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Copyright © Alec Silva, 2017

Capa

Samuel Cardeal

Diagramação

Alec Silva

Revisão

Alec Silva e Samuel Cardeal

Edição

EX! Editora

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP:

Si586a Alec Silva, 1991-

O Ataque dos Zumpiros / Alec Silva – Luís Eduardo Magalhães, BA: EX! Editora/2017

1. Conto 2. Fantasia 3. Humor I. Título

Todos os direitos reservados.

É proibida a reprodução total ou parcial sem autorização prévia do autor.

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Para Kamille, cuja ideia original, numa conversa muito divertida, resultou neste conto tãoestranho e improvável. Se um dia encontrar este texto, muito obrigado pela breve amizade e

desculpa a demora.

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“Bizarro é algo bom. O comum tem milhares de explicações. O bizarro dificilmente temalguma.”

Dr. House

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PREFÁCIO

Ideias nascem de situações diversas. A de O Ataque dos Zumpiros, minha tentativa de fazerhumor negro satírico, veio de uma conversa com uma amiga — na época. A gente debatia sobre asestranhas possibilidades de um vampiro infectar um zumbi ou vice-versa; expandimos as questõespara outras criaturas fantásticas, como lobisomens. Era o ano de 2012 ou 2013, e muita coisa dotexto faz referência ao período em que a ideia nasceu — apenas o final foi atualizado, pegando umgancho com os fatos de 2016 e 2017.

Sem mais delongas, vamos ao conto, não?

Alec Silva

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UM BRILHO — SUSPEITO — NAS TREVAS

Certa madrugada, um jovem vampiro retornava para sua tumba com o gosto ambrosíaco dosangue ainda fresco nas presas. Estava contente não apenas pela refeição apetitosa que a moçadepressiva — que passava os dias nas redes sociais e vivia postando indiretas que acabavamatingindo a todos sem querer — proporcionara, mas também por poder, em noites oportunas,adentrar livremente em seu quarto, pois ela, tola, era louca para ser uma vampira como aprotagonista de um livro idiota que lera ou dos filmes sem sentido que tanto era fã. Para umvampiro como ele, tão belo, digno de estrelar um seriado juvenil assistido por pessoas de gosto, nomínimo, duvidoso e feito para desmiolados, poder bebericar de uma garota como aquela era quasecomo encontrar uma virgem no meio de um palheiro.

Mesmo sendo não-morto, ainda conservava a tolice de se distrair com feitos egoístas emesquinhos, descuidando-se do caminho que conhecia tão bem — como vivia também segabando —, sempre sendo aquele tipo de sanguessuga que faz um caçador matar apenas pordiversão rápida. E somente muito tarde se deu conta de que entre tantas lápides, entre tantosmortos e um vivo, ele não era o único que teimava em não permanecer enterrado. Primeiro julgouser um mero enfeite deixado para um falecido por algum parente que se lembrava de sua não-existência apenas no Dia de Finados. Mas... não. Não era um enfeite, pois se movia. E brilhava!Era um brilho todo fosforescente, como um vaga-lume ou uma daquelas fadas que se passavampor vampiros, ofendendo a dignidade do sindicato.

Curioso, como todo aquele que vê algo brilhando na madrugada, ele resolveu espiar.Percebeu logo que a coisa devorava algum com o ímpeto de uma hiena, apesar de nunca ter vistouma hiena devorando algo para chegar a tal conclusão; aquilo arrancava nacos do cadáver retiradode uma tumba e mastigava como aquelas pessoas que insistem em se comportar como porcos.

O mais irritante era o brilho esverdeado, de pouca intensidade, que aquele indivíduo emitia.Não era fada, isso dava para notar, pois se fosse, estaria saltitando nos campos, perseguindocoelhos e veados para sorver o sangue, afinal, era vegetariano(?!). E a luz fraca e fosforescente nãoera atrativa e exagerada como uma esfera de lantejoula no meio de uma boate, e sim tão sinistra eperturbadora quanto aquelas tatuagens que brilham no escuro. Cada vez mais perto da coisa,aproveitando sua distração diante da refeição saborosa que a carne de um morto proporcionava,por estar livre de gorduras, o vampiro foi olhando o intruso, intrigado com sua natureza peculiar.

Se não era fada, poderia ser um zumbi radioativo, o que justificaria com certeza afosforescência. Mas era belo, não como o cantor, mas como um modelo, perfeito e másculo,apesar do brilho meio suspeito. Se não fosse o péssimo hábito de comer gente morta, poderia serfada; e se não iluminasse por luz própria, poderia lembrar um vampiro.

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E ele morreu — de novo — sem saber do que se tratava aquela aberração, pois o monstrolevantou num pulo, encarando-o com seu olhar de brilho vermelho, como o coelhinho drogadodaquela música infantil. Se o coveiro não estivesse acostumado com os gritos dos mortos, ele teriasuspeitado da masculinidade do vampiro; e longe dali, uma jovem sem muito juízo e mal amadanunca mais teria a chance de ser uma sanguessuga.

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O BRILHO QUE VAGUEIA À NOITE

Kamille sempre foi fascinada por filmes e séries de terror. Assistia a tudo, dos antigos aosrecentes, dos que eram sucesso de bilheteria aos que eram pisoteados e esmagados cruelmentepelo público e pela crítica, mesmo que se arrependesse depois — e quase sempre se arrependia.Os bons, ela indicava; os ruins, ela também indicava, para não sofrer sozinha. Mas, dentre oschamados monstros clássicos, em sua opinião, os vampiros e os zumbis mereciam todo odestaque. Mas, ao contrário de alguns, era uma pessoa normal, sem problemas mentais ouemocionais, sem aquele fascínio exagerado; era apenas um hábito, um hobby, e não algo capaz detorná-la presa numa teia idiota que pregava que vampiros eram coloridos e zumbis poderiaminiciar uma revolução.

Linda, inteligente, alegre e sempre sorridente, não havia quem não apreciasse sua companhia,não apreciasse vê-la com aquele sorriso encantador. Ou havia, mas geralmente eram pessoas tãofrívolas que o fato de não gostarem de Kamille significava que eram todas recalcadas — nosentido de invejosas, e não de reprimidas —, embora fossem, assim como a jovem, muito bonitas— e sem conteúdo, como uma flor desprezível.

O primeiro contato que ela tivera com as criaturas fosforescentes fora há algum tempo, numanoite qualquer, naqueles horários perigosos para se andar sozinha pelas ruas de uma capitalbrasileira. Foi tudo tão bizarro que poderia ser ou uma pegadinha sem graça ou um episódiocurioso do Além da Imaginação. Ela havia acabado de ser deixada pelos amigos em frente de casa erevirava a bolsa em busca das benditas chaves que abririam, respectivamente, o portão e a porta.O problema era achá-las entre tantas coisas guardadas no interior de um buraco negro que podeser fechado com um zíper e com alças para ser carregado a qualquer lugar — e que comumentechamamos de bolsa feminina. E reclamava mentalmente por não ter as procurado horas antes oupelo menos enquanto estava no carro do amigo com quem pegara carona.

Os tênis informais, branco e rosa, a calça jeans custando mais de trezentos reais, cuja cor éimpossível denominar sem um conhecimento estilístico básico a intermediário, embora muitolembrasse o tom negro tendendo ao cinzento, como o carvão perto de se tornar cinzas, a blusacom letras coloridas e o gracioso lenço ou tiara de pano — ou qualquer que fosse o nome do queela usava na cabeça, presa aos cabelos negros — indicavam seu espírito alegre, além de permitirsaber de onde vinha. Ainda estava sob o efeito do show maravilhoso dedicado aos jovens queapreciam ainda a boa cultura, a companhia dos amigos, a diversão saudável e sem álcool e cigarro.Precisava muito daquela parcela de distração para esquecer um pouco os problemas.

Quando achou o chaveiro, após um trabalho que deixaria os doze de Hércules parecendotarefa de aluno da alfabetização, quase soltou um grito de alegria, mas se conteve a tempo — nãoqueria chamar a atenção dos vizinhos, sempre bisbilhoteiros, e ser vista como louca. Destrancou o

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portão e entrou, notando um movimento ao longe, numa parte da rua na qual a prefeitura alegavaprecisar de uma complicada autorização de prestação de serviços de energia elétrica para queocorresse uma simples troca de lâmpadas, sob a alegação de que tal procedimento não estavadentro do orçamento previsto para o ano. Sua curiosidade foi despertada e, trancando o portãocom todo o cuidado para não fazer barulho, ficou quieta e escondida, espiando pelas grades.

Ela viu um brilho fraco correndo. Era uma garota, aparentemente vindo de algum recantoainda mais escuro e perigoso, que tentava discar algum número no celular, enquanto corria comose o capeta viesse atrás de sua alma. Não pôde ouvir seu desespero, mas supôs que aquela situaçãofosse séria; cogitou fazer algo, gritar, pedir ajuda, mas algo a fez ficar assombrada. Dez segundosapós conseguir vislumbrar a jovem fugitiva, viu um homem avançar numa velocidadeinacreditável, superando um maratonista. Com uma manobra brusca, saltou sobre a moça,derrubando-a, e a mordeu no pescoço, abafando seu grito com a mão forte. O horror inicial foisubstituído por outro, ainda maior, quando outros vultos surgiram de cantos diversos e seatracaram ao corpo ainda vivo da presa, arrastando-o para as trevas, permanecendo apenas oprimeiro monstro.

O coração de Kamille tamborilava com fúria, obrigando-a a controlar a respiração epermanecer calada, cobrindo a boca com as mãos trêmulas. Entretanto, sentiu um calafrio horrívele o corpo paralisar quando o olhar macabro do homem encontrou o seu; era de uma cor escarlatee intensa, com pouco brilho, mas como uma faca cortando a madrugada, de aspecto sobrenatural.E sem parar de olhá-la, exibindo os caninos amarelados, foi se afastando, conforme a pele emitiauma luz mórbida e esverdeada, uma aura radioativa; em poucos segundos, nada mais restava alémda escuridão e a lembrança da presença assustadora.

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O BRILHO DO ESPAÇO SIDERAL

Ela poderia ter gritado, é claro, ou telefonado para alguém — ou para a polícia —, mas, noprimeiro caso, seria vista como uma louca sem a menor dúvida, e, no segundo caso, ninguémacreditaria em sua história maluca.

Ainda sob o efeito do choque, entrou em casa e foi para o quarto, tentando se acalmar.Dormiu muito pouco; e na manhã seguinte, com pressa, foi até o local em que a desconhecida foiatacada e morta, contudo nada encontrou além de poucos respingos de sangue, mas nada queservisse como prova, se contasse para alguém o que testemunhou. Afinal, sem evidências, quemconfiaria numa garota que viu um vampiro fosforescente? Melhor: quem, no mais perfeito e sãojuízo, acreditaria na mera existência de vampiros? “Culpa daqueles livros e filmes idiotas deadolescentes!”, resmungaria alguém, antes de rir e debochar.

A estranheza do que testemunhara ainda a assombrava. Os olhos injetados com sangue, oataque furioso; não havia o menor sentido em nada, e tudo fugia do aceitável. Sentada no sofá,tentou raciocinar, encontrar alguma explicação lógica para a questão. Com exceção dos péssimoslivros e adaptações cinematográficas daquela odiosa saga de fadas, não havia literatura sobre oassunto. Então, onde conseguiria obter as respostas para tanta inquietação? Mais alguém havia tidoalgum contato ou visto algo semelhante?

E assim, sem muitos meios para recorrer, iniciou buscas minuciosas sobre o assunto naInternet — o canal de notícias mais confiável do mundo. No início, frustrando sua expectativa, osresultados foram improdutivos e apontavam para as fadas purpurinadas e vegetarianas; porém,depois de alguns dias de muita paciência, novidades começaram a aparecer lentamente.

A primeira informação encontrada — e que não poderia ser mentirosa, pois ela não haviacontado a ninguém sobre o ocorrido — era o depoimento de um jovem que dizia ver luzesestranhas nos arredores da casa há dois dias, seguidas por desaparecimentos de animais, como cãese gatos; no começo ele pensou que fossem vaga-lumes, mas logo notou que eram grandes demaise com formas humanas, possuindo um brilho esverdeado muito sinistro. Talvez por causa dosfilmes de ficção científica ou pelo fascínio por ufologia — ou por não ter muita imaginação paraextravasar em teorias mais absurdas —, sua dedução seguinte foi a de serem extraterrestrestentando contatá-lo para enfiar uma sonda em lugares muito inconvenientes.

No dia seguinte, no mesmo tópico, um homem alegava ter visto o cadáver de um amigo,durante o velório, aparentar uma coloração esverdeada na pele, como um chuchu. A causa damorte foi a infecção causada por uma mordida de um mendigo, provavelmente muito esfomeado.E ele concluiu dizendo que havia parado de comer chuchus, pois eles faziam se lembrar do amigo.

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A tese maluca de extraterrestres foi prevalecendo a cada novo caso que aparecia, assanhandoa sempre eufórica sociedade ufológica, fazendo a mídia carniceira e sensacionalista noticiar cadanova história, além de provocar um frenesi nos que acreditavam na teoria pseudo-maia sobre ofim apocalíptico iminente provocado por terremotos, maremotos, erupções vulcânicas, dilúvio einvasão de zumbis alienígenas — não nesta ordem.

Kamille encontrou vídeos que pareciam com o que testemunhara naquela noite.

Homens, mulheres e cachorros resolveram brilhar com fosforescência em fotos e vídeos queos flagraram perambulando pelos cemitérios, matas e fazendas — mostrando-se quase tantoquanto pessoas que se proclamam celebridades por terem aparecido em algum reality show. Imagensde corpos mutilados ou sem sangue, alguns com pele macilenta, foram a alegria dos amantes dogore e filmes de tortura e dos fãs de bandas de letras nada fofinhas. Os velórios passaram a ser maisanimados, economizando em energia com o brilho macabro dos mortos, apesar de ser fraco; ehavia quem dissesse ser um milagre divino, e os ateus insistiam que era satanismo.

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THE GLOW OF THE DEAD

O terror se espalhou como uma praga, unindo-se ao famoso novo fim do mundo que seaproximava. Centenas ou milhares — ou milhões, como alegavam muitos os teóricos deconspirações — estavam mortos em poucos meses; túmulos foram violados, não-mortos foramfilmados e fotografados, parecendo mais um clipe do falecido cantor que nasceu negro e morreubranco do que um apocalipse zumbi.

O caso mais assombroso era um diário virtual em vídeo mantido por pouco tempo por umgaroto; ele alegava ter capturado um dos misteriosos monstros fosforescentes depois de uma lutasangrenta que lhe custou alguns dedos e a ex-namorada — oferecida como isca involuntariamente,em nome da ciência amadora. Num ritmo frenético, atualizava o vlog com os estudos e testes coma criatura; alimentando-a com gatos e cães abandonados, para o horror dos protetores dosanimais, que quiseram processá-lo e forçar a exclusão da página na Internet, constatou que osangue das vítimas era sorvido primeiro e só depois o cérebro seria devorado — antes de outraspartes do corpo.

E três dias depois de iniciada a série, as autoridades, sempre dispostas a estragar a alegria daspessoas e ferrar com tudo, afinal, nada pode ser divulgado sem passar por uma infindável etapa deprocessos burocráticos, retiraram tudo do ar. Mas alguém, que ou não tinha vida social ou nãotinha muito o que fazer, conseguiu salvar o último vídeo postado e o lançou nas camadasprofundas da Internet, sendo trazido de lá por um grupo que causava o terror virtual. Comduração breve, mostrava apenas o rapaz segurando um revólver e contando que estavaamaldiçoado; estava há dias e noites sem dormir, insensível ao calor ou ao frio e com um desejoinsaciável por carne crua. A seguir a tela ficou negra e um estouro podia ser ouvido, acompanhadopela frase “Os zumpiros estão entre nós”.

A população se desesperou quando o vídeo apareceu em diversas correntes nos grupos defamília — o canal de notícias mais confiável, depois da Internet, é claro. Que raios seriam os taiszumpiros e quais suas intenções para com os vivos? Não demorou muito para os Illuminattienviarem uma nota pública, alegando que daquela vez eles nada tinham a ver com o caso, comoalguns idiotas diziam por aí. E o governo norte-americano apenas informou que era um caso depegadinha viral, sem a menor importância, um pouco antes de um repórter esverdeado atirar umsapato no rosto do presidente e ter o corpo moído por milhares de balas.

Ninguém nunca soube quando começou o apocalipse zumpiro.

O mundo estava mais preocupado ou em ver um programa com idiotas trancafiados emalgum lugar ou em se matar com bombardeios sem fim, um país acusando o outro, mas querendoapenas tomar um pedaço de terra para qualquer vaga finalidade comercial ou militar. Todos se

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conscientizaram da tragédia somente quando metade de um estúdio de gravação de uma emissorafoi massacrada ao vivo, embora muitos telespectadores tivessem aplaudido aquela apresentaçãotão realista dos últimos avanços dos efeitos visuais. Ou quando o Congresso Nacional foi invadidoem pleno expediente e nenhum político foi morto, zangando as criaturas de pele da cor dochuchu.

As ruas se infestaram de zumpiros e corpos mutilados.

O desespero tomou conta da população, afinal, sem programas, passar os dias dentro de umacasa — ou shopping ou escola ou prédio ou qualquer lugar — era uma tortura pior do que ouvirbandas com músicas melosas e adolescentes histéricas em hotéis, ansiando a chance de tocar oídolo que ignorava as suas existências. Exceto para quem era rico, que passaram todo o período doataque com canais a cabo, conexão ultrarrápida de Internet e, quando sentiam fome, batiam aspanelas e reclamavam do governo corrupto, celebrando a intervenção militar que, aos poucos, iacontrolando aqueles estranhos arruaceiros que zanzavam pelas ruas.

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SOBRE O AUTOR

Apaixonado por dinossauros e mitologia grega, começou a escrever motivado por JurassicPark, mas o primeiro livro, Ariane, escrito em 2007, bebeu da lenda de Eros e Psiquê. Desdeentão, acumulou mais de 40 livros, dezenas de contos e um milhar de poesias, a maioriadescartável, mas que o amadureceu como escritor.

Publicou Zarak, o Monstrinho em 2011, inaugurando o gênero autobiográfico fantástico; em2013, apresentou A Guerra dos Criativos, o que resultou em projetos ambiciosos, iniciandooficialmente o que ele chama de Lordeverso, que já conta com algumas obras.

Clique AQUI para conhecer a obra completa do autor.

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