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Eliziel Rodrigues Nascimento
Avaliação da Qualidade da Água do Lago de Juruti Velho com a Exploração da Jazida
de Bauxita de Juruti / Pará
Manaus
2016
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Eliziel Rodrigues Nascimento
Avaliação da Qualidade da Água do Lago de Juruti Velho com a Exploração da Jazida
de Bauxita de Juruti / Pará
Trabalho de Conclusão de o Curso II
apresentado ao Curso de Graduação em
Engenharia Ambiental do Centro Universitário
Luterano de Manaus - CEULM-ULBRA,
como parte dos requisitos para obtenção do
grau de Bacharel em Engenharia Ambiental.
Orientador: Prof. MSc. Graciélio Queiroz de Magalhães.
3
Manaus
2016
AGRADECIMENTOS
É preciso saber reconhecer a contribuição das outras pessoas para a construção de
nossas vidas. Com certeza, este trabalho não estaria pronto sem a presença de algumas
pessoas, que, de forma, direta ou indireta, me ajudaram a executar este trabalho de que
tanto me orgulho.
Primeiramente, quero dizer muito obrigado a Deus que está sempre comigo, em
minha caminhada. Também, gostaria de agradecer à minha mãe, a maior educadora que
conheço, que foi a pessoa que me ensinou a nunca desistir de nada nesta vida, por mais
difícil que fosse. Quero agradecer à minha companheira, Diana Ayla, com quem divido
todas as minhas alegrias, angústias e conquistas e que me ajudou na revisão do trabalho.
Não poderia deixar de agradecer ao Davi Kauan e a Vitória, meus filhos amados,
que me fazem ser o pai mais querido, cada vez que entravam no escritório para me dar
aquele sorriso largo que só eles têm.
Quero também agradecer ao meu orientador e amigo, Mestre Graciélio que me deu
oportunidade de chegar onde cheguei e que me ajudou a deixar a teimosia de lado e fazer
coisas que não acreditava que eu fosse capaz.
À possíveis omissões.
1
5
O que sabemos é uma gota, o que
ignoramos um oceano.
(Isaac Newton)
RESUMO
Neste trabalho é apresentada uma análise preliminar dos impactos na vida dos moradores
a partir da exploração de bauxita, e quais mudanças afetaram o leito do lago na
comunidade de Juruti Velho/Pará. A pesquisa teve por objetivo avaliar a qualidade da
água do Lago de Juruti velho. A metodologia utilizada abrangeu duas fases distintas,
porém intimamente interligadas, as quais são: pesquisa bibliográfica sobre o tema e a
coleta de amostra e análise da mesma. Como resultados da pesquisa observados em
campo realizado no período de dezembro de 2015 a janeiro de 2016, pode-se relatar que
não houve modificação quanto as características físicas, cor e turbidez, da qualidade da
água. A prática de mineração já vista em outros estados brasileiros resultou em grandes
tragédias ambientais quase que irreparáveis. A mineração ainda é realizada de forma
predatória, desterritorializando populações tradicionais, onde degrada o meio ambiente.
Palavras-chave: Bauxita. Qualidade da água.
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6
ABSTRACT
This paper presents a preliminary analysis of the impacts on the lives of residents from
the exploitation of bauxite, and what changes have affected the lake bed in the Juruti
Velho community / Para. The research aimed to evaluate the water quality of the old Juruti
Lake. The methodology involved two distinct phases, but closely interlinked, which are:
literature on the subject and the sample collection and analysis thereof. The research
results observed in the field carried out in the period from December 2015 and January
2016, we can report that there was no change as the physical, color and turbidity, water
quality. The practice of mining already seen in other states has resulted in major
environmental tragedies almost irreparable. Mining is still conducted in a predatory
manner, deterritorializing traditional populations, which degrades the environment.
Keywords: Bauxite. Water quality.
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7
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Mapa de localização da área de estudo .............................................................16
Figura 2: Mapa de localização das comunidades visitadas ..............................................17
Figura 3: Manual Prático de Análise de Água ..................................................................19
Figura 4: Materiais utilizados para coleta ........................................................................20
Figura 5: Coleta em Capiranga ........................................................................................22
Figura 6: Coleta na comunidade Galileia .........................................................................23
Figura 7: Coleta na comunidade Ordem de Monte Alegre ..............................................24
Figura 8: Coleta na adutora da empresa ALCOA .............................................................25
Figura 9: Mapa do cronograma de lavra ..........................................................................27
Figura 10: As etapas do ciclo do alumínio .......................................................................30
LISTA DE TABELAS
1
8
Tabela 1: Comunidades da área de estudos, moradores visitados e dias em campo ........17
Tabela 2: Coleta e preservação de amostras para análise físico-químicas Fechadas ........21
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .............................................................................................................09
1 JUSTIFICATIVA ..........................................................................................................11
1.1 FORMULAÇÕES DO PROBLEMA DA PESQUISA ..............................................12
1.2 OBJETIVO GERAL ..................................................................................................12
1.2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .................................................................................12
1.3 TIPOLOGIA DA PESQUISA ....................................................................................12
1.3.1 DELIMITAÇÃO DO ASSUNTO ...........................................................................14
1.3.2 UNIVERSO DA PESQUISA ..................................................................................15
2 CAMINHO METODOLÓGICO E RESULTADOS ....................................................16
3 RESULTADOS ............................................................................................................22
CAPÍTULO 1 – TERRITÓRIO COM MINERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
LOCAL ..........................................................................................................................26
1.1 CONTEXTO REGIONAL NO PARÁ ......................................................................26
1.2 CONTEXTO DA MINERADORA EM JURUTI .....................................................27
1
1
9
1.3 CONHECENDO A BAUXITA .................................................................................28
CAPÍTULO 2 – O MEIO AQUÁTICO .......................................................................31
2.1. A ÁGUA NA NATUREZA........................................................................................31
2.2 A QUALIDADE DA ÁGUA .....................................................................................33
2.3 CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DA ÁGUA ............................................................34
CONCLUSÃO ...............................................................................................................36
REFERÊNCIAS ............................................................................................................37
INTRODUÇÃO
As últimas duas décadas de nosso século vêm registrando um estado de profunda
crise mundial. É uma crise complexa, multidimensional, cujas facetas afetam todos os
aspectos de nossa vida — a saúde e o modo de vida, a qualidade do meio ambiente e das
relações sociais, da economia, tecnologia e política. É uma crise de dimensões
intelectuais, morais e espirituais; uma crise de escala e premência sem precedentes em
toda a história da humanidade. Pela primeira vez, temos que nos defrontar com a real
ameaça de extinção da raça humana e de toda a vida no planeta. (CAPRA, 1987)
Observa-se uma crescente demanda na preocupação sobre os assuntos
relacionados à ecologia devido as observações decorrentes das atividades industriais e de
grandes impactos no ambiente natural. Esses impactos no meio ambiente agridem de
todas as formas os vários recursos naturais e inclusive a humanidade.
São considerados recursos naturais tudo aquilo que é necessário ao homem e que
se encontra na natureza, dentre os quais podemos citar: o oxigênio, a energia oriunda do
1
1
10
sol, os animais, dentre outros. Os recursos naturais são classificados em dois grupos
distintos: os renováveis e os não renováveis.
De acordo com Braga (2005), os não renováveis abrangem todos os elementos que
são usados nas atividades antrópicas, e que não têm capacidade de renovação. Com esse
aspecto temos: o alumínio, o ferro, o petróleo, o ouro, o estanho, o níquel e muitos outros.
Isso quer dizer que quanto mais se extrai, mais as reservas diminuem, diante desse fato é
importante adotar medidas de consumo comedido, poupando recursos para o futuro.
Já os renováveis detêm a capacidade de renovação após serem utilizados pelo
homem em suas atividades produtivas. Tais por exemplo, o solo, as florestas, e também,
a água. Estes são recursos naturais renováveis. Caso haja o uso ponderado de tais recursos,
certamente não se esgotarão.
Enquanto elemento essencial à vida, a água, deve atender aos requisitos de
qualidade e quantidade adequadas ao consumo da população, a fim de garantir a
manutenção da saúde coletiva e a preservação do ecossistema terrestre. Quando a
disponibilidade e, principalmente, a qualidade da água encontram-se comprometidas,
pode haver transtornos ao bem-estar da população e inclusive o surgimento de doenças,
cujos os agentes patológicos são transportados pela água.
Devido à crescente preocupação da população em geral, o estudo tem como foco
principal o intenso uso, a poluição e a contaminação, oriundos de lançamentos de
efluentes sem tratamento, que contribuem para agravar a escassez de água e reforçam a
alteração da capacidade desses ecossistemas e doenças relacionadas à água como
principal ameaça das alterações tanto na vida dos moradores quanto no leito do lago de
Juruti Velho, situado no Estado do Pará. Uma das principais consequências dessa
alteração é a eutrofização que afetam populações expostas a riscos ambientais, e esses
impactos na saúde são maiores em regiões com menor renda.
A extração de bauxita no lago de Juruti Velho vem nos revelar um cenário de lutas
econômicas e sócio ambientais que se travaram há algumas décadas na localidade e que
até hoje ainda não se encontrou um acordo satisfatório para ambas as partes envolvidas.
A comunidade reclama e aponta danos ambientais oriundos da instalação da mineradora
11
ALCOA. Essas situações de desastre aumentam de forma significativa a morbidade e a
mortalidade local.
Na medida que se intensificam o uso dos recursos hídricos, maior é a necessidade
de se definir formas de manejo sustentável e de gestão ambiental desses ecossistemas.
Para isso, torna-se necessário um monitoramento sistemático, o qual resulta em séries
temporais de dados que permitem avaliar a evolução da qualidade do corpo aquático e
conhecer as tendências de sua variação.
A pesquisa apresenta o contexto em que se insere comunidades de modos
tradicionais do Estado do Pará, bem como as justificativas que visam averiguar
características físicas da qualidade da água utilizada nessas comunidades, que motivaram
sua composição e a definição do objetivo de avaliar a qualidade da água no Lago de Juruti
Velho (Pa) a partir da exploração da jazida de bauxita . Além disso, os métodos da
pesquisa adotados, baseam-se num estudo de caso, coleta de amostra in loco e verificação
de característica qualitativas atuais do logo, a estrutura e a forma como estão organizados
os capítulos, são expostos com a intenção de facilitar elaboração de outras pesquisas.
1. JUSTIFICATIVA
A prática de mineração de um modo geral tem grande influência na economia
brasileira. Dessa forma, ao tentar os grandes projetos de mineração no Estado do Pará já
fazem parte da paisagem de vários municípios, e estão no foco dos debates sobre
ocupação de territórios por grandes empreendimentos, e sua interferência no modo de
produção local. Dentro deste cenário, destaca-se o município de Juruti, base do “Projeto
Bauxita de Juruti” da ALCOA, com reserva estimada em 700 milhões de t, cuja extração
ocorrerá em áreas distintas e concomitantes.
A mina em exploração está localizada em Juruti Velho, mais precisamente na área
do Programa de Assentamento Agroextrativista-PAE Juruti Velho, com uma população
tradicional que vive basicamente da pesca artesanal e da agricultura de subsistência.
12
Contudo, a comunidade de Juruti Velho fez valer a tradição de seus ancestrais
Muirapinimas e Mundurukus, sendo reconhecido pelo INCRA/Santarém como legítimos
detentores do domínio do solo, por meio da assinatura com o INCRA do Contrato de
Concessão de Direito Real de Uso (CCDRU), passando então a negociar diretamente com
a ALCOA o recebimento dos direitos inerentes aos superficiários, que passaram a ser em
decorrência do CCDRU, fato inédito na história de grandes empreendimentos na
Amazônia. Além deste reconhecimento, fazem direito às compensações previstas no
licenciamento ambiental e pagamento de perdas e danos.
A história de grandes empreendimentos de mineração no Pará passa a ser escrita
de outra forma a partir de Juruti, pois a população atingida passa a ser protagonista
principal deste enredo, a partir do momento em que se organiza e se articula com outros
atores.
A principal justificativa desta pesquisa está baseada na aplicação dos parâmetros
físicos da qualidade da água, as quais visam prioritariamente averiguar suas
características, oferecendo em troca qualidade em conformidade com as expectativas dos
consumidores.
1.1 FORMULAÇÕES DO PROBLEMA DA PESQUISA
De que forma as ferramentas de análises das qualidades físicas da água podem
contribuir em uma comunidade, para acompanhar o seu índice de variação, a partir da
exploração de minério em uma indústria de mineração?
1.2 OBJETIVO GERAL
13
O objetivo geral deste trabalho, baseado no problema exposto, é avaliar a
qualidade da água no Lago de Juruti Velho (Pa) a partir da exploração da jazida de bauxita.
1.2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Identificar possíveis indicadores de danos ambientais.
• Estudar as características físicas do Lago de Juruti Velho.
• Verificar o atendimento aos padrões de qualidade de água exigidos pela Resolução
Nº 430, de 13 de maio de 2011 – complementa e altera a Resolução CONAMA
Nº 357/05, para a classe à qual o lago pertence.
1.3 TIPOLOGIA DA PESQUISA
De acordo com Lakatos & Marconi (1991), método é o conjunto das atividades
sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o
objetivo designado, bem como definir o caminho a seguir, detectando erros e ajudando o
cientista em suas decisões. Neste caso, o objetivo se traduz em conhecimentos válidos e
verdadeiros.
A pesquisa deve ser classificada quanto ao seu objetivo e, em seguida, devem-se
determinar quais métodos de procedimento serão utilizados.
Com isso, as pesquisas podem ser classificadas:
Exploratória:
Estas pesquisas têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o
problema, com vista a torná-lo mais explícito ou construir hipóteses. Pode-se
dizer que estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento das
idéias ou a descoberta de intuições. (GIL, 1987, p. 45).
Descritivas:
Têm como objetivo primordial a descrição das características de determinada
população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre as
variáveis. [...] Neste caso tem-se uma pesquisa descritiva que se aproxima da
explicativa. (GIL, 1987, p. 46).
14
E explicativas:
Têm como preocupação central identificar os fatores que determinam ou que
contribuem para a ocorrência dos fenômenos. Este é o tipo de pesquisa que
mais aprofunda o conhecimento da realidade, porque explica a razão, o porquê
das coisas. Por isso é o tipo mais complexo e delicado, já que o risco de cometer
erros aumenta consideravelmente. Pode-se dizer que o conhecimento científico
está assentado nos resultados oferecidos pelos estudos explicativos. (GIL,
1987, p. 47).
Quanto ao procedimento as pesquisas, ainda segundo Gil (1987), estas podem ser:
1. Bibliográfica: esta pesquisa se desenvolve sobre material já existente e é
constituída basicamente de livros e artigos científicos;
2. Documental: esta pesquisa se desenvolve a partir de materiais que ainda não
receberam tratamento analítico;
3. Experimental: após a escolha de um objeto de estudo, selecionam-se as
variáveis capazes de influenciá-lo, definindo as formas de controle e de observação dos
efeitos que tais variáveis produzem no objeto;
4. Levantamento: este tipo de pesquisa é caracterizado por interrogação direta das
pessoas cujo comportamento se deseja ter conhecimento;
5. Estudo de Caso: pesquisa que se caracteriza pela exaustão no estudo de um ou
de poucos objetos para que se alcance seu amplo e detalhado conhecimento.
Para Demo (2001), o maior desafio da pesquisa científica é a integração entre
teoria e prática, constituindo-se na forma de intervenção no objeto de estudo e na
capacidade do pesquisador em reconhecer as relevâncias do cenário e tirar conclusões.
Quanto à abordagem do problema segundo Gil (2010), estas podem ser:
1. A pesquisa qualitativa não se preocupa com representatividade numérica, mas
sim com o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização etc.
Os pesquisadores que adotam a abordagem qualitativa se opõem ao pressuposto que
defende um modelo único de pesquisa para todas as ciências, já que as ciências sociais
têm sua especificidade, o que pressupõe uma metodologia própria. Os pesquisadores que
utilizam os métodos qualitativos buscam explicar o porquê das coisas, exprimindo o que
convém ser feito, mas não quantificam os valores e as trocas simbólicas nem se submetem
à prova de fatos, pois os dados analisados são não-métricos (suscitados e de interação) e
se valem de diferentes abordagens.
15
2. A pesquisa quantitativa nesse tipo de abordagem, os pesquisadores buscam
exprimir as relações de dependência funcional entre variáveis para tratarem dos
fenômenos. Eles procuram identificar os elementos constituintes do objeto estudado,
estabelecendo a estrutura e a evolução das relações entre os elementos. Seus dados são
métricos (medidas, comparação/padrão/metro) e as abordagens são experimental,
hipotético-dedutiva, de verificação.
Ainda, uma pesquisa pode ser delimitada quanto aos fins e meios, segundo
Severino (2002), como também em função dos propósitos do estudo. Quanto aos fins, a
pesquisa pode ser classificada como qualitativa, foi escolhida em razão de se constatar na
prática a aplicação da teoria, a fim de se responder à questão da pesquisa.
Ainda quanto aos meios, pode ser dita bibliográfica aliada ao estudo de caso com
abordagem, portanto, o método é um instrumento racional para adquirir, demonstrar ou
verificar conhecimentos.
A metodologia utilizada neste trabalho é a pesquisa bibliográfica aliada ao estudo
de caso com abordagem do problema utilizando a pesquisa qualitativa. Esta metodologia
foi escolhida em razão de se constatar na prática a aplicação da teoria, a fim de se
responder à questão da pesquisa.
1.3.1 DELIMITAÇÃO DO ASSUNTO
Trata-se de um estudo prático, o qual possa servir de referência para projetos no
ramo de engenharia ambiental. Isto significa dizer que este trabalho poderá ser
reproduzido em um ambiente com semelhantes características aos das comunidades
abordadas. Ou até mesmo, efetuar um registro de levantamento das características atuais
da água do lago citado, e chamar a atenção para a fragilidade, ao qual esse curso hídrico
estará exposto nos próximos 70 anos de operação da mina de Juruti.
1.3.2 UNIVERSO DA PESQUISA
16
Trata-se de um ambiente composto por um conjuto de comunidade tradicionais
localizadas no Norte do Brasil no município de Juruti, Pará, inserida na área de atuação
da empresa industrial de mineração ALCOA , tem as seguintes coordenadas geográficas:
02º09’09’’S e 56º05’42’’W. Partindo de Santarém são necessárias 12 horas de viagem via
fluvial para chegar em Juruti ou ainda 30 minutos por via aérea e 4 horas de ônibus,
partindo se Manaus são 22 horas via fluvial e 1 hora de avião.
Tais comunidades dependem diretamente do principal corpo hídrico dessa
região, ao qual fixaram residências as suas margens à décadas, e dele se utilizam para a
navegação, agricultura de subsistência, consumo humano, uso domésticos e outros.
Levando em consideração o modelo atual utilizado na exploração desse minério e de
processos similares, trazem consigo um histórico agravante de contaminação das bacias
hídricas, com mudaças das características físicas da água perceptíveis em sua cor,
turbidez, temperatura e sabor.
Pesquisa iniciada no ano de 2015 e no decorrer do ano foi desenvolvido em partes:
pesquisa bibliográfica sobre o tema abordado e estudos de casos correlatos, coleta in loco
e a escrita do relatório de campo e, por fim, a tabulação dos resultados gerados. Estas
últimas etapas foram realizadas no primeiro semestre de 2016. Por fim, foi possível gerar
um banco de dados sobre o ambiente físico, contatos com líderes dos moradores das
comunidades visitadas e imagens dos locais e das coletas, as quais possibilitaram
comprovar a qualidade física da água.
17
2. CAMINHO METODOLÓGICO
Primeiramente foi definida a área de estudo num recorte espacial que compreende
quarenta e nove comunidades na região oeste do Pará, onde nem todas foram exploradas
(figura 1).
Figura 1 – Mapa de localização da área de estudo.
Fonte dos dados: Adaptado de IBGE, 2007.
Os procedimentos metodológicos adotados para a pesquisa foram definidos de
acordo com a questão central da pesquisa que diz respeito à configuração atual da
qualidade da água nas comunidades no município de Juruti (figura 2).
Em virtude a magnitude das distâncias relacionadas entre o local de coleta e um
laboratório de análise adequado aos padrões que garantam a confiabilidade dos resultados
relacionados. Este, atentou-se diretamente para as possíbilidades de alteração das
características físicas como cor, temperatura, turbidez e sabor, como termo de avaliação
da qualidade do corpo hídrico, assim como, relatos dos moradores locais e apresentação
do equilíbrio na fauna aquática.
18
Figura 2 – Mapa de localização das comunidades visitadas.
Org.: Eliziel Nascimento.
Fonte dos dados: IBGE, 2010.
Foram visitadas 3 comunidades e uma parte da área de beneficiamento no período
de 27 de dezembro a 15 de janeiro totalizando 19 (dezenove) dias ininterruptos de
trabalhos em campo. Ainda conforme a figura 2, estão destacadas somente as
comunidades visitadas e as amostras de água coletadas.
Tabela 1 – Comunidades da área de estudos, moradores visitados e dias em campo.
Comunidades
Número de
Estabelecimentos
Visitados
Dias em Campo
Capiranga 3 3
Galiléia 8 12
Ordem Monte Alegre 2 3
Área de beneficiamento da empresa
ALCOA 0
1 FONTE: Dados da pesquisa de campo, 2015.
19
O período do trabalho de campo compreende a vazante do rio Amazonas o que
corresponde o período de vazante do lago representando um cenário que pode variar de
forma sensível ou mais acentuada durante a estiagem que, na área de estudo se verifica
mais nos meses de agosto e dezembro.
Todavia, é necessário mencionar que foram anos de vivências nessas
comunidades, em especial na comunidade Galileia a qual concentra grande parte do plator
a ser lavrado devido à aproximidade parental com os individuos da mesma, observando e
registrando em acervo familiar as dinâmicas urbanas que sofrem influência direta do rio.
Mudanças espaciais, sociais e culturais. Fenômenos relacionados ao espaço
urbano tais como: migrações, turismo, alimentação, consumo, lazer.
Nestas comunidades as performances urbanas não foram diferentes, usos e
apropriações dos espaços e privados das comunidades, alteração paisagística por parte da
mineração. Trazem uma sensação de desrespeito a cultura local.
A amostragem implica a coleta d’água da margem do lago de três comunidades
Galiléia, Caapiranga, Ordem Monte Alegre, para a verificação das características
qualitativas do lago como um todo.
As comunidades são as mais próximas do beneficiamento, e as que estão mais
vuneráveis a impactos negativos, caso não seja adotada uma conduta preventiva das ações
oriunda da atividade da mineradora.
Estas, ainda preservam as características nativa em quase sua totalidade, com uma
biodiversidade de flora e fauna comprometida, com a nova dinâmica urbana que tem se
aumentado graças a pressão antrôpica.
No entanto, ainda pode se afirmar que o lago tão importante, para o ecossistema
deste ambiente, mantém as características originais aos períodos anteriores a exploração
de minério, com uma frequência de sua similaridade característica, mesmo em
quilômetros de distância de uma coleta para a outra.
Os dados obtidos referem-se aos parâmetros que foram analisados e enquadrados
conforme o Manual Prático de Análise de Água (Guia de Bolso) da Fundação Nacional
de Saúde (FUNASA), ilustrado na figura 3.
20
Figura 3 – Manual Prático de Análise de Água.
Fonte: FUNASA, 2009.
Para a obtenção dos dados foram utilizados os materiais para coleta (figura 4), registro,
identificação e transporte das amostras nos diferentes pontos de análise:
• Ficha de coleta (para o preenchimento dos dados do estabelecimento e das
amostras);
21
• Etiquetas (para identificação das amostras);
• Embalagens de garrafas pet para armazenar o material coletado;
• Registro de condições de aparência in loco;
• Amazenamento refrigerado
Figura 4 - Materiais utilizados para coleta em campo
FONTE: OMS 1998.
Foram realizas as análises de cor e turbidez das amostras, levando em
consideração a quantidade de volume, o tipo de recipiente e o prazo sugeridos pelas
orientações do manual de bolso.
A avaliação sobre as condições de qualidade da cor das amostras, consistia em em
identificar a transparência da água, e a capacidade de se identificar as formas dos objetos
através do recipiente e sua capacidade de permitir que os raios de luz podem passar pela
amostra em seu recipiente transparente. Já avaliação da turbidez consistia em analisar as
caracteristicas da amostras após passar pelo papel filtro e a quantidade de material
suspenso retido retido pelo papel filtro.
22
As regras do Manual da FUNASA tratam sobre o método de determinação não
poderam ser seguidas devido a ausência de ferramentas adequadas para análise . Neste
método é definido o material necessário para realizar a prática. Eles são: tubos de Nessler
forma alta de 50 ml; suporte de madeira; e solução -padrão de Cloroplatinado de Potássio
(500 Unidades de Cor). E também sobre a técnica. As quais são: preparar padrões de cor
na faixa de 5 a 50 unidades de cor, medidno 0,5; 1,0; 1,5; 2,0; 2,5; 3,0; 3,5; 4,0; 4,5; 5,0;
6,0 e 7,0 ml da solução padrão (500 unidades de cor) e colocar em tubos de Nessler de 50
ml; diluir com água destilada até a marca de 50 ml; e por fim, medir 50 ml da amostra em
outro tubo de Nessler e comparar com os padrões. O resultado é expresso em unidades de
cor ou unidade Hazen (uH).
Tabela 2 – Coleta e preservação de amostras para análise físico-químicas.
Parâmetros Recipientes
Volume
mínimo
(mL)
Preservação Tempo máximo
Alcalinidade
Vidro ou
polietileno 200 Refrigerar 24h/14d
CO² ´´ 100 Análise imediata -
Dureza ´´ 100 HNO³ pH < 2 6 meses
Cloretos ´´ 100 Não requer 7 dias
Alumínio ´´ - HNO³ pH < 2 6 meses
Fluoretos Polietileno 300 Não requer 28 dias
Temperatura - - Análise imediata -
Turbidez
Vidro ou polietileno
200 Proteger da luz 24h
Cloro
Residual
Vidro ou
polietileno 500 Análise imediata 30min/2h
pH ´´ 200 Análise imediata -
Cor ´´ 500 Refrigerar 24h
FONTE: FUNASA apud Adaptado de APHA, 1985.
23
3. RESULTADOS
No atual trabalho realizou-se somente a análise física, e dentre os parâmetros
físicos, limitou-se a turbidez e a cor, ambos estão em destaque na tabela 2. Seguindo o
manual de bolso da FUNASA (2009), onde “a cor da água é proveniente da matéria
orgânica como, por exemplo, substâncias húmicas, taninos e também por metais como o
ferro e o manganês e resíduos industriais fortemente coloridos. A cor, em sistemas
públicos de abastecimento de água, é esteticamente indesejável. A sua medida é de
fundamental importância, visto que água de cor elevada provoca a sua rejeição por parte
do consumidor e o leva a procurar outras fontes de suprimento muitas vezes inseguras”.
Em destaque na cor azul temos na tabela 2 os dois parâmetros analisados.
Ressaltando que a análise realizada levou em consideração somente as características
físicas da água. Na figura 5, a coleta foi realizada na comunidade de Capiranga.
Observa-se que a garrafa apesar de ser na cor verde é possível notar que o líquido
se encontra límpido. Na mesma imagem, não notamos nenhuma presença de lixo urbano
ou de qualquer outra natureza. Ainda na mesma figura, a praia se encontra, também, em
ótimo estado de preservação.
24
Figura 5 – Coleta em Capiranga.
Fonte: Jessé, 2016.
Na figura 6, seguindo a recomendação do Manual de bolso da FUNASA foi
coletado aproximadamente dois litros de água. Esse volume seria o suficiente para realizar
análises químicas e físicas, porém, no decorrer no projeto não foi possível realizar
nenhuma análise em laboratório por motivos de prazos e financeiros. A amostra coletada
na comunidade Galileia, igualmente na comunidade anterior, revela uma boa turbidez da
água pois, sem a presença de materiais sólidos em suspensão que possa reduzir a sua
transparência. Ela, a água do lago, conta com esse fator positivo, pois a turbidez tem sua
importância na aceitação entre os consumidores.
Figura 6 – Coleta na comunidade Galileia.
25
Fonte: Jessé, 2016.
Nota-se a total ausência de poluição da água por qualquer tipo de lixo gerado pelo
homem.
A população consome normalmente a água do lago, quase que sem tratamento
algum, a não ser filtros de barros, um peneramento muitas vezes feito com a malha de
uma fralda de pano, e eventuais fervura até atingir 100ºC, este último muito usado em
casa com crianças ainda de colo, ou com idosos.
Segundo os padrões de classificação do corpo hídrico, pode se dizer que o lago
atende aos requisitos da Resolução CONAMA nº 357/2005. Águas doce classe 1,
materiais flutuantes, virtualmente ausente; óleos e graxas, virtualmente ausente;
substância que comuniquem gosto ou odor, virtualmente ausente; corante proveniente de
fonte antrôpica, virtualmente ausente; resíduos sólidos objetáveis, virtualmente ausentes;
cor verdadeira, nível de cor natural.
Figura 7 – Coleta na comunidade Ordem de Monte Alegre.
26
Fonte: Jessé, 2016.
Na terceira comunidade visitada, o cenário se repete como nas anteriores. Um
ambiente livre de contaminação por ações antrópicas, conforme a figura 7. O lago é fonte
para alimentação, transporte, lazer e entre outros. A comunidade depende desse lago para
manter a sua sobrevivência. E essa dependência é refletida nos bons hábitos de
preservação e conservação do lugar.
Figura 8 – Coleta na adutora da empresa ALCOA.
27
Fonte: Jessé, 2016.
Durante o campo coletou-se uma amostra diretamente da adutora da empresa
ALCOA que faz a captação da água bruta a jusante para a lavagem do minerio nas bacias
à montante do lago, conforme a figura 8. No dia em questão foi verificado um vazamento
em um determinado ponto da adutora. No momento não havia nenhum funcionário da
empresa. Essa água também estava em boa condição, dentro dos parâmetros cor
(transparente) e turbidez (ausência de material suspenso) para aceitação da comunidade e
o manual da Funasa.
Pois, estes dois parâmetros quando não satisfatórios são capazes de gerar grande
rejeição nos consumidores. Também com um odor desagradável que compromete e
evidência a má qualidade da água com essas características.
28
CAPÍTULO 1 – TERRITÓRIO COM MINERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
LOCAL
A mineração é um dos setores mais consolidados do mundo, no entanto, são
marcados por um graves desastres ao meio ambiente. Faz-se necessário uma busca por
um modelo que seja direcionado ao desenvolvimento social das comunidades tradicionais
e a sustentabilidade dos ecossistemas amazônicos, ações de preventiva, podem mitigar o
dano ambiental de tal forma que seja possível sua restruturação natural, ou sua
reabilitação, através da ação do homem, com reflorestamento e recuperação de áreas.
1.1 CONTEXTO REGIONAL NO PARÁ
O Estado do Pará abrange 14,6% do território nacional, com 1.247,7 mil km²,
abriga 4% da população brasileira (7,6 milhões de habitantes), é o segundo estado
minerador do Brasil, superado apenas por Minas Gerais. Em 2011 gerou divisas de US$
18,3 bilhões, das quais 90% foram provenientes da venda externa de metais e minerais.
O peso da indústria extrativista e de transformação mineral no PIB estadual está estimado
em 15%, segundo o IBGE 2010.
Nunca é demais lembrar que os recursos minerais são bens não-renováveis e, desta
forma, as jazidas tem vida útil pré-determinada. Em um momento futuro a mina será
exaurida e, a depender das condições de mercado, pode até mesmo ser fechada antes do
esgotamento, caso os preços caiam abruptamente, o que pode gerar graves problemas nas
esferas social, econômico e ambiental do território afetado pela mineração.
A capacidade de antecipar tendências e incertezas, com vistas a preparar a
sociedade para acontecimentos futuros é fator essencial de uma estratégia de longo prazo.
Conhecer o passado, sua evolução e dinâmica recente e, principalmente, saber para onde
se está caminhando e aonde se quer chegar no horizonte das próximas duas décadas é
imprescindível para o bom planejamento do desenvolvimento do Estado, a partir de sua
base mineral, segundo a Seplan PA 2012.
29
1.2 CONTEXTO DA MINERADORA EM JURUTI
O projeto de mineração de Juruti teve origem no ano de 2000, quando a empresa
norte-americana Alcoa adquiriu a empresa Reynolds Metals que já fazia extração mineral
e continha estudos da região e através de sua subsidiária Omnia Minérios, que iniciou as
atividades de pesquisa mineral no município na década de 60. Segundo informações da
empresa, a área possui uma reserva de cerda de 700 milhões de toneladas métricas, o que
faz de Juruti um dos maiores depósitos de bauxita de alta qualidade do mundo.
A empresa estipulou um cronograma de lavra que disponibiliza e organiza as áreas
que passarão por esse processo separadas por um período de 5 anos entre elas, conforme
podemos observar na figura 9.
Figura 9 – Mapa do cronograma de lavra.
30
Fonte dos dados: MPE, 2012.
Os investimentos estimados do projeto geram em torno de um bilhão de reais com
envolvimento de quase 3 mil trabalhadores para a montagem da infraestrutura no período
de 30 meses (fase de implantação) e, posteriormente, de 1181 trabalhadores diretos na
mineração (fase de operação). Em comparação com outros projetos de mineração,
verifica- se que nesta fase é onde ocorriam graves impactos ambientais, basicamente
relacionados ao depositário de rejeitos.
1.3 CONHECENDO A BAUXITA
As bauxitas são rochas com hidróxidos de alumínio, jazendo sobre substrato de
calcário, foram descobertas em 1821 por Berthier, nas imediações de Les Baux,
localidade situada próxima de Arles, sul da França, na qual deriva o termo bauxita. Este,
31
contudo não possui uma definição precisa. Para uns, refere-se a material suficiente rico
em hidróxidos de alumínio, próprio para a extração deste metal. Para outros, trata-se
simplesmente de material contendo hidróxidos de alumínio. Também são empregadas
designações como: argila bauxítica, areia bauxítica, calcário bauxítico, entre outras.
A bauxita não deixa de ser um produto de intemperismo de certos tipos de rochas
aluminosas. Constitui um alterito composto principalmente de minerais de hidróxidos de
alumínio.
O desenvolvimento de depósitos de bauxita está diretamente relacionado com o
manto de intemperismo. Alguns são formados através da rede posição de seus produtos
em meio aquoso e são classificados como formação sedimentares. Outros permanecem in
situ e são depósitos residuais (GUERRA apud Smirnov,1976).
Numa conceituação generalizada, as camadas laterísticas bauxíticas recobrem o
substrato rochoso, fazendo parte do manto de intemperismo desenvolvido pela alteração
de minerais alumino-ferruginosos das rochas alcalinas, básicas e ácidas, bem como de
rochas sedimentares argilosas situadas à certa profundidade e proximidade da superfície.
Para a origem da bauxita, considera de especial importância a liberação e remoção
sílica sob condições climáticas quentes e úmidas, acompanhadas da concentração de Al,
Fe e Ti, além de outros elementos passíveis de concentração nesse processo. Salienta
igualmente o grande incremento da solubilidade da sílica na água com o aumento da
temperatura, o qual passa de aproximadamente 100mg/l a 0°C para 270 a 300mg/l a 50°C,
isto é, cerca de 3 vezes mais, enquanto a solubilidade dos óxidos de Al, Fe e Ti, em
condições de baixa acidez nos solos laterísticos é consideravelmente menor do que a da
sílica.
Ainda de acordo com Guerra apud Fróes Abreu (1973), as bauxitas brasileiras
resultariam da alteração laterística dos feldspatos, feldspatóides e argilas. A eliminação
da sílica por solubilização requerida de condições específicas encontráveis nas regiões de
climas quentes com alternâncias bem definidas de épocas de chuva e seca.
As jazidas de maior vulto foram encontradas no Brasil na década 50 e,
principalmente, na de 70. As reservas brasileiras estão entre as maiores do mundo, com
32
mais de um bilhão de toneladas. Outras grandes reservas de bauxitas estão localizadas na
Austrália, Guiné, Vietnã, Índia, Camarões e Suriname. Na Amazônia destacam-se as
ocorrências de Paragominas, Tiracambu, Gurupi, Trombetas, Nhamundá, Almeirim,
Carajás e Juruti. Depósitos de menor importância encontram-se em escarpas de regiões
montanhosas: Poços de Caldas (MG), Cataguases (MG), Mendanha (RJ) e outras
localidades.
A província bauxílica da Amazônica, uma das maiores do mundo, localiza-se nas
bacias sedimentares do Amazonas e da Parnaíba, constituída por sequências paleozoicas
e subordinadamente mesozoicas e cenozoicas. As coberturas laterísticas ricas em
alumínio ocorre sobre os sedimentos cretácicos e também em menor escalas sobre
formações pré-cambrianas.
Segundo PIFFER (1999) as reservas de bauxitas da região amazônicas são da
ordem de quatro bilhões de toneladas, conferindo ao Brasil lugar de destaque entre outros
países.
As bauxitas da Amazônia apresentam-se em leitos quase horizontais nas partes
superiores dos platôs (pediplanos Pd2, nível superior) situados em cotas de 100 a 200m
acima do Rio Amazonas, evidenciando maturidade geomorfológica (PIFFER, 1999). O
material latterítico-bauxílico é sempre encontrado no nível mais elevado.
Em Juruti (PA) a bauxita encontra-se numa área aproximada de 155 a 250m,
compreendendo duas etapas de pediplanação. O nível mais elevado e antigo contém os
depósitos bauxílicos. A superfície de erosão perde altitude do sul para norte, sendo
cortado por vales profundos e largos. Na região ocorre, ocorre frequentemente, dois
horizontes bauxílicos, revelando mudanças faciológicas laterais e um enriquecimento de
gibbsita do sul para o norte (GUERRA, 1999).
O processo de mineração de Bauxita em Juruti compreende, grosso modo, a
extração, o beneficiamento (britagem, lavagem, peneiramento e classificação
granulométrica) e secagem, gerando alguns impactos ambientais graves. Os impactos
mensurados estão relacionados aos rejeitos que seriam descartados, na forma de polpa,
da usina para uma Lagoa de Espessamento (LE) formada por um dique periférico e
construída junto a usina: depois os rejeitos espessados seriam dragados.
33
Figura 10 – As etapas do ciclo do alumínio.
Fonte dos dados: MPE, 2012.
CAPÍTULO 2 – O MEIO AQUÁTICO
Neste capítulo é possível abordar a disponibilidade da águas, a qualidade e os
aspectos físicos deste recurso renovável. É classificada assim, pois, detêm a capacidade
de renovação após ser utilizada pelo homem em suas atividades produtivas. Caso haja o
uso ponderado de tal recurso, certamente não se esgotará.
34
2.1. A ÁGUA NA NATUREZA
Ao classificar o meio ambiente como um bem de uso comum do povo e essencial
a sadia qualidade de vida, o caput do art. 225 da Constituição Federal determinou que
incumbe ao Poder Público e à coletividade defendê-lo e preservá-lo para presentes e
futuras gerações.
A água doce está incluída nessa preocupação posto que se trata do recurso
ambiental, conforme o inciso V do art. 3º da Lei n. 6.938/81 e o inciso IV do art. 2º da
Lei n. 9.985/2000.
A água encontra-se disponível de várias formas e é uma das substâncias mais
comuns existentes na natureza, cobrindo aproximadamente 70% da superfície do planeta.
É encontrada principalmente no estado líquido, constituindo um recurso natural renovável
por meio do ciclo hidrológico. Todos os organismos necessitam de água para sobreviver,
sendo a sua disponibilidade um dos fatores mais importantes a moldar os ecossistemas. É
fundamental que os recursos hídricos apresentem condições físicas e químicas adequadas
para sua utilização pelos organismos. Eles devem conter substâncias essenciais à vida e
estar isentos de outras substâncias que possam produzir efeitos insalubres aos organismos
que compõem as cadeias alimentares. Assim, disponibilidade de água significa que ela
está presente não somente em quantidade adequada em uma dada região, mas também
que sua qualidade deve ser satisfatória para suprir as necessidades de um determinado
conjunto de seres vivos, chamada de biota.
Há duas formas de caracterizar os recursos hídricos: com relação à sua quantidade
e à sua qualidade, estando essas características intimamente relacionadas. Segundo o
autor Braga (2005), a qualidade da água depende diretamente da quantidade de água
existente para dissolver, diluir e transportar as substâncias benéficas e maléficas para os
seres que compõem as cadeias alimentares.
É estimado que a massa de água total existente no planeta seja aproximadamente
igual a 265.400 trilhões de toneladas. Entretanto, apesar de existir em abundância, nem
35
toda água é diretamente aproveitada pelo homem. Desse total apresentado, somente 0,5%
representa água doce explorável sob o ponto de vista tecnológico e econômico, que pode
ser extraída dos lagos, rios e aquíferos. É necessário ainda subtrair aquela parcela de água
doce que se encontra em locais de difícil acesso ou aquela que já se encontra muito
poluída.
Além disso, a água doce é distribuída de maneira bastante heterogênea no espaço
e no tempo. Essa distribuição heterogênea no espaço pode ser observada pela existência
dos desertos, caracterizados por baixa umidade, e das florestas tropicais, caracterizadas
por alta umidade. Existe também a variabilidade temporal da precipitação em função das
condições climáticas, que variam em decorrência do movimento de translação da Terra.
Além das variações naturais características das fases do ciclo hidrológico,
importantes alterações têm ocorrido nas fases desse ciclo por causa de intervenções
humanas, intencionais ou não. Podemos citar, como exemplo, a ocorrência de vapor
atmosférico que pode ser alterada pela presença de reservatórios, pela modificação da
cobertura vegetal e, também, por alterações climáticas causadas por gases estufa.
Evidentemente, tais modificações podem acarretar mudanças no regime de precipitações,
afetando, portanto, a disponibilidade do recurso natural, a água.
O uso do solo é fator de grande importância na ocorrência natural de água. O
desmatamento e a urbanização podem modificar o ciclo hidrológico ao diminuírem, por
exemplo, a evapotranspiração. Com o desmatamento, há maior presença de umidade no
solo, e sua capacidade de infiltração também diminui. Assim, existe uma tendência
aumento do escoamento superficial durante eventos chuvosos, o que amplia a frequência
de ocorrências de cheias. Tal fato tende a agravar gradativamente de modo mais intenso
pela diminuição da proteção do solo contra a erosão e a consequente diminuição de sua
permeabilidade pelo desmatamento.
Nas áreas urbanas ocorre a impermeabilização do solo por meio das construções
e da pavimentação das ruas. Assim, então, quando a precipitação atinge o solo, ocorre
escoamento superficial mais intenso em consequência de pouca ou nenhuma capacidade
de infiltração disponível. Logo, essa impermeabilização do solo pela urbanização é uma
das principais causas de inundações nos meios urbanos.
36
É possível afirmar que de todos os recursos ambientais, a água é o mais
importante, pois a vida humana, bem como para a maioria das outras formas conhecidas
de vida, dela necessita para se desenvolver e para sobreviver.
Para o ser humano especificamente, além dos aspectos ecológicos propriamente
ditos, tal elemento assume uma importância antropológica, econômica, histórica,
geográfica, jurídica, política, religiosa e social.
Além de ser indispensável à vida, a água doce é o suporte da maioria das
atividades econômicas e sociais, como o abastecimento público, agricultura, geração de
energia, indústria, pecuária, recreação, transporte e turismo.
Se o meio ambiente é um direito fundamental da pessoa humana, já que a
continuidade e a qualidade da vida dependem dele, pelos mesmos motivos os recursos
hídricos também devem ser classificados como tal.
Com efeito, o direito à água é inseparável do direito à vida, em todas as dimensões
que o direito à vida possa ter. A proteção à água doce deve ser interpretada como uma
forma de defender o meio ambiente, já que se encontram integradas, conforme determina
a constituição brasileira.
2.2 A QUALIDADE DA ÁGUA
Não somente os problemas relacionados à quantidade de água, tais como:
escassez, estiagens e cheias, há também os relacionados à qualidade da água. A
contaminação de mananciais impede seu uso para abastecimento humano. A alteração da
qualidade da água agrava o problema da escassez desse recurso.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 25 milhões de pessoas no
mundo morrem por ano em virtude de doenças transmitidas pela água. A OMS indica que
nos países em desenvolvimento, o que se aplica ao Brasil, 70% da população rural e 25%
da população urbana não dispõem de abastecimento adequado de água potável.
37
2.3 CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DA ÁGUA
A água é uma substância notável por apresentar-se no estado líquido nas condições
normais de temperatura e pressão, sendo uma das poucas substâncias inorgânicas a
possuir tal característica. Consequentemente, sua densidade atinge valores relativamente
elevados, existindo uma interface bem definida entre o meio aquático superficial e a
atmosfera, pois a densidade da água é de cerca de oitocentas vezes superior à densidade
do ar (BRAGA et al., 2005).
A densidade da água varia com a temperatura, a concentração de substâncias
dissolvidas e a pressão. As variações de densidade observadas no meio aquático em
decorrência desses fatores são relativamente pequenas do ponto de vista numérico, mas
suficientemente elevadas para dar origem a uma série de fenômenos muito importantes
do ponto de vista ambiental.
Ainda segundo Braga et al (2005), o calor específico da água é bastante elevado,
de modo que ela pode absorver ou liberar grandes quantidades de calor à custa de
variações de temperatura relativamente pequenas. Assim, grandes massas de água têm o
potencial de alterar características climáticas locais, amenizando as variações de
temperatura. De forma análoga, regiões desérticas apresentam variações diárias de
temperatura relativamente amplas. Essas mesmas conclusões podem ser estendidas para
o planeta como um todo. Se os oceanos não existissem, a amplitude térmica do planeta
seria muito maior. O alto calor específico da água faz também com que esse recurso seja
muito utilizado para refrigeração de motores, processos industriais e produção de energia.
Em função do alto calor específico da água, as variações naturais da temperatura
nos meios aquáticos costumam ser brandas. Consequentemente, toda a biota aquática não
está adaptada para sobreviver grandes variações de temperatura. Isso explica, o despejo
de efluentes aquecidos nos meios aquáticos tem o potencial de produzir grandes danos
ambientais.
Muitos componentes da biota aquática não são dotados de mecanismos de
locomoção própria. Esse é o caso de algas que, possuindo densidade maior que a da água
38
que as envolve, tenderiam a ocupar o fundo do meio aquático. Isso não ocorre, pois, esses
organismos conseguem permanecer flutuando por causa da força de atrito entre sua
superfície e a água. A força de atrito é função da viscosidade da água, a qual é alterada
por variações de temperatura. Logo, com o aumento da temperatura da água, a
viscosidade diminui e, portanto, diminui a força de atrito entre a água e a superfície do
fitoplâncton. A velocidade de sedimentação desses organismos aumenta, afastando-os da
zona iluminada e consequentemente minimizando ou cessando a fotossíntese. Esse é um
dos motivos pelos quais despejos de água aquecida nos corpos de água podem gerar
grandes danos aos ecossistemas aquáticos.
A importância da penetração da luz em meios aquáticos é bastante clara e evidente,
uma vez que é fator essencial para a ocorrência da fotossíntese e, portanto, pode afetar
todo o meio biótico existente em um corpo de água. Ao penetrar na água, a luz é absorvida
e convertida em calor. Essa absorção diminui de forma aproximadamente exponencial,
em função da profundidade. Duas características são importantes do ponto de vista da
área ambiental, em primeiro lugar, é o comprimento de onda (ou frequência), que é
associada a uma determinada cor. E em segundo, é a intensidade, que é associada a uma
determinada energia transportada pela luz.
Há vários fatores que podem afetar a penetração da luz (energia luminosa) no meio
aquático. Dentre eles destacam-se a cor e a turbidez do meio. A cor da água é constituída
por luz refletida, podendo ser classificada como cor real e cor aparente. A real está
associada a substâncias dissolvidas na água e pode afetar a penetração da luz. Por
exemplo, o Rio Negro, afluente do Rio Amazonas, cujas águas apresentam coloração
escura devido a presença de material de ácidos húmicos dissolvidos em suas águas. A cor
aparente do meio aquático está associada a reflexos originados na paisagem ao redor do
corpo de água e à cor do fundo, se esse for visível da superfície. A presença de material
em suspensão afeta a turbidez da água, dificultando ou mesmo impedindo a penetração
da luz. As partículas minerais e as algas podem causar turbidez.
39
CONCLUSÃO
A conclusão é que a avaliação da qualidade da água no Lago de Juruti (PA) se
mostrou estar em boa condição para o consumo humano. Isto já acontece há muitos anos,
enquandrando-se nos requisitos da Resolução Nº 430, de 13 de maio de 2011 –
complementa e altera a Resolução CONAMA Nº 357/2005, águas doce classe I, no
relaciona as condições físicas da qualidade da água.
O estudo realizado das características físicas da água coletada diretamente do lago
nos permite traçar um perfil de monitoramento para evitar possíveis danos ambientais
oriundos da má gestão da empresa mineradora instalada.
A configuração da prática de mineração e o papel dos moradores, e a forma como
a legalidade passa bem próxima dentro dessas comunidades, e a dificuldade em traduzir
cientificamente a realidade e as questões políticas, sociais e culturais que caracterizam a
exploração mineral são alguns dos principais aspectos a serem destacados.
A preocupação em monitorar o volume e a qualidade da água não é um privilégio
específico destas áreas mencionadas, mas sim um direito e uma garantia de preservar essa
e as futuras gerações.
Neste sentido, mesmo não havendo análises em laboratório, estes não limitaram a
capacidade explicativa.
Recomenda-se que seja realizado outros métodos similares ou não, para trazer
maior confiança nos resultados obtidos.
No fim, pode-se concluir que a comunidade, a mineradora e órgãos oficiais estão
em conjunto em busca de manter uma qualidade deste recurso tão necessário, a água.
40
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