Upload
others
View
12
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
EMOÇÃO E INTELIGÊNCIA: ASPECTOS ENTRELAÇADOS NO PROCESSO DE
ENSINO E APRENDIZAGEM
GIOVANA MARIA BRUNETTI
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO.-.UENF
CENTRO DE CIÊNCIAS DO HOMEM – CCH
CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ
MARÇO/2014
EMOÇÃO E INTELIGÊNCIA: ASPECTOS ENTRELAÇADOS NO PROCESSO DE
ENSINO E APRENDIZAGEM
GIOVANA MARIA BRUNETTI
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Cognição e Linguagem do Centro
de Ciências do Homem, da Universidade Estadual
do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, como parte
das exigências para obtenção do título de Mestre
em Cognição e Linguagem.
Orientadora: Professora Bianka Pires André, D.Sc.
CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ
2014
EMOÇÃO E INTELIGÊNCIA: ASPECTOS ENTRELAÇADOS NO
PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM
GIOVANA MARIA BRUNETTI
Dissertação apresentada ao programa de Pós- Graduação Stricto Sensu em Cognição e Linguagem do Centro de Ciências do Homem da Universidade Estadual do Norte Fluminense “Darcy Ribeiro”- UENF, como parte das exigências para obtenção de título de Mestre em Cognição e Linguagem.
Avaliada: 27 de março de 2014.
BANCA EXAMINADORA:
__________________________________________________________________
Prof. Dr. Edson Ribeiro de Andrade
Fundação Osvaldo Cruz - FIOCRUZ
__________________________________________________________________
Profª. Dra. Rosalee Santos Crespo Istoe
Universidade Estadual do Norte Fluminense “Darcy Ribeiro” – UENF
__________________________________________________________________
Prof. Dr. Gerson Tavares do Carmo
Universidade Estadual do Norte Fluminense “Darcy Ribeiro” – UENF
___________________________________________________________________
Profª. Drª. Bianka Pires André
Universidade Estadual do Norte Fluminense “Darcy Ribeiro” – UENF
(Orientadora)
Qualquer um pode zangar-se – isso é fácil. Mas zangar-se com a pessoa certa, na
medida certa, na hora certa, pelo motivo certo e da maneira certa – não é fácil.
Aristóteles
Aos meus pais por serem a base da minha vida familiar e exemplo da importância
da afetividade na vida.
Ao meu filho por ser a minha maior prova de amor incondicional e das melhores
emoções proporcionadas em minha vida.
Aos meus familiares, pelo incentivo constante.
Aos meus vários amigos, pela colaboração de cada um e o companheirismo.
A todos os professores educadores em especial da rede pública que acreditam que
educar é muito mais que ensinar conteúdos.
A todas as pessoas que me amam e torceram pela realização desse trabalho.
Dedico
AGRADECIMENTOS
Antes de todas as pessoas que quero agradecer, exponho a minha
gratidão a Deus que é a fonte da minha inspiração a cada amanhecer e anoitecer e
que me permitiu concretizar essa meta que me propus realizar.
Agradeço aos meus pais Giordani e Ernesta, pelo infinito amor e apoio
que sempre me proporcionaram direta e indiretamente.
Ao meu filho Gabriel que apesar de ser criança, foi exemplo em sua
maturidade emocional compreendendo a minha ausência em momentos
necessários e sem cobrar me fortalecia a cada novo desafio.
Ao Patrick meu companheiro que sempre com carinho, paciência e
humor me incentivou para a realização desse trabalho.
A todos os meus familiares, em especial meu sobrinho Fortunato pelo
apoio diante de tudo que precisei.
A minha orientadora Bianka que carinhosamente exigiu o melhor de
mim, sempre demonstrando confiança no meu trabalho através do incentivo e
contribuições necessárias.
A todos os professores que de alguma maneira contribuíram e me
incentivaram para a realização dessa pesquisa como o professor Carlos Henrique e
em especial aos professores Gerson, Rosalee e Edson, que aceitaram fazer parte
dessa banca e muito colaboraram para o aperfeiçoamento dessa pesquisa.
Aos meus amigos que me apoiaram e contribuíram direta e
indiretamente para a realização desse trabalho.
As minhas queridas ajudantes dos serviços domésticos que me deram
suporte diante das minhas necessidades.
Aos queridos colegas e amigos do mestrado, com quem tive a alegria de
conhecer e compartilhar momentos agradáveis de troca de conhecimento e que
contribuíram para amenizar as dificuldades, surgidas durante a travessia do curso,
especialmente a minha amiga Rita.
Aos alunos, professores, direção e demais funcionários da escola onde
foi realizada a pesquisa de campo pelo acolhimento e contribuições dadas.
RESUMO
A presente pesquisa teve por objetivo geral investigar como a interação entre as emoções básicas (raiva, medo, tristeza, alegria e amor) e a inteligência interferem no processo de ensino e aprendizagem dos alunos da turma 3001, do 3º ano do Ensino Médio, de um colégio estadual de Campos dos Goytacazes. Este estudo foi desenvolvido a partir de uma pesquisa aplicada, com uma visão interdisciplinar, já que a reflexão do tema pesquisado perpassa por diferentes áreas do conhecimento, cada uma com um enfoque, introduzindo uma abordagem qualitativa diante do problema exposto. Caracterizou-se ainda como exploratória e descritiva a partir dos objetivos apresentados. Trabalhou-se com a hipótese de que por meio das emoções básicas é possível estimular a inteligência nos alunos contribuindo para um melhor desempenho no processo de ensino e aprendizagem. A amostra pesquisada, foram os 34 alunos da turma 3001, do 3º ano do Ensino Médio e os 12 professores da mesma turma. A metodologia foi bibliográfica quanto aos procedimentos e de levantamento. Os instrumentos metodológicos utilizados no primeiro momento foram as observações feitas do comportamento dos alunos durante as aulas, a relação entre si e a relação dos mesmos com os professores. Como principal instrumento, foram utilizados questionários, aplicados aos docentes e discentes da referida turma para coletar dados. As entrevistas realizadas com dois alunos e dois professores foram ferramentas complementares à pesquisa, assim como os documentos sobre o quantitativo dos alunos aprovados ao final do ano letivo. Os dados coletados nos questionários foram tabulados por meio de gráficos, analisados e interpretados à luz do referencial teórico construído. Os resultados obtidos mostraram que as emoções básicas estão presentes na vida dos alunos no cotidiano escolar e que demonstram influenciar na aprendizagem positivamente e negativamente, apontando ser mais positivamente quando melhor compreendidas e exploradas pelo sistema de ensino. As emoções e suas expressões são importantes para o desenvolvimento intelectual e para as relações entre docentes e discentes e destes entre si, porém, os docentes ainda demonstram dificuldade em romper com a lógica da prática pedagógica tradicional, que enfatiza a dimensão cognitiva em detrimento à dimensão emocional, não dando muita importância a este aspecto como parte da aprendizagem do nosso sistema de ensino vigente.
Palavras-chave: Emoção. Inteligência. Desenvolvimento. Aprendizagem. Ensino.
ABSTRACT
This research had the main objective to investigate how the interaction between
basic emotions and intelligence interfere in the teaching and learning process of
students from class 3001, the third year of High School, in Campos dos Goytacazes.
This study was developed from a research applied with an interdisciplinary vision,
since the reflection of the researched theme goes through all areas of knowledge,
each with a focus by introducing a qualitative approach on the above problem. It was
also characterized as exploratory and descriptive from the objectives presented. We
worked with the hypothesis that due to basic emotions it is possible to stimulate
intelligence in students contributing to a better perform in the teaching and learning
process. The original sample was 34 students from class 3001, the 3rd year of high
school and 12 teachers from the same class. The methodology was bibliographic
regarding the procedures and survey. The methodological tools used at first were the
observations made of the student behavior of during class, the relationship among
themselves and their relationship with the teachers. As main instrument,
questionnaires were applied in students and teachers to gather information. The
interviews with two students and two teachers were complementary tools to the
research as well as the table of final grades of the school year students. The data
collected from the questionnaires were tabulated using graphs, analyzed and
interpreted in the light of the built theoretical framework. The results showed that the
basic emotions are actually present in the lives of students in school life and
influence the learning positively and negatively, and can be much more positively if
they were better explored by the education system, as we believe it should be.
Emotions and their expressions are important for intellectual development and the
relationships among teachers and students and among these together, however,
teachers also demonstrate difficulty to break with the traditional pedagogical practice
that emphasizes the cognitive dimension to the detriment of the emotional scale, not
giving much importance to this aspect as part of learning of our current system of
education.
Key-words: Emotion. Intelligence. Development. Learning. Teaching.
LISTA DE FIGURAS E GRÁFICOS
Figura 1- Estrutura da Inteligência Emocional ...................................................... 67
Gráfico 1- Emoções que os alunos sentem com mais frequência em sala de aula . 79
Gráfico 2: Percentual de alunos que acredita que seu estado emotivo pode
influenciar seu processo de aprendizagem. ......................................................... 80
Gráfico 3: Percentual da maneira que o estado emotivo influencia no processo de
aprendizagem dos alunos que disseram acreditar................................................ 80
Gráfico 4- Emoções que mais concentram e desconcentram o aluno em sala de
aula. ................................................................................................................. 82
Gráfico 5: Discussões entre familiares e a interferência negativa na concentração e
relacionamento dos alunos em sala de aula. ....................................................... 84
Gráfico 6: Sentimentos causados pelas discussões com os amigos. ..................... 86
Gráfico 7: Níveis de interferências na aprendizagem por motivo de discussões com
os amigos. ........................................................................................................ 86
Gráfico 8: Motivos de satisfação e insatisfação dos alunos em sala de aula. ......... 88
Gráfico 9: Maneiras de expressar as emoções para demonstrar satisfação em sala
de aula. ............................................................................................................. 89
Gráfico 10: Maneiras de expressar as emoções para demonstrar insatisfação em
sala de aula. ...................................................................................................... 90
Gráfico 11: Pontos positivos de um bom relacionamento entre alunos e professores.
......................................................................................................................... 91
Gráfico 12: Pontos negativos de um mau relacionamento entre alunos e professores
......................................................................................................................... 92
Gráfico 13: Porcentagem de alunos que gostariam de ter aulas específicas sobre
relacionamentos/emoções .................................................................................. 93
Gráfico 14: Motivo dos alunos que gostariam de ter aulas específicas sobre
relacionamentos/emoções .................................................................................. 94
Gráfico 15: Emoção mais expressada nas aulas, nas atividades em grupo, no
relacionamento entre colegas em sala de aula e com os professores. ................... 95
Gráfico 16: Motivo atribuído pelo professor para a emoção mais expressada pelos
alunos durante o desenvolvimento da aula ministrada. ......................................... 97
Gráfico 17: A expressão das emoções dos alunos é algo que preocupa os
professores. ...................................................................................................... 98
Gráfico 18: Motivo de satisfação e insatisfação dos alunos em sala de aula. ......... 99
Gráfico 19: Satisfação demonstrada por meio das emoções dos alunos em sala de
aula ................................................................................................................ 101
Gráfico 20: Insatisfação demonstrada por meio das emoções dos alunos em sala de
aula ................................................................................................................ 102
Gráfico 21: Grau de importância que o professor atribui ao aspecto emocional na
aprendizagem e na influência da aprendizagem de seus alunos. ........................ 103
Gráfico 22: Como o professor considera seu envolvimento afetivo/relacional e da
maioria dos professores da turma 3001 com os alunos. ..................................... 105
Gráfico 23: Opinião dos professores sobre o que mais dificulta o relacionamento
interpessoal dos mesmos com os alunos. ......................................................... 105
Gráfico 24: Pontos positivos de um bom relacionamento e negativos de um mau
relacionamento entre professores e alunos. ...................................................... 107
LISTA DE TABELAS
Tabela 1- Disciplinas e respectivas percentagens de aprovação ......................... 111
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................................. 12
1 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS DA EMOÇÃO................................................... 20
1.1 Daniel Goleman e as Emoções .................................................................. 21
1.2 Considerações de Henri Wallon sobre Emoção ........................................... 23
1.3 Emoções e Interações Humanas na Visão de Humberto Maturana............... 26
1.4 A Afetividade na Perspectiva de Piaget ...................................................... 28
1.5 Vygotsky e a Relação Entre Cognição e Emoção ........................................ 30
2 O QUE É INTELIGÊNCIA? .............................................................................. 33
2.1 Perspectivas Científicas Sobre Inteligência ................................................. 34
2.2 Teorias da Inteligência............................................................................... 36
2.3 Piaget e os Estágios do Desenvolvimento Humano ..................................... 37
2.4 Vygotsky: a interação entre o desenvolvimento e a aprendizagem................42
2.5 A Psicogênese do ser humano Integral Segundo Wallon ............................. 44
2.6 A Dinâmica do Desenvolvimento Humano na Teoria Walloniana .................. 46
3 A INTELIGÊNCIA E SUAS ABORDAGENS CONTEMPORÂNEAS .................... 52
3.1 A Teoria das Inteligências Múltiplas de Howard Gardner ............................. 52
3.2 As Inteligências Múltiplas........................................................................... 57
3.3 Como as Inteligências se Desenvolvem? .................................................... 63
3.4 Inteligência Emocional ............................................................................... 64
3.5 Aspectos Estruturantes da Inteligência Emocional Segundo Goleman .......... 66
4 CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA PARA A EDUCAÇÃO ...................................... 69
5 METODOLOGIA: ANÁLISE DA PESQUISA...................................................... 74
5.1 Caracterização da pesquisa ....................................................................... 74
5.2 Questionários: principal instrumento utilizado para análise da pesquisa ........ 77
5.3 Análise e discussões dos dados levantados por meio de questionários dos
discentes e docentes e apresentados nos gráficos ........................................... 78
5.4 Instrumentos complementares: entrevistas com discentes e docentes e tabela
do quantitativo de alunos aprovados ao final do ano letivo............................... 108
CONCLUSÃO ................................................................................................. 113
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 116
APÊNDICES ................................................................................................... 118
12
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa sobre a relação entre inteligência e as emoções básicas no
processo de ensino e aprendizagem em uma turma de terceiro ano do Ensino
Médio, nasceu do meu afeto por este tema, do meu trabalho desenvolvido no
espaço escolar como pedagoga e educadora, com alunos dessa faixa etária,
também, por meio das observações feitas das práticas de educadores no cotidiano
escolar e diante dos desafios que o Sistema Educacional tem apresentado em
relação às mudanças de paradigmas do ensino tradicional que visa uma
aprendizagem centrada no aspecto cognitivo para uma proposta educacional que
visa o ensino além dos conteúdos específicos, dando ênfase a outros aspectos além
do cognitivo, no caso da pesquisa, o aspecto emocional, visando uma educação
integral do sujeito.
Dessa forma, entendemos que uma educação integral perpassa pela
inteligência e emoção que são temas instigantes e polêmicos entre pesquisadores
por mais de um século de estudos e pesquisas. São dois aspectos do ser humano
que se relacionam simultaneamente, compondo sua essência, que se expressa
através de seu comportamento.
A verificação da relação entre cognição e emoção pode resultar no
reconhecimento da capacidade do ser humano lidar com seu mundo emocional de
forma inteligente, compatível com seus objetivos mais amplos de vida.
Assim, este trabalho de pesquisa aborda a visão de alguns estudiosos que
em suas teorias refletiram e aprofundaram os estudos sobre inteligência e emoção,
como Alfred Binet, Jean Piaget, Vygotsky, Wallon e outros.
Alfred Binet, um dos primeiros estudiosos da abordagem tradicional sobre a
teoria da inteligência, criou um teste de inteligência que media o QI (Quociente de
Inteligência), mas sua área de atuação se limitava apenas à matemática e a
linguagem, por isso não aprofundaremos neste autor. Piaget e Vygotsky, na
abordagem tradicional desenvolvimentista, consideram a relação entre inteligência e
emoção e sua importância no desenvolvimento do ser humano.
Henri Wallon (1971), outro autor que discute a relação entre a emoção e a
inteligência, afirma que a emoção e a inteligência convivem numa contínua relação,
revelando-se com par que se alternam em função da recíproca nutrição.
13
Numa perspectiva contemporânea, um autor que se destaca e contribui para
a reflexão da ampliação do conceito de inteligência, questionando a visão tradicional
da mesma, é Howard Gardner por meio de sua teoria das Inteligências Múltiplas
(IM). Gardner (1995) conceitua inteligência como a “capacidade para resolver
problemas ou elaborar produtos que sejam valorizados em um ou mais ambientes
culturais ou comunitários.”, e apresentou as seguintes inteligências: Lógico–
matemática, Linguística, Cinestésica-corporal, Intrapessoal, Interpessoal, Espacial,
Musical, Pictórica e Naturalista (mais recente). As inteligências Intrapessoal e
Interpessoal destacam o aspecto emocional e sua influência nessa concepção de
inteligência.
Porém, segundo Daniel Goleman (2007) a interação entre emoção e
inteligência torna-se destaque ao apresentar sua teoria da Inteligência Emocional,
na qual enfatiza que o autocontrole das emoções é fator essencial para o
desenvolvimento da inteligência do indivíduo. Goleman busca provar que, embora
haja pontos que determinam o temperamento, muitos dos circuitos cerebrais da
mente humana são maleáveis e podem ser trabalhados. Assim, o sujeito não é
predestinado ao seu comportamento, pois pode aperfeiçoar e desenvolver sua
inteligência emocional.
Nesse contexto de investigação sobre inteligência e emoção,
compreenderemos que seus respectivos desenvolvimento e aprimoramento
constituem-se por meio de um processo de construção permanente, que se inicia
nas primeiras relações familiares, passando pela escola e continua por toda a vida
na sociedade.
Entretanto, as emoções na adolescência são gerenciadas de maneira, muitas
vezes conturbada, pois a adolescência é considerada um período de transição entre
os pólos da infância e da idade adulta, no qual acontecem mudanças significativas
no aspecto biológico, quando o indivíduo torna-se preparado organicamente para a
reprodução, e no aspecto psicossocial quando este constrói sua personalidade,
organizando-a e reorganizando-a. Scarpato e Lacerda (2010) apud Santrock (2003)
em interação com os grupos sociais aos quais pertence.
Assim, será necessário refletir sobre as mudanças de paradigmas em relação
à aprendizagem e ao conceito de inteligência e emoção, e as interferências desses
dois aspectos no processo de ensino e aprendizagem, buscando possibilidades de
crescimento emotivo e intelectual do aluno.
14
Problema
Como a interação entre as emoções básicas e a inteligência pode contribuir
para o melhor processo de ensino e aprendizagem dos alunos da turma 3001, do 3º
ano do Ensino Médio, de um colégio estadual do município de Campos dos
Goytacazes/RJ?
Hipótese
Por meio das emoções básicas é possível estimular a inteligência do aluno
contribuindo para seu melhor desempenho intelectual no processo de ensino e
aprendizagem.
Justificativa
Tendo em vista as mudanças de paradigmas no cenário educativo, faz-se
necessário investigar a relação entre inteligência e as emoções básicas, procurando
compreender e verificar as possibilidades dessa interação na busca de melhores
resultados no processo de ensino e aprendizagem educacional. Nesse sentido a
ênfase dada à realização da pesquisa com uma turma de alunos com faixa etária
entre 16 e 20 anos de idade, justifica-se por se tratar de uma fase na qual os alunos
passam por muitas pressões emocionais com as cobranças da família, da escola e
da sociedade de modo geral, na tomada de decisões importantes para a construção
da fase adulta da sua vida.
Como aponta Paulo Freire (1996), o ensino deve abranger ensinamentos
para a vida, que contribua para o cidadão refletir sobre sua existência buscando
melhores alternativas para a mesma.
Sendo assim compreendida, a educação é uma prática extremamente
humana e, portanto, é impossível não concebê-la através dos sentimentos, das
emoções; nem tampouco como uma experiência que falte o rigor, por meio de uma
disciplina intelectual.
A visão dual tradicional do ser humano enquanto corpo/mente,
matéria/espírito, emoção/inteligência, há muitos séculos influenciou historicamente a
trajetória do pensamento e do conhecimento humano, manifestando-se por meio de
15
estudos sobre o comportamento a partir de uma visão de separação do aspecto
racional e emocional, pois, o primeiro era considerado mais importante e deveria
dominar o segundo, impossibilitando assim uma compreensão da totalidade do ser
humano, que hoje é analisada e resgatada.
Portanto, essa pesquisa se justifica pela importância e necessidade cada vez
mais manifestas no contexto escolar e na vida em geral e também pela ausência de
estudos relacionados à dimensão emocional do comportamento humano na
aprendizagem escolar.
Goleman (2007) em seu livro Inteligência Emocional aponta vários serviços,
estudos teóricos e práticas nas diversas áreas que envolvem o tema abordado
“emoção e inteligência”. O autor também apresenta o estudo da Ciência do Eu,
como uma prática pedagógica já experimentada na escola particular, Centro de
Aprendizado Nueva Lengua, onde oferece treinamento modelar em inteligência
emocional. Para o autor, “Ser emocionalmente alfabetizado é tão importante na
aprendizagem quanto a matemática e a leitura” Goleman (2007, p. 276)
As abordagens que enfatizam as interações sociais que destacam o papel
determinante do outro no desenvolvimento e na constituição do indivíduo, estão se
configurando num paradigma de consolidação de teorias, que se baseiam numa
visão do ser humano integral, ou seja, um ser que se compõe através da interação
dos aspectos cognitivos, sociais, culturais, físicos e emocionais.
Uma nova compreensão das dimensões afetiva e cognitiva do ser humano,
na direção de uma visão global do mesmo, passa a impossibilitar análises isoladas
dessas dimensões, fundindo pensamento e sentimento, inteligência e emoção. Essa
nova visão da totalidade do ser humano tornou-se possível após o surgimento de
concepções teóricas que enfatizam a abordagem histórico-social, destacando os
determinantes culturais, sociais e históricos.
Na Psicologia, essas novas interpretações têm gerado muitas discussões
reflexivas e modificações, tanto na área de produção científica quanto nas diversas
áreas de práticas profissionais.
Na área educacional, um novo olhar é evidenciado nas práticas pedagógicas,
que acreditam que a aprendizagem é construída socialmente e mediada por
elementos culturais. Portanto, a principal preocupação com o processo de ensino e
aprendizagem que era com "o que ensinar" (voltado para os conteúdos específicos
de cada disciplina), busca novas preocupações além da anterior, com as questões
16
de "como ensinar" (as diferentes metodologias possíveis de serem utilizadas pelos
professores) e “a quem ensinar” (visão do aluno real, contextualizado).
Portanto, entende-se que o paradigma com foco no aspecto cognitivo-
racional do nosso Sistema de Ensino mostra-se ultrapassado enquanto modelo
exclusivo de construção do conhecimento, ou seja, de educação. Os autores
pesquisados apresentam a necessidade da busca de outros padrões educacionais,
fundamentados em paradigmas psicológicos, sociais, históricos, com o objetivo
central da educação, que é o de criar possibilidades para que o aluno construa
condições de uma melhor qualidade de vida na busca de sua felicidade.
Objetivo Geral
● Investigar como a interação entre as emoções básicas e a inteligência
interfere no processo de ensino e aprendizagem dos alunos da turma 3001, do 3º
ano do Ensino Médio, de um colégio estadual do município de Campos dos
Goytacazes/RJ.
Objetivos Específicos
Analisar os conceitos e teorias sobre Inteligência e Emoção na perspectiva
dos autores definidos e a relação das mesmas com o processo de ensino e
aprendizagem;
Identificar e analisar características comportamentais dos discentes,
apresentadas em suas emoções e como as mesmas interferem em seu
processo de ensino e aprendizagem;
Analisar os resultados dos alunos da turma 3001 de modo geral ao final do
ano letivo de 2013, para comparar com as respostas dos questionários onde
os mesmos expressam suas emoções, constatando rendimento escolar e
comportamentos apresentados.
17
Metodologia
Diante do que está sendo proposto como objeto de estudo, apresentamos a
perspectiva da metodologia de pesquisa que foi adotada, bem como os
procedimentos que foram necessários para o levantamento dos dados para realizar
este estudo. A escolha pela abordagem qualitativa baseia-se no interesse em
compreender o problema na complexidade do fenômeno que não se restringe
apenas a dados estatísticos, mas busca na análise o subjetivo e o objetivo dos
sujeitos sociais em seu contexto.
O tema, o problema e os objetivos dessa pesquisa remetem ao estudo
qualitativo, pois, o foco central da abordagem qualitativa está no específico, nas
peculiaridades, na intenção de compreender sempre o fenômeno pesquisado e que
geralmente está relacionado às emoções, aos sentimentos, às motivações, crenças
e pensamentos da população estudada (SHMERLING, 1993 apud SANTROCK,
2003).
Os métodos qualitativos são semelhantes aos procedimentos de
interpretação que fazemos no cotidiano dos fatos e fenômenos, que são dados
simbólicos situados em determinado contexto revelando e escondendo
simultaneamente esses dados.
De tal modo, a metodologia de pesquisa em relação aos objetivos, foi
exploratória e descritiva e teve como objetivo principal investigar como a interação
entre emoção e inteligência pode contribuir para o processo de ensino e
aprendizagem dos alunos da faixa etária entre 16 e 20 anos de idade, da turma
3001, do 3º ano do Ensino Médio, do Colégio Estadual Ernesta Guerra (nome
fictício), do município de Campos dos Goytacazes/RJ.
Segundo Gatti (2007, p. 53), “a questão do método não é apenas uma
questão de rotina de passos e etapas, de receita, mas de vivência de um problema,
com pertinência e consistência em termos de perspectivas e metas”. Portanto, a
metodologia expressa o caminho a ser percorrido durante a realização da pesquisa.
Em relação aos procedimentos, foi utilizada a pesquisa de campo,
enfatizando a metodologia bibliográfica e de levantamento, pois, por meio da revisão
e análise das teorias, aprofundou-se o conhecimento dos conceitos, relacionando as
semelhanças e divergências entre as teorias e ampliando a visão da hipótese e por
18
meio do levantamento de dados, coletamos, relatamos e analisamos os dados
encontrados fundamentando-os com as teorias estudadas.
No primeiro momento para a realização desses procedimentos foram
iniciadas as observações do comportamento dos alunos da turma pesquisada
durante as atividades desenvolvidas em sala de aula com análise das mesmas, o
segundo procedimento foram utilizados como instrumentos, questionários que foram
aplicados para todos os alunos da turma pesquisada e aos respectivos professores.
Como procedimento complementar, o instrumento utilizado foi a entrevista semi-
estruturada, realizada com dois docentes e dois discentes, além da tabela do
quantitativo dos alunos aprovados ao final do ano letivo de 2013, para analisar como
foi o rendimento da aprendizagem da turma por meio dos conceitos estabelecidos
no sistema de ensino. Tanto as entrevistas como a tabela, muito contribuíram para
uma melhor compreensão da complexidade da situação em estudo e definiu assim,
com maior segurança o objeto investigado.
Portanto, a abordagem geral da pesquisa foi qualitativa, pois analisou
indutivamente os dados obtidos dentro do campo de estudo sobre inteligência e
emoção, a interação das mesmas e a relação com o processo de ensino e
aprendizagem.
Na compreensão de Gaskell (2007), o mundo social é elaborado pelas
pessoas no seu dia a dia. Portanto, a abordagem qualitativa busca a possibilidade
de adquirir informações básicas para a compreensão de um contexto social, ou seja,
a compreensão das relações estabelecidas pelos sujeitos sociais e seu contexto.
Buscamos no campo educacional, o principal pressuposto teórico para
fundamentar a constatação de que a dicotomia – emoção e inteligência, ou emoção
e cognição, ainda prevalece na educação escolar, valorizando mais os aspectos
cognitivos do desenvolvimento em detrimento dos outros aspectos do
desenvolvimento integral do ser humano.
Assim, a pesquisa se apresenta no primeiro capitulo com os pressupostos
teóricos da emoção, dialogando com os autores que refletem sobre o emocional e
sua relação com o desenvolvimento e a aprendizagem.
No segundo capítulo foi exposta a evolução histórica do conceito de
inteligência e suas abordagens tradicionais contemplando alguns teóricos como
Piaget, Vygotsky e Wallon. Dando continuidade ao assunto tratado anteriormente,
19
no capítulo 3 destacou-se as abordagens contemporâneas da inteligência
enfocando as teorias de Gardner e Goleman.
Após dialogar com os autores, apresentou-se algumas contribuições de suas
teorias para a educação no capítulo 4. No capítulo 5 foi apresentada a metodologia
da pesquisa e logo após a conclusão.
20
1 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS DA EMOÇÃO
Através da evolução histórica da humanidade, podemos perceber que o ser
humano sempre lutou pela sua sobrevivência, criando e recriando possibilidades
que garantissem sua adaptação ao meio físico e social. Dessa forma, foi construída
a cultura de cada povo para satisfazer suas necessidades e carências.
Darwin, em seu livro “A expressão das emoções no homem e no animal”
publicado em 1872, pode ser considerado um dos precursores do estudo científico
das emoções. O mesmo tornou-se referência nas pesquisas atuais no campo da
psicologia. Darwin (2000) objetivou fundamentar e determinar até onde as
mudanças específicas nos traços e gestos são realmente expressões de certos
estados de espírito. Para essas constatações recorreu a observações do
comportamento, articulação de gestos e os traços específicos de crianças, adultos,
doentes mentais, povos de diferentes culturas e animais e bem detalhadamente aos
estudos sobre fisionomia da face humana. A conclusão de seus estudos buscava
constatar que existe uma uniformidade de expressão nos seres humanos de
diferentes culturas ao apresentar o mesmo estado de espírito e ainda que em
alguns animais e no ser humano são comuns determinadas expressões emocionais.
Darwin (2000) defende que a sobrevivência e evolução da espécie humana se
devem em grande parte às expressões das emoções.
A expressão das emoções é ampliada na medida em que o ser humano
interage uns com os outros. Com as relações de socialização e da acumulação
cultural foi possível a construção do sistema de símbolos, principalmente a
linguagem, que o ser humano ampliou suas interações com o mundo físico.
Portanto, o mundo cultural e o mundo físico precedem o nascimento do indivíduo.
São fatores que independem de sua vontade.
Porém, é por meio das relações de sociabilidade que a criança inicia sua vida
de interações com o mundo. Nessa relação de interação, a emoção passa a ser
fundamental para sua própria sobrevivência, onde o aspecto fisiológico interage com
o aspecto social.
Como afirma Almeida (2003), o desenvolvimento psíquico da criança é
marcado pelo meio social, pelas relações que se estabelecem entre os indivíduos. A
vida psíquica é resultado das influências do meio humano.
21
Esse desenvolvimento é dinâmico e continua a evoluir durante toda a vida.
Toda a construção iniciada na infância será refletida na vida adulta. Portanto, as
emoções acompanham o indivíduo no decorrer de suas ações cotidianas e as
mesmas necessitam de espectadores para se manifestar, pois na interação com o
outro é que as emoções são provocadas e expressadas.
Por meio das ações expressadas pelas pessoas podemos identificar e
conhecer um pouco das suas emoções. Como foi citado, as emoções também são
produzidas com base nos valores culturais, a maneira de sentir varia muito nas
diferentes culturas, sendo assim, é bastante complexo o ofício da tradução. A
emoção faz parte do ser humano, porém, a mesma decorre da interpretação e
significação particular que o indivíduo faz de um determinado fato ou acontecimento.
Portanto, essa significação se dá de acordo com o que é predominantemente
cultural. Além disso, ela é simultaneamente individual e social.
Para Wallon (1971), a emoção é capaz de preponderar sobre a razão sempre
que à última faltem recursos para controlar a primeira. O desenvolvimento deve
conduzir à predominância da razão, pois, para Wallon, “a razão é o destino final do
homem”.
Segundo Goleman (2007), a emoção é uma forma de energia mental que
produz reações no organismo. Num momento de ira, por exemplo, o sangue se
dirige para as mãos, estimulando a pessoa a bater ou a atirar algo. A frequência
cardíaca e os hormônios como a adrenalina aumentam, gerando uma ação
impulsiva e vigorosa.
Goleman (2007, p. 26) ressalta também, a importância das emoções ao
afirmar que “as emoções são, em sua gênese, impulsos, deixados pela evolução,
para ação instantânea e planejamentos imediatos a serem utilizados no cotidiano do
ser humano”.
A seguir, serão apresentadas as análises teóricas de alguns autores sobre o
aspecto emocional no ser humano.
1.1 Daniel Goleman e as Emoções
Daniel Goleman, em seu livro Inteligência Emocional, publicado em 1995,
afirma que emoção é uma palavra que vem do latim movere, que significa mover
precedida do sufixo ex (para fora), significando afastar-se, demonstrando que em
22
qualquer emoção existe uma propensão para uma ação imediata. Ou seja, em toda
emoção há uma tendência à ação.
O Oxford English Dictionary define emoção como: “qualquer agitação ou
perturbação da mente, sentimento ou paixão; qualquer estado mental veemente ou
excitado". O Houaiss a define como “reação orgânica de intensidade e duração
variáveis, ger. acompanhada de alterações respiratórias, circulatórias etc. e de
grande excitação mental”.
Por meio de pesquisas e trabalhos realizados no campo da neurofisiologia,
Goleman entende que o equilíbrio entre o „eu‟ racional e o „eu‟ emocional confirma
basicamente o talento nos campos pessoal e profissional. O mesmo defende a
importância da emoção para o desenvolvimento da razão, diante da dicotomia
presente entre o aspecto racional e emocional.
Assim, afirma que:
Uma visão da natureza humana que ignore o poder das emoções é lamentavelmente míope. A própria denominação Homo sapiens, a espécie pensante, é enganosa à luz do que hoje a ciência diz acerca do lugar que
as emoções ocupam em nossas vidas. Como sabemos por experiência própria, quando se trata de moldar nossas decisões e ações, a emoção pesa tanto – e às vezes muito mais – quanto a razão. Fomos longe demais quando enfatizamos o valor e a importância do puramente racional – do que mede o QI – na vida humana. Para o bem ou para o mal, quando são as emoções que dominam, o intelecto não pode nos conduzir a lugar
nenhum (GOLEMAN, 2007, p. 21).
Algumas emoções são consideradas básicas, como as cinco relacionadas a
seguir, segundo Goleman: raiva, medo, tristeza, alegria e amor. Essas emoções
básicas são reconhecidas por diferentes culturas de todo o mundo, desde as
populações mais primitivas às mais modernas, tornando-se assim universais.
Porém, suas formas de expressões podem ser variadas, desde a mais branda ou a
mais intensa, dependendo de fatores orgânicos, do meio e também da cultura como
já foi dito.
A forma extrema da raiva é a fúria e demonstra-se mais suave na irritação e
na ironia. A raiva também se apresenta nas formas do ódio, da revolta, do
ressentimento, da indignação, do aborrecimento, da vingança, da violência, do mau
humor, da rivalidade, da animosidade, da hostilidade. No momento da raiva, o
sangue flui para as mãos, os batimentos cardíacos aceleram-se e hormônios como
a adrenalina gera uma pulsação de energias vigorosa para qualquer atuação.
23
O medo, porém, expressa sua forma extrema através do terror e sua maneira
mais branda é a preocupação: quem está preocupado com alguma coisa é porque
está com medo desta coisa. Outras formas de medo são a ansiedade, angústia,
timidez, apreensão, nervosismo, cautela, inquietação, etc. A decorrência do medo
põe o corpo em alerta geral. A pessoa mobiliza toda a sua atenção para a ameaça
imediata, buscando calcular a resposta para a mesma.
A depressão severa é a forma extrema da tristeza, podendo manifestar-se de
formas mais suaves, como sofrimento, mágoa, pesar, tédio, desalento, solidão,
nostalgia, amargura, desânimo, melancolia, etc. No estado de tristeza o ser humano
demonstra perda de entusiasmo pelas atividades da vida, principalmente por
diversões e prazeres. O metabolismo do corpo fica reduzido.
As formas de manifestação da alegria são: felicidade, contentamento, prazer,
diversão, satisfação, bom humor e etc. A alegria inibe sentimentos negativos,
proporcionando o aumento da energia existente, causando no corpo um estado de
relaxamento, tranquilidade, disposição e entusiasmo para executar qualquer tarefa.
Ao contrário do que ocorre quando a pessoa sente medo ou raiva, o amor
provoca um estado geral no corpo de calma, satisfação, entrega e facilita assim a
cooperativismo entre as pessoas. O amor pode se manifestar como aceitação,
amizade, afinidade, confiança, dedicação, adoração e paixão.
A maneira como demonstramos nossas emoções são influenciadas por nossa
história e cultura como já vimos anteriormente.
Outro autor que destaca a importância das emoções no desenvolvimento do
sujeito e também do aspecto cultural na concepção do conceito de emoção é Henri
Wallon, que será apresentado a seguir.
1.2 Considerações de Henri Wallon sobre Emoção
Wallon (1971) alerta-nos sobre a necessidade de lidar com dois aspectos da
natureza humana que são, ao mesmo tempo, antagônicos e complementares: o
afetivo e o intelectual. Para produzir intelectualmente é imprescindível não se
submeter ao poder da emoção, pois a mesma reduziria o nível de atividades
intelectuais do sujeito. Enquanto a expressão da emoção no sujeito é plástica e
dispõe do corpo como matéria-prima, a inteligência revela-se menos pela forma e
pela arte corporal e mais pela representação sistemática com símbolos. Portanto, o
24
grande desafio é conseguir manter o equilíbrio entre a razão e a emoção sob pena
de comprometer a realização de qualquer atividade do indivíduo. Essa tarefa tem
como resultado a serenidade, um estado de grande valia para as mais difíceis
elaborações mentais do sujeito. Wallon ainda questiona se, por um lado, o único
modo de se produzir intelectualmente é diminuindo a intensidade do estado emotivo
e, por outro lado, se os surtos emotivos que acometem os indivíduos não são
benéficos para as elaborações intelectuais e para a própria sobrevivência desses
indivíduos.
Ao tratar de uma teoria das emoções, o psicólogo e pesquisador Henri Wallon
nos ajuda a entender que as mesmas se desenvolvem no indivíduo em função de
uma maturação funcional de estruturas, portanto, o meio físico e social não são os
únicos responsáveis pelas emoções.
Para Wallon (2007), a teoria das emoções deve ser estudada em toda sua
grandiosidade e complexidade, por isso, o autor critica as teorias clássicas que se
baseiam numa lógica mecanicista para explicar as emoções. Um grupo de teóricos
defende o efeito desagregador, negativo, perturbador das emoções sobre a
atividade motora e intelectual do indivíduo, enquanto outro grupo destaca o poder
ativador das emoções, considerando-as como reações positivas, pois as mesmas
impulsionam o indivíduo em suas ações para o mundo físico, por meio de uma
descarga de adrenalina na circulação sanguínea e do aumento da quantidade de
glicose no sangue e nos tecidos, aumentando, assim, disponibilidades energéticas
no indivíduo.
A teoria walloniana não toma partido contra ou a favor das emoções, mas
busca compreender suas funções, pois explica que as emoções são comandadas
pelo sistema nervoso central e que estão situadas na região subcortical. Portanto,
possuem uma importância e necessidade em sua existência, caso contrário, não
teriam centros nervosos para seu comando.
Para Wallon (2007), o desenvolvimento da emoção evolui desde o
nascimento do indivíduo, portanto este é o argumento utilizado para combater sua
redução a uma mera ação do meio, a um reflexo. É preciso considerar o caráter
evolutivo, a maturação dos centros nervosos responsáveis pela emoção. As formas
humanas de demonstração emotiva são superiores às de qualquer outra espécie, já
que se manifestam e se diferenciam num grau bem mais elevado e complexo que
25
as demais formas de vida, possibilitando aos seres humanos expressarem as
sensações e emoções de maneira inigualáveis a dos animais.
Wallon (2007) destaca que no início da vida, as emoções funcionam como
uma garantia da sobrevivência da espécie humana, pois as mesmas satisfazem as
necessidades básicas. Porém, se faz necessário ressaltar que apesar da emoção
suprir às necessidades nutricionais do bebê, mais tarde, a mesma assume a função
de adaptação da criança ao meio social. Assim, ao mesmo tempo em que as
emoções pertencem ao aspecto fisiológico, também pertencem ao aspecto social.
“A emoção é um fato fisiológico em seus componentes humorais e motores; é um
comportamento social nas suas funções arcaicas de adaptação” (Wallon, 2007).
O autor busca explicação científica para a origem das emoções na fisiologia,
e diz que “as emoções são reações organizadas, um sistema de atitudes, uma
espécie de prevenção que depende do temperamento e dos hábitos dos indivíduos”.
Wallon mostra que todas as emoções podem ser vinculadas à maneira como o tônus se forma, se conserva ou se consome. A cólera, por exemplo, vincula-se a um estado de hipertonia, no qual há excesso de excitação
sobre as possibilidades de escoamento. A alegria resulta de um equilíbrio e de uma ação recíproca entre o tônus e o movimento, é uma emoção eutônica. Na timidez e no medo, verifica-se hesitação na execução dos movimentos e incerteza na postura a adotar, há um estado de hipotonia. Com base nesta relação, resulta até mesmo uma classificação das emoções segundo o grau de tensão muscular a que se vinculam.
(GALVÃO, 1996, p.62).
Portanto, podemos afirmar que as emoções apresentam uma base orgânica
ligada ao sistema nervoso central, onde nasce sob o tecido corporal, apresentando
sinais como rubor, calor, contração muscular, tremor, sudorese, alteração no
batimento cardíaco, choro, o riso; expressando dessa forma seu estado afetivo aos
outros.
As reações humanas são momentos de descarga de tensão do organismo
emocionado, pois as emoções são momentos de tensão da forma individual de vida.
Para Wallon (1986), as manifestações emocionais nocivas podem fazer tão
mal quanto o uso de drogas, cigarro ou álcool, visto que as emoções se expressam
corporalmente. Como afirma Galvão,
26
Na vida cotidiana é possível constatar que a elevação da temperatura emocional tende a baixar o desempenho intelectual e impedir a reflexão objetiva. O poder subjetivador das emoções (que volta a atividade do sujeito para suas disposições íntimas, orgânicas) incompatibiliza-se com a
necessária objetividade das operações intelectuais; e como se a emoção embaçasse a percepção do real, impregnando-lhe de subjetividade e, portanto dificultando reações intelectuais coerentes e bem adaptadas. [...] Analogamente, é possível constatar que a atividade intelectual voltada para a compreensão das causas de uma emoção reduz seus efeitos, uma crise emocional tende a se dissipar mediante atividade reflexiva. [...] Assim, a
relação entre emoção e razão é de filiação, e, ao mesmo tempo, de oposição. Na expressão de Dantas „a razão nasce da emoção e vive da sua morte. (GALVÃO, 1996, p. 66-67).
Porém, o aspecto cultural, como já vimos, tem forte influência na construção
do ser humano e, portanto, estimula algumas reações emocionais e reprime outras.
A cultura escolhe algumas formas de expressão das nossas emoções,
caracterizando-as como certas ou erradas, ou mais adequadas a determinados
ambientes e pessoas. Dessa maneira, muitos indivíduos não expressam ou têm
dificuldades em expressar suas emoções com receios de não serem aceitos ou
entendidos pelo grupo social ao qual pertencem (Almeida, 2003).
É de fundamental importância assumir o que sente e não esconder as
emoções. No início da vida, estas têm missão de garantir a sobrevivência da
espécie, satisfazendo as necessidades básicas e, mais tarde, assumir a função de
adaptação do indivíduo ao meio. Elas dão colorido à vida, são nossa própria vida
(Almeida, 2003).
Em Maturana, afirma-se que as emoções são a base da razão. Portanto,
apresenta mais uma vez o papel fundamental das emoções na vida do ser humano.
1.3 Emoções e Interações Humanas na Visão de Humberto Maturana
Ao falar de emoções, Humberto Maturana faz uma reflexão profunda sobre a
racionalidade e a emoção.
Todos os conceitos e afirmações sobre os quais não temos refletido, e que aceitamos como se significassem algo simplesmente porque parece que todo o mundo os entende, são antolhos. Dizer que a razão caracteriza o humano é um antolho, porque nos deixa cegos frente à emoção, que fica desvalorizada como algo animal ou como algo que nega o racional. Quer
dizer, ao nos declararmos seres racionais, vivemos uma cultura que desvaloriza as emoções, e não vemos o entrelaçamento cotidiano entre razão e emoção, que constitui nosso viver humano, e não nos damos conta de que todo sistema racional tem um fundamento emocional. (MATURANA, 2002, p.15)
27
Segundo Maturana (2002), as emoções são diferentes dos sentimentos. Do
ponto de vista biológico, as emoções são disposições corporais dinâmicas que
direcionam os diferentes domínios de ação que fazem nos mover. Ao mudar de
emoção, mudamos de domínio de ação. Porém, na práxis da vida diária, insistimos
em dizer que o que define as condutas do ser humano é a racionalidade. Mas, ao
nos depararmos com determinada emoção, sabemos que há coisas que podemos
fazer e outras que não podemos fazer e que concordamos com determinados
argumentos naquele momento, porém, sob outra emoção poderíamos não
concordar.
Assim, o autor afirma que não há ação humana sem uma emoção que a
estabeleça como tal e a torne possível como ato. O ser humano se constrói no
entrelaçamento do emocional com o racional.
Maturana (2002) defende ainda, que o aspecto racional do ser humano é
fundamentado no emocional e que o mesmo se constitui nas coerências
operacionais dos sistemas argumentativos construídos na linguagem para defender
ou justificar as ações do ser humano.
Além disso, Maturana (2002) afirma que é a emoção que nos leva a ação e
não a razão. Através das ações do outro é que se pode conhecer quais as emoções
que o constituem.
A evolução do ser humano só foi possível e terá continuidade dessa
possibilidade se estiver fundamentada no amor. O amor é a emoção que define o
outro, legitimando-o em sua importância nas interações de convivência. As
interações das relações fundamentadas no amor ampliam e estabilizam a
convivência; porém, as interações das relações que decorrem da agressão
interferem e destroem a coexistência.
O autor esclarece que o amor é a emoção que fundamenta o social, é ele que
constitui o domínio das ações do ser humano em relação à aceitação do outro em
sua legitimidade na convivência. Porém, essa convivência nem sempre é social.
Não havendo aceitação do outro na convivência, não se pode dizer que há
fenômeno social.
Dessa forma, as relações sociais são aquelas que realmente aceitam o outro
na sua legitimidade, com todas as suas particularidades, estabelecendo uma
28
relação de respeito. Daí surge também a linguagem de uma relação de respeito
mútuo, na aceitação do outro, num espaço de ações consensuais de conduta.
Maturana afirma que o amor é a emoção central na história evolutiva humana
desde o princípio. E a história da evolução humana é onde o amor a fundamenta,
através do modo de vida estabelecido, da aceitação do outro na sua integridade,
tornando-se fundamental como condição necessária para o desenvolvimento físico,
psíquico, afetivo, social e espiritual normal do ser humano desde sua infância e no
decorrer de sua vida.
A humanidade é originada do amor e é dependente dele. Baseado na
Biologia e não no Cristianismo, Maturana acredita que 99% das enfermidades
surgem da negação do amor. Portanto, para o autor,
Diferentes emoções especificam diferentes domínios de ações. Portanto, comunidades humanas, fundadas em outras emoções diferentes do amor, estarão constituídas em outros domínios de ações que não são o da colaboração e do compartilhamento, em coordenações de ações que não
implicam a aceitação do outro como um legítimo outro na convivência, e não serão comunidades sociais (MATURANA, 2002, p. 26).
A escola, depois da família, é o grupo social com grande importância e
influência na constituição do sujeito como ser de relações que aceita ou não o outro
na sua integridade. Essa mútua relação de aceitação e não aceitação do outro e de
si mesmo é visível no comportamento dos alunos nas escolas e se reflete na visão
macro de sociedade.
Piaget também enfatiza a importância do meio social no desenvolvimento
cognitivo e afetivo do indivíduo.
1.4 A Afetividade na Perspectiva de Piaget
Os estudos e pesquisas sobre o desenvolvimento afetivo das crianças não foi
o foco de Piaget e sim na lógica do pensamento, porém, ainda assim, o autor
considerou o aspecto afetivo em seus estudos sobre a inteligência e o
desenvolvimento psicológico, e abordou em sua teoria que o afeto desempenha um
papel fundamental no funcionamento da inteligência nas suas estruturas e formas
de organização, sendo assim incontestável sua importância.
O desenvolvimento intelectual para Piaget é composto por dois componentes:
o cognitivo e o afetivo. Para ele o desenvolvimento afetivo acontece paralelamente
29
ao cognitivo e influencia diretamente o desenvolvimento intelectual. Segundo Piaget
(1975), não é possível o aspecto afetivo sozinho, modificar as estruturas cognitivas,
mas pode influenciar quais estruturas modificar. Nos estágios de desenvolvimento
da criança, o que acontece é uma correspondência entre o desenvolvimento
cognitivo e afetivo, e não uma sequência.
Segundo Piaget (1975) apud Souza (2003) “A formação do símbolo da
criança”, em que o autor iniciou a apresentação de sua tese sobre as relações entre
afetividade e inteligência, destacando que ambas são indissociáveis e integradas no
desenvolvimento psicológico da criança, impossibilitando ter uma psicologia da
afetividade e outra da inteligência para explicar o comportamento. Souza ainda nos
apresenta que Piaget reflete sobre o papel dos sentimentos e das relações
interpessoais na formação e desenvolvimento dos esquemas afetivos e no
simbolismo infantil.
De acordo com Piaget (1975) apud Souza (2003), começou a dar importância
ao aspecto afetivo em seus estudos sobre a inteligência nos cursos ministrados por
ele sobre as “Relações entre afetividade e inteligência no desenvolvimento mental
da criança”; “a ocasião em que Piaget defendeu mais demoradamente sua tese da
correspondência entre o desenvolvimento afetivo e o desenvolvimento cognitivo foi
durante os cursos ministrados na Sorbonne em 1953-54”.
Para Piaget (1975), a afetividade não se resume somente aos sentimentos e
as emoções, mas que a motivação, as tendências e vontades também são parte da
afetividade.
O desenvolvimento afetivo também está ligado ao desenvolvimento moral e
os dois se desenvolvem paralelamente. A criança, ao começar a perceber a
importância das relações de interação com as outras pessoas, vai superando a fase
do egocentrismo e desenvolvendo a percepção do eu e do outro como referência. A
fase que demonstra a descentralização da afetividade ocorre quando a criança é
capaz de perceber o mundo ao seu redor e, assim, distinguir objetos e pessoas fora
dela mesma. Este é o momento em que desenvolve condições afetivas de amar as
pessoas e manifestar estima pelos objetos.
A afetividade, a princípio, é centrada nas relações familiares, daí a
importância da qualidade dessas relações, pois lhe servirão de referência para
orientar as relações com as outras pessoas nas fases subsequentes.
30
Piaget (1975) reafirma que é por meio das interações familiares que a criança
constrói seus primeiros juízos morais e de valor, tanto ao receber estímulos
negativos e positivos. Os desenvolvimentos cognitivos, afetivos e sociais evoluem
numa relação de interdependência, e qualquer desequilíbrio pode comprometer o
conjunto.
Em cada etapa do desenvolvimento proposto por Piaget (1975), o indivíduo
busca satisfação orgânica e psicológica por meio das relações afetivas com as
pessoas e com o meio.
No próximo capítulo, ao tratar do tema “inteligência”, veremos um pouco
sobre cada etapa do desenvolvimento humano segundo Piaget.
A seguir, mostra-se a relação entre cognição e emoção segundo Vygotsky,
que também acredita na importância da emoção no desenvolvimento humano. Um
ponto comum entre Piaget e Vygotsky, é a percepção do sujeito como ser de
relações, ativo, que age sobre o meio e é por ele é influenciado.
1.5 Vygotsky e a Relação Entre Cognição e Emoção
Vygotsky é outro autor que entende a estreita relação entre o aspecto afetivo
e cognitivo, denunciando a separação entre os mesmos,
(...)enquanto objetos de estudos, é uma das principais deficiências da psicologia tradicional, uma vez que esta apresenta o processo de pensamento como um fluxo autônomo de pensamentos que pensam a si próprios, dissociados da plenitude da vida, das necessidades e dos interesses pessoais, das inclinações e dos impulsos daquele que pensa. (VYGOTSKY, 1993, p. 6).
Para este autor, o pensamento humano é compreendido adequadamente
através da base afetiva.
As conclusões de Vygotsky são muito próximas da teoria de Wallon, pois os
dois teóricos acreditam que pensamento e afeto são indissociáveis.
Vygotsky, na década de 30, aprofundou sua pesquisa sobre as emoções,
estudando e analisando experimentos de vários pesquisadores, buscando assim
traçar um percurso histórico a respeito do assunto, apontando aspectos
contraditórios e evoluções. Desse modo, com as contribuições de cada estudioso,
foi compreendendo e construindo uma nova forma de entender as emoções
humanas.
31
Darwin é um autor citado por Vygotsky, dizendo que no final do século XIX e
início do século XX, seus estudos sobre emoções eram influenciados fortemente
pela concepção naturalista, pois o autor estabelecia “uma conexão geral entre as
emoções do homem e as reações afetivas e instintivas correspondentes que se
observam no reino animal” (VYGOTSKY, 1998, p. 71). A religião tinha forte
influência sobre a Psicologia nessa época, aceitando assim, as ideias darwinistas,
afirmando que "as paixões terrenas do homem, suas inclinações egoístas, suas
emoções, relacionadas com as preocupações concernentes ao seu próprio corpo
são, na verdade, de origem animal" (VYGOTSKY, 1998, p. 73)
Nesta época, a maioria das teorias das emoções concentrava-se no aspecto
orgânico do sujeito e não no aspecto psicológico dos processos emocionais.
Apesar de ter iniciado os estudos das emoções através da base biológica,
Vygotsky (1998), afirmava que o ser humano pode expressar reações orgânicas
semelhantes diante de estados emocionais diferentes. Ainda de acordo com
Vygotsky, outra contribuição foi enfatizar a conexão das emoções ao cérebro, pois
outros estudiosos diziam que as emoções estavam conectadas aos órgãos internos
e à parte periférica do corpo.
Para Vygotsky, a teoria das emoções apresentava-se incompleta na
compreensão e explicação do desenvolvimento das emoções primitivas para as
emoções refinadas, pois, através da explicação puramente mecanicista das
emoções, ignoravam-se as características superiores das emoções humanas. Para
o estudioso, as emoções são funções psicológicas superiores que sofrem influência
da cultura e estão em constante desenvolvimento, transformação e construção de
novas emoções.
Vygotsky (1998) afirmou que as emoções “isolam-se cada vez mais do reino
dos instintos e se deslocam para um plano totalmente novo”. O autor destaca que
no desenvolvimento das emoções, as mesmas não desaparecem nem se reduzem,
mas elas seguem para a dimensão do simbólico, do significado e do sentido.
Ele admite que seja por meio da herança biológica que se dá o surgimento
inicial da emoção, mas, une-se a outras funções psicológicas, através das
interações sociais, perdendo, assim, seu caráter instintivo e evoluindo para um nível
mais complexo de atuação do ser humano. Destaca um enfoque histórico-cultural,
pois defende que a atividade humana tem referência de influências sociais e
culturais marcantes. O autor não elimina as explicações mecanicistas e biológicas,
32
mas considera importante e necessária submetê-las à análise histórico–social, para
entender os processos psicológicos superiores.
Portanto, Vygotsky defende que as características superiores da emoção são
únicas e têm identidade exclusivamente humana. Assim, não é possível a teoria das
emoções estar amparada somente nos processos corporais, ou seja, no orgânico.
São as práticas sócias culturais que estabelecem os conhecimentos e sentimentos
construídos pela criança, permitindo, desta forma, identificar e entender o processo
de internalização das emoções e sentimentos.
Pode-se afirmar que o autor destaca duas conclusões significativas em sua
teoria das emoções. De um lado, as pesquisas anatômicas e fisiológicas que
deslocaram o centro da vida emocional de mecanismos exteriores ao cérebro para
um mecanismo cerebral, e, de outro, as pesquisas psicológicas que transferiram as
emoções do segundo plano do psiquismo humano para o primeiro plano, tirando-as
de seu isolamento “(...) para inseri-las na estrutura de todos os outros processos
psíquicos” (VYGOTSKY, 1998, p. 93).
Observa-se que sobre a teoria das emoções, Wallon, Piaget e Vygotsky
apresentam pontos semelhantes, pois eles assumem o caráter social e uma
abordagem de desenvolvimento das emoções, às quais se expressam de forma
orgânica e evoluem em sua complexidade, atuando no universo do simbólico,
ampliando suas manifestações, construindo os fenômenos afetivos. Outra
semelhança é a defesa da íntima relação que há entre os aspectos cultural e social
e os processos afetivos e cognitivos e as interações e influências de um com outro.
Ao tratar do conceito de inteligência, aprofundaremos na evolução deste tema
até o contexto atual, por meio das teorias que o abordam e são mais pertinentes à
educação, analisando também sua relação com o aspecto emocional.
33
2 O QUE É INTELIGÊNCIA?
Neste capítulo será abordado sobre a especulação e a busca de respostas
científicas que sempre foram fortes para aprofundar o conhecimento sobre
inteligência: “o que é”, “como é demonstrada”, “seu desenvolvimento“, “como pode
ser medida” e outros questionamentos. Na sociedade atual dita “sociedade do
conhecimento”, continua sendo fator de investigação, porém, para melhor
compreender as atuais perspectivas em relação à inteligência humana se faz
necessário resgatar as bases da fundamentação histórica sobre este tema. Assim,
podemos destacar que na Antiguidade já existia o interesse em explicar, conceituar,
mensurar o que é inteligência.
Na Grécia Antiga, está a origem do conceito de Inteligência, porém, é Cícero,
na Roma Antiga, que cria esse termo a partir da diferença apresentada por Platão e
Aristóteles entre os aspectos cognitivos do ser humano, como o pensamento,
solução de problemas, meditação, raciocínio e aspectos do comportamento humano
que abordam os sentimentos, as emoções, paixões, motivações e desejos.
Aproximadamente no século XII, a palavra inteligência foi inserida na língua
inglesa, de acordo com a Oxford English Dictionary. No Dicionário Aurélio,
inteligência “é a qualidade ou capacidade de compreender e adaptar-se facilmente,
abrangendo ainda as seguintes qualificações: capacidade, penetração, agudeza,
perspicácia”. Através da semântica, a palavra inteligência origina-se em sua
formação pelo prefixo inter (entre) e pelo sufixo legere (escolhas). Portanto,
podemos dizer que inteligência significa a capacidade cerebral que faz a pessoa
compreender e dar sentido as coisas para fazer a melhor escolha diante das várias
alternativas apresentadas em cada contexto. O raciocínio, o senso crítico, o juízo, a
habilidade para resolver problemas são atos considerados frequentemente
fundamentais à inteligência.
Definir inteligência não é tarefa fácil, pois o desempenho intelectual da
pessoa varia de acordo com cada ocasião, possui domínios diferentes e que são
julgados por critérios diferentes. A inteligência não é passível de observação direta,
mas pode ser através de indicadores por meio das manifestações do
comportamento do ser e da competência no desempenho de tarefas e outros.
34
Em 1921, o The Journal of Educacional Psychology realizou uma pesquisa
com 14 estudiosos sobre inteligência, focando-se em duas questões a serem
investigadas: o que é inteligência? E quais os melhores meios para medi-la? Foram
apontados dois fatos importantes nas respostas: a capacidade de aprender através
da inteligência e a capacidade de adaptar-se ao meio ambiente.
Sternberg e Detterman (1981) apud Cavaliere e Soares (2007), realizaram
uma pesquisa com 24 especialistas sobre as mesmas questões citadas acima e
acrescentaram uma: qual deve ser a direção das futuras investigações? A partir das
respostas, novamente surgiram três fatores: a capacidade de aprender; a
capacidade de adaptação ao meio ambiente, o que confirma a pesquisa de 1921 e a
metacognição definida por Sternberg (1977) apud Cavaliere e Soares (2007) como a
compreensão e autocontrole dos próprios processos de pensamento que as
pessoas podem ter. Sternberg e French (1990) apud Cavaliere e Soares (2007),
apresentaram uma nova descoberta onde os especialistas apontam a capacidade
verbal e a solução de problemas como fatores que unificam a manifestação do
comportamento inteligente, porém, os leigos, entendem que é a resolução de
problemas práticos, os aspectos individuais da pessoa e o desejo pela
aprendizagem que caracterizam este comportamento. Os dois pensamentos,
portanto, afirmam que a inteligência está vinculada a competência social.
Para comprovar o que já havia sido comprovado cientificamente, as
controvérsias e o que ainda não havia sido descoberto, em 1996, a Board of
Scientific Affair (BSA) da Associação Americana de Psicologia, organizou um grupo
de trabalho presidido por Ulric Neisser, onde em sua conclusão encontram-se três
fatores que unificam o conceito de inteligência, onde se destaca a inteligência
verbal, a resolução de problemas e a inteligência prática.
A ciência esteve e está sempre em busca de novas respostas para os
questionamentos que o ser humano faz.
2.1 Perspectivas Científicas Sobre Inteligência
Destacam-se na Idade Média, Santo Tomás de Aquino e Santo Agostinho,
em que o primeiro defendia que a inteligência nascia com a pessoa, era inata; e
Santo Agostinho acreditava que a inteligência era construída por meio das
experiências vividas ao longo da sua história de vida.
35
A influência dos gregos sobre as noções de inteligência podem ser vistas em Sócrates, para o qual o indivíduo tem um conhecimento inato e as diferenças individuais na inteligência são herdadas; em Platão, na sua definição das áreas do cérebro que estão associadas a vários tipos de solução de problemas; em Aristóteles, que desenvolveu um sistema formal de lógica para testar hipóteses e fazer inferências dedutivas. Nas escolas
de Platão, a habilidade na lógica, geometria e argumentação influenciam até hoje as escolas do séc. XXI, onde são valorizados o domínio do raciocínio abstrato na linguagem e na matemática. (CAVALIERE e SOARES, 2007, p.6).
No século XVII, com o Racionalismo ou Inatismo, Descartes assegura que a
mente é a fonte de nosso conhecimento, da lógica, da matemática e que de modo
geral o conhecimento é inato. O que para o Empirismo, segundo Lock, não é válido,
pois considera a experiência a base de todo conhecimento, explicando que a mente
é como uma folha em branco que vai sendo preenchida de acordo com as
experiências adquiridas no decorrer da vida.
Através de sua obra “Crítica da Razão Pura”, Kant, no século XVIII, busca
explicar a interação, a complementação das duas teorias apontadas acima: o
Racionalismo e o Empirismo, em que se acredita que a mente humana apresenta
habilidades inatas e habilidades que são construídas por meio das experiências
vivenciadas por nossos sentidos.
Na Alemanha, início do século XIX, Gal investigou a anatomia e fisiologia do
sistema nervoso, abrindo caminhos para a descoberta de uma relação entre áreas
do cérebro e capacidades humanas específicas dessas áreas, porém, ainda era
apenas um começo de constatações futuras. Em 1879, Wundt iniciou, na psicologia,
uma pesquisa sobre os reflexos, as percepções, a cognição, os julgamentos e a
ação voluntária.
Em 1871, na Inglaterra, Darwin deu início a sua teoria, ao escrever “A
descendência do homem”, no qual afirma que os mesmos fatores que afetam a
mudança em outras espécies, como variação, seleção natural, hereditariedade,
funcionam nos seres humanos, tanto para o corpo quanto para a mente abrindo,
assim, espaço para o estudo da inteligência em animais, através da psicologia
comparativa. Darwin, com sua teoria, também ampliou a possibilidade de estudar as
diferenças individuais na inteligência com a variação individual de características
diversas (CAVALIERE; SOARES, 2007).
36
2.2 Teorias da Inteligência
No aprofundamento dos estudos sobre inteligência, podemos destacar alguns
precursores como Galton, na Inglaterra, no período de 1822 a 1911, Catell, nos
Estados Unidos, de 1860 a 1944 e Binet, na França, entre 1857 a 1911, que
apresentam características comuns em suas pesquisas, sobre a inteligência vista
como um todo e a preocupação com a avaliação da inteligência.
A organização das teorias da inteligência se divide em duas abordagens:
abordagem tradicional e abordagem contemporânea como iremos ver a seguir.
Dentro da perspectiva das abordagens tradicionais da inteligência, existem
dois grandes grupos que são: Abordagem Psicométrica e Abordagem
Desenvolvimentista. Na perspectiva das abordagens contemporâneas destaca-se a
Abordagem do Processamento da Informação.
ABORDAGENS TRADICIONAIS: Psicométrica e Desenvolvimentista
Psicométrica
Binet e Simon (1905) apud Cavaliere e Soares (2007), estudiosos da
abordagem Psicométrica, iniciam a pesquisa com a concepção de que a inteligência
é composta por um conjunto de traços mentais a serem testados, limitando-se aos
resultados externados que foram encontrados e preocupando-se com o aspecto
quantitativo de inteligência no sujeito. Os primeiros testes mentais foram realizados
com o objetivo de identificar crianças com dificuldades de aprendizagem, focando
conhecimentos práticos e do contexto diário das mesmas.
Outros teóricos, como Spearman (1904), Stern (1925), Thurstone (1938), Burt
(1949), Guilford (1967) e Cattell (1966) destacam-se em suas pesquisas sobre a
inteligência, sempre em busca de formas de exploração das variações na
inteligência entre os indivíduos, construindo testes psicológicos e fazendo análises
estatísticas dos resultados destes testes.1 Este tema não será aprofundado, visto
que não é o objetivo desta pesquisa.
1*C. Spearman (1904) – Propôs o conceito de inteligência como uma habilidade cognitiva geral.
*L.L.Thurstone(1938) – Propôs sete diferentes habilidades mentais primárias. *J.P. Guilford (1967) – Propôs que pelo menos 120 fatores influenciam a inteligência.
*R. Cattel (1966) – É contrário a ideia de múltiplas inteligências. Propôs a subdivisão da inteligência geral em dois tipos: inteligência fluida e inteligência cristalizada.
37
Desenvolvimentista
Essa abordagem será um pouco mais aprofundada, considerando que
mesma é muito estudada no meio educacional, onde está inserida esta pesquisa.
Serão referências neste tópico três teóricos que serão examinados.
A abordagem desenvolvimentista representada por Piaget, Vygotsky e
Wallon, tem como foco central a compreensão da estrutura e dos esquemas
internos e com a forma estrutural destes esquemas em termos qualitativos de
desenvolvimento.
Esses três teóricos defendem a ideia de que o sujeito é um ser dinâmico,
ativo, que interage com o meio, agindo, influenciando e sendo influenciado por ele.
2.3 Piaget e os Estágios do Desenvolvimento Humano
Piaget (1967) considerado o teórico mais importante da abordagem
desenvolvimentista. O primeiro estudioso a detalhar o desenvolvimento cognitivo
das crianças, confirmando e abrindo caminho para o aprofundamento do estudo das
estruturas mentais. Sua pesquisa voltada para a investigação dos processos
fundamentais de formação do conhecimento na criança durou cerca de 40 anos,
através do método crítico, onde a investigação acontece por meio da observação do
comportamento de crianças, da interação entre estas crianças na execução de
tarefas, na realização de atividades seguidas de instruções precisas, e o
investigador por meio de estimulação e questionamento. O principal objetivo é
compreender o processo do como e o porquê dos acertos e erros e não a
quantidade dos mesmos.
O desenvolvimento da inteligência na teoria psicogenética de Piaget evolui
sequencialmente através de 4 estágios divididos por faixa etária. O primeiro estágio
é de 0 a 2 anos de idade, o estágio sensório–motor. O estágio pré-operacional é o
segundo, de 2 a 7 anos. O terceiro, é o estágio operacional, que se subdivide em
operacional concreto dos 7 aos 12 anos e operacional formal de 12 anos em diante.
A seguir, serão apresentados os estágios do desenvolvimento da inteligência
segundo Piaget.
38
OS ESTÁGIOS
Cada estágio apresenta características próprias e, assim, processualmente a
inteligência se desenvolve na dinâmica da formação de um equilíbrio entre um
mecanismo assimilador e uma acomodação que complementa essa dinâmica.
ESTÁGIO SENSÓRIO-MOTOR
O estágio sensório-motor inicia-se no nascimento e vai até os 2 anos de
idade. É o período onde surge a construção das categorias de tempo, espaço,
objeto e causalidade. A criança começa a conquistar o mundo exterior, por meio da
percepção e do movimento, construindo, assim, esquemas de ação. Podemos dizer
que é o estágio da inteligência prática, pois a relação da criança com o meio é
direta, imediata, sem a existência de palavras, conceitos ou representação e se dá
no mundo concreto.
No início desse estágio, o bebê vive um período de atividades movidas por
impulsos reflexos e instintivos na busca de suprir necessidades básicas, como a
alimentação e a liberação dos desconfortos.
A partir do 4º mês, a criança demonstra evolução em seu comportamento,
sendo mais direcionado a um fim intencional.
Os sentimentos se desenvolvem durante esse estágio, porém, ao final deste,
os sentimentos afetivos das crianças começam a desempenhar um papel nas
escolhas e ações. A criança passa do estado de não diferenciação entre o eu e os
construtos físicos e humanos para um estágio de reconhecer que existem trocas
entre ela (o eu diferenciado) e o outro. Para Piaget (1975), nessa fase de
desenvolvimento existe muito mais troca afetiva e contágios para a criança do que
efetivamente diferenciação das pessoas e coisas, o que torna ainda mais importante
as interações.
No decorrer do segundo ano de vida, as crianças iniciam um processo de
experiência com sentimentos de satisfação ou insatisfação ligados às suas ações.
Ao final desse período, a criança de dois anos evoluiu muito afetiva e
cognitivamente, demonstrando características muito diferentes do recém-nascido,
no início do período.
39
ESTÁGIO PRÉ-OPERACIONAL
O estágio pré-operatório, dos 2 aos 7 anos de idade, corresponde à
inteligência simbólica e intuitiva e se inicia com o surgimento da linguagem,
favorecendo novas interações e afetos, valorização pessoal e independência em
relação ao objeto afetivo designado pela criança.
Esse período também é marcado pelo egocentrismo, no qual a criança
compreende a realidade centrada no seu próprio ponto de vista, dificultando assim a
compreensão em relação ao outro. Tudo que se refere ao outro, a maneira de
pensar, sentir e lidar com o mundo não é percebido pela criança e sim apenas o seu
ponto de vista. Essa é a comum fase dos por quês. A criança procura sempre uma
lógica, uma causa para os acontecimentos e fenômenos da realidade. Ao
desenvolver a capacidade simbólica, a mesma passa a representar mentalmente os
objetos e conceitos, mas a reversibilidade ainda é uma habilidade que não domina.
Segundo Piaget (1964), é por meio da linguagem verbal e da representação
que surgem os primeiros sentimentos sociais, bem como novas capacidades,
habilidades representacionais e socialização do comportamento. Também a
linguagem e a representação se tornam elementos facilitadores para a ocorrência
das operações lógicas. A representação tem papel importante na criação de
imagens das experiências, incluindo as experiências afetivas. Portanto, os
sentimentos podem ser representados e recordados, o que não era possível no
estágio sensório-motor.
Os conceitos e sentimentos morais começam a se desenvolver: regras,
acidente, mentira, justiça e outros, levando a criança a tomar consciência das coisas
a serem realizadas. Entretanto, o conceito de intencionalidade ainda não foi
construído.
Piaget explica que as crianças tornam-se sociais progressivamente no
decorrer dos anos. Assim, o desenvolvimento social age sobre o cognitivo e afetivo
à medida que a criança estabelece intercâmbios com o mundo social.
ESTÁGIO OPERACIONAL
O Estágio Operacional é subdividido em: Operacional Concreto e Operacional Formal.
40
Operacional Concreto:
Dos 7 aos 11 anos de idade, a criança entra no estágio das operações
concretas, no qual os processos mentais se tornam lógicos, dando mais estabilidade
ao raciocínio e ao pensamento.
Portanto, no aspecto cognitivo, esse estágio é marcado pelo desenvolvimento
da capacidade da realização de ações cognitivas internalizadas, ou seja, das
operações lógicas, não sendo mais influenciadas pela percepção e que buscam
aplicá-las às situações/problemas reais.
Neste contexto, Piaget (1990) explica que, com o surgimento da
reversibilidade das ações mentais, a criança torna-se capaz de coordenar seus
pensamentos afetivos de um evento para outro. Portanto, no desenvolvimento
afetivo, Piaget destaca que o pensamento afetivo torna-se reversível, assim como o
pensamento lógico, ou seja, o passado pode ser transformado em uma parte do
raciocínio presente através da capacidade de reverter e/ou conservar.
Através da interação social com os colegas, da troca de ideias e choques de
pensamentos, a criança vai se libertando do egocentrismo. Piaget também destaca
no desenvolvimento afetivo desse estágio dois aspectos importantes: a vontade e a
autonomia. A vontade é considerada pelo autor como uma escala permanente de
valores construída pelo indivíduo, na qual ele se sente obrigado a aderir. Através da
vontade, os afetos são regulados e os valores são conservados. Piaget explica que
é importante entender que a existência da vontade não elimina por completo o
comportamento impulsivo.
A autonomia significa ser governado por si mesmo e não pelos outros, de
maneira impositiva. A criança, nesse estágio, precisa participar das construções de
regras com reciprocidade e avaliando-as antes de aceitá-las. Esse raciocínio
autônomo considera os outros tanto quanto a si próprio. Piaget destaca a
importância da cooperação como caminho para desenvolver essa autonomia,
deixando cada vez mais de lado o egocentrismo. Também é importante para a
construção do conhecimento, desenvolvendo a criticidade, a troca de pontos de
vista e a formação do pensamento objetivo.
Assim, a personalidade torna-se individualizada, pois constitui novas relações
interindividuais que promovem novas trocas afetivas e cognitivas equilibradas.
41
Operacional Formal
O último estágio de desenvolvimento onde a criança atinge os 12 anos de
idade é o estágio do pensamento hipotético-dedutivo, que corresponde à
adolescência; o pensamento já está formado e se amplia com as interações
afetivas, a mudança social e a construção de novos valores, entre outros.
Durante o estágio das operações formais, uma criança desenvolve todo o
equipamento estrutural cognitivo necessário para pensar como adulto, assim como
o raciocínio e a lógica necessária à solução de todas as classes de problemas,
adquirindo a maturidade.
A criança com as operações formais plenamente desenvolvidas raciocina
efetivamente sobre o presente, o passado e o futuro, empregando teoria e hipóteses
na solução de problemas.
O desenvolvimento afetivo dessa idade, compreendida como adolescência, é
caracterizado por dois fatores principais: o desenvolvimento dos sentimentos
idealistas e a continuação da formação da personalidade. É a fase do adolescente,
já dotado da capacidade de julgamento, dedução, que é capaz de ponderar sobre a
vida e o seu próprio pensar, embora o idealismo ainda não esteja em toda a sua
plenitude, haja vista que o jovem toma decisões de acordo com o seu ponto de
vista, mesmo havendo logicidade. Entretanto, nesta fase, o adolescente ainda não é
capaz de enxergar que, na verdade, nem sempre o proceder humano tem a ver com
a lógica.
De acordo com Piaget, os aspectos finais da formação da personalidade não
começam a se desenvolver antes da transição para a vida adulta. Esta vai se
consolidando à medida que o adolescente inconscientemente procura se adaptar à
sociedade e ao mundo do trabalho, pois “A formação da personalidade começa com
a organização autônoma das regras e valores e com a afirmação da vontade quanto
à regulação e à organização hierárquica das tendências morais” (PIAGET, 1975, p.
65).
Então, a personalidade é resultado dos esforços individuais autônomos para
se adaptar ao mundo social adulto com coerência e organização de valores para
prevenir conflitos internos e externos.
42
A reciprocidade continua sendo a base para os julgamentos nessa fase dos
11 ou 12 anos, porém, agora a intencionalidade é considerada importante para
formular os julgamentos, o que no estágio anterior não se considerava. Piaget
denomina isso de equidade.
Afetivamente, no estágio das operações formais, o adolescente aprende a
assumir os papéis dos adultos, o que envolve o desenvolvimento afetivo e cognitivo
necessários a tal adaptação, onde esses dois aspectos não são independentes.
2.4 Vygotsky: a interação entre o desenvolvimento e a aprendizagem
Vygotsky focaliza em sua pesquisa a compreensão das funções mentais
superiores e a influência do mundo social sobre as mesmas. Na interação entre o
desenvolvimento e a aprendizagem, Vygotsky não ignora as definições biológicas
do ser humano, porém, atribui uma grande importância ao aspecto social, o qual é
impregnado de símbolos e instrumentos culturais significativos que fazem a
mediação entre o indivíduo e o mundo, transmitindo também mecanismos
psicológicos e as formas de agir nesse mundo. Portanto, a aprendizagem é
considerada um aspecto fundamental no processo de desenvolvimento das funções
psicológicas superiores.
Assim, é por meio do aprendizado que se dá o dinâmico processo de
desenvolvimento do ser humano. Como afirma Vygotsky, “o aprendizado pressupõe
uma natureza social específica e um processo através do qual as crianças penetram
na vida intelectual daqueles que a cercam” (VYGOTSKY, 1998, p. 99).
Nessa perspectiva, o aprendizado é o aspecto universal e necessário para a
garantia do desenvolvimento das características psicológicas culturalmente
organizadas e particularmente humanas.
Vygotsky (1998) enfatiza dois níveis de desenvolvimento. O nível de
desenvolvimento real e o nível de desenvolvimento potencial.
O nível de desenvolvimento real é compreendido como o aprendizado já
construído e consolidado pela criança. São as habilidades e capacidades que ela já
domina sem necessitar da ajuda de alguém. Neste nível, determinados ciclos do
desenvolvimento já se completaram.
O nível de desenvolvimento potencial se refere ao aprendizado possível de
ser construído com a mediação de outra pessoa. A estimulação desse aprendizado
43
ainda não explorado é, para Vygotsky, bem mais indicativo do desenvolvimento
mental da criança do que aquilo que a mesma consegue fazer sozinha.
Vygotsky denominou de Zona de Desenvolvimento Proximal a distância entre
as habilidades já adquiridas por si mesma, que é o nível de desenvolvimento real, e
as habilidades que ela torna-se capaz de realizar com a colaboração de outros, que
é o nível de desenvolvimento potencial. Assim, num processo dinâmico e contínuo
de desenvolvimento e aprendizagem, Vygotsky afirma que “aquilo que é zona de
desenvolvimento proximal hoje será o nível de desenvolvimento real amanhã. Ou
seja, aquilo que uma criança pode fazer com assistência hoje, ela será capaz de
fazer sozinha amanhã.” (VYGOTSKY, 1998, p.98).
Para o sistema educacional, o conceito de Zona de Desenvolvimento
Proximal é de extrema importância, pois, além de permitir a compreensão da
dinâmica interna do desenvolvimento individual do sujeito, também permite a
verificação dos ciclos já completados e os ciclos em formação, pontuando, assim, as
perspectivas de conquistas futuras da criança e elaboração de estratégias
pedagógicas para auxiliar nesse processo.
O estudo sobre a Zona de Desenvolvimento Proximal ainda dá a
possibilidade de pesquisar o que está além da perspectiva desse conceito, ou seja,
buscar, analisar e compreender os limites que algumas crianças apresentam em
realizar tarefas mesmo com a interferência de outras pessoas.
De acordo com Vygotsky, o aprendizado, tanto geral como o particular da
escola, além de possibilitar, também orientam e estimulam os processos de
desenvolvimento. Nessa perspectiva, o autor argumenta que,
(...) todas as pesquisas experimentais sobre a natureza psicológica dos processos de aprendizagem da aritmética, da escrita, das ciências naturais e de outras matérias na escola elementar demonstram que seu fundamento, o eixo em torno do qual se montam, é uma nova formação que
se produz em idade escolar. Estes processos estão todos ligados ao desenvolvimento do sistema nervoso central. (...) (VYGOTSKY, 1998)
Cada matéria escolar tem uma relação própria com o curso do
desenvolvimento da criança, relação que muda com a passagem da criança de uma
etapa para outra. “Isso obriga a reexaminar todo o problema das disciplinas formais,
ou seja, do papel e da importância de cada matéria no posterior desenvolvimento
psicointelectual geral da criança” (VYGOTSKY, 1998, p. 116-117)
44
2.5 A Psicogênese do ser humano Integral Segundo Wallon
Wallon, através da psicologia da genética, estudou a gênese dos processos
psíquicos, levando em consideração a sua totalidade. O autor propõe o estudo
integrado do desenvolvimento humano, que englobe os vários campos funcionais da
atividade infantil que são: a afetividade, motricidade e inteligência. Através da
concepção de uma psicogênese da pessoa completa, entende-se o conhecimento
do adulto através do desenvolvimento infantil.
Grande parte de seu trabalho foi dedicado ao estudo da afetividade e da
emoção, adotando uma abordagem fundamentalmente social do desenvolvimento
humano. Em sua psicogênese, busca articular o biológico e o social. Destaca às
emoções um papel de primeira grandeza na formação da vida psíquica, funcionando
como uma amálgama entre o social e o orgânico. Desde o início da infância, as
relações da criança com o mundo exterior são de sociabilidade, pois, ao nascer, não
tem
meios de ação sobre as coisas circundantes, razão porque a satisfação das suas necessidades e desejos tem de ser realizada por intermédio das pessoas adultas que a rodeiam. Por isso, os primeiros sistemas de reação
que se organizam sob a influência do ambiente, as emoções, tendem a realizar, por meio de manifestações consoantes e contagiosas, uma fusão de sensibilidade entre o indivíduo e o seu entourage (WALLON 1971, p. 262).
Segundo Wallon, através das expressões do comportamento humano é
possível perceber que a maioria de suas ações e reações são advindas de suas
emoções. A emoção é o primeiro e mais forte vínculo entre os indivíduos. Dessa
forma,
Wallon estabelece uma distinção entre emoção e afetividade. Segundo o
autor (1968), as emoções são manifestações de estados subjetivos, mas com componentes orgânicos. Contrações musculares ou viscerais, por exemplo, são sentidas e comunicadas através do choro, significando fome ou algum desconforto na posição em que se encontra o bebê. Ao defender o caráter biológico das emoções, destaca que estas originam-se na função
tônica. Toda alteração emocional provoca flutuações de tônus muscular, tanto de vísceras como da musculatura superficial e, dependendo da natureza da emoção, provoca um tipo de alteração muscular. Wallon identifica emoções de natureza hipotônica, isto é, redutoras do tônus, tais como o susto e a depressão. (...) Outras emoções são hipertônicas, geradoras de tônus, tais como a cólera e a ansiedade, capazes de tornar
pétrea a musculatura periférica. (DANTAS, 1992, p. 87).
45
Portanto, como já vimos anteriormente, a Teoria das Emoções é de grande
relevância na obra de Wallon. Segundo o autor, a emoção exterioriza a afetividade,
pois a mesma é orgânica em seus componentes viscerais e motores e também é
um comportamento social na sua função de adaptação do ser humano ao seu meio:
(...) As emoções são a exteriorização da afetividade (...). Nelas que
assentam os exercícios gregários, que são uma forma primitiva de comunhão e de comunidade. As relações que elas tornam possíveis afinam os seus meios de expressão, e fazem deles instrumentos de sociabilidade
cada vez mais especializados. (WALLON, 1975, p. 143)
A afetividade, por sua vez, engloba sentimentos (origem psicológica) e
emoções (origem biológica), pois sua concepção é mais ampla e suas
manifestações são expressas de maneiras muito variadas. A afetividade é
identificada em um período mais tardio na evolução do desenvolvimento infantil,
através do surgimento dos elementos simbólicos. De acordo com Wallon, é com o
aparecimento destes que ocorre a transformação das emoções em sentimentos.
Através das representações simbólicas transferidas para o plano mental, os
sentimentos adquirem certa durabilidade e moderação.
Sobre a atividade emocional Dantas afirma que:
realiza a transição entre o estado orgânico do ser e a sua etapa cognitiva racional, que só pode ser atingida através da mediação cultural, isto é, social. A consciência afetiva é a forma pela qual o psiquismo emerge da vida orgânica: corresponde à sua primeira manifestação. Pelo vínculo imediato que se instaura com o ambiente social, ela garante o acesso ao
universo simbólico da cultura, elaborado e acumulado pelos homens ao longo de sua história. Dessa forma é ela que permitirá a tomada de posse dos instrumentos com os quais trabalha a atividade cognitiva. Neste sentido, ela lhe dá origem (DANTAS, 1992, p. 85-86).
Em sua teoria, Wallon também estabelece uma relação estreita entre as
emoções e a motricidade. Os movimentos do bebê ao nascer são ineficazes do
ponto de vista da transformação do ambiente físico, o que Wallon chamou de
"impulsivo". Porém, através da comunicação que se estabelece entre o bebê e o
ambiente humano, por meio de respostas marcadas pela emoção, esses
movimentos tornam-se expressivos, organizados e intencionais. Assim, através das
interpretações dos adultos, os gestos do bebê em desenvolvimento ganham
significado.
46
O desenvolvimento infantil é dividido e organizado em estágios, na teoria de
Wallon. Em sua psicogênese, entende-se que em cada um desses estágios é
estabelecido um tipo de interação pela criança, tanto com o meio humano como
com o físico. Os aspectos afetivos e cognitivos estão em constante interação em
cada fase do desenvolvimento. Wallon, ao referir-se à predominância alternada da
afetividade e da cognição nas diferentes fases do desenvolvimento, destaca os
conceitos de alternância e preponderância funcionais:
Apesar de alternarem a dominância, afetividade e cognição não se mantém como funções exteriores uma à outra. Cada uma, ao reaparecer como atividade predominante num dado estágio, incorpora as conquistas realizadas pela outra, no estágio anterior, construindo-se reciprocamente,
num permanente processo de integração e diferenciação. (Galvão, 1996, p. 45).
Através dos estágios de desenvolvimento apresentados por Wallon, é
possível compreender que, à medida que o sujeito se desenvolve, as emoções
evoluem em sua complexidade e em suas expressões, modificando-se. As
conquistas intelectuais consequentemente vão se integrando à afetividade,
apresentando uma nova dimensão de caráter cognitivo.
2.6 A Dinâmica do Desenvolvimento Humano na Teoria Walloniana
Os estágios do desenvolvimento sucedem-se numa ordem necessária, sendo
cada pré-requisito para o surgimento da seguinte. Todo o contexto da criança é
importante para o estudo do seu desenvolvimento. O espaço físico, a cultura, as
pessoas de sua convivência, a linguagem e a faixa etária compõem esse contexto.
Não existe uma homogeneidade no tempo de duração de um estágio para o
outro, pois cada criança tem sua individualidade no desenvolvimento e também as
interferências do meio causam essa relatividade. Porém, os fatores orgânicos são
os responsáveis por essa sequência dos estágios que, aos poucos, vai cedendo
espaço para o fator social. O meio social, principalmente através da cultura e da
linguagem, tem influência direta e decisiva na aquisição e evolução das condutas
psicológicas superiores. Ou seja, apenas através do amadurecimento do sistema
nervoso não é possível desenvolver as habilidades intelectuais mais complexas.
47
O ritmo do desenvolvimento dos estágios é marcado por mudanças contínuas
através de interrupções, retrocessos, avanços significativos como também mantêm
algumas características típicas de cada momento. A passagem de um estágio a
outro é uma reformulação do mesmo que pode ser visível através da conduta da
criança. A criança vive em constante evolução.
De acordo com Wallon, os conflitos são marcantes na evolução mental da
criança. As necessidades próprias de cada momento que a criança vive mudam as
maneiras de garantir a satisfação da mesma. Assim, sucessivamente, a cada etapa
vencida, são acumuladas novas possibilidades de promoção da aprendizagem
ajudando-a a superar as etapas seguintes e as novas necessidades surgem.
Através da interação com o meio são construídas mudanças no
desenvolvimento biopsiquíco da criança. Assim, não existe um desenvolvimento
linear, sempre ocorrerá a partir da interação de fatores externos e internos. “(...)
deste modo, os progressos da criança não são uma simples adição de funções. O
comportamento de cada idade é um sistema em que cada uma das atividades já
possíveis concorre com todas as outras, recebendo do conjunto o seu papel.”
(WALLON, 1989)
Para Wallon, o desenvolvimento da pessoa é contínuo por natureza e sempre
apresentará especificidades, particularidades e também suas características
comuns. Nessa construção progressiva, sempre acontecerá predominância
alternadamente afetiva e cognitiva. Portanto, para melhor compreensão dessas
etapas, Wallon apresenta características significativas que são destacadas em cada
um dos cinco estágios do desenvolvimento apresentados pela psicogenética
Walloniana.
ESTÁGIO IMPULSIVO-EMOCIONAL – Primeiro ano de vida
No primeiro ano de vida, o bebê ainda está inapto para agir diretamente
sobre a realidade exterior, por isso, a emoção é predominante na interação do bebê
com o meio, nas relações afetivas com as pessoas. Tudo gira em torno das
sensações impregnadas de emoção.
Antes dos seis meses, o bebê já demonstra sinais de medo e de alegria em
suas atitudes, porém, ainda não é possível identificar as diversas emoções que
experimenta.
48
A partir do segundo semestre, o bebê está mais desenvolvido, mas continua
mantendo a relação afetiva através de suas atividades tônicas posturais.
ESTÁGIO SENSÓRIO MOTOR E PROJETIVO - De dois a três anos.
Esse estágio é marcado por alguns acontecimentos importantes, que são: o
aprender a andar, a segurar os objetos, o desenvolvimento da função simbólica e da
linguagem.
A exploração sensório-motora do mundo físico se expande através da
autonomia do ato de andar, ampliando seu espaço e possibilitando a criança
manipular diversos objetos.
A expressão “projetivo” se refere ao ato mental que se projeta nos atos
motores, pois as relações com o meio que prevalecem neste período são as
relações cognitivas. Através dos gestos é que são expressos os pensamentos,
projetando assim o ato mental em atos motores.
A criança, nesse período, ainda demonstra estar dependente do outro, pois
seu processo de individuação está apenas se iniciando. Sua relação com o outro é
vivenciada de maneira bastante sincrética, ela não se percebe claramente diferente
do outro.
ESTÁGIO DO PERSONALISMO – De três a seis anos.
Neste período, destaca-se o importante processo de formação da
personalidade. A criança inicia a construção da percepção de si mesma por meio
das interações sociais com as pessoas. O outro passa a ter papel importante para
ela e as relações afetivas passam a ter uma predominância caracterizada.
Ela percebe as relações e os papéis diferentes dentro do universo familiar, ao
mesmo tempo em que se percebe como um elemento fixo, como ser o filho mais
velho ou o mais novo, ser filho e irmão, e assim por diante.
Outro acontecimento importante desse período é que muitas crianças
começam a frequentar a escola, inserindo-se num ambiente onde as relações serão
simétricas e assimétricas, pois sua convivência será com pessoas da mesma faixa
etária (crianças) e de diferentes faixas etárias (adultos), enriquecendo ainda mais
seu desenvolvimento.
49
ESTÁGIO CATEGORIAL– A partir dos seis anos.
O Estágio Categorial é caracterizado pelo destaque do aspecto cognitivo. A
criança começa a demonstrar seu interesse em adquirir conhecimento e de
conquistar o mundo exterior. É demonstrado um progresso intelectual nas suas
relações com o meio. Nessa idade, é obrigatório, na maioria dos países, o início da
escolaridade, pois como já foi mencionado, o desenvolvimento cognitivo da criança
está aguçado e a sua sociabilidade ampliada. A criança demonstra capacidade em
participar de vários grupos com graus e classificações diferentes. Esta etapa é
importante para o desenvolvimento das aptidões intelectuais e sociais da criança.
Esta fase se torna um período crítico no processo de socialização, pois, ao
mesmo tempo em que a criança vivencia a necessidade de se perceber como
indivíduo, também necessita da aceitação e interação com seu grupo social.
Segundo Wallon (1975), “Há tomada de consciência pelo indivíduo do grupo de que
faz parte, há tomada de consciência pelo grupo da importância que pode ter em
relação aos indivíduos.”
ESTÁGIO DA ADOLESCÊNCIA – Início aos 12 anos.
No período da adolescência surge novamente a predominância do aspecto
afetivo, no qual despontam as questões polêmicas pessoais, morais e existenciais,
rompendo a tranquilidade afetiva do período anterior, surgindo novas necessidades
de reconstrução da personalidade devido às mudanças físicas resultantes da ação
orgânica e hormonal, e também mudanças de ordem psíquicas com preponderância
afetiva, natural dessa fase do desenvolvimento.
Nesse estágio, a figura do outro tem papel fundamental para a busca da
própria consciência, pois o outro se torna seu espelho com seus defeitos e
qualidades identificados nessa relação. O grupo social torna-se mais importante
nesse momento do que a relação familiar, pois o adolescente necessita da
aprovação do grupo para se auto afirmar na sociedade. Assim, o meio social e
cultural são muito importantes para exteriorizarem suas crenças, opiniões, enfim,
expressar seus sentimentos, emoções, configurando-se a personalidade de
maneiras diversas.
50
Na concepção de desenvolvimento humano na teoria de Wallon, é
apresentada uma visão de conjunto, em que as dimensões motora, cognitiva e
afetiva da pessoa se integram de forma dinâmica, alternando-se em relação à
predominância de uma frente às demais. A integração não é um resultado
alcançado ao final de um processo, mas demonstra a flexibilidade desse processo,
o equilíbrio dinâmico da pessoa em desenvolvimento.
Wallon nos apresenta a existência de três leis que regulam o processo de
desenvolvimento da criança até a fase adulta: a lei da alternância funcional, a lei da
preponderância funcional e a da integração funcional.
A lei da alternância funcional é caracterizada por duas direções opostas que
se alternam ao longo do desenvolvimento: a construção do eu, que é uma relação
centrípeta, e a elaboração da realidade externa e do universo que rodeia a criança,
que é uma relação centrífuga. Essas duas direções acontecem alternadamente,
constituindo o ciclo da atividade funcional.
A segunda lei é da preponderância funcional, na qual a função motora
predomina nos primeiros meses de vida da criança, enquanto as funções afetivas e
cognitivas se alternam durante todo o desenvolvimento, ora visando a formação do
eu (predominância afetiva), ora visando o conhecimento do mundo exterior
(predominância cognitiva).
A última lei, chamada de lei da diferenciação e integração funcional, se refere
às novas possibilidades que não se suprimem ou se sobrepõem às conquistas dos
estágios anteriores, mas, pelo contrário, integram-se a elas no estágio subsequente,
num permanente processo de integração e diferenciação.
Para Wallon, em qualquer momento ou fase do desenvolvimento, a pessoa é
sempre uma pessoa completa. A afetividade e a cognição se apresentam em cada
fase com características definidas de acordo com suas necessidades orgânicas e
sociais. Assim, o desenvolvimento humano se aperfeiçoa através da capacidade de
responder com atitudes cada vez mais específicas as mais variadas situações da
vida.
Portanto, podemos perceber que o ser humano, visto de maneira integral,
desenvolve-se socialmente, cognitivamente e emocionalmente de maneira global,
porém, com suas particularidades, individualidades e peculiaridades.
51
No próximo capítulo, veremos alguns autores contemporâneos que através
de suas teorias ampliam a discussão sobre o conceito de inteligência, desafiando a
ciência a novas investigações e descobertas sobre este tema.
52
3 A INTELIGÊNCIA E SUAS ABORDAGENS CONTEMPORÂNEAS
A Abordagem Contemporânea é direcionada para vários enfoques. Uma das
abordagens contemporâneas da inteligência é a abordagem do Processamento da
Informação, com um enfoque que se destaca que é o enfoque cognitivista. Este
enfoque dá ênfase aos processos cognitivos, no qual se busca destacar a
importância da rapidez e da exatidão do processamento da informação. Os
cognitivistas desejam compreender como a mente funciona a partir de
características cognitivas internas, que são: as crenças, as percepções, os planos,
as atitudes e os processadores de informação, fazendo uma analogia da inteligência
com o computador nas diversas funções de codificar, armazenar e utilizar a
informação que vem do meio externo.
Outra abordagem contemplada na visão contemporânea é a abordagem dos
Processos Simbólicos, na qual se dará ênfase destacando o teórico Howard
Gardner com sua Teoria das Inteligências Múltiplas, pois é uma teoria muito
pertinente na área educacional e nesta pesquisa. Esta teoria busca demonstrar que
o indivíduo é capaz de desenvolver múltiplas inteligências, algumas mais
valorizadas pela cultura dominante.
3.1 A Teoria das Inteligências Múltiplas de Howard Gardner
Através das pesquisas realizadas na área de neurobiologia, algumas
constatações foram feitas, revelando a presença de áreas no cérebro que
correspondem a diferentes formas de cognição. Estas mesmas pesquisas apontam
a existência de uma organização neural que abriga diferentes modalidades de
processamento da informação. A interação entre os estudos da neurobiologia com a
revisão analítica das principais teorias psicológicas da inteligência humana constitui
novas percepções e paradigmas para a definição de inteligência e seus atributos.
Gardner (2000), por meio da Teoria das Inteligências Múltiplas, a princípio
classificou sete inteligências que o ser humano apresenta e no ano de 2000
apresentou mais três. O autor, através de suas pesquisas realizadas no campo
cognitivo e da neuropsicologia sugere que as habilidades cognitivas são bem mais
diferenciadas e mais específicas do que se acreditava. Portanto, Gardner questiona
53
a visão tradicional de inteligência, que enfatiza apenas as habilidades linguísticas e
lógico – matemáticas. Ele discorda da visão que acredita que existem habilidades
gerais e da possibilidade de se medir a inteligência através de instrumentos verbais
padronizados, como testes de respostas curtas realizados com papel e lápis.
Gardner enfatiza a importância da influência cultural para explicar a
diversidade de habilidades que o ser humano culturalmente se apropriou e
apresenta na busca de soluções dos problemas. Define, então, inteligência como a
capacidade de resolver problemas ou de criar produtos que sejam valorizados
dentro de um ou mais cenários culturais (GARDNER, 1994).
Gardner diz no início de seu livro (1994, p. 7) que,
(...) existem evidências persuasivas para a existência de diversas competências intelectuais humana relativamente autônomas abreviadas daqui em diante como 'inteligências humanas'. Estas são as 'estruturas da mente' do meu título. A exata natureza e extensão de cada 'estrutura' individual não é até o momento satisfatoriamente determinada, nem o número preciso de inteligências foi estabelecido. Parece-me, porém, estar
cada vez mais difícil negar a convicção de que há pelo menos algumas inteligências, que estas são relativamente independentes umas das outras e que podem ser modeladas e combinadas numa multiplicidade de maneiras adaptativas por indivíduos e culturas.
Gardner, no estudo sobre o desenvolvimento humano, inverteu as pesquisas,
partindo a princípio das realizações da pessoa para chegar às inteligências que
deram origem às mesmas. Assim, a Teoria das Inteligências Múltiplas, de Gardner
(1985) vem sendo uma alternativa para argumentar o conceito de inteligência como
uma capacidade inata, geral e única.
Psicólogo construtivista, Gardner acredita que a pessoa, ao lidar com
símbolos linguisticos, numéricos, gestuais e outros, utiliza-se de processos
psicológicos independentes. Para o autor, uma criança que apresenta
desenvolvimento de habilidades precoces em uma determinada área do
conhecimento, em outra área pode estar na média ou abaixo da média. Gardner
explica o desenvolvimento cognitivo da pessoa como uma competência que evolui
na compreensão e na maneira de expressar significados nos diversos sistemas
simbólicos expressados num contexto cultural. Fazendo uma análise de estudo
psicológico, Gardner (1995) afirma que cada área do conhecimento tem seu sistema
simbólico próprio; já numa análise de estudo sociológico, cada área se caracteriza
pelo desenvolvimento de competências valorizadas em culturas específicas.
54
Gardner (1995) aponta três componentes básicos da personalidade humana,
diferenciando-os para explicar melhor a definição de inteligência, não confundindo
conceitos. Os três componentes são:
Talento: Potencial biopsicológico;
Domínio: Capacidade de colocar o talento em prática numa determinada área
de conhecimento específico ou uma área maior de conhecimento construída
em sociedade.
Campo: É o conjunto de instituições e de pessoas envolvidas na pesquisa
proposta e que determinarão os produtos que podem ser considerados como
mérito.
Cada domínio necessita de mais de uma inteligência, a qual pode ser
desdobrada em vários campos.
O domínio descrito por Gardner (2000, p. 105) é: um conjunto organizado de atividades dentro de uma cultura caracterizado por um sistema se símbolos específicos e as operações dele resultantes. Qualquer atividade cultural que conte com uma participação mais do que casual dos indivíduos, e na qual se possa identificar e cultivar graus de especialização
deve ser considerada um domínio. (ALVES, 2002.).
Gardner (1995) aponta que o campo é de fundamental importância para a
construção do domínio e para os tipos de inteligência que têm mais significado em
cada cultura.
O que determina o indivíduo talentoso é o domínio que sobressai
destacando-se das suas outras habilidades. Na fase da juventude, o talento é mais
perceptível e suas experiências se tornam duradouras.
O prodígio é o indivíduo que se sobressai entre os demais, destacando-se
através de habilidades incomuns, consideradas precoces. A prodigiosidade se
desenvolve na fase de crescimento, na pré-adolescência e adolescência, dando
continuidade e aumentando os recursos utilizados.
O indivíduo considerado perito é aquele que atinge um alto grau de
competência em determinado domínio. Através do conhecimento e das habilidades
cumulativas ao longo do desenvolvimento até a pós-adolescência é que a perícia
surge.
Os indivíduos considerados criativos têm a capacidade de resolver problemas
em seu contexto de vida diário e elaborar produtos para domínios específicos. No
55
período da pós-adolescência, a criatividade também se desenvolve, podendo ter
conflito com o domínio e com o campo no qual se insere, ocorrendo a assincronia
produtiva.
Os indivíduos caracterizados como gênios desenvolvem trabalhos criativos
em algum domínio, materializando essa criatividade na definição e delineação do
trabalho desenvolvido. O gênio surge geralmente quando a pessoa atinge a
maturidade. Os indivíduos que estão no domínio da genialidade, no futuro terão de
lidar com as contribuições nas quais são considerados gênios criativos.
Segundo Gardner (1995), quanto maior for a abrangência da contribuição do
indivíduo para diferentes culturas, locais e épocas, mais gênio será considerado.
Por meio dos conceitos explicitados acima, Gardner (1995) estabelece oito
princípios básicos para identificar, considerar e denominar o que é "inteligência”.
Esses princípios têm grande importância, pois são considerados como pré-
requisitos para assegurar que “(...) uma inteligência humana deve ser genuinamente
útil e importante, pelo menos em determinados cenários culturais” (GARDNER,
1994, p. 46).
- PRINCÍPIOS BÁSICOS PARA IDENTIFICAR UMA INTELIGÊNCIA
Gardner (1994), em sua teoria das Inteligências Múltiplas, estabeleceu oito
princípios que são considerados requisitos básicos que compõem uma inteligência
íntegra, ou seja, para considerar o que é uma inteligência, a mesma deve atender a
estes oito requisitos para não confundi-la com talento, aptidão ou habilidade.
Os oito princípios básicos são:
1) As inteligências apresentam certa autonomia. Gardner, ao trabalhar com
indivíduos que tiveram lesões cerebrais, percebeu que uma faculdade cerebral pode
ser afetada, destruída sem afetar outras.
2) Os idiots savants (idiotas eruditos, prodígios e outros indivíduos excepcionais),
apresentam habilidades superiores em uma inteligência, porém, em outras
inteligências apresentam um nível baixo de habilidades.
3) A inteligência humana tem uma programação geneticamente definida, mas que
pode ser estimulada por meio das atividades culturalmente valorizadas em cada
sociedade. Portanto, a inteligência pode ser ativada por informações internas e
externas. Gardner afirma que a melhor maneira de estudar o funcionamento das
56
inteligências é estudando os “estados finais” das inteligências em indivíduos
excepcionais.
4) As inteligências desenvolvem-se de modo diverso em cada ser humano e
apresentam uma história evolutiva, tanto na evolução dos seres humanos como na
evolução de outras espécies. Também apresentam um contexto histórico em sua
importância.
5) As descobertas psicométricas complementam a Teoria das Inteligências
Múltiplas, apresentando que a inteligência não se desenvolve de forma isolada,
apenas em pessoas incomuns.
6) Através de determinados estudos psicológicos, pode-se observar que uma
mesma inteligência pode apresentar diferentes competências.
7) Cada inteligência apresenta um conjunto de operações que funcionam como
impulso das diferentes atividades naturais dessa inteligência.
8) Cada inteligência possui seu sistema de símbolos, que são basicamente de três
espécies: linguagem, desenho e matemática. A comunicação e a representação
humana acontecem por meio de um sistema de significados que a cultura
estabelece e são formas de informação.
Os critérios apresentados por Gardner (2000) não são as únicas e últimas
possibilidades na identificação das inteligências. Porém, nos estudos da cognição
humana, esses princípios formam um conjunto importante de informações a serem
consideradas.
O autor acredita que as inteligências são estritamente amorais, ou seja,
podem ser utilizadas tanto para destruir como para construir. O ideal é unir a
inteligência e a moral, pois o uso construtivo e positivo da inteligência é uma
questão de escolha de valores.
O mundo está repleto de significados para Gardner (1994, p. 229), e as
inteligências só podem ser entendidas e “(...) implementadas apenas na medida em
que partilham estes significados, que capacitam o indivíduo a tornar-se um membro
funcional, utilizador de símbolos de sua comunidade.” Para o autor, sempre existe
uma dialética em funcionamento entre “(...) os papéis e as funções valorizadas em
uma cultura, por um lado, e as habilidades intelectuais individuais possuídas por
seus habitantes de outro” (GARDNER, 1994, p. 245).
57
3.2 As Inteligências Múltiplas
Gardner, em sua teoria das Inteligências Múltiplas, identificou as sete
inteligências: linguística, lógico-matemática, espacial, musical, corporal-cinestésica,
interpessoal e intrapessoal. Porém, no ano 2000, o autor apontou mais três
inteligências, além das sete apresentadas anteriormente: a Naturalista, a Espiritual e
a Existencial. Essas diferentes inteligências são competências intelectuais,
relativamente independentes. O autor afirma que as inteligências têm origem e
limites genéticos próprios e substratos neuroanatômicos específicos, e também
apresentam processos cognitivos próprios, como foi citado anteriormente.
Cada inteligência, segundo Gardner, apresenta graus variados e uma
diversidade de combinações e organizações para utilizar essas competências
intelectuais na resolução de problemas e criação de conhecimentos e novos
produtos. Ele sugere que as habilidades humanas são organizadas verticalmente,
não existindo uma faculdade mental geral, como a memória, e sim formas
independentes de percepção, memória e aprendizado, em cada área do
conhecimento, com possíveis semelhanças entre as áreas, porém, não
necessariamente uma relação direta entre as mesmas.
Gardner aponta que, ao mesmo tempo em que as Inteligências são
independentes umas das outras, as mesmas não funcionam isoladamente. A
ocupação de apenas uma inteligência é rara, em algumas atividades muito
específicas pode acontecer, porém, na maioria das atividades necessitam de uma
combinação de inteligências, de uma conexão entre elas para realizar determinada
ação.
Inteligência Linguística – O ser humano cada vez mais na evolução da
sociedade moderna necessitará da Inteligência Linguística como recurso
essencial para sua sobrevivência. Na comunicação diária e nas diversas
atividades realizadas por ele, como trabalhar, divertir-se, relacionar-se e
tantas outras, a linguagem escrita e falada se tornará um recurso mais
importante e, às vezes, o único.
As características principais da Inteligência Linguística destacam-se através
da sensibilidade para os sons, ritmos e significados das palavras, além de uma
especial percepção das diferentes funções da linguagem. A Inteligência Linguística
apresenta-se também por meio da habilidade de utilizar a linguagem para
58
argumentar, convencer, agradar, estimular ou transmitir informações, ideias e
conhecimentos. Gardner aponta que é a habilidade de organizar as palavras e dar
sentido às mensagens, exibida na sua maior intensidade pelos poetas. Mas é
encontrada também nos teatrólogos, escritores, novelistas, oradores, professores e
comediantes.
O desenvolvimento da Inteligência Linguística inicia-se nos primeiros meses
de vida da criança com o balbucio. Em crianças maiores, esta habilidade se
manifesta através da capacidade para contar histórias originais ou para relatar, com
precisão, experiências vividas. A Inteligência Linguística apresenta-se em todas as
culturas, pois a linguagem é universal. Ela pode ser identificada no cérebro em uma
área específica do hemisfério cerebral esquerdo, conhecido como “Centro de
Broca”.
Inteligência Lógico-matemática – É comum referir-se a Inteligência Lógico-
matemática como raciocínio científico ou indutivo e dedutivo. Gardner aponta
como características centrais desta inteligência a capacidade de reconhecer
padrões, ordem e sistematização. É a habilidade de trabalhar com símbolos
abstratos, para explorar relações, categorias, através da manipulação de
objetos ou símbolos, ver conexões entre peças separadas ou diferentes. É a
habilidade e competência para desenvolver raciocínios, reconhecer
problemas e solucioná-los. É a inteligência característica de matemáticos,
cientistas, programadores de computadores, contadores, banqueiros e
outros. A criança que apresenta habilidade nesta inteligência demonstra
facilidade em seu raciocínio lógico para realizar cálculos matemáticos e para
criar notações práticas de seu entender.
Inteligência Espacial – As pessoas dotadas deste raciocínio demonstram
capacidade de manipular formas ou objetos mentalmente ou quando são
vistos de diferentes ângulos, de compreender a complexa ideia de espaço, de
criar e usar mapas, plantas e outras diversas formas de representação, de se
identificar e se localizar com precisão em diversos lugares antes
desconhecidos e na criação de imagens reais que associam a descrição
teórica ao que existe de prático. Segundo Gardner, a Inteligência Espacial é a
capacidade para perceber o mundo visual e espacial de forma precisa. É a
inteligência dos artistas plásticos, dos engenheiros, dos astronautas, dos
59
geógrafos, dos navegadores e dos arquitetos. As crianças menores
apresentam habilidades especiais, características dessa inteligência, através
da facilidade em montar quebra-cabeças e outros jogos espaciais e
demonstram atenção a detalhes visuais.
Inteligência Corporal-Cinestésica – Gardner aponta como principal
característica dessa inteligência a capacidade para resolver problemas
utilizando parte ou todo o corpo de maneira hábil e extremamente
diferenciada. A Inteligência Cinestésica se apresenta também por meio da
habilidade para usar a coordenação grossa ou fina em esportes, artes
cênicas ou plásticas, no controle dos movimentos do corpo e na manipulação
de objetos com destreza. Essa inteligência se destaca em várias profissões
como: ator, mímico, atleta dançarino, artesão, escultor, mecânico, cirurgião,
instrumentista e vários outros.
Pode-se observar essa inteligência nas crianças que apresentam expressão
e movimento a partir de estímulos musicais ou verbais e que demonstram
especial habilidade atlética e coordenação fina apurada.
Inteligência Musical – A manifestação dessa inteligência se dá através da
habilidade para fazer uma apreciação, composição ou reprodução de uma
peça musical. Envolve a capacidade de perceber temas musicais, discriminar
os sons como um crítico de músicas, ter sensibilidade para ritmos, texturas e
timbre e habilidade para produzir e/ou reproduzir música. A criança pequena
com habilidade musical diferenciada, canta para si mesma e para outras
pessoas, identifica desde cedo diferentes sons e ritmos nos diversos
contextos de seu ambiente.
Inteligência Interpessoal - Esta inteligência baseia-se na compreensão e
nas respostas adequadas aos diferentes humores, temperamentos, intenções
e motivações de outras pessoas. É a habilidade de ter empatia de maneira
apurada identificando desejos, simulações e intenções implícitas no
comportamento de outras pessoas para reagir apropriadamente a partir
dessa percepção. Essa inteligência é destaque em líderes religiosos,
psicoterapeutas, professores, políticos e vendedores bem sucedidos.
Desde muito cedo as crianças especialmente dotadas dessa inteligência
demonstram habilidade para liderar outras crianças, pois são extremamente
60
sensíveis e empáticas às necessidades e sentimentos de outros. Antunes
(2003) sugere que as formas para identificar e estimular esta inteligência
acontece através de jogos que estimulem os sentimentos empáticos e o
colocar-se no lugar do outro.
Inteligência Intrapessoal – As pessoas que demonstram profundo
conhecimento de si mesmo e autoestima elevada, possuem uma acentuada
inteligência intrapessoal. É o reconhecimento e compreensão de habilidades,
necessidades, desejos e inteligências próprias, é a capacidade para construir
uma imagem precisa de si mesmo e utilizá-la para funcionar de forma
equilibrada.
Esta habilidade é popularmente conhecida como autoconhecimento, no qual
a pessoa busca mudanças em sua vida para seu crescimento pessoal. Esta
inteligência é a mais pessoal de todas, por isso, a mesma é observável através das
expressões dos sistemas simbólicos das outras inteligências.
As crianças que demonstram habilidades nesta área podem ser reconhecidas
como líderes de grupos e organizadores de brincadeiras na sala de aula ou outros
ambientes, manifestam sensibilidade em relação às necessidades e sentimentos
das outras crianças, assim como é perceptível nas crianças com inteligência
interpessoal. Para Antunes (2003), as formas de identificar e de estimular esta
inteligência se dão através de jogos que favoreçam a autopercepção dos seus
sentimentos.
No início da adolescência, destaca-se o desenvolvimento dessa inteligência
com mudanças significativas, pois os jovens mostram sensibilidade maior às
motivações para o estímulo dessa inteligência em comparação com pessoas mais
velhas. Essa inteligência sofre mudanças bem características no desenvolvimento
da pessoa durante a fase adulta. Essa inteligência destaca-se nas profissões como
psicoterapeutas, líderes religiosos e outras.
Gardner destaca as censuras das patologias relacionadas a esta inteligência
serem bem mais acentuadas ao se referirem de transtornos de outras inteligências.
A localização cerebral dessa inteligência está nas amígdalas, acima do tronco
cerebral, no sistema límbico, nos dois hemisférios. Goleman diz que “a vida sem
amígdalas é uma vida privada de significados emocionais”.
61
Esta inteligência está interligada internamente à inteligência interpessoal, isto
é, a habilidade para ter acesso aos próprios sentimentos, sonhos e idéias, para
identificá-los e usá-los na solução de problemas pessoais.
Inteligência Naturalista – Na visão do autor, a inteligência naturalista, é
desenvolvida em quase todas as pessoas, porém, realmente é revelada nas
pessoas com grande envolvimento e sensibilidade pela natureza. Elas
demonstram facilidade e motivação em compreender a diversidade da fauna
e da flora. Geralmente, os profissionais que se destacam nessa inteligência
são: botânicos, geógrafos, oceanógrafos, jardineiros, zoólogos e veterinários.
A infância é uma fase que se destaca na predisposição para descobrir o
mundo da natureza. Darwim é um exemplo de cientista naturalista, pois se
destacou na história da evolução das espécies porque demonstrava imensa
habilidade em distingui-las predadoras e não predadoras, contribuindo dessa
forma com várias descobertas sobre a sobrevivência destas.
Inteligência Espiritual - Gardner (2000) apresenta três aspectos que são
evidenciados na inteligência espiritual:
1) Preocupação com questões cósmicas: O conteúdo destas questões parece
simples, porém, na prática, é de grande complexidade e bastante polêmico. Gardner
(2000, p. 72) conclui afirmando que é um conteúdo que se refere a tudo, “à mente,
ao corpo, ao self, à natureza, ao sobrenatural e, às vezes, a nada!”. Também são
questões opostas ao domínio da ciência, pois a ciência é um campo mais
delimitado.
2) A conquista de um estado: Determinadas culturas reconhecem que algumas
pessoas têm mais facilidade de atingir certos estados psicológicos, ou passaram por
experiências consideradas espirituais, como, por exemplo: estados de meditação,
transe, imaginação transcendental, fenômenos psíquicos, espirituais ou intelectuais.
Por outro lado, esses “estados“ podem ser atingidos por treinamentos tradicionais e
outros métodos.
3) O efeito nos outros: Algumas pessoas influenciam às outras transmitindo
sentimentos de espiritualidade, tendo a capacidade de sensibilizá-las positivamente
ou negativamente. A tendência à forte espiritualidade é bem compreendida e aceita,
pois se caracteriza em alguns dos oito princípios para identificar uma inteligência,
62
porém, não é aprovada em outros. Por isso, Gardner não a considera uma
inteligência inteira.
Gardner (2000, p. 78) afirma que,
o termo espiritual, com suas conotações manifestas e problemáticas, deve ser deixado de lado, dando lugar a 'uma inteligência que explora a natureza da existência em suas múltiplas formas.' Assim, uma preocupação explícita com assuntos espirituais ou religiosos seria um tipo – muitas vezes o mais
importante – de inteligência existencial. (ALVES, 2002)
Inteligência Existencial - A inteligência existencial parece ser mais aceita do
que a espiritual, pois é um campo menos ambíguo e contraditório que o
espiritual. Uma qualidade essencial que Gardner (2000, p. 78-79) propõe
para essa possível inteligência é:
a capacidade de se situar em relação aos limites mais extremos dos cosmos – o infinito e o infinitesimal – e a capacidade afim que é a de situar
em relação a elementos da condição humana como significado da vida, o sentido da morte, o destino final dos mundos físico e psicológico e experiências profundas como o amor de outra pessoa ou a total imersão numa obra de arte. (idem)
Para Gardner (1994), as inteligências descritas acima fazem parte da
genética humana e, independente da educação e da cultura, podem se manifestar
em um nível básico. Em geral, como já citado, todas as pessoas possuem alguma
habilidade em cada inteligência.
As inteligências identificadas e apresentadas por Gardner incluem aspectos
intelectuais e não intelectuais. A variedade de inteligências e esses dois diferentes
aspectos apresentados por elas é um grande diferencial na Teoria das Inteligências
Múltiplas de Gardner.
Através das inteligências intrapessoal e interpessoal, Gardner ampliou muito
o conceito de inteligência, o que contribuiu para a pesquisa e o lançamento do livro
de Daniel Goleman sobre Inteligência Emocional em 1995.
Gardner (2000, p. 60) lança um desafio, que é “como aproveitar a
singularidade a nós conferida na qualidade de espécie que exibe várias
inteligências.” Esse é um desafio cada vez mais discutido na área educacional, pois
diante da perspectiva atual de educação integral e aprendizagem significativa do
sujeito, é necessário repensar as práticas educacionais, levando em consideração
63
as diferentes e diversas habilidades e competências do aluno, redimensionando
assim, a visão do conceito de inteligência.
3.3 Como as Inteligências se Desenvolvem?
Gardner, em sua teoria, a princípio, sugere que todos os indivíduos possuem
geneticamente determinadas habilidades básicas em todas as inteligências. Porém,
o desenvolvimento de cada inteligência tem influência de fatores genéticos e
neurobiológicos e de fatores ambientais. Cada uma das inteligências tem sua
particularidade na elaboração do pensamento ou do processamento de informações
e seu sistema simbólico próprio. Os sistemas simbólicos fazem contato entre os
aspectos básicos da cognição e os aspectos culturais.
A Teoria das Inteligências Múltiplas enfatiza a importância da cultura na
influência de cada inteligência, quando Gardner define inteligência como a
habilidade para resolver problemas ou criar produtos que são significativos em um
ou mais ambientes culturais. Ele afirma que cada talento é valorizado dependendo
de cada cultura e que os mesmos, quando adquiridos e dominados por uma
quantidade significativa de indivíduos, devem ser transmitidos para as gerações
futuras.
Cada inteligência, de acordo com Gardner, desenvolve-se a partir de uma
sequência de estágios. Os indivíduos considerados normais possuem em todas as
inteligências os estágios mais básicos. Os estágios mais complexos necessitam de
maior desempenho ou aprendizado.
O início das sequências de estágio é denominado pelo autor de habilidade de
padrão cru. Quando os bebês começam a desenvolver a percepção do mundo em
seu entorno, surge o aparecimento da competência simbólica. Assim, diferentes
informações começam a ser processadas nesta fase. Portanto, “(...) uma
competência intelectual anteriormente „bruta‟ e não intermediada está sendo dirigida
por um veículo simbólico disponível para permitir a realização do potencial simbólico
daquela competência particular” (GARDNER, 1994, p. 235).
Na faixa etária de dois aos cinco anos de idade, as simbolizações básicas
evoluem e então, no segundo estágio, a criança expressa sua habilidade em cada
inteligência através da compreensão e uso de símbolos.
64
Na sequência dos estágios, a criança, após adquirir competências na
utilização das simbolizações básicas, continua a evoluir para adquirir níveis mais
altos de habilidades em domínios significativos e valorizados em sua cultura. Com
essa evolução na compreensão dos sistemas simbólicos, as crianças aprendem os
sistemas de segunda ordem que, segundo Gardner, são: a grafia dos sistemas (a
escrita, os símbolos matemáticos, a música escrita etc.). Nesse estágio, o aspecto
cultural tem forte influência no desenvolvimento da criança. Uma cultura que
valoriza a pintura, por exemplo, provavelmente terá muitas pessoas com habilidades
artísticas de alto padrão.
Mais tarde, na adolescência e na idade adulta, as inteligências são reveladas
por meio de ocupações vocacionais ou não vocacionais. Neste estágio, o indivíduo
escolhe um campo específico e focalizado, realizando-se em funções que são
significativas em sua cultura.
A seguir temos a Inteligência Emocional, que vem sendo muito estudada nas
diversas áreas das Ciências Humanas por vários especialistas e um deles que se
destaca é Daniel Goleman.
3.4 Inteligência Emocional
Dentro da perspectiva contemporânea, também se destaca o estudo sobre a
Inteligência Emocional, que é o foco principal desta pesquisa por se tratar das
influências das emoções na vida do ser humano e automaticamente na
aprendizagem humana.
O desafio de questionar a influência das emoções na vida do ser humano já
era apontado e traduzido por Aristóteles e está citado no livro Inteligência
Emocional, de Daniel Goleman (2007) e diz que “qualquer um pode zangar-se – isso
é fácil. Mas zangar-se com a pessoa certa, na medida certa, na hora certa, pelo
motivo certo e de maneira certa – não é nada fácil.”
Desde 1920, a Inteligência Social era vista como um conceito
multidimensional por Thorndike, composta por elementos cognitivos e
comportamentais, que demonstrava a habilidade de compreender, agir e comportar-
se sabiamente em relação ao outro.
65
Mais tarde, nos anos 80, Reuven Bar-On, utiliza o termo QE – Quociente
Emocional, para referir-se ao aspecto emocional localizado em parte específica do
cérebro. Bar-On e sua equipe de pesquisa da área da neuropsicologia buscam
identificar as áreas cerebrais associadas a comportamentos e funções mentais
específicas. Ou seja, estudam áreas específicas do cérebro lesionadas,
relacionando o local às capacidades específicas diminuídas ou perdidas
demonstradas pelo indivíduo. Essas pesquisas têm grande importância, pois através
delas foram identificadas diversas áreas cerebrais que demonstram capacidades de
inteligência emocional e social. Portanto, esses estudos comprovam que a
inteligência emocional localiza-se em áreas cerebrais distintas das do QI.
Howard Gardner (1995) apresenta sua teoria sobre as Múltiplas Inteligências,
e enfoca que dentre as sete inteligências apresentadas, existem as inteligências
intrapessoal e interpessoal, que demonstram a influência do aspecto emocional.
Em 1990, Peter Salovey e John Mayer publicam um artigo científico e usam
pela primeira vez o termo Inteligência Emocional, conceituando-o. Logo depois, em
1995, Daniel Goleman lança seu livro “Inteligência Emocional”, com base nas ideias
de Salovey e Mayer e torna esse conceito popular. Goleman também é influenciado
por Gardner, pois este autor também questionava naquele momento a visão
tradicional de inteligência e apontava, através de sua pesquisa da I.M., que as
habilidades cognitivas são bem mais diferenciadas e mais específicas, como já visto
anteriormente.
Para Goleman (1997), o mais importante para o indivíduo é demonstrar
habilidade em se relacionar consigo mesmo e com os outros, e não só apresentar
altos índices de conhecimento intelectual. Assim, Goleman (1997) afirma que
“temos dois cérebros, duas mentes e dois tipos de inteligência: a racional e a
emocional”. Esses dois aspectos, emocional e racional, são ao mesmo tempo
complementares e independentes. Segundo ele, as questões emocionais
impulsionam os indivíduos a buscarem sua satisfação. Portanto, considera algumas
aptidões essenciais no aspecto emocional: a autoconsciência, a administração de
sentimentos aflitivos, a opção pelo otimismo, a perseverança, a empatia, a
cooperação, a capacidade de motivar-se. Portanto, o autor sustenta que “ser
emocionalmente inteligente significa, principalmente, conhecer as próprias emoções
e as emoções alheias, sua intensidade e suas causas e consequências”
(Goleman,1997).
66
As pesquisas relacionadas à estrutura do aspecto emocional do cérebro
apresentaram a existência de circuitos que determinam os comportamentos
humanos. O período da infância é de extrema importância, pois as experiências
ocorridas neste período são determinantes na formação dos circuitos emocionais
que comandam os comportamentos de medo, ira, paixão e alegria.
3.5 Aspectos Estruturantes da Inteligência Emocional Segundo Goleman
Segundo Boyatzis e McKee (2002) apud Goleman (2012), fazem novas
descobertas e dividem a inteligência emocional em quatro aspectos:
Autoconsciência: É a capacidade que o indivíduo demonstra em
compreender as próprias emoções, possibilidades, limites, valores e
motivações. A autoconsciência nos ajuda a tomar decisões em geral e
também a refletir e decidir com ética. Goleman (2012), em seu livro “O
cérebro e a Inteligência Emocional - Novas Perspectivas”, apresenta a
seguinte pergunta: “o que estou prestes a fazer serve a meu sentido de
propósito, significado ou ética?” A resposta que a autoconsciência dá
perpassa pelos sentimentos ou emoções e depois pelo nosso pensamento.
Para entender essa dinâmica neural é necessário distinguir entre o cérebro
pensante, o néocortex, e as áreas subcorticais.
Autogestão: São as competências que o indivíduo demonstra em gerenciar
as próprias emoções, motivar sua concentração para atingir metas, tomar
iniciativas e se adaptar às mudanças. Essas competências acontecem em
forma de contínuo diálogo interno para clareza mental. A área neural onde se
localiza a competência da autogestão é a zona dorsolateral do córtex pré-
frontal.
Consciência social: É a capacidade de perceber o que se passa com o
outro.
Administração de relacionamentos: O saber lidar com as emoções alheias
a partir da consciência de suas próprias emoções.
67
Figura 1- Estrutura da Inteligência Emocional
Fonte: Goleman (2012 - p. 9)
Segundo o autor, as emoções dão ânimo, impulsionam as diversas ações do
ser humano diante das situações cotidianas. A ira, o medo, a felicidade, o amor, o
desprezo, o carinho, a surpresa e a tristeza são emoções que despertam como um
alarme as várias modificações fisiológicas no ser humano.
Goleman (2007) destaca algumas características que, segundo ele, definem
o comportamento de pessoas que apresentam inteligência emocional desenvolvida.
As características são:
Capacidade de liderar, organizar grupos ou rede de pessoas, são talentos de
diretores e chefes ou gerentes de organizações;
Capacidade de mediar negociações, soluções e acordos, evitando conflitos e
disputas, são talentos perceptíveis em diplomatas, árbitros ou gerentes, entre
outros;
Domínio das relações interpessoais, pessoas que se relacionam com
facilidade e contribuem com a harmonia da convivência das famílias, amigos
e colegas de trabalho;
Capacidade para fazer análise social, através da sensibilidade de percepção
dos sentimentos e preocupações das pessoas, são talentos característicos
principalmente em terapeutas, conselheiros, líderes naturais e escritores.
68
Essas características exteriorizadas pelas pessoas possuem suas bases
cerebrais que foram detectadas por meio de metodologias testadas e comprovadas
em neurologia, a partir de neuroimagens e estudos realizados em pessoas com
lesões cerebrais.
Goleman (2007), ao descrever o cérebro humano, aponta que o crescimento
e desenvolvimento do mesmo ocorreram de baixo para cima e que ele possui um
pouco mais do que um quilo de células. Os centros emocionais, o pensamento e
sentimentos, ficam localizados na parte mais primitiva, por isso, a memória e o
aprendizado surgem posteriormente.
O neocórtex é a sede do pensamento no Homo Sapiens e que permite alguns
sentimentos como a afeição materna e o compromisso com a criação e cuidados
com os filhos em longo prazo. Portanto, as espécies que não possuem o neocórtex
não apresentam essa característica.
As chamadas amígdalas encontram-se uma em cada hemisfério cerebral,
localizadas no mesencéfalo e funcionam como um centro neural, desempenhando
uma função decisiva nas questões emocionais. Ao ocorrer um traumatismo nessa
região, e necessitar retirar uma amígdala, a pessoa torna-se impossibilitada de
compreender emocionalmente os fatos e de ter sensações como as de medo ou de
raiva. As amígdalas também despertam o funcionamento da rota de emergência
diante de um sinal de perigo, preparando uma reação impulsiva. Porém, o neocórtex
responde de forma mais adequada, refletida e ponderada.
O lobo pré-frontal é a última parte do cérebro a crescer na sua totalidade. É a
parte executora do cérebro. O lado esquerdo regula as emoções aflitivas,
desagradáveis, enquanto o direito regula o medo, a agressividade, buscando
soluções para a resolução de problemas.
Compreendemos assim que as pesquisas sobre o cérebro humano realizadas
pela neurobiologia buscam determinar as bases neurais, que é a base física
composta por milhões de neurônios que controlam o comportamento humano,
demonstrando o que fazemos e somos. Através das diversas teorias e abordagens
busca-se incessantemente definições de inteligência para melhor compreender o
ser humano em sua integralidade.
A seguir, veremos algumas contribuições das teorias para à prática
educacional.
69
4 CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA PARA A EDUCAÇÃO
Nas teorias do desenvolvimento de Piaget (1975), Vygotsky (1998) e Wallon
(2007), uma característica comum é o consenso quanto à relação entre os aspectos
cognitivo-afetivos do desenvolvimento e da aprendizagem. No decorrer da evolução
do desenvolvimento psíquico do indivíduo, os estados emocionais se ampliam em
sua complexidade, pois a afetividade vai adquirindo certa independência dos fatores
físicos.
Vygotsky (1998) em sua perspectiva sociocultural considera as emoções um
elemento cultural, pois são expressas com particularidades de acordo com cada
cultura. É um elemento importante nas diversas fases da vida das pessoas, as
emoções e a afetividade têm relevância fundamental no processo de ensino e
aprendizagem no que diz respeito à motivação e a relação professor x aluno. Nesse
contexto o papel do professor como mediador é fundamental para trabalhar no aluno
elementos que vão além da construção da realidade, mas também os valores, o
caráter, tudo que constitui o próprio indivíduo.
Para Piaget (1975), faz parte do papel do professor a compreensão de que as
relações afetivas são as primeiras formas de interação da criança com o mundo à
sua volta. As expressões das emoções desde criança dependem de como o adulto
que interage com a mesma, a acolhe afetivamente, pois, ao longo do
desenvolvimento isso irá refletir em todas as outras fases e irá influenciar suas
relações com o outro. A autoestima se constrói nessa relação de interação e
aprendizagem, é algo que se aprende. O indivíduo que tem uma percepção e
opinião positiva sobre si mesmo e sobre os outros, apresenta maiores condições de
aprender.
Portanto, o papel do educador é fundamental e determinante para a prática
educativa, pois conhecendo melhor o desenvolvimento cognitivo e afetivo do
indivíduo, possibilita ao mesmo ampliar suas intervenções pedagógicas com
competência e segurança.
Wallon (2007) destaca o meio social afirmando que o mesmo tem influência
direta sobre as mais diversas reações humanas. A família é o primeiro grupo social
que o indivíduo pertence, onde satisfaz as suas necessidades básicas e aprende
suas primeiras condutas sociais, sendo positivas ou negativas. O outro meio social
tão importante quanto à família é a escola, pois influencia diretamente na vida do
70
ser humano cada vez mais cedo, e muitas vezes é a oportunidade de aprender o
que a família não proporcionou.
A escola disponibiliza diversas interações entre diferentes parceiros numa
multiplicidade de características, de idades, de crenças, culturas, proporcionando
assim situações e experiências essenciais para a construção do indivíduo como
pessoa. O aspecto afetivo que nos caracteriza como seres humanos, nasce dessa
interação com o mundo social, da relação eu-outro.
Dessa forma, na escola ou em outra instância social, o indivíduo está
presente como pessoa completa onde seu desenvolvimento integral, perpassa por
todos os aspectos, físico/motor, social, emocional e cognitivo. Não é mais possível à
escola compreender o aluno como pessoa que aprende apenas por meio do
aspecto cognitivo.
Wallon faz refletir sobre a ênfase demasiada que as escolas ainda dão ao
aspecto cognitivo em seu currículo escolar. A sala de aula é um ambiente onde as
emoções se expressam, porém, as mesmas não são compreendidas e exploradas
como deveriam para contribuir com a aprendizagem do aluno e para evoluir nas
relações interpessoais de modo geral.
Segundo Wallon, ao professor cabe saber administrar as emoções, coordená-
las de maneira reflexiva, racional, para poder utilizá-las a favor da aprendizagem já
que o aspecto cognitivo e emocional são inseparáveis. O professor é considerado
por Wallon, como o eixo da atividade pedagógica, ou seja, do processo de ensino e
aprendizagem. O autor afirma que os professores em geral demonstram ter
dificuldade em lidar com as situações emotivas de sala de aula. Wallon (1971)
assinala que a emoção por ser imprevisível, surge nos momentos de completa
vulnerabilidade do indivíduo. Assim, os professores, por não conhecerem as
possíveis manifestações das emoções, geralmente se entregam ao seu contágio e
passam a fazer parte do “circuito perverso” como denomina Wallon, os momentos
em que os professores perdem o controle e entram no jogo das discussões com os
alunos. O indivíduo emocionado fica sem a percepção do seu próprio
comportamento, pois, durante a expressão emotiva dificilmente o indivíduo
consegue observar e compreender suas emoções.
A presença de emoção no comportamento tanto dos alunos quanto dos
professores implica na redução das capacidades cognitivas dos mesmos. No caso
específico dos professores, a plateia de suas emoções é a sala de aula e, portanto,
71
traz prejuízos para professor e aluno. Ao professor compromete sua atuação nas
atividades pedagógicas, além do desgaste físico e também prejudica aos alunos. A
emoção básica que os professores demonstram mais dificuldade em compreender
em sala de aula é a raiva, e por não saberem lidar cognitivamente com as situações
emotivas, tornam-se um alvo fácil para os alunos quando ambos ficam tentando
dominar a situação.
De acordo com Wallon, é necessário que os professores busquem
conhecimento e técnicas para serem utilizados em suas aulas. São sugeridas pelo
autor, técnicas de representações como: a dramatização, o desenho, o relato oral, a
música e outras que diminuem a emotividade dos alunos. Os professores
geralmente, durante momentos de raiva demonstram aos alunos que não estão
satisfeitos, acreditando que assim resolverá a situação. Ao contrário, Wallon (1971)
aponta que para ficar imune ao contágio das emoções, os mesmos não devem se
submeter a elas, pois, para as emoções sobreviverem, necessitam de espectadores
que são os cúmplices.
É importante o professor ter conhecimento de que as expressões da emoção
ocorrem por meio do sistema postural que compreende reações tônicas musculares
e viscerais, vegetativas e glandulares podendo identificar melhor, os sintomas
corporais expressados durante um estado emocional. O trecho a seguir demonstra a
estreita relação entre o tônus e três emoções básicas, pelas diferenças
expressadas. Segundo o autor,
Sem entrar no pormenor, diremos apenas que a alegria se manifesta quando as excitações provocam uma atividade própria para esgotar gradualmente o tônus que se consome na forma de gesticulação fácil, quer dizer, quando há um exato equilíbrio entre o tônus e os movimentos que se
sustentam reciprocamente; as reações da cólera, pelo contrário, aparecem quando os estímulos excedem as possibilidades de liquidação, e a acumulação do tônus, não encontrando exutório ou escoadouro, provoca por assim dizer in loco contrações e espasmos. Quanto ao medo, está primitivamente ligado às excitações labirínticas, que se repercutem na sensibilidade propriocepitiva; tem, portanto como causa original as rupturas
de equilíbrio, provocadas pelo desaparecimento dos pontos de apoio, e reproduz-se depois, em modalidades diversas, sempre que circunstâncias insólitas provocam alguma incerteza na atitude a tomar (Wallon 1971, p. 62).
Outro ponto importante que o autor chama a atenção é que os adultos, no
caso os professores, devem aprender a ler as emoções através de seus sinais, pela
plasticidade que as mesmas demonstram na linguagem corporal. Essa
72
aprendizagem torna-se pré-requisito para administrá-las. As relações humanas
afetivas fazem a mediação entre o orgânico e o social no desenvolvimento humano.
É importante e necessário que escola e professores busquem reconhecer as
necessidades de seus alunos, levando em consideração os diferentes níveis de
desenvolvimento afetivo-cognitivo, para melhor orientar a ação educativa. O
professor é fundamental na trajetória de delimitação do eu, dos limites nas relações
sociais como parceiro responsável da administração de conflitos. Segundo Wallon
(1971), é necessário compreender que na relação professor-aluno a afetividade é
expressa por meio de conversa, da admiração, do ouvir, de conhecer melhor seu
aluno e não apenas abraçando, beijando o aluno. Principalmente na adolescência e
juventude, os alunos necessitam de uma nutrição afetiva mais racionalizada, como
por exemplo, através do elogio pelas atividades desenvolvidas, pelo sucesso, pelo
reconhecimento da sua capacidade ou pelo incentivo do que é necessário melhorar.
Pelo desenvolvimento da inteligência, a afetividade tende a racionalizar-se e evoluir
em seu amadurecimento.
Como vimos nas teorias apresentadas pelos autores, Gardner e Goleman,
eles também destacam a importância da escola, do profissional da educação na
contribuição de um ensino voltado também, para o aspecto emocional,
proporcionando uma educação integral e de qualidade para o indivíduo em seu
contexto social.
Por meio da Teoria das Inteligências Múltiplas é possível compreendermos a
diversidade de habilidades e competências que o ser humano possui, ou seja, é
possível identificar nos alunos o que ele traz de melhor para ser explorado nas
aulas, nas atividades escolares, e o que é necessário maior desenvolvimento. A
família e a escola podem e devem estimular as inteligências. O professor é o grande
incentivador nesse processo, pois o aluno busca nele, as possibilidades que não
encontra na família. As inteligências intrapessoal e interpessoal que estão
diretamente ligadas ao aspecto emocional, segundo Gardner (1995), desde muito
cedo apresentam diferentes formas de manifestação e que por meio de um trabalho
educacional eficiente, cuidadoso e processual pode minimizar os efeitos negativos,
aperfeiçoando e destacando os positivos. Ao contrário de Goleman, o autor afirma
que as inteligências intrapessoal e interpessoal podem desenvolver-se tanto para o
bem quanto para o mal, depende de como o indivíduo irá utilizá-las.
73
A contribuição da Teoria da Inteligência Emocional, como já vimos
anteriormente, podemos compreender de maneira geral que Goleman (2007),
acredita que é possível desenvolver a inteligência emocional que possuímos, quanto
mais cedo melhor será o processo de aprendizagem e que os efeitos dessa
aprendizagem serão utilizados somente para o bem, ou seja, existe um olhar
moralista por parte do autor, afirmando que o ser humano somente poderá contribuir
positivamente para a sociedade. Destaca também como Gardner a importância da
família e da escola no papel da educação emocional, e às escolas, apresenta
diversos trabalhos a serem desenvolvidos como programas curriculares
sistemáticos.
Em síntese, compreendemos a importância do aprofundamento do
conhecimento na área específica sobre o assunto tratado, das diversas teorias, pois
só assim podemos desenvolver uma prática educacional com segurança e foco
pedagógico no processo de ensino e aprendizagem. Uma vez que, a teoria serve
para iluminar a prática e vice-versa. Sem o conhecimento teórico, a prática torna-se
mero achismo e sem a prática, a teoria torna-se sem efeito. Por fim, é importante
que se priorizem as emoções e a afetividade em todos os relacionamentos, dentro
do espaço pedagógico, no cotidiano escolar, como também, fora dele; buscando
assim, sempre aperfeiçoar e estimular o aluno e o próprio professor para ter como
resultado uma aprendizagem mais significativa e com mais qualidade.
No próximo capítulo, está apresentada a metodologia da pesquisa, todos os
passos desenvolvidos durante a realização da mesma e análise dos resultados
encontrados.
74
5 METODOLOGIA: ANÁLISE DA PESQUISA
Fundamentada nos estudos realizados das diversas teorias apresentadas e
principalmente com a contribuição da teoria da Inteligência Emocional de Goleman e
da teoria Walloniana, a pesquisa teve como finalidade investigar como a interação
entre as emoções básicas e a inteligência pode contribuir para o processo de ensino
e aprendizagem dos alunos da turma 3001, do 3º ano do Ensino Médio, do Colégio
Estadual Ernesta Guerra (nome fictício), do município de Campos dos
Goytacazes/RJ.
Embora, não exista uma precisão em relação à classificação das emoções,
buscou-se em Goleman conhecer as emoções básicas as quais foram propostas por
grande parte dos teóricos que estudam sobre as mesmas e suas interferências no
aspecto cognitivo da inteligência. E em Wallon, a importância que o autor atribui à
emoção no processo de ensino e aprendizagem do sujeito.
Para compreender melhor a realização da pesquisa, será apresentado o
desenvolvimento passo a passo da metodologia utilizada, a amostra apontando
alguns aspectos observados, caracterizando o contexto. O instrumento utilizado
para o primeiro contato com os alunos e professores foi por meio de observações
realizadas durante as aulas. Após realizar as observações, foram aplicados
questionários para alunos e professores como o principal instrumento de coleta de
dados, as entrevistas e os documentos sobre o quantitativo dos alunos aprovados
ao final do ano letivo como complemento para as análises do objeto estudado.
5.1 Caracterização da pesquisa
O universo desta pesquisa foi constituído por discentes e docentes da turma
3001 do 3º ano do Ensino Médio, do Colégio Estadual e para a composição deste
estudo, participaram da amostra um total de 34 discentes e 10 docentes,
considerando que o professor de Matemática é o mesmo de Física e o de Língua
Portuguesa, Literatura é o mesmo de Produção de Texto, contando assim como 12
docentes.
As observações realizadas foram sistemáticas porque exigiram do
pesquisador saber exatamente o que se procurava, foram assim, imparciais,
precisas, demonstrando comunicação eficaz das observações. A observação
75
realizada foi naturalista, pois, de acordo com Santrock (2003, p. 35), este tipo de
observação “é realizado fora do laboratório, o comportamento é observado no
mundo real”.
Colégio
Para a escolha do colégio, foram utilizados os seguintes critérios: localização
na zona urbana, colégio que tivesse turmas de Ensino Médio, aceitação da mesma
(direção, professores e alunos) para realização da pesquisa. Deste modo, o Colégio
Estadual Ernesta Guerra (nome fictício) foi escolhido para realizar a pesquisa com a
turma 3001 do 3º ano do Ensino Médio, que se localiza em Campos dos Goytacazes
– RJ, em uma comunidade aparentemente calma, com pouco comércio,
acrescentando-se que nas proximidades não há muita estrutura para lazer e que
atende um público de classe econômica com pouco recurso. Esse colégio possui
um diretor geral e dois diretores adjuntos, o quadro de docentes é composto por 135
professores e atende aproximadamente 1.300 discentes, distribuídos em três turnos.
No turno da manhã, atende-se o Ensino Fundamental II, do 6º ao 8º ano, à tarde
oferece Ensino Fundamental II, do 9º ano, Ensino Médio do 1º ao 3º ano, e mais o
Projeto Autonomia. No turno da noite, são oferecidos o Ensino Médio, do 1º ao 3º
ano; a NEJA (Nova Eja) e o Projeto Autonomia. As turmas, de modo geral, são
constituídas, em média, de 25 a 30 discentes. O espaço físico da Unidade é amplo,
com salas de aula de tamanho razoável que comportam o número de alunos, há
uma sala de recurso pequena, uma biblioteca, um auditório, um refeitório, uma
quadra, dispõe de um pátio grande, sem atrativo, porém, satisfatório.
Discentes
A turma pesquisada foi escolhida de acordo com os critérios estabelecidos,
os quais foram: maior turma do 3º ano do Ensino Médio do colégio, turma que
demonstra ser mais expressiva em seu comportamento no cotidiano escolar e que
apresenta melhor frequência de alunos. A mesma, possui 37 discentes
frequentando, sendo 20 do sexo feminino e 17 do sexo masculino. É uma turma
considerada grande na quantidade de aluno. A faixa etária varia entre 16 e 20 anos,
alguns alunos são repetentes.
76
As observações realizadas na turma ocorreram durante três semanas, em
dias alternados e em diferentes aulas para ter uma visão geral dos professores das
diferentes disciplinas com seus alunos. Ao serem observados, os alunos e
professores não se sentiram incomodados. Alunos e professores foram observados,
do meio da sala, na fila do canto. Alguns alunos se aproximaram da pesquisadora
para perguntar o que estava fazendo e qual o motivo da presença, outros mais
afetuosos queriam apenas conversar, outros mais arredios ficaram normalmente em
suas carteiras. Quando possível, explicava o motivo da presença, como uma
pesquisadora, mas sem entrar em detalhes para não interferir no comportamento
dos mesmos, como também nas atividades. Pode-se afirmar, que a presença de
estranho para o grupo, não alterou a dinâmica das aulas. As observações refletiram
de forma fidedigna no cotidiano escolar, ou seja, o microuniverso pesquisado.
Nesse contexto, foi possível perceber que a turma demonstrou de modo geral
um comportamento tranquilo, grande parte dos alunos é unida, interagem bem e
alguns demonstraram um comportamento mais individualizado, não muito interativo.
Havia dois alunos com deficiência visual que eram muito isolados dos outros alunos,
e os professores não interagiam muito com eles. Foi possível notar as dificuldades
em relação à falta de preparo dos profissionais em lidar com essa situação, e
também nas relações interpessoais da turma e professores com os mesmos. As
atividades de avaliação destes dois alunos eram realizadas na sala de recurso, mas
não foram observadas como acontecem.
No decorrer das aulas assistidas, constatou-se que em relação à participação
dos alunos na interação com os conteúdos estudados, através de questionamentos
para tirar dúvidas e na realização das atividades propostas, a turma era
participativa, alguns professores davam abertura fazendo perguntas, pedindo
opiniões, porém, outros desenvolviam a aula por meio de exposição do conteúdo.
Alguns alunos demonstraram dificuldades durante uma aula de Língua Portuguesa,
comentando em voz baixa que não estavam entendendo, mas não tiveram coragem
de perguntar e a aula prosseguiu, terminou e os mesmos continuaram com a
dúvida.
Um fato que chamou muito a atenção foi o uso de celular por uma grande
parte dos alunos durante as aulas, e os professores não demonstraram controle
sobre esse processo. Mas, de modo geral, a interação entre professores e alunos
77
pode ser considerada afetuosa e de respeito. O comportamento da turma em geral é
descontraído, demonstram alegria e satisfação em pertencer ao grupo.
Após a realização das observações na turma, foi realizada a segunda etapa,
a aplicação do questionário aos alunos e também aos respectivos professores.
Corpo docente
O corpo docente foi determinado por ser da turma escolhida para ser
pesquisada e é constituído de dez professores, sendo dois do sexo masculino e oito
do sexo feminino. Todos são graduados em suas áreas específicas. A jornada de
trabalho é de 16h/a, sendo que 12 h/a em sala de aula e 4h/a de planejamento. A
maioria dos professores desta escola trabalha em outras escolas. Todos foram
acolhedores e muito bem dispostos à pesquisa e para responder ao questionário.
Demonstram ter uma relação amigável no grupo. Com relação à organização da
grade curricular das áreas de conhecimento do 3º ano do Ensino Médio, as
disciplinas são: Língua Portuguesa, Produção Textual e Literatura (mesma
professora), Matemática e Física (mesma professora), História, Geografia, Biologia,
Inglês, Química, Filosofia, Sociologia e Educação Física.
5.2 Questionários: principal instrumento utilizado para análise da pesquisa
Como já foi exposto anteriormente, para o segundo e principal procedimento
utilizou-se como instrumentos, questionários que foram aplicados para todos os
discentes da turma pesquisada e aos respectivos docentes. Os questionários estão
na íntegra nos apêndices, porém, foram selecionadas para análise as questões
mais pertinentes à pesquisa.
Questionários aplicados aos discentes
O questionário dos alunos foi constituído de vinte e duas questões. Algumas
questões são mais abertas e outras menos. Foi aplicado a todos os alunos
presentes no dia, total de 34, pois três faltaram. No momento da aplicação do
questionário, foi explicado aos alunos para não haver dispersão dos mesmos, que o
responsável pela pesquisa leria cada questão, colocando-se à disposição para
78
solucionar quaisquer dúvidas, e os alunos responderiam individualmente. O que
ocorreu com muita tranquilidade para os todos.
Diante do questionário aplicado aos 34 alunos foram analisadas as respostas
das questões selecionadas, organizadas em grupos ou individualmente e
apresentadas por meio de gráficos, as quais estão expostas. Dessa forma, foi
possível perceber a relação da emoção com a inteligência e a influência das
mesmas no processo de ensino e aprendizagem dos alunos, chegando a algumas
conclusões que veremos a seguir.
Questionários aplicados aos docentes
O questionário aplicado aos professores constitui-se de vinte e sete questões
e foi aplicado aos dez docentes da turma. Esse questionário é um instrumento
metodológico para comparar e analisar a percepção que os professores têm em
relação ao aspecto emocional dos alunos de modo geral, verificou-se também, se
são similares ou não, ao que os alunos expressaram por meio das respostas de
algumas questões mais pertinentes à pesquisa.
No que diz respeito aos questionários para os professores, foram realizados
individualmente, de maneira independente, em que o responsável pela pesquisa
explicava o contexto desta, entregava aos mesmos, aguardava respondê-los e os
recolhia em seguida. As questões escolhidas para análise, foram organizadas em
grupo ou individualmente nos gráficos expostos, por serem mais direcionadas ao
objeto pesquisado.
5.3 Análise e discussões dos dados levantados por meio de questionários dos discentes e docentes e apresentados nos gráficos
Discentes:
Podemos verificar no Gráfico 1, o percentual da emoção que os alunos
disseram que mais sentem em sala de aula respondido na questão 3.
Observando o Gráfico 1, verifica-se que a alegria foi a emoção que destacou
com 54% dos 34 alunos da turma. Informaram que sentem alegria com mais
frequência, em sala de aula.
79
Fundamentado em Wallon, a alegria é uma emoção positiva que se origina do
prazer e as formas de adquirir prazer evoluem com a idade. Parece que a alegria é
a emoção que traz menos danos para a atividade intelectual (Almeida, 2003, p. 76).
Gráfico 1- Emoções que os alunos sentem com mais frequência em sala de aula
Fonte: Dados da pesquisa
Como já vimos em Goleman, a alegria inibe sentimentos negativos,
proporcionando o aumento da energia existente, causando no corpo um estado de
relaxamento, tranquilidade, disposição e entusiasmo para executar qualquer tarefa.
Em contrapartida, a ansiedade foi a segunda emoção apontada pelos alunos, a
terceira ficou entre a tristeza e a raiva.
Portanto, a turma apresenta uma característica positiva considerando o
percentual da alegria como emoção predominante do grupo, e que contribui para
uma melhor interação e consequentemente, melhor rendimento escolar, segundo as
teorias estudadas.
No Gráfico 2, aponta o percentual de alunos que acredita que seu estado
emotivo pode influenciar seu processo de aprendizagem.
De acordo com o percentual dos alunos que acreditam que seu estado
emotivo pode influenciar sua aprendizagem, pode-se constatar no Gráfico 3, como
os mesmos acreditam que influencia.
80
Gráfico 2: Percentual de alunos que acredita que seu estado emotivo pode influenciar
seu processo de aprendizagem.
Fonte: Dados da pesquisa
Gráfico 3: Percentual da maneira que o estado emotivo influencia no processo de
aprendizagem dos alunos que disseram acreditar
Fonte: Dados da pesquisa
A questão 4 representada no Gráfico 2, foi demonstrado por 85% dos 34
alunos que os mesmos acreditam que o estado emotivo influencia o seu processo
de aprendizagem. Essa porcentagem corresponde a 29 alunos, apenas cinco
81
disseram não acreditar. No Gráfico 3 (questão 5), apresenta que 83% dos alunos
acreditam que seu estado emotivo influencia positivamente e negativamente na
aprendizagem. Esse percentual corresponde aos 85% dos alunos que disseram
acreditar na influência do seu estado emotivo na aprendizagem.
Compreendemos assim, que uma maioria significativa afirma acreditar na
influência do estado emotivo em sua aprendizagem, o que é muito importante, pois,
o fato de acreditarem já facilita, sendo o primeiro passo para a compreensão da
necessidade de buscar conhecimento nessa área.
Segundo Goleman (2007), a recomendação de Sócrates “Conhece-te a ti
mesmo”, é a pedra de toque da Inteligência emocional. Ter consciência dos próprios
sentimentos no momento exato em que ocorrem é uma característica de pessoas
que compreendem melhor o que sente. Goleman nomeia de autoconsciência, a
permanente atenção ao que se está sentindo internamente.
Portanto, o primeiro passo para a autoconsciência é acreditar na
possibilidade de se conhecer melhor, de compreender com mais clareza suas
emoções, seus sentimentos para, a partir daí saber lidar melhor com os mesmos.
Os alunos também responderam nas questões 7 e 8 quais as emoções que
mais concentram e desconcentram em sala de aula. No Gráfico 4, podemos
observar e analisar essas respostas.
82
Gráfico 4- Emoções que mais concentram e desconcentram o aluno em sala de aula.
Fonte: Dados da pesquisa
Do total de 34 alunos, 88,2% disseram que a alegria é a emoção que mais
ajuda na concentração das aulas. Em contrapartida, a ansiedade foi a emoção
apontada pelos alunos como a que mais desconcentra em sala de aula, com 35,3%
e a tristeza com 32,4% do total de 34 alunos.
Segundo Goleman (2007 – p.106), “a ansiedade solapa o intelecto”. Em 126
estudos sobre desempenho acadêmico com mais de 36 mil pessoas, constataram
que, quanto mais a pessoa é propensa a preocupações, mais fraco é o seu
desempenho acadêmico, não importa qual a espécie de medição; notas em provas,
média de pontos ou testes de rendimento. (Goleman, 2007 – p.106)
Cientificamente o teste de ansiedade estudado pela primeira vez na década
de 1960, por Richard Alpert que, quando estudante, afirma ter sofrido muito com
esse tipo de emoção. O nervosismo o atrapalhava e acabava saindo-se mal nas
provas, enquanto um colega, Ralph Haber, considerava a pressão antes de uma
prova um estímulo e realizava bem a mesma. Assim, a pesquisa deles apontou que
há dois tipos de estudantes ansiosos: aqueles, cuja ansiedade prejudica o
desempenho acadêmico e os que se saem bem apesar da tensão; ou talvez, por
causa dela. Portanto, a ansiedade que motiva os alunos como Haber a se
prepararem melhor para as provas e terem bom desempenho, é a mesma que
interfere no raciocínio e na memória, prejudicando o êxito de outros alunos.
83
Considerando os dados apresentados no Gráfico 4, da turma 3001, é
possível se constatar que grande parte (35,3%) considerou a ansiedade como a
emoção que perturba a concentração em sala de aula, ou seja, de acordo com os
resultados apresentados na pesquisa de Richard Alpert, esses alunos pertencem ao
seu grupo. Seguida da ansiedade com 32,4%, foi apresentada como emoção
perturbadora a tristeza, que é um estímulo para a ansiedade e depressão.
De acordo com Goleman, a forma extrema da tristeza é a depressão severa,
podendo manifestar-se de formas mais suaves, como sofrimento, mágoa, pesar,
tédio, desalento, solidão, nostalgia, amargura, desânimo, melancolia etc. No estado
de tristeza, o ser humano demonstra perda de entusiasmo pelas atividades da vida,
principalmente por diversões e prazeres. O metabolismo do corpo fica reduzido.
Sabemos que as primeiras emoções são aprendidas na família e que o
ambiente familiar exerce grande importância e influência na vida dos indivíduos. O
Gráfico 5, apresenta o percentual de alunos que acreditam que de alguma forma as
discussões familiares interferem negativamente na concentração e relacionamento
dos mesmos em sala de aula.
84
Gráfico 5: Discussões entre familiares e a interferência negativa na concentração e
relacionamento dos alunos em sala de aula.
Fonte: Dados da pesquisa
Sabemos que a família é o primeiro grupo social no qual o ser humano
convive. É de fundamental importância para as primeiras experiências de vida e
muitas vezes são experiências dolorosas, mas a necessidade e importância do
convívio familiar permanecem com a evolução e transformações na história da
humanidade.
Goleman, diz que:
a vida em família é onde iniciamos a aprendizagem emocional; nesse
caldeirão íntimo aprendemos como nos sentir em relação a nós mesmos e como os outros vão reagir a nossos sentimentos; aprendemos como avaliar nossos sentimentos e como reagir a eles; aprendemos como interpretar e manifestar nossas expectativas e temores. Aprendemos tudo isso não somente através do que nossos pais fazem e do que dizem, mas também através do modelo que oferecem quando lidam, individualmente, com os
seus próprios sentimentos e com aqueles sentimentos que se passam na vida conjugal. Alguns pais são professores emocionais talentosos, outros, são atrozes. (Goleman, 2007. p. 208).
Do mesmo modo, compreendemos que as respostas dadas pelos alunos vem
ao encontro da teoria de Goleman, em que 26.5% afirmou que as discussões em
família interferem negativamente na concentração e relacionamento em sala de aula
e 44,1% afirmou que interfere mais ou menos, ou seja, interfere de alguma maneira.
85
Uma equipe de pesquisa chefiada por Carole Hooven e John Gottman, na
Universidade de Washington, constatou que quando os pais são emocionalmente
aptos, comparados com os que não lidam bem com os sentimentos, os filhos, têm
em relação a eles, um bom relacionamento, afeição e menos tensão. Ainda são
capazes de lidar com as próprias emoções, mais eficazes na procura de alívio para
suas perturbações e se perturbam com menos frequência. São também mais
relaxados biologicamente, com baixos níveis de estresse e outros indicadores
fisiológicos de estimulação emocional. Pais e professores são unânimes em
considerar essas crianças mais sociáveis, mais atentas beneficiando a
aprendizagem. (GOLEMAN, 2007 – p 210)
Por meio das vivências no cotidiano escolar, percebemos as famílias
bastante confusas na educação de seus filhos, o que é preocupante, pois acabam
transferindo a responsabilidade da educação familiar para a escola, que por sua vez
não deve assumir essa função e sim contribuir.
Assim como a família é um grupo de extrema importância para o indivíduo, os
amigos também representam muita significância. Foi possível constatar esses
dados por meio das respostas das questões 10 e 11, representadas nos Gráficos 6
e 7.
Observando e analisando os Gráficos 6 e 7, entendemos que as amizades
são muito importantes para o amadurecimento do indivíduo, pois desde a infância o
outro tem forte influência no desenvolvimento do ser humano nos aspectos: social,
físico, cognitivo e emocional.
86
Gráfico 6: Sentimentos causados pelas discussões com os amigos.
Fonte: Dados da pesquisa
Gráfico 7: Níveis de interferências na aprendizagem por motivo de discussões com os
amigos.
Fonte: Dados da pesquisa
Segundo Wallon, o outro é essencial para a construção do indivíduo, e é nas
relações que surgem os conflitos delimitando e fazendo cada um avançar.
87
Citando Gottman e Parker, (1987), apud Santrock (2003), as amizades dos
adolescentes servem a seis funções importantes: companheirismo, estimulação,
apoio físico, apoio do ego, comparação social e intimidade/afeição.
Outro autor que discute sobre a importância das amizades na adolescência é
Sullivan (1953), apud Santrock (2003) que argumentou sobre o aumento drástico
que há na importância psicológica e na intimidade de amigos mais chegados no
início da adolescência. Afirmou que os amigos desempenham papéis importantes
na formação do bem estar e no desenvolvimento dos adolescentes. A faixa etária
dos alunos pesquisados está entre os 16 e 20 anos de idade, o que demonstra que
os mesmos, apesar de não estarem no início da adolescência, as amizades
interferem na aprendizagem. Ao observarmos o Gráfico 6, em que 23,5% disseram
que ficam tristes; 11,8% ficam arrependidos e 32,4% ficam com vontade de ficar
bem logo, quando discutem com os amigos, é possível concluir a tese do autor.
Focando ainda, o entendimento de que 67,7% sentem-se incomodados com as
discussões entre amigos. E no Gráfico 7, confirma quando foi perguntado se as
discussões com os amigos interferem na aprendizagem, 8,8% responderam que
interfere muito, 35,3% mais ou menos e 20,6 pouco. Portanto, 64,7% afirmam que
as discussões entre os amigos da sala de aula interferem na aprendizagem e
apenas 35,3% dizem não interferir.
Consideramos importante que os professores compreendam melhor essa
relação de amizade entre os alunos, para que saibam interferir nos momentos de
conflitos, ajudando aos mesmos, a refletir sobre o que está acontecendo,
minimizando a intensidade das emoções que os afetam.
É por meio das emoções sentidas que o ser humano considera-se satisfeito
ou insatisfeito na vida. Nas questões 12 e 13 foi perguntado aos alunos o que o
deixa mais satisfeito e insatisfeito em sala de aula. No Gráfico 8, foram constatados
os motivos da satisfação e insatisfação dos alunos em sala de aula.
88
Gráfico 8: Motivos de satisfação e insatisfação dos alunos em sala de aula.
Fonte: Dados da pesquisa
De acordo com o Gráfico 1, a alegria foi a emoção que entre os 34 alunos,
54% deles disseram que sentem com mais frequência em sala de aula, o que
corresponde às questões 7 e 12, onde 88,2% dos alunos no Gráfico 4, disseram que
a alegria é a emoção que mais ajuda na concentração das aulas. E no Gráfico 8,
apresenta o principal motivo da satisfação dos mesmos em sala de aula, onde de 34
alunos, 16 responderam que são as amizades, o que confirma mais uma vez a
importância das amizades como vimos nos Gráficos 6 e 7, onde os alunos disseram
que as discussões entre os amigos interferem na aprendizagem. Portanto,
entendemos que a alegria é a emoção mais sentida em sala de aula, que ajuda
mais na concentração e que está diretamente ligada às amizades, sendo é o
principal motivo de satisfação em sala de aula.
Porém, na questão 13, representada no Gráfico 8, do total de 34 alunos, 16
disseram que o motivo principal de insatisfação é a dificuldade em aprender, e 14
proferiram que é em relação ao conteúdo trabalhado. Entende-se que são duas
situações relacionadas diretamente ao professor e ao aluno. Um dos motivos da
dificuldade em aprender pode estar relacionado ao conteúdo trabalhado ou a
maneira de como está sendo trabalhado. O fato é que as duas situações
demonstram insatisfação em sala de aula e automaticamente prejudicam a
aprendizagem.
89
Segundo Alderman (1999) apud Santrock (2003, p. 290), “a percepção de
sucesso ou fracasso de um adolescente como decorrência de fatores externos ou
internos influencia sua autoestima.” A dificuldade em aprender pode estar
relacionada tanto a fatores internos quanto externos e ainda segundo o autor, a
percepção dos adolescentes do seu sucesso como decorrência de fatores internos,
que dependem diretamente de si mesmo, têm mais probabilidade de aumentar a
autoestima depois do sucesso, o que não ocorre com os adolescentes que
acreditam que os fatores externos que contribuíram para o seu sucesso.
Para demonstrar a satisfação e insatisfação em sala de aula os alunos
apresentaram algumas maneiras mais comuns. O Gráfico 9, apresenta quais são
essas principais maneiras para expressar a satisfação e o Gráfico 10 apresenta
para expressar as insatisfações.
Gráfico 9: Maneiras de expressar as emoções para demonstrar satisfação em sala de
aula.
Fonte: Dados da pesquisa
90
Gráfico 10: Maneiras de expressar as emoções para demonstrar insatisfação em sala
de aula.
Fonte: Dados da pesquisa
Os Gráficos 9 e 10 representam as questões 14 e 15, as quais os alunos
responderam como eles têm demonstrado por meio de suas emoções, sua
satisfação e insatisfação dentro da sala de aula.
Em relação à satisfação (Gráfico 9), em um total de 34 alunos; 16 disseram
que é realizando as atividades com vontade e 14 alunos pronunciaram que é
relacionando-se bem com todos. Em relação à insatisfação (Gráfico 10) do total de
34 alunos, 23 contaram que demonstram sua insatisfação ficando sério e emburrado
e 8 disseram ficando tímido e retraído.
Segundo Goleman (2007, p. 134), “a forma como as pessoas expressam
seus sentimentos constitui-se numa competência social muito importante.” Desde
que nascemos vamos aprendendo regras para expressarmos nossas emoções, o
que pode e não pode, o que é feio e bonito de ser expressado, tudo dentro do
padrão cultural em que o indivíduo vive. Porém, é mais comum nas culturas em
geral ensinar a expressar as emoções “boas”, “corretas”; já as “decepções”,
“mágoas”, as emoções “ruins”, não são muito claras nos ensinamentos. Assim,
aprendemos a disfarçar nossas emoções, ficando muitas vezes tímido, emburrado,
retraído, sério como foi apresentado pelos alunos e professores. Portanto, é
necessário muita habilidade para expressá-las, o que não é simples e que de
91
acordo com Goleman (2007), expressar nossas emoções e a escolha do momento
adequado para utilizá-las é um fator de inteligência emocional.
Ao comparar as respostas dos alunos com as dos professores nos Gráficos
19 e 20, foi possível analisar que os dois grupos demonstram uma percepção muito
semelhante da expressão das emoções dos alunos. Isso mais uma vez apresentou
que existe uma afinidade, uma empatia dos professores em geral com a turma e
vice-versa, o que é possível aperfeiçoar para ampliar o conhecimento de ambos e
melhorar ainda mais o relacionamento e desenvolvimento do processo de ensino e
aprendizagem.
O Gráfico 11, aponta os pontos positivos que os alunos classificaram de um
bom relacionamento entre professor e aluno e o Gráfico 12, aponta os pontos
negativos.
Gráfico 11: Pontos positivos de um bom relacionamento entre alunos e professores.
Fonte: Dados da pesquisa
92
Gráfico 12: Pontos negativos de um mau relacionamento entre alunos e professores
Fonte: Dados da pesquisa
Por meio das respostas analisadas nos gráficos 11 e 12, verifica-se que o
professor é muito importante na vida do aluno, que as pessoas de modo geral, têm
alguma história pra contar de algum professor que marcou sua vida positivamente
ou negativamente, pois, ao perguntar na questão 19 (Gráfico 11), quais os pontos
positivos de um bom relacionamento com os professores, do total de 34 alunos, 14
responderam que são as relações interpessoais harmoniosas entre professores e
colegas e 13 responderam que é uma aprendizagem melhor. Na questão 20
(Gráfico 12), ao serem perguntados sobre os pontos negativos de um mau
relacionamento com os professores, dos 34 alunos; 13 disseram que é a dificuldade
de aprendizagem, 7 responderam relacionamento interpessoal difícil e 5 consideram
que a metodologia fica cansativa empatando com outros 5 alunos que disseram ser
a rejeição da aula.
Compreendemos assim, que os pontos positivos e negativos do bom e mau
relacionamento entre professor e aluno, os que sobressaíram nas respostas dos
alunos estão diretamente relacionados à aprendizagem e, portanto, mais uma vez
afirma a interferência do aspecto emocional na aprendizagem, como apresenta um
estudo realizado, afirmando que as expectativas positivas do professor foram
relacionadas com o aproveitamento superior do estudante. Jussim e Eccles, (1993),
apud Santrock (2003).
93
Erik Erikson (1968) acredita que bons professores produzem um senso de
diligência em seus alunos, não de inferioridade. Para o autor, os alunos
adolescentes devem ser “coagidos com suavidade, mas também com firmeza, à
aventura de descobrir que é possível aprender para realizar coisas em que nunca
teriam pensado de outra forma”. Os alunos, principalmente na fase de transição da
adolescência e juventude precisam de professores que demonstrem firmeza e
equilíbrio em suas atitudes, sendo justos e coerentes com todos (SANTROCK, 2003
– p. 165).
Compreendemos assim, de acordo com Goleman (2007), que aos
professores cabe buscar formação continuada, também na área da educação
emocional, assim como buscam conhecimentos nas áreas dos conteúdos
específicos, pois, a maneira como esse profissional lida com sua turma em sala de
aula, torna-se exemplo de competência ou incompetência emocional.
Gráfico 13: Porcentagem de alunos que gostariam de ter aulas específicas sobre
relacionamentos/emoções
Fonte: Dados da pesquisa
Os Gráficos 13 e 14 (questões 21 e 22), foram apresentadas respostas
importantes para análise das necessidades que o aluno adolescente/jovem
demonstra em adquirir conhecimentos sobre os aspectos afetivo/emocional e social,
para aprender e expressar suas emoções de maneira mais produtiva
proporcionando a si mesmo e aos outros, melhor qualidade de vida.
94
Gráfico 14: Motivo dos alunos que gostariam de ter aulas específicas sobre
relacionamentos/emoções
Fonte: Dados da pesquisa
No Gráfico 13 do total de 34 alunos, 76% disseram que gostariam de ter
aulas específicas sobre o aspecto emocional e desses 81% (Gráfico 14) acreditam
ser importante esse estudo.
Segundo Goleman (2007), por meio de aulas de educação emocional
aplicada em escolas onde realizou diversas pesquisas, o resultado é concreto na
melhoria da convivência e aprendizagem. O mesmo destaca alguns aspectos que
são desenvolvidos nos alunos dentro e fora da escola após as aulas de educação
emocional, como: Autoconsciência emocional, melhor controle das emoções,
canalização produtiva das emoções, desenvolve melhor a empatia e melhora em
seus relacionamentos interpessoais. (Goleman, 2007 – p. 298/299).
Na Teoria das Inteligências Múltiplas, Gardner (1994), também destaca a
importância de aprofundar o conhecimento de si mesmo, e em relação aos outros
por meio das inteligências intrapessoal e interpessoal. A inteligência intrapessoal de
acordo com o autor, busca o reconhecimento e compreensão de habilidades,
necessidades, desejos e inteligências próprias. É a capacidade para construir uma
imagem precisa de si mesmo e utilizá-la para funcionar de forma equilibrada. A
inteligência interpessoal por sua vez, é a habilidade de ter empatia de maneira
95
apurada identificando desejos, simulações e intenções implícitas no comportamento
de outras pessoas para reagir apropriadamente a partir dessa percepção.
A busca de conhecimento além de importante é necessária para conhecer
alternativas de respostas e soluções para os diferentes tipos de reações e
comportamentos diante de situações do cotidiano.
Docentes:
Os próximos gráficos representam as questões referentes ao questionário
aplicado aos docentes. No Gráfico 15, estão sendo abordadas quatro questões
sobre a emoção mais expressada pelos alunos em quatro momentos diferentes.
Gráfico 15: Emoção mais expressada nas aulas, nas atividades em grupo, no
relacionamento entre colegas em sala de aula e com os professores.
Fonte: Dados da pesquisa
A análise do gráfico possibilita ter uma percepção de quatro questões sobre o
tipo de emoção mais expressada pelos alunos em momentos relevantes do
cotidiano escolar, segundo a opinião dos 12 professores da turma.
Compreende-se que a satisfação é a emoção mais expressada em relação
ao relacionamento professor e aluno, depois foi igualmente considerada em relação
96
às atividades realizadas em grupo e durante o desenvolvimento da aula; em
segundo lugar a alegria e a satisfação foram apontadas pela mesma quantidade de
professores em relação ao relacionamento entre os colegas em sala de aula. A
ansiedade, assim como foi destacada também pelos alunos como a segunda
emoção mais sentida em sala de aula e a primeira que desconcentra os mesmos,
pelos professores também foi apresentada por um número considerável como a
segunda emoção sentida pelos alunos durante as aulas, depois da satisfação. É
preocupante, de acordo com Goleman (2007), a ansiedade atrapalha o bom
desenvolvimento intelectual quando ultrapassa o seu limite, mas em certa dose,
vista como uma preocupação necessária impulsiona o indivíduo, porém, depende da
percepção e de como o indivíduo sente e lida com essa emoção, como citado no
estudo de Richard Alpert realizado em 1960.
Compreendemos também que a satisfação está diretamente ligada à alegria,
o que é compatível com a resposta dos alunos ao dizerem que a alegria é a emoção
que mais sentem em sala de aula. O que para os professores é entendido como
satisfação para os alunos parece ser entendido como alegria.
Como vimos a satisfação na opinião dos professores, foi a emoção mais
expressada pelos alunos durante as aulas. O motivo atribuído a essa resposta está
no Gráfico 16.
Na opinião dos professores a satisfação que os mesmos consideraram como
a emoção mais sentida no relacionamento professor x aluno, também a mais
sentida em sala de aula pelos alunos, está atribuída ao relacionamento professor x
aluno. Entende-se que a ansiedade está atribuída à dificuldade em aprender. Mais
uma vez verifica-se a importância do relacionamento professor x aluno para melhor
interação durante o processo de ensino e aprendizagem e também na contribuição
para amenizar situações de conflitos e de emoções que podem ser negativas à
aprendizagem como no caso da ansiedade.
Como lê-se em Wallon (1971), a maioria dos professores demonstram ter
dificuldade nos relacionamentos com os alunos, pois são situações que envolvem
emoção. Portanto, de acordo com a análise dos dados apresentados no gráfico
acima, a maioria dos professores demonstram satisfação no relacionamento com
seus alunos, o que nos Gráficos 19 e 22 confirmam. Os mesmos novamente dizem
que o relacionamento da maioria dos professores com os alunos é bom e que os
97
pontos positivos de um bom relacionamento professor x aluno proporciona um
ambiente mais tranquilo e um relacionamento harmonioso.
Gráfico 16: Motivo atribuído pelo professor para a emoção mais expressada pelos
alunos durante o desenvolvimento da aula ministrada.
Fonte: Dados da pesquisa
O Gráfico 17, apresenta a porcentagem dos professores que se preocupam
com a expressão das emoções dos alunos.
98
Gráfico 17: A expressão das emoções dos alunos é algo que preocupa os
professores.
Fonte: Dados da pesquisa
Diante do que está sendo pesquisado e vivenciado no cotidiano escolar,
sabe-se o quanto é importante o interesse dos professores por seus alunos e pela
aprendizagem dos mesmos. O aluno por sua vez, percebe essa preocupação e
sente-se querido e importante para o professor. Principalmente na fase da
adolescência e juventude o incentivo e a valorização por parte do professor, ao
esforço do aluno que se prepara para o mercado de trabalho é fundamental para
sua motivação e persistência.
Segundo Erikson (1968) apud Santrock (2003, p. 165), os bons professores
sabem como reconhecer os esforços especiais e encorajam as habilidades
especiais. Também sabem como criar um ambiente em que os adolescentes se
sentem bem em relação a si mesmos; e sabem lidar com os adolescentes para os
quais a escola não é importante.
Assim, constatamos nesta questão (Gráfico 17) que 92% dos professores da
turma 3001, demonstraram de alguma maneira preocupação com a expressão das
emoções de seus alunos, pois por meio dessas expressões são reveladas suas
emoções, ajudando aos professores compreendê-las melhor para interagir melhor
com os mesmos. Subentende-se assim, que se os professores demonstram
99
preocupação com as emoções dos alunos, é porque as valorizam e dão importância
as mesmas no contexto escolar.
Assim como os alunos responderam sobre suas satisfações e insatisfações
em sala de aula, os professores também responderam o que acreditam deixar os
alunos mais satisfeitos e insatisfeitos em sala de aula. As respostas dos dois
principais personagens no processo de ensino e aprendizagem apresentaram
semelhanças e diferenças importantes a serem refletidas. Podemos visualizar no
Gráfico 18 as respostas dos professores referentes às questões 11 e 12.
Gráfico 18: Motivo de satisfação e insatisfação dos alunos em sala de aula.
Fonte: Dados da pesquisa
Para os alunos o principal motivo de satisfação em sala de aula são as
amizades, em segundo lugar a aprendizagem construída e em terceiro lugar a
relação professor x aluno. Para os professores, o principal motivo para a satisfação
dos alunos é a aprendizagem construída, em segundo lugar a relação professor x
aluno e em terceiro empataram o relacionamento aluno x aluno e o conteúdo
trabalhado. O ponto de semelhança importante que foi destacado por meio da
observação analítica entre as respostas dos dois grupos, foi a aprendizagem
construída, o que é resultado do processo de ensino e aprendizagem, promovido
entre professor e aluno.
100
Também se destacou no aspecto satisfação uma diferença muito grande na
consideração e importância em relação às amizades que os alunos colocaram em
primeiro lugar e apenas um professor apontou, ou seja, faltou essa percepção dos
professores em relação à importância que o grupo social “amigos” tem na vida do
adolescente/jovem.
No aspecto da insatisfação o destaque foram apenas semelhanças nas
respostas dos dois grupos, pois, professores e alunos apontaram em primeiro lugar
a insatisfação com a aprendizagem não construída, apontando dificuldade, e em
segundo lugar a insatisfação com o conteúdo. Concluímos dessa análise que há
uma sintonia e concordância entre professor e aluno, que a dificuldade em aprender
está diretamente relacionada à aceitação, compreensão ou não do conteúdo
trabalhado, ou ainda, a maneira como esse conteúdo é trabalhado. Daí a
importância de repensar também as metodologias em sala de aula. Como nos diz
Goleman (2007 – p. 294) “os alunos esperam um conteúdo mais significativo que os
ajude no direcionamento de suas escolhas.” Na faixa etária da turma pesquisada, os
alunos começam a escolher um campo específico e focalizado para continuar os
estudos, àqueles que terão condições de seguir e os outros para conseguir um
trabalho. Assim se faz necessário buscar alternativas para compreender melhor
essas insatisfações e minimizá-las.
Através do Gráfico 19, veremos como os alunos têm demonstrado por meio
de suas emoções, sua satisfação dentro da sala de aula, na opinião dos
professores.
101
Gráfico 19: Satisfação demonstrada por meio das emoções dos alunos em sala de
aula
Fonte: Dados da pesquisa
Também foi respondido pelos professores como os alunos têm demonstrado
por meio de suas emoções, sua insatisfação dentro da sala de aula e que está
exposto no Gráfico 20.
102
Gráfico 20: Insatisfação demonstrada por meio das emoções dos alunos em sala de
aula
Fonte: Dados da pesquisa
Nos Gráficos 19 e 20 que correspondem às questões 13 e 14, foi respondido
pelos professores como os alunos têm demonstrado por meio de suas emoções,
sua satisfação e insatisfação dentro da sala de aula.
Em relação à satisfação, do total de 12 professores, 5 disseram que os
alunos demonstram participando das aulas, 4 disseram demonstrando prazer pela
aprendizagem e 3 relacionando-se bem com todos. Os alunos responderam em
primeiro lugar, realizando as atividades com vontade e em segundo relacionando-se
bem com todos.
No que diz respeito à insatisfação, 9 professores responderam, ficando tímido
e retraído e os alunos em primeiro lugar disseram, ficando sério e emburrado, em
segundo lugar, ficando tímido e retraído.
De acordo com Goleman (2007), “enviamos sinais emocionais sempre que
interagimos, e esses sinais afetam aqueles com quem estamos.” Quanto mais
habilidades apresentamos para lidar com os outros, controlamos melhor os sinais
que enviamos. Assim, é necessário sempre aperfeiçoar nossas habilidades
relacionadas às inteligências interpessoais e intrapessoais, segundo a Teoria das
103
Inteligências Múltiplas, pois todas as pessoas são recursos utilizados por outrem
para alterar seu estado emocional para melhor ou para pior.
A importância que o professor atribui ao aspecto emocional na aprendizagem,
demonstra o que já confirmamos anteriormente, a preocupação que o mesmo
demonstra por seus alunos. No Gráfico 21, ficou evidenciado o grau dessa
importância atribuída pelo professor.
Gráfico 21: Grau de importância que o professor atribui ao aspecto emocional na
aprendizagem e na influência da aprendizagem de seus alunos.
Fonte: Dados da pesquisa
As relações afetivas são em muitas sociedades motivo de suas agregações e
a escola como grupo social ainda deixa a desejar nesse sentido, pois como já
mencionamos anteriormente, a escola ainda está muito focada apenas no
conhecimento formal destacando o aspecto cognitivo. Porém, as relações afetivas
são evidenciadas no cotidiano escolar, nas relações professor-aluno, aluno-aluno e
entre todas as relações de pessoas para pessoa, pois o conhecimento necessita de
interação entre as mesmas.
Vimos por meio do gráfico 21, nas respostas das questões 15 e 27 que a
maioria dos professores considera muito importante o aspecto emocional na
aprendizagem e na influência do mesmo no conhecimento de seus alunos. Uma
minoria disse considerar importante, porém, nenhum deixou de considerar. Esse
104
resultado nos apresenta que os professores demonstram assim como os alunos,
valorização do aspecto emocional na aprendizagem. Entendemos que falta
conhecimento mais profundo nessa área para aperfeiçoar essa influência.
Assim como Goleman (2007), outros autores consideram a escola como o
segundo grupo social mais importante nos ensinamentos das habilidades
emocionais e muitas vezes é o único lugar para essa aprendizagem, pois as famílias
têm demonstrado falta de preparo para proporcionar uma base segura emocional e
social na vida das crianças que serão futuros adolescentes e adultos.
Mais uma vez, entendemos que o investimento na formação continuada dos
professores é fundamental para adquirir maiores competências nessa área do
conhecimento tão importante na vida profissional dos mesmos e na vida escolar dos
alunos.
Sabemos que quando o professor está envolvido com o processo de ensino e
aprendizagem, ele considera importantes todos os aspectos que podem contribuir
para a aprendizagem dos alunos. Assim, na questão 18 (Gráfico 22), foi perguntado
aos professores como consideravam o envolvimento afetivo/relacional dele com a
turma; na questão 19 (Gráfico 22), da maioria dos professores com a turma e na 20
(Gráfico 23), o que mais dificulta o relacionamento interpessoal dos professores com
a turma.
Analisando as respostas, vimos que: considerando o relacionamento pessoal
do professor com a turma, 7 responderam que é bom e 5 que é ótimo. Porém, em
relação à maioria dos professores, 10 responderam que consideram bom, 1 ótimo e
1 excelente. Os dois motivos principais que mais dificulta o relacionamento
interpessoal dos professores com a turma, foram: falta de interesse dos alunos com
a aprendizagem em primeiro lugar, insatisfação dos professores com sua profissão,
e em terceiro a ausência da família na educação de valores, na opinião de apenas
dois professores.
105
Gráfico 22: Como o professor considera seu envolvimento afetivo/relacional e da
maioria dos professores da turma 3001 com os alunos.
Fonte: Dados da pesquisa
Gráfico 23: Opinião dos professores sobre o que mais dificulta o relacionamento
interpessoal dos mesmos com os alunos.
Fonte: Dados da pesquisa
106
Assim compreendemos que de modo geral, o relacionamento
afetivo/relacional entre professor e aluno nessa turma é bom, demonstra que existe
uma parceria na convivência de ambos. Porém, os dois principais motivos que
dificultam um melhor relacionamento são preocupantes, sendo que esses motivos
dependem diretamente do professor e do aluno, pois estão relacionados à
motivação de ambos.
Sabemos que existem dois tipos de motivação que afetam as realizações, a
motivação intrínseca e extrínseca. A intrínseca depende diretamente de você para
realizar algo. A extrínseca está relacionada a outros, pois você espera uma
recompensa, criando assim na maioria das vezes expectativas, que, por não serem
atingidas podem gerar frustrações e perda de motivação. Parece-nos que nossos
professores estão com pouca motivação, que pode estar relacionada a fatores
externos como a falta de valorização financeira e materiais por parte dos
governantes, incluindo a falta de reconhecimento da sociedade com a importância
do professor, como também a fatores internos, pois, os fatores externos afetam
direta e indiretamente a motivação intrínseca. Como o professor está diretamente
ligado ao aluno, a motivação ou a falta da mesma, pode se tornar um fator externo
de motivação ou não para o aluno, além dos seus motivos internos. (SANTROCK,
2003).
Stephanie Feeney (1980), apud Santrock (2003) uma educadora de
adolescentes, diz que “os professores que trabalham com êxito com adolescentes
provavelmente têm lembranças nítidas da própria adolescência, e deve recordar os
problemas de desenvolvimento daqueles anos”. Capazes de relembrar sua
vulnerabilidade juvenil, eles compreendem e respeitam a sensibilidade de seus
alunos às críticas, o desejo de aceitação pelo grupo e os sentimentos de ser
intensamente conspícuos.
As dificuldades apresentadas no relacionamento professor e aluno podem
prejudicar o processo de ensino e aprendizagem. O Gráfico 24, expõe as respostas
que os professores classificaram como pontos positivos de um bom relacionamento
e negativos de um mau relacionamento entre eles e os alunos.
107
Gráfico 24: Pontos positivos de um bom relacionamento e negativos de um mau
relacionamento entre professores e alunos.
Fonte: Dados da pesquisa
Na opinião dos professores, os pontos positivos de um bom relacionamento
entre professores e alunos, foram citados, primeiramente, o ambiente tranquilo, em
segundo o relacionamento interpessoal harmonioso. Já em relação aos pontos
negativos foi apresentado em primeiro lugar a dificuldade de aprendizagem, seguida
da rejeição da aula e ambiente estressante para a aprendizagem. Comparando com
as respostas dos alunos, vimos que a importância que eles deram aos pontos
positivos do relacionamento entre ambos foi para obter uma melhor aprendizagem,
o que não foi compatível com as respostas dos professores que destacaram o
ambiente, porém, foi semelhante no aspecto do relacionamento interpessoal
harmonioso entre professor x aluno. Nos pontos negativos, as respostas foram
compatíveis apresentando em primeiro lugar a dificuldade de aprendizagem.
De modo geral, segundo a educadora de adolescentes Stephanie Feeney
(1980), os alunos na fase da adolescência e juventude reagem melhor aos
professores que exercem uma autoridade natural, baseada na idade maior, na
experiência e na sabedoria, em vez da autoridade arbitrária, ou da abdicação da
autoridade, quando se tornam amigos dos adolescentes.
Portanto, mais uma vez a teoria vem confirmar a prática nas escolas,
demonstrando o quanto é importante e necessário investir na compreensão dos
relacionamentos interpessoais. No cotidiano escolar, nos deparamos com duas
108
situações comuns, uma com professores que não têm nenhuma autoridade com
seus alunos, deixando-os livres, por insegurança no trato interpessoal, gerando
assim, mais indisciplina e falta de respeito ou, nos deparamos com situações
contrárias, em que professores ainda são extremamente autoritários com os alunos,
mantendo distanciamento nas relações por também terem dificuldade em impor
limites com afetividade.
No próximo item, veremos os instrumentos complementares e as análises
feitas dos mesmos.
5.4 Instrumentos complementares: entrevistas com discentes e docentes e tabela do quantitativo de alunos aprovados ao final do ano letivo
Como procedimento complementar, os instrumentos utilizados foram as
entrevistas semiestruturadas e a tabela do quantitativo de alunos aprovados no final
do ano letivo de 2013. Tanto as entrevistas como a tabela, muito contribuíram para
uma melhor compreensão da complexidade da situação em estudo e definiu assim,
com maior segurança o objeto investigado.
Portanto, utilizou-se um tipo de entrevista semiestruturada como
procedimento metodológico para responder às perguntas. Esse tipo de entrevista
não é rigidamente estruturada com elaboração de questões predeterminadas, é
mais livre e básica, permitindo assim ao entrevistador fazer adaptações se for
necessário.
A entrevista é importante, pois as pessoas envolvidas no contexto social a
interpretam como a compreendem e, por meio de seus discursos orais e suas
expressões corporais, revelam o que pensam.
De acordo com Bourdieu (1999), é importante que o pesquisador
compreenda, a priori, o contexto social do pesquisado e as sutilezas da linguagem,
que não significa apenas a fala, mas também se dá corporalmente. Dessa forma,
procurou-se compreender os entrevistados por meio de mecanismos de escuta, de
maneira mais próxima da autenticidade dos mesmos. Observe-se que o
pesquisador também revela muito de si próprio na entrevista.
Foram realizadas entrevistas com dois professores e dois alunos, seguindo
os seguintes critérios: um professor e aluno do sexo masculino, e um do sexo
feminino, para não prevalecer nenhum tipo de preferência; outro critério foi a
109
determinação de que seriam apenas dois professores e dois alunos; o último critério
foi fazer o convite aberto para todos. A maioria dos professores estava na sala dos
professores na hora do recreio, onde foi formalizado o convite, no momento em que
dois deles, se prontificaram. No caso dos alunos, vários levantaram a mão
aceitando o convite. Assim, foi usado como critério, a opção por um aluno que já
estudava na escola há alguns anos, e outro, com menor tempo de estudo na mesma
escola. Sendo um do sexo feminino e outro do sexo masculino, fechando assim a
seleção dos entrevistados, com nomes fictícios para evitar exposição dos mesmos.
Os professores foram: Roberto de Biologia, e a professora Cíntia, de Inglês. Os
alunos foram: a Carla e o Gabriel.
Análise das entrevistas com os discentes:
Os dois alunos entrevistados demonstraram–se muito à vontade, pois a
entrevista foi bem informal, como um bate papo. Mais uma vez analisando as
respostas dos mesmos, constatamos através das questões 5 e 6 que as emoções
interferem na concentração e automaticamente, na aprendizagem. Ao questionar a
aluna Carla, “Quando você está com algum problema em casa ou com os colegas,
emocionalmente você fica abalada? Como?” A mesma responde: “Lógico. Fico com
o pensamento no problema, fico dispersa, não me concentro. Dependendo do
problema fico triste, ansiosa, meio perturbada....rsrsrs.” Também na questão 6:
“Você acha que atrapalha sua aprendizagem?” “Como eu disse, fico perturbada e
não consigo me concentrar. Então, atrapalha por isso. Não presto atenção na aula
direito e isso me incomoda, criando outro problema.”
Portanto, vimos a importância das relações familiares e também do grupo
social a que pertencem. Também foi expressa que a relação afetiva entre professor
e aluno é muito importante para a aprendizagem, para sentirem-se seguros e à
vontade para esclarecerem as dúvidas, ter mais liberdade de expressão durante as
aulas.
Wallon, diz que o “meio social é cultural e interpessoal é, por excelência, um
complemento indispensável à integração do eu... Assim, o outro como opositor
iminente revela-se como parâmetro para a constituição da identidade do eu.
Imaginar a construção do indivíduo fora do meio social seria conceber a família e a
110
escola como meios irrelevantes nesse processo. A família representa papel singular
no desenvolvimento do indivíduo”. (Almeida, 2003, p.104).
Como já vimos anteriormente a escola, tanto quanto a família, tem o seu
papel no desenvolvimento do indivíduo e a relação professor – aluno, por ser de
natureza antagônica, oferece diversas e importantes possibilidades de crescimento.
Os conflitos que podem surgir dessa relação desigual exercem um importante papel
na personalidade da criança, futuro adolescente e adulto. Desse modo, o professor,
como parceiro responsável pela administração dos conflitos, revela-se como alguém
potencialmente necessário na trajetória de delimitação do eu. O outro, como
opositor do indivíduo, revela-se como um companheiro permanente na identificação
do eu.
Portanto, “As pessoas do meio nada mais são, em suma, do que ocasiões ou
motivos para o sujeito exprimir-se e realizar-se.” (Wallon, 1986, p.164). Percebe-se
a importância das relações no cotidiano escolar e a necessidade que os jovens
apresentam em relação a sua aceitação pelo grupo ao qual pertence, seja nas
relações simétricas e assimétricas.
Análise das entrevistas com os docentes:
Considerando o posicionamento dos dois professores entrevistados,
compreendemos que a realidade se apresenta exatamente dessa forma, dividida em
dois grandes grupos de docentes: um grupo maior que acredita que as emoções
têm uma relação direta com a inteligência cognitiva, com o processo de
aprendizagem, isso foi perceptível nas observações do cotidiano dos professores e
também na questão 5, ao perguntar se a professora de Inglês, Cíntia, “acredita que
as emoções interferem na aprendizagem dos alunos?” A mesma responde
justificando:
Muito. O estado emocional de qualquer pessoa ajuda ou atrapalha seu
desenvolvimento, sua aprendizagem, seu trabalho. No caso dos meus alunos, percebo que os mesmos, quando apresentam algum problema em casa ou da própria idade relacionado a afetividade, emocional, ele fica totalmente desligado da aula ou irritado. Atrapalha a concentração dele mesmo e às vezes, se for muito agitado, também dos colegas. Eu mesma quando não estou bem, a aula não é a mesma. (Cíntia)
O outro grupo leva em consideração, o aspecto emocional, mas não acredita
que influencia tanto na aprendizagem. Também foi perceptível na resposta do
111
professor de Biologia, Roberto ao perguntar na questão 5, “se o mesmo acredita
que as emoções interferem na aprendizagem dos alunos?”
Mais ou menos. Nem todas as dificuldades que eles apresentam têm a ver com o aspecto emocional deles. Muitas vezes, eles não querem nada mesmo. Mas, até acho que quando estamos de bem consigo mesmo as
coisas fluem melhor. Por exemplo, se eu fosse mais valorizado profissionalmente, as aulas seriam melhores......rsrsrsrs. É, pode interferir sim, mas não totalmente. (Roberto)
Segundo a educadora de adolescentes, Stephanie Feeney (1980) apud
Santrock (2003), “os professores de adolescentes bem sucedidos estão seguros em
sua identidade, à vontade com sua sexualidade. Como têm valores definidos, usam
o poder e a autoridade com sensatez, e são sensíveis aos sentimentos dos alunos”.
Vale ressaltar que foi possível perceber, como as crenças, os valores, as
emoções, e a história de cada entrevistado, influenciam na sua conduta com os
alunos e no que ele considera relevante no processo de ensino e aprendizagem.
Análise da tabela do quantitativo de alunos aprovados ao final do ano letivo de 2013
A Tabela 1 foi composta por todas as disciplinas da turma pesquisada, pela
soma da quantidade de alunos aprovados em cada disciplina ao final do ano letivo
de 2013 e os respectivos percentuais.
Tabela 1- Disciplinas e respectivas percentagens de aprovação
Disciplina Aprovados %
Língua Portuguesa/Literatura 33 97.05
Produção Textual 33 97,05
Matemática 34 100
Física 34 100
Química 33 97,05
Sociologia 34 100
Inglês 34 100
Geografia 33 97,05
Historia 33 97,05
Filosofia 32 94,2
Ed. Física 34 100
Biologia 33 97,05
112
A tabela foi construída por meio das consultas realizadas em cada diário das
disciplinas da turma, coletando os resultados finais do ano letivo. A soma das notas
dos quatro bimestres chegou à média final de cada aluno em cada disciplina. A
média mínima do rendimento escolar do sistema de ensino do estado do Rio de
Janeiro é 5.0 por bimestre. Portanto, o aluno para ser aprovado ao final de cada ano
letivo, deve ter um total de 20.0 pontos como nota mínima, considerando os quatro
bimestres. Todos demonstraram bons resultados, ficando acima da média e sendo
aprovados.
Compreendemos que os resultados apresentados pela turma são
compatíveis com as respostas dos alunos sobre a emoção positiva que prevalece
em sala de aula e que confirmam por meio de algumas questões o que buscamos
nas teorias em relação às emoções e suas interferências no processo de ensino e
aprendizagem, mesmo em momentos históricos, culturais e sociais tão diferentes.
113
CONCLUSÃO
O presente estudo teve como principal objetivo investigar como a interação
entre as emoções básicas e a inteligência interfere no processo de ensino e
aprendizagem dos alunos da turma 3001, do 3º ano do Ensino Médio, do Colégio
Estadual Ernesta Guerra do município de Campos dos Goytacazes/RJ. Para realizar
essa investigação, participou desta pesquisa uma amostra total de 34 alunos e 12
professores. Por meio dessa amostra buscamos conhecer melhor o comportamento
dos alunos, suas emoções expressadas, a relação professor x aluno durante as
aulas, e o processo de ensino e aprendizagem analisando a prática e as notas finais
do ano letivo de 2013, de cada aluno e da turma em geral.
Por meio dos dados coletados durante a pesquisa (de observações
sistematizadas), percebemos os tipos de emoções mais expressadas pelos alunos
através do comportamento e como os mesmos lidam com isso. Também foi possível
ter uma percepção do comportamento dos professores, suas relações interpessoais
com a turma e a maneira que conduz o processo de ensino e aprendizagem.
Os questionários foram os instrumentos que atenderam melhor as
expectativas em relação à pesquisa, como se esperava, pois proporcionou uma
visão integral da turma. As entrevistas contribuíram de maneira direta para uma
compreensão melhor dos motivos que os professores têm para se relacionar e
conduzir o processo de ensino e aprendizagem da forma particular de cada um. A
análise dos rendimentos finais dos alunos e quantidade de aprovados ajudou na
conclusão da reflexão em relação ao aproveitamento dos alunos.
Diante dos resultados encontrados nesta pesquisa foi possível confirmar os
pressupostos teóricos sobre a interação entre as emoções básicas e a inteligência e
como essa interação interfere no processo de melhor desempenho intelectual.
Constatamos que a hipótese do estudo em questão convergiu de forma satisfatória
e completa com os resultados encontrados.
Podemos concluir, que existe a possibilidade de desenvolver um trabalho por
meio das emoções básicas para estimular a inteligência do aluno, contribuindo para
que o mesmo tenha um desenvolvimento intelectual melhor no processo de ensino e
aprendizagem diante dos seguintes resultados apresentados nas respostas dos
alunos e professores:
114
A emoção que prevalece na turma é a alegria. Uma emoção positiva e que foi
apontada pelos alunos, como a mais sentida em sala de aula, que ajuda mais
na concentração, está relacionada à satisfação por meio das amizades e na
demonstração das satisfações em sala de aula, e em outros momentos, por
meio de um bom relacionamento com colegas e professores e também mna
realização das atividades;
A ansiedade foi apontada tanto pelos alunos quanto na opinião dos
professores como a segunda emoção mais sentida e expressada pelos
alunos que incomoda negativamente, sendo a que mais desconcentra os
alunos;
A família continua sendo considerada muito importante como referência para
a educação de base afetiva e demais aspectos;
A importância e necessidade de um relacionamento saudável entre professor
e aluno para efetivar um melhor processo de ensino e aprendizagem;
As relações de amizades como necessárias e importantes para a aceitação e
autoafirmação no grupo social.
A consideração e importância dada ao aspecto emocional no processo de
ensino e aprendizagem.
Os resultados finais da turma também são indicadores positivos de que a
influência das emoções interfere no procedimento da aprendizagem. Nesse
caso, essa interferência está relacionada aos aspectos e emoções positivas
como a alegria, a satisfação, aos relacionamentos interpessoais saudáveis,
enfim, a diversos fatores que prevaleceram nesta turma e que apontaram
contribuição para um melhor rendimento escolar.
Portanto, concluímos por meio dos resultados obtidos, que as emoções
básicas realmente estão presentes na vida dos alunos no cotidiano escolar e que
não são tão exploradas pelo sistema de ensino como acreditamos que deveriam
ser. Portanto, enquanto as metodologias educacionais tradicionais prevalecerem
com o paradigma de que o desenvolvimento da aprendizagem perpassa somente
pelo aspecto cognitivo, maiores serão as dificuldades em compreender a
importância do aspecto emocional e dos outros para mudar essa realidade.
É necessário investir na formação continuada dos professores nessa área
para que os mesmos, compreendendo melhor o assunto, possam se sentir mais
115
seguros para interferir na mediação e contribuição de um melhor processo de
ensino e aprendizagem.
A realização dessa pesquisa foi muito importante para minha prática
profissional e minha vida pessoal, pois acredito que nossas emoções são
responsáveis por nossas ações no plano micro e macro social. O aprofundamento
das teorias que refletem sobre emoção e inteligência contribuíram para meu
desenvolvimento e amadurecimento enquanto ser humano.
Acredito que é possível aperfeiçoar muito as relações interpessoais entre
professor e aluno, quando busca-se ter um olhar holístico do mesmo, quando o
professor sensibiliza-se para compreender e analisar melhor as características
comportamentais deste aluno que muitas vezes por meio das expressões de suas
emoções está pedindo uma atenção para as suas mazelas. Compreender que a
aprendizagem vai muito além de conteúdos requer compromisso, responsabilidade
social e visão de uma educação integral do sujeito. Para isso, é preciso acreditar
nessa possibilidade de mudança, de aprofundar o conhecimento e de buscar
alternativas de novas propostas pedagógicas nas dimensões governamentais.
Professor e aluno são as peças fundamentais no processo de ensino e
aprendizagem, por isso, é necessário ter seriedade e cuidado especial para ambos,
só assim podemos ter uma educação de qualidade.
116
BIBLIOGRAFIA
ALMEIDA, Ana Rita Silva. A emoção na sala de aula. Campinas, SP. - Papirus,
2003. ALVES, Ubiratan Silva. Inteligências múltiplas e inteligência emocional: Conceitos e Discussões. Out/2002.
ANTUNES, Celso. As inteligências múltiplas e seus estímulos. Campinas, SP. –
Papirus, 2003. BINET,A. & SIMON,T.N. Méthodes nouvelles pour lê diagnostique du niveaux intellectuel des anormaux. L‟Année Psychologique, 11, 236-245. (1905). BOURDIER, Pierre. Contribuições de A. Accardo... a miséria do mundo. 3. ed.
Petrópolis-RJ: Vozes, 1999. CAVALIERI, Alda Maria Angelina Pedrosa; SOARES, Adriana Benevides. O que é a inteligência? Uma perspectiva histórico evolutiva. Rev. Cient. Cent. Univ. Barra
Mansa - UBM, Barra Mansa, v.9, n. 17, p. 4, jul. 2007.
DANTAS, H. Afetividade e a construção do sujeito na psicogenética de Wallon, em La Taille, Y., Dantas, H., Oliveira, M. K. Piaget, Vygotsky e Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus Editorial Ltda.1992.
DARWIN, C. A expressão das emoções no homem e nos animais. São Paulo:
Companhia das Letras, 2000. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.
GALVÃO, I. Henry Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. Petrópolis: Vozes, 1996.
GARDNER, H. A criança pré-escolar: Como pensa e como a escola pode ensiná-la. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994a.
__________. Estruturas da mente: a teoria das inteligências múltiplas. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1994b.
__________. Inteligências Múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1995. __________. Inteligência: um conceito reformulado. Rio de Janeiro: Objetiva,
2000. GASKELL, George (Ed.). In: MARTIN, Bauer W.; GASKELL, George (Ed.) Pesquisa qualitativa com texto: imagem e som: um manual prático. 6. ed. Petrópolis-RJ:
Vozes, 2007.
117
GATTI, Bernardete Angelina. A construção da pesquisa em educação no Brasil.
Brasília: Líder Livro Editora, 2007. GOLEMAN, D. Inteligência Emocional: a teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007. __________. Inteligência Emocional: a arte de educar nossos filhos. Rio de
Janeiro: Objetiva, 1997. __________. O Cérebro e a Inteligência Emocional – Novas perspectivas.
Objetiva, Rio de Janeiro, 2012. MATURANA, H. Emoções e linguagem na educação e na política. UFMG, Minas
Gerais, 2002. PIAGET, J. Seis estudos de psicologia. Rio de Janeiro: Forense-Universitária,
1964. __________. O raciocínio na criança. Rio de Janeiro: Record Cultural. (1967). __________. A construção do real na criança. 2.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1975. __________. Epistemologia Genética. Martins Fontes São Paulo, 1990.
SANTROCK, JOHN W. Adolescência. Rio de Janeiro: Ed. LTC. 8ª edição. 2003. SOUZA, D. T. Afetividade na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo:
Summus, 2003. VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 1998. __________. O desenvolvimento psicológico na infância. São Paulo: Martins
Fontes. 1998. ___________. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
WALLON, H. As origens do pensamento na criança. São Paulo: Manole, 1989. __________. Psicologia. In: WEREBE, Maria José; NADEL, Jaqueline Brufert
(Org.). São Paulo: Ática, 1986. __________. A evolução psicológica da criança. Tradução de Cláudia Berliner:
São Paulo: Martins Fontes, 2007. __________. As Origens do Caráter na Criança. São Paulo: Difusão Européia do
Livro, 1971. __________. Psicologia e Educação da Infância. Lisboa: Estampa, 1975.
118
APÊNDICES
119
Entrevistas
Discentes:
Carla, 17 anos.
1) Há quanto tempo estuda nessa escola?
Estudo aqui desde a 5ª série, hoje a gente fala 6º ano, né? Então tem sete
anos.
2) Você gosta da escola, do ambiente?
Gosto, é bom. Fiz muitas amizades, mas poderia ser melhor, ter coisas
mais legais pra fazer. Mas tá bom.
3) Você gosta dos professores, se relaciona bem com eles?
Alguns. Os que dão mais abertura para os alunos, para nós. Aqueles que
dão mais liberdade de nos relacionarmos com eles, não só como professor
e aluno, mas como amigo, que não fala só do conteúdo, mas da vida de
modo geral. Essa relação deixa a gente mais a vontade e aprendemos
melhor, porque não temos tanto receio deles.
4) Quanto ao ambiente de sala de aula, as amizades, você se relaciona bem?
Justifique:
Sim. Me dou bem com todos, mas tem aqueles que me identifico mais, meu
grupo.
5) Quando você está com algum problema em casa ou com os colegas,
emocionalmente você fica abalada? Como?
Lógico. Fico com o pensamento no problema, fico dispersa, não me
concentro. Dependendo do problema fico triste, ansiosa, meio
perturbada....rsrsrs.
120
6) Você acha que atrapalha sua aprendizagem?
Como eu disse, fico perturbada e não consigo me concentrar. Então,
atrapalha por isso. Não presto atenção na aula direito e isso me incomoda,
criando outro problema.
7) Você considera importante estudar sobre questões emocionais, sobre o que
sentimos, como lidar com isso, relacionamentos...? Explique:
Acho que sim, com certeza. Pra gente se conhecer melhor, entender o que
está sentindo e resolver os problemas.
8) Você se considera uma pessoa alegre, triste, ansiosa, nervosa, enfim, qual o
perfil da sua personalidade e que tipo de emoção você acha que predomina
em suas ações?
Rsrsrsrsrs... Lá em casa dizem que sou meio estressadinha, mas não me
acho. Acho que sou alegre, divertida, mas realmente estresso fácil, mas
também logo passa e já fico bem de novo. Sou mais alegre sim e fico bem
ansiosa em época de provas e outras datas de pressão.
121
Gabriel, 17 anos.
1) Há quanto tempo estuda nessa escola?
Três anos. Entrei aqui no 1º ano.
2) Você gosta da escola, do ambiente?
Mais ou menos.
3) Você gosta dos professores, se relaciona bem com eles?
Mais ou menos. Gosto de modo geral, mas nem todos são amigáveis.
4) Quanto ao ambiente de sala de aula, as amizades, você se relaciona bem?
Justifique:
Sim. A turma é legal, unida, mas sempre tem uns caras mais complicados.
5) Quando você está com algum problema em casa ou com os colegas,
emocionalmente você fica abalado? Como?
Mais ou menos. Me sinto um pouco disperso, desanimado, mas depois
passa e me animo novamente.
6) Você acha que atrapalha sua aprendizagem?
Um pouco. Me sinto menos atraído pela aula do que o normal.
7) Você considera importante estudar sobre questões emocionais, sobre o que
sentimos, como lidar com isso, relacionamentos...? Explique:
Acho. Através do estudo dessas questões podemos entender melhor o
que acontece com a gente.
8) Você se considera uma pessoa alegre, triste, ansiosa, nervosa, enfim, qual o
perfil da sua personalidade e que tipo de emoção você acha que predomina
em suas ações?
Eu me considero mais alegre do que triste. Sou tranquilo, mas às vezes
ansioso, diante de pressões ou alguma cobrança, acho que é normal. Mas
122
no meu dia a dia sou alegre e tranquilo. Fico nervoso quando me
perturbam demais, falando nos meus ouvidos.
Docentes:
Professor de Biologia, Roberto:
1) Idade: 49 anos
2) Tempo de magistério: 26 anos
3) Os alunos demonstram interesse por suas aulas?
Eles gostam, principalmente quando é um conteúdo mais prático.
4) Ao trabalhar os conteúdos de Biologia que abordam temas polêmicos de
saúde como, por exemplo, doenças sexualmente transmissíveis, você
relaciona os mesmos a assuntos sobre afetividade, relacionamentos,
emoções?
Não. Nunca nem pensei sobre isso. Abordo focando na parte biológica,
orgânica, realizo experimentos com os alunos, mostrando como seriam as
reações químicas no organismo contaminado, tudo que envolve
conhecimento da parte física, mas nunca pensei em fazer esse link com a
questão emocional, o que seria bem interessante. É uma proposta para as
próximas aulas.
5) Você acredita que as emoções interferem na aprendizagem dos alunos?
Justifique:
Mais ou menos. Nem todas as dificuldades que eles apresentam têm a ver
com o aspecto emocional deles. Muitas vezes, eles não querem nada
mesmo. Mas, até acho que quando estamos de bem consigo mesmo as
coisas fluem melhor. Por exemplo, se eu fosse mais valorizado
profissionalmente, as aulas seriam melhores......rsrsrsrs. É, pode interferir
sim, mas não totalmente.
123
6) Em seu relacionamento professor x aluno existe afetividade?
Sim. Mas sem muita intimidade.
7) O que mais dificulta seu relacionamento com os alunos?
A minha insatisfação com minha profissão. A falta de valorização do
professor é algo muito revoltante pra mim. Participo das greves, questiono
tudo que não concordo, perturbo mesmo. Fui o único a participar da greve
dos professores do estado do Rio de Janeiro e fiz “aquela reposição” de
aula que não repõe nada. Sou indignado mesmo e isso acaba, às vezes,
dificultando a relação com meus alunos.
124
Professora de Inglês, Cíntia:
1) Idade: 52
2) Tempo de magistério: 32 anos
3) Os alunos demonstram interesse por suas aulas?
Sim. Apesar da dificuldade, tento ensinar os conteúdos básicos porque
eles não chegam ao Ensino Médio como deveriam no entendimento de
outra língua. A grande maioria sabe muito mal o basiquinho, então
trabalho o que é essencial mesmo, mas fico satisfeita com a evolução
deles, mesmo não sendo como eu gostaria.
4) Ao trabalhar os conteúdos de Inglês que aborda temas sugestivos, possíveis
de relacionar os mesmos a assuntos sobre afetividade, relacionamentos,
emoções, você aproveita para fazer essa relação ou não vê necessidade?
Sim. Não trabalho de forma específica, mas, sempre que possível, falo de
relacionamentos interpessoais, principalmente porque nessa fase da
adolescência é muito importante. Mas, vejo que não são todos os
professores que têm essa visão. Infelizmente, a maioria dá o conteúdo e
acabou. Eu percebo que tenho essa visão, como outra colega de Língua
Portuguesa que também tem, porque trabalhamos muito tempo em uma
rede particular de ensino de cunho religioso e, nessas instituições com
identidade religiosa, cobram muito dos seus profissionais uma educação
que vá além dos conteúdos, enfatizando também o lado humano, do
cotidiano, das relações, da afetividade, da religiosidade... Então nós temos
outra relação ao lidar com os alunos, porque enxergamos os mesmos além
de “só pessoas” que estão ali para aprender um conteúdo específico. Não
estou me gabando, mas é uma realidade, e essa fundamentação que temos
ajuda muito a compreender e levar em consideração a importância do
relacionamento afetivo com os alunos e tratar desses assuntos com eles
também.
125
5) Você acredita que as emoções interferem na aprendizagem dos alunos?
Justifique:
Muito. O estado emocional de qualquer pessoa ajuda ou atrapalha seu
desenvolvimento, sua aprendizagem, seu trabalho. No caso dos meus
alunos, percebo que os mesmos, quando apresentam algum problema em
casa ou da própria idade relacionado a afetividade, emocional, ele fica
totalmente desligado da aula ou irritado. Atrapalha a concentração dele
mesmo e às vezes, se for muito agitado, também dos colegas. Eu mesma
quando não estou bem, a aula não é a mesma.
6) Em seu relacionamento professor x aluno existe afetividade?
Sim. Como acabei de dizer, acho muito importante e tenho essa relação de
afetividade com eles, pela percepção que tenho sobre isso como te
expliquei na questão anterior.
7) O que mais dificulta seu relacionamento com os alunos?
A dificuldade na compreensão dos conteúdos com já te falei, mas que
tento amenizar sempre.
126
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO
CENTRO DE CIÊNCIAS DO HOMEM – CCH
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COGNIÇÃO E LINGUAGEM
Querido aluno,
O questionário que você irá responder não é uma prova e sim uma
pesquisa para compreender melhor como você aprende e como suas emoções
interferem em sua aprendizagem.
Todas as suas respostas são de grande importância para a pesquisa
que estou realizando e são confidenciais. Não existem respostas corretas ou
erradas nesse questionário. Por isso, fique bem à vontade para responder
com bastante sinceridade.
Agora, inicie lendo as questões com muita atenção reflita sobre as
mesmas e responda-as livremente.
Muito obrigada pela participação na realização dessa pesquisa!
O DESAFIO DA EXISTÊNCIA HUMANA ESTÁ NA BUSCA DO EQUILÍBRIO
ENTRE A RAZÃO E A EMOÇÃO.
Giovana Brunetti
127
QUESTIONÁRIO
Público a ser aplicado: alunos da turma 3001, do 3º ano, do Ensino Médio, da Escola
Estadual Ernesta Guerra (nome fictício).
Aluno (a):________________________________________________________
Ano: ________________ Turma: ______________
Idade: _______________
Sexo: ( ) masculino ( ) feminino
LEIA COM ATENÇÃO AS PERGUNTAS E RESPONDA-AS COM BASTANTE
SINCERIDADE:
1) Quais são os seus principais desejos em relação a realização dos seus estudos? ( ) Concluir os estudos. ( ) Conseguir um emprego. ( ) Trabalhar em que mais gosta. ( ) Realizar o desejo da família.
2) Qual o grau de satisfação em relação aos seus estudos? ( ) Ótimo. ( ) Bom. ( ) Razoável. ( ) Ruim. 3) Quais emoções e sentimentos você sente com mais frequência, em sala de aula? ( ) Tristeza. ( ) Ansiedade. ( ) Alegria.
( ) Raiva. 4) Você acredita que seu estado emotivo pode influenciar seu processo de aprendizagem? ( ) Sim. ( ) Não. 5) Se você assinalou SIM na questão (4), responda: Influencia de que forma? ( ) Positivamente. ( ) Negativamente. ( ) Positivamente e negativamente.
128
6) Se você assinalou NÃO na questão (4), responda: não influencia por quê? ( ) Tanto faz o que sinto em relação a minha aprendizagem. ( ) Não me sinto influenciado(a) por meu estado emocional. 7) Quais emoções e sentimentos mais desconcentram você em sala de aula?
( ) Alegria. ( ) Raiva. ( ) Tristeza. ( ) Ansiedade. 8) Quais emoções e sentimentos ajudam na sua concentração em sala de aula? ( ) Alegria. ( ) Raiva. ( ) Tristeza. ( ) Ansiedade.
9) Quando em sua casa acontecem discussões entre as pessoas da sua família, esse fato interfere negativamente em sua concentração e relacionamento em sala de aula? ( ) Muito. ( ) Pouco. ( ) Mais ou menos. ( ) Não interfere. 10) Quando você discute com os amigos da sua escola, se sente: ( ) Com razões para isso. ( ) Triste.
( ) Arrependido(a). ( ) Com vontade de ficar bem logo com eles. 11) Essas discussões com seus amigos interferem em sua aprendizagem? ( ) Muito. ( ) Mais ou menos. ( ) Pouco. ( ) Não interferem. 12) O que lhe dá mais satisfação em sala de aula?
( ) O relacionamento professor x aluno. ( ) O relacionamento aluno x aluno. ( ) A aprendizagem construída. ( ) O conteúdo trabalhado. 13) O que deixa você mais insatisfeito(a) em sala de aula? ( ) As amizades. ( ) O conteúdo trabalhado. ( ) A dificuldade em aprender. ( ) A relação com os professores.
129
14) Como você expressa suas emoções para demonstrar sua satisfação dentro da sala de aula? ( ) Participando das aulas. ( ) Relacionando-se bem com todos. ( ) Elogiando os professores. ( ) Realizando as atividades com vontade.
15) Como você expressa suas emoções para demonstrar sua insatisfação dentro da sala de aula? ( ) Agredindo verbalmente ou de outro modo, colegas ou professores. ( ) Ficando sério, emburrado. ( ) Sendo agressivo com todos. ( ) Ficando tímido, retraído. 16) Atribua uma nota de 0 a 10 para: a) O seu relacionamento com a turma e professores: _____
b) O relacionamento entre os alunos dessa turma e os professores: ____ c) O relacionamento entre os colegas dessa turma: ____ d) O relacionamento entre os alunos dessa turma e a Equipe Pedagógica (Supervisão e Orientação): ____ 17) Enumere em ordem de preferência (1ª à última ) as disciplinas abaixo: Língua Portuguesa e Literatura: ____ Matemática: ____ Física: ____ Química: ____ Geografia: ____
História: ___ Biologia: ____ Inglês: ____ Educação Física:____ Filosofia: _____ Sociologia: ____ Produção Textual: _____ 18) Marque a alternativa que demonstre o motivo principal para você gostar mais da disciplina que ficou em primeiro lugar: ( ) O Professor.
( ) Os conteúdos. ( ) As metodologias das aulas. ( ) Outro - Qual? ________________________________________________ 19) Enumere em ordem de importância (1 mais importante até 5 menos importante) , os pontos positivos de um bom relacionamento com seus professores: ( ) Metodologia adequada, motivadora. ( ) Melhor aprendizagem. ( ) Ambiente mais tranquilo. ( ) Relacionamento interpessoal harmonioso com professor e colegas.
130
20) Enumere, em ordem de preocupação, os pontos negativos de um mau relacionamento com seus professores: ( ) Rejeição da aula. ( ) Dificuldade de aprendizagem. ( ) Ambiente estressante. ( ) Relacionamento interpessoal difícil com professor e colegas.
( ) Metodologia cansativa. 21) Você gostaria de ter aulas específicas que estudassem sobre relacionamentos/emoções? ( ) Sim ( ) Não 22) Em caso de sim, por quê? ( ) Considero importante. ( ) Considero pouco importante. ( ) Não considero importante.
OBRIGADA PELA SUA CONTRIBUIÇÃO!
131
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO
CENTRO DE CIÊNCIAS DO HOMEM - CCH
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COGNIÇÃO E LINGUAGEM
Caro colega professor,
O questionário que você irá responder não é uma prova e sim uma
pesquisa para compreender melhor como eu aluno aprende e como as
emoções interferem na aprendizagem do mesmo.
Todas as suas respostas são de grande importância para a pesquisa
que estou realizando e são confidenciais. Não existem respostas corretas ou
erradas nesse questionário. Por isso, fique bem à vontade para responder
com bastante sinceridade.
Agora, inicie lendo as questões com muita atenção reflita sobre as
mesmas e responda-as livremente.
Muito obrigada pela participação na realização dessa pesquisa!
O DESAFIO DA EXISTÊNCIA HUMANA ESTÁ NA BUSCA DO EQUILÍBRIO
ENTRE A RAZÃO E A EMOÇÃO.
Giovana Brunetti
132
QUESTIONÁRIO Público a ser aplicado: professores da turma 3001, do 3º ano do Ensino Médio, da Escola
Estadual Ernesta Guerra (nome fictício).
Idade: _________________________
Sexo: ( ) masculino ( ) feminino
Disciplina: ______________________
Turma: _________________________
Tempo de magistério: ______________
LEIA COM ATENÇÃO AS PERGUNTAS E RESPONDA-AS COM SINCERIDADE:
1) Qual o nível de satisfação demonstrado pelos alunos em relação aos conteúdos
trabalhados em suas de aula?
( ) Ótimo.
( ) Bom.
( ) Regular.
( ) Ruim.
2) De modo geral, qual a emoção mais expressada pelos alunos durante o desenvolvimento
da sua aula?
( ) Alegria.
( ) Ansiedade.
( ) Satisfação.
( ) Rejeição.
3) A qual motivo você atribui a resposta apresentada na questão anterior (nº 02) ?
( ) Ao relacionamento professor x aluno.
( ) A dificuldade em aprender.
( ) Ao desejo de aprender.
( ) A interação da turma com o conteúdo.
133
4) Qual o nível de satisfação demonstrado pelos alunos em relação às atividades em
grupo?
( ) Ótimo.
( ) Bom.
( ) Regular.
( ) Ruim.
5) Qual a emoção mais expressada pelos alunos durante as atividades realizadas em
grupo?
( ) Alegria.
( ) Ansiedade.
( ) Rejeição.
( ) Satisfação.
6) Qual o nível de satisfação demonstrado pelos alunos quanto ao relacionamento entre
colegas?
( ) Ótimo.
( ) Bom.
( ) Regular.
( ) Ruim.
7) Qual a emoção mais expressada pelos alunos no relacionamento entre colegas em sala
de aula?
( ) Alegria.
( ) Ansiedade.
( ) Rejeição.
( ) Satisfação.
8) Qual o nível de satisfação demonstrado pelos alunos quanto ao relacionamento deles
com os professores de modo geral?
( ) Ótimo.
( ) Bom.
( ) Regular.
( ) Ruim.
134
9) Qual a emoção mais expressada pelos alunos no relacionamento deles com os
professores de modo geral?
( ) Alegria.
( ) Ansiedade.
( ) Rejeição.
( ) Satisfação.
10) A expressão das emoções dos alunos é algo que o preocupa?
( ) Muito.
( ) Mais ou menos.
( ) Pouco.
( ) Não preocupa.
11) O que deixa os alunos mais satisfeitos em sala de aula?
( ) O relacionamento professor x aluno.
( ) O relacionamento aluno x aluno.
( ) A aprendizagem construída.
( ) O conteúdo trabalhado.
12) O que deixa os alunos mais insatisfeitos na sala de aula?
( ) O relacionamento professor x aluno.
( ) O relacionamento aluno x aluno.
( ) A aprendizagem não satisfatória.
( ) O conteúdo trabalhado.
13) Como os alunos têm demonstrado através de suas emoções, sua satisfação dentro da
sala de aula?
( ) Participando das aulas.
( ) Relacionando-se bem com todos.
( ) Elogiando os professores.
( ) Demonstrando prazer pelo aprendizado.
135
14) Como os alunos têm demonstrado através de suas emoções, sua insatisfação dentro da
sala de aula?
( ) Agredindo verbalmente ou de outra forma, colegas ou professores.
( ) Ficando sério, emburrado.
( ) Tendo atitudes agressivas.
( ) Ficando tímido, retraído.
15) Que importância você, professor da turma 3001 atribui ao aspecto emocional na
aprendizagem?
( ) Muito importante.
( ) Importante.
( ) Pouco importante.
( ) Irrelevante.
16) Na prática pedagógica de suas aulas, são desenvolvidas atividades lúdicas que
envolvem o aspecto emocional dos alunos?
( ) Sim.
( ) Não.
17) Em caso afirmativo, (na questão anterior), numere por ordem das mais usadas:
( ) Dinâmica de grupo.
( ) Análise de vídeo reflexivo.
( ) Debates sobre temas relacionados a afetividade.
( ) Palestras sobre o assunto.
18) Como você considera seu envolvimento afetivo/relacional com os alunos da turma
3001?
( ) Excelente.
( ) Ótimo.
( ) Bom.
( ) Ruim.
136
19) Como você considera o envolvimento afetivo/relacional da maioria dos professores da
turma 3001 com os alunos?
( ) Excelente.
( ) Ótimo.
( ) Bom.
( ) Ruim.
20) Na sua opinião, o que mais dificulta o relacionamento interpessoal dos professores da
turma 3001 com os alunos?
( ) A falta de interesse dos alunos com a aprendizagem.
( ) A ausência da família na educação de valores.
( ) A insatisfação dos professores com sua profissão.
( ) A falta de apoio da administração da escola.
21) Enumere em ordem de importância os pontos positivos de um bom relacionamento
afetivo com seus alunos:
( ) Aceitação melhor da aula.
( ) Melhor aprendizagem dos conteúdos.
( ) Ambiente mais tranquilo para a aprendizagem.
( ) Relacionamento interpessoal harmonioso.
22) Enumere, em ordem de preocupação os pontos negativos de um mau relacionamento
afetivo com seus alunos:
( ) Rejeição da aula.
( ) Dificuldade de aprendizagem.
( ) Ambiente estressante.
( ) Relacionamento interpessoal dificultoso.
23) Você concorda em incluir na Proposta Curricular Educacional Brasileira da Educação
Básica o ensino do conhecimento das relações intra e interpessoal, ou seja, conteúdos que
trabalhem com as emoções?
( ) Sim.
( ) Não.
137
24) Em sua opinião, qual a relevância do estudo sobre conhecimento intra e interpessoal no
processo ensino - aprendizagem?
( ) Muito relevante.
( ) Pouco relevante.
( ) Sem relevância.
25) Você já tinha proposto algum trabalho sobre a Afetividade/Relacional em sua turma?
( ) Sim Qual?
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
______________________________________________________________________
( ) Não
26) Você já tinha proposto algum trabalho sobre a Afetividade/Relacional, junto a equipe
técnico pedagógica dessa escola?
( ) Sim Qual?
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
( ) Não
27) Qual o grau de importância que você atribui ao aspecto emocional na influência da
aprendizagem de seu alunos?
( ) Muito importante.
( ) Mais ou menos importante.
( ) Pouco importante.
( ) Não é importante.
OBRIGADA PELA SUA CONTRIBUIÇÃO!