vidas,
que estão expostos a muitas horas de exposição solar, demonstraram que estes
têm tipicamente valores de 100-125 ng/mol e nunca houve um caso relatado de
Efeitos da vitamina D na fisiopatologia das doenças cardiovasculares 7
Joana Alexandra Leitão Correia | Porto 2010
intoxicação por vitamina D. Com base na literatura, a intoxicação de vitamina D,
não ocorre até que os níveis sanguíneos estejam acima de 150-200 ng/ml (26). A
intoxicação por vitamina D é definida para níveis de 25(OH)D >150 ng/ml e está
muitas vezes associada a hiperfosfatemia, hipercalciúria e hipercalcemia(27).
1.5. Factores que influenciam os níveis séricos
A importância das radiações solares UVB, para os níveis da vitamina D, já é
bem conhecida. Porém, vários factores físicos e biológicos podem influenciar
esses níveis. Entre eles estão os factores culturais, sociais, raciais e geográficos.
Existem indivíduos que são mais susceptíveis a apresentarem baixos níveis
séricos de vitamina D e, portanto, que estão em maior risco de desenvolverem
alterações fisiopatológicas associadas a deficiência desta vitamina.
O grau de exposição corporal ao sol é um factor importante na determinação
dos níveis séricos da vitamina D. Num estudo realizado em mulheres, usando
habitualmente diferentes tipos de vestuário no Verão, mostrou que aquelas que
evitavam completamente a exposição solar, tinham valores deficientes de
25(OH)D(28).
Pessoas que trabalham em espaços interiores, que gastam apenas 25 minutos
diários ao ar livre, apresentam deficiências de 25(OH)D(25). A urbanização, que
conduz à diminuição de actividades ao ar livre, poderá ser uma causa importante
para a diminuição dos níveis da vitamina D (29).
O uso de protector solar e de óculos de sol, também podem reduzir
significativamente ou até inibir a produção de vitamina D3 na pele(30).
8
Joana Alexandra Leitão Correia | Porto 2010
De entre os factores biológicos que inibem a síntese cutânea de vitamina D e
a sua biodisponibilidade, incluem-se a pigmentação da pele, o uso de
medicamentos, o índice de massa corporal, a má absorção de gordura e a
idade(6).
A pigmentação da pele é um dos exemplos dos factores limitantes para a
síntese cutânea de vitamina D. A melanina age como um filtro solar natural, logo,
uma maior pigmentação da pele pode reduzir significativamente a síntese de
vitamina D em 99%, o que pode explicar, em parte, a maior prevalência de
deficiência de vitamina D na população afro-americana (31).
Nos Estados Unidos os indivíduos de pele escura, têm valores muito mais
baixos de 25(OH)D comparativamente áqueles de pele branca(32).
Adicionalmente tem sido relatada uma associação da obesidade com baixos
níveis séricos de vitamina D. A inactividade física, incluindo a diminuição de
actividades ao ar livre, pode levar à diminuição da exposição à luz ultravioleta.
Para além de que, a lipossolubilidade da vitamina D também modifica a sua
biodisponibilidade, devido à sua fixação no tecido adiposo, logo pode contribuir
também, para os baixos níveis séricos da vitamina D em pessoas com sobrepeso
ou obesidade (33).
Também bem conhecido, é o fenómeno de aumento de mortes durante os
meses de Inverno. Este facto deve-se sobretudo ao aumento de doenças
cardiovasculares e respiratórias. A mudança de estação ou de latitude é outro
factor que pode ter um efeito dramático sobre a produção cutânea de
colecalciferol (34). Na América do Norte e na Europa, observam-se flutuações
sazonais nos níveis de 25(OH)D, com os valores mais baixos no Inverno(35). Tal
Efeitos da vitamina D na fisiopatologia das doenças cardiovasculares 9
Joana Alexandra Leitão Correia | Porto 2010
deve-se ao facto, da radiação solar UVB não ser suficiente para a significativa
produção de vitamina D na pele, na latitude geográfica de 40ºN de Novembro até
Fevereiro e na latitude de 50ºN a partir de Outubro até Abril(30), observando-se em
conjunto um aumento da mortalidade a latitudes de 30-50º a Norte ou a Sul e a
sua diminuição ou ausência perto do equador ou em regiões subpolares(36). Várias
explicações biológicas e ambientais têm sido postuladas para este fenómeno
sazonal, e a variação das radiações UVB e a falta de vitamina D, poderão ser um
dos factores contribuintes para o aumento da insuficiência cardíaca e da
mortalidade cardiovascular, nos meses de Inverno(29, 37-38).
2. Vitamina D e Doenças Cardiovasculares:
2.1. Morbilidade e mortalidade cardiovascular: relação com os níveis da
vitamina D
Os benefícios da vitamina D na saúde cardiovascular são suportados por
dados promissores de grandes estudos de coorte, estudos mecanísticos e
pequenos estudos aleatorizados caso-controlo.
Nos últimos dois anos, muitos estudos prospectivos, não aleatorizados, têm
sido publicados na Europa e no Norte América, sobre a morbilidade e mortalidade
associadas às DCV.
O desenvolvimento de estudos em ratinhos knockout, sem o VDR, forneceram
uma visão sobre o papel fisiológico global da vitamina D. Os ratinhos sem o
receptor tinham a mineralização óssea deficiente, fibras musculares pequenas e
10
Joana Alexandra Leitão Correia | Porto 2010
variáveis, sofriam de hipertensão arterial e morriam de doença cardíaca
congestiva (39).
Os resultados de estudos epidemiológicos sobre a hipertensão arterial (40),
doença cardiovascular (41) e todas as causas de mortalidade em geral (41),
mostraram uma associação inversa entre os níveis de 25(OH)D e o risco de
desenvolver a doença.
O estudo de Framingham Offspring de 2008 (42), mostrou a associação entre o
aumento da incidência das DCV e a deficiência em vitamina D. Num outro estudo
caso-controlo, o Health Professionals Follow-up Study(43), com 18.225
participantes do sexo masculino, o risco de enfarte do miocárdio foi 109% superior
em homens com baixos níveis séricos de 25(OH)D (≤37,5 nmol/l) do que
naqueles com níveis considerados suficientes (≥75 nmol/l), depois de ajustados
aos factores de risco, como os diferentes estilos de vida. Outro estudo importante,
o LURIC (Ludwigshafen risk and Cardiovscular Health), investigou 3258 pacientes
de ambos os sexos, agendados para realizar uma angiografia coronária e
concluiu que, baixos valores séricos de 25(OH)D e de 1,25(OH)2D, são preditivos
de ocorrência de AVC fatal (44). Os valores de 25(OH)D e de 1,25(OH)2D foram
reduzidos em 274 indivíduos que tiveram uma história prévia de doença vascular
cerebral. Além disso, o risco de AVC, de morte súbita e de insuficiência cardíaca
durante o seguimento, foram inversamente correlacionados com os níveis séricos
de 25(OH)D e de 1,25(OH)2D(45). Neste estudo, 463 das 769 mortes foram
causadas por eventos cardiovasculares(46). Estes estudos indicam uma
associação entre baixos níveis séricos de 25(OH)D e todas as causas de
mortalidade, principalmente a cardiovascular.
Efeitos da vitamina D na fisiopatologia das doenças cardiovasculares 11
Joana Alexandra Leitão Correia | Porto 2010
Numa análise do NHANES III (National Health and Nutrition Examination
Survey), um estudo transversal da população dos Estados Unidos, a 3408
participantes com 65 ou mais anos(47), realizado de 1988 a 1994. Em 7,3 anos de
seguimento 1493 participantes morreram, destes, 767 por morte cardiovascular.
Foi verificada uma relação inversa entre os níveis séricos de 25(OH)D e a DCV.
Apesar de tudo, são poucos os estudos de intervenção que foram realizados
até ao momento sobre a vitamina D e suas implicações nas DCV.
As evidências têm sugerido também, uma forte associação entre a vitamina D
e a diabetes mellitus (48) e vitamina D e a hipertensão arterial(49). Vários estudos
clínicos e epidemiológicos mostraram que poderá haver uma associação entre a
hipertensão arterial e os níveis da vitamina D, assim como o metabolismo do
cálcio(34).
Um estudo realizado por McCarron et al. em 1980(50), e citado por M.Iftekhar
Ullah et al. de 2010, mostrou que os distúrbios do metabolismo do cálcio,
incluindo o hiperparatiroidismo, podem estar relacionados com o desenvolvimento
da hipertensão. No seu estudo, indivíduos hipertensos apresentaram
hipercalciúria, quando comparados com os que não eram hipertensos. Scragg et
al.(51) (2007) analisaram a associação entre os níveis séricos de 25(OH)D e a PA,
visando saber como os baixos níveis de 25(OH)D explicam o aumento da PA na
população negra. Basearam-se nos dados do NHANES III e encontraram uma
relação inversa significativa entre a concentração sérica de 25(OH)D e a PA, que
continuou evidente mesmo após ajustada às variáveis influentes. Para além disso,
a maior prevalência de deficiência da vitamina D na população negra, parece
estar associada ao aumento da PA nesta população. Num outro estudo, de
12
Joana Alexandra Leitão Correia | Porto 2010
Martins et al.(52), que avaliou os dados do NHANES III, foi evidenciada a
associação inversa entre os níveis de vitamina D e o risco de PA. Este estudo
transversal, estudou a relação entre os níveis séricos de 25(OH)D e os vários
factores de risco para DCV, como a hipertensão arterial. Os níveis de 25(OH)D
eram diminuídos nas mulheres, idosos (≥60 anos), minorias étnicas/raciais, nos
participantes com obesidade, hipertensão arterial e diabetes mellitus. A
prevalência, ajustada, de hipertensão arterial era maior nos indivíduos com baixos
valores séricos de 25(OH)D.
Resumindo, a análise ao NHANES III mostrou uma associação inversa entre a
PA e a concentração de vitamina D. Forman et al.(40) estudaram essa associação
em homens do Health Professionals’Follow-Up Study e mulheres do
Nurses’Health Study e encontraram resultados semelhantes.
2.2. Possíveis mecanismos de acção da vitamina D implicados nas
doenças cardiovasculares
Os mecanismos protectores de DCV dependentes da vitamina D não estão
ainda esclarecidos. Entre os mecanismos propostos, estão efeitos sobre o
sistema renina-angiotensina (SRA), o controlo glicémico, as citocinas
inflamatórias, efeitos directos vasculares, a regulação dos níveis da hormona da
paratiróide e a deposição de cálcio no músculo liso vascular(42, 53-54).
Regulação do sistema renina-angiotensina:
O sistema SRA é uma cascata de eventos que desempenham um papel
crítico na regulação da PA, de electrólitos e na homeostasia do volume
Efeitos da vitamina D na fisiopatologia das doenças cardiovasculares 13
Joana Alexandra Leitão Correia | Porto 2010
plasmático. É sabido há muito que uma estimulação desregulada do SRA se
associa a hipertensão arterial.
Vários estudos recentes, em ratinhos knockout, sem VDR, sugerem que a
vitamina D tem um importante papel na regulação do SRA, e consequentemente
na regulação da pressão arterial(55-56). Um estudo de Li et al. (55) demonstrou que a
vitamina D é um potente supressor endócrino da biossíntese da renina. Os
ratinhos knockout sem VDR têm uma produção elevada de renina e de
angiotensina II, levando à hipertensão arterial, hipertrofia cardíaca e aumento da
ingestão de água. Estas anomalias podem ser evitadas com o tratamento de um
inibidor da enzima conversora da angiotensina ou de um antagonista do receptor
da angiotensina I. A inibição da expressão da renina, pela vitamina D, é
independente do metabolismo do cálcio, do volume e de mecanismos de
detecção de sal e da regulação por feedback da angiotensina II. Em ratos
normais, a deficiência de vitamina D estimula a expressão de renina, enquanto
que, se for administrada 1,25(OH)2D há uma redução da síntese de renina. Em
culturas de células, a 1,25(OH)2D suprime directamente a transcrição do gene da
renina por um mecanismo dependente do VDR. Portanto, a deficiência de
vitamina D pode aumentar o risco de hipertensão e a suplementação pode ter um
efeito benéfico no sistema cardiovascular.
Kong et al.(57), demonstraram em ratos transgénicos com expressão
aumentada do RVD humano em células produtoras de renina, que a supressão da
expressão da renina pela 1,25(OH)2D, in vivo, é independente da PTH e do cálcio.
Também os análogos da vitamina D demonstraram ter um efeito supressor
na expressão da renina (58).
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Joana Alexandra Leitão Correia | Porto 2010
A vitamina D como um factor na melhoria da sensibilidade à insulina:
Estudos, in vitro, mostraram que a vitamina D3 tem um papel
imunossupressor ou imunomodulador. A iniciação do processo imunopatogénico
que pode levar ao aparecimento da diabetes mellitus tipo 1 na infância,
provavelmente acontece no início de vida (59). Dados epidemiológicos, sugerem
que a ingestão de vitamina D na infância pode reduzir o risco de desenvolver
diabetes mellitus tipo 1 ao longo da vida(59-61). O óleo de fígado de bacalhau é
uma importante fonte de vitamina D na alimentação e a redução do risco de
desenvolver diabetes mellitus tipo 1 com a sua suplementação foi de 26% (61).
Com a suplementação de vitamina D, o risco de sofrer de diabetes mellitus tipo 1
reduziu substancialmente (59). Estas observações apontam para a importância da
prevenção da deficiência da vitamina D na infância.
Pesquisas de laboratório em seres humanos e estudos epidemiológicos,
apoiam o benefício dos níveis séricos adequados de 25(OH)D na sensibilidade à
insulina. Num estudo com 126 adultos saudáveis, foi encontrada uma correlação
positiva entre as concentrações séricas de 25(OH)D e a sensibilidade à
insulina(62). Adicionalmente, num estudo com 142 homens holandeses com idades
compreendidas entre os 70 e os 88 anos, as concentrações séricas de 25(OH)D
foram inversamente correlacionadas com os níveis séricos de insulina e de
glicose (63). Em estudos de intervenção, a suplementação de vitamina D,
aumentou a secreção de insulina num pequeno grupo de 10 indivíduos com
diabetes tipo 2 (64), enquanto que, noutro estudo com 35 indivíduos com diabetes
Efeitos da vitamina D na fisiopatologia das doenças cardiovasculares 15
Joana Alexandra Leitão Correia | Porto 2010
mellitus tipo 2, não houve alteração na secreção de insulina, com o tratamento
com 1,25(OH)2D (65).
Existem alguns estudos observacionais e de caso-controlo, sugerindo que
a hipovitaminose D está associada com a diminuição da secreção da insulina(66).
Além disso, uma alta prevalência de diabetes tipo 2 e resistência à insulina é
também observada em indivíduos com hiperparatiroidismo primário, o que pode
agravar a hipertensão e a inflamação, contribuindo para o risco cardiovascular
aumentado destes doentes (67-68).
O pâncreas possui o VDR e a 1α-OHase, para converter a 25(OH)D em
1,25(OH)2D, funcionando como uma hormona autócrina ou parácrina. Estudos
sugerem que os ratos com deficiência de vitamina D, são incapazes de secretar a
insulina de forma adequada, comparados com os ratos controlo com níveis
suficientes desta vitamina(66). Com o NHANES III, Scragg et al., demonstraram
que baixos valores de vitamina D estão associados com o aumento da resistência
à insulina e o aumento do risco de diabetes mellitus(69-70). Num estudo longitudinal
aplicado a homens e mulheres, após 17 anos de seguimento, foi observada, uma
redução de 40% no risco de desenvolver diabetes mellitus tipo 2 nos indivíduos
que mantinham os níveis de 25(OH)D > 28 ng/ml do período do início do
estudo(71). Portanto, a vitamina D poderá desempenhar um papel importante no
controlo glicémico, e assim contribuir para um efeito benéfico nas DCV.
Pittas et al. (72) num estudo aleatorizado, avaliaram prospectivamente os
efeitos da suplementação de vitamina D (700 UI/dia) sobre a glicemia em jejum
em 445 indivíduos e observou que esta melhorou após 3 anos de terapia, quando
comparados com os indivíduos que receberam placebo. No estudo de
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Joana Alexandra Leitão Correia | Porto 2010
Framingham Offspring (73), com indivíduos não diabéticos, foi encontrada uma
forte correlação inversa entre as concentrações séricas de vitamina D e a glicemia
em jejum, assim como da insulina em jejum, após ajustado para a idade, sexo,
índice de massa corporal, circunferência da cintura e tabagismo. Num outro
estudo transversal, com doentes em hemodiálise (74), os níveis baixos de vitamina
D foram independentemente associados com diabetes mellitus, níveis elevados
de peptídeo natriurético cerebral, aumento da PA e níveis maiores de calcificação
vascular.
A vitamina D e seu efeito na vasculatura e no tecido cardíaco:
Tem sido demonstrado que a vitamina D tem efeitos directos sobre a
vasculatura. No estudo de Sugden et al.(75), foi constatado que, a função
endotelial (avaliada pela dilatação mediada pelo fluxo) e a PA, melhoraram em
diabéticos que ingeriram uma única dose de vitamina D (100 000 UI). Os
indivíduos com hiperparatiroidismo primário têm morbilidade e mortalidade
cardiovascular aumentada. Um efeito anti-aterosclerótico da vitamina D é também
apoiado epidemiologiacamente, pelas descobertas recentes no NHANES 2001-
2004 (76). Onde foi mostrado que, baixos níveis séricos de 25(OH)D estão
associados com uma maior prevalência de doença arterial periférica. Porém mais
estudos deverão ser realizados para confirmar esta associação.
As duas complicações arteriais mais importantes dos eventos
cardiovasculares são a calcificação arterial da camada íntima e da camada média.
A calcificação da camada íntima, está associada com a aterosclerose e leva à
formação de placas e à sua ruptura, com a consequente oclusão do vaso. A
Efeitos da vitamina D na fisiopatologia das doenças cardiovasculares 17
Joana Alexandra Leitão Correia | Porto 2010
calcificação da camada média está associada com a proliferação de células do
músculo liso vascular, que leva à calcificação e endurecimento da parede do vaso
(77).
A nível vascular, 1,25(OH)2D tem vários efeitos de protecção, tais como a
inibição das metaloproteínases e das citocinas pró-inflamatórias. Estimula,
também, a citocina anti-inflamatória Interleucina (IL) 10 e inibidores de
calcificação vascular, como a proteína de matriz Gla (MGP), osteopontina e
colagéneo tipo IV em células vasculares musculares lisas e em células
semelhantes aos osteoblastos (osteoblast-like cells).
Os linfócitos T e os macrófagos são estimuladores bem conhecidos do
espessamento da camada íntima e da formação de placas nas artérias
susceptíveis a aterosclerose. Os linfócitos Th1 secretam interferão-gama (IFN-γ),
que é um potente activador dos macrófagos e um potente supressor dos linfócitos
Th2. Os linfócitos Th2 são, por sua vez, anti-aterogénicos, pois produzem IL-10,
que inibe a activação dos macrófagos (78). O desenvolvimento de células T CD4 +
em células Th1 e Th2 determina o resultado de uma resposta imune, e é
controlado principalmente por citocinas. As células Th1 desenvolvem-se em
resposta à IL-12 e IFN-γ enquanto que, a IL-4 induz o desenvolvimento de células
TH2. Os agonistas do receptor da vitamina D (VDRA) têm efeitos potenciais na
melhoria do desenvolvimento da aterosclerose por vários mecanismos. Em
primeiro lugar, eles têm um efeito directo nas células CD4 + naive, induzindo o
desenvolvimento dos linfócitos Th 2 (através da produção de IL-4) (79). Além disso,
o tratamento com VDRA inibe a transcrição de IFN-γ, que é necessário para o
desenvolvimento de células Th1 ou, pode ser um produto das células Th1 (79-80)
.
18
Joana Alexandra Leitão Correia | Porto 2010
Através desses mecanismos, os VDRA’s podem mudar o equilíbrio Th1/Th2 e
influenciar a produção de mediadores inflamatórios.
O VDR, está presente no músculo liso vascular (81) e foi observado que, in
vitro, a 1,25(OH)2D antagoniza o efeito mitogénico do factor de crescimento
epidérmico, das células mesengiais (82).
Alguns estudos avaliaram a acção da vitamina D no tecido cardíaco,
principalmente como resposta a lesão (21). A 1,25(OH)2D é uma hormona
importante envolvida na modulação e manutenção da estrutura e função celular
do coração(83). O tratamento com 1,25(OH)2D aumenta a expressão da miotrofina,
uma proteína muscular cardíaca e diminui a expressão do peptídeo natriurético
auricular, um marcador bioquímico de risco, que está inversamente relacionado
com a função cardíaca. Além disso, o tratamento com 1,25(OH)2D aumenta a
expressão e localização nuclear do VDR nas células cardíacas. O coração dos
ratinhos Knockout sem VDR é hipertrofiado por causa da hipertrofia das
miofibrilas.
3. Relevância da suplementação/fortificação em vitamina D na patologia
cardiovascular
A luz solar é a principal fonte de vitamina D (12-13), pois as fontes alimentares
são limitadas e fornecem apenas 10-20% do que é necessário(7). Uma excessiva
exposição solar não causa intoxicação por vitamina D, pois o excesso de vitamina
D3 e de pré-vitamina D3 são fotolisados em produtos inactivos (7).
Efeitos da vitamina D na fisiopatologia das doenças cardiovasculares 19
Joana Alexandra Leitão Correia | Porto 2010
A suplementação pode ser uma opção para suprir carências. A meta-análise
de 18 estudos, que incluíram 57,311 indivíduos, demonstrou que a
suplementação de vitamina D está associada com a diminuição da mortalidade
em geral, comparando com o grupo controlo (84).
Num estudo duplamente cego, aleatorizado, foi administrado a indivíduos com
diabetes mellitus tipo 2, uma única dose de 100.000 UI de vitamina D2
(equivalente a 45 ug) ou placebo, no Inverno, época em que os níveis circulantes
de 25(OH)D parecem ser mais baixos(75). Os níveis séricos de 25(OH)D antes da
suplementação eram <50nmol/l, 8 semanas após a administração da vitamina D2
esses níveis aumentaram apenas 15,3 nmol/l, em relação ao placebo. Porém, a
vasodilatação mediada pelo fluxo da artéria braquial aumentou significativamente,
cerca de 2,3%, e reduziu a pressão sanguínea sistólica 14 mmHg, comparado
com o placebo. Concluindo que uma única dose de vitamina D2 pode melhorar a
função endotelial em pacientes com diabetes mellitus tipo 2 cujos níveis séricos
de vitamina D são insuficientes.
Num outro estudo duplamente cego, 200 indivíduos acima do peso e obesos,
com concentrações médias de 25(OH)D de 30 nmol/l, que participavam num
programa de redução de peso, receberam vitamina D3 (83ug) ou placebo, durante
12 meses(85). Os valores médios de 25(OH)D e de 1,25(OH)2D aumentaram 55,5
nmol/l e 40 nmol/l, respectivamente, no grupo que recebeu a suplementação e,
apenas, 11,8 nmol/l e 9,3 nmol/l, respectivamente, no grupo placebo. As
concentrações sanguíneas da PTH diminuíram em ambos os grupos, mas de
forma mais acentuada no grupo suplementado (26,5%) em relação ao grupo
placebo (18,7%), assim como nos triglicerídeos (13,5% em comparação com
20
Joana Alexandra Leitão Correia | Porto 2010
3,0%) e no marcador da inflamação, o factor de necrose tumoral α (TNF-α)
(10,2% em comparação com 3,2%). Os efeitos bioquímicos benéficos foram
independentes da perda de peso, massa gorda e sexo. Baixos níveis de
1,25(OH)D2 e níveis elevados de PTH devem ser considerados como factores de
risco cardiovascular. Relativamente ao placebo, a suplementação de vitamina D
também aumenta a concentração de colesterol LDL (5,4% em comparação com
2,5% do placebo). Curiosamente, um efeito protector deste “mau colesterol” foi
observado na calcificação da artéria coronária em indivíduos com doença renal
crónica(86).
Estudos clínicos mostraram que, a suplementação com vitamina D, directa ou
indirectamente, diminui a PA. Num estudo epidemiológico aleatorizado, em 145
mulheres idosas, que receberam 800 UI de vitamina D3 e 1200 mg de cálcio
diariamente, verificou-se uma diminuição significativa da PA de 9,3%, após 8
semanas, com redução da pressão arterial sistólica (13 mmHg), da pressão
arterial diastólica (6 mmHg) e da frequência cardíaca (em 4 batimentos/minuto).
Enquanto, que a suplementação apenas com cálcio, reduziu apenas em 4,0% a
PA(87).
Apesar, da maioria dos estudos recentes apoiarem a hipótese de uma
associação inversa entre os níveis séricos de vitamina D e a PA, existem estudos
que contradizem essa ideia. Por exemplo, um grande estudo prospectivo, de
Forman et al., de 2005, não encontrou nenhuma associação entre a ingestão de
vitamina D e suplementos, e o risco de hipertensão arterial(88).
No ensaio clínico aleatorizado Women’s Health Initiative, estudo com 36,282
mulheres pós-menopáusicas, entre os 50-79 anos de idade, a suplementação
Efeitos da vitamina D na fisiopatologia das doenças cardiovasculares 21
Joana Alexandra Leitão Correia | Porto 2010
combinada diária de cálcio (1000 mg) e de vitamina D3 (400 UI), não alterou o
risco de eventos coronários ou acidente vascular cerebral(89), nem foi observada
nenhuma diminuição significativa da PA(90). Este estudo iniciou-se há 20 anos,
entretanto é evidente que, 400 UI de vitamina D é uma quantidade demasiado
baixa para resultar num aumento significativo dos níveis séricos de 25(OH)D(91) e
um suplemento diário de 1000mg de cálcio aumenta o risco de eventos
cardiovasculares em mulheres mais velhas(92).
Num outro estudo longitudinal, duplamente cego, homens normotensos foram
tratados com suplemento de cálcio e colecalciferol, ou placebo, durante três anos,
não ocorrendo nenhum efeito demonstrável sobre a pressão arterial média,
diastólica ou sistólica(93). Concluindo que não existem efeitos da suplementação
de cálcio e vitamina D na população normotensa em geral.
Scragg et al. (94), num estudo aleatorizado duplamente cego, verificaram que, a
suplementação de uma única dose de 2,5 mg de vitamina D, nos meses de
Inverno, não produz efeitos na PA após 5 semanas, quando comparado com o
placebo. Snijder et al. (95), estudou os participantes do Longitudinal Aging Study in
Amsterdam, e observou que a PA nesta população não é inversamente associada
aos níveis séricos de 25(OH)D, mas é directamente relacionada com os níveis
séricos de PTH.
Estes resultados contradizem os estudos primeiramente apresentados, sobre
uma associação inversa entre a PA e a vitamina D. Porém, as razões para estas
contradições, podem ser várias. Por exemplo, no estudo observacional de Forman
et al. (88), não havia informações sobre a quantidade exacta da ingestão de
vitamina D, pois foi estimada por um questionário semi-quantitativo de frequência
22
Joana Alexandra Leitão Correia | Porto 2010
alimentar. Também, o diagnóstico de hipertensão arterial não foi observado por
medição directa dos participantes, mas sim por auto-relatos. Assim como, se a
vitamina D diminui a PA, principalmente via SRA, não vai ocorrer nenhuma
diminuição, se os indivíduos não têm um nível de vitamina D adequado.
Finalmente, é improvável que a suplementação de vitamina D surta algum efeito
na PA em indivíduos normotensos, dado que a renina plasmática deverá ter os
valores normais. No estudo de Scragg et al.(94), a medição da PA foi realizada
cinco semanas após a suplementação de vitamina D, o que poderá ser muito
cedo para mostrar qualquer resposta clínica. Um outro motivo para os resultados
contraditórios da associação entre a PA e os níveis de vitamina D, podem ser os
níveis relativamente elevados de vitamina D na população, como foi postulado no
estudo de Snijder et al.(95), de 2007.
O estudo recente de Margolis et al. (90), um sub-estudo do Women’s Health
Initiative, que foi originalmente concebido para estudar as fracturas do quadril e o
cancro colo-rectal, foi comentado por Geleijnse (96) como tendo várias falhas. A
adesão à suplementação de vitamina D e cálcio foi modesta, 60%. Os critérios de
aferição da PA, também não foram rigorosos. Quase metade dos participantes
eram inicialmente hipertensos e cerca de 28% usavam medicamentos anti-
hipertensores. A incidência de hipertensão foi auto-relatada pelas mulheres,
baseando-se em questionar duas vezes por ano se tinham iniciado
“medicamentos para a hipertensão”. Além disso, o facto da dose de vitamina D
usada no estudo ser reduzida (400UI), pode explicar a inexistência de efeito na
PA.
Efeitos da vitamina D na fisiopatologia das doenças cardiovasculares 23
Joana Alexandra Leitão Correia | Porto 2010
Apesar da falta de dados adequados, um painel de peritos (Souberbielle et al.;
2010(97)) formularam recomendações com base nas evidências disponíveis,
considerando o risco-benefício e a experiência clínica. Com base nas provas
apresentadas, definiram que para indivíduos com ou sem risco para problemas de
saúde músculo-esquelética, DCV, cancro e doenças auto-imunes, os valores
séricos de 25(OH)D devem estar acima de 30 ng/mL, salientando que os efeitos
da variação sazonal devem ser tidos em conta. Também chegaram a acordo
sobre o upper limit, definindo como valores séricos para 25(OH)D o valor de 100
ng/mL. A suplementação de 800 UI/dia é recomendada em indivíduos de pele
escura, naqueles com baixa exposição solar e em idosos. Além disso este painel
refere que o intervalo entre o início da suplementação de vitamina D e a
medição/monitoramento dos níveis séricos de 25(OH)D deverá ser pelo menos de
3 meses.
Análise crítica e considerações finais
Várias evidências epidemiológicas e experimentais apontam para um papel
da vitamina D na prevenção de DCV, na população em geral.
Os resultados de grandes estudos não aleatorizados indicam que a
mortalidade por DCV é duas vezes mais alta em indivíduos com deficiência de
25(OH)D do que naqueles com níveis suficientes de 25(OH)D. Todavia, mais
ensaios clínicos aleatorizados são necessários num futuro próximo, para avaliar
se a vitamina D é eficaz no que diz respeito à prevenção primária, secundária e
/ou terciária de DCV.
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Joana Alexandra Leitão Correia | Porto 2010
Geralmente, o tratamento de deficiência de vitamina D é de fácil execução,
seguro e barato. As fontes poderiam derivar de uma combinação de suplementos,
fortificação de alimentos e radiação natural e artificial UVB, se devidamente
adquiridos. Calcula-se que 1ug de vitamina D, aumenta, aproximadamente em
cerca de 1nmol/l os níveis circulantes de 25(OH)D. Para aumentar os níveis
séricos acima de 75 nmol/l, num grupo de indivíduos que possui uma média de 30
nmol/l de 25(OH)D, será necessário uma ingestão diária de 100 ug. Se a média
inicial for maior, por exemplo 50 nmol/l, uma ingestão diária de 75 ug é
necessária. A quantidade diária de até 250 ug de vitamina D parece ser segura.
Este valor é semelhante ao valor que é produzido por dia com a exposição do
corpo inteiro às radiações UVB.
Estudos futuros deverão também fornecer resultados que proporcionem
orientações sobre como administrar a vitamina D na prática clínica, uma vez que
actualmente não existem orientações universais para o rastreio e tratamento de
insuficiência de vitamina D. Para além disso, as recomendações estabelecidas
pelos Institutes of Medicine foram considerados inadequadas e estão em
revisão(21). Logo, será prudente seleccionar os indivíduos de maior risco de
deficiência e tratá-los com doses de vitamina D com níveis de 25(OH)D de 30
ng/ml. As evidências actuais não apoiam a necessidade de rastrear a deficiência
de vitamina D em todos os indivíduos em risco ou com DCV. Porém, de uma
forma geral, em toda a população, aumentar os níveis de vitamina D, com
suplementação, com doses de 1000 IU, deveriam ser estabelecidos
especialmente em áreas com maior latitude ou durante o Inverno.
Efeitos da vitamina D na fisiopatologia das doenças cardiovasculares 25
Joana Alexandra Leitão Correia | Porto 2010
Estudos clínicos e epidemiológicos evidenciam uma possível relação entre
os baixos níveis de vitamina D e hipertensão arterial e existem alguns
mecanismos biológicos plausíveis que justificam esta correlação. Todavia, os
estudos epidemiológicos são sempre alvo de múltiplos factores confundidores,
que nem sempre podem ser controlados. A inactividade física (mesmo quando ao
ar livre) pode desencadear a hipertensão, bem como levar a uma cascata de
eventos: como a diminuição da exposição solar devido a diminuição de
actividades exteriores, a obesidade, a síndrome metabólica e ao aumento da
resistência à insulina. Todos eles podem causar ou agravar a hipertensão arterial.
Os problemas apresentados poderão ser minimizados com a formulação de
ensaios clínicos aleatorizados. Os resultados de recentes estudos intervencionais,
que analisaram o benefício da suplementação da vitamina D sobre a PA, não têm
sido promissores. Mais estudos serão necessários para descobrir se, e quando, a
suplementação de vitamina D deverá ser usada para o tratamento de indivíduos
com hipertensão. É evidente que, a suplementação de vitamina D poderá ser
apropriada para as populações que são mais vulneráveis a hipovitaminose D.
Porém, ainda não está claro em que grau de deficiência de vitamina D é activado
o SRA e se dá o aumento da PA. A maioria dos estudos recentes, que
investigaram a associação das condições de saúde com os níveis da vitamina D,
sugerem que a concentração desejável de 25(OH)D deve ser de pelo menos 75
nmol/l para uma óptima saúde, apesar de ainda não existir um consenso dos
pontos de corte. De salientar também, que cada individuo tem pontos de corte
diferentes, dependendo do grupo étnico e/ou polimorfismos no VDR e no seu
promotor, que medeiam a acção da vitamina D.
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Joana Alexandra Leitão Correia | Porto 2010
Devido ao crescente número de evidências a favor de uma associação
entre a deficiência de vitamina D e DCV, poderá ser prudente corrigir a
hipovitaminose D em indivíduos de alto risco, tais como, aqueles com hipertensão
resistente, indivíduos com osteoporose, mulheres grávidas, indivíduos com maior
pigmentação, principalmente aqueles com DCV, doentes crónicos, indivíduos de
culturas em que é habitual cobrir todo corpo com roupa e idosos.
Se for mostrada uma relação de causalidade, em futuros estudos
aleatorizados, entre os níveis da vitamina D e a presença de DCV, então a
vitamina D poderia tornar-se numa nova estratégia terapêutica a usar em doentes
com estas patologias. Como diz o epigrama irlandês: “O sol pode iluminar o seu
coração”(2).
Efeitos da vitamina D na fisiopatologia das doenças cardiovasculares 27
Joana Alexandra Leitão Correia | Porto 2010
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