179
ENCONTRO COM O OUTRO, FORMAÇÃO, MEDIAÇÃO, PESQUISA E CRIAÇÃO: POSSÍVEIS ENTRELAÇAMENTOS

Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

Embed Size (px)

DESCRIPTION

 

Citation preview

Page 1: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

ENCONTRO COM O OUTRO, FORMAÇÃO, MEDIAÇÃO,

PESQUISA E CRIAÇÃO: POSSÍVEIS

ENTRELAÇAMENTOS

Page 2: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos
Page 3: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

RELATÓRIO FINAL DE PÓS-DOUTORAMENTO

ENCONTRO COM O OUTRO, FORMAÇÃO, MEDIAÇÃO, PESQUISA E CRIAÇÃO:

POSSÍVEIS ENTRELAÇAMENTOS

Relatório fi nal de pós–doutoramento apresentado ao Programa de Pós Graduação em Educação, Arte e História da Cultura da Universidade Presbiteriana Mackenzie de acordo com a chamada pública do Programa Nacional de Pós-Doutorado (PNPD) da CAPES / MEC, em conformidade com a portaria CAPES Nº. 086, de 03/07/2013.

Prof. Dr. Ronaldo Alexandre de Oliveira Responsável Científi ca: Profª. Drª. Mirian Celeste Martins

Page 4: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

Agradecimentos

Meus agradecimentos ao Programa de Pós-Graduação

em Educação, Arte e História da Cultura da Universidade

Presbiteriana Mackenzie e à prof. Dra. Mirian Celeste Martins,

que ao acolher, como supervisora científica, este projeto de

pós-doutoramento revelou mais uma vez sua visão afetuosa

para com os processos colaborativos de habitar o mundo, a

arte e a educação.

Meus agradecimentos também à CAPES – Coordenação

de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, cuja

concessão de bolsa tornou possível a realização desta

pesquisa. Agradeço ao Departamento de Arte Visual da

Universidade Estadual de Londrina – Pr, que viabilizou e

apoiou este projeto de pós-graduação.

Agradeço à Escola Municipal Professora Aracy Soares dos

Santos, situada no distrito de Irerê – Londrina – Pr., na pessoa da

diretora profa. Ivone Aparecida dos Santos e da supervisora

Page 5: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

pedagógica profa. Maria Ângela Seixa que acolheram e

tornaram possível o desenvolvimento desta investigação/

ação. Mais do que colher dados, nossa intenção foi, de algum

modo, intervir e contribuir para a transformação do olhar das

crianças para com a cidade, a arte e a educação. Agradeço

imensamente às crianças, estudantes da quinta série (ano

de 2014) da referida escola: Anderson Rafael Maximiano

Dos Santos, Ana Beatriz Gonçalves De Souza, Bruna Eduarda

Da Cunha Godoi, Claudia Leticia Da Silva, Djonatas Ozorio

Roque Geremias, Eder Sanches Carrinho Junior, Emanuela

Felismino, Fabricio De Oliveira Barboza, Gabriel Henrique

De Lira De Souza, Giovana De Freitas Matos, Giovana Nami

Ramos Myaky Quintiliano, João Augusto Moreno Carrinho,

Julia Evelin Santos Carvalho, Layne Vanessa Ferreira De Lima,

Laysa Cristina De Paula, Mateus Ferreira Motta, Matheus Silva

Rosa, Pedro Araujo Mota, Pedro Henrique Martins Pereira,

Ricardo Tomaz Tome, Stefany Eduarda Cordeiro De Lira e

Wesley Candido Da Costa que juntos nos deram o prazer

de percorrer as ruas de Irerê, sejam elas físicas ou simbólicas

e assim - tendo a arte como caminho e destino - pudemos

encontrar lugares outros para habitar o mundo.

Agradeço também à profª. Andressa Tatielle que aceitando

meu convite para acompanhar-me no desenvolvimento do

trabalho em Irerê, mostrou-se além de competente, uma

parceira dedicada, afetuosa e altamente comprometida

para com as crianças, a educação e a arte.

Agradeço ao prof. Fernando Stratico pela cuidadosa

leitura deste texto, acrescentando opiniões e contribuições

valiosas. Sou grato a todos aqueles que, de alguma forma,

contribuíram para minha trajetória que cada vez mais vou

tendo clareza do quanto ela foi sendo construída nas inter-

relações.

Page 6: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos
Page 7: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

Resumo

RESUMO: Guiados pela necessidade de descobrir a maneira

pela qual a produção contemporânea de arte pode

contribuir para a construção de metodologias para o ensino

da arte, esta pesquisa teve como objeto de estudos o projeto

curatorial e determinadas produções que compuseram a 27ª

Bienal Internacional de São Paulo(2006). A partir dos estudos

da obra de Mônica Nador, desenvolvida junto ao Jardim

Mirian Arte Clube (JAMAC / Brasil) e da Cooperativa Cultural

Eloísa Cartonera (Buenos Aires/Argentina), compreendemos

o quanto estas produções apresentam um cunho altamente

social, sendo que seus propositores trabalham com uma

atitude colaborativa e dialógica, em constante encontro com

o outro. Tais qualidades possuem uma correspondência com

a Estética Conectiva e Estética Relacional, como entendem

Suzi Gablik e Nicolas Bourriaud respectivamente. Assim, a partir

de noções sobre Estética Conectiva e Relacional (Gablik e

Bourriaud), Dialogicidade (Paulo Freire) e Lugar (Yi-Fu Tuan),

desenvolvemos uma prática educativa em escola básica,

no distrito de Irerê/Londrina /Paraná, onde trabalhamos com

um grupo de 25 crianças do 5° ano do ensino fundamental.

Tendo a cidade como foco desta intervenção, buscamos

estimular o restabelecimento de vínculos (entre estudante

e cidade) muitas vezes perdidos para com o lugar; sendo

outros vínculos despertos pela primeira vez. Os resultados da

pesquisa teórica e da parte prática apontam para o quanto

podemos aprender com a produção contemporânea de

arte e para o quanto esta produção pode ser inspiradora,

tendo a potencialidade para redimensionar nossas práticas

docentes.

Palavras-Chaves: Processos Colaborativos em Arte,

Dialogicidade, Ação Docente.

Page 8: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos
Page 9: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

9

SUMÁRIO

1 - INTRODUÇÃO: DAS INTENÇÕES PARA UM PÓS-DOUTORAMENTO. 10

2 - PREMISSA E INDAGAÇÃO DA PESQUISA 16

3 - METODOLOGIA 16

4 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO METODOLÓGICA 17

4.1 - Campo expandido, estética conectiva, arte relacional 17

4.2 -Cidade, escola e outros espaços - possibilidades de encontro com o outro 21

5 - DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA: CONTRIBUIÇÕES DA ARTE CONTEMPORÂNEA NA CONSTRUÇÃO DE METODOLOGIAS

DIALÓGICAS PARA O ENSINAR E O APRENDER ARTE 28

6 - OS ARTISTAS, SEUS CONTEXTOS, SUAS PROPOSIÇÕES 30

7) AÇÃO DOCENTE ARTÍSTICA PEDAGÓGICA 81

8 - CONSIDERAÇÕES FINAIS 158

9) REFERêNCIAS BIBLIOGRáFICAS 163

10) RESUMO DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA 169

Page 10: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

10

1 - INTRODUÇÃO: DAS INTENÇÕES PARA UM PÓS-

DOUTORAMENTO.

Os motivos que me levaram a submissão de um

projeto de pós-doutoramento vinculado ao Programa de

Pós-Graduação em Educação, Arte e História da Cultura

da Universidade Presbiteriana Mackenzie, situado numa

possível e desejável vinculação com o grupo de pesquisa

Mediação Cultural: Contaminações e Provocações Estéticas

guardavam estreito vínculo com a minha trajetória pessoal e

profissional. Hoje, ao fazer este relatório final, depois de ter

vivenciado este tempo de afastamento de minha Instituição

e ter tido tempo de recuar-me um pouco para olhar para

as minhas ações formativas, vejo o quanto foi relevante este

distanciamento e ao mesmo tempo o trânsito e contato

com outras Instituições, outras pessoas, profissionais, espaços,

lugares e situações experienciadas.

O primeiro motivo que me impulsionava a submeter o

projeto ao Programa estava em consonância com a trajetória

de pesquisa que havia desenvolvido desde a defesa de

minha dissertação de mestrado1. Naquele estudo, busquei

1 Dissertação de mestrado intitulada “Arte e Ensino Público: Desvelando uma experiência com ensino de artes visuais na cidade de Jacareí - Conquistas, transformações e limites”, defendida no ano de

Page 11: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

11

documentar e analisar ações desenvolvidas no âmbito da

Secretaria Municipal de Educação de Jacareí - SP. Ali, procurei

analisar ações que fomentavam a formação em arte num

sentido mais amplo, pois as mesmas, ainda que de maneira

tímida, já traziam em seu bojo a ideia de formação enquanto

mediação. Estas ações também continham indícios do

entendimento do ato de educar e de formar como um ato

criador e construído coletivamente, pois as ações analisadas

apontavam para essa dimensão. As proposições eram

voltadas tanto aos alunos da educação básica, que iniciavam

as suas descobertas e inventividades no mundo, quanto

àquelas pessoas que cuidavam da formação continuada do

educador, encarando-os enquanto protagonistas dos seus

processos. Estas ações foram investigadas tendo como pano

de fundo a ideia de criação, de construções coletivas. Pensar

e efetivar a formação naquele contexto requeriam de todos

os envolvidos, ações simultâneas tanto para aqueles que se

encontravam na condição de estudantes, quanto para os

docentes que se viam na urgência de querer fazer mais na

formação, sendo que este fazer fosse construído de outro

modo.

A pesquisa de mestrado desdobrou-se na tese de

2000, pelo Programa de Pós Graduação em Educação, Arte e História da Cultura da Universidade Presbiteriana Mackenzie, sob orientação do Prof. Dr. Norberto Stori.

doutorado2. O estudo sobre a construção da aula pelo

educador tocava em questões que diziam respeito à condição

criadora que a docência abriga e o quanto os modos de ser

docente podem ser reinventados pelos professores quando

de posse dos diferentes espaços-tempos da educação.

O estudo realizado no doutoramento foi motivado pelas

disparidades com as quais convivia, e constato que ainda

hoje convivo com os diferentes modos e atitudes de exercer

o “ser docente” e consequentemente de habitar o mundo.

Quis assim, investigar os modos como se constrói a docência

por sujeitos/professores que são considerados realizadores de

boas aulas, ainda que em condições adversas, iguais a muitas

que estão dispersas por este imenso país. No estudo, privilegiei

as narrativas, as histórias de vida. Procurei eu mesmo, trazer

para dentro do estudo imagens que havia construído ao

longo de minha trajetória. Estas imagens estão contidas na

tese e até hoje me ajudam a pensar os modos como fui me

constituindo como sujeito da docência e também enquanto

pessoa. Estas imagens dizem muito sobre o que penso sobre a

educação, sobre a arte e sobre a vida. A produção fez parte

do estudo não como um exercício artístico, na literalidade

2 A tese à qual me refiro foi intitulada “Arquitetura da Criação Docente: A aula como ato criador”, defendida em 2004, no Programa de Pós-Graduação em Educação: Currículo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sob a orientação da Profª. Dra. Marina Feldmann.

Page 12: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

12

da palavra “artista”, mas sim, como um produtor / construtor

/ pesquisador de imagens que trabalha para compreender

seu próprio processo. Era disso que estas imagens falavam e

ainda falam. Um jeito peculiar de entender aquilo que faço

e também o quê os nossos ofícios fazem de nós.

O segundo motivo esteve relacionado aos resultados

de um projeto de pesquisa desenvolvido entre os anos de

2009 e 2012, a partir dos relatórios de estágio construídos por

estudantes de arte da Universidade Estadual de Londrina (UEL),

intitulado “Formação Inicial e Continuada de Educadores

em Arte: Marcas e Perspectivas dos Saberes e Fazeres

Docentes”3, que indicaram a necessidade de se repensar as

maneiras de praticar a docência/formação em suas diversas

instâncias, tanto no espaço da Universidade, responsável pela

formação dos graduandos nos cursos de licenciatura, locus

da minha atuação docente, quanto daqueles que realizam

seus trabalhos de campo, praticando a docência nos seus

3 Tal projeto promovia uma investigação que teve como objetivo principal identificar situações-problema relacionadas ao ensino de artes visuais nas escolas, trazidas à Universidade por meio do estágio curricular e de ações extensionistas já existentes, tornando-as objeto de análise e discussão, a fim de subsidiar as ações de formação inicial e continuada de educadores em arte propostas pelo Departamento de Arte Visual da Universidade Estadual de Londrina. O material primário que constituiu o corpus da pesquisa foi constituído pelos relatórios provenientes do campo de estágio, e a metodologia esteve centrada na análise de conteúdos desses relatórios gerados no curso de Licenciatura em Artes Visuais. Para tanto, tomamos 232 relatórios de estágio gerados entre os anos de 1996 e 2008.

estágios curriculares obrigatórios supervisionados. O estágio

curricular foi visto neste projeto enquanto área sinalizadora e

balizadora para a formação, tornando-se assim espaço de

pesquisa para a iniciação dos fazeres e saberes docentes

dos estudantes - estagiários que adentram o território escolar

para o exercício do magistério.

Este projeto contou com a colaboração de seis

professores e cinco estudantes que desenvolveram nove

pesquisas de Iniciação Científica, mostrando-nos as

fragilidades do ensino de arte na escola básica, desveladas

pela fragmentação dos saberes, falta de trabalhos

colaborativos, pelo distanciamento do fazer arte por parte

daqueles que ensinam, o que faz com que eles ensinem

aquilo que não mais vivenciam e também pela exclusão

das histórias e culturas dos alunos diante dos conteúdos

trabalhados. Estas pesquisas de Iniciação Científicas que

compuseram o projeto maior nos mostraram a necessidade

de ressignificação das relações entre ensinar e aprender e

o quanto os conteúdos deveriam estar em sintonia com as

questões sociais e culturais, de modo a dialogar com a vida

dos alunos.

O terceiro motivo derivou do projeto de pesquisa que

coordeno na Universidade Estadual de Londrina, intitulado

“Produzir arte - produzir educação na perspectiva da estética

Page 13: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

13

conectiva e da arte relacional”4, que está em andamento.

Nele, procuramos investigar, por meio da pesquisa-ação,

tanto na escola básica, quanto na Universidade, meios

que nos levem a reflexões e ações sobre os modos como

estudantes e professores concebem os espaços (da cidade,

da escola, do desenho) e tomando estes pressupostos como

mote desencadeador para repensar o lugar de cada um no

mundo. Há um nicho da produção contemporânea de arte

que trabalha numa vertente colaborativa, onde necessita

da presença do outro para a mesma se configurar enquanto

4 Tal projeto visa a investigar as dimensões artísticas e educacionais a partir da Estética Conectiva (Suzi Gablik); da Arte Relacional (Nicolas Bourriaud) e do conceito de Dialogicidade em Paulo Freire. Partindo destes conceitos e ancorados na metodologia da pesquisa participante e da pesquisa-ação, fomenta-se e propõem-se práticas artísticas e educacionais nas quais o encontro com o Outro é um fator determinante e preponderante. Neste encontro com o Outro, refletir sobre o espaço torna-se fundamental, pois um dos objetivos do projeto é compreender a dimensão espacial na perspectiva do conceito de campo ampliado, buscando maneiras de nele intervir, entendendo e identificando as relações existentes em determinados espaços, e como o encontro com o Outro pode ressignificá-los. O público com o qual o projeto lida é constituído por docentes e estudantes do curso de Artes Visuais, alunos, docentes e a comunidade da escola básica, assim como aqueles que habitam e transitam pela cidade, uma vez que o espaço da cidade é um dos espaços/lugares os quais nos propusemos intervir/investigar. A avaliação assume uma dimensão qualitativa a partir da verificação das ações que forem se efetivando no âmbito dos espaços de ensino-aprendizagem nos quais o projeto atua (cidade, escola, universidade). O Projeto conta com a participação de 6 estudantes da Graduação, 06 professores do departamento de Artes Visuais e Cênicas da Universidade Estadual de Londrina. Desde seu início (2012), já teve 04 pesquisas de Iniciação Científica derivadas do projeto de pesquisa.

obra, e têm sido este um dos eixos da nossa investigação

que baliza o desejo de pensar também sobre aspectos

colaborativos na educação - processos colaborativos de

criação em arte, sinalizando processos de criação de se

fazer pesquisa e educação. De algum modo, compreender

as instâncias colaborativas da arte, essa que vai de encontro

ao Outro, que se faz com o Outro como espaço fecundo e

profícuo para se fazer arte, cultura e educação.

E finalmente, o quarto motivo que me fez querer

empreender este estudo é por constatar, no desenvolvimento

do meu trabalho voltado à formação de professores

na Licenciatura em Artes Visuais, o quanto precisamos

redimensionar a formação e a atuação docente para que as

mesmas possam fazer sentido tanto para aquele que ensina

quanto para aquele que aprende. São nestes espaços tempos

da formação e da atuação docente que venho procurando

experimentar metodologias diferenciadas5, para o ensino das

artes visuais, que incorporem o sujeito da aprendizagem no

5 Um dos exemplos que tenho considerado enquanto metodologia diferenciada para o ensino das artes visuais é a ação que intitulei “Por uma história íntima do objeto”. Trata-se de um procedimento metodológico que venho utilizando nas disciplinas de Fundamentos e Metodologias para o ensino das artes visuais. Nelas, tomamos os objetos pessoais como eixo nucleador das ações para se pensar o ensinar e aprender arte. Esta prática parte da ideia de objeto e lugar e, por meio das narrativas orais, cada um vai discorrendo sobre suas histórias de vida. Os autores que têm fundamentado este trabalho são Marie Chistinne Josso, Antonio Nóvoa, Yi-Fu Tuan e Eclea Bosi.

Page 14: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

14

seu próprio processo de construção de conhecimento. Esta

perspectiva visa a efetivar metodologias que há muito vem

sendo propostas por vários teóricos no campo da educação,

consolidando-as. Estas metodologias experimentadas

reivindicam outros espaços e modos de se fazer arte e

também educação. São caros a estas metodologias a

presença de vozes, marcas e inventividades daqueles que

constroem as suas formações; que a formação não exclua

aquilo que cada um tem de mais precioso na construção

do conhecimento, que é o sentido de pertencimento diante

daquilo que construo; reconhecer-me na minha fala, no meu

corpo, na minha ação e meu lugar no mundo. Conceber

a formação - seja em que nível for - numa dimensão que

considere o sujeito que aprende como ponto de partida dos

processos de aprendizagem.

Nesta perspectiva, é que vi e vejo o quanto é necessário

pensar em outros modos de se fazer educação, e que esta

formação possa trilhar um caminho que seja criadoramente

inventado e que isso ressoe no próprio educador, tornando-o

autor dos seus métodos e de suas práticas. Pois, conceber

a formação é, de certa maneira, conferir ao sujeito que

aprende modos de restituir a si mesmo suas marcas, sua própria

história, e, a partir daí, vislumbrar os possíveis entrelaçamentos

ou possíveis conexões com os conteúdos pertinentes à área

com a qual se está trabalhando. Nesse sentido, busquei

aportes para esta investigação, nas metodologias artísticas

e também a/r/tografia. No artigo intitulado Métodos

Alternativos de Pesquisa na Universidade Contemporânea:

Uma Reflexão Crítica sobre A/R/Tografia e Metodologias de

Investigação Paralelas, Leonardo Charréu toca na tradição

da pesquisa qualitativa e sobre a necessidade de se criar

novas metodologias em investigação em artes. A partir

dos estudos de Ricardo Marin Viadel, Charréu afirma que:

“dispomos hoje de um número suficiente de investigações, de

revistas internacionais especializadas, congressos nacionais e

internacionais e de grupos de investigação, que nos permitem

afirmar que, desde algumas décadas, a educação artística

se tem configurado como um território de investigação com

a sua própria identidade distinta, situado exatamente na

interseção entre os problemas das artes visuais e os problemas

educativos que são colocados por novos tempos e por novas

necessidades e, consequentemente, não são solucionáveis

com as estratégias do passado (CHARRÉU, p. 102, 2013).

Seguindo esta mesma direção, Rita L. Irwin afirma que

“A a/r/tografia é uma pesquisa viva, um encontro construído

através de compreensões, experiências e representação

artísticas e textuais. Neste sentido, o sujeito e a forma de

investigação estão em um constante tornar-se” (IRWIN, 2013,

Page 15: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

15

p. 28). Ainda segundo Irwin, a a/r/tografia, muitas vezes, tem

um caráter intervencionista. São pesquisas que concentram

seus esforços em melhorar a prática, compreender a prática

de uma perspectiva diferente, e/ou usar suas práticas para

influenciar as experiências dos outros (IRWIN, 2013, p. 29).

Ancorados neste pensamento de Irwin, é que escolhemos sair

do lugar tradicional daquele que forma (a Universidade) para

ir investigar / intervir no lugar onde aqueles que formamos

vão atuar quando terminam as suas graduações - a escola

básica. Foi muito interessante e revelador investigar / intervir na

escola básica, por meio do projeto que desenvolvemos num

total de um semestre letivo (17 encontros). Neste processo,

foi possível ver muito de perto as necessidades, os conflitos,

as dedicadas relações e atuações que precisamos ter para

que realmente possamos contribuir enquanto formadores.

Desta maneira, a proposta desenvolveu-se a partir

de um projeto de pesquisa intitulado Encontro com o

outro, formação, mediação, pesquisa e criação - possíveis

entrelaçamentos que intencionou desenvolver a investigação

acerca do ensino e aprendizagem da arte numa perspectiva

que pressupunha e considera a relação do apreender e

do ensinar de forma dialogada e relacional. Neste sentido,

recorreremos às metodologias artísticas, conforme proposições

da A/r/tografia, assim como a partir dos modos de feitura de

determinadas obras e artistas, cujas produções necessitam

da presença e do encontro com o Outro, compreendendo

o processo como criação, e, portanto, formação. Refiro-me

a um eixo que lida com os processos colaborativos, em que

a “obra” não resulta necessariamente num objeto artístico,

pois aqui a atitude diante do mundo pode ter um contorno

estético, e este movimento possa ser fruto do que estou

chamando deste possível entrelaçamento entre pesquisar,

formar, mediar e criar. Existia desde o início da construção

do projeto de pesquisa o desejo/ideia de entrelaçamento,

que estas dimensões pudessem ser amalgamadas na

constituição de atitudes perante a vida, que compreende

os territórios da arte e da educação. Diante disso naquele

momento indagamos: Poderão as nossas atitudes diante do

mundo e da educação serem consideradas atitudes artísticas

ou estéticas? Não me referia somente à uma ideia de arte

vinculada a uma poética pessoal e que esta carregasse

consigo a ideia clássica de artista, mas de um educador

que, ao fazer educação, faça-a enquanto ato de criação,

desvelando por meio desse processo um modo singular de

ver o mundo. Afinal, o que é a docência, senão a arte de

aprender e ensinar num movimento contínuo? Foi neste

contexto e com estas premissas que busquei empreender este

estudo. Procurei na própria produção da arte contemporânea

Page 16: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

16

exemplos que pudessem apontar para outros modos deste

fazer; e que tal referência pudesse orientar e fazer com que

fôssemos ao encontro de outros modos de ensinar e aprender

arte; que estes processos fossem colaborativos e inventivos,

mais próximos daquele que ensina e também daquele que

aprende.

2 - PREMISSA E INDAGAÇÃO DA PESQUISA

O ensino de arte - assim como o ensino de modo geral

-, embora apresente avanços no sentido da inclusão social,

tem excluído a cultura e trajetória pessoal do educando.

Quando este é colocado frente à arte legitimada e instituída,

um abismo é criado entre a vivência/bagagem pessoal e

o conteúdo a ser apreendido. Pensemos também sobre

o quanto o sentido de arte ainda guarda estreitos vínculos

com uma ideia clássica sobre o artístico e o não artístico.

Há, assim, uma necessidade premente de constituição de

metodologias de ensino de arte que incluam a história pessoal

de seus sujeitos e que este processo de inclusão possa ser

também um processo de criação, pesquisa e formação.

Assim, a indagação que nos guiou nesta pesquisa

foi: De que maneira a produção contemporânea de arte, construída na dimensão da Estética Conectiva e da Arte

Relacional pode contribuir para construção de metodologias para redimensionarmos a formação e o trabalho docente de maneira mais dialógica e colaborativa?

3 - METODOLOGIA

Para se pensar e estruturar a metodologia da pesquisa

é necessário que delineemos os possíveis trajetos a serem

feitos no caminhar do estudo, ainda que saibamos que

procedimentos metodológicos, principalmente no campo da

educação e da produção de arte, podem ir se delineando/

construindo ao longo da pesquisa, e exigir outras formas

de investigação (no caso desta proposta de investigação

de Pós-Doutoramento que submetemos e desenvolvemos

junto ao programa de Pós-Graduação em Educação, Arte e

História da Cultura, da Universidade Presbiteriana Mackenzie)

metodologias de trabalhos e ações artísticas colaborativas,

foram de certa maneira o próprio objeto a ser investigado

e de que maneira poderíamos trabalhar com essa mesma

perspectiva na educação em arte.

As proposições artísticas apresentadas na 27 Bienal de

São Paulo apresentaram procedimentos artísticos que nos

ensinaram outros modos de como desenhar um caminho

metodológico de arte como pesquisa. Após estudos

Page 17: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

17

destas produções propusemos uma intervenção que foi

realizada com alunos da quarta série do ensino básico da

Escola Municipal Aracy Soares dos Santos, no Distrito de

Irerê, Município de Londrina – Paraná. O projeto visou a

trabalhar acerca da imagem que os alunos têm do distrito.

Muitas destas imagens nos pareciam um tanto depreciadas

com relação aos seus vínculos com o espaço. Por meio de

encontros e experiência com a arte, valendo-nos de práticas

com a fotografia, o desenho, a pintura e um pensar sobre

estes fazeres, acreditávamos ser possível redimensionar estes

laços afetivos para com a cidade, passando assim de um

espaço muitas vezes indesejado ou mesmo indistinto para

um lugar afetivizado, dotado de valor. Que por meio da arte

possamos conferir beleza ao espaço, tornando-o lugar.

Ao elaborar a proposição buscamos não esquecer

que este ‘outro’ traz consigo uma história, um pensamento,

uma vida; e isto tem de ser considerado como procedimento

metodológico, e nesse sentido, o caminho foi se fazendo no

trilhar da própria investigação. Este delinear, não tão rigoroso,

guardou estreita relação com o próprio objeto/questões que

este projeto se propôs a investigar. Buscamos assim, estruturar

de algum modo outras metodologias a partir deste viés da

arte contemporânea em que o outro, a conectividade, as

relações são de fundamental importância. Definimos como

objetivos da pesquisa os seguintes pontos:

• Investigar procedimentos a partir das produções

individuais e em grupo, assim como trabalhos de artistas

que articulem a perspectiva do encontro com o Outro,

produzindo, assim, objetos de análise e discussão que

possam subsidiar ações e metodologias para a formação

inicial e continuada de educadores;

• Compreender o modo como a Mediação cultural

pode ser o elemento agregador do entrelaçamento entre

pesquisa, formação e criação;

• Fomentar possibilidades de produção artística e

intervenções no espaço escolar e em outros espaços

educativos onde se pressupõe o encontro com o Outro, na

perspectiva da Estética Conectiva e da Arte Relacional;

• Propor novas perspectivas para a orientação e

realização da formação inicial e continuada de educadores

de arte, por meio de um procedimento metodológico de

pesquisa que pressupõe o entrelaçamento do formar,

mediar e criar, de modo a subsidiar a construção de uma

docência de melhor qualidade.

4 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO METODOLÓGICA

4.1 - CAMPO EXPANDIDO, ESTÉTICA CONECTIVA, ARTE

Page 18: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

18

RELACIONAL

[...] a cura do mundo começa com o indivíduo

que dá as boas-vindas ao Outro [...] Suzi Gablik.

Trabalhar numa perspectiva de educação, arte e

pesquisa de forma menos rígida, distanciando-nos de algum

modo de verdades únicas, modelos/referências, requer que

nos situemos de outras maneiras diante das nossas concepções

e atitudes, no que se refere ao educar, formar, pesquisar e ao

próprio conceito do que seja arte na contemporaneidade.

Propor novas perspectivas para a orientação e realização

acerca da formação de educadores por meio de um

entrelaçamento entre pesquisar, formar, mediar e criar requer

que olhemos para a maneira como foi sendo constituído o

pensamento relacionado à arte, principalmente daquilo que

estamos chamando de arte contemporânea.

Neste sentido, nos valemos aqui da ideia de campo

ampliado (Rosalind Krauss), balizadora de muitas questões

relativas à produção de arte na contemporaneidade, para

nos situarmos diante do conceito de arte que nos interessa

e também procurando estender a visão para o território da

pesquisa, da educação e da mediação.

A noção de campo ampliado surge no debate na

década de 1970, quando Rosalind Krauss publica o texto “A

escultura no campo ampliado”. Nele, a crítica de arte observa

na produção escultórica daquele período questões que

estavam para além do que até então havia sido entendido

como pertinente a tal meio, reconhecendo muito mais sentido

nas relações que a produção escultórica estabelecia com

o meio e o contexto – paisagem e arquitetura. O que fica

claro ao falar do trabalho de Rodin e Brancusi, entendendo-

os como importantes na “recolocação do ponto de origem

do significado do corpo – de seu núcleo interno para a

superfície –, um ato radical de descentralização que incluiria

o espaço em que o corpo se fazia presente e o momento de

seu aparecimento” (KRAUSS, 2007, p. 333).

O debate com o qual Krauss contribui na década

de 1970 parece corroborar o que mais tarde (década de

1990), os críticos de arte Suzi Gablik e Nicolas Bourriaud, (EUA

e França, respectivamente) irão detectar e conceituar. Suzi

Gablik, ensaísta de arte norte americana cria na década de

90 do século XX o termo Estética Conectiva, defendendo

uma produção artística que mantém estreito vínculo com as

questões sociais, com o Outro, com a própria vida. Gablik

salienta o quanto, nas sociedades contemporâneas, a

arte passou a ser entendida como um conjunto de objetos

especializados, que são elaborados não por razões morais ou

sociais, mas sim, por motivações individualistas que buscam

Page 19: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

19

nas obras somente a experiência de contemplação e

apreciação.

Para Gablik este é um mito cultural no qual passamos

a acreditar como verdadeiro, o que nos faz descuidar em

perceber um sentido mais profundo para a própria arte. No

mundo contemporâneo esta arte contemplativa se situa no

contexto de uma suposta autonomia estética que se apresenta

como “neutra”, mas que no fundo está comprometida com

a ideologia capitalista que visa, sobretudo, ao consumo e o

lucro. Tal arte é combinada muito bem com poder e, aliado

a este processo de produção para venda e geração de

lucro, reside a noção de que o artista é um gênio isolado,

e que a obra de arte sempre será produto das elaborações

de um indivíduo. Esta perspectiva se opõe radicalmente

à noção de trabalho colaborativo e também à noção de

comunidade. Gablik enfatiza o quanto a estética modernista

esteve comprometida com uma “consciência materialista

e visão científica do mundo” (GABLIK, 2005, p. 603). Nesta

perspectiva, a ciência vale por si mesma, não importando

a sua aplicabilidade e compromisso social. Os artistas são,

assim, condicionados a não se preocupar com as aplicações

ou consequências de suas obras, ou ainda com o propósito

moral de seu trabalho (GABLIK, 2005, p. 603). Esta arte é

situada num vácuo, e é removida do contexto social.

Diferente deste modelo, para Gablik: “A estética

conectiva vê que a natureza humana está profundamente

incrustada no mundo. Transforma a arte num modelo de

ligação e cura, ao converter o ser humano acessível à sua

total dimensão – não somente ao olho desincorporado. O

contexto social torna-se um campo contínuo, propício à

interação, para um processo de relacionamento e tessitura

conjunta [...]” (GABLIK, 2005, p. 610). A arte que Gablik traz em

evidência, provoca uma relação essencialmente dialógica,

que na maioria das vezes, não é fruto das elaborações de um

indivíduo. Trata-se, sobretudo, de um processo colaborativo e interdependente. A Estética Conectiva busca estabelecer relações

com o Outro de modo a, inclusive, torná-lo visível para si e

para muitos Outros. Valores femininos, como compaixão e

cuidado, passam a habitar, do mesmo modo, estas relações,

pois esta é a hora de o feminino também mostrar sua riqueza

e visibilidade. Gablik fala a respeito de um “Eu ouvinte”, que

“cultiva o entrelaçamento do self e do Outro”. Esta é uma

relação de empatia recíproca. Ao invés de auto-expressão

temos aqui o diálogo (GABLIK, 2005, p. 606). Isto tudo nos

faz ampliar nosso modo de conceber os processos artísticos.

Tornamos evidentes os processos interativos e também os

campos relacionais, pois passamos a encarar a realidade

Page 20: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

20

como sendo relacional. Gablik afirma que “a cura do

mundo começa com o indivíduo que dá as boas-vindas ao

Outro” (GABLIK, 2005, p. 609). No lugar do isolamento e do

mito do gênio ou talento artístico, temos atitudes imbuídas

de sentimentos de união, fraternidade, de dependência e

interconectividade. A arte ganha vida e sentido na medida

em que estas relações ganham espaço, e na medida em

que resgatamos o valor social dos processos criativos.

Há, nesta perspectiva, uma sincera abertura ao

Outro, que é parte de nós, na medida em que somos parte

de um todo. Há também um sentido de profundo respeito

e aceitação do Outro, na medida em que as realidades de

cada um também possuem riqueza e motivações próprias.

E também são estas questões que compõem a cidade

enquanto uma prática cultural, assim como a escola, ou

qualquer outro espaço. É este o contexto com o qual

contamos para as ações previstas na pesquisa, apontando

para possibilidades de encontrar maneiras de conceber e

fazer educação, mediação e pesquisa, tomando a produção

artística como parte desse processo. É fundamental a

articulação dos saberes da ciência, das artes, da filosofia, das

tradições sapienciais e da experiência. Há de se reconhecer,

portanto, a pluralidade epistemológica, de modo a sempre

manter o conhecimento como um sistema aberto, em

movimento. Pensaremos a formação docente a partir da

produção de arte, olhando para tudo o que compõe, tanto

a formação docente, quanto a produção de arte, levando

em consideração os parâmetros supracitados.

Numa perspectiva muito parecida ao posicionamento

de Suzi Gablik, a Arte Relacional tem como foco a

preocupação com as relações humanas na arte, do artista

com seu entorno e com seu público. Para Bourriaud, o que

ele vem a chamar de Arte Relacional trata “a esfera das

relações humanas e de seu contexto social mais do que a

afirmação de um espaço simbólico autônomo e privado”

(BOURRIAUD, apud KINCELER, s/ data) e define o termo

sobre a noção de trabalhos que consideram as “práticas

artísticas que tomavam como ponto de partida o campo

da inter-conectividade” (BOURRIAUD, 2008, pg. 332). Na Arte

Relacional, as experiências e repertórios individuais estão a

serviço da construção de significados coletivos, o que faz

com que a participação do público seja um fator-chave na

ativação ou efetivação de tais propostas. Valorizam-se as

relações que os trabalhos estabelecem em seu processo de

realização e de exibição, com o envolvimento de artistas e

do público.

Os conceitos apresentados acima (Estética Conectiva

e Arte Relacional) possuem estreita relação com as reflexões

Page 21: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

21

trazidas por Paulo Freire no que diz respeito à dialogicidade,

perspectiva que em muito nos interessa. Freire nos diz: “[...] O

diálogo é uma exigência existencial. E, se ele é o encontro

em que se solidarizam o refletir e o agir de seus sujeitos

endereçados ao mundo a ser transformado e humanizado,

não pode reduzir-se a um ato de depositar idéias de um

sujeito no outro, nem tampouco tornar-se simples troca

de idéias a serem consumidas pelos permutantes. Não é

também discussão guerreira, polêmica, entre sujeitos que

não aspiram a comprometer-se com a pronúncia do mundo,

nem a buscar a verdade, mas a impor a sua” (FREIRE, 2004

p. 79). Mais do que pensar no quanto a produção de arte

é importante para o ensino de arte, buscamos entender o

quanto ambas as produções, em determinadas instâncias, se

equivalem, se inter-relacionam; o quanto podem, uma sob a

ótica da outra, serem reinventadas.

Encontramos ressonância entre estes conceitos e vieses

que nos interessam e foi o que nos propusemos investigar no

projeto de pós-doutoramento. Assim, buscamos referências

em determinadas produções de arte que estiveram

presentes na edição da 27ª Bienal Internacional de São

Paulo, cujo tema foi “Como Viver Junto”. A edição da 27ª.

Bienal Internacional de São Paulo, sob curadoria da Lisette

Lagnado, contou com parte do que se produz nacional e

internacionalmente, e discutiu maneiras sobre como estar

com o Outro, e constitui-se como uma das importantes fontes

de pesquisa para a investigação deste projeto. Escolhemos

assim concentrar a investigação nas produções de Mônica

Nador com a iniciativa do JAMAC – Jardim Miriam Arte Clube e

a Cooperativa Cultural Eloísa Cartonera, iniciativa idealizada

por Washington Cucurto e Javier Barilaro (Argentina), cujas

ações assim como as de Mônica Nador, a partir do JAMAC,

têm um enorme apelo social e colaborativo. Estas produções

/ ações muito nos interessaram devido às relações que

poderíamos estabelecer com a educação e mediação. Tais

proposições, ao se fazerem arte, passam por uma dimensão

de pesquisa colaborativa - a obra pode ter uma relação

interdependente com o fruidor, (obras que se fazem com

o Outro) e o quanto estas feituras podem reverberar nos

processos educacionais. Outro traço marcante destas ações

/ manifestações artísticas contemporâneas que escolhemos

para investigar diz respeito à relação com o espaço onde elas

se dão, pois muitas ocupam e intervêm em outros espaços e

situações, sendo que a cidade, assim como a escola foram

espaços que escolhemos por estudar e intervir neste projeto

de pós–doutoramento.

4.2 - CIDADE, ESCOLA E OUTROS ESPAÇOS – POSSIBILIDADES

Page 22: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

22

DE ENCONTRO COM O OUTRO

Tomamos o espaço enquanto um organismo vivo,

dinâmico, que traz uma história construída ao longo dos

tempos (seja ela recente ou de longa data); uma história

feita pelos que o constituem, cada um com suas relações; o

espaço formado por seus lugares físicos, afetivos, simbólicos.

Este espaço é a superfície, a escola, a cidade, o estado, o

país, o planeta. A questão é: de que maneira vamos nos

apropriando, ocupando, vivendo estes espaços / lugares e

de certa maneira os ressignificamos?

Nesta investigação, as reflexões se deram, sobretudo,

em torno das relações – as que se deram e que se dão em

determinados espaços, configurando-os em lugares. Para

Yi-Fu Tuan espaço difere de lugar; segundo o autor, “lugar

é o espaço que se torna familiar ao indivíduo, é o espaço

do vivido, do experienciado. Na experiência o significado de

espaço frequentemente se funde com o de lugar. Espaço é

mais abstrato do que lugar. O que começa como espaço

indiferenciado transforma-se em lugar à medida que o

conhecemos melhor e o dotamos de valor” (TUAN, 1983, p.6).

Embora o espaço escolar seja por nós privilegiado,

não foi a única possibilidade de investigação, até porque

nos interessava as intercomunicações, inter-relações, as

maneiras como o espaço vai se constituindo com o ir e vir das

relações e dos fluxos. Além do que, como espaço vivo que é a

escola, ele reverbera, alimenta e é retroalimentado de outros

espaços – as imediações, a rua, o bairro, a comunidade, a

cidade como um todo, o estado, o continente, o país. Não

há, portanto, privilégio, ao se tratar de um determinado

espaço e não de outro, e sim possibilidades de equivalência.

É preciso entender como os espaços que se fazem lugares

a partir das relações. Nesta perspectiva, consideramos a

cidade como um objeto de estudo e intervenção.

O espaço escolar - assim como os demais espaços -

foi desenhado, pensado, idealizado por alguém. Uma das

questões que nos interessou na investigação foi perceber

até que ponto este espaço se transformou ou se transforma

em lugar. Como já posto anteriormente Yi-Fu Tuan nos

fala que lugar é o espaço experienciado, vivido, afetado,

‘afetivizado’. A formação necessita de um espaço escolar

numa dimensão que possibilite o encontro com o Outro,

com as histórias dos alunos; criando assim condições nas

quais o espaço da escola, tanto físico quanto simbólico, seja

revitalizado, buscando maneiras sutis para que aqueles que

nele transitam, passam, vivem, possam reencontrar nesse

espaço, motivos e outros vieses para ver a si e ao outro.

Sabemos que a formação se dá em toda parte. Todos

os espaços ensinam, falam coisas, afetam-nos de algum

Page 23: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

23

modo. Mas lidando com a educação - no sentido mais amplo

e também formal - pensemos nas salas de aulas; que espaços

são estes, cujos endereços nossos alunos se dirigem para fazer

educação e arte? Será que estes espaços indistintos têm se

transformados em lugares? Que salas de aulas são estas?

José Luís Sanfelice (1996), refletindo sobre a

denominação e atribuição a outros espaços onde também

se aprende -- como o Lar, as Igrejas, o Exército -- defende e

insiste na importância e no determinante papel da sala de

aula institucionalizada no processo de ensino e aprendizagem.

Como podemos perceber nas suas colocações, a sala “é a

sala de aula das instituições escolares: um local específico

destinado a atividades específicas de ensino-aprendizagem

de saberes também específicos, em níveis e complexidade

diferenciados, através de metodologias apropriadas, o que

só tem sua peculiaridade assegurada na medida em que

professores e alunos garantem, ela, a execução real destes

objetivos aos quais se destina” (SANFELICE, 1996, p. 86).

Sanfelice (1996) justifica essas observações com

relação à sala de aula, decorrentes de uma leitura histórica,

evidenciando que a sala de aula, hoje, não pode ser tratada

como uma possibilidade já do passado, e, portanto, inviável.

Ela exerce um papel fundamental na nossa sociedade.

Qualquer iniciativa educacional coerente e que pretenda

ser eficaz na democratização do saber e da cultura, não

pode simplesmente ignorá-la. O autor ainda adverte que

isso não significa, entretanto, que não se deva questionar

as características e a qualidade do pedagógico formal,

mas sim de que ele deva ser um espaço vivo, dinâmico e

que as relações ali estabelecidas possam ser significativas

para todos aqueles que estão envolvidos no processo de

ensinar e aprender. O autor segue indagando esse espaço

onde todas estas relações acontecem, e questionando

as mudanças ocorridas através dos tempos em vários dos

aspectos da relação pedagógica: “Por que, nas Salas de

Aula, não se ensinou sempre os mesmos conteúdos? Por que

não se utilizou sempre os mesmos métodos de ensino? Por

que os conceitos de ensino e aprendizagem sofreram várias

alterações através dos tempos? Por que os conceitos do que

é ser professor ou aluno, também foram se transformando?

Mais ainda: por que os objetivos pedagógicos visados pelas

atividades desenvolvidas em salas de aula foram passando

por explicitações teóricas e normativas tão diversificadas?

Além de tudo, por que diferentes ideologias se fizeram

portadoras de propostas pedagógicas para a sala de aula?”

(SANFELICE, 1996, p. 88).

O autor refere-se à sala de aula como aquele espaço

prioritário do trabalho docente, como sendo um lugar aberto

Page 24: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

24

e não um casulo hermético, fechado, desvinculado do todo

social e das suas contradições:

A sala de aula para mim, portanto, é o meu desafio cotidiano porque ao mascaramento desejado, viso construir o desmascaramento possível; à reprodução exigida, oponho a fermentação já em desenvolvimento histórico e à ideologia hegemônica contraponho a visão de mundo que me parece interessar à maioria dos homens. Puro voluntarismo? Parece-me evidente que não. Como todo e qualquer docente sou também um agente social e minha maneira imediata de intervir no real é construindo o pedagógico concreto da sala de aula onde atuo. O pedagógico concreto que realizo, por sua vez, não sendo individual, mas social, à forma mediadora da formação e da atuação de outros agentes sociais” (SANFELICE, 1996, p. 93).

Nesta mesma direção pontuamos aqui o pensamento

de Madalena Freire, (1996) acerca da sala de aula. A autora

vai tecendo e definindo este lugar como fruto da relação

pedagógica. Fala de um espaço que vai se colorindo a partir

das experiências que são ali estabelecidas, das procuras e

dos encontros entre educador e educando, dos achados

que irão dar vida e conferir beleza ao lugar.

Compreendo a sala de aula como um espaço. Neste espaço e em relação com o Ser–

Humano-Criança acontecem algumas atividades de trabalho pedagógico; são rotinas, como também frutos de procuras e de experiências. São, também, descobertas por através destas atividades. Educador e educando vão conferindo seus alcances, seus achados. A partir do relacionamento desses dois é que o espaço vai sendo colorido e povoado. [...] O espaço é retrato da relação pedagógica porque registra, concretamente, através de sua arrumação (dos móveis...) e organização (dos materiais...) a nossa maneira de viver esta relação” (FREIRE, 1996, p. 96).

Essa ideia sobre a relação pedagógica poder conferir

beleza ao lugar, e fazer-nos pensar nas relações autoritárias

em que o conhecimento é construído dentro de uma

concepção bancária, como dizia Paulo Freire, que ainda

existem em muitas das nossas escolas. Penso então que este

lugar será desprovido de cor, de vida, de plasticidade, de

beleza e a estética que ele irá nos revelar será algo sombrio,

sem a dinâmica possível do diálogo e do encontro, pois

será uma relação de mão única, onde a construção é feita

apenas de cima para baixo, de fora para dentro.

Freire (1996) mostra que dentro de uma concepção

educacional onde se vive a relação pedagógica como

mera transmissão de conhecimentos, onde o educando é

Page 25: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

25

mero receptor passivo, o espaço é ocupado por mesas que

ali estão enfileiradas, por alunos que não necessitam ver

uns aos outros (basta olhar para a nuca do companheiro

da frente...), mas, principalmente, deve-se olhar para o

professor que, lá na frente, dá a sua aula. Na visão de

Freire, “dentro de uma outra concepção de educação, o

professor instrumentaliza a busca do conhecimento própria

a seus alunos; essa relação professor-aluno instrumentaliza

algumas situações (ou atividades) significativas, carregadas

de interesse e curiosidade em conhecer-aprender.

Esse educador é uma figura relevante, pois, no processo

instrumentalizador de aprender-conhecer, ele interage todo

o tempo nessa construção do processo de conhecimento.

Ensinando ao mesmo tempo em que aprende e aprendendo

ao mesmo tempo em que ensina, “tais atividades, tais

conquistas vão tomando formas e cores que deverão povoar

o espaço vivido pelo educador e suas crianças” (FREIRE,

1996, p. 96-97). Seguindo essa mesma trilha e intenção que

encara o espaço como o retrato das relações pedagógicas

que nele são estabelecidas, encontramos o pensamento

de Lílian Cristina Monteiro França (1994), que reflete sobre a

importância e o determinante papel que assume o espaço

da sala de aula neste contexto. Para a autora, “um modelo

padrão de escola, com salas de aula extremamente

parecidas contribui para afetar a função comunicativa

do ambiente. Sendo a sala de aula um arranjo criado

pelo homem, podemos caracterizá-la como um ambiente

artificial. Portador de uma formação híbrida, o suporte físico

da educação formal deveria ser capaz de interagir mais

significativamente, na medida que suas delimitações não

são absolutamente fixas, mas podem se estender por áreas

afins, permitindo uma prática mais diversificada e menos

repetitiva” (FRANÇA, 1994, p. 73).

Segundo a mesma autora, a repetição que está

dentro do contexto escolar não se resume unicamente à

repetição de um conteúdo - de exercícios de memorização

- mas à repetição de uma forma, que está presente na sala

de aula e em todo ambiente escolar, ajudando a garantir

o controle e a disciplina. França chama atenção para as

questões relacionadas aos espaços “sociofugidios”, e no

seu entender, as escolas se enquadram neste sistema, onde

o objetivo é o de manter as pessoas afastadas umas das

outras. Sendo as escolas portadoras de uma estrutura de

características semifixas, projetando a imagem da arquitetura

e do ambiente, este acaba por influir no comportamento das

pessoas que tendem a se isolar.

Todos estes autores nos trazem uma dimensão viva

do espaço escolar e da sala de aula. Podemos perceber

Page 26: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

26

claramente o papel determinante que cada um pode

representar na sua continuidade ou na sua transformação.

Como nos diz Madalena Freire, o espaço é o retrato das

relações pedagógicas. Então se cremos numa estética

conectiva, na arte relacional, cremos também que estes

espaços podem ser lidos, compreendidos e transformados,

ressignificados. Da mesma maneira pensemos as cidades.

A cidade enquanto espaço que abriga a escola, com ela

estabelecendo relações; que abriga aqueles que vivem

parte de seu tempo na escola, e, portanto também as

formam. Neste sentido devemos levar em consideração

que as cidades não são apenas um amontoado de casas

e construções. São, antes de tudo, a expressão de nossas

próprias vidas e das relações que temos uns com os outros.

Assim, a forma que as cidades têm tomado através dos tempos

é o registro não somente de uma história de interferência e

construção humana, mas, sobretudo, um registro da maneira

como vivemos e até como encaramos as coisas e o mundo.

Para Lucrécia D´Alessio Ferrara (1999), a cidade

possui e ordena uma linguagem que fala, por meio de

signos, a respeito de muitos conteúdos. Esta é, muitas vezes,

uma linguagem ruidosa, expressa pelo barulho dos carros

e máquinas, mas é também feita de cheiros e sabores, ou

ainda de imagens silenciosas. Tais signos contam histórias,

narrativas, não somente de indivíduos, mas também de

grandes grupos de pessoas. No dia a dia dialogamos com

estas imagens que nos apresentam conteúdos diversos, aos

quais estamos habituados, a ponto de não valorizamos estes

conteúdos. Levando em consideração que as questões

processuais (relações, vivências) se dão nesses diversos tipos

de espaços e em diversas dimensões temporais, é que se dá

a percepção das (diferentes) constituições das identidades

docente e artística.

Encontramos ressonância entre este viés investigado

e a produção significativa da arte na contemporaneidade.

Nota-se tal dimensão na produção dos artistas brasileiros

e internacionais tais como a Cooperativa Cultura Eloísa

Cartonera, a produção de Mônica Nador aliada ao JAMAC

(Jardim Mirian Arte Clube) e o artista catalão Antoni Miralda.

Artistas estes que participaram da 27ª. Bienal Internacional de

São Paulo, cujo tema foi “Como viver junto”, objeto de nosso

estudo.

Segundo Ferrara, o conjunto de imagens urbanas

compõe a linguagem urbana, através da qual os indivíduos

dialogam com a complexa multidão de signos urbanos.

De acordo com a autora, “não pensamos o urbano, senão

através dos seus signos” (FERRARA, 1999, p. 202). A cidade,

portanto, é um conjunto de valores, usos, hábitos, desejos

Page 27: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

27

e crenças, expressos por marcas ou sinais que contam uma

história que se articula por meio de uma linguagem (FERRARA,

1999, p. 202). Em outras palavras, cada objeto, construção ou

detalhe de nossas cidades ‘fala’ alguma coisa a respeito de

seus habitantes.

Para a autora, as “máscaras da cidade” são imagens

específicas que revelam em seu interior um conteúdo social.

Histórias de gente estão assim, um tanto escondidas por trás

destas máscaras. Nossa tarefa é desvendar o que há para

além das máscaras de modo que vejamos um pouco mais

do que se esconde por trás das aparências. Precisamos desta

busca para que possamos reconhecer a arte e a cultura além

das manifestações fechadas nos ateliês, museus e galerias.

Esta manifestação de cultura e arte pode estar bem

perto de nós, e pode ser que faça parte do nosso dia a dia.

Como educadores, somos responsáveis pela compreensão

que se faz desta cidade e do mesmo modo, da escola. E se

não trabalharmos no sentido de atribuir-lhe as qualidades que

desejamos, tal cidade e escola serão sempre injustas e terão

muito pouco de educadoras. Pensemos aqui no conceito

e prática de cidade educadora, sabendo que o principal

objetivo de uma cidade educadora é promover a cidadania.

Esta no entender de Moacyr Gadotti (2005) “é essencialmente

consciência de direitos e deveres e exercício da democracia:

direitos civis, como segurança e locomoção; direitos sociais,

como trabalho, salário justo, saúde, educação, habitação,

etc. direitos políticos, como liberdade de expressão, de voto,

de participação em partidos políticos e sindicatos, etc.”

(GADOTTI, 2005, p. 1).

Suas intervenções poderão, deste modo, ser destinadas

a corrigir desigualdades, possibilitar o acesso à informação,

valorizar os costumes e cuidar do planejamento urbano e do

meio ambiente. Neste sentido, tanto os propósitos colocados

pela Carta das Cidades Educadoras, assim como as reflexões

de Gadotti, corroboram e reverberam aquilo que Jurjo

Santomé (2001) nos aponta sobre a exclusão existente nos

currículos. De acordo com Santomé:

Os currículos e conteúdos que são desenvolvidos na maioria das instituições escolares enfatizam as culturas que podemos chamar de hegemônicas. As culturas ou vozes dos grupos sociais minoritários e/ou marginalizados que não dispõem de estruturas importantes de poder costumam ser silenciadas. Sem dúvida, a reflexão sobre o verdadeiro significado das diferentes culturas, das raças ou etnias, é uma das importantes lacunas que ainda existem. É precisamente em momentos como os atuais, em que surgem problemas devido a que raças e etnias diferentes tratam de compartilhar ou utilizar um mesmo território, que esse vazio mais se deixa sentir” (SANTOMÉ, 2001,

Page 28: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

28

p. 161).

Arthur Efland (2005) nos adverte “que há outras culturas

para além do horizonte e, assim, necessitamos de uma arte

educação internacional, na qual diferenças culturais não

sejam simplesmente reconhecidas, mas que sejam vistas

como recursos para capacitar o indivíduo a completar o

seu potencial. De maneira curiosa, a percepção humana

de si permanece incompleta se não puder descobrir como

cada um de nós é o outro do “outro” (EFLAND, 2005, p. 184).

Falamos e concebemos no decorrer da investigação

este entrecruzamento de culturas nas cidades e escolas

educadoras. Não falamos somente dos espaços e situações

líricas ou belas; falamos também do quanto habita em

nós humanos a diversidade, sendo que, muitas vezes

marginalizamos processos, pessoas, situações e ações,

tratando tudo e todos de maneira homogênea, como se para

a constituição da cultura, do lugar, escolhêssemos somente

aquilo que nos convém. Isso é escamotear os processos

culturais e eleger aquilo que é “digno” e “não digno”.

Mas uma cidade não se identifica por este olhar seletivo e

fragmentado. Como enfatiza Gadotti, “o grande desafio da

escola numa cidade educativa é traduzir esses princípios

em experiências práticas inovadoras, em projetos para a

capacitação cidadã da população, para que ela possa

tomar em suas mãos os destinos da sua cidade” (GADOTTI,

2005, p. 3). Este viés acentuado tanto por Gadotti quanto por

outros autores aqui apresentados, foram importantes para

ajudar-nos a pensar e intervir tanto na escola quanto no

distrito de Irerê / PR, onde realizamos a intervenção / ação

pedagógica.

5 - DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA: CONTRIBUIÇÕES

DA ARTE CONTEMPORÂNEA NA CONSTRUÇÃO DE

METODOLOGIAS DIALÓGICAS PARA O ENSINAR E O

APRENDER ARTE

De que maneira a produção contemporânea de arte,

construída na dimensão da Estética Conectiva e da Arte

Relacional, permeada pelo conceito de Dialogicidade e

Lugar pode contribuir para a construção de metodologias

voltadas para o redimensionamento da formação e do

trabalho docente? Posta essa pergunta, o caminho por onde

iniciamos a pesquisa foi o teórico/bibliográfico, procurando

buscar compreender as produções que nos propusemos

investigar. A partir de um referencial bibliográfico, entrevistas,

visitas a espaços de um dos artistas estudados (Monica

Page 29: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

29

Nador) passamos a entender estes modos de operar nas suas

produções.

Neste momento de construir este relatório final o

propósito é compartilhar reflexões/dados/imagens geradas

na pesquisa desenvolvida no encontro e aproximação entre

o ensino de arte na escola básica e as produções da arte

contemporânea. Em especial, interessa-nos ressaltar aqui as

abordagens contemporâneas de criação artística que são

guiadas por um sincero desejo de encontro com o outro.

Este, ao invés de mero espectador e apreciador de obras,

é, ao contrário, convidado a ser participante e também

criador, juntamente com a comunidade à qual pertence.

Há neste sentido, um cunho social marcante neste processo

de encontro entre artista propositor e as comunidades

participantes. A obra torna-se, portanto, um trabalho

colaborativo e compartilhado.

Em busca de tais processos construtivos da arte

contemporânea, nosso foco se concentrou sobre a 27ª.

Edição da Bienal de São Paulo, cujo tema central foi “Como

viver junto?” A partir desta simples questão, dezenas de artistas

e obras foram reunidos nesta Bienal de modo a demonstrar

possibilidades de encontro com o outro. Este sentido da

criação compartilhada que vislumbramos guardam estreito

vínculo com os conceitos de Dialogicidade, de Paulo Freire,

Estética Conectiva, de Suzi Gablik, Estética Relacional, de

Nicolas Bourriaud e Espaço e Lugar, de Yi-Fu Tuan. E assim,

do denso conjunto da 27ª. Bienal de São Paulo, destacamos

as obras de Mônica Nador, desenvolvida no JAMAC (Jardim

Miriam Arte Clube- São Paulo) e da Cooperativa Eloísa

Cartonera (Buenos Aires, Argentina), por entender que tais

abordagens caracterizam de forma sensível e profunda os

processos compartilhados de criação.

A edição da 27ª Bienal Internacional de Arte de São

Paulo teve a curadoria geral de Lisette Lagnado e atuaram

como cocuradores Adriano Pedrosa, Cristina Freire, José

Roca, Rosa Martínez e como curador convidado Jochen

Volz. O projeto educativo esteve sob a coordenação de

Denise Grinspum. O período expositivo esteve compreendido

nos dias entre 7 de outubro a 17 de dezembro de 2006.

Para além do periodo expositivo no Parque do Ibirapuera,

a Bienal contou com uma programação de conferências

organizadas pelos curadores. Este conjunto de conferências,

denominado de Seminários, alargava as reflexões em torno

da Bienal e não se restringia à exposição somente. Segundo

Lagnado:

A 27ª Bienal de São Paulo começa em janeiro de 2006 e vai até dezembro, por meio de um programa de Seminários Internacionais. A

Page 30: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

30

ampliação temporal do evento é uma entre outras experiências pioneiras que distinguem a presente edição: ou seja, não limitar a Bienal a uma exposição que dura pouco mais de dois meses, mas fornecer ao público uma propagação gradual das ideias que nortearão a construção da mostra (LAGNADO, 2011, p. 89).

O tema “Como Viver Junto?”, foi o mote norteador

da mostra. Segundo Lagnado, “O titulo da 27ª bienal,

emprestado dos cursos de Roland Barthes no collège de

France entre 1976 e 1977, foi escolhido para abordar uma das

questões mais candentes da vida pública: como estabelecer

uma base de comunicação viável entre grupos e nações

que se escutam cada vez menos?” (LAGNADO, 2011, p.

89). Para dar conta de tal projeto curatorial a exposição foi

organizada a partir de duas linhas: “Projetos Construtivos”

e “Programas para a vida”. Nesta edição foram abolidas

as representações nacionais, algo tão marcante em outras

edições das bienais, mas, a curadoria acreditou que a equipe

curatorial pudesse selecionar obras e artistas que viessem

responder a pergunta guia da edição: Como Viver Junto?

“Nesse sentido, o abandono das “representações nacionais”,

algo que acompanhou a Bienal de São Paulo desde a sua

fundação, torna-se um horizonte ainda mais urgente. Graças

a uma plataforma experimental, a Bienal pretende agregar o

valor de um congresso cultural, estimulando a participação,

compreendendo, sobretudo, que definir o trabalho criativo

transcende as paredes expositivas” (Lagnado, 2011, p. 89).

Para atender a tal propósito, a equipe de curadores

buscou por artistas que refletissem em seus trabalhos [...]

as dificuldades e necessidades do compartilhamento, da

vivência social e política, da reconstrução e dos intercâmbios

em várias esferas da sociedade”. Para Lagnado, o ato de

selecionar junto, foi um exercício conceitual dos curadores e,

com isto, a mostra não teve uma homogeneidade estética,

mas “diferentes vibrações, vindas da personalidade de cada

curador. Isto foi um ganho, na medida em que a Bienal reunia

artistas imprevisíveis (LAGNADO, 2011, p. 89).

Outra peculiaridade desta Bienal foi a residência

artística. Artistas foram convidados a produzir seus trabalhos

aqui no Brasil, nos Estados do Acre, Pernambuco e São

Paulo. Segundo a curadora, isso teria ampliado e fomentado

o conhecimento sobre a diversidade cultural brasileira

e ativado regiões onde a informação muitas vezes não

consegue chegar (LAGNADO, 2011, p 89).

6 - OS ARTISTAS, SEUS CONTEXTOS, SUAS PROPOSIÇÕES

Escolhemos duas produções que estiveram presentes

Page 31: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

31

na edição da 27ª Bienal de São Paulo para tecer nossas

reflexões neste artigo. A primeira é de Mônica Nador,

desenvolvida junto ao JAMAC (Jardim Míriam Arte Clube).

Trata-se de um espaço organizado pela artista e por

moradores do Jardim Míriam, na zona sul da cidade de São

Paulo. A outra produção é do grupo Eloísa Cartonera, que

trabalha com os catadores de papelão da cidade de Buenos

Aires. Estas duas produções tocam diretamente naquilo que

nos interessa - a concretização dos ideais propostos pela

Estética Conectiva e Estética Relacional, permeadas pelo

conceito de Dialogicidade, Lugar e Mediação.

Mônica Panizza Nador é uma artista visual brasileira nascida

em 1958, na cidade de Ribeirão Preto, Estado de São Paulo.

Formou-se em artes plásticas pela Fundação Armando

Alvares Penteado – FAAP – localizada em São Paulo, em 1983;

e concluiu o mestrado pela Escola de Comunicação e Artes/

USP, em 2000. Mônica Nador participou da exposição “Como

Vai Você Geração 80?”, exposição esta, que agrupou e

revelou importantes nomes da arte contemporânea brasileira.

Na década de 80, Mônica Nador trabalhou, no início

da sua carreira, com pinturas de grandes dimensões, com

pinceladas livres; grandes áreas de cor, ornamentadas por

arabescos e repetições, em que transparecia uma atmosfera

do sagrado, um sentido transcendente que emanava das

suas imagens. Nos anos 90, no caminhar da sua produção,

Mônica Nador incorporou a palavra à sua pintura. Palavras

como MERGULHE, FRUA e ATRAVESSE, escritas em caixa alta,

passaram a compor, juntamente com grandes áreas de cores

e arabescos, a sua produção. Parece haver aí um convite,

uma sugestão ou uma pista para o espectador trilhar um

caminho e viver a obra.

Page 32: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

32

Figura 1"Frua"

acrílico sobre tela47.24 x 70.86 cm

1991Fonte: http://www.

lucianabritogaleria.com.br/artists/26

Page 33: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

33

Page 34: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

34

Page 35: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

35

Neste momento de sua carreira, já percebemos em seu

trabalho, a preocupação com uma aproximação maior com

aquele que aprecia sua obra, pois, as palavras e imagens

atuam como um convite. São palavras que, pela sua própria

natureza semântica, colocam aquele que vê numa posição

de “participante”, como se a artista convidasse este que

olha para viver a obra. A partir de 1999, a artista inicia um

processo de trabalhos colaborativos, em que a participação

do outro torna-se fundamental à sua constituição. O projeto

intitulado “Paredes Pinturas” é um exemplo de trabalho

desenvolvido em determinadas comunidades, em que

a beleza, o ornamentar das casas e dos muros, advindos

do envolvimento possibilitado pelo trabalho coletivo é

fundamental na constituição destas produções.

Figura 2Mergulhe acrílica sobre tela120 x 300 cm.

Page 36: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

36

Figura 3Pinturas em Residências

1999 – 2000Projeto Vila Rhodia

São José dos CamposSão Paulo – Brasil.

Page 37: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

37

Page 38: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

3838

Nesta perspectiva, nos remetemos ao conceito

de Estética Conectiva de Suzi Gablik (2005), que propõe

uma abertura ao outro, ao contexto; a fazer arte com

o outro, com o mundo e no próprio mundo que nos

circunda. Conforme as palavras da autora, “no lugar do

isolamento e do mito do gênio ou talento artístico, temos

atitudes imbuídas de sentimentos de união, fraternidade,

de dependência e interconectividade” (GABLIK, 2005,

p. 610). Do mesmo modo, há um sentido de lugar que é

despertado entre os participantes, que ao contrário do

sentimento de rejeição e de exclusão, passam a alimentar

um sentido de pertencimento, de relação afetuosa com

o espaço urbano. Este passa a ser lugar, na medida em

que ganha a marca do sujeito que se reconhece no

espaço de maneira positiva (TUAN, 1983).

Em 2003, Mônica Nador, fixa residência no Jardim

Míriam. É a partir desta mudança física que a artista,

envolvida com o lugar, com seus moradores e outros

artistas colaboradores, cria o JAMAC (Jardim Míriam Arte

Clube), cujo objetivo é promover e despertar a arte e a

cultura no bairro.

Page 39: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

39

Figura 4 e 5Pinturas em Residências

1999 – 2000Projeto Vila Rhodia

São José dos CamposSão Paulo – Brasil.

Page 40: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

40

Figura 6Imagens do trabalho desenvolvido no JAMAC. http://jamac.org.br/.

Figura 7Mônica Nador: Autoria

Compartilhada"2011.

Fonte: http://www.lucianabritogaleria.com.br/

artists/26.

Page 41: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

41

Page 42: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

42

Figura 8Imagem de trabalho

desenvolvido pelo JAMAC.

Fonte: https://www.flickr.com/monicanador.

Page 43: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

43

Trabalhando de forma compartilhada,

seja por meio de pinturas em paredes com

diversas padronagens, seja por meio da

criação de estampas, camisetas e objetos,

os participantes reinventam modos de operar

no campo da arte e da vida. Nador comenta

que, possivelmente, um dos aspectos mais

importantes do seu trabalho é “proporcionar o

contato com a dimensão do belo para o maior

número de pessoas possível.” Nador salienta

que o objetivo é “executar pinturas de parede

em lugares e zonas urbanas que são excluídas

do circuito das artes.” A artista busca lugares

e comunidades que são “desprovidas de

qualquer equipamento cultural”. Na sua visão,

esta forma de arte “estaria colaborando para

a expansão dos limites impostos à experiência

estética pelo circuito protegido de arte”

(NADOR, 2001, p.1).

Page 44: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos
Page 45: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

45

Figura 9he National Museum of Womens in arts Pintura e fotografia sobre parede Washington D.C – USA2001.

Page 46: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

46

Figura 10Trabalho desenvolvido

no espaçoProjeto Paredes

PinturasS/d.

Page 47: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

47

Page 48: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

48

Page 49: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

49

Figura 11Imagens fotográficas que mostram o processo de formação e criação colaborativa desenvolvido por Monica Nador – Oficina Ateliê na Oswald de AndradeSão Paulo / Brasil – 2014 .Fonte: http://jamacarteclube.wordpress.com/tag/monica-nador.

Figura 12magens fotográficas que mostram

o processo de formação e criação colaborativa desenvolvido por Monica

Nador – Oficina Ateliê na Oswald de Andrade.

São Paulo / Brasil – 2014 Fonte: http://jamacarteclube.wordpress.

com/tag/monica-nador.

Page 50: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

50

Page 51: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

51

Figura 13 e 14Imagens fotográficas que mostram o processo de formação e criação colaborativa desenvolvido por Monica Nador – Oficina Ateliê na Oswald de Andrade – São Paulo / Brasil – 2014. Fonte: http://jamacarteclube.wordpress.com/tag/monica-nador.

Page 52: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

52

Figura 15 e 16Imagens fotográfi cas

que mostram o processo de formação e criação

colaborativa desenvolvido por Monica Nador

Ofi cina Ateliê na Oswald de Andrade – São Paulo / Brasil

2014. Fonte: http://

jamacarteclube.wordpress.com/tag/monica-nador.

Page 53: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

53

Page 54: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

54

Page 55: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

55

Figura 17Imagens fotográficas que mostram o processo de formação e criação colaborativa desenvolvido por Monica Nador – Oficina Ateliê na Oswald de Andrade – São Paulo / Brasil – 2014. Fonte: http://jamacarteclube.wordpress.com/tag/monica-nador.

Page 56: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

56

Figura 18Imagens fotográfi cas que mostram o processo de formação e criação colaborativa desenvolvido por Monica Nador – Ofi cina Ateliê na Oswald de Andrade – São Paulo / Brasil – 2014.Fonte: http://jamacarteclube.wordpress.com/tag/monica-nador.

Page 57: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

57

Page 58: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

58

Page 59: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

59

Figura 19 e 20Imagens fotográficas

que mostram o processo de

formação e criação colaborativa

desenvolvido por Monica Nador – Oficina Ateliê na

Oswald de Andrade – São Paulo / Brasi.l

– 2014 Fonte: http://jamacarteclube.

wordpress.com/tag/monica-nador.

Page 60: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

60

Outra proposta presente na 27ª Bienal de São Paulo

que investigamos e ajuda a compor este relatório final de

pesquisa é o projeto Eloísa Cartonera. Tal projeto nos instiga

também a refletir sobre a conexão e contribuição da arte

contemporânea e perspectivas para as metodologias do

ensino de arte. Este é um projeto em vigor na cidade de

Buenos Aires e foi criado em março de 2003 pelo artista

plástico Javier Barilaro e pelo escritor Washington Cucurto. O

Eloísa Cartonera volta-se para um trabalho com catadores

de papelão e seus filhos. Neste projeto artístico/cultural estão

envolvidos vários aspectos importantes da arte e também da

cultura urbana contemporâneas. Nosso propósito de refletir

sobre a produção desta cooperativa surge das contradições

presentes no contexto da arte contemporânea em que

a produção da cultura e seu consumo são geralmente

determinados por um mercado cultural que negligencia as

produções que, de alguma maneira, ameaçam, questionam

e desconstroem o instituído. Neste sentido, o mercado cultural

exerce uma forte influência sobre a produção; é o mercado

quem determina se as produções merecem ou não fazer

parte de um determinado circuito instituído. O projeto, assim

como o do JAMAC (coordenado por Monica Nador), esteve

presente na 27ª Bienal de São Paulo, no andar dedicado aos

“projetos construtivos”. De acordo com entrevista realizada

Figura 21Inscrição sobre papelão do

grupo Eloísa CartoneraBuenos Aires, Argentina.

Fonte: http://www.eloisacartonera.com.ar.

Page 61: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

61

pelo fórum permanente pela ocasião da 27ª Bienal, assim

é descrito o trabalho: [...] O trabalho do grupo consiste na

edição de textos de literatura latino-americana, cedidos

pelos autores, para os quais se fazem capas de papelão

pintadas com o nome do livro e do autor, confeccionadas

pelos próprios catadores de papel (FORUM PERMANENTE,

2006, p 1).

Na contemporaneidade, estamos vivenciando

um processo de repressão e manipulação do processo

criativo, em que os ditames da indústria cultural interferem

na forma como percebemos o mundo, ou na maneira

como o mundo interfere em nossas percepções. Para Fayga

Ostrower, trata-se da alienação do ser humano, ou seja,

na contemporaneidade, o homem “aliena-se de si, de

seu trabalho, de suas possibilidades, de criar e de realizar

em sua vida conteúdos mais humanos” (Ostrower, 2002,

p. 6). Cultura e arte concebidas como via de expressão e

contestação transformam-se em mercadorias reproduzidas

em série designadas de acordo com os interesses do sistema

econômico capitalista que passam a ser absorvidas pelos

consumidores que se tornam não o sujeito, mas o objeto

dessa indústria. Nesse sentido, Adorno, ao anunciar a indústria

cultural enquanto prestadora de serviço ao cliente, afirma

que “a indústria cultural modela-se pela regressão mimética,

pela manipulação de impulsos de imitação recalcados”

(Adorno, 1985:176). Diante disto, a obra de Eloísa Cartonera,

aliada às contribuições filosóficas de Theodor Adorno,

Max Horkheimer se constitui indubitavelmente numa bela

e fecunda contribuição para se pensar nas relações que

se estabelecem entre mercado-consumidor-sociedade e

processos de criação. Desta maneira, o processo de criação

colaborativa praticada pela cooperativa torna-se um

exemplo de se fazer instituir ou legitimar outros modos de se

fazer arte, cultura e educação.

O projeto Eloísa Cartonera faz parte de um movimento

cultural de editoras que foi se instalando em diversos países

e visa, além de produzir os seus livros artesanalmente -

envolvendo os catadores de papelão (recicladores) - a

difundir uma literatura que muitas vezes fica à margem do

sistema de publicação instituído e validado pelo mercado

editorial. Este movimento iniciado com Eloísa Cartonera,

em Buenos Aires espalhou-se rapidamente por outros países.

No Brasil, são várias as cidades que possuem editoras com

este mesmo princípio e pertencentes àquilo que poderíamos

chamar de uma “rede cartonera”. Outros países, como

Bolívia, Chile, Espanha, Guatemala, Peru, Portugal, México,

Uruguai e Moçambique também contam com esta iniciativa.

Em um texto intitulado Cultura, sociedade, arte e

Page 62: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

62

Figura 22Imagens das instalações do grupo Eloísa Cartonera- Buenos Aires, Argentina, Fonte: http://www.eloisacartonera.com.ar.

Page 63: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

63

educação em um mundo pós-moderno (2005) Arthur Efland

reflete sobre a capacidade de construção da realidade

por meio da arte e do quanto o sentido de arte - enquanto

representação simbólica de diferentes realidades - pode ser

alterado em diferentes contextos. Percebemos assim que a

arte pode ter a fisionomia que quisermos a ela impingir e isso

vai depender do meio e daqueles que as criam, muitas vezes

diferentes uns dos outros. Para Efland:

A arte constrói numerosas representações do mundo, as quais podem ser sobre o mundo real ou sobre mundos imaginários, inexistentes, mas a inspiração humana continua podendo criar uma realidade diferente para cada um deles. A realidade social inclui tais coisas como dinheiro, propriedade, sistemas econômicos, classes sociais, gênero, grupos étnicos, governos, sistemas de cerimoniais religiosos e crenças, linguagens e similares. As artes são representações simbólicas dessas realidades. As artes são importantes pedagogicamente porque espelham essas representações de forma que podem ser percebidas e sentidas (Efland, 2005, p.183).

Ainda de acordo com Efland, refletindo sobre a

condição na modernidade e pós modernidade para o

sentido de arte, ele nos diz: “A principal diferença entre a

visão moderna e a pós-moderna é que para a arte moderna

apenas tipos muito especiais de objetos podem reivindicar

ser obras de arte” (Efland, 2005, p.177). Estas proposições

apontadas por Efland vão ao encontro da perspectiva da

rede cartonera e, mais especificamente, para as ações do

Projeto Eloísa Cartonera. As ações desenvolvidas com os

catadores de papelão e seus filhos começam pela compra

dos papelões recolhidos, passando pela escolha dos textos a

serem publicados e todo o trabalho que envolve a construção

destas produções - extrapolam os modos tradicionais de fazer

arte. Não são profissionais da arte (artistas) simplesmente que

se colocam a produzir uma obra ou desenvolver um projeto

estético isoladamente, mas sim, profissionais que se unem ao

outro para essa construção colaborativa.

Javier Barilaro em entrevista ao Fórum Permanente por

ocasião da 27ª Bienal de Internacional de São Paulo qualifica

o projeto como uma Escultura Social, a partir da noção de

Joseph Beuys. Interessantemente, esta associação do projeto

cartonero com o conceito de escultura social de Joseph

Beuys vai ao encontro daquilo que Suzi Gablik salienta e critica

em relação à arte nas sociedades contemporâneas. Para a

autora, a arte passou a ser entendida como um conjunto de

objetos especializados, que são elaborados não por razões

morais ou sociais, mas sim, por motivações individualistas que

buscam nas obras somente a experiência de contemplação

Page 64: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

6464

e apreciação. Projetos artísticos/culturais/sociais, tais como

o Eloísa Cartonera, relacionam-se com aquilo que, na

década de 1990 do século XX, Suzi Gablik denominou como

Estética Conectiva, defendendo uma produção artística

que mantém estreito vínculo com as questões sociais, com

o Outro e com a própria vida. Diante disto, a obra do grupo

Eloísa Cartonera, assim como destas outras editoras, pratica

um tipo de produção que muito se alia àquilo que Gablik

vêm chamando de “novas manifestações”.

Seus livros, criados de maneira compartilhada com

os catadores de papelão estão alocados na contramão

do capital financeiro. Ao trabalhar com papelão reciclado

comprado dos cartoneros argentinos – ou catadores de

papéis – estes criadores desafiam o mundo das editoras

tradicionais. Acreditamos que a produção da cultura não

precisa ser condicionada pelas imposições do consumo, uma

vez que existem encaminhamentos políticos que contribuem

para a emancipação de sua função, direcionando outra

lógica do pensamento que não esteja restrita à lógica do

mercado e da padronização. É nesse prisma que assistimos

às críticas de Adorno referentes à sociedade do consumo

e da mercadoria, em que a indústria cultural alega guiar-

se pelos consumidores e fornece-lhes aquilo que desejam.

Nesse sentido, a obra de Eloísa Cartonera tem o desafio

de romper os ditames da indústria cultural e devolver aos

espaços da cultura o livre exercício de sua atividade criativa,

influenciando inclusive os modos de operar das editoras

tradicionais e também o próprio conceito e os modos de

operar diante daquilo que foi historicamente construído e

que passa a ser considerado como arte.

Figura 23Imagens das instalações

do grupo Eloísa Cartonera- Buenos Aires, Argentina, Fonte: http://

www.eloisacartonera.com.ar.

Page 65: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

65

Page 66: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

66

Figura 25produção do Eloísa CartoneraBuenos Aires, Argentina. Fonte: http://www.eloisacartonera.com.ar

Figura 24Vista da vitrine do interior das instalações do Grupo Eloísa Cartonera. https://www.flickr.com/photos/eloisacartonera/

Page 67: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

67

Page 68: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

68

Page 69: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

69

Figura 26Visão geral e produção do Eloísa Cartonera - Buenos Aires, ArgentinaFonte: https://www.flickr.com/photos/eloisacartonera/.

Page 70: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

70

Figura 27Espaço de trabalho e processo de criação do Eloísa Cartonera Buenos Aires, ArgentinaFonte: http://www.eloisacartonera.com.ar.

Page 71: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

71

Embora os participantes do grupo Eloísa Cartonera

juntamente com os catadores de papel produzam capas

para livros de textos de literatura latino-americana, cedidos

pelos autores e isso gere renda para os catadores de

papelão, os componentes do grupo tem clareza sobre este

trabalho; dos seus limites, do quanto se faz necessário criar

uma consciência junto a estes catadores quanto àquilo

que estão fazendo. Mas Barilaro fala também sobre as

possibilidades do trabalho desenvolvido, fala em gerar uma

potência simbólica. Esta potência simbólica está presente

tanto no trabalho da Cooperativa Eloísa Cartonera, quanto

no trabalho desenvolvido por Nador, no JAMAC. Ambos lidam

com aquilo que está à margem. Mônica trabalha com uma

população que tem pouco acesso cultural, essa população

está localizada num bairro periférico da cidade de São Paulo.

Nesta margem da cidade, por meio da produção artística,

Nador torna possível o contato com outras possibilidades de

criação e revisão dos processos de vida, o “estar no mundo”.

Essas possibilidades não dizem respeito somente a consumir

aquilo que é produzido por outrem, mas sim, fazer com que

as suas produções transitem, aquelas que são produzidas na

margem possam também circular pelo centro.

No caso do grupo Eloísa Cartonera, todos trabalham

com muitas margens: o papelão/lixo descartado pela

sociedade urbana; os próprios catadores e também a

natureza dos títulos/temáticas que eles publicam. Andréa

Terra Lima, no seu trabalho intitulado Estética do (in)

desejável: Uma Margem Catadora (2009), refletindo sobre

estas questões, afirma:

O mercado cultural criou um centro de publicação e de recepção de cultura. A existência desse centro já define que exista uma margem que não é autorizada por ele a produzir cultura podendo, quando muito, consumi-la. Há variados fatores agindo como interditos culturais que garantem a manutenção do poder do centro sobre a margem, por exemplo, posicionamento socioeconômico (existem classes que produzem e consomem cultura, outras só consomem e outras, ainda, pouco consomem) (LIMA, 2009, p. 8).

Lima destaca que “um movimento como as editoras

Cartoneras pode ser entendido como, justamente, um

movimento de transgressão dessa lei de reprodução criada

por um centro, que nada mais é do que um ponto social

também arbitrário” (LIMA, 2009, p. 8). Ainda de acordo

com as ideias de Lima, o trabalho das editoras Cartoneras

apresenta em si uma perspectiva de transgressão; tanto a

concretude do papel que pela margem é vinculado ao

Page 72: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

72

Figura 28Espaço de trabalho e processo de criação do Eloísa CartoneraBuenos Aires, Argentina, Fonte: http://www.eloisacartonera.com.ar.

Page 73: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

73

centro, como pela transgressão do lixo que é transformado

em arte. A transgressão está presente na eliminação do limite

entre literatura e artes visuais. É transgressão a atitude diante

do refreamento imposto à voz pelo centro (LIMA, 2009, p.8).

No movimento desenvolvido pelas editoras Cartoneras,

do qual a Cooperativa Eloísa Cartonera faz parte, existe toda

uma delicadeza no trabalho com as relações entre as pessoas

e as coisas no mundo. Pensamos aqui sobre o quanto existe

de relacional, de dialógico nos vários níveis e momentos do

trabalho feito pelo Cartonera. Esta presença relacional, este

respeito ao outro está presente desde a recolha dos papelões,

da aquisição deste material recolhido pelos catadores por

um maior valor monetário, até à transformação do papelão/

lixo em arte; da produção, assim como das publicações.

Sobre este aspecto do trabalho, Lima salienta: “O lixo

passa, ao longo do processo de produção de um livro, por

uma simbolização que o converte em arte. Há toda uma

delicadeza na transformação do que é descartável em arte,

em bem atribuído de poder simbólico, logo, em produção

não-descartável e, mais do que isso, desejado e, muitas

vezes, referenciado (LIMA, 2009, p. 8).

Percebemos, assim, a preocupação destes produtores

- tanto Nador /JAMAC quanto os artistas propositores da

cooperativa cultural Eloísa Cartonera - em dialogar com o

espaço e com as pessoas envolvidas na produção de arte.

Ao incorporar o outro aos seus processos de criação, dando

voz ao outro, o artista possibilita meios para que este outro se

expresse em comunhão com tantos outros. Assim, Nador e

propositores da cooperativa Eloísa Cartonera aproximam-se

das reflexões de Paulo Freire quanto à dimensão dialógica

da construção do conhecimento e de seu sujeito. Para Freire,

o diálogo se dá no encontro entre as pessoas e é deste

encontro, que nascem os processos de um conhecimento

construído em comunhão uns com os outros. Freire ainda nos

adverte: “Como posso dialogar, se me fecho à contribuição

dos outros que jamais reconheço, e até me sinto ofendido

por ela? Como posso dialogar, se temo a superação e se, só

em pensar nela sofro e definho? (FREIRE, 1987, p. 80).

Essa postura com relação ao trabalho desenvolvido,

tanto de Nador com relação ao JAMAC, quanto ao Eloísa

Cartonera diante do fazer arte com os catadores de papelão

muito se distancia dos modos tradicionais de operar no

campo da criação; distancia-se da ideia de artista fechado

em seu ateliê. Neste modo, mais tradicional, após a criação,

a obra tradicional ganha as paredes das galerias e museus,

entrando para o circuito tradicional dos modos de exibição

de arte. Esta realidade nos remete às indagações que têm

surgido a respeito do papel do artista na sociedade, desde o

Page 74: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

74

sentido que se dá ao processo de criação como também à

apreciação artística. Trata-se de uma necessidade premente

de se pensar estes processos de modo a avaliar até que

ponto a arte de nossos dias tem demonstrado possuir um

valor social. Nas palavras de Gablik:

Nas sociedades contemporâneas, a arte passou a ser entendida como um conjunto de objetos especializados, que são elaborados não por razões morais ou sociais, mas sim, por motivações individualistas que buscam nas obras somente a experiência de contemplação e apreciação (GABLIK, 2005, p. 601).

A noção de trabalho colaborativo e também a noção

de comunidade se opõem radicalmente à perspectiva

individualista de criação artística. Gablik enfatiza o quanto

a estética modernista esteve comprometida com uma

“consciência materialista e visão científica do mundo”, em

que a ciência vale por si mesma, não importando a sua

aplicabilidade e compromisso social. Consequentemente,

os artistas são condicionados a não se preocupar com as

aplicações ou implicações de suas obras, ou ainda com

o propósito moral de seu trabalho. Esta arte é situada num

vácuo, e removida do contexto social. Conforme Gablik:

No mundo contemporâneo esta arte contemplativa se situa no contexto de uma suposta autonomia estética que se apresenta como “neutra”, mas que no fundo está comprometida com a ideologia capitalista, que visa, sobretudo ao consumo e ao lucro. Tal arte é combinada muito bem com poder e aliada a este processo de produção para venda e geração de lucro, reside a noção de que o artista é um gênio isolado, e que a obra de arte sempre será produto das elaborações de um indivíduo (GABLIK, 2005, p. 601-602).

Mônica Nador, assim como os artistas propositores

do grupo Cartoneras, ao contrário de se fecharem em seus

mundos, voltam-se para a comunidade, provocando uma

relação essencialmente dialógica, dando uma nova visão

sobre o papel do artista. A produção de Nador e destes artistas

argentinos nos aproximam daquilo que Gablik argumenta

quanto aos novos valores que a arte pode ganhar: “Muito

da nova arte concentra-se na criatividade social, mais do

que na auto-expressão, e contradiz o mito do gênio isolado

– privado, subjetivo, atrás de portas fechadas de um estúdio,

separado dos outros e do mundo” (GABLIK, 2005, p. 602).

Percebemos o quanto que nestes processos de criação,

os artistas/propositores estão diretamente conectados com

aqueles à sua volta. Mais do que querer produzir um objeto

Page 75: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

75

Figura 29Espaço de trabalho e processo de criação do Eloísa Cartonera - Buenos Aires, Argentina, Fonte: http://www.eloisacartonera.com.ar.

Page 76: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

76

estético, estes sujeitos/propositores estão interessados em dar

voz, visibilidade a este outro que se encontra à margem do

mundo. Suas produções têm um compromisso social e ético,

algo de transformador na vida daqueles com os quais cria.

Estas posturas se traduzem numa oposição ao mito cultural e

crença sobre o “verdadeiro artista”, que faz descuidar de um

sentido mais profundo para a própria arte.

A Estética Conectiva busca estabelecer relações

com o outro de modo a torná-lo visível para si e para muitos

outros, onde compaixão e cuidado passam a habitar, do

mesmo modo, estas relações. Gablik, assim como Nador e

os propositores do grupo Eloísa Cartonera buscam “um “Eu

ouvinte”, que “cultiva o entrelaçamento do self e do Outro”,

numa relação de empatia recíproca, onde ao invés de

autoexpressão temos aqui o diálogo” (GABLIK, 2005, p 606).

Para Nador e estes propositores argentinos, “o contexto social

torna-se um campo contínuo, propício à interação, para um

processo de relacionamento e tessitura conjunta” (GABLIK,

2005, p. 610).

Os posicionamentos destes propositores distanciam-se

da postura tradicional do artista que se isola para criar, e

que, posteriormente, coloca sua criação no mundo. Pelo

contrário, eles vão ao lugar, até as pessoas, e lá, junto com

elas, criam coletivamente. A cooperativa Eloísa Cartonera

dá vida junto com os catadores ao descartado, ao lixo

produzido por uma sociedade que está no centro; à margem

transforma o lixo em arte. Da mesma maneira, Nador e seu

grupo, trabalhando com padrões de estêncil, ornamentam,

enfeitam, embelezam, sendo que este processo faz com que

cada participante se descubra como criador. O grupo Eloísa

Cartonera também ornamenta o lixo recolhido, enfeita aquilo

que era papelão e que é transformado em capas de livros;

embeleza com cor e imagens. Nador e Cartonera fazem do

mundo e com o mundo seus lugares da criação.

Figura 30Espaço de trabalho e

processo de criação do Eloísa Cartonera -

Buenos Aires, Argentina, Fonte: http://www.

eloisacartonera.com.ar.

Page 77: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

77

Page 78: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

78

Figura 31Fachada de casa anterior a interveção do projeto Paredes Pinturas. Sem data.

Page 79: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

79

Figura 32Pintua em fachada de casa - Projeto Parede Pinturas. Sem data.

Page 80: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos
Page 81: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

81

de reflexões imagéticas e textuais para que seja possível o

dimensionamento daquilo que lá desenvolvemos.

A ação priorizou o trabalho voltado para as narrativas

que as crianças têm construído com relação à sua cidade.

Longe de serem bucólicas e agradáveis muitas destas

imagens se mostraram depreciativas e desvinculadas de

modos mais harmônicos de viver e conviver no espaço

da cidade. Os dados/imagens advindos da proposição/

intervenção na escola nos mostram possibilidades de

atitudes que incorporam o diálogo, o respeito ao outro e ao

lugar, sendo capazes de fecundar nossas práticas artísticas

pedagógicas em benefício de uma docência criadora, em

que a arte não somente seja o objetivo do fazer, mas seja

ela, a arte contemporânea, quem nos ensina este próprio

fazer; um fazer pedagógico artístico que traz para o centro

das suas relações o encontro com o outro. Tomando como

mote o próprio título da Bienal, “Como Viver Junto?”, seus

artistas e proposições nos ensinam a ensinar por meio da

própria produção de arte.

A partir de um questionário aplicado às crianças,

no primeiro encontro, percebemos as várias respostas

depreciativas a respeito do distrito de Irerê. Imagens como: “o

fim do mundo”, “buraco”, “mundo dos loucos” apareceram

de modo muito contundente. Várias destas imagens

7) AÇÃO DOCENTE ARTÍSTICA PEDAGÓGICA

As proposições de Mônica Nador (JAMAC) e da

Cooperativa Cultural Eloísa Cartonera que integraram

a 27ª Bienal Internacional de São Paulo (2006), objetos

de investigação nesta pesquisa, ensinam-nos a pensar e

aprender com a produção contemporânea de arte em

outra perspectiva e modo de pesquisar e se fazer educação.

Mobilizados por estas ações artísticas, em que o dialogo,

a colaboração, o fazer junto, são tão determinantes,

idealizamos como parte prática deste projeto de pesquisa

uma proposição artístico/pedagógica que foi desenvolvida

com alunos do 5º ano do ensino fundamental da Escola

Municipal Aracy Soares dos Santos, no Distrito de Irerê,

Município de Londrina – Paraná. O Distrito de Irerê foi o primeiro

a se tornar distrito de Londrina, em 1947, distando-se a 25 km

da cidade de Londrina, Irerê cresceu e declinou com o café

e extração de madeira. Tem uma área de 135.955 m² e uma

População estimada entorno de 2.400 habitantes, entre o

núcleo urbano e a zona rural.

Os encontros realizados em Irerê somaram um total

de dezessete sessões de trabalho e aconteceram entre

agosto a dezembro de 2014. Aqui, selecionamos fragmentos

da proposição desenvolvida e os apresentamos por meio

Page 82: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

82

remetem à ideia de que a pequena cidade é um “buraco”,

ideia esta talvez alimentada pelo fato de Irerê situar-se em

uma encosta, em cuja base corre o córrego Marrecas. No

entanto o chamado “buraco” parece corresponder a um

vazio, a um abandono e esquecimento, e, sobretudo a uma

falta de correspondência com as necessidades básicas do

indivíduo local. Isto encontra ressonância na última questão

respondida, a qual lista o quê deveria haver na cidade: ruas

asfaltadas, estabelecimentos comerciais que promovam

socialização de grupos de sujeitos, além de festas, restaurantes

e pizzarias. Estes são componentes que fazem parte do sonho

de uma cidade ideal.

Por meio de ações artísticas (pinturas, desenhos,

fotografias, argila e giz pastel), buscamos potencializar o olhar

dos sujeitos em relação ao lugar, assim como a memória, o

que implicou em entendermos de que sujeitos esse lugar se

constitui, de que maneira as experiências das crianças neste

espaço foram ao longo das suas infâncias marcando-as ou

afetando-as. As imagens que seguem apontam tanto para

as ações desenvolvidas (a intervenção) quanto para as

produções que nasceram deste processo de criação.Figura 33

Imagem do processo de

criação durante a ação atística

pedagógica.Irerê 2014.

Page 83: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

83

O SENTIDO DO FAZER ARTE E A

POTENCIALIZAÇÃO DO OLHAR

Page 84: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

84

Page 85: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

85

Figura 37Imagens da produção desenvolvida na

intervenção artística pedagógica.Irerê 2014.

Figura 34, 35 e 36.Imagem do processo de criação durante a ação atística pedagógica.Irerê 2014.

Page 86: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

86

Page 87: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

87

Figura 38 e 39Imagens da produção desenvolvida na intervenção artística pedagógica.Irerê 2014.

Page 88: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

88

Page 89: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

89

Figura 40, 41 e 42Imagens do processo de criação durante a ação atística pedagógica.Irerê 2014.

Page 90: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

90

Page 91: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

91

Figura 43, 44, 45, 46 e 47Imagens do processo de criação durante a ação atística pedagógica.Irerê 2014.

Page 92: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

Page 93: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

93

Figura 48, 49, 50, 51 e 52Imagens do processo de criação durante a ação atística pedagógica.Irerê 2014.

Figura 53Imagem da produção desenvolvida na intervenção artística pedagógica.Irerê 2014.

Page 94: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

94

Page 95: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

95

Figura 54Imagem do processo de criação durante a ação atística pedagógica.Irerê 2014.

Page 96: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

96

Figura 55 e 56Imagem do processo de criação durante a ação atística pedagógica.Irerê 2014.

Page 97: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

97

Figura 57Imagem da produção desenvolvida na intervenção artística pedagógica.Irerê 2014.

Page 98: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

98

Uma das ações que muito

contribuiu tanto para conhecer como

para ampliar o olhar das crianças sobre o

Irerê, foi a “caminhada fotográfica”. Tal

caminhada constitui-se pela formação

de duplas de alunos e a cada dupla

foi entregue uma câmera digital, com

a orientação de que fotografassem

elementos na paisagem – tanto urbana

como natural - que os interessassem

e que contassem através do recorte

fotográfico, um pouco do que é

visualmente o Distrito Irerê. Esta saída

e caminhada pelo distrito possibilitou

que os estudantes percebessem

outras imagens, para além daquelas

já construídas nas suas breves, porém

verdadeiras histórias.

Page 99: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

99

Figura 58Imagem do processo de criação durante a ação atística pedagógica - caminhada fotográfi coIrerê 2014.

Page 100: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

100

Um total de quinhentas e quatro fotos foram organizadas

e divididas por categorias: casas, animais, escola, pessoas,

plantas, panoramas, praça, comércio, ruas, igrejas, placas,

carros, campos e outros, além da própria caminhada. Em

datashow, projetamos todas as fotografias feitas pelos alunos

na caminhada por Irerê, permitindo que todos pudessem ver

outras possibilidades de imagens e construção do olhar sobre

o lugar. Estas categorias foram criadas e organizadas, e

também projetadas visualmente, de modo a possibilitar que

as crianças pudessem ver o quanto numa mesma categoria

as características são distintas umas das outras, são únicas

ou singulares. Uma casa de madeira difere completamente

de outra casa de madeira; soma-se a esse fato a memória

daqueles que ali vivem ou viveram; daqueles que andaram

por aquelas ruas fotografadas; daqueles que estudaram

naquela escola. No fundo queríamos que eles pudessem

perceber o quanto o Distrito de Irerê poderia ser aquilo

que conseguíssemos estabelecer enquanto vínculos, lastros

e afetos. As imagens fotográficas, com as quais criamos

narrativas visuais mostram essas singularidades do olhar e do

modo como cada um captou o “seu” Irerê.

Figura 59 e 60Imagens da projeção das fotografias feitas pelos alunos durante a caminhada fotográfica. Irerê 2014.

Page 101: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

101

A CAMINHADA FOTOGRÁFICA

E A REDESCOBERTA

DO IRERÊFigura 61: imagem produzida durante a caminhada fotográfi ca.Foto: João e Fabrício.

Page 102: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

102

Page 103: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

103

Figura 62 e 63imagem produzida durante a caminhada fotográfi ca.Foto: Bruna e Claudia

Page 104: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

104

“Uma casa de madeira difere completamente de outra casa de madeira; soma-se a esse fato a memória daqueles que ali vivem ou viveram; daqueles que andaram por aquelas ruas fotografadas; daqueles que estudaram naquela escola. No fundo queríamos que eles pudessem perceber o quanto o Distrito de Irerê poderia ser aquilo que conseguíssemos estabelecer

enquanto vínculos, lastros e afetos.”

Page 105: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

105

Figura 64 e 65 imagem produzida durante a caminhada fotográfi ca.Foto: Giovana e Mateus

Page 106: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

106

Figura 66: imagem produzida durante a caminhada fotográfi ca.Foto: Laysa e Gionava.

Page 107: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

107

Figura 67: imagem produzida durante a caminhada fotográfi ca.Foto: João e Fabrício.

Page 108: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

108

Page 109: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

109

Figura 68 e 69: imagem produzida durante a caminhada fotográfi ca.Foto: Gionava e Mateus

Page 110: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

110

Figura 70 imagem produzida durante a caminhada fotográfi ca.Foto: Gionava e Mateus.

Page 111: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

111

Figura 71imagem produzida durante a caminhada fotográfi ca.Foto: Ana Beatriz e Maria Eduarda.

Page 112: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

112

Figura 72 imagem produzida durante a caminhada fotográfi ca.Foto: Eder e Anderson.

Page 113: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

113

Figura 73imagem produzida durante a caminhada fotográfi ca.Foto: Djonatas.

Page 114: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

114

tirou”, “uma casa muito velha”; “o poço (perto do pré)”; “as

paisagens”.

A produção destas imagens nos possibilitou que

organizássemos outras atividades voltadas para a cidade,

e também para a escola, pois, fomos percebendo aquilo

que mais fi cara evidente - a opinião de todos a respeito

das imagens que iam sendo projetadas. A projeção foi

uma maneira de investigarmos também as narrativas que

as imagens revelavam e outras narrativas que poderiam ser

criadas a partir das mesmas. Vimos ali o quanto a escola e a

sala de aula podem ser ressignifi cadas a partir de imagens

que vêm da própria ambiência onde as crianças vivem, a

cidade e seus lugares; a escola sendo o espaço/tempo do

desvelar e também da possibilidade de encontrar outras

narrativas – como já pontuamos aqui, a cidade, enquanto

um conjunto de valores, usos, hábitos, desejos e crenças,

expressos por marcas ou sinais que contam uma história que

se articula por meio de uma linguagem (FERRARA, 1999, p.

202). Em outras palavras, cada objeto, construção ou detalhe

de nossas cidades ‘fala’ alguma coisa a respeito de seus

habitantes. A caminhada assim, possibilitou outros olhares.

Quando, por exemplo, perguntamos: A partir da nossa

caminhada por Irerê, o que você viu que não havia prestado

atenção antes? Obtivemos respostas tais como: “vimos o

milho”, “as paisagens e as casas”, “as outras imagens que

eu nunca tinha visto”, “eu nunca vi essa casa que a Giovana

Page 115: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

115

Figura 74 imagem produzida durante a caminhada fotográfi ca.Foto: Weslei e Pedro.

Page 116: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

116

Figura 75 imagem produzida durante a caminhada fotográfi ca.Foto: Laysa e Giovana.

Page 117: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

117

É interessante notar que estes alunos falam das mesmas coisas com as quais convivem diariamente, mas vemos o quanto a orientação para ver o espaço de maneira mais detalhada ou mais atenta fez a diferença. A frase dita por uma aluna “Eu nunca vi essa casa que a Giovana tirou”, nos faz pensar também sobre o quanto o olhar do outro pode nos ensinar coisas, pode nos fazer ver. Estas imagens acabaram por possibilitar outras ações artísticas com as crianças, todas elas intencionaram religar, restabelecer vínculos para com a pequena cidade de Irerê, transformar o seu espaço em lugar, que segundo Tuan,“o que começa como espaço indiferenciado transforma-se em lugar à medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor” (TUAN, 1983, p.14). Podemos perceber também algo muito importante que é o desvelamento das muitas outras cidades que coexistem na mesma cidade; aquelas que habitam cada um de nós e daquelas crianças com as quais

trabalhamos.

Figura 76imagem produzida durante a caminhada fotográfi ca.Foto: Djonatas.

Page 118: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

118

Page 119: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

119

cada objeto, construção ou detalhe de nossas cidades ‘fala’ alguma coisa a respeito de seus habitantes. A caminhada assim, possibilitou outros olhares.

Figura 77: imagem produzida durante a caminhada fotográfica.Foto: Djonatan.

Page 120: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

120

A construção do olhar por meio da

fotografia foi ampliada através da comparação

das imagens construídas pelos alunos com as

imagens históricas da colonização da região

de Londrina. Algumas obras de Haruo Ohara e

José Juliani foram conhecidas e contrapostas

a algumas dos próprios alunos. Outros artistas,

tais como Claude Monet, Vincent Van Gogh,

Alfredo Volpi também se fizeram presentes

nas sessões de projeções que fizemos e nas

conversas que esta sessão de projeção

gerou. O propósito era fazer com que as

crianças percebessem a semelhança entre

as suas construções imagéticas e as de outros

produtores, que muitos nunca haviam visto.

Este exercício permitiu o diálogo com o outro

e possivelmente os fez acreditar mais naquilo

que cada um estava construindo, e também a

singularidade e multiplicidade da cidade que

mora em cada um.

Figura 78imagem produzida durante a caminhada

fotográfica. Foto: Laysa e Giovana

Page 121: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

121

Figura 79Vincent Van Gogh Almond Blossom, 1890 óleo sobre tela 73.5 x 92 cm

Page 122: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

122

Figura 80imagem produzida durante a caminhada fotográfi ca.Foto: Eder e Anderson

Page 123: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

123

Figura 81Vincent Van GoghMulberry Tree1889óleo sobre tela.

Page 124: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

124

Figura 82imagem produzida durante a caminhada fotográfi ca.Foto: Weslei e Pedro.

Page 125: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

125

Figura 83Casário1952Alfredo VolpiTêmpera sobre tela.

Page 126: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

126

Figura 84imagem produzida durante a caminhada fotográfi ca.Foto: Stefany e Gabriel.

Page 127: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

127

Figura 85imagem da obra

realizada do evento SWU. Projeto JAMAC.

https://www.fl ickr.com/photos/mnador/

Page 128: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

128

Figura 86: imagem produzida durante a caminhada fotográfica.Foto: Djonatan.

Figura 87: imagem produzida durante a caminhada fotográfica.Foto: Stefany e Gabriel.

Figura 88 e 89 imagem produzida durante a caminhada fotográfica.Foto: Bruna e Claudia.

Figura 90 Frans SnydersDogs Fighting

Óleo sobre telaColeção Particular.

Page 129: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

129

Page 130: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

130

Em seu interior as imagens vivas da

cidade revelam homens e mulheres,

crianças e adultos com histórias

de vida talvez muito semelhantes

às nossas. Tais imagens da cidade

repercutem em outras imagens.

Figura 91imagem produzida

durante a caminhada fotográfica.

Foto: Giovana.

Figura 92Estrada que passava

na cabeceira da Chácara Arara

Haruo Ohara1949

Londrina Brasil

Page 131: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

131

Page 132: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

132

Figura 93 imagem produzida durante a caminhada fotográfi ca.Foto: Eder e Anderson.

Figura 94The Garden of Monet at Argenteuil. Claudet Monet1873Óleo sobre tela.

Page 133: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

133

A história da arte possui exemplos de numerosas cidades

que homens e mulheres construíram em outros tempos e lugares.

Cidades ensolaradas e luminosas como aquelas pintadas pelos

impressionistas. Cidades escuras e misteriosas como aquelas que

Oswald Goeldi nos apresenta; ou outras não menos sombrias como

as de Ernst Kirchner. Cidades caóticas, acinzentadas, densas,

cidades corroídas como aquelas construídas por Anselm Kiefer

ou ainda aquelas, como no filme Asas do Desejo, em que Wim

Wenders ambienta anjos que perambulam solitariamente. Cidades

que falam da vida, da morte, cidades contemplativas, cidades que

trazem as marcas da passagem do tempo, cidades que falam das

nossas permanências, presenças e ausências e também de nossas

passagens pela vida; cidades que falam de todos nós e de cada

um distintamente.

Estas obras e artistas podem ser buscadas pelos estudantes

a partir de exercícios que envolvem o entorno, como o descrito

acima. A interferência do professor pode mediar o olhar do

estudante para outros exemplos significativos da história da arte

- além daqueles que foram buscados em um primeiro momento.

Mas, estas são cidades vividas, construídas culturalmente em outros

tempos, lugares e contextos.

Page 134: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

134

Figura 95: imagem produzida durante

a caminhada fotográfica.

Foto: Pedro e Mateus.

Figura 96: imagem produzida durante

a caminhada fotográfica.

Foto: Laysa e Giovana.

Figura 97: imagem produzida durante

a caminhada fotográfica.

Foto: Stefany e Gabriel.

Figura 98: imagem produzida durante

a caminhada fotográfica.

Foto: Ana e Maria.

Page 135: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

135

Figura 99, 100 e 101Claude Monet - Catedral de Rouen em dia claroCatedral de Rouen efeito matinal - Catedral de Rouen em sol alto.1892-4

Figura 102Basílica do Senhor Bom Jesus do Matosinhos.Congonhas, MG.

Figura 103Igreja de Santa Rita (Parati, RJ), Djanira s.d.[Museu Nacional de Belas Artes - Rio de Janeiro, RJ]

Page 136: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

136

Em artigo precedente a esta pesquisa, nossas reflexões

sobre as imagens da cidade já nos suscitavam inquietações,

porém indicavam uma perspectiva de transformação do

ambiente escolar e da relação entre a escola e seu contexto.

A cidade e seus lugares, objetos, narrativas e memórias são

elementos indicadores de possibilidades de inclusão do

sujeito nos processos educativos em arte. O olhar sobre estes

elementos faz despertar aquele que ali habita; faz vir à tona

aspectos sutis relativos ao sujeito. O espaço onde se mora, o

bairro, as ruas, ou a comunidade são construções expressivas

de nossa relação com o mundo. É preciso reconhecer o lugar,

compreender suas articulações, evidenciar suas qualidades

e defeitos, mas é preciso reconhecê-lo como uma extensão

de si. O desenho urbano é na verdade uma escrita, nem

sempre poética, mas sempre uma escrita, a qual “fala” ou

revela o cotidiano que se desenrola em suas vielas (OLIVEIRA

e STRATICO,2014, p. ).

Um exercício do olhar sobre estas construções pode

desencadear a consciência sobre o entorno, e provocar

relações extensivas com a história da habitação e das

cidades, e também com a história da arte. É quando os lugares

passam a ser reconhecidos como plenos de significados para

o ser humano. Tal olhar pode nos remeter ao trabalho de

outros artistas que se debruçaram sobre o tema, de modo

a construir lugares imagéticos ou pictóricos, cuja marca é a

afetividade presente.

O trajeto de casa para a escola, por outro lado,

propicia um rico exercício de apreensão, que embora

acostumada e automatizada com a rotina, pode ser

surpreendida por detalhes nunca vistos, qualidades até então

desconhecidas. Ali também há história e há pessoas, outros

habitantes, autores de sua escrita urbana, grafada na casa

velha de madeira, nas persianas gastas pelo tempo, no muro

baixo, na pequena varanda com vaso de antúrio. Que seria

se um dia parássemos para visitar esta mesma casa antiga, e

conversássemos com os que ali moram? Que histórias teriam

para contar?

Page 137: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

137

Figura 104imagem produzida durante a caminhada fotográfi ca.Foto: Bruna e Claudia.

Figura 105imagem produzida durante a caminhada fotográfi ca.Foto: Djonatas.

Page 138: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

138

A cidade e seus lugares, objetos, narrativas e memórias são elementos indicadores de possibilidades de inclusão do sujeito nos

processos educativos em arte. O olhar sobre estes elementos faz despertar aquele que ali habita; faz vir à tona aspectos sutis relativos

ao sujeito. O espaço onde se mora, o bairro, as ruas, ou a comunidade são construções expressivas de nossa relação com o mundo.

Page 139: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

139

Figura 107imagem produzida durante a caminhada fotográfi ca.Foto: Djonatas.

Figura 106imagem produzida durante a caminhada fotográfi ca.Foto: Giovana.

Page 140: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

140

Page 141: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

141

Figura 108imagem produzida durante a caminhada fotográfi ca.Foto: Andressa.

Page 142: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

142

Em continuidade à ampliação do olhar sobre o lugar,

propusemos um exercício de pintura onde os alunos pintaram

em folha A3 e A2 lugares do Irerê, a partir de suas escolhas ou

vínculos. O prazer e a vontade com que fi zeram essas pinturas

demonstraram um comprometimento com o ato de pintar,

de trabalhar e ocupar todo o espaço da folha de cartolina.

Este foi outro aspecto que vimos como importante para ser

registrado e trabalhado em outras atividades - o tempo de

dedicação com o ato de pintar, desenhar, olhar e registrar.

Figura 109 e 110Imagens do processo de criação durante a ação atística pedagógica.Irerê 2014.

Page 143: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

143

Figura 111Imagem da produção

desenvolvida na intervenção artística

pedagógica.Irerê 2014.

Page 144: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

144

Page 145: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

145

A caminhada fotográfi ca e a captura de imagens também

suscitaram a construção de desenhos que cada um realizou

em giz pastel, a partir das experiências que havia vivido

no centro comunitário há anos fechado. Em função desse

fechamento, todos estão privados de lá continuarem suas

vivências, sejam os bailes e festas que lá aconteciam, ou

as aulas de capoeira e de ginástica. Estes desenhos foram

construídos em papéis kraftt com uma alta gramatura e

com as dimensões de 100 x 70 cms. Todos os papéis foram

fi xados na parede externa deste prédio e ali, cada um,

ativando sua memória afetiva, foi trazendo como que de

dentro do prédio as vivências que haviam tido neste espaço

comunitário. Infelizmente, numa pequena cidade como Irerê

em que, como as próprias crianças relataram, os espaços

para encontros sociais são tão poucos, o poder público lhes

tirou não somente o espaço físico, mas o direito à alegria,

à festa, à comemoração; tirou-lhes a capoeira e também a

ludicidade da vida.Figura 112 e 113

Imagem da produção desenvolvida na

intervenção artística pedagógica.

Irerê 2014.

Page 146: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

146

Figura 114Imagem da produção desenvolvida na intervenção artística pedagógica.Irerê 2014.

Page 147: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

147

Figura 115 e 116Imagens do processo de criação durante a ação atística pedagógica.Irerê 2014.

Page 148: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

148

Figura 117, 118, 119, 120, 121, 122, 123 e 124Imagens do processo de criação durante a ação atística pedagógica.Irerê 2014.

Page 149: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

149

Page 150: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

150

Page 151: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

151

Figura 125, 126 e 127Imagem da produção desenvolvida na intervenção artística pedagógica.Irerê 2014.

Page 152: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

152

Page 153: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

153

Figura 128 e 129Imagem da produção desenvolvida na intervenção artística pedagógica.Irerê 2014.

Page 154: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

154

Na mesma linha e perspectiva, as crianças elaboraram

em cerâmica um painel coletivo, cujas partes em baixo relevo

eram inspiradas em fotografias feitas durante a “caminhada

fotográfica”. Este painel foi construído no ateliê de cerâmica

do Departamento de Arte Visual, da Universidade Estadual

de Londrina, lugar este que as crianças vieram a conhecer

em uma visita planejada. Para este painel, cada aluno

trabalhou sobre uma placa de 20x20 cm, cuja imagem total

do conjunto mostrava exatamente o Centro Comunitário

que se encontrava fechado. A idéia é que pudéssemos unir

as várias placas e em algum lugar do distrito ainda a ser

definido possamos instalar o painel. Foi muito interessante

pensarmos em criar em conjunto com essas crianças a idéia

do coletivo, do quanto precisamos do outro, da placa que

construída individualmente serve para que o todo se forme e

fique completo. Nesse sentido, o outro nos completa.

Page 155: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

Figura 130Imagem da produção desenvolvida na intervenção artística pedagógica.Irerê 2014.

Page 156: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

156

Page 157: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

Figura 131, 132, 133, 134 e 135Imagem da produção desenvolvida na intervenção artística pedagógica.Irerê 2014.

Page 158: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

158

Acreditamos que estes dezessete encontros e ações

possibilitaram que as imagens/narrativas trazidas pelas

crianças pudessem ser ressignificadas. Ainda que saibamos

que a arte e a educação sejam capazes de fazer aflorar

e construir outras imagens para além daquelas que foram

construídas ao longo dos tempos, sabemos que existe uma

dimensão que necessita das políticas públicas, pois não cabe

somente à escola pensar a educação de maneira mais ampla.

Existem aspectos que necessitam de outras intervenções,

principalmente quando toca naquilo que nos propomos a

trabalhar neste projeto que é habitar verdadeiramente a

cidade. Um dos exemplos que apresentamos aqui, foi com

relação ao Centro Comunitário - fechado há muitos anos

pelo poder público e que apareceu repetidas vezes entre

as imagens fotografadas pelas crianças, sendo este um

lugar de afeto, onde cada um havia vivido experiências

que foram encerradas com fechamento do prédio. De certo

modo, o poder público ao manter o prédio fechado, fecha

também muitas possibilidades de apropriação dos espaços

que pertencem a todos que ali vivem e convivem.

8 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do estudo da obra de Mônica Nador,

desenvolvida no JAMAC (Jardim Míriam Arte Clube) e da

Cooperativa Cultural Eloísa Cartonera, ambas produções

que participaram da 27ª Bienal Internacional de São Paulo

(2006), pudemos identificar semelhanças nestes processos.

Um dos primeiros aspectos observados foi a presença da

dimensão social da arte, trabalhada tanto no JAMAC quanto

na Cooperativa Eloisa Cartonera.

Ambos os projetos nos faz pensar na possibilidade

da arte ser ela mesma o caminho / metodologia para

que as pessoas possam construir ou mesmo restituir suas

potencializadas, seus estados criativos. O modo como operam

faz cair por terra muitas de nossas crenças, e também inverte

os processos criativos, na medida em que o artista passa a

pensar sobre problemas que antes pareciam não ter ligação

ou relação nenhuma com seu trabalho. Estes criadores estão

preocupados em contribuir para a solução dos problemas

sociais de nosso tempo. Suas atitudes e posturas diante da

criação tocam em questões caras à arte e à educação

na contemporaneidade e nos ensinam a operar de outros

modos. Podemos ver o quanto a produção artística nestes

processos é encarada enquanto prática cultural. Uma arte

Page 159: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

159

que tem uma autoria compartilhada, pois lida com as práticas

colaborativas e isso transforma o conceito que define o fazer

arte. Percebemos que existe uma força motriz que faz com

que algo vá se instituindo a partir dos próprios grupos, das suas

necessidades. Estas características se aproximam daquilo

que é o desejável também na educação. A proposição e

intervenção na escola que aqui relatamos nos mostram

possibilidades de atitudes que também incorporam o diálogo,

o respeito ao outro e ao lugar, sendo capazes de fecundar

nossas práticas artísticas pedagógicas em benefício de uma

docência criadora, em que arte não somente é o objetivo

do fazer, mas é ela, a arte concebida nessa dimensão, que

nos ensina este próprio fazer. Um fazer pedagógico artístico

que traz para o centro das suas relações o encontro com

o outro. Estes artistas e proposições nos ensinam a ensinar

por meio da produção de arte, por meio de um diálogo

íntimo, sensível e transformador. As ações realizadas na

escola por meio da arte colocam-nos diante de impasses

que envolvem não somente as possibilidades da escola,

mas, guiados pelas crianças fomos levados para o espaço

da cidade. Nela deparamo-nos com as faltas, os afetos, os

desafetos, os espaços públicos fechados. De certo modo,

procuramos operar numa esfera que buscou outras formas

de entender a cidade e seu funcionamento. Talvez aí resida

uma chave para pensarmos e atuarmos em sintonia com essa

perspectiva contemporânea da arte. Sobretudo, é preciso

atuar diretamente com o outro, sendo que fazer arte com o

outro no mundo implica no desejo de transformar espaços

em lugares, como nos ensina Yu Fu Tuan.

Estas características que identificamos nestas

proposições e que aplicamos na proposição artístico/

pedagógica que desenvolvemos a partir da escola no faz

retomar o titulo e objetivo que atribuímos a este projeto de

pesquisa: “Encontro com o outro, formação, mediação,

pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos”, pois as duas

proposições artísticas que analisamos lidam com os processos

formativos, uma formação que vai além das questões

conteudistas; trata-se de uma educação para a vida, em

que cada sujeito que destas ações participa tem condições

de reinventar-se no mundo. Em cada projeto abordado,

seja a elaboração de livros, capas, pinturas, estampas,

padronagens para tecidos -, a mediação perpassa todo o

processo. Fazem mediação ao situar estas pessoas que dos

projetos participam em contato com outras possibilidades

de ocupar e se fazer pessoa na vida. Desta maneira, é que

vemos o quanto podemos aprender com a própria arte e que

estes caminhos artísticos / metodológicos possam participar

e fecundar cada vez mais os processos educacionais.

Page 160: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

160

Figura 136 Foto realizada no trajeto para o Distrito de Irerê. Foto: Ronaldo.

Page 161: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

161

Figura 137Foto realizada no trajeto para o Distrito de Irerê. Foto: Andressa.

Page 162: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos
Page 163: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

163

9 - Referências Bibliográficas

ARTEVIDA UTIL. Entrevista com Monica Nador concedida a David Sperling, São Carlos, RISCO: Revista de Pesquisa em

Arquitetura e Urbanismo, EESC – USP, 2006. [Consult.24-02-2014] Disponivel em: http://www.revistas.usp.br/risco/article/

viewFile/44677/48299.

BARILARO, Javier. http://www.forumpermanente.org/rede/numero/rev-Numero Oito/ oitoentrevistacartonera. acesso em

09/12/2014. (Entrevista)

BOURRIAUD, Nicolas. “Estética Relacional”, a política das relações. In: LAGNADO, Lisette. 27ª Bienal de São Paulo–

Seminários, Rio de Janeiro, Cobogó, 2006.

CHARRÉU, Leonardo.Métodos Alternativos de Pesquisa na Universidade Contemporânea: Uma Reflexão Crítica sobre A/R/

Tografia e Metodologias de Investigação Paralelas. In: TOURINHO, Irene e MARTINS, Raimundo.(Orgs) Processos e Prática de

Pesquisa em Cultura Visual e Educação. Santa Maria, Editoraufsm. 2013.

DIAS, Belidson e IRWIN, Rita L. Pesquisa Educacional Baseada em Arte: A /r/tografia. Santa Maria, Editoraufsm. 2013.

EFLAND, Arthur. Cultura, sociedade, arte e educação em um mundo pós-moderno. In: BARBOSA, Ana Mae e J. Guinsburg

(org). O Pós – Modernismo. São Paulo, Perspectiva, 2005.

FERRARA, Lucrécia. D’Alessio. Olhar Periférico: Informação, Linguagem, Percepção Ambiental. São Paulo: Edusp, 1999.

Page 164: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

164

FORUM PERMANENTE. Entrevista a Javier Barilaro. http://www.forumpermanente.org/rede/numero/rev-NumeroOito/

oitoentrevistacartonera. Acesso em 10/12/2014.

FRANÇA, Lilian Cristina Monteiro. Caos, Espaço, Educação. São Paulo, Editora Annablume, 1994.

FREIRE, Madalena; COSTA, Eliana A. Pires da. Dois Olhares ao Espaço-Ação na Pré-Escola. In: MORAIS, Regis Sala de Aula:

Que espaço é esse? (Org.) Campinas: Papirus, 1996.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

GABLIK, Suzi. Estética Conectiva: A Arte depois do Individualismo. In: GUINSBURG, J.; BARBOSA, Ana M. (Orgs). O Pós

Modernismo. São Paulo: Perspectiva. 2005, pp 601 -610.

GADOTTI, Moacyr. A Escola na Cidade que Educa. Disponível em: http://www.vitoria.es.gov.br/arquivos/20100930_tempo_

integral_texto_2.pdf

HORKHEIMER, Max ADORNO, Theodor. Dialética do esclarecimento. Fragmentos filosóficos. Tradução Guido Antonio de

Almeida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.

jurjo santomé

KINCELER, José Luiz. Vinho saber: arte relacional em sua forma complexa. Santa Catarina, UDESC - PPGAV, s/d.

KRAUSS, Rosalind E. Caminhos da Escultura Moderna. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

Page 165: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

165

LAGNADO, Lisette. Apresentação dos seminários. IN: FIALHO, Ana Letícia e KUNSCH, Graziela.(Orgs) Relatos Críticos

Seminários da 27ª Bienal de São Paulo. São Paulo, Hedra, 2011.

LAGNADO, Lisette e PEDROSA, Adriano. (orgs) Como viver junto - catálogo da 27ª bienal de São Paulo, São Paulo,

Cosac Naify, 2008.

LAGNADO, Lisette, PEDROSA, Adriano, FREIRE, CRISTINA, MARTINEZ ROSA, ROCA, José e VOLZ, Jochen (Orgs) 27ª

Bienal de São Paulo – Seminários, Cobogó, 2008.

LIMA, Andréa Terra. A Estética do (in) desejável: Uma Margem Catadora. Porto Alegre, Universidade Federal do Rio

Grande do Sul, 2009. (Trabalho de Conclusão de Curso)

MORAIS, Regis. Sala de Aula: Que espaço é esse? (Org.) Campinas: Papirus, 1996.

NADOR, Monica. Paredes pintadas, drops, 2002. ISSN 2175-6716. [Consult.18-02-2014] Disponível em: http://www.

vitruvius.com.br/revistas/read/drops/02.004/1584

NADOR,Monica. Par de Casas, Fotografia, 1999. [Consult.24-02-2014]. Disponível em: http://www.

lucianabritogaleria.com.br/artists/26 .

NADOR,Monica. Frua, acrílico sobre tela, 1991- [Consult.19-02-2014] Disponível em: http://www.lucianabritogaleria.

com.br/artists/26.

Page 166: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

166

OLIVEIRA, Ronaldo Alexandre e Stratico, Fernando A. Histórias do sujeito e formação em arte. Publicatio UEPG: Ciências

Humanas, Linguistica, Letras e Artes, Vol. 21, Nº 2 (2013)

OLIVEIRA, Ronaldo Alexandre de. Produzir Arte, Produzir educação na dimensão da estética conectiva e da arte

relacional. Projeto de Pesquisa Cadastrado na PROPPG /UEL,(7800) Londrina, UEL, 2013.

OLIVEIRA, Ronaldo Alexandre de. Arquitetura da Criação Docente: A Aula Como Ato Criador. São Paulo,: Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo,2004.(Tese de Doutorado)

_______. Arte e Ensino Público: Desvelando uma experiência com o ensino de Artes Visuais na cidade de Jacareí:

Conquistas, Transformações e Limites. São Paulo: Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2000. (Dissertação de mestrado)

OSTROWER, Fayga._____ Criatividade e processos de criação. Petrópolis: Vozes, 2002.

SANFELICE, José Luís. Sala de Aula: Intervenção no Real. In: Sala de Aula: Que Espaço é Esse? Regis de Morais(Org.).

Campinas, Papirus,1996.

SANTOMÉ, Jurjo Torres. As Culturas Negadas e Silenciadas no Currículo. In: SILVA, Tomaz Tadeu da. Alienígenas na Sala de

Aula: Uma introdução aos estudos Culturais em educação. Petrópolis, Vozes, 2001.

TUAN, Yi-Fu. Espaço e Lugar: a perspectiva de experiência. São Paulo, DiFEL, 1983.

Page 167: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

167

TUAN, Yi-Fu. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. Londrina, Eduel, 2012.

Sites Jardim Mirian Arte Clube: Disponível em http://jamac.org.br

Projeto Eloísa Cartonera: http://eloisacartonera.com.ar/

Page 168: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

168

Page 169: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

169

10 - Resumo da produção científica

Neste tempo em que estive desenvolvendo a pesquisa de pós-doutoramento, ingressei nos dois grupos de pesquisa

coordenados pela Profª Drª Mírian Celeste Martins, supervisora da investigação que eu desenvolvia; o primeiro Mediação

Cultural: contaminações e provocações estéticas e o segundo Arte na Pedagogia. A partir do ingresso nos grupos, participei

de diversas ações. Recolhi do currículo Lattes e listei abaixo, a produção desenvolvida neste período, algumas vinculadas

aos grupos de pesquisa e outras que vejo como desdobramentos dos mesmos.

No grupo de pesquisa Mediação Cultural: contaminações e provocações estéticas, participei de reuniões e mutirões

de trabalho, acompanhei parte da organização do livro “Pensando juntos a mediação Cultural” - produzido pelo grupo

com organização de Mírian Celeste Martins, publicado pela editora Terracota. Redigi o prefácio do mesmo intitulado

“Considerações acerca da Experiência de Vivenciar um Processo de Criação Colaborativo”. Participei ainda de encontros

da disciplina de Mediação Cultural ofertada pela supervisora, durante o primeiro semestre de 2014 no PPGEAHC, e a partir

dela fizemos viagem de estudos a fim de conhecer os modos de atuação na mediação cultural de determinadas instituições

culturais do Rio de Janeiro. Ainda diretamente ligado a este grupo de pesquisa, produzimos trabalhos (textos completos),

que foram apresentados no CONFAEB /Ponta Grossa. Representei o grupo de pesquisa neste evento, e fiz o lançamento do

livro – referido acima - em Ponta Grossa, assim como me fiz presente no lançamento do mesmo na Universidade Presbiteriana

Mackenzie, em São Paulo.

Com relação a minha participação no grupo de pesquisa Arte na Pedagogia, com a pesquisa em andamento participei

das reuniões de trabalho, do 3º Encontro Nacional Arte na Pedagogia e também das ações desenvolvidas pelo grupo de

pesquisa no CONFAEB, coordenado pela supervisora Mírian Celeste Martins. A produção diretamente associada ao grupo de

pesquisa desenvolvido consistiu em trabalhos apresentados e publicados nos eventos: Criadores Sobre Outras Obras (Lisboa

Page 170: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

170

– Portugal) CSO 2014; XXIV Congresso da Federação de Arte Educadores do Brasil e II Congresso Internacional da Federação

de Arte/Educadores do Brasil. Além disso, temos um trabalho aceito para mais uma apresentação de comunicação oral

no V Congresso Criadores Sobre Outras Obras (Lisboa – Portugal) CSO 2015, sendo este trabalho diretamente vinculado à

investigação desenvolvida.

Além destes trabalhos apresentados e publicados tive outras participações e publicações em congressos que aqui

ressalto: 23º Encontro da Associação Nacional de pesquisadores em artes Plásticas ANPAP (Belo Horizonte); participei da

organização do II e III Congresso Internacional Matéria-Prima: Práticas das Artes Visuais no ensino básico e secundário (Escola

de Belas Artes de Lisboa, 2013 e 2014). Apresentei trabalhos no XXIV Congresso da Federação de Arte Educadores do Brasil

e II Congresso Internacional da Federação de Arte/Educadores do Brasil; Além destes trabalhos apresentados e publicados

em anais de congresso publiquei nos periódicos: Estúdio (ISSN 1647-6158 - Lisboa – Portugal); MATERIA PRIMA:PRáTICAS

ARTISTICAS NO ENSINO BáSICO E SECUNDáRIO (Lisboa – Portugal); Visualidades (Goiânia – Brasil); Publicatio UEPG Ciências

Humanas Linguistica Letras e Artes (Ponta Grossa – Brasil). Tenho previsão de integrar duas bancas de doutorado no momento:

A primeira prevista para fevereiro de 2015, de Aline Nunes da Rosa no Programa de Pós-graduação em Arte e Cultura Visual

– Universidade Federal de Goiânia - sob orientação da Profª Drª Alice Martins e a segunda de Sônia Tramujas Vasconcelos,

no Programa de Pós graduação em Educação da Universidade Federal do Paraná, sob orientação da Profª Drª Tânia Maria

Baibich.

Abaixo, como já explicitado, apresento ítens do currículo Lattes da produção completa deste período, cujo currículo integral

e atualizado segue em anexo junto à documentação.

1) Dados pessoais

Nome: Ronaldo Alexandre de Oliveira

2) Produção bibliográfica - artigos completos publicados em periódicos

Page 171: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

171

1. OLIVEIRA, RONALDO ALEXANDRE - OUTRAS LEITURAS E VISUALIDADES NA FORMAÇÃO DOCENTE EM ARTE. Visualidades (UFG). , v.11, p.113 - 135, 2014.

2. OLIVEIRA, Ronaldo Alexandre de - O SENTIDO DA MEMÓRIA E DOS OBJETOS PESSOAIS NA FORMAÇÃO EM ARTES VISUAIS. MATERIA PRIMA:PRáTICAS ARTISTICAS NO ENSINO BáSICO E SECUNDáRIO. , v.2, p.20 - 28, 2014.

3. OLIVEIRA, Ronaldo Alexandre de, LOPES, Rosangela Almeida - ARTE, EDUCAÇÃO E INTERDISCIPLINARIDADE: O SENTIDO DE UMA EXPERIêNCIA. MATERIA PRIMA: PRáTICAS ARTISTICAS NO ENSINO BáSICO E SECUNDáRIO. , v.2, p.199 - 208, 2014.

4. OLIVEIRA, Ronaldo Alexandre de. AS XILOGRAVURAS DE AMILTON DAMAS E SEU PROCESSO DE FORMAÇÃO - ISSN 1647-6158. Estudio. , v.5, p.222 - , 2014.

5. OLIVEIRA, Ronaldo Alexandre de - O SENTIDO DIALÓGICO E TRANSFORMADOR DA OBRA DE MÔNICA NADOR - ISSN 1647-6158. Estudio. , v.5, p.170 - 178, 2014.

6. OLIVEIRA, RONALDO ALEXANDRE - HISTÓRIAS DO SUJEITO E FORMAÇÃO EM ARTE. Publicatio UEPG Ciências Humanas Linguistica Letras e Artes. , v.21, p.187 -, 2013.

7. OLIVEIRA, Ronaldo Alexandre de, STRATICO, J. F. A. IMAGENS DA TERRA E DA LUZ NA FOTOGRAFIA DE HARUO OHARA. GAMA. , v.1, p.26 - 32, 2013.

8. MARTINS, V. L., OLIVEIRA, Ronaldo Alexandre de - MEMORIA, OBJETO E LUGAR: DESCOBRIR-SE E DESDOBRAR-SE NA ARTE, NA EDUCAÇÃO E NA VIDA. MATÉRIA - PRIMA. , v.2, p.321 - 333, 2013.

3) Capítulos de livros publicados

1. OLIVEIRA, Ronaldo Alexandre deA Dimensão Conectiva e Educadora na Obra de Beth Moysés In: PERFORMANCE, OBJETO E IMAGEM - ESCRITOS SOBRE OS RASTROS DE UMA PESQUISA.01 ed.Londrina : UEL / Midiograf, 2013, v.01, p. 115-122. 2. OLIVEIRA, Ronaldo Alexandre deENTRE SONHOS E REALIDADES: ESTáGIO CURRICULAR EM ARTES VISUAIS In: OS ESTáGIOS NAS LICENCIATURAS DA UEL.1ª ed.Londrina : Londrina / UEL / 2013, 2013, p. 171-189.

Page 172: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

172

3. OLIVEIRA, Ronaldo Alexandre de. Imagens da Escola e da Arte nos processos de Ressignificação da EDucação In: PERFORMANCE, OBJETO E IMAGEM - ESCRITOS SOBRE OS RASTROS DE UMA PESQUISA.01 ed.Londrina : UEL / Midiograf, 2013, v.01, p. 123-142.

4) Trabalhos publicados em anais de eventos (completo)

1. QUEIROZ, J. P., OLIVEIRA, Ronaldo Alexandre de. A CULTURA VISUAL E O ALARGAMENTO DO CONCEITO DE ARTE E SEU ENSINO In: 23º ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM ARTES PLáSTICAS, 2014, BELO HORIZONTE. Anais do XXIII Encontro Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas. BELO HORIZONTE: ANPAP- Programa de Pós-graduação em Artes - UFMG, 2014., 2014. p.546 - 563

2. OLIVEIRA, Ronaldo Alexandre de - As Xilogravuras de Amilton Damas e Seu Processo de Formação In: V Congresso Criadores Sobre Outras Obras - CSO - 2014, Lisboa.Anais do V Congresso Criadores Sobre Outras Obras - CSO - 2014. Lisboa: , 2014.

3. OLIVEIRA, Ronaldo Alexandre de - O sentido Dialógico e Transformador da Obra de Mônica Nador In: V Congresso Criadores Sobre Outras Obras - CSO - 2014, 2014, Lisboa. Anais do V Congresso Criadores Sobre Outras Obras - CSO - 2014. Lisboa: , 2014.

4. OLIVEIRA, Ronaldo Alexandre de, STRATICO, J. F. A. Imagens da Terra e da Luz na Fotografia de Haruo Ohara In: IV CONGRESSO INTERNACIONAL CRIADORES SOBRE OUTRAS OBRAS, 2013, LISBOA. ANAIS DO IV CONGRESSO INTERNACIONAL CRIADORES SOBRE OUTRAS OBRAS. , 2013.

5) Apresentação de trabalho e palestra

1. QUEIRÓZ, J., OLIVEIRA, Ronaldo Alexandre de. A CULTURA VISUAL E O ALARGAMENTO DO CONCEITO DE ARTE E SEU ENSINO, 2014. 23º ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM ARTES PLáSTICAS; Inst.promotora/financiadora: ANPAP / UFMG

2. OLIVEIRA, RONALDO ALEXANDREAs Xilogravuras de Amilton Damas e Seu Processo de Formação, 2014. IV Congresso Internacional Criadores Sobre Outras Obras - Faculdade de Belas Artes de Lisboa - Portugal

Page 173: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

173

3. OLIVEIRA, RONALDO ALEXANDRE, MARTINS, M. C.CONTRIBUIÇÕES DA ARTE COMTEMPORANEA NA CONSTRUÇÃO DE METODOLOGIAS DIALOGICAS PARA O ENSINAR E APRENDER ARTE, 2014. XXI Mostra de Pós - graduação Educação, Arte e História da Cultura- Mackenzie

4. HOLLANDA, M., OLIVEIRA, Ronaldo Alexandre de, BITTENCOURT, C. A. C.INFÂNCIAS: O DESEJO DO OUTRO, 2014. (Comunicação,Apresentação de Trabalho) XXIV Congresso da Federação de Arte Educadores do Brasil e II Congresso Internacional da Federação de Arte/Educadores do Brasil.

5. MARTINS, V. L., LOPES, Rosangela Almeida, OLIVEIRA, RONALDO ALEXANDRE, GARCIA,C.L, SOUZA, M.I.P.O INTERDISCIPLINARIDADE, MEMÓRIA E EXPERIêNCIA NA FORMAÇÃO EM ARTE: OS OBJETOS PESSOAIS COMO PONTO DE PARTIDA, 2014. XXIV Congresso da Federação de Arte Educadores do Brasil e II Congresso Internacional da Federação de Arte/Educadores do Brasil.

6. OLIVEIRA, Ronaldo Alexandre deO sentido Dialógico e Transformador da Obra de Mônica Nador, 2014. IV Congresso Internacional Criadores Sobre Outras Obras - Faculdade de Belas Artes de Lisboa - Portugal

7. CAMPOS, a. t, OLIVEIRA, Ronaldo Alexandre deQUANDO O ESPAÇO DA CIDADE SE TRANSFORMA EM LUGAR, 2014. XXIV Congresso da Federação de Arte Educadores do Brasil e II Congresso Internacional da Federação de Arte/Educadores do Brasil;

6) Demais produções bibliográficas

1. MARTINS, M. C., MARTINS, D. S., BONCI, E. M. O., CARVALHO, F. O., CONCEICAO, J. W., FALCAO, M. J. B., FIORAVANTE, M. L. B., RODRIGUES, M. S., EGAS, O. M. B., DEMARCHI, R. C., UTUARI, S. S., DIMARCH, B.F, DONATO, C.C.R, OLIVEIRA, Ronaldo Alexandre de. CONSIDERAÇÕES ACERCA DA EXPERIENCIA DE VIVENCIAR UM PROCESSO DE CRIAÇÃO COLABORATIVO. São Paulo:Editora Terracota, 2014. (Prefácio, Prefácio, Posfácio)

2. QUEIROZ, J. P., OLIVEIRA, Ronaldo Alexandre deMATÉRIA PRIMA: A CONSTRUÇÃO DE UM ESPAÇO INTERNACIONAL PARA O DIALÓGO ACERCA DA FORMAÇÃO E DA ATUAÇÃO DOCENTE EM ARTE. LISBOA:CIEBA - FBAUL, 2013. (Apresentação, Prefácio, Posfácio) 7) Produção técnica - assessoria e consultoria

Page 174: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

174

1. OLIVEIRA, Ronaldo Alexandre deMEMBRO DO COMITê AVALIADOR DA GRANDE áREA LINGUÍSTICA, LETRAS E ARTES - EAIC 2013, 2013 2. OLIVEIRA, Ronaldo Alexandre deREUNIÃO DE AVALIAÇÃO DAS PROPOSTAS SUBMETIDAS NO AMBITO DA CHAMADA PUBLICA (CP) Nº 24/2012 'PESQUISA BáSICA E APLICADA', 2013 8) Trabalhos de conclusão de curso de graduação

1. Maria Neide Nascimento Silva. A IMPORTANCIA DAS CORES NA EDUCAÇÃO INFANTIL. 2013. Curso (Arte Visual) - Universidade Estadual de Londrina 2. Eonice Pereira de Carvalho. A IMPORTÂNCIA DAS EXPERIMENTAÇÕES COM OS MATERIAIS ARTÍSTICOS E NÃO ARTÍSTICOS NO DESENVOLVIMENTO GRáFICO DAS CRIANÇAS. 2013. Curso (Arte Visual) - Universidade Estadual de Londrina 3. Daniele da Silva Milani. Além do Espaço Escolar: O sentido da Experiencia do Habitar Escolar e da Sala de Aula. 2013. Curso (Arte Visual) - Universidade Estadual de Londrina 4. ROSÂNGELA APARECIDA GIMENEZ. EXPERIENCIAS LÚDICAS E SENSORIAIS NO ENSINO DE ARTES VISUAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL. 2013. Curso (Arte Visual) - Universidade Estadual de Londrina

5. LUCIANA FINCO MENDONÇA. O ESPAÇO ESCOLAR COMO CURRÍCULO: A ARTE COMO FORMA DE REDIMENSIONAMENTO. 2013. Curso (Arte Visual) - Universidade Estadual de Londrina 6. Márcia Cristina Metzger. POSSIBILIDADES DE TRABALHAR ARTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL. 2013. Curso (Arte Visual) - Universidade Estadual de Londrina 7. Aline do Prado Pinto. UM CAMINHO ALÉM MAR: VIAGENS DO MEU PAI. 2013. Curso (Artes Visuais) - Universidade Estadual de Londrina 9) Orientação de Iniciação científica

1. Mariana Baldassaune de Holanda. AS MÚLTIPLAS FACES DA CIDADE NA PERSPECTIVA DOS SEUS HABITANTES - UMA RELAÇÃO ENTRE ARTE, MEMÓRIA E EDUCAÇÃO.. 2013. Iniciação científica (Arte Visual) - Universidade Estadual de Londrina

Page 175: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

175

2. Francielly Barbosa Andrade. Londrina, hoje você vê a Flor... A produção fotográfica de Haruo Ohara enquanto percepção de uma metrópole em crescimento.. 2013. Iniciação científica (Arte Visual) - Universidade Estadual de Londrina 10) Eventos - Participação em eventos

1. 23º ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM ARTES PLáSTICAS, 2014. (Encontro)A CULTURA VISUAL E O ALARGAMENTO DO CONCEITO DE ARTE E SEU ENSINO.

2. IV Congresso Internacional Criadores Sobre Outras Obras -, 2014. (Congresso)As Xilogravuras de Amilton damas e Seu Processo de Formação.

3. XXI Mostra de Pós - graduação Educação, Artes e História da Cultura: pesquisas interdisciplinares, 2014. (Simpósio)CONTRIBUIÇÕES DA ARTE COMTEMPORANEA NA CONSTRUÇÃO DE METODOLOGIAS DIALOGICAS PARA O ENSINAR E APRENDER ARTE.

4. Conferencista no(a) IV JORNADA DO FOPE: ESTáGIO, FORMAÇÃO E TRABALHO DOCENTE, 2014. (Outra)Estágio Curricular e as repercussões na Vida Profissional.

5. XXIV Congresso da Federação de Arte Educadores do Brasil e II Congresso da Federação de Arte/Educadores do Brasil, 2014. (Congresso)

INFÂNCIAS: O DESEJO DO OUTRO.

6. XXIV Congresso da Federação de Arte Educadores do Brasil e II Congresso da Federação de Arte/Educadores do Brasil, 2014. (Congresso)INTERDISCIPLINARIDADE, MEMÓRIA E EXPERIêNCIA NA FORMAÇÃO EM ARTE: OS OBJETOS PESSOAIS COMO PONTO DE PARTIDA.

7. V Congresso Internacional Criadores Sobre Outras Obras -, 2014. (Congresso)O Sentido Dialógico e Transformador da Obra de Monica Nador.

8. XXIV Congresso da Federação de Arte Educadores do Brasil e II Congresso Internacional da Federação de Arte/Educadores do Brasil, 2014. (Congresso)“PENSAR JUNTOS A MEDIAÇÃO CULTURAL”: A HISTÓRIA DE UM PROCESSO.

9. XXIV CONGRESSO DA FEDERAÇÃO DE ARTE EDUCADORES - CONFAEB -II Congresso da Federação de Arte/Educadores do Brasil : O, 2014. (Congresso)

Page 176: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

176

QUANDO O ESPAÇO DA CIDADE SE TRANSFORMA EM LUGAR.

10. 3º Encontro Nacional Arte na Pedagogia, 2014. (Simpósio)

11. Conferencista no(a) I Jornada de Pesquisa em Arte: Possibilidades, Abordagens e Diferentes Práticas da Pesquisa em Arte e Sobre Arte, 2013. (Outra)Arquitetura da Criação Docente: A Aula Como Ato criador.

12. IV Congresso Internacional Criadores Sobre Outras Obras -, 2013. (Congresso)Imagens da Terra e da luz na Fotografia de Haruo Ohara.

11) Organização de evento

1. QUEIRÓZ, J., GONCALVES, L. J., OLIVEIRA, RONALDO ALEXANDREIII CONGRESSO INTERNACIONAL MATERIA PRIMA: PRáTICAS ARTISTICAS NO ENSINO BáSICO E SECUNDáRIO, 2014. (Congresso, Organização de evento) 2. OLIVEIRA, Ronaldo Alexandre de, BITTENCOURT, C. A. C. I Jornada de Pesquisa em Arte: Possibilidades, Abordagens e Diferentes Práticas da Pesquisa em Arte e Sobre Arte, 2013. 3. QUEIRÓZ, J. OLIVEIRA, Ronaldo Alexandre de. II Congresso Internacional Matéria-Prima: Práticas das Artes Visuais no ensino básico e secundário, 2013. (Congresso, Organização de evento) 12) Participação em banca de trabalhos de conclusão

12.1 - Mestrado

1. GUIMARÃES, Leda Maria de Barros, MARTINS, A. F., OLIVEIRA, Ronaldo Alexandre deParticipação em banca de Aissi Kárita da Silva. Fazendo Ninhos na Escola, 2014

2. RIBEIRO, L. E. F., WEISS, L., OLIVEIRA, Ronaldo Alexandre deParticipação em banca de Amilton Damas de Oliveira. Festas Populares: Impressões Xilográficas, 2013 (Departamento de Artes Plásticas / IA / UNICAMP) Universidade de Campinas

12.2 - Curso de aperfeiçoamento/especialização

Page 177: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

177

1. ALEGRO, R.C, FORTUNA, C. R. A. P., OLIVEIRA, Ronaldo Alexandre deParticipação em banca de LUCIANA MARIA RICCI DO VALLE MESQUITA. INTERAÇÕES NO ESPAÇO MUSEOLÓGICO: ARTE, EDUCAÇÃO E HISTÓRIA, 2013(PATRIMÔNIO E HISTÓRIA) Universidade Estadual de Londrina 12.3 - Participação em trabalhos de graduação-tcc

1. FRANCISCONI, L. A. BITTENCOURT, C. A. C., OLIVEIRA, Ronaldo Alexandre deParticipação em banca de DANIELA APARECIDA DE OLIVEIRA. DESENVOLVIMENTO GRáFICO, EXPRESSIVO E ESTÉTICO DA CRIANÇA, JOVEM E ADULTO COM SINDROME DE DOWN, 2014. (Artes Visuais) Universidade Estadual de Londrina 2. SILVA, R.S(Renan dos Santos Silva), BITTENCOURT, C. A. C., OLIVEIRA, Ronaldo Alexandre de. Participação em banca de MAYLA WEBER. Expressão Infantil: O despertar do processo criativo, 2014 (Arte Visual) Universidade Estadual de Londrina 3. FRANCISCONI, L. A. VILLA, Danilo Gimenes, OLIVEIRA, Ronaldo Alexandre deParticipação em banca de MARISA FABIANA BATEL. INFANCIA E ARTE VISUAL: PINTURA E COGNIÇÃO - A DESCOBERTA DO MUNDO PELA MAGIA DAS CORES, 2014. (Artes Visuais) Universidade Estadual de Londrina 4. BITTENCOURT, C. A. C., FRANCISCONI, L. A., OLIVEIRA, Ronaldo Alexandre deParticipação em banca de MARIANA HOLANDA BALDASSAUNE. INFANCIAS: O DESEJO DO OUTRO, 2014. (Artes Visuais)

Universidade Estadual de Londrina 5. SUGETA, T. C. R., Aulicino M.R, OLIVEIRA, Ronaldo Alexandre de. Participação em banca de Leila Regina Silva. PORONGOS, 2014. (Arte Visual) Universidade Estadual de Londrina 6. MOREIRA, M. C. G. A., OLIVEIRA, Ronaldo Alexandre de, SENATORE.U DE C. Participação em banca de Luiz Couto. Apropriação: Olhar, Coleta e Ressignificação, 2013 (Artes Visuais) Universidade Estadual de Londrina

7. SILVA,V.T.da, COELHO, E., OLIVEIRA, Ronaldo Alexandre deParticipação em banca de Fabiane Silva Pereira Santos. ARTES VISUAIS: TERRITÓRIO A SER EXPLORADO NAS ESCOLAS, 2013. (Arte Visual) Universidade Estadual de Londrina 8. SIQUEIRA, J. R., BETIOL, C., OLIVEIRA, Ronaldo Alexandre de. Participação em banca de CAROLINA DELLATORRE SOBREIRA. EXPERIMENTAÇÕES ARTÍSTICAS: APRENDIZAGEM E TRANSFORMAÇÃO ATRAVÉS DA GRAVURA, 2013. (Arte Visual)

Page 178: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos

178

Universidade Estadual de Londrina

9. VILELA,M.F.M, OLIVEIRA, Ronaldo Alexandre de, ANDRÉA, J. M. D. Participação em banca de Talita Bianca Montagnini. Inadequações em Busca do Corpo - Ilusão - Entre Moda e Arte, 2013. (Arte Visual) Universidade Estadual de Londrina 10. COELHO, E., VILLA, Danillo Gimenes, OLIVEIRA, Ronaldo Alexandre deParticipação em banca de ALINE DE CáSSIA LUZ. MEDIAÇÃO COMO POSSIBILIDADE DE PRODUÇÃO, 2013. (Arte Visual) Universidade Estadual de Londrina 11. VILELA,M.F.M, Aulicino M.R, OLIVEIRA, Ronaldo Alexandre de. Participação em banca de Janaina Dalto Nakamura. Transmutando Percepções, 2013 (Arte Visual) Universidade Estadual de Londrina

13) Participação em bancas de concurso público

1. Concurso Público para professor adjunto da área das disciplinas do Ensino de Artes Visuais -Edital PRORH N° 039/2014, 2015. Universidade Federal de Juiz de Fora 2. Concurso Público para professor efetivo da Faculdade de Artes Visuais - Edital nº 75/2014- área de Concentração: Artes Visuais – Licenciatura, 2015. Universidade Federal de Goiás 3. CONCURSO PÚBLICO PARA PROVIMENTO DE CARGO DE PROFESSOR DA EDUCAÇÃO SUPERIOR - EDITAL 01/2014 - ARTE EDUCAÇÃO, 2015. Universidade Estadual de Montes Claros 4. Concurso Público para provimento de cargo de professor da Educação Superior - Edital 01/2014 - Processos Pedagógicos no Ensino de Artes Visuais, 2015. Universidade Estadual de Montes Claros

5. Concurso Público para professor efetivo da Faculdade de Artes Visuais - área de Concentração: Artes Visuais – Licenciatura, 2014. Universidade Federal de Goiás

Page 179: Encontro com o outro, formação, mediação, pesquisa e criação: possíveis entrelaçamentos