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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDNIA UNIR
PROGRAMA DE PS-GRADUAO MESTRADO EM GEOGRAFIA - PPGG
NCLEO DE CINCIAS EXATAS E DA TERRA
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
SNIA MARIA TEIXEIRA MACHADO
ESPACIALIDADE E SUBJETIVIDADES FEMININAS
ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAO NO NAAHS/S EM PORTO
VELHO-RO
Porto Velho-RO
2016
PROGRAMA DE PS-GRADUAO MESTRADO EM GEOGRAFIA - PPGG
NCLEO DE CINCIAS EXATAS E DA TERRA
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
ESPACIALIDADE E SUBJETIVIDADES FEMININAS
ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAO NO NAAHS/S EM PORTO
VELHO-RO
Dissertao submetida ao Programa de Ps-Graduao Mestrado em Geografia PPGG Ncleo de Cincias
Exatas e da Terra Departamento de Geografia. rea de Concentrao: Amaznia e Polticas de Gesto Territorial. Linha de pesquisa: Territrio, Representaes e Polticas de Desenvolvimento. Orientador: Prof. Dr. Adnilson de Almeida Silva. Co-orientadora: Prof Dr. Maria das Graas Silva Nascimento Silva.
Porto Velho RO
2016
FICHA CATALOGRFICA
BIBLIOTECA PROF. ROBERTO DUARTE PIRES
M149e
Machado, Snia Maria Teixeira. Espacialidades e subjetividades femininas: altas habilidades /
superdotao no NAAHS/S em Porto Velho/ Snia Maria Teixeira Machado. - Porto Velho, Rondnia, 2016.
178f.: il.
Orientador: Prof. Dr. Adnilson de Almeida Silva
Co-orientadora: Prof. Dr. Maria das Graas Silva Nascimento
Silva Dissertao (Mestrado em Geografia) - Fundao Universidade
Federal de Rondnia UNIR. 1. Espacialidades. 2. Subjetividade. 3. Mulheres com altas
habilidades Superdotao. I. Silva, Adnilson de Almeida. II. Fundao
Universidade Federal de Rondnia UNIR. III. Ttulo.
CDU: 911.3
Bibliotecria Responsvel: Edoneia Sampaio CRB 11/947
Dedico a minha famlia, que sempre esteve presente. Sem a fora e o
apoio dela, eu no seria a metade do que me tornei hoje. Aos colaboradores do NAAH/S, cuja contribuio possibilitou que um
projeto resultasse nesta dissertao. Em especial s pessoas que se
tornaram colaboradoras desta pesquisa. Aos meus amigos que, direta ou indiretamente, contriburam na
trajetria da minha vida.
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar agradeo especialmente, de corao, alma, vida e emoo ao nosso
Criador, grande Construtor do Universo, por possibilitar a edificao de nossa trajetria.
minha famlia; minha me, meu pai, que sempre me apoiaram.
Ao Grupo Social de Portadores de Altas Habilidades/Superdotao que, com sabedoria
e vivncia, acredita em um mundo melhor, em que todos podem viver e conviver em paz.
Especialmente s pessoas da minha convivncia e aos que acreditaram e contriburam com
esta pesquisa.
Ao meu orientador, Prof. Dr. Adnilson de Almeida Silva e minha Co-orientadora
Prof Dr. Maria das Graas Silva Nascimento Silva, por terem aberto as portas s minhas
inquietudes, rea das Altas Habilidades/Superdotao, pelo carinho e dedicao de um
verdadeiro ser humano que sabe aceitar e respeitar as diferenas.
s minhas parceiras do NAAH/S, por terem me incentivado durante a pesquisa. s
minhas incansveis companheiras, especialmente Cristina, Maria da Gloria, Maria de Ftima,
Solange e Carla que sempre estiveram dispostas a doarem-se como pessoas e como
profissionais para essa nossa luta e pelo reconhecimento social da rea das Altas
Habilidades/Superdotao, que conseguimos construir, ao longo dos ltimos 10 anos.
s colaboradoras desta pesquisa, por me ajudarem a crescer, por terem me ensinado
tanto e me ofereceram preciosas informaes, que contriburam para enriquecer ainda mais os
resultados da pesquisa e, porque, sem elas, a pesquisa no teria acontecido.
Ao meu marido que est ao meu lado, apoiando-me, auxiliando-me e incentivando-me,
por compartilhar e apostar nessa pesquisa.
Aos membros da banca examinadora, Prof. Dr Maria das Graas Silva Nascimento
Silva, Prof Dr Klondy Lucia de Oliveira Agra e ao meu orientador Dr. Adnilson de Almeida
Silva; nenhuma outra pessoa seria mais adequada para examinar esta dissertao, pelo seu
enorme conhecimento, incentivo e apoio. Muito Obrigada.
RESUMO
Esta investigao aporta-se nas cincias geogrficas e busca a qualificao de novos
conhecimentos cientficos. Prope como objetivo analisar as subjetividades das mulheres com
altas habilidades/superdotao no Ncleo de Atendimento s Altas Habilidades/Superdotao
(NAAH/S), em Porto Velho-Rondnia e sua relao com a construo do espao social.
Como mtodo, adotou-se a abordagem fenomenolgica e consequente pesquisa qualitativa, de
natureza participativa, marcada com a presena de trs mulheres com altas
habilidades/superdotao ligadas ao referido ncleo. A base conceitual filosfica parte do
princpio desenvolvido por Ernest Cassirer que permite uma aproximao, auxilia na
compreenso dos modos de vida. Os resultados mostraram que a construo da identidade
como PAH/SD, entre muitos fatores, est diretamente vinculada significao e
representao das AH/SD que o sujeito assume e, com a influncia dos elementos simblicos
como os mitos crenas e suas representaes, vistos ainda em nossos dias. O estudo tambm
apresenta as caractersticas prprias das PAH/SD que, permanecendo na vida adulta, constata-
se um diferencial nas formas de relao com o espao e cultura postos pelo olhar de quem
portador de uma percepo e sensibilidade, constatadas atravs de testes e pesquisas, como
acima da normalidade. Verificou-se, ainda, que as subjetividades no so somente elementos
enriquecedores na anlise geogrfica, mas elementos decisivos para anlise e compreenso da
espacialidade e da geografia cultural. Entre outros fatores, as subjetividades para os PAH/SD
so decisivas na tomada de deciso e posse de sua identidade; existncia ou inexistncia de
um grupo potencialmente gerador de novas descobertas. As recomendaes propem que os
dados gerados neste estudo venham a ser vistos como base para gerar novas metodologias de
atendimento aos portadores de altas habilidades/superdotao utilizadas nos NAAH/S.
Palavras-chave: Espacialidade, subjetividade, mulheres com Altas habilidades/superdotao.
ABSTRACT
This research is related geographical sciences, how to characterize the place from
presentification, individuals with high abilities/giftedness, and proposes to analyze the
presentification people with high abilities/giftedness in the spatiality of the Service Center to
the High Skills/Giftedness (NAAH/S) in Porto Velho Rondnia NAAH/S and its relation with
the construction of social space. As a method, adopted the phenomenological approach
consequent qualitative, participatory in nature, marked by the presence of three women with
high skills/giftedness linked to referred to core. The conceptual philosophical basis assumes
developed by Cassirer that allow an approximation assists to further understanding of the
livelihoods of allowing this analysis. The results showed that the construction of identity as
HAP/SD, among many factors, is directly linked to the meaning and representation of AH/SD
that the subject assumes and, with the influence of symbolic elements such as beliefs myths
and their representations, still seen in our days. The study also presents the characteristics of
PAH/SD that remain in adult life, there is been a difference in the forms of relationship with
space and culture posed by the look of someone who is carrying a perception and observed
sensitivity, seens through testing and research as above normal. It was, also, found that
subjectivities are not only an elements in the geographical analysis only enriching but it is a
decisive element for analysis and understanding of spatiality and cultural geography as
subjectivities for PAH/SD are decisive factors in making decisions and ownership of their
identity; the existence or absence of a potential generator of new discoveries. The
recommendations propose that the data generated in this study may be seen as a basis to
generate new methods of care for people with high abilities/giftedness used in NAAH/S.
Keywords: Spatiality, the other, High abilities/giftedness
SUMRIO
APRESENTAO ...................................................................................................................................... 13
INTRODUO ............................................................................................................................................. 15
CAPTULO I - CASSIRER COMO PONTO DE PARTIDA AO ESTUDO DA REPRESENTAO DA PESSOA COM ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTADA . 19
1.1 CASSIRER COMO BASE TERICA PESQUISA DA REPRESENTAO ............... 20
1.2 O HOMEM UM ANIMAL SIMBLICO AS FORMAS SIMBLICAS.................... 23
1.3 SMBOLOS E SIGNOS SINAIS .................................................................................................... 26
1.4 ESPAO E TEMPO POR CASSIRER............................................................................................. 30
1.5 O SIGNIFICANTE, O SIGNIFICADO E AS REPRESENTAES COMO CHAVES
DA GEOGRAFIA .......................................................................................................................................... 34
CAPTULO II - PESSOAS COM ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTADAS .............. 36
2.1 HISTRICO DE PESQUISAS EM ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAO .......... 37
2.2 A DEFINIO DE ALTAS HABILIDADE/SUPERDOTAO PELA LEGISLAO
BRASILEIRA .................................................................................................................................................. 41
2.3 SUPERDOTAO, TALENTO, ALTAS HABILIDADES, APTIDES OU GENIALIDADE ............................................................................................................................................. 43
2.4 A TEORIA DAS INTELIGNCIAS MLTIPLAS DE HOWARD GARDNER ............. 46
2.5 TEORIA DE RENZULLI .................................................................................................................... 48
2.6 POLTICAS PBLICAS AO SUPERDOTADO NO BRASIL............................................... 50
CAPTULO III - SUBJETIVIDADES E A NATUREZA DO QUE O OUTRO, DO
QUE DISTINTO: O PAPEL E O SIGNIFICADO DAS DIFERENAS NA
GEOGRAFIA ................................................................................................................................................ 54
3.1 FATORES DETERMINANTES NO PROCESSO DE CONSTITUIO DA
SUBJETIVIDADE DOS SUJEITOS COM ALTAS HABILIDADES NA CONSTRUO DO ESPAO SOCIAL ................................................................................................................................. 55
3.2 SUBJETIVIDADE NA PERSPECTIVA DA GEOGRAFIA .................................................... 55
3.3 AS DIFERENAS NA GEOGRAFIA ............................................................................................. 57
3.4 CULTURA E SUAS RELAES COM O FEMININO ............................................................ 59
3.5 VIOLNCIA SUBJETIVA .................................................................................................................. 64
3.6 MITO COMO ELEMENTO DE REPRESENTAO ............................................................... 67
3.7 CULTURA, IDENTIDADE E SUPERDOTAO: UMA LUTA TRAVADA ENTRE O
SER E NO SER............................................................................................................................................ 75
CAPTULO IV - CAMINHOS METODOLGICOS NA CINCIA GEOGRFICA .... 80
4.1 SITUAO PROBLEMA: OBJETO DE ESTUDO .................................................................... 81
4.2 A ESCOLHA ............................................................................................................................................ 82
4.3 BASE TERICA ..................................................................................................................................... 83
4.4 PROCEDIMENTOS METODOLGICOS..................................................................................... 84
4.5 CAMINHO DA INVESTIGAO ................................................................................................... 85
4.6 TCNICAS DE PESQUISA ................................................................................................................ 87
4.7 ESPAO INVESTIGADO LOCUS DA PESQUISA VERSUS REALIDADE DE
PORTO VELHO ............................................................................................................................................. 88
4.8 ESTRUTURA E DINMICA DO ESPAO EM ESTUDO - LOCUS DA PESQUISA .. 90
4.9 UAP - UNIDADE DE APOIO AO PROFESSOR ........................................................................ 92
4.10 UAA - UNIDADE DE ATENDIMENTO AO ALUNO ........................................................... 92
4.11 UAF UNIDADE DE APOIO FAMLIA ............................................................................... 93
4.12 AES DO NAAH/S .......................................................................................................................... 94
CAPTULO V - OBSERVAES EM CAMPO: OLHAR, EXPERIENCIAR,
VIVENCIAR ................................................................................................................................................ 106
5.1 OLHAR, EXPERIENCIAR, VIVENCIAR ................................................................................... 108
CAPTULO VI - EXPERINCIA HUMANA ................................................................................ 122
6.1 ENTRE MUITAS OUTRAS: MULHERES QUE CONTRIBURAM COM
A PESQUISA ................................................................................................................................................ 123
6.2 MULHERES E TRAJETRIAS SUZI ....................................................................................... 129
6.3 TRAJETRIAS DIVA..................................................................................................................... 133
6.4 TRAJETRIA DE MARIA PAZ ..................................................................................................... 140
CAPTULO VII - INTERPRETAO/MAPAS MENTAIS E INTERPRETAES . 147
7.1 TRAJETRIA DE DINA - INTERPRETAO/MAPA MENTAL .................................... 148
7.2 TRAJETRIA DE MARIA PAZ - INTERPRETAO/MAPA MENTAL ...................... 152
7.3 TRAJETRIA DE SUZI INTERPRETAO ......................................................................... 155
CONSIDERAES FINAIS ................................................................................................................. 160
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................................................... 164
APNDICE ................................................................................................................................................... 177
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
AH/S - Altas Habilidades/Superdotao
ConBraSD - Conselho Brasileiro para Superdotao
NAAH/S Ncleo de Atividades de Altas
Habilidades/Superdotao OMS - Organizao Mundial da Sade QIIAHSDA Questionrio de Identificao de Indicadores de AH/SD em adultos.
SEDUC - Secretaria de Estado da Educao CEDET - Centro para Desenvolvimento do Potencial e
Talento DA - Deficincia Auditiva DM Deficincia Mental
DV Deficincia Visual
DMU - Deficincia Multipal
DF Deficincia Fsica
CT Condutas Tpicas
AH/S Altas Habilidades/Superdotao
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Performance rvores ........................................................................................................... 19
Figura 2: Esquema do Sistema Cassirer ................................................................................................. 21
Figura 3: Stephen Hawking ........................................................................................................................ 36
Figura 4: Daiane dos Santos ....................................................................................................................... 36
Figura 5: Pases que valorizam seus superdotados .............................................................................. 40
Figura 6: Teoria dos Trs Anis Joseph Renzulli ................................................................................ 49
Figura 7: Artur Lescher: Inabsncia e o mais parecido possvel o retrato. Para designar a
ausncia da ausncia ...................................................................................................................................... 54
Figura 8: Caminhando entre ovos ............................................................................................................. 80
Figura 9: Etapas da Pesquisa ...................................................................................................................... 85
Figura 10: Dados da educao inclusiva em Porto Velho ................................................................. 89
Figura 11: Dados da Formao de professores para atuar com educao inclusiva .................. 89
Figura 12: Estrutura Organizacional detalhada do NAAH/S RO 2015 .................................. 91
Figura 13: Identificao e diagnstico .................................................................................................... 99
Figura 14: Performance Entre Saltos ............................................................................................. 105
Figura 15: Berna Reale Performance ............................................................................................. 122
Figura 16: Mapa Mental Diva .............................................................................................................. 150
Figura 17: Mapa 4 Mapa mental Maria Paz ................................................................................ 154
LISTA DE FOTOS
Foto 1: Funcionrios .................................................................................................................................... 108
Foto 2: Espao de atendimento ................................................................................................................ 108
Foto 3: Mesa de estudos ............................................................................................................................. 108
Foto 4: Computadores ................................................................................................................................. 108
Foto 5: Fachada do Prdio de funcionamento do NAAH/S- 2016 ................................................ 109
Foto 6: Ambiente do NAAH/S ................................................................................................................. 113
Foto 7: Espacialidade do NAAH/S ......................................................................................................... 115
Foto 8: Processo de identificao de PAH/S ........................................................................................ 117
Foto 9: Sala de recursos onde atua Dina ......................................................................................... 133
LISTA DE MAPAS
Mapa 1: rea de e influncia do NAAH/S no Estado de Rondnia ............................................. 101
Mapa 2: reas de implantao das Salas de recurso do NAAH/S em Porto Velho no Estado
de Rondnia .................................................................................................................................................... 104
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Espacialidade dos mundos significativos .......................................................................... 31
Quadro 2: Teses de Doutorado com foco nas AH/SD defendidas entre 1987 e 2006 .............. 38
Quadro 3: Produes cientficas ............................................................................................................... 39
Quadro 4: Demonstrativo de tipos de habilidades ............................................................................... 42
Quadro 5: Conceitos ..................................................................................................................................... 44
Quadro 6: Caractersticas comuns entre os superdotados mulheres e/ou homens ..................... 45
Quadro 7: Diferenas entre o paradigma tradicional e o atual na educao de superdotados,
segundo Feldman ............................................................................................................................................ 46
Quadro 8: Tipos de Inteligncia de acordo com Gardner (1995) .................................................... 48
Quadro 9: Fatores para anlise e compreenso da superdotao .................................................... 49
Quadro 10: Mulheres/talentos ................................................................................................................... 62
Quadro11: Classificao das Altas Habilidades/Superdotao ....................................................... 65
Quadro 12: Manifestaes fsicas e materiais de bullyng.................................................................. 66
Quadro 13: Manifestaes psicolgicas e morais de bullying ......................................................... 66
Quadro 14- Categoria dos mitos e seus indicadores ........................................................................... 70
Quadro 15: Mitos quanto a PAH/S para Winner (1998) ................................................................... 72
Quadro 16: Mitos, segundo o MEC ......................................................................................................... 72
Quadro 17: Identidade ................................................................................................................................. 77
Quadro 18: Fatores favorveis e desfavorveis para a promoo de educao inclusiva ........ 79
Quadro 19: Aes do NAAH/S/2015 ...................................................................................................... 95
Quadro 20: Mulheres de Porto Velho ................................................................................................... 123
13
APRESENTAO
Minha formao inicial est vinculada s artes plsticas, que me aproximou do estudo
dos elementos de formao cultural e favoreceu para a construo desta dissertao. Em
contato com os grupos de pesquisa do Instituto Federal de Cincias e Tecnologia de Rondnia IFRO, surgiu a oportunidade de iniciar as primeiras discusses a respeito dos elementos da
geografia cultural, o que contribuiu para a compreenso da consonncia entre arte e geografia,
despertando o interesse pelo aprofundamento das cincias geogrficas.
Dessa forma, mesmo antes de ingressar no Programa de Ps-Graduao e Mestrado
em Geografia PPGG, cursei algumas disciplinas, como ouvinte, em 2013, no referido
programa do curso de mestrado, da Universidade Federal de Rondnia UNIR. Foi nesse
momento que se iniciou a trajetria nos estudos das cincias geogrficas.
O interesse pela temtica se firmou quando das leituras no curso das disciplinas: (1)
Geografia e Gnero - que trouxe a importncia do tema para a construo da espacialidade;
(2) Epistemologia da Geografia - por meio da qual pude compreender e desenvolver toda a
fundamentao terica da geografia, auxlio bsico para o desenvolvimento desta dissertao; (3) Populaes Amaznicas e Sustentabilidade - atravs desse tema, compreendi as formas
de desenvolvimento e as particularidades da pesquisa, no que diz respeito s populaes
amaznicas e sustentabilidade e; (4) Territorialidade - que propiciou a compreenso sobre
as formas e as questes geradas a respeito das concepes e realidades sobre o territrio.
Nesse mesmo ano, passei a fazer parte do Grupo de Estudos e Pesquisas em Geografia,
Mulheres e Relaes Sociais de Gnero GEPGNERO, coordenado pela Professora
Doutora Maria das Graas Silva Nascimento Silva e do Grupo de Estudos e Pesquisas Modos
de Vidas e culturas Amaznicas - GEPCULTURA coordenado pelo professor Doutor Josu
da Costa Silva.
Paralelamente, atuei como membro do grupo de pesquisa Ncleo de Estudos em
Histria e Literatura - NEHLI Instituto Federal de Cincias e Tecnologia de Rondnia IFRO, instituio de ensino qual ingressei como professora no final do ano de 2010.
A presente dissertao parte dos estudos desenvolvidos nas disciplinas cursadas no
Programa de Ps-Graduao em Geografia, da Universidade Federal de Rondnia. Este
estudo trouxe reflexes e debates entre vrios temas das cincias geogrficas, possibilitando
14
aprofundamento epistemolgico, fundamentao terica, assim como as orientaes
necessrias para a pesquisa de campo.
Com meu ingresso, como mestranda, no Programa, em 2014, cursei as disciplinas
Uso e conservao do solo, cujas reflexes possibilitaram a compreenso dessa temtica
como elemento de anlise da geografia; Morfopedologia, que, com seus debates,
fundamenta e aprofunda os conhecimentos nessa linha de abordagem e Cultura,
representao e espao dialgico, da qual extra representaes que, nesta dissertao se
apresentam como um elemento fundamental para compreenso da espacialidade dos
portadores de altas habilidades.
As discusses, leituras e apresentaes de seminrios das disciplinas cursadas,
consolidaram o interesse pela temtica da Espacialidade e as relaes sociais subjetivas no
campo da cincia geogrfica e culminaram na definio do tema deste estudo.
A presente dissertao fruto de reflexes iniciadas no Programa de Ps-Graduao
Mestrado em Geografia da Universidade Federal de Rondnia, quando analisamos e
identificamos os impactos socioculturais no modo de vida, levando-me a reconhecer a
importncia da pesquisa sobre a espacialidade do NAAH/S e as subjetividades das pessoas
portadoras de altas habilidades/superdotao.
Esta pesquisa tambm fruto de experincia e vivncia no NAAH/S de Porto Velho-
RO, como professora de sala de recursos para alunos portadores de altas
habilidades/superdotao, na rea de artes visuais do incio de 2007 a 2010, retomando a
pesquisa em 2014 at 2016. Nesse perodo, vivenciei tambm a realidade do ANNH/S de
Braslia e no Centro Para Desenvolvimento de Potencial e Talento CEDET em Lavras Minas
Gerais, que trouxe elementos importantes para essa anlise. Na realizao do trabalho de
campo, houve a participao da famlia, de amigos, de instituies e principalmente do
coletivo NAAH/S, que transmitiu seu rico conhecimento nessa rea e possibilitou vivenciar os
problemas que afligem as pessoas portadoras de altas habilidades/superdotao na
cotidianidade. Ou seja, aqui est uma parcela inestimavelmente valiosa da cultura,
presentificada atravs de cada um dos portadores de altas habilidades/superdotao na construo do espao social, atravs da espacialidade do NAAH/S.
15
INTRODUO
A construo desta dissertao est relacionada s cincias geogrficas, na busca de
qualificao de novos conhecimentos cientficos. Na observncia do antagnismo e
particularides do conhecimento emprico diverso cincia, buscamos, nesse constructo, as
subjetividades e os traos considerados em uma anlise fenomenolgica, qualitativa, em busca
da compreeno da espacilidade e seu dinamismo diligente, posto pelas altas habilidades
femininas, como elemento para compreeno do constituinte universo terra e a diversidade
que compe sua existncia.
As reflexes sobre portadores de Altas Habilidades/Superdotao ampliaram-se na
modernidade e produziram outros questionamentos sobre o tema, o qual ainda pouco
estudado, sendo abordado em poucas teses de doutorado no Brasil. Dessas teses, nenhuma
pautada nos estudos geogrficos espaciais, ou trazem o propsito de anlise em qualquer
direo de pesquisas das cincias geogrficas relacionado a esse tema, o que afirma a
relevncia deste estudo.
Nesses termos, trazemos como problemtica a pergunta: Como se apresenta as
subjetividades com a presentificao de indivduos, portadores de Altas
Habilidades/Superdotao, no espao geogrfico do NAAH/S?
O objetivo geral desta pesquisa analisar as subjetividades das mulheres com altas
habilidades/superdotao atravs do Ncleo de Atendimento s Altas
Habilidades/Superdotao (NAAH/S) em Porto Velho Rondnia.
Como objetivos especficos, tratamos das seguintes questes:
a) Anlise dos elementos de significativa representao para afirmao de identidade;
b) Anlise da implicncia dos elementos de significativa representao para afirmao
de identidade, no processo de construo do espao social das mulheres portadoras de Altas
Habilidades/Superdotao do NAAH/S.
O Ncleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotao NAAH/S, onde foram
realizados os trabalhos de campo e as observaes in loco, est localizado na Rua Paulo Leal,
357 centro, Porto Velho/RO. Este ncleo um rgo vinculado Secretaria de Educao do
Estado de Rondnia - SEDUC. A realizao da pesquisa foi possvel pelo consentimento
dessa secretaria, que permitiu nosso livre acesso e escolha dos indivduos para participarem
16
da pesquisa, que se realizou com metodologia participativa e que nos forneceu informaes
atuais imprescindveis para o desenvolvimento do estudo.
O trabalho foi construdo por meio da pesquisa participante. A investigao iniciou
com toda a equipe de profissionais do NAAH/S (sete pessoas) que atuam como professoras,
psicloga, assistente social, pedagoga, desde a construo inicial do ncleo, as quais
consideramos, tambm, autoras da pesquisa. Trs colaboradoras participaram de forma mais
ativa, por serem mulheres, trabalharemos com as subjetividades femininas nas altas
habilidades/superdotao como em um recorte. Por serem amplas e profundas, tais questes
de gnero tm mrito para serem aprofundadas em outro estudo.
O NAAH/S no um espao para atendimento exclusivo de mulheres, o Ncleo
atende todas as pessoas com indicativos ou com altas habilidades/superdotao, sua famlia e
todos os que necessitam de seus servios. Tambm d assistncia aos alunos com indicativos
de AH/S e s escolas que estejam envolvidas com o ensino especial.
Para a anlise, contamos com os dados conferidos em diversas linhas de investigao,
como visto por Christofoletti (1985) que valoriza a experincia e relaes humanas,
compreendendo que parte delas a orientao e organizao do espao, o comportamento e as
maneiras de sentir das pessoas.
Sendo assim, a construo socioespacial decorre de experincias que (re) afirmam as
identidades dos indivduos. Contudo, a base conceitual filosfica parte dos princpios das
formas simblicas desenvolvidas por Cassirer (1994), as quais nos levam compreenso
sobre o homem e o coletivo na espacialidade do NAAH/S.
O referencial terico est alicerado tambm no conceito de cultura, dentro da
geografia cultural, utilizado por Claval, que esclarece:
A cultura a soma dos comportamentos, dos saberes, das tcnicas, dos
conhecimentos e dos valores acumulados pelos indivduos durante suas vidas e, em
outra escala, pelo conjunto dos grupos de que fazem parte. A cultura herana
transmitida de uma gerao a outra. (...) Os membros de uma civilizao
compartilham cdigos de comunicao. Seus hbitos cotidianos so similares. Eles
tm em comum um estoque de tcnicas de produo e de procedimentos de
regulao social que asseguram a sobrevivncia e a reproduo do grupo. Eles
aderem aos mesmos valores, justificados por uma filosofia, uma ideologia ou uma
religio compartilhada (CLAVAL, 2001, p. 63).
A busca da pesquisa vai ao encontro ao conceito de Claval que, em consonncia com
Cassirer, considera que a busca de saberes, transmitidos com suas particularidades, abarca
valores, crenas, mitos, normas de conduta, linguagem, smbolos e o conjunto de
relacionamentos, aes, comportamentos, como elementos atuantes na construo da cultura.
17
Como as colaboradoras diretas da pesquisa so mulheres e a elas so conferidos
conceitos e particularidades prprios da nossa cultura, trazemos na anlise consideraes
sobre gnero. De acordo com Silva:
Gnero uma representao do ideal dos papis sociais a serem experienciados por
corpos considerados masculinos e femininos em diferentes tempos e espaos.
Gnero, portanto, no a realidade em si mesma, mas um ideal exercido
cotidianamente por diferentes tipos de corpos que, ao agirem pautados pela
representao superam a mera reproduo de papeis e recriam continuamente a
prpria representao do gnero. Assim gnero um eterno movimento que se faz
na ao humana criativa, e com toda ao implcita uma espacialidade, o carter
performtico simultaneamente espacial e temporal (SILVA, 2009, p.84).
Dessa forma, pela questo de gnero determinada socialmente, ocorre uma
diferenciao nas posturas, atitudes, significados e representaes relacionados a elas.
Embora esteja incluso nas questes de gnero, tratamos de um feminino que no esteja
somente ligado a questes j habituais, mas tratamos de uma realidade que, em suas
percepes peculiares relacionadas s altas habilidades, transcende a questes culturais de
gnero e do poder patriarcal. Buscamos o feminino enquanto um outro, apontado como
indivduo com AH/S inserido na espacialidade do NAAH/S, visto pela sociedade e pelas leis
do ensino especial como indivduo a ser includo socialmente.
Buscamos tambm autores como Corra (1982-2012), Cosgrove (2003), Damata
(1993), Capel (1981), Kant(2003), Bachelard (1996), Hartshorne(1978), Mendona, F.A. e
Kozel, S. (2002), Quaini (1993), Sposito (2004), Harvey (2004), Bollnow (2008), entre
outros, para auxiliar na elaborao relativa a Espao, tempo, memria e identidade.
Consideramos os conceitos de inteligncia de Gardner (1995-1997- 2001), os conceitos de
superdotao de Renzulli (1996-1997-2001). Buscamos tambm autores como Perez (2002-
2002- 2004- 2006- 2007- 2008) e Silva (2005), para auxiliar na elaborao relativa
identidade, entre outros.
O desenvolvimento do estudo na rea de altas habilidades/superdotao considerado
como pesquisa recente. Por essa razo, observamo-nas como parte da totalidade, em busca da
compreenso quanto aos sentimentos das PAH/S, sua percepo, as representaes e seus
significados vivenciados por cada PAH/S, visto pela legislao como pessoas que apresentam
a presena de potencialidade acima do normal.
Consideramos a metodologia participante para o desenvolvimento da pesquisa
segundo o que prescreve Costa (1995) ao ensaiar que:
[...] o principal instrumento de pesquisa, o investigador, num contacto directo, frequente e prolongado com os actores sociais e os seus contextos; as diversas tcnicas reforam-se, sendo sujeitas a uma constante vigilncia e adaptao segundo as reaces e as situaes. A natureza especfica dos procedimentos do mtodo de
18
campo impe-lhes que, para adquirirem pertinncia e rigor, tenham que ser, necessariamente, diversificadas e flexveis [...] (COSTA, 1995, p. 133).
Os conceitos utilizados, que reportam s coletividades e aos indivduos, esto de
acordo com a anlise de Almeida Silva (2010), o modo de vida est relacionado ao que
compreendem e oferecem sentido interpretativo do mundo, onde so realizadas suas
experincias. Dessa forma, torna-se importante perceber os elementos comuns no cotidiano,
como elementos que caracterizam e colaboram para sua diferenciao e sua identidade, uma
vez que apresentam distintas e vlidas interpretaes e valorizao.
A dissertao est organizada da seguinte forma:
Captulo I: No captulo sero abordadas a reviso bibliogrfica e as bases tericas
sobre o tema da pesquisa. Sob o olhar de Cassirer, o captulo envolve as formas simblicas, os
smbolos os signos e sinais, a espacialidade em vista das altas habilidades, a construo do
espao e apoderamento humano, o espao e o tempo.
Captulo II: Este captulo envolve as questes relativas s PAH/S, a fundamentao
terica do termo em estudo e as polticas pblicas que as envolvem. Tratamos do histrico das
pesquisas, a definio pela legislao brasileira, sobre as PAH/S, a teoria das Inteligncias
Mltiplas de Howard Gardner, a teoria de Renzulli e as Polticas Pblicas no Brasil.
Captulo III: Este captulo se refere a subjetividades e natureza do que o outro, do
que distinto; o papel e o significado das diferenas na geografia.
Captulo IV: Apresentamos os caminhos metodolgicos trazendo as reflexes atravs
da linguagem visual, sobre os enfrentamentos do cotidiano feminino.
Captulo V: Esse captulo trata do trabalho de campo realizado olhar, experienciar,
vivenciar.
Captulo VI: Apresentamos a anlise das entrevistas e mapas mentais, considerando os
dados apresentados nos captulos anteriores, desvendando os saberes e experincias, a
percepo das mulheres portadoras de altas habilidades no espao vivido e sua participao na
construo do espao.
Seguimos com as consideraes finais.
Sendo assim, h uma expectativa de que os dados aqui revelados contribuam no
reconhecimento de elementos para a fundamentao e construo de novas metodologias em
funo do atendimento das pessoas portadoras de altas habilidades/superdotao, Em razo da
falta de dispositivos legais educacionais com real aplicabilidade, a busca desses elementos se
torna especialmente relevante. Dessa forma esperamos fomentar novas poltica pblicas em
Rondnia.
19
CAPTULO I
CASSIRER COMO PONTO DE PARTIDA AO ESTUDO DA REPRESENTAO DA
PESSOA COM ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTADA
Figura 1: Performance rvores
Fonte: Clarice Lima - SESC Pompeia (Zona Oeste de So Paulo) http://guia.folha.uol.com.br/danca/1137895-para-refletir-sobre-o-tempo-bailarinos-ficam-de-cabeca-para-baixo-ate-cair.shtml.
20
Atravs da figura 1, buscamos complementar as reflexes da pesquisa com a
linguagem visual atravs imagem da performance rvores. Uma concepo de Clarice
Lima SESC Pompeia (Zona Oeste de So Paulo) que revela a habilidade de demonstrar e
provocar a reflexo quanto questo do espao e gnero.
A cidade de ponta cabea e a mulher de pernas para o ar. O corpo esttico e
invertido transfigura-se em um ser novo e estranho no espao. Ao se relacionar
com a cidade, por outra perspectiva, cria paisagens temporrias e inusitadas. Como
um estranho na busca de familiarizar-se com o espao, tenta se fixar nele como
rvores, de cabea para baixo, plantando iluso no concreto [...]
(http://patriciaaraujo.net/index.php?/project/saia/).
A presena e ao humana aconteceram em diferentes espaos urbanos, nas cidades de
So Paulo, Fortaleza, Braslia e Rio de Janeiro, em busca de transformaes.
A cincia geogrfica conta com as vrias formas de presena e a ao humana na
transformao e constructo do espao geogrfico. Entre todas as diversidades humanas,
buscamos as pessoas com altas habilidades/superdotao. Seja com, ou desprovido de
deficincias, estas pessoas so assim chamadas por suas caractersticas especiais.
Pouco se tem encontrado sobre a incluso de pessoas com habilidades intelectuais
acima da mdia. O termo altas habilidades/superdotao passa a vigorar em 1970, quando foi
incorporado legislao. Em 2008 foi instituda a Poltica Nacional de Educao Especial na
Perspectiva da Educao Inclusiva (BRASIL 2008), contemplando todas as pessoas que
apresentam perfis diferenciados, habilidades acima da mdia.
Como indivduos produtivos, essas trazem um diferencial tambm acima da mdia em
sua produo. Sob esses termos, conduziremos este estudo alicerado em Cassirer, na busca
por compreender as subjetividades das PAH/S na espacialidade do NAAH/S.
1.1 CASSIRER COMO BASE TERICA PESQUISA DA REPRESENTAO
O presente estudo tem por base terica o filsofo e antroplogo Ernest Cassirer. A sua
contribuio relevante e notvel para cincia geogrfica e para as cincias sociais pelo seu
enfoque humanista. O referido autor aborda vrias questes que vo desde as psicolgicas,
ontolgicas e epistemolgicas, de forma clara e concisa, colaborando para compreenso dos
problemas fundamentais da cultura humana.
Considerado um dos maiores filsofos do sculo XX, seu trabalho cientfico
resultado de uma ampla pesquisa relacionada filosofia da cultura, com a qual busca
compreender a respeito do ser humano, como demonstra em sua obra Ensaio sobre o
Homem (CASSIRER, 1994).
http://patriciaaraujo.net/index.php?/project/saia/
21
Em suas discusses, apresenta um conjunto de elementos analisados, conforme o
esquema do sistema cassireriano, com os nveis de articulao das formas simblicas e suas
correlaes (Figura 2).
Figura 2: Esquema do Sistema Cassirer
Fonte: Gil Filho, 2010.
Dessa forma, como demonstrado no esquema acima, Cassirer envolve todo processo
da cultura humana, como os representados pela religio, mito, linguagem, arte, histria,
cincia e toda simbologia. Nessa relao, consiste a importncia de sua obra com indagao a
respeito do o que o homem.
O homem descobriu, por assim dizer, um novo mtodo para adaptar-se ao seu
ambiente. Entre o sistema receptor e o efetuador, so encontrados em todas as
espcies animais, observamos no homem um terceiro elo que podemos descrever
como o sistema simblico. Essa nova aquisio transforma o conjunto da vida
humana. Comparado aos outros animais, o homem no vive apenas em uma
realidade mais ampla; vive, pode-se dizer, em uma nova dimenso da realidade.
Existe uma diferena inconfundvel entre as reaes orgnicas e as respostas
humanas. No primeiro caso, uma resposta direta e imediata dada a um estmulo
externo; no segundo, a resposta diferida. interrompida e retardada por um lento e
complicado processo de pensamento (CASSIRER, 1977, p. 49).
O processo do pensamento humano ao qual se refere o autor diferencia a ele prprio.
Esta afirmativa nos auxiliar na anlise do pensamento complexo das pessoas com altas
habilidades/superdotao.
Nessa direo, buscamos a compreenso da Filosofia das formas simblicas de
Ernst Cassirer, partindo da revoluo copernicana realizada por Immanuel Kant, na
22
epistemologia. No sculo XVI, Nicolau Coprnico realiza a transformao do modelo aceito,
at ento tradicional, geocntrico na concepo do universo. Kant traz a razo como elemento
fundamental das investigaes. Prope, para busca inicial, a compreenso do processo e de
como se fundamenta o conhecimento considerando ainda os limites do que possvel
conhecer. Assim, no campo etimolgico, Kant quem traz uma grande transformao sobre
as questes do conhecimento.
At o sculo XVIII, para a reflexo do conhecimento, era considerada a teoria do
racionalismo e a do empirismo. Falando, genericamente, os empiristas consideravam a
experincia sensvel para aquisio do conhecimento. De outra forma, os racionalistas davam
prioridade razo e o processo de conhecimento era concebido como independente de
experimentos/experincias.
Para Kant, conhecer ter cincia dos fenmenos, partindo da reflexo de que [...] o
mundo percebido segundo as caractersticas da razo humana. Por isso sabemos como o
mundo se mostra para ns (fenmenos), mas no somos capazes de conhecer a coisa em
si (FERNANDES, 2003, p. 110). Nessa reflexo, a objetividade da cincia para Kant,
encontra-se na possibilidade de fundar leis que a sua existncia est nas relaes das causas
entre os fenmenos; concluindo que no so os sujeitos que se conformam aos objetos, mas
sim que so os objetos que se conformam s faculdades do sujeito (Ibid, p. 110).
Percebemos, na epistemologia de Kant, orientao na mecnica newtoniana e
concepo da cincia como conhecimento universal considerando sua objetividade. Kant
concebe a cincia como forma de conhecimento objetivo.
Entretanto em Cassirer, observamos que ocorre a perda do carter universal quando
concebe o conhecimento e toda cincia, como uma construo simblica. Assim, a cincia,
como conhecimento simblico, deve ser levada ao mesmo nvel de comparao de outros
conhecimentos e formas simblicas.
Na segunda metade do sculo XIX, superada a hegemonia da mecnica como teoria
cientfica. Assim, Cassirer concebe a objetividade no mais como conceito de substncia, mas
como uma funo simblica de construo e interpretao do mundo. Uma caracterstica
apresentada por Cassirer (1977) como presente em toda produo cultural, abrindo a
possibilidade da construo simblica se apresentar de vrias formas. Consequentemente,
vrias formas de objetividade, defendendo um pluralismo.
Ao discorrer sobre O que o Homem Cassirer, (1977, p. 49) apresenta caractersticas
que marcam e tornam a vida humana distinta quantitativa e qualitativamente, trazendo
mudanas considerveis, constatadas no conceber de forma distinta, em seu crculo funcional.
23
Cassirer busca alguns autores para desenvolver a sua tese, como o pensamento de
Aristteles que qual nega a separao do mundo ideal do mundo emprico. Ainda apresenta
que o conhecimento cientfico no possvel somente pela percepo. [...] A percepo dos
sentidos, a memria a experincia, a imaginao e a razo esto ligadas por um elo comum (CASSIRER, 1977, p. 17). Estas so apenas etapas e expresses da atividade humana, que
apesar de levar o homem a atingir o mais alto estgio, partilhada por todos os animais e
formas de vida (Ibid., p. 17). Sendo assim, os sentidos presentes nas atividades humanas, seus
conhecimentos, assim como a natureza, fazem parte de um conjunto, para atingir sua mais alta
perfeio.
Alm de Aristteles, Cassirer faz referncia a Plato, Mileto, Herclito, Scrates e
outros filsofos pensadores, na busca da resposta para o que o homem. Refere-se a Scrates
como o que inicia o pensamento dialtico, possibilitando o conhecimento da natureza humana,
ou seja, no podemos conhecer a natureza do homem do mesmo modo que podemos
desvendar a natureza das coisas fsicas [...] o homem s pode ser descrito e definido nos
termos de sua conscincia (CASSIRER, 1977, p. 21).
Dessa forma, o homem, na busca de independncia, envolve vrios fatores, nas
atividades simblicas, encontramos presente suas necessidades. Com razes na crise do
conhecimento, os questionamentos e o desejo de remover barreiras para a formao do
esprito cientfico vm da sua conscincia e da busca pela compreenso dos fatos. Contudo, [...] a cincia pe ordem em nossos pensamentos, a moral em nossas aes e a arte na
apreenso das aparncias visveis, tangveis e audveis (CASSIRER, 1977, p. 265). Para
compreenso da complexidade da experincia humana, reconhecer essas diferenas torna-se
fundamental, indo ao encontro das questes relacionadas ao assincronismo de ideias,
questionamentos e produo dos portadores de altas habilidades.
1.2 O HOMEM UM ANIMAL SIMBLICO AS FORMAS SIMBLICAS
Segundo Cassirer (1997), o homem, como um animal symbolicum que , toma o
pensamento e o comportamento simblicos como caractersticos da vida e de seu progresso
cultural. De acordo com o autor, compreendemos que o homem se distingue dos outros
animais pela sua atitude simblica, na qual o objeto designado atravs do smbolo e pela
criao do smbolo, originando o mundo da cultura. A racionalidade no deixa de ser um trao
nas atitudes do ser humano, como trata a definio clssica do homem como animal
24
racional. Entretanto, a definio do homem como animal simblico mais ampla, contando
com reaes animais e respostas humanas.
Observando tais afirmaes no que se refere ao O Homem e a Cultura, Cassirer
(1977) faz referncia ao paradoxo das vrias teorias que tentaram conceituar a natureza
humana, levando em conta o instinto e a inteligncia. Assim, ele prprio traz uma
conceituao do objeto deste estudo, na filosofia das formas simblicas.
As construes culturais, para Cassirer (1977), partem de um histrico, em que as
condies da sociedade, momentaneamente ou historicamente, so construdas atravs das
relaes culturais que o homem possui. Estas relaes e aes humanas, construes culturais,
no foram construdas aleatoriamente e nem isoladas. O pensamento e comportamento
simblicos esto como aspectos caractersticos da vida e do progresso cultural do homem em
funo de sua sobrevivncia e adaptao.
Ao discorrer sobre a essncia e efeito do conceito de smbolo, Cassirer (1989)
compreende como forma simblica a energia espiritual intrnseca na experincia individual e
distinta vinculada ao sensvel e sagrada interiormente.
Estabelece, assim, a partir da realidade do ser humano, uma conexo com o
significante do universo simblico e o universo dos fatos, onde operam as formas simblicas.
Essa compreenso da energia espiritual posta por Cassirer a espontaneidade, a qual
imprescindvel numa percepo das sensaes exteriores que inclui o sensvel, mas tambm o
material e o intelectual, realizados em atividade espontnea e dinmica.
O homem constri um universo simblico pela arte, religio linguagem e mito. Na
linguagem, na religio, na arte e na cincia o homem no pode fazer mais que construir seu
prprio universo um universo simblico que lhe permite entender, interpretar, articular,
organizar, sintetizar e universalizar sua experincia humana (CASSIRER, 1977, p. 345).
Dessa forma, o homem considera todas estas as formas simblicas com o mesmo grau
de validade, embora a atividade simblica com suas inmeras possibilidades, baseado em suas
experincias, constri realidades com valores, significado, perspectivas e particularidades
diferenciadas. Vivendo em um universo simblico, representado por inmeros aspectos,
dentre eles a linguagem, o mito, a arte, a religio e a cincia, so dotados de imagens e
smbolos e no podem ser medidos por concepes empricas ou cientficas. Seu
entendimento torna-se desafiador.
Ao abordar a questo do mito, o autor o considerara como uma fico, apontando
direes para essa anlise: uma de estrutura conceitual e outra de estrutura perceptual. Traz
tambm a classificao dos objetos e os motivos do pensamento mtico. A forma dos
25
sentimentos apontada como verdadeiro substrato do mito e no, o pensamento
(CASSIRER, 1977, p. 134). Sendo assim, o mito no um produto terico, mas um produto
da emoo humana.
Quanto linguagem, Cassirer (1977) relaciona-a com frequncia razo. Esta foi a
primeira forma que o homem buscou para articular o mundo de suas percepes sensoriais.
Assim, no exprime pensamentos ou ideias, mas sentimentos e afetos. Como valor da
linguagem Cassirer apresenta trs aspectos:
1) O mitolgico que relaciona a linguagem ao mito.
2) O metafsico que relaciona a linguagem ao logos.
3) O pragmtico que relaciona a linguagem a teoria e regras.
Para Cassirer, a arte uma linguagem simblica e busca uma teoria metafsica da
beleza, afirmando que Nem a linguagem, nem a arte fazem uma mera imitao de coisas ou
aes; ambas so representaes (CASSIRER, 1977, p. 206). Quanto s produes artsticas,
o que se refere inteligncia e habilidade especfica, Cassirer afirma que [...] o artista
tanto um descobridor das formas da natureza quanto o cientista de fatos ou de leis naturais
(CASSIRER, 1977, p. 229). Produz o que no se pode dar regras, tendo como a originalidade,
prerrogativa e distino da arte.
So as relaes entre arte, linguagem, sociedade e religio que contribuem para o
desenvolvimento humano e o conhecimento de si mesmo. O autor fornece possibilidades para
a compreenso da originalidade de ideias, comportamentos e produes dos portadores de
altas habilidades/superdotao, considerando as suas reas especficas.
O autor busca compreender o homem e seu papel na natureza, considerando todos os
possveis contrastes, assim como os atritos, como foras do homem que se completam e se
complementam, indicando fatores determinantes para o desenvolvimento cientfico, no
processo de conhecimento do homem.
Em consonncia com Cassirer, Gardner, observa que, nos ltimos sculos, as inter-
relaes sociais em cada parte do mundo acabaram por trazer um ideal de ser humano (....),
sobretudo nas sociedades ocidentais difundiu-se um ideal: o da pessoa inteligente. Ao
aproximar a virada do sculo, dois novos virtuoses passaram a ser valorizados: o analista de
smbolos e o mestre de mudanas (GARDNER, 2001 pp. 11-12). O autor demonstra no
desdobramento de suas pesquisas que j surpreendem com seus resultados, no sentido de
compreender as necessidades de tais indivduos, e seu potencial transformador para o espao
geogrfico, quando possvel sua atuao. Os que tm a responsabilidade de guiar uma
sociedade esto sempre procura de jovens inteligentes (Idem, 2011. p. 12). O que h mais
26
de mil anos acontece, como a China que emprega a prtica de avaliaes que demanda esforo
intelectual na busca dessas pessoas, por saber do seu potencial transformado.
Percebemos na histria, como esclarece Cassirer (1977, pp. 271-323), vrias
definies sobre a natureza do homem so apontadas como enganadoras ou contraditrias. O
pensamento histrico pela multiplicidade de objetos e temas se distingue do cientfico.
Alm disso, o autor considera que a conceituao da natureza humana deve considerar
o reconhecimento da caracterstica do homem e da sua capacidade de trabalho, estabelecendo
um sistema de atividades que faz parte de toda humanidade. Por essa razo, esta conceituao
deve ser entendida como funcional, assim como para anlise da natureza humana, esto as
atividades simblicas, as quais envolvem os signos e sinais como abordaremos a seguir.
1.3 SMBOLOS E SIGNOS SINAIS
Cassirer nos alerta para o cuidado na distino entre sinais e smbolos. Os smbolos
no podem ser reduzidos a sinais, pois estes possuem universos distintos: um sinal faz parte
do mundo fsico do ser; um smbolo parte do mundo humano do significado. Os sinais so operadores e os smbolos so designadores (CASSIRER, 1977, pp. 58-60). Nos smbolos
esto a melhor forma de formulao possvel, para algo que no conhecido, por esta
razo, no pode ser claramente representada (Ibid. p. 58). Portanto, as relaes simblicas so
relaes significativas atravs das atividades simblicas, no constructo espao geogrfico.
Isso nos traz reflexo dos significados e concepes, quanto a relao das coisas do mundo e
do esprito.
Os signos ou sinais tem relao com o que se refere. Compreendemos ento a
dependncia do pensamento relacional. Este depende do pensamento simblico. No que se
refere percepo de tais relaes, para Cassirer (1977), esta no especfica da conscincia
humana. Os signos e smbolos so produzidos nas atividades humanas, permitindo um acesso
intersubjetivo, possibilitando a intuitividade necessria para fixar os significados. No mundo
fsico, artificial ou convencional onde se encontra, refere-se a alguma coisa de um modo fixo,
singular, sensvel dotado de significado.
Um smbolo no possui existncia real como parte do mundo fsico, sim um significado. No pensamento primitivo ainda muito difcil distinguir entre as
duas esferas do ser e do significar por se encontrarem constantemente confundidas:
o smbolo considerado como se fosse dotado de poderes mgicos ou fsicos. Mas
no progresso ulterior da cultura humana sente-se claramente a diferena entre as
coisas e o smbolos, o que quer dizer que a distino entre realidade e possibilidade
tambm se torna cada vez mais pronunciada (CASSIRER, 1977, p. 98).
27
Assim, o smbolo se torna essencial na busca da conscincia da existncia humana
compreenso da realidade e sua construo. O smbolo, segundo Moura, (2000, p. 82). tem
a capacidade de nos indicar, de representar, remetendo-nos s coisas, exprimindo-as, no s
atravs de palavras, mas pelas ideias, valores, referentes at os seres inexistentes, visto ser a
linguagem simblica inseparvel da imaginao.
Dessa forma, se exclussemos os smbolos, no poderamos conhecer a realidade, pois
fazendo parte das atividades humanas, so os signos e smbolos que constroem a realidade
objetiva. Na obra de Cassirer podemos perceber que o autor deixa claro que o acesso
realidade se d atravs da construo simblica em diferentes perspectivas e formas
simblicas, excluindo assim o acesso imediato realidade. Nesse processo, se torna
imprescindvel a captao do sensvel, para a qual, a espontaneidade fator fundamental.
um smbolo consiste num dado sensvel que possui significado, seja ele signo ou
no. Segundo Cassirer, todo dado sensvel carregado de sentido pela percepo
que impregnada simbolicamente. Ou seja, toda percepo do mundo simblica,
isto , no existe um dado sensvel puro ao qual seja atribudo sentido posterior, mas
sim dados sensveis j concebidos com sentido, como smbolos (FERNANDES,
2006, p. 22).
Nessa percepo de mundo, o homem vive de relaes individuais e coletivas. Com
isso, [...] o homem no vive em um mundo de fatos nus e crus, ou segundo suas
necessidades e desejos imediatos. Vive antes em meio a emoes imaginrias, em esperanas
e temores, iluses e desiluses, em suas fantasias e sonhos (CASSIRER, 1977, 49). No seu
cotidiano, interagem com concepes, valores, contradies e descobertas, com significados
diferentes. Estes fatores nos envolvem, habitam e impulsionam representao, levando ao
que Cassirer destaca ser inegvel que o pensamento simblico e o comportamento
simblico tenham traos mais caractersticos da vida humana e que todo processo da cultura
humana est baseada nessas condies (CASSIRER, 1977, p. 141).
Sendo assim, a necessidade do smbolo gerada pela percepo humana. As coisas, ao
seu entorno, transcendem apenas o seu carter fsico. A excluso dos smbolos,
impossibilitaria reconhecer a realidade, uma vez que estes fazem parte das atividades
humanas. Signos e smbolos constroem a realidade objetiva, com significados e valores
diferenciados, na qual o tempo e o espao faz parte nessa anlise.
oportuno enfatizar a permanente construo do espao pelo conjunto de aes
humanas e fenmenos fsicos ocorridos naturalmente, saturando o poder e vigor evolutivos,
observado e descrito por autores de diversas linhas de pesquisa.
Observamos uma das primeiras definies de espao feita por Aristteles que o
considera composto por objetos, uma ausncia de vazio, necessitando de outro corpo como
28
referncia para a localizao dos demais e deixa de lado o elemento humano como parte de
sua composio.
No sculo XVIII, Kant considera as formas de sentido e a percepo de uma realidade
espacial. O espao permite os meios de percepo. Para o autor, tem estrutura e significados
prprios. Ratzel considera o espao como fundamental para a vida definindo-o como
espao vital. Este contm as condies e as formas naturais ou produzidas pelo homem
para a sua sobrevivncia. J Hartshorne (1978), em Propsitos e natureza da Geografia,
aponta que os fenmenos humanos e naturais fazem parte da formao do espao,
seguidamente da converso em territrio e territorializao, em vista de seu uso. Um espao
um fenmeno absoluto dentro da realidade independente de qualquer coisa.
Por sua vez, Bollnow adverte que assim como o espao intencional se estrutura ao
redor do homem que percebe e se movimenta, necessariamente referido ao local em que se
encontrar o homem como sendo seu centro (BOLLNOW, 2008, p. 291).
Santos esclarece que O espao deve ser considerado como um conjunto de relaes
realizadas atravs de funes e de forma que se apresentem como testemunho de uma histria
escrita por processos do passado e do presente (SANTOS, 1980, p. 122). Dessa forma, o
autor leva em conta o tempo e considera as relaes sociais como ativas e favorecedoras de
ocorrncias, na construo do espao e acolhimento das suas peculiaridades, chamando a
ateno para considerar o espao como uma categoria de anlise nas reflexes do pensar
filosfico.
Contudo, na anlise e interpretao de sua construo do espao, Costa Silva explica
que A evoluo do espao acompanha o movimento da totalidade social que assume formas
diversas e diferenciadas nos lugares, regies e territrios, onde se cristalizam esses processos (COSTA SILVA, 2014, p. 83). Esta compreenso, de acordo com o autor, d-se atravs da
anlise das categorias de sistemas de aes e de objetos.
A cincia geogrfica permite a anlise do espao como habitat do homem, num
apoderamento que envolve seus conhecimentos. Com base nisto, podemos observar as
consideraes de Dardel, para ele, homem [...] construtor de espaos, abrindo vias de
comunicao: caminhos, pistas, estradas, vias frreas, canais so maneiras de modificar o
espao, de o recriar (DARDEL, 2011, p. 29). Esta anlise traz as consideraes dos
fenmenos humanos, naturais e suas relaes.
Dando andamento a essa compreenso do espao, na fenomenologia, temos Tuan, o qual
destaca que [...] O lugar segurana e o espao liberdade: estamos ligados ao primeiro e
desejamos o outro (TUAN, 1983, p. 11). Nessa reflexo observamos as representaes dos
29
aportes apresentados nos clssicos da Geografia, os quais trazem as questes espaciais ligadas
com o ser humano, para a qual reconhecemos a importncia da contribuio de Cassirer
(2012) com o pensar humano; Bachelard (1996), com a Potica do espao, afirma o valor da
relao que envolve o ser humano e o espao.
Na evoluo dessas reflexes, observa-se que a necessidade do ser humano de
estabelecer pontos como referncias, estabelecidos antes mesmo da era Crist. Em Cassirer
(1977) com seu pensamento sobre o homem como animal simblico e Tuan (1983) tambm
com sua geografia mtica, explicam a prtica humana inserida num espao macro.
Alm disso, Bollnow (2008) considera a percepo para compreenso do espao. O
acima, abaixo, ao lado, esquerda, direita, entre outros, como direes dadas pelo ser
humano, estabelecendo limites com o dentro e o fora. O mundo externo se representa nelas
como o mbito das decises necessrias (BOLLNOW, 2008, p. 75). Assim, toma a morada
como referncia e desassossego humano, em busca de outros espaos. Fora dela, de seu
interior, visto como espao de segurana, o homem pode seguir na direo que desejar.
Abaixo, para a esquerda ou direita e a partir dos inventos pode ir tambm para cima ou por
cima.
Considerando o ponto de partida, no sentido clssico das cincias geogrficas, a
superfcie terrestre, para Quaini (1983), a razo maior do estudo de geografia o ser humano.
Nesse sentido, contribui Bollnow (2008), em O Homem e o Espao, discorrendo sobre o
espao, que em sua concepo ampliado ao redor do homem, o qual no leva o espao
consigo, ou seja, o homem no esttico e o espao fixo. O autor faz a reflexo de que o ser
humano traz em si a necessidade de ter um ponto de partida, um ponto para retornar, uma
morada.
Nesse sentido, o horizonte est como o espao que os olhos alcanam. Para Bollnow,
Em geral, o horizonte no se estreita s pessoas, mas ao contrrio: abre-se frente delas
num campo vasto de sua viso e de seu movimento rumo ao espao (BOLLNOW, 2008, p.
75). O horizonte pode ser considero o lugar onde se deseja chegar. Entretanto pode ser visto
tambm como inatingvel. Dessa forma, o ir e vir, abrindo e edificando novos caminhos, faz
parte da articulao do ser humano.
Nessa articulao est o ser humano e sua ao transformadora, apresentada nas
diferentes linhas de pesquisa por Ratzel, Bollnow (2008), Quaini (1983), Cassirer (1977)
Tuan (1983), Bachelard (1996), Sposito (2004), Dardel (2011), Santos (1980), com isso,
vemos a importncia do ser humano e de suas aes na construo do espao tratado nessa
pesquisa. No contexto importante destacar as concepes de Cassirer a seguir.
30
1.4 ESPAO E TEMPO POR CASSIRER
Este texto se apresenta a partir da filosofia das formas simblicas de Cassirer. Foram
oferecidas inmeras possibilidades de anlise do espao e tempo a partir de 1990, com a
transformao das anlises da espacialidade nas Cincias Sociais e a transformao cultural na
Geografia, com referncia nessa data.
O espao visto, a partir da inevitabilidade, indispensabilidade para a vida humana,
afirmado como espao simblico, um espao de representaes. Sendo assim, para
(CASSIRER 1977, pp. 49-50), O homem j no vive em um universo puramente fsico,
mas em um universo simblico Atravs das formas simblicas, criadas por ele, ocorrem as
relaes com o outro, em busca da compreenso de sua humanidade e de sua liberdade para
um construto significativo.
[...] se v que o mundo do homem certamente, em sua origem, mundo de ao e de
obra, porm que no encontra seu ponto culminante seno nesta transformao num
mundo do smbolo e da funo. Esta evoluo no p arbitrria, seno necessria;
em um sentido da prpria humanidade genuna, cujo interior do homem, ao
conhecer-se, deve atualizar e compreender sua liberdade (CASSIRER, 1989, pp. 73-
74).
Dessa forma, na ao dos homens com seus feitos, gera sua expresso e sua
espacialidade. Nesse constructo e na sua orientao, o espao est em consonncia com a
realidade intuitiva. Para o autor, em sua obra A filosofia das formas simblicas Fenomenologia do conhecimento terceiro captulo, a existncia intuitiva faz parte de uma
realidade de fenmenos em coisa que representa e coisa que representada (Ibid, p. 75).
Tal fenmeno, a partir de sua ligao central, forma suas com caractersticas e
orientaes especficas, inteligvel em suas articulaes. O autor distingue as espacialidades
dos mundos significativos:
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Quadro 1: Espacialidade dos mundos significativos Tipo de Definio
espacialidade
A espacialidade Que corresponde ao mundo de aes e obras vividas, enquanto tal, onde a conscincia expressiva e mtica impe sentidos substitutivos a esta realidade de eventos em seu processar de
perceptual conformao simblica.
A espacialidade Que corresponde ao mundo de representaes simblicas, operado pela linguagem. A representativa linguagem a conexo entre o mito e o logos, por conseguinte, opera uma mediao necessria da esfera do discurso mtico sobre o mundo, configurando e articulando um mundo da representao. Desse modo, revela uma cunha dialgica entre a expressividade
mtica e o mundo abstrato do logos.
A espacialidade Que corresponde s expresses e representaes artsticas. A arte um movimento
esttica intencional de manifestar uma realidade. Um processo de descoberta ligado conscincia das formas puras, que possibilita manifestarmos as formas visuais e estruturas puras. Sob esta interpretao vivemos mais no domnio das formas puras do que na anlise e escrutnio de objetos sensoriais, ou do estudo de seus efeitos (CASSIRER, 1977, p. 236). Sob este aspecto, a percepo esttica vai alm do aspecto sensorial, ela se apresenta em uma complexidade de variadas possibilidades consubstanciadas em realidades pelo
artista. De certo modo, a riqueza da arte est na liberdade de inmeras aproximaes da
realidade.
A espacialidade Que se configura como o mundo das representaes religiosas e o mundo da moral. Para do pensamento Cassirer, no h uma diferena radical entre o pensamento mtico e o religioso (no que religioso tange morte, por exemplo). Ambos tm origem nos fenmenos fundamentais da vida humana (CASSIRER, 1977, p. 145). No dizer cassirerian, o mito religio em potencial, assim como seria difcil separar as fontes da religio e da moralidade. De fato, a
religio tende a cumprir uma funo terica e outra prtica. Ela manifesta um discurso coerente sobre o mundo e o ser humano e, partir desta referncia, ordena aos seres humanos, aes normativas diante da vida relativas prtica moral e ao alinhamento
tico. Neste ponto, podemos discernir o momento que a religio rompe os limites
simpatticos do mito se dirige ao logos. Neste ponto se admite a individualidade do ser
humano e, portanto, a sua liberdade. As religies de convergncia tica abriram um
aspecto do Divino, no evidente nas manifestaes mticas, de fato a ideia de uma divindade universal supera as ambiguidades do pensamento mtico; pois sua natureza, no
est presa na relatividade do bem e do mal, prprios da imaginao mtica, mas pauta por
uma vontade moral pessoal. Ou seja, o sentido tico superou o sentido mgico. Portanto, a articulao racional da tica religiosa e suas concepes do ser humano e do mundo so
agora articuladas no discurso religioso. E esta espacialidade contextual que verificamos, tanto no discurso fundador de textos sagrados, como no discurso religioso deles derivados.
A espacialidade Abstrata, prpria do mundo das cincias exatas, mediada pelo logos ou dimenso da lgico-relacional abstrao impessoal que possibilita um sistema formal significativo. As coisas so
submetidas universalidade do conceito cientfico. O conceito cientfico se apresenta como a explicitao da prpria dinmica do nosso pensamento que se expressa pela relao, funo e nmero. So realidades
concebidas pelo intelecto, a exemplo do espao geomtrico.
Fonte: Cassirer (1989) [Adaptado].
Para esse constructo, a relao com o outro e a percepo que ordena as articulaes
no ir e vir, abrindo e edificando novos caminhos, faz parte da articulao do ser humano.
O espao de representao refere-se a uma instncia da experincia da espacialidade
originria na contextualizao do sujeito. Sendo assim, trata-se de um espao
simblico que perpassa o espao visvel e nos projeta no mundo. Desta maneira,
articula-se ao espao da prtica social e de sua materialidade imediata [...] Deste
modo, a percepo do indivduo o que edifica o conhecimento do espao e, assim,
estrutura um segundo espao. Contudo, o pensar e a ao do sujeito perpassam a
possibilidade de haver representaes de carter social. Muito mais que uma
observao ou opinio sobre o mundo, o ato de representar a expresso de uma
internalizao da viso de mundo articulada que gera modelos para organizao da
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realidade [...]. O espao de representao refere-se a uma instncia da experincia
originria na contextualizao do sujeito, Sendo assim, trata-se de um espao simblico que perpassa o espao visvel e nos projeta no mundo, desta maneira,
articula-se ao espao da prtica social e de sua materialidade imediata (GIL FILHO, 2003, p. 3).
Nesse raciocnio, Lefebvre (2006) entende o espao geogrfico como produto da
sociedade, fruto da reproduo das relaes sociais de produo em sua totalidade. Apresenta
quatro abordagens do conceito de espao:
1) O espao como forma pura;
2) O espao como produto da sociedade;
3) O espao como instrumento poltico e ideolgico;
4) O espao socialmente produzido, apropriado e transformado pela sociedade;
5) Com relao analise do espao social Lefebvre (1976) destaca trs vertentes:
6) O espao percebido, do corpo e da experincia corprea, ligado s praticas
espaciais;
7) O espao concebido ou espao do poder dominante e da ideologia;
8) O espao vivido que une experincia e cultura, corpo e imaginrio de cada um de
ns; o espao da representao.
Nessa vertente, esta pesquisa observa o espao vivido como fonte de dados para sua
realizao, trazendo a importncia de abordar o tempo, espao e signos. Em consonncia com
Lefebvre, consideramos fundamental o que esclarece Gomes (2007) sobre o tema:
O espao vivido deve, portanto, ser compreendido como um espao de vida,
construdo e representado pelos atores sociais que circulam nesse espao, mas tambm vivido pelo gegrafo que, para interpretar, precisa penetrar completamente
este ambiente (GOMES, 2007, p. 319).
O espao vivido pode ser considerado como uma primeira aproximao ao estudo do
espao, definindo suas primeiras impresses da realidade, estabelecendo a relao, dando
importncia para entender as dinmicas na construo do espao, o autor leva-nos
compreenso de que o papel do gegrafo est na observao e anlise das relaes entre o
homem e o ambiente e o homem e a sociedade, tratando do homem e do meio em que vive;
suas relaes sociais e seu desenvolvimento, buscando a compreenso de sua inteligncia
diferenciada da inteligncia dos animais atravs de suas manifestaes.
Cassirer ainda explica que: [...] nem esta inteligncia e esta imaginao so do tipo
especificamente humano. Em suma, podemos dizer que o animal possui uma inteligncia
prtica, ao passo que o homem criou uma forma nova; uma imaginao e uma inteligncia
simblica (CASSIRER, 1977, p. 62).
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Abandonando a ideia que parte de objetos do conhecimento, para Kant, tal reflexo
deve partir da prpria razo. A razo, o espao-tempo so categorias a priori, sendo a razo
anterior e independente da experincia. O espao-tempo desenvolve a percepo existe que
ns ou em nossa conscincia antes mesmo da experincia. Ainda considera que a existncia
do emprico depende da experincia.
Nesse sentido, a capacidade de percepo, conscincia e organizao ocorre, de acordo
com Da Matta (1993), pelo fato do homem ser um indivduo dotado de natureza superior, estando
nele a capacidade para o isolamento de fatores perceptuais, assim como a percepo da distino
da razo. Comparado aos animais, apresenta um diferencial dado pela sensibilidade e percepo
no que se refere razo. Esta possibilita o diferencial nas decises, nas suas aes e conquistas de
espao e territrio, nessa possibilidade podemos observar que para compreendermos as questes
do espao perceptivo [...] preciso antes analisar o espao simblico [...] fronteira entre o
mundo humano e mundo animal (CASSIRER, 1977, p. 77).
Desenvolvendo o pensamento sobre as vrias formas de espao, o autor (1977) destaca
o espao orgnico, no que diz respeito ao espao da ao, fazendo um paralelo entre o homem
e o animal. Ao nascer, o animal j possui certas habilidades, enquanto o homem nasce
totalmente dependente. Entretanto, com o tempo, em um processo complexo, o homem
desenvolve outras habilidades.
A ideia de espao abstrato considerada pelo autor como a mais importante
descoberta do pensamento grego. O espao abstrato, como afirma Cassirer (1977), no se
fundamenta na realidade fsica ou psicolgica, mas sim com a verdade de proposies e
juzos. Atravs do olhar, pela histria da/na cultura humana, observa-se a percepo mltipla
das coisas. Estas tm amplas relaes que trazem a possibilidade de desenvolver uma
concepo de ordem csmica.
Quando Cassirer (1977) se refere ao tempo, observamos que ele possui uma reflexo
que apresenta um desenvolvimento semelhante ao problema do espao. Nessa reflexo, Kant
(2001) nos esclarece que o espao constitui nossa experincia exterior e o tempo constitui
nossa experincia interior. Simultaneamente com iguais importncias para a construo do
mundo humano tambm colaboram para o entendimento desses dois aspectos metafsicos o
tempo e o espao o desenvolvimento da teoria mecnica da memria de Bergson. Nesse
processo reflexivo, verdadeiramente importante, o objetivo de Cassirer foi de alcanar uma
fenomenologia da cultura humana. Entre os aspectos humanos, o autor enfatiza as
experincias que partem da memria simblica.
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Assim, o tempo um elemento transformador do sentido e do significado atribudos ao
espao. Nele est registrada a variabilidade de significncia e representao da espacialidade,
juntamente com a subjetividade e flexibilidade da evoluo.
1.5 O SIGNIFICANTE, O SIGNIFICADO E AS REPRESENTAES COMO CHAVES
DA GEOGRAFIA
A geografia humanstica est alicerada na subjetividade que, segundo Correa (2006),
firma-se tambm na intuio, nos sentimentos, na experincia, no simbolismo, na
contingncia, privilegiando o singular e no o particular ou o universal; e ao invs da
explicao, tem na compreenso a base de inteligibilidade do mundo real. Existe na geografia
a preocupao com as relaes sociais que organizam e constroem os espaos, significados
subjetivos e suas causas. Tais experincias vividas trazem efeitos imediatos sobre o espao.
Os estudos apresentados por Correa (2009) propem que estrutura, processo, funo,
forma e significados devem ser vistos como fundamentais para a anlise geogrfica, como
caminhos possveis para enriquecimento da geografia. Ou seja, a estrutura, o processo, a
funo e a forma, repletos de significados, fazem parte da anlise do espao geogrfico. Dessa
forma, atravs dos diferentes significados das formas e funo, postos por diferentes
interpretaes de cada grupo social, se define a ao humana e podemos reconhec-la quando
se revela espacialmente.
Desenvolvendo essa compreenso, Cassirer (2001) considera que analisar a
organizao, constituio e estrutura espacial no basta para compreenso da realidade social
e suas transformaes. preciso considerar os significados criados pelas pessoas ou coletivos
atravs de suas prticas sociais, em que o meio e as condies sociais so fundamentais na
construo dos significados. Encontramos em cada indivduo vises de mundo, resultado de
experincias individuais e coletivas distintas, que propiciam a construo de diferentes
realidades com significados prprios.
O autor enfatiza que o processo, a forma e o significado se complementam e
complementam as categorias de anlise geogrficas, considerando como fundamentais as
complexas relaes humanas. Por isso conta com as criaes e recriaes impregnadas de
sentidos, pela necessidade de ir alm da organizao dos grupos sociais, de sua estrutura
construda e a construo de seus smbolos nessa espacialidade.
Tais condies espaciais, j mencionadas, so importantes na anlise da realidade e
possibilidade. Cassirer (1997) considera incerta a diferena entre os dois termos, quando a
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funo do pensamento simblico se torna obscurecida pelas condies espaciais. Tais
condies trazem consigo a complexidade das concepes e interpretaes, sentimentos e
emoes envolvidas naquele momento em um processo de valorizao, como confirma
Correia: As formas podem ser vistas em muitos casos, como formas simblicas espaciais
[...], mantendo com o espao profundas relaes de mo-dupla: so valorizadas pela sua
localizao, ao mesmo tempo em que estas so por elas valorizadas (CORREIA, 2009, p. 4).
Portanto, a interpretao da espacialidade criada e seus sentidos so fundamentais para
a compreenso da realidade social, conforme confirma Cosgrove, toda atividade humana
ao mesmo tempo material e simblica, produo e comunicao (COSGROVE, 2003, p.
103). Tal afirmao est fundamentada na anlise do cotidiano em que se vivenciam as
experincias, firmando seus significados, interpretaes (sentidos) dos signos atravs das
quais so construdas diferentes espacialidades.
As interpretaes (sentidos) dos signos reproduzem no espao uma grande
variabilidade de intenes e objetos existentes na sociedade. Mas esta variabilidade
no significa que as relaes sgnicas so aleatrias e livres. Ao contrrio, elas so
embutidas em contextos sociais claramente delimitados e localizados em regies
sociais. [...] o entendimento dos signos essencial para a geografia e sua
epistemologia espacial. Os signos, sim, participam na construo dos espaos, mas
so apenas formadores mentais de espacialidades (SAHR, 2007, p. 63).
Existe uma complexidade de elementos, uma reunio das observaes da realidade
material e imaterial e suas relaes, resultando nas representaes simblicas. Esclarece Silva
(2010, p. 69) que [...] o espao surge em primeiro lugar, como configurao e objeto da
percepo imediata da realidade, ou seja, trata-se de um mundo fenomnico e que passa a ser
e ter sentido quando provido de valor simblico Dessa forma, torna-se imprescindvel ao
homem o acesso subjetividade, percepo e intuitividade para afirmar os significados.
Podemos comprovar atravs da histria da linguagem, assim como outras
representaes simblicas ao redor do mundo que em diferentes perodos estas representaes
e subjetivaes afirmam sua presena de diferentes modos, nas diversas espacialidades e
experincia vividas. Flvio (2013, pp. 138-139) assegura que: A subjetividade, imbuda de
pensamento e vontade, instncia reflexiva e deliberante, capaz de projeto histrico, alterao
daquilo que foi institudo. Ou seja, a sociedade algo institudo, mas tambm instituinte.
A histria referente s AH/SD pautada em experincias individuais e coletivas que
propicia a reflexo sobre as variveis dos significados para as pessoas e coletivos. A crena da
inteligncia perfeita, a interpretao e valorao de suas manifestaes diferenciadas,
envolvem tais as subjetivaes no tempo, do espao, e os valores de suas subjetivaes. Estas
pessoas possuem caractersticas particulares como ser demonstrado nos prximos captulos.
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CAPTULO II
PESSOAS COM ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTADAS
Figura 3: Stephen Hawking
Figura 4: Daiane dos Santos
Fonte: http://www.cotiatododia.com.br/daiane-dos-santos-leva-ouro-na-copa-do-mundo-de-ginastica-da-alemanha/
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Stephen_Hawking.
A cor do cu depende da hora, do tempo e de quem olha. Quem
Diz que o cu azul nem desconfia que, noite, ele pode ser
Preto e, quando vai anoitecendo, pode ser at rosa ou vermelho.
Quem diz que o cu azul analfabeto de cu (6 anos)
(SABATELLA, 2005, p. 44).
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Trouxemos a figura 3 e 4 na abertura do captulo, imagens de Daiane dos Santos e
Stephen W. Hawking para apoiar a reflexo sobre as formas que a alta
habilidade/superdotao pode existir e a complexidade que a cerca.
Buscamos neste captulo expor a fundamentao terica relativa s Altas
Habilidades/superdotao/espao, na tentativa de articular a temtica cincia geografia.
Existem muitas carncias quanto produo cientfica no Brasil em relao s
pesquisas na rea das Altas Habilidades/Superdotao (AH/SD). Esta uma rea de pesquisa
em expanso no pas e no mundo. As pesquisas que envolvem estes indivduos esto voltadas
para a educao e para a psicologia, no havendo, at o momento, abordagens sobre altas
habilidades/superdotao nas cincias geogrficas. Nesse sentido, indica que as pesquisas, nas
cincias geogrficas, ainda no contemplam todos os recantos de seu territrio.
As pessoas com AH/S so sujeitos produtivos e como tal, se fazem necessrios estudos
especficos, que possam auxiliar para o conhecimento mais aprofundado de sua contribuio
na construo do espao geogrfico, assim como possam cooperar para a incluso dos
mesmos no espao social.
2.1 HISTRICO DE PESQUISAS EM ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAO
As poucas teses de doutorado no Brasil, que se dedicaram exclusivamente ao campo
das AH/SD, se preocupam com a educao de crianas e adolescentes. Estas teses at agora
defendidas, constituem avanos importantes na compreenso da Pessoa com Altas
Habilidades/Superdotao (PAH/SD), seus comportamentos e a forma de identific-la,
revelando tambm um panorama existente em relao a esses indivduos em algumas regies.
De acordo com o Banco de Dados da Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de
Nvel Superior (CAPES), afirma Perez que [...] em nosso pas, existem apenas sete teses de
doutorado com foco nas AH/SD defendidas entre 1987 e 2006 (PEREZ, 2008, pp. 18-19), as
quais esto apresentadas a seguir:
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Quadro 2: Teses de Doutorado com foco nas AH/SD defendidas entre 1987 e 2006 ANO AUTOR(A) TTULO DA OBRA INSTITUIO RESUMO
1989 Ceclia Irene Os chamados superdotados: a Universidade Federal do Rio Neste trabalho foram discutidas, criticamente, as principais ideias e as posies Osowski produo de uma categoria Grande do Sul. Faculdade de sobre a questo da distribuio dos dotes, em especial em nvel de Brasil. Foi
social na sociedade capitalista Educao. Curso de Ps- feita uma anlise crtica da teoria dos dotes de Plato, situando as ideias desses
Graduao em Educao. filsofos, no contexto social da Grcia Clssica dos sculos V e IV a.C.
2001 Cristina Sucesso e fracasso escolar de Faculdade de Educao da Este trabalho identifica e analisa atravs dos depoimentos de alunos, as formas Maria alunos considerados Pontifcia Universidade pelas quais a escola lidou com alunos considerados superdotados e
Carvalho superdotados: um estudo sobre a Catlica de So Paulo encaminhados para atendimento educacional em salas de recursos de escolas da
Delou trajetria escolar de alunos que rede pblica de ensino do municpio do Rio de Janeiro. A pesquisa emprica
receberam atendimento em salas levantou o perfil social do alunado, investigou
de recursos de escolas da rede
pblica de