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Especial Anamã - Caderno especial Anamã do jornal Amazonas EM TEMPO
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EspecialCa
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[email protected], DOMINGO, 31 DE MAIO DE 2015 (92) 3090-1017
A cidade queo rio engoliu
ANAMÃ
Anamã (AM) – A primeira imagem que se tem de Anamã – a 160 quilômetros de Manaus –, nos remete a uma “Veneza” perdida nos trópicos. Mas, contemplando sem romantismo as cenas curiosas da movimentação sobre as águas do Solimões, que há três meses engoliram a cidade, o quadro nos remete a uma outra lembrança: a do fi lme pós-apocalípto “Waterworld - o segredo das águas”, protagonizado e fi nanciado por Ke-vin Costner, onde, num futuro indeterminado, a calota polar derreteu e toda a superfície terrestre foi coberta pela águas, formando um cenário ecologicamente devastado.
MÁRIO ADOLFOEquipe EM TEMPO
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CIDADE FLUTUANTE
Desde março, o Solimões sobe o volume de água todo dia, de três a quatro centímetros por dia, mas a vida em Anamã tem que seguir em frente
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G2 Especial MANAUS, DOMINGO, 31 DE MAIO DE 2015
Anamã é “Waterworld”, com a di-ferença de que, apesar de inundada pelo mundo de água do Solimões, não está devastada. A 32 centíme-tros da grande enchente de 2012, o município revive o trauma do avanço das águas do Solimões que se repete todos os anos, quebrando a rotina e a paz de seus habitantes. Apesar do furor do Solimões, que desde março sobe o volume de água todo dia, de três a quatro centímetros, a vida tem que seguir em frente. Anamã está 100% embaixo d’água, mas seus habitantes seguem a rotina, apenas substituindo motocicletas, bicicletas e os poucos carros por canoas. De manhã cedinho, o “trânsito” é intenso, eles vão à padaria, à farmácia, ao posto de saúde, ao banco eletrônico, ao mercado e até fazer uma fezinha na Loteria da Caixa remando, ou des-lizando suas voadeiras pelas “ruas” que viraram rios há três meses.
Homens, mulheres com bebês no colo, velhos, jovens e crianças cruzam as águas entre casas alagadas até a janela. Algumas seguram som-brinhas para se proteger do sol. Outros conduzem seus cachorros na proa, com medo que se afoguem ou que sejam atacados por cobras ou piranhas.
No meio dos canais, que os cabo-clos de Anamã insistem em chamar de “rua”, crianças mergulham em algazarra, nadando ao lado de ca-chorros. Os menores são banhadas por suas mães. A cena é intrigante. Os cachorros não são colocados na canoa para evitar ataques de co-bras?, questionamos.
— Vocês não têm medo de cobras ou piranhas?
— Isso é onda. Nunca vi cobra comer cachorro por aqui! – responde rindo o garoto Francisco, 13, que da varanda de sua casa salta para o mergulho, dando pulos de rã.
Por ter dois andares, o hotel Samaú-ma é o único que consegue atender à baixa temporada de visitantes que chegam à cidade. Na recepção, uma cena exótica assusta e ao mesmo tempo faz rir. Com a água no meio da canela, a recepcionista Ione Marinho Ladislau explica que tem aparta-mentos vagos, “mas só no andar de cima”; pois o térreo está alagado. Explica também que a diária vence ao meio-dia e que custa R$ 50. Em meio à recepção de boas-vindas, peixes, nadam por entre as pernas dos assustados hóspedes.
— Se a gente contar isso fora da Amazônia ninguém vai acreditar – comenta o repórter fotográfico Ricardo Oliveira.
As águas já cobriram a entrada do Samaúma, e o acesso à recepção é feito sobre marombas – assoalhos de tábuas erguidos acima do piso coberto de água –, com o cuidado de abaixar a cabeça antes de cruzar o portão.
— À noite tem muito carapanã? –, pergunto, preocupado com o perigo de água empoçada e com o mosquito da dengue, um velho conhecido das regiões amazônicas.
— Com isso podem ficar tranquilos. As águas que invadem a cidade são correntes. O Solimões é um rio de cor-renteza forte. Viu como as crianças tomam banho em frente de casa sem perigo algum? — garante Ione.
— E cobra, tem?— Meu amigo, com esse mundão
de água, nem cobra quer ficar por aqui! – tranquiliza a recepcionista.
Meu amigo,com esse
mundão deágua, nem cobra
quer ficar por aqui!
RECEPCIONISTADO SAMAÚMA
CIDADE FLUTUANTE
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O garoto rema para chegar até a Igreja de São Francisco, o único prédio que, “milagrosamente”, a água não invadiu
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O GUARDIÃO DAS ÁGUASFaltam 32 centímetros para o Solimões superar a enchente de 2012,
avisa Wilson Soares, que mede a subida do rio todos os dias.
Na última quarta–feira (21), a régua da cota d’água marcava 1,70 metro. O agricultor Wilson Soares da Silva e sua mulher,
Alderi Coelho Bruno, que fazem a medição por conta própria numa régua artesanal fincada no terreiro (hoje lago) de sua casa, avisa, depois de conferir a última marca:
— A cheia deste ano já superou a de
2013 e 2014. Faltam apenas 32 centí-metros para superar a de 2012.
A preocupação do guardião das águas tem razão de ser. A cheia histórica de 2012 foi a maior de todos os tempos, quando o velho Solimões atingiu a marca de 2,01 metros.
A preocupação é que, pela subida diária do rio, a enchente de 2015 possa superar a de 2012, quando o nível do rio Solimões atingiu 1,5 metro acima do que os habi-tantes consideram uma cheia como a de
todos os anos. Aquele ano foi mesmo algo fora do comum.
No total, 52 municípios do Estado do Amazonas foram inundados pela grande enchente no Amazonas. Mais de três de-cretaram estado de calamidade. Anamã foi um deles.
— Dizem que lá em Tabatinga a água está baixando. Mas, eu não acredito, não. De ontem para hoje, por aqui, a água subiu 3 centímetros –, avalia o guardião das águas de Anamã. (MA)
MÁRIO ADOLFOEquipe EM TEMPO
Wilson Soa-res da Silva mantém uma régua no local onde já foi o terreiro de sua casa. Todos os dias ele faz a me-dição e avisa a comunidade sobre a subi-da das águas
CIDADE FLUTUANTE
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O MESTRE DOS RIOSAs chuvas intensas nas ca-
beceiras do rio Solimoes e seus afluentes são a causa da grande cheia do rio Solimões que colocou 23 municípios, no Estado do Amazonas, em situação de emergência.
A avaliação é do pesqui-sador Jochen Schongart, do Instituto Nacional de Pes-quisas da Amazônia (Inpa/MCTI), que atua no desenvol-vimento de modelos de previ-são de níveis d’água (cheias) na Amazônia Central. Nesta entrevista ao EM TEMPO, o pesquisador garante que a evolução da enchente deste ano é muito similar às en-chentes dos dois anos ante-riores (2013 e 2014).
— Isso indica que a cheia deste ano chegará em co-tas máximas similares, isto é, abaixo daquela histórica observada no ano de 2012 –, analisa o pesquisador, descartando as previsões alarmantes.
Schongart é graduado em ciências florestais na Uni-versidade Albert Ludwig em Freiburg, Alemanha (1997); doutor em ciências flores-tais pela Universidade Georg August em Göttingen, Ale-
manha (2003), validado pela Universidade de São Paulo-USP; e livre-docente (Venia Legendi) pela Universidade Albert Ludwig, em Freiburg (2014).
Ele também realiza pesqui-sas em parceria com o Insti-tuto Nacional de Pesquisa e Tecnologia em Áreas Úmidas (Inau) e tem experiência na área de ecologia e manejo florestal.
A entrevista: EM TEMPO – Na sua
avaliação, o que vem cau-sando o volume de água do Solimões, que já inundou cidades como Anamã e Tabatinga?
Jochen Schongart – São as chuvas intensas nas ca-beceiras do rio Solimões e seus afluentes.
EM TEMPO – A enchente deste ano pode superar a de 2012, a maior da história?
JS – A evolução da enchen-te deste ano é muito similar às enchentes dos dois anos anteriores (2013 e 2014), indicando que a cheia deste ano chegará em cotas máxi-mas similares, ou seja, abaixo daquela histórica observada no ano de 2012.
EM TEMPO – O fenô-meno El Niño está in-fluenciando a subida das águas ?
JS – Geralmente, eventos de El Niño (aquecimento das águas superficiais do Pacífi-co Equatorial Central e Les-te) causam uma diminuição de chuvas nas cabeceiras, que resulta em cheias mais fracas. Porém, o El Niño de 2014/15 era um even-to fraco-moderado que não influenciou muito no regime hidrológico.
EM TEMPO – A tendên-cia no futuro é que essas enchentes se agravem ou continuem como estão, porque sempre fizeram parte da natureza ama-zônica?
JS – Não podemos prever isto. As previsões de cheias podem ser feitas para o ano corrente, mas não para perí-odos maiores. A hidrologia da maior hidrobacia do mundo é muito complexa, com vários fatores externos atuando, que são oscilações intera-nuais como as anomalias de temperaturas superficiais do Atlântico Tropical (princi-palmente a região norte do Atlântico Tropical) e o Paci-
JOCHEN SCHONGART
fico Equatorial. Além disso, temos oscilações multideca-dais, como a Oscilação Deca-dal do Pacífico, que tem fases quentes e fases frias que duram 20-30 anos, influen-ciando os regimes de chuvas e, consequentemente, a hi-drologia. Não temos dados instrumentais em escalas es-paciais e temporais suficien-tes na Amazônia para avaliar se as tendências recentes de aumento de intensidades e frequência de cheias severas podem ser explicadas pela variabilidade natural do re-gime hidrológico e se isso já
é uma manifestação de mu-danças climáticas causadas pelo ser humano. Além disso, temos impactos antropogê-nicos como mudanças no uso de terra (desmatamento) e grande projetos de infraes-trutura (pro exemplo usinas hidreléctricas) que podem causar mudanças nos regi-mes de cheias.
EM TEMPO – Que efei-tos o aquecimento global pode causar sobre o com-portamento dos rios na Amazônia?
JS – Ainda não temos dados
e estudos suficientes para prognosticar isso. Além das mudanças climáticas, temos a atuação do ser humano na bacia amazônica, estabele-cendo usinas hidrelétricas e causando desmatamento em muitas cabeceiras de gran-des rios que também podem causar mudanças nos regi-mes hidrológicos. Isso torna a previsão do impacto de mudanças climáticas (regio-nais e globais) e uso de terra (desmatamento, usinas, des-truição de áreas úmidas, etc.) no regime hidrológico muito difícil.
MÁRIO ADOLFOEquipe EM TEMPO
Jochen Schon-gart, do Insti-tuto Nacional de Pesquisas da Amazônia, adverte que as agressões dos seres humanos nas cabeceiras dos rios estão mudando os regimes hi-drológicos
LUCIETE PEDROSA/ASCOM INPA
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Governo do Estado decreta situação de emergência
O prefeito Jecimar Pinheiro Matos, de Anamã, já tinha co-brado uma posição mais firme do governo para a situação do município, 100% debai-xo d’água. Há um mês, ele relatou a situação em que a população está vivando, mas só nesta sexta-feira (29) a De-fesa Civil do Estado decretou de situação de emergência em Anamã.
No total, a Defesa Civil do Amazonas reconheceu o de-creto de situação de emer-gência em mais seis muni-cípios do Amazonas – Anori, Anamã, Manacapuru, Careiro da Várzea, no Baixo Solimões, Uarini, no Médio Solimões, e
Jutaí, na calha do Alto Soli-mões.
Assim, sobe para 30 o nú-mero de cidades em situa-ção extrema por conta da enchente.
Nos seis municípios, 78.458 mil pessoas estão afetadas pela enchente. Por meio da Secretaria de Comunicação do Amazonas, a Defesa Civil divulgou que foram enviados kits de madeira (tábuas para assoalho, caibros e ripões), utilizados para a construção de pontes e marombas, aos municípios de Careiro da Vár-zea, Anamã e Anori.
Já para Uarini e Jutaí, foram enviados alimentos, kits me-
dicamentos, kits dormitórios, kits higiene e hipoclorito de sódio.
— Com o decreto aprovado, novas remessas de manti-mentos deverão ser enviadas às cidades nos próximos dias –, anunciou o secretário da Defesa Civil do Estado, co-ronel Roberto Rocha.
De acordo com o secretário, o governo do Estado já está atendendo esses municípios com ajuda humanitária e apoio técnico.
— Com o decreto aprovado, novas remessas de manti-mentos deverão ser enviadas às cidades nos próximos dias –, garantiu Rocha.
A Prefeitura de Anamã foi invadida pelas águas do rio, mas o trabalho con-tinua sobre marombas, enquanto o prefeito Jeci-mar Pinheiro Matos (no destaque) trabalha para construir uma nova cidade
Na terça-feira (26), o prefeito de Anamã, Jecimar Pinheiro Matos (PSD), iria convidar os vereadores, empresários
e líderes comunitários da cidade para visitar uma área de terra firme a 3 quilômetros do município. Esta ação, coberta de boas intenções, pode ter agradado a alguns segmentos, mas boa parte dos habitantes da cidade, com certeza, vai resistir ao ousado plano do prefeito para fugir das enchentes que durante seis meses deixam o município debaixo da d’água.
— Quero mudar a cidade para outro local, uma área de terra firme, alta, onde as águas não chegam –, sonha Jecimar, que chegou ao cargo por obra do destino. Nas eleições de 2008, o en-tão prefeito eleito, Raimundo Pinheiro, e o vice, Antônio Araújo Coelho, foram cassados por compra de votos e uso de caixa dois. Em dezembro de 2010, aconteceu uma nova eleição em Anamã e Jecimar Pinheiro Matos (PHS) venceu a disputa. Ele foi reeleito em 2012.
Em entrevista ao EM TEMPO, Jeci-mar disse que está cansado de lutar contra a força das água do Solimões. Em quatro anos e cinco meses, ele enfrentou quatro enchentes violentas, entre elas a poderosa de 2012. — Quer dizer, consegui trabalhar somente seis meses por ano –, lamenta, reafirmando
que é por isso que pretende ser o “JK da Amazônia” e erguer uma nova cidade em área de terra firme para resolver de vez as mazelas da cheia e acabar com o sofrimento de seu povo.
Para mostrar que sua decisão é séria, Jecimar Matos avisa que já tem o proje-to da nova Anamã e até já o apresentou ao Ministério das Cidades.
Hoje, Anamã tem 10 mil habitantes. De acordo com o cadastro da Coorde-nadoria Municipal de Defesa Civil, 8.323 peas foram atingidas diretamente pela enchente e estão vivendo sobre ma-rombas e canoas.
— Não temos desabrigados porque alguns vão para casas de parentes construídas com dois pisos ou então migram para municípios onde a subida das águas não alcançou totalmehte a ciadade –, informa o prefeito Jecimar. Mesmo assim, 72 pessoas estão alo-jadas em quatro barcos.
— Vamos ajudando o povo da forma que podemos. Com distribuição de tábu-as de assoalho para erguer marombas, doação de gasolina para as voadeiras e com cestas básicas –, diz Jecimar Pinheiro Matos.
Castigada tantas vezes pelo Soli-mões, Anamã teve que se adaptar ao ciclo das águas. A coleta de lixo, por exemplo, vem sendo feita em canoas, que recolhem diariamente mais de 600 quilos de resíduos, isolados em sacos plástico. A ronda policial, a cargo de 13 soldados da PM, é feita em duas
canoas com motores de rabeta.Com raras exceções, tudo está fun-
cionando. O cartório, os bancos, a ca-deia – onde foram erguidas marombas dentro das celas para tirar os detentos da água –, o comércio e até a própria prefeitura continuam funcionando. Ou em canoas ou sobre marombas, o ser-viço público tem que continuar.
— Para resolver o problema de atendimentos médicos, transferimos o serviço para uma unidade flutuante. Mas, no posto de saúde, três médicos estão atendendo os casos mais corri-queiros sobre marombas – , informa o prefeito, observando que apenas um desses serviços, considerado essencial para a vida de Anamã, não pode ser continuado: as aulas na rede municipal de educação, onde 26 escolas estão no alagada, deixando 2.640 crianças sem aula.
PREFEITO QUER SERO JK DA AMAZÔNIA
E construir uma nova cidade em área de terra firme para fugir da fúria das águas do Solimões.
MÁRIO ADOLFOEquipe EM TEMPO
ESCOLASINUNDADASAs aulas na rede mu-nicipal de educação tiveram que ser inter-rompidas. Vinte e seis escolas estão alaga-das, deixando 2.640 crianças sem estudar
CIDADE FLUTUANTERI
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O posto de saúde continua atendendo casos de desidratação, gripe, febre, mordidas de animais peço-nhentos e choques elétricos. Os casos mais graves estão sendo atendidos em uma unidade flutuante
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Uma Veneza tropicalno meio da floresta
Não existe uma faixa de terra sequer em Anamã. O município virou uma cidade flutuante.
Com 100% de-baixo d’água, Anamã se transformou numa “Veneza tropical”, mas a vida segue sobre canoas e marombas
Anamã (AM) – Quar-ta-feira, 20 de maio, de uma manhã quen-te. A chuva deu uma
trégua no melancólico in-verno amazônico. O céu de brigadeiro exibe seu melhor azul e o contraste de várias tonalidades de verde fazem da floresta o maior exemplo de que a vida se renova a cada dia, sejam quais forem as condições climáticas. O início é de encher os olhos, mas, aos poucos, a visão de água, mata, céu e sol vai se tornando uma passagem mo-nótona, quase sonolenta.
O expresso “Sílvia Lopes”, que largou de Manacapuru pontualmente às 11h, corta as águas do Solimões veloz-mente. O rio está transbor-dando e, em alguns casos, alcança até a copa de árvores de menor porte. Nas maiores, sobe até ao meio. A mancha deixada pelas águas serve de régua para medir a altura de outras grandes enchentes no passado.
— Aquela última marca ali é a de 2012. Viu como o rio su-biu? –, observa o comerciante Adalberto Oliveira, que retor-
nava de Manacapuru, aonde foi comprar ração para os frangos que estão sendo cria-dos praticamente na varanda de sua casa. Não existe terra em Anamã, o município virou uma cidade flutuante.
Desembarcamos na cida-de às 14h. Geralmente, uma voadeira faz esse percur-so em até uma hora e 30 minutos. Mas o expresso é mais lento. Além disso, es-távamos subindo o Solimões. No lugar das costumeiras motocicletas, bicicletas e caminhonetes de frete, que estamos acostumados a en-contrar nos péssimos portos do Amazonas, dezenas de canoeiros disputando o di-reito de transportar os re-cém-chegados visitantes. O “táxi aquático” tem preços tabelados a R$ 2,00. “Mas eu posso percorrer a cidade por R$ 4,00”, oferece um barqueiro. E é com ele mesmo que iniciamos o tour pelas ruas – digo, canais – de Anamã.
Luizinho Lopes das Cha-gas, 27, o barqueiro, entra pelo canal que antes da en-chente era a rua principal do município. Mostra o posto de saúde funcionando sobre maromba, onde as pessoas
amarram a canoa e cami-nham sobre passarelas de madeira em busca de medi-camentos para enfermida-des corriqueiras em época de enchente – virose , gripe, diarreia, desidratação e, não raro, pessoas que receberam choques elétricos de fios sol-tos na água. Em casos de problemas mais grave, eles são encaminhados para o hospital, que agora passou a funcionar sobre uma balsa.
Enquanto a voadeira des-liza vagarosamente, obser-vamos que o movimento da cidade continua intenso. O vaivém de pessoas segue seu curso normal. É como se os seus habitantes transitas-sem em ruas normais. Só que agora a vida caminha sobre marombas e barcos. No meio
do roteiro, uma cena inédita. O barqueiro Luizinho avi-sa que vai parar no orelhão para dar um telefonema. Isso mesmo, em Anamã, orelhões ainda são úteis. Só que o aparelho da “avenida” Álva-ro Maia está praticamente submerso. Sem descer da canoa, ele tira o telefone do gancho, coloca a ficha e jura que está funcionando. É claro que desconfiamos, mas achamos por bem dar um crédito à afirmativa do canoeiro.
À medida que a voadeira avança, cenas inusitadas vão surgindo. Um homem que en-costa sua canoa para sacar dinheiro no caixa eletrônico onde a água já cobre metade da porta e a máquina está suspensa em maromba; filas de canoa em frete à loteria da Caixa Econômica; crian-ças em algazarras tomando banho de rio na frente de casa; mães dando banho em bebês; cachorros nadando de um lado para o outro da rua inundada e roupas secando em varandas e telhados, já que não existe terra para erguer o varal.
Um som de autofalante chama a atenção. Descobri-mos que vem de uma canoa
que transpor-ta pesadas caixas de som. E aí deduzimos que, em Anamã, até a propaganda volante é feita de canoa.
No restaurante Regional, onde tomamos o café da manhã e almoçamos, o ca-sal Kátia Dantas e Waldemar Souza, proprietários, condu-zem a bandeja das refeições com a água batendo no meio da canela. É a primeira vez que tomamos um café quen-te com os pés mergulhados na água gelada. E olha que Waldemar já havia erguido uma maromba de 1 metro. O jeito agora é subir mais alguns centímetros.
— Essa luta vem sendo travada desde abril e deve perdurar até o final de julho –, lamenta Waldemar, en-quanto começo o trabalho para subir a maromba.
MÁRIO ADOLFOEquipe EM TEMPO
CIDADEFLUTUANTEO movimento dacidade Segueseu curso normal.Só que agora avida caminha Sobre marombas e canoas
As ruas se transfor-
maram em canais, onde é possível fazer
ligações do orelhão sem
sair da canoa ou ir ao banco
24 horas, cujo caixa eletrônico
está suspenso em jiraus de
madeira, além de poder fazer
uma fezinha na loteria da
Caixa
CIDADE FLUTUANTEFO
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Vida de gadosobre marombasA tarefa mais difícil não é proteger o gado sobre as marombas, mas ir buscar diariamente capim para alimentá-lo, pilotando uma voadeira horas a fio, até
encontrar terra firme onde a vegetação ainda não foi tragada pelo rio.
Antes da voadeira en-trar no “lago” que um dia já foi o sítio do agricultor Edilson da
Silva, 48, é possível ouvir o mugido de um boi, preso so-bre uma maromba coberta de capim membeca – utilizado na alimentação de gado –, que é agora o único espaço para que os animais possam comer e se movimentar de forma limitada, quase colados entre si.
Edilson é dono de um mo-desto rebanho de 23 cabeças de gado que foi se formando com muito sacrifício. Segu-rando uma vara tipo cajado, ele passa boa parte do dia em pé, sobre a maromba, ao lado de sua criação, vigiando cada movimento dos animais. É as-sim que ele recebe a equipe do EM TEMPO, como o guardião de sua boiada.
É daquilo que produz no sítio
que Edilson tira o seu susten-to, vendendo leite, banana, malva, mandioca, algo difícil nestes tempos de cheia. Com a subida do Solimões, a safra está toda perdida debaixo da água. Por isso, é preciso ficar vigilante, para ao menos sal-var o gado.
— A cada safra, eu chego a tirar até 600 cachos de ba-nana. Se cada um deles está sendo vendido a R$ 30,00 isto significa dizer que nessa enchente, só com a banana, eu vou ter um prejuízo de R$ 18.000,00. Para a gente, que já luta com dificuldade, isso é um duro golpe –, lamenta Edilson.
Ilhado sobre a maromba e comendo capim uma vez por dia, o gado está magro e é muito maltratado. Nos dias de sol – e o sol da Amazônia é inclemente –, algumas reses não resistem e descem o jirau de madeira para mergulhar na água do rio. E aí enfrentam outro risco: a voracidade das
piranhas.— Quando eles começam
a mugir e a gente puxa para cima da maromba eles já vêm sangrando –, conta Edilson que, com o cajado mostra o peito de uma vaca sangrando, depois de ser abocanhado por piranhas.
— É que o bico do peito da vaca solta um óleo que atrai as piranhas. É preciso ficar atento para evitar o pior.
A correnteza forte do Soli-mões avança arrastando tudo pela frente. Leva também na fúria das águas a esperança e a capacidade de resistir do caboclo Edilson. São quase três meses lutando contra o flagelo da cheia. “Às vezes, sinto vontade de vender tudo e ir embora”, desespera-se, lembrando que tudo que sabe sobre o segredo do rio, da floresta e dos bichos aprendeu com o pai, Brás Bruno da Silva, um agricultor de 81 anos.
— O problema é que o pai não entende essa dificuldade
e na última semana comprou novas cabeças de gado. Va-mos criar onde, se todo ano passamos quase seis meses debaixo d’água? –, pergunta.
Edilson está cansado. Mas a sua tarefa mais difícil não é vigiar o gado, é alimentá-lo numa área inundada. Não há terra e, consequentemente, não há pasto. Diariamente, o produtor rural tem que pegar a voadeira e pilotar horas para chegar a uma outra localidade onde ainda resta uma faixa de terra firme, onde o capim ainda não foi para o fundo.
— Mas aí tem o custo da ga-solina, o custo da vacina que eu tenho que ir comprar no Idam (Instituto de Desenvolvimen-to Agropecuário e Florestal Sustentável do Amazonas), no município de Manacapuru, a duas horas de voadeira saindo de Anamã.
O capim é cortado durante horas e depois colocado na voadeira. O trabalho é ár-duo e, para suportá–lo dia-
riamente, o caboclo tem que ter muita bravura, coragem e resistência. E ain-da tem gente sem escrúpulos que anda por aí dizendo que o homem da Amazônia é “pre-guiçoso” e indolente. Eles não sabem da missa um terço.
— O governo não ajuda, os políticos só aparecem por aqui em época de eleição. Não temos a quem recorrer, esta-mos sozinhos brigando contra uma força impossível de ser vencida, a força da natureza. Alguém pode vencer a vontade de Deus?
MÁRIO ADOLFOEquipe EM TEMPO
Sem largar seu cajado, Edilson Bruno monta guarda sobre a ma-romba para alimentar seu pequeno reba-nho e defen-dê-lo contra os ataques de piranhas
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Uma casa de farinha flutuanteO irmãos Giliadson Souza
de Abreu, 25, e Salustino Sou-za de Abreu, 24, passam duas horas e meia com a barriga colada no forno, revolvendo a farinha com o remo para que ela torre sem queimar. A jor-nada começa às 5h. Nem bem o galo cantou e eles já estão na lida, conduzindo a canoa no remo, rumo ao igarapé do Galo, onde as mulheres já esperam descascando a mandioca, colocando de mo-lho para, em seguida, levar para a prensa e depois para a peneira.
Mas uma casa de farinha não tem que estar em ter-ra firme? É isso mesmo, só que, para fugir das águas que alagam a cidade e a zona rural, os produtores montam o forno e demais equipamentos sobre marombas. Aliás, tudo
em Anamã funciona sobre marombas.
Por onde passa, a enchente vai fazendo estragos. Este ano, além da plantação de mandioca – que jogou para baixo a produção de farinha –, as águas já devastaram as culturas da laranja, mamão, banana, malva, juta e leite, cuja produção desaparece quando o gado emagrece pela escassez de capim e pelo sofrimento sobre as ma-rombas.
Depois da safra, os irmãos Souza Abreu trabalham três meses por ano para produzir, em média, de 200 a 300 sacos de farinha. Mas, com a perda de parte da safra de mandioca devido à enchente, eles produzem no máximo 80 sacos.
— A água mata o plantio
verde. Às vezes, somos obri-gado a colher a mandioca fora de época para salvar a safra antes que as águas inundem as plantações. Lamentavel-mente, a mandioca não está nem boa para ser colhida.
De acordo com o Instituto de Desenvolvimento Agropecuá-rio e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (Idam), os prejuízos com a enchente de 2012 ultrapassaram os R$ 50 milhões. Naquele ano, com a escassez da farinha, o preço do quilo do produto no mercado municipal Adolpho Lisboa chegou a R$ 12,00. E a farinha, lógico, foi apontada como a vilã da inflação. Para se ter uma ideia, hoje o preço caiu para R$ 6,00. Mas, se as águas continuarem subindo até junho.. Salustino de Abreu e seu irmão Giliadson trabalham no forno por mais de duas ho-
ras para tentar salvar a produção de farinha, prejudicada pela cheia do Solimões
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A produção da malva perdidaA luta sem trégua dos agricultores rurais contra a grande cheia do rio Solimões.
No Amazonas, a pro-dução de malva às vezes chega ser a mais segura forma
de tirar o sustento da família. De acordo com as estatísticas, no Brasil, a produção de malva e juta nos Estados do Amazo-nas e do Pará é responsável por mais de 70% da matéria- prima da indústria de fios e de embalagens de fibras naturais. Os outros 30% demandados pelo país são atendidos por embalagens de fibras naturais importadas da Índia e de Ban-gladesh, cujos preços de venda no Brasil apresentam-se mais baratos do que os preços de venda dos mesmos produtos fabricados no Brasil.
Como se vê, o produtor de malva da Amazônia já en-tra na luta em desvantagem. Agora some-se a isso a luta sem trégua contra a cheia do rio Solimões que, este ano, causou a perda de toda a safra de Anamã.
Josué Matos Corrêa, 39, é um desses produtores rurais que viu toda a plantação de malva ir por águas abaixo.
— É lamentável, mas 1.500 quilos de malva estão debaixo da água – , diz, apontando para o local da plantação onde apenas algumas folhas das árvores de malva ainda aparecem sobre as águas. Junto com a malva estão submersos 500 pés de bananas pacovã que, de acordo com os cálculos de Josué, dariam uma 500 cachos que seriam vendi-dos a R$ 25 cada.
— Isso me daria um lucro de R$ 12.500. Não deu para salvar nada, porque depois que entra na água, a bananeira não se desenvolve mais –, lamenta o agricultor, que também per-deu as safras de mandioca, laranja e mamão.
No Amazonas, o governo es-tadual incentiva a cultura de malva e juta por meio da aquisi-
ção de sementes para apoiar malvicultores e juticulto-res. Os municípios produtores de malva e juta no Estado do Amazonas são Anamã, Anori, Beruri, Codajés, Coari, Careiro da Várzea, Caapiranga, Itaco-atiara, Iranduba, Manaquiri, Manacapuru e Parintins.
Em companhia de seus fiéis companheiros, os cães Lam-pião, Amália e Tigrão, ele deixa a maromba para mostrar o que ainda conseguiu salvar da malva, um pequeno lote da fibra entendido em um varal
para secar.— Vamos esperar o barco
do pessoal da cooperativa e tentar conseguir algum dinhei-rinho com o que restou –, diz, esperançoso.
Agora, é esperar a vazante para iniciar nova semeadura. Mas primeiro é preciso pisar na terra firme e só aí voltar a trabalhar a nova safra, come-çando do zero. E torcendo para que as águas não avancem antes da colheita. É como se em Anamã o ano tivesse apenas seis meses. Coisas da exótica natureza amazônica.
NATUREZA AMAZÔNICAPara os produtoresde Anamã, o anotem apenasseis meses
MÁRIO ADOLFOEquipe EM TEMPO
CIDADE FLUTUANTE
Josué Matos Corrêa mos-tra o que restou de sua safrade malva, um traba-lho de seis meses que acabou no fundodo rio
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A safra de bana-na pacovã também foi perdida
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G8 Especial MANAUS, DOMINGO, 31 DE MAIO DE 2015
O RIO COMANDAA VIDA E A MORTE
Como na obra do escritor Leandro Tocantins, lançada em 1952, o rio comanda a vida em Anamã. Mas tam-
bém comanda a morte, quando suas águas inundam toda uma cidade, matando a produção rural, rebanhos de gados, plantações de malva e deixando fora da escola mais de 2.640 crianças. O rio comanda a morte quando expulsa para outros municípios vizinhos ou para barcos ancorados no meio das aguas famí-lias inteiras de desabrigados.
“O rio, sempre o rio”, escreveu Leandro Tocantins, narrando a im-portância do regime das águas dos rios amazônicos sobre o modo de vida dos povos da floresta e sintetizando o domínio das águas sobre os modos de vida na Amazônia. “A vida chega a ser, até certo ponto, uma dádiva do rio, e a água uma espécie de fiador dos destinos humanos”.
De fato, a subida do Solimões, provocada pelo excesso de chuvas nas cabeceiras do rio e de seus afluentes, transformou a cidade em uma “Veneza tropical”.
De acordo com o coordenador ad-junto da Defesa Civil, Lindolfo Car-doso Filho, o nível do rio Solimões sobe uma média de 3 centímetros por dia e é quase impossível fazer uma previsão de quando a vazante vai começar. “Isso é muito relativo. Na grande cheia de 2012, as águas começaram a baixar no final de maio. Acredito que essa de 2015 pode ir de 15 a 20 de junho”.
O coordenador da Defesa Civil nos leva à prefeitura, onde o gabinete do prefeito e as secretarias de Edu-cação, Administração, Finanças e Assistência Social trabalham sobre marombas.
Randolfo acredita que a prefeitura já investiu mais de R$ 3 milhões na compra de madeiras, cesta básica, combustível e remédios distribuídos às famílias atingidas pela enchente, um total de 8.323 pessoas.
— Só para se ter uma ideia, aqui a gasolina custa R$ 4,10. Mas a si-tuação está sob controle. De vez em quando falta a madeira para erguer as marombas, mas aí a gente manda
buscar em Manaus.Sobre a decisão do prefeito de mu-
dar a cidade para uma área de terra firma, Randolfo responde que no so-frimento momento da enchente, uma boa parte da população concorda.
— Mas depois agem como mulher depois da gravidez. Diz que não quer mais, mas depois esquece e engravida de novo.
MÁRIO ADOLFOEquipe EM TEMPO
A pergunta é inevitável: numa cidade em que não existe um pe-daço de terra sequer, onde en-terrar quem morre? A pergunta é pertinente, porque o cemitério São João Batista – fincado na margem esquerda do Solimões – também desapareceu sob as águas do rio. Apenas a ponta de algumas cruzes ficaram de fora.
Quando isso acontece, explica
o coordenador da Defesa Civil, a prefeitura manda buscar o caixão no município vizinho de Manacapuru, o corpo é levado de canoa – seguido por um cortejo também de canoas e enterrado em uma localidade co-nhecida como Terra Vermelha.
Localizada na zona rural, é a única área onde ainda existe uma faixa de terra firma em que um filho de Anamã pode descansar em paz.
Como enterrar um morto numa cidade sem terra?
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Dança sobre as águas
O tradicional Festival de Cirandas de Manacapuru acontece todos os anos no mês de agosto. O de-safio está próximo e a dança portuguesa “Estrela do Anamã” quer representar bem o nome de seu município. É por isso que todas as noites dezenas de canoas aportam no palco externo do Centro Cultural São Francisco, na praça da igreja, trazendo os 29 componentes da dança – entre crianças e adolescentes –, para ensaiar, incansavelmente, por mais de três horas.
Com a água do rio Solimões atingindo a borda do tablado, garotas e garotos dançam freneticamente ao som de toadas e forró, com suas imagens refle-tindo no espelho d’água.
A dança portuguesa “Estrela de Anamã” foi fundada no ano de 2010, mas só começou a brilhar em 2013. Seus componentes são alunos da rede municipal de Educação do município. Como as aulas estão sus-pensas, os garotos estão se dedicando aos ensaios da dança. Eles se dirigem para o Centro Cultural São Francisco por volta das 17h30 e ensaiam novos passos até as 21 h.
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A dança portuguesa “Flor de Anamã” ensaia no palco sobre as águas, sonhando em brilhar no Festival de Cirandas de Manacapuru
De canoa, José Vidal rema por mais de meia hora para ir visitar seus mortos no cemitério São João, mas encontra as sepulturas debaixo d’água
A vida chega a ser, até certo ponto, uma
dádiva do rio, e a água uma espécie de fiador dos destinos humanos
LEANDROTOCANTINS
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