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Coletânea das principais notícias divulgadas DOSSIÊ USINA NUCLEAR EM PERNAMBUCO

Energia Nuclear d Ossie de Im Prensa

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Coletânea das principais notícias divulgadas

DOSSIÊ

USINA NUCLEAR EM PERNAMBUCO 

Recife, 7 de setembro de 2010

Coletânea das principais notícias divulgadas

Usina Nuclear em Pernambuco

Organização: Heitor Scalambrini Costa

Movimento Ecossocialista de Pernambuco

Contatos: www.mespe.com.br

[email protected]

@mespe2011

www.facebook.com/mespe2011

Constituição Estadual

Art. 216

Fica proibida a instalação de usinas nucleares no território do Estado de Pernambuco enquanto não se esgotar toda a capacidade de produzir energia hidrelétrica e oriunda de outras fontes.

Constituição federal

A Constituição Federal de 1988 manteve, em seu art. 21, XXIII e no art. 177, o monopólio da União para toda a cadeia do urânio, da mineração à geração de energia elétrica. De modo a exercê-lo, há duas empresas estatais, uma responsável pela pesquisa e lavra de urânio (Indústrias Nucleares Brasileiras – INB) e outra pela geração de energia nuclear (Eletrobrás). No que se refere à fiscalização das atividades que envolvam o mineral e a destinação final dos rejeitos radioativos, esta cabe à Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), autarquia federal que criou a Norma 1.13, Licenciamento de Minas e Usinas de Beneficiamento de Minérios de Urânio e/ou Tório, outorgar a autorização para mineração.

Governo de Pernambuco planeja usina nuclear próxima ao rio São Francisco (16.08.2009)

Matéria do Diário de Pernambuco, enviada por Edinilson Takara, leitor e colaborador do Ecodebate (www.ecodebate.com.br).

A polêmica nuclear na mesa do governo – Estado planeja instalar uma usina próxima ao Rio São Francisco e já se articula para conseguir atrair o investimento. Os verdes do PV reagem e batem forte no projeto.

O projeto nem sequer foi detalhado pelo Ministério de Minas e Energia. E só deve ficar pronto no próximo ano. Mas o governo do estado já mostrou interesse em abrigar uma usina nuclear no território pernambucano e iniciou as articulações junto ao governo federal para conseguir o investimento. A construção da unidade é estimada em R$ 10 bilhões. Seria, segundo os defensores do projeto, motivo para atrair empresas e melhorar a qualidade de vida da população. Os opositores veem por outro ângulo e engrossam as críticas antes de a União bater o martelo. Para eles, esse tipo de usina oferece riscos, e Pernambuco dispõe de recursos naturais, como o sol e o vento, suficientes para produzir energia mais limpa e segura. O debate começou. Matéria Jailson da Paz, do Diario de Pernambuco, 15/02/2009.

“As conversas com o ministério estão evoluindo”, revelou o secretário estadual de Recursos Hídricos e Articulação Regional, João Bosco de Almeida. Segundo ele, o governador Eduardo Campos (PSB) já falou com o ministro deMinas e Energia, Edison Lobão, sobre o assunto. E o Estado tem tratado do projeto com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), responsável pelos estudos que definem os lugares para se construir as usinas. Cogita-se uma ação conjunta de Pernambuco e Bahia, uma vez que o governador Jaques Wagner (PT) também demonstrou interesse no projeto. Entre as propostas figura a criação de uma central nuclear entre os dois estados. “Temos todas as condições de receber um projeto deste porte”, diz João Bosco. Os pré-requisitos seriam a disponibilidade de áreas com pouca densidade demográfica e com água abundante, além de centros tecnológicos capacitados para oferecer consultoria e preparar mão-de-obra.

O Ministério de Minas e Energia confirma os estudos e o plano para construir quatro usinas no país. Duas delas no Nordeste. Não detalha, porém, o planejamento da EPE. Na concepção do governo pernambucano, o melhor seria implantar a usina nuclear numa área próxima ao Rio São Francisco.

O local ficaria longe do polo fruticultor,entre os lagos de Itaparica e Sobradinho. Aí, acrescenta João Bosco, o estado desponta com outra vantagem: a rede de transmissão de energia elétrica da Chesf, recurso que facilitaria o envio da produção para os grandes centros urbanos. Há quem defenda, no entanto, a instalação das usinas perto do mar, como técnicos da Eletronuclear. “Nossa região litorânea é focada no turismo”, descarta o secretário estadual.

Os ecologistas questionam a necessidade de usinas nucleares no estado. “Unidades desse tipo criam poucos empregos permanentes, geram lixo radioativo perigosíssimo e consomem enorme quantidade de água para resfriar o reator. Sem contar com o risco de graves acidentes”, critica o presidente estadual do Partido Verde (PV), Sérgio Xavier. Os verdes sabem que a implantação de projetos como esses obedecem a questões técnicas e econômicas, mas passam pelo crivo político. Foi o que ocorreu na Alemanha, nos anos 90, quando o chanceler Gerhard Schroeder assumiu o compromisso de desativar as usinas do país até 2021. Tudo porque o chanceler formou um governo de coalização incluindo o PV germânico.

Aqui, o partido não integra o governo federal nem o estadual, mas sabe que, a menos de dois anos das eleições presidenciais, o assunto pode entrar na pauta dos debates. “O Brasil poderia investir os bilhões em projetos mais promissores, como um amplo programa de incentivo à geração de energia limpa”, completa. Os argumentos de Xavier são reforçados pelo o economista ecológico Clóvis Cavalcanti (leia entrevista abaixo). Para ele, a visão do governo é limitada. “Priorizar usinas nucleares é não reconhecer nossa vocação. O Brasil é um país com grande capacidade para produzir energia solar e eólica”, salienta. Eles apontam como referência estudos que mostram que a costa do Atlântico, no país, tem potencial para gerar energia eólica três vezes mais do que as usinas nucleares planejadas pela União. O governo rebate e afirma que é muito mais cara a produção de energia a partir do sol e dos ventos e sem a mesma eficácia da hidrelétrica e nuclear, pois depende da estabilidade da natureza.

Nota do EcoDebate

De um administrador público espera-se um mínimo de sobriedade e cuidado com projetos. Não se brinca com coisa séria.

Uma usina nuclear é uma termelétrica cujas turbinas são acionadas por vapor. Logo, a oferta firme de água é componente essencial para sua viabilidade e segurança. As tais usinas projetadas no novo Programa Nuclear Brasileiro demandam um volume de água equivalente ao consumido por uma cidade de 100 mil habitantes.

E, deve-se supor, que até o secretário estadual de Recursos Hídricos e Articulação Regional de Pernambuco saiba que o rio São Francisco agoniza, cada vez mais assoreado e com vazões perigosamente irregulares. Se, atualmente, já não existem volumes disponíveis para outorga cabe perguntar, de que rio São Francisco fala o secretário?

E, finalmente, quem combinou com a população ribeirinha se ela quer uma usina nuclear no seu quintal?

Só pode ser uma bricadeira de mau gosto.

Henrique Cortezcoordenador do EcoDebate www.ecodebate.com.br

Pernambuco vai entrar na disputa por usina nuclear

Energias alternativas

Sexta-feira, 30 de Abril de 2010

Projeto é do governo federal, que vai implantar uma central de energia atômica no Nordeste. Investimento é da ordem de R$ 9 bilhões.

O Estado vai entrar na disputa para receber a central de energia nuclear que o governo federal planeja implantar no Nordeste, segundo o secretário estadual de Recursos Hídricos, João Bosco. O primeiro passo para isso será a inclusão do empreendimento no Plano Decenal de Energia (PDE), que indica as empresas de geração que devem ser implantadas. A central deve receber um investimento de cerca de R$ 9 bilhões, que será bancado pelo governo federal. “A entrada do empreendimento no PDE é fundamental para que ele saia do papel”, disse ontem o secretário, durante a 9ª Reunião do Conselho Deliberativo (Condel) da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), que ocorreu na sede da autarquia.

“O PDE que está para sair não tem nada de empreendimento nuclear, além de Angra III. Estamos propondo que a Sudene faça um debate sobre energia nuclear, eólica, os aproveitamentos que podem ser feitos nos rios São Francisco e Parnaíba e dê uma contribuição organizada ao Conselho Nacional de Política Energética (CNPE)”, afirmou o governador Eduardo Campos, durante a reunião do Condel.

Nessa “contribuição organizada”, os governadores – que fazem parte do Condel – indicariam quais os empreendimentos de geração que são prioritários para a Região e depois apresentariam as sugestões para o CNPE, colegiado que aprova o plano decenal.

A implantação de uma usina nuclear no Nordeste foi discutida na 9ª reunião do Condel. Além de Eduardo, o evento contou com a presença do governador do Ceará, Cid Gomes, dos vice-governadores Belivaldo Chagas Silva (Sergipe) e Luciano Cartaxo (Paraíba), e do ministro da Integração Nacional, João Santana.

O assessor da presidência da Eletronuclear, Leonam Guimarães, fez uma apresentação sobre a implantação da central nuclear na Região. Segundo ele, a usina não poderá ser instalada no litoral e ficará próxima ao Rio São Francisco. Pelo menos quatro localidades estão sendo estudadas, incluindo uma em Belém do São Francisco, no Sertão.

DÍVIDA

Em ano eleitoral, o Condel aprovou a renegociação dos débitos de empresários com o Fundo Constitucional do Nordeste (FNE). Eles podem fazer a repactuação das dívidas com um piso de 30% dos valores devidos ou então com os bens que poderão ser usados numa execução judicial. Vale o que tiver maior valor. Antes, esse piso era de 50% do valor do débito. Os empresários da Região têm uma dívida de R$ 5 bilhões com o FNE.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Usina nuclear fere Constituição de Pernambuco

16 setembro de 2009

Postado em www.antoniomagalhaes.com.br

Recomeçou o zum-zum sobre a possibilidade de implantação de uma usina nuclear em Pernambuco para gerar energia elétrica.

O tema foi para a tribuna da Assembléia Legislativa. O deputado Carlos Santana, do PSDB, soube que esta usina pode vir a ser instalada em Suape, sua base eleitoral. O parlamentar disse que é contra a usina em Suape e quer debater o tema em audiência pública na Assembléia.

A coisa parece séria. O governador Eduardo Campos já fez a inscrição do Estado junto às autoridades do setor. O pessoal do governo entende que é preciso pensar em energia nuclear como alternativa estratégica para o futuro. Apesar de outras opções, a nuclear não pode ser descartada, acreditam os governistas. Não fazem qualquer reflexão pública sobre o destino do lixo nuclear, resíduo da geração de energia e altamente radioativo e mortal por séculos.

Se tocar a Pernambuco abrigar a usina nuclear, Eduardo Campos vai enfrentar uma batalha, que não é só com a opinião pública ou com os ambientalistas.

O governador vai ter que mudar a Constituição Estadual. O seu artigo  216 proíbe a instalação de usinas nucleares em Pernambuco enquanto não se esgotar toda a capacidade de produzir energia elétrica de outras fontes.

Quando a Constituição Estadual foi promulgada, em 1989, o governador de Pernambuco era Miguel Arraes, avô de Eduardo e pouco simpático à energia nuclear.

Governo quer usina nuclear no Nordeste

do JC

O governo federal planeja implantar quatro usinas de energia nuclear até 2030, sendo duas no Sudeste e duas no Nordeste. O investimento previsto para cada uma delas varia de US$ 1,5 bilhão a US$ 2 bilhões.

O presidente da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), Dilton da Conti, disse ontem que a estatal tem interesse de ser parceira da empresa Eletronuclear nas unidades que a União pretende implantar na Região. A Eletronuclear detém o monopólio na operação de usinas nucleares no Brasil.

A aprovação da licença ambiental dos empreendimentos do Rio Madeira (em Rondônia) – que ocorreu na última segunda-feira –  esquentou mais uma vez a discussão sobre a implantação de usinas nucleares, já que vários empresários voltaram a afirmar que as futuras hidrelétricas não vão suprir toda a necessidade de geração de energia elétrica do País.

“Há uma nova era para a energia nuclear. Vários países estão voltando para a tecnologia nuclear, porque ela está totalmente dominada”, afirmou Dilton da Conti. Os diretores das duas estatais já trocaram telefonemas e no final deste mês, o presidente da Chesf deverá visitar a diretoria da Eletronuclear.

Dilton defendeu também que vazamentos como o de Chernobyl (na antiga Rússia) e o de Three Miles Island (nos Estados Unidos) não vão ocorrer mais, porque a tecnologia usada nestas geradoras evoluiu muito e isso aumentou o nível de segurança dos equipamentos.

As hidrelétricas sozinhas não vão dar conta do recado. Não há mais possibilidades significativas de geração de energia hidrelétrica no Nordeste”, argumentou o professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Carlos Mariz.

O local mais provável das usinas nucleares no Nordeste seria depois de Xingó, às margens do Rio São Francisco. Esta localidade está sendo avaliada por dois motivos. Primeiro porque uma usina de energia nuclear precisa de muita água para ser usada no sistema de refrigeração. O segundo é que uma usina nuclear geralmente é instalada numa área de baixa densidade populacional, porque devem existir planos de segurança que exigem a retirada de todas as pessoas próximas da planta industrial em caso de emergência, segundo técnicos da Eletronuclear. Esta exigência ocorre somente porque é mais fácil desocupar uma área com poucas pessoas do que uma muito populosa.

A fabricação da energia a partir de reatores de energia nuclear é um processo limpo, pois só joga vapor de água na atmosfera. No entanto, o maior problema continua sendo o lixo gerado na fabricação. Ele tem que ser armazenado por muitos anos, em condições seguras, porque é altamente radiativo. “Ele tem que ser guardado, no mínimo, por 300 anos”, comentou o professor da UFPE, Heitor Scalambrini.

Energia nuclear vai gerar 8,6 mil vagas

ESTUDOS // Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia disputam o investimento de até R$ 12 bilhões para as duas usinas, com previsão de operar até 2021

DIARIO DE PERNAMBUCOMirella Falcã[email protected]

As obras para a construção das usinas nucleares no Nordeste começam em 2012. Os estudos preliminares para identificação dos possíveis locais para a instalação das usinas foram iniciados no ano passado e, até o fim do primeiro semestre de 2010, serão divulgadas as cidades selecionadas.

Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia disputam o investimento de até R$ 12 bilhões para as duas usinas, com previsão de operar em 2019 e 2021. Mesmo que as usinas não sejam construídas em Pernambuco, o estado será beneficiado com a geração de empregos, por ser um importante centro formador de mão de obra especializada na área nuclear. Serão 1,6 mil oportunidades de trabalho nas duas usinas, na fase de operação. Na construção, são7 mil vagas, num total de 8,6 mil empregos . De olho nos futuros profissionais, a Eletronuclear vai oferecer até 15 bolsas de mestrado por ano para os pernambucanos.

Pelo menos duas cidades em cada um dos quatro estados serão selecionadas. Apesar do projeto inicial ser de apenas duas usinas, os locais definidos terão a capacidade para abarcar até seis usinas. "Isso significa uma área disponível de 7 km2 a 10 km2. Mais que o dobro do terreno onde estão as três usinas de Angra", compara o presidente da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro. Um requisito já definido é que as nucleares ficarão no litoral. "As usinas precisam ficar em locais próximos da água. Como a região do São Francisco é muito politizada, daremos preferência aos locais próximos do litoral", explica Pinheiro. Assim que definido um "cardápio" de cidades, segundo critérios técnicos, a próxima etapa da seleção será política. "O Senado é que decidirá o local, por conta de um determinação da lei", completa.

Escritório - Pernambuco já foi escolhido para sediar o primeiro escritório regional da Eletronuclear, que ficará a frente dos estudos para a seleção do local das usinas. O escritório foi inaugurado semana passada e fica à Rua Agenor Lopes, em Boa Viagem, no Empresarial Itamaraty. Porém, mesmo que as usinas não fiquem em Pernambuco, o estado será beneficiado com a geração de mão de obra, sobretudo, para as vagas de nível superior, que representam 40% do total. "Pernambuco tem formado muitos especialistas na área nuclear", afirma Pinheiro. A Universidade Federal de Pernambuco é a única no Nordeste que tem um centro de estudos como o Centro Regional de Ciências Nucleares (CRCN). "Temos a meta de formar 50 mestres por ano na área nuclear, em todo o Brasil. Estamos fechando um convênio para oferecer de 10 a 15 bolsas de mestrado na UFPE", adianta o presidente da Eletronuclear.

Uma escola técnica também será construída próxima ao local das usinas. "Queremos formar mão de obra no local para evitar a rotatividade de profissionais. A construção vai começar junto com as obras da usina", comenta. O concurso para contratação de pessoal será lançado em 2014. "A gente lança mais ou menos cinco anos antes de entrar em operação para treinar a mão de obra", diz ele. A

Área para projeto deverá ter mais que o dobro do terreno onde estão as três usinas de Angra, no Rio. Foto: Daniel Ferreira/CB/D.A Press - 2/11/06

Eletronuclear acaba de lançar um hotsite com todas as informações sobre o projeto de expansão nuclear no Nordeste, que está no ar há uma semana. O endereço é http://cnn.eletronuclear.gov.br/.

Pernambuco está na lista dos estados que podem receber usina nuclear

Uma Central Nuclear será construída no Nordeste nos próximos dez anos; segundo o presidente da Eletronuclear, não há riscos para a população e economia deve se beneficiar

Da Redação do pe360graus.com 14/08/2009

Estudos vão definir cidade do Nordeste para instalação de Central Nuclear

A Eletronuclear, empresa que administra as usinas nucleares no Brasil, vai fazer estudos, junto com a Comissão Nacional de Energia Nuclear, para escolher o lugar no Nordeste onde vai ser instalada a Central Nuclear. A área de interesse é no litoral entre a Bahia e Pernambuco. A Agência de Desenvolvimento do Governo de Pernambuco já se manifestou favoravelmente à construção das usinas no Estado

Na última quinta-feira (13), foi instalado, no Recife, um escritório da Eletronuclear. O presidente da empresa, Othon Luiz Pinheiro da Silva (foto 1), que é responsável pelo Programa de Desenvolvimento do Ciclo do Combustível Nuclear e da Propulsão Nuclear para Submarinos da Marinha da Presidência, foi ao Bom Dia Pernambuco desta sexta-feira (14) tirar dúvidas sobre a energia nuclear no Brasil.

De acordo com ele, o local de implantação da Central Nuclear do Nordeste será definido com base em mais de dois mil critérios. “Estamos escolhendo dois locais por estado que sejam absolutamente corretas, estamos verificando para avaliar todas as restrições que podem ter”, afirmou o presidente.

Depois se selecionadas algumas alternativas, a Central Nuclear tem que ser aprovada pelo Congresso Nacional, explica Othon Luiz da Silva.  “Temos que dar possibilidades ao Governo de um cardápio de possibilidades”, disse. “Começamos a trabalhar nisso há quase um ano, a localização do escritório é a fase final, temos que fazer levantamentos locais e parte social. O ideal é colocar central onde provoque o desenvolvimento daquela micro-região”. A lista deve ser apresentada ao Governo até início do ano que vem.

O presidente da Eletronuclear diz que a usina nuclear é como se fosse uma caldeira. “Mas ao invés de queimar combustível tradicional, queima o combustível nuclear, que tem a vantagem de não gerar gás carbônico”, observa.

Segundo Othon Luiz da Silva, a instalação de uma central gera muito pouco impacto ambiental na

área, mas fomenta a economia local e gera novos empregos. “A produção no Nordeste deve gerar de seis a sete mil empregos durante a construção, e no funcionamento normal de uma central como essa, que começa com duas usinas e depois serão até seis usinas, deve gerar até dois mil empregos diretos”, avalia.Os nordestinos que vão trabalhar na central precisarão de qualificação. “Vamos estabelecer uma escola técnica próxima ao local, porque além de resolver o problema de mão-de-obra, diminui a rotatividade. Estamos fazendo isso em Angra”, explica. “Para nível superior, teremos três centros, no Rio, SP e estamos fazendo um acordo com a Universidade Federal de Pernambuco. A ideia é formar no Brasil no mínimo 50 mestres nessa ciência por ano”.

ACIDENTE

Apesar dos benefícios, a energia nuclear também gera o temor de acidentes, como o que ocorreu em 1986, na Ucrânia. A explosão da Usina de Chernobyl foi o maior acidente nuclear da história. A nuvem de radioatividade chegou a atingir a União Soviética na época, além de Europa Oriental e Reino Unido.

A temperatura chegou a atingir 200°C. Não se sabe, ao certo, o número de pessoas mortas pelo acidente e pela radiação liberada. Moradores tiveram que abandonar suas cidades. Em dezembro de 200, depois de várias negociações internacionais, a Usina de Chernobyl foi desativada.

Há duas correntes para tentar explicar o que houve: falha humana e defeito no projeto do reator, especificamente nas hastes de controle. O presidente da Eletronuclear acredita na segunda possibilidade e diz que a central de Chernobyl nunca deveria ter sido instalada. “O reator usava grafite no núcleo, era um tipo de reator diferente e não tinha contenção”, explica. “Em Three Miles Island teve um acidente das mesmas proporções, mas não morreu ninguém, porque a central tinha proteção contra os acidentes”.

O deputado federal Fernando Gabeira , do Partido Verde, acredita que não há grandes preocupações na instalação de novas centrais nucleares. “Na Europa, existe a tendência de aceitar mais usinas nucleares, por causa do aquecimento global, e lá tem pouca água e pouco sol”, comentou. “Mas eu acredito que o caminho do século XXI é energia solar, nas suas várias formas. Acredito que ela vai superar todas as outras formas e em 30 anos isso não será mais uma grande discussão”.

Para Othon Luiz Pinheiro da Silva, o importante é garantir o fornecimento de energia elétrica com o menor impacto ambiental. “A energia nuclear é o ‘filho bastardo dos ambientalistas’, a sociedade brasileira não vai conviver com o resíduo nuclear, é pouco e é estocado, e não polui. Um dia ela será reconhecida”.

O valor estimado de todo o processo de implantação da Central Nuclear do Nordeste gira em torno de R$ 20 milhões. A primeira usina deve começar a ser construídas em 2019, e a segunda, em 2021.

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A energia nuclear no Nordeste e o desenvolvimento socioeconômico da região

Segunda, 08 de Março de 2010

O representante da Eletronuclear no Nordeste fala sobre a construção das nucleares na região e os impactos socioeconômicos advindos de sua instalação

 O representante da Eletronuclear no Nordeste diz que é necessária a construção de usinas nucleares para atender o crescimento do mercado de energia elétrica na região. “O Nordeste poderá passar outra vez a produzir a sua própria energia”, afirma Mariz. Alagoas, Bahia, Sergipe e Pernambuco são os estados que estão na disputa para a instalação das usinas. Mariz também diz que a energia nuclear é limpa e segura e que o Brasil possui tecnologia suficiente para a construção de nucleares. Ele ainda afirma que os investimentos em uma única usina com potência de 1,1 mil MW é da ordem de US$ 4,4 bilhões, gerando receita anual de R$ 1,3 bilhão em 60 anos.

 Além dos estados citados, o Ceará dispõe de jazida de fosfato e urânio localizada no município de Santa Quitéria (Sertão Central). O Governo do Estado, as Indústrias Nucleares Brasileiras (INB) e a empresa Galvani assinaram protocolo de intenções para exploração da Usina de Itataia. O empreendimento está avaliado em US$ 375 milhões. Itataia concentra a maior jazida de urânio do País.   

InvestNordeste - Como está atualmente a energia nuclear no Brasil?Carlos Henrique Mariz - Existem duas usinas nucleares em operação no Brasil atualmente: Angra 1, com 657 MW e Angra 2, com 1.350 MW, situadas no município de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. Uma terceira usina, Angra 3, encontra-se em construção com data prevista para entrada em operação em 2015, com potência instalada de 1.350 MW. Em 2008, a produção de energia elétrica de Angra 1 e Angra 2 juntas foi de 14 milhões MW/h aproximadamente, o que representa 3,12% do mercado de energia elétrica nacional. Estão sendo previstas mais quatro novas usinas nucleares, duas no Nordeste e duas no Sudeste, até 2030. As do Nordeste serão as primeiras a entrarem em operação, com data prevista para 2019 e 2021, respectivamente.

Qual a utilidade desta energia? Qual o seu risco? A energia produzida por uma usina nuclear é uma energia com alto fator de capacidade, da ordem de 0,9, e em produção contínua. Num sistema predominantemente hidroelétrico, como o brasileiro, é extremamente importante que haja uma complementação térmica confiável, como é o caso das usinas nucleares. A opção nuclear permite a geração confiável de uma energia ambientalmente limpa, que não contribui para o efeito estufa, e não é afetada pelas variações climáticas. Além disso,

a energia nuclear faz uso de um combustível de origem nacional, o que permite minimizar vulnerabilidades no abastecimento e proteção contra a volatilidade dos preços, não estando sujeito a flutuações no mercado internacional. Ocupando uma área pequena, quando comparada com outras formas de geração de energia, as usinas nucleares podem ficar próximas aos grandes centros consumidores, eliminando a necessidade de longas linhas de transmissão. O mundo conta atualmente com 435 usinas nucleares operando, 55 novas unidades em construção e vislumbra-se a expansão através de várias centenas até o ano de 2030. O intenso debate sobre as questões relevantes sobre este tipo de geração de eletricidade frequentemente atribui à questão da segurança nuclear um lugar privilegiado. Os acidentes de Three Mile Island e de Chernobyl são lembrados e usados como aspectos negativos, e em muitos casos, como fundamentais para a não instalação de usinas nucleares.

Chernobyl, freqüentemente mencionada, era uma usina que não contava com o envoltório de contenção, e onde várias ações, consideradas anormais e jamais permitidas numa usina nuclear atual foram tomadas. Todas contribuindo para o desfecho do acidente. Three Mile Island, apesar de não ter causado liberação de radionuclídeos ou qualquer dano ao meio ambiente e à população, dispunha de envoltório de contenção, pois transformou a indústria nuclear. Incontáveis melhoramentos técnicos, humanos, organizacionais e regulatórios foram implementados desde então, elevando a indústria nuclear aos atuais patamares de excelência. A indústria nuclear trabalha hoje com uma probabilidade combinada de fusão e falha de contenção de uma a cada 10 milhões de anos - valor absolutamente dentro da faixa de tolerabilidade, equivalentes a riscos de catástrofes cósmicas às quais a humanidade está exposta. E mesmo que ocorra um acidente, existem vários procedimentos para minimização dos impactos. Uma usina nuclear produz energia elétrica que é distribuída no sistema interligado nacional.

Existe ainda um temor por parte dos ambientalistas, cientistas e estudiosos de que as usinas nucleares não sejam uma forma segura de produzir energia. O que tem sido feito em termos de tecnologia para que este pensamento possa mudar?São axiomas dos riscos das atividades humanas as seguintes verdades: qualquer atividade humana acarreta certa medida de risco; qualquer ser humano, por melhor treinado e educado que seja, comete erros; qualquer máquina, por melhor projetada e construída que seja, não é perfeita.

Apesar destes axiomas, a humanidade se desenvolve cada vez mais rapidamente, lançando mão da tecnologia e de defesas em profundidade para limitar os riscos de seus empreendimentos a valores toleráveis, desde que os benefícios decorrentes justifiquem. Esta é uma regra de plausibilidade presente no cerne da indústria nuclear. O fundamento básico da segurança das usinas é a estratégia da defesa em profundidade. Se algo deve ser protegido, uma, duas ou dezenas de barreiras, de caráter físico, organizacional e regulatório podem ser construídas, preservadas e melhoradas, controlando e reduzindo o risco a valores tão baixos, que equivalem aos riscos de catástrofes cósmicas aos quais a humanidade está exposta.

São seis as classificações das defesas em profundidade das usinas nucleares, cada uma delas podendo ensejar outros níveis de defesa em profundidade e construindo uma rede robusta e extensa de barreiras contra a propagação de um acidente, onde cada uma delas pode, por si só, conter esta propagação. São elas: projeto da instalação, detecção prematura de anormalidades, alarme, recuperação, contenção e plano de emergência.

Bahia, Sergipe, Alagoas e Pernambuco estão disputando a instalação dessas usinas no Nordeste. Até o momento, qual estado apresentou a melhor proposta?A Eletronuclear, juntamente com a Eletrobrás, Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Ministério de Minas e Energia vêm desenvolvendo estudos com consultoria do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe/ UFRJ) para encontrar sítios nesses quatro

estados. O estudo está em andamento e visa apresentar quatro a oito locais, provavelmente dois em cada estado, aptos tecnicamente a receberem centrais nucleares. Posteriormente, esses sítios serão submetidos a uma decisão política para a seleção final, e submetidos para aprovação no Congresso Nacional.

Quais os requisitos básicos necessários para a definição de um melhor local para a instalação das usinas?A seleção de sítios está sendo realizada com base na metodologia do EPRI – Eletric Power Research Institute, dos Estados Unidos. Três princípios básicos estão sendo observados: Em primeiro lugar, o processo de seleção de sítios deverá considerar diversos sítios possíveis nos estados da Bahia, Sergipe, Alagoas e Pernambuco. O processo assegura adequadas oportunidades de envolvimento do público. Finalmente, está sendo aplicado de tal modo que os resultados sejam claramente razoáveis para um observador imparcial, baseado em critérios selecionados de modo apropriado.

São cinco os componentes deste processo de seleção:1. Estrutura do procedimento de seleção de sítios: etapas funcionais requeridas para discriminar a região de interesse até sítios candidatos à licença de instalação; 2. Critério de seleção: critérios que incorporam os requisitos regulatórios nucleares, ambientais e de projeto da instalação, que devem ser considerados no processo de seleção; 3. Critério de quantificação: quantificação da adequação relativa de um sítio em relação a um critério de seleção; 4. Fator de ponderação: desenvolvimento de fatores de ponderação que reflitam a importância relativa de critérios individuais de assentamento, e desenvolvimento de valores compostos de adequação que incorporem as composições de interesse entre critérios; 5. Envolvimento público: desenvolvimento de um processo que integre informação e participação pública no processo de assentamento.

Na fase atual, foram definidas microrregiões nesses quatro estados, tendo sido utilizados os seguintes critérios de avaliação:

Critérios de Saúde e Segurança: disponibilidade de recursos hídricos, movimento vibratório do solo, falhas capazes, falhas superficiais e deformações, perigos geológicos, estabilidade do solo, suprimento de água de refrigeração, temperatura ambiente, inundação, instalações inexistentes, ventos, precipitação, população, dispersão atmosférica e aquíferos.

Critérios Ambientais: ameaças sobre habitats e espécies importantes, áreas alagadas e profundidade do lençol freático.

Critérios Socioeconômicos: efeitos relacionados com a construção e operação, critérios de engenharia e custos: distância de bombeamento e topografia.

Qual o motivo da escolha do Nordeste para a construção dessas usinas?Com a elaboração do PNE 2030, realizado pela EPE – Ministério de Minas e Energia, ficou caracterizada a necessidade de construção de usinas nucleares para atender o crescimento do mercado de energia elétrica da região Nordeste. Depois da entrada em operação, nos anos 90, da Usina Hidrelétrica de Xingó, no Rio São Francisco, o Nordeste passou a ser uma região importadora de energia elétrica.

Quais as mudanças que devem ocorrer no Nordeste após a instalação das usinas nucleares?A primeira mudança diz respeito à produção interna de energia elétrica. O Nordeste poderá passar outra vez a produzir a sua própria energia. Segundo, os municípios e a região que instalarem a usina nuclear deverão ter um grande desenvolvimento socioeconômico e cultural.

Quanto está previsto de investimento nessas usinas apenas para o Nordeste?Uma única usina da ordem de 1.100 MW como estas que estão sendo previstas para serem instaladas no Nordeste, representam investimentos de US$ 4,4 bilhões e deverão gerar receita anual por mais de 60 anos, da ordem de R$ 1,3 bilhão. Duas, seriam duas vezes mais e assim por diante.

Com relação aos subsídios, há previsão de investimentos estrangeiros na construção dessas usinas no Nordeste?Não está definido neste momento quem serão os parceiros privados na construção dessas usinas. Mas, sem dúvida, poderão conter tanto investimentos privados nacionais quanto internacionais.

O Brasil já possui tecnologia própria para a instalação de usinas nucleares?Uma das maiores jazidas de urânio do mundo está situada no Brasil, particularmente na região Nordeste. O País domina o conhecimento do ciclo completo de fabricação do combustível nuclear, através da empresa nacional Indústrias Nucleares do Brasil (INB), do Ministério da Ciência e Tecnologia. A Eletronuclear, através de seu quadro de funcionários, tem capacidade técnica, administrativa e gerencial para projetar, construir e operar usinas nucleares. Além disso, a participação da indústria nacional nos empreendimentos de geração nuclear aumentou gradativamente de Angra 1 para Angra 2 e terá uma contribuição relevante (cerca de 70%), no caso de Angra 3, com a maior parte dos componentes e equipamentos complementares sendo colocada no mercado nacional.

Atualmente, governos do mundo inteiro estão investindo em energias limpas e renováveis. E o Brasil ainda pretende construir 30 usinas nucleares até 2060. Qual o principal motivo dessa decisão? Não sei se o número de usinas a serem construídas no Brasil até esta data é o que você mencionou. Porém, além de tudo que já falei anteriormente, a energia produzida por uma usina nuclear é considerada hoje a de menor impacto no efeito estufa, por não liberar CO2 na atmosfera. E hoje é uma energia defendida pelos ambientalistas no mundo inteiro, e também pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que ordenou o reinício de construção dessa usinas nos EUA por considerar serem elas uma das formas mais limpas de produção de energia elétrica, e com capacidade de ser uma das mais econômicas e confiáveis na geração de energia firme para colocação na base do sistema.

Usina nuclear em Pernambuco. Quem quer?

sexta-feira, 7 maio 2010

Postado em www.antoniomagalhaes.com.br

A audiência pública promovida nesta quinta (06), em Brasília, pela Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados para discutir a instalação de usinas nucleares no Nordeste brasileiro deixou os ânimos dos representantes do governo e dos ambientalistas exaltados.

O governo federal pretende instalar seis novas usinas nucleares na região. Os locais ainda não foram definidos, mas, segundo a Eletronuclear, empresa vinculada ao Ministério de Minas e Energia, os estados com potencial são Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. O anúncio dos locais deve ocorrer até 2011.

O presidente da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro, disse que a demanda por energia no Brasil tende a aumentar e que as novas usinas, apesar do alto investimento, tem custo energético baixo. “Para suprir a demanda nacional teríamos que disponibilizar 3 a 4 mil megawatts ao ano, isto significa uma nova Itaipu a cada 3-4 anos. Temos que contar com todas as fontes energéticas: a eólica, a biomassa e, é claro, a nuclear”.

O professor do Departamento de Engenharia Elétrica e presidente da comissão de Meio Ambiente da Universidade Federal de Pernambuco, Heitor Scalambrini, criticou a ausência da participação da sociedade na definição da construção de novas usinas nucleares no país e lembrou que o Programa Nuclear no Brasil surgiu durante a ditadura militar.

“A energia nuclear, pelo poder devastador, deveria ser debatida amplamente. Não há benefícios econômicos, ambientais ou em termos de segurança”, disse. O assessor do Movimento Paulo Jackson da Bahia, Sérgio Dialetachi, lembrou as 6,5 mil pessoas contaminadas pelo Césio 137 em Goiânia, em 1987 e disse que não se pode esquecer que o Césio é produto da usina nuclear.

(Agência Brasil)

Diga não à usina nuclear em Pernambuco

quinta-feira, 6 maio 2010

Postado em www.antoniomagalhaes.com.br

A possibilidade de instalação de usina nuclear em Pernambuco, vetada pela Constituição Estadual (art.216), voltou a debate no blog de Jamildo. O executivo da estatal nuclear encontrou ilegalidade no artigo constitucional, talvez por sua sabedoria jurídica, e disse que esse instrumento legal não seria problema para construir a usina no Estado. Ele não perguntou nem a sociedade e nem consultou o Legislativo Estadual. Diz que quer fazer e vai fazer.

O executivo da estatal banaliza também a questão do lixo nuclear e as possibilidades de acidentes, vide Chernobyl, na Rússia, e Three Miles Island, nos Estados Unidos, vítimas de acidentes nucleares de grande monta.

Os pernambucanos querem discutir em audiências públicas o risco de uma usinas nuclear no nosso território. A Constituição pernambucana foi aprovada há 20 anos. O governador da época era Miguel Arraes, avô Eduardo Campos. O atual governador não pode trair o desejo do avô e líder político.

Eu quero a minha usina nuclear

A construção de duas usinas no Nordeste, um investimento de 8 bilhões de dólares, vira objeto de uma inusitada disputa de governos

Revista Exame - 29/10/2009

O governo de Alagoas organizou recentemente uma caravana para uma viagem de dois dias ao Rio de Janeiro. Missão oficial: dar início à expansão energética do estado. Faziam parte da comitiva o governador Teotônio Vilela Filho, secretários, representantes do setor produtivo, deputados, procuradores e até uma reitora de universidade. Ao final da programação, que incluiu um dia inteiro de visita ao complexo gerador de Angra e longas conversas com técnicos da Eletronuclear, estatal responsável pelas usinas nucleares, o grupo se deu por satisfeito. "Voltamos com a certeza de que Alagoas precisa de usinas iguais àquelas", diz Luiz Otávio Gomes, secretário estadual de Desenvolvimento Econômico.

Para o governo alagoano, não foi uma viagem qualquer. A peregrinação fez parte do esforço de atrair a instalação de duas usinas nucleares previstas para operar no Nordeste a partir de 2019. Como Alagoas, outros estados da região entraram na disputa pelas usinas. No centro da cobiça estão investimentos estimados em 8 bilhões de dólares, royalties, milhares de postos de trabalho e uma fonte energética que, antes execrada no Brasil e no mundo, ganhou status de alternativa limpa em tempos de aquecimento global. "Se ganharmos, vai ser como o Rio comemorando ser a sede da Olimpíada", afirma Gomes. 

A construção das usinas é parte de um plano do Ministério de Minas e Energia para expansão e diversificação da matriz energética até 2030. Pelo plano, o país, hoje com duas usinas atômicas funcionando, deverá pôr em operação entre quatro e oito novas unidades nos próximos 20 anos. Além de Angra 3, que está em construção, e das duas previstas no Nordeste, o plano prevê ao menos mais duas usinas na Região Sudeste.

A participação das nucleares na expansão da oferta energética nas próximas décadas, apesar de tímida - 5% de um total de 115 000 megawatts a ser adicionados até 2030, que praticamente dobrarão a capacidade disponível --, é tida como estratégica. "Em 20 anos, o aproveitamento do potencial hidrelétrico do Brasil estará próximo do limite", afirma Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética, ligada ao ministério. "Esse cenário será evidente especialmente no Nordeste, que já tem potencial reduzido." A existência de reservas de urânio no país e o propósito de manter a independência em relação a fornecedores externos -- como a problemática Bolívia -- também pesam a favor da opção pelas usinas atômicas. "Vamos precisar de fontes que gerem de forma contínua. É aí que entram as nucleares", diz Tolmasquim.

A decisão sobre a localização das usinas no Nordeste ainda tem pela frente um processo de seleção. Num primeiro momento, a Eletronuclear, em parceria com o Coppe, centro de pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro, está mapeando áreas que tecnicamente terão condições de receber as geradoras. Consideram-se nessa etapa fatores como proximidade dos centros de

consumo, baixa densidade populacional e abundância de recursos hídricos. Até fevereiro de 2010, a Eletronuclear deve divulgar uma lista de 20 áreas candidatas em quatro estados: Bahia, Sergipe, Alagoas e Pernambuco. "A ideia é apresentar um cardápio de locais para subsidiar a decisão final, que é política", afirma Luiz Othon Pinheiro da Silva, presidente da Eletronuclear.

A notícia de que a central nuclear, com as duas usinas, deverá se instalar em algum ponto entre Salvador e Recife, faixa de maior consumo no Nordeste, provocou alvoroço na região. Em agosto, a abertura de um escritório de representação da Eletronuclear em Recife acirrou ainda mais os ânimos. "Há grande interesse dos estados em saber de que forma poderão participar da decisão", diz Carlos Henrique Mariz, chefe do escritório. Os governos, que já haviam manifestado publicamente o interesse em sediar as usinas, se lançaram em campanha, dando início a uma inusitada corrida pelas usinas.

Os argumentos de cada um são os mais diversos. "A localização e a rede fluvial de Sergipe precisam ser levadas em conta na decisão", afirma o secretário de Desenvolvimento do estado, Jorge Santana. "A infraestrutura e a mão de obra especializada de Pernambuco, pela existência do único núcleo de estudos nucleares na região, são vantagens óbvias", diz Fernando Bezerra Coelho, secretário de Desenvolvimento Econômico pernambucano. A seu favor, Alagoas alega ter o apoio da população: "Realizamos seminários, discutimos e inserimos a sociedade no debate", diz o secretário Gomes. Em outra solução para a disputa, os governos de Bahia e Pernambuco teriam proposto dividir a central entre os dois estados. A Bahia ficaria com uma das usinas, enquanto Pernambuco, do outro lado do rio São Francisco, ficaria com a outra.

O anúncio da retomada do programa nuclear brasileiro teve reflexos diretos no setor, que ficou praticamente parado nas duas últimas décadas. "Vivemos um novo momento", afirma Alfredo Tranjan Filho, presidente da estatal Indústrias Nucleares do Brasil, fabricante de combustível nuclear. Até 2012, a empresa deve dobrar a capacidade de produção. Com 440 vagas para preencher até o ano que vem, o número de funcionários irá crescer 45%. "Há uma demanda urgente por novos profissionais em todo o setor", afirma Tranjan. A preocupação agora é com a formação de quadros. Muitos dos que trabalham em Angra estão perto de se aposentar. Em 2010, a UFRJ iniciará o primeiro curso de graduação em engenharia nuclear do país. Uma parte deles, ao menos, poderá ter emprego perto de alguma praia nordestina.

Fonte:http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/desenvolvimento/usina-nuclear-investimento-disputa-governos-nordeste-510470.shtml

Energia nuclear é uma boa solução para o Brasil (Nordeste)?

Qua, 20 janeiro de 2010

Postado em www.revistasustentabilidade.com.br

Heitor Scalambrini Costa Professor Associado da Universidade Federal de Pernambuco  

Para responder a questão se “a energia nuclear é uma boa solução para o Brasil (Nordeste)?”, caberia discutir se essa alternativa de geração de energia elétrica é econômica, segura e ambientalmente limpa. Esse debate é que temos que fazer com a sociedade. 

Minha resposta é fácil: NÃO, pelas seguintes razões: 

Sobre a economicidade dessas usinas núcleo-elétricas, segundo os estudos da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), o custo da eletricidade nuclear de Angra 3 ficará em torno de R$ 138/MWh, abaixo dos custos de termoelétricas a gás e  carvão importado, e abaixo dos custos da eletricidade eólica (R$ 240) e solar (R$ 1.798). Ainda sobre Angra 3 a Eletronuclear informa que o empreendimento custará R$ 7,2 bilhões, sendo que 70% do financiamento virão de recursos do BNDES e fontes estatais, e os outros 30% de investidores internacionais.  

As condições de financiamento são controversas, já que a Eletronuclear assumiu uma taxa de retorno para o investimento entre 8% e 10% - muito abaixo das praticadas pelo mercado, que variam de 12% a 18%. Somente uma taxa de retorno tão baixa pode viabilizar a tarifa de R$ 138 MW/h anunciada pelo governo federal para essa usina. A operação a baixas taxas de juros revela o subsídio estatal à construção de Angra 3. Estudos têm mostrado que somados juros e financiamento, Angra 3 não sairá por menos de R$ 9,5 bilhões, sem contar R$ 1,5 bilhão gastos até agora.Os subsídios governamentais ocultos no projeto dessa usina nuclear são perversos, porque serão disfarçados nas contas de luz. Se isso se verificar quem vai pagar a conta seremos nós os usuários, que já pagamos uma das mais altas tarifas de energia elétrica do mundo. Também é contestado o prazo de 66 meses estipulado pelo Ministério das Minas e Energia (MME) para a entrada em operação da usina. O governo fez uma estimativa de 30% de progresso já existente em sua construção. Ainda assim, os 70% restantes consumiriam em média pelo menos mais 96 meses, segundo estimativas.  

A título de comparação de custos, a energia da hidrelétrica de Santo Antônio, foi negociada a uma tarifa de R$ 79/MWh, a hidrelétrica de Jirau, o preço foi de R$ 91/MWh (ambas no Rio Madeira), e o resultado do primeiro leilão de energia eólica no Brasil deixaram o MWh em torno de R$ 148. Bem mais reduzido que o apontado pela EPE para justificar a suposta viabilidade econômica da opção nuclear. Utilizando os R$ 7,2 bilhões alocados para Angra 3, seria possível construir um parque eólico com o dobro da capacidade da usina nuclear (1.350 MW) em apenas dois anos sem lixo radioativo ou risco de acidentes. E também, em termos prioritários de como utilizar esse “dinheirão”, dados do Procel (Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica), mostram que cada R$ 1 bilhão empregado em programas de eficiência energética resulta em uma economia na potência instalada de 7.400 MW, o equivalente a 5,5 vezes a potência de Angra 3 ou a metade de Itaipu. Logo, se uma usina nuclear custa mais de R$ 7 bilhões, pode-se concluir que cada R$ 1 bilhão investido em eficiência pode evitar investimentos de até R$ 40 bilhões para gerar a mesma quantidade de eletricidade nuclear. Portanto construir usinas nucleares no Brasil só será possível por meio de um verdadeiro saque aos cofres públicos. E, podemos considerar que a médio e longo prazo, o desvio de recursos públicos para a opção nuclear será um verdadeiro obstáculo ao estabelecimento de políticas de incentivo e promoção de energias renováveis no país.  

Quanto à questão da segurança, apesar dos renovados esforços da indústria nuclear em apresentar-se como segura, acidentes em instalações nucleares em diversos países continuam a demonstrar que esta tecnologia é perigosa, oferecendo constantes riscos que podem trazer conseqüências catastróficas ao meio ambiente e à humanidade. O exemplo mais recente foi o acidente pós-terremoto em julho de 2007 (6,8 na escala Richter) na maior usina atômica do mundo, localizada em Kashiwazaki-Kariwa, no Japão, que provocou, além do vazamento para o mar, a emissão de gás radioativo para a atmosfera.  

Não podemos nos esquecer dos incidentes graves com reatores: Chernobyl (Ucrânia) e Three Milles Island (EUA). O primeiro ocorreu em abril/1986, com a explosão de um dos reatores possibilitando que uma nuvem radioativa cobrisse todo o centro-sul europeu. E em Three Milles Island em março/1979, que provocou grande extensão de danos, mas sem vítima nem vazamento de radiação para o ambiente. Acidentes em uma usina nuclear tem baixa probabilidade de ocorrência, mas quando ocorrem são de extrema gravidade em termos tanto dos impactos sobre a saúde humana quanto ao meio ambiente.

Do ponto de vista ambiental, afirmar que as centrais nucleares são “limpas” quanto à emissão de gases estufa é uma desinformação imensa, sobre a tecnologia dessas centrais e sobre as condições em que funcionam as etapas da cadeia de obtenção e de processamento do combustível que alimenta as usinas. Em operação rotineira, as centrais nucleares pouco agridem o meio ambiente, porém expõem a sociedade ao risco de acidentes que liberam na biosfera produtos de fissão de alta atividade, que podem trazer conseqüências catastróficas. Embora pequeno tal risco, existe, e não pode ser negligenciado. Ademais, essas usinas não resolveram o problema dos rejeitos de alta atividade, cuja deposição final demanda pesados investimentos. Estima-se que estes rejeitos tenham que ficar isolados durante 10 mil anos. 

Os defensores desta tecnologia não incorporam em seus cálculos de emissões de gases estufa, o processo completo da produção da eletricidade, o chamado ciclo do combustível nuclear. Pois, se consideramos a mineração do urânio, o transporte, o enriquecimento, a posterior desmontagem da central e o processamento e confinamento dos rejeitos radioativos, esta opção produz entre 30 e 60 gramas de CO2 por kWh gerado, segundo dados da Agência Internacional de Energia Atômica. O cálculo que faz o Oxford Research Group chega a 113 gramas de CO2 por kWh. Isso é aproximadamente o que produz uma central a gás. No caso do enriquecimento para obtenção do combustível nuclear, os minérios que contém o metal pesado Urânio são complicadíssimos de serem "beneficiados", produzindo gases estufa em todas as etapas. Para obter o Urânio enriquecido que interessa aos reatores (3% enriquecido do isótopo 235), teríamos que rejeitar  970 kg de materiais para cada 30 kg de urânio físsil obtido. Para isso, se gasta uma enormidade de energia, inclusive na forma de vapor de água e de eletricidade produzidas em termoelétricas convencionais - grandes produtoras de CO2, de vapor de H2O e de gases nitrogenados -, e em hidroelétricas. Portanto, aqui também tem um mito, um afã de descartar, cortar e mostrar uma parcialidade da realidade desta energia. Também, o uso de água na tecnologia nuclear é alto. Então, a análise deve considerar a quantidade de energia que colocamos de antemão para produzir a energia elétrica. É importante não omitir esses dados no debate sobre as soluções ao desafio energético do país. 

E aí cabe mais uma mentira: a de que hidroelétrica não emite gás estufa. 

Basta pensar que as represas, sobretudo em regiões quentes e áridas ou semi-áridas evaporam muito, e de novo teremos o vapor H20, e também o gás metano emanado da decomposição de matéria orgânica, nas represas que cobriram muita vegetação e camada de húmus.  

A insistência em considerar a eletricidade nuclear como uma “fonte limpa” é tão grave quanto considerar a hidroelétrica em geral como renovável e não “poluidora”.  

Além das questões econômicas, de segurança e ambientais, existem questões éticas que não se deve deixar para as futuras gerações a resolução de problemas da época presente. E isso está ocorrendo com os depósitos (ainda relativamente pequenos) de rejeitos de alta radioatividade (lixo atômico) que permanecem em piscinas nas proximidades dos reatores. Além de que a construção de novas usinas nucleares é sempre uma porta aberta para a possibilidade de produzir artefatos nucleares para fins militares, e para o uso não pacífico dessa tecnologia.

O que a sociedade brasileira condena e não aceita mais é a falta de transparência sobre as escolha das opções energéticas, impedindo que tenha informações, e se manifeste, sobre como e onde seu dinheiro está sendo investido. Os custos econômicos, ambientais e sociais de usinas nucleares no Brasil (Nordeste) são altíssimos, e nada pode explicar tanta insistência com projetos tão desnecessários para o país e tão ineficazes em termos de geração de energia elétrica. 

O debate energético atual se baseia em um modelo “ofertista” com recursos fósseis, com mega-hidroelétricas e com usinas nucleares. Ele precisa e deve ser substituído por um projeto diferente, contemporâneo dos desafios e possibilidades do século XXI, para que tenhamos segurança energética em longo prazo, com a diversificação e a complementaridade da matriz energética nacional, e com fontes renováveis de energia, levando assim em conta, um modelo de desenvolvimento sustentável.  _____________________________________________________  Graduado em Física pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP/SP), Mestrado em Ciências e Tecnologias

Nucleares na Universidade Federal de Pernambuco e Doutorado em Energética na Universidade de Marselha/Comissariado de Energia Atômica-França.

A polêmica nuclear na mesa do governo

Estado planeja instalar uma usina próxima ao Rio São Francisco e já se articula para conseguir atrair o investimento. Os verdes do PV reagem e batem forte no projeto

Jailson da paz // Diariojailsonpaz. [email protected]

O projeto nem sequer foi detalhado pelo Ministério de Minas e Energia. E só deve ficar pronto no próximo ano. Mas o governo do estado já mostrou interesse em abrigar uma usina nuclear no território pernambucano e iniciou as articulações junto ao governo federal para conseguir o investimento. A construção da unidade é estimada em R$ 10 bilhões. Seria, segundo os defensores do projeto, motivo para atrair empresas e melhorar a qualidade de vida da população. Os opositores veem por outro ângulo e engrossam as críticas antes de a União bater o martelo. Para eles, esse tipo de usina oferece riscos, e Pernambuco dispõe de recursos naturais, como o sol e o vento, suficientes para produzir energia mais limpa e segura. O debate começou.

"As conversas com o ministério estão evoluindo", revelou o secretário estadual de Recursos Hídricos e Articulação Regional, João Bosco de Almeida. Segundo ele, o governador Eduardo Campos (PSB) já falou com o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, sobre o assunto. E o Estado tem tratado do projeto com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), responsável pelos estudos que definem os lugares para se construir as usinas. Cogita-se uma ação conjunta de Pernambuco e Bahia, uma vez que o governador Jaques Wagner (PT) também demonstrou interesse no projeto. Entre as propostas figura a criação de uma central nuclear entre os dois estados. "Temos todas as condições de receber um projeto deste porte", diz João Bosco. Os pré-requisitos seriam a disponibilidade de áreas com pouca densidade demográfica e com água abundante, além de centros tecnológicos capacitados para oferecer consultoria e preparar mão-de-obra.

O Ministério de Minas e Energia confirma os estudos e o plano para construir quatro usinas no país. Duas delas no Nordeste. Não detalha, porém, o planejamento da EPE. Na concepção do governo pernambucano, o melhor seria implantar a usina nuclear numa área próxima ao Rio São Francisco. O local ficaria longe do polo fruticultor,entre os lagos de Itaparica e Sobradinho. Aí, acrescenta João Bosco, o estado desponta com outra vantagem: a rede de transmissão de energia elétrica da Chesf, recurso que facilitaria o envio da produção para os grandes centros urbanos. Há quem defenda, no entanto, a instalação das usinas perto do mar, como técnicos da Eletronuclear. "Nossa região litorânea é focada no turismo", descarta o secretário estadual.

Os ecologistas questionam a necessidade de usinas nucleares no estado. "Unidades desse tipo criam poucos empregos permanentes, geram lixo radioativo perigosíssimo e consomem enorme quantidade de água para resfriar o reator. Sem contar com o risco de graves acidentes", critica o presidente estadual do Partido Verde (PV), Sérgio Xavier. Os verdes sabem que a implantação de

projetos como esses obedecem a questões técnicas e econômicas, mas passam pelo crivo político. Foi o que ocorreu na Alemanha, nos anos 90, quando o chanceler Gerhard Schroeder assumiu o compromisso de desativar as usinas do país até 2021. Tudo porque o chanceler formou um governo de coalização incluindo o PV germânico.

Aqui, o partido não integra o governo federal nem o estadual, mas sabe que, a menos de dois anos das eleições presidenciais, o assunto pode entrar na pauta dos debates. "O Brasil poderia investir os bilhões em projetos mais promissores, como um amplo programa de incentivo à geração de energia limpa", completa. Os argumentos de Xavier são reforçados pelo o economista ecológico Clóvis Cavalcanti (leia entrevista abaixo). Para ele, a visão do governo é limitada. "Priorizar usinas nucleares é não reconhecer nossa vocação. O Brasil é um país com grande capacidade para produzir energia solar e eólica", salienta. Eles apontam como referência estudos que mostram que a costa do Atlântico, no país, tem potencial para gerar energia eólica três vezes mais do que as usinas nucleares planejadas pela União. O governo rebate e afirma que é muito mais cara a produção de energia a partir do sol e dos ventos e sem a mesma eficácia da hidrelétrica e nuclear, pois depende da estabilidade da natureza.

http://www.diariodepernambuco.com.br...olitica8_0.asp

Entrevista // Clóvis Cavalcanti

“Nossa vocação é usar energia do sol"

Economista ecológico, professor da UFPE e pesquisador da Fundaj, Clóvis Cavalcanti é um dos críticos à instalação de uma usina nuclear no Brasil. Para ele, o país vai na contramão da história ao optar por esse modo de produção de energia elétrica.

Como o senhor vê a possibilidade de se construir uma usina nuclear no estado?Algo fora de sentido. Nossa vocação é usar energia do sol. Estamos atrasadíssimos. Países que não têm sol o ano inteiro, como Canadá, Alemanha e Suíça, estão à frente. O Brasil fica discutindo algo já debatido e que não é unanimidade. É uma visão tacanha, limitada e momentânea. Temos que ir em busca de energias alternativas, que não a nuclear.

E se vier a ser construída, como se cogita, próxima ao Rio São Francisco?A situação parece ainda mais grave. É preciso saber se a população aceita a proposta. Em outros países, a escolha da energia nuclear é discutida em plebiscito. Aqui não se pensa nisso. Toca-se os projetos nos gabinetes, indo de encontro a princípios democráticos. Se fosse no regime militar, daria para entender.

O senhor tem afirmado que, a exemplo de uma usina nuclear, os novos projetos em Suape, como a refinaria, podem resultar em problemas ecológicos. Quais?A construção de uma refinaria vai estimular um consumo maior de petróleo na região, quando precisamos reduzir esse consumo, e provocar o aumento da emissão de gás carbônico. Isso é ruim, sobretudo para o Nordeste, uma das áreas que mais sofrerão os efeitos do aquecimento global no mundo. Não sou eu que digo isso. São as previsões dos maiores estudiosos do clima.

As atividades da refinaria trarão prejuízos ao meio ambiente?Haverá risco maior de acidentes com a movimentação de navios petroleiros. Esse tipo de acidente é tão comum hoje, que a imprensa não divulga os pequenos vazamentos de combustível. Se houver um derramamento poderá afetar as praias. Mesmo sem acidentes, acredito que, a longo prazo, Suape vai ter reflexos negativos para o turismo no litoral. Qual o turista que, na hora de descansar, vai

querer ver indústria e poluição?

http://www.diariodepernambuco.com.br...olitica8_1.asp

Entrevista // Carlos Brayner

"Novos reatores são 10 vezes mais seguros"

Carlos Brayner, doutor em engenharia nuclear, é um defensor da instalação de usinas nucleares no Brasil. Integrante do grupo de engenharia de reatores da UFPE, ele define como limpa e segura a produção de energia por essas unidades.

Como o senhor vê a proposta de se implantar uma usina nuclear em Pernambuco, especificamente às margens do São Francisco? É um bom negócio?A implantação de uma usina nuclear requer uma área pequena e certa quantidade de água para refrigerar os condensadores de vapor. Portanto, um sítio às margens do rio é uma opção, em princípio, viável. Penso que a instalação no litoral é mais interessante, sob vários aspectos. O país possui tradição neste tipo de instalação e isso implica riscos menores para a população. Além disso, no litoral, a usina não depende do regime de vazão do rio, que pode sofrer períodos críticos de abastecimento.

A produção de energia a partir de usinas nucleares é segura, hoje?As usinas nucleares funcionam há mais de 50 anos e, atualmente, há quase 440 espalhadas em mais de 30 países. Elas produzem 16% da energia elétrica do mundo, de forma limpa e segura. Houve um acidente de proporções graves na Ucrânia durante todo este tempo, que somado ao estigma das bombas atômicas, contribuiu para a descrença neste tipo de usina. Entretanto, a nova geração de reatores é pelo menos 10 vezes mais segura do que os projetos de reatores daquela época.

Quais os prós e contras de construir uma usina nuclear?O Brasil possui o domínio científico e tecnológico de todo o ciclo do combustível nuclear, que é a parte sensível na construção e operação de um parque de usinas. Tem urânio em abundância. Manter este conhecimento e a tecnologia necessária para utilizá-lo significa a garantia de sua soberania nacional no que diz respeito à geração de energia. O ponto crítico no uso dos reatores atuais é o gerenciamento do lixo radioativo produzido pela usina. Isto não significa que a população esteja sujeita a altos riscos com a operação das usinas hoje.

http://www.diariodepernambuco.com.br...olitica8_2.asp

Avanços tecnológicos e os perigos da energia nuclear

1 julho de 2010

Postado em www.consciencia.net

Heitor Scalambrini Costa

Professor Associado da Universidade Federal de Pernambuco

Merece destaque e a nossa máxima atenção a ocorrência sucessiva e cada vez mais freqüente de desastres ambientais provocados pelas atividades humanas. Levando-nos a uma desconfiança necessária que temos de ter perante as afirmações que nos fazem como sendo credíveis e infalíveis processos e tecnologias existentes.

O exemplo mais contundente é o desastre provocado pela explosão e afundamento da plataforma Deepwater Horizon de exploração petrolífera da British Petroleum (BP) acontecida no dia 20 de abril último, e que dia após dia tem atingindo proporções catastróficas. Os números são bastante controversos, todavia o derrame de petróleo pode ter alcançado entre 1 milhão de barris a valores superiores a 170 milhões de barris. É, de fato, uma tragédia ambiental de proporções gigantescas, e que também começou por ser uma tragédia humana, com a morte de 11 trabalhadores quando da explosão da plataforma. Sem dúvida esta tragédia se transformou num dos piores desastres ambientais da humanidade.

O exemplo recente desta tragédia do Golfo do México, permitiu um conhecimento valioso para a discussão de um outro tema onde a argumentação se repete: a energia nuclear. Dizem-nos alguns que os avanços tecnológicos já retiraram os perigos desta fonte de produção de energia, chegando mesmo a afirmarem que o risco é zero ou praticamente inexistente. Mas, como percebemos, é conversa para se desconfiar, pois tentam defender algo indefensável. Mesmo sem termos de recorrer aos argumentos do alto custo da energia nuclear, da incapacidade de tratamento dos resíduos produzidos (o chamado “lixo nuclear”) e das emissões de gases de efeito estufa durante o ciclo de produção (desde a mineração do urânio, o transporte, o enriquecimento, a posterior desmontagem da central e o processamento e confinamento dos rejeitos radioativos); a discussão passa hoje pelos exemplos que vamos tendo. Este desastroso acidente com derramamento de petróleo mostrou-nos de que o desenvolvimento científico e tecnológico nas diversas áreas não é infalível e, por outro, mostrou a enorme fragilidade humana perante a força da natureza. A pergunta então, que não quer calar, diz respeito aos limites que devem ser respeitados no desenvolvimento de tecnologias que implicam riscos muito graves.

Atualmente verifica-se que são feitas afirmativas peremptórias de que as usinas nucleares apresentam alto grau de excelência tecnológica, como principal fator de garantia da segurança e o aumento da confiabilidade. Há uma tentativa de tranqüilizar as pessoas, afirmando que a evolução tecnológica dos últimos 30 anos levou as usinas nucleares a se modernizarem e serem praticamente imunes em relação a acidentes. São citadas nos discursos “de perigo zero” as novas usinas, às

chamadas de 4ª geração, que utilizam o conceito de “falha para a segurança”. Nestas usinas, afirmam que quando ocorrem falhas de operação, estas são corrigidas, levando a uma condição mais segura do que a anterior, ou seja, a correção das falhas se dá automaticamente, sem requerer necessariamente a intervenção dos operadores. Como se isto bastasse e fosse suficiente para impedir acidentes. Não podemos subestimar os riscos e ignorar as lições de acidentes ocorridos. É só verificar e comparar, que mesmo com os enormes avanços tecnológicos da indústria aeronáutica, acidentes ocorrem, como foi o caso do Airbus 330-200 da Air France/AF 477, pérola da indústria aeronáutica no que diz respeito à automatização e segurança.

Sem dúvida a segurança das usinas nucleares teve avanços importantes, mas, seu relativo controle é suscetível a fatores humanos. Não podemos apagar dos arquivos da memória, acidentes nucleares ocorridos nos últimos anos. Os reatores em operação possuem falhas de segurança, que não podem ser eliminadas com atualizações tecnológicas.

O acidente nuclear de Chernobyl, no dia 26 de abril de 1986, é simbólico. Um dos reatores da usina sofreu uma explosão de vapor, causando um incêndio. Diversas explosões se sucederam e acabou ocorrendo o derretimento do núcleo do reator. Foi produzida uma nuvem de radioatividade que atingiu a União Soviética, Europa Oriental, Escandinávia e parte do Reino Unido. A contaminação foi 400 vezes maior que a da bomba de Hiroshima. Milhares de pessoas morreram ou ficaram gravemente doentes após o vazamento e mais de duzentas mil pessoas foram evacuadas de suas casas. Como a contaminação ainda causará o câncer em muitas pessoas é difícil estimar o número de mortos, em consequência do acidente. Acredita-se que 4 mil pessoas morrerão de doenças relacionadas. Ao todo 47 trabalhadores morreram no acidente e 9 crianças tiveram câncer de tireóide.

Com relação ao pior acidente nuclear da história, alguns chegam a afirmar que Chernobyl foi mais um acidente da antiga União Soviética do que propriamente um acidente nuclear. É um sofisma daqueles que defendem o uso da energia nuclear para produzir energia elétrica. Alegam que o modelo de usina de Chernobyl tinha padrões de segurança inferiores aos das usinas ocidentais, e que os planos de emergência existentes hoje são cada vez mais eficientes e eliminam perigos da dimensão de Chernobyl.

O que devemos levar em conta é o que dizem os especialistas, que não negam que haja perigo nas usinas núcleoelétricas em operação, e que elas possuem falhas de segurança inerentes, que não podem ser eliminadas com atualizações tecnológicas. Por outro lado os defensores da tecnologia nuclear dizem que com as melhorias introduzidas no projeto das usinas e os avanços tecnológicos obtidos, aliados com o aperfeiçoamento do treinamento dos operadores, praticamente garantem que a hipótese de acidentes pode ser excluída do ponto de vista prático. Menosprezam a hipótese de acidentes utilizando números provenientes de análises probabilísticas de segurança, e assim comparam como de mesma magnitude, as probabilidades de ocorrer uma grande liberação de material radioativo numa usina nuclear, com a probabilidade de um cometa atingir a Terra.

Não podemos acreditar naqueles que nos dizem que a tecnologia nuclear amadureceu e é infalível, porque percebemos que esse argumento é simplesmente utilizado por mero recurso retórico, tentando assim esconder os reais perigos. É inaceitável sequer considerar os dados estatísticos que indicam que é mínimo o risco, pois mínima também era a possibilidade da existência da explosão na plataforma da BP, ou a erupção do vulcão islandês, ou os sismos que conhecemos. Mas, a verdade é que esses problemas aconteceram com um preço muito alto a pagar por eles.

A arbitrariedade com que estão ocorrendo acontecimentos “naturais”, com uma freqüência crescente, mostra bem como não podemos permitir quaisquer riscos ligados com as usinas nucleares, pela grande catástrofe, econômica, ambiental e social que possíveis acidentes ocorrendo,

pode legar a toda humanidade. É necessário reconhecer a existência do problema e fazer uma análise crítica, e aceitar que o Brasil não precisa de usinas nucleares.