22
EDUCAÇÃO CIÊNCIA E SAÚDE, v.2, n.2, Julho a Dez. de 2015. ISSN 2358-7504 http:// periodicos.ces.ufcg.edu.br 98 ESFOLIANTE FACIAL À BASE DE ARGILA E AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA POR MÉTODOS HISTOLÓGICOS E BIOQUÍMICOS Rafaella Moreno Barros 1 , Maria da Glória Batista de Azevedo 2 , Carina Scanoni Maia 3 , *Juliana de Souza Alencar Falcão 3 1 Curso de Bacharelado em Farmácia, Unidade Acadêmica de Saúde, Universidade Federal de Campina Grande, Cuité-PB, Brasil. 2 Farmacêutica Unidade Acadêmica de Saúde, Universidade Federal de Campina Grande, Cuité, PB, Brasil. 3 Profª Unidade Acadêmica de Saúde, Universidade Federal de Campina Grande, Cuité, PB, Brasil. * Email para correspondência: [email protected] Resumo O objetivo do presente estudo foi formular um esfoliante na forma cosmética sabonete líquido à base de diferentes tipos de argila (branca, verde e vermelha) e avaliar a eficácia pelos métodos da leitura histológica por microscopia óptica e pela quantificação de proteínas totais, utilizando pele da orelha de porco. Foi utilizada a argila da faixa de 100 mesh, sem partículas grosseiras, granulometria homogênea, aspecto amorfo, densidade próximo à 1 g/mL com baixo teor de água e impurezas para obter o esfoliante facial. Os resultados histológicos mostraram que o esfoliante de argila branca e a formulação base não apresentaram ação esfoliativa no estrato córneo; enquanto que os esfoliantes de argila verde e vermelha apresentaram esfoliação semelhante à formulação padrão. Quanto à análise de proteínas totais, o esfoliante padrão promoveu 72% de perda de proteínas, o de argila verde 63,7% e o de argila vermelha 67%. O esfoliante de argila branca e a formulação base promoveram perda de 37,4%, atribuídas à limpeza da região. Tais resultados elegeram os esfoliantes de argila verde e vermelha como similares ao esfoliante padrão adotado, podendo ser utilizados para a finalidade proposta em substituição a outros produtos comerciais. Palavras chave: esfoliante facial, argila, histologia, quantificação protéica. Abstract The objective of this study was to formulate an exfoliant as cosmetic liquid soap based on different types of clay (white, green and red) and measuring the effectiveness by the methods of histological read by optical microscopy and by quantification of total proteins using skin pig's ear. It was used clay of 100-mesh range, without coarse particles, homogeneous granulometry, amorphous appearance, density near 1 g/mL with a low water content and impurities to obtain a facial scrub. Histological results showed that the white clay and exfoliating the base formulation showed no exfoliative action on the stratum corneum; while exfoliating green and red clay showed exfoliation similar to the standard formulation. The analysis of total proteins, the standard promoted exfoliating 72% loss of proteins, green clay 63.7% and red clay 67%. The white clay and the formulation base exfoliating promoted loss of 37.4%, attributed to the cleaning area. These results elected the exfoliating green and red clay as similar to standard exfoliating, may be used for the purpose proposed replacing other commercial products. Keywords: facial scrub, clay, histology, protein quantification.

ESFOLIANTE FACIAL À BASE DE ARGILA E AVALIAÇÃO DA …

  • Upload
    others

  • View
    4

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: ESFOLIANTE FACIAL À BASE DE ARGILA E AVALIAÇÃO DA …

EDUCAÇÃO CIÊNCIA E SAÚDE, v.2, n.2, Julho a Dez. de 2015.

ISSN 2358-7504 http:// periodicos.ces.ufcg.edu.br

98

ESFOLIANTE FACIAL À BASE DE ARGILA E AVALIAÇÃO DA

EFICÁCIA POR MÉTODOS HISTOLÓGICOS E BIOQUÍMICOS

Rafaella Moreno Barros1, Maria da Glória Batista de Azevedo2, Carina Scanoni Maia3, *Juliana de Souza Alencar Falcão3

1 Curso de Bacharelado em Farmácia, Unidade Acadêmica de Saúde, Universidade Federal de

Campina Grande, Cuité-PB, Brasil. 2 Farmacêutica Unidade Acadêmica de Saúde, Universidade Federal de Campina Grande,

Cuité, PB, Brasil. 3 Profª Unidade Acadêmica de Saúde, Universidade Federal de Campina Grande, Cuité, PB,

Brasil.

* Email para correspondência: [email protected]

Resumo

O objetivo do presente estudo foi formular um esfoliante na forma cosmética sabonete líquido à base de diferentes tipos de argila (branca, verde e vermelha) e avaliar a eficácia pelos métodos da leitura histológica por microscopia óptica e pela quantificação de proteínas totais, utilizando pele da orelha de porco. Foi utilizada a argila da faixa de 100 mesh, sem partículas grosseiras, granulometria homogênea, aspecto amorfo, densidade próximo à 1 g/mL com baixo teor de água e impurezas para obter o esfoliante facial. Os resultados histológicos mostraram que o esfoliante de argila branca e a formulação base não apresentaram ação esfoliativa no estrato córneo; enquanto que os esfoliantes de argila verde e vermelha apresentaram esfoliação semelhante à formulação padrão. Quanto à análise de proteínas totais, o esfoliante padrão promoveu 72% de perda de proteínas, o de argila verde 63,7% e o de argila vermelha 67%. O esfoliante de argila branca e a formulação base promoveram perda de 37,4%, atribuídas à limpeza da região. Tais resultados elegeram os esfoliantes de argila verde e vermelha como similares ao esfoliante padrão adotado, podendo ser utilizados para a finalidade proposta em substituição a outros produtos comerciais. Palavras – chave: esfoliante facial, argila, histologia, quantificação protéica.

Abstract

The objective of this study was to formulate an exfoliant as cosmetic liquid soap based on different types of clay (white, green and red) and measuring the effectiveness by the methods of histological read by optical microscopy and by quantification of total proteins using skin pig's ear. It was used clay of 100-mesh range, without coarse particles, homogeneous granulometry, amorphous appearance, density near 1 g/mL with a low water content and impurities to obtain a facial scrub. Histological results showed that the white clay and exfoliating the base formulation showed no exfoliative action on the stratum corneum; while exfoliating green and red clay showed exfoliation similar to the standard formulation. The analysis of total proteins, the standard promoted exfoliating 72% loss of proteins, green clay 63.7% and red clay 67%. The white clay and the formulation base exfoliating promoted loss of 37.4%, attributed to the cleaning area. These results elected the exfoliating green and red clay as similar to standard exfoliating, may be used for the purpose proposed replacing other commercial products. Keywords: facial scrub, clay, histology, protein quantification.

Page 2: ESFOLIANTE FACIAL À BASE DE ARGILA E AVALIAÇÃO DA …

EDUCAÇÃO CIÊNCIA E SAÚDE, v.2, n.2, Julho a Dez. de 2015.

ISSN 2358-7504 http:// periodicos.ces.ufcg.edu.br

99

1 Introdução

Cosméticos esfoliantes são compostos por partículas sólidas de uso tópico e

podem ser classificados de acordo com seu modo de ação e agentes utilizados,

sendo classificados como esfoliantes do tipo mecânico (grau 1) ou químico (grau

2), segundo a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) n° 4 de 30 de janeiro de

2014.

A esfoliação é um procedimento que auxilia na renovação celular da pele,

pois consiste em retirar células da superfície que estão repletas de queratina

com baixo conteúdo hídrico sem vitalidade. A remoção desta camada além de

eliminar impurezas e facilitar a permeação de ativos, devolve a pele seu aspecto

natural, melhorando sua textura e uniformidade, tendo como resultado melhor

aparência da pele. As substâncias abrasivas mais empregadas na esfoliação

mecânicas são: argila, sílica, semente de apricot, arroz, microesferas de jojoba,

entre outros. Os ativos químicos mais utilizados são: ácido glicólico, ácido láctico,

ácido pirúvico e ácido salicílico (CAREGNATTO; GARCIA; FRANÇA, 2011).

A argila, um mineral muito utilizado na indústria farmacêutica e cosmética,

é um exemplo de matéria prima empregada em formulações esfoliantes. Muito

comercializada e aplicada como máscara facial, cada tipo de argila irá possuir

uma ação específica, pois a quantidade de oligominerais presente é quem vai

diferenciar sua função e finalidade. No entanto, a eficácia da argila como

esfoliante pode também ser influenciada pela forma cosmética desenvolvida.

Fatores como ponto de fusão, granulometria, pH, minerais e técnica de preparo

podem influenciar nas propriedades de limpeza da pele, hidratação, remoção de

células mortas e restauração (EVELINE, 2010; AMORIM; PIAZZA, 2012).

Os benefícios mais conhecidos relacionados aos cosméticos à base de

argila são a purificação e remineralização da pele, ação tensora, anticaspas,

cicatrizante e eficácia no combate a oleosidade da pele. Esses benefícios podem

ser relacionados a produtos para o corpo, para o cabelo e para os cremes faciais,

bem como para os produtos de higiene pessoal em geral (VALENZUELA, et al.,

2009).

Page 3: ESFOLIANTE FACIAL À BASE DE ARGILA E AVALIAÇÃO DA …

EDUCAÇÃO CIÊNCIA E SAÚDE, v.2, n.2, Julho a Dez. de 2015.

ISSN 2358-7504 http:// periodicos.ces.ufcg.edu.br

100

Podemos incorporar argilas em diversas formulações cosméticas, por

exemplo, nos sabonetes líquidos. De acordo com Garcia et al (2009), os

sabonetes líquidos apresentam como principal característica o fato de terem

entre 45% a 60% de tensoativos. Esse tipo de formulação vem tomando lugar

nas prateleiras de perfumaria e, principalmente, nas linhas de cosméticos já

tradicionais do mercado brasileiro.

Observa-se atualmente que o consumidor tem se tornado cada vez mais

exigente e criterioso com a qualidade dos produtos que utiliza. É crescente a sua

preocupação em fazer uso de produtos menos agressivos, principalmente os de

origem natural (GARCIA, et al.; 2009).

Diante desse contexto, o presente estudo tem o objetivo de desenvolver

um esfoliante na forma cosmética sabonete líquido à base de diferentes tipos de

argila e avaliar a eficácia do produto final por métodos histológicos e bioquímicos.

2 Materiais

2.1 Substâncias e reagentes

Argila Branca (Caulim); Argila Verde (Montmorilonita); Argila Vermelha

(Atapulgita); Água deionizada; Albumina de Mayer; Álcool etílico; Xilol; Anfótero

(Cocoamidopropilbetaína); Amida 80% (Dietanolamida de ácidos graxos de

coco); Carbômero (Carbopol®); Celulose Microcristalina (CMC); Lauril Éter

Sulfato de Sódio (LESS); Metilparabeno (Nipagin); Propilenoglicol; Parafina e

Trietanolamina da Codossal Ltda; Formol 37% - (Impex); Hematoxilina-Eosina

(HE); Kit reagente proteínas totais - (Biotécnica); Sepigel - (Chemyunion);

Solução tampão para formol 10%; Esfoliante padrão comercial- (Mary Kay®);

Orelhas de porco (Abatedouro Público do Município de Massaranduba-PB).

2.2 Equipamentos

Agitador eletromagnético BerTel®; Balança Analítica - (Bioprecisa FA-2104N);

Dessecador; Estufa - (Biopar, S80ST); Espectrofotômetro UV/VIS - (Biospectro

SP-220); Microscópio - (Physis); Microscópio Olympus BX-49; Microscópio

Olympus BX-50; MicrotómoMinot (Leica RM 2035); Mufla (Biothec); pHmetro -

(Quimis Q400MT); Viscosímetro Rotativo Analógico - (QuimisQ-860A21).

Page 4: ESFOLIANTE FACIAL À BASE DE ARGILA E AVALIAÇÃO DA …

EDUCAÇÃO CIÊNCIA E SAÚDE, v.2, n.2, Julho a Dez. de 2015.

ISSN 2358-7504 http:// periodicos.ces.ufcg.edu.br

101

2.3 Local de coleta

As argilas foram coletadas no início do mês março de 2014, na praia dos

Carneiros localizada na cidade de Tamandaré (latitude 08º 45' 35" S e longitude:

35º 06' 17" W), litoral sul do estado de Pernambuco, Nordeste do Brasil.

3 Metodologia

3.1 Controle de qualidade físico-químico da argila

Para o controle físico-químico da argila, foram analisados os parâmetros:

granulometria; estrutura física através da microscopia óptica; densidade

compactada; perda por dessecação e resíduo por incineração, todos descritos

na Farmacopeia Brasileira (BRASIL, 2010).

3.1.1 Análise granulométrica

Foram separados cinco tamises de mesh (200, 160, 100, 80 e 48) e abertura de

malhas (75, 106, 150, 180 e 300 mm) distintas. Assim, os tamises foram

organizados do mesh de maior número para o de menor, formando uma coluna

de peneiração.

No tamis de mesh 200, foi adicionado 25 gramas (g) de argila. O agitador

eletromagnético foi programado para executar a separação granulométrica no

tempo de 15 minutos. Ao final, foi realizada a medida da massa retida em cada

tamis de acordo com a equação: % Retida pelo tamis = P1/P2 x 100 (P1 = massa

retido no tamis; P2 = massa total).

Como forma de padronização foi escolhida uma granulometria única para

os três tipos de argila.

3.1.2 Microscopia óptica

Após a escolha da granulometria, foram realizadas análises através de

microscopia óptica, sendo observadas as estruturas físicas das amostras. Para

esse estudo, utilizou-se microscópio marca Physise objetiva10x.

3.1.3 Densidade aparente compactada

Uma proveta de 10 mL foi previamente pesada e posteriormente preenchida com

argila, sendo submetida a 20 batidas em uma superfície plana com intervalo de

Page 5: ESFOLIANTE FACIAL À BASE DE ARGILA E AVALIAÇÃO DA …

EDUCAÇÃO CIÊNCIA E SAÚDE, v.2, n.2, Julho a Dez. de 2015.

ISSN 2358-7504 http:// periodicos.ces.ufcg.edu.br

102

2 segundos entre cada batida. Desse modo, foram realizadas as leituras dos

volumes obtidos após os impactos sofridos. Os ensaios foram feitos em triplicata.

A densidade foi obtida com os dados de volume e massa. A massa da

proveta vazia (Mpv) subtraída da massa da proveta cheia (Mpc) resulta na massa

da amostra. Para determinar densidade aparente (Dap), divide-se a massa da

amostra (gramas) pelo volume da proveta (Vp) (mL), de acordo com a equação

(1) descrita a seguir: (POLITI, 2009).

Dap = Mpc - Mpv / Vp

(1)

3.1.4 Perda por dessecação

Utilizou-se 2g da argila, colocados em cadinhos previamente tarados e

posteriormente, levados a estufa em temperatura de 105°C por duas horas. Após

esse tempo, os cadinhos foram levados para esfriamento em dessecador por 30

minutos e assim, a massa foi medida. Feito isso, os cadinhos foram colocados

novamente em estufa, repetindo o processo até obtenção da massa constante

(2 repetições/2 horas cada totalizando 6 horas). Os resultados foram expressos

em perda de massa percentual. Os ensaios foram realizados em triplicata.

3.1.5 Resíduo por incineração

Cadinhos de porcelana foram calcinados em mufla à 450° C por 30 minutos,

resfriados em dessecador (15 minutos) e suas massas determinadas em balança

analítica. Em cada cadinho foram adicionadas cerca de 3,0 g de argila e sua

massa foi novamente medida sendo incineradas em bico de Bussen por cinco

minutos e, posteriormente, submetidas à calcinação em mufla à temperatura de

450°C por duas horas. Foram deixados em dessecador para arrefecimento (15

minutos), com pesagem final realizada, concluindo a segunda etapa do

processo. O resultado foi expresso em porcentagem em massa de cinza na argila

(%, m/m) e representa a média de três determinações (POLITI, 2009).

3.2 Desenvolvimento da formulação

Foram selecionadas cinco amostras de argila branca, cada uma possuindo

granulometria específica e em quantidades semelhantes. Adicionou-se nas

bases dos sabonetes líquidos formulados, observando o melhor comportamento

Page 6: ESFOLIANTE FACIAL À BASE DE ARGILA E AVALIAÇÃO DA …

EDUCAÇÃO CIÊNCIA E SAÚDE, v.2, n.2, Julho a Dez. de 2015.

ISSN 2358-7504 http:// periodicos.ces.ufcg.edu.br

103

para uma formulação cosmética, sendo adotada a granulometria 100 Mesh e 150

mm de abertura.

A formulação foi dividida em três fases. Calculou-se a quantidade

necessária de material para um qsp de 10 mL. O ensaio foi realizado em

triplicata.

● Fase 1: Dispersou-se a argila (10%) em propilenoglicol (20%), e

posteriormente, foi adicionado o Nipagin (0,15%).

● Fase 2: Foi utilizado Carbopol (7,2%) e Celulose Microcristalina-CMC

(64,75%). Em um béquer, adicionou-se água e CMC, levando ao agitador,

acrescentou-se o Carbopol aos poucos e o pH foi ajustado com trietanolamina

(aproximadamente 13 gotas).

● Fase 3: Nessa etapa, utilizou-se LESS (20%), anfótero (5%) e a amida 80 (3%).

Misturou-se o LESS e o anfótero, homogeneizou e acrescentou-se a amida.

Com as três fases desenvolvidas, foi misturada a fase 3 na 2.

Homogeneizou-se e foi acrescentada a argila previamente solubilizada em

propilenoglicol. Para acerto da viscosidade foi utilizado 3% de sepigel®.

3.3 Viscosidade e pH

A viscosidade foi obtida utilizando viscosímetro rotativo analógico com

velocidade de rotação de 30 rpm e Spindle n° 4 (BRASIL, 2004). O pH foi

determinado pelo método potenciométrico utilizando pHmetro calibrado

(BRASIL, 2004). Os experimentos foram realizados em triplicada.

3.4 Estudo da eficácia

3.4.1 Método da leitura histológica por microscopia óptica

3.4.1.1 Preparo do material para avaliação histológica

Para estudo histológico foram obtidas 06 (seis) orelhas de porcos em abatedouro

público situado no município de Massaranduba-PB. Após 1h de abatido, as

orelhas retiradas foram raspadas com lâminas de barbear e divididas em

quadrantes de 2cm² com 4 mm de espessura, totalizando 16 cortes, sendo um

de região íntegra (branco - sem produtos) e os demais (15 cortes) divididos em

3 grupos (tempo de aplicação). Assim, foram adotados 5 tipos de produtos para

a realização dos testes, conforme descritos na tabela 1.

Page 7: ESFOLIANTE FACIAL À BASE DE ARGILA E AVALIAÇÃO DA …

EDUCAÇÃO CIÊNCIA E SAÚDE, v.2, n.2, Julho a Dez. de 2015.

ISSN 2358-7504 http:// periodicos.ces.ufcg.edu.br

104

Tabela 1: Produtos e total de cortes de pele de orelha de porco para avaliação histológica

PRODUTO

CORTES DE PELE DA ORELHA DE PORCO Grupo I

Tempo 0 Grupo II

Tempo 7 dias Grupo III

Tempo 14 dias TOTAL

Base sabonete líquido (controle)

1 1 1 3

Esfoliante padrão comercial Mary Kay®

1 1 1 3

Esfoliante de argila branca

1 1 1 3

Esfoliante de argila verde

1 1 1 3

Esfoliante de argila vermelha

1 1 1 3

TOTAL 5 5 5 15 Fonte: Dados da pesquisa

Os 15 cortes foram submetidos à esfoliação por 5 minutos, com os produtos

citados. Após a aplicação de cada produto, os cortes do grupo I foram

depositados em solução de formaldeído 10% para fixação. Os demais foram

levados a refrigeração para as aplicações posteriores.

Foi realizada uma segunda esfoliação nos 10 cortes refrigerados, após 7

dias da primeira. Cada esfoliação durou 5 minutos e também foi feita com os

cinco diferentes produtos discriminados anteriormente. Cinco cortes foram

depositados em solução de formaldeído 10%. Os outros foram levados a

refrigeração para a última aplicação.

Foi realizada a terceira esfoliação nos 5 cortes restantes após 14 dias da

primeira. Os cortes deste grupo receberam, portanto, três esfoliações antes de

serem depositadas em formaldeído 10%.

É importante ressaltar que para os procedimentos do grupo II e III, as

orelhas foram conservadas por 7 e 14 dias, respectivamente, em refrigerador,

em embalagens plásticas com temperatura ajustada para 6ºC (BRASIL, 2010).

Todas as amostras foram encaminhadas para análises histológicas.

3.4.1.2 Preparo das lâminas

Após a fixação em formaldeído 10% por, no mínimo, 48 h, cada espécime foi

inicialmente desidratada em álcool etílico (concentrações crescentes),

diafanizados pelo xilol, impregnados e incluídos em parafina. A seguir, os blocos

foram cortados em micrótomo do tipo Minot (Leica RM 2035) ajustado para 5 µm.

Page 8: ESFOLIANTE FACIAL À BASE DE ARGILA E AVALIAÇÃO DA …

EDUCAÇÃO CIÊNCIA E SAÚDE, v.2, n.2, Julho a Dez. de 2015.

ISSN 2358-7504 http:// periodicos.ces.ufcg.edu.br

105

Os cortes assim obtidos foram colocados em lâminas previamente untadas

com albumina de Mayer e mantidos em estufa regulada à temperatura de 37°C,

durante 24h, para secagem e colagem. Em sequência, os cortes foram

submetidos às técnicas de coloração pela Hematoxilina - Eosina (H. E.) e

analisados em microscópio óptico de luz, da marca OLYMPUS BX-49 e

fotografados em fotomicroscópio OLYMPUS BX-50.

Os procedimentos histológicos foram realizados em parceria, no

Laboratório do Programa de Pós Graduação em Patologia da Universidade

Federal de Pernambuco.

3.4.2 Método de quantificação de proteínas totais pelo método de Biureto

Para esse método, utilizou-se o Kit reagente de proteínas totais (solução padrão

proteínas totais 5,0 g/dL e reagente de Biureto) da marca Biotécnica.

Foi construído o gráfico da linearidade (concentração da solução x

absorbância), através da média de três curvas de calibração utilizando 30, 60,

90, 120, 150 e 180 μL da solução padrão de proteinas totais (5,0 g/dL ou 50

mg.mL-1) em 3 mL de Biureto, resultando em concentrações de 0,5, 1,0, 1,5,

2,0, 2,5, 3,0 mg.mL-1. Após o tempo de 20 minutos, foi iniciada a leitura em

espectofotômetro visível no comprimento de onda (λ) de 550 nm, especificado

no kit.

A partir da equação da reta obtida por regressão linear, realizou-se o

doseamento de proteínas totais na pele de orelha de porco. As absorbâncias

foram observadas antes e depois de promover ação mecânica com o produto

testado (Sabonete líquido base, esfoliante comercial Mary Kay, esfoliante de

argila branca, esfoliante de argila verde, esfoliante de argila vermelha). As peles

utilizadas tiveram os pelos retirados com auxílio de barbeador descartável,

cortados com lâmina, adotando um quadrante com 1g de massa. Após 5 minutos

de esfoliação do corte, com movimentos padronizados, o mesmo foi dividido em

4 fragmentos para aumentar sua superfície de contato e adicionou-se 6 mL de

Page 9: ESFOLIANTE FACIAL À BASE DE ARGILA E AVALIAÇÃO DA …

EDUCAÇÃO CIÊNCIA E SAÚDE, v.2, n.2, Julho a Dez. de 2015.

ISSN 2358-7504 http:// periodicos.ces.ufcg.edu.br

106

Biureto, deixando agir por 20 minutos, porém, a cada 2 minutos, o conteúdo era

homogeneizado levemente. Completado o tempo, a parte sólida foi separada do

líquido utilizando papel filtro e levada à leitura no espectrofotômetro em 550 nm.

4 Resultados e Discussão

4.1 Controle de qualidade físico-químico da argila

Para determinar certas propriedades físico-químicas fundamentais da argila, foi

necessário realizar alguns controles de qualidade, tais como: análise

granulométrica, microscopia óptica, densidade compactada, perda por

dessecação e resíduo por incineração. Essas análises foram essenciais para o

desenvolvimento do esfoliante à base de argila.

4.1.1 Análise granulométrica

Os resultados granulométricos foram satisfatórios para otimizar o

desenvolvimento da formulação, onde foi adotada a granulometria de mesh 100

e abertura 150 mm. Os resultados da análise granulométrica estão

apresentados na Tabela 2.

Tabela 2: Análise granulométrica das argilas Sistema

Mesh (#)

Abertura da peneira

(mm)

Massa retida Argila Branca

Massa retida A. Verde

Massa retida A. Vermelha

Média DP (±)

g % g % g % g 200 75 20,6

5 82,6 13,5 54 9,5 38 14,55 5,65

160 106 0,85 3,4 1,75 7 2 8 1,53 0,60 100 150 1,95 7,8 5,8 23,2 7,3 29,2 5,02 2,76 80 180 0,8 3,2 2 8 4 16 2,27 1,62 48

(fundo) 300 0,75 3 1,95 7,8 2,2 8,8 1,63 0,78

Total 25 g 100% 25 g 100% 25 g 100% 25 g Fonte: Dados a pesquisa

De acordo com os dados descritos na tabela, pode-se observar que mais

da metade do material (14,55g) encontra-se retido numa faixa granulométrica de

200 mesh e cerca de 1,63g encontra-se na menor faixa (mesh 48). Verifica-se

que 20% (5,02 g) de massa da argila ficaram retidas no tamis mesh 100,

granulometria intermediária entre os tamanhos de partícula maiores e menores.

Desse modo, procurando um material sem a presença de partículas grosseiras,

que possua uma granulometria homogênea, e proporcione bons resultados ao

Page 10: ESFOLIANTE FACIAL À BASE DE ARGILA E AVALIAÇÃO DA …

EDUCAÇÃO CIÊNCIA E SAÚDE, v.2, n.2, Julho a Dez. de 2015.

ISSN 2358-7504 http:// periodicos.ces.ufcg.edu.br

107

ser empregado na formulação, foi adotada a argila da faixa granulométrica 100

mesh.

4.1.2 Microscopia óptica

Após a adoção da faixa granulométrica pode-se observar, através de

microscopia óptica, a organização estrutural das partículas. Os três tipos de

argilas apresentaram similaridade quanto à estrutura física, possuindo grãos

com um aspecto amorfo.

Em estudo realizado por Silva, Alves & Barbosa (2011), a microscopia

óptica foi utilizada para caracterizar a morfologia e analisar o grau de expansão

da argila e dos sistemas estudados. As micrografias ópticas da matriz polimérica

e sistemas contendo atapulgita natural com teores de 3 e 5% apresentam a

presença de partículas de argila bem dispersas na matriz e com tamanhos

variados, indicando uma boa dispersão durante a preparação.

Entretanto, segundo Castro (2008) em mineralogia óptica e petrografia,

utiliza-se lâmina delgada. Tal técnica requer amostras de material pedológico

adequadamente coletados, previamente impregnadas com resinas, finamente

cortadas e colocadas em lâminas delgadas similares às petrograficas, podendo

ser produzidas também em tamanho médio ou mamute. Como técnica de análise

microscópica, os constituintes sólidos são identificados por suas propriedades

ópticas, admitindo-se também o uso de reagentes auxiliares na sua observação.

A técnica adotada para o estudo foi simples, sem adição de reagentes e

utilizando lâminas de microscopia. Contudo, a técnica permite observar a

organização física e as diferenças e similaridades entre o material avaliado.

4.1.3 - Densidade compactada

A tabela 3 apresenta os valores da densidade compactada das argilas (g/mL)

calculados de acordo com a equação específica.

Tabela 3: Densidade compactada das argilas

Amostras Proveta vazia (g)

Proveta cheia (g)

Vol. após compactação

(mL)

Densidade (g/mL) Média ±

DP Argila Branca 17,26 26,02 ± 0,12 8,6 ± 0,10 1,01 ± 0,01 Argila Verde 17,31 24,41 ± 0,08 8,43 ± 0,06 0,84 ± 0,01

Argila Vermelha 17,52 25,94 ± 0,60 8,53 ± 0,06 1,04 ± 0,02

Page 11: ESFOLIANTE FACIAL À BASE DE ARGILA E AVALIAÇÃO DA …

EDUCAÇÃO CIÊNCIA E SAÚDE, v.2, n.2, Julho a Dez. de 2015.

ISSN 2358-7504 http:// periodicos.ces.ufcg.edu.br

108

Fonte: Dados da pesquisa

A avaliação da densidade é de extrema importância antes de formular um

produto. Juntamente com a viscosidade, irão interferir na velocidade de

sedimentação das partículas sólidas.

A velocidade em que as partículas em uma suspensão sedimentam está

relacionada ao tamanho e densidade das partículas e à viscosidade do meio da

suspensão. O movimento browniano pode exercer um efeito significativo, bem

como a ausência ou presença de floculação no sistema (GENNARO, 2000).

Em 1850, G.G Stokes determinou três fatores que afetam a velocidade final

de partículas caindo através de um fluído, definindo uma fórmula conhecida por

“Lei de Stokes”. Os fatores são: Diâmetro da partícula; Diferença de densidade

entre a partícula e o fluído; Viscosidade do fluído. A velocidade final de

sedimentação de uma partícula em fluído é proporcional ao quadrado do

diâmetro da partícula. Fatores válidos para partículas com diâmentros entre 0,2

mm ou 200μm (limite inferior da areia grossa) e 0,2 μm (limite inferior da argila

grossa) (COOPER; USP).

A velocidade de sedimentação é reduzida através da diminuição do

tamanho da partícula. Por isso, foi padronizado uma granulometria ao ser

observado nos testes que as de diâmetros maiores sedimentavam e as mais

finas ficavam retidas na superfície.

4.1.4 Perda por dessecação

Após as pesagens, pode-se calcular a média da massa perdida (umidade), a

partir de uma massa inicial de 2 g de argila. Os resultados estão descritos na

tabela 4.

Tabela 4: Massa de argila após 2 horas de estufa

Amostras Massa do cadinho

vazio

Massa da argila

Massa Total

Massa após 6 horas de

estufa

Massa perdida

g g g g g % Argila Branca 20,7 2,00 22,70 22,54 0,16 ± 0,001 0,70 Argila Verde 24,87 2,01 26,88 26,70 0,18 ± 0,001 0,67

Argila Vermelha

23,46 2,00 25,46 25,35 0,11± 0,001 0,43

Fonte: Dados da pesquisa

Page 12: ESFOLIANTE FACIAL À BASE DE ARGILA E AVALIAÇÃO DA …

EDUCAÇÃO CIÊNCIA E SAÚDE, v.2, n.2, Julho a Dez. de 2015.

ISSN 2358-7504 http:// periodicos.ces.ufcg.edu.br

109

Observa-se que, mesmo após 6 horas de ensaio, a perda de massa é

pequena, não ultrapassando 1%. Desse modo, os três tipos de argila possuíam

um baixo teor de água, não dificultando e interferindo nos ensaios. Como possui

comportamento pseudoplástico, ao adicionar água a argila ganha forma e

volume. Assim, para a formulação adotada e materiais empregados, foi preferível

trabalhar com argila seca.

4.1.5 Resíduo por incineração

A tabela 5 representa os valores obtidos no ensaio do teste de resíduo por

incineração (cinzas totais). Foram realizados testes em triplicata e os valores

estão descritos em média.

Tabela 5: Massa perdida da argila após incineração

Amostra Massa da argila (g) Massa cinzas (g) Teor de cinzas (%) Argila Branca 3,00 0,43 ± 0,015 14,3 Argila Verde 3,00 0,53 ± 0,021 17,7

Argila Vermelha 3,00 0,21 ± 0,011 7 Fonte: Dados da pesquisa

De acordo com os dados, o teor de cinza dos 3 tipos de argila apresentaram

diferenças. A argila branca teve 14,3% da massa diminuída, a verde 17,7%,

enquanto que a vermelha apresentou a menor perda com apenas 7%. Tais

resultados apontam a existência de impurezas nas matérias primas estudadas.

A determinação do teor de cinzas totais permite a verificação de impurezas

inorgânicas não-voláteis. Cinzas totais incluem aquelas derivadas de tecido

vegetal (cinzas fisiológicas) e derivadas de materiais estranhos, especialmente

areia e terra aderente à superfície do material (cinzas não fisiológicas) (BRASIL,

2010).

Não foi encontrado na literatura valores de teor de cinzas totais para argilas

branca, verde e vermelha. Assim, os dados realizados nesse ensaio tornam-se

importantes no processo de padronização.

4.2 Desenvolvimento da formulação

Page 13: ESFOLIANTE FACIAL À BASE DE ARGILA E AVALIAÇÃO DA …

EDUCAÇÃO CIÊNCIA E SAÚDE, v.2, n.2, Julho a Dez. de 2015.

ISSN 2358-7504 http:// periodicos.ces.ufcg.edu.br

110

Foi adotado propilenoglicol para dispersão do material sólido porque ao utilizar

água, observou-se que, ao passar das horas, a argila apresentava aspecto

ressecado, fato que iria prejudicar o resultado final da formulação. As

formulações manipuladas podem ser visualizadas na figura 2.

Figura 2: Esfoliante à base de argila branca (P2, P5 e P7), verde (P1, P4 e P8), vermelha (P3, P6 e P9) e formulação placebo (P10, P11 e P12) sem Sepigel. N=3.

Fonte: Imagens da pesquisa

Após 24 horas, observou-se que as argilas sedimentavam, promovendo um

aspecto indesejável ao produto, especialmente a argila vermelha pela maior

densidade em relação água. Desse modo, foi acrescentado o agente de

viscosidade Sepigel® (3%), uma vez que, ao aumentar a viscosidade do sistema

a sedimentação foi diminuída.

4.3 Viscosidade e pH

Os resultados apresentados na tabela 6 demonstram os valores da viscosidade

e pH das formulações prontas para serem utilizadas no estudo (figura 3).

Figura 3: Esfoliantede argila branca, verde e vermelha Fonte: Imagens da pesquisa

O Carbopol, quando disperso em água, umecta e forma uma dispersão

aquosa (resina/água) com valor de pH na faixa de 2,8-3,2. Neste estado pré-

Page 14: ESFOLIANTE FACIAL À BASE DE ARGILA E AVALIAÇÃO DA …

EDUCAÇÃO CIÊNCIA E SAÚDE, v.2, n.2, Julho a Dez. de 2015.

ISSN 2358-7504 http:// periodicos.ces.ufcg.edu.br

111

dissolvido a molécula de Carbopol está extremamente enovelada e sua

capacidade espessante é limitada. Para obter o espessamento é necessária a

neutralização com bases inorgânicas, como hidróxido de sódio ou aminas de

baixo peso molecular como, por exemplo, a Trietanolamina, utilizada nesse

estudo.

Segundo FERREIRA (2010), a quantidade aproximada de Trietanolamina

necessária para neutralizar é a mesma quantidade do Carbopol empregado na

formulação. Entretanto, foi adicionado cerca de 13 à 25 gotas. Pois, as três bases

formuladas, mesmo contendo a mesma quantidade de matéria prima,

apresentaram comportamento de viscosidade distintos. Assim, cada uma

recebeu quantidades diferentes de Trietanolamina até atingir parâmetros

semelhantes.

O pH da pele é levemente ácido (4,6-5,8), onde contribui para que ocorra

proteção bacteriana e fungicida na superfície. Entretanto, foi adotado uma faixa

de pH neutro (próximo de 7,0) para a formulação desenvolvida, pois é importante

que não seja prejudicial ao usuário, já que vai sofre uma pequena irritação ao

utilizar produto esfoliante, diminuindo assim as agressões cutâneas.

Tabela 6: Viscosidade e pH das bases após adição da argila

Amostra Parâmetros pH Viscosidade

Esfoliante de argila branca 7,82 ± 0,049 3123,3 ± 40,4 Esfoliante de argila verde 7,83 ± 0,017 3150 ± 50,0

Esfoliantede argila vermelha 7,40 ± 0,038 3333,3 ± 57,7 Fonte: Dados da pesquisa

4.4 Estudo da eficácia

4.4.1 Método da leitura histológica por microscopia óptica

4.4.1.1 Preparo do material para avaliação histológica

A orelha de porco e o quadrante 2 cm² utilizado no trabalho podem ser

visualizados na figuras 4.

Page 15: ESFOLIANTE FACIAL À BASE DE ARGILA E AVALIAÇÃO DA …

EDUCAÇÃO CIÊNCIA E SAÚDE, v.2, n.2, Julho a Dez. de 2015.

ISSN 2358-7504 http:// periodicos.ces.ufcg.edu.br

112

Figura 4: Material histológico: A. Orelha de porco coletada após abate no abatedouro público; B. Quadrante 2 cm² adotado para o estudo.

Fonte: Imagens da pesquisa

Após a aplicação dos sabonetes líquidos desenvolvidos, os cortes foram

depositados em solução de formaldeído 10% para fixação em pequenas

embalagens plásticas com cores diferentes conforme a divisão em grupos.

4.4.1.2 Leitura das lâminas

Resultados descritos de acordo com a análise histológica:

● Tempo 0

Após a primeira aplicação dos produtos testados, conforme evidenciado na

figura 5, a pele tratada com sabonete líquido base para esfoliante apresenta

estrato córneo (Ec) da epiderme de aparência uniforme e sem alterações

visíveis. A pele tratada com esfoliante de argila branca mostra estrato córneo

nas mesmas condições anteriores: aparência uniforme e sem alterações visíveis.

O estrato córneo (Ec) da epiderme tratado com esfoliante padrão comercial

evidencia espaçamentos entre os filamentos de queratina. O estrato córneo

esfoliado com esfoliante de argila verde exibe leve afastamento entre os

filamentos de queratina e o tratado com esfoliante de argila vermelha expõe

espaçamentos entre os filamentos de queratina semelhantes ao provocado pelo

esfoliante comercial (figura 5).

A B

Page 16: ESFOLIANTE FACIAL À BASE DE ARGILA E AVALIAÇÃO DA …

EDUCAÇÃO CIÊNCIA E SAÚDE, v.2, n.2, Julho a Dez. de 2015.

ISSN 2358-7504 http:// periodicos.ces.ufcg.edu.br

113

Figura 5: Cortes histológicos da pele suína com coloração hematoxilina-eosina (HE) (Aumento 400X)- tempo 0: A. Pele tratada com sabonete líquido placebo; B. Pele tratada

esfoliante de argila branca; C. Pele tratada com esfoliante padrão comercial; D. Pele tratada com esfoliante de argila verde; E. Pele tratada com esfoliante de argila vermelha.

Fonte: Imagens da pesquisa

●Tempo 7 dias

A figura 6A mostra o estrato córneo (Ec) da epiderme apresentando

grandes espaçamentos entre os filamentos de queratina quando aplicado o

esfoliante comercial pela segunda vez, no tempo 7. De maneira semelhante, os

grandes espaçamentos também podem ser observados após a esfoliação com

o esfoliante de argila verde (Figura 6B). Quando o estrato córneo foi tratado com

o esfoliante de argila vermelha (Figura 6C), o resultado foi análogo aos

anteriores, porém, com áreas mais delgadas (seta).

Page 17: ESFOLIANTE FACIAL À BASE DE ARGILA E AVALIAÇÃO DA …

EDUCAÇÃO CIÊNCIA E SAÚDE, v.2, n.2, Julho a Dez. de 2015.

ISSN 2358-7504 http:// periodicos.ces.ufcg.edu.br

114

Figura 6: Cortes histológicos da pele suína com coloração hematoxilina-eosina (HE)(Aumento 400X) – tempo 7 dias: A. Pele tratada com esfoliante padrão comercial; B.

Pele tratada com esfoliante de argila verde; C. Pele tratada com esfoliante de argila vermelha.

Fonte: Imagens da pesquisa

●Tempo 14 dias

Após a terceira aplicação dos esfoliantes (grupo III – 14 dias), o estrato

córneo da epiderme tratada com esfoliante comercial apresentou-se

visivelmente delgada e com células ainda nucleadas próximas ao mesmo (figura

7A; seta). A epiderme esfoliada com esfoliante de argila verde exibiu grandes

áreas de espaçamentos entre os filamentos de queratina (Figura 7B) e a pele

com aplicação do esfoliante de argila vermelha demonstra espaçamentos entre

os filamentos de queratina semelhantes ao provocado pelo esfoliante de argila

verde (Figura 7C).

Figura 9: Cortes histológicos da pele suína com coloração hematoxilina-eosina (HE)(Aumento 400X) – tempo 14 dias -A. Pele tratada com esfoliante padrão comercial; B.

Pele tratada com esfoliante de argila verde; C. Pele tratada com esfoliante de argila vermelha.

Fonte: Imagens da pesquisa

Os resultados evidenciaram uma melhor ação no tempo de 14 dias do

esfoliante comercial Mary Kay®, pois acarretou, inicialmente (tempo zero e sete

dias), afastamento dos filamentos de queratina e posteriormente, adelgaçamento

do estrato córneo. Em comparação com o esfoliante de argila verde no tempo de

sete dias, o esfoliante de argila vermelha apresentou espaçamentos mais

visíveis e áreas de adelgaçamento no estrato córneo sugerindo uma ação mais

esfoliante num período mais curto. No entanto, no tempo de 14 dias, ambas as

argilas apresentam efeitos semelhantes.

Page 18: ESFOLIANTE FACIAL À BASE DE ARGILA E AVALIAÇÃO DA …

EDUCAÇÃO CIÊNCIA E SAÚDE, v.2, n.2, Julho a Dez. de 2015.

ISSN 2358-7504 http:// periodicos.ces.ufcg.edu.br

115

É importante ressaltar que a pele com esfoliante base e o esfoliante de

argila branca nos tempos zero, 7 e 14 dias não apresentaram alterações visíveis

no estrato córneo. Como o sabonete líquido base não apresentava nenhum ativo

esfoliante, era esperado que não promovesse nenhuma alteração no estrato

córneo, apenas limpeza da região. Já para o esfoliante de argila branca

acreditava-se em algum tipo de esfoliação. Porém, dados da literatura

classificam este tipo de argila como facilitadora da circulação sanguínea e

promotora de ação antisséptica, sendo de alta excelência no controle do

processo acneico, clareamento e no tônus geral da pele (AMORIM; PIAZZA,

2012), embora muitos produtos comerciais prometam a ação esfoliante, a qual

não foi confirmada nesse trabalho.

4.4.2 Método de quantificação de proteínas totais pelo método de Biureto

A equação da reta utilizada para a análise dos resultados através de estudos de

regressão linear, analisando-se as concentrações de proteínas totais e suas

respectivas leituras foi: y = 0,2935x – 0,0086, onde x é a concentração de

proteínas totais em mg.mL-1 e y a absorbância do espectro. O coeficiente de

correlação obtido foi de 0,9989, indicando uma regressão linear significativa (p <

0,0001) e linearidade aceitável na faixa estudada, uma vez que, o critério mínimo

aceitável do coeficiente de correlação (r) deve ser 0,99 (BRASIL, 2003).

Sendo assim, é possível visualizar graficamente na figura 10, a curva

padrão de proteínas totais pelo método de Biureto.

0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.00.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

Concentração (mg.mL-1

)

Ab

so

rbân

cia

(550 n

m)

Figura 10: Curva de calibração de proteínas totais pelo método de Biureto a 550 nm.

Fonte: Imagens da pesquisa

Após obtenção da equação da reta, a perda de proteínas totais dos cortes

de orelha de porco antes e depois da esfoliação com os produtos testados, foi

Page 19: ESFOLIANTE FACIAL À BASE DE ARGILA E AVALIAÇÃO DA …

EDUCAÇÃO CIÊNCIA E SAÚDE, v.2, n.2, Julho a Dez. de 2015.

ISSN 2358-7504 http:// periodicos.ces.ufcg.edu.br

116

calculada e pode ser visualizada na tabela 7. Esses resultados referem-se ao

tempo 0.

Tabela 7: Perda de proteínas totais Cortes (1g) Proteínas totais Perda de proteínas

Sem esfoliante 0,91 mg.mL-1 Branco Esfoliante Mary Kay® 0,26 mg.mL-1 72%

Esfoliante placebo 0,57 mg.mL-1 37,4% Esfoliante de argila branca 0,57 mg.mL-1 37,4% Esfoliantede argila verde 0,33 mg.mL-1 63,7%

Esfoliante de argila vermelha

0,30 mg.mL-1 67,0%

Fonte: Dados da pesquisa

O corte de orelha sem esfoliação representa 100% de proteínas totais, ou

seja, para cada 1 g de massa de orelha 0,91 mg.mL-1 é referente as proteínas

presentes. Quando um corte de mesma massa foi esfoliado com o esfoliante

padrão comercial, ocorreu uma perda significativa de proteínas totais (72%), bem

como com o esfoliante de argila verde (63,7%) e de argila vermelha (67,0%).

Esses resultados convergem com a análise histológica que demonstrou

uma eficácia semelhante entre os esfoliantes citados, evidenciado por

modificações na camada de queratina presente no estrato córneo. Os cortes

esfoliados com a base para sabonete líquido (placebo) e esfoliante de argila

branca apresentaram uma perda menos significativa em relação aos demais

(37,4%), que pode ser oriunda da ação de limpeza e não de esfoliação, conforme

resultados também confirmados pela histologia, nos quais, não houve nenhuma

agitação na camada de queratina do estrato córneo da pele.

5 Conclusão

De acordo com os resultados apresentados no trabalho, concluiu-se que:

● Os controles de qualidade das argilas permitiram escolher a granulometria

mais apropriada para a inclusão nos sabonetes líquidos e conhecer o teor de

umidade e cinzas das amostras;

● Após desenvolvimento dos sabonetes líquidos as formulações apresentaram

pH e viscosidade satisfatórias e os problemas de sedimentação das argilas e

viscosidade dos produtos foram solucionados com sepigel®;

● O estudo de eficácia dos esfoliantes revelou que o produto padrão comercial

adotado nesse estudo apresentou melhor ação esfoliante em todos os tempos

Page 20: ESFOLIANTE FACIAL À BASE DE ARGILA E AVALIAÇÃO DA …

EDUCAÇÃO CIÊNCIA E SAÚDE, v.2, n.2, Julho a Dez. de 2015.

ISSN 2358-7504 http:// periodicos.ces.ufcg.edu.br

117

estudados. Em comparação com a argila verde no tempo de 7 dias, a argila

vermelha apresentou espaçamentos mais visíveis e áreas de adelgaçamento no

extrato córneo sugerindo uma ação mais esfoliante num período mais curto. No

entanto, no tempo de 14 dias, ambas as argilas apresentam efeitos semelhantes.

A argila branca não apresentou ação esfoliante, pois o sabonete líquido não

promoveu nenhuma alteração do estrato córneo.

● As proteínas totais dos cortes de orelha de porco foram quantificadas em

espectrofotometria pelo método de Biureto e a perda de proteínas após a

esfoliação pôde ser determinada. O esfoliante comercial promoveu uma perda

de 72% de proteínas totais semelhante à dos esfoliantes de argila verde e

vermelha 63,7 e 67,0%, respectivamente. O esfoliante de argila branca e a base

para sabonete líquido resultaram em perdas idênticas de proteínas totais

(37,4%), que podem ser atribuídas a limpeza do local, uma vez que, na análise

histológica, não promoveram nenhuma alteração no estrato córneo da epiderme.

Os esfoliantes de argila verde e vermelha apresentaram esfoliação

semelhante ao produto comercial de marca de qualidade reconhecida. Portanto,

podem ser utilizados para a finalidade proposta em substituição a outros

produtos comerciais, pois além de serem comprovadamente eficazes, os

esfoliantes de argila verde e vermelha são classificados como cosméticos verde,

apresentando, assim, alto valor agregado.

6 Referências

AMORIM, M. I.; PIAZZA, F. C. P. Uso das argilas na estética facial e corporal. 13p.

Pesquisa (pós-graduação). Universidade do Vale do Itajaí. Itajaí-SC, 2012.

BRASIL - Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Resolução da Diretoria

Colegiada - RDC Nº 899, DE 29 DE MAIO DE 2003. Determina a publicação do "Guia

para validação de métodos analíticos e bioanalíticos" Disponível em:

http://portal.anvisa.gov.br.Acesso em: 20/02/2014.

BRASIL - Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Guia de Estabilidade de

Produtos Cosméticos. 1.ed. Brasília: Editora Agência Nacional de Vigilância Sanitária,

2004, 52 p.

Page 21: ESFOLIANTE FACIAL À BASE DE ARGILA E AVALIAÇÃO DA …

EDUCAÇÃO CIÊNCIA E SAÚDE, v.2, n.2, Julho a Dez. de 2015.

ISSN 2358-7504 http:// periodicos.ces.ufcg.edu.br

118

BRASIL. Farmacopeia Brasileira, 5. ed. - volume 1 - Agência Nacional de Vigilância

Sanitária. Brasília: Anvisa, 524 p. 2010.

BRASIL. ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria

Colegiada – RDC nº 4, de 30 de janeiro de 2014. Dispõe sobre os requisitos técnicos

para a regularização de produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes e dá outras

providências. Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br.Acesso em: 20/02/2014.

CAREGNATTO, B. D.; GARCIA, G. A.; FRANÇA, A. J. V. B. D. V.. Estudo comparativo

entre esfoliante químico e enzimático no processo de esfoliação facial. 22p. Projeto

(Iniciação Científica). Universidade do Vale do Itajaí- UNIVALI, Curso superior de

Tecnologia em Cosmetologia Estética, campus Balneário Camboriú - SC, 2011.

CASTRO, S. S. Micromorfologia de solos: Bases para descrição de lâminas delgadas.

UNICAMP/UFG. Campinas/Goiânia: fevereiro/2008.

COOPER, M. Física do Solo: Granulometria e textura do solo. USP. Disponível em:

http://disciplinas.stoa.usp.br; Acesso em: 19/07/2014.

EVELINE, C. Máscaras: as estrelas na cosmetologia. Bel Col, São Paulo, n. 52, p. 22-

24, 2010.

FERREIRA, A. O. Guia Prático de Farmácia Magistral. Pharma Books, ed. 4°, v. 1, c.

6, p 302, 2010.

GARCIA, C. C., et al. Desenvolvimento e avaliação da estabilidade físico-química de

formulações de sabonete líquido íntimo acrescidas de óleo de melaleuca. Rev. Bras.

Farm., ed. 90, v. 3, p. 236-240, 2009.

GENNARO, A. R.; et al. Remington - A ciência e a prática da farmácia. Guanabara

Koogan, ed. 20, p. 330. Rio de Janeiro, 2000.

POLITI, F. A. S. Estudos Farmacognósticos e avaliação de atividades biológicas

de extratos obtidos das cascas pulverizadas de Endopleurauchi (HUBER)

CUATREC. (HUMIRIACEAE). Dissertação (Mestrado em Ciências Farmacêuticas).

144p. Universidade Estadual Paulista “Júlio Mesquita Filho” - Faculdade de Ciências

Farmacêuticas. Araraquara- São Paulo, 2009.

Page 22: ESFOLIANTE FACIAL À BASE DE ARGILA E AVALIAÇÃO DA …

EDUCAÇÃO CIÊNCIA E SAÚDE, v.2, n.2, Julho a Dez. de 2015.

ISSN 2358-7504 http:// periodicos.ces.ufcg.edu.br

119

SILVA, L. C. S.; ALVES, T. S.; BARBOSA, R. Utilização de argilas do piauí no

desenvolvimento de nanocompósitos poliméricos com matrizes termofixas. XX

Seminário de Iniciação Científica e III seminário em Desenvolvimento Tecnológico

e Inovação, p. 1-3, 2011. Disponível em:

<http://www.ufpi.br/20sic/Documentos/RESUMOS/Modalidade/Exatas> Acesso em:

23/07/2014.

VALENZUELA, M. G. S.; CASSAROTTE, A. R. B.; et al. Caracterização de argilas

funcionais para cosméticos. Trabalho acadêmico (graduação) - Escola Politécnica da

Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009.